brabc 2014 03-25-14

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Um levantamento da Asso- ciação Brasileira de Endo- metriose e Ginecologia Mi- nimamente Invasiva (SBE) revela que 53% das brasilei- ras desconhecem a endome- triose. De 10 mil mulheres consultadas, apenas 24% sa- bem quais os principais sin- tomas da doença. A endometriose ocor- re quando o tecido uterino (endométrio) está fora do lu- gar, explica o professor do Departamento de Obstetrí- cia e Ginecologia da Facul- dade de Medicina da USP, Maurício Abrão. Ao invés dos resíduos saírem durante a menstruação, eles se im- plantam em outros órgãos, como ovário, bexiga, intes- tino e, em casos mais raros, até no pulmão. Fora do lugar, o tecido provoca inflamação e pode até comprometer os órgãos da mulher, alerta o especia- lista. Por isso, é importante ficar atenta aos principais sintomas da doença: cóli- ca aguda, dor para urinar e evacuar durante a mens- truação, dor entre mens- truações, dor nas relações sexuais e infertilidade. Caso apresente um dos sintomas, é importante procurar o ginecologista, já que eles podem apare- cer isoladamente ou em conjunto. “Em menos de 10% dos casos, as pacien- tes não apresentam sinto- mas”, explica Abrão. De acordo com ele, o diagnóstico mais definitivo é o cirúrgico, por meio da laparoscopia. Mas, o diag- nóstico clínico (no consul- tório médico), laboratorial e por imagem (ultrassom transvaginal, ressonân- cia, colonoscopia, etc) es- tão sendo aprimorados pa- ra que a endometriose seja detectada por métodos me- nos invasivos. Apesar dos avanços, o mé- dico explica que ainda existe muita demora em diagnosti- car a doença, tanto porque as mulheres tardam a procu- rar um médico, acreditando que é normal sentir dor, co- mo porque os profissionais não consideram a endome- triose ao saber dos sintomas. A autora do blog “A En- dometriose e Eu”, Caro- line Salazar, é exemplo deste atraso. Embora apre- sentasse os sintomas desde a primeira menstruação, aos 13 nos, só foi diagnos- ticada aos 31 anos. Foram anos conviven- do com uma dor intensa que a impossibilitava de sair com os amigos, tra- balhar e namorar. “É uma doença maligna e a falta de conhecimento faz com que as mulheres sejam descri- minadas, vistas como fres- cas por reclamarem muito de dor. O que eu sofri me faz lutar pelas outras, pela conscientização da socieda- de”, enfatiza. METRO Saúde feminina. Embora mais de 6 milhões de brasileiras tenham endometriose, a maioria das mulheres nunca ouviu falar da doença Sentir dor não é normal A dor impede a mulher de viver normalmente STOCK XCHNG 271.125 mm Embora não exista cura para a endometriose, há opcões de tratamento para que o endométrio não volte a incidir em outros órgãos. A escolha varia de acordo com os sintomas apresentados, a idade da paciente e o comprometimento dos órgãos afetados: CIRÚRGICO É realizada uma laparoscopia (pequenas incisões) para retirada dos focos de endometriose CLÍNICO É utilizada medicação para neutralizar o excesso de estrogênio, como contraceptivos hormonais (combinados ou só com progestogênios) CÓLICA MENSTRUAL INTENSA DOR ENTRE OS PERÍODOS MENSTRUAIS DORES PARA URINAR E EVACUAR DURANTE A MENSTRUAÇÃO DISPAREUNIA (DOR DURANTE AS RELAÇÕES SEXUAIS) INFERTILIDADE PRINCIPAIS SINTOMAS TRATAMENTOS 176 mi 6 mi 6 mi é o número de brasileiras portadoras de endometriose 176 mi de mulheres são afetadas pela endometriose em todo mundo TROMPA DE FALÓPIO ÚTERO OVÁRIO VAGINA ENDROMÉTRIO Ocorre quando o endométrio se implanta fora do útero - como no ovário ou no intestino - provocando inflamação, fortes dores e podendo comprometer os órgãos da mulher Tecido que reveste a cavidade uterina O QUE É ENDOMETRIOSE TECIDO COMPROMETIDO Doença da mulher moderna? Embora a endome- triose carregue o estigma de “doen- ça da mulher mo- derna”, a autora do blog “A Endo- metriose e Eu”, Ca- roline Salazar, lu- ta contra essa definição. O rótulo surgiu pelo fato de a mu- lher moderna estar sujeita ao estresse, um dos fatores que pode desencadear a doença, e por mens- truar mais (já que demora para engra- vida ou escolhe não ter filhos), o que proporciona maior quantidade de en- dométrio na cavida- de abdominal. “Dizer isso é co- vardia. É como se afirmasse que a mu- lher quer ter a doen- ça por trabalhar fora de casa e ter menos ou nenhum filho. E isso não é aceitável”, diz Caroline. METRO Rótulo ABC, TERÇA-FEIRA, 25 DE MARÇO DE 2014 www.metrojornal.com.br |14| {SAÚDE

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Um levantamento da Asso-ciação Brasileira de Endo-metriose e Ginecologia Mi-nimamente Invasiva (SBE) revela que 53% das brasilei-ras desconhecem a endome-triose. De 10 mil mulheres consultadas, apenas 24% sa-bem quais os principais sin-tomas da doença.

A endometriose ocor-re quando o tecido uterino (endométrio) está fora do lu-gar, explica o professor do Departamento de Obstetrí-cia e Ginecologia da Facul-dade de Medicina da USP, Maurício Abrão. Ao invés dos resíduos saírem durante a menstruação, eles se im-plantam em outros órgãos, como ovário, bexiga, intes-tino e, em casos mais raros, até no pulmão.

Fora do lugar, o tecido provoca inflamação e pode até comprometer os órgãos da mulher, alerta o especia-lista. Por isso, é importante ficar atenta aos principais sintomas da doença: cóli-ca aguda, dor para urinar e evacuar durante a mens-truação, dor entre mens-truações, dor nas relações sexuais e infertilidade.

Caso apresente um dos sintomas, é importante procurar o ginecologista, já que eles podem apare-cer isoladamente ou em conjunto. “Em menos de 10% dos casos, as pacien-tes não apresentam sinto-mas”, explica Abrão.

De acordo com ele, o diagnóstico mais definitivo é o cirúrgico, por meio da laparoscopia. Mas, o diag-nóstico clínico (no consul-tório médico), laboratorial e por imagem (ultrassom transvaginal, ressonân-cia, colonoscopia, etc) es-tão sendo aprimorados pa-ra que a endometriose seja detectada por métodos me-nos invasivos.

Apesar dos avanços, o mé-dico explica que ainda existe muita demora em diagnosti-car a doença, tanto porque as mulheres tardam a procu-rar um médico, acreditando que é normal sentir dor, co-mo porque os profissionais não consideram a endome-triose ao saber dos sintomas.

A autora do blog “A En-dometriose e Eu”, Caro-line Salazar, é exemplo deste atraso. Embora apre-sentasse os sintomas desde a primeira menstruação, aos 13 nos, só foi diagnos-ticada aos 31 anos.

Foram anos conviven-do com uma dor intensa que a impossibilitava de sair com os amigos, tra-balhar e namorar. “É uma doença maligna e a falta de conhecimento faz com que as mulheres sejam descri-minadas, vistas como fres-cas por reclamarem muito de dor. O que eu sofri me faz lutar pelas outras, pela conscientização da socieda-de”, enfatiza. METRO

Saúde feminina. Embora mais de 6 milhões de brasileiras tenham endometriose, a maioria das mulheres nunca ouviu falar da doença

Sentir dor não é normal

A dor impede a mulherde viver normalmente

STOCK XCHNG

271.125 mm

Embora não exista cura para a endometriose,há opcões de tratamento para que o endométrio não volte a incidir em outros órgãos. A escolha varia de acordo com os sintomas apresentados,a idade da paciente e o comprometimentodos órgãos afetados:

CIRÚRGICOÉ realizada uma laparoscopia (pequenas incisões) para retirada dos focos de endometriose

CLÍNICOÉ utilizada medicação para neutralizar oexcesso de estrogênio, comocontraceptivos hormonais (combinadosou só com progestogênios)

CÓLICA MENSTRUAL INTENSA

DOR ENTRE OS PERÍODOS MENSTRUAIS

DORES PARA URINAR E EVACUAR DURANTE A MENSTRUAÇÃO

DISPAREUNIA(DOR DURANTE AS RELAÇÕES SEXUAIS)

INFERTILIDADE

PRINCIPAIS SINTOMAS

TRATAMENTOS

176 mi

6 mi6 mié o número de

brasileiras portadoras de endometriose

176 mide mulheres são afetadas

pela endometriose em todo mundo

TROMPADE FALÓPIO ÚTERO

OVÁRIO

VAGINAENDROMÉTRIO

Ocorre quando o endométrio se implanta fora do útero - comono ovário ou no intestino - provocando inflamação, fortes dores e podendo comprometer os órgãos da mulher

Tecido que reveste a cavidade uterina

O QUE É ENDOMETRIOSE

TECIDOCOMPROMETIDO

Doença da mulher moderna?Embora a endome-triose carregue o estigma de “doen-ça da mulher mo-derna”, a autora do blog “A Endo-metriose e Eu”, Ca-roline Salazar, lu-ta contra essa definição.

O rótulo surgiu pelo fato de a mu-lher moderna estar sujeita ao estresse, um dos fatores que pode desencadear a doença, e por mens-truar mais (já que demora para engra-vida ou escolhe não ter filhos), o que proporciona maior quantidade de en-dométrio na cavida-de abdominal.

“Dizer isso é co-vardia. É como se afirmasse que a mu-lher quer ter a doen-ça por trabalhar fora de casa e ter menos ou nenhum filho. E isso não é aceitável”, diz Caroline.

METRO

Rótulo

ABC, TERÇA-FEIRA, 25 DE MARÇO DE 2014www.metrojornal.com.br |14| {SAÚDE