bolha sonora: a moda da cena eletrônica e suas raízes na contracultura

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FACULDADE CATÓLICA DO CEARÁ CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM DESIGN DE MODA LORENA ROGÉRIO BEZERRA BOLHA SONORA: A MODA DA CENA ELETRÔNICA E SUAS RAÍZES NA CONTRACULTURA

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Este estudo trata de uma análise da influência da contracultura e da cultura alternativa na moda e no comportamento dos freqüentadores de festas de música eletrônica, das raves, através de uma análise aprofundada de imagens do evento Entrance Aquarius 2012, ocorrida em Fortaleza. O trabalho dedica-se a explorar o nascimento da cultura hippie, a essência dos movimentos socioculturais ocorridos na década de 60 e 70 e busca compreender a moda no decorrer da história da juventude rebelde, passando pelo nascimento da cena eletrônica e aprofundando-se no estudo do comportamento humano e seu mecanismo de expressão através da arte, do corpo e do vestuário.

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Page 1: BOLHA SONORA: A moda da cena eletrônica e suas raízes na contracultura

FACULDADE CATÓLICA DO CEARÁ

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM DESIGN DE MODA

LORENA ROGÉRIO BEZERRA

BOLHA SONORA: A MODA DA CENA ELETRÔNICA E SUAS RAÍZES NA CONTRACULTURA

FORTALEZA

2012

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LORENA ROGÉRIO BEZERRA

BOLHA SONORA: A MODA DA CENA ELETRÔNICA E SUAS RAÍZES NA CONTRACULTURATrabalho apresentado no curso de Design de Moda da

Faculdade Católica do Ceará, como requisito para

obtenção do grau superior tecnológico em Design de

Moda.

Orientação: Prof. Me. Ricardo André Bessa.

___________________________________________

Professora Mestra Moema Braga (membro)

___________________________________________

Professor Mestre Humberto Pinheiro (membro)

___________________________________________

Professor Mestre Ricardo André Bessa (orientador)

FORTALEZA

2012

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Uma coisa boa sobre a música é que, quando ela bate, você não sente dor. (Bob Marley)

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................102. LINEUP 1: MOVIMENTOS SOCIOCULTURAIS...................12

2.1– Beat Generation...........................................................142.2– Movimento Contracultural..........................................162.3-- Movimento Hippie.......................................................18

3. LINEUP 2: A MUSICA ELETRÔNICA E O NASCIMENTO DAS RAVES..................................................................;................253.1: A rave no cenário do mundo moderno.......................293.2: A cena eletrônica brasileira.........................................333.3 – Os freqüentadores.....................................................36

4. LINEUP 3: CORPO: COMPORTAMENTO E MODA............384.1 – O jovem da era globalizada.......................................424.2 – A realidade de Fortaleza............................................46

5. LINEUP 4: ANÁLISE ENTRANCE AQUARIUS 2012...........495.1 – Estampas.....................................................................495.2– Calças, shorts e saias.................................................545.3 – Adornos e acessórios................................................555.4- Cabelos..........................................................................585.5- Decoração......................................................................60

6. LINEUP 5: CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................647. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................66

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1.1: Hippies e os cartazes............................................17FIGURA 1.2: Hippies e os cartazes.............................................17FIGURA 1.3:Moda Hippie I..........................................................18FIGURA 1.4: Moda Hippie II........................................................20FIGURA 1.5: Tropicalismo ………………………..….............……22FIGURA 1.6: Woodstock de cima…………………………………..23FIGURA 2.1:Kraftwerk..................................................................26FIGURA 2.2: Festa em Goa..........................................................27FIGURA 2.3: Rave em Ibiza.........................................................29FIGURA 2.4: Trainspotting........................................................32FIGURA 2.5:T-Angel ..................................................................36FIGURA 2.6: Tatuagem..............................................................37FIGURA 3.1: Pintura no rosto...................................................41FIGURA 3.2: Geração Y ............................................................43FIGURA 3.3: Efeito Bubble-Up ................................................45FIGURA 3.4: Efeito Trickle-Down.............................................45FIGURA 3.5: Festa Underground.............................................47FIGURA 3.6: Flyer Promocional...............................................48FIGURA 4.1: Estampa Hindu....................................................50FIGURA 4.2: Estampa Tie-Dye I................................................50FIGURA 4.3: Estampa Tie-Dye II...............................................50FIGURA 4.4: Estampa Neon......................................................51FIGURA 4.5: Óculos escuros I.................................................51FIGURA 4.6: Óculos escuros II................................................51FIGURA 4.7: Estampa frase.....................................................52FIGURA 4.8: Detalhes I............................................................52FIGURA 4.9: Detalhes II...........................................................52

FIGURA 4.10: Estampa tribal.....................................................53FIGURA 4.11: Estampa Yin-Yang..............................................53FIGURA 4.12: Estampa Floral.....................................................54FIGURA 4.13: Calças I..............................................................55FIGURA 4.14: Calças II.............................................................55

FIGURA 4.15: Vestido.................................................................55

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FIGURA 4.16: Acessórios Orientais I.....................................56FIGURA 4.17: Acessórios Orientais II....................................56FIGURA 4.18: Tatuagens I......................................................56FIGURA 4.19: Tatuagens II.....................................................56FIGURA 4.20: Sorrisos I..........................................................57FIGURA 4.21: Sorrisos II..........................................................57FIGURA 4.22: Chapéu de Gnomo...........................................57FIGURA 4.23: Momento de Distração....................................58FIGURA 4.24: Dreads Femininos I..........................................58FIGURA 4.25: Dreads Femininos II.........................................58FIGURA 4.26: Dreads Masculinos I.......................................59FIGURA 4.27: Dreads Masculinos II......................................59FIGURA 4.28: Cabelos Soltos................................................59FIGURA 4.29: Cabelos I..........................................................59FIGURA 4.30: Cabelos II..........................................................60FIGURA 4.31: Proteção à cabeça I.........................................60FIGURA 4.32: Proteção à cabeça II........................................60FIGURA 4.33: Estátua Hindu..................................................61FIGURA 4.34: Exposição Camilla Albano..............................61FIGURA 4.35: Imagine Utopia.................................................61FIGURA 4.36: Palhaços...........................................................62FIGURA 4.37: Placa Amor........................................................63FIGURA 4.38: Placa II...............................................................63

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RESUMO

Este estudo trata de uma análise da influência da contracultura e da cultura

alternativa na moda e no comportamento dos freqüentadores de festas de

música eletrônica, das raves, através de uma análise aprofundada de imagens

do evento Entrance Aquarius 2012, ocorrida em Fortaleza. O trabalho dedica-

se a explorar o nascimento da cultura hippie, a essência dos movimentos

socioculturais ocorridos na década de 60 e 70 e busca compreender a moda no

decorrer da história da juventude rebelde, passando pelo nascimento da cena

eletrônica e aprofundando-se no estudo do comportamento humano e seu

mecanismo de expressão através da arte, do corpo e do vestuário.

Palavras-chave: Contracultura, rave, hippie, moda, comportamento, cena.

ABSTRACT

This present study is about an analysis of the influence of counterculture and

alternative culture in fashion and electronic music parties’ goers’ behavior, the

so called raves, trough a deep photo analysis of Entrance Aquarius 2012 party

that happened in Fortaleza. This paperwork dedicates to explore the birth of

hippie culture, the essence of sociocultural movements occurred on the 60’s

and 70’s and looks to understand fashion during rebel youth times, passing by

the birth of electronic music and deepening on human behavior studies and his

expression mechanisms trough art, body and apparel.

Key-words: Counterculture, rave, hippie, fashion, behavior, scene.

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À minha família, em especial minha mãe e meu pai, que

sempre me apoiaram e fizeram tudo que estavam em

seus limites para me proporcionar bons momentos, e à

minha irmã, que sem ela não teria conseguido. Dedico

também ao meu avô, que me olha de cima e sempre quis

me ver formada.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, quero agradecer à minha família, em especial a minha irmã

Larissa Rogério Bezerra, que me ajudou madrugadas à fio com correções do

trabalho.

Gostaria de agradecer também aos meninos da ShotUp, Mário, Dário e

Marcius, e à Camilla Albano, que me ajudaram cedendo de bom grado fotos

para a análise do meu trabalho; ao meu namorado Marcius, que mesmo me

mandando dormir todos os dias à meia-noite, me apoiou durante toda a fase de

pesquisas.

À todos os meus amigos que de alguma forma contribuíram para que este

trabalho fosse um sucesso e à todos os organizadores da Entrance, em

especial ao Paulo Thiago.

Aos meus professores, que de muitas formas me ensinaram muitos caminhos a

seguir no ramo da moda, ao meu mentor e orientador Ricardo Bessa, à minha

coordenadora Manu, que me tolerou todas as vezes que chegava em seu

escritório sem paciência,

e à minha chefinha querida Ivna, que me permitiu chegar atrasada por dias no

trabalho em conseqüência desta pesquisa.

Agradeço em especial aos cafés e redbulls que tomei, aos lanchinhos da

madrugada que me deram forças para continuar escrevendo e ao meu

notebook, que apesar de velhinho, nunca me deixou na mão. Obrigada!

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INTRODUÇÃO

Este presente trabalho teve como objetivos analisar a influência da

cultura alternativa no modo de vestir do público que freqüenta raves e festivais;

observar as manifestações artísticas e culturais que ocorrem em raves através

da festa Entrance; explorar o reflexo da contracultura e do movimento hippie na

moda dentro da cena eletrônica ao longo dos anos.

As problemáticas encontradas pelo autor deste trabalho foram a

crescente deturpação da imagem e do conceito da festa rave no Estado do

Ceará; necessidade de explorar a cultura alternativa e compreender o real

significado das celebrações de música eletrônica e fazer, por fim, uma análise

aprofundada do comportamento do público frequentador e como ele se

expressa através do vestuário. A metodologia utilizada foi de observação e

análise de imagem.

A juventude dos anos 60 ficou marcada por fases de turbulência e

processos de mudanças. Com a incerteza de diversos acontecimentos

mundiais – o fim da guerra da Coréia e a intensa guerra do Vietnã, além da

tensão causada pela Guerra Fria -, nasceu uma geração de jovens que

ameaçavam a ordem social, com uma atitude de crítica à política e à ordem

moral.

Surgiram assim movimentos estudantis em oposição ao regime

autoritário e à toda forma de dominação, desencadeando assim no movimento

pacifista, hippie e na contracultura, movimento de contestação de caráter social

e cultural. Nasceu e ganhou força, principalmente entre os jovens desta

década, seguindo pelas décadas posteriores até os dias atuais.

Dentre as principais características dessa revolução contracultural,

os chamados beatniks – jovens precursores do movimento - promoviam a

valorização da natureza, sendo em sua maioria adeptos ao vegetarianismo, à

alimentação natural, lutavam pela paz, viviam em comunidade, tinham

experiência com drogas psicodélicas, promoviam a liberdade na vida sexual e

amorosa, discordavam dos princípios do capitalismo, entre outras.

A juventude, inconformada frente aos fatos históricos que estavam

ocorrendo, passou a ter liberdade e poder de transformação, utilizando

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principalmente a música e a maneira de vestir como forma de protesto; nascia

assim a antimoda, movimento que ia contra as tendências ditadas pela

sociedade, uma atitude “marginal” frente ao estabelecido. O ciclo da moda, que

antes respeitava a tradicional vestimenta de uma sociedade conservadora,

encontrava-se desestabilizada em decorrência do nascimento de diferentes

grupos que possuíam maneiras de se vestir próprias, criando assim um novo

processo sociocultural.

Aos poucos, grupos menores buscavam seu espaço na sociedade e

a liberdade de expressão artística tomava gigantes proporções, refletindo

diretamente na moda daquela época. A propagação de paz e amor feita pelos

hippies nos anos 70 espalhava-se pelo globo em rápida velocidade, gerando

cada vez mais adeptos à essa filosofia de vida desprendida de riquezas

materiais.

Inspirados pelo desejo de experimentar novas idéias, em meados da

década de 80, em Goa – Índia - hippies, viajantes e espiritualistas utilizaram

das técnicas de produção de música para desenvolver um novo estilo de som,

integrando informações tribais e étnicas, resultando em uma música orgânica,

harmônica, associada muitas vezes aos mantras indianos religiosos. Nascia

então o Trance.

Diferente da música eletrônica remanescente da era disco do final

dos anos 70, o trance foi levado à Europa como um som carregado de

elementos naturais, oferecendo uma viagem introspectiva numa espécie de

transe místico, trazendo à tona os desejos e aspirações de uma geração livre,

dos beatniks, dos hippies e dos revolucionários da contracultura. As festas

eram oferecidas como um ambiente de liberdade, de danças sem regras e de

experiências espirituais ao som de batidas que percorriam cada célula do

corpo.

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LINEUP 1: MOVIMENTOS SOCIOCULTURAIS

Uma série de explosões de expressões da juventude dos anos 60

começou a surgir, devido à realidade sócio-econômica-cultural em que a

sociedade se encontrava. Os movimentos que ocorreram na década de 60,

principalmente na Europa e nos Estados Unidos, sede das massas sociais,

segundo Alonso (2009), “não se baseavam em classe, mas, sobretudo em

etnia (o movimento pelos direitos civis), gênero (o feminismo) e estilo de vida (o

pacifismo e o ambientalismo), para ficar-nos mais proeminentes”. As

manifestações eram reflexos de uma era de contestações políticas e de

padrões sociais, advindas de jovens que buscavam a liberdade através de

ideais revolucionários. Não se tratava de uma revolução de indivíduos isolados,

mas sim de grupos que compartilhavam dos mesmos desejos, que se juntaram

para praticar a liberdade que a sociedade tanto defendia. Alonso (2009) fala

que os novos movimentos sociais

(...) seriam, então, formas particularistas de resistência, reativas aos

rumos do desenvolvimento socioeconômico e em busca da

reapropriação de tempo, espaço e relações cotidianas. Contestações

“pós-materialistas”, com motivações de ordem simbólica e voltadas

para a construção ou o reconhecimento de identidades coletivas.

Em um contexto histórico conturbado e abalado por uma série de

guerras - o fim da guerra da Coréia e a intensa guerra do Vietnã, além da

tensão causada pela Guerra Fria -, a juventude dos anos 60 viu a necessidade

de contestar a ordem social vigente, de ir contra valores pregados pela

sociedade conservadora e de revolucionar a forma de pensar e agir,

ameaçando o regime autoritário e oferecendo novos estilos de vida. Esses

jovens pregavam a valorização da natureza, da vida comunitária, buscavam

uma alimentação natural através do vegetarianismo, experimentavam a

liberdade dos relacionamentos sexuais (o amor livre), tinham experiências

também com drogas psicodélicas (como uma forma de escapar para uma

realidade diferente da qual viviam), eram contra o consumismo e discordavam

dos princípios do capitalismo, entre outros.

A imaginação e a identificação nacional não são somente produzidas centralmente pelos aparatos estatais como escolas, mídia, exército, moeda e estatísticas nacionais, mas também por aparatos culturais:

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linguagem, roupas, comida, esportes, música, literatura, ciência, turismo, loterias, museus. (Saldanha, 2000, p.1)

No Brasil, os constantes confrontos entre a polícia e os estudantes

durante a ditadura levaram a implantação,em 1968, do Ato Institucional número

5 (AI-5), durante o governo do General Costa e Silva, instalando a rígida

censura no país e impondo a ditadura cada vez mais na vida dos cidadãos.

Rebeliões, protestos e revoluções constantemente aconteciam nas

universidades, em uma tentativa de conquistar a liberdade de expressão que

lhes havia sido tomada.

Os anos 60 assistiram a acontecimentos sociais marcantes nas histórias político-sociais em todo o mundo. O movimento global ficou conhecido como Contracultura. Nenhum governo caiu, não houve rebeldes derrubando Estados, mas a radicalidade na contestação a qualquer forma de autoritarismo e a presença maciça de jovens estiveram presentes em toda a década. Foi o movimento de anticonformismo exacerbado, de valores hedonistas de massa e do ideal individualista democrático que radicalizou maneiras de vestir de grupos. (CATOIRA, 2006, p. 79)

De acordo com Cidreira (2008, p.36), “uma sensação de

instabilidade e a conseqüente necessidade de escapismo – própria de

momentos de grande reviravolta de valores -, promovem, na grande maioria

dos jovens, a necessidade de uma vida mais saudável, simples, natural”.

Não apenas nos Estados Unidos, mas em todos os lugares onde floresceu, a cultura jovem dos anos 60 foi extremamente sensível e simpática a toda e qualquer movimentação de grupo étnicos ou culturais que se vissem nessa posição de marginalidade ou exclusão diante das vantagens e promessas da sociedade ocidental. Além disso, o tipo de luta que estes grupos se viam obrigados a levar adiante – fora dos espaços políticos tradicionais (...) – os aproximava da utopia revolucionária daquela juventude que, por suas idéias e também pela posição que ocupava naquela mesma sociedade, se via na contingência de ter que buscar saídas alternativas para expressar seu descontentamento e fazer valer suas crenças e sua voz. (PEREIRA, 1988, p.42)

Os precursores de grande parte das gerações rebeldes que surgiram

a partir dessa época, foram os Beats, jovens que nasceram em um ambiente

pós-guerra – nos anos 50 - e apresentaram rupturas nos padrões sociais,

adotando, segundo Catoira (2006, p.38), “novos códigos que foram

multiplicados pela cultura jovem anticonformista”.

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1.1– Beat Generation

Nos Estados Unidos da década de 1950, mais precisamente em

Nova York, um grupo de jovens universitários reunia-se para discutir literatura,

música, política, moral e principalmente os rumos da sociedade americana,

após os horrores da Segunda Guerra Mundial. Tais jovens, que começaram a

conhecer-se no final da década de 40, resolveram tomar atitudes diferentes em

relação aos valores vigentes da época, visando uma nova consciência da

juventude em relação à música, família, sexo, drogas e política. Com

influências vindas dos enclaves boêmios, essa geração ficou conhecida como

Geração Beat.

As transformações ganhavam força principalmente pelo novo

modelo de mercado cultural, que lançava diferentes formas de fazer música,

poesia, literatura e filmes. O mundo agora voltava os olhos para a cultura

juvenil. Como Almeida (2007, p.2) citou em seu artigo, “esses jovens

americanos (...) encontravam no Jazz, nas drogas e nos becos da cidade, entre

vagabundos e prostitutas, um estilo de vida possível para tempos tão

sombrios”.

Os Beats tinham forte relação com o Jazz e as transformações que

este ritmo musical ia sofrendo, moldando-se a partir do improviso, da

espontaneidade – valores que influenciaram o estilo literário do escritor Jack

Kerouac, considerado uma das figuras mais importantes daquela juventude.

Era uma geração marcada pelos horrores da Segunda Guerra Mundial com

repúdio à zona de conforto e estagnação, bem como a rotina do sistema

capitalista industrial e o “American Way of Life1”.

Jovens que nadavam contra a corrente do consumismo exacerbado

e dos valores pregados pela sociedade burguesa, como: burocracia, disciplina,

planejamento e rotina. Eram entusiasmados pelos relacionamentos humanos e

desprendidos de valores materiais. Jovens entre 18 e 28 anos que mantinham

uma sede por vivências e experiências, num ritmo acelerado, aproximando-se

de valores espirituais, enriquecimento intelectual, o sexo livre, o uso de drogas

1 Expressão em inglês para “estilo de vida americano”, bastante utilizado durante a Guerra Fria para mostrar a diferença de vida dos blocos capitalistas e socialistas, alienando a população americana e induzindo-a a consumir produtos, principalmente eletrodomésticos e automóveis.

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e a aproximação de setores marginalizados da sociedade americana,

sobretudo o jazz da cultura negra e a música folk.

No livro On the Road, de Jack Kerouac – considerada a bílbia da

geração beat -, o personagem-narrador Sal Paradise – baseado nas

experiências do próprio Kerouac -, segundo Almeida (2007), pensa encontrar

energia, intensidade, liberdade, originalidade, valores combativos à morosidade

do “way of life” americano. Essas constantes críticas à sociedade americana e

o evidente estilo de vanguarda literária levaram os valores pregados pelos

beats a serem comumente comparados aos princípios da cultura boêmia. A

cultura boêmia, segundo Mel Van Elteren (1999), é

caracterizada por um sentimento de comunidade e dinâmica de grupo, ativo e talvez irregular. Neste sentido, a subcultura boêmia pode também ser lida em termos de movimento, ou uma comunidade artística interligada. A contracultura dos beats, que certamente pode ser estudada como um mundo artístico era muito mais amplo do que aqueles de formas discretas tais como a literatura, o filme, a pintura, e a música. Envolveu também práticas significativas específicas, isto é, modos de ordenar e codificar as experiências do grupo em questão.

Portanto, a geração beat, ou os beats – como eram chamados os

jovens rebeldes adeptos às causas – foram marcados como a juventude que se

insurgia contra os valores baseados na acumulação de riqueza e no

supostamente correto, bem como contra a banalidade e o tédio do mundo

pequeno-burguês (Lehnert, 2001, p. 51). Lehnert ainda explica a rebelião da

juventude contra a geração mais velha como uma forma de reconstruir valores

perdidos na guerra, e cita a relação dos beats com o movimento existencialista

ocorrido desde os anos 40, na França:

O movimento existencialista formava um contrapeso intelectual de reação à uma sociedade que criticava duramente e considerava “saturada”. Os existencialistas insurgiam-se contra os valores burgueses, contrapondo-lhes uma concepção individualista da vida humana, segundo a qual o indivíduo está condenado a procurar dentro de si um sentido para sua existência, sem ser condicionado pelos valores herdados. (LEHNERT, Gertrud, 2001, p. 51)

Servindo de base para o nascimento do movimento contracultural,

os beats ficaram marcados pelo inconformismo com a realidade do final dos

anos 50 e começo dos anos 60, quando os jovens já formavam uma boa parte

da população americana, ganhando forças e voz para realizar diversos

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movimentos e revoluções que iriam eternizar a década de 60 como a era das

revoluções.

1.2– Movimento Contracultural

A contracultura foi, também, um movimento de negação dos valores

impostos pela sociedade, principalmente nos Estados Unidos e contra a

supervalorização de bens materiais pelos indivíduos (como carros, casas,

emprego e dinheiro). O termo “contracultura” é devido a uma de suas

características básicas: o fato de se opor a cultura vigente e oficializada pelas

principais instituições das sociedades do Ocidente (PEREIRA, 1988). Os

jovens tinham anseio, como cita Cidreira (2008, p. 36) “de propor uma

transformação radical da sociedade e promover o surgimento de uma “nova

era”. Entendido como um movimento de contestação sociocultural, nasceu em

meio a juventude dos anos 60 e seus ideais expandiram-se por várias gerações

até os dias atuais.

Segundo Goffman e Joy (2007), “a contracultura é a crista crescente de

uma onda, uma região de incerteza em que a cultura se torna quântica.” É em

meio de tantos pensamentos não lineares, mas que estão em perfeita

harmonia, que o aparente caos se forma, impulsionando uma mudança radical

para mudar o que incomoda; a situação e o sistema vigente que causa

desconforto. Ainda de acordo com Goffman e Joy, (2007), “aqueles que fazem

parte dessa contracultura se desenvolvem nessa região de turbulências (...),

eles conhecem a corrente, são engenheiros do caos, migrando na crista da

onda da máxima mudança.”

A contracultura serviu para uma série de mudanças, principalmente

no comportamento da sociedade, que, mesmo em represália aos “rebeldes”,

viam ali oportunidades de mercado. Se não havia como ser ignorada, a

juventude virava alvo dos negócios.

O cinema, a música, a moda e as artes foram os principais setores

afetados pelas causas dos jovens inquietos. Nas telonas dos anos 50, Marlon

Brando e James Dean – este último sendo considerado mais tarde símbolo da

juventude rebelde – estrelavam filmes como “Rebelde Sem Causa”, “O

Selvagem” e “Fúria de Viver”, com James Dean na pele de um outsider que

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questionava os reais valores da burguesia. A música foi marcada no começo

dos anos 50 por Elvis Presley e o nascimento do rock’n’roll, ritmo símbolo de

rebelião por ter uma batida livre e a forma de dançar irreverente e sem regras.

Para Lehnert (2001), “esta nova música provocante adquiria um carisma muito

especial (...), tendo-se tornado um meio de identificação para jovens de todas

as classes sociais”, e mais tarde firmando-se na história por sua explosão em

grandes festivais como Woodstock, em 1969. Na moda e nas artes na década

de 60, segundo Catoira (2006, p. 40)

(...) pela primeira vez, a moda se dirigia aos adolescentes (...). Com a incerteza dos acontecimentos mundiais – fim da guerra da Coréia e intensificação da Guerra do Vietnã, tudo aliado à tensão provocada pela Guerra Fria -, os filmes e as peças revolucionárias são carregados de críticas sociais, e a arte pop sai das telas e chega às estampas das roupas. É o tempo de geometria na moda e do desenvolvimento de novas fibras sintéticas (...).

Com o lema “Make Love, Not War” (faça amor, não guerra), milhares

de protestos estudantis tomaram de conta dos Estados Unidos, espalhando-se

com proporções astronômicas, chegando à Europa e até ao Japão,

adequando-se aos diferentes contextos de cada país. Utilizando da música e

da moda como principais meios de comunicação e de protesto, nasceu um

estilo de se vestir e de viver que representava esse manifesto, os chamados

hippies, fomentando uma tendência mundial e dando origem aos “freaks”,

grupo que expressava seus ideais e pensamentos através do modo de vestir,

da moda e dos adornos corporais.

Figura 1.1 e 1.2: Hippies e os cartazes com os dizeres: “Make Love, Not War” (Faça Amor, Não Guerra) em protesto à Guerra do Vietnã.

Fonte: http://www.tumblr.com/tagged/war?before=1338246520

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1.3 - Movimento Hippie

Podemos dizer, de um modo geral, que os hippies foram os

representantes mais assíduos dessa nova atitude que caracterizava a

juventude anticonformista. Para Baudot (2002), a revolução dessa vez é

verdadeiramente cultural. Suas experiências acarretarão uma antimoda que

pertence somente a ela. Caracterizaram-se como um movimento que utilizava

principalmente do modo de vestir, da busca por novas experiências espirituais,

naturalistas e musicais para expressar seus princípios e para protestar contra

as imposições do governo americano – logo depois europeu, espalhando-se

pelo resto do mundo.

Isso causou, à longo prazo, mudanças de forma massiva nos

padrões da sociedade dos anos 60, a começar pelo estilo de vestir. Utilizavam

das roupas como uma forma de oposição à moda vigente da época, em

negação ao conservadorismo. Uma vez em que havia liberdade de vestir, “as

aparências desinibiram-se”, como cita Baudot (2002).

Em relação ao look hippie, Lehnert (2000, p. 59) explica que

tanto os homens como as mulheres andavam descalços, tinham os cabelos compridos e usavam bijuterias, calças de ganga e camisas com padrões de flores coloridas. Esta moda era uma forma de demonstrar uma oposição de suave pacifismo e de amor à natureza, bem como a convicção de que uma vida simples tinha mais sentido do que o consumismo desenfreado que se fazia notar na década. Esta antimoda era a expressão de uma nova visão do mundo.

Figura 1.3: Moda Hippie durante o festival de Woodstock, em 1969. Foto: LIFE

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A antimoda caracterizava o final dos anos 60, da turbulência no

contexto sócio-econômico-cultural causado pelos manifestos estudantis e pela

constante influência da música na moda, com o gigante sucesso do grupo The

Beatles, que agredia a sociedade inglesa tradicional. A moda viu-se

desestabilizada e se destacam diferentes grupos, que faziam parte de uma

cultura anticonformista jovem, com maneiras de se vestir próprias definindo um

novo processo social (Catoira, 2007).

Com a explosão dos hippies em diversos países, não demorou-se

para influenciar também o mercado da moda, até aqueles que não seguiam

necessariamente seus ideais buscavam liberdade em roupas com inspiração

hippie. A tendência naturalista e com apelo pacifista dominou diversas classes

sociais; as saias compridas, os echarpes fluídos, o cabelo solto e a busca pelo

conforto foram rapidamente absorvidas pelo mercado e as vendas atingiram

seu ápice.

Via-se um efeito que mais tarde iria tornar-se bastante comum na

indústria da moda: o fenômeno bubble-up, que consistia em um grupo

minoritário da sociedade lançar tendências que acabam sendo adotadas pela

alta-costura. No passado, predominava o efeito trickle-down, Conceito que irá

ser abordado posteriormente neste trabalho.

Os hippies foram protagonistas de grande parte do movimento dos

filhos das flores (flower children), que consistia em um contingente de jovens

que acreditavam estarem alienados por valores impostos pela sociedade,

propondo uma vida baseada no amor e na liberdade. Essa parcela de jovens

trouxe de volta o trabalho manual, principalmente o artesanato, a composição

de músicas e o cultivo de plantas com efeitos alucinógenos, como a maconha –

sendo constante seu uso no círculo social. Também era bastante comum a

ingestão da droga LSD, alucinógeno que expandia a mente. De acordo com

Correia (1989, p. 80),

(...) ocorre que a droga desempenhava um papel de expressiva importância, como principal símbolo de ruptura com os padrões existentes. Isso porque devemos entender o movimento hippie a partir de três elementos: a droga, a música e aquilo que seriam as posturas ético-sociais, integradas por roupas, maneira de ser e de participar socialmente.

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20

A proposta do movimento hippie era de criar uma nova maneira de

agir, bem como, de pensar, dando origem assim a um contexto social que

poderia ser chamado de “neotribal”. Esse movimento ganhou proporções

globais que, segundo Cidreira (2008, p. 36), “teria sido um marco de um

processo nascente batizado posteriormente de pós-modernidade. (...) Novo

modo de agregação social cujo vínculo se estabelece a partir do ponto de vista

afetivo”. Os jovens compartilhavam, portanto, sentimentos, ideologias, gostos,

interesses e valores, dissolvendo o sentimento de individualismo e fortalecendo

o de comunidade.

Figura 1.4: Moda hippie no festival de Woodstock. Fonte: http://www.culturamix.com/festas/eventos/woodstock

O princípio naturalista foi uma das principais tendências adotadas

pela tribo hippie. O retorno aos processos naturais, a valorização da

agricultura, do artesanato e do cultivo de plantas fortaleciam o desejo de estar

em contato direto com o meio ambiente e a natureza. A super valorização dos

produtos orgânicos contribuía para o desenvolvimento de comunidades auto-

sustentáveis, e a busca pelo maior contato com a terra, a natureza, era

constantemente praticada.

Arias (2009) comenta que pelas ruas dos bairros hippies era

possível ver os seres mais diversos, vestidos com roupas de malha

transparente, sem roupa íntima, túnicas romanas e sáris indianos, velhas

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indumentárias de marinheiros e militares, encontrados em casa tipicamente

conhecidas como brechós, resultando em combinações excêntricas e

sobreposições, em algumas vezes, extravagantes, mas, sobretudo o blue

jeans, eternizado como elemento essencial da cultura juvenil.

No Brasil da década de 60, ocorria o movimento conhecido como

Tropicália, onde diferentes manifestações artísticas em vários setores da

produção cultural ganhavam seu espaço frente às fortes posições de esquerda

vigentes na época. As radicais contestações estendiam-se nos mais diversos

setores, da música à pintura, onde eram apresentados uma nova visão da

realidade brasileira, representando a luta por mudanças revolucionárias no

sistema vigente. Segundo Favaretto (1995 p.11),

“a Tropicália nasceu num país enrijecido por maniqueísmos que se infiltravam nos setores artísticos coibindo diversas formas de criação. (...) Foi concebida num Brasil democrático, heterogêneo e avançado sob certos aspectos (como o estético, por exemplo), mas incapaz de equacionar seus problemas e de conciliar suas diferenças num projeto de alcance internacional.”

Como disse Morais (1975, p. 98), “o Tropicalismo surgiu mais de

uma preocupação entusiasmada pela discussão do novo do que propriamente

como um movimento organizado”. Um dos principais precursores do

Tropicalismo foram os cantores de MPB (Música Popular Brasileira) Gilberto Gil

e Caetano Veloso. O público que assistiam às apresentações artísticas dos

tropicalistas eram preponderantemente jovens universitários. Assim, de acordo

com Favaretto (1975, p.25),

procurando articular uma nova linguagem da canção a partir da tradição da música popular brasileira e dos elementos que a modernização fornecia, o trabalho dos tropicalistas configurou-se como uma desarticulação das ideologias que, nas diversas áreas artísticas, visavam a interpretar a realidade nacional, sendo objeto de análises variadas – musical, literária, sociológica, política. Ao participar de um dos períodos mais criativos da sociedade, os tropicalistas assumiram as contradições da modernização, sem escamotear as ambigüidades implícitas em qualquer tomada de posição.

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Figura 1.5: Principais representantes do Tropicalismo.

Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/tropicalismo-resgatado

Um dos principais marcos da cultura hippie nos Estados Unidos foi,

talvez, o festival Woodstock. “Woodstock Music & Art Fair” foi um festival de

música que ocorreu na fazenda de Max Yasgur, na cidade rural de Bethel, em

Nova York, nos Estados Unidos, nos dias 15,16 e 17 de agosto de 1969.

Anunciado como “Uma Explosão Aquariana: 3 dias de paz e música”, o evento

extrapolou as fronteiras da música e marcou época na história do movimento

de rebelião da juventude daquela época. (Pereira, 1988).

32 artistas de diversos estilos musicais – principamente rock, folk e

blues - apresentaram-se durante os três chuvosos dias de festival. Dentre as

principais atrações, destacavam-se Janis Joplin, Jimi Hendrix, Richie Havens,

Joe Cocker, Santana, The Who, The Incredible String Band, entre outros. O

evento também serviu para fomentar o Rock como principal elemento de

expressão da identidade da juventude contracultural e, sobretudo, dos hippies.

Para Pereira (1988, p.42),

(...) o rock é um tipo de manifestação que está longe de ter um significado apenas musical. Por tudo que conseguiu expressar, por todo o envolvimento social que conseguiu provocar, é um fenômeno verdadeiramente cultural, no sentido mais amplo da palavra, constituindo-se num dos principais veículos da nova cultura (...).

O rock pode ser talvez considerado uma das formas culturais pós-

modernas mais representativas, pelo fato de possuir um alcance e influência

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global unificadora, pela sua tolerância e pela criação de pluralidade de estilos,

mídia e identidades. O rock, desde seu surgimento, sempre foi capaz de se

conectar com a cultura juvenil e com a cultura das ruas, ligando-se

constantemente à moda e ao estilo de vida (CIDREIRA, 2008).

Figura 1.6: Woodstock visto de cima: quase meio milhão de espectadores. Fonte: http://www.aaanything.net/39965/pictorial/rock-pictorial/woodstock-concert-legendary-

lineup/

Woodstock ficou marcado pelo clima de amor e música que banhava

aquele local e a euforia pós-evento foi tão significativamente grande que os

anos 70 foram recebidos com uma onda de otimismo. (PEREIRA, 1988)

Já no final dos anos 70, dado o início da intensificação da globalização, observou-se um crescimento do fluxo de pessoas do ocidente para o oriente. (...) A informação da cultura indiana chegou até os músicos, e posteriormente os músicos levaram essa cultura oriental para sua audiência. Essa influência do oriente no ocidente pode ser também observada a partir da cultura hippie que, repleta de influências orientais, e tendo a música, neste caso o rock, como um de seus elementos centrais, se desenvolveu também na forma de festivais, como por exemplo, o notório Woodstock, de 1969. (MENDES, 2007, p. 21)

O festival serviu também como porta de abertura para outros

festivais de música, retratando a revolução cultural e o caráter contestador da

sociedade jovem. De fato, alguns dos maiores acontecimentos da contracultura

foram os festivais de música, pois reuniam grandes números de compositores,

artistas e revolucionários em um único ambiente para um encontro de idéias

daqueles que tentavam criar um novo modo de agir e pensar, fugindo dos

padrões impostos pelo sistema capitalista.

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A música, no contexto sociocultural, tem um papel fundamental,

agregando grandes quantidades de pessoas numa experiência coletiva única,

como um show, uma apresentação ou um festival, por exemplo.

Segundo Arias (1979), o apogeu do movimento hippie é em 1967, no

chamado verão do amor e das flores, o que coincide com o auge da banda

inglesa The Beatles. Seus discos eram o maior sucesso e as músicas serviam

como hinos para os hippies. Em seguida, a banda Rolling Stones entra em

cena, compartilhando do sentimento dos hippies por sua luta pela

sobrevivência frente à hostilidade da sociedade; a banda fazia melodia com os

problemas de uma geração radical da contracultura.

Sendo assim, a música “converte-se numa religião elétrica em que

os músicos de rock revivem a função do xamã das antigas tribos, transmitindo

à comunidade o poder de suas experiências através do ritual da música”.

(ARIAS, 1979, p.118)

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LINEUP 2: A MUSICA ELETRÔNICA E O NASCIMENTO DAS RAVES

“O coração que está em paz, vê uma festa em todas as aldeias”.

Provérbio Hindu

A música eletrônica, ritmo formado principalmente por sintetizadores

– que são dispositivos capazes de captar sinais eletrônicos através de

osciladores de freqüência e convertê-los em som -, nasceu em meados dos

anos 50, de uma conexão entre tecnologia e sons tribais, apresentando uma

estética que transcende o tempo presente e permite ao ouvinte experimentar a

sensibilidade musical e a expressão artística através de uma melodia – em sua

maioria – sem letra. Como explica Manoel (2001, p. 2),

A música eletrônica e seus instrumentos de produção democráticos – sampler, sintetizadores, vinis, md’s, pick ups, groove boxes... – dá poderes de importância e criação artística ao homem comum, sem teoria musical e resgata um dos melhores ideários do século findouro, o ideário punk: faça você mesmo (do it yourself). Sim, na música eletrônica cada um de nós é um átomo da teia, portanto fundamental o suficiente para ela, a música, não ter rosto, ser de todos, não ter dono e destruir aspectos de estrelismos (...).

Repleta de sons repetitivos, de batidas sonoras que se assemelham

ao som tribal dos índios, a música eletrônica é, como cita Manoel (2001, p.2),

“o nosso mantra tecnológico, disponível para promover a alegria” e libertar a

forma de dançar, de sentir.

O sintetizador, instrumento criado em meados dos anos 50, passa a

ser usado, no final da década de 60 e no começo dos anos 70, por várias

bandas de rock, como Pink Floyd, Ozric Tentacles e Hawkwing. Paralelamente,

surge o grupo alemão Kraftwerk, que utilizou dos sons eletrônicos para produzir

suas músicas e expressar a evolução tecnológica que se intensificava. Para

Rodrigues (apud Mendes, 2007, p.21), “a banda Kraftwerk ajudou a intensificar

a música eletrônica no contexto pop”.

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Figura 2.1: Formação da banda Kraftwerk, na década de 80. Fonte: http://urania-

josegalisifilho.blogspot.com.br/2012/01/sound-and-industry-kraftwerk-and.html

Com a expansão da música eletrônica no contexto cultural dos anos

80, muitas bandas estavam focadas no desenvolvimento de música dançante

através de instrumentos eletrônicos, o que resultou em diversos estilos e

subdivisões específicas. As mais antigas e conhecidas eram o Techno, o

Trance, o Drum’n’Bass e o House, que se diferenciavam pela velocidade do

bpm (batidas por minuto) (Mendes, 2007).

Inspirados por esse crescente desejo de experimentar novas idéias

e em busca de tranqüilidade espiritual, em meados da década de 80, em Goa,

na Índia, um grupo de hippies, viajantes, naturalistas, revolucionários e

espiritualistas (em sua maioria, vindos da Europa) resolveram utilizar dos

conhecimentos técnicos de música para desenvolver um novo estilo de som,

recheado de sintetizadores. Esses sons experimentais eram apresentados ao

público em eventos na praia e nas montanhas indianas, com caixas de som,

luzes negras, drogas e pinturas de elementos da cultura hindu, como os

deuses Shiva e Ganesh.

Havia muitas festas em Goa, no início da década de 80, onde

tocavam principalmente rock e reggae, apresentado naquela época como Dub,

ritmo que unia reggae com elementos eletrônicos, produzidos por imigrantes

jamaicanos na Inglaterra e levados pelos viajantes até o oriente (Mendes,

2007).

Segundo Saldanha (1999), “a Índia era conhecida como a província

da espiritualidade e da autenticidade”. Foi então que o DJ Goa Gil, vindo da

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Califórnia, trouxe um novo estilo que misturava música eletrônica,

espiritualidade e yoga. Nascia assim o Goa Trance, que mais tarde daria

origem ao Psy Trance (Neves, 2009).

Figura 2.2: Foto de uma festa em Goa, Índia, nos anos 80. Fonte:

http://gatelessgate.wordpress.com/category/dj-ma-faiza-goa-trance/

Diferente da música eletrônica remanescente da era disco do final

dos anos 70, o Trance foi levado à Europa como um som carregado de

elementos naturais, oferecendo uma viagem introspectiva numa espécie de

transe místico, trazendo à tona os desejos e aspirações de uma geração livre,

dos beatniks, dos hippies e dos revolucionários da contracultura. Para Mendes

(2007, p.23), “a música eletrônica e seus respectivos estilos vão criar culturas

específicas em diferentes locais e tempos”. É no contexto da expansão das

vertentes da música eletrônica que surgem as festas e os festivais.

As festas, mais tarde chamadas de Raves, eram oferecidas como

um ambiente de liberdade, de danças sem regras e de experiências espirituais

ao som de batidas sincopadas e ininterruptas que percorriam cada célula do

corpo, onde um jogo de luzes, sensações, pessoas e substâncias dispõem-se a

ter experiências individuais e ao mesmo tempo coletivas.

Elas podem ser consideradas reflexo das modificações culturais

ocorridas na década de 60 e 70: o movimento hippie, a transformação na

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mentalidade e no estilo de vida das pessoas, o inconformismo da geração

rebelde, a criação de novas tecnologias, a liberdade sexual, a aproximação do

orgânico e do contato com a terra, o surgimento de novos rituais tribais, entre

outros. Todo esse consciente coletivo culminou em festas onde a esfera lúdica

sobrepunha a hostil realidade da época (NEVES, 2009).

Existe também a figura de indivíduo que comanda o som durante a

festa, o Disc-Jóquei, mas conhecido como DJ. Seu papel é fundamental na

cena eletrônica, principalmente por ser o responsável por mixar as faixas de

vários artistas, de maneira que crie um som constante (o set) capaz de

transmitir ao público sensações da música. Para Rodrigues (2005, p.84), “hoje,

no ambiente club, aflora um culto considerável ao DJ, pois ele entra numa

espécie de relação com o público, à medida que ele consegue captar o estado

de ânimo na pista e passar a combinar criteriosamente as faixas”. É uma

verdadeira arte desenvolvida por esses artistas, pois, de acordo com Neves

(2009, p.8),

o DJ é considerado o que Lévi-Strauss denominava de bricoleur2.São nessas misturas que o artesão cibernético ao produzir suas músicas, combina diferentes estilos musicais: mesclando MPB com batidas eletrônicas, samba com tribal eletrônico, música clássica com ritmos sincopados digitalizados.

A identidade das festas em Goa, na Índia, foi levada para Ibiza (ilha

do mediterrâneo), onde se tem registro das primeiras raves do modelo em que

se vê atualmente. De Ibiza, as festas foram importadas para a Inglaterra no

final da década de 80 e, logo depois, para o resto da Europa – principalmente

Alemanha, Bélgica, França e Holanda -, chegando mais tarde às Américas.

21- Em tradução livre para o português: Trabalhador manual, caseiro, que utiliza de artifícios manuais para criar o seu trabalho. No caso do DJ, é a sua percepção de sons e sua habilidade com os equipamentos que vão criar um som único.

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Figura 2.3: Raves em Ibiza nos dias de hoje. Fonte:

http://www.thecampuscompanion.com/party-lab/2012/06/17/straight-to-ibiza/ibiza-rave/

2.1: A rave no cenário do mundo moderno

Com o início da era capitalista, as relações pessoais passaram a ser

cada vez mais objetivas e efêmeras. O homem corre contra o ponteiro do

relógio no dia-a-dia, afastando-o de contatos com outros e a necessidade de

algo que o fizesse escapar dessa realidade banal se torna mais ativa. Como

cita Neves (2009, p. 2), “a festa vai ocupar nesse conjunto um papel essencial:

ela permitirá um retorno ao arcaico e aos valores tribais de grupos nômades,

trazendo à tona sentimentos não valorizados na era moderna”. As festas

aconteciam para afastar a sociedade da cotidianidade e promover a

aproximação dos indivíduos através da lembrança dos sentidos e emoções,

exprimindo o retorno de festas e rituais antigos na modernidade (DURKHEIM,

1989).

Sugiro que as pressões culturais pós-modernas, enquanto intensificam a busca de “experiências máximas”, (...), da revelação, do êxtase, rompendo as fronteiras do ego e da transcendência total, outrora previlégio da seleta “aristocracia da cultura” – santos, eremitas, místicos - (...) foi posta pela cultura pós-moderna ao alcance de todo indivíduo, refundida como um alvo realístico e uma perspectiva de auto-aprendizado para cada indivíduo, e recolocada no produto de vida devotado à arte do comodismo do consumidor. (...) A estratégia pós-moderna da experiência máxima invoca o completo desenvolvimento dos recursos internos, psicológicos e fisiológicos do ser humano, e pressupõe infinita a potência humana. (BAUMAN, 1998, p. 223)

As raves surgem nesse cenário como exemplo de um ambiente

onde não existiam barreiras – sejam elas sexuais, raciais ou sociais - para o

compartilhamento de emoções e pensamentos. As celebrações permitiam, de

acordo com Neves (2009, p.3), “um estado de transe coletivo”, que permitia

que o indivíduo buscasse alcançar uma realidade alternativa através do uso de

drogas psicoativas ou das batidas hipnóticas da música ensurdecedora que

ecoava pelo ambiente.

O ato de fechar os olhos, de dançar horas a fio com o coração pulsando em sintonia com as batidas eletrônicas, o compartilhamento de emoções com os dançantes, o contato com a terra ou com o cimento de indústrias abandonadas, o transe anímico dos participantes, o gozo presenteísta que fecunda os vínculos sociais; configuram o panorama de uma festa de música eletrônica. (FONSECA E RODRIGUES, 2005)

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Neves (2009, p.3) definiu a festa rave como um “tipo de expressão

cultural dos jovens metropolitanos, recheada de peculiaridades de outras

culturas”. São festas em que a música tocada é a eletrônica e suas vertentes,

“com o objetivo de conduzir a vibração entre os dançantes” (Neves, 2009, p. 3).

Geralmente duram em torno de doze a dezesseis horas, sempre começando à

noite e terminando pela manhã ou tarde. Algumas, como os festivais, chegam a

durar até sete dias consecutivos, com música, apresentações artísticas e

manifestações culturais, envolvendo a cultura alternativa, a mística, a

expressão da arte e promovendo a aproximação com a natureza – por

acontecerem em praias desertas ou sítios afastados da cidade.

São geralmente temáticas e tanto o nome da festa, como a

decoração, entram no tema, como Universo Paralello, Aquarius, Terra em

Transe, Ziohm – que na cultura rastafári significa a “terra prometida”, entre

outros. A decoração é recheada de elementos psicodélicos e coloridos, que

inspiram o freqüentador em sua viagem astral durante a festa.

Para compreender os conceitos destas celebrações eletrônicas, é

preciso antes entender como a contracultura se encaixa neste cenário e porque

elementos de diversas culturas é tão presente nos eventos, principalmente na

decoração. Laraia (1986, p. 49) define cultura como “um processo acumulativo,

resultante de toda a experiência histórica das gerações anteriores. Este

processo limita ou estimula a ação criativa do indivíduo”, ou seja, o mundo

contemporâneo possui, em sua essência, traços das antigas civilizações, que

passam de geração em geração, acumulando conhecimentos e tradições. Para

Neves (2009, p.5), todo indivíduo carrega dentro de si uma parcela dos

costumes e tradições de tribos antigas. Exteriorizando “seu interior de diversas

formas e práticas diferenciadas: a pintura, a música, a dança (...). São todas

expressões culturais que até hoje permeiam o universo semântico dos

sujeitos”. Segundo Neves (2009, p.6),

as festas de música eletrônica carregam em sua essência um arsenal de signos polifônicos comunicantes, que representam o reflexo de uma verdadeira expressão cultural da contemporaneidade. O comportamento, o vestuário, a decoração dos lugares, a forma de dançar, a música transcendental, a ideologia do movimento rave, sua aproximação com algumas referências da religião hindu, sua filosofia. Tudo isso se constitui como sendo um retrato de uma cena rodeada de instâncias simbólicas significantes e cambiantes entre si.

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O modelo de festa rave que se conhece hoje em dia é fruto das “all

night dance parties3”, eventos que aconteciam na cena underground da

Londres do final dos anos 80 – mais precisamente em confins de 1987 e 88 -,

em locais afastados e abandonados, geralmente em “warehouses” (armazéns,

em tradução livre).

O fenômeno espalhou-se pela Europa e chegou até os Estados

Unidos em 1991/92, que até a época só se produzia o som eletrônico

proveniente da era Disco dos anos 70. New York (com sua electro music),

Detroit (com o Techno) e Chicago (com seu house music) tornaram-se as

cidades pioneiras no advento da música eletrônica e suas vertentes, e DJs

como Larry Heard, Frankie Knuckles, Robert Owens, Ron Hardy, David

Morales, entre outros, foram responsáveis por difundir o som pelo país

(Manoel, 2001).

A cena eletrônica trás, principalmente nas raves, a política do

paz&amor herdada dos hippies e o conceito de PLUR (peace, love, unity and

respect) entre os indivíduos, onde a maioria vivia em união e comunidade e

praticava o amor livre, o respeito entre raças e pregavam a paz mundial.

Com o passar dos anos, o fluxo de informação da cena eletrônica

começava a alcançar diversos públicos, que por sua vez levavam o conceito da

festa para seu país de origem.

Nos anos 90, a febre da música eletrônica e das raves estava em

evidência na cultura de cada país em escala global. Bandas e DJs surgiam a

cada instante, filmes tinham música eletrônica como trilha sonora - como foi o

caso do “Trainspotting”, filme britânico de 1996 dirigido por Danny Boyle, que

consagrou a música “Born Slippy”, do grupo Underworld, considerada um dos

hinos da vertente techno -, e as raves eram cada vez mais freqüentadas por

espectadores de primeira viagem, que iam principalmente para observar os

espetáculos e manifestações artísticas que ocorriam durante o evento.

Como afirma Mendes (2007, p. 26), “o fluxo de pessoas e

informações vai levar essa nova possibilidade de interação para todo o globo,

modificando estruturas locais. Observa-se, assim, um movimento de re-

3 Em tradução livre para o português: “Festas que duram a noite toda”.

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posicionamento. “Pessoas viajam, sons viajam. Ao viajar eles mudam

realidades locais” (Saldanha, 1999, p.1)”.

Essa variedade de público, de indivíduos compartilhando do mesmo

sentimento, cria o conceito de hibridação cultural dentro da festa, “resultado de

combinações de fontes plurais” (Neves, 2009, p.7)

Figura 2.4: Imagem de uma cena do filme “Trainspotting”, de 1996: Alcool, drogas e música

eletrônica. Fonte: http://www.thecleanslate.org/trainspotting-authors-addiction-ran-its-course/

No Brasil, a cultura das raves, comumente chamada de cultura

alternativa – pois advinha de uma comunidade underground, fora do sistema

tradicional - chegou em meados dos anos 90, com forte influência européia. Em

1992 a primeira rave urbana desembarca no Brasil, mais precisamente nas

cidades de São Paulo, Porto Alegre e Curitiba. A decoração a laser, DJs (disco-

jóqueis) que estavam em seu auge no cenário internacional e muitas horas de

festa marcaram o evento como um dos primeiros manifestos de rave no Brasil.

André Meyer pode ser considerado um dos precursores do

movimento da cena eletrônica no país. Em entrevista ao site PsyNation4, André

comenta como foi sua primeira experiência com raves: “A primeira festa que

organizamos rolou no ano 1994, em Atibaia, São Paulo, e lembro que tivemos

muita dificuldade para trazer o equipamento de som. A gente tirava cópias do

flyer para fazer a divulgação e fazia um rateio para bancar a gasolina do

gerador”.

4 Entrevista de André Meyer ao portal PsyNation, acessado em 17 de outubro de 2012 às 01:28. http://www.psynation.com/historia-das-raves/

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Naquela época, não haviam as facilidades de hoje para conseguir

equipamentos de som e luz. As dificuldades pareciam ser imensos obstáculos,

mas a vontade de fazer crescer a cultura alternativa e de compartilhar com

outros as sensações únicas que a festa iria proporcionar, era maior do que

qualquer coisa.

2.2: A cena eletrônica brasileira

Atualmente, a cena eletrônica brasileira é forte, com um número

relevante de festivais e festas ocorrendo durante o ano em diversas cidades. O

festival mais conhecido do país é o Universo Paralello (ou UP#), que ocorre a

cada dois anos, durante a passagem de ano novo. Suas edições duram sete

dias consecutivos, e durante o evento ocorrem diversas manifestações

artísticas, como exposições de quadros, performances de danças,

apresentações culturais, mostra de filmes direcionados para determinados

assuntos, roda de conversas, tenda para relaxar, entre outros.

Fenômeno que apresenta crescimento mundial, os festivais de

música eletrônica movem milhares de pessoas de diferentes lugares para o

local “sagrado”, onde indivíduos vão em busca de paz de espírito, da

transcendência astral e da experiência com sensações que vão além do corpo.

Hoje, principalmente no Nordeste do Brasil, há uma notável

diferença entre festas de música eletrônica e raves. No Ceará, em festas de

música eletrônica, o público geralmente é mais distinto e menos seleto quanto

à qualidade musical. DJs comerciais e projetos de celebridades são as

atrações principais, fazendo os produtores da festa visarem somente o lucro, o

valor monetário. Muitos esquecem o real significado de apresentar a essência

da música eletrônica e de proporcionar ao público um estado de êxtase através

de uma festa conceitual, que traga uma carga cultural.

Em conseqüência disso, o público de primeira viagem, sem a

informação necessária, pratica o uso abusivo de drogas (muitas vezes por

erroneamente achar que só é possível experimentar das sensações da festa

através de substâncias psicodélicas), não recebe a assistência necessária e

acaba difamando a real imagem e o significado do evento.

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Em entrevista ao site do fotógrafo Rodrigo Gomes, o DJ Pedro

Javier, mais conhecido como DJ PJ Yugar, fala sobre a dificuldade

conseqüente do crescimento de festas eletrônicas pelo país e principalmente

no Ceará:

“O problema são as novas produtoras ou produtoras que não oferecem isso [música boa, cultura e conhecimento] ao público, coloca um Mainstream ou não, junta todo mundo, sem mais (...), fazem uso abusivo de drogas, não oferecem nenhuma informação, cuidado e muitas nem tem ambulâncias, acontece algo sério e a mídia cai em cima e generaliza tudo! Aí é complicado!”5

Diferentes disso, as festas conceituais possuem a preocupação de

manter a tradição dos rituais tribais, da exposição da cultura alternativa e da

aproximação com a natureza e os poderes astrais. A abundância de cores, a

decoração repleta de símbolos culturais antigos, as intervenções artísticas

durante a festa, entre outros, evidenciam a busca pela viagem mística e pelo

estado de transe coletivo.

A importância da valorização da arte está intrínseca na cena

eletrônica. Para Coli (1983, p. 105), a arte “representa em nossa cultura um

espaço único onde as emoções e intuições do homem contemporâneo podem

desenvolver-se de modo privilegiado e específico”. Assim, é bastante comum,

durante eventos eletrônicos, acontecerem intervenções artísticas, manifestos,

performances e exposições, etc.

A produtora cearense NuACT (Núcleo de Arte e Cultura

Transcendental), está há mais de oito anos no mercado fomentando a cena

eletrônica no Nordeste. Responsável por uma das festas mais conceituais e

famosas da região, a Entrance, o núcleo faz questão de resgatar valores que

levaram os jovens da contracultura a unirem-se para celebrar a música, o

cinema, a arte, a cultura, a vida.

Durante a edição deste ano da Entrance, que teve como tema a Era

de Aquarius, diversas performances e exposições ocorreram em paralelo às

apresentações do DJs no palco principal. Em uma tenda, era possível observar

e prestigiar o trabalho de três fotógrafos renomados no Brasil e no mundo; em

5 Site do fotógrafo Rodrigo Gomes, acessado em 18 de outubro, 00:10. http://rcgomes.com.br/wordpress/entrevista-pj-yugar/

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outra, durante um determinado período, era passado aos interessados o filme

“Cortina de Fumaça”, que abordava de uma maneira diferente o tema do uso

de cannabis; pela manhã, um ritual religioso de suspensão corporal6 foi

apresentado ao público pelo performista Thiago Soares, mais conhecido como

T-Angel.

Inspirado pela obra do pintor russo Mark Rothko, o performista

utilizou da união da dança com a suspensão em busca da abstração da

realidade para atingir estados superiores de transcendência. Afastado do palco

principal, há o palco alternativo, onde são apresentados DJs com diferentes

estilos musicais, abrindo o espaço para novos projetos e experimentos. O

projeto Ilumiar, que consiste num grupo de artistas que praticam a linguagem

da arte circense, apresenta-se, todos os anos, em diversas raves do Ceará,

bem como a Cia Luz, que apresentou neste evento específico a performance

“Vento”.

Figura 2.5: T-Angel durante sua apresentação na Entrance Aquarius 2012. Foto: Patricio Fotografia.

Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=368697536546117&set=a.254954561253749.59821.122210221194851&type=1

2.3 – Os freqüentadores 6 A suspensão corporal é parte de rituais sagrados de culturas milenares da Índia. A prática consiste em suspender um indivíduo apenas com ganchos cravados em sua pele, para atingir o transe místico através de substâncias que somente são liberadas pelo organismo em situações de extremo desconforto.

Page 36: BOLHA SONORA: A moda da cena eletrônica e suas raízes na contracultura

36

O público freqüentador é diversificado, por ser uma festa que

oferece principalmente a liberdade de expressão e o sentimento de amor

coletivo através de experiências únicas. No geral são pessoas de espírito livre,

que buscam novas experiências e que possuem uma maior aproximação com a

natureza. Muitos dos indivíduos que freqüentam rave possuem piercings e/ou

tatuagens, que também são, em sua essência, rituais praticados por

civilizações milenares. Para Siqueira e Queiroz (2012), em artigo publicado no

portal Pepsic7,

Ou seja, à vontade, mesmo que inconsciente, de encontrar

compatibilidade e estabilidade no campo do outro se conecta diretamente ao

desejo de compartilhar com o coletivo seus sentimentos e emoções,

proporcionados pelas festas.

Figura 2.6: Jovem com tatuagem durante a festa Entrance Aquarius 2012. Foto: Camilla Albano. Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=444431595599580&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https%3A%2F%2Ffbcdn-sphotos

Para Nunes (2008, p. 12), ”os participantes das raves têm no corpo

uma das principais formas de apresentação de si aos demais freqüentadores

durante a festa”. O modo de vestir é, talvez, o que mais representa os hippies,

os naturalistas e os jovens da contracultura. No geral são roupas confortáveis e

leves, pois, por ser ao ar livre, os indivíduos estão expostos aos efeitos solares

durante a maior parte da festa.

7 Acesso em 18 de outubro de 2012, às 19:40. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382012000100003

Page 37: BOLHA SONORA: A moda da cena eletrônica e suas raízes na contracultura

37

Muitas peças desse vestuário assemelham-se ao vestuário dos

hippies. Muitos usam shorts jeans surrados, roupas de algodão, estampas

florais, saias longas, camisetas que trazem uma simbologia de antigas

civilizações, como o Yin-Yang, Om, ou qualquer elemento da cultura hindu,

headbands (acessório de cabeça), cartucheiras, acessórios artesanais, tie-dye

(técnica de estamparia que tinge o tecido com diferentes amarrações),

sandálias rasteiras, couro sintético, franjas e neon, entre outros.

Muitas vezes símbolos culturais são usados para expressar ‘verdades eternas’ – utilizados em muitas regiões – que, num longo processo mais ou menos consciente, tornam-se imagens coletivas, aceitas pelas sociedades civilizadas [...] Há um código e uma simbologia das roupas que não são desvinculados do psicológico, como uma verdadeira gramática de panos e cores, formas e identidades. Esse código posiciona-se no binômio indivíduo e indumentária e para isso invade as áreas de estética, psicologia, ética, artes plásticas, literatura, sociologia e economia (CATOIRA, 2006, p.60).

LINEUP 3: CORPO: COMPORTAMENTO E MODA

O corpo é o nosso maior veículo de representações simbólicas, seja

para ritos religiosos como para festivos e, em seu artigo no livro Fashion

Theory, Mesquita (2002, p.115) diz que “o que é a moda senão a grande

responsável pela apresentação estética dos corpos que varia através do

tempo”. A moda se insere nesse cenário como um vetor de mudança, criando

soluções – mesmo que passageiras – para o indivíduo emoldurar a sua

personalidade de acordo com seu modo de vestir.

A sensação de mudança gerada ao adquirir um novo produto

assemelha-se à sensação dos jovens revolucionários da década de 60, que

utilizavam de todos os recursos cabíveis em sua realidade para gerar a

mudança, inclusive o de modificar seu exterior – os adornos corporais como

tatuagens, piercings, cirurgias plásticas, cortes de cabelo, o ato de comprar

roupas, etc, foi rapidamente adotado pela geração rebelde.

A formação da identidade da juventude vem sendo modificada ao

longo dos tempos. A pós-modernidade difere da modernidade por seu caráter

racional de liberdade, pela ruptura do sistema de dominação. Ser diferente, de

repente, havia tornado-se “normal”. Segundo Mesquita (2002, p.117), “o

sentido de duração, de permanência, de constância já não é considerado um

Page 38: BOLHA SONORA: A moda da cena eletrônica e suas raízes na contracultura

38

valor nas dobras da subjetividade moderna [...]. Após a década de 60, aquilo

que é mutante ganha ainda mais esforços.”

Para Buenos e Camargo (2008, p. 157), “para compreender a

ligação entre a moda e seus públicos, é necessário examinar sua natureza, [...],

quem as segue e, por fim, como a moda e seus seguidores vêm se

modificando [...] particularmente no fim do século XX”. A moda possui diversas

definições, atribuídas ao longo do tempo e adaptadas a cada área específica. A

tentativa de construir um conceito único sempre fora em vão, pois cada época

se diferencia por seus aspectos e manifestações.

O vestuário acompanha o trajeto dos seres humanos desde o início

da sua existência. “O vestuário pode ser visto como uma “língua” que consiste

de imagens significativas em contextos sociais específicos” (BUENOS;

CAMARGO, 2008, p. 158).

A moda é o elemento primeiro que marca a mudança comportamental do corpo (especialmente na moda que dá ênfase ao conceito), mas também a difusão dessa mudança. [...] E ainda pode-se dizer que a moda introduz, através do elemento ‘novo’, mudança nos padrões do comportamento tradicional instituído há certo tempo e que aos poucos se tornou um hábito. (AVELAR, 2009 p. 27)

Para Avelar (2008, p.110), “a experimentação na moda pode advir

do material, das formas e das cores, através da exacerbação do conceito que

provoca e aguça a percepção”, fazendo o indivíduo pensar na moda como uma

maneira de expressar sua criatividade através do corpo, “que o individualiza e,

ao mesmo tempo, o coletiviza, numa dinâmica natural do indivíduo” (AVELAR,

2008, p.110).

Em um espaço onde o corpo é o principal mecanismo para exibir a

individualidade e pensamentos de um indivíduo, este se torna essencial no

processo de manifestação social, e a moda se insere nesse contexto por ser o

que está sobre ele, representando suas emoções, estilo e peculiaridades.

Entwistle (2000 apud Avelar 2008, p. 132) diz que “a moda articula o

corpo, produzindo discursos que são práticas corporais, como a maneira de

vestir, de se comportar com aquela roupa e os motivos que nos levam a

escolher tais peças”. Os freqüentadores de raves costumam ter um estilo de se

vestir semelhante. Uma vez que sua maioria pertence à geração jovem,

Page 39: BOLHA SONORA: A moda da cena eletrônica e suas raízes na contracultura

39

compartilha dos mesmos princípios e possui raízes nos anseios da juventude

da contracultura, tendo o jeans como uma de suas principais vestimentas.

O jeans é a roupa que revolucionou o século XX e consagrou-se

como a principal peça do vestuário da geração jovem, rebelde e ativa. Ao longo

dos tempos, tornou-se a roupa com caráter de manifestação individual no meio

coletivo, mas ao mesmo tempo diminuindo as distâncias sociais.

Catoira (2006, p.58) afirma que os jovens da atualidade que vestem

jeans, “são quase idênticos abaixo da cintura, mas, acima, diferenciam-se com

camisetas de malha ou camisas em cores e estampas”, onde há a

predominância de estampas psicodélicas, com emblemas orientais ou com

simbologias e amuletos. Isso é sinal de que em sua maioria são semelhantes,

por mais que o fator social e cultural seja diferente.

Moda essa advinda dos hippies, pois, segundo Catoira (2006, p. 87),

a moda une exotismo e folclore nos anos 70, com o uso de jeans e flores nas roupas, estampas psicodélicas e símbolos orientais. Tudo conseqüência do movimento ideológico ‘paz e amor’ que buscou a função de elementos mágicos da moda com simbologia de proteção, e os amuletos usados como acessórios. A cruz aparecia juntamente com o emblema oriental Yin-Yang. Penduricalhos de dentes de tubarão, estrelas e luas, cintos de conchas, braceletes de pêlo de elefante, pulseiras-talismãs de cobre atuavam como pensamentos mágicos e protetores.

O vestuário se insere no contexto social como principal ferramenta

de expressão individual e de comunicação com o mundo externo, e a moda,

utilizando-se da linguagem visual da vestimenta, segundo Catoira (2006, p.56),

“utiliza uma rede de sentidos, formas, imagens, signos e palavras que ficam

entre o objeto e seu usuário”. Não só o vestuário faz parte da linguagem

externa do corpo, da mensagem que queremos mostrar para o coletivo. As

decorações corporais, os adornos, acessórios e pinturas também têm sua

relevante participação na busca pela identidade e diferenciação dos “outros”.

O que vestimos e como vestimos ajuda a expressar individualidade; é uma forma visual de liberdade de expressão. A roupa pode associar quem a veste a um grupo específico com idéias, gostos, origens culturas e religiões semelhantes. Civilizações antigas e culturas da Ásia, da África e das Américas praticavam formas de adorno como tatuagem, body piercing e pintura corporal, além de vestir peles e plumagens de animais para expressar individualidade, associação e status. (MATHARU, 2011, p. 8)

Page 40: BOLHA SONORA: A moda da cena eletrônica e suas raízes na contracultura

40

Segundo Castilho (2004, p. 74), “O caráter mágico das decorações

corpóreas constitui a primeira motivação discursiva na qual o corpo é posto

como suporte de elementos simbólicos de caráter protetivo ou mágico”, ou

seja, a decoração corpórea constitui uma lembrança das origens tribais e dos

seus rituais sagrados. Tatuagens, piercings e pinturas corporais foram os

adornos mais adotados pela juventude neste cenário.

A prática da pintura corporal, segundo Castilho (2004, p. 77),

“contribui também para tornar o ser humano dessemelhante de si mesmo,

estabelecendo ritualmente comunicação com o heterogêneo”, numa tentativa

de atribuir ao corpo humano valores e crenças de povos antigos,

principalmente das tribos indígenas. Durante muitos eventos de música

eletrônica, é oferecido um serviço de pintura corporal, onde os participantes

podem ir à uma determinada tenda e receber pinturas semelhantes à de tribos

sagradas. A prática é uma tentativa de aproximação com o primitivo, pois,

como explica Castilho (2004, p.76), “a presença de traços distintivos

desencadeia essa transferência de valores, e o sincretismo de elementos faz-

nos pensar na convivência” com a nossa e com outras espécies.

3.1: Jovem sendo pintada no rosto durante a celebração Ziohm, ocorrida na Lagoa do Banana-Cumbuco, em 20/10/2012. Foto: Camilla AlbanoFonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=460468633995876&set=pb.209994839043258.-2207520000.1351110195&type=3&src=https%3A%2F%2Ffbcdn-sphotos-g-a.akamaihd.net%2

Em paralelo a isso, os freqüentadores dividem o corpo com

tatuagens e piercings. A dimensão do sagrado ganha seriedade e

comprometimento a partir do momento em que o indivíduo marca seu corpo,

Page 41: BOLHA SONORA: A moda da cena eletrônica e suas raízes na contracultura

41

seu templo, com desenhos definitivos. Segundo o site Whiplash8, a prática da

tatuagem existe há mais de 3500 anos, onde indivíduos de uma mesma tribo

costumavam marcar seus corpos com representações sociais e religiosas.

Hoje, o ato de se tatuar tornou-se arte, apesar do apelo estético, e significa

externalizar seus pensamentos, desejos, gostos e personalidade, exaltando a

individualidade.

Há diversas maneiras e ferramentas utilizadas ao longo dos anos

para fazer uma tatuagem. A mistura de cores, a infinita possibilidade de

desenhos, traços e formas, a aproximação com o que ou quem lhe faz falta, a

representação de valores e símbolos e os inúmeros significados de uma

tatuagem são fatores que mais encantam os praticantes dessa arte.

Assim como as decorações corporais, para Castilho (2004, p. 76), a

roupa é entendida como “revestimento e decoração estética, coloca o corpo

diante de uma possibilidade de representação que se funda e se estrutura em

diferentes objetos na busca de dotá-lo de uma significação”. Para Garcia e

Miranda (2005, p. 14), “as roupas dançam nos cabides e depois envolvem os

corpos humanos num balé que aproxima, afasta e se recria todos os dias para

embalar nosso modo de vida em direção ao futuro”.

O ato de se vestir todos os dias define como os indivíduos vão

apresentar-se para o mundo, seja para distinguir-se ou para assemelhar-se ao

público do cenário que habita. Para Garcia e Miranda (2005, p. 18),

moda é o conjunto atualizável dos modos de visibilidade que os seres humanos assumem em seu vestir com o intuito de gerenciar a aparência, mantendo-a ou alterando-a por meio de seus próprios corpos, dos adornos adicionados a eles e da atitude que integra ambos pela gestualidade, de forma a produzir sentido e assim interagir com o outro.

O corpo, para Garcia e Miranda (2005, p. 78), “procura divulgar

aspectos e características do que somos, do que podemos vir a ser, segundo o

que é valorizado diante de determinado grupo social”, caracterizando o corpo

como nossa “mídia primária”. A moda, o vestuário, vista como “mída

secundária”, representa no contexto as informações não-verbais que queremos

transmitir, através de simbologias que passam uma mensagem do emissor ao

receptor.

8 Acessado em 20 de outubro de 2012. http://whiplash.net/materias/biografias/000117.html

Page 42: BOLHA SONORA: A moda da cena eletrônica e suas raízes na contracultura

42

3.1 – O jovem na era globalizada

O ambiente influencia de todos os aspectos o modo de vestir do

indivíduo, bem como as pessoas que o rondam. Para Garcia e Miranda (2005,

p. 20), “o comportamento das pessoas em geral é freqüentemente afetado por

aqueles com quem convivem e pode ser influenciado por vários grupos”,

principalmente aqueles que o indivíduo possui um contato direto, diariamente.

Segundo Catoira (2006, p. 109), a necessidade de fazer parte de um grupo, de

uma tribo, está presente em todos os indivíduos, e “dentro de uma grande tribo,

a moda é uma arma comunicativa do grupo, é seu símbolo, seu emblema e seu

hino”.

O jovem da era globalizada, com todo o bombardeio de informações

e idéias a todo instante, sente a necessidade de encaixar-se cada vez mais em

diferentes tribos, conectar-se com diferentes pessoas e viver diferentes

realidades, todas ao mesmo tempo, transcendendo identidades e atitudes. O

consumo globalizado permitiu que as pessoas pudessem conectar-se com

velocidade, fazendo desaparecer barreiras sociais, culturais e geográficas.

Hoje, qualquer individuo é livre para compartilhar idéias,

experiências e sentimentos com outro ser humano de todos os lugares do

mundo. A devastadora onda de informações absorvida diariamente pela

geração Y permite que os indivíduos possam ministrar diversos assuntos

diferentes e expressar sua personalidade dentro de diversas tribos.

Figura 3.2: Exemplo de jovens da geraçãoY conectados ao mundo a todo instante através do celular e das redes sociais.

Fonte: http://www.csulb.edu/divisions/students2/intouch/archives/2007-08/vol16_no1/01.htm

Page 43: BOLHA SONORA: A moda da cena eletrônica e suas raízes na contracultura

43

Segundo Quaresma (2005, p.86), estamos vivendo um novo

paragidma cultural, e nele “o mundo estaria entrando numa fase tribal, uma

volta a valores que a modernidade julgava enterrados. Na pós-modernidade, os

homens estariam adotando um ponto de vista mais emotivo em relação ao

mundo. Eles estariam dando lugar ao prazer e à emoção, resgatando uma

sensibilidade diferente entre as novas gerações”. É nesse contexto que o

filósofo Maffesoli propõe que esse novo paradigma substitua o antigo, que

pregava o individualismo, chamando essa nova fase de tribalismo pós-moderno

ou neotribalismo.

O neotribalismo se encaixa neste cenário por possuir como

característica uma nova forma de coletivismo de caráter emocional, onde os

indivíduos, segundo Maffesoli (apud Escher, 2010) reúnem-se para

compartilhar de interesses e paixões em comum, sem nenhum outro objetivo. A

necessidade de encontrar semelhança no coletivo para suas características

individuais tornou-se uma das principais engrenagens para o despertar da

juventude globalizada. As festas de música eletrônica, por terem em sua

essência a busca do prazer individual através do transe coletivo, surgiram

como resposta para essa sociedade insaciável de experiências, cultura,

conhecimento.

Vivemos num mundo onde nunca estamos sozinhos, pois as memórias coletivas estabelecem uma relação entre o grupo e o indivíduo – um pensamento pessoal é aquele que segue a inclinação de um pensamento coletivo (da agregação social). São essas memórias que descrevem o sistema simbólico e o mecanismo social, pois são reveladores para as ações e experiências individuais. (CATOIRA, 2006, p. 106)

Para Escher (2010, p.20), na “era pós-moderna, a moda se

centraliza na personalização. O individualismo surgido na modernidade agora é

um pouco diferenciado”, permitindo o distanciamento de caminhos pré-

estabelecidos e a livre escolha em relação aos valores da sociedade. O ser

humano agora busca criar um diferencial no seu modo de vestir para, assim,

pertencer à uma tribo, onde seus gostos e interesses são compartilhados.

O ciclo da moda como conhecíamos até os anos 60 passou por

inúmeras modificações devido ao nascimento do prêt-a-porter9 a juventude da 9 Termo francês que em português significa “pronto para vestir”, define a democratização e difusão da moda, através de uma produção em larga escala de produtos nas indústrias e um

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nova geração, que encontrou no vestuário uma das maiores fontes de

expressão social e cultural. As tendências, até o final da década de 40, eram

ditadas exclusivamente pelas grandes maisons e grifes de alta costura,

mostradas em desfiles fechados para a classe alta, que por sua vez iam

chegando a massa consumidora através de revistas de moda e formadores de

opinião, chegando somente depois um longo tempo nas ruas. Esse fenômeno

ficou conhecido como trickle-down (gotejamento, em livre tradução).

Devido às revoluções socio-culturais ocorridas na década de 60,

esse conceito inverteu-se. O mundo agora voltava os olhos para a juventude

que ia as ruas e vestiam o seu estilo. A indústria da moda viu nisso uma grande

oportunidade e então surgiu o bubble-up, efeito contrário ao trickle-down: as

principais fontes de pesquisa e de inspiração vinham agora das ruas, da cultura

underground, das tribos urbanas e alternativas, sendo traduzidas em

tendências e depois disseminadas para a massa consumidora. Fátima Lopes,

em um artigo para o site Colméia Biz10, afirma que

cada vez mais os jovens têm o poder de definir aquilo que as antigas gerações irão consumir e consomem. A característica do adolescente de sempre procurar ser diferente e, ao mesmo tempo, precisar fazer parte de algum grupo, encontrar pensamentos, gostos e atitudes em comum com outros jovens, ganha ainda mais evidência com o avanço da tecnologia.  O espaço na Web veio para ser um meio de comunicação e socialização desses jovens; aquilo que antes só era visto na rua ganha um espaço virtual, gerando experiências em que a maneira de perceber o mundo e de se comunicar são afetados por aquilo que acontece dentro desse meio.

ciclo de vida menor de um produto de moda dentro de uma loja de departamento. 10 Site acessado em 29 de outubro de 2012, às 17:46. http://colmeia.biz/2012/06/jovens-no-consumo/

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Figura 3.3: Efeito bubble-up demonstrado numa pirâmide: a inversão das fontes de pesquisa de tendências. Fonte: http://lucianaduarte.org/2012/01/18/governo-federal-moda-etica-politica-nacional-de-residuos-solidos-logistica-reversa-mudanca-de-comportamento-do-consumidor/

Figura 3.4: Explicação em pirâmide do efeito trickle-down.

Fonte: http://lucianaduarte.org/tag/efeito-trickle-down/

Matharu (2011,p.78) diz que na era globalizada, todos os seres

humanos estão “cercados por uma cultura de mídia high-tech baseada em

imagens visuais e interativas. As revistas e internet são portais de fácil acesso

para o passado, presente e futuro; para diferentes culturas, movimentos e

personas”, influenciando quem somos e o que queremos ser e seguir.

3.2 – A realidade de Fortaleza

Em Fortaleza ainda há uma grande resistência quanto à raves

conceituais por conta da falta de conhecimento da cultura alternativa da maioria

do público; predominando assim, as festas comerciais. A diferença se dá

através do vestuário, do público freqüentador, da decoração e dos DJs.

Geralmente, em festas comerciais, a maioria dos freqüentadores, são públicos

de “primeira viagem”, indivíduos que nunca freqüentaram uma rave e no geral

não sabem muito sobre o conceito da celebração, estão apenas em busca do

gozo e da experiência com substâncias ilícitas.

Em festas comerciais, as atrações principais são, em sua maioria,

DJs que possuem seu trabalho conhecido na mídia por produzirem um som

Page 46: BOLHA SONORA: A moda da cena eletrônica e suas raízes na contracultura

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mais “aceitável” a diversos públicos, não se restringindo apenas aquela parcela

da população que segue a cultura da cena eletrônica. Nessas festas, os

freqüentadores se vestem com roupas de marca e possuem bastante cautela

quanto a sua aparência (o externo significa muito mais do que os valores

internos e os reais significados de uma celebração de música eletrônica).

Algumas mulheres chegam a usar salto alto como símbolo de status,

dificultando a liberdade de movimentos que a música busca conduzir. Não há

muita preocupação com a decoração, nem muitas referências às civilizações

antigas, o local é, em sua maioria, dentro da cidade – em barracas de praia,

como a Biruta, na Praia do Futuro, ou em mansões nas praias adjacentes -,

não existindo a conexão do individuo com a natureza e a terra, pois são locais

urbanos.

Segundo Chiaverini (2009, p.16), a maior parte desse grupo de

freqüentadores “não querem saber de religiões orientais e não pregam nada

além do culto ao corpo”. Em Fortaleza, festas realizadas por grandes

produtoras tendem a buscar apenas o lucro monetário, indo atrás de DJs

famosos que acabam tendo que vender sua real identidade de músico para

criar material comercial e, conseqüentemente, obter sucesso e fama. Músicos

como David Guetta, Astrix, Infected Mushroom, Felguk, Skazi, GMS, entre

outros, são exemplos de DJs considerados comerciais pela maioria dos

freqüentadores de raves conceituais.

Figura 3.5: Festa produzida pela Underground em 28/07/12, na barraca Biruta na Praia do Futuro: exemplo de festa de música eletrônica comercial. Quase não se vê decoração em

comparação às festas conceituais. Fonte: https://www.facebook.com/FestasdeFortaleza/photos_stream

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47

Em festas conceituais há toda a preocupação com a decoração. É

bastante comum os freqüentadores andarem descalços, dançando livremente,

sentindo a música e deixando levar-se pelas batidas, com roupas confortáveis

e leves. O DJ tem a permissão de experimentar os sons, as batidas e conduzir

o público num estado de transe coletivo, em sua maioria, sem nenhuma adição

de substâncias alucinógenas.

Ao contrário do que muitos, infelizmente, ainda pensam, a festa rave

não se resume apenas em drogas e música alta. Chiaverini (2009, p.15) diz em

depoimento ao seu livro que, durante um festival de música eletrônica, as

“pancadas surdas que massageiam cada célula dos corpos dançantes [...]

fazem a pista explodir em energia e pular eufórica, definitivamente

transformada em um único organismo pulsante” expandindo-se em gritos,

pulos, assobios e sorrisos. Segundo Chiaverini (2009, p.16), muitas festas

raves pequenas

procuram manter um clima semelhante ao dos primeiros eventos do tipo e se autodenominam rave “conceito”, os participantes que mais se destacam como grupo são os que usam tranças dreadlocks, roupas com tie-dye (técnica de pintura sobre tecido), ponchos, echarpes de crochê, braceletes de material orgânico e tudo aquilo que seus inspiradores, os hippies, achariam esteticamente agradável. Vêm as raves como uma filosofia de vida e boa parte deles é vegetariana, trata-se com medicina alternativa e se apropria de trechos de várias doutrinas religiosas – principalmente as orientais – para compor a sua própria crença.

Diante do exposto, o presente trabalho propõe uma análise do

vestuário e da estética corporal da cena eletrônica através de uma celebração

conceitual ocorrida no Iguape – Ceará, no dia 07 de setembro de 2012,

chamada de Entrance Aquarius.

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48

FIGURA 3.6: Flyer promocional da festa. Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=345026565579881&set=pb.122210221194851.-

2207520000.1352743436&type=3&src=https%3A%2F%

LINEUP 4: ANÁLISE ENTRANCE AQUARIUS 2012

O objetivo do presente trabalho foi analisar a influência da

contracultura, da cultura dos hippies, no vestuário da cena eletrônica atual,

através do método de observação e análise de imagens colhidas na celebração

Entrance Aquarius, ocorrida no dia 07 de setembro deste ano. Para Cidreira

(2008, p. 42),

a sobrevivência das formas, gostos e padrões das roupas só se justifica em função de uma inteligência de mercado que vislumbrou a possibilidade de transformar o estilo hippie [...] em uma moda. Produtos tais como o disco e a roupa refletiam toda uma realidade associada ao movimento hippie, através da adoção de certos valores e símbolos. Assim, um elemento colhido ao acaso pode ser transformado em peça de consumo, com o atrativo de uma identidade artificial subtraída aos símbolos de origem.

As fotos a seguir foram coletadas durante o período da festa, por

mim e por fotógrafos profissionais contratados do evento. De acordo com o

material coletado foi possível analisar a influência da cultura dos jovens da

geração Y no vestuário dos freqüentadores da Entrance.

Page 49: BOLHA SONORA: A moda da cena eletrônica e suas raízes na contracultura

49

Para tal atividade, foi determinada a análise a partir da divisão de

possíveis macro tendências dentro do evento, todas inspiradas diretamente na

contracultura e expostas nas fotografias. Os direitos de imagem dos

freqüentadores da festa são públicos a partir do seu ingresso no evento e os

registros foram livres e espontâneos.

4.1 - Estampas

Uma das tendências mais utilizadas pelos freqüentadores é a

camiseta de algodão estampadas com referências à cultura hindu. Ganesha e

Shiva são os deuses mais retratados.

Figura 4.1: Exemplos de estampa de imagens localizadas e referências hindus. Foto: Camilla Albano Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=445266088849464&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https%3A%2F%2Ffbcdn

Outras estampas também utilizadas são as florais, tie-dye,

camisetas com frases de efeito e desenhos localizados, neon, forte referência

aos clubbers, psicodélicas, elementos tribais, transparência, crochê, entre

outros.

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50

Figura 4.2 e 4.3: Estamparia tie-dye. Foto: ShotUp e Camilla Albano Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=350874948334446&set=a.350869585001649.83122.224689710952971&type=3&theater e https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=445286162180790&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https%3A%2F

Figura 4.4: Exemplo de camisa neon em referência aos clubbers. Foto: ShotUp Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=350872751667999&set=a.350869585001649.83122.224689710952971&type=3&theater

Também é comum o público feminino utilizar biquíni, por conta do

sol e do calor. A maior parte dos freqüentadores vai aos eventos portando

protetor solar e óculos escuros, aproximando ainda mais da realidade das

mulheres hippies, que muitas vezes usavam apenas biquínis ou nenhum traje

para ir às festas e encontros.

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Figura 4.5 e 4.6: Óculos escuros e Biquini. Fotos: ShotUp. Fonte:

https://www.facebook.com/media/set/?set=a.350869585001649.83122.224689710952971&type=3

As estampas com imagens divertidas estão, hoje, por todo lugar.

Brincadeiras, desenhos, frases de efeito e inspirações em elementos da cultura

pós-moderna fazem parte deste conjunto, atraindo o público jovem através da

relação emocional criada com a estampa. Isto está diretamente ligado à

questão de os jovens da contracultura tomarem a voz para si e “falarem”

através da roupa, expressarem-se pelo vestuário.

Figura 4.7: Camisa com a frase “Keep Calm e Chuta o Balde”, em referência à uma expressão da linguagem jovem. Foto: ShotUp. Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=350879025000705&set=a.350869585001649.83122.224689710952971&type=3&src=https%3A%2F%2Ffbcdn

Segundo Cidreira (2008, p. 41), “os hippies deixaram a marca de um

efervescer da juventude que se manifesta, sobretudo, nas formas, gostos e

padrões das roupas”.

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Figuras 4.8 e 4.9: Detalhes. Foto: ShotUp e Camilla Albano Fonte:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=350883518333589&set=a.350869585001649.83122.224689710952971&type=3&src=https

%3A%2F%2Ffbcdn-sphotos e https://www.facebook.com/photo.php?fbid=444431505599589&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https

%3A%2F%2Ffbcdn-sphotos-g

Os padrões tribais também fazem parte desta cultura, por trazer à

tona elementos de rituais místicos de civilizações antigas e misturá-los com o

turbilhão de cores do universo moderno, assim como o tradicional Yin-Yang da

cultura chinesa.

Figura 4.10: Foto: Camilla Albano Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=445267968849276&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https

%3A%2F%2Ffbcdn

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Figura 4.11: Yin-Yang estampa camisas e trás à tona referências da cultura antiga asiática.Foto: Camilla Albano Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=445288605513879&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https%3

A estampa floral tornou-se um dos principais elementos que compõem a

cena eletrônica. As diferentes padronagens de flores se fixaram no vestuário da

cultura alternativa jovem por remeter a um lugar tropical, à natureza e ao

frescor do sol e da flora.

Figura 4.12: A estampa floral é uma das mais utilizadas pelo público feminino. Foto: Camilla Albano Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=445266245516115&set=a.444430865599653.97214

4.2 – Calças, shorts e saias

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Há uma grande presença da calça saruel, comumente conhecida

como calça Aladim, inspiradas nas calças johdpur e dhoti, do vestuário africano

e do oriente médio. O patchwork, técnica de unir diferentes retalhos de tecidos,

formando uma única peça, também se assemelha ao trabalho manual dos

povos da contracultura, que utilizavam da técnica para confeccionar suas

roupas.

Dentre o vestuário, destacam-se também os shorts, saias e calças

jeans, normalmente surradas e desestruturadas, saias longas de tecido,

vestidos e túnicas, entre outros. O jeans é apresentado nesse contexto como o

principal elemento de conexão entre as culturas, por ter ganhado valor com os

jovens rebeldes dos anos 60 e por ter se fixado como a roupa da juventude.

Figura 4.13 e 4.14: Calças. Foto:Camilla Albano e ShotUp Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=445283312181075&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&theater e https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=350874948334446&set=a.350869585001649.83122.224689710952971&type=3&theater

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Figura 4.15: Vestido. Foto: Camilla Albano Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=445268155515924&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&

4.3 – Adornos e acessórios

Adornos corporais, como tatuagens e piercings, e acessórios que

fazem parte do universo feminino, como colares, pulseiras, óculos escuros,

anéis, sapatos e até objetos como guarda-chuvas e leques são elementos que

trazem uma carga cultural em abundância. Artesanatos e referências de

diversas civilizações predominam e destacam-se no meio da multidão

dançante. Guarda-chuva e leque como estes das fotos são oriundos da cultura

tradicional oriental, mostrando que existem muitas influências de diversas

culturas e civilizações no estilo dos frequentadores.

Figura 4.16 e 4.17: Elementos da cultura oriental. Foto: Camilla Albano. Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=445260312183375&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https%3A%2F%2Ffbcdn-sphotos e https://www.facebook.com/photo.php?

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fbid=445272385515501&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https%3A%2F%2F

As tatuagens (e também piercings) estão presentes entre os

participantes, muitas delas com inspirações de elementos da cultura hindu, de

símbolos místicos e sagrados, tribais e maoris11, como também com desenhos

da cultura moderna e pós-moderna. É uma arte milenar que transpõe tempo e

espaço e se manifesta de forma livre até os dias atuais.

Figura 4.18 e 4.19: Tatuagens. Foto: ShotUp e Camilla Albano Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=350874185001189&set=a.350869585001649.83122.224689710952971&type=3&src=https%3A%2F%2Ffbcdn e https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=445292235513516&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https%3A%2F%2Ffbcdn-sphotos

O óculos escuro é, de acordo com nossa observação, o acessório

que mais está presente na festa. A grande maioria dos frequentadores utilizam

óculos durante a festa, desde o momento em que o sol nasce até a hora em

que ele se põe. Ele se apresenta nos seus mais diversos formatos, tamanhos e

cores.

11 Forma de representação da cultura da civilização Maori, que habita as Ilhas da Polinésia e da Nova Zelândia e possui a tatuagem como símbolo de uma identidade familiar, de poder e respeito. A prática de pintar o corpo representava muito mais do que apenas um adorno; era o estilo de vida daquela tribo.

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Figura 4.20 e 4.21: O sorriso das participantes. Fotos: Camilla Albano Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=445273358848737&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https%3A%2F%2F e https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=445279002181506&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&permPage=1

Adornos como chapéus e máscaras fazem referência a um mundo

de fantasia onde seres mágicos existem – alusão às sensações provocadas

pelo LSD – e realidades paralelas que estimulam o imaginário dos participantes

durante todo o evento, principalmente na decoração. Essa alusão ao mundo de

fantasia, criado ou não pelo consumo de entorpecentes, parte de uma

referência das vivências do movimento hippie, que acreditava que dessa forma

eles conseguiriam se conectar de forma mais verdadeira à natureza e a vida

como um todo.

Figura 4.22: Chapéu de Gnomo. Foto: Camilla Albano Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=445280575514682&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https%3A%2

Momento de descontração de participantes da festa com atenção

para os acessórios e o detalhe de crochê, um dos artifícios do vestuário dos

hippies na década de 70, na roupa da garota da direita.

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Figura 4.23: Momento de distração. Foto: ShotUp fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=350878938334047&set=a.350869585001649.83122.224689710952971&type=3&src

4.4 – Cabelos

O dreadlock é símbolo da cultura rastafári e sobrevive até os dias de

hoje por conta da sua simbologia, que foge dos padrões de beleza adotados

pela sociedade conservadora. Há muitos significados para quem possui

dreadlocks, ou simplesmente “rasta”: de razões religiosas e espirituais a

demonstrações de orgulho da diversidade étnica, ou simplesmente uma opção

de beleza.

Figura 4.24 e 4.25: Fotos: Camilla Albano Fonte: https://www.facebook.com/media/set/?set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type

Figura 4.26 e 4.27: Foto: ShotUp fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=350897164998891&set=a.350869585001649.83122.224689710952971&type=3&src=https

%3A%2F%2Ffbcdn-sphotos-c-a.akamaihd.net% e https://www.facebook.com/photo.php?fbid=350870425001565&set=a.350869585001649.83122.224689710952971&type=3&src=https

%3A%2F%2Ffbcdn-sphotos-a-a.akamaihd.net%2Fh

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Apesar dos dreads destacarem-se em meio à multidão que pula e

vibra a cada virada do som, encontramos também cabelos soltos,

emaranhados, assanhados, lisos e de todas as cores, resgatando uma das

principais características do estilo hippie da década de 60, que nadou contra a

maré quando preferiu os cabelos soltos a milimetricamente penteados.

Figura 4.28 e 4.29: Cabelos soltos. Foto: ShotUp e Camilla Albano. Fonte:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=350870195001588&set=a.350869585001649.83122.224689710952971&type=3&src=https

%3A%2F%2Ffbcdn e https://www.facebook.com/photo.php?fbid=445265968849476&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&permPag

e=1

Figura 4.30: Cabelos. Foto: Camilla Albano Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=445260592183347&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https

%3A%2F%2Ffbcdn-sphotos-b-a.akamaihd.net%2Fhphotos

É possível ver também turbantes, em referência à cultura árabe, bonés e

chapéus para proteger do sol do meio dia, mostrando mais uma vez a

influência de culturas e costumes de diversas partes.

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Figura 4.31 e 4.32: Proteção à cabeça. Foto: Camilla Albano e ShotUp. Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=445262078849865&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https%3A%2F%2Ffbcdn-sphotos-f-a.akamaihd.net%2 e https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=350870045001603&set=a.350869585001649.83122.224689710952971

4.5- Decoração

A decoração da Entrance segue os padrões das decorações de festa

conceito: recheada de elementos de culturas orientais, de religiões como a

hindu, de referências tribais, da conexão com a natureza, entre outros, além

das diversas manifestações artísticas que ocorreram durante o evento:

exposição de fotos de fotógrafos nacionais e internacionais, mostra de produtos

da Imagine Utopia, loja conceito de produtos naturais e artesanatos.

Figura 4.33: Estátua de uma deusa da religião hindu em cima do palco: para abençoar o solo sagrado da dança. Foto: Camilla Albano. Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=444431172266289&set=a.444430865599653.97214.209994839043258

As imagens clicadas por uma das mais talentosas fotógrafas

brasileiras, Camilla Albano, estava em exposição durante o evento em uma

tenda do lado contrário ao palco, para quem quisesse apreciar seu trabalho.

Dentre as fotos, registros de crianças indígenas e imagens do Alto Paraíso, em

Goiás.

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Figura 4.34: Exposição de fotografias da fotógrafa Camilla Albano. Foto: Camilla Albano. Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=444431222266284&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=https%3A

Figura 4.35: Amostra de produtos da loja conceito Imagine Utopia. Foto: Camilla Albano. Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=445273938848679&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&src=

Enquanto os DJs comandavam a pista principal com seus ritmos

alucinantes, a platéia dividia lugar com uma intervenção artística de palhaços

que brincavam com o imaginário criativo do público, fazendo uma brincadeira

com pirulitos. As intervenções são comuns em raves conceito, principalmente

nas edições da Entrance. As intervenções artísticas são praticadas em diversos

festivais e encontros desde a década de 60, e vão adaptando-se à realidade do

público freqüentador com o passar dos anos. Os palhaços fazem parte do

imaginário místico da juventude dos dias atuais, por remeterem à alegria, a

uma vida doce e colorida e sem preocupações.

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62

Figura 4.36: Palhaços. Foto: Camilla Albano. Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=445274572181949&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&0

Placas com mensagens positivas e de sabedoria são espalhadas

pela festa, numa tentativa de encher o local de sorrisos e felicidade. As frases

refletem o ideal da cultura alternativa e muitos dos valores que os jovens dessa

geração pós-modernista ainda cultivam.

Figura 4.37: O maior e mais puro ato praticado por toda a juventude da cultura alternativa. Foto: Camilla Albano. Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

fbid=445273718848701&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&theater

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Figura 4.38: Em relação à música eletrônica, que tem o poder de comunicar e transcender sentimentos e emoções sem uma letra. Foto: Camilla Albano. Fonte:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=445259865516753&set=a.444430865599653.97214.209994839043258&type=3&theater

LINEUP 5: CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como principal objetivo analisar a influência da

contracultura e da cultura alternativa na moda da cena eletrônica, através da

análise de registros fotográficos da festa Entrance Aquarius, em Fortaleza, e

através do traçado histórico da cultura hippie e suas contribuições para a

formação do indivíduo e sua personalidade.

Diante das observações e análises, foi-se constatado que a

vestimenta dos indivíduos que freqüentam raves, principalmente em Fortaleza,

sofre uma influência direta da cultura dos povos alternativos, bem como de

seus costumes, tradições e religiões. Os dados e informações foram colhidos

por mim durante visita a festas rave, com foco na Entrance Aquarius, ocorrida

em setembro de 2012.

Da busca de caráter exploratório, pode-se concluir que os

freqüentadores de raves conceito, aquelas que mantêm uma relação com

culturas antigas, encontram no ambiente da festa um espaço social para

identificar-se com sua tribo através de seus gostos e expressões, em busca de

um transe coletivo e de transcendência espiritual.

O corpo é a expressão da nossa cultura individual, tornando único à

maneira que o individuo utiliza as cores, as formas e as texturas, e por mais

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que haja uma uniformização dos elementos do vestuário, o corpo, e a maneira

como a cultura pode ser incorporada e ele, é o elemento que diferencia cada

ser humano, ainda que da mesma tribo, por isso o estudo deste trabalho focou

em compreender o comportamento do individuo na sociedade pós-moderna e a

maneira como a juventude externiza seus interesses e ambições. O estudo

também concluiu que o vestuário pode ser entendido como um processo

comunicativo que documenta e estrutura novos padrões e tradições de uma

determinada cultura.

Através de um paralelo entre as chamadas “raves conceito” e as

festas de música eletrônica, chamadas de “festas comerciais”, pode-se concluir

que, em Fortaleza, ainda há um grande conflito de significados e que é preciso

mais informação para o público.

A análise de imagens coletadas durante a festa permitiu a criação de

um traçado onde podem ser vistas macro tendências dentro da cena eletrônica,

como estampas, modelagens, formas e cores, além de um ambiente onde se é

possível encontrar afeição social. O conceito PLUR, de paz, amor, união e

respeito é bastante praticado dentre os indivíduos que se associam a esta

cultura alternativa e que encontram no próximo virtudes que se assemelham

com suas próprias.

A festa rave pode ser vista como o ambiente em que os jovens

metropolitanos, da geração Y, encontraram a oportunidade de escapar da

rotina do mundo globalizado para um mundo sem regras, de liberdade de

expressão e de vida em comunidade. Elas podem ser consideradas reflexo das

modificações culturais da década de 60 e 70 principalmente pelas

manifestações rebeldes que romperam com os valores da sociedade vigente.

Por fim, é possível concluir que o modo de vestir da geração

freqüentadora da comunidade eletrônica é diretamente influenciado pelo

movimento hippie, pela contracultura, por elementos da cultura oriental e

principalmente pela religião hindu, devido ao ritmo “trance” ter suas origens em

Goa, na Índia. Através desses símbolos, elementos tribais, da natureza, de

referências místicas e de novas configurações sociais é possível encontrar, no

solo sagrado da dança, embalado ao ritmo do bumbo eletrônico e de mantras

religiosos, a verdadeira transcendência espiritual coletiva, em busca da paz

interior e da conexão emocional de seu universo individual com o cosmo social.

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