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  • 1991 . 2011

    20anos

    35

    ABPMC | dezembro de 2011 | n. 35 | ISSN 2178-583X

    Somos todos behavioristas metodolgicos

    Despedida da Presidente

    Aos amigos, parceiros, colaboradores, colegas e scios da ABPMC

    O estudo do controle aversivo no Brasil: Um breve panorama histrico

    Afinal, somos behavioristas metodolgicos?

    Centro de Anlise do Comportamento de So Paulo (CeAC)

  • Expediente

    Boletim ContextoUma publicao eletrnica da Associao Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC) So Paulo, n. 35, dezembro de 2011

    Coordenao editorialDante Marino MalavazziJan Luiz Leonardi

    Colaborao especialDenis Roberto Zamignani

    Projeto grfico e diagramaoEduardo Musa e Silvia Amstalden

    Diretoria ABPMC gesto 2010/2011

    PresidenteMaria Martha Hbner (USP)

    Vice-PresidenteDenis Roberto Zamignani (Ncleo Paradigma)

    Primeira TesoureiraRoberta Kovac (Ncleo Paradigma)

    Segunda TesoureiraSonia Beatriz Meyer (USP)

    Primeiro SecretrioRicardo Corra Martone (Ncleo Paradigma)

    Segundo SecretrioRoberto Alves Banaco (PUC-SP e Ncleo Paradigma)

    Conselho Consultivo Vera Regina L. Otero (Ribeiro Preto) Joo Claudio Todorov (IESB Braslia) Deisy das Graas de Souza (UFSCar) Francisco Lotufo Neto (IPq HC FMUSP) Maly Delitti (PUC-SP) Maria Amalia Pie Abib Andery (PUC-SP) Vera Raposo do Amaral (PUCCAMP)

    Membros Permanentes do Conselho Consultivo Bernard Pimentel Rang (UFRJ) Hlio Jos Guilhardi (ITCR Campinas) Roberto Alves Banaco (PUC-SP) Rachel Rodrigues Kerbauy (USP) Maria Zilah Brando (PSICC) Wander Pereira da Silva Maria Martha Hbner (USP)

  • Sumrio

    Despedida da Presidente 4por Maria Martha Costa Hbner

    Aos amigos, parceiros, colaboradores, colegas e scios da ABPMC 9por Denis Roberto Zamignani

    O estudo do controle aversivo no Brasil: Um breve panorama histrico 13por Bruna Colombo dos Santos e Maria Eliza Mazzilli Pereira

    Afinal, somos behavioristas metodolgicos? 19por Cassia Roberta da Cunha Thomaz

    Somos todos behavioristas metodolgicos 24por Marcus Bentes de Carvalho Neto

    Centro de Anlise do Comportamento de So Paulo (CeAC) 31

  • Boletim Contexto n. 35

    4Maria Martha Costa Hbner

    Despedida da Presidente

    Discurso de Abertura do XX Encontro da Associao Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental e I Encontro Sul-Americano de Anlise do Comportamento

    Salvador, 7 de setembro de 2011.

    Prezados colegas convidados, que aqui com-pem esta mesa de abertura, uma mesa que se configura, pela importncia de cada um que aqui est e pelo que representam, a mesa de abertu-ra de maior representatividade institucional que j tivemos na histria da ABPMC, por envolver associaes cientficas nacionais e internacionais que tm em sua histria a dedicao anlise do comportamento e psicologia comportamental e cognitivo-comportamental;

    Prezados conselheiros da ABPMC, que aqui cumprimento na pessoa de Vera Otero, uma das scias-fundadoras da ABPMC e membro eleito de seu Conselho;

    Prezados colegas de diretoria e demais comis-ses, que aqui cumprimento na pessoa de Denis Zamignani, vice-presidente da ABPMC e presi-

    dente do XX Encontro da ABPMC e do I Encontro Sul-Americano de Anlise do Comportamento;

    Dra. Maria Malott, presidente-executiva da Association for Behavior Analysis International (ABAI), a maior associao cientfica do mundo em anlise do comportamento;

    Dra. Paula Gomide, presidente da nossa que-rida Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP);

    Dr. Guilhermo Rodriguez, presidente da Associao Latino-Americana de Modificao de Comportamento;

    Dr. Wilson Lopez, presidente da Associao de Anlise do Comportamento da Colmbia;

    Dr. Erik Arntzem, presidente da Associao Europeia de Anlise do Comportamento;

    Prezados convidados internacionais, que vm de trs diferentes continentes, sado a todos na pessoa de Sigrid Glenn, uma grande pesquisa-dora e terica no tema cultura e que tanto vem contribuindo com o desenvolvimento desta rea de pesquisa e discusso em nosso pas.

    Querida Comisso Organizadora Local, co-ordenada pela psicloga Ana Claudia Souza, a quem cumprimento todos e cada um. Nos mol-des da SBP, que leva seus congressos anuais por

    Prezados associados,

    Aps quatro anos na presidncia da ABPMC, despeo-me. No planejamento dessa despedida, elaborei o texto de abertura, apresentado no XX Encontro, que abaixo transcrevo. Nele, vocs acompanharo minha anlise da trajetria que percorri como presidenta, de 2008 a 2011, culminando na programao internacional do XX Encontro e de alguns aspectos de seus bastidores.

    Na ocasio em que encaminho este texto para o Boletim Contexto, o Natal de 2011 se aproxima, bem como o Ano-Novo, de 2012. A todos os associados, um lindo Natal e um Ano-Novo repleto de energias renovadas.

    nova gesto desejo um nico enfoque: muito amor, seriedade e dedi-cao nossa ABPMC! J antevejo o sucesso!

  • Boletim Contexto n. 35

    5Maria Martha Costa Hbner

    Despedida da Presidente

    todo o pas, tambm a primeira vez que o gru-po que dirige a ABPMC, grupo esse sediado em So Paulo, dispe-se a propor um Encontro, com essas dimenses, fora do local de origem de seu grupo. Isso revela, a meu ver, mais um avano em nossa maturidade, em assumir sua identida-de nacional com o decorrente trabalho de difu-so e desenvolvimento da rea por todo o pas.

    Assim, trabalhamos com uma Comisso Local. Como j trabalhei antes neste formato, como presidenta que fui da SBP por quatro anos, pos-so dizer que nunca vi uma Comisso Local to animada e envolvida. Nas reunies locais e on-line que fizemos, vamos e percebamos as difi-culdades encontradas, sempre muitas, claro, quando se tm recursos limitados. Mas no vi ningum esmorecer em nenhum momento.

    Nos ltimos dias que antecederam o evento, em meio s nossas madrugadas de trabalho, e--mails organizados e competentes vindos da coordenadora da Comisso, Ana Claudia, indi-cavam a agenda operacional pr-congresso da Comisso e acrescentavam um tom da envolven-te musicalidade baiana. Os e-mails tinham por ttulo Acelara, lembrando a msica de Ivete Sangalo, que serviu de blsamo nas madru-gadas de insnia de nossa tesoureira Roberta Kovac, que fazia e refazia nossas contas diaria-mente para que pudssemos ter um congresso sem prejuzos para a associao e que pudes-se, ao mesmo tempo, ser de qualidade, com o conforto de sempre, mas com muita parcimnia nos gastos, para que possamos passar ges-to seguinte a verba para comprarmos, aps 20 anos, nossa sede prpria. J no sem tempo!!! Sonhamos com isso!!!

    Obrigada, Comisso Local, pelo jeito baiano de nos fazer trabalhar mais leves, mas sem perder, em nenhum minuto, a competncia e a seriedade.

    E sado agora a nossos amados associados da ABPMC, nossa razo do fazer e do continuar fazendo!

    A ABPMC est no Nordeste! Isso maravilhoso! um grande deleite poder ver a anlise do

    comportamento em uma moldura to linda e ins-piradora como este mar que nos ladeia, e com gente to especial, como j disse, to trabalha-dora e disposta a nos mostrar, nesses quatro dias, o que diz o refro de Caymmi:O que que a baiana tem?; O que que os baianos tm? Como tambm j disse, ns descobrimos outras coisas alm daquelas mundialmente conhecidas

    - uma enorme disposio e competncia em nos ajudar e em conseguir fomentos. Pela primeira vez, conseguimos o apoio da Petrobrs e foram os baianos que conseguiram!!! Foi uma Comisso Local que nos ajudou a organizar um empreendi-mento internacional como este, com o charme, o sabor e o ritmo que nos move cantarolando.

    Como j disse em meu texto de abertura do programa, se Skinner tivesse tido a oportunida-de de conhecer a Bahia, a anlise do comporta-mento teria sido ainda melhor!!!

    Pela primeira vez, vimos nosso congresso ser divulgado junto ao po de cada dia, na regio de Alagoinhas, interior da Bahia, em 30 mil sa-cos biodegradveis de po.

    Nossos agradecimento empresa Publipan. Foi uma iniciativa criativa e simples da Comisso Local, conduzida nesse item por Maria da Conceio. Vocs conseguiram levar a imagem do nosso con-gresso a tanta gente, gente simples, gente hu-milde, gente de todo jeito, pareando-o com um reforador primrio to belo como o po de cada dia, que alimenta, que sustenta. Que a ABPMC continue assim, pareada a essa imagem de alimen-to e sustentao pelas aes que realiza!!!

    Genial! Isso Bahia!Em uma entrevista ao grupo Comporte-se,

    em abril ltimo, quando estive aqui em Salvador para reunies e para Jornada de Anlise do Comportamento de Salvador, me perguntaram por que a ABPMC estava vindo para o Nordeste e comeando por Salvador. Minha resposta ba-sicamente mostrou a necessidade de sairmos dos grandes centros (Sudeste), em que j so-mos muitos, para as regies em que precisamos crescer ainda mais. E nada melhor do que co-mear por uma regio do Nordeste que tem fei-to um trabalho constante e profcuo pela anlise do comportamento, j tendo realizado at hoje sete jornadas de anlise do comportamento, o que a torna um centro retransmissor e produtor de conhecimento analtico-comportamental.

    Assim, um sonho antigo se concretiza, sonha-do desde o primeiro momento em que decidimos circular pelo pas e samos para Londrina, na ges-to de Zilah Brando. Voltamos para o Estado de So Paulo nos anos seguintes e, bem solidifica-dos, fomos ao Centro-Oeste em 2006 e 2007. De volta So Paulo, nossa gesto 2010-2011 voltou a pensar em sair da situao confortvel de es-tar perto do maior contingente de AC (a prpria cidade de So Paulo) e, como num processo de

  • Boletim Contexto n. 35

    6Maria Martha Costa Hbner

    Despedida da Presidente

    modelagem, fomos um pouquinho mais longe de grandes metrpoles paulistanas e alcanamos as montanhas de Campos de Jordo em 2010.

    Penso hoje, metaforicamente, que Campos de Jordo foi uma parada estratgica para dar aos nossos associados um local prazeroso para divulgarem suas pesquisas, estudos e atendi-mentos clnicos, alm de um descanso das via-gens que teremos de percorrer daqui por diante.

    Carolina Bori, em discurso na UFSCar, por ocasio da JAC So Carlos, ao falar da ABPMC, disse que havamos iniciado um movimento itine-rante quando fomos Londrina e que isso preci-saria ser melhor analisado e observado. Ao final deste Encontro e com as implicaes positivas advindas, que tenho certeza viro, saberemos a resposta a essa pergunta de Carolina Bori.

    A Associao maior em anlise do comporta-mento, a nossa querida ABAI, em seus 37 anos, realiza congressos anuais, cada vez em uma cida-de diferente dos Estados Unidos. Cresceu tanto que passou a fazer o mesmo, a cada dois anos, em diversas regies do mundo (2004 foi no Brasil e, neste ano, em Granada, na Espanha, sob a co-ordenao do Brasil, dada a minha funo de representante internacional junto ao Conselho Executivo da ABAI).

    Nesse sentido, o I Encontro Sul-Americano de Anlise do Comportamento pode ser o primeiro de uma srie e nem sempre precisa ser no Brasil. Nossos colegas sul-americanos esto aqui conos-co e, juntos, discutiremos os rumos futuros dessa iniciativa da ABPMC. Sabemos que somos o maior grupo de analistas do comportamento do mundo, fora dos EUA. No podemos fugir de nosso papel nessa liderana. Assumindo de fato essa posio, podemos contribuir muito e de modo absoluta-mente democrtico e em nvel de parcerias para o crescimento da AC na Amrica do Sul.

    Ao falar que no podemos fugir, penso que hoje, 7 de setembro, Dia da Independncia, Dia de Ptria, um dia bastante propcio para essa reflexo, pois me remete a uma parte de nosso hino que me bastante cara: Um filho seu no foge luta!

    Mas, para fazer tudo isso, preciso ter a con-cepo e a viso dessa liderana e gente que tem o chamado esprito empreendedor, que compartilha essa viso e que apresenta uma boa dose de coragem e otimismo. No tivesse esse perfil, no fosse a persistncia, ousadia e tra-balho duro de nosso presidente do Encontro,

    Denis Zamignani, possvel que acabssemos hoje no Centro de Convenes Rebouas, ali bem perto da USP, onde eu trabalho, e perto do Ncleo Paradigma, onde o Denis trabalha.

    O fato que, alm da regra de que tnhamos de ir alm de So Paulo, fomos tambm sendo conquistados pelas contingncias do dia a dia, pela competncia baiana, pela criatividade, e aqui estamos felizes e honrosos.

    Estamos realizando o que podemos chamar do segundo encontro internacional na histria da ABPMC: o primeiro foi em 2004, quando Maria Malott, que aqui est, Helio Guilhardi e eu trabalhamos juntos na Comisso Executiva do Encontro para que fizssemos os dois con-gressos juntos. J antevejo que repetiremos o sucesso daquele grandioso evento.

    Embora sul-americano, vocs vero, no pro-grama, que h tambm convidados portugueses, noruegueses, norte-americanos e irlandeses. Isso reside no fato de que a internacionalizao da ci-ncia um fenmeno positivo e irreversvel. As fronteiras, no plano da cincia, so virtuais e, mes-mo quando se estudam questes prprias de cada pas, outras naes podem se beneficiar dos pro-cessos comportamentais ali descritos e analisados.

    A presena de analistas do comportamento de Portugal, Reut Peleg e Nicole Dias, jovens analis-tas do comportamento aplicados, originou-se da preocupao em estreitar as interaes no nvel de aplicao, entre nossos dois pases, no tocante ao desenvolvimento da anlise do comportamen-to para pessoas com desenvolvimento atpico, com o conforto de falarmos a mesma lngua. L eles so poucos e ns aqui mais e precisamos es-tar preparados, com um contingente maior, para o boom de procura aos analistas do comporta-mento que est havendo no Brasil e em Portugal nos ltimos cinco anos. Para esse contingente de preparo estratgico, descobrimos tambm analistas do comportamento em nossa vizinha Argentina, como Manuela Fernandes Vuelta.

    Os maiores grupos brasileiros que trabalham com essa populao, o grupo argentino e o gru-po portugus, estaro aqui ministrando seus cur-sos e se reunindo em uma mesa-redonda para somarmos foras e iniciar intercmbios com vizi-nhos histrica e geograficamente mais prximos.

    Mas precisamos tambm pensar na ABPMC como uma prtica cultural que pode transfor-mar uma sociedade. Convidamos nosso colega Wilson Lopez, da Colmbia, que abordar, como

  • Boletim Contexto n. 35

    7Maria Martha Costa Hbner

    Despedida da Presidente

    Glenn e Ingumm Sundaker da Noruega, como Leslie, da Irlanda, temas relacionados cultura e sustentabilidade, especificamente. Wilson tam-bm representa a Federao Ibero-Americana de Psicologia, a quem agradecemos pelo apoio es-tada do professor Wilson em nosso pas. Ele, por sua representao, simboliza uma ponte com os centros espanhis, portugueses e colombianos e poder nos ajudar imensamente a maximizar a atuao comportamental para mudanas sociais.

    Neste XX Encontro, j institumos o prmio a trabalhos sobre comportamento humano e sus-tentabilidade, tema do Encontro, e esperamos que os desdobramentos desse prmio, somados presena de Sigrid Glenn, de Ingumm Sundaker, de Wilson Lopez e dos nossos pesquisadores bra-sileiros sobre o tema, tenham sido contingncias reforadoras para que mais trabalhos na anlise comportamental da cultura emirjam em nosso pas.

    Nossos colegas e convidados norte-america-nos no poderiam faltar a um momento histri-co como o que aqui vivemos neste XX Encontro e I Encontro Sul-Americano: h uma tendncia mundial em seguir o modelo norte-americano de certificao de analistas do comportamen-to (conhecido como BCBA ou BACB), mas dois convidados especiais norte-americanos que aqui esto - Sigrid Glenn e Jack Marr - foram convidados justamente para debater esse mo-delo, analisar a experincia norte-americana de 20 anos e analis-lo criticamente conosco, junto com colegas brasileiros que vm estudan-do o assunto (como Roosevelt, Lotufo Neto, na experincia com a Psiquiatria, Amalia Andery com sua longa experincia na CAPES e agora na direo da graduao de psicologia).

    Na rea de interesse tradicional e forte da ABPMC - a terapia comportamental e a terapia comportamental-cognitiva-, optamos por trazer pesquisadores que discutissem o que temos de novidades nas tendncias recentes, nas novas propostas de terapia. Kelly Wilson e Michael Dougher esto aqui, para discuti-las conosco e relacion-las com a anlise do comportamen-to, juntamente com Oswaldo Rodrigues, Lotufo Neto e outros brasileiros.

    Um aspecto importante deste cenrio que toda a concepo deste XX Encontro e do I Encontro Sul-Americano, bem como seu progra-ma, foram avaliados por nossos pares, nas agn-cias nacionais de fomento, e conseguimos a apro-vao do CNPQ, da CAPES e da FAPESP, que mais

    uma vez nos apoiaram, com recursos importantes, dando-nos no apenas condies de realizar o congresso, mas a certeza de que o que aqui ofere-cemos foi avaliado pelas respeitadas agncias de fomento do pas, o que nos fortalece e aumenta nosso prestgio junto comunidade cientfica!!!

    Continuamos tambm em interaes estveis e frutferas com outras sociedades cientficas na-cionais e internacionais, temos um representante oficial da ABPMC junto SBPC Candido Pessoa, que organizou um srie de atividades na ltima reunio em Goinia, algumas delas voltadas sus-tentabilidade e ao comportamento humano. Ao mesmo tempo, muitos de nossos conselheiros so tambm conselheiros atuantes da SBP. Nossa in-sero e visibilidade internacional tornou-se maior, na medida em que todos os anos apresentamos em exposio na ABAI as atividades e conquis-tas da ABPMC e nas ABAI fora dos EUA sempre somos convidados e descrever o que temos feito aqui no Brasil, juntamente com outros pases.

    Nossas publicaes continuam vivas, dinmi-cas e ativas: a revista est em formato eletrni-co, com hospedagem gratuita e domnio USP; neste congresso, j foi lanado o Volume 13; a coleo Sobre Comportamento e Cognio transformou-se tambm online, gratuita aos s-cios, com ISBN e, em outubro, um novo volume com 55 artigos foi lanado.

    Finalmente, assumimos definitivamente nos-sa funo de representar os behavioristas, o behaviorismo e a anlise do comportamento; no ltimo ano, pedimos correes s questes equivocadas do ENEM sobre o behaviorismo, o que nos foi prometido para o prximo exame; es-crevemos para a revista Veja e para vrios blogs relacionados, explicando comunidade por que Dunga no um behaviorista, por que aquilo que fazia a falsa psicloga Beatriz Cunha nada tinha a ver com os princpios que defendemos e, em conjunto com a SBP, enviamos cartas pblicas em protesto a aes do CFP contra o chamado de-poimento sem dano. Como vem, o trabalho no pequeno, mas a paixo pela AC grande. Assim como a paixo de muitos de vocs.

    Neste ano de 2011, estamos em processo de eleio para que um novo grupo possa assumir esse sonho e ter a alegria que estamos tendo hoje em poder oferecer a vocs conquistas. J temos uma chapa inscrita e vitoriosa, de gente corajosa e jovem como meu vice-presidente e eu. Aprendi com a professora Carolina Bori que

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    8Maria Martha Costa Hbner

    uma boa presidenta no termina sua gesto sem planejar a sucesso. Fizemos isso em conjunto com toda a diretoria durante um ano. Muitos de vocs, lderes-seniores, foram por ns consulta-dos sobre a possibilidade de se candidatarem. Na escassez de candidatos na faixa etria entre os 50 e 60 anos, passamos a procurar e anali-sar na faixa dos 30. Foi a que encontramos um grupo disposto a continuar todo esse trabalho; arregaaram as mangas e se candidataram. O futuro da ABPMC est muito promissor.

    Mas, voltando ao presente, eu termino e dei-xo agora meu forte abrao a cada um de vocs, desejando que tenham profcuos, agradveis e produtivos dias, aproveitando tudo o que pla-nejamos com muito cuidado para vocs!!!

    E a todos os baianos aqui presentes, meu abrao especial.

    Maria Martha Costa HbnerPresidenta da ABPMCDe 2008 a 2011

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    9Aos amigos, parceiros, colaboradores, colegas e scios da ABPMC | Denis Roberto Zamignani

    Queridos amigos, parceiros, colaboradores, co-legas e scios da ABPMC,

    Comeo este texto da mesma forma como co-meamos, ao longo dos ltimos dois anos, todas as comunicaes que enviamos a vocs. A esco-lha do formato reflete um pouco do significado que tem, para ns, a ltima publicao desta gesto da ABPMC. inevitvel um certo tom nostlgico, pois, apesar das inmeras dificulda-des que envolvem a gesto de uma associao como esta, os dois ltimos anos foram carre-gados de bons momentos que marcaro para sempre a nossa histria. Eu poderia enumerar aqueles que me vm memria nas prximas linhas, mas, alm do risco imperdovel de deixar de fora pessoas e histrias importantssimas, o texto ocuparia todo o espao destinado a este Boletim.

    Gostaria de destacar tambm o uso, neste e em todos os outros textos que escrevi ao longo desses dois anos, do ns, ao me referir ao traba-lho desenvolvido. Destaco isso para deixar claro que no se trata apenas de plural majesttico, mas de uma genuna referncia a um trabalho que no foi desenvolvido por uma ou outra pes-soa, mas por uma equipe enorme a qual ns tive-mos a incumbncia e a honra de coordenar. Digo isso para reafirmar algo que aqueles que estive-ram junto de ns puderam constatar: em todo o tempo, tivemos um grande cuidado para que a nossa passagem pela diretoria da Associao no deixasse sequer a ideia de que trabalhvamos pelo favorecimento de uma ou outra pessoa ou instituio. Procuramos trabalhar com a mxima

    1 Vice-presidente da ABPMC no binio 2010-2011.

    transparncia, comunicando e justificando cada deciso tomada. Sabamos que tal postura abriria a possibilidade de crticas, mas acreditamos que o debate (desde que respeitoso) parte essen-cial do funcionamento de uma Associao.

    Eu deveria falar agora sobre o XX Encontro da ABPMC, mas impossvel referir-me a ele sem uma meno ao contexto no qual ele foi gerado, que diz respeito Associao como um todo.

    Tivemos como atual diretoria a responsabili-dade de estar frente da ABPMC em um mo-mento especial. Nossa Associao comemora-va 20 anos de existncia. Nessas duas dcadas, a ABPMC cresceu em nmero de associados e amadureceu muito, exercendo hoje com distin-o seu papel na disseminao e fortalecimen-to da anlise do comportamento e da psicolo-gia cognitivo-comportamental em nosso pas.

    A atual diretoria assumiu com afinco a conti-nuidade dessa empreitada, fazendo o que estava ao nosso alcance para honrar essa histria.

    Ao assumir esse desafio, sabamos que a ABPMC no poderia ser uma associao vol-tada apenas para seus prprios associados. Acreditvamos que era o momento de a ABPMC mostrar s comunidades leiga, profissional e cient-fica que nossos profissionais e pesquisadores con-tribuem para a sociedade por meio de seu conhe-cimento produzido e de seus servios prestados.

    Para a primeira delas propusemos o progra-ma ABPMC Comunidade, ampliao da proposta de diretorias anteriores. Com o apoio do Parque Tecnolgico de Itaipu, comeamos nosso primei-ro desafio na cidade de Foz do Iguau, a partir de 2010. Em 2011, foi a vez da cidade de Salvador, sede da segunda etapa do projeto. Alm de ati-vidades realizadas ao longo de todo o ano de

    Aos amigos, parceiros, colaboradores, colegas e scios da ABPMC

    Denis Zamignani1

  • Boletim Contexto n. 35

    10Aos amigos, parceiros, colaboradores, colegas e scios da ABPMC | Denis Roberto Zamignani

    2011, com a coordenao de Ana Lcia Ulian, tivemos no XX Encontro um conjunto de ativida-des voltadas comunidade, levando populao da regio diversos temas de seu maior interesse.

    Respondemos tambm comunidade por meio de cartas e comunicados, em defesa da rea, quando surgiu na imprensa algum tema que colocava em questo a tica ou a validao de nossos procedimentos, tcnicas e teorias.

    A mesma preocupao com o valor social de nosso conhecimento levou escolha do tema comportamento humano para um desenvolvi-mento sustentvel. O tema diz respeito a uma questo extremamente relevante e atual. H muito tempo a tecnologia da anlise do compor-tamento tem contribudo com solues criativas e propostas inovadoras no manejo de questes ambientais. Sabemos que a atual mobilizao em defesa de um mundo sustentvel se refere - nada mais, nada menos - promoo de mudan-as de comportamento humano. A defesa de um desenvolvimento sustentvel envolve mais que a conscientizao das pessoas sobre a finitude de nossos recursos naturais. Envolve o desen-volvimento de novos padres de interao do indivduo com cada aspecto de seu cotidiano. Indivduo este que, desde suas primeiras aes ao acordar, se depara com escolhas que podem priorizar suas necessidades individuais ou a so-brevivncia do grupo. O XX Encontro foi um evento totalmente sustentvel. Com a consulto-ria de Angela Perondi, pudemos fazer com que cada detalhe do Encontro fosse pensado para ter seu impacto ambiental minimizado.

    Era a hora tambm de a diretoria da Asso-ciao se aproximar mais de seus associados. Decidimos ampliar a comunicao da Associa-o em todas as direes. O site da Associao foi separado do site do Encontro, de modo a dar mais destaque s atividades da Associao voltadas comunidade e aos profissionais a ela associados. Nosso boletim foi totalmente repa-ginado, contando com o trabalho impecvel de editorao e organizao de Dante Malavazzi e Jan Leonardi. Criamos uma pgina no Facebook e uma conta no Twitter, para agilizar a comu-nicao, acompanhando as mudanas culturais trazidas pelas redes sociais.

    A criao desses novos canais de comunicao foi bastante proveitosa, pois permitiu que mui-tos associados trouxessem contribuies, escla-recessem suas dvidas e participassem mais da

    Associao. Alm disso, foi possvel divulgar com mais agilidade as informaes sobre a Associao e o Encontro, ampliando o alcance de nossa co-municao por meio da facilidade de propagao de informaes propiciadas pelas redes sociais.

    A preocupao com uma melhor comunica-o refletiu-se tambm na prpria organizao do livro de programao do Encontro. O progra-ma apresentava um ndice remissivo, que facili-tava a localizao das atividades por autor, alm de um mapa dirio, facilitando a localizao das atividades simultneas. Por ltimo, inserimos tambm ao final da programao o regulamen-to adotado pela Comisso Cientfica, sempre visando transparncia de nossas decises.

    Ainda tendo como meta que a ABPMC fosse mais representativa do perfil de nossos associa-dos, atendendo s inmeras solicitaes dos profissionais e pesquisadores, demos incio ao processo que culminou na mudana da denomi-nao da ABPMC para Associao Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental.

    A realizao do Encontro na cidade de Salvador tambm veio ao encontro de muitas solicitaes de profissionais do Nordeste que, h anos, tm contribudo com trabalhos de al-tssima qualidade para a realizao do Encontro.

    Como resultado dessas e de muitas outras aes, pudemos constatar no XX Encontro da ABPMC um retorno muito positivo das mais diversas esferas sociais. Como apontado por nossa conselheira Maria Amalia Andery, obti-vemos o reconhecimento de nossos pares, da comunidade cientfica e da sociedade.

    O primeiro reconhecimento pode ser consta-tado por meio do nmero expressivo de partici-pantes do Encontro, das mais diferentes regies do pas, e do nmero de instituies afiliadas.

    A Figura 1, a seguir, mostra o total de partici-pantes e sua distribuio nas diferentes regies do pas. Pode-se notar que o XX Encontro trou-xe 1500 participantes de 25 Estados na Unio, um nmero de participantes 20% maior que o Encontro anterior, realizado em Campos do Jordo. Entretanto, o dado mais interessante a expressiva participao de pessoas da regio Nordeste. Houve um aumento de 500% no n-mero de participantes dessa regio em compa-rao ao ano anterior sem, no entanto, inibir significativamente a participao das regies Sudeste e Sul. Podemos concluir destes nme-ros que a realizao do Encontro no Nordeste

  • Boletim Contexto n. 35

    11Aos amigos, parceiros, colaboradores, colegas e scios da ABPMC | Denis Roberto Zamignani

    permitiu atingir um pblico que at ento no frequentava os Encontros da ABPMC.

    Figura 1. Distribuio dos participantes por regio (25 Estados representados em 2011).

    Ainda, a Figura 2 mostra a distribuio dos participantes por categoria. importante notar que mais da metade dos participantes foi cons-tituda por profissionais j atuantes (estudantes de ps e profissionais), demonstrando a con-solidao e o reconhecimento da proposta da Associao pelos profissionais de nossa rea. Por outro lado, o grande nmero de estudantes importante para a renovao do quadro de associados e a disseminao das abordagens.

    Figura 2. Participantes do XX Encontro por categoria.

    O reconhecimento interno tambm pode ser constatado pelo nmero de parceiros e de ins-tituies que se afiliaram ABPMC no ano de 2011. Tivemos o apoio internacional da ABAI (Association of Behavior Analysis International), alm da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e da FIAP (Federao Internacional de Associaes de Psicologia) e de 18 instituies que contribu-ram no apenas financeiramente, mas especial-mente com seu prestgio para fortalecer ainda mais nossa Associao: AMBAN So Paulo, SP; CeAC So Paulo, SP; CEMP Fortaleza, CE; Faculdade Evanglica Curitiba, PR; Gradual So Paulo, SP; HU USP So Paulo, SP; IACEP Londrina, PR; IACEP Ribeiro Preto, SP; IBAAC - Salvador, BA; IBAC Braslia, DF; INBIO Ribeiro Preto, SP; Interac So Jos dos Campos, SP; IPECS So Jos do Rio Preto, SP; ITCR Campinas, SP; Neulogic Consultoria So Paulo, SP; Ncleo Paradigma - So Paulo, SP; PsicC Londrina, PR; Psicolog Ribeiro Preto, SP.

    O XX Encontro da ABPMC foi tambm reco-nhecido pela comunidade cientfica, obtendo o financiamento das agncias de fomento Capes, CNPQ e FAPESP. Mais uma vez, essas entidades depositaram sua confiana no trabalho de qualida-de desenvolvido h 20 anos por nossa Associao.

    Por ltimo, e no menos importante, o reco-nhecimento da comunidade nossa Associao pde ser constatado pelo nmero de parceiros, patrocinadores e expositores. Como parcei-ros e patrocinadores, pudemos contar com a Petrobrs, a Escola Baiana de Medicina e Sade Pblica, a Editora Juru e o Convention Bureaux de Salvador. Como expositores, tivemos a parti-cipao de Brasil Au Artesanato; AMBAN So Paulo, SP; Editora ESETec; Editora Juru; Editora Scala; Editora Vozes; Escola Baiana de Medicina e Sade Pblica; Folha Mstica Artesanato; Fluncia RH; IPECS So Jos do Rio Preto, SP; IBAC Braslia, DF; Insight equipamentos cientficos; LDM Livraria; Livraria Larpsi; Ncleo Paradigma So Paulo, SP e TVMED.

    Graas ao apoio de tantas instituies e ao trabalho de tantas pessoas (j mencionadas no artigo de nosso ltimo boletim), pudemos rea-lizar um grande Encontro, que foi abrilhantado por 19 conferncias, 26 palestras, 21 simpsios, 53 minicursos, 57 mesa -redondas, 25 comuni-caes coordenadas, 219 comunicaes orais, 155 painis cientficos, 77 painis de relato de

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    12Aos amigos, parceiros, colaboradores, colegas e scios da ABPMC | Denis Roberto Zamignani

    experincia, 6 palestras para a comunidade, 22 atividades de primeiros passos e 3 supervises pblicas. Alm da programao habitual, du-rante o XX Encontro ocorreu a cerimnia do I Prmio ABPMC Sustentabilidade. O Prmio foi idealizado por esta diretoria e conduzido por trs associados aos quais somos muito gratos: Angela Perondi Pittel, Marcelo Benvenuti e Candido Pessoa. Foram 10 trabalhos submeti-dos, dos quais trs foram selecionados e apre-sentados em uma mesa-redonda especial.

    Como j foi dito em outras ocasies, um Encontro como o da ABPMC muito mais que uma reunio cientfica. uma grande reunio de amigos que compartilham ideais comuns. E a construo disso tudo exige trabalho, or-ganizao e empenho de muitas pessoas. Sei, sem a menor sombra de dvida, que todos que fizeram parte da organizao deram o mximo de si para proporcionar o melhor a cada um de ns nos quatro dias que se seguiram. O esfor-o conjunto destas e de tantas outras pesso-as - complementado pelo apoio e confiana de cada um dos participantes, estudantes, pesqui-sadores, professores, profissionais e entusiastas da anlise do comportamento e da psicologia cognitivo-comportamental de nosso pas e de nosso continente - foi fundamental para fazer deste evento mais um grande sucesso.

    O Futuro da ABPMCTudo o que foi escrito ate ento disse respeito a nosso passado recente. O futuro que se aproxi-ma tambm bastante promissor, pois sabemos que nos prximos dois anos a ABPMC estar em muito boas mos...

    Declaro aqui o meu apreo e admirao pelo grupo dinmico e empreendedor que assu-miu a prxima gesto da ABPMC. Tive o pra-zer de trabalhar em diferentes contextos com cada uma das componentes da nova diretoria e posso declarar sem sombra de dvida que elas tm a garra e a capacidade de trabalho neces-srias para levar frente a empreitada qual se propuseram. Antes mesmo de assumirem seu posto, elas j vm demonstrando evidn-cias de sua grande capacidade de organizao, planejamento e execuo. Nosso XXI Encontro j tem data e local definidos - ser realizado em Curitiba, de 15 a 18 de agosto de 2012 e os preparativos esto em ritmo acelerado. Em breve, teremos tambm excelentes notcias a

    respeito do projeto ABPMC Comunidade.Encerro este texto com a sensao de dever

    cumprido e com a certeza de que ainda h muito por fazer. Em nome da diretoria e de todos os as-sociados da ABPMC, agradeo aos que tornaram o nosso XX Encontro uma realidade. Agradeo tambm pela confiana depositada e pelo apoio macio de um enorme nmero de pessoas que viabilizaram a realizao de todas as aes desta gesto. Dou as boas vindas s novas componen-tes da diretoria, desejando uma gesto de har-monia e sucesso e declarando meu total apoio para que todas as suas metas sejam atingidas.

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    O estudo do controle aversivo no Brasil: Um breve panorama histrico | Bruna Colombo dos Santos e Maria Eliza Mazzilli Pereira 13

    O estudo do controle aversivo no Brasil: Um breve panorama histrico1

    Bruna Colombo dos Santos e Maria Eliza Mazzilli Pereira

    Controle aversivo um domnio2 dentro da an-lise do comportamento. Alguns autores esboa-ram uma definio sobre esse domnio, entretan-to as definies nem sempre convergem. Alm disso, a nomenclatura utilizada para se referir aos mesmos fenmenos nem sempre a mesma.

    Matos (1981), ao apresentar o controle aversi-vo como sua rea de estudos, coloca a seguinte definio:

    isso [dizer que estuda controle aversivo] significa que estudo o comportamento de seres biologicamente vivos, investigando como esse comportamento afetado por tcnicas aversivas, isto , tcnicas que envolvam variveis ou procedimentos de carter desagradvel, nocivo, e que re-presentem prejuzo s chances de sobre-vivncia do organismo em questo. (p. 1)

    Hineline (1984) e Gongora, Mayer e Mota (2009) definem controle aversivo como domnio ou rea que engloba punio e reforamento e negativo. Catania (1999), Perone (2003) e Pierce e Cheney (2004) no chegam a propor uma defini-o de controle aversivo (e.g., Controle aversivo definido como . . . ou Entendemos por contro-le aversivo . . .), embora tambm tratem do tpi-co englobando reforamento negativo e punio.

    Todavia, observa-se que outros processos e procedimentos comportamentais tambm so apresentados dentro do domnio do con-

    1 Este texto apresenta alguns dados preliminares da dissertao de mestrado da primeira autora. As autoras agradecem a Bruno Costa, Denigs R. Neto e Natlia Matheus, do Grupo de Estudos em Controle Aversivo da PUC-SP, pela reviso cuidadosa do texto.

    2 A palavra domnio foi usada propositalmente, em aluso a Hineline (1984), cujo artigo discute o controle aversivo como um domnio separado dentro da anlise do comportamento, seja pela distino entre refora-mento e punio, seja pela distino entre reforamen-to positivo negativo.

    trole aversivo. Hineline (1984) considera que a supresso condicionada e a agresso indu-zida por estimulao devem ser includas no controle aversivo por envolverem eventos que tm funo aversiva no reforamento negativo e na punio. O mesmo vlido para o proce-dimento de incontrolabilidade que produz de-samparo aprendido. Perone (2003) apresenta as funes aversivas de procedimentos de re-foramento positivo, salientando que tambm neles so encontrados elementos do refora-mento negativo e da punio. Com isso, o au-tor inclui alguns procedimentos de reforamen-to positivo sob o domnio do controle aversivo.

    Sidman (1995/2003), ao tratar de refora-mento negativo e punio, utiliza a nomencla-tura coero, enquanto Millenson (1965/1976) e Cameschi e Abreu-Rodrigues (2005) utilizam contingncias aversivas, sendo que os ltimos acrescentam supresso condicionada a esse do-mnio. Sidman (1995/2003) tambm trata de su-presso condicionada, embora no a inclua em sua definio de punio.

    Aps a apresentao de algumas definies (que no esgotam toda diversidade delas), ve-rificam-se certas convergncias e divergncias entre elas. A definio que mais se distingue das outras a apresentada por Matos (1981). Com relao s demais, parece consenso que reforamento negativo e punio fazem parte do domnio do controle aversivo; o que no pa-rece ser claro, porm, o que mais faz parte. Ao mesmo tempo, temos diferentes nomencla-turas para o que aparenta ser a mesma rea.

    Se as definies de controle aversivo apre-sentam divergncias, a situao no diferente

    ABPMC Histria

    Parece consenso que reforamento negativo e punio fazem parte

    do domnio do controle aversivo; o que no parece ser claro, porm, o que

    mais faz parte.

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    O estudo do controle aversivo no Brasil: Um breve panorama histrico | Bruna Colombo dos Santos e Maria Eliza Mazzilli Pereira 14

    acerca dos resultados produzidos por pesquisas sobre reforamento negativo e punio (pro-cessos e/ou procedimentos que classicamente compem a rea) e da interpretao desses re-sultados. Exemplos de divergncias sobre o refor-amento negativo (dividido tradicionalmente em fuga e esquiva) so: (a) explicao da aquisio e manuteno da resposta de esquiva em procedi-mentos de esquiva no sinalizada (Anger, 1963; Disnmoor, 1977, 2001; Sidman, 1953, 1962), (b) funes exercidas pelo estmulo pr-aversivo nos procedimentos de esquiva sinalizada e (c) distin-o entre fuga e esquiva. Quanto punio, iden-tificamos pelos menos duas definies principais: a de Skinner (1938, 1953/2007) e a de Azrin e Holz (1966), que do origem a delineamentos ex-perimentais e a interpretaes de dados distintas.

    Quando um domnio dentro de uma cincia apresenta tais divergncias e discusses, pode ser interessante que olhemos para trs, no sentido de buscarmos aquilo que j foi produzi-do sobre esse domnio, de forma a conhecermos mais sobre seu desenvolvimento e peculiarida-des. Sob essa perspectiva, estudos histricos po-dem ajudar. Autores como Morris et al. (1995), Coleman (1995) e Andery, Micheletto e Srio (2000) ressaltam a importncia de estudos hist-ricos para a anlise do comportamento.

    Morris et al. (1995) apresentam alguns pro-psitos da historiografia dessa cincia, como: clarificar a disciplina cientfica, esclarecer mal--entendidos, desenvolver a filosofia da cincia do comportamento, integrar suas subdisciplinas, entre outros. Segundo os autores, tais propsi-tos, quando atingidos, permitem ao historiador compreender impasses centrais da disciplina, sejam eles controversos ou no, e ir alm, isto , propor possveis sadas a esses impasses. Verifica-se que esses propsitos servem direta-mente compreenso do controle aversivo.

    Estudos histricos no so algo recente na anlise do comportamento. Andery et al. (2000) apontam uma srie de estudos histri-cos, nacionais e internacionais, realizados por analistas do comportamento sobre os mais di-versos temas dentro da disciplina. Incluem en-tre eles a primeira publicao de Skinner, em 1931, intitulada O conceito de reflexo na des-crio do comportamento. De acordo com as autoras, este pode ser considerado o trabalho iniciador da anlise do comportamento, fruto de uma anlise histrica.

    Algumas dissertaes recentes (entre 2002 e 2010) podem tambm ser classificadas como trabalhos histricos, cujo foco foi o estudo da anlise do comportamento (desenvolvimento da disciplina ou reas especficas da mesma) no Brasil. Esses trabalhos se debruaram sobre os mais variados temas, entre eles controle de estmulos, comportamento matemtico, com-portamento verbal, desenvolvimento regional da anlise do comportamento e clnica (Cesar, 2002; Del Rey, 2009; Fidalgo, 2011; Moreira, 2011; Niero, 2011; Souza, 2011).

    Sobre controle aversivo, identificou-se um trabalho realizado por Srio e Micheletto (2010) cujo objetivo foi analisar as contribuies da professora Maria Amelia Matos para o estudo do controle aversivo no Brasil. Outros estudos a respeito do controle aversivo que apresentam caractersticas histricas3 tambm foram encon-trados, mas no so brasileiros (Disnmoor, 1977; Lerman & Vondran, 2002; Matson & Taras, 1989).

    Nenhum estudo que apresentasse um panora-ma geral sobre o estudo do controle aversivo no Brasil foi encontrado. Dessa forma, objetivou-se realizar um trabalho que fornecesse tal panora-ma. Para isso, foram escolhidos como documen-tos a serem analisados teses e dissertaes so-bre controle aversivo realizadas no Brasil, entre 1968 (ano em que as primeiras dissertaes em anlise do comportamento foram defendidas) e 2010. Foram selecionadas algumas palavras de busca das teses e dissertaes com base nas lei-turas sobre controle aversivo e nos textos his-tricos e de reviso encontrados sobre o tema: controle aversivo, reforamento negativo, fuga, esquiva, punio, estmulo aversivo, averso, supresso condicionada, coero, desamparo aprendido, incontrolabilidade, agresso, time--out, choque, contracontrole, chronic mild stress e operaes estabelecedoras reflexivas. (Nota-se que a quantidade e a variedade de palavras re-fletem a diversidade de fenmenos englobados.)

    As teses e dissertaes foram buscadas no Banco de Teses e Dissertaes em Anlise do Comportamento (BDTAC/Br), que contm teses e dissertaes entre 1968 e 2007. Este banco foi

    3 Este termo foi utilizado porque os estudos no po-dem ser classificados como estudos histricos, uma vez que eles so estudos de reviso de literatura. De acordo com Coleman (1995), tais estudos, embora no sejam histricos, apresentam de forma indireta uma perspec-tiva histrica sobre o tema.

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    construdo por professores e alunos da PUC-SP. Para completar a busca at 2010, foram utiliza-das bibliotecas digitais de teses e dissertaes das universidades brasileiras que compuseram o BDTAC/Br, banco de teses e dissertaes da CAPES e Currculos Lattes.

    Foram coletadas e organizadas, com base nos resumos, as seguintes informaes: (a) autor: nome completo do autor da dissertao ou tese; (b) ttulo: ttulo completo da dissertao ou tese; (c) instituio: nome completo da instituio re-ferida na dissertao ou tese; (d) ano: ano apre-sentado na dissertao ou tese; (e) orientador: nome completo do orientador referido na disser-tao ou tese; (f) coorientador: nome completo do coorientador referido na dissertao ou tese (quando foi o caso); (g) tipo de trabalho: disser-tao (i.e., trabalho realizado para obteno do ttulo de mestre) ou tese (i.e., trabalho realizado para obteno do ttulo de doutor); (h) tipo de pesquisa: bsica, aplicada e histrico-conceitual4; (i) tipos de sujeitos ou participantes utilizados: hu-manos (crianas, adultos ou universitrios; com desenvolvimento tpico ou atpico) e no huma-nos (espcie); (j) evento aversivo utilizado.

    Foram encontradas 98 teses e dissertaes (77 dissertaes e 21 teses) entre 19695 e 2010. Observou-se que entre 1969 e 1999 (perodo de 30 anos) foram produzidos 45 trabalhos em con-trole aversivo; entre 2000 e 2010 (perodo de 10 anos), foram produzidos 53 trabalhos. Isso mos-tra que recentemente a produo na rea parece ter ganhado alguma fora. Algumas possibilida-des para o aumento na produo so levantadas, como, por exemplo, a criao de novos programas de ps-graduao em anlise do comportamento.

    Embora se observe aumento na produo de teses e dissertaes sobre controle aversivo, o nmero de trabalhos sobre o tema, compa-rado ao nmero total de teses e dissertaes na anlise do comportamento (dados obtidos pelo BDTAC/Br), corresponde a menos de 10%.

    4 Cada tipo de pesquisa foi, por sua vez, dividido em categorias temticas. As pesquisas bsicas foram en-quadradas em categorias temticas como fuga, esquiva e punio; as pesquisas aplicadas, em categorias como educao, sade e trabalho; as pesquisas histrico-con-ceituais, em categorias como anlise da concepo de um ou mais autores sobre controle aversivo e anlise histrica de um conceito relativo a controle aversivo.

    5 A busca foi feita a partir de 1968, mas o primeiro trabalho encontrado datou de 1969.

    Autores como Todorov (2001), Perone (2002), Lerman e Vondran (2002), Cameschi e Abreu-Rodrigues (2005) e Hunziker (2003) sugerem que o estudo do controle aversivo tem sido negligenciado dentro da anlise do comporta-mento. Os dados deste estudo mostram que controle aversivo no a rea de estudo mais proeminente no Brasil, mas a produo crescen-te animadora para os interessados na rea.

    As universidades brasileiras em que mais tra-balhos sobre controle aversivo foram realizados foram: USP (52), PUC-SP (13), UnB (12), UFPA (cinco), USP-RP (cinco) e UEL (quatro). Os prin-cipais6 orientadores na rea tambm esto vin-culados a essas universidades. So eles: Maria Helena Leite Hunziker, Maria Amelia Matos, Carolina Bori, Joo Cludio Todorov, Josele Abreu Rodrigues, Roberto Alves Banaco, Maria Teresa Arajo Silva, Tereza Maria Pires Srio, Maura Alves Nunes Gongora, Marcus Bentes de Carvalho Neto e Maria Lcia Dantas Ferrara.

    Com relao ao tipo de pesquisa, foram en-contrados 87 trabalhos do tipo bsico, seis do tipo histrico-conceitual e cinco trabalhos apli-cados. Verifica-se, ento, predominncia de tra-balhos do tipo bsico. As categorias temticas mais frequentes7 nos trabalhos bsicos foram: in-controlabilidade/desamparo aprendido, esquiva, punio, supresso condicionada e chronic mild stress, sendo que a maior parte das teses e dis-sertaes bsicas realizadas foi sobre incontrola-bilidade/desemparo aprendido. Dos trabalhos aplicados, dois foram enquadrados na categoria educao, enquanto os demais foram enquadra-dos nas categorias institucional (um), clnica (um) e sade (um). Por ltimo, os trabalhos do tipo hist-rico-conceitual foram enquadrados nas seguintes categorias: reviso de literatura (um), anlise da concepo de um autor sobre controle aversivo (um), anlise histrica de um conceito do controle aversivo (um), anlise da aplicao e recomenda-bilidade de procedimentos aversivos (um), anli-se do conceito de incontrolabilidade/desamparo aprendido (um) e anlise dos efeitos do controle aversivo sobre classes de respostas (um).

    6 Foram considerados como principais orientadores aqueles com pelo menos trs trabalhos orientados na rea.

    7 Foram consideradas como categorias temticas mais frequentes aquelas que incluram pelo menos sete tra-balhos.

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    O tipo de sujeito ou participante mais utili-zado nos trabalhos bsicos foi o rato (61 traba-lhos), sendo a maioria da espcie rattus norvegi-cus. O segundo tipo de sujeito ou participante mais utilizado foram estudantes universitrios (10 trabalhos). O estmulo aversivo mais utiliza-do foi choque, com destaque para intensidade de 1 mA. Outro dado a ser mencionado que nenhum estmulo aversivo utilizado com no humanos foi utilizado com humanos; com os l-timos, os estmulos aversivos mais utilizados fo-ram som e perda de pontos. Nos trabalhos apli-cados, foram utilizados participantes variados: adultos, crianas atpicas (um trabalho) e tpicas.

    Tendo apresentado esse breve panorama sobre o estudo do controle aversivo no Brasil, algumas consideraes podem ser feitas.

    Verificou-se que reforamento negativo e pu-nio so tidos como processos e/ou procedi-mentos clssicos do controle aversivo (encon-trados na maioria das definies apresentadas); contudo, pelos menos no Brasil, eles no so os mais estudados, mas sim incontrolabilidade e desamparo aprendido. Outros dados encontra-dos so que os estudos bsicos sobre esquiva cessaram ao final da dcada de 1980, ao passo que os estudos sobre punio so poucos, ocor-rem esporadicamente e em universidades dife-rentes. Com relao punio, esse quadro pa-rece estar se modificando, com algumas defesas mais prximas no tempo, entre 2009 e 2010, de trabalhos realizados na UFPA, indicando a for-mao de uma linha de pesquisa na rea.

    A disparidade entre estudos bsicos, aplicados e histrico-conceituais mostra a concentrao de pesquisas de um tipo. Observa-se, tambm, a uti-lizao predominante de um tipo de sujeito e de um tipo de estmulo aversivo. Uma pergunta que se coloca, com base nesses dados, acerca da generalidade dos dados produzidos, embora se observe que mais recentemente outros estmulos (e.g., jato de ar quente) tm sido testados.

    Espera-se que esse breve panorama tenha fornecido a um leitor no familiarizado com a rea de controle aversivo informaes suficien-tes para um maior conhecimento sobre esse campo, criando condies para que mais pesso-as se interessem e pesquisem sobre ele. Para o leitor j familiarizado com a rea, espera-se que essas informaes contribuam para novas refle-xes, pois essa uma das funes da pesquisa histrica, a de trazer um novo olhar sobre aquilo j conhecido. Nas palavras de Micheletto (2004):

    A anlise histrica um convite a olhar novamente, a desconfiar das seguran-as, das certezas de nosso conhecimento que, muitas vezes, nos fazem ver ou ler apenas aquilo que j sabemos, que ofus-cam a observao da variedade de infor-maes, anlises, dilogos constitutivos do objeto que nos aparece. (p. 12)

    Esse novo olhar, essa nova compreenso da-quilo que j nos foi dado pode ser importante para pensarmos em caminhos alternativos, ou seja, para pensarmos sobre o futuro da rea.

    RefernciasAndery, M. A. P. A., Micheletto, N. & Srio, T.

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    Reforamento negativo e punio so tidos como processos e/ou procedimentos clssicos do controle aversivo. Contudo, pelos menos no Brasil, eles no so os mais estudados, mas sim incontrolabilidade e desamparo aprendido.

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    ABPMC Histria

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    Afinal, somos behavioristas metodolgicos?Cassia Roberta da Cunha Thomaz

    Ao ser convidada para escrever um texto a partir da pergunta acima, duas questes me pareceram importantes de ser respondidas: (a) a que ns a pergunta se refere e (b) por que algum faria essa pergunta? A primeira ques-to parece ter uma resposta mais clara: ns pa-rece se referir aos behavioristas radicais. J a segunda, supondo que tenha sido feita por um behaviorista radical, talvez seja produto de uma comparao entre os pressupostos do behavio-rismo radical e do behaviorismo metodolgico e de uma possvel identificao de semelhanas entre esses.

    O presente artigo pretende, ento, retomar tais pressupostos1, de forma que no s a mo-tivao para a pergunta inicial fique mais clara, como tambm uma resposta a ela seja dada.

    Behaviorismo MetodolgicoAs propostas apresentadas por Watson, em 1913, marcam o incio do behaviorismo, que surge em contraposio ao mentalismo e ao introspeccio-nismo no que diz respeito ao objeto de estudo e ao mtodo de investigao da psicologia. Em termos gerais, de acordo com Matos (1995), o behaviorismo sugere que a psicologia assuma o comportamento como objeto de estudo, opo-nha-se ao mentalismo, use procedimentos obje-tivos de coleta de dados e rejeite a introspeco.

    Por influncia do positivismo lgico e do ope-racionismo, a observao, ento, aparece como critrio fundamental para definir o comporta-mento a ser estudado pelos behavioristas: aque-le passvel de observao externa, isto , que possa ser visto, contado e medido pelo outro. Em decorrncia disso, a nfase dada aos pro-

    1 O presente artigo no pretende esgotar ou aprofun-dar essa comparao. Isso j foi feito em um conjun-to de publicaes (Day, 1983; Leigland, 1997; Matos, 1995; Moore, 1981; Srio, 2005; Skinner, 1974). A com-parao aqui visa estritamente a responder questo proposta.

    cedimentos de investigao fez com que esse behaviorismo fosse posteriormente chamado de metodolgico.

    Limitar o estudo aos eventos externamente ob-servveis foi uma forma de tornar desnecessrio o introspeccionismo e, por conseguinte, o relato do sujeito como fonte de dados, visto que essa se-ria a nica forma de ter alguma informao sobre eventos internos. Mas, desconsiderar os eventos no observveis como objeto de estudo ou como causa do comportamento decorrente da impos-sibilidade de acordo pblico sobre sua validade, e no da negao de sua existncia (Skinner, 1974).

    Para os behavioristas metodolgicos, os even-tos internos existem e so de natureza diferente dos eventos observveis (Srio, 2005). E, por no serem eventos fsicos e/ou importantes para a compreenso do comportamento, poderiam ser retirados do escopo da psicologia. Considerar a existncia de eventos fsicos e mentais como fe-nmenos de natureza distinta caracteriza, portan-to, o behaviorismo metodolgico como dualista.

    De qualquer forma, caberia questionar: se os eventos internos eram at ento tidos como as causas do comportamento pela psicologia e, mais do que isso, constituam primordial-mente o objeto de estudo dessa, o que seria a causa do comportamento observvel para algum que os desconsidera?

    Matos (1995) afirma que, em decorrncia de um modelo mecanicista de causalidade vigente na poca (e at os dias de hoje), as causas dos fenmenos costumavam ser buscadas antes des-ses. Como as causas do comportamento, para o behaviorista metodolgico, no poderiam ser a mente ou a alma, props-se que seriam, en-

    Ponto de Vista

    Considerar a existncia de eventos fsicos e mentais como fenmenos de natureza distinta

    caracteriza, portanto, o behaviorismo metodolgico como dualista.

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    to, os estmulos ambientais antecedentes a ele, por influncia de Pavlov. Assim, uma mudana no mundo fsico causaria uma mudana no orga-nismo, o que caracteriza a Psicologia S-R.

    Day (1983), sobre o behaviorismo metodol-gico, sintetiza suas caractersticas da seguinte forma: (a) restringe-se o objeto de estudo da psicologia aos dados publicamente observveis, (b) adota-se o mtodo experimental, (c) usa-se a estatstica na avaliao dos resultados, (d) adere--se a um modelo de causalidade antecedente e mecanicista e (e) formula-se teorias explicativas dos dados obtidos por meio de instncias me-diadoras inferidas.

    A psicologia, tal como o behaviorista a v, um ramo puramente objetivo e ex-perimental da cincia. A sua finalidade terica a previso e controle do com-portamento. A introspeco no constitui parte essencial de seus mtodos e o va-lor cientfico de seus dados no depende do fato de se prestarem a uma fcil inter-pretao em termos de conscincia . . . a psicologia ter que descartar qualquer referncia conscincia. (Watson, 1913, pp. 158, 163)

    Essa afirmao parece deixar clara a propos-ta do behaviorismo metodolgico: foca-se no comportamento observvel e considera-se que os eventos subjetivos no sejam capazes de ser investigados cientificamente, pois no so pu-blicamente observveis. Segundo Matos (1995), o behaviorista metodolgico limita seu objeto de estudo para no mudar sua insistncia num critrio social de verdade.

    Aps essa breve retomada dos pressupostos filosficos e metodolgicos do behaviorismo metodolgico, voltamos questo inicial do presente artigo: Afinal, somos behavioristas me-todolgicos? possvel que essa pergunta tenha sido feita com base no fato de que os behavioris-tas radicais compartilham algumas caractersticas com aqueles. Assim, como o artigo se prope a debater essa questo, a seguir sero discutidas algumas caractersticas do behaviorismo radical24.

    4 O presente artigo no pretende esgotar a caracteri-zao do behaviorismo radical. Para isso, sugere-se a leitura de About Behaviorism, de B. F. Skinner (1974).

    Behaviorismo RadicalSkinner, considerado o principal autor do behaviorismo radical, apresenta essa propos-ta inicialmente em um artigo de 1945 (The Operational Analysis of Psychological Terms), com o objetivo de contrapor-se s propostas para a psicologia ento em vigor, principalmen-te no que diz respeito ao objeto e ao mtodo.

    Skinner (1974) afirma que o behaviorismo no a cincia do comportamento humano; ele a filosofia dessa cincia (p. 3), que deveria preocupar-se com o objeto e os mtodos da psi-cologia. Afirma tambm que a psicologia uma cincia do comportamento dos organismos. Ou seja, para o behaviorista radical, da mesma forma que para o metodolgico, o objeto de estudo da psicologia o comportamento em si. Mas, dife-rentemente desses, Skinner no desconsidera os eventos privados, ou seja, aqueles no observ-veis publicamente. De acordo com Srio (2005),

    nenhum fenmeno humano retirado do mbito de estudo da psicologia, ou seja, cabe psicologia estudar os fenmenos humanos em sua totalidade e complexi-dade e, para isso, no necessrio supor a existncia de uma dimenso especial do mundo diferente da dimenso mate-rial. (Srio, 2005, p. 5)

    O trecho acima parece indicar que, apesar de no serem excludos pelo behaviorismo ra-dical, os eventos privados so considerados por Skinner de forma diferente daquela proposta pe-los mentalistas (e pelos behavioristas metodol-gicos): no existem duas dimenses, duas natu-rezas no homem, uma fsica e outra mental (ou metafsica). Todo evento fsico, seja ele pblico ou privado. A diferena entre esses eventos est na acessibilidade. Parece que, por no serem

    Da mesma forma que o critrio de verdade parece ter limitado a

    definio de objeto de estudo para os behavioristas metodolgicos, a

    definio do objeto de estudo parece ter obrigado o behaviorista radical a

    incluir todo e qualquer comportamento dentro do escopo da psicologia.

    Ponto de vista

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    observados, so desconsiderados pelo behavio-rismo metodolgico e, por serem comportamen-to, so considerados pelo behaviorismo radical.

    Da mesma forma que o critrio social de ver-dade parece ter limitado a definio de objeto de estudo para os behavioristas metodolgicos, a definio do objeto de estudo parece ter obriga-do o behaviorista radical a incluir todo e qualquer comportamento dentro do escopo da psicologia.

    Conforme afirma Skinner (1963/1969), o fato da privacidade no pode, claro, ser questiona-do. Cada pessoa est em contato especial com uma pequena parte do universo contida den-tro de sua prpria pele (p. 225). Nesse trecho, Skinner parece deixar claro que (a) se o objeto de estudo da psicologia o comportamento e (b) se a privacidade - enquanto contato especial que al-gum tem com o universo dentro de sua pele - comportamento, no h por que desconsider-la.

    Nesse trecho, ainda, nota-se uma caractersti-ca importante do behaviorismo radical: h uma parte do comportamento humano que nunca poder ser observada por outra pessoa que no aquela que se comporta. Mesmo que a tecnolo-gia avance e seja possvel medir alguns eventos privados com instrumentos cientficos, isso nun-ca ser o mesmo que o contato que o homem tem com seus prprios eventos privados.

    O critrio social de verdade questionado pelos behavioristas radicais mesmo no que diz respeito a eventos pblicos. Matos (1995) d o seguinte exemplo: um behaviorista metodol-gico aceitaria o registro de salivao de um co como evidncia da salivao, a qual poderia ser observada por mais de um observador. No en-tanto, o registro s ocorreu porque algum viu o co salivar. O ver no observado. A pessoa observando nunca observado. O que ela observa o . Se ela afirmar que observa o mes-mo que outras pessoas, ento essa observao vlida para um behaviorista metodolgico.

    Para um behaviorista radical, a resposta de observar aprendida. E uma pessoa aprende a observar tanto eventos pblicos quanto privados. Por que, ento, desconsiderar esse ltimo tipo de observao? Aqui parece ficar clara uma dife-rena entre behavioristas metodolgicos e radi-cais: para os ltimos, o homem a medida das coisas, e no o social. Para um behaviorista meto-dolgico, a evidncia de que uma pessoa v algo que outra pessoa v esse mesmo algo. Para um behaviorista radical, a evidncia de que algum

    v algo o comportamento dela. Quanto pri-vacidade, ela nada mais do que a observao do prprio corpo, e no da mente (Matos, 1995).

    Assim, conforme afirma Srio (2005), para o behaviorismo radical, os pesquisadores do comportamento deveriam, da mesma forma que estudam comportamentos humanos ob-servveis por mais de um observador, faz-lo a respeito do contato que cada pessoa tem com os eventos contidos dentro da pele a partir do comportamento. Isso significa dizer que os eventos privados so parte dos fenmenos que deveriam ser explicados pela psicologia.

    Aqui, parece importante destacar como beha-vioristas radicais estudam o comportamento: com base nos pressupostos da anlise do com-portamento, a cincia que descreve as leis gerais do comportamento.

    Behaviorismo Radical e Anlise do ComportamentoPara os analistas do comportamento, o compor-tamento definido como a relao entre respos-tas (aquilo que o organismo faz) e estmulos (as-pectos do ambiente, externos resposta, que a afetam). Essas relaes podem ser de dois tipos: (a) comportamento respondente, no qual um est-mulo antecedente elicia uma resposta e (b) com-portamento operante, no qual se deve considerar, alm da resposta, (1) as mudanas no ambiente, decorrentes da emisso da resposta, que modifi-cam a probabilidade de ocorrncia de respostas da mesma classe e (2) os contextos que estabe-lecem a ocasio para a resposta ser afetada por suas consequncias (que so antecedentes res-posta e tambm afetariam a probabilidade dessa).

    Essa relao de interdependncia entre est-mulos antecedentes, resposta e estmulos con-sequentes denominada trplice contingncia e o que permite a anlise funcional, cerne da anlise do comportamento. Diz-se haver uma relao funcional entre eventos na medida em que se observa mudanas em uma resposta em decorrncia de uma mudana no ambiente. Mais do que isso, uma mudana no ambiente s produzir uma mudana na resposta em fun-o de uma histria filogentica, ontogentica e cultural. Assim, olhar para o comportamento como interao entre organismo e ambiente significa assumir que o comportamento atual uma interao e ao mesmo tempo produto de interaes anteriores (Srio, 2005, p. 256).

    Ponto de vista

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    Essa a definio de comportamento base-ada no modelo de seleo por consequncias. O comportamento, para o behaviorista radical, produto de variao e seleo em trs nveis: filogentico, ontogentico e cultural. No objetivo do presente artigo apresentar cuida-dosamente esse modelo de causalidade3, mas importante destac-lo como central para o behaviorismo radical, pois nota-se aqui tambm uma diferena entre o behaviorismo metodo-lgico e o radical. Enquanto o primeiro define comportamento como uma relao entre est-

    mulo antecedente e resposta (S-R) e recorre ao ambiente antecedente por este ser considerado um elo observvel e mensurvel em um mode-lo mecanicista de causalidade, o segundo no s amplia a definio de comportamento, como tambm considera o comportamento operante como aquele de maior interesse ao cientista do comportamento. Alm disso, o ambiente, para os behavioristas radicais, no se resume quele presente durante a ocorrncia de uma resposta.

    Como estudar, ento, eventos no observveis por mais de um observador?No s na psicologia que parece haver a pos-sibilidade de considerar como objeto de estu-do um fenmeno no observvel e estud-lo a partir de mtodos cientficos. Na fsica, por exemplo, estuda-se a fora da gravidade4 . Essa fora no observada; inferida a par-tir do movimento dos corpos. Possivelmente, muitos experimentos cientficos j foram feitos sobre esse tema - inclusive diferentes fsicos a explicam de formas diferentes (e.g., Newton e

    3 Para isso, ver Skinner (1981).

    4 De forma alguma, pretende-se discutir aqui as leis da fsica. Essa uma discusso bastante ampla. Esse s um exemplo ilustrativo da possibilidade de conside-rar um objeto de estudo no observvel em um cincia natural.

    Einstein). A discusso sobre esse tema ampla, mas aqui colocada com um nico propsito: possvel estudar fenmenos no observveis e consider-los como sendo da mesma natureza daqueles observveis dentro de uma cincia na-tural. E, vale ressaltar, a interpretao dos fen-menos um prtica comum em outras cincias.

    No porque o objeto de estudo da psico-logia mais prximo do cientista do comporta-mento (que se comporta) do que o o objeto de estudo de um fsico que o primeiro necessita de uma forma especial de investigao. Conforme discutido anteriormente, o analista do compor-tamento estuda o contato que cada pessoa tem com o mundo dentro da pele a partir do seu com-portamento, isto , a partir de respostas verbais.

    Srio (2005) afirma que analisar o comporta-mento verbal em toda a sua extenso possibilita investigar as relaes que permitem o contato de uma pessoa com seu universo privado. Deve-se identificar as condies em que uma pessoa emite uma resposta verbal, bem como a histria que ela viveu e que permitiu que tais condies se relacionassem com aquela resposta. Dessa forma, investiga-se como as pessoas passam a falar de si mesmas e como podem falar de as-pectos aos quais apenas elas tm acesso.

    cada vez mais ampla a literatura acerca do comportamento verbal. Um conjunto de estudos vem sendo feito na direo de identificar vari-veis responsveis pela aprendizagem de respos-tas verbais sob controle de eventos privados. No objetivo do presente artigo discutir essa literatura, mas por que ela existiria se no con-siderssemos papel do psiclogo compreender a privacidade? Assumir que a privacidade (i.e., o contato que cada pessoa tem com seu mundo privado) comportamento operante aprendido a partir de contingncias sociais foi o passo ini-cial para as investigaes na rea. Behavioristas radicais lidam com esse objeto de estudo de for-ma cientfica, a partir de relaes verbais e sem exigir consenso de mais de um observador acer-ca dos eventos que esto sendo investigados.

    Os behavioristas metodolgicos definem comportamento como uma relao S-R, num modelo de causalidade mecanicista e defendem o delineamento de grupo e a observao por consenso como critrio de validade cientfica.

    Os behavioristas radicais consideram que o comportamento uma relao

    entre homem e ambiente num modelo de causalidade selecionista e defendem

    o delineamento de sujeito nico como metodologia de investigao.

    Ponto de vista

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    Afinal, somos behavioristas metodolgicos? | Cassia Roberta da Cunha Thomaz 23

    Voltemos, uma vez mais, pergunta que mo-tivou esse artigo: Afinal, somos behavioristas metodolgicos? Aps breve retomada dos pres-supostos dos behaviorismos metodolgico e ra-dical, observa-se que os behavioristas radicais de fato compartilham algumas caractersticas com os behavioristas metodolgicos, principalmente no que diz respeito a tomar o comportamento como objeto de estudo e a defender uma metodologia baseada nas cincias naturais para estud-lo.

    No entanto, os behavioristas metodolgicos so dualistas e no consideram que os eventos privados sejam objeto da psicologia (porque no so observveis, no so comportamento; tm outra natureza, que no a fsica). Esses eventos s poderiam ser estudados se tornados pbli-cos por instrumentos cientficos. Ainda, definem comportamento como uma relao S-R, num modelo de causalidade mecanicista e defendem o delineamento de grupo e a observao por consenso como critrio de validade cientfica.

    Enfim, parece que compartilhar apenas algu-mas caractersticas no deveria ser o suficiente para classificar algum como behaviorista meto-dolgico ou qualquer outra coisa. Na verdade, no s com esses que os behavioristas radicais compartilham caractersticas e, se tal indagao virar moda, em breve veremos artigos discu-tindo por que no somos muitas outras coisas com as quais compartilhamos caractersticas.

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    Ponto de vista

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    Somos todos behavioristas metodolgicos | Marcus Bentes de Carvalho Neto 24

    Somos todos behavioristas metodolgicos1Marcus Bentes de Carvalho Neto

    Os analistas do comportamento esto familiari-zados com uma diviso clssica e categrica en-tre dois tipos de behaviorismo: o (meramente) metodolgico e o radical (Skinner, 1974/1976). Um dos pontos principais nessa diviso estaria no tipo de dado aceito em um empreendimento cientfico do comportamento (para uma anlise mais completa sobre os elementos constituin-tes do behaviorismo metodolgico, ver Moore, 1981, p. 64; Moore, 2001, p. 239). O behavioris-mo metodolgico supostamente teria aderido a uma verso rgida e ingnua de operacionismo (presente no positivismo lgico e no realismo) e, por isso, lidaria exclusivamente com aquilo que fosse publicamente observvel:

    Observao, pois, tornou-se um termo e uma operao fundamentais para o beha-viorismo watsoniano2 [metodolgico]: ela define a categoria comportamento, seu objeto de estudo. Comportamento o observvel, mas o observvel pelo outro, isto , o externamente observvel. Comportamento, para ser objeto de es-tudo do behaviorista, deve ocorrer afe-tando os sentidos do outro, deve poder ser contado e medido pelo outro [nfase adicionada]. (Matos, 1997, p.57)

    O critrio de cientificidade estaria ancorado na possibilidade de se chegar a uma verdade por consenso pblico (Matos, 1997; Skinner, 1945,

    1 O presente ensaio uma verso resumida do artigo Carvalho Neto, Souza, Strapasson e Dittrich (Em pre-parao). O trabalho foi apresentado em setembro de 2011, em Salvador, durante o XX Encontro Brasileiro de Psicologia e Medicina Comportamental e I Encontro Sul-Americano de Anlise do Comportamento. Contatos pelo e-mail: [email protected]

    2 A classificao de Watson como behaviorista meto-dolgico problemtica. Ver a anlise proposta por Strapasson e Carrara (2008).

    1974/1976; Tourinho, 1996). Nesse contexto, a construo e, principalmente, a validao do co-nhecimento seria inerentemente dialgica e social, ou seja, dependeria da interlocuo dos membros de um grupo. Para isso, o objeto precisaria ser igualmente acessvel a todos eles para verifica-o. Mas, ao assumir tal critrio, o behaviorismo metodolgico circunscreveria o universo de even-tos cientificamente legtimos aos objetivos (i.e., observveis publicamente) e excluiria toda gama de eventos, termos e conceitos relativos esfera subjetiva ou privada. A maior parte dos processos psicolgicos tradicionais ficaria, desse modo, para alm de um tratamento cientfico, o que acabaria implicando a adoo de um dualismo (explcito ou implcito) entre eventos comportamentais (pbli-cos e cientificamente vlidos) e eventos mentais (privados e inacessveis cincia). Da o fato de autores como Moore (1989) e Matos (1997), por exemplo, afirmarem que o behaviorismo metodo-lgico seria tambm um tipo de mentalismo.

    Nessa caracterizao tradicional, o behavio-rismo radical surge como uma alternativa ao behaviorismo metodolgico, pois superaria o limite da verdade por consenso e poderia abor-dar, sem abrir mo da cientificidade, eventos tanto pblicos quanto privados:

    A distino pblico-privado enfatiza a fi-losofia rida da verdade por consenso. O pblico, na verdade, acaba sendo sim-plesmente aquilo sobre o que se pode concordar porque comum a dois ou mais observadores. Isso no uma parte essencial do operacionismo; ao contr-rio, operacionismo nos permite dispen-sar esta soluo demais insatisfatria do problema da verdade. . . . O critrio lti-mo para a boa qualidade de um conceito no se duas pessoas entram em acor-do, mas se o cientista que usa o concei-to pode operar com sucesso sobre seu material - sozinho, se precisar [nfase adi-

    Ponto de vista

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    Somos todos behavioristas metodolgicos | Marcus Bentes de Carvalho Neto 25

    cionada]. O que importa para o Robison Cruso no se ele est concordando consigo mesmo, mas se ele est chegan-do a algum lugar com seu controle sobre a natureza. (Skinner, 1945, p. 552)

    Adotando uma postura alternativa de ope-racionismo, Skinner (1945) teria defendido um critrio diferente de produo e validao do conhecimento cientfico, desvinculado da possi-bilidade de observao pblica. A classificao de Skinner e da prpria anlise do comportamen-to como pragmatista ampla (e.g., Abib, 2001a; Baum, 1999; Borba & Tourinho, 2009; Carrara, 1998; Delprato & Midgley, 1992; Lattal & Laipple, 2003; Lopes, 2007; Moxley, 2001; Tourinho, 1993, 1996; Tourinho & Neno, 2003), mas no necessa-

    riamente simples (Abib, 2001b; Leigland, 2004; Malone, 2004; Micheletto, 1997, 1999). O pen-samento Skinneriano rico em adoes simult-neas ou consecutivas de posies incompatveis, o que acaba gerando uma grande dificuldade de classific-lo terica e filosoficamente (Abib, 2001b; Martin, 1978; Moxley, 1998). Contudo, mesmo reconhecendo a complexidade de suas propostas, parece vigorar contemporaneamente uma interpretao de que o behaviorismo radical de Skinner teria no s abdicado do critrio de observao pblica, mas teria tambm demons-trado a fragilidade e a ineficincia de tal critrio, tornando-o descartvel, juntamente com o beha-viorismo meramente metodolgico.

    O objetivo deste ensaio refletir sobre essa classificao maniquesta entre um behavio-rismo metodolgico que teria a verdade por consenso pblico como critrio de verdade e um behaviorismo radical que teria abandonado esse critrio, adotando uma perspectiva prag-

    mtica, na qual um conhecimento privado po-deria ser base para uma cincia do comporta-mento, desde que gerasse previso e controle.

    Dois Modos de Produo de Conhecimento em Anlise do Comportamento (AC): Anlise Experimental (AEC) e Interpretao do ComportamentoDonahoe (1993) retoma algumas obras de Skinner para sugerir que uma cincia do com-portamento teria dois modos de produzir e vali-dar conhecimento:

    Para Skinner, cincia consiste em dois empreendimentos inter-relacionados. O primeiro a anlise experimental do ob-jeto de estudo da cincia. Para que sejam completamente atingidas as exigncias da anlise experimental, todos antece-dentes eficazes do evento em estudo devem ser independentemente manipu-lados ou controlados (ou, tais condies precisam ser aproximadas, como na me-cnica celeste) e os eventos em si devem ser diretamente observados e mensura-dos [nfase adicionada]. O segundo as-pecto do empreendimento cientfico a interpretao. Na interpretao, prin-cpios induzidos da anlise experimental e circunscritos por consideraes formais (i.e., lgica/matemtica) so utilizados para fornecer uma perspectiva dos even-tos que ocorrem sob condies que fo-gem anlise experimental. (p. 453)

    O mtodo experimental, instrumento bsico adotado no mbito da AEC, exigiria a observa-o pblica para que fosse possvel a replicao dos resultados (Dinsmoor, 2003; Sidman, 1976; Skinner, 1938, 1966), colocando sob controle social a construo do conhecimento cientfico. A partir desse mtodo e desses pressupostos filosficos, edificaram-se, ainda nos anos 1930

    Parece vigorar uma interpretao de que o behaviorismo radical de Skinner teria no s abdicado do critrio de observao pblica, mas tambm demonstrado a fragilidade e a ineficincia de tal critrio, tornando-o descartvel, juntamente com o behaviorismo meramente metodolgico.

    Aparentemente, pelo menos no mbito da AEC, o critrio de verdade por consenso pblico, um dos pilares

    do behaviorismo metodolgico, foi mantido intacto, a despeito da crtica

    de Skinner ao seu uso.

    Ponto de vista

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    (especialmente em Skinner, 1938), os princpios bsicos da rea, como os comportamentos res-pondente e operante, o reforamento, a extin-o, a discriminao, entre outros.

    O critrio de observao pblica esteve e est em vigor nas principais revistas empricas da rea, como o JEAB e o JABA, por exemplo. Aparentemente, ento, pelo menos no mbito da AEC, o critrio de verdade por consenso pblico, um dos pilares do behaviorismo me-todolgico, foi mantido intacto, a despeito da crtica de Skinner ao seu uso (1945, 1974/1976). Mas, haveria aqui realmente uma fragilidade? A observao pblica parece ser indispens-vel ao empreendimento cientfico em uma ci-ncia natural, pois permite o teste externo, o controle pblico, essencial autocorreo das descries realizadas (Borkowski & Anderson, 1981; Dawkins, 2000; Dennett, 1997; Marx, 1975; Popper, 1989; Russell, 1969; Sagan, 1996; Skinner, 1953/1965; Sokal & Bricmont, 1999).

    Contudo, como j sugerido por Donahoe (1993, 2004), essa seria apenas uma das formas de pro-duzir conhecimento sobre o comportamento em AC. A interpretao seria uma outra alternativa:

    Mesmo que a anlise experimental se restrinja de fato a eventos observveis, a interpretao cientfica no o faz. A in-terpretao pode ter recursos para even-tos no observveis se: (a) eventos deste tipo tenham previamente se submetido anlise experimental, (b) os antece-dentes do comportamento interpreta-do incluam condies suficientes para a ocorrncia dos eventos no observados quando tais eventos foram observados e (c) as caractersticas dos eventos no ob-servados e suas contribuies para pro-cessos correntes sejam restritas queles que j tenham sido demonstrados quan-to tais eventos foram observados [nfase adicionada]. (Donahoe, 1993, p. 454)

    Portanto, a interpretao no exigiria a ob-servao pblica, mas isso no significa que qualquer descrio privada seria vlida cientifi-camente. Como indicam os pr-requisitos des-tacados por Donahoe (1993), a interpretao estaria atrelada ao conhecimento previamente estabelecido no mbito da AEC, ou seja, indire-tamente estaria subordinada aos critrios de ob-

    servao pblica e controle social presentes no behaviorismo metodolgico. Matos (1997) des-creve essa curiosa relao nos seguintes termos:

    Estudar eventos privados uma tarefa que o behaviorista radical considera re-quisito essencial para entender o com-portamento humano. A anlise desses eventos no precisa ser colocada sob cri-trios sociais; para o behaviorista radical basta um observador, o prprio sujeito. Mas os dados dessa observao precisam ser replicveis, e os conceitos que so uti-lizados ao lidar com esses dados devem se ajustar ao mesmo conjunto de leis e princpios utilizados na anlise do com-portamento em geral [nfase adicionada] (Matos, 1990). (Matos, 1997, p. 64)

    Supondo que haveria duas formas diferentes de produzir e validar conhecimento em AC (i.e., anlise experimental e interpretao) e supondo que cada uma adotaria seus prprios critrios filosficos - no primeiro caso, o behaviorismo metodolgico com a verdade por consenso p-blico; no segundo, o behaviorismo radical com um tipo de pragmatismo -, algumas reflexes seriam necessrias: (a) O behaviorismo radical no seria a filosofia geral a regular a AC como um todo? Como uma subrea, a AEC poderia manter, paralela e autonomamente, uma base fi-losfica no apenas diferente, mas incompatvel com a orientao geral, o behaviorismo radical?; (b) Tendo os principais conceitos da rea sido produzidos e validados inicialmente pela AEC e sua verdade por consenso pblico, e sendo a interpretao um conhecimento derivado e su-bordinado a esse nvel mais bsico, no seria o prprio behaviorismo radical um behaviorismo metodolgico de segunda ordem?; (c) Como poderia o behaviorismo radical dar as costas ao mtodo cientfico que lhe garantiu a prpria existncia e validade? No seria o behaviorismo radical proposto por Skinner (1945, 1974/1976) um tipo de behaviorismo ingrato, fundamen-tado filosoficamente no oportunismo epistemo-lgico e no pragmatismo de convenincia?

    Skinner (1974/1976) reconhece a importncia histrica do behaviorismo metodolgico e da es-tratgia em optar por lidar empiricamente com eventos publicamente observveis na construo de uma cincia do comportamento incipiente:

    Ponto de vista

  • Boletim Contexto n. 35

    Somos todos behavioristas metodolgicos | Marcus Bentes de Carvalho Neto 27

    A respeito de suas prprias metas, o behaviorismo metodolgico foi bem su-cedido [nfase adicionada]. Ele lidou com muitos dos problemas levantados pelo mentalismo e se libertou para trabalhar em seus prprios projetos sem digres-ses filosficas. Ao direcionar a ateno para antecedentes genticos e ambien-tais, ele encerra uma concentrao injus-tificada numa vida interior. Libertou-nos para estudar o comportamento de esp-cies inferi