boothwaynec-140923095935-phpapp02

183
AARTE DAPESQUISA Wayne C. Booth Gregory G. Colomb Joseph M. Williams TradUl;;iio HENRIQUE A. REGO MONTEIRO Martins Fontes sao Paulo 2008

Upload: cleber-araujo-cabral

Post on 16-Jan-2016

92 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Neste livro os autores apresentam metodologias e roteiros para o desenvolvimento e redação de pesquisas acadêmicas.

TRANSCRIPT

Page 1: boothwaynec-140923095935-phpapp02

AARTE DAPESQUISA

Wayne C. Booth Gregory G. Colomb Joseph M. Williams

TradUl;;iio HENRIQUE A. REGO MONTEIRO

Martins Fontes sao Paulo 2008

Page 2: boothwaynec-140923095935-phpapp02

£f./. ~ foi p"NK.U "'WftlllOW1tl • .". i"gil< """ 0 111 .. 10 T H ( CRAfT OF R£S~RCH I"" U";w,,.ilyo/Chiargo Ptns.

Ut........t",. TJor Un;wrs!ly OfCJoimg<> Pms, C"",,,I"_ l/IitHl<is, £UI\_ O>py.iglr' C 1m ",. TIlt u .. ;....,.'Y of Orag<'. All righls ~rotd.

Cl1f1Jrigh' e 2000. u-n. MlTti.., r ",.I.s Edi' ..... LULt .• Sfo ""wID. ,. ••• I"ft'<"'~ di<,"lt>_

I' ed i~io l(IOO

l ' c<I ;(io 2005 2' ' ;Ulc", 2(.()8

Coo.dena~lo ,10 t •• d,,(~o

WILSON ROB£RTOCAMBETA T •• du~lo

II£NRIQUE A.. R£eo MONTDRO

Rcv;do di t.~du(lo .,« ... iu v". Mo.;" Mo"l1Uf

rrepar.( lo do o rig in.1 CIi"" , KoJrigw ... d. A breu

Rrvisl>.o. p ili"'" An. MIl". dt o/i"n", ~ So,,,,,,,,,

'''''''y PO..., s..".,. r ... d U(io , .Ui ••

w..ld.> AI"", P.&in.~ioIFotolit ...

S,"";" J Dtsr"toOIoi.....",., U,/.m./

D>do<Il nlnnarion.o~ "" Colaloga(io nil f'ub~ (aM (O rnar. B'Milftt-. do U ...... Sr. 8r .... 1)

60011\. WloY"" C A an~ da po5<[uisa I Wayne C, Booth. C<E"gory G. Colomb.

IoHph M. Will iams; .Ddu ...... . knriqt>r A. il.q;:o MOI\I~"" _

2' .... - Sio I'auk> : Manins Fonlft. 2005. _ ( Feru.""",Ia$)

Titulo orig'''''': Thr e r. n of n'SNrch. ISBN 85·336-2157-4

I . Pt-squisa - M"'OOok>£Y 2. il.t<U<;l o Ikn ica I. Colon'b. G.q;:o . y C .. U. William •. Jooc-ph M .. Ill. TItulo. IV. ~r~.

CDO-OO1.42

Indie" p~.a < . ... 1080 .;ste rn . l;en, I . M",OOolog" 001.42

2. M~todo logla da P""!ui.. 001.42 3 PP.!'qul .. " M ... <><IolO8i. 001.42

"fod05 os di~il()5 d~l~ fflil;ifo rrservados d LiV' IJ , ia M Arlin$ Fonl<':$ Cdi t orQ LtdQ.

RII~ eouulhdro RJ>mlllho, 330 OJ325-OOO saQ Pllilio SP "fd. (1 1) 3241 .3677 FlU: Ill ! 3105.6993

Bra$il

t " I101i/: il1/o@lIIIlrlin~fol!lt$tdifo .... . rom.br htlp:/lWWIL'.llIJIrf ;ns[ontestdifOnl.rom .br

indice

PreJacio ............. ............. ..... ............... ..... .. ... .. .......... ....... .

I. Pesquisa , pesquisadorcs e IcHores ........... ... ..... .... .. .

Pro/ago: Iniciando urn projelo de p esquisa .. ... ... .. ... .

I. Pensar par escrito: os usos p ltblico e privado da pesquisa ................................................. ......... ...... ... . 1.1 Por que pcsquisar? ................................. ............. . 1.2 Por que redigir urn relatorio? ................. .. .......... . . 1.3 Por que claborar urn documento formal? .. .. ....... .

2. Relacionando-se com sell leitor: (re)criando a si mes-rno e a sell pll.blico .. .. ............. ..................... ............ .. . 2. 1 Dialogos entre pesqui sadores ........................ .. _ .. . 2.2 Autores, leitores e seus papeis sociais ................ . 2.3 Leitores e seus problemas comuns ................. .. .. . 2.4 Auto res c seus problemas comuns ...................... .

S UGESTOES UTEIS: Lista de verifica~ao para ajud3.-1o a com-preender seus leitores .... ........... ............................... .. ...... .

II. Fazcndo perguntas, encontra ndo respostas ... ..... .. .

Prolago: Planejando seu projeto ... .. .................. ..... .. .

S UGESTOES UTEIS: Trabalhando em grupo ..... .. .... ... ... .. .... .

XI

7 7 9

II

15 15 17 24 29

32

35

35

38

Page 3: boothwaynec-140923095935-phpapp02

3. De topicos a perguntas .................. ........ .................... 45 3.1 Interesses, t6picos, perguntas c problemas.......... 45 3.2 De urn interesse a urn topico .... ....... .................... 46 3.3 De urn tbpico amplo a urn espccifico.................. 48 3.4 Dc urn lopico especifico a perguntas .................. 50 3.5 De uma pergunta it avalia9ao de sua importancia . 54

SUGESTOES OTEls: Dcscobrindo topicos ............... : ........... :,. 59

4. De perguntas a problemas .... .. ... .... ....... .. ....... ... ......... 63 4 .1 Problemas, problemas, problemas .... ... ... ............. 64 4.2 A estrutura comum dos problemas ...................... 68 4.3 Descobrindo um problema dc pcsquisa ............... 77 4.4 0 problema do problema ..... .......... ...................... 8 1

5. De pergllntas a fo ntes de illformaroes ...... ..... .. .. .. ..... 85 5. 1 EnconLrando informa~oes em bibliotccas............ 86 5.2 Colhendo informavoes com pcssoas .. .. .. ...... ...... 9 1 5.3 Trilhas bibliogrMicas. .............. . ............. ............. 94 5.4 0 que voce encontra ............. .. .... .. ....................... 95

6. Usando fo nles de informat;oes ... ......... .. ..................... 97 6. 1 Usando fontcs secundarias .................................. 97 6.2 Leia criticamcntc ................... ... ........................... 99 6.3 Fa~a anota<;:ocs completas .................................... 100 6.4 Pe<;:a aj uda ............... ............................................. 107

SUGESTOI!S LrrEIS: Lcitura f<t pida....................................... 108

HI. Fazendo uma afirma~ao e sustentando-a .............. 113

Pr%go: Argumentos, rascunhos e discussoes.......... 113

7. eriando bons argumentos: uma visGO gem/ ............. 11 7 7.1 Discussoes c argumentos ............ .. .... .... ............... 117 7 .2 Afirmayocs c evidencias. ... ... ..... ... ...................... . I 19 7.3 Fundamentos............. ........ .... ................... .. .... ...... 120 7.4 Ressalvas............ .. .......... ..... .......... ........ ... .......... .. 122

8. Ajirmafoes e evidencias ......... ..... ... ... ........................ 125 8. 1 Fazc ndo afirmavocs de peso ..... .. ................... .. .... 125

8.2 Usanda afirma~Oes plausiveis para orientar sua pesqutsa ......... ..... ................... .................. ... ... .. .... 128

8.3 Apresentando evidencias confiaveis ................... 129 8.4 Usando evidencias para desenvolvcr C organizar

seu relat6rio .. .. ... .............. .................................... 138

SUGESTOES UTEIS: Uma s istematica de contradi~Oes ........ 142

9. Fundamentos........................................................ ...... 147 9 .1 Fundamcnto: a base de nossa convic'Yao e de

nossa argumenta<;:ao.... .......................... ..... .... .... .. 147 9.2 Com que se parece urn fundamento? ...... .. .. .. .. .... 150 9.3 A qualidadc dos fundamentos ...................... ... .... 152

S UGESTOES UTEIS: Contestando fundamentos.. ............... .. . 167

10. Qualificaroes ................. .... .. .......... .. .... ................ ...... 173 10. J Vma revisao ............................ .. ... ... .. .. ... .. .. ...... .. 173 10.2 Qualificando seu argumcnto...................... .... .. .. 176 10.3 Elaborando urn arg umento completo ...... .. ..... ... 186 10.4 0 argumento como guia para a pesquisa e a 1ei-

tur3 .............................................. ......... .... .... ...... 188 10.5 Algumas palavras sobre sentimentos fortes .. .... 189

I S UGESTOES On:.ts: Argumcntos - duas armadilhas comuns.. 19 1

Iv. P.-eparando-se para redigir. redigindo e revisando 195

Pro/ago: Plallejalldo novamente ........................ .. ..... 195

S UGESTOES lrrEIs: Preparando 0 esbovo ................. .. ......... 199

11 . Pre-m SCUllho e rasclmho ................................. ......... . 203 11 . 1 Preliminares para 0 rascunho ......... ... ...... .. ... .. ... 203 1 1.2 Planejando sua organizavao: quatro armadilhas 206 11.3 Urn plano para 0 rascunho............................ .. ... 209 11.4 Criando urn rascunho passivel de revisao ... .. .... 2 16 11.5 Uma armadilha a cv itar a lodo cusLo .. .. ... .. ... ..... 2 18 11 .6 As u1timas elapas ..................................... .... ...... 222

S UGESTDES UTEIS: Usando cil a~oes c parMrases .. ..... ... .. .. . 225

Page 4: boothwaynec-140923095935-phpapp02

12. Apreselltac:iio visual das evidencias .......................... 229 12. 1 Visual ou verbal? ......................... ...................... 229 12.2 Alguns principios gerais de elaborac;:ao............. 232 12.3 Tabelas ............................................................... 234 12.4Diagramas .......................................................... 237 12.5 Graficos ............................................................. 244 12.6 Contro lando 0 impacto retorico de urn recurso

visual ........................ .... ........ ....... .. ... ... ............. : . 246 12.7 Comunicac;:ao visual e etica ............................ : .. 249 12.8 Ligando palavras a imagens ........ ...................... 251 12.9 Visualizac;:ao cientifica....................... ................ 252 12. 10Ilustrac;:oes ........................................................ 252 12.11 Tomando vis ivel a J6gica de sua organizac;:ao. 253 12.12 Usando recursos visuais como urn aux ilio a

reflexao .......................... ............. ..... ................ 255

SUGESrOES lIrEIS: Pequeno gu ia para reeorrer a urn orien-lador .. ................................................................................ 257

13. Revisando sua organizac:iio e argumenla{:iio ............ 259 13 .1 Pensando como leitor .............. ... ... ..................... 259 13.2 Analisando e revisando sua organizac;:ao ...... ..... 260 13.3 Revisando seu argurnento ..... ........ .. ...... ...... ....... 268 13.40ultimopasso ................................. ............ ...... 271

S UGESr OES (rTElS: Titulos e sumarios .............. ............... .. 272

14. Revisando 0 estilo: contando sua historia com cla-reza ................... ..... ..................................................... 277 14.1 Avaliando 0 esti lo ............................................ .. 277 14.2 Primeiro principio: hist6rias e gramatica .......... 279 14.3 Segundo principio: 0 antigo antes do novo ..... .. 289 14.4 Escolhendo entre as vozes ativa e passiva ......... 291 14.5 Urn ultimo principio: 0 mais complexo por

uitilno ..................................... ............. ............... 293 14.6 Polimento final ........... .......... ............ .... ............. 296

SUGESrOES tJrEIS: Uma rapida revisao .:. ........................... 297

15 Introdu90es .... ......... ................................................... 299

15.1 Os tres elementos de uma introduc;:ao .... ........ .... 299 15.2 Dec1are 0 problema.... ...... .................................. 302 15.3 Criando uma base comum de compreensao com-

partilhada ....................... ..... ........................... .. .. 308 15 .4 Desestabilize a base comum, enunciando seu

problema .... .................... ..... ............... ................ 309 15.5 Apresente sua soluc;:ao ............. .... ...................... 3 13 15.6 Rapido ou devagar? .......................... ....... .......... 3 16 15.7 A introduc;:ao como urn todo .............................. 3 17

S UQESTOES lITEIS: As primeiras e as ultimas palavras ...... 319

V. Considera~oes finais ................... ............................. 325

Pesquisa e etiea ...................... .. ....................... 325

Pos-eserito aos professores .... ..... ................... . 329

Ensaio bibliografico ............ ............................... ..... .. 337

indke rem;ss;vo ............................. ................................... 345

Page 5: boothwaynec-140923095935-phpapp02

'.

Pre/acio

ESCREVEMOS ESTE UVRO pensando nos pesqui sadores es­tudantcs. desde os novatos mais inexpcrientes ate os profissio­nai s. cursando p6s-graduayao. Com elc e5peramos: • atrair a atenr;ao dos pesquisadores iniciantes para a natureza,

os usos C os objetivos da pesquisa e de seus relat6rios; • orientar as pcsquisadores iniciantes e intermediarios quanta

as complexidades do planejamento, da organiza<;ao e da elabo­ra<;ao do esb090 de urn relat6ri o que proponha urn problema significativo e oferer;a uma 501u<;30 convincente;

• mostrar a (odos os pesquisadores. do iniciante ao avan<;ado, como ler sellS relat6rios da maneira como os leitores 0 fariam, idcntificando passagens em que cles provavelmente encon­trariam dificuldade e alterando-as rapida e e fi caz.m~nte.

Embora outros manuais sobre pesquisa abordem algumas dessas questocs, este se diferencia de diversas maneiras.

Muitos manuais em circula<;30 reconhecem que os pesqui­sadores nao seguem a sequencia que vai de encontrar urn t6pico ao estabelccimento de uma (ese, de precncher fichas de anota­yoes it elaborar;ao de urn rascunho e it revis30. Como sabe qual­quer urn que ja tcnha passado por essa expcricncia, a pesquisa na realidade anda para a frente e para tras, avanr;ando urn passo ou da is e recuando, ao mcsmo (cmpo antecipando etapas ainda nao iniciadas e, entao, prosseguindo uma vez mais. Mas, ate onde sabemos, nenhum manual tentou mostrar como eada par­te do processo influencia todas as outras - como 0 ato de fazer perguntas sebre um {6pico pode preparar 0 pcsquisador para

Page 6: boothwaynec-140923095935-phpapp02

XII A ARTE DA P£SQUISA

redigir 0 rascunho, como 0 processo de rcdigir 0 rascunho pode revelar problemas com urn argumento, como os elementos de uma boa inrrodu<;ao podem mandar 0 pesquisador de volta a biblioteca para pesquisar mais.

Este livro explica por que os pesqui sadores deven; traba­Ihar simultaneamente nos diversos estagios de seu projeto, como essa sobreposic,;ao pode ajuda-Ios a compreender melhor o problema e a administrar a compJcxidade que esse processo acarreta. Isso significa, e claro, que voce ten! de ler este livro duas vezes, porque mostraremos nao apenas como os esuigios an­teriores antecipam os posteriores, mas tambcm como os poste­nores motivam os anteriorcs.

Em virtude da complexidade que uma pcsquisa cnvolvc, fomos explicitos a respeito do maior numeco possivel de eta­pas, incluindo algumas geralmente tTatadas como partes de urn misterioso processo criativo."Entre os assuntos que "destrincha­mos" estao os seguintes: • como converter 0 interesse por urn assunto em urn topico,

esse topico em algumas boas perguntas e as respostas a essas perguntas na solu~ao de urn problema;

• como criar urn argumcnto que sati sfac,:a 0 desejo dos leitores de saber por que deveriam aceitar sua afirmaC;ao;

• como prever as objec;5es de leitores sensalos, mas ceticos, e co­mo qualificar adequadamente as argumentos;

• como criar urna introduc;ao que "venda" a importancia do problema de sua pesqui sa aos leitores;

• como redigir conc1usoes que fac,:am a leitor comprcender nao apenas a afimlac,:aO principal , mas tambcm sua mais arnpla . _. I lmportancla;

• como ler seu proprio texto da maneira como os outros a fa­riam, e assim saber melhor que pontos alterar c como.

Sabemos que alguns pesquisadores iniciantes seguiriio nos­sas sugestoes de urn modo que poderia ser considerado mcdi­nico. Nao estamos muito preocupados com isso, porque acre­ditamos que e melhor alcanc,:ar urn objetivo mecanicamente do que nao alcanc,:ar objetivo nenhum. Acrcditamos tambem que os professores podem confiar nos alunos, sabendo que eles supe-

PREFAClO XIII

rarao as inevitAveis dificuldades iniciais. Todos nos tendemos a agir mecanicamente quando experimentamos uma tecnica pel a primeira vez, mas finalmente conseguimos ocultar seus auto­mati smos por tras de seu sentido verdadeiro.

QutTO aspecto di stinto deste livro e que encorajamos in­sistentemente os pesquisadores a pensarem em seus leitores e mostramos c1aramente como faze-Io, explicando como os lei­tares Icern. 0 objetivo de um relatorio de pesquisa e estabele­cer urn dialogo com pessoas que possam nao estar di spostas a mudar de opiniao mas que, por boas razoes, acabam mudando . E e em seu relat6rio que voce mantem esse dialogo. A medida que 0 leem, os leitores esperam encontrar detenninados indi­cios de organizacao; preferem certos padroes de esti lo; tacita­mente fazcm pcrguntas, levantam objecoes, querem ver os as­suntos apresentados de modo mais explicito do que voce pode achar necessario. Acreditamos que, se voce entender como os leitorcs leeru e souber como satisfazer suas expectativas da me­lhor maneira possivel, tera uma otima oportunidade de ajuda-los a ver as coisas do seu jeito .

Concentramo-nos no processo de fazer tudo isso, mos­trando como as caracteristicas forma is do "produto" - 0 rela­torio - podern ajuda- Io no proccsso de planejamento e criac;ao. Conformc voce vera, os elementos de urn relat6rio, sua estru­tura, seu estilo e suas convenc;oes fonnais nao sao f6nnulas va­zias que os redatores imitam so porque milhares de outros antes deles as usararn. Tais formatos e mode los sao 0 meio pelo qual os pesquisadores, ioiciantes ou cxperientes, testam seu traba­lho, avaliam sua compreensao do assunto c ate mesmo eocon­tram novas direc;oes a seguir. Em outras palavras, acreditamos que as cxigencias formais do produto nao s6 orientam 0 pes­quisador ao longo do processo de criac,:ao, como tambem con­tribuem para desenvolvcr sua criatividade.

Tentamos ainda indicar 0 que os pesquisadores em d i feren ~

tes esmgios de sua vida profissional devetiam saber e ser capazes de fazer. Se voce esta diante de sell primeiro projcto de pes­quisa, deve ter uma ideia do que os pesquisadores experientes fariam, mas nao se preocupe se nao conseguir fazer tudo . Deve

Page 7: boothwaynec-140923095935-phpapp02

XIV It ANTE DA PESQUISA

saber, no entanla, 0 que provavelmente sellS professores espe­ram de voce, a inda mais se estiver se preparando para ser urn pesquisador serio. Portanto, vez por outra avisamos que vamos apresentar urn assunto particulannente importante para pes­quisadorcs experientes. Os que estiverem apenas se iniciando podem sentir-se tcoladas a pu lar essas partes. Espera'mos que nao 0 fa~am .

Este livro originou-se da convic~ao que tcmos de que as lecnicas de fazer e relatar pesquisas na~ 56 podem ser aprendi­das como tambem cnsinadas. Sempre que pudemos explicar cJaramenre as etapas do processo, explicamos. Quando nao, ten­tamos dclinear sellS contornos gerdis. Alguns aspectos da pes­quisa podem ser aprendidos apenas no contexto de uma CMnu­nidade de pesquisadores comprometidos com tapicos e manei­ras de pensar particulares, interessados em compartilhar com autTOS 0 fru to de seu trabalho. Mas, quando urn contexte des­ses nao esta di sponive l, os cstudantes ainda podem aprender importantes tecnicas de pesquisa atraves de instrw;ao direta e leva-las as comunidades de que pretendam participar. Analisa­mos algumas maneiras especi ficas de fazer isso em nosso "P6s­escrito aos professorcs".

Este Iivro Ianthem teve origem em nossa experiencia, que nos ensinou que pesquisa nao e 0 tipe de coisa que se aprcnda de urna vez pOT todas. Nos tres ja deparamos com projetos de pesquisa que nos forc;aram a rcfTcscar a memoria quanto a maneira de pcsquisar, mcsmo depo is de deeadas de experien­cia. Nos momentos em que tivemos de nos adaptar a uma nova comunidade de pesquisa, ou a mudanc;as na nossa propria, usa­mes os principios apresentados aqui para conseguinnos nos con­centrar naquilo que era mais importante para os leitores. Assi m, escrevemos urn livro que voce podera cansultar sempre que as circunstancias exigi rem, 0 qual , esperamos, sera util muitas ve­zeSt acompanha ndo seu cresc imento como pesqui sador.

Queremos agradeeer as pessoas que nos ajudaram a rca­lizar este proj eto. Entre elas incluem-se seus primeiros leitores: Steve Biegel, Jane Andrew e Donald Freeman. 0 capitulo sobre

PREFACJO xv

a apresentac;;ao visual de dados foi melhorado significativa­mente ap6s as comentarios de Joe Hannon e Mark Monmonier. Estamos em debito tambem com os integrantes do departa­mento editorial da Universidade de Chicago que, desde que concordamos em assumir este projeto, quase urna decada atms, nao nos largaram enquanto nao 0 tenninarnos.

Da parte de WCB: Alem das centenas de pessoas que me ensinaram aquilo que foi minha eontribuic;ao para este livro, gostaria de agradeeer a minha esposa, Phy lli s, minhas duas fi­lhas, Katherine e Alison, meus tres netas, Emily, Robin e Aaron, pois, juntos, esses seis me mantiveram otimista quanta ao futu­ro da investigac;ao responsavel.

Da parte de GGC: Ao longo de momentos tumultuados e ca lmos, ao longo de pcriodos eriativos e improdutivos, sempre live minha easa e minha familia - Sandra, Robin, Karen e Lau­ren - como ponto de re ferencia e de apoio.

Da parte de JMW: Joan, Megan, 01, Chris, Davc c Joe me apoiaram, tanto quando estavamos juntos, como separados. Jun­tos e melhor.

I

Page 8: boothwaynec-140923095935-phpapp02

PARTE I

Pesquisa, pesquisadores e leitores Prologo: Iniciando urn projeto de pesquisa

SE VOCI:: ESTA COMECANDO seu primeiro projeto de pesqui­sa, talvez sinta-se urn tanto intimidado pela aparente dificul­dade da tarefa. Como procurar urn assunto? Onde encontrar informa'Yoes relevantes, como organiza-Jas depois? Mesmo que ja tenha escrito urn relat6rio de pesquisa num curso de reda­'Y30, a ideia de escrever outro pode Ihe parecer ainda mais per­turbadora, caso agora, pela prime ira vez, voce precise apresen­tar um trabalho de verdade. Ate mesmo pesquisadores expe­rientes sentem-se urn pouco ansiosos ao iniciarem urn projeto, espeeialmente sc for diferente dos outros que ja executaram. Assim, seja qual for sua preocupa'Yao no momenta, todos as pesquisadores ja a tiveram - e muitos ainda a tern. A diferem;:a e que pesquisadores experientes sabem 0 que eneontrarao pela frente: trabalho arduo, mas tambem 0 prazer da investiga'Yao, alguma frustrac;ao, mas eompensada por uma satisfac;ao ainda maior, momentos de indeeisao, mas a confianc;a de que, no fi­nal, tudo ira se eneaixar.

Fazendo pianos

Pcsquisadores experientes tam bern sabem que, como qual­quer outro projeto eomplexo, a pesquisa sera mais faeilmente organizada caso se disponha de urn plano, por mais toseo que seja. Antes de come'Yar 0 trabalha, pade ser que eles nao fa'Yam ideia exatamente do que esta.o procurando, mas sabem, de rna-

Page 9: boothwaynec-140923095935-phpapp02

2 A AR77! DA PESQUlSA

neira geral, de que lipo de material VaG precisar, como cncoo­tra-Io e como utiliza-Jo. E. urna vez rcunido esse material , pes­quisadorcs competentes nao come~am simplesmente a escrevcr, assim como construtores competentes nao vaa logo serrando a madeira . Eles planejam 0 tipo e aforrna do produlo fJ,uepre­tendem obler. urn produ/o que exprima sua intenfiio de a/can{1ar urn determinado resultado e cujas partes todas sejam planeja­das contribuindo para a obtenf OO desse resultado. Isso, parem, nao quer dizer que bons pesquisadores prendam-se totalmente ao plano que trar:;aram. Estao sempre prontos a modi ficar os pianos, se encontram urn problema au set de repente, compreen­dem melhor 0 projeto, a u descobrem, de alguma maneira, urn objet ivo rna is interessante que os conduza por urn novo cami­nho. Mas todos sempre come~am com urn prop6sito e algum tipo de planejamento.

Na verdade, quase todo projeto de redat;aO comet;a com urn plano que visa produzir urn documento de formato especifico, geralmente moldado pcla expericncia de gerat;Oes de escritores, que adotam certos formatos nao so para agradar os editores ou supervisores, mas para se pouparem do trabalho de inventar urn novo formato para cada projeto e, tao importante quanta isso, para ajudar os leitores a identificarern seus objetivos. Urn reporter sabe que tern de adotar 0 formato de piramide inver­tida numa reportagem, cornet;ando 0 texto com a informat;ao de maior interesse, nao em seu beneficio, mas para que ,,6s, ie itores, possamos dcsde logo identificar a essencia da nolicia e decidir se continuaremos a ler ou nao. 0 formato de urn rela­t6rio de auditoria orienta 0 contador quanto as informa.y5es , que devera incluir, mas tambem ajuda os acioniSfas a encon­trar os dados necessarios para a avaliat;ao da empresa como investimento. Uma enfenneira sabe 0 que escrever no prontua­rio do paciente, de modo que as outros enfermeims possam uti­Ji za-Io, e urn policial rcdige 0 boletim de ocorrencia num for­mato padronizado, pensando naqueles que mais tarde irao inves­ligar 0 crime. Do mesmo modo, os leitores tiram maior preveito da leitura de urn relat6rio quando 0 pesquisador relata as resul­tados de sua pesquisa num formato que Ihes seja familiar.

PESQUISA , PESQUISADOHES E LEITORES 3

E claro que, mesmo limitado por csses formatos, quem re­dige tern a liberdade de adotar diferentes pontos de vista, en fa­tizar urna variedade de ideias e irnprirnir uma feit;ao persona­lizada ao seu trabalho. No entanto, seguindo urn planejamento padronizado, estara beneficiando tanto a ele mesmo quanto aos leitores, tomando mais facil 0 trabalho de redigir e de ler.

o objetivo deste livro e ajudar voce a cri ar c seguir esse planejamento.

A import'ancia da pCSQUiS3

Antes de mais nada, responda a uma pcrgunta: al6m de uma nOla de avaliayao, 0 que a pesqui sa representa para voce? Uma rcsposta, que muitos poderao considerar idealista, e que a pesquisa o ferece 0 prazer de resolver urn enigma, a sat is fa­~ao de descobrir algo novo, algo que ninguem mais conhece, contribuindo, no fina l, para 0 enriquccirnento do conhecimen­to hurnano. Para 0 pesquisador inicianle, no entanto, ex istcm outros beneficios, mais pniticos e imediatos. Em primeiro lugar, a pesqui sa 0 ajudara a comprcender 0 assunto estu<;iado d~ . ..u.m modo muito melhor do que qualquer Dutro tipo de trabalho. A lo~go prazo, as tecnicas de pesqui sa e reda~ao, urna vcz-as~i­mlladas, capacitarao 0 pesqui sador a tmbalhar por conta pro­pria mais tarde, pais, afinal, coletar informat;oes, organiza-Ias de modo coercnte e apresenta-Ias de maneira confiavel e con­vincente sao habilidades indispensave is, numa epoca apropria­damente chamada de " Era da ln format;ao". Em qualquer cam­po do conhecimento, voce vai precisar das tecnicas que so a pesqui sa e capaz de ajuda-Io a dominar, seja seu objetivo 0

projelo , ou a linha de produt;ao. As tecnicas de pesqui sa e rcdat;ao sao igualmente impor.

tantes para quem usa pesquisas de outras pcssoas, e hoje em dia isso inclui todos n6s. Somos inundados por informat;oes, cuja maior parte destina·se a servir aos interesses comerciais au politicos de alguem. Mais do que nUllca, a soc iedade precisa de pessoas com espirilo criti co, capazes de cxaminar uma pes-

Page 10: boothwaynec-140923095935-phpapp02

4 A A R71i DA PESQUISA

quisa, fazer suas pr6prias indaga~Ocs e encontrar as respostas. S6 depois de passar pela proccsso incerto e geralmente confuso de conduzir sua pr6pria pesquisa, voce sabcra avali ar de modo inteligente as pesquisas dos Qutros. Redigindo seu pr6prio fe­lat6rio, entendera 0 tipo de trabalho que h3 por tras 'das afir­ma90es dos especialistas e do que e encontrado em livros dida­ticos. Descobrini, em primeira mao, como 0 conhecimento se desenvolve a partir de respostas a indagayOes de uma pesqui­sa, como esse novo conhecimento dcpende das perguntas que voce faz ou deixa de fazeT, como essas perguntas dependem nao apenas de sellS interesses e mctas, mas tambem dos inte­rcsses e metas dos leitorcs, e como as fannatos padronizados de apresentayao da pesquisa modelam 0 tipo de perguntas que voce faz, podendo ate detcrminar as que pode fazer.

Mas sejamos francos: a rcdal;ao de urn relatorio de pesqu i­sa exige muito. Sao mu itas as tarefas envolvidas, tocias pedindo sua atenvao, geralmente ao mesmo tempo. Por mais cuidadoso que voce seja no planejamento, a pesquisa seguira urn cami­nbo tortuoso, dando guinadas imprcvisiveis. podendo dar voltas sobre si mesma. As etapas se sobrcp5em: todos nos fazemos urn esboyo antes de terminar a pesquisa, continuamos a pesquisar depois·de corneyar 0 rascunho. Alguns trabalham mais no final rur projeto, so reconhecendo 0 problema que tentaram resolver depois de encontrar a soluyao. Outros partern atrasados para a etapa do rascunho, fazendo a maior parte do trabalho de tenta­liva e erro, nao no papel , mas de cabe~a. Cada redator tern urn estilo diferente, e, considerando que os projetos di.ferem uns dos outros, urn iinico planejamento nao pode resolver lodos os problemas.

Por mais complexo que seja 0 proccsso, no entanto, irernos trata-Io passo a passo, de modo que voce possa avanyar com seguranya, mesmo quando deparar com as incvitaveis dificul­dades e confusOes que todo pcsquisador enfTenta, mas que acaba aprendendo a supera r. Quando conseguir administrar as partes, voce conseguira administrar 0 todo, e estara pronto para.ioieiar novas pesquisas com maior confianya.

PESQUISA, PESQUlS.4DORF.5 E L£J10RES 5

Como usar este livro

A melhor maneira de voce I idar com essa complexidade (e com a ansiedade que podera causar) e ler este livro uma vcz, rapidamcnte, para saber 0 que ira encontrar. Entao, dependen­do de seu grau de experiencia, defina quais partes de seu tra­balho parecem faeeis ou dificeis para voce. Quando comeyar a trabalhar, leia com mais atenyaO os capitulos pertinentes it larcfa que tcrn em maos. Se voce e urn pesquisador inexperien­te, comece pelo come~o. Se esta nwn curso avanyado, mas ainda nao se sen Ie muito a vontade em seu campo de estudo, salle a Parte I, leia a II , mas concentre-se na 1lI c oa IV. Se e urn pes­quisador expcriente, talvez ache mais iiteis 0 Capilulo 4 da Parte II, os Capilulos 9 e 10 da Parle 1I1 e a Parte IV inteira.

Na Parle I, apresenlamos algumas questoes sempre levan­tadas por aqueles que fazem sua primeira pesqui sa: por que os leitores esperam que se redija de detenn inada maneira (Capi­tulo I) e por que se deve conccbcr 0 projelo nao como urn !ra­ba lho isolado, mas como urn diaJogo com os pesquisadores cujos ~rabalhos voce ira consultar c lambern com aqueles que idio ler seu trabalho (Capitulo 2).

Na Parte lI, analisarnos 0 proccsso de elabora~ao de seu projcto: como encontrar urn assunto, s intetiza-lo, questiona-lo e justific<i-Io (Capitulo 3), como transfo rm ar essas questoes em urn problema de pesquisa (Capitulo 4), como encontrar c utilizar fontes bibliograficas que orientem a busca de respos­tas (Capitulo 5) e como refletir sobre 0 que fo i encontrado (Capitulo 6).

Na Parte III , discutirnos a natureza de um born argumcn­to de pesquisa. Comeyamos com lima visao geral do que vern a ser urn argumento de pesquisa (Cap itulo 7), entao explieamos quc afirmayocs sao consideradas significativas e que cviden­cias em sell favor sao confiavcis (Capitu lo 8). Analisamos urn elemento abstrato mas decisivo do argumento de pesquisa, cha­mado de "fundamento" (Capitulo 9), e concluimos com uma descri~ao do modo como todo redator deve apresentar objc­yoes, estipular condi~oes limitadoras e ex primir condi c;;oes de ineertcza (Capitulo 10).

Page 11: boothwaynec-140923095935-phpapp02

6 A ARTE DA PESQUISA

Na Parte rv, comentamos as etapas do processo de reda­<;30 do relatorio final , comc9ando pelo esbo<;o (Capitulo II). Em seguida, abordamos urn assunto que geralmente nao apa­rece em livros deste tipo: como transmitir visualmente infor­ma<;oes complexas, mesmo aquelas que nao sejam q\lantitati­vas (Capitulo 12). Os dois capitulos subseqiientes sa9' dediea­dos a verifica<;ao e correc;ao da organizaC;ao do relatorio (Ca­pitulo 13) e seu esti lo (Capitulo 14). A seguir, explicamos como redigir uma introdw;ao que convent;a a s leitores de que 0 con­teudo do relat6rio compensani. 0 tempo que eles gaslarao na leitura (Capitulo 15). Por fim, nos estendemos por mais algumas paginas, numa reflcxao sobre algo alcm das tecnicas de exe­cU(;ao de uma pesquisa : a questao da etica da pesquisa, em uma sociedade que cada vez mais depende de seus resultados.

Nos intervalos entre os capitulos, voce cncontrara "Suges­toes uteis", breves insert;oes que complementam os capitulos. Algumas dessas sugest5es sao para a aplicat;ao do que voce aprendeu nos cap itulos, outras sao considerac;5es suplementares para alunos adiantados, e muitas tratam de questoes nao apre­sentadas nos capitulos, mas todas acrescentam algo novo.

A pesquisa c urn lrabalho arduo, mas, assim como todo tra­balho desafiador bern feito , tanto 0 processo quanto os resul­tados trazem enonnc satisfac;ao pessoal. Alem disso, as pesqui­sas e seus resultados sao tambem atos sociais, que cxigem uma reflexao constante sobre a relac;ao de seu trabalho com os lei to­res e sobre sua rcsponsabi lidade , nao apenas pcrantc 0 tcma e voce mesmo, mas tambem perante eles, espccialmente se acrc­dita que 0 que tern a dizer e algo bastantc importante para levar os leitores a mudar de vida, modificando 0 modo de pensar.

Caprtulo I

Pensar por escrito: OS usos publico e privado da pesquisa

Ao ENTRAR NA SALA de leitura de uma biblioteca, voce ve a sua volta seculos dc pesquisa, 0 trabalbo de dezenas de milha­res de pesquisadores que pensaram longamente sobre inconta­veis questoes e problemas, colheram informac;oes, deram res­pastas e soluc;oes e, entao, compartilharam tudo isso com os outros. Professores de lodos os niveis educacionais dedicam a vida a ~esquisa, governos gastam bilhoes nessa area, as empre­sas ate m ais. A pesquisa avam,a em laboratorios, em bibliote­cas, nas selvas, no espac;o, nos oceanos e em cavemas abaixo deles. A pesqui sa e sua divulgaC;ao constituem urna industria enonne no mundo atua!' Maior ainda e a divulgaC;ao de sellS relatorios. Quem nao for capaz de fazer uma pesquisa confia­vel, nem relatorios confiaveis sobre a pesquisa de outros, aca­bani por se achar a margem de urn mundo que cada vez mais vive de informa93.0.

1.1 POI- que pesquisar?

Voce ja sabe 0 que e pesqui sa, porque e 0 que faz todos os dias. Pesquisar c simplesmente reunir inJorma(:oes necessa-. rias para encontrar resposta para lima pergun/a e assim che­gar a solu(:iio de urn problema.

PROBLEMA; Depois de urn dia de cornpras, voce percebe que sua carteira surniu.

Page 12: boothwaynec-140923095935-phpapp02

8 A ARTl:: DA PESQlRSA

PESQUlSA: Voce sc lembra dos lugares onde esteve e come~a a te­lefonar aos departamentos de achados e perdidos.

PROBLEMA: Voce prccisa dc urna nova junta de cabe~ote para urn Mustang modelo 1965.

PESQUISA: Voce liga para as lojas de autopc~as para descQ.brir qual delas tcrn a pe~a em estoque.

PROBLEMA: Voce precisa saber onde Betty Friedan nasceu. PESQUISA: Voce vai it biblioteca para procurar a informa~ao no

Quem E Quem.

PROBLEMA: Voce ouve faJar de uma nova especie de peixe e quer saber mais a respeilo.

PESQUISA: Voce pesquisa nos arquivos dos jornais, a procura de uma rcportagcm sobre 0 assunto.

Entretanto, embora quase lodos nos fa~amos esse tipo de pesquisa diariamente, pOlleos precisam redigir urn relatorio a respeito, porque nossa pesqui sa normalmente e feita apenas para nossa proprio uso. Mesmo assim, temos de confiar nas pesquisas de outros que registraram por escrito seus resulta­dos, prevendo que urn dia poderiamos precisar dcssas infonna­~oes para resolver urn problema: a companhia tclcffinica pes­quisou para campor a !ista teJeffinica; os fomecedores de auto­pe~as pesquisaram para manta! seus cat<ilogos; 0 autor do artigo do Quem t Quem pesquisou sabre Betty Friedan; os jornalis­tas pesquisaram sabre 0 peixe.

De fato, as pesquisas feitas por outros detenninam a maior parte daquilo em que lodos n6s acreditamos. Dos tres autores deste livro, apenas Williams ja esteve oa Australia, mas Booth e Colomb acreditam na existencia da Australi a: sabem que ela esta la, porque durante toda a vida leram sobre 0 assunto em relat6rios em que confiaram, viram 0 pais em mapas fidedignos e ouviram Williams falar pessoalmente a respeito. Ninguemja­mais esteve em Venus, mas boas fontes nos indicam que e urn planeta quente , seco e p1ontanhoso. Sempre que procuramos algo em urn dicionario ,?U uma enciclopedia, estamos pesqui­sando atraves de pesquisas dc outros, mas s6 podemos confiar no que encontramos se aqueles que fizcram a pcsquisa a con­duziram com cu idado e apresentaram urn relat6rio preciso.

PESQUlSA, PESQUlSADORES E LEJTORES 9

De fato , sem pesquisas confiaveis pub/icadas, seriamos prisioneiros apenas do que vemos e ouvimos, confinados as opi­niOeS do momento. Sem duvida, a maioria de nossas apini5es cotidianas e bern fundamentada (afinal de contas, tiramos mui­tas deJas de nossas proprias pesquisas e experiencias). Mas ideias erroneas, ate mesmo estranhas e perigosas, florescem, porque muitas pcssoas accitam 0 que ouvem, au aqui lo em que dese­jam acred itar, sem provas validas e, quando agem de acordo com essas opinioes, podem levar a si mesmas, e tambem a nos, ao desastre. S6 quando sabemos que podcmos confiar na pes­quisa de outros somos capazes de nos Iibertar daqueles que, controlando nossas cren~as, controlariam nossa vida.

Se, como e pravavcl, voce estA lendo eSle livro porque urn professor pediu-lhe que desenvolva seu pr6prio projeto, pode ser que pense em desenvolve-lo s6 para se exercitar. Nao e urn mau motivo. Mas seu projeto tambem lhe dara a oportunidade de participar das mais antigas e respeitadas di scussoes da hu­manidade, conduzidas por Arist6teles, Marie Curie, Booker T. Washipgton, Albert Einstein, Margaret Mead, 0 grande estudio­so islamico Averruis, a fil6sofo indiana Radhakrishnan, Santo Agostinho, os estudiosos do Talmude, rodos aqueles, enfim, que, contribuindo para 0 conhecimento humano, livraram-nos da ignon'incia e do erro. E les e inumeros outros estiveram urn dia no ponto em que voce esta agora. Nossa mundo, hoje, e dife­rente por causa das pesquisas deles. Nao e exagero afirmar que, se bern feita, a sua mudara 0 mundo de amanhli.

1.2 Par que redigir um rclat6rio?

Alguns de voces, entretallto, poderao achar fadl recusar nosso convite para participar dcsse dialogo. Ao fazer 0 relate­rio de sua pesquisa, voce tent de satisfazer uma multidao de requi sitos estranhos e complicados, e a maioria dos cstudantes sabe que seu relaterio sera lido nao pe lo mundo, mas apcnas pelo professor. E, aLem disso, meu professor sabe ludo sobre 0

assunlo. Se ele simplesmente me desse as resposlas ou indi·

Page 13: boothwaynec-140923095935-phpapp02

10 A ANTE VA PESQUISA

casse os /ivros cerlos, eu poderia me concentrar em aprender o que hd neles. 0 que eu gonho redigindo urn relatorio, a noD

ser provar que possa faze-Io ?

J. 2.1 Escrever para lembrar

A primeira rauo para registrar pa r escrito a que voce des­cobriu e apenas lembrar. Algumas pessoas, excepcionalmente, conseguem rellnir informalYOes scm as registrar. Mas a maio­ria de nos se perde, quando enche a cabelYa de novos fatos e argumentos: pensamos no que Smith descobriu a luz da tese de Wong c comparamos as dcscobcrtas de ambos com os resulta­dos estranhos de Brunelli , especialmente por serem corrobo­rados por Boskowitz. Mas, espere urn minuto. 0 que fo i mesmo que Smith disse? A maior parte das pessoas so conscgue res­ponder a qucstoes mais complicadas com a ajuda da escrita -rclacionando fontes, compilando resumos de pesqui sa, man­tendo anotalYoes de laboratorio e assim por diante. 0 que voce nao registrar por escrito provavelmente sera esquecido au, pior, sera lembrado de modo incorreto. Essa e urna das razoes pelas quais os pesquisadores nao esperam chegar ao fim do proces­so para comCIY3r a escrever: eles escrevem desdc 0 inicio do projeto ate 0 fim, para entenderem melhor e guardarem por mais tempo 0 que descobriram.

1.2. 2 Escrever para en render

Uma segunda razao para escrevermos e vcr com maior c1areza as relacoes entre nossas ideias. Ao organizar e reorga­ni zar os resultados de sua pesquisa, voce ve novas re lacoes e contrastes, complica~oes e implicac;:oes que do contrario pode­riam ter passado desperccbidos. Mesmo que pudesse guardar na mente tudo 0 que descobriu , voce ainda precisaria de ajuda para organizar argumentos que insistem em tomar diferentes dire¢es, inspiram relar;5es compJicadas, causam desacordo entre

PESQU1SA, PFSQUISADORES £ I£TTORES 11

espccialistas. Quero usar as ajirmafoes de Wong para sus/en· tar meu argumenlO, mas 0 argumento dela e rebatida por estes dados de Smith. Quando os campara, vejo que SmUh nao COlI­

sidera a ultima parte do argumento de Wong. Espere 11m miltu­to: se ell a illlroduzir, j untamente com esle trecho de Brunelli, posso salientar a parte do argumenlo de Wong que me permi­Ie refutar 0 de Smith mais f oci/mente. Escrever induz a pensar, ajudando-o nao apenas a entendcr 0 que esta aprendendo, mas a encontrar urn sentido e urn significado mais amplos.

1.2.3 Escrever para rer perspecliva

Uma terceira razao pela qual escrevcmos e que, quando projetamos nossos pensamentos no papel, nos os vemos sob uma nova luz, que e sempre mais clara e normalmente menos lisonj eira. Quasc todos n6s - estudantes c profissionais - acha­mos que nossas idcias sao mais coerentes no calor de nossa mente ~o que quando transpostas para as frias letras impressas. Voce melhora sua capacidade de pensar quando estimula a mente com anotar;Oes, esbor;os, resumos, comentarios e outras formas de por pensamentos no papel. Mas voce 56 pode refletir clara­mente sobre esscs pensamentos quando os separa do rapido fluxo do pensamento e os fixa numa forma escrita coerente.

Em resumo, escrevemos para podermos pensar melhor, lembrar mais e vcr com maior clareza. E, como vercmos, quan­to melhor escrevemos, mais criticamente podemos leI".

1.3 Por que elaborar urn documcnto rormal?

Mesmo sabendo que escrever c uma parte importante da aprendi zagem, da reflexao e da compreensao, alguns de voces podem ai nda querer saber por que precisam transformar seu trabalho nurn ensaio ou relat6rio de pesqui sa fonnais. Essa for­malizaCao pode colocar urn problema para estudantcs que nao veem nenhuma razao para segui r urn procedimento de cuja

Page 14: boothwaynec-140923095935-phpapp02

12 A AR1E DA PESQlRSIt

criac;ao eles oao participaram. Por que eu deveria adotar urna linguagem que nao e minha? 0 que ha de errado com minha linguagem, minhas preocupafoes? Por que nao paSSD relator minha pesquisa do meujeilo? Alguns estudantes chegam a achar ameac;adoras essas exigencias: temem que, se tivere(ll de pen­sar e escrever como sellS professores. acabarao, de ccrto modo, se tomando iguais a eles.

E sua preocupac;ao e leg ilima, porque tern a ver com todos os aspectos de sua vida. Uma educac;ao que nao afetasse quem e 0 que voce c seria ine ficaz. Quanto mais profunda sua cdu­cac;ao, mais ela 0 mudarn. Por isso e tao importante escolher cuidadosamente 0 que voce estuda e com quem. Mas seria urn c rro pensar que escrevcr urn relatorio de pesquisa ameac;aria sua identidade. Aprcnder a pesquisar mudara seu modo de pensar, ensinando-Ihe mais maneiras de pensar. Voce sera difcrente depo is de ter pesquisado, {'orque sera mais livre para escolher quem quer ser.

A rauo rnais importante para relatar a pesqui sa de urn mo­do que atenda -a expectat iva dos leitores talvez sej a a de que escrevcr para os outros e rnais dificil do que escrever para si mcsmo. No momento em que voce registra suas ideias por es­cnto, elas the sao tao familiares, que voce precisa de ajuda para ve-Ias como realmente sao, nao como gostaria que fossem. 0 ,!,elhor que voce tern a fazer nesse sentido e imaginar as ncces­s idades e expectativas de sellS leitores. E por isso que os mode­los e planas padronizados sao os recipi entes rna is apropnados para suas descobertas e conclusOes. Eles irao ajuda-Io a ver suns ideias a luz rnais clara do conhecimento e das expectativas de seus leitores, nlio apenas para que voce teste tais ideias mas tambem para aj uda-Ias a crescer. lnvariaveimente, voce en~ende melhor suas impressoes quando as escreve para torna-Ias aces­siveis aos outros, o rgani zando suas descobertas para ajudar os leitores aver explicitamente como voce avaliou os fatos como re lac ionou uma idc ia a outra, como se antecipou as pe;gumas e preocupa90es deles. Todo pesquisador recorda-se de algum momento em que, ao escrever para os leitores, descobriu urna falha, urn efTO, urna oportunidade perdida, coisas que Ihe haviam escapado nurn primeiro rascunho, escrito rnais para si mesmo.

PESQUlSA, PESQUISADORES £ LElTORES 13

Aqueles que pretendem participar de uma comunidade que dependa de pesquisas tcrao de demonstrar que nao so sao ca­pazes de dar boas respostas a perguntas dificeis, mas tambem que conseguem infonnar seus resultados salis/aloriamenle, Oll

seja. de modo claro, acessivel e, mais importante,familiar. De­pois de conhecer os modelos padronizados. voce sera mais exi­gente ao ler os relat6rios de pesquisa dos outros, comprecndera melhor 0 que sua comunidade espera de todos e sera mais ca­paz de criticar as exigencias criteriosarnente.

Redigir urn relatorio de pesquisa, enfim. e simplesrncnte uma questao de pensar po r escrito. Assim, suas ideias terno a a ten9ao que merecem. Apresentadas por escrito, estarao "ali". desvencilhadas de suas rccorda90cs, opinioes c desejos, prontas pard serem rnais amplam.ente analisadas, desenvolvidas, combi­nadas e compreendidas, porque voce estara cooperando com seus leitores em urna empreitada comum para produzir urn co­nhecimento novo. Em resumo, pensar por escrito pade ser rnai s meticuloso, sistematico, abrangente, completo e mais adequado aqueJes que tern pontos de vista diferentcs - mais ponderado -do qup quase todas as outras formas de pensar.

Voce pode, e claro, simular tudo isso, fazendo apenas 0 su­ficiente para satisfazer seu professor. Este livro talvez 0 ajude nesse semido, mas, agindo 'assim, voce eSlara enganando a s i mesmo. Se voce encontrar um assunto que 0 interesse, se fizer wna pergunta que deseje responder, sc descobrir urn problema que queira resolver. entao seu projeto podera ter 0 fascinio de urna hist6ria de rnisterio, uma historia cuj a solm,ao dara 0 tipo de satisfa9ao que surpreende ate mesmo os pesquisadores mais experi entes.

Page 15: boothwaynec-140923095935-phpapp02

'.

Capitulo 2 Relacionando-se com seu leitor: (re)criando a si mesmo e a seu publico

A MAIOR PARTE DAS CQISAS IMPORTANTES QUE FAZEMOS, fa­zemos com outras pessoas. A primeira vista, podemos pensar que com a pesquisa e di ferente. Imaginamos urn estudioso so­litario, lendo em urna biblioteca silenciosa ou tmbalhando em urn laborat6rio, cercado apenas por artefatos de vidro e com­putadores. Mas nenhum lugar e tao repleto de vozes quanta uma biblioteca ou urn laboratorio, e, mesmo quando parecemos tra­balhar completamente sozinhos, trabalhamos para aican9ar urn fim que scmpre nos envolve em urn di alogo com os outros. Nos nos relacionarnos com outras pessoas loda vez que lemos urn livro, usamos urna ap~re lhagem de pesquisa ou confiamos em uma formula estatistica. Toda vez que consultamos urna fonte, que nos reunirnos com algucrn e, reunindo-nos, partici­parnos de urn di alogo que pode ter decadas, ate mesmo sccu­los de idade.

2.1 Di:ilogos entre pesquisadores

Exatamente como acontece em sua vida social, voce, como pesquisador, faz julgamentos sabre aquelcs com quem troca idCias (como agora deve cstar julgando nos tres): Garcia pare­ce cOllfiavel, oif/da que um POIICO previsivel; Alhambra e agra­davel, mas descuidada no que d iz respeito as evidencias que apresellta; Wallace coleta bons dodos. mas noo cOl/fio em SilaS conclusiies.

Page 16: boothwaynec-140923095935-phpapp02

16 A ARTF. DA PESQlRSA

Esses julgamentos, pacem, nao sao urna via de mao Unica ­voce j ulgando suas fontes - porque elas ja a julgaram, criando, em certo senti do, lima persona para voce. As duas passagens a seguir "eriam" leitores diferentes, atribuindo-Ihes niveis di­ferentes de conhecimento e experiencia:

\

I - A reguJagem da interacao das protcinas contriteis acti­na e miosina no filamento fino do sarcomere, por melo de hloqueadores de calcio, e agora urn meio comum de controlar espasmos cardiacos.

2 - Seu musculo mais importante e 0 coracao, mas ele nao funciona quando esta acometido de espasmos musculares. Esses espasmos agora podem ser contro­ladas por drogas conhecidas como h\oqueadores de calcio. Os hloqueadores de calcio atuam sabre peque­nas unidades de fibras muscuiares chamadas sarco­meros. Cada sarcomero tern dais f ilamcntos, urn gros­so e urn fino. 0 fi lamento fino cantem duas proteinas, actina e miosina . Q uando a actina e a miosina intera­gem, seu 'coracao se contrai. Essa intera/Vao e contro­lada pelos bloqueadores de calcio.

o primciro trecho lembra urn especia li sta escrevendo a ou­tro ; 0 segundo, urn medico explicando cu idadosamente ideias complexas a urn paciente.

Seu texto refletira nao s6 os julgamentos que voce fez sobre ~ conhecimento e a capacidade de compreensao de seus leitores, mas, mais importante ainda, 0 que voce quer que eles identifiquem como significativo em sua pesquisa. E seus lei­tores 0 julgarao com a precisao com que voce os julgar. Se cal­cu lar mal a quantidade de informacoes de que eles precisam, se apresentar suas dcscobertas dc urn modo que nao alenda aos interesses deles, voce perdera a credibi lidade de que lodo autor prec isa para sustentar seu lade do dia!ogo.

Portanto, antes mesmo de dar 0 primeiro passo cm direl;ao a urn relat6rio de pesquisa, voce cleve pensar no tipo de dialogo que pretende ter com seus leitores, no tipo de rclaC;;ao que dese-

\ PESQlDSA, PESQUlSADORES E LEITOR.£S 17

ja estabelecer com eles, no tipo de re la~ao que espera que quei­ram e possarn ter com voce. lsso significa saber nao s6 quem sao eles e quem e voce, mas quem voce e eles pensam que todos voces devem ser.

Voce pode pensar que a resposta e 6bvia: Eu sei quem sou, e meu lei/or e 0 meu professor, mas os pesquisadores cstudan­tes sempre trabalham em circunstanc ias complicadas. No pa­pel, voce pareeeni. diferente do que c em pessoa. E seus profes­sores, como leitores, reagirao de modo diferente de como rea­gem em classe. Coordenar tudo isso significa reconhcccr: I) os diferentes papeis sociais que a autor C 0 lei tor criam para si mesrnos e urn para 0 outro e 2) as intcrcsscs comuns que todo lei tor e todo autor compartilham.

2.2 Autores, Icitores e s e llS papeis sociais

Suas decisoes sobre si mesmo e SCllS leitores sao bastan­te compl icadas, porque trabalhos de pesquisa exigidos em sala de aula criam situa~Oes obviamente art ificiais. Se esse e urn de seus primeiros proje tos, voce talvez nao 0 eSleja fazendo por­que, na vcrdade, senle a premcnte necessidade de fonnular uma pergunta cuja resposta modifique 0 mundo. Por outro lado, e improvavel que seu professor tenha Ihe pedido para fazer a pes­quisa porque sinta a necessidade prcrnente de saber sua respos­tao Voce provavclrnente esta escrcvendo para atingir uma meta menos direta: aprender sabre pesqu isa, represenlando 0 papel de pesqu isador e imaginando 0 papel de sell le itor.

Representar urn papel nao e uma parte insignificante do aprendizado. As pessoas podcm aprender uma tccnica de tres maneiras: lendo sobre ela ou ouvindo sua exp lica~ao. observan­do enquanto oulros a praticam, ou praticando a tecnica par s i mesmas. 0 aprendizado mais eficaz combina as tres alternativas, mas a terceira c decis iva: Illio basta apenas ler, ouvir e obser­var - e preciso Jazer. E, uma vez que a pesquisa e uma ativi­dade social, pratica- Ia significa desempenhar urn papel social.

Com essa finalidadc em vista, seu relat6rio deve criar papcis tamo para voce quanto para seu professor. Mas csses

Page 17: boothwaynec-140923095935-phpapp02

18 A ARTE VA PESQUlSA

papeis nao podem sec os da sala de aula, onde 0 professor fa: pcrguntas para que voce mostre que sabe as respostas, ou vo~e faz as perguntas porque nao sabe as respostas. Em sell relato­rio voce deve se converter em autor/pesquisador e dar a seu pr~fessor 0 papel de urn leiter que deseja, ,?u de~e~ia ,desejar, saber 0 que voce descobriu . Na verdade, deve se Imagmar tro­cando papeis com seu professor, voce se tarnando professor dele, c ele, seu aluno.

2.2.1 Criando seu papel

Ao longo de teda sua pesquisa, imaginc-se como alguem que possui urna informa~ao ou afirma~ao bastante importante para sec passada a outros que passam quercr conh:ce-Ia. Ima­ginando isso, voce deve represcntar 0 papel .espe~lfico de urn profissional cia area. Se estiver num curso de blOlogla, por exem· plo, espera·se que tenha apontamentos cO';lp let~s sobre 0 ~uc ocorre no laborat6rio (incluindo crros e sltua~oes scm s3lda) e da mcsma maneira como faria urn pesquisador experientc, r~late seus resultados de forma profissional. Se seu projeto, num curso de hist6ria, for preparar seu hist6rico familiar, voce deve consultar a literatura sobre as raizes etnicas e socioeco· nomicas de sua familia, da mesma maneira que urn historiador pro fi ssional faria. Ou pode ser que Ihe pefY3m para represen· tar 0 papel de uma pessoa informada, que nao seja urn profis· sional "de dentro", mas exatamente 0 que voce e: urn estudan· te escreve ndo seu primeiro relat6rio de pesquisa em urn curso introdut6rio. ,

Seu professor pode ate mesruo dar informatroes dctalhadas:

ESCT'eva um historico de sua familia para 0 "Projeto Diver· sidade ", como parte da comemoraplo de celllentirio e de uma camponlta para arrecada~'ao de fundos : seu historico, jllllta­mente com mdros, sera publicado numa broe/lllm diSlribuida peta associa~iio de ex..a/unos para moSlrar a diversidade dos estudantes desre campus.

PESQUlSA , P£SQfJISADORES E I£rroRES 19

De acordo com essas infonnafYOes, seus leitores nao seriam his· toriadores profissionais, mas alunos em potencial e seus pais.

Mas suponha que Ihe sej a pedido para interpretar 0 papel de urn pesquisador que faz urn relat6rio sobre a presentra de toxinas nurn lago, para a diretora da Agencia Estadual de Pro­tefYao ao Meio Ambiente. Nessc caso, talvcz fosse convenien· te fazcr uma pesquisa sobre essa diretora, para descobrir quem cia e e como pretendc usar seu relatOrio. No passado, ela esteve mais ligada a politiea ou a ciencia? Se a resposta for a segun· da altemativa. que tipo de cicncia? 0 relatorio sera para ela apenas, ou tambem para 0 governador? Ela precisa das infor· mafYOcs para decidir a que fani no futuro, au para justificar uma decisao que ja foi tomada?

Em resumo, 0 primciro passo no preparo de uma pesqui· sa e compreender seu papel num determjnado "palco". Por que Ihe pediram para escrever 0 relatorio? 0 que seu professor, curso ou prograrna querem que voce aprenda com isso? Querem que voce experimente 0 sabor da pesquisa, visando prepara-lo para se especializar em urna area, tornar·se urn profissional? Ou ser'a que desejam dar aos alunos em busea de educw:;iio Ii· beral uma oportunidade de pensar muito sabre urn assunto de sua propria escolha? Se voce nao souber, pergunte.

Outra questao a considerar e como a aparencia de seu relat6rio influi no papel que voce representa nesse contexto social previsto. No trabalho dc biologia, 0 texto deveria ter a forma de urn relat6rio de laborat6rio, de urn memorando of i­cial recomendando providencias, ou de urn sumario de direto­ria? No caso do trabalho de hist6ria, voce tern menos formas para escolher, mas deve procurar saber, por exemplo, se pode elaborar a hi st6ria como uma narrativa na primcira pessoa, em que voce fa lara de seu passado e do que descobriu sabre ele. Ou sera que 0 trabalho deve ser um rclato formal , na tcrcc ira pessoa? Nao comcce sua pesqui sa antes de saber quais sao suas op~oes quanto a forma do rc latorio.

Page 18: boothwaynec-140923095935-phpapp02

20 A ARTE DA PESQUlSA

2.2.2 Criando urn papel para seu iejlor

SellS leitores tambem devcm desempenhar urn papel, que voce criara para eles. Considerando que seu professor talvez seja seu principalleitor, voce deve atribuir-Ihe 0 papel ,dc alguem que, se liver bons motivos, in! se preocupar com seu'problema de pesquisa e querer conhecer a 50\U9aO. Ele tambCm poden't estipular urn papel para si mesmo - alguem uda" especialidade, que espera que voce escrcva como os demais autares da area. Ou, 0 que sena mais dificil , c le poderia representar 0 papel de urn lei tar comum que nao tern conhecimento especializado cia area e sellS metodos .

Dependendo do pape l que ele se atribua. sell professor ira concentrar-se em difercntes aspectos do rel at6rio. Como lei tor especializado, procurani cita.-;oes dos estudos chissicos sobre o assunto, fonnatadas corretamente, e como lei tor comum ira querer explica.-;6es claras, "em linguagem simples", dos ter­mos tecnicos. Se voce estiver redigindo urna (ese para ser lida por urna banca exarninadora, tera de pensar nos diversos pa­pcis de maneira mais complicada ainda.

Se voce e urn pesquisador experiente, compreende como os leitores difercm uns dos ou1ros, mas, se esta cscrevendo seu primeiro relat6rio de pesquisa, prccisa saber que os leitores ado­tam papeis baseando-se no modo como usadio sua pesquisa. As diferen.-;as mais importantes encontram-se entre os que H!:em por diversao, as que querem urna solu.-;ao para urn problema pnitico e aqueles que se dedicam a pura busca do conhecimen­to e da compreensao.

Para entender essas difcrem;:as e corno afetam sua pesqui­sa, imaginc tres formas dc dhilogos sobre baloes, dirigiveis e zepelins.

Por diversao. Esse tipo de troca de ideias ocorre entre pes­soas que se reimem para fa lar sabre zepelins por passatempo. Para enttar no dialogo, voce s6 precisa mostrar interesse pelo assunto e ter algo novo ou interessante para oferecer, como, por exemplo, urna carta do lio Otto, na qua l elc dcscreve sua viagem no primciro zcpclim a cruzar 0 Atlantico equal foi a

PESQUISA, PESQUlStt.DORES E LEITOR£S 21

cardapio do jantar. 0 que esta. em jogo aqui c urn momenta de diversao entre pessoas que gostam de falar sabre zepelins e tal­vez procurem obter algum enriquecimento pessoal. Sua conver­sa seria 0 tipo de trabalho que voce escreveria em uma aula de reda.-;ao, em que se espera que 0 aulor seja anirnado, com algo interessante, talvcz engra.-;ado para contar, que se concentre mais em expor suas pr6prias rea.-;oes do que em fazer uma ami­lise imparcial do assunto. Como sua tarefa e cornpartilhar com outras pessoas seu entusiasmo por urn assun to que tambcm as entus iasme e oferecer algo que etas nao conhe.-;am e achariam interessante, voce deve consultar suas fontes, procurando hist6-rias divertidas, fatos estranhos e assim por di ante.

Por urn motivo pnitieo. Agora imagi ne um segundo dia­logo, dessa vez com 0 pessoal do departamento de rela.-;oes publicas da Giganto Inc. Eles gostariam de usar urn dirigivei em uma campanha publ icitaria, mas nao sabem quanta isso custaria, nem ate que ponto seria eficaz. Entao, contrataram voce para descobrir. Para sair-se bern nesse dhllogo, voce pre­cisa ethender que btl mais coisas em jogo do que meramente a satisfacao da curiosidade. Sera necessario responder a per­gunta da pesquisa de urna maneira que aj ude 0 pessoal de RP resolver seu problema pratico,fazendo algo: se alugarem 0 di­rigivel, aumentadio as vendas da Giganto? Esse e 0 tipo de pu­blico para 0 qual voce podera escrever, quando seu professor criar urn roteiro "da vida real" para seu trabalho, ou seja, oode haja alguem interessado em usar sua pesqui sa para resolver urn problema real , tangivel, pragmatico. Se souber 0 que seus lei­ta res farao com suas respostas, voce sabera que informa.-;oes procurar, compreendendo que h5. outras com as quais nao pre­cisa se incomodar - e improvavel que 0 pessoal da G iganto quei­ra saber quando foi inventado aquele artefato mais leve que 0

ar, ou sc interesse pelas equacoes usadas para anali sar sua eSla­bi lidadc acrodinarnica.

Pa ra en.ender. Finalmente, imagine que sua escola tcnha urn departamento de artefatos mais Jeves que 0 ar, tao impor­tante quanto 0 departamento de ingles au de qui mica. A facu!-

Page 19: boothwaynec-140923095935-phpapp02

22 A ARTE DA PESQUISA

dade oferece cursos sabre dirigiveis, haloes e zepeJins, pesqui· sa-os e participa de uma troca de ideias mundial, puhlicando pesquisas a respeito dessas aeronaves. Dcssc dialogo partiei­pam centenas, talvez milhares de pesquisadores. Alguns deles se conhecem, Quiros Dunea se encontraram, mas tod~ leeru os mesmos !ivros e peri6dicos. 0 objetivo deles nao e se divertir (embora se divirtam) ou aj udar alguem afazer alga - ~omo me­Ihorar a imagem de uma empresa (embora pudcsscm gostar de atuar como consuhores, pages peJa Giganto Inc.). 0 objetivo deles e propor perguntas, e responder a elas. sabre artcfatos mais leves que 0 ar, sua hist6ria, SU3S conseqilencias sociais. a tcoria e a litcratura a respeito do assunto. Eles determinam o valor de seu lrabalho nao pclo que possam oferccer como fonte de entretenimento au pela ajuda que possam dar a algucm, mas pelo que aprendem, pelo conhecimento que adquirem a respe i­to de dirigiveis, pel a avalia!;ao de quanta conseguem se apro­ximar da verdade .

Como conscqiiencia, esses estudiosos de artefatos mais leves que a ar estao intensamenle preocupados com a qualida­de intelectual de seu dialogo: esperam que todos as participan­tes sejam objctivos, rigorosamente 16gicos, fieis aos fatos, ca­pazes de ana lisar as perguntas de todos os angulos, nao impor­ta para onde a investiga!;ao os conduza au quanta tempo Ihes tome. Esperam que 0 dialogo focalize as complcxidades, ambi­giiidades, inccrtczas, os misterios e, entao, que apresente solu­c;:Oes. Confiam nas pesquisas uns dos outros ao mesmo tempo em que competem entre si para produzir as proprias pesquisas: desse modo, testam tudo antes de fazer seu relatorio, porque 0 que mais valorizam e fazer as coisas co~retamente, e porque sabem que a vcrdade e sempre parcial - incomplcta e facciosa. Entendem que toda verdade apresentada e contestavel e sed testada pelos outros participantes do dialogo, nao exatamente por screm controversos (embora possam ser) ou mesmo cini­cos (embora alguns sejam), mas porque desejam aproximar-se da verdade sobrc dirigiveis.

Tais leitorcs sc interessarao por qualquer coisa nova que voce tenha a dizer, mas va~ quercr saber 0 que fazer com a nova

PESQUISA , PESQUlSADORES F. LEnORES 23

informac;:ao e de que modo ela afeta 0 que ja sabem sabre d iri­giveis. Ficarao cspecialrnenlc interessados sc voce convence­los de que nao compreendem algo tao bern quanto imaginavam: A maior parte das pessoas peIJsa que as arte/atos mais /eves que 0 ar originaram-se na Europa, no seculo XV/lI, mas eu descobri urn desenho do que parece ser urn baMo de ar quen­te de qualm seculos antes, numa parede, na America Central.

E de urn dialogo desse tipo que voce participa quando re­lata pesquisas para uma comunidade de estudiosos. Nao impor­la que sell eslilo seja eJeganle (em bora isso me fara admirar mais seu trabalho), nao importa que voce me conte hiSlorias diver/idas (ainda que eu possa aprecia-Ias, se elas me ajudarem a entender me/hor silas Midas), nao importa qlle a que voce saiba me enriquera (em bora isso possa me deixar contente). Apeflas diga-me algo que nao sej, delorma que eu possa com­preender me/hor 0 que sei.

Esses tres tipos de leitores podem cstar interessados em artefatos rna is leves que 0 ar, mas a interesse de cada urn no assunt? e di~erente. portanto vao querer que sua pesquisa re­solva tlPOS dlfercntes de problemas: entrete-Ios, ajuda-Ios a so­lucionar algum problema, ou simplcsmente ajuda-Ios a com­preender melhor urn assunto .

Se cssa for sua primcira incursa.o na pcsquisa, voce tera dc descobrir 0 que esta em jogo no rneio a que pertence. Se nao sauber, pergunte, porque esse requisito 0 levani a caminhos di­ferentes de pesquisa.

Claro que no decorrer da pesquisa voce podera descobrir alga que mude sua intem;:ao: enquanto coleta hist6rias cngra­rvadas sabre 0 descnvolvimcnto do zcpelim, talvez descubra que a hist6ria oficial desse dirigivel esta errada. Mas, se voce nao tiver. desde 0 inicio, uma no~ao do que realmcnte pretendc, esta arriscado a fiear perambulando sem rumo de uma fonte de informarvoes para outra, a que 0 conduzira, e a seus leilO­res, a lugar ... nenhum.

Page 20: boothwaynec-140923095935-phpapp02

24 A ARTE OA PESQUISA

2.3 Leitores e seus problemas comuns

Oependendo do que esteja em jogo. leitores e autorcs re­presentam papeis sociais diferentcs, por tras dos quais ex istem preocupa<;:Oes comuns a todo leiter, assim comp problemas comuns a todo auter. "

2.3.1 Leitores e 0 que voce sabe sobre eles

Todos os leitores compartilham urn interesse: querem ler relat6rios que aprescntem 0 minima poss ive l de dificuldades desnecessarias. Podcm apreciar a elegancia e a vivacidade de espirito, mas em primeiro lugar quercm entender 0 ponto prin­cipal de seu trabalho e saber como voce chegou a ele. Assim, como c uti I pensar no processo de reda<;:ao de seu relat6rio co­mo urn caminho para urn ponto de destino, tambem e util ima­ginar uma trajetoria semelhante para seus leitorcs, que tcrao voce como guia. Eles querem que sua introdlll;ao lhes indique para onde ir, e que voce explique por que deseja conduzi-los por esse caminho, que de uma ideia da pergunta a que a jornada respondcra, que problema, inte1ectual ou pratico, sera resolvido.

Seus leitores tambem vao querer saber de que maneira sua pesqui sa e as conciusOes mudarao suas opinioes e convic~oes: e assim que irao aferir a impQrltincia de seu trabalho. 0 que voce pretende? Oferecer a leitores agmdecidos a solu<;:ao de urn problema que durante muito tempo cles sentiram que prc­cisavam resolver, ou tentara vender uma soluc;ao a leitorcs que, nao s6 podem rejeita-Ia, como tam¥m, talvez, nem sequer queiram saber do problema?

l o dos os leitores projeram em urn relatorio de pesquisa os pr6prios interesses e concep~oes. Portanto, antes de redigi-lo, voce precisa definir a pos i~ao dcles e a sua em rcla~ao it pcr­gunta a que voce esta rcspondendo e ao problema que esta resol­vendo. Se sua pcrgunta ja e urn assunto palpitante na comuni­dade, a maioria dos leitores a apreciani , antes mesme de voce aprescnta-la. Nesse casc, concentre-se cm definir II posic;ao deles em re l a~ao a sua resposta:

I PESQUISA, PliSQUISADORES E l.En oRES 25

• Se ja conhecem a resposta. voce a s estara fazendo perder tcmpo.

• Sc acreditam em uma res posta errada, ou em urna res posta certa pelas razoes erradas, antes de mais nada voce tera de demove-Ios do eITa e, entao, convence-Ios de que sua resposta e a correta, pel as razoes coeretas - wna tareEa dificil.

• Se cles nao tern urna resposta. voce esta com sorle: 56 pre­cisara convence-Ios de que possui a resposta certa, e eles a recebcrao, agradccidos .

Se, por outro lado, sua pergunta nao for urn assunto pal­pitante. sua laTera sen\. mais complicada, porque a maioria dos leitores nao tCHi conhecimento de sua pergunta ou de sell pro­blema, antes de voce apresenta-Ios. Nesse caso, voce precisara , primeiro, convence-Ios de que sua pergunta e boa. o Alguns leitores, par quaJquer rozao, nao terao nenhum inte­

resse em sua pergunta, de modo que nao se interessarao pela resposta. Convence-Ios a interessar-se pela pergunta podera ser urn desafio maior do que convence-Ios de que voce cn­controu a resposta correta .

o A llguns leitorcs poderao mostmr-se receptivos a seu problema por pcrceberem que a solu~ao os ajudara a entender melhor seus pr6prios problemas. Se for assim, voce estara com sortc.

o Outros leitores poderao rejeitar tanto sua pergunta como a resposta, porque aceita-Ias desestabilizaria convic~oes man­tidas ha longo tempo. Podcriam mudar de ideia, mas apenas por boas razoes, enfat icamente expostas.

o Fina lmente, alguns le itores estarao tao cntrincheirados em suas convic~oes, que nada os fani levar em considera~ao uma nova pergunta ou urn velho problema tratado de uma nova maneira. Voce s6 podeni ignoni-Ios.

2.3.2 Leitores e 0 que voce espera deles

Para entendcr seus leitores, portanto, voce prccisa saber qual e a posi~ao delcs. Mas tambem precisa decidir aonde de­seja leva-los e 0 que cles farao quando chegarem la. Podcria ser uma· das ahernativas descritas a seguir, au todas elas.

Page 21: boothwaynec-140923095935-phpapp02

26 A ANn::: DA PESQUISA

Aceitar um conhecimento novo. Se voce oferecer aos leitores apenas conclusOeS e conhec imentos novos, devera pre­sumir que eles ja tern interesse pelo assunto, ou, entao. dispor­se a convence- Ios de que, tomando-se receptivos, s6 terao a lucrar. Se eles ja tiverem interesse, apenas apresent~r as in for­macOes sera menos trabalhoso, mas tarnbem muito menos in­teressante e geralmente menos marcante. Vez por outra, urn pesquisador dint: Aqui estlio as inj'ormap5es que descobri. e espero que possam interessar a alguem. Os leitores ja interes­sados ficarao gratos, mas iraQ se interessar mais se 0 pesquisa­dor mostrar como os novos dados podem for~a-Ios a ocupar-se de uma nova quesHio, especia lmente sc tais dados perturbarem sua ant iga maneira de pensar.

Vamos dizer que voce possua infonnac;:Ocs sabre tecelagcrn tibetana do seculo X IX. Isso pode ser novo para seus leitores, mas voce nao tern nenhum argumento diferente alem de: Voces provavelmente nlio conhecem este assunto. Tudo bern, mas me­Ihor seria imaginar como sua nova informac;:ao poderia reque­rer que cles mudassem de opiniao sobre 0 Tibete, a teee lagem ou ate mesmo sobre 0 scculo XIX. Isso significa achar pcrgtm­tas que possam interessar aos leitores. e quc seu novo conhe­cimento possa responder.

No mundo dos ncg6cios e do comercio, e comum um su­' pervisor orientar os pesquisadores para reunirem e relatarem informa~oes, mas essa pessoa normalmente quer as informa­~Oes para resolver urn problema que elaja sabe que tern . Nesse caso, ha urna divisao de trabalho: Voce consegue as informafoes de que eu preciso para resolver meu problema. ,

Mudar convic~oes. Voce pedira mais de seus leitores (e de si mesmo) se pedir-Ihcs nao so que aceitem novos conhe­cimentos, mas tambem mudem convic~oes arraigadas. Quanto mais arrai~adas estiverem essas convicc;:oes, mais dific il sen) muda-Ias. :£ assim que os leitores avaliam a importancia da pcs­quisa. Por exemplo, seria faci! convenccr a maioria de nos de que ha exatamente 202 asteroidcs conhccidos, a urna distancia de urn quilomctro c meio ou mais. porque poucas pessoas estao preocupadas com isso. Mas, se pudesscmos ser convenc idos de

1 , PESQUISA, PESQUlSADORES E LErroRES 27

que esses 202 aster6ides sao restos de urn planeta que urn dia existiu entre a Terra e Marie e explodiu em uma guerra nuclear, tcriamos de mudar muitas convic<;;oes sohee varios assuntos importantes, 0 menor dos quais seria 0 numcro exato de aste· rOides. Ao pensar oa qucstao de que esta tratando, pense tam· bern no impacto que pretende produzir oa estrutura geral de convic.;oes e conhecimentos de seus leitores. Quante maior 0

impacto, mais importante sera sua questiio, e mais voce tern de trabalhar para sec convincente.

o fate delorosa, no cntanto, e que mesmo pesquisadores experiemes acham dificil prever ate que ponto suas dcscobertas faraa os Ieitores mudarem suas convic~oes. E, mesmo quando conscgucm, geraimenlc lutam para explicar por que os leitores deveriam mudar.

Agora, uma coisa importante: Se voce for um pesqllisador iniciante. nlio pense que tera de satiJ.jazer uma expectativa tlio elevada quanto essa.

No in icio, nao se preocupc em saber se as resultados de sua Pfsquisa serao novas para os outros, se serao capazes de mu­dar a opiniiio de alguem, alem da sua. Preocupe-se antes de rnais nada em saber se 0 trabalho e importante para voce. Se conseguir encontrar uma pergunta a que so voce queira respon­der, ja sera uma conquista importante. Se conseguir encontrar urna resposta que mude apenas 0 que voce pensa sobre urna pon;.ao de coisas, conquistou algo ainda rnais importante - des­cobriu como novas ideias desestabilizam e reorganizam con­vicc;:ocs estaveis.

Sc voce for urn pesquisador experiente, porem, tera de dar o proximo passo. Seus leitores esperam que voce apresente urn problema que nao 56 reconhec;:am como seu, mas tambem como deles , urn problema cuja solllc;:ao mudara a opiniao deles, de urn modo que eles achem significativo. (Discutirernos esse requi­sito mais detalhadamente no Capitulo 4.)

Praticar urna ae;ao. De vez em quando, os pesquisado­res pedem que os leitores pratiquem urna a~ao porque acredi­tam que a solu~ao de seu problema de pesquisa podera ajudar os leitores a resolver urn problema real. As vezes isso e Hiei l -

Page 22: boothwaynec-140923095935-phpapp02

28 A AR71;." DA PESQUISA

urn quimico descobre como produzir gasolina nao poluente e, entao, leota persuadir as companhias de petr6leo a usarcm sua formula.

Mais frequentemente, os resultados de sua pesquisa nao Icvarao a urna 8930 especifica mas, sim, a urna conflusao que apenas mudara a compreensao de seus leitores. NQ mundo da pesquisa erudita, entretanto, cssa nao e urna conquista despre­zivel. No computo final , a importancia da pesquisa academica dcpende do quanta e la abala e reorganiza convic~oes. nao que­rendo dizcr que essas novas conv ic~oes levarao a uma 3930.

Tenha em mente que praticamentc todo pesquisador aca­demico comec;a satisfazendo interesses. nao de sellS leitores, mas os sellS pr6prios. Tambem estcja cienle de que mesmo pesquisadores experientes geralmente nao podcm, logo no co­me<;o, responder a perguntas sabre a importancia de sua pcs­qu isa. Par rnais paradoxal que possa parecer, quase lodos s6 cornprccndcm exatarnente a importancia que suas dcscobcrlas terao para os outros quando terminam 0 prime iro rascunho de seu relat6 rio. Portanlo, aqui vai rnais uma palavra de conforto para quem esteja in iciando seu primeiro projeto: quando voce parte de urn interesse seu - como deve ser - provavclrnenle nao sabe 0 que esperar de seus le itores, ou ate de si mcsrno. S6 descobrini. isso depois de encontrar urna rcsposta que 0 ajude a entender melhor a pergunta que deseja submetcr fa aprecia<;ao de seus leitores. Mesrno entao, sell melbor lei tor talvcz seja voce m csmo.

N oda e mais importonte pora 0 sucesso do pesquiso do que seu compromisso com ela . Algumas dos pesquisos mois impartontes do mundo forom conduzidos par pessoos que triunforom sobre a indi­feren<;:o , porque nunco duvidorom de suo proprio visco. Barbaro AflcClintock, umo geneticista, lutou durante onos, sem reconheci' menta. porque suo comunidode de pesquiso noo considerovo seu trobolho importonte. Mos cia ocreditou nele e final mente, quando a comunidode foi persuodido a fozer perguntos a que 56 elo pode­rio responder, B6rbaro conquistou a honro mois alto do ci€mcio : 0

Premia Nobel.

1 I

I PESQUISA, PESQUTSADORES J:: LEITORES 29

2.4 Autores e seus problemas comuns

Da mcsma maneira que lodos as leitores tern certas preo­cupa<;oes em comum, lodos as autores enfrentam alguns pro­blemas iguais. 0 mais importante para os iniciantes e a dife­renc;a que a experiencia faz. Quando urn autor conhece real­mente urna area, interioriza seus metodos tao bern, que e capaz de fazer por habito 0 que antes fazia apenas atraves de normas e re flexao. Autores com pratica come<;am urn trabalho com a intuic;ao de qual sera sua forma final e do que os leitores espe­ram. Os menos expericntes tern de pensar nao s6 em seus assuntos e problemas especi fi eos, mas tambcm de fazer 0 que os autores experi entes fazem intuitivamente. Mas e claro que e para isso principaimente que voce se es forc;a tanto, para apren· der a pesquisar rnais, com menos desperdicio de csfor<;o. E essa e a meta deste livro: ofereeer-ihe diretrizes, listas de con­ferencia e verifica~ao e sugestOes rapidas para ajuda-Io a avaliar seu progresso e seus planas e, a que e rnais importantc, mos­trar-Ihe como pensar e escrever como um leilOr: em resurno, tamar claro 0 que os autores cxperi entes fazcm intuitivamente.

Todo 0 mundo eome4ta eorno novato, e quase todos n6s nos sentimos assim outra vez, ao cornec;ar urn novo projeto no qual nao estamos inteira rnente confiantes. Nos tres, os auto­res, lembrarno-nos de j a haver tentado redigi r conciusoes pre­liminares, eonscientes de que nosso texto e ra impreciso e con­fuso, porque era assim que nos sentiamos. Lembramo·nos de ri­car simpiesmente repctindo 0 que Ilamos, quando deviamos eslar anali sando, sintetizando e criticando 0 texto. Tivemos essa ex­periencia quando erarnos estudantes, primeiro como alunos de faculdade, depois de p6s-gradua<;ao, e passamos por e la quase toda vez que comeC;arnos urn projeto que exige que estudemos urn assunto verdadeiramente novo.

A medida que voce adquire rna is habilidade e experien­cia, algumas dessas ansiedadcs sao superadas. A pratica eompen­sa. Par que, enrno, urna vcz que voce tcnha "aprendido a pesqui­sar", nao eonsegue livrar-se cornpletamente da ansiedade? 0 fato e que aprender a pesquisar nao e como aprender a andar de

Page 23: boothwaynec-140923095935-phpapp02

30

biciclcta, uma habilidade que voce pode repetir cada vez que experimenta uma bicicleta nova. Pesquisar envolve algumas habil ida­des repetitivas, mas, como os objelos de pesquisa sao infinitamente variados, e os modos de informar os resultados vari am dc area para area, cada novo pro­j eto lraz consigo proble­mas novos. A dife renc;a entre 0 espec ialista e 0

novato reside em parte no fato de que 0 especialista cOnlrola melhor as tccni ­cas repetitivas, mas, alem disso, ele lambem consc­gue prever me lhor as ine­vitaveis incertezas e supe­rn-Ias.

Entao, como voce po­de evitar a sensac;ao de que esta sobrecarregado?

Em primeiro lugar, to­me consciencia das incer­tezas que inevitave lrncnte enfrentara. Esse deve ser o objetivo da primeira e rapida le ifUra deste livro.

Em segundo lugar, do­mine 0 assunto que cseo­Iheu, eserevendo sobre elc

A A~ DA PESQUISA

Sobrecofg o cognifivo: Algumos polovros tronquilizodoros

As dificuldades que os pesquiso· dares inicionles enfrenl~m tem me­nos 0 ver com idade 6u real iza · <;6es do que com a experiencio no areo estudado. Umo vez, um de nOs explicovo 0 olguns professores de redacoa juridica que os prO" blemas de ser novato despertom umo sensa COo de inseguronca nos novas esludonles de dirello, rnesmo entre as que erom bons redalores antes de entror no facul­dode. No rim do converso, umo mulher comentou que, 0 0 inieior a curse de direil:>, expe~imentoro 01-gumo sensocoa de Incerteza e caniusoo. Antes do curso. elo lora prolessoro de ontropo\ogio, publi­coro urn trobolho e faa elogiodo pelo.s revisores pelo clorezo e pelo vigor de seu lexlo. EnlOo, decidira mudor de carreiro e curror 0 fa­culdade de direiJo. Segundo elo , escrevio de moneiro lOa incoerente, nos prirneiros seis meses, que leve meda de eslor sofrendo de alguma doenco degenerotive do cerebra. Noo eslova, e claro: simplesmente, experirnenlovo urn tipo de olosio lempororio que oflige 0 moiorio de n6s, quando lenlomas escrever so­bre urn oSS~Jnto que 000 domino' mos. Noa lai de surpreender que, 00 camEX;or 0 enleooer melhor os leis, possasse a pensor e escrever melhar.

ao longo da pesquisa. Nao se limite a tirar fotocopias de suas fontes e sublinhar palavras: escreva resum~s, criticas, pergun­tas sobre as quais refletir mais tarde. Quanta mais escrever, a medida que avanfa, nao importa quao esquematicamente 0

PESQUISA, PESQUlSADORES £ lElTORES 31

faca, mais confiante estara ao enfrentar 0 intimidante primei­ro rascunho.

Em terceiro lugar, mantenha sob controle a complexidade de sua larefa. Todas as partes do processo de pesqui sa afetam as demais, portanto use 0 que aprendcu sobre cada parte, de modo a dividir 0 complexo conjunto de tarefas em etapas rna­nejaveis. Supere os primeiros estagios. encontrando urn topi­co e fonnulando algumas boas perguntas, e, entao, seu trabalho sera mais eficaz mais tarde, quando voce redigir 0 rascunho e revisa-Io. Inversamentc, se pude r prever como fani 0 rascunllO e a revisao, ten} maior eficaeia na etapa de procurar urn topi­co e formular urn problema. Podeni dar as tarefas a atem;ao que cada uma requer, se souber como coordemi-Ias. quando se concentrar em uma em particular, quando fazer uma avaliaC;ao, como revisa r sellS pianos e ale mesmo quando altera-los.

Em quarto lugar, conte com seu professor para ajuda-Io a veneer suas di f iculdades. Bons professores querem que seus alunos teoharn sucesso e prcstam-lhes aj uda.

ryIais importante de tudo, reeonhe~a 0 problema pelo que ele e: suas dificuldades nao indicam necessariamente que voce Icnha fa lhas g raves. Para superar os problemas que todos os iniciantes enfrentam. faca exatamente 0 que esrn fazendo, 0 que todo pesquisador bem-sucedido sempre fez: va em frente.

Page 24: boothwaynec-140923095935-phpapp02

Sugestoes uteis: U sIa de verijica,ao para ajuda-Io a compreender seus leilores

".

Embora voce deva pensar em seus leitores desde 0 come­~o. nao espere poder responder a lodas as perguntas scguintes ' ate estar proximo do fim de sua pesquisa. Porlnolo, plancje re­tomar a esta lista de verifi ca930 algumas vezes, cada vez apri­morando mais 0 pape! que ira criar pam seus leitores.

Como e sua comunidade de leitorcs?

1 - Seus leitores sao: • Profissionais da area de sua pesqui sa? • Leitores comuns que tern:

- niveis d iferentes de conhecimento e interesse? - niveis semelhantes de conhecimento e interesse?

2 - Para cada grupo uniforme de leitores, repita a anali­se que se segue.

o que seus Icitorcs espcram que voce fa~a por elcs?

1 - Que os divirta? 2 - Que os ajude a resolver algum problema real? 3 - Que os ajude a compreendcr melhor algum assunto?

Quanto sabem seus leilorcs?

1 - Nivel de conhecimento geral (comparado ao scu): muito menor menor 0 mesmo maior muito maior

2 - Conhecimento do assunto em quest300 (comparado ao seu) :

muito mellor menor 0 mesmo maior muito maior 3 - Que interesse especial cles tern pelo assunto? 4 - Que aspectos do assunto esperam que voce discuta?

r PESQUISA. PESQUlSAOORES E LErTORES 33

Eles ja compreendcram seu problema/sua questao?

1 - Seus leitores reconheccm 0 problema que seu traba­lho propoe?

2 - E 0 tipo de problema que eles tern, mas que ainda nao reconheccram?

3 - 0 problema nao e deies, mas seu? 4 - Levarao 0 problema a serio imediatamente, au voce pre­

cis3ra persuadi-los de que e importante? 5 - 0 problema da pesquisa e motivado por uma dificul­

dade tangivel c real, au por uma difi culdade intelec­tual, conccitual?

Como clcs rcagicio a sua solu~ao/rcsposta'!

- 0 que voce espera que seus lcito res Ja(:am como re­sultado da leitura de seu relat6rio? Que aceitem as no­vas informa90es, mudem certas opin ioes, pratiquem a lguma 3930?

2 r A solu930 ira contradizer as op inioes deles? Como? 3 - Os Icitores ja tern alguns argumentos padronizados

contra sua solu93oo? 4 - A solU930 sera apresentada isoladamen te, ou os leito­

res vao qucrer conheccr as etapas que leva ram a cia?

Como seu rela t6rio sera recebido?

I - Sells lei tares pediram seu relat6rio? Voce 0 enviara sem que seja solicitado? Eles 0 encontrarao numa pu­blica9ao?

2 - Antes de atingir seus leitorcs principa is, seu relat6rio precisara scr aprovado por um intermediario - seu su­pervisor, 0 editor de uma publica9uo, um assistenle de diretor au ad mini strador, lim tccnico especiali sta?

3 - Os le ilorcs esperam que scu relal6rio obede9a a urn formalo padr3oo? Se for 0 case, qual?

Page 25: boothwaynec-140923095935-phpapp02

T PARTE II

Fazendo perguntas, encontrando respostas

Prologo: Planejando seu projeto

SE vocl: JA LEU E5TE LIVRO UMA VEZ, cnHio esta pronto para iniciar seu projeto. Mas, antes de ir it biblioteca, faJ;a urn pla­nejamento cuidadoso. Se 0 trabalho que seu professor lhc indi­cou define uma pergunta e especifica cada etapa do projeto, leia por alto os pr6ximos dois capitulos nova mente, siga as ins­trm;5es de seu trabalho, entao retorne it Parte III antes de come­'Var a redigir 0 rascunho. Se, por outro lado, voce precisa pla­nejar sua propria pesquisa, ate mesmo encontrar urn assunto, podera sentir-se intimidado. Mas eonseguira desincumbir-se da tarefa, se executa- Ia passo a passo.

Nao ex iste uma formula pronta para orientar todas as pes­quisas: voce tera de gastar algum tempo pesquisando c lcndo, ate descobrir onde esta e para oode vai. Perdera tempo em si­tua~5cs sem saida, mas acabani aprcndendo mais do que sell trabalho cxigc. No final, pon!m, 0 esfon;o extra ira compensar, nao apenas porque voce fara urn born relatorio, mas tam bern porque vent aumentada sua capacidade de lidar mais cficazmen­te com problemas novos.

Quando come'Var, leve em conta que lera de considerar as seguintes ctapas iniciai s:

Estabelec;:a urn t6pico bastante especi fico para permitir-lhe dominar uma quantidade razoavel de informac;:oes, nao "a historia da redac;:ao cientifica", mas "os ensaios das A las da Real Sociedade ( 1800- 1900), precursores dos modernos arti­gos cientificos".

Page 26: boothwaynec-140923095935-phpapp02

A ARTE DA P£SQUIS.A

A part ir do assunlo escolhido, desenvolva perguntllS que iraQ Dortear sua pesqui sa e orientar voce para urn problema que pretenda resolver.

• Reuna dlldos relevantes para responder as pcrguntas. Depois de coletar os dados que respondam ~ maioria de

suas perguntas, voce tera, e claro, de organiza- Ios em forma de urn argu mento (0 Icma da Parte III) c rcdigi -Ios num ras­cunho (0 lema da Parte IV).

A medida que for colctando, ordenando e reunindo suas informa~oes, escreva a max imo que puder. Grande parte desse trabalho de reda((ao sera fazer simples anota((oes, apenas para registrar 0 que voce encontrou, sem esquecer as "anota((oes pa­ra compreensno". Faya descriyoes em liohas gerai s, di agramas mostrando como ha relayao entre fatos aparentemente discre­pantes, resumos de fontes de informac;:oes, "posic;:5cs" e "esco­las", li slas de easos re lac ionados, anole as contradi coes em re­lac;:no ao que voce Jeu, e assim por diante. Ainda que apenas uma pequena parte dessas anota~oes preliminares venha a aparecer em seu rascunho final , e importante faze-Jas, porque escrever sobre suas fontes, a medi-da que lIvon9Q, ajudani vo­ce a cntcnde-Jas melhor e estimulara 0 desenvolvi­mento de seu senso criti­co. Tomar ootas lambem o aj udara, quando chcgar 0 momento de sentar-se pa­ra come~ar seu primeiro rascunho.

Voce logo descobrici que nao pode cumprir cs­sas ctapas na ordcm exata em que as apresentamos. Percebeni que csta esbo­cando urn sumario antes de ter co letado todos os da­dos, formulaodo urn argu­mento antes de ler todas

Quais sao seU5 d odos?

Noo imporlO 0 que 6reQ peflen­~om, todos os pesquisodores usom in fOf~6es como evidencias pa­ra suslentor suas o firma<;:6es . Mos, dependendo de suo 6reo de 0100'

~60. eles alribuem nomes difereo· res as evidencias. Umo vez que 0

nome mbis comum e dodos, ado­Icremos esse termo quando nos referirmos a quolquer ripo de infor· mot;6o usodo nos d iversas 6reos. O bserve que por dodos eslaremos nos relerindo a mais do que 0 in­forrno<;6es quontiloti\.oUs, comuns nas cit§ncias nolurois e sociois, emoo­ra 0 termo passe soar eSlranho aos ouvidos de pesquisadores do 6reo de ciencias humonos.

r I I

FAZENOO PERGUNrAS, ENCONTR.ANDO RESPOSTAS 37

as provas, e, quando pcnsar que tern urn argumento que vale a pena, podera descobrir que precisa voltar it biblioteca em busca de mais provas. Talvez chegue mcsmo a descobrir que precisa repensar as perguntas que formuJou. Pcsquisar nao e urn pro­cesso no quaJ pode-se ir de urn ponto a outro de modo sim­ples, lincar. No cntanto, por mais indireto que seja seu progresso, voce se sentira mais conf iante de que esta progredindo de fato, se entcoder e administrar os componentes do processo.

Page 27: boothwaynec-140923095935-phpapp02

Sugestoes uteis: Trobalhondo em grupo

\

Sugerimos que voce p~a a seus amigos que Iciam ver­soes de sell relatorio, de modo a poder ve-Io como os outros o vecm. Mas tambcm pode acontecer de Ihe pcdircm para redi­gir urn relat6rio como parte de urn trabalho em grupe. Nesse case, voce Icra pel a frente tanto oportunidades quanto desa­fios: um grupe dispoe de mais recursos do que alguem traba­Ihando sozinho. mas, para tirar proveito dessa vantagem, pre­eisa conduzir-se com muito cuidade .

Tres aspectos fund a mentais do trabalho em grupo

Conversar bastante

o primciro aspecto fundamenta l dos trabalhos em g rupa e que os participantes devem conversar bastante e chegar a urn consenso sebre urn plano de trabalho. Mais aioda do que no casa de urn autor isolado, 0 grupo precisa de urn plano, e con­versar a respeito e 0 unico modo de cri a-Io. acompanhar seu progresso e. 0 que e rnais importante. muda-Io quando 0 proje­to est iver rnai s definido. Marquem reunioes regulares, mante­nham contatos telewnicos semanai s, tToquem ende~os, e-mail, fac;am tudo 0 que pudcrem para garantir que uns conversem com os oulros sempre que houver oportunidade.

Antes de comec;ar, certifiquem-se de que 0 grupo esteja de acordo quanta as melas - a pergunta au problema de que ira tralar, a tipo de afirmac;ao que espera apresentar, a tipo de evi­dencias nccessarias para sustenta-la . 0 grupo modificara cssas mclas a medida que as participantes camprcenderem melhor o projeto, mas de5de 0 inicio deve haver urn entendimento sobre

FAZENOO PERGUNTAS, ENCOtvrRANDO RES{~AS 39

isso. 0 grupo deve falar sobre os leitores - 0 que eles sabem. o que acham importante, 0 que voces esperam que eles fac;am com seu rela tario. Finalmente, 0 grupo deve delinear as etapas para atingir as metas, estabclecendo 0 que cada urn deve fazer e quando.

Para focalizar as discussoes nas etapas do projeto, usem estes capitulos como guia. Ut ilizem as listas de verificac;iio para trocar idcias sobre os leitores (pp. 32-3), para fazer per­gunlas sistematicamente (pp. 50-4), reforrnula-Ias em forma de urn problema (pp. 68-77). Designem alguern para manter urn esboc;o que eSleja sempre atua lizado, primeiro como esbo­c;o do tapico (p. 199), depois como esboc;o da argurnentac;ao (p. 140) e finalmente de seus pontos essenciais (pp. 200-20 1). Se 0 projelo envolver muitos dados, estabe lcc;am uma li sta para reuni-Ios, mantenham urna rclavao de fontes consultadas e ainda a serern consultadas, com anotac;:oes breves sobre a imporHineia de cada fonte.

Quanto mais os integrantes do grupo conversarem, mais facil idadc terao para escrcver juntos. Se, como e 0 caso dos tres autores deste livro, os integrantes tiverem a mesrna formaC;ao acadcmica, ja trabalharam juntos e sao capazes de prever as opinioes uns dos outros, poderao conversar menos. Mcsmo assirn, na redac;ao deste livro. nos tres batemos recordes de te­lefonemas, trocamos centenas de mcnsagens de e-mail enos reunimos urna duzia de vezes (em certas ocasioes, dirigindo mais de cern quil6metros para fazer i5S0).

Concordar para discordar e depois para cOflcordar

Estar de acordo c esscncial , mas nao espcrem que 0 grupo coneordc unanimemente sobre todos os assuntos. Podem espc­rar divcrgencias sabre detalhes, as vezes bern Ilumerosas. Resol­vidas essas di vergencias, podcrao surgir as mclhores op in ioes do g rupo, porque voces terao de ser explieitos quanto aquila em que acrcd itam e por que. Par outro lado, nao ha nada que impe~a mais 0 progresso do que alguem ficar insistindo em sua

Page 28: boothwaynec-140923095935-phpapp02

40 A AR7E VA PliSQUISA

versao, ern incluir sua parcela de dados. Se a primeira regra do trabalho em grupo e conversar bastante, a segunda e manter as divergencias em equilibria. Se 0 desacordo for sabre que~toes que nao representem urn impacto significati.vo sob.re~ cO~Junto do trabalho. e melhor esquecer. Guardern sua mtranS!gencl3 para questoes de principio etico all de acorde fundamental.

Organizar~se como equipe. com urn lider

o grupo deve pedir a algucm para atuar como moderador, agilizador, coordenador, organizador. Essa fun~ao recebe nomes difcrentes, mas a maioria dos grupos precisa de algucm para manter 0 cumprimento do cronograma, indagar sabre as pro­gressos, mediar as discussoes e, quando 0 grupa parecer trava­do, decidir qual caminho seguir. Os integrantes do grupo~podem altcrnar-se nessa fun(fao, ou urna pcssoa s6 pode cxerce-Ia du­rante todo 0 projeto. 0 resto do grupo sirnplesrnente concor­da qu~ , depois de urn extenso debate, e 0 rnoderadorlagiliza­dor quem torna urna dec isao, com a qual todos concordam, antes de seguir em frcnte.

Tres estrategias para trabalhar em grupo

A seguir, veremos tres maneiras de os gropos organizarem seu trabalho e alguns dos riseos que cada urna delas oferece. A maioria dos grupos eostuma combi~ar as estrategias que se ajustem melhor a sua situa~ao em particular.

Dividir, delegar e ir a luta

Esta estrategia explora 0 fato de que urn grupo tern mais habilidades do que urn individuo. Tudo vai mclhor quando os integrantcs tern experiencias e talentos difercntcs, e 0 grupo divide as tarefas para fazer 0 melhor uso de cada urn. Por cxern-

FAZENDO PERGUNrAS, £NCON/ RANDO RESPOSTI1S 41

plo, um grupo que trabalhe numa pesquisa sociol6gica pode decidir que duas pessoas sao boas para rcunir dados, oulras duas para analisar esses dados c produzir grMicos, duas mais para redigir 0 rascunho, e que todas participarao da ~d~(fao e revisao do texlo. Esta estrategia dcpendc de cada partlclpante reservar tempo suficiente para seu trabalho, na seqiiencia em que esse liver de ser feito . Se os outros tiverem menos que fazer num determinado momento, podcrao executar OUlros tipos de trabalho, de acordo com as necessidades.

o uso menos proveitoso desta cstrategia e dividir 0 docu­mcnto em partes para cada participantc pcsquisar, organizar, fazer 0 rascunho do texto e revisa-lo. Isso so funciona quando as partes de urn relatorio sao rclativamcntc independentes. Mas. mesmo assim, alguem ten't de cuidar de reunir tadas as partes, e isso podeni ser urn trabalho desagradavel, especialmente se os participantcs do grupo nao eonsultaram uns aos outros ao longo do caminho.

Nao importa como 0 grupo divida 0 trabalho: urna gran­de eapacidade de admini strarvao torna-se neces~a.ria , porque 0

ma ior perigo e a fa lta de coordenac;ao. Caso dlv ldam as tare­fas ou partes, os participantes devem scmpre conversar sobre a que estao fazendo e dc ixar perfeitamcnte claro quem tern a obrigacao de fazer 0 que. Entao, coloquem essas detcnnina­rvoes no papel e entreguem uma copia a cada urn .

Escrever [ado a lado

Em alguns grupos, os integrantes participam de todo a trabalho, atuando lado a lado durante todo 0 proccsso. Esta estrategia func iona melhor quando 0 grupo c pequeno, bastan­te unido, trabalha bern em conjunto e dcdi ca bastante tempo a. larefa - par exemplo, urn grupo de estudantes de enge nharia que dediearn dois semestres ao dcsenvo lvimento de urn proje­to. A desvantagem e que algumas pessoas fieam pouco a von­tade para fa lar sobre idcias incomplctas antes de defini-las par cscrito. Outras podem achar ainda mais incomodo eomparti-

Page 29: boothwaynec-140923095935-phpapp02

42 II AR1'E DII PE$QUISA

Ihar rascunhos e textos nao revisados. Os participantes de urn grupo que usa esta estrategia devem seT tolerantes uos com os Qutros. 0 que costuma acontecer e que a pessoa mais confian­Ie do grupo ignora os scntimcntos dos autros, domina 0 pro-cesso e inibe 0 progresso. ~

" Trabalhar em turnos

Em alguns grupos, os participantes trabalham em conjun­to durante todo 0 dcsenvolvimento do projeto, mas redigcm 0 texto e 0 revisam em turnas, de modo a faze-Io evoluir para a versao final como urn todo. Essa estrategia e cfieaz quando os participantes divergem sobre 0 que e importante, mas suas di­vergencias complementam-se em vez de se eontradizerem.

Por exemplo, num ,.grupo envolvido num trabalha sobre 0

.Alamo, uma pessoa pode se interessar pelo choque de cultu­ras, outra pe las conseqiiencias politicas e urna terceira pelo papel da narrativa na cultura popular. Os participantcs podem trabalhar a partir das mesmas fontes, mas identifiear aspectos diferentes do assunto como os mais importantcs. Entretanto, depois de compartilharem 0 que descobriram, revezam-se na reda~1io das vcrsoes de urn texto Unico . D primeiro redator cria urn rascunho incompleto, mas com estrutura suficiente para que os oulros vejam 0 esbo~o da argurncllto e 0 ampliem e reor­ganizem. Cada participante, entao, em sistema de revezamen­to, encarrega-sc do rascunho, acrcscentando e desenvolvendo as ideias que Ihe pare~arn mais importantes. 0 grupo cOllcor­da que a pessoa que esteja trabalhand9 no texto no momento seja seu "dono", podendo, portanto, fazer as mudan(,;as q ue achar Ilccessarias, desde que essas mudan~as refli tam a inter­preta(,;ao do grupo como urn todo.

D risco c que 0 produto fina l pareceni atender a proposi­tos contradit6rios, seguindo urn caminho em ziguczague, indo de urn interesse incompativel pard outro. Urn grupo que lraba­lha pelo sistema de turnos precisa estar de acorda sobre a meta final e a forma do todo, e cada integrante devc respeitar e acci­tar as perspectivas dos outros.

FAZENDO PERGUNTAS, ENCONTRANDO R£SPOS TAS 43

Pode seT que seu grupe ache que pode usar urna estratc­gia difercnte em cada fase do trabalho. Por cxemplo. no inicio do plancjamento, ta lvez voces quc iram trabalhar lado a lado , pelo menos ate definirem 0 scntido geral do problema. Para a coleta de dados, voces podedio achar mais eficaz iTem a luta separadamente. E, nas fases finais da revisao, podcriio qucrcr trabalhar em turnas. Ao escrever este Iivro, misturamos as es­trategias. No inicio, trabalhamos lade a lado ate termos urn esbo­~o. Desenvolvemos entao capilu los separados e voltamos a tra­balhar lado a lado, quando nosso progresso ex igiu, e sentimos que precisavamos revisar nosso plano (0 que aconteccu tres vezes, pelo menos). Na maior parte, entretanto, dividimos 0

trabalho, para que cada urn redigissc capltulos independentes. Quando 0 texto fi cou completo, traba lhamos em turnos, e 0

resultado foi que muitos capitulos assemelham-se bern pouco aos originais rcdigidos por urn ou outro de nos .

o traba lho em grupo e dificil, e as vezes duro para 0 ego, mas tambem pode ser altamente compcnsador.

Page 30: boothwaynec-140923095935-phpapp02

Capitulo 3

De topicos a perguntas

Neste capitulo, voce veri como usar seus interesses para encontrar um t6pico, restringir esse t6pico a uma dirnensao controlAvel e, entio, elaborar pergunw que serio 0 ponto cen­tral de sua pesquisa. Se voce t urn estudanle avam;ado e ja tern dezcnas de t6picos aos quais goslaria de se dedicar, pode pular para 0 Capitulo 4. No entanto, se esta come'Vando seu prirnciro projclO, acharn cste capitulo bastante uliL

3_1 Interesses, topicos, pcrguntas e problemas

SE voc~ TEM LIBERDADE para se dedicar a qualquer t6pi­co de pesquisa que a interesse, isso podera ser frustrante - tan­tas cseo Lhas, tao poueo tempo. Eseolher urn topico, entretanto, e 56 0 primeiro passe; portanto nao pense que, tcndo eneontra­do urn, voce s6 precisani proeurar informa'Yoes e relatar 0 que enco~trou . Alem de urn t6pico, voce precisa encontrar urna ra­tio (independente daqucla de cumprir sua tarefa) para dedicar semanas ou meses pesquisando sabre ele e, cntao, pedir aos leitores que gastem tcmpo JeDdo a respeito deie.

Pesqui sadores fazem mais do que cavar informa~oes e re­lata-ias. Usam essas informafoes para responder a pergunta que seu topico inspirou-os alazer. No principio, a pergunta pode ser interessante apenas para 0 pesquisador: Abraao Lincoln era born em matematica? Por que os gatos csfregam 0 focinho nas pcssoas? Existe mesmo algo como urn tom de voz perfeito ina­to? E assim que as pesquisas mais significativas come~am -com uma comichao intelectual que apenas uma pessoa sente, levando-a a querer co~ar-se. A uma certa altura, porem, 0 pes­quisador tcm de dec idir se a pergunta c sua resposta serao sig­nificativas, de inicio para 0 pesquisador apenas, mas finalrnen­te para outros: urn professor, colegas, urna cornunidade intei­ra de pesquisadores.

Chegando a esse ponto, cle precisa encarar sua tarefa de ma­neira difercnte : deve ter como objetivo nao s6 encontrar res-

Page 31: boothwaynec-140923095935-phpapp02

46 A ART£ DA PFSQUISA.

posta para uma perg unta, mas proper e resolver urn problema que, a seu ver, Qutcas pessoas tambem acharao que vale a pena s~r.reso l vido. Essa paJavra "problema", no emanlo, tern urn s ig­mflcado lao especial no mundo da pesquisa, que e 0 assunto do,proximo .c~pftulo inle iTo. Levanta questoes q\lc poueos pes­qUlsadores Imcianles estao preparados para resolver inteira­mente, c que podem pCrlurbar ate mesma urn pcs'quisador mais experiente. Portanto, nao se sinta intimidado sc no principia nao p.uder : ncontrar em seu tepieo urn problema que Quiros julga­nam dlgno de ser resolvido. Mas voce oem scquer chcgara a esse ponto, a oao ser que se es forcc para achar em seu Icpieo urna questao que pe la menos voce considere que vale a pena propor.

Neste capitulo, foca lizaremos os passos que cooduzem a formuJac;ao de urna pergunta de pesquisa. Como transfomlar urn interesse em urn t6pieo de pesquisa? Como encootrar per­gunlas que possam orienlar a pesquisa? Depois, como dee idir se va le a pena dedicar-se a cssas perguntas e respostas, nao sob o ponto de vista do pesqui sador apenas, mas tambem dos lei­tares? 0 processo 6 0 scguinte:

I - Encontrar um interesse numa ampla area tematica. 2 - Restring ir 0 interesse para urn topieo plausivel. 3 - Quest ionar esse topico sob diversos ponlos de vista . 4 - Definie urn fundamento logieo para 0 projeto.

No proximo capitulo abordarcmos uma quesrao rnais perturba­dora, a de converter perguntas em urn problema de pesquisa.

3.2 De urn interesse a urn topico

.. Pesquisadores experientcs tern imeresses mais do que s uo flclcmes a que sc dediear. Urn interesse 6 s implesmente uma area geral de investigacao que gostari amos de ex plorar. As fa­v~rit.as de nos tres atualmente sao: sociedade e Iinguagem, coe­re~c la e cognicao textuai s, elica e pesquisa . Mas, e rnbora pes­qUJsadorcs iniciantes tambem tenham intcresses, as vezes acham difieil local izar entre elcs urn lopico adequado a pesquisa aca-

f"'AZENOO P£RGUNTAS, £NCON/ RANDO RESPOSTAS 47

demiea. Urn topico e urn interesse especifico 0 baslante para servir de base a uma pesquisa que possa ser relatada de manei­ra plausivel em urn livro au artigo que ajudern outros a evo­luir em compreensao e maneira de pensar: os sinais lingiiisti­cos de mudanca soc ial na lnglaterra elisabetana, 0 papel dos roteiros mentals na criacao de coerencia do leitor, ate que ponto a pesquisa atual e motivada por pagamentos feitos por baixo dos panos.

Se voce esta livre para estudar qualquer t6pico dentro do razoavel, s6 existe urn cliche que podemos Ihe ofereccr: come­ce pelo que 0 interesse mais profundamente. Nada contribui­£<1 mais para a quaJidade de seu trabalho do que saber que vale a pena descnvolve-Io e eomprometer-se com ele. lnicie relacio­nando quatro ou cinco areas sobre as quai s gostaria de apren­der mais, entao escolha uma que ofereca 0 melhor potencial para produzir urn t6pico que seja especifico e que passa con­duzir a boas fontes de dados. Se voce esta em urn curso avan­c;ado, c provc'iveJ que se limite a assuntos que interessem a pes­soas de seu campo de estudo, mas sempre e possivel encontrar outro~, consultando algum livro didittico recente, conversando com outro estudante ou com seu professor. Voce ate pode ten­tar identi fica r urn interesse que fom eca urn topico para urn tra­balho de outro curso, agora ou no futuro.

Se ainda est3 confuso, aqui vai uma maneira de garimpar temas: se este e seu primeiro projeto de pesqu isa em urn curso de redacao, procure na sala de leitura de sua biblioteca uma fon­te bibliografica geral ou um indice bibliogn'l fico (discutiremos esses recursos mais detalhadarnente no Capitulo 5 e nas "Su­gestOes ,:aeis" subseqiientes). Se voce e urn estudante avanca­do, tente enconlrar urn indice cspecializado em seu campo de estudo, como, por exernplo, urn Iodice sobre psieoiogia, sobre filosofia, e assim por diante. Entao, corra os olhos pelos titulos ate enco'ntrar lim que atraia seu interesse. Esse titulo oao so forneccra urn possivel topieo, mas tambem uma !ista de fontes.

Se esta redigindo seu primeiro relatorio de pesqui sa cm urn deterrninado campo e ainda mio definiu urn topico, voce podera ir a biblioteea para descobrir onde estao as melhores fon-

Page 32: boothwaynec-140923095935-phpapp02

48 A AR71i DA PESQUlSA

leg a respeito. Se cscolher 0 Ibpico e, depoi s de uma busca con­sidecive l, descobrir que as fontes sao cscassas, tera de reco­mcvar. Ao identificar as areas com recursos promissores, dcs­cobrini os pontes fortes e fmeos de sua biblioteca, 0 que sig­nifica que podcra pianejar 0 projeto a~al e os futuros mais cuidadosamcnte. (Se voce esta rcalmentc confuso>procure mais oricnta~oes em "Sugestocs (Heig", no fina l deste capitulo.)

3.3 De urn tbpico amplo a urn espccifico

A esta altura, voce corre 0 risco de escolher urn tepieD tao geral quanto 0 subtitulo de urn verbete de encic lopedia: "Voo espacial, hist6ria do"; "Shakespeare, pe<;as dificeis de"; "Espe­cies naturais, doutrina das", E prov<lvel que urn topico que possa seT definido em menos de quatro ou cinco palavras seja geral derna is. Caso encontre~se dianlc desse tipo de topico. torne~o mais especifico:

o Iivre~arbitrio e a incvitabili~ 0 combatc entre 0 livre-arbilrio dade hislorica em Guerra e -~ e a inevitabilidade hist6rica na Paz, de Tolstoi. dcscri r;ao de tn3s balalhas em

Guerra e Paz, de Toistoi.

A hist6ria da aviar;ao comcrcial. -~ A contribuir;ao do Excrcito para o dcsenvolvimento dos 'OC-3 nos primeiros allos da aviar;ao comcrcial.

Restringimos esses topicos, modi fieando-os com 0 acres­cimo de palavras e frases. Nos exemplos ae ima, acrescentamos quatro substantivos especia is: combate, descri<;iio , cOlltribui­<;iio e desellvo!vimento. Esses substanti vos sao especiais por­que eada urn deles esta relacionado com urn verbo: combater, descrever, COllfribuir e desenvolver. A ce rta altura, voce teni de passar de uma Frase que designa urn te pico - " Iivre-arbitrio e inevitabilidade hi sterica cm Tolstoi", "hist6ria da avia~ao come rc ia l" - para uma Frase que estabele~a uma afirma<;o.o

FAZEJIIDO P/;,RGUNTAS, ENCONTRANDO RESPO!>TAS 49

potencial. Se voce restringir seu topico usando substantivos derivados de verbos, cstanl a urn passo de uma afirrna~ao que pode ser desafiadora 0 bastante para despe rtar 0 inte resse de seus le itores. Compare estes exemplos:

Livre-arbitrio e inevitabilidade hist6rica em Guerra e Paz, de Toisloi.

o combate entre 0 livre-lIrbi­trio e a inevitabi lidadc histori­ca na descrifiio de Ires batalhas em Guerra e Paz, de Toistoi.

Hi! tanto li vre-arbitrio quanto -+ inevitabilidade historicll em

Guerra e Paz, de Tolstoi.

Toi stoi descrel'e tres batalhas de urn modo que faz 0 livre-ar­

....... bit rio COli/bater a inevitabilida­de hi storica.

A hist6ria da av ia~ao comercial. -~ A aviar;ao comercial tern uma histOria.

A cOlltrib";riio do Exercito no desetlvolvimetlto dos DC-3 nos _~

primeiros anos da av ia~ao co­mercia!.

o Exercito contribui" na mll­neira pela qual os DC-3 se de­settvolveram nos primeiros anos da aviar;ao comercia l.

Essas podem ainda nao ser afirmar;oes partic ula rmente in­Icre::;santes. Mas, urna vcz que vai e laborar seu projcto fi nal a partir de uma sen e delas, voce deve, desde ° principio, aprovci­tar todas as oportunidades para conseguir as tipos de ::;:firma­~ocs de que eventualmente preci::;ani.

A vantagem de urn te pico especifico e que voce reconhe­ce mais fae ilme nte os problemas, lacunas e inconsistencias que podeni questionar. Isso 0 ajudani a transformar seu t6pico em urna perglillto de pesqui sa. (Sc seguir nossa sugestao, de co­me~ar com urn in dice a u resumo, se ll t6pico j{l sera. restringi­do pclo titulo.)

C uidado: voce pode limitar demais sell tepico quando nao consegue encontrar Fontes com fac i lidade.

Page 33: boothwaynec-140923095935-phpapp02

50 A. ARTE DA PESQUISA

A hist6ria da avia~ao comercial

• o apoio milila r ao desenvolvi mento dos DC-3 nos primeiros anos da avia(,:ao comercial americana

• A decisao de prolongar a extremidade das asas no 'prot6tipo do DC-3 como rcsultado do desejo mililar de usar os,DC-3 como

transportadores de carga

3.4 De um t6pico especifico a perguntas

Tendo encontrado urn t6pico que pare~a IOlito interessan­te quanto promissor, ta lvez a1go como "origens e desenvolvi­mento politicos das lendas sabre a batalha do Forte Alamo", 0

pesqui sador inic iante tipicamente comCl;a a procurar fontes e coletar infonna(,:Oes - oeste caso, versoes da historia dos seeulos XIX e XX. em livros e filmes mcxicanos e amcricanos. Pode, entao. redigir urn artigo resumindo as hist6rias. apontando di­fe rencas e semelhani;as, comparando-as com 0 que os hi sto­riadores modernos acham que realmente aconteceu, e concluir:

Portanto, ha intcressantes diferen~as c semelhan~as entre ...

No primeiro ana de curso, urn artigo desses pode ser sufi ­cienle para aprovar 0 aluno, demonstrando que ele consegue se conccntrar nurn t6pico, encontrar, reunir c apresentar dados de maneira cocrente - uma conquista nada desprezivel para urn primeiro projeto de pesquisa. Mas, para algucm que deseje que , sua pesquisa tenha importlincia, urn resultado desses ainda nao sera 0 melhor.

Embora aprenda a lgo com 0 exercic io de pesquisar e re la­tar as hist6ri as do Forte Alamo, 0 aulor apresenta apenas infor­maft5es. Nao e labora nenhuma perg unla que tanto ele quanta seus leilores possam achar que vale a pena fazcr, e assim nao pode apresentar nenhuma resposfa sign ificativa 0 baslante para rnudar 0 que e lc ou seus leitores pensam sobre aquelas hi sto­rias ou seu desenvolvimenlo.

FAZENDO PERGUWTAS, £/I.'COlflRAN/X) 1lf,sPOSTAS 51

Assim que eneontrar urn topico para pesquisac, voce deve procurar nele perguntas para responder. As perguntas sao cruciais, porque 0 ponto de partida de wna boa pcsquisa e scmpre 0 que voce niio sabe 011 entende mas sente que deve conhecer ou enten­der. Comecc erguendo uma barragcm de perguntas dianlc de seu lopieo, fonnulando primeiro as habituais c 6bvias de sua area:

As lellt/as sobre a baralha do ForIe Alamo reflelem com exalidoo nossos me/hares relalos historicos? Os rela/os histo­ricos sao con/raditorios?

Fa~a as perguntas-padrao qllem, que, quando e onde. Ano­te suas perguntas, mas nao pare para responder a elas.

Voce pode organizar suas perguntas de aeordo com as qua­tro perspectivas seguintcs:

I - Quais sao as partes de scu topico e a que conjunto maior ete pertcnce?

2 - Qua l e a hislo ria desse t6pieo e em que historia maior e lc se inclui ?

I 3 - Que tipos de categorias voce cncontra no t6pico, e a

que calegorias maiores e lc perrenee? 4 - Ate que ponlo 0 topieo e bo m? Com que finalidade

voce pode usa- Io?

(Nao se preocupe em fazcr as perguntas cenas nas eategorias cer­tas; as categorias apenas servem para eSlimular as perguntas .)

3.4.lldentifique as parIes e 0 lodo

• Questione seu te pieo de modo a ana lisa- Io em suas partes com­ponentes e avaliar as relacOes funcionais entre e las:

Quais srio as parIes das hislori(u sabre a bafalha do Forte Alamo? Como elas se relacionam entre ,fi? Qllem parricipoll dw; his/orias? Como as participantes se relacio"am com 0 lugal". 0 lugar com a ba/alha. a bara/ha com os parlicipallres. as parrici­pOnies elllre sf?

Page 34: boothwaynec-140923095935-phpapp02

52 It ANn- VA PJiSQUISA

• Questione seu t6pico de modo que 0 identifique como urn componente funcional Dum sistema maior:

Como as politicos usaram 0 episodio? Que popel dcsem­penha 0 episOdio nu his/oria mexicana? Que papel ele desempe. nha no hisroria americana? Quem con/ou as his/()rias? Quem as oll .... ill? De que maneira as his/orias foram a/etad-as pela nacio­nalidade de quem as norrou?

3.4.2 Ras/rete a historia e as mudan(:as

• Questione seu t6pico, tratando-o como urna cntidadc dina­mica que muda 30 longo do tempo, como algo que tcnha hi s­t6ria propria :

Como a balalha se desenvolveu ? Como as historias se de­senvolveram? Como historias diferenres se desenvolveram de ma­lIefra diferente? Como os ouvinles mudaram? Como as conta­dares das hislarias mudaram? Como mudaram as mOlivos para conlar as historias? Quem conrail as historias primeiro? Quem as con/ou depois? Quem as leu e ouviu primeiro? Quem as leu e ollviu depois ?

• Questione seu t6pico de modo que 0 identi f ique como um epis6dio em urna histaria maior:

o que caU,fOU a balalha, as historias? 0 que a batailla e as his(orias causaram entao? Como as hist6rias encaixam-se numa seqiiencia hist6rica? 0 que mais estava acontecendo quando as hist6rias surgiram? Qum/do elas mudaram? Que Jorfas Jizeram as historias mudar?

3.4.3 Identifique caregorios e carac terisricas

• Questione seu t6pico de maneira que defina a ex tensao de sua varia~ao. 0 modo como as situa~Oes sao parccidas c d ife­rentes entre s i:

FAZliNDO PENGUNTAS, ENCONTRANDO RESPOSTAS 53

Qual e a his/oria mais tipica? Como as QUiros historias diferem dela? Qual e a mais diferente? De que modo as histo­rias orais e escritas diferem das versoes de cinema? Em que as his/orias mexicanas sao diferentes das omerieanas?

• Questione seu topico de modo que 0 loca lize em uma calc· gena maior de tapicos semelhantes:

Que outras his/orias da lIistoria americana assemelham­se ti da balailla do Forte Alamo? Que outras hislorias siio mui/() diferentes! Que oulras sociedades tem os mesmos lipos de his­torias?

3.4.4 Determine 0 valor

• Questione seu topico quanto a sua utilidade:

As histarias sao boas? Que uso ja seJez delos? Ajudaram as pessoas? Prej udicaram-nas?

• Quest ionc seu tapico quanto it importancia relativa de suas partes e caracteristicas:

Algumas historias sao melhores que OUlras? Qual "ersiio eo me/hor? Qual e (l pior? Quais partes sao as mais precisas? Quais sao menos?

3.4.5 Revise e reorganize suas resposras

Ao termi nar as perguntas, agrupe-as de maneiras di ferentes. No excmplo do Forte Alamo, algumas pcrguntas relacionam-se com 0 desenvo lvimento das hist6rias; outras referem-sc a sua quaJidade como fato ou fi c~ao; outras destacam diferenyas en­tre as versoes (dos seculos XIX c XX, mexicanas e amcricanas, escritas e filmadas); outras perguntas abordam assuntos poli­ticos. e assim por diante. Essas lis las podem fornecer uma por-

Page 35: boothwaynec-140923095935-phpapp02

54 A ARTE DA PJ:SQUISA

1;50 de tapicos de pesquisa. Se fOTem independentes 0 bastante, podecio abrir universos de pesquisa, nurn efe ito estimulantc.

o proximo passo requer urn julgamento rnais cuidadoso. Em primeiro lugar, identifique as perguntas que precisam de urna resposta com rnais de urna au duas palavfas. Perguntas que come~am com quem, que, quando a u Glide sa~ importan­les, mas tratam apenas de fatas rcais . De mais "importancia a perguntas que comecem com como e por que. Entao, note quais sao as que 0 detem por urn momento, que 0 provocam, dcs­pertando urn inte resse especial. A cssa altura, e claro, voce nao pode ter certeza de nada. Suas respostas ta lvez revelem-se me­nos surpreendentes do que voce esperava, mas sua laTefa agora e apenas formular a lgumas perguntas cujas. respostas possam ser tanto plausiveis quanta interessantes.

Oepois de ter fe ito tudo isso, voce teHi dado seu primei­ro grande passo num projeto que sera mais do que apenas uma coleta de dados.. Ted idcntificado algo que nao sabe, mas. que quer saber, e e 0 que voce quer saber que 0 levara aos primei­ros estagios de sua pesqui sa . Voce esta pronto para rcunir da­dos, urn proccsso que ex plicaremos no Capitulo 5. No cntan­to, embora voce ja possa comcc:;ar a reuni- Ios, 0 processo de definir sell projeto ainda nao esta completo.

3.5 Dc uma pcrgunta a avalia~ao de sua importancia

Mesmo que voce seja um pcsquisador experiente, talvez nao estej a aplo a dar 0 proximo passo ate 0 projeto estar bern adiaotado, ou mesmo perto do fim . E, se voce fo r urn pesqui ­sador iniciante, pa den't achar esse passo espec ialmente frus­traote. Assim que encontrar urna pergunta, voce precisa formu­lar outra e tentar responder: E dai?

£ dai se ell nao sei ou nao enfendo como os gal/50s sabem para onde migrar no iI/verno. par que 0 Titanic/oi tao mal pro­jetado. como os violinistas do seClIlo XV afinavam seilS insfnl­mentos. pOl' que os texanos cOllfam uma historia sabre 0 Forte Alamo e as mexicanos outm? E dai?

f'AZENDO PERGU/VTAS, £NCONTRANDO RESPOS1'AS 55

Essa pergunta embarac:;a a todos os pesquisadores, princi­piantes e experi entes, porque, para responder a cia, e preciso saber ate que ponto a pesquisa e importante, nao apenas para o pesquisador, mas para olltras pessoas. Em vez de fazer essa pergunta diretamente, no entanto, voce se aprox imara mais da resposta se procura-la ern etapas.

3.5. J Passo J: especifique seu topico

Nos estagios iniciais de um proj eto de pesquisa, quando voce tem apenas urn topico e talvez os primeiros lampejos de algumas perguntas boas, tente descrever seu trabalho em uma frasc como esta:

Estou aprendendo sobre/trabalhando emlestudando ___ "

Preencha 0 cspac:;a em branco com algumas frases nomi­nais . Inclua urn au dois daqueles substantivos que podem ser convertidos em urn verba ou adjetivo:

I

Estou estudando processos de reparos em sistemas de refrigerarao.

Estou trabalhando na mo(ivQrao dos primeiros discursos do pres idenle Roosevelt.

3.5.2 Passo 2: sugira uma pergunta

o mais cedo que puder, tente descrever seu trabalho com ma ior exatidao, acrescentando a frase urna pergunta indireta que especifiquc a lgo a respeito de sell lopico, que voce nao sabe ou que nao cntcnde perfeitamente, mas que quer saber ou entender:

Estou estudando X porque quero descobrir qucm/o que/ quando/onde/se/por que/como _ __ _

Page 36: boothwaynec-140923095935-phpapp02

56 A ARTE DA PESQUISA

Agora voce deve preencher 0 novo espac;o em branco com urn suje ito c urn verbo:

Estoll estudando processos de rcparos em sistemas de rc­frigcrat:;ao. porque eSlou ten lando descobrir: como os es­pccialistas nesses rcpares anal isam suas fa lh'as. , Estoll trabalhando na motivacao dos primeiros discursos de Roosevelt, porque quem descobrir se os pres identes, desdc os anos 30, usaram esscs di scursos para anunciar no­vas polit icas.

Quando puder acrcseentar uma orac;ao do tipo porque­quero-deseobrir-eomolpor que, voce tcn! I.lefinido seu t6pico e sua razao para investiga- Io. Se esti vcr tnlbalhando em urn de seus prirneiros artigos e chegou ate aqu!, parabi=ns, pois defi­niu scu projeto de urn modo que vai alem de uma co lc.;ao alea­t6ria de in formac;:oes.

3.5.3 Passo 3: motive a pergunra

Ha, no entanto, rnais uma etapa a ser cumprida. E uma eta­pa dificil , mas, se puder supcni-Ia, vod: transformani seu pro­jeto em algo que nao apenas intercssani. a voce, como pod era conquistar 0 interesse de outros, urn projeto que explica com 16gica por que sua pergunta e importante. Para tanto, voce de­ve acrescentar um elemento que expJique por que esta fazendo a pergunta e 0 que pretende obter com a resposta. ,

Na Etapa 3, voce acrescenta uma segunda pergunta indi­reta, iniciada por: a fim de enlender como, por que, ou se:

I - Estou cstudando os processos de reparos em s istemas de refrigeraC;ao,

2 - porque quero descobrir como os cspecialislas nesscs reparos analisam suas falhas,

3 - afim de elltender como projetar urn sistema computa­dorizado que possa diagnosticar e prevenir essas falhas.

"AZENDO PERGUNTAS. ENCONTRANDO RESPOSTAS 57

I - EstOll trabalhando na motiv3c;ao dos primeiros discur-50S de Roosevelt,

2 - porque quero descobrir se os prcsidenlcs a partir dos anos 30 usaram csses discursos para anunciar novas politicas,

3 - a jim de en/ender como a fomentacao do apo io popu­lar a politica nacional mudou na era da televisao.

Reunidas, as tres etapas fieam assi m:

I - Espeeiflqlle seu /opieo:

Estou estudando ___ _

2 - Formule slIa pergunla:

porque qucro dcscobrir quem/como/por que _ _ __ _

3 - Estabele{:a 0 [undamenlo /ogieo para (I pergunta e 0 projelo:

gara entender como/por que/o que ___ _ _

Raramente urn pesquisadar consegue seguir esse modele antes de comec;ar a reunir informac;oes. Na verdade, a maloria !laO conseguc complcla-Io ate que tenha quasc acabado 0 tra­balho. Muitos, infelizmente, publicam seus resultados Scm ter nem scquer pensado nessas clapas.

Embora no come.;o de seu projeto voce nao seja capaz de passar por todas essas elapas, e uma boa ideia tcstar seu pro­gresso de vez em quando, vendo 0 quanta voce pode avanc;:ar nesse sentido. Melhor ainda, pec;a a alguem - colega, parente ou amigo - parafor(:o-Io a seguir essa sequencia . A evolulYao de sua descrivao 0 aj udani a manter-se informado sobre sua pos i­c;ao at ual e a concenlrar-se no rumo que prccisa tomar.

rode ser que na primeira tentaliva de pesqui sa nao seja pos­sivel encontrar uma pergunta clija resposla tenha muita impor­tancia para algucm, a Olio ser voce mesmo. Mas so pelo fata de faze- Ia voce ja ini agradar sell professor. A med ida que avan­c;ar com seu projeto, entretanto, fa c:,:a 0 passivel para seguir 0

Page 37: boothwaynec-140923095935-phpapp02

58 A ARTE DIl PESQl!JSA

modelo; tcote encontrar urna razao para fazer sua pcrgunta. urna maneira de tamar sua resposta importmlte para voce, tal­vez ale mesma para os Quiros.

Lcmbre-se de que seu objctivo final e explicar: • 0 que esta escrevendo - seu topico. '\, • 0 que voce nao sabc sobre etc - sua pergun\a. • por que voce quer saber sobre ele - seu fundamento 10-

gico. Quando puder alcaOl;ar esses tres objetivos. voce ten'! defini­do urn motivQ para sell projc to que vai a1cm de simplcsmentc alender a uma exigencia. Voce sabeni que tern urn projeto de pesquisa avonrado quando 0 que vern depois do a Jim de en­lender e importante nao 56 para voce, mas tambem para seus leitores.

E quando comec;amos a pensar em nossos Ic itores que Ic­mos de mudar os termes de nosse projcto: de propor uma per­gunta e responder a ela, mudamos para propor e resolver um problema, 0 assunto de nosso pr6ximo capitulo.

I , Sugestoes uteis: Descobdndo t6picos

Se voce for urn pesquisador avanc;ado. e bern prov!lvel que nao prec ise procurar t6picos para pcsquisar. Pode concentrar­se nas pesquisas ex istentes em sua area, as quais podera cncon· trar sem dificuldade, correndo os olhos por artigos recentes e ensaios e, caso estejam disponiveis, dissertac:;:oes recentes, em especial as sugestoes de pesqui sas futuras incluidas em suas conelusoes. Se voce for menos avanc:;:ado, seu pro fessor ainda esperara que foca lize t6picos de sua area, embora nao num estagio muito adiantado. A maior parte dos professores desig­nara t6picos para serem escolhidos ou, pelo menos, indicant 0 tipo de t6picos a serem considerados.

As vezes, no entanto , voce precisara encontrar tapicos por conta propria e, se estiver numa classe de redac;ao de primei· ro ano, tent de procurar bons t6picos scm oem mesrno contar com urn campo espccifico em que concentrar seus esforc;os. Se voce precisa encontrar seu proprio t6pico e Ihe "deu urn bran· co", experimente examinar as seguintes fontes:

Topicos focalizados mit" determilfado campo de estudo

I - Consulte urn livro didatico de urn curso um nivel aci· rna do seu, ou dc urn curso que voce sabc que tera de fazer no fu turo. Nao negligencie as quesloes de estudo .

2 - Assista a uma confen!ncia publica sobre sua area e preste atenr;ao para eneontrar algo de que di seorda, que nao en· tende ou sobre 0 que descj a aprender mais.

3 - Leia os thulas de t6picos em bibliografias especiali· zadas e resumos.

4 - Folheie uma Encic/opedia de ... especifica do campo que estcja cstudando.

Page 38: boothwaynec-140923095935-phpapp02

60 A AR1E DA PESQUISA

5 - Pergunte ao seu orientador quais sao as questoes mais poh!micas em sua area.

6 - Se voce te rn acesso a Internet, procure urna " 'i sla" es­pecia lizada que 0 interesse e "observe" (lcia as mensagens en­viadas por outros) ate cncontrar te mas discutidos.,

Topicos gera is

J - Pense em urn assunto que 0 interesse de maneira espe­cial - iatismo, gimistica, xadrez, trabalho voluntcirio, dan~a mo­derna - e investigue suas origens ou como e sua pnitica em oulTas culturas.

2 - Invcstigue urn aspecto espec ifico de urn pa is que gos­laTia de visitar.

3 - Ande por urn museu de qualquer espc!cie - arte, his­taria natura l, automoveis - ate pegar-se observando alguma coisa com grande interesse. 0 que rna is voce goslaria de saber sabre essa co isa?

4 - Vague ie por urn grande shopping center ou loja de departamentos, pergumando-se: ''Como e que eles fazem is­so?" ou "Gostaria de saber quem criou esse produto".

5 - Folheie seu jornal de domingo, espccialmente as se~oes de artigos e reportagens, ate sc ver parando para ler algo. Se for 0 caso, de uma olhada nos arti gos de fundo c na sC(fao de livros.

6 - Va a uma banca de revistas e olhe algumas, fo lhean­do. Compre uma revista que Ihe pare(ffl tccn ica e interessante . Procure especialmente revistas de negocios ou as que atendam a interesses ahamente cspec ial izados.

7 - Folheie as revistas populares, comuns em salas de cs­pera, como a Seiefoes do Reader's Digest, c procure um arti­go com alguma afirma(fao importante sobre saude, soc iedade au reia(foes humanas e que se baseie em alguma alegada "evi­dencia". Descubra se e verdade.

8 - Prestc atcn(fao a programas de enl rev istas na lclevisao au no radio, ate ouvir urn argurnenlo de que discordc. Entao,

T FAZWDO Pt:RGUNTAS. ENCOM'RANDO RESPOSTAS 61

pergunte-se se conseguiri a encontrar informa(foes suficientes para refuta-Io.

9 - Lembre-se da ultima vez em que discutiu acalorada­mente sabre algum assunto importante e saiu frustrado porque nao tinha as fatos de que precisava.

10 - Pense em algo em que voce acredita, mas a maioria das pessoas, nao. Entiio, pergunte-se se e 0 tipo de assunto sa­bre 0 qual poderia encontrar suficientes provas para conven­cer alguem.

II - Pense em algumas crcn(fas comuns, que todo 0 mundo tern como cerlas, mas que poderiam nao ser, tal como a afir­ma(fao de q ue os esquimos tern urn grande mimero de palavras para refcrir-se a neve, OU que urn dos sexos e naturalmenle melhor em a1go do que 0 outro.

12 - Corra os olhos pelos thulos de bibliografias gerais. 13 - Pense em uma controvers ia popular que uma pesqui­

sa poderia aj udar a esclareccr. 14 - Reuna-se com cinco ou se is amigos e entreguemMse

todo~ a uma re flexao sobre 0 que mais goslariam de saber.

Page 39: boothwaynec-140923095935-phpapp02

, , Capitulo 4

De perguntas a problemas

Este capiwlo abrange O$Suntos que os p esquisodores iniciantes podem achar dificeis e ate mesmo desconcerlan­les. POr/anto, aqueles que esllverem troha/hondo em sell pri­meiro projelo padem pillar para 0 Cop ifllio 5. se qlliserem. (t claro que esperomos que voce aceilc 0 desajio e continue lendo.) Para os es tudames avan~adol', entrelanlO. 0 que se segue e essencial.

No CAPiTULO ANTERIOR, explicamos como encontrar urn t6p ico entre seus intcrcsses, como encontrar nesse topico per­guntas para pesquisar e depois como estabelecer a importan­cia de sua resposta, descrevendo seu fundamento logico:

I - T6pico: EstOll estudando ,_-;-:-_ 2 - Pergunta: porque quero descobrir quem/comol

por que -c--cc-:-3 - FUlldamell to IOgico: a fim de cntendcr como/pa r que

10 que _____ '

Esses passos definem nao s6 a desenvolvimento de seu projeto, mas tambem seu proprio crescimento como pesquisa­dar. Ao avancar do passo 1 para 0 2, voce vai alem dos pes­quisadores que apenas rcunem informacoes, porque nao esta conduzindo seu projeto por urna curiosidade fortuita (de rna­ne ira nenhuma urn impu lso infrutifero), mas par sua necessi­dade de entendcr algo melhor. Ao avancar para 0 passo 3, voce ultrapassa os pesquisadores iniciantes, porque esta focalizan­do seu projeto na imporriincia, na uti/Made de aprender 0 que nao sabe. Quando esses passos tomarn-se urn habito de reOe­xiio, voce sc convertc em urn verdadeiro pesquisador.

Page 40: boothwaynec-140923095935-phpapp02

64 Ii ANTE DA PESQUlSA

4.1 Problemas, problemas, problemas

Ha, cntretanto, urn ultimo passo, que e dificil ale mesmo para pesquisadores experientes. Voce precisa convenccr sellS leitores de que a resposta a sua pergunta e. imporlflnte na~ 56 para voce, mas para eles tambem. Precisa transform'ar seu mo­tiva pam descobrir em motivo para demonstrar e, mais impor­tante ainda, transformar 0 motivo para entender em motivo para explicar c con veneer.

Este ult imo passo faz tropcl,':ar ate mesmo os pesqui sado­res mais cxperientes. porquc eles costumam pensar que cum­priram sua obri gafYao simplesmente propondo urna pergunta de seu interesse e respondendo a ela. Estao apenas parcialmente certos: sua rcsposta tambem deve ser a solu~iio para urn pro· blema de pesquisa que tcnha importancia para outras pessoas, seja parque elas ja a considerem importante, au, a que c mais pravavel, porque podem ser convencidas a considcra·lo assim. o que 0 qualifica como urn pesquisador do mais aho nivel e a capacidadc de converter uma pcrgunta em um problema cuja solucao seja importante para sua comunidadc de pesquisa. 0 truquc e informar essa importancia. Para entender como fazer isso, voce precisa entender mais exatamentc 0 que queremos dizcr com urn "problema" de pesquisa.

4.1.1 Problemas praticos e problemas de pesquisa

A maioria das pesquisas comuns come~a nao pela desco­berta de urn (opico, mas tipicamente pelo confronlO com urn , problema com que algucm deparou, urn problema que, deixa­do sem so luCao, causara transiomo. Ao se defromar com urn problema pratico, cuja soluC;ao nao fica imediatamente 6bvia. voce normalmente faz uma pergunta cuj a rcsposta suposta­menle ira aj uda- lo a resolver 0 problema. Mas, para achar essa rcsposta, prccisa prop~r e resolver um problema de oulro tipo. um problema de pcsquisa definido pelo que voce nao sabe ou oao entende, mas senle que deve saber ou entender. 0 proces­so e mais Oll menos 0 seguinte :

FAZENDO PENGUNTAS, 1':JI.'CON'JRANDO RESPOSTAS

ajuda II resolver

I Resposla

de Pesq uis il

\

Problema Prilico

mOllva

\ Pergunta de

P7" encO lllra define

~ Problema / de Pesquisa

65

PROBLEMA PRATICO: 0 frcio do meu carro comc/Vou a guinchar. PERGUNTA DE PESQUISA: Como posso conserta· lo imediatamentc? PROBL~ DE PESQUIS/\: Preciso encontrar, nas Paginas amarelas, uma

oficina perta daqui . REsPOST/\ DE PESQUISA: The Car Shappe. 140 1 East 55th SI. APLlCAC;Ao SOBRE 0 PROBLEMA PRAT1CO: Tclefonar para saber quan­

do podem conscrtar.

Trata-se de urn padriio camum em todos os setares de nossa vida: • Quero impressionar uma cmpregadora em potencial. Como

encontro um bom restaurante? Procuro num gu ia da cidadc. Woodlawn Tap. Leva a pessoa 13 e espero que ela pcnse que tenho estilo.

• 0 Clube Nacional de Tiro me pressiona para que cu me opo­nha ao controle de posse de armas. Sairei perdendo se nlio COllcordar ? Fac;;o uma consulta as minhas bases. Meus cor­religionar;os ap6iam 0 cOfltrole de posse de armas. Agora decido se rejcito, ou nao, 0 pedido do CNT.

• Os custos subiram na fabrica dc Omaha. a que mudou? Com­para 0 numero de funciona rios, antes c depois. £sta haven-

Page 41: boothwaynec-140923095935-phpapp02

66 A ARTE DA PESQUISA

do maior rolalivjdade. Sc melhorannos 0 trc inamento e os incentivQs, nassos trabalhadores ficarao conasco. Certa. yaM

mos ver se conseguimos faze-Ia. Para a maioria dcsses problemas, oao apresentamos as 50-

lu<;oes por escrito, mas normalmente temos de f32;,c -lo quando queremos convencer os Qutros de que resolvemo~' urn proble­ma imponante para eles:

Para 0 presidente da cmpresa: Os custos estao altos na fabn­eft de Omaha porque os funeionarios naQ vcem futuro no cmpre­go e dcpois de alguns meses pedem demissao. E preciso treinar novos contratados. 0 que sai caro. Para reter os trabalhadores. de­vemos aprimorar suas habil idadcs, assim eles vao quercr ficaT.

Antes de resolver 0 problema pratico do aumento de cus­tos, no entanto, algucm teve de resolver urn problcma de pes­quisa definido pelo fato de nao se saber por que os .custos csta­vam subindo.

4.1.2 Distinguindo problemas praticos de problemas de pesquisa

Essa distin~ao entre problemas praticos, pragmaticos e de pesquisa pode parecer muito sutiI, mas e decisiva : • Urn problema pratico origina-se na realidade e requer urn

custo em dinheiro, tempo, felicidade, etc. Voce resolve urn pro­blema pratico mudando algo na realidade, fazendo alguma coisa. 1

Mas, antes de resolver urn problema pratico, voce pode precisar propor e resolver urn problema de pesquisa. • Urn problema de pesqllisa origina-se na mente, a partir de

urn conhecimento incompleto ou uma compreensao falha . Voce pode propor urn problema de pesquisa porque precisa resolver urn problema pnitico, mas nao resolve urn problema pratico apenas resolvendo urn problema de pesquisa. Podc-se apliear a so lu~ao de urn problema de pesquisa a solu9aO de urn problema pratico, mas nao e mudando alguma coisa na

FAZENDO PJ;.RGUNTAS, £NCON11(ANDO RESPOSrAS 67

realidade que se resolve 0 problema de pesquisa, e sim apren­dendo mais sobre urn assunto ou entendendo-o me lhor.

A maioria dos pesquisadores medicos, por exemplo. acre­dita que, antes de poder resolver 0 problema pnitico da epide­mia de AIDS, precisa resolver no laborat6rio um problema de pcsquisa proposto pelo complieado mccanismo do virus. Mas, mesmo se os pesquisadores medicos solucionarem csse pro­blema de pcsquisa, descobrindo 0 mecanismo, os governos ainda tcdio de achar um modo de aplicar a solUl;:ao ao problcma pm­tico da AIDS na sociedade.

"Problema", portanto, tern urn significado especial no mundo da pesqui sa, que as vczes confunde as pesqui sadores iniciantes, que normalrnente pensam em problemas como coi­sas "ruins". Todo pcsquisador prccisa de urn "born" problema de pesquisa em que traba lhar. Na verdade. sc voce nao tern urn born problema de pesquisa, tern um problema pnitico realmen­tc ruim.

4.1.3 bis/if/guindo problemas de ,opieos

Ha um segundo motivo pelo qual esse conceito de "pro­blema" representa uma dificu ldade para pesquisadorcs ini­ciames e ate mesmo intermediarios. Os pesquisadores expe­rientes eostumam comentar seu problema de pesqulsa de urn modo resumido que parece defini- Io apenas como urn topico: EstQU trabalhando com sarampo em adliitos. au em amigos vasos astecas, au II0S ehamados de acasalamento dos alees do Wyoming .

Como resultado, muitos pesquisadores iniciantes confun­dem ter UI11 /opico para investigar com ter urn problema de pesquisa pard resolver. Scm 0 enfoque proporcionado pela busca de , so lu~ao para urn problema de pesquisa bern defini­do, clcs s irnplesrncntc continuam reuni ndo urn numero cada vez maior de dados, sem saber quando parar. Entao. esfoTlyam-se para encontrar uma regra de procedimento que os ajude a deci­dir 0 que incluir eo que nao incluir no rclat6rio , e por rim sim­plesmente coIocam tudo 0 que cncontraram. Depois sentem-

Page 42: boothwaynec-140923095935-phpapp02

68 A AR7F. DA Pt:SQU/SA

se frustrados. quando urn lei tor comenta: Niio veja qual e a questiio. isla niio passa de um amOllloado de dados.

Voce se arrisea a dcspcrdj~ar 0 tempo de seus Icilores, sc nao conseguir distinguir entre urn topico para investigar c urn problema de pesquisa para resolver. No restante destc capitulo, explicaremos 0 que e urn problema, tanlo do ponto de vista aca­demieo como nao academico. Voltaremos aos problemas no Capitulo I S, em que explicaremos como apresentar seu proble­ma de pcsquisa nn introducao de seu trabalho.

4.2 A cstrutura comum dos problemas

Distinguimos problemas pragmciticos e problemas de pes­qu isa, mas eles tern a mesma estrutura basica. Ambos consis­tern de dai s e lementos:

1) uma dctcrminada situacao ou condi C;ao e 2) consequencias indesejave is, custos que voce nao qucr

pagar.

4.2.1 Problemas prolicos

Urn pncu furado nonnalmente e urn problema pnitico, por­que I) trata-se de uma condiC;ao real que 2) pode representar urn custo palpavel - por exemplo, a perda de urn cornpromisso para jantar. Mas suponha que seu cotppanheiro de jantar inti­mou-o a aceitar 0 compromisso e que voce prcfcriria estar em qualquer outro lugar, menos hi, Nesse caso, 0 pneu furado nao representa urn custo, porquc agora voce considera a perda do jantar urn beneficio. Na verdade, 0 pnell fmado ja nao c parte de urn problema, mas de uma solm;ao.

Assirn , quando voce pensar que encontrou urn problema, certifique-se de que pode idcntificar e descrever a situacao co­mo contendo cstas duas partes:

T FAZENDO PbWGUNTAS. r:NCOiVTRANDO RESPOSTAS

• urna condifoo que precisa ser solucionada CONDICAo: Perdi 0 onibus.

69

o buraeo na camada de ozonio esta aumen­tando.

• custos dessa eondicao com os quais voce nao quer arear CUSTO: Posso perder 0 emprego par chegar alrasado.

Muitas pessoas morrerao de cancer de pelc .

Voce sempre pode expressar de forma positiva os custos negativos, como urn beneficia que soluciona a condic;ao:

BENEFlc IO: Sc conseguir pegar 0 onib us, salvarei meu em­prcgo. Se fecharmos 0 buraco oa camada de ozonio, sa l­varcmos muitas vidas.

Quanto maiores as consequencias da condiC;ao - os cus­tos de nao resolve-la, au os beneficios de soluciomi-la - , mais importanle 0 problema.

Para urn problema pr<itico, palpavel, a condiC;ao pode ser literalrnente qua lquer coisa, ate rnesmo urn aparente golpc de soTte, se isso tiver urn custo: Voce ganha 0 premio da IOleria. Isso poderia nao parecer um problema, mas e se voce devesse cinco milhoes a urn agiota, e seu nome saisse no jomal? Ganhar na loteria poderi a custar mais do que voce recebcria: alguem a descobre, pega sell dinhe iro e ainda quebra sua perna.

4.2.2 Problemas de pesqllisa

Urn problema pratico e urn problema de pesqui sa tern a mcsma cstrutura, mas difcrem em doi s pontos irnportantes.

Condi~oes. Enquanlo a condi~ao de urn problema pnlli ­eo pode scr qualquer situa~ao, a condi<;ao de urn problema de pesquisa e sempre definida por uma serie bastante rcduzida de conce itos. E scmprc uma versao do seu nilo saber ou nilo com-

Page 43: boothwaynec-140923095935-phpapp02

70 A ARTE DA PE$QUI$A

preender algo que 0 pesquisador acha que ele e seus leitores deveriam saber ou entcndcr melhor.

E por isso que no Capitulo 3 enfatizamos 0 valor das per­guntas. Boas perguntas sao 0 pri rneiro passo para definir seu problema de pesquisa, porque implicam 0 que voce.,~ seus le i­tores naD sabem ou naD entendem mas deveriam: Que papel a genetjea desempenha no cancer? Que inj1uencia as icebergs lem sabre 0 clima? De que modo as epopeias lalinas influen­ciaram a poesia inglesa area tea? Ate que ponto a pena de morte reduz as as:"assinalos?

C ustos. A segunda difcrenc,:3 e mais difieil de detectar. E que as consequcncias de urn problema de pesquisa podem, de imediato, nao ler na<.la a vcr com a realidade. 0 custo ou bene­ficio imediatos de urn problema de pesquisa sao scmpre uma ignorancia ou incompreensao adicionais que sao mais signifi ­cativas. mais consequcntes que a ignodincia ou a ineompreen­sao que defin irarn a condi1;ao.

Essa idcia de custo e facil de entender em urn problema pratico, porque seus custos sao normaimente paipave is - dor e sofrimento, perda de dinheiro. oportunidadcs, felicidade , rc­putayao, e ass im por diante . Os custos de urn problema de pes­qui sa, no emanto, sao que ficamos scm saber ou entender algu­ma coisa. E por isso que 0 problema representado pela visita do agiota parece mais nidi de entendcr do que 0 problema de nao conhecer a influencia do latim na poesia inglesa arcai ca. Os custos do primeiro sao mais pa lpaveis que os do segundo. Mas nao entender a influencia do latim na poesia ingJcsa arcaica tambem tern custos. Se nao entendennos essa influencia, !laO entenderemos a/go ainda mais significaiivo - 0 que urn peema imporlante, ainda que enigmati co, poderia significar, 0 que os poetas ingleses arcaicos sabiam e nao sabiam sobre outras Iite­raluras, por que a poesia ingJesa arcaica e do modo que e.

Um pesquisador avam;ado prccisa mostrar que , por nao saber o u entender uma coisa, nao pode saber ou entender algo ainda mais importante. Prec isa responder it pergunta: E dai?

E dai se eu nunco elllender 0 papel da generico no cancer, por qlle Ol· gatos esfregam 0 focinllO no genie, como eram cons-

FAZ£IVOO PBRGUNTAS, ENCON'T'RANDO RESPOSTAS 71

Imidas os pontes no Grecia Antigo? Se eu nunca descobrir, 0 que isso custarii 00 meu conhecimento 011 compreensiio mais amplos?

Em resumo, voce nao Icni. nenhum problema de pesquisa ate conhecer 0 custo de sua falta de conhecimento ou com­preensao, urn cusio que voce define cm tennos de uma ignoriin­cia ou uma incomprecnsao ainda maiores.

4.2.3 Quando um problema de pesquisa e motivado por lim problema priztico

E mais fac il identificar os custos c beneficios de urn pro­blema de pesquisa quando e le e motivado por um problema pratico:

E dol f)'1! niiv S()lIfJermus pol· qlle os Cllstos estiio subindo no fiibrica de Omaha? Vamos f alir.

E da; se mio entendermos 0 popel do gelletica no cancer? Ate que entendamos, niio l·aberelllos .~e podemos identificar os ge­nes que nos predispOem 00 cancer, quando a doenra pode ser progllosticado, 011 ate lIIesmo curada.

o custo de nao saber 0 papel da gcnetica no cancer c quc nao entendemos sua causa. Ou, convertendo isso em fcmta de beneficio, talvcz s6 podcremos curar 0 cancer quando entender­mos 0 papel desempenhado pela genetica. Agora reconhecemos imediatamente os custos adicionais de nossa ignoriincia e os be­neficios de vence-Ia, porque uma soJU(;;ao para 0 problema de pesquisa aponta para uma soiU(;ao para 0 problema prntico.

Mas como as hi st6rias sobre 0 Forte Alamo ou a cstetica da tape~aria tibctana podem faze r parte de urn importante pro­blema de pesquisa? Vemos uma condi<;ao bastante clara: co­nhec imento incompleto. Com que custos Icremos de arcar se continuarmos com urn conhecimento incompleto?

E dal !Ie niio sabemof)· sobre lJ evo/llriio do sistema de ell­cwwmento medieval. 011 0 ciclo de vida de limo orquidea rara

Page 44: boothwaynec-140923095935-phpapp02

72 A ARn.- OA PJ.:SQUISA

do interior do Nova Gujne? Qual sera 0 custo, se nurrea desco­brirmos? Ou a beneficia. se 0 fizermas? Bem, deixe-me pensar ...

E nesse momento que a s pesquisadores invocam a ideia da "pesqui sa pura" em vez da "pesquisa ap l icada'~.

" Problemas pr6ticos versus problemas de pesquisa : Um lipko engano de principianle

Urn problema pr6/ico, com suos condic;6es e custos polp6veis, e mois f6ci l de entender, para as pesquisodores iniciontes, olem de mais interessante de estudor, de modo que esses pesquisodores gerolmente sao tentados a escolher como 16pico urn problema pol­p6vel do reolidade - oborto, chuva 6cido, os sem-teto. Isse e v6lido como ponto de partido . f'IIos a pesquisador arrisca-se a comeler urn engano quando tronsfarmo urn problema real no problema que lenlor6 resolver em suo pesquisa . Nenhum arligo de pesquiso po­der6 resolver 0 problema da chuva 6cida , mos uma boo pesquisa pede nos proporcionor 0 conhecimenlo necessario que nos oiudo· ra 0 resolve-Io . Problemas de pesquisc envolvem apenas 0 que noo scbemes au noo enlendemos pienomenle. Portonto, rediio seu orli­go, noo poro resolver 0 problemo do chuve acido, mos poro resol· ver 0 problema de q ue h6 olgo sabre 0 chuvo Ocido que nao sabe­mos au nOo eompreendemos, algoma coisa que precisomas conho­eer, antes de podermos lidOl com do.

4.2.4 Distinguindo a pesquisa "pura" da "ap/icada"

Em muitos texlos academicos, nao tentamos explicar 0

custo de nossa ignonincia, mostrandQ como nossa pesqui sa melhorara 0 mundo. Em vez disso, mostramos como, par nao saber ou cnlender uma coisa, n6s e nossos leitores nao pode­mas entcnder It'" assrmto maior e mais importanle que dese­jamas emender e compree"der me/hor. Quando a solw;ao de urn problema de pesquisa nao tern nenhuma apl ica~ao aparente em urn problema pnitico, mas apenas satis faz 0 interesse eru­dito de uma comunidade de pesquisadores. chamamos essa pes­qui sa de " pura" em vez de "aplicada".

FAZENDO PERGUNTAS, ENCONTRANDO RESPOSTAS 73

Par exemplo, nenhurn destes tres autores sabe quantas estrelas ha no eeu (ou quanta "materia escura") e, francamcn­te, nao nos sentimos mal por nao saber. Nao faria mal saber, mas nao podemos imaginar 0 custo de nunca descobrinnos, ou mesmo 0 beneficio, se dcscobrissemos. Assim, para nos, nao saber nao e neohum problema.

Mas, para os astronomos, a ignorancia deles a respeito disso e parte de um problema de pcsquisa "pura", de g rande s ignificado para eles. Ate conhecerem aquela quantidade, nao poderno calcular o utra, muito mais impo rtante - a massa total do universo. Se pudessem calcular essa massa, poderiam des­cobrir algo mais imporla"te (linda: sc 0 universo continuara a expandir-se ale se dissolver, transformando-se em nada. ou se encolhera , exp lodindo na cria~ao de um novo universo, au per­manecera eSlavel eternamentc. Conhecer 0 mimcro de cstrclas no ceu pode nao ajudar a resolver nenhum problema palpavc l na realidadc, mas, para esses astronomos (e talvez alguns tco­logos), csse numero representa uma lacuna em seu conhec i­menta, cujo custo e alto: impede que elcs.compreendam algo mais imporlanle - 0 futuro do universo. (E claro que, se voce tern interesse em saber se 0 universo tem futuro, entao talvez entenda como nao saber quantas estre las ha no ceu pode ser parte de um problema para voce tambem.)

Podemos perceber se urn problema e de pesqu isa pura ou ap licada observando a ultima das tres etapas para a definir;ao de seu projeto:

Problema de pesquisa pura:

I - Topico: Estou estudando a densidade da luz e outras radiac;oes e letromagneticas em urn pequeno setor do universo,

2 - 1"dagar;Qo: porque quero descobrir quantas estrelas ha no ceu,

3 - Exposir;Qo de motivos: a rim de entender se 0 universo se expandira para semprc ou sc contraici, causando urn novo Big Bang.

Page 45: boothwaynec-140923095935-phpapp02

74 A ARTE J)A. PESQU1SA

Este e urn problema de pesquisa, porque a pergunta (pas­so 2) impl ica que nao sabemos alga. Este e urn problema de pesqu isa pura , porque seu fundamento 16gico (passo 3) impli­ea nao alga que faremos, mas alga que nao sabemos mas deve­mos saber.

" Em urn problema de pesquisa ap/icada, a pergunta ainda implica alga que queremos saber, mas 0 fundamenlo 16gico no passo 3 imp lica alga que queremos au precisamosJazer:

Problema de pesquisa aplicada:

I - T6pico: Estell estudando a difercll~a entre as lcituras do tclcscopio Hubble, em orbita acima da atmosfera, c leituras das mcsmas estrelas pelos melhores telcsc6. pios da superficie terrestre,

2 - 11ldagofuo: porque quero descobrir quanto a atrnosfe. ra distorce as medidas da luz e de outras radia~oes elctromagnericas,

3 - Exposif;uo de motivos: a fim de medir com maior pre. cisuo a densidade do IlIz e de outras radiafoes eletro· magneticas num pequeno selor do universo.

4.2.5 Seu problema Ii puro ou aplicado?

Voce distinguc um problema puro de pesquisa de urn apli· cado pelas conseqih';ncias que define na decJara~ao de seu fun· damento logieo (passo 3). Na pesquisa pura, as eonscqiiencias sao conceil'Uais, e 0 fundamento Jogico define 0 que voce quer saber; na pesquisa aplieada, as conseqiiencias sao palpaveis, e o fundamento 16gico define 0 que voce quer jazer.

Talvez um dos maiores motivos pelo qual os principiantes tem dificuldade em pegar 0 jcito da pesquisa pura e que seus custos sao inteiramente conceihtais, e assim parcce· lhes me. nos provavel curar 0 cancer do que conlar estrelas. Aehando que suas descobertas nao sao assim tao boas, tentam apliear a solu~ao de um problema de pe5quisa na soluc;ao de um proble. rna prat ieo:

FAZENDO P£RGUIVTAS, ENCONTNANDO RESPOSTAS 75

Se conseguinnos entender como os politicos usaram as historias sabre 0 Forte Alamo para moldar a opiniao pu­blica no seculo XIX, poderemos. nos dias de hoje, nos pro­teger de politicos inescrupu losos e seT eleitores melhores.

I - Topico: estou estudando as diferenc;as entre as voicias versoes da historia do Forte Alamo no seculo

2 - Indago,:fio: porque quero descobrir como os politicos usam as historias de grandcs eventos para mo ldar a opiniiio publica,

3 - ExposifaO de molivos: a fim de ajudar as pessoas a se protegerem dos politicos inescrupulosos e torna· rcm·se elcitores mclhores.

Em algumas arcas, essa c uma eSlrategia respeit3vel, al· guns diriam ale preferivel. Mas, em nosso exemplo. e impro­vavel que 0 aUlor convenc;a muitos leitores de que sua pesqui · sa sobre as hiSl6rias do Forte Alamo poderia contribuir de fato para melhorar a democraeia.

1 Para formular urn eficaz problema de pcsquisa aplicado, voce precisa mostrar que os motivos expostos no passo 3 estao plausivelmente ligados a indaga~ao especificada no passo 2. Testa·se isso recuando no trabalho a partir da cxposic,:ao de mo· tivos. Fac;a a seguinte pergunta:

a) Se meus leitores quiserem atingir 0 objetivo de [enun· eie sell objetivo do Passo 3],

b) achoriam que a maneiro deJazer isso serio descobrir (formule aqu i sua pergunta do Passo 2]?

Quanto maior for a possibilidade de seus le itores respon· derem "sim", mais eficazmcnte voce tera formulado 0 proble· ma apli cado.

Expcrimente esse teste no problema aplicado de astronomia: a) Se mellS leitores quisessem medir com maior precisao

a densidadc de radia(,:ao cle tromagnetica em urn selor do universo.

b) pensariam que a maneira dejoze·lo seria descobrir ate que ponto a atmosfera dislorcc suas medidas?

Page 46: boothwaynec-140923095935-phpapp02

76 A A.NTE DA PIiSQUISA

Considerando que os astrOnomos tern decadas de dados valiosos coletados por telesc6pios altamente poderosos locaJi­zados em terra, a resposta talvez fosse Sim, pois, sc pudessem descobrir quante a atmosfera distorce as Icituras, poderiam ajustar lodos os seus dados de acordo com isso. . - ~ .

Agora expenmente 0 teste no problema do Forte Alamo: a) Se meus leitores quisessem atingir 0 objetiWJ de ajudar

as pessoas a se protegerem de politicos inescrupulosos e sercm eleitores melhores,

b) pensariam que uma boa maneira defm:.e-lo serio des­cobrir como os politicos do seculo XIX usavam as histo­rias de grandes eventos para moldar a opiniiio publica?

Nesse case, os Icitores teriam mais dificuldade em ver urna ligac;ao cntre 0 objetivo e a pesquisa. Urn pesquisador que quisesse ajudar os eleitores a se protegerem poderia pensar em outros proccdimentos, antes de se voltar para as historias do seculo X IX sobre 0 Forte Alamo.

Urn leitor pode pensar que a pergunta a scguir define urn born problema de pesquisa, mas urn problema puro em vcz de aplicado:

1 - Topico: estou estudando as difereOl;as entre as ver­soes do seculo XIX sobre a hist6ria do Forte Alamo.

2 - Indaga~iio: porque quero descobrir como os politicos usam as hist6rias de grandes eventos para moldar a opioiao publica,

3 - Exposi~QO de molivos: a fim de mostrar como os poli ­ticos usavam elementos da cultura popular para favo­recer seus objetivos politicos. '

No centro da maioria das pesquisas de ciencias humanas e em muitas de ciencias naturais e ciencias sociais encontram-se indaga<;:oes cujas respostas nao tern nenhuma aplica<;:ao direta na vida diaria . Na verdade, em muitas disciplinas tradicionais, os pesquisado~~s valorizam mais a pesquisa pura do que a pes­qui sa aplicada - como sugere a palavra "pura". Eles buscarn 0 conhecimento "pelo conhecimento", refletindo a mais elcvada

MZENlX) P£RGUNI"A S. ENCONTHANlJO RESPOSTAS 77

vocac;ao da humanidade - saber mais e entender melhor - nao por dinheiro ou poder, mas pelo bern que 0 conhecimento pode proporcionar.

Se voce propusesse urna pergunta de pcsquisa purn como sc pudesse aplicar a resposta diretamentc a urn problema pm­tico, seus leitores poderiam considern-Io ingenuo. Quando pro­puser uma pergunta dessas e quiser discutir as consequencias concretas de sua resposta, formule seu problema como 0 pro­blema de pesquisa pura que ele rea lmcnte e, enmo acrescentc a ele urn possivel s ignificado adicional:

I - Topico: estou estudando as diferenc;as entre vanas versoes do secu lo XlX sobre a hist6ria do Forte Alamo,

2 - Indaga9Qo: porque quero descobrir como os politicos usam as hist6rias de grandcs eventos para moldar a opiniao publica,

3 - Exposiriio de motivos: a fim de entender como os po­liticos usavam elementos da cuitura popular para fa­voreccr seus objctivos polit icos,

4 L Imporliincia: de modo a saber como nos protcgermos dos politicos inescrupulosos enos tornarmos cidadaos melhores.

Se seu projeto e mais puro do que aplicado, mas voce ainda acredita que possa ler consequencias indiretas palpaveis, decla­re isso. Mas, 30 apresentar seu problema na introduc;ao (veja o Capitulo 15), formu le-o como urn problema de pesquisa pura cujo fundamento logico esteja baseado em consequencias con­ceituais e guarde as poss ive is eonsequencias palpaveis para sua conclusao (veja "Sug.cstoes uteis", pp. 322-3).

4.3 Descobrindo urn problema de pesquisa

o que distingue os grandes pesquisadorcs do resto e 0 ta­lento, a engcnhosidade, ou simplesmente a boa sorte de trope­((ar em urn problema cuja so luc;ao fa((a todos verem 0 mundo

Page 47: boothwaynec-140923095935-phpapp02

78 A ARTE DA PESQUIS/t

de urna nova maneira. Felizmentc, 0 restante de n6s normalmen~

te consegue reconheccr urn born problema quando colide com cle. ou ele conoseo. Por mais paradoxal que passa parccer, entretanto, quase lodos n6s comec;amos urn projeto de pesquisa sem estarmos inteiramente certos de qU?! e 0 PFoblema, e 3S vezes nosso mais importante rcsultado e simplcSmcntc escla­reccr esse pOllIO. Alguns dos melhores artigos de! pesqui sa nao fazem mais do que propor urn importante problema novo a procura de urna soiu<;ao. Na rcalidade, enconlrar urn problema novo ou esclarecer urn antigo costuma seT lim caminho mais segura para a fama e (as vczes) a fortuna do que resolver urn problema ja existentc. Portanto, nao desanime se nao conseguir formu lar intciramente seu problema no inicio da pesquisa. Lem­bre-se , no cntanto, de que refletir sobre isso 0 mais ccdo pos­sivel podenl evitar que voce desperdice horas pelo caminho, cspecia lmente quando cst iver chegando ao f im.

Aqui vao algumas maneiras de defini r urn problema dcs­de 0 principio.

4.3.1 Pefo ajuda

Faca 0 que pesquisadores experientes fazem quando nao tern certeza a respeito do problema que pensam que estao in­vestigando: converse com as pessoas. Fale com professores, parentes, amigos, vizi nhos - qualquer urn que possa se inte­ressar por sell topico e sua pcrgunta. Por que a lguem precisa­ria responder a sua pergunta? 0 que fariam com uma respos­ta? Que perguntas adicionais sua resposta poderia susc itar?

Se voce esta livre para escolher seu proprio topico, pode procurar urn que faca parte de urn problema ma ior em sua area de estudos . E: improvave l que 0 reso lva, mas sc puder escla re­cer uma parte, mesmo pequena, seu projelo herdara urn POLICO

da importaneia delc . (Voce lambem estanl se inteirando sobre os problemas de sua area de estudos, 0 que nao e poueo.) Per­gunte a seu o rientador em que ele esta trabalhando e pe<;a para participa r de uma parte do projeto.

FAZENDO PJiRGUf'ffAS, ENCON7"RANDO RESPOSTA S 79

Atencao: se seu professor aj uda-Io a dcfinir 0 problema antes de voce comecar a pcsquisa e Ihe indicar as fontes, nao deixe que essas sugestoes limilern seu trabalho. Voce deve pro­curar oulras fontes, colocar algo de si mesmo na defini<;ao do problema. Nada desanima mais urn professor do que urn estu­dantc que faz exatamente 0 que Ihe sugeri ram, e nada mais.

4.3.2 Procure problemas a medida que Ie

Voce sempre pode encontrar urn problema de pesquisa quando Ie criticamente. Consultando uma fonte, reparc onde voce sente que existem contradi<;oes, inconsistencias, explica­C5es incompletas. Em que ponto gostaria que uma fonte fosse mais explicita, oferecesse mais info rmacOes? Se nao ficar sa­tisfeito com uma cxplica<;ao, se algo parecer estranho, confuso ou incompleto, rcnita que o utros teitores se sentiriam ou deve­riam sentir-se assim tambem . Pesquisadorcs expericntes tern a confianca de supor, quando Icern uma passagem que nao en­tenderh inteiramente, que h3 algo errado, nao com eles, mas com o que estao tendo. Na verdade, quando nao conseguem com­preender algo totalmente, deduzem que a fonte esteja errada, o que pode s ignificar que encontraram urn problema novo: urn en o, uma di screpancia ou uma inconsistencia que podcri am cornglr.

E claro, pode ser voce que esteja errado; portanto, se deci­dir fazer de sua discordancia 0 centro de seu projeto, re leia a fonte para ter certeza de que a entendeu. 0 problema talvez tenha sido reso lvido de uma maneira nao inforrnada pela fonte. Os artigos de pesquisa, publi cados e incditos, estao chcios de inuteis refutacoes a questoes que nunca foram propostas.

Quando pensar que encontrou urn verdadciro enigma ou erro, experimenlc fazer ma is do que simp lesmcnte indica- los. Se uma fon te di z X e voce pensa Y, so haved um problema de pesquisa se voce puder dizer que os leitores que continuarcm acreditando em X irao se enganar a respeilo de a1go ainda mais importantc.

Page 48: boothwaynec-140923095935-phpapp02

80 A. AI?77i DA PESQUISA

Por tim, leia atenlamenle as paginas finais de suas fon­les. E ali que muitos pesquisadores apresentam mais perguntas que precisam de respostas, mais problemas a procura de so lu­cao. 0 autor do pan\grafo seguinte tinha acabado de explicar como a vida diaria do campones russo do secu lo XIX influen-ciou seu desempenho mi litar. ",

Assim, da mcsma maneira que a experiencia dos soldados em tempos de paz in fl ucnciou seu desempenho no campo de ba­lalha, a cxpcricncia dos oficiais deve ter influenciado 0 dcles. Na verdade, alguns comcntaristas da Guerra Russo-Japoncsa puse­mrn a culpa da derrota russa nos h<ibitos adquiridos pe[os oficiais no descmpcnho de suus larefas ccon6micas. Em todo coso, para fazer umo aprecia(:iio dos htibilos de servi~o dog ofici(li.~ czaris­rO.f no paz c no guerra, precisamos de lima analise estrllfllral _ onfropol6gica. se prefer;,. - do corpo de ojiciais do exerci/o. co­mo essa apresentada aqui para 0 pessoal alistado [grifo nasso] .

4.3.3 Procure problemas no que voce escreve

Hit oUlra maneira pe la qual a ie ilura cdt ica pode aj uda- Io a descobrir e fonnular urn born problema de pesqu isa: ler cd ­ticamellle seus proprios rascunhos iniciais. Quando rcdige as rascunhos, voce quase sempre pensa melhor ao chegar perlO do fim, nas ultimas paginas. E a li que comeca a formu lar sua afirmaCao fina l, que muilas vezcs pode ser transformada na solucao de urn problema de pesquisa que a inda nao foi intei­ramenle formu lado .

Ao tcrm inar seu primeiro rascunho (pode pareecr que es­tamos nos adianta ndo, mas nos 0 advertimos de que 0 proces­so de pesqui sa nao e exatamente linear) , voce deve ana li sar atenta mente as ultimas duas ou tres paginas.

I - Prime ira mente, procure 0 ponto principa l de seu tra­balho, uma frase ou duas que represcntariam sua afirmm;:ao mais importante.

2 - Em seguida, procure sinais de que esse ponto solucio­nou urn enigma, aca lmou opinioes conlraditorias, revelou a lgo ate entao desconhecido.

I-:A.ZENDO PERGUNTAS, CNCONTRANDO RESPOSTAS 81

3 - Agora, experimente fazer uma pergunta complicada a que seu ponto principal responderia plausivelmente. Essa per­gunta deve definir a condiCao de ignonincia ou eITO na qual, se nao fosse sua resposta, voce e seus leitores continuariam vivendo.

Quando consegui r fazer isso, voce tent definido a nature­za dc seu problema de pesquisa, 0 que voce nao sabe mas quer saber. 0 proximo passo e racil: pergunte E dai? 0 passo mais dificH e responder. Mas, se conseguir encontrar uma resposta, sera porque rac iocinou satisfatoriamente de tras para a frente, a partir da solucao ate a demonstracao completa do problema que reso lveu (voltaremos a esse processo no Capitulo 15).

4.3.4 Use um problema-padrao

Os problemas sao difcrentes urn do outTO, mas a maioria deles encaixa·se em algumas determinadas catcgorias, muitas definidas por pesquisadores que di scordam de alguns pontos de vista geralmente mantidos. Quando voce chegar ao ponto em que achar que pode ter de lineado urn problema, consulte as "Su­gestoes uleis" sobre "contrad icoes", apos 0 Capitulo 8. Talvez reconheca na lista apresentada al i urn tipo de problema em que possa trabalhar.

4.4 0 problema do problema

Seus professores entendem que voce nao e urn profissio­nal, mas acham importante que desenvolva e pratique os babi­tos de re tl exao de urn pcsquisador serio. Querem ve-lo fazer mais do que simplesmente acumular fa tos sobre urn t6pico, rclac iona -los e re lata-los. Querem que formule um problema que voce (e talvez a te mesmo e lcs) te rn interessc em ver resol­vido. Voce da seu primeiro passo em direcao a pesquisa de ver­dade, quando identifica uma pergunta que e importante para voce, que qucr responder apenas para sua pr6pria satisfacuo,

Page 49: boothwaynec-140923095935-phpapp02

82 A AR71:: DA PESQUISA

para satis fazcr seu pr6prio desejo de saber mais, para sanar urna discrepancia, esclarecer urna contrad i~ao. mesmo que oin­guem mais se importe. Se conseguir fazer isso desde a sua pri­meira pesquisa, se encontrar urn enigma que achar importan­Ie solucionar, voce tera consegu ido algo bastante s ignificati-vo, que dara sat i sfa~ao aos seus professo"res. "-

Posteriormente, no cntanlo, ao passar para tratialbos mais avancados, quando decidir que tern motivos para compartilhar suas descobertas e seu conhecimento com os outros, voce tern de dar cstc pr6x imo passo: tenlanl comprecndcr 0 que seU$ leilo­res considcram perguntas e problemas intercssantes, que custos eles reconhecem como resultantes de urna lacuna no conheci­mento deles ou fa lha oa compreensao deles . E voce da 0 maior passo de todos, quando nao apenas sabe 0 lipo de problema que seus leitores goslariam de vcr resolvido, mas tambem e capaz de persuadi-Ios a levar em considerac;ao problemas de urn novo tipo. Ningucm da sempre esses tres passos da primeira vez.

Para se familiarizar com tudo isso e obler bons resultados, voce pode usa r as Ires elapas que di scutimos no capitulo ante­rior. Mudamos os termos, usando mostrar em vez de descobrir, e explicar em vez de enlender, mas 0 segundo e terceiros pas­sos ainda definem implicitamente seu problema:

I - Especifique seu lopico:

ESlou escrevendo sobre ____ _

2 - Exponha sua pergunta indireta (e assim defina a na­tureza de seu problema):

... porque estou tentando mos~rar a voces quemlcomol porquc ___ _

3 - Relate como sua respOSla ajudara seu lei lor a en len­del' alga ajnda mais imporlallte (e assim defina 0

cusro de nao saber a resposra):

... para explicar a voces como/par qlle _ _ _

lsso tudo pode parecer d istanle do mundo real, mas nao c. Os problemas de pesquisa no mundo como urn todo sao estru-

f'AZENDO PERGUNI'AS. ENCONTRANDO RESPOSrAS 83

turados exalamente como no mundo acadcrnico. No meio em­presarial e no governo, no meio juridico e na medic ina, neohu­rna habi lidade e mais altamcnte considerada que a capacidade de reconhecer urn problema imponante para urn cliente, urn empregador Oll 0 publico, e cnlao apresenlar esse problema de uma maneira que convenc;a os interessados de que 0 problema que voce descobnu e importante para eles c que voce encon­trou a soluc;ao. 0 trabalho que cstit realizando no momento e sua melhor oportunidade de se preparar para 0 tipo de trabalho que tera de fazer, pelo menos se voce espera crcscer em urn mundo quc dcpende nao s6 da solll~ao de problemas mas lam­bern da descoberta deles. Com essa finalidade, nenhuma capa~ cidade e mais utH do que a de reconhece r e enunciar urn pro~

blema de maneira clara e concisa, uma capacidade de certo modo ainda mais imponante do que a de resolve~lo. Se voce consegue fazer isso em urn curso sobre hist6ria medieval chi­nesa, entao conseguir.i faze- Io num escrit6rio comercial ou num gabinete do governo.

Page 50: boothwaynec-140923095935-phpapp02

, "

Capitulo 5 De perguntas a fontes de informat;iies

Se voce e 11m pesquisador iniciante e nao conhece bern a biblioleca que irafreqiientar. use esle capitulo para desen­wlver um plano para sua pesquiso. Se jil e urn pouco expe­riente, pule para 0 proximo capitulo. Se e urn pesquisador eJ(­

perien/e. vu paro a Parte //1.

D EPOIS DE TER FORN!ULADO algumas pcrguntas de pesqui­sa, ou mesmo de, estabelecer claramentc urn tapieo plausive l, voce pode saiT a peoeura de fontcs de informa<;:oes. Se encon­troll seu tapiee em urn livro ou artigo academicos. ja tern urn come~o: pode rastrear as notas de radape e a bibliografia e eo­contraT ouleas fontes do mesmo lipo no catalogo da biblioteca. Mas, se voce nao sabe onde encontrar fontes, podera se sentir comol se estivesse olhando para urn deserto. E urn momento es­tressante, aquele em que voce quer procurar informa~oes e nao sabe por onde comc~ar.

Urn momento ainda pior e aquele em que voce se ve per­dido num emaranhado de informa~oes, porque sabia onde as fontes se encontravam, mas metgulhou nelas sem nenhurn pla­nejamento. Fontes podem condllzi-Io a qualquer lugar, portan-10 e facil perder-se, vagucando de urna dircl,:ao para outra . Nao ha nada de errado em fo lhear sem propos ito aparente. ao con­trario. N6s tres, os autorcs, fazemos isso com frcqiiencia. Toda pessoa que gosta de aprender acha algum tempo para peram­bular pelo rnundo das ideias. Na verdade, assim foram feitas muilas dcscobertas importantes, ao acaso - 0 cncontro impre­visto com urn novo problcma ou uma rela~ao. Os exemplos variam da penici lina a cola que lorna os bilhclinhos aulo-ade­s ivos tao utcis.

[nfelizmente, nao se pode confiar no acaso para fazer urna boa pesquisa. Pressionado pelo prazo final, voce precisara li­mitar suas leituras casuais c elaborar a lgumas boas perguntas

Page 51: boothwaynec-140923095935-phpapp02

86 A AN7~ DA PESQUISA

que concentrem seus esfor~os. Mas perguntas focalizadas nao ocorrem com faci lidade, c coletar mais in fonnacQes nonnalmen­Ie e mais faei! e scmprc mais divertido do que refletir sebre 0 valor do que voce ja encontrou.

Em resumo, tcndo urn prazo fina l, voce precis<:! de run pla­nejamento . Neste capitulo, fa laTemas sabre as fOf\ICS que voce pode procurar e como restringi-Ias a urna li sta contro lavel. No proximo capitulo, discutiremos como lidar com as fontes de informal;oes que encontrou . Vamos montar esse plano como se fosse para voce segui-Io passo a passo. Na verdade. voce pro­vavelmcnte navegara por sua busea de urn modo que 0 levara para tras tanto quanta 0 impulsionara para a frente .

5.1 Encontrando informa~oes em bibliotecas

A maioria de suas fontes podcra ser cncontrada na biblio· teea mais proxima. Pode aconteeer, e claro, que voce ache que a uoica b iblioteca perto de sua casa tern poueos livfos e perio· dicos do tipo que seu t6pico requer. Ou, talvez, encontTe uma especializada em urn determinado perfodo hist6ri co, como a W. A. Clark Library, em Los Ange les ; numa causa, como aNa· tiooal Rifle Association Library, em Fai rfax; au mesmo numa pessoa, como a Martin Luther King Library, em Atlanta. No entanto, por menor que seja, sua biblioteea provavelmcnte ofe· rece mais recursos do que voce poderia imaginar, incluindo os seguiotes:

I - Indica~oes de bibliotecarios. 2 - Encic10pedias gemis e dicionarios. como a Enciclope·

d ia Brilunica e diciomlrios biognificos. 3 - G uias bibliogrMicos gerais. 4 - Catalogos em cart5es ou computadorizados, inc1uin·

do bibliografias computadorizadas e bancos de dados.

Em uma bibliotcca maior, as scguintes publ ica~oes pode· rao conduzi· lo a fontes espec ializadas:

1 FAZWDO PERGUNTAS. ENCONtRANOO RESPOSTAS 87

5 - Enciclopedias espccializadas e dicionanos. como a En~

cic/opedia de Filosofia e 0 Diciomirio de Computaf Qo. 6 - Bibliografias espec ializadas, resumos de artigos, li­

vros, disserta~Oes e teses, revistas sabre 0 trabalho do ano em urn determinado campo.

7 - Guias que resumem as fontes disponivcis para pesqui­sa em urn determinado campo, onde encontni-Ias e como usa-las.

5. 1. / BibJiOlecarios

Se voce eonheee a biblioteca que ira frequentar, comece a procurar as fontes. Se for sua prime ira experiencia com pes­quisa seri a, converse primeiro com um bibliotecario. As gran­des b ibliotecas chegam a ler bibliotecarios especial izados em temas especi ficos. Normalmente . elcs estao ansiosos par aju­dar, mesmo quando uma pessoa nem faz ideia de por onde comec;:ar, muito menos aonde ir em seguida. Se voce e muito timido1ou orgulhoso para pcrguntar, supere as inibi~Oes. Conver­se com 0 bibliotccario. As pessoas fazem isso 0 tempo todo.

Confonne ressaltamos, entretanto, seu trabalho mais impor­tante e 0 pianejamento. Voce economizara dias de traba lho se preparar perguntas especificas (al6m de nao desperdi~ar 0 tempo de seu bibliotecario). Se nao cstiver preparado, nc­nhum bibliotecario pede­ni ajuda-Io. No inicio, an­tes de focalizar 0 proble­ma, suas perguntas podem scr ge rais: Quais guias de periOdicos relacionam ar­tigos sobre politica e<ill­caciOl/a/nos anos 50? No entanlo, a medida que res­tringe sell topico, {entc fa­zer perguntas que ajudem

Umo novo oluna de urn curse de grodl.lOl;Oo do Universidode de Chicago precisou de tres . vi?gens poro descobrir onde 0 blblloleco de pesquiso da universidade mon­tinha a meiaria de seus livras. Gos­tau os duos primeiros viogens va­gueondo pelos sete andores de so­los de leiluro. eneontrondo openas obras de referenciO. 56 no lerceiro d io eriou corogem poro pergunter o urn bibliole(:Orio. que oponlOU pa­ra urno porto que dova poro os es­lontes . fv\orol do hist6rio: pergunte.

Page 52: boothwaynec-140923095935-phpapp02

88 A ARn DA PESQUIS/1

seu bibliotecario a entender 0 que voce precisa saber exata­mente: DI/de posso ellconlrar decisoes j udicia is sabre a doulri· na de segregoftio racial da politica educacional nos anos 50?

5. J.2 Obras de referenda geral

Voce cncontrara dais tipos de aux ilio em obras de refe­rencia geral como a Enciclopedia Bri/iiniea ou enciciopedias mais especializadas, como urna enciclopedia de fi losofia. Em primeiro lugar, tera urna visao geral de seu topico . Em segun­do, no final do verbetc, talvcz encontrc urna li sta de fontes que poderiam ser sua via de entrada para 0 catalago da biblioteca. Se nae encontrar nada, seu tapieo pode estar c1assificado sob urn titulo diferente . Por exemplo, a !isla de livros editados em 1993 nos Estados Unidos (Books in Print) nao registrava nada sob a palavra gender (genero), 0 lermo que muitos pcsquisa­dores de esrudos femininos preferem usar, mas eontinha mui­tos verbetes rc1acionados a palavra sex (sexo).

5.1.3 0 catiilogo da bibliofeca, em cartoes ou eompufadorizado

Agora va consultar 0 catalogo da biblioteca, seja em uma gaveta de eartoes, ou em urn terminal de eomputador. Procure os thulos que encontrou nas obras de referencia. (Fique aten­to, porque nem lodas as biblioteeas re laeionam a totalidade de suas obras no eata logo on-line. Verifique 0 eatalogo em car­toes, no caso dc obras mais antigas. ) Sc nao encontrar nenhu­rna fonte nessas obras de refercncia, voce te ra de come~ar de novo. Nao procure apenas os titu los que Ihe ocorrerem, mas lodos os que eSlejam de alguma forma rclacionados com sell assunto.

Se voce encontrar urna fonte promissora no catalogo, exa­mine os titulos do assunto, e clcs 0 levarao a oulros Iivros sobre seu topico. Caso se trate de urn eartao, voce encontrara

1 !

FAZENDO PERGUNl'AS, ENCONl'RANDO RF.sPOSTAS 89

os titulos do assunto nas linhas de baixo. Se for urna tela de computador, voce tera de procurar, uma vez que os sistemas tern interfaces diferentes. Mas, em algum lugar do vcrbetc de sua fonte, voce encon­trara urna li sta de titulos do assunto ou "palavras­chavc". Sua fonte tamhem esta. eatalogada sob csses

Um mOOo r6pido de ampior a bus­co em um colalogo reduzido e coo­suitor 0 lisla de livros publicodas. A lislo relociono per aS5unlo e aulor os livras de um delerminodo 000.

Suo biblioleco pede ler edi<;6es de onos onleriores. Se voce liver tempo fXlro esperar, as bibliotecas tomOOm podem lamar emprestodos obro5 que nco perten<;om a seu aeeNa.

titulos, 0 quc signifi ca que eles podem leva-Io a outros livros relacionados a seu t6pieo. Se eneontrar urn unieo livro rcecnte sobre seu topico, procure no verso da pagina de rosto: eneon­trani titulos de mais livros sotre 0 mesmo topico.

Os ealalogos de titulos dc uma grande bibliotcca podcm parecer assustadores. A biblioteca da Univers idade de Chica­go, ~or exernplo, tern 280 livros sobre Napoleao, 2.826 livros com a pa lavra "ambicnte" no titulo. Se 0 numero for grande, reduza a li sta, usando as tecnicas que apresentamos no Ca­pitulo 3.

Em uma biblioteca pequena, pode ser que voce nao en­contre nenhum titulo promissor numa primeira passada. Quan­do isso acontecer, con fie em sua propria ingenuidadc. Pense em lodas as maneiras pelas quais seu topteo podcria ser clas­sificado. Se sua biblioteca tiver urn catalogo computadorizado, voce podeni procurar os thulos de assunto digitando uma ou duas palavras. 0 computador encontrara as fontes com essas palavras nos titulos e subtitulos. Tendo achado urn livro que pa­reIVa servir, 0 computador rnostrara, em urna "outra tcla de pa­gina", as rcspect ivas informal;oes bibliografi cas.

Sc voce esgolar lodos os tcrmos quc imaginou e ainda ass im nao cncontrar nada, pode ser que esteja dianlc de lima questao importantc, sobre a qual ninguem nunca pensou antes, ou pelo mcnos nao por muito tempo. Por exemplo, seeulos atras 0 assunto "Amizade" era importante para fil6sofos, mas fo i depois ignorado pelas principais enciclopcdias. Recente-

Page 53: boothwaynec-140923095935-phpapp02

90 A AR1C 011 PESQUISA

mente, entretanto, "Amizadc" tern ressurgido como urn topico irnportante. Por outro lado, se voce nao achar nada, pode ser que seu topico sej a muito restrito ou distante dcrnais dos cami­nhos conhecidos para produzir resultados cipidos. Em ambos os casos, e provavel que voce so cons iga algo sobre seu t6pi ­co depois de muita reflexao. A longo prazo, ele poden\ torna-Io famosa, mas nao C t6pico apropriado para urn artigo com prazo final marcado e pr6ximo de tenninar.

5.1.4 Guias de pesquisa

Toda area irnportante tern pelo menos urn gui a de recur-50S que pesqui sadores experi entes usam habitualmente: listas de bibliografias, localiza~oes de dados primarios importantes, metodos de pesqui sa e ass im par diante. Se voce asp ira a 10r­nar-se profissional em urna certa area, prec isa dcdicar te mpo a esses guias, espccialmente se sua biblioteca contem dados citados pa r eles. Para usar esses aux iliares de pesqui sa, primei­ramente e preciso saber onde encontni.-Ios.

5. 1.5 BibJiograjias especia/izadas

Voce deve ser capaz de eneontrar pelo menos uma biblio­grafia anual, que eubra sua area intcira ou urn aspecto especi­fico dela. Se tiver sorte, eneontrara uma bibliografia comellfa­da que focaliza uma area proxima de ~eu problema. A lcm de apresentar uma rel a~ao de livros e artigos sabre urn assunto, essas bibliogra fias dcscrevcm-nos brevemente. Na vcrdade, uma bibliografia anual comentada pode ser a melhor maneira de fazer urna rapida avalia~ao do que pensam os outros pesquisa­dorcs. A maior parte das areas tern urn peri6dico cspeciali za­do que resenha as novas pesquisas anualmente, 0 que e ainda rnais interessante.

Nos EUA, por exemplo, 0 Chronicle of Higher Education relaciona os Jivros novos mensalmcnte, e rnuitos pcri 6dicos

1

FAZEJI,'DO PEIKiU/lffAS, ENCONTRANOO RESPOSTAS 91

relacionam as "livros rccebidos" (Iivros que as editores enviam, oa esperan~a de que a publicac;ao coJoque-os na resenha) . Tais listas sao as fontes bibliognificas mais atualizadas.

Vma observac;ao final : nos ultimos anos, melhoTou de maneira imprcssionantc a tecnologia de annazenamento c obte~­c;ao de informac;Oes. Em algumas areas, os CI?s armazenam b~­bliografias de milhares de artigos. monograflas C outeas pubh­cac;Oes. Ainda que tais fontcs nao estejam disponiveis em qual­quer bibl iotcca, as maiores os tern em abundancia. Pec;a ao bibliotedrio que Ihe mostre como usar os bancos d e dados cle­trooicos disponive is.

5.2 Colhcndo informa~oes com pessoas

A maioria dos projetos pode ser desenvo lvida a partir ape­nas de livros, mas voce tambem pode prec isar de informa~oes que so pessoas podem dar.

5.2.1 Especia/isras como fo ntes de bibliografia

Em cada estagio da pesqui sa, voce nonnalmente encon­tra alguem para orienta-Io. No principio, seus pro fessores 0 ajudarao a defin ir sua pergunta e come~ar a coletar informa­~oes. Aqui, tambem, a qualidade do auxilio que voce reeebe depende da qualidade das perguntas que faz. Quanta mais voce pensar antes de fa lar com seus pro fessores, melhor podera explicar 0 que esta fazendo, e eles poderao aj uda-lo de modo mais eficiente. Mas seus professores podem nao ter todas as respostas, e voce tera de procurar a aj uda de outras pessoas. (Talvez scja born que seus pro fcssores flao tenham todas as respostas, porquc assim voce tent algo para ensinar-lhes, e eles lerao seu relatorio com maior in teresse.)

Voce nunca sabera com antecedeneia de quanta ajuda des­se tipo ira preeisar. Num extremo, temos aquele estudante que se rellOe diariamente com seu orientador no cafe da manha, para

Page 54: boothwaynec-140923095935-phpapp02

92

infonnar-lhe 0 que desco ­briu no dia anterior e rc­ceber orienta(,:ao sabre 0

que faze r no dia que tern pcla frente. (E melhor pam os alunos que nao recebam tanto auxilio assim de a1-guem.) No outro extre­ma , temos aquclcs alunos fcrozm ente independentes que desaparcccm no inte­rior da biblioteca e Hunea fa lam com ninguem, a te que aparecem com 0 pro­j eto pronto. (Na verdade. nao conhecemos alunos as­sim, mas achamos que de­vern ex isti r em alg um lugar.) A maioria dos pes­quisadores escolhe urn pro­cedimento intermediario , confiando em conversas casuais para oricnlar suas leituras, 0 que estimula mais perguntas e " paJp i­tes" para testar nos Q U­

tros. Uma nova fonte de

auxilio bibliognifi co e 0

"painel" eletronico ou " li5-ta", di sponivel na Internet, a rede de computada res conhecida como "infovia" . o sistema tem grupos de discussao sobre quase to­das as areas de interesse concebiveis, alguns muito

A ARTE DA PFSQUISA

T res lipos de Fo ntes

FONTES PRlf'.AARIAS: S60 as ele· mentos sabre as quais voce esta escrevendo direto mente, as "mate· ri os· pr i mos~ de suo ~squiso . Em a reas q ue estuda m o ulores au do­cumenlos, as texlos sobre as qua is voce escreve sao Fontes primarios. Em areas como idiomas au histo­rio, normalmente noo se pode es· crever um orligo de pesquiso sem usor fontes primarias .

FONTES SECUN DARIAS: 560 as livros e a rt igos o traves dos quais oulros pesquisadores informam as resultados de pesquisas ooseodos em dados p rimarios au fontes. Vo­ce as cito ou mcnciona como urn suporte poro sua propria pesqui· so Urn olngo que VOCe escrever sera a lonte secundaria de um pes­qUisodor que a Usaf para apoiar urn orgumento dele . Par oulro Iodo, se. suo biogrof io eslivesse sendo es­cnto par ele, seu a rtigo serio uma Fonte primoria .

FON TES TERCIARIAS: 560 Jivros e ortigos boseodos em Fontes secun· darias, nos pesquisas de oulros. As Fontes lerciarias sintelizam e expli­cam a urn publico popular a pes­quiso feila em umo ceria area, au s i mplesm~nle reafirmom a que ou­tros disserom. As Fontes lerci6rios podem ser uteis nas foses iniciois de suo pesquiso, mas representam urn suporte froco para seu ergu­menta porque costumom simplificor e genera lizer demois, quase nun­co sao otuo lizodos e normalmenle s60 tro todos com desconfian<;o pe­los especialistos .

.,. I

PAZENDO PERGUNTAS, ENCONTRANDO RESPOSTAS 93

especializados. Alem de listas sobre temas, como avalia~ao educacional, psico logia cognitiva e historia da retorica, ha tambem listas para criadores de cabras, espeleologistas do Missouri e daOl; arinos de Morris. Portanto, se voce quiser pes­quisar sobre cabras, haven!. alguem la que podera aj uda-Io.

Voce tern acesso atraves de seu provedor ou de urn pro­fessor em sua arca de interesse que estej a " ligado a rede" . Urn "despaeho" cornurn e 0 pedido de referencias b ibliograficas . Urn despacho recente, em uma lista de hi storiadores, indaga­va sabre a origem das notas de rodape. A pessoa que faz ia a pergunta referi a-se a urn artigo escrito pela pessoa que respon­di a! C laro que essa fonte de auxilio e inadequada para pesqui­sadores iniciantes, mas, se voce e urn estudante avan~ado c esta atrapalhado com alguma referencia a urn t6pico obscuro, certamente ha a lguem, em algum grupo de discussao, que po­dera ajuda-Io.

5.2.-9 Pessoas como Jontes primarias

Em algumas areas, voce pode ter de co le tar dados prima­rios, consultando pessoas. Nao podemos explicar as cornple­xidades de uma entrevista, mas lembre-se de uma das seme­Ihan~as entre aprender com pessoas e aprender com livros : quanto mais separamos a que sabemos do que queremos saber, mais cficazmente encontramos aquilo de que precisamos. Em resumo, planej e. Nao que voce tenha de preparar 0 roteiro da entrevista com uma lista rigida de perguntas - na verdade, essa e uma pessima ideia - , mas prepare-se, de modo a nao usar as pessoas sem urn proposito defin ido. Sempre podemos voltar a consultar urn Iivro, mas pessoas nao sao fontes a que possa­mos recorrer varias vezcs s6 porque nao nos preparamos da primcira vez, para conseguir 0 que precisavamos.

Mesmo que sua pesqui sa nao sej a d irctamente sobre pes­soas, a inda assim voce encontrara algumas di spostas a Ihe fo r­necer informa~oes, se ajuda-Ias a entender seu intere:;se no que elas sabem. Nao despreze pessoas de organiza~5es industriais,

Page 55: boothwaynec-140923095935-phpapp02

94 II ANn:: DII PESQUIStI

governamentais ou civicas locais. Por exemplo, alem de ler as atas de processos relativos a doutrina de segregaC;ao racial, que encontrou graC;as as indicac;oes de seu bibliotecano, voce tam­bern pode telefonar para a secretaria de ensino local para vcr se alguem sc lernbra de alguma co isa que estari~ di sposto a compartilhar. '

5.3 Trilhas bibliograficas

Como pode ver, pesquisa nunca e uma arividade solitaria. Mesmo quando parece que esta trabalhando sozinho, voce segue os passos de outras pessoas, beneficiando-se de seu tra­ba lbo, seus principios e sua pr.iitica. E fundamental que voce compartilhe as bases de sua pesq uisa, documentando suas fon­tes de forma a permitir .que oulros 0 sigam, uma pratica cujo va lor apreciara quando comec;ar a trabalhar em seu projcto . Ao localizar uma unica fonte ou duas sobre urn topico, voce esta­ra no rastro da pesquisa que podcm leva-Io aonde quer que voce precise ir.

Num livro , corra os olhos pelo prefacio. Nele podem cstar mencionados os amigos do aUlor e sua familia , mas tam bern aquelas pessoas que, na opiniao do autor, fizeram urn born tra­balho. Em seguida, passe pela bibliografia e indice. A biblio­gra fia re laciona os livros e artigos sabre os mesmos t6picos ou correlatos, e 0 indice mostra quais foram mais usados (qua­se sempre, 0 numero de paginas que urn autor dedica a outro autor ou a urn li vro e di retamente proporcional a importancia que tiveram para elc, isto e, quanto mals paginas, maior a im­portancia) . Artigos normalmente comec;am com urn registro das pesqui sas anteriores, c a maioria te rn notas de rodape Oll

uma lista de referencias. Agora vamos a segunda rodada. Sc sua lista for curta, leia

tudo 0 que houver nela. Se for longa, e voce precisar encurta-Ia, comece pelas fontes mencionadas na maioria dos traba lhos que Jeu na primeira rodada. A medida que prossegue, concen­tre-se nos trabalhos mais pcrtinentes ao seu problema. No entan-

FAZENDO PERGUNTA S, ENCONTRtlNDO RESPOSfAS 95

to, nao ignore urn trabalbo que nao foi rnencionado mas refere-se a seu topico - ganhara urn credito de originalidadc se apresen­tar uma boa fonte que pou­cos encontraram. Segui n­do esse rastro bibliognifi-

Cuidodo - Se encoolro r um livro que por~o impresciooivel 00 seu Irabalho, verifique se e a edic;oa mois recenle . Poder6 conledr se h6 umo poSlerior, consuhando 0 Co' 161ogo do Biblioleca NacionoL

co, voce poden'i. enconlrar seu caminho ate rnesrno no mais difi­cil terreno de pesquisa, porque uma fonte sempre conduz a outra.

5.4 0 que voce encontra

Uma vez cOllsolidados seus caminhos, voce deve ter urna lista substancial para oricntar sua primeira fase de Icituras. Se puder arcar com as despesas, compre os livros principais ou, entao, copie as passagens mais importantes. Nao perdera horns fazendo anotac;oes se possuir a obra e podera legitimamentc destatar com urn marcador de tex to os lrechos que aeha que usara. (Nao precisamos enfatizar 0 fato de que assinalar pas­sagens em urn li vro de biblioteca viola urn dos primeiros prin­cipios de tOOa comunidade de pesquisa: a preservaJ;ao das fon­tes para os que vicrem depois. Se precisar marcar paginas de urn livro, fac;a-o com folhas de papel, ou use lembretes auto­adesivos grandes, que possa facilmente remover depois.) Voce lucram ainda mais Sl! adquirir a hAbito de resumir por escrito tudo 0 que leu. Quanto mais escrevcr ao longo do trabalho, mais fac ilidade tera de enfrcntar 0 assustador primeiro rascunho.

Entre todas essas fontes, voce provave lmente encontrara titulos relacionados com sua pergunta. Pode ate ser que expe­rimente urn momento de pan ico , quando encontrar 0 sell titu­lo: "A metamorfose da lenda do Forte Alamo: a hi storia a ser­vic;o da po litica" . Nesse momento, talvez pense: "La se va i meu projeto, DaO tenho nada novo para dizer." Pode ser que esteja certo, mas e bern provaveJ que nao. Analise a fonte para vcr se responde a sua pergunta. Em caso afirmativo, tera dc formu­lar outra . Mas, ao ver como sell topi co foi tratado por outro

Page 56: boothwaynec-140923095935-phpapp02

96 A ARTE DA PESQUISA

pesquisador. voce provavelmente encontrara alga novo para dizer. Na verdade, com a ajuda de alguern que ja trabalhou em seu tapico, quase certamente sera possivel fazer urna pergunta melhor. Ou pede ser que a autor nao lenha conduzido as coisas Hio bern. Nesse caso. voce encontrou urn amigo in,"(olunt<irio.

Capitulo 6

U sando fontes de informat;iies

SE voc£ CONSEGUE REUNIR INFORMA<:OES e relata-las de maneira precisa e inteligive l, essa habilidade sera altamente valorizada. tanto em uma sala de aula, quanta em urn local de trabalho. Mais va liosa ainda e a capacidade de lidar com opi­niues e argumentos contraditorios, ava liar dados de tipos e fon­tes diferentes, aproximar informa~oes norrnalmente na~ asso­ciadas e chegar a urn ponto de vista original sabre urn proble­ma in\portantc. Para fazer isso, voce precisa aprender a anali­sar suas fontes nao apenas com preeisao, mas criticamente.

6.1 Usando fontes secundarias

MuilOS relat6rios publicados sao inuteis. ate mesrno pre­judiciais. porque os autores substituiram a leitura ponderada, critica, par anota~oes feitas as pressas. Eis aqui as doi s primei­ros principios do uso de fontes: uma boa fonte vale mais do que uma pon;ao de fontes mediocres. e urn resume preciso de uma boa fonte as vezes va le mais do que a propria fonte.

Tais principios parccem obvios, mas ava liar fontes e uma arle difiei!. Pergunte a qualquer urn que tenha s ido enganado par vigarices publicadas : " Pense i que era verdade, porque vi pubJicado na rcvista Sele(:oes do Reader's Digest" - 0 triste comentario dos que descobrem tarde demais a facilidade com que "pesquisadorcs" desonestos ou dcscuidados podem fazer resultados fal sos parece rcl11 plausive is e conscguir que se-

Page 57: boothwaynec-140923095935-phpapp02

98

jam publicados. Nove entre dez medicos concordam .. . Bern, quais medicos? Fo­ram entrevistados? Quan­do e como? POT tras de toda "cum milagrosa" ex is­te urn "estudo" que "prova" sua superioridade sebre os rivais, mas muitos desses estudos nao suportam urn examc rnais profundo.

A diston;:ao de uma pesquisa, no cutanic, 00(­

mal mente nao e intencio­nal. As fmudes aconteccm, mas as pesquisas publica-

A ARJe DA PESQUISA

Um dos oIunos de Boolh conseguiu um emprego de veroo, e seu Iro· balho consislio em lozer uma • pes· quiso cienlifico" para um loborot6-rio fo rmoceutico. ReceQeu a incum· ooncio de o nolisor pilnas de ques· lionorios preenchidos por medicos, para encontror nove au dez q ue recomendossem as produtos do em· pres~ , e eli minor os resto ntes_ O s lolsos orquivos preservados "pro­voromff 0 coso. 0 estudonte demi· Iiu·se, decepcionodo. sendo ro p i· domente subst;tuido. sem duvido ne­nhumo . por alguem menas cioso do elieo .

das nos peri6d icos respeitados quase semprc sao feitas por quem Dunea falscaria dcliberadame nte os resultados. A inda assim, pergunte a quase lodos os estudiosos cujos trabalhos foram discutidos pe los Qutros, e c1es Ihe dirao que sellS traba­Ihos, oa maioria das vezes, foram considerados imprecisos.

As vezcs, urn relato erroneo acontece porque um pcsqui* sador pregui90so confiou em boatos. Depois da palestra de uma pesquisadora proemincnte, Colomb ouviu*a confessar que cia nunca lera as obras do auter eujo trabalho acabara de discutir. Booth foi "refutado" por urn critico que aparentemen* te lera apenas a titulo de urn artigo seu, "Os romances devcm ser realistas", e que nao sabia que, atacando 0 titulo, estava concordando com 0 argumento de Booth. As vezes, relat6rios sao citados erronearnente ou sao mal comprecndidos. U rn cri­tico citou Williams erroncamente e, entao, pensando que est i* vesse discordando do autor, usou a evidcncia mal citada para discutir a qucstao ori ginalmente sustentada por elc.

Muitas distor<;ocs, no entanto, resultam de convic90es apaixonadas demais: alguns pesqui sadores envolvem-se tanto com seu caso que cncontram apoio a ele para onde quer que olhem. Nao deixam suas ev idencias "amadurecer" total mente, mas va~ buscar provas lange demais. E c claro que semprc ha

.. , FAZENDO PERGUNT"A S. ENCONTRANDO RESPOSTAS 99

a simples falha humana: uma palavra que falta, aspas omitidas ou ignoradas.

6.2 Leia criticamente

Como voce trata as fontcs em que tal vez nao possa con­fiar e como evita relata-las de mancira erronea? Eis algumas sugestocs uteis para os iniciantes, talvez ate mesmo para pes­quisadores peritos.

6.2.1 Avalie suas fonles

I - Leve a serio nosso conselho c reduza suas Fontes as mais valiosas para sua investiga9ao. No estagio inicial, isso significa ler rapidamente uma por9ao de Iivros e artigos para identificar quais deles deseja conhecer melhor. E claro que voce 1cometera alguns enganos ao praticar essa leitura rapida e, em certo sentido. descuidada. E tera de reler tudo cuidado­samentc. Mas s6 lendo por alto uma por<;ao de fontes e que voee podera se lec ionar algumas que merecem atenr;ao mais cuidadosu.

2 - Ao localizar uma fonte que Ihe pare9a decisiva, leia-a inleira . Ao contrario da leitura rapida, agora voce deve ler Jen­tamente, para compreender toda a argumenta9ao em seu contex­to completo. Uma causa comum de enos e a leitura fragmenta­cia, incompleta. Se voce pretende usar urn argumento ou ideia, e espec ialmentc cita-los, leia tudo em tomo do assunto e mais qualquer co isa que precise para entender 0 que espera usar.

3 - Sc usar dados primarios a u uma cita9aO que encon­trar em uma fonte secundaria, atribua esse material a Fonte pri­maria, mas reconhc<;a tambem a fonte secundaria em que 0 en­controu. Mais importante ainda, se sua fonte ap6ia-se significa­tivamente em lima fonte preceden te, verifiquc essa ultima tam­bern. Sc nao puder encontrar a fonte citada, muito bern; mas, se puder rastrea-Ia, fa9a-o. Logo descobrira que nao pode fiar-se

Page 58: boothwaynec-140923095935-phpapp02

100 A AR1E DA PESQUISA

na cren~a de que pesquisadores fazem apenas citac;oes confia­veis. E preguic;a intclectual nao procurar urna c itac;ao importan­te em seu contexlo original, se essa fonte esta disponivcl.

'. 6.3 Falt3 anota~oes completas

Voce podera perder facilmente tudo 0 que conseguiu atra­yeS de urna leitura cuidadosa, sc suas anotac;Oes 030 refletirem a qualidade de seu pCl1samento. Muitos acreditam que as melhores anota<;oes devem ser feitas em cartoes como este:

Sharman, Palavra5 ob~na~. p. 133. HI5T6RINECONOMIA (SEXO?)

Diz que a5 palavrs5 o175cena5 tornaram-6C uma qUC5taO economica no ~eculo XVII I. efta a revi5ta Gentlt:man's Magazine, dejulho de 1751 (nenhuma referencia a pal3ina). 50vre uma mulher cont;Ienada a dez dis5 de tral1alhO€> foryado5 porque niJo p&ie pagar a rnult.a de urn xelim por proferir palavras 0~!SCena5.

M ••• um austero economist.a praticamente alimentou a ideia de aument.ar 05 recur50s nacionais, sUfjuindo uma cruzada con­tra a cia sse dos o~sceno9 a~ast.ados.~

(Pode-5e pensar em palavras obscenas como quest~o eco­nBrnica nos diae atuaie.? Comediante5 tornam -5e mais populares quando usam palsvrss de ~aixo cal~o? 05 fi lmes tornsm-se rna is realistas? Ha squi urns questao de difuenyas sexuais? Os ho­mens eram tao mu!tados quanta as mulheres, no 56culo XVIII?)

GTWOO/S6

No alto do carHio, it esquerda, encontram·sc a nome do autor, 0 titulo da obra e 0 numero da pagina.

• No aito, a direita , veem-se as palavras-chavc que perm i­tirao ao pesquisador ordenar os cartoes em diferentes categorias .

• Entao, aparccem urn resumo da fonte, uma citayao dire­ta e urna rcnexao para pesquisa adicional.

f'AZENDO PI:."RGUf'ffA$, IiNCONTRANDO JiESPOSrAS 10 1

• No canto inferior direito encontra-se 0 numero de regis­tro do livro na biblioteca.

Esse metodo estimula apontamcntos sistematicos. mas nos tres, os autores, confessamos que rararnente usamos tais car­toes. Costumamos faze r nossas anotayoes num bloco pautado ou num computador, porque 0 espayO do cartao e pequeno de­mais para tudo 0 que queremos dizer.

Tambem devcmos observar que, se misturar no mesmo car­tao resumos, parafrases. cita~ocs e anotayocs de seus proprios pensamentos,. voce se arriscani a cenfundi-Ios, quando redigir o rascunho . E mais seguro transcrcver citayoes diretas, para. frases e resumos em um cartao de urna cor, seus pr6prios pen­samentos em urn cartao de Qutra cor e entao juntar os dois car­toes com um e1ipe, au g rampea.- Ios.

6.3. J Obtellha dados bibliograflcos completos

S~mpre que fizer apontamentos, certi f ique-sc de anotar todas as informalfocs de que precisa para vol tar aos textos que consultou e permitir que seus leitorcs sa ibam exatamente onde encontrar essas mesmas infonna~5es. Aqui va~ alguns ele­mentos basicos para isso.

AllIes de comeyar a ler urna obra. anote lodas as suas in­formayOes bibliogrMicas. Podcmos prometcr que ncnhum outro habito sera mais util para voce, em toda sua carrcira. Ane te:

o nome do autor. o nome do(s) editor(es)

o titu lo (incluindo subli tulo), o edi(,:iio,

(se houver). o volume, 0 local de publica(,:ao, o nome da editora. • data, o caso se tmte de infonna~ao ellconlrada em anto log ia ou pcrio­

dico, 0 Illlmero de todas as paginas.

Se voce tirar copia da parte de urn livro, copie tambem a pagi na de rosto e anote a data de publ icayao, que gera lmcnte

Page 59: boothwaynec-140923095935-phpapp02

\02 A AR11:.· OA PJiSQUlSA

se encontra no verso dessa pagina. Por fim, anote 0 numero de registro dado pela b iblioteea ao livro ou peri~ieo. Voc.e nao c itara esse numero em seu re latorio, mas mUltos pesqUisado­res poderiam the eontar como se sentiram frustrados ao enco n­trar em seus apontamentos a c itatyao perfeita QU urn dado essencia l e descobrir que a fonte fora documentada de manei­ra incompleta ou nem mesmo identificada. 0 numero de regis­tro Ihe poupara muito trabalho, caso voce precise vol tar a bi­blioteca para tom ar a veri ficar uma fonte.

Se sua fonte vier pela Internet, g rave todas as in forrna­tyoes sobre onde e quando a conseguiu, nao apenas o emitentc e a data, mas tambcm a fonte e lctronica - um grupo de discussao ou \isla de infonnat;:oes, urn banco de dados comer­c ial, etc. Muitas fontes c le­tronicas sao tao publicas quanto bibliotecas, mas, se voce quiser citar uma in­forma~ao enviada para um grupo de discussao ou lis­ta de informatyoes, sera bom pedir a permissao do emitente.

Anos olros, Wi lliams teve de retor· dar por olgum tempo a publico<;:ao de um ortigo sobre a estruturo s0-

cial no periOOo elisobetono porque nao documenrou inteiromente umo fonte . Encontroro dodos q ue nin° g uem ate enloo pensa ro em op li­cor 00 problema que ele esl0VO obordondo, mas nOo p6:de us6·los porque nao registroro inlOfmo<;:Oes completos sabre 0 foote . Possou ho­ros pesquisando no biblio teco do Universidode de Chicago ote que, umo noile, ocordou e sentou-se no como, lembroooo qlJe 0 foote es· tovo em outro biblioleco .

6.3.2 Alribua as injormafoes corretaflleme

Ao fazer anotat;:oes, voce deve di stinguir de maneira clara urn resumo de llma parMrase e panHrases de cilat;:oes diretas. Nno se esquetya de eolocar as c itaty6es diretas entre aspas, e evi­tar parajrases literais (veja pp. 2 18-22) .. Alguns pes~ulsado­res liveram sua ca rre ira arruinada ao publlcarem pesqUl sas que induiam uma passagem que pensavam resumir 0 que haviam lido, ou mcsmo q ue pcnsaram te r sido obra sua, qu~nd~ na ver­dade era urna c itaf; no direta ou urna parMrase mULto i1te ra l de

1 ~i1Zl!JVDO pJ-."NGUNrA S. WCONTRANDO JUiSPOS TAS 103

urna fonte sec undaria. Deseoberto 0 fato, eles foram acusados publieamente de p bigio . Seu a rgumento de defesa - disseram que em suas anotatyoes haviam omi tido inadvertidamente as aspas - pede te r s ido verdadeiro, mas isso diminuiu-os aos o lhos da comunidade de pesquisa. A melhor maneira de ter ccrteza de distinguir suas palavras das de uma fonte c de que as c itat;:oes cstao correta s e tirar fotocop ias das citatyoes mais longas. Ano­te sempre os numeros das paginas, nao apenas de cita(foes e dados, mas de qualquer eoisa que tenha parafraseado.

6.3. 3 Capte 0 contex iO corretamell fe

Para s ustentar suas afirma90cs , as fontes elaboram argu­mentos complexos com diversos elementos (discutiremos em deta lhes esse assunto na Parte Ill). A medida que consulta r suas fontes para col her materi al pa ra seus proprios argumcn­lOS, va analisando os que elas aprcsentam.

r I - Ao c ita r Oll resumi r uma fonte, tcnha cuidado com a

contexto. Voce nao pode ev itar inte iramentc de fazer citat;:oes fora do contexto, porque e obviamente impassive! c itar 0 ori­ginal inte iro . Mas, sc ler com cuidado, c rele r tudo 0 que for decisivo para as suas pr6prias conclusoes, seus resumos e c ita­tyoes scrao fe itos dentro do contexto que mais importa, aqlle ­Ie que voce caprou do original. Ao usar uma afirma(f30 ou ar­gumento, procure a linfla de raciocinio que 0 autor buscava e registre-a:

NAO: "Bartolli (p. 123): A guerra foi causada por Z." NAO: "Bartolli (p. 123 ): A guerra foi causada por X , Y c Z." MAS: "Ba rtolli : A guerra fei causada per X , Y e Z (p. J 23).

Mas a causil mais imponanlc foi Z (p. 123), por tres mo­livos : Motivo I (pr . 124-26); MOI ivo 2 (p. 126); Motivo 3 (pp. 127-28)."

As vezes, voce sc preocupar{1 apenas com a concl uslio, mas pesquisadores experientes nunea concluem guiados s im-

Page 60: boothwaynec-140923095935-phpapp02

104 A AlOli DA PIiSQUISA

plesmente pelo consenso geral - QualTO de cinco Jonles disse­ram X. logo /ambem digo. Os leitores querem saber que con­c1usoes saO 0 rcsultado de argumentos, nao s6 de suas fontes, mas espec ialmente os seus. Ao fazer anotar;oes, nao registre apenas as conciusOes, mas tambf:m os argumentos.,principais que as sustenlam. Desse modo, voce estani trabalha~do no con· lexto de questiies reJacionadas e debatidas. (Veja a Parte Ill.)

2 - Ao registrar as afirmar;5es feitas por sua fonte, note a importancia ret6rica relativa dessa afinnar;ao no original: E uma opiniao principal? Uma opiniao secundaria de apoio? Uma caracterizar;ao au concessao? Uma sugestao que serve de moldura, nao uma parte do argumento principal? Evite este tipo de erro:

Ori(:inai de Jones: "Nao podemos conduir que urn evento cause outro apenas porque 0 segundo segue 0 primeiro. E a COrrei31;3.0

estatistica nUDca C uma prova da relaIVao de causa e efeito. Mas ningucm que Icoha anal isado os dados duvida de que fumar scja urn fator causador de cancer pulmonar."

RelalOrjQ eogaoQso sabre Jones: "Jones $ustenta a opini30 de que 'oao podcmos conduir que urn evento cause Dutro apenas porque 0 segundo segue 0 primciro. E a correla9ao cstatistica nunea e uma prova da reia!;ao de causa e ereila' . Nap admira que pesquisadores responsaveis dcsconfiem das evidcncias cs­tatisticas de riscos a saude."

Jones nao sustentou essa opiniao de maneira nenhuma. Elc meramente concedeu que uma opiniao que expressou era relativarncnte trivial, comparada ao que disse oa ultima frase. que vern a ser a verdadeira opiniao que queria expressar. Quem quer que corneta urn erro desses num relat6rio estara violan­do os pad roes basicos da verdade. Mas urn autor poderia co­meter tal cngano inadvertidamentc, se suas anotar;ocs registras­sem apenas as palavras, sem observar seu papel como lima concessao sccundaria.

Fiquc espcc ialmente atcoto as declarar;6es que servem de " moldura", no principia e no fim de urn argumento. Ate mes­mo pesquisadores cuidadosos emolduram suas di scussocs com

1

FAZI:,NOO PI:f.I<GUNTAS, f:NCOIVI'l<ANOO HFSPOS1"AS 105

grandes dcclaral;oes para criac 0 contexto. As vezes, essas sao as afirmar;oes mais interessantcs, mas, embora devam acredi­tar nclas, cles nem sempre tentam fundamenta-Ias.

Saiba fazer a distinr;ao entre as caracterizar;oes ou con­cessoes que 0 autor reconhece mas deprecia, e as deciara'Voes que sao a base da argumentar;ao. A menos que voce esteja lendo uma fontc "contra a natureza" do plano do autor - por exem­plo, voce quer expor tcndencias ocultas - , nao comente aspec­tos secundarios de urn rclatario de pesquisa como se fossem principais, ou pior, como se fossem as (micas informa'Voes.

3 - Esteja seguro sobre 0 alcance e 0 nivel de confianr;a que urn autor exprcssa ao fazcr suas afirmar;oes. Estas, por exemplo, nao significam a mesma coisa:

X com frequencia parece causar Y. X causa Y. 4 - Nao confunda 0 resumo dos pontos de vista de ~Utro

aulor com 0 resumo feito pelo aUlor. Num relatorio extenso, mui­lOS aulores nao indicam claramentc que cstao rcsumindo argu­mentos de outros; portanto e faci l citar aqueles autores como se eles dlssessem 0 oposto daquilo em que aercditam de fato.

5 - Ao lidar com fontes quc concordam sobre uma afir­mar;ao principal, verifique se tambem concordam na maneira como a inlerpretam e sustentam. Por exemplo, entre dois cien­ti slas sociais que alegam que detcrminados problemas sociais nao sao causados por fon;as ambientais, mas por fat ores pes­soais, urn pode sustentar essa alcgar;ao com ev idencias de he­ranr;a genetica, enquanto 0 outro aponla para crenr;as religio­sas. 0 modo e 0 motivo pelos quai s as fontes concordam sao laO importantes quanta 0 fate de concordarem.

6 - Ao lida r com fontes di scordantcs, locali ze a ori gem da discordia. Voce precisa saber sabre 0 que nao cOllcordam: as evidencias, a interpretar;ao das mesmas, ou a abordagem biisica do problema.

Nao se prenda ao que um ou outro pesquisador di z sobre seu assunto. Seu trabalho nao sera uma "pesquisa" se voce sim­plesmente resumir e aceitar outro trabalho, sem faze r sua cri­tiea. Quando voce conta com pe lo menos duas fontes , quase

Page 61: boothwaynec-140923095935-phpapp02

106 A ANTI:." OA PESQUISA

sempre deseobre que elas nao eoneordam inteiramentc, e 6 a i que sua pesqui sa comec;a. Qual de/as tem 0 me/hor argumen­to? Qual respeitQ me/hor as evidencias? Existe 11m re1ato ainda me /hoy. que abrallja ou refute lima de/as ou as duos? Em resu­mo, nessa fase seja criti eo em relac;ao a suas fontes; nao sc deixe convenccr facilmentc por nenhuma delas. ".

Finalmeme. Icmbre-sc de que seu relatorio 56 sera preciso se voce ree­xaminar suas anotac;oes. comparando-as com as fontes. Oepois de seu pri­meiro rascunho. confira suas citac;oes com as ano­tac;Oes. Se voce usar uma fonte extensivarnente, leia mpidamentc suas partes re­levantes, depois de termi ­nar 0 rascunho. A essa al­tura, voce ja devcni. estar dominado pelo entusias­mo que menClOnamos an­teriormente. Estara acre­di/ando tao fortemente em seu argumcnto, que veni todas as evidencias pelo lado mais favonivel. Ape­sar de nossas melhores in­tem;oes, essa tentac;ao nos afli ge a lodos. Nao ha re­medio: 0 jeito e conferir e tornar a confe rir. E con fe-rir novamente.

Sejo voce urn novoto ou um espe­cio lislO, as erros lazem porle do jogo. NOs Ires, as oulores, desco­brimos euos em obros que publi­camas (com a esperarn;:a de qlHjl ninguem mois as encontrosse). E mois prov6vel que os erros oeOI""'

ram quando se copia umo ci lo<;ao longa. Quando Booth cursovo ala· culdode, a professor do cur$O de bibliografio pediu que a dasse co­plasse um poemo exolamenle como lora escrito. Nenhum des vinle a lu­nos do dasse enlregou uma copia per/eita . 0 professor comentou que pediro o quele lrobalho a cenlenos de olunos, e que openas Ires ho' viom entregado copios perfeilos. Porlonto, coofiro ludo com mOls cuidado do que voce po~ iulgar necessaria. /Il105 nao pense que e sempre 0 vnico a cometer urn erro especialmente baba. Booth o inda eslremece quando se lembra do Ie· Iolo..io que entregou no p6s-groduo· <;00 sabre N1ocbeth, de Shakespea· re o E W illiams gosloria de esquecer o relat&io que dcverio ler enlrego' do, mos nunco enlfegou, porque nao conseguiu ancontrar nenhuma referenda 00 !cpico que Ihe coube, sobre 0 g fande dramaturgo norue-­gues, Henry Gibson.

1

FAZHNDO PJ::NGUNTA S. W COf'oiT1.lANDO NESPOSTAS 107

6.4 Pe~a ajuda

A medida que sua pcsquisa progridc, voce enfrcnta urn perigo crescente, que e 0 de coletar informac;Ocs mais nipido do que pode digerir. A maioria dos pesquisadores defrontam­se com momentos de confusao em que tudo 0 que aprenderam pareee se atropelar. Ao mesmo tempo que sabem muito , nao podem estar seguros do que e realmente uti!. Nao espere poder evitar esses momentos, mas vera que e possivei mini mizar a ansiedade que eles eriam, aproveitando todas as oportunidades para organizar e resumir 0 que tern consegui do reuni r p Ol'

escrito e a medida que prossegue. Em tais momentos, voce pode, uma vez mais, reeorrer a

amigos, colegas, pro fessores - qualquer um que possa servir de publico simpatizante, mas critico. Fac;a pausas regularmente para explicar aos leigos 0 que aprendeu. Tente apresentar urn relato eoercnte sobre por que e como 0 que voce aprendeu sus­tenta sua pergunta e 0 impuls iona para a soluC;ao de seu pro­blem ... Fale de seus progressos a seus amigos, depois fac;a-Ihes perguntas: 15so Jaz sen/ido para voce? Estou deixando passa,. a /gum aspecto Oll pergull /a imporlallles? Pe/o que eu disse, 0

que mais voce gostaria de saber? Emhora venha a luera r com suas rca(,:oes, ganhara muito mais ainda com 0 simples ato de expliear suas ideias a leigos.

No principio podera aehar meio estranho pedir aos outros que ouc;am suas ideias, mas nao se deixe deter por isso . Fa9a urn acordo com a lguns colegas, dizendo que os ajudara se eles o aj udarem. Forme urn grupo de estudos com tres ou quatro pessoas que ouv iriio os relatorios umas das outras. Pesquisa­dores fazem isso 0 tempo todo. Nos tres, os autores, nunca sub· meteriamos urn rc latorio de pesquisa a urn periodi co ou a uma editora antes de testa- Io em publico, depo is de experimentar nossas ideias com os amigos, ou entre nos mesmos. Na verda­de, este livro surg iu dessas convcrsas, do teste de nossas id6ias no horario do cafczinho.

Page 62: boothwaynec-140923095935-phpapp02

S ugestoes uteis: Leitura rcipida

, ,

Em atenC;:3o a seus ie itores, voce deve lcr cuidadosamente suas fontes mnis importantes para certificar-se de que nao 56 esta informando de maneira confiavel as opiniocs principais, mas tambem os contextos, caracterizar,:Oes c conexoes. No cntanlo, para descobrir quais fontes merecem uma lc itura deta­Ihada, para sclccionar as obras que podcm seT as mais impor­tanles, VOCe precisa saber leT mais rapidamcntc. E fazer essa lei­tura rapida nao signifiea apenas correr os olhos pela texlo.

Para identificar de mancira nipida e segura os elementos principais de uma argumentar,:ao, voce prccisa saber onde pro­cura-Jos. Para isso, e necessaria comprecnder tanto a estrutu­fa de uma argumental;ao (assunto que discut imos .na Parte III), como a organizalf80 do livro ou artigo onde e apresentada (0 t6pico da Parte IV). Se voce esta pronto para comelfar a leilu­ra de suas fon tes, mas ainda nao leu as duas partes a que nos referimos, fa~a isso primeiro, e entao rdcia estas "Sugcstoes uteis", antes de ir a bibliotcca.

o objetivo da leitura rapida e fazer uma avalialf80 super­ficial do que urna fonte oferece: topico, problema de pesqu isa, solu~ao e as linhas gerais da argumenta~ao. A essa altura, fa~a apcnas as anotalfoes necessarias para nao se esquecer do que e essencial. Deixe cntao essa fon te de "i do, mas lcmbrando que ela pode se tomar re levante mais tarde. no deco rrer do desen­volvi mento de seu projeto.

PASSO I : Familiarize-se com a organiza~iio d a fonte .

Antes de comelfar a ler rapidamente uma fonte, procure ter uma ide ia de sua tota lidade.

I-"AZWDO PJiRGUNTAS. tNCOffl'RANOO IUiSPOSTAS 109

- Se for urn livro. • leia as primeiras frases de cada paragrafo do prefacio ; • no indice, verifique se ha urn pr61ogo, resumos de

capitulos, etc.; • leia 0 indice remissivo rapidamente a procura dos to­

picos com maior numcro de referencias; • leia por alto a bibliografia. observando as datas (quan­

to mais atuais. melhor, e claro) c as fontes citadas com maior freqiicncia;

• veja se os capitulos sao divididos em sec;oes com thulos e se apresentam resumos ao f inal.

Se sua fonte for urn livro muito extenso, uma resenha pu­blicada recentemente poder-i Ihe dar uma oQ'Vao de seu argumcn­to, das afinnalfoes principais e, provavelmente, uma ideia de sua estrutura . (Procure uma resenha apropriada na fonte de refe­rencias b ibliografieas que apresentamos nas paginas 337-43.)

f - Se sua fonte for urn artigo, • leia 0 resumo inieial, se houver; • folheie-o para ver se h<i. titulos de se\:oes; • corra os olhos pe la bibliografia.

PAS SO 2: Localize a qucstao central da argumenta~ao.

Leia a introduc;ao, especialmente seus ultimos paragrafos, e depois a eonclusao. Voee eneontrara uma formulalfao do pro­blema e sua soluC;ao. Identifique tambem 0 tipo de evidencia que sustenta a afirma~ao principa l.

PASSO 3: ldentifiquc as qucstoes secunda rias mais impo rtantes.

Se tiver alguma no~ao do problema e de sua soluc;ao, voce tanto podera rejei tar a fonte, considerando-a irrelevante, como

Page 63: boothwaynec-140923095935-phpapp02

110 A AN71i DA PliSQUlSA

deixa-la it espera de uma leitura posterior mais profunda. Se ainda nao conseguiu se decidir, procure as qucst5es secundarias mais importantes para a sustentaIYao da afirma'Y3o princ ipal.

I ~ Para um livro ou artigo, repita 0 passo 2. \ 2 ~ Se 0 capitulo ou artigo nao tiver subtitulo~, ldentifique

os trechos princ ipai~. Procure trcchos em que 0 aUlor passa de urn t6pico principal para outro, usando palavras de transiC;ao. Treine os olhos para encontrar essas transic;oes, ou "ganchos" ("Em primeiro lugar ... ", "Em segundo .. .... "Em terceiro ... ", " Fi­nalmentc", ou "Agora temos de considerar Y").

3 ~ Em cada trecho , lei a 0 primeiro e 0 ultimo panigra­fos, procurando sua afi rma~ao principal e tentando identificar o tipo de evidencia usado.

PASSO 4: Identifique temas fundam en ta is.

A~sim que tiver feito anotac;oes sobre 0 problema, sua afir­ma~ao principal e o~ ponto~ que a sustentam, esquadrinhe a fonte em busca de conceitos fundamentais. Re lacione csscs concei­tos, juntando-os a todas as informac;oes bibliognificas sobre sua fonte . Essa rela~ao sera muito uti l mais tarde, quando voce revisar suas anotal;oes para ver se a~ Fontes que leu supcrficial~ mente no in icio merecem uma leitura mais cuidadosa.

PASSO 5: Lcia os paragrafos por alto (se neccssa rio). , Os passos 1-4 provavelmente Ihe dadio as in forma~oes

necessarias que 0 ajudarao a dec idir se urna fonte deve ser li da mais atentamcnte. mas, se voce ainda se sentir insegura, lei a rapidamente cada paragrafo, procurando sua essen cia ou idcia principal. Se nao achar nada que pare~a esscncialnas duas pri­meiras scntcnl;as, pule para a ultima .

Sempre que estes c inco passos s llge rirem que a fon te e re levante para sua pergunta, separe-a para lima le itura mai s

1 Mzm/X) P/;1<GUNTAS, £NCON1'RANDO kESPOSTI1S 111

cuidadosa, urn processo que sera mais fac il . porquc voce Ja tera uma ideia dos aspectos mais importantcs da argumenta­~iio. Quando passarmos ao assunto do planejamento e da exe­cUI,ae de seu primeiro rascunho, voce vera que a pnilica obti­da nesse tipo de leitura rapida 0 ajudani, tanto no processo de rcdayao, como de revisao. Se, lendo rapidamente os reJat6rios que voce redigiu , os leitores nao conseguire m descobri r as linhas gerais de sua argumentar;ao, a organizayao de seu tcxto nao as ajudou como deveria.

Page 64: boothwaynec-140923095935-phpapp02

,

"

PARTE III

Fazendo uma afirma~lio e sustentando-a

Pr% go: Argumentos, rascunhos e discussoes

Primeiros pensamentos sobre os primeiros rascunhos

Se voce acumulou uma tonelada de anota.-;oes, fOlocopias e sumarios, que cstao caindo para fora de sua escrivaninha ou atulhando 0 disco rigido de seu computador, esta na hora de pensar em redigir 0 primeiro rascunho. Pode se r que voce tenha apenas esbo.-;ado respostas obscuras para suas pcrguntas mais iinportantes - na verdade, tal vez, ainda naO sa iba exata~ mente quais saO essas respostas. Mas, dcpois de ter acumula~

do uma quantidade considerave l de dados, voce precisa come­.-;ar a pensar no que eles representam. Uma maneira de chegar a uma resposta e organizar seus elementos de modo a desco~ brir neles algum padrao ou implica.-;ao e formul ar uma :l firma­.-;ao que, a seu vcr, scja poss ivel sustentar.

A gra nde maioria dos pesqui sadorcs iniciantes, quando come~a a organizar seu material, ordena~o de acordo com os topicos mais 6bvios, dispoe csses t6pi cos em uma sequencia plaus ivel e comc.-;a a escrever. Infeli zmente, os t6pi cos mais 6bvios podem ser os menos uteis, porque provavelmente refl e­tern nao 0 que voce descobriu depois de ardua reflexao, mas o que suas fontes Ihe ofereceram. E, mesmo que esses topicos fossem alem do 6bvio, e provavel que s6 constituam uma sequencia linear (A + B + C + .. . ), uma estrutura retorica rara­mente forte 0 bastante para sustentar urn argumento longo e complexo. 0 pior resultado disso e que voce s implesmente resume as ideias dos outros.

Page 65: boothwaynec-140923095935-phpapp02

114 A ANTE DA PESQUISA

Por urna questio de scguram;a, colocar as coisas em ordem e urna boa maneira de se preparar para 0 primeiro rascunho -organize sellS dados de acordo com qualquer t6pico que Ihe parcc;a adequado. No fim, contudo, quando chcgar 0 momen­ta de comcc;ar a pJanejar 0 primciro rascWlho, vQce precisara de urn metoda de organiza~ao que nae proceda das C3!cgorias de sellS dados, mas de suas perguntas e rcspostas. Voce tera de OT­gan izar essas respostas para suslentar urna ajirmariio central, e essa afirmacao sera a resposta a sua pergunta mais dific il , sua justificativa para rcdigir 0 rclat6rio. 0 clemente de susten­taCaa dessa resposta, dessa afinnaCY3o, tomani a forma de urn argumento de pesqui sa.

Argumento como discussio

No Capitulo 4, fizemos a distin~ao enrre problemas co­muns e aqueles que mOlivam projetos de pcsqui sa. Oa mesma mancira. temos de distinguir os argumentos comuns daqueles que organizam os relat6rios da pesquisa. As pessoas normal­mente pensam em discussOes como disputas: criancas discutem por causa de urn brinquedo; companheiros de urna republica de estudantes, por causa do aparclho de som; mOloristas, pela prefercncia l. Tais discussoes podem ser educadas, mas sempre representam conflitos, em que ha vcncedores e derrotados. Para sentir-se confiantes, os pcsquisadores as vezcs di seutem por causa de uma evidencia, fazem manobras para conseguir vantagens e, as vezes, explodem em acusa(,:oes de descuido, in­eompeteneia e ate mesmo fraude. Mas'nao foi esse tipo de dis­cussao que os transformou em pesquisadores.

Nos pr6ximos qualro capitulos, vamos estudar urn tipo de d iscussao que e menos urn debate Iitigioso c mais lim dialogo profundo, no qual , juntamcnte com autfas pcssoas, anali samos ideias sobre assuntos que lodos consideram importantes.

Nessa d iscussao, porcrn, os partie ipantes fazem mais do que apenas trocar idcias. Todos temos 0 direito de emitir opi­niOes e, numa discussao comum, nenhuma lei rcquer que expli-

FAZENDO U4tA AJ-7RAtAylO t: SIJS71iNTANDO.A J J 5

quemos 0 motivo de as sustentarmos. Mas no mundo da pes­quisa espera-se que 0 pesquisador faca afirma'Yoes que eons i­dere novas e bastante importantes para intercssar aos. le itores, assim como se cspera que ele expJique as afi rmayOes, como se os leitores as estivessem questionando. e de maneira bastante razoavcl , porque acredita nelas. Quando prevc as perguntas dos le itores, 0 pesquisador sustenta as afi rma~oes com boas razoes e just ificativas. isto e, com evidencias.

No entanto, voee tam bern prec isa saber que aqucles lei to­res que merecem seu rcspeito irao quest ionar suas ev idencias, talvez ate mesmo sua logica, e que sera neeessario expliear seu argumento, dividindo-o em afirma~oes subordinadas, elas pro­prias sustcntadas por outras evidenc ias. Ta lvez voce ate ache necessari o exp licar por que aeredita que detcnninada cviden­cia suslenta logicamenle eerta afirma~ao. Por rim , tern de pre­ver que os leitores pensarao em objeyoes c a iternativas, as quais lera de responder, a medida que forem sendo apresentadas.

Seu objet ivo em tudo issa nao e obrigar os le itores a engo­lir suas opiniOes, nem impor-Ihes uma Verdade inequivoca mas I . , . , prevendo sellS pontos de vista, posiyoes c intcresses, "'presen­tar as afirma(,:Oes de urn modo que os aux.ilie a reconhecer os proprios interesses. Aj udando-o a explora r os Ii mites de suas evidencias e testar a profundidadc de seu raeiocinio, os e lemen­tos da boa argumenta~ao aj udalll-no a trabalhar com seus lei­tores, nao cot/Ira eles, fla procura e compreensao de uma vcr­dade que pode ser comparlilhada por voces lodos.

Page 66: boothwaynec-140923095935-phpapp02

1

, '.

Capilulo 7 Criando bons argumentos: uma visiio geral

Neste capitulo exam;nomos os quatro elementos de urn ar­gumenlo de pesquiso. No Capitulo 8 c/iscutiremos os dois elemen­tos essenciais a qua/quer argumento e, nos Capilu/oS 9 e 10, dois Q ldrO$ elementos que as pesquisadores ex.perientes deveriam c1o­minar, e as principianres, pe/o menDS en/ender,

7. 1 Discussoes e a rgumentos

NAO ItA NAOA DE ESPECIALMENTE DIFiclL no tipo de argu­

mento que voce encontra ou precisa apresentar num relat6rio de pesquisa. Esse argumento representa a mesma troca de ideias de urna discussao animada. com pessoas cuja intciigencia voce res­peila, espec ialmente quando as perguntas podem ajuda-Io a refle­tir endaminhando-.o para a solw;ao de urn problema complicado. A (mica diferent;:a e que numa conversa voce normalmente se senle mais confiante quanto ao que sabe. alem do que a outra pessoa esta bern a sua £rente, fazendo perguntas que 0 encora~

jam a se concentrar no que acredita e em por que acredita :

A: E entao, como acha que vai se sai r neste semestre? {A Jaz wna pergunta, levantundo impficitamente um problema.]

B: Acho que estou melhor do que no anterior. (Respondendo 11 pergunta. B Jaz uma ajirmafiio e impUcitamente resolve 0 problema.]

A: Por que voce acha isso? (A pede uma evidencia para suslen~

tar a ajirmafoo. ] B: Finalmente estou fazendo os cursos da area em que quero me

especializar. (B apresentu uma evidencia. ) A: E que diferen~a isso faz? [A noo ve par que fazer lais cur­

sos representa lima evidencia relevante.] B: Eu me saio melhor nos cursos que me interessam. [8 apresen­

ta um principio sobre cursos e mativUfQO que !iga a afirma­(00 Ii evidencia.)

Page 67: boothwaynec-140923095935-phpapp02

118 A ANn: DA PESQUISA

A: Mas, e quanta ao curso de estalistica que voce precisa fazer? (A indica uma evidencia que poderia contrabalanrar a evi­dencia de B.]

B: E verdade que fui reprovado em calculo, mas eSlalistica e rnais facil, e agora eu lenho urn orientador que ROde explicar as eoisas melhor do que as professorcs. [B reconhece a evi­dencia conlnlria, mas a reJuta. apresenlando l1ia i.~ uma evi­dencia.]

A: Mas, enlao, nao serao cinco as seus cursos? (A faz Dutra res­salva.]

B: Estou sabendo. Niio va i ser faei\' [8 Jaz lima concessfio. pois (rata-se de um ponto que 'lao pode confradizer. ]

A: Acha que entram. na li sta do rei lor? [A indaga a re.~peilo dos limiles do afirmariio de B.]

B: Nao garanlo, mas acho que fa rei urn bam pape\. Sou capaz de lirar a nola de media , se nao tiver de arrumar urn empre­go de meio periodo. (B limila 0 ambilO da afirmat;ao e. en­faa, e.~lipula uma condip"io qlle res/ringe slIa confianra.]

$e voce for capaz de se imaginar faze ndo parte de uma eonversa dessas, nao ae hara nada de eslranho nos argumenlOS de pesquisa, porque os e lemenlOs sao as mesmos. A (mica di­feren~a e que, num relatorio de pesquisa, voce ml0 s6 deve res­ponder as perguntas de seus lei tares, mas tambem fazer pergun­tas em nome deles. Entre as perguntas dos le ita res podem-se destacar:

Perguntas do leilor

Qual it 0 sell. assufIlo? Que evidencias voce fem? Por que voce acha que sua

evidencia sustenla sua afirm(u;:iio?

Mas, e quanto as ressa/vas?

Voce esui completamellle segura? Nao Jaz nenhuma ressalva. aqui? Entao, exatamenle qual a JOYl;a

de sua aIirma{:iio?

Resposlas que voce dani

Eu afirmo que ... ApresenlO como evidencia .. Apresemo 0 seguinte principio

gem! ...

POSSO responder a e/os. Primeiro . . .

So se ... e contanto que .. Devo admi/ir que .. Ell a fimilO ..

MZENDO VMA A .... INMA(:AO J:." SUS71:£NTANDO-A 119

Suas respostas constituem sua argumentavao. Voce deve apresentar:

• lima afirmarQo; • evidencias ou justijicativas que a sustentem; • algo que ehamamos dejundamento, urn principia geral que

expliea por que voce aeha que sua ev idencia c importante para sua afirma'Yao;

• ressalvas, que tornam suas afimlavoes e evideneias mais pre­eisas.

Ao reunir os argumentos, ncnhurn habito mental Ihe sera mais uti I do que 0 de imaginar-se num dia!ogo com seus leito­res: voce fazendo afirma~oes, os leitores formulando boas per­guntas, voce respondendo a elas da melhor forma possive!.

7.2 Afirma~oes e evidcncias

Dois elementos que voee pree isa sempre deixar explici­tos sao sua afirma'Yao e a evidencia que a suSlenta.

L __ A_fi_'m_'_"_._o __ "I· .. -----> .. ~IL __ E_V_id_'_n_'_i' __ J

• sua afirmafQO expressa aqui lo em que voce quer que os lei­tares aereditem;

• suas evidencias ouj ustificativas sao as razoes pelas quais eles devcm aered itar na afirma~ao.

Afirmat;iio: Deve ter chovido ontcm it noile, £videncia: porque as ruas eSlao molhadas. A.JinJ1Q{:iio: Voce deveria fazer urn exa me para saber se sofre de

diabetes, £videllcia: porque sua leitura do glicometro e 200. Ajirfllllriio: A emancipa~ao dos camponeses rnssos foi meramen­

Ie simbo lica , Evidcncill: porque nao melhorou a quali dade de sua vida diaria.

Page 68: boothwaynec-140923095935-phpapp02

I ZO A ARTE OA PESQUISA

Quando voce apresenta urn desses elementos sem 0 Qutro, parcce que apresentou dados despropositados ou op in i1io in­justificada.

Afirma~oes e ev idencias sao suficientcs para conversas corriqueiras, como a respeito da chuva de ontem a Doite. Mas, ao faze r urna afirma~a.o s ignificativa, voce esta pedindo que sellS leitores mudem de op iniao sabre algo importante. Consi­deraodo que a maiaria dos leitores resiste. quando se trata de mudar de opiniao faci lmente, ainda mais quanta a assuntos im­portantes, voce precisarn amp li ar sua argumenta~ao com mais da is elementos: fundamentos e ressalvas.

7.3 Fundamentos

o fundamento de urn argumento e seu principia geral, uma supos i~ao ou premissa que estabelece uma ponte entre a afir­mac;ao e a evidencia que a sustenta, ligando-as num par logi­camcnte relacionado. Seu fundamento responde a perguntas, nao sobre a precisao de sua cv idencia, mas sobre a pertinencia de sua afirmat;ao, ou, dizendo de maneira inversa, responde sc sua afirmar;ao pode ser deduzida atraves de sua ev idenc ia. Pen­se em seu fundamenta como uma superestrutura que liga a evi­dencia a afirmayao:

Fundamento

Afi nna~ao .. Evidcncia

Numa conversa casual, raramente pedimos um fundamen­to . Sc afirmassemos: Deve ter chovido antem a noi/e, pOloque as ruas es/iio molltadas. poucos repii cariam, pcrguntando: PO I' que a simples Jato de as , OliOS estarem mollradas deve meJazer acreditar em sua afirmat;iio de qlle choveu ontem a "oite? Quase

PAZENDO UMA AFIRMApoiO Ii SUSTENTANDO-A IZI

todo 0 mundo simplesmente lorna como certo 0 fundamento, o principia geral que une a cvidencia das ruas molhadas com uma afirma~lio sobre chuva.

Sempre que vern as a evidencia das ruas rno/hadas. de manhii, podemos conduir que provavelmenu! choveu na no;fe anterior.

(E claro que, se voce mora numa cidade onde se usam irrigado­res para baixar a poeira, apenas 0 fundamento nao sena bastan­te, e voce tambem iria querer saber se os irrigadores funciona­ram naquela noite. Leia mais sobre cste assunto no Capitulo 9.)

Tratando-se dc outros tipos de afirmayao, pOf(;!m, as pcr­guntas sobre fundamentos sao inevitaveis. Suponha que voce faya urn exame de sangue num daquelcs quiosques armados em shopping centers. 0 encarregado dos testes faz a Ic itura do aparelho que testa a dosagem de a~ucar no sangue e diz: Voce deveria consul/ar seu medicoajirma(uo porque sua leitura es/a indicando 200./tvidirocia Quase todos nos perguntariamos por que 200 $ignifi ca que deveriamos procurar urn medico. Ao faze­la, estamas pedindo um fundamento, urn principio que justifi ­que, que liguc a evidencia - 200 no aparelha - a afirmayao de quc deveriamos consultar 0 medi co. Bern, responde quem fez o teste, sempre que lima pessoa /em uma lei/ura acima de J 20, hti 14m forte indicia de que ela pode saFer de diabetes.

Com freqtiencia, e preciso inc1ui r essa estrutura de sus­tcntac;ao adicional, fomecida por urn fundamcnto explicito, por­que normal mente os argumentos de pesquisa pedem aos lei to­res que mudem de opiniao sobre assuntos que nao sao obvios. (sso, entao, geralmente signifi ca que voce precisa convcncer seus le itores de que sua evidencia e na verdade importante para sua afirmat;ao.

Por exemplo:

A emancipaf;:ao dos camponescs russos foi meramenle simb6li­c.aafi" .... "'" porque nao melhorou a quaJidade de sua vida dia­na·~.wi"n"

Page 69: boothwaynec-140923095935-phpapp02

122 A ARm DA PESQUISA

Esse argumento poderia induzir urn leitor a pedir um fun­damento:

Mesmo que ell concordasse com sua evidencia de que a qua/idade de vida dos camponeses rusros nqo me/horou. por que isso deveria me fevor a ocreditor em sua afirma~jjo de que a emancipafiio foi merame"re simbOlica?

o pesquisador teria de responder com urn principio geral que eSlabe lecesse de que modo urn certo tipo de evidcncia e importante para uma dctcrminada afirmac:;ao:

Sempre que uma a~ao politica nao melhOTa a vida daque­les a quem prctcnsamente deveria ajudar, julgamos lal rCrOmll)

como tendo sido apenas s imbOlica.

E ciaro que 0 lei tor pode rejeitar 0 fundamento por julga-10 falso. Nesse caso, e le teria de questionar 0 argumento como urn todo, muilo embora. lanto a evidencia quanto a ajimIQ9iio possam ser ejelivamente verdadeiras. (Discutiremos tudo isso em maiores detalhes nos pr6ximos dois capitulos.)

7:.4 Ressalvas

A quarta parte de um argumcnto consistc de ressalvas. As ressalvas limi tam a certeza de suas eonciusocs, estipulam as condj~oes nas qua is sua afirma~ao se sustenta, lidam com as possiveis obje~Oes de seus leitorcs e - q~ndo nao exageradas -fazem voce pareecr urn autor criterioso, cauteloso, ponderado.

Sempre que fizcr uma afirma~ao que 56 for verdadeira sob certas condiCOcs, ou estabelccer urna liga~ao entre urna evi­dencia e uma afirma~ao que nao seja cern por ccnto correta, mas apenas provavelmente verdadeira, voee deve, por si mes­mo, e por seus leitores, ressalvar sua argumenta~ao adequada­mente. Ao restringir seu argumento dcssa fonna, voce reconhe­ce os obstaculos que impedem 0 movimcnto entre as evidcn­cias e as afirma(tocs.

FAZENDO UMA """"/R.41A<=AO 1:.' S~71-NTANOO-A 123

Fundamento

Evidencia

Ressalvas

Por excmplo, uma leitura de 200 nao e sempre urn sinal de diabetes. Feita logo de manha, 200 e urna contagem alta, a menos que voce tcnha comido urn doce enorme. Assim, antes de podennos ava liar uma afinna~ao e sua cvidencia, temos de saber como 0 seu alcance pode ser ressalvado: Sua ieitura e de 200'I!vidirldaporlamo voce deveriaJazer um exame medicoajirmafiio porque lanta g licose no sangue e wn forteressa/VQ sinal de que voce podeffssalvu ter diabetes.junJaml!Ma a metros que, e claro, vo­ce tenha acabado de comer um doce'lYssa/va

Quanto rnais complexo e interessante seu argumento, rnais e prov3vel que voce precise de ressalvas, porque as afinna~ocs complexas e interessantes nunca sao exatas, cern por ceolo verdadeiras sob todos os aspectos. Por medida de seguram;.a, alguns graodes pensadores (e nao poucos professores) enun­ciam julgamentos olimpicos, pondo-os ac ima de qualquer res­salva. Quanta ao reSlante de n6s, 0 melhor e nao fazer isso. Sem "enrolarmos" ou nos "csquivarmos das perguntas", dcvcmos ser legitimamente cautelosos quanto a nossos resultados. (Veja as pp. 184-5)

A maneira como voce lida com afirma~oes, evidencias, fundarncntos e ressalvas influi no modo como os leitoresjulgam nao sO seus argumentos, mas tambem sua capacidadc mental e ate mesmo seu can'tter. A maioria dos Icitores quer saber por que voce faz uma afirmayao, nao para desafia-Io, mas porque desejam entendcr melhor sua argumenta~ao e participar da dis­cussao. Quando rcconhccc a interesse delcs, voce se mastra urn autor ponderado. Se s implesmcnte afirmar: Voce deveria

Page 70: boothwaynec-140923095935-phpapp02

124 A ANTE DA PESQUISA

Jazer urn exame de diabetes ou A emancipar:iio dos campone­ses russosfoi meramente simbolica e nao disser nada mais, vai parecer que espera que seu publico acredite em tudo 0 que voce diz simplesmente porque voce diz, urna suposi~ao muito grosse ira. Boas razOeS e ressalvas ponderadas aju~m a con-vencer seus leitorcs de que voce e confiavel. "

Quando faz urna afirma~ao, da boas razOes e acrescenta ressalvas, voce reconhece 0 desejo de seus leitores de traba­thar com voce, descnvolvendo e testando ideias novas. Por esse prisrna, 0 me lhor tipo de argumento nao e nenhuma cocr~ao verbal, mas urn ate de coopera~ao e respeito. Essa estrutura de argumenta~ao, no cntanto, C ainda mais que isso. Tambem pode ser urn guia para sua pesquisa. Se entender como suas fontes organizaram seus argumentos, voce podera Ie-los mais criti ca­mente e tomar nolas com mais precisao. Se entender como tcra que organi zar seus argum,entos, podera pianejar seu primeiro rascunho com maior eficacia e testar suas descobertas com maior confian~a.

Capitulo 8

Afirmat;oes e evidencias

Nesle capilulo. di.fClltimos os dois elementos que precisam eslar explicilos em loda argllmentofiio. Isso e imporlante para 10-dos as que que/ram elaborar uma argumelllor:ao confiavel. sejam pesqujsadores iniciante.f all experientes.

o ELEMENTO CENTRAL DE TODO RELAT6Rl0 e sua afirma­<;ao principal, seu ponto de vista ou lese gera!. E a culmina~ao de sua amilise, a declarar.;ao do que sua pesquisa signi fica. Mas, se qui ser que seus leitores mudem de opini ao a respeito de algo importante para eies, voce nao pode simplesmenle apre­sentar a a firma~ao, precisa dar-Ihes boas razOes. evidencias con­fi aveis em que acreditar. Esse par, afi rma~ao e evidencia, cons­titui 0 nucleo conceitua l de todo relat6rio de pesquisa.

8_1 Fazcndo afirma~oes de peso

Sua afirmat;ao principal e 0 centro de scu relat6rio, a parte que re fle te mais plenamente sua contribu i~ao pessoal a pes­qu isa. Para sustentar sua parte do d ialogo, essa a firma~ao pre­cisa satisfazer as expectativas dos leitores. Eles esperam que ela (como tambem as afirma~oes subordinadas que a susten­tam) seja slIbsfamiva, conlesuivel e explicila.

8. J.I Sua ajirnwfiio deve sel' substantiva

Os Icitores querem que voce os ajude a entcndcr algo im­portante; assi m, terao pouco interesse por uma afirma<;ao que mostre apenas 0 que voce fez:

Page 71: boothwaynec-140923095935-phpapp02

126 A ANTI:: DA rESQUlSA

Embora a recessao de 1981-82 tenha ocolTido principal­mente porque a OPEP elevou os pret;os do petroleo. examinei o papel desempenhado pelo Federal Reserve Board.

ou sabre 0 que seu relat6rio rani: , "

Este rdatorio discutiril 0 papel da OPEP e do Federal Re­serve Board na recessiio de 1981-82.

Isso nao diz nada de substantivo sobre a OPEp, 0 Federal Reserve Board ou a reeessao, portanto tambem nao ha nenhu­rna necessidade de urn argumento para sustcnta-Io. AfirmaCoes assim inlroduzem tipicamcnte urn passeio a esmo por urn campo de informacoes.

A afirmacao seguinte poderia ser substantiva 0 bastante para prender 0 interesse do leitor, porque faz uma afirmaCao sabre a OPEP, os prccos do pctroleo. 0 Federal Reserve Board. a provisao de fundos e a recessao de 198 1-82:

A recessao de 198 1-82 nao aconteceu porque a OPEP ele­vou os precos do pctrolco, mas principaimcntc porque 0 Federal Reserve Board restringiu a provis.ii.o de fundos.

8.1.2 Sua ajirma{:tio deve 5er conleslavel

Os le ilores cons ideram uma afinna!;ao impo rtante na me­dida em que ela seja contestavel. A afirma<;iio deve leva-los a pensar, Voce tera de ex:plicar ;-"50, seja pprque sempre acredi­ta ram no eontrario, au porque nunca pcnsaram no assunto. Nin­guem conlesta uma afirma!;ao que so se refere ao proprio rcla­t6rio ou a voce, nem uma afirmacao que rcpete algo em que os leitorcs ja acreditam:

Portanto, a Segunda GuelTa Mundiai mudou 0 curso da hi s­toria ao penn itir que a Uniao Sovietica dominassc a Europa Oriental por quase mcio seculo.

i

FAZl:!JIlJX) UMA AI'/NAlAcAO Ii SUST£NJ"ANfX)..A 127

Uma vez que a maiaria dos leitores j a acrcdita nisso, dize-10 nao acrescenla nada de novo. Se nada do que lbes diz muda a optoiao deles de mancira que os preocupe. voce estani. des­perdi'Yando 0 tempo delcs. Sua afirma~ao 56 sera contestavel se mudar alga em que eles ja acreditam. Na mcdida em que ela for contestave l, seus lcitores a considcrarao importante. (Veja em "Sugestoes (Jtcis", no final deste capitulo, algumas maneiras comuns de os pesquisadorcs fazerem afirma<;oes con­testaveis.) Mas, novamente, se voce esta num de seus primei­ros projetos de pcsquisa, focalize seus proprios interesses, algo que seja importante para voce, ou para a lguem com os seus interesses e conhecimento.

8. J.3 Sua afirmafiio deve ser especifica

Os leitores tambem cspcram que sua afirmacao seja ex­pressa em Iinguagcm sufic ientemente detalhada e especifica para rrconhecerem os conceitos centrais que voce desenvolvc­Til ao longo de seu rcl atorio. Compare:

Portanto, a emancipat;ao dos camponeses russos nao foi urn acontecimento importante.

Portanto, a emancipat;ao dos eamponeses russos nao foi importanlc porquc. embora sua vida tenha mudado urn pouco. sua situat;ao decaiu.

Portanto, a cmancipayao dos camponescs russos foi ape­nas simb6liea. porque, embora eles tcnham obtido 0 controle de seus ncg6cios cOlid ianos, sua condit;ao eeon6mica deteriorou­se tao nitidamente , que seu novo sUliu S social nao afelou a qua­lidade material de sua cx istencia.

A primcira afirmacao c pouco substane ial. A segunda c menos vaga, mas cnunc ia poueos conceitos especi ficos que os leitores dcveriam esperar (com cxeet:;ao de decair). A terce ira e ex plicita, enunciando varios concc itos que 0 autor precisa de­senvolver para sustcnta-Ia : simb6lica, oble,. 0 controle. condi-

Page 72: boothwaynec-140923095935-phpapp02

128 A ANn:: OA PHSQUISA

fiio economica. deleriorar. novo status social. qualidade ma­terial da exislencia.

Ao expressar sua afinnac;:ao principal pela primcira vez, no fim da i ntTodu~ao (confonne prefere a maioria dos leita­res; veja as pp . 260-5), e impo rtantc que voce 0 (a<;a em lin­guagem especifica. Quando notarem que a linguagem se man­tt~m sempre a mesma. e bern prov3vel que os leit'orcs s intam que seu texto e coerente. Quando nao sabcm que conceitos es­perar, os le itores podcm perder os mais importantcs e julgar que 0 que estao leode esta desfocado, ate mesmo que c uma bagunc;:a incoerentc.

8.2 Usando afirma~oes plausiveis para or ientar sua pesquisa

Seus leitores desprezarao suas afirmalfoes se e las nao fo­rem substant ivas, conlestaveis e explicitas. Essas caraclerisli ­cas tambem podem ser importantes para voce, cnquanto eSliver pcsquisando e rcd igindo 0 texlo. voce entendenl melhor suas fonles quando puder identi f icar suas afi rmar;oes principais c as evideneias q ue elas aprcsentam para sustenta-las. Voce dci a s i mesmo orienta~Ocs para a pesquisa quando cria afirmac;:oes subslantivas com t6picos e conceitos explic itos: de que precisa­ria para desenvo lver obten~:iio do commIe. condi{:iio economi­ca, dereriorar.iio , novo status social, qllalidade malerial de vida?

Voce tambem pode usar esses conceitos para ordenar suas evidencias:

Antes de os camponcscs scrcm cmancipados, sua vida materia l era suficiente para a sobrevivencia. - Que evidencia se relacionu com "vida malerial '"? Seu nive] soc ial era baixo. _ Que evitiellcia se rclaciona com ··baixo·7 Elcs nao tinham controle sobre a propria vida. - Que evidencia se reJaciona com "controlar· "? Seu slams social leve uma ligeira asccnsao . - Que evid{m cia se relaciona com "ascellsiio ·'1

I-AZI:!.NDO UMA AI'IRMA(,:AO /:.: SUS7ENTANlXJ..A

A quaJidade material de sua vida diaria se deteriorou . - Que evidencia se reJaciollo com "deteriorou 7

129

Cada termo c simultaneamente parte cia afinna<;30 prin­cipal e de subargumcntos que prec isarao de suas proprias evi­dencias de sustenta<;30. Quanto mais explic ita fo r sua Iingua­gem, mais evidcncias voce precisara aprescntar para sustentar suas afi rma~oes, e me lhor vera quanta pesquisa ainda precisa fazer.

Se estiver escrevendo seu primci ro relat6rio de pesquisa, a tare fa de formular uma afirma.yao significativa, contestavel, numa linguagcm bastante especi f ica, podenl parecer impossi­vel, especial mente se seus le itorcs forem peritos no assunto de sua pesquisa . Como, voce poderi a perguntar, espera-se q ue eu descubra algo qlle mell professor ainda nao sllbe all em qlle nao acreditll? Os professores entendem esse problema e cspc­rarao que voce fa<;a uma afirma<;30 que seja nova e contesta­ve l para alglll!m 110 seu IIivel de experiencia e conhecimento , talvfZ apenas nova para voce. Nesse casc, fa.ya sua pesquisa tendo em mente seus pr6prios interesscs, ou os de seus colegas de classe. 0 que eles poderi am achar surpreendcnte. contestavel, importante?

Contudo, se voce e urn estudantc de nivel ad iantado, seus professores esperarao que fava uma afinna<;ao que especialis­tas cons iderariam contestave l - ou pe lo menos merecedora de ser posta a prova. Nessc caso, sua pesquisa precisa inc1uir aqui-10 em q ue os cspccialistas acreditam no momento, em relalfaO ao problema, e como eles reag iram a outras simi lares. Pergunte ao seu professor 0 que elc espera.

8.3 Apresentando evidencias confiaveis

A afirma<;ao e 0 centro de seu re lat6rio, mas a maior parte dele sera ded icada as ev ide ncias que 0 sustentam. Se os lei to­res rejeitarem suas ev idencias de sustenta.yao por cons idera­rem-nas fracas. e porquc eles nao as julgaram exafas, precisas,

Page 73: boothwaynec-140923095935-phpapp02

130 A AJai:: OA P£SQUISA

suficientes, representativas, autorizadas OU compreensiveis. (Os leitores tambem podcm rejeitar urna evidencia por seT irrelevan­te au inadequada, mas, para testae as evidencias por esses do is criterios, voce precisa saber rnais sabre os fundamentos, que discutiremos no proximo capitulo.)

Esses criterios DaO sao exclus ivos dos argumentos de pes­quisa. Nos os usamos em nossas discussoes rnais corriqueiras. A argumentar;ao de " Filho", a scguir, fracassa em lodos os seis criterios de qualidade, aMm de nao seT adequada:

Filho: Preciso de tenis novos' '!/irmafQO Os meus parccem aperta­dOS·~vid" .. do

Pai : Seus pes nao cresceram tanto em urn mes, e nao parecem doer muito. [i.e., Admito que 0 que voce apresenta como evil/encia poderia ser pertillente a sua afirma{:iio, mas a rejeito, primeiro porque nao e exata, e segundo porque. mesmo que/osse e)(ata, "parecem apertados" nao e sufi­clentemenle preciso .}

Filho: Mas os meus tenis estao com urna aparencia horrivel1 Es­lao sujos. Olhe s6 para esses cadan;os puidos·e,.;,/.;"clo

Pai: Cadan;os puidos c sujeira nao sao motivos suficientes para comprar tenis novos. [i.e., Sua ajirma{:ao pode ser e/eti­vamente eorreta, e com mai.~ evidencias poderio valer a pena considera-la, mas eadarros e slljeira, apenos, nao sao evideneias sujicienres da condiriio terminal de seils tenis. }

Filho: Todo 0 mundo aeha que eu devia eomprar tenis novos , ~...; .

di"do Pai: A opiniao de todo 0 mundo nao me importa. (i.e., Mesmo

que seja verdadeira, 1100 eOllsidero autorizada a opiniao de outras pessoas.] I

Filho: Voce nao ve a modo como sou obrigado a andar?~,.idin~i"

implidlo

Pai: Nao. [i.e., 0 modo como voce anda poderia se qualifi­car como evidencia, ma\' ell 0 tenho ob!icrvado c niio vi nada de errado, Sua evidlincia nao e nem um poueo com­preensiveL]

Filho: Olhe como eu ando mancando'evidinc;., Pai: Voce estava eaminhando direito urn minuto atnls, [Le .• Sua

cvidencia nao e representatil'O.]

"'AZI:NOO UMA AHRMACAO Ii SUS11iNrA NDD-A 131

Fi lho : Voce tern dinheiro para me compmr tenis novos.~..,;d~~ciQ

Pai : Esquer;a! [i.e., Niio responderei, porque sua evidencia noo e adequada.]

Se voce puder se imaginar como 0 Pai, sera. capaz de testar a qua­lidade das evidencias de qualquer argumento de pesquisa .

8.3.1 Exatidoo

Acima de tudo, sua evidencia deve ser exata; os !eitores especialistas desdenham os erros, Leia novamente nossas adver­tencias no Capitulo 6 sobre fazer anota~oes que reflilam com exatidao tanto 0 texto quanto 0 contexte das passagens que voce cita. (Veja as pp. 103-6,) Se seu relat6rio depende de dados co­lecionados em laborat6rio ou no campo, registre seus dados completa e claramentc, e entao confirme essas dua!> caracteris­tieas antes e durante a redaf;3.o. Os leitores predispostos a se­rem eet~os em relaf;ao a seus argu mentos, como devem ser todos os leitores atcntos, poderao aproveitar a mellor fa lha em seus dados, 0 mais trivial engano em uma citac;:ao ou menc;:ao (mesmo em sua ortografia e pontuac;ao), como um sinal de in­confiabi lidade irredimivel. Manter a eorrcf;ao das coisas facei s demonstra respeito por sellS leitores e e 0 melhor treinamcnto para as dificeis.

Considerando que a exatidao e decisiva, urna maneira de selecionar suas evidencias e avaliar sua confiabi lidade. De qua! evidencia voce esta mais seguro? Qual evidencia gostaria que fosse mais confiave!? Voce pode usar urna evidencia questio­nave l, desde que recollhe,-'a essa caraclerisfica. Na verdade, quando indica lima evidencia que parece sustcntar sua afirma­f;ao, e entao a rejeita como nao confiave!, voce esta se mostran­do caute loso e autocritico.

Page 74: boothwaynec-140923095935-phpapp02

132 A ANTI:." V A PHSQUISA

8.1.2 Precisiio

Os pesquisadores quercm evidencias que sej am nao s6 exatas, como precisas. 0 que e considerado preciso, pOr!!m, di­fere de area para area. Um fis ico mede a vida de quarks em fra­~oes infinitesimais de segundo, portanto a margem de. erro to­lenivel e tao pequena que te ode a desaparccer. Um Ilistoriador, ao avaliar quando a Uniao Sovietica entraria em colapso, esti ­maria 0 fenomeno em semanas ou meses. Um paleont6logo, datando uma nova especie, pensaria em termos de dezenas de milhares de anos. De acordo com as padri;es de suas areas, os tres sao adequadamentc precisos. (Acontece, tarnbern, de a evi­dencia ser prccisa demais. Urn historiador pareceria impruden­Ie se afirmasse que a Uniao Sovietica alcan~ou seu ponto de colapso as 2 horns da tarde de 18 de agosto de 1987.)

Embora voce nao deva fazer sua evidencia parecer mais prec isa do que ela e, os lei torcs cuidadosos ouvirao si renes de a larme se voce usar certas palavras que de alguma fonna res­trinjam sua afirma~ao, impcdindo-os de avaliar seu conleudo:

o Serv i~o Florestal gastou uma grande quantia para pre­venir incendios nas floreslas, mas ainda ha uma aUa probabi­lidade de gnndes e dispcndiosos incendios.

Quanto dinheiro e ' 'Uma grande quantia''? A que indice che­ga uma probabi lidade "alta" - 30%7 50%7 80%'1 Quantos hec­tares sao destruidos num incendio "grande"? Fique atento a pa­lavras como a/guns, a maioria, muitos, quase, sempre, norma/­mente, !reqiientemente, gera/mente, e a~s im por diante. Esses atributos restritivos podem estabelecer limites adequados a uma afirma~ao, mas tarnbem dar-Ihe uma conota<;ao de fa lsidade ou superficialidade. (Voltaremos as ressalvas no Capitulo 10.)

8.3.3 Suflciencia

Da mesma fo rma como areas diferentes julgam a precisao da evidencia de maneira diferente, assim tambem diferem ao

FAZEN/X) UMA AHRMAc-iO l;- SUSICNTA NDO-A 133

medir sua suficiencia. Em algumas areas, os pesquisadores baseiam urna afirmarvao na evidencia de urn unieo episodio de pesquisa: urn eritico c lassifica urn novo romance como obra produzida as pressas por interesse comerc ial, depois de apenas urna leitura, e eita como ev idencia urna unica falha. Para urna afirmar;ao sabre a tendenc ia de urna pessoa usar a mao esquer­da ou a direita, c sua rela~ao com a calvicie, urn psic61ogo tal­vez que ira analisar os resultados de 150 pacientcs em dezcnas de cxperiencias. Mas, antes de aprovar urn novo medicamento contra 0 dincer, 0 FDA exigiria dados de m ilhares de pacicn­les ao longo de anos de experiencias. Quanto mais estiver em jogo, mais alto 0 patamar da suficiencia. Poderia ser interes­sante saber sc urn novo romance e uma obra produzida as pres­sas por interesse comercial, ou se mais pessoas que usam a mao esquerda sao cal vas, mas poucos seriam afetados por re­sultados errados. 0 mcsmo nao se da com urn novo mcdicamen­to contra 0 cancer.

E ttpi co dos principiantes apresentar evidencias iosufi­cientes. Eles acham que provaram uma afirma<;ao geral quan­do cobontram apoio em uma cita~ao, em a lguns dados, em uma experiencia pessoal:

Shakespeare deve ler odiado as mulheres. porque em Macbeth elas sao lodas diabolicas ou fr.:l.cas.

Os pesquisadores quase sempre necessitam de mais do que um pouco de dados para sustentar urna afirma<;1io que scja subs­tantiva e contestavel (ernbora as vezes umas poucas evidencias contestem uma afirma<;ao). Se voce esta fazcndo uma afinna­<;30 mesmo lige iramentc contestavel. apresentc sua melhor evi­dencia, mas saiba que sempre havera mais evidencias di sponi­veis e que elas poderiam conter exemplos contrarios que se­riam fatai s para a sua afirma~ao.

Paradoxa lmente, alguns pesqui sadores iniciantes cilam a propria falta de evidencias como prova de sua afirmac;:ao:

Nenhuma evidencia dcmonstra que haja vida em oUlro lu­gar no universo. ponanto n50 devc haver nenhuma.

Page 75: boothwaynec-140923095935-phpapp02

134 A ANTE OA PESQUJSA

Voce pode observar como e inutil urna ev idencia negati­va, quando reconhece que, oa mesma pergunta, ela pode atu8r de ambos os lados:

Nenhuma evidencia demonslra que DaO pode haver vida em outro lugar no universo, portanto provavelmente dt,ve haver.

8.3.4 Representatividade

Os dados sao representativos quando sua variedadc refle­te a variedade do meio do qual eles foram derivados, sobre a qual voce faz sua afirma~ao. 0 que e considerado como repre­sentativo tambem varia de acordo com a area. Os antrop610-gos poderiam inlcrpretar urna pequena cultura na Nova Gui ne com base no conhecimento profundo de alguns individuos. mas nenhum sociologo faria uma afirma~ao sobre as praticas reli­g iosas americanas, baseado em dados fornecidos por uma uni ­ca igreja batista do Oregon. Os principiantcs sempre se arriscam a apresentar evidencias que nao refletem todo 0 ambito das evi­dencias disponive is, nao porquc sejam descuidados. mas por­que nao podem imaginar como seria urna evidencia mais re­presentativa.

_ Ao coletar evidencias, pergunte a seu professor. ou a al­guem experiente na area, quais outras eles achariam necessa~ rias para sustentar uma afirmac;ao como a sua. Se voce que1-aprender a julgar 0 assunto por conta propria. pec;a a seu pro­fessor exemplos de argumenta~oes que fa lharam por se basea­rem em evidencias nao representati vas. ~prendemas 0 que e considerado representativo. acumulando exemplos representa­tivos do que nao e.

8.3.5 Autoridade

Pesquisadores competentes c itam as fontes mais auto ri za­das, mas 0 que c considcrado autorizado novamcnte varia de area para area. Observe quais sao as autoridades que os pes-

FAZENDO UMA AFlRMA~AO E SUSn!NTANDO-A 135

qui sadores de sua area citam com maior freqiiencia, em que procedimentos confiam, que regis tTOs citam regularmente. $e voce esul lidando com [ontes primarias (tcxtos originais de li­vros, pec;as, diarios, e assim pOT dianle), certifique-se de que sua edic;ao seja recente e de que fo i publicada por urna editora respeitavel. Ha edic;oes eletronicas on-line de Shakespeare, editadas de modo tao prccario, que usa-las rotularia voce como incompetente.

Quando os estudantcs nao encontram, ou tern pouca fami­Iiaridade com fontes secund,irias autorizadas - peri6dicos ou livros especializados - , coshlmam recorrer a fontes terciarias: li ­vros didflticos, verbetes de encic1opedias, publicac;oes de ampla circulaC;ao, como a revista PsicoJogia hoje (veja nossas adver­tencias na p . 92). Se essas forem as uni cas fontes di sponiveis, que sejam, mas nunca as cons idere como autorizadas. Tome cuidado especial com livros de assuntos complexos dirigidos ao grande pllblico. Os autores que escrcvem para 0 lei tor co­mum. discorrcndo sobre 0 cerebro ou os buracos negros, sao normalll1ente competentes, as vezcs pesquisadores destacados. Mas eles tern sempre de simplificar, as vezes demais, e sao sem­pre dcsatua lizados. Portanto. se voce comec;ar sua pesquisa com urn livro popular. observe as datas dos periodicos especiali za­dos citados na bibliografia .

A autoridade tambem dependc da atualidade. mas, aqui novamente. cada area julga a a tualidade de maneira diferente. Nas ciencias, "desatualizado" pode re ferir-se a urn mes atras. Na area de humanas, urn estudioso poderi a julgar como confi avel urn livro com mais de urn seculo de idade. A melhor maneira de medir a atua lidade e observar rapidamente nas bibliog rafias as datas dos art igos de peri6dicos. Qual seria a data- limite a ser levada em conta? Considere quc a maioria dos livros d ida­ticos e livros de referencing esta desatual izada.

Lembre-sc, no entanto, de que a lgumas das melhores pes­quisas provam que uma ideia " atual e autorizada", ha muito estabelecida. e na rea lidade uma inverdade. Durante decadas. pessoas de diversas areas citaram casualmente 0 " fato" de que os povos Inuits do Artico tern dezenas de names para diversos

Page 76: boothwaynec-140923095935-phpapp02

136 A ARTli DA PIiSQUISA

tipes de neve. Apenas quando urna pesquisadora verifieou 0

fata fo i que descobriu que eles na verdade tern apenas tres. (Ou pelo menos foi 0 que ela afinnou.)

Por fim, fa~ a distin~ao entre evidencia autorizada c "auto· ridades" . Em tada area, se 0 Especialista A diz urna cqisa, 0 Es­pecia lista B afirmani 0 oposto. Alguem rnais aJegimi set 0

Especialista C, que na verdadc nae e especialista coisa ncnho­rna. Ao ouvirem os especialistas discordar entre si. os pesqui­sadores iniciantes (assim como 0 publico em geral) podem tor­nar-se ceticos quante a pericia c desprezar 0 conhecimento dos peTitos. julgando-o urna mera opiniao. Nao confunda 0 cinis­mo des informado com 0 ceticismo infannada e ponderado.

Se voce e urn pesqui sador de nlvel intermediario. nao acci­te nenhuma fonte como autorizada ate conhece r loda a pesqui­sa na area. Nada revel a incompetencia mais depressa do que citar algw!m a quem todo 0 mundo na area despreza - ou, pior, algucm de quem nunca o uviram fa lar.

Cada area define lodos esses criterios de modo diferentc, mas todas requerem que as evidencias os salisfat;:am. Assista a conferencias e scminarios. prestando aten~ao aos tipos de ar­gumentos que seus professores criticam par achar que apre­sentam evidencias inconsistentes. PC(f3 exemplos de maus argu­mentos aos professores. mesmo que eles tenham de inventa-Ios . Voce s6 entendera 0 que c considerado confiavel depois de ver exemplos do que nao e. Adquirir esse conhec imento atraves dos enos dos outros e menos doloroso do que faze-Io a custa dos pr6-p ri os erros.

8.3.6 Clareza

Sua ev idencia pode ser exata. precisa, suficiente, repre­sentativa e autorizada, mas, se as leitores nao puderem ver slla evidencia como evidencia , pode ser que voce tambem nao este­ja apresentando evidencia nenhuma. Espec ial mente quando e la consiste de dados quantitativos au citat;:oes diretas, certifi ­que-se de que seus lei to res possam ver nela 0 que voce quer que eles vejam. Por excmplo:

FAZENOO UMA A I-1JU1fAc:AO Ii Sr.JST1iNTANI)()-A 137

No teste de trabalho rotineiro, os valores metabolicos para os individuos I, 3, 7 e to foram invalidos. Os dados da taxa de pulsa"ao em 4, 8 e to minutos foram:

Indi viduo Descanso T ~ 4 T ~ 8 T - 10

I 6 1 72 93 10 1 2 73 88 105 110 3 66 85 99 11 0 .4 73 88 105 11 0 5 66 85 99 110 6 8 1 97 III 124 7 8 1 97 II I 124 8 73 88 105 110 9 66 85 99 110

10 8 1 97 III 124

o que deveriamos ver nessa tabela? S6 sabcriamos se ja li vessemos conhecimento de que ocorrem efeitos metab6licos quando as taxas de pulsaC;ao por minuto sobem aeima de 170% da taKa de descanso e pudessemos calcular os perccntuais de cabec;a. Caso conlnirio, esses dados nao se parecem com uma evidencia, mas com numeros crns, indigestos. (No Capitulo 12, apresentaremos alguns principios para ana lisar e revisar tabelas como essa.)

Igualmente confusa e a citar;ao "singela". Eis urna afir­mat;:3o de urn estudante sobre Lincoln . citando como evidencia o " Discurso de Gettysburg":

Lincoln acreditou que os Fundadores apOianam 0 Nor­te"fir",or<'<> porque, como ele disse, 0 pais "conSlitu iu-se de acor­do com a proposio;ao de que todos os homens sao criados iguais"'~i~

Pode ser que os Fundadores tivessem apoiado 0 Norte, mas 0 que existe nessa citac;ao que deveri a nos fazer pensar que Lin­coln acreditava que eles 0 fariam? Pressionado , 0 autor explicou:

Uma vez que os Fundadores constituiram 0 pais segundo a proposicao de que lodos os homens sao criados iguais, e Lincoln

Page 77: boothwaynec-140923095935-phpapp02

138 A ANTI::.' DA PESQUISA

Iibertou os escravos porque achou que e les haviam sido criados iguais. entao deve ter pensado que os Fundadores estariam de acar­do com ele, portanto tcriam apoiado 0 Norte. !:: 6bvio.

Bern, nao e. As citac,:Oes raramcnte falam par s~ rnesmas ; a maioria delas prcc isa ser "desernbrulhada" . Sc vocc·apresen­ta apenas a evidencia sem interprera.;ao. seu relat6rio parecera urn pasliche de citac,:oes e numeros. sugerindo que seus dados nunca passaram pe la ana li se critica de urna mente atuante.

Sempre que voce sustenta uma afirmac,:ao com numeros. diagramas. imagens, citac,:oes - 0 que quer que se parec,:a com dados primarios - . nao considere que 0 que voce ve e 0 que seus leitores captarao. Esc1arec,:a 0 que voce quer que c les vc­jam como 0 ponlo cen tral de sua evidencia. sua imporliincia . No que se refere a uma c itac;ao. urn born principio e usar algu­mas de suas palavras-chave logo antes ou depois de la. Intro· duza urn diagrarna. tabcla OU grMico indicando tanto 0 que voce qucr que os ieitores notem quanto 0 motivo pclo qual csse as­pecto e digno de nola .

Para entender par que a evidencia falha , voce prceisa de cxperiencia c de habilidade para se antec ipar ao que e prova­vel que os leitores aceitem ou rejeitem. Voce adquire essa habilidadc de duas maneiras. A mais dolorosa e ser objcto de critica. A menos doJorosa e obter de seus professores excmplos de argumentos que faJharam. Entendendo os exemplos que falharam. voce sera capaz de avaliar os seus mais objetivamen­teo Portanto, pergunte.

8.4 Usando cvidencias para desenvolver c organizar scu rclatorio

Este esquema para avaliar os argumentos deve encoraja· 10 a nao abordar seus lei tores com urn esp irito de conflito ou cocn;ao. Em vez de firmar uma pos ic,:ao e defende-Ia feroz­mente contra aque les que voce espera que a ataquem, imagi­ne-se num dililogo civ ili zado com seus leitores, todos eolabo­rando para desenvolver urn novo conhec imento. 0 tiro de dia­logo que voce deve manter Com s uas fontes.

I-'AZeNDO UMA AHRMA(".AO 1:: SUS71iNTANOO·A 139

A enfase no dia)ogo, neste esquema, tambem podera aju­da-Io a encontrar c elaborar sellS argumentos, especiaimeme quando suas anota~Ocs parecem mais urna pilha de informa~5es nao digeridas do que outra coisa. Ao se preparar para escrc­vcr, use os elementos da argumenta~ao como urn principia de organizacao que 0 ajude a se antecipar as preocupatyOes de sellS

leitores. 0 esquema e uti! ate mesmo nas fases mais iniciais da coleta de informa~oes. Se entendcr como os pesquisadores reunerh sellS argumentos. voce podcra fazer urn trabalho me­Ihor oa leitura de suas fontes e nas anotac,:oes sobre e las.

A medida que for revisando sellS dados, lembre-se de que seu argumento deve cstar semprc na forma de afirmac,:ao, acreseida de urna evidencia de sustentac;ao. Mas voce nao con­seguira convencer os Icitores apenas acumulando dados sobre dados, porque convencer nao e apenas uma questao de quan­tidade, ou mesmo de qualidade. Pesquisadorcs renomados lam­bern explicam suas evidencias. Eles as apresentam e depois as tratam como sc fossem afirrna.;oes numa argumenta.;ao m ais detalhpda, que a inda requer ma is evidencias. A rnedida que vao e laborando a rgumentos explicativos para apoiar as evidencias, esses pesquisadores dao boas razoes para que os leitores acre­d item que s uas evidencias sao bem fundamentadas.

No paragrafo scguinte, 0 autor afirrna que 0 Servic,:o Flo­resta l desperdic,:ou milhocs, e em seguida apresenta a ev iden­c ia: apesar de todo 0 dinheiro gasto . nao houvc nenhuma dimi­nuic,:ao oa incidencia de incendios. Mas ele nao para ai. Segue em frente para explicar a evidencia e mostra que 0 numero to­tal de inceodios permaneccu constante, embora os incendios grandes ten ham dirninuido. Entao ex plica por que diminuiram.

I-Ia boas razOeS para se acred itar que, desde 1950, 0 Ser­vi<,;o FloreSlal americano desperdic;:ou milhoes, lentando prcvc­nir ineend ios, quando podcria ler gasto esses recursos de modo melhor, evitando inccndios pequcnos que fogcm ao controle e causam danos C3tastr6ficos' .. ;;F_r<io Apesar dos milhocs gaSlos em prevenl,;'ao, 0 numero de incendios nas florcSlas da regiao oeste permaneceu inallcrado desde 1930. Mas. a panir de 1950, o numcro de ineendios devaSladores comel,;'ou a cair, porque fo i

Page 78: boothwaynec-140923095935-phpapp02

140 A ANn' OA PESQUISA

entao que 0 Servi<;o passou a usar sistematicamente aeronaves de combate ao fogo para alcan<;ar rapidamente ind!ndios pequenos e mante-Ios sob controle antes que pudessem se espalhar. Se os milhijes gaslos na preven<;iio de incendios. dcsde entiio. tives· sem sido gastos em esfor<;os para impedir qu~ facos ~quenos se espalhassem, haveria menos incendios de grandes ptopor<;Oes, cujos custos tomam min ima 0 dinheiro gasto na prevem;3o.

Todo pesquisador precisa sustenlar afirma~oes contesta­veis com evidencias. mas precisa depois expJica-las, tratando cada micleo importante das evidencias como urna afirma~ao de urn argumento subordinado que precise de sua pr6pria evi­dencia. Na verdade, todo relat6rio de pesquisa consiste de ar­gumentos multiplos de tipos diferentes, mas todos a serv i~o da afirma~ao central que 0 pesquisador quer faze r. Assim, a es· trutura de seu relat6rio scmpre sera mais elaborada (e menos linear) do que urna (mica afirma<;ao sustcntada por urna s6 evi­dencia. A evidencia que sustenta urna afirrnaC;ao principal sera ela pr6pria dividida em grupos de argumentos menores, cada urn deles estruturado como uma (sub-)afirma~ao com sua pro... pria evidencia de sustentac;ao:

Afirm~(;lo

!Ovid"n.:il

(Sub)Afirma~lo

Evio:!tncil

(Sub)Afirma~lo

Evidtncil

(Sub)AIi~1o

Evidencill

(Sub)Afirma(;io

Se voce gosta de faze r as coisas visual mente, monte esse diagrama num quadro do tamanho da parede. Fixe cartoes ou

I-"AZENDO UMA AJ-7RMAt:AO /:: SI..IST1!NTANIJO-A 14 1

fichas de 3rquivQ como na figura acima, depois experimente combinac;:oes diferentes de subargumentos. Nao sc preocupe com a organizac;:ao das informac;3es dentTO de cada cartao: ape· nas concentrc-se em mante-Ios em grupos de tamanho media, que voce possa organizar c reorganizar em diversas canfigu­rac;:oes.

Esse diagrama pade parecer urn csboc;:o, e ele 6 iSSQ mes­mo. Mas es~a nao seu reJat6rio, mas seu argumento. Quando comec;:ar a esboc;:ar seu primeiro rascunho, voce tcni de pensar mais em sellS leitores: como introduzir seu problema, fazen­do-o parecer importante para eies, quantos antecedentes aprc­seDlar, como ardenar suas subafirmac;:oes, e assim por diantc. Trata-se de questOes importantes, mas elas nao 0 farao sentir-se pressionado. enquanto voce estiver apenas no ponto de desco­brir seu argumento.

Page 79: boothwaynec-140923095935-phpapp02

Sugesloes .. leis: Uma sistematica de conrradir;oes

Eslas "SugesIOes ule;s" provavelmente. seriio dtf. mllito inte­resse para as esllldonies mais avanrodos. mas as pnncipiantes devem se /amiliariza/' com esses tipos de comradi¢es. por-que os enconlrorlio em Illdo Q que fer-em .

Voce nao pode determinar 0 geau de "importanc ia" de uma afinna~ao ate saber quantas outeas pessoas em sua area peeci­sam mudar de op iniao para aceita-la. Em todas as areas, pon!m, urna maneira comum de insinuar importanc ia e contradizer as ideias estabclccidas. (Ao afinnar que alga em que seus leitores acred itam esta incompleto o u incorreto, voce cria a condi crao de urn problema. Reveja as pp. 67-72.) Nos nao podemos Ihe di­zer que ideias voce devcria eontradizer, mas podemos Ihe mos­trar alguns padroes de lipos de contradicroes que aparecem se­gu idamentc na li leratura de pcsquisa.

Contradif;oes substantivas

Se puder mostrar que urn pesquisador antes de voce obtcve uma informac;:ao errada, sera racil ressaltar a imporlanc ia de seu argumento. Quanto mais autorizado 0 erro, maior a im por­tancia. Tres easos sao muito comuns: • Voce acha urn erro num fa to ou em urn ca lculo. • Voce tern novos fatos que ou reslringem velhos fatos , au as

substituem. Voce acha urn erro dc argumenta/Vao e, a partir dos mesmos fatos, chega a lima conc1usao difercnle.

Contradi 'Yoes de eonstitui'Y30

Outros tipos de contrad i/Voes seguem padroes tao bas icos que sao como aq uelas catcgorias de perguntas que 0 incenli·

T

143

vamos a fazer sabre sell t6pi co (pp. 50-4). No cntanto, niio 0

encorajamos a memorizar OU limitar-se aos ilens dessa lista. S6 os apresentamos como uma maneira de estimular sua refle­xao e imagina~ao.

Conrradi~i5es de caregoria

Sempre se consideraram dererminados grupos religiosos como "cultos" pelo modo como diferem das principais igrejas. mas, se examinarmos essas organizap'ies sob uma perspecliva historica, niio fica claro quando um suposto "culto" lorna-se lima "seila" ou ale mesmo uma "re/igiiio ...

Neste exemplo, voce afinna que seu argumento contradiz as categorias que os outros em sua area aceitam. Geralmente, voce promete demonstrdr nao 56 q ue alguns inc1uiram em uma categoria algo que nao deveriam inc1uir, como tam~m ~uc o~­tros nao incluiram em uma categoria algo que devenam mciUlr. (Nos .exemplos, substitua X e Y por tennos de seu interesse .)

I _ Embora X pare~a ser um exemplo de Y. nao e.

Embora os cigalTos parecam ser viciantes, nao sao.

Ou 0 caso pode ser invertido:

Embora os c igarros parecam nao ser viciantes, cles sao.

Outros excmplos comuns de contradi/Voes de categoria: 2 - Embora X pnrc/Va inc1uir Y como exemplo, nao inclui. 3 - Embora X e Y pare/Vam sel' semelhantes, sao diferentcs. 4 _ Embora X parccra ser caracteri stico de Y. nao e.

Contradi{:oes de parre-Iodo

Em WIOS rccel1tes. vem·se SlIslelltanda que 0 allerismo it so elllretenimellfO e que portanlo 11(10 devia ter lugal" 110 ellsino

Page 80: boothwaynec-140923095935-phpapp02

144 A ANn' DA PESQUlSA

superior, mas, no verdade. pode ser demon:!itrado que sem 0 atle­tismo a educafuo serio prejudicada.

Este cxemplo e como a contradi~o de calegoria, a nao ser que voce demonstre que sc equivocaram quanta a rclacao entre as partes de alga. . "-

I - Embora X pareca ser um3 parte integrante de Y, nao e. 2 - Embora X parec;a ter Y como uma parte integrante.

nao tern. 3 - Embora as partes de X p~am seT sistematicas, nao sao. 4 - Embora X parcca seT geral, e s6 restrito.

Contradir:;oes de desenvolvimento inferno

Recentemente. a mldia tem dado desraque ao crescimento da criminalidade. mas na verdade 0 indice geral de cr;m;nal;­dade tem caido durante as ullimos anos.

Neste cxemplo, voce afirma que os outros sc equivocaram quanto a origem, ao dcsenvolvimcnto ou a hi st6ria de seu obje­to de cstudo.

I - Embora X parec;a estar estitvcVsubindoicaindo, nao cSla. 2 - Embora X possa p3recer ter se originado de Y, nao foi

o que aconleceu. 3 - Embora X e Y possam parecer ter se o rigi nado de Z,

esse nao 6 0 caso de X. 4 - Embora a sequencia de desenvolvimcnto de X parcc;a

sec I, 2 e 3, nao e.

Contradi(:oes ex/ernas de causa-efeilo

Uma nova maneira de canter a criminalidade jllvcnil e 0 "campo de Ireinamell fo militor ". Mas as evidellcias slIgerem que o resultado 'lao e mu;to significulivo.

Neste cxemplo, voce afirma que as outros au deixaram de ver re lac;oes causais, ou as viram onde clas nao existem.

FAZENlXJ UMA AnRMA~AO I:; SUSTENTANDO-A 145

I - Embora X pare~a nao ser causado poT Y. e. 2 - Embora X p3rCI;3 causar Y, tanto X quanta Y sao cau-

sados por Z. 3 - Embora X e Y pare~am correlatos, nao sao. 4 - Emhorn X parc~a seT suficiente para causar Y, nao e. 5 - Embora X pare~a causar apenas Y, tambem causa A,

Bee.

Contradiroes de valor

Neste exemplo, voce simplesmente contradiz julgamentos de valor cmitidos.

1 - Embora X parep ser born, nao 6. 2 - Embora X parec;a ser util para Y, nao c.

Contradh;oes de perspectiva

I'\ lgumas contradicoes ocorcem rnais profundamente. No excmplo de paddio de contrad ic;Ocs de constituicao, voce inver­te uma supos icao amplamente mantida, mas nao muda os ter­mos da di scussiio. Nas contradicoes de perspectiva, voce sai da di scussao padronizada para sugerir que devemos cncarar as coi­sas de uma manei ra completamente nova.

Geralmente. consideram-se os anunc;os como uma expres­sao puramemf! ecollomica. mas 110 verdade eles tern servido como um labormorio para novos lipos e eSliios de arle.

I - Geralmcntc, discutimos X no contexto Y, mas ha urn novo contex to de compreensao que dcveriamos con­sidecar - do ponto de vista social, po litico, economi­co, inteJeclual , academico, especi fi co dos sexos etc.

2 - Gera lmcntc, consideramos X como explicado pcla leo­ria Y, mas hoi uma nova teoria fundamental, ou uma teoria de outra area. que pode se r ap licada a X enos fazer ve-Io de modo diferentc.

Page 81: boothwaynec-140923095935-phpapp02

146 A ARTI:." 1)A PJiSQUISA

3 _ Ha urn novo sistema de valores ~ar~ se avaliar X. 4 _ Ha muito analisamos X pela ~eon~s.lsterna de valores

Y. tao reJ' eitamos X como maphcave) em Y, mas Y , en , e pertinente a X de uma nova mane lra,

, S " ncontrar alguma contradi~ao plausivel de 'om des­

evocee d ' ' I ' d . f ' c em seu rastro porque po era U Sd- a quan 0 ses ttpos, lqU '. . b d ' , . trodu""ao No Capitulo 15 dlscute-se rna ls so re re 19tr sua In 'i'

o assunto.

Capitulo 9

Fundamentos

Este capitulo levanta questoes muis complexus do que al­guns pe~;quisadores iniciame.r; poderium querer ellcolltrar. Os el'lII ­

dllnte.~ avanfados, porem. deveriam leva-las em consjderu~iio.

A BOA PESQU1SA DEVERlA MUDAR NOSSA OPINIAO, Icvando­nos a aceitar uma id6ia nova OU, no easo mais extremo, rees­truturar nossas cren~as c convic~s de maneira profunda. Aeon­teee que resistimos frontalmente a tais mudan~as, sem boas razOes. Ass im, quando pedir que seus le itores mudem de opi­niiio, deve dar-lhcs as melhores razoes poss ive is para que 0 fa­~am . No entanto, voce !laO pode simplesmeme acumular dados e mais dados, por mais eonfi ave is que sej am, porque as boas TaZOeS vao alem da mcra quanti dade, ate mesmo a lcm de sua qualidade. Ao contrario de pessoas que nunea se desculpam c nunea explicam. pesquisadores conscientes costumam se per­guntar se pree isam explicar por que os dados nao sao apenas eonfiaveis, mas pertine flles .

9.1 Fundamento: a base de Rossa conviCfi:30 e de nossa a ... gumenta~ao

Para explicar por que seus dados sao pertinentes, voce len, de enunciar uma parte de seu argumen to que costuma perma­necer subentendida. Ela mostra aos leitores por que um deter­minado conjunto de dados deve ser considerado como eviden­eia em defesa de sua afirma<;ao. Essa re la~ao entre afirma9ao e evidenc ia c seu fUlldam elllo. Eis, o utra vez, 0 argumento sa­bre as ruas molhadas e a ehuva:

Page 82: boothwaynec-140923095935-phpapp02

148 A ARTE OA PESQUISA

Afi,-mafiio: Deve ter chovido ontcm a noite. Po,- que voce acha isso? (Que,- dizer, qual e sua evidencia?)

Evidencia: As mas estao molhadas, esta manha. o que 0 Jaz pensar que as ruas molhadas deveriam ser consideradas como evidencia de chu~a? (QueI' dizc,-, qual e seu Jundamento?)

Se aceitarmos a evidencia como confiavel - que as mas realmente estavam molhadas de manha -, que principio ou premissa. que suposiCao subjacente dcvemos aceitar, antes de acreditarmos na afinnacao de que deve ter chovido? Seria que as ruas molhadas gem/mente significam chuva, uma suposi­cao tao 6bvia que nunca nos incomodamos de enunciar:

Fundamento: Sempre que vemos as ruas molhadas de manhii., nonnalmente podemos conduir que choveu na noi­te anterior.

Urn fundamento e urn principia gera/ que cria uma Jigacao 16gica entre uma delerminada cvidencia (ruas molhadas esta manha) e uma determinada afinnaCao (choveu on tern a Doite).

Fundamcnto

Afirma<;ao .. EvidCncia

No argumento sobre as ruas molhadas, a relaCao e tao 6bvia que voce nunca a mencionaria, nem os ouvintes esperariam que o fizesse. Na verdade, se a mencionasse, poderia afront.<l-Ios, dando a entender que nao sahem de urn fato tao 6bvio, e, sc eles Ihe pedissem que expusesse seu fundamento, voce se sentiria da mesma maneira afrontado, pela mcsma razao (a menos que voce vivesse em uma pequena cidade em que molham as ruas; discu­tiremos tais ressalvas no Capitulo 10).

MZENDO UMA AHRMA~O E SUSTENTANOO-A 149

Mas quando voce es­ta elaborando argumentos complexos, especialmen­te os que visam assuntos contestaveis, suas suposi­coes poderao trai-Io, caso deixe de expressa-Ias e exa­mimi-las. Por exemplo, eis urn trecho de urn argumcn­to sobre 0 Servi~o Flores­tal que poderia fazer os lei­tores hesitarem:

Afirmafiio: 0 Servi~o

Florestal desperdi~u di­nheiro na prevem';iio de incendios.

o fvndamento e a Ibgiea formal

Se voce fez urn curse de 100iea lormal, pede ester imaginando cO" rna os ~undamentos se encaixarn em sues categorias . Se voce se lembrer do telmo premissa maior, vera que 0 lundamento e analogo o premissa moior num silogismo condicional (Se p,q ; p; portanto q). Mos, como veremos, 0 lunda· mento tambem tern caracteristicas de urn silogismo categ6rico (loelo Be C; A e B; entao A e CJ. N esse esquema, a evidencio coincide aproximadamente com a premissa rnenOf.

Evidencia: Desde 1950, 0 SelVi~o Florestal gastou milhoes na prevem;ao de incendios, mas 0 numero de incendios pennaneceu 0 mesmo.

. A evidencia e verdadeira. Mas pOT que cia deveria penni­tlr ao autor argumentar que 0 dinheiro gasto oa preven~ao de ind::ndios foi despcrdic;ado? Em que mais dcveriamos acredi­tar? Talvez num fundamento assim:

Fundamento: Sempre que a\guem gasta dinheiro para prevenir alga. mas a incidencia pennanece a mesma, essa pessoa desperdi.;ou dinheiro.

A ~Timeira vista, esse fundamento parece perfeito, mas e verdadclro em lOdas as circunstancias? Scm exccc;ao? As con­diC;Oes nao mudaram - por exemplo, nao aumentou 0 n"mero de turistas? 0 cErna tornou-sc mais seco? 0 custo de preven­vao triplicou?

Mesmo pesquisadores experientes podem tomar seus fun­damentos como ccrtos, porque eles estao escondidos nas teo­rias que norteiam sua pesquisa, nas definivoes de seus termos ate mesmo nas metMoras que usam. Neste capitulo, iremos Ih~

Page 83: boothwaynec-140923095935-phpapp02

150 A ARTl!. DA. PESQUISA

mostrar como nao considerar sellS fundamentos certos dcmais, como decidir se urn fundamento e verdadeiro, se de fate ele Ihe permite relacion3r urna determinada evidencia a urna determi­nada afinna~ao e quando voce deve explicitar os fundamentos. o conceito de fundamento e dificil. mas ate voce entcnde-Io estara se arriscando a claborar argumentos que seus leitorcs poderao considerar como c1aramente i 16gicos. '

9.2 Com que se parece urn rundamento?

Ao exprcssar urn fundamento, voce deve elabora-Io como urna generaliza~ao que responda a pergunta de seu leitor: Em que principio gem/ devo acredirar, antes de concordar que sua evidencia supostam ente exala sobre as nws molhadas rea/­mente sustenla sua aflrmafiio, 110 minimo pia us /vel, de que cho­veu lIa 'lOile passada? Podemos enunciar urn fundamento de diversas maneiras;

Ruas molhadas de manha sao rcsultado de chuva na noile anterior. Chuva a no ite nonnalmcnte signifiea ruas mo lhadas na manha seguintc. Uma manha com rua!> molhadas e urn s inal de chuva na no ite anterior. Chuva 30 luar, ruas molhadas ao nasccr do sol.

Mas, para se qualificar como tal , urn fundamento precisa satis fazer a tn!s criterios:

• Uma parte dele deve descrever 0 (ipo geral de ev iden­cia apresentada.

• A outra parte dcve descrever 0 tipo geral de afirma~ao que se segue da evidencia.

• 0 fundarnento deve expressar o u implicar uma rela9aa entre essas partes: como causa e cfc ito (A chuva de ixa as ruas molhadas); uma como s inal da outra (Travoada geralmente e urn sinal de chuva) ; muitas circunstanc ias que permitem uma generaliza93.0 (0 vento noroeste oor­mal mente signifi ca urn dia claro).

FAZENDO UMA AHRMA9;tO E SUSTENTANDO-A 151

(Para autTas re la~oes. veja " Sugestoes uteis", no final deste capitulo.)

Mas, ainda que 0 fundamento possa seT cxprcsso de mui­las maneiras, urna delas e rnai s util para avalia- Io e anali sa-Io:

Scmpre que temos urna evidencia como X, podemos fazer urna afirmacao como Y .

Neste esquema, voce cxpressa, na primeira metade do fundamento, 0 Lipo geral de evidencia ou as justificativas que o fundarnento admite, e na segunda mctade, 0 tipo de afirma­~ao que ele permite. A conexao 16gica entre os dois e ass ina­lada por mc io de sempre que. Podemos reduzir tudo para:

Scmprc que laRl es I=!RUl aviaen ei8 seRle X [as ruas eSlao molhadas pcla manha,] fle8aFABS neFFABIRloSRls 8HI'RtBF ftl=!B Y [provave lmenle choveu na noile anterior).

deixando apenas: "Sempre que X, Y." I

Voce pode encontrar esse modo de formular urn funda­menlO nos textos hist6ricos de maio r importancia, como, por exemplo, na Dec/arafiio de independiincia americana:

( ... ) sempre que alguma Forma de Govemo toma-se prejudicial a [0 dire ito das pessoas a vida, a liberdade e a busca da feli ei­dade], e 0 Direilo do Povo aherar a u aboJir essa forma de gover­no ( ... ) quando uma longa serie de abuses e usurpa~ [pracuraJ invariave lmentc a [priva~ao daqucles direitosJ, e di rcito [do po­va], seu dever, derrubar lal Govemo e fomecer novos Guardiaes para sua scgllran~a futura.

Mesmo quando escreve para urn Pllblico que cornparti lha de Sllas supos i90es, voce raramente declara seus fundamenlOs assim tao toscam entc. Mas, quando escrcve para pessoas que poderi am nao compartilhar de suas conviccOes e rejcitar sua evidencia como irrelevante, voce precisa nao s6 apresentar a cvi­dencia. mas tambem fundamentos explic itos.

Page 84: boothwaynec-140923095935-phpapp02

152 II IlRTh'DA PESQUISA

Talvez seja por isso que Thomas Jefferson expressou seu fundamcnto nao urna, mas duas vezes. A Deciam,iio de Inde­pendencia desafiou urn fundamento anterior sabre a re la~ao

entre 0 pavo e 0 geverna, de modo que Jefferson pede ter dcci­dido que deveria deixar seu novo fundamento absol,utamente claro. ainda mais que ele scntia que " urn respeito digno pclas opinioes da humanidadc requer que [n6s] declaremos as cau­sas que [nos] impclcm a separayao". Se tivesse deixado sua 16-giea implicita, Jefferson se arriscaria a que 0 mundo imaginasse que ele achava que os colones dcviam se Iibermr do juge do rei Jorge 1II 56 porque cste abusava deles. Afinal de contas, urn monarquista poderia apresentar urn fundamento para cornpetir com 0 seu: Se a pessoa e um rei, pode fazer 0 que quiser. por­lanto Sua /isla de suposlas of ens as comelidas pe/o rei Jorge noo e pertinenre.

Mesmo deixando de enunciar a maiori a de seus funda­mentos, e urn born cxercicio c nunciar os mais importantcs, pe-10 menos para si mesmo, de modo a poder testar a base con­ceitua l de seu argumento. Pensar nos fundamentos aj uda-o a encontrar as pontos duvidosos de seu argumento antes que sellS leitores 0 fa<;am. Talvez voce tenha de defender seus funda­mentos com urn argumento que os sllstente (ou, como l effer­soon fez, apelando para uma verdade fundamental comunicada diretamente a mente humana: "Sustentamos essas verdades por serem patentes").

9.3 A qualidadc dos funda mc ntos

Os leitores opocm-se as afirmalfOes po r muitas razOes. Algumas razoes sao injustificadas: a despeito da verac idade de seu argurnento, alguns leitores estao presos demais a seu modo de pensar para mudar de op iniao, au tern interesses que sua afirrnay30 ameaya, ou simplesmcnte nao querem se esforyar para entender sua exposiyao. Po r outro lado, os leitores justi­ficadamente rejeitam afirmac;;oes mal formuladas ou baseadas em evidencias duvidosas. Mesrno quando sua afi rrnaC;;3o C intc-

FAZl::NOO UMA AFJRftfA (,.'AO E SUSTENrANDO-A 153

ligivel e s ignificativa, e sua cv idencia confh\vc l, eles ainda re­jeitarao seu argumento se acharem que seu fundamento e falso, obsc uro, do tipo errado para a sua comunidade de pesquisa, ou que nao dfl validade a sua evidencia.

Tais critenos nao sao incomuns; nos os ap licamos em nos­sas conversas mais comuns, mesmo nas rela<;oes entre pais c

, filhos.

I

I - Fundamento falso Filho: Todo 0 mundo esta de lenis novos, eu tambem quero. Pai : Se lodo 0 mundo pulasse num precipicio, voce tambCm

pularia? [Seulundamemo elalso Sf! voce considera que sempre que lodo 0 mundo lem algo novo voce fambem deve ler.]

2 - Fundamento obscuro Filho: Olhc so cste anuncio. Pai: E dai? [Mesmo que 0 anuncio €SIeja dizendo a verdade.

nao vejo ° que ele (em a ver com eu 'he comprar ulnis.]

3 - Fundamento inadequado Filho: Voce tern bastanle dinhciro. Pai: Esqucc;a! [ 0 principio qlle voce assumiu - de que. desde

que ell possa fhe comprar algo. e meu dever laze-to -e tolalmellte inadequado.)

4 - Fundamcnto inaplicavel Filho: Voce nao me ama. Pai: Ridiculo. (Sua evidencia implicila e verdadejra: eu

lIao vou Ihe comprar lellis. E. meslllo admitintlo que seu fimdllmenlo po.f.fQ ser verdadeiro - pais que nao amam os ji/hos lIao Jhes compram fenis - , sua afirma­fao lIao lem Iu.ndamenlo, porque ° fa to de u.m deler­minado poi nao comprar tenis para os ji/hos noo qller dizer que 1Iao as ame. )

Em cada dialogo, as evidencias podem ser confiaveis; to­do 0 mundo pode ter teni s novas, 0 anunc io pode fazer os tenis parece rcm bons, 0 pai pode ter bastante dinheiro e, c claro. 0

Page 85: boothwaynec-140923095935-phpapp02

154 A AlnE DA PESQUlSA

pai nao vai comprar tenis novos. Mas, se voce conseguir eoten­der por que 0 pai ainda assim rejeita carla argumento, cnlende­ci por que, mesmo quando sua evidencia for confiavel e suas afirma~Oes plausiveis. as leitores podcrao rejeitar seus argu­mentos se voce ligar suas evidencias as afirmav6e~ com fun­damentos ra lsas. obscuros, inadequados ou inaplica\:eis.

Se voce for urn pesquisador atcnto, questionarA seu argu­mento pelo menos urna vez, para Icr certeza de que seus fun­damentos unem suas evidencias as afinna~oes de maneira con­fiavel, urn exercicio que podera faze-Io repensar suposic;:oes deixadas sem analise por muito tempo, especialmente as supo­sifYoes fundamentais de sua area. lsso podera abrir a porta para mais pesquisas, aquelas do tipo que leva a resultados mais in­teressantes c importanles.

9.3. J Fundamentos fab;o~

Testa-se a veracidade de urn fundamcnto como se faz com a veracidade de qua lquer afinnat;:ao, porque a maioria dos fun­damentos sao simplcsmente afirmat;:oes de ordem superior, argurnentos mais gerais, afirmat;:i>cs que precisam dc sua pro­pria evidenc ia de suslenta<;ao, da mesma maneira que (percor­rcndo passo a passo a cadeia de argumentos) urna po~ao cia evi­dencia e uma afirma<;ao precisando de sustenta<;ao propria.

Qual seria 0 fundamento para 0 proximo argumento? Alem de acreditar na veracidade da evidencia. em que rnais tcmos de acrcditar, antes de aceita- la como sustenta~ao da afirmac;:ao?

No final da decada de 30, FranklinlD . Roosevelt nao podia ter sido um presidentc amplamenle popular"firm"(iia porquc mui­tos jomais 0 acusaram de conduzir 0 pais para 0 caminho do sociali smo'~vidi"ci"

Conformc dissemos, embora os pesquisadorcs exprcssem os fundamentos de diversas maneiras, 0 meio mais pratico de examinar urn fundamento e dividi-Io cm duas partes di stintas. uma que expresse 0 tipo geral dc evidencia que 0 fundamento admite e outra que expresse a afirmac;:ao que ele permi te:

f/tZENDO UMA AFJRt\1A(:-iO If. SUS1F.JVTA NDO-A 155

F1: Toda vez que muilas vozesda imprensa popular acusam urn presidente americano de conduzir ° pais para 0 caminho do socialismo ....... ,., .. d<> r"!'#;lOCi" esse presidente nao e universal­mente popular ....... ,,., dfJ "firmtlftl<>

Tcndo expressado 0 fundamento nesse fonnato dc "evi­dencia-portanto-afirma~ao", voce pode testar sua for<;a, for­mulando vcrsoes mais e menos abrangentes:

F2: Toda vez que qualquer fonna de jomalismo ataca qualquer !ider, por qualquer razao, de qualquer maneira'parte d" nidi ,,­

c ia esse lider nao pennanece popular·parl~ cia "fi'lfUl(iiO

F): Toda vez que osjomais republicanos do Centro-Oeste, nos anos 30, acusaram urn presidente de conduzi r os Estados Unidos para 0 socialismo'P<'I1" Ii<l ~»difICia ele se tomava impopu­lar entre aqucles com interesses economicos·p<m., dQ ajirmll(iio

o que nos levaria a aceitar algum dcsscs tres fundamen­lOS? Seria dificil aceitar 0 mais geral (F2), porque podcmos pensar em muitos excmplos contrarios. Procuramos proble­mas,lporem. quando cstreitamos demais 0 fundamento, como em F): se a parte da evidencia do fundamento e virtual mente igual a evidcnc ia apresentada para sustentar a afinna<;ao, cntao considera-se que 0 argumento «resolve a questao".

Urn born principio e adotar urn fundamento gcral 0 bas­tante para incluir pcto menos uma categoria mais abrangente do que a evidencia. mas nao tao gcrat que voce se abra em uma miriade de exce~Oes: fac;:a de "Roosevelt" nao "urn Iider qual­quer" mas "urn presidente americano", e fac;:a de ''jornais'' nao "qualquer forma de jornalismo" mas "imprensa popular".

Procure testar a veracidadc de seu fundamento com exprcs­soes como "semprc", "em todos os lugares", " invariavclmentc". Ao analisar seu argumento em lermos tao fortes, voce reco­nhecera as ressalvas quc talvez precise acrescentar e, quem sabe, alguma pesquisa a mais que precise fazer para sustentar seu fundamento. Se nao 0 fizer, algum leitor 0 fara. Conferir a ve­racidade dos fundamentos e dificil, e nao s6 porque raramente sc pensa neles. Quando voce questiona os fundamentos. ques­tiona as bases conceituais de sua comunidade de pesquisa.

Page 86: boothwaynec-140923095935-phpapp02

156 A ANTI:.' DA PESQUISA

9.3.2 Fundamelllos obscuros

Cada comunidade de pesquisa tern seus proprios funda­mentos, tipicamente nao expressos, oeultos em seus pTOce­dimentos de pesquisa, ate mesmo em suas maquinas. Os cien­tislas que estudam 0 cerebra usam como evidencia' imagens obtidas por urn scann er de ressonancia magneti ca, 'urn apare­Iho que registra num gnifico a atividade de eletTOquimica do cerebro. Quando urn pesquisador aponta para urn ponto ver­melbo em uma te la de computador e diz: "Esta area c ativada quando a pessoa visua liza objetos ausentes", esta tirando urna conciusao a partir de uma cadeia de argumentos que sao iovi­sive is aos leigos.

Ao dar como certos tais fundamentos, e muito facil voce aprcscntar uma evidencia que voce pode pensar que esta rela­eionada a sua afirmac;ao, mas cuja relcvancia pode frustrar sells leitores. Isso costuma acontecer quando voce toma urn 3talho por diversos argumentos intcrligados, saltando passos interme­diarios: Par exemplo, se voce tern pouca familiaridade com al­gumas verdades gerais sabre hi st6ria social inglesa do seculo XVI, a passagem a scguir podera desconcerti.-lo:

Em 1580, menos da melade dos estudantes de algumas faculdades da Universidade de Oxford podia assinar seu nome legitimamente, "John Jones, Esq." ou "Me. Jones".e><id":""fD As­sim, seri am precisos mais de 300 anos para que as universida­des inglesas voltassem a scr lao igualitarias.ofi~o

Como passamos das assinaturas do ~ecu lo XVI as univer­sidades igualitarias do scculo XX? Omi·tindo os passos inter­mediarios:

Em 1580, meno~· da me/ade dos es/udallfes de algllma.~·fa­culdades da Universidade de Oxford podia assillor seu lIome le­g itimamente "John Jones, Esq. "ou "Mr. Jones ".e ... ,lencl ..

PASSO I: Na Inglalerra do final do secuto XV I, apenas um homem pcl1encentc a minoria relativa dos homens

FAZENDO UA« AHRAfAcAO E SUSTl£N'"ANOO-A 157

chamados " fidalgos" podia assinar seu nome legiti­mamente com "Mr.", e apenas 0 filho de urn gentil­homern, a u fidalgo, podia assinar com "Esq'''!iolll<>'

I Em 1580 menos da metade dos estudantes de _"/a • Oxford podia assinar sell nome legitimamente acom­panhado de "Mr." a u "Esq' '''noidiltC;aJ PQI"tanto, me­nos da metade dos estudantes dessas faculdades eram fidalgos a u filhos destes'''fi~<iD1

PAS SO 2: Quando as classes sociais em uma popula¥iio uni­versitaria sao geralmente proporcionais aDs nume­ros da populac;:iio como urn todo, a universidade pode ser considerada igualitaria'fu~d" ... ~mol 0 baixo nume­ro de estudanlcs universitarios no final do seenla XVI que cram fidalgos all filhos destes (da afinn3IVao 1] reflete aproximadamente a fato de que menos da metade da popu la~ao inglesa era composta de fidal · gos ou de seus filhos [de "minoria", no fundamen· to I )"" .IJit,clol Assim, essas faculdadcs eram mais ou menos igualitarias.ojir",,,rd,,1

tpASSO 3: Reitera(Vao demonSlrando que enlre 1600 e 1900 mais fida\gos que cidadaos comuns frequentaram Oxford, tomando-a menos igualiloiria, mas que depois de 1900 cia foi freqiientada POf mais cidadaos comuns do que por fidalgos. 0 que a tomou mais igualilaria outra vez.

Assim, seriam precisos mais de 300 anos para que as uni­versidades inglesas voftassem a ser lao igllalitarias· .. jiTmafO"

Apenas alguem familiarizado com a hi st6ria inglesa po­deria entender como a evidencia das assinatuf3s no secul o XVI poderia ser pertinente a uma afirmac;ao sabre as univcrsidadcs do seculo XX. 0 rcstante das pessoas ficaria confuso.

Esse tipo de equivoco acontece quando as principiantes presumem que uma cadeia de rela<;oes que Ihes parece 6bvia deve ser igualmente 6bvia para os leitores. como fez a estu­dante citado no capitulo anterior, que afirmou:

Page 87: boothwaynec-140923095935-phpapp02

158 A ARYE DA PESQUISA

Lincoln acreditou que os Fundadores apoiariam 0 Norte.,jI,.. ~ porque, como ele di sse, 0 pais "collstituiu+se de acordo com a proposir;:ao de que lodos os homens sao criados iguais".~ ...

Observe atentamcnte as passos de seu argumento para de­terminar se pulou algum. Caso isso tenha ocorrido, Voce tern de claborn-Io novamente .

Ao testar seu argumento, antes de redigi-lo, seja explicito. Mas. ao redigir, tera de se decidir quao explicito voce pode e deve ser. Quando deixa fundamentos irnplicitos, voce pratica urn ato social importante. Os integrantes de urna comunidade de pes­quisa compartilham inumeros fundarnentos, porque estes com­poem a trama de principios comuns e verdades nao expressas que constituem a razao de ser de urna comunidadc. Ao assumir esses fundamentos, voce assume a participac,;ao na cornunidade. no que diz respeito a voce e a seus leitores. Mas, como di sse­mos, ao tornar os fundamentos desnecessariamente explicitos, voce podem insultar os le itores que mais preza. A medida que adquire experiencia e credibilidade. voce 0 demollstra nao so pelo que diz, mas pclo que nao precisa dizer (vej a novamente os doi s exemp)os sobre bloqueadores de calcio nas pp. J 5-7) .

9.3.3 Fundamel1tos illadequados

As vezes, urn fundamento pode ser verdadeiro para voce e seu leitor, e, mesmo assim, 0 lei tor rejeita seu argurnento por­que 0 fundamento e inadequado aos metodos de pesquisa que e le usa. Isso acontece normalmente quando seus fundarnentos sao adequados em sua propria comunida~e, mas nao em outra . Considerando que as comunidades de pesquisa sao definidas ern parte par seus proprios fundamentos, voce nao pode pre­sumir que urn fundamento aceito na sua sera tambern aceito em outra. E, quando leitores rejeitarem urn fundamento por julga-Io inadequado, rej eitarao sua evidencia, nao como falsa, mas como estranha o u ate mesmo cxtravagante.

Por exemplo, urn estudante que escreva sobre 0 poema dc Robert Frost, "Stopping by Woods on a Snowy Evening", pode razoavelrnente argumentar:

~"A.ZENOO UMA Ar1RMA{:AO 1;- SUSTlfNrAN/X)-A 159

Os sons da primeira eSlrofe refonram a ideia de bosques quietos. reconfortantes, porque a maioria das vogais c gravelgu­tural, e a maloria das consoantes e branda e sonora:

Whose woods these are I think I know. His house is in the village though: He wi/l nol see me stopping here To watch his woods fill lip with .fnow.

o fundamento nao expresso e urn daqucles que os estu­dantes de literatura aceitam, mas raramente tornam explicito, porque a comunidade 0 cons idera como ponto pacifico:

Quando ouvimos me lancolicos sons brandos, nos os asso­ciamos com i magens brandas e mcJanc6licas.

Mas esse lipo de fundarnento nao esta entre os admitidos por pesquisadores de outras areas. Urn historiador, por exem­plo, afirmaria que, na eleiryao presidenc ial de 1952, os eleito­res preferiram Dwight Eisenhower porque 0 viram como urna figura paternal. Mas e pouco provave l que elaborasse urn argu­memo assim:

o som do slogan de Eisenhower, " I Like Ike", confortava subliminarmente os eleitorcs. 0 som de " I" [eu] e envolvido pelo de ·'Ike" [0 apelido de Dwight], e ambos se aconchegam no som de "like" [gosIO] , ficando 0 " I", portanto, duplamente envol­vido pelo amor paternal reconfonantc.

Urn historiador ridicularizaria qualqucr fundarnento do tipo:

Quando 0 som de uma palavT'a oeoree dentro de outra, os leitores assoc iam 0 significado da palavra interior ao da palavra exterior.

Por outro lado, urn psico\ogo poderia apresentar 0 seguin­te argurnento:

Em contraste eom a pronuncia nasal metalica de Adlai Stevenson, a voz de Eisenhower. mais profunda, proporeionava

Page 88: boothwaynec-140923095935-phpapp02

160 A AKTE DA PESQUISA

uma scnsaoyiio de conforto. Dos 78 individuos que ouvimm as gravaoyOes da voz dele durante dez minutos, 56 tivcram a taxa de pulsa9ao diminuida em 3 batidas por minuto, a pressao sangui­nea baixou em 3,6% e a tensiio muscular, em 7,9%.

o fundamento, aqui , e algo como;

Quando as batidas do coracao. a pressao sanguinea e a ten­sao muscular diminuem, a pessoa esta sentindo-se mais con for­tavel,

urn fundamento de tipo adequado, no universo dos psic6logos. A evidencia de laborat6rio poderia ser usada para susten­

tar a afirmal;:ao de que os sons de "Stopping by Woods" tam­bern nos deixam mais confortaveis, e tal evidencia empirica po­deria interessar a ccrtos psic610gos. Mas, ao mesmo tempo em que os criticos lilerarios poderiam aceitar a afirmao;ao e a evi­dencia como pJausiveis por si s6s. eles dcsprezariam 0 argumen­to e rejeitariam como totalmcnte tolo qualquer fundamcnto que justificasse medir a rea~ao estetica atraves de urn apare lho de avaliar a pressao sanguinea preso ao braco de alguem.

o trabalho do pesquisador iniciante e entender quais fun­damentos combinam com que areas, algo que s6 se aprende com a ex.penencia. Entendemos que tal conselho pode parecer 0 mes­rnO que dizer: Voce vai entender quando for ma;s velho. Mas esse e urn daqueles assuntos em que so a expericncia pode aju­dar. Voce nao pode saber se urn argumento vai funcionar ate conhecer os fundamentos com que seus leitores lidam. 0 que s6 se aprende convivendo com e les durante algum tempo.

9.3.4 FUlldamelltos ;naplicave;s

o ultimo teste dos fundamcntos visa urn assunto que tcm atormentado os logicos h3. doi s mil anos: como urn fundamen­to Jiga uma evidencia a uma afirmao;ao de mane;ra convincen­Ie? Quando uma evidencia c inconsistente, voce pode corrigi ­la; quando e obscura, pode esclarece-Ia. Mas, quando seu argu-

FA ZENDO UMA AF/RAfA~O E SUSTENrA NOO-A 161

mento e ;nfundado, voce precisa ajusta-Io de uma forma que altere sua eslrutura 16g;ca. Mesmo quando sua afirmao;ao, sua evidencia e seu fundamcnto sao todos verdade iros, seu leitor ainda podera rejeitar seu argumento como invalido se a relao;ao entre. eles for infundada - e 0 que conta na pesquisa de qua li ­dade nao ·e simpJesmente a aparente vcracidade de suas con­clusoes, mas a qualidade do raciocinio que 0 levou ate ali.

Eis novamente aquele exemplo simples sabre a chuva:

Devc tcr chovido onlem a noite, porque as ruas estao mo­Ihadas csta manha.

Par que voce acha que ;sso signifiea que choveu on/em Ii noile?

Nesta cpoca do ano, semprc chove a noite.

o problema e obvio . Mas testar outros argumentos podc ser mais dificil :

Desde 1950, 0 Servi~o Floresta l americano despcrdio;ou hlilhoes tentando prevenir incendios. Apcsar dos milhoe;:s gas­tos com a prevcncao. 0 numero de inccndios em florestas na re­giao oeste pennanecc 0 mesmo desde 1930.

o argumcnto parece razoavel, mas como vamos saber se os leitores pensarao 0 mesmo? Precisamos decompol" 0 argu­mento e verifica-Io. Sao tres os passos a scguir:

• Passo J : Deduza 0 fundamento e expresse-o em duas partes, uma afirmando 0 tipo de cvidencia que admite; a outra . 0 tipo de afirmao;ao que permjte.

Quando um argao do govemo gasta dinheiro para prevenir desastres nalurais. mas d es aconlecem com a mesma freqiiencia,,,,,,, .. du nid~n<:lu

esse 6rgao dcspcrdi90u dinheiro.p"Iu du "r._map'J/)

Page 89: boothwaynec-140923095935-phpapp02

162 Ii ARTE DA PESQUJSA

• Passo 2: Coloque a evidencia do argumento na parte da evi­dencia do fundamento, e a afirmacao oa parte da afinnacao.

Quando urn 6rgao do govemo gasta dinhciro para prevenir desastres naturais, mas eles acontecem com a mesma freqiiencia,,,..,., __ tM niJmriD

o Servic;:o Floreslal gaSIOu milh5es para prevenir ineendios, mas e\es acontecem com a mesma freqiiencia '''viaindQ

esse orgao {\esperdiwu dinheiro'''''rI~ aQ tJjirmQf/lo

o Servi~o FJoreslal desperdi~ou dinheiro'ajirmarao

Passo 3: D etermine se a evidencia apresentada e do (IiJO

admitido pelo fundamento e se a afirmac;ao especi ­fica e do tipo que c ia permite. Os te rmos principais da ev idenc ia devem coincidir com os do fundamen­to, mas seja mai s especifico.

A parte da evidencia do fundamento refere-se a evidencia geral sobre • servifo publico, • gastar dinheiro, • prevenir desastres naturais, • sem mudanfas na freqiiencia .

A evidencia espccifica refere-se a • 14m orgao especifico (0 Servi~

Florestal), • 0 gastO de uma quantia

especifica (milh5es), ~ deixar de prevenil' um desaslre

especifico (inccndios nas norestas), • nenhuma mudan~a na freqiiencia

de incendios.

A parte da afinna~ao do fundamenlO permile afinna~oes refercntes ao gasto de dinheiro pelo sen'ifO publico em gem/.

A afinna~ao especilica refere-se a um orgiio especifico (0 Servi~o Floreslal) desperdifando lima quantia especifica.

FAZENIJO U IIA AHRMA(."AU f;' S(lY/J.:NI"ANDO.A 163

Uma vcz que a evidencia e a afirma<;ao parecem coincidir com as partes correspondenles do fundamento, podemos con­cluit que esse argumcnto estabelece uma relaC30 valida entre elas (embora se pudesse argumentar razoavclmente que, se 0

fundamcnlo fosse deixado scm qualifica<;ao. ele seria falso). Por outro lado, cis urn argumento sutilmcnte falho, que se

rcfere 30 cfeilo da violencia na televisao sabre as crianC3s:

Poueas pessoas duvidam de que, quando expomos as erian­~as a exemp10s de corn gem e generosidade, nos as influenciamos pam melhor. Como podemos negar, enlao, que, quando veem constantemente imagens de violencia e sadismo, e\as sao influen­ciadas para pior? Todos os nossos dados indicam que a violen­cia entre criam;as de 12-16 anos vern aumentando mais rapida­menle do que cnlre qualquer outro grupo clario. H. na~ podemos ignorar a conclusao de que a violencia nn lelevisao e hoje uma das influencias mais destruti vas sabre nossas crian~as.

Para diagnosticar 0 que esta errado aqu i, dividimos 0 fun­dam9nto em s uas duas partes c depois alinhamos a evidenc ia c afirma~ao embaixo deJas.

Quando as criancas veem conSlanlemente imagens de perversa violencia e sadismo'p"rt. dQ nidb,cio

Os dados demonstram que a vioh~ncia entre crian~as

de 12- 16 anos esta aumentando mais rapidamente do que entre qualquer oulro grupo etario,.,·/d;1IciQ

elas siio innuenciadas pam 0 pior'P""f aQ '!Ji"""fao

A violencia na lelevisiio e hoje uma das innuencias mais deSlrulivas sobre nossas criancas'Qfi_tJ(i<>

Mesmo que cada parte desse argumcnlo seja verdadeira, o argumento ainda nno e valido, porque seu fundamento nao admile sua evidencia nem s ua afinnal;3.o. A evidencia nao c

Page 90: boothwaynec-140923095935-phpapp02

164 A ARTl!. DA PESQUISA

do tipo de evidencia que 0 fundamcnto permita, evidencia que precisa se referir a criany3s "venda constantemente imagens de perversa vioiencia e sadismo", Nem a afirnta~ao especifi­ca combina com 0 tipo de afirmay30 permitido pcla parte da afirmay30 do fundamento. ,

Para consertar esse argumento. primeiro temos d~ fazer a evidencia se ajustar ao fundamento, e enta~ reformufar a afir­may30:

Poucas pessoas duvidam de que, quando ex-pornos as crian­~as a hist6rias de coragern, compaixiio e generosidade. n6s as influenciamos para melhor. Como podemos negar, entao, que, quando urn meio como a televisiio as expijc constantemcnte a imagens de violcncia e sadismo, isso pode influencia-Ias para pior? Todos os nossos dados indicam que a violencia entre crian­~as de 12- 16 anos vern aumentando mais rapidamente do que entre qualquer outro gropo etfario. Isso e 0 resultado de muitos fa­tores, mas ja nao podemos ignorar a conclusao de que, uma vcz que a tclevisao e a principal fonte de imagens de violencia para as crian~as, ela deve ser a principal causa da violeneia infantil.

Quando UITI meio expCie constantemente as crian~as a imagens de pcrversa violencia e sadismo,p" ... ., da evitl;~i"

A televisao e uma das principais fontes de imagens de violencia para a criaOlya . ..wJilOCia

esse meio as influencia para piOLpone tla "fi""afOO

A televisao e uma das principais causas da violencia infantil.afirmatio

A evidenc ia e a afirmarvao agora parecem ser do tipo que o fundamento admite.

Mas urn le i tor atento pode nao deixar a discussao tcrmi­nar por ai. Mesmo que 0 argumento agora parecesse formal ­mente correto, elc ainda poderia objetar:

Espere urn pOIICO. Sua el/idencia, na verdade, ruio se ajus­UI ao seufundamento. Sua evidellcia e l/erdadeira - imagells de

FAZENDO UMA AFII6HA~O Ii SlJS7FNl"ANIX).A 165

violencia rea/mente aparecem na teJevisiio. Mas mio acredito que essas imagens sejam ''perversas'' 011 "sadicas ". Portanto. u fundamento mio pade admitir essa evidencia, que e multo gera/ para 0 ripe especifico de ev;dencia que seu fundamento admi­Ie. Alem disso, sua afirmariio - "uma das causas principals de vio/ene;a "- e mats extrema que "illfluellcia para pior". t mui­to espeeifiea e, portanto, va; a/em da afirmapio que seufunda­mento permite.

Agora vemos por que assuntos importantes sao continua­mente tao contestaveis, por que quando voce sente que elabo­rou uma prova inequivoca de seu caso, seus lcitores ainda podem dizer: Espere urn minuto. E quanto Q ..• ? Eu nlio con­corda que sua evidencia seja imporlame para ... Os leitores nao inclinados a accitar suas afirmac;:oes questionarao a confiabi­lidade de sua evidencia, a veracidade de seu fundamento e a relevancia dcstc para seu argumcnto cspccifico. Entao, eles debaterao pontos sutis.

E nem mesmo consideramos aqueles cxcmplos em que podel haver fundamentos que se chocam, perfeitamente legiti­mas individualmente:

Quando qucrcmos nos exprcssar em publico, temos 0 direi­to de faze- Io.

Quando estamos em publico, temos 0 direito de nao scr in­eomodados por alguem que se eomporta de urn modo que inva­de nossa privacidade e nosso espa~o pessoal.

Qual desses fundamentos se aplica a mendigos? A oradores de esquina, usando alto-falantes? A musicos de rua? Aos tipos mental mente perturbados? A pessoas gritando com outras em urn ate de protesto? Que evidencias poderiamos apresentar para provar urn ou oulro fundamento? Que fundamentos de ordem superior admitiriam uma evidencia dessas?

Scmpre que voce clabora um argument/), precisa aprcsen­tar aos leitores uma evidencia que eles cons:dcranlo confiavcl para sustentar uma afirmaf;3o que eles julgadio como especi­fica e conteslavel. Mas, mesmo quando sua evidencia c corre-

Page 91: boothwaynec-140923095935-phpapp02

166 A AR1E DA PESQUISA

ta, suas afirmay5es s igni ficativas e seus fundamentos sao ver· dadeiros, voce ainda precisa preyer que seus leirores iraQ se de· sapontar se riverem uma suposi~ao profundamente arraigada que nao Ihes pennita assoc iar sua evidencia com sua afi rrna~ao.

Ao come~ar a pensar no tipo de argumento que tecl..~e apre· sentar, pare urn pouco e pergunte-se que tipo de evidencia e de fundamento serao necessarios para convencer seus leitores. Nao basta voce achar que tern urn caso irrefut<ivel, evidente, 100% sOlido. Comece com suas convic~Oes, mas lembre·se de que tern de tenninar com as de seus leitores: Que ripe de argumento eles aceitarao? Que tipo rejeitarao? Permita que as respostas a essas perguntas contribuam para a forma do seu argumento.

A vida e curta demais para testar todos as seus argumen· lOS, mas teste aqueles que sejam mais importantes do ponto de v ista de seus leitores. In fe lizmente, como sempre acontece com esse tipo de conselho, 0 truque e saber quais argumentos testar. E como saber que palavras procurar num dicionario. As palavras em que voce tropeca sao aquelas que voce pcnsa que sabe como se escreve, mas que na verdade nao sabe. Da mesma maneira. os argumentos que parecem muito 6bvios geralmen­Ie precisam ser testados com mais cuidado.

Sugestoes uteis.­Conlestando Jundamentos (Umjogo para os mais ousados)

Quanto mais seu argumento pedir que seus le itores mudem de opiniao. mais ele devern parecer importante (e mais convin. ceote tera de ser). Assim, seus argumentos mais fortes serao aqueles que contestam nao so as afirmaCoes e as evidencias aceitas por sua comunidade de pesquisa, mas tambem os fun­damentos que estao por tn'ls de l as. Nao existe urna argumen· tacao mais dificil do que aquela em que voce precisa pcdir aos leitores que mudem de opiniao, nao so quanta aquilo em que eles acreditam. mas par que e como acredi tam .

Ao elaborar urn argumento que conteste os fundamentos de seus Jeitores, procure entender 0 que ha por tras de lais fun­damentos. Lembre-se de que a maioria dc lcs sao afirmar;6es de argumentos de "ordem superior". Dcsempenhando esse papel. elcs tern sua propria evidencia de sustentac;ao Quntamente com seu proprio fundamento. tambem de ordem superior) . Se voce souber que lipo de ev idencia sustenta urn fundamento. encon. trara a rnelhor maneira de contesta-Io. No entanto. a base de sustenta.;:ao de alguns fundamentos nao se resume a urn sim­ples argumento, mas e constituida de urn conjunto rnais amplo e complcxo de crenl;as e convicl;oes.

Prirneiro de tudo. antes de contestar urn fundamento. voce precisa desmonta-Io para entender 0 que 0 sustenta. Por exem­plo, urn economista poderia sustentar:

A popul a~ao de Zackland deve ser controlada"fir"'''raa por­que esta crescendo rnuito acirna de seus rccursos ..... id"nd"

Indagado sobre seu fundamento. eJe poderia dizer:

Quando urna popula~ao cresce alem de sellS recursos e nao pode se sustentar, s6 urna redll~ao da popula~ao salva 0 pais do colapso.

Page 92: boothwaynec-140923095935-phpapp02

168 A ANTI!. DA PESQUISA

Caso sej a contestada a veracidade de seu fundamento, elc poderia apresenta r como evidencia alguns exemplos:

Quando a popula~o dos paises A. B, C excedeu seus meios. lodos esses paises entraram em colapso. Portanlo, podemos con­duir que, em geral, quando as sociedades chegam a urn p'onto em que seu tamanho excede os recursos, e las entram em coiapso.

Alguem poderia argumentar que a popula.yao de Zackland nao deveria sec rcduzida, porque isso selia wn eITO. Questionada. essa pessoa poderia apresentar urn fundamento assim:

Sempre que uma pessoa ou grupo desencoraja os casais de lerem filhos, a pcssoa ou 0 grupo eSl30 fazendo uma coisa incren­lemente rna.

Indagada sobre a evidencia que sustenta esse fundamen­to, a pessoa poderia apontar nao dados quantitativos, mas urn conjunto de principios morais ou re ligiosos.

Uma terce ira pessoa poderia concordar que 0 controle populacional c urn erra, mas aprcsentando urn fuodameoto di­fereote:

Sempre que nos dedieamos a urn problema de Iimita<;ao de reeursos, eonseguimos resolve- Io.

l a esse fundamento tern um ti po diferente de sustentaIYaO, derivado de urn padJiio geml de postura cultural, segundo a qua l todos devemos nos conscientizar e acredi;ar.

Esses tres fundamentos sao diferentes e confl itantes . Cada um e sustentado por uma evidcncia de tipo diferente: numero de exemplos, urn s istema de verdades reveladas ou uma crenIYa herdada. Para contestar quaJquer urn desses fundarnentos, voce precisa contestar seu tipo especifico de sustentaIYao. (Da mesma maneira. esteja atento ao ler os diversos tipos de fundamentos em que suas fo ntes se baseiam.)

MZENDO UMA AHRAfAC'AO H SUSTENli1 NDO-A 169

Tipos de fundamentos e tipos de contesta~iio

A seguir, apresentamos uma li sta dos tipos mais comuns de fundamentos e as tipos de sustenta.yao a que voce deve rc­eorrer pam contest3-los. Estao rclacionados em ordem, do mais facil de contestar para 0 mais difici l.

I - Fundamentos baseados na experiencia empirica

Esses sao os fundamentos q ue deduzimos da experiencia acumulada. Solicitados a defende-Ios, nos nos re ferimos it ex­perienc ia direta, a rclatos confiaveis de tcrceiros, ou it sabedo­ria acumulada ao longo do tcmpo. Alguns basc iam-se em pes­quisa s istematica que produz evidencias expHcitas:

Quando eertos inserieidas entram no ceoss istcma, a easca dos ovos dos passaros fieam lao fracas que sao ellocados menos filhotes. e a popula<;ao de passaros declina. I

Alguns basciam-se em co nhccimentos obscuros desenvol­vidos com 0 passar do tempo:

Quando urna pessoa aparece em meu eonsult6rio com os sinlomas X, e provlive l quc essa pcssoa tcnlla a deem •. :;. Y.

Alguns sao derivados da cxperi encia cotidiana:

Onde M fuma~a, Ila fogo.

Conl esla~i'io: Uma vez que esses fundamentos sao sus. tentados por muitas ev idencias, g rande parte baseada na expe­ri encia, voce precisa contestar sua quaJidade. Ass im, e neces­sario apresentar urna ev idencia contnlria para demonstrar que o fundamen to e falso, ou pelo menos nao completamente con­fjavel. Cons iderando que essas af irmacocs j a sao aceitas por seus lei to res. voce preeisa encontrar dados melhores do que as que serve m de sustentaIYao para 0 fundamemo.

Page 93: boothwaynec-140923095935-phpapp02

170 A ANTE DA PESQUISA

2 - Fundamentos baseados IIU aUloridade

Acreditamos em algumas pessoas simplesmente por causa do que elas sao. Quando respeitamos alguem por suas virtu­des ou conhecimentos. posi~ao. ou pela pessoa que e, a<;:eitamos o que esse alguem diz, mesmo quando contradiz a evidencia de nossa pr6pria experiencia. '

Quando X diz Y, deve ser Y.

Contestaltao: Para contestar esse tipo de fundamento. voce precisa contestar a autoridade. 0 que e sempre arriscado. Ge· ralmente. e necessario apresentar dois argumentos interligados: primeiro. voce precisa apresentar a evidencia de que Y nao e Y e. segundo, que pelo menos sobre esse assunto nao se deve acreditar na autoridade - porque 0 assunto esta alem do alean· ce dos conhecimentos da autoridade au porque a autoridade nao tioha conhecimento da evidencia que voce apresenta. As ve· zes, a contesta¥ao precisa iT ate mais fundo: antes de mais nada, a "autoridade" nunca deveria ter sido considerada como tal

3 - Fundamentos derivados de s istemas de crenfas e conhecimento preexislentes

Emprestamos esses fundamcntos de sistemas preexisten. les de defini1;Oes, principios au teorias. Eles sao profundamente arraigados porque conservam a autoridade acumulada da coc­rencia de seu sistema. Alguns exemplos: !

Da matenultica: Quando somamos dois numeros impares. obte­mos urn numero par. Das leis: Quando dirigimos sem habilita~ao . comclemos 11m delilo. Da religiiio: Quando usamos 0 nome de Deus em vao, comete· mos urn pecado. De defi";~Oes padronizadas: Quando uma crialura tern penas e asas. c urn passaro.

FAZENDO UAfA AHRMAcAO E SUSTENTANOO-A 171

Contesta~io: Ao contestar fundamentos desse tipo, os "fa­tos" mostrnm-se amplamente irrelevantes. Voce precisa contes­tar tanto a integridade do sistema, urna laTefa sempre dificil . quanta demonstrar que 0 exemplo nao se encaixa no fundamen­to: E quat/to a dirigir na entrada de conus de minha casu? 0 que venr a .fer "em vilo "? 0 que e cOllsiderado "penas "? 0 que e considerado "usus "?

4 - Fundamentos culturais gemis

Estes sao os fundamentos que herdamos do "conhecimen· to comum" de nossa cullura. Alguns sao sustentados pela ex· periencia empirica, mas a maioria nao e:

Quando as pessoas comem muito chocolate, fi cam com espinhas. Dormir e acordar cedo Imz saude, riqueza e sabedoria. o rei pode comcter todos os abusos que quiser.

IContestaltao: Esses fundamentos mudam com 0 passar do tempo, mas lentamcnte. Com exce"ao de momentos extra­ordinarios, rcvolucionarios, e quasc impossivel contesta-Ios, por· que ao faze-Io cootestamos a base de nossa cullura.

5 - FUlldamelltos metodologicos

Voce pode pensar nestes como "rnetafundamentos". Eles sao padroes gerais de pcnsamento que nao tern urn conteudo espcci­fico ate scrern apJicados a casos cspecificos. Nos os usamos para oncntar nosso raciocinio. quando deduzimos fundamentos sOli­dos como aqueles citados acima. Os rnais imponantes:

Gcncralizac;iio: Quando muilOS cxemplos de X ocorrem sob a condi(fao Y, entao X gcralmenlc existira sob a condi(fao Y. Analogia: Quando X e como Y em alguns as peclOS, enlao X sera como Y em oUlros aspectos. Causa c efeito: Quando Y aeontecc , se, e apenas se X aconte­ce primci ro. cntao X deve causar Y.

Page 94: boothwaynec-140923095935-phpapp02

172 A AR7l!. DA PESQUISA

Sinal : Quando X e Y estio normalmente presentes ao rnesmo tempo, X e urn s inal de Y eYe urn sinal de X. Categorizas-ao: Quando X e urn tipo de Y, X tera as caracleris· ticas de urn Y.

, Contesta~io: Os fi l6sofos e logicos tern questionado es­

ses fundamcntos , mas em assuntos de argumentar;ao pratica conlestamos apenas sua aplicar;ao o u mostramos condir;oes Iimitantes - Sim. podemos f azer uma ana/agia entre X e Y. ex­ceto quando ... (vej a 0 Capitulo 10).

6 - Questoo de / e

Por rim, ha urn tipo de fundamento alem dos fundarnentos: Thomas Jefferson invocou-o quando escreveu: "Sustentamos essas verdades por serern evidentes ... " Esse fundamcnto e sus­tentado pela experiencia direta da verdade:

Sernpre que urna afinnac;:ao e vivida diretamente como urna verdade revciada, essa afinna'Yao e verdadeira.

Esse e 0 tipo de verdade que para alguns nao pennite nega­r;~o . E uma dec larar;ao de fe e nao requer nenhuma evidenc ia.

T ,

Capitulo 10

Qualificat;oes

Esle capitulo discule um assunto que ndo e dificil e pode ajudar os pesquisadores. iniciantes au experientes. a convencer seils leilores de que suo tao sensatos e criteriosos quanta deverjam.

10.1 Uma revisio

ANTES DE PASSARMOS para a arte de qualifiear as afirma­r;oes, devernos revisar os trt!S elementos neeessarios a todo ar­gumento.

Para eriar urn argurnento, voce prec isa enunciar doi s ele­mentos explieitamente :

Aflnnac;:ii.o ... Evidencia

Voce pree isa fazer urna afirrnar;ao que sej a independen­te e contestave1.

• Para sustentar essa a firma~ao. voce pree isa apresentar urna ev ideneia que seja ao mesmo tempo confiaveJ e pertinente.

A evidencia e a afirma~ao podem aparecer em qualquer ordern :

No fi nal de seu segundo mandato, 0 presidente Franklin D. Roosevell sofreu ataques regulares dos j omais por promover 0

Page 95: boothwaynec-140923095935-phpapp02

174

socialismo." .... """"'" Embora seja venerado hoje em dia como um dos personagens mais admirados da hist6ria americana,,,,,,,,..,., oa epoca ele aparentemente nao era mu ito popular entre a c1asse media .".P"""fdo

Atualmcnlc. Franklin D. Roosevelt e vcnerado como urn dos pcrsonagens mais admirados da hisloria ameriCana,..."" ..... ,., embora, no final de seu segundo mandato, e le aparentemenle na~ fosse muilo popular entre a c1asse media'<>}i"""'fOo Sofreu ataques regulaTes dos jomais, por exemplo, porque acreditavam que de eslivcsse promovendo 0 soc iali sm o'n'idilt<:i"

Na maior parte dos argumentos. sua evidencia sera nova para seus leitores; assim voce precisa explica-Ia, decompondo-a cm afirmac;;oes subordinadas, sustentadas por rna is evidencias - ev idencias que sustenlam evidenc ias. No exemplo a respe i-10 de Rooseve lt, a evidencia sobre sua impopularidade e 0 ata­q ue dos jornais, pois s upunham que ele promovesse 0 socia­lismo. Mas e prov3vel que os leitores vejam essa evidcncia como outra afirmaC;;ao e levantem uma qllestao perfcitamentc razoave l: Qual e a sIIa evidencia para a afirma(:iio de que os jornais alacaram Roosevelt especijicamell le por promover 0 socialismo?

Atualmente, Frank lin D. Roosevelt i:. venerado como urn dos personagens mais admirados da hist6ria americana"""" t.>'10 embora no fina l de sell segundo mandato ele aparentemcntc nao [osse muito popular entre a classe media'''firm~''o Sofreu ataques regulares dos jomais. por exemplo, porque acreditavam que ele estivesse promovendo a socialismo . .,.,wmc;..;"fir"'''rOo Em 1938.70°/. dos jOl"nais do Cen'l"o-Oestc acusararp-no de qucl"e.- que 0 govel"no ad ministl"assc 0 sistema bancario··· .. ,.Id""citl "dir,,,,,,,1

Voce tern de sustcntar suas afirma~oes com cvidencias, mas, gera lmente, deve eons iderar suas evidcncias como suba­firm ac;;oes que tambem precisam ser sustentadas.

T ,

175

/0.1 .2 Frmdamenlos

o terceiro elemento, seujundamenlo, permite-Ihe relacio­nar urna determinada afirmayao a uma determinada evidencia incontestavelmente.

£:1 FundamcnlO

~ Afirmal;ao ... .. Evid6ncia J

Como dissemos no Capitulo 9, quando voce escrevc como a lguem da area para outras pessoas da mesma area, raramente exprcssa lodos os seus fundamentos, mas voce ajudaria tanto a seus leitores quanto a si mesmo se, antes de redigir, testasse seus princ ipais fundamentos. Em nosso excmplo, 0 fundamcn­to parecia ser uma convicc;;ao gera l sobre 0 papel dos jornais como uma influencia na opiniao publica :

Quando os jomais atacam urn funciomino publico ameri­cano por promover 0 socialismo. esse funeiomi rio fica em diri ­culdade com as e leitores da classe media.

Raramente expressamos os fundamentos de maneira tao explicita e doutrimlria. preferindo deixa- Ios implicitos:

Atualmente. Frank lin D. Roosevelt e venerado como urn dos personagens mais admirados dn hist6ria americana,""", .... ,,, embora no final de seu segundo mandato d e aparentcmente nao [osse muho popular entre a classe m edia'uft,'mora" Sofreu ataqucs regulares dos jomais. por excmplo. porque acreditavam que elc estivesse promovendo 0 socialismo'''''idh,dtl/''firmuf'w urn sinal de que urna administl"8~lio model"na tern problemas com clei­tOl"es b~m infol"mados"u"J",...,,,1O Em 1938. 70% dos jomais do Centro-Oeste acusaram-no de···~,·;,Jh'~'" ",Jic;ioMI

Page 96: boothwaynec-140923095935-phpapp02

176 A ANTE OA PJ::SQUJ$.A

Elaborando seus argumentos com esses tres elementos, voce da aos seus leitores bons motivos para mudar de o piniao.

10.2 Q ualificando seu argumento , ,

Se, no cntanlo, voce elabora sellS argumentos com esses tfes elementos apenas. podenl ter urn problema, porque mui­tos leitores irao cons iderar urn argumento singelo assim como despretens ioso bei rando a ingenuidade. Pesquisadores inician­les tendem a apresentar argumentos de uma maneira franca, sem reservas, sej a porque pensam que 0 melhor argumento e o que menos precisa de qualifica~ao, seja porque nao reconhe­cern as proprias Iimita~oes. E assim escrevem:

Franklin D. Roosevelt foi impopulardurante 0 segundo man· data par tres razoes: Em primeiro lugar, ... Em segundo lugar, ... Em tcrcei ro lugar, ... Portanto, como podemos vcr, Roosevelt era impopular ...

Esse C 0 argumento padriio de cinco paragrafos - tosco, inocente, scm nuan<;as. S6 faz sucesso entre lcitores igualmen­te inocentes.

Toda afirmac;:ao contest3vel encoraja os leitores a questio­narem as condi~Oes em que a a firma~ao relem a verdade e os limites de sua certezu. Alcm disso. uma afirmac;:ao importantc quase semprc depcndc de suposic;:oes que sO sao verdadeiras em determinadas circunstancias. Raramentc e passivel voce pro­por urn argumento cuja veracidade seja 100% abso luta, 100% do tempo.

Alem di sso , poucos Icitorcs que rem ler argumentos que sc lancem cegamentc na dircr.;ao de uma conclusao irrestrila, como: Saia da frenle. ou passo p or cima. Esperam que voce rcconhec;:a sua incerteza iegitima, os limites de seu fundamen­to e as perg-untas c rcscrvas legitimas deles. Ao proccder dessa maneira, voce demonstra que reconhece as preocupac;:oes deles e respeita sua capaeidade de critica. Embora possa parecer pa­radoxal , seu argumento ganha fo rc;a ret6rica quando voce reco­nhece seus limites .

i

I-"AZENDO UMA A FJRMACAO £ SUSl'&n'A NOO·" 177

Com essa finalidade. oeste capitulo acrescentamos urn quarto componente ao nosso modelo, representado por aque­les elementos que levam em conta objecoes e a s limites de sua certeza.

Fundame nto

/ '\ A firmal;iio

~ Evidcnc ia

Ressalvas Refida~Oes

Concessoes Condj~oes restrilivas

Alcance res tritivo

Discutiremos quatro manciras que voce tern para qualifi­car seu argumento:

I - Re futar objc~Ocs erroncas a sua evidencia ou funda­mentos.

2 - Aceilar obje~oes que nao pode refutar. 3 - Estipular cond i~oes que quaHfiquem suas evidencias

ou limitem a aplicac;:ao de seu fundamento. 4 - Estipular 0 grau de certeza da ev idencia, do funda­

mento, ou da afirmac;:ao .

/0.2. J Preyer obje9iJes

Embora 0 desejo de todos nos seja que os leito res termi · nem de ler nosso relat6rio com urn entusiastico E isso ail, sa· bemos que nao e bern ass im. LeI" nao e como encher urn jarro vazio com informa~oes . A leitura comprometida tem 0 inter­cambio de exigencias e concessoes do dialogo ao v ivo , com os leitores fazendo sinais afirmativos com a cabec;:a em alguns ponlos. abanando a cabec;:a negati vamente em Qutros: Espere

Page 97: boothwaynec-140923095935-phpapp02

178 A ANTI:.' DA PlfSQUlSA

Un! minufO ! E quanta a .. . ? - 0 tipo de leitura que voce devcria fazer com suas fontes. Ao e laborar seu argumento. voce prc­CiS3 tamar conhecimento de seus leitores, prevendo as pergun­tas deles e tarnanda expHc itos os limites de suas afirmay6cs.

E mais provavel que as Ic itores queslioncm ,a quaJidade das evidenc ias ou dos fundamcntos . A maneira eOlno voce ira refutar essas objct;Oes vai depcnder da natureza detas. Por exem­plo, se voce suspeita de que urn le itor poderi a considerar sua evidencia insuficiente ou inadequada, porque conhece algu­rna evidenc ia que contrad iz sua afirma~ao, entao deve mostrar que considerou cssa evidencia adicional , mas a rejeitou por urna boa razao:

AlUalmcnle, Frankl in D. Roosevelt e vencrado como um dos personagens mai s admirados da hiSl6ria americana, embo­ra no fi nal de seu segundo mandato de aparenlemente nao fosse muilO popular entre a classe mcdia. Os jornais, por ex-emplo. atacaram-no por promover 0 socialismo, um sinal de que uma administra"ao modema tern problemas com eleitores bern infor­mados. Em 1938. 70% dos jomais do Centro-Oeste acusarnm-no de querer que 0 govemo ad rninistrasse 0 sistema bancario. ( ... ) Alguns alcgaram 0 contrario, incluindo Nicholson (1983, 1992) e Wiggins (1973), qu e relatarn epis6dlos que mostram Roosevelt se mpre merecedor de grande conslderaltiio, ape­sar de qu e tais relatos apenas sejam sustent ados pelas lem­bran"as daqueles qu e tinham interesse e rn endeusar FDR.

Ou, prevendo a objcc;ao de que seu fundamcnto c falho, voce pode mostrar por que ac rcd ita que e correto:

Atualmente, Franklin O. Roosevelt c venerado como um dos pcrsonagcns mais admirados da hiSl6ria americana, emho­ra no final de seu segundo mandato elc aparenlemente nao fosse muito popul ar entre a classc media. Os jornais, por exemplo. alacaram-no por prQmover 0 socia lismo. Em 1938, 70% dosjor­nais do Centro-Oeste aeusaram-no de querer que 0 govemo administrasse 0 sistema baneario. ( ... ) EmbOrH Tanaka (1988) tenh a dernonstrado que os jornais rrequentemente til'essem mais It inten~ao de cr ia r do (Iue de renetir a opiniiio pllbli-

1 MZ/:WlXJ UMA AP!J6HAcAO c· Su'5Tl!.NTANVO-/l 179

ca, ataques tao difundidos quanto esses sao um sinal confiavel de que urna adrninistra~ao moder-na tem problemas com d el­tores de dasse media. Varios estudos rnostraram correla~oes confiaveis entre 0 enfoque editorial e a opiniao popular ...

Pesquisadores astutos acolhem de born grado tais obje­~ocs, chegando mesmo a procura-las, nao s6 para melhorar suas chances de acerto, mas tambem para indicar aos leitores que estiio familiarizados com outros pesqu isadores que estu­daram ° mesmo problema e chegaram a conclusOeS diferentes. Ao acolher objec;Oes, voce evita fazer afirmac;Oes exageradas e tern maior probabilidade de confcrir se possui evidencias sufic ientes enquanto ai nda esta reunindo suas fontes, nao na no ite anterior a entrega do re lat6rio.

Ha quatro tipos de objec;oes que voce deve buscar cuida­dosamente. Com tres deles voce deve lidar especificamente. enquanto pode discutir ou ignora r 0 quarto .

I - Considere levantar objec;oes c a lterna tivas para suas afirmaC;Ocs, aque las que, durante 0 andamento da pesquisa, voce cons i'deroll , mas reje itou.

Nao precisa levanta-las, se nao qui ser, porque e improva­vel que os le itores se preocupem com e las, mas compartilha­las e uma maneira de convidar os leitores para 0 di a logo. Voce nao deve ressaltar todo beco st:m sa ida ou pista falsa. Em vez di sso. destaquc os pontos fortes de sell caso, levantando e refu­tando afirmac;oes plausiveis mas equivocadas. Pareceni espe­c ialmeOic se nsa to se rejci tar ev idenc ias que pa rec;am sustentar suas afinnac;Oes, mas que voce sabe que nao sao confiaveis. Re­jeitando evidenc ias que oulros menos cu idadosos poderiam aceitar, voce aumenta sua c redibilidade.

2 - Preveja objec;oes que os leitores poderiio fazer. Voce dcvc prever as objec;oes baseadas num argumento

conhecido , que contrad iz a lguns aspec tos do seu, ou urn que surja pclo fato de voce usa r Ulll fundamento q ue sabe que se us lei tares nao aceitarao. Se deixar de cons idcrar as objec;oes dos le itores, antes que e les pcnsem ne las, voce pareeeni. des­denhar as convic<;oes deles, ou ignorar 0 trabalho desenvo lvi­do em sua ,trea .

Page 98: boothwaynec-140923095935-phpapp02

IIlO A AK11::: DA PHSQUISA

3 - Preveja altemativas em que seus leitores passam pensar. Pode ser que seus leitores nao rejcitem especificamente

urna explicacao que voce apresente. mas eles talvez penscm em explica~es alternativas que acreditam que voce deveria ao me· nos ter considerado. Pense em alternativas. explique·as e, se puder, refute-as. .

4 - Preveja objec;Ocs que passam ocorrer a seus leitores enquanto eles lecm.

Tais objc90es sao as mais dificeis de prever, mas as mais importantes: sob certa aspecto, urna evidencia que parec;a con­sistenle para voce podera parecer duvidosa a seus leitores, au voce pode dar urn passo que diston;a sua 16gica. Em tais cases, se voce nao hOllver previsto as objcc;oes. parecera ignorar os Ii mites de seu pr6prio argumento e ser indiferente aos julga· memos criticos de seus leitores. Em vez de discordar de ques­toes prosaicas - da exatidio ou precisao de suas evidencias - , e mais provavel que os leitores apresentem obje~oes nestes quatro campos: • Voce definiu termos-chave incorretamente.

Voce deve ler certeza de que seus leitores concordarao com suas defini(,:oes, porque suas defini.;:oes estao entre seus fundamentos s istematicos (veja p . 170). Se voce estiver pes· quisando sobre vieios, por exemplo, indague·sc: Quando os exe· Clllivos dasjabricas de cigarro dizem que fumar nao vicia. eles eSliio negando um falo, ou definindo 0 vido de maneira dife· rente de quem afirma ° contrario? Bern antes de come(,:ar a esbo~ar seu argumento, descubra se seus leitores idio entender seus termos eentrais assim como voce os entende. Lembre·se , de que as definicoes estao sempre a servi.;:o de uma meta . 1m· ponha defini.;:ocs que favore.;:am sua afirma.;:50 .

• Voce simplifieou dernais causas e efeitos. Poueos efeitos tern urna causa unica, e algumas causas tem

urn unico efei to. Se voce alega que X eausa Y, pode ter eerte­za de que alguem objetara: Espere urn minI/to. X causa Y. mas s6 se C. DeE lambem ocorrerem, mas niio .'Ie Z esliver presen· fe, e, a/em disso, A e B tambem eausam Y sob as cireul/ston­cias cerras. Evite respostas simples a perguntas complex as .

f-iiZliNVO UMA A HilMA pi 0 J;' SUST1iN!iiNU()-1I 181

• Voce generalizou demais urna evidencia muito pequena. Tratarnos deste assunto quando discutimos a suficiencia

de sua evidencia (pp. 132-4). Voce va i quase inevitavelmente ge· neralizar demais, simplesmente porque nao h3 horas suficien· les no dia para reeolher todos os dados de que voce precisa para fazer uma genera liza'Vao confiavel. 0 que voce pode fazer e reunir tudo 0 que puder e relatar a respeito. Na verdade, pes· quisadores experientes raramentc esperam provar qualquer co i· sa corn 100% de certeza, porque possivelmente nao podem en· eontrar todas as evidencias disponiveis no mundo. Eles podem apenas apresentar sua afirma~ao c convidar os leitores a apre· sentar evidenc ias que a neguem. • Voce nao considerou cxcmplos contrarios e cases especiais.

Levando em conta que os leito res sempre tentarae pensar em exemplos contraries a qualquer generaliza(,:ao, voce deve tentar pensar neles primeiro. Se aqueJes em que pensar forem casos aberrantes ou marginais, voce pode reconheeer simples· mente que de fate existem exemplos contrarios, mas afinnande que eles nao restringem sua generaliza.;:ao seriamente.

A maneira mais facil de deseobrir obje.;:Ocs como essas e com a ajuda de urn professor, amigo ou colega. Pe(,:a para qual· quer urn represcnlar 0 papel de urn leitor atento e diseordar de tudo 0 que parecer ate mesmo ligciramente duvidoso . No fim, parern, a responsabilidade e sua. Se voce fosse pago para .efutar seu proprio caso, 0 que poderia dizer? Oiga, e enta~ refute.

10.2.2 Aeeite 0 que tliio puder refutar

Pode ser que voce n50 cons iga responder a algumas obje· voes. Mas, se estiver elaborando urn argumento honesto, pre· cisani reconhece-las. Ao faze·lo, voce se arrisca a revelar urna falha possivelrnente fatal em seu raeiocinio, mas leva a vanta· gem de reconhecer seus limites com franqueza. Voce deve, e claro, acreditar que 0 equilibrio de sua susten ta(,:3o mais do que compensani a objc(,:ao.

Page 99: boothwaynec-140923095935-phpapp02

IH2 A AR71i DA PESQUISA

Atualmente, Frnnklin O. Roosevelt e venemdo como urn dos personagens rnais adrnirados da hist6ria americana, embora no final de seu segundo mandata elc aparenlementc nao fosse muito po­pular entre a cJasse media. Os jomais, por exemplo, atacaram-no por promover 0 socialismo. Em 1938.70% dos j0t;tais do Cen­tro-Oeste acusaram-no de querer que 0 govemo ad!"f\inistrasse o s iste ma bancario. ( ... ) Alguns alcgaram 0 contrario, incluindo Nicholson (1983, 1992) e Wiggins (1973), que relalam cpiso­dios em que Roosevelt aparecia semprc como mereccdor de alta cuns ide ra<;ao, apesar de que tais relatos apenas sejam sustenta­dos pelas lembran<;3s daquclcs que tinham interesse em endeu­sar FDR. Os amplos ataques nos jomais em todo 0 pais demons­tram urn dcscontentamcnto importante com sua prcsidencia. Reconhecidamcnte, os mcsmos jornais louvaram sellS esfor* ~os para supcra r 0 descmprcgo. Mas a~ evidencias indicam que, nao fosse pcla Segunda Guerra Mundial, Roosevelt pode­ria nao ter sido recleito para um terce iro mandato.

Se descobrir cedo as objeyoes irrefutaveis, voce podenj revisar seu argumento, talvez ate mesmo sua afirma«ao. Se deixar para mais tarde, tera urn problema. Poderia ignorar a objcyao C esperar que seus le itores nao percebam. Mas, se per­cebe rem, 0 problema sera ainda maior, porque eles poderao pensar que voce nao pc rcebeu as obje.yoes ou , pi~r, que tentou csconde-Ias. Se nao tiver nenhuma boa resposta, reconheya francam ente uma objeyao como urn " problema" que prccisa de mai s estudo, o u mostre que a prcponderancia de outra eviden­c ia a mmlmlza .

Pesquisadores experientes e professores entendem que a verdade e sempre complicada, nonnal'mente ambigua. sempre pass ivel de ser contcstada. Eles formarao uma opiniao mclhor a seu respeito e de seu arg umcnto se voce reconhecer seus li ~

mites, cspecialmente os limites que 0 restringem mais do que scri a desejado. A concessao e outra mane ira de convidar os le i­tores ao dialogo.

1 f-'AZENDO UMA AHRMA';AO 1;" SUS7'ENTANDO-A IH3

10.2.3 Imponha condiroes limitadoras

Existe outl"O tipo de obje~ao que os pesqui sadorcs nao po­dem refutar e com 0 qual normal mente nao se incomodam. Trata-se de urna rcserva em relayao a mudanyas imprevisiveis de certas condiyoes, algo que voce considera que nao ocorrera. mas que pode acontecer.

Ganharemos rnais jogos este ano, cOlllamo que nao venha­mos a salrer baixas por conlUsOes.

Podemos conduir que 0 terremoto ocorreu na regiao cell­tral da Costa Rica, desde que os illstrumentos tenham sido cali­brados com precisiio.

Os autores costumam silenciar sobre condivoes Iimitado­ras, especialmente as que estabelecem que as pessoas e coisas devem se comportar como esperamos. Voce ouvira com frc­qiienc ia os comentaristas esportivos referirem-se, em suas pre~ visoes, a condi«oes como contusocs, porque sao comuns e previstas em muitos esportcs. Mas s6 raramente os cientistas irao declarar que suas afirma«oes dependem dc os instrumcn­tos funcionarem corretamente. nao s6 porque isso e muito 6bvio, mas tam bern porque todo 0 mundo cspera que e les se assegu­rcm de que os instrumentos funcionarao dire ilo.

Evcntualmente estipulamos a lguma reserva, tanto para in­dicar uma precauyao. quanto para nos resguardannos a respe ito de uma possibilidade previs ivel e plausivel:

Atualmente. Franklin D. Roosevelt e venerado como urn dos personagens mais admirados da hist6ria americana, embora no final de scu segundo mandata ele aparentemente nao rosse tnuito popular ent re a c1asse media. Os joma is. par excmplo. atacaram-no par promover 0 socialismo. Em 1938. 70% dosjor­!lais ,do Cel1tro~Oeste acusaram-no de quercr que 0 govemo administrasse 0 sistema banciario. ( ... ) Alguns alegaram 0 con­trario, inclu indo Nichol son ( 1983, 1992) e Wiggins ( 1973 ), que relatam epi s6dios em que Rooseve lt aparec ia sempre mcrcce· dor de grande cansidcrac,:aa, apesar de que tai s relatas apenas sejam sustcntados pelas lembranc,:as daqueles que tinham inte-

Page 100: boothwaynec-140923095935-phpapp02

184 A AR11:: VA PIiSQU/SA

ressc em e ndeusar FOR. A menos que possa ur demonstrado que os JOToais que criticaram Roosevelt eram controlados pOl'" Interesses particulares, seus ataques demonstram urn des­contentamenlO importante com s ua presidencia. Reconhecida­menle, as mesmos jamais louyaram seus esforc;os para superaT o desemprego. Mas as evidencias indicam que Roosevelt pode­ria nao teT s ido reeleito para urn terceiTo mandato, ~lo fosse pela Segunda Guerra Mundial .

/0.2.4 Limite 0 alcallce e a certeza de sua afirmafiio e de suas evidencias

Mesmo depois de ter refutado todas as objec;:oes impor­lantes, voce raramente pode afirmar em sa consciencia que tem 100% de certeza, que sua evidencia e 100% confiave l e que suas afirmac;:oes sao incontestavelmente verdadeiras. Sua cre­dibilid.'ldc requcr que voce limite 0 alcance de seus argumentos. restringindo a certeza de suas afinnac;:oes e evidencias com pa­\avras e frases restritivas.

Aluatmente. Franklin D. Roosevelt e amplamente "enem­do como um dos personagens mai s admirados da hist6 ria ame­ricana, cmborn por voUa do final de seu segundo mandato e le nao fosse especial mente muito popular entre os provaveis elei­lores. Os jomais, por exemplo, geralmente 0 atacaram por pro­mover 0 socia lismo, urn born indicio de que uma administra~ao modema (em problemas com eleitores de c1asse media. Em 1938,70% dosjomais do Centro--OcSle acusaram-no de querer que 0 govemo administrasse 0 sistema banc:irio. ( ... ) Alguns ale­garam 0 conlrario, inc1uindo Nicholson ( 1983, 1992) e Wiggins ( 1973), que re lalam epis6dios em que Roosevelt aparecia sem­pre como merecedor de grande considerar,;ao, apesar de que lais relatos (endem a ser sustentados pelas Icmbram;:a. .. daqucles que podiam ler interesse em endeusa-Io. A menos que possa seT de­monstrado que os jomais que criticaram Roosevelt eram con­trolados por interesses particulaTes, scus ataques demonstram urn descontcntamento importante com aspectos-chave de sua presid€ncia . Rcconhecidamcntc. muilos dos mesmosjomais lou­varam seus csfo~os para superar 0 dcscmprcgo. Mas 0 peso das

MZEJVOO UMA A""RMA~O 1;' StJ!,7f.WTANOO-A 185

evidencias sugcre que, nao fosse pela Segunda Guerra Mundial, Roosevelt provavelmente nao leria sido reekito para urn leT­ceirQ mandato.

As palavras e frases que Iimitam suas evidencias e afir­mac;:Ocs dao as nuanc;:as de seu argumento.

Voce nao precisa dec1arar cada instanlc de incertcza, mas apenas as mai s importantes. Se voce colocar ressalvas demais, parecera timido au inseguro. Mas, na maioria das areas, e toli­ce evitar todo "parece que", " pode ser que" e "provavelmente", na va esperanr,;a de que as leitores ficanio imprcssionados com a certeza pos itiva . Alguns professores cortam todas as restn­c;oes. Niio diga que voce acredita ou que acha que a/go e assim. Simplesme1l1e diga / Mas 0 de que a maioria deles nao gosta e de restri~oes qualificando loda e qualquer afirmaC;ao banal. E deve ser reconhecido que, em algumas areas, as limitac;oes sao consideradas mais censuniveis que em outras. Os professorcs e editores que condenam todas as ressalvas simplesmente cstao erra10s quanto a maneira como a mai~r parte dos pesquisado­res cuidadosos relata suas descobcrtas. Todo pesquisador pre­cisa saber parecer confiante com po nderaC;ao, 0 que s ignifica saber expressar os limites dessa confian~a .

Todos estes pontos visam implicitamente 0 que chama­mas sua persona a u ethos - a imagem do seu carater. que os leitores deduzem de seu estilo de escrever e pensar. Poucos ele­mentos influenciam mais significativamente a maneira como eles julgam seu carater do que 0 modo como voce trata as in­certezas e l imita~oes. E preciso jogo de cintura. Apresente Ii ­mitar,;oes demais, e pareceni indeciso; de menos, e parecera presunc;:oso. Infclizmente, a Iinha entre impor Iimitac;:oes e co­meter tal ices e muito lenue. Como sempre, observe como os outros em sua area lidam com a qucstao da incerleza. e cntao aja de maneira semel han Ie .

Page 101: boothwaynec-140923095935-phpapp02

186 It ANTI;' VA PIiSQUISA

10.3 Elaborando um argumento completo

Eis novamente a estrutura completa:

Fundamcnlo ,

r "\ ,

Afinna~ao --r Evidencia

Quali ficacOcs

Lembre~se de que as setas indicam apenas rclac;Oes 16gi­cas, nao urna sequencia necessaria de urn argumento qualquer, c.?' temp~ real. Os arg,umentos em tempo real quase sempre sao defimdos de manClra menos nitida; sao mais discursivos, menos linea res. Os fundamentos sao encaixados oa mesma frase

. como urna afinnac;ao; insinua-se urna reserva como urn aparte entre .p~rente.ses; vari as frases de argumentos convergem para uma umea afmnac;ao. E. 0 que e mais importantc. urn argumen­to g rande e cornplexo e elaborado a partir de argumentos sim­ples de tipos diferentes que dependem nao 56 de fundamentos diferentes, mas de tipos difercntes de fundamentos. Apesar des­sas aparemes diferenC;3s, todo argumento respons3vcl e elabo­rado a partir desses quatro elementos.

Voce pode comec;ar qua lquer argumcnto bas ico com uma afirmac;ao. ou concluir com e la; pode refutar objec;oes no comc­c;o do argumento, no meio, logo antes da afirmac;ao fina l ou ate mesmo depois dela. Suponha que organizemos agora os elemen­tos .do " mesmo" argumcnto de dois modos diferentes. No pri ­melro exemplo. 0 argumento comec;a com uma declarac;ao di­rcta da afirmac;ao (em ncgnto) c a evidencia (sublinhada), depois a qualifica (em italico) e refula as objec;5es (em maiusculas). o se~undo apresenta as qualificac;5es e refutac;oes primeiro e depOis passa para a afirmac;ao. Con forme voce pade vert os efe i­tos ret6ricos sao bastante diferentes:

FAZENDO U.\fA APiRMAcAO I: SUSTENrANOO-A 187

Embora atualmente Franklin D. Roosevelt seja venerado como urn dos personagens mais admirados da hist6ria america­na, evldcncias sugcre m que, na epoca, ele nio foi tio popu­lar qu anto rnuitos aOrmam; na verdadc, nilo fosse pela Se­gunda Guerra Mund ia l, poderia nem ter s ido reeleito para o terceiro mandato. Na final da decada de 1930. mujtas jomais o atacaram por promovcr 0 socjalismo, urn s inal de que qual­quer adrninistra(f:ao modema pode ler problemas com as pes­soas, ou pelo menos entre as segmenlOS mais bem in/armadas. Em 1938. por exemplo. 70% dos jornajs no Centro-Oeste acu­Saram-DQ de Querer que 0 govemo administtas.se 0 sistema baD­~. ( ... ) A menos que esses jornais lassem contra/ados por inleresses parliclt/ares, seus ataques d emonslram q ue Roose­veil nio era ti o amplamente admirado quanto se tern suge­rido reccnlcmente. Reconhecidamente, esses mesmos jornais costumavam louvar seus es/orfos para acabar com a desempre· go. MAS AQUELES QUE ALEGAM QUE ROO$EVEL T FOI AMPLAMENTE ESTIMADQ (NICHOLSON 1982. WIGGINS 1973) AP6IAM-SE MUlTO FORTEMENTE NAS LEMBRAN· CAS DE PESSOAS INTERESSADAS EM ENDEUSA-LO. A levidencia mais confiave1 sugere que Roosevelt estava longe de ser admirado por lodas as pessoas.

Nofinal da decada de 1930, osjornais louvaram Franklin D. Roosevelt por SIlOS tentativas de acabar com 0 desemprego, e alguns pesquislIdores afirmaram recenlemente que na epoca ele era amp/amente e.~timado. (Nicholson 1982. Wiggins 1973). Realmente, nos dias atuais, Roosevelt e vcnerado como um dos personagens mais admirados da hist6ria americana. mas as QUE REIVINDICAM QUE ELE FOI ESTIMADO AMPLA· MENTE PODEM TER-SE APOIADO MU lTO FORTEMEN­TE NAS LEMBRANCAS DE PESSOAS INTERESSADAS EM ENDEUsA-LO. Na vcrdade. mujtos desses mcsrnos ;omajs Que o louyaram alacaram-no por "romovcr 0 socialisIDQ, urn born sinal de que qualquer administra~ao modema pode ter problemas com as pessoas, ou pelQ menos entre os segmenlos majs instruj­dos da pogylaciio. Em 1938. por exemg!o, 70% dos ;omais no Centro-Qeste aeusaram-na de Qyerer Que 0 goyeroQ administras­se 0 sistema bancariQ. ( ... ) A menm· que esses jornais fossem COn/rolados par interesses particulares. os alaques demonstram que Roosevelt Rio era tio amplamente admirado como alguns

Page 102: boothwaynec-140923095935-phpapp02

1 HI< A ANTJi DA P/iSQUISA

sugeriram rcccntemente. Na verdade, algumas evidencias SUM gerem que, nao fosse pela Segunda Guerra Mundial, RooseM velt poderia nao ter sido elelto para 0 terc:elro mandato.

, 10.4 0 argumento como guia para a pesquisa e '8 leitura

A estrutura de urn argumento e de valor inestimavel para ajudaMlo a refle tir ao longo do projeto, do principio ao fim .

I - Seus elementos poderao orientar sua pesquisa . Se con­seguir preyer 0 que precisa incluir no relat6rio - nao 56 afirma­<;oes e evidencias mas fundamentos e ressalvas - . voce podera ler adequadamcntc e procurar nao 56 por sustent3l;ao, mas tam­bern di scordancias para refutar.

2 - Os elementos do argumento 0 ajudarao a ler mais cri­ticamente. A medida que for lendo suas fontes de informa<;Oes. devera fazer as mesm3S perguntas que seus leitores provave l­mente fadio :

Suas perguntas Qual e sua opiniiio? Que a/cance lem a sua

afirmar-oo? Quais siio suas evidencias? o que liga Wi evidencias

a afirma~iio?

Mas e quallfo a ... ? Mas e se ... ? Niio lui lI en/lum p roblema?

As respostas de sua fonte Digo que .. Eu a limito a ...

Apresento como evidencias .. O/erefo este principio ...

Posso refUlar isso. p,·imeiro .. . Minka dfirmafiio pemwnece aU! ... Bem. lenho de admilir que ...

3 - Esses e lementos poderao ajuda-Io a o rganizar suas in­forma<;oes e opin ioes, enquanto voce se prepara para 0 seu pri ­meiro rascunho. Seus primeiros esbo<;os devem enfoear os e le­mentos do argumento.

4 - Os e lementos dc seu argumento poderlo ajuda-Io a identifiear as partes do relat6rio e ori entar 0 rascunho.

1 f-"AZf:NDO UMA AI-1N.MA~O 1:: fJ'USfT!NTANDO-A 189

5 - E. por fim, os elementos do argurnento poderao aj udaM 10 a prevcr 0 que os leitores pensarao a seu respeito, porque nada revel a mais sobre 0 carater de urna pessoa do que a maM neira como essa pessoa tenta convencer os outros a mudar de opmiao.

10.5 Algumas palavras sobre sentimentos fortes

Nos ultimos capitulos, expusemos urn exemplo de argu­mento enfatizando uma 16gica rna. Em muitas areas - a de cien­cias naturais, por exemplo - nada e mais altamente valorizado do que urn argumento que passe de uma evidencia confiavel para uma afirma<;ao importante de maneira paciente, imparM cial e, acima de tudo, 16gica. Mas todos os leitores reagem com mais do que 16gica fria quando sentem tambem, num argumen­to correto, 0 calo roso envolvimento do pesqui sador com 0 que cle acredita ser a verdade . Quando os leitores encontram num argu~ento nao s6 a voz da razao, mas s inais de envolvimento, ou mesmo de paixao, quando a paix50 e requerida, eles pres­tam mais aten<;ao a esse argumento do que a outro que pare<;a ter a mesma corre<;ao intelectual . mas e frio, apatico. Essa e uma questao que oao pode scr ignorada em neohuma diseusM sao de argumento.

Mas lambern e uma qua lidade do di seurso quase impos­sivel de ser ens inada diretamente. Ao avaliar a 16gica de urn arguM mento, 0 seu logos, voce pode procurar as partes dela oa pagiM na, reeonstruir as partes que nao conseguir encontrar, analisar suas rela<;Oes e, entao, dec idir se 0 autor ganhou sua aprova­<;ao. Ao analisar urna argurnenta<;ao dcsse modo, voce se cnvol­ve no mesmo tipo de raciocinio que esta estudando e avaliando, e, se sua anali se for contestada, podera examinar criticamenle seu pr6prio racioci nio da mesma mane ira que fez com 0 do autor. Po r outro lado, ao avaliar a for<;a do envolvimento pes­soa l do autor com sua afi rma'Vao, voce s6 tern como evidencia uma rcsposta imediata, inconsciente c intuit iva. Apenas a par­tir de sua pr6pria rea<;ao ao pathos de urn argumento - uma rea-

Page 103: boothwaynec-140923095935-phpapp02

190 A ANTE VA PESQUISA

~ao que para os outros talvez parec;a nao-16gica, ou ate mesmo 116gica - , voce podeni decidir se conjia verdadeiramente na sinceridade do auler. 0 limite entre a sinceridade fingida e a autentica c dificil de dcscobrir. No jogo do cinismo, quem for capaz de fingir s inceridade semprc saini ganhando.

Se tivessemos urna maneira segura de desco6rir a ins;n­ceridade, ou de assegurar que sellS (chores perceberao em sua prosa urn compromisso verdadeiro, nos Ihe diriamos. Mas nao temos como faze-Ie. Apenas podcmos repetir 0 que os mestres da ret6rica, desde Arist6teles, lern dito: todo argumento dependc de tres recursos: seu logos (I6gica), seu pathos (componente emocional) e seu ethos (0 carMer perceptivel do aUlar). E sao esses tres que lecem a convic~ao de nossos le itores.

Sugestoes uteis: Argumentos - duos ormadi/has comuns

Os argumentos falham por muitas razOes, mas para as pes­quisadores sem experiencia as duas mais comuns sao as que sc seguem.

Eviden cia impropria

Se voce esta trabalhando numa area nova e ainda nao se familiarizou com seus tipos earacteristieos de argumentos, e fneil recorrer as formas de argumenta~ao que ja conhece. Toda vez que entra numa area nova, voce preeisa descobrir 0 que e novo e diferente quanto aos tipos de argumentos que seu pro­fcssbr espera que voce crie . Se voce aprendeu na aula de recla­~ao do primeiro ano a procurar evidencias em sua experiencia pessoaJ e, entao, com base nessas recorda~oes, apresentar opi­niOes sobre assuntos de ambito social, nao pense que pede con­fiar no mesmo processo para cnar argumentos persuasivos em areas que enfatizam udados objetivos", como na ps ico logia ex­perimental Por outro lado, se como aluno de psicologia ou biologia voce aprendeu a reunir dados, sujeitci-los a analise estatistica e evitar atribuir-Ihes seus pr6pn os sentimentos, nao pense que podeni usar 0 mCSrnO metoda para elaborar urn born argurnento sobre hist6ria da arte.

Isso nao significa que 0 que voce aprendeu num curso seja inutil em outro, 56 que e preciso observar as diferen~as entre as areas. Voce deve ser malcavei 0 bastante para adaptar-se ao que e novo numa area e, ao meSrnO tcmpo, confiar nas habili ­dades que tern. E possiveJ prever esse proble ma, durante a lei­(ura, reparando nos tipos de evidencias que os autoTes apresen­(am para sustentar suas afi rmal;oes. Eis aqui alguns tipos de evidencias em que reparar nas diversas areas :

Page 104: boothwaynec-140923095935-phpapp02

192 A ARTl:' Dtt P£SQUJSA

• Convicr;oes pessoais e epis6dios da vida dos pr6prios autares, como numa au la de reda~ao do primeiro ana.

• Dados documentais detalhados. rcunides numa hist6ria coerente. como em algumas descri cOes de historia .

• Dcscric;oes minuciosas do comportamentQ cotidiano. como em antropo logia . '.

• Resumos quantitativos sabre gmpos soc ia is, como em sociologia.

• Oados quantitativos visando urn resultado unico, como em cngcnharia.

• CitacOes diretas, como na maioria das c icnc ias humanas . • Uma sen e de significados interli gados, reunidos num con­

junto aparen tcmente di screpante de c it3coes, como na critica liteniria .

• Conjuntos de principios, implicac;oes. infen! ncias e con­c1usoes independentes de dados factuai s, como em f i­losona.

• C itac;Oes e tex tos cmprestados de outros autores, como em advocac ia.

E da mesma maneira importante notar qua is os tipos de evidcncias que 1Iu llc a aparecem nos arg umentos de sua area . Narracao de casos anima explicac;oes socio l6gicas. mas nonnal­mente nao se rvem como boas evidencias; as narrativas minu­ciosas de eventos de laborat6rio nao con tam em fisica; uma serie de princip ios 16gicos e conclusoes nao c suficiente em engenharia quimica.

SimpJicidade confortavel

Quando voce 6 novo numa area, tudo pode parecer con­fuso. Assim como todo 0 mundo, numa circunstancia dcssas, voce procurara a simplicidade - urn metodo familiar o u uma resposta nao ambigua, qualquer simplificac;ao que 0 ajudc a enfrentar a complex idade. E, ass im que a encontra, e prov3ve l que simpli f ique demais. Ao comecar sua pesquisa, saiba que

r , MZENDO liMA AHRMA(:AO /:.' SUYICNTA NDO-A 193

nenhum efeito cornplexo tern urna causa u.nica, naO ambigua; ne­nhuma pergunta sena tern uma resposta simples e tinica; nenhum problema interessante pade ser resolvido atraves de urna meto­dologia unica e s imples, nem tern uma u.nica soluc;ao. Procure as ressalvas; formule ao menos uma soluc;ao altcrnativa pam seu problema; pergunte se alguem mais na area aborda seu proble­ma de maneira diferente.

Tendo se familiarizado com os metodos de investigaC;ao da area, com seus problemas tipicos, escolas de pensamento e assim por diantc, voce comec;ara a ver sua estrutura 16gica e conceitual. Mas, quando aprender mais, descobrira urn segun­do tipo de complexidade, a complexidade das solu~oes confli­tantes, metodologias conflitantes, metas e objetivos conflitan­tes, caracteristicos de uma area de investiga~ao viva. Q uanto mais voce aprende, mais reconhecc que, ao mesmo tempo em que as eoisas nao sao terrivelmente complexas, como pensou no ioieio, tambCm nao se mostram lao s imples quanta cspcrava. E nesse momento que 0 pesquisador iniciante sucumbe a uma outra classe de generalizaC;ao exagerada. Uma vez que apren­deu a elaborar urn tipo de argumento nessa area, tenta repetir sempre a mesmo argumento. Saiba que as circunstancias dife­rem sempre; que, embora os dados de urn caso possam se pare­cer com as dados de outro, e prov3vel que sejam diferentes, de muitas maneiras surpreendentes.

Page 105: boothwaynec-140923095935-phpapp02

PARTE IV

Preparando-se para redigir, redigindo e revisando

Prologo: Planejando novamente

NENHUM A FORM UL A POD E LH E INDICAR quando comec;ar a redigir. Booth cornec;a "muito cedo"; depois, logo que suas ideias tornam-se mais claras, enfrenta 0 desagradavel problema de se desfazer da maior parte do que escreveu. Colomb e urn inve­lerado cn ador de esboc;os, chegando a fazer uma dezena deles e do is ou IreS "resumos antecipados". Williams experimenta lantas versoes quanto Booth e Colomb, mas apenas mentalrnen­Ie, pois ele redige a medida que pesqui sa, s6 comec;ando urn rascunho serio quando tern uma visao do conjunto .

P.-cparando-se para 0 primciro rascunho

Nao podernos ensinar- lhe nenhurn truque para se saber quando comec;ar a redigir, mas voce pode se preparar para esse momento dificil se for fazendo anotac;oes, resumos e criticas desde 0 prirneiro instante. Estara pronto para comec;ar urn pri­meiro rascunho serio quando ti ver urn plano, por mais impre­ciso e incompleto que sej a - em sua cabec;a o u no papel: urn esboc;o, urn resumo antecipado ou ate mesmo apenas uma idcia geral da forma dele. Esse plano deve refle tir :

• Uma imagem de seus le itores. 0 que eles espcram; 0 que e provavel que saibam ou presumam; q uais sao as opi ­nioes dclcs; por que dcvcriam se preocupar com seu pro­blema. (Revej a os Capitulos 2 e 4 .)

Page 106: boothwaynec-140923095935-phpapp02

196 A ARTJ:- DA PESQUISA

• Uma impressao do carater que voce quer projetar. Voce se apresentara como alguem apaixonadamente compre­metido com urn ponto de vista, au como urn observador imparcial que examina todas as alternativas antes de che­gar a uma conclusao? (Reveja 0 Capitulo 10.)

• Uma perglm/o que indique algum lapso do conhecimen­to, alguma falha oa compreensao que voce quer preen­chef. (Reveja 0 Capitulo 4.)

• Sua afirma(:iio ou proposi(:iio principal e algumas das subafirma(:oes que a sustentam. Podem seT provis6rias, como a melho r suposi~ao passive) para uma resposta a sua pergunta . Mas e melhor comer;ar com uma afirma-930 que voce sabe que podem abandonar depois, do que comec;ar sem nada. (Revej a a Parte HI.)

• A sequencia das partes de seu relatorio, que e 0 assunto dos Capirulos II e 13. Alguns re latorios tern as partes es­pecif icadas em uma determinada ordem, mas para outros voce precisan\ criar sua propria estrutura. Em todo caso, antes de comec;ar a redigir, defina as partes que planeja te r, como elas se sucedem e como as infonnacoes que voce reuniu encaixam-se nelas.

Antes de comec;ar a redigir, voce deve ler algumas idc ias sobre esses e lementos, mas elas nao precisam ser detalhadas, porque voce com certeza ira desenvolve-Ias quando estiver es­crevendo. Em alguns relat6rios (por exemplo. urn relatorio de laboratorio com urn unico resultado definitiv~) voce poderia te r certeza de sua proposiciio principal e d.e seu argumento antes de redigir, mas em o ulros, especia lmente nas areas de letras e c iencias sociais, pode esperar - e ate mesmo ter quase certeza de - que, ao escrever, mudani sua propos icao central , tal vez varias vezes, descobrindo algo novo e mais interessante em ca­da oporrunidade. Escrcver e urn meio, nao de relatar 0 que se acumulou em sua pilha de anotal;oes, mas de descobrir 0 que voce pode faze r com aquilo tudo.

PRJiPANANOO-SJ:: I~AHA HHOIG/H. RI:VIG'INVO I!' Rl;."V1SANlXJ 197

o processo de redacao

Do mesmo modo como p lanejamos de maneiras diferen­[es, assim tambem temos varias maneiras de escrevcr. No en­tanto, muitos autores expcrientes segucm dois principios.

• Primeiro, c les respeitam a complexidade da tarera. Nao esperam passar direto por todo 0 processo ate chegar ao texto final. Sabcm que, a medida que forem desenvo l­vendo seu trabalho, poderao descobrir algo novo que os obrigani a repensar seu projeto .

• Segundo, e les sabem que grande parte do que forcm es­crevendo desde 0 inicio ira parar no cesto de lixo; assim. comecam a rese rvar tempo desde cedo para becos sem saida, re to madas, ideias novas, pesquisas posteriores e a revi sao - espec ialmente a revisao - porque sabem que 0

trabalho realmente produtivo comeca depois que eles vecm nao 0 que e les pensam que sabcm, mas 0 que sao final -

1 mente capazes de dizer.

Assim. quando comec;am a redigir. e les te rn em mente mais a lguns principios:

• Redigem 0 mais rapido possive l dentro do razoave l, de i­xando questoes como ortografia, pontual;ao, gramatica e outms para depo is.

• Levam em conta as reac;oes das pessoas em que confiam. • Acima de tudo, muito tempo antes de terem chegado a

esse po nto. ja estava m redigi ndo. no decorrer de toda a pf'squi sa.

Ate mesmo autores experientes acham que 0 prazo de en­trega chega muito nlpido . Todos gostariam de teT rna is urn meso lima semana, 56 mais urn dia. A lguns podem dedicar toda a carreira a um unico problema c, mesmo assi m, quando preci­sam entregar 0 traba lho, acham que nao houve tempo para suas idcias amadurecerem. Redigindo antes de achar l ue seu traba-

Page 107: boothwaynec-140923095935-phpapp02

198 t'I t'I/(17:: VA PESQUIS/4

lho esta terminado, voce tambem se sentira frustrado. mas nao tanto se considerar seu relatorio nao como urna pedra preciosa a ser infinitamente polida, mas sim como urn tij olo a ser acres­centado na constru~ao de urn conhecimento maior. Nenhum pesquisador. nem mesmo 0 melhor, tern a iiltima pa1.avra. fe liz­mente para todos n6s. Se a tradi~ao da pesquisa lios ens ina alguma coisa. e que a Verdade sempre encontra uma maneira de mudar. 0 maximo que podemos esperar e que 0 nosso rela­t6rio provis6rio scja 0 rnais c laro, completo e proximo do que julgamos correto: Depois de 'odos os meus esforros. aqui eS fa o que acredito ser a verdade - nao toda a verdade. mas uma verdade importanle para mim e para os meus Jeitores. uma ver­dade que lenfeijustijicar da me/hor maneira possivel e expres­sar eom c/areza suficiente para que e/es encontrem em meu argumenlO bons motivos para concordar ou pe/o menos reeon· siderar aquilo em que ac.reditam.

Sugestoes uteis: Preparando 0 esbofo

o esbOfYo pode ser uma de suas ferramentas mais impor­tantes, mas tambem pode ser urn aborrecimento. Nos tres nos lembramos de quando cramos novatos, fo~ados a fazer urn da­queles esboc;:os chlssicos: titulos principais numerados com algarismos ra manos, cada nivel com seu recuo de linha defi­nido, nenhum subtitulo "A" sem urn "B" correspondente. (Cla­ro que, na verdade, faziamos 0 rascunho primeiro, em seguida o esboc;:o, depois afirmavamos que haviamos feito a contn'irio.)

Mas, ass im como urn esb~o formal , usado no momento errado, nao tern utilidade , a maioria de nos so pode comec;:ar a redigir depoi s de ter a lgum tipo de esboc;:o, nao importa com que rivet de detalhamento. (Nos pr~ximos tres capitulos, vamos discutir a lguns modos de dcscobnr urn born esbo~o.) A esta altura, e suficientc saber distinguir entre urn esboc;:o baseado em lopieos e outro baseado em afirmafoes principais e saber quando cada urn toma-se titil.

Urn csboc;:o baseado em topicos consiste de urna serie de names ou frases nominais:

I - Introduc;:ao: Os processadores de textos na sala de aula

II - Usos dos processadores de textos a) No laboratorio b) InstrUl;ao oa sala de aula c) No a lojamento

III - PC versus Mac a) Metodos de estudo b) ConcIusiio do estudo c) Questoes sabre 0 cstudo

IV - Estudos para revisao a) Estudo A

Page 108: boothwaynec-140923095935-phpapp02

200

b) Estudo B c) Estudo C

V - Minha experienc ia VJ - Pcsqu isa de classes

VII - Conclusoes

A A Inl,,: 01'1 l~cSQ{//~

, "

Esquelelos desse lipo ajudam na fase inieial de reflexao e planejamento, mas auxiliam poueo no avanc;o de urn t6pico para uma pergunta e da! para 0 raseunho . Quanto mais voce estiver pronto para eserevcr, mais deve foea lizar 0 esb<x;o em suas proposi.-;oes, que serao as subafirmac;oes mais importantes de seu argurnento. Observe 0 t6pico IV aeima: "Estudos para re­visiio". Aeha que c le 0 ajuda a predizer que argumentos 0 autor usani? Urn esboc;o baseado nas questOes enos t6pieos daria um resu hado melhor:

1- Introdu.-;ao: Incerteza quanto a utilidade dos proces­sadores de tcxtos em urna sa la de aula .

\I - Usos diferentes tern efe ilos difercntes a) Todos os usos aumentam a flexibilidade:

- para os alunos (rev isoes, possibilidade de ex­peri men tar ideias)

- para os professores (tarefas de rcvisao, CQmen­tarios de re lat6rios)

b) Os eomputadores de laborat6rio em rede per'mi­tern a interac;ao entre os a lunos.

c) A instru.-;ao na sala de aula nao melhora 0 apren­dizado .

III - IBM ou Mac produzem relat6 ri os mais cuidadosos? a) Os metodos de pesqui sa d iferem. b) Urn estudo conc1ui que a " interface gnifica" dei­

xa os estudantcs fUlcis ou alrai mais estudantes ftJteis.

c) As conclusoes sao incertas porq ue: - nao ha controle sobre as amostras - nao fo i feita a di stincao entre "fUti!" e "criativo" - baseiam-se demais na "imagem"

I PRt'PARANDO-SI:: PARA R};DICiIH. NI:.DIGIN [)() 1:." R};"VJ~NLX) l01

IV - Os estudos mostram que os beneficios sobre a revi­sao sao limitados. a) Estudo A: autores mais prolixos. b) Estudo B: autores precisam do lexto copiado em

pape l para fazer urna boa revisao. c) Estudo C: os verificadores de ortografia e gra­

matica dao aos alunos uma falsa sensacao de se­guranc;a.

V - Os estudos ignoram a tensao emocional dos a lunos que ainda nao usam processadores de textos.

VI - A pesquisa mostra que os melhores alunos sao aque­les que usam processadores de textos com maior frequencia .

VII - Conclusao: E muito cedo para dizer ate que ponto os processadores de texto me lhoram 0 aprendizado. a) Po ucos estudos empiricos eonfiave is. b) Poueos hist6rieos; programas demais em transi­

c;ao. c) As questoes basieas nao foram cstudadas.

Esse esboc;o e mais adequado, nao s6 porque o ferece mais informa.-;oes, mas tambem porque mostra as rela.-;oes entre proposiCOes. Com esse tipo de csbo.-;o, voce tambem ve melhor onde as proposifYoes se afinam e o nde nao. Nao menos impor­tante, porque cada proposi~ao e uma afirmafiio em algum ar­gumento, voce tera de sustentar cada uma delas com evidencias, o que motivara cada etapa de seu trabalho. E claro que voce talvez nao seja capaz de fazer esse tipo de esboc;o antes de ter­minar 0 rascunho, mas a cssa altura ele e especialmenle uti!.

Autores sem expericncia costumam achar que 0 unico momenta para fazer 0 esb~o e imed iatamente antes de come­.-;arem a redigir 0 rascunho. Mas diferentes tipos de esboc;os fazem parte do projeto. do comec;o ao fim .

Page 109: boothwaynec-140923095935-phpapp02

202 A AR11:: DA PESQUlSA

Proposic;Oes, afirmac;:6es, solu(',:6es. resposlas, e oulros lermos para suos ideias mais importanles

Guando disculimos os a rgumentQS, no Porle IU , usomos a ter­mo ofirmo<;60 relerinda-nos a Frase ou froses que comp§em a d& ciaroc60 que seu orgumenro suslenlo. Tombem sugerimoS a e lobo­ro¢o de urn esbo;o de sua afirmac;:6o principal e pririCipais sub­o firmo<;Oes. A Q(dem dos elementos nesse esbo.;o de seu a lguman­to pede ser d iferente do esbo;o de seu relo16rio. mos sues a firma­c;:ees e subofirmoc;6es devem oporecer em ambos.

Quando disculimos as perguntas e as problemas no Porle II, tombem usomos as !elmas resposla e 501u;00 pora nos re ferirmos a Irose au frases que resolverom a questoo_ Esse resposta au solu­c;60 tombem ser6 a ofirmoc;ao principal de seu o rgumento e a pro­posi!;60 principal de seu relot6rio.

Usamos varias defini<;6es para as mesmas froses porque coda fermo define essos froses--chove de um o ngula diferente. A maiorio dos relata/ios, de pesquiso ou noo, opresenta praposic6es - primeira. umo proposi<;60 principal, que e 0 centro do relalar io inteiro, e de­pois subproposi<;6es que sOO a centro de coda sec60 e poragro' fa . A proposi<;60 de seu relotario (ou de umo se<;oo ou poragrofo) e sua ideio mois importonte, suo questeo essenciol. a fros~, ou Iro­ses, que suslenlO lodo 0 reslO. Em urn relol6riO de pesqujso, sua pro­pos~60 principal e suos subprofX>sic;6es mois importonles !iefaC tom­bern ofirmot;6es que voce sustenlo com evidencios. Sua praposic;aol afirmoc;oo principal tombem sera sua res posta 0 suo pergunto de pesquisa, 00 a soIuc;:60 poro 0 seu problema de pesquiso.

A.s proposiC;6es recebe.om lonlos names pc:xque est60 no bose do 1000<;60 de relot6rios eficozes . Voce tomrem pede est~r fomi­liorizodo com 0 lermo /ese. Suo lese principal e 0 mesmo coiso que suo proposic60 principal , que e 0 rnesrno que a ofirmo<;oo princi­pal em seu o rgumento. Outro lermo em que voce pode pensor e sentenc;e 16pica . Umo semen<;a lopico e normolmenle a croc;ao rnais importonte de urn porogralo. Noo fora nenhum mol voce pen­SOl em resposlo, 5O/U<;l:)0, ofirmocDo, proposipjo, lese e 5en1em;;o fopico como significondo mois ou menos a mesmo coise

[

Capitulo II Pre-rascunho e rascunho

Se seglliu nosso conselho desde 0 inicio, voce jii redi­giu Mtame e agora tern urn ruto que pode cansiderar como rascunho. Mas, se estii tendo dijiculdade para comet;ar. este capitulo devera ajlldil-Io. ;ndependenremcnte de voce estor em .feu primeiro au vigesima prajelo de pesquisa.

NADA E MAt S FAC tL DO QUE ADtAR SE.U PRtMEIRO RASCUNHO

- S6 mais uma semana de le itura, voce pensa , mais um dia, uma hom; assim que terminal' esta x icara de cafe, estarei pronto para me concefllrar em preparar 0 rascll flho . E. a longo prazo, nada com certcza Ihe dan" maior afli eao. Escrever e dificil . sem duvida mais dificil do que continuar leodo_ Ainda assim, chega 0 momento em que e prec iso comccar, e voce comeca­ra rriais facilmente sc ja estiver cscrcvendo desdc 0 inicio c fizer urn euidadoso planejamcnlo agora .

11.1 Preliminarcs para 0 rasc unho

Ternos enfatizado a importancia de p lane jar sell projeto, embora voce saiba que paden. tcr de muda-Io. Com 0 raseu­nho nao c diferentc. 0 trabalho de rascunhar prosseguin'i com maior rapidez se voce tiver um plano, em vez de simplcsmen­te sentar-se e lentar pensar na primcira palavra.

I J J. J Saiba quando voce eSf6 promo

Voce sabera que esta pronto para planejar urn primclfo rascunho serio quando tiver ulna vaga impressao dos elemen­tos que ali nhamos 110 pr610go: lima pergunta de pesquisa , uma possivel resposta C urn corpo de evidencias para sustentar a

Page 110: boothwaynec-140923095935-phpapp02

204 A AKJl!" VA PliSQUISA

resposta. Tambem ajuda teT urn esboc;o que disponha urna se~ qliencia de proposi~Oes. Se voce e urn pesquisador experiente. tambCm deve teT pcnsado sobre:

.. os principaisjimdamentos que seus leitores r~m de ace i­tar antes de aceitarem suas evidencias e afirma~oes,

• as objefoes que voce precisara refular e as que nao po­demo

Alguns pcsqui sadores organizam as ideias sobre cada ele­mento antes de escrever uma unica palavra, especialmente quan­do sua pesquisa envo lve uma analise quantitativa que produz urn resultado que rcquer certa imerprelat;:ao:

Qual e 0 efeilo de usar urn capacete de rnotociclisla? Mo­tocieliSlas que usam capaeeles sofrem 46% menos ferimenlos seri os na eabeca do que os que nao usam _

Mas, quando seu rclat6rio exige que voce sinte tize fontes. ocupe-se de analise conceitual, interpretacao, julgamento e ava­liayao, pode ser que voce nao tenha urna pereepyao clara de seus resultados antes de corneyar a redigir. Pode ser que nem tenha mesmo urna ideia clara de seu problema. Nesse caso, 0 ate de redigir e 0 que 0 ajudara a anali sar, interpretar, julgar e avaliar.

Pode esperar momentos de incerteza. Como lidara com eles vai depender das razOcs para sua confusao. Mais prova­velmente, seu problema sera nao ter certeza de que tern uma proposit;:ao boa 0 sufi ciente para apreserltar. Nesse caso, recor­ra aos eapilulos anteriores para trabalhar em seu argumcnto . Revise as perguntas que voce fez. Elabore-as novamente. Se tern proposit;:oes, mas nao esta seguro de que elas levem a urna pro­posiC;ao principal boa, volte atras e fa~a urna amlli se acurada , perguntando-se como todas essas proposi~6es afetam sua ques· tao. Se voce tern tres boas candidatas a proposic;ao principa l. escolha a que mais Ihe interesse, ou, melhor, aquela que voce acha que vai interessar ii maioria de seus leitores.

PREPARANDO-S£ PARA REDIGIN, REDIGINDO 1;." RJ:NISANIXJ 205

Voce sabera que esta pronto para planejar urn primeiro texto quando liver suficientcs evidencias para sustentar urna proposi~a.o que pode seT deserita assim:

.. E suficientementc concisa para caber numa frase au duas .

.. E contestave l. nao patente, precisa de suas evidcncias. .. Exprcssa em palavras especificas os conceitos centrais

independentes que voce pode desenvolver no corpo de seu relat6rio .

• Nao depende, para ter peso, de palavras como " interes­sante", "significativa", ou "importante", e suas definit;:oes conceituais vao alem de abstrac;oes como "a relat;:ao en­tre X e Y" o u "a influencia de X sobre Y".

11.1.2 Texlo preiiminar versus texro final

Antes de descrevermos 0 processo do planejamento, temos de difer novamente que muitos autores experientes comecam a redigir muito tempo antes de podercm responder a quaisquer de suas perguntas, porque estao dispostos a investir tempo em urn processo que, acreditam, ira conduzi- Ios as respostas. Mas fazem isso sabendo que terno de cortar do rascunho final g ran­de parte do que escreveram. Entendem que, nos rascunhos ini­ciais, irao resumir apenas fontes e regi strar especulat;:Oes, fal ­sos pontos de partida e pensamentos que Ihes ocorrem a qual­quer momento. Sabem que 0 rascunho inicial s6 se parecera ligeiramente com 0 final. Portanto, comec;am cedo.

Nunca desencorajariamos quem quer que fosse de fazer 0

mesmo, mas 0 risco do texto pre liminar e que voce se torna tao preso a ele que nao consegue deixa-lo de lado, ou pi~r, pode nao reconhecer que se trata apenas de uma narrativa de sua indagayao e, ainda pior, 0 prazo que se esgota podera fort;:a-Io a converte-Io em seu texto final. Redigir textos preliminares pode ajuda- Io a deseobrir coisas com as quais nem sonhou, mas isso nao se ra eficaz se 0 prazo de que voce dispoe Jhe per­rnitir apenas redi gir urn rascunho ou doi s. Se voce quiser che·

Page 111: boothwaynec-140923095935-phpapp02

A ANn:: DA PHSQUJSA

gar a urn rascunho final de maneira mais eficaz. entao preci­sara planejar com mais cuidado .

11 .2 Planejando sua organiza'tao: quatro arm~dilhas

Pesquisadores iniciantes costumam ter problemas para or­ganizar urn ptimeiro rascunho porque estao aprendendo a redi­gir e ao mesmo tempo descobtindo sobre 0 que escrever. Como conseqiiencia, em gcra l se perdem e se apegam a algum princi­pio de organizac;ao que Ihes parec;a seguro. Existem algumas boas regras basicas para plancjar urn rclatotio. mas tambem ha quatro principios comuns de organizac;ao que voce nunca deve conside­rar como urn recurso principal - ou ate mesmo secundario.

11 .2. 1 Repetir a tareja

Pesqui sadorcs iniciantes gera lmente organizam seu rela­Iorio literalmente dl: acordo com a estrutura da tarefa . Se sua tarefa relaciona q uatro propos ic;oes que serao consideradas, organize seu rclat6rio em torno del as apenas se a larefa assim o exigir e apenas se voce nao conseguir pensar em nenhuma outra maneira . Sc a larefa Ihe pedir para comparar A c B, nao considere que seu re lat6rio precisa le r duas metades, uma para A, outra para B, e nessa ordem. E sob nenhuma circunstancia repita a larefa palavra por palavra em seu primeiro paragrafo. como oeste exemplo.

A.\· larefas desiglladas pdo orientador:

Difercnles Icorias da percep~ao alribuem pesos di ferentes a mediavao cognili va no processamcnlo dos dados sensoria is. Algumas afirmam que aS dados cnegam ao cerebra scm inler­ferencia; outras, que os orgaos recepiores sao sujeitos a uma mediavao eognit iva. Compare duas au Ires leorias da percepc;ao visual . au ricu lar ou lalil quc Icnnam posil;Oes difcrenles nes'e assuTllO

PREPARANDO-S/:: PARA REDlG·fR. RWIGINUO Ii RliVlSANOO 207

Parcigrafo de aber/ura do aluno:

Difcrentes leoricos da pcrcep<;ao visual alribucm pesos di ­ferentes ao papel da media~ao cognili va no pracessamenlo dos dados sensoriai s. Nesle relatorio, irei comparar duas Icorias de pcrcep<;ao visual, uma das quais (Kinahan 1979) afirrna que 0

estimulo chega ao cerebra sem media<;ao, C oulra (Wright 1986. 1988) que afi rma que a cogni<;ao influencia os receplores visuais

11 .2.2 Resumir as jomes

Se voce te rn pouca familiaridade com urn assunto ou com tOOa uma area, e provavel que confic em suas fon tes com maior facilidade do que deve. Cada tipo de pesquisa oferece urn tipo de problema diferente.

Na pesquisa em biblioteca , cv ite basear seu re lat6ri o em rcsumos e c itac;oes, espccialmente ao redigir a primeira mctade do re latorio, quando apresenta 0 " pano de fundo". A pi~r ex­

pres~ao dessc impulso e chamada de "encher lingu.i~a". Voce alinhava citavoes de uma dezcna de fontes , uma depo ts da outra, de uma forma que refletc pouco 0 seu proprio pem;amento. Os professores, ao verem apenas resumos e parafrases. chegam a urn vered icto definitivo: Islo con/em s6 resumos. nenhuma ana­lise . Algumas areas requerem que voce levanle 0 que os oulrOS disseram, mas nesses resumos seu orientador ira procurar 0

seu angulo. Voce nao pode deixar sua contribuic;ao para 0 final. dando-a em algumas poueas frases.

Na pesquisa de campo, nao re late simplesmentc as obser­vacoes, nem repita apenas e itac;ocs de entrev istas. Aqui tam­bern sua cootribuic;ao prec isa aparcccr ao fango de todo 0 seu relatorio, de acordo com os principios de selecao que voce apli ­ca a seus dados. Por cxemplo, se estiver fazendo urn re lat6rio sobre as re la~oes humanas em um loca l de (rabalho. voee nao pode ra dcscrever tudo 0 que observou. Precisara selee ionar e organizar suas observac;oes c entrev istas para refletir sua ancl­lise do que c importantc. Use as observa~oes pa ra Sllstentar sua analise. em vez de substitui-la.

Page 112: boothwaynec-140923095935-phpapp02

208 A ANTE DA PESQUISA

Na pesquisa de laboratorio, nao va soterrar seus resul. tados com urna narrativa de sua atividade no laborat6rio. Sua contribuiCao devc aparecer em urna exposic;ao de seu metoda. que seleciona apenas os detalhes importantes. Nao misturc metodas, resultados e as passos em falso que ~eu durante 0

caminho. "

11.2.3 Estrufurar seu re/alorio em lorno de seus dados

Voce pode reconhccer esse problema ao organizar sell rc­lat6rio em torna das pcssoas, dos lugares ou das coisas mais previs iveis em sellS dados, em vcz de se perguntar se nao pode­ria reorganizar suas infonnac;:oes em novas categorias, que re­fle tissem suas afirmac;:oes com maior exatidao, ou que fossem mais interessantes aos seus leitores.

Suponha que voce esteja escrevendo sobre sonhos, imagi­nac;ao, Freud, Jung, variavcis sociais e biologicas. 0 principio de organizac;ao a que alguns poderiam se prender de imediato seria reservar a primeira metade para Freud, e a segunda para Jung, porque seus nomes sao os mais reconhecivcis. Essa or­dem poderia ser interessante a leitores que fossem particular­mente interessados em Freud e Jung, mas e tao previsivel quc poderia minimizar sua contribuic;ao e deixar de mostrar aos leitores como voce qucr que eles entendam 0 material no con­texto de sua afirmac;ao. Urn segundo principio poderia ser usar a primeira metade para as variaveis sociais, a segunda para as bio logicas. Mas, se voce afirmar que "os sonhos dependem mais de variave is biol6gicas, a imaginayao mais de variaveis socia is", entao deveria organ izar seu relatorio nao em torno de Freud e Jung, ou nern mesmo das variaveis sociais e biologi ­cas , mas em torno dos sonhos e da imaginac;ao.

Antes de voce definir seu esboc;o, passe alg um tempo or­ganizando e reorganiza ndo sellS dados em categorias, como urn exercicio que poderia ajuda-lo a atingir 0 ponto de vista mais interessante para seus leitores. Que ordem de categorias refle­[iria melhor as categorias de sua afirrnar;ao? Voce poderia ate

PREPARANDO-SE PARA REDIG IR, REDIGINDO H REVISANDO 209

mesmo descobrir uma afirmac;ao mais interessante do quc a que vern tentando propor.

J 1.2,4 ESlruturar sell re/a/orio em lorno de lima narra/iva sabre a sua pesquisa

Nao redija seu relatorio como se estivesse, atraves dos rc­gistros de sua pesquisa, narrando urna escavac;ao arqueologi­ca. Poucos leitores estarao interessados em urn relato passo a passo do que voce descobriu prirneiro, dos obstaculos que su­perau, do novo carninho que procurou e, entao, de como encoo­trou urna resposta. Esse tipo de oarrativa pode ins inuar-se em seu relatorio, se voce rnantiver suas anotac;ocs como camadas de urna civiliza~ao e redigir seu relatorio levantando-as urna de cada vez, registrando cada passo.

Voce vera sinais dcsse tipo de problema em uma Iinguagem do tipo 0 primeiro assunlO pela qual me interessei fo i ... , Entao comparei ... Ponha urn ponto de interrogac;ao em cada frase que se ref ira especificamente ao que voce fez, quando conduziu sua pesquisa, ou que explicitamente se refira aos sellS atos de pen­sar e escrever. Se encontrar muitas referencias desse tipo, tal­vez oao esteja resol vendo seu problema, mas, provavelmente, contando uma historia sobre s i mesmo. Corte as fcases que nao ajudem seus leitores a entenderern seu argumento.

Voce pode evitar esse tipo de problema anal isando seus dados a medida que os reune.

11.3 Urn plano para 0 rascunho

A seguir, apresentamos urna serie de passos numa sequen­cia que voce nao deve eonsiderur como fixa. eoloque-os numa ordem que alenda a suas proprias necess idades, mas procure incJuir todos.

Page 113: boothwaynec-140923095935-phpapp02

210 A. Af(fE DA. PESQUISA

J 1.3.1 Determine onde loca/izor sua proposifQO

Se voce liver urna pcrceN30 de sua afinna.-;;ao principal, expresse-a, por mais vaga que seja, e dcpois decida onde a cnun­ciara pela primeira vez. Falando praticam<:<nte, v~ sO tern duas esco lhas: '.

• oa introdu~ao. especificamente como ultima frase (nao como primcira), de forma que sellS leitores saibam para onde voce pretcnde leva-los;

• na conclusao, de forma que voce s6 revela a sellS le ilo­res aonde pretendia chegar depois que suas evidencias, aparentemente de mancira inevitavel. tenhanHlos levado ate It\ .

Essa c uma esco lha fundamental de organizacyao, porquc define 0 contralo social que voce faz com sellS leitores. Sc expressar sua proposic;ao principal - sua afirmayao principa l, a so luc;ao de sell problema, a resposta a sua pergunta - ao Icr­mino da inlrodUl;ao, voce estan'i. dizendo a eles: Lei/ores. agora voces tern a cOlllrole desle relalario. Conhecem em /inhas ge­rais 0 meu problema e sua solu{:iio. Poderiio decidir como - ou ale mesmo se - COlllinuariio a ler:.

Por outro lado, se esperar ate a conclusao para enunciar sua proposic;ao principal, voce cstabe lece uma relac;ao muilo diferente - e mnis contTolada~ Leilores, conduzirei voces a tempo lodo par esle relatorio, allaJisando coda a/lernaliva que apresenlo 110 ordem que estabeleci, ate 0 fina l, onde lhes reve­larei minlla cOllclusiio.

A maioria dos leitores prcfcre ver a proposic;ao principa l na introduc;:ao do relatorio, cspcc ifi camenle no f inal da intra­duc;:ao, porque esse tipo de organi zac;:ao Ihes dli maior autono­mia . Em algumas areas, porcm, as fannas padronizad<ls ex i­gem que voce loca li ze a propos ic;:ao principal na con c lll S~O.

Nesse caso, lcmbre-se de que ainda assirn seus Ici lores prec i­sam saber para que lado se cncaminha seu relatorio. tendo em mente quc eles esperam que voce lhes de algum ti po de o ricn-

PREPARAN/XJ-SE PARA REDIGIR, N£D/G'INDO Ii. REVlSANDO 2 11

tac;ao na introdu9ao (eles podem, e claro, saltar para a conclu­sao, le-Ia e rccomec;ar a ler ou deixar seu relatorio de lado). Os leitores que rem que voce Ihes de uma forte indicac;ao do cami­nho, logo de saida, e que depois os mantenha orientados ao longo do percurso .

o mesmo principio se aplica as sec;oes principais de seu relatorio e as subse~es. Os leitores comcc;am a procurar a pro­pos i~ao principal de uma se~ao no fim de sua introdu~ao , Se essa introduc;ao constituir-se de uma un ica frase, entao a pro~

posic;:ao sera a primeira frase da sec;ao. Se a introdw;ao for mais longa, os leitores procurarao a proposic;ao principal em sua ultima sentenc;a. C laro, voce pode ter motivos para por a proposic;ao de uma sc~ao inteira no fina l dela. Mas, no come­C;o de cada se<;ao, os leitorcs ainda precisarao de urna ou duas frases introdutorias para conduzi-Ios pete lexlo. Portanto, mesmo que voce ponha sua proposic;:ao no fim da sec;ao, elabore, no comec;:o, uma frasc ou duas que conduzam os leitorcs ate a pro­posic;ao, no fina l.

De modo geml, planejc seu relat6iio de forma que urn lei­tor que aee ite nossas "Sugcstoes llleis" sobre leitllra dinamica (pp. 108- ) I) possa passar a vista por seu relatorio e captar 0 con­teudo gera) e 0 de cada se~ao. Voltaremos a esses principios no Capitulo 13, quando discutirmos a revisao da organiza<;ao.

11.3.2 Formule uma illtrodufOO de trabalho

A prime ira co isa que voce prccisa ter em mente, enquan­to rcdige 0 rascunho, e a pergunta que esta formulando e uma no<;ao de sua resposta, alga que voce possa esboc;ar em algu­mas palavras, 0 comec;:o de urn texto pode ser tao dificil , que alguns de nos esperam ate ter cscrito as ultimas palavras, antes de tentar escreve r as prirnciras (ded icamos lodo 0 Capitulo 15 a introduc;ao de sell rascunho final) , Mas a maioria de nos ainda precisa de a lgum tipo de introduc;:ao de trabalho para nos indicar a direc;:ao ce rta. Sabemos que iremos dcscarta-la, mas essa introduc;:ao de trabalho devc ser tao explicita quanto con­seguirrnos faze-Ia.

Page 114: boothwaynec-140923095935-phpapp02

212 A ARTI:: DA PESQUlSA

A introdwy3o de trabalho menos uti! e aquela que enun· cia apcnas urn t6pico:

ESle estudo trata da ordem de nascimento e do sucesso en· Irc os imigranlcs recentes.

" E melhor come'Yar com urn pOlleD de contexto. Entao, se

puder, enuncie sucintamcnte sua pergunta como urn problema, seguido de sua solu~ao. caso a conhc'Ya. SeDaO, tente caracte· nzar 0 tipo de so lU/rao que poderia encontrar:

E dito que os primogenitos caucasianos do sexo masculi· no de classe media ganham maiores salaries, pennanecem m ais tempo empregados e demonstram maior satisfar,;ao no Ira­balho 'c<m,ulO

No cnlanlo, nenhum cstudo analisou os imigrantes recen­les para dcscobrir se esse padrao se rcpete entre eles. Sc nan for o caso, tcremos de descobrir se ha urn outro padrao, 0 motivo da diferen1;:a e quais sao seus efeitos, porque s6 entao podere­mos enlender os pad rOes de sucesso e fracasso em comunida­des ctnicas'''~hpuqu ....

A Iiga1;:ao prcvista entre sucesso C ordem de nascimento parece vigorar entre os grupos etnicos, particulannente os do Sudeste asiatico. Mas ex..istem complica1;:Oes no quc se rcfcre a grupos etnicos difcrentes, como quanto tempo faz que a fam i­lia emigrou de seu pais e seu nivel econom ico antes da emigra-1;:ao._ H~';do'" ~.oJuuIo

Essa introducao so esbo~a 0 problema e inclina-se para a sua soluCao, mas e suficiente para coloca-Io no caminho eerto. Em seu ultimo raseunho, voce reviSaci essa parte, de modo que ela expresse a ideia mais clara do problema em foeo c a soluCao que voce rinalmente descobrir.

:;. Se voce real mente esta tendo dificuldade para eomecar, volte ao comeco do Capitulo 4 e use 0 seguinte esquema:

£sloll estudando 0 sucesso economico e a ordem de nascimen­to entre os imigrantes recentes do sexo masculino provenienles do Vietna,

PREPARANDO-SE PARA REDIGIR, REDIGINDO E REVlSANDO 213

porque quero descobrir se 0 mesmo padrao que vigora en­tre os homens nativos do pais de origem continua vigoran­do entn:: eles ,

para entender como as diferentes forcas cuiturais, influencias familiares e demais c ircunstancias influen­ciam sua mobilidade social.

11.3.3 EstabeJe~a 0 pallo de/undQ, as definifoes e as condifoes necessarias

Tendo urna introducao de trabalho, chegue a uma conclll­sao sobre 0 que seus leitores devcm saber, entender ou em quc acreditar imediatamellte, antes que possam entendcr qualquer Qutra coisa. Oependendo da area, muitos autores, ao chegar a esse ponto, expoem 0 problema com mais detalhes do que foi possivel na introduCao. De finem termos, revisam pesquisas anteriores, estabelecem fundamentos importantes, tracam li­mites ao projcto, localizam 0 problema em foco em urn con­text9 h istorico ou social maior, e ass im par diante.

o maior risco aqui e ir em frente par varias paginas, resu­mindo as fontes, de uma maneira que as leitores podcrao jul­gar desneeessana. Apresente inforrnaCOes extraidas de suas ano­ta<;oes. mas apenas na medida suficientc para que as leitores que nao cstejam muito familiarizados com seu topico enten­dam quaisquer terrnos especiais, conhecam alguma pesquisa que tenha motivado a sua, assim como as fatos bas icos sabre a material que voce estudou . Quando come~ar a redigir, po­rem. voce nao pode deixar esse resumo dominar seu rascunho . . Apresente, como pano de fundo, apenas as informa<;oes que se­jam sufic ientes para permitir que as leitores entendam 0 que se segue. Se essa parte de pano de fundo tiver mais do que duas paginas, finalize-a com urn resumo conciso do que voce quer que seus leitores tenham em mente quando comc~arem a Icr 0

texto principal de sua argumentacao.

Page 115: boothwaynec-140923095935-phpapp02

214 A AR1l;' VA P£SQUISA

J J. 3. 4 Refafa seu esbofo

Quando come~ar a planejar 0 texto central de sua argu­menta~ao, nao se esquec;a de que voce sempre pode organizar os elementos de urn argumento de mais de uma mancira (veja . , as pp. 186-8). Para descobrir uma boa maneira, vOCe precisa­ni manipular as estruturas que discutimos nos Capilulos 7-10, experimentando divcrsas ordens. Custa menos descartar esco­Ihas ruins agora do que depois que come~ar a redigir. Em todas essas considerac;oes, en tretanto, ponha seus leitores em primei­ro lugar. Tente organ izar suas inforrna~oes em ordens que re­flitam as necess idades deles.

Com respeito a isso, ha pOliCOS principios confiaveis, e lodos lem a ver com 0 que seus leitores ja sabem e compreen­demo

Do antigo 30 novo. Em geral, os leitores prefcrem passa r do que cles sabem para 0 que nao sabem. Portanto, urn born principio para ordenar 0 texto de seu relat6rio e comec;ar revi­sando brevemellle 0 que os seus leitores sabem, de modo que possam passar ao que pensarao que e novo. Considere este prin­cipio como urn gu ia geral, quando estiver em duvida: com que as leitores estao mais familiarizados, ou menos, no que se refe­re aos seus dados e sua argumentac;ao? Comece com 0 conhe­cido, passe para 0 desconhecido.

Do mais curto e mais simples ao mais longo c mnis complexo. Em geral, os leitores preferem en­contrar um material mais curto, menos complexo, antes de urn mais lo ngo, rnais complexo. Quais ele­mentos de sua argumen­tac;ao os leitores cntende­rno mais facilmente? Quais entenderao menos facil­mente'!

Enconlrando a ordem ceria

Pr6ximos de redig ir 0 ultimo ros­cunha deSte capitulo, tinhamos co­locado 0 que e ogora a Se<;:60 1 1.2, ·Ouatro ormodithas· . depois do se<;:60 que voce est6 lendo ago­ra . fo../Ios percebemas que voce en­tenderio mois lacilmente 0 que deve fazer se a odvertissemos primeiro sabre como evitor olguns dos erros tipicos que as eSludonles cometem

PREPARANOO-SE PARA REDIGIN, RJ:.'DIGINDO E REVlSANOO 215

Do nao contestado ao mais contestado. Em geral , os lei­tores passam mais prontamente de assuntos menos contesta­dos aos mais contestados. Quais elementos de sua argumenta­C;ao seus leitores aceitariam mais facilmente? A quais dcles poderiam resistir mais fortemente? Se sua afirmac;ao principal e controversa, e voce pode aprcsenlar varios argumenlOs para sustenta-Ia , experimente comec;ar com um que tcnha mais pro­babilidade de ser aceito pclo seu lei tor.

lnfclizmente, esses criterios costumam colidir entre si: 0

que alguns leitores entendem melhor sao as obje~oes que fazem com maior vecmencia; 0 que voce acha que e seu argumento mais decisivo pode ser a afirmac;ao mais nova e a mais contcs­tada. Nao podemos ofereccr nenhuma nomla cxata aqui, SO va­riavei s a serem consideradas. Experimente estas, por exemplo:

• ordem cronologica; • ordem logica, de evidcncia para afirmac;ao, e vice-versa; • concessoes e condic;oes em primeiro lugar, enta~ urna obje~ao que voce possa refutar. seguida de sua propria

I evidencia afinnativa e vice-versa.

Em resumo, de-se uma oportunidade de descobrir 0 po­tcncial que ex iste no que voce sabe, testando suas proposi ~5es

em combina~ocs diferentes. Presidindo todos os seus julga­mentos deve estar este principio fundamental: 0 que seus lei­tores tcm de saber agOrd, antes que possam enlender 0 que vini depois?

11.3.5 Selecione e dejorma a seu material

A csta altura voce pode esperar por de lado grande parte de scu material , porque Ihe parecerCI irrelevante. lsso nao sig­nifica que voce desperdic;ou tempo, coll;!tando-o. A pesquisa e como garirnpar aura: colher uma grande porc;ao de materia l bruto. escolher urna parte. descartar 0 resto. Mesmo que todo aquele materia l nunea apare~a em seu relatori o, ele e 0 alicer-

Page 116: boothwaynec-140923095935-phpapp02

216 A AR7E DA PESQUI$A.

ce de conhecimento sobre 0 qual sua argumcnta~ao rcpousa. Ernest Hemingway disse urna vez que urna pessoa sabc que esta eser~vendo bern quando desearta material que sabe que e born. Voce sabc que elaborou urn argurnento convincente quando se ve descartando material que parece born .- mas Q-ao tao born quanto 0 que voce conserva. "

11.4 C riando urn rascunho passivel de revisiio

Se voce ~cha que esta pronto para comer;ar a por palavras no pape1, refl lta por urn momcnto sobre 0 tipo de redator que voce e (ou talvcz queira ser).

J J.4. J Dois estilos de redigir

Rapido e sujo: Muitos autores acham mais eficaz escre­ver tao rapido quanto conseguem mover a caneta ou datilogra­far. Sem se prcocupar com 0 estilo, a correc;ao, ou mesmo a clareza (muito menos com a ortografia), eles tentam manter 0 flux~ das ideias. Se uma se~ao nao deslancha, eles anotam 0 motlvo pelo qual ficaram entalados. indicam isso no rascunho para observar na passada seguinte, e vao em frente. Se estao fa~ zendo uma li sta, nao digitam cita~5es ou notas de rodape: inse­rem s6 0 suficiente para indicar 0 que devem fazer depois.

Enta? se as ideias param de fluir completamcnte, eles tern o~tra~ COlsas de que cuidar: melhorar 0 fraseado, acrescentar c lta~o~s, ocupar-se com a introdu~ao, revisar 0 que redigiram, r~~umlr em urna frase ou duas 0 terreno que ja cobrirarn, cer­llftcar-se de que a bibliografia inclui todas as fontes citadas no text~: Como urn uhi":,o recurso, corrigem a ortografia, a pon­tuar;ao - qualquer cO lsa que desvie seus pensamentos do que csta causando 0 bloqueio, mas que os mantenha em ati vidade dando ao seu subconsciente urna oportunidade para tcabal ha; no problema.

Ou saern para dar urna carninhada.

PRFJ'ARANOO.SH PARA RED/GIH, RED/GINOO H Rh"VISANOO 217

Lento e limpo: Ha outros que nao podem trabalhar com tais metodos "sujos", mas apenas com "a perfeir;ao, palavra por palavra", "frase por frase bern acabada". Nao conseguem co­me<;ar uma nova senten~a ate que aquela em que estejam tra­balhando tenha ficado perfcita. Se voce e desses e nao conse­gue se imaginar escrevendo rapido e de modo grosseiro, nao tente modificar seu estilo. Mas lembre-se: quanto mais voce se fixar em eada pequena parte, menos alternativas tera depois. Voce deparara com urna grande dificuldade se, de repente, enxergar as coisas de urna nova maneira e tcntar fazer revisoes em larga escala. Se sua redar;ao " frase por frase" tiver estabe­leddo cuidadosas transir;oes e conexoes entre paragrafos c se­~oes, seu relat6rio parecera uma parcde de blocos de granito encaixados uns nos outros. Ate mesmo urna pequena rnudan­r;a requerera mais mudanyas colaterais do que voce achara de­sejavel fazcT. Por isso, se voce e urn re<k"ltor " rrase por frase" , precisa ter urn esbo~o detalhado que Ihe diga aonde voce esta indo e como chegara lao

11.4.2 erie lima rotina

Seja qual for seu estilo, estabeler;a urn ritual para escre­ver e siga-o. Ritualisticamente, arrumc sua escrivaninha, sen­te-se, aponte seus lapis ou ligue 0 computador, acenda e ajuste a iluminar;ao, sabendo que ficara sentado ali por urn periodo de tempo absolutamente irredutivel. Se ficar olhando para 0 espar;o, sem ncnhuma ideia na caber;a, escreva urn resumo: Ale aqui, teflho as seguiflfes Propos;90es .. . Ou de uma olhada nos ultimos paragrafos que escreveu e trate urn trecho importantc de ev idencia como uma afirma~ao em urn argumento subordi­nado. ldcntifique as pa lavras-chavc em todas as afirrnayoes subordinadas, indagando que ev idencia encorajaria seus leito­res a aceita-Ias, e comcce a escrevcr:

I _ Muitos jomais atacamm Roosevelt. Que evidencill mOSlra que mui/os jornais alacaram Roosevelt?

Page 117: boothwaynec-140923095935-phpapp02

218 A AR1E VA PESQUI!iA

2 - Eles 0 atacaram por promover 0 socia li smo. Que evidetlcia mostra que eles 0 aracarom por promover 0 socialismo?

3 - Se 0 atacaram, elc deve ter side impopu lar. Que evidcncia mastra que, se os jornois atacam um presidente, ele dew ser impopu/ar?

_ Fa<;a isso com cada clemente importamc de sua argumcn­tac;ao. Dcpendendo, entao, de seu prazo final, analise cada sub­subargumento da mesma maneira.

11.5 Vma a rmadilha a evitar a todo custo

E ao escrever seu rascunho que voce sc arrisca a fazee a pior coisa que pode acontccer a urn pesquisador: no calor da re~acao, voce mergulha confiante em suas anotacOes, achando COlsnS boas para dizer, enchcndo a pagina ou a tcla com mui­tas pa lavras boas. E e$sas palavras sao de oulra pessoo.

o pJagio Co urn assunto que envcrgonha todo 0 mundo, ex­c~to , talvc.z, 0 plagiador bem-suced ido. Todo pesquisador pre­cisa levar ISSO em conta. Alguns atos de pJagio sao dcliberados. Ninguem prccisa de ajuda para saber que e errado comprar urn tfabalho escolar, copiar urn relatorio dos arquivos de uma fra-

- 'ternidade estudantil* ou usar grandes trcchos de urn artigo, co­~o se a~ palavras fossem suas. Mas a maioria dos plagios sao madvertldos, porque 0 autor nao foi cuidadoso ao fazer suas a~ota~Oes (reveja as pp. 101 -6), porque nao entende 0 que e ph't­glO, ou porque nao esta consciente do que esta fazendo.

// .5. / Dejilli(:iio de pJiJ.gio

Voce esta cometendo p lagio quando, intcncionalmente ou nao, usa as palavras ou ideias de outra pessoa e nao as crcdita

• Nas universidades americanas, as fratemidades de a lunos guardam trabalhos escolarcs para a consulta de $Cus associados. (N . do T.)

PREPARANDO-5E PAlM RED/GIR, REDIGINDO E REV/SANDO 219

aquela pessoa. Voce come­te picigio ate mesmo quan­do da 0 crcdito ao autor, mas usa as palavras exa­tas dele, sem indicar isso com 0 uso de aspas ou de urn recurso grMico qual­quer, como reeuo de tex­to. Voce tambem comete plagio quando usa pala­vras muito pr6ximas das de sua fonte, de modo que, colocando seu texto lado a lado com 0 texto da fon­te, perccbe-se que voce nao poderia ter escrito aqui lo sem recorrer aquela fonte. Quando aeusados de pla­gio alguns autores ale­ga~ : De algum jeito devo ler memorizado aqueJa passagem. Quando a es­crevi. com cerleza pensei que 0 te:clQ era meu. A des-

PI6gio intencionol e roubo

Os eslucianles que intencionolmen' Ie o presenlom 0 Irobolho de aulros como seus nem semPfe reconhecem o mol que essa o mude cousa - um assunlo que d isculimos flO Porle IV. (\/IDs, 6s vezes, eles nem porecem sober que eslao roubondo. Co­lomb leve de orbilrar umo d isputa enlre dois alunos que opresenlo­rom Irooolhos idenlicos poro 0 meso ma materia . 0 primeiro des dois alunos, conlrontado com 0 eviden­cio, admiliu ter copiado 0 Irobo· Iho q ue 0 segundo alune Ihe mas­troro . AD owir isso, 0 ~undo ficou possesso, protestando que 0 pri­meiro n60 linho nenhum direito de copier seu trabolho, porque ele 0 lirora dos orquivos de suo fratemi­dade, e que sO os integrontes do· quela Ira temidode linhorn 0 d irei­to de apresentar oqueles tro bolhos como seusl

culpa convence muito pouea gente .

/1 .5.2 Ptagio direto de paJavras

Quando quiscr usar as palavras exatas que enca ntrou em uma fonte, pare e pense. Entao:

• eoloque 0 texto entre aspas, ou erie urna cita(fao em blo­co (veja as " Sugestoes uteis" no final deste capitu lo),

• copie as palavras exatamente como elas aparecem na fontc (se mudar alguma coisa, use colchetes c reticencias para indicar as mudan(f3s), c

• cite a fonte .

Page 118: boothwaynec-140923095935-phpapp02

220 A AI?1E V A PESQUlSA.

Esses sao os tres primeiros principios que regem 0 uso de palavras de outras pessoas: indicar sem amhigiiidade onde as pa· lavras da fonte comecyam e tcrminaOl , capiar as palavras COT­retamente (ou indicar as mudan<;3s) e citat a fontc. Se omitir o primeiro ou 0 ultimo passe, intencionalmente ol!- nao, voce estara cometendo pl3gio.

J 1.5.3 Pltigio direto de ideias

Voce tambem cornete p lagio quando usa as ideias de outra pessoa e nao as credita a cia. Voce estaria cometendo plagio, por cxemplo, se escrevesse sobre problemas, usando os concei­tos do Capitulo 4, c nao os creditasse a nos, mesmo se mudas­se nossas palavras, chamando ucondi~oes" dc, digamos, pre­dicamenlos e "CUSlOS", prejuizos.

Se usar as ideias de outras pessoas, de-lhes 0 credito, an­tes de mais nada. Se escrevcr varias pag inas baseando-sc no traba lho de o utro, nao relegue a meol;ao dcsse fato a urna nota de rodape, no fina l.

Uma situac;:ao enganadora surge quando voce apresenta uma ide ia como seodo sua, mas depois descobrc que outra pes­soa a teve primeiro, ou uma parecida. No mundo da pesqui sa, prioridade nao conta para tudo, mas conta muito. Se nao citar a fonte original, voce se arrisca a que as pessoas pensem que voce a plagiou, embora de fa to nao 0 tenha fe ito.

Uma situal;aO ainda mais enganadora e aquela cm que vo­ce usa ideias q ue sao extcnsamente conhec idas em sua area. . , As vezes, a ideia e tao famil iar que todo 0 mundo sabe de qucm e 0 crt!dito por ela, e voce podcria se r considerado ingenuo se a citasse. Por excmplo, voce poderia mencionar Crick c Watson ao fa lar sobre a estrutura helicoidal do DNA, mas provavel ­mente nao citari a 0 artigo em que essa descoberta fo i anunc ia­da. Em oulras ocas iOes, contudo. a ideia Ihe parecc uma infor­mac;:ao comum, parte do pano de fundo de sua area, e voce nao sabe quem a publicou primeiro. Considerando que voce nao po­de rastrear tudo 0 que diz em seu re latorio, csses sao casos em

PREPARANDO-SE:: PARA REDIGlR, RF..DIGINDO E REVTSANDO 221

que ate mesmo os estudantes mais escrupulosos podem trope­~ar. Tudo 0 que podcmos dizer e: Em duvida, pergunte ao seu professor e fornefa 0 credito sempre que puder.

I J .5.4 Plagio indireto de pa/avros

E ainda mais enganador dcfinir plagiQ quando voce faz resumos e pan'tfrases. Eles nao sao a mesma ca isa, mas con­fundem-se tanto, que voce pode nao perceber quando esta pas­sando do resumo para a parafrase e, enmo, ultrapassando a fr~n­teira do plagio. Nao importando a intenl;aO. a parafrase mUlto prox ima do original conta como p lagio, mesmo quando a fonte e citada.

Dutra complical;ao e que areas diferentes estabelecem a fronteira em pontos diferentes. Em advocacia. espera-se q~e voce parafraseie estatutos e decisOes de tribunais de modo n:UItO

prox imo do original. Em cienci.as. os ~utores ~eralmente Clta~. e entao parafraseiam, de manelra mUlto pareclda com a do 0:1-gina~ . a parte de urn artigo em que urna descoberta e anuncl~­da embora nao as outras partes . Mas, em areas que usam mUl­ta~ citac;:oes diretas, como hi st6ria e Iinguas, e arriscado fazer parafrases muito pr6ximas. .. .

Por exemplo, 0 paragrafo seguinte plagla 0 pnmelro para­grafo desta sec;:ao, porque 0 parafraseia muito de per to:

E mais dificil caracterizar 0 plagio quando Iidamos com re­sumos e parifrases, porque, embora eles sejam dife rentes, se~s limites sao obscur~s, e 0 autor pode nilo saber que cruzou 0 It­mite do resumo entrando na parafrase, e que passou da pari­frase para 0 plagio. lndependentemcnte da iotene.ao, uma parafra­se muito proxima do original e plagio, mesmo quan~o .a fonte e citada. Este parigra fo, por exemplo, contaria como plaglO daque­Ie outro (Booth, Colomb e Williams, p. 22 1).

o lexto a seguir csta na frontei ra do plagio:

Por ser dificil disti nguir a fronteira entre 0 resumo e a p?­rafrase, urn autor pode andar perigosamente prox imo do plag]o

Page 119: boothwaynec-140923095935-phpapp02

222 A. ARTE DA PESQUlSA

sem sabe-I.o. me~mo quando cila a fonte e nunea prctendeu co­~eler plagIO. MUitos poderiam cons iderar eSle paragrafo urna pa­rafrase que cnv.ou a fronrcira(Booth , Colomb e Williams, p. 221).

As palavras em am~as essas versoes ,seguern. 0 original tao d~e perto, q~e qualqucr le~t~r reconheccria que 0 auto.r sO poderia (e- Ias escnto lendo 0 ongmal simu/taneamenle. 'Eis agora urn resumo daqucle paragrafo, s6 que no lado seguro da fronteira:

De ac.ordo. com Booth, Colomb e Wi ll iams, os aUlores as vezes plagmm lnconscienlcmcnte por pensarem que estao fa ­~ndo urn roes,uma, quando de fato estao parafraseando muito pro­ximo do ~ngmal, urn ala que e cons iderado plagio. mcsmo quan­do comelldo scm quercr e citadas as fo ntes (p. 22 1).

J 1.5.5 Tenlla cOlIscil! lIcia de que esta p/agiando

Aq~i vai urn teste simples pam 0 pl<lgio inadvertido: pres. te a~en!ao ao local para onde seus olhos se dirigem, enquanto vocc poe. palavras no papel ou na tcla do computador. Se seus olhos cstlVerem em sua fonte, no mesmo momento em que seus dedo~ voarn sobre 0 tecJado, voce se arrisca a fazer algo que depois d~ semanas, meses, ate mcsmo anos podera resultar e~ sua humJihacao publica. Sempre que usar u'ma fonte extensiva­mente, comp~re sua pagina com a do original. Sc achar que alguem p?~er.la correr 0 dedo ao longo de suas sentenc;as c en­contrar SlOommos para palavras usadas no original, mais ou me~os na .m~sma ordem, tcnte outra vez. E menos provavel que ~~e plaglc madvertidamente sc, ao eSli:rever, mantiver os olhos

o em .sua fonte , mas na tela do computador ou na folha de papel , c mfomlar 0 que sua fonle lern a dizer depois que as pala­vras foram jiltradas pela compreensGo que voce teve delas.

11.6 As ultimas etapas

_ Se V?Ce e urn redator de frase por frase e chegou ao tim entao esta pronto para a ultima elapa. Mas, sc adota 0 metod~

PREPARANDO-SE PARA REDIGIR, REDIGINDO E REV/SANDO 223

mais rapido, embora grosseiro, de deixar fluir, tera de passar o texto a limpo. 0 que voce esta pretendendo obter e urn pri­meiro rascunho legivel, que nao 0 distraia com frases corri gi­das e uma pon;ao de erros superficiais . Nao Sl! preocupe em encontra-Ios todos: voce passaci 0 texto a limpo com mais cui­dado quando estiver chegando ao fim.

Volte e precncha os espac;os em branco: incJua citat;Oes. acrescente notas de rodave, fa<;a 0 trabalho medinico que pu­lou antes. (Se voce usa urn processador de texto, passe a limpo em etapas, imprimiodo uma prova a cada nova ctapa . Se voce usa maquina de escrever, reuna todas as suas citat;oes e redija as ootas de rodape, inserindo-as quando redatilografar 0 texto.)

Agora leia seu rascunho todo do principio ao fim, 0 mais rapido que puder, de preferencia em voz alta, para urn amigo ou colega. Isso e s6 para medir a f1uenc ia de sua argumeota­~ao. Se voce tropcc;ar em uma frase, ass ina Ie, mas continue em frente. Se dois pacigrafos parecerem desconectados, acrescente uma lransi<;ao, se the ocorrer alguma, ou assinale 0 ponto para res~lver depo is. Se as proposic;Ocs nao estivercm cm ordem, anote 0 ponto oode voce se deu conta do problema e passe adiao­teo A mcnos que voce seja urn editor compulsivo, nao se abor­re<;a, querendo que toda frase saia perfeita, toda palavra cor­reta. Voce provavelmente fant tantas mudanc;as pelo caminho, que nesta etapa nao vale a pcna dcsperdit;ar tempo com pequc­nas queslOcs de estilo, a menos que, tal vez, voce esteja usando a revisao como urn mcio que a ajude a pensar com maior cla­reza. Quando tiver uma prova limpa, com os problemas assina­lados, voce tera urn rascunho passive l de revisao.

A essa altura, no entanto, voce enfrentara urn problema que embarac;a todo autor: determinar se sell relat6rio ten\ sentido para seus leitores. Precisara, eotao, tentar le-Io com os olhos de­les, imaginando como eles 0 entenderao, 0 que eles i ra~ obje­tar,o que eles precisarn saber logo, para entender algo depois. Alguns autores temem que esse ultimo passo comprometa sua integridade inlc lectual de pionciro solitario desbravando urn terreno desconhecido. Com a cerleza de que descobriram Algo Importante, eles querem acreditar que a verdadc de sua desco-

Page 120: boothwaynec-140923095935-phpapp02

224 .A .ANTE D.A PESQUIS.A

berta deve falar por si mesma, scm precisar de nenhurna ret6-rica inteligentc. E a historia da Verdade Her6ica. uma posi~ao anti-ret6rica enunciada por SOCrates 2.500 anos atras e deba­tida desde entao.

. Apesar desse ideal platonico de verdade despojada de en­feltes, 0 conhecimento nunca e simplesmente descobeno, apre­sentado e aceito. Novas ideias sao sempre eriadas' e dcpo is mo­de/ados par antores que preveem as necessidades. convic~oes e objec:;oes de seus leitores. lmaginando a si mesmos em urn dia­logo com eles. desejando saber 0 que pensam, 0 que precisarn entender, os autores descobrcm melb~r 0 que cles proprios podem pensar. 0 melhor meio para alcan~ar esse fim e a revi­siio cuidadosa.

Talvez a maior diferen~a entre os autores experientes e os iniciantes sej a sua atitude com rela<;ao a esse primeiro rascu­nho. 0 autor cxperiente considera-o urn desafio: Tenho 0 esbo­fO, agora vem 0 /rabalho dijiciJ, fIIas agradtive/, de descobrir o que possa Jazer com ele. 0 iniciante considera-o urn triunfo: Pronto! Agora mudD aquela palavro, ponho lima virgula aqui, passo 0 lexlO pelo correlor orlognifico e </mprimir>! Urn pri­meiro rascunho realmente e urna vit6ria, mas res ista a essa fa­cil saida . Nos capitulos restantes, descreverernos maneiras de revisar seus rascunhos nao como urna larefa enfadonha, mas come urna maneira de manter 0 fluxo da criatividade.

Sugestoes uteis: Usando ci/Q{oes e parafrases

Independentemente de qual seja sua area, voce precisa con­fiar na pesquisa des outros e re latar 0 que eles descobriram. Mas as praticas de sua area dcterminarao como deve faze~lo .

Como citar e parafrasear

Nas ciencias c em algumas ciencias sociais. os pesquisa­dores raramcnte reproduzem 0 texto das fontes diretamente . Em vez di sso. eles as parafraseiam e as citam. 0 processo e simples: com suas proprias palavras. reesereva 0 que descobriu ou ds dados que quer usar. Entao. certifiquc-se de c itar a fonte usada, na forma adequada a sua area. S6 transfonne 0 nome da fonte em uma parte direta de sua propria sentenc:;a se a fonte for importante e voce quiser chamar atenc:;ao para cia.

Varios processes foram sugeridos como sendo as causas do efcilo ativador~associativo. Por exemplo, em seu original estudo, Meyer e Schvaneve ldt ( 197 1, p. 232) sugeriram dois, a saber: de Qtivu{:oo por desdobramelllo aulonuilico (independente de alenfaoj na mem6ria, a longo prazo, e de al/era{:ao de localiza­fao. Neely (1976) fez distincao semelhante entre urn processo de ativacao per desdobramento automalico na memolia c um pro­cesso que esgola os recursos do mecanismo de atem:;ao. Mais re­centemenle, foi cstudado urn proccsso ati vador-associativo mais avam,ado (de Groot. 1984).

A autora cons idcrou Meyer, Schvanevcldt e Neely impor­tantes 0 bastante para citar seus na mes em suas scntcnl;as, mas mencionou 0 de Groot como uma refcrcncia secundaria.

Page 121: boothwaynec-140923095935-phpapp02

226 A ANTE 01'1 PESQUISA

Em letras c em algumas ciencias sociais, os pesquisado­res as vezes parafraseiam as fontes. mas e mais provaveJ que as c ite m. Voce tern tres op'VOes.

• Aprescntc urna citar;ao usando dois-pontos ou urna frase in-tradul6ria : '

Plumb descreve a administra¥ao de Walpole em tennos que lembram urn dos sistemas de patronalO nas cidades amcri­canas: "Sir Roben roi 0 primeiro politico ingies a descobrir como usar a lealdadc de pessoas cuja imica quatificacao era 0 palro­cinio dele" (p. 343) .

Plumb descreve a administra<;ao de Walpole em tennos que lembram urn dos s istemas de patronato nas cidades amcri­canas. Ele afinna que "Sir Roben foi 0 primeiro politico ingles a descobrir como usar .. ,"

• Entremeie a Cit3y30 em sua propria sentenC3 (mas certifiquc­se de que haja concordancia gramatical entre sua sentenca e a citacao):

Plumb fala em termos que lembram urn dos sislemas de pa­Ironalo nas cidades amcricanas modernas ao dcscrcver como Walpole era eapaz de " usac a lealdade de pessoas euja uniea qualifiea~ao .. . "

Jameson nunca se sentia a vontadc com as decisOcs do Tri­bunal e sempre " recJamou [recJamava). .. que algo linha de ser rnudado" (1984, p. 44).

(Observe que, quando esse autor alterou 0 tcxto do original , usou colchetes e rcticencias para indicar cada ait'eracao.]

• Destaque em uma "citacao em bloco" as citacoes de tres ou mai s linhas. Quando usa-la, certifiquc-se de que a citacao liga-se ao que veio antes, e logo antes, ou logo depois da c ita­Cao. esclare~a por que a esta introduzindo.

T I

PREPARANIXJ-SE PARA REDIGIR. RWIGINIXJ E REVlSANDO 227

Depois da Restauracao, em 1660, os filosofos e moraliSlas ingleses continuaram redamando que as pessoas eram motiva­das por dinheiro e bens materiais. 0 que nao era, e claro, nada novo. Mas esses pensadores acredilavam que viarn urna mudan­ca: uma forma nova de "virtude mercemiria" que tentava ofcrc­eer incentivos maleriais para 0 born comportamcnto. Essas novas reclamalYOes culminaram no trabalho de Shaftesbun:

Os homens nao se contentaram em moslrar a vantagem natural da honestidade e da virtude. Antes as diminuiram, 0 me­lhor meio, segundo pensaram, de ianlYar outro fundamcnto. Tor­naram a virtude uma coisa Hio mercenaria , c falaram tanto de suas recompensas, que dificilmentc se pode dizer 0 que cxiste ncia, afioai, que valha a pena recompeosar (p. 135).

• Nao comece uma frase com uma citacao, terminando-a com suas pr6prias palavras. Cornece suas frases com suas proprias palavras e te rmine-as com 0 material c itado.

QualndO cHar e parafrasear

Nao importa qual seja sua area, voce precisa aprender ate que ponto deve depender do trn.balho dos outros . Se voce citar ou mencionar outros autores com muita freqiiencia, vai pare­cer que tern pouco a oferecer de seu pr6prio trabalho. Por outro lado, se citar pouco demais, os le itores poderao pensar que suas afirmacocs careccm de sustentacao ou, entao, nao enten­derao como 0 seu trabalho relaciona-se com os de outros pes­qui sadores. Nao podemos Ihc ofereccr regras definitivas para decidir quando e quanta citar ou parafrasear, mas ha algumas regras elementarcs.

Empregue c itacoes diretas: • quando usar 0 trabalho dos ouIros como dados primarios, • quando quiser chamar a aten~ao para a autoridade dc1es, • quando as pa lavras especificas de sua fonte tive rem

importancia porque: - foram palavras importantes para outros pcsquisadores,

Page 122: boothwaynec-140923095935-phpapp02

228 II ANTE DA PESQUISA

- voce quer se concentrar na maneira como sua fonte diz as coisas.

- as palavras da fonte sao especial mente vividas ou sig· nificativas.

- voce questiona sua fonte e quer apresentar"o caso dela com imparcialidade.

Parafraseic suas fantes: • quando estiver mais intcressado no conteudo, nas desco­

bertas a u afirmnc;Oes do que na maneira como a fonte se expressa,

• quando puder dizer a mesma coisa com maior clareza.

Nao cite s implcsmente porque e mnis facii ou porque voce acha que nao tern autoridade para falar por suas fontes. Reduza suas cita~es Ii menor extcnsao possivel . e sob ncnhuma circuns­tancia remende urn relat6rio com uma serie delas. Voce prcci­sa apresentar seu proprio arguroento, com suas proprias afir­mac;oes e evidencias.

T Capitulo 12

Apresentat;iio visual das evidencias

ESle capitulo discute assuntos nos quais a maioria dos aUlores so pensa, quando penso. bem no final do p rocesso de reda(:iio. MQs. dependendo de sua area. voce deve rejletir sobre a apresenta(:Qo visual das evidencias nas primeiras fa­ses da redo(:Qo .

O s LEiTORES JULGARAO a qualidade de sua pesquisa pela importanc ia de sua afirmayao e pe la forya de sua argumenta­C;ao. Mas, antes de fazcr esse julgamcnto, eles terao de entender o que voce cscreveu. Nesse sentido, discutimos, nos Capitulos 13 e 14, como eriar urn relat6rio que seja coerentemente o rga­nizado, escrito numa prosa de estilo £lucnte. Mas, se seus dados consistirem de elementos abstratos - numeros; listas de nomes, de lugares, de objetos, ou mesmo conce ilos rcduzidos a pou­eas palavras - , voce sempre ted outro modo de ajudar seus le i­tores a entendcr esscs dados e, portanto, sua argumentayao: vi­sualmente, por meio de tabelas, quadros. grMicos, diagramas, mapas e s inais visuais de estrutura 16gica.

12.1 Visual ou verbal'!

A escolha de como aprescntar os dados, visual ou verbal­mente, dcpendcni:

• do tipo dos dados, • de como seus leitores podcrao entende-Ios mclhor. • de como voce quer que seus Icito res reajam a eles.

Voce se comunica melhor com palavras quando a infor­mac;ao e qualitativa e nao facilmentc aprcscntada de modo for­mal , ou quando seus leitorcs sao fortcmcnte oricntados para a

Page 123: boothwaynec-140923095935-phpapp02

230 A ARTE DA PESQUlSA

"palavra ", como acontece com a malaria das pessoas da area de ciencias humanas. Com outros leitores, no entanto, voce pode se comunicar de modo efic icntc com tabelas, graficos ou dia­gramas, sc seus dados tivcrem as seguintes caracteristicas:

,

• lncluem elementos independentes. Esses pPdem ~eT ele­mentos distintos, que sao bern dcfinidos e est3veis, cha­mados "casas" - pessoas, lugares, caisas au canceitos. Ou 0 elemento indepcndente pode ser uma "variavel in­dcpendcnte", uma cscala de medida que nao muda em resposta a autras variaveis - tempo, temperatura, distan­cia, e assim por diantc.

• Os elementos independentes cstao re lacionados sisle­maticamcntc a quantidades au caracteristicas, chamadas variaveis "dependentes", dados que mudam em respos­ta a causas externas.

Por exemplo, os do is paragrafos seguintes tern tres e le­mentos independentes (as tres municipios) e muitas variaveis dependentes. Mas s6 no segundo paragrafo e que os elementos e variaveis relacionaram-se sistematicamente 0 bastante para serem apresentados v isualmente:

As popula<;:Oes dos municipios de Oswego, Will e Tuttle decrcsceram. de 1970 a 1990, como resultado de uma queda de 31,6% na manufatura. e de 65,9"/0 oa agricultura familiar ape­nas em Tuttle. queda que se iniciou em 1980, quando a agricul­turn emprcgava ali mais de 55% da mao-de-ohm, e que se esten­deu ate 1990, quando cmpregou mepos de 30%. Com a queda da oferta de empregos, tambem caiu 0 numero dos que se muda­ram para Oswego e Tunic, em 73%.

Como resu ltado, de 1983 a 1993, a popula<;:ao desses muni­cipios rcduziu-sc continuamente: em Tuttle, urn total de 10.102, ou 49,3%, de 20. 502 para 10.400; em Will , de 16.65 1 pam 15.242, au 8,5%; em Oswego, 39,1%, de 15.792 para 9.614, numa perda de 6.178. As diferen<;:as podem ser atribuidas ao fato de que Tuttle e Oswego dependem da agricultura, e Will prin­cipalmente da pequena industria.

PREPARANDO-SE PARA REDIGIN, REDICINDO E REV/SANDO 231

No primeiro paragrafo, nao podemos alinhar sistematica­mente os municipios com as variaveis dependentes de modo a mostrar as relacoes causais complexas que 0 panigrafo expoe. o texto C 0 suficiente. No segundo paragrafo, os municipios correlacionam-se sistemalicamente com dados sobre a indus­tria, a popuJac;:ao e as mudant;as. Essas relacOes seriam obser­vadas mais facilmente em uma tabela:

Tabela t2.t: Detlinio populadonal por municipio, 1983-1993

Municipio Atividadc 1983 1993 Deercscimo %

Tuttle Agrieultura 20.502 lQ.400 10.\02 - 49.3% Oswego Agrieultura 15.792 9.6 14 6.178 - 39,1% Will Manufatura 16.651 15.242 1.409 - 8,5%

Para comunicar esses dados com maior forc;:a rct6rica, po­deriamos usar wn diagmma de barras que nos convidasse a "ver" uma imagem dessas difcrencas e compara- Ias. Note que 0 dia­grama de barras apresenta menos dados e com menor prec i­sao. (Chamamos os graficos e diagramas de " figuras".)

Tuttle Oswego Wi ll

~1983

0.993

Figura 12.1: Deellnlo populacional por municipio: 1983-1993

Finalmente. poderiamos aprescntar os mesmos dados de maneira ainda mais destacada com um grafico, de modo que pUdessemos ver as mudam;;as como uma hist6ria:

Page 124: boothwaynec-140923095935-phpapp02

232

x ,g :.r

J

20

10

' . '. ".

".

I i I I 85 87 89 91

'. ".

1 93

A ARTi:: DA PESQ(JlSA

.... ... ..• Tuttle

-- --- Wi ll

Oswego

".

Figura 12.2: Oeclinio populacional pOI" municipio : 1983-1993

Neste capitulo, discutimos quando usar e claborar tabe ias, di agramas, grMices e outras ilustnu;oes, de forma que os lei­tores possam entcnder informa((oes complexas com facilidadc, sentindo 0 impacto retorieo que voce deseja causar.

12.2 Alguns principios gerais de elabora~ao

Ass im como em tudo 0 mais em seu projeto, dedique al­guns minutos ao plancjamento do que voce prctcndc conseguir com sua (abe la, diagrama ou grafieo.

I - Que nivel de precisGo os leit'ores esperam dos dados? • As tabelas sao mais precisas que diagramas e gnificos.

2 - Q ue tipo de impaclo ret6rieo e visual voce quer cau­sar nos lei torcs? • As tabclas parccem apresentar os dados objetiva­

mente. Embora voce selecione os dados, clcs parecem nao rcflctir sua interpreta~ao. Apresente os dados em tabelas, se quiser ser preciso em sua dcscric,;ao e rcduzir 0 impacto rc torico.

PREPARANoo..se PARA RED/GIR, REDIGINDO E REViSANDO 233

• Diag ramas e gr3.ficos tern maior for~a visual. Esti ­mutam os leitores a reagir a imagem visual.

• O s diagramas convidam os leitores a fazer compa­ra~oes .

• Os gcificos convidam os leitores a acompanhar urn relato.

3 - Voce quer que seus leitores veJam uma p roposifQO nos dados? • As tabelas incentivam os lcitores a interpretar os dados. • Diagramas e gr3ficos parecem apresentar sua pro­posi~ao mais diretamente.

Independentemente da forma que voce escolher, os leito­res entendedio seus dados mais faci lmente sc voce seguir tres principios de elabora~ao.

I - Quanto maior a organiza~ao. melhor. Organize os ele­mentos por urn principio que reOila como voce quer que os le itores usem a tabela ou figura: • Ordene os elementos independentes por urn principio

que reOita as vaOaveis que quer que os leitores notem. • Nas tabelas, organize os dados de forma que os

olhos dos leitores sejarn atraidos para os elementos que voce mais quer que eles notem.

• Nos diagramas, se possivel, ordene as barras de mo­do que adquira uma forma coerente com 0 que voce pretende mostrar: uma linha ascendente ou descen­dente, uma curva de s ino, uma lioha nivelada, etc.

• Nos graficos, se possivel, organize as variaveis de modo que as linhas inclinadas impliquem urn relato que suslente sua propos ic,;ao .

2 - Quanto mais s imples, melhor. • Limite os casos - nomes de pessoas, lugares e co i­

sas - a qualro por grd fico, seis ou sete por diagra~ rna. Use mais de um diagrama ou gnifico, em vez de enchcr urn 56 com uma massa de dados.

a Use 0 minimo de palavras ex plicativas no diagrama ou grMico.

Page 125: boothwaynec-140923095935-phpapp02

234 A ARTE DA PESQUlSA

• Use po"eos tipos de letra, coordenados. Evite usar apenas tetras maiusculas.

• Em diagramas e gnlficos, mantenha simples os con­trastes v isuais: preto, branco e urna au duas tonali­dades de cinza - evite os xadn;zes, asJistras, etc.

3 - 0 mais importante: antes au logo ap6s o' ieitor visua­lizar os dados, cnuncic a questiio que <JoCe acha que elcs representam c que deseja que 0 leitor entenda. In­dique as diferenY3s. semelhany3S, anomalias au pa­drOes que acha mais signific3tivQs. Se os dados nao guardarem ncnhuma surpresa, admita-o.

Uma polovro de odvertendo

A maiaria de voces crioro .seus recurses visuais em computodor, usando software:; q ue gerom diogromos e groficos aulomaticomen­Ie. Tomem cuidodo, cooludo: a moioria dos software!> erio ,ecur­sos visuais que porecem bons, mas que noo inlormom 160 bern como deveriom. Os criodores de sofl"wores esloo mois inlere!.SOdos em dicgromas atroentes - quanto mois bonitos. melnor - do que ern imogens que apresen tem a relato de rnoneiro eficoz. Se voce usar urn software pora os ilustro t;6es, resisto 6 lentot;oo de USOf lodos as seus recursos. Evite op;:6es que portam des principies a que aca­bomos de nos referir. Prepo re-se para importor os recursos visuois cr.iodos pelo seu software para um con junlo de gr6ficos, a lim de a juslo-Ios de acordo com ncssos principias.

12.3 Tabelas ,

As tabelas sao uteis quando voee qucr apresentar valores precisos, quando tern de ex-por uma gmnde serie de dados, ou quando nao sabc (au nao quer dizer) quai s aspectos dos dados sao mais importantes para os leitorcs que precisam deles a sua frente , de forma que voce possa chamar-Ihes a atencao para a s itens . As tabelas devem scr objetivas c incentivar as leitores a tirar suas pr6prias concJusoes. Hoi dois tipos de tabelas: as nu­mericas e as que usam palavras.

PREPARANDO-SE PARA REDIGIR, Rt:DlGINDO E REV/SANDO 235

12.3.1 Tabelas numericas

o primeiro principia na elaboraCao de tabelas numericas e ajudar os leitores a vcr 0 que voce quer que eles vcjam. Se eles usarem a tabela nao para comparar os valores, mas para achar valores espccificos que voce nao pode prcdizer, organi­ze os itens de alguma forma basica: nesse caso, a Tabela 12.2 dispoe as municipios alfabet icamente, e as receitas do geral para 0 particular.

Tabel. 12.2: Re«ilas de munid pio5 seledonados (em milhou)

[mpostos sobre vendas Imposlo imposlo sobre sobre

Total Estado Cidade propriedades lIsuano

Tipo , S % ! % S % , %

Alameda Oistnto \ ,43 0,26 (18) 0,00 0,97 (68) 0,20 ( \4)

Blythe Cidade 7, 18 2)7 (33) 2.]7 (]]) 2.44 (34) 0,00

Capital Cidade 20,02 4,00 (20) 7,41 (37) 7,4 1 (37) 2,60 (1 3)

Danberg Distnlo 3.03 1, 15 (38) 0,00 \ ,48 (49) 0,39 (13)

Eden I Vila 10,32 i,55 (15) 0,00 5, 16 (50) 3,61 (35)

Se, por outTO lado, voce quiser que os Je itores vejam dlfe­renfas especificas - neste caso, quais cidades que arrecadam impastos sobre vendas dependcm menos dos impostos sabre propriedades - , as comparafoes que se destacam devem ser Of­

denadas dc cima para baixo, ou ate mesmo salientadas.

Tabela 12.3: Rrceilas de mllnidpios selecionados (em milhOes)

imposlo imposlos sobre vendas Imposlo ",b~ ,oore

propriedadcs Cidade Estado usuario Tolal

Tipo S % , % $ % , % $

Alameda Oimito 0,97 (68) 00 (00) 0,26(18) 0,20 (14) 1.43

Eden Vila 5,16 (50) 00 (00) 1,55 (\5) 3,6 1 (35) 10,32

Danberg Oistrilo 1,48 (49) 00 (00) 1, 15 (38) 0,39 (13) 3,03

Capital Cidade 7,4 1 (37) 7,4 t (37) 4,00 (20) 2,60 ( 13) 20,02

Blythe Cidade 2,44 (34) 2,37 (l3) 2,37 (l3) 0,00 7, 18

Page 126: boothwaynec-140923095935-phpapp02

236 .... A Nni VA PESQUlSA,

v:endo as valores agrupados, os ie itores podem somar e Subtralf menta,lmente. a medida que vao correndo os olhos pela ~bela, e depols camparar as valores variaveis com maior faci­hdade.

Alguns principios adicionais: \, I - R~lacione e intitule os e lementos independentes na

coluna vert l,cal esquerda. Lcmbre-se de que os leitores geral­mente conSlderam 0 que esta Ii esquerda como a causa ou a fonte do que aparece a direita.

2 - Relacione as variaveis depcndentcs em colunas da es-querda para a direita, rotuladas no alto. •

3 - Se fi zer sentido, apresentc urna media ou mcdiana oa base da tabela, de fanna que as leitores possam avaJiar 0 a l­cance da varialfao. _ 4 - Se voce csta mais preocupado em cstabelecer urna qucs­

tao do que em o ferecer dados prec isos, arredonde seus nume­ros de forma que os Icitores possam computar os valores s6 dos primeiros dois (ou no maximo tres) digitos .

5 - S~ ~ma tabela tern ma is de setc Iinhas, acrescente urn espaC;o adlclOnal a cada qualro ou cinco li nhas .

Lembre-sc de interpretar a tabela para 0 seu le itor no tex­to. Nao repita em palavras simplesmente 0 que a tabc'la aprc­senta em numeros.

12.3.2 Tabelas que usam palallra.'l

As tabelas que usam palavras devem expressar variaveis dependentes de maneira concisa. '

Ta bela 12.4: Canl(luislicas basins de labelas, diagramas e gnUicos

Precisio Impaclo rc!6rico Fonna rcsullantc Tabclas alta objctivo descritjva Diagramas baixa objelivolsubjeti vo descritiva/narraliva Gr.ificos baixa subjetivo narraliva

PREPARANDO-5J:: PARA RED/G/R, REDIGINDO E REV/SANDO 237

o risco com as tabelas que usam palavras e que elas pare­cern redutoras. levando os le itores a sentir que voce simplifi­cou demais os conceitos e eliminou as nuanc;as. Portanto , s6 uti lize essas tabelas para rela.yoes conceituais que sejam dire­tas e sem nuanyas. A maioria dos le itores repudiaria a Tabela 12.5 por apresentar excessiva gcneralizac;so:

Tabtla 12.S: Periodos da ( ultura europ!ia

Periodo Crcn~ rc ligiosa

Medieval Renascimento l1uminismo Modemo P6s-modemo

J 2.4 Diagra mas

1

muito alta .1~

media baixa baixa

Descjo de ordem

alto medio mUlto alto muito alia baixo

Individualismo

baixo media alto aho !)aixo

Os diagramas ajudam os le itores a entcnderem de modo geral (oso de modo prec iso) de que mane ira varios casos ou calegorias iodependentcs sc a lte ram em fuoc;so de uma ou al­gumas vari aveis dependcntes. E lcs dao aos leilores uma ima­gem dos dados:

Matoon

Spring

SM 2 3 4 , 6 7

~ 1983

0 1993

Fig ura 12.3 : AumenlO na r enda municipal, 1983-1993

Page 127: boothwaynec-140923095935-phpapp02

238 A ARTE DA PESQUlSA

Os diagramas sao descritivos. mas podem implicar urn re-1ato se voce organizar os dados de forma que eles pare<;am mu­dar sistematicamente. embora nao 0 favam:

%

Nenhum Cinto no co lo

Colo! ombro

Air bag

Air bag + Cololombro

Figura 12.4: Colisoes com pelo menos uma ratalidade (+ 48 km/h)

Conforme avam;am da esquerda para a direita, os Icitores parecem ver as fatalidades declinarem a medida que a prote­c,:ao aumenta, indicando urna tendencia a esperanc,:a para os lei­tores preocupados com a seguranlfa em autom6veis . Mas, sc 0

aulor quisesse sacudir os leitores complaccntes quanto a segu­ranc,:a, 0 diagrama transmitiria melhor a mensagem oa ordem invertida, com as barras "subindo" para os mais altos indices de morte.

12.4.1 Diagramas de barras

, . Os bans diagramas de barras seguem alguns POliCOS prin­CIP IOS:

I ~ Se voce organizar as barras hori zonta l mente (como na Figura 12.3), • liste as elemcntos independentes a esqucrda, de cima

para baixo;

PREPARANfX)-.SE PARA REDlGIR, REDIGINDO E REV/SANDO 239

30

2S

20

" 10

5

• disponha as variaveis dependentes na base, da es­querda para a direita.

2 - Se voce dispuser as barras verticalmente (como na Figura 12.4), • li ste os elementos independentes ao longo da base,

da esquerda para a direita; • disponha as variaveis dependentcs a csquerda, de

baixo para elma. 3 - Se voce quiser informar valores especifieos, insira

numcros em cada barra ou ao fim de cada uma delas. 4 _ Evite harras tridimensionais. Os leitores terao de in­

terpretar se a imagem destacada e 0 volume ou a eom­primento. Especialmentc dificeis sao os diagramas cujas "barras" sao piramides, c ilindros ou ieones de formas complicadas.

5 - Evite diagramas com barras divididas ou "empilha­das". Em vez disso, use diagramas separados, parale­los, urn para cada categoria. • Barras cmpilhadas fon;:am os leitores a calcular pro­

poryoes a olho. Na Figura 12.5, quem tem a maior por~ao do mercado 35-45?

0 55

~ ,~ . 45-55

0 35-45

• < )5

Dynex Graco Joe's Abco

Figura 12.5: Pon;ocs do mcrcado por raixa eta ria

Page 128: boothwaynec-140923095935-phpapp02

240 A ARm DA PESQUlSA

- As barms empilhadas tambem fon;am as leitores a calcular propor<;Oes de proporcOes. Na Figura 12.5. que propol"93o do mercado inteiro esta acima de 451

6 - s~ voce ins ist.if em usar barras empilhadas, ajude seus lCltores, segumdo estes principios:

30

• Organize os segmentos de acordo co'tn urna boa Of­

dem, de baixo para eima. • Use as cores mais escuras ou saturadas embaixo as

mais claras em eima. Lembre-se de que as Ic it~res tendem a superestimar a magnitude e a importancia de scc3cs mais escuras.

• Use numeros e linhas de interligacao para escJare­cer as propon;oes.

0 " 0 45-55

• JS4S

• <"

Dynex A .Z Graco Joe's Abco

Figura 12.6: Maiores concorrentes nas pon;oes do m ercado por faixa ehirla

Voce ta!Dbem pode usar urn diagrama de pon/os, que faz a mesma COlsa que urn diagrama de barras mas e menos con­gestionado. Aqui estao alguns dos mesmos dados da Figura 12.6, apre~entados como diagramas de pontos paralelos. (Ao elabo­rar dl agramas paralelos, procure usar a mesma escala.)

PREPARANDO-SE PARA REDIGIR, REDIGINDO /::." REV/SANDO

A bco •...• .. •

Joe's ....... . ...... ... ..... •• • ..... •

Graco ...... . •

AaZ······· . • Dynex . . ..... .. ........ •

I o

I 2

I 4

I 6

I 8

I 10

Figura 12.7: Por~oes do m ercado, fain de +55

Abco .••.• . .••.. •

Joe' s ..... • •

Graco .... • . •

AaZ ...... .. . .. . . . •

Dynex .... ... . . ... . . •

I o 2 4

I 6

I 8

I 10

Figura 12.8: Por~oes do mercado, fain de 45·55

241

Se fizessemos isso com as outras categorias de idade, os leitores veriam com maior c1areza e mais depressa cornu as con­correntes controlam os diversos mercados.

J 2.4.2 Diagramas em forma de lo rla

Os diagramas em forma de torta, as prediletos de j omais e relat6rios comerciais anuais, raramente sao bons. Na melhor das hip6teses , permitem que os leitores vejam apenas as pro­pon;oes entre alguns elementos que constituern 100% de urn todo. Sao d ificeis de ler quando tern mais de quatro a u cinco segrnentos, particularmente quando esses sao estreitos. E tor­nam·sc especialmente desajeitados quando as Icitores tern de

Page 129: boothwaynec-140923095935-phpapp02

242 A ARTE DA PESQUlSA

consuitaT urna legcnda para classificar os padr5cs nos segmen­t05 com categorias. Compare e veja como IS mais facil inter­pretar a mesma informa<;:ao em urn diagrama de barras do que em urn em forma de torta:

• D

ABCDEFG

Figura 12.9

I - Evite os diagramas em forma de lana. Mas, sc insis­tir em usa-los, fa<;:a-o apenas quando seus leitores pre­cisarem obscrvar algumas poucas comparacoes im­precisas e quando as diferen<;:3s forem inconfundiveis it prime ira vi sta.

2 - Organize os segmenlos em urna ordem que fa<;:a sen­tido para seus Ieitores, comecando as 12 horas e avan­cando no sentido dos ponteiros do reJ6gio. Se nao tiver urna ordem melhor, disponha os segmentos do maior para 0 menor.

3 - Se urn segmento e importante, enfat ize. • Faca 0 segmento enfatizado com cor mais escura ou

saturada, com os tons adjacentes con trastando 0 mais possive!.

• Para uma enfase especial, deslaque esse segmento do reSlo.

PR£PARANDO-SE PARA REDIGIR, REDIGINDO E REVTSANDO 243

• D

Figura 12.10

Outros diagl"amas de volume lambem sao preferidos pe­los jornais, mas nao tern lugar em relatorios academicos. Apre­senlam as limitatyoes dos diagramas em forma de lona, c lor­na-se mais dificil julga-Ios, apenas olhando. E labore urn dia­gram~ como esse abaixo, e os pesquisadores experientes irao considera-Io urn ta la :

o PaisA

• PaisB

o Paise

• Demais paiscs

Figura 12. 11 : ImpOl'·ta~oes d e petr6leo, 1980-90

Page 130: boothwaynec-140923095935-phpapp02

244 A ARm DA PESQUISA

12.5 Gnificos

Os gnificos nao transmitem valores precisos com faci li­dade, mas podem mostrar com eficacia reJa~Oes grosseiras en. tre muitos pontos. ,

\ "C 170

• 150 • 130 • liD •

• • 90 • •

5 10 15 20 Falhas ~r 1.000 horas

Figura 12.12: Aumento de ralhas em temperatu .... operacional

Os gnificos sao especiaimente eficazes para apresentar urna imagem dos dados que se movem continuamente ao longo de urna linha:

" ~ ;l 8

. ~ -Ii " u '5 -"

10

9

8

7

6

5

100 200 Temperatura (0C)

300

Figu ra 12.13: Diminui~io de viscosidade com 0 aumcnto da temperatura

PREPARANDO-SE PARA REDIGIR, REDIGINDO E REVlSANDO 245

Cuide para que os leitores interpretem os graficos como urn relate sabre alguma entidade que muda com 0 tempo, e que projetem a tendencia para aiem do diagrama.

Se voce tiver diversos casos indcpendentes, use graficos separados. Mantenha urn numero pequeno de linhas por gnifi­co e tom e forte 0 contraste entre e las. Os leitores tern dificul­dade em seguir mais de tres linhas, especialmente quando elas se cruzam, como em 12.14.

10

~ 9

.~ 8 ., -Ii 7 .~ .] 6

100 200 Temperatura eC)

300

~ Produto l

-0--0- Produto 2

~ Produto3

-¢--O- Produlo 4

Figura 12.14: Din1inui~io da viscosidade com 0 a u mento da temperat u ra

Tra<;ando duas ou tres linhas que representam pOf(;oes de urn total, voce pode criar urn trac;ado de "area" preenchendo as espa<;os entre as Iinhas com cor ou tonalidades de cinza. Ponha a quantidade maior na base e preencha com a cor mais escura. Entao, ordene 0 resto de maior para menor, com cores cada vez mais claras.

Page 131: boothwaynec-140923095935-phpapp02

246 A A RTE VA. PESQUlSA

JOO

200

100

o Jan_ Fev. Mar. Aor, Maio Jlln. Jut Ago. Sel. OUI . Nov. Dez.

Figura 12.15: Particulas aereas disseminadas por incineradores piiblicos (paries pOI" milhio)

12.6 Controlando 0 impacto retorico de um recurso visual

Geralmentc.o tipo de dados devc dcterminar 0 tipo de re­curso visual. Mas considere lambem 0 impacto que voce quer causar. Por exemplo, a Figura 12. 16 mostra os lucros gcrados por dois produtos durante mais de treze anos.

$M 20

15

10

5

82

'" ...... ... ... ..

86

"-" ......... ...... ..

90 94

Grafi te __ _

A~o··· •.. . . _

Figura 12.16: Lueros por Upo de produlo. 1982-1995

PREPARANDQ-S£ PARA REDIGIN, REDIGINDO E REVJSANDO 247

Esse grafico de linhas e 0 modo bisico de apresentar dados sobre como dois casos independentes (tipos de produto) mudam ao longo de uma variavel independente (tempo) e uma varia­vel dependente (niveis de lucro). Tal tipo de grMico enfatiza a mobilidade diferente dos dois produtos, mostrando aos leito­res que a grafite e mais lucrativa.

No entanto, voce pode apresentar uma versao aparentemen­te diferente com os mesmos dados, se apresenta-Ios nao em urn grMico de Ijohas, mas em urn tra~ado de areas:

SM 30

Figura 12.17: Conlribui-;io pa ra os lucros po r (lpo, 1982-1995

Os dados aqui sao identicos aos da Figura 12. 16, apresenta­dos com a mesma exatidao e prccisao. Urn lei tor com expe:nen­cia em ambos os tipos de gr.ificos poderia deduzir a mesma infor­mac;.ao tanto de 12. 17 como de 12. 16, com pouca difieuldade.

Observe, porern, como e difercnte 0 impacto da irnagem . Na Figura 12.16 a linha para os lucros com 0 a~o declina, mas · em 12. 17 parece subir visivelmente. A area assinalando os lucros com 0 passar do tempo encolhe, mas a imagem e a de uma linha ascendente. Em 12. 16, vemos a imagem de uma empresa com urn produto born e urn DaO tao born. Em 12. 17, vemos a imagcm de uma empresa cujos lucros totais tern subido continuamcnte. A imagem desses mcsmos dados e ainda diferente em 12. 18.

Voce tambem deve considerar as diferen9as ret6ricas oa comunica~o de diversos tipos de numeros, nao apenas 0 que os numeros medcm (vendas de unidades, mo ntante das vcndas to-

Page 132: boothwaynec-140923095935-phpapp02

248 A AR1}; DA PESQUISA

tais, lueras, etc.), mas tambem se os numeros representam valores absolutos ("mimeros pums") ou valores relativos (por­centagens, propon;oes, etc.). Em cada urn dos gnificos relati­vos a lucros sebre os produtos. a varia vel dependente sao os 'u.,.cros em mil~Ot$. Esses mesmos dad~s tambem poderiam n~o sec comumca~os como numeros puros, mas 'cpmo proper­~oes. mudando 0 Impacto visual urna vez; mais. '

SM 30

20 Grafite

10

A,o

o 82 56 90 94

Figu.-a I2 .J8 : C ont .. ibui~iio para os luc ros por tipo. 1982-1995

Compare 12. 16 com 12.19, que se baseia nos mesmos da­dos, .mas agora como uma propor(:iio de lueros tclais, que sobe contmuam~nt~ de 1982 a 1995. 1550 faz os produtos de ac;o pa­recerem ate plOres do que nos numeros puros em 12. 16.

% 60

'0 .. Grafite ---

'0 .

.. Al<O ••••.•••••

JO ..

20 ... . .... ... ...

10

82 56 90 94

Figura 12.19: Contribui~io para 0 luero tot al por t ipo, 1982-1995

PREPARANDO-SE PARA. REDIGIN, REDIGINDO E REVISANDO 249

Se voce decidir partir da forma visual basica para 0 seu tipo de dados, esteja certo de que tern uma boa rauo para faze-Io.

12.7 Comunica~io visual e etica

Quando voce escolhe urn recurso visual por seu impacto, lembre-se de que sua decisao retorica tern uma dimensao etica. Por exemplo, suponha que voce esteja apresentando dados sobre lucros para responder a uma pergunta a respeito de como uma determinada empresa esta se saindo de maneira gera\. Nesse caso, quaJquer urn dos cinco gnificos seria adequado. Mas, se a pergunta fosse relativa ao futuro do departamento de ayo, urn leitor poderia razoavelmente conduir que 12.17 ou 12. 18 seriam menos indicados que 12. 16 ou 12. 19. Na verdade, os le itores poderiam considerar 12. 17 del iberadarnente enganoso.

Sempre que apresentar dados visualmcnte. voce precisara escolher entre urna vcrsao para obter 0 impacto correto e sua responsabilidade, nao apenas quanto aos fatos, mas quanto a aparencia deles. Uma vcz que tabelas, diagramas e gnificos pa­recem objetivos. poderao enganar os leitores inexperientes, mas os Ieitores experientes irao desconfiar, achando que voce esta distorcendo as imagens a serviyo de sua versao. Infelizmente, as vezes e dificil distinguir 0 impacto ret6rico eficaz da mani­puJayao desonesta . Essa decisao enganadora aplica-se a tudo em seu relatorio, mas e cspecialmente importante no que diz res­peito a recursos visuais, por causa de sua capacidade de aprc­sentar dados de maneira tao clara e forte.

Compare, por exemplo, os dois diagramas na Figura 12.20 . Os dados nos dois sao identicos, mas observe a inclinayao das

barras . A esquerda, a inclina'Yao representa as mudanyas dos dados

com maior exatidao, porque a escala comec:;a em D. A direita, a inclinayao e muito mais ing reme. porque a escala comec:;a em 80: por conseguinte, a barea para 1994 tern a metade do tama­nho da de 1982, mu;(o embora a diferenfa em va/ores abso/u­(os seja de 100/0. Como resultado, 0 diagrama da direita suge-

Page 133: boothwaynec-140923095935-phpapp02

100

so .. .. 20

0

250 A ARTE DA PESQUlSA

32 84 86 88 90 92 94 82 84 86 88 90 92 94

Figura 12.20: jndlce de polui~io da capital, 1982- 1994 (mMias de julho)

t: urna melho~ maior do que 0 cia csquerda, urna interpreta­C~o qu~ podena enganar alguns dos leitorcs, e que autros con­slderanam desonesta.

A questao da hones tidade em 12.20 e mitigada pelo fata d~ que as harras estao etiquetadas c1aramente com vaJores pre­CISOS. Mas urn aut~r q~e trunque 0 eixo vertica l de urn grMi­co para fazcr uma. mcJmacao parecer mais ingremc pode estar C~?do ~ frontelra da ~on~stidade. porque para 0 espectador a mclmacao de urn graflco e sempre a imagem predominante Mudando si~plesmente a escaJa para urn indice vertical, voc~ pade comumcar relatos que parecem diferentes:

102 -- o ____ ~ 100 ~ - .. ,.

" 92

90 .. " .. 86 .. 90 92 " 82 .. 86 .. 90 92

Figura 12.2 1: indlce de poluit;io da capital, 1982-1994 (medias de julho)

"

PREPARANDO-5E. PARA REDIGIR, RED1GfNDO E REVlSANDO 251

Por outro lado, nem sernpre e faci! distinguir 0 que e "objetivo" do que e "etico". Suponha que voce seja urn cientis­ta ambiental e que saiba que qualquer perito cons ideraria essas diminuic;:5es aparentemente pequenas para serem altamente significativas. Mas voce tern certeza de que seus leitores, inge­nuoS quanto a estati stica, mas influentes, desprezarno as dife­renc;as como sem senti do, se as diferenc;:as visuais no grafico da esquerda forem miniroas. Se voce esti certo de que essas gran­des diferenCY35 v isuais comunicariam roelhor a verdadeira im­portoncia cientifica dessas diferenc;:as, cntao a pergunta sobre qual grafico e mais honesto fica menos clara.

12.8 Ligando palavras a imagens

Este cap itulo focaliza os recursos visuais. mas eles sao apenas urn elemento em urn texto composto principaimentc de palavras e nao podern falar por si sOs. Voce precisa ligar suas pa­lavqas as imagens.

1 _ Sernpre identifique as recursos visuais com c1areza. • Ponha urna legenda em cada tabela. desenho c gran­

co. (Muitas publicac;:Oes poem a legenda abaixo do recurso visual, mas, quando a legenda e colocada aci­rna da imagem, os leitores sao eneorajados a le-Ia primeiro, 0 que os ajuda a saber 0 que procurar.)

• Se passivel, a legenda deve sugerir a proposta do re­curso visual. Pelo menos, deve indicar 0 tipo dos da­dos apresentados .

• Identifique eada eixo, incluindo unidades de medida. • ldentifique cada Iinha de grafico quando houver mais

de uma. 2 - Numere tabelas e figuras separadamente. 3 _ Locali ze as tabelas e as figuras 0 mais proximo pos­

sivel do texto que as discute. 4 _ Sempre se refira as tabcl as c figuras no corpo do tex­

to. Diga aos leitores 0 que ver e, se quiser que eles con-

Page 134: boothwaynec-140923095935-phpapp02

252 A ARTF. DA PESQUISA

siderem urn determinado ponto de uma tabela ou fi ­gura, diga-o explicitamente.

5 - Se necessaria, de destaque it pon;ao da imagem que e importante.

12.9 VisualizaIYao cientifica

Neste capitulo, discutimos os recursos visuais com pouees dados e variaveis, mas algumas areas cienlificas trabalham com milhares, ate mesmo milhoes de dados. conjuntos tao comple­xos que 56 podemos compreende-Ios pelo que e chamado de " visualiza<;ao cientifica". A menos que voce seja urn pesquisa­dor avam;ado. e pouco prov8vei que va precisar de tais tecni­cas e laboradas de visualizacao. E, mesmo que precise, 0 pro­cesso sera fe ito em grande parte por meio de urn software de computador. Voce enfrentani as mesmas consideracOes Te tori­cas, mas seu contrale do processo dependeni do eShig io evo­lutivo do software e de sua capacidadc de nao apenas usa- Io, mas d~ entender seu potencial de expressao.

12;10 nustra~oes

Tabelas, diagramas e grMicos nao SaO os unicos tipos de ferramentas visuais. Os pesquisadores taml>ern usam outros re­cursos visuais para ilustrar assuntos conceituais. Com excec;ao dos exemplos dados oeste capitulo, nao usamos ncohuma tabe­la ou grMico oeste livro, mas utilizart}:os divcrsos di agramas . Nao podemos eotrar em detalhes sobre como coostruir outros recursos visuais , mas eis aqui a lgumas das fo rmas malS co­muns usadas em uma variedade de areas de estudo.

PREPARANOO-SE PARA RED/GIR, REDIGINDO £ REVlSA.NOO

Para i1us trar isto

processo

.................................... use iSlo

253

fluxograma

organograma ........................................................................ relac;Oes 16gicas diagrarna

rnatriz .............................. .................. ..................... .............. ...... objelo desenho a trac;o

desenho

folografia ............................... . ...................... ............. ......................................... partes de urn objeto complexo

............... ......... .... ...................... . ac;aoletapa de urn processo

... .................................................... Tela~s espaciais

desenho a uaC;o visio de partes separadas ..................................... descnho a trac;o desenho folografia .................................................. desenho a trac;O dcsenho ................................... ........................................ .........................................

detalhes complexos fOlogra fia descnho .. + ................................. ........................... ...................................... .

ambiente de pesquisa fotografia diagrama

12.11 Tornando visivel a logica de sua organizac;io

Em algumas areas - particularmente de ciencias h~~lanas _ os autores usam poucos recursoS visuais para transmttlr seu raciocinio. Podcm ocasionalmcnte incluir urn sub titulo, inserir urn espac;o a mais entre se(,':oes, enfatizar alg~mas pala~ras com italieo e negrito, mas com pouca frcquencl8. Na malor parte das vczes, eonfiam na clareza intrinseca de sua organiza~ao e em sell cstilo de rcda~ao para comunicar a logica de sua argu­mentac;ao . Na verdade, alguns alegaro que fazcr 0 contrario fa­voreceria os le itores semi-analfabetos, que nao conseguem le r bern 0 bastaote para entender mesmo id6ias moderadamente

complexas.

Page 135: boothwaynec-140923095935-phpapp02

254 A ANTE DA PESQUISA

Mas, na maioria das outras areas academicas, e em quase t~as as nao academicas, os autores utilizam recursos visuais hvremente quando tais recursos podem ajudar os leitores a en­tender melhor a estrulUra J6gica da informa~o. Nao hesitam em decompor oracOes e panigrafos em recuos de tabulacao nao s6 para transmitir a estrutura do que estao comunica~do rr:as tam­bern para aliviar 0 peso de urn texto compacta. Nes te iivro, sem­pre que surgiu a oportunidade, procuramos apresentar as infor­macOes com reellOS de tabulaCao.

Compare 0 panigrafo a seguir com 0 que voce leu nas pp 232-3 : .

Existem alguns principios gerais de e laborac;:ao. Assim co­mo em rudo 0 mais em seu projeto, dedique alguns minutospla_ nejando 0 que voce quer que sua tabela, diagrdma ou gratico demonstrem. Que ni~el de precisiio os leitores esperarn dos dados? As ta~clas s~o rnais precisas do que os diagro:lmas e grMicos. Que tlPO de Impaclo ret6rico e visual voce quer causar em seus leitores? As tabelas parecern apresentar os dados objetivamen. Ie. Embora voce selecione as clados, eles parecem nao refleti r sua ~nterpretacao . Apresente os dados em tabelas, se quiser ser prec lSO em sua descriCilio e reduzir 0 impacto ret6rico. Diagra. mas e grificos tern maior forca visual. ESlimu lam as leitores a reagir a imagem visual. Os diagramas convidam os leitores a fa. zer comparac5es. Os grificos convidam as leilores a acompanhar urn relata. Voce quer que seus leitores vejam uma proposi~jjo nos da~os? As tabelas incenrivam as leitores a imerpretar os da. dos: D!agramas e grMicos parecem aprcsentar sua proposiCao rnals dlretamente.

Agora, realme~te, alguns leitores poderao a legar que pre. ferem urn lexto aSSIm a urn destacado por bolinhas au subtitu. los, porque acreditam que podem absorve-Io melhor _ especial­~ente os leitores da area de humanas. Mas, se pudermos con­flar no que as pesquisas informam sobre como a maioria de nos Ie e entende, devemos admitir que a maior parte dos lei to­r~s prefere ver a informa'Yao estruturada visualmente, que faci­IIta a absor~ao, a compreensao c a reten~o das infonnacOes.

PRJ::PARANlJO..SE PARA REDIGIR, Rl:."DIGINDO E REVlSANDO 255

12.12 Usando recursos visuais como urn auxilio a reflcxio

Os recursos visuais ajudam a comunicar dados comple­xos, mas tern outro uso importante: tambCm podem ajuda-Io a descobrir padr5es c relacOes que, caso contrario, voce poderia deixar passaro

Antes de redigir. tente dispor seus dados de maneira visual. Oedique algum tempo organizando e reorganizando suas in­formacoes de fonnas e maneiras diferentes - em grafico, qua­dro, tabela au diagrama. Pode ser que nao os inclua de verdade em seu texto final , mas eles podem estimular seu pensamento e ajuda-Io a organizar suas ideias. Quanto mais forem diferen­les as maneiras como voce estruturar e reestruturar seus dados, especialmente se isso 0 for~ar a sail" de sua ratina comum de pensamento, melhor voce entendera esses dados e mais opor­tunidades tera de descobrir coisas que poderao surpreende-Io . Como seria urn gnifico que comparasse 0 desenvolvimento mo­ral de Macbeth com 0 de Lady Macbeth? Quais seriam as va­riavpis dependentes?

Esses recursos visuais podem ate sugerir maneiras de orga­nizar seu relat6rio. Por exemplo, voce realmente pode nao apre­sentar a tabela com palavras que usamos na p. 237, mas suas categorias nos cixos horizontais e verticais sugerem modos diferentes de organizar sua materia - por periodo ou peJas ca­tegorias de crenca, ordem e individualismo.

Quando tiver urn rascunho pronto, ex peri mente quebrar urn paragrafo ou uma secao que sinta estar muho longos e can­sativos, dividindo-os com 0 auxilio de bolinhas e de subitens recuados que usamos aqui. Se nao puder nem mesmo come­car a faze-Io, e poss ivel que exista algum problema em sua or­ganizacao - suas frases podem estar apenas enfileiradas, uma depoi s da outra, numa ordem simplesmente do tipo bem. aqui esta mais uma ideta. S6 quando voce tiver organizado seu texto de maneira coerente e organizada podera come'Yar a pensar em usar subitens marcados por bolinhas.

Use titulos livremente (mas veja as pp. 267-8). Eles aju­darao seus leitores a identificar onde uma sC'Yao para e outra

Page 136: boothwaynec-140923095935-phpapp02

256 A AR'TE DA PESQUlSA

co~e~a. m.as ta_ffiMm podem ajudar voce a diagnosticar sua pr6-pna orgamza~ao. Se nao conseguir decidir onde por urn titulo ou que palavras usar para compo-Io, isso podc rcprcsentar urn problema, e, se voce tern urn problema, seu lei tor tambem teni.. . Assim como outros recursos formais. os ,,*suais encora­J~m-~o a descobrir idei~s e rela~oes que, caso c<?fltrario, pade­na nao notar. Nos prox lmos tres capituios, discutiremos Qutras fonnas ret6ri cas que tambem podem estimular seu pensamen­to e mclhorar a compreensao de seu proj eto do comef;O ate 0 fim.

Sugestoes uteis: Pequeno guia para recorrer a urn orientador

Muitas faculdades tern professores-assistentes au orienta­dores para ajudar os alunos na redatyao de seus trabalhos. (Se voce nao sabe cnde encontrar urn, pergunte na seeretaria do departamento de redac;:ao ou no gremio estudantil.) Os orien­tadores 0 ajudarao quando voce tiver dificuldade com um rela­t6rio, mas nao podem pensar ou escrever por voce, nem ajuda-Io, se voce nao souber consulta- los. Eis aqui como fazer.

Se possivel, cncontre um orientador que conhe~a algo a respeito de sen assunto em questao. Voce ja viu como pensar e esc rever estao entrelacados. Embora os orientadores tenham formacao para lidar com diversos tipos de rdatorios, voce re­cebera urna orientac;:ao melhor se 0 seu entender da sua area.

I Planeje. Antes de procurar 0 orientador, certifique-se de que e capaz de descrever 0 que fez, 0 que nao fez , e que par­tes da larefa the causam dificuldade. Quanto mais claro voce for, melhor sera a orientac;:ao que recebcra.

Algumas faculdades podem exigir que os alunos aprcsen­tern os rascunhos ou esboc;:os do trabalho. antes de reeeberem orientacao. Siga esse procedimento, mesmo se 0 orientador nao pedir. Pelo menos, prepare 0 material de que 0 orientador pre­eisara para ajuda-Io.

Em primeiro lugar. prepare urn csboc;o, mostrando ao orien- . tador em que pe se encontra seu relatorio . Urn esboco que rela­eione as proposicOes principais e melhor do que urn esb<x;o que liste os ta picos, mas qualquer esboco e melbor que nenhurn. Voce deve mostrar as partes que ja redigiu, as de que esta rela­tivamente seguro e as quc ainda nao passarn de suposicoes. Se voce esta nas fases mais iniciais da pesquisa e nao pode ela­borar urn esboc;:o, redij a urn texto a respeito de seu t6pico espe­cifico, em urn paragrafo a u dais, ou em forma de urna lisla dos tapicos que voce comec;:ou a investigar.

Page 137: boothwaynec-140923095935-phpapp02

258 A ANTE DA PESQUISA

Em scguida, se liver urn rascunho, prepare duas c6pias do tcxto passado a Iimpo. em espa<;o duplo. Uma copia deve ir iimpa, pronta para receber as anota~s do orientador. A Quln! voce deve assinalar como se segue:

I - Trace uma linha entre a introdu~ao e d-texto do rela­t6rio, c autra entre 0 fim do tcxto e a conciusao., Sf! 0 tcxto for longo 0 bastante para ser dividido em sec;oes de duas - all tres - paginas, trace as linhas ali tambem.

2 - Rea lce a proposiC;ao principal de seu rclat6rio. Se voce dividiu 0 relat6rio em sec;Oes, rca1ce a proposicao principal de cada sec;ao.

3 - C ircule as palavras perto do fim da introducao que nomeiem os conceitos-cbave que voce desenvolvcra como temas no resta do relatOrio. Circulc essas palavras e as semelhantes a elas, dai por diante.

4 - Se voce dividiu seu relat6rio em se(foes de tres pagi­nas OU mais, repita os passos 2 e 3 para cada Se(fao.

5 - Acrescente titulos para cada se9ao principal, mesmo se pretender remove-los depois da sessao de orienta(fao.

6 - Assinale nas margcns as areas problematicas onde a reda(fao e particularmente dificil, ou onde voce esla insalisfei­to com 0 que fez.

Nao se esque(f3 de anolar e guardar tudo 0 que 0 orienta­dor Ihe der por escrito.

Antes de if" embora, teoha urn plano de a~io por escri­to. 'Muitos alunos descobrem que, enquanto estavam falando com 0 orientador, pensavam que haviam entendido 0 que fazer em seguida, mas que 0 plano cvaporou-se algumas horas de­pois, quando eles sentaram-se para trabalhar. Antes de despe­dir-se do orientador, porlanlo. tenha urn plano por escrito, com todas as maneiras especificas para melhorar seu relat6rio. Se o orientador nao recomendar a(fOes cspecificas, pergunte. Voce precisa ter wn plano que entenda e consiga seguir.

Capitulo 13 Revisando sua organizaI,iio e argumentat;iio

o tato a seguir podera parecer comp/icado numa pri­meira leitura. Mas, se voce se CQnc:efl/ral" em cada passo, um de cada vez, aehara 0 capitulo bas/ante simples. Ele 0 ajuda­ra a analisar seu relatorio de maneira majs facil e mais com­pleta do que simpfesmenle lendo e imaginando se esta tudo se encaixando bern.

A CHAVE PARA REVlSAR SEU RELATORlO e avaliar como ele se moslra, nao a voce, mas a seu leitor. Para faze-la , nao pode le-Io frase por frase, diretamente do principio ao fim, pensan­do consigo: Hum. talvez precise rnudar esta palavra, encurtar aquelafrase. mas em geral tIIdo me parece muil~ born. A re~i­sao e urna tarefa que requer urn nivel de planeJamento e dls­ciplina mais deliberado do que isso.

I

13.1 Pensando como leitor

Em primeiro lugar, os lei tares nao leem frase par frase, acumulando informa(foes a medida que vao lendo, como se es­tivessem recolhendo contas caidas de urn fio. Eles precisam de uma perceP9aO de estrutura e, mais importante, urna ideia ~o motivo pelo qual devem ler seu relat6rio. Neste capitulo, dls­cutiremos como diagnosticar e revisar sua organiza~ao e sua argumenta~ao. No proximo, discutiremos 0 estilo e, no Capi­tulo IS, como eriar uma introdu(f3.o que "venda" a seus lei to­res a importancia de seu projeto.

Ulna vez que os leitores Icern cada f rase levando em conta como cada uma contribui para 0 todo, faz sentido diagnostica r as elementos maiores primeiro. depois avaliar a clareza de suas frases c s6 por ultimo tratar de assuntos como corre(fao. ortografia e pontua(fao.

Page 138: boothwaynec-140923095935-phpapp02

260 A ARTE DA PESQUISA

Na realidade, e claro, ninguem revisa de maneira laO me­tOdica. Todos n6s revisamos a medida que lemos, corrigindo a ortografia ao mesmo tempo em que reorganizamos nossa aT­gumenta<;:ao. decidindo reestruturar urn paragrafo com a mu­dan~ de uma virguJa ou de urn ponto-~-virgul~ . Mas e born ter em mente que, quando voce revisa de eima p':a.ra baixo da , . estrutura global para as se<;:oes, panigrafos, frases e paJavras, e mais provAvei que descubra boas corre<;:Oes a fazef do que se come<;:ar de baixo, com palavras e frases, e entio if voltando para eima.

Em segundo lugar, independentemente do modo como ce­visa, voce enfrcntara urn problema comum a lodos os autores : nao pode saborcar seu pr6prio texto como seus leitores 0 fariam, porque 0 conhece demais. Quando chega a uma passagem na qual os leitores poderiam trope~ar, voce passa direto por ela, porque nao a esta lendo de verdade. esta apenas se lembrando daquilo em que pensava quando a escreveu.

Para ajuda-Io a superar 0 problema de sua obstinada sub­jetividade. vamos sugerir algumas tecnicas [onnais, ate mcs­mo mecanicas, para voce analisar, diagnosticar e revisar seu tex­to, tecnicas que 0 ajudarao a evitar a compreensao muito facil (e a admira~ao imediata) de suas pr6prias palavras.

. Essas revisoes tomam tempo, portanto comece 0 quanto antes. Alem disso. no processo de revisao, voce quase certamen­te descobrira algo novo sobre seu projeto, algum fato ou .ideia que vai querer acrescentar, alguma parte da argumenta~ao que vai querer refazer. Podera pensar que 0 fim estA pr6ximo, mas a revisao e lao importante quanto quaJquer outra fase de seu projeto, portanto nao a apresse. Na vfirdade, e nessa fase final que voce vira a entender seu projeto mais completamcnte.

13.2 Analisando e revisando sua organiza~iio

o processo consiste de quatro passos:

I - ldentifique a estrutura extema de seu relalorio: a introdu­~ao, a conc lusao e urna frase em cada uma delas que esta-

PREPARANOO-SE PARA RED/G/R. R£DIGINDO E REV1SANOO 261

bel~ sua afinnac;ao principal, a solu~ao para 0 seu proble­ma. Chamaremos a essas de suas proposifoes principais.

2 - Identifique as mais importantes se<;oes do texto de seu relatorio. suas introdu~Oes e as sentem;as que iniciam as proposi<;oes de cada uma dessas seyoes.

3 - ldentifique, oa introdu~ao do relatorio inteiro. seus concei­tos tematicos centrais, e entao acompanhe-os pelo resto do relatorio. Em seguida faya 0 mesmo para cada se~ao.

4 - Retorne ao comcyO para ter uma visao global do relatorio.

13.2.1 Passo 1: identifique a eslrulura ex/erna e as proposifoes principais

Seu lei tor precisa saber de tres coisas, sem ficar com nc­nhurna duvida:

• onde termina a introduc;ao do rclat6rio e comec;a 0 texto, • onde termina 0 tcxto do relat6rio e come~a a conciusao, .t qual frase declara a propos ic;ao principal da introdueao,

assim como da conclusao.

Para tomar esses elcmentos absolutamente claros, faea 0 seguinte:

I - Abra urn novo panigrafo depois da introduy30 e outro novo paragrafo para a conc1usao. Na verdade. de urna linha de espayo entre a inlTodu~ao e 0 texto central, e outra linha entre 0 texto e a conclusao. A menos que 0 costume de sua area desaprove a inc1usao de titulos, voce dcveci inc1uir titu­los nessas transi~oes para ter certcza de que scu leitor nao as deixara passar dcspercebidas.

2 - Na ip.trodu~ao, sublinhe a frase que csteja mais proxima de declarar sua afirmacao principal ou que conduza 0 lei­tor a ela. Normalmente, essa frase sera a ultima da intro­du~ao . (Nao considcre como candidata uma Frase introdu­toria de proposj~ao do lipo: Este relatorio discurira ... Veja as pp. 123-8.)

Page 139: boothwaynec-140923095935-phpapp02

262 A ARTE OA PESQUISA

3 - Na conclusao, fac;a a mesma coisa: sublinhe a frase que melher capte a proposiCao principal do relat6rio, sua afir­m acao princ ipal, c que cx.prcssc a csscncia da solUc30 para o seu problema.

\ , Agora compare a proposicao da introducao ,com a proposi­

<;:30 da concJusao. No minima, e las nao devem refutar wna a c utra. Se urna e mais especifica e contestivel, deve sec a da con­ciusao. Se a dcc1aracao da introducao for vaga, nao especifica, rncramente urna fi"ase " introdut6ria de proposic;ao", corrija-a.

Por exemplo. a introducao e a conclusao a seguir mostram o que voce pede faze r ao aplicar estes testes (vamos presumir que ja identificamos onde acaba a introducao e comeca a con­c1usao). 0 paragrafo introdut6rio:

No seculo XI. a Igreja Cat6lica Ramana iniciou diversas Cruzadas para retomar a Terra Santa. Dais papas requisitaram exercitos para sustentar esse esfo~o. Em uma carta ao rei Hen­rique IV, no ana de 1074, Gregorio VII convocou uma Cruzada, mas nao a levou a frente. Em 1095, seu sucessor, 0 papa Urbano n , proferiu urn discurso no Concilio de Clennont, no qual tam­bern requisitava uma Cruzada, e no ano seguinte, 1096, conse­guiu iniciar a Primeira Cruzada. Discutirei as razOeS que esses papas alegaram para iniciar urna Cruzada.

E 0 paragrafo final :

Como podemos ver a partir desses documentos, os papas Urbano 11 e Gregorio VII convocaram as Cruzadas como uma maneira nao 56 de restituir a Terra Santa ao dominio cristao, mas tambtm de preservar a unidade politica da Igreja e da Europa Ocidental. Urbano queria conquislar os mUfyulrnanos, mas, nao menos prepanderantemente, refon,ar sua autoridadc e controlar a be1 igerineia entre os europeus, orientando suas energias para outro ponlo. Gregorio desejou unifiear as Igrejas romana e gre­ga, mas tambem prevenir 0 colapso da Igreja Catolica e ale mes­rno do imperio. Para alcan.;ar seus fins politicos. cada papa len­tou unir os pavos em urn objelivo comum, urna luta religiosa contra 0 Oriente. para irnpedi-Ios de lutar entre si c para unifi-

PREPARANDO·$E PARA RED/GIR, REDIGINDO £ REV/SANDO 263

car urna Igreja cada vez mais dividida. Portanto, as Cruzadas nao foram simplesmentc um esfo~o religioso para retomar a Terra Santa e preservar a fe em Deus. como a mcm6ria popular amplamente acreditou, mas tambem urn esfon;o politico para uni­ticar a Igreja e a Europa e salva-las das fo~as intem as que amea­~avam dilaeera- Ias.

A declara~ao da introduc;ao pareee ser a ultima frase:

Disculirci as razOes que esses papas alegaram para iniciar uma Cruzada.

Mas essa frase e tao sem substancia, tao vaga, tao ineon­testaveJ, que nao faz nada aJem de anunciar: Vall can tar-Illes alga sabre as Cruzados.

A declara~ao na conclusao parece ser a ultima frase :

Portanto. as Cruzadas nao foram simplesmente um esfor.;o ~elig ioso para retomar a Terra Santa e preservar a fe em Deus, como a mem6ria popular amplamente acreditou, mas tambCm um esfon;:o politico para uniticar a Igreja e a Europa e salva-las das fon;:as intem as que amea"avam dilacera-Ias.

Essa propos i~ao e mais especifiea, mais substantiva e plau­sivelmente contestavel. Tendo visto isso, tambem vemos como revisar a ultima frase da introduc;ao. Poderiamos s implesmen­te copiar a frase final da conclusao e usa·la no Jugar da frase final da introdUl;ao (substituindo 0 porlanto por algo adequa­do, e claro). Ou poderiamos redigir uma frase que, ainda que nao revelasse toda a extensao da proposi.yao, ao menos uniria as duas co isas mais clara mente, assim:

Os papas convocaram essas Cruzadas para restituir Jeru­salem a cristandadc. mas os documentos que registram seus dis­cursos sugerem outros motivos alcm desse, motivos envolvendo preocupa.;Ocs polit icas quanto a unidadc curopeia e crista.

Page 140: boothwaynec-140923095935-phpapp02

264 A AR7E OA P£SQUISA

13.2.2 Passo 2: identifique as sefoes principais e suas proposifoes

A proxima coisa que seus leitores tern de saber sabre sua organiza<;ao e oode acaba urna sec;ao de seu relat(lrio e comec;a a seguinte, equal e a proposic;ao principal em ca,da urna delas. Assim, para cada seltao, fac;a 0 que acabou de fazer para 0 rela­t6rio inleiro.

I - Djvida 0 texto de sell re latorio em sec;oes principais. Deixc um espaco dupla entre as sec;oes. Se nao conseguir achar os Iimites das secOes. seus leitores tambem nao conseguirao.

2 - Ponha urna barm apos a introduc;ao de cada sec;ao princi­pal. Cada sec;ao precisa tec urn segmento pequeno que a introduza.

3 - Ponha luna barra separando a conclusao de cada se~o prin­cipal. Se suas s~Oes farem curtas, nao ocupando mais do que duas paginas, talvez nao precisem de conclusao separada.

4 - Localize e saliente a proposi~ao principal de cada ser;:ao, a Frase que expressa sua ideia principal. Se voc€ nao puder encontrar uma frase que expresse sua proposi~ao, seus le i­tares poderao muito menos.

5 - Normalmente, a proposi~ao de cada sec;iio deve ser a ulti­ma frase de uma introduyao breve. Se a proposir;:ao de cada sec;ao nao aparecer oa introdur;:ao dessa sec;ao, c porque voce deve ter uma boa razao para coloca-Ia no fim. Quando os leitores nao veem logo a proposi~ao de uma ser;:ao, tem mais dificuldade em captar sua argumentac;ao.

6 - Nunca ponha a imica propos i~ao de uma sec;ao no meio da sec;ao.

Se nao puder executar depressa cada uma dessas elapas, vo­ce provavelmente descobriu urn problema na organizaC;ao de sell relatorio. Consulte novamente as pp. 138-41 e 188-9 para revi­sar como organizou suas ideias c estruturou sua argumentac;ao.

Quando salientou suas proposi~oes, voce produziu urn esbo­(,;0 que agora pode ler, mas sena melhor escreve-Io. Seu esbo«o sem agora uma Iista de frases parccida com a que segue:

PREPARANDO-5E PARA REDiGIR, H£J)IGINDO E REV15ANDO

Frase que contem a proposi~ao no fim da introduc;ao Subproposi~ao 1

sub-subproposi~ao 1 sub-subproposir;:ao 2 sub-subproposi~ao 3

Subproposi~ao 2 sub-subpropos ir;:ao 1 sub-subproposic;ao 2

Subproposi~ao 3 sub-subproposi~ao I sub-subproposir;:ao 2

Subproposir;:ao X ...

265

Proposic;ao principal da conclusao .• Agora, pergunte-se : se eu reunisse todas essas proposu;oes

em urn tinieo pamgrafo, faria sentido?

J 3.2.3 Pusso 3: diagnos!ique a continuidade dos tenras I . _

Seu pr6ximo passo e determinar se essas proposl?oe~ e subproposic;oes "sustentam-se" eoneeitua lment,e,.Em pn.melr~ lugar, voce preeisa detenninar se suas P~OPOSI~oe~ estao ah­nhavadas por urn certo ntimero de conceltos temallcos essen­ciais, palavras que expressam eonceitos centrais que deve~, a partir da introdur;:ao, coner pelo texto ate a concludo. Aphque esse teste da seguinte forma:

1 - Na inlrodu~ao e na eonclusao, particularmente nas propo­siC;Ocs circule os conceitos-ehave que desenvol vem. 19no­re pal~vras genericas como "t6pieo", "assunto", "importan­te", "significativo" e qualquer cutra palavra que nao se re­fira a essencia da afirma~ao.

2 - Se n~o puder encontrar nt!nhuma palavra-chave, ou achar apenas a lgumas,

• Procure detidamente nas uitimas paginas de sell relatorio os conceitos que aparecem ali com mai~r freq{H:neia.

Page 141: boothwaynec-140923095935-phpapp02

266 A AJ(J1,- DA PESQUISA

• lncorpore esses conce itos nas duas propos ir;5es, tanto a do rim da introducao como a da conclusao.

Po r exemplo, quando procuramos os conceitos tematicos essenciais no relat6rio sabre as Cruza<4ts, descpbrimos que a propos iCao da introducao cstava desprovida de 'eonccitos sig· ni fica tivos: '

Discutirei as razijes que esses papas alegaram para iniciar urna Cruzada.

Contudo, podemos encontrar diversos temlos-chave no ul­timo paragrafo (e em vari as anteriores):

Como podemos ver a partir desses documentos, os papas Urbano n e Greg6rio VII convocaram as Cruzadas como urna maneira nao s6 de rcstituir a Terra Santa ao dominic cristao, mas tambem de prese rvar a unidade politica da Igreja e da Europa Ocidental. Urbano queria conquistar os mu~ulmanos , mas 030 menos prcpoodcrantemente refor~ar sua autoridade e co ntrolar a beligerancia entre os europeus orieotando suas energias para outro ponto. Gregorio desejou unifiea r as Igrejas romana e grega, mas lambern prevenir 0 colapso da Igreja eat61iea e ale mesrno do Imperio. Para alcam;ar seus fins poli­ticos, eada papa lentou unir os povos em urn objetivo comum, uma luta religiosa contra 0 Oriente para impcdi-Ios de lutar entre 51 e unifiear uma Igreja cada vez mais divldida. Por­tanto, as Cruzadas nao foram simples mente urn esfor~o religio­so para relomar a Terra Santa e preservar a f6 em Deus, como a mem6ria popular amplamente acreditou, mas tambCm um es­for~o politico para uDifiear a 19reja e a Europa e salva-las das fo~as intemas que amea,<avam difaeera-Ias .

PodeOlos montar os conceitos-chave em apenas a lguns termos:

prcservar a unidade politica interna, dirccionando a agita­~iio interna para um esfor~o religioso cxterno.

Em sua introdu,<iio, os leitores devcm rcconhecer os coo­ceitos centra is que voce usara para montar sell relat6rio e, ao

PREPARANlXJ-SE PARA R£DIGIN, R£DIGINDO E REVTSANDO 267

terminarem de ler a conclusao, devem estar com esses concei­tos gravados na memoria. Se as palavras-chave da introduc;ao nao estiverem c1aramente relacionadas as palavras-chave da con­clusao. os leitores poderao sentir que voce quebrou a promes­sa implicita feita na introduc;ao. Se os termos circulados na conc1usao forern mais deta lhados do que os da introduC;ao. pro­cure delerminar se deveria Ie-los apresentado na introduC;ao.

o passo seguinte e deterrninar se aqueles termos-chave cir­culados aparecem constantemente nas subproposic;oes em todo o resto de seu esboc;o. Nao temos espac;o para ilustrar as eta­pas seguiotes aqui , mas voce deve fazer, para cada setyao, exa­tamente a mesma coisa que acabamos de fazer com a introdu~ tyao e a conclusao no relatorio sobre as Cruzadas:

1 - Circule as palavras nas subproposityoes que sejam as mes­mas ou obviamenle relacionadas aos termos c irculados nas proposic;5es da introduc;ao e da conclusao.

2 - Se a lgoma subproposic;ao nao cont iver termos da introdu­tyao ou da conclusao, voce pode ter deixado de relaciomi­la com sua afirmac;ao principal. Mesmo que voce pense que 0 fez , seus leitores poderao nao vcr a ligac;ao.

• Tente revisar as subproposityoes de forma que incluam al­guns dos termos c irculados. Se nao puder. cons idere a possibil idade de corrigir a sec;ao ou mesmo elim:na-Ia de seu relatorio.

3 - Agora fatya 0 oposto . Confira os conceitos importantes das subproposityoes que nao teoha mencionado nas proposi­c;oes introdut6ri as ou finais .

• Revise 0 texto para acrcscentar esses termos-chave nas proposic;oes.

Agora crie titulos para as sec;ocs principais:

- Na sentent;a que encerra a proposic;ao de cada sec;ao. iden­tifique os termos-chave que aparecem unicamente ou com

Page 142: boothwaynec-140923095935-phpapp02

268 II AR7E DA PESQUlSA,

maior frequencia nessa sC'fao. Entre esses tennos incluem­se names de conce itos-chave ou de pessoas, lugares e cai­sas importantes.

2 - Reuna esses tennos-chave em urna frase que identifique exclusivamente a seelio e tom e essa frase 0 titulo cia secao. Fac;a isso mesmo que, no tipo de tcxto que v6c.e esta escrc­venda, os pesqui sadorcs expericntes nao ' usem titulos. Voce semprc podcra apaga-los antes de imprimir 0 texto final Se tiver tempo, repita esse processo para cada sub­subsecao princ ipa l.

13. 2.4 Passo 4: diag nostique 0 conj uflto

Se suas proposicoes "unem-se" conceitualmente, deter­mine agora se elas "acrcscentam algo" a urn conjunto que sus­tenta sua proposicao principal, a afirmaciio principal de sua argumentacao.

I - Leia todas as sentem;as com proposi~oes como se fosscm urn (mico paragrafo.

2 - Nao podemos Ihe indicar urn modo infalivel de saber se elas contribuem para urn conj unto, portanto este e urn born momento para pedir a urn amigo, parente ou colega para ouvi-Io fazer uma apresenta~ao oral de seu relat6rio. Use seu esbo~o de proposicoes como urn guia. Explique a seu o uvinle (ou, na falta de urna audiencia, a voce mesmo) 0

principio de sua organiza~ao: ela e cronol6gica e, em caso afirmativo, por que? Vai do mais;importante para 0 menos importante e, nesse caso, por que?

13.3 Revisando sell argumento

Tendo determinado que sua organiza~ao e pelo menos plau­slvel, a pr6xima pergunta que voce deve fazer e se essa orga­nizacao expressa urn argumento ou sc nao passa de urna col­cha de retalhos de cita<;oes e dados.

PREPARANOO-SE PARA REDlGfR, REDlGfNDO 1;- REVlSANDO 269

J 3.3.1 ldentifique seu argumento

1 _ Volte aquele esboc;o de proposicoes principais e subpropo­s i~oes que voce reuniu quando estava diagnosticando e re­visando sua organiza~ao.

2 _ Determine sc essas proposicoes sao tambem as afirmafoes principais, sustentadas pelo resto das secoes particulares.

• Se nao forem, voce tern uma disjun~ao entre as proposi­foes organizacionais de seu relat6 rio e a estrutura de afirmafoes de seu argumento.

3 - Em cada secao, identifique tudo 0 que possa ser conside­cado como evidencia primaria - resum~s, pan'lfrases, cita­coes, fatos, figuras, graficos, tabelas - , tudo 0 que voce citar de uma fonte primaria ou secundar ia.

4 _ Agora, ignorando tudo isso, corra os othos pelo que 50-

brou. Voce esta procurando pela expressao de sua analise, s¥a avalia~ao, seu julgamento.

• Se 0 que sobrou e muito menos do que 0 que voce igno­rou, pede ser que MO exista urn argumento significativo, mas 56 urn pastiche de dados ou urn resume deles .

• Se houver tempo, retorne aos Capitulos 7-1 0 e fa~a 0 que puder para incrementar sua contribui~ao pessoaJ ao rela­t6rio.

13.3.2 Avalie a qualidade de seu argumento

Agora voce deve fazer algumas perguntas mais di fice is. Considerando que seus leitorcs possam ao menos acompanhar a organiza(,'ao de seu argumento, 0 que poderia faze-los rejei­tn-to? A esta altura, voce deve avaliar suas evidencias, suas res­salvas e. 0 que e muito mais dificil . seus fundamentos. Reveja os Capitulos 7-10.

Page 143: boothwaynec-140923095935-phpapp02

270 A ARTE DA PESQUISA

I - Sua evidencia e confiavel e est! nitidamente ligada a suas afinnal;oes? Se. voce estiver pr6xirno do texto final , pode ser ta~de demals ~ara tornar suas evidencias mais repre­sentatIvas ou prCClsas, e se voce esw. usando todas as evi­dencias de que dispBe, a confiabilidade. e conv({niencia delas podem ja ser assunto encerrado. Mas voce pdde verificar Qulras caracteristicas: '

• Compare sellS dados e c itac;5es com suas anotac;oes. • Certifique-se de que os le itores possam ver de que maDei­

ra cada citac;ao e cada conjunto de dados relacionam-sc com sua afirmac;ao .

• Verifique sc nao pulou passos intermediarios em urn ar­gumento. (Releia especialmente as pp. 156-8.)

2 - Voce qualifieou adequadamente sua argumentac;ao?

• Nao hesite em aplicar nos lugares adequados alguns tennos restritivos bern colocados, como provave/menle. a maio­ria,freqiientemeflle. pode ser. etc. (Releia as pp. 184-5.)

3. Seu texto parece menos uma disputa entre inte lectos com­petidores do que urn dialogo com alguem intercssado no que voce tern a dize.r. mas com ideias proprias?

• os leitores querem ouvir razoes, nao desafia-Io. s imples­mentc porque querem saber mais. Par que voce acredila nisso? Mas e se ... ? Voce esta. rea/menle fazendo essa f~rle afinna~iio? Voce poderia exp/icar como essa eviden­Cia se relaclOna com sua afirmd~ao? Reveja seu argu­m~nto. fazendo tais perguntas em lugarcs inesperados. (Re­ICla ap. 188.)

4 . A pergunta mais dificil : Que fundamentos voce deixou de expressar?

• Mesmo que seus leitores aceitem suas evidcncias como confiaveis. em que mais eles tern de acreditar, antes de

PREPARANDO-SE PARA REDIGIR, REOIGINDO E REVlSANDO 271

aceitar suas afirma<;oes? (Releia as pp. 147-66.) Nao ha ne­nhurna maneira facii de testar isso. Assim quc tiver iden­tificado cada se<;ao e subse<;ao de seu argumento, escreva na margem os fundamentos mais importantes que deixararn de ser expressos e que voce acha que os Jeitores precisarn aceitar. Entao, pergunte-se se eles aceitariio, ou se voce tera de discutir para explica-Ios.

13-4 0 ultimo passo

Nas "Sugest5es uteis" sobre lcitura dinamica, no final do Ca­pitulo 6, apresentamos uma maneira de voce ler suas fontes por alto, captando-lhes a essencia, de modo que possa decidu sc elas Ihe oferecem algo de util. De seu relat6rio para outra pessoa ler, dessa mesma maneira cipida, c pe<;a-Ihe para encontrar a essen­cia. Se esse leitor conseguir Ie-1o rapidarnente, scm dificuldade, e infonnar sua cssencia com precisao, voce provavelmente tern urn re latorio bern orgaoizado. Se nao ...

I

Page 144: boothwaynec-140923095935-phpapp02

Sugestoes uteis: Titulos e sumarios

, \

Titulos

A primeira coisa que seus leitores lecm - e provavelmente a ultima que voce deveria tentar escrever - e 0 titulo. A maia­ria dos autaees simplesmente usa algumas palavras que suge­rem do que 0 relat6rio "Irata". Mas 0 titulo pode sec da maior utilidade. se eciar as expectativas certas, e fata l se nao 0 fizer. Eis a seguie tres dIu los para urn relat6rio sobre dessegrega/Vao escolar. Qual deles cr;ia as expectativas mais especificas?

A doutrina "Separados-mas-iguais"

Efeitos ccon6micos da "Doutrina separados-mas-iguais"

Direitos iguais, educacao dcsigual : racismo cconomico como fonte da doutrina

"Separados-mas-iguai s"

o titulo deve introduzir as conceitos-chave. Se 0 seu for como 0 primeiro acima, meramente anunciando urn t6pico geral, voce estani dando a seus leitores pOllca orientac;;ao sobre para onde pretende leva-los. 0 ultimo titulo anuncia termos-chavc, que os leitores esperarao encontrar. Quando os virem reapare­cer, eles sentimo que 0 texto satisfe.z suas expectativas.

Quando precisar criar urn titulo, fac;:a 0 segu inle:

• Localize as sentenc;:as que encerram as proposic;:oes prin­cipais, scja no fim da introduc;;ao ou na conclusao (ou em ambos).

• Nessas sentenc;:as, c ircule as palavras que se refiram aos temas conce ituais mais importantes c espccificos. con­ceitos abstratos, julgamentos sobre seu va lor, etc.

PREPARANDO-SE PARA RED/GIR, REDIGINDO E REVlSA.NDO 273

• Sublinhe os nomes de pessoas, lugares e coisas mais im­portantes.

• A partir desses dois conjuntos de palavras, crie urn titu­lo de duas partes, que sugira 0 desafio de sua pergunta ou 0 desafio de sua resposta. Isso Ihe dani dois recursos para ajudar seus leitores: se Dao conseguir ~ireito na pri­meira liMa, podera consegui-Io na segunda. E claro, se en­contrar 0 titulo perfeito, composto de apenas urna parte, use-o.

Se suas proposic;;Oes forem vagas, c prov3.vei que voce ter­mine com urn titulo vago. Nesse caso, tera fa lhado duas vezes, pois estara oferecendo aos leitores urn titulo inutil e proposi­c;:oes inuteis. Mas tambem tera descoberto algo mais importan­te: seu relat6rio ex ige mais trabalho.

Sumarios I . _ . .

Em algumas areas, especiahnente nas clenclas naturals e sociais, 0 relat6rio deve comec;:ar com urn sumano, urn resu­mo breve que diga aos leitores 0 que esperar. Embora deva ser mais curto do que uma introduc;:ao, 0 born sumario comparti­Iha com ela tres caracteristicas-chave:

• Expressa 0 problema da pesquisa. • Declara os temas-chave. • Termina com a enunciac;;ao da proposic;:ao principal ou

com uma p roposic;:ao intrOOut6ria, que apresenta a pro­posi~ao principal exposta no texto.

Ass im como acontcce com outros aspectos dos relat6rios, os sumarios difercm de acordo com a area. Mas a maioria se­gue um de tres pad roes. Voce pode descobrir quais padrocs sao usados em sua area, perguntando ao seu orientador QU consul­lando uma publ icac;:ao espccializada.

Page 145: boothwaynec-140923095935-phpapp02

274 A ARm DA PESQUISA

Contexto + problema + propos;~iio principal

Esse tipo de sumATio e urna introdm;ao abreviada e come­~a com urna frase ou dU3S para estabelecer 0 contexto de pes­quisas anteriores, urna frase ou duas para. eoune,iar 0 proble­ma, e depois 0 resultado principal da pesquisa. \

o fo lclore dos computadorcs sustentou durante muito tem­po que as interfaces de usuario baseadas em caracteres ex igcm mais trabalho serio do que as interfaces graficas, urna crcn"a que pareee ler sido confinnada por Haila (1990) . Mas 0 estudo de Hailo baseou-sc no mcsmo folclore que prctendia confinnar. Nesse estudo. nao se encontrou nenhuma diferen"a significati . va na aprendizagem ou dcsempcnho de alunos Irabalhando com urna interface baseada em caractercs (MS DOS) e alunos ope­rando uma interfacc grMica (Macintosh OS).

COlllexto + problema + proposifQO illlroduroria

Este modelo e igual ao anterior, a nao ser 0 fato de que 0 sumano enunc ia nao os resu ltados especificos alcan~ados. mas apenas sua natureza gem}:

o folcJore dos eomputadores sustentou durante muito tem­po que as intcrfaees de usuario baseadas em earacteres exigcm mais trabalho serio do que as interfaces grifi cas, uma cren~a que pareee ter sido confinnada por Hailo ( 1990). Mas 0 estudo de Hailo baseou-se no mesmo folcJore que prctcndia eonfinnar. Nesse estudo, foi testado 0 descmpenho de 38 alunos de cornu­nica~ao empresarial. usando tanto uma interface bascada em ca­raeteres quanto uma interface gn'tfie~.

Sumario

Neste m ode lo, depois de estabe lcccr 0 contexto e 0 proble­ma, e antes de infonnar 0 resultado, 0 sumano resume 0 resto do rcl at6rio, focalizando as evidencias que sustentam 0 resulta­do, ou os procedimentos e mctodos usados para a lcan~a-Io.

PRFPARANDO·SI::." PARA RED/GIR, REDIGINDO E REV/SANDO 275

o folcJorc dos computadores sustentou durante muito tern· po que as interfaces de usuario bascadas em caraeteres exigem mais trabalho serio do que as interfaces grificas. uma cren~a que parece ter sido confinnada por Hailo (1990). Mas 0 estudo de Hailo bascou-se no mesmo folclore que pretendia confinnar. Nes­se estudo, 38 alunos da mesma c1asse de comunieac;:ao tecnica foram designados aleatoriamcnte para urn ou outro dos dois lao boratorios de computa~iio, urn com interface baseada em carac­tcres (MS OOS), e 0 outro com interface grifica (Macintosh OS). Os rclat6rios produzidos em aula foram avaliados de aeordo com tres enterios: contcudo. formato e aplica~iio de principios. Nao houve ncnhuma diferen~ signi fi cativa entre os dois grupos, sob nenhurn dos tres critcrios.

Lembrc -se de que, anos m a is tarde, quando voce tiver pu· blicado sua pesquisa. alguns pesquisadores provavelmenle pro­c uracao exatamente 0 tipo de pesquisa que voce fez. A busca quase ccrtamente serli. feita por wn computador que procurani eombinaf;oes de palavras-chave e m titulos e sumarios . Assirn, quando criar seu titulo e seu sumario, imagine-se como alguem procu~ando pesquisas exatamente do tipo da que voce fez. Que palav ras 0 pesquisador provavel menle ira procurar? Elas apa­recem e m seu titulo e em seu s umario?

Page 146: boothwaynec-140923095935-phpapp02

, \

Capitulo 14

Revisando 0 estilo: contando sua hist6ria com clareza

Ate agora, insistimos com voce para que Sf! concentras­se mais no conteudo e no organiza~i1(J tie seu relat6rio que em suas frases. Mas frases ejicazes lambem sao essenciais a um born relatOrio. Quando voce revisor 0 eslilo do texlo, de preferencia no fim do processo, os passos deste capitulo 0 aju­darao a faze-Io ejicazmenle.

BONS RELATORIOS DE PESQUISA CONTAM UMA HISTORIA que sustenta urna proposic;ao que resolve urn problema de pesquisa . Urn passo importante nesse sentido e ter certeza de que seus leitores entendem a fanna de sell relat6rio de modo que pos­sam acompanhar sua argurnentac;ao. Mas, para acompanhar sua argumentac;ao, eles tern de entender as frases que a comuni­carnr 0 problema em prever como os leitores julgarno seu esti-10, entretanto, e que voce nao pode fazer isso simplesmente lendo 0 que escreveu.

14.1 Avaliando 0 estilo

Se voce tivesse de ler urn relat6rio longo, escrito como I-a, I -b ou I-e, qual deles voce escolheria?

I-a - Exigencias precisas dema is no processo de espeeifieat;:ao de informa"i5es eriam 0 risco de super ou de subvaloriza­,,30 por parte da pcssoa que lorna decisOes, resuhando no uso ineficiente de recursos dispendiosos. Muito pouca preeisao na especifica"ao da capacidade de processamen­to requerida nao da nenhuma indica"ao com respeito aos meios para a obten"ao dos recursos necessarios.

I-b - Uma pessoa que toma dec isOes costuma especificar os recursos de que neccssita para processar as infonnat;:oes. Pode faze-Io com prccisao demais . Pode superestimar os

Page 147: boothwaynec-140923095935-phpapp02

278 A AR1F. DA PESQUISA

recursos requeridos. Quando faz isso, pode usar ineficaz­mente recursos dispendiosos. TambCm poele naQ seT prcci­sa 0 baslanle. DaD indicando como os DutroS poderiam obler esses recursos.

l -c - Quando a pessoa que lorna decis<ies exag~ra oa prccisao ao especificar os recursos necessArios pi?a 0 processa­mento das infonna'raes, podern super ou sUbCstima-Ios e, assim, usaf ineficazmentc rccursos dispendiosos. Mas, se naD for precisa 0 bastante. talvez naa indique como tais rccursos podcm seT obtidos.

POUCOS leitores escolhem I-a, alguns escolhem J-b a maio­ria escolhe I-c. A versao I-a parcce uma maquina r;lando a urna maquina (oa verdade. fo i publicada Dum joroa! respeita­vel). I-b e mais clara, mas quase simploria, como urn adulto paciente falando lentamente com uma crianc;:a. l -c e mais clara que I -a, m as nao tao condescendente quanto I-b; parece com urn colega fa lando a urn colega.

Acreditamos que os pesquisadores normalmente devem tomar como modelo 0 estilo de I-c. Alguns d iscordam, afir­mandb que idc ias sofisticadas exigern uma redac;30 sofistica­da, que a lgumas ide ias sao tao intrinsecamente complexas que, q~a~~o os autores tentam esclarece-Ias, sirnplificam demai s, sacnflcando nuanc;as e a complexidade do pensamento. Se os leitores nao consegu irem entcnder, bern, isso e problema deles.

Tal'.'ez. Mas acreditamos que ta l pensarnento complexo aparece IInpresso com menor freqiiencia do que a maioria dos pesqui~d~res pensa, que as frases complexas mais provavel­mente mdlcam urn pensamento que nao e complexo, mas po­bre, e que, mesmo quando 0 pensamento e tao complexo que requer urn estilo complexo, uma ate nC;'ao cuidadosa sempre be­nefic ia essas frases.

. C laro, os auto~es afligem-se com diferentes problemas de estJl~ Aa c~da fa~e dlferente ~a ca~reir~. Alunos do coJegia l com frequcnc la red lgem no estllo slmphsta de I -b. A lunos mais adiantados tern problemas que s6 se descnvolvem quando eles c0n:-ec;am a se especia lizar em uma determinada area e, quan­do ISSO acontece, costumam ca ir num estilo que e quase uma par6dia de I-a .

PREPARANDO-SE PARA REDIGIR. REDIGINDO E REVlSA.NOO 279

A scguir, vamos nos concentrar em questoes de estilo que afligem autores que nao sao totalmentc iniciantes. Partimos do principio de que voce nao prccisa de ajuda quanta a ortogra­fia e concordancia verbal, portanto nao trataremos da grama­tica basica e seus usos, nem de urn cstilo simples demais. Se voce tem problemas quanta a essas questoes, va i prccisar de outro tipo de ajuda. Tratarcmos aqui dos problemas de estilo rna is complexos, "academicos" demais, 0 tipo de redac;ao que tipicamente afligc nao s6 os que acabaram de entrar na pes­qui sa seria, mas tambem os pcsqui sadorcs mais experientes.

o problema surge por dois motivQs entre a lunos urn tanto avam;ados. Primeiro, quando os autores comec;am a deparar com ideias que testam sua compreensao, seu estilo entra em crise de modos previsiveis. Segundo, c tambem a essa altura que e les come~am a le r artigos de publicac;Ocs especializadas e mono­grafias escritas em urn estilo lao ruim que testa a paciencia ate mcsmo do leitor mais experiente. Muitos principiantes imitam esse tipo de estilo, julgando-o sinonimo de sucesso academi­co. (Estao errados.)

IAss im, 0 que acontece e que aqueles que estao inic iando urn traba lho avan~ado sao atingidos pa r uma dupla dificulda­de. Seu estilo se prejudiea, porque e les nao entendem comple­tamente 0 que estao lendo, e 0 estilo do que estao lendo e em parte responsavel por esse preju izo, mas mesmo assim e les 0

imitam.

14.2 Pl'imeiro principio: historias c gramatica

Ao fazer a distin~ao entre os estil os dos tres exemplos ac ima, voce provavelmente usou palavras como claro e obscu-1'0, conciso e pro/ixo, direto e indireto. Eis aqui uma quest.iio im­portantc sobre esses julgamentos: essas paJavras nao se refc­rem as frases que voce v iu nn pagina, mas a como se scnliu a respeito dclas, a suas impressoes sobre elas. Sc disse que I-a era prolixo, voce realmente cstava dizendo que teve de le r mui­tas pa lavras para pouca significaC;ao; sc di ssc que I-c era claro , qui s di ze r que 0 achou fac il de entender.

Page 148: boothwaynec-140923095935-phpapp02

280

Nao ha nada de erra­do com a linguagem im­pressionista, mas ela nao explica 0 que naquela pa­gina ofez sentir-se da mo­neira como se sentiu. Para entender, voce precisa co­nhecer urna maneira de falar sabre 0 estilo de fra­ses que the permita rela­cionar SU3S impressoes ao que 0 faz senti-las.

Os principios que dis-

A ARTE DA PESQUISA

N ote que estomos folondo oqui sabre "reviseo". N o Capitulo 1 1, insistimos com voce Ixno que se opressasse a escrever, coocentron­do-se 0 ler 9190 no ROpel, sem cor­rig ir detolhes do estrU/uro do frase, pontuoo:;:oo ou ortogrofio . Se tentor oplicor nosso o rientoo:;:oo sobre re­visCio enquonto escreve, voci: vai se otropolhof toch Guorde suos preocUpDI;Oes quonto 00 estilo pa­ro q uando liver olgo para revisor.

tinguem a alegada complexidade de I-a da clareza equilibrada de I-e siio pOlleos e simples. Esses princip ios dirigiriio sua aten~ao para apenas duas partes de suas frases: para as prime i­ras seis ou sete palavras e para as ultimas quatro ou cinco. Se voce puder esclarecer essas poueas palavras. 0 resla da frase normal mente se arranja sozinho. Para compreender esses prin­cipios, entretanto, primeiro voce precisa enlender cinco termos grarnaticais: sujeito, predicado, substantivo, preposi9QO C ora~

900. (Se faz algum tempo que voce nao pensa nesses terrnos, seria 0 caso de refrescar a memoria antes de prosseguir.)

14.2./ Sujeitos e personagens

o primeiro principio pode fazer voce se lembrar de algo que aprendeu no ginasio, mas que na vcrdadc e mais eompli~

cada. No nuelea de toda frase encontra~se seu sujeito e seu predicado. No centro de (ada hist6ria encontrarn~se seus per­sonagcns e suas al;ocs. No gimisio, voce provavelmentc apren­deu que os sujeitos sao os personagens (chamados "agentes"). Mas isso nem sempre e verdade, porque os sujeitos podem se re­ferir a coisas diferentes dos personagcns. Compare estas duas frases (0 suj eito completo em cada oral;ao esta sublinhado):

PREPARANOO-SE PARA REDfGIR, REDIGfNOO E REV/SANDO 281

2-a _ Lnklf& frcquentemenle se repetia parque ~ mi~ ~anfia­va nas paJavras para nomear as caisas com ex.alidao.

2-b _ A rarlo da freqUente repeticao de Locke reside em sua dcsconfiam;a quanto ao poder nominativo das palavras.

Os sujeitos em 2-a coineidem com a definil;3? que voce aprendeu no ginasio: OS sujeitos - Loc~e e ele - ~ao agente~. Por outro lado, a sujeito de 2-b - A razao da /r~qu.ente repetl ­~ao de Locke - com certeza nao a e, porque nao e urn perso-

nagem. . Podemos ver a mcsma diferenca entre estes dOls:

3-a _ Se as Oorestas tropjcajs forem continuamente dev~stadas a servi~o de lucros financeiros a curto prazo, UJOsfera inl£im podeni. ser danificada. ..'

3.b _ A continua deyastaciio das floreslas t[oOIca!s a servlco de luc[Os financejros a curto mazo podeni resultar em dano a biosfcra intcira.

Na versao mais clara, 3-a, observe as primeiras palavras I d -de ca a oracao:

J-a _ Sc as Ooreslas tropjcajss"j~iIO forem continuamente d~vas­tadasprftii=do ... a bjosfera jDtcir3 w jdlO podera ser damfica­da~.

Seus sujeitos nomeiam personagens principais: jlorestas frDp icais e bios/era .

3-b _ A continua deyastac30 das Oorestas trQpjcajs a scrvjco do lyc[O financejro a curto Draw ... pi,,, podera resultarpr.-dic<id" em dano a biosfera inleira.

Em 3-b, 0 sujcito nao expressa urn persona~e~. mas u~a acao: A continua devastariio das jlorestas troplems a servl9° do lucro financeiro a curto prazo. _ .

Se concordannos que 2-a e 3-a sao rnals daras que 2-b e 3-b entao entenderemos par que as definil;Ocs do ginasio, mes­mo'podendo ser fracas, de acordo com a teoria da linguagem,

Page 149: boothwaynec-140923095935-phpapp02

282 A ARTE DA PESQUISA

d~~ urna boa orientacao quante a c1arcza na reda~ao. 0 prin­CIPIO fundamental da rcda~ao clara e estc:

Os leitores julgarao suns frases clams e Jegiveis na med 'da em que voc~ conseguir fazer com que ~ sujeitos de seus prC~i. cados nomClcm os personagens principais de su~hist6ria .

14.2.2 Verbos. a90es e "subslanliva(:oes"

A scgunda diferen~a basica entre urn tcxto que pareee cla!o e u~ ~ue pareee difieil c como os autares cxpressam as ac~s declslvas de sua historia - como verbos ou como subs­tantlvos. Por exemplo, observe os pares de frases 2 e 3 nova­m:nte. (Ocstacamos em negrito as palavras que rcpresentam a~s; sc essas 3coeS sao verbos. tambem as subJinhamos e se sao substantivos, a..::; 'destacamos com duple sublinhado.) •

2·a - Locke frcquenlemcnte se repetla porque nae confiava nas palavras para nomear as coisas com exatidao.

2-b - A razao da frequente repetidQ de Locke reside em sua desconfianta quanto a exatidao do poder nominativo das palavras.

3-a - Se as florestas tropicais fOTem continuamente deyastadas ~a~ KniI: ao lucro financeiro a curto prazo, a biosfera mtelra podera ser dantocada .

3-b - A continua devastas:io das florestas tropieais a servico do lucro financeiro a curto prazo podeni resultar em dano a biosfera inteira.

Por que as frases 2-a e 3-a sao ,mlis claras que 2-b e 3-b? Em part: porque seus sujeitos sao personagens, mas tambem porque s.ao expressas todas as suas a~Oes decisivas. nao como substantlvos, mas como veTbos - repelia vs. repeli90o; 0 verbo confiava v~. o .substantivo descorifian9a; 0 verba nomear vs. poder n~mmallvo; devastadas vs. devasta9QO; servir vs. servi-90; danificada vs. 0 substantivo dono.

~utro exemplo. Desta vez observe as preposi<;ocs em 4-a que nao aparecem em 4-b:

PREPARAN DO-SE PARA REDICIR, REDfCINDO E REVlSANDO 283

4a _ Nosso desenvolvimcnto e padroniza9.ii.o de urn indice para a mcnsura9ao de perturba90es mentais tomaram possivel a quantifica<;.ii.o da rea<;ao como uma fun<;.ii.o de tratamen­tos diferentes.

4b _ Agora que desenvolvemos e padronizamos um indice para medir as perturba90es mentais, podemos quantificar como os pacientes reagem a tratamentos diferentes.

As preposi<;Oes de resultaram diretamente da conversao dos verbos desellvolver, padronizar, medir, quantificar, reagir noS substantivos desenvolvimento, padronizafoo. mensura9iio, quantijica9iio, rea9iio_

Ha urn termo tecnico para 0 que fazemos quando conver­temos urn verho (ou adjetivo) em substantivo: nbs 0 substan­tivamos. Quando substantivamos 0 verba substantivar, criamos a substantiva90o. A maior parte das substantivac;:oes terminam com silabas como -~ao, -dade, -mento, -encia, -ade. Alguns

exemplos:

ycrbo Substantivacao Adjetivo Substantiva9ao

deeidir decisao preciso precisao

fracassar fracasso freqiiente frequencia

rcsistir resistencia intcligente inteligeneia

demorar demora cspecifico especificidade

Ao substantivar adjetivos e verbos em uma frase, voce muda a Crase de tr~s outros modos:

• Precisa acrescentar preposic;:Oes. • Precisa acrescentar verbos, que sempre serao menos es­

pecificos que os que poderia ter usado. • Provavelmente ten\ de converter os personagens de sua

hist6ria em modificadores de substantivos ou tira-Ios de uma vez da frase .

Quando usamos as substantivacoes em 4-a em lugar dos verbos em 4-b, tivemos de acrescentar urn verbo nominal . /or­naram , transformamos 0 pronome do caso re to nbs no posses-

Page 150: boothwaynec-140923095935-phpapp02

284 A ARTE DA PESQUlSA

siva no:~o ~ eli~inamos pacientes completamente. E, como consequ~ncta: cnart;t0s uma frase mais prolixa. menos clara.

Asslm, CIS aqut dais princip ios fundamentais de urn est"-10 claro: I

1) FaC;3 de seus personagern centrais ~s sujeit~s dos verbo 2) Use verbos para expressar as 3ye,CS decisivas. s.

14.2.3 Diagn6stico e revisoo

. A 'pa~ti~ desses principios de leitura, podemos aprcsentar d?l~ pnnclplos de redac,:ao, urn para diagn6stico c urn para re­visao:

Para diagnostica r : I - Trace uma Iinha ~mbai.xo das primeiras seis ou sete pala­

yeas. de cad~ or.a~ao. se~a orac,:ao princ ipal a u subordinada, esteJ3 no pnnclp lo, mew QU fim da frase.

2 - Se nessa~ primeiras seis au sete palavras os sujei"tos se rc­f:rem constantemente nao a personagens mas a abstra­coes, ou se 0 verbo nao designa uma acao clara, entao essa f~ase e um.a daquelas que os leitores gostariam que voce tlvesse revisado.

Para revisar: I - Pri~eiro, I<:~calize na frase os personagens sobre os quais

voce gostana de contar urna hi stOria. Se nao encontrar ne-2 nhum, d~c ida qu~is deviam ser os personagens principais.

- Em segulda, ana lise 0 que esses personagens estao fazen­do. Se a aCao d~les csta em uma substantivacao, mude-a para urn verb? ~ I.e ., "dessubstantivc-a") c faca do perso­nagern seu sUJelto.

3 - Talvez voc~e tcnba de remodc1ar sua frase mais ou menos numa versao de: Se X, entao y. Por,que X y. E b X Y; Quando X, r ' .. ... , m ora ,

. Essa e a versno s imples. Agora a tornaremos urn pouco mats complexa.

PRF..PARANDO-SE PARA REDIGIR, RF..D1GINDO E REVlSANDO 28S

14.2.4 Quem ou 0 que pode ser um personagem?

Talvez voce tenha se surpreendido , quando chamamos a jloresta tropical e a bios/era de "personagens", porque nor­malmente pensamos no personagem como sendo algueffi de carne e osso. Na verdade, a maioria dos leitores prefere ler urn texto em que os personagens sao pes50as de came e 0550.

Mas tambem podemos contar hi5t6rias cujos personagens sao abstrac0e5. Em seu tipo de pesquisa pode ser que voce te­nha de contar uma hist6ria sobre mudan~as demograficas, mobilidade social, desemprego, ou isotermas, magnetismo e associafoes de genes. As vezes, voce tern urna escolha: seu re­latorio de economia pode contar uma hist6ria sobre pessoas, como consumidores, 0 Conselho de Reserva Federal e 0 Con­gresso, ou sobre abstracoes associadas a eles como poupan­faSt politico fiscal e legislafao.

5-a _ Quando os consumidores poupam mais, a Reserva Fede­ral adota uma politica fisca l que influencia 0 modo como o Congresso legisla sobre impostos.

5-b _ Urn aumento da poupan~ resulta em uma politica da Re­serva Federal que influencia a legisla9ao sobre impostos no Congresso.

Nesse sentido, um personagem e qualquer entidadc, real Oll abstrata, que voce enfoca por meio de diversas frases. Uma passagem poderia ser sobre pessoas ou sobre as abstracoes que associamos a elas: banqueiros vs . politica fiscal, poupadores vs. microeconomia , ou analistas vs. previsi5es. Nas hist6rias abstratas que os especialistas gostam de contar, os personagens principais costumam ser substantivacoes abstratas:

6 _ Agora que dcscnvolvemos e padronizamos urn indicc para mcdir as perturba(,:ocs menta is, podemos quantificar como os pacientes reagem a tratamentos diferentes. Essas men­suraf;oes indicam que Iratamentos que requerem hospita­liza~io a longo prdzo nao rcduzcm efetivamente 0 numero de epis6<iios psic61icos entre pacientcs csquizofrenicos.

Page 151: boothwaynec-140923095935-phpapp02

A ARTE DA PESQUISA

As substantivac;;oes da segunda frase - mensura~oes. tra­tamentos. hospitaliza~ao - referem-se a tres conceitos supos­tamente familiares a determinados leitores: medicos e pacien.­tes. Sendo esse 0 publico, 0 autor nao precisaria revisar a se­gunda frase. , ,

Isso parece contradizer nossa principio sobr&' livrar-se de substantivac;;oes. De certo modo c verdade. porque' agora, em vez de revi sar todas as substantivar;oes, teremos de escolher quais converter em verbos e quais conservar. Par exemplo, as substantivar;oes oa segunda frase de 6 sao iguais as de 7-a:

7-a - A hospitallza~iio de pacientes sem tratamento adequa­do rcsulta na mensura~io incerta dos resultados.

Mas essa frase. depois da revisao. ficaria assim:

7-b - Quando hospitaiizamos as pacientes mas .nao os tratamos adcquadamente. nao podemos mensurar os resultados de maneira confiavel.

, . Portanto, 0 que apresentamos aqui nao e nenhuma regra nglda de redaryao. mas urn principio de diagn6stico e revisao que voce deve aplicar criteriosamente.

14.2.5 Abslrap5es e personagens

Os verdadeiros problemas da prosa abstrata acontecem quando voce cria urn personagem princ ipal a partir de uma subs­tantivaryao. usa esse personagem substahtivado como sujeito de suas frases, mas ainda distribui ao redor dele mais substanti­var;oes. Eis uma passagem sobre dois personagens abstratos " intenryao imediata" c "intenryao prospectiva". Esses pcrsona~ gens sao bastante confusos, mas observe todas as outras subs­tantivaryOes na mesma passagem, complicando a inda mais a hist6r.ia (sublinhamos os suj eitos, destacamos em negrito as demals substantivaryOes diferentes de "inten~ao"):

PREPARANDO-SE PARA REDIGIR, REDIGINOO E REV/SANDO 1J37

8-a _ 0 argumento e este. 0 comoonente cognjtjvo da jntencao exibe urn alto grau de complexidade. A jntenciio i:. tempo­rariamente divisivel em duas: intenc;ao prospectiva e in­tenc;ao imediala. A (undio cogojtjya da jntenciio prospec­li.vJ. e a representa9ao de a90es passadas e semelhantes dc urn sujeito, sua siNayao aNal e 0 curso de suas a~oes fu ­tucas. Ou seja, 0 componente cognjtjyo da !ntencao pros­pcctjya e urn plano. A funciio cognjtiya da i~tencao jrne­~ sao 0 acompanhamento e a orientatao do movl­mento corporal continuo. Considerados em conjunto,!Ais. mecanismos cognjtjyos sao allamente complexos. A....llil: cao psjcol6gjca popular de erenea, contudo, e urna postu­ra que pcrmite uma complcxidade Iimitada de conteudo. Assim, 0 cornponente cognjt jyo da jnlenciiQ e algo dife­rcnte da cren~a psicoJogica populnr.

Podemos revisar esse lexto manlcndo 0 personagem abs­trato "intenryao", mas se revertermos as substantivar;oes desne­cessarias outra vez em verbos e adjetivos (salientamos em negrito). deixaremos 0 texto bern mais claro:

I 8-b _ Meu argurnento i:. este. 0 cornp2ncnte cognjtjvo da jnten­

QQ e bastante complexo. A jntenciio e lemporariamente divisivel em dois tipos : intenc;ao prospectiva e intenc;ao imediata. A [uncao co&njtjya da jntenciiQ DTOspectjya e representar como uma pessQa agiu de maneira seme­Ihante no passado, sua situac;ao atual e como (rla) agira no futuro. Ou seja, 0 coroponente cognjtivo da jntcocao ProspCSitjva projcta 0 plano da pessoa II. frente. A ~ncaQ coj.mitiva da !ntendio jmedjata, por outro lado, penmte que a pessoa monitore e oriente 0 corpo enquanto 0 movimen­ta o Considerados em conj unto, tais mecanjsmos coenjli­~ sao complexos demais para serem explicados nos tcr­mos daquilo que a psjcoioeia popular nos faria acreditar .

A questao e: nao evite substantivafVoes s6 porque sao substantivaryoes. Alguns de seus personagens centrai s podem ter de ser abstraryoes. Mas, nesse caso, evite outras substanti­var;3cs de que voce nao necessita. Como sempre. 0 truque e sa­ber 0 que voce precisa e 0 que voce nao precisa - apcnas lem-

Page 152: boothwaynec-140923095935-phpapp02

288 A ANTE VA PESQUISA

bre-se de que voce nonnalmente precisa de menos do que penS3. Avaliar a quantidade usada e uma capacidade que 56 vern com a pratica e a experiencia.

14.2.6 Escolhendo os personagens principais

Dcpois de tel" qualificado nosse principie, n6s 0 campli­carnes uma ultima vez. Se suas frases sao legiveis, seus pcr­sonagens scrao os sujeitos dos verbos e esses verbos exprcs­sarno as acyOes deci siv3S em que esscs personagcns estao envol­vidos. Mas a maiaria das hist6rias tern varies personagens, C

podemos ta mar qualqucr urn deles mai5 importante do que os Qutros, s implesmente pela maneira como construimos as fra­ses. Considere nossa fuse sobre a floresta tropical :

9 - Se as Oorestas tmpjcajs forem continuamente dcvastadas a servir;o do lucro financeiro a curto prazo, a bjosfcra inteira podera ser danificada.

Essa frase passa urna mensagcm que impliea oulros per~

sonagens mas nao as especifica: quem esta devastando as flo~ restas? Mais importante, isso importa? A mensagem pode ria focalizar esses personagens, mas quem sao eles?

9~a - Sc os emprceodedores comiouarem devastando as florcs~

las Iropicais a serviyo do lucro finaocciro a curto prazo. poderao danificar a biosfcra inteira_

9~b - Se os rnade jre jros continuarern ,devastando as florestas lro­picais a serv iyo do lucro finarlce iro a curto praza, pode­

'rao danificar a biosfera inteira. 9-c - Se Q Brasil continuar devastando a floresta tropical a ser­

viyo do lucro financeiro a curto prazo, podera danificar a biosfera inleira.

Q ual e a melhor? Depende de sobre quem a historia deve ser. Ao diagnosticar frdses. voce tern duas cscolhas. Sempre que possivel , ponha personagens como sujcitos c verbos nas a~ocs.

PRF..PARANOO-SE. PARA RED/GIR, REDIGINDO E RJ:.'VISANDO 289

Mas certifique-se de que o personagem e 0 perso­nagem central, nem que seja 56 daquela frase.

14.3 Segundo principio: o antigo antes do novo

Ha urn segundo prin­cipia de le itura. diagnos­lico e revisao ate mesmo mais importante do que 0

quc acabamos de eSludar. Felizmente, os dois prin­cipios estao relac ionados. Compare as versocs a e b nestes dais pares. Quallhe pareFe rnais facil de ler? Par que? (Dica: observe 0 modo como as frases co­me~am.)

Ale que ponto a obstro~ao e necess6rio'?

Se eslo fozendo um IroOOlho avon­c;odo pelo primeiro vez, pode ser que voce pense que preciso escre­ver num eslilo dillci! poro porecer urn especio!islo. Trolo-se de urn im­pow compreensivel . Nv::Js, em Iodas os areas, os leHores prelerem um texlo que seio !egivel sem ser sim­p/6rio. Seu proie$SOr quer q~e seu IeXIo sejo circlKlSpCCb, mas noo em­polodo, complexo mas nCo envot-10 em nElVoo. Alguns olirmom que lem de ese-rever num eslilo comple­xo para serem publicodos. S6 po­demos lomor como exemplo os melhores iornois, que no gronde mo ioria publicom orligos ese-rilos com dorezo {lamenlovelmenle, iun-k> com muilos que n60 0 sOol . Se ombos sOo publicodos, par que de­cidir tornor suo redoc;ao menos Ie­givel'?

I O~a - Porque descon-fiava do poder nominativo das palavras, Locke se repe­tia com frequenda. As teorias da li~g~agern do se.c~lo XVII, especialmente 0 esquema de Wllk.lO~ para u~ IdIO­rna universal envolvendo a criaC;ao de mumeros Slrnbo~ los para imimeros significados, centrava-~e nesse poder . nominativo. Uma nova era no esludo da hnguagem, que focalizava a rela(fao ambigua entre perce~ao e referen­da, come(fOu com a dcsconfiam;:a de Locke.

IO-b _ Locke repetia-sc com frequencia porque desconfi.nva.do poder nominativo das palavras. Esse poder nomlO~"vo estivera no centro das teorias da linguagern do se.c~lo XVII , especialmente 0 esquema de Wilk.in~ para u~ IdIO­rna universal envolvendo a enaeao de tnurneros 51mbo­los para inumeros sigoificados. A desconfiam;:a de Locke iniciou urna nova era no eSludo da linguagem, lima que

Page 153: boothwaynec-140923095935-phpapp02

290 A ARn: DA PESQUISA

se concenlrava na ambigua rela~ao entre perce(X;ao e rC4

ferencia. II·a - A biosfera podenl ser danificada pennanentemente, se as

florestas tropiea is continuarem a seT dcvaSladas a servi­\to do lucro financciro a curto prazo. Polilicas nacionais que tratam de problemas loeais e "ignoram' o impaclo glo: bal , nao impediriio esse dano. S6 os esfor&os de lodos os paises industria lizados do mundo atingirao essa meta.

II-b - Se as floreslas tropicais continuarem a seT devastadas a servic;:o do lucro finance iro a cuno prazo, a biosfera po_ dem. serdanificada pennanentemente. Esse dano nao sera impedido por politicas nacionais que lidam com proble­mas loca is e ignoram 0 impacto global. Apenas com urn esfo~ que envolva os paises industrializados do munda essa meta sent aleanyada.

A maioria dos leitores preferc os textos 10-b e ll -b. Elcs nao dizern que 10-a c ' I J -a sao "complexos" ou "empolados" dcmais, mas que parecem "desconjuntados", que nao " fluem", palavras que novamenle nao descrevem 0 que eSla na pagina, mas como os leitores se senlem em relavao ao que estiio lendo.

Podemos explicar 0 que causa essas impressOes se apli­cannos novameme 0 teste das " primeiras seis ou sete pala­vras". Nas versoes "desconjuntadas" (a), nas que nao " fluem", as frases comevam de modo bastante diferentc das frases nas ?utras versoes (b). As frases em 10-a e II -a come9am com mforma90es que urn leitor acharia POllCO famil iares:

o poder nominativo das palavras, tcorias da linguagem do sceulo XVII, nova era no estudo da linguagern. ! po liticas nacionais que lidam com problemas locais, urn esfon;o que envolva os paises industrializados.

Em contraste, as frases das versocs b comcvam com infor­mavoes que os leitores achariam fami li ares:

Locke, Esse poder nominativo,

PREPARANDO·SE PARA REDIGIR, REDIGINDO E REV/SANDO 291

A desconfianya de Locke (uma substantivafiio, mas ulil, porque repete algo da frase anterior), Esse dano (outra SUbSlanIiva{:iio que, de maneira util, repete algo da frase anterior), essa meta .

Essas sao quase todas abstravoes, mas referem-se a ideias de que os leitores se lembrarao das frases anteriores.

A medida que avan~am de uma frase para a seguinte. os leitores seguirao sua hist6ria com facilidade se puderem come­var cada frasc com urn personagem ou ideia com que estao farniliarizados. seja porque voce ja os mencionou, seja porque eles os esperam. A partir desse principio de leitura, podemos deduzir principios de diagnostico e revisao:

• Exarninar as primeiras seis ou sete palavras de cada frase.

• Certificar-se de que cada frase cornec;:a com informa~Oes que os le itores considerem fami li ares, facei s de enten­

t der (normalmente palavras usadas antes). • Proximo do final das frases, ponha informac;:Oes que os

leitores acharao novas, complexas. mais dificeis de en­tender.

Este principio coincide com aquele sobre personagens e sujeitos, porque as informayoes rnai s anti gas normalmente designam urn personagem (depois de voce te-Io introduzido). Mas, caso sej a preciso escolher entre os doi s, escolha sempre o principia do antigo antes do novo.

14.4 Escolhendo entre as vozcs ativa e passiva

A esta altura, alguns de voces ta lvez se recordem do con­selho que urn dia receberam para evitar verbos na voz passi­va. Esse conselho nao e so enganoso. Nas ciencias, e urn hor­ror. Em vez de se preocupar sobre voz ativa ou passiva, fava uma pergunta mais simples: suas frases comcvam com infor-

Page 154: boothwaynec-140923095935-phpapp02

292 A ARTE OA PESQUISA

mac;:oes familiares , de preferencia com urn personagem prin­cipal? Se colocar personagens familiares em seus sujeitos, vo­ce usara as vozes ativa e passiva corretamentc. Por exemplo. voce pode ter notado que urn de nossos primeiros exemplos tinha verbos na voz passiva:

" 12-a - Se as florestas tropicais continuarem a seT itevas\adas a servivo do lucro financeiro a curto prazo, a biosfera intei­fa podera seT danificada.

Se tivessemos seguido a orientac;:ao padrao a frase [iearia assim:

12-b - $e os madeire iros continuarem a devastar as florestas tropicais a servivo do lucro financeiTO a curto prazo, po_ derao danificar a biosfera inteira.

Essa Crase faz dos madeireiros os personagens principais -o que vai bern num relatorio sabre derrubada, corte e transpor­te de m,,!-deira. Mas, se voce estiver contando uma hist6ria so­bre as informacoes gent'!ticas colhidas na Amazonia, enHio os personagens principais devem ser as florestas tropicais e a bios­fera , de modo que a frase deve ser na voz passiva.

Nas aulas de redaCao, e comum os alunos ouvirem que sempre devem usar verbos na voz ativa, mas nas ciencias, en­genharia e algumas ciencias socia is, ouvem 0 oposto - usar a voz passiva. A maioria dessas oriental;oes (baseadas num su­posto interesse pel a objetividade cientifica) e igualmente equi­vocada.

Compare a voz pass iva (l 3-a) c~m a ativa (13-b):

13-a - As flutuacoes na corrente (oram medidas a intervalos de dois segundos.

l3-b - Medimos as flutua~oes na corrente com dois segundos de intervalo.

Essas frases sao igualmente obj ctivas, mas suas his/arias diferem; urna e sobre flutuacoes, a outra, sabre a pessoa que mediu. Supoe-se que a primeira seja mais "cicntifica" porque

PREPARANDO·SE PARA REDIGIR, REDIGINDO E REV/SANDO 293

focaliza a corrente e ignara a pessoa. Mas a voz passiva em si nao e mais objetiva que a ativa; implica meramente que a al;aO pade ser executada por outras pessoas anonimas que, se qui­serem, poderao reproduzir os procedimentos do pcsquisador. Assim, nesse caso, a voz passiva e a escolha cerla.

Por outro lado, considere 0 seguinte par de frases:

14-a - E sugerido que as flutuacOes resultaram do efeito Burnes. 14-b - Sugerimos que as flutuacoes resultaram do efeito Burnes.

Nesse contexto, 0 modo ativo nao s6 e comum na prosa cientifica, mas adequado. A diferenca? Tern a ver com 0 tipo de al;aO que 0 verbo indica. 0 passivo e adequado quando os autores se referem a acoes que eles executaram no laborat6rio e que encorajam os outros a repcoduzir: medir, registrar, com­binar e assim por diante . Mas, quando os autores se referem a ar;oes que apenas eles estao autorizados a praticar - al;oes reto­ricas tais como sugerir, provar, afirmar, disculir, demonstrar c assim por diante - entao sao eles os pcrsonagens principais e porlafto devem ser os sujeitos de verbos na voz at iva. Os pes­quisadores usam a primeira pessoa tipicamente no inicio de artigos para pubJicacoes especializadas, onde descrevem como eles descobriram seu problema, e no fim, onde descrevem a solul;aO deJes para 0 problema.

14.5 Urn ultimo principio: 0 mais complexo por ultimo

Ate aqui nos concentramos em ver como as oral;oes co­mel;am. Agora veremos como terminam. Voce ate pode adivi­nhar 0 principio; se informa~Oes mais antigas vao em primei­ro lugar, as mais novas, mais complexas, vao por ultimo. Este principio e particuiarmente importantc em tres casos:

• quando voce introduz urn termo tecnico novo; • quando voce apresenta uma unidade de informal;ao que

e tonga e complexa; • quando voce introduz urn conceito que pretende desen­

volver na seqiiencia.

Page 155: boothwaynec-140923095935-phpapp02

294 A AR7E DA PESQUlSA

14.5.1 Introduzindo lermos tecnicos

Quando introduzir urn tenno tecnico com 0 qual seus lei­tores possam estar pouco familiarizados. construa a frase de fonna que seu tenno tecnico apare~a entre as ul~mas palavras. Compare estes dois textos: "

15-a - As drogas bloqueadoras de calcio podem controlar espas­mas musculares. Sarcomeros sao as pequenas unidades de fibras musculares nas quais essas drogas atuam. Exis­tern dais filamentos, urn grosso e urn fino. em cada sar­cOmero. AI> proleinas actina e miosina estao contidas no filamento fino. Quando a actina e a miosina interagem. o cora~ao se contrai .

IS-b - Os espasmos museu lares podem seT controlados com drogas conhecidas como bloqueadores de calcic. Os blo­queadores d.e calcio atuam em unidades pequenas de fi­bras musculares chamadas sarcomeros. Cada sarcomer~ tern dois filamentos, wn grosso e um fino. 0 filamento fino contem duas protcinas, actina e miosina. Quando a actina e a miosina inleragem, 0 corac;lio se contrai.

14.5.2 lntroduzjndo inJormac;iio complexa

~ Quan.do expressar urn conjunto cornplexo de ide ias que voce prCClsa expor em urna frase ou oratyao longa, localize a parte complexa no rim da frase, nunca no principio. Compare estas duas passagens:

16·a - Ha uma segunda raziio pela qual os historiadores se con. centraram em Darwin em vez de Mendel. Centcnas de cartas, tanto pessoais quanto cientificas, para grande mj. mero de destinatarios diferentcs, incluindo·se destacadas pcrsonalidades cientificas, iluminam 0 genio de Darwin. S6 dez cartas para 0 botiinico Karl Nageli c urn punhado delas para a mac, a imla, 0 cunhado e 0 sobrinho repre­sentam Mendel.

16-b - Os historiadores da ciencia concentraram·se em Darwin em vez de Mendel por uma segunda razao. 0 genio de

PREPARANDO-SE PARA REDIGIN, REDIGINOO E IU::VISANDO 295

Darwin e iluminado par centenas de cartas, tanto pes­soals quanto cientificas, para grande numero de destina­tlirios diferentes, incl uindo--se destacadas personalidadcs cientificas. Mendel e representado por apenas dez cartas ao botanico Karl Nageli e urn punhado dclas para a mae, a inna, 0 cunhado e 0 sobrinho.

Em 16·a, a segunda e a terceira frases cometyam com uni­dades complexas de infonnacao, sujeitos que se estendem por pelo menos duas linhas. Em contraste, os sujeitos em 16-b sao curtos, s imples, faceis de ler, porque os verbos passivos (e i1l1mi· nado e e representado) permitem·nos deslocar a informacao curta e familiar para 0 comec;o, e a parte longa e complcxa para o fim. (Esse e urn dos principais usos do verba na voz passiva.)

Se voce puder reconhecer quando as oracocs sao comple­xas (0 que nao e facil de fazer, porque voce estara muito fami· liarizado com seu proprio texto), experimente nao pOr a parte complexa no inicio de suas frases ; mas no fim .

I 14.5.3 illtroduzilldo uma sequencia

Ao introduzir urn paragrafo, ou mesmo uma secao intei· ra, construa a primeira sentenca de forma que os termos·chave do paragrafo sejam as ultimas palavras da sente ntya. Qual des­tas duas frases introduziria melhor 0 excerto que se segue?

17·a - A situa~ao politica mudou, porque as disputas pcla su· cesslio ao trono causaram algum tipo de revolta palacia· na ou revoluc;ao popular em sete de oito reinados da di· nastia Romanov depois de Pedro, 0 Grande.

17· b - A situa~ao politica mudou, porque depois de Pedro, 0 Grande, sete de ·oito reinados da dinastia d.e Rornanov foram afligidos por tumultos causados pcla djsputada su­cessao ao trona.

Os problemas com~aram em 1722, quando Pedro, 0 Gran· de, promulgou uma lei de sucessao que extinguia 0 principio da hcreditariedade e exigia que 0 soberano nomeasse urn sucessor.

Page 156: boothwaynec-140923095935-phpapp02

296 A ARTE DA Pf;SQUISA

Mas, urna vcz que muitos czares, incluindo Pedro. morrernm an­tes de nomcar seus sucessores, os que aspiravam govemar nao tiveram autoridade pOT nomea~ao, de modo que a sllcessao rnui­tas vezes era disputada por aristocratas de Divel inferior. Havia tumultos ate mesmo quando os sucessores cram nomeados.

\~ o contexto e muito importante no caso, mas deiltre as cen~

teoas de leitores a quem foram mostradas essas passagens, a maiaria achou que a 17-b e tanto rnai s enfatica quanta rnais coesa com 0 resta da passagem. As nltimas palavras de 17-a parecem relativamente sem importancia (em urn contexte dife­rente, e claro, podcriam sec importantes) e nao introduzem a passagem que se segue lao bern quanto a 17-b.

Portanto, tcndo confcrido as primciras scis ou sete palavras de cada frase, confira tambem as ultimas cinco ou seis. Se cssas palavras nao sao as mais importantes, complexas, pesa~ das, corrija 0 texto, de forma quc passem a ser. Preste bastante aten~ao ao final das frases que introduzem paragrafos ou mes­mo se<;oes.

14.6 Polimcnto final

Estivemos focalizando questoes de estilo, espcciai s para a reda~ao de relat6rios de pesqui sa, que cratam de principios de diagn6stico e revisao enos ajudam a la mar texlos sobre t6-picos inerentemente complexos laO legiveis quanta possivel. Ha outros principios - a extensao da,s frases, a escolha certa de palavras, a concisao e assim por diante. Mas essas sao ques­toes relacionadas a todos os tipos de reda<;ao, tratadas em mui­tos livros. E, e claro , a Jegibilidade nao e 0 bastante. Depois de ter feito urna revisao do est ilo, estrutura e argumenta<;ao, voce ainda precisa eorrigir os erros gramaticais, a ortografia, a pon­tua~ao e a fonna das cita<;ocs. Apesar de importantes, esses assuntos nao se enca ixam no escopo deste livro. Voce encon­trani ajuda em rnuitos manuais.

Sugestiies uteis: Uma nipida revisiio

Nossa orienta~ao sobre a revisao pode parecer detalhista e metieulosa, mas se voce fizer a revisao passo a passo nao sera dificil segui-Ia. 0 primeiro passo e 0 mais importante, e, ao escrever, esque<;a-se dos outros, mas nao deste. Sua primeira tare fa e criar algo para ser revisado. Voce nunca fad isso se continuar se perguntando se deveria ter usado urn verbo ou urn substantivo.

Se nao tiver tempo para esmiu<;ar cada frase, comece com passagens em que voce se lembra de ter tide mais dificuldade para fxplicar suas ideias. Sempre que sc embara~ar no conteUdo, e prov<lvel que se ernbarace no texto tambem. No caso de auto­res maduros, csse embarac;o normalmente reflete-se em urn es­tilo muito cornplexo, "substantivado".

Para clareza

Diagnostico

1 - Rapidamente sublinhc as primeiras cinco ou seis palavras de cada frase. Ignore as frases introdut6rias pequenas tais como A principio, Na maior parte, etc.

2 - Agora corra 0 olho peJa pagina, observando apenas a se­quereia do que foi sublinhado para vcr se isso forma urn conjunto consistente de palavrns correlatas. As palavrns que corne<;arn urna serie de frases nao precisam ser identicas, mas devem designar as pessoas ou conceitos que os leito­res perceberao que sao clararnente relac ionados. Se isso nao acontecer, voce precisa corrigir.

Page 157: boothwaynec-140923095935-phpapp02

298 A. ARTE DA. PESQUISA

RellisQo

1 - Identifique seus personagens principais, reais ou conceituais. Eles formarao 0 conj unto de conceitos nomeados que apa­recem com maior freqiH~nc i a numa passagem. Torne-os os suj eitos dos verbos. '.

2 - Observe as palavras terminadas em ~ao, -menio, -enya, e tc. Se aparccercm no comc~o das frases, transforme-as em verbos.

Para enCase

Diagnostico

I - Sublinhe as ultimas tees ou quatro pa lavras de cada frase. 2 - Em cada frase, identifique as palavras que comunicam 0

mais novo, 0 mai s complexo, as informac;oes mais enfati­cas retoricamente, palavras do jargao tecnico que voce es­teja usando pela primcira veZ; o u conceitos que as vari as frases descnvo)verao em scguida .

Revisao

Revise suas frases de fonna que essas palavras venham por ultimo.

Capitulo 15

I ntrodut;oes

ESle capitulo discu te as introdUf;iies de urna maneira que as pesquisadores iniciantes poderiam CQnsiderar muito detalhada para silas necessidOl/es. Os intermediarios e avan­rados, porim. vao achar que ele os ajudara a dar um toquefl­naf marcnnte em seus reJatorios, dissenafOes ou livros. Desen­vo /vemos aqui as iddas introduz jdas nos Capi/ufos 3 e 4.

UMA VEZ DE POSSE DO RASCUNHO REV[SAOO, sua ullima la­

refa criat iva sen'! assegurar que a introdu~ao cmoldurc seu texto de modo que os leitorcs cntendam, ou pensem entender, aonde voce esta querendo leva-los. A sllgestao padrao de dei­xar para redig ir a introdu~ao no final nao e UIJl mall conselho, porque voce normal mente precisa de urn texto antes de saber o quefO!e introduzir. Outra banalidadc: Comece "prendendo" a alen(:iio dos leitores com algo instigallte. e entao diga-Ihes o que (em a d izer. Tambem nao se trata de urn mau conselho. mas nao e muito uti!. Prender a atem;ao e enganoso - comece com algo que pare~a atraente e voce perde a crcdibilidadc. A l­gumas maneiras de dizer aos le itores 0 que elcs podem cspe­rar sao melhores do que outras. Na verdade. as introLiu(,:oes sao tao importantes que dedicamos todo este capitulo a e las.

15,1 Os tres elementos de urna introdUl;ao

Os le itores nunca comec:;am a le r com a mente em bran­co, prontos para valorizar de saida cada palavra. frase c pani.­grafo como eles aparecem. U~em com expectativas; a lg umas trazem consigo, outras voce precisa criar. As expcctativas mais importan tes que voce cria estao no problema de pesqui sa que propee (veja 0 Capitu lo 4). Logo nas primeiras frases, voce precisa convenccr os leitorcs de que descobriu urn problema de pesqu isa que merece a cons idcra<;30 deles e que voce pode

Page 158: boothwaynec-140923095935-phpapp02

300 .A ARTE D.A PFSQUJSA.

ate mesmo ter encontrado a soim,;ao. A introduc;:ao nunca deve deixa-Ios imaginando: Por que estou lendo iSl0?

Todavia. comunidades de pesquisa diferentes fazem coi· sas de modos diferentes, e em nenhurn outro lugar essas dife· renc;:as fiearn mais evidentes do que nas introquc;:Oes. Estas duas p3recem bastante diferentes:

Como parte de seu programa de Melhorn Continua da Qua­lidade (MCQ). a Computadores Motodyne planeja redefinir seu s istema de ajuda on-line para a interface de usuano do Unidyne™. As especifical;Oes para a interface pedem leones aUlo-explicati­vas que pennitirao aos usuarios identificar a fun~ao sem urn r61ulo de identifica~ao. A Motodyne tern tres anos de experien­cia com 0 atual conjunto de ieones, mas olio hA dados para mos­trar quais icones sao auto-explicalivos. Com lais dados, seria possivel determinar quais kones manler e quais redefinir. Este relatorio apresenta os dados de onze icones, mostrando que cin­co deles nao sao auto-explicativos.

Por que uma maquina nao pocic ser mais parecida com urn ser humano? Em quase todos os episOdios de Jornada nas estre­las: 'Q nova gerafiio, 0 andr6ide Data quer saber 0 que toma urna pessoa uma pessoa. Na serie original Jornada nas estrelas, ques­tOes semelhantes foram apresentadas pelo vulcano mesti~o, Sr. Spock, cujo status como pessoa foi posto em questiio por sua 16gica de maquina e sua falta de em~ao. Na verdade, Data e Spack sao sO as mais recentes "semipessoas" que exploraram a natureza da humanidade. A mesma pergunta foi levantada por e sobre criaturas que vao de Frankenstein ao Exterminador do Futuro II . Mas a verdadeira pergunta e por que os personagens que lutam para ser gente sao sempre brancos e do sexo mascu­lino. Como interprctes culturais, sem. que nao refor~am implici­tamente estere6tipos destrutivos sobre como deve ser uma pes­soa para que a consideremos " normal"? 0 modelo a que todos devemos aspirar, pelo menos se quisermos sec pessoas de ver­dade, na realidade parece ser definido pelos criterios ocidentais, que excluem a maioria das pessoas do mundo.

Os tapicos e os publicos difcrem, assim como os proble­mas propostos, mas, por tras dessas diferenIYas, os textos COffi-

PREPARANDO-SE PARA RF..DIGIR, REDIGINOO E REVlSANDO 301

partilham urn padrao retarico que os leitoces procuram em todas as introdUl;Oes. Essa estrutura comum inclui pelo menos estes dois elementos, nesta ordem previsivel:

• a declaraIYao do problema de pesquisa, que inclui algo que nao conhecemos ou que nao entendemos completamen­tc e as conseqiiencias que experimentamos se deixarmos sem solu(fao essa lacuna no conhecimento ou oa COffi­

preensao; • a declaraIYao da resposta ao problema, seja como a es­

sencia de sua soluIYao, seja na forma de urna frase ou duas que prometam que a solU(;ao sen\ apresentada.

E, dependendo do grau de familiaridade que os leitores tenham com 0 problema, eles tambem poderao esperar, antes desscs dois elementos, encontrar urn terceiro:

• urn esbcx;:o de urn contexto de compreensao que 0 pro­blema desafia .

I Assim, a estrutura de uma introdu(fao tipicamente expli­

cita segue 0 seguinte esquema:

Contexto .... Problema -> Resposta

Vistas sob essa luz, aquelas duas introdulYoes tern a mes­rna estrutura.

Como parte de seu programa de Melhorn Continua contc:><to da Qualidade (MCQ), a Computadores M otodyne pla-ncja redefinir seu s istema de aj uda on-line para a inter-face de usuario do Unidyne™ ( ... ) A MOlodyne tern tres anos de experiencia com 0 atual conjunto de icones,

mas nao ha dados para mostrar quais icones sao problema

auto-expJicativos. Com tais dados, seria possivel deter-minar quais icones manter e quais redefi nir.

Este relato- r,,"f'O"U

rio apresenta os dados de onze ieones, mos trando que cinco deles nao sao auto-explicativos.

Page 159: boothwaynec-140923095935-phpapp02

302 A ARTE DA PESQUl$A

Por que urna rna­quina nao pode ser mais parecida com urn ser humano? Em quase lod05 os epis6dios de Jornada nas estrelas: a nova gerarao. 0 andr6ide Data quer saber 0 que lorna uma pessoa uma pessoa. Na serle original de Jornada nas estrelas, queslQes semelhantes foram 3presentadas pelo vulcana mesti~o. Sr. Spock ( .. . ) A mesma pergunta foi levantada por e sobre crialuras que vao de Frankenstein ao Extenninadof do Futuro II .

Mas a verdadeira pergun­la e por que os personagens que lulam para ser genie sao sempre brancos e do seXQ masculino. Como interpretes culturais, sern. que nao refor~am implicitamente estere6-tipos destrutivos sobre como deve ser uma pessoa para que a cons ideremos "normal"?

o modelo a que lodos de­vcmos aspirar, pelo menDs se quisermos ser pessoas de verdade, na realidade parcel! ser definido pelos eritcrios ocidentais, que exclucm a maioria das pessoas do mundo.

prot-rem ..

Uma vez que no cenh"O da introdu<;ao deve estar a declara­<;ao de seu problema, com~arnos com isso, depois discutiremos o contexto e par fim passaremos as suas opvOes de respostas.

]5.2 Declare 0 problema

No Capitu lo 4, di scutimos como as topicos diferem dos problemas - ~m topico c simplesmente uma frase que des ig­na urn concelto: a clareza dos Icolles da MOlodyne a u As . . . )

semlpessoas como IIlterpretes da humunidade. Em contraste a declara<;ao completa de urn problema de pesqui sa tern dua~ partes:

I - A primeira parte cxpressa lima condi'Yao dc conhecimento incompleto ou compreensao falha .

2 - A scgunda cxpressa as consequencias dessa falta de conhe­cimento o u compreensao, assim como 0 custo que isso acar­reta ou os beneficios trazidos pela soIUf;ao.

PR£PARANOO-5E PARA REDIGIR, REDIGINDO I: REVJSANDO 303

Voce tera urn proble­ma de pesquisa se e so­mente se voce e sellS lei­tores concordarem que as duas partes, voce e eles, nao sabem au oao enten­dem alga, mas que deve­dam saber au entender. Chamamos essa ignoran­cia au rna compreensao de condj~iio - uma lacuna

Umo no la sobre os exemplos

N6!> obreviomos nossos exemplos porque 0 maierio dos in lrod~Oes e longo , 05 vezes chegondo 0 15-20% de lodo 0 relol&io . Sues in­troducOes podem ser mois longos do que as nosses, mas devem exi­bir as mesmos eslruluras e desem­penhor os mesmas fUnI;Oes .

no conhecimento, urn conflito inexplicado, au uma discrepan­cia, uma falta de conhecimento au eotendirnento. Voce pode declarar essa condi'Yao diretamente au deixa- Ia implicita, atra­ves de uma pe rgunta direta a u iodireta:

[Motodyne] nao tern dados moslrando quai s icones sao auto-explicativos ...

Mas a verdadeira pergunta e por que esses personagens que lutam para ser gente sao sempre brancos e do sex o masculino_

No entanto, essa condicyao de ignorincia Oll rna corn­prcensao s6 cria urn problema de pesquisa plena quando voce tambem pode convencer seus leitores de que sua condi'Yao tern cOllseqiil!ncias, seja oa forma de custos, que nem voce nem seus leitores querem tolerar, o u de beneficios, se voce puder soluciona-Io.

Com tais dados, [a Motodynel poderia detenninar quais kones manter c quais rcdefinir .

Como interprctes culturais, sera que nao reforyam implici­tamente estereotipos dcstrutivos sabre como deve ser uma pes­soa para que a considercmos " no nnal':

De urn modo geral, voce nao pode errar se seguir esse modele de condi'Yao-custo. Mas sua decisao e complicada. porque as vezes voce nao prec isa declarar exp licitamentc tanto a condi~ao quanto 0 custo .

Page 160: boothwaynec-140923095935-phpapp02

304 It ANTE DA PESQUlSA

/5.2.1 Quando definir as condifoes explicitamente?

~s ve.zes. voce te~~ resolver urn problema lao familiar que para Imphcar a condu;ao basta nomear 0 t6pico. Condi~OeS assim tao fami liares encontram-se nonnaimeQ-te em areas como a da matematica e das ciencias natura is. nas\ quais alguns problemas de pesquisa existem ha muito tempo e sao extensa­mente conhecidos. Eis, por exemplo. urna breve introdw;ao ao artigo talvez mais importante da hist6ria da b iologia molecular em que Crick e Watson informaram sua descoberta da estTu: tura de dup la helice do DNA :

Gostariamos de sugerir urna estrutura para 0 sal do acido dcsoxirribonuclcico (DNA). Essa estrutura tern caracteristicas no.v~, de int,~res~: bi?16gico considerave l. Uma estrutura para ~ aeldo nuclelco Ja fO I proposta por Pauling e Corey. Eles gen· lilmente .puseram seu manuscrilo a nossa disJlOsic;:ao, antes de sua pubhca~ao. 0 modelo deles consiste de tres cadeias entrela­c;:adas, com os fosfatos perto do eixo de fibra, e as bases do lado de fora . Em nossa opiniiio, essa estrutura e insatisfat6ria ...

Ao dizcr que iam sugerir uma estrutura para 0 DNA, Crick e Watson consideraram implicitamente que os le itores nao a conheciam. Eles nao precisaram dizer que ela era desconheci­da, porque sabiam que todos os leitores teriam conhecimento do problema. (Observe, entretanto, que eles levantaram 0 proble· rna a ser resolvido, mcncionando 0 modele incorrelo de Pauling e Corey.)

Mais frequentemente, no entanto, seus leitores nao sabe· dio da falha em seu conhecimento oulda falta de comprcensao para a qual sua pcsquisa esta voitada, a menos que voce Ihes diga. Pouees pcsquisadorcs tenlam reso lver problemas tao im· portantes que todo 0 mundo na area esteja esperando pela res· posta . :t; mais provavcl voce abordar urn problema que tcoha encontrado au ate mesmo inventado . Nesse caso, precisa con· veneer seus leitores de que a problema que esta Icvantando v~le 0 tempo que Ihe ded icarao. Para isso, voce deve ser expli­CltO quanto as condi<;Oes que 0 ocasionaram: a ignonincia sobre

PREPARANDO..$I;· PARA REDIGIR, RIf.DIGIN/X) E Rf.·Vl$ANDO 305

o assunto, erros, confusao, contradi<;Oes, mal-entendidos ou uma d iscrepancia que, a seu ver, os leitores conhccem.

Mesmo que voce acredite quc seus le itores conhecem sua condi<;ao, de qualquer mancira e uma boa ideia torna-Ia expli· cita. Uma vez que compreender a problema e tao importante para a modo de seus leitores entenderem seu re latorio, voce se arri scara muiro se presumir que eles sabem mais do que rea l­mente sabem. Na verdade, entre os pesquisadorcs iniciantes, ne­nhuma fa lha e mais comum do que deixar de declarar as con­d ir;oes explicitamente.

15.2.2 Qual/do declarar os custos e beneficios?

Se voce quer mais do q ue a satisfal;30 particular dada pela pesquisa, precisa pensar em compartilhar seu problema de uma forma que interesse aos outros em sua comunidade. Para isso. voce precisa convencer seus leitores de que ° conhecimento incompleto au a compreensao fa lha do que descobriu e impor· tante,1 porque a fa lta de solu<;iio represenlan\ custos, e a solu­<;ao tram beneficios . Em resumo, voce prec isa ajudar seus lei­tores a cntendcr que e do interesse deles ve-lo resolver 0 pro­blema deles.

As vezes, sua introdur;ao descrevera custos langiveis que sua pesquisa pode ajudar os leitores a evitar (revej a as pp. 68-77):

No ana passado , os inspetores fi scais de River Cily acei­taram 0 argumenlo de que River City se beneficiaria se anexas­sc 0 projeto de desenvolvimento de Bayside a sua base de im­pastos. Esse argumento, contudo, fundamentava-se em pouca au nenhuma anal ise econ6mica. Sc a Camara volar para anexar Bayside, sem entendcr 0 que isso acresccntan\ aos gastos da cidade. a Camara se arriscara a piorar a sirl/a fiiofiscalja ruim de River City. Uma vcz que a analise inclui a carga adicional as cscolas municipais, assim como os C USIOS de e levar 0 serv ir;o de ligua e esgoto aos padrOes da cidadc, a anexafVao mOSlni-Se menos vantajosa do que a Camara presumiu .

Page 161: boothwaynec-140923095935-phpapp02

A ARTl:: DA PESQUISA

Esse e 0 tipo de problema encontrado na pesquisa "apli­cada" - a area de ignorancia (nenhuma analise cconomica) tern conseqiiencias tangive is no rnundo (as finanlYas pioram).

Na pesquisa "b3sica" voce pode fonnu lar 0 mesmo tipo de problema, se ex plicar 0 cuslo, nao ett;l dinhetro, mas como uma falha no conhec imento ou pouca comprcensao:

Dcsde 1972. as cidadcs americanas tern anexado bairros elc­gantes para aumentar a arrecada.;ao de impostos. 0 que muitas vezcs resuhou em desapontadorcs beneficios economicos. Mas esse resu ltado podcria ter sido previsto se houvesse sido feita uma amili se econ6mica rudimentar. 0 movimento de anexac;ao e urn caso tipico de como as decisOes polilicas em nivel local deixam de considerar as infonnac;Oes cspeciali7..adas disponiveis. Mas 0 que continua a intrigar i: por que as cidades nao buscam as informa<;Ocs disponiveis. Se pudermos descobrir por que as cidades niio confiam em analises eco1lomicas basicos. lalvez pos­sumas l!fllender me/hor por que It fomuda de decisiiu COslUma fa/har lombem em aulras areas. Este relat6rio analisa 0 proccs­so de tomada de decisao de tres cidades que anexaram areas vi­zi nhas mas ignornram as conseqiicncias economicas.

/ ~.2.3 Tes/ando as condip'ies e os eus/os

Sugerimos, nos Capitulos 3 e 4, urn teste para determinar o grau de c1areza com que voce enunciou os custos de nao resolver sell problema: local ize as frases que exprimam melhor sua condilYao de ignorancia ou pouca cornpreensao e insira depois delas a. pergunta: E dai? Voc~ ten\ enunciado seu pro­blema persuasIV3mente quando tiver t:ertez.'l de que 0 que vern antes do E dai? induz plausivclmente scus leitorcs a fazer essa pergunta, e de que 0 que se segue responde a ela de modo con­vi ncente.

A Motodyne nao lem dados moslrando quais icones sao auto-explicativos. £ du"? Com tais dados, ela poderia delcrmi­nar quais icones mamer c quais redefinir.

PREPARANDO .. SE I~AHA REDIGIR, REDlG'INDO E REVlSANDO 307

A verdadeira duvida e por que esses personagens quc lu­lam para ser gente sao sempre brancos e do sexo mascul ino. E da"? Como inlerpretes culturais, eles podem rero~ar estere6ti­pos destruti vos sobre como deve ser uma pessoa para que a con­sideremos "nonna'''.

A bist6ria do Alamo di rerc nao s6 nas versOcs mexicanas e americanas, mas tambem nas versoes americanas de epocas diferentes. Nao sabemos por que essas bist6rias sao Hio direren­les. £ da"? Ab, bern , deixe-me pensar ...

Responder a essa pergunta nao e simplcsmente difici l; pode ser exasperante, a te mesmo desalentador. Se voce gosta de his­torias sobre 0 A lamo, pode pesquisa- Ias ate se saciar sem ter dejustificar slla busca para ninguem a nao ser para si meslllo. £Ii simplesmellfe gosto de saber.

Mas antes que os outros possam apreciar sua pesquisa, voce precisa "vender-Ihes" sua importancia. Caso contmrio, por que eles deveriam perder tcmpo com ela? Se voce esta redi­gind? urn trabalho esco lar, seu professor sera obrigado a le-Io, mas ninguem mais . Quando voce visa os integrantes de uma comunidade de pesquisa, precisa convence-Ios de que seu pro­blema e - ou deveria ser - urn problema deles tambem, que eles encontrarao em sua solm;ao nao 56 a1go que Ihes interesse, mas que tarnbem os beneficiara, bastando para isso que saibam 0 que voce descobrill.

Que beneficio as pessoas poderiam reconhecer em urn problema sobre hist6rias do A lamo? Bern, se elas continuarem scm saber como essas hist6rias evoluiram, como 0 epis6dio e eontado de maneira direrente na hist6ria mexicana e americana, como Hollywood converteu a hist6ria em urn mito, nao entcn­dedio a lgo mais importante, a relac;ao entre mito e hi storia, a conturbada hist6ria das relalYoes entre 0 Mexico e os Estados Unidos, ta lvcz ate mesmo alga sobre a vcrdadcira identidadc dos americanos.

Devemos ser sinceros, entretanto: sempre havera algllem que tamara a perguntar: E da"? Nao esfOli preocupado em en­tender a experiencia americana, milO e hist6ria, Ilem as rela-

Page 162: boothwaynec-140923095935-phpapp02

308 A ANTE DA PESQl/ISA

roes com 0 Mexico. Diante de tal resposla, voce pode simplcs­mente dar de ombras e pensar consigo mesmo: Publico erra. do. Os pesquisadores bcm-sucedidos sabem como encontrar c reso lver problemas intercssantes c como convencer os leitores disso. Mas uma hab il idade nao menos imJ:?ortante e saber onde procurar urn publico [ormado por leitores que apreciem 0 tipo de problema que voce reso lveu.

Contudo, sc voce tiver certcza de que sellS leitores conhecc­rao as conseqiiencias de seu problema, entao pode decidiT nao declan'i- Ias. Crick e Watson decidiram nao especificar nem custos nern beneficios, porque sab iam que seus le itores eSla­yarn conscientes de que, enquanto nao cntendessem a estrutura do DNA, nao cntenderiam a genetica. Tivessem Crick e Watson decJarado esses custos, podcriam ler sido considerados redun~

dantes e condescendentes. Se voce esra traba l!1ando em seu primeiro projeto de pes~

quisa, nenhum professor razoavel espcrani que enuncie seu problema em lal nivel de detalhes, porque voce provavelmen~

Ie nao sabe ainda 0 que os oulros pesquisadores consideram irnportanle. Mas, se puder decl arar explicitamente sua propria falta de conhecimento ou compreensao, de mane ira a mOSlmr que voce esta dispoSIO a superar isso, estara <lando 0 maior passo no sentido da pesquisa significativa. Dad urn passo maior ainda se puder explicar por que e irnportante sanar essa falta de compreensao, se puder demonstrar que, quando se entende melhor uma coisa, entende-se melhor outra , mUlto mais impor­tante, mesmo que isso sirva s6 para voce.

15.3 C riando uma base comum de compreensao comparti lhada

Antes de enunciar 0 que quer que scja, porem, voce deve. antes de tudo, come~ar com urn contex to que localize seu pro· blema em urn pano de fundo relevante. Desse modo, ajudani seus leitores a entcnder como seu problema se encaix(l em urn qua· dro maio r, como se relaciona com outras pesquisas. Se relalar

PREPANANDO-SI£ PARA REDIG'/R, REDlCJNDO 1;' RJ:!.V/SANOO 309

uma pesquisa e como participar de um dialogo, voce adquire a d ire ito de entrar na conversa, se souber 0 que oulros disse­ram. Na maioria dos relalorios, faz-se isso resumindo-se bre­vementc as pesquisas atuais re levantes. (Na verdade, antes de sc decidirem a ler urn relatorio, alguns Icilores leern rapida­mente os primeiros paragrafos para vcr quem 0 aulor conside~ ra que vale a pena cilar.)

Esrudantes, as vezes, deixam de expli car essa base comum de compreensao, porque rcd igem 0 relatorio como se pudes­scm simplesmente partir do ponto onde parou a d iscussao nn sala de au la. Suas introdu~oes apresentam uma economia tao grande de palavras, que so alguem que (enha partic ipado do cu rso poderia cntender:

Em vista da controversia quanta a omissao de Hofstadter no que diz respcito as d i fercn~as entre matematica, musica e arte , m10 fo i de surprcender que a rc;:u;:ao a The Embodied Mind teoha sido tao violeota. 0 que esta ainda menos claro C 0 que caUSOl! a controversia. Vou argumentar que qualquer explicacao da mente humana deve ser intcrdisciplinar.

Nao rcdija uma introdll~ao que 56 seu professor possa en­lender. Imagine que esteja escrevendo para outta pessoa que fez o mesmo curso, mas nao sabe a que aco nieceu em sua aula.

15.4 Desestabilize a base comum, enuncia ndo se ll problema

A base comum tern ainda uma outra fun93.0 , que podemos ilustrar com duns introdu<;oes a urn conto bastante conhec ido:

Numa manhii cnsolarada. Chapeuzinho Vcrmelho ia salti· lando alegremente pcla noresta, a eaminho da easa da Vovo7Jnha. quando repentinamenle 0 Lobo Mau stlrgiu de tras de uma arvo­re e quase a malou de susto.

Uma manha, 0 Lobo Mau estava de locaia atras de lima ar­vore, espernndo para ussustar Chapcuzinho Vcnne lho, que ia a caminho da casu da Vovozinha.

Page 163: boothwaynec-140923095935-phpapp02

310 A AR7l:: DA PIiSQUISA

Qual delas parece mais convincente? A primeira, e claro, porque comel;3 com uma cena cstavel rompida pelo Lobo Mall :

Contexto estavel : ,

Urns manha., Chapeuzinho Vcrmelho ia salti~antc por entre as arvores.

Problema de fuptura:

Condirao: quando 0 Lobo Mau saltou de mis da arvore, CUS/O.- assustando-a (e, as crianc inhas todas tambem, quando

prestam atem;ao a hist6riaJ.

o resta da hi st6ria complica esse problema e depois 0 50-

luciana. Por incrive l que pare~a, as introdu~oes aDs artigos de pes­

quisa adotam a mesma estrategia. Muitos comct;:am com 0 con­texto estavel de uma base comum - alguns relatos de pesqui­sas aparentemente scm problemas. uma crem;:a naD contestada, urna declarac;ao do consenso da comunidade sabre urn topieo conhecido. Entao, os aulores rompem esse contexto eslavel com 0 problema: Leitor. voce acha que sabe algo, mas 0 que

./ sabe e falso ou illcompJeto. Eis aqui uma introducao que comel;a sem uma base comum:

Descobriu~se recentcmente que os proccssos quimicos que debili tam a camada de ozonio sao menos compreendidos do que se pensava. (E da;?) Podemos ter rotlflado incorrelamenle os hi ­drofluorcarbonetos como a causa pri'ncipal.

Por mais pe rturbador que 0 proble ma pare~a. podemos a ume ntar sua for~a retorica loca li zando-o num contexto nao problematico de pcsquisas ja ex iSle ntes, nao s6 para orie ntar os leitores para 0 topi co, mas especificamcnte para criar urn con­texto aparenternen te estave l que possamos romper. Essa rup­tura quase semprc e indicada por mas, porern , por outro lado , o u algumas outras palavras que indique m que voce csta rom-

PREPA.RANOO-SJ;.· PARA RHO/GIK. R1:."DIGINDO 1:: ReV/SA. NDO 311

pendo a situac;ao estavel que acabou de criar. Isso indica impli ­c itamente ao le itor a condil;ao de seu problema: a comprecn­sao incompleta o u errada.

A medida que investigamos as amea~as ambientais, nossa compreensao de muilos processos quimicos, como a chuva adda e a fonna~3.o de di6xido de carbono, aumentou, pennitindo-nos entender me lhor as efeitos eventuais na biosfera. (Soa bem.) No en tanto, descobriu-se recentemente que os processos quimicos que debi litam a camada de ozonio sao menos compreendidos do que se pensava. (E da;?) Podemos ler rotulado incorrctamentc os hidrofluorcarbonelos como a causa principal. (Bern, eo que voce descobriu?)

Assim, os Ic ito res tern dois mo tivos pard reconhecer que 0 problema c do interesse de les: 0 problema e m s i, mas tambem o fato de esta re m desavisados quanto a e le.

Podemos c riar a base comum e rguendo-a sobre a hi s t6 ria da pesquisa:

I Poucos conceitos soci%gicos tern sido aceitos e rejeila­

dos tiio rapidamente quanto a alegada infIuencia protelQra do religiao contra 0 suicidio. Uma das "leis ,. sociologicas muis bil­sicas, a diferenfQ prol€Stame-cat6Iica em relariio ao suicidio . foi qu.e.\·rionada tanto te6rica qu.anto empiricamenle. No en tan· to, alguns estudos ainda descobrem uma influcncia da relig iao ...

Ou sobre 0 pr6prio problema:

A formulafiio do problema e reconhecida como uma parle decisiva da pesquisa. ainda assim nao existe nenhuma descri­lVaO de seus mClodos. Nem existe uma tcoria sobre a variedade de estrategias disponiveis ao pesquisador. ..

Ou me ra mc nte a lg um conhec ime nto gera l que deva ser cor­rigido :

Tem-se cOtlsiderado que as Cruzadas no seculo XI foram motivadas pelo zelo religioso para retomar {I Terra Santa para

Page 164: boothwaynec-140923095935-phpapp02

312 A ANTI:: 0,01 nSQ(RSA

a Cristandade. Na \lcrdade, OS motivos foram politicos. pelo mc+ nos parciaimente, sellao em grande parte.

Tudo isso pode parecer uma formula e, de certa modo, e. Mas voce depressa perccbera que nao pode segui<-Ia de manei­ra neg ligentc. Ao dominar urn modelo rctarico, v6ce tern mais do que uma formula para rcda<;ao, ate mais do que tlln exped ien­te rct6rico para dirig ir-se aos leitores de modo que eles enten­dam. Tern tambem uma ferramenta que 0 ajuda a pensar. Ao exigir de s i mcsmo a e laboTUI;ao de uma cnunc ia~ao completa de seu problema, voce prccisa descobrir 0 que seu publico sabe, o que nao sabe c, em particu lar. 0 que dcve saber. Nao se trata de um tTaba lho de " precnchcr espa<;os em branco".

Na vcrdade, esse modelo abrangc mais da metade dos re~ latorios de pesquisa cscritos em cicncias humanas e sociais. Todos parecem difcrentes, porque cada urn uti liza 0 padriio a sua maneira, usando tipos difercntes de contexto, ex pondo con~ diC;Oes e custos em gra us c formas di fe rentes. Mas nenhum pa~ drao e mais comurn .. Esse tipo de introduc;ao aparece menos fre~ quentcmente nas cicncias natura is, porquc essas comunidades traba lham com problemas amplamente reconhec idos . Quando os cientistas usam 0 contexto como abertura, com ma ior fre~

. quencia e para declarar urn problema conhecido, como 0 rela~ torio de Crick e Watson sobre 0 DNA. (0 quc produz a ruptura e seu anuncio de uma soluc;ao.) Como sempre. observe como as autores apresentam os problemas de sua area, e entao apre~

sente os seus de modo parec ido. A discussao sobre contradic;oes em "Sugestoes uteis", no final do Capitu lo 8, sugere varios modelos basicos de Con texto + Ruptura :

Sempre se alegou que alguns grupos relig iosos sao "eu/. los" pelo modo como dlferem das igrej as dominallles;<:<><uex.o no en ta nto, se observarmos essas organiza~oes de lima perspccli~

va historica, nao fica claro quando um dcnominado "culto" ~ tor~ na uma "sei ta" ou mesmo uma "religiiio"',,,p,,m,

PREf>ARANDO·$£ PARA REDIGIR, REDIGrNDO 1:: REVlSANfJO 313

15.5 Apresente sua solu 'Yao

Ate aqu i, criamos este modelo de introdUl;ao em duas etapas:

1 - CONT EXTO ESTAvEL, ua form a de base cornum (opcional);

2 - RUPTURA, na fonna de urn problema, que consiste de: a - urna condic;ao de ignoranc ia, erro, e lc.; b - as consequencias da ignorancia (na fonna do custo

por deixar essa condic;ao nao reso lvida, ou 0 bcne~

licio trazido por sua solu9ao).

Quando voce rompe 0 contexto estavel de seus leilores, deve, e claro, soluciona~ lo, seja declarando a essencia da solu­c;ao explicitamenle. seja prometendo implicitamente que ofe­rccera urna so luc;ao no fina l. Os Icitores procuram por essa res­posta nas ult imas frases da introduc;ao. Voce pode enunciar sua resposta de duas mane iras.

I

J 5.5. J Apresenle a essencia da solUfiio

Voce pode apresentar a essencia da soluc;ao explicitarnente. Essa frase sera, e claro, sua proposiciio principa l e a af irma­Cao princ ipa l. Ao anunciar sua proposic;iio pri ncipal na intro­ducao, voce cria urn re latorio do tipo "proposic;ao em primeiro lugar" (embora essa proposic;ao apareca como a ultima frase da introduc;ao).

A mcdida qUI:: investigamos as a rnca~as arnbicntais. nossa compreensiio de muitos processos quimicos, como a chuva acida e a fonna~ao de gas carbon ico, melhorou c nos pennitiu en len~

der melhor os efc itos eventuais na biosfcra. (Soa bem.) No CIl ­

!"anto, descobriu~se recentcmenle que as processos quimicos que debiHtam a camada de ozonio sao menos compreend idos do que se pensava. (£ dai?) Podemos ler rolulado incorretamenle os hidronuorcarbonetos como a causa principal. (Bem. eo que voce deseobriu?) Achamos que a liga~ao do carbono ...

Page 165: boothwaynec-140923095935-phpapp02

314 A ARTE DA PESQUISA

/5 .5.2 Prometa uma sofUfiio

. <?pcio~al~lente •. voce pode esquivar-se de declarar sua pro­posl<;ao pnnclpal , dlzendo apenas a dircc;:ao que seu relatorio devera ton:ar, impli~ando assim que apres,entara ~ua soluc,:ao na conclusao . Esse lIpo de resposta e urna "proposi~ao de lan­c,:amento" c sugere urn relatorio do tipo "proposic,:ao ~o final":

. A medida que as cientistas investigam as amea9as ambien­tms, sua compreensao ( ... ) tern mclhorado. Mas rccentemcnte ( ... ) menos bern cntendida. (E dai?) podemos ler rotulado incor­retamenle OS~ hidrofluorcarbonetos como a causa principal. (Bern. ~ 0 q~e voce ~esCObrill ?). Neste felatorio, descrevemos urna hgs'tao qulnllca ale cntio inespc..-ada entre ...

Essa introduc,:ao lam;a as leitores no tcxto do rclat6rio nao alraves de sua prop~si<;ao, da cssencia da solu<;ao, mas com uma frase que anteclpa uma solu<;30 por yir.

0': ~roposi<;ao de lan<;amento, rna is fraca, apenas anunc ia um tOPICO:

Estc estudo invcstiga 0 processo quimico da depleIVao do ozonio.

Se voce tern urn motivo para por sua proposi<;ao no final , de se~ rel.at6rio, c.ertifique-sc de que a proposi<;ao de lan<;amen­to val. alem de slmplesmente introduzir seu t6pico. Ela devc sugenr os esbo<;os conceituai s da solu<;30 e anunciar urn plano (ou ambos).

. Existem muilos projetos para adutoras de turbinas hidrele­tr~ca~ e ~rades de desvio, mas a avaliar;ao deles no pr6prio local n~o e vlavel e m te mlOS de custo. Uma altcmativa e a simul a­r;ao por computador. Para ava liar a eficiencia hiddiulica das g~ades de desvio ern hidreletricas. este estudo fani a avalia­f;ao de Ires modclos de compufador, Qualtro, AVOC e Tur­bl)plex, para determinar qual e 0 mais eficiente em termos de custo, confiabilidade, velocidade e facilidade de uso.

Quando ler as fontes de sua area, observe onde elas tendem a decJarar a proposi<;ao principal - no fim da introdu<;ao. no es-

PREPARANDO.SE PARA RED/GIll, REDrGINDO E REVlSA{I!/X) 315

tilo "proposi<;ao em primeiro lugar", o u na conclusao, no esti-10 "proposi<;ao no fioal" . Entao, fac;a 0 que os aulores fizcram .

Alguns autores acrescentam mais urn componeote depois da proposi<;ao, uma frase ou duas, expondo 0 plallejamento do relat6rio expli cilamente:

Na Parte I, descrevemos os modclos; na 11, ... ; e na III ,

Esse componente apareee geralmcnte em textos de cien­cias sociai s. mas c menos freqtiente nos de cieneias humanas. pois muitos le itores dessa area consideram-no urn exagero.

15.5.3 Problemas especiais com relatorios do tipo proposi~a.o no final

As introduc;oes que usam proposi<;6es de lan<;amento sao comuns nas ciencias humanas, mas os pesquisadores iniciantes dev~m usa-las com cautela. Em primeiro lugar, voce podera perder seus leitorcs se nao deixar claro aonde pretende chegar, e se eles atrapalharem-se com sua argumenta<;ao. Voce os aju­dara a acompanhar seu raciocinio, colocaodo sua proposiC;ao principal no fim da introduc;ao. 0 maior perigo num re lat6rio do tipo proposi<;ao no final e voce se perder. Se voce redige uma introdu<;ao que promcte uma soluc;ao para urn problema, e ainda nao sabe qual e essa solw;ao (muito menos conhece todo o problema), voce oao esta redigindo urn relat6rio, mas ainda analisando seu projeto. E born fazer isso. So nao va apresen­tar essa analise como urn texlO final.

Algumas comunidades de pesqui sa ex igem implicitamen­Ie que os autores ponham a propos i<;ao principal oa cooclusao (apesar de seus manuais de redac;ao indiearem 0 conln'i.rio). Mas, em tai s areas, os leitores sabem oode encontrar as proposic;oes prineipais e assim, depois de lerem 0 titulo e 0 sumario, vao para 0 fim. Se YOCe precisar colocar sua proposi<;ao em uma se­C;ao chamada "Conclusao", redija cssn conclusao como se fosse urna segunda introdu<;ao, mais compacta do que a primeira .

Page 166: boothwaynec-140923095935-phpapp02

3 16 A ART1:.: DA PESQUISA,

sem a aprescnta~ao da iitcratura, mas esbcx;ando 0 problema de novo e, e ntao, enunciando a 50Iu<;:30. (Veja "Sugestoes lltcis: As primciras c as ultimas palavras", pp. 321-4.)

Nao escrcva urn relat6rio do tipo proposi~ao no fina l~

simplesmente porque receia que, sc dec1arar sua. afirma<;:iio principa l na introdu<;:ao, estara "entregando tudo", ~ que [ani os leito res pararcm de leT. Se voce aprcsentou urn problema importante, seus leitores nao aceitarao sua so iw;ao simples­mente porque voce a anunciou . Elcs podem considerar sua res­posta plausivel, mas ainda V aG querer ver como voce a justifi­ca. Na verdade, no mundo todo, os leitorcs tern pouea pacien­c ia com re lat6rios de pesquisa que parecem uma novcla de misterio.

15.6 R a pido ou devagar?

Voce a inda tern uma escolha a fazer. Te ra de deeidir se aprescnt'ara seu problema depressa ou devagar. (sso vai depende r de q ua nto seus leitores sabem. No easo a segui r, 0 auto r eome­c;a depressa, a nunciando um consenso entre engenheiros bern informados " prontos para correr". Na segunda sente nc;a, elc ,rompe esse eonsenso bruscame nte:

As fo rc;as de fl uido-filme em mancais com filme retratil (A FR) nonnalmente sao obtidas pela equac;ao de Reynolds, da teoria c1assiea da lubri fi eac;iio. Contudo, 0 aumenlo erescente de rotac;ao da rnaquinaria requer a inclusao dos efeilos da inercia do fluido no projelo dos AFR.

o a ulor seguinte aborda igualmente conceitos tcenicos, mas comec;a com os mais conhce idos. Icvando em cons ide rac;ao os leito rcs q ue sabcm muito me nos:

Urn metoda de proteger os peixes em migrac;i'io em usinas h idrelctricas e ° desvio alraves de grades nas cntradas das tur­binas ( ... ) (seguem-se mais 11 0 palavras explicando "gmdes"]' Como a eficicncia das grades e dctcrminada pela intera<;:ao entre

1 PKEPAIUtNDO.SE PARA REDIGIR, KEDIGINDO If. Rlf.VISA/yDO 317

o comportamento dos peixes e 0 fluxo hidraulico. 0 projeto de uma delas pede ser avaliado determinando-se seu desempenho hidniulieo ( ... ) (mais 40 palavras cxplieando "hidrilulieo")' Este cstudo resultou numa melhor comprecnsao das caraeteristieas hi­draulicas desla tecnica. que pocic arientar fuluros projetos.

Comec;ando rapido, voce eslar.i se dirig indo a urn publico do seu nive l; devagar. estani. pc nsando nos le ito res que sabem menos do que voce. Se seus le itores ente ndern do assunto, e voce comcc;a muito Icntamente, pede pareeer que voce sabc muito poueo. Sc for muilo deprcssa, dara a impressao de que nao esta levando em cons ide rac;ao as necessidades deles.

15.7 A introdu4j:ao como urn todo

o que apresentamos aqui podera sobrccarrega-Io com es­co lhas demai s, mas le mbre-se: todas essas escolhas seguem 0

que e na verdade uma simples "gramatica". Uma introduc;ao con­siSle de apcnas tres pontos de v ista :

Base comum + Ruptura + Resoluc;ao

q uase sempre nessa o rde m . Mas ha escolhas:

o A base comum e opc io na!. • A ruptura norma lmente contem tanto c usto quanta eon­

di fYao, mas, se seus le itores estao famili arizados com seu problema. pode conte r apenas urn dele~. ..

• A rcsolu~ao deve dec1arar uma proposH;ao pnnc lpal ou uma proposic;ao de lam;amento, de preferenc ia a primeira.

I _ BAS~: COMUM : Tipos de abertura (veja "Sugestocs liteis" a seguir)

o U ma declarac;ao gera\. • Urn acontecimcnto a u caso. o U ma c itac;ao a u fa to estimulante.

Page 167: boothwaynec-140923095935-phpapp02

318

2 - R UPTURA:

A AR71;.' DA PESQlIlSA

Contexto • Compreensao compartilhada sobre 0 es·

lado atual do problema au antecedentes tidos como certos.

. , Obj~lio: mas, cOrUudo, por outfq lado, etc. Dcclanl{ao do problema

• CONDICAO de ignorancia, pouca com· preensao, etc.

• CUSTO/BENEFICIO de deixar a con­dic;ao nao resolvida a u de so luciona-Ia.

3 - RESOI.UCAO: Dcclara{iio da res posta Propos ic;ao principal ou proposivao de lan­\=amenlo.

A exemplo de todos os resumos estrutura is, este aqui pode parecer mecanico. Mas, quando voce desdobrar cste mode lo num relat6rio real , os leitores perderJo de vista a forma e nota· rao apenas 0 conteudo, pois a forma na vcrdade os ajudara a entender.

1 Sugestoes uteis: As primeiras e os iI/limos palavros

Suas primeiras palavras

Muitos auto res consideram a primeira ou segunda frases especial mente difice is dc escrever. Em primeiro lugar, saiba 0

que evitar:

• Nao comece com urn vcrbete de dicionario: 0 Webster define etica como ... Sc a palavra e importante 0 bastan­Ie para ser definida em urn relat6r io, e complcxa demais para uma dc finir;ao de d iciomi.ri o.

• Nao comece com imponcncia: Os mais profundos fi/o­I sofas lem se debatido durante sticu/os com a importan­

te qllestiio do ... Se seu assunlo c importante, dcixe-o falar por s i mesmo.

• Evite: Este relatorio estudani.. . Vall comparar. .. Alguns relat6rios publicados come\=am dessa mancira, mas a maioria dos leitores a considera banal.

• Lembrc-se de nao reproduzir a linguagem das fontes que esta pesqui sando. Se encontrar dificuldade para come­<,:ar, dc-se urn empurrao com uma para-Frase , mas quan­do revisar c li mine-a.

Eis aqui tres OP90es para a sua primc lra ou segunda frases.

Comece com um jato fl ouiveJ all ciw(.iio

S6 comece com urn fato ou citac;ao se sua linguage m ca­minhar naturalmcnte para a linguagcm do resto da introdw;ao :

Page 168: boothwaynec-140923095935-phpapp02

320 A AHT1:.'OA P£.SQUISA

" Da diafana be leza sensual de urn genuino Jan van Eyck ern3n3 uma eSlranha fascina~ao. semelhante a que experimen­tamos quando nos deixamos hipnolizar por pedras preciosas."

Edwin Panofsky, que sabia lidar com as palavras, sugcrc aqui a ex istencia de uma certa magia nos trabalhos de Jan van Eyck . As imagens de Jan causam uma fascinar;ao .. ,\

Comece com urn caso perlinenle

S6 comece com urn caso se a linguagcm ou 0 conteudo tivcrem a lguma relal;ao com seu t6pico. Este relat6 rio aborda­va os aspectos cconomicos da segrega~1io escolar :

Estc ano, Tawnya Jones ingressa no curso ginasia l em Doughton, Ge6rgia. Embora seus colcgas sejam na maioria ne­gros como cia, 0 sistema de sua cscola e considerado, do ponto de vista legal, rdcialmente intcgrado. No entanto, cxecto por al­guns brancos pobrcs c alunos hispanicos, a escola de Tawnya asscmelha-se ainda aquela dos segregados e economicamcnte earentes em que sua mae ingressou em 1952 .. .

Comece com lima deciarafQO geral

Comece com uma declara.;1io geral seguida de outras mais especificas, ate alcan~ar seu problema. Esta e apenas uma outra versao da base comum.

Na ultima decada, os computadores encontraram urna quan­tidade de aplicacOcs surprecndcntcs, muil,as das quais estao lrans­fonnando 0 ambiente humano. 0 terreno que mais deprcssa se t .... lI1sformou foi 0 local de trabalho. Hoje, ate mesmo os proces­sos industriais mai s rotineiros empregam rooos, que exeeulam lra­balhos considcrados muito pcrigosos, ou muho oncrosos, ou l1les­mo lediosos demais para scrcm cxecutados por scres humanos.

Urna versao arriscada desle modelo e 0 estratagema do tipo desde tempos imemoria is, porque voce pode lcr de enfrcntar uma longa marcha a(raves da hist6ria ale chegar a propos i ~ao.

1 PREPARANDO-S£ PARA RED/GIR, REDIG1NOO E REVlSANlXJ 321

Nosso fascinio por ntaquinas que se movem por fon;:a pr6-pria e tao antigo quanto os registros da hist6ria. Na GrCeia antiga, pe~s de (ealro eram executadas inteiramente por bonecos con­tralados por pesos suspensos por cordas trancadas. MUlto tempo depois, govemantes CUf OpeUS ficaram fascinados por automatos que podiam escrever, desenhar e tacar instrumentos musicais. No seculo XIX. ( .. . ) No inicio deste s&:ulo. ( ... ) Atualmente, porem, a aura dos automatos esvaneccu-se: em toda parte usam­se robOs industriais ...

Se come~ar com algum desses expedientes, esteja segura de usar urna linguagem que conduza ao seu contexto, ao pro­blema e it essencia da sol u~ao.

Suas tiltimas e pOlleas palavras

Nem todo relat6rio de pesquisa tern uma sel;ao intitulada "Conclusao", mas todos tern urn panigrafo au dois para encer­ra- los. IFique feliz , porque ate mesmo uma conclusao comple­xa ernprega os mesmos elementos da introdu.;ao.

Conclua com slIa proposi~ao principal

Se voce nao terminou a introdul;ao com sua proposi~ao principa l, mas com uma proposi~ao de lan~amcnlo. a conclu­sao sera sua (mica oportunidade de declarar plenamente sua proposi~ao principal. Cenifique-se de que os termos-chave da conclusao co incidam com as da inlrodu~ao. Se tenninar a in­trodm;ao com sua proposi~ao principal, tome a declara-Ia rnais completamentc na conclusao. Assim, a primeira correspon­dencia entre introdu~ao e conclus1io e como urn cco - a con­c1usao ecoando tcrrnos-chave da introdu~ao.

Page 169: boothwaynec-140923095935-phpapp02

322 A ANn:: DA PESQUIS/t

Conciua com urn significado au aplico{:ao novos

Urn modo de if alem da pura e s imples repeticao de sua afirmac;ao e apresentar urn significado de sell problema que nao tcoha s ido mencio nado oa introdw;:ao. Esse novo signi fi­cado poderia ter respondido antes a pergunta E dai?; !"las lal­vez num nivel mais geral do que voce queria indicar aquela altura. Na verdade, a medida que voce formula urn problema, encontra varias respostas para a pcrgunta E dal?, diversos custos para a cond i~ao. Entao, escolha urna que Ihe pare~a bastantc estimulante para usar na conclusao.

Na conclusao a seguir, 0 autor introduz pela primeira vez urn custo adicional da decisao do Supremo Tribunal sobre a sen­ten~a de morte para mi litares : as militares podem tcr de mudar o seu modo de pcnsar.

Considerando-sc as recenles dec isOcS do Supremo Tribu· na1, rejeitando a pena de mortc obrigatoria, a provisao de morte obrigat6ria para trai~iio, no artigo 106 do C6digo Universal de Justica Militar, C aparentemente inconstitucional e, poftanto, deve ser reescrita . l\1als sign ificalivamente, entretanlo, se essa mu­dan-;a afetar a aplicacio da jusli~a militar, ela ini desafiar urn dos valores mals fundamentais da cultura militar, de que a trai~Ao maxima requer a penalidade maxima.

o autor poderia tel' usado essa implica~ao na intTodul;30, como urn custo potencial resultante das novas deeisOes do Su­premo Tribunal, mas pode ter achado que tal proposil;ao era muito explosiva para ser levantada tao ccdo. Tenha cuidado para nao deixar que esse significado mats geral seja con fundi· do com sua propos i ~ao principal. Voce pode deixar claro 0 pa­pel desse signifi cado, introduzindo-o com urn "a proposito", como uma implicaC;ao adicional da solu~ao.

Se sua pesquisa nao e motivada diretamentc par urn pro· blema pr.i.tieo real, talvez fosse 0 caso de voce se pcrguntar ago­ra se sua solul;30 tern alguma aplical;3o para algucm. La no Capitulo 4, fizemos a di stinl;ao entre problemas de pesquisa e problemas prati cos, distingu indo saber de Jaur:

I J

I

PREPA.RANDO-SE PARA REDIGIR, Rt:D1GtNDO Ii REVlSANDO 323

I - EstOll estudando a maneira como aJunos do colegia l lidam com a redac;ao de cnsaios

2 - porque estoll tentando descobrir como escolhem os tapicos

3 - para entender por que eles nao conseguem cnxugar urn tcpieo desenvolvendo-o no maximo em Ires pag inas

4 - de modo que possamos ellsitui- i os a escolher topicos sobre as quais possam escrever satisjatoriamenle.

Se sua solu~ao te rn uma aplical;3a, voce pode sugeri-Ia na eanclusao.

Essa e a segunda correspondencia entre a introduI;8o e a conclusao. Na introdul;ao, voce "vendeu" seu problema, citando os custos de nao resolve·lo. Na conclusao, voce pode aumen· tar a importancia de sua solu~ao, mcncionando urn beneficia novo e talvez ate rnesmo inesperado da comprcensao mais clara que sua 50luI;50 pode trazer.

Conqlua sugerilldo /lovas pesqllisas

Se a irnportancia de sua so lu~ao e espeeialmente interes­sante, voce pode sugerir novas pesqui sas:

Dado5 de pronluarios de pacientcs sugerem que fato res so­ciais e culturais como sexo, estado civil e idade tern afelado as defini~Oes de enfermidade mental e as suposi'fOcs sobre diag­n6sticos. Se podcmos entcnder os valores soclais que afetam a ideologia da enfcnnidade mental e a pr:Hica da psiquiatrla, os historiadores tem dc cntender melhor a politica instilucio­nal, a teoria medica e as perccp'ioes do publico.

Estas sao a tcrccira e a quarta correspondencias entre a ihtroduc;ao e a conclusao. Na introdll<;ao, voce pode ter come­~ado a partir de pesquisas ja existcntcs, antes de introduzir seu problema, e enta~ mostrado que aquelas pesquisas eram incom· pletas. Na conclusao, voce pode indicar urna area remanesecntc de ignorancia, confusao au incerteza e, entao, convidar os lei­tores a fazer novas pesquisas para sanar esse problema.

Page 170: boothwaynec-140923095935-phpapp02

324 A ARm DA PESQUISA

Conclua com uma coda

Finalmente, voce pode terrninar com 0 que poderiarnos charnar de urna "coda", urn gesto retorico que nao acrescenta nada de substancial a sua argumentac;ao masJhe da urn fecha­mento gracioso. Uma coda pode ser urna cita~ao intetigente, 0

relato de urn caso, ou simplesmente urna surprccndentc figura de retorica, a lgo que se relacione com sua citaC;ao ou seu caso de abertura, ou ate mesmo os repita - urn ultimo di<ilogo entre a introduc;:ao e a conclusao. Assim como voce comec;:ou 0 texto com uma especie de preludio, tambem pode conclui-Io com urna coda. Em resumo, pode estruturar sua conciusao como urn re­flexo da introduc;ao:

Introdu~ao

I - Cita~ao/fa[o de abertura. 2 - Contexto de pesquisas

anteriores. 3 - Cond i~ao de ignonincia . 4 - Custo dessa ignonlncia. 5 - Essencia da solu~ao.

Conclusao 5 - Essencia da solu~ao.

4 - Maior significado/ apl ica~ao .

3 - 0 que ainda nao e conhecido. 2 - Sugestao de l10vas pesquisas. I - Cita~aO/fato de fechamento.

T QUINTA PARTE

Considera .. oes finais

Pesquisa e etica

TUDO 0 QUE DISSEMOS SOBRE A PESQUISA comcJ;a com oossa convic.-;;ao de que cssa e urna atividade intciramente social, que nos une aqueles cuja pesquisa usamos e, da mesma forma, aqueles que usamo a nossa. E tambem urna atividade oao mais Iirnitada ao pequeno mundo social acadernico. A pesquisa acha­se agora no centro da industria, do comercio, do governo, da educaJ;ao, da saude, das operac;ocs militares, ate rnesmo do cn­tretenimento e da religiao. Ela influencia lodos os setores dc nossa sociedade e de nossa vida, publica ou privada. Uma vez que a pesquisa e sua divulgac;ao tornaram-se parte da tratna de nosso tecido social, nestas poueas uhimas paginas apresenta­mos algumas reflexocs sobre urn assunto, indo alem de sua tecniea: a ligac;iio infalivel entre a divulgaC;3o de sua pesquisa e os principios eticos da comunicac;iio.

Mais do que a maioria das atividades soc iais, a pesquisa nos desafia a definir nossos principios eticos e, entao, fazer eseolhas que os violam ou os respeitatn. A primeira vista, 0

pesquisador acadcmico pode parecer menos tentado a sac rifi­car seus principios em fun.-;;ao do luero, do que, digamos, urn pesquisador da Wall Street, que avalia as ac;:oes que sua empre­sa quer vender ao publico. Nenhum professor ini Ihc pagar para escrever um relatorio que sustente um dcterrninado ponto de vista, mas alguns cientistas sao pagos para testcmunhar que urn produto e seguro. Nem e provavel que a ideia de alcanc;:ar fama internacional venha tenta-Io a cornprometer seus princi­pios, como aparentemente aconteceu com 0 pesquisador ame-

Page 171: boothwaynec-140923095935-phpapp02

326 A A.NTE DA PESQUlSA

rieano que reivindicou ler descoberlo urn virus do HIV que, na verdade, "obtivera emprestado" de urn laboratorio na Franc;a.

Nao obstante, ja em seu primeiro projeto, vocc enfrenta eseolhas ericas. Algumas sao os obvios "Nao fa(,ia" que discuti­mos ao longo do livro:

• Os pesquisadorcs eticos DaO raubarn, plagiando OU rei­vindicando as resultados de outros.

• Nao mentem, adulterando infonnac;oes das fantes ou in­ventando resu ltados.

• Nao destroem fantes nem dadas, pcnsando nos que virna depois dcJes.

Qutros principios da etica da pesqu isa s50 menos obvios, mas implicilos:

• Pesquisadores respons3ve is nao apresentam dados cuja exatidao tcm motivos para questi onar.

• Nao encobrem obj e(,ioes que nao podem refutar. • Nao ridi cu larizam os pesquisadores que tern pontos de

vista contrarios aos seus. nem dc liberadamente apresen­tam esses pontos de vista de urn modo que aqueJes pes­quisadores rejeitariam.

• Nao redigem seus rcl at6rios de modo a dificultar pro­positalmente a comprccnsao dos leitores, nem simplifi­cam demais 0 que e legitimamente complexo.

E facil estabc lecer esses principlos e aplica-Ios aos infra­tores - como aqueJe biologo que marcou ;;eus ralos com tinta nanquim para fazer parecer que seu expeninenlo genetico dera certo, ou 0 estudante que atribuiu a si mesmo urn relatorio tirado do arquivo da fratern idade de sua escola, ou 0 autor que deli­beradamente escreve textos empoJados para fazer seu pensa­mento parecer rnais profundo.

Mais desafiadoras, no entamo, sao aquelas ocas iOes em que os principios eticos nos levam aiern de proibic;oes e exigem que ajamos com espirito de colaborac;ao. Muitos filosofos tern aIU"­mado que 0 problema etico essencial nao reside apenas em evi-

T ,

CONSlD£RA(XjES f7NA1S 327

tar a violac;:ao de obrigac;Oes em relac;ao aos outros, mas, siro, em nos uninnos a eles em urn projeto mutua de desenvolver 0 que as gregos chamavam de ethos, ou caratcr. Ao pensannos nas es­colhas eticas dcssa maneira, como uma construyao mutua do ethos, ja nao enfrentamos mais urna escolha simples entre nos-50S proprios intcresses e os intercsses dos outros, mas 0 desafio de coccotrar urn outro camillho que seja born para ambos.

Em situaC;Oes reais. e claro, tais ptincipios sempre nos for­((am a levan tar quest5es dificeis, as quais cada wna de nos, as IreS autores, rcsponderia de modo diferente. Mas wna coisa em que todos concordamos c que a pesquisa oferece a todo pesqui­sador urn convite a etica, que, quando aceilo, pode servir aos maiores interesses, tanto do pr6prio pesquisador, como de seus lei tares. Ao tentar explicar aos outros por que os resultados de sua pesquisa devem mudar seu conhecimento, sua compreensao e suas cren~as, porque c do interesse deles rnuda-Ios, voee pre­cisa examinar de perto nao s6 sua propria compreensao, mas tambem seus proprios interesses. Quando voce cria, ainda que por pouco tempo, urna comunidade de entendimento e intcres­ses cdmuns. estabelece para 0 seu traba lho urn padrao mais alto do aquele que estabeleceria apenas para s i mesmo. Mostrando­se scnsivel as obj~ocs e rcservas de seus leitores, voce se ajuda a se aproximar de urn conhecimento mais confiavel, de urna comprecnsao melhor e de convic(,iOes mais sas. Ao conduzir sua pesquisa e preparar seu relat6rio como urn dialogo entre iguais, todos trabalhando juntos para alcanc;ar urn novo conhecimento e uma melhor compreensao, as cxigencias e ticas a que voce se obriga visarn 0 beneficia maximo de todos os cnvalvidos.

Segundo esse ponto de vista, seja a que for que vise os in ­teresses de seus leitores, a melhora de seus habitos mentai s e emocionais scra born para voce tambem. Estabelecendo eleva­dos padroes eticos para sua pesquisa, voce nao apenas se junta Ii comunidade dos quc cstao trabalhando em scu topico espe­dfieo - digamos, como Ho llywood mudou a hi storia da bata­Iha do Alamo - como tambem a grande e permanente comu­nidade de todas as pessoas que alguma vez tivcram curios idade, trabalharam para satis fazer essa curiosidade e depois compar­til haram com outros 0 novo conhecimento obti do .

Page 172: boothwaynec-140923095935-phpapp02

328 A ARTE DA PESQUI$.A

E essa preocupac;ao com a integridade do trabalho da co­munidade que explica por que os pesquisadores condenam 0 plagio tao violentamente. Quem plagia intencionalmente rouba mais do que s imples palavras. Nao identificando uma fonte, 0 plagiador rouba parte da pequena recompensa que a, comuni­dade acadernica tern a oferecer, 0 respeito que urn pesq~isador passa a vida inleira tentando conseguir. 0 plagiador l'ouba da comunidade de colegas de ciasse, fazendo a qualidade do tra­balho deles parecer pi~r em comparac;ao ao dele, e entao talvez roube novamente ao receber urna das poucas notas boas reser­vadas para recompensar os estudantes que fazern urn born tra­balho. Quando prefere nao aprender as tecnicas que a pcsquisa pode ens inar, 0 pJagiador nao s6 compromete sua propria edu­cac;ao, como tambem rouba da soc iedade em geral, que inves­te seus recursos na instrm;ao de estudantes que poderao fazer urn born traba lho mais tard~. Mais importante ainda, 0 pJagio, assim como 0 roubo entrc amigos, transforma em fa rrapos 0

tecido da comunidade. Quando 0 furto intelectual toma-se co­mum, a comunidade enche-se de suspeitas, depois fica descon­fiada e por Hm cinica - Quem se imporla? Todo 0 mundofaz o mesmo. Os professores, enmo, tern de se preocupar tanto com a possibilidade de serem enganados, quanto com ensinar e aprender. ./ Do principio ao fim, quando visa as necessidades dos lei­

tores, seu conhecimento, seu lugar em uma comunidade, rnesmo que essa comunidade seja eremera ou conflituosa, a pesquisa convida 0 pesqui sador a considerar nao apenas sua questao, seu t6pico ou problema, como tambem suas ohrigac;oes em relac;ao a suas fontes e seus leitores. Quay.do voce respeita as fontes, preserva e reconhecc os dados que possam contrariar seus resultados, quando enuncia apenas afirmac;oes baseadas em fundamentos firmes e admite os lirnites de suas certezas, voce nao faz isso s6 para evitar a violalYao de regras morais e ganhar cn!dito. Quando voce reconhece 0 beneficia maior, que vern da construlYao de uma relac;ao com seus leitores, criada pc­los melhores principios da pesquisa, enmo descobre que pesqui­sar pensando no interesse dos outros e servir a seus pr6prios interesses.

T P6s-escrito aos projessores

ESCREVEMOS ESTE LlVRO para aqueles que acreditam - au pensarao na possibilidade de acreditar - em duas proposi~es sabre aprcndizado e realizac;ao de pesquisas:

• Alunos aprendern a fazer boas pesquisas e a relata· las claramentc quando tern uma boa visao de seus leitores e das comunidades maiores, cujos valores e praticas defi· nem a pesquisa competente e sua divulgac;ao.

• Aprendem a controlar urna parte importante desse com· plexo processo mental e social, quando compreendem como algumas caracteristicas formais oo.sicas de sellS tex· tos influenciam 0 modo como os leitores os lerao.

Ler, pesquisar e escrever: urn processo de sustenta~ao mutua

Essas duas proposic;Ocs, acreditamos, estao intimamente relacionadas. As caracteristicas formais que orientam os leito­res tambem podem orientar os alunos durante 0 processo de redalYao, ajudando-os a ver como seu texto e capaz de dar aos leitores 0 que eles querem e precisam quando se empenham em entende-lo, concordando com uma proposic;ao, erguendo urna objec;ao a outra, fazendo perguntas, na maior parte do tempo ten­tando descobrir qual a importancia do relat6rio para eles.

Tambem acrcditamos que, cntendendo os processos com­plcmentares de ler e escrever, os alunos podem planejar e con­duzir melhor a pesquisa, prevendo 0 que terao de procurar e avaliar e, finalmente, escrever. Entendendo 0 que leem, eles po­dem, como autores, preyer melbor as expectativas dos leitores .

Page 173: boothwaynec-140923095935-phpapp02

330 A ARn:." DA PESQUISA

E, prevendo 0 que os leitores procurarao em sellS relat6rios, aprendcm a ler os relat6rios dos outros mais criticamente. Os dais processos, ler e escrevcr, sustentam-se mutuamentc .

Os riscos c as limita~oes do formalismo \

Os aspectos formais da rcdat;ao nao deixam de oferecer riscos, especialmente para as pesquisadores iniciantes. Profes­sores que eonfundem fonna com conteudo podem trivializar os padroes formais, usando-os em atividades inexpress ivas. Como aquclcs que ens inam aprendizes de dant;a apenas a colo­car os pes nas marcas certas. au as de piano a apenas pressionar as teelas certas, esses profcssores pensam que basta as alunos aprenderem e praticarem as regras de uma atividade complc­xa e criativa para que entendam-Ihe a essencia e a s ignificado e sejam compet~ntes em tudo 0 que fi zerem.

Ao longo deste livro, Icntamos nos desviar do mero de­sempenho mecanico, mantendo as estudantes consc ienles da imporuincia de seu tmbalho. Mostramos a eles como os padr6es que descrevemos nao sao fonnas vazias arbitrarias a serem preenc~idas com negligencia, mas antes elementos geradores de seus lextos, que nao s6 influenciam a modo como as lei to­res as leeru, mas podem estimular 0 autor a refletit seriamente. Na verdade, acreditamos que esses padroes ajudam os alunos da melhor maneira passive I a reconhecer 0 que ha de mais im­portante na relat;ao entre urn pesquisador, suas fontes, seus co­legas de di sc iplina e seus leitorcs imediatos, urn pre-requisito dec isivo para a pesqui sa criativa e original.

Tais padroes, no entanlo, ainda podcm resultar numa imi­tat;ao vazia sc as professorcs nao criarem urn contexto rct6rico que ex ija dos alunos a compreensao de seu papel social como pesquisadores, nem que seja apenas numa simular;ao. Nenhum livro didatico consegue fazer i5S0. 56 a tipo ccrto de experien­cia em c1asse conscgue, e e alga que apena!'> os professores po­dem oferecer. Podemos. aqui , mostrar aos estudantes os padroes gera is seguidos pela maioria dos pesquisadores. Podemos di-

CONSlDERA(X)ES FINAlS 331

zer-lhes que seus ieitores esperam encontrar varia~Oes particula­res desses padroes, dependendo da disciplina, ou ate mesmo de alguma situa~ao espccifica. Mas nao podemos apresentar essas inumeras variacyoes c circunstancias especiais.

S6 os professores possuem meios de designar tarcfas que criem SitU3yOcS cuja dinamica social traga urn proposito a pes­quisa, com elementos basicos que as estudantes possam iden­tifiear e emender. Quanta menor for a experH!ncia dos atunos, mais suporte social os professores precisarao oferecer, antes que os alunos consigam cmpregar os padroes formais de maneira verdadeiramente produtiva.

A desjglla~iio de tarefas: abrilldo espafo para a curiosidade

Os professores tern encontrado muitos modos de designar tarefas de pesquisa que ofereccm 0 suporte social de que as alu­nos precisam. O s mais bem-succdidos tern as seguintes carac­teristiFas:

1 - As boas tarcfas pedem outros resultados. alem de urn trabalho para ser ava liado.

Pedem que os alunos levantem uma questiio ou problema que algum leitor queira ver resolvidos e que sustentem a solu­~ao com evidencias que 0 leitor julgue confiaveis e pertinen­les. Alunos aprendem pouco atraves de uma dinamica social cuja unica meta e mostrar ao professor que eles conseguem per as pe<;as certas nos lugares certos. As tarefas de pesquisa efi­cientes permitem-lhes ex:perimentar, ou peJo menos imaginar, uma situa<;ao na qual os leitores precisam de informat;oes que s6 eles podem ofcrccer.

As melhores tarefas pcdem que os alunos escrevam para quem de fato precisa saber au cntcndcr alga melhor. Esses lei­tares poderiam ser uma s6lida comunidade de pesquisadores au uma comunidade de interesse criada transitoriamentc pelo problema. Os alunos poderiam fazer a pesquisa para urn clien­te, fora da c1asse. Uma lurma do curso de desenho, par excm-

Page 174: boothwaynec-140923095935-phpapp02

332 A ARTE DA PESQUTSA

plo, poderia cuidar de wn problema de uma cmpresa ou de uma uniao civica da cidade; uma tunna de musica poderia escrever comentarios explicativos para programas musicais; uma tunna de hist6ria poderia investigar a hist6ria da comunidade universi­taria ou da cidade. Alunos menos cxperientes poderiatll. escrever para os colegas de c1asse, mas tambem para alunos de outro grupo, que pudessem realmente usar as informayOes de urn pes­quisador iniciantc. Poderiam fazef as pesquisas preliminares para aqueles estudantes de dcsenho de que [alamos, ou para os de urn curso de p6s-graduayao, ou mcsmo cscrever relat6rios d irigidos aos alunos das escolas secundarias a que pertenceram.

Boas tambCm sao as tarefas que s imulam tais situac,;oes, nas quais os a lunos supCicm que seus colegas, ou urn c1iente, e ate mesmo DutTas pesquisadores tern urn problema que pode ser solucionado pelo trabalho de urn pesquisador estudaote. Em muitas c lasses, grupos -de a lunos podem servir como lei­tores, a cujos interesses e preocupacoes os pesqui sadores ini­dantes sao capazes de atcndcr razoavelmente.

2 - Boas tarefas cstipulam urn publico conhecido. Alunos tern dificu ldade em imaginar os interesses de lei­

tores que Dao conhecem e cuja s ituac;ao nunca experimenta­ram. Mas, mesmo quando lidam com leitores reais, precisam samr algo sobre sua situa~ao para preyer seus interesses. Es­tudantes de biotogia, sem conhecimento ou experiencia de como func iona uma agenda govemamental, terao dificuldade para escrever urn relatorio que satisfaCa os interesses do gerente de lima empresa estata!.

3 - Boas tarefas criam situa~oes ricas em informa.;oes contextuais.

Quando os alunos cscrevem para solucionar problemas de leitores que conhecem c aos quais tern acesso, a tarera c ria uma situacao com toda a riqueza da realidadc. Os estudantes pode­rio investigar, interrogar e analisar a s ituacao por tanto tempo quanto sua ingenuidade permiti r. A medida que trabalham para entendcr a dinamica socia l que da s ignificado aos padroes re-

""'r \ ,

CONSIDERA¢ES FINAlS 333

toricos fonnais que estao aprendendo a desenvolver, e prova­vel que achem as pistas de que prec isam em qualquer lugar, muitas vezes oode os professores menos esperarn.

Quando nao e pratico situar 0 projeto em urn contexto real, a tarefa deve conter a maximo possivel de infonnacOes. Quanto mais informacOes voce der por escrito, melhor. No entanto, co­mo raramente e possivel preyer e escrever tudo 0 que os alu­nos precisarao saber sobre uma detenninada situac;ao, e impor­tante fazer da an<llise e da discussao do assunto uma parte do proccsso de redaCao. Os a lunos so tern opcocs significativas -e razOes para faze-las - quando estao trabalhando. em urn c?n­texto social. Essas opcoes apenas tornam-se retoncamente Im­portantcs quando os atunoS possuem boas razoes ~ara faze-!as . E s6 quando os autores podem fazer escolhas retoncamente .Im­portantes e que compreendem que no ceme de todo ~roJeto real de redacao encontra-se a previsiio acurada das reac;oes dos leitores. Q uando os atunos nao podcm fazer escolhas, porque o projeto transformou-se em uma atividade me~an ica au DaO tern ncnhuma posiCao ret6rica, a larefa de pesqUlsar e escrcver o relatorio torna-se meramente urna ocupacao improdutiva -tanto para voce quanto para e les.

4 _ As boas tarefas pedcm lcitoTcs proViSOTios. POllCOS pesquisadores profissionais consideram 0 relat6-

rio terminado antes de soli citar e avaliar a rea~ao de outras pessoas, a \go de que os estudantes precisam ainda mais. Neste livro encorajamos os atunos a solicitarem reac;oes de colegas, amigos, pessoas da familia e ate mesmo de seus professore~. Conseguir reacoes fica mais facil se a pr6pria tarefa sugenr oportunidades. Os colegas de classe podem representar ra~oa­velmente bern esse papel , mas se sairao ainda melhor sc t1ve­rem em mente que seu trabalho nao e apenas "editar" - 0 que para e les muitas vezes significa refazer uma [rase aqui c cor­rigir urn efTO de ortografia ali. Aqueles que vao prover a~ rea­c;oes devem participar da s ituacao como se fossem os le ltores que 0 autor imaginou.

Page 175: boothwaynec-140923095935-phpapp02

334 A ARTE DA PESQUISA

5 - Como em qualquer projeto real, as boas tarefas dao tempo aos alunos e marcam prazos.

A pesquisa e algo desordenado, portanto nao e born obri­gar as alunos a seguirem urna ordem rigida: I ) escolher 0 t6pi­co, ~) enunciar a tese, 3) escrever 0 csbol;o, ·4) reuni{ a biblio­grafla, 5) ler e tomar notas, 6) escrever 0 relat6rio. Essa lista e urna caricatura de como a pesquisa realmente fun'ciona.

Mas a maioria dos pesquisadores estudantes ainda preci­sa de urna eSlrutura, de urn cronograma de tarefas que as ajude a acompanhar seu prog resso. Precisam de tempo para falsos comefFos e becas sem saida, para revisOes e reconsiderayoes alem ~e prazos intermediarios para cada crapa de trabalho, be~ anteclp~d?s em relay30 ao prazo final , e de interva los para tro­cas de Idclas sobre seu progresso. A sequencia desse crono­grarna pode ser tirada <fas qualm partes deste livro.

Reconhecendo e lolerando 0 inevitavel

Alunos nccessitam ainda de outra espccie de apoio, repre­sentado .pclo reconhecimento honesto do que se pode, dentro do razoavel, espcrar deles e pela tolerancia a certos tipos de c«?mportamento, completarnente previsiveis, que fazem os rnais experientcs professores estremecer. Pesquisadores principiantes cornportam-se inevitavelrnente de modo desajeitado, tamando sugest~es e principios como regras inflexive is, que aplicam rnecamcarnente. Ao tomar esses principios como regras, alguns deles passarn de urn topico a urna pergunta e dessa para 0 fi­chario da biblioteca e dai para uma concl usao na~ muito satis­fatoria, nao porque Ihes falte imagina.-;ao ou criati vidade mas porque estao aprendendo urna lecnica que para eles e ex;ema­~ente estranha. Essa falta de jeito e wna fase inevitavel no apren­dlzado de qualquer tecnica que sirva de base para a criatividade. Nao nos preocupamos quando a maioria de nossos alunos inex­perientes produzem relat6rios que se parecem com todos os ou tros. ~prendernos a adiar por algum tempo a sat isfa~ao que sernpre t1rarnos de sua ori ginalidade.

CONSfDERACOES FINAlS 335

Alem disso , nao esperamos que todos os alunos enun­ciem uma solUl;ao completa para 0 problema que levantaram. Na verdade, fazemos questae de Ihes assegurar que, rnesmo que nao reso lvam 0 problema, terao se saide bern se conse­gu irem escrever urn born relatorio de pesquisa, desde que sim­plcsmente 0 exponham de modo que nos convcnca de que se trata de algo novo que talvez precise ser resolvido. Sustentar uma afirmacao dessas requer mais pesquisa c habilidade cri­tica do que meramente responder a urna pergunta. Esse tipo de relatorio de proposta muitas vezes e rna is dificil de escrc­ver do que aquele em que 0 aluno faz uma pcrgunta e a cia consegue responder.

Sabemos que em determinadas ocasioes os alunos vao querer usar 0 trabalho de pesquisa apenas para reunir informa­'-;Ocs sobre urn topico, para revisar uma arca que desejam do­minar. Quando isso acontece, temos consc icncia de que pro­por urn problema importante parecera urna exigencia artificial . Talvez fosse mais interessante os alunos imaginarem que urn professor ou assistente pcdiu-Ihes para levantar urn t6pico e re­digir urn relatorio coerente c compctente a respeito, para al­guem que e inteligente mas nao tern tempo para fazer a pcsqui­sa. Nesse contexto, tomar urn assunto cornpreensivel para outra pessoa e 0 melhor mcio de torna-Io cornpreensivcl para si mes­mos, quando, semanas ou meses mais tarde, descobrirem que esquecerarn grande parte da informa.-;ao que considcr'dvarn as­similada.

Fina lmente, e importante entender que cada aluno tern uma postura diferente em rela.-;ao as tecnicas de pesqui sa que ensinamos. Com os avan~ados, nao vaci lamos cm exigir que sigam nos minimos detalhes as nossas praticas disciplinares. Mas, com os principiantes, tcntamos nos lembrar de que, ao contrario dos alunos avan~ados, eles nao assurniram 0 rnesmo compromisso com nossa cornunidade e nosses valorcs subja­centes. Alguns assumirao csse compromisso, mas a maioria nao. E ass im ampl iamos nossa concep.-;ao sobre 0 que signifi­ca usar e desenvolver de modo bcrn-sucedido os padroes for­mais que esHio por tras de toda pesquisa, confiantes em nossa

Page 176: boothwaynec-140923095935-phpapp02

336 A ANJE DA PESQUlSA

c~enc;a de que, aprendendo a identificar esses padroes expli­cltamente ~ a emprega-Ios corretamente em uma situac;iio, esses alunos. estao urn passo mais pr6ximos de usa-los bern, quan­do ~als tard~ ~ncontrarem a comunidade de pesquisa de que quelram partlclpar.

"

Ensaio bibliogriifico: Nossas fontes e algumas sugesti5es

Organizamos este livro em torno do processo de redac;ao, acreditando que redigir nao e simplesmente a ultima etapa de urn projeto de pesquisa, mas, desde seu inicio, urn guia para a reflexao critica. Este e urn ponto de vista comumente adotado nos manuais de redac;ao atuais. No entanto, escolhemos urn aspecto da redac;ao que a visao comum ignorou, ate mesmo rejeitoll: em vez de tratar as fonnas padronizadas do discurso e do e!stilo como normas repressoras e coercitivas, acreditamos que elas sao na verdade criativas e construtivas, que podem motivar nao s6 llma critica, mas 0 tipo de pensamento que esti­mula a imaginac;ao e a descoberta.

Em outra inversao, em vez de prestar atem.;:ao apenas no autor como forc;a criativa principal, focalizamos a icterac;ao entre alltor e leitor e 0 modo como essa interac;ao pode ajudar '(Ioce a redigir seu trabalho, a desenvolver e testar sua argu­mentac;ao, ate mesmo conduzir sua pesquisa. Acreditamos que alguns dos momentos mais criativos da pesquisa acontecem nao quando voce decide 0 que quer per no relat6rio, mas quan­do pensa no que seus leilores devem encontrar ali para lerem-no direito e confiar em suas conclusoes.

Julgamos que nao ajudaria - e poderia ate confundi-Io ­se continuassemos citando os pontos de vista classicos e expli­cando como os seguimos ou abandonamos. Assim, nao cita­mos nenhuro dos trabalhos que apresentam esscs pontos de vista. Nero citamos os monumentos da longa tradic;ao da erudicao ret6rica em que todos confiamos.

Page 177: boothwaynec-140923095935-phpapp02

338 A ARTE DA PFSQUISA

Apresentamos aqui este pequeno ensaio para identificar as poucas fontes que usam os diretamcnte e indicae algumas tri­Ihas bibliograficas para aqueles que poderiam cons iderar a ce­torica da pesquisa interessante 0 bastante para quercrem estu­cta-Ja como urn problema de pesquisa. Podo seT que tenhamos ignorado algum texto q ue alguns consideradio de irriportanc ia dccisiva para a area. Mas nao tentamos cobrir tedo 0 terrene, nem mesmo mapear todas as suas caracteri sticas proeminen­les . Objetivamos apcnas assinalar alguns caminhos que pade­rao leva-Ie tao longe quanta queira, porquc 0 estudo da relo­rica agora conduz a te da ciencia humana.

Antecedentes gerais

Quase tada questao 'contestavel em retorica comc~a com Fedro e Gorgias de Platao (Gorgias/Plato, trad . de Robin Wa­terfield, Oxford Univers ity Press, 1994) e a Retorica de Aris­t6teles (On Rhetoric: A Theory a/Civic Discourse, trad. de Geor­ge Kennedy, Oxford Univers ity Press, 199 1). (Ha inumeras edic;:oes desses traba lhos; citamos apenas as mais reeentes.) A rnelhor discussao sobre 0 sentido da ret6rica encontra-se em -1ristotle s Rhetoric: All Art 0/ Character, de Eugene Garver

' (University of Chicago Press, 1994). Depois de Arist6teles, se­gue-se urna longa tradic;:ao de pensamcnto, incluindo De Ora­tore de Cicero, trad. de 1. S. Watson (Southern Illinois Univer­sity Press, 1986), e De intentione, trad. de H. M . Hubbell (Har­vard University Press, 1976) e lrutitutiones oratoriae de Quin­tiliano, ed. de James 1. Murphy (Southern Illinois University Press, 1987). Urn estudo que segue 0 curso da tradicao c1assi ­ca ate 0 rnundo moderno C 0 Rhetoric in the European Tradition , de Thomas M. Conley (University of Chicago Press, 1994).

A tradic;:ao moderna comcya com rctoticos do SE:culo XVlIJ , como George Campbell, The Philosophy of Rhetoric, ed. de Lloyd F. Bitzer (Southern Illinois University Press, 1963, 1988). No sccul o XX, entre os trabalhos classicos destacam-se The New Rhetoric: A Treatise on Argumentation, de Chaim Perelman

1 CONSlDERA\.OES FlNAIS 339

e Lucie Olbrechts-Tyteca, trad. de John Wilkinson e Tecedor de PureH (Notre Dame University Press, 1969); A Grammar 0/ Motives e A Rhetoric of Motives, de Kenneth Burke (ambos da University of California Press, 1969); e Modern Dogma and the Rhetoric of Assent, de Wayne Booth (Notre Dame Univer­sity Press, 1974) . Alguns incluiriam na tradi~ao contemponi­nea a obra de p6s-estruturalistas como Jacques Derrida, como a que se encontra em Margins 0/ Philosophy, trad. de Alan Bass (Univers ity of Chicago Press, 1982).

Excertos de toda a tradic;:ao cncontram-se na antologia de Patricia Bizzell e Bruce Herzberg, The Rhetorical Tradition: Readings/rom Classical Times to the Present (Bedford Books, 1990). Uma amologia util de artigos e Essays on Classical Rhetoric and Modern Discourse, ed. de Robert 1. Connors, Lisa S. Ede e Andrea A. Lunsford (Southern Illinois University Press, 1984). Urn manual de referencia extensamente usado que in­terpreta a tradic;:ao class ica para 0 aluno dc redac;ao atual e

. Classical Rhetoric Jor rhe Modern Student, de Edward P. J. Corbeft, 3~ edic;ao (Oxford Univers ity Press, 1990). Uma pes­quisa sobre ret6ricos modcmos com uma boa bibliografia e Contemporary Perspectives on Rhetoric, de Sonja K. Foss, Karen A. Foss e Robert Trapp (Waveland Press, 1985).

Pesquisadores e leilorcs

Os estudos de retorica sempre cons ideraram 0 publico, mas s6 recentemente passaram a foca lizar determinados contextos sociais ou disciplinares, especial mente sobre como as comu­nidades de pesquisadorcs diferem nao apenas em seus conhe­cimentos c crem;as comuns, mas tambem no modo como os 10-cais e praticas de suas pcsquisas influenciam sell discurso. Uma pesquisa ori ginal sobre csses aSsllntos C a Science in Action, de Bruno Latour (Harvard University Press, 1987). Veja tambem Writing Bio logy, de Greg Meyers (University of Wis­consin Press, 1990) e Shapin Written Knowledge, de Charles Ba­zernlan (University of Wisconsin Press, 1988). Entre os eslu-

Page 178: boothwaynec-140923095935-phpapp02

340 A ARm DA PESQUlSA

dos sofisticados sebre a ret6rica de areas particulares desta­cam-se The Rhetoric o/Economics, de Donald McCloskey (Uni­versity of Wisconsin Press, 1985), The Rhetoric of Science, de Alan G. Acumule (Harvard University Press, 1990) e The Rhetoric of Law. de Austin Sarat e Thomas R. Kearns (Uni-versity of Michigan Press, 1994). ' .

Duas antologias uteis de estudos modernos slio The Rhe­torical Turn : Invenlion and Persuasion in the Conduct of In­quiry, ed. de Herbert W. Simons (University of Chicago Press, 1990) e Textual Dynamics and the Professions, ed . de Charles Bazerman e James Paradis (University of Wisconsin Press, 1991). Algumas pcsquisas sebre 0 papeJ das for~as sociais tern focalizado a diferenca sexua l: veja Reflections on Gender and Science, de Evelyn Fox Keller (Yale University Press, 1985) c wna cole~ao, Body Politics: Women and the Discourses ofScien­ce , ed. de Mary Jacobus, Evelyn Fox Keller e Sally Shuttle­worth (Routl edge, 1990).

Fazendo perguntas, encontrando respostas

A arte da investigac;ao come~a com Arist6teles e sellS /opoi !urn sinon imo aproximado do termofundamentos), e 0 De in-

"' ventione de Cicero. Entre as mais influentes das abordagens modemas da " invenc;ao" inclui-se 0 Rhetoric: Discovery and Change, de Richard Young, A. L. Becker e Kenneth Pike (Har­court Brace Iovanovich, 1970). (0 esquema de perguntas esbo­c;ado 'em nosso Capitulo 3 baseia-se no trabalho original de Kenneth Pike sabre sistemas tagmemicos, nos anos 60.) Sobre a ideia de " problema", veja urn livro antigo mas ainda origi­nal, How We Think, de John Dewey (Heath, 19 10). Para urn ponto de v ista psicol6gico, veja The Na/ure of Creativity, ed. de R. J. Sternberg (Cambridge University Press, 1988). Sobre uma abordagem baseada conceitua1mente em como usar fon­tes bibliogrMicas, veja Library Research Models: A Guide /0

Classification, Cataloging, and Computers , de Thomas Mann (Oxford University Press, 1993).

CONSIDERAt;()ES HNAIS 341

Argumenta~ao

Nossa se~ao sabre argumenta~ao inspirou-se em Uses of Argument, de Stephen Toulmin (Cambridge University Press, 1958), urn 1ivro que mudou 0 modo de muitos ret6ricos con­siderarem a estrutura forma l da argumentac;ao. As opinioes do autor foram ampliadas em um manual de consulta escrito com Richard Rieke e Allan Janik, An In/roduc/ion to Reasoning, 2~ edic;ao (Macmillan, 1984). Devemos observar que modi fica­mos substancialmente 0 modelo de argumento de Toulmin. Uma critica da abordagem de Toulmin com bibliografia signi­ficativa encontr3-se em Dialectics and the Macrostructure of Arguments, de James B. Freeman (Foris, 199 1). Ha uma longa hist6ria sobre 0 estudo da argumentac;ao num modo mais tra­dicional. Extensas referencias encontram-se em Handbook of Argumentation Theory, de Frans H . van Eemeren, Rob Groo­tendorst e Tjark Krui ger (Foris, 1987) . Uma aplica~ao 6ti! da 16gica convencional na argumenta~ao encontra-se em The Art of Re(lsoning, de David Kennedy (Norton, \988). Urn manual de refercncia, que aborda muitos aspectos da argumentac;ao es­crita, c A Rhetoricfor Argument, de JealUle Fahnestock e Marie Secor, 2~ ed . (McGraw Hill, 1990). A quesmo geral da eviden­cia em uma variedade de areas e abordada em Questions of Evidence , ed . de James Chandler, Arnold I. Davidson e Harry Harootunian (University of Chicago Press, 1994). A sec;ao de "Sugestoes uteis" sobre contradic;oes, no fim do Capitulo 8, foi inspirada em ''That's Interesting! Towards a Phenomenology of Sociology and a Sociology of Phenomenology". Philosophy of the Social Sciences , de Murray Davis ( 197 1): 309-44.

Reda~ao e revisao

Mais informac;oes sab re organizac;ao e estilo encontram­se em Style: Toward Clarity and Grace (University of Chicago Press, 1990), de Williams, incluindo-se dois capitulos em co­autoria com Colomb. Uma versao limitada sobre esti lo, mas

Page 179: boothwaynec-140923095935-phpapp02

342 A ARTE 0,.1 PESQUlSA

incluindo exercicios, e 0 Style: The Lessons in Clarity and Grace, de Williams, 4~ ed. (HarperCollins, 1993). Duas maneiras bern diferentes de pensar a respeito de estilo estao em Style: An Antj~Textbook, de Richard Lanham (Yale University Press. 1974), e Tough, Sweet and Stuffy: An Essay in Modern American Pro­se Styles, de Walker Gibson (Indiana University Pre'ss, 1966). As obras classicas sobre a aprcsentaryao visual de 'dados sao The Visual Display o/Quantitative Information (Graphics Press, 1983) e Envisioning information (Graphics Press, 1990), arnbas de Edward Tufte. Estudantes avanr;ados podem consultar Ele­ments a/Graphing Da/a, de William S. Cleveland (Wadsworth Press, 1985) e Dynamic Graphics for Statistics, dele e de Ma­rilyn E. McGill (Wadsworth, 1988). Sobrc a retorica dos mapas, veja Mapping it Out: Expository Cartography for the Huma­nities and Social Sciences, de Mark Monmonier (University of Chicago Press, 1993). Uma abordagem das introdu~Oes - que tambcrn apresenta urna visao estrutural, mas inclui wna des­crir;ao utilmente diferente da nossa - encontra-se em Genre Analysis: English in Academic and Research Settings, de John Swales (Cambridge University Press, 1990).

Etica /

A preocupar;ao com a etica da retorica e tao antiga quan­to a propria ret6rica. As duas principais discussoes c1assicas sao G6rgias de Platao, e 0 Livro XII dos lnstitutos de Quinti­liano. A questao de retorica e etica foi revivida nos tempos rnodernos em A Grammar of Motives': de Burke, e em The Ethics of Rhetoric, de Richard Weaver (Henry Begnery, 1953), urn livro que ainda provoca controversias. Uma discussao con­temporanea da no'tao mais geral da etica na comunica'tao encontra-se em Ethics in Human Communication, de Richard Johannesen., 3~ ed. (Waveland, 1990). Uma ret6rica "pbs-mo­derna" foi encontrada por alguns em Moral ConsciQusness Action, de Jurgen Habennas, trad. por Christian Lenhardt e Shierry Weber Nicholsen (MIT Press, 1990), e History ofSe-

CONSIDl:.RACOES FINAlS 343

xuality, de Michael Foucault, trad. por Robert Hurley (vol. I, Vintage Books, 1980; vol. 2, Pantheon 1984; vol. 3, Pantheon 1986). Recentemente, estudiosos feministas tern criticado 0

ponto de vista tradicional de argumenta~ao como conflito, de maneira semelhante a nossa, questionando se as formas dis­sicas de argumenta~ao nao sao coercitivas e patriarcais demais para serem eticas. Para uma breve pesquisa com bibliografia sobre a questao geral de diferen~a sexual, linguagem e eornu­nica~ao, veja Contemporary Perspectives on Rhetoric, de Sonja K. Foss, Karen A. Foss e Robert Trapp, 2~ edi<;ao (Waveland Press, 1990). Veja tambem Contending with Words: Composi­tion and Rhetoric in a Postmodern Age, ed. de Patricia Harkin e John Schi1b (Modern Language Association of America, 1991). Sobre urna discussao de por que nossa cuitura nos pre­dispoe a pensar na argumenta<;ao como eonflito, veja Meta­phors We Live By, de George Lakoff e Mark Johnson (Univer­sity of Chicago Press, 1980).

I Fontes bibliograficas adicionais

Uma bibliografia anual sabre a pesquisa no ensino de re­da~ao aparece na publica'tao Research in the Teaching of En­glish. Uma bibliografia anual sobre retorica e composiv3o era a Longman Bibliography of Composition and Rhetoric, ed. de Erika Lindemann (Longman, 1987-), agora continuada por CCCC Bibliography of Composition and Rhetoric (Southern TIIinois University Press, 1990-). Entre as publica'toes que tra­zem artigos nao tecnicos sobre 0 assunto destacam-se College Composition and Commun ication , College English, Journal of Advanced Composition, Philosophy and Rhetoric, PrelText, Quarterly Journal of Speech, Rhetorica, Rhetoric Review e Rhe~oric Society Quarterly. Obras mais tecnicas aparecem em Applied Linguistics, Discourse Processes, Text e Written Com­munication. Considerando que a retorica vern sendo concebida tao mais amplamente, observe as cita~oes nas bibliografias de ar­rigos atuais, em que encontrara outras publica<;oes para consultar.

Page 180: boothwaynec-140923095935-phpapp02

, \

1 1 indice remissivo

Abertura da narrativa, 3 19 AI;1io, 280-2, 284, 287-8 , 293 Afirmal;oes, 80, 103, 11 8-9; como

substantivo, 125-6; contestaveis, 126-7;espedficas, 127-8; impor­tancia das, 125. Veja lambbll Proposicao

Ajuda, 96, 110, 18 1, 333 Am\'li~e crilica, 138 Anota9&es, 100-3, 106, 139, 216,

218 Ansiedade, 29. 35, 129 Antigo antes do novo, 2 14 , 289-9 1 Apontamentos, 95, 97,100-4, 106,

108,139,218,334 Argumento, 103-6, 108-9, 111,

113-5,116-26,130- 1,134, 136, 138-43, 147-9,152-3, 155, 158-64, 166*8, 170, 1 72~4, 176-80, 182, 184, 186, 188-93 , 196,200, 202,2 13-8. 223, 228-9,253 , 260, 264. 268-7 1, 277,341 , 343; a fiT­mal;ao, 36, 38, 48, 103-5, 109, 1 13-4, 11 7~20, 124-34, 137AI , 143-4, 147-52, 154-8. 160-5, 167,169,173-5,177-82,184-6, 188-9, 191, 199, 20 1.2, 204, 208,227-9, 261 -2, 269-70,313 ,

3 16, 328, 335; andamento do, 316jcomo coopera~ao . 23, 114-5, 124,138, 173-93; como dis­pUla, 114; definido, 114-5; db\.­logo, 114, 11 7, 119, 125,138, 177, 179, 182,224,270,343; evidencia, 36, 105-6. 109, 11 5, 117-23, 125, 128-34, 136-40, 147-58, 160-70, 172-5, 177-9, 18 1, 184-6. 188-9, 191-2,201, 203_5,215,2 17_8, 229. 269_70, 274,331; fundamento, 119-2 1, 123. 130, 147-56,158-72,175, 177-80, 186, 188,204.213,269-71, 328; guia para pesquisas. 124, 129, 131, 139, 188; limi­ta~oes, 11 8, 122, 176, 178. 184, 328; limiles do, \ 83-4; obje~Oes a, 118, 122. 179-84, 186, 188, 204, 2 15, 326-7; objetivos co­nhecidos, 177-8 1; objetivos de , 114, 177; qualificm;fx:s, 22, 103-4, 108,117-20,122-4, 131, 156, 163, 173, 176-8, 185-6, 189, 204, 2 15,269, 326; recun;ivo, estru­tura nao-linear, 114, 140

Assistentc de redacao, 257

Page 181: boothwaynec-140923095935-phpapp02

346

Assunlos, 280-2, 284, 286-8, 291-3, 295, 297

Aulores: ansiedade dos, I, 5; com pesquisadores, 63; fases de de­senvolvimento dos, XIII , 63; ne­cessidades e interesses dos, 47, 63, 126, 129,205,326-8; niveis de, 278; persona dos, 16, 18-9

AUloridades, 136, 143; de cu1 tura como fundamento, 17 1-2. Veja lambem Espccialistas

Bancos de dados, 86 Base comum, 2 12, 273, 301 , 309-

12 Bibliografia, 85-96, 100- 1, 109.

134-6,213,337-43; e letronica, 9 1, 92-3; notas bibliognificas, 85,94

Bibl iotecarios. 86-8, 9 1, 94 B ibliotecas, 37, 85-9 1, 95, 334

Cabe"alhos, 109,253-4,258,26 1. 267-8

Catalogo, 85-6, 88-9, 95, 334; on­, line, 135

'Certeza, 177. Veja tambem Argu-mento

C iencias: humanas, 36, 76, 135, 225,254,3 12,3 15; naturais, 36, 76, 135,224,273,29 1-2,3 12; sociais, 36, 76, 135,225-6,273. 292,3 12,3 15

C itaIVoes, 94-5, 13 1, 136,207,216, 220- 1,225-8,268-9,309,3 16, 319, 324; em bloco, 226; urn cfetivo de, 138

C lareza, 125, 128-9, 148-58, 175, 178, 198,2 11 ,27 1-2,304-6,335

Coda, 324 Coerencia, 128, 296

A ARTE DA PESQUISA

ColaboralViio , 38-43, 57, 78, 107, 114, 18 1,268,27 1, 332

Complexidade, 2 14, 279-80, 293-6 Comunidades de pesquisa, XIV,

13, 18-9, 23-5, 29-32, 45, 64, 72,95,102, 132, 1~,6, 158, 167,

~;~~8~~~' 1 ~~~6,3j{9 312, 3 15,

Conclusiio, 77, 2 10-1, 258, 260-7, 315,32 1-4 ; concedendo Iimita­,,6es, 183. Veja rambem Res_ salvas

Conflito. Veja Argumento, como coopenl!Viio; Pesquisa, como dia­logo

Conhec imento: criaIViio de, 3, 138; pape l na eompreensiio, 15

Contexto, 274 , 301-2. Veja tambem Base comum

Contradi lVoes (como fonte de pro­blemas) 79, 81 , 95, 142-6

ContralO social, 267 Credibilidade. 16, 124-5, 158, 183-

5, 189-90, 299. Veja tambem Eliea da pesquisa; Ethos

Cren"as mtll3veis, 25~6, 33, 50, 12 1,125-7, 142, 147, 167; 176, 189,327; como medida de im­portancia, 24-8, 50, 126-7, 142. 167

Criati vidade , xi ii. 330, 334 , 337 Curto antes do longo, 214 CUSIOS. 68-73, 307. Veja tambem

Problema, conseqiiencias de (custolbene fieio)

Dados, 36, 39, 76, 82, 106, 209, 232-3, 236-7, 240, 246-7, 249, 270

DctiniIVoes, 180; como f1J ndamen-10, 170 ; em introdw;;oes, 3 19

iNDICE REMISSIVO

Descoberta,340. Veja tambem For­ma, como auxilio 3 descoberta; Perguntas

Desempenhando urn papd . Veja Persona; Estilo. niveis de

DiagnOstico, 284, 286, 289, 297 Diagramas: de barras, 238-4 1; de

torta, 241 -3; retorica dos, 237-43

Dia10go, xiii , 125. Veja tambem Pesquisa, como d ialogo

Dicioml.rios, 86 Discordancia, usos da, 39-40 DocumentaIVao, razoes para, 94-5

£ dai?, 54, 71, 8 1, 306, 322 Enciclopedias, 86-8 I!nfase, 298 Engenharia, 292 Ensinando, xiv, 329-36 EntreviSlando, 93 Equivocos (como motivo para pes­

quisa), 50, 54-8, 7 1-2. 79-8 1, 142-6, 195, 302-8

Erros, 106 ~o,39, 141 , 1 99~202 , 204,208,

214,2 17,257,264,267-8,334; de argumento, 39,14 1, 188; de proposi~ao, 39, 199-202, 257, 264, 268; de temas, 39, 199-201 ,257. Veja lumbem Planeja­mento; O rganizaIViio

Escolha de palavras, 277 . Veja tambem Estilo

Especialistas, 4, 16,20,30,9 1, 129. 136

Estilo, 2 16, 229, 277·80, 284, 296. 337,34 1; complexidadc de, 280; e gramatica, 279; niveis de, 20, 277-9. Veja tambem Fonna

Estnuura da oraIVuo, 277. Veja tam­bern Estil0

347

Ethos, 190 ,327 Etica da pesquisa, 4, 6, 9, 15,24-8,

38-43, 93-9, 102-4, 108, 114-5, 122--4. 132, 139, 176-9, 18 1-2, 2 18-22, 249-5 1, 325-8, 342-3; aj1Jda aos 1eitores, 3. Veia tam­be,ll Pesquisa, natureza social da

Evidencia, 21, 11 9-20 ; auloridadc da, 134-6; c1areza da, 136-8; con­tiabilidade da, 129-38; exatidao da, 13 1; precisao da, 132; re­levaneia da, 146, 173; rcpresen­latividade da, 134; sufi eiencia de, 132-4; lipas de, 19 1-2. Veja tambem Argumento

Exatidiio, 97, 102-3, 106, 13 1, 180 ,326

Exemplos: adminislra~iio de Wal­pole, 226; amizade, 89; artefatos mais \eves que 0 ar, 2 1-3; as Cm zadas, 262-3, 266, 311 ; aste­roides, 26-7; controle de popu­la~ iio, 167-8; cuhos, 3 12; eursos, 11 7-8; IX-3, 48-50; Dedara~iio

de Independencia, 152; Discurso de Geltysburg, 137-8, 158; DNA, 304, 308,3 12; doutrina dos se­parados-mas-iguais, 272; eco­nomia de anexa~iio, 305-6; efei­to de associa~ii.o imediata, 225; emancipaIViio de camponeses rus­sas, 119, 12 1-2, 127-9; escolas em Doughton, Georgia, 320 ; es­colhendo temas em documentos de escola seeundaria, 323; fu mar e vicianle, 180; grades de des­vio de hidroeh~trica, 3 14, 3 16-7; Guerra e Paz, 48-9; hidrofluor­earbonelos, 3 11 , 3 14; Hislorias de Alamo, 50-3. 75-7, 95, 307; "'like Ike". 159; ideologia dc

Page 182: boothwaynec-140923095935-phpapp02

348

doen~a mental, 323; igualitaris­rno em Oxford, 156-7; imcrfa­ces de usmirio. 274-5; Jan van Eyck, 320; leituras de glicome­lro, 123; mancais autolubrifi­canles, 316; metabolismo. 137; OPEP, 126; ordem de nascimen­to entre imigranlcs, 2 12; os dis­cursos de Roosevelt, 55-7; pena de morte militar, 322; popula­"lio por municipio, 230-2; pre­ven!Vao de fogo em florcsta, 132, 13940,149, J61-2;processado­res de texto, 199-200; psicologia dos SOM OS, 208; radia9ao e1e­tromagnetic8, 73-5; religiiio e suicidio, 31 I; robos na indUstria, 320- 1; Roosevelt c 0 socialis­mo, 154, 173-5, 178, 182-5, 187, 2 17-8; ruas molhadas, 119-2 1, 147-8, 150, 161 ; semipessoas, 300-3, 306-7; sistemas de res­friamenlo, 56; soldados campo­nese~ rnssos. 80; sons vocalicos, 159; tecelagem tibetana, 26; le-

..- "is novos, 130- 1, 153-4; tcorias da percepc;ao, 206-7; violcncia na televisao, 163-5; virtudes mer­cenarias em Shaftsbury, 227

Fonles de infonna~6es , 15,38,50, 79-80,85-111, 124, 128, 178, 188,207,2 19,269,27 1,3 14, 328,332-4]; avaliando, 97-111; documentando, 100; c1cironicas, 102; pessoas, 9 1-4; primanas, 92, 99, 135, 269; secundilrias, 92 , 97-11 1, 1]5, 269; terciarias. 92, 135. Veja tambem Bibliole­carios; BibJiolecas

A ARTE DA PESQUlSA

Fonna, 2-3; como auxilio it des­coberta, xiii; estilos padroniza­dos, 2-3, 11 -3, 19, 3], 196; nao mccanica, xi i; propriedades ge­radoras da, x.iii. Veja tambem Organiza~ao "

Fundamentos, 120-3, 147-72, 175, 204, 269; como fe, 17z; contes­lando, 167-72;desuposi~aome_ todologica, 171 ; estrutura dos, 150-2; falsos , 154-5; inadequa­dos, 158-60; inaplicilveis, 160-6; obscuros, 156-8; qualidade dos, 152-66; testando os, 154-5; li­pos dc, 169-72

Generaliza~ao exagerada, 181, 19] GrMicos: rct6rica dos, 244-8 Gramiltica, 279-80 Grupos, 40; trabalhando em, 38-43

Heuris ti ca: 255-65, 3 12, 330; re­cursos visuais, 255-6. Veja tam­bem Fonna, como auxilio a des­coberta; Perguntas; Recursos vi­suais, como auxilio it reflcxao

Historia, 233, 276, 279-80, 282, 286,288,29 1-2, ]10-1, 320

Importancia da pcrgunlalproblema na pcsquisa, 17,21 , 24, 26_7, 45-6, 54;8, 64, 142

Impressoes, 279, 290 Incerteza, 272 Infonna~ao: limites da, 334; nova,

127, 2 14,291,293. Veja tambem Dados

Inicio da ora~ao, 3 19 Internet, 92, 102 Introducao, 24, 77,109, 128,210-3,

216,258-67,27],299-324, ]42

iNDlCE REMISSIVO

Laboratorio de pesquisa, 208 Lacunas do conhecimento (como

motivo para pesquisa), 50, 54·8, 69-74,79-83, 195,299,302-8, 310, ]23

Lei,221 Leilores, xiii , 6 , 278; expectalivas

dos, 3, 20-8, 32-3, 127-8, 195, 272-3, 299-300, 329-30; neces­sidades e interesses dos, 12-3, 17-8,24-5,79,115,126-7, 138, 152, 176, 195, 204, 223, ]05, 307-8,3 16,329-30,332; niveis de conhecimento, 16,20,32,151, 196,2 14,316; persona, 16; rc­sistencia aargumentos, 120, 152-4,165-6,176,181,215, 269,327

Lendo rapido, 9"9, 108- 11 Lctras, 226 Logica,22, 120, 148-52, 161 , 172,

186, 189-90, 192,229,253-4 I

Meta. Veja Proposito

Naturalidade, 37, 273 Ncg6cios, 2 1, 26

Objelividade, 22 Objelividade cientifica, 292 Objetivos, 177. Veja tambem Ar-

gumento, objetivos conhecidos Ordem, 114,215. Veja tambem Or·

ganiza~iio

Organiza~ao, 111-4, 138-4 1, 188, 196,206,210,215,229,233; ar­madilhas a .evilar, 206-9; partes e todo, I , 268; proposi~ao final, 2 10-1, 315-6; proposi~ao inicial, 128, 210-1, 3 J 4-5; variedadcs dc, 214-5. Veja tambem Fonna; Seqiiencia das partcs; Ordem

349

Originalidade, 23, 26, 77-8, 95, 97, 129, 330

Palavrns, 3 19; finais, 321-4; de aber­tura,3 19-21

Pa1avras-chave. Veja Temas Pan\frase, 101-3,207,221,225-8,

269 Pathos , 189-90 Pensamento c rilico, 12,29,36,80,

97-101 , 106, 124, 149, 154, 176,180,188,204,330,337

Pensando como leitor, 32, 138, 166, 189, 224, 259-60, 277. Veja tambem Etica da pesquisa; Ethos

Pcrguntas (pcsquisa), 20, 24-8, 38-9, 50-1,53-8,64,74-9,8 1-3,85-6, 95-6, 107, 110, 196, 202-5, 211-2, 328, 334; motivo para pcrguntar, 56-7, 62, 74, 76~7; recucsos visuais, como auxilio it rcflexao, 255-6; significado adi­c ional, 76-9

Pennissao para citar, 102 Persona, 173-93; cria~o de, 16,

18-9. Veja lambem Ethos Personagens, 280-93, 298 Pesquisa: aplicada, 72-7, 306; co­

mo atividadc cotidiana, 7-8; co-mo auxilio a memoria, 10; com o coopera~ao, 325-8, 331, 337; como diillogo. xiii, 8-11, 15-7. 20-3, 113, 125, 139, 177-83, 198, 209,225,227-8,269-71,305, 308-9, 325-8, 33 1, 333, 337; como hist6ria, 277; complexi­dade/estagios do processo da, xi, x ii , xiii , 4-6, 3 1,35-6, 39.42-3, [92-3,197,202; confiabilidadc da, 3, 8-9, 99- 100, 129-38, 154,

Page 183: boothwaynec-140923095935-phpapp02

350

327; excmplos COlidianos, 128-9; natureza cic1ica da, xi, 4 , 3 1. 36, 81,86, 197; natureza social da, 6,9,13 , 17.8, 93.6,33 1-3,337; pedido de mais. 323; pura, 72· 7. 306; valor da, 3-4 , 7-9, 12·) ,22

Pesquisa de campo, 207 Pesquisadores: avanpdos. xi ; e os

le ilores, xii i; experienles, xiii , xiv, 1,27-8, 46,64; iniciantes. xi, xii , xiii , xiv, I ; problemas dos iniciantes. 20. Veja tambern Dia­logo; El ien

Pesquisadorcs avan~ados. 47 ,279; exigencias aos, 27, 47 , 58, 70, 82,335

Pesquisadorcs iniciantcs, 23, 27 , 29-3 1,35, 46,279: exigcncias a05, 27; problemas dos, 20, 29-3 1. 46,64.72,74,87,113 , 133-6, 160, 176, 19 1-2.206,305, 3 15. )34

Plagio, 103. 2 18-22, 326, 328; causa de, 222 ; defi ni~30. 218-9: parafrase. 22 1; resumo. 222

PI~nejamcnlo, 1-4,3 1, 35,39,86-7. 93, II I . 11 3-4, 124. 195-8. 200. 203-6, 2 14. 232. 257-9. 3 15. 329

Ponto de panida, 3 14-5, 3 18 Ponto de vista, 19 Problema (pesquisa), 23-7, 29, 3 1,

33,35,38,45-6,58,63-83, 107-10,114, 11 7, 142,193, 195,202, 204,2 12-3,273-4,276,299-306, 309-12, 3 16-7, 320-3, 328, 33 1-2,335,340; aplicado, 72-7; COIl ­

ceilua l (pesquisa), 2 1-3. 27 , 33, 64-74,76-9. 82,322-3; condicao (desestabilizando), 68-9, 8 1-3, 142, 220 , 302-6, 310, 313. 3 18.

A ARTl:.' DA PESQUI$A

322; conseqiienc ias de (CUSlo! beneficio), 66, 68-77,8 1-3,220, 302-8, 3 10. 3 13, 3 18, 322; es· truturado, 68; pnitico, 21, 28, 33, 64-72,77, 322-3 ; prcocupa~Oes do aUlor, 27-8, 45-6~ 50, 56, 64, 72, 81; preocupacao dbs leitores. 24-5,45-6. 50, 56, "63 .6, 81-3. 126, 195; resolucao, 28, 33, 64-7. 71-2, 75 , 77-80, 107-9, 117, 193.202-3.211.2,260-2,273-5, 299-302, 308, 3 10, 313-8, 323, 332; significado de, 68, 72·4, 79, 8 1, 299, 304, 306, 322-3, 329; solu~ao, 8 1-3

Processo versus produlo, xii , xiii, 46 Proposi~ao , 24, 80, 104-5. 108-1 1,

11 8, 125, 139, 195-6, 200·5. 210-1 , 214, 223,234,236.257-8, 261-5,267-9, 272-3 , 277,3 13.6, 320-1 , 333; colocacaode, 2 10-1. 263, 3 14-5; em resumos, 268; defini~o, 202; esboco de, 264-5; por lema.", 268

Propos i~ao final , 3 14-5 PropOsitolmctas, 2, 76: mais infor­

macaes, 26, 50 , 97; vcrdade ~'er' sus mero "sucesso", 4

Publico. Veja Leilores

Rascunho, 141; redigindo, 4 , 80, Il l , llJ , 124, 128, 139, 141. 188, 195-229, 255, 257-8, 297, 299,329,341. Veja lambem Re· daciio, preliminar

Rccursos visuais, 229-58, 342; den · tificos, 252; como lluxilio a rc· flexiio, 255-6; depcndentes de variaveis, 230-1 , 233, 236-9, 247,255; diagramas, 138,229, 23 1-4.237-43,249,252,254-5:

iNDIC£ REMISSIVO

diagrama.sliluslra~Oes, 229, 252, 255; espac-o em branco, 229, 253 ; independenles de c lemen · loslvariaveis, 230, 233, 236-9, 245, 247; mapas, 229; quando usar, 229; retorica dos, 229-58; sinais visuais, 229; labclas, 138, 229,23 1.7,249,251 -2,269

Redac;:iio: como auxilio a reflexao, 11-3,204; com descobcna, 224 ; preliminar, 10, 30,35, 95, 107, 19 1-3, 203-6; processo. 197-8. 209- 16,329-30,333,337

Refutaciio, 18 1-4 Re levancia, 120, 122, 130- 1, 147,

156, 165, 173,33 1. Veja fam­hem Evidenc ia; Dados

Ressalvas, 176-90; aprescntando objecOes, 117-8 1; conccssoes, 1 8 1~2 ; limitando ambilo c cenc­za, 184-5; limitando condicOcs, 183-4 I

Resumos, 110, 273-4,3 15 Relorica, 337-8 Revisao. 195·6, 2 11, 223-4 ,259-

75. 277-99, 341 ; Obst3Cuios it efideia da, 260

Roteiro (de uma larera de rcdacao), 18-9, 23; artificialidadc do, 18-9

ROlina, 217

Sentimentos, 189 Sequencia das panes, 186. Veja

tambem Ordcm: Estnllura: Afir­mm;6cs

351

Simplifica~ilo exagerada. 192-3 Subjetividade, 260 Substantivacao, 56, 282-8, 297 Sumario, 36, 95, 10 1 ~3, 207-8, 213.

217,221, 269,273-4; inexatidao do, 113; pcrigos do, 207-8

Sumiirios, 286-90; como persona­gens, 284. Veja rambem Subs­tantivac;:ao

Tabclas: de numeros, 235-6; de pa­lavT3s, 236-7 ; retorica das. 234

Tarcfa, 35, 45, 206, 258, 3 19, 331-4 Temas(conceilos-chave),110, 127-

9,2 17, 258 .261 , 265-8 , 272-7, 3 14, 32 1

Tempo, 332 Termos tccnicos, 294 Tese, 125. Veja fambem Propo­

si~ao

Titulos, 26 1, 272-3, 275 , 3 15 Topico de pesquisa, 35, 45-61, 63-

4,67,73-8, 8 1-2,85,88-90, 94, 11 3,200,2 12-3, 257,300,302, 304, 3 10, 3 14, 327, 334-5; rccursos de, 59-6 1

Verbos, 282-4, 286.8, 292, 295. 298; voz passiva, 291.3, 295

Verdade, 22,149, 152.5, 158, 161, 164 , 172, 176, 182. 184, 189. 198, 224

V;suali zacao, 140