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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica Boas Práticas de Documentação e Integridade de Dados no Sistema de Gestão da Qualidade: uma questão nova para a indústria farmacêutica? Fernanda Pereira Zapparolli Trabalho de Conclusão do Curso de Farmácia-Bioquímica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Orientador: Prof. Dr. Gabriel Lima Barros de Araújo São Paulo 2020

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    UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

    FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

    Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica

    Boas Práticas de Documentação e Integridade de Dados no

    Sistema de Gestão da Qualidade: uma questão nova para a

    indústria farmacêutica?

    Fernanda Pereira Zapparolli

    Trabalho de Conclusão do Curso de

    Farmácia-Bioquímica da Faculdade de

    Ciências Farmacêuticas da Universidade

    de São Paulo.

    Orientador:

    Prof. Dr. Gabriel Lima Barros de Araújo

    São Paulo

    2020

  • 2

    SUMÁRIO

    SUMÁRIO ............................................................................................................................. 2

    LISTA DE ABREVIATURAS .................................................................................................. 3

    RESUMO .............................................................................................................................. 4

    1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 5

    2. OBJETIVOS ................................................................................................................... 7

    3. MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................. 7

    3.1. Revisão bibliográfica ................................................................................................... 7

    a) Estratégias de pesquisa ................................................................................................. 7

    b) Critérios de inclusão e exclusão ..................................................................................... 8

    c) Coleta e análise de artigos ............................................................................................. 8

    3.2. Revisão das cartas de Advertência (Warning Letters) ................................................ 8

    a) Coleta de dados e critérios de inclusão e exclusão ........................................................ 9

    b) Estruturação do banco de dados .................................................................................... 9

    c) Sistematização das violações observadas ..................................................................... 9

    d) Análise das observações ...............................................................................................11

    e) Análise estatística dos resultados .................................................................................11

    1. RESULTADOS ..............................................................................................................12

    1.1. Revisão bibliográfica ..................................................................................................12

    1.2. Revisão das cartas de advertência (Warning Letters) ................................................12

    a) Perfil global de conformidade às normas de Integridade de Dados ...............................12

    b) Distribuição geográfica de violações às normas ............................................................14

    c) Avaliação de instruções (Data Integrity Remediation) ...................................................16

    2. DISCUSSÃO .................................................................................................................17

    2.1. Revisão bibliográfica ..................................................................................................17

    a) Revisão da literatura .....................................................................................................17

    b) Revisão de diretrizes e normas .....................................................................................22

    3.3. Revisão das cartas de advertência (Warning Letters) ................................................26

    c) Perfil global de conformidade às normas de Integridade de Dados ...............................27

    d) Distribuição geográfica de violações às normas ............................................................28

    e) Panorama sobre o nível de conformidade no Brasil ......................................................29

    f) Setores da cadeia produtiva impactados pelas infrações ..............................................30

    3. CONCLUSÃO ...............................................................................................................32

    4. BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................33

    5. ANEXOS .......................................................................................................................35

  • 3

    LISTA DE ABREVIATURAS

    ALCOA Atribuível, Legível, Contemporâneo, Original e Acurado

    ALCOA + Atribuível, Legível, Contemporâneo, Original, Acurado, Completo,

    Consistente, Duradouro e Disponível

    ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

    BPD Boas Práticas de Documentação

    BPF Boas Práticas de Fabricação

    CDSCO Central Drugs Standard Control Organisation

    FDA Food and Drug Administration

    ICH International Conference on Harmonization

    IFA Insumo Farmacêutico Ativo

    MeSH Medical Subject Headings

    MHRA Medicines and Healthcare Products Regulatory Agency

    NMPA National Medical Products Administration

    OMS Organização Mundial da Saúde

    PIC/S Pharmaceutical Inspection Co-operation Scheme

    RDC Resolução da Diretoria Colegiada

  • 4

    RESUMO

    ZAPPAROLLI, F. P. Boas Práticas de Documentação e Integridade de Dados no

    Sistema de Gestão da Qualidade: uma questão nova para a indústria

    farmacêutica?. 2020. 39f. Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica

    – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo,

    2020.

    Palavras-chave: Sistema de Qualidade Farmacêutico, Boas Práticas de

    Documentação, Integridade de Dados, ALCOA.

    INTRODUÇÃO: Os dados gerados pela indústria farmacêutica possuem um ciclo de vida complexo e são suporte para garantir a segurança do paciente, a qualidade dos produtos finais e a seu fornecimento ao mercado. A identificação de falhas nos processos relacionados ao seu gerenciamento fez necessária a publicação de diretrizes por parte de agências reguladoras a fim de melhorar o nível de cumprimento dos requerimentos e, consequentemente, a confiabilidade das informações geradas. OBJETIVOS: Revisar e realizar análise crítica acerca das diretrizes e requerimentos sobre integridade de dados no contexto da indústria de medicamentos, assim como avaliar o cenário atual no que diz respeito ao nível de cumprimento dessas recomendações. MATERIAIS E MÉTODOS: Uma busca da literatura foi conduzida nas bases de dados PubMed, ScienceDirect, ISI Web of Knowledge e SCOPUS (Elsevier). Foi desenvolvida uma estratégia de busca padronizada utilizando termos MeSH ou palavras texto relacionadas ao gerenciamento de dados, às Boas Práticas de Fabricação e à indústria farmacêutica. Foram analisadas diretrizes e normas publicadas pelas principais agências regulatórias e órgãos especializados. A avaliação do nível de conformidade da indústria teve como parâmetro notificações disponibilizadas pela agência FDA. RESULTADOS: Os resultados mostraram que as infrações em virtude de violações aos princípios de Integridade de Dados estão presentes em média de cerca de 40% das cartas emitidas pela FDA no período compreendido entre 2015 e o terceiro trimestre de 2020. Observou-se que a taxa de descumprimento às violações direta e indiretamente relacionadas à Integridade de Dados diminuíram significativamente de 2015 a 2017: 65,2% a 36,5% e 95,7% a 69,4%, respectivamente. Também foi possível identificar um comportamento diferente para as duas categorias de infrações: enquanto houve uma tendência de estabilização no número de infrações diretamente relacionadas ao tema (2017=35,5% e 2020=40,8%), houve o aumento da frequência de problemas indiretamente relacionados à Integridade de Dados entre 2017 (69,4%) e o terceiro trimestre de 2020 (85,7%). Por isso, constatou-se que embora o tema venha sendo apresentado como uma tendência regulatória, as normas que orientam as Boas Práticas de Documentação foram publicadas há mais de 30 anos, isso indica que o tema não é recente na indústria. Observou-se ainda que as diretrizes possuem uma grande capacidade em demonstrar expectativas e tendências inspecionais de agências regulatórias. CONCLUSÃO: A Integridade de Dados é um componente fundamental do Sistema de Qualidade de uma empresa, fornecendo garantia de que os dados que uma empresa usa para operar estão em conformidade com os requisitos regulamentares, demonstrando que seus produtos são seguros e eficazes para o uso pretendido. Violações a esses princípios causam danos consideráveis ao Sistema de Qualidade Farmacêutica comprometendo a confiança de agências regulatórias e de pacientes e impactando negativamente nos negócios da empresa e, sobretudo, na vida dos pacientes.

  • 5

    1. INTRODUÇÃO

    1.1. Considerações Gerais

    A nível mundial, os medicamentos constituem um dos recursos terapêuticos de

    mais alto impacto e a indústria farmacêutica é uma das áreas mais importantes entre

    os serviços de saúde de um país. A produção de fármacos em escala industrial requer

    o cumprimento dos mais altos padrões, assegurando, dessa maneira a qualidade do

    medicamento e, consequentemente, a segurança do paciente (CORBILLON et al.,

    2019).

    Na indústria farmacêutica, dados podem ser gerados a partir de diversas fontes

    como estudos clínicos, operações de manufatura, testes de controle de qualidade,

    dentre outros; e são um requisito essencial em submissões de registro de produtos

    frente às autoridades reguladoras ou até mesmo na tomada de decisões no controle

    operacional, a fim de que as Boas Práticas de Fabricação, Boas Práticas de

    Laboratório ou Boas Práticas Clínicas (BPx) sejam cumpridas (BHADRASHETTE,

    2018).

    O ciclo de vida de dados inicia-se com a geração das informações e segue até

    sua destruição, envolvendo diversas etapas nesse ínterim como processamento,

    arquivamento e recuperação. Em vista disso, é fundamental que essa grande

    quantidade de dados seja protegida ao longo de todas as etapas, a fim de que sua

    confiabilidade seja garantida e que, portanto, sua integridade seja preservada através

    de controles adequados.

    A robustez dos processos de gerenciamento de dados BPx, sejam manuais ou

    eletrônicos, deve ser assegurada de acordo com procedimentos operacionais padrão

    e a violação desses procedimentos deve ser considerada como um evento de

    qualidade e devidamente reportada à gerência de forma urgente (CALIXTO, 2017).

    A regulamentação acerca de gerenciamento de dados não é recente: a primeira

    regulamentação foi publicada em 1963 pela agência reguladora norte-americana Food

    and Drug Administration (FDA) e após isso diversos guias de referência foram

    publicados por essa agência e, também, por agências reguladoras da União Europeia

    (RATTAN, 2018).

    Em 2003 a agência norte-americana apresenta um guia sobre registros e

    assinaturas eletrônicas com os conceitos relativos à integridade de dados (FDA,

    2003). Segundo esse guia, as empresas fabricantes de medicamentos são

  • 6

    responsáveis por garantir a integridade dos dados durante todas as etapas do seu

    ciclo de vida. Isso significa que os dados devem ser acurados, devem ser atribuíveis

    ao colaborador e ao momento em que foram realizadas as atividades de relevância

    às BPF, devem ser legíveis e devem estar disponíveis e serem mantidos em

    segurança em seus registros originais ou em cópias verdadeiras (FDA, 2003; FDA,

    2018). Nesse guia, tais princípios foram resumidos pela sigla ALCOA. Em 2011, a

    Agência Europeia de Medicamentos (EMA) expande esses conceitos criando a sigla

    ALCOA+, que descreve que atém dos atributos anteriores os dados devem também

    estar completos e consistentes, devem ser duradouros e devem estar disponíveis

    (EMA, 2011).

    A Tabela 1 apresenta esses conceitos e suas respectivas descrições no

    contexto da Integridade de Dados:

    Tabela 1: Requerimentos atribuídos aos registros a fim de garantir a Integridade de Dados no contexto das Boas Práticas de Documentação (FDA, 2003; EMA, 2011).

    Atributo Descrição

    A Atribuível (Attributable) Identificação clara sobre a autoria do registro;

    L Legível (Legible) O registro deve estar legível e as assinaturas

    devem ser identificáveis;

    C Contemporâneo

    (Contemporaneous)

    A informação foi documentada no momento que a

    atividade foi realizada;

    O Original (Original) O registro original ou uma cópia verdadeira deve

    ser preservado;

    A Acurado (Accurate) O registro não deve conter erros ou edições sem

    que sejam documentadas justificativas plausíveis;

    +

    Duradouro (Enduring) O registro deve ser conservado apropriadamente

    durante o período de retenção determinado;

    Disponível (Available) O registro deve estar disponível para consulta ou

    utilização;

    Completo (Complete) Não devem faltar informações no registro;

    Consistente (Consistent) A sequência dos eventos deve estar de acordo com

    o fluxo de eventos.

  • 7

    Apesar da crescente relevância desse tema na última década, um elevado

    número de não conformidades têm sido identificadas a partir de inspeções realizadas

    por órgãos internacionais em indústrias farmacêuticas e fornecedores pertencentes à

    cadeia de suprimentos das mesmas (FDA, 2018).

    Empresas que não seguem as normas de conformidade sobre a integridade de

    seus dados estão sujeitas a sanções de impacto regulatório tais como: cartas de

    advertência, declarações de não conformidade, perda das licenças de produção e

    comercialização, embargos comerciais, recolhimento de produtos do mercado, alertas

    de segurança, multas e penalidades, dificuldade na aprovação de novos produtos,

    dentre outros (RATTAN, 2018). Para os indivíduos que estão envolvidos em fraudes,

    as acusações podem chegar à esfera criminal, com penalidades como banimento do

    setor e prisão (KUMAR, 2017).

    As violações constatadas são alarmantes uma vez que com a identificação da

    alteração de dados a segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos não pode

    ser garantida, assumindo-se o risco de causar danos à saúde pública e, portanto, ao

    bem-estar dos pacientes.

    O recebimento de sanções regulatórias também possui um impacto negativo

    sob a perspectiva dos negócios para a empresa tais como a não aprovação de novos

    produtos, o impedimento da liberação de produtos para o mercado, a perda de

    reputação e confiabilidade junto aos consumidores/pacientes. Todos esses fatores

    contribuem para a redução de sua participação no mercado e, consequentemente,

    geram desvantagens competitivas (ERNST&YOUNG, 2015).

    2. OBJETIVOS

    Revisar e realizar análise crítica acerca das diretrizes e requerimentos sobre

    integridade de dados no contexto da indústria de medicamentos, assim como avaliar

    o cenário atual no que diz respeito ao nível de cumprimento dessas recomendações.

    3. MATERIAIS E MÉTODOS

    3.1. Revisão bibliográfica

    a) Estratégias de pesquisa

    Uma busca abrangente da literatura foi conduzida nas bases de dados

    PubMed, ScienceDirect, ISI Web of Knowledge e SCOPUS (Elsevier).

  • 8

    Foram analisadas as diretrizes e recomendações sobre integridade de dados

    publicadas pelas principais agências regulatórias de medicamentos e órgãos

    especializados como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Food and

    Drug Administration (FDA), Organização Mundial da Saúde (OMS), Agência Europeia

    de Medicamentos (EMA), e Sindusfarma.

    Além disso, foi realizada busca manual por referências em todos os estudos

    para os quais os textos completos forem obtidos.

    b) Critérios de inclusão e exclusão

    Os trabalhos incluídos na presente revisão foram publicados entre 2010 e 2020

    nos idiomas inglês, português ou espanhol. Foi desenvolvida uma estratégia de busca

    padronizada utilizando termos MeSH ou palavras texto relacionadas ao

    gerenciamento de dados, às Boas Práticas de Fabricação e à indústria farmacêutica

    (Anexo 1).

    Foram excluídos estudos que não apresentavam o tema no contexto da

    indústria de medicamentos, estudos técnicos no domínio das Ciências da Informação

    e estudos de caso no contexto da Pesquisa Clínica ou da validação de sistemas

    computadorizados em laboratórios de Controle de Qualidade.

    c) Coleta e análise de artigos

    Os artigos que não estavam disponíveis nas bases de dados foram obtidos

    diretamente com os autores via e-mail.

    O título e o resumo de todas as citações foram avaliados a fim de identificar

    possíveis estudos relevantes. Os artigos na íntegra foram obtidos e revisados para

    determinar se atendiam aos critérios de inclusão pré-estabelecidos.

    3.2. Revisão das cartas de Advertência (Warning Letters)

    A avaliação do nível de conformidade das Boas Práticas de Fabricação sob o

    aspecto da Integridade de Dados teve como parâmetro a análise de cartas de

    advertência emitidas pela agência FDA a empresas que importam seus produtos ao

    mercado norte-americano. O processo de avaliação dos resultados foi estruturado em

    quatro etapas principais:

  • 9

    a) Coleta de dados e critérios de inclusão e exclusão

    As cartas emitidas no período de janeiro de 2015 a setembro de 2020 foram

    coletadas da base de dados disponibilizada na página da Internet da agência FDA

    (FDA, 2020). A indisponibilidade de informações sobre o período anterior a 2015 na

    base de dados publicada pela FDA inviabilizou a avaliação do período de 2009 a 2014,

    conforme previsto no projeto do trabalho.

    Com o propósito de selecionar cartas no contexto da indústria de

    medicamentos, foram avaliadas exclusivamente notificações endereçadas aos

    fabricantes de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) e de produtos farmacêuticos para

    uso humano que contivessem violações relacionadas às Boas Práticas de Fabricação.

    Foram excluídas do estudo cartas emitidas às indústrias do tabaco, de

    alimentos e/ou suplementos dietéticos, de dispositivos médicos, de produtos

    farmacêuticos veterinários, de cosméticos e cartas emitidas às farmácias de

    manipulação. Também não foram considerados na análise notificações relacionadas

    a violações de aprovação e registro de novos medicamentos.

    b) Estruturação do banco de dados

    A partir dos dados coletados foi composto um banco de dados padronizado a

    cada ano contendo informações básicas sobre as cartas emitidas como a identificação

    das empresas às quais foram adereçadas e seus respectivos países de origem, as

    seções da regulamentação de BPF referenciadas à cada violação, bem como a

    descrição dessas observações, a categorização das cartas de acordo com o gênero

    de suas infrações, e a presença ou não de instruções direcionadas à diretriz de

    Integridade de Dados publicada pela agência FDA (FDA, 2018).

    c) Sistematização das violações observadas

    As cartas de advertência apresentam em sua estrutura um sumário de

    violações às diretrizes contidas sobretudo nas partes 210 e 211 do Título 21 do Código

    Federal de Regulamentações dos Estados Unidos (21 CFR), que descrevem normas

    de BPF orientadas à fabricação, processamento, embalagem e conservação de

    fármacos e medicamentos. A violação de normas sobre o gerenciamento de

    assinaturas e registros eletrônicos (21 CFR parte 11) também pode ser citada nas

    cartas. Essas regulamentações são consistentes com o Guia de BPF para a produção

    de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs).

  • 10

    A avaliação das infrações que poderiam impactar direta ou indiretamente na

    integridade dos dados ao longo da cadeia produtiva de medicamentos foi realizada

    utilizando-se como critérios as seções do código 21 CFR referenciadas na diretriz

    sobre Integridade de Dados publicada pela FDA (FDA, 2018). As seções utilizadas

    como critério de avaliação, bem como suas relações com o conceito de Integridade

    de Dados são apresentadas, respectivamente, nos Anexos 2 e 3.

    A partir das informações registradas no banco de dados, as cartas de

    advertência foram categorizadas de acordo com o gênero de violações observadas:

    A categoria I inclui as empresas que não apresentaram em suas cartas citações

    relacionadas ao tema de Integridade de Dados, isto é, empresas cujas violações

    estivessem relacionadas a problemas de infraestrutura, como a separação apropriada

    de áreas produtivas e a manutenção ambiental dessas áreas, falhas na utilização de

    equipamentos próprios para processos produtivos, a inexistência de papeis e

    responsabilidades no nível gerencial da empresa, ausência de procedimentos para o

    correto armazenamento de materiais, ausência do uso de equipamentos de proteção

    individual e empresas que recusaram o recebimento da inspeção ou dificultaram o seu

    desenvolvimento.

    Na categoria II, incluíram-se as cartas que apresentassem violações

    diretamente relacionadas ao tópico de Integridade de Dados como a inexistência de

    controles para evitar alterações nos arquivos armazenados eletronicamente e nos

    registros em papel, o compartilhamento de credenciais, a apresentação de registros

    incompletos, a deleção injustificada de dados analíticos, a ausência ou desativação

    de mecanismos de rastreabilidade via trilhas de auditoria, a manipulação de registros

    originais de produção ou controle de qualidade a fim de que fossem obtidos os

    resultados desejados, a falta de contemporaneidade no registro de dados, a

    ocorrência de erros de transcrição de dados relevantes às BPF ou a utilização de

    registros não oficiais para sua documentação, a utilização de resultados obtidos

    anteriormente no registro de novos testes, dentre outros.

    Já na categoria III, foram consideradas não só as cartas que apresentassem

    violações que impacto direto à Integridade de Dados (categoria II), mas também as

    cartas com violações que comprometessem de alguma maneira a confiabilidade e

    acurácia dos dados gerados ao longo da cadeia produtiva tais como a não criação de

    dados primários de caracterização de matérias-primas ou produtos acabados, a não

    apresentação ou inexistência de estudos e dados de estabilidade que justificassem

  • 11

    cientificamente as datas de validade registradas, a ausência ou falhas no processo de

    validação de métodos analíticos e produtivos, a testagem repetida de amostras até

    que os requerimentos fossem preenchidos sem que fossem apresentadas

    justificativas que dessem suporte a essa conduta e falhas no processo de revisão de

    registros-mestre de produção antes da liberação do produto ao mercado.

    d) Análise das observações

    Considerando-se que o número de cartas emitidas a cada ano é variável,

    calculou-se a taxa percentual de descumprimento aos requerimentos de Integridade

    de Dados a partir da relação entre o número de cartas nas quais foram observadas

    violações relacionadas ao tema (categorias II ou III) e o número total de cartas

    avaliadas a cada ano (Equação 1). Dessa maneira, os resultados obtidos puderam ser

    comparados e posteriormente analisados.

    𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑢𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 (%) = 𝑁º 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑟𝑡𝑎𝑠 𝑐𝑜𝑚 𝑣𝑖𝑜𝑙𝑎çõ𝑒𝑠 à 𝐼𝑛𝑡𝑒𝑔𝑟𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝐷𝑎𝑑𝑜𝑠 (𝑐𝑎𝑡. 𝐼𝐼/𝐼𝐼𝐼)

    𝑁º 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑟𝑡𝑎𝑠 𝑎𝑣𝑎𝑙𝑖𝑎𝑑𝑎𝑠 (1)

    Além do perfil global de descumprimento às normas, avaliou-se a presença de

    pontos de destaque no cenário internacional para problemas relacionados à

    governança de documentos calculando-se a taxa de descumprimento para violações

    pertencentes à categoria III a cada país onde foram observadas infrações no período

    de 2015 a 2020.

    Ao longo do estudo, notou-se a presença de instruções que referenciavam a

    diretriz sobre Integridade de Dados publicada pela agência FDA (Data Integrity

    Remediation) no desfecho de algumas das cartas que continham observações

    diretamente relacionadas à Integridade de Dados. O índice percentual de ocorrência

    dessas instruções a cada ano foi calculado em função do número total de cartas

    avaliadas.

    A tabulação numérica e a apresentação gráfica de todos os resultados

    observados foram efetuadas para o período estudado.

    e) Análise estatística dos resultados

    As variáveis categóricas (classificatórias) foram comparadas pelo teste

    estatístico paramétrico qui-quadrado utilizando-se o software Minitab 19. O nível de

    significância considerado foi de p < 0,05.

  • 12

    1. RESULTADOS

    1.1. Revisão bibliográfica

    A busca de literatura na base de dados na linguagem pré-estabelecida

    identificou 322 artigos de potencial interesse, dos quais 2 eram duplicatas. Após a

    leitura do título e do resumo, 293 artigos foram excluídos por não abordarem o tema

    de Integridade de Dados no contexto das Boas Práticas de Fabricação aplicadas à

    indústria de medicamentos. Os 27 estudos restantes foram selecionados para leitura

    de texto completo. Nesta etapa, 4 estudos foram excluídos tratarem do tema sob a

    perspectiva de Ciências da Informação. Portanto, 23 estudos preencheram os critérios

    de inclusão e foram avaliados neste trabalho de revisão. Também foram estudadas

    as publicações de seminários e convenções sobre o tema promovidos por órgãos

    regulatórios a fim de esclarecer suas expectativas e tendências inspecionais.

    As publicações selecionadas para a leitura dos textos completos apresentaram-

    se como artigos científicos e artigos de opinião publicados em revistas de divulgação

    científica ou revistas direcionadas a profissionais do setor farmacêutico.

    As versões finais das diretrizes publicadas pelas agências sanitárias FDA,

    EMA, OMS e pelo Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma),

    foram avaliados e as duas últimas versões das diretrizes de Boas Práticas de

    Fabricação da ANVISA foram avaliadas e posteriormente comparadas.

    1.2. Revisão das cartas de advertência (Warning Letters)

    Entre 2015 e o terceiro trimestre de 2020 a agência FDA emitiu 3271 cartas de

    advertência a partir de inspeções realizadas em empresas que produzem produtos e

    matérias-primas comercializados no mercado norte-americano (FDA, 2020). Para este

    estudo, foram consideradas as cartas endereçadas a empresas da indústria de

    medicamentos, conforme critérios estabelecidos e apresentados anteriormente.

    Portanto, para os fins deste estudo foram analisadas ao todo 417 cartas.

    a) Perfil global de conformidade às normas de Integridade de Dados

    Na Tabela 2, apresenta-se a taxa percentual global de descumprimento às

    normas, por ano, no período de 2015 a 2020. Também são apresentados o número

  • 13

    total de cartas avaliadas a cada ano e o número de cartas às quais foram observadas

    infrações diretamente relacionadas ao tópico de Integridade de Dados (categoria II)

    ou o número de cartas qualificadas na categoria III, cujas violações estão direta e

    indiretamente relacionadas ao tema.

    Tabela 2: Taxa global de descumprimento às normas relacionadas à Integridade de dados em função das violações observadas nas cartas emitidas pela agência FDA no período de 2015 a 2020. Categoria II: violações diretamente relacionadas ao tema. Categoria III: violações direta e indiretamente relacionadas ao tema.

    Classificação

    das violações

    observadas

    Taxa global de descumprimento (%)

    p 2015 2016 2017 2018 2019 2020

    Categoria II 65,2

    (n=15)

    42,6

    (n=26)

    36,5

    (n=31)

    36,8

    (n=32)

    33

    (n=37)

    40,8

    (n=20) 0,047

    Categoria III 95,7%

    (n=22)

    72,1%

    (n=44)

    69,4%

    (n=59)

    80,5%

    (n=70)

    87,5%

    (n=98)

    85,7%

    (n=42) 0,03

    n Total (417) 23 61 85 87 112 49 0,02

    Nota: n = número absoluto de cartas avaliadas.

    Figura 1: Taxa global de descumprimento às normas relacionadas à Integridade de dados em função das violações observadas nas cartas emitidas pela agência FDA no período de 2015 a 2020. Categoria II: violações diretamente relacionadas ao tema. Categoria III: violações direta e indiretamente relacionadas ao tema.

    O estudo revelou que das 417 cartas de advertência avaliadas, identificaram-

    se ao todo 161 e 335 cartas contendo violações classificadas nas categorias II e III,

    respectivamente. A partir dos dados tabulados, observa-se que as infrações

    65,2%

    42,6%36,5% 36,8% 33%

    40,8%

    95,7%

    72,1% 69,4%

    80,5%87,5% 85,7%

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    2015 2016 2017 2018 2019 2020

    Ta

    xa

    de

    de

    scu

    mp

    rim

    ento

    Categoria II Categoria III

  • 14

    relacionadas ao tópico de governança de dados (categoria III) ocorrem em média em

    mais de 80% das empresas que receberam notificações de advertência e que as

    violações diretamente relacionadas à Integridade de Dados (categoria II) estão

    presentes em média de cerca de 40% das cartas emitidas pela FDA no período

    compreendido entre 2015 e o terceiro trimestre de 2020.

    Além disso, verificou-se que a taxa de descumprimento às violações

    pertencentes às categorias II e III diminuíram significativamente de 2015 a 2017:

    65,2% a 36,5% e 95,7% a 69,4%, respectivamente (p

  • 15

    Tabela 3: Taxa de descumprimento calculada para os países com maior número de casos de violações relacionadas à Integridade de Dados (categoria III) no período de 2015 a 2020. Os valores de “subtotal” apresentados correspondem à soma das ocorrências para os três países (China, Estados Unidos e Índia).

    País 2015 2016 2017 2018 2019 2020 p

    China 13,6% (n=3)

    34,1% (n=15)

    35,6% (n=21)

    32,9% (n=23)

    12,2% (n=12)

    14,3% (n=6)

    0,01

    Estados Unidos

    9,1% (n=2)

    20,5% (n=9)

    20,3% (n=12)

    25,7% (n=18)

    58,2% (n=57)

    40,5% (n=17)

  • 16

    c) Avaliação de instruções (Data Integrity Remediation)

    A Tabela 4 e a Figura 3 apresentam as frequências percentuais e absolutas de

    observações de instruções denominadas Data Integrity Remediation no desfecho das

    cartas avaliadas no decorrer do estudo. Essas instruções apresentam possíveis ações

    corretivas para os problemas relacionados ao gerenciamento de documentos e

    referenciam a diretriz de Integridade de Dados publicada pela agência FDA em 2016:

    Tabela 4: Frequência percentual da ocorrência de Data Integrity Remediations, instruções sobre o gerenciamento de documentos direcionadas às empresas, no período de 2015 a 2020.

    2015 2016 2017 2018 2019 2020 p

    Data Integrity Remediation

    - 16,4% (n=10)

    12,9% (n=11)

    21,8% (n=19)

    20,5% (n=23)

    30,6% (n=15)

    0,005

    n Total 23 61 85 87 112 49

    Nota: n = número absoluto de cartas avaliadas.

    Figura 3: Frequência percentual de ocorrência das instruções denominadas Data Integrity Remediations, sobre o gerenciamento de documentos direcionadas às empresas, no período de 2015 a 2020.

    A partir dos resultados obtidos, observou-se que as recomendações

    diretamente relacionadas ao tema de Integridade de Dados passaram a ser

    mencionadas após 2016 e que a partir desse ano houve a tendência de aumento na

    frequência dessas menções (de 16,4% a 30,6% entre 2016 e 2020) (p=0,005).

    0,0%

    16,4%

    12,9%

    21,8%20,5%

    30,6%

    0%

    5%

    10%

    15%

    20%

    25%

    30%

    35%

    2015 2016 2017 2018 2019 2020

    Taxa d

    e o

    corr

    ência

  • 17

    2. DISCUSSÃO

    2.1. Revisão bibliográfica

    a) Revisão da literatura

    Por tratar-se de um tema voltado ao sistema de qualidade da indústria

    farmacêutica, os estudos avaliados foram elaborados por representantes de agências

    sanitárias, especialistas da indústria e de consultorias que prestam serviço à indústria,

    e, também, por representantes de organizações sem fins lucrativos de divulgação de

    informações técnicas e regulamentares. Considera-se que essa amplitude de fontes

    de referência foi importante para a avaliação do tema, uma vez que se observou uma

    perspectiva ampla das partes envolvidas no setor.

    Os estudos, de maneira geral, discutiram o histórico e os conceitos

    relacionados à Integridade de Dados e sugeriram ações de prevenção e remediação

    de problemas e infrações relacionados ao tópico. A maioria dos autores constatou que

    embora a governança de dados esteja presente em regulamentações sanitárias há

    mais de 30 anos, o tema faz parte das áreas de foco mais recentes de inspeções de

    autoridade de saúde.

    Uma das razões apontadas para justificar o fato foi a mudança de complexidade

    no gerenciamento de registros: registros em papel passam também a ser criados,

    processados e armazenados utilizando-se sistemas computadorizados. Essa

    mudança representa novos desafios na manutenção da integridade dos dados, uma

    vez que a diminuição na qualidade da informação e o aumento de risco geral do

    processo não devem ocorrer nessa transição (KUMAR, 2017;TABERSKY et al., 2018).

    Também discute-se que as autoridades regulatórias têm dado muita ênfase ao

    tema porque descobriram casos graves de violações da integridade dos dados ao

    longo dos últimos anos, como os escândalos relacionados a aprovação de

    medicamentos genéricos nos Estados Unidos no início dos anos 90, ocasião na qual

    foram descobertas uma série de falsificações de dados a fim de obter-se a aprovação

    de comercialização, e os casos mais recentes de fraude de dados nas empresas

    Schein Pharmaceuticals, em 2000, Able Laboratories em 2005 e Ranbaxy em 2006 e

    2008 (KUMAR, 2017; MCDOWALL, 2017; RACHEL & GUPTA, 2017).

    Os artigos avaliados indicam que a integridade dos dados é impactada pelo

    comportamento organizacional, por fatores humanos e técnicos (SHAFIEI et al.,

  • 18

    2015). Embora esses fatores estejam interconectados são discutidos individualmente

    nesse trabalho:

    Fatores organizacionais

    Constatou-se que violações à Integridade de Dados podem ocorrer porque a

    gestão das empresas carece de experiência ou da tomada de iniciativas para a

    implementação e verificação de controles internos ou sistemas empregados para

    manipulação de dados, que acabam não sendo adequados para o uso pretendido

    (SHAFIEI et al., 2015).

    Além disso, demonstrou-se que a pressão dos negócios por vezes passa a ser

    mais importante que as medidas de conformidade com as BPF: a necessidade em

    aprovar novos medicamentos e trazer os produtos ao mercado o mais rápido possível

    utilizando-se um menor número de recursos cria expectativas e metas de difícil

    atingimento, causando a pressão pela obtenção de resultados sobretudo nas etapas

    de teste e liberação e a menor tolerância a erros e desvios de resultados (RATTAN,

    2018).

    Também se notou que em alguns casos a questão de Integridade de Dados é

    vista como um fardo para a indústria, uma vez que representaria a drenagem de

    recursos humanos qualificados nos processos de controle e revisão de dados

    (AUTOR, 2018).

    Fatores humanos

    Alguns estudos citaram aspectos comportamentais de funcionários que lidam

    com dados relevantes às BPF. Esses aspectos são apresentados como ações

    humanas que geram resultados indesejáveis e podem ser classificados em ações não

    intencionais (falhas humanas) ou ações deliberadas (SHAFIEI et al., 2015).

    Apontou-se que existe um equívoco geral de que as falhas de integridade de

    dados resultem apenas de atos de fraude deliberada. De acordo com os estudos, a

    maioria dos problemas está relacionada a práticas inadequadas e a sistemas frágeis,

    que criam oportunidades para a manipulação de dados (KUMAR, 2017).

    Além disso, a falta de treinamentos e capacitação adequados para o

    desempenho das atividades de impacto às BPF, foram citadas nas publicações como

    uma das causas mais importantes para a ocorrência de falhas humanas (SHAFIEI et

    al., 2015; RATTAN, 2018).

  • 19

    Fatores técnicos

    Alguns estudos atribuem problemas de integridade de dados a falhas dos

    sistemas eletrônicos de gerenciamento de dados em cumprirem os requerimentos de

    BPF.

    Uma das causas apontadas é que embora o mercado farmacêutico seja

    expressivo mundialmente, representa apenas uma pequena fração nos negócios das

    companhias que desenvolvem sistemas computacionais, e que funções

    especificamente relacionadas às Boas Práticas de Fabricação representariam um alto

    custo de desenvolvimento para seus sistemas. Além disso, sugere-se que não há

    capacitação técnica adequada dos desenvolvedores que possibilitem a aplicação

    adequada das normas sanitárias aos sistemas (MCDOWALL, 2017; RATTAN, 2018).

    Em contrapartida, aponta-se que as empresas farmacêuticas falham em avaliar

    se os sistemas adquiridos estão de acordo com os requerimentos para seu uso

    pretendido a partir de falhas na execução da validação e qualificação desses sistemas

    (SHAFIEI et al., 2015; MCDOWALL, 2017). A ausência de trilhas de auditoria,

    mecanismos vulneráveis de controle de acesso e modificação de dados são exemplos

    de problemas técnicos que aumentam sua fragilidade (STEINWANDTER & HERWIG,

    2019).

    A excelência em conformidade traz benefícios para os negócios, mas sobretudo

    garante a proteção do paciente consumidor. Um programa de integridade de dados

    consiste em proteger os registros de BPF ao longo de todo o seu ciclo de vida

    (KUMAR, 2017).

    Os principais elementos de prevenção e correção às violações aos princípios de

    Integridade de Dados identificados na revisão da literatura são apresentados a seguir:

    Mapeamento pontos sensíveis e gestão de riscos

    Um sistema farmacêutico de qualidade em conformidade gera e analisa uma

    quantidade de dados significativas. Dados diferentes apresentam níveis de impacto

    diferentes na qualidade dos produtos (RATTAN, 2018). Por isso, assume-se que os

    esforços e recursos designados à governança desses dados devem ser baseados em

    avaliações de risco que considerem a vulnerabilidade dos dados a alterações ou

    deleções involuntárias ou deliberadas (KUMAR, 2017; RATTAN, 2018; RACHEL &

    GUPTA, 2017).

  • 20

    Dentre os estudos avaliados, identificou-se o relato de estratégias

    estabelecidas pela Novartis, importante empresa do setor, para o mapeamento de

    processos de dados a fim de identificar riscos. Com essa iniciativa, a empresa buscou

    descrever e compreender sistematicamente os processos de impacto às BPF, o fluxo

    de dados relacionados através dos sistemas e o ciclo de vida geral dos dados

    utilizando-se os procedimentos das atividades e diagramas de fluxo de dados,

    análises de risco de modo e efeito de falha (FMEA) e estabelecendo em seguida, um

    plano de ação. Com esta abordagem o autor indica que foi possível identificar

    sensibilidades no registro manual de dados e no processamento e armazenamento

    de dados nos sistemas. A partir dessas descobertas foram feitos investimentos

    significativos em soluções a fim de eliminar ou reduzir riscos de Integridade de Dados

    a um nível aceitável tais como a aquisição de sistemas computacionais mais

    sofisticados, a validação de sistemas em utilização e a revisão de procedimentos

    operacionais padrão (TABERSKY et al., 2018). Além dessas soluções, medidas que

    aumentem a detectabilidade de falhas podem ser utilizadas como ações de mitigação

    de riscos (RATTAN, 2018).

    Estabelecimento de mecanismos de controle e revisão

    No contexto das BPF, os processos devem ser projetados para garantir que os

    dados nele gerados sejam precisos, confiáveis e consistentes.

    A partir da validação de processos, considera-se a capacidade dos sistemas

    (manuais ou eletrônicos) em atender os requisitos pré-estabelecidos ao longo do ciclo

    de vida dos dados, assim, validação e qualificação são etapas fundamentais

    assegurar a Integridade de Dados (RACHEL & GUPTA, 2017; KUMAR, 2017).

    Uma vez que registros são gerados a partir de processos validados é

    fundamental que todas as alterações feitas nas informações sejam documentadas e

    revisadas. O uso de trilhas de auditoria permite a reconstrução de detalhes

    significativos sobre atividades de fabricação e coleta de dados (MCDOWALL, 2017).

    Por fim, recomenda-se a revisão independente dos dados e metadados

    relacionados a processos produtivos e analíticos ao fim de cada etapa. Relata-se que

    algumas empresas, mesmo em conformidade com as normas, criaram escritórios

    dedicados à gestão de documentos (KUMAR, 2017; SCHMITT, 2014).

    Controle e acompanhamento por meio de inspeções internas

  • 21

    Atividades de verificação de Integridade de Dados devem ser incorporadas ao

    programa de auditorias internas, devendo ser realizadas periodicamente. Considera-

    se que é melhor prevenir problemas de forma proativa do que remediar descobertas

    e estar sujeito a ações regulatórias durante inspeções (WECHSKER, 2014; KUMAR,

    2017).

    Desenvolvimento de tecnologias inteligentes

    Os programas devem ser projetados para garantir a integridade dos dados

    tanto no nível físico, ou seja, em edifícios e salas, quanto no nível informativo

    (sistemas). Os elementos de um programa de segurança incluem requisitos de

    autenticidade de identidade de usuários, restrição de acesso a ambientes e registros,

    estabelecimento de processos e sistemas de revisão de dados e de trilhas de

    auditoria, identificação de falhas em todas as etapas do ciclo de vidas dos dados

    (BUHLMANN et al., 2016; KUMAR, 2017).

    Desenvolvimento de recursos humanos

    A integridade dos dados começa com cada funcionário assumindo a

    propriedade e a responsabilidade por seus próprios dados e documentação, em

    sistemas em papel ou eletrônicos. Os padrões de conduta ética da empresa devem

    ser definidos e seguidos, garantindo que cada funcionário aja com integridade na

    execução de seu trabalho. Cada funcionário deve compreender a necessidade de

    identificar, escalonar os problemas e relatar à gerência se os procedimentos não

    forem seguidos (BUHLMANN et al., 2016).

    Além de serem habilitados para executar procedimentos usando as tecnologias

    e sistemas de dados estabelecidos, é crucial que os funcionários de todos os níveis

    dentro da empresa conheçam os conceitos de Boas Práticas de Documentação e

    tenham consciência sobre sua influência sobre os dados ( ALBON et al., 2015;

    BUHLMANN et al., 2016). Auditores internos devem compreender os aspectos a

    observar ao detectar discrepâncias relacionas à dados (KUMAR, 2017).

    Construção e fomentação da cultura de Qualidade organizacional

    Mesmo que controles estejam estabelecidos e funcionários capacitados, é

    fundamental uma mudança do comportamento geral da organização para que os

    objetivos tenham sucesso (RATTAN, 2018).

    É fundamental que colaboradores compreendam seu papel em um contexto de

    Boas Práticas de Fabricação e Documentação e seu impacto na segurança, qualidade

  • 22

    do produto. Além disso, é importante que o corpo gerencial fortaleça os processos de

    comunicação recíproca e estabeleça expectativas realísticas aos colaboradores,

    mostrando confiança sem desconsiderar os riscos envolvidos e inibindo

    comportamentos punitivos em relação a erros e desvios (BUHLMANN et al., 2016).

    b) Revisão de diretrizes e normas

    Os autores dos estudos avaliados citam a importância dos guias de

    recomendações publicados pelos principais órgãos regulatórios uma vez que esses

    documentos servem não só como instruções sobre as práticas de documentação

    desejáveis, mas também como sinais de alerta sobre as expectativas regulatórias e

    as tendências de inspeção (RATTAN, 2018; WECHSKER, 2014).

    Food and Drug Administration (FDA)

    Com base em diversas ações regulatórias devido à observação de violações

    relacionadas à Identidade de Dados, a agência FDA anunciou um programa piloto em

    2010 para avaliar o tema como parte de inspeções de BPF de rotina (RACHEL &

    GUPTA, 2017). Em 2016, seguindo a tendência da OMS e do órgão regulatório

    britânico MHRA, a agência lança o rascunho do Guia para a Indústria sobre

    Integridade de Dados e Conformidade com as Boas Práticas de Fabricação. A versão

    final do guia foi publicada em dezembro de 2018.

    A diretriz reflete o que a agência regulatória pensa sobre esse tópico e tem

    como objetivo esclarecer o papel do tema no contexto das Boas Práticas de

    Fabricação de medicamentos. Observa-se que em sua linguagem a diretriz possui um

    caráter mais recomendativo que regulamentar.

    O documento está apresentado no formato de 18 perguntas e respostas. Em

    seu conteúdo, além de definir conceitos, a agência esclarece suas expectativas sobre

    tópicos como o gerenciamento de documentos de relevância às BPF ao longo do seu

    ciclo de vida, a revisão de trilhas de auditoria, o uso de registros e assinaturas

    eletrônicas, dentre outros.

    Além disso, agência declara que espera que os dados sejam confiáveis e

    acurados e que as empresas devem implementar estratégias significativas e efetivas

    para gerenciar seus riscos em Integridade de Dados baseadas no conhecimento de

    seus processos do gerenciamento de suas tecnologias e seus modelos de negócio

    (FDA, 2018).

  • 23

    Sob a perspectiva da FDA, não estar ciente de práticas questionáveis de

    integridade de dados ocorrer não isenta a empresa de sua responsabilidade. Uma vez

    que problemas de integridade de dados são identificados, as empresas farmacêuticas

    devem avaliar a eficácia de seus sistemas de governança para garantir a integridade

    e rastreabilidade dos dados internamente e também nos prestadores de serviços

    contratados para desempenhar atividades terceirizadas (ERNST&YOUNG, 2015).

    Ao longo do estudo, pode-se notar que embora o guia de referência da FDA

    tenha sido publicado recentemente, as seções referenciadas nas diretrizes e utilizadas

    como parâmetro para o apontamento de falhas nas empresas foram publicadas no

    Código Federal de Regulamentações dos Estados Unidos a partir do ano de 1963

    (RATTAN, 2018). Isso indica que as recomendações acerca do tema não são

    absolutamente novas para a indústria.

    European Medicines Agency (EMA)

    O Guia sobre Integridade de Dados publicado na forma de rascunho pela

    primeira vez em 2010 e revisado em agosto de 2016 pela Agência Europeia de

    Medicamentos (EMA) faz parte dos requerimentos básicos de Boas Práticas de

    Fabricação no Sistema de Qualidade no escopo de produtos medicinais para uso

    humano e veterinário comercializados no mercado europeu.

    Seguindo o mesmo padrão da diretriz norte-americana, o guia apresenta-se na

    forma de 23 perguntas e respostas que descrevem princípios fundamentais os quais

    facilitam a implementação com sucesso dos requisitos sobre o tema. Recomenda-se

    que o guia seja utilizado junto a outros documentos de regulamentação farmacêutica

    e ao guia de padrões de BPF europeu – Eudralex, Volume 4.

    De acordo com o guia, a Integridade de Dados permite a tomada de decisões

    pelos fabricantes farmacêuticos e por autoridades regulatórias. É um requerimento

    fundamental ao Sistema de Qualidade farmacêutico e é aplicado a sistemas manuais

    (em papel) ou eletrônicos (EMA, 2018).

    Na análise da diretriz foi observado um foco particular das recomendações na

    avaliação, mitigação e comunicação de riscos associados a cada etapa do ciclo de

    vida dos dados com base nos princípios básicos de gerenciamento de riscos da

    Qualidade previstos no guia ICH Q9.

    Considera-se que o conteúdo do guia é complementar ao do guia publicado

    pela FDA, uma vez que aborda aspectos não abordados no outro manual como a

    importância de auto inspeções, as expectativas sobre empresas subcontratadas e o

  • 24

    destaque do papel da cultura de Qualidade e das responsabilidades da gerência na

    implementação de medidas organizacionais e técnicas que garantam a acurácia dos

    dados.

    Além disso, a diretriz ressalta que os conceitos e implicações do tema devem

    ser incluídos nos programas de treinamentos de colaboradores de todos os níveis da

    companhia e também faz referência à diretriz de Integridade de Dados publicada pela

    Organização Mundial de Saúde (OMS).

    Organização Mundial da Saúde (OMS)

    A primeira versão da Diretriz sobre Integridade de Dados publicada pela OMS

    data de 2016. Para fins deste estudo, avaliou-se o conteúdo do rascunho publicado

    em março de 2020.

    Diferentemente dos guias da União Europeia e dos Estados Unidos, o

    guia da OMS aparece na forma de recomendações descritas em seções que abordam,

    mas não se limitam a conceitos relacionados à Integridade de Dados, ao

    gerenciamento de riscos, ao estabelecimento de responsabilidades a fabricantes e

    prestadores de serviço subcontratados, a expectativas em relação aos registros em

    papel, a sistemas computadorizados e também a sistemas híbridos (quando há a

    combinação de registros eletrônicos e em papel).

    Na avaliação considerou-se interessante o fato de que a diretriz traz uma seção

    dedicada a estabelecer o conceito de Governança de Dados, apresentando-o de

    forma ampla como a soma das políticas que possibilitam a garantia da Integridade dos

    Dados no Sistema da Qualidade.

    Outro aspecto relevante é que em seu escopo o guia não se limita ao escopo

    das Boas Práticas de Fabricação, citando também a observação do aumento de

    violações às Boas Práticas Clínicas e de Laboratório.

    Por fim, os documentos anexos à diretriz trazem 10 exemplos de gestão de

    dados a fim de dar suporte aos conceitos abordados no guia. Esses exemplos tratam,

    dentre outros conceitos, sobre a avaliação de risco de integridade de dados (sugerindo

    a utilização de modelos como FMEA para a análise), a entrada e configuração de

    dados em sistemas, o gerenciamento de mudanças, e mecanismos de controles que

    podem ser estabelecidos para garantir à Integridade de Dados. Tais exemplos

    certamente têm a função de auxiliar e direcionar as empresas a estabelecerem

    medidas de acordo com os requerimentos.

  • 25

    Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

    Em agosto de 2019, foi publicada no Diário Oficial da União pela ANVISA a

    nova resolução sobre as Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos, a resolução

    RDC Nº 301, de 21 de agosto de 2019. A publicação teve o objetivo de atualizar a

    resolução RDC nº 17, de 16 de abril de 2010, harmonizando suas expectativas aos

    requisitos do Esquema de Cooperação de Inspeção Farmacêutica (PIC/S). No

    presente trabalho, buscou-se avaliar comparativamente as regulamentações a fim de

    verificar se houveram mudanças nos requisitos sobre Governança de Dados.

    A RDC nº 17 de 2010 estabelece os requisitos mínimos a serem seguidos na

    fabricação de medicamentos a fim de padronizar o cumprimento das BPF. Embora a

    regulamentação não disponha diretamente sobre Integridade de Dados, o tópico de

    gerenciamento de documentos é abordado de maneira geral na primeira seção do

    capítulo XV, trazendo requisitos alinhados aos princípios do ALCOA como a

    legibilidade, a contemporaneidade, a garantia da acurácia de registros originais, a

    necessidade de gerenciamento de alterações, dentre outros.

    Na RDC nº 301 de 2019 observa-se que o termo “integridade” foi citado 3 vezes

    no capítulo V sob o contexto das práticas de documentação recomendadas pela

    agência. Isso denota um aumento na preocupação da agência em apresentar regras

    claras e direcionadas para o setor farmacêutico a respeito do tema: o capítulo

    contempla 4 seções dedicadas à definição de conceitos e estabelecimento de

    requerimentos sobre Boas Práticas de Documentação. A nova regulamentação

    estabelece que devem ser implementados controles adequados para garantir a

    precisão, integridade, disponibilidade e legibilidade dos documentos, que podem ser

    apresentados em mídias impressa, eletrônica ou fotográfica (BRASIL, 2019).

    A RDC n° 301 de 2019 vai além dos princípios básicos definidos pelo ALCOA

    e dispõe sobre requerimentos sobre a criação de controle de documentos, a

    complexidade de sistemas e a necessidade de aplicação das boas práticas de acordo

    com os tipos de documento, estabelecendo exigências para o registro de informações

    em papel, em sistemas computadorizados e sistemas híbridos, bem como para a

    retenção de documentos.

    Observa-se que, seguindo a tendência de agências sanitárias internacionais,

    as mudanças propostas pela nova diretriz trazem um aumento no nível de exigência

    regulatório no Brasil, representando um desafio para dois lados envolvidos na fase de

    transição à adequação aos requerimentos uma vez que a ANVISA terá que

  • 26

    compreender os requerimentos solicitados e investir na capacitação de seus

    inspetores e que as empresas farmacêuticas terão que atender aos requisitos e

    implementá-los em seus programas de controle e monitoramento.

    Considera-se que o aumento no rigor normativo possui um impacto positivo no

    Sistema de Qualidade Farmacêutico, direcionando as empresas a um patamar mais

    elevado em seus processos de qualidade e confiabilidade de produtos fabricados

    nacionalmente, tornando a indústria mais competitiva no mercado mundial.

    Sindusfarma

    Em 2017 o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São

    Paulo divulgou o Guia Sindusfarma de Integridade de Dados. De acordo com os

    autores, o guia surgiu da necessidade de consolidar em um documento informações,

    procedimentos e cuidados úteis para evitar falhas e riscos que possam eventualmente

    provocar transtornos aos laboratórios farmacêuticos e consumidores de seus

    produtos.

    A diretriz apresenta-se como um grande compilado de informações sobre o

    tema apresentando os conceitos e princípios gerais de Integridade de Dados para

    sistemas baseados em papel e sistemas computadorizados, exemplos práticos e

    discussões sobre as ações adequadas para mitigar e eliminar os riscos inerentes ao

    gerenciamento de dados, discute sobre ações regulatórias e sugere medidas de

    controle que podem ser utilizadas para avaliar falhas na Integridade de Dados.

    Considera-se que o guia possui uma relevância significativa no âmbito nacional,

    uma vez que até 2017 a regulamentação federal sobre as BPF não era tão clara no

    que diz respeito ao tema. Esse tipo de publicação pode ser utilizado como guia para

    empresas do mercado nacional na efetiva implementação das normas de Boas

    Práticas de Documentação, apresentando um impacto benéfico para atingir bons

    níveis de conformidade sob a perspectiva da Integridade de Dados.

    3.3. Revisão das cartas de advertência (Warning Letters)

    Segundo Shafiei et al., a revisão das ações regulatórias dentro de um prazo

    específico pode fornecer informações úteis sobre o atual pensamento de agências

    regulatórias (SHAFIEI et al., 2015):

  • 27

    c) Perfil global de conformidade às normas de Integridade de Dados

    Durante os processos de inspeção de rotina das BPF em estabelecimentos

    produtivos, diversos registros de fabricação e teste são revisados. Diante da

    impossibilidade de avaliarem-se todos os dados gerados, é estabelecido um vínculo

    de confiança entre a agência e a empresa auditada de que todo o ciclo dos dados,

    que vai da sua criação ao descarte, segue as normas estabelecidas com base na

    avaliação de uma amostra de registros. Se eventualmente são contatadas

    irregularidades não justificadas durante as inspeções, todo o sistema de

    gerenciamento de dados é posto em dúvida, sensibilizando essa relação de confiança

    nos processos estabelecidos pela empresa.

    Na elaboração desse trabalho, observou-se a necessidade de qualificar as

    notificações em categorias que vão além da ausência ou presença de citações aos

    conceitos primários de Integridade de Dados (categorias I e II, respectivamente), já

    que se entende que deficiências nos processos de governança de dados de maneira

    geral representam um impacto significativo na acurácia e, consequentemente, na

    confiabilidade desses dados.

    Consequentemente, criou-se a categoria III, que compreende não só as

    infrações diretamente relacionadas ao tema, mas também violações que possuem

    grande potencial de abalar a confiança no sistema de governança de dados da

    empresa auditada como a ausência de apresentação de registros, demonstrando que

    possivelmente os procedimentos de criação ou de retenção desses registros não

    seguem as premissas recomendadas. Também podem ser citadas violações como a

    falha ou ausência de validação de sistemas e processos produtivos e analíticos: a

    ausência desses protocolos não garante a consistência e plausibilidade dos

    resultados gerados, impactando na confiança sobre o atendimento aos atributos de

    qualidade e, consequentemente de segurança e eficácia, pelos os medicamentos

    produzidos.

    A partir dos dados tabulados, avaliou-se o perfil de descumprimento aos

    requerimentos de Integridade de Dados para as categorias às quais as cartas de

    advertência foram qualificadas.

    De 2015 a 2017, as categorias II e III apresentaram um perfil significativo de

    diminuição de ocorrências. Acredita-se que esse fato pode estar relacionado à

    publicação em 2015 e 2016, das diretrizes sobre Integridade de Dados pelas

  • 28

    autoridades sanitárias MHRA (Reino Unido), FDA (Estados Unidos) e OMS. Isso

    demonstra que a iniciativa dos órgãos regulatórios em publicar as orientações a fim

    de deixar claro suas expectativas sobre as práticas de documentação para o setor

    pode ser uma medida eficaz para melhorar os níveis de conformidade, uma vez que

    o risco que sanções regulatórias decorrentes de observações passa a ser mais

    relevante.

    A partir de 2017 observou-se um comportamento diferente para cada categoria

    avaliada: um novo aumento significativo das violações contempladas pela categoria

    III, atingindo mais de 85% das empresas avaliadas até o fim do primeiro trimestre de

    2020. A categoria II manteve seus níveis de violações relativamente constantes, mas

    ainda numericamente elevado, estando presentes em cerca de 41% das cartas de

    advertência emitidas em 2020. Considera-se que esse nível de descumprimento é

    ainda elevado apesar dos sinais de alerta regulatórios.

    O aumento subsequente de menções à diretriz de Integridade de Dados nas

    cartas através das instruções denominadas Data Integrity Remediation, demonstra

    que a agência regulatória tem buscado deixar cada vez claras suas expectativas e o

    seu foco a respeito do tema. É fundamental, portanto, que o corpo gerencial das

    empresas compreenda as expectativas sobre o tema e concentre esforços na tomada

    de ações corretivas e preventivas, servindo-se para isso da base regulamentar, das

    diretrizes e das discussões e análises sobre o assunto amplamente disponíveis na

    literatura.

    d) Distribuição geográfica de violações às normas

    Para além dos dados globais, avaliou-se a distribuição geográfica de infrações

    às normas de Integridade de Dados para o período estudado, identificando-se Estados

    Unidos, Índia e China como os principais receptores de cartas de advertência sobre o

    tema.

    Os Estados Unidos apresentaram a maior taxa de violação média nos últimos

    cinco anos, correspondendo a cerca de 30% das ocorrências observadas. Esse

    resultado se deve ao fato de que o país é a sede do órgão regulatório inspetor e possui

    o maior número das empresas auditadas; consequentemente, está sujeito a um maior

    número de inspeções e, mais suscetível a observações.

    A frequência de citações sobre Integridade de Dados em empresas

    estrangeiras reflete que uma grande parte da fabricação de matérias-primas e

  • 29

    produtos acabados importados para os Estados Unidos é feita no exterior, com maior

    volume para China e Índia, respectivamente. Com a crescente importância da

    indústria farmacêutica e de correlatos no mercado global, sugere-se que o número de

    inspeções regulatórias em países estrangeiros tenha aumentado consideravelmente,

    o que leva à exposição de diversas violações às normas e fragilidades nas empresas.

    Embora a China e a Índia tenham seus próprios órgãos reguladores (NMPA e

    CDSCO, respectivamente), a discrepância entre as normas utilizadas como base para

    as inspeções e diferença entre o padrão de exigência da agência norte-americana em

    relação aos padrões locais podem impactar no apontamento de um maior número

    infrações nas empresas localizadas nesses países.

    De acordo com um estudo conduzido pela Fundação Ernest & Young, o

    aumento da frequência de inspeções da agência FDA em plantas produtivas de

    empresas indianas, teve um impacto positivo no país, ocasionando o aumento da

    frequência de inspeções feitas por órgãos regulatórios locais no país. Além disso,

    relatou-se que a agência norte-americana convidou funcionários do governo indiano

    a acompanharem sua equipe na fiscalização das unidades farmacêuticas do país,

    aumentando a comunicação sobre as expectativas de conformidade às BPF sob a

    perspectiva dos órgãos internacionais (ERNST&YOUNG, 2015).

    A publicação de diretrizes, o aumento do número de ações regulatórias, a

    realização de treinamentos globais e as iniciativas de cooperação entre órgãos

    regulatórios representam um impacto positivo no que diz respeito ao amadurecimento

    dos processos inspecionais nos países com sistemas regulatórios em

    desenvolvimento, tendo como consequência o aumento do nível de conformidade e,

    consequentemente, a confiabilidade na qualidade dos medicamentos produzidos

    nesses países.

    e) Panorama sobre o nível de conformidade no Brasil

    O mercado farmacêutico brasileiro tem aumentado expressivamente sua

    participação no mercado mundial, atingindo a posição de sétimo maior mercado em

    2018 e devendo alcançar a quinta posição na classificação mundial até 2023

    (INTERFARMA, 2019). Entretanto, no processo de avaliação da distribuição

    geográfica de infrações aos requerimentos de governança de dados, identificaram-se

    apenas duas cartas de advertência endereçadas a empresas sediadas no Brasil no

    ano de 2016 (Anexo 4). Ademais, não foram encontrados na literatura trabalhos ou

  • 30

    informações sobre o cumprimento de normas a respeito do tema para empresas

    nacionais ou multinacionais em atividade no país.

    As observações demonstram a escassez de informações sobre o nível de

    conformidade de Integridade de Dados para um setor industrial de relevante

    participação no mercado mundial. Não é possível afirmar se essa escassez deve-se

    à falta de transparência por parte das agências de inspeção ou à falta do

    estabelecimento de controles apropriados para identificar elementos críticos,

    investigá-los e apontá-los, mas certamente são necessários mais estudos sobre o

    tema que descrevam o contexto nacional a fim de avaliar-se o nível de confiabilidade

    regulatória sob essa perspectiva e orientarem-se políticas sanitárias com a finalidade

    de adequação desses níveis de conformidade.

    f) Setores da cadeia produtiva impactados pelas infrações

    No planejamento do trabalho propôs-se analisar os departamentos aos quais

    as citações foram direcionadas a fim de avaliar quais setores da cadeia produtiva

    seriam mais suscetíveis a problemas.

    Embora uma grande parte das observações foram direcionadas diretamente ao

    setor de Controle de Qualidade, nesta revisão notou-se que uma ênfase em

    apontamentos orientados ao departamento de Garantia de Qualidade justificando-se

    que o departamento não foi capaz de garantir a confiabilidade os dados a partir do

    estabelecimento de padrões, procedimentos e recursos para prever, detectar,

    controlar e comunicar violações de Integridade de Dados. Essa atribuição das

    violações sobre a falta de supervisão do Sistema de Gerenciamento da Qualidade

    pelo corpo gerencial impossibilitou a avaliação da relação direta entre as infrações

    apontadas e os setores às quais elas foram direcionadas.

    Ainda assim, esses apontamentos demonstram claramente como o tema de

    Integridade de Dados é intrínseco e está disperso nos processos ao longo da cadeia

    de suprimentos, devendo ser visto e integrado no sistema e cultura de Qualidade.

    Embora os departamentos de Produção e Controle de Qualidade sejam os que

    mais geram dados, tanto produtivos quanto analíticos, os setores de Almoxarifado,

    Engenharia e Garantia da Qualidade também desempenham papeis relevantes no

    ciclo de vida de dados e nas BPFs: nas atividades do departamento de Almoxarifado

    incluem-se a checagem e o registro de condições de armazenamento e de transporte,

    bem como o controle de entrada e saída de matérias-primas e produtos acabados. A

  • 31

    Garantia da Qualidade tem um escopo de atividades relacionadas às Boas Práticas

    de Documentação muito amplo sendo responsável pela revisão de registros antes da

    liberação dos produtos, pelo seu apropriado armazenamento durante o período de

    retenção, pelos processos de validação e qualificação equipamentos e sistemas, e

    pela supervisão de que os demais processos ocorram de acordo com os

    procedimentos e obedeçam às Boas Práticas de Fabricação.

    Todos esses controles exercem um papel fundamental na garantia da

    qualidade, segurança e eficácia dos medicamentos e uma falha em algum deles pode

    comprometer toda a cadeia de governança de informações.

  • 32

    3. CONCLUSÃO

    A Integridade de Dados é um componente fundamental do Sistema de

    Qualidade de uma empresa, fornecendo garantia de que os dados que uma empresa

    usa para operar estão em conformidade com os requisitos regulamentares,

    demonstrando que seus produtos são seguros e eficazes para o uso pretendido.

    No presente trabalho de conclusão de curso, constatou-se que embora o tema

    venha sendo apresentado como uma tendência regulatória, possuindo diretrizes

    recentemente publicadas pelos principais órgãos regulatórios e sendo discutido

    amplamente na literatura e em seminários, o tema de Integridade não é um tema novo

    para a indústria de medicamentos, uma vez que as normas referenciadas nos

    trabalhos foram estabelecidas nos Guias de Boas Práticas de Fabricação há mais de

    30 anos.

    Uma das causas as pelas quais o tema tem sido colocado em evidência é o

    aumento de ações regulatórias em razão do crescente número de violações

    relacionadas à Integridade de Dados. Nesse trabalho, observou-se que mais de 40%

    das empresas que receberam cartas de advertência da agência norte americana FDA

    nos últimos 5 anos apresentavam, respectivamente, infrações diretamente ou

    indiretamente relacionadas à Integridade de Dados.

    Esta revisão sinaliza para o potencial e a oportunidade de pesquisa na área

    que podem contribuir para melhor compreensão das expectativas de agências de

    inspeção nacionais e a divulgação do panorama nacional sobre o tópico.

    Pode-se observar que violações aos princípios de Integridade de Dados

    causam danos ao Sistema de Qualidade Farmacêutica comprometendo a confiança

    de agências regulatórias e de pacientes e impactando negativamente nos negócios

    da empresa e, sobretudo, na vida dos pacientes.

  • 33

    4. BIBLIOGRAFIA

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  • 35

    5. ANEXOS

    Anexo 1: Estratégia de busca por base de dados.

    Base de Dados Estratégia de Busca

    Pubmed

    ((data integrity[Text Word] OR "data accuracy"[MeSH Terms] OR

    information management[MeSH Terms] OR scientific

    misconduct[MeSH Terms] OR "data management"[MeSH Terms])

    AND ("good manufacturing practices"[Text Word] OR "good

    distribution practices"[Text Word] OR "quality assurance, health

    care"[MeSH Terms] OR quality control[MeSH Terms] OR guidelines

    as topic[MeSH Terms] OR quality improvement[MeSH Terms]) AND

    (drug industry[MeSH Terms] OR pharmaceutical industry[Text

    Word]))

    Science Direct

    (("data integrity" OR "data management") AND ("good

    manufacturing practices" OR "quality assurance" OR "quality

    management")) AND ("pharmaceutical industry" OR "drug

    industry"))

    ISI Web of

    Knowledge

    Tópico: (“data integrity” OR “data accuracy” OR “information

    management” OR “data management” OR “scientific misconduct”)

    Tópico: (“good manufacturing practices” OR “good distribution

    practices” OR “quality assurance” OR “quality control” OR

    “guidelines” OR “quality management”)

    Tópico: (“drug industry” OR “pharmaceutical industry”)

    Scopus

    ALL("data integrity" OR "data accuracy" OR "data management"

    OR "scientific misconduct") AND ("good manufacturing practices"

    OR "good distribution practices" OR "quality assurance" OR

    "quality control" OR "quality management") AND ("drug industry"

    OR "pharmaceutical industry")

  • 36

    Anexo 2: Seções do Código Federal de Regulamentações parte 211 (21 CFR 211)

    relacionadas ao tema de Integridade de Dados de acordo com o “Guia para a Indústria

    sobre Integridade de Dados e Conformidade com Boas Práticas de Fabricação” (FDA,

    2018).

    Seções (21 CFR)

    Título da Seção

    211.22 Organização e pessoal: responsabilidades da Unidade de Controle de

    Qualidade

    211.68 Equipamentos: Equipamentos automáticos, mecânicos e eletrônicos

    211.100 Controles de Produção e Processos: Procedimentos escritos; desvios

    211.101 Controles de produção e processo: carregamento de componentes

    211.122 Controle de embalagem e rotulagem: análise de materiais e critérios de

    uso

    211.160 Controles de laboratório: requisitos gerais

    211.165 Controles de laboratório: teste e liberação para distribuição

    211.180 Registros e relatórios: requisitos gerais

    211.182 Registros e relatórios: limpeza de equipamentos e registro de uso

    211.186 Registros e relatórios: registros mestre de produção e controle

    211.188 Registros e Relatórios: produção em lote e registros de controle

    211.192 Registros e relatórios: revisão de registros de produção

    211.194 Registros e relatórios: registros do laboratório

  • 37

    Anexo 3: Seções do Código Federal de Regulamentações parte 211 (21 CFR 211) e suas

    relações ao tema de Integridade de Dados de acordo com o “Guia para a Indústria sobre

    Integridade de Dados e Conformidade com Boas Práticas de Fabricação” (FDA, 2018).

    Seções (21 CFR)

    Relação das seções com o tema de Integridade de Dados

    211.68

    Requer que “os dados de backup sejam exatos e

    completos” e “protegidos contra alterações, deleções

    inadvertidas ou perda” e que “as informações de saída do

    computador ... sejam verificadas quanto à precisão”

    212.110(b) Requer que os dados sejam “armazenados para evitar

    deterioração ou perda”

    211.100, 211.160 Requer que certas atividades sejam “documentadas no

    momento da execução” e que os controles de laboratório

    sejam “cientificamente plausíveis”

    211.180, 211.194(c)

    Requer que os registros sejam mantidos como “registros

    originais” ou “cópias verdadeiras” ou outras “reproduções

    precisas dos registros originais” (de acordo com as

    premissas do ALCOA)

    211.188, 211.194

    Requer “informações completas”, “dados completos

    derivados de todos os testes”, “registro completo de todos

    os dados” e “registros completos de todos os testes

    realizados”

    211.22, 211.192,

    211.194(a)

    Requer que os registros de produção e controle sejam

    “revisados” e que os registros do laboratório sejam

    “revisados quanto à precisão, integridade e conformidade

    com os padrões estabelecidos”

    211.182, 211.186(a),

    211.188(b), 211.194(a)

    Requer que os registros sejam “checados”, “verificados” ou

    “revisados”

    211.101(d), 211.122,

    211.186, 211.188(b)

    Requer que os dados sejam atribuíveis (de acordo com as

    premissas do ALCOA)

    211.180(e) Requer que os dados sejam legíveis (de acordo com as

    premissas do ALCOA)

    211.22(a), 211.68,

    211.188

    Requer que os dados sejam acurados (de acordo com as

    premissas do ALCOA)

  • 38

    Anexo 4: Taxa de descumprimento de normas de impacto direto e indireto ao tema de

    Integridade de Dados (categoria III) a cada país aos quais foram endereçadas cartas de

    advertência no período de 2015 a 2020. Entre parênteses estão apresentados os números

    absolutos de cartas analisadas.

    País 2015 2016 2017 2018 2019 2020

    Alemanha 4,5% (1) 2,3% (1) 1,7% (1) - - 2,4% (1)

    Austrália - - 1,7% (1) 2,9% (2) 2,0% (2) -

    Áustria - - 1,7% (1) - - -

    Bahamas - - - - 1,0% (1) -

    Bulgária - - - - - 2,4% (1)

    Brasil - 4,5% (2) - - - -

    Canadá 4,5% (1) 2,3% (1) 3,4% (2) 4,3% (3) 2,0% (2) 4,8% (2)

    China 13,6%

    (3) 34,1% (15)

    35,6% (21)

    32,9% (23)

    12,2% (12)

    14,3% (6)

    Coreia do Sul - - 5,1% (3) 8,6% (6) 2,0% (2) 7,1% (3)

    Costa Rica - - - - 1,0% (1) -

    Dinamarca - - - - - 2,4% (1)

    Espanha - 4,5% (2) - 1,4% (1) 1,0% (1) -

    Estados Unidos 9,1% (2)

    20,5% (9)

    20,3% (12)

    25,7% (18)

    58,2% (57)

    40,5% (17)

    Filipinas - - 1,7% (1) - - -

    França - - - 2,9% (2) 1,0% (1) -

    Holanda - 2,3% (1) - - - -

    Hungria - 2,3% (1) - - - -

    Índia 50,0% (11)

    20,5% (9)

    20,3% (12)

    11,4% (8)

    15,3% (15)

    19,0% (8)

    Indonésia - - - - - 2,4% (1)

    Irlanda - - - 1,4% (1) - -

    Itália 4,5% (1) - 3,4% (2) - - -

    Japão - 2,3% (1) 1,7% (1) 4,3% (3) - -

    México - - 1,7% (1) 2,9% (2) 1,0% (1) 2,4% (1)

    Nova Zelândia 4,5% (1) - - - - - República Dominicana - - - 1,4% (1) - -

    República Tcheca 4,5% (1) 2,3% (1) - - - -

    Romênia - - - - - 2,4% (1)

    Singapura - - 1,7% (1) - 2,0% (2) -

    Suíça - 2,3% (1) - - - -

    Tailândia 4,5% (1) - - - - -

    Trinidad & Tobago - - - - 1,0% (1) -

    Total (31) 100% (22)

    100% (44)

    100% (59)

    100% (70)

    100% (98)

    100% (42)

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    Data e assinatura da aluna Data e assinatura do orientador

    26/10/202028/10/2020