bicentenário de david livingston - desbravador da África

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Nota de 10 Libras, com imagem do Explorador David Livingstone 1

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Page 1: Bicentenário de David Livingston - desbravador da África

Nota de 10 Libras, com imagem do Explorador David Livingstone

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Dr. Livingstone, eu presumo? Bicentenário do Desbravador da África

David Livingstone (1813 – 1873) - National Museum Escócia

“Todas as nações da terra dignas de liberdade está pronta para derramar sangue em sua defesa”David Livingstone

David Livingstone, o médico, escritor, missionário e desbravador da África nasceu numa família proletária escocesa. Seu pai era marinheiro de forte religiosidade, vindo a influenciar muito o jovem Livingstone. Desde os 10 anos de idade já trabalhava 14 horas por dia e ia depois do serviço para a escola formal estudar por 2 horas; o restante da suas horas vagas guardava para estudos reservados em sua própria casa. Este trabalho duro que ele efetuou até os seus 26 anos contribuiu para lhe dar empatia natural para com os trabalhadores, além da persistência e condicionamento físico que lhe seriam extremamente úteis na sua vida adulta. Ainda como trabalhador da fábrica, pôde ingressar na escocesa Andersons College (atual Universidade de Strathclyde) em 1836, onde passou a estudar medicina. Estudou ainda teologia, começando em seguida a receber treinamento como evangelizador da Sociedade Missionária de Londres. Ele esperava ir para China como missionário da Igreja Presbiteriana, mas irrompeu ali, por três anos, a partir de 1839, a 1ª. guerra do ópio, em que os chineses confiscaram os suprimentos da droga dos navios britânicos e por isso sofreram terríveis represálias dos ingleses, perdendo a guerra 3 anos depois para estes. O encontro com um missionário designado para a África Robert Moffat (1795 – 1883), seu futuro sogro, faria ferver o sangue de explorador de Livingstone, modificando a história do continente africano: Moffat considerou o jovem a pessoa ideal para desbravar as vastas planícies ainda não exploradas pelo protetorado inglês no centro sul do continente, onde ele havia vislumbrado “a fumaça de mil vilas, onde nenhum missionário jamais esteve”.

Aos 27 anos, Livingstone abraça a causa de cristianizar o continente e embarca numa viagem de vários meses para África, chegando lá em julho de 1841. Três anos depois, ele foi designado para sua primeira missão. O “Livingstone missionário” talvez não tenha sido tão bem sucedido nesse sentido, porque, ao que parece, só conseguiu converter um único rei africano chamado Setchele I (1812?-1892), ainda assim, o próprio Livingstone o considerava um apóstata. O estabelecimento dessas missões cristianizadoras eram por vezes encorajadas pelos governantes africanos porque os missionários lhes davam acesso à armas e à pólvora, permitindo-lhes ficar em vantagem

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militarmente em relação à seus vizinhos. Nesse sentido, a “corrida europeia pela África”, seja pelo domínio econômico, seja pelo domínio cultural e religioso, culminou num estimulo às intercorrências de dominação de um grupo africano por outro. E Livingstone teve um papel fundamental ao desbravar boa parte África, abrindo (onde ainda não havia) grande espaço para implantação do cristianismo e da exploração europeia no continente. Para isso ele contou com sua grande habilidade como navegador, e também foi um importante linguista que acreditava que os missionários teriam um melhor desempenho se falassem as línguas nativas. De modo menos retórico do que se possa crer, ele costumava realmente dizer em seus diários que sua única missão era abrir a África para o evangelho com objetivo de acabar com a escravidão.

Se o papel de Livingstone como missionário ficou ofuscado historicamente pelo de explorador, este seu legado contribuiu, por outro lado, para a sedimentação do conhecimento topográfico e etnológico de algumas regiões da África desconhecidas pelos brancos até então, e permitiu ainda o posterior desenvolvimento do colonialismo europeu no continente. Mas a considerar sua experiência de primeira mão com os danos causados pela escravidão e suas posteriores reprovações dela, Livingstone foi considerado por muitos como um dos primeiros lutadores pela libertação africana, nesse sentido, tomando francamente uma posição abolicionista.

Logo no início das suas missões Livingstone foi atacado por um leão e ficou gravemente ferido da mordida que chegou até a quebrar o osso do braço. Por sorte ele foi salvo por um professor africano de nome Mebalwe. No dramático episódio em que a pata do leão estava já na cabeça de Livingstone, Mebalwe distraiu o animal e o fez seguir em sua direção, o que acabou deixando-o também seriamente ferido na cintura. Neste momento, um terceiro homem presente (cuja vida já havia sido salva por Livingstone num episódio anterior em que este homem fora atacado por um búfalo) por fim conseguiu atingir o leão a tiros, salvando a todos. Livingstone sofreria pela vida inteira das dores contraídas por aquele ataque.

Tempos depois, em Bakwain (na atual Botsuana) ele desenvolveu inúmeras expedições curtas, foi ali que ele passou a acreditar que era possível encontrar melhores rotas no coração do continente que permitissem ao mesmo tempo levar o cristianismo a zonas remotas e legitimar o comércio, encontrando assim uma alternativa para o tráfico escravagista, já amplamente condenado na Inglaterra. Em 1845 ele se casou com Mary Moffat, a filha do missionário Robert Moffat, que o influenciou a ir à África. Mary acompanhou algumas missões do marido por um tempo, até que abriu uma escola aonde Livingstone lecionou por algum tempo antes de retornar às expedições.

Ele passou 10 anos em regiões mais ao norte e quando chegou em Cape Town, Botsuana em 1851 para ver sua família. Ele teve, contudo, de mandar seus quatro filhos pra Inglaterra, devido a guerra sangrenta que havia ali, ocorrida em grande parte por culpa do autoritarismo colonial britânico. Contra as repressões inglesas na Botsuana, que deixaram Livingstone furioso, ele publicou um artigo na British Quaterly, onde ironizava de modo contundente: “A massa do povo inglês simpatiza com os triunfos da liberdade em todo o mundo. Em nenhum outro país houve um desejo tão geral para o sucesso de Kossuth [advogado da hungria que lutou pela liberdade e democracia em seu país] e dos húngaros. Nossa Rainha, como em tudo mais boa e generosa, participou dos sentimentos de seu povo. Mas enquanto a Inglaterra tinha simpatizado com as lutas pela liberdade que ela mesma sabe muito bem como aproveitar, ela vinha lutando para acabar com a uma nação que luta bravamente pela nacionalidade como os Magyares [Húngaros] sempre fizeram. (...) Nós não somos defensores da guerra, mas nós preferimos guerra perpétua à escravidão perpétua. Nenhuma nação já garantiu sua

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liberdade sem lutar por isso. E todas as nações da terra dignas de liberdade estão prontas para derramar sangue em sua defesa”.

Em 1866 Livingstone queria descobrir a fonte do rio Nilo, depois de partir para essa expedição por 4 anos ele não fez nenhum contato. Preocupados, queriam fazer uma busca por ele e foi designado o explorador norte-americano Henry Stanley (1841-1804) para esta tarefa. Partindo em março de 1871, Stanley penetrou mais de mil quilômetros de floresta tropical com não menos de 200 carregadores, mas muitos deles desertaram no caminho ou morreram. Oito meses depois, Stanley se encontra com Livingstone. Ao se apresentar lançou a divisa que ficou famosa: “Dr. Livingstone, eu presumo?”, ao que ele responde “Sim, e eu sou grato por estar aqui [vivo] para lhe dar as boas vindas”.

Livingstone passou mais de 30 anos na África antes de sucumbir pela malária na Zâmbia, aos 60 anos. Estima-se que ele tenha viajado cerca de 46 mil quilômetros, e a maior parte do trajeto foi feita a pé. Ao descer o rio Zambezi em 1855 ele teve uma visão afortunada de uma catarata, os nativos a chamavam de a “Fumaça que Troveja”; era uma magnífica e gigantesca queda d’água que ele próprio batizou, em honra da rainha, com o nome que ela carrega até hoje “Victoria Falls”. O que ele disse das cataratas talvez pode se dizer da majestosa Africa precolonial com suas estupendas e diversificadas paisagens: “Jamais fora vista por olhos europeus; cenas tão belas, que devem ter sido contempladas por anjos em seu vôo”. Seu corpo foi levado para a Abadia de Westminster na Europa, mas seu coração foi enterrado debaixo de uma árvore Mvulu na África, próximo do local onde morreu.

Renato Araújo/ Maio 2013([email protected])

Saiba Mais

http://www.davidlivingstone200.org/about.php http://www.bbc.co.uk/history/historic_figures/livingstone_david.shtml http://en.wikipedia.org/wiki/Sechele#cite_note-TomkinsBBC-5 http://archive.org/search.php?query=mediatype%3A(texts)%20-contributor%3Agutenberg%20AND%20(subject%3A%22Livingstone%2C%20David%2C%201813-1873%22%20OR%20creator%3A%22Livingstone%2C%20David%2C%201813-1873%22) http://www.victoriafalls-guide.net/david-livingstone.html http://en.wikipedia.org/wiki/Henry_Morton_Stanley http://www.freefictionbooks.org/books/p/11253-the-personal-life-of-david-livingstone-by-blaikie?start=47 http://www.bbc.co.uk/news/magazine-21807368 http://en.wikipedia.org/wiki/Sechele#cite_note-TomkinsBBC-5 http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Moffat_(missionary)

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