bio celular 2

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Caderno Didático de Biologia Celular (BLG 138) Élgion Loreto Departamento de Biologia -2005

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Page 1: Bio Celular 2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Caderno Didático de Biologia Celular (BLG 138)

Élgion Loreto

Departamento de Biologia -2005

Page 2: Bio Celular 2

Sumário:

Página

Introdução 3 Primeira Parte Uma breve revisão de Biologia Celular 4

A lógica da composição molecular dos seres vivos 4

Estruturas supra-moleculares e a emergência de novas propriedades 12

A organização celular: o conceito de célula mínima 16

Da célula procariótica para a célula eucariótica 24

Segunda Parte Recomendações de ordem geral a serem observadas no uso do Laboratório. 27

O uso do microscópio óptico (mo) 29

Observando células de epitélio de escamas de cebola 40

Propriedades físico-químicas dos componentes da membrana plasmática. 41

Comparando células procariotas e eucariotas. 42

Um pouco de físico-química: pH 44

Estudando a passagem de solutos e solventes pela membrana plasmática. 47

Fracionamento celular :

centrifugação. 49

cromatografia 51

eletroforese 53

Observação de ciclose e cloroplastos em células de Elodea 54

Observando cílios e sistema de endomembranas 57

Preparação de lâminas permanentes 59

Observação de complexo de Golgi em lâminas permanentes de epidídimo 60

Observação de células musculares estriadas 61

Observação de mitose em ponta de raiz de cebola 62

Atividades de práticas de biologia como componente de formação pedagógica.

atividade 1 – Biologia na cozinha. 65

atividade 2 - O uso de modelos didáticos e simulações 65

2

Page 3: Bio Celular 2

INTRODUÇÃO Biologia Celular (BLG 138) é uma disciplina do primeiro semestre, e ministrada com duas

horas/aula (h/a) teóricas e duas h/a práticas semanais.

Os principais objetivos da disciplina são o dar ao aluno:

- uma visão atual da organização e funcionamento celular, assim como o domínio dos

conceitos básicos dessa área do conhecimento;

- uma visão histórica sobre as principais descobertas que levaram aos paradigmas atuais

dessas ciências;

- instrumentalização para busca de informação e atualização, de forma autônoma nessa

área do conhecimento;

- instrumentalização para o desenvolvimento de atividades didáticas de Biologia Celular,

para todos os níveis de ensino, incluindo as atividades práticas.

O presente Caderno Didático foi escrito para auxiliar a atingir os objetivos descritos acima.

Para tal, ele consta de duas parte:

1a) Uma breve revisão teórica atualizada, porém escrita em nível de ensino médio. Este

texto servirá de base para as primeiras semanas de aula teórica que consistirá de uma revisão

geral de Biologia Celular.

2a) Protocolos das aulas práticas. Estas atividades serão executadas durante as aulas

práticas e cabe ao aluno fazer o registro solicitado nos protocolos. Pensamos ser este material

uma posterior fonte de consulta para a execução de atividades didáticas.

O aprofundamento teórico, que se seguirá à revisão apresentada na primeira parte deste

Caderno Didático será feito a partir da seguinte bibliografia:

CARVALHO, H.F. e RECCO-PIMENTEL, S.M. A célula 2001. Barueri,SP, Ed. Manole, 2001. JUNQUEIRA , L.C. e CARNEIRO, J. Biologia Celular e Molecular. 7a Ed. Rio de Janeiro,

Guanabara-Koogan, 2000. DeROBERTIS, E.D.P. e DeROBERTIS, E.M.F. Bases da Biologia Celular e Molecular. 14 ed, Rio

de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2003. COOPER, G.M. A célula, uma abordagem molecular. 2 ed P. Alegre, Artes Médicas, 2001. ALBERTS, B. e colaboradores. Fundamentos da Biologia Celular. P. Alegre, Artes Médicas,

1999. ALBERTS, B. e colaboradores. Biologia Molecular da Célula. 4 ed. P. Alegre, Artes Médicas,

2004.

3

Page 4: Bio Celular 2

Uma breve revisão de Biologia Celular

Unidade I A lógica da composição molecular dos seres vivos:

DE QUE SÃO FEITAS AS CÉLULAS? Os conceitos primordiais para o

entendimento dos seres vivos são aqueles

relacionados aos tipos de moléculas que os

compõem. Os seres vivos são formados por

células e todas as células são constituídas

pelos mesmos componentes químicos,

organizados em uma “lógica” muito simples:

átomos se agrupam para formar moléculas,

estas, nos seres vivos são as vezes muito

grandes, e por isto chamadas de

macromoléculas, que se associam para

formar as organelas e demais partes da célula. (Figura 1).

Figura 1. Organização das estruturas celulares a partir dos átomos.

1. A água e suas propriedades especiais A água é a molécula mais abundante

nos sistemas vivos e perfaz 70%, ou mais, do

peso da maioria das formas de vida. Sempre

admitimos a água como um líquido inerte,

suave, conveniente para muitos propósitos

práticos. Embora seja quimicamente estável,

ela é uma substância com propriedades

incomuns. Na verdade, a água e seus

produtos de ionização, os íons H+ e OH-,

influenciam profundamente nas propriedades

de muitos componentes importantes das

células, como as enzimas, as proteínas, os

ácidos nucléicos e os lipídios.

A molécula da água é eletricamente

neutra, mas o arranjo dos átomos de

hidrogênio e oxigênio em forma de V torna

essa molécula um dipolo elétrico. Pela

presença dos dois pólos (+ e -) a água é dita

um solvente polar. A água é melhor solvente do que a

maioria dos líquidos comuns. Quase todos os

sais minerais, podem ser dissolvidos na água

sob forma de íons, como por exemplo, os

íons de Na+, Cl -, K+, Mg++ . Estes íons, em

especial, são de fundamental importância no

controle da quantidade de água nas células

(pressão osmótica), e atuam também no

funcionamento de muitas enzimas e na

excitabilidade das células.

As moléculas orgânicas, que são as

moléculas mais importantes na constituição e

4

Page 5: Bio Celular 2

funcionamento dos seres vivos, podem

apresentar três diferentes comportamentos

com relação a água: a) são solúveis (se

solubilizam totalmente na água, como a

maioria dos glicídios); b) são insolúveis (por

exemplo, as gorduras neutras), ou c) são

anfipáticos, isto é, possuem uma parte da

molécula que se dissolve na água e outra

que é insolúvel. Temos,como exemplo desse

último tipo, os lipídios e proteínas que

compõem as membranas.

A forma e propriedades funcionais

que as macromoléculas vão apresentar são

profundamente influenciadas pelo modo com

que elas interagem com a água. Sendo

assim, esse líquido “inodoro, incolor e sem

gosto” desempenha, no funcionamento

celular, um papel muito importante.

2. As moléculas orgânicas Em uma primeira observação,

podemos constatar que os seres vivos são

quimicamente muito complexos. Suas

moléculas orgânicas são “gigantescas”

quando comparadas as moléculas “dos seres

brutos” e, além disso, são extremamente

variáveis. Por exemplo, um organismo bem

simples como uma bactéria, pode ter mais de

2.000 proteínas diferentes. Um ser humano

deve ter em torno de 100.000 tipos de

proteínas.

Como poderemos estudar

quimicamente estes seres, se, considerando

somente as proteínas, temos uma

diversidade tão grande ?

Esta tarefa, que aparentemente é

impossível, torna-se facilitada pelo fato de

que as moléculas biológicas podem ser

organizadas em apenas 4 classes. Além

disso, deve-se levar em conta que as

moléculas orgânicas são formadas por,

aproximadamente, 30 componentes básicos.

Entender esta classificação é fundamental

para a compreensão da química da vida.

As quatro classes de moléculas

orgânicas que estão presentes nas células

são as seguintes:

A) Glicídios (também chamados de

açúcares ou carboidratos)

B) Ácidos nucléicos C) Proteínas D) Lipídios (gorduras)

As três primeiras classes formam

MOLÉCULAS POLIMÉRICAS, isto é , são

moléculas compostas por “unidades que se

repetem”, denominadas MONÔMEROS.

Figura 2. Formação de polímeros

Podemos resumir a composição das

macromoléculas orgânicas dos seres vivos

na Figura 3, em que encontramos os átomos

que compõem cada classe de

macromolécula, os monômeros de cada

classe e o polímero formado.

5

Page 6: Bio Celular 2

Devemos lembrar que na Figura 3 as

moléculas poliméricas aparecem formadas

por poucos monômeros, mas na realidade,

geralmente, elas são formadas por milhares

deles.

Figura 3. Classes de moléculas presentes nas células

Como podemos ver na Figura 3, seis

principais tipos de átomos vão formar todas

as moléculas orgânicas dos seres vivos.

Estes seis elementos se organizam em

aproximadamente 30 –40 tipos de moléculas

(os monômeros) que podem ser classificados

por sua estrutura química em 4 grupos.

No grupo dos glicídios, o principal

monômero é a glicose. Nas proteínas, os

monômeros são 20 diferentes aminoácidos

e, nos ácidos nucléicos, são “basicamente”

8 nucleotídeos. Somando-se a estes alguns

tipos predominantes de lipídeos, teremos

então, aproximadamente os 30- 40

componentes químicos básicos, e suas

variações, que são predominantes nos

seres vivos.

2.1 PROTEÍNAS As proteínas são as moléculas responsáveis pelo funcionamento da célula. Praticamente todas as atividades da

célula e, portanto, de um organismo são

executadas por proteínas.

O transporte de substâncias é

realizado por proteínas, como por exemplo, a

HEMOGLOBINA que transporta oxigênio. O

movimento das organelas no interior da

célula, e mesmo o movimento proporcionado

pelos músculos, como um todo, é resultado

da interação de proteínas como a TUBULINA

e DINEIRA; a ACTINA e a MIOSINA. A

proteção do nosso corpo contra os

microrganismos que causam doenças é dada

pela ação de ANTICORPOS, que são

proteínas. Todas as reações químicas que,

constantemente, estão ocorrendo em nosso

organismo, são realizadas por proteínas

especiais chamadas de ENZIMAS. Enfim,

todo o funcionamento do nosso organismo se

dá graças à atividade das PROTEíNAS.

Cada uma dessas funções é

realizada por uma proteína diferente. Existe,

6

Page 7: Bio Celular 2

no corpo humano, cerca de 100.000 tipos

diferentes de proteínas, cada uma sendo

especialista em uma função.

As proteínas são construídas a partir

de 20 tipos de aminoácidos, que diferem

entre si através de uma parte da molécula,

chamada de radical.

Figura 4 - Os 20 aminoácidos que compõe

as proteínas

As proteínas são formadas pela

união de 100 ou mais aminoácidos. O que vai

diferenciar uma proteína de outra é a

seqüência dos aminoácidos que a compõem.

Como existem 20 diferentes tipos desses

aminoácidos e as várias proteínas podem ter

comprimentos diferentes, temos uma

diversidade muito grande nessa classe de

macromoléculas (figura 4). Por exemplo, a

enzima ribonuclease bovina é formada por

124 aminoácidos, já a albumina do soro

humano é formada por 528 aminoácidos.

A seqüência de aminoácidos que

compõe uma proteína, recebe o nome de

estrutura primária . A substituição de um

único aminoácido em uma cadeia protéica,

provoca uma alteração na estrutura primária

dessa proteína. A conseqüência da

modificação pode ser grave, resultando em

uma nova proteína que não funcione

corretamente dentro da célula.

Chamamos de estrutura secundária a

interação entre os aminoácidos vizinhos um

uma cadeia polipeptídica. A interação entre

radicais + e – ou hidrofóbicos e hidrofílicos

fazem com que parte da cadeia se organize

em α hélice ou pregas (folhas) β.

Na Figura 5, está representada a estrutura primária da ribonuclease bovina, que é uma enzima que degrada o RNA. Na estrutura primária, está explícito apenas qual é a ordem dos aminoácidos que compõem uma proteína, ou seja, qual é o primeiro, o segundo, o terceiro... até o último aminoácido.

Figura 5. Estrutura primária da ribonuclease bovina

A estrutura terciária de uma

proteína, por sua vez, é aquela que

representa como é a sua forma

tridimensional. O formato da mioglobina, ou

seja, sua estrutura terciária é representada

na da Figura 6. A estrutura terciária das

7

Page 8: Bio Celular 2

proteínas depende da seqüência de

aminoácidos (estrutura primária).

Figura 6. Estrutura secundária e terciária da mioglobina.

Forma e Função das Proteínas Para todo o lado que olhamos,

podemos observar que a forma dos objetos é

que ditam a sua função. Na Figura 7, temos a

representação de uma tesoura e de uma

colher. É muito difícil cortar um pano com

uma colher, ou comer sopa com uma

tesoura. A forma desses objetos é que

permite sua função.

Figura 7- Relação entre forma e função

O modo como uma proteína irá

desempenhar a sua atividade dependerá de

sua forma tridimensional, ou seja, depende

de sua estrutura terciária, que em última

análise depende da seqüência de

aminoácidos que compõe a proteína

(estrutura primária).

A troca, acréscimo ou retirada de um

aminoácido PODE ocasionar alterações na

estrutura dessa proteína, alterando sua forma

e, portanto, sua função. A troca de um

aminoácido na proteína ribonuclease, por

exemplo, a substituição do terceiro

aminoácido (treonina) por uma glicina

resultará em uma proteína com outra forma

tridimensional e incapaz de executar sua

função.

Somos formados por aproximadamente 100

trilhões de células. As células são estruturas

muito organizadas cujo funcionamento é,

essencialmente, realizado por uma classe de

moléculas, as proteínas. São as proteínas

que irão dar forma as estruturas celulares,

transportar substâncias, realizar as reações

químicas necessárias a sobrevivência e

crescimento da célula, enfim são elas que

irão pôr as células a funcionar. Existem

milhares de proteínas diferentes em cada

célula. Cada proteína está envolvida em uma

função ou atividade específica. Diferentes

células apresentam proteínas diferentes, o

que explica as variações nas formas e

funções observadas em cada tipo celular

Portanto, para entender o

funcionamento celular temos que olhar com

atenção para as proteínas. As proteínas são

cadeias de aminoácidos. Imagine uma

8

Page 9: Bio Celular 2

proteína como um colar de pérolas, cada

aminoácido sendo uma pérola. Existem 20

diferentes tipos de aminoácidos, o que

poderia ser representado em nosso colar por

pérolas de 20 cores diferentes. O número de

pérolas e a seqüência nas cores das pérolas

(aminoácidos) variam de proteína para

proteína, como nos dois "colares" vistos na

Figura 8.

Figura 8: Diferentes proteínas podem possuir diferentes números de aminoácidos (como no exemplo aqui temos um "colar" com 11 e outro com 9 contas). As proteínas diferem também com relação a seqüência de cores das contas do colar (seqüência de aminoácidos).

O número de aminoácidos varia

de uma proteína para outra, as menores

tem em torno de 50 aminoácidos e as

maiores perto de 20.000. As proteínas se

dobram formando uma estrutura

tridimensional típica, ou seja cada

proteína tem uma forma definida que

depende da seqüência de aminoácidos

que possui. É essa forma que vai ser

responsável pela função da proteína.

Observe a sua volta diferentes

objetos e veja como a função de cada

um deles está relacionada à sua forma.

É a estrutura tridimensional que permitirá

a uma enzima (proteína que ativa

reações químicas) encaixar-se

perfeitamente ao seu substrato e alterá-

lo. Vamos a um exemplo: o fator VIII é

uma proteína de 2.531 aminoácidos e

está envolvida na coagulação sanguínea.

A ausência ou a redução da atividade

dessa proteína no sangue causa a

hemofilia clássica (hemofilia A), condição

em que a pessoa pode morrer devido à

hemorragia intensa e de longa duração,

desencadeada por qualquer pequeno

ferimento.

Há casos em que os hemofílicos

têm o fator VIII no sangue, porém, essa

proteína apresenta alguns dos seus

aminoácidos trocados ou faltando, e isso

causa uma alteração no formato

tridimensional dessa proteína, impedindo

que ela se ligue com as outras proteínas

envolvidas na coagulação sanguínea, ou

dificultando essa ligação.

Sabe-se também que algumas

substituições de aminoácidos na proteína

podem ter efeitos menos drásticos,

provocando apenas uma pequena

alteração de forma do fator VIII, sem

comprometer o funcionamento de modo

muito intenso. Neste caso, a pessoa

pode ter um tempo de coagulação um

pouco maior do que a maioria dos

9

Page 10: Bio Celular 2

indivíduos, sendo, no entanto, normal e

não hemofílica.

Enzimas As enzimas formam uma classe

especial de proteínas que tem como função

catalisar (acelerar) as reações químicas.

Cada enzima é especializada em

acelerar uma reação específica. Por

exemplo, a enzima amilase age sobre o

amido e o degrada até glicose. O amido, que

é a substância que vai ser alterada durante a

reação química, recebe o nome de

SUBSTRATO.

Na enzima, existe uma região que se

liga especificamente ao substrato e a esta

região chamamos de SÍTIO ATIVO. Assim,

após a interação do substrato com o sítio

ativo, ocorre a reação química, sendo

liberado o PRODUTO da reação, que no

caso da amilase, é a glicose.

As enzimas não se alteram com a

reação química que promovem, saindo

intactas do processo, podendo ir localizar

mais substrato para catalisar nova reação

(Ver Figura 9).

Figura 9 Esquema de uma reação enzimática

As Proteínas na Nossa Dieta As proteínas, enquanto

macromoléculas, não são essenciais na dieta

humana. Alguns monômeros que formam as

proteínas é que são considerados essenciais

para nutrição humana.

Os aminoácidos chamados de essenciais são

aqueles que nossas células não conseguem

produzir.

As proteínas presentes nos alimentos

são degradadas no aparelho digestivo. Essa

degradação corresponde à separação da

cadeia polipeptídica em monômeros. Os

aminoácidos liberados são, então, levados

através do sangue para todas as células do

nosso corpo. Uma vez no interior de nossas

células, esses aminoácidos serão utilizados

para compor as nossas proteínas e fazer

funcionar o nosso organismo.

As proteínas de um bife eram

importantes no músculo da vaca. As

proteínas do ovo seriam importantes para o

pintinho que iria se desenvolver naquele ovo.

Se essas proteínas entrassem intactas em

nossa circulação, de nada adiantaria, pois

não estariam aptas a desempenhar as

funções que as nossas células devem

executar. Além do mais, como sabemos, toda

proteína estranha serve como antígeno, e

provavelmente, a absorção de uma proteína

de vaca ou de galinha provocaria uma reação

alérgica. Nosso sistema imune reconheceria

essas proteínas como estranhas ao

organismo e criaria anticorpos contra elas.

As proteínas são moléculas muito

grandes. Por exemplo, o colágeno é

composto por aproximadamente 3.000

10

Page 11: Bio Celular 2

aminoácidos. Essa proteína fibrosa é o

principal componente da matriz extracelular e

do tecido conjuntivo. Se considerarmos que a

molécula da água (que é bem menor que a

de um aminoácido) tem dificuldade de

atravessar a pele, como poderia ser

absorvida uma molécula de 3.000

aminoácidos? Mas muitos cremes “vendem”

a idéia de que podemos “repor” o colágeno

que está faltando em nossa derme, usando

colágeno de galinha. Na verdade essa

proteína não consegue atravessar a pele e

chegar na derme, onde normalmente está

depositada. Caso isso acontecesse,

provocaria uma reação alérgica (seria um

antígeno).

Os aminoácidos são divididos em

essenciais, isto é, aqueles que precisam

fazer parte de nossa dieta, pois não temos a

capacidade de sintetizá-los e não essenciais

(aqueles que podemos sintetizar).

A quantidade de proteínas

necessárias na dieta varia conforme a idade

e o estado fisiológico. Crianças, gestantes e

lactantes necessitam mais proteínas do que

adultos. Um adulto jovem, com intensa

atividade física, deve consumir em torno de

56g diária de proteínas. Os alimentos de

origem animal, como carne, leite e ovos são

ricos em proteínas. Os vegetais também têm

proteínas porém em quantidades menores.

Por exemplo, uma fatia de pão de trigo

integral possui 2 gramas de proteína, mas

como essa é uma proteína de baixa

qualidade, um adulto jovem precisaria comer

72 fatias diárias para obter as 56 g de

proteínas.

Resumindo o que foi apresentado

sobre proteínas, podemos dizer que:

O funcionamento de um organismo depende de suas proteínas.

O funcionamento de cada proteína

depende de sua forma.

A forma de uma proteína depende da seqüência dos aminoácidos que a compõem.

A questão agora é explicar:

Como o organismo estabelece seqüência de aminoácidos que deve estar presente em cada proteína?

A seqüência de aminoácidos das

proteínas “está escrita” (codificada) nos

genes. Os genes são compostos de outro

tipo de molécula orgânica, os ácidos

nucléicos.

2.2.ÁCIDOS NUCLÉICOS Os ácidos nucléicos também são

macromoléculas poliméricas, formadas por

monômeros chamados de nucleotídeos.

Cada nucleotídeo é formado por uma base

nitrogenada, um açúcar (ribose ou

desoxirribose) e fosfato (Figura 10):

Figura 10. Nucleotídeo

11

Page 12: Bio Celular 2

Estes monômeros se unem para

formar dois tipos de polímeros, o DNA (ácido

desoxirribonucléico) e o RNA (ácido

ribucléico).

Os ácidos nucléicos são formados

pela união de nucleotídeos (Figura 11).

Figura 11- Molécula de ácido nucléico

Na molécula de DNA encontramos as

seguintes bases: adenina (A); citosina (C);

guanina (G) e timina (T) e são chamados de

desoxiribonucleotídeos, porque o açucar é a

desoxiribose. A molécula de DNA é formada

por uma cadeia dupla, tendo algumas

características importantes. Sempre que

existir uma adenina em um lado da cadeia,

teremos uma timina no outro e sempre que

ocorrer uma citosina em um lado da cadeia,

teremos uma guanina no outro. Chamamos

isto de complementariedade das bases, ou

seja, as timinas sempre fazem par com as

adeninas e as citosinas sempre pareiam com

as guaninas.

Figura 12. Estrutura da molécula de DNA mostrando a complementariedade das bases A=T; C=G.

Duas propriedades importantes

resultam da estrutura do DNA:

1) Capacidade de replicação. Com o auxílio

de enzimas, a dupla hélice de DNA se abre,

formando fita simples e pode ser duplicada,

originando cópias exatamente iguais a

molécula original.

2) Capacidade de conter a informação da seqüência de aminoácidos que compõe as

proteínas. As seqüências de nucleotídeos do

DNA determinam a estrutura primária das

proteínas.

Figura 13- Replicação da molécula de DNA

O RNA é uma molécula formada por uma

única cadeia, ou seja, é fita simples. Os

nucleotídeos do RNA são chamados de

Ribonucleotídeos porque o açúcar é a ribose.

No RNA a base uracila (U) substitui a Timina

do DNA. Os diferentes tipos de RNAs são

extremamente importantes para fazer com

que a informação genética contida no DNA

seja traduzida em uma seqüência de

aminoácidos, originando as proteínas (será

visto adiante).

2.3. GLICÍDIOS Os glicídios, também chamados de

carboidratos ou açúcares são polióis de

aldeídos ou cetonas, divididos em:

12

Page 13: Bio Celular 2

a) Monossacarídeos - como por exemplo a

glicose e a frutose. Os monossacarídeos

podem unir-se formando dissacarídeos. Por

exemplo, a sacarose (açúcar de cana) é a

união de uma frutose e uma glicose. A

maltose é formada pela união de duas

moléculas de glicose e a lactose (açúcar do

leite) é formada pela união de galactose e

glicose.

Figura 14 -Exemplo de alguns

monossacarídeos

b) Polissacarídeos - são formados pela

união de vários monossacarídeos (são

POLÍMEROS DE GLICOSE) Os três

polissacarídeos mais importantes são o

AMIDO (reserva de energia dos vegetais), o

GLICOGÊNIO (reserva de energia dos

animais) e a CELULOSE (constituinte da

parede das células vegetais). A diferença

entre esses polissacarídeos está na ligação

química que une as glicoses.

As principais funções

desempenhadas pelos glicídios são:

-ENERGÉTICA: são fonte de energia

para a célula (ou reserva de energia)

- ESTRUTURAL: formam as paredes

das células vegetais

-RECONHECIMENTO: estão

envolvidos no processo de reconhecimento

célula-célula nos tecidos dos animais

pluricelulares, através do glicocalix.

2.4. LIPÍDIOS

Os lipídios ou gorduras

desempenham importante papel na estrutura

e função celular. Há várias classes de

lipídios e cada uma possui funções biológicas

específicas.

Os ácidos graxos são a unidade

fundamental da maioria dos lipídios e junto

com os triglicerídios constituem as principais

gorduras neutras que funcionam como

reservas energéticas.

Fig 15 - Exemplos de ácidos graxos.

Já os fosfolipídios e os esfingolipídios são lipídios derivados dos

triglicerídios. Nesses lipídios, uma das

cadeias de ácido graxo é substituída por uma

estrutura química POLAR. Desta forma,

13

Page 14: Bio Celular 2

estas moléculas terão uma parte polar

(hidrofílica) e uma parte apolar (hidrofóbica)

Os fosfolipídios e esfingolipídios são

componentes fundamentais das membranas

biológicas (será visto adiante).

Outra classe de lipídio é a dos

esteróides que podem ter função estrutural,

como o colesterol que é um componente da

membrana plasmática. Outra função

desempenhada pelos esteróis é a hormonal,

como por exemplo a testosterona,

progesterona.

ESTRUTURAS SUPRA-MOLECULA-RES E A EMERGÊNCIA DE NOVAS PROPRIEDADES

Um conceito importante para o

entendimento dos seres vivos é o de

“propriedades emergentes”. Vejamos um

exemplo bem simples: um professor

demonstra a ação enzimática da amilase

salivar, através de um experimento muito

comum, que pode (e deve) ser realizado em

sala de aula. Nesse experimento, uma

solução de Maizena é fervida e distribuída

em dois frascos. Em apenas um dos frascos

adiciona-se um pouco de saliva e ,depois,

uma gota de lugol (ou solução de iodo) é

acrescentada em ambos os frascos.

Neste caso, a alteração de cor que

se observa no frasco é explicada pelo fato da

enzima presente na saliva ter a

PROPRIEDADE de degradar o amido da

Maizena. Essa é uma propriedade catalítica

muito específica, a amilase desdobra o

amido em glicose.

Se ao invés de acrescentar saliva na

mistura, acrescentássemos os aminoácidos

que compõem a amilase, iria ocorrer a

reação de degradação do amido? É claro que

não. Uma pilha de tijolos não é o mesmo que

uma casa. Uma mistura de aminoácidos

isolados, não possui as propriedades da

proteína que poderia ser formada pela união

desses aminoácidos.

Para que uma proteína desempenhe

uma função definida, é necessário que ela

tenha uma forma específica. A estrutura

tridimensional de uma proteína é resultado

da união de aminoácidos em uma seqüência

também específica. Portanto, é a ligação

sucessiva de um aminoácido ao outro que irá

determinar a forma final de uma proteína e

sua capacidade funcional.

As macromoléculas apresentam

propriedades novas que não estão presentes

nos seus componentes isolados. A amilase,

por exemplo, tem a capacidade de degradar

o amido, porém esta propriedade não está

presente em nenhum dos aminoácidos que

compõem a amilase. Quando, pela união de

aminoácidos em uma seqüência específica, a

macromolécula amilase se forma, EMERGE

uma nova propriedade (capacidade de

degradar a amido) que não está presente nos

seus componentes.

As propriedades emergentes são um

atributo da forma esterioquímica da

macromolécula. Do mesmo modo que a

forma da tesoura confere a esse instrumento

uma propriedade nova (capacidade de

14

Page 15: Bio Celular 2

cortar), a forma da proteína amilase lhe

permite catalisar a reação amido➜ glicose.

Muito do funcionamento celular

depende das propriedade emergentes de

suas macromoléculas. Mas as células não

são formadas apenas de macromoléculas,

elas possuem também ESTRUTURAS

SUPRAMOLECULARES.

Estruturas supramoleculares são

estruturas formadas por várias

macromoléculas. Um exemplo de estrutura

supramolecular é o ribossomo (Figura 16).

Cada sub-unidade do ribossomo é formada

por várias macromoléculas. A sub-unidade

maior é formada por 3 diferentes RNAs

ribossômicos: um com 120 nucleotídeos

(nts), outro com 160 nts e o terceiro com

4700 nts. Além dos RNAs a sub-unidade

maior apresenta 49 diferentes proteínas

(denominadas L1, L2, L3, ... até L49). Na

sub-unidade menor temos apenas um rRNA

de 1900 nts associado a 33 proteínas

(denominadas S1, S2, ..até S33).

Figura 16 .Ribossomo dos eucariontes

Os ribossomos são estruturas

capazes de auto-montagem, isto é, basta

colocarmos todos os componentes juntos e,

em condições físico-químicas apropriadas,

automaticamente as sub-unidades do

ribossomo montam-se. É possível, portanto,

desmontar e remontar os ribossomos em

tubos de ensaio. E sempre, após a auto-

montagem, uma PROPRIEDADE nova

EMERGE : “os ribossomos são capazes de

fazer síntese de proteínas”.

Todas as organelas intracelulares

são estruturas supramoleculares. A

mitocôndria, por exemplo, é formada por um

grande número de proteínas, lipídios, DNA,

RNA... que formam suas membranas, os

seus ribossomos, corpúsculos elementares,

etc... Estas macromoléculas, ao se

associarem, formam a mitocôndria que

possui propriedades novas que não estão

presentes nos componentes isolados. Por

exemplo, a síntese quimiosmótica do ATP só

é possível graças à estrutura da mitocôndria

que é dada pela totalidade de seus

componentes associados, e não pode ser

realizada apenas por um ou outro

componente da mitocôndria. Este é outro

exemplo de uma propriedade emergente, que

só se manifesta a partir do surgimento de

uma estrutura com organização

supramolecular.

15

Page 16: Bio Celular 2

UNIDADE II

A ORGANIZAÇÃO CELULAR O tema de estudo da Biologia, a

VIDA é uma propriedade emergente de uma

supraestrutura: a célula. A Vida originou-se

na Terra a +/- 3.5 bilhões de anos atrás

quando “montaram-se” as primeiras células. O CONCEITO DE CÉLULA MÍNIMA A definição mais comum para célula

é: “unidade morfo-fisiológica dos seres

vivos”. Mas o que caracteriza uma célula?

Quais são os componentes MÍNIMOS para

que uma estrutura possa ser considerada

uma célula?

De uma forma geral, quando

perguntamos como é constituída e como

funciona uma célula, a resposta mais comum

é:

“...formada por membrana, citoplasma e

núcleo. A membrana reveste a célula,

fazendo as trocas com o meio, o

citoplasma contém as organelas

responsáveis pelo funcionamento da

célula e o núcleo controla este

funcionamento.”

Devemos considerar, entretanto, dois

aspectos importantes:

1) As bactérias e demais procariontes são

organismos celulares e não possuem núcleo;

2) Quando dizemos que o núcleo “controla” o

funcionamento celular, não fornecemos

nenhuma idéia de como isto ocorre.

Esta visão da constituição e

funcionamento celular é originária do fim do

século passado e, nessa época, o estudo da

estrutura e do funcionamento celular

dependia exclusivamente do microscópio

óptico e de alguns corantes. Neste período, o

que mais chamava a atenção, quando se

observava uma célula, era a presença do

núcleo. Posteriormente, verificou-se que, no

núcleo, estavam os cromossomos e inferiu-

se que estes eram depositários dos genes.

Assim, a idéia de que, no núcleo,

estava o controle do funcionamento celular é

relativamente antiga, porém por muito tempo

não foi possível saber exatamente como

esse controle era exercido.

Figura 17. Aspecto geral da organização celular de um procarionte.

CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DE UMA CÉLULA (uma concepção atual) Se a descrição de uma célula como

um conjunto de membrana, citoplasma e

núcleo é uma visão originária do fim do

século passado, quais seriam as

características da organização celular em

uma visão contemporânea?

Para responder essa questão temos

que pensar em características que sejam

comuns a todas as células, sejam elas

procarióticas e eucarióticas.

São quatro as partes essenciais que

podemos encontrar em toda célula:

16

Page 17: Bio Celular 2

① Membrana - delimita a célula, separando

os demais elementos celulares do meio

ambiente e regulando as trocas da

célula com o meio; ② Maquinaria metabólica – conjunto de

enzimas e proteínas capazes de utilizar

a matéria e energia do meio ambiente

para realizar as funções celulares;

③ Informação genética - informação de

como, quando e onde montar as

proteínas da máquina metabólica e

demais proteínas estruturais da célula

④ Maquinaria de síntese protéica – é

constituída por ribossomos, mRNAs e

tRNAs capazes de transformar a

informação genética em maquinaria

metabólica.

Estes componentes celulares podem

ser facilmente reconhecidos nos

Mycoplasma, um tipo de bactéria, que são os

seres celulares estruturalmente mais simples

que conhecemos (Ver Figura 17).

Vamos, a seguir, tratar de cada uma

dessas partes que compõem o que podemos

chamar de uma célula mínima.

MEMBRANA CELULAR

O que delimita a célula do resto do

universo é uma fina membrana LIPO-

PROTÉICA chamada membrana plasmática

ou membrana celular.

A célula não pode se isolar do meio

em que se encontra, precisando manter uma

constante troca de matéria e energia com o

ambiente. Estas trocas são controladas pela

membrana plasmática. Por isto a principal

característica da membrana é a

PERMEABILIDADE SELETIVA.

Assim, a membrana é permeável porque deixa passar substâncias através

dela, porém, faz isso seletivamente, ou seja,

escolhendo o que deve entrar e sair da

célula.

Para se entender como a membrana

realiza esta função de permeabilidade

seletiva, temos que estudar como a

membrana é constituída quimicamente e

como estes componentes atuam.

Os lipídios da membrana são

diferentes dos lipídios que são usados como

reserva de energia (ácidos graxos e

triglicerídios). Enquanto os lipídios

energéticos são insolúveis em água, os

lipídios que compõe a membrana (chamados

de fosfolipídios, esfingolipídios e outros) são

ANFIPÁTICOS, ou seja, têm uma parte da

molécula que é eletricamente carregada e

hidrofílica (solúvel em água), e outra parte

que é hidrofóbica (insolúvel em água) -

Figura 18.

Figura 18- .Estrutura de um

Fosfolipídio

Tendo esta característica anfipática,

os fosfolipídios, quando colocados em água,

vão ter uma organização típica, formando

17

Page 18: Bio Celular 2

finas membranas em BICAMADAS, conforme

representado na Figura 19.

Figura 19 – Formação de bicamadas lipídicas quando os fosfolipídios são colocados em água.

Desta forma, sempre que colocarmos

lipídios anfipáticos em água, formar-se-ão

“bolhas” e a água estará tanto do lado de

dentro da “bolha”, quanto do lado de fora

(Figura 19).

A água e todas as substâncias

hidrossolúveis, como os açúcares,

aminoácidos, nucleotídeos, por não serem

solúveis em lipídios, não podem passar pela

camada hidrofóbica da membrana.

Como, então, a membrana realiza a sua função de permeabilidade seletiva?

Só existe permeabilidade seletiva

graças à ação do outro componente das

membranas: as PROTEÍNAS. Como

sempre, as atividades de funcionamento dos

organismos estão relacionadas às proteínas.

As proteínas das membranas

também são ANFIPÁTICAS, ou seja, elas

têm uma parte formada por aminoácidos

polares (com carga elétrica) e outra parte

constituída preponderantemente com

aminoácidos apolares. Desta forma, as

proteínas da membrana também terão uma

parte hidrofílica e uma parte hidrofóbica.

Figura 20. Estrutura das proteínas da membrana

Por terem tanto regiões hidrofóbicas como

regiões hidrofílicas, as proteínas anfipáticas

vão se intercalar entre os fosfolipídios. (figura

20 e 21)

O Modelo do MOSAICO FLUÍDO das membranas biológicas explica

como se organizam e funcionam essas

membranas. Segundo este modelo, temos

uma bicamada de lipídios com proteínas

intercaladas nesta bicamada.

As partes hidrofílicas dos

fosfolipídios e das proteínas ficam voltadas

para as superfícies interna e externa da

membrana em contato com a água. As partes

hidrofóbicas dos fosfolipídios e das

proteínas ficam na região interior da

membrana (figura 21)

18

Page 19: Bio Celular 2

Figura 21- Modelo do MOSAICO

FLUIDO da membrana biológica

Este modelo é chamado de

MOSAICO, porque os componentes da

membrana se organizam como um mosaico

(associação de pequenas peças que se

encaixam ou sobrepõe para formar uma

estrutura). A denominação de Mosaico

FLUÍDO é justificada pelo fato de seus

componentes (fosfolipídios e proteínas) não

serem fixos na membrana, podendo

apresentar movimentos laterais.

Podemos resumir a atuação dos

componentes da membrana da seguinte

forma:

a) OS FOSFOLIPÍDIOS atuam como uma

barreira, impedindo que as substâncias que

estão dentro da célula saiam e evitando que

as substâncias que estão fora da célula

entrem.

b) AS PROTEÍNAS funcionam como

“portões” (tecnicamente chamados de

CARREADORES ou POROS), por onde

passam as moléculas; são as elas que

reconhecem as substâncias que devem

entrar ou sair da célula.

TRANSPORTE DE SUBSTÂNCIAS PELA MEMBRANA

As substâncias passam pela

membrana de três formas diferentes:

1) Difusão simples: Algumas substâncias

como o O2, CO2, álcool e éter, por serem

solúveis tanto em água como em gorduras,

podem passar diretamente pelos

fosfolipídios. Para estas substâncias, a

membrana não constitui uma barreira, e suas

moléculas vão difundir de onde elas estão

mais concentradas para aonde estão menos

concentradas (1 na Figura 22).

Figura 22 – Passagem de substâncias

através da membrana

A maioria das substâncias não pode

atravessar livremente pela membrana e

precisam passar pelas proteínas. Essa

passagem pode ocorrer de duas maneiras:

2) Transporte passivo ou difusão facilitada. O transporte passivo ocorre,

quando uma substância está mais

concentrada de um lado da membrana do

que do outro, e há interesse da célula que

esta substância passe pela membrana.

Proteínas específicas, chamadas de

CARREADORES, permitem que essas

19

Page 20: Bio Celular 2

substâncias atravessem (geralmente através

de aberturas ou canais nas próprias

proteínas).

No caso do transporte passivo, não

há gasto de energia, porque é a favor do

gradiente de concentração ( 2 na Figura 22).

3) Transporte Ativo: Quando é do interesse

da célula transportar substâncias contra um

gradiente de concentração, (ou seja, de onde

tem pouco de uma substância para aonde já

existe bastante dessas mesmas moléculas) a

célula precisa gastar energia para fazer esse

transporte (3 na Figura 22).

Como podemos ver, somente

moléculas não muito grandes podem entrar e

sair da célula pelos carreadores. Moléculas

grandes como as proteínas, ácidos nucléicos

ou polissacarídeos, somente em condições

muito especiais podem passar pela

membrana.

Moléculas grandes

(macromoléculas), assim como estruturas

ainda maiores como vírus ou células não

passam diretamente pela membrana celular,

e só entram na célula através de

mecanismos de TRANSPORTE DE MASSA,

chamado endocitose (fagocitose e

pinocitose). Mas vale ressaltar que através

da fagocitose e pinocitose as substâncias ou

estruturas entram na célula, mas não

“passam a membrana” pois entram

envolvidas em membrana.

NA INTERNET:

Entenda melhor a membrana celular comparando-

a com bolhas de sabão:

www.sbbq.org.br/revista/artigo.php?artigoid=41

BRINCAR COM BOLHAS DE SABÃO PODE

AJUDAR A ENTEDER A

MEMBRANA SEGUNDO O MODELO

MOSAICO-FLUIDO

20

Page 21: Bio Celular 2

MAQUINARIA METABÓLICA

O que permite que uma lacto-

bactéria (bactéria do iogurte) se desenvolva

tão bem no leite, transformando-o em iogurte

e uma aceto-bactéria se procrie

maravilhosamente no vinho, transformando-o

em vinagre? Se colocarmos a bactéria do

vinho no leite, ela não vai se desenvolver, o

mesmo acontecendo com a bactéria do

iogurte, quando colocada no vinho. Por que

isto acontece?

Cada célula, mesmo simples como

uma bactéria, possui enzimas e outras

proteínas que a capacita a desempenhar as

funções para as quais está adaptada. A

lacto-bactéria possui enzimas para quebrar a

lactose e as proteínas do leite. Já a aceto-

bactéria possui enzimas para transformar o

álcool em ácido acético e usar outros

nutrientes encontrados no vinho. Estas duas

bactérias possuem diferentes maquinarias

metabólicas que as tornam adaptadas para

explorar recursos diversos.

As diferenças que ocorrem no

funcionamento entre células são explicadas

pela variação nas proteínas existentes nelas.

Chamamos de maquinaria

metabólica o conjunto de enzimas e

proteínas que vão ser responsáveis pelo

funcionamento da célula (ou seja, pelo

metabolismo celular). Por exemplo, as

proteínas da membrana que captam

nutrientes do meio externo e os transportam

para o interior da célula; as enzimas que vão

transformar estes nutrientes, através de

complexas rotas bioquímicas, transformando-

os em energia ou em outras moléculas

estruturais da célula; as proteínas motoras

que produzem movimento dos componentes

celulares, etc...

No caso específico do exemplo que

estamos trabalhando, a aceto-bactéria terá

as proteínas de membrana para retirar do

vinho os “nutrientes” apropriados. No interior

da célula, enzimas transformarão estes

nutrientes em mais macromoléculas de

aceto-bactéria. Enfim, possibilitam o “sonho

primordial” de toda aceto-bactéria: “tornar-se

duas aceto-bactérias...”

INFORMAÇÃO GENÉTICA

Porque uma aceto-bactéria colocada

no leite não produz as enzimas necessárias

para usar o açúcar e as proteínas do leite

como nutrientes? Ou, colocando a mesma

questão em um outro exemplo: sabemos que

a celulose é um polissacarídeo formado de

moléculas de glicose. No entanto, se por um

motivo qualquer só tivéssemos papel

(celulose) para comer, acabaríamos

morrendo de inanição por falta de energia,

embora estivéssemos ingerindo um polímero

construído com “glicose”. Outros organismos,

como cavalos, vacas ou baratas são capazes

de aproveitar a glicose presente na celulose

do papel. Nos dois exemplos, o que falta é a

informação genética de como fazer as

enzimas necessárias para aproveitar uma

determinada molécula como fonte de

nutriente.

A informação genética está

armazenada nas células sob forma de ácidos

21

Page 22: Bio Celular 2

nucléicos. Para todas as células

(procarióticas ou eucarióticas), a

macromolécula informacional é o DNA.

Somente alguns vírus apresentam suas

informações armazenadas sob forma de

RNA.

A informação genética total,

carregada por um organismo ou célula, é

denominada de GENOMA. Por exemplo, na

nossa espécie, o genoma das células

somáticas é constituído por 46 moléculas de

DNA. Cada uma dessas moléculas se

organiza sob forma de um cromossomo, ou

seja, cada cromossomo contém uma única

molécula de DNA que é contínua,

começando em uma extremidade do

cromossomo e prolongando-se sem

interrupção até a outra extremidade. Temos

também uma 47a molécula de DNA que é o

cromossomo mitocondrial.

O genoma de células mais simples,

como as bactérias, está organizado em um

único cromossomo circular. Em torno de

2000 genes estão presentes no genoma de

uma bactéria, como a Escherichia coli.

O cromossomo bacteriano como de

E. coli possui aproximadamente 4,2x 10 6

pares de bases. Ou seja, se contássemos o

número de diferentes nucleotídeos

ATCCGGTAACC... em uma das fitas do

DNA, este número seria de,

aproximadamente, 4.200.000 nucleotídeos. É

na seqüência de bases desta imensa

molécula de DNA que “está escrito” a

informação genética, nos genes dessa

bactéria.

Estudos moleculares recentes tem

ampliado o conceito de gene: é uma

seqüência de DNA que é essencial para uma

função específica. Três tipos de genes são

reconhecidos:

1) genes que codificam para proteínas. São transcritos para RNA

mensageiro (mRNA) e subseqüentemente

traduzidos, nos ribossomos, para proteínas.

2) genes que especificam RNAs funcionais, como os RNAs ribossômicos

(rRNA); RNAs transportadores (tRNA) e

RNAs que desempenham funções

regulatórias na célula como os snoRNA e

miRNA.

3) genes não transcritos. São

seqüências de DNA que, embora não sejam

transcritas, desempenham alguma função.

Por exemplo, os genes de replicação,

envolvidos na duplicação do DNA; genes de

recombinação, que são seqüências

envolvidas no processo de crossing-over;

seqüências teloméricas, envolvidas na

proteção das extremidades dos

cromossomos...

Assim, o genoma contém um grande

número de genes que, quando necessários,

são ativados, ou seja, são copiados em RNA

(ver Figura 23).

22

Page 23: Bio Celular 2

Figura 23) Exemplo hipotético do genoma de um procarionte O genoma

contém muitos genes. Alguns são genes para tRNA, outros para rRNA e outros ainda

codificam para polipeptídios (mRNA).

A transcrição de um gene depende

da região regulatória desse gene. Um dos

principais elementos da região regulatória do

gene é o sítio ou região promotora que

corresponde ao local de entrada da RNA

polimerase. Essa enzima, responsável pela

transcrição de DNA em RNA, reconhece a

região promotora do gene, se associa a esse

conjunto de bases e passa a se deslocar pela

fita molde de DNA, fazendo a ligação entre

os ribonucleotídios complementares à fita de

DNA. No fim do processo de transcrição

temos uma fita de RNA que,após passar por

algumas modificações (processamento do

RNA), torna-se funcional e poderá executar

as diferentes funções necessárias à síntese

de proteínas.

Figura 24) Processo de transcrição dos genes ribossômicos (rRNA); dos RNAs transportadores tRNA e dos RNAs mensageiros mRNAs. È mostrado também, a união de todos estes componentes no processo de TRADUÇÃO, que é a síntese de proteínas.

Figura 25 – Fluxo da informação genética

dentro da célula.

O DNA se duplica pelo processo chamado

de transcrição. A informação nele contida

é copia em moléculas de RNA em um

processo chamado de transcrição. Os

RNAs participam do processo de síntese

de proteínas (tradução)

23

Page 24: Bio Celular 2

MAQUINARIA DA SÍNTESE PROTÉICA

No citoplasma existem todos os

elementos necessários à síntese de

polipeptídios, que chamamos de

MAQUINARIA DE SÍNTESE PROTÉICA:

> ribossomos

>RNAs transportadores

> RNA mensageiro

A seqüência de eventos que resulta

na síntese de uma proteína pode ser

resumida da seguinte forma :

Transcrição do DNA em RNA (nos

1, 2 e 3 na Figura 21).

Processamento do RNA para que

se torne funcional (ocorre em eucariontes).

Montagem do ribossomo - a

subunidade menor do ribossomo reconhece

o início da fita de mRNA e se liga ao mRNA .

Essa ligação permite que a subunidade maior

se associe à subunidade menor, formando-se

assim um ribossomo capaz de realizar a

síntese de proteínas.

Primeira ligação Peptídica - o

ribossomo se desloca sobre a fita de mRNA

e quando encontra nessa fita a seqüência de

base AUG, cria no seu interior, dois sítios,

um destinado a receber os tRNAs que trazem

os aminoácidos para serem ligados à cadeia

polipeptídica (sítio A) e outro que será

ocupado pelo transportador que mantém a

cadeia polipeptídica nascente (sítio P).

Qualquer tRNA pode entrar no ribossomo e

ocupar o sítio A, porém para que o tRNA

permaneça nesse sítio é necessário que ele

tenha uma trinca de bases que seja

complementar as três bases do mRNA que

estão naquele momento no sítio A. A região

do tRNA que entra em contado com as bases

do mRNA dentro do ribossomo é

denominada de anticódon. De um modo

simplificado, as moléculas de tRNAs são

representadas como tendo em uma

extremidade a região do códon e na outra a

região de ligação com o aminoácido. Os

tRNAs que possuem o mesmo anticódon

transportam o mesmo aminoácido. Por

exemplo, se o anticódon for AAA, esse tRNA

estará transportando para dentro do

ribossomo o aminoácido fenilalanina. Alguns

aminoácidos são transportados por mais de

um tipo de tRNAs. Por exemplo, os tRNAs

que possuem anticódons GCA, GCG, GCU

ou GCC transportam (ver tabela do código

genético) para o ribossomo arginina. Desse

modo, as três bases do mRNA (códon) que

ocupam o sítio A, ao selecionar qual o tRNA

que permanecerá dentro do ribossomo,

determinam qual o aminoácido que será

adicionado à cadeia polipeptídica. O primeiro

tRNA a ocupar o sítio A, deve ter anticódon

complementar à trinca AUG. Esses tRNAs

sempre transportam uma metionina, portanto

esse é o primeiro aminoácido de toda a

síntese de proteínas. A metionina inicial pode

ser removida depois, o que significa que nem

todas as proteínas funcionais terão esse

aminoácido presente no início da cadeia.

Crescimento da cadeia

polipeptídica - quando os sítios A e P estão

ocupados por tRNAs, que tenham anticodons

complementares ao mRNA, na parte superior

24

Page 25: Bio Celular 2

da subunidade maior do ribossomo, ocorre a

ligação entre os aminoácidos que esses

tRNAs transportam. Quando essa ligação

ocorre, o ribossomo se desloca sobre a fita

de mRNA e esse deslocamento corresponde

exatamente a três nucleotídios. Assim, a

cada ligação entre dois aminoácidos, um

novo códon ocupa o sítio A e determina a

entrada de um novo tRNA que trará o

próximo aminoácido a ser ligado. Com o

deslocamento do ribossomo, o tRNA que

trouxe o último aminoácido adicionado passa

a ocupar o sítio P e o tRNA, que antes estava

nesse sítio, é liberado pelo ribossomo,

podendo voltar a participar da síntese de

proteínas quando estiver de novo ligado a um

aminoácido específico. Por exemplo, na

Figura 26, no início da tradução, o sítio P

está ocupado pelo códon AUG e pelo tRNA

da metionina, e o sítio A está ocupado com o

códon UUU e o tRNA da fenilalanina. Após a

ligação entre os dois primeiros aminoácidos

(metionina e fenilalanina), com o

deslocamento do ribossomo, o tRNA da

metionina perde sua ligação com esse

aminoácido e sai do ribossomo. O tRNA da

fenilalanina passa, então, a ocupar o sítio P

e se mantém ligado à fenilalanina, que por

sua vez está ligada à metiona. À medida que

o ribossomo se desloca, a cadeia

polipeptídica vai crescendo, sempre ligada ao

tRNA que acabou de fornecer o último

aminoácido.

Deve-se ressaltar que, logo após o

primeiro deslocamento do ribossomo, o

códon de iniciação AUG fica liberado e outro

ribossomo pode se associar ao mRNA e

iniciar a síntese de uma segunda cadeia

polipeptídica. É comum encontrar, no

citoplasma, vários ribossomos realizando

tradução a partir da mesma fita de mRNA.

Desse modo, a célula pode originar várias

moléculas da mesma proteína com um único

RNA mensageiro.

Final da síntese - os ribossomos

seguem se deslocando na fita de mRNA e

quando o sítio A é ocupado por uma trinca

UAA, ou UAG ou UGA o crescimento da

cadeia polipeptídica é interrompido. Nenhum

tRNA possui anticodons complementares a

essas trincas e por isso esses codon são

chamados “sem sentido” e sinalizam o fim da

tradução. Depois que o ribossomo atinge um

desses codon, as subunidades se separam.

A subunidade menor pode, então, se

associar novamente com a parte inicial de

um mRNA, iniciando novamente um

processo de tradução.

Através dos mecanismos de

transcrição e tradução, a informação genética

“se transforma” em maquinaria metabólica.

Assim, em uma célula simples como uma

lacto-bactéria, a informação contida no

genoma é traduzida, isto é, esta informação é

capaz de conduzir a síntese de um bom

número de proteína que estarão aptas a

utilizar os “nutrientes” presentes no leite, para

manter a estrutura celular e ainda criar mais

macromoléculas e permitir o crescimento

desta bactéria e posterior reprodução.

25

Page 26: Bio Celular 2

Figura 26) Processo de tradução de

uma proteína. A) montagem do ribossomo B)

iniciação do processo de tradução C e D)

elongação da cadeia de aminoácidos. Cada

tRNA que se liga ao ribossomo, deixa um

aminoácido.

A TABELA DO CÓDIGO GENÉTICO

Diga que proteína resulta do seguinte mRNA:

UUAUGGUUAGUCGUAGAUAUUGA

Unidade III DA CÉLULA PROCARIÓTICA PARA A CÉLULA EUCARIÓTICA.

Podemos dizer que uma bactéria é

um bom exemplo de uma célula “mínima”.

Vimos anteriormente como atuam a

membrana, a maquinaria metabólica, a

informação genética e a maquinaria da

síntese protéica, para fazer uma bactéria

funcionar.

Mas se as bactérias são ditas

“células mínimas”, é porque existem células

muito mais complexas, as eucarióticas.

O que elas possuem que não está

presente nas células bacterianas?

Um sistema de membranas que

compartimentaliza as diversas funções da

célula, chamado de SISTEMA DE

ENDOMEMBRANAS;

Uma rede de proteínas

filamentosas que dão forma e mobilidade

para a célula, chamada de

CITOESQUELETO.

A INFORMAÇÃO GENÉTICA NOS EUCARIONTES

A informação genética dos

eucariontes apresenta algumas

peculiaridades. Nas células eucariontes o

DNA está sempre complexado com

proteínas. As proteínas que se associam ao

DNA são de dois tipos: as histonas ou

proteínas básicas e as proteínas ácidas.

Quando a célula não está em divisão

(durante a interfase), a molécula de DNA

26

Page 27: Bio Celular 2

apresenta seu grau mínimo de enrolamento,

constituindo a Cromatina. Conforme

podemos ver na Figura 27, a cromatina

apresenta vários graus de compactação: em

(A) temos a molécula de DNA com seu

diâmetro de 2 namômetros (nm = 10 –9 m)

não associado a nenhum tipo de proteína. A

dupla hélice sem proteínas associadas não é

encontrada no núcleo das células, pois em

seu estado funcional o DNA eucariótico

sempre está ligado a proteínas. Em (B) a

molécula de DNA apresenta-se enrolada nas

histonas, formando as fibras dos

nucleossomos com 11 nm. Quando a célula

inicia o processo de divisão, pode-se notar

uma mudança no aspecto do núcleo. A

medida que a célula avança na fase de

prófase, é possível visualizar, no núcleo, uma

condensação progressiva da cromatina.

Em (C) a fibra de nucleossomos se

enrola sobre si mesma, originando a fibra em

solenóide, em um formato de “fio de

telefone”; é nesse formato de solenóide que

a cromatina se encontra no núcleo na

interfase.

Algumas proteínas ácidas unem as

fibras da cromatina formando às alças de

cromatina (letra D na figura). As alças vão

sendo unidas em grupos cada vez mais

condensados, no centro da cromátide. No fim

desse processo, o cromossomo atinge seu

grau máximo de dobramento, que

corresponde ao cromossomo metafásico, ou

seja, ele é observável na fase de metáfase

da divisão celular. (letras E e F na figura

abaixo).

Para dar uma idéia de como é longo

os fios de cromatina, apresentamos, na

Figura 28, a cromátide de um cromossomo

mitótico que teve as proteínas ácidas

removidas. Esse tratamento permitiu que as

alças constituídas pela fibra de cromatina se

desprendessem do centro da cromátide.

A informação genética está “escrita”

na seqüência de bases que o DNA

apresenta. O genoma nuclear de uma célula

humana contém, aproximadamente,

6.000.000.000 pares de bases, compondo as

46 moléculas de DNA dos cromossomos. O

menor cromossomo humano, o de número

21, possui 50.000.000 pares de bases. Você

pode imaginar isso? Figura 27- ver texto

27

Page 28: Bio Celular 2

Ter genomas grandes é uma

característica dos eucariotes. Esses

organismos apresentam grandes

quantidades de DNA em suas células, mas

boa parte desse DNA não é considerado

gene, pois não é transcrito, e não apresenta

função para a célula.

SISTEMA DE ENDOMEMBRANAS

As células eucarióticas são

compartimentalizadas, isto é, possuem o

citoplasma todo dividido em estruturas

membranosas. Cada compartimento tem a

sua função específica.

As membranas que delimitam estas

organelas são do tipo mosaico fluído. Assim,

os lipídios destas membranas isolam os

conteúdos destes compartimentos e as

proteínas controlam o que deve entrar ou sair

de cada compartimento. Além disso,

enzimas especificas proporcionam as

reações químicas características do

funcionamento de cada organela.

As principais vantagens da

compartimentalização celular são:

Permitir a separação e a associação dos

sistemas enzimáticos;

Aumentar a superfície interna da célula,

aumentando o campo de ação enzimática e

facilitando as reações químicas,

principalmente as que ocorrem em cadeia;

Permitir diferentes valores do pH

intracelular.

Componentes do sistema de endomembranas

Retículo endoplasmático:

O retículo endoplasmático é

constituído por endomembranas que limitam

túbulos (pequenos tubos) e cisternas

(cavidades em forma de sacos achatados).

O retículo endoplasmático é dividido em:

Reticulo endoplasmático liso- tem a

forma de túbulos, está envolvido em

transporte e armazenamento de substâncias,

síntese de lipídios e desintoxicação celular;

Figura 28 – visualização de uma cromátide em um cromossomo

Retículo endoplasmático rugoso-

possui ribossomos aderidos a sua superfície

citoplasmática; como os ribossomos fazem a

síntese protéica, o retículo endoplasmático

rugoso está envolvido na síntese protéica,

além de transporte e armazenamento de

substâncias (principalmente proteínas).

Complexo de Golgi: É formado por várias vesículas ou cisternas

achatadas em forma de discos. Nestas

vesículas ocorre a maturação (modificações

químicas) de substâncias (principalmente

proteínas que foram sintetizadas pelos

ribossomos do retículo endoplasmático

rugoso). Após esta maturação, essas

28

Page 29: Bio Celular 2

proteínas terão dois destinos: podem ser

enviadas para fora da célula (secreção);

podem ser enviadas para outra organela

(lisossomo) para participar da digestão

intracelular.

A F

célu

mp=

mito

gran

(liso

Pe=

ve=

mic

de

vão

temos as células glandulares. As células do

pâncreas produzem insulina, que é uma

proteína importante para todas as células do

organismo. A esta exportação de substância

chamamos SECREÇÃO CELULAR.

A secreção celular tem várias

FASES. Vamos ver o exemplo da secreção

da insulina para entendermos estas fases. A

insulina é uma proteína, portanto, tem uma

seqüência específica de aminoácidos. Esta

seqüência está codificada no gene da

insulina que está no núcleo da célula. A

primeira fase da secreção celular ocorre

então, no núcleo da célula, onde o gene é

transcrito em RNA mensageiro (mRNA).

Este mRNA é então processado e sai do

núcleo. No citoplasma, ele irá se ligar aos

ribossomos no retículo endoplasmático

rugoso (RER) e, lá, ocorre a síntese da

proteína (insulina) que entra no RER. A

insulina é transportada do RER até o

Complexo de Golgi, onde sofrerá algumas

Figura 29- -Sistema endomem- branas da célula eucariótica

igura 29 apresenta o esquema de uma

la eucariótica:

memb. plasmática; ri= ribossomos; mi=

côndrias; REG= retículo endoplasmático

ular (rugoso); REA= ret. end. agranular

); c= centríolo; G= golgi; Li= lisossomos;

peroxissomos; vs= vesícula secretora;

vesícula endocítica; mv=

rovilosidade.

Secreção celular: Muitas células produzem substâncias

exportação, isto é, são substâncias que

atuar fora da célula. Como exemplo,

modificações (amadurecimento) e será

empacotada em vesículas. As vesículas

produzidas pelo Complexo de Golgi,

chamadas vesículas secretoras, serão

levedas para fora da célula. Neste caso, a

insulina cairá na corrente sanguínea e será

levada para todas as células do organismo.

Lisossomos:

São vesículas que contém hidrolases

ácidas (enzimas digestivas que atuam em pH

ácido) e estão envolvidas no processo de

digestão intracelular.

29

Page 30: Bio Celular 2

Digestão intracelular: Chamamos de digestão intracelular a quebra

de macromoléculas como proteínas, ácidos

nucléicos e polissacarídeos em seus

respectivos monômeros, ocorrendo no

interior da célula. Para fazer estas quebras,

são necessárias enzimas (PROTEASES,

DNAses, etc...). Estas enzimas não podem

ficar soltas no interior da célula, pois

quebrariam as proteínas, DNA.... da própria

célula. Por isso elas são isoladas no interior

de um compartimento, os lisossomos aonde

ocorre a digestão intracelular.

A digestão intracelular também

ocorre em FASES: as três primeiras

fases da digestão são idênticas a secreção

celular, uma vez que para fazer digestão,

precisamos enzimas que quebrem

macromoléculas, e enzimas são proteínas, e

a mensagem de como fazer as proteínas

estão nos genes; na quarta fase, ocorre a

internalização do que vai ser digerido através

da vesícula endocítica, ou seja, por

fagocitose ou pinocitose, a célula vai

internalizar o alimento dentro de uma

vesícula (vesícula endocítica) e ocorre a

união da vesicula endocítica com o lisossoma

primário (produzido no complexo de golgi,

contendo as enzimas já prontas para atuar

na digestão). Da união da vesícula endocítica

com o lisossomo primário formar-se-á o

lisossoma secundário, onde ocorrerá a

digestão. Após a digestão, os monômeros

serão lançados para o hialoplasma (líquido

que envolve todos os compartimento do

sistema de endomembrana), onde servirão

para a célula montar novos polímeros.

às vezes o lisossomo primário

envolve partes da própria célula, que por

algum motivo não estão mais funcionais,

formando o AUTOFAGOSSOMO, que é um

lisossomo que digere uma parte da célula

(AUTOFAGIA - auto= por si próprio / fagos=

comer ).

Como podemos notar, tanto na digestão

celular como na secreção celular, nenhuma

parte do sistema de endomembranas atua

sozinha, ao contrário, são processos em que

várias partes do sistema de endomembranas

atuam em conjunto.

Peroxissomas: Os peroxissomas ou microssomas são

pequenas vesículas de forma esférica,

semelhantes aos lisossomos, porém as

enzimas que carregam são muito diferentes.

Os peroxissomas carregam OXIDASES

(peroxidases, catalases e superoxido

dismutase) que são enzimas que quebram as

formas ativas do oxigênio (RADICAIS

LIVRES). Como exemplo de radicais livres

podemos citar a água oxigenada (H2O2). A

água oxigenada, chamada também de

peróxido de hidrogênio é uma molécula muito

reativa, podendo reagir com as proteínas e

outras macromoléculas quebrando-as. Por

isso muitas pessoas usam água oxigenada

para “branquear” os cabelos, pois a molécula

de H2O2 quebra a melanina que é uma

proteína que dá a cor ao cabelo.

No interior de nossas células,

milhares de reações químicas estão

continuamente sendo realizadas, a estas

30

Page 31: Bio Celular 2

reações chamamos METABOLISMO. Muitas

reações metabólicas produzem,

normalmente, muitas formas reativas de

oxigênio do tipo da água oxigenada, ou

mesmo alguns mais reativos, como o

superoxido (O2-). Para impedir que estes

radicais livres degradem as nossas própria

proteínas e DNAs, as nossas células

produzem algumas enzimas (oxidases) que

degradam estes radicais livres. Estas

enzimas são armazenadas nos

PEROXISSOMAS.

Crianças que nascem com um

defeito genético em que estas enzimas não

são produzidas, morrem nos primeiros dois

anos de vida (Síndrome de Zellsweger).

Mitocôndria: Um compartimento (organela)

citoplasmático muito importante é a

mitocôndria, uma vez que este

compartimento está envolvido no processo

de transdução de energia (transferência de

energia provinda dos alimentos,

principalmente de moléculas de glicídios e

lipídios para a molécula de ATP - Adenosina

Tri-Fosfato.

Núcleo: Este que é o maior compartimento do

sistema de endomembranas contém a

informação genética, conforme já descrito

anteriormente.

Figura 30- Esquema trimensional do sistema

de endomembranas. Podemos ver o REG na

forma de cisternas (sacos achatados) e o

REL na forma de túbulos. O golgi também

apresenta a forma de cisternas, porém são

menores e não possui ribossomos aderidos. CITOESQUELETO

A habilidade da célula eucariótica em

adotar variedades de formas, assim como

promover movimentos coordenados dos

componentes de seu interior, depende de

uma complexa rede de proteínas

filamentosas chamadas de

CITOESQUELETO (Figura 31).

Citoesqueleto: rede de

proteínas filamentosas que dão

forma e movimento à célula

Diferente de um esqueleto feito de

ossos, a rede de proteínas do citoesqueleto é

muito dinâmica, reorganizando-se

continuamente. De fato, o citoesqueleto

poderia bem ser chamado de

“citomusculatura”, já que é responsável

pelas mudanças de forma das células, pelos

31

Page 32: Bio Celular 2

movimentos das células sobre um substrato

(movimento amebóide), atua na contração

muscular, assim como em todos os

movimentos intracelulares, tais como

transporte de organelas, segregação dos

cromossomos, etc...

Figura 31. Célula vista ao microscópio, evidenciando a rede de proteínas do citoesqueleto

DIVISÕES DO CITOESQUELETO: O citoesqueleto pode ser dividido em

três classes de componentes: os

microtúbulos, os microfilamentos e os

filamentos intermediários. Essas classes

diferem em relação ao tipo de proteína que

as compõe, ao padrão de distribuição no

interior da célula e quanto às funções

desempenhadas na célula.

MICROTÚBULOS

São tubos ocos, de 25 nm, formados

por uma proteína globular, a TUBULINA.

Milhares destas proteínas irão se unir

(polimerizar) formando os microtúbulos.

Figura 32- Microtúbulos

Os microtúbulos se distribuem pelo interior

da célula, a partir de uma região central

chamado centro celular, aonde nas células

animais encontra-se o centríolo.

Estes microtúbulos citoplasmáticos

são importantes em estabelecer a forma da

célula, pois, ao se irradiarem a partir do

centro da célula, atuam como se fossem

“estacas ou colunas”.

Os microtúbulos citoplasmáticos

também estão envolvidos em movimento dos

componentes internos das células. Existem

proteínas enzimáticas, como a dineína e a

cinesina que quebram ATP e usam a

energia liberada para promover movimento.

Estas proteínas ligam-se às “organelas” que

precisam ser transportadas no interior da

célula, e usam os microtúbulos como se

fossem “trilhos”, transportando as organelas

até seu destino.

Além de constituir uma rede

citoplasmática, os microtúbulos podem

formar ORGANELAS MICROTUBULARES.

Neste caso, muitos microtúbulos e proteínas

motoras se unem para formar uma estrutura

com uma finalidade específica. Por exemplo,

32

Page 33: Bio Celular 2

durante a divisão celular, um feixe de

microtúbulos se estende de um pólo da

célula até o outro, estes microtúbulos

servirão como “trilhos” por onde as proteínas

motoras levarão os cromossomos para os

pólos da célula.

Cílios e flagelos (ex.: flagelo da

“cauda” do espermatozóide), são formados

por muitos microtúbulos e proteínas motoras.

As proteínas motoras fazem com que os

microtúbulos apresentem movimentos

rítmicos, dando capacidade de deslocamento

para a célula. Cílios e flagelos têm uma

organização peculiar: nove pares de

microtúbulos formarão um feixe em volta de

um par central. MICROFILAMENTOS

Os microfilamentos são formados,

principalmente por uma proteína chamada

ACTINA. Esta, é uma proteína globular, mas

ao polimerizar-se formará longos filamentos

de 5 a 9 nm. Estes filamentos formam uma

rede logo abaixo da membrana plasmática,

servindo de sustentação para essa estrutura

que é muito fina e frágil.

Figura 33 – Microfilamentos

Além de serem importantes para dar

forma à célula, os microfilamentos também

são responsáveis por movimentos

intracelulares (ex.: ciclose e movimentos

amebóides). Essa função é executada

principalmente por uma proteína motora, a

MIOSINA, que também usa o ATP como

fonte de energia e produz movimentos ao se

ligar e “puxar” as fibras de actina.

FILAMENTOS INTERMEDIÁRIOS

Os filamentos intermediários são

filamentos com um diâmetro em torno de 10

nm, formado por vários tipos de proteínas,

sendo a mais importante delas a

QUERATINA.

Os filamentos intermediários

filamentos associam-se a proteínas da

membrana plasmática e formam ligações

entre células vizinhas, mantendo-as unidas.

Nas células epiteliais, por exemplo, os

filamentos intermediários são mais

abundantes pois a união entre as células

deve ser mais forte.

DO UNICELULAR AO PLURICELULAR

Durante o processo evolutivo, alguns

organismos tomaram o caminho de formar

colônias de muitas células. Posteriormente,

cada célula foi se especializando em uma

determinada função. Este caminho levou ao

surgimento de seres pluricelulares.

A rigor, todas as células dos

pluricelulares contém a MESMA

INFORMAÇÃO GENÉTICA. Como então a

maquinaria metabólica de uma célula

33

Page 34: Bio Celular 2

muscular é tão diferente daquele de um

neurônio?

A medida que ocorre o

desenvolvimento dos organismos

pluricelulares, diferentes genes serão

ativados. ( VER FIGURA 34) As células vão

sofrer um processo chamado de

diferenciação, tomando as suas várias

funções. Embora todos os genes estejam

presentes em todas as células, nas células

musculares apenas alguns genes são ativos

(são transcritos) e então só as proteínas

codificadas pelos genes transcritos estão

presente nessas células. Já em uma célula

nervosa, embora possua os mesmos genes

da célula muscular, outros genes estão

ativos, resultando a tradução de outras

proteínas.

FIGURA 34 – Diferenciação celular que corre no desenvolvimento de organismos pluricelulares.

34

Page 35: Bio Celular 2

PRÁTICAS DE BIOLOGIA CELULAR* Recomendações de ordem geral a serem observadas no uso do Laboratório**

A manutenção do material colocado a sua disposição depende de sua boa vontade e do seu senso de responsabilidade pessoal. O microscópio que você usa custou elevado preço, cuida dele como se fosse seu. Dedique 3 minutos finais de cada aula para limpar as objetivas com lenço de papel (se foi usado óleo de imersão), assim como a sua bancada.

Freqüentemente você deverá fazer desenhos ilustrativos das preparações observadas. Para tal, traga folhas de papel ofício, ou um caderno de desenho. Exatidão nos detalhes, limpeza e capricho serão levados em conta mais do que habilidade para a arte de desenhar. Nunca desenhe algo incógnito que veja sob o microscópio. Compare aquilo que é visto sob o microscópio com ilustrações de livros, quadros ou outras fontes. Não se limite apenas a copiar figuras, examine o material colocado a sua disposição.

Os roteiros de aulas práticas que estão incluídos neste caderno devem ser lidos CUIDADOSAMENTE antes que qualquer trabalho seja iniciado. Discuta suas dúvidas com o professor. Procure estar sempre em dia com os trabalhos das aulas práticas. PONTOS A SEREM OBSERVADOS AO DESENHAR: Porque se exige um bom desenho: 1) para obrigar a observar. 2) para que a observação possa ser corrigida por outra pessoa.

1 3) para que fique um registro da observação efetuada que possa ser consultada posteriormente. **Copia parcial da introdução de MANARA, N.T.F.(mimeografado, sem data).

FORMA CORRETA DE REALIZAR OS DESENHOS EXIGIDOS

NAS AULAS PRÁTICAS. 1) Todos os desenhos e as anotações deverão ser feitos com lápis HB, ou similar, com a ponta fina. Tenha a mão uma borracha macia. 2) Não esqueça a data e o aumento usado. 3) Guarde as folhas arquivadas, junto ao caderno didático. 4) Escreva sempre com letras de imprensa. 5) Não encha o campo de desenhos. Os espaços em branco facilitam a compreensão e posterior estudo do tema. 6) Os desenhos devem ser proporcionais ao observado. Não faça desenhos muito pequenos. 7) As setas indicadoras dos elementos desenhados deverão ser linhas suaves, feitas com régua e paralelas ao borde inferior da folha. 8) A utilização de formas geométricas (Figura 2.1) é artifício para facilitar a representação do objeto. Sobre esta base se

1 Mais detalhes de algumas das práticas aqui descritas podem ser encontradas no livro: LORETO, E.L.S. & SEPEL, L. M.N. Atividades experimentais e didáticas de Biologia Molecular e Celular. Ribeirão Preto, SBG. 2003. 2a ed. www.sbg.org.br

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Page 36: Bio Celular 2

trabalhará, até obter a maior semelhança possível com o observado. 9) Na Figura 2.2, encontrará um exemplo de proporção, formas, espaços, distâncias e grossuras dos traços. 10) Antes de começar a desenhar o contorno dos objetos: a) observe bem o preparado. Estude-o e interprete-o;

b) determine exatamente o espaço que vai ocupar o desenho, marcando com linha suave; c) observe a relação que guardam entre si os elemento a desenhar, isto é, sua proporção, tamanho e forma, fixe-os com linhas auxiliares dentro do contorno geral (Figura 2.2).

Figura 2.1 – Observação da linha e forma na hora de desenhar

Figura 2.2 – Cuidados no fazer o desenho quanto à proporção, forma, e espaço.

36

Page 37: Bio Celular 2

1a Aula

O USO DO MICROSCÓPIO ÓPTICO (MO)

O mundo microscópico é fascinante. O microscópio foi um aparelho que muito contribuiu

para o desenvolvimento da Biologia Celular. Por esse motivo iniciamos as atividades práticas

dessa disciplina descrevendo um microscópio óptico e dando algumas dicas para o seu uso

adequado.

Uma célula animal típica tem 10 a 20 µm de diâmetro, ou ao redor de 5 vezes menos do

que a menor partícula visível ao olho nu. Portanto, a descoberta de que os animais e vegetais

eram compostos por agregados de células individuais, ou a existência de pequenos seres

unicelulares, não foi possível até que bons microscópios fossem fabricados, no início do século

XIX.

As células animais não são apenas pequenas, mas são descoloridas e translúcidas;

conseqüentemente, a descoberta de sua organização interna dependeu, também, do

desenvolvimento, na última metade do século XIX, de uma variedade de corantes que tornaram

várias partes da célula visíveis.

O microscópio tem por objetivo produzir imagens aumentadas de objetos tão pequenos

que, ao exame da vista desarmada, não poderiam ser vistos. Tem ainda como escopo, revelar

detalhes texturais imperceptíveis a olho nu.

Devemos lembrar que os objetos são vistos por duas razões fundamentais: 1) porque

absorvem a luz; 2) por causa da diferença entre o seu índice de refração e o do meio que os

envolve. Quanto maior a diferença, mais facilmente o objeto será visto. Assim, as células e seus

componentes, para serem observados ao microscópio devem ser tratados por reagentes especiais,

do que resulta sua coloração, isto é, os componentes celulares passam a absorver luz

diferentemente, tornando-se bem visíveis.

Chamamos de limite de resolução (LR) a capacidade máxima de ver dois objetos como

distintos. O LR depende do comprimento de luz usado e da abertura numérica do sistema de

lentes. Dentro da faixa de luz visível o LR é de 0,4 µm para o violeta e 0,7 µm para o vermelho. Em

termos práticos, bactérias e mitocôndrias (+/- 0,5 µm) são geralmente os menores objetos vistos ao

M.O.

Na Figura 2.3 temos um microscópio, em que são indicadas as suas principais partes. Um

microscópio compõe-se de um sistema óptico (condensador, objetivas e oculares), corpo do

microscópio (mesa, tubo, platina...) e fonte de iluminação (que nos microscópios mais antigos não

fazem parte do microscópio).

O condensador tem por objetivo prover uma iluminação uniforme. Geralmente é dotado de

um diafragma que permite controlar a quantidade de luz que incidirá sobre a preparação a ser

37

Page 38: Bio Celular 2

observada. Em muitos aparelhos, a intensidade e “qualidade” da luz também pode ser controlada

através de um parafuso que permite subir ou baixar o condensador.

Duas lentes ou conjuntos de lentes permitem o aumento da imagem da preparação, são as

lentes oculares e as objetivas. As oculares, como o próprio nome diz, ficam próximas ao olho do

observador. Já as objetivas ficam próximas ao objeto a ser observado. As objetivas são afixadas

em um sistema rotativo, o revólver, que permite que sejam trocadas com facilidade. Quanto maior

o tamanho da objetiva, maior o aumento que ele proporciona. As objetivas e oculares, trazem

escrito no seu corpo, várias informações e entre elas o seu valor de aumento. O aumento final

dado por um conjunto de lentes é obtido multiplicando o aumento da objetiva pelo aumento da

ocular. Assim, se o aumento da objetiva é de 10X e a ocular também é de 10X o aumento final é

de 100 vezes.

Como proceder para focalizar no microscópio: 1) Mova o revolver de modo a deixar a objetiva panorâmica (menor aumento) na posição

de observação, e abaixe totalmente a mesa.

2) Coloque a lâmina na mesa (platina), fixando-as com as garras do charriot (obs: a

lamínula deve estar voltada para cima).

3) Ligue o sistema de iluminação e ajuste o charriot de modo a centrar o material a ser

observado na região iluminada do orifício da platina.

4) Olhe pela ocular ao mesmo tempo em que a mesa é lentamente elevada, girando o

parafuso macrométrico, até que a preparação esteja focalizada. Use o micrométrico para fazer o

ajuste fino do foco.

5) Mova a lâmina usando o charriot de forma a encontrar campos interessantes a serem

observados. Interprete o que estas vendo, registre e se necessário desenhe.

6) Quando mais detalhes de uma região da lâmina são necessários, utilize as objetivas de

maior aumento (10X; 40X). Para tal, basta girar o revólver e fazer um ajuste fino do foco com o

micrométrico.

PARA USAR A OBJETIVA DE 100X, se faz necessário colocar uma gota de óleo de

imersão entre a lamínula e a lente. Focalize mexendo somente o micrométrico.

Após o uso da lente de imersão não esqueça de retirar o óleo da objetiva e também da

preparação.

Outros lembretes importantes: Cada pessoa tem uma distância entre os seus olhos. Para que possamos olhar em

microscópios binoculares (com duas oculares), estes possuem um sistema de regulagem da distância interorbital, ou seja, um mecanismo que permite movimentar os dois canhões para a medida exata da distância entre os olhos de cada usuário. Além disso, ao menos uma das oculares tem uma regulagem de foco independente. Assim, ao começar a observação em um microscópio binocular, primeiro focalize olhando somente a ocular que não tem regulagem, posteriormente, focalize com a outra ocular, girando o controle de foco da ocular.

A iluminação, é de fundamental importância na visualização ao microscópio óptico. Após a focalização, movimente o condensador e o diafragma deste, até encontrar a iluminação ideal.

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Page 39: Bio Celular 2

Ao encerrar as observações ao microscópio não esqueça de deixa-lo com a platina abaixada, com a objetiva panorâmica, e desligado. Procedimento: 1) Corte um pedaço de jornal que contenha algumas letras, coloque sobre uma lâmina e leve ao microscópio. 2) Focalize algumas letras. O que acontece? Desenhe. 3) Mude as objetivas. O que acontece? Desenhe. 4) Pegue um fio de cabelo, coloque entre lâmina e lamínula. Leve ao microscópio, observe e desenhe. Questões a serem respondidas: 1) Como se calcula a aumento final que estamos vendo em um microscópio? 2) Porque a imagem vista em um microscópio é invertida? 3) O que é microscopia de fluorescência? Para que serve? 4) O que é microscopia de contraste-de-fase? Para que serve? 5) Descreva o processo de focalização de Köhler 6) O que é um estereomicroscópio? 7) O que é microscopia eletrônica? Descreva o funcionamento de um microscópio eletrônico e compare o seu funcionamento com o do microscópio óptico.

Figura 2.3 – Partes do microscópio

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Page 40: Bio Celular 2

2a aula

observando células de epitélio

de escamas de cebola Um dos materiais mais apropriados para um primeiro contato com as células é uma

preparação “a fresco” de epitélio de escamas de cebola. É uma prática extremamente simples e as

células desse material são grandes de tal forma que com qualquer microscópio mesmo rudimentar

permite a visualização dessas células. Com um microscópio de uma boa óptica é possível observar

o núcleo, nucléolo, plasmólise, parede celular, e plasmodesmos.

OBSERVANDO OSMOSE EM CÉLULAS VEGETAIS 1) Retire a epiderme de uma escama de cebola e coloque sobre uma lâmina com uma gota

de azul de metileno (0,3%). Preste atenção para retirar o epitélio exterior da escama, pois este tem

uma única camada de células enquanto o da camada inferior tem várias camadas o que dificultará

a observação. Espere 1 minuto para corar e depois retire o excesso de corante com uma gota de

água.

2) Cubra com uma lamínula. Cuide para não ficar bolhas de ar e que fique líquido entre a

lâmina e a lamínula. Seque a lâmina principalmente a face de baixo (sem a lamínula) pois se esta

ficar úmida, vai grudar na mesa do microscópio dificultando o movimento do “charriot”.

2) Observe e desenhe as células de epiderme de cebola, indicando a parede celular, o

núcleo e o nucléolo.

3) Coloque em um dos lados da lamínula uma gota de uma solução saturada de NaCl ou

sacarose (ou glicerina). Observe, descreva e desenhe o que aconteceu.

4) Identifique os plasmodesmos, e a parede celular.

Responda as seguintes questões:

1) Faça um desenho com todas as partes observadas.Não esqueça as legendas,

aumentos e a data. 2) Qual o formato das células observadas?

3) Para que serve o azul de metileno?

4) O que aconteceu quando colocamos as células em uma solução hipertônica? Por que?

5) O que é plasmólise?

6) O que são plasmodesmos?

7) O que é a parede celular? No que ela difere da membrana plasmática?

40

Page 41: Bio Celular 2

PARA FAZER EM CASA (As questões e desenhos dessa atividade deve ser entregue junto com as

questões e desenhos da segunda aula)

PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DOS COMPONENTES DA

MEMBRANA PLASMÁTICA.

Material necessário: 3 recipientes (copo, vidro de remédio...); 1 colher; azeite; água;

detergente colorido (azul, verde ou vermelho); solvente orgânico (acetona, gasolina, éter ou água-

raz); açúcar e sal.

As macromoléculas que compõe os seres vivos podem ser classificadas em 2 tipos:

polares, sendo solúveis em água (hidrossolúveis) e as apolares que são insolúveis em água, mas

solúveis em solventes orgânicos como éter, clorofórmio, cetonas... (lipossolúveis).

Procedimento: 1) Em um recipiente com um pouco de azeite de cozinha (que é um lipídio- portanto

apolar), coloque uma pitada de açúcar (que é um glicídio). Mexa bem. O que aconteceu? Por que?

- Repita com sal de cozinha, o que aconteceu? Por que?

2) Em um recipiente, coloque um pouco de acetona ou éter ou água-raz ou gasolina (todos

estes são solventes apolares). Coloque uma colher de açúcar. Agite. O que aconteceu? Por que?

- Repita com uma gota de azeite. O que aconteceu? Por que?

3) Em 3 recipientes, coloque:

no 1o: 1/2 de água, 1/2 de azeite

no 2o: 1/2 de azeite, metade de detergente colorido (azul ou vermelho)

no 3o: 1/3 de água, 1/3 de azeite e 1/3 de detergente colorido.

Agite os líquidos com uma colher e observe por 5 minutos ou mais. Descreva o

que aconteceu?

As membranas biológicas são formadas, principalmente, por lipídios e proteínas

anfipáticas, ou seja, moléculas com uma parte apolar (lipossolúveis) e uma parte polar

(hidrossolúvel) como os detergentes. Portanto são, hidrossolúveis e lipossolúveis ao mesmo

tempo.

41

Page 42: Bio Celular 2

Responda: a) Faça um desenho de como são organizadas as moléculas anfipáticas de detergentes

em uma bolha de sabão.

b) Faça um desenho de como são organizadas as moléculas de lipídios e proteínas nas

membranas plasmáticas (Consulte os modelos nos livros de Biologia Celular).

c) Que propriedades podemos esperar da Membrana Biológica segundo o modelo do

Mosaico Fluído ?

d) Qual a função dos lipídios (fosfolipídios) nas membranas biológicas segundo o modelo

do M-F ?

e) Qual a função das proteínas nas membranas biológicas segundo o modelo M-F?

3a Aula:

COMPARANDO CÉLULAS PROCARIOTAS E EUCARIOTAS.

Os seres vivos podem ser classificados em dois grandes grupos: os procariontes e os

eucariontes, conforme a organização da célula que os compõe. O objetivo desta prática é de

comparar células procariotas e eucariotas, suas semelhanças e diferenças. Ao microscópio óptico,

o que mais chama a atenção, é a grande diferença de tamanho que existe entre as células

procariontes e eucariotes típicas. É claro que podemos encontrar células procariontes, como

algumas algas cianofícias, que possuem tamanho próximo ou mesmo maior que algumas células

eucariontes. Entretanto, a regra é que os procariontes geralmente têm células bem menores que

os eucariontes.

Outra diferença bem marcante é a presença do núcleo nos eucariontes e a sua ausência

nos procariontes. Internamente, não só a presença do núcleo difere os procariontes dos

eucariontes, mas sim uma intensa compartimentalização das diversas funções celulares em

organelas envoltas por membranas, o sistema de endomembranas que caracteriza as células

eucariontes. Porém, via de regra, o sistema de endomembranas é de difícil visualização ao

microscópio óptico, sendo mais bem observado ao microscópio eletrônico.

Nesta atividade, vamos colocar lado-a-lado células bacterianas (uma típica célula

procarionte) e células da mucosa da bochecha (representando uma típica célula eucarionte).

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Page 43: Bio Celular 2

Material necessário: Lâmina, lamínula, palito de fósforo, placa com bactérias, alça de platina, lamparina, álcool 70%, corante azul de metileno 0,05%, papel filtro, copo Becker 250 ml (ou vidro de Nescafé), microscópio. Procedimento: 1) Com uma alça de platina, encoste levemente em uma colônia de bactérias na placa de Petri. 2) Esfregue a alça na lâmina até espalhar bem as bactérias. 3) Fixe as bactérias pelo calor, passando a lâmina na chama de uma lamparina, com as bactérias voltadas para cima, tomando o cuidado para a lâmina não aquecer demais (controle nas costas da mão). 4) Com um palito de fósforo, raspe a bochecha, posteriormente,esfregue o palito em cima da região da lâmina em que previamente foram colocadas as bactérias. 5) Fixe as células em álcool 70% por 1 minuto. 6) Coloque uma gota de corante (azul de metileno 0,3%) e espere 1 minutos. 7) Tire o corante, deixando passar um pequeno fluxo de água, sob a torneira. 9) Cubra com lamínula, seque os lados da lâmina e observe ao microscópio. Questões a serem respondidas: 1) Compare as células procariotas e eucariotas (observe e desenhe): a) Quanto ao tamanho - Faça um desenho com as relações de tamanho, não esquecendo de anotar o aumento usado. b) Quanto à forma. c) Quanto à presença de núcleo. d) Porque fixamos as bactérias na chama ? e) Qual a função da fixação em álcool ? f) Qual a função de cada um dos componentes do corante? 2) Quais seres vivos chamamos de procariontes? Quais os que representam os eucariontes? 3) Que outras diferenças existem entre as células procariotas e as eucariotas, mas que não puderam ser vistas ao microscópio óptico? O que precisamos fazer para poder detectar estas diferenças?

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Page 44: Bio Celular 2

Para fazer na cozinha (2)

UM POUCO DE FÍSICO-QUÍMICA: (as questões dessa atividade devem ser respondidas e entregues junto com as da 3a aula)

O que é pH ?

INFORMAÇÕES TEÓRICAS:

Muitas moléculas estão continuamente formando íons. A água, por exemplo, forma os íons

H+ e OH-, que permanecem por algum tempo nesta forma iônica e voltam a se associar para

formar nova molécula de água. A molécula de água ao se dissociar, forma quantidades iguais de

íons H+ e OH- .

Algumas moléculas formam quantidades desiguais de íons H+ ou OH-. Por exemplo:

a) HCl (ácido clorídrico) forma os íons H+ e Cl - . Sempre que a dissociação de uma molécula em

seus íons forma prótons H+, ela é um ÁCIDO.

b) NaOH (hidróxido de sódio) forma os íons Na+ e OH-. Sempre que a dissociação de uma

molécula em seus íons forma hidroxilas OH-, ela é uma BASE.

O pH (potencial de Hidrogênio) é uma medida da quantidade de prótons H+ presentes em

uma solução. Quanto mais prótons H+, mais ácida é a solução. Quanto mais hidroxilas (OH-)

mais básica, ou alcalina é a solução. A água, como tem igual quantidade de H+ e OH- é dita

NEUTRA.

Chamamos de ESCALA DE pH as variações na quantidades de prótons H+, que varia de 1

a 14. As soluções com pH abaixo de 7 são ditas ácidas e as acima de 7 são as básicas (alcalinas).

A água tem pH 7,0.

Ácido Neutro Base

pH 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Quando, em uma solução ácida, vamos gradativamente acrescentando uma base,

forma-se Sal e Água e o pH da solução vai subindo até ficar neutro e posteriormente continua

subindo tornando-se básica.

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Page 45: Bio Celular 2

Agora, se começarmos a adicionar um ácido em uma solução básica, o pH vai diminuindo,

torna-se neutro e passa a ácido.

EXPERIMENTOS PARA DEMONSTRAR ALTERAÇÃO DE pH

Algumas substâncias podem mudar de coloração dependendo do pH da solução.

Podemos usar esta propriedade para demonstrar alterações de pH.

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Page 46: Bio Celular 2

I . Preparando a atividade:

Material Necessário para Execução do Experimento:

- Folhas de Repolho Roxo,

- Ácido acético (3%) ou vinagre

- Hidróxido de sódio (0,1 M), ou uma solução feita com umas escamas de soda cáustica (2 ou 3)

em 10 ml de água (+/- 3 colheres); em último caso pode se usar leite de magnésia.

- Frascos incolores / transparentes para a visualizar as alterações de coloração

- Conta-gotas ou pipetas (no mínimo um para cada solução)

Preparo das Soluções-

A) Infusão de repolho roxo: Picar bem 2 a 3 folhas de repolho roxo (correspondente a uma xícara), colocar em água

fervente e esperar alguns minutos, para que a água torne-se colorida.

PROCEDIMENTO:

1. Colocar, em quatro frascos transparentes um pouco da solução de repolho roxo

2. Acrescentar algumas gotas de vinagre. Observe o que acontece.

3. Acrescente agora algumas gotas de solução de NaOH (ou solução de soda cáustica).

Acrescente tanta gotas até que não mude mais de cor.

4. Volte a adicionar gotas de vinagre.

5. Volte a adicionar NaOH.

6. Comparar e registrar as colorações obtidas.

OBS.: O fenômeno de alteração de cores é reversível portanto, ocorrendo toda vez que o pH

ultrapassa o ponto de viragem do indicador.

Responda as questões:

1) Quais são os pHs que encontramos no sangue, na urina e no estomago humano?

2) O pH do sangue sofre variações? Existe algum mecanismo de controle do pH no sangue?

3) E dentro da célula, as diferentes organelas têm o mesmo pH? Dê exemplos.

4) O que acontece com as proteínas quando temos pequenas alterações de pH ? E quanto as

proteínas são submetidas a grandes alterações de pHs, como quando colocadas em um meio com

pH muito ácido ou muito alcalino?

5) Localize 5 propriedades biológicas associadas com pH?

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Page 47: Bio Celular 2

4 a Aula

ESTUDANDO A PASSAGEM DE SOLUTOS E SOLVENTES

PELA MEMBRANA PLASMÁTICA.

As células de qualquer organismo estão cobertas pela membrana celular. A constituição

dessa membrana promove a passagem controlada de substâncias e o conseqüente equilíbrio

dinâmico dentro do organismo.

A água e outros íons pequenos podem passar sem gasto de energia (transporte passivo)

pelas membranas biológicas (M.B).

Uma das formas de transporte passivo é a osmose, que vem a ser a passagem do solvente

de uma solução menos concentrada para a solução mais concentrada, através de uma membrana

semi-permeável.

Observação importante: O uso de sangue em aulas práticas, deve ser feito com muita cautela, principalmente

depois do aparecimento da AIDS. Mas pensamos que isto, ao invés de ser um obstáculo, deve ser

um componente a mais para a formação dos alunos. Devemos fazer uso de agulhas estéreis, o

chamar a atenção para que todos evitem, de toda maneira, usar a lâmina dos colegas, ficando

restrito a manipulação do seu próprio sangue. O professor, e todos os que vão manipular sangue,

devem, sem exceção, usar luvas descartáveis. Após a atividade, todo o material deve ser

desinfectado com álcool.

Material necessário:

Lâmina, lamínula, agulha hipodérmica descartável, lâmina de barbear, conta gotas, água

destilada, soro fisiológico (NaCl 0,9%), solução hipertônica (solução saturada de NaCl e/ou

açúcar); papel filtro, MO, luvas descartáveis, água sanitária, algodão, glicerina.

Procedimento:

1) Coloque uma gota de soro fisiológico em duas lâminas limpas (o uso de soro fisiológico

e opcional, se a gota de sangue for de um volume razoável -uma gota grande- não se faz

necessário o uso de soro fisiológico).

2) Fazer um pequeno furo na ponta de um dedo, com uma agulha descartável estéril e

colocar uma gota de sangue sobre cada lâmina (todas as agulhas devem ser dispensadas em um

frasco com uma solução 20% de água sanitária).

3) Cubra com lamínula e observe ao MO. Descreva e desenhe as hemácias.

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Page 48: Bio Celular 2

4) Em uma das lâminas, com um conta-gotas coloque uma gota de uma solução

hipertônica em um dos lados da lamínula e encoste um papel filtro do outro lado para substituir o

soro da lâmina. Dessa forma, o papel filtro puxará um pouco do sangue da lâmina e no outro lado,

um pouco da solução hipertônica entrará em contato com as células sanguíneas.

5) Observe ao MO, principalmente na região da lâmina onde as hemácias mais entraram

em contato com a solução hipertônica que as hemácias “murcharam”, ficando crenadas.

6) Na outra lâmina, repita o mesmo procedimento anterior, só que em vez de solução

saturada, use água destilada. Observe na região da lâmina onde as hemácias mais entraram em

contato com a solução hipotônica que as células estão túrgidas, quase estourando (e as vezes

realmente “estouram”).

Terminada esta parte da prática, as lâminas devem ser mergulhadas em uma solução de

água sanitária 20% (ou álcool 96 GL) por no mínimo 1/2 hora, para depois ser limpo e

reaproveitadas. Cada aluno deve passar um algodão com álcool, na mesa e demais partes

manuseadas do microscópio.

1) O que é osmose? quando ocorre?

2) Porque ocorre hemólise (as hemácias estouram) quando as colocamos em água destilada? 3) Porque as hemácias ficam crenadas na presença de uma solução hipertônica?

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Page 49: Bio Celular 2

5a aula

FRACIONAMENTO CELULAR

O emprego do microscópio, seja o microscópio óptico ou eletrônico, geralmente fica restrito

à descrição das estruturas celulares. Para o estudo da composição química dos componentes

celulares e interpretação das interações entre estes componentes para explicar o funcionamento

celular, se faz necessário o emprego de outras metodologias que não o uso do microscópio. O

estudo bioquímico dos componentes celulares requer a separação e o isolamento cuidadoso das

várias organelas e macromoléculas celulares. As 3 principais técnicas usadas para isto são a

centrifugação, cromatografia e eletroforese.

1) ORGANELAS E MACROMOLECULAS PODEM SEM SEPARADAS POR CENTRIFUGAÇÃO.

As células podem ser rompidas de várias maneiras, como por choque osmótico, vibrações

ultrasônicas, forçadas a passar por um pequeno orifício ou homogeneizadas por força mecânica.

Quando cuidadosamente aplicadas, estes procedimentos deixam as organelas como núcleo,

mitocôndrias, complexo de Golgi, peroxissomos... intactos. Assim como muitas vesículas derivadas

do retículo endoplasmático, chamadas microssomos, mantém muito de suas propriedades

bioquímicas originais.

Como todos estes componentes tem grandes diferenças de tamanho, eles podem ser

separadas por centrifugação.

Postos em um tubo a girar em altas rotações, os vários componentes vão sofrer a ação da

força centrífuga. Os componentes maiores como células intactas e núcleos vão sedimentar

primeiro no fundo do tubo (p/ ex: 1000 rpm por 5'); rotações medianas em maior tempo farão

sedimentar componentes um pouco menores como mitocôndrias, lisossomas e peroxissomas

(20.000 rpm por 10'). Altas rotações em tempos ainda maiores (80.000 rpm por 3 horas)

sedimentam ribossomos e grandes macromoléculas.

Ver esquema de fracionamento por centrifugação em Junqueira e Carneiro (2000).

Material Necessário: Folhas de Tradescantia; gral e pistilo; tubos de centrífuga; pipetas Pasteur; centrífuga;

soro fisiológico; SDS 10% (sódio-duodecil-sulfato) ou detergente, água destilada. lâmina, lamínula

e microscópio.

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Page 50: Bio Celular 2

Procedimento: Primeira parte: Observação de um corte transversal de folha de Tradescantia 1) com uma gilete afiada, corte transversalmente uma folha de Tradescantia, o mais fino

possível.

2) Coloque o corte em uma lâmina com uma gota de água, cubra com lamínula e leve ao

microscópio.

3) Observe: a) que células tem pigmento roxo. Desenhe

b) Que células tem cloroplastos. Identifique os cloroplastos e desenhe.

Segunda Parte: Fracionamento por centrifugação.

1) Coloque 3 ml de soro fisiológico em um gral;

2) Esmague nesta solução 3 a 4 folhas de Tradescantia com um pistilo;

3) Coloque o líquido em um tubo de centrífuga e centrifugue rapidamente (15 seg) para retirar

fibras de celulose e restos de tecidos;

4) Transfira o sobrenadante para um novo tubo, e centrifugue por 5 minutos a 7.000 rpm.

6) Desenhe e descreva o que encontramos no tubo após a centrifugação.

7) Passe o sobrenadante para um novo tubo.

8) Ressuspenda o precipitado com dois ml de soro fisiológico.

9) Faça uma lâmina com o sobrenadante e com o precipitado, observe ao microscópio e

desenhe.

10) Acrescente uma gota de SDS 1% ou detergente no tubo com líquido verde, agite por um

minuto.

11) Centrifigue os tubos, sobrenadante e o precipitado (agora ressuspenso) por 5 mim a 7.000.

12) Observe e desenhe o que encontramos nos tubos

13) Faça uma lâmina com o precipitado do tubo verde.

Responda as questões: 1) Que método usamos para romper as células, nesta prática?

2) Porque usamos soro fisiológico e não água?

3) O que encontramos no sobrenadante após a primeira centrifugação? E no precipitado?

4) Por que usamos o SDS?

5) Por que o sobrenadante agora é verde e o precipitado incolor?

6) o que é uma ultracentrífuga?

7) Faça um esquema de fracionamento celular, que você poderia fazer se tivesse uma

ultracentrífuga, e desejasse fracionar hepatócitos nos seus vários componentes.

6a aula

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Page 51: Bio Celular 2

FRACIONAMENTO MOLECULAR POR CROMATOGRAFIA

Como podemos isolar uma proteína ou uma outra molécula da célula?

Para o desenvolvimento da Biologia Celular, foi crucial obter as moléculas que compõe a

célula, como as proteínas, em seu estado puro, isto é, isolado das outras moléculas da célula. Mas

mesmo uma bactéria bem simples possui mais de 2000 tipos de proteínas, como podemos isolar

só uma enzima que nos interesse?

Um dos métodos mais utilizados para este fim é a cromatografia de coluna, na qual uma

mistura de moléculas em solução é aplicada na parte superior de uma coluna, que contém uma

matriz sólida, porosa. Posteriormente, um grande volume do solvente passa pela coluna e é

coletado em tubos separados, à medida que emerge na parte inferior da coluna. As diferentes

moléculas são retardadas diferencialmente, pela sua interação com a matriz, moléculas diversas

atravessam a coluna com velocidades diferentes e são então fracionados em uma série de tubos.

Depois de passar em algumas dessas colunas, a enzima de nosso interesse estará

isolada de todas as outras moléculas, em um dos diferentes tubos que foram coletados.

Atividade experimental: 1- Coloque um pequeno pedaço de esponja na ponta de uma pipeta Pasteur.

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Page 52: Bio Celular 2

2- Faça uma solução de Sílica gel em um copo volumétrico ou becker, usando água de torneira

levemente acidulada com 1 gota de vinagre para cada 10 ml. Com um conta-gotas, coloque a

resina (sílica gel) na coluna. A este procedimento chamamos empacotamento da coluna.

3- Em um gral, coloque uma folha de manto-de-viuva (Tradescantia), com umas gotas de água-

acidulada e esmague com o pistilo.

4- Colocar aproximadamente um ml desse líquido na coluna

5- Com uma pipeta de Pasteur coloque água na ponta superior da coluna e observe que um líquido

roxo começa a descer, enquanto uma camada verde se deposita na ponta superior da coluna.

Após algum tempo começa a pingar uma solução roxa (antocianina). Colete amostra desta fase.

6- Substitua o líquido que passa pela coluna, coloque etanol na parte superior da coluna e observe

que o pigmento verde começa a descer

7- Quando começar a pingar o pigmento verde, colete uma amostra deste.

Responda: 1) Faça um desenho esquemático representando o experimento e explique-o.

2) Porque o pigmento roxo é diluído primeiro na coluna?

3) Por que o pigmento verde fica retido não coluna enquanto estava passando água pela coluna?

4) Por que ele desceu na presença de álcool?

5) Qual a localização intracelular das antocianinas?

6) Qual a localização intracelular das clorofilas?

7) Qual a solubilidade desses pigmentos?

ISOLAMENTO DE DNA NA COZINHA

Em um laboratório de Biologia Molecular, o primeiro passo para se estudar um gene é o

isolamento do DNA. Você também pode fazer isto na sala de aula ou em sua cozinha.

Procedimento:

1) Pique uma cebola grande (250g) em pequenos pedaços (ou rale com um ralador). Faça uma

solução misturando 10 ml de detergente de louça, 1/2 colher de sopa de sal e complete com água

até 100 ml. Aqueça a solução até +/- 60oC e adicione esta mistura ao picadinho de cebola,

deixando 10 minutos em banho-maria a 60oC.

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Page 53: Bio Celular 2

2) Resfrie rapidamente a mistura colocando o recipiente em uma bacia contendo água e gelo. Coe

a mistura em um filtro de papel para café, aparando o filtrado em um vidro.

3) Adicione delicadamente álcool (gelado) no filtrado de cebola, deixando o etanol escorrer pela

parede do vidro. Observe a formação de fios esbranquiçados que sobem para onde está o álcool.

Estes fios correspondem aos ácidos nucléicos - DNA e RNA.

4) Você pode retirar o DNA da solução enrolando em um bastão.

5) Deixe o bastão secar ao ar e coloque o bastão em um tubo com água para re-dissolver o DNA.

Aplique este DNA no processo de eletroforese explicado a seguir.

Atividades Propostas e Perguntas 1) Faça um desenho esquemático com todas as fases do experimento. - Em detalhe, mostre o que

vai acontecendo com as células e com as macromoléculas.

2) Porque usamos detergente?

3) Qual a função do sal e da água quente?

4) Por que baixamos a temperatura, aplicando gelo?

5) Por que coamos em um filtro de café?

6) Qual a finalidade de acrescentarmos o álcool?

7a aula

ELETROFORESE

Moléculas que possuem carga elétrica, como as proteínas e os ácidos nucléicos, podem

ser separadas por eletroforese. Eletroforese é o movimento de moléculas eletricamente carregadas

em um campo elétrico.

Geralmente, em um processo eletroforético, as proteínas ou ácidos nucléicos são

colocadas a migrar sob um campo elétrico, no interior de um suporte gelatinoso (um gel) de

poliacrilamida, agarose ou amido.

A seguir será apresentado o processo de eletroforese vertical para separação de proteínas. O que você

virá em aula será eletroforese horizontal de ácidos nucléicos, preste atenção na aula e faça as devidas

observações das diferenças entre a técnica descrita para proteínas e a feita em aula para DNA.

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Page 54: Bio Celular 2

As amostras contendo uma mistura de proteínas são aplicadas em um gel. Posteriormente uma

corrente elétrica é aplicada neste gel por algumas horas, as proteínas mais negativas e menores

migrarão mais rapidamente que as positivas e maiores.

Posterior a migração, o gel é colocado em uma solução contendo corantes específicos

para proteínas (A). Após a coloração, podemos visualizar diferentes bandas que correspondem a

proteínas que possuem cargas ou tamanhos diferentes (B).

Alguns processos de eletroforese podem revelar mais de 1000 diferentes proteínas em um

único gel. Esta grande sensibilidade torna esta técnica muito útil para identificar quais as proteínas

são responsáveis por diferenças genéticas ou fisiológicas em qualquer organismo.

Atividade experimental: 1) Montar um gel de agarose 0,8% da seguinte forma:

Ferver em microondas 0,8 gramas de agarose, em 100 ml de uma solução tampão (TAE) e

após fundir a agarose, acrescentar 25 microlitros de Brometo de etídio. (usar luvas sempre que

usar esta droga, pois ela é cancerígena).

Colocar a agarose ainda quente em uma placa com um pente

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Page 55: Bio Celular 2

Esperar esfriar e colocar o gel na cuba eletroforética de gel horizontal

2) Misturar 5µl de uma solução de DNA com 5µl de uma solução de tampão de amostra

(Glicerina e azul de bromofenol) . Aplicar com uma micropipeta em um dos pocinhos do gel.

3) Ligar a fonte de eletroforese a 100 volts e deixar o azul de bromofenol migrar

aproximadamente 3 cm

4) Observar o gel no transluminador ultravioleta (UV).

RESPONDA e Faça os desenhos do que foi visto em aula. 1) Quantas diferentes bandas foi possível ver em cada aplicação? 2) Quem migrou mais rápido o DNA ou o RNA? Porquê? 3) Por que os ácidos nucléicos migram em direção ao pólo positivo? 4) Qual a função do azul de bromofenol? 5) O que é uma solução tampão? 6) Por que colocamos brometo de etídio no gel? 7) Quais as semelhanças e diferenças dos processos de eletroforese horizontal de ácidos nucléicos e o sistema de eletroforese vertical de proteínas descrito?

8a Aula

OBSERVAÇÃO DE CICLOSE E CLOROPLASTOS EM

CÉLULAS DE Elodea

Elodea é uma planta usada como ornamental em aquários, facilmente adquirida em lojas

que vendem produtos para aquariofilia. É uma monocotiledônea pertencente à família

Hydrocharitaceae. As folhas dessa planta são ótimas para observação de ciclose que é o

movimento contínuo do citoplasma no interior da célula, assim como de cloroplastos.

Geralmente, os componentes das células são incolores. Por isso, ao se observar direto ao

microscópio, pouco se pode observar de seus constituintes. Para se superar este problema,

geralmente fazemos uso de corantes que vão evidenciar alguma parte da célula.

Os cloroplastos, organela presente somente nas células vegetais e responsáveis pela

fotossíntese, são naturalmente corados. Em virtude disto, e também por serem organelas bastante

grandes, os cloroplastos podem ser facilmente visualizados ao microscópio.

As folhas de Elodea apresentam apenas duas camadas de células, em que se pode

observar com facilidade os cloroplastos.

As células eucariontes possuem um citoesqueleto que promove o movimento dos

componentes no interior da célula. Às vezes estes movimentos são correntes citoplasmáticas que

chamamos CICLOSE. Se todos os componentes do interior da célula são incolores, é muito difícil

se observar os movimentos citoplasmáticos. A presença dos cloroplastos que são naturalmente

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Page 56: Bio Celular 2

corados torna possível a visualização da ciclose. Devemos lembrar que a ciclose é o movimento do

citoplasma causado pela ação do citoesqueleto. Os cloroplastos são levados por essa corrente do

citoplasma.

Procedimento 1) Com o auxílio de uma pinça ou gilete, retire uma folha de Elodea.

2) Em uma lâmina para microscopia com uma gota de água, coloque a folha de Elodea, por

sobre a gota.

3) Cubra com lamínula, e leve ao microscópio para observação.

4) Observe o tamanho e forma dos cloroplastos. Geralmente após alguns minutos de

observação, podemos ver a ciclose. Descreva como é a ciclose.

Observação de ciclose em células do pêlo estaminal de Tradescantia (manto-de-viuva).

As células do pêlo estaminal de manto-de-viúva (trapoeraba) também apresentam ciclose

bastante ativa. Vale salientar que nessas células existe a presença de um grande vacúolo. O

citoplasma da célula fica restrito a alguns canais internos da célula, o restante é ocupado pelo

vacúolo.

Procedimento:

1) Com uma pinça, retire um pêlo do estame de uma flor de manto-de-viúva.

2) Coloque sobre a lâmina com uma gota de água e cubra com uma lamínula.

3) Observe ao microscópio, desenhe e descreva a ciclose.

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Page 57: Bio Celular 2

Responda as questões: 1) Por que podemos ver facilmente os cloroplastos, mas não outros componentes do

sistema de endomembranas como o complexo de Golgi, retículo endoplasmático ou

mitocôndrias?

2) Que parte do citoesqueleto está envolvida na ciclose? De que forma?

3) Por que a ciclose nas células da Elodea ocorrem no interior de toda a célula enquanto

na célula da Tradeschantia ocorre apenas dentro de estruturas que lembram “canais”?

9a Aula

OBSERVANDO CÍLIOS E SISTEMA DE ENDOMEMBRANAS

Podemos observar com facilidade a atuação do citoesqueleto, através dos cílios e dos

pseudópodes em protozoários de vida livre. Nos Paramecium podemos ver os cílios e em Amoeba

os pseudópodes. Além disso, vários componentes do sistema de endomembranas, como vacúolos

digestivos (e pulsátil em Paramecium) são também facilmente observáveis. Paramecium é o nome genérico de um protozoário ciliado muito comum em mananciais de

água como os açudes e riachos. Estes protozoários são de fácil cultivo, se alimentando

principalmente de bactérias, pequenas algas e outros protozoários menores. Podem ser mantidos

em recipientes com um pouco de água e uma pequena pitada de leite em pó (+/- 60mg para cada

100 ml de água). Como a qualidade da água é importante para este protozoário, devemos trocar

um pouco da cultura velha (mais ou menos a metade) por água nova com leite, a cada semana.

Assim, podemos manter infinitamente o Paramecium. Outro meio de cultivar este ciliado é colocar

um pouco de gérmen de trigo na água a cada semana, e sempre trocando a metade do volume da

cultura por água nova a cada semana.

Por ser de fácil cultivo e apresentar cílios e o sistema de endomembranas facilmente

observável, além de ter uma taxa de reprodução assexual bem alta, este protozoário é um

excelente recurso para atividades práticas de Biologia Celular. Antes, porém, de descrever estas

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Page 58: Bio Celular 2

práticas, vamos mencionar alguns aspectos importantes sobre a biologia e estrutura dos

Paramecium.

As espécies mais comuns de Paramecium possuem em torno de 0,5 mm de comprimento.

Os ciliados são excepcionais entre os eucariontes, uma vez que possuem no mínimo dois núcleos

com funções distintas. O macronúcleo participa das atividades do dia a dia como crescimento,

metabolismo e reprodução. O micronúcleo permanece relativamente dormente até que a célula

entre em reprodução sexuada. Os Paramecium possuem dois tipos de reprodução; a) divisão binária: em condições favoráveis a célula se divide em duas. As duas novas células,

geneticamente idênticas, crescem rapidamente e voltam a se dividir. Mantendo as condições

favoráveis estes organismos podem se dividir duas a três vezes em um dia; b) conjugação: em

condições ambientais desfavoráveis, dois indivíduos de sexos diferentes entram em contato e

formam uma ponte citoplasmática temporária, por meio da qual trocam micronúcleos.

Observando os cílios e o sistema de endomembranas:

Nos Paramecium podemos observar com facilidade a atuação do citoesqueleto, através

dos cílios, assim como o movimento intracelular dos vacúolos digestivos e contrátil. Além disso,

vários componentes do sistema de endomembranas, como vacúolos digestivos e pulsátil são

também facilmente observáveis.

Material necessário:

Cultura de Paramecium; microscópio, lâmina – lamínula; infusão de cigarro.

Procedimento: 1) Encher um tubo de centrífuga com uma cultura de Paramecium. Centrifugar por 60

segundos.

2) Retirar o sobrenadante, deixando apenas uma pequena gota de meio líquido.

3) Acrescentar, na gota que restou no tubo em que os Paramecium foram centrifugados,

uma gota de uma solução de “narcótico” feito da seguinte maneira: ( deixar um cigarro em infusão

em 30 ml de água por 12 horas). A finalidade desta infusão de cigarro e diminuir a atividade dos

Paramecium , uma vez que estes protozoários são muito rápidos e sem este narcótico é muito

difícil segui-los ao microscópio.

Outra opção é colocar alguns fios de algodão entre a lâmina e a lamínula. Os Paramecium

não podem nadar tão livremente entre os fios de algodão, facilitando a sua observação.

4) Faça um desenho com as principais partes de um Paramecium.

5) Observe o batimento dos cílios e desenhe (observe e descreva os tricocistos)

6) Identifique e observe a contração dos vacúolos contráteis.

7) Identifique os vacúolo digestivo.

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Page 59: Bio Celular 2

8) Identifique e desenhe o citostoma e a citofaringe. (O que são fagossomas e onde estes

se formam nos Paramecium ?

9) Faça um desenho comparando a ultra-estrutura de um cílio e de um centríolo.

10a Aula

PREPARAÇÃO DE LÂMINAS PERMANENTES (aula demonstrativa).

Estruturas biológicas grandes não podem ser vistas diretamente ao microscópio, por que a

luz não pode atravessá-las. Precisamos, então, fazer cortes o mais fino possível, para que a luz

possa passar pelas estruturas, e assim ser visto ao microscópio. Para sofrer tais cortes, o material

deve ser fixado, emblocado em parafina ou outra resina e, imerso neste suporte, cortado em

pequenas "fatias", através de um aparelho chamado micrótomo. Posteriormente este material é

corado e a lâmina é montada.

Nesta prática, vamos visitar os laboratórios de anatomia vegetal do Dep. de Biologia, em

que lâminas permanentes de vegetais são preparadas.

Preste atenção as explicações (e faça as perguntas que achar necessário) e

posteriormente responda as seguintes questões:

1) O que é a fixação do material? Qual a função da fixação?

2) Álcool etílico, clorofórmio, formol, ácido acético, ácido pícrico, e ácido ósmico são as

principais substâncias usadas como fixadores. Quais são as principais características de cada um

destas quanto a sua capacidade de fixação?

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Page 60: Bio Celular 2

3) As substâncias citadas na pergunta anterior, geralmente não são usadas em conjunto,

constituindo fluídos fixadores. Alguns destes fluídos são muito usados, como o Fluido de Carnoy; o

F.A.A; o Bouin. Diga qual a composição destes fixadores e suas características.

4) Porque desidratamos o material em uma série alcoólica antes de emblocar em parafina?

5) Para que emblocar em parafina?

6) Que outros suportes ou estratégias podem sem usadas no lugar do emblocamento em

parafina?

7) O que é orientação do corte?

8) Para que re-hidratar o material antes de cora-lo?

9) Qual a importância do uso de corantes na preparação de lâminas?

10) O que significam: coloração vital; corante acidófilo; corante basófilo?

11) Entre os principais corantes podemos citar: Carmim; hematoxilina; azul de metileno;

Cristal violeta (violeta genciana); Eosina; Fast Green; Fucsina ácida, safranina; Sudan black; diga

quais as características principais destes corantes (que estruturas eles coram, solubilidade,

concentrações usadas...)

11a Aula

OBSERVAÇÃO DE COMPLEXO DE GOLGI EM LÂMINAS

PERMANENTES DE EPIDÍDIMO.

Material fornecido: lâminas permanentes de epidídimo de rato.

Procedimento: 1) Localize e desenhe as células nos túbulos de epidídimo.

2) Observe e desenhe a posição do núcleo.

3) Observe e desenhe a posição e a forma do complexo de Golgi.

Responda as questões: 1) Por que foi escolhido o epidídimo para observar o complexo de Golgi? Que outro tipo de

célula poderia ser usada?

2) Que método de coloração foi usada e por que?

3) Como se forma o Complexo de Golgi?

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Page 61: Bio Celular 2

Observação de neurônios em cerebelo de camundongo.

Material fornecido: lâminas permanentes de cerebelo de camundongo.

Procedimento: Observe ao microscópio a região entre as substâncias branca e cinzenta, nela existem

alguns neurônios gigantes em que podemos ver perfeitamente o corpo celular (com núcleo), o

axônio e dendritos.

Responda: 1)Observe e desenhe estas células, suas partes, e descubra como são chamadas estas

células.

2)Qual a relação existente entre forma e função nestas células?

12a Aula

OBSERVAÇÃO DE CÉLULAS MUSCULARES ESTRIADAS

O desenho esquemáticos de células presente nos livros são muito comuns e úteis. Porém,

muitas vezes os alunos tem dificuldade de reconhecer que em um ser pluricelular, a diferenciação

celular é a regra. Muitas células acabam com formatos muito diferentes. As células musculares

estriadas esqueléticas são um exemplo.

Células musculares estriadas são células muito longas, polinucleadas apresentando os

núcleos na periferia da célula. O citoesqueleto é hipertrofiado, sendo que os microfilamentos de

actina e miosina, vão ocupar a maior parte da fibra muscular, constituindo estruturas específicas

das células musculares estriadas, que são os sarcômeros. Essas estruturas é que dão uma

aparência estriada a essas células quando vistas ao microscópio.

Material necessário:

Lâmina, lamínula, agulha histológica e lâmina de barbear, abelhas (ou outro inseto grande),

solução de verde Janus (0,7% em etanol 70%).

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Page 62: Bio Celular 2

Procedimento: 1) Com uma gilete, abra o tórax de uma abelha, vespa ou outro inseto voador grande

(previamente morta em vapores de éter).

2) Com uma agulha histológica retire algumas fibras musculares e transfira para uma

lâmina com uma gota de corante.

3) Cubra com lamínula, deixe corar por 3 minutos, e observe ao microscópio.

Alguns questionamentos : a) Como estão organizados os sarcômeros e como estes funcionam? (faça um desenho).

b) Quais as fases da contração muscular?

c) Como está organizado o citoesqueleto em uma célula muscular lisa?

d) Relacione as regiões estriadas que podemos ver nas fibras musculares com o sarcômero.

e) Qual a função do Verde Janus?

13 a aula

OBSERVAÇÃO DE MITOSE EM PONTA DE RAIZ DE CEBOLA,

Allium cepa (2n = 16).

COLETA E FIXAÇÃO DAS PONTAS DE RAÍZES DE CEBOLA

O procedimento mais fácil é encher um frasco com água colocar a cebola com a parte das

raízes imersa na água (figura abaixo) e esperar até que as raízes comecem a crescer.

Dependendo da época isso pode ocorrer em 24 horas ou em alguns dias.

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Page 63: Bio Celular 2

Quando as raízes tiverem atingido pelo menos cinco milímetros poderão ser facilmente

destacadas do bulbo, com auxílio de uma lâmina de barbear, estilete ou mesmo agulha. Não é

necessário deixar as raízes crescerem mais do que os cinco milímetros, pois o material que nos

interessa está na ponta.

As pontas de raiz devem ser imediatamente fixadas em solução de álcool e ácido acético

(3:1). Essa solução não dever ser estocada, recomenda-se que seja preparada no momento em

que vai ser usada.

O tempo mínimo que as pontas de raiz devem ficar no fixador é duas horas, as vezes, se o

material fica muito tempo no fixador ocorre um amolecimento excessivo do tecido dificultando a

preparação da lâmina.

Após o tempo de imersão no fixador as pontas de raiz podem ser estocadas em álcool 70%

(de preferência em refrigerador) ou então preparadas para a observação das mitoses.

2. HIDRÓLISE DO MATERIAL FIXADO Transferir as pontas de raiz de cebola para uma solução de ácido clorídrico 1N e deixar em

imersão por 15 minutos. Depois disso lavar em água (imersão por um ou dois minutos); remover o

excesso de água com um papel absorvente e transferir para uma lâmina de microscopia.

3. COLORAÇÃO

Antes de adicionar o corante sobre a ponta de raiz, pode-se remover (ou simplesmente

romper com uma agulha) a parte mais extrema do material (correspondente à região da coifa), pois

isso facilitará a coloração e a observação ao microscópio.

Para coloração um dos corantes mais usados é a orceína acética 2% (outros corantes

produzem o mesmo efeito e podem substituir a orceína). Uma gota desse corante é suficiente para

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Page 64: Bio Celular 2

uma boa coloração, desde que se espere no mínimo vinte minutos, antes de “bater” ou “esmagar”

o tecido.

Ao colocar a lamínula deve-se cuidar para deixar o menor número possível de bolhas de ar

para que a observação do material não seja prejudicada.

Depois que o corante atuou sobre o tecido pode-se envolver a lâmina com um papel filtro e

pressionar com o dedo polegar a região onde está a lamínula. Esse movimento fará com que o

tecido se espalhe pela lâmina e seja possível observar camadas de células isoladas. Nesses

grupos de células é que será possível observa as mitoses. Não se deve colocar uma quantidade

muito grande de tecido na lâmina pois isso ira dificultar o espalhamento. Dois milímetros de ponta

de raiz produz material suficiente para observação.

Outra forma de realizar o espalhamento é segurar a região da lamínula com um papel

absorvente e bater com um lápis borracha ou com a ponta da tampa de uma caneta.

Após o esmagamento do material, a lâmina deve ser observada inicialmente em menor

aumento (x10), para que se localize rapidamente onde estão as células em divisão.

5. LAMINAS SEMI-PERMANENTES As lâminas que estiverem boas podem ser temporariamente conservadas (uma semana)

se forem vedadas com esmalte para unhas ou cola para câmera de pneu de bicicleta.

6. LÂMINAS PERMANENTES As lâminas semi permanentes podem ser transformadas em permanentes, para isso basta

remover o vedante (esmalte ou cola) e colocar as lâminas no freezer até que seja possível soltar a

lamínula.

Após a remoção da lamínula, mergulhar rapidamente as lâminas em alcool absoluto e

deixar secar. Colocar uma gota de Resina para microscopia (Permonte; Entelan ou Balsamo do

Canadá) na região onde está o material. Fechar com uma lamínula e deixar secar.

Procedimento: 1) Pegue uma raiz já fixada

2) Hidrólise: coloque as pontas de raiz em uma solução 1N de HCl por 5 min.

3) Lavagem: deixe as raÍzes em água por 5 min.

4)Corte com uma gilete +/- 3mm da ponta da raiz, logo após os 2 primeiros mm (coifa).

5) Coloque este material em uma lâmina com uma gota de orceina acética, deixe corar por

5 minutos.

6) Cubra com uma lamínula, colocando a lâmina entre papel higiênico e aperte fortemente

para espalhar o material ( com o polegar).

7) Vede as bordas da lamínula com luto (ou esmalte de unha).

8) Observe ao microscópio.

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Page 65: Bio Celular 2

Questões: a) Descreva e desenhe o que ocorre na: interfase; prófase; metáfase; anáfase; telófase.

b) O que é uma célula 2n=16?

c) O que é centrômero e qual sua função?

d) O que são cromátides? o que representam?

Vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv

Atividades de Práticas de Biologia como componente de formação pedagógica. Atividade 1 –

Biologia na cozinha.

A cozinha de nossa casa pode ser um excelente laboratório. As “experiências” feitas nas 2a e 3a

aula são exemplos disso. Em grupos, a turma elaborará um experimento relacionado ao programa

de biologia celular e apresentará em aula em data a ser marcada. Atividade 2:

O USO DE MODELOS DIDÁTICOS E SIMULAÇÕES.

(com marcação da data para apresentação dos modelos) Simulações e modelos didáticos são excelentes recursos didáticos, principalmente se

conseguimos colocar os alunos a construir os modelos ou montar as simulações.

Os modelos didáticos, por representarem bidimensionalmente ou tridimensionalmente de

modo macroscópico estruturas e/ou funções, permitem um entendimento mais fácil de fenômenos

microscópicos que de outra forma são apresentados e entendidos apenas de forma abstrata. Os

modelos permitem uma “visualização” das estruturas, tornando o assunto “mais concreto”. Desta

forma os modelos facilitam o aprendizado e a discussão sobre o tema em estudo.

As simulações correspondem à representação dinâmica de processos, com ajuda de materiais e

dos alunos. Nas simulações, podemos, por exemplo imprimir uma longa seqüência de DNA em

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Page 66: Bio Celular 2

papel e com a participação dos alunos pedir que eles encontrem uma seqüência correspondente

ao sítio de clivagem de uma enzima de restrição. Podemos pedir que os alunos cortem com

tesoura este sítio e posteriormente o mesmo sítio de um plasmídeo. Posteriormente podemos

simular como seria uma reação de ligação de todos esses fragmentos, e uma transformação

bacteriana com os plasmídeos gerados. Por fim podemos discutir conceitos como clonagem de

genes e bancos genômicos.

Apresentamos exemplos de alguns dos modelos que podem ser construído na página

www.ufsm.br/auladebio

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR PARA A PARTE PRÁTICA:

LORETO, E.L.S. & SEPEL, L. M.N. Atividades experimentais e didáticas de Biologia Molecular e Celular. Ribeirão Preto, ed. Da Sociedade Brasileira de Genética. 2003. 2a ed. www.sbg.org.br DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA, UFPR. Bioquímica: aulas práticas. 5 ed.Curitiba, Ed. da

UFPR, 1997.

JORDÃO, B.Q e colaboradores. Práticas de Biologia Celular. Londrina, Editora UEL, 1998.

JUNQUEIRA, L.C.U e JUNQUEIRA, L.M.M.S. Técnicas Básicas de Citologia e Histologia. São

Paulo, Ed. Santos, 1983.

MANARA, N.T.F. Roteiro de aulas práticas de citologia vegetal. Santa Maria, Faculdade de

Agronomia-UFSM, (mimeografado-sem data).

MELLO, M.L.S. e VIDAL, B.C.; Práticas de Biologia Celular. São Paulo, Edgar Blücher, 1980.

POLIZELI, M.L.T.M., Manual Prático de Biologia Celular. Ribeirão Preto, Holos editora, 1999.

QUESADO, H.L.C. e colaboradores. Biologia: Práticas. Fortaleza, Edições UFC, 1996.

SLATER, J. Experiments in molecular biology. Clifton, N.J., The Humana Press, 1986.

VALLE, F.C., Práticas de citologia e genética. Rio de Janeiro, MEDSI, 2001.

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