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Não sei qual é o seu estado espiritual, físico e material. Sei, porém, que o sofrimento que há no mundo e os problemas da humanidade são imensos. Permita que lhe dê alguns exemplos: - a pobreza de milhões de pessoas, irmãs e irmãos nossos, que não conhecem outra realidade a não ser o sofrimento e a exploração; - a enorme pobreza de não conhecer Cristo, um fato que, segundo Madre Teresa de Calcutá, é “a primeira pobreza dos povos”, e da qual não se livra nenhum canto da terra; - as guerras, as injustiças e as “estruturas de pecado” que podem parecer inevitáveis e impossíveis de serem erradicadas do mundo complexo em que vivemos; - a agressão à vida, desde sua concepção até seu fim natural; - a crise da família, insubstituível célula básica de uma sociedade sadia e próspera; - o relativismo cultural e moral que faz perder o sentido da busca e da existência da verdade; - a desequilibrada e míope relação com a natureza, às vezes explorada de forma selvagem, às vezes “idolatrada” e paradoxalmente objeto de uma atenção maior do que a reservada ao ser humano; - os irmãos e irmãs que sofrem enfermidades; - um desenvolvimento científico e tecnológico que tenta avançar a qualquer custo; - os irmãos e irmãs que ainda morrem mártires em muitos lugares do mundo por testemunhar e anunciar Cristo; - a agressividade, a hostilidade e a censura em relação ao Papa e à Igreja no anúncio da mensagem de verdade e amor do Evangelho; - a crise econômica que ainda atinge países inteiros e parece subtrair os horizontes de esperança a tantas pessoas. Frente a tudo isso, nós, como pessoas e cristãos, como nos situamos? Entretanto o mundo, apesar dos motivos de tristeza, apresenta- nos também motivos de alegria e esperança. Há sementes de vida, verdade e amor, muitas vezes silenciosas, que as pessoas de boa vontade cultivam em todos os cantos, construindo o Reino de Deus, que é de amor e paz. Perseguições, problemas, sofrimentos e injustiças são realidades muito tristes e tocam a sensibilidade humana. Mas são fatos, que nós devemos enfrentar e procurar superá-los. Estamos convencidos de que atualmente faz falta fortalecer “sciat ut serviat” Nº 04 - Maio - 2011 ::::: BOLETIM UNIVErSITÁRIO LIBERDADE 04 Pág. 07 Pág. 02 Pág. 08 Pág. VOCÊ É FILHO DE DEUS? REFLETINDO SOBRE FÉ E RAZÃO UNIVERSITAS O mundo, as pessoas estão precisando de mim, da minha semeadura do bem. uma grande mensagem de esperança! Uma mensagem na qual todos os homens possam sentir-se unidos numa grande missão de desenvolvimento, amor e solidariedade. Esta mensagem de esperança é o próprio Cristo! Quem a encontra, e passa a vivê-la e a transmiti-la, faz experiência do próprio Cristo e nele tudo pode advir: a paz, a justiça, o amor, o crescimento humano e espiritual das pessoas e de sociedades inteiras. Como, no entanto, difundir essa mensagem se não houver quem a anuncie? Esta é a nossa missão. Missão difícil pelas dificuldades que o egoísmo humano cria. Todavia lembremos que, justamente onde há degradação e vazio de valores, os homens têm grande sede de Cristo e de seu ensinamento. E, ao mesmo tempo, o mundo de hoje oferece muitas oportunidades de comunicação, que nós queremos utilizar do modo mais eficaz possível. Certamente você já é um protagonista da difusão desta mensagem com seu trabalho e sacrifício cotidiano. Hoje, porém, lhe propomos ser protagonista acrescentando algo ao que já faz: una-se a nós (também você, universitário!) e ajude-nos - conforme as suas possibilidades técnicas ou intelectuais ou econômicas - na missão de levar essa mensagem aos demais jovens universitários do Brasil e do mundo inteiro. Amanhã eles serão os dirigentes e construtores desta nossa sociedade cada vez mais globalizada e complexa. Como é bom, embora difícil, fazer o bem! Comunique-se conosco. E-mail: [email protected] ::: Pe. Antonio Caliciotti Estimado leitor, querida leitora:

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BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Maio/2001

Não sei qual é o seu estado espiritual, físico e material. Sei, porém, que o sofrimento que há no mundo e os problemas da humanidade são imensos. Permita que lhe dê alguns exemplos:- a pobreza de milhões de pessoas, irmãs e irmãos nossos, que não conhecem outra realidade a não ser o sofrimento e a exploração;- a enorme pobreza de não conhecer Cristo, um fato que, segundo Madre Teresa de Calcutá, é “a primeira pobreza dos povos”, e da qual não se livra nenhum canto da terra;- as guerras, as injustiças e as “estruturas de pecado” que podem parecer inevitáveis e impossíveis de serem erradicadas do mundo complexo em que vivemos;- a agressão à vida, desde sua concepção até seu fim natural;- a crise da família, insubstituível célula básica de uma sociedade sadia e próspera;- o relativismo cultural e moral que faz perder o sentido da busca e da existência da verdade;- a desequilibrada e míope relação com a natureza, às vezes explorada de forma selvagem, às vezes “idolatrada” e paradoxalmente objeto de uma atenção maior do que a reservada ao ser humano;

- os irmãos e irmãs que sofrem enfermidades;- um desenvolvimento científico e tecnológico que tenta avançar a qualquer custo;- os irmãos e irmãs que ainda morrem mártires em muitos lugares do mundo por testemunhar e anunciar Cristo;- a agressividade, a hostilidade e a censura em relação ao Papa e à Igreja no anúncio da mensagem de verdade e amor do Evangelho;- a crise econômica que ainda atinge países inteiros e parece subtrair os horizontes de esperança a tantas pessoas.Frente a tudo isso, nós, como pessoas e cristãos, como nos situamos?Entretanto o mundo, apesar dos motivos de tristeza, apresenta-nos também motivos de alegria e esperança. Há sementes de vida, verdade e amor, muitas vezes silenciosas, que as pessoas de boa vontade cultivam em todos os cantos, construindo o Reino de Deus, que é de amor e paz.Perseguições, problemas, sofrimentos e injustiças são realidades muito tristes e tocam a sensibilidade humana. Mas são fatos, que nós devemos enfrentar e procurar superá-los.Estamos convencidos de que atualmente faz falta fortalecer

“sciat ut serviat”Nº 04 - Maio - 2011 :::::

BOLETIMUNIVErSITÁRIO

LIBERDADE

04Pág.

07Pág.

02Pág.

08Pág.

VOCÊ É FILHODE DEUS?

REFLETINDOSOBRE FÉ E RAZÃOUNIVERSITAS

O mundo, as pessoas estão precisandode mim, da minha semeadura do bem.

uma grande mensagem de esperança! Uma mensagem na qual todos os homens possam sentir-se unidos numa grande missão de desenvolvimento, amor e solidariedade.Esta mensagem de esperança é o próprio Cristo! Quem a encontra, e passa a vivê-la e a transmiti-la, faz experiência do próprio Cristo e nele tudo pode advir: a paz, a justiça, o amor, o crescimento humano e espiritual das pessoas e de sociedades inteiras.Como, no entanto, difundir essa mensagem se não houver quem a anuncie?Esta é a nossa missão. Missão difícil pelas dificuldades que o egoísmo humano cria. Todavia lembremos que, justamente onde há degradação e vazio de valores, os homens têm grande sede de Cristo e de seu ensinamento. E, ao mesmo tempo, o mundo de hoje oferece muitas oportunidades de comunicação, que nós

queremos utilizar do modo mais eficaz possível.Certamente você já é um protagonista da difusão desta mensagem com seu trabalho e sacrifício cotidiano. Hoje, porém, lhe propomos ser protagonista acrescentando algo ao que já faz: una-se a nós (também você, universitário!) e ajude-nos - conforme as suas possibilidades técnicas ou intelectuais ou econômicas - na missão de levar essa mensagem aos demais jovens universitários do Brasil e do mundo inteiro. Amanhã eles serão os dirigentes e construtores desta nossa sociedade cada vez mais globalizada e complexa. Como é bom, embora difícil, fazer o bem! Comunique-se conosco. E-mail: [email protected]

::: Pe. Antonio Caliciotti

Estimado leitor, querida leitora:

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BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Maio/2001

sociedade é sempre personificada em alguma pessoa (ditador) ou numa assembléia, ambas necessariamente falíveis, limitadas em seus julgamentos a respeito da verdade.A conceituação mais adequada de Universidade é aquela que a define como entidade que, pela investigação e pela docência, se ordena à verdade.É sociedade, porque é o convívio entre pessoas que buscam a verdade, especialmente entre o docente (que investiga e transmite) e o discente (que aprende), não excluindo, porém, o corpo administrativo, que, embora seja alheio à essência da Universidade, é o seu suporte vital.Desde os seus primórdios - na Escola de Pitágoras, com finalidade moral e política, na Academia de Platão, no Liceu de Aristóteles aos “Studia Generalia”- a Universidade era um espaço de convívio entre mestre ou mestres e discípulos.

Segundo a mentalidade comum dos alunos e também da maioria dos professores, a Universidade atual é lugar de profissionalização, isto é, um lugar onde são ministrados

cursos de vários níveis, mas todos objetivando, primordialmente, a preparação dos profissionais e técnicos exigidos pela moderna organização do trabalho. Qualquer tentativa de acrescentar matérias culturais e humanistas não é bem vista porque essas matérias roubam tempo das ciências práticas, fabricantes de profissionais. Assim a finalidade da Universidade é fazer médicos, engenheiros, cientistas e não procurar e transmitir a verdade; é preparar para uma profissão, em geral rendosa.

Essa conceituação da Universidade como instituição formadora de cientistas, tecnólogos e profissionais a serviço do tecido social, é certamente uma visão correta, mas discutível nos seus princípios, que em certo modo afirmam que a sociedade vem antes dos homens que a compõem, ou então, que a Universidade tem por objetivo primordial prestar-lhe serviços.A Universidade, brotada da meditação do investigador-professor, deve ter por objetivo, primeiro e principal, a busca da verdade. Prestar serviços à sociedade, embora essencial, é seu objetivo derivado, secundário. Quando essa instituição prioriza apenas essa sua segunda finalidade, a prática, perde a autonomia, pois a

Sob uma perspectiva de vida em

que se busca somente o bem-estar

material e o prazer, a Universidade

é apenas fabricante de profissionais.

No entanto, numa filosofia de

conhecimentos que seja luz da verdade

total, para que a pessoa alcance a

felicidade e a sociedade encontre a paz

e, com ela, o bem-estar, deve voltar a

ser a casa da verdade plena:

Domus veritatis.

EXPEDIENTEE-MAIL: [email protected]

Colaboradores: Arquidiocese de Londrina Paróquia Sagrados Corações

Gráfica Idealiza Jornal de Londrina

FOCALIZANDO A CULTURA

UNIVERSITAS(Universidade)

O que é a Universidade?

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A finalidade primeira da Universidade é a verdade e a verdade total, objeto da inteligência, inclusive e especialmente a verdade sobre o homem, porque o homem é o referencial de todo conhecimento. Essa verdade deve ser universal e particular, filosófica e científica.Hegel diz que o ser é o “imediato indeterminado”, isto é, o primeiro objeto da nossa mente, embora indeterminado. Por sua vez, o conhecimento do ser é a verdade. Por isso, o ponto de partida de todo trabalho cognitivo e, por conseguinte da Universidade, que visa ao conhecimento e à sua transmissão, é a verdade. A Universidade é a casa da verdade.

Mas, se a verdade é o conhecimento do ente, ela pressupõe investigação, que se torna fundamental na produção universitária.Alceu amoroso Lima diz que “todo ensino universitário que se limita a transmitir conhecimentos adquiridos, sem estimular em seus estudantes o amor à investigação, é um ensino carunchado. E, do mesmo modo, todo professor de Universidade que se limita a conhecer e transmitir o que os outros fizeram ou escreveram, sem nada acrescentar de suas próprias investigações, também é um mestre falhado” (cfr. O Espírito Universitário).A meditação e a investigação não são somente do e para o professor; o estudante se torna universitário justamente por se

• Hallel londrina Dia 22 de Maio de 2011 das 08 às 22 horas Parque de Exposição Ney Braga.Tema: “O Amor Tudo criou” – Ó vinde, adoremos e prostremo-nos diante DELE. Sl 95, 4-6.Mais informações: www.hallellondrina.com.br

FIQUE POR DENTRO

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• Feriado de CorPUS CHriSTiDe 23 a 26 de Junho de 2011ENCONTRO UNIVERSITÁRIO EMCAMPOS DO JORDÃO/SPTema: A SANTA MISSAContato: [email protected]

dedicar à investigação e à meditação, e não só por assistir a aulas de transmissão de cultura.A docência, enfim, é elemento indispensável na Universidade, embora não seja, como a investigação, a causa primeira e originária, porque é decorrência da investigação, que existe para ser transmitida, e também porque a Universidade, sem docência, não passaria de um Instituto de pesquisa.Concluindo: a finalidade da Universidade é a busca e a transmissão da verdade. A investigação, a docência, a profissionalização são

ações que se ordenam para a finalidade que é a busca da verdade e, como dizíamos, a verdade total, especialmente sobre o homem. Eis, portanto, o bem que deve, naturalmente, ser oferecido aos alunos. (Continua)

::: Pe Antonio CaliciottiGraduado em Filosofia, Teologia e PedagogiaMestre em Teologia MoralMestre e Doutor em Filosofia SocialProfessor de Filosofia, Sociologia e Metodologia

O CONTEÚDO DESTE JORNAL TAMBÉM ESTÁ DISPONÍVEL NO BLOG: valoresecultura.blogspot.com

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BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Maio/2001BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Maio/2011

O pensar e o querer do homem, sendo participação da natureza divina, que é pensar e querer a vida, existem nele necessariamente para a mesma finalidade, isto é, em função da vida e do cultivo dela, assim como, para a mesma finalidade, ele também possui ou adquire todas as demais capacidades, físicas e materiais.de modo que a pessoa é livre quando, como Deus, pensa e quer a vida e tudo o que a favorece; quer dizer, quando faz o bem, haja visto que a vida é o único verdadeiro bem. Em outras palavras, o indivíduo é livre quando ama, que é querer que a pessoa viva e viva cada vez mais, física, material e espiritualmente.Quando a pessoa pensa e quer algo contra a vida, sua ou alheia, está indo contra a sua natureza, profanando-a, e contra a finalidade de sua existência, tornando infeliz a si mesmo e aos outros, embora possa favorecer os seus desejos, interesses ou ambições. E a pessoa que pensa e quer algo contra a vida é sempre dominada, pelo menos naquele momento, por algum egoísmo ou paixão desordenada, dela ou de outros. Deixa, pois, de ser livre e de viver conforme a sua dignidade de pessoa humana. no dia sete de abril deste ano houve a chacina numa escola de Rio de Janeiro. Foram mortos doze alunos adolescentes. O jovem, de apenas 23 anos, que realizou essa aberração e tragédia humana, certamente julgava ser livre, mas na realidade era escravo de traumas que não soube superar, por faltar-lhe uma visão clara do sentido da vida humana.A árvore que não dá frutos está certamente impedida de fazê-lo por algum fator interno ou externo. Assim a pessoa, quando não dá o seu fruto de amor, é porque não está livre de vícios internos ou de imposições externas. Não é livre.Liberdade é querer a vida, é amar. A irresponsabilidade, a desonestidade, o desrespeito a si mesmo e aos outros, a

injustiça, a falta de vontade de trabalhar e de cumprir o próprio dever traduzem falta de liberdade. O Homem livre nunca prejudica a si mesmo ou aos outros.Mas a liberdade é uma conquista. O homem nasce egocentrista. Reparem a criança. Tudo deve ser dela e em função dela. Só a formação e a socialização libertam a pessoa. Por conseguinte, o papel da família, da escola, inclusive da Universidade, da Igreja e das demais instituições é ajudar as pessoas a se tornarem livres, a viverem respeitando e amando a vida, própria e dos outros.Nestes dias, estamos vivendo também momentos de imenso sofrimento, ouvindo e vendo, pelos meios de comunicação, o que está acontecendo com milhões de pessoas, nossos irmãos, no norte da África e no Médio Oriente. Quanto sangue derramado, quanto sofrimento! Por quê? Onde está a liberdade desses povos? Nós mesmos, povo livre, diante de tanta desigualdade social presente em nosso meio, de tanto desrespeito, sobretudo para com as pessoas menos favorecidas, seja no setor das infraestruturas, ou da educação, e especialmente da saúde e da segurança, podemos regozijar-nos pela nossa liberdade ou “independência”? Somos realmente livres?Reflitamos sobre a nossa dignidade de pessoas livres e empenhemo-nos a viver como tais, pensando e querendo sempre só o que realmente favorece a vida, a nossa e a dos outros. Somente essa liberdade interior nos dará bem-estar, paz e a realização final que tanto almejamos.

::: Pe Antonio CaliciottiGraduado em Filosofia, Teologia e PedagogiaMestre em Teologia MoralMestre e Doutor em Filosofia SocialProfessor de Filosofia, Sociologia e Metodologia

LIBERDADEQuando somos livres?

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O Homem, como dizíamos, falando da pessoa humana, vive para pensar e querer a vida, isto é, para amar. Mas, para isso, a pessoa deve ter consciência do valor

do ser humano que, além de ser matéria, é também espírito e, sendo espírito, participa da natureza divina.Tendo consciência desse valor do ser humano, naturalmente compreende também a sua dignidade, que se traduz em direitos e deveres.Os direitos do ser humano podemos reduzi-los a três: liberdade, igualdade e Participação. Esses direitos ou valores podem ser especificados em número muito maior, como faz, por exemplo, a “Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas”.a liBerdade é constitutiva do homem por ele ser dotado de inteligência e vontade. Como sem a inteligência o homem não poderia conhecer e pensar, assim sem ela não poderia também decidir e, não podendo decidir, seria impedido de viver como pessoa humana.

Como uma águia, presa numa gaiola, não viveria como tal, porque não poderia voar pelos horizontes imensos, assim a pessoa, impedida na sua liberdade, não viveria como tal, porque não poderia viver conforme o seu pensamento e vontade. A pessoa é dotada de espírito – inteligência e vontade – para viver de maneira livre, para ser sujeito e artífice de sua história.Ninguém, sob qualquer pretexto, pode decidir a vida dos outros, porque lhes ofenderia a dignidade como pessoa. Nem Deus o faz. Aliás, é em Deus que o homem encontra o mais profundo respeito. O Criador, pelo respeito que tem para com o homem, permite todo o mal que existe e que, direta ou indiretamente, é causado pelo homem. E ainda: para que o ser humano pudesse ser livre e viver como tal, Cristo, que é Deus feito homem, deu a sua vida na cruz e instituiu a Igreja, cuja missão é tornar o homem livre.Mas quando o homem é livre?Em geral pensa-se que ser livre é poder fazer o que se quer. E é assim que se originam todos os males da humanidade!

Quanto sangue derramado em nome da liberdade! No entanto, quanta desilusão!Sim, a pessoa deve ser livre! Mas quando é livre de verdade?Eu sei, quando faz o que quer. Mesmo?Não, ela é livre somente quando vive segundo a sua natureza, cuja finalidade é cultivar a vida, fazer o bem, amar.

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BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Maio/2001BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Maio/2011

“Eu deveria estar cega, queimada, morta. Mas não estou! eu nasci viva, depois de 18 horas. Sobrevivi para mexer com as pessoas, e não estou aqui para deixá-los

confortáveis”.O que aconteceu para provocar essa aparente agressividade, mas que na realidade é uma profunda lição de vida?Vivemos numa sociedade materialista e hedonista na qual o ter e o gozar a vida valem mais que as pessoas. Nessa cultura de horizontes fechados na matéria, os absurdos se tornam normalidade e o errado passa a ser o certo. Esquecemos que a pessoa, além de ser matéria, é também espírito: animal racional!Eis, em resumo, a vida da jovem que escreveu a frase acima.O seu nome é Gianna Jessen. Está com 33 anos. É uma bela moça, que se expressa através da música como cantora, é também escritora e, por meio de palestras, dá testemunho com a própria vida. A sua história é emocionante. É uma sobrevivente da maldade humana!No dia 6 de abril de 1977, em uma clínica de Los Angeles – EUA, uma jovem de 17 anos resolveu fazer um aborto com solução salina (esse procedimento queima o bebê ainda vivo no útero da mãe), e, por milagre, 18 horas após o procedimento, para surpresa de todos, nasceu Gianna para lutar pela sua vida e para alertar o mundo de que o aborto é um verdadeiro homicídio.No dia em que a tentativa de aborto ocorreu, o médico, dono da maior clínica

de abortos nos EUA e que fatura cerca de 70 milhões de dólares por ano, teve que assinar a certidão de nascimento. No registro médico consta: “nascida durante o aborto por envenenamento salino”.Na ocasião uma enfermeira chamou uma ambulância e levou o bebê para um hospital, embora naquela época a ordem fosse terminar com a vida de um sobrevivente do aborto, estrangulando-o, sufocando-o, deixando-o morrer ou jogando-o fora. Somente em 5 de agosto de 2002 foi sancionada a lei “Ato de proteção da criança nascida viva”. A pequena Gianna foi adotada com 17 meses de vida, pesando 14 Kg e diagnosticada com paralisia cerebral pela falta de oxigênio no cérebro enquanto lutava para sobreviver.Em seus depoimentos e palestras, lança um questionamento e uma reflexão: “eu me sinto simplesmente compelida a dizer isso: se o aborto diz respeito somente aos direitos da mulher, então quais eram os meus direitos de feto? No dia em que queriam me matar, não havia nenhuma feminista radical gritando e reclamando meus direitos violados! Na verdade minha vida estava sendo exterminada em nome dos direitos das mulheres, e eu não teria paralisia cerebral se não tivesse sobrevivido a tudo isso. Quando eu escuto o argumento horroroso de que temos que abortar só porque há a possibilidade de a criança nascer com uma deficiência, o horror toma conta do meu coração! Há coisas que vocês só podem apreender com os mais fracos, e quando vocês os ‘matam’, são vocês que perdem.

Costuma-se dizer que todos somos filhos de Deus. Isso nem sempre é verdade! Todos somos criaturas de deus, criadas à imagem e semelhança dele (Gn 1, 27) e somos chamados a ser também seus

filhos. Tornamo-nos tais, entretanto, somente através de Jesus Cristo - e se o quisermos.Passamos a ser filhos de Deus quando a vida divina está presente em nós, quando incorporamos o seu pensamento e a sua vontade de vida, de bem. Enfim, o seu amor divino e verdadeiro. Essa participação diviniza a nossa existência tornando-se o nosso pensamento, a nossa vontade, dirigindo o nosso agir, o nosso comportamento.Nós podemos ter a vida de Deus porque o mesmo Deus, Jesus Cristo, assumindo a natureza humana, uniu-se, de certa forma, a toda pessoa humana, e na sua condição terrena - com sua morte e ressurreição potencializadas de modo infinito pela sua divindade - obteve-nos o perdão dos pecados e a filiação divina. Santo Agostinho, no De civitate Dei, escreve: “A natureza corrompida pelo pecado gera cidadãos da cidade terrena, ao passo que a graça (o perdão e a vida divina obtidos por Cristo), que libera a natureza do pecado, gera cidadãos da cidade celeste (filhos de Deus)”.De modo que, segundo o Apóstolo João Evangelista, somos filhos de Deus não pela nossa natureza, degradada pelo egoísmo desde o início da humanidade, mas pelo dom de Deus e pela nossa acolhida de fé : “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes fruto, a fim de

que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos dê” (Jo 15,16).São João esclarece como nos tornamos filhos de Deus em três textos:Primeiro, no prólogo do seu evangelho (Jo 1,12), que fala do nosso poder de nos tornarmos filhos de Deus. Segundo, na primeira parte do diálogo com Nicodemos (Jo 3,1-8), que descreve toda a ação do Espírito Santo em nós para realizar a nossa geração e o nosso nascimento como filhos de Deus.Terceiro, em dois trechos da primeira carta (1Jo 3,6-9; 5,18-19), em que estão descritos os efeitos espirituais e morais na vida concreta do cristão quando ele vive a vida de filho de Deus.Para o assunto de que estamos tratando são de grande significado os dois primeiros textos acima citados.No Prólogo (Jo 1,12-14) São João escreve: “A todos que o receberam deu o “poder” de “se tornarem” filhos de Deus , (isto é) àqueles que creem em seu nome, que não nasceram do sangue nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Ele usa o termo “tornar” (se tornarem), porque quer dizer que não somos filhos de Deus desde o início da nossa existência por natureza, automaticamente, mas que nos tornamos tais. E isso acontece, como Jesus diz a Nicodemos, quando somos “gerados do alto”, isto é, quando somos gerados pela água e pelo Espírito Santo, no santo Batismo. Nesse acontecimento de fé, somos introduzidos numa nova perspectiva do ser (nova maneira de ser) e passamos a ser guiados por um dinamismo novo (pelo pensamento e a vontade de amor de Deus).

O RESPEITO À VIDA HUMANA

ESPIRITUALIDADEVOCÊ É FILHO DE DEUS ?

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Que arrogância! Vivemos em um tempo em que o mais forte deve dominar o mais fraco, deve determinar quem vive e quem morre. Vocês não percebem que não podem fazer o próprio coração bater? Que, diante do poder que pensam possuir, na verdade, nada possuem?”o aborto é uma triste realidade no mundo todo. Estima-se que no Brasil, para cada três crianças nascidas vivas, ocorra um aborto induzido. Segundo estudo realizado pela ONG Ipas-Brasil e o Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, com o apoio do Ministério da Saúde, o número de abortos realizados no Brasil passa de um milhão por ano. os procedimentos são cruéis e põem em risco também a vida da mulher. O bebê é esquartejado (aborto de curetagem), aspirado em pedacinhos (aborto de sucção), envenenado por uma solução que lhe corrói a pele (aborto por envenenamento salino) ou, simplesmente, retirado vivo e deixado morrer à míngua (aborto por cesariana).

Alguns demoram muito para morrer, fazendo-se necessária uma ação direta para acabar de matá-los, se não se quer colocá-los na lata de lixo ainda vivos.Se tais procedimentos fossem empregados para matar uma criança já nascida, sem dúvida o crime seria homicídio qualificado. Por um inexplicável critério de posição, entretanto, se tais atrocidades são cometidas dentro do útero (e não fora dele), o delito é de segunda ou terceira categoria, um ‘crime de bagatela’. Diante da aberração do aborto, felizmente temos também exemplos de heroínas da vida. Um deles é o de Santa Gianna Beretta Molla (1922-1962), médica italiana canonizada em (16/05/2004) por João Paulo II, a qual disse aos médicos que iam fazer o seu parto: “Se devem decidir entre mim e o filho, não hesitem: salvem a criança”. Eis um exemplo de uma mãe que todas as mulheres deveriam imitar!

(Extraído da Revista “Mundo e Missão”)

Vivemos numa sociedade materialista e hedonista na qual o ter e o gozar a vida valem mais que as pessoas. Nessa cultura de horizontes fechados na matéria, os absurdos se tornam normalidade e o errado passa a ser o certo.Esquecemos que a pessoa, além de ser matéria, é também espírito: animal racional! Leia esse testemunho!

O relacionamento com Deus, Criador e Pai, é uma necessidade de nossa natureza humana. Podemos, no entanto, nos relacionar com Ele somente se houver uma abertura filial para com Ele. O animal não pode tê-la. A pessoa sim, mas deve ser e viver como filha. Eu sou e vivo como filho (a) de Deus?

Em outras palavras, tornamo-nos filhos de deus pelo dom de deus que conhecemos e acolhemos na fé. O Pai respeita a nossa liberdade! Deus, nos diz São Bernardo, aguardou com trepidação (ânsia) o “sim” de Maria.De fato, outro termo-chave do Prólogo é a palavra “poder” (...deu o poder de se tornarem...). Não foi, como dizíamos, por natureza, e sim pela fé, que é o “poder”. Não a confundamos, porém, com um mero anélito (aspiração) religioso, que é uma fé vaga e anônima; trata-se daquela fé que é um dom de Deus, sem nosso merecimento e que consiste em “acreditar no nome do Filho unigênito de Deus” (Jo, 3,18), em Jesus, Deus feito homem, como nosso Salvador. Se não houver esta fé, não podemos ser filhos de deus, porque a nossa filiação depende da nossa participação na filiação de Cristo, que se manifestou entre nós como “o Filho único, que veio do Pai” (Jo 3,16,18). Tornamo-nos filhos de Deus em Jesus, como membros dele.No diálogo com Nicodemos, que constitui o trecho mais comprido e explícito

sobre como recebemos a filiação de Deus, Jesus explica: “Quem não nasce da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus”. Isso nos diz que a via de acesso para nos tornarmos “filhos no Filho” é o Espírito Santo, que é o Espírito de Cristo. É ele que gera os que tem fé, no Batismo (indicado pela água), tornando-os como membros, partes de Cristo.A experiência de vida na filiação divina faz brotar do nosso coração uma gratidão sem fim, que se traduz em vivermos deixando-nos sempre guiar pela vontade amorosa de Deus, e gera em nós a esperança da herança eterna dele, da felicidade no seu Amor. Você é e vive como filho de deus? este é o verdadeiro sentido de sua vida.

::: Mercedes dos Santos RosaGraduada em Direito e História

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BOLETIM UNIVERSTIÁRIO : Maio/2011

neCeSSidade de ConHeCer a Si meSmoNo dintel do templo de Delfos (Grécia) estavam esculpidas estas palavras: “Conhece-te a ti mesmo”. A finalidade era lembrar às pessoas a necessidade de conhecer-se para compreender o sentido de sua existência. Esse conhecimento lhes permitiria também tomar consciência de sua posição privilegiada em relação ao restante da criação, que não tem essa capacidade de autoconhecimento por não ser racional.

O homem, na realidade, sempre sentiu essa exigência de conhecimento de si mesmo. Com efeito, na história antiga, em todas as diferentes culturas – nos escritos sagrados de Israel, nos Vedas e no Avestá, nos ensinamentos de Confúcio e Lao-Tse, na pregação de Tirtankara e de Buda, nos poemas de Homero e nas tragédias de Eurípides e Sóflocles, nos tratados filosóficos de Platão e Aristóteles - encontramos as questões fundamentais que caracterizam a existência humana: Quem sou eu? De onde venho e para onde vou? Por que existe o mal? O que é que existirá depois desta vida? Isso porque, da resposta a essas perguntas, depende efetivamente a orientação que se imprime à existência. A Igreja católica também não é alheia a esse caminho de pesquisa, aliás, é peregrina pelas estradas do mundo para anunciar que Jesus Cristo é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).

Tipos de conhecimentos

os recursos que o homem possui para ter o conhecimento da verdade são vários. Temos:

- o conhecimento científico, que nos proporciona o conhecimento da estrutura das coisas materiais e das leis que as governam. Dela provém a tecnologia; os seus limites têm por base a experimentação;

- a filosofia, cujo termo significa, segundo a etimologia grega, “amor à sabedoria”. Direta ou indiretamente, ela está presente em todas as formas do conhecimento da verdade, organizando-as corretamente, e o contributo especifico que ela nos oferece é colocar especialmente a questão do sentido da vida humana e esboçar a resposta, como também ser o caminho para conhecer outras verdades fundamentais relativas à existência do homem.

Por exemplo, São Paulo, no primeiro capítulo da carta aos Romanos, olhando para a criação, apresenta-nos uma profunda verdade ao declarar que “os olhos da mente” podem chegar ao conhecimento de Deus porque, por meio das criaturas, eles intuem o seu “poder” e a sua “divindade” (cf. Rm 1,20). Neste caso, a razão não só ultrapassa o âmbito do conhecimento sensorial, visto que lhe é possível refletir criticamente sobre o mesmo, mas, raciocinando a partir dos dados coletados por meio dos sentidos, pode chegar também à causa que está na origem de toda a realidade sensível. Nesse texto, portanto, São Paulo confirma a capacidade metafísica do homem.

A filosofia, correto raciocínio (“recta ratio”), naturalmente, como tudo o que é humano, tem os seus limites e, por isso, não consegue dar-nos a verdade total. os seus limites são os da razão.

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REFLETINDOSOBRE FÉ E RAZÃOA justa medida e a harmonia das coisas são sinônimas de bem. Isso vale para tudo, inclusive para o conhecimento. Este para ser tal deve ter sempre presente o seu referencial, que é a pessoa humana. Por isso deve abranger a pessoa toda naquilo que ela é: matéria e espírito. Deve ser científico, filosófico e teológico.

Enfim, a revelação da Sabedoria de deus, isto é, da verdade plena. Esse conhecimento não provém da experimentação científica e nem sequer da correta reflexão humana, mas da acolhida, pela fé, da palavra de deus (cf 1Ts 2,13), que na sua plenitude nos foi dada e foi vivida por Cristo, no qual Deus assume o rosto do homem. Seus limites são a “plenitude da graça e da verdade” (Jo 1,14).

A finalidade da revelação é levar as pessoas a viver em comunhão com deus, que é a Verdade, para encontrarem nele a sua realização ou felicidade.

Esses conhecimentos se excluem? Não. Eles se complementam, se forem verdadeiros. Todos eles têm como fonte última o único Criador: a Inteligência divina que não pode se contradizer.

A ciência é iluminada e completada pela filosofia e pela teologia; a filosofia, pela teologia.

Sintetizando: - Os avanços tecnológicos e científicos não abrangem a totalidade do saber; sobretudo, não saciam a sede do homem sobre as perguntas últimas: Em

que consiste a felicidade? Quem sou eu? O mundo é resultado do acaso? Qual é o meu destino? Hoje, mais do que nunca, as ciências precisam de sabedoria;

- o conhecimento da reta razão não se baseia apenas numa atenta observação do homem, do mundo e da história, mas supõe como indispensável também uma relação com a fé (que significa: relação com Deus que nos fala) e os conteúdos da Revelação divina;

- enfim, tenhamos presente que vivemos em uma época em que a própria razão é ameaçada pelo utilitarismo, pelo ceticismo, pelo relativismo e pela desconfiança da razão para conhecer a verdade sobre os problemas fundamentais da vida. Isso leva a uma civilização injusta, desumana e à perda do sentido verdadeiro da vida. Aliás, tudo isso já está acontecendo.

::: Pe Antonio CaliciottiGraduado em Filosofia, Teologia e PedagogiaMestre em Teologia MoralMestre e Doutor em Filosofia SocialProfessor de Filosofia, Sociologia e Metodologia