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0 BOLETIM CONTEÚDO JURÍDICO N. 755 (Ano VIII) (09/12/2016) ISSN ‐ ‐ BRASÍLIA 2016 Boletim Conteúdo Jurídico ISSN –

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BOLETIM CONTEÚDO JURÍDICO N. 755

(Ano VIII)

(09/12/2016)

 

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BRASÍLIA ‐ 2016 

Boletim

Conteú

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Boletim Conteúdo Jurídico n. 755 de 09/12/2016 (ano VIII) ISSN

 ‐ 1984‐0454 

BoletimConteudoJurıdico

Publicação

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ConselhoEditorial 

COORDENADOR GERAL (DF/GO/ESP) - VALDINEI CORDEIRO COIMBRA: Fundador do Conteúdo Jurídico. Mestre em Direito Penal Internacional Universidade Granda/Espanha.

Coordenador do Direito Internacional (AM/Montreal/Canadá): SERGIMAR MARTINS DE ARAÚJO - Advogado com mais de 10 anos de experiência. Especialista em Direito Processual Civil Internacional. Professor universitário

Coordenador de Dir. Administrativo: FRANCISCO DE SALLES ALMEIDA MAFRA FILHO (MT): Doutor em Direito Administrativo pela UFMG.

Coordenador de Direito Tributário e Financeiro - KIYOSHI HARADA (SP): Advogado em São Paulo (SP). Especialista em Direito Tributário e em Direito Financeiro pela FADUSP.

Coordenador de Direito Penal - RODRIGO LARIZZATTI (DF/Argentina): Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidad del Museo Social Argentino - UMSA.

País: Brasil. Cidade: Brasília – DF. SHN. Q. 02. Bl. F, Ed. Executive Office Tower. Sala 1308. Contato: [email protected] WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR

   

 

 

 

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SUMÁRIO

COLUNISTA DO DIA

 

09/12/2016 Rômulo de Andrade Moreira 

» Reforma do Codigo de Processo Penal: a implementação do sistema 

acusatório no Brasil ‐ o papel do Ministério Público

ARTIGOS  

09/12/2016 Caroline Quagliato Roveri » Estado e Direito ‐ de Roma à modernidade 

09/12/2016 Alessandro Menezes Orico 

» Arbitragem e mediação 

09/12/2016 Paulo Gomes Ferreira Filho 

» A utilização de técnicas extrajudiciais de tutela coletiva, pelo Ministério Público, na 

fiscalização do terceiro setor 

09/12/2016 Larissa Souza de Melo Azedo 

» Vedação da prova ilícita no processo penal brasileiro 

09/12/2016 Giovani Neves 

» O Conselho Tutelar como órgão eficaz na afirmação dos direitos da criança e do 

adolescente 

09/12/2016 Enio da Silva Maia 

» Redução da maioridade penal 

09/12/2016 Tauã Lima Verdan Rangel 

» A Negativação do Inadimplente de Verba Alimentar no Sistema de Proteção ao 

Crédito: Análise à luz do entendimento pretoriano do STJ 

 

 

 

 

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REFORMA DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL: A IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA ACUSATÓRIO NO BRASIL - O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

 

RÔMULO DE ANDRADE MOREIRA: Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia. Professor de Direito Processual  Penal  da  UNIFACS.  Pós‐graduado,  lato  sensu, pela  Universidade  de  Salamanca/Espanha  (Direito Processual Penal). Especialista em Processo pela UNIFACS. 

Agradeço o convite que me foi formulado pela organização do evento na pessoa do meu irmão, Professor Antônio Vieira, Professora Marina Cerqueira e o Professor Elmir Duclerc, além de saudar a todos[1].

Eu dividi a minha participação em três partes, a primeira fazendo a análise, ainda que aligeirada, das atribuições do Ministério Público no Brasil; depois analiso o sistema chileno sobre o aspecto exclusivamente do papel do Ministério Público; e, ao final, farei uma conclusão propositiva do papel do Ministério Público no sistema acusatório.

No Brasil, as atribuições do Ministério Público, estão elencadas no art. 129 da Constituição Federal e a principal delas é o exercício da ação penal pública de forma privativa. Óbvio que temos a ação penal de iniciativa privada que, aliás, no projeto de reforma do novo Código de Processo Penal extingue-se, só restando a ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública, mesmo porque é cláusula pétrea e não poderia ser suprimida.

O Ministério Público, além de ser parte na ação penal, tem uma destinação que é a fiscalização da lei. Portanto, é uma atribuição, é uma função digamos assim que tem dois aspectos, porque a parte autora deve ao longo do processo ou até mesmo antes dele zelar pela fiel execução da lei.

 

 

 

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O projeto de reforma do código repete essa destinação, mas com outras palavras bem mais significativas. No art. 57 do Projeto de Lei nº. 8.045/2010, lê-se que o Ministério Público, além de ser parte, zelará pela correta aplicação da lei e pela defesa da ordem jurídica.

Portanto, a comissão responsável pela reforma achou por bem colocar expressamente caber ao Ministério Público, na ação penal pública, além de ser parte, defender a ordem jurídica.

Em relação a outra atribuição na área criminal, temos a investigação criminal que durante muitos anos foi alvo de uma polêmica muito mais corporativista do que jurídico-constitucional. Corporativista porque havia, e continua havendo, uma estranha disputa de poder entre a Polícia e o Ministério Público. A Polícia querendo a exclusividade da investigação e o Ministério Público querendo esse mesmo poder investigatório-criminal. Isso é uma distorção do sistema que só traz prejuízos para a investigação criminal. Evidentemente que nessa disputa não há nenhum interesse público envolvido, pois cada instituição está querendo mais poder. Para poder barganhar, obviamente.

Essa questão da investigação foi superada porque o Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário nº. 593927, julgado em maio do ano passado, decidiu, por maioria, que o Ministério Público tem poder investigatório criminal, permitido pela Constituição. Eu concordo. O que eu acho é que falta uma lei infraconstitucional disciplinando essa investigação criminal pelo Ministério Público. Vejam que o inquérito policial esta mal disciplinado no Código de Processo Penal, mas está lá. Nos arts. 4º. ao 23ª. estão estabelecidas as regras atinentes ao inquérito policial. Mas esse procedimento investigatório criminal (o chamado PIC) que é feito pelo Ministério Público, onde está regulado, onde estão os prazos, os deveres, os direitos, as prerrogativas, etc.? Não tem nada.

O Conselho Nacional do Ministério Público, antes mesmo do Supremo Tribunal Federal decidir pela constitucionalidade da investigação criminal, baixou a Resolução nº. 13, de outubro de 2006. Essa resolução quer fazer as vezes de lei, mas lei formal não é. Essa resolução é inconstitucional, porque contém normas de caráter processual.

 

 

 

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É uma verdadeira lei de processo. Mas o Conselho Nacional do Ministério Público não é o Poder Legislativo, não pode editar resoluções com esse caráter de norma processual.

Aliás, também o Conselho Nacional de Justiça faz muito isso, usurpando a competência legislativa que é da União, conforme o art. 22, I.

Então, apesar de eu entender completamente a posição do Supremo Tribunal Federal em legitimar constitucionalmente a intervenção do Ministério Público diretamente na investigação criminal, carecemos de um projeto de lei que seja encaminhado ao Congresso Nacional para que discipline essa investigação, inclusive prevendo responsabilidades do membro do Ministério Público, em caso de algum abuso de poder, ou de autoridade, mas não há.

No Projeto de Lei nº. 8.045 não se dispõe sobre isso. Apenas trata do inquérito policial e do termo circunstanciado, de maneira que vai continuar essa lacuna. Como todo mundo está cumprindo a Resolução nº. 13, dificilmente o Supremo Tribunal Federal dirá que ela é inconstitucional, porque são resoluções editadas pela cúpula do próprio Ministério Público. Então, isso vai ficar assim mesmo.

Uma outra questão que eu vou abordar agora, ainda nessa primeira parte, diz respeito ao arquivamento do inquérito. O projeto de lei não avançou nada; permaneceu como é hoje.

A ideia de dar ao Juiz a possibilidade de discordar do parecer do Ministério Público pelo arquivamento não tem nada a ver com o sistema acusatório. E vai continuar porque o projeto nos arts. 38 a 40 repete o art. 28 do Código de Processo Penal, ou seja, o Promotor pede o arquivamento, o Juiz concorda ou não concorda. Se concorda, arquiva, se não concorda, envia para o Procurador-Geral.

Em termos de arquivamento, a melhor proposta que já vi no Brasil foi feita pela chamada Comissão Ada, que apresentou um anteprojeto, convertido no Projeto de Lei nº. 4209/2001. O art. 28 passaria a ter uma outra redação, mas ele já sofreu uma alteração lá no Congresso, então,

 

 

 

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esse projeto que está lá, que só trata da investigação criminal, só trata de inquérito policial.

Então, como que se daria o arquivamento: o Ministério Público não requer o arquivamento, ele promove o arquivamento. Agora, evidentemente, tem que ter controle, então, promovido o arquivamento, ele notifica a vítima e o indiciado ou algum sucessor da vítima, se a vítima morreu, para que ofereçam razões. A vítima, evidentemente, contrária ao arquivamento e o indiciado a favor. Com essas razões, o membro do Ministério Público envia os autos para um órgão colegiado. Não para o Procurador-Geral. Seria um órgão colegiado que teria possibilidade de reavaliar a promoção de arquivamento. Se ele entendesse que era caso de arquivamento mandaria para o Promotor substituto, se entendesse que era caso de arquivamento, então só assim o Juiz estaria obrigado a arquivar.

Com relação à titularidade da ação penal não há mudança no projeto de reforma porque a ação penal pública continua sendo de titularidade do Ministério Público, conforme o art. 129, I, da Constituição Federal.

Já disse que a ação de iniciativa privada acaba. Uma novidade é que todos os crimes praticados contra o patrimônio sem violência ou grave ameaça, como o furto, a receptação, passam a ser crimes de ação penal pública condicionada à representação da vítima, quando, evidentemente, só atingir o bem do particular.

Com relação à regra da obrigatoriedade da ação penal, que muitos encontram fundamento no art. 24 do Código de Processo Penal, quando diz que o Ministério Público deverá oferecer a denúncia. Eu sou contra a regra da obrigatoriedade por ela não satisfazer os princípios do sistema acusatório, tampouco questões de política criminal. Ambos desaconselham a adoção da regra da obrigatoriedade. No Chile não é assim.

O projeto de reforma, quando trata do arquivamento, tem uma redação que me parece indicar a adoção da regra da oportunidade. Isso vai gerar uma grande controvérsia, se e quando a reforma passar.

 

 

 

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O órgão do Ministério Público poderá requerer o arquivamento do inquérito policial ou de qualquer peça de informação, seja por insuficiência de elementos de convicção, a chamada justa causa, seja por outras razões de direito. Ora, que razões de direito seriam estas que autorizariam o Ministério Público a requerer o arquivamento ao Juiz? Seriam razões de política criminal, por exemplo. Parece-me que este art. 38 do Código de Processo Penal projetado consagra a regra da oportunidade.

Quanto à indesistibilidade da ação penal ela continua prevista no art. 49 do Código de Processo Penal projetado.

Agora farei uma análise, dentro do tempo que me foi dado, a respeito do Ministério Público chileno. Bem, o Ministério Público no Chile praticamente não tem nenhuma atribuição de natureza civil. Nesse aspecto ele é completamente diferente do Ministério Público do Brasil, que tem ação civil pública, inquérito civil, defende interesses difusos e coletivos. No Chile não. Ele tem o poder de investigação criminal, a titularidade da ação penal pública e cuida da proteção de vítimas e testemunhas. Neste sentido, é expresso o art. 83 da Constituição Federal do Chile.

Com relação à investigação criminal, tanto na Constituição chilena, como na Lei Orgânica do Ministério Público, fica claro que a investigação é dirigida diretamente pelo Ministério Público e a Polícia age a partir de ordens e diretrizes ditadas pelo Ministério Público.

A Constituição chilena dispõe que o Ministério Público pode determinar ordens diretas às Forças de Ordem de Seguridade, que é a Polícia. Há um trabalho conjunto entre a Polícia e o Ministério Público. Isso fica claro quando acontece um crime. Sempre há um Promotor de sobreaviso que recebe informações diretas da Polícia.

No Chile há um mecanismo chamado de arquivamento provisório que acontece da seguinte forma: se o Fiscal entender que aquela investigação não tem sentido ele faz um arquivamento provisório. Está previsto em lei e nada impede que seja, posteriormente, desarquivado. Se a Polícia tiver notícias de novas possibilidades de investigação, haverá o prosseguimento das investigações. O Ministério Público tem que ficar ciente da prática de

 

 

 

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qualquer delito para que possa proceder às investigações ou determinar o arquivamento provisório.

Uma questão que não me parece adequada do ponto de vista do sistema acusatório é a interferência do Poder Judiciário chileno na escolha dos membros do Ministério Público. Pela Constituição chilena, o Fiscal Nacional, que no Brasil seria equivalente ao Procurador-Geral da República, é escolhido pelo Presidente da República, a partir de uma lista tríplice indicada pela Suprema Corte, constituindo uma intolerável ingerência do Judiciário no Ministério Público.

O Fiscal Nacional tem um mandato de oito anos, não podendo ser reconduzido. Há também os Fiscais Regionais, que atuam nas respectivas Fiscalías. Estes são escolhidos pelo Fiscal Nacional, a partir de uma lista tríplice elaborada pela Corte de Apelação, o que mais uma ingerência indevida do Judiciário na escolha dos Fiscais chilenos.

O Fiscal Nacional e os Fiscais Regionais não são membros da carreira do Ministério Público. Para ser Fiscal Nacional é necessário ter dez anos de advocacia e para ser Fiscal Regional e preciso ter cinco anos de advocacia, além de outros requisitos de natureza técnica. Eles não precisam ser necessariamente membros da carreira, portanto.

Membros da carreira só são os Fiscais Adjuntos, aqueles que realmente exercem as atribuições do Ministério Público. São os Fiscais locais, escolhidos pelo Fiscal Nacional, a partir de uma lista tríplice elaborada pelos Fiscais Regionais. Primeiro se exige um concurso público, depois o Fiscal Regional escolhe três nomes e dentre estes o Fiscal Nacional escolhe os Fiscais Adjuntos, que são aqueles que têm a função mesmo de investigar, sendo os únicos integrantes da carreira do Ministério Público.

O Fiscal Nacional e os Fiscais Regionais têm o poder de avocar qualquer investigação criminal que esteja em mãos do Fiscal Adjunto. Tanto avocar a investigação quanto a própria ação penal. Nesse aspecto o Ministério Público é completamente diferente do Brasil, porque aqui há uma autonomia funcional, nada obstante tratar-se, sob um certo aspecto, de uma instituição hierarquizada.

 

 

 

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Feitas estas observações, poderíamos, então, perguntar qual seria o modelo ideal. Cremos que o modelo chileno do Ministério Público é satisfatório, ressalvada a questão da escolha de seus membros. Entendemos que o Ministério Público tem que ter um foco: investigar crimes com o auxílio da Polícia, sem subordinação hierárquica ou funcional. Isso não há. A Polícia tem sua autonomia administrativa. Não faz sentido este afastamento do Ministério Público das investigações criminais, se elas têm como destinatário o Ministério Público.

O que acontece no Brasil hoje? A Polícia faz o inquérito, realiza as diligências que entender necessárias, não comunica nada ao Ministério Público e, terminado, envia aquela documentação toda ao Ministério Público. Então, o Promotor de Justiça ou o Procurador da República diz: não dá para oferecer a denúncia, não há justa causa, precisa ser refeito. Se houvesse uma cooperação entre as duas instituições isso certamente não aconteceria.

Entendo que a atribuição para investigar deve ficar a cargo do Ministério Público. Não há demérito para a Polícia. Ao contrário, divide-se a responsabilidade. Isso, por exemplo, está expresso no Código de Processo Penal alemão, quando dispõe que “a Promotoria de Justiça deverá averiguar não só as circunstâncias que sirvam de encriminamento como as que sirvam também de inocentamento e cuidar de colher as provas cuja perda seja temida.” Ou seja, o Ministério Público pratica atos investigatórios para trazer elementos de culpa ou de inocência do investigado. Dispõe o Código de Processo Penal alemão que a Promotoria poderá exigir informações de todas as autoridades públicas, realizar diligências diretamente ou por meio das autoridades e funcionários da Polícia.

Também o Código de Processo Penal italiano, no art. 326 diz que “o Ministério Público e a Polícia Judiciária realizarão, no âmbito de suas respectivas atribuições, a investigação necessária para o exercício da ação penal.” O art. 327 estabelece que o Ministério Público dirige a investigação e dispõe diretamente da Polícia Judiciária.

 

 

 

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Em Portugal, a Lei Orgânica do Ministério Público estabelece, no art. 3º., caber “ao Ministério Público dirigir a investigação criminal, ainda quando realizada por outras entidades e fiscalizar a atividade processual dos órgãos de polícia criminal.”

Em França, o art. 41 do Código de Processo Penal, dispõe que “para o fim de investigação, o Procurador da República dirigirá a atividade dos oficiais e agentes da polícia judiciária.”

Então, creio que o modelo ideal é a investigação criminal feita pelo Ministério Público. A maior contestação é aquela segundo a qual haveria uma incompatibilidade entre as funções de investigar e acusar. Até que ponto seria conveniente o Ministério Público, que é parte no processo, dirigir a investigação? Esse é um problema mais para ser resolvido pelos membros do próprio Ministério Público, cientes de suas responsabilidades constitucionais, do que pela lei. Como vimos, na Alemanha a investigação feita pelo Ministério Público é realizada de forma isenta. Não se pode partir do pressuposto que o investigado é, necessariamente, o autor do crime. É preciso colher elementos sobre todos os aspectos do fato criminoso, inclusive os que possam favorecer o pedido de arquivamento por parte do Ministério Público. Mas, para isso acontecer, é preciso que se mude essa cultura do acusador público que ainda está muito enraizada no Brasil, como se vê, por exemplo, na atuação do Ministério Público na chamada Operação Lava-Jato.

Defendo também que deve haver paridade de armas entre a acusação e a defesa, inclusive nesta fase preliminar. Participação efetiva da defesa, não meramente formal e decorativa, inclusive requisitando diligências e participando de audiências.

Neste aspecto, houve um avanço no ordenamento jurídico brasileiro, porque foi alterado o art. 7º. do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, acrescentando-se o inciso XXI, que diz ser "prerrogativa do advogado assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrrogatório ou depoimento e subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivado direta ou indiretamente,

 

 

 

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podendo, no curso da respectiva apuração, apresentar o advogado razões e quesitos."

Isso já satisfaz, de uma certa maneira, porém, por causa da realidade social e econômica dos indivíduos, acabava virando letra morta, pois a ele só aproveita aqueles que tenham condições financeiras para contratar um advogado.

Com relação à ação penal pública, creio que deve ser privativa do Ministério Público. Não há sentido colocar a vítima como autora de uma ação penal. Não há sentido nisso, mesmo a ação penal de iniciativa privativa subsidiária da pública, que é uma cláusula pétrea. Acho que em caso de omissão do Ministério Público deve haver mecanismos internos de controle sobre isso.

Por fim, concluo com uma crítica veemente a esta banalização de pedidos de prisão preventiva, especialmente para coagir o réu a delatar. Sou, inclusive, favorável à modificação da lei para só permitir delação premiada de réu solto e não preso.

Muito obrigado pela atenção de todos. Nota:

[1] Transcrição da palestra proferida no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, em evento realizado em conjunto com o Instituto Baiano de Direito Processual Penal, a Defensoria Pública da Bahia, o Ministério Público da Bahia e o Tribunal de Justiça da Bahia, no dia 29 de agosto do ano de 2016, tratando do tema: "O Papel do Ministério Público no Processo Penal e o Sistema Acusatório." A transcrição foi feita pelo aluno David Magno de Morais, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, sob a orientação do Professor Luis Gustavo Castanho Grandinetti, a quem agradeço muitíssimo.

 

 

 

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ESTADO E DIREITO - DE ROMA À MODERNIDADE

CAROLINE QUAGLIATO ROVERI: Advogada.

RESUMO: Este artigo possui analisa o desenvolvimento da sociedade desde a sua formação mais primitiva até à formação do Estado e do direito como regulador da convivência social.

PALAVRAS-CHAVE: história do direito. Roma. Feudalismo. Modernidade. Estado.

INTRODUÇÃO:

Não é possível se referir a Estado antes da modernidade, seria um anacronismo tal menção; assim como ao termo Direito, vez que a forma jurídica nasce junto com o capitalismo, para regulamentar a ordem econômica e política.

Na antiguidade a família era o núcleo da sociedade, sob a liderança do pater-família, o qual era responsável pela sobrevivência material da família. Essa forma de liderança nascera da necessidade de se organizar.

Essa organização evoluiu, a partir da segurança econômica que originou uma explosão populacional, à formação do clã. Deve-se sempre ter em mente que é a necessidade que provoca a mudança no homem, e que é a matéria que precede o pensamento, este não cria a matéria. Sob tal aspecto, o clã evolui-se a tribo, a qual deu origem às cidades-estados, que possuíam características diversas das cidades da modernidade, eram autossuficientes político, econômico e militarmente. O poder ainda era fomentado organicamente, de baixo para cima, vez que o

 

 

 

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pater-família ainda detinha a liderança; diferentemente do Estado Moderno, no qual a liderança é de cima para baixo.

É importante ressaltar as diferenças entre os modos de produção existentes na antiguidade e na modernidade; escravagista e capitalista, respectivamente, já que o modo de produção é que determina valores em uma sociedade.

DESENVOLVIMENTO:

A fundação de Roma se deu por volta de 754 a.c. por Rômulo, e durou até 476 a.c. com a queda de Roma do Ocidente.

Em Roma, a cidadania, ius civile, era fundamental; era um pressuposto para o exercício político. Portanto, pode-se auferir um caráter privado ao “direito” romano, vez que excluía todos os estrangeiros, os quais possuíam somente o ius gentium, que garantia somente o direito à vida, ao trabalho; era de todos os seres humanos.

Deve-se ressaltar que os escravos não possuíam sequer o ius gentium, vez que eram res, ou seja, coisa. A noção de escravo diverge-se entre a antiguidade e a modernidade, nesta o escravo é considerado mercadoria, a sua importância não se atém ao uso, mas sim ao valor de troca; por outro lado, na antiguidade, o escravo era importante pelo seu valor de uso, em função de ser utilizado como força motriz para o funcionamento das cidades.

Posteriormente, o imperador Caracala estendeu a cidadania, ius civile, a todos os habitantes de Roma; adquirido, portanto, um caráter territorial. Isso gerou uma crise ao pater-família, o qual era a base do império romano. Cumulado a isso, o limite das conquistas geográficas irá culminar nas duas grandes causas da crise romana.

Os romanos era um povo belicoso, pois com a guerra advinha a expansão territorial e a conquista de escravos. Entretanto, conforme se aumentava a quantidade de escravos e

 

 

 

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territórios, aumentavam-se as trocas e o comércio começava a entrar em contradição com a escravidão. Todo modo de produção significa a produção de sua própria negação, de sua própria ruína. No século III houve uma crise que gerou grande instabilidade devido à decadência econômica, militar e às invasões bárbaras. Diocleciano, com o escopo de salvar o império, dividiu-o em Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente; além de criar medidas de congelamento, que culminou na estagnação do dinamismo econômico.

Diante a esse ambiente de medo e tensão surgiu o cristianismo, como mecanismo de pacificação dos plebeus. A disseminação fora tão grande, que o cristianismo passou a ser adotado por todos os cidadãos romanos, marcando, portanto, o fim de Roma, vez que fora exterminada de vez a base familiar como religião.

Fora iniciado o processo de feudalização na parte ocidental do Império Romano devido à insegurança gerada a partir do seu declínio. Era formada por unidades autossuficientes, baseadas no modo de produção servil, no qual o servo era força de trabalho livre, e não mais meio de produção, como era o escravo.

No feudalismo havia liberdade para o servo; este poderia viver nos burgos ao invés de trabalhar para o senhor feudal. Entretanto, essa liberdade não pode ser confundida com a liberdade jurídica existente no capitalismo, que pressupõe a igualdade formal para todos. Destarte, a Igreja se tornou fundamental nessa época devido a existência dessa desigualdade estamental, servindo para controlar, amenizar e justificar a imobilidade social.

O feudalismo foi condenado em função dos alcances que tomou; chegou ao fim de maneira dialética. A partir da segurança proveniente dos feudos houve um aumento populacional e aumento de rotas comerciais. A circulação e as trocas de mercadorias aumentaram; fatores estes incontingentes com os

 

 

 

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pressupostos do feudalismo, consequentemente, propiciando o aumento das cidades. Surgiu, portanto, a modernidade.

O modo de produção deve ser analisado sempre de maneira dialética, nunca de modo analítico. Portanto, as mudanças foram surgindo lentamente no declínio do modo de produção anterior, não foram impostos de maneira abrupta.

Por volta do início do século XIV iniciou-se o acúmulo primitivo – deve-se ressaltar, entretanto, que esse acúmulo se dava através do comércio e não do trabalho, como acontece no capitalismo já desenvolvido – que desencadeou a valorização do valor, inexistente até então no feudalismo, no qual a produção era de mera sobrevivência e existia apenas o valor de uso.

Esse novo mecanismo econômico provocou a necessidade de centralização do poder de forma soberana, até então inexistente. As condições históricas nas quais Nicolau Maquiavel usou primeiramente o termo “Stato” com o sentido de Estado – meados de 1500 com a publicação de “O Príncipe” - são totalmente distintas dos outros períodos. As sociedades políticas anteriores tinham contextos históricos e características distintas.

Esse  movimento  econômico  obriga  a  concentração  de  poder. 

Antes,  cada  feudo  era  uma  unidade  autossuficiente.  Com  o 

ressurgimento  do  comércio  foi  preciso  concentrar  o  poder.  Trata‐se, 

portanto, de uma relação dialética.

Tendo  em  vista  a  necessidade  de  garantir  a  troca,  se  tornou 

necessária  a  garantia  da  igualdade  entre  os  indivíduos.  A  economia 

estava,  portanto,  montando  o  cenário  para  que  o  direito  surgisse. 

Apenas na medida em que o Estado  concentra o poder é que pode‐se 

afirmar o surgimento do direito. 

Referências: 

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Martin Claret, 1998. 

 

 

 

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DOBB, Maurice;  SWEEZY,  Paul;  TAKAHASHI,  Kohachiro; DIDONNET, 

Isabel.  A  Transição  do  Capitalismo  para  o  Feudalismo.  5ª  Edição.  São 

Paulo: Paz e Terra, 2004. 

BLOCH, Marc. A Sociedade Feudal. Coimbra: Edições 70, 2009. 

COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga. São Paulo: Maritin Claret, 

2002. 

HUBERMAN, Leo. A História da Riqueza do Homem. 21ª Edição. São 

Paulo: LTC, 1986. 

 

   

 

 

 

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ARBITRAGEM E MEDIAÇÃO

ALESSANDRO MENEZES ORICO: Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Cândido Mendes - UCAM. Especialista em Direito Ambiental. Graduado em Direito pela Universidade Tiradentes - UNIT. Advogado.

RESUMO:  Esse  estudo  tem  como  demonstrar  que  os  institutos  da 

arbitragem  e  mediação  amenizam  a  consequência  dos  conflitos, 

demonstrando‐se  apropriados  para  tal  resolução  conflituosa,  uma  vez 

que  entram  em  ação  quando  as  partes  não  conseguem  resolver  –  e 

apaziguar  –  totalmente  a  questão,  devendo  preceder  a  todos  os 

processos,  restando uma decisão  judicial somente para as exceções.  E, 

nesse  contexto,  os  institutos  da  arbitragem  e  mediação  amenizam  a 

consequência,  quando  não  conseguem  resolver  –  e  apaziguar  – 

totalmente  a  questão.  Daí  a  importância  de  proporcionar  às  partes  a 

possibilidade de solução por intermédio de tais institutos. Por essa razão, 

torna‐se  relevante  abordar  sobre  tema  da  arbitragem  e  mediação, 

demonstrando que os Institutos responsáveis por tal feito, são os meios 

mais apropriados de solução dos conflitos. 

Palavras‐Chave: Arbitragem; Mediação; Conflitos. 

 ABSTRACT: The purpose of this study is to demonstrate that arbitration 

and mediation institutes alleviate the consequences of conflicts, proving 

appropriate  for  such  a  conflict  resolution,  since  they  come  into  play 

when  the  parties  are  unable  to  resolve  ‐  and  appease  ‐  the  issue 

altogether,  All  proceedings,  leaving  a  judicial  decision  for  exceptions 

only. And  in  this  context,  the arbitration and mediation  institutes ease 

the  consequence, when  they  can not  solve  ‐  and  appease  ‐  the whole 

question. Hence the  importance of providing the parties with a solution 

through such  institutes. For this reason,  it becomes relevant to address 

the issue of arbitration and mediation, demonstrating that the Institutes 

 

 

 

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responsible  for  doing  so  are  the most  appropriate means  of  resolving 

conflicts. 

Key words: Arbitration; Mediation; Conflicts.

Sumário: 1.  Introdução; 2. Revisão Bibliográfica; 2.1Digressões Sobre os 

Direitos  da  Personalidade  e  o  Acesso  à  Justiça;  2.2  Mediação  e 

Conciliação; 2.3 Arbitragem; 3. Relevância da Mediação e da Arbitragem; 

Conclusão

INTRODUÇÃO

Considerando  que  nos  dias  atuais,  desde  meados  do  ano  de 

2015, muito se tem discutido a respeito da melhor técnica para solução 

dos conflitos judiciais, uma vez que a sentença do magistrado está longe 

de  resolver  a  questão  e manter  a  harmonia  entre  os  contendores,  na 

maioria dos casos.

Mediante  a  isso,  motivou‐me  a  realização  desse  estudo, 

buscando  demonstrar  que  institutos  Arbitragem  e  Mediação  são  os 

meios mais  apropriados  de  solução  dos  conflitos  judiciais,  bem  como, 

devem  preceder  a  todos  os  processos,  restando  uma  decisão  judicial 

somente para as exceções, é que serão adiante  lançados os conceitos e 

apuradas as diferenças da conciliação e da arbitragem. 

A  PROBLEMÁTICA  do  tema  está  no  fato  de  atualmente,  o 

judiciário  se  deparar  com  inúmeros  casos  de  conflito,  e  não  vê  outra 

alternativa, senão o desligamento das relações, optando assim por uma 

solução judicial. 

No entanto, o que tem se observado no decorrer dos anos, é que 

um  processo,  envolve  muito  mais  do  que  uma  desconfiguração  ou 

distrato de relações, sejam elas familiares ou profissionais, pois envolve 

fatores  afetivos que muitas  vezes precisam  ser mediados, para que  as 

partes  voltem  a  ser  estabelecida. Mediante  a  falta  desse  “mediador” 

acabam optando pelo  litígio, no entanto, percebe‐se que a maioria dos 

 

 

 

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casos  ainda  tem  jeito  e  que  o  rompimento  de  laços  familiares  ou 

profissionais não seria a opção definitiva. 

É  dever  do  Judiciário  zelar  pelas  boas  relações,  caso  contrário 

não faria tanto nexo assim, as inúmeras Leis que defendem a harmonia, 

a democracia e a paz. Por essa razão, a seguinte problemática se levanta 

como reduzir os casos de conflitos nos processos  judiciais, reduzindo as 

quebras  de  laços  profissionais  ou  familiares  e  consequentemente, 

amenizando a desconfiguração das relações? 

Apresenta‐se assim essa pesquisa, tendo como OBJETIVO GERAL 

demonstrar  que  os  institutos  da  arbitragem  e mediação  amenizam  a 

consequência  dos  conflitos,  demonstrando‐se  apropriados  para  tal 

resolução  conflituosa, uma  vez que entram em ação quando as partes 

não conseguem resolver – e apaziguar – totalmente a questão, devendo 

preceder a  todos os processos,  restando uma decisão  judicial  somente 

para as exceções. 

Para  atender  a  esse  objetivo  geral,  alguns  OBJETIVOS 

ESPECÍFICOS  devem  ser  abordados,  tais  como:  Abordar  sobre  as 

diferenças  entre  mediação  e  arbitragem;  Apresentar  os  Institutos  de 

arbitragem  e  Mediação  e  os  princípios  que  norteiam  esse  feito;  Dar 

ênfase a algumas regras e técnicas utilizadas na mediação e arbitragem; 

Abordar o tema dentro do Novo Código de Processo Civil; 

JUSTIFICA‐SE  a  realização  dessa  pesquisa,  o  fato  de  que  em 

muitos casos a sentença se apresenta como solução do  litígio, mas não 

consegue  apaziguar  as  partes  que,  na  maioria  das  vezes  tem  que 

continuar  a  conviver,  situação  que  se  apresenta  como  um  suplício, 

principalmente porque os litígios de família e trabalho normalmente não 

apresentam um vencedor, mas partes que tem cindidos seus direitos. 

E,  nesse  contexto,  os  institutos  da  arbitragem  e  mediação 

amenizam  a  consequência,  quando  não  conseguem  resolver  –  e 

apaziguar – totalmente a questão. Daí a importância de proporcionar às 

partes a possibilidade de solução por intermédio de tais institutos. 

 

 

 

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De  outra  forma  –  e  como  consequência  ‐,  tem‐se  ainda  que  a 

arbitragem e a mediação prévia, através de um procedimento simples e 

rápido, acabam por  impedir que as partes se sujeitem a procedimentos 

desgastantes e, por vezes, vexatórios, inerentes à instrução processual, o 

que  também  se  traduz  numa  forma  de  alento  aos  envolvidos, 

resguardando suas dignidades. 

Por  essa  razão,  torna‐se  relevante  abordar  sobre  tema  da 

arbitragem  e mediação,  demonstrando  que  os  Institutos  responsáveis 

por  tal  feito,  são  os meios mais  apropriados  de  solução  dos  conflitos 

familiares e de trabalho, bem como, é importante demonstrar que esses 

Institutos devem preceder a  todos os processos,  restando uma decisão 

judicial  somente  para  as  exceções,  os  quais  serão  adiante  lançados  os 

conceitos  e  apuradas  as  diferenças  da  conciliação  e  da  arbitragem, 

buscando demonstrar em que casos um ou outro instituto – ou os dois ‐ 

deverão ser aplicados. 

Desta  forma. A METODOLOGIA  utilizada  para  elaboração  deste 

trabalho cientifico consistiu na utilização de métodos de procedimento 

histórico e comparativo; métodos jurídicos, interpretativos, exegéticos e 

sistemáticos.  Tudo,  com  o  olhar  voltado  à  pesquisa  documental  e 

bibliográfica atinentes ao tema, tanto em trabalhos  já desenvolvidos no 

Brasil  como  em  outros  países  com  mais  tradição  na  utilização  da 

conciliação e arbitragem como meio de solução de conflitos. 

 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 

2.1 DIGRESSÕES SOBRE OS DIREITOS DA

PERSONALIDADE E O ACESSO À JUSTIÇA Ao que se chama “direitos de personalidade” envolve, em

verdade, uma gama bastante grande de direitos, que englobam os direitos mais subjetivos da pessoa humana, e que, portanto não podem sumariamente ser anulados. Venosa (2006) esclarece que tais direitos se relacionam com o Direito Natural, e na verdade constituem o escopo mínimo da estrutura da própria personalidade do sujeito. O valor financeiro destes direitos é secundário, somente

 

 

 

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podendo ser avaliados quando são ofendidos, quando então se poderá falar em indenização pelos danos causados, num sentido de repor monetariamente a subjetividade agredida – é o dano moral. Eventuais danos patrimoniais consequentes à ofensa moral podem e devem ser avaliados no bojo da indenização, mas, argumenta o doutrinador, “em geral não há dano moral fora direitos da personalidade”.

Assim, aquele que pratica ofensa moral a terceiro está na verdade agredindo a personalidade de outrem, causando dano moral passível de indenização e eventualmente uma lesão de cunho patrimonial. A ligação entre dano moral e eventual dano patrimonial tem seu esboço já na Constituição, no artigo 5º, V que preconiza o “direito de resposta proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem” e inciso X, que torna invioláveis a “intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.

Mas a Constituição não se restringe a apenas este artigo e incisos no que tange à proteção dos direitos da personalidade, e ainda no artigo 5º, preconiza o direito de liberdade do autor, sem censura ou licença, a inviolabilidade de correspondência, o direito a privacidade pessoal e do lar, alem de proibir as discriminações por raça, cor, sexo, idade e qualquer outra forma de discriminação no artigo 3º, IV. Faz, enfim, integral proteção à dignidade humana, base dos direitos de personalidade.

Beltrão (2009) neste sentido faz com clareza o paralelo entre os direitos de personalidade e a dignidade da pessoa humana entendendo que os primeiros, fundeados na dignidade da pessoa humana, é que garantirão o gozo e o respeito ao individuo, em toda a sua integralidade, seja nas manifestações físicas ou espirituais.

A personalidade humana é um conjunto próprio de características de cada individuo, é o que torna cada ser humano único e incomparável em suas mazelas e qualidades, e, no entanto não é ela em si – a personalidade – um direito. Venosa

 

 

 

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(2006) ensina que ela é um “conceito básico sobre o qual se apoiam os direitos”.

Já Diniz (2004) entende no mesmo sentido, concordando que a personalidade em si não é um direito, mas respaldo e irradiação de direitos pessoais, pois da personalidade emanam as manifestações próprias de cada pessoa, e que são protegidas pela Constituição. Em verdade, a personalidade é o primeiro bem pessoal, e que permite a cada individuo adaptar-se e desenvolver-se na sociedade em que está imerso. É, portanto através dela que o individuo adquire outros bens.

E Reale[1] esclarece a respeito do conceito de personalidade que, embora não seja ela mesma objeto de direitos, é em função dela que se pode exercer o direito de ser livre, de poder agir de acordo e dentro dos direitos que a Constituição e as leis proporcionam.

Compõem os direitos de personalidade diversos direitos subjetivos: direito a honra, e por consequência a reputação, e mais a liberdade, que vai do exercimento livre da profissão ao livre manifestar de ideias, a preservar a intimidade e privacidade, seja pessoal seja do lar e dos seus, entre outros. Em verdade, o reconhecimento dos direitos de personalidade é reconhecer a existência de direitos a ela coligados, onde a personalidade é ponto fundamental e mesmo um pressuposto de existência dos mesmos.

2.2 MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO

A vida em sociedade  infelizmente nem sempre é pacífica, e das 

relações  sociais  nascem  os  conflitos,  que  necessitam  ser  resolvidos. 

Nesse  contexto  é  que  o  Estado  ganha  relevância,  pois  a  ele  cabe 

solucionar  os  conflitos  entre  os  indivíduos  através  da  prestação 

jurisdicional.

Na jurisdição, o Estado delega a função de dirimir conflitos a um 

terceiro, que  impõe fim ao problema de maneira  imparcial e coercitiva. 

Visto a evolução das relações sociais e o aumento significativo do grau de 

complexidade dessas, o Poder Judiciário não consegue, no geral, atingir o 

 

 

 

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objetivo da pacificação social ao qual se destina. Métodos alternativos de 

resolução  de  conflitos,  enquadrados  no  conceito  de  jurisconstrução, 

permitem que  as partes decidam, de maneira  autônoma, por meio do 

consenso, suas divergências. 

Cumpre  observar  que  os  países  mais  desenvolvidos  vêm 

alterando a maneira como tratam a resolução de conflitos, deixando de 

levá‐los  para  a  esfera  jurisdicional,  buscando  assim  a  utilização  de 

métodos alternativos, como a mediação, a conciliação e a arbitragem. 

Essa mudança ocorreu principalmente pela morosidade da justiça 

e,  como  o mundo  de  hoje  é muito mais  dinâmico  e  necessita  que  os 

conflitos sejam resolvidos da maneira mais rápida possível, a busca por 

essas  alternativas  se  torna  pontual.  É  nesse  contexto  que  se  faz 

necessário  analisar  o  conceito  e  evolução  da  conciliação,  em  sentido 

amplo. 

2.3 ARBITRAGEM

A arbitragem é um método de  resolução alternativa de  litígios, 

através do qual as partes em disputa envolvidas no presente desacordo 

ficam  junto de um  árbitro ou um painel de privados,  independentes e 

qualificados, considerados  terceiros no assunto  tratado. Onde o arbitro 

determinará o resultado do caso (CASELLA, 2009)

Mesmo  sendo  um  método  menos  custoso  de  resolução 

jurisdicional o processo de arbitragem tem desvantagens  incluindo risco 

ao  perdedor,  regras  formais  ou  semiformais  de  procedimento  e  de 

provas,  e  também  o  potencial  de  perda  de  controle  em  termos  da 

decisão depois da transferência das partes de autoridade de tomada de 

decisão para o árbitro (AMARAL, 2014). 

Mediante a empregabilidade da arbitragem as partes perdem a 

capacidade  de  participar  diretamente  do  processo.  Além  disso,  essas 

partes  são  confinadas  por  remédios  legais  tradicionais  que  não 

abrangem  soluções  criativas,  inovadoras,  ou  o  futuro  para  disputas 

comerciais ou emocionais (AMARAL, 2014) 

 

 

 

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Na arbitragem as partes envolvidas no conflito podem escolher 

árbitros neutros para decisão e  resolução da disputa entre eles, desde 

que  estas  não  sejam  do  tipo  designado  para  ser  tratadas  no  sistema 

judicial (FERRAZ, 2016) 

Os árbitros na maioria das vezes  são advogados ou professores 

de direito, e são escolhidos pelas as partes através de disputa no que se 

refere à sua experiência e competência em áreas específicas do direito. 

Quando a questão contestada esta em painel de árbitros, a seleção pode 

acontecer  por  cada  uma  das  partes  onde  cada  uma  seleciona  o  seu 

próprio  árbitro,  e,  juntos,  esse  árbitros  tratarão  da  designação  de  um 

terceiro como o presidente do painel (GUILHERME, 2007). 

Se chegarem a um acordo em relação a uma escolha comum, as 

partes podem então nomear e utilizar um único árbitro para auxilio na 

disputa. 

Os procedimentos que o árbitro ou o painel deve seguidos pelos 

árbitros durante o processo da arbitragem são inseridos juntamente com 

as  cláusulas de  arbitragem  contratuais.  Sem  as quais  as partes podem 

acordar  uma  vez  por  superfícies  de  litígios,  permitindo  que  árbitros 

ouçam e  resolvam os  seus  litígios;  isso em  saber  como um  "acordo de 

compromisso" (MARTINS, 2010) 

Quando  da  conclusão  de  uma  disputa  arbitrada  é  um  tema 

discutível, considerando que os árbitros podem prolongar o processo por 

um longo tempo. Existem dois tipos de arbitragem (MORAES, 2009) 

Arbitragem Obrigatória  ‐  cuja  sentença  arbitral  é  comparável  a 

um  julgamento contestado e é exequível no que diz respeito aos danos 

das partes. 

Arbitragem não circulante – através do qual o árbitro torna uma 

decisão  final semelhante ao de um acordo contratual; especificamente, 

as partes devem uns aos outros uma obrigação como se estivessem em 

um acordo contratual (MARTINS, 2010). 

 

 

 

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Ao  considerar  a  "sentença  da  equidade.";  um 

juiz  irá  decidir  como  a  disputa  será  resolvida  com 

base  em  princípios  de  equidade,  desde  que  esses 

direitos estejam disponíveis para as partes e solicitar 

que  o  juiz  deve  decidir  dessa  maneira.  Caso 

contrário, o  juiz decidirá  em princípios  tradicionais 

do direito (MORAES, 2009 pl. 47) 

Os  processos  de  recurso  também  demonstram  as  diferenças 

entre  a  arbitragem  vinculativa  e  não  vinculativa.  Uma  decisão  de 

arbitragem  geralmente  tem  força  de  lei  por  trás  dele,  mas  não 

estabeleceu  um  precedente  legal. A  determinação  chegou  ao meio  de 

arbitragem cuja ligação pode ser objeto de recurso somente quando uma 

parte deseja procurar revogação, e, quando for o caso, pode ser feito por 

uma  terceira  objeção  do  partido  na  frente  do  juiz  ordinário  (FERRAZ, 

2016). 

Uma  terceira  objeção  é  o  procedimento 

habitual que se estende a duração do processo geral 

de  arbitragem,  essencialmente,  tornar‐se  um 

procedimento  duplo,  privado  no  início  e,  em 

seguida, na  fase de execução. Quando é  feita uma 

determinação  por  meio  de  arbitragem  não 

vinculativa,  a  decisão  pode  ser  objeto  de  recurso 

apenas nos casos exclusivos e limitados, envolvendo 

frases que podem ser  impostas por uma decisão de 

equivalência patrimonial (MORAES, 2009 p. 55). 

O  recurso  deve  ser  ouvido  por  novos  árbitros,  que  deve  ser 

escolhido  com  um  olho  cada  vez  mais  seletivo  em  relação  à  sua 

experiência e competência em um processo, é claro, que envolve mais 

dinheiro e tempo (MARTINS, 2010) 

Em última análise, o poder de um árbitro ou painel de árbitros é 

concedido  diretamente  pelas  partes.  Com  a  inclusão  de  cláusulas  de 

arbitragem contratuais, as partes estão concordando com a resolução de 

suas  disputas  através  de  um  processo  que  consiste  em  um  processo 

 

 

 

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muito simples, que são semelhantes, mas não iguais à rota tradicional de 

assentamentos autuados (CASELLA, 2009) 

A sentença arbitral que conclui uma disputa tem o mesmo valor 

como uma decisão judicial ordinária, sob a condição de que as partes vão 

prosseguir com o próximo passo formal de registrar esta decisão privada 

com o Tribunal de Recurso (Amaral, 2014). 

3 RELEVÂNCIA DA MEDIAÇÃO E DA ARBITRAGEM

De acordo com Mendonça (2003, p. 45), “a mediação tem como 

principal  característica  propiciar  oportunidades  para  a  tomada  de 

decisões  pelas  partes  em  conflito,  utilizando  técnicas  que  auxiliam  a 

comunicação  no  tratamento  das  diferenças,  de  forma  construtiva  e 

interativa”. E acrescenta a autora:

As  técnicas  utilizadas  em  uma  mediação  são 

oriundas das áreas da comunicação e da negociação, 

e têm como objetivo auxiliar as partes a exercitarem 

seu  apoderamento  (apropriação  de  seus 

conhecimentos, ações e soluções) e reconhecimento 

(inclusão  do  ponto  de  vista,  ações  e  soluções  do 

outro), o respeito pelo outro, sua consciência social, 

seu movimento e motivação em direção ao futuro, a 

definição  de  temas,  a  deliberação  de  tomadas  de 

decisões. 

Souza  (2004, p. 60), por  sua vez, afirma que “a mediação é, na 

realidade, ato de intervenção de um terceiro em um negócio ou contrato 

que se realiza entre outras pessoas”. 

Moraes (2009, p. 135), sobre o instituto da mediação, o classifica 

como “um procedimento em que não há adversários, onde um terceiro 

neutro  ajuda  as  partes  a  se  encontrarem  para  chegar  a  um  resultado 

mutuamente  aceitável,  a  partir  de  um  esforço  estrutural  que  visa  a 

facilitar a comunicação entre os envolvidos”. 

 

 

 

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Desse modo,  a  solução do  conflito  é pretendida pelas próprias 

partes,  que,  com  a  ajuda  de  um  terceiro  sem  interesse  na  causa, 

denominado de mediador,  solucionam o problema. O mediador auxilia 

os conflitantes a entender os motivos das divergências, a delimitar suas 

fraquezas e barreiras a fim de possibilitar a construção da decisão. 

Qualquer  terceiro  alheio  ao  litígio  é  apto  a  exercer  o  papel  de 

mediador, “pode ser qualquer pessoa que, porventura, as partes, órgão 

estatal ou privado, venham a indicar” (MORAES, 2009, p. 152). 

Conforme Salla (2007, p.114), 

[...] mediar  é  interceder  ou  rogar  por  alguém, 

procurando  reconciliar  duas  ou  mais  pessoas  em 

conflito. A busca pela composição é realizada, como 

dito, por um terceiro, que é denominado mediador 

e  não  possui  o  direito  de  impor  a  decisão  ou 

medida,  isto  é,  ele  não  pode  coagir  nenhuma  das 

partes a aceitar  sua decisão. Ele apenas as orienta 

na construção da própria resposta. 

A autora ressalta que o terceiro deve intervir entre as partes para 

convergir os pontos em  comum e afastar as diferenças, não  lhe  sendo 

facultado, portanto, a propositura de solução para o caso. 

Amaral (2014, p. 23) entende que a distinção entre a conciliação 

e  a mediação  não  possui  a menor  importância,  servindo  apenas  para 

fazer  uma  distinção  doutrinária,  uma  vez  que,  em  muitos  países,  a 

conciliação  descrita  nas  legislações  estrangeiras  assemelha‐se  à 

mediação, como concebida no ordenamento jurídico brasileiro. 

Pasco (1997, p. 206‐207) ressalta que a conciliação e a mediação 

são  conceitos  que  alguns  identificam  ou  assemelham.  No  entanto, 

entende que, através de uma análise mais rigorosa, pode‐se estabelecer 

sensíveis diferenças. A mediação  situa‐se equidistante da  conciliação e 

da  arbitragem,  embora  tenha  em  comum  com  a  primeira  ser 

complemento  da  negociação,  que  busca  a  solução  pelo  acordo  e 

entendimento das partes. Contudo, diferencia‐se no fato de o mediador 

 

 

 

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tornar  pública  sua  proposta  de  solução,  enquanto  o  conciliador  não  a 

manifesta. 

Afirma o autor, ainda, que é possível também que a conciliação 

evolua  para  a  mediação,  desde  que  as  partes  queiram‐no  ou,  pelo 

menos, admitam‐no (PASCO, 1997, p. 207). 

Comunga desse entendimento Franco Filho (1997, p. 12‐13), que 

por  sua  vez,  entende  que  “não  se  confunde  o  mediador  com  o 

conciliador,  porque  este  tem  papel  menor  e  comparece 

espontaneamente a buscar, em conjunto com os conflitantes, a solução 

que melhor os atenda”. 

Inicialmente é importante ressaltar que inexiste diploma legal, no 

ordenamento jurídico brasileiro, que regulamente a mediação. Contudo, 

mesmo não  sendo a mediação no Brasil normatizada, esta deve  seguir 

alguns princípios básicos para que torne o processo legitimo. 

Souza  (2004,  p.  70‐71)  entende  “como  princípios  inerentes  à 

mediação  a  necessidade  e  o  interesse  dos  participantes  envolvidos  no 

conflito”. 

Outro princípio que considera importante é o da “imparcialidade, 

significando que a  terceira pessoa eleita pelos  interessados para ajudá‐

los na solução do problema será capaz de conduzir o processo mediador, 

não  podendo  em  momento  algum  decidir  ou  solucionar  o  conflito” 

(SOUZA, 2004, p. 71). 

Cumpre  observar  que  outros  princípios  que  devem  ser 

respeitados na mediação dizem respeito às partes. Para Souza (2004, p. 

71) dentre estes princípios destacam‐se o da autodeterminação e o da 

voluntariedade. No primeiro, o que deve ocorrer é um acordo voluntário, 

sem nenhuma  imposição ou coerção de qualquer espécie, em que suas 

soluções são  levadas ao mediador. Logo, sendo a parte contrária, que a 

aceita ou não, não podendo nem mesmo haver imposição de soluções ao 

conflito. 

 

 

 

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No segundo, há de se observar que o processo de mediação não 

deve ser imposto, mas sim aceito pelas partes, e dessa forma não haverá 

qualquer  espécie  de  coação,  pois,  se  isto  ocorrer,  a  vontade  estará 

minada. 

Como  já apontado alhures, o mediador  será a pessoa escolhida 

pelas partes para conduzir todo o processo de mediação e, geralmente, é 

uma pessoa de notável conhecimento e confiança das partes,  como  se 

extrai dos ensinamentos de Souza (2004, p. 72): 

[...] o mediador é um terceiro, desinteressado e 

neutro,  que  busca  por  meio  do  processo  de 

mediação  exercer  a  função  de  conselheiro,  pois  é 

aquele  que  aconselha  ou  sugere  aos  contendores 

algo  de  novo,  de  diferente,  às  questões  levadas 

pelas partes,  ampliando  a possibilidade de  acordo, 

por  contrabalançar  os  motivos  do  conflito,  e  por 

suas  ponderações,  ajudar  as  partes  a  chegarem  a 

uma  solução,  o  que  em  alguns  casos,  a  priori, 

poderia  ser  impossível.  [...] Este pode  ser qualquer 

pessoa  indicada  pelas  partes  ou  por  órgão  estatal. 

Em face da seriedade e cientificidade do instituto, o 

mediador deve  ser alguém preparado para exercer 

tais funções e que possua bom senso para o normal 

desenvolvimento do processo. [...] O mediador deve 

possuir a capacidade de comunicação, deve exprimir 

seu  pensamento  de  forma  simples  e  clara,  bem 

como  saber  entender  e  interpretar  a  intenção  das 

partes por meio de seus conhecimentos. 

Morais  (2009,  p.  72)  chama  a  atenção  para  o  fato  de  que  o 

processo  de mediação  é muitas  vezes  desenvolvido  quando  as  partes, 

além de seu interesse que buscam ter respeitado, apresentam‐se em um 

estado  sentimental  conturbado.  É,  portanto,  dever  do  mediador 

trabalhar  para minimizar  as  consequências  disto.  Assim,  um  processo 

que  se  desencadeia  entre  as  partes,  que  buscam  o  prejuízo  da  outra, 

como forma de satisfação pessoal, não terá êxito, já que só ocorrera se o 

 

 

 

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processo  apresentar  como  solução  um  acordo  satisfatório  para  os 

envolvidos. 

Sem avaliar ou opinar  sobre a questão, o mediador promove o 

elo entre os conflitantes e  facilita a troca de  informações e alternativas 

para acabar  com a divergência. E, dessa  forma,  reduz a amplitude das 

incompatibilidades e aproxima as partes de maneira gradativa, para que 

não desistam de mediar o conflito (FREGAPANI, 1997, p. 100). 

Tavares  (2002,  p.  76‐77)  destaca  algumas  prerrogativas  do 

mediador, bem como alguns erros que esse não deve cometer. 

No que  tange às atribuições do mediador, o autor  cita:  indicar, 

expor e  indagar  a  respeito dos detalhes do  conflito; dispor  a  conversa 

entre as partes, auxiliar na composição da  lide;  ressaltar os pontos em 

comum e os opostos a  fim de que  se chegue ao um consenso;  instigar 

diferentes soluções em busca da mais justa; e auxiliar os interessados na 

descoberta dos reais objetivos (TAVARES, 2002, p. 76‐77). 

Quanto  aos  erros,  elenca:  intimidade  com  as  partes;  restrição 

quanto ao tempo empregado no desempenho da função; distanciamento 

dos detalhes do conflito e dos interessados; imposição de decisões; falta 

de preparação  técnica para atuar  sobre o procedimento; atribuição de 

juízo de julgamento sobre a lide; e declaração do objeto antes desse ser 

delimitado pelos conflitantes (TAVARES, 2002, p. 77). 

Para  Souza  (2004,  p.  75),  o  processo  de mediação  encerra  as 

seguintes  características,  sendo  elas:  (1)  privacidade;  (2)  economia 

financeira e de  tempo;  (3) oralidade;  (4)  reaproximação das partes;  (5) 

autonomia das decisões; e (6) equilíbrio das relações entre as partes. 

Anote‐se  que  essa  também  é  a  classificação  majoritária  na 

doutrina. 

O  caráter da privacidade  é manifestado porquanto  a mediação 

ocorre  somente  na  presença  das  partes  e  do  mediador.  O  que  for 

mediado será mantido apenas entre os envolvidos. A esses é  facultado 

decidir se querem manter secreto o processo ou se desejam divulgá‐lo, 

 

 

 

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salvo nos casos de interesse público, força de decisão judicial ou política 

pública, em que será desconsiderada tal escolha. 

A mediação  possibilita  a  economia  financeira  e  reduz  o  tempo 

despendido  com  o  conflito.  Seu  procedimento  é  desvinculado  de 

trâmites  legais,  o  que  permite  às  partes  e  ao mediador  construírem  a 

decisão  de  acordo  com  a  necessidade  daqueles.  Quanto  mais  se 

prolongar a resposta do problema, maior será o dinheiro empregado na 

sua resolução. A demora na prestação jurisdicional pode fazer com que o 

titular  do  direito  prefira  “abdicá‐lo  a  enfrentar  trâmites  lentos, 

burocráticos e dispendiosos” (MORAES; SPENGLER, 2008, p. 135). 

Considerado um procedimento firmado no diálogo, esse instituto 

caracteriza‐se pela oralidade. Objetiva a harmonia entre os conflitantes, 

a fim de compor a solução para o problema. As partes devem exteriorizar 

por  meio  da  fala  suas  pretensões  para  que  a  satisfação  plena  seja 

alcançada. 

Deriva  da  comunicação  entre  as  partes  a  característica  de 

reaproximação dessas. Ao mediador é atribuída a função de reaproximar 

os  conflitantes  utilizando  métodos  que  instiguem  a  elaboração  da 

solução  do  conflito.  Reconstrói‐se  o  relacionamento  pessoal  dos 

envolvidos. 

A autonomia manifesta‐se pela aptidão que possuem as partes e 

o mediador de conduzirem o procedimento à decisão. Visto que essa é 

atingida  pelo  trabalho  de  todos  os  integrantes  do  procedimento  em 

conjunto, tende a ser mais facilmente respeitada e executada. 

Por  fim,  o  equilíbrio  das  relações  surge  da  paridade  de  armas 

dispostas  aos  conflitantes.  Indispensável  que  os  integrantes  tenham 

conhecimento dos  seus direitos e de  todas as questões pertinentes ao 

conflito. Precisa  também o mediador  saber utilizar o procedimento da 

mediação,  para  que  possibilite  aos  interessados  as  mesmas 

oportunidades  de  manifestação,  e  para  que  esses  consigam 

compreender todas suas etapas até a solução da desavença. 

 

 

 

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Segundo Souza  (2004, p. 77), a mediação pode ser apresentada 

de duas formas: a primeira denomina‐se voluntária, que, como o próprio 

nome diz, depende da vontade das partes para dar início ao processo. A 

segunda é chamada de mandatória e é iniciada através de determinação 

judicial  ou  através  de  cláusula  compromissória  que  prevê  tal 

procedimento. 

Sobre as vantagens da mediação, Tavares (2002, p. 69) assevera 

que  proporciona  às  partes  a  resolução  célere,  ágil,  eficaz,  específica  e 

flexível do conflito;  torna ambos os conflitantes vencedores; propicia a 

problemas passados uma nova análise, a qual é adequada ao momento 

atual  das  partes;  evita  o  desgaste  emocional  de  um  processo  comum, 

porquanto permite o reajuste emotivo entre as partes e a reconstrução 

das  relações  pessoais;  ajuda  a  desafogar  o  Judiciário,  ao  diminuir  o 

desenvolvimento  de  processos  pela  via  judicial;  satisfaz  as  pretensões 

dos conflitantes, ao ponto que propicia maior credibilidade e respeito à 

sentença por  ser  fruto do  consenso entre os  litigantes; e oferece nova 

forma de atuação dos profissionais do Direito. 

CONCLUSÃO 

Ao  longo  do  presente  estudo,  buscou‐se  compreender  as 

peculiaridades  dos  meios  extrajudiciais  de  solução  de  conflitos  no 

Direito, notadamente a mediação e a arbitragem. 

Viu‐se que tais  instrumentos são cada vez mais utilizados, e têm 

se mostrado cada vez mais eficaz na busca por uma decisão que ponha 

fim, de forma satisfatória, às controvérsias estabelecidas entre as partes 

de um processo. Esse fato é devido ao afogamento do Poder Judiciário, 

pelas  incontáveis ações que tramitam em todos os órgãos de Justiça do 

país, culminando em morosidade e ineficácia das decisões prolatadas. 

A  arbitragem,  com  isso,  apesar  de  ter  uma  utilização  ainda 

incipiente se comparada à via judicial, tem, pouco a pouco, conquistado 

a  confiança  daqueles  que  procuram  uma  forma  alternativa  para 

solucionar  seus  conflitos,  sendo mais  célere  e,  em muitos  casos, pelas 

razões já mencionadas, mais eficazes que a Justiça estatal. 

 

 

 

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Como a mediação e arbitragem surgiram para tornar mais prático 

o  nosso  ordenamento  jurídico,  fazendo  com  que  os  conflitos  sejam 

resolvidos  de  maneira  mais  rápida,  sigilosa,  menos  onerosa  e  sem 

desgastes  para  as  partes.  O  nosso  papel,  deve  ser  de  promover  a 

divulgação  desses  métodos,  para  conscientizar  os  empregados  e 

empregadores,  que  estas  formas  de  resolução  de  conflitos  são 

promissoras  e  já  estão  dando  certo, muito  embora  se  faça  necessária 

maior conscientização dos sujeitos envolvidos, principalmente para que 

sejam tais meios utilizados, para desafogar o Poder Judiciário. 

REFERÊNCIAS: 

AMARAL, Lídia Miranda de Lima. Mediação e Arbitragem: uma solução para os conflitos trabalhistas no Brasil. São Paulo: LTr, 2014.

BELTRÃO, Sílvio Romero. Direitos da personalidade: de acordo com o 

novo Código Civil. São Paulo: Atlas, 2009, p. 25

CASELLA, Paulo Borba et al. Arbitragem. Lei brasileira e praxe internacional. 2. ed. São Paulo: LTr, 1009

DINIZ,  Maria  Helena.  Curso  de  direito  civil  brasileiro: 

responsabilidade civil. 18ª ed. São Paulo Saraiva, 2004, p. 76

FERRAZ, Taís Chilling. A conciliação e sua efetividade na solução dos 

conflitos. 2016. Disponível em: www.conciliar.gov.br Acesso em: 23 nov. 

2016. 

FRANCO FILHO, Georgenor de Souza. A nova  lei de arbitragem e as 

relações de trabalho. São Paulo: LTr, 1997. 

GUILHERME, Luiz Fernando do Vale de Almeida. Manual de Arbitragem. Doutrina, Legislação, Jurisprudência. 2. ed. São Paulo: Método, 2007.

MARTINS,  Sérgio  Pinto. Comissões  de  conciliação  prévia  e 

procedimento sumaríssimo. São Paulo: Atlas, 2010

 

 

 

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MENDONÇA, Rafael. (Trans)modernidade e mediação de  conflitos: 

pensando paradigmas, devires e seus laços com um método de resolução 

de conflitos. Florianópolis: Habitus, 2006. 

MORAES,  José  Luis Bolzan. Mediação e Arbitragem: Alternativas à 

jurisdição. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. 

MORAIS,  José  L.  Bolzan;  SPENGLER,  Fabiana  Marion. Mediação  e 

Arbitragem. Curitiba: Livraria do Advogado, 2008. 

PASCO O. A autocomposição nas relações de família. Revista Jurídica 

Cesumar, v.5. Maringá, 1997 

REALE,  Miguel.  Os  direitos  da  personalidade. Disponível  on  line 

em:http://www.miguelreale.com.br/artigos/dirpers.htm 

SALLA, Danielle de Moraes. Formas alternativas de composição de 

conflitos  jurisdicionais  como  meio  de  fortalecimento  da  cidadania. 

2007. 160  f. Dissertação  ‐ Universidade de  Santa Cruz do  Sul – UNISC. 

Santa Cruz do Sul, 2007. 

SOUZA,  Zoraide  Amaral  de. Arbitragem  –  Conciliação  – Mediação 

nos conflitos trabalhistas. São Paulo: LTr, 2004. 

TAVARES, Fernando Horta. Mediação e Conciliação. Belo Horizonte: 

Livraria Mandamentos Editora, 2002. 

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 6ª ed. São Paulo: 

Atlas, 2006, p. 172 

NOTAS 

[1] REALE, Miguel. Os  direitos  da  personalidade. Disponível  on  line 

em: http://www.miguelreale.com.br/artigos/dirpers.htm 

[1] REALE,  Miguel.  Os  direitos  da  personalidade. Disponível  on  line 

em: http://www.miguelreale.com.br/artigos/dirpers.htm

 

 

 

        35 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.571895  

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A UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS EXTRAJUDICIAIS DE TUTELA COLETIVA, PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, NA FISCALIZAÇÃO DO TERCEIRO SETOR

PAULO GOMES FERREIRA FILHO: Mestre em Direito Público pela PUC-SP, Procurador da República.

RESUMO: Este trabalho analisa a utilização, pelo Ministério Público, das principais técnicas extraprocessuais de tutela coletiva – inquérito civil, recomendação e termo de ajustamento de conduta – na fiscalização das entidades que compõem o Terceiro Setor.

PALAVRAS-CHAVE: Terceiro Setor. Tutela coletiva. Ministério Público.

1) INTRODUÇÃO

A Constituição Federal consagrou a função ministerial de 

promover  o  inquérito  civil  e  a  ação  civil  pública  para  a  proteção  do 

patrimônio  público  e  social,  do meio  ambiente  e  de  outros  interesses 

difusos e coletivos, com a correspondente previsão dos deveres‐poderes 

de notificação e requisição de informações e documentos para instrução 

dos  procedimentos  administrativos  de  competência  do parquet (artigo 

129, III e VI).

Seguiu‐se,  em um breve período  imediatamente  após  a 

promulgação da Carta de 1988, ainda que de  forma não  concertada, a 

postura  institucional ministerial  de  prestigiar  o  ajuizamento  de  ações 

civis públicas para a promoção dos interesses difusos e coletivos. Com o 

decorrer  do  tempo  e  a  constante  especialização  de  promotorias  de 

Justiça e ofícios do Ministério Público em todo país – nas áreas de saúde, 

educação,  cidadania  e  patrimônio  público,  entre  outras  –  a  instituição 

passou  a  perceber  as  vantagens  de  se  utilizar  também  as  técnicas 

 

 

 

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extraprocessuais  de  tutela  coletiva  para  concretizar  direitos  coletivos, 

sempre com o escopo de buscar a efetividade da tutela coletiva. 

Com efeito, o membro do Ministério Público deve avaliar 

o melhor caminho a ser seguido em cada caso, mediante a ponderação 

das vantagens e desvantagens em ajuizar ação civil pública ou utilizar os 

meios  extrajudiciais  para  a  implementação  de  direitos  coletivos.  De 

qualquer forma, qualquer que seja a estratégia adotada pelo parquet, o 

acesso ao judiciário é sempre garantido constitucionalmente aos demais 

legitimados coletivos (artigo 5º, XXXV) que eventualmente discordem da 

atuação ministerial. 

Alexandre  Amaral  Gravonski  demonstra  que  tanto  as 

ações  civis  públicas  quanto  as  técnicas  extraprocessuais  de  tutela 

coletiva  possuem  limitações  naturais  que  devem  ser  sopesadas  pelo 

legitimado coletivo em cada caso concreto. A solução mais adequada a 

ser adotada deve levar em conta a efetividade do instrumento escolhido 

para cada situação específica, com base em critérios de qualidade, baixo 

custo, resolutividade e satisfação dos envolvidos. [1]  

Este  trabalho  analisa  as  técnicas  extraprocessuais  de 

tutela  coletiva  utilizadas  pelo  Ministério  Público:  o  inquérito  civil,  a 

recomendação e o termo de ajustamento de conduta, sob o enfoque do 

controle externo e efetivo do Terceiro Setor. 

2) INQUÉRITO CIVIL

De  nada  adiantaria  incumbir  o  Ministério  Público  da 

defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais 

e  individuais  indisponíveis  sem  dotá‐lo  dos  instrumentos  necessários 

para  o  cumprimento  de  tão  importante  missão.  Nesse  sentido,  a 

consagração constitucional do  inquérito civil e do poder requisitório  foi 

fundamental para o fortalecimento institucional do Ministério Público na 

promoção dos interesses sociais e individuais indisponíveis. [2]

O inquérito  civil é  procedimento  administrativo 

inquisitório  e  facultativo de  titularidade  exclusiva do parquet, que  tem 

como objeto “apurar fato que possa autorizar a tutela dos interesses ou 

 

 

 

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direitos a cargo do Ministério Público nos termos da legislação aplicável, 

servindo como preparação para o exercício das atribuições  inerentes às 

suas  funções  institucionais”.[3]Desempenha  relevante  função 

instrumental, destinando‐se a coligir quaisquer elementos de convicção 

que possam embasar a atuação do Ministério Público.  

Possui  a  natureza  jurídica  de procedimento 

administrativo. Trata‐se da  sucessão coordenada e  formalizada de atos 

administrativos  praticados  pelo  Ministério  Público  na  coleta  de 

elementos  probatórios  para  a  promoção  de  interesses  sociais  e 

individuais indisponíveis. Não é processo administrativo: não há litigantes 

ou  acusados,  nem  a  possibilidade  de  se  aplicar  qualquer  sanção  aos 

investigados no âmbito do inquérito civil. 

É inquisitório ou unilateral,  eis  que  não  tem  partes, 

participantes  ou  acusados,  por  isso  não  incidem  as  garantais 

constitucionais do contraditório e da ampla defesa durante a  instrução 

do  inquérito  civil.  Nada  impede  e  é  até  aconselhável,  porém,  que 

o parquet realize  a  oitiva  de  todos  os  envolvidos  para  formar  sua 

convicção,  adotando  uma  postura  direcionada  “à  construção  do 

consenso e de inequívoco interesse para a efetividade da tutela coletiva, 

atentando  aos  princípios  da  máxima  efetividade  possível  e  da 

concretização dos direitos e interesses coletivos por meio da construção 

argumentativa do consenso”. [4] 

Se  o  Ministério  Público  possuir  todos  os  dados 

necessários para exercer suas funções, o inquérito civil será dispensável. 

Diz‐se, assim, que é facultativo: não é condição de procedibilidade para o 

ajuizamento  das  ações  a  cargo  do  Ministério  Público,  nem  para  a 

realização  das  demais  medidas  de  sua  atribuição  própria.[5] Por 

exemplo,  se  o  Ministério  Público  receber  uma  representação 

devidamente instruída sobre o direcionamento de determinada licitação 

para  favorecer  uma  entidade  do  Terceiro  Setor,  poderá  ajuizar  de 

imediato a ação civil pública para anular o certame, não sendo necessária 

instauração do inquérito civil. 

 

 

 

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Não  há  formalidade  restrita  no  inquérito  civil,  o  que 

permite  ampla  margem  de  liberdade  para  o  membro  do  Ministério 

Público  conduzir  sua  instrução.  Todas  as  provas  permitidas  pelo 

ordenamento jurídico podem ser colhidas para o esclarecimento do fato 

objeto da investigação e juntadas nos autos do inquérito civil em ordem 

cronológica de apresentação. [6] 

O  inquérito  civil  é  de  regra  público,  com  exceção  dos 

casos em que haja sigilo  legal ou em que a publicidade possa acarretar 

prejuízo às investigações, quando a decretação do sigilo legal deverá ser 

motivada. [7] 

As  principais  diligências  instrutórias  realizadas  pelo 

Ministério  Público  no  inquérito  civil  são  as  seguintes:  oitiva  de 

testemunhas  (que  podem  ser  requisitadas  coercitivamente,  caso, 

regularmente  notificadas,  ausentem‐se  seu  justificativa);  requisição  de 

informações,  exames,  perícias  e  documentos  de  autoridades  da 

Administração  Pública  direta  ou  indireta;  requisição  de  informações  e 

documentos  a  entidades  privadas;  realização  de  inspeções;  acesso  a 

banco  de  dados  de  caráter  público  ou  relativo  a  serviço  de  relevância 

pública; e realização de audiências públicas e reuniões. 

Nos  inquéritos  civis  instaurados  para  apurar 

irregularidades  nas  parcerias  estabelecidas  entre  o  Poder  Público  e  o 

Terceiro  Setor,  é  recorrente  a  requisição  de  cópias  dos  convênios, 

contratos de gestão e termos de parceria e das respectivas prestações de 

contas.  Registre‐se  que  o  Ministério  Público  Federal  tem  acesso 

privilegiado  ao  SINCOV  e  que  o  concedente  deverá  comunicar  ao 

Ministério Público competente quando detectados  indícios de crime ou 

improbidade administrativa. [8] 

Citem‐se alguns exemplos de  inquéritos civis  instaurados 

pelo Ministério Público para  investigar  a  correta  aplicação de  recursos 

públicos  pelas  entidades  do  Terceiro  Setor:  apurar  possíveis 

irregularidades  envolvendo  o  uso  de  verbas  federais  repassadas  por 

meio do convênio firmado entre o Município de Duque de Caxias – RJ e o 

Grupo  Verde Mania  (ONG),  destinadas  à  implantação  e  execução  do 

 

 

 

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Programa  NAF  –  Núcleo  de  Apoio  à  Família  –  Plano  Nacional  de 

Segurança  Pública;[9]acompanhar  os  convênios  firmados  entre  o 

Ministério do Turismo e a Associação Brasileira de Transporte Aéreo – 

ABETAR;[10]acompanhar  a  execução  de  termo  de  parceria  entre  a 

Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC e a Organização Brasileira para 

o Desenvolvimento da Certificação Aeronáutica – DCA BR;[11]averiguar a 

regularidade na aplicação de verbas oriundas do Ministério da Educação 

e Cultura para a execução do projeto denominado  'Escola Que Protege” 

por meio da ONG Hathor. [12] 

Outra  linha de atuação muito comum é a  instauração de 

inquérito civil para apurar o respeito ao princípio da  impessoalidade na 

realização  de  procedimento  de  competição  para  escolha  da  entidade 

parceira  do  Poder  Público,  como  ocorreu  no  inquérito  civil  instaurado 

pela Procuradoria da República no  Estado da Bahia  com o objetivo de 

verificar os critérios para a escolha da ONG “Avante, qualidade, educação 

e  vida”  e  do  “Instituto  Aliança  com  o  Adolescente”,  beneficiadas  com 

recursos  públicos  do  “programa  primeiro  emprego”  do  Governo 

Federal. [13] 

O inquérito civil pode ser também utilizado para apurar a 

correta prestação de serviços de relevância pública pelo Terceiro Setor. É 

o  que  ocorreu  na  instauração  de  inquérito  civil  pela  Procuradoria  da 

República  no  Estado  do  Rio  Grande  do  Sul  para  apurar  a  possível 

existência de um novo  curso de medicina  –  sem  reconhecimento pelo 

Ministério  da  Educação  –  promovido  pela  Escola  Superior  de  Ciências 

Tradicionais e Ambientais – ESCAM, mantida pela ONG TerraBrazil. [14] 

Preventivamente,  o  inquérito  civil  deve  ser  instaurado 

para acompanhar e  fiscalizar as parcerias estabelecidas com o Terceiro 

Setor,  verificando‐se  a  correta  aplicação  dos  recursos  públicos,  em 

especial  nos  ajustes  que  envolverem  valores  mais  elevados.  Nesse 

sentido,  o  Ministério  Público  Federal  instaurou  inquérito  civil  com  o 

objetivo de apurar a legalidade e a correta aplicação de recursos públicos 

federais pelas Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil de 

Interesse Público  localizadas nos municípios abrangidos pela atribuição 

da Procuradoria da República em Campinas – SP. [15] 

 

 

 

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A Constituição Federal consagrou o poder requisitório do 

Ministério Público  (artigo 129, VI),  inicialmente previsto na  lei da ação 

civil  pública.  A  Lei  Orgânica  Nacional  do  Ministério  Público  e  a  Lei 

Orgânica  do Ministério  Público  da União  disciplinam  o  exercício  desse 

poder. [16] 

A  requisição  é  uma  prerrogativa  constitucional  que 

confere ao parquet o poder  jurídico de exigir a obtenção de elementos 

probatórios,  seja qual  for a pessoa que deles disponha, para  instruir o 

inquérito  civil  e  os  procedimentos  administrativos  de  sua 

competência.[17] Não cabe ao agente requisitado avaliar a conveniência 

e  oportunidade  de  atender  à  requisição ministerial:  trata‐se  de ordem 

legal emanada do parquet. 

Caso a requisição não seja atendida, o Ministério Público 

poderá  impetrar  mandado  de  segurança  para  obter  as  informações 

requisitadas. Além disso, a  sanção pelo descumprimento deliberado da 

requisição  ministerial  legitimamente  expedida  consiste  na 

responsabilização pelo  crime de desobediência.[18] A  Lei 7.347/85, por 

seu turno, tipifica como crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 

3  (três)  anos,  mais  multa  de  10  (dez)  a  1.000  (mil)  Obrigações 

Reajustáveis do Tesouro Nacional ‐ ORTN, “a recusa, o retardamento ou 

a omissão de dados  técnicos  indispensáveis à propositura da ação civil, 

quando requisitados pelo Ministério Público” (artigo 10). Em casos mais 

extremos, o descumprimento reiterado de requisição ministerial poderá 

ensejar prática de  improbidade  administrativa  consistente em  retardar 

ou deixar de praticar,  indevidamente, ato de ofício  (artigo 11,  II, da Lei 

8.429/92). 

Questiona‐se  se  o  poder  requisitório  do  Ministério 

Público encontra limites nos dados protegidos por sigilo legal. 

Diz  o  artigo  8º,  §2º,  da  Lei  Complementar  75/93,  que 

“nenhuma autoridade poderá opor ao Ministério Público, sob qualquer 

pretexto,  a  exceção  de  sigilo,  sem  prejuízo  da  subsistência  do  caráter 

sigiloso da  informação, do  registro, do dado ou do documento que  lhe 

 

 

 

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seja  fornecido”, aplicável subsidiariamente aos Ministérios Públicos dos 

Estados de acordo com o artigo 80 da Lei 8.625/93. 

Em  relação  ao sigilo  bancário,  a  jurisprudência  vem 

admitindo  a  obtenção  de  informações  diretas  pelo Ministério  Público, 

sem a necessidade de autorização  judicial, nos  casos em que os dados 

referem‐se  a  recursos  públicos,  conforme  decidido  pelo  Supremo 

Tribunal  Federal  no  MS  21.729‐DF,  relatado  pelo  Ministro  Néri  da 

Silveira.[19] Nos  demais  casos,  prevalece  o  entendimento  de  que 

o parquet deve  requerer  judicialmente  as  informações  bancárias 

necessárias para a  investigação, não se admitindo a quebra genérica do 

sigilo bancário. [20] 

Logo,  conforme  o  entendimento  dominante  na 

jurisprudência, o  Ministério  Público  pode  requisitar  diretamente  das 

instituições financeiras as informações bancárias referentes aos recursos 

transferidos às entidades do Terceiro Setor, já que tais recursos possuem 

a natureza de recursos públicos. Por exemplo, o parquet pode ter acesso 

direto  aos  dados  da  conta  bancária  específica  (artigo  10,  §3º,  I,  do 

Decreto 6.170/07) de  convênio ou  contrato de  repasse  firmado  com o 

Terceiro Setor. 

No  que  diz  com  o sigilo  fiscal,  o  poder  requisitório  do 

Ministério  Público,  em  relação  à  situação  econômico‐financeira  do 

investigado na Secretaria da Receita Federal, encontra  respaldo no art. 

198,  §  1º,  II,  do  Código  Tributário  Nacional  (CTN),  alterado  pela  Lei 

Complementar  104/2001.[21] Registre‐se  que  a  Receita  Federal  possui 

ato  normativo  interno  determinado  o  fornecimento  das  informações 

alcançadas  pelo  sigilo  fiscal  ao  Ministério  Público  da  União, 

independentemente de autorização judicial. [22] 

Nos  demais  casos  em  que  houver  sigilo  legal,  as 

informações  requisitadas  devem  ser  encaminhadas  ao  Ministério 

Público,  ficando  o membro  do parquet responsável  civil  e  penalmente 

pelo uso indevido dos dados e documentos que requisitar. A ação penal, 

na  hipótese,  poderá  ser  proposta  também  pelo  ofendido, 

subsidiariamente, na forma da lei processual penal. [23] 

 

 

 

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Nem sempre o inquérito civil culminará na propositura de 

ação  civil  pública.  Na  maioria  das  vezes,  aliás,  o  inquérito  civil  é 

arquivado  por  outros  motivos,  tais  como  o  cumprimento  integral  de 

termo  de  ajustamento  de  conduta,  o  acatamento  de  recomendação 

expedida, a correção de conduta  irregular  investigada ou a  inexistência 

de  fundamento  para  a  propositura  da  ação  civil  pública. Quanto mais 

bem  instruído  for  o  inquérito  civil,  mais  eficiente  será  a  atuação 

ministerial na via judicial ou extrajudicial. 

Nas  palavras  de  Alexandre  Amaral  Gravonski,  “serve  o 

inquérito  civil  de  qualificado  instrumento  de  informação  e  instrução, 

impedindo uma atuação açodada ou superficial do Ministério Público e 

garantindo  adequada  identificação  das  reais  possibilidades  do  caso 

concreto”. [24] 

O  referido autor cita duas  formas diretas de efetividade 

do inquérito civil no plano extraprocessual: o efeito de inibir, em alguns 

casos, a prática ou a reiteração da conduta delitiva mediante a simples 

comunicação  da  instauração  do  inquérito  civil  ao  investigado  e  a 

possibilidade  de  construir  uma  solução  consensual  para  proteção  e 

recuperação dos direitos e interesses difusos e coletivos.[25] 

As contribuições  indiretas do  inquérito civil são  também 

duas: suspenção do prazo decadencial quanto ao direito de reclamação 

dos vícios constatados em produtos ou serviços  fornecidos no mercado 

de  consumo  (artigo  26,  §2º,  III,  do  CDC)  e  utilização  dos  elementos 

colhidos  no  inquérito  civil  para  responsabilização  criminal  dos 

investigados. 

3) RECOMENDAÇÃO

Recomendar significa fazer ver, aconselhar,  indicar.[26] A 

principal  característica  das  recomendações  expedidas  pelo  Ministério 

Público é a ausência de coercibilidade: não se trata de ordem emanada 

do parquet, mas  de  admoestação  com  o  escopo  de  persuadir  o  órgão 

recomendado  a  corrigir  conduta  irregular  ou  adotar  providências 

cabíveis para a tutela dos interesses, direitos e bens sociais e individuais 

 

 

 

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indisponíveis. Possui a natureza jurídica de ato jurídico unilateral, eis que 

independe da participação do destinatário para produzir efeitos.

A recomendação encontra fundamento constitucional na 

função ministerial de zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e 

dos  serviços  de  relevância  pública  aos  direitos  assegurados  na 

Constituição  Federal,  eis  que  é medida  necessária  e  eficiente  para  o 

desempenho dessa  atribuição ministerial  estabelecida no  artigo 129,  I, 

da Constituição de 1988. O  instrumento  foi  inicialmente previsto na Lei 

8.625/93[27] e aperfeiçoado na Lei Complementar 75/93, que estabelece 

a atribuição ministerial de “expedir recomendações, visando à melhoria 

dos serviços públicos e de relevância pública, bem como ao respeito, aos 

interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo 

razoável para a adoção das providências cabíveis” (artigo 6º, XXII). 

A  Resolução  23/2007  do  CNMP  trata  a  recomendação 

como  ato  fundamentado  expedido  nos  autos  do  inquérito  civil  ou  do 

procedimento preparatório que objetiva à melhoria dos serviços públicos 

e de relevância pública, bem como aos demais interesses, direitos e bens 

cuja  defesa  caiba  ao parquetpromover  (artigo  15).  O  campo  de 

abrangência da recomendação é amplíssimo, relacionado às atribuições 

ministeriais previstas na Constituição. 

Alexandre  Amaral  Gravonski  define  a  recomendação 

como[28] 

instrumento  jurídico  extraprocessual  escrito 

por  meio  do  qual,  fundamentadamente  e  sem 

coercibilidade, o Ministério Público, respeitadas as 

regras  de  atribuição,  antecipa  oficialmente  ao 

destinatário, pessoa  física ou  jurídica, de natureza 

pública  ou  privada,  o  seu  posicionamento 

específico relacionado à melhoria de determinado 

serviço  publico  ou  de  relevância  pública  ou  a 

respeito  de  interesses,  bens  ou  direitos  que  lhe 

cabe  promover,  objetivando  a  correção  de 

condutas  ou  adoção  de  providências  do 

 

 

 

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destinatário,  sem  a  necessidade  de  se  recorrer  à 

via judicial. 

É,  pois,  ato  administrativo  unilateral  expedido 

pelo parquet que  deverá  ser  bem  fundamentado  para  que  possa  ser 

acolhido  pelo  recomendado.  Com  efeito,  a  eficácia  da  recomendação 

para resolução extrajudicial do caso dependerá do poder persuasivo dos 

argumentos apresentados no  instrumento. Caso o destinatário opte por 

não acolher a recomendação ministerial, por estar convencido da licitude 

de  sua  conduta,  poderá  ser  acionado  judicialmente  pelo  Ministério 

Público para cumprir o que havia sido recomendado. 

A principal vantagem da recomendação é a possibilidade 

de seu pronto acatamento, o que levará à solução rápida e econômica da 

controvérsia  sem  a  necessidade  de  judicialização.  Nesse  sentido, 

configura  eficiente  método  extrajudicial  de  autocomposição  por 

submissão do recomendado ao entendimento do parquet.  

Não obstante, independentemente de seu cumprimento, 

tem o ato o importante efeito de demonstrar ao recomendado a ilicitude 

do comportamento por ele adotado, impossibilitando‐o de alegar boa‐fé 

a partir do momento em que tomou ciência da recomendação. Emerson 

Garcia  cita  o  exemplo  do  agente  que,  após  receber  recomendação 

expedida  pelo  Ministério  Público  demonstrando  a  ilicitude  de  sua 

conduta,  continua  a  praticar  atos  de  improbidade  administrativa 

violadores  dos  princípios  regentes  da  atividade  estatal:  ao  insistir  na 

prática do ato de  improbidade administrativa, mesmo após a ciência da 

recomendação, o agente atua inequivocamente com dolo. [29] 

Citem‐se alguns exemplos de  recomendações expedidas 

no exercício do controle do Terceiro Setor pelo Ministério Público. 

O  Ministério  Público  do  Estado  de  São  Paulo  expediu 

recomendação para que os dirigentes da Fundação Pinhalense de Ensino, 

instituição sem fins lucrativos sediada no Município de Espírito Santo do 

Pinhal,  cessassem  a  ilegalidade  consistente  na  remuneração  de  seus 

dirigentes,  em  afronta  expressa  a  disposição  do  estatuto  social  da 

entidade. [30] 

 

 

 

        45 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.571895  

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Na  Recomendação  03/2007‐MS,  o  Ministério  Público 

Federal  em Mato Grosso  do  Sul  recomendou  à  Diretora  do  Programa 

Nacional  de  DST/AIDS,  da  Secretaria  de  Vigilância  em  Saúde,  do 

Ministério da Saúde, que  instaurasse procedimento administrativo para 

apuração  de  danos  ao  patrimônio  público  causado  por  entidade  do 

Terceiro Setor,  identificando o  responsável e adotando as providências 

cabíveis para a reparação do erário. [31]  

O Ministério Público Federal em  Jales – SP  recomendou 

ao  prefeito  do  Município  de  Fernandópolis  –  SP  que  suspendesse  o 

termo  de  parceria  celebrado  com  a  OSCIP  Instituto  de  Saúde  e Meio 

Ambiente  –  ISAMA  e  reassumisse  a  direção  estratégica  e  a  gestão 

operacional dos serviços de saúde transferidos à OSCIP. [32] 

Se  a  recomendação  não  for  acatada  e  a  ilegalidade 

detectada persistir, o Ministério Público adotará as providências cabíveis 

para a efetiva tutela do direito difuso ou coletivo lesado. Nesse sentido, a 

Resolução  23/2007  do  CNMP  diz  que  é  vedada  a  expedição  de 

recomendação  como  medida  substitutiva  ao  compromisso  de 

ajustamento  de  conduta  ou  à  ação  civil  pública  (artigo  15,  parágrafo 

único). 

4) TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

O  termo de ajustamento de  conduta ou,  simplesmente, 

TAC, foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro pelo Estatuto da 

Criança  e  do  Adolescente  (artigo  211  da  Lei  8.069/90)  e  consagrado 

como instrumento extrajudicial de tutela coletiva pelo Código de Defesa 

do Consumidor, que  inseriu na Lei da Ação Civil Pública o §6º do artigo 

5º,  com  a  seguinte  redação:  “os  órgãos  públicos  legitimados  poderão 

tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às 

exigências  legais,  mediante  cominações,  que  terá  eficácia  de  título 

executivo extrajudicial”.

Havia intenção de vetar o referido dispositivo quando da 

promulgação do Código de Defesa do Consumidor, mas o artigo 113 do 

CDC, talvez por descuido na revisão do texto legal, não foi explicitamente 

 

 

 

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vetado. Dessa forma, entende‐se que a “referência ao veto ao artigo 113, 

quando vetados os artigos 82, § 3º, e 92, parágrafo único, do CDC, não 

teve o condão de afetar a vigência do § 6º, do artigo 5º, da Lei 7.374/85, 

com a redação dada pelo artigo 113, do CDC, pois inviável a existência de 

veto  implícito”.[33] A  doutrina  majoritária  e  a  jurisprudência  são 

uníssonas  quanto  à  validade  legal  do  instrumento  e  seu  uso  vem 

colhendo  bons  frutos,  demonstrando  sua  eficiência  como  técnica  de 

resolução célere de conflitos. 

Os órgãos  públicos legitimados  para  a  propositura  da 

ação civil pública possuem atribuição para firmar o TAC. A Lei 7.347/85, 

nesse  ponto,  não  utilizou  com  precisão  o  conceito  técnico  de  órgão 

consagrado  na  doutrina[34],  referindo‐se  tanto  a  órgãos  quanto  a 

pessoas jurídicas de direito público. 

Assim,  possuem  atribuição  para  celebrar  TAC  todos  os 

legitimados  públicos  à  propositura  da  ação  civil  pública:  Ministério 

Público, Defensoria Pública, União, Estados, Distrito Federal, Municípios 

e autarquias e fundações públicas de direito público (artigo 5º,  I,  II,  III e 

IV). Outrossim, os órgãos públicos  sem personalidade  jurídica e que  se 

dediquem  à  defesa  de  interesses  difusos,  coletivos  ou  individuais 

homogêneos, como os Procons, também podem celebrar TACs.  

Em  relação  às  fundações  públicas  de  direito  privado, 

empresas  públicas  e  sociedades  de  economia mista,  embora  também 

legitimadas  ao  ajuizamento  de  ação  civil  pública  (artigo  5º,  IV,  da  Lei 

7.347/85), são pessoas  jurídicas de direito privado: somente as voltadas 

para a prestação de serviços públicos é que podem, em tese, celebrar o 

TAC. Quando  tais  entidades  se  voltam  para  a  exploração  de  atividade 

econômica,  não  poderão  tomar  compromissos  de  ajustamento  de 

conduta,  pois  nesse  caso  não  atuam  exclusivamente  na  busca  do 

interesse  público  primário, mas  também  na  consecução  de  interesses 

próprios ou de mercado. Essa circunstância as  impede de atuar, com a 

esperada isenção, na concretização de direitos transindividuais por meio 

do TAC. [35] 

 

 

 

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De qualquer  forma, os órgãos públicos devem observar 

suas naturais limitações territoriais e suas respectivas atribuições devem 

guardar pertinência temática com o objeto do termo de ajustamento de 

conduta.  Estados,  Distrito  Federal  e  Municípios  devem  observar  os 

limites  das  respectivas  circunscrições.  Já  o  IBAMA,  por  exemplo,  só 

poderá  celebrar  TACs  em matéria  ambiental.  Somente  em  relação  ao 

Ministério  Público  não  há  necessidade  de  se  verificar  específica 

pertinência  temática  para  a  defesa  dos  interesses  sociais  e  individuais 

indisponíveis,  já que o parquet possui atribuição  constitucional para  tal 

fim. [36]  

A  lei  não  exige  participação  do Ministério  Público  nos 

compromissos  de  ajustamento  de  conduta  celebrados  pelos  demais 

órgãos  públicos,  apenas  prevê  a  obrigatoriedade  da  intervenção 

ministerial  em  juízo,  no  caso  de  ajuizamento  da  ação  civil  pública  por 

algum outro legitimado. 

As associações civis, ainda que  legitimadas à propositura 

da  ação  civil  pública  (artigo  5º,  V,  da  Lei  7.347/85),  não  possuem 

atribuição  para  celebrar  o  TAC,  eis  que  não  são  órgãos  públicos.  Da 

mesma  forma,  não  possuem  atribuição  para  tal  fim  as  Organizações 

Sociais  e  Organizações  da  Sociedade  Civil  de  Interesse  Público.  Não 

obstante, as associações civis podem ajuizar ação civil pública e propor, 

em  juízo,  acordo  para  compor  a  lide.[37]Nesse  caso  o  ajuste  será 

controlado pelo Ministério Público  –  interveniente obrigatório na  ação 

como fiscal da lei, nos termos do artigo 5º, §1º da Lei 7.346/85 – e pelo 

juiz,  que  poderá  ou  não  homologá‐lo.  Caso  o parquet discorde  da 

proposta  de  acordo  apresentada  pela  associação,  caberá  ao  juiz  a 

decisão  homologando‐o  ou  determinando  o  prosseguimento  do  feito, 

restando às partes a possibilidade de recorrer da decisão adotada. 

Há  basicamente  duas  correntes  quanto  à  natureza 

jurídica do TAC. 

A primeira entende que o instrumento possui a natureza 

jurídica  de transação  especial:  devido  às  limitações  decorrentes  da 

indisponibilidade  ínsita  aos  direitos  transindividuais,  há  concessões 

 

 

 

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mútuas no tocante ao prazo, modo e  lugar para adequação da conduta 

irregular do obrigado à  legislação vigente.[38] A segunda defende que o 

TAC é um ato ou negócio jurídico, não se tratando de transação devido à 

natureza indisponível dos direitos difusos. [39]     

Com  efeito,  o  traço  característico  da  transação  é 

justamente  a  possibilidade  das  partes  realizarem concessões 

mútuas (artigo 840 do Código Civil), o que somente é permitido quanto 

aos direitos patrimoniais de caráter privado (artigo 841, do Código Civil). 

Devido  à  indisponibilidade  dos  direitos  tratados  no  TAC,  não  há  como 

considerá‐lo  como  espécie  de transação,  ainda  que  qualificada 

como especial.  Como  não  há  transação  no  que  diz  com  os  direitos 

indisponíveis, o TAC  limita‐se ao ajuste da conduta  irregular ao  integral 

cumprimento  de  todas  as  exigências  legais,  não  havendo  qualquer 

possibilidade de se acordar o descumprimento da legislação. Além disso, 

não há exata correspondência entre os legitimados a celebrar o TAC e os 

titulares do direito material em questão, ao passo que a transação, nos 

termos da  lei  civil,  somente aproveita aos que nela  intervieram  (artigo 

844 do Código Civil). 

Na  verdade,  o  termo  de  ajustamento  de  conduta 

é negócio  jurídico  bilateral,  uma  vez  que  pressupõe  a  conjugação  de 

vontades do obrigado e do órgão público legitimado quanto às condições 

de  prazo,  modo  e  lugar  necessárias  à  concretização  do  direito 

transindividual.[40] Esse  também  é  o  entendimento  de  Geisa  de  Assis 

Rodrigues, in verbis: [41] 

Consideramos  ser  o  ajustamento  de  conduta 

um  negócio  jurídico  da  Administração  e  não  um 

negócio  jurídico  administrativo,  em  que  a 

Administração  esteja  em  uma  posição  superior  ao 

administrado.  Conforme  já  verificamos,  o 

ajustamento  de  conduta  é  meio  de  se  garantir  a 

prevenção  do  dano  ou  sua  reparação  no  âmbito 

civil,  e  por  isso  não  tem  sentido  imaginar  que  o 

legitimado  ativo,  pela  sua  natureza  de  órgão 

público,  possa  estar  em  uma  situação  de 

 

 

 

        49 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.571895  

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superioridade  desmedida.  Há  decerto,  uma 

submissão do obrigado, que ameaçava ou violava o 

direito  transindividual  ao  cumprimento  de  uma 

conduta definida pelo Órgão público, não por  suas 

qualidades  intrínsecas,  mas  por  estar  este 

defendendo os direitos transindividuais. 

É  um  negócio  da  Administração  que  também 

tem  natureza  de  equivalente  jurisdicional,  por  ser 

um  meio  alternativo  de  solução  de 

conflito. Podemos  concluir  que  o  ajustamento  de 

conduta é um acordo, um negócio  jurídico bilateral, 

que  tem  apenas  o  efeito  de  acertar  a  conduta  do 

obrigado às exigências legais. (grifo nosso). 

Após  a  celebração  do  TAC  pelo  Ministério  Público,  o 

inquérito civil prosseguirá para acompanhar o  integral cumprimento do 

que fora acordado. Somente depois de satisfeitas todas as disposições do 

compromisso de ajustamento de conduta é que o  inquérito civil poderá 

ser arquivado. 

O  termo  de  ajustamento  de  conduta  alia  todas  as 

principais vantagens dos mecanismos extraprocessuais de tutela coletiva 

– eficiência, celeridade e informalidade – à vantagem de ter a eficácia de 

título  executivo  extrajudicial.  Isso  significa  que  o  órgão  público  que 

firmou o TAC pode promover a execução em juízo do que fora acordado 

sem a necessidade de ajuizar prévia ação de conhecimento. Por  isso, é 

crucial que o TAC  seja  certo,  líquido e exigível  (artigo 586 do CPC), de 

forma a permitir a  identificação das partes envolvidas e a natureza da 

prestação ajustada. 

Alexandre  Amaral  Gravonksi,  alertando  sobre  a 

necessidade  de  assegurar  segurança  jurídica  para  os  envolvidos  nos 

mecanismos  de  resolução  extrajudicial  de  conflitos  transindividuais, 

defende que o TAC é mais do que uma garantia mínima para a solução 

do  caso  concreto,  constituindo‐se  na  verdade  como  uma  das  formas 

de solução  justa para a concretização dos direitos e  interesses coletivos 

 

 

 

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envolvidos.  A  consequência  prática  desse  entendimento  é  que  o 

legitimado  coletivo  que  não  tiver  participado  da  celebração  do  ajuste 

terá o ônus de demonstrar  em  juízo  falhas  concretas do  TAC  firmado, 

bem como comprovar que a solução adotada no ajuste não era uma das 

formas adequadas de concretizar os direitos em questão. Se não o fizer, 

não terá interesse de agir para propositura da ação civil púbica versando 

sobre os mesmos fatos objeto do TAC firmado. Nas suas palavras: [42] 

A  principal  distinção  prática  desse  nosso 

entendimento ante a  tese da garantia mínima está 

no  ônus  processual  que  atribuímos  ao  legitimado 

coletivo que pretenda obter solução jurídica diversa 

da  alcançada  no  compromisso  de  sustentar  e 

demonstrar,  especificamente,  sob  pena  de  ver 

comprometido seu interesse de agir, a invalidade do 

compromisso  ou  de  alguma  de  suas  cláusulas,  a 

desproporcionalidade  da  respectiva  solução  ou  a 

sua omissão diante da  lesão ou ameaça específica. 

Sob  hipótese  alguma  o  compromisso  pode  ser 

ignorado  como  admitem  os  adeptos  da  tese  da 

garantia mínima. 

O  Ministério  Público  poderá  firmar  compromisso  de 

ajustamento de conduta, nos casos previstos em  lei, com o responsável 

pela  ameaça  ou  lesão  aos  interesses  ou  direitos  difusos  ou  coletivos, 

visando  à  reparação  do  dano,  à  adequação  da  conduta  às  exigências 

legais  ou  normativas  e,  ainda,  à  compensação  ou  à  indenização  pelos 

danos que não possam ser recuperados. [43] 

A utilização do TAC para controle do Terceiro Setor pelo 

Ministério  Público  possui  vasto  campo  de  aplicação.  Vejam‐se  alguns 

exemplos. 

O  TAC  costuma  ser  muito  utilizado  para  assegurar  o 

atendimento dos princípios da impessoalidade e isonomia na escolha da 

entidade  do  Terceiro  Setor  que  será  parceira  do  Poder  Público. Nesse 

sentido,  o  Ministério  Público  do  Estado  de  São  Paulo  firmou 

 

 

 

        51 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.571895  

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compromisso de ajustamento de conduta com o Município de Américo 

Brasiliense  –  SP e  a  INAB, Organização da  Sociedade Civil de  Interesse 

Público,  no  qual  se  fixou  prazo  para  que  a municipalidade  rompesse 

unilateralmente o contrato estabelecido entre o município e a  referida 

OSCIP, cujo objeto era a administração do pronto socorro da cidade. No 

termo  fixou‐se  prazo  para  realização  de  concurso  de  projetos  para  a 

escolha da entidade parceira e execução de outro projeto de prestação 

de  serviços. [44]Por  sua  vez,  o Ministério  Público  do  Estado  do Mato 

Grosso  firmou  TAC  com  o Município  de  Vera  – MT  para  assegurar  a 

anulação do edital de concurso de projetos e do contrato que havia sido 

firmado com a entidade civil vencedora, em face à amplitude exagerada 

do objeto do processo de  competição  realizado, uma  vez que o  edital 

não  especificava  quais  serviços  deveriam  ser  prestados  pela  entidade 

parceira.  [45] 

O Ministério  Público  do  Estado  de  Pernambuco  firmou 

termo de ajustamento de  conduta  com a Associação de Moradores do 

Conjunto  Residencial  Juscelino  Kubitschek  no  qual  se  convencionou 

prazos  para  que  a  entidade  apresentasse  a  prestação  de  contas  de 

diversos convênios celebrados entre os anos de 2005 a 2010. [46]    

Nos  exemplos  acima  citados,  os  ajustes  se  limitaram  a 

fixar prazos para regularização do processo de competição para escolha 

da  entidade  parceira  e  para  o  cumprimento  das  obrigações  legais  de 

prestar contas. 

Observe‐se que  se os  fatos apurados  configurarem atos 

de  improbidade  administrativa,  a  lei  veda  expressamente  a  transação, 

acordo ou conciliação (artigo 17, §1º, da Lei 8.429/92). Assim, é vedado 

ao parquet celebrar  TAC  versando  sobre  a  aplicação  das  sanções  de 

perda da função pública, suspensão dos direitos políticos, pagamento de 

multa  e  proibição  de  contratar  com  o  Poder  Público  ou  dele  receber 

benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios. Por outro lado, a doutrina 

admite  a  celebração  extrajudicial  do  compromisso  de  ajustamento  de 

conduta para assegurar a  reparação  integral dos danos  causados pelos 

atos de  improbidade administrativa. Contudo, verifica‐se que há pouco 

interesse prático do agente em celebrar o TAC para a reparação do dano 

 

 

 

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causado ao erário, uma vez que a ação para a aplicação das sanções por 

atos de  improbidade administrativa será necessariamente ajuizada pelo 

Ministério Público. [47] 

Em outros casos, porém, as entidades do Terceiro Setor 

participam de  termos de ajustamento de conduta não para adequarem 

condutas  irregulares  à  legislação,  mas  como  parceiras  do parquet na 

consecução do interesse público. Foi o que ocorreu no TAC firmado pelo 

Ministério  Público  do  Estado  de  Rondônia  com  o Município  de  Costa 

Marques – RO e a ONG Aguapé, parceira do  referido município, para a 

instalação de doze sanitários ao  longo do Rio Guaporé e a manutenção 

da  higiene  dos  equipamentos  durante  a  realização  de  festival  popular 

local. [48] 

. CONCLUSÃO 

Cada  uma  das  técnicas  de  tutela  coletiva  estudadas  – 

inquérito  civil,  recomendação  e  termo  de  ajustamento  de  conduta  – 

possui  características  específicas  e  âmbito  de  aplicação  própria.  A 

utilização de uma ou de outra dependerá do  caso  concreto,  tendo em 

vista uma análise estratégica quanto  aos efeitos de  cada uma delas, o 

respectivo  tempo  de  implementação  e  a  efetiva  proteção  e 

implementação dos direitos sociais que estiverem em questão.  

6. REFERÊNCIAS 

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública. 5ª edição. Rio 

de Janeiro: Lumen Juris, 2005. 

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3ª edição. Curitiba: Editora Positivo, 2004.

GARCIA,  Emerson. Ministério  Público.  3ª  edição,  rev.  amp.  e  atual. 

Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

GARCIA,  Emerson;  ALVES,  Rogério  Pacheco. Improbidade 

administrativa. 3ª ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. 

 

 

 

        53 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.571895  

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GRAVONSKI, Alexandre Amaral. Técnicas extraprocessuais de  tutela 

coletiva. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. 

MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos  interesses difusos em  juízo. 19ª 

ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. 

RODRIGUES,  Geisa  de  Assis. Ação  civil  pública  e  termo  de 

ajustamento de conduta: teoria e prática. Rio de Janeiro: Forense, 2006. 

NOTAS:

[1] GRAVONSKI, Alexandre Amaral. Técnicas extraprocessuais de tutela coletiva. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 296. O autor enumera alguns limites do uso das técnicas extraprocessuais, como a impossibilidade de execução forçada, impossibilidade de afastar leis por inconstitucionalidade, possibilidade de revisão judicial das soluções obtidas extraprocessualmente e restrições de eficácia em face de lides individuais. Por outro lado, cita algumas limitações de efetividade do processo judicial: tempo e custo, procedimento pericial moroso e complexo, resistência judicial ao questionamento de políticas públicas e atos discricionários e o distanciamento do juiz da questão de fato. Op. cit., p. 157-176 e 231-260.

[2] O inquérito civil foi inovação da Lei 7.347/85. Após a consagração na CF/88, o inquérito civil foi positivado também nas seguintes leis: Lei 7.853/89, sobre a proteção de deficientes (artigo 6º); Lei 8.078/90, Código de Defesa do Consumidor (artigo 90); Lei 8.069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 201, V); Lei 8.625/93, Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (artigo 25, IV); e Lei Complementar 75/93, Lei Orgânica do Ministério Público da União (artigos 6º; 38, I; 84, II; e 150, I).

[3] Conforme artigo 1º da Resolução 23, de 17 de setembro de 2007, do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Esta resolução regulamenta os artigos 6º, VII, e 7º, I, ambos da Lei Complementar nº 75/93, e os artigos 25, IV, 26, I, da Lei 8.625/93, disciplinando, no âmbito do Ministério Público, a instauração e tramitação do inquérito civil.

 

 

 

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[4] GRAVONSKI, Alexandre Amaral. Técnicas extraprocessuais de tutela coletiva. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 301.

[5] Artigo 1º, parágrafo único, da Resolução 23/2007 do CNMP.

[6] Artigo 6º, §2º da Resolução 23/2007 do CNMP.

[7] Diz o artigo 7º da Resolução 23/2007 do CNMP: “Aplica-se ao inquérito civil o princípio da publicidade dos atos, com exceção dos casos em que haja sigilo legal ou em que a publicidade possa acarretar prejuízo às investigações, casos em que a decretação do sigilo legal deverá ser motivada. § 1º Nos requerimentos que objetivam a obtenção de certidões ou extração de cópia de documentos constantes nos autos sobre o inquérito civil, os interessados deverão fazer constar esclarecimentos relativos aos fins e razões do pedido, nos termos da Lei 9.051/95. § 2º A publicidade consistirá: I - na divulgação oficial, com o exclusivo fim de conhecimento público mediante publicação de extratos na imprensa oficial; II - na divulgação em meios cibernéticos ou eletrônicos, dela devendo constar as portarias de III - na expedição de certidão e na extração de cópias sobre os fatos investigados, mediante requerimento fundamentado e por deferimento do presidente do inquérito civil; IV - na prestação de informações ao público em geral, a critério do presidente do inquérito civil; V - na concessão de vistas dos autos, mediante requerimento fundamentado do interessado ou de seu procurador legalmente constituído e por deferimento total ou parcial do presidente do inquérito civil. § 3º As despesas decorrentes da extração de cópias correrão por conta de quem as requereu. § 4º A restrição à publicidade deverá ser decretada em decisão motivada, para fins do interesse público, e poderá ser, conforme o caso, limitada a determinadas pessoas, provas, informações, dados, períodos ou fases, cessando quando extinta a causa que a motivou. § 5º Os documentos resguardados por sigilo legal deverão ser autuados em apenso”.

[8] Artigos 71 e 87 da Portaria Interministerial MP/MF/CGU nº 507, de 24 de novembro de 2011. Seria interessante que os Ministérios Públicos Estaduais também tivessem o mesmo acesso privilegiado ao SINCOV. Recentemente, o Ministério da Justiça compartilhou o Cadastro Nacional de Entidades de Utilidade Pública (CNEs), cujo objetivo é dar transparência às atividades

 

 

 

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das entidades sociais sem fins lucrativos, com o Ministério Público Federal, conforme notícia veiculada em < http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2010/8/06/justica-e-mpf-vao-compartilhar-cadastros-de-entidades-sociais>. Acesso em: 2 ago. 2011.

[9] Inquérito civil MPF/PRM/SJM/nº 1.30.017.000190/2005-12, instaurado na Procuradoria da República no Município de São João do Meriti – RJ.

[10] Inquérito civil 1.34.014.000065/2008-28, instaurado na Procuradoria da República no Município de São José dos Campos – SP.

[11] Inquérito civil 1.34.014.000067/2008-17 (67/2008), instaurado na Procuradoria da República no Município de São José dos Campos – SP.

[12] Inquérito civil 1.00.000.001372/2005-01, instaurado na Procuradoria da República no Estado do Rio Grande do Sul – RS.

[13] Inquérito civil instaurado na Procuradoria da República no Estado da Bahia – BA por meio da Portaria03/2007.

[14] Inquérito civil 1.00.000.001372/2005-01, instaurado na Procuradoria da República no Estado do Rio Grande do Sul – RS.

[15] Inquérito Civil 1.34.004.000559/2011-27, instaurado na Procuradoria da República em Campinas – SP.

[16]Diz o artigo 8º, §1º, da Lei 7.347/85: “O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência,  inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo  público  ou  particular,  certidões,  informações,  exames  ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.” O artigo 26,  I, “b” e  II, estabelece as atribuições ministeriais de  instaurar  inquéritos  civis  e  outras  medidas  e  procedimentos administrativos  pertinentes  e,  para  instruí‐los  requisitar  informações, exames  periciais  e  documentos  de  autoridades  federais,  estaduais  e municipais, bem como dos órgãos e entidades da administração direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do  Distrito  Federal  e  dos  Municípios;  e  requisitar  informações  e documentos  a  entidades  privadas,  para  instruir  procedimentos  ou 

 

 

 

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processo em que oficie. Por fim, o artigo 8º, I e IV, da Lei Complementar 75/93,  estabelece  a  atribuição  Ministerial  de  requisitar  informações, exames, perícias e documentos de autoridades da Administração Pública direta  ou  indireta;  requisitar  informações  e  documentos  a  entidades privadas. No julgamento da ADI 230/RJ, o STF entendeu que a Defensoria Pública não possui poder  requisitório,  sob pena de  se  transformar  em “superadvogado”  com  “superpoderes”.  O  julgamento  ainda  está pendente de publicação.

[17] CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública. 5ª edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 262.

[18] O Código Penal, no artigo 330, tipifica o crime de desobediência: desobedecer a ordem legal de funcionário público, com pena de detenção, de 15 (quinze) a 6 (seis) meses, e multa.

[19] MS 21729, Relator(a): Min. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Néri da Silveira, Tribunal Pleno, julgado em 05/10/1995, DJ 19-10-2001 PP-00033 EMENT VOL-02048-01 PP-00067 RTJ VOL-00179 PP-00225.

[20] Como vem sendo decidido pelo STF: RE 318136 AgR, Relator(a): Min. Cezar Peluso, Segunda Turma, julgado em 12/09/2006, DJ 06-10-2006 PP-00064 EMENT VOL-02250-04 PP-00800.

[21] Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divulgação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios ou atividades. (Redação dada pela Lei Complementar 104/01). § 1o Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos casos previstos no art. 199, os seguintes: (Redação dada pela Lei Complementar 104/01) (...) II – solicitações de autoridade administrativa no interesse da Administração Pública, desde que seja comprovada a instauração regular de processo administrativo, no órgão ou na entidade respectiva, com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se refere a informação, por prática de infração administrativa. (Incluído pela Lei Complementar 104/01). § 2o O intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da Administração Pública, será realizado mediante processo regularmente

 

 

 

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instaurado, e a entrega será feita pessoalmente à autoridade solicitante, mediante recibo, que formalize a transferência e assegure a preservação do sigilo. (Incluído pela Lei Complementar 104/01). § 3o Não é vedada a divulgação de informações relativas a: (Incluído pela Lei Complementar 104/01) I – representações fiscais para fins penais; (Incluído pela Lei Complementar 104/01) II – inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública; (Incluído pela Lei Complementar 104/01)III – parcelamento ou moratória. (Incluído pela Lei Complementar 104/01).

[22] Conforme Nota Cosit nº 200, de 10 de julho de 2003, da, Coordenadoria-Geral de Tributação, cuja conclusão é a seguinte: “a ordem jurídica vigente, mais que ampara, obriga a autoridade fiscal a fornecer informações protegidas pelo sigilo referido no art. 198 do CTN, quando solicitadas pelo Ministério Público Federal, sem prejuízo da observância das formalidades para intercâmbio de informações estabelecidas pelo art. 198, § 2º, do CTN e disciplinadas pela Portaria SRF n. 580, de 12 de junho de 2001.”

[23] Artigo 26, §2º, da Lei 8.625/93 e artigo 8º, §1º da Lei Complementar 75/93.

[24] GRAVONSKI, Alexandre Amaral. Técnicas extraprocessuais de tutela coletiva. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 305.

[25] Op. cit. p. 305-307.

[26] FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3ª edição. Curitiba: Editora Positivo, 2004.

[27] Art. 27. Cabe ao Ministério Público exercer a defesa dos direitos assegurados nas Constituições Federal e Estadual, sempre que se cuidar de garantir-lhe o respeito: I - pelos poderes estaduais ou municipais; II - pelos órgãos da Administração Pública Estadual ou Municipal, direta ou indireta; III - pelos concessionários e permissionários de serviço público estadual ou municipal; IV - por entidades que exerçam outra função delegada do Estado ou do Município ou executem serviço de relevância pública. Parágrafo único. No exercício das atribuições a que se refere este artigo, cabe ao Ministério Público, entre outras providências: (...) IV - promover audiências públicas e emitir

 

 

 

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relatórios, anual ou especiais, e recomendações dirigidas aos órgãos e entidades mencionadas nocaput deste artigo, requisitando ao destinatário sua divulgação adequada e imediata, assim como resposta por escrito. (grifos nossos).

[28] GRAVONSKI, Alexandre Amaral. Técnicas extraprocessuais de tutela coletiva. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 356 e 357.

[29] GARCIA, Emerson. Ministério Público. 3ª edição, rev. amp. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 379.

[30] A recomendação foi expedida em 25.03.2010, nos autos do Inquérito Civil 009/2008. Como não foi atendida, o Ministério Público ajuizou ação civil pública de destituição de dirigentes cumulada com pedido de ressarcimento de danos materiais e morais, com pedido de antecipação de tutela, que tramita na 2ª Vara Cível da Comarca. Os dirigentes foram afastados liminarmente do cargo em decisão de 1ª instância.. Acesso em: 5 ago. 2011.

[31] A recomendação foi expedida no Procedimento Administrativo 1.21.000.000722/2007-63. Detectou-se ausência de prestação de contas e indícios de improbidade administrativa no repasse de recursos públicos à ONG.

[32] A Recomendação nº 91/2010, foi expedida em 24 de maio de 2010 no Procedimento Administrativo 1.34.030.000006/2010-76. No caso, o MPF verificou falhas no processo de seleção da OSCIP e relação de parentesco entre funcionários da entidade e vereadores do município.

[33] Trata-se de decisão do STJ: REsp 222.582/MG, Rel. Ministro Milton Luiz Pereira, 1ª Turma, julgado em 12/03/2002, DJ 29/04/2002, p. 166. O STJ decidiu que o artigo 5º, §5º da Lei 7.347/85, que admite litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos Estaduais e o Ministério Público da União para defesa de interesses difusos e coletivos e que foi igualmente vetado, também encontra-se em pleno vigor: REsp 382.659/RS, Rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, 1ª Turma, julgado em 02/12/2003, DJ 19/12/2003, p. 322.

 

 

 

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[34] Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello, “órgãos são unidades abstratas que sintetizam os vários círculos de atribuição do Estado”. O querer e agir dos agentes é imputado diretamente ao Estado; o órgão público não tem personalidade jurídica. In: Curso de Direito Administrativo, 29ª edição. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 144.

[35] MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 19ª ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 364.

[36] Alexandre Amaral Gravonski, contudo, entende que não há pertinência temática para atuação do Ministério Público na defesa de interesses coletivos ou individuais homogêneos disponíveis de natureza patrimonial e cita o exemplo de danos causados a 30 veículos importados de alto custo (Técnicas extraprocessuais de tutela coletiva. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 288, 389). O exemplo citado, contudo, é caso de ausência de atribuição ministerial, não de análise de pertinência temática. A tutela dos interesses disponíveis exclusivamente patrimoniais não se encontra inserida na atribuição constitucional do parquet.

[37] RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação civil pública e termo de ajustamento de conduta: teoria e prática. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 236.

[38] Geisa de Assis Rodrigues elenca os seguintes autores representantes desse entendimento: Rodolfo de Camargo Mancuso, Edís Milaré, Nelson Nery Júnior, Paulo de Bessa Antunes, Fernando Grella Vieira, Sérgio Shimura, José Marcelo Menezes Vigliar, Rita Tomasso, Marco Antônio Pereira, Celso Pacheco Fiorillo, João Bosco Leopoldino da Fonseca, Carlyle Popp, Edson Vieira Abdala, Patrícia Miranda Pizzol e Daniel Roberto Fink. Ação civil pública e termo de ajustamento de conduta: teoria e prática. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 142.

[39] Segundo Geisa de Assis Rodrigues (op. cit. p. 142), os autores Paulo Cezar Pinheiro Carneiro, Francisco Sampaio, Hindemburgo Chateaubriand Filho, Maria Aparecida Gurgel, Isabella Franco Guerra e Roberto Senise Lisboa entendem que o TAC possui a natureza jurídica de ato jurídico diverso.

[40] Nesse sentido, é a opinião de Alexandre Amaral Gravonksi. Técnicas extraprocessuais de tutela coletiva. São

 

 

 

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Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 382. Em sentido contrário, José dos Santos Carvalho Filho defende que o TAC é ato jurídico unilateral no qual o obrigado reconhece implicitamente que sua conduta ofende interesse difuso ou coletivo e assume o compromisso de eliminar a ofensa através de adequação de seu comportamento às exigências legais. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública. 5ª edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 211-212. Para Hugo Nigro Mazzilli, trata-se de “ato administrativo negocial por meio do qual só o causador do dano se compromete; o órgão público que o toma, a nada se compromete, exceto, implicitamente, a não propor ação de conhecimento para pedir aquilo que já está reconhecido no título.” MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 19ª ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 366. Emerson Garcia entende que o TAC possui feição híbrida: no que diz respeito ao direito material, é mero ato de reconhecimento de uma obrigação e quanto aos aspectos periféricos, é verdadeira transação. GARCIA, Emerson. Ministério Público. 3ª edição, rev. amp. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 292.

[41] RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação civil pública e termo de ajustamento de conduta: teoria e prática. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 158-159. Discorda-se da renomada autora somente quanto à mencionada natureza de “equivalente jurisdicional” do ajustamento de conduta: o TAC é título executivo extrajudicial que não é equivalente às formas jurisidicionais de promoção de direitos transindividuais, embora ambos sejam formas de resolução de conflitos envolvendo direitos coletivos e difusos.

[42] GRAVONSKI, Alexandre Amaral. Técnicas extraprocessuais de tutela coletiva. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 411.

[43] Artigo 14 da Resolução 23/2007 do CNMP.

[44] O compromisso de ajustamento de conduta foi amplamente divulgado pela imprensa. Veja-se: . Acesso em: 07 ago. 2011.

[45] Notícia publicada no sítio jusbrasil: . Acesso em: 07 ago. 2011.

[46] Além disso, constou do TAC que se houvesse comprovação de irregularidades na aplicação dos recursos públicos recebidos, a

 

 

 

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entidade se comprometeria a restituir todo o valor aos cofres públicos. TAC publicado em 25 de março de 2011 no Diário Oficial do Estado de Pernambuco, Ano LXXXVIII, nº 55. Notícia extraída da internet: < http://www.mp.pe.gov.br>. Acesso em: 07 ago. 2011.

[47] Nesse sentido é a opinião de Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves. In: GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. 3ª ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 614.

[48] Notícia publicada em < http://www.rondoniaovivo.com.br/news.php?news=19957 >. Acesso em: 07 ago. 2011.

 

 

 

 

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VEDAÇÃO DA PROVA ILÍCITA NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO

LARISSA SOUZA DE MELO AZEDO: bacharel em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco. Advogada em Recife.

RESUMO: O  presente  artigo  tem  como  objeto  analisar  as  teorias  que 

circundam  o  tema  da  vedação  das  provas  ilícitas  no  processo  penal 

brasileiro. Além das teorias consagradas pela própria  legislação, como a 

Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada, Teoria da Fonte Independente, 

da  Descoberta  Inevitável,  será  também  objeto  de  estudo  a  Teoria  da 

Proporcionalidade, da Mancha Purgada, bem como a posição das Cortes 

Superiores. 

PALAVRAS‐CHAVES: Prova  Ilícita,  Teoria  da  Verdade  Real,  Teoria  da 

Vedação da Prova Ilícita, Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada, Teoria 

da  Fonte  Independente,  Teoria  da  Descoberta  Inevitável,  Teoria  da 

Mancha Purgada, Teoria da Proporcionalidade. 

INTRODUÇÃO: A temática da produção probatória sempre remete a 

discussões, sobretudo com o império do Estado Democrático de Direito, 

no  qual  devem  ser  respeitados  todos  os  direitos  e  garantias 

fundamentais  dos  indivíduos,  sem margem  para  abusos  por  parte  do 

Estado.  A  lei brasileira, de  forma  expressa,  veda  a utilização da prova 

ilícita,  seja  na  Constituição  Federal  ou mesmo  na  legislação  ordinária. 

Entretanto, da mesma forma como ocorre com outros ramos do Direito, 

por  vezes, a  legislação não  consegue abarcar  toda e qualquer  situação 

concreta, dando margem a  subjetivismos por parte dos operadores do 

Direito, gerando  conflitos e  interpretações divergentes. É o que ocorre 

quando  da  utilização  da  prova  ilícita pro  reo,  com  fundamento  no 

princípio  da  proporcionalidade,  situação  que  é  aceita  pela  Corte 

Suprema. De outra monta, parte da doutrina passa a advogar no sentido 

que em algumas situações peculiares caberia também o uso do princípio 

 

 

 

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da proporcionalidade  em  favor da  sociedade, por  exemplo, quando  se 

pretenda  desarticular  uma  perigosa  organização  criminosa.  É  sob  esse 

contexto  que  se  dará  o  referido  trabalho,  analisando‐se  as  teorias 

referentes  ao  tema,  com  opiniões  doutrinárias  e  posicionamentos 

jurisprudenciais.

1. Princípios da vedação da prova ilícita e da verdade real

A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LVI prevê que “são 

inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios  ilícitos” [1]. De 

outra  monta,  o  Processo  Penal  brasileiro  é  regido  pelo  princípio  da 

verdade real, segundo o qual, ao contrário do processo civil, o processo 

penal  deve  buscar  investigar  o  fato  e  descobrir  como  tudo  se  deu 

conforme a realidade, ou seja, busca‐se a realidade dos fatos, afastando‐

se sempre meras suposições ou ilações fictícias.

É evidente que a busca da verdade real não é uma tarefa fácil para 

os atores da investigação e ação penal, visto que haverá sempre margem 

para suposições, considerações pessoais, subjetivismos. Conforme ensina 

Nestor e Rosmar : “a própria definição da verdade é algo que atormenta 

o  homem  ao  longo  dos  séculos,  não  havendo  um  conceito  que  possa 

traduzir com segurança o vocábulo[ ]”. No mesmo sentido ensina Aury 

Lopes Junior que é um “grave erro falar em verdade real, não só porque 

a própria noção de verdade é excessiva e difícil de ser apreendida, mas 

também pelo fato de não se poder atribuir o adjetivo de real a um fato 

passado, que só existe no imaginário[ ]”.  

Perceba‐se  que  há  um  aparente  conflito  entre  os  referidos 

princípios,  na medida  em  que  o  processo  penal  preza  pela  busca  da 

verdade  real  dos  fatos,  enquanto  a  Constituição  Federal  veda  a  prova 

ilícita.  Nesse  sentido  surge  o  questionamento:  Caberia  a  busca 

indiscriminada da verdade real, a  fim de reconhecer a  inocência de um 

réu, ou de condenar um perigoso criminoso? 

Nesse aspecto há de se  fazer uso da ponderação e uniformizar a 

compreensão acerca dos princípios. Assim sendo, a melhor interpretação 

é no sentindo de que a busca da verdade real não deve se dar de forma 

indiscriminada,  não  se  vai  buscar  a  verdade  a  todo  custo,  sem 

 

 

 

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observância dos preceitos e limites legais. A ideia é a de que se deve sim, 

buscar a verdade, mas pautando a  investigação pelos pilares do devido 

processo  legal, sem que sejam ofendidos direitos e garantias  individuais 

dos envolvidos, bem  como  com estrito  respeito à dignidade da pessoa 

humana.  Nesse  sentido  ensina  Nestor  e  Rosmar:  “Devemos  buscar  a 

verdade  processual,  identificada  como  verossimilhança  (verdade 

aproximada), extraída de um processo pautado no devido procedimento, 

respeitando  o  contraditório,  a  ampla  defesa,  a  paridade  de  armas  e 

conduzido por magistrado imparcial[ ]“.  

2. Vedação das provas ilícitas

Portanto, conforme analisado acima, o processo penal brasileiro admite o uso de todos os meios de prova desde que lícitos. Ou seja, ainda que a prova não esteja prevista no ordenamento penal (inominada), ou que não tenha discriminada sua forma de colheita e produção (prova atípica), ainda assim será admitida no processo penal, desde que não seja ilícita.

Importa atentar para a classificação dada pela doutrina quanto à previsão legal da espécie de prova, ensinando Renato Brasileiro que “tem-se como prova nominada aquela que se encontra prevista em lei, com ou sem procedimento probatório previsto. Ou seja, existe a previsão do nomem juris desse meio de prova, seja no próprio Código de Processo Penal, seja na legislação extravagante. É o que acontece com a reconstituição do fato delituoso, prevista expressamente no art. 7º do CPP. Apesar do referido meio de prova estar previsto expressamente no Código de Processo Penal, razão pela qual é considerada espécie de prova nominada, como não há procedimento previsto em lei para sua realização, trata-se de prova atípica. Como desdobramento do princípio da busca da verdade, além dos meios de prova especificados na lei (nominados), também se admite a utilização de todos aqueles meios de prova que embora não previstos no ordenamento jurídico (inominados), sejam lícitos e moralmente legítimos[5]”.

 

 

 

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Nesse sentido, resta claro que o processo penal, pautado pelo princípio da verdade real admite que sejam utilizados todos os meios lícitos para a obtenção da prova, ainda que não haja previsão expressa no ordenamento jurídico.

A vedação ocorre unicamente quanto às provas ilícitas, que são aquelas que violam normas constitucionais ou normas legais. Por exemplo, a Constituição Federal no seu art. 5º, inciso XII prevê:

é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.[6]

Assim sendo, a Carta Magna protege o sigilo de comunicação, prevendo que intercepção telefônica deve se dar por ordem judicial, de acordo com a lei, e para fins de investigação ou instrução penal, logo, qualquer prova que não respeite e observe os preceitos desse inciso, será classificada como ilícita e inadmitida no processo penal.

Atento ao mandado constitucional o Código de Processo Penal no art. 157[7] prevê a vedação das provas ilícitas:

Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

 

 

 

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§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 4o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

A  título de  curiosidade acrescente‐se que no §4º do art. 157 do 

CPP, havia a previsão de que o juiz que conhecesse o conteúdo da prova 

ilícita  não  poderia  proferir  a  sentença  ou  acórdão.  Tal  previsão 

consagraria o Princípio da Contaminação do Entendimento, pois, um juiz 

que  teve  contato  com  uma  intercepção  telefônica  obtida  por  meios 

ilícitos, mas onde o  réu  confessa a prática  criminosa, ainda que exclua 

aquela  prova  do  processo,  ficaria  “contaminado”  pelo  seu  teor.  No 

entanto, o parágrafo foi vetado a fim de se evitar que a ilicitude da prova 

fosse buscada de propósito com o fim de afastar um determinado juiz da 

causa.

Nos  seus parágrafos o art. 157 esmiúça mais o  tema das provas 

ilícitas,  trazendo  ao  ordenamento  brasileiro  as  Teorias  dos  Frutos  da 

Árvore Envenenada, da Fonte Independente e da Descoberta Inevitável. 

3. Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada

A teoria dos frutos da árvore envenenada foi importada do direito 

norte  americano  e  tem  como  fundamento  a  ideia  de  que  uma  prova 

produzida por meios  ilícitos vai  transmitir a  sua  ilicitude às provas que 

dela  derivem.  Por  exemplo,  imagine‐se  que  uma  busca  e  apreensão 

domiciliar  foi  realizada sem os  requisitos  legais  (prova  ilícita), e através 

dela foi possível encontrar documentos que levaram à autoria do crime. 

A  partir  dessas  provas,  o  juiz  autorizou  a  interceptação  telefônica,  na 

 

 

 

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qual o autor confessa a prática do crime. Observe‐se que a interceptação 

só  foi  possível  diante  das  provas  encontradas  na  busca  e  apreensão 

ilícita,  portanto,  esta  segunda  prova  seria  um  fruto  da  primeira,  que 

estava contaminada e, consequentemente contaminou as demais.

O  Código  de  Processo  Penal  consagra  essa  teoria  no  seu  artigo 

157, §1º: 

§ 1o  São  também  inadmissíveis  as  provas 

derivadas  das  ilícitas,  salvo  quando  não 

evidenciado o nexo de causalidade entre umas e 

outras,  ou  quando  as  derivadas  puderem  ser 

obtidas  por  uma  fonte  independente  das 

primeiras.  

Na  segunda  parte  do  referido  parágrafo  há  uma  exceção  à 

contaminação  das  provas  derivadas  da  ilícita,  no  sentido  de  que  a 

ilicitude  somente  se  configurará  quando  houver  nexo  causal  entre  as 

provas ou quando as derivadas não puderem ser obtidas por uma fonte 

independente das primeiras. 

Portanto, no §1º o legislador ressalva que a ilicitude não ocorrerá 

quando não houver nexo de causalidade entre as provas, ou seja, a prova 

ilícita não conseguirá transmitir sua ilicitude para as demais, uma vez que 

o nexo entre elas não existe. 

4. Teoria da Mancha Purgada

Para  a  Teoria  da Mancha  Purgada  há  situações  em  que  o  nexo 

entre a prova ilícita e a derivada é tão tênue que acaba por não ocorrer a 

contaminação. “Perceba‐se que a ausência de vínculo não é absoluta. Ele 

existe, porém acaba sendo tão insólito que é irrelevante, preservando‐se 

a  licitude  da  prova  derivada.(...)  Pode‐se  dizer  que  o  conhecimento  da 

prova derivada se deu por um conjunto de fatores, dentre os quais um é 

ilícito, mas  que,  por  si  só,  não  é  tão  determinante  para macular  por 

completo a prova secundária[ ]”.

Discute‐se  se  essa  teoria  teria  sido  adotada  pelo  Brasil. Autores 

como Nestor Távora e Rosmar Alencar defendem que não, pois tal teoria 

 

 

 

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poderia  servir de  fundamento para  validar provas  ilícitas,  sendo muito 

subjetivo identificar o nível de conexão entre as mesmas. 

Leia‐se, mais uma vez o §1º do art. 157: 

§ 1o  São  também  inadmissíveis  as  provas 

derivadas  das  ilícitas, salvo  quando  não 

evidenciado o nexo de causalidade entre umas 

e outras, ou quando as derivadas puderem  ser 

obtidas  por  uma  fonte  independente  das 

primeiras.  

Perceba‐se  que  na  parte  grifada  evidencia‐se  que  não  haverá 

contaminação quando não houver nexo de causalidade entre as provas. 

Nesse caso, a contaminação  resta afastada, pois não há  liame entre as 

provas, ao passo que na Teoria da Mancha Purgada o nexo existe, mas 

ele é  tênue, discreto. É com base nesse parágrafo que os autores mais 

garantistas defendem a inaplicabilidade da Teoria da Mancha Purgada no 

direito  brasileiro,  vez  que  a  lei  afasta  a  ilicitude  apenas  quando  não 

houver vínculo entre a prova ilícita e a derivada, nada falando a respeito 

das situações em que o nexo é atenuado. 

Já para outros autores, a exemplo do professor Renato Brasileiro, 

o texto legal do §1º acolhe a referida doutrina, pois “apesar de não haver 

qualquer referência expressa à  limitação da tinta diluída, ao se referir o 

dispositivo  à  ausência  de  nexo  de  causalidade  entre  a  prova  ilícita 

originária  e  a  prova  subsequente,  pode‐se  daí  extrair  a  adoção  da 

referida  teoria.  Isso  porque,  segundo  a  teoria  em  questão,  o  vício  da 

ilicitude originária, quando atenuado em virtude do decurso do tempo, de 

circunstâncias supervenientes, da magnitude da ilegalidade funcional ou 

da colaboração voluntária de um dos envolvido, faz desaparecer o nexo 

causal entre a prova  ilícita e originária e prova subsequente, não sendo 

viável falar‐se em prova ilícita por derivação[ ]”. 

Não se tem conhecimento da adoção desta teoria pelo STF ou pelo 

STJ. 

5. Teoria da Fonte Independente

 

 

 

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O § 1º do art. 157 também ressalva a Teoria dos Frutos da Árvore 

Envenenada com a adoção da Teoria da Fonte Independente. No § 2º do 

mesmo artigo o legislador explica:

§ 2o   Considera‐se  fonte  independente 

aquela  que  por  si  só,  seguindo  os  trâmites 

típicos e de praxe, próprios da  investigação ou 

instrução  criminal,  seria  capaz  de  conduzir  ao 

fato objeto da prova. 

Ocorre  que,  neste  ponto  houve  um  erro  do  legislador  em 

conceituar fonte independente como aquele que por si só seria capaz de 

conduzir ao fato objeto da prova. Tal descrição refere‐se ao conceito da 

Teoria da Descoberta Inevitável. 

A  teoria  da  fonte  independente  prega  que  “se  existirem  provas 

outras  no  processo,  independentes  de  uma  determinada  prova  ilícita 

produzida, não há de  se  falar em  contaminação, nem em aplicação da 

teoria  dos  frutos  da  árvore  envenenada,  pois,  em  não  havendo 

vinculação  de  dependência,  a  prova  ilícita  não  terá  o  condão  de 

contaminar as demais[ ]”. Boa parte da doutrina advoga no sentido de 

que  seria  desnecessária  a  previsão  na  lei  da  Teoria  da  Fonte 

Independente, pois se a prova é independente da prova ilícita, entre elas 

não há vínculo, não há nexo, logo não há contaminação. 

“Como  esclarece  Grinover,  era  perfeitamente  desnecessária  a 

previsão  normativa,  na medida  em  que  o  conceito  de  prova  derivada 

supõe,  por  si  só,  a  existência  de  uma  relação  de  causalidade  entre  a 

ilicitude da primeira prova  e a obtenção da  segunda.  Se o  vínculo não 

estiver evidenciado, é intuitivo que não se trata de prova derivada. Mas, 

apesar  de  redundante,  essa  parte  do  texto  legal  não  parece  trazer 

inconvenientes na sua aplicação[ ]”. 

6. Teoria da Descoberta Inevitável Embora haja uma atecnia do legislador ao conceituar

fonte independente com os fundamentos da descoberta inevitável, é inegável que o legislador adotou esta teoria no ordenamento brasileiro.

 

 

 

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§ 2o   Considera‐se  fonte  independente 

aquela  que  por  si  só,  seguindo  os  trâmites 

típicos e de praxe, próprios da  investigação ou 

instrução  criminal,  seria  capaz  de  conduzir  ao 

fato objeto da prova.

Assim  sendo, caso  reste comprovado que embora a prova  tenha 

sido produzida por meio  ilícitos, é  inegável que essa mesma prova seria 

produzida  posteriormente,  ou  seja,  mais  cedo  ou  mais  tarde  se 

conseguiria  alcançar  a  referida  prova,  era  apenas  uma  questão  de 

tempo. Logo, é razoável que se extirpe a ilicitude da prova, considerando 

que  essa  prova  seria  produzida  de  qualquer maneira,  seguindo‐se  os 

trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação. 

Assim  ensina  Nestor  e  Rosmar:  “Se  a  prova,  que 

circunstancialmente  decorre  de  prova  ilícita,  seria  conseguida  de 

qualquer maneira, por atos de investigação válidos, ela será aproveitada, 

eliminando‐se a  contaminação. A  inevitabilidade da descoberta  leva ao 

reconhecimento  de  que  não  houve  um  proveito  real,  com  a  violação 

legal. A prova  ilícita, que deu ensejo à descoberta de uma outra prova, 

que seria colhida mesmo sem a existência da ilicitude, não terá o condão 

de contaminá‐la[ ].” 

Os  referidos professores  trazem um bom  exemplo:  “exemplo  da 

aplicação  desta  teoria  ocorre  com  as  declarações  prestadas  por  uma 

testemunha  obtidas  por  interceptação  telefônica  sem  autorização 

judicial, sendo que tal testemunha inevitavelmente seria ouvida ao longo 

das  investigações,  pois  várias  outras  testemunhas  a  indicaram  como 

testemunha presencial dos fatos[ ]”. 

7. Teoria da Proporcionalidade

A teoria da proporcionalidade é de origem alemã e prega que ao se considerar uma prova ilícita e consequentemente expurgá-la do ordenamento jurídico é necessário que se faça um juízo de ponderação, a fim de se averiguar se no caso concreto é mais importante privilegiar o princípio da vedação da prova ilícita em prol do princípio da verdade real e vice e versa.

 

 

 

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A questão que se impõe é que muitas vezes a vedação à prova ilícita acaba por engessar a produção probatória, quando no caso concreto seria mais relevante que a verdade fosse, de fato, descoberta, para que com isso, relevantes direitos fossem preservados.

É o caso clássico da permissão da utilização da prova ilícita quando esta é único meio de se provar a inocência do réu. “Entendemos que o princípio da proporcionalidade deve ser invocado, na sua essência para preservar os interesses do acusado. Nesse sentido não há discrepância doutrinária ou jurisprudencial[14].”

No Brasil, o princípio da proporcionalidade vem sendo admitido em casos raros, mas apenas quando for para beneficiar o réu, ou seja, pro reo. A concepção é a de que quando o acusado utiliza uma prova ilícita para provar sua inocência ele estaria na verdade agindo em legítima defesa, estado de necessidade ou mesmo por lhe ser inexigível conduta diversa. Em qualquer dessas situações um eventual crime na produção dessa prova ilícita estaria afastado.

“É o exemplo de um agente que, injustamente acusado, vem a invadir domicílio alheio (crime do art. 150 do CP) para apreender prova essencial à sua absolvição[15]”.

Fundamenta-se também que a “Lex Major garante o direito de defesa no processo penal de forma primordial, abrangendo o princípio do favor rei. Desse modo, se for possível ao acusado demonstrar sua inocência por meio de uma prova obtida ilicitamente, certamente ela poderá ser utilizada no processo, haja vista a preponderância do direito à liberdade sobre a inadmissibilidade da prova ilícita no âmbito processual[16]”.

O tema se torna tormentoso quando da aplicação do princípio da proporcionalidade em favor da sociedade (pro societate). Prevalece na doutrina e jurisprudência que não seria cabível sua utilização, pois o Estado já dispõe de todo um aparato para a produção de provas, seja a interceptação telefônica, busca e apreensão, infiltração de agentes, logo

 

 

 

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não haveria margem para o cometimento de ilegalidades. Entende-se também que o Estado brasileiro com seus atuais contornos de proteção à dignidade da pessoa humana, configurando-se como um Estado Democrático de Direito, é ainda muito novo, imaturo, não sendo razoável que neste momento já se dê margem ao cometimento de ilegalidade por parte do próprio Estado. Entretanto, com o amadurecimento da sociedade, das instituições, a exemplo de países como Estados Unidos e Alemanha, e a depender do caso concreto, será possível a relativização do princípio da vedação da prova ilícita a fim de proteger os interesses da sociedade.

Esse é o entendimento da Suprema Corte: PROVA ILÍCITA. MATERIAL FOTOGRÁFICO

QUE COMPROVARIA A PRÁTICA DELITUOSA (LEI Nº 8.069/90,ART. 241). FOTOS QUE FORAM FURTADAS DO CONSULTÓRIO PROFISSIONAL DO RÉU E QUE, ENTREGUES À POLÍCIA PELO AUTOR DO FURTO, FORAM UTILIZADAS CONTRA O ACUSADO, PARA INCRIMINÁ-LO.INADMISSIBILIDADE (CF, ART. 5º,LVI).- A cláusula constitucional do due process of law encontra, no dogma da inadmissibilidade processual das provas ilícitas, uma de suas mais expressivas projeções concretizadoras, pois o réu tem o direito de não ser denunciado, de não ser processado e de não ser condenado com apoio em elementos probatórios obtidos ou produzidos de forma incompatível com os limites ético-jurídicos que restringem a atuação do Estado em sede de persecução penal.- A prova ilícita - por qualificar-se como elemento inidôneo de informação - é repelida pelo ordenamento constitucional, apresentando-se destituída de qualquer grau de eficácia jurídica.- Qualifica-se como prova ilícita o material fotográfico, que,

 

 

 

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embora alegadamente comprobatório de prática delituosa, foi furtado do interior de um cofre existente em consultório odontológico pertencente ao réu, vindo a ser utilizado pelo Ministério Público, contra o acusado,em sede de persecução penal, depois que o próprio autor do furto entregou à Polícia as fotos incriminadoras que havia subtraído. No contexto do regime constitucional brasileiro, no qual prevalece a inadmissibilidade processual das provas ilícitas, impõe-se repelir por juridicamente ineficazes quaisquer elementos de informação, sempre que a obtenção e/ou a produção dos dados probatórios resultarem de transgressão, pelo Poder Público, do ordenamento positivo, notadamente naquelas situações em que a ofensa atingir garantias e prerrogativas asseguradas pela Carta Política (RTJ 163/682 - RTJ 163/709),mesmo que se cuide de hipótese configuradora de ilicitude por derivação (RTJ 155/508), ou, ainda que não se revele imputável aos agentes estatais o gesto de desrespeito ao sistema normativo, vier ele a ser concretizado por ato de mero particular. Doutrina. (STF - RE: 251445 GO, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 21/06/2000, Data de Publicação: DJ 03/08/2000 PP-00068)

Interessa acrescentar que “o Direito norte-americano, exatamente a fonte de nossa vedação das provas ilícitas, segundo OLIVEIRA, aceita, sem maiores problemas, a prova obtida ilicitamente por particulares. O fundamento, conforme a conhecida doutrina de GONZALEZ-CUELLAR SERRANO, é que a norma da vedação da prova ilícita dirige-se ao Estado, produtor da prova, e não ao particular[17]”.

 

 

 

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CONCLUSÃO

Do  exposto  neste  artigo  resta  claro  que  o  Brasil,  Estado 

Democrático de Direito que é, assenta o entendimento de que é vedada 

produção de provas de forma ilícita, ou seja, devem‐se observar todos os 

requisitos preconizados na Constituição e na legislação ordinária. 

A ideia é proteger os direitos e garantias dos indivíduos contra os 

abusos e ilegalidades perpetrados pelo Estado, que agora deve observar 

todo o  ritual na produção das provas. Os particulares  também, quando 

da  produção  probatória,  devem  observar  os  preceitos  legais  e 

constitucionais,  por  exemplo,  no  caso  de  ação  penal  privada,  em  que 

afigura‐se  como  autor da  ação  a própria  vítima, que deve  fornecer  ao 

estado‐juiz  as  provas  necessárias  para  fundamentar  a  condenação  do 

querelado. 

Conforme evidenciado o  legislador brasileiro positivou as Teorias 

dos  Frutos  da  Árvore  Envenenada,  da  Fonte  Independente  e  da 

Descoberta  Inevitável.  Já  a  Teoria  da  Mancha  Purgada  não  foi 

expressamente adotada, embora haja forte doutrina no sentido de que a 

partir  de  uma  interpretação  sistemática,  é  possível  a  aplicação  dessa 

teoria ao direito brasileiro. 

Por  fim,  no  tocante  à  Teoria  da  Proporcionalidade  restou  claro 

que, a teoria de origem alemã, é adotada no Brasil, mas tão‐somente em 

favor  do  réu,  como  forma  de  provar  sua  inocência,  pois  o  direito  à 

liberdade  se  sobrepõe  sobre  a  vedação  da  prova  ilícita. No  entanto,  a 

maioria da doutrina e da jurisprudência concorda que tal princípio não se 

aplica em favor da sociedade, embora haja bons e fortes argumentos em 

sentido contrário. 

Portanto,  a  temática  das  provas  ilícitas  é  bastante  atual  e 

abrangente, sobretudo diante das diversas teorias existentes, bem como 

do  intercâmbio  com  as  teorias  estrangeiras  que  ajudam  a  aguçar  o 

debate,  bem  como  a  instigar  a  reanálise  do  tema  sobre  diversos 

aspectos. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

 

 

 

        75 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.571895  

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ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Processo Penal – Parte Geral. Ed. 

Jus Podivm, 2014. 

DE LIMA, Renato Brasileiro. Curso de Processo Penal. Ed. Jus Podivm, 2013. TÁVORA, Nestor e ALENCAR Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. Ed. Jus Podivm. 2014. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em 03/12/2016.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm. Acesso em 03/12/2016.

http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5601/O-mito-da-proibicao-de-provas-ilicitas-pro-societate-no-processo-penal. Acesso em 03/12/2016.

NOTAS:

[1] Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em 03/12/2016.

[2] TÁVORA, Nestor e ALENCAR Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. Ed. Jus Podivm. 2014, página 67.

[3] TÁVORA, Nestor e ALENCAR Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. Ed. Jus Podivm. 2014, página 68.

[4] TÁVORA, Nestor e ALENCAR Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. Ed. Jus Podivm. 2014, página 68.

[5] DE LIMA, Renato Brasileiro. Curso de Processo Penal. Ed. Jus Podivm, 2013, página 573.

[6] Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em 03/12/2016.

[7] Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm. Acesso em 03/12/2016.

 

 

 

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[8] TÁVORA, Nestor e ALENCAR Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. Ed. Jus Podivm. 2014, página 513.

[9] DE LIMA, Renato Brasileiro. Curso de Processo Penal. Ed. Jus Podivm, 2013, página 605.

[10] TÁVORA, Nestor e ALENCAR Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. Ed. Jus Podivm. 2014, página 511.

[11] DE LIMA, Renato Brasileiro. Curso de Processo Penal. Ed. Jus Podivm, 2013, página 602.

[12] TÁVORA, Nestor e ALENCAR Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. Ed. Jus Podivm. 2014, página 512.

[13] TÁVORA, Nestor e ALENCAR Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. Ed. Jus Podivm. 2014, página 512.

[14] TÁVORA, Nestor e ALENCAR Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. Ed. Jus Podivm. 2014, página 516.

[15] ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Processo Penal – Parte Geral. Ed. Jus Podivm, 2014, página 326.

[16] Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5601/O-mito-da-proibicao-de-provas-ilicitas-pro-societate-no-processo-penal. Acesso em 03/12/2016.

[17] Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5601/O-mito-da-proibicao-de-provas-ilicitas-pro-societate-no-processo-penal. Acesso em 03/12/2016.

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O CONSELHO TUTELAR COMO ÓRGÃO EFICAZ NA AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

 

 

 

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GIOVANI NEVES: Analista de produção, estudante de direito na universidade AJES de Juina/MT. RAPHAEL SCHAFFEL NOGUEIRA (coautor):Acadêmico do curso de bacharelado em Direito da AJES..

 

RESUMO: O  presente  estudo  discorre  sobre  os  direitos  e  garantias  da infância e  juventude,  tendo como principal  fim a análise da atuação do 

Conselho Tutelar na efetividade dos Direitos da criança e do adolescente 

em âmbito nacional. Foi levada em consideração a evolução histórica das 

legislações  brasileiras,  considerando  os  princípios  utilizados  como 

fundamento  na  elaboração  dos  direitos  da  criança  e  do  adolescente. 

Nesse contexto, surge o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, lei 

que  proporcionou  as  condições  necessárias  para  o  cumprimento  das 

conquistas  adquiridas  em  benefício  da  infância  e  juventude.  O  artigo 

apresenta  a  definição  do  órgão  Conselho  Tutelar,  bem  como  suas 

características,  competências,  atribuições  e  forma  de  atuação.  Relata 

também as dificuldades encontradas por este  importante  instrumento, 

durante o processo de combate a violação dos Direitos da criança e do 

adolescente. Constata‐se que, a concretização dessas garantias por parte 

do  Conselho  Tutelar,  esbarra  em  alguns  obstáculos,  entre  eles  a 

precariedade  da  estrutura  física  disponibilizada  aos  conselheiros,  uma 

insuficiente  rotina  de  capacitação,  e  a  ausência  de  participação 

constante  da  sociedade  na  aplicação  das  políticas  públicas  que  a 

legislação estabelece. 

Palavras chave: Conselho Tutelar. Criança e adolescente. Atuação. 

ABSTRACT: This  study  discusses  about  the  children´s  and  youth´s  legal rights and guarantees, with the main purpose of analyzing the role of the 

“Child  Protection  Council”  in  its  effectiveness  in  his  application  of 

children´s  and  adolescent´s  rights  nationwide.  We  examined  the 

historical evolution of Brazilian  Legislation,  considering  the base of  the 

development of child´s and adolescent´s protection laws. In this context, 

comes to light the “Child´s and Adolescent´s Protection Law” – ECA, law 

that  provided  the  necessary  conditions  we  needed  to  guarantee  the 

fulfillment  of  the  objective  of  protecting  and  defending  children  and 

 

 

 

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teenagers. This article brings the definition of what would be the “Child 

Protection Council” and explains about  its characteristics, duties, powers 

and modus operandi. Talk about the difficulties  faced by this  important 

legal  instrument  in the process of combating the violation  of children's 

and  adolescent´s  rights  as well.  It  easily  noted  that  the  fulfillment  of 

these  laws  by  the  “Child  Protection  Council”  faces  a  lot  of  obstacles, 

including  the  precariousness  of  the  physical  structure  available  to 

counselors by the govern, poor training and preparation routine, and the 

absence  of  the  participation  of  the  civil  society  in  the  process  of 

dissemination  and  implementation  of  public  policies  that  the  law 

establishes. 

Keywords: Child Protection Council. Child and teenager. Acting. 

 

1 INTRODUÇÃO A promulgação da Constituição Federal de 1988 e a

validação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - Lei n° 8.069/90, criado em 13 de julho de 1990, apontou um novo rumo às políticas públicas voltadas as crianças e adolescentes, utilizando o princípio da proteção integral. A partir desse momento, foram apresentados novos conceitos e incorporados novos direitos a este público, intensificando a efetivação das políticas públicas voltadas ao combate à violação de direitos.

Presentemente, um dos princípios de interesse para o estudo dos Direitos da Criança o do Adolescente é o princípio da proteção integral, que assegura com absoluta prioridade aos direitos deste grupo. Este preceito exige que a família, a sociedade e o Estado zelem e participem da formação e desenvolvimento das crianças e adolescentes. Um conjunto organizado de pessoas e instituições atuantes na efetivação aos direitos infanto-juvenis, entre eles: Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Juiz da Infância e da Juventude, Promotor da Infância e da Juventude, Conselho Tutelar, famílias e outros envolvidos,

 

 

 

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passam a utilizar do princípio da proteção integral e outros princípios para concretizar esses direitos. Estes compõem a rede de proteção aos Direitos das Crianças e Adolescentes. Neste contexto, surge o Conselho Tutelar instrumento da democracia participativa, represente da sociedade na rede de atendimento aos direitos da criança e do adolescente.

Seguindo, o objetivo principal desse estudo é avaliar a eficácia da atuação do Conselho Tutelar, elencando os fatores que otimizam seu desempenho, além dos que o prejudicam. Apresenta conhecimentos sobre a origem, as características e atribuições do conselho, sendo isto de extrema importância para que na sequência, seja possível avaliar os resultados de sua dinâmica. A análise da atuação deste órgão contribui para um levantamento da atual situação das políticas públicas voltadas ao grupo infanto-juvenil no Brasil.

O estudo busca também incluir outros aspectos relacionados à Política de Atendimento e Direitos à criança e ao adolescente estabelecida no Estatuto da Criança e do Adolescente, especialmente os relativos à participação popular, descentralização, trabalho em rede de serviços.

Para confecção deste artigo, foi realizada a pesquisa e coleta das informações em fontes bibliográficas e bases de dados virtuais, professando a leitura do conteúdo encontrado, realizando o fichamento e análise crítica do material selecionado. A exposição dos resultados obtidos através de um texto escrito, pretende disponibilizar para os interessados, um diagnóstico objetivo e claro referente à atuação do Conselho Tutelar, como órgão eficaz na afirmação dos Direitos da Criança e do Adolescente.

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA Inicialmente, faz-se necessário compreender que a criança

era caracterizada como todo ser humano menor de dezoito anos para a conferência internacional de 1989, mas o Estatuto

 

 

 

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da Criança e Adolescente caracteriza como criança todo ser humano de 12 anos incompleto instituído pela Lei n° 8.069 de 13 de julho de 1990, no art. 2º, adolescente se enquadra entre 12 a 18 anos de idade. Reserva-se no mesmo dispositivo parágrafo único afirmando que em caso expresso da lei o adolescente antecipa maior idade entre dezoito e vinte e um anos.

Segundo Bitencourt[1], é de suma importância definir a idade que conceitua o infanto-juvenil. Ressaltando que a criança e adolescente vivem em dinâmico processo de desenvolvimento físico, mental, cultura, social, religioso, e outros aspectos que interferem diretamente no comportamento social destes.

É necessário compreender as diversas fases e senários que envolver a vida cotidiana das crianças e dos adolescentes para saber aceitar as reações distintas sobre determinado assuntos, inseridos no dia-a-dia dos mesmos.

Durante  a  fase  imperial  tem  início  a 

preocupação  com  os  infratores,  menores  ou 

maiores, e a política  repressiva era  fundada no 

temor ante a  crueldade das penas. Vigentes as 

Ordenações Filipinas, a imputabilidade penal era 

alcançada aos sete anos de  idade. Dos sete aos 

dezessete anos, o  tratamento era  similar ao do 

adulto  com  certa  atenuação  na  aplicação  da 

pena.  Dos  dezessete  aos  vinte  e  um  anos  de 

idade,  eram  considerados  jovens  adultos  e, 

portanto,  já  poderiam  sofrer  a  pena  de morte 

natural  (por  enforcamento).  A  exceção  era  o 

crime de  falsificação de moeda, para o qual  se 

autorizava a pena de morte natural para maiores 

de quatorze anos.

As Ordenações Filipinas tinham por caráter excessivamente rigoroso e previa, punições severas como açoite, queimadura e a morte para sempre, baseada em conceito religiosos e confundindo crime com pecado e a ofensa moral.

 

 

 

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Do ponto de vista de Costa[2], houve aumento de políticas sociais ilustradas pelo Estado brasileiro. As populações de maneira económica carentes eram levados aos cuidados da Igreja Católica através de algumas instituições, entre elas as Santas Casas de Misericórdia. No Brasil, a primeira Santa Casa foi Historicamente a primeira manifestação dos direitos infanto-juvenis aconteceu no ano de 1919, quando foi criado o Comitê de Proteção da Infância, consolidando no Direito Internacional as obrigações coletivas em relação às crianças. Com isso, o reconhecimento da titularidade de proteção dessa população, deixa de ser o Estado o único detentor sobre a matéria. Posteriormente, surge a primeira Declaração dos Direitos da Criança que veio recomendar que os Estados filiados devessem ter suas próprias legislações em defesa aos direitos das crianças e da juventude.

Em um  inevitável desenrolar dos  fatos, em 

1926 foi publicado o Decreto nº 5.083, primeiro 

Código  de Menores  do  Brasil  que  cuidava  dos 

infantes  expostos  e  menores  abandonados. 

Cerca de um ano depois, em 12 de outubro de 

1927,  veio  a  ser  substituído  pelo  Decreto 

17.943‐A,  mais  conhecido  como  Código  Mello 

Mattos.  De  acordo  com  a  nova  lei,  caberia  ao 

Juiz de Menores decidir‐lhes o destino. A família, 

independente  da  situação  econômica,  tinha  o 

dever de suprir adequadamente as necessidades 

básicas das crianças e  jovens, de acordo com o 

modelo  idealizado  pelo  Estado.  Medidas 

assistenciais11  e  preventivas  foram  previstas 

com o objetivo minimizar a infância de rua.[3]

Em sintonia com momento, é criada a constituição de 1934, que traz em suas principais disposições, Art. 138 - Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos das leis respectivas:

 

 

 

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a) assegurar amparo aos desvalidos, criando serviços especializados e animando os serviços sociais, cuja orientação procurarão coordenar;

b) estimular a educação eugênica; c) amparar a maternidade e a infância; d) socorrer as famílias de prole numerosa;

e) proteger a juventude contra toda exploração, bem como contra o abandono físico, moral e intelectual.

Em 1988, com a Constituição da República que tem o caráter, de ter sua atenção para os direitos fundamentais, traz importância da criança e adolescente para a nação, sendo proveniente que os mesmos serão o futuro do país, trazendo no art. 227 o coadjuvante para alavancar os direitos fundamentais.

Segundo aos artigos compostos na Constituição Federal:

Art. 227. “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão’’. Art. 7. “A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência’’. Art. 30. “Compete aos Municípios: Inciso VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental’’.[4]

 

 

 

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Com o tempo a criança e o adolescente passam ser sujeito de Direito, tendo sua proteção e garantias a segurada, e com isso a necessidade de um órgão que zelasse pelo interesse da criança e adolescente. Dessa forma, nasce em 1990, o conselho tutelar junto com Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), instituído pela Lei 8.069. No Brasil, os Conselhos Tutelares são órgãos municipais destinados a zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, conforme determinado no Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 131 a 140).

A construção dos Conselhos Tutelares no Brasil deu-se através de um processo radicalmente democrático, buscando, portanto, um órgão que estivesse de acordo com a Teoria da Proteção Integral. Neste sentido o projeto de Lei que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente foi analisado nas duas casas do Congresso Nacional recebendo 35 emendas, inclusive sobre a própria criação dos Conselhos Tutelares. De acordo com a Deputada Rita Camata “foi um encontro inédito de vontades políticas”, pois ambas as casas do Congresso Nacional tiveram participação profunda, apresentando emendas ao Projeto de Lei, restando então um projeto desejado por todos.[5]

Dessa forma novos atores entram em cena, dando início a novos rumos da história, a comunidade local aparece inserida no contexto, através dos Conselhos Municipal e Tutelar, exigindo que a família cumpra com os deveres inerentes ao poder familiar. O Judiciário, exercendo a função judicante. O Ministério Público como um grande agente garantidor de toda a rede, fiscalizando seu funcionamento, exigindo resultados, assegurando o respeito prioritário aos direitos fundamentais infanto-juvenis estabelecidos na lei Maior.[6]

3 CONSELHO TUTELAR O Conselho Tutelar possui relevante papel quando

tratamos dos Direitos da Criança e do Adolescente, sendo este,

 

 

 

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componente fundamental da rede de proteção dos direitos da criança e do adolescente. O conselho é eleito pela comunidade para acompanhar os infanto-juvenis e decidirem em conjunto sobre qual medida de proteção para cada evento. Devido ao seu trabalho de fiscalização a todos os entes de proteção (Estado, comunidade e família), o Conselho Tutelar goza de autonomia funcional, não tendo nenhuma relação de subordinação com qualquer outro órgão semelhante do Estado.

É necessário esclarecer que a autonomia do Conselheiro funcional não é absoluta, no tocante às decisões, estas devem ser tomadas de forma colegiada por no mínimo três conselheiros. Criado em julho de 1990 junto com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Conselho Tutelar é um dos instrumentos incumbidos de cumprir as diretrizes estabelecidas no artigo 227 da Constituição Brasileira de 1988. É um dos órgãos que compõem a rede de proteção dos direitos da criança e do adolescente, sendo este responsável por representar a sociedade através de medidas não jurisdicionais. Procura atingir seus objetivos

9 em conjunto com os Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de direitos da criança e do adolescente, Juizado da infância e Juventude, Ministério público e Defensoria Pública.

O art. 131 do ECA[7] define o Conselho Tutelar como “órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta lei”.

Na concepção de BARROS[8], trata-se de um órgão integrante do Poder Executivo Municipal sem natureza jurisdicional, não obstante seu trabalho trazer consequências que serão discutidas no judiciário. Sua atuação embora de cunho administrativo, relacionada ao poder de polícia do Estado pode ser questionada perante a autoridade judiciária da comarca em que o Conselho Tutelar exerce suas atribuições.

Faz-se importante ressaltar que nossa legislação prevê que a atuação do Conselho Tutelar seja no âmbito municipal, possibilitando a participação da sociedade local, dando

 

 

 

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diretamente total gravidade as características particulares de cada município.

3.1 Características e Natureza Vistas as noções conceituais, podemos agora destacar

algumas características deste importante componente da rede de atendimento aos direitos da criança e do adolescente, bem como sua natureza. Diversos autores destacam três características principais do conselho tutelar: a permanência, a autonomia e o não exercício da jurisdição.

Ao se referir as características principais do conselho tutelar, MACIEL[9] tem os seguintes argumentos:

O primeiro fundamento, o da permanência, pode ser explicado no caráter perene que o legislador teve de atribuir ao Conselho Tutelar. Após o Conselho Tutelar ser criado, obrigatoriamente em lei municipal, não pode ser extinto, podendo ocorrer somente renovação de seus componentes, após exercício de mandato. Sua ação deve ser contínua e ininterrupta.

Outra característica do Conselho Tutelar, é tratar-se de órgão autônomo. Esta implica na não subordinação do Conselho Tutelar, na escala administrativo- hierárquica, a qualquer órgão do Poder Público. Consiste em aquele órgão ter sua ação pautada, tão-somente, nos ditames legais, não se admitindo qualquer interferência externa na sua atuação. É de aplicação do Conselho Tutelar livre para decidir, diante do caso concreto, como melhor proteger determinada criança ou adolescente, sendo ele próprio o responsável por promover a execução de suas decisões. Salienta-se que, embora autônomo, não há qualquer impedimento, do ponto de vista administrativo, de que o Conselho Tutelar esteja ligado ou subordinado a outro órgão, ou que, do ponto de vista financeiro, dependa de verbas externas ou de alguma Secretaria Municipal.

 

 

 

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A respeito do não exercício da jurisdição, identificada como a última característica mencionada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente reside no fato de o Conselho Tutelar não exercer jurisdição. Não pertence ao Poder Judiciário e não exerce suas funções. O Conselho Tutelar é órgão público, de natureza administrativa, pelo que todos os atos por ele praticados devem ser compreendidos como atos administrativos. Tal circunstância decorre o dever do Conselho Tutelar de encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência, não lhe sendo permitido, portanto, atuar de forma que, direta ou indiretamente, acarrete a apreciação ou o julgamento de conflitos de interesses.

Além dessas características, o Conselho tutelar possui também outras peculiaridades, entre elas, a atuação como órgãos colegiados. Sua natureza de órgão de deliberação coletiva resulta em maior segurança e propriedade na aplicação de qualquer medida pelos conselheiros. Isso não significa, no entanto, que o atendimento a população não pode ser realizado individualmente pelos mesmos. De maneira geral, o conselheiro deve se apegar às características apresentadas, visando contribuir no que for possível para que os mesmos sejam praticados. Formação, Composição e Estruturação

O Conselho tutelar é um órgão vinculado ao Poder Executivo Municipal, criado através de lei. Em cada município do país, deve existir no mínimo um conselho tutelar, composto de cinco membros, escolhidos pela comunidade local para o mandato de no mínimo três anos, permitida uma recondução, mediante novo processo de escolha.

De acordo ao Estatuto da Criança e do Adolescente, artigo 132[10], “cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da administração pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo de escolha.”

 

 

 

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O cidadão que pretender exercer mandato de conselheiro tutelar, deverá se candidatar ao cargo, mas antes disso deve atender alguns requisitos: possuir reconhecida idoneidade moral, idade superior a vinte e um anos, e residir no município sede do Conselho. A ampliação dos requisitos exigidos poderá ser efetuada através de lei municipal, atendendo às particularidades da localidade, pois são os Municípios os responsáveis diretos pela efetivação da política pública de proteção às crianças e adolescentes, tendo papel preponderante na tutela dos direitos e garantias dos mesmos. Estes requisitos visam garantir que o conselheiro tenha as condições mínimas necessárias para representar a sociedade durante sua atuação.

No que diz respeito à estrutura física que deve ser disponibilizada para o Conselho tutelar, artigo 134 do ECA[11]define que é responsabilidade do Poder Executivo Municipal de disponibilizar local para atendimento do conselho tutelar, além da estruturação e manutenção das estrutura que envolvem o atendimento.

Também deve ser estabelecido em lei municipal, dia e horário de funcionamento do Conselho Tutelar, e remuneração dos membros. De certa forma, isso permite que cada município atenda as necessidades locais, adequando a atuação dos conselheiros às características locais. Cada município vive uma realidade de garantia ou violação de direitos e possuir seus próprios problemas, e a descentralização da atuação do conselho é uma tentativa de melhor resolver os problemas locais.

LIMA afirma que a descentralização trata-se de: [...]  uma  alternativa  que  funcionalmente 

pretende  trazer  eficácia  as  ações 

governamentais  e  não‐governamentais  em 

termos de políticas públicas, pois uma  vez que 

se divide a  competência para  atuação entre os 

entes  da  federação  e  dos  demais  seguimentos 

 

 

 

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da  sociedade  civil  organizada,  torna  mais 

simples  legitimar  os  programas  e  ações 

sociais. [12]

Tudo que envolve recursos necessários para o funcionamento do Conselho Tutelar, remuneração e formação continuada dos conselheiros tutelares, deverá ser estabelecido na Lei Orçamentária do Município, prevendo e garantindo o bom funcionamento deste instrumento.

3.2 Atribuições e Finalidades Como abordado incialmente, a função principal do

Conselho Tutelar é zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. Para atingir esse objetivo, o conselheiro pode atuar de várias formas, de acordo com as necessidades específicas do caso. Ações preventivas, não voltadas a um caso específico, também podem ser praticadas pelo conselheiro. Nos casos em que se esgotaram as possibilidades internas de solução para o problema, o conselheiro poderá tomar uma ou mais medidas, conforme ocaso.

O artigo 136[13] do Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu uma série de ações capazes de guiar a atuação dos conselheiros, desde a recepção da denúncia atéa tomada de decisão. Entre as atribuições previstas em leiestão:

-Formular as diretrizes para a política de promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente em âmbito federal, estadual e municipal, de acordo com suas respectivas esferas de atuação;

- Fiscalizar o cumprimento das políticas públicas para a infância e à adolescência executadas pelo poder público e por entidades não-governamentais;

- Acompanhar a elaboração e a execução dos orçamentos públicos nas esferas federal, estadual, distrital e municipal, com o objetivo de assegurar que sejam destinados

 

 

 

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os recursos necessários para a execução das ações destinadas ao atendimento das crianças e adolescentes;

- Conhecer a realidade do seu território de atuação e definir as prioridades para o atendimento da população infanto-juvenil;

- Definir, em um plano que considere as prioridades da infância e adolescência de sua região de abrangência, a ações a seremexecutadas;

- Gerir o Fundo para a Infância e Adolescência (FIA), definindo os parâmetros para a utilização dos recursos;

- Convocar, nas esferas nacional, estadual, distrital e municipal, as Conferências dos Direitos da Criança e doAdolescente;

- Promover a articulação entre os diversos atores que integram a rede de proteção à criança e ao adolescente;

- Registrar as entidades da sociedade civil que atuam no atendimento de crianças e adolescentes.

Este amplo leque de ações atribuídas é disponibilizado ao conselheiro tutelar, para que o mesmo possa cumprir seu objetivo. É válido lembrar que a atuação não deve substituir outros órgãos do serviço público. O Conselho Tutelar só deve ser acionado caso haja recusa ou deficiência no atendimento à criança e ao adolescente por parte de alguma instituição.

4 ANÁLISE DE ATUAÇÃO Passando-se mais de duas décadas de atuação do

conselho tutelar, observa-se que a legislação voltada ao público infanto-juvenil no Brasil, contribui positivamente para a eficiência na atuação deste órgão. Vários artigos do ECA foram modicados para melhor serem aplicados, ajustando-o à necessidade.

No entanto, existem vários fatores desfavoráveis à atuação deste instrumento. Uma realidade que comumente é encontrada em diversas localidades é a ausência da estrutura necessária para uma boa atuação do conselho. Local de

 

 

 

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atendimento inadequado, veículos em más condições acabam contribuindo negativamente nos resultados. Para Clóvis Santos, o conselho tutelar será eficaz se possuir dois atributos: recursos financeiros e uma boa equipe comprometida com o trabalho. Com estes, o conselho tutelar funcionará de forma equilibrada tendo qualidade para atender demanda de serviço e por sua vez garantido os direitos da criança e adolescente. A ausência destes contribui para ineficiência.

Outra deficiência encontrada com certa frequência é a ausência uma de formação continuada que realmente capacite os conselheiros para suas atividades. Aperfeiçoar esse importantíssimo instrumento democrático, capacitar os conselheiros tutelares para que atuem com independência e autonomia e dotar lhe de equipe técnica de apoio e infraestrutura, contribuirá consideravelmente para minimizar osproblemas.

A falta de entendimento e participação da sociedade em relação às atividades do Conselho, também aparece como um entrave na atuação. Talvez por ser algo inovador, a própria sociedade muitas vezes desconhece o papel do conselho tutelar bem como suas contribuições para com a comunidade, afetando o efetivo serviço deste.

Santiago[14] alega que é necessário a valorização do poder público e da sociedade ao trabalho do Conselho Tutelar, para que seja atingido melhores resultados.

O  Conselho  Tutelar  é  visto  como  órgão de 

frente  na  defesa  dos  Direitos  das  Crianças  e 

Adolescentes, entretanto não é valorizado como 

deveria  ser,  a  desvalorização  partir  não só das 

autoridades  públicas, mais  também  da  própria 

sociedade  civil,  que  não  colabora  com  a 

efetivação  de seus trabalhos. Portanto para que 

ocorra  a  melhor  valorização  do  CT  e  de  seus 

operadores devemos  ter voz  forte para  com as 

autoridades públicas e conscientizar a população 

através  de  planejamentos  políticos  adequados, 

 

 

 

        91 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.571895  

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de que o Conselho Tutelar é órgão de extrema 

importância na sociedade, devendo o mesmo ser 

atuante e  trabalhar em conjunto com a própria 

sociedade  civil,  para  a  educar  com  base  na 

correta  cidadania  as  crianças  e  seus  familiares, 

enfim o público alvo doGoverno

Diante do exposto, percebe-se que o conselho tutelar convive com diversas dificuldades, desde a sua criação até os dias de hoje. A legislação vem se adequando com o objetivo de tornar a rede de atendimento mais forte e completa. Porem, o apoio do poder público e da própria sociedade ao atendimento realizado por este instrumento, se faz cada vez mais necessário para o avanço no atendimento.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS É perceptível que o modelo utilizado na proteção dos

direitos da criança e do adolescente no Brasil é suficiente para alcançar bons resultados. Nossa legislação trata o assunto com muita objetividade contribuindo positivamente em vários aspectos. Permite que a instituição possua total liberdade de atuação, sendo uma importante ferramenta de efetivação a direitos fundamentais de crianças e adolescentes.

Todavia, alguns fatores contribuem negativamente na atuação do Conselho Tutelar. Muitas vezes, a precariedade das estruturas físicas disponibilizadas pelo Executivo Municipal atrapalham a atuação do órgão. Outro fator que pesa negativamente, de maneira geral, é o perfil dos conselheiros e a deficiente formação continuada. A compreensão dos aspectos fundamentais pelos conselheiros pode trazer reais contribuições para as intervenções práticas destes agentes na garantia dos direitos humanos e de cidadania das crianças e adolescentes.

Nessa perspectiva, o Conselho Tutelar exerce importante papel na concretização dos direitos da criança e do adolescente. Somando, a participação efetiva do Estado e da

 

 

 

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Família em harmonia com a atuação dos conselheiros e com a sociedade, é de total importância para a efetivação dos direitos da criança e do adolescente.

REFERÊNCIAS BARROS,  Guilherme  Freire  de  Melo. Direito  da  Criança  e  do 

Adolescente – Sinopses para concursos. 4ª ed. Salvador:  Juspodvm, 

2016.

BITENCOURT,  César  Roberto. Código  Penal  Comentado.5ª  ed. 

São Paulo: Saraiva, 2009. 

BRASIL. Vade Mecum. 22ª ed. São Paulo: Saraiva 2016, p. 2416.

COSTA, Antonio Carlos Gomes. De menor a cidadão: Notas para uma história do novo direito da infância e juventude no Brasil. Editora do Senado, 1993.

ISHIDA,  Válter  Kenji. Estatuto  da  Criança  e  do  Adolescente: 

Doutrina  e  Jurisprudência.  17ª  ed.  ver.  ampl.  e  atual.  ‐  Salvador: 

JusPODIVM., 2016.

LAUREANO, Clodomiro Wagner Martins. Conselho tutelar: funções, características e estrutura do órgão de efetivação dos direitos da criança. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11303&revista_caderno=12> Acesso em: 12 out. 2016.

LIMA,  Fernanda  da  Silva. A  implementação  das  ações 

afirmativas  para  a  concretização  dos  direitos  de  crianças  e 

adolescentes  negros  no  Brasil.  2007.  Monografia  (Graduação  em 

Direito) – Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma.

MACIEL,  Kátia  Regina  Ferreira  Lobo  Andrade. Direito 

Fundamental à Convivência Familiar. 7. ed.  rev. e atual. São Paulo: 

Saraiva, 2014. 

MULLER,  Maria  Crisna. Direitos  Fundamentais:  a  proteção 

integral  de  crianças  e  adolescentes  no  Brasil. 

Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n

 

 

 

        93 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.571895  

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 ‐ 1984‐0454 

_link=revista_artigos_leitura&ar tigo_id=9619>  Acesso  em:  03  out. 

2016. 

PAGANINE,  Juliana. Os  direitos  fundamentais  de  crianças  e 

adolescentes: uma análise da atuação do conselho tutelar no Brasil. 

2010. Disponível em: 

<http://periodicos.unesc.net/amicus/article/view/558/549> Acesso em: 11 out. 2016.

ROBERTI JUNIOR, João Paulo. EVOLUÇÃO JURÍDICA DO DIREITO 

DA  CRIANÇA  E  DO  ADOLESCENTE  NO  BRASIL.  Revista  da 

UNIFEBE,  Disponível

em: ttp://periodicos.unifebe.edu.br/index.php/revistaeletronicadaunifebe/article/view/7>. Acesso em: 08 out. 2016.

SANTIAGO,  Mayane  Alves  Silva. O  sistema  de  garantias  de 

direitos  de   Criança  e  adolescentes  e  as  dificuldades  enfrentadas 

pelo  Conselho  Tutelar. 2013.  Monografia  (Graduação  em  Direito) 

Faculdade  Farias  Brito,  Fortaleza‐CE,  p54. 

Disponível em:<http://www.conteudojuridico.com.br/pdf/cj046792.

pdf>. Acesso em: 11 out. 2016.

NOTAS:

[1] BITENCOURT, César Roberto. Código Penal Comentado.5ª ed. São Paulo-SP: Saraiva, 2009. 4 MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Direito Fundamental à Convivência Familiar. In.. Curso de direito da Criança e do Adolescente:Aspectos teóricos e Práticos. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 35.

[2] COSTA, Antonio Carlos Gomes. De menor a cidadão:Notas para uma história do novo direito da infância e juventude no Brasil. Editora do Senado, 1993. fundada no ano de 1543, na Capitania de São Vicente. Estas instituições agiam tanto com os doentes quanto com os órfãos e desprovidos. O sistema da Roda das Santas Casas, vindo da Europa no século XVIII, tinha o objetivo de amparar as crianças abandonadas e de recolher donativos.

 

 

 

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[3] MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Direito Fundamental à Convivência Familiar. In.. Curso de direito da Criança e do Adolescente: Aspectos teóricos e Práticos. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 36.

[4] BRASIL. Vade Mecum. 22ª ed. São Paulo: Saraiva 2016, p. 2416.

[5] ROBERTI JUNIOR, João Paulo. Evolução Jurídica do Direito da Criança e do Adolescente no Brasil. Revista da UNIFEBE, [S.l.], v. 1, n. 10 Jan/Jul, jul. 2012. ISSN 2177-742X.

[6] MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Direito Fundamental à Convivência Familiar. In Curso de direito da Criança e do Adolescente: Aspectos teóricos e Práticos. 7. ed. rev.e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 10

[7] ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 17ª ed. ver. ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM., 2016. p. 393

[8] BARROS, Guilherme Freire de Melo. Direito da Criança e do Adolescente: Sinopses para concursos. 4ª ed. Salvador: Juspodvm, 2016.

[9] MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Direito Fundamental à Convivência Familiar. In. Curso de direito da Criança e do Adolescente: Aspectos teóricos e Práticos. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 468-470.

[10] ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 17ª ed. ver. ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM., 2016. Pg. 394

[11] ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 17ª ed. ver. ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM., 2016. Pg. 398.

[12] LIMA, Fernanda da Silva. A implementação das ações afirmativas para a concretização dos direitos de crianças e adolescentes negros no Brasil. 2007. p. 49.

 

 

 

        95 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.571895  

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[13] ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 17ª ed. ver. ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM., 2016. p. 401.

[14] SANTIAGO, Mayane Alves Silva. O sistema de garantias de direitos de Criança e adolescentes e as dificuldades enfrentadas pelo Conselho Tutelar. 2013. Monografia (Graduação em Direito) Faculdade Farias Brito, Fortaleza, p. 54já explanado antes.

 

   

 

 

 

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REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

ENIO DA SILVA MAIA: Advogado e Assessor jurídico da Prefeitura de São Domingos do Cariri - PB.

RESUMO: A  redução  da  maioridade  penal  é  um  dos  temas  mais 

polêmicos da  atualidade. Os  delitos  praticados  por menores  infratores 

têm crescido em quantidade, como  também, em violência. Com  isso, o 

questionamento sobre a redução da maioridade penal surge como uma 

possível solução de combate a esses delitos. Analisa‐se as medidas sócio‐

educativas  aplicadas  aos  atos  infracionais  cometidos por  adolescentes, 

como  também,  se  a  redução  da  maioridade  penal  iria  solucionar  o 

aumento dos crimes praticados por adolescentes. 

Palavras‐chaves: redução  da  maioridade  penal;  menores  infratores; 

aspectos sociais. 

ABSTRACT: The  reduction  of  the  criminal majority  is  one  of  the most 

controversial  subjects  of  the  present  time. Offences  committed  by 

juvenile offenders have grown in quantity, but also in violence.With that, 

the questioning about  the  reduction of  criminal majority emerges as a 

possible solution to combat these crimes. Analyze the socio‐educational 

measures applied to  infracionais acts committed by teenagers, but also, 

if  the reduction of criminal majority would solve  the  increase of crimes 

committed by teenagers. 

Keywords: Reduction  of  the  penal  majority;  juvenile  offenders;  social 

aspects. 

INTRODUÇÃO

Hodiernamente,  a  Segurança  Pública  é  um  dos  principais 

problemas  da  sociedade  brasileira.  O  número  crescente  de  crimes 

 

 

 

        97 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.571895  

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noticiados  nos  meios  de  comunicação  juntamente  com  a  inércia  dos 

Poderes Públicos deixa a população consternada. 

Entretanto,  o  mais  chocante  são  os  constantes  casos  de 

adolescentes  envolvidos  em  crimes  dos mais  leves  aos mais  graves  e 

cruéis. O resultado disso move opiniões carregadas de paixão e sede de 

vingança que  conduzem para uma  redução da maioridade penal  como 

solução para os problemas da criminalidade juvenil. 

O presente artigo propõe‐se a enfrentar  se  realmente a  redução 

da maioridade  penal  seria  a  solução  para  o  problema  da  delinqüência 

juvenil, como também, alguns aspectos sociais que envolvem o tema. 

1. DEFINIÇÃO DE IMPUTABILIDADE PENAL

Inicialmente se faz necessário a definição de  imputabilidade, pois 

é  condição  pessoal  dos menores  de  18  anos  a  inimputabilidade,  haja 

vista que não possuem consciência de entender o que é certo e errado.

“Imputabilidade  é  capacidade  de 

imputação, ou seja, possibilidade de se atribuir 

a  alguém  a  responsabilidade  pela  prática  de 

uma  infração  penal.  A  imputabilidade  é 

elemento sem o qual entende‐se que o sujeito 

carece  de  liberdade  e  de  faculdade  para 

comportar‐se de outro modo, como o que não 

é  capaz  de  culpabilidade,  sendo,  portanto, 

inculpável”. (SANCHES, 2016) 

Assim,  aquele  sujeito  violador  do  tipo  penal  deve  entender  o 

caráter  ilícito  da  conduta  praticada  e  se  determinar  de  acordo  com  a 

mesma para ser considerado imputável. 

O Código Penal não define o que venha a ser imputabilidade, mas 

levanta as hipóteses de  inimputabilidade, quais sejam:  inimputabilidade 

em  razão  de  anomalia  psíquica;  em  razão  da  idade;  e  em  razão  de 

embriaguez.         

 

 

 

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Os elementos  intelectivos e volitivos devem estar presentes para 

que  haja  imputabilidade.  Baseiam‐se  na  liberdade  e  capacidade 

intelectual do homem para saber o que é certo ou errado. 

A Constituição Federal, no art. 228, expressa que “são penalmente 

inimputáveis  os  menores  de  dezoito  anos,  sujeitos  às  normas  da 

legislação especial”. 

A  inimputabilidade  dos menores  de  dezoito  anos  não  encontra 

qualquer  exceção,  não  se  subordinando  ao  critério  do  discernimento, 

somente ao cronológico, adotando‐se claramente o critério biológico. 

Entretanto, os menores de dezoito anos, mesmo inimputáveis são 

responsáveis pelos atos ilícitos praticados à medida que se submetem às 

medidas  socioeducativas  previstas  no  Estatuto  da  Criança  e  do 

Adolescente.  Esses  atos  contrários  a  lei  praticados  por  menores  de 

dezoito anos são chamados de atos infracionais. 

1.1 Medidas socioeducativas

A prática de um fato previsto em lei como crime ou contravenção 

penal quando a conduta é realizada por criança ou adolescente chama‐se 

de ato infracional.

Com  isso,  criança e adolescente quando praticam ato  infracional 

não  recebem uma pena, mas  sim medida protetiva  (quando  criança) e 

medida socioeducativa (quando adolescente). 

As medidas  socioeducativas  se  classificam  em medidas  de meio 

aberto  e  restritivas  da  liberdade.  As  medidas  em  meio  aberto  serão 

criadas e mantidas pelos Municípios, ao passo que as medidas restritivas 

de liberdade serão criadas e mantidas pelo Estado. 

O  art.  112  do  Estatuto  da  criança  e  do  adolescente  prevê  as 

seguintes medidas socioeducativas: 

“Art.  112.  Verificada  a  prática  de  ato 

infracional,  a  autoridade  competente poderá  aplicar 

ao adolescente as seguintes medidas: 

 

 

 

        99 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.571895  

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I – advertência; 

II – obrigação de reparar o dano; 

III – prestação de serviços à comunidade; 

IV – liberdade assistida; 

V – inserção em regime de semi‐liberdade; 

VI – qualquer um das previstas no art. 101,  I a 

VI”. 

As medidas  socioeducativas  de meio  aberto  são  aplicadas  para 

condutas  consideradas  menos  graves.  A  advertência  consiste  na 

admoestação verbal do adolescente pelo  juiz. Enquanto a obrigação de 

reparar  o  dano  tem  por  objetivo  ressarcir  a  vítima.  Já  a  prestação  de 

serviços  a  comunidade  consiste  na  realização  de  tarefas  gratuitas  de 

interesse  geral  pelo  adolescente,  havendo  acompanhamento  por 

entidade de atendimento pelo prazo máximo de duração de seis meses e 

carga  horária  de  oito  horas  por  semana. A  liberdade  assistida  atua  na 

orientação, apoio e acompanhamento do adolescente pelo prazo mínimo 

de seis meses. 

Já aos atos  infracionais mais graves  são aplicadas as medidas de 

proteção  restritivas  da  liberdade.  A  semi‐liberdade  importa 

acompanhamento durante o dia pela entidade e a noite o adolescente 

vai  para  casa.  Já  a  internação  consiste  na  restrição  total  da  liberdade 

podendo  ser  com prazo  indeterminado ou determinado. O art. 122 do 

Estatuto  da  criança  e  do  adolescente  estabelece  as  hipóteses  de 

internação: 

“Art.  122.  A medida  de  internação  só  poderá 

ser aplicada quando: 

I  –  tratar‐se  de  ato  infracional  cometido 

mediante grave ameaça ou violência a pessoa; 

II – por  reiteração no  cometimento de outras 

infrações graves; 

 

 

 

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III  –  por  descumprimento  reiterado  e 

injustificável da medida anteriormente imposta. 

Vale  salientar  que  todas  as medidas  socioeducativas  podem  ser 

cumuladas com medidas protetivas estabelecidas no art. 101 do Estatuto 

da criança e do adolescente. 

2. REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL E A SOLUÇÃO PARA CRIMINALIDADE JUVENIL

A  redução  da maioridade  penal  sempre  vem  à  tona  quando  o 

assunto é tentar conter a criminalidade juvenil. Mas será que esta seria a 

melhor solução?

Como  se  sabe,  os menores  infratores  são  responsabilizados  de 

maneira  diferenciada  dos  adultos,  o  que  não  se  confunde  com 

irresponsabilidade  dos  seus  atos.  As  medidas  socioeducativas  têm 

caráter  pedagógico,  com  o  objetivo  de  ressocializar  e  encaminhar  os 

adolescentes para um convívio sadio com a sociedade. 

As  entidades  de  atendimento  deveriam  buscar  o  resgate  dos 

menores infratores, procurando ressocializar e reinseri‐los na sociedade, 

mas a massa de infratores infanto‐juvenis é bem maior que a capacidade 

dessas instituições. 

A  realidade  verificada,  principalmente  pelos  meios  de 

comunicação,  nessas  instituições  é  o  tratamento  desumano  recebido 

pelos infratores desencadeando muitas vezes rebeliões. 

Portanto,  o  problema  não  está  na  lei  que  regula  a 

responsabilidade  dos  menores  infratores,  mas  sim  na  execução  das 

medidas  socioeducativas.  A  estrutura  Estatal  se  mostra  ineficaz  para 

cumprir  seu  papel  de  ressocializar  os menores  infratores,  agindo  com 

descaso quando o assunto é segurança pública. 

 Assim  ao  invés  de  reduzir  a  maioridade  penal,  poder‐se‐ia 

modificar  as  condições  de  execução  das  medidas  socioeducativas 

impostas  aos  adolescentes  que  praticaram  condutas  contrárias  a  lei. 

Como  também,  a  mudança  de  alguns  dispositivos  considerados 

 

 

 

        101 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.571895  

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ineficazes do Estatuto da Criança e do adolescente, como por exemplo, o 

prazo  máximo  de  internação  provisória  (quarenta  e  cinco  dias)  e  a 

liberação  compulsória  do  infrator  aos  21  (vinte  e  um)  anos,  para  não 

citar outros. 

A  eficácia  das  normas  do  Estatuto  da  criança  e  do  adolescente 

depende  de  uma  estrutura  Estatal  viável  para  programar  a 

ressocialização dos menores infratores, mas a verdade é que os recursos 

são  escassos,  o  que  impede  resultados  satisfatórios  por  parte  das 

instituições. 

3. ASPECTOS SOCIAIS DA CRIMINALIDADE DE MENORES INFRATORES

A  criminalidade entre  jovens  infratores pode está  ligada a vários 

fatores, como educação, drogas,  influência de grupos, dentre outros. O 

Brasil  vive  um  estado  de  injustiça  social  que  gera  a miserabilidade  de 

grande parte da população.

A criminalidade de menores  infratores é um problema estrutural 

ocasionada por problemas de ordem  social e econômica  fruto de uma 

exclusão  social,  de  uma  precariedade  familiar  que  influenciam  no 

ingresso desses jovens no mundo do crime. 

O  Estado  não  oferece  o  mínimo  suporte  educacional  aos  seus 

jovens oferecendo péssimas condições de trabalho para os professores e 

políticas salariais desestimulantes. 

A má  distribuição  de  riquezas  e  as  desigualdades  sociais  estão 

entrelaçadas  com  a  explosão  de  atos  infracionais,  levando  o  jovem 

excluído socialmente ao mundo do crime. A pobreza não é a única causa 

de  entrada  dos  adolescentes  no  seio  da  criminalidade, mas  com  toda 

certeza é um dos fatores determinantes. 

Jovens  crescem  em  meios  com  altos  índices  de  violência, 

ocasionando  a  associação  entre  a  delinqüência  juvenil  e  o  contexto 

social. Com isso, seria forçoso pensar que se trate apenas de uma opção 

do  jovem  pela  marginalidade.  Essa  conclusão  seria  responsabilizar  o 

 

 

 

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jovem  individualmente  quando  o  Estado  tem  sua  parcela  de 

responsabilidade. 

O art. 226, §7º, da Constituição Federal prevê que no atendimento 

dos  direitos  da  criança  e  do  adolescente  deverá  levar‐se  em 

consideração  o  conteúdo  do  art.  204  do  mesmo  diploma  normativo. 

Vejamos então o que dispõe o art. 204: 

“Art. 204. As ações governamentais na área da 

assistência  social  serão  realizadas  com  recursos  do 

orçamento  da  seguridade  social,  previstos  no  art. 

195, além de outras  fontes, e organizadas com base 

nas seguintes diretrizes: 

(...) 

Parágrafo único. É  facultado aos Estados e ao 

Distrito  Federal  vincular  a  programa  de  apoio  à 

inclusão  social e promoção  social até  cinco décimos 

por cento de  sua  receita  tributária  líquida, vedada a 

aplicação desses recursos no pagamento de: 

I – despesas com pessoal e encargos sociais; 

II – serviço da dívida; 

III  –  qualquer  outra  despesa  corrente  não 

vinculada  diretamente  aos  investimentos  ou  ações 

apoiados”. 

Como se vê, é necessário que o Estado execute o que está previsto 

na Constituição, como também, no ordenamento jurídico como um todo, 

para promover a estruturação de programas que atendam os  interesses 

das crianças e adolescentes. 

Portanto,  se  faz  necessário  que  o  Poder  Público  cumpra  suas 

responsabilidades, abandonando sua posição de  inércia, para combater 

efetivamente  as  desigualdades  econômicas  e  sociais  enfrentadas  pela 

população brasileira.    

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

 

 

 

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Diante  do  exposto,  conclui‐se  que  a  freqüência  à  escola,  uma 

família  estruturada  e  a  oportunidade  de  trabalho  são  as  verdadeiras 

soluções para afastar a criança e o adolescente do mundo do crime, mas 

a  realidade do nosso país é de desestruturação da maioria das  famílias 

brasileiras,  como  também,  a  exclusão  social  das  camadas  menos 

abastadas. 

O  Estatuto da  criança e do  adolescente  também  se mostra uma 

ferramenta  adequada  a  ressocialização dos menores  infratores, porém 

sua  eficácia  está  condicionada  a  políticas  públicas  voltadas  a 

estruturação das instituições que recebem os jovens infratores. 

Portanto,  a  redução  da  maioridade  penal  representaria  um 

retrocesso social e aniquilamento do futuro de  jovens ao submetê‐los a 

um sistema prisional falido, ocasionando a criação ou potencialização de 

adolescentes criminosos.  

REFERÊNCIAS 

BARROS,  Guilherme  Freire  de  Melo. Direito  da  Criança  e  do 

Adolescente. 3ª edição. Editora JusPodivm. Salvador – Bahia. 2015. 

BARROS,  Guilherme  Freire  de  Melo. Estatuto  da  Criança  e  do 

Adolescente. 6ª edição. Editora JusPodivm. Salvador – Bahia. 2012. 

BRASIL. Constituição ( ). Constituição  da  República  Federativa 

do  Brasil. <Disponível 

em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm

>. Acesso em 28. nov. 2016. 

CUNHA,  Rogério  Sanches. Manual  de  Direito  Penal,  parte  geral 

(arts.  º ao  ). 4ª edição. Editora JusPodivm. Salvador – Bahia. 2016. 

DE  LIMA,  Renato  Brasileiro. Legislação  Criminal  Especial 

Comentada. 2ª edição. Editora JusPodivm. Salvador – Bahia. 2014. 

HABIB,  Gabriel. Leis  Penais  Especiais,  Tomo  I.  7ª  edição.  Editora 

Juspodivm. Salvador – Bahia. 2015. 

 

 

 

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MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 17 edição. Editora Atlas. 

São Paulo. 2005. 

NOVELINO, Marcelo. Manual  de Direito  Constitucional.  8ª  edição. 

Editora Método. São Paulo. 2013. 

ROSSATO,  Luciano Alves;  LÉPORE, Paulo  Eduardo; CUNHA, Rogério 

Sanches. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado Artigo por 

Artigo. 3ª edição. Editora revista dos tribunais. São Paulo – SP. 2012. 

 

   

 

 

 

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A NEGATIVAÇÃO DO INADIMPLENTE DE VERBA ALIMENTAR NO SISTEMA DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO: ANÁLISE À LUZ DO ENTENDIMENTO PRETORIANO DO STJ

TAUÃ LIMA VERDAN RANGEL: Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), linha de Pesquisa Conflitos Urbanos, Rurais e Socioambientais. Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Especializando em Práticas Processuais - Processo Civil, Processo Penal e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo-ES. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário São Camilo-ES. Produziu diversos artigos, voltados principalmente para o Direito Penal, Direito Constitucional, Direito Civil, Direito do Consumidor, Direito Administrativo e Direito Ambiental.

Resumo: Em sede de comentários introdutórios, ao se abordar o tema em comento, necessário se faz pontuar que a sobrevivência afigura no rol dos fundamentais direitos da pessoa humana. Nesta esteira de análise, é plenamente denotável que a prestação de crédito alimentar se revela como robusto instrumento apto a assegurar a sobrevivência do indivíduo, porquanto se apresenta como o meio adequado para atingir os recursos imprescindíveis à subsistência daqueles que, por si só, não conseguem prover sua manutenção pessoal, em decorrência da faixa etária, motivos de saúde, incapacidade, impossibilidade ou mesmo ausência de trabalho. Ao lado disso, prima anotar que o tema em debate ganha, ainda mais, proeminência em decorrência da maciça importância ostentada, eis que se expõe como elemento assegurador da dignidade do indivíduo. Nesse diapasão, há que se registrar que os alimentos, na atual sistemática albergada pela Lei N° 10.406, de 10 de Janeiro de 2002, que institui o Código Civil, dão corpo a obrigação que o indivíduo possui de fornecer alimentos a outrem. Insta arrazoar, com realce, que, no que tange à órbita jurídica, tal acepção se revela mais ampla, compreendendo, inclusive, além dos próprios alimentos, a

 

 

 

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satisfação de outras necessidades tidas como essenciais para a vida em sociedade. Assim, concatenado com as intensas modificações estruturadas, o presente se debruça sobre a possibilidade de negativação dos inadimplentes de pensão alimentícia.

Palavras-chaves: Verba Alimentar. Dignidade da Pessoa Humana. Negativação do Inadimplente. Sistema de Proteção ao Crédito.

Sumário: 1 O Instituto dos Alimentos no Direito Brasileiro: Ponderações Introdutórias ao Tema; 2 Aspectos Característicos da Obrigação Alimentar: 2.1 Direito Personalíssimo; 2.2 Irrenunciabilidade; 2.3 Atualidade; 2.4 Futuridade; 2.5 Imprescritibilidade; 2.6 Transmissibilidade; 3 A Negativação do Inadimplente de Verba Alimentar no Sistema de Proteção ao Crédito: Análise à luz do entendimento pretoriano do STJ

1 O Instituto dos Alimentos no Direito Brasileiro: Ponderações Introdutórias ao Tema

Em sede de comentários introdutórios, ao se abordar o tema em comento, necessário se faz pontuar que a sobrevivência afigura no rol dos fundamentais direitos da pessoa humana. Nesta esteira de análise, é plenamente denotável que a prestação de crédito alimentar se revela como robusto instrumento apto a assegurar a sobrevivência do indivíduo, porquanto se apresenta como o meio adequado para atingir os recursos imprescindíveis à subsistência daqueles que, por si só, não conseguem prover sua manutenção pessoal, em decorrência da faixa etária, motivos de saúde, incapacidade, impossibilidade ou mesmo ausência de trabalho. Com efeito, o festejado Sílvio de Salvo Venosa salienta que “o termo alimentos pode ser entendido, em sua conotação vulgar, como tudo aquilo necessário para sua subsistência”[1]. Ao lado disso, prima anotar que o tema em debate ganha, ainda mais, proeminência em decorrência da maciça importância ostentada,

 

 

 

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eis que se expõe como elemento assegurador da dignidade do indivíduo.

Com clareza solar, Tartuce e Simão evidenciam, em suas lições, que “o pagamento desses alimentos visa à pacificação social, estando amparado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade, ambos de índole constitucional”[2]. Nesse diapasão, há que se registrar que os alimentos, na atual sistemática albergada pela Lei N° 10.406, de 10 de Janeiro de 2002[3], que institui o Código Civil, dão corpo a obrigação que o indivíduo possui de fornecer alimentos a outrem. Insta arrazoar, com realce, que, no que tange à órbita jurídica, tal acepção se revela mais ampla, compreendendo, inclusive, além dos próprios alimentos, a satisfação de outras necessidades tidas como essenciais para a vida em sociedade. “Os alimentos são destinados a satisfazer as necessidades materiais de subsistência, vestuário, habitação e assistência na enfermidade”[4]-[5], assim como atender os requisitos de esfera moral e cultural, estabelecidos como tais pela vida em sociedade.

Afora isso, com efeito, há que obtemperar que as prestações objetivam atender a condição social e o estilo de vida adotado pelo alimentando, sem olvidar, entretanto, da condição econômica do alimentante. Como se depreende do expendido até o momento, em razão da ordem jurídica inaugurada pela Constituição Federal de 1988[6], os alimentos passaram a integrar a extensa, porém imprescindível, rubrica dos aspectos de solidariedade da célula familiar, arrimando-se, de maneira rotunda, em pilares de cooperação, isonomia e justiça social, bem como defesa da dignidade da pessoa humana. “Ou seja, a obrigação alimentar é, sem dúvida, expressão da solidariedade social e familiar (enraizada em sentimentos humanitários) constitucionalmente impostas como diretriz da nossa ordem jurídica”[7].

A prestação de alimentos se revela, neste sedimento, como instrumento apto a promoção dos princípios insertos na

 

 

 

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concepção de solidariedade familiar, alcance mais restrito da própria solidariedade social. Neste sentido, a Ministra Nancy Andrighi, ao apreciar o Recurso Especial N° 933.355/SP, explicitou, com bastante pertinência, o preceito principiológico constitucional de solidariedade e mútuo assistencialismo que atua como robusto axioma justificador do adimplemento de verbas alimentares entre os componentes da mesma célula familiar. Para tanto, com o escopo de ilustrar as ponderações apresentadas, mister se faz colacionar o proeminente aresto:

Ementa: Direito civil. Família. Revisional de alimentos. Reconvenção com pedido de exoneração ou, sucessivamente, de redução do encargo. Dever de mútua assistência. Divórcio. Cessação. Caráter assistencial dos alimentos. Comprovação da necessidade de quem os pleiteia. Condição social. Análise ampla do julgador. Peculiaridades do processo. - Sob a perspectiva do ordenamento jurídico brasileiro, o dever de prestar alimentos entre ex-cônjuges, reveste-se de caráter assistencial, não apresentando características indenizatórias, tampouco fundando-se em qualquer traço de dependência econômica havida na constância do casamento. - O dever de mútua assistência que perdura ao longo da união, protrai-se no tempo, mesmo após o término da sociedade conjugal, assentado o dever de alimentar dos então separandos, ainda unidos pelo vínculo matrimonial, nos elementos dispostos nos arts. 1.694 e 1.695 do CC/02, sintetizados no amplamente difundido binômio – necessidades do reclamante e recursos da pessoa obrigada. (...) - Dessa forma, em paralelo ao raciocínio de que a decretação do divórcio cortaria toda e qualquer possibilidade de se postular alimentos, admite-se a possibilidade de prestação do

 

 

 

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encargo sob as diretrizes consignadas nos arts. 1.694 e ss. do CC/02, o que implica na decomposição do conceito de necessidade, à luz do disposto no art. 1.695 do CC/02, do qual é possível colher os seguintes requisitos caracterizadores: (i) a ausência de bens suficientes para a manutenção daquele que pretende alimentos; e (ii) a incapacidade do pretenso alimentando de prover, pelo seu trabalho, à própria mantença. - Partindo-se para uma análise sócio-econômica, cumpre circunscrever o debate relativo à necessidade a apenas um de seus aspectos: a existência de capacidade para o trabalho e a sua efetividade na mantença daquele que reclama alimentos, porquanto a primeira possibilidade legal que afasta a necessidade – existência de patrimônio suficiente à manutenção do ex-cônjuge –, agrega alto grau de objetividade, sofrendo poucas variações conjunturais, as quais mesmo quando ocorrem, são facilmente identificadas e sopesadas. - O principal subproduto da tão propalada igualdade de gêneros estatuída na Constituição Federal, foi a materialização legal da reciprocidade no direito a alimentos, condição reafirmada pelo atual Código Civil, o que significa situar a existência de novos paradigmas nas relações intrafamiliares, com os mais inusitados arranjos entre os entes que formam a família do século XXI, que coexistem, é claro, com as tradicionais figuras do pai/marido provedor e da mãe/mulher de afazeres domésticos. (...) Recurso especial conhecido e provido. (Superior Tribunal de Justiça – Terceira Turma/ REsp N° 933.355/SP/

 

 

 

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Relatora: Ministra Nancy Andrighi/ Julgado em 25.03.2008/ Publicado no DJe em 11.04.2008).

Deste modo, ao se considerar as nuances e particularidades que envolvem as relações estruturadas em células familiares, todas as vezes que os liames não forem suficientes para assegurar a cada um de seus integrantes as condições necessárias para uma vida digna, o Ordenamento Jurídico, ressoando os valores consagrados na Constituição Federal de 1988[8]9, impõe a seus componentes a prestar os mecanismos imprescindíveis à sobrevivência digna, o qual é assegurado por meio dos alimentos.

2 Aspectos Característicos da Obrigação Alimentar

Assinalar se faz premente que o pagamento de prestação de verba alimentar apresenta aspectos caracterizadores distintos das demais obrigações de cunho civil, em razão de natureza especial, adstrita à dignidade da pessoa humana, encontrando-se entre valores tidos como fundamentais, considerados como indispensáveis e indisponíveis para a subsistência do ser humano. “Esta sua natureza especial decorre do intrínseco propósito de assegurar a proteção do credor de alimentos, mediante um regime legal específico”[9]. Tal fato decorre da premissa que o crédito alimentar ambiciona cobrir necessidades impostergáveis do alimentando, cuja satisfação não comporta morosidade ou demora, motivo pelo qual aprouve ao legislador enrodilhar o instituto dos alimentos de um sucedâneo de garantias especiais, com o escopo de assegurar o pagamento do quantumestipulado. Ao lado disso, quadra transcrever o entendimento firmado por Farias e Rosenvald, notadamente quando pontuam que “tratando-se de uma obrigação tendente à manutenção da pessoa humana e de sua fundamental dignidade, é natural que os alimentos estejam cercados de características muito peculiares”[10]. No mais, há que se anotar que tais aspectos se revelam preponderantes para distinguir o instituto do pensionamento de alimentos das demais obrigações.

 

 

 

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2.1 Caráter Personalíssimo

Em uma primeira plana, cuida anotar que a verba alimentar é descrita como direito personalíssimo, porquanto tão somente aquele que mantém a relação de parentesco, casamento ou ainda união estável com o alimentante poderá vindicá-los. “No que tange ao credor ou alimentando, o direito aos alimentos é personalíssimo, uma vez que somente aquele que mantém relação de parentesco, casamento ou união estável com o devedor ou alimentante pode pleiteá-los”[11], como bem destacam Tartuce e Simão, devendo, imperiosamente, se atentarem para os corolários irradiados pelo binômio necessidade e possibilidade, incidindo o preceito da proporcionalidade. Ao lado disso, quadra anotar que o aspecto personalíssimo do instituto em comento justifica a natureza declaratória da ação de alimentos, tal como sua correspondente imprescritibilidade. Ora, em decorrência da atual interpretação concedida pelo Supremo Tribunal Federal no que concerne às uniões homoafetivas, óbice não subsiste que companheiros pleiteiem o pagamento de verba alimentar. Como bem arrazoou o Ministro Celso de Mello, ao julgar o Agravo Regimental no Recurso Extraordinário N° 477.554, hasteou como flâmula desfraldada que:

Isso significa que a qualificação da união estável entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, desde que presentes, quanto a ela, os mesmos requisitos inerentes à união estável constituída por pessoas de gêneros distintos (Código Civil, art. 1.723), representa o reconhecimento de que as conjugalidades homoafetivas, por repousarem a sua existência nos vínculos de solidariedade, de amor e de projetos de vida em comum, hão de merecer o integral amparo do Estado, que lhes deve dispensar, por tal razão, o mesmo tratamento atribuído às uniões estáveis heterossexuais. Impende considerar, neste ponto, o afeto como

 

 

 

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valor jurídico impregnado de natureza constitucional, em ordem a valorizar esse novo paradigma como núcleo conformador do próprio conceito de família[12].

Ao lado disso, há que se obtemperar que os alimentos concedidos, diante da sua destinação e relevância social, privilegiados de maneira maciça pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988[13], configuram direito personalíssimo que reúne particularidades que recomendam total controle e observância das formalidades legais, não admitindo renúncia, compensação, penhorabilidade, cessão, transação, restituição ou qualquer outra forma que comporte sua redução sem o devido processo legal. Como bem arrazoa Rolf Madaleno, os alimentos visam “preservar, estritamente a vida do indivíduo, não podendo ser repassado este direito a outrem, como se fosse um negócio jurídico”[14]15, conquanto possa a obrigação de pensionamento ser repassada aos herdeiros do alimentante, como bem frisa o artigo 1.700 da Lei N° 10.406, de 10 de Janeiro de 2002, que institui o Código Civil: “Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694”[15]. Ipso facto, é defeso no Ordenamento Pátrio vigente a renúncia sobre o direito de percebimento de alimentos, maiormente em razão da ilicitude do objeto, sendo tais avenças consideradas como nulas, porquanto dispõe de direito compreendido na rubrica personalíssimo. Nesta esteira de exposição, com efeito, cuida trazer à colação o entendimento jurisprudencial que explicita, de maneira rotunda, o aspecto característico em comento, assim como a impossibilidade da renúncia ao recebimento de verba alimentar, em decorrência do aspecto personalíssimo que emoldura o instituto dos alimentos:

Ementa: Agravo de Instrumento. Família. Acordo de Renúncia de Alimentos de Incapaz. Direito Personalíssimo e Irrenunciável. Negócio Jurídico Manifestamente Nulo. Na espécie, o acordo entabulado pelas partes visa, em

 

 

 

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verdade, à renúncia aos alimentos a que tem direito a criança (filho comum), o que é vedado pelo ordenamento legal, consoante arts. 841 e 1.707, ambos do Código Civil, porquanto o direito a alimentos é personalíssimo e irrenunciável. Destarte, o negócio jurídico entabulado entre as partes é manifestamente nulo, consoante art. 166 do Código Civil. Agravo de Instrumento Desprovido. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Oitava Câmara Cível/ Agravo de Instrumento Nº. 70043331966/ Relator Desembargador Ricardo Moreira Lins Pastl/ Julgado em 18.08.2011).

Ementa: Apelação Cível. Acordo de Renúncia dos Alimentos de Incapaz. Direito Indisponível. O direito a alimentos é personalíssimo, sendo defeso que os representantes do alimentado-incapaz realizem transação que acarrete sua renúncia (artigo 1.707 do Código Civil). Apelo não Provido. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Oitava Câmara Cível/ Apelação Cível Nº 70036963809/ Relator Desembargador Alzir Felippe Schmitz/ Julgado em 02.12.2010).

Faz-se necessário arrimar-se, por imperioso, que o arbitramento dos valores a serem pagos, a título de verba alimentar, observarão o binômio possibilidade-necessidade, devendo o magistrado, neste ponto, valorar o princípio da proporcionalidade ao estipular o quantum a ser afixado. “É um direito personalíssimo por ter por escopo tutelar a integridade física do indivíduo, logo, sua titularidade não passa para outrem”[16]17. Ao lado disso, em decorrência de seu caráter intuitu personae unilateral, o pensionamento de verba alimentícia não é transmissível aos herdeiros do alimentando.

 

 

 

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Ademais, o aspecto personalíssimo que caracteriza o instituto dos alimentos justifica a natureza declaratória da ação de alimentos.

2.2 Irrenunciabilidade

Em uma primeira exposição, insta trazer a lume que, quando da vigência da Lei Nº. 3.071, de 1º de Janeiro de 1916, que institui o Código Civil dos Estados Unidos do Brasil (revogado Código Civil de 1916), o Supremo Tribunal Federal, que detinha competência para apreciação de matéria infraconstitucional, buscando interpretar as disposições contidas no artigo 404[17], consagrou o entendimento que os alimentos, em quaisquer circunstâncias, eram irrenunciáveis. Doutro modo, o Superior Tribunal de Justiça, que, em decorrência de expressa disposição constitucional, passou a gozar de competência para apreciação de matéria infraconstitucional, “sempre entendeu que a irrenunciabilidade dos alimentos dos alimentos somente alcançava os incapazes. Logo, afirmou-se que os alimentos somente seriam irrenunciáveis em favor de incapazes”[18]. Em decorrência de tal ótica, passou-se a assentar visão jurisprudencial no que concerne à possibilidade de cônjuges ou companheiros renunciarem, quando da feitura do acordo de dissolução de casamento ou união estável, obstando, por consequência, uma posterior cobrança de pensionamento alimentar.

Com o advento da Lei N° 10.406, de 10 de Janeiro de 2002, que institui o Código Civil, foi trazida à baila, por meio do artigo 1.707, novas polêmicas, porquanto o dispositivo ora aludido consagrou em sua redação que “Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora”[19]. Entrementes, a redação do artigo suso mencionado não turbou o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o qual manteve a visão que somente as verbas alimentares dos incapazes não seriam incapazes pelo característico da irrenunciabilidade, sendo, doutro giro, admitida a renúncia em

 

 

 

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acordos que versem acerca do casamento ou da união estável. Neste sentido, inclusive, colhem-se os seguintes arestos:

Ementa: Apelação Cível. Pedido de Alimentos. União Estável. Em se tratando de união estável, sua dissolução equivale ao divórcio no casamento. Ou seja: o vínculo foi rompido. Logo, não importa se foi utilizado o termo “renúncia” ou “dispensa” dos alimentos, pois, em qualquer hipótese, desaparecido o vínculo, não haverá mais possibilidade de demandar alimentos posteriormente. Assim, bem andou a r. sentença, ao dar pela improcedência do pleito. Não caracterizado qualquer dos pressupostos da obrigação alimentar (vínculo, necessidade e possibilidade), inviável acolher o pleito. Negaram Provimento. Unânime. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Oitava Câmara Cível/ Apelação Cível Nº 70046584819/ Relator Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos/ Julgado em 22.03.2012).

Ementa: Apelação Cível. Ação de Alimentos. Ex-Esposa. Divórcio. Renúncia aos alimentos. Descabimento. Em razão do divórcio do casal, que rompe o vínculo parental, e da renúncia aos alimentos, não prospera o pedido de alimentos entre ex-cônjuges, porquanto deixou de existir o dever de mútua assistência. Negaram Provimento ao Apelo. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Oitava Câmara Cível/ Apelação Cível Nº. 70040502924/ Relator Desembargador Alzir Felippe Schmitz/ Julgado em 15.09.2011).

 

 

 

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Ementa: Apelação Cível. Família. Ação de Alimentos à Ex-Esposa. Dispensa dos alimentos no divórcio. Impossibilidade de pleito alimentar. Sentença que julgou improcedente o pedido. Manutenção da Sentença. Ocorrida a renúncia dos alimentos na ação de divórcio, inviável se mostra o pedido de alimentos postulado em ação de divórcio. Precedentes jurisprudenciais. Apelação Desprovida. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Sétima Câmara Cível/ Apelação Cível Nº. 70037100179/ Relator Desembargador José Conrado de Souza Júnior/ Julgado em 23.08.2010).

Destarte, conquanto a redação do artigo 1.707 da Lei Substantiva Civil, é possível extrair o entendimento de que os alimentos são dotados de irrenunciabilidade tão somente quando arbitrados em favor de incapazes. Doutra banda, é admissível a renúncia entre pessoas capazes, sendo, em razão disso, vedada posterior cobrança do pagamento de verba alimentar. Com efeito, não é razoável que o cônjuge ou companheiro, que venham renunciar ao pagamento de alimentos, em acordo consensual, possa, posteriormente, vindicar verba alimentar. “Trata-se de típica hipótese de nemo venire contra factum proprium (proibição de comportamento contraditório, caracterizando ato ilícito objetivo, também chamado de abuso do direito”[20]. Em decorrência dos postulados ora desfraldados, impende realçar que a vedação obsta a ocorrência de comportamento tido como contraditório, logo, o cônjuge ou companheiro não poderá contradizer seu próprio comportamento, notadamente quando produziu, em outrem, uma determinada expectativa. A hipótese de renunciabilidade albergada pelo entendimento jurisprudencial e a impossibilidade de, posteriormente, requerer verba alimentar, colocam empecilho para uma inesperada mudança de comportamento, desdizendo uma conduta dantes adotada pela mesma pessoa, culminando, desta sorte, em frustrar a expectativa

 

 

 

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de terceiro. No que concerne aos incapazes, em razão da impossibilidade de perpetrar atos de disposição de direito, é inadmissível a renúncia dos alimentos, sendo possível ulterior vindicação de tal direito. Logo, haverá, nesta hipótese, ocasional dispensa da pensão alimentícia, não sendo cobrada momentaneamente. Isto é, o alimentando poderá deixar de exercer o direito que possui, todavia não poderá renunciá-lo.

2.3 Atualidade

Há que se frisar, inicialmente, que o pensionamento de verba alimentar substancializa obrigação de trato sucessivo, ou seja, sua execução de protrai no tempo, sendo, em razão disso, submetida aos efeitos danosos da inflação, que poderá comprometer o quantum pago. Nesta senda, objetivando salvaguardar o numerário de tais efeitos, o artigo 1.710 da Lei N° 10.406, de 10 de Janeiro de 2002, que institui o Código Civil, espanca que “Art. 1.710. As prestações alimentícias, de qualquer natureza, serão atualizadas segundo índice oficial regularmente estabelecido”[21]. Deste modo, resta patentemente demonstrado que é fundamental que os alimentos sejam estabelecidos com a indicação de um critério (seguro) de correção de valor, preservando, desta forma, o seu caráter atual.

Em inexistindo a possibilidade de fixar a prestação alimentícia em percentuais a serem descontados de maneira direta dos rendimentos do alimentante, o entendimento jurisprudencial caminha no sentido de estabelecimento em salários mínimos. Neste ponto, a visão consagrada pelo Supremo Tribunal Federal é que a vedação agasalhada no artigo 7º, inciso IV, da Constituição Federal[22], que estipula a impossibilidade do emprego do salário mínimo como fatos de indexação obrigacional, não abrangem as obrigações de cunho alimentar, motivo pelo qual não há óbice na fixação da verba alimentar fulcrado no salário mínimo, com o fito de assegurar sua atualidade. “O ideal é que os julgados que fixam os alimentos levem em conta um fator seguro de atualização, garantindo que a prestação alimentícia mantenha, sempre o seu

 

 

 

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valor”[23], com o escopo de evitar o ajuizamento, desnecessário, de ações que visem a revisão de alimentos.

2.4 Futuridade

In primo loco, mister se faz frisar que os alimentos objetivam a manutenção do alimentando, destinando-se, desta sorte, ao futuro, não sendo exigíveis para o passado. O aspecto característico em comento assenta sua lógica no ideário que o numerário objetiva a mantença da integridade física e psíquica do alimentando, devendo, desta forma, servir-lhe no tempo presente e no futuro, mas não no passado. Id est, se o alimentando já se manteve até aquele momento sem o pagamento de prestação alimentícia pelo alimentante, não subsiste justificativa para a concessão dos alimentos no pretérito.

O aspecto de futuridade é tão substancial no instituto dos alimentos que, a fim de resguardar a sua manutenção, o Código de Processo Civil[24], em seus artigos 732 ut 734, permite que haja o desconto diretamente na folha de pagamento, compreendendo tal locução a remuneração e outras rendas, das parcelas vincendas da verba alimentar. [25]“Pontue-se, todavia, que este caráter futuro não impede que sejam executadas as parcelas alimentícias fixadas judicialmente e não pagas pelo devedor”26, atentando-se, por necessário, para o prazo prescricional de dois anos. Desta sorte, a concepção de alimentos atrasados alcança apenas as parcelas já fixadas pelo magistrado e não adimplidas pelo devedor, quando deveria tê-la feito.

2.5 Imprescritibilidade

Em razão dos alimentos serem destinados a manter aquele que deles necessita no presente e no futuro, não há prazo extintivo para o seu pensionamento. Nesta toada, o direito de obter, em Juízo, a estipulação de uma verba de natureza alimentar pode ser exercido a qualquer tempo, desde que os requisitos insertos na lei se encontrarem preenchidos, inexistindo qualquer prazo prescricional. Entrementes, uma vez assinalado

 

 

 

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o quantum a ser pago, proveniente de ato decisório judicial, fluirá, a partir daquele momento, o prazo prescricional para que seja aforada a competente execução dos valores correspondentes.

Desse modo, infere-se que a prescrição afeta a pretensão executória dos alimentos, substancializando-se no prazo de dois anos, conforme entalha o artigo 206, §2º, da Lei N° 10.406, de 10 de Janeiro de 2002[26], que institui o Código Civil. No mais, quando os alimentos forem estipulados em favor de absolutamente incapazes ou pelo filho menor na constância do poder familiar, até os 18 (dezoito) anos, não fluirá o prazo prescricional, uma vez que restará substancializada a causa impeditiva, como bem estatui o inciso II do artigo 197 e o inciso I do artigo 198, ambos da Lei Substantiva Civil vigente.

2.6 Transmissibilidade

O Estatuto de 1916 trazia em sua estrutura, de maneira expressa, a intransmissibilidade dos alimentos, restando tal preceito consagrado em seu artigo 402, como se infere, inclusive, da redação oportunamente colacionada “Art. 402. A obrigação de prestar alimentos não se transmite aos herdeiros do devedor”[27]. O maciço axioma que sustentava tal ideário advinha do aspecto personalíssimo que o instituto em tela possui, fazendo com que a morte do alimentante ou do alimentando acarretasse a extinção de tal obrigação. Entretanto, com o advento do Código de 2002, passou a vigorar novel postulado, no qual a obrigação de prestar alimentos é transmissível aos herdeiros do alimentante. Farias e Rosenvald, ao discorrerem acerca do tema, manifestam que “em nosso entender, tratando-se de uma obrigação personalíssima, os alimentos não deveriam admitir transmissão, impondo-se a reconhecer a sua automática extinção”[28], em decorrência do falecimento do alimentante ou do alimentado.

A transmissão, em relação aos herdeiros do alimentante, só seria possível em relação às prestações vencidas e não adimplidas, atentando-se, por necessário, para as forças do

 

 

 

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espólio, eis que se trata de dívida do auctor successionis, a qual é transmitida juntamente com o patrimônio, em decorrência do princípio da saisine. Nesta senda, Rolf Madaleno anota que “a transmissão da obrigação alimentar não extrapola a esfera hereditária, para penetrar no patrimônio de cada sucessor, sendo balizado seu limite à totalidade dos bens deixados pelo sucedido”[29]. Ao lado disso, ao se examinar o tema em comento, deve ser considerada a herança em sua totalidade, uma vez que só há herança líquida passível de inventariança, após o pagamento das obrigações deixadas pelo sucedido. No mais, cuida expor que as obrigações oriundas de verba alimentar gozam de prioridade para serem saldadas.

Igualmente, vale destacar que a obrigação alimentar é considerada como proporcional ao quinhão de cada herdeiro, alcançando os legítimos, necessários ou testamentários, mesmo porque os legados só serão pagos se a herança assim o suportar, após o atendimento das dívidas deixadas e das obrigações deixadas pelo falecido. Neste sedimento, cuida trazer à colação que “os legitimados a responder pelos alimentos transmitidos (fixados judicialmente em favor de quem não seja herdeiro do morto) serão todos aqueles que possuírem direitos sucessórios em relação ao espólio”[30]. Ergo, não há que se cogitar em reserva da legítima dos herdeiros necessários, uma vez que é possível que não subsista, após o adimplemento das dívidas e das obrigações do sucedido, herança líquida.

Em sendo o alimentando herdeiro do alimentante, não poderá aquele requere verba alimentar do espólio, uma vez que dele já terá um quinhão, em decorrência de sua condição de herdeiro. Tal entendimento, destaque-se, obsta um desequilíbrio nos valores recebidos por indivíduos que se encontram, a rigor, em mesma situação jurídica. Além disso, como direito alimentar transmitido, o valor a ser pago está sujeito à revisão judicial, desde que reste demonstrada a modificação na situação patrimonial do alimentando, sendo possível a ocorrência de diminuição, majoração ou ainda exoneração. Ademais, deve-se afastar a

 

 

 

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hipótese de só serem transmitidos os alimentos porventura não pagos em vida pelo sucedido, já que o Diploma Legal, de maneira contundente, se refere à transmissão da obrigação alimentar, incluindo-se as parcelas vincendas, observando-se, por necessário, as forças da herança, e não apenas do débito alimentar deixado pelo alimentante.

3 A Negativação do Inadimplente de Verba Alimentar no Sistema de Proteção ao Crédito: Análise à luz do entendimento pretoriano do STJ

Estruturada a base sobre a qual se assenta a verba alimentar, notadamente como rubrica indissociável para o desenvolvimento do alimentando, maiormente como pilar intrínseco do superprincípio da dignidade da pessoa humana, cuida esmiuçar o reconhecimento jurisprudencial apesentado pelo Superior Tribunal de Justiça no que concerne à negativação, em sede de sistema de proteção ao crédito, de inadimplentes contumazes de verba alimentar. Em recente Informativo de Jurisprudência nº 579, datado de 20.04.2016, o Superior Tribunal de Justiça explicitou o entendimento que não há impedimento legal para que seja determinada a negativação do nome de contumaz de devedor de alimentos. “Ao contrário, a interpretação conferida ao artigo 19 da Lei de Alimentos (Lei 5.478/68), segundo o qual cabe ao juiz da causa adotar as providências necessárias para a execução da sentença ou do acordo de alimentos, deve ser a mais ampla possível”[31], notadamente em razão dos contornos jurídicos e principiológicos que emolduram a temática em testilha, primando pela garantia da sobrevivência e a dignidade da criança ou adolescente alimentando. Para tanto, cuida transcrever os paradigmáticos entendimentos que aludem a tal possibilidade:

Ementa: Recurso Especial. Direito de Família. Processual Civil. Alimentos. Execução. Devedor. Inscrição em cadastro de restrição ao crédito. Inscrição. Possibilidade. Direito à vida digna. Ausência de impedimento legal. Coerção

 

 

 

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indireta. Melhor interesse do alimentando. Inovação legislativa. Artigos 528 e 782 do Novo Código de Processo Civil. 1. É possível, à luz do melhor interesse do alimentando, na execução de alimentos de filho menor, o protesto e a inscrição do nome do devedor de alimentos nos cadastros de proteção ao crédito. 2. Não há impedimento legal para que se determine a negativação do nome de contumaz devedor de alimentos no ordenamento pátrio. 3. O mecanismo de proteção que visa salvaguardar interesses bancários e empresariais em geral (art. 43 da Lei nº 8.078/90) pode garantir direito ainda mais essencial relacionado ao risco de vida, que violenta a própria dignidade da pessoa humana e compromete valores superiores a mera higidez das atividades comerciais. 4. O legislador ordinário incluiu a previsão de tal mecanismo no Novo Código de Processo Civil, como se afere da literalidade dos artigos 528 e 782. 5. Recurso especial provido (Superior Tribunal de Justiça – Terceira Turma/ REsp nº 1.469.102-SP/ Relator: Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva/ Julgado em 08 mar. 2016).

Ementa: Recurso Especial. Direito de Família e Processual Civil. Alimentos. Execução. Protesto e inclusão do nome do devedor nos cadastros de restrição ao crédito (SPC e SERASA). Possibilidade. Forma de coerção indireta do executado. Máxima efetividade aos direitos fundamentais da criança e do adolescente. Mínimo existencial para sobrevivência. 1. A proteção integral está intimamente ligada ao princípio do melhor interesse da criança e adolescente, pelo qual,

 

 

 

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no caso concreto, devem os aplicadores do direito buscar a solução que proporcione o maior benefício possível para o menor. Trata-se de princípio constitucional estabelecido pelo art. 227 da CF, com previsão nos arts. 4º e 100, parágrafo único, II, da Lei n. 8.069/1990, no qual se determina a hermenêutica que deve guiar a interpretação do exegeta. 2. O norte nessa seara deve buscar a máxima efetividade aos direitos fundamentais da criança e do adolescente, especificamente criando condições que possibilitem, de maneira concreta, a obtenção dos alimentos para sobrevivência. 3. O art. 461 do CPC traz cláusula geral que autoriza o juiz, a depender das circunstâncias do caso em concreto, adaptar a técnica processual ao perfil do direito material, com vistas à formação de uma solução justa e adequada do conflito, possibilitando que, por meio de alguma medida executiva, se alcance a realização da justiça (CF, art. 5°, XXXXV). 4. O direito de família é campo fértil para a aplicação dessa tutela específica, notadamente pela natureza das relações jurídicas de que cuida - relações existenciais de pessoas -, as quais reclamam mecanismos de tutela diferenciada. Realmente, a depender do caso concreto, pode o magistrado determinar forma alternativa de coerção para o pagamento dos alimentos, notadamente para assegurar ao menor, que sabidamente se encontra em situação precária e de vulnerabilidade, a máxima efetividade do interesse prevalente - o mínimo existencial para sua sobrevivência -, com a preservação da dignidade humana por meio da garantia de

 

 

 

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seus alimentos. 5. É plenamente possível que o magistrado, no âmbito da execução de alimentos, venha a adotar, em razão da urgência de que se reveste o referido crédito e sua relevância social, as medidas executivas do protesto e da inscrição do nome do devedor de alimentos nos cadastros de restrição ao crédito, caso se revelem como meio eficaz para a sua obtenção, garantindo à parte o acesso à tutela jurisdicional efetiva. 6. Isso porque: i) o segredo de justiça não se sobrepõe, numa ponderação de valores, ao direito à sobrevivência e dignidade do menor; ii) o rito da execução de alimentos prevê medida mais gravosa, que é a prisão do devedor, não havendo justificativa para impedir meio menos oneroso de coerção; iii) a medida, até o momento, só é admitida mediante ordem judicial; e iv) não deve haver divulgação de dados do processo ou do alimentando envolvido, devendo o registro se dar de forma sucinta, com a publicação ao comércio e afins apenas que o genitor é devedor numa execução em curso. 7. Ademais, o STJ já sedimentou o entendimento de ser 'possível o protesto da sentença condenatória, transitada em julgado, que represente obrigação pecuniária líquida, certa e exigível' (REsp 750.805/RS, Rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, Terceira Turma, DJe 16/06/2009). 8. Trata-se de posicionamento já consagrado em legislações de direito comparado, sendo inclusive previsão do novo Código de Processo Civil, que estabeleceu expressamente a possibilidade do protesto e da negativação nos cadastros dos devedores de alimentos (arts. 528 e 782). 9. Na hipótese, o

 

 

 

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recorrido, executado na ação de alimentos, devidamente citado, não pagou o débito, sendo que, determinando-se diligências, não foram encontrados bens passíveis de penhora em seu nome. Portanto, considerando-se que os alimentos devidos exigem urgentes e imediatas soluções - a fome não espera -, mostram-se juridicamente possíveis os pedidos da recorrente, ora exequente, de protesto e de inclusão do nome do devedor de alimentos nos cadastros de proteção ao crédito (SPC e Serasa), como medida executiva a ser adotada pelo magistrado para garantir a efetivação dos direitos fundamentais da criança e do adolescente. 10. Recurso especial provido (Superior Tribunal de Justiça – Quarta Turma/ REsp 1.533.206-MG/ Relator: Ministro Luís Felipe Salomão/ Julgado em 17 nov. 2015/ Publicado no DJe em 01 fev. 2016).

Com destaque, tendo por baliza fundamente o corolário do melhor interesse da criança e do adolescente, expressamente consagrado no Texto Constitucional, em seu artigo 227, em decorrência da proeminência que reveste a temática alimentar, óbice não subsiste para a utilização de dispositivos tipicamente voltados para a proteção bancária e empresarial em sede de devedor contumaz de alimentos. Ora, in casu, não há que se falar em desvirtuamento da mens legis, mas sim impressão de uma feição e incidência contemporânea com vistas a assegurar instituto claramente dotado de fundamentalidade. Em complemento, convém pontuar que tal possibilidade não encontra aplicação desarrazoada ou de maneira arbitrária, mas sim reclama a presença de elementos objetivos justificadores de tal mecanismo, a saber: (i) contumácia, por parte do alimentante, no inadimplemento da verba; e (ii) esgotamento das vias processuais consideradas tradicionais para coerção do pagamento do quantum debeatur. Nesta linha, ainda, cuida rememorar que tal mecanismo

 

 

 

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indireto de coerção, com vistas a assegurar a máxima efetividade da proteção dos direitos sensíveis das crianças e dos adolescentes, em especial a verba alimentar, encontra verdadeiro ancoradouro no novo Código de Processo Civil, conforme se extrai dos artigos 528[32] e 782[33].

Assim, não se pode olvidar que o próprio Código de Processo Civil, como instrumento para alcance da prestação jurisdicional, estabelece diversos dispositivos que disponibilizam ao magistrado poderes processuais aptos a garantir a efetivação dos direitos. Dessarte, o norte nessa seara deve buscar a máxima efetividade aos direitos fundamentais da criança e do adolescente, especificamente criando condições que possibilitem, de maneira concreta, a obtenção dos alimentos para sobrevivência. O direito de família é campo fértil para a aplicação dessa tutela específica, notadamente pela natureza das relações jurídicas de que cuida - relações existenciais de pessoas -, as quais reclamam mecanismos de tutela diferenciada. A depender do caso concreto, pode o magistrado determinar forma alternativa de coerção para o pagamento dos alimentos, notadamente para assegurar ao menor, que sabidamente se encontra em situação precária e de vulnerabilidade, a máxima efetividade do interesse prevalente - o mínimo existencial para sua sobrevivência -, com a preservação da dignidade humana por meio da garantia de seus alimentos.

Referências:

BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: . Acesso em 21 abr. 2016.

____________. Lei Nº. 3.071, de 1º de Janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

____________. Lei Nº 5.869, de 11 de Janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

 

 

 

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____________. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

_____________. Lei nº 13.105, de 16 de Março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: . Acesso em 21 abr. 2016.

____________. Superior Tribunal de Justiça. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

____________. Supremo Tribunal Federal. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Sucessões, vol. 06. 24ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.

___________________. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família, v. 05. 27 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012.

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2008.

MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008.

RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil: Direito de Família. v. 5. 7 ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Método, 2012.

VENOSA, Sílvio Salvo. Código Civil Interpretado. São Paulo: Atlas, 201

NOTAS:

 

 

 

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[1] VENOSA, Sílvio Salvo. Código Civil Interpretado. São Paulo: Editora Atlas, 2010, p. 1.538.

[2] TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil: Direito de Família. v. 5. 7 ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Método, 2012, p. 417.

[3] BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

[4] MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008, p.635.

[5] Neste sentido: VENOSA, 2010, p. 1.538: “Assim, alimentos na linguagem jurídica, possuem significado bem mais amplo do que o sentido comum, compreendendo, além da limitação, também o que for necessário para moradia, vestuário, assistência médica e instrução”.

[6] BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: . Acesso em 21 abr. 2016.

[7] FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2008, p. 586.

[8] BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: . Acesso em 21 abr. 2016.

[9] MADALENO, 2008, p. 642.

[10] FARIAS; ROSENVALD, 2008, p. 586

[11] TARTUCE; SIMÃO, 2012, p. 426.

[12] BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em Agravo Regimental no Recurso Extraordinário N° 477.554. União civil entre pessoas do mesmo sexo - Alta relevância social e jurídico-constitucional da questão pertinente às uniões homoafetivas - Legitimidade constitucional do reconhecimento e qualificação da união estável homoafetiva como entidade familiar: posição consagrada na jurisprudência do Supremo Tribunal

 

 

 

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Federal (ADPF 132/RJ e ADI 4.277/DF) - O afeto como valor jurídico impregnado de natureza constitucional: a valorização desse novo paradigma como núcleo conformador do conceito de família - O direito à busca da felicidade, verdadeiro postulado constitucional implícito e expressão de uma idéia-força que deriva do princípio da essencial dignidade da pessoa humana - Alguns precedentes do Supremo Tribunal Federal e da Suprema Corte Americana sobre o direito fundamental à busca da felicidade - Princípios de Yogyakarta (2006): direito de qualquer pessoa de constituir família, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero - Direito do companheiro, na união estável homoafetiva, à percepção do benefício da pensão por morte de seu parceiro, desde que observados os requisitos do art. 1.723 do Código Civil - O art. 226, § 3º, da Lei Fundamental constitui típica norma de inclusão - A função contramajoritária do Supremo Tribunal Federal no Estado Democrático de Direito - A proteção das minorias analisada na perspectiva de uma concepção material de democracia constitucional - O dever constitucional do Estado de impedir (e, até mesmo, de punir) “qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais” (CF, art. 5º, XLI) - A força normativa dos princípios constitucionais e o fortalecimento da jurisdição constitucional: elementos que compõem o marco doutrinário que confere suporte teórico ao neoconstitucionalismo - recurso de agravo improvido. Ninguém pode ser privado de seus direitos em razão de sua orientação sexual. Precedentes. Doutrina. Órgão Julgador: Segunda Turma. Relator: Ministro Celso de Mello. Julgado em 16.08.2011. Publicado no DJ em 26.08.2011. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

[13] BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: . Acesso em 21 abr. 2016.

[14] MADALENO, 2008, p. 643.

[15] BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

[16] DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família, vol. 05. 27ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012, p. 634

 

 

 

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[17] BRASIL. Lei Nº. 3.071, de 1º de Janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016: “Art. 404. Pode-se deixar de exercer, mas não se pode renunciar o direito a alimentos”.

[18] FARIAS; ROSENVALD, 2008, p. 590.

[19] BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

[20] FARIAS; ROSENVALD, 2008, p. 591.

[21] BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

[22] Ibid. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: . Acesso em 21 abr. 2016.

[23] FARIAS; ROSENVALD, 2008, p. 593.

[24] BRASIL. Lei Nº 5.869, de 11 de Janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

[25] FARIAS; ROSENVALD, 2008, p. 593.

[26] BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

[27] BRASIL. Lei Nº. 3.071, de 1º de Janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

[28] FARIAS; ROSENVALD, 2008, p. 594.

[29] MADALENO, 2008, p. 647.

[30] FARIAS; ROSENVALD, 2008, p. 595.

[31] BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2016.

 

 

 

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[32] BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de Março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: . Acesso em 15 abr. 2016. Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. [omissis] § 3o Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além de mandar protestar o pronunciamento judicial na forma do § 1o, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses.

[33] Ibid. Art. 782. Não dispondo a lei de modo diverso, o juiz determinará os atos executivos, e o oficial de justiça os cumprirá. [...] § 3o A requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes.