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Boletim_n26_Território Quilombola, terra de direitoTRANSCRIPT
1 - Outubro de 2011
25EDIÇ
ÃO 26 ORÇAMENTO E POLÍTICA AMBIENTAL
Publicação do Instituto deEstudos Socioeconômicos - INESC
Ano X - Outubro de 2011
E D I T O R I A L
Território Quilombola,terra de direito
O reconhecimento e a regularização das terras e territórios das comu-nidades remanescentes de quilombos é um tema de abrangência nacional, mas que adquire importância vital na Amazônia.
Ai, os povos e comunidades tradicionais estão sendo duramente afetados pelas disputas por controle da terra e dos recursos na-turais. De outro lado, o Estado não tem sido capaz de garantir a efetivação do direito à terra dessas comunidades.
Neste boletim, vamos mostrar que, entre 1995 e 2010, não obstante a Fundação Cultural Palmares (FCP) ter certificado 1.711 comunidades locais como comunidade remanescente de quilombo, somente 189 tiveram suas terras reconhecidas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Na região Norte, 604 comunidades quilombola foram cer-tificadas até 30/08/2011. Destas, 531 na Amazônia Oriental e 73 na Amazônia Ocidental. Contudo, a titulação das terras não andou no mesmo ritmo: somente 55 territórios quilombolas foram titulados entre 2003 e 30 de agosto de 2011.
Há, portanto, uma dupla omissão do Estado: a primeira é atuar com morosidade na titulação das terras quilombolas; a segunda é faltar com iniciativa para solucionar o pro-blema da cobrança indevida do Imposto Territorial Rural (ITR) sobre as terras coletivas tituladas. Além de atentar contra os direitos humanos, isso, no nosso entendi-mento, vai de encontro aos valores e ao discurso que sustentam, por exemplo, o Plano Brasil Sem Miséria.
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Disponível em:www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/2003/D4887.htm
Decreto No. 6.261, de 20 de novembro de 2007.
* Ricardo Verdum, 51, doutor em antropologia pela Universidade de Brasília (UnB) é assessor político do Instituto de Estudos Socioeconômi-cos (Inesc). [email protected]
Território quilombola, terra de direitoPor Ricardo Verdum*
Nos últimos sete anos, a ação política do Estado brasileiro de re-conhecimento das territorialidades quilombola e a titulação das terras das comunidades constituídas por população negra rural e
urbana ficaram bastante aquém das expectativas geradas com a publicação do Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003.1
Fruto de muita luta e pressão de lideranças, organizações e do movi-mento quilombola sobre o Estado nacional, esse decreto estabeleceu e regu-lamentou o procedimento de titulação das terras ocupadas por comunidades autodeclaradas remanescentes de quilombos. Um direito assegurado pela Constituição Federal de 1988, no artigo 68 do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT):
Com o Decreto 4883/03, ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por intermédio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), foi dada a competência para delimitar as terras dos remanescentes das comunidades dos quilombos, bem como sua demarcação e titulação. Menos de quatro meses depois, em 12 de março de 2004, o Governo Federal lançou o Programa Brasil Quilombola (PBQ), uma política de Estado destinada às popu-lações remanescentes de quilombos certificadas pela Fundação Cultural Palma-res (FCP). A Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas (CONAQ) estima que hoje o número de comunidades ultrapasse 5 mil.
Em novembro de 2007 o Governo Federal lançou a denominada Agenda Social Quilombola (ASQ), tendo como objetivo “articular as ações existentes no âmbito do Governo Federal destinadas às comunidades remanescentes de quilombo”. A Agenda compreende ações voltadas ao acesso a terra; à infraestru-tura e à qualidade de vida; à inclusão produtiva e ao desenvolvimento local; e à cidadania. Visa prioritariamente as comunidades com “índices significativos de violência, baixa escolaridade e em situação de vulnerabilidade social”.2
Com um orçamento total de R$ 2,003 bilhões para o período 2008-2011. Para ações relacionadas ao acesso à terra foi estimado um gasto de R$ 300,282 milhões. Deste valor, R$ 35,600 milhões são destinados à ação de Reconhecimento, demarcação e titulação da terra; e cerca de R$ 264,682 milhões à ação de Pagamento de indenizações aos ocupantes das terras demar-cadas e tituladas. Foi estabelecido como metas a produção de 713 Relatórios Técnicos de Identificação e Delimitação (RTIDs) e uma área total titulada e indenizada de 2.580.00 hectares.
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A fonte dos dados é o INCRA, refle-tindo a situação em 28/08/2011.
O orçamento e o gasto do Governo Federal relativo à população
quilombola e afro-descendente, no período de 2004 a 2009, são analisados pelo INESC nas Notas Técnicas No. 126, 139 e 168, e
no boletim Orçamento e Políticas Socioambientais No. 13. Disponível
em: www.inesc.org.br
Relativo ao mesmo período, o Plano Plurianual (PPA) 2008-2011 previu como meta a titulação de 264 territórios quilombolas, dos quais 198 somente entre 2008-2010.
Entre 1995-2010, de um total de 3.524 comunidades quilombolas ma-peadas pela FCP, somente 189 tiveram suas terras reconhecidas por meio de 120 títulos de terra.3 E pior, as que tiveram esse direito confirmado estão hoje sendo constrangidas ao pagamento do Imposto Territorial Rural (ITR). Diante dessa situação, várias estão sob ameaça de perder a terra, único bem e base do sustento das famílias, por impossibilidade material e financeira de atender à exigência. Há, portanto, uma dupla omissão do Estado brasileiro em relação às comunidades quilombolas: a primeira é atuar com morosidade na titulação das terras quilombolas; a segunda é a falta de iniciativa demonstrada até esse momento para solucionar o problema do ITR.
Nos três primeiros anos de implementação da ASQ, foram emitidos apenas 36 títulos de terra, um número bastante aquém da meta estabelecida em 2007.
Os dados sobre a execução orçamentária do Governo Federal em 2010 mostram que aproximadamente R$ 5,449 milhões deixaram de ser aplicados no reconhecimento, demarcação e titulação de áreas remanescentes de quilombo. Dos R$ 43,559 milhões autorizados para serem utilizados na indenização de ocupantes de terras demarcadas e tituladas, somente 59,4% foram efetivamente utilizados. Isso ocorre apesar de haver 1.076 processos administrativos abertos no período até 28/08/2011.4
Esse é um fato incontornável. Há indiscutivelmente uma dívida, um passivo que vem das duas últimas gestões, que não se tem claro ainda como será tratada pelo Governo Dilma Rousseff. Não se conhece ainda nem o nível de prioridade, nem de comprometimento de recurso público com a efetivação do direito a terra.
Por outro lado, estamos num momento interessante para, se não resolver, ao menos dar um encaminhamento para algumas dessas questões. O ano de 2011 é último ano de execução do Plano Plurianual 2008-2011. Este é também o ano de concepção e aprovação de um novo Plano, o PPA 2012-2015 e de definição do orçamento para 2012. Portanto, é um momento privilegiado para fazer avançar a efetivação dos direitos da população negra, rural e urbana e, em particular, das comunidades quilombola. Um momento de incidência política e também de demonstração de compromisso com sua realização progressiva .
A REALIZAÇÃO DO DIREITO E O RISCO DE RETROCESSO
A noção de realização progressiva é no geral entendida como uma forma simplificada de descrever um dos aspectos essenciais dentre as obrigações dos estados nacionais na promoção dos direitos humanos. Ela pode ser descrita em essência como a obrigação do Estado de: (1) adotar todas as medidas pertinentes para a aplicação ou plena realização dos direitos humanos, sociais, econômicos, culturais, ambientais, civis e políticos do conjunto da população sobre sua res-ponsabilidade; (2) fazê-lo utilizando o máximo dos recursos disponíveis.
Isso significa que o Estado deve esforçar-se para desenhar políticas ade-quadas a esse fim e garantir os recursos finananceiros – mas não somente - ne-
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Em 30 de julho de 2011, no estado de Sergipe há 20 comunidades rema-nescentes de quilombos certificadas pela a Fundação Cultural Palmares
e cerca de 38 em fase final de reconhecimento.
cessários para implementá-las. Ao mesmo tempo, o Governo deve evitar in-vestimentos que vão de encontro ou que coloquem em risco os direitos e as necessidades básicas da população.
Assim como os direitos jamais estão assegurados, podendo haver desleixo na sua realização ou mesmo retrocessos. O máximo de recurso para política de demarcação e titulação das terras quilombolas é, e será sempre, o resultado de um conjunto de disputas, que ocorrrem em diferentes âmbitos, níveis e momen-tos no interior do Estado e da sociedade, algumas há muitas gerações.
Hoje mesmo as comunidades quilombolas correm risco de ver o processo de demarcação e titulação sofrer um brutal retrocesso.5 Isso pode ocorrer, por exemplo, se o Projeto de Decreto Legislativo nº 44/2007, de autoria do deputado federal Valdir Colatto (PMDB/SC), vier a ser aprovado pelo Congresso Nacional.
Esse projeto retira a efetividade do Artigo 68 do ADCT da Constituição Fe-deral de 1988 e susta o decreto presidencial nº 4.887, de 2003 – que regulamenta os procedimentos para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas. O deputado é também o autor do Projeto de Lei nº 5887/2009, que submete ao Con-gresso Nacional as desapropriações de imóveis rurais para fins de reforma agrária.
Iniciativa semelhante é o Decreto Legislativo (PDC) nº 2227/09, do depu-tado Luis Carlos Heinze (PP-RS), que busca sustar um decreto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva referente à desapropriação por interesse social, rejeita-do pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias no dia 17 de agosto passado. O decreto em questão, de novembro de 2009, prevê a desapropriação dos imóveis abrangidos pelo território quilombola Comunidade Rincão dos Martimianos, no município de Restinga Seca (RS). Ele também considera inconstitucional o De-creto 4.887/03. Conforme salientou o relator da proposta, o deputado Chico Alen-car (PSOL-RJ), a diminuição do território e a falta de oportunidades de emprego têm levado alguns quilombolas a deixar sua região na busca de alternativas de vida. O que salva a situação é que os laços de pertencimento não se desfazem não obstante a pressão local e a morosidade no processo de demarcação e titulação.
As comunidades que não tiverem o direito aos seus territórios formalmen-te reconhecidos pelo Estado brasileiro ficarão em situação difícil. A perda do controle sobre os territórios que ocupam e os recursos naturais neles existente impactará diretamente nas condições alimentares e de saúde, na autonomia cultural e na base da economia comunitária, inclusive nas condições de gera-ção de renda para atender às necessidades familiares e comunitárias. Também ficariam sem o direito ao apoio das políticas específicas de promoção de saúde, educação, gestão territorial e ambiental. As comunidades passariam a ter que se apoiar, ainda mais, nas políticas assistenciais, disputando espaço com o res-tante da população em situação de desigualdade. Ficaria a mercê e refém da politicagem local, da discriminação e do racismo em maiores proporções.
Um exemplo recente é o conflito agrário envolvendo os quilombolas de Brejão dos Negros em Sergipe, a 160 km de Aracajú, próximo à foz do rio São Francisco.6 A situação de conflito na região se acirrou em 2010 com o início dos trabalhos de demarcação do território da Comunidade Quilombola da Resina. Com aproximadamente 174 hectares, a área é parte de duas fazendas desa-
A legislação referente à regulariza-ção de territórios quilombolas está disponível na internet, no seguinte endereço: www.incra.gov.br/portal/images/arquivos/legislacao_quilom-
bola_condensada.pdf
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Maurício Paixão é assessor de Direitos Étnicos, Povos e Comuni-dades Tradicionais do Centro de
Cultura Negra do Maranhão (CCN/MA) e membro do Fórum em Defe-sa do Território Étnico de Alcântara.
O texto de onde foram extraídas as citações está disponível em:
http://ponteaereasl.files.wordpress.com/2011/08/ii-encontro-das--comunidades-quilombolas-de-
-alcc3a2ntara.pdf
Segundo informa o INCRA, além dos membros da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo (CNVC), que reúne representantes
da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, do
Ministério da Justiça e da Ouvidoria Agrária Nacional, participaram dessa reunião representantes
da Prefeitura Municipal de Brejo Grande, das Polícias Civil e Militar de Sergipe, da Secretaria Estadual de Direitos Humanos, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Portaria que institui a CNVC: http://sistemas.mda.gov.br/arquivos/Porta-
ria_Interministerial_N_1.053.pdf
propriadas por se tratar de terra da União. A principal atividade econômica da comunidade é o extrativismo de côco e mariscos, oriundos da área de manguezal - objeto de grande cobiça.
Contrariados, antigos posseiros e pescadores que atuam na região são apontados pela comunidade como sendo os principais responsáveis pelas amea-ças que vem sofrendo. Os técnicos do INCRA são cotidianamente intimidados e o antropólogo responsável pelos estudos delimitatórios foi levado a pedir demis-são da função. Na tarde de 31 de julho, munidos de um trator, foices, pedaços de madeira e facões, aproximadamente 50 homens destruíram mais da metade da cerca que protege a área de 174 hectares do território da Comunidade Qui-lombola da Resina.
A comunidade reivindica a reinstalação da cerca que delimita seu territó-rio e o aumento do efetivo de policiais militares na região. Os habitantes pedem ainda que haja mais agilidade no inquérito movido pela Polícia Federal, que investiga a derrubada das cercas e a invasão da área ocupada pelas famílias quilombolas. A Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo (CNVC) esteve na região no último dia 25 de agosto, saindo dali com um conjunto de solicitações de medidas a serem encaminhadas ao governo estadual e federal.7
Na região de Alcântara, próximo de São Luís no Maranhão, os quilombo-las lutam pela titulação das terras que ocupam desde o século XVIII. Nos anos de 1980, aos obstáculos históricos se somou a instalação, e posterior ampliação, do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), ligado ao Ministério da Aeronáu-tica. Desde então, eles vêm sofrendo deslocamentos compulsórios, administra-dos pela Aeronáutica, de seus povoados de origem para as agrovilas, onde estão sujeitos a uma série de limitações. Em decorrência desse projeto, diz Maurício Paixão, um total de “312 famílias de 31 povoados tiveram de abandonar suas terras, estabelecendo-se em agrovilas entre 1986 e 1987, localizadas a vários quilômetros da costa marítima: Peru (ou Novo Peru), Pepital, Cajueiro, Ponta Seca, Só Assim, Marudá e Espera”.8 Ali, continua Maurício, “os moradores das agrovilas enfrentam dificuldades para garantir sua subsistência. As áreas são pequenas, têm solo impróprio para agricultura e localizam-se longe do mar, tornando difícil manter a pesca como uma atividade cotidiana”. Decorre disso o êxodo rural, muitos indivíduos e famílias têm preferido ir morar nas periferias de Alcântara e São Luís, em favelas e palafitas. Hoje, o processo para regulari-zação do território de Alcântara tramita no INCRA.
Ainda no Maranhão, no município de Itapecuru-Mirim, há o caso das ter-ras reivindicadas pela comunidade quilombola Outeiro dos Nogueiras. Segun-do informa o MPF/MA, o INCRA moveu ação de desapropriação por interesse social em 1986, requerendo a posse das terras. De lá para cá, a proprietária do terreno não só permaneceu no local, como expandiu a ocupação da área sobre os limites de um projeto de assentamento implantado pelo Governo Federal.
A ocupação irregular por tanto tempo só foi possível porque o INCRA se omitiu em entrar na área que foi desapropriada e paga e não tomou providências para tornar concreta a sua posse e retirar os ex-proprietários. A omissão acabou resultando em conflitos entre as famílias da comunidade e os particulares que se recusam a abandonar as terras.
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Em agosto passado, o Ministério Público Federal do Maranhão (MPF/MA) obteve decisão favorável na Justiça, em ação civil pública que pede a deso-cupação de imóvel reivindicado pela comunidade, a Gleba Entroncamento. A decisão determina que os particulares que ainda ocupam as terras, mesmo após o ato de desapropriação do imóvel, deixem o local em, no máximo, 30 dias. A Justiça também decidiu que o INCRA deve efetivar a posse do imóvel desapro-priado em favor da comunidade até que seja concluído o processo de titulação e expedida uma sentença definitiva.9
Como se vê, na prática, a realização progressiva do direito dos quilombo-las às terras e ao território é um processo complexo. Há conflitos envolvendo atores sociais e instâncias de decisão em diferentes níveis, do espaço da vida cotidiana das comunidades locais às instâncias superiores de governança insti-tucional - nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário dos governos estadual e federal. São espaços sociais e instâncias político-administrativas configuradas por concepções e relações históricas caracterizadas por assimetrias de poder.
Dessa forma, se não houver uma posição clara e coordenada do Estado Federal, articulando os diferentes níveis e setores de ação, persistirá a inse-gurança fundiária e a violência sobre a população quilombola como meio de despojá-la dos seus territórios e de desconstituir as comunidades. Continuará se agravando as incertezas do futuro e risco de retrocessos jurídicos no tocante ao acesso à terra e ao território.
A CERTIFICAÇÃO DA AUTODECLARAÇÃO
Autoreconhecer-se como uma comunidade remanescente de quilombo é uma manifestação de autodeterminação, mas não é ato suficientemente válido ao Estado para que ele ascenda até as políticas públicas destinadas especificamente à popula-ção quilombola. Para isso, a comunidade deve encaminhar uma declaração à Fun-dação Cultural Palmares, onde se identifica enquanto comunidade remanescente de quilombo. Após procedimento específico e, no caso do pleito e dos argumentos serem aceitos, o órgão estatal certificador, a Fundação Cultural Palmares (FCP), expede a denominada Certidão de Auto-reconhecimento em nome da comunidade.
O ato de certificação de remanescente de quilombo está amparado legal-mente na Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), aprovada pelo Congresso Nacional (Decreto Legislativo 143/2002) e promulga-da pelo Presidente da República (Decreto Nº 5.051/2004). Já o rito de certifi-cação está especificado na Portaria da Fundação Cultural Palmares Nº 98, de 26/11/2007. Segundo avaliação da Comissão Pró-Índio (CPI-SP), a certidão, além de se tornar obrigatória, passou a ser mais difícil de ser obtida: agora não basta a declaração da comunidade para a emissão da certidão, a FCP passou a exigir a apresentação de “relato sintético da trajetória comum do grupo” e a prever a realização de eventual “visita técnica à comunidade no intuito de obter informações e esclarecer possíveis dúvidas”.10
Obtida a certificação, estão criadas as condições de possibilidade para que a comunidade busque a regularização de seu território. De posse do docu-mento, a associação representativa da comunidade pode solicitar junto ao MDA/INCRA que seja dado início ao procedimento administrativo com a finalidade de identificar e titular seu território.
Informação disponível em: http://noticias.pgr.mpf.gov.br/noticias/
noticias-do-site/copy_of_indios-e--minorias/mpf-ma-garante-direitos--territoriais-a-comunidade-quilom-
bola-outeiro-dos-nogueiras
Ver Os Entraves da Titulação, disponível em: www.cpisp.org.br/
terras/html/por_que_as_titulacoes_nao_acontecem.aspx?PageID=21
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Segundo dados oficiais, nos últimos oito anos a Fundação Palmares certificou 1.711 comunidades locais como comunidade remanescente de quilombo, abrindo assim a possibilidade dessas comunidades pleitearem a regularização de seus terri-tórios pelo Estado. Esse número representa 48,55% das comunidades quilombolas mapeadas até o momento pela FCP. Só em 2010 foram emitidos 226 certificados.
A Região Nordeste é a região com maior número de comunidades reconhe-cidas como remanescente de quilombo: 1.075, ou 62,82% das 1.711 certificadas. Já na Região Sudeste foram emitidos, pela FCP, 241 certificados (ou 14,08%).
Na Amazônia, até 30/08/2011, foram certificadas 604 comunidades qui-lombola, o equivalente a 35% do total de certificados emitidos até essa data. Deste total, 531 foram na Amazônia Oriental e 73 na Amazônia Ocidental. O es-tado do Maranhão é o que apresenta o maior número de certificados, 381, segui-do do Pará, com 98. Na Amazônia Ocidental, o estado do Mato Grosso é o que apresenta maior número de comunidades certificadas, 65. Todavia, nenhuma comunidade foi certificada em Roraima e no Acre e somente uma comunidade no estado do Amazonas obteve o certificado.
Tabela 1 - Comunidades Quilombola certificadas pela Fundação Cultural Palmares entre 2004-2011*
Estado 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 Total
AL 1 14 27 1 3 8 10 0 64
AM 0 0 0 0 0 1 0 0 1
AP 1 11 2 0 0 7 4 0 25
BA 33 48 21 36 28 122 62 30 380
CE 2 7 3 1 2 7 5 2 29
ES 0 2 0 0 0 20 6 1 29
GO 0 0 3 3 3 9 3 1 22
MA 23 50 6 44 29 25 47 157 381
MG 10 21 7 16 12 41 29 9 145
MS 2 1 0 1 2 2 11 0 19
MT 0 2 1 0 5 1 56 0 65
PA 2 10 0 0 20 36 8 22 98
PB 2 2 4 3 1 14 7 1 34
PE 3 6 3 11 20 11 45 5 104
PI 0 4 5 0 2 22 7 2 42
PR 0 0 0 0 4 24 6 0 34
RJ 2 2 2 2 1 6 5 3 23
RN 1 3 2 0 5 6 2 2 21
RO 0 0 0 0 1 3 2 1 7
RS 2 33 7 6 9 15 5 9 86
SC 0 2 3 0 2 1 0 3 11
SE 5 0 0 0 1 8 4 2 20
SP 0 0 0 3 10 15 15 1 44
TO 0 8 3 1 0 13 1 1 27
TOTAL 89 226 99 128 160 417 340 252 1711
* Pesquisa realizada na página da FCP em 30/08/2011.
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Sobre a atual crise por que passa o INCRA e seus reflexos na não implementação da política de
reforma agrária, ver Gerson Teixeira, em “A Crise do Incra”, disponível
em: www.reformaagraria.net.
Fonte: INCRA-DFQ, dados atualiza-dos em 25/08/2011. Disponível em: www.incra.gov.br/portal/arquivos/
institucional/quilombolas/qua-dro_atual_da_politica2.pdf
A REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA
A obtenção do título da terra em nome da associação que legalmente re-presenta a comunidade quilombola é a última etapa de um rito que tem início com a abertura do processo administrativo no âmbito do INCRA. Com base na Instrução Normativa 57, do INCRA, de 20 de outubro de 2009, cabe às comuni-dades interessadas encaminhar à Superintendência Regional do INCRA do seu estado uma solicitação de abertura de procedimentos administrativos visando à regularização de seus territórios.
A abertura é seguida da elaboração de um relatório técnico de identi-ficação e delimitação (RTID), produzido por uma equipe multidisciplinar do INCRA, que tem por finalidade identificar e delimitar o território reivindicado pelos remanescentes da(s) comunidade(s) do(s) quilombo(s) demandante.
Esse relatório é publicado na forma de Edital por duas vezes consecutivas nos Diários Oficiais da União e do Estado, assim como afixado em mural da Pre-feitura. Em havendo contestações de particulares ou mesmo de outros órgãos governamentais, elas são analisadas e decisões são tomadas, podendo implicar, em alguns casos, a revisão dos limites da terra anteriormente definidos.
Resolvidas as pendências, o INCRA publica a Portaria de Reconhecimen-to do Território Quilombola no Diário Oficial da União e do Estado, reconhe-cendo e declarando os limites do território quilombola. Esse procedimento é seguido da publicação do decreto presidencial de Desapropriação por Interesse Social de todo o território. Finalmente, há o procedimento judicial de desapro-priação e indenização do(s) proprietário(s), seguido da desintrusão do território. A desintrusão é o último procedimento, e requisito, para a obtenção do título junto ao INCRA. Pela legislação atual, o título da terra não pode ser emitido sem a desintrusão prévia da terra.
Como se pode imaginar, essa sequência de atos e procedimentos é per-meada por tensão, resistências, disputas, conflitos, detalhes e exigências buro-cráticas a serem atendidas, contestações etc, o que pode levar a que a definitiva regularização de uma terra se arraste por vários anos.11 Os casos acima men-cionados oferecem alguns exemplos dos desafios que se interpõem no caminho da titulação de um território quilombola. Segundo dados do INCRA, a situação atual é a seguinte: 12
•1.076processos abertos em todas as SuperintendênciasRegionais, àexceção de Roraima, Marabá-PA e Acre;•137EditaisdeRelatórioTécnicodeIdentificaçãoeDelimitação(RTI-Ds) publicados, totalizando 1.559.631,3281 hectares em benefício de 19.098 famílias;•67PortariasdeReconhecimentodoTerritóriopublicadas, totalizando306.719,4802 hectares reconhecidos em benefício de 5.845 famílias;•41DecretosdeDesapropriaçãoporInteresseSocialpublicados,desa-propriando 467.041,5503 ha em benefício de 5.011 famílias.
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Os oito anos de Governo Lula da Silva - no tocante a titulação dos territórios quilombolas - são
analisados com mais detalhes por Roberto Rainha e Danilo Serejo Lo-pes em “A titulação dos territórios quilombolas: uma breve leitura dos oito anos de governo Lula”, artigo publicado no relatório intitulado Direitos Humanos no Brasil 2010,
da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos. Disponível em: http://br.boell.org/downloads/relatorio-
-DH-2010.pdf
Os dados oficiais informam que existem atualmente 120 títulos emitidos pelo INCRA ou por órgão estadual, dando forma legal a 108 territórios qui-lombolas. No total, são 987.935,9873 hectares, colocados a disposição de 189 comunidades e 11.918 famílias quilombolas. Os títulos emitidos entre 1995 e 2010 estão assim distribuídos:
Tabela 2: Títulos emitidos entre 1995 e 2010
PERÍODO 1995 a 2002 2003 a 2010
Títulos 45 75
Área (hectares) 755.321,1193 212.614,8680
Territórios 42 66
Comunidades 90 99
Famílias 6.771 5.147
Órgão expedidor FCP (13), FCP/INTERBA/CDA-BA (2), INCRA (6), ITERPA
(16), ITERMA (4), ITESP (3) e SEHAF-RJ (1). Destes, 2 títulos do ITERPA foram expedidos a partir de parceria (técnica e/ou financeira) com o INCRA/MDA
INCRA (15), INTERPI/INCRA (5), SPU (2), ITERPA (30), ITERMA (19), ITESP (3) e
IDATERRA-MS (1). Destes, 16 títulos do ITERPA e 14 do ITERMA foram expedidos a
partir de parceria (técnica e/ou financeira) com o INCRA/MDA.
Fonte: Coordenação Geral de Regularização de Territórios Quilombolas (DFQ/INCRA). Consulta realizada em 28/08/2011.
O quadro acima mostra que, embora no período 2003-2010 o número de títulos de terra emitidos (e de territórios constituídos) tenha sido maior em mais de 50% que nos oito anos anteriores, a área total em hectares destinada às comunidades quilombolas foi 3,6 vezes menor do que no período anterior. O número de famílias beneficiadas também foi menor em termos absolutos: foram 1.624 famílias a menos do que no período anterior.13
Os dados obtidos junto ao INCRA indicam que em 2010 foram emitidos 11 títulos de terra, para oito territórios quilombolas. Cinco títulos foram para cinco território localizados no estado do Pará, quatro para um único território no Rio Grande do Sul (Casca), um para Rondônia (Jesus) e um para São Paulo (Ivaporunduva). Cerca de 277 famílias foram beneficiadas com 17.034,48 hec-tares. Até agosto de 2011, nenhum título havia sido emitido.
Na Amazônia, o estado com maior número de titulações de terra no pe-ríodo de 2003 à 30 de agosto de 2011 foi o Pará, com 33 títulos; a ele segue o estado do Maranhão, com 19 títulos de terra. No total, 55 territórios quilombolas foram titulados nessa região no período.
A seguir, vamos passar em revista os dados do Orçamento Quilombola relativo ao período 2010-2011 (até agosto desse ano).
ORÇAMENTO QUILOMBOLA 2010-2011
O Orçamento Quilombola foi criado pelo INESC em 2004, a partir de uma análise do conjunto de programas e ações contidos no PPA 2004-2007 do Governo Federal. Desde então, foram produzidas três Notas Técnicas (no 126, 139 e 168) e um boletim Orçamento e Políticas Socioambientais (no 13) sobre o orçamento e o gasto efetivado em cada ano.14
As publicações produzidas pelo INESC estão disponíveis em: www.inesc.org.br. O orçamento temático Quilombola também está disponível
online na página do Siga Brasil, do Senado Federal: http://www9.senado.gov.br/portal/page/portal/
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10 - Outubro de 2011 ORÇAMENTO EPOLÍTICA AMBIENTAL
No período 2010-2011, o Orçamento Quilombola está composto de vinte e sete ações distribuídas em cinco programas. Dentre esses, o programa mais importante é sem dúvida o Brasil Quilombola, com nove ações. Além das ações de responsabilidade da Secretaria de Políticas de promoção da Igualdade Ra-cial (SEPPIR), é nesse programa que estão as ações que têm como objetivo promover a regularização dos territórios quilombolas.
Em 2010, às vinte e sete ações foi autorizado um orçamento de R$ 141,026 milhões, mas somente R$ 83,310 milhões foi efetivamente gasto (58,37%). Ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) coube 43,41% do orçamento autorizado, ou seja, R$ 61,229 milhões, dos quais foram gastos somente R$ 33,503 milhões (54,71%). Dos R$ 10 milhões destinados ao “reconhecimento, demarcação e titulação de áreas remanescentes de quilombo”, o INCRA gastou R$ 4,55 milhões (45,50%); e dos R$ 43,559 milhões para “indenizações aos ocupantes das terras demarcadas tituladas aos remanescentes de quilombos”, o INCRA utilizou cerca de R$ 25,875 milhões (59,40%). Com as duas ações destinadas à efetivação do direito dos quilombolas a terra, R$ 17,683 milhões deixaram de ser aplicados.
Em 2011, o orçamento inicialmente autorizado para as despesas dessas mesmas vinte e sete ações foi de R$ 144,141 milhões. Nas ações destinadas a resolução da problemática fundiária houve um corte orçamentário de aproxi-madamente R$ 43,58%, ou seja, o valor autorizado em 2011 ficou próximo do valor efetivamente gasto em 2010.
Nas ações de fomento e assistência técnica, o MDA deixou de utilizar cerca de R$ 4,592 milhões em 2010, utilizou apenas 40,12% dos R$ 7,670 milhões autorizados para esse ano. Para 2011, está orçada uma despesa de R$ 7,087 milhões, mas menos de 1% foi gasto até 30 de agosto.
Chama a atenção, ainda, o baixíssimo desempenho da SEPPIR na im-plementação da ação de “apoio a conselhos e organismos governamentais de promoção da igualdade racial”: dos R$ 10,400 milhões orçados em 2010, foram efetivamente gastos R$ 497.939 (4,87%).
É urgente serem tomadas as medidas necessárias para desobstruir o caminho para acelerar a regularização das ter-ras das comunidades remanescentes de quilombos. Isso inclui rever as legislações instituídas altamente permissivas e rentá-veis ao latifúndio, um problema que está mais além da simples luta por mais orçamento ao INCRA.
Como visto acima, o passivo é grande e, no ritmo como as coisas vão, serão necessárias algumas décadas só para regula-rizar as terras das mais de 3.500 comunidades quilombolas já mapeadas pela FCP. Além disso, a aprovação da Lei nº 11.952, de 25 de junho de 2009, que cria o Programa Terra Legal e dispõe sobre a regularização fundiária das ocupações incidentes em terras situ-adas em áreas da União, no âmbito da Amazônia Legal, amplia as ameaças aos direitos territoriais dos quilombolas.
É URGENTE SEREM TOMADAS AS
MEDIDAS NECESSÁRIAS PARA DE-SOBSTRUIR O CAMINHO PARA ACE-
LERAR A REGULARIZAÇÃO DAS
TERRAS DAS COMUNIDADES REMA-
NESCENTES DE QUILOMBOS. ISSO
INCLUI REVER AS LEGISLAÇÕES
INSTITUÍDAS ALTAMENTE PERMISSIVAS E
RENTÁVEIS AO LATIFÚNDIO, UM PROBLE-
MA QUE ESTÁ MAIS ALÉM DA SIMPLES
LUTA POR MAIS ORÇAMENTO AO INCRA.
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Tabela 3: Orçamento Quilombola - 2010 e 2011 (30 de Agosto de 2011)
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12 - Outubro de 2011 ORÇAMENTO EPOLÍTICA AMBIENTAL
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Garantir o direito à propriedade e posse das terras tradicionalmente ocu-padas e o direito de consulta livre, prévia e informada, conferido ao povo qui-lombola, cada vez que sejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de os afetar diretamente é necessário e urgente.
Como esperamos ter podido deixar claro, há um enorme passivo deixado pelas quatro últimas gestões no Governo Federal. O montante de recurso que deixou de ser aplicado na regularização fundiária, se empregado poderia não ter resolvido todos os casos pendentes, mas teria diminuído em muito o tama-nho do buraco existente entre a demanda de regularização e o que foi feito até este momento.
É um dever de Estado defender e promover os direitos humanos, tanto os individuais quanto os coletivos. Está prescrito em inúmeros tratados interna-cionais e nas leis e normativa nacionais. Assim, prover os meios de prevenir e evitar a degradação humana, a fome e a miséria, a precarização das condições de vida, a pobreza, e a falta de perspectiva e de alternativas, em sociedades como a brasileira, é fundamental e uma obrigação do Estado em todos os níveis.
Isso independente de cor da pele ou dos olhos, do grupo étnico de per-tencimento, de idade ou opção sexual, e da religião ou crença ideológica. Não é demais lembrar que, no Brasil, o racismo está na origem de muitas crenças, normas legais, procedimentos e institucionalidades ainda vigentes no país.
Por mais que arroubos de democratismo apareçam aqui e acolá, no tempo e no espaço, essas idéias e práticas acabam arrumando um jeitinho de retornar, algumas vezes com novas roupagens.
Daí o porquê da necessidade de haver na contramão uma ação políti-ca que vá na raiz da formulação dos programas e ações governamentais. Uma ação ampla, transversal, sistemática e continuada. Isso exige uma participação social informada, com capacidade de formulação e poder de pressão na hora do desenho das políticas, programas e ações governamentais, na distribuição do recurso financeiro e na sua real aplicação. Este ano, por ser época de ela-boração de um novo Plano Plurianual (2012-2015), é um momento em que se deve fazer um esforço extra no sentido da promoção e proteção dos direitos das comunidades quilombola.
Orçamento e Política Ambiental é uma publicação do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em par-ceria com o Climate and Land Use Alliance-CLUA, Instituto Heinrich Böll e Charles Stewart Mott Foundation. Tiragem 1,5 mil exemplares. INESC – End: SCS – Qd, 01, Bloco L – 13º andar - Cobertura – Ed. Márcia – CEP. 70.307-900 – Brasília/DF – Brasil – Tel: (61) 3212 0200 - Fax: (61) 3212-0216 – E-mail: [email protected] – Site: www.inesc.org.br. Conselho Diretor: Eva Teresinha Silveira Faleiros; Fernando Oliveira Paulino; Jurema Pinto Werneck; Luiz Gonzaga de Araújo e Márcia Anita Sprandel. Colegiado de Gestão: Iara Pietricovsky e José Antonio Moroni. Assessores: Alessandra Cardoso, Alexandre Ciconello, Cleomar Manhas, Edélcio Vigna, Eliana Graça, Márcia Acioli, Ricardo Verdum, Lucídio Bicalho Barbosa. Assistente de Direção: Ana Paula Soares Felipe. Comunicação: Vétice /Gisliene Hesse.
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Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), Instituto Heinrich Böll, Interna-tional Budget Partnership, KinderNotHilfe (KNH), Norwegian Church Aid, Oxfam No-
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