biodigestor sertanejo - soberania energética e preservação do meio ambiente

2
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº 1469 Julho/2013 Biodigestor Sertanejo soberania energética e preservação do meio ambiente No assentamento Bonsucesso, município de Pedra Grande, foi construída uma tecnologia social que vem atiçando a curiosidade de toda a comunidade. É o biodigestor, uma tecnologia que reaproveita o esterco fresco de animais bovinos para que a eliminação dos gases desses dejetos possa ser utilizado como substituto do gás butano de cozinha. Tudo começou quando Gilvan Barbosa da Silva (conhecido como Gil) e Lidiane Ribeiro dos Anjos Silva, ambos agricultor e agricultora, decidiram construir o biodigestor em seu quintal. Essa iniciativa foi feita em parceria com a Cooperativa TECHNE, que custeou os materiais da tecnologia e levou um técnico para montar a estrutura. A família também entrou com uma contrapartida, que foi a escavação do buraco e o trabalho como servente para a construção da estrutura em alvenaria. Gil e Lidiane têm cinco filhos e filhas, que são Gilvan Júnior, Gilmara, Jailson, Natália e Júlia. A criançada já se acostumou a receber muitas visitas de gente de Pedra Grande e de outras cidades, que vêm para conhecer a novidade. O biodigestor é composto pela câmara de biocombustão (caixa de fibra), caixa de carga (chamada, por Gil, de “alimentador de esterco”), caixa de descarga (chamada, por Gil, de “expulsador de esterco”) e tubulação de condução do biogás, que vai até o fogão onde a chama é gerada. Os materiais utilizados são uma caixa d'água de fibra com capacidade para três mil litros, placas de cimento, canos e joelhos de plástico PVC, zinco, parafusos, mangueira plástica, um garrafão plástico de água mineral com capacidade para vinte litros, ferro e arame galvanizado, madeira para a trava de segurança. O gás sai do biodigestor, passa por dentro da água do garrafão e sai pelo encanamento. O custo da tecnologia é de mais ou menos R$ 1.600,00 (um mil e seiscentos reais), sem contar a contrapartida da família, que prepara a alimentação dos pedreiros e cava o buraco. Pedra Grande Gil, Lidiane e seus filhos e filhas Biodigestor sertanejo: alternativa energética

Upload: articulacaosemiarido

Post on 23-Jul-2016

228 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Biodigestor Sertanejo - soberania energética e preservação do meio ambiente

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº 1469

Julho/2013

Biodigestor Sertanejo soberania energética e preservação do meio ambiente

No assentamento Bonsucesso, município de Pedra Grande, foi construída uma tecnologia social que vem atiçando a curiosidade de toda a comunidade. É o biodigestor, uma tecnologia que reaproveita o esterco fresco de animais bovinos para que a eliminação dos gases desses dejetos possa ser utilizado como substituto do gás butano de cozinha. Tudo começou quando Gilvan Barbosa da Silva (conhecido como Gil) e Lidiane Ribeiro dos Anjos Silva, ambos agricultor e agricultora, decidiram construir o biodigestor em seu quintal. Essa iniciativa foi feita em parceria com a Cooperativa TECHNE, que custeou os materiais da tecnologia e levou um técnico para montar a estrutura. A família também entrou com uma contrapartida, que foi a escavação do buraco e o trabalho como servente para a construção da estrutura em alvenaria. Gil e Lidiane têm cinco filhos e filhas, que são Gilvan Júnior, Gilmara, Jailson, Natália e Júlia. A criançada já se acostumou a receber muitas visitas de gente de Pedra Grande e de outras cidades, que vêm para conhecer a novidade. O biodigestor é composto pela câmara de biocombustão (caixa de fibra), caixa de carga (chamada, por Gil, de “alimentador de esterco”), caixa de descarga (chamada, por Gil, de

“expulsador de esterco”) e tubulação de condução do biogás, que vai até o fogão onde a chama é gerada. Os materiais utilizados são uma caixa d'água de fibra com capacidade para três mil litros, placas de cimento, canos e joelhos de plástico PVC, zinco, parafusos, mangueira plástica, um garrafão plástico de água mineral com capacidade para vinte litros, ferro e arame galvanizado, madeira para a trava de segurança. O gás sai do biodigestor, passa por dentro da água do garrafão e sai pelo encanamento. O custo da tecnologia é de mais ou menos R$ 1.600,00 (um mil e seiscentos reais), sem contar a contrapartida da família, que prepara a alimentação dos pedreiros e cava o buraco.

Pedra Grande

Gil, Lidiane e seus filhos e filhas

Biodigestor sertanejo: alternativa energética

Page 2: Biodigestor Sertanejo - soberania energética e preservação do meio ambiente

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte

2

A profundidade do buraco é a mesma de uma cisterna calçadão, ou seja, 1,8 metros. O buraco é cavado, são feitos o piso e o apoio de cimento para colocar a caixa d'água, que fica virada para baixo. Em cima dela, é colocada terra para fazer peso e estabilizar a caixa, pois a pressão do gás faz com que o biodigestor se movimente para cima e para baixo. Para aproveitar a terra em cima do biodigestor, a família plantou uma horta, com coentro, abobrinha, rúcula e cebolinha.

Economizando e preservando o meio ambiente Quando recebeu a proposta da TECHNE para que fosse construída essa tecnologia social em seu quintal, a família recebeu a informação e orientação de que seria necessário alimentar o biodigestor com dezoito quilos de esterco fresco misturado com dezoito litros de água, todos os dias. Para isso, seria necessário ter em torno de seis animais bovinos. No entanto, Gil só tem dois animais bovinos, mas isso vem sendo mais do que suficiente para produzir o gás que a família precisa para cozinhar todos os dias. Ele conta que já fez uma experiência com esterco de cavalos, mas não viu um bom resultado, pois a consistência desse esterco causou um entupimento na caixa de carga. Hoje, Gil coloca esterco somente uma vez por semana, cuja combustão mantém uma boa chama no fogão. Ele relata que já ficou até 20 dias sem alimentar o biodigestor, e o gás não acabou, a chama do fogão se manteve constante e bem azul, que é quando o fogo tem mais qualidade. Lidiane diz que o fogo do biodigestor é mais forte do que o gás do botijão. Além do mais, segundo ela, não deixa as panelas sujas de tirna e cozinha mais rápido. A família passou a economizar o dinheiro que seria para comprar o gás de botijão. Hoje, a família não usa mais o carvão vegetal, que era utilizado para diminuir a despesa com o gás e cuja lenha era retirada da vegetação da própria comunidade. Antes, o esterco era vendido por duzentos reais uma carrada, que levava cerca de seis meses para juntar. Mas esse dinheiro não era suficiente para pagar nem a despesa com o gás. É por isso que a família diz que, hoje, eles lucram muito mais com o biodigestor, pois além de economizarem dinheiro, também contribuem para combater o desmatamento e os impactos ambientais. Além disso, nada se perde com a utilização do biodigestor, pois o esterco sai curtido e pode ser usado como adubo nas hortas.

O chorume, que sai pela caixa de descarga como rejeito, pode ser usado como biofertilizante. A experiência ficou famosa e a família de Gil e Lidiane já recebeu vários intercâmbios com agr icul tores e agr icul toras, estudantes e professores universitários, para conhecer mais essa tecnologia social de convivência com o semiárido. E o desejo da família é que, um dia, todas as outras famílias de Bonsucesso possam ter um biodigestor, pois isso vai aumentar a soberania energética na comunidade e contribuir com a preservação do meio ambiente e da Caatinga no semiárido potiguar.

Realização Patrocínio

Uso do gás produzido no biodigestor

Aproveitando espaço para produzir