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CAPITULO VI . Atividades Desenvolvidas pela Área de Saúde do Trabalhador do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de Minas Gorais Elizabeth Costa Dias Lauar Raquel Maria Rigotto Rodolfo Braga Almeida Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro Vi rgílio Baião Carneiro Docentes da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Ensino de Graduação o curso de graduação da Faculdade de Medicina da UFMG aborda , no 8? período, o conteúdo de Saú- de Ocupacional. A carga horária desenvolvida é de 32 horas/au la por semestre. O curso dispõe de quatro professores, se ndo que cada um deles fica responsável por cerca de 40 alunos. Estes são divididos em duas turmas de 20 alunos. O curso é composto de 15 aulas de duas horas por semana. Os temas a serem ministrados são comuns, exi s- tindo, no entanto, liberdade para cada professor esco· Iher a melhor forma de abordá-los. O conteúdo do curso pode ser melhor explici- ta do da forma : , - Marco Teórico o "pano de fundo" sobre o qual trabalhamos é a concepção de que a sociedade, dependendo da for- ma como ela organiza sua estrutura produtiva, gera um quadro patológico determinado. Desta forma, co- nhecer a sociedade, sua organização social e sua forma de prOduzir ê fundamental para se entender a geração e a distribuição de doenças dentro desta mesma socie- dad e. Esta noção nos remete à discussão da historiei- dad e das formas produtivas e por conseqüência dos conceitos de saúde e doença. Ao procurarmos ver no social, e especificamen- te no trabalho humano, as "fontes" da geração e dis- tribuição de uma infinidade de patologias, somos obrigados a colocar em discussão os conceitos de "causa" predominantes no meio médico. E neste seno ti do buscar a separação de uma visão de causalidade estritamente centrada nos limites da Biologia. As diferenças ex isfentes na forma de adoecer entre as diferentes classes sociais e a influência das condições de vida da população neste processo pas- sam a ser também estudadas. Por fim, o papel dos serviços de saúde existen- tes e dos movimentos sociais dos sindicatos neste processo deve ser entendido como resultante do pro- cesso de transformação da sociedade brasileira, influ- in do de cisivamen te na sa úde do trabalhador. 2 - Objetivos da Disciplina Os objetivos abaixo relacionados devem ser en- tendidos dentro dos limites marcados pelo nível do curso (graduação), pela instituição na qual ele se rea- liza (Faculdade de Medicina da UFMG) e pela sua atuação na área de Saúde Ocupacional dentro da so- ciedade mineira. Considerando estes limites, os objetivos da dis- ciplina neste momento são: entender o papel das de trabalho no pro- cesso saúde/doença ; conhecer e diagnosticar o quadro atual de saúde dos trabalhadores brasileiros; conhecer e entender as pol(ticas institucionais exis- tentes no País referentes à saúde do trabalhador; desenvolver habilidades que permitam ao aluno en - frentar situações do cotidiano: conhecimentos técnicos (investigação epi· demiológica, diagnósticos, tratamento) re· ferentes a algumas patologias relacionadas ao trabalho, mais freqüentes em nosso meio; conhecimento dos procedimentos legais ca- bíveis em cada caso. Os objetivos do Curso poderiam, portanto, ser resumidos em três grandes eixos: a} conhecimento do papel desempenhado pelo trabalho no processo saúde/doença. Concei- to e marco teórico; b) conhecimento da legislação existente, bem como dos procedimentos legais para investi- gação epidemiológica de patologias ligadas ao trabalho; c) desenvolver capacidade diagnóstica através da anamnese ocupacional e de investigação dos ambientes e condições de trabalho. 3 - Conteúdo Proposto conceitos gerais ambiente de trabalho anamnese ocupacional legislação processo de trabalho política nacional de saúde do trabalhador visita a locais de trabalho -. doenças ocupacionais - acidentes do trabalho 4 - Metodologia Os professores têm liberdade de desenvolver o curso com a metodologia que considerem mais útil em cada caso. Entretanto, há um certo consenso da necessidade de mesclar atividades didáticas teóricas com outras de cunho eminentemente prático. Alguns exemplos são citados a seguir: Visita a locais de trabalho (fábricas). Estas visitas m como objetivo a análise de 35

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Page 1: Braga - CADERNOS SAÚDE COLETIVA - IESC / UFRJ · o "pano de fundo" sobre o qual trabalhamos é a concepção de que a sociedade, dependendo da for ma como ela organiza sua estrutura

CAPITULO VI

. Atividades Desenvolvidas pela Área de Saúde do Trabalhador do Departamento de Medicina

Preventiva da Universidade Federal de Minas Gorais

Elizabeth Costa Dias Lauar Raquel Maria Rigotto Rodolfo Braga Almeida Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro Virgílio Baião Carneiro

Docentes da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

Ensino de Graduação

o curso de graduação da Faculdade de Medicina da UFMG aborda, no 8? período, o conteúdo de Saú­de Ocupacional.

A carga horária desenvolvida é de 32 horas/au la por semestre. O curso dispõe de quatro professores, sendo que cada um deles fica responsável por cerca de 40 alunos. Estes são divididos em duas turmas de 20 alunos. O curso é composto de 15 aulas de duas horas por semana.

Os temas a serem ministrados são comuns, ex is­tindo, no entanto, liberdade para cada professor esco· Iher a melhor forma de abordá-los.

O conteúdo do curso pode ser melhor explici­tado da seguint~ forma :

, - Marco Teórico

o "pano de fundo" sobre o qual trabalhamos é a concepção de que a sociedade, dependendo da for ­ma como ela organiza sua estrutura produtiva, gera um quadro patológico determinado. Desta forma, co­nhecer a sociedade, sua organização social e sua forma de prOduzir ê fundamental para se entender a geração e a distribuição de doenças dentro desta mesma socie­dade. Esta noção nos remete à discussão da historiei­dade das formas produtivas e por conseqüência dos conceitos de saúde e doença.

Ao procurarmos ver no social, e especificamen­te no trabalho humano, as "fontes " da geração e dis­tribuição de uma infinidade de patologias, somos obrigados a colocar em discussão os conceitos de "causa" predominantes no meio médico. E neste seno t ido buscar a separação de uma visão de causalidade estritamente centrada nos limites da Biologia.

As diferenças ex isfentes na forma de adoecer entre as diferentes classes sociais e a influência das condições de vida da população neste processo pas­sam a ser também estudadas.

Por fim, o papel dos serviços de saúde existen ­tes e dos movimentos sociais dos sindicatos neste processo deve ser entendido como resultante do pro­cesso de transformação da sociedade brasileira, influ­indo decisivamente na saúde do trabalhador.

2 - Objetivos da Disciplina

Os objetivos abaixo relacionados devem ser en­tendidos dentro dos limites marcados pelo nível do curso (graduação), pela instituição na qual ele se rea­liza (Faculdade de Medicina da UFMG) e pela sua atuação na área de Saúde Ocupacional dentro da so­ciedade mineira.

Considerando estes limites, os objetivos da dis-ciplina neste momento são:

entender o papel das co~dições de trabalho no pro­cesso saúde/doença ; conhecer e diagnosticar o quadro atual de saúde dos trabalhadores brasileiros ; conhecer e entender as pol(ticas institucionais exis­tentes no País referentes à saúde do trabalhador; desenvolver habilidades que permitam ao aluno en­frentar situações do cotidiano:

conhecimentos técnicos (investigação epi· demiológica, diagnósticos, tratamento) re· ferentes a algumas patologias relacionadas ao trabalho, mais freqüentes em nosso meio; conhecimento dos procedimentos legais ca­bíveis em cada caso.

Os objetivos do Curso poderiam, portanto, ser resumidos em três grandes eixos :

a} conhecimento do papel desempenhado pelo trabalho no processo saúde/doença. Concei­to e marco teórico;

b) conhecimento da legislação existente, bem como dos procedimentos legais para investi­gação epidemiológica de patologias ligadas ao trabalho;

c) desenvolver capacidade diagnóstica através da anamnese ocupacional e de investigação dos ambientes e condições de trabalho.

3 - Conteúdo Proposto

conceitos gerais ambiente de trabalho anamnese ocupacional legislação processo de trabalho política nacional de saúde do trabalhador visita a locais de trabalho

-. doenças ocupacionais - acidentes do trabalho

4 - Metodologia

Os professores têm liberdade de desenvolver o curso com a metodologia que considerem mais útil em cada caso. Entretanto, há um certo consenso da necessidade de mesclar atividades didáticas teóricas com outras de cunho eminentemente prático.

Alguns exemplos são citados a seguir: Visita a locais de trabalho (fábricas). Estas visitas têm como objetivo a análise de

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situações especIficas. Ex.: ruído em indús­trias de bebidas; saturnismo em reformado­res de bebidas. Análise de postos de serviço. Com o objetivo de levantamento das condi­ções de risco de locais de trabalho especí­fico. Atendimento de pacientes no Ambulatório de Saúde Ocupaciona I. Uso de recursos audiovisuais (filmes, vídeos, .lide. etc). Grupos de discussão sobre temas previa­mente escolhidos e orientação bibliográ­fica. Palestras de especialista no setor. Pesquisa sobre temas específicos com apre­sentação de trabalhos escritos.

5 - Considerações Finais

Pode-se dizer que uma grande preocupação da disciplina de Saúde Ocupacional não é propriamente "formar um médico do trabalho", mas desenvolver no clínico e no médico, de uma maneira geral, conheci­mentos ml'nimos da matéria .

Ou seja, superar a dualidade curativo x preven· tivo, prático x teórico, clínico x social. t fundamen­tai que o médico entenda que, ainda que existam espe­cia lidades, não existem duas medicinas: uma clínica e ou tra do trabalho.

Conhecimentos de Saúde Ocupacional devem fa­zer parte da formação de todo bom cHnico moderno.

Ensino de Pó.-Graduação

As atividades de pás-graduação são desenvolvi­das na Residência Médica (Curso de Especialização em Medicina Social/CEMS, na área de concentração e no básico). Em Minas Gerais, ainda não existem cur­sos em nível de mestrado/doutorado específicos em Saúde Coletiva. Um curso de especialização em Saúde dos Trabalhadores está sendo organizado pelo DMPS/ UFMG e FUNDACENTRO/MG e possivelmente será rea lizado no 2? semestre de 1989.

1. Breve histórico

Pode-se dizer que o conteúdo de Saúde do Tra­balhador começou a nascer no DMPS/UFMG, em meados da década de 70, com a formação do primeiro docente na área.

As atividades de pás-graduaÇão do DMPS na área de Saúde dos Trabalhadores foram iniciadas em 1973, com o oferecimento do primeiro curso de es­pecialização em Medicina do Trabalho, em convênio com a FUNDACENTRO, dentro do PNVT. Estes fo· ram reoferecidos em 74, 75 e 76, sendo interrompi­dos naquele ano em decorrência da falta de perspecti­vas inovadoras quer quanto à programação e materia I de apoio didático-pedagógico, quer fundamentalmen· te quanto à fi losofia que norteava tais cursos.

As disciplinas ou conteúdos específicos passam efetivamente a ser incorporados aos cursos do DMPS, através do CEMS, em 1978. A porta da entrada foi exatamente a realização de alguns QJrsos promovidos com professores visitantes (Ana Maria Tambelini em 1980, Cristina Possas em 1981) . Após este impulso inicial, um grupo emergente do DMPS passa a assumir a área, oferecendo cursos regulares de 60h no primei­ro ano do CEMS, e área de concentração em Saúde do Trabalhador no segundo ano, a partir de 1983.

Este breve histórico é marcado por uma série de crises que passam pela definição do objeto de traba­lho, problemas docentes, didáticos, materiais, poll'ti­cos, financeiros , que, de certa forma, refletem a inser­ção geral da Saúde Coletiva no contexto histórico, po"'tico e institucional brasileiro e mineiro.

2. Programa de Saúde do. Trabalhadores n8 Residência

2. i. Disciplina de Saúde dos Trabalhadores - primeiro ano do CEMS

O objetivo básico desta disciplina é o de forne­cer ao sanitarista uma visão geral do quadro da saúde dos trabalhadores no Brasil, abordando seus determi­nantes e suas perspectivas.

Além de um conteúdo teórico básico (evolução do processo de trabalho, impactos do trabalho na saú­de, políticas de saúde do trabalhador, perspectivas) há uma parte prática de visitas a empresas, institu'ições públicas e sindicais, buscando-se uma síntese.

O curso tem uma carga horária de 64 horas, sen­do ministrado pelos docentes da área e profissionais convidados.

2.2. Area de Concentração em Saúde dos Trabalhadores - segundo ano do CEMS

No 29 ano da Residência Médica, o residente opta por uma das quatro áreas de concentração. Co­mo o ingresso nas áreas de concentração é opcional, o número de residentes por semestre é variável.

O trabalho na área de concentração pressupõe a dedicação em tempo integral do residente l40h/se­mana) ao longo de 12 meses.

O objetivo básico da área de concentração é for­mar um profissional com capacidade e habilitação pa­ra compreender e atuar neste campo específico, nas áreas de prestação de serv iças, pesquisa e ensino.

Considera-se o Serviço de Saúde dos Trabalha­dores do Hospital das Clínicas como o pilar ma ior desta formação .

O Cronograma básico de atividades é :

3~ sa ,

MANHÃ SST SST RCL SST VO

TARDE E E RC E PE

"

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Em que: SST

RCL VO

E

RC PE

Serviço de Saúde do. Trabalhadores (cada residente atende dois diasl Reuniões CUnicas Visitas Ocupacionais (levantamento do ambiente de trabalho I Estágios (sindicatos, empresas e ór-gãos públicosl Reuniões científ icas Prática de Ensino (co-partic ipação nos cursos de graduaçãot

Concomitante a este cronograma básico são ofe-rec idos os seguintes cursos complementares:

- Higiene do Trabalho (40hl - Legislação e Segurança do Trabalho (20hl - Tpx icologia (20hl - Ergonomia (20hl

Ao término da área de concentração cada resi­dente deve produzir e apresentar uma monografia .

2.3. Avaliações: O montante de problemas no oferecimento do

ensino na pós-graduação não é pequeno, e podemos listar alguns :

o complexo processo de clareamento do objeto de estudoltrabalho: individual e coletivo, biológico e social ; as crises perenes do CEMS de ordem pol ítica, ideo­lógica, metodológica financeira/operacional ; os encontros e desencontros do próprio Grupo de Saúde do Trabalhador na sua tentativa de consoli­dação e evolução; aspectos docentes: sobrecarga, qualificação/ recicla­gem e o caráter multidisciplinar da área (exigência esta nem sempre de fácil resolução); aspectos operacionais /didáticos : aquisição/ repro­dução de mater ial, transporte, diárias e acesso a lo­cais de trabalho; aspectos discentes: entrada incerta de residentes na área de concentração e pressão de inserção no mer­cado de trabalho ; produção cientrfica pequena : art igos, livros, pes­

quisa e relatórios.

A despeito dos problemas levantados, conside-ramos que alguns passos foram dados :

a consol idação e estruturação da área de Saúde do Trabalhador enquanto área do CEMS e no DMPS, possibilitando o cumprimento de suas funções do­centes, de pesquisa, de extensão e de serviço ; a formação de profissionais qualificados e mais en­gajados na área que continuaram na área, inserin­do-se em instituições públicas, sindicatos, bem como prosseguindo na formação em nível de mes­trado/doutorado no Brasil e no Exterior .

Serviço de Saúdo do Trabalhador

1 - Identificação

Instituição:

Título: Natureza:

Equipe:

Departamento de Medicina Preventi­va e Social Faculdade de Medicina da UFMG Serviço de Saúde do Trabalhador Extensão, articulada ao ensino e à pesquisa Professores do DMPS: Elizabeth Costa Dias Lauar Raquel Maria R igotto Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro Virgílio Baião Carneiro Rodolfo de Braga Almeida Médicos-Residentes em Medicina So­cial (Área de concentração em Saúde do T rabalhadorl

Financiamento: MEC/ Hospital das Clínicas FUNOACENTRO

2 - Justificativa O tardio porém acelerado processa de industria­

lização brasileiro, marcado pelas característ icas de país capitalista per iférico e por profundas e sucessivas alterações dos processos de trabalho, tem repercutido sobre o perfil de morbi-mortalidade da população. Entretanto, tal jmpacto ainda não se encontra sufi­cientemente desvelado, sequer no tocante aos agravos específicos à saúde do trabalhador, como os acidentes de trabalho e as doenças profissioaais.

O velamento deste quadro - que não é ilógico em nossa formação econômico-social - pode obsta­cul izar a compreensão do processo saúde-doença em curso nQ País, com repercussão sobre o desenvolvi­mento das ações necessár ias em torno da questão da saúde dos trabalhadores.

Part indo desta avaliação, o Grupo de Saúde do Trabalhador do DMPS/ UFMG considerou estratégico contr ibuir para o desvelamento do impacto do traba· lho sobre a, saúde dos t rabalhadores, a part ir das cha­madas Doenças Profiss ionais. I mplantou-se desta for­ma, em 1984, o Serviço de Saúde do Trabalhador do Hospital das Clín icas da UFMG, em convênio com a FUNDACENTRO, o INAMPS e o INPS.

3 - Objetivo.

Contribuir para o desvela menta do impacto do trabalho sobre a saúde, através do atendi ~

mento a trabalhadores portadores de patolo­gias relacionadas ao trabalho e da divulgação de informações. Contr ibuir para a formação de recu rsos humanos capacitados a abordar, de forma adequada em seus diferentes n íveis, a ques­tão da saúde do traba lhador. Contribuir para a produção de um saber ci· entífico que dê respostas aos problemas de saúde vividos no Pa 's. Assessorar ent idades públicas e civis na abor· dagem da questão da saúde do trabalhador.

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4 - CaraC18ríotica. o Atividades O ... nvolvida.

1. Caracterlsticas O Serviço de Saúde do Trabalhador está situado

entre os demais serviços especializados do Hospital das Clínicas da UFMG, articulado aos setores de exa­mes complementares, internação, arquivo médico, in­terconsultas e demais serviços disponíveis no Hospital.

Propõe-se a desenvolver ações de saúde de nível terciário, aí compreendiaas a prestação de serviços, o ensino e a pesquisa. Coloca-se, por convênio, como centro de referência da Perícia de Acidentes do Tra­balho do INPS.

2_ Atividades desenvolvidas a) Diagnóstico e tratamento de pacientes por­

tadores ou com suspeita de doenças profis­sionais.

bl Orientação de trabalhadores nas questões de saúde, individualmente e em grupo.

cl Esclarecimento de nexo causal e encaminha­mento dos pacientes à Pedcia de Acidentes do Trabalho no I NPS.

d) Orientação, treinamento e reciclagem de pro4

fissi onais de saúde. el Formação de recursos humanos especiali*

zados. fi Articulação com a Delegacia Regional do

Trabalho em Minas Gerais, para complemen* tação das ações de Vigilância Sanitária e de Vigilância Epidemiológica.

gl Visitas a empresas para conhecimento e ava­liação dos ambientes de trabalho.

hl Comunicação das Doenças Profissionais diag­nosticadas aos Sindicatos de Trabalhadores.

il Pesquisa. j) Reunião clínica e reuniões científicas.

5 - Resultados o Avaliação

Foram atendidos no Serviço, até outubro/SS, l . 160 pacientes procedentes dos outros serviços do Hospital das C/(nicas, sindicatos de trabalhadores, fiscalização do Ministério do Trabalho, Perícia de Aci­dentes do Trabalho, Rede Pública de Serviços de Saú' de, Serviços Médicos de Empresas, além do encami­nhamento feito por colegas dos trabalhadores e da de­manda espontânea.

As patologias diagnosticadas com maior freqüên­cia, cujo perfil encontra-se em ínt ima relação com os projetos de busca ativa de casos implantados pelos ór­gãos públicos e com a ação sindical, são : lesões por es­forços repetitivos, intoxicação por chumbo, benzolis­mo, pneumoconioses, surdez profissional , manganis­mo, hidrargirismo, intoxicação por agrotóxicos, der­matoses ocupacionais, lesões de pele e mucosa pelo ácido crâmico.

~ possivel perceber um movimento ascendente em torno da saúde dos trabalhadores em Minas Ge­rais. ao longo desta década . a exemplo do que vem

ocorrendo em outros estados_ Tal movimento regis­tra 4 se através da multiplicação de projetos e iniciativas partindo dos órgãos públicos ou do movimento sindi­cal, da freqüente divulgação na empresa de questões relativas ao tema, da ampliação do interesse e do de­bate entre os profissionais da Saúde e na sociedade como um todo. O número de doenças profissionais re­gistradas oficialmente no Estado cresceu em 1000% entre 1984 e 1987. Provavelmente; o Serviço de Saú­de do Trabalhador da UFMG contribuiu neste proces­so, seja através do diagnóstico e notificação dos casos, da formação de recursos humanos que hoje se inserem em serviços de saúde ou da divulgação de informações.

Entre as dificuldades situa-se o volume da de­manda de atendimento, já que ainda não há outras alternativas de atenção à doença profissional na Rede Pública de Serviços de Saúde do Estado, levando o Serviço a acumular as ações de cuidado primário, se­cundário e terciário, e apresentando grande demanda não absorvida. Merece destaque, como dificuldade e desafio, a limitação em termos de produção e divul­gação do conhecimento cientifico hoje disponível para dar respostas aos problemas de saúde do traba­lhador brasileiro, numa prática cll'nica transformada por uma nova compreensão do processo saúde-doen­ça. Não podem deixar de ser mencionadasasdificulda­-des relativas à infra-estrutura de apoio, equipamentos, laboratório de análise toxicológica, medicação especi­tica etc., e aos recursos humanos envolvidos: número e diversificação profissional.

6 - Perspectiva.

O Serviço de Saúde do Trabalhador tem sido percebida como um espaço relevante e fértil na com­preensão da determinação do processo saúde·doença, rumo à superação das tradicionais dicotomias, entre o individual e o coletivo, o biológico e o social, o técni­co e pai i tico.

Como tal, faz-se necessário buscar a interação com outras áreas do conhecimento como a CHn ica Médica, a Higiene Industrial , a Sociologia, a Saúde Mental, a Educação, entre outras - . ensejando uma abordagem mais integral do nosso objeto: a saúde-des­gaste-doença e morte da população trabalhadora. Esta perspectiva, obviamente, deverá repercutir na organi­zação das ações de atenção médica e na ampliação das atividades de ensino e pesqu isa.

Constitui-se também como proposta a prepara­ção de publicação do Manual de Rotinas do Serviço de Saúde do Trabalhador e material educativo para a clientela trabalhadora; e o de li neamento de alternat i­vas para uma maior inserção dos alunos de graduação no Serviço.

Encontra·se em discussão a questão do relacio­namento com as entidades sindicais, de forma mais articulada do que a que vem sendo desenvolvida até agora, bem como a implantação de um programa edu­cativo no Serviço, a partir de Grupos Operários Homogêneos.

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Pesquisa

o grupo vem se dedicando acerca de três temas de pesquisa: Serviços de Saúde do Trabalhador, Edu­cação e Saúde do Trabalhador e Doenças Profissionais.

Atualmente, os projetos são 05 seguintes:

1 - Introdução de Programas de Segurança e Saúde dos Trabalhadores

Entidade :

Coordenação: Objetivos:

Núcleo de Extensão e Pesquisa sobre Trabalho Humano/ UFMG_ Prof~ Elizabeth Costa Dias Lauar Trata-se de uma proposta de desen­volver um modelo experimental de um Sistema Hierárquico de Atenção à Saúde do Trabalhador na rede pú­blica de saúde da região metropolita­na de Belo Horizonte. No entanto, pela falta de vontade polrtica das au­toridades dos órgãos públicos de saú­de, o Grupo passou a trabalhar na construção teórica daquele modelo.

2 - Intoxicação por Chumbo de Trabalhadores em Fábricas e Reformadoras de Acumuladores Elé­tricos em 8elo Horizonte: Perfil Epidemiológi­co .. Prevenção, Quadro Cllnico-LaboratoriaJ e Tratamento

lnstituições: Departamento de Medicina Preventi­va e Social e Hospital das Clínicas da UFMG.

Coordenação : P'rof~ Raquel Maria Rigotto. Pesquisadores: Equipe do Ambulatório de Doenças

Profissionais do Hospital das Clínicas da UFMG .

Objetivos· e Métodos : Trata·se de uma proposta para registrar e pro­

duzir conhecimento, baseado na experiência do Am· bulatório de Doenças Profissionais no "Projeto Chum­bo" desenvolvido pela ORT/ MTb.

Objet ivos : conhecer o perfil epidemiológico do Saturnismo naquele setor produtivo: conhecer as condições de trabalho e propor melho­rias; estudar as caracterfsticas ti ínico-Iaboratoriais do Saturnismo, bem como de sua terapêutica ; elaborar uma rotina de atendimento dos pacientes intoxicados, subsidiando a rede pública de serviços de Saúde; realizar treinamento dos profissionais da Saúde dos órgãos públicos afetos à saúde dos trabalhadores; divulgar os resultados das pesquisas.

Recursos e Métodos: revisão bibliográfica; registro histórico do "Projeto Chumbo"; manual de rotinas para o atendimento dos casos; protocolo de pesquisa;

visitas ao local de trabalho;

equipe de profissionais e recursos materiais do Am· bulatório de Doenças Profissionais, do Laboratório Central do Hospital das Clínicas, da ORT e da FUNOACENTRO/MG.

Atualmente encontra-se na fase de preenchi­mento dos protocolos um total de 119 casos de Satur· nismo. Como produto já foi elaborado um artigo so­bre terapêutica, o qual será publicado em breve .

3 - O ProceSso Pedagógico vivenciado pelos Traba­lhadores Cipeiros

Instituição: Faculdade de Educação e Pós-Reito­ria de Extensão da UFMG .

Pesquisador : Orientadora:

Objetivos:

Prof . Rodolfo de Braga Almeida. Prof~ Lucilia Regina de Souza Ma­chado. Este projeto se propõe a compreen­der o processo pedagógico vivenciado pelos trabalhadores que participam

da CIPA, caracterizando seus elemen­tos, relações e dinâmica tendo em vis­ta o processo saúde-doença. Esta pes­quisa encontra-se na fase de elabora­ção do referencial teórico e de pes­quisa bibliográfica .

4 Implantação de um Centro Regional de Inves­tigação Epidemiológica em Doenças Profissio ­nais e Acidentes de Trabalho

Coordenação: Prof . Tarcl'sio Márcio Magalhães Pi­nheiro.

Pesquisadores: 3 docentes do Dept'? Medic. Prev . e Social 2 ex-residentes de Med . Prev . e Social (UFMG)

1 residente de Med . Prev . e Social (UFMG)

3 estagiários (graduandos) Financiamento: Ministério do Trabalho/ FUNDEP In rcio: Oez/87 Conclusão: Oez/88

Resumo

Esta pesquisa foi desenvolvida em conjunto e como parte de um projeto mais amplo (Programa de Saúde do Trabalhador para a Rede Pública). Procurou­-se levantar e estudar os programas/propostas nacio­nais e internacionais de vigilância epidemiológica em Saúde dos Trabalhadores e elaborar um modelo a ser implantado nos Serviços Públicos de Saúde. A região de abrangência do modelo·piloto era constituída por uma série de bairros, que abrigam tradicionalmente a maioria do parque industrial belo·horizontino e seus respectivos trabalhadores. Uma lista preliminar de aci­dentes do trabalho e de doenças profissionais foi tam· bém esboçada, baseando~e na distribuição dos riscos ocupacionais por ramos de atividade e num marco

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teórico, conceitualmente mais amplo do que o consi­derado pela legislação brasileira.

Cumpriu-se a etapa inicial de construção do mo­delo teórico de vigilância epidemiológica em Saúde dos Trabalhadores, não tendo sido posslvel ainda sua implantação experimental.