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BRASIL, UM SONHO INTENSO... Jari Zamar

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BRASIL, UM SONHO INTENSO...

Jari Zamar

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BRASIL, UM SONHO INTENSO...

Jari Zamar

Anápolis – GO - 2014

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AVISO IMPORTANTE

Os direitos autorais deste livro pertencem a Jari Zamar, no entanto ele lhe dá a permissão

para repassar o mesmo a quem você quiser, desde que mantenha o conteúdo original. Ele

entende que o compartilhamento e a democratização da informação através da internet é

uma poderosa ferramenta contemporânea para alcançar a auto-afirmação e a

autodeterminação dos povos, independente de seu nível econômico e social. Você também

está autorizado a copiar e imprimir este livro integral ou parcialmente para utilizar seu

conteúdo em qualquer atividade que julgue interessante, desde que seja citado o autor e a

fonte.

Recebendo e lendo este livro e desejando tecer algum comentário, crítica, elogio ou

colaboração, você pode escrever para o autor, no endereço:

[email protected]

Além disso, se for de seu interesse, escreva para Jari Zamar solicitando mais um livro.

Visando incentivar a leitura no país, ele terá imensa alegria de lhe enviar gratuitamente.

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Dedico este livro a todos os que

amam sua Pátria e fazem deste amor

um corajoso instrumento de luta

contra as desigualdades sociais.

Jari Zamar

Agradeço aos que, durante a árdua

jornada, me proporcionaram o

aprendizado necessário para chegar

aonde cheguei e ser capaz de trazer

até vocês as ideias que vibram em

meu irrequieto cérebro.

Jari Zamar

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Sumário

CAPÍTULOS PÁGINAS

Prefácio 5

1 – Introdução 6

2 – Realidade Perversa 8

3 – O que fazer? 13

4 – Reestruturação Geopolítica 14

5 – Revisão do Pacto Federativo 18

6 – Promoção da Qualificação dos Políticos 25

7 – Extinção do Senado Federal 28

8 – Unificação das Eleições 32

9 – Revisão do teto salarial no setor público 34

10 – Revisão do Código Penal e do Sistema Prisional 37

11 – Como fazer? 45

12 – Finalizando 54

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Prefácio

Foi lindo de se ver. Em 2013, homens e mulheres de todas as idades saíram às ruas no

maior movimento popular deste país. Eles saíram munidos de um forte sentimento de

patriotismo e com a esperança de que aquele momento seria importantíssimo para o futuro

da nação. Num curto período de tempo, manifestações pipocavam desde grandes centros

urbanos a pequenos municípios do interior do Brasil. Muito mais do que se imaginava, o

motivo das manifestações não se deu pelo aumento de vinte centavos nas tarifas de ônibus

em São Paulo. Junto com os brasileiros, iam às ruas as diversas reinvindicações por

melhorias de serviços prestados à população tais como saúde, educação e segurança.

Enfim, o Gigante estava acordando.

Não. O Gigante não acordou. Quase um ano se passou desde o inicio das manifestações.

Há quem diga que as diversidades de reinvindicações, embora justas, tiraram o foco do

movimento. Mas afinal, o que é necessário para construirmos o país que há tanto tempo

sonhamos?

Em sua obra intitulada Brasil, Um Sonho Intenso..., Jari Zamar nos apresenta uma

coletânea de propostas que pode servir de pontapé inicial para grandes mudanças no Brasil.

Num estilo conversante e ao mesmo tempo provocador, Jari Zamar nos faz repensar a real

importância da estrutura política e o modo como os brasileiros por ela são influenciados.

Desde mudanças simples às mais complexas, Brasil, Um Sonho Intenso... celebra o novo,

a coragem e o não conformismo. Tudo a favor da construção da nação futuro, a nação dos

sonhos, a nossa Pátria Amada; o Brasil.

Ricardo Clydeman Bertoldo

Estudante de Comunicação da UFMT

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1 - Introdução

Estes versos de nosso Hino Nacional se constituíram na grande fonte inspiradora para que

saíssemos do fundo do armário e viéssemos a público expor nossas ideias. É possível que

venhamos a falar de um sonho, mas como diz o Hino, um sonho intenso, muito intenso.

Um sonho de Amor e Esperança. Amor por esta terra que nos criou e nos sustentou.

Esperança por um futuro jubiloso para esta terra querida, nosso berço, tão achincalhada ao

longo dos anos, por alguns estrangeiros e, principalmente, por maus brasileiros que

desdenham seus irmãos. Portanto não falaremos apenas do amor. Infelizmente, seremos

obrigados também, em vários momentos, a citar e descrever o desamor. Queremos ter a

pretensão de que este livro atue como o raio vívido a descer à terra espantando o desamor,

levando-o para muito além de nossas fronteiras. Aos pessimistas de plantão, que insistem

em afirmar que o Brasil não tem jeito, enviamos um recado: leiam o livro e, depois,

engulam suas línguas. Não tem jeito para quem se acoita no comodismo e se nutre da

indolência, o que, evidentemente, não é o caso da imensa maioria do povo brasileiro.

Cutucando a memória, retornam à consciência imagens e frases que marcaram nossa

infância e adolescência. Ouvíamos, frequentemente, slogans do tipo: “Brasil, um país que

vai pra frente!”; “Brasil, país do futuro!”. E nossa mente viajava, imaginando que quando

alcançássemos a idade adulta estaríamos vivendo numa superpotência econômica, com

índices sociais de causar inveja aos suecos e finlandeses. Seria um país gerador de

tecnologia de ponta, com emprego em abundância, campeão na prevenção e no combate de

doenças infecciosas e degenerativas, onde moradores de rua fossem raros, raríssimos, e

desvinculados de problemas sociais, com violência urbana próxima de zero, uma

previdência social justa e eficiente e um povo desfrutando de felicidade permanente. Já se

passou meio século e percebemos aqueles velhos slogans da infância tão atuais como

nunca. Raios! Que futuro é esse que nunca chega?

Temos de admitir que avançamos bastante, nos últimos anos, no que tange aos parâmetros

sociais e ao combate à pobreza extrema, entretanto o Brasil ainda ocupa os últimos lugares

nas listas de vários indicadores sociais, quando comparado aos demais países.

“Brasil, um sonho intenso, um raio vívido

De amor e de esperança à terra desce.”

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Somos privilegiados com relação à situação geográfica. Temos um território amplo, que se

estende por vários graus de latitude, o que proporciona grandes variações climáticas sem,

no entanto, chegarmos aos extremos de temperatura verificados em outras partes do globo.

Isso nos garante uma considerável e diversificada produção agrícola. Possuímos inúmeros

recursos minerais que, embora finitos, parecem inesgotáveis a curto e médio prazo. Nossa

população atingiu um nível quantitativo e qualitativo que não pode ser desprezado. Então,

qual o motivo de ainda não termos dado o “pulo do gato”? Por que permanecemos

classificados como “país em desenvolvimento”? O que nos impede de ser desenvolvidos?

Por que não ocupamos o lugar de locomotiva na economia mundial? Até quando

continuaremos a ser um vergonhoso vagão de quinta categoria?

A impressão que dá é a de que somos uma Ferrari de centenas de cavalos no motor que

anda com o freio de mão puxado. Quem é o culpado ou quem são os culpados desta

contraditória e lastimosa situação? São os governantes? É a corrupção? É a histórica

herança cultural de colonizado? Creio que nossa sociedade já dispõe de aparelhos eficazes

para detectar e punir eventuais culpados por atos criminosos que prejudiquem nosso

desenvolvimento, portanto não é nosso papel, neste trabalho, sair caçando bruxas e

apontando culpados. Nosso objetivo é ampliar o leque de possíveis soluções capazes de

transformar aquele sonhado futuro em realidade presente. Em outras palavras, o que

desejamos é mostrar alguns caminhos que, se trilhados corretamente, converterão nosso

potencial em desempenho de alta qualidade. Pode ser que, a primeira vista, nossas

propostas pareçam utópicas e desconectadas com o momento que vivenciamos, contudo o

que almejamos é, justamente, viver uma realidade nova, melhor e diferente, logo temos de

nos desapegar de velhos padrões e ilusórios valores. Esperamos, sim, que tais proposições

sirvam de estopim para fomentar discussões e possibilitar novas ideias e estratégias que,

devidamente executadas, culminem, ainda nas próximas décadas, com a meta mais

sonhada por nosso povo sofrido. Que sejamos respeitados internacionalmente,

universalmente, porque somos uma potência econômica permeada pela justiça social!

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2 - Realidade Perversa

Nosso país é uma república constituída por vinte e sete estados, com uma superfície total

de mais de oito milhões e quinhentos e onze mil quilômetros quadrados. Alguns desses

estados ocupam uma área muito grande, como é o caso do Amazonas, o recordista (mais de

um milhão e quinhentos e setenta mil quilômetros quadrados), outros são minúsculos,

como Sergipe, com pouco mais de vinte e dois mil quilômetros quadrados. Em outras

palavras, no estado do Amazonas caberiam quase setenta e dois Estados de Sergipe. Essa

discrepância entre as áreas dos vários estados brasileiros tem razões históricas, algumas

delas datando do século XVI, da época das capitanias hereditárias. Esse imenso território,

dividido de forma um tanto o quanto irracional, é ocupado por uma população de

185 712 713 habitantes, segundo o censo de 2010. Hoje, com certeza, já devemos beirar ou

mesmo passar dos cento e noventa milhões de brasileiros.

Vivemos num regime democrático e, por mais que alguns reclamem do mesmo, alguém já

disse que é melhor uma democracia ruim do que uma ditadura boa. Arriscamos ir mais

além: Antes uma péssima democracia do que uma ditadura excelente! Embrulha nosso

estômago constatar que os direitos e a liberdade do cidadão estão sendo aviltados. Portanto,

podemos comemorar: apesar das inúmeras falhas e equívocos de nosso regime, apesar das

camufladas tentativas de sabotá-lo, vivemos, de fato, numa democracia. Se assim não o

fosse, nem teríamos o direito de pensarmos, escrevermos e publicarmos estas linhas. No

caso brasileiro, temos uma democracia representativa, isto é, além de elegermos nossos

governantes, elegemos também nossos representantes no legislativo, os Deputados,

Senadores e Vereadores, os quais são incumbidos de criar as leis que regem os destinos de

nossa sociedade e ajudam a fiscalizar o desempenho daqueles que exercem cargos

executivos. Em princípio, uma maravilha!

Nosso considerável contingente populacional (cerca de cento e noventa milhões de

habitantes, como vimos) paga seus impostos e espera o retorno na forma de serviços

básicos, como saúde e educação, além de investimentos em infra-estrutura (geração de

energia, estradas, etc.). Com relação aos impostos, o que percebemos, é que a União (leia-

se Governo Federal) fica com a maior parte do bolo, sobrando pouco para os estados e

pouquíssimo para os municípios. Isto é o resultado do famigerado Pacto Federativo. Desta

forma, dificilmente sobra recursos aos governos municipais para realizar os investimentos

necessários ao bem estar de seus cidadãos. Os orçamentos municipais, via de regra, são

consumidos com despesas de custeio. Resta aos prefeitos correrem à Brasília e às capitais

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de seus estados, “com o pires na mão”, implorando as benesses dos parlamentares, através

de suas emendas orçamentárias. Os prefeitos tornam-se reféns dos Deputados e Senadores,

sendo obrigados a lhes empenhar apoio político em troca de algumas migalhas que serão

distribuídas aos seus munícipes. Tal situação vergonhosa, calamitosa mesmo, é mais

gritante nos pequenos municípios, cuja receita própria é mínima, que dependem quase que

exclusivamente das verbas “liberadas a conta-gotas” pelo tesouro nacional e pelos

estaduais para sobreviverem. Se alguém duvida do que aqui se encontra escrito, basta

consultar, na internet, os orçamentos dos vários municípios brasileiros e entenderão de

imediato a realidade cruel a qual estão submetidos.

Por outro lado, os Deputados e Senadores “negociam” com o governo (poder executivo)

apoio político em troca de verbas (e outras coisinhas mais, como indicações de

apadrinhados para determinados cargos da administração pública) para realizarem suas

emendas e, com isso, asseguram a fidelidade dos prefeitos de suas bases. É o famoso “toma

lá, dá cá!”. Ou, como já disse um nobre Deputado, em determinada ocasião, “é dando que

se recebe!”.

Administrar esse gigantesco balcão de negociatas políticas deve ser uma tarefa

extremamente árdua, tanto é que nossos Deputados e Senadores são regiamente

recompensados para executarem-na com perfeição. Em 2009, o jornal Gazeta do Povo

publicou um artigo mostrando que o orçamento do Congresso Nacional, na época na casa

dos 6,28 bilhões de reais e contando com uma estrutura de 21.320 funcionários, era

superior ao de oito dos vinte e sete estados da federação. O estado da Paraíba, por exemplo,

com 3,6 milhões de habitantes, tinha um orçamento de apenas 5,85 bilhões de reais para

suas despesas. Também ficavam atrás do Congresso os estados do Acre, Alagoas, Amapá,

Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins, em termos de recursos para serem aplicados em

prol de suas respectivas populações. Estamos falando em nível federal, porém a realidade

das assembleias estaduais não é muito diferente, como veremos adiante. Para maior

esclarecimento acerca da situação, vejamos alguns dados da Transparência Brasil, uma

organização não governamental: nossos congressistas ocupam o segundo lugar no mundo

em custos para os cofres públicos, só perdendo para os parlamentares dos Estados Unidos

da América. Observem o quadro abaixo que traz dados referentes ao ano de 2007, quando

esse estudo foi realizado:

País Orçamento do Legislativo

(em reais) Parlamentares

Custo por Parlamentar

(em reais)

EUA 8,2 bilhões 535 15,3 milhões

Brasil 6,1 bilhões 594 10,2 milhões

Itália 3,8 bilhões 945 3,9 milhões

Alemanha 2,1 bilhões 614 3,4 milhões

França 2,2 bilhões 745 2,9 milhões

Canadá 952 milhões 413 2,3 milhões

Reino Unido 1,4 bilhão 646 2,2 milhões

México 1,2 bilhão 628 1,9 milhões

Chile 207 milhões 158 1,3 milhão

Argentina 427 milhões 329 1,3 milhão

Portugal 219 milhões 230 952 mil

Espanha 517 milhões 609 850 mil

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É claro que nosso parlamentar não embolsa, em um ano, todo o valor apresentado no

quadro. Este valor reflete o custo total para o país (para a população brasileira) com os

funcionários, assessores, combustível gasto pelos automóveis oficiais, auxílio moradia,

passagens aéreas, material gráfico, propaganda, telefonia, verba de representação, 14º e 15º

salários, assistência médica, sua própria e da família, aposentadoria e tudo o mais que se

encontra à disposição do nosso Deputado ou Senador no sentido de que ele possa exercer

seu mandato com maestria e sem maiores preocupações. Bota maestria e despreocupação

nisso! Caro leitor ou leitora, você imaginava quão dispendioso fica para o país representar

a sua voz em Brasília?

Para que os valores do quadro acima possam ser avaliados de uma forma mais sensata, faz-

se necessário compará-los aos PIBs per capita (PIB = Produto Interno Bruto) dos países

confrontados. O PIB per capita é calculado dividindo-se a soma de todas as riquezas

produzidas no país, em determinado período de tempo, pelo número total de habitantes do

país considerado, no mesmo período. Ele é um dos melhores parâmetros para avaliar a

situação econômica da população de cada país. Ou seja, quanto maior o PIB per capita

maior a disponibilidade de recursos para cada pessoa que vive naquele país. Os dados da

tabela seguinte referem-se ao ano de 2012 e foram divulgados pelo FMI (Fundo Monetário

Internacional).

País PIB per capita (em dólares)

Estados Unidos 49.000

Canadá 41.100

Alemanha 38.400

Reino Unido 36.600

França 35.600

Espanha 31.000

Itália 30.900

Portugal 23.700

Argentina 17.700

Chile 17.400

México 14.800

Brasil 11.900

Ironicamente, o país que tem o segundo Congresso mais caro do mundo fica na rabeira, de

lanterninha, quando analisamos o potencial econômico de seu povo. Na verdade, o Brasil

ocupa o centésimo primeiro lugar no ranking do PIB per capita, ficando atrás de países

como Costa Rica, Turquia, Irã e da vizinha Venezuela.

Agora, expliquem (desculpem nossa ignorância): como é que o país cujo povo,

comparativamente, encontra-se no 101º lugar em termos de riqueza de seus

habitantes se dá ao luxo de possuir o segundo Congresso mais caro do mundo? Alguém poderia dizer: vivemos numa meritocracia, os mais capazes adquirem o direito de

desfrutar de maiores rendas. Em nosso entendimento, este absurdo que acabamos de ver

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está muito longe de ser uma meritocracia. Trata-se de uma exorbitocracia! Perdoem-nos

por ter criado um novo vocábulo, mas não conseguimos encontrar outro, em nosso

riquíssimo vernáculo, que expressasse tamanha excrescência com a contundência e

veemência necessárias.

Sim! Vivemos numa exorbitocracia, onde alguns poucos privilegiados desfrutam de

benefícios exorbitantes em contraste com a grande massa da população que sobrevive

com salário mínimo ou com as esmolas dos programas governamentais de transferência de

renda. População sofrida que é transportada em coletivos superlotados e em condições

precárias; se acumula em longas filas, nas portas dos hospitais, implorando para não morrer

à míngua; vê seus filhos obrigados a ingressar precocemente no mercado de trabalho, na

maioria das vezes sem ter concluído o ensino fundamental; além de ser o alvo preferido da

violência urbana.

O que constatamos é, realmente, um escândalo! E a grande mídia aponta seus holofotes

para o escândalo do mensalão, desviando a atenção do povo brasileiro para que ele

permaneça obnubilado, anestesiado, diante da sangria que lhe é imposta pelos seus

legítimos representantes. Segundo o Ministro Carlos Ayres Brito, do Supremo Tribunal

Federal, os réus do mensalão desviaram cerca de R$153.000.000,00 (cento e cinquenta e

três milhões de reais). Pois bem, o Congresso Nacional consome mais de

R$6.000.000.000,00 (seis bilhões de reais por ano), cerca de quarenta vezes mais do que

foi desviado no mensalão. E todo mundo fica caladinho! Abrindo os olhos para esses

números, concluímos que o mensalão, o maior caso de corrupção da história do país, é

ridiculamente insignificante. Claro que não estamos defendendo aqueles que optaram pela

corrupção, pela ilegalidade. Claro que eles merecem e devem ser punidos, mas trouxemos

essa comparação, aqui, para que todos tenham a verdadeira dimensão do escândalo que

custa os nossos parlamentares aos cofres da nação. E é um escândalo institucionalizado,

legalizado! Não estamos falando de crimes. Está tudo previsto na Lei! É um escândalo

chapa branca, parafraseando meu conterrâneo e ilustre músico Lobão. Mas, afinal de

contas, a Lei é confeccionada por eles mesmos, os Deputados e Senadores. Há um velho

ditado popular que diz: “quem parte e reparte e não fica com a maior parte, ou é bobo

ou não tem arte!”.

Sinceramente, se fôssemos Deputado ou Senador e tomássemos consciência dessa

calamidade estarrecedora que foi demonstrada, teríamos até vergonha de aparecer em

público novamente. Não praticaríamos suicídio, nem renunciaríamos ao mandato! Isso não

adiantaria nada. Outro tomaria o assento no parlamento, talvez com um nível de

consciência inferior ao nosso. Iríamos, sim, nos engajar na luta para transformar essa

realidade. Faríamos valer a confiança que o povo nos depositou para pelejar junto com este

mesmo povo por uma justa e digna distribuição dos recursos da União!

Entretanto, não podemos posar de anjinhos inocentes e achar que nossos congressistas são

algozes mal intencionados. De forma alguma! Se a situação é esta que aí se encontra, a

sociedade como um todo, graças à sua omissão, colaborou para que isso acontecesse.

Grande parte dos eleitores brasileiros, transcorrido um ano da eleição, já não se lembra

mais do nome do deputado que ele votou. Se perguntarmos ao nosso cidadão o teor das leis

que foram aprovadas pelos legislativos e sancionadas pelos respectivos governantes, no

mês em curso, veremos que o desconhecimento ultrapassa a casa dos 90% (noventa por

cento). Em outras palavras, somos cúmplices desse escândalo, ainda que

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inconscientemente! É bem verdade que somos habilmente manipulados pela mídia,

subserviente aos interesses dos que detêm o poder, para continuarmos vagando pelas trevas

do inconsciente no que tange à conjuntura nacional. As escolas também não parecem

capacitadas ou interessadas em aprofundar e esmiuçar essa temática. Os proventos

oferecidos aos professores não são atrativos para as cabeças mais pensantes emergentes do

público universitário. O que temos verificado, ultimamente, nas estatísticas dos exames

vestibulares e das provas do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) é que os

estudantes que alcançam as piores pontuações são justamente aqueles que se destinam aos

cursos relacionados com o magistério. Para que tenhamos uma ideia a respeito de nosso

sistema educacional, uma pesquisa desenvolvida pelo Economist Intelligence Unit (EIU)

revelou que a educação no Brasil está em penúltimo lugar, dentre os países avaliados. A

Colômbia, a Tailândia, o México e até Portugal estão na nossa frente. O pior é que a gente,

aqui, se diverte contando piadas, insinuando que português é burro. Analisem o próximo

quadro e, depois, nos digam quem são os burros, ou melhor, os cegos.

RANKING GLOBAL DA EDUCAÇÃO 1º Finlândia 11º Irlanda 21º Suécia 31º Grécia

2º Coréia do Sul 12º Dinamarca 22º República Tcheca 32º Romênia

3º Hong Kong 13º Austrália 23º Áustria 33º Chile

4º Japão 14º Polônia 24º Itália 34º Turquia

5º Cingapura 15º Alemanha 25º França 35º Argentina

6º Grã-Bretanha 16º Bélgica 26º Noruega 36º Colômbia

7º Holanda 17º Estados Unidos 27º Portugal 37º Tailândia

8º Nova Zelândia 18º Hungria 28º Espanha 38º México

9º Suíça 19º Eslováquia 29º Israel 39º Brasil

10º Canadá 20º Rússia 30º Bulgária 40º Indonésia

A equipe econômica do Governo vai a público e brada, quase em êxtase, que somos a

sétima economia do mundo. Por que o Ministro da Educação também não aparece na

televisão comemorando o “honroso” trigésimo - nono lugar no quesito qualidade

educacional?

Sétima economia mundial, segundo Congresso mais dispendioso do mundo, trigésimo -

nono colocado em qualidade de educação e centésimo - primeiro lugar no ranking do PIB

per capita. Esta é a nossa Pátria Amada Brasil! São muitas e grandes as disparidades e,

curiosamente, o papo no boteco é sobre quem será o centroavante de nossa seleção; no

salão de beleza, discute-se os últimos lançamentos para a moda verão. Como vocês podem

notar, somos coniventes com a exploração a que estamos sendo submetidos.

Lamentavelmente, o palco está montado para que essa peça (Tragédia Brasileira)

permaneça em cartaz por longos e longos anos. Algo precisa ser feito, e com urgência, caso

contrário, jamais deixaremos de ser o país do futuro, embora uma seleta minoria já desfrute

nababescamente do presente.

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3 - O que fazer?

Apresentaremos, a seguir, algumas propostas que fazem parte de um conjunto, de um todo,

que, uma vez executado, levará, com absoluta certeza, o país ao patamar tão desejado pela

grande maioria dos cento e noventa milhões de brasileiros. Assim sendo, analisar uma das

propostas isoladamente, sem inseri-la no convívio com as demais, pode ser uma atitude

leviana que, certamente, acarretará conclusões equivocadas. Teremos, didaticamente, de

apresentá-las uma a uma, todavia seu julgamento necessitará de uma visão global sobre o

pacote de ideias.

Evidentemente, não temos a pretensão de ser o “Salvador da Pátria”, portanto estamos

abertos a críticas, sugestões e aprimoramentos, até porque o conjunto de propostas que será

apresentado é fruto de reflexões coletivas com lideranças políticas e comunitárias,

discussões com sindicalistas de várias categorias profissionais e também com pessoas

comuns. Possivelmente, nosso mérito foi apenas o de compilar várias ideias, filtrá-las e

organizá-las num sistema coerente e abrangente.

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4 - Reestruturação Geopolítica

O primeiro ponto a ser discutido é a divisão geopolítica do Brasil. Um dos princípios

fundamentais da administração é a divisão de tarefas, a delegação de poderes. É natural,

então, que nosso território seja dividido em pedaços estanques para facilitar a

administração. Durante o período colonial, tivemos as Capitanias Hereditárias. No império,

foram as Províncias e, atualmente, na república, são os Estados. Como já foi visto, temos

estados territorialmente gigantes e outros anões. Excetuando o Rio de Janeiro, que sediou a

capital do país durante muitos anos, e o próprio Distrito Federal, verificamos que tanto os

gigantes quanto os anões contribuem de forma bem tímida na construção do PIB brasileiro.

Temos pleno conhecimento de que inúmeros fatores são condicionantes desse resultado,

porém entendemos que a extensão territorial não pode ser desprezada. Desta forma,

pensando num país no qual todos os seus estados federados tenham uma administração

ágil, detentora de um conhecimento real dos problemas que afligem a totalidade de sua

população, defendemos uma reestruturação do mapa do Brasil, dividindo-o em vinte e

dois estados com áreas de tamanhos semelhantes. Uma nação que almeja o status de

país de primeiro mundo, altamente desenvolvido, não pode ficar presa a motivações

geradas a cerca de quinhentos anos, nem tampouco a bairrismos obsoletos e interesses

espúrios de velhos caciques políticos regionais. Temos de nos preparar adequadamente

para entrar na próxima década vivendo o Novo. Vivendo a felicidade de nosso povo!

Nesse Novo Brasil, será impraticável imaginarmos um Governador de Estado tendo de

percorrer áreas como a do Estado do Pará para conseguir o contato direto com o drama

enfrentado por cada cidadão de sua jurisdição. Imagine quanto tempo e combustível é

consumido numa peregrinação dessa natureza. Sabemos também que a descentralização

administrativa é um dos fatores que incentivam o desenvolvimento de uma região. Temos

vários exemplos onde isso ocorreu, um deles é Goiás/Tocantins. A existência de

microestados, como o de Sergipe, também não é satisfatória. Falta espaço e gente para

garantir um saudável crescimento econômico. A fusão do antigo estado da Guanabara com

o antigo Rio de Janeiro, formando o atual Estado do Rio de Janeiro, trouxe vários

benefícios para ambos.

Deixar a decisão sobre divisões e fusões territoriais a cargo de plebiscitos, como está

previsto em Lei, não configura a essência da democracia. A nosso ver, não passa de

democratismo, uma pitoresca caricatura de democracia. Tal decisão deveria ser tomada por

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nossos representantes eleitos, após exaustivos estudos elaborados por comissões formadas

por geógrafos, geólogos, economistas, engenheiros, enfim, pessoas com formação

suficiente para apontar as vantagens e prejuízos desta ou daquela alteração dos limites

legais de cada unidade federativa. Durante a fase de estudos, a população deveria ser

ouvida, através de sugestões, debates, audiências públicas, etc. Aí sim, teríamos a

participação popular. Isso, realmente, é democracia!

Notem que falamos em vinte e dois estados, e não em vinte e sete. As novas unidades

federativas, excetuando o Distrito Federal, seriam um pouco menores ou um pouco

maiores do que o atual Estado do Mato Grosso do Sul, facilitando a comunicação e o

transporte de pessoas e mercadorias dentro de seus limites. Com a extinção de cinco

estados, teremos cinco assembleias legislativas a menos, cinco máquinas administrativas a

menos. Vocês já pensaram na economia que significará para o país esse novo desenho

geopolítico? Apenas com essa medida já começaria a aparecer mais recursos para serem

aplicados na construção e conservação de estradas, na melhoria dos hospitais e postos de

saúde e no incremento do salário dos professores, por exemplo. Basta ter coragem e

ousadia para viver o Novo!

Uma análise mais aprofundada do assunto, realizada por profissionais especializados, pode

concluir que o número ideal de estados seja vinte e três ou vinte e quatro. Tudo bem! O

espírito da proposta estaria mantido. Acreditamos que poderia até chegar a vinte e cinco.

Mais do que isto, não faria sentido. Seria continuar ou piorar esse escoamento do dinheiro

público através do ralo que representam as onerosas máquinas administrativas formadas

pelos executivos e legislativos estaduais. Quando falo em onerosas máquinas, não estou

brincando. Aquele mesmo estudo, já aqui citado, realizado pela Transparência Brasil,

mostrando o salgado preço dos congressistas brasileiros para os cofres públicos também

nos mostrou que o custo por parlamentar das assembleias legislativas de quinze

estados brasileiros é superior ao do parlamento italiano (terceiro país do mundo no

ranking dos parlamentos mais caros). É mole? Explicando melhor, se estes quinze

estados brasileiros fossem considerados como países, a Itália cairia para a décima - oitava

posição neste ranking. Os estados brasileiros que deixaram a Itália para trás, neste quesito

são, em ordem decrescente: Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do

Norte, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Sergipe,

Goiás, São Paulo, Roraima, Amazonas, Paraná e Alagoas. Vamos tomar um exemplo para

ilustrar: no Estado de Sergipe, o custo da Assembleia Legislativa, em 2007, foi de 5,4

milhões de reais, por deputado, enquanto seu PIB per capita foi de, aproximadamente,

7.500 dólares em 2012. Já o Canadá, em 2007, teve um custo por parlamentar de 2,3

milhões de reais e, em 2012, seu PIB per capita foi de 41.100 dólares. O gasto por

Deputado em Sergipe é 2,35 vezes maior do que o gasto por parlamentar no Canadá, no

entanto o seu PIB per capita é 5,48 vezes menor. Ou seja, se tomarmos o PIB per capita

como um parâmetro justo para nortear os gastos de um povo com seus representantes

legais, chegamos a triste conclusão que a Assembleia Legislativa de Sergipe, quando

comparada ao parlamento do Canadá, está recebendo quase 13 (treze) vezes mais do que

deveria receber. MAGNÍFICO! Para os Deputados sergipanos e seus assessores, é claro!

Para o resto do povo sergipano, agora, fica mais fácil de entender a dificuldade em

contratar mais médicos (precisa trazer de Cuba!), os buracos nas estradas que chegam a

completar aniversário, etc. Chamar isso de extorsão é eufemismo. Nem os parasitos mais

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agressivos, mais lesivos, conseguem efetuar tamanha espoliação em seus hospedeiros.

Usamos Sergipe como exemplo, mas não pensem que a situação dos demais estados é

muito diferente. E então, vocês acham que quando falamos dos “marajás do legislativo”

estamos delirando? Enquanto este Everest de desigualdade continuar existindo, nosso país

permanecerá ocupando vergonhosas posições nos rankings dos parâmetros sociais e nos

distanciaremos cada vez mais do título de país desenvolvido.

A título de sugestão preliminar, para iniciar o debate, vamos propor, no quadro seguinte,

um novo modelo de divisão territorial. Analisem esse modelo e façam suas sugestões e

críticas.

Estado Formação Estado Formação

01 Acre + região sudoeste do

Amazonas 12 Maranhão

02 Roraima + região noroeste do

Amazonas 13

Ceará + região centro-norte do

Piauí

03 Região central e leste do

Amazonas 14

Rio Grande do Norte + Paraíba +

Pernambuco + Alagoas

04 Amapá + região noroeste do Pará 15 Sergipe + região nordeste da

Bahia

05 Região nordeste do Pará 16 Região sul do Piauí + região

centro-oeste da Bahia

06 Região centro-sul do Pará 17

Região sul da Bahia + região

nordeste de Minas Gerais +

Espírito Santo

07 Rondônia + região noroeste do

Mato Grosso 18

Rio de Janeiro + região sudeste de

Minas Gerais

08 O restante do Mato Grosso 19 O restante de Minas Gerais

09 Tocantins 20 São Paulo + Paraná

10 Mato Grosso do Sul 21 Rio Grande do Sul + Santa

Catarina

11 Goiás 22 Distrito Federal

Sendo nossa proposta aceita, aprovada e colocada em prática, as diferenças econômicas

entre os estados continuariam a existir, contudo a agilidade administrativa alcançada nos

estados mais pobres desencadearia uma aceleração em seus respectivos desenvolvimentos

que resultaria numa diminuição progressiva dessas diferenças, com o passar dos anos. Aí,

de fato, teríamos um Brasil competitivo!

Para que essa medida atingisse seus objetivos com maior eficácia, algumas outras medidas

paralelas e complementares teriam de ser tomadas. Não adiantaria muito reduzir a

quantidade de Assembleias Legislativas se a quantidade de Deputados em cada uma das

restantes aumentasse desmedidamente. Seria trocar seis por meia dúzia. O que garante a

eficiência da democracia não é a quantidade de representantes do povo e sim a sua

verdadeira representatividade, sua legitimidade, sua honestidade e sua qualidade. Torna-se,

então, necessária uma revisão legal dos parâmetros que determinam o número de

Deputados por unidade federativa. Não pugnamos por uma redução drástica, da ordem de

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50% (cinquenta por cento), por exemplo. Entretanto, uma redução em torno de 20% (vinte

por cento) seria extremamente salutar para as finanças públicas e, consequentemente,

benéfica para a população. É inadmissível que, além de possuirmos o segundo Congresso

mais caro do mundo, ainda tenhamos quinze Assembleias Legislativas mais dispendiosas

do que o parlamento do país que ocupa o terceiro lugar na lista dos congressos mais

onerosos. Repito: basta ter coragem e ousadia para viver o Novo!

No caso específico da região norte do país, caracterizada por baixa densidade demográfica

e com um PIB reduzido, uma outra medida precisaria ser tomada visando aumentar o

impacto positivo das mudanças. Deveríamos transferir as capitais estaduais dos novos

estados criados pela fusão do Acre, de Roraima e do Amapá com partes dos territórios do

Amazonas e do Pará para cidades pequenas, localizadas estrategicamente na região central

de cada novo estado. A consequência imediata seria um maior fluxo migratório para essas

novas sedes administrativas e maior controle sobre o desmatamento da Amazônia. As

antigas capitais, Rio Branco, Boa Vista e Macapá já têm infra-estrutura suficiente para

seguirem seus caminhos sem a necessidade da presença constante do governador e de seus

auxiliares diretos. Cada uma delas buscaria sua vocação e prosseguiria seu

desenvolvimento natural. Lembrem-se do efeito positivo ocasionado pela transferência da

capital federal para a região central do país, na época também com baixíssima densidade

demográfica. O Rio de Janeiro não morreu por causa disso, como alguns apregoavam,

muito pelo contrário.

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5 - Revisão do Pacto Federativo

A vida dos cidadãos acontece nos municípios. É lá que ele nasce, cresce, estuda, namora,

trabalha, participa de decisões políticas, etc. Lá, ele dá bom dia para o prefeito, esbarra

com o vereador no supermercado, toma sua cerveja no boteco do secretário de obras e

assim por diante. Como dizia o falecido senador Franco Montoro, “As pessoas moram no

município.” Governador, Presidente da República, Senador, Ministro de Estado, para o

cidadão comum, são entidades tão televisivas, tão etéreas, quanto Odete Roitman ou Darth

Vader. Deputado, ele vê, de vez em quando, geralmente em períodos de campanha

eleitoral. Portanto é no município que o cidadão, realmente, interfere com a administração,

cobra seus direitos, fiscaliza, vê de perto o resultado da aplicação de seus impostos. Logo,

é inconcebível que os municípios recebam uma parcela tão ínfima dos impostos federais,

através do FPM (Fundo de Participação dos Municípios). A participação dos municípios

nos recursos públicos federais precisa e deve ser maior do que é atualmente. Hoje, segundo

a CNM (Confederação Nacional dos Municípios), quase 60% (sessenta por cento) desses

recursos ficam com a União. Cerca de 25% (vinte e cinco por cento) são divididos entre os

vinte e sete estados e, pouco mais de 15% (quinze por cento) é rateado entre os 5.564

(cinco mil e quinhentos e sessenta e quatro) municípios brasileiros. Mais um escândalo

para nossa coleção! Este modelo concentrador de recursos na mão do poder central é herança dos tempos

coloniais, quando a Coroa Portuguesa sugava as riquezas produzidas em nosso território

para manter os luxos da Corte (Agora, sustentamos os luxos de quem?). Ele permaneceu

durante o império, se perpetuou através da república, se cristalizou com a ditadura militar

implantada em 1964 e foi questionado pela Constituição de 1988 que buscou reverter o

quadro, descentralizando os recursos e também passando mais encargos e atribuições para

os municípios, principalmente nas áreas de saúde e educação. De lá para cá, o que se viu

foram manobras dos poderes executivos estaduais e do federal no sentido de retomar a

quase totalidade dos percentuais que haviam sido repassados aos municípios em 1988. Tais

manobras acontecem através de emendas constitucionais e leis complementares que

acabaram por deturpar, transfigurar completamente o espírito democrático e republicano da

já citada Constituição. Resultado: voltamos ao modelo concentrador de recursos na mão do

Governo Federal, porém com uma quantidade de obrigações que, antes, eram das alçadas

federal e estaduais e, agora, passou a ser responsabilidade municipal. Em outras palavras,

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aumentaram o trabalho dos municípios e reduziram a oferta de recursos para dar conta

deste mesmo trabalho. Entenderam porque as prefeituras brasileiras vivem na penúria,

enquanto os marajás do planalto esbanjam, ostentam e ditam regras para manter a situação

exatamente como se encontra?

Aí, eles vão argumentar: mas as verbas da educação e da saúde são repassadas para os

municípios através do FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação

Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), e dos vários programas federais,

como o ESF (Estratégia da Saúde da Família), por exemplo. Quem conhece a realidade

municipal está careca de saber que os valores desses repasses estão bem aquém do que, de

fato, é necessário para atender à população condignamente. Consequência: entra prefeito,

sai prefeito, mudam os partidos e o povo está sempre insatisfeito. Nenhum prefeito presta.

Claro! Como é possível administrar bem um município, se a prefeitura vive afogada em

dívidas (algumas delas forjadas pelo próprio poder central, como a previdenciária) e

enforcada pela exiguidade de recursos que lhe é repassada pelas esferas superiores?

Alguém poderia perguntar: as emendas constitucionais e as leis complementares não

precisam ser aprovadas pelo Congresso? Como é que os Deputados e Senadores

permitiram essas manipulações centralizadoras dos recursos públicos por parte do poder

executivo? Os Deputados não são representantes do povo? Os Senadores não representam

seus respectivos Estados, e os municípios que compõem seus Estados? Por que eles não

defenderam os interesses daqueles que os elegeram? Vocês já se esqueceram das barganhas

envolvendo o Congresso e o poder executivo? O Governo libera verbas para os Deputados

e Senadores elaborarem suas emendas orçamentárias, nomeia um ou outro felizardo

indicado pelos congressistas, em troca da aprovação dos projetos de lei que favorecem a

concentração dos recursos públicos em suas próprias mãos. Trocando em miúdos: com

relação ao destino das verbas públicas, os Deputados e Senadores, independente de

militarem na situação ou oposição, se esquecem de colocar como prioridade os verdadeiros

anseios e interesses de seus concidadãos e ficam engambelando-os com um postinho de

saúde aqui, uma ambulanciazinha ali, um asfaltozinho acolá, através de suas célebres

emendas orçamentárias. Claro que alguns parlamentares têm se posicionado contra essa

maracutaia legalizada, mas, infelizmente, fazem parte de uma minoria e suas vozes

acabam abafadas pelo burburinho ávido por mais e mais privilégios que permeia os

corredores e gabinetes do Planalto Central.

Não pensem os senhores que a atitude faminta por recursos, descrita anteriormente, é típica

deste ou daquele partido, desta ou daquela posição ideológica. De forma alguma! De 1988

para cá, vários partidos se alternaram na Presidência da República e, em relação à

centralização de capital e poder, não conseguimos distinguir grandes diferenças entre eles.

Parece que seus matizes ideológicos se confundem quando o assunto é quem fica com o

controle da maior parcela do dinheiro público. Enquanto estão na oposição, reclamam,

denunciam, fazem a maior algazarra. Quando chegam ao poder, esquecem de quase tudo

que defendiam e repetem ações semelhantes (que antes criticavam) aos seus antecessores.

Para justificar essa conduta centralizadora de recursos que, em nossa opinião, é um dos

maiores entraves ao pleno desenvolvimento do país, procuram criar ilusões em nossas

mentes, tais como: os municípios não dispõem de equipes técnicas gabaritadas para gerir

seus recursos e acabam desperdiçando-os. Somente o Governo Federal e os estaduais têm

condições para administrar corretamente essa quantidade enorme de dinheiro. Dá vontade

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de rir, quando escutamos estas sandices. Cremos que nem o nobre deputado e ex-palhaço

Tiririca seria capaz de elaborar piadas tão engraçadas. A quantidade de obras federais e

estaduais paralisadas, abandonadas, dispersas pelo país é de cair o queixo. E eles ainda se

acham no direito de falar em desperdício de verbas públicas no âmbito municipal. Quanto

ao suposto despreparo das equipes técnicas municipais, se ele realmente existe, a falha está

na própria União que deveria prover o treinamento necessário para que todos os seus entes

federados possam desenvolver-se de maneira harmônica.

Outra que já ouvimos: o Presidente da República é eleito com uma quantidade de votos

muito maior do que qualquer prefeito, logo tem maior legitimidade para gerir os recursos

públicos. Cá entre nós, esta não resiste a uma análise matemática simples. Boa parte dos

prefeitos do país foi eleita com um percentual de votos maior do que o do presidente.

Sendo assim, entre seus munícipes, esses prefeitos estão mais legitimados que o chefe do

poder executivo federal. Imaginemos um município no qual o presidente eleito perdeu em

suas urnas. Lá, então, a legitimidade deste presidente poderia ser bastante questionada, não

é mesmo? Alguns, temerosos de perder suas regalias, argumentam que colocar muitos

recursos nas mãos dos prefeitos facilitaria o desvio de verbas públicas, facilitaria a

corrupção. Parece que eles se esquecem de que o maior caso de desvio de verbas da

história do país, o mensalão, aconteceu no âmbito federal e não no municipal. Além disso,

atualmente, os prefeitos vivem cercados de instâncias fiscalizadoras, os TCMs (Tribunais

de Contas dos Municípios), as Câmaras de Vereadores, o Ministério Público, os vários

Conselhos Municipais, sem falar na CGU (Controladoria Geral da União), que poderia ser

ampliada com funcionários ociosos de outras instâncias e exercer seu papel de forma mais

eficiente ainda. Tal fiscalização tem dado resultados, tanto é que, frequentemente, casos de

corrupção nas prefeituras têm sido descobertos, investigados, e os responsáveis acabam

punidos. Está na mídia! Só não vê quem não quer!

Nossa Constituição fala em autonomia político-administrativa dos entes federados.

Entende-se, portanto, que os municípios devem gozar desta autonomia. A verdade é que

isto não passa de falácia. Vivemos uma farsa! É possível autonomia político-administrativa

sem autonomia financeira? Com a grande redução dos recursos destinados aos municípios,

com a transferência de recursos carimbados, isto é, que só podem ser empregados com

determinada finalidade e com o rigor da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF),

exterminaram com a autonomia financeira dos municípios. Aí está um bom tema para ser

discutido no Supremo Tribunal Federal (STF). O Artigo 18 da Constituição está sendo

vilipendiado, violentado, aviltado, pela voracidade concentradora de recursos do Governo

Federal, tendo o Congresso como cúmplice desse ultraje à nossa Carta Magna. As emendas

constitucionais e outras leis que perpetraram tamanha perversidade contra o povo brasileiro

ferem frontalmente o já mencionado artigo e toda filosofia da Constituição Cidadã. Será

que o STF, o Guardião da Constituição, permanecerá mudo diante de fatos tão

estarrecedores? Será que, por terem sido nomeados por Presidentes da República, os

Ministros do STF tornam-se cegos aos estapafúrdios efeitos das leis gestadas pelas equipes

econômicas destes mesmos Presidentes? Se assim o for, teremos também de rever os

critérios e a forma de se ocupar as cadeiras de nosso mais Egrégio Tribunal.

Acreditamos que as análises conjunturais já deixaram o assunto bem esclarecido.

Passaremos, agora, à parte numérica de nossa proposta. Nela, a União ainda permanece

detendo a maior fatia do bolo (40%), porém abre mão de cerca de 20% em prol dos seus

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entes federados. Para compensar, é claro que ela ficará livre de vários encargos e também

terá suas despesas de custeio diminuídas. Os estados, por sua vez, ganham um pequeno

aumento em suas participações. Passam dos atuais 25% para 30%. Aparentemente, não é

tanto assim, mas considerando-se que houve uma redução na quantidade total de estados

(de 27, tornaram-se 22), os recursos a eles destinados serão divididos por um número

menor de unidades, o que resultará num significativo incremento na participação de cada

um deles (em torno de 22% a mais). Os 5.564 municípios saem dos seus míseros 15% de

participação e terão o dobro, 30%, para dividirem entre si. Defendemos que este seja um

percentual justo, decente e coerente com a complexidade do cotidiano municipal. Estes

novos percentuais, certamente, corrigirão a esdrúxula distorção que somos obrigados a

viver nos dias de hoje e abrirão múltiplas oportunidades para o desenvolvimento social,

científico e tecnológico, uma vez que serão inúmeros os entes investindo em pesquisa e

trocando informações entre si. Hoje, mal temos a União e alguns estados fazendo este

importantíssimo papel.

O gráfico seguinte nos mostra, com clareza, a essência de nossa proposta. Nele, as colunas

verticais indicam o percentual dos recursos públicos repartidos entre os entes federados:

Complementando esta distribuição mais equilibrada dos recursos públicos, outras medidas

deverão ser tomadas. Tanto o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), como o Fundo

de Participação dos Estados (FPE) continuarão sendo rateados proporcionalmente às

populações de cada ente federado, entretanto aquele mecanismo que procura compensar os

estados mais carentes seria extinto e substituído por outro mais justo, a nosso ver. Então,

em princípio, apenas o parâmetro populacional seria levado em consideração para o cálculo

das cotas do FPE de cada estado. Esta medida agradará bastante aos estados mais ricos da

federação, como São Paulo, por exemplo, e não trará prejuízos aos mais pobres porque,

como as fronteiras serão redefinidas, alguns terão um aumento significativo em suas

populações, o que proporcionará uma cota considerável de FPE. Além disso, estamos

propondo a criação de um Fundo Nacional para enfrentar situações de emergência e

calamidade, bem como para investir no desenvolvimento dos estados e municípios mais

carentes, o que compensaria, amplamente, o mecanismo de cálculo atual, que seria extinto.

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Vamos chamar este fundo de FEID (Fundo para Emergências e Incremento ao

Desenvolvimento). Ele seria formado por 0,2% (dois décimos por cento) de todo o valor

destinado ao FPE e FPM, bem como 0,1% (um décimo por cento) do orçamento da União,

descontados o FPE e o FPM. Seria uma espécie de seguro que todos os entes federados

pagariam para garantirem ações rápidas e eficazes por parte da União (gerenciadora do

FEID) em caso de calamidades (enchentes, ciclones, secas duradouras, etc.) em seus

respectivos territórios. Parte deste fundo seria destinada às ações de infra-estrutura

necessárias à aceleração do desenvolvimento dos estados e municípios com menores

contribuições para a formação do PIB nacional. Apesar da gestão do FEID ficar a cargo do

Governo Federal, seria necessária a existência de uma comissão tripartite, com poder

fiscalizador e deliberativo, que determinaria as prioridades a serem atendidas em cada

momento. Sugerimos que esta comissão seja formada por 15 (quinze) membros, com

mandatos de dois anos, improrrogáveis. Seriam três membros indicados pelo Presidente da

República, escolhidos entre seus Ministros; cinco membros indicados pelos Governadores

dos Estados, escolhidos entre seus Secretários Estaduais, sendo que um de cada uma das

regiões geográficas do país (norte, nordeste, sudeste, centro-oeste e sul) e sete indicados

pelos prefeitos, escolhidos entre seus Secretários Municipais, sendo que cada um deverá

ser proveniente de estados diferentes dos demais membros, tanto os indicados pelos

prefeitos, como os indicados pelos governadores. Com isso, teremos, pelo menos, doze

estados representados na referida comissão. Claro que deverá haver reuniões entre os

governadores de cada região e entre os prefeitos do país para a indicação dos membros da

comissão tripartite. Estas reuniões não precisariam ser presenciais. Já estamos na era das

teleconferências, porém uma ata assinada por todos será sempre necessária. Mas também

existem tecnologias para isso (fax, scanner, assinatura digital, etc.).

Outra medida necessária será mudar a escala dos índices que regulamentam a distribuição

do FPM, de acordo com a população do município. Hoje, ela se inicia no índice 0,6 para

municípios que tenham população até pouco mais de 10.000 (dez mil) habitantes e vai

subindo, gradativamente, de 0,2 em 0,2. Isto ocasiona terríveis distorções, principalmente

entre os municípios mais pobres cujas arrecadações próprias são desprezíveis. Vamos

exemplificar: um município com 10.000 habitantes recebe de FPM exatamente a mesma

quantia de outro com 2.500 habitantes. Como as demais rendas de ambos os municípios

são insignificantes, a situação daquele que tem população maior torna-se insustentável.

Imagine um casal sem filhos que vive com um salário mínimo. Agora, imagine um casal,

morando na mesma rua do outro, vivendo com um salário mínimo e tendo que sustentar

seis filhos menores. É exatamente assim que ficam os municípios com populações

próximas aos 10.000 habitantes. O problema se repete com os municípios que tem

populações maiores e próximas ao limite de mudança de índice. Um gigantesco absurdo!

Os estudos estatísticos que sustentam tal disparate podem ter sido exatos e tecnicamente

perfeitos, todavia esbanjaram desumanidade, por desconhecerem a realidade em que vive

grande parte da população brasileira. É muito fácil estar num escritório, com o

condicionador de ar ligado e o carrão esperando na garagem do prédio, elaborando

números que decidirão o destino de milhões de pessoas. Queremos ver esses tecnocratas

pisando o leito de um rio seco, sob um sol escaldante, tendo de cavar cinco ou seis metros,

chão a dentro, para conseguir um copo d’água e chegando às mesmas conclusões acerca da

distribuição dos recursos públicos. Propomos que o índice para distribuição do FPM suba

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mais suavemente, de 0,1 em 0,1, estabelecendo-se novos pontos de corte nos tamanhos das

populações municipais, entre os já existentes, que não deixariam de existir. Por exemplo, o

primeiro ponto de corte seria para os municípios com até 6.000 habitantes. A eles

corresponderia o índice 0,6. O próximo grupo receberia o índice 0,7. Seriam os municípios

entre 6001 e 10.000 habitantes. E assim prosseguiria a tabela. Deste modo, a distribuição

dos recursos contemplaria com mais justiça a real quantidade de pessoas residente em cada

unidade federativa.

Como vocês podem ver, os municípios recebem pancadas de todos os lados! A corda

sempre arrebenta do lado mais fraco! Contudo, o que o governo brasileiro vem fazendo,

inconsequentemente, ao longo de décadas é dar tiros nos próprios pés! E usando uma

metralhadora para fazer isto! Um país forte precisa de municípios fortes! Enfraquecendo os

municípios, o país também se torna fraco. A teia que segura a união dos entes federados

vai se esgarçando. Começam a surgir ideias separatistas. Geralmente, acaba em guerra

civil. Uma tragédia! Temos vários exemplos em outros países e também aqui no nosso.

Lembram-se do movimento farroupilha? Só existe uma forma de evitar este funesto

caminho. Temos de, urgentemente, fortalecer os municípios brasileiros, criar condições

financeiras para que vivam de forma autônoma, como prega nossa Constituição. O arrocho

financeiro a que estão submetidos nossos municípios deixa-os sem condições de atender às

mínimas necessidades da população e isto os leva, inexoravelmente, à ingovernabilidade. E

aí, será o caos! Municípios fortes garantem um Brasil forte!

Consonante com o que acabamos de falar, estão as palavras do extraordinário brasileiro

Ulysses Guimarães, Presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1988:

Nossa proposta, praticamente, dobra o aporte de recursos federais aos municípios, logo se

faz necessário também um ajuste na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) no que tange às

despesas com pessoal. Se fossemos fazer um raciocínio matemático simples, deveríamos

propor uma redução pela metade do percentual máximo gasto com salários e proventos,

todavia a questão é um pouco mais complexa. Nesta nova realidade, os municípios

assumirão mais algumas responsabilidades, como investimentos em infra-estrutura e em

pesquisa, por exemplo. Claro que consórcios microrregionais serão muito importantes para

a concretização destes objetivos, mas de qualquer forma, isso representará mais mão de

obra necessária para a execução das novas tarefas. Por isso, propomos que o limite para os

gastos com funcionários, sejam eles efetivos, nomeados ou contratados passe para 30%

(trinta por cento), permanecendo aquela faixa extra de 5% (cinco por cento), onde o sinal

de alerta é ligado e medidas deverão ser tomadas para voltar ao parâmetro máximo

determinado pela Lei. Aliás, este parâmetro também deverá nortear as despesas com

pessoal dos estados e da União. A União reduzirá seu quinhão, mas também será

desonerada em muitas tarefas que, hoje, são de sua competência. Isso permitirá a redução,

com folgas, do índice de despesas com pessoal. A máquina pública (federal, estadual e

“As necessidades básicas do homem estão nos estados e municípios. Neles deve

estar o dinheiro para atendê-las. A Federação é a governabilidade. A

governabilidade da Nação passa pela governabilidade dos estados e dos

municípios.”

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municipal) gastando menos com o pagamento de seus funcionários terá muito mais

robustez financeira para fazer frente aos desafios que advirão.

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6 - Promoção da Qualificação

dos Políticos

A legislação eleitoral brasileira exige que todo candidato a cargo eletivo, executivo ou

legislativo, prove sua escolaridade. Caso não consiga apresentar nenhum certificado,

declaração ou diploma que ateste seu nível de escolaridade, ele torna-se obrigado a prestar

uma prova, em geral bem simples, que demonstre sua alfabetização. Alguém poderia alegar

que isso é uma discriminação. Impede-se que os analfabetos sejam votados e,

eventualmente, eleitos. Os brasileiros não estão sendo tratados de modo igual, perante a lei.

Não concordamos com essa alegação. Afinal de contas, como imaginar um Deputado a

analisar os meandros técnicos de um orçamento federal ou estadual, se ele é incapacitado

de ler? Certamente será enganado por outros mais habilitados, não é mesmo? Seria

democrático termos representantes que facilmente se deixariam enganar devido a sua falta

de leitura? Estaríamos, então, reféns de grupos que se aproveitariam do analfabetismo de

nossos deputados para fazer valer seus próprios interesses. Outra situação: um Presidente

da República, um Governador de Estado ou um Prefeito Municipal assinando um contrato

envolvendo milhões de reais de verbas públicas, sem ter a capacidade de ler e interpretar

este dito contrato. Já imaginaram as mazelas que poderiam ocorrer a partir deste fato?

Diante de tais considerações, concluímos que a exigência da alfabetização para o exercício

de mandatos políticos é uma proteção à própria democracia.

Por outro lado, não podemos negar que existem analfabetos que se destacam por sua luta,

por seu comprometimento, em suas respectivas comunidades, e acabam sendo designados

para representarem-nas. Como resolver esta contradição? É simples. Estas pessoas

precisam estudar. No mínimo, têm de se alfabetizar. As escolas públicas oferecem ensino

noturno para jovens e adultos, portanto não há desculpa para que esses líderes comunitários

permaneçam no limbo do analfabetismo.

Apesar dessa exigência estar sendo cumprida, temos presenciado a chegada ao legislativo,

e também ao executivo, de algumas pessoas completamente despreparadas para exercer os

seus mandatos. São alfabetizados, entretanto desconhecem as leis que regem seu próprio

trabalho, desconhecem a Constituição Federal e a de seus Estados, não fazem a menor

ideia do que é tratado na Lei de Responsabilidade Fiscal, são totalmente ignorantes quanto

à conjuntura nacional e, na maioria das vezes, também ignoram os problemas enfrentados

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por seus concidadãos. A oratória, ferramenta indispensável ao parlamentar, é pobre e

desprovida de argumentos válidos. Chegamos ao extremo de conhecer uma Vereadora que

passou os quatro anos de seu mandato sem apresentar um projeto de lei, sem fazer qualquer

indicação, cobrança ou reivindicação. Jamais usou da tribuna, a não ser para dar “bom dia

a todos” e “agradeço a presença de todos”. Seu vocabulário, enquanto parlamentar,

restringia-se a isso. Quando indagada acerca do andamento de qualquer processo

legislativo, respondia: “perguntem ao Presidente da Câmara. Ele sabe responder melhor do

que eu.” Pelo menos, era sincera e reconhecia a própria incompetência! Quando viajava até

a cidade onde ficava a seção regional do TCM para fiscalizar as contas do executivo

municipal, saía para fazer compras, enquanto seus colegas vereadores se debruçavam sobre

as pastas abarrotadas de documentos. Dizia que não entendia nada daquilo, então não

adiantava ficar por lá. Como foi eleita? Graças ao prestígio do marido (era ele que

discursava para ela nos palanques eleitorais) e aos célebres favorzinhos prestados aos

eleitores durante certo tempo, antes das eleições. A impressão que dava é a de que foi

convencida a disputar as eleições pelo marido, que estava interessado em aumentar a renda

familiar e não queria, ele próprio, se afastar de seu negócio (era dono de loja de material de

construção). Que benefícios trouxe esta Vereadora à população? Nenhum! Apenas

consumiu o dinheiro público em seu próprio proveito. Se aquela cadeira da Câmara

estivesse vazia, durante os quatro anos de seu mandato, o povo daquele município teria se

beneficiado muito mais.

Isso que descrevemos deveria ser a exceção, mas, lamentavelmente, é a regra. Quase todas

as casas legislativas dos municípios do interior do país possuem um ou mais Vereadores

que se aproximam do modelo apresentado. Talvez não com todas as cores, porém dignos

de quadros bem horrendos. Vários deles limitam-se a transportar, em seus próprios

veículos, cidadãos doentes para fazer exames médicos na capital do estado ou em outra

cidade com melhores condições de assistência à saúde. E ainda vangloriam-se de tal

atividade. Batem no peito, com orgulho, ao afirmar que já carregaram mais de oitocentos

doentes ao longo de seus mandatos. Ou seja, o município passa a ter um motorista

privilegiado. Ele dirige para o povo recebendo salário de Vereador, que é bem superior ao

de motorista. Em troca, o povo deixa de ter um verdadeiro e legítimo representante para

lutar por seus interesses. Essas barbaridades, eventualmente, atingem algumas Assembleias

Legislativas e, com menor gravidade, o Congresso Nacional. Alguns deputados, devido às

suas condutas bizarras, chegam a virar motivo de chacota para seus pares e para o povo em

geral. E nossos impostos sendo utilizados para bancar tudo isso!

Com o objetivo de melhorar a qualidade de nossas casas legislativas (e também do poder

executivo), propomos que todos aqueles que desejem candidatar-se a cargos eletivos

sejam avaliados, não só quanto a sua alfabetização, mas também com relação a

conhecimentos específicos sobre a legislação básica necessária ao cumprimento do

mandato e quanto aos maiores problemas que terão de ser enfrentados e superados

para que se tornem, de fato, eficientes em suas respectivas funções. Caso não alcancem um

rendimento mínimo de 60% (sessenta por cento) na citada avaliação, os pré-candidatos não

terão o direito de serem indicados pelas convenções de seus respectivos partidos, isto é,

não poderão ser candidatos. Esta avaliação, logicamente, deverá ser planejada, coordenada,

elaborada e executada pela Justiça Eleitoral e repetida periodicamente, cerca de seis meses

antes da realização das eleições. Estaríamos assim criando um “vestibular para a carreira

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política”. Nada mais justo! Todos os profissionais, em qualquer área, são selecionados de

acordo com seus conhecimentos. Por que os políticos, justamente aqueles que, como

vimos, estão cercados por tantas mordomias, não precisam atestar para a sociedade a sua

capacidade de vir a desempenhar de modo satisfatório o seu papel? É claro que, com a

implantação dessa pré-seleção, surgiriam cursos preparatórios para os futuros candidatos.

Isso seria muito bom. Desta forma, teríamos Vereadores, Deputados, etc. realmente

gabaritados para passar na já mencionada avaliação e, principalmente, habilitados para

fazer de seus mandatos ferramentas eficazes para transformar nosso país numa nação

verdadeiramente desenvolvida.

Mais uma vez, viria aquele avesso às mudanças com seu frágil argumento no sentido de

manter tudo como está: “esses cursos preparatórios vão selecionar economicamente as

pessoas. Quem não tiver dinheiro para pagá-los, jamais terá condições de passar na

avaliação. Estão alijando os pobres da vida político-partidária.” Em primeiro lugar, os

cursos não seriam obrigatórios e sim a avaliação e muitos conseguem se tornar bem

informados através de leituras diversas (revistas, jornais, livros, etc.). Além disso, de

acordo com nossa legislação, para ser candidato, o cidadão deve estar filiado a algum

partido político e os partidos políticos seriam os primeiros a organizar tais cursos para seus

filiados. Cursos estes que poderiam, inclusive, ser ministrados pela internet. As entidades

de classe não ficariam atrás. Também estariam interessadas em preparar seus membros

para representarem-nas nos parlamentos e investiriam em sua formação política. Portanto,

meu nobre amigo que ama o passado, não seria a qualificação do político, a barreira

financeira que impediria um pobre de se tornar Deputado, Vereador ou Governador do

Estado. Há muitas outras causas em jogo.

Outro fator que não podemos esquecer é que nem todos aqueles aprovados na avaliação

realizada pela Justiça Eleitoral serão eleitos. Muitos terão se preparado nos cursos,

respondido às questões com sabedoria, mas as urnas não lhes serão favoráveis. E todo esse

conhecimento acumulado sobre a realidade brasileira terá sido jogado no lixo? De forma

alguma! O que mais acontece em nosso país é a formação das equipes de governo com ex-

candidatos que não venceram as eleições, seja a nível municipal, estadual ou federal.

Sendo assim, os escolhidos para Ministros, Secretários Estaduais e Municipais, bem como

Diretores de Departamentos e Empresas Públicas estariam bem mais preparados,

fundamentados, para exercer suas novas missões. O que verificamos, na maioria das vezes,

é que o despreparo dos parlamentares transborda para os membros das equipes executivas.

Então, como podemos deduzir, a inclusão desta prova, o “vestibular para carreira política”,

traria inúmeros benefícios em mais de uma esfera de poder.

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7 - Extinção do Senado Federal

Certamente, muitos de nossos leitores ficaram perplexos e indignados ao serem

confrontados com os números referentes aos recursos gastos pelo país para manter o

Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas. Calma! Você ainda não viu nada! O

pior ainda está por vir!

Nosso Congresso é bicameral, ou seja, é constituído por duas casas legislativas, a Câmara

dos Deputados e o Senado Federal, assim como o modelo inglês e o norte-americano.

Lembram-se daquele estudo da Transparência Brasil realizado em 2007? Vamos analisar

mais alguns detalhes do mesmo. Enquanto nosso Congresso tinha um custo médio para o

país de 10,2 milhões de reais por parlamentar, a Câmara dos Deputados, com 535

representantes, gastava aproximadamente 6,0 milhões de reais por deputado e o Senado

Federal, com 81 membros, provocava um rombo nos cofres públicos de mais de 33

milhões de reais por Senador. Isso mesmo! Mais de 33 milhões de reais por Senador,

por ano! Grande parte dos municípios brasileiros tem orçamento anual inferior a este

valor. O custo anual, para o país, de apenas cinco Senadores é maior do que todo o

dinheiro desviado no mensalão. Barbaridade, tchê! Vixe Mãinha!

O Senado brasileiro custa para a nação, por parlamentar, mais do que o dobro do

Congresso norte-americano custa para os Estados Unidos da América. Para que os

senhores e senhoras possam ter maior clareza do que isto significa, com o valor consumido

pelo Senado Federal, por cada Senador, seria possível contratar mais de 250 (duzentos e

cinquenta) médicos ou o país poderia comprar mais de 200 (duzentas) ambulâncias com

UTI, por ano. Como são 81 (oitenta e um) Senadores, a conclusão a que chegamos é a de

que o Senado Federal é responsável por termos cerca de 20.000 (vinte mil) médicos a

menos, no setor público, atendendo nossa população ou 16.000 (dezesseis mil) UTIs

móveis a menos à disposição de nosso povo (cerca de três UTIs móveis por município

brasileiro). Vergonhoso! Entendem, agora, o porquê da calamidade em que se encontra a

saúde no Brasil?

Já que tocamos no funesto quadro da saúde brasileira, aproveitamos para assinalar o fato de

que nossas autoridades ainda têm o desplante de comemorar e bater no peito, com orgulho,

que as taxas de mortalidade infantil, no país, caíram em torno de 70% (setenta por cento)

nos últimos trinta anos. Realmente, é verdade. Entretanto, eles “esquecem de falar” que,

segundo relatório da CIA World Factbook, datado de 2012, o Brasil, com uma taxa de

2,1%, se encontra na 106º (centésima-sexta) posição no ranking mundial quando o assunto

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é mortalidade infantil. Só conseguimos ganhar da Bolívia, Guatemala, Nicarágua,

Paraguai, Peru, Suriname, Turquia, Índia e dos países mais pobres da África e da Ásia. Até

países com PIB bem pequeno como Honduras e El Salvador, aqui na América, o Vietnam e

a Tailândia, na Ásia têm taxas de mortalidade infantil inferiores à brasileira. Certamente, se

na verificação dessa taxa levássemos em consideração apenas os filhos e netos dos

Senadores, estaríamos disputando o primeiro e o segundo lugar desse ranking com o Japão

e com o Principado de Mônaco, onde a taxa de mortalidade infantil se aproxima de zero.

Essa é a igualdade social que nossos políticos pregam?

Um país com um PIB per capita de apenas 11.900 dólares que gasta, com um mandato de

Senador, 33 milhões de reais por ano, realmente, não é um país sério. Caso único no

planeta Terra, mas acreditamos que também deve ser único em todo Universo, ainda que

haja milhares de planetas habitados por aí a fora. O malefício causado por este sumidouro

de verbas públicas ao povo brasileiro assemelha-se a uma nuvem de gafanhotos sobre uma

plantação de hortaliças. Ou o Brasil acaba com essa praga ou essa praga destruirá o Brasil!

A título de curiosidade, vamos apresentar o caso de um ex-Senador, já aposentado, que

teve apenas oito anos de mandato, e recebia, em 2012, uma aposentadoria de mais de

R$11.000,00 (onze mil reais) por seus “inestimáveis serviços à nação”, enquanto

parlamentar. Além disso, ele acumulava outra aposentadoria de mais de R$6.000,00 (seis

mil reais) por ter sido deputado em seu Estado de origem, também por oito anos. Como

estava recebendo muito pouco, aceitou o convite para ser Ministro, e ainda acumulava

cerca de mais R$19.000,00 (dezenove mil reais). Então, ele recebia, por mês, pouco mais

de R$36.000,00 (trinta e seis mil reais), sendo que destes, mais de R$17.000,00 eram

proventos de aposentadoria por apenas 16 (dezesseis) anos de trabalho como parlamentar

(Deputado Estadual e Senador). Evidentemente, esses valores já foram devidamente

reajustados, para que o pobre ex-Senador não tenha seus míseros ganhos corroídos pela

inflação. Por outro lado, um médico, que se aposenta, com 35 (trinta e cinco) anos de

contribuição para a previdência, no valor máximo, recebe proventos de menos de

R$5.000,00 (cinco mil reais). Caso resolva voltar ao trabalho terá sua aposentadoria

cortada pela metade. É legal isso? Sim, embora indecente, amoral, escandaloso, é legal.

Está tudo previsto na lei. Na lei que eles mesmos, Deputados e Senadores, criaram. Quero

apenas lembrar que o caso do ex-Senador aqui descrito não é exceção. Há mais de

quinhentos outros ex-parlamentares gozando de privilégios semelhantes. Inclusive alguns

que tiveram seus mandatos cassados. Eles perdem o mandato por cometer crimes, às vezes

são até presos, mas não perdem o direito à polpuda aposentadoria. Formidável!

Para resolver esse problemão definitivamente, só tem um jeito. É imprescindível a extinção

do Senado Federal. Em vários momentos de nossa trajetória, houve tentativas nesse

sentido. Sempre que se abria a discussão, durante os trabalhos das várias constituintes, ao

longo dos nossos quinhentos e poucos anos de história, essa ideia vinha à tona, mas os

interesses de minorias poderosas impunham-se e o velho castelo (leia-se Senado Federal,

antigamente sediado num castelo no Rio de Janeiro, o Palácio Monroe) permanecia de pé.

Com a mudança da capital federal para Brasília, o castelo acabou sendo demolido, todavia,

no Planalto, o Senado se tornou muito mais espaçoso, muito mais amplo e muito mais

sôfrego por cifrões. Quando se questiona a necessidade da existência do Senado Federal

surgem explicações interessantes e muito bem articuladas objetivando a permanência da

instituição. Outro dia mesmo, estávamos lendo um artigo escrito pelo ex-presidente

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Fernando Collor de Mello (aquelle que sofreu processo de impeachment, lembram-se?), no

qual elle defendia com unhas e dentes a continuidade do Senado. Óbvio! Atualmente elle

exerce o cargo de Senador da República! Elle pode ser tudo, menos idiota! E nem mesmo

um idiota seria capaz de querer abdicar de tamanha mordomia, concordam? Logo elle que,

quando Governador de Alagoas, se dizia o caçador de marajás, vem agora, de caneta em

punho, defender ardorosamente os marajás do legislativo (ou seriam os Sultões do

Senado?). Quem te viu e quem te vê!

Os argumentos empregados em prol da continuidade do Senado sempre recaem nas suas

atribuições específicas, previstas na Constituição, e no equilíbrio de forças entre os Estados

federados, que não estaria sujeito aos tamanhos das populações de cada um, nem às suas

respectivas riquezas. Notem bem, estamos propondo a extinção do Senado Federal e não a

extinção de suas atribuições específicas. Estas continuariam a existir e poderiam ser muito

bem desempenhadas por uma comissão especial da Câmara dos Deputados, designada para

este fim, com poder de voto semelhante ao do atual Senado, isto é, se uma decisão

aprovada no plenário da Câmara fosse rejeitada pela citada comissão, teria de voltar à

Câmara para novas considerações. A composição desta comissão também seria tal que

garantisse o equilíbrio de forças entre os Estados brasileiros. Como podem observar, o que

estamos propondo mantém a estrutura política de decisões em dois fóruns, mantém as

atuais atribuições específicas do Senado (julgamento do Presidente da República e seus

Ministros, autorização para operações financeiras no exterior, aprovação de indicações de

Ministros do STF, etc.) em um fórum especial criado com esta finalidade e desonera a

nação substancialmente, livrando-a de uma estrutura arcaica, extremamente cara e pouco

eficiente. Ultimamente, inclusive, esta estrutura tem tomado decisões que parece estar em

desacordo com sua missão. Lembram-se da votação pela continuidade da CPMF

(Contribuição Provisória sob Movimentações Financeiras)? Os Senadores votaram contra a

vontade da quase totalidade dos Governadores e Prefeitos. Preferiram alinhar-se aos

interesses das grandes empresas sediadas no país, o que obrigou os entes federados a uma

intensa ginástica orçamentária para conseguir cumprir suas obrigações legais. O Senado foi

conivente com a concentração dos impostos arrecadados nas mãos do Poder Central,

portanto, traiu, ao longo dos anos, o seu dever de defender os interesses dos entes

federados mais carentes, no caso os municípios. Custos estupidamente desproporcionais à

realidade econômica do povo brasileiro (o parlamento mais caro do mundo), ineficiente e

traidor dos princípios que justificam sua existência! Como e para que continuar com um

órgão que só tem utilidade para garantir os privilégios e mordomias de uma seletíssima

minoria?

Com relação à comissão especial citada no parágrafo anterior, ela poderia ser denominada

CEPREM (Comissão Especial Permanente Representativa dos Estados e Municípios).

Sugerimos que ela seja constituída por dois deputados federais de cada Estado, um

indicado pelo Governador eleito (será que ele não tem legitimidade para indicar o

representante do Estado na referida Comissão? Afinal de contas, ele foi eleito com a

maioria dos votos de seu Estado, certo?) e o outro seria o deputado federal com o maior

número de votos, que não fosse filiado a partido integrante da coligação que elegeu o

Governador, nem lhe deu apoio. Com isto garantiríamos a presença da situação e da

oposição estadual numa Comissão de tamanha importância. Além destes membros,

defendemos a inclusão de três outros deputados nesta Comissão: a do deputado federal de

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maior idade cronológica do mandato em andamento; a do deputado federal com o maior

período de tempo, enquanto deputado federal, em mandatos anteriores e a do deputado

federal que alcançou o maior percentual de votos em todo o país, no último pleito. Com

isto, traríamos um pouco mais de experiência a essa Comissão, além de reverberar o eco

das urnas num tom mais alto. No modelo de vinte e dois Estados, que já propomos, a

CEPREM seria formada por 47 (quarenta e sete) integrantes. 44 (quarenta e quatro)

representando diretamente cada um dos Estados e os três outros deputados inseridos na

Comissão pelos critérios já descritos.

Uma vez que estes 47 deputados teriam um trabalho extra, além daquele inerente aos

demais parlamentares, seria justo que seus proventos tivessem uma gratificação especial,

da ordem de quinze ou vinte por cento, por exemplo. Também lhes seria vedada a

participação em outras comissões da Câmara, não só para evitar o excesso de afazeres,

como também para evitar a coincidência da mesma opinião e voto em duas comissões que

estariam tratando do mesmo assunto. Uma grande vantagem que temos nesta proposta é a

de que 22 dos integrantes da CEPREM (os indicados pelos Governadores de Estado) não

teriam estabilidade na referida Comissão, uma vez que poderiam ser trocados, de acordo

com a vontade de quem os indicou, caso seu desempenho não esteja sendo satisfatório.

No atual Senado, seus integrantes têm mandatos de oito anos (todos os demais cargos

eletivos têm mandatos de quatro anos), não estão sujeitos a trocas, durante o mandato, em

caso de estarem “pisando na bola”, e quando decidem sair, voluntariamente, para assumir

outro cargo ou em caso de falecimento, são substituídos por um suplente que os eleitores

nunca ouviram falar. Em nossa proposta, a substituição de todos os membros da CEPREM

acontecerá de 4 em 4 anos, garantindo maior renovação de ideias e exigindo de seus

integrantes maior esforço e dedicação para receberem o aval de seus eleitores novamente,

nas próximas eleições. Além disso, em termos de verbas públicas consumidas, estamos

propondo a troca de 81 Senadores, com seu séquito de assessores, funcionários, veículos

oficiais, etc. por uma gratificação de, no máximo, vinte por cento nos proventos de 47

deputados, sem aumentar os demais encargos já gerados pelo fato deles serem deputados.

Parem para pensar na esplêndida economia que estaria sendo gerada para a nação. Uau!

Começamos a vislumbrar um Brasil de Primeiro Mundo!

Como sempre, vem aquele amante do passado apresentando seus frágeis argumentos: os

funcionários do Senado são funcionários do quadro efetivo, são concursados. Não podem,

simplesmente, ser demitidos. Claro que não! Jamais pensaríamos em desapropriá-los de

seus direitos adquiridos. Entretanto, reza a lei que, com a extinção de um órgão ou função

pública, aqueles que exerciam seus cargos nas funções extintas devem ser realocados em

outros órgãos ou funções semelhantes. Sabemos que há muitas vagas abertas em outros

setores da administração pública federal que precisam ser preenchidas, logo não haveria

grandes problemas com essa “tragédia”. Temos certeza que a maior parte dos funcionários

estaria feliz em ter a oportunidade de colaborar com o grande passo de nosso país em

direção ao grupo dos países desenvolvidos.

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8 - Unificação das Eleições

No Brasil, as eleições municipais são separadas das estaduais e federais. Isso faz com que

tenhamos pleitos eleitorais de dois em dois anos. Em tese, parece interessante porque

promove e aprofunda o debate político com maior frequência, contudo cada processo

eleitoral representa um dispêndio de verbas públicas equivalente aos gastos da Câmara dos

Deputados em um ano. Ao longo deste trabalho, temos analisado, criticado e denunciado

os absurdos referentes aos gastos do legislativo, portanto seria uma incoerência de nossa

parte deixar de abordar um tema que acarreta despesas numericamente semelhantes para

os cofres públicos e está intimamente relacionado com o que já foi discutido. Não estamos

afirmando que os gastos eleitorais sejam abusivos, entretanto entendemos que sua

frequência deve ser questionada, já que pretendemos ter mais recursos para aplicar em

setores não menos nobres do que a prática democrática.

Com relação ao debate político, este pode e deve ocorrer e não apenas de quatro em quatro

anos ou de dois em dois anos. Ele deveria ser promovido pelos partidos políticos,

anualmente, em vários fóruns, inclusive na grande mídia. Aquela velha propaganda

eleitoral gratuita, na TV e no rádio, que quase ninguém presta atenção e os que prestam

não acreditam, deveria ser condensada num único programa mensal, somando-se os tempos

disponíveis para os vários partidos, no qual compareceriam as diversas lideranças

partidárias (possíveis futuros candidatos) e poderiam discutir suas ideias, confrontando-as

com as de seus opositores. Algo assim como shows de MMA político, analisando a

conjuntura nacional e propondo soluções para os grandes e pequenos problemas. Temos

certeza que tais programas teriam índices bem mais elevados nas pesquisas do IBOPE e,

sem dúvidas, o incentivo ao debate seria muito mais rico para o país e para toda nossa

população.

Diante do apresentado, propomos que haja a unificação das eleições no país. Todos os

eleitores seriam convocados para comparecer às urnas de quatro em quatro anos,

escolhendo três candidatos para cargos executivos (Presidente da República, Governador

de Estado e Prefeito Municipal) e três candidatos para cargos legislativos (Deputado

Federal, Deputado Estadual e Vereador). O argumento de que votar em seis cargos

diferentes confundiria a cabeça do eleitor menos familiarizado com o processo, além de

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menosprezar a capacidade intelectual do cidadão brasileiro, demonstra certa desatenção.

Atualmente, quando ocorrem eleições estaduais e federais e estão em jogo duas vagas para

o Senado, o eleitor escolhe seis candidatos (Presidente da República, Senador 1, Senador 2,

Deputado Federal, Governador de Estado e Deputado Estadual). Sendo assim, não há um

argumento suficientemente convincente para se contrapor à economia que seria alcançada

pela unificação das eleições no país.

Ainda visando maior economia com a unificação das eleições, poderíamos discutir a

extensão dos mandatos dos seis cargos eletivos elencados acima para cinco anos. Neste

caso, as eleições aconteceriam de cinco em cinco anos, como outrora. Hoje, o custo médio

das eleições é de três milhões de reais por ano. Unificando as eleições e realizando-as de

quatro em quatro anos, este custo cairia à metade (1,5 milhões de reais por ano). No caso

de voltarmos ao modelo quinquenal, chegaríamos a 1,2 milhões de reais anuais. Queremos

deixar claro que ainda não temos absoluta certeza acerca do tempo ideal para os mandatos

dos nossos governantes e legisladores, porém não temos dúvidas de que se for de cinco

anos representaria maior economia para o país. Nossa preocupação é se esta economia, de

fato, contribuiria para o fortalecimento de nossa democracia ou teria efeito contrário.

Realizando os pleitos eleitorais com maior distanciamento no tempo do que ocorre no

presente, a Justiça Eleitoral, certamente, poderia diminuir a quantidade de funcionários em

seu quadro de efetivos. Nos anos eleitorais, haveria a contratação de funcionários

temporários, através de processo seletivo simplificado (como acontece no IBGE, nos anos

de realização do censo demográfico). Neste caso, teríamos mais uma medida para garantir

economia na folha de pagamento do setor público.

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9 - Revisão do teto salarial no

setor público

Diz-se que o capitalismo é um regime econômico, fundamentado na filosofia liberal, que

traz em si o germe da desigualdade social. Não nos consideramos embasados o suficiente

para defender ou contestar esta tese. Entretanto, os demais regimes econômicos já testados

não se mostraram competentes o bastante para satisfazer plenamente os anseios das

sociedades que viviam sob suas égides. Acreditamos que tanto o capitalismo, quanto os

outros regimes apresentam qualidades e defeitos, porém muito mais do que suas próprias

essências, a imperfeição humana sempre esteve presente na raiz das falhas responsáveis

pelas limitações e equívocos presenciados neste ou naquele regime. Em outras palavras, o

grande problema não está no fato da sociedade ser capitalista, socialista ou comunista, e

sim nos governantes, administradores e lideranças que, eventualmente, buscam vantagens

pessoais a partir daquilo que deveria ser estritamente um bem público. A corrupção, a

exorbitocracia, já aqui descrita, são cânceres que corroem os pilares de qualquer regime,

por mais fascinante e perfeita seja a filosofia que o alicerce.

Por este vasto mundo a fora, temos nos deparado com algumas situações razoavelmente

bem sucedidas, em se tratando de administração pública. Em geral, estão inseridas em

regimes notadamente capitalistas que mesclam algumas ações provenientes das contrárias

ideias socialistas. Aqui mesmo, no Brasil, verificamos essa tendência e, temos de admitir,

que, embora ainda numa velocidade de tartaruga reumática, significativos avanços sociais

ocorreram a partir da implantação desse “modus operandi”.

Para acelerar a conquista de novos avanços e transformar para melhor a realidade

brasileira, entendemos que muitas outras medidas precisam ser tomadas, porém há uma em

particular, que consideramos essencial neste processo: a limitação do teto salarial do

servidor público, independente de ser funcionário efetivo, nomeado, eleito, contratado ou

de qualquer outro vínculo. Independente também de pertencer ao poder executivo,

legislativo ou judiciário, estar no quadro dos funcionários civis ou militares. Dirão vocês:

“isso já existe!” É verdade, existe sim, no papel! Na prática, abundam os exemplos que

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trazem alguns “marajás” para os gabinetes das repartições públicas. O pior é que, em

alguns casos, eles mal trafegam nos corredores.

Consideramos bastante louvável, como medida para controlar o processo inflacionário, a

desindexação das revisões salariais do aumento do salário mínimo. Contudo, percebemos

que o estabelecimento do teto salarial do funcionalismo público vinculado (não indexado)

ao salário mínimo trará ainda mais benefícios à economia brasileira, além de ser um golpe

decisivo contra a exorbitocracia. Consideramos também que as faixas salariais devem estar

condicionadas à escolaridade exigida pelo cargo e, baseado nestas considerações,

apresentaremos e justificaremos nossa proposta.

Hoje, um profissional de nível superior que atingiu o patamar máximo em termos de

escolaridade consumiu, em média, vinte anos de sua vida nos bancos escolares,

esmiuçando os livros e elaborando suas conclusões. Nove anos foram para o curso

fundamental, três para o ensino médio, cinco para a faculdade e mais três para pós-

graduação, mestrado, etc. Este profissional, a nosso ver, corresponderia àquele merecedor

do mais alto salário na escala do serviço público. Se imaginarmos que para cada ano de

escolaridade acumulado, o profissional deveria também acumular uma parcela salarial

correspondente à parcela mínima destinada aos que possuam apenas um ano de

escolarização, ou seja, não sejam analfabetos, teríamos, então, reservado para aquele

profissional que chegou ao topo um pacote salarial de vinte das já mencionadas parcelas

mínimas. Se esta parcela mínima for o nosso já velho e conhecido salário-mínimo,

chegamos à conclusão que não há justiça em fixar qualquer salário ou provento no

serviço público em um valor superior a vinte salários mínimos. Notem bem, não

estamos com isso afirmando que ao aumentar o salário mínimo, devemos também elevar

proporcionalmente o salário desse funcionário que está lá no topo. De forma alguma! Isso

seria indexação! Os aumentos salariais daqueles que recebem em faixas diferentes do

mínimo devem continuar regidos pelas negociações e disponibilidades orçamentárias,

todavia tais negociações não poderiam ultrapassar, em hipótese alguma, aquele valor de

vinte salários mínimos, condicionado pela Lei como sendo o valor teto do serviço público.

Evidentemente, este valor teto corresponderia aos proventos do Presidente da República e

dos chefes dos dois outros poderes, isto é, do Presidente da Câmara dos Deputados e do

Presidente do Supremo Tribunal Federal. Logicamente, todos os demais funcionários dos

três poderes teriam seus salários estabelecidos em escalas com valores abaixo do teto. Nos

dias atuais, o valor do teto salarial no serviço público brasileiro está beirando quarenta

salários mínimos. Há funcionários que recebem pouco mais de um salário mínimo.

Fazendo de conta que não tivéssemos nenhum outro problema no país, somente esta

diferença entre o mais bem pago e o que recebe menos já é suficiente para acarretar

padrões de vida tão diversos que fica difícil acreditar nos discursos bonitos e muito bem

preparados de nossos governantes quando falam em justiça social. Diante da ignóbil

realidade, infelizmente, estes discursos soam como ironia, como hipocrisia.

Na realidade, o que mais onera as folhas de pagamento dos órgãos públicos não são os

salários em si e sim o extraordinário acúmulo de gratificações e outras vantagens que pode

até chegar a triplicar o salário do privilegiado funcionário. Defendemos as gratificações por

tempo de serviço, as gratificações por novos níveis de escolaridade e especialização

conquistados, os benefícios por periculosidade ou insalubridade, e até mesmo gratificações

por produtividade. O que não podemos aceitar é que o somatório de todas as gratificações e

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benefícios acumulados por determinado servidor ultrapasse 50% (cinquenta por cento) de

seu salário base. As gratificações faraônicas têm se mostrado como o principal fator das

discrepâncias salariais encontradas entre os servidores públicos. Enquanto uns poucos se

locupletam, outros (a maioria) sobrevivem com recursos exíguos que se refletem num

padrão de vida bastante precário. Há de se estabelecer, com a máxima urgência, um basta

para essa esbórnia entulhada de injusta.

Fiquem tranquilos os bem aquinhoados. Não estamos pregando um corte imediato em seus

ganhos. De forma alguma! Apenas defendemos que seus vencimentos não sofram qualquer

reajuste até que eles venham a se enquadrar no limite máximo aqui proposto, o qual deverá

ser estabelecido por uma futura mudança na legislação. Não estamos levantando a bandeira

de uma revolução e sim pugnando por uma justa divisão do bolo, ainda que, para chegar

até ela, tenhamos de aguardar alguns anos assistindo pacientemente a progressiva

diminuição dessa torpe diferença.

Salários astronômicos, gratificações faraônicas, luxo e ostentação por parte daqueles que

deveriam dedicar suas vidas em prol do bem público. Como se não fosse o bastante,

chegamos ao cúmulo de ter um Deputado Federal (Natan Donadon) que permanece dono

de seu mandato, mesmo atrás das grades, uma vez que, apesar de já condenado pelo STF

por desviar dinheiro público e formação de quadrilha, foi perdoado por seus pares que,

penalizados com seu drama, decidiram não ser o caso de cassá-lo (será que estavam

temerosos dele abrir a boca e falar demais?). Uma bela, fascinante e instrutiva lição para

nossa juventude! Infelizmente, a nosso ver, tal situação contribui, subliminarmente, para o

incremento da criminalidade no país. Alguns cidadãos, portadores de certos transtornos de

caráter, que não tiveram a mesma oportunidade de usufruir dessas aprazíveis mordomias,

diante dos exemplos absurdos, acintosos, proporcionados por nossa classe política, acabam

sendo incentivados a buscar caminhos mais fáceis, como o roubo, os estelionatos, o tráfico

de drogas, etc., para alcançarem esse mesmo status financeiro. Temos certeza que,

tomando as medidas necessárias para por um fim às exorbitâncias que constatamos,

teremos uma distribuição de renda mais justa e faltarão os perniciosos modelos instigantes

do crime. Os dois fatores serão fundamentais para a diminuição dos alarmantes índices de

violência que temos presenciado. Entretanto, temos outras propostas visando esta meta, a

diminuição da violência no país. Vamos apresentá-las no capítulo seguinte.

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10 - Revisão do Código Penal e

do Sistema Prisional

Quando alguém comete um crime, em princípio, está sujeito a repetir o ato criminoso,

então, a sociedade precisa defender-se para não ser novamente vítima desta ação deletéria.

A sociedade tem de afastar o criminoso de seu convívio, com o objetivo de diminuir o risco

de sofrer, mais uma vez, através das mãos daquele que já demonstrou seu potencial

nefasto. Para afastar o criminoso, a sociedade pode fazê-lo definitivamente, através da pena

de morte ou da prisão perpétua, ou mantê-lo afastado temporariamente, através de uma

pena de reclusão ou detenção com prazo determinado, na esperança de que o criminoso se

recupere. Antigamente, lá pelos idos do século XVI, havia também o degredo. Colocava-se

o criminoso em um navio, atravessava-se o oceano e o deixavam em uma terra bem

longínqua, onde seria em vão qualquer tentativa de retorno. Assim a Coroa Portuguesa

agiu, trazendo para o Brasil a elite da criminalidade lusitana. Lindo início de história para a

ex-Terra de Vera Cruz, não é mesmo? Agora, com a globalização, degredar alguém se

tornou impossível. A não ser que atravessemos o espaço sideral e o deixemos em Plutão

(último planeta do sistema solar) porque se o deixarmos na vizinha Lua, pode ocorrer um

terremoto (ou será um lunimoto?) por lá e acontece do gajo se despencar e cair de novo

aqui na Terra, atazanando nosso juízo. Brincadeiras à parte, concluímos que as penalidades

aplicadas aos criminosos configuram muito mais uma proteção à sociedade do que,

propriamente, um castigo ao dito criminoso. Além disso, servem como um alerta para que

outros não enveredem pelo mesmo caminho daquele que foi condenado, caso contrário

estarão sujeitos ao mesmo destino.

No caso do Brasil, falarmos em pena de morte ou prisão perpétua causa arrepios em boa

parte da sociedade, até mesmo entre os juristas, logo nos sobra a opção da prisão por tempo

determinado, porém o que temos observado ao longo dos anos é que o sistema

penitenciário brasileiro vive num contínuo processo de colapso. Penitenciárias

superlotadas, ocasionando sucessivas rebeliões, estruturação de superorganizações

criminosas no interior dos presídios, comando e controle de ações criminosas partindo de

dentro dos presídios e deteriorização do caráter e da índole dos detentos, provando que as

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penitenciárias, ao invés de recuperar os que lá são internados, transformaram-se em

grandes universidades do crime. Entendemos que já passou da hora de percebermos o

gigantesco equívoco presente nesse sistema e que se torna necessária uma profunda

mudança para, de fato, fazermos da reclusão ou detenção de marginais (os que caminharam

à margem da lei) algo salutar para a sociedade como um todo.

Como já analisamos, a prisão do bandido é uma arma para proteger a sociedade, porém é

uma arma com dois canos dispostos em sentidos contrários ou, como diria a sabedoria

popular, uma faca de dois gumes. Ao deixá-lo atrás das grades, a sociedade é penalizada

com o custo representado por sua alimentação, cuidados médicos, energia para manter o

prédio da prisão em funcionamento, água para sua higiene pessoal, sem falar nos salários e

encargos referentes aos funcionários envolvidos com a manutenção do presídio (guardas,

pessoal da administração, etc.). E olha que nem citamos os recursos empregados na

construção do prédio que abriga o presídio.

Então, o facínora estupra uma menina de dez anos, depois a mata, enterra o cadáver, é

descoberto, preso e condenado por três crimes (estupro, homicídio qualificado e ocultação

de cadáver) e a sociedade ainda terá de bancar sua estadia no presídio por longos anos.

Vocês já avaliaram a dor sofrida pelos pais, pela família, dessa criança violentada e

assassinada? Vocês já refletiram o que significa para a sociedade a perda dessa vida que

poderia vir a ser uma pessoa envolvida com a promoção do bem estar social? Pois bem, a

família sofre, a sociedade sofre, é penalizada pelo crime hediondo praticado por um

monstro e será penalizada de novo, financeiramente, para evitar que ele repita o ato

covarde e bárbaro contra outro inocente. A sociedade paga a conta duas vezes. Primeiro é

vítima do crime, depois, com a punição do criminoso, é vítima de um elevado custo

financeiro para mantê-lo longe da convivência com as pessoas normais e honradas. Vocês

acham que isto é justo?

Segundo o jornal Gazeta do Povo, em matéria publicada em 2013, no Paraná, o custo

médio mensal de um preso em regime fechado é de 1.887,80 reais enquanto o salário pago

a um professor com licenciatura plena é de R$ 1.044,94 e o de um policial militar de 2ª

classe R$ 1.463,00. Já o jornal O Globo fez uma outra comparação. Segundo o periódico,

nos presídios federais, um preso custa à nação cerca de R$40.000,00 (quarenta mil reais)

ao ano, enquanto que cada aluno em universidade federal sai por R$15.000,00 (quinze mil

reais), no mesmo período. Tudo bem que um detento é infinitas vezes mais barato para o

país do que um Deputado ou Senador (Talvez, o melhor fosse transformá-los todos em

detentos. Sairia mais em conta!), todavia não podemos concordar com o fato de que uma

parte de nossos impostos continue sendo dissipada para manter o ócio engaiolado daqueles

que tantos malefícios já trouxeram para a sociedade. Esse abominável consumo de recursos

públicos dificulta ou mesmo impede o aporte de investimentos em outros setores

fundamentais, como educação, por exemplo.

Aí os juristas e os administradores penitenciários, preocupados com o sempre crescente

número de detentos (Já passam dos quinhentos mil, no Brasil. Este número dobrou na

última década), visando diminuir os custos do encarceramento e a superpopulação

carcerária, criaram o regime aberto e o regime semi-aberto de detenção ou reclusão. Em

outras palavras, o bandido está condenado à prisão e, sob os olhos da justiça, não fica

preso. Ele sai todos os dias (para fazer o que?) e retorna à noite para a cadeia ou albergado,

para dormir. Espera-se que, enquanto esteja na rua, o condenado trabalhe ou estude, mas a

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imprensa está nos mostrando, cada vez com maior frequência, casos de bandidos detidos,

em regime aberto, que são flagrados nas ruas cometendo novos crimes. Isso quando ele não

aproveita a ocasião e se “esquece” de voltar à noite. Cadê ele? Evadiu-se, escafedeu-se!

Não estamos aqui dizendo que tais artifícios legais não funcionam. De fato, alguns

conseguem se recuperar e retornam ao convívio social, contudo a quantidade de exemplos

que aponta no sentido contrário é bastante significativa. Algo precisa ser mudado!

Em geral, o bandido reincidente é aquele cujo crime era punido com o regime fechado e,

posteriormente, por bom comportamento, chegou até o regime aberto. Como se percebe,

esse é muito difícil de se recuperar, portanto, as progressões das penas de um regime para

outro precisam ser analisadas e decididas com mais cautela e baseadas em princípios mais

rígidos, caso contrário os estabelecimentos penais estarão, frequentemente, abrindo suas

portas para a saída de indivíduos potencialmente perigosos, colocando a sociedade em

risco.

Uma situação que nos deixa intrigados é a condenação, logo de princípio, ao regime aberto.

Se o cidadão não apresenta periculosidade suficiente para ser retirado do convívio social, a

ponto de deixá-lo circular normalmente durante o dia, sem vigilância, por que condená-lo à

prisão se, na realidade, ele só comparecerá ao local de cumprimento de pena para dormir?

Inventamos um hotel para bandidinhos de crimes de pequeno significado. Mesmo passando

somente o período noturno sob custódia da justiça, ele onera a sociedade (uma sopinha, à

noite, o café da manhã, a água para o banho, etc.). Entendemos que, nestes casos, outra

forma de punição deva ser aplicada. Muitos juizes têm optado pelas chamadas penas

alternativas (pagamento de uma determinada quantidade de cestas básicas, serviços de

manutenção e recuperação de prédios públicos, etc.), porém acreditamos que, nestes casos,

algo mais rigoroso e que tenha uma repercussão mais ampla, em termos de punição,

precisa ser efetuado. Um castigo que, realmente, desestimule a reincidência e seja tão

instrutivo que faça com que outros pensem duas ou mais vezes, antes de cometer crimes

semelhantes ao do apenado. Se essa forma de punição for encontrada, será o fim do regime

aberto de reclusão ou detenção, do jeito que o conhecemos atualmente. Se não vivêssemos

sob o respaldo (às vezes excessivo, principalmente em se tratando de criminosos

reincidentes) do “respeito aos direitos humanos”, seria muito fácil acharmos esse corretivo.

Bastaria aplicar ao merecedor, em praça pública, com cobertura da televisão, rádio, revistas

e jornais, vinte chibatadas bem fortes. O carrasco teria de ter, no mínimo, o porte físico do

lutador Anderson Silva. Calma! Não precisaremos chegar a tanto. Mais à frente,

apresentaremos nossa proposta para circunstâncias dessa natureza.

Acabaremos, então, com o regime aberto, a partir da implantação da proposta que faremos.

O regime semi-aberto, também não terá motivo algum para existir. Em nossa proposta, só

teremos a pena de exibição, que explicaremos em breve, e o atual regime fechado, no qual

os estabelecimentos penais terão de ser locais de trabalho, muito trabalho, seja ele agrícola,

industrial, etc. e, ao mesmo tempo, prisões de segurança máxima. Em outras palavras, o

regime fechado e o semi-aberto se fundiriam num só.

Como já foi dito, no regime fechado, o condenado ficaria em estabelecimentos prisionais,

pelo tempo determinado pela justiça. No entanto, não é justo que a sociedade desembolse

um centavo sequer para mantê-lo ali dentro.

O Estado não pode e não deve continuar se responsabilizando pelas despesas

decorrentes do encarceramento dos delinquentes. Por isso, defendemos que todo

preso pague uma taxa mensal referente às despesas geradas por sua reclusão ou

detenção.

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Em vários países europeus (Primeiro Mundo, Mundo Desenvolvido, Berço da Civilização),

os detentos são obrigados a pagar por seu período de “estadia” nos “hotéis penitenciários”.

Portanto essa ideia não é inédita. Na China, onde existe pena de morte, a família do

condenado é obrigada a pagar a bala que será usada em seu fuzilamento. Na Holanda, já

está se discutindo a possibilidade dos criminosos arcarem com os custos da investigação

policial, do processo judicial que resultou na sua condenação e com os recursos

empregados na assistência às vítimas. Não partilhamos dessa ideia de transferir para o réu

as despesas da investigação policial e de seu processo judicial, afinal de contas, segurança

pública é dever do Estado, entretanto, com relação aos custos prisionais, não temos a

menor dúvida. O Estado faz sua parte, investiga, prende, processa e condena, mas o

bandido deve pagar, não só pelo crime que cometeu, como também por sua manutenção

enquanto detento ou recluso. Raciocinem conosco: caso ele (o bandido) não tivesse

cometido crime algum, não estaria preso, não seria bandido. Estaria livre, tendo de

trabalhar para garantir seu sustento, sua saúde, etc. Aí, ele comete um crime e, como

prêmio, ganha o direito de ser sustentado pela sociedade. Parece-nos uma inversão de

valores. O homem livre, cidadão honrado, tem de trabalhar para se manter, o criminoso

fica nas costas do Estado. Qual é a lógica que fundamenta este estranho comportamento da

justiça brasileira?

Propomos que a família do condenado ou outra pessoa que, espontaneamente, considerasse

ser o preso merecedor dessa ajuda poderia se encarregar de pagar a taxa mensal dos custos

prisionais. Se ninguém o fizesse, o próprio preso teria de fazê-lo e, para isto, ele iria

trabalhar na unidade prisional para garantir um salário que pudesse custear as despesas por

ele geradas durante o cumprimento de sua pena. Cursos profissionalizantes poderiam ser

ministrados, no próprio estabelecimento penal, com o objetivo de capacitar e especializar

os presidiários em diversas atividades de nível técnico. Assim, com educação e trabalho, a

possibilidade de recuperação desses infratores da lei seria bem maior e facilitaria sua

reintegração na sociedade. Não podemos esquecer um velho adágio popular que ensina:

“mente desocupada é oficina do diabo”.

Algumas dúvidas podem surgir, a respeito da proposta apresentada. Caso o condenado não

esteja em condições físicas de trabalhar, como ficaria? Certamente, nessa situação,

havendo comprovação médica, ele estaria desobrigado do trabalho, porém seu processo

seria encaminhado à previdência e, uma vez saindo sua aposentadoria ou outro benefício,

ele voltaria a custear suas despesas. E no caso dele se negar a trabalhar? Nesse novo Brasil

que desejamos, não há lugar para a preguiça, para a ociosidade nem para protestos de

imprestáveis. Não podemos admitir em hipótese alguma, que um criminoso, uma pessoa

nociva à sociedade, ainda queira explorá-la, deixando seu sustento a cargo da mesma. Todo

rigor ainda será insuficiente para lidar com malfeitores desse naipe. Sugerimos que eles

sejam isolados dos demais presos e mantidos em celas solitárias, com dimensões

ultramínimas (onde só possa se dar, no máximo, um passo em linha reta, em cada direção),

sendo alimentados, exclusivamente, a pão e água. Uma vez por semana receberão uma

laranja (de preferência, a mais azeda possível), para evitar o escorbuto e terão direito à

meia hora de banho de sol semanal, para evitar a carência de vitamina D. Caso seus

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familiares recebam o auxílio-reclusão, este deverá ser cortado enquanto permanecer a

negativa de trabalhar, do mesmo modo que já vem sendo cortado em caso de fugas.

Certamente alguns (geralmente bacharéis em direito que, após a sétima ou oitava tentativa

fracassada, ainda não conseguiram seu registro na OAB), interessados em descolar uns

poucos minutos de exposição na mídia, se rebelarão contra medidas tão “desumanas”. A

estes, para acalmá-los, será permitido levarem um frasco transparente de protetor solar e

uma fatia de melancia, mensalmente, para cada preso desocupado. Os fissurados em

“direitos humanos” dirão: “Coitadinhos dos presidiários. Assim, os pobres assassinos,

ladrões e estupradores poderão morrer de fome em pouco tempo.” Responderemos: “Que

pena! Serão menos despesas com pão e água!” Mas estes fissurados poderão montar

barraquinhas em praças públicas para recolher donativos destinados ao pagamento das

taxas de estadia dos pobrezinhos e preguiçosos encarcerados. Só não apostamos que os

recursos arrecadados serão suficientes para comprar uma caixa de fósforos. Temos certeza

que agindo desse modo, rapidamente, os “moradores” das solitárias ficarão altamente

interessados em trabalhar para pagar seus “aluguéis” em cômodos mais confortáveis e com

direito a cardápio mais diversificado.

Com o objetivo de solucionar o problema das despesas exageradas com os detentos, temos

ouvido falar na privatização dos estabelecimentos prisionais. Pode ser que sejamos

conservadores em demasia, mas essa proposição nos assusta. Deixar criminosos que põem

em risco nossa vida e nossa integridade física, as de nossos filhos e as de nossos amigos

sob responsabilidade exclusiva da iniciativa privada, cuja base de sua existência é o lucro,

ficando o Estado a controlar de longe, a nosso ver é arriscado demais para o atual nível de

desenvolvimento de nossa sociedade. De qualquer forma, a proposta que apresentamos é

capaz de, no futuro, quando já tivermos alcançado o status de país desenvolvido, facilitar a

migração para esse outro modelo de administração penitenciário.

Com relação aos que cometeram delitos de pouca gravidade e não eram reincidentes será

reservada a pena de exibição, que passaremos a descrever. O cidadão será condenado, por

tempo determinado, nunca superior a quatro anos, a receber uma gargantilha de material

leve, bem resistente (fibra de carbono, por exemplo) e colorida (cores vivas e vibrantes),

cujas cores indicarão o tipo de crime cometido (furto, estelionato, homicídio culposo, lesão

corporal, etc.). As gargantilhas conterão chips de identificação e localização que poderão

ser rastreados por centrais de controle. A sociedade tem o direito de ser alertada quanto ao

potencial criminoso de cada um que já praticou qualquer ato contra ela. A manutenção da

privacidade em relação ao delito cometido facilita a repetição do mesmo. Vamos

exemplificar: imaginemos um estelionatário que foi condenado a três anos de detenção, em

regime aberto, por aplicar o “conto do vigário” contra algumas pessoas. Continuando livre

durante o dia, sem qualquer tipo de vigilância ou marca que o identifique, ele poderá

continuar sua rotina de enganar os cidadãos dignos, auferindo vantagens ilegais. À noite,

retorna para sua “cela” como se nada tivesse acontecido. Caso ele estivesse exibindo, em

seu pescoço, um artefato verde alface fosforescente, todos estariam atentos ao seu xaveco e

dificilmente acreditariam em suas lorotas.

Sempre tem o “advogado do diabo” tentando derrubar nossas proposições. Aí, ele dirá:

“Com o uso da gargantilha, os infratores condenados, ficariam estigmatizados e seriam

discriminados pelo restante da sociedade. Haveria muita dificuldade para que eles

conseguissem um emprego, por exemplo. Feriria os direitos humanos.” Raios! Quem

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merece mais atenção em relação aos direitos humanos, os criminosos ou as vítimas que

sofreram a ação criminosa? Manter sigilo a respeito do crime cometido é expor todos à

possibilidade real de terem seus direitos humanos (direito à vida, à propriedade, etc.)

afrontados mais uma vez. Quem deve prevalecer, os direitos individuais ou o coletivo? A

sociedade brasileira precisa rediscutir seus conceitos em relação aos chamados “direitos

humanos”. A nosso ver, está ocorrendo uma nítida e grotesca inversão de valores. Bandido,

aqui no Brasil, tem sido amparado de tal forma que o belíssimo documento promulgado

pela Assembleia das Nações Unidas em 1948 está, lamentavelmente, servindo como um

incentivo ao crime. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), em seu artigo

11º deixa bem claro:

A seguir, no artigo 12º, temos:

Estudando os artigos da DUDH, não verificamos qualquer menção à ocultação de ato

delituoso, inclusive está explícito que seu julgamento deva ser público, logo a sentença, a

penalidade aplicada deve também ser de conhecimento público. A publicidade em torno

dos atos comprovadamente delituosos não se configura, portanto, em ataque à honra ou à

reputação do infrator, uma vez que são fatos realmente acontecidos.

Logo após, no artigo 29º, a DUDH traz:

Pois bem, nossos delinquentes infringem deliberadamente estes preceitos e tem gente

defendendo que eles devem permanecer no anonimato, para preservar sua privacidade e,

obviamente, facilitar sua ação danosa contra a sociedade, propiciando novos ultrajes aos

direitos humanos de todos nós. Ou seja, defendem os direitos dos bandidos e não

1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno

desenvolvimento de sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às

limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido

reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às

justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade

democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos

contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu

lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda

pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente

até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento

público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua

defesa.

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asseguram “o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem”.

Justamente o oposto do que encontramos na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Como se não bastasse o que já foi dito, algumas constatações nos fazem crer que os

argumentos contrários à pena de exibição não são sustentáveis por longo tempo.

Conhecemos algumas jovens, de classes sociais distintas, que se apaixonam por rapazes

sabidamente envolvidos com o crime e isto não foi motivo para que elas os

discriminassem, muito pelo contrário. Parece ter algo de sedutor no banditismo, um certo

charme, às vezes, até comovente. Algo parecido com uma síndrome social, a Síndrome de

Robin Hood, na qual o bandido, por desafiar as leis de uma sociedade de valores

decadentes e questionáveis, acaba sendo coberto por uma aura de herói. No subconsciente

das pessoas, esta aura mescla-se com a do vilão. Os arquétipos fundem-se numa só figura

mítica que, ao mesmo tempo, aterroriza e fascina. As novelas da televisão comprovam

brilhantemente tal sensação. Nelas, com frequência, o vilão, recheado de crimes em sua

carreira, no transcorrer da trama, é amado e odiado pelos telespectadores, principalmente

após ter se esclarecido os primórdios de sua história, nos quais pode se compreender

perfeitamente que, além de bandido, ele também é vítima da situação. Também

verificamos que o cinema tem explorado a biografia de notórios bandidos, com

significativo retorno de bilheteria (ex.: Bonnie & Clyde; Lúcio Flávio, o Passageiro da

Agonia; etc.). Nossa! Isso dá uma tese de mestrado em psicologia!

No que diz respeito à dificuldade em conseguir emprego, alguns órgãos públicos costumam

exigir atestados da vida judicial pregressa para os aprovados em seus concursos, logo essa

discriminação já existe mesmo sem o uso das gargantilhas. Naqueles em que não há tal

exigência, ela continuaria inexistente, igualando gregos e troianos, ou melhor,

gargantilhados e desgargantilhados. Quanto à iniciativa privada, é possível oferecer um

pequeno desconto em algum imposto, proporcional à quantidade de infratores em estágio

de recuperação que as empresas tenham em seus respectivos quadros de funcionários. Este

mesmo desconto poderia ser dado às empresas que admitirem como sócios, pessoas em

cumprimento de pena, desde que elas detenham, no mínimo, 1/3 da razão social. Estas

medidas, com certeza, diluiriam o aparente obstáculo para a conquista do emprego. O

desconto aqui mencionado não repercutiria negativamente nas contas públicas. Seu valor

seria insignificante quando comparado à desoneração do Estado resultante do fato de não

ser ele mais o responsável pela manutenção dos estabelecimentos prisionais.

É claro que, findando o período da pena, com a retirada da gargantilha, este cidadão não

mais proporcionará à empresa o direito ao desconto citado no parágrafo anterior. Além

deste desconto, as empresas que incluírem em seus quadros de funcionários ou de sócios,

cidadãos que estejam portando as gargantilhas serão certificadas com um selo de

qualidade, a ser exposto em seus produtos, levando a seguinte mensagem: “Empresa

incentivadora da recuperação e reintegração social de condenados pela justiça”. Será

mais um motivo para que não haja a discriminação dos condenados pela justiça no

mercado de trabalho, uma vez que as empresas certificadas estariam exibindo, através do

selo, seu compromisso social, o que seria um diferencial na hora de garimpar seus clientes.

A retirada voluntária da gargantilha por parte do condenado teria significado jurídico

idêntico ao da reincidência no crime. O infrator passaria a ser um foragido da justiça e uma

vez apanhado, ele deveria ter sua pena dobrada e esta teria de ser cumprida em regime

fechado, sem direito a posterior progressão de pena.

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Reparem que a extinção do regime aberto e do semiaberto de detenção resultará no

esvaziamento dos prédios utilizados para abrigar os condenados aos ditos regimes. Com

algumas adaptações em suas estruturas, eles servirão para receber os presos em regime

fechado. Desta forma, com um investimento relativamente baixo, as vagas no sistema

penitenciário para os condenados em regime fechado aumentarão substancialmente,

diminuindo ou até mesmo suprimindo o problema da superlotação dos presídios.

A progressão de pena de um regime para o outro continuaria existindo, mas esta só poderia

ocorrer quando o condenado já tivesse cumprido, no mínimo, 2/3 (dois terços) de sua pena

em regime fechado e restassem, no máximo, quatro anos para completar o período de

encarceramento a que foi condenado. Sendo assim, aqueles condenados a mais de doze

anos em regime fechado teriam de permanecer nele por um período maior do que 2/3 de

sua pena. As autoridades não precisariam se alarmar com isso. Agora, com nossa proposta,

não seria mais a sociedade que estaria desembolsando recursos para a manutenção do

criminoso no presídio. Atualmente, a pressa em liberar o preso está, justamente, ancorada

no problema financeiro. Aos detentos ou reclusos que alcançarem o benefício da

progressão para o regime de exibição, lhes será colocada uma gargantilha de determinada

cor, independente do tipo de crime cometido. Nestes casos, a identificação do tipo de

crime, realmente, poderia ocasionar estigmas com sérias repercussões. A concessão do

benefício em questão só ocorrerá se for solicitada e após julgamento do merecimento.

Não temos dúvidas que um código penal rigoroso, no qual as propostas apresentadas neste

trabalho fossem incorporadas, seria um instrumento restritivo ao crime bem mais incisivo

do que o que temos nos dias de hoje. De fato, seria bastante incômodo e desagradável (mas

nunca degradante) para qualquer ser humano andar por aí, desfilando, com uma gargantilha

cujo significado, conhecido por todos, desde crianças até anciãos, é: “Cuidado comigo! Já

cometi um crime!” O sentimento gerado, lá no fundo de cada um, teria um efeito

inibitório sobre a conduta delituosa muito mais eficaz do que qualquer das penas

alternativas que conhecemos e, até mesmo, mais do que alguns meses de prisão em regime

fechado. O que esperamos com a aplicação de nossas propostas é uma significativa queda

nos índices de violência urbana e, consequentemente, um incremento no desenvolvimento

econômico e social de nosso povo. Diminuindo os crimes, diminuirão as despesas com

segurança, aumentará a demanda por serviços nas áreas de turismo, diversão e lazer. As

pessoas terão mais confiança para empreender. O Brasil deixará de se parecer com a Maria

Fumaça e passará a correr nos trilhos de um Trem Bala!

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11 - Como fazer?

Durante o ano passado e também no atual, assistimos, nas capitais estaduais e outras

grandes cidades do país, à realização de manifestações populares motivadas,

principalmente, pelo aumento do preço das passagens dos coletivos que trafegam na área

urbana. Este ano, o foco predominante dos protestos foi a farra com os recursos públicos

gastos com a realização da Copa do Mundo de Futebol em nosso país. No bojo destas

manifestações surgiram outras reivindicações, em geral bem amplas, um tanto o quanto

vagas, tais como melhoria do atendimento na saúde, melhoria na educação pública,

habitação digna para todos, etc. Consideramos importantíssimos estes movimentos, uma

vez que demonstram uma consciência crescente, por parte de nosso povo, dos problemas

que afetam seu cotidiano e uma inabalável crença em sua própria capacidade de tomar

atitudes para buscar a resolução dos mesmos. O que ainda nos deixa entristecidos é

perceber a infiltração de vândalos nesses movimentos (desordeiros profissionais), levando

à depredação de patrimônio público, a atos violentos, inclusive ocasionando perdas de

vida, desvirtuando os objetivos das manifestações e descaracterizando sua filosofia cívica e

pacífica. O uso da violência por parte dos ativistas é inadmissível, porque acaba

prejudicando a conquista de resultados práticos. Por exemplo, se reivindicamos o aumento

de verbas para a saúde, este aumento vai demorar mais tempo para chegar se o Governo

tiver de usar estes recursos para reconstruir a praça que foi destruída pelo vandalismo.

Além do mais, as ações violentas geram rejeição por parte do restante da sociedade em

relação ao que está sendo reclamado, ou seja, ao invés de atrair novos cidadãos para as

ruas, provoca o seu afastamento, o seu distanciamento, e também dá o aval para que a

repressão policial torne-se mais constrangedora e violenta. Em outras palavras, atos

públicos marcados pela fúria popular denotam burrice por parte dos responsáveis pela

mesma e só interessam aos que desejam a manutenção do “status quo”.

Outro fator que, acreditamos, pode melhorar significativamente nas manifestações que vêm

ocorrendo é o teor das reivindicações. Ao que nos parece, estão atacando os efeitos e não

as causas da lamentável situação que estamos vivendo. O aumento do preço das passagens

é a pontinha do iceberg. Quando vemos tanto barulho por tão pouco, nos dá a sensação que

engolimos um elefante e nos engasgamos com uma formiga. Ousamos afirmar que a

análise criteriosa deste livro deixará os brasileiros bem mais perto das verdadeiras razões

da saúde estar doente e da educação estar reprovada. Enquanto não voltarmos nossas

baterias para as causas dos problemas, continuaremos dando tiros a esmo, socando o ar.

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Nossos governantes, muito hábeis, às vezes, atendem uma ou outra dessas pequenas

reivindicações (nos dão um cala-boca), o que nos traz certa alegria. Dá a impressão de que

fomos vitoriosos. O movimento sofre um refluxo, aquieta-se, o povo retorna às suas casas

e, na realidade, tudo se mantém como era antes. Quem vivia de privilégios permanece

privilegiado. Quem ralava de sol a sol continua se esfolando.

No transcorrer dos capítulos anteriores, procuramos evidenciar quem ou o que pode ser

responsabilizado por nossas penúrias contemporâneas. Fomos além, apresentamos

propostas concretas objetivando a transformação da realidade. Temos certeza que a leitura

deste trabalho estimulará milhões de cérebros, país a fora, a formular novas propostas,

possivelmente ainda melhores do que as nossas. E como viabilizá-las? Notem que as

propostas discutidas representam mudanças profundas na geopolítica, na economia e na

estrutura de poder do país. Elas passam por um reordenamento jurídico que, em sendo

realizado, acarretará outras alterações que nem chegamos a abordar. As mudanças jurídicas

necessárias para permitir a aplicação de nossas ideias perpassam por séria revisão do texto

constitucional. Texto este que, no último quarto de século, sofreu tantas emendas que se

transformou numa grande colcha de retalhos. A belíssima Constituição Cidadã de 1988, ao

sabor de poderosos interesses e nas mãos, nem sempre escrupulosas, de nossos

congressistas, hoje, está mais parecida com um Frankenstein jurídico do que com a Carta

Magna de um país soberano que almeja o bem-estar de seu povo e uma posição de

destaque entre os ditos países desenvolvidos. O pior é que ainda existem outras propostas

de emendas constitucionais tramitando no Congresso. Uma vergonha! Retiram parágrafos,

acrescentam outros, transformam radicalmente os artigos lá escritos com uma frequência

maior do que eles, os congressistas, trocam de automóvel (alguns chegam a trocar de

automóveis três vezes por ano). Sendo assim, desacreditamos que novas emendas

resolveriam nossos problemas. Seria transfigurar ainda mais nosso tão cortado e costurado

texto constitucional. Faz-se necessária, urgentemente, a elaboração de uma nova

Constituição para o país, portanto a convocação de uma Assembleia Nacional

Constituinte é o caminho para o Brasil escalar a montanha do pleno desenvolvimento

e da justiça social! É bem verdade que outros caminhos podem ser trilhados para alcançarmos o nobre

objetivo de levarmos nosso país ao patamar tão sonhado, o da revolução ou o do golpe de

estado, porém, invariavelmente, nestes ocorre derramamento de sangue e a instalação de

uma ditadura, ainda que pouco duradoura. Sendo assim, consideramos a senda do respeito

às normas democráticas a mais cabal para seguirmos avante! O parágrafo primeiro do

artigo primeiro de nossa atual Constituição diz:

Logo, se for o desejo popular, se ele for manifestado de maneira clara e objetiva, não tem

porque temer. Nossa meta será atingida. Muito em breve estaremos celebrando a instalação

de uma nova Assembléia Nacional Constituinte (ANC). Estas ponderações são alentadoras.

Elas nos levam a pensar que o desfecho vitorioso está próximo. A partir do momento no

qual as manifestações populares, que vem acontecendo em nosso país, focarem sua atenção

nas genuínas causas das mazelas que enfrentamos e no processo mais recomendável,

“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou

diretamente, nos termos desta Constituição.”

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menos traumático, para vencê-las, tais manifestações tornar-se-ão mais contundentes e

efetivas.

Já ouvimos alguns se posicionarem afirmando que nossa Constituição não permite a

convocação de uma nova Assembleia Constituinte, caso contrário ela estaria

proporcionando sua autodestruição. Entendemos que este posicionamento, além de deixar

transparecer o medo de que descubramos o caminho correto, põe em dúvida o bom senso e

a inteligência de nossos constituintes de 87/88. Certamente, eles tinham a plena convicção

de que a sociedade não é imutável. Aliás, quatrocentos e cinquenta anos antes de Cristo,

Heráclito de Éfeso já nos ensinava:

Tudo está em constante transformação e nossa Lei Maior teria de possuir a flexibilidade

necessária para adequar-se aos novos tempos, inclusive prevendo a possibilidade de ser

completamente reestruturada. Os legisladores que elaboraram a Constituição Cidadã não

cometeriam a leviandade de colocar o Brasil numa cilada que determinasse a consumação

de um golpe de estado ou de um sangrento processo revolucionário visando garantir seu

progresso. O artigo 60 de nossa Constituição nos mostra como pode ser efetuada uma

emenda constitucional. No seu parágrafo quarto, ele arrola os casos nos quais são vedadas

as emendas, e nele temos:

Não existe absolutamente qualquer frase, palavra, letra ou vírgula, no citado parágrafo

quarto, que proíba o Congresso Nacional de deliberar sobre uma proposta de emenda

constitucional que estabeleça condições para que seja convocada uma ANC. Como já

vimos, se esta for a vontade do povo, artimanhas no sentido de evitá-la serão interpretadas

como golpe de estado porque estão abafando, sufocando, o anseio popular. Os temas que

serão abordados pela nova Constituinte cabem exclusivamente a ela, após minuciosa

ausculta de toda a sociedade brasileira. Não está na alçada do atual Congresso, nem do

STF, prever o futuro. Se todo poder emana do povo, baseados em que instrumento legal os

Deputados Federais, Senadores e Ministros do Supremo podem se arvorar de pitonisas e

censurar o que será debatido na nova Constituinte? Consequentemente, alegar que é

impossível convocar a ANC porque ela poderá invalidar algum dos incisos do parágrafo

“Nada há de permanente, exceto a mudança.”

“§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda

tendente a abolir:

I - a forma federativa de Estado;

II - o voto direto, secreto, universal e periódico;

III - a separação dos Poderes;

IV - os direitos e garantias individuais.”

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em questão tem o mesmo valor jurídico de dizer quem ganhará a próxima Copa do Mundo

de futebol, seis meses antes de seu início.

É voz comum entre os juristas e políticos que os incisos do parágrafo quarto do artigo 60

da Constituição Federal são cláusulas pétreas. O que significa isso? São de pedra,

inalteráveis, imutáveis. Parece que eles se esqueceram da milenar lição de Heráclito de

Éfeso. Como se não bastasse, no mesmo sentido, temos os versos da belíssima canção do

eminente cantor e compositor Lulu Santos:

Mas eles insistem: “Toda regra tem exceção. As cláusulas pétreas são as exceções ao

“Tudo” de Lulu Santos e ao “Nada” de Heráclito. Elas são duras como as pedras.” Aí vem

a sabedoria popular e acaba de derrubar a tese:

Já que falamos de música, nos parece que está na hora de nossos juristas e políticos mais

irredutíveis colocarem suas barbas de molho e começarem a cantar um antigo sucesso do

saudoso e inesquecível Raul Seixas:

As ditas cláusulas são pétreas, enquanto não for promulgada uma nova Constituição e, em

momento algum, tais incisos se contrapõem ao início do processo que buscará essa

magnífica conquista. Alguns ainda argumentam que a proibição da convocação de uma

ANC é uma cláusula pétrea implícita. Essa história de “cláusulas pétreas implícitas” que,

eventualmente, trazem para a discussão não passa de interpretação individual impregnada

de uma ideologia conservadora própria de quem está se privilegiando do presente mofado.

Se a cláusula estiver implícita, não está escrita, não está sendo vista por ninguém. Se

ninguém a vê, pode imaginá-la do jeito que lhe for mais conveniente, não é mesmo?

Portanto, aqueles que argumentam em prol da impossibilidade da convocação de uma

Assembleia Nacional Constituinte são, justamente, os que estão satisfeitos com o atual

estado de coisas e procuram erguer barricadas no sentido de defender a permanência dessa

perniciosa situação. Torna-se imperioso varrê-los das esferas do Poder!

Tudo bem, está claro, temos de começar por mais uma emenda à Constituição, mas quem

vai encaminhar a esta proposta de emenda com o objetivo de convocar a ANC? O artigo 60

da Constituição, que já mencionamos anteriormente, responde a esta questão:

“Nada do que foi será

De novo do jeito que já foi um dia

Tudo passa, tudo sempre passará.”

“Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.”

“Eu prefiro ser

Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião

Formada sobre tudo

Do que ter aquela podre e velha opinião

Formada sobre tudo.”

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E por que motivo o Presidente da República, os Senadores ou os Deputados

encaminhariam esta emenda? É óbvio que eles só tomariam tão digna decisão mediante

pressão das ruas. O clamor popular é o gatilho capaz de mobilizá-los, tirá-los da inércia,

abrir seus olhos para a conjuntura trágica na qual o povo brasileiro foi mergulhado ao

longo dos anos. É essencial que as organizações da sociedade civil, como as Centrais

Sindicais, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa

(ABI), a União Nacional dos Estudantes (UNE), Igrejas e outras entidades encampem a

ideia e participem da luta visando um Brasil de cara nova. Sem elas, com certeza, o

caminho será mais íngreme e pedregoso. Seria muito interessante e frutífera a formação de

um comitê, com membros indicados por essas organizações, que coordenaria as atividades

em prol da instalação da ANC.

Temos de estar atentos para não agirmos como crianças pequenas que choram reclamando

por carinho e atenção e são tapeadas com chupetas em suas bocas para ficarem calminhas.

Vão fazer de tudo para não largar o osso (melhor dizendo, o filé-mignon). Podem até

montar uma farsa, ao jeito deles, apelidarem de Constituinte, e depois, nos enfiam goela

abaixo uma desgraça pior do que a que já temos. Não podemos aceitar qualquer coisa.

Alguns pontos precisam ser bem discutidos previamente. Como será essa Assembleia

Constituinte? Qual será sua composição? Quais os critérios para a escolha de seus

membros? Ela será exclusiva ou acumulará as funções do Congresso Nacional? Qual o

tempo que ela terá para concluir seu trabalho? Em que local será instalada? Como será a

remuneração dos deputados constituintes? O que eles precisarão para poderem

desempenhar seu trabalho? Tentaremos, a seguir, fazer algumas sugestões no sentido de

esclarecer estas dúvidas.

Por pior que esteja caminhando, a manutenção dos trabalhos do Congresso Nacional é

imprescindível. Imaginemos uma situação de urgência na qual o Presidente da República

envia uma medida provisória para ser apreciada. O Congresso não pode deixá-la de lado

porque está elaborando a nova Constituinte e vice-versa. Sendo assim, não temos dúvidas,

a nova ANC deve ser exclusiva, ou seja, seus membros deverão ser eleitos apenas com a

missão de confeccionar a nova Carta Magna do país e o trabalho dessa Assembleia deverá

acontecer concomitantemente aos trabalhos do Congresso Nacional. Isto já deixa claro que

os que estão exercendo mandatos de Deputados Federais ou Senadores não poderão se

candidatar para fazer parte da Constituinte. A nosso ver, esta proibição deve se estender

aos demais cargos eletivos, tanto no Executivo como no Legislativo, sejam eles federais,

“Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do

Senado Federal;

II - do Presidente da República;

III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da

Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus

membros.”

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estaduais ou municipais. Ministros de Estado, Secretários Estaduais ou Municipais de

Governo também estariam impedidos. Entendemos que o período de

desincompatibilização, nestes casos, não deva ser inferior a seis meses de distância do

registro de candidatura, exigindo-se a renúncia ao cargo, e não apenas licença, para

poderem se candidatar. Com relação aos demais funcionários públicos e aos cidadãos em

geral, valeriam as mesmas normas, já em vigor, que regem as candidaturas para Deputado

Federal. Caso as regras não sejam estabelecidas dessa forma, o processo já estaria viciado

desde o início, uma vez que os que exercem cargos eletivos, fatalmente, seriam

beneficiados por seus cargos na disputa com outros candidatos desprovidos desta

vantagem. Além do mais, imaginem um Senador licenciado exercendo o mandato de

Deputado Constituinte e tendo de decidir acerca da continuidade ou não do Senado

Federal. Será que ele teria condições de votar com isenção? Será que ele legislaria em

causa própria? Será que, mesmo convicto da necessidade da permanência do Senado, não

ficaria constrangido em expressar seu voto? Reflitam sobre a situação.

Quanto à composição da nova Constituinte, sugerimos que ela tenha, no máximo, 155

(cento e cinquenta e cinco) Deputados, sendo que as bancadas dos Estados de menor

população (Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins) deverão ser constituídas por

apenas um membro cada. As bancadas dos demais Estados devem estar de acordo com o

tamanho de suas populações. O quadro a seguir nos dá essa dimensão.

Estados Nº. de Deputados Estados Nº. de Deputados

Rio Grande do Norte 2 Goiás 6

Amazonas 2 Pará 7

Distrito Federal 2 Maranhão 8

Mato Grosso 2 Ceará 9

Mato Grosso do Sul 2 Pernambuco 9

Sergipe 2 Paraná 10

Alagoas 3 Rio Grande do Sul 10

Piauí 4 Bahia 11

Espírito Santo 4 Rio de Janeiro 12

Paraíba 5 Minas Gerais 14

Santa Catarina 6 São Paulo 20

Deputados trabalhando exclusivamente para produzir a Constituição, tendo sessões

plenárias duas vezes por semana, conseguirão, com toda certeza, concluir seu trabalho em

cerca de nove meses. Acreditamos que não precisarão mais de 70 (setenta sessões) para

apresentarem o texto final. Logo este é o prazo que deverá ser determinado para o mandato

dos mesmos. Com relação ao local de trabalho dos constituintes, se eles estão preparando a

Constituição brasileira, logicamente deverão labutar no Brasil. Dirão vocês: “Isso é óbvio!”

Talvez não seja tão óbvio assim. Notem que não falamos em Brasília, e sim no Brasil!

Queremos dizer com isso, que defendemos uma Assembleia Nacional Constituinte

Itinerante, com três sessões realizadas em cada um dos dezesseis estados mais populosos e

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duas sessões realizadas em cada um dos onze estados restantes, perfazendo um total de

setenta sessões. Por uma questão hierárquica, a sessão de abertura e a última, a da

promulgação, deveriam ser realizadas em Brasília.

Temos convicção de que a passagem dos Constituintes pelas capitais (talvez na segunda

maior cidade também) dos diversos Estados brasileiros implicaria num nível de

participação popular nunca visto em toda nossa história. Poderia ser decretado feriado

municipal na data marcada para a sessão legislativa naquela cidade proporcionando

audiências públicas, atos cívicos variados, caravanas de cidadãos vindas de municípios

próximos, enfim, uma verdadeira festa democrática. Alguém poderia argumentar que a

logística para deslocar os 155 constituintes e outro tanto de secretários de cidade em cidade

seria impraticável. Temos absoluta certeza que seria mais fácil do que deslocar os mais de

quinhentos congressistas para vinte e sete cidades diferentes, quatro ou cinco vezes por

mês, tudo bancado pelo erário público, como acontece nos dias de hoje. E, na maioria das

vezes, eles vão para ver a família e passear, enquanto que os Constituintes estariam

viajando a trabalho. Onde aconteceriam as sessões da Constituinte? Em praça pública? Não

ousamos tanto assim, porém estádios de futebol ou grandes ginásios poderiam ser

adaptados para receber nossos heróis naquela memorável data.

No que diz respeito à remuneração dos Deputados Constituintes, deve-se deixar bem claro

que seu trabalho será diferenciado dos demais Deputados, os Congressistas, por

conseguinte não há motivos para se falar em isonomia salarial entre os dois parlamentos.

Como eles serão eleitos num clima de grande envolvimento popular por um Brasil mais

justo e eficiente, no qual estarão sendo questionados os vencimentos absurdos dos

responsáveis pela exorbitocracia diabólica na qual vivemos, recomendamos que os

Constituintes já se mostrem como o primeiro grande exemplo para a nação e seus

proventos não ultrapassem o valor correspondente a vinte salários mínimos, como

defendemos anteriormente. Terão direito também a uma verba de representação de valor

nunca superior ao do próprio salário e às passagens aéreas para as cidades onde ocorrerão

as sessões plenárias da Assembleia, bem como às hospedagens nas respectivas cidades.

Além destas, receberão também, a cada bimestre, uma passagem aérea de ida e volta para

seus Estados de origem, com o objetivo de reverem famílias. O grupo de Constituintes

deverá estar sempre acompanhado por uma equipe de dois médicos clínicos, dois

odontólogos e três enfermeiros, responsável por garantir o bom estado de saúde daqueles

que estarão preparando nossa Carta de Alforria em relação à miséria e ao

subdesenvolvimento. Entendemos que tais benefícios não se caracterizam como privilégios

e sim como o necessário para o desempenho de suas funções. Mais do que isso, aí sim

estaríamos repetindo os equívocos que desejamos corrigir. Os parlamentares devem ser

representantes do povo, e não semideuses a desfrutar da opulência graças ao sangue e ao

suor do trabalhador.

Para assessorar os trabalhos da ANC será indispensável a instalação de uma Equipe

Técnica formada por advogados, economistas, administradores, contadores, engenheiros,

geógrafos, médicos sanitaristas, matemáticos, gramáticos, tecnólogos em processamento de

dados, enfim, profissionais habilitados para desenvolver e elaborar as pesquisas e estudos

solicitados pelos Deputados Constituintes, bem como para confeccionar os textos que serão

levados a plenário para discussão e votação. Esta equipe teria de se instalar em Brasília e

atender a todos os Constituintes, independente de sua filiação partidária. Acreditamos que

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não serão necessários mais do que 60 (sessenta) profissionais para a formação da dita

equipe, até porque eles deverão contar com a ajuda de 155 (cento e cinquenta e cinco)

auxiliares administrativos, estes sim estarão vinculados um a cada Deputado. Tanto os

membros da Equipe Técnica quanto os auxiliares administrativos citados podem ser do

próprio quadro efetivo do funcionalismo público, cedidos temporariamente, ou pode ser

realizada uma seleção, mediante prova e avaliação de currículos, visando, especificamente,

a execução de tão nobre missão.

Cada Deputado Constituinte terá direito a um gabinete, no seu Estado de origem, que

poderá ser instalado nas dependências de Assembleia Legislativa local ou da Câmara de

Vereadores da respectiva capital estadual. Não vemos necessidade para a existência de

gabinetes em Brasília, a não ser, é óbvio, para os que foram eleitos pelo Distrito Federal.

Em cada um dos mencionados gabinetes, deverão trabalhar três funcionários, sendo que

um deles exercerá função de chefia. Além destes três funcionários e o auxiliar

administrativo lotado em Brasília, o parlamentar teria direito a um Secretário Particular,

que deve acompanhá-lo por toda peregrinação democrática. Apenas o Chefe de Gabinete e

o Secretário Particular serão nomeados por indicação do Deputado, os demais funcionários,

como já explicamos, podem ser do quadro efetivo ou selecionados para trabalho

temporário. Será necessário também disponibilizar para o parlamentar um veículo com

motorista durante os dias nos quais ele deve permanecer em cada cidade.

É certo que terão aqueles a questionar os custos de uma Assembleia Constituinte

“exageradamente complexa”. Realmente, estivemos a efetuar os cálculos e concluímos que

esta seria uma Constituinte “caríssima”. Consumiria cerca de R$300.000.000,00 (trezentos

milhões de reais) dos cofres públicos. Por Deputado Constituinte, teríamos um gasto de

menos de dois milhões de reais. Ou seja, com toda essa parafernália destinada a incentivar

a participação popular, nossa ANC, por parlamentar, custaria ao Brasil menos de um terço

do que custa a Câmara dos Deputados e cerca de 16 (dezesseis) vezes menos do que custa

o Senado Federal. E agora, qual é o “novo e poderoso” argumento, contrário à convocação

de nossa Constituinte, que os amantes do passado inventarão?

De onde sairão os recursos para financiar os trabalhos da Constituinte? Uma dúvida fácil

de sanar. Só podem sair de um lugar: do orçamento do Congresso Nacional, e isto tem de

estar claro na emenda convocatória da ANC (Assembleia Nacional Constituinte). No ano

anterior ao da instalação da Assembleia Constituinte, Câmara e Senado, ao prepararem

suas Leis Orçamentárias para o ano seguinte, já incluirão as previsões de custos da

Constituinte. Evidentemente, no ano de funcionamento da ANC as mordomias das duas

casas que compõem o Congresso terão de ser um pouco mutiladas. Certamente, nossos

Congressistas não irão reclamar. Se reclamassem, o que poderia ser dito a respeito do

espírito cívico deles? E o tão alardeado Amor pela Pátria, onde estaria? Para ajudar um

pouquinho, as Assembleias Legislativas dos vários Estados e as Câmaras Municipais das

cidades que sediarão as reuniões da ANC também seriam convocadas a dar sua

contribuição, principalmente no que tange ao espaço físico e infra-estrutura. É só por em

prática a teórica colaboração entre os entes federados que as possíveis dificuldades se

converterão em “monstros de pelúcia”.

Uma vez convocada a ANC, a luta não terá acabado, muito pelo contrário, estará apenas se

iniciando. Precisaremos ter um extraordinário cuidado ao elegermos nossos Deputados

Constituintes. Eles devem estar comprometidos, até o pescoço, com as transformações que

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desejamos. Os que já exerceram mandatos de Deputado ou Senador, anteriormente, não são

muito confiáveis. Eles já tiveram a oportunidade de se opor a essa bandalheira

institucionalizada, mas preferiram calar-se e aproveitar-se das vantagens que a dita cuja

lhes proporcionava. Nossa ANC necessitará de caras novas, nascidas nas bases dos

movimentos populares, desenvolvidas no seio da sociedade civil organizada. No entanto,

ainda que a composição de nossa Constituinte seja a mais esplêndida possível, o risco de

retrocedermos e voltarmos à amarga situação que vivenciamos atualmente continua

existindo. Vocês viram o que aconteceu com a Constituição de 1988. No transcorrer das

sessões legislativas, foram lhe alterando pouco a pouco, de forma que, hoje, está

irreconhecível.

A nova Constituição terá de estar antenada com seu tempo, deverá prever mudanças nela

própria, como a atual, porém será conveniente que ela exija uma votação mais expressiva

para que emendas ao texto constitucional sejam aprovadas. No momento presente, bastam

3/5 (três quintos) dos votos dos congressistas (60% - sessenta por cento) e esse objetivo

terá sido alcançado. De um modo geral, os governos que se instalaram no Palácio do

Planalto conseguiram, com relativa facilidade, reunir em sua base de apoio um número de

parlamentares superior aos 3/5 exigidos para a aprovação das emendas. Esse fator

contribuiu decisivamente para facilitar a concentração dos recursos públicos nas mãos do

executivo federal. Sugerimos que, daqui para frente, este percentual mínimo de votos

necessário para se levar a cabo uma transformação da Constituição suba para 80% (oitenta

por cento) ou 4/5 (quatro quintos) da quantidade total de parlamentares. Desta forma, a

minoria oposicionista, em qualquer época, conseguirá barrar a voracidade financeira dos

governos.

Mesmo com o aumento da fração discutido no parágrafo anterior, outras medidas devem

ser tomadas para salvaguardar as principais conquistas alcançadas. Os novos percentuais

de distribuição de recursos públicos entre os entes federados (a revisão do Pacto

Federativo), a estrutura unicameral do legislativo (o fim do Senado) e o teto salarial do

serviço público vinculado ao salário mínimo, por exemplo, deveriam figurar entre as

“cláusulas pétreas” (aquelas do parágrafo quarto do atual artigo 60). Assim, apenas uma

outra ANC poderia jogar por terra tais conquistas. Isso evitaria que os legisladores do

futuro (após a promulgação da ANC), juntamente com os futuros governantes, sintam-se

tentados a restabelecer o paraíso dos marajás nas terras que já foram tupiniquins.

Uma vez promulgada a nova Constituição Federal, as Constituições estaduais e as Leis

Orgânicas dos Municípios tornar-se-ão obsoletas. A mobilização popular terá de se

continuar, no sentido de que estas também sofram as merecidas revisões. A Câmara dos

Deputados, em Brasília, terá bastante trabalho porque outras leis deverão ser atualizadas,

como o Código Penal, por exemplo.

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12 – Finalizando

Nas páginas deste livro expressamos nossas opiniões, baseadas, como já dissemos, em

muitas discussões e debates com outros compatriotas também preocupados com o caos

vigente em nosso país e imbuídos da mesma certeza de que algo precisa ser feito para

cortarmos nosso cordão umbilical com o eterno complexo de colonizado que nos persegue

a mais de meio milênio. As propostas apresentadas podem não ser as melhores, talvez

necessitem ser aprimoradas, não importa. Aí estão elas! Prontas para passar pelo crivo

analítico da sociedade brasileira. Temos absoluta certeza de que outras tantas proposições

são indispensáveis para marcharmos rumo ao sucesso enquanto nação, tais como uma justa

reforma fiscal, uma reavaliação dos paradigmas da reforma agrária, uma reformulação das

políticas de transferência de renda aos mais carentes, um planejamento participativo na

política social de habitação, etc. Perguntarão vocês: “Então, por que estes temas não foram

abordados neste livro?” Temos de confessar que, por mais que tenhamos pesquisado e nos

aprofundado em alguns assuntos, ainda nos sentimos insuficientes, inacabados, nestes

mesmos assuntos. Como discutir, então, temas que não tivemos a oportunidade de avançar

mais em seus respectivos conteúdos? Com relação a estes temas, esperamos que outros

pesquisadores, outros escritores, com conhecimentos mais amplos sobre tais assuntos,

possivelmente detentores de estilos mais precisos e agradáveis do que o nosso, possam dar

prosseguimento ao trabalho aqui iniciado.

Além do mais, o tempo urge! Seria demasiado cômodo permanecer diante dos livros e da

tela do computador, perdidos em elucubrações, enquanto irmãs verde-amarelas, de treze,

doze, onze, anos, dão entrada em hospitais públicos para dar à luz crianças fadadas a

semelhantes infortúnios. Como continuar as pesquisas, abrigados em nossos confortáveis e

perfumados escritórios, enquanto muitos irmãos verde-amarelos vivem desabrigados,

esfomeados, alcoolizados, asfixiados pelo crack, perambulando pelas ruas das cidades?

Como engolir a indignação e permanecer quieto em nosso canto ao tomar conhecimento

que o governo do Estado de São Paulo vai gastar R$35.000.000,00 (trinta e cinco milhões

de reais) na compra de veículos blindados, com canhão de água, especializados em

dispersar manifestantes durante os legítimos movimentos populares? Sabemos, como eles

também sabem, que estes recursos poderiam ser investidos de modo realmente útil para a

população. No mínimo, poderiam melhorar o salário dos policiais e investir em

inteligência, infiltrando agentes nas manifestações para identificar e juntar provas contra os

verdadeiros vândalos e desordeiros, ao invés de se armar contra o povo em geral. Esses

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veículos blindados que serão adquiridos são dotados alta tecnologia. Além de esguichar

água sob elevada pressão, podem despejar gás lacrimogêneo e tinta sobre os manifestantes.

São projetados para reprimir, intimidar, sufocar os atos populares. Como podem ver, eles

representam os brinquedinhos preferidos dos filhotes de Hitler, dos aprendizes de

ditadores, dos tiranos, os quais, desesperados, na iminência de assistir ao fim de seu

império, buscam, de todas as formas, se municiarem para deter o processo de

desenvolvimento social de nosso povo.

Por que os membros da Assembleia Legislativa de São Paulo agiram de forma traiçoeira

com a população que neles depositou sua confiança, elegendo-os? Por que aprovaram a

compra de armamentos destinados ao uso contra o próprio povo, e não contra os bandidos?

É óbvio que estão legislando em causa própria. Querem garantir a permanência de seus

privilégios. Ou vocês já esqueceram que a citada Assembleia é uma das quinze que gastam

mais, por parlamentar, do que o terceiro congresso mais caro do mundo (o da Itália)?

Começamos a presenciar no país medidas autoritárias, ditatoriais, que ferem o parágrafo

único do artigo primeiro de nossa Constituição. Daqui a pouco, outros estados estarão

imitando a atitude opressora do Governo paulista. Não será surpresa se até mesmo o

Governo Federal se prontificar a avalizar financiamentos para os diversos estados, com o

objetivo de atender a escopo tão degradante. Algo precisa ser feito!

Certos críticos, movidos pela paranoia das conspirações, podem avaliar que,

dissimuladamente, estaríamos preparando o terreno para um golpe de estado, uma vez que,

na opinião deles, fomos demasiadamente duros com o poder legislativo, em geral, e

poupamos os outros poderes. Não é verdade! Denunciamos claramente os atos

concentradores de recursos do poder executivo e questionamos a inércia do STF em

relação às manobras do Governo para emendar a Constituição, de acordo com seus

próprios interesses financeiros. Se, por acaso, pareceu que nos posicionamos mais

energicamente quanto ao legislativo, foi justamente pelo fato deste poder ser o

representante do povo e, portanto, deveria agir unicamente em defesa do povo, o que não

está acontecendo, conforme demonstramos amplamente nas páginas deste livro.

Defendemos intransigentemente a democracia representativa, porém não podemos tolerar

gente inescrupulosa que se vale de seus mandatos para enriquecer e gozar de uma enorme

gama de regalias, em detrimento dos demais cidadãos, seus eleitores, os quais têm de

enfrentar toda sorte de dificuldades e carências. Esses aproveitadores têm de ser

execrados! Excetuando o Senado Federal, que provamos estar completamente fora da

realidade e da necessidade do povo brasileiro, não atacamos as Instituições de cunho

legislativo, muito pelo contrário, apresentamos propostas visando seu aperfeiçoamento. O

que fizemos foi evidenciar a fraca natureza humana que, facilmente, se deixa embriagar

pelo poder e se corrompe (ainda que amparada pela lei) acarretando sérios danos à

coletividade, algumas vezes irreversíveis.

Interpretações errôneas à parte, queremos que este livro, ainda que considerado precipitado

por alguns e panfletário por outros, não seja apenas um convite à reflexão. Somos

presunçosos o bastante para imaginá-lo como um grito a sacudir os que dormem em berço

esplêndido, conclamando-os para uma tomada de posição fundamentada, embasada, capaz

de resultar em ação imediata, com foco perfeitamente definido.

Page 57: BRASIL, A POTÊNCIA - rl.art.br · coletânea de propostas que pode servir de pontapé inicial para grandes mudanças no Brasil. Num estilo conversante e ao mesmo tempo provocador,

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Antes de encerrarmos, pedimos sua atenção para apreciar, a seguir, um poema escrito há

um bom tempo, mas que, a nosso ver, não desbotou. Permanece tão vívido quanto o raio de

amor e de esperança que desce iluminando, esclarecendo, encorajando nossas cabeças.

PESADELO

Oh! Gigante Adormecido!

És bastante dorminhoco Violento sedativo

Parece que te aplicaram

Que sufoco! Um pesadelo!

As entranhas corroídas

Pelos vermes d’além-mar Incomodam as feridas

E os demônios a sugar Teu bruto produto interno

Deixando no seu lugar

Doença, fome, um inferno

Permanece a letargia

Abaixo do equador E a telinha propicia

Sono quase comatoso

Tá na hora de acordar

Se assim não o fizer

A história vai passar Em breve, serás anão