boletim novas alianças #9: 9ª conferência dca

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D esde 1994, o Brasil tem realizado as conferências da criança e do adoles- cente e discutido as propostas mais adequadas para a efetivação dos direitos des- te público. Durante estes anos, já foram deba- tidas temáticas, pactos, normativas e marcos legais, como o Sistema Nacional de Atendi- mento Socioeducativo (SINASE), o Plano Na- cional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescen- te e o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. No intuito de dar continuidade a essa cons- trução das políticas da infância e da adoles- cência e articular sua integração em âmbito nacional, atores do Sistema de Garantia dos Direitos (SGD) de todo o país vão se reunir até julho de 2012 em torno da 9ª edição da Conferência dos Direitos da Criança e do Ado- lescente. Dessa vez o tema é a mobilização, a implementação e o monitoramento da Polí- tica Nacional e do Plano Decenal dos Direitos Humanos da Criança e do Adolescente, cujas diretrizes começaram a ser elaborados na con- ferência passada, ocorrida em 2009. De acordo com o texto base da 9ª Confe- rência, divulgado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conan- da), o prazo máximo para a realização das eta- pas municipais é o dia 13 de novembro deste ano. A orientação é que elas sejam precedidas pelas conferências livres, estratégia que visa mobilizar crianças e adolescentes a participar desse espaço de construção e debate das polí- ticas. As etapas estaduais estão previstas para ocorrer no próximo ano entre os dias 01 de fe- vereiro e 15 de maio e a nacional, entre os dias 11 e 14 de julho. ALIANÇAS 09 BOLETIM INFORMATIVO DO PROGRAMA NOVAS ALIANÇAS SETEMBRO DE 2011 1 É TEMPO DE CONSTRUIR A 9 a CONFERÊNCIA n vas EDITORIAL O objetivo é que representantes da socie- dade civil, do poder público, dos conselhos de políticas públicas e a população em geral dis- cutam e proponham ações para serem imple- mentadas no âmbito dos municípios, estados e união. De acordo com a vice-presidente do Co- nanda, Miriam Santos, as conferências são os principais espaços de participação social para definição da política pública. “Não é apenas o governo que define a política. Isso tem que ser feito juntamente com a sociedade. Nesse sen- tido, as conferências são uma forma interes- sante de garantir a democracia participativa”, destaca Miriam, que representa no Conanda a Inspetoria São João Bosco. É também o que consta no artigo 86 do Estatuto da Criança e do Adolescente ao de- terminar que as políticas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente devem ser construídas “através de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamen- tais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”. Neste boletim, o Programa Novas Alianças traz orientações e dicas que podem ajudar o seu município na construção desse importante momento de participação. Conferências dos Direitos da Criança e do Adolescente vão reunir representantes do SGD e da população em geral. Objetivo dos debates é construir novas estratégias para as políticas da infância em todo o país. Foto: Portal dos Direitos da Criança e do Adolescente Prazos da 9ª Conferência Municipal: até 13/11/2011 Estadual: 01/02 a 15/05/2012 Nacional: 11 a 14/07/2012

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De 2009 a 2013, a Oficina de Imagens produziu boletins informativos do Programa Novas Alianças, iniciativa voltada para a formação sobre orçamento público e direitos da criança e do adolescente.

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Page 1: Boletim Novas Alianças #9: 9ª Conferência DCA

Desde 1994, o Brasil tem realizado as conferências da criança e do adoles-cente e discutido as propostas mais

adequadas para a efetivação dos direitos des-te público. Durante estes anos, já foram deba-tidas temáticas, pactos, normativas e marcos legais, como o Sistema Nacional de Atendi-mento Socioeducativo (SINASE), o Plano Na-cional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescen-te e o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária.

No intuito de dar continuidade a essa cons-trução das políticas da infância e da adoles-cência e articular sua integração em âmbito nacional, atores do Sistema de Garantia dos Direitos (SGD) de todo o país vão se reunir até julho de 2012 em torno da 9ª edição da Conferência dos Direitos da Criança e do Ado-lescente. Dessa vez o tema é a mobilização, a implementação e o monitoramento da Polí-tica Nacional e do Plano Decenal dos Direitos Humanos da Criança e do Adolescente, cujas diretrizes começaram a ser elaborados na con-ferência passada, ocorrida em 2009.

De acordo com o texto base da 9ª Confe-rência, divulgado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conan-da), o prazo máximo para a realização das eta-pas municipais é o dia 13 de novembro deste ano. A orientação é que elas sejam precedidas pelas conferências livres, estratégia que visa mobilizar crianças e adolescentes a participar desse espaço de construção e debate das polí-ticas. As etapas estaduais estão previstas para ocorrer no próximo ano entre os dias 01 de fe-vereiro e 15 de maio e a nacional, entre os dias 11 e 14 de julho.

ALIANÇAS

09BOLETIM INFORMATIVO DOPROGRAMA NOVAS ALIANÇASSETEMBRO DE 2011

1

É TEMPO DE CONSTRUIR A 9a CONFERÊNCIA

n vas

EDITORIAL

O objetivo é que representantes da socie-dade civil, do poder público, dos conselhos de políticas públicas e a população em geral dis-cutam e proponham ações para serem imple-mentadas no âmbito dos municípios, estados e união. De acordo com a vice-presidente do Co-nanda, Miriam Santos, as conferências são os principais espaços de participação social para definição da política pública. “Não é apenas o governo que define a política. Isso tem que ser feito juntamente com a sociedade. Nesse sen-tido, as conferências são uma forma interes-sante de garantir a democracia participativa”, destaca Miriam, que representa no Conanda a Inspetoria São João Bosco.

É também o que consta no artigo 86 do Estatuto da Criança e do Adolescente ao de-terminar que as políticas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente devem ser construídas “através de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamen-tais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”. Neste boletim, o Programa Novas Alianças traz orientações e dicas que podem ajudar o seu município na construção desse importante momento de participação.

Conferências dos Direitos da Criança e do Adolescente vão reunir representantes do SGD e da população em geral. Objetivo dos debates é construir novas estratégias para as políticas da infância em todo o país.

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Prazos da 9ª Conferência

Municipal: até 13/11/2011

Estadual: 01/02 a 15/05/2012

Nacional: 11 a 14/07/2012

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POR UMA POLÍTICA NACIONAL DE 10 ANOS

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1Trabalho articuladoO Conselho deve ser o articulador das Con-

ferências nos municípios, mas é papel de todos os integrantes do Sistema de Garantia dos Direi-tos da Criança e do Adolescente promover esse momento de participação social. Por isso, o Con-selho pode convidar outros atores para integrar a comissão, como representantes do Conselho Tutelar e de fóruns de políticas públicas. Estes podem contribuir no processo de divulgação, mo-bilização e planejamento da conferência.

No município de Açailândia, no Maranhão, a comissão organizadora conta com o apoio da Co-missão Juvenil do Fórum dos Direitos da Criança e do Adolescente do estado para promover esse debate em espaços estratégicos, como escolas, grupo de jovens de igrejas e entidades. A propos-ta em Açailândia é que nas conferências livres sejam escolhidos os meninos e meninas que se-rão delegados na conferência municipal.

2PlanejamentoÉ importante que a comissão planeje todas

as etapas operacionais referentes à realização da Conferência e à suas atividades preparató-rias. “A comissão tem que fazer um projeto. Pre-ver espaço adequado, um som legal, uma boa infraestrutura. Deve se preocupar também com o convite amplo a todos os participantes, inclu-sive das comunidades rurais e dos distritos”, su-gere Maria Alice, da Frente de Defesa de Minas Gerais.

A Comissão deve elaborar a proposta de re-gimento interno da Conferência e levar todas as propostas à plenária do Conselho. “A comissão não trabalha sozinha. A metodologia da confe-rência, por exemplo, tem que passar por aprova-ção da plenária. O mesmo se dá em relação ao local onde será a Conferência, a definição sobre os delegados e as conferências livres”, destaca Miriam Santos, vice-presidente do Conanda.

O Conselho também deve fazer uma previ-são orçamentária do montante que será gasto na realização da conferência. Provavelmente, o recurso que deve viabilizar os encontros já está previsto no orçamento municipal. Cabe ao Con-selho recorrer à secretaria municipal à qual está administrativamente vinculado para articular a liberação dessa verba. De acordo com a vice--presidente do Conanda, Miriam Santos, tam-bém podem ser utilizados recursos do Fundo Municipal da Infância e da Adolescência.

A participação social é uma das principais maneiras de se assegurar o exercício da cida-dania e de se garantir a construção de uma política adequada às demandas sociais. Por isso a cada dois ou três anos, municípios de todo país se mobilizam para a realização das

conferências sobre políticas públicas em diversas áreas, entre elas, a infância e a adolescência, destacada pela Constituição Federal como Prioridade Absoluta.

Em sua 9ª edição, a proposta da Conferência da Criança e do Adolescente é definir estratégias de mobilização, implementação e monitoramento das diretrizes da Política Nacional e do Plano Decenal, já aprovadas. Para a colaboradora da Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Minas Gerais, Maria Alice da Silva, os municípios devem valorizar esse momento de participação como um espaço privilegiado para se definir as políticas locais. “As conferências não podem ser apenas para constar. Representam um momento ímpar em termos de uma cons-trução conjunta”.

O documento base da 9ª Conferência, divulgado pelo Conanda no final de julho, traz os prin-cípios que norteiam a Política Nacional, além de apresentar os cinco eixos estruturantes do Plano Decenal: promoção dos direitos da criança e do adolescente, proteção e defesa dos direitos, pro-tagonismo e participação de crianças e adolescentes, controle social da efetivação dos direitos, gestão da política nacional dos direitos humanos de crianças e adolescentes. Além das diretrizes do Conanda, os municípios também devem estar atentos para as orientações dos conselhos esta-duais dos direitos da criança e do adolescente.

Passo-a-passoA fim de construir um espaço participativo e consistente para o debate, o texto base do Co-

nanda define que as conferências devem ser organizadas por uma comissão formada a partir do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. As comissões também precisam garantir a participação de meninos e meninas, que devem estar representados em uma proporção de um adolescente a cada dois adultos.

É a comissão quem vai coordenar os preparativos para a realização do encontro, como os procedimentos de inscrição e a programação, e também as metodologias de trabalho. A seguir, dicas e orientações que podem contribuir para a organização e realização da Conferência em seu município.

Kit de apoio às ConferênciasO Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente vai enviar a todos os conselhos municipais e estaduais do Brasil um CD com do-cumentos de referência das políticas da infância, abrangendo os planos setoriais já construídos e o texto base elaborado para a 9ª Conferência. Esses materiais também podem ser encontrados no site www.direitosdacrianca.org.br.SA

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3MobilizaçãoA ampla divulgação contribui para a construção

de um espaço com representações diversificadas, o que pode influenciar na qualidade das discussões. A comissão pode elaborar um plano de mobilização tendo em vista os meios de divulgação disponíveis na cidade, como jornais, rádios, televisão, murais, carro de som. Além disso, a própria Comissão pode produzir panfletos e cartazes e fazer a distribuição em espaços estratégicos, como escolas, igrejas, en-tidades, CRAS, CREAS e tantos outros. A comissão organizadora também pode planejar visitas e pales-tra a essas instituições.

No município de Açailândia, o plano de mídia ela-borado pela comissão será executado com o apoio da Prefeitura. Além de jornais e emissoras locais, a ideia é investir em meios que são populares no mu-nicípio, como outdoors, blogs e os chamados carros

volantes, automóveis com caixas de som acoplados. Em Betim, Minas Gerais, a Comissão se propôs a vi-sitar escolas e apresentar a proposta da conferência para os diretores. O objetivo é fazer com os temas sejam pautados em sala de aula.

A comissão também pode disponibilizar mate-riais sobre a conferência, como as deliberações da conferência anterior e as diretrizes atuais do Plano Decenal, e realizar encontros preparatórios para de-bater esses documentos. “É importante ter acesso a esse material para as pessoas se posicionarem, se situarem, tomarem conhecimento de como as coisas estão acontecendo, ter uma visão mais ampla até para discutir”, comenta Rosália Alves, da secreta-ria executiva do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Betim. Neste municí-pio, a comissão irá distribuir e discutir os documen-tos entre seus integrantes.

5DesdobramentosApós as conferências municipais, as propostas

deliberadas devem ser encaminhadas para a comis-são da conferência estadual, bem como a relação de delegados eleitos para esta etapa. É importante que o município continue a acompanhar a deliberação das propostas e a monitorar as construções em tor-no da política, afinal, é no município que os direitos e serviços são efetivados.

A própria conferência pode ser o início do pro-cesso de elaboração do plano decenal do município,

que deve traçar as perspectivas e metas para os pró-ximos anos.

De acordo com o assessor técnico do Conselho de Açailândia, Eduardo Hirata, a conferência será um importante instrumento para definir as priorida-des do município e iniciar a implementação do Plano Decenal. “Temos um Plano Municipal de Atendi-mento de 2002, mas ele sofreu poucas atualizações. Assim, o objetivo da conferência vai ser pensar em como aplicar o Plano Decenal no município, como tirar isso do papel”, comenta.

4MetodologiaDe acordo com o texto base do Conanda, é responsabilidade do Con-

selho Municipal dos Direitos, por meio da Comissão, definir a metodologia que será utilizada nos processos de discussão das conferências. Durante o encontro, os municípios devem deliberar dentro de cada um dos cinco eixos do Plano Decenal três ações: uma de mobilização, uma de imple-mentação e uma de monitoramento. As propostas devem ter como base a realidade do município e os desafios observados em cada localidade. A conferência também irá eleger os delegados que participarão da Con-ferência Estadual. Sobre o número de delegados, os municípios devem verificar as orientações do Conselho Estadual.

Maria Alice, colaboradora da Frente de Defesa de Minas Gerais, desta-ca a importância dos trabalhos em grupo durante a Conferência para que as pessoas tenham a oportunidade de se expressarem. “Não é bom que seja aquele espaço onde se faz apenas várias palestras. É preciso cuidar para que a metodologia seja de fato participativa”, aponta.

Em Betim, o Conselho optou por realizar as pré-conferências como for-ma de subsidiar o debate. O objetivo é descentralizar as discussões e per-mitir que os atores e cidadãos de diferentes regionais participem do pro-cesso de construção das propostas. A cidade, que possui mais de 370 mil habitantes, vai realizar os encontros preparatórios nas quatro regionais de abrangência dos Conselhos Tutelares, que estão liderando as discussões em seu território.

Municípios menores podem optar pela realização de conferências em conjunto com outros municípios da região. Nessas circunstâncias, a comis-são deve buscar uma metodologia que respeite cada cidade representada, além de ser papel dos Conselhos viabilizar a participação dos interessados em integrar o debate. É importante que a comissão formada pelos Conse-lhos Municipais dos Direitos de todos os municípios participantes atenda às mesmas exigências colocadas às conferências municipais, como a pro-porção dos adolescentes participantes e o envio das ações de cada eixo à comissão estadual.

Imagem adaptada da logomarca do Plano Decenal dos Direitos da Criança e do Adolescente,

disponível no Portal dos Direitos da Criança

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tiva, democrática, lúdica, mas tem que ser séria tam-bém”, orienta Miriam Santos. Um caminho para iniciar as conversas pode ser partir das temáticas do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, para então fazer a relação com os eixos do Plano Decenal.

Conferência Nacional A comissão nacional é formada por 27 meninos e

meninas representantes de seus estados. Desse grupo, cinco foram escolhidos para representar as regiões bra-sileiras e participar com mais freqüência das reuniões da comissão. A estudante de Blumenau, Aline Buzzi, que representa Santa Catarina e a região Sul na comissão nacional, diz que a participação é uma grande conquista capaz e beneficia a todos os atores empenhados na luta pelos direitos.

Além de sugerirem a realização das conferências livres, os adolescentes da comissão nacional participa-ram do processo de revisão e leitura do texto base da Conferência. “Ao lermos o texto percebemos muitos ter-mos técnicos. Tínhamos que ver algumas palavras no di-cionário para saber o que era. Então a gente propôs que o texto tivesse uma linguagem fácil para adolescentes e adultos entenderem”, afirma Aline.

Jorge Martins, do município de Bicas, Minas Gerais, tem 17 anos e também participa da comissão organizadora da Confe-rência Nacional dos Direitos repre-sentando seu estado. Segundo ele, a participação nesse processo de organização contribui para que os adolescentes sejam efetivamente reconhecidos como sujeitos de di-reitos. “É uma oportunidade que a gente tem para mostrar nossa capa-cidade de lutar pelos nossos direitos. Eu vou lá debater, discutir e trazer para minha cidade o de melhor para fazer na conferência”, comenta o adolescente.

EXPEDIENTE Programa Novas Alianças | Coordenação executiva: Oficina de Imagens – Comunicação e Educação | Coordenadores do Programa: Adriano Guerra e Simone Guabiroba | Aliados estratégicos: ANDI – Comunicação e Direitos, Instituto Ágora em Defesa do Eleitor e da Democracia, Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Minas Gerais, Fundação Avina, Fundação Vale e Instituto C&A | Parceiros: Assembleia Legislativa de Minas Gerais – Comissão de Participação Popular e Frente Parlamentar dos Direitos da Criança e do Adolescente, Ministério Público de Minas Gerais | BOLETIM Redação e edição: Oficina de Imagens – Comunicação e Educação | Jornalistas responsáveis: Andrea Souza, Carolina Silveira (11162/MG) e Eliziane Lara (12322/MG) | Projeto gráfico: Henrique Milen | Diagramação: Filipe Motta | Impressão: Companhia da Cor Stúdio Gráfico | Tiragem: 2.000 exemplares | Informações (31) 3465-6806 | [email protected]

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É a primeira vez que meninos e meninas poderão participar não apenas como delegados, mas tam-bém como integrantes da comissão responsável

por organizar e planejar as conferências municipais, es-taduais e nacional. A resolução 149 do Conanda, do dia 26 de maio deste ano, determina que as comissões orga-nizadoras da conferência observem a proporção de um adolescente ou criança para dois adultos. Ainda atribui aos conselhos dos direitos a responsabilidade de criar formas de participação deste público nas discussões.

O texto base destaca a necessidade de se realizar as chamadas conferências livres como forma de convo-car meninos e meninas a se envolverem nos debates. As conferências livres, que devem anteceder as municipais, podem ser realizadas em escolas, abrigos, centros so-cioeducativos e outros espaços onde convivem crianças e adolescentes. A orientação do Conanda é que a me-todologia desses encontros seja adequada ao público e envolva atividades culturais e artísticas, como oficinas, rodas de conversas e mesas de debate.

“É preciso propiciar espaço de debate que não seja chato. Eles querem participar da mesma forma que a gente, mas tem que ser em um espaço que os respeite. Temos que aprimorar essa escuta, valorização e respeito àquilo que eles trazem. A metodologia tem que ser atra-

CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ORGANIZAÇÃO DOS ENCONTROS

Protagonismo: nesta 9ª edição, além de participarem como delegados, crianças e adolescentes podem integrar as comissôes responsáveis pelo planejamento e organização das conferências.

Foto: João Castilho/Arquivo Oficina de Imagens

Page 5: Boletim Novas Alianças #9: 9ª Conferência DCA

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A9ª Conferência dos Direitos da Criança e do Adolescente coloca em debate os cinco eixos do Plano Decenal dos Direitos Humanos da Criança e do Adolescente, que trazem as dire-trizes gerais desdobradas em objetivos estratégicos. Nas etapas municipais da Conferên-

cia, deverá ser proposta uma ação de mobilização, uma de implementação e uma monitoramento para cada eixo do Plano. Essas propostas serão discutidas na etapa estadual, que, por sua vez, encaminha contribuições para a etapa nacional.

A proposta é que os municípios proponham ações tendo em vista a realidade e os desafios enfrentados em seu contexto. Ou seja, devem pensar estratégias de mobilização, implementação e monitoramento que contribuam para a implementação das diretrizes do Plano Decenal em seu território. “O Conanda dá as diretrizes gerais, mas a execução da política ocorre no município. Assim, as diretrizes gerais são um caminho, mas os municípios têm liberdade para trabalhar com o que está proposto, para ampliar, ou mesmo avaliar que isso não cabe no seu contexto”, orienta a vice-presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Miriam Santos.

A seguir, apresentamos um resumo sobre cada um dos cinco eixos, com alguns dos objetivos apresentados pelo documento base da 9ª Conferência, divulgado pelo Conanda em julho deste ano.

Eixo 1: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes

Desde a implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente há 21 anos, busca--se a efetivação de uma cultura de respeito e de garantia aos direitos de meninos e meninas. Apesar dos muitos avanços, os desafios ainda são muitos em todas as regiões do país. Este primeiro eixo contempla a importância de se promover no âmbito da família, da sociedade e do estado, o princípio da prioridade abso-luta de modo a considerar as diversidades de gênero, cultura, religião, nacionalidade, entre outros aspectos.

O eixo também traz como diretriz a uni-versalização do acesso às políticas públicas de qualidade como modo de superar as desi-gualdades e promover a inclusão social. Nes-se sentido, são apontados objetivos que ainda não foram plenamente alcançados, como a erradicação da pobreza e da fome, o acesso a serviços da assistência social e ao registro civil.

A educação também é contemplada. A di-retriz destaca a expansão da educação integral e a consolidação de ensinos profissionalizantes de qualidade, integrado ao Ensino Médio. Na educação básica, a inclusão do ensino da lín-gua dos sinais na grade curricular é apontada como prioridade.

O documento também chama atenção para as políticas da cultura, do esporte e do lazer e para a necessidade de torná-las ainda mais acessíveis, bem como o direito à comu-nicação. O acesso de crianças e adolescentes às tecnologias de informação e a uma internet segura é um dos objetivos postos.

Eixo 2: Proteção e defesa dos direitos

O eixo procura enfatizar a proteção de meninos e meninas que têm os seus direitos violados, além de ressaltar o fortalecimento de órgãos e serviços adequados à efetivação e defesa desses direitos. São três diretrizes: a proteção especial de meninos e meninos com direitos violados ou ameaçados, a universaliza-ção e fortalecimento dos conselhos tutelares e a universalização do acesso ao sistema de justiça e à segurança pública.

Dentre os objetivos, destaque para a am-pliação e articulação de políticas e programas referentes à convivência familiar e comunitá-ria, ao trabalho infantil e enfrentamento da vio-lência sexual e de atendimento socioeducativo. Investir na implementação e aprimoramento dos conselhos tutelares em todos os municí-pios também é um dos objetivos colocados.

O aprimoramento dos mecanismos de de-núncia, notificação e investigação das viola-ções, dos sistemas de justiça e de segurança e o fortalecimento dos órgãos de responsabili-zação também são destacados como objetivos estratégicos dentro deste eixo.

AtençãoNão deixe de consultar o documen-to completo de orientação das Con-ferências, disponível emwww.direitosdacrianca.org.br

Page 6: Boletim Novas Alianças #9: 9ª Conferência DCA

DE UMA CONFERÊNCIA A OUTRA Há dois anos, municípios, estados e união

se preparavam para as etapas da 8ª Conferên-cia dos Direitos da Criança e do Adolescente, que tinha como objetivo construir as diretrizes da Política Nacional e do Plano Decenal dos Direitos Humanos da Criança e do Adolescen-te.

Após a realização de todas as etapas, foi criado pelo Conanda e pela Secretaria Nacio-nal de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente um grupo de trabalho composto por treze Ministérios e quatro conselheiros da sociedade civil, responsável por elaborar as di-retrizes e os objetivos do Plano Decenal, tendo como base as deliberações da conferência.

O Plano Decenal foi aprovado e divulgado em abril deste ano pelo Conanda. O texto da Política ainda precisa passar por plenária, mas

os princípios que a norteiam já estão definidos e publicados no texto base da Conferência. Dentre eles, destaque para o reconhecimento da criança e do adolescente como sujeitos de direitos, para a articulação, integração e inter-setorialidade das políticas, programas e servi-ços e para a participação e controle social.

Em sua 9ª edição, a proposta da conferên-cia é dar continuidade a esses debates e mo-bilizar a rede da infância e a população para o processo de implementação e monitoramento da Política Nacional e do Plano Decenal.“O que é a conferência? É o momento de conferir o que tem sido feito na política, de definir o que precisa ser realizado e a partir daí, verificar o que ainda persiste como desafio”, comenta Maria Alice da Silva, colaboradora da Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do Ado-lescente de Minas Gerais.

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Eixo 3: Protagonismo e partici-pação de criança e adolescente

Na perspectiva da Política Nacional, o pa-pel ocupado por crianças e adolescentes den-tro das políticas deve ser cada vez mais par-ticipativo e propositivo. Esta é a proposta do Plano Decenal ao propor este eixo que traz como diretriz central o estímulo à participação organizada e à expressão livre de meninos e meninas, principalmente no que diz respeito a assuntos a eles relacionados.

Dentre os objetivos propostos estão o pro-tagonismo de meninos e meninas em proces-sos de formulação e avaliação das políticas e a maior escuta de crianças e adolescentes em serviços de atenção, processos judiciais e administrativos. O acesso desses cidadãos a meios de comunicação também é uma das propostas deste eixo.

Eixo 4: Controle social daefetivação dos direitos

O eixo 4 do Plano Decenal ressalta a im-portância do fortalecimento de espaços demo-cráticos de deliberação e controle social, com destaque para o conselho dos direitos da crian-ça e do adolescente. O objetivo é priorizar seu caráter paritário, deliberativo, controlador e a natureza vinculante de suas decisões.

Nesse sentido, um dos objetivos estratégi-cos deste eixo aponta a universalização dos conselhos dos direitos e a qualificação de suas atribuições como ações que precisam ser con-templadas. Seu papel de elaborar, monitorar e avaliar as políticas públicas da infância deve ser aperfeiçoado.

O apoio à participação da sociedade civil organizada como fóruns, frentes, entidades e redes, e a articulação nacional e internacional desses atores para ações de incidência e con-trole social também é apontado como um ob-jetivo a ser perseguido.

Eixo 5: Gestão da Política Nacional dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes

O eixo trata das diretrizes referentes à ges-tão da Política Nacional e apresenta uma série de propostas que visam ao aperfeiçoamento e à produção de novos conhecimentos sobre este tópico. Ao todo, cinco diretrizes integram este eixo: fomento e aperfeiçoamento de es-tratégias de gestão da Política Nacional tendo em vista alguns princípios, como participação e co-responsabilidade dos três níveis de go-verno; a efetivação da prioridade absoluta no ciclo e na execução orçamentária como forma de garantir recursos para implementação de políticas da infância; a qualificação constante de profissionais da rede da infância; o aperfei-çoamento de mecanismos de monitoramento e avaliação da Política Nacional e do Plano Decenal; a produção de conhecimento sobre infância e adolescência integrada ao processo de formulação de políticas públicas a partir de pesquisas e intercâmbios científicos, por exem-plo; e o investimento em cooperações e parce-rias internacionais para que seja possível im-plementar normativas e acordos relacionados aos direitos de crianças e adolescentes.

Dentre os objetivos apontados, destaque para a implementação de mecanismos de co--financiamento e de repasse de recursos do Fundo da Infância entre as três esferas de go-verno, tendo em vista as prioridades estabele-cidas pelo Plano Decenal. A implementação de uma política de formação continuada para atores do Sistema de Garantia dos Direitos e o desenvolvimento de mecanismos institucionais para monitorar e avaliar a política em âmbito nacional também fazem parte do conjunto de estratégias deste eixo. No âmbito da produção de conhecimento, o apoio e a difusão de prá-ticas inovadoras no campo da promoção dos direitos é um dos pontos assinalados.