branqueamento navarrorobertamariasalvador

111
I UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SISTEMAS DE PROCESSOS QUÍMICOS E INFORMÁTICA Estudo dos diferentes tipos de processos de branqueamento de celulose objetivando a comparação entre seus métodos e a geração do potencial de poluentes em seus respectivos efluentes Autora: Roberta Maria Salvador Navarro Orientador: Prof. Dr. Elias Basile Tambourgi Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia Química, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Química. Março de 2004 Campinas – SP

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  • I

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA QUMICA

    REA DE CONCENTRAO: SISTEMAS DE PROCESSOS QUMICOS E INFORMTICA

    Estudo dos diferentes tipos de processos de branqueamento de celulose objetivando a comparao entre seus mtodos e a gerao do potencial de poluentes em seus respectivos efluentes

    Autora: Roberta Maria Salvador Navarro Orientador: Prof. Dr. Elias Basile Tambourgi

    Dissertao apresentada Faculdade de Engenharia Qumica, como parte dos requisitos exigidos para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Qumica.

    Maro de 2004 Campinas SP

  • II

  • V

    Agradecimentos

    Agradeo:

    A Deus por sua benevolncia, sade e paz.

    Ao meu orientador Doutor Elias Basile Tambourgi pela orientao e pacincia.

    Aos professores do Departamento de Processos Qumicos e Informtica (DESQ).

    Aos membros da banca.

    Aos amigos que j tinha e aos que ganhei neste caminho, em especial para Isabel,

    Priscila, Adriana, Michele, Juliana, Valria.

    Aos meus pais Rodolfo e Elenice, minhas irms Fernanda e Fabiana, ao meu

    amigo Rogrio, e a todas as pessoas queridas que me cercam.

  • VI

    J percorri esse longo caminho da liberdade. Procurei no vacilar e dei

    muitos passos em falso no percurso. No entanto, descobri que depois

    de subir um monte bem alto a gente apenas verifica que h muitos

    outros montes a escalar. Tirei um instante para descansar, para dar uma

    olhadela no panorama glorioso que me cerca, para olhar para trs e ver

    a distancia que percorri. Porm s posso descansar um instante, pois

    com a liberdade vm as responsabilidades e eu no ouso demorar-me,

    minha longa caminhada ainda no terminou.

    Nelson Mandela

  • VII

    Resumo

    A indstria de celulose, dentro de um enfoque ambiental, tem buscado o

    desenvolvimento de processos que permitam a fabricao de um produto de alta alvura,

    boas propriedades de resistncia, alto grau de limpeza e de custos competitivos, sem gerar a

    degradao do meio ambiente.

    Uma das etapas mais poluidoras da produo de celulose a operao de

    branqueamento de celulose, em que grande parte das indstrias utilizam o cloro elementar

    como agente de branqueamento. Visando a reduo de compostos organo-clorados nos seus

    produtos e efluentes, as indstrias vm desenvolvendo novos processos que reduzam a

    carga de poluente do branqueamento. Este trabalho tem como finalidade estudar um tipo de

    branqueamento que vise atender as novas exigncias ambientais e que tenha viabilidade

    financeira para a fabricao da celulose.

    Alguns exemplos dentre os novos processos so os enzimticos que utilizam

    enzimas biodegradveis; os processos de branqueamento com hipoclorito, onde ocorre uma

    oxidao que descolore e solubiliza a lignina residual; os processos de branqueamento com

    dixido de cloro que um agente oxidante de alta seletividade da lignina e resina presentes

    nas pastas celulsicas. Tem-se tambm processos onde so utilizados os perxidos que

    removem pouca lignina em comparao aos outros processos, porm visam apenas a

    modificao da estrutura das substncias que esto presentes na massa.

    Dentre todos estes processos est o branqueamento com oxignio que, alm de

    substituir dois estgios de uma seqncia convencional de branqueamento, apresenta a

    grande vantagem de ser compatvel com outros processos de branqueamento livres de

    cloro, levando-se em considerao que o oxignio um reagente mais barato do que os

    compostos clorados aos quais substitui.

    Palavras chaves: Branqueamento de celulose, lignina, clorao e oznio.

  • VIII

    Resumen

    La industria de celulosa dentro de un enfoque ambiental tiene buscado o desarrollo

    de procesos que permiten la fabricacin de un producto de gran alvura, buena propiedad de

    resistencia, gran grado de limpieza y de costos competitivos, sin generar la degradacin del

    medio ambiente.

    Una de las etapas ms contaminantes de la produccin de la celulosa es la

    operacin de blanqueamiento de la celulosa, en que gran parte de las industrias utilizan el

    cloro elementar como agente de blanqueamiento. Mirando la reduccin de compuestos

    organo-clorados en sus productos y efluentes, las industrias estn desarrollando nuevos

    procesos que reducen la carga de los contaminantes del blanqueamiento. Este trabajo tiene

    como finalidad estudiar un tipo de blanqueamiento que mira atender las nuevas exigencias

    ambientales y que tenga viabilidad financiera para la fabricacin de la celulosa.

    Algunos ejemplos entre los nuevos procesos son los enzimticos que utilizan

    enzimas biodegradables; los procesos de blanqueamiento con hipoclorito donde ocurre una

    oxidacin que blanquea y disuelve la lignina residual; los procesos de blanqueamiento con

    dixido de cloro que es un agente oxidante de gran selectividad de la lignina y resina

    presentes en las pastas de celulosa. Hay tambin procesos donde son utilizados los

    perxidos que remueven poca lignina si comparados a los otros procesos, pero miran solo

    la modificacin de la estructura de las substancias que estn presentes en la masa.

    Entre todos esos procesos esta el blanqueamiento con oxigeno que adems de

    sustituir dos etapas de una secuencia convencional de blanqueamiento, muestra la grande

    ventaja de ser compatible con otros procesos de blanqueamiento libres de cloro, si llevando

    en consideracin que el oxigeno es un reactivo mas barato que los compuestos con cloro los

    cuales sustituye.

    Palabras llaves: Blanqueamiento de celulosa, lignina, coloracin y ozono.

  • IX

    Abstract

    The cellulose industry inside an environmental focus has been seeking the

    development of processes that allow the production of a high whiteness product, good

    properties of resistance, high degree of cleaning and competitive costs, without generating

    the environment degradation.

    One of the most polluters stages of cellulose production is the bleaching operation,

    where the majority of industries use the elementary chlorine as bleaching agent. Aiming the

    reduction of organ-chlorinated composed in their products and effluent, the industries are

    developing new processes that reduce bleaching pollution load. This work has as purpose to

    study a new kind of bleaching that aims to consider the new environmental exigencies and

    have financial viability for the cellulose production.

    Some examples among the new processes are the enzymatic that use

    biodegradable enzymes; bleaching processes with hypochlorite where occurs an oxidation

    that bleach and dissolve the residual lignin; the bleaching processes with chlorine dioxide

    that is a high selectivity lignin oxidizer agent and present resin in the pulp. There are also

    processes where are used the peroxides that remove few lignin in comparison to other

    processes, however they aim just the modification of the substances structure that are

    present in the pulp.

    Among all these processes is the bleaching with oxygen that besides replacing two

    stages of a conventional bleaching sequence, it shows the great advantage of being

    compatible with other bleaching processes chlorine free, considering that the oxygen is a

    cheaper agent than the composed chlorinated to which ones replaces.

    Keywords: pulp bleaching, lignin, chlorination and ozone.

  • X

    Sumrio

    Introduo 1

    Histrico do Papel no Mundo 1

    Reviso Bibliogrfica

    1 - Obteno da Celulose 4

    1.1. Fontes de Celulose - Tipos de Fibra 4

    1.2. Processos de Preparao da Pasta Celulsica 6

    2 - Branqueamento de Celulose 9

    2.1. Introduo 9

    2.2. Objetivos do Branqueamento 9

    2.3. Aspectos Gerais do Branqueamento 10

    2.4. Propriedades pticas da Pasta Celulsica 13

    2.5. Evoluo do Branqueamento 16

    2.6. Mecanismos do Branqueamento 16

    2.7. Notao dos Estgios de Branqueamento 19

    3 - Clorao 20

    3.1. Introduo 20

    3.2. Sistema Cloro-gua 21

    3.3. Reaes na Clorao 22

    3.4. Descrio Geral do Estgio de Clorao 24

    3.5. Variveis do Processo 27

    3.5.1. Contedo de Lignina da Polpa No-Branqueada 27

    3.5.2. Quantidade de Cloro Aplicada 28

    3.5.3. pH 29

    3.5.4. Mistura de Cloro com a Polpa 30

    3.5.5. Temperatura 31

    3.5.6. Tempo de Reteno 31

  • XI

    3.5.7. Consistncia 32

    3.6. Aditivos na Clorao 33

    3.7. Substituio do Cloro por Dixido de Cloro 33

    3.8. Substituio do Cloro por Oxignio 36

    3.9. Clorao na Fase Gasosa 36

    4 - Extrao Alcalina 37

    4.1. Introduo 37

    4.2. Variveis do Processo 38

    4.2.1. Quantidade de Soda 38

    4.2.2. pH 38

    4.2.3. Consistncia 38

    4.2.4. Temperatura e Tempo de Reteno 39

    4.3. Extrao Alcalina Oxidativa 40

    4.3.1. Extrao Alcalina em Presena de Oxignio 41

    4.3.2. Extrao Alcalina em Presena de Perxido de Hidrognio 41

    4.3.3. Extrao Alcalina em Presena de Hipoclorito 42

    5 - Branqueamento com Hipoclorito 43

    5.1. Introduo 43

    5.2. Reaes das Solues de Hipoclorito 44

    5.2.1. Efeito do Hipoclorito sobre a Lignina 45

    5.2.2. Efeito do Hipoclorito na Celulose 45

    5.3. Variaes do Processo 45

    5.3.1. Quantidade de Reagente 45

    5.3.2 pH 48

    5.3.3. Temperatura 49

    5.3.4. Tempo de Reteno 50

    5.3.5. Consistncia 52

  • XII

    6 - Branqueamento com Dixido de Cloro 53

    6.1. Introduo 53

    6.2. Propriedades e Reaes do Dixido de Cloro 53

    6.3. Reaes Gerais do Dixido de Cloro com a Polpa 54

    6.4. Variveis do Processo 55

    6.4.1. Temperatura 55

    6.4.2. Consistncia 56

    6.4.3. Tempo de Reteno 56

    6.4.4. pH 57

    6.4.5. Quantidade de Dixido de Cloro 58

    7 - Branqueamento Com Perxido 59

    7.1. Introduo 59

    7.2. Variveis do Processo 61

    7.2.1. Quantidade de Perxido Aplicada 61

    7.2.2. pH 62

    7.2.3. Consistncia 62

    7.2.4. Tempo de Reteno 62

    7.2.5. Temperatura 63

    8 - Branqueamento Com Enzimas 64

    8.1. Introduo 64

    8.2. Mecanismo da Ao das Enzimas 65

    8.3. Degradao das Hemiceluloces com Enzimas 66

    8.4. Tipos de Enzimas 66

    8.5. Tratamento com Enzimas 66

    8.6. Tratamento com Enzima na Planta de Branqueamento 67

    8.7. Efeito das Condies Externas para a Planta de Branqueamento 69

    8.7.1. Cavacos 69

    8.7.2. Operao do Digestor 69

    8.7.3. Lavagem da Polpa Kraft No-Branqueada 70

  • XIII

    9 - Branqueamento com oxignio 71

    9.1. Introduo 71

    9.2. Qualidade da Polpa Branqueada com Oxignio 72

    9.3. Impacto do Branqueamento com Oxignio na Recuperao 72

    9.4. Efeito Consistncia 73

    9.5. Seletividade do Branqueamento com Oxignio 75

    9.6. Qumica das Solues de Oxignio 76

    9.7. Processo de Transferncia de Massa 76

    9.8. Variveis do Processo 78

    9.8.1. Quantidade de lcali 78

    9.8.2. Consistncia 78

    9.8.3. Temperatura e Tempo de Reteno 78

    9.8.4. Presso de Oxignio 79

    10 - Branqueamento com Oznio 81

    10.1. Introduo 81

    10.2. Comparao entre Deslignificao com Oxignio e Oznio 81

    10.3. Variveis do Processo 82

    10.3.1. Transferncia de Massa do Oznio para a Fibra 82

    10.3.2. Consistncia 83

    10.3.3. pH 84

    10.3.4. Temperatura 85

    Comentrios 88

    Concluso 90

    Bibliografia 92

  • Introduo

    1

    Introduo

    Histrico do Papel no Mundo

    Antes da criao do papel, o material mais utilizado para escrita, foi o pergaminho,

    feito com peles de animais. O papel oficialmente foi fabricado pela primeira vez na China,

    no ano de 105 (d.C.), por Ts'Ai Lun que fragmentou com gua, redes de pescar, roupas

    usadas, fibras vegetais e cal para ajudar no desfibramento. Este processo consistia em um

    cozimento forte das fibras, aps isso, as fibras eram batidas e esmagadas. A pasta obtida

    pela disperso das fibras era depurada e uma folha era formada sobre uma peneira. S

    ento, as folhas eram prensadas para perder mais gua e posteriormente colocadas uma a

    uma, em muros aquecidos para a secagem.

    A idia de Ts'Ai Lun, "A desintegrao de fibras vegetais por fracionamento, a

    formao da folha com o auxlio de uma peneira, procedendo-se ao desge e posterior

    aquecimento para secagem", continua vlida at hoje (CHERKASSKY, H. H., 1987).

    No sculo VIII (ano 751), alguns chineses convencidos pelos rabes instalados em

    Samarkanda, a mais velha cidade da sia, transmitiram seus conhecimentos sobre a

    fabricao de papel. Ento, a tcnica de fabricar papel evoluiu em curto espao de tempo

    com o uso de amido derivado da farinha de trigo, para a colagem das fibras no papel e o uso

    de sobras de linho, cnhamo e outras fibras encontradas com facilidade, para a preparao

    da pasta.

    A entrada na Europa foi feita pelas "caravanas" que transportavam a seda. No

    sculo X surgiram alguns melhoramentos, como por exemplo: o uso de moinhos de

    martelos movidos fora hidrulica; o emprego de cola animal para colagem e o emprego

    de filigrana (marca d' gua). A Frana estabelece seu primeiro moinho de papel em 1338,

    na localidade de La Pielle. Assim, da Espanha e Itlia, a fabricao de papel se espalhou

    por toda a Europa (ASSOCIAO NACIONAL DOS FABRICANTES DE PAPEL E

    CELULOSE, 1987).

    Antes da inveno da imprensa por Gutemberg, em 1440, os livros que eram

    escritos mo, tornaram-se acessveis ao grande pblico, exigindo quantidades maiores de

  • Introduo

    2

    papel. Em meados do sculo XVII, os holandeses haviam conseguido na Europa o

    progresso mais importante na tecnologia da fabricao de papel. Diante da falta de fora

    hidrulica na Holanda, os moinhos de papel passaram a ser acionados pela fora dos ventos.

    Desde 1670, no lugar dos Moinhos de Martelos, passaram a ser utilizadas as Mquinas

    Refinadoras de Cilindros (Holandesa). Lentamente a Holandesa foi se impondo,

    complementando os Moinhos de Martelo, que preparava a semipasta para obteno da pasta

    refinada e mais tarde como Pila Holandesa Desfibradora que foi utilizada na Alemanha por

    volta de 1710 1720.

    No ano de 1774, o qumico alemo Scheele descobriu o efeito branqueador do

    cloro, conseguindo com isso, no s aumentar a brancura dos papis como tambm,

    empregar como matria-prima, trapos mais grossos e coloridos.

    Em 1780 teve xito a inveno, segundo a qual foi possvel fabricar papel em

    mquina de folha contnua. Inventada pelo francs Nicolas Louis Robert que por

    dificuldades financeiras e tcnicas no conseguiu desenvolv-la e cedeu sua patente aos

    irmos Fourdrinier, que a obtiveram juntamente com a Maquinaria Hall, de Dartford

    (Inglaterra) e posteriormente com o Engenheiro Bryan Donkin. Assim, a Mquina de Papel

    Fourdrinier (Mquinas de Tela Plana) foi a primeira mquina de folha contnua que se tem

    notcia.

    Depois da Mquina Fourdrinier se lanaram no mercado outros tipos de mquinas,

    como a mquina cilndrica e a mquina de partida automtica. Em 1806, Moritz Jllig

    substitui a cola animal pela resina e almem.

    Quando a fabricao de papel ganhou corpo, o uso de matria-prima comeou a

    ser um srio problema: os trapos velhos passaram a ser a soluo, mas com a pequena

    quantidade de roupa usada e com o crescente aumento do consumo de papel, os soberanos

    proibiram as exportaes.

    Em face disto, os papeleiros tiveram que dedicar suas atenes aos estudos do

    naturalista Jakob C. Schaeffer que pretendia fazer papel usando os mais variados materiais,

    tais como: musgo, urtigas, pinho, tbuas de ripa, etc. Em seis volumes Schaeffer editou

    "Ensaios e Demonstraes para se fazer papel sem trapos ou uma pequena adio dos

    mesmos". Infelizmente, os papeleiros da poca rechaaram os ensaios, ao invs de propag-

    los. Na busca para substituir os trapos, Mathias Koops edita um livro em 1800, impresso

  • Introduo

    3

    em papel de palha. Em 1844, Friedrich G. Keller fabrica pasta de fibras, utilizando madeira

    pelo processo de desfibramento, mas ainda junta trapos mistura. Mais tarde, percebeu que

    a pasta assim obtida era formada por fibras de celulose impregnadas por outras substncias

    da madeira (lignina).

    No meio do sculo XIX, iniciaram-se estudos e desenvolvimento de processos

    qumicos de polpao, comeando pelo uso da soda custica e logo depois pelo processo

    cido (bissulfito) (PULP and PAPER INTERNATIONAL, 1987).

  • Reviso Bibliogrfica

    4

    Reviso Bibliogrfica

    1. Obteno da Celulose

    1.1. Fontes de Celulose - Tipos de Fibra

    A celulose um composto natural existente nos vegetais, de onde extrada,

    podendo ser encontrada nas razes, tronco, folhas, frutos e sementes. A celulose um

    polissacardeo linear, constitudo por um nico tipo de unidade de acar, e formada por

    unidades de monossacardeos - D glucose, que se ligam entre si atravs dos carbonos 1 e 4, originando um polmero linear. A Figura 1.1 mostra uma descrio melhor

    (MACDONALD, R.D. e FRANKLIN, J.N., 1969, Vol. I).

    Outros componentes encontrados so: a hemicelulose, que tambm um

    polissacardeo, porm, difere da celulose por ser constituda por vrios tipos diferentes de

    acar, alm de ser um polmero ramificado e de cadeia curta; e a lignina, que um

    polmero amorfo, de composio qumica complexa e que confere firmeza e rigidez ao

    conjunto de fibras de celulose. Os demais constituintes so denominados extrativos

    (NIKITIN, N.I., 1966).

    A denominao , no nome - D Glucose, refere-se a formao de outro carbono quiral na molcula de glucose. Nos casos de monossacardeos aldedicos com 5 e 6

    tomos de carbono, como a glucose, o grupo aldedico do carbono 1 pode reagir com o

    grupo alcolico do carbono 5, formando um semi-acetal interno, ou seja, um anel estvel de

    seis tomos. O grupo hidroxila que se forma pelo fechamento do anel denominado grupo

    glicosdico; o carbono 1 fica quiral e forma dois ismeros.

    A forma que contm o grupo glicosdico do mesmo lado do plano do anel que o

    grupo alcolico do carbono 2 denominada . A que tem o grupo glicosdico do lado oposto do grupo alcolico do carbono 2 chamada forma . A Figura 1.1 exemplifica esse fato para o caso da glucose (BROWING, B.L., 1963).

  • Reviso Bibliogrfica

    5

    Figura 1.1 Formas e da D Glucose (BROWING, B.L., 1963).

    A preparao da pasta celulsica para papis ou outros fins (pasta solvel para a

    produo de celofane, rayon etc.) consiste na separao das fibras celulsicas dos demais

    componentes constituintes do organismo vegetal, em particular a lignina que atua como um

    cimento, ligando as clulas entre si. A quase totalidade das pastas de celulose obtida a

    partir da madeira, sendo uma pequena parte derivada de outras fontes como sisal, linho,

    algodo, bambu, bagao da cana etc. No algodo, a celulose est na forma praticamente

    pura (99%) (CARPENTER, C. H. et al, 1963).

    Este grupo de celulose cujas fibras no so obtidas da madeira denominado

    txtil, como no caso do: algodo (semente); ou linho, juta, kenaf, cnhamo, rami, crotalria,

    etc, (caule); ou ainda, sisal, frmio, pita, etc. (folhas).

    As fibras extradas desses vegetais so muito longas e por isso mesmo

    denominadas "fibras txteis", amplamente utilizadas na indstria de tecelagem. Ainda

    dentro deste grupo, porm com fibras de menor comprimento, temos o bambu e o bagao

    de cana. Portanto, possvel encontrar muitas fontes diferentes e processos distintos de

    preparao de pastas celulsicas produzindo, conseqentemente, pastas com caractersticas

    diversas (CERUBIN, M., 1980).

  • Reviso Bibliogrfica

    6

    Tabela 1.1 -Tipos de Fibras (CERUBIN, M., 1980).

    Fibras Longas Softwood1

    Conferas - 3 5 mm

    Fibras Curtas Hardwood2

    Folhosas - 0,8 1,2 mm Fibras Txteis Muito Longas

    Pinho, Araucria, Abeto, Cipreste

    e Spruce

    Eucalipto, lamo, Carvalho, Gmelina,

    e Btula

    Algodo, Linho, Juta, Kenaf, Cnhamo,

    Rami, Sisal, e Frmio

    1 denominada madeira macia 2 denominada madeira dura

    1.2. Processos de Preparao da Pasta Celulsica

    Existem muitos mtodos diferentes para a preparao de pasta celulsica, desde os

    puramente mecnicos at os qumicos, nos quais a madeira tratada com produtos

    qumicos, sob presso e ao de calor (temperaturas maiores que 150C), para dissolver a

    lignina, havendo inmeras variaes entre os dois extremos (ABTCP, 2002).

    No Processo Mecnico - MP - toras de madeira, neste caso preferencialmente

    conferas, so prensadas a mido contra um rolo giratrio cuja superfcie coberta por um

    material abrasivo, reduzindo-as a uma pasta fibrosa denominada "pasta mecnica"

    (groundwood), alcanando um rendimento que varia de 93 a 98%. Neste processo no

    ocorre uma separao completa das fibras dos demais constituintes do vegetal, obtendo-se

    ento uma pasta barata cuja aplicao limitada, pois o papel produzido com ela tende a

    escurecer com certa rapidez, mesmo depois de passar pela etapa de branqueamento, devido

    oxidao da lignina residual. A pasta mecnica pura ou em composio com outra,

    muito usada para a fabricao de papel para jornal, revistas, embrulhos, toalete, etc.

    Nos Processos Termomecnicos - TMP - a madeira, sob forma de cavacos, sofre

    um aquecimento com vapor (em tomo de 140C) provocando na madeira e na lignina uma

    transio do estado rgido para um estado plstico, seguindo para o processo de

    desfibramento em refinador a disco. A pasta obtida desta forma tem um rendimento um

    pouco menor do que no processo mecnico (92 a 95%), mas resulta em celulose para a

    produo de papis de melhor qualidade, pois proporciona maior resistncia mecnica e

    melhor imprimabilidade, entre outras coisas.

  • Reviso Bibliogrfica

    7

    Em Processos Semiqumicos so acrescentados produtos qumicos em baixas

    porcentagens, para facilitar ainda mais a desfibragem, sem, contudo, reduzir

    demasiadamente o rendimento (60 a 90%). Vem ganhando muito interesse um tipo de pasta

    derivado da TMP, onde um pr-tratamento com sulfito de sdio ou lcali feito antes da

    desfibragem, no refinador a disco. Esta pasta denominada pasta quimiotermomecnica

    CTMP.

    Nos Processos Qumicos Kraft, a madeira sob forma de cavacos, tratada em

    vasos de presso, denominados digestores, com soda custica e sulfeto de sdio. Este

    processo qumico visa dissolver a lignina, preservando a resistncia das fibras, obtendo-se

    dessa maneira uma pasta forte (kraft significa forte em alemo), com rendimento entre 50 a

    60%. muito empregado para a produo de papis cuja resistncia seja o principal fator,

    como para as sacolas de supermercados, sacos para cimento, etc.

    Em contrapartida os Processos Qumicos que utilizam Sulfito so processos onde

    os cavacos so cozidos em digestores com um licor cido, preparado com compostos de

    enxofre (SO2) e uma base Ca(OH)2, NaOH, NH4OH, etc. A pasta obtida desta maneira tem

    um rendimento entre 40 e 60% e de branqueamento muito fcil, apresentando uma

    colorao clara que permite o seu uso mesmo sem ser branqueada. Este processo, que era

    muito utilizado para a confeco de papis para imprimir e escrever, tem sido substitudo

    pelo processo sulfato, devido a dificuldade de regenerao dos produtos qumicos e os

    conseqentes problemas com a poluio das guas.

    J em Processos Qumicos a base Sulfato utilizam-se os mesmos produtos

    qumicos do processo kraft, mas as condies so mais fortes, isto , emprega-se maior

    quantidade de sulfeto e de soda, alm do cozimento ser feito por mais tempo e com

    temperaturas mais elevadas. o processo mais usado no Brasil e se presta muito bem para

    a obteno de pastas qumicas com eucalipto, ou outras hardwood. Isso porque

    preservada a resistncia das fibras e dissolve bem a lignina, formando uma pasta

    branquevel e forte. As celulose (ou pastas de celulose) obtidas por esse processo no

    apresentam nenhuma restrio ao uso.

    Aps os processos de deslignificao a pasta segue para o branqueamento, que

    pode ser considerado como sendo uma continuao da deslignificao iniciada no

    cozimento, utilizando-se para isso, o cloro e seus compostos (hipoclorito e dixido de

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    8

    cloro) e, ainda, a soda custica. Normalmente, o branqueamento comea com um

    tratamento da pasta com cloro, seguido por uma extrao alcalina com soda custica, sendo

    aplicado, depois disso, uma srie de combinaes ou seqncias em que se alternam o

    dixido de cloro, o hipoclorito e a soda custica. J se encontra bem desenvolvida uma

    tcnica de branqueamento em que se emprega oxignio. Mas, nesse caso, visa-se tambm o

    combate poluio causada pelos produtos derivados do cloro (CERUBIN, M., 1980).

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    9

    2. Branqueamento de Celulose

    2.1. Introduo

    Branqueamento o tratamento qumico das fibras celulsicas para aumentar a

    alvura por descolorao ou dissoluo de componentes coloridos na polpa, principalmente

    lignina. Aumentando a alvura aumenta a qualidade visual e assim, o valor dos papis para

    impresso e escrita e dos materiais para embalagem. Tambm aumenta a aceitao do

    mercado por produtos absorventes, como toalhas de papel, lenos de papel e fraldas. O

    branqueamento pode eliminar partculas coloridas aumentando o valor do produto.

    Branqueia-se para obter uma celulose mais estvel (que no se altere com o tempo), que

    permita um tingimento controlado, mas principalmente para se obter um papel branco com

    as vantagens que ele traz para a impresso (RYDLHOLM, S. A., 1965).

    2.2. Objetivos do Branqueamento

    Os principais objetivos do branqueamento so aumentar a alvura da polpa e fazer

    com que ela seja adequada para a fabricao de papel pela remoo ou modificao de

    alguns constituintes da polpa no branqueada, inclusive a lignina e seus produtos de

    degradao, extrativos, ons metlicos, carboidratos no-celulsicos e impurezas de vrios

    tipos. Alm de branquear, reduz simultaneamente a viscosidade da polpa at um nvel pr-

    estabelecido, tornando-a estvel para que no fique amarela ou perca resistncia ou alvura

    aps o envelhecimento.

    O branqueamento reduz a quantidade de certas impurezas na polpa, tais como

    feixes de fibras contendo um teor de lignina mais alto do que a mdia da polpa (shives) e

    fragmentos de casca (flecks). O valor comercial de certos tipos de polpa altamente

    dependente da qualidade dessas impurezas.

    A moagem da polpa durante o branqueamento diminui sua alvura e sua

    absorvncia sendo necessrio branquear com o mnimo de ao mecnica sobre a polpa.

    O branqueamento tambm ajuda a reduzir o contedo de extrativos resinosos ou

    "pitch" na polpa, que pode gerar pintas e depsitos de resina durante o processo de

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    10

    fabricao de papel, e o contedo de "pitch" influencia as propriedades de envelhecimento

    do papel.

    Essas so as mudanas das caractersticas da polpa mais importantes que ocorrem

    durante o branqueamento. Outras incluem um aumento da capacidade de absoro de gua,

    reduo do grau de polimerizao, reteno de corante e resinas e a alterao da

    composio dos carboidratos (SINGH, R. P., 1979).

    Para obter uma polpa com elevada alvura e estabilidade de alvura, a lignina tem

    que ser removida. Isto no pode ser feito no digestor porque se o cozimento for muito

    prolongado ocorrer degradao e dissoluo dos carboidratos. A deslignificao final ,

    portanto, efetuada no branqueamento com agentes oxidantes e as condies dos tratamentos

    ajustados para proteger os carboidratos (SANTOS, I, 1984).

    Outro objetivo importante do branqueamento manter o custo mais baixo

    possvel. No entanto, a filosofia dos processos tradicionais de branqueamento est sendo

    mudada devido s medidas de controle de poluio e conservao de energia. Estas

    medidas indicam que o branqueamento deve ser realizado com novos reagentes, tais como

    o oxignio, o oznio e o perxido. Novas maneiras de utilizar o cloro, hipoclorito e dixido

    de cloro esto sendo desenvolvidas. Alm disso, entre dois processos de branqueamento,

    que produzem o mesmo produto final, pelos mesmos custos operacionais e de reagentes, o

    processo que gera um efluente sem compostos clorados, provavelmente ser escolhido no

    futuro devido a consideraes ambientais (REEVE, D. W., 1985).

    2.3. Aspectos Gerais do Branqueamento

    Segundo o IPT (1988), o branqueamento tambm pode ser definido como um

    tratamento fsico-qumico que tem por objetivo melhorar as propriedades da pasta

    celulsica a ele submetida como a alvura, limpeza e pureza qumica.

    No branqueamento das pastas qumicas, em que a maior parte da lignina foi

    removida previamente pelo processo de polpao, devem ser removidos derivados de

    lignina ainda remanescentes na pasta. Aps isto so aplicados reagentes que modificam

    quimicamente as substncias coloridas, descorando-as (IPT, 1988).

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    11

    Figura 2.1 Relao entre a lignina e ndices para a sua medida (pasta sulfato)

    (IPT, 1988).

    J as pastas de alto rendimento so ricas em lignina e no seu branqueamento deve

    ser obtida apenas uma melhora no aspecto visual, sem implicar em alterao de outras

    N. kappa

    Permanganato40 ml 25 ml N. Roe

    Lignina %

    Des

    ligni

    fica

    o

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    12

    caractersticas. Neste caso, tambm so usados reagentes que modificam quimicamente as

    substncias coloridas, tornando as pastas mais claras.

    Os parmetros usuais que medem a eficincia do branqueamento so as

    propriedades pticas da pasta (alvura, opacidade e estabilidade de alvura), relacionadas

    com a absoro ou reflexo da luz (SILVA, O. F., 1986).

    O teor de lignina residual usado para avaliar a intensidade da deslignificao nos

    estgios de pr-branqueamento e indicar a quantidade de reagentes de branqueamento que

    ser necessria nos estgios posteriores. O nmero Kappa, nmero de permanganato e

    nmero Roe so ndices relacionados com esta lignina como indica a Figura 2.1 para pasta

    sulfato.

    A viscosidade se relaciona com o grau de polimerizao da celulose, e

    indiretamente, com a resistncia do papel. Durante o branqueamento, geralmente ocorre

    uma degradao dos carboidratos, paralela remoo e modificao da lignina. Portanto,

    necessrio que se estabelea um ponto de equilbrio entre todas as variveis de controle do

    branqueamento, conforme possvel observar na Figura 2.2 (IPT, 1988).

    Figura 2.2 - Relao entre variveis de controle do branqueamento (IPT, 1988).

    Alvura

    Viscosidade

    (%) A

    lvur

    a (

    GE

    )

    Vis

    cosi

    dade

    (cP)

    Nmero Kappa

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    13

    2.4. Propriedades pticas da Pasta Celulsica

    As propriedades pticas de maior interesse para pastas celulsicas so: cor, alvura

    (fator de refletncia no azul), opacidade e reverso (estabilidade da alvura).

    Considera-se a cor como uma caracterstica de uma radiao eletromagntica, de

    comprimento de onda situado no espectro visvel e que provoca, no observador, uma

    sensao subjetiva.

    Algumas substncias so coloridas, pois contm grupos funcionais capazes de

    absorver radiao de certos comprimentos de onda. Os demais componentes da luz branca

    so transmitidos, dispersos e refletidos, dando a impresso de cor ao observador. Os grupos

    funcionais que conferem cor s substncias so conhecidos como cromforos. A maioria

    deles possui ligaes insaturadas como C =O, C = C ou N = N, em sistemas conjugados.

    Alguns grupos funcionais como as hidroxilas (-OH), as aminas (-NH) e os

    halogneos (Cl, Br), no conferem cor s substncias, porm conseguem aumentar a

    absoro de um cromforo e deslocar seu comprimento mximo de absoro, sendo

    denominados auxcromos. Denomina-se cromgena uma estrutura bsica, capaz de

    absorver radiao ultravioleta ou visvel e que tem essa absoro deslocada em

    comprimento de onda pela ao de um grupo funcional.

    Inicialmente, assumiu-se que a fonte primria de cor na madeira era a estrutura da

    sua lignina. Mais tarde, por meio de anlises espectrais, constatou-se que outras estruturas

    possuindo propriedades cromofricas especficas precisam tambm estar presentes para

    justificar a cor apresentada pelas pastas, j que nenhuma das estruturas bsicas da lignina,

    ou seja, guaiacil propano e siringil propano, absorve radiao de comprimento de onda na

    regio visvel. A madeira possui vrios cromforos incorporados em sua estrutura,

    indicadas na Figura 2.3.

    Os mais importantes grupos cromgenos entre os radicais das molculas da lignina

    so as carbonilas conjugadas, as duplas ligaes e combinaes de ambas (Figura 2.4)

    (SILVA, O. F., 1986).

    A lignina atua como um sistema policromofrico, devido grande variedade de

    combinaes de cromgenos e auxcromos possveis em sua molcula, e suas bandas de

    absoro vo desde o ultravioleta, at o fim da parte visvel do espectro (RAPSON, W. H.,

    1969).

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    Figura 2.3 -Cromforos incorporados na lignina (RAPSON, W. H., 1969).

    Figura 2.4 -Grupos cromgenos da lignina (RAPSON, W. H., 1969).

    Embora os polissacardeos, celulose e hemiceluloses no absorvam na regio

    visvel, quando so formados grupos carbonila nos carboidratos de uma pasta branqueada,

    observado um amarelamento, pois o envelhecimento pela luz ou um ataque mais acentuado

    do lcali durante o cozimento resultam na degradao, especialmente das hemiceluloses,

    associada reverso de alvura.

    Tendo observado a natureza da cor na pasta celulsica, verifica-se que para torn-

    la mais clara, ou seja, branque-la, ser necessrio remover ou alterar quimicamente as

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    15

    substncias coloridas, interrompendo as conjugaes de duplas ligaes por oxidao,

    reduo ou hidrlise dos grupos saturados (REDKO, B. V. P., 1978).

    Uma superfcie branca reflete no espectro visvel, sem alterar a distribuio

    espectral de energia entre as radiaes que compe a luz incidente, e sem direo

    especfica, ou seja, difusamente.

    Para especificar a cor de materiais brancos, foram desenvolvidos ndices

    especficos que se referem ao tipo de fenmeno visado, por exemplo, o fator de refletncia

    difusa no azul (alvura ISO) usado para avaliar a qualidade ptica da pasta aps o

    branqueamento. Como a pasta celulsica ligeiramente mais absorvente de luz azul que do

    resto do espectro, usado o filtro para comprimento de onda de 457 nm (azul), para medir a

    quantidade de luz refletida pela superfcie do papel.

    A absoro da luz depende da capacidade dos componentes de um material

    absorver a energia luminosa e convert-la em outra forma de energia no visvel. O

    espalhamento ou reflexo da luz depende da estrutura do material e do ndice de refrao de

    seus componentes.

    Define-se como coeficiente de espalhamento de luz (S), a frao de fluxo

    luminoso difuso que refletido na sua passagem atravs de uma camada infinitesimal do

    material. A relao entre o coeficiente de absoro (K) e o coeficiente de espalhamento (S),

    com o fator de refletncia intrnseca do material (R), dada pela equao de Kubelka- Munk:

    ( )=

    RR

    SK

    21 2 Eq. 2.1

    onde R o fator de refletncia intrnseca do material, ou seja, de uma folha de espessura infinita. Quando medido com o filtro 457 nm, R a alvura (GIERTZ, H. W., 1986).

    Ainda segundo Giertz (1986), a relao K/S pode ser considerada uma medida

    relativa da quantidade de material colorido presente na amostra. A determinao desta

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    16

    relao antes e aps o envelhecimento sob efeito do calor pode ser usada como uma medida

    de reverso, definida como "nmero de cor posterior" (P.C. n.):

    =

    antesaps SK

    SK100n. P.C. Eq.2.2

    2.5. Evoluo do Branqueamento

    Ainda segundo o IPT (1988), o primeiro processo de branqueamento de expressiva

    quantidade de fibras surgiu na Europa em meados do sculo XVIII. Consistia em submeter

    as fibras a uma exposio prolongada luz solar, em presena de substncias alcalinas

    (como, por exemplo, cinza de madeira). A preparao do cloro, em 1774, por Scheele

    (qumico sueco), possibilitou o desenvolvimento do primeiro agente de branqueamento a

    ser usado em escala industrial, o p de branqueamento, obtido pela reao do cloro gasoso

    com cal. Os reatores evoluram a partir de grandes tinas de madeira para equipamentos que

    permitiam uma melhor mistura da pasta e reagentes, ao mesmo tempo em que reduziam a

    durao do tratamento. A Tabela 2.1 resume a seqncia dos desenvolvimentos que foram

    efetivamente adotados.

    Conforme a evoluo recente do branqueamento, h a necessidade de reagentes e

    equipamentos que propiciem a obteno de alvura elevada da pasta, com mnima gerao

    de poluentes. O uso de reagentes, como oznio e dixido de nitrognio, tem sido

    pesquisado paralelamente ao de materiais mais resistentes corroso, que permitem a

    reciclagem dos efluentes (REEVE, D. W., 1985).

    2.6. Mecanismos do Branqueamento

    Britt (1970) afirma que a ao dos reagentes de branqueamento, em fase lquida

    sobre a fibra, depende das seguintes etapas:

    9 Difuso do reagente em soluo, at a superfcie da fibra; 9 Absoro do reagente pela fibra;

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    17

    9 Reao qumica; 9 Dessoro do reagente excedente da fibra; 9 Difuso de produtos de reao para fora da fibra.

    Tabela 2.1 - Evoluo histrica do branqueamento (IPT, 1988).

    1799 - P de branqueamento (cloro + cal)

    1804 - Primeiro branqueamento com cloro, em escala industrial

    1895 - Reator Bellmer (tipo de tanque com agitadores estticos)

    1919 - Obteno do hipoclorito de clcio, a partir do cloro lquido

    1920 - Purificao de pasta destinada fabricao de nitrocelulose, com uso de hipoclorito

    1925 - Branqueamento contnuo, em equipamento vertical (torre de branqueamento)

    1930 - Obteno de pasta branqueada at a alvura de 70%, por seqncia de branqueamento

    1932 - Pastas mecnicas branqueadas com ditionito

    1940 - Pastas mecnicas branqueadas com perxido

    1946 - Dixido de cloro usado em seqncia de branqueamento

    1960 - Obteno de pasta sulfato branqueada at alvura de 90%

    1970 - Deslignificao com oxignio, em primeiro estgio

    1975 - Branqueamento por deslocamento para seqncia CEDED1

    1980 - Uso de oxignio na extrao alcalina

    1Onde: C clorao, E Extrao alcalina e D Dioxidao.

    Na tecnologia do branqueamento, um estgio se inicia com a adio de um

    reagente pasta e termina com a remoo dos produtos da reao. Os equipamentos so

    projetados para favorecer o contato das fibras com o reagente (mistura), permitindo que a

    reao ocorra sob condies adequadas (reteno) e removendo os produtos formados pela

    reao (lavagem) (IPT, 1988).

    A seqncia de branqueamento compreende uma srie de etapas em que diversos

    reagentes so aplicados. O sucesso de cada operao de branqueamento depende do

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    18

    controle de variveis interdependentes, que devem ser otimizadas para cada estgio, tal

    como descritas a seguir (MACDONALD, R. G. e FRANKLIN, J. N., 1969).

    9 Quantidade de reagentes: expressa em teor percentual do reagente ativo, relativo massa de pasta seca. Para cada tipo de pasta e dependendo da

    alvura final desejada, existem relaes que estabelecem a quantidade de

    reagentes a ser aplicada.

    9 Consistncia: definida como o teor percentual de pasta seca, relativo massa total da suspenso (soluo e pasta), sendo diferenciadas trs faixas

    de consistncia: baixa (de 0,5 a 5%), mdia (de 5 a 15%) e alta (acima de

    15%).

    9 Temperatura: a temperatura deve favorecer a reao sem consumo excessivo de energia (vapor). Geralmente trabalha-se entre 30 e 70C.

    9 Tempo de reteno: estudos da cintica da reao em conjunto com as demais variveis definem o tempo de reteno. Como regra geral, ao final

    do estgio deve-se ter consumido cerca de 90% do reagente aplicado,

    variando o tempo entre 5 minutos at 4 horas.

    9 pH: o pH da soluo indica o nvel de acidez ou alcalinidade em que a concentrao do reagente ativo mxima, favorecendo o branqueamento.

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    19

    2.7. Notao dos Estgios de Branqueamento

    Cada estgio de branqueamento identificado por uma notao caracterstica

    apresentada na Tabela 2.2.

    Tabela 2.2 Notao dos Estgios de Branqueamento (SENAI CETCEP, 2001).

    Estgio Notao Reagente

    Clorao C Cloro gasoso ou gua de cloro Clorao Dioxidao (adio seqencial) CD

    Cloro (Cl2) seguido de Dixido de cloro (ClO2) sem lavagem intermediria

    Dixido de cloro / Cloro DC Dixido de cloro (ClO2) seguido de Cloro (Cl2) sem lavagem intermediria Clorao Dioxidao (adio simultnea) (C+D) Mistura de Cloro (Cl2) e Dixido de cloro (ClO2)

    Dixido de cloro / Oznio DZ Dixido de cloro (ClO2) seguido de Oznio (O3) sem lavagem intermediria

    Oznio / Dixido de cloro ZD Oznio (O3) seguido de Dixido de cloro (ClO2) sem lavagem intermediria Extrao alcalina E Hidrxido de sdio (NaOH)

    Extrao oxidativa (E+H) Incluso do hipoclorito no estgio de extrao

    Extrao oxidativa (E+P) Incluso do perxido no estgio de extrao

    Extrao oxidativa (E+O) Incluso do oxignio no estgio de extrao

    Extrao oxidativa (E+O+P) Incluso do oxignio e do perxido de hidrognio no estgio de extrao

    Hipoclorao H Hipoclorito de sdio (NaClO) ou de Clcio (Ca(ClO)2) Dioxidao D Dixido de Cloro (ClO2)

    Peroxidao P Perxido de hidrognio (H2O2)

    Oxigenao (Pr branqueamento) O Oxignio (O2) e Hidrxido de sdio (NaOH)

    Ozonizao Z Gs Oznio (O3) 92 a 15% de oxignio

    Lavagem cida A Tratamento da polpa com cido (H2SO4, HCl, etc)

    Quelao Q Tratamento da polpa com quelante (EDTA, DTPA, etc) Neutralizao redutiva S Dixido de enxofre gasoso Reduo com ditionito (hidrossulfito) Y

    Ditionito de zinco (ZnS2O4) ou ditionito de sdio (Na2S2O4)

    Reduo com Boroidreto B Soluo de boroidreto de sdio

    Branqueamento enzimtico X Xilase, lacase, etc

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    20

    3. Clorao

    3.1. Introduo

    O branqueamento em seqncias de multi-estgios consiste de duas etapas

    distintas. A primeira etapa consiste de um tratamento destinado a remover a maior parte da

    lignina residual da polpa no-branqueada, envolvendo pouco ou nenhum aumento na alvura

    da polpa. Normalmente, a deslignificao em tais casos efetuada pelo tratamento

    consecutivo com cloro elementar e hidrxido de sdio (pr-branqueamento). O verdadeiro

    branqueamento da polpa conseguido na ltima etapa da seqncia total de branqueamento

    pela aplicao de oxidantes tais como hipoclorito, dixido de cloro e perxido de

    hidrognio.

    Como a clorao e a extrao alcalina so os principais estgios de deslignificao

    em uma seqncia de branqueamento em multi-estgios, suas otimizaes e seu controle

    so bastante influenciados pela taxa de deslignificao ocorrida durante o processo de

    polpao e pela lavagem e depurao seguinte a polpao (REEVE, D. W., 1983).

    Devido sua seletividade para a lignina e seu baixo custo em comparao com

    outros produtos qumicos, o cloro tem se mostrado um reagente til para complementao

    da deslignificao ocorrida durante a polpao (BEAUPRE, M. et al., 1983).

    O branqueamento convencional comea normalmente com um estgio de clorao,

    onde a principal ao do cloro em meio cido de clorao em vez de oxidao, isto , o

    cloro combina com a lignina para formar lignina-clorada (clorolignina), uma substncia

    colorida, parcialmente solvel em gua e facilmente removida por extrao com lcali. A

    reao de clorao extremamente rpida, exigindo cinco minutos para ser completada, e a

    reao de oxidao em meio cido muito mais lenta, mas se todos os stios reativos na

    lignina forem clorados antes que o cloro tenha sido consumido, o cloro residual reagir por

    oxidao.

    A Tabela 3.1 relaciona o potencial de oxidao de vrias formas do cloro e mostra

    que o cloro molecular um agente oxidante relativamente forte (SENAI CETCEP, 2001).

    Embora o cloro no reaja com a celulose por substituio, ele no to especfico

    nas suas reaes de oxidao e de fato ataca a celulose alm da lignina. Devido a esse

    ataque, um excesso de cloro alm do necessrio para a clorao da lignina leva a uma

  • Reviso Bibliogrfica

    21

    degradao bastante sria da polpa. A celulose oxidada relativamente estvel em meio

    cido, mas degrada rapidamente em soluo alcalina. Se uma polpa saturada com cloro

    (isto , que no consome mais cloro durante a clorao) lavada ou extrada com lcali e

    tratada de novo com cloro, ela consumir cloro adicional. A explicao deste fenmeno o

    chamado efeito "topoqumico". A reao de clorao rpida e apenas a lignina na

    superfcie da fibra reage. O cloro precisa difundir para dentro da fibra para atacar a lignina

    que l se encontra, porm a lignina clorada na superfcie bloqueia o caminho. A lavagem ou

    extrao remove parte da lignina clorada e expe novas camadas de lignina no clorada.

    Tabela 3.1 - Potencial de oxidao do Cloro (SENAI CETCEP, 2001).

    Forma de Cloro Potencial de reduo (volts)

    ClO + 0,94

    Cl2 + 1,35

    HClO +1,50

    Uma parte da lignina clorada solvel no meio cido da reao, mas para uma

    remoo eficiente a polpa precisa ser extrada com uma soluo alcalina.

    Na prtica, desejvel aplicar o mximo possvel da demanda total de cloro no

    estgio de clorao, pois a clorao leva a uma remoo mais eficiente da lignina a um

    menor custo e com menos degradao da celulose do que a oxidao com hipoclorito. A

    quantidade tima de cloro varia com a polpa, mas 50 a 80% da demanda total de cloro

    geralmente usada no estgio de clorao (SMOOK, G. A., 1994).

    3.2. Sistema Cloro-gua

    Segundo o IPT (1988) quando o cloro dissolvido na gua, ele passa por uma

    hidrlise reversvel, na qual so formados o cido clordrico e o cido hipocloroso

    conforme as reaes 3.1 e 3.2:

    Cl2 + H2O HOCl + HCl Reao 3.1 HCl H+ + Cl- Reao 3.2

  • Reviso Bibliogrfica

    22

    Nas condies de pH e concentrao da gua de cloro, o cido clordrico est

    completamente ionizado e o cido hipocloroso (HClO), apenas parcialmente. O equilbrio

    descrito acima pode ser deslocado para a direita por diluio, por aumento de temperatura

    e, principalmente, por aumento de pH (por exemplo, pela adio de soda) (IPT, 1988).

    O cido hipocloroso dissociado apenas de maneira suave conforme a reao 3.3:

    HClO H+ + -OCl Reao 3.3 O mtodo mais importante de controlar a composio do sistema cloro-gua pelo

    ajustamento do pH. Com referncia s reaes 3.1, 3.2 e 3.3, aparente que quando a

    concentrao de ons hidrognio decrescida progressivamente (isto , o pH aumenta),

    primeiro cido hipocloroso e ento on hipoclorito se tornam os componentes clorados que

    dominam (SENAI CETCEP, 2001).

    A clorao de uma pasta celulsica deve proceder a pH abaixo de 2; quando a

    concentrao de cloro no-hidrolisado mxima, sendo que este reage diretamente com as

    impurezas da pasta, evitando a formao de cido hipocloroso, um cido muito fraco, mas

    de forte ao oxidante que ataca os carboidratos, diminuindo a viscosidade e resistncia

    (IPT, 1988).

    As mudanas na composio em funo do pH so mostradas na Figura 3.1.

    3.3. Reaes na Clorao

    A clorao da polpa pode envolver reaes competitivas do cloro com lignina,

    carboidratos e algumas vezes extrativos. Assim, variaes nas condies da clorao tem

    que ser avaliadas no somente em termos de seus efeitos na deslignificao, mas tambm,

    em termos de seus efeitos sobre outros constituintes da polpa. Por exemplo, a elevao do

    tempo de clorao pode ser vantajoso com relao a solubilizao da lignina mas

    indesejvel do ponto de vista da preservao dos carboidratos.

    A reao do cloro com a polpa no-branqueada consiste de um consumo inicial

    rpido de qumicos, seguido por um consumo mais baixo at uma taxa constante ou

    aproximadamente constante. A reao rpida inicial tem geralmente sido associada com a

    substituio do cloro na lignina, enquanto a reao mais lenta atribuda oxidao.

    Todavia, h tambm reaes de oxidao ocorrendo inicialmente com a lignina, o consumo

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    23

    inicial de cloro pode ser visto como uma composio de ambas as reaes, substituio e

    oxidao, sendo a primeira predominante em condies tpicas de clorao.

    Onde: abaixo de pH 1, principalmente cloro; entre pH 1-3, cloro e cido hipocloroso; entre pH 3,5-6, principalmente cido hipocloroso; entre 6,5-8,5, cido hipocloroso e hipoclorito; acima de 9, principalmente hipoclorito.

    Figura 3.1 - Equilbrio cloro-gua para diferentes valores de pH (MACDONALD,

    R. G. e FRANKLIN, J.N., 1969).

    Adicionalmente aos processos controlados quimicamente, o consumo de cloro pela

    polpa pode, em parte, ser regulado pelas caractersticas morfolgicas das fibras lignificadas,

    especialmente aps a lignina da superfcie da fibra ter sido clorada.

    Com o aumento do contedo de lignina, tanto polpa sulfato quanto polpa sulfito,

    consomem mais cloro para ambas as reaes, oxidao e substituio. Para polpas de

    conferas com nmero kappa na faixa de 13-35 (ver Figura 2.1), o consumo de cloro por

    oxidao e substituio aumenta linearmente com o nmero kappa. Por outro lado, para

    polpas com nmero kappa menor que 8, o consumo de cloro ocorre unicamente por

    pH

    Faixa de clora- o cida

    Degradao da celulose

    Branqueamento com hipoclorito

    % d

    e C

    l 2

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    24

    oxidao. Isto explicado pelo fato da lignina residual ser, neste caso, altamente

    condensada, tendo, por isso, poucos locais disponveis para substituio aromtica.

    Quanto mais alto for o contedo de lignina da polpa maior ser o tempo de reao

    necessrio para uma dada quantidade de cloro oxidar e solubilizar a lignina. O aumento no

    tempo de reao devido ao aumento no teor de lignina da polpa, porm, no tem muito

    efeito na degradao de carboidratos uma vez que ele muito pequeno. Isto significa que

    uma polpa no branqueada com mais alto contedo de lignina sofre menor degradao dos

    carboidratos no somente no processo de polpao, mas tambm durante o tratamento de

    clorao.

    Quando a temperatura de clorao elevada a quantidade de cloro consumido em

    reaes de oxidao aumenta. Por outro lado, as reaes de substituio so independentes

    da temperatura.

    A taxa de consumo de cloro aumentada pelo aumento na consistncia da polpa.

    Com o aumento na consistncia da polpa, uma grande frao do cloro aplicado deve ser

    consumido em reaes de substituio, como uma conseqncia do sistema de clorao

    conter uma grande porcentagem de cloro elementar sob tais condies. Entretanto, ao

    mesmo tempo, a temperatura aumentada, pois h menor quantidade de gua para dissipar

    o calor da reao. Isto favorece a oxidao (SENAI CETCEP, 2001).

    3.4. Descrio Geral do Estgio de Clorao

    A clorao geralmente o primeiro estgio de um processo de branqueamento em

    multi-estgio e precedido pela polpao, lavagem e depurao. Ela direta ou

    indiretamente influenciada por estes processos, como mostrado na Figura 3.2 (SENAI

    CETCEP, 2001).

    O cozimento dissolve geralmente mais que 90% da lignina e transfere cerca de

    50% da substncia madeira para o licor residual, uma maior deslignificao no cozimento

    restrita pela excessiva degradao e dissoluo dos carboidratos. A lignina remanescente na

    polpa subseqentemente removida no processo de branqueamento por meios mais

    seletivos, primeiramente atravs da clorao e ento, por um processo de extrao alcalina.

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    25

    Figura 3.2 - Seqncia de produo de polpa branqueada de alta alvura (SENAI

    CETCEP, 2001).

    O licor residual do cozimento separado da polpa numa maior extenso pela

    operao de lavagem, mas, mesmo assim, pequenas quantidades ainda remanescentes na

    polpa podem influenciar consideravelmente o consumo de cloro e as caractersticas do

    efluente da planta de branqueamento. O material grosseiro removido mecanicamente

    numa operao de depurao, a qual vem antes ou aps o trmino da operao de lavagem.

    Esta seqncia de operao permite que o licor residual seja lavado antes do

    branqueamento e torna possvel esfriar a polpa a uma temperatura levemente acima da

    temperatura da gua industrial. A clorao ocorre, ento, numa temperatura que varia com a

    estao. A tendncia corrente, entretanto, para um sistema fechado de gua e isto

    freqentemente feito pela localizao da depurao antes do lavador final de pasta no

    branqueada. Este arranjo resulta em aumento na temperatura da polpa e conduz chamada

    clorao a quente com pequenas variaes na temperatura quando a gua tambm

    reciclada na planta de branqueamento (BEAUPRE, M. et al., 1983).

    O arranjo dos componentes em um estgio normal de clorao mostrado na

    Figura 3.3. A polpa bombeada como uma massa de baixa consistncia, via um esquema

    de controle de fluxo e consistncia para o misturador de cloro. O cloro geralmente

    dispersado como bolhas de gs em gua e adicionado ao misturador, o qual rapidamente

    mistura o sistema heterogneo polpa-gua-gs. Por causa da rpida reao entre o cloro e a

    polpa, especialmente em elevada temperatura, a operao de mistura importante para o

    sucesso da clorao com relao homogeneidade, consumo de cloro e degradao dos

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    26

    carboidratos. A reao completada em uma torre projetada para fornecer o necessrio

    tempo de reao. Para garantir a homogeneidade da polpa, importante evitar a formao

    de grandes bolhas de ar na torre. Antes e aps deixar a torre, a polpa diluda e lavada. A

    eficincia total de lavagem determinada pela quantidade de gua que passa atravs da

    manta no lavador (SENAI CETCEP, 2001).

    Figura 3.3 - Diagrama esquemtico do processo de clorao (SENAI CETCEP,

    2001).

    Na maioria dos casos, a clorao seguida por tratamento de extrao alcalina e

    branqueamento final com outros agentes oxidantes mais seletivos. A lavagem seguindo a

    clorao, freqentemente deixa uma considervel quantidade de licor residual cido na

    polpa que vai para o estgio de extrao alcalina, o que causar um aumento no consumo

    de lcali. Ocasionalmente, a clorao repetida aps a extrao alcalina para remover mais

    lignina. Problemas associados principalmente com degradao de carboidratos tem causado

    uma substituio do segundo estgio de clorao por outros tratamentos, tais como,

    hipoclorito e dixido de cloro. A aplicao do cloro ajustada para produzir o desejado

    grau de deslignificao, seguido do estgio de extrao alcalina. As mudanas que ocorrem

    durante a clorao so determinadas pela medio do contedo de lignina, grau mdio de

    polimerizao (nmero kappa e viscosidade) e cor da polpa, geralmente aps o estgio de

    extrao alcalina (SMOOK, G. A., 1994).

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    27

    3.5. Variveis do Processo

    Condies tpicas para clorao de uma polpa kraft de Pinus so mostradas na

    Tabela 3.2. Em polpas sulfito cido para papel, o contedo de lignina geralmente mais

    baixo, para polpas bissulfito, mais alto e para polpas normais de hardwoods,

    consideravelmente mais baixo, como o caso de muitas polpas sulfito para dissoluo. A

    quantidade de cloro aplicada depende do tipo de polpa, do contedo de lignina e do nmero

    de estgios na seqncia de branqueamento. A presena de licor residual do cozimento, por

    menor que seja, aumenta a demanda de cloro (SENAI CETCEP, 2001).

    Tabela 3.2 -Condies tpicas de clorao de polpa kratt de Pinus (SENAI

    CETCEP, 2001).

    Contedo de lignina de polpa no branqueada, % 5,01

    Quantidade de cloro aplicado, % 6,0-8,0

    Consistncia da polpa, % 3,5

    Temperatura, C 10,25

    Tempo, minutos 60

    pH do licor (final) 1,5-3,02

    1 Corresponde a um kappa de 35; 2 As reaes iniciais ocorrem num pH aparentemente alto.

    3.5.1. Contedo de Lignina da Polpa No-Branqueada

    O contedo de lignina da polpa no branqueada importante na clorao, uma vez

    que influencia vrios fatores, tais como: a demanda de cloro, a quantidade de substncia

    dissolvida no estgio de clorao (e outros estgios do branqueamento) e finalmente, o

    rendimento e viscosidade da polpa.

    O cozimento deve ser continuado at o ponto onde a degradao dos carboidratos

    permitir, uma vez que o decrscimo na demanda de qumicos para o branqueamento parece

    ser mais importante que o decrscimo no rendimento da polpa. O cozimento para um mais

    baixo contedo de lignina, contudo, resulta em condensao da lignina, o que anula o efeito

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    28

    favorvel na demanda de qumicos e ainda decresce drasticamente o rendimento e a

    viscosidade da polpa. Como mostra a Figura 3.4, o custo mnimo obtido a um teor

    moderadamente baixo de lignina. Entretanto, antes deste mnimo ser alcanado, a

    degradao dos carboidratos chegou ao nvel mnimo aceito para produo de uma polpa de

    qualidade (SENAI CETCEP, 2001).

    Figura 3.4 - Relao entre nmero ROE e custos de madeira e de qumicos (polpa

    Kraft de Pinus - seqncia) (SENAI CETCEP, 2001).

    As variaes no contedo de lignina de uma polpa no branqueada que vai para a

    planta de branqueamento podem ser um dos mais srios problemas que afetam o estgio de

    clorao. Uma boa mistura da polpa antes do branqueamento, aliada ao emprego de um

    curto tempo de reao, pode atenuar esta dificuldade (SENAI CETCEP, 2001).

    3.5.2. Quantidade de Cloro Aplicada

    A quantidade ideal de cloro a ser aplicada depende do tipo de pasta celulsica e do

    nmero de estgios do processo. Geralmente esta quantidade relacionada ao nmero

    kappa da pasta no branqueada. Cerca de 50 a 80% da quantidade total de reagentes

    clorados aplicada neste estgio (BEAUPRE, M. et al., 1983).

    Com o aumento da quantidade de cloro aplicada no primeiro estgio a demanda de

    qumicos nos estgios finais do branqueamento primeiro cai rapidamente e depois tende a

    estabilizar como pode ser visto na Figura 3.5 (SENAI CETCEP, 2001).

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    29

    O controle do estgio de clorao feito por meio de medidas eletroqumicas

    (potencial de xido reduo) e/ou sensores pticos. A entrada do cloro controlada

    automaticamente, de forma a manter o potencial de oxireduo constante durante o

    processo. Geralmente, o consumo do cloro em relao pasta de 3 a 8% para pasta

    sulfato, de 2 a 6% para sulfito, e de 10 a 15% para a semiqumica. Com a adio de

    quantidade crescente de cloro pasta, observa-se uma relao aproximadamente linear,

    entre o consumo de cloro e a remoo de lignina.

    Ao aumentar a quantidade de cloro, chega-se a um determinado nvel em que a

    lignina residual no mais removida. Este fenmeno foi atribudo dificuldade das

    molculas de cloro atingirem a lignina residual. Considera-se tambm, que os derivados

    clorados formados devem ser removidos, para facilitar a penetrao de novas molculas dos

    reagentes (BEAUPRE, M. et al., 1983).

    3.5.3. pH

    O pH para clorao abaixo de 2, quando h maior concentrao de cloro

    elementar. Como o cido clordrico formado mantm o pH neste nvel, o sistema dispensa

    controle. Pode-se aumentar a acidez inicial pelo uso do filtrado da lavagem da clorao

    para diluio da pasta, ou, ento, adicionando-se cido clordrico (IPT, 1988).

    Figura 3.5 - Consumo de ClO2 nos estgios finais como uma funo do cloro

    aplicado no estgio de clorao (polpa Kraft de Pinus - seqncia CEHDED) (SENAI

    CETCEP, 2001).

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    30

    3.5.4. Mistura de Cloro com a Polpa

    Uma mistura adequada dos reagentes no estgio de clorao essencial para

    obteno de polpa completamente branqueada, de boa qualidade e com o mnimo consumo

    de qumicos. A operao de mistura tambm importante para executar a clorao com o

    mnimo de excesso de cloro, uma considerao que se torna crescentemente importante

    quando se considera um sistema fechado de gua, visto que, um alto residual de cloro

    resulta em corroso dos equipamentos de lavagem e contaminao da atmosfera da planta

    de branqueamento. Devido heterogeneidade do sistema de clorao (gs-cloro-gua-

    polpa) difcil misturar os reagentes, mesmo em condies timas (SENAI CETCEP,

    2001).

    Fatores importantes que influenciam a operao de mistura (SMOOK, G. A.,

    1994):

    9 O volume considervel de cloro gasoso quando comparado com o volume da massa de polpa;

    9 A distribuio do gs cloro em gua antes da dissoluo; 9 A mistura da disperso cloro-gua com a polpa sem uma turbulncia

    adequada;

    9 A habilidade das fibras de polpa para estabilizar a disperso, assim reduzindo a tendncia de finas bolhas de ar juntarem-se;

    9 A rpida dissoluo do cloro e a reao entre cloro e polpa quando eles esto em ntimo contato;

    9 A tendncia de grandes bolhas de ar. Uma mistura pobre resulta num consumo de qumicos alto, baixa viscosidade da

    polpa e alto residual de cloro. Uma mistura pobre pode ser reconhecida pela colorao

    desigual da massa aps um certo tempo de reao. A presena de uma quantidade

    considervel de gs cloro na tubulao que transporta o cloro do misturador tambm um

    sinal de mistura pobre (SENAI CETCEP, 2001).

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    31

    3.5.5. Temperatura

    A temperatura na maioria dos estgios de branqueamento escolhida para dar o

    consumo adequado de qumicos no tempo de branqueamento disponvel, o qual

    determinado pela demanda de qumicos da polpa e pelo desenho da torre (BEAUPRE, M.

    et al., 1983).

    A temperatura da clorao governada pela temperatura da gua industrial em um

    sistema aberto. Como a temperatura da gua industrial varia com a estao do ano,

    conseqentemente as caractersticas da polpa clorada podem ser alteradas.

    O processo de clorao exotrmico, portanto o aumento de temperatura implica

    em um aumento de velocidade da reao. A 3,5% de consistncia, a clorao de uma polpa

    kraft de Pinus gera calor suficiente para aquecer a mistura em 1,5 a 2,0C, o que

    insignificante do ponto de vista prtico. Contudo, a 10% de consistncia, a temperatura

    correspondente eleva em cerca de 3C e a 25 a 30% de consistncia, eleva 10 a 20C.

    Assim, o valor da presso tem uma influncia dominante durante a clorao em alta

    consistncia, enquanto em baixa consistncia ele tem muito pouca influncia (SENAI

    CETCEP, 2001).

    Variaes da temperatura da clorao resultam em considerveis variaes na

    quantidade de cloro consumida e variaes na deslignificao durante a clorao. A

    dissoluo da lignina correlaciona-se com o consumo de cloro durante a clorao e deve ser

    acelerado pelo aumento da temperatura (BEAUPRE, M. et al., 1983).

    3.5.6. Tempo de Reteno

    O tempo de reteno inicialmente determinado pelo desenho da torre, capacidade

    da indstria e a consistncia da polpa. Durante a operao normal, somente a capacidade

    variada consideravelmente (SENAI CETCEP, 2001).

    Em um sistema aberto de gua, o equipamento totalmente projetado para

    fornecer suficiente tempo de reteno para as mais altas taxas de produo da fbrica, com

    a gua industrial em sua mnima temperatura. Quando a temperatura da gua industrial for

    muito alta, esse tempo de reao deve ser diminudo para no ocorrer uma substancial

    degradao da polpa (REEVE, D. W., 1983).

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    32

    Os componentes de carboidratos de polpas kraft e sulfito so degradados no

    estgio de clorao. A viscosidade da polpa decresce progressivamente com o aumento do

    tempo, mesmo em timas condies de clorao, mas o decrscimo acelerado

    acentuadamente quando a temperatura aumentada, a quantidade de cloro aplicada

    aumentada, ou ambos.

    Quando o tempo de reao ajustado adequadamente, contudo, a relao entre

    dissoluo de lignina e degradao de carboidratos parece ser pouco afetada pelo menos at

    50C. Isto uma das razes porque o processo de clorao em fase gasosa possvel,

    mesmo considerando-se a grande elevao na temperatura causada pelo calor da reao. O

    tempo de reao em uma clorao tcnica altamente dependente da construo e da

    capacidade da torre de reao, portanto, no pode muitas vezes ser ajustado de acordo com

    a necessidade. Considerando-se que as torres de clorao so tambm projetadas para

    tempos de reao razoavelmente longos para permitir o uso de temperaturas mais baixas e

    reduzir heterogeneidades no sistema, temperaturas mais altas so acompanhadas por um

    maior risco de degradao dos carboidratos. Contudo, a adio de dixido de cloro na

    clorao pode eliminar este risco numa grande extenso.

    O tempo de reao em uma clorao pode ser variado em uma pequena extenso

    atravs de mudanas na consistncia da polpa. Isto tem um efeito adicional uma vez que a

    concentrao de qumicos variada ao mesmo tempo. A consistncia da polpa algumas

    vezes variada para compensar variaes sazonais na temperatura da gua (SMOOK, G. A.,

    1994).

    3.5.7. Consistncia

    As variaes na consistncia da polpa influenciam a concentrao de cloro e o

    tempo de clorao. Elas tambm influenciam a solubilizao do cloro aplicado (SENAI

    CETCEP, 2001).

    O estgio de clorao, em geral, efetuado em consistncia baixa, entre 3 a 4%, e

    em operao contnua, principalmente devido baixa solubilidade do cloro em gua,

    facilitando, assim, as operaes de misturas e bombeamento (IPT, 1988).

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    33

    A baixa consistncia alm de evitar a corroso excessiva, proporciona outras

    vantagens, tais como: a mistura da polpa fcil de bombear; e as reaes de degradao

    dos carboidratos so convenientemente lentas nas temperaturas do sistema aberto de gua.

    Todavia, o uso de baixa consistncia tambm possui desvantagens, tais como: a

    alta diluio faz com que o efluente da clorao seja predominante em termos de volume

    total do efluente de branqueamento; aumenta o tempo necessrio para a clorao (DENCE,

    C. W.; REEVE, D. W., 1996).

    3.6. Aditivos na Clorao

    H uma tendncia de modificar o tratamento com cloro para conseguir menos

    degradao dos carboidratos, melhores propriedades de resistncia da polpa, maior

    dissoluo de lignina e menor contaminao do meio ambiente. As modificaes variam

    desde a incluso de pequenas quantidades de vrios reagentes qumicos junto ao cloro,

    substituio parcial de cloro por dixido de cloro ou oxignio (SMOOK, G. A., 1994).

    Com a imposio de condies de clorao mais severas (maiores quantidades de

    cloro a mais altas temperaturas), o uso de aditivos na clorao se torna cada vez mais

    necessrio. Dixido de cloro, clorato, cido sulfnico, bromo, amnia e outros compostos

    de nitrognio, assim como oxignio, tm sido sugeridos como aditivos na clorao

    O efeito principal do aditivo de prevenir degradao excessiva dos carboidratos

    ajudando a manter as propriedades mecnicas da polpa (SENAI CETCEP, 2001).

    3.7. Substituio do Cloro por Dixido de Cloro

    Existem trs maneiras de utilizar o dixido de cloro no primeiro estgio: em

    misturas com o cloro, em ordem seqencial em que o dixido de cloro normalmente

    precede o cloro e como substituto total do cloro.

    A adio seqencial de dixido de cloro e cloro em fases separadas do primeiro

    estgio para polpa kraft de fibra longa resulta em melhor deslignificao do que uma

    mistura equivalente, que, por sua vez, melhor do que o cloro sozinho (DENCE, C. W.

    REEVE, D. W., 1996).

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    34

    A adio do cloro e do dixido de cloro, simultnea ou seqencialmente, influi

    fortemente no abaixamento do nmero kappa, em pasta sulfato de conferas (Figura 3.6)

    (IPT, 1988).

    Quando quantidades moderadas de dixido de cloro so aplicadas num tratamento

    seqencial ClO2/Cl2, a maioria do dixido de cloro consumido antes da adio do cloro.

    Como conseqncia, pouco dixido de cloro permanece para exercer sua influncia

    protetora sobre os carboidratos na fase subseqente da clorao, comparado ao caso quando

    dixido de cloro e cloro so misturados. A deslignificao mais seletiva, porm, ajuda a

    preservar os carboidratos e, a uma alta carga de dixido de cloro, um ganho expressivo de

    viscosidade da polpa se obtm. Os efeitos da viscosidade so, em termos relativos, mais

    significativos aps o branqueamento final, uma vez que a lignina residual e os grupos

    cromforos na polpa so um pouco mais facilmente removidos nos estgios finais

    (SMOOK, G. A., 1994).

    Figura 3.6 - Relao entre nmero Kappa aps estgio E1 e frao do dixido de

    cloro, para diferentes modos de adio de cloro e dixido (IPT, 1988).

    O uso de dixido de cloro no primeiro estgio reduz a cor do efluente do

    branqueamento. Este efeito se torna mais pronunciado com o aumento na proporo de

    dixido de cloro empregado neste estgio. Adio de dixido de cloro no primeiro estgio

    diminui a toxidez do efluente (SENAI CETCEP, 2001).

    Uma comparao feita entre resultados obtidos para alta (50 a 70%) e baixa (4 a

    15%) substituio de cloro por dixido de cloro, para pasta sulfato de conferas, indicou

    % Substituio do cloro

    Nm

    ero

    Kap

    pa

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    35

    que no existem vantagens da alta em relao baixa substituio quanto a: rendimento,

    remoo de estilhas, remoo de sujeira, resistncia fsica e viscosidade.

    A baixa substituio mais vantajosa quanto deslignificao, ao passo que a alta

    substituio melhora a remoo de resinas, a cor do efluente e sua mutagenicidade.

    O uso do dixido de cloro no pr-branqueamento de pastas sulfato tem aumentado

    significativamente, pelas seguintes razes:

    9 Mesmo o uso de pequenas fraes de dixido de cloro no estgio da clorao pode reduzir significativamente a queda de viscosidade da pasta e,

    assim, evitar comprometer sua resistncia;

    9 O uso de dixido de cloro adicionado seqencialmente no estgio de clorao pode tambm diminuir significativamente o consumo total dos

    reagentes de branqueamento, se comparado com o uso exclusivo de cloro

    ou de misturas de cloro com pequena frao de dixido de cloro;

    9 Uma substituio expressiva do cloro por dixido de cloro no pr-branqueamento reduz a formao de substncias que podem contaminar o

    meio ambiente, tais como: substncias coloridas, mutagnicas e cloradas

    (fenis);

    9 Um aumento do dixido de cloro no primeiro estgio aumenta a limpeza da pasta a uma determinada alvura, especialmente se comparada para o

    mesmo consumo de reagentes;

    9 Uma vantagem adicional do uso do dixido de cloro a diminuio do teor de cloretos do efluente, o que permite o reaproveitamento dos filtrados dos

    estgios de clorao e extrao alcalina, reduzindo o volume dos efluentes;

    9 O dixido de cloro permite realizar a clorao em temperaturas mais elevadas.

    Porm, existem algumas desvantagens da substituio parcial do cloro por dixido

    de cloro, tais como: requer maior capacidade geradora de ClO2 e requer o uso de

    equipamentos especiais resistentes ao ClO2 (IPT, 1988).

  • Reviso Bibliogrfica

    36

    3.8. Substituio do Cloro por Oxignio

    Outra modificao do tratamento com cloro destinada a diminuir a carga poluente

    introduzir um tratamento com oxignio sob condies alcalinas antes da clorao. A

    clorao se realiza, ento, na polpa pr-oxidada, como no caso do pr-tratamento com

    dixido de cloro (SENAI CETCEP, 2001).

    3.9. Clorao na Fase Gasosa

    Clorao gasosa a alta consistncia pode resultar em alvura e resistncia

    equivalente quelas obtidas por mtodos convencionais, porm num menor tempo e com

    menor uso de cloro (DENCE, C. W. REEVE, D. W., 1996).

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    37

    4. Extrao Alcalina

    4.1. Introduo

    A extrao alcalina da polpa, tambm conhecida como pr-deslignificao, pode

    ser considerada uma parte integrante de uma seqncia de branqueamento de mltiplos

    estgios. Seu objetivo remover os componentes coloridos da polpa, parcialmente

    branqueada, que se tornam solveis em solues alcalinas diludas mornas, pela ao de

    reagentes qumicos usados no pr-branqueamento. Nas seqncias convencionais de

    branqueamento com cloro comum incluir mais de um estgio de extrao alcalina

    (SENAI CETCEP, 2001).

    No estgio de extrao alcalina ocorre uma remoo extensiva de lignina clorada e

    oxidada e, conseqentemente, o grau de alvura da polpa no branqueamento subseqente

    aumenta, sendo necessrio menores quantidades de reagente de branqueamento para atingir

    o grau de alvura desejado. Portanto, a economia do branqueamento e a manuteno das

    propriedades de resistncia da polpa so favorecidas. Nesse sentido, a extrao alcalina

    pode ser considerada um estgio de branqueamento sem significativa degradao oxidativa

    das fibras. Entretanto, pode ocorrer solubilizao das hemiceluloses, sendo necessrio um

    controle de temperatura e concentrao da soda custica, de forma a limitar o problema.

    Outros benefcios provenientes dos processos de extrao alcalina so

    relacionados estabilidade da alvura, opacidade, maciez e algumas propriedades mecnicas

    da polpa.

    Os principais objetivos nos estgios que precedem a extrao so a remoo da

    maioria da lignina e a solubilizao da lignina residual em meio alcalino. O uso de

    hidrxido de sdio para lavar ou extrair a polpa aps a clorao tem se tornado uma etapa

    vital em plantas de branqueamento. A extrao alcalina como um estgio de

    branqueamento da polpa traz (IPT, 1988).:

    9 Uma melhor resposta da polpa no branqueamento a altas alvuras; 9 Uma maior limpeza e estabilidade de alvura da polpa; 9 Uma economia de cloro e outros reagentes de branqueamento;

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    38

    9 Uma significativa melhora da resistncia da polpa branqueada.

    4.2. Variveis do Processo

    As condies tpicas do estgio de extrao alcalina de uma seqncia de

    branqueamento so as seguintes: quantidade de soda, pH, consistncia, temperatura e tempo

    de reteno (IPT, 1988).

    4.2.1. Quantidade de Soda

    A quantidade de soda a ser aplicada entre 0,5 e 5,0% da massa de pasta seca,

    onde os valores mais altos se referem extrao aps a clorao e os mais baixos,

    extrao aps os estgios com hipoclorito ou dixido de cloro (IPT, 1988).

    4.2.2. pH

    A Figura 4.1 mostra que se consegue remover uma quantidade maior de lignina

    quando se eleva o pH, que, na sada da torre, deve estar em torno de 10,8 a 12,2. Acima de

    12,2 haver perda de soda e abaixo de 10,8 no haver soda suficiente para completar a

    extrao. A carga inicial do lcali proporcional lignina residual e, portanto, mais alta no

    caso da pasta sulfato. Quanto maior a consistncia, menor a quantidade de soda residual

    requerida para manter o pH (RYDLHOLM, S. A., 1965).

    4.2.3. Consistncia

    Para economizar energia, a extrao geralmente efetuada a uma consistncia

    relativamente alta, de 10 a 14%. Isto tambm resulta numa concentrao elevada de lcali

    no licor, que por sua vez acelera a penetrao. No branqueamento de polpa kraft, a extrao

    especialmente importante e qualquer deficincia neste estgio no apenas leva a um maior

    consumo de reagentes nos estgios subseqentes, mas tambm torna necessrio o acrscimo

    de mais um estgio de branqueamento para manter o mesmo grau de alvura (SENAI

    CETCEP, 2001).

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    39

    Figura 4.1 - Relao entre o pH no licor de extrao e as substncias orgnicas

    dissolvidas na extrao alcalina de pasta sulfato clorada (RYDLHOLM, S. A., 1965).

    4.2.4. Temperatura e Tempo de Reteno

    Tambm para economia do processo, a temperatura da extrao deve ser a mxima

    que pode ser mantida com o excedente de vapor, isto , sem necessidade de gerar vapor

    extra. A temperatura de grande importncia, uma vez que ela afeta as taxas de difuso do

    NaOH para dentro da fibra e da lignina dissolvida para fora da fibra. Uma temperatura alta

    resulta numa reao mais rpida e um alto grau de remoo de lignina ocorre num curto

    tempo de contato NaOH/polpa. No entanto, uma temperatura acima de 70C resulta na

    dissoluo das hemiceluloses com conseqente perda de rendimento, resistncia e a

    quantidade de matria orgnica dissolvida no efluente (DBO) no licor residual aumenta. O

    tempo de reteno de 1 a 2 horas (IPT, 1988).

    Estas condies se aplicam tanto para polpas kraft como para polpas sulfito,

    porm, a escolha exata das condies depende do nmero kappa da polpa no branqueada e

    da finalidade do produto. A remoo do cloro-lignina na extrao de polpa kraft requer um

    tempo de reao mais longo e uma temperatura ligeiramente elevada (60C) comparados

    com a polpa sulfito (40 a 60C). Isto se deve provavelmente existncia de agregados de

    lignina residual kraft relativamente grandes (aps a clorao) que difundem vagarosamente

    para fora da fibra.

    Frao perceptvel

    Frao no perceptvel

    pH

    Total dissolvido

    0,1N

    KM

    nO4/g

    pas

    ta (m

    l)

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    40

    No estgio de extrao alcalina as seguintes reaes ocorrem em diferentes graus

    de intensidade:

    9 A dissoluo e remoo de lignina clorada; 9 A remoo de hemiceluloses das fibras; 9 Saponificao de cidos graxos e resinosos contidos na polpa; 9 Diminuio do comprimento das cadeias de polissacardeos das fibras.

    A clorao de polpa no branqueada aparentemente leva formao de trs

    fraes de cloro-lignina:

    9 Fragmentos moleculares pequenos solveis em gua e removidos durante a lavagem aps clorao;

    9 Fragmentos moleculares maiores que se tornam solveis em concentraes de lcali de 0,5 a 1% e pH 12;

    9 Uma frao refratria de cloro-lignina que insolvel. Mesmo sob um tratamento alcalino severo e que necessita de estgios subseqentes de

    oxidao para ser removida completamente.

    Estgios subseqentes de hipoclorao e dioxidao reduzem a cloro-lignina

    residual a 5% do seu valor aps o estgio de clorao e produzem uma polpa com alvura de

    90,9 ISO (SENAI CETCEP, 2001).

    4.3. Extrao Alcalina Oxidativa

    O estgio de extrao alcalina apresenta condies favorveis de processo para

    que, paralelamente remoo de derivados clorados, se proceda um tratamento oxidante

    brando, obtendo uma deslignificao suplementar com o objetivo de conseguir maior alvura

    e menor consumo de reagentes em estgios posteriores.

    O uso do oxignio na primeira extrao alcalina tem-se difundido rapidamente.

    Podem tambm ser empregados perxido de hidrognio e hipoclorito de sdio (IPT, 1988).

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    41

    4.3.1. Extrao Alcalina em Presena de Oxignio

    A extrao alcalina realizada em presena de uma pequena quantidade de oxignio

    (em torno de 0,2 a 0,5% sobre a pasta seca) possibilita uma diminuio da demanda de

    dixido de cloro ou hipoclorito nos estgios posteriores e permitem obteno de pasta

    branqueada com menos estgios.

    A extrao com oxignio tambm permite reduzir a quantidade de compostos

    clorados aplicados no branqueamento. A reduo do dixido traz vantagens econmicas e a

    do hipoclorito melhora a qualidade da pasta obtida (MARTINS NETO, O. F.; GUEDES

    FILHO, E., 1986).

    4.3.2. Extrao Alcalina em Presena de Perxido de Hidrognio

    A presena de perxido de hidrognio em extrao alcalina requer algumas

    condies mais apropriadas de pH (valores prximos a 10,8). Portanto, o estgio de

    extrao alcalina um ponto ideal de adio de perxido nas seqncias de branqueamento

    convencionais. Neste tipo de aplicao no h necessidade de estabilizar o perxido com

    silicato de sdio (Na2SiO3), pois (SENAI CETCEP, 2001):

    9 As polpas qumicas contm menos impurezas metlicas do que as pastas mecnicas;

    9 Os estgios de branqueamento posteriores, normalmente dixido de cloro, iro recuperar a alvura da polpa, caso por efeito de decomposio do

    perxido, a mesma permanea por um curto perodo em condies

    alcalinas.

    O perxido de hidrognio empregado com o mesmo objetivo do oxignio, ou

    seja, diminuir a carga de reagentes clorados e melhorar as caractersticas da pasta

    branqueada. Sua ao deslignificante mais discreta quando comparado ao oxignio. Por

    isso, aplicado geralmente na segunda extrao alcalina, com o objetivo especfico de se

    obter uma pasta de alvura final mais elevada e reduzir a quantidade de dixido de cloro do

    estgio final (DANILAS, R. M., BUGAJER, S. & CRUZ, J. A., 1985).

    Alguns aspectos importantes do uso dos perxidos na extrao alcalina devem ser

    levados em considerao:

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    42

    9 As quantidades de perxido empregadas so substancialmente inferiores s usadas em pastas mecnicas ou semiqumicas. Valores em torno de 0,2%

    (mximo 0,5%), portanto nesta concentrao, o efeito corrosivo

    desprezvel (DANILAS, R. M., BUGAJER, S. & CRUZ, J. A., 1985);

    9 Quando empregado no estgio de extrao alcalina, no necessrio garantir uma quantidade de perxido residual no final do tratamento, pois a

    pasta ainda dever ser oxidada posteriormente em outros estgios;

    9 Quando se procede extrao alcalina com perxido, pode-se dispensar a estabilizao (silicato, ons, magnsio e agentes quelantes); isto

    compensado, pela adio de excesso de perxido que reage com metais e

    materiais orgnicos dissolvidos; a simplificao operacional justifica,

    assim, um gasto adicional com o oxidante;

    9 O fator que impede a ampla aplicao do perxido o seu custo superior outros agentes de branqueamento, que deve ser compensado pela economia

    em dixido de cloro e tambm pela gerao de efluentes de menor toxidez

    e de tratamento mais fcil (PAPAGEORGES, G. et al., 1979);

    9 A aplicao de perxido na extrao contribui para a reduo de 50% da cor do efluente alcalino (DANILAS, R. M., BUGAJER, S. & CRUZ, J. A.,

    1985).

    4.3.3. Extrao Alcalina em Presena de Hipoclorito

    A adio de hipoclorito na extrao alcalina tem como principal vantagem a

    reduo da quantidade de dixido requerido no estgio subseqente, bem como uma

    reduo eficiente da cor do efluente alcalino da extrao.

    O tratamento com hipoclorito pode comprometer a viscosidade da pasta celulsica

    e, conseqentemente, a sua resistncia. Para pastas sulfato de eucalipto, so obtidos

    resultados satisfatrios quando se submete a pasta ao do hipoclorito nas condies da

    extrao, em tempo de reteno reduzido (5 a 10 minutos) e uma dosagem baixa de

    hipoclorito (at 0,5% sobre a pasta) (IPT, 1988).

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    43

    5. Branqueamento com Hipoclorito

    5.1. Introduo

    O hipoclorito foi primeiramente usado em um branqueamento de estgio nico

    com baixa consistncia. O tempo de branqueamento era longo e era necessrio grandes

    tanques para permitir o xito do processo. O desenvolvimento de processos e equipamentos

    para o manuseio de polpas a altas consistncias logo substituiu o branqueamento em baixa

    consistncia.

    O branqueamento com hipoclorito em um nico estgio foi substitudo pelo

    branqueamento com hipoclorito em dois estgios, com uma consistncia baixa no primeiro

    estgio e uma alta consistncia no segundo estgio. Com o posterior desenvolvimento de

    materiais apropriados para a utilizao de cloro lquido, o primeiro estgio de hipoclorito a

    baixa consistncia foi substitudo por clorao com uma extrao alcalina antes do estgio

    de hipoclorito a alta consistncia (IPT, 1988).

    O branqueamento com hipoclorito essencialmente uma oxidao que descolora e

    solubiliza a lignina residual, os grupos cromforos e outras impurezas das fibras. A reao

    de branqueamento prossegue rapidamente no incio, mas desacelera antes que toda a lignina

    tenha reagido. Ocorre uma dissoluo gradual dos produtos de degradao devido ao

    branqueamento ser realizado a um pH alcalino (entre 10 e 11) e novas regies da lignina

    esto sendo constantemente expostas ao hipoclorito. Portanto, se o tratamento continuar por

    um tempo suficiente toda a lignina na fibra pode ser removida (SENAI CETCEP, 2001).

    Apesar do hipoclorito ainda ser utilizado devido ao seu baixo custo, as exigncias

    de maiores alvuras e maiores resistncias das polpas sulfato para a fabricao de papel tm

    forado a substituio dos ltimos estgios de hipoclorao por dixido de cloro (ClO2) e

    perxido (H2O2).

    O hipoclorito usado nos estgios intermedirios para diminuir o requerimento de

    agentes qumicos mais caros utilizados nos ltimos estgios (IPT, 1988).

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    44

    5.2. Reaes das Solues de Hipoclorito

    O hipoclorito geralmente produzido na prpria indstria, a partir de cloro e

    hidrxido de sdio, ou de hidrxido de clcio. Embora o hipoclorito de clcio oxidante,

    ligeiramente mais