boletim informativo da educaÇÃo do campo£o... · o foco principal do grupo era desenvolver a...

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BOLETIM INFORMATIVO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO EDIÇÃO Nº 7 - ÃNO 2017 Com muita satisfação apresentamos a 7ª. Edição do Jornal MovEcampo, que iniciou em 2010, a partir do trabalho da turma de Licenciatura em Educação do Campo, tor- nando-se, em 2013, o jornal do Laboratório de Educação do Campo, da Universidade Estadual do Centro Oeste (Guarapuava/PR). Socializamos nessa edição especial os traba- lhos desenvolvidos em agroecologia, por seis escolas itinerantes/de assentamento vincula- das ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, do estado do Paraná. O trabalho tem envolvido a juventude e as comunidades das referidas escolas. O objetivo da divulga- ção é socializar as experiências e fazê-las referências para a realização em outros lo- cais, outras escolas, outras comunidades. Afinal, é hora de preservar a natureza, de melhorar a qualidade de vida e de produzir alimentos saudáveis. Editorial Em 2014, a equipe do Laboratório de Educação do Cam- po participou da chamada MCTI/MDA-INCRA/CNPq n° 19/2014 - fortalecimento da juventude RURAL e aprovou o projeto intitulado Formação em Agroecologia dos jovens no Ensino Médio das Escolas Itinerantes do Paraná: do saber po- pular ao conhecimento cientifico para o cuidado com a terra e com a vida”, que tem por objetivos: inserir a juventude de es- colas itinerantes, nas comunidades de acampamentos, por meio de estudo, pesquisa e implementação de práticas que contribuam para a compreensão crítica da realidade do campo e para sua transformação em direção a um novo paradigma fundamentado no desenvolvimento agrário sustentável; reali- zar aprofundamento teórico, por meio de atividades de estudo e pesquisa, sobre a produção agroecológica; promover práti- cas de auto-organização da juventude; experimentar e difundir conhecimentos sobre a agroecologia, bem como planejar a produção de alimentos saudáveis, para a melhoria da qualida- de e da produtividade das unidades familiares, organizações de cadeias de produção; disseminar o uso de metodologias participativas aplicadas à pesquisa, assistência técnica e ex- tensão rural; sistematizar o resultado do processo de estudo, pesquisa e experimentação na perspectiva de socializar o conhecimento produzido. As ações são realizadas junto às comunidades nas quais estão inseridas as escolas itinerantes, vinculadas ao MST, no Paraná e que ofertam Ensino Médio. As metas centrais da proposta são: criação de seis Grupos de Estudo, Pesquisa e Expe- rimentação Jovem –GEPEJOVEM; realização de encontros anuais de Pesquisa e Iniciação Tecnológicas ; reali- zação de encontros de Formação dos professores de química, física e Biologia; realização de visitas técnicas dos estudantes a locais nos quais são implementadas experiências de agroecologia; intervenção em campos experimentais de agroecologia; sistematização dos conhecimentos adquiridos e produzidos que serão organiza- dos em forma de cartilhas, na perspectiva de disseminá-los. Participam do Projeto as escolas/colégios: Cami- nhos do Saber (Ortigueira); Herdeiros da Luta de Porecatu (Porecatu); Valmir Motta de Oliveira (Jacarezinho); Herdeiros do Saber (Rio Bonito do Iguaçu); Aprendendo com a terra e com a vida (Cascavel) e 1º. De Setembro (Rio Branco do Ivaí). As atividades do Projeto também estão vinculadas à "Jornada Cultural Nacional: Alimenta- ção Saudável, um direito de todos!", organizada pelo MST. As próximas páginas desse jornal apresentam parte das atividades realizadas no Projeto. A última página apresenta a contribuição de Valdemar Arl, integrante do Projeto, Mestre e Doutor em Agroecologia, fundador da Rede Ecovida de Agroecologia.

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BOLETIM INFORMATIVO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO

EDIÇÃ O Nº 7 - ÃNO 2017

Com muita satisfação apresentamos a 7ª.

Edição do Jornal MovEcampo, que iniciou

em 2010, a partir do trabalho da turma de

Licenciatura em Educação do Campo, tor-

nando-se, em 2013, o jornal do Laboratório

de Educação do Campo, da Universidade

Estadual do Centro Oeste (Guarapuava/PR).

Socializamos nessa edição especial os traba-

lhos desenvolvidos em agroecologia, por seis

escolas itinerantes/de assentamento vincula-

das ao Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra, do estado do Paraná. O trabalho

tem envolvido a juventude e as comunidades

das referidas escolas. O objetivo da divulga-

ção é socializar as experiências e fazê-las

referências para a realização em outros lo-

cais, outras escolas, outras comunidades.

Afinal, é hora de preservar a natureza, de

melhorar a qualidade de vida e de produzir

alimentos saudáveis.

Editorial

Em 2014, a equipe do Laboratório de Educação do Cam-

po participou da chamada MCTI/MDA-INCRA/CNPq n°

19/2014 - fortalecimento da juventude RURAL e aprovou o

projeto intitulado “Formação em Agroecologia dos jovens no

Ensino Médio das Escolas Itinerantes do Paraná: do saber po-

pular ao conhecimento cientifico para o cuidado com a terra e

com a vida”, que tem por objetivos: inserir a juventude de es-

colas itinerantes, nas comunidades de acampamentos, por

meio de estudo, pesquisa e implementação de práticas que

contribuam para a compreensão crítica da realidade do campo

e para sua transformação em direção a um novo paradigma

fundamentado no desenvolvimento agrário sustentável; reali-

zar aprofundamento teórico, por meio de atividades de estudo

e pesquisa, sobre a produção agroecológica; promover práti-

cas de auto-organização da juventude; experimentar e difundir

conhecimentos sobre a agroecologia, bem como planejar a

produção de alimentos saudáveis, para a melhoria da qualida-

de e da produtividade das unidades familiares, organizações

de cadeias de produção; disseminar o uso de metodologias

participativas aplicadas à pesquisa, assistência técnica e ex-

tensão rural; sistematizar o resultado do processo de estudo,

pesquisa e experimentação na perspectiva de socializar o conhecimento produzido. As ações são realizadas

junto às comunidades nas quais estão inseridas as escolas itinerantes, vinculadas ao MST, no Paraná e que

ofertam Ensino Médio. As metas centrais da proposta são: criação de seis Grupos de Estudo, Pesquisa e Expe-

rimentação Jovem –GEPEJOVEM; realização de encontros anuais de Pesquisa e Iniciação Tecnológicas ; reali-

zação de encontros de Formação dos professores de química, física e Biologia; realização de visitas técnicas

dos estudantes a locais nos quais são implementadas experiências de agroecologia; intervenção em campos

experimentais de agroecologia; sistematização dos conhecimentos adquiridos e produzidos que serão organiza-

dos em forma de cartilhas, na perspectiva de disseminá-los. Participam do Projeto as escolas/colégios: Cami-

nhos do Saber (Ortigueira); Herdeiros da Luta de Porecatu (Porecatu); Valmir Motta de Oliveira (Jacarezinho);

Herdeiros do Saber (Rio Bonito do Iguaçu); Aprendendo com a terra e com a vida (Cascavel) e 1º. De Setembro

(Rio Branco do Ivaí). As atividades do Projeto também estão vinculadas à "Jornada Cultural Nacional: Alimenta-

ção Saudável, um direito de todos!", organizada pelo MST. As próximas páginas desse jornal apresentam parte

das atividades realizadas no Projeto. A última página apresenta a contribuição de Valdemar Arl, integrante do

Projeto, Mestre e Doutor em Agroecologia, fundador da Rede Ecovida de Agroecologia.

PÁGINA 2- MovEcampo

O debate acerca da Nascente de água no Acampa-

mento é muito anterior ao surgimento do Projeto de Agroe-

cologia. A Escola Itinerante já havia feito este debate em

vários momentos, mais forte com a iniciativa do professor

Welington Taques, que juntamente com duas educandas do

9º ano construíram um Projeto de Preservação da Mina

(como é chamada), porém este projeto não se efetivou, pois

os planos do Acampamento, na época, foram outros e não

houve oportunidade de socializar e discutir a preservação

da Nascente de Água naquele momento.

Isso aconteceu em 2014. No ano seguinte, com a

chegada do Projeto de Agroecologia - Formação em Agroe-

cologia dos jovens no Ensino Médio das Escolas Itinerantes

do Paraná: do saber popular ao conhecimento científico

para o cuidado com a terra e com a vida - as duas educan-

das que tiveram a iniciativa na realização dos trabalhos na

Nascente de Água entraram no Projeto e desde o início, do

planejamento do mesmo, a preocupação com a Nascente

(Mina) do Acampamento foi inserida.

A Mina abastece a maioria das famílias do Acampa-

mento, destas as que moram abaixo do nível da Mina a utili-

zam por gravidade, e as que moram acima do nível da mina

são abastecidas pelo bombeamento que leva a água até

uma caixa geral que depois distribui pelo encanamento no

acampamento.

Para iniciar as atividades e as discussões sobre a

Nascente de Água, uma parte dos/as bolsistas do projeto

foram até o espaço da mesma, onde tiraram fotos e fizeram

um mapeamento das condições, foi encontrado muito lixo,

inclusive embalagem não reutilizável. Também foi constata-

do que havia circulação de muitas pessoas e animais no

local.

Neste mesmo tempo, houve um encaminhamento do

Setor da Saúde e do Setor de Infraestrutura na Coordena-

ção para que fossem cortadas todas as bananeiras do local,

devido ao surgimento de uma lesma preta e esta, segundo

as discussões feitas nestes setores, transmitia doenças.

Como algumas pessoas do projeto participam da coordena-

ção e a monitora do Projeto levantou a questão que não

eram as bananeiras que traziam essas lesmas para a Nas-

cente e sim a falta de cuidados e o fato da própria circula-

ção de pessoas e animais neste espaço, o que gerava resí-

duos que prejudicavam, inclusive na qualidade da água.

E como não havia uma proteção em volta para delimi-

tar a passagem e permitir que a mata ciliar crescesse era

claro que estes problemas seriam visíveis. Para encaminha-

mento nesta reunião foi marcada uma outra para que se

averiguassem os fatos e a situação.

A reunião foi marcada com integrantes do Projeto,

Setor de Saúde e Setor de Infra. Como o Setor da Infra é

responsável pela distribuição da água e manutenção da

mesma no Acampamento, e este Setor tem uma pessoa

responsável para isso, foi aproveitado para debater várias

questões.

A primeira delas que as bananeiras não seriam retira-

das, pelo contrário, seriam plantadas mais mudas e outras

variedades de árvores nativas seriam introduzidas. Tam-

bém se definiu que o Projeto, o Setor de Infraestrutura e da

Saúde faria uma cerca de proteção no espaço. Foram duas

semanas de trabalho entre o Projeto e o Setor de Infra. Esta

cerca foi feita com bambus e a reutilização de arames, pois

não se dispunha de recursos financeiros.

As melhorias com esta cerca foram visíveis, pois esta

possibilitou o isolamento do espaço da Nascente, proporcio-

nando o crescimento de árvores nativas e também sendo

introduzidas ali outras espécies, também nativas, mas que

vieram de fora, como a Palmeira Jussara. A cerca impediu

o acesso direto de pessoas e animais.

Hoje está sendo feita a manutenção permanente. Es-

se debate rendeu outras conversas em torno da melhoria

da qualidade e quantidade de água no Acampamento, tanto

que em julho de 2016, com a visita dos técnicos do projeto

PRESERVÃÇÃ O DÃ MINÃ DO ÃCÃMPÃMENTO E DRENÃGEM: ÃÇO ES DO PROJETO DE ÃGROECOLOGIÃ

Encerramento da 1ª Drenagem

Construção da 2ª Drenagem

PÁGINA 3- MovEcampo foi realizada a drenagem de uma das nascentes menores.

Para realizar esse trabalho primeiramente foram

muitas semanas de conscientização e diálogo sobre o que

é essa drenagem na coordenação para permitir a ação, e,

então, a escolha do espaço. Havia a preocupação de que

se mexesse na Nascente e ela poderia secar, por isso foi

indicado que fosse escolhida uma menor, fora do espaço

da Nascente principal, a qual abastecia cinco famílias e

seus animais.

O trabalho foi realizado em um dia de chuva, com a

contribuição do Pedrinho, responsável pela água no Acam-

pamento, os e as Bolsistas do Projeto e os técnicos Pedro

e Odair.

O resultado de todo este trabalho foi muito positivo,

fomos procurados para realizar mais uma drenagem em

uma Nascente pouco maior que a primeira, esta que abas-

tece 12 famílias, na qual foram realizados os trabalhos pa-

ra a Drenagem no mês de Setembro e aconteceu em con-

junto com as famílias.

Agora fomos novamente procurados para ver a pos-

sibilidade de realizar uma drenagem na Nascente geral, ou

seja, na Nascente que abastece a maioria das famílias do

Acampamento. Estamos aguardando este debate ser feito

em todo o Acampamento, para que toda a população do

mesmo fique ciente e que também participe dos processos.

Ainda são muitos os desafios, mas o trabalho de

conscientização e de preservação da Nascente de Água

vai continuar e aos poucos todas as famílias se beneficia-

rão de suas melhorias. Isso traz mais saúde, mais qualida-

de da água consumida e preservação e cuidado da Água e

do Meio Ambiente.

Horta-floresta (Escola Itinerante Valmir Motta)

Setembro 2015. A escola itinerante Valmir Motta de

Oliveira recebeu o desafio de desenvolver um Projeto em

agroecologia, com o pagamento de bolsas para estudan-

tes. Após a equipe composta deu-se início à proposta. A

equipe de bolsistas junto à coordenação da escola, mais,

parte do setor de produção selecionou e concluiu que a

melhor proposta de projeto a ser desenvolvido seria a pro-

dução no sistema de horta-floresta.

O local escolhido para o desenvolvimento da horta-

floresta foi ao lado da escola, onde já tinha uma horta

abandonada. O solo da região é predominante arenoso,

então a primeira atividade desenvolvida na área foi a pro-

dução de compostagem e adubação, a partir de esterco

bovino, pois além do solo are-

noso também se encontrava

em estágio de degradação.

Todas as atividades propostas

e desenvolvidas na horta-

floresta foram pensadas nas

seguintes linhas. Primeiro: se-

guir os parâmetros agroecoló-

gicos; segundo: inserção dos

educandos da escola itineran-

te; terceiro: recuperação e ma-

nutenção do solo utilizando

apenas os recursos naturais, sem gastos financeiros; quar-

to: produção de alimentos saudáveis para a escola consu-

mir; quinto: a prática pedagógica sobre a importância da

agroecologia em sala de aula e a campo com todos os

educandos, desde as séries iniciais ate o ensino médio.

Foram realizadas diversas atividades e as respostas

foram motivadoras. O projeto conseguiu trazer à área de

cultivo uma melhoria significativa na estrutura do solo, uma

visão positiva dentro da escola acerca da produção agroe-

cológica e os educandos já vem consumindo a produção

da horta-floresta.

PÁGINA 4- MovEcampo

As atividades do projeto “Formação em Agroecologia

dos jovens no Ensino Médio das Escolas Itinerantes do

Paraná: do saber popular ao conhecimento científico para o

cuidado com a terra e com a vida” foram iniciadas na Escola

Itinerante Caminhos do Saber em setembro de 2015. De

início eram 18 participantes, sendo esses educandos do

Ensino Médio da escola, educandos universitários, técnico e

alguns jovens da comunidade e como cada escola itinerante

assumiu a partir do projeto uma prática agroecológica

específica, esse coletivo se propôs a construir uma horta

mandala em conjunto com uma agrofloresta. À coordenação

da escola coube o trabalho de acompanhamento do grupo e

do trabalho a ser realizado.

O foco principal do grupo era desenvolver a horta

mandala e, com o tempo, ir trabalhando a ideia da

agrofloresta. O planejamento das atividades iniciou-se já

com a escolha do local no qual seria construída a horta e

para a decisão foram consideradas algumas questões

importantes, tais como: a distância do local da horta com a

comunidade e com a escola, as características de solo

(fertilidade, nivelamento, possibilidade de manejo, etc.), a

existência e disponibilidade de água nas proximidades da

horta, enfim, foram realizadas

muitas discussões até que se

chegasse a um consenso. Foram

pensados e propostos diversos

espaços, mas nenhum era

perfeitamente apropriado, assim,

concordou-se que o terreno a ser

utilizado seria o que se encontra

na parte superior da escola, pois

além de cumprir parte dos

requisitos básicos considerados

de início, possibilitaria um

acompanhamento cotidiano e a

contribuição do

núcleo setorial de

Agropecuária, o

que ocorreu em

várias

oportunidades.

O desenho

da horta mandala

foi elaborado a

partir do

conhecimento

que os componentes do grupo possuíam dessa prática e a

partir de algumas informações conseguidas através de

pesquisas na internet, cartilhas e outros materiais. Assim,

estabeleceu-se que a mandala teria 10 m de diâmetro, 78, 5

m² de área, seria dividida ao meio com um espaço para

circulação, além de que cada lado teria três canteiros de

diferentes tamanhos, estando os menores ao centro e os

maiores nas extremidades. Dessa forma, o desenho dos

canteiros acompanharia o formato circular apresentado pela

horta mandala e entre eles haveria também espaços para

livre circulação sem a necessidade de pisoteá-los.

Desde o início da construção da horta, a maior

problemática enfrentada, e que ainda se mostra atual, foi a

fertilidade do solo. Na verdade, por precisar de um terreno

que apresentasse um nivelamento adequado, a horta foi

construída em um local com pouca cobertura vegetal e que

apresentava características rochosas. O espaço havia sido

nivelado tempos antes com o propósito de se construir um

campo de futebol para a escola, porém essa ideia foi

deixada de lado e o espaço ficou sem utilização até que

foram iniciadas as atividades do projeto. No momento em

que foi nivelado, foi removida do solo sua parte fértil

restando apenas a parte rochosa, dessa forma,

considerando que o processo natural de recuperação leva

um período extenso dependendo das condições, foi

necessária a reposição de

nutrientes no local para que

houvesse um resultado mais

imediato de recuperação. Para

tal, foi transportada terra para os

canteiros, adicionado adubo e

dado um período de descanso

até que estivesse possibilitado o

inicio da produção. Quando isso

ocorreu, observando que os

canteiros apresentavam as

condições necessárias, foi

realizado o plantio de hortaliças

e temperos que foram

Experie ncia de horta mandala agroecolo gica em conjunto com agrofloresta do coletivo de agroecologia da Escola Itinerante Caminhos do Saber

Coletivo do projeto de agroecologia da Escola Itinerante Caminhos do Saber, do acampamento Maila Sabrina, município de Ortigueira-PR

Construção da mandala e reposição do solo

Construção da mandala e reposição do solo

Área destinada para a agrofloresta

PÁGINA 5- MovEcampo

Deu-se inicio no dia 1°de maio de 2014 o acampa-

mento Herdeiros da terra em Rio Bonito do Iguaçu Paraná,

com aproximadamente 2.500 famílias com objetivo principal

a conquista da terra, e também buscar o fim do latifúndio

denominado Araupel S/A Empresa que por muitos anos ex-

plorou e explora os bens naturais e a biodiversidade.

No ano de 2015 deu-se inicio na escola itinerante

Herdeiros do Saber o projeto de agroecologia coordenado

pela Unicentro de Guarapuava e o MST, com objetivos es-

pecíficos de desenvolver práticas agroecológicas nas esco-

las dos acampamentos e assentamentos.

O nosso acampamento está localizado em seis espa-

ços estratégicos definido pelo conjunto da coordenação.

Desses espaços, quatro deles têm escolas municipais e

somente aqui na sede dos Herdeiros, a escola estadual.

Nesse espaço temos a experiência da agrofloresta, nela há

algumas culturas de produção, árvores frutíferas, banana,

mamão, laranja e algumas frutíferas nativas e variedades

de coberturas verdes entre elas mocuna, feijão de porco,

feijão guandu e ervilhaca. Um dos objetivos da agro floresta

é a recuperação do solo, pois era uma área degradada pelas

máquinas e monocultura de pinus e eucalipto. Outro objeti-

vo, ter como referencia para os futuros assentados desen-

volverem em seus lotes.

No Herdeiros Dois há uma horta agroecológica, de-

senvolvida pelos educandos e bolsistas. Nela desenvolve-

mos algumas experiências: cobertura de solo com palhadas

de feijão pois é rica em nitrogênio e segura umidade do solo,

o que vem dando bons resultados. Também é feito o plantio

de coberturas verdes que ajuda no desenvolvimento das

hortaliças e serve como alimento para muitos insetos. Por

fim, usamos algumas caldas desenvolvidas no acampamen-

to como a sufocálcica, bordalesa entre outras, também a

urina de vaca, pois conseguimos a um custo zero, ter exce-

lentes resultados.

Experie ncias agroecolo gicas na Escola Itinerante Herdeiros

do Saber do acampamento Herdeiros da Terra de 1° de maio

destinados para a alimentação na escola e, nos casos de

excedentes, distribuídos para os componentes do grupo e

pessoas da comunidade. Desde então, para evitar o

esgotamento dos recursos repostos com o processo de

recuperação do solo e manter a fertilidade, vem sendo feito a

rotatividade de culturas e adubação.

No fim de 2016 assumimos com mais ênfase o desafio

da construção da agrofloresta. Tratava-se de uma das

intencionalidades do grupo desde o início, mas ainda não

havia sido implementada efetivamente. Para isso,

aproveitando um espaço próximo à horta mandala que

estava à disposição, viu-se o local apropriado para a equipe

do projeto desenvolver seu trabalho, iniciado com a

elaboração de um esboço de como essa seria concebida.

O trabalho na agrofloresta ainda está em fase inicial,

uma vez que não estão à disposição todas as mudas

necessárias para o plantio. Foi feita uma busca pela

comunidade no intuito de se conseguir algumas variedades

de frutíferas e árvores nativas para serem utilizadas no

projeto, sendo que, o que foi conseguido foi levado a um

pequeno viveiro no próprio espaço da agrofloresta no qual as

mudas ficarão até que se estabeleça a demarcação das

linhas onde será realizado o plantio. A expectativa é a de que

consigamos ainda em fevereiro concluir o plantio das mudas

e já iniciarmos o manejo do espaço.

Realizamos um grande trabalho até o momento e

estamos cientes de que o maior desafio ainda esta por vir.

Temos grandes expectativas de deixar para a escola e para

a comunidade o fruto de um trabalho que represente o

compromisso que

assumimos e o

esforço que

fizemos ao longo

desse processo.

Estamos muito

animados pela

nossa capacidade

e pelo vislumbre do

que o esforço

conjunto pode

construir e até que

estivermos com Mudas cedidas pela comunidade

PÁGINA 6- MovEcampo

Na construção de novos saberes

entre escola e produção, um pouco da ex-

periência e compreensão acerca das refle-

xões sobre Educação do Campo e conhe-

cimento científico/popular em agroecolo-

gia. Estes são, portanto, indissociáveis do

debate sobre a geração de outro projeto de

sociedade, de desenvolvimento e do papel

do campo nesse modelo.

O Colégio Estadual do Campo

Aprendendo Com a Terra e Com a Vida

está localizado no Assentamento Valmir

Mota de Oliveira, Cascavel/PR. Conta atu-

almente com aproximadamente 246 estu-

dantes que compreendem desde a Educa-

ção Infantil ao Ensino Médio. A origem da escola remonta ao

processo de luta pela terra no Paraná, sendo a fazenda Cajati

ocupada pelo MST, em 1999. A escola teve seu início no

Acampamento Dorcelina Folador, no cenário, o processo de

implantação da Escola Itinerante.

Discutir no conjunto da escola o projeto da agroecolo-

gia como uma nova proposta de produzir e viver no campo é

um desafio permanente. Desenvolver práticas e estudos em

torno do tema que envolva educandos (as), educadores

acampados e assentados na construção da agroecologia é o

objetivo dos grupos formados pelo projeto. Na escola a partir

da definição do espaço a ser desenvolvida a experiência, o

grupo iniciou as atividades no local com estudo da área e so-

bre agrofloresta. Seguimos com a construção do mapa da

área identificando as espécies de árvores existentes, as plan-

tas espontâneas presentes no local e o tamanho da área jun-

to com o planejamento das atividades a serem desenvolvidas.

Produzir alimentos saudáveis para complemento da merenda

escolar como hortaliças, tubérculos e frutas tem sido prioriza-

do como atividade principal, já que os alimentos vindos pelo

estado e município na sua maioria são produtos industrializa-

dos, enlatados e contaminados com agrotóxicos. Em uma

área de 2064 m² havia um pomar com algumas árvores frutí-

feras exóticas e nativas, que há muito tempo estava sem ma-

nutenção. Para recuperar esse espaço iniciamos com algu-

mas práticas como roçadas, capina seletiva, plantio de plan-

tas chamadas adubos verdes (feijão guandu, feijão de porco,

mucuna anã). A relação entre teoria e prática na produção do

conhecimento tem contribuído significativamente na experiên-

cia dos estudantes e com isso provoca, por sua vez, a neces-

sidade de avançarmos em nossas reflexões sobre as possibi-

lidades e desafios no debate da Agroecologia relacionado à

Educação do Campo. O processo de organização cotidiano

da escola possibilita a participação direta e indireta dos estu-

dantes, a partir dos Núcleos Setoriais, quanto às atividades

práticas, tudo isso numa relação intrínseca entre ciência e

conhecimento popular.

Entre os resultados obtidos estão além do aprendizado

cotidiano, a busca por novas práticas e experiências entre os

agricultores das comunidades, quais fazem parte os jovens

integrantes do processo estão inseridos. Outro aspecto im-

portante a ressaltar está na obtenção de frutas, verduras e

legumes de qualidade, resultante da atividade produtiva tanto

por parte da equipe, quanto dos estudantes que participam a

partir das atividades organizadas pelos professores responsá-

veis pelas áreas do conhecimento. O que está em desenvolvi-

mento é a experiência de agroflorestal. Destacamos como

importante no processo, o desafio de prosseguir com o proje-

to, com isso ampliar a participação e formação cotidiana dos

sujeitos envolvidos, bem como, a defesa permanente de um

projeto soberano, sem agressão ao meio ambiente, para a

agricultura.

Saberes e experie ncias em uma escola do campo

Núcleo setorial agrícola dos anos iniciais, outubro 2016

PÁGINA 7- MovEcampo

Projeto de Agroecologia do saber popular ao conhecimento cientifico para o cuidado com a terra e com a vida

Conhecendo o Colégio Estadual

do Campo 1º de Setembro

O Colégio Esta-

dual do Campo 1º

de Setembro, es-

tá localizado no

Assentamento

Egídio Brunetto,

município de Rio Bran-

co do Ivaí, no Estado

do Paraná. Esta insti-

tuição foi criada no

ano de 2008, como

escola Itinerante e se tornou Colégio Estadual no ano

de 2015, fruto de muita resistência e luta das famílias

residente neste local. No início do acampamento as cri-

anças, adolescentes e jovens estudavam em um distrito

vizinho, onde sofreram descriminação ocasionando eva-

são escolar e desta dificuldade iniciou o interesse de

constituir uma escola dentro

do acampamento. Com a

transição para Assentamen-

to, o nome do Colégio foi

em homenagem ao dia da

ocupação desta fazenda,

dia 1º de setembro de

2007. A estrutura física do

Colégio, ainda esta restrita

ao que a comunidade cons-

truiu e alguns espaços já

existente da antiga fazenda, mas há uma grande luta

em torno da construção de uma nova unidade para que

haja mais potencialidade e conforto no processo educa-

tivo.

Projeto na escola

Atualmente a equipe do projeto em nossa escola,

é composta por doze pessoas, sendo cinco monitores e

sete estudantes. Reunimo-nos semanalmente, geral-

mente nas segunda feiras, para realizarmos as ativida-

des de práticas na horta e para momentos de estudos,

quando necessário nos encontramos mais que uma vez

na semana.

A atividade desenvolvida neste Colégio está no

âmbito da produção de hortaliças, priorizando o formato

de horta mandala e cultivo

de mudas por meio de um

viveiro. Atualmente con-

tamos com um espaço onde

produzimos diversas espé-

cies de verduras e legumes e

doamos para o Colégio toda

nossa produção.

Temos o espaço da horta

como um local em que reali-

zamos vários experimentos,

como o controle de insetos com caldas, o controle de

plantas indesejadas com o processo de abafamento,

aproveitamento de canteiros com mais de uma espécie

de hortaliça dentre outros. Tudo isso alicerçado na estu-

do teórico da importância e viabilidade de produzir sem

o uso de agrotóxicos.

PÁGINA 8- MovEcampo

Edição e Produção: Marlene Lúcia Siebert Sapelli

Diagramação: Eduardo Maciel Ferreira

Distribuição: Universidades e Escolas do Campo

Tiragem: 1000 exemplares

Cidade: Guarapuava

Expediente Realizaça o:

Um modelo perverso e destruidor No modelo agroindustrial e agroquímico do agronegócio amplia-se a concentração e integração entre a agri-

cultura, a produção de insumos, grandes complexos agroindustriais, redes de supermercados e o capital finan-ceiro.

Trata-se de modelo é exercido por grandes corporações multinacionais, formando «impérios agro alimenta-res» que passam a controlar a produção e o consumo, reduz a base alimentar, contamina os alimentos, con-centra as terras, explora e excluí as pessoas.

Nesse modelo também a relação da espécie humana na natureza torna-se cada vez mais negativa, pois faz re-gredir os ecossistemas, desequilibra, contamina, diminui a biodiversidade, degrada o solo, contamina e diminui a água, etc.

É portanto, uma necessidade e um grande desafio res-tabelecer uma interação positiva na natureza para nossa própria qualidade de vida e continuidade. Nesse modelo também a relação da espécie humana na natu-reza torna-se cada vez mais negativa, pois faz regredir os ecossistemas, desequilibra, contamina, diminui a bio-diversidade, degrada o solo, contamina e diminui a água, etc.

É portanto, uma necessidade e um grande desafio res-tabelecer uma interação positiva na natureza para nossa própria qualidade de vida e continuidade.

estabilidade - segurança - autonomia

A agroecologia como base A agroecologia é uma forma de

interagir positivamente no meio ambiente, pois possibilita a melhoria da funcionalidade (capacidade de se auto regular) e fertilidade dos sistemas, aumenta a biodiversidade, aumenta a resistência e resiliência (capacidade de continuidade) dos sistemas e possibilita produzir alimentos saudáveis.

Por

Vald

em

ar

Arl

Uma proposta de interação positiva no meio ambiente e entre as pessoas

O campo como um modo de vida A agricultura familiar/camponesa é um modo

de viver, pensar, criar e produzir sustentado na família. Essa forma de ser, produzir e viver, que não cabe de todo no capitalismo, é importante na construção de uma nova sociedade.

A organização e articulação são condições bá-sicas para afirmação dessa resistência campone-sa como parte da classe trabalhadora na oposição ao agronegócio (capitalismo) e transformação social.

A aliança estratégica entre o campo e a cida-de é fundamental tanto na produção de ali-mentos saudáveis como na construção de um projeto popular (da classe trabalhadora) para os municípios e para o Brasil.

Também a unificação das pautas de luta pelos direitos sociais, reforma agrária popular, reforma política e outras bandeiras são uma luta dos traba-lhadores do campo e da cidade, e são condições importantes na transformação social.

Pois um outro mundo melhor é necessário e possível.