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Estamos em fim de ano letivo. Especialmente para os Universitários, por estarem na reta final dos estudos, é um momento muito importante, cheio de preocupação e de alegria. Preocupação para fechar as notas, alegria por mais uma etapa vencida na vida. Aproximou-se mais ou chegou o momento de iniciar a realização dos sonhos da vida, especialmente de poder pensar seriamente no casamento, ou em outro estado de vida, e ter uma profissão, que permitirá adquirir independência econômica, fundamental para enfrentar a vida que cada um almeja. Cada fim de ano letivo, especialmente para os graduandos, é, além disso, também um momento de agradecimento. Agradecimento, em primeiro lugar a Deus, que concedeu saúde, inteligência e oportunidade de estudar. Agradecimento aos pais, que se sacrificaram tanto, ou ainda estão lutando para manter o filho ou a filha nos estudos. Agradecimento aos professores que se dedicaram, às vezes com muito sacrifício, para transmitir conhecimento e sabedoria. Agradecimento, enfim, à direção e a todos os funcionários que, humilde e responsavelmente, doaram-se com amor para que a Universidade funcionasse da maneira mais eficiente e agradável. A todos os parabéns por ter cumprido o próprio dever! A pessoa humana precisa disso e o merece. O Boletim Universitário apresenta a todos também os votos de um Santo e Feliz Natal. “sciat ut serviat” Nº 09 - Novembro - 2011 ::::: BOLETIM UNIVErSITÁRIO UNIVERSIDADE E VERDADE 03 Pág. 06 Pág. 02 Pág. 08 Pág. VOCAÇÃO: CONSAGRAÇÃO RELAÇÃO ENTRE E RAZÃO EXISTÊNCIA HUMANA FINALIZANDO MAIS UM ANO

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BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Outubro/2011

Estamos em � m de ano letivo. Especialmente para os Universitários, por estarem na reta � nal dos estudos, é um momento muito importante, cheio de preocupação e de alegria. Preocupação para fechar as notas, alegria por mais uma etapa vencida na vida.

Aproximou-se mais ou chegou o momento de iniciar a realização dos sonhos da vida, especialmente de poder pensar seriamente no casamento, ou em outro estado de vida, e ter uma pro� ssão, que permitirá adquirir independência econômica, fundamental para enfrentar a vida que cada um almeja.

Cada � m de ano letivo, especialmente para os graduandos, é, além disso, também um momento de agradecimento.

Agradecimento, em primeiro lugar a Deus, que concedeu saúde, inteligência e oportunidade de estudar.

Agradecimento aos pais, que se sacri� caram tanto, ou ainda estão lutando para manter o � lho ou a � lha nos estudos.

Agradecimento aos professores que se dedicaram, às vezes com muito sacrifício, para transmitir conhecimento e sabedoria.

Agradecimento, en� m, à direção e a todos os funcionários que, humilde e responsavelmente, doaram-se com amor para que a Universidade funcionasse da maneira mais e� ciente e agradável.

A todos os parabéns por ter cumprido o próprio dever! A pessoa humana precisa disso e o merece.

O Boletim Universitário apresenta a todos também os votos de um Santo e Feliz Natal.

“sciat ut serviat”Nº 09 - Novembro - 2011 :::::

BOLETIMUNIVErSITÁRIO

UNIVERSIDADEE VERDADE

03Pág.

06Pág.

02Pág.

08Pág.

VOCAÇÃO:CONSAGRAÇÃO

RELAÇÃO ENTREFÉ E RAZÃO

EXISTÊNCIAHUMANA

FINALIZANDO MAIS UM ANO

BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Outubro/2011 BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Outubro/2011

REFLETINDO SOBRE AEXISTÊNCIA HUMANA

O BOM SENSO DACORTE DE HAIA

“Deus perdoa sempre, os homens algumas vezes, mas a natureza nunca”

No artigo anterior dizíamos que nós vivemos para ser felizes. É o

que todo mundo quer! Perguntávamo-nos também se estamos

realmente percorrendo o caminho certo para alcançar a felicidade,

que é a verdadeira realização humana.

Esse caminho é procurado pelo homem desde o início da

humanidade. Mas houve sempre divergências que o levaram a

caracterizar a própria história com contínuas lutas e violências

banhadas de sangue. E isso não porque ele não tivesse capacidade

de conhecê-lo, mas por não querer viver segundo a sua dignidade

de pessoa racional. Quer dizer, por deixar-se guiar mais pelas suas

paixões desordenadas do que pela reta razão, mais pela matéria do que

pelo espírito. O egoísmo, os vícios, a prepotência ofuscaram e continuam

a ofuscar a mente do ser humano!

O caminho da verdadeira

realização das pessoas está

inscrito na própria natureza

humana através de suas

tendências fundamentais, assim

como a funcionalidade das coisas

está inscrita na sua estrutura e nas

leis que as regem.

Além disso, dois mil anos

atrás – parece inacreditável –

tornou-se presente entre nós

alguém - que era, nada mais

e nada menos, o Criador feito

homem, cujo nome é Jesus Cristo. Ele, no seu imenso amor de

Pai, veio nos con� rmar e pleni� car esse caminho natural com a sua

autoridade e com o seu exemplo de vida, sua morte e ressurreição.

Ele tornou-se “o Caminho, a verdade e a vida plena” (Cf. Jo 14,6) do

homem. Com efeito, até hoje não teve, e certamente também no

futuro não haverá, pessoa ou teoria que possam contradizê-lo sem

deturpar a dignidade das pessoas e a � nalidade de sua existência.

Esse caminho tem um nome, chama-se amor, serviço, doação:

“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Cf. Jo 13,34) A pessoa

realiza-se somente se � zer de sua existência um contínuo ato de

amor, um serviço à vida e a dos seus semelhantes.

Quem vive tendo presente a lei natural e o Evangelho de Cristo, que a

explicita e completa, sabe extrair de tudo o que existe e lhe acontece

– imitando a abelha que tira o néctar das � ores – o que pode

ajudá-lo a realizar essa existência de amor. Entre as outras coisas,

podemos relevar especialmente o estudo universitário e o trabalho

pro� ssional.

A razão, pois, não deve afastar o homem do seu caminho e de

sua finalidade, como fez o iluminismo ou racionalismo deturpado

pela soberba humana, e como continuam a fazer o materialismo,

o consumismo e o relativismo. Ela deve iluminá-lo, com as suas

descobertas científicas, reflexões filosóficas e aprofundamentos

teológicos, para que encontre as maneiras mais adequadas para

criar um mundo melhor, onde todas as pessoas sejam respeitadas

na dignidade e finalidade divinas que possuem, amadas e

ajudadas para terem vida digna, vontade de sorrir, gosto de viver

no meio dos outros, sem medo e construindo juntos um futuro de

paz e de alegria eterna.

Para isso, porém, os homens devem

parar, pelo menos por um momento,

no meio do dinamismo da loucura da

vida moderna e se perguntar: quem

somos nós? Criaturas ou criadores?

Se fôssemos criadores, não nos

faríamos essa pergunta. Somos, pois,

criaturas. O que signi� ca que existe

um Criador, alguém que está no início

de tudo, inclusive de nós.

Ele não pode ser matéria, limitado.

É espírito, aliás, o Espírito, isto é, a

Inteligência e a Vontade da vida, do bem, o Amor.

Voltaire dizia: “Tenho sobre a natureza ainda algum escrúpulo. O

universo me embaraça e não posso pensar que este relógio existe e

não exista relojoeiro algum”.

A pessoa humana é matéria, mas é também espírito: inteligência e

vontade, cuja fonte está em Deus. Por isso é “imagem de Deus” (Gn

1,26-27) e, como tal, criado para viver na vida de amor dele, e tendo

como destino o gozo sem � m desse mesmo amor divino.

Eis, pois, o caminho da existência humana, a � m de que a pessoa

se realize de verdade, tornando-se feliz: respeitar e ajudar os outros.

::: Pe Antonio CaliciottiGraduado em Filoso� a, Teologia e PedagogiaMestre em Teologia MoralMestre e Doutor em Filoso� a SocialProfessor de Filoso� a, Sociologia e Metodologia

Neste mundo de Deus pode acontecer um pouco de tudo. Na Itália, uma senhora arreligiosa apresentou às autoridades um pedido, à luz da separação entre Estado e Igreja, para que fosse retirada, da sala de aula da escola de seu � lho, a imagem de Jesus Cruci� cado.

O Tribunal da 1ª Instância negou o pedido.

A senhora apelou para a 2ª Instância, e de novo o pedido foi rejeitado.

Inconformada, a mulher apelou até para a Suprema Corte de Haia.

E a resposta � nal da Corte foi que, por razões de Cultura, a imagem de Jesus Cruci� cado deveria ser conservada na sala de aula.

Qual o valor dessa sentença, alegando motivos culturais para justi� car sua resolução?

A Corte de Haia, com sabedoria, não se enredou em brigas ideológicas e mal dirigidas na diferença entre laicidade de Estado (coisa boa) e laicismo ideológico (so� sma nascido nos cafés de Paris) e apelou para o bom senso histórico.

A Corte de Haia revelou, ainda, a importância do cristianismo na formação cultural do ocidente.

Por meio de sua sentença, ela demonstrou uma visão clara de “cultura”, entendida como um conjunto de valores e padrões subjacentes à vida de um grupo ou sociedade concreta e incorporados em sua prática social e em suas formas de comunicação, tais como: ritos religiosos, ritos institucionais públicos ou privados que se manifestam nas múltiplas expressões de formas, trajes, arte, arquitetura, etc.

Com essa sentença, os juízes refrescaram a memória dos supostos � lósofos e sociólogos para o fato de a cultura ocidental estar alicerçada na fé de milhares de mártires, de juristas cristãos que marcaram presença no Direito Romano, na arte de Miguel Ângelo e Rafael, etc.

Agora, também no Brasil, com a assinatura do Tratado de Aliança

entre o Brasil e a Santa Sé, nenhum marxista poderá mais importunar a paciência dos brasileiros, pedindo a retirada do monumento do Cristo Redentor do Corcovado, para substituí-la, em nome de um conceito mal dirigido de laicismo, pela figura de um Marx ou da deusa Razão da

Revolução Francesa.

Às vezes até a Natureza defende os valores cristãos contra todas as

ideologias e tiranias de governos totalitários.

Foi o que aconteceu num hospital da Alemanha, nos tempos do Nazismo e de sua cruel guarda SS a serviço da megalomania de Hitler.

Conta a história que a esposa de um general da SS ia dar à luz um � lho e foi com o marido reservar um quarto, num hospital dirigido por Irmãs.

Ao veri� car na parede do quarto, segundo o costume, a imagem de Jesus na cruz, o general vociferou com a sua costumeira arrogância:

- Tirem esse judeu cruci� cado da parede, que não admito que meu � lho nasça contemplando essa imagem.

Podemos imaginar o sofrimento da pobre Irmã que dava a vida para viver o Evangelho do amor pregado justamente por Jesus cruci� cado.

Após o parto, a Irmã do Hospital telefonou ao arrogante general da guarda SS de Hitler nestes termos:

- Comunico que seu pedido se realizou. Seu � lho não vai contemplar a imagem do Judeu Cruci� cado, porque nasceu cego.

Diz o provérbio: “Deus perdoa sempre; os homens algumas vezes; mas a natureza, nunca.

Como dizia Jesus: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.

A Corte de Haia tinha razão.

::: Dom Albano CavallinArcebispo Emérito de LondrinaEX

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“Considerai a vossa nascença:

feitos não fostes a viver como brutos mas para seguir

virtude e ciência.” (Dante Alighieri. Divina Comédia, Inferno XXV)

Revolução Francesa.

Às vezes até a Natureza defende os valores cristãos contra todas as

ideologias e tiranias de governos totalitários.

Foi o que aconteceu num hospital da Alemanha, nos tempos do Nazismo e de sua cruel guarda SS a serviço da megalomania de Hitler.

Conta a história que a esposa de um general da SS ia dar à luz

dirigido por Irmãs.

Ao veri� car na parede do quarto, segundo o costume, a

Jesus cruci� cado.

BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Outubro/2011 BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Outubro/2011

Assistindo aos noticiários da TV, lendo jornais e revistas nacionais e internacionais, todos nós sentimos que o mundo inteiro está imerso numa profunda crise, envolvendo miséria, recessão, guerras, falta de liberdade, opressão, injustiças, embora a sua leitura seja feita quase exclusivamente sob a perspectiva econômica.

Na Europa ela é percebida sobretudo pela falta de trabalho, provocada especialmente pela forte imigração dos países orientais e africanos e pelas medidas governamentais visando à diminuição do déficit público, como aumento dos impostos, já demais pesados; na África, mais pelas rivalidades tribais; nos Estados Unidos, especialmente pela quebra dos bancos e gastos militares; no Japão, como conseqüência da destruição causada por fenômenos naturais; na China - que, no meio de mil contradições, está dando pulos de gigante na economia – mais pela diferenciação social interna, que está se criando e que é muito perigosa, porque corre o perigo de estratificar centenas de milhões de pessoas em estado de miséria; enfim, nos países em via de desenvolvimento, como o Brasil e a Índia, mais pela falta de uma infraestrutura adequada para um verdadeiro desenvolvimento.

Em todas as nações, no entanto, o problema econômico é somente a ponta do iceberg que revela a crise.

Devemos, por isso, nos perguntar também: onde estão as causas e a raiz principal dessa crise mundial, tão extensa, grave e generalizada, que devem ser cortadas para que se possa solucioná-la?

Devem-se ao capitalismo, que, no pensamento de alguns, leva, de maneira cíclica, a esses períodos de crise?

Certamente o capitalismo, como qualquer outro sistema econômico, tem os seus prós e contras e, por isso, não deixa de ter a sua

culpa nessa crise global.

Mas, dado que qualquer sistema é bom ou ruim dependendo das pessoas que nele agem, a culpa maior é das pessoas, isto é, dos políticos, dos empresários e dos trabalhadores, embora em grau diverso; afinal, do povo todo, de todos nós.

Numa análise geral das causas da crise, podemos relevar fundamentalmente quatro fatores:

Primeiro, o governo - dirigido pelo presidente, pelos deputados, senadores, governadores e prefeitos – que, em geral, gastam mal o dinheiro público e mais do que podem. Gastam em obras não prioritárias e super faturadas, mantém empresas estatais ineficientes e um número excessivo de funcionários.

Segundo, a corrupção, que existe dentro do governo e que desvia, para interesses particulares, o dinheiro público

provindo dos impostos e dos empréstimos externos. Por sua vez, o empréstimo externo não totalmente ou não bem aplicado é também um dos motivos por que muitos países não conseguem pagar a dívida externa. A Grécia, atualmente, é um exemplo disso. Com efeito, o dinheiro emprestado, quando mal aplicado ou roubado, não dá o retorno que permitiria ao país pagar a dívida. Na verdade, consiste num assalto à nação e um roubo aos credores.

Terceiro, o esbanjamento do dinheiro por parte dos ricos, que conduzem uma vida de capitalistas aristocráticos ou de marajás, esquecendo que são simples administradores dos bens que possuem, porque toda riqueza tem sempre uma função social, isto é, deve estar a serviço também dos outros.

Quarto, a falta de vontade de trabalhar, de se profissionalizar, de ser honesto e responsável no trabalho por parte de muitos funcionários. Muitas vezes o “patrão” é injusto

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Encontro Ecumênico pela Paz em Assis (Itália)

para com os seus operários, mas, por outro lado, os trabalhadores também tantas vezes deixam de merecer o que ganham, embora seja insuficiente, porque não produzem ou produzem mal.

Esses motivos, de maneira mais ou menos acentuada, são a causa principal da crise em todos os países do mundo, pobres e ricos. Naturalmente, nos países pobres fazem aumentar a miséria já existente, enquanto que nos países ricos reduzem o bem-estar.

Existe, no entanto, uma raiz fundamental dessas causas: a falta de consciência da dignidade do homem. Elas são fruto do desrespeito aos valores essenciais, humanos e cristãos, que podemos sintetizar no “respeito à pessoa humana”, e que se especificam na liberdade, igualdade e participação.

Esses valores são essenciais à pessoa humana porque ela é “imagem e semelhança” de Deus (Gn 1,26-27). Naturalmente, quem não respeita a Deus muito menos respeitará o outro. Aliás, sem o temor de Deus, o homem deixa de agir como ser humano e se comporta pior

do que o animal, prejudicando o seu semelhante: vira, como dizia Thomas Hobbes, lobo - fera - do outro homem.

A planta sem a raiz morre. As pessoas, sem esse respeito à dignidade divina do homem, não viverão na justiça, na honestidade, não conseguirão realizar o verdadeiro progresso e não alcançarão a paz e a realização da própria existência.

Há esperança de superar essa crise? Sim, no sentido que, embora difícil, é possível. Cada um de nós, porém, deve se empenhar como um elemento de transformação da sociedade, vivendo e transmitindo aos outros os valores acima citados. Só quando a maioria passar a vivê-los, o governo terá pessoas honestas, a corrupção diminuirá, os ricos colocarão a riqueza a serviço do bem-estar social e os trabalhadores produzirão mais e melhor e terão vida digna.

::: Pe Antonio CaliciottiGraduado em Filoso� a, Teologia e PedagogiaMestre em Teologia MoralMestre e Doutor em Filoso� a SocialProfessor de Filoso� a, Sociologia e Metodologia

No dia 27 de outubro, em Assis (Itália), realizou-se, a pedido do Papa Bento XVI, o Encontro Ecumênico de re� exão, diálogo e

oração pela paz e justiça no mundo.

Um dos momentos mais importantes do encontro foi a procissão dos 176 representantes de diversas religiões, com a presença

inclusive de muitos jovens, da Igreja de Santa Maria dos Anjos até à Basílica de São Francisco. Através dela os participantes

quiseram simbolizar o caminho de todo ser humano na busca assídua da verdade e na construção efetiva da justiça e da paz.

A busca da verdade é condição para abater o mal do fanatismo e do fundamentalismo – para os quais a paz se consegue com

a imposição das próprias convicções aos outros – e do laicismo ateu que tenta eliminar Deus, que é o princípio e o � m de tudo,

como se a pessoa pudesse encontrar a sua felicidade fora dele.

A construção efetiva da justiça e da paz, para quem acredita em Deus, começa com a oração pela paz, porque ele crê

� rmemente que ela é um dom gratuito de Deus. Esta verdade foi expressa com vigor pelo Servo de Deus João Paulo II, com

as seguintes palavras: “A reunião de tantos chefes religiosos para rezar é, por si só, hoje, um convite a tornar-se consciente de

que existe outra dimensão da paz e mais outro modo de a promover, que não é o resultado de negociações, de compromissos

políticos ou de intercâmbios econômicos. Mas é o resultado da oração que, apesar da diversidade das religiões, expressa a

relação com um poder supremo que ultrapassa as nossas capacidades humanas sozinhas” (Discurso aos Representantes das

várias Igrejas e Comunidades eclesiais e das outras Religiões, Assis, 27 de Outubro de 1986).

Essa busca da verdade e o pedido a Deus pela paz sejam também o nosso ideal de universitários para enraizarmos a nossa vida no verdadeiro bem e construirmos um mundo de paz.

Por que o mundo está em crise?

O mundo sempre esteve em

crise, hoje, no entanto, devido

à globalização, mais do que

nunca. As causas são muitas.

A principal, porém, é a falta de

consciência da dignidade da

pessoa humana

BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Outubro/2011 BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Outubro/2011

A existência humana não deve ser um proceder cego, mas um caminhar guiado pelo nosso Criador e Pai, que se nos manifesta através do ensinamento de Jesus, cuja depositária é a Igreja dos Apóstolos, a Igreja católica que, guiada pelo Espírito dele, a encarna na realidade dos tempos sem desvirtuá-la.

Essa vontade de Deus, que é Amor, é sempre uma vontade de bem, para com o ser humano, seja quem for, até para com o pior. Ela visa sempre a levar as pessoas à sua realização, que se traduz em viver em condições humanas dignas e alcançar a felicidade eterna. Com efeito, as pessoas vivem para serem felizes. A vontade divina, portanto, sintetiza-se nos mandamentos, nas bem-aventuranças e nos dons do Espírito Santo.

Obtém-se através da leitura especialmente dos Evangelhos, da catequese da Igreja, da oração constante e, de maneira toda particular, vivendo no amor. Quando vivemos no amor - que é respeito, ajuda e perdão para com os outros – somos como o carro que, saindo da garagem e pegando a estrada, encontra as

- Outro voto ou compromisso que as pessoas consagradas fazem é o de pobreza - esclareceu Marta.

- Mas como? – Interveio logo Pedro - Luta-se tanto contra a pobreza, e elas buscam justamente a pobreza?

- Pedro, – retoma Marta – a pobreza que elas abraçam é a verdadeira pobreza; não é a miséria, que chamamos também pelo mesmo vocábulo.

Miséria é não ter o indispensável para viver, como comida, vestimenta, moradia e falta de possibilidade de cuidar da saúde. E isso tudo, especialmente por falta de trabalho. A miséria, pois, é um mal contra o qual devemos lutar.

Pobreza verdadeira, evangélica, é ter o coração desprendido de tudo o que é material e humano, tendo como única riqueza Deus e a sua vontade de amor. Por isso fazer o voto de pobreza e vivê-lo não significa privar-se do que é necessário e útil para viver no cumprimento dos nossos deveres para conosco e para com os outros. Como também não significa que não devamos amar os outros. Pelo contrário, devemos amá-los com todas as nossas possibilidades e capacidades, querendo todo o bem deles; nunca, no entanto, devemos permitir que eles sirvam de obstáculo ao cumprimento da vontade amorosa de Deus, que é o verdadeiro bem de todos.

- Como? - pede Maria.

- Por exemplo, eu não posso colaborar com alguém, seja em roubando ou desrespeitando qualquer outro mandamento, pelo motivo de amar essa pessoa - por ser meu irmão ou até meu pai ou minha mãe. Da mesma forma, também não se pode aceitar de ter uma relação sexual apenas porque a moça e o rapaz estão namorando ou se tornaram noivos.

O maior exemplo de pobreza nos foi dado por Jesus na cruz que, desprendido até de sua vida, morre por nós, para que pudéssemos receber o perdão dos nossos pecados e viver a vida divina de amor de Deus.

O consagrado, pelo seu desprendimento de tudo, inclusive de si mesmo, passa a doar-se por Deus e pelo seu Reino com total generosidade, tal qual uma vela que ilumina consumindo-se.

- Que existência bonita! – exclama Maria.

- É realmente sublime – acrescenta Pedro.

O terceiro voto ou compromisso é a obediência.

- Obediência a quem? – pergunta Pedro.

- Obediência à vontade de Deus – continua Marta.

VOCAÇÃO – CONSAGRAÇÃO (cont.)

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Alguns – não todos - podem achar esse estado de vida um

absurdo. No entanto é o ideal de muitas pessoas extraordinárias. Entende-o e abraça-o somente

quem é escolhido por Deus para trabalhar pelo seu Reino de amor.

indicações para chegar à meta. Cada passo dado no amor nos indica o seguinte que devemos dar na vontade de amor de Deus.

Cristo foi também o exemplo mais perfeito da obediência à vontade de Deus: tornou-se submisso até a morte, por amor a ele, seu Pai, e a todos nós.

- Também Maria Santíssima é um exemplo extraordinário de obediência a Deus – interveio Maria. - Lembremos a resposta que dá ao Anjo que lhe anuncia a escolha para ser a mãe de Deus, que ia se tornar homem nela: “eis aqui a serva do Senhor, seja feita em mim a sua vontade”. E cumpriu essa vontade divina fielmente até aos pés da cruz e à sua partida desta vida.

Imbuída desses votos, a pessoa consagrada vive, passando como Jesus, fazendo o bem, numa disponibilidade e generosidade plenas para com ele, como seu membro vivo.

Ela se torna o Cristo visível de hoje, que dá a sua vida para que os outros vivam

no plano de amor de Deus, Criador e Pai e , assim, alcancem a eterna felicidade no amor infinito e misericordioso dele.

É a mensageira do amor de Deus pelo mundo afora.

Com a sua vida, a consagrada e o consagrado a Deus são, também, o sinal visível da vida que nos espera depois da morte.

Com efeito, na outra vida o único bem que existe é Deus Amor. Ele é o bem pleno e sem limites. A vida, pois, de quem morre em Deus - e que, conseqüentemente, estará sempre no seu amor - será eterna e plenamente feliz.

Ora, a pessoa consagrada, com os votos - isto é, com a renúncia aos prazeres passageiros, especialmente, os da carne; com o desprendimento de tudo o que é relativo e passageiro (riqueza terrena); com a vida conduzida na verdade, que é o amor ou vontade de Deus – de certo modo antecipa e manifesta, desde agora, esta Vida futura em Deus, único e sumo Bem, que nos aguarda depois desta vida terrena.

- Uma vocação extraordinária – exclama Maria. No entanto, que pena! Bem poucas pessoas se consagram a Deus!

- Talvez - intervém Pedro – porque as pessoas, especialmente os jovens, não conheçam a Deus nem vivam no seu pensamento de amor. Com efeito, quem pode desejar e querer o que não conhece ou não experimentou, que é Deus e a vida nele? Além disso, vivemos imbuídos de uma mentalidade egoísta e materialista que, em geral, nos leva a pensar somente em nós mesmos e a desejar e querer o que nos satisfaz materialmente. O mundo atual é impregnado, como já foi dito, de materialismo (ciência, tecnologia, vontade de riqueza, busca de prazeres, lícitos e ilícitos, busca de poder, vaidades, etc) e fechado às verdades ou realidades sobrenaturais.

- É verdade - reforçou Maria e confirmou Marta.

- Agora eu deveria falar ainda sobre o sacerdócio – continuou Marta. - Seria melhor, porém, convidar Paulo, da Faculdade de Direito, que, um dia, me manifestou o desejo de ser Padre. Ele deve ser mais preparado do que todos nós.

- Boa idéia! – disseram ambos.

- Então - acrescenta Marta - vamos falar disso amanhã depois do almoço. Eu vou convidá-lo. Ele vai ter aula, como nós, somente de manhã. Com certeza poderá vir.

::: Pe Antonio CaliciottiGraduado em Filoso� a, Teologia e PedagogiaMestre em Teologia MoralMestre e Doutor em Filoso� a SocialProfessor de Filoso� a, Sociologia e Metodologia

Viver como pessoa humana é viver na vontade do Criador, que é sempre de verdadeiro amor, mortifi cando o egoísmo, próprio e alheio.

BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Outubro/20118

Escrevo no quarto 511 do Hospital do Câncer de Londrina. São dez da manhã. Pela janela, entra a luz do Sol, astro cósmico que inspirou as palavras de Francisco de Assis no Cântico das Criaturas: “Louvado sejas, meu Senhor/ Com todas as tuas criaturas,/ Especialmente o senhor irmão Sol,/ Que clareia o dia/ E com sua luz nos alumia. (...)/ E ele é belo e radiante/ Com grande esplendor:/ De ti, Altíssimo, é a imagem”.

Aquela que me deu a vida está ao meu lado; conversamos sobre a beleza da cidade que pode ser vista da janela do hospital. No terreno vizinho, operários erguem uma nova casa para os pacientes. Este é meu campus, minha república, meu estado. Habitamos a Cidade. Se ela será dos homens ou de Deus, ainda não sabemos. Mas temos fé.

No final dos anos 40, os homens quiseram construir uma cidade sem Deus. Seu nome era Nowa Huta; ficava nos arredores de Cracóvia, na Polônia. O governo comunista levou para lá milhares de operários de todas as regiões da república. O plano era fazer de Nowa Huta, além de um poderoso centro siderúrgico, a única cidade totalmente socialista do mundo. Socialista, materialista, marxista – e ateísta.

Apesar de não ter sido convidado pelas autoridades, Ele apareceu em Nowa Huta. Veio junto com os milhares de operários católicos. Para o governo, os trabalhadores deveriam ser discípulos de Karl Marx. Na verdade, eram fiéis a Jesus Cristo. Se fossem livres para escolher entre o Manifesto Comunista e o Evangelho, não teriam dúvidas.

Impossibilitados de construir uma cidade sem Deus, os comunistas poloneses tiveram de se contentar com uma cidade sem igreja. Aliás, uma cidade sem a igreja física. Pois a igreja espiritual não só estava presente como também tinha um líder: o jovem bispo Karol Wojtyla, da vizinha Cracóvia.

Durante alguns anos, Wojtyla bombardeou as autoridades polonesas com pedidos de autorização para construir uma igreja católica em Nowa Huta. Enquanto a resposta não veio – e ela demorou quase duas décadas –, os operários católicos revezavam-se vigiando o símbolo que os comunistas não conseguiram impedir: uma cruz de madeira erguida na cidade.

Finalmente, em 1977, as autoridades cederam à insistência de Wojtyla – uma voz que ecoava o desejo da esmagadora maioria da população polonesa – e foi permitida a construção da igreja de Nowa Huta.

Pouco depois de se tornar o papa João Paulo II, aquele polonês incansável visitou o seu país natal. Embora as autoridades não tenham permitido que o papa visitasse a igreja de Nowa Huta, o simbolismo daquela construção marcou as palavras do jovem pontífice: “Embora os tempos mudem, embora no espaço dos campos de outrora, nas vizinhanças de Cracóvia, tenha surgido um enorme conjunto industrial, embora vivamos numa época de progresso vertiginoso das ciências naturais e de um progresso igualmente surpreendente da técnica, todavia a verdade da vida do espírito humano – que se exprime através da cruz — não declina, é sempre atual, não envelhece nunca.”

Numa arrebatadora mensagem aos católicos da Polônia e de todo mundo, Karol Wojtyla concluiu suas palavras naquele 9 de junho de 1979: “Da cruz em Nowa Huta começou a nova evangelização: a evangelização do novo milênio. Esta igreja testemunha-o e confirma-o. Ela nasceu de uma fé consciente e viva e é necessário que continue a servi-la. (...) Construístes a igreja; edificai a vossa vida com o Evangelho!”

Dez anos depois, em 1989, caía o Muro de Berlim. A cidade sem Deus revelou-se como o que de fato era: uma ilusão tirânica.

O Sol, vestígio da criação divina, clareia esta manhã em Londrina, aonde cheguei para estudar na UEL, em 1989. Aqui, no quarto 511, ao lado daquela que me deu a vida, eu hoje penso se estamos ou não construindo a cidade – o campus, o estado, a república – que Deus espera de nós. E volto a lembrar o Cântico das Criaturas, quase ouvindo a voz do velho frade: “Louvado sejas, meu Senhor,/ Por nossa irmã a Morte corporal,/ Da qual homem algum pode escapar.// Ai dos que morrerem em pecado mortal!/ Felizes os que ela achar/ Conformes à tua santíssima vontade,/ Porque a morte segunda não lhes fará mal!”

::: Paulo Briguet é jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL)

A cidade sem Deus