bezerra de menezes - o médico dos pobres

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Pesquisa, compilação e formatação: sejafeliz

O Apostalado no Medicina O MÉDICO DOS POBRES

Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de escolher hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito lhe bate à porta. Ou que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e se achar fatigado,Ou por ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, por ficar longe ou no morro; o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro. Esse não é médico, é negociante de medicina. Que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um desgraçado que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu espírito, a única que jamais se perderá nos

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vais e vens da vida.

Bezerra de Menezes

11 de abril de 1900. Desencarne do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes – O Médico dos Pobres Cognominado de o Allan Kardec Brasileiro

REUNIÃO CÓSMICA

Conta-nos o Espírito Humberto de Campos, Irmão X, através da psicografia de Chico Xavier:

"Há mais de um século, brilhante assembléia de Espíritos se reuniu no Espaço, sob a direção do Anjo Ismael. Foi então exposta a missão futura do Brasil na divulgação do Evangelho, que seria iluminado por uma nova Revelação. Em dado instante, o Mensageiro do Senhor se aproxima de um de seus discípulos e fala-lhe mais ou menos assim: — Descerás às lutas terrestres, com o objetivo de concentrar as nossas energias no País do Cruzeiro, dirigindo-as para o alvo sagrado dos nossos esforços. Arregimentarás todos os elementos dispersos, com as dedicações do teu

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Espírito, a fim de que possamos criar o nosso núcleo de atividades espirituais, dentro dos elevados propósitos de reforma e regeneração. — E Ismael, ao finalizar, acrescentou: — Se a luta vai ser grande, considera que não será menor a compreensão do Senhor, que é o caminho, a verdade e a vida. — E o discípulo escolhido, imóvel e reverente diante de Ismael, não pôde articular palavra alguma: a emoção dominava-o inteiramente. Mas, as lágrimas que rolaram copiosamente de seus olhos diziam, com grande eloqüência, que ele tudo faria para bem cumprir a missão que lhe fora confiada."

Bezerra de Menezes – O Médico dos Pobres.

Nascido na antiga Freguesia do Riacho do Sangue, hoje Solonópole, no Ceará, aos 29 dias do mês de agosto de 1831, e desencarnado no Rio de Janeiro, a 11 de abril de 1900.

Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, no ano de 1838, entrou para a escola pública da Vila do Frade, onde em dez meses apenas, preparou- se suficientemente até onde dava o saber do mestre que lhe dirigia a primeira fase de educação. Bem cedo revelou sua fulgurante inteligência, pois, aos onze anos de idade, iniciava o curso de Humanidades e, aos treze

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anos, conhecia tão bem o latim que ministrava, a seus companheiros, aulas dessa matéria, substituindo o professor da classe em seus impedimentos.

Seu pai, o capitão das antigas milícias e tenente- coronel da Guarda Nacional, Antônio Bezerra de Menezes, homem severo, de honestidade a toda prova e de ilibado caráter, tinha bens de fortuna em fazendas de criação. Com a política, e por efeito do seu bom coração, que o levou a dar abonos de favor a parentes e amigos, que o procuravam para explorar- lhe os sentimentos de caridade, comprometeu aquela fortuna. Percebendo, porém, que seus débitos igualavam seus haveres, procurou os credores e lhes propôs entregar tudo o que possuía, o que era suficiente para integralizar a dívida. Os credores, todos seus amigos, recusaram a proposta, dizendo- lhe que pagasse como e quando quisesse.

O velho honrado insistiu; porém, não conseguiu demover os credores sobre essa resolução, por isso deliberou tornar- se mero administrador do que fora sua fortuna, não retirando dela senão o que fosse estritamente necessário para a manutenção da sua família, que assim passou da abastança às privações.

Animado do firme propósito de orientar- se pelo caráter íntegro de seu pai, Bezerra de Menezes, com minguada quantia que seus parentes lhe deram, e animado do propósito de sobrepujar todos os óbices, partiu para o Rio de Janeiro a fim de seguir a carreira que sua vocação lhe inspirava: a Medicina.

Em novembro de 1852, ingressou como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Doutorou- se em 1856 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a

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tese "Diagnóstico do Cancro". Nessa altura abandonou o último patronímico, passando a assinar apenas Adolfo Bezerra de Menezes. A 27 de abril de 1857, candidatou-se ao quadro de membros titulares da Academia Imperial de Medicina, com a memória "Algumas Considerações sobre o Cancro encarado pelo lado do Tratamento". O parecer foi lido pelo relator designado, Acadêmico José Pereira Rego, a 11 de maio de 1857, tendo a eleição se efetuado a 18 de maio do mesmo ano e a posse a 1.o. de junho. Em 1858 candidatou- se a uma vaga de lente substituto da Secção de Cirurgia da Faculdade de Medicina. Por intercessão do mestre Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, então Cirurgião- Mor do Exército, Bezerra de Menezes foi nomeado seu assistente, no posto de Cirurgião- Tenente.

Eleito vereador municipal pelo Partido Liberal, em 1861, teve sua eleição impugnada pelo chefe conservador, Haddock Lobo, sob a alegação de ser médico militar. Objetivando servir o seu Partido, que necessitava dele a fim de obter maioria na Câmara, resolveu Bezerra de Menezes afastar- se do Exército. Em 1867 foi eleito Deputado Geral, tendo ainda figurado em lista tríplice para uma cadeira no Senado.

Quando político, levantou- se contra ele, a exemplo do que ocorre com todos os políticos honestos, uma torrente de injúrias que cobriu o seu nome de impropérios. Entretanto, a prova da pureza da sua alma deu- se quando, abandonando a vida pública, foi viver para os pobres, repartindo com os necessitados o pouco que possuía.

Corria sempre ao tugúrio do pobre, onde houvesse um mal a combater, levando ao aflito o conforto de sua palavra de bondade, o recurso da ciência de médico e o auxílio da sua bolsa minguada e generosa.

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Desviado interinamente da atividade política e dedicando- se a empreendimentos empresariais, criou a Companhia de Estrada de Ferro Macaé a Campos, na então província do Rio de Janeiro. Depois, empenhou- se na construção da via férrea de S. Antônio de Pádua, etapa necessária ao seu desejo, não concretizado, de levá-la até o Rio Doce. Era um dos diretores da Companhia Arquitetônica que, em 1872, abriu o "Boulevard 28 de Setembro", no então bairro de Vila Isabel, cujo topônimo prestava homenagem à Princesa Isabel. Em 1875, era presidente da Companhia Carril de S. Cristóvão.

Retornando à política, foi eleito vereador em 1876, exercendo o mandato até 1880. Foi ainda presidente da Câmara e Deputado Geral pela Província do Rio de Janeiro, no ano de 1880.

O Dr. Carlos Travassos havia empreendido a primeira tradução das obras de Allan Kardec e levara a bom termo a versão portuguesa de

"O Livro dos Espíritos". Logo que esse livro saiu do prelo levou um exemplar ao deputado Bezerra de Menezes, entregando- o com dedicatória. O episódio foi descrito do seguinte modo pelo futuro Médico dos Pobres: "Deu- mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distração para a longa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto... Depois, é ridículo confessar- me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi- me a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no "O Livro dos Espíritos". Preocupei- me

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seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença".

No dia 16 de agosto de 1886, um auditório de cerca de duas mil pessoas da melhor sociedade enchia a sala de honra da Guarda Velha, na rua da Guarda Velha, atual Avenida 13 de Maio, no Rio de Janeiro, para ouvir em silêncio, emocionado, atônito, a palavra sábia do eminente político, do eminente médico, do eminente cidadão, do eminente católico, Dr. Bezerra de Menezes, que proclamava a sua decidida conversão ao Espiritismo.

Bezerra era um religioso no mais elevado sentido. Sua pena, por isso, desde o primeiro artigo assinado, em janeiro de 1887, foi posta a serviço do aspecto religioso do Espiritismo. Demonstrada a sua capacidade literária no terreno filosófico e religioso, quer pelas réplicas, quer pelos estudos doutrinários, a Comissão de Propaganda da União Espírita do Brasil, incumbiu- o de escrever, aos domingos, no "O Paiz" tradicional órgão da imprensa brasileira, a série de "Estudos Filosóficos", sob o título "O Espiritismo". O Senador Quintino Bocaiúva, diretor daquele jornal de grande penetração e circulação, "o mais lido do Brasil", tornou-se mesmo simpatizante da Doutrina Espírita.

Os artigos de Max, pseudônimo de Bezerra de Menezes, marcaram a época de ouro da propaganda espírita no Brasil. De novembro de 1886 a dezembro de 1893, escreveu ininterruptamente, ardentemente.

Da bibliografia de Bezerra de Menezes, antes e após a sua conversão do Espiritismo, constam os seguintes trabalhos: "A Escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para

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extingui-la sem dano para a Nação", "Breves considerações sobre as secas do Norte", "A Casa Assombrada", "A Loucura sob Novo Prisma", "A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica", "Casamento e Mortalha", "Pérola Negra", "Lázaro -- o Leproso", "História de um Sonho", "Evangelho do Futuro". Escreveu ainda várias biografias de homens célebres, como o Visconde do Uruguai, o Visconde de Carvalas, etc. Foi um dos redatores de "A Reforma", órgão liberal da Corte, e redator do jornal "Sentinela da Liberdade".

Bezerra de Menezes tinha a função de médico no mais elevado conceito, por isso, dizia ele:

"Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar- se fatigado, ou por ser alta hora da noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro, o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro -- esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos de formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se perderá nos vaivens da vida."

Em 1883, reinava um ambiente francamente dispersivo no seio do Espiritismo brasileiro e os que dirigiam os núcleos espíritas do Rio de Janeiro sentiam a necessidade de uma união mais bem estruturada e que, por isso mesmo, se tornasse mais indestrutível.

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Os Centros, onde se ministrava a Doutrina, trabalhavam de forma autônoma. Cada um deles exercia a sua atividade em um determinado setor, sem conhecimento das atividades dos demais. Esse sentimento levou- os à fundação da Federação Espírita Brasileira.

Nessa época já existiam muitas sociedades espíritas, porém, as únicas que mantinham a hegemonia de mando eram quatro: a "Acadêmica", a "Fraternidade", a "União Espírita do Brasil" e a "Federação Espírita Brasileira", entretanto, logo surgiram entre elas vivas discórdias.

Sob os auspícios de Bezerra de Menezes, e acatando prescrições das importantes "Instruções" recebidas do plano espiritual pelo médium Frederico Júnior, foi fundado o famoso "Centro Espírita", o que, entretanto, não impediu que Bezerra desse a sua colaboração a todas as outras instituições. O entusiasmo dos espíritas logo se arrefeceu, e o velho seareiro se viu desamparado dos seus companheiros, chegando a ser o único freqüentador do Centro. A cisão era profunda entre os chamados "místicos" e "científicos", ou seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que o aceitavam simplesmente pelo lado científico e filosófico.

Em 1893, a convulsão provocada no Brasil pela Revolta da Armada, ocasionou o fechamento de todas as sociedades espíritas ou não. No Natal do mesmo ano Bezerra encerrou a série de "Estudos Filosóficos" que vinha publicando no "O Paiz".

Em 1894, o ambiente mostrou tendências para melhora e o nome de Bezerra de Menezes foi lembrado como o único capaz de unificar o movimento espírita. O infatigável batalhador, com 63 anos de idade, assumiu a presidência da

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Federação Espírita Brasileira, cargo que ocupou até a sua desencarnação. Iniciava- se o ano de 1900, e Bezerra de Menezes foi acometido de violento ataque de congestão cerebral, que o prostrou no leito, de onde não mais se levantaria.

Verdadeira romaria de visitantes acorria à sua casa. Ora o rico, ora o pobre, ora o opulento, ora o que nada possuía.

Ninguém desconhecia a luta tremenda em que se debatia a família do grande apóstolo do Espiritismo. Todos conheciam suas dificuldades financeiras, mas ninguém teria a coragem de oferecer fosse o que fosse, de forma direta. Por isso, os visitantes depositavam suas espórtulas, delicadamente, debaixo do seu travesseiro. No dia seguinte, a pessoa que lhe foi mudar as fronhas, surpreendeu- se por ver ali desde o tostão do pobre até a nota de duzentos mil reis do abastado!...

Ocorrida a sua desencarnação, verdadeira peregrinação demandou sua residência a fim de prestar- lhe a última visita.

No dia 17 de abril, promovido por Leopoldo Cirne, reuniram- se alguns amigos de Bezerra, a fim de chegarem a um acordo sobre a melhor maneira de amparar a sua família, tendo então sido formada uma comissão que funcionou sob a presidência de Quintino Bocaiúva, senador da República, para se promover espetáculos e concertos, em benefício da família daquele que mereceu o cognome de "Kardec Brasileiro".

Digno de registro foi um caso sucedido com o Dr. Bezerra de Menezes, quando ainda era estudante de Medicina. Ele estava em sérias dificuldades financeiras, precisando da quantia de cinqüenta mil réis (antiga moeda brasileira), para pagamento

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das taxas da Faculdade e para outros gastos indispensáveis em sua habitação, pois o senhorio, sem qualquer contemplação, ameaçava despejá-lo.

Desesperado -- uma das raras vezes em que Bezerra se desesperou na vida -- e como não fosse incrédulo, ergueu os olhos ao Alto e apelou a Deus. Poucos dias após bateram- lhe à porta. Era um moço simpático e de atitudes polidas que pretendia tratar algumas aulas de Matemática.

Bezerra recusou, a princípio, alegando ser essa matéria a que mais detestava, entretanto, o visitante insistiu e por fim, lembrando- se de sua situação desesperadora, resolveu aceitar.

O moço pretextou então que poderia esbanjar a mesada recebida do pai, pediu licença para efetuar o pagamento de todas as aulas adiantadamente. Após alguma relutância, convencido, acedeu. O moço entregou- lhe então a quantia de cinqüenta mil réis. Combinado o dia e a hora para o início das aulas, o visitante despediu- se, deixando Bezerra muito feliz, pois conseguiu assim pagar o aluguel e as taxas da Faculdade. Procurou livros na biblioteca pública para se preparar na matéria, mas o rapaz nunca mais apareceu.

No ano de 1894, em face das dissensões reinantes no seio do Espiritismo brasileiro, alguns confrades, tendo à frente o Dr. Bittencourt Sampaio, resolveram convidar Bezerra a fim de assumir a presidência da Federação Espírita Brasileira. Em vista da relutância dele em assumir aquele espinhoso encargo, travou- se a seguinte conversação: -- Querem que eu volte para a Federação. Como vocês sabem aquela velha sociedade está sem presidente e desorientada. Em vez de trabalhos metódicos sobre Espiritismo ou sobre o Evangelho,

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vive a discutir teses bizantinas e a alimentar o espírito de hegemonia.

-- O trabalhador da vinha, disse Bittencourt Sampaio, é sempre amparado. A Federação pode estar errada na sua propaganda doutrinária, mas possui a Assistência aos Necessitados, que basta por si só para atrair sobre ela as simpatias dos servos do Senhor. -- De acordo. Mas a Assistência aos Necessitados está adotando exclusivamente a Homeopatia no tratamento dos enfermos, terapêutica que eu adoto em meu tratamento pessoal, no de minha família e recomendo aos meus amigos, sem ser, entretanto, médico homeopata. Isto aliás me tem criado sérias dificuldades, tornando- me um médico inútil e deslocado que não crê na medicina oficial e aconselha a dos Espíritos, não tendo assim o direito de exercer a profissão. -- E por que não te tornas médico homeopata? disse Bittencourt.

-- Não entendo patavinas de Homeopatia. Uso a dos Espíritos e não a dos médicos. Nessa altura, o médium Frederico Júnior, incorporando o Espírito de S. Agostinho, deu um aparte: -- Tanto melhor. Ajudar-te-emos com maior facilidade no tratamento dos nossos irmãos. -- Como, bondoso Espírito? Tu me sugeres viver do Espiritismo? -- Não, por certo! Viverás de tua profissão, dando ao teu cliente o fruto do teu saber humano, para isso estudando Homeopatia como te aconselhou nosso companheiro Bittencourt. Nós te ajudaremos de outro modo: Trazendo- te, quando precisares, novos discípulos de Matemática...

Adesão ao Espiritismo do Dr. Bezerra de

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Menezes: "Conferência. Ante um auditório de cerca de duas mil pessoas, no salão da Guarda Velha, ocupou a tribuna de conferências espiríticas, na noite de 16 do mês último, o nosso distinto confrade, ilustrado e provecto médico, o Sr. Dr. A. Bezerra de Menezes. Seu grandioso trabalho, exposição minuciosa de profundo estudo que tem feito da matéria, e das lutas que se empenharam no seu íntimo, quando, à luz da razão esclarecida, se entregou ao estudo dos dogmas e preceitos da religião romana, em que foi educado, esteve acima de todo elogio, e impressionou profundamente o ânimo de seus ouvintes (...)”.(Reformador, 1 de Setembro de 1886)

Mensagem de Allan Kardec ao Brasil em 1889

"Paz e amor sejam convosco. Que possamos ainda uma vez, unidos pelos laços de fraternidade, estudar essa doutrina de paz e amor, de justiça e esperanças, graças à qual encontraremos a estreita porta da salvação futura - gozo indefinido e imorredouro para as nossas almas humildes. Antes de ferir os pontos que fazem o objetivo da minha manifestação,

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devo pedir a todos vós que me ouvis - a todos vós espíritas a quem falo neste momento - que me perdoem se porventura, na externação dos meus pensamentos, encontrardes alguma coisa que vos magoe, algum espinho que vos vá ferir a sensibilidade do coração (...)”

Decreto Que Proíbe o Espiritismo (Código Penal - 1890) Art. 157 - Praticar o Espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismãs e cartomancias para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura de moléstias curáveis ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade pública: Penas - de prisão celular por um a seis meses e multa de 100$ a 500$000. Os textos acima fazem parte do livro “Papel Velhos e Histórias de Luz”, Editora CELD.

Após a Morte de Bezerra de Menezes

A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA

Essa história foi psicografada pela médium Yvonne A.Pereira, e a que ele deu o título em epígrafe. "Perante o enorme ajuntamento de sofredores desencarnados, no Plano Espiritual, o Dr. Bezerra de Menezes, apóstolo da Doutrina Espírita no Brasil, rematava a preleção. Falara, com muito brilho, acerca dos desregramentos morais.

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Destacara os males da alma e os desastres do espírito. Dispunha-se à retirada, quando fino ironista o investiu: "Escute, doutor. O senhor disse que a calúnia é um braseiro no caluniador. Eu caluniei e nada senti. O senhor disse que o destruidor de lares terrestres carrega a lâmina do arrependimento a retalhar-lhe o coração. Destruí diversos lares e nada senti. O senhor disse que o criminoso tem a nuvem do remorso a sufocá-lo. Eu matei e nada senti... "Meu filho - disse o pregador -, que sente um cadáver quando alguém lhe incendeia o braço inerte?"

"Nada - disse, rindo, o opositor sarcástico -, pois cadáver não reage."

E a conversação prosseguiu: "Que sente um cadáver se o mergulham num lago de piche?" - "Absolutamente nada, ora essa! O cadáver é a imagem da morte."

Doutor Bezerra fitou o triste interlocutor e, meneando paternalmente a cabeça, concluiu. "Pois olhe, meu filho, quando alguém não sente o mal que pratica, em verdade carrega consigo a consciência morta. É um morto - vivo."

NÃO PERDOAR

Hilário Silva

Bezerra de Menezes, já devotado à Doutrina Espírita, almoçava, certa

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feita, em casa de Quintino Bocaiúva, o grande republicano, e o assunto era o Espiritismo, pelo qual o distinto jornalista passara a interessar-se.

Em meio da conversa, aproxima-se um serviçal e comunica ao dono da casa:

- Doutor, o rapaz do acidente está aí com um policial.

Quintino, que fora surpreendido no gabinete de trabalho com um tiro de raspão, que, por pouco, não lhe atingiu a cabeça, estava indignado com o servidor que inadvertidamente fizera o disparo.

- Manda-o entrar – ordenou o político.

- Doutor – roga o moço preso, em lágrimas -, perdoe o meu erro! Sou pai de dois filhos...

Compadeça-se! Não tinha qualquer má intenção...

Se o senhor me processar, que será de mim? Sua desculpa me livrará! Prometo não mais brincar com armas de fogo! Mudarei de bairro, não incomodarei o senhor...

O notável político, cioso da própria tranqüilidade, respondeu: - De modo algum. Mesmo que o seu ato tenha sido de mera imprudência, não ficará sem punição.

Percebendo que Bezerra se sentia mal, vendo-o assim encolerizado, considerou, à guisa de resposta indireta:

- Bezerra, eu não perdôo, definitivamente não perdôo...

Chamado nominalmente à questão, o amigo exclamou desapontado:

- Ah! você não perdoa!

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Sentindo-se intimamente desaprovado, Quintino falou, irritado:

- Não perdôo erro. E você acha que estou fora do meu direito?

O Dr. Bezerra cruzou os braços com humildade e respondeu:

- Meu amigo, você tem plenamente o direito de não perdoar, contanto que você não erre.......

A observação penetrou Quintino como um raio.

O grande político tomou um lenço, enxugou o suor que lhe caía em bagas, tornou à cor natural, e, após refletir alguns momentos, disse ao policial:

- Solte o homem. O caso está liquidado.

E para o moço que mostrava profundo agradecimento:

- Volte ao serviço hoje mesmo, e ajude na copa.

Em seguida, lançou inteligente olhar para Bezerra, e continuou a conversação no ponto em que haviam ficado.

Livro: “Almas em Desfile” Psicografia: Francisco C. Xavier e Waldo Vieira Espírito: Hilário Silva

OS PRIMEIROS PASSOS DE BEZERRA DE

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MENEZES NA VIDA ESPIRITUAL

“Conta-se que Bezerra de Menezes, o denodado apóstolo do Espiritismo no Brasil, após alguns anos de desencarnação, achava-se em praia deserta, meditando tristemente acerca da maioria dos petitórios que lhe eram endereçados do mundo. “Em grande número de reuniões consagradas à prece, solicitavam-lhe providências de natureza material. “Numerosos admiradores e amigos rogavam-lhe empregos rendosos, negócios lucrativos, alojamentos, proteção para documentários diversos, propriedades e promoções. “Em verdade, sentia-se feliz, quando chamado a servir um doente ou quando trazido à consolação dos infortunados; contudo, fora na Terra um médico espírita e um homem de bem, à distância de maiores experiências em atividades comerciais. “Por que motivo a convocação indébita de seu nome em processos inconfessáveis? não era também ele um discípulo do Evangelho, interessado em ascender à maior comunhão com o Senhor? não procurava aprender igualmente a lutar e renunciar?

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“Monologava, entre inquieto e abatido, quando viu junto dele o grande Antônio, desencarnado em Pádua, no ano de 1281. “O admirável herói da Igreja Católica, nimbado de intensa luz, ouvira-lhe o solilóquio amargo. “Abraçou-o, com bondade, e convidou-o a segui-Io. “A breves minutos, ei-los ambos no perfumado recinto de grande templo. “O santuário, dedicado ao popular taumaturgo regurgitava de fiéis que se prosternavam, reverentes, diante da primorosa estátua que o representava sustentando a imagem de Jesus menino. “O santo impeliu Bezerra a escutar os requerimentos da assembléia e o seareiro espírita conseguiu anotar as mais estranhas e inoportunas requisições. “Suplicava-se a Antônio casa e comida, dinheiro fácil e

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saliência política, matrimônio e prazeres. Não faltava quem lhe implorasse contra outrem perseguições e vingança, hostilidade e desprezo, inclusive crimes ocultos. “O amigo benfeitor esboçou um gesto expressivo e falou, bem-humorado, ao evangelizador brasileiro : – “Observaste atentamente? as petições são quase sempre as mesmas nos variados campos da fé. Sequioso de burilamento íntimo, troquei na Igreja o hábito de cônego pelo burel dos frades... Ensinei a palavra do Mestre Divino, sufocando os espinhos de minhas próprias imperfeições. Fosse nas seduções da vida secular ou na austeridade do convento, caminhava mantendo pavorosas batalhas comigo mesmo, ansiando entesourar a virtude, em cujo encalço permaneço até hoje; entretanto, procuram-me através da oração, para ser meirinho comum ou advogado casamenteiro... “E porque Bezerra sorrisse, reconfortado, aduziu ; – “Nosso problema, contudo, é o de instruir sem desanimar. Jesus, no monte, sentindo extrema compaixão pela turba desvairada, alimentou-lhe o corpo e clareou-lhe a alma obscura...

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“Nesse justo momento, surge alguém à cata de Bezerra. Num círculo de oração, organizado na Terra, pediam-lhe indicações para que fosse descoberto um enorme tesouro de aventureiros antigos, desde muito enterrado. “Antônio afagou-lhe os ombros e disse benevolente:

– “Vai, meu amigo, e não desdenhes auxiliar. Decerto, não te preocuparás com o ouro escondido, mas ensinarás aos nossos irmãos o trato precioso do solo para a riqueza do pão de todos e, descerrando-lhes o filão do progresso, plantarás entre eles o entendimento e a bondade do Excelso Amigo. “Bezerra despediu-se, contente, e tornou corajoso à luta, compreendendo, por fim, que não bastaria lastimar a atitude dos companheiros invigilantes, mas ajudá-los com todo o amor, consciente de que o Cristo é o Mestre da Humanidade e de que o Evangelho, acima de tudo, é obra de educação.” Fonte:

Do livro VIDA E OBRA DE BEZERRA

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OS ÚLTIMOS MOMENTOS DE BEZERRA DE MENEZES

11 de abril de 1900 - 11 de abril de 2005

Seus últimos momentos dão-nos lições comovedoras e instrutivas.

Revelam-nos sua confiança no Divino Mestre, na Missão cumprida, no Dever realizado.

A anasarca lhe transformara o corpo.

Complicara-se sua enfermidade.

A hemiplegia, paralisia de parte do corpo, impossibilitava-lhe os movimentos.

Sua voz era pastosa e lenta.

Apenas o olhar era vivo e sereno, como sempre, bom e puro.

A casa, pela varanda, nos quartos, no quintal, estava sempre cheia de irmãos e amigos agradecidos e sinceros, alguns esperando anda pela esmola de uma receita, de uma palavra de afago e de bom ânimo.

A folhinha marcava 11 de abril de 1900! Bezerra de Menezes, o Apóstolo brasileiro, o Médico dos Pobres, o Estuário de todas as súplicas, de problemas variados e dolorosos, de irmãos sofredores e pobres, agonizava ...

Os olhos brilhantes, bem abertos, transmitiam aos familiares e aos irmãos e amigos presentes a confiança de sua Fé, o Amor pelo seu e nosso Mestre e a sua preocupação pelos seus doentes.

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E balbuciava, de quando em quando, com dificuldade e sentidamente: - Coitados, são tantos à minha espera!

A Mãe do Céu há de atendê-los! Sentindo que se aproximava a hora do seu decesso, pediu que o ajudassem a levantar-se um pouco e, com a cabeça erguida, olhos voltados para o Alto, assim orou, baixinho e entre lágrimas, deixando-nos suas últimas palavras como a Lição permanente de sua grandeza Espiritual, de seu Espírito totalmente libertado dos vícios e ligado à Causa de Nosso Senhor Jesus Cristo:

Virgem Santíssima, Rainha do Céu, Advogada de nossas súplicas junto ao Divino Mestre e a Deus todo Poderoso, eu Te peço não que deixe de sofrer mas para que meu pobre espírito aproveite bem todo o sofrimento e, por fim, Mãe querida, eu Te peço pelos meus irmãos que ficam, por esses pobres amigos, doentes do corpo e da alma, que aqui vieram buscar no Teu humilde servo uma migalha de conforto e de amor.

Assiste-os, por Caridade, dá-lhes, Senhora, a Tua Paz, a Paz do Cordeiro de Deus que tira os pecados do Mundo,

Nosso Senhor Jesus Cristo!

Louvado seja Teu Nome!

Louvado seja o Nome de Jesus!

Louvado seja Deus!

E desencarnou!

Apagara-se na Terra uma grande Luz e apontara no Céu mais um foco de claridade.

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Transcrito do Livro "LINDOS CASOS DE BEZERRA DE MENEZES", de Ramiro Gama.

Enviado por Luz do Evangelho - [email protected]

A Felicidade de Bezerra de Menezes

Um dia, perguntei ao Dr. Bezerra de Menezes, qual foi a sua maior felicidade quando chegou ao plano espiritual. Ele respondeu-me: - A minha maior felicidade, meu filho, foi quando Celina, a mensageira de Maria Santíssima, se aproximou do leito em que eu ainda estava dormindo, e, tocando-me, falou, suavemente: - Bezerra, acorde, Bezerra!

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Abri os olhos e vi-a, bela e radiosa.

- Minha filha, é você, Celina?!

- Sim, sou eu, meu amigo. A Mãe de Jesus pediu-me que lhe dissesse que você já se encontra na Vida Maior, havendo atravessado a porta da imortalidade. Agora, Bezerra, desperte feliz. Chegaram os meus familiares, os companheiros queridos das hostes espíritas que me vinham saudar. Mas, eu ouvia um murmúrio, que me parecia vir de fora. Então, Celina, me disse: - Venha ver, Bezerra.

Ajudando-me a erguer-me do leito, amparou-me até uma sacada, e eu vi, meu filho, uma multidão que me acenava, com ternura e lágrimas nos olhos. - Quem são, Celina? - perguntei-lhe - não conheço a ninguém. Quem são?

- São aqueles a quem você consolou, sem nunca perguntar-lhes o nome. São aqueles Espíritos atormentados, que chegaram às sessões mediúnicas e a sua palavra caiu sobre eles como um bálsamo numa ferida em chaga viva; são os esquecidos da terra, os destroçados do mundo, a quem você estimulou e guiou. São eles, que o vêm saudar no pórtico da eternidade...

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E o Dr. Bezerra concluiu:

- A felicidade sem lindes existe, meu filho, como decorrência do bem que fazemos, das lágrimas que enxugamos, das palavras que semeamos no caminho, para atapetar a senda que um dia percorreremos.

Do livro "O Semeador de Estrelas" De: Suely Caldas Schubert

Um abraço, em nome da Virgem, faz maravilhas! Bezerra de Menezes acabava de presidir a uma das sessões publicas da casa de Ismael, na avenida Passos.

Era uma noite de terça feira do mês de junho de 1896. Sua palavra esclarecida e carinhosa, á moda de uma chuva fina e criadeira, no dizer de M.Quintão, penetrava ás almas de quantos, encarnados e desencarnados, lhe ouviam a evangélica dissertação sobre uma Lição do Livro da Vida!

Os olhos marejados de lagrimas, tanto de ouvintes como os do próprio Orador. Acabada a sessão, descera Bezerra com passos tardos, ainda emocionado, as escadas da Federação Espírita Brasileira. E ia, humildemente, indagando dos mais íntimos, se ferira alguém com sua palavra, que lhe perdoassem o

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descuido, e ia descendo e afagando a todos que o esperavam ávidos dos seus conselhos, dos seus sorrisos, do seu olhar manso e bom.

No sucedâneo da escada, localizou um irmão, de seus 45 anos, cabelos em desalinho, com a roupa suja e amarrotada. Os dois se olharam. Bezerra compreendeu logo que ali estava um Caso, todo particular, para ele resolver.

Oh! Bendito os que têm olhos no coração! E Bezerra os tinha e os tem! E levou o desconhecido para um canto e lhe ouviu, com atenção, o desabafo, o pedido: - Dr. Bezerra estou sem emprego, com a mulher e dois filhos doentes e famintos. E eu mesmo, como vê, estou sem alimento e febril! Bezerra, apiedado, verificou se ainda tinha algum dinheiro. Nada encontrou nos bolsos. Apenas a passagem do bonde. Tornou-se mais apiedado e apreensivo.

Levantou os olhos já molhados de pranto para o alto e, numa prece muda, pediu inspiração a Maria Santíssima, seu Anjo Tutelar e solucionador de seus problemas. Depois, virando-se para o irmão: - Meu filho, você tem fé em Nossa Senhora? A Mãe do Divino Mestre, a nossa Mãe Querida? - Tenho e muita, Dr. Bezerra!

- Pois então, em Seu Santíssimo Nome, receba este abraço. E abraçou o desesperado irmão, envolvente de demoradamente. E despedindo-se: - Vá, meu filho, na

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Paz de Jesus e sob a proteção do Anjo da Humanidade.

Em seu lar, faça o mesmo com todos os seus familiares, abraçando-os, afagando-os. E confie Nela, no Amor da Rainha do Céu, que seu caso há de ser resolvido. Bezerra partira.

A caminho do lar, meditava: teria cumprido seu dever, será que possibilitara ajuda ao irmão em prova, faminto e doente? E arrependia-se por não lhe haver dado senão um abraço. Não possuía nenhum dinheiro. O próprio anel de grau já não estava nos seus dedos. Tudo havia dado. Não tenho dinheiro, dera algo de si mesmo, vibrações, bom ânimo, moeda da alma, ao irmão sofredor e não tinha certeza de que isso lhe bastara...

E, nesse estado de espírito, preocupado pela sorte de um seu semelhante, chegou ao lar...

Uma semana passara-se. Bezerra não se recordava mais do sucedido. Muitos eram os problemas alheios.

Após a sessão de outra terça-feira, descia as escadas da Federação. Alguém, no mesmo lugar da escada, trazendo na fisionomia toda a emoção do agradecimento, toca-lhe o braço e lhe diz:

- Venho agradecer-lhe, Dr. Bezerra, o abraço milagroso que me deu na semana passada, neste local e nesta mesma hora. Daqui saí logo me sentindo melhor. Em

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casa, cumpri seu pedido e abracei minha mulher e meus filhos.

Na linguagem do coração, oramos todos á Mãe do Céu. Na água que bebemos e demos aos familiares, parece, continha alimento. Pois dormimos todos bem. No dia seguinte, estávamos sem febre e como que alimentados...

E veio-me uma inspiração, guiando-me a uma porta, que se abriu e alguém por ela saiu, ouviu meu problema, condoeu-se de mim e me deu um emprego, no qual estou até hoje. E venho lhe agradecer a grande dádiva que o senhor me deu, arrancada de si mesmo, maior e melhor do que dinheiro! O ambiente era tocante!

Lagrimas caíam tanto dos olhos de Bezerra como do irmão beneficiado e desconhecido.

E uma prece muda, de dois corações unidos, numa mesma força gratulatória, subiu aos Céus, louvando aquela que é, em verdade, a porta de nossas Esperanças, a Mãe Sublime de todas as Mães, a Advogada querida de todas as Nossas Causas! Louvado seja o Nome de Maria Santíssima! E abençoado seja o nome de quem, em Seu Nome, num Abraço, fez maravilhas, a verdadeira Caridade Desconhecida!

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Livro: Lindos Casos de Bezerra de Menezes – Autor: Ramiro Gama

Materialismo e Espiritismo Conta-se que o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, orientava,

no Rio, uma reunião de estudos espíritas, com a palavra livre para todos os circunstantes, quando, após comentários diversos, perguntou se mais alguém desejava expressar-se nos temas da noite.

Foi então que renomado materialista, seu amigo pessoal, lhe dirigiu veemente provocação:

-Bezerra, continuo ateu e, não somente por meus colegas mas também por mim, venho convidá-lo a debate público, a fim de provarmos a inexpugnabilidade do Materialismo a você que o Materialismo já levantou extensa lista de médiuns fraudulentos; de chamados sensitivos que reconheceram os seus próprios enganos e desertaram das fileiras espíritas; dos que largaram em tempo o suposto desenvolvimento das forças psíquicas e fizeram declarações, quando às mentiras piedosas de que se viram envoltos ; dos ilusionistas que operam em nome de poderes imaginários da mente; e, com essa relação, apresentaremos outro rol de nomes que o Materialismo já reuniu, os nomes dos experimentadores que demonstraram a inexistência da comunicação com os mortos; dos sábios que não puderam verificar as factícias ocorrências

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da mediunidade; dos observadores desencantados de qualquer testemunho da sobrevivência; e dos estudiosos ludibriados por vasta súcia de espertalhões... Esperamos que você e os espíritas aceitem o repto.

Bezerra concentrou-se em prece, alguns instantes, e, em seguida, respondeu, aliando energia e brandura:

-Aceitamos o desafio, mas tragam também ao debate aqueles que o Materialismo tenha soerguido moralmente do mundo; os malfeitores que ele tenha regenerado para a dignidade humana; os infelizes aos quais haja devolvido o ânimo de viver; os doentes da alma que tenha arrebatado às fronteiras da loucura; as vítimas de tentações escabrosas que haja restituído a paz do coração; as mulheres infortunadas que terá arrancado ao desequilíbrio os irmãos desditosos de quem a morte roubou os entes mais caros, a cujo sentimento enregelado na dor terá estendido o calor das esperanças, as viúvas e os órfãos, cujas energias terá escorado para não desfalecerem de saudade, ante as cinzas do túmulo; os caluniados aos quais terá ensinado o perdão das afrontas; os que foram prejudicados por atos de selvageria social mascarados de legalidade, a quem haverá proporcionado sustentação para que olvidem os ultrajes recebidos; os acusados injustamente, de cujo espírito rebelado terá subtraído o fel da revolta, substituindo-o pelo bálsamo da tolerância; os companheiros da Humanidade que vieram do berço cegos ou mutilados, enfermos ou paralíticos, aos quais terá tranqüilizado com princípios de justiça, para que aceitem pacificamente o quinhão de lágrimas que o mundo lhes

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reservou; os pais incompreendidos a quem deu força e compreensão para abençoarem os filhos ingratos e os filhos abandonados - por aqueles mesmos que lhes deram a existência, aos quais auxiliou para continuarem honrando e amando os pais insensíveis que os atiraram em desprezo e desvalimento; os tristes que haja imunizado contra o suicídio; os que foram perseguidos sem causa aparente, cujo pranto terá enxugado nas longas noites de solidão e vigília, afastando-os da vingança e da criminalidade; os caídos de todas as procedências, a cujo martírio tenha ofertado apoio para que se levantem...

Neste ponto da resposta, o velho lidador fêz uma pausa, limpou as lágrimas que lhe deslizavam no rosto e terminou: Ah! Meu amigo, meu amigo!... Se vocês puderem trazer um só dos desventurados do mundo, a quem o Materialismo terá dado socorro moral para que se liberte do cipoal do sofrimento, nós, os espíritas, aceitaremos o repto.

Profundo silêncio caiu na pequena assembléia, e, porque o autor da proposição baixasse a cabeça, Bezerra, em prece comovente, agradeceu a Deus as bênçãos da fé e encerrou a sessão.

(Transcrito do livro Estante da Vida - Irmão X - psicografado por Francisco Cândido Xavier, Edição FEB)

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Cem Anos de Abnegação e Renúncia

Vida e Obra de Bezerra de Menezes

Contam-se as tradições do mundo espiritual que, na madrugada do dia 1º de janeiro do ano 1800, ao se apagarem as luzes do século XVIII, foi reunida na psicosfera próxima da Terra uma imensa assembléia, para traçar os destinos da humanidade.

Aquela reunião havia sido programada desde há mais de trezentos anos e deveria definir os roteiros dos séculos XIX e XX, inaugurando uma era nova para a humanidade.

Os narradores desse evento asseveram que, naquele momento especial, faziam-se presentes delegações de espíritos que habitavam as mais diferentes nações da Terra. Desde as entidades venerandas que precederam a história dos tempos contemporâneos, como Krisna, Confúcio, Hermes até aqueles que vieram da área Ocidental, preparando o campo do pensamento filosófico: Sócrates, Platão, Aristóteles, e outras personalidades que se encarregaram de examinar a realidade da matéria, como Lucrécio e Demócrito; e a seguir, entidades que precederam o momento grandioso

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da chegada de Jesus: Salústio, Mecenas, Otávio, Ovídio; e a posteriori, aqueles que participaram da revolução do pensamento cristão, entre os séculos segundo e quarto: Agostinho, Tertuliano, Orígenes, Próclos, que constituíram a ideologia do Cristianismo à luz do platonismo; e a seguir, entidades venerandas que espocaram as luzes da fé em plena noite medieval; até o momento em que se alargam os horizontes do planeta com as conquistas náuticas, com as conquistas da cultura, com as conquistas da arte: Michelângelo, Cabral, Colombo, Henrique de Sagres; e aqueles que estabeleceram as bases de uma revolução ideológica através da renascença, da poesia, da música, como Dante e outros; até os grandes pensadores do século XVIII: Voltaire, Diderot, Montesquie, todos eles ali estavam representando a cultura, a beleza, a arte, a sabedoria.

Quando a noite esplendorosa, coruscante de estrelas parecem sentir, entidades respeitosas descem na direção da assembléia acompanhada por um coral de vozes que exaltam a Era Nova.

Está à frente a personalidade de Júlio Cesar, o conquistador da África, aquele que reduziu o mundo a um departamento do império romano.

O semblante de César, no entanto, esta alterado. Ele agora traz a mente velada por um certo torpor. Ostenta a coroa de mirtos sobre a cabeça e o manto de púrpura, que foi usado por Carlos Magno, quando recebeu das mãos do papa a coroa de governador da Europa.

Logo depois dele, a figura luminífera de Yoshani Russ, o semblante iluminado pelas perspectivas de uma grande conquista.

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Descem ao cenáculo abençoado e, diante de um silêncio espectral, ouve-se uma voz que vem de uma região ignota e que diz, suave e grandiosamente:

- César, deleguei-te a tarefa de preparar a Terra para a tarefa do critianismo. Convidei-te a abrir os horizontes de Roma para minha chegada. Estabeleci diretrizes dos grandes conquistadores, para que um só idioma se espalhasse pelo mundo. Desde a hora de Alexandre Magno, quando preparou o Mediterrâneo, através da língua grega, e tu preparaste os horizontes da Terra através do latim, mas malograste dolorosamente, mergulhaste no prazer sanguissedento da destruição, e o punhal de Brutus arrebatou-te o corpo em um momento em que te dirigias ao Senado para rogares mais prepotência e mais poder. Hoje eu te coloquei na indumentária de Napoleão Bonaparte para que reúnas os estados Europeus sob o estandarte da paz, a fim de que o meu mensageiro leve à Terra a mensagem que eu tenho embutida nos corações dos homens e que os sentimentos vis entorpeceram, erigindo as manifestações da teocracia, do absolutismo, do abuso. Sei que o mergulho na carne envolve a mente em sombras, mas a ti competi a tarefa de preparar a Terra para ele; o enviado do paracleto, o missionário da terceira revelação.

Nesse momento, João Russ, que fora queimado no século XVI, acerca-se de César, na personalidade de Napoleão Bonaparte, e curva-se reverente, e a voz transcendental continua a dizer:

- Ele levará o símbolo da fraternidade. Abrirá os caminhos por onde percorrerão as naves da ciência, e nos seus passos estarão as artes e as literaturas. Mas ele será o embaixador da religião do amor que tem por base a caridade. E se fará

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igualitar por outros mensageiros de minha confiança para preparar na Terra o advento do reino dos céus.

João Russ levanta-se e, dominado pelas lágrimas, contempla o infinito, de onde vem a vóz que ressoa naquele cenáculo abençoado.

As observações penetram nas acústicas das almas e, a pouco e pouco, acercam-se de Napoleão e do Grande João Russ, seres angelicais que terão a tarefa de preparar o advento da Era Nova no planeta terrestre.

À medida que eles sobem ao imenso palanque das exortações, a multidão se levanta, e pétalas chovem, inimaginária de uma região ignota sobre a assembléia transcendental.

No dia 3 de outubro de l804, dois meses depois que Napoleão Bonaparte se consagrou imperador dos franceses, em Notredame, nasce na Terra Hippolyte León Denizard Rivail, que a humanidade passará a conhecer a partir de 1857, sob o pseudônimo de Allan Kardec, que era João Russ reencarnado, para trazer a Doutrina Espírita às almas, inaugurando verdadeiramente um momento grandioso do cristianismo nos corações.

Mas antes que este evento se tornasse realidade, no dia 29 de agosto de 1831, em um lugarejo perdido nas terras áridas do Ceará, chamado Riacho de Sangue, reencarna-se um venerando cristão do século II, que, por amor a Jesus, erguera nas Gáleas um lar para crianças órfãs a fim de atrair a figura cruel do seu filho Taciano, que necessitava de ter dulcificado o coração. E ali, então, numa personagem amorosa, ele prepara o advento de salvação para o filho e de

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doação absoluta à causa de Jesus. Reencarna-se, 1600 anos depois, na pessoa de Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcante, que deve ser uma das estrelas a perpetuar a mensagem de Allan Kardec na Terra e a fazer que o amor seja realmente a base de todas as afirmações dessa revelação grandiosa que vem confirmar a lei antiga e vem tornar caridosa a mensagem amorosa de Jesus.

Dali de Riacho de Sangue, de uma família modesta, ele demanda Fortaleza, a capital da sua província para fazer os cursos elementares e ginasial. Mas trazia na alma a fatalidade da conquista dos continentes desconhecidos da alma, e vem agora à capital do Império, à cidade do Rio de Janeiro, onde pretende desenvolver as aptidões do sacerdócio de curar. Jovem pobre, sonhador e pulcro, chega à corte sem os recursos adequados para poder enfrentar as dificuldades de uma região hostil. Aqueles alienígenas que aportam diariamente na grande metrópole. E através de sacrifícios ingentes, de renúncias incomuns, de lágrima acerbas, o jovem Adolfo Bezerra de Menezes vai colocando marcos de conquistas, passo a passo, da sua escalada gloriosa no rumo da plenitude.

Momentos chegam em que as dificuldades se lhe fazem tão acerbas e dolorosas, que o lume é escasso e o pão alimentar é quase impossível de conquistá-lo. Narra ele, e um de seus melhores biógrafos retrata, que certa feita as dificuldades eram tão graves e a importância a aplicar no seu curso de medicina era tão elevada, que ele estava a ponto de desistir, quando lhe apareceu, mandado pela providência, um jovem que se candidatava a receber aulas particulares de matemática em que ele era um exímio concepcionista, nesta doutrina de abstrações. Ele tinha a certeza que fora a divindade que encaminhara o jovem e negociou naturalmente

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as aulas que ia ministrar, tendo a agradável surpresa de dar-se conta que o jovem estava preparado para pagá-las por antecipação, e, ao fazê-lo, a importância que lhe colocava em mãos viria a preencher exatamente a lacuna da necessidade, que o teria impedido de levar adiante a sua carreira, que o celebrizaria como médico dos pobres. Posteriormente o jovem nunca mais voltou, e durante toda sua vida isso lhe constituiu um ponto de interrogação, fazendo crer que aquele dinheiro lhe não pertencia, o que o levou a distribui-lo muitas vezes com os necessitados, como sendo a maneira de devolvê-lo as mãos anônimas e quiçás espirituais que lhe vieram bater à porta no momento da ajuda. Adolfo Bezerra de Menezes celebrizou-se na faculdade de medicina pela inteligência lúcida, pelo raciocínio hábil, mas pela bondade dos sentimentos e do coração.

Consorciou-se com uma dona gentil com quem viria a tornar-se pai repetidas vezes.

E para levar adiante os ideais que incutiu na sua alma, adotou a postura política, representando vários bairros do Rio de janeiro na constituição então vigente; mas sentia que sua alma não estava preparada para as circunstâncias amargas do relacionamento político, para as paixões partidárias, para o jogo arbitrário dos interesses humanos.

Exatamente nessa hora, a partir de 1870, quando se dá a combustão intelectual da Europa, chegam ao Brasil as idéias eloqüentes dos grandes materialistas: o pensamento de Augusto Conte, as idéias de Hegel, as propostas do lirismo, e ele, intelectual, não se podia curvar diante das exigências da doutrina dominante, torna-se livre pensador amando a Deus, mas não se vinculando a nenhuma das doutrinas então em vigência. Espírito aberto, ele tem a oportunidade de ser

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levado à casa de um jovem médium, que, através da homeopatia, que havia sido lançada algo recentemente por uma personalidade extraordinária que estivera presente na noite memorável, naquele 1º de janeiro de 1800. Ele percebe que em estado de transe o sensitivo pode realizar o diagnóstico da problemática orgânica e fazer a anamnese do paciente e receitar com absoluta precisão. Ele mesmo submete-se à experiência e os resultados são fascinantes.

Alguém lhe houvera dado oportunamente O Livro dos Espíritos, e certo dia, enquanto viajava no bonde atrelado à burros, dirigindo-se do Centro da cidade ao Bairro da Tijuca, ele abriu eventualmente a obra e começou a lê-la; qual não foi sua surpresa, aquela obra lhe não trazia nenhuma novidade. Ele conhecia aquele conteúdo, era como se diria na linguagem popular espírita sem o saber. Aderiu à certeza da imortalidade da alma, da comunicabilidade do espírito, da reencarnação, da pluralidade dos mundos habitados, e Jesus fascina-lhe a alma, arrebatando-lhe os sentimentos mais nobres, que ele soube entesourar na arca generosa do coração amigo. A partir daquele momento, o Doutor Adolfo Bezerra de Menezes apaixona-se pela revelação Kardequiana.

O movimento espírita das terras brasileiras estava gravemente tumultuado.

Ele era um homem de ciência, mas era também um homem de amor.

Jesus estóico fascina-lhe a alma, qual ocorreria mais tarde a Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, a Pasteur e a outros. Jesus redulcifica a alma e ele adere ao grupo das místicas.

As criaturas se comprazem em lutar em impor o seu ego de

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forma apaixonada, esquecendo que aquele que pretende convencer aos outros, psicologicamente diz a psicanálise, é um inseguro. Quem tem segurança não pretende mudar a ninguém. Dá a liberdade de cada um ser o que deseja, mas a si exige-se, ser a cada hora melhor do que o era minutos atrás. Bezerra tem essa certeza e procura ser o conciliador. É convidado a dirigir a Federação Espírita Brasileira, recentemente criada na casa de Elias da Silva, por um grupo de estóicos. As dificuldades reinantes são várias e ele dá o melhor da sua alma de esteta.

A comunicação com Ismael comove-o, através de Frederico Junior, que foi a época o melhor médium do Brasil. (psicofônico, psicográfico, sonambúlico, de efeitos físicos, portador de uma clarividência excepcional) Esse homem amigo é o instrumento das vozes que luarizam a alma de Bezerra de Menezes.

Ele resolve tirar o Espiritismo das paredes sombrias das Casas Espíritas, e vai escrever no jornal "O País", da cidade do Rio de Janeiro sob o pseudônimo de "Max"

A verdade é que ele libera-se do encargo da Federação Espírita Brasileira, mas as lutas humanas fazem-se intestinas: as divisões, as agressões, e Bezerra tornou-se o alvo do campo de batalha de ambas as partes litigantes.

Porém, em um momento de grande dificuldade, Ismael diz: - Batam às portas de Bezerra de Menezes e tragam ele de volta às atividades da F.E.B. Uma comissão é destacada, e vai à Bezerra de Menezes e pede-lhe para que volte ao trabalho de Ismael, e ele teria respondido:

- Sou um homem pacífico. Os meus sentimentos são de

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amor. Mas para dirigir a Casa de Ismael eu somente aceitarei se me concederem poderes discricionários, se minha palavra não for contestada, no momento da primeira contestação, eu oferecerei o meu cargo e os encargos ao meu contestador. Porque não estou aqui para exercer posição de relevo, mas para servir, e para servir não necessito de cargo já tenho os encargos. E o farei, este serviço, em qualquer lugar. Assim volta Bezerra de Menezes à F.E.B em 1895, como o pacificador.

Já era um homem venerando, apesar de uma idade relativamente madura, mas ainda não envelhecido. A sua postura, o seu amor, a sua abnegação e a sua caridade ímpar àqueles favelados da época, dos morros da cidade do Rio de Janeiro, a sua misericórdia, já o haviam elegido "O médico dos Pobres".

Quantas vezes a dor lhe bate à porta de maneira rude; a esposa desencarna e ele fica à sós com uma prole a atender a sustentar, a amar. Uma cunhada devotada que percebe-lhe a dificuldade de administrar a casa e de ganhar o pão, na sua profissão de médico que dava tudo e recebia quase nada, foi residir com ele para ajudá-lo. Meses depois na sua figura notável de homem de bem ele disse:

- Não me parece justo que você, sendo uma jovem solteira e bela, venha a ficar na residência de um viúvo. Já que você pode ser a mãe espiritual de meus filhos, (seus sobrinhos) eu a convido para ser minha esposa, e no dia que você me amar poderemos passar a ter uma vida nupcial como recomendam as leis de Deus, e o amor na Terra prescreve. Ela aceita a mão do cunhado, ele consorcia-se pela segunda vez, torna-se pai, as dificuldades cada vez mais dolorosas,e certo dia, para culminá-las: atendia ele na modesta sala, onde receitava a

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terapia homeopática, quando contemplou uma mãe angustiada, ela trazia nos braços um filho macérrimo, trêmula, esfaimada, coloca o filho sobre a mesa de exames e diz:

- Está morrendo, Dr. Bezerra! Salve meu filho.

Dr. Bezerra examina a criança e percebe que a doença é uma seqüela da fome. Receita imediatamente e diz:

- Desça à farmácia, adquira o produto de imediato e se você seguir a prescrição, seu filho se salvará.

- Então, Doutor, ele vai morrer, porque o nosso problema é comida. Eu irei mendigar com a receita na mão.

Bezerra examina os bolsos, a última moeda ele havia dado ao cliente anterior. Põe as mãos na cabeça e as lágrimas correm-lhe pelos olhos azuis transparentes. A mão esquerda está espalmada sobre a mesa, e naquele momento de grande angústia e expectativa, ele vê a mão, e nota o anel de formatura. Ele era agora tomado de alegria, arranca o anel e diz-lhe:

-Não seja por isso, minha filha, vá à farmácia, entregue o anel ao farmacêutico, compre os remédios e peça-lhe que lhe devolva aquilo que exceder ao preço do medicamento e compre alimentos para seu filhinho e para você.

Ela sai cantando hosanas.

Ele toma do chapéu, desce as escadarias do consultório do primeiro andar e, quando vai pegar o bonde, ele dá-se conta que não tem a moeda mais miserável e mínima para pegar a condução, e para não criar problema no transporte urbano,

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ele sai da rua sete e vai a pé até a Tijuca, chegando lá avançadas horas da noite exausto, esfaimado, com os filhos e a esposa também padecendo necessidades.

Isso bastaria para definir a grandeza de um homem que deveria estar nos anais do prêmio Nobel da Paz, como aquele que doou tanto que, já não tendo o que doar, doou-se a si mesmo.

Mas no fim do ano de 1899, uma enfermidade pertinaz prostra o grande médico. Ele afasta-se da direção da F.E.B.

No dia 11 de abril de 1900, ele desencarna, deixando na Terra um vazio, que ainda não pode ser preenchido de maneira física, tal a grandeza deste ser espiritual que a Terra recebe periodicamente no mundo para preparar nos corações o entronizamento da figura ímpar de Jesus.

Desencarna Bezerra, o Brasil chora, mas ele não se aparta da alma brasileira; continua a atender este povo a quem ele amou com tanto desvelo.

No ano de 1950, naquele mesmo recinto a que nos reportamos, há uma reunião especial. Aproximadamente cinco mil espíritos, entre encarnados, e desencarnados estão convidados a participar de uma homenagem especial a um apóstolo de Jesus que trabalha nas sombras da Terra.

A reunião é grandiosa. Aquele público imenso que repleta o anfiteatro, que tem a forma greco-romana do passado, está ansioso, quando um coral de duzentas vozes infantis começa a entoar o "Aleluia" de Hendel.

E adentra-se, acompanhado de um sectro de entidades venerandas, Dr.Bezerra de Menezes, em espírito.

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A figura ímpar de Dr. Bezerra, acolitado por aqueles seres espirituais iluminados, destaca-se em uma indumentária modesta, que faz recordar o linho Belga usado na Terra. A indumentária de tonalidade pérola, a mão direita apoiada à gola do paletó, a cabeça que se move negativamente como a dizer: - Mas eu não mereço.

O grupo adentra-se e vem à mesa central.

Dr. Bezerra senta-se ao lado do diretor dos trabalhos.

Começa a reunião que homenageia Bezerra pelos 50 anos de atividades nas terras brasileiras como colaborador de Ismael, representante da bondade de Jesus.

Léon Denis, o apóstolo do espiritismo Francês, o grande colaborador e desdobrador da obra de Allan Kardec, é convidado a saudá-lo em nome dos Espíritos Espíritas Internacionais. E o verbo eloqüente do extraordinário autodidata poeta ressoa na multidão como bátegas de luz caindo suavemente numa sinfonia. As palavras de Leon Denis traz a gratidão dos Espíritas do mundo ao apóstolo do Cruzeiro do Sul.

Bezerra chora, dominado de uma grande emoção.

Terminada a exortação de Denis, é convidado Manoel Vianna de Carvalho para falar em nome da comunidade espírita brasileira. Vianna de Carvalho agiganta-se na tribuna e fala em nome da gratidão da pátria brasileira a este ser que tanto estava fazendo pelo pensamento no país.

Logo depois que Vianna de Carvalho encerra, abre-se aquele horizonte infinito do espaço e um jato de luz tomba sobre a multidão.

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Aparece o ser espiritual superior jovem, Celina, a mensageira de Maria, a mãe de Jesus, que abre um livro imenso de luzes e lê para todos, emocionados:

- Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, a mãe de Jesus manda convidar-te para que saias das sombras do planeta terrestre. Ela te oferece no Sistema Solar qualquer um dos astros onde queiras reencarnar. Ela concedeu do Filho a permissão para franquear-te noutra esfera, se necessário fora do Sistema Solar, a oportunidade de crescer de maneira com a misericórdia de Deus, nos rumos do insondável na busca da perfeição.

- Tenho eu a tarefa de apresentar-te a proposta da Senhora, e levar- Lhe o resultado, depois de ouvir-te.

Bezerra de Menezes levanta-se, a multidão está impactada, ele abaixa a cabeça e, com a voz embargada ao erguer a fronte diz:

- Celina, minha filha, eu não mereço nada disso! Se eu merecesse alguma coisa, se alguma coisa me fosse lícito pedir; se houvesse em mim qualquer atributo que justificasse uma solicitação, eu te pediria levares à Senhora o meu requerimento pedindo misericórdia para as minhas imperfeições; e se me fosse lícito pedir algo mais, eu pediria à Maria, a Santíssima, que me facultasse a honra de continuar nas sombras do país verde e amarelo do Cruzeiro do Sul, atendendo aos infelizes, e que, ela não me permitir a graça nunca de sorrir enquanto na terra brasileira alguém estiver chorando; que eu não tenha o direito de ser feliz enquanto os meus irmão do Brasil estejam angustiados. Então intercede tu, minha filha, junto à nossa Mãe para que ela me permita a caridade de permanecer nas terras do cruzeiro até o momento

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em que o país saia das sombras.

Celina retorna, as vozes infantis erguem-se, as músicas sucedem-se e, de repente, no céu coruscante de estrelas, uma mão empunhando uma pluma antiga escreve:

- Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, o teu requerimento dirigido à Senhora foi deferido. Ficarás nas terras verde-amarelas do Brasil, nas sombras do planeta, atendendo a dor até o ano 2000, quando terás brindado cem anos de abnegação, de renúncia, de doação total.

A reunião foi encerrada, e Bezerra de Menezes voltou às sombras do país tropical para erguer as almas combalidas, para encaminhá-las à Jesus. Para ensinar que somente o amor dirime quaisquer problemas e dificuldades....

Este é o espírito amoroso que reencarnou em Riacho de Sangue no Ceará, que agora é amado e conhecido mundialmente, e quando ele se comunica, através daqueles que sintonizam na sua faixa de evolução, as lágrimas aljofram nos olhos dos que o ouvem porque a psicosfera ambiental se transforma.

...Adolfo Bezerra de Menezes, 168 anos depois que mergulhou nas terras sofredoras do Brasil, em nome daquela reunião programada por Jesus a 1º de janeiro de 1800, continua sendo o apóstolo da brasilidade, o anjo bom das nossas vidas, ensinando-nos a fazer com o nosso próximo conforme lhe pedimos que faça conosco. Sugerindo-nos amar àqueles que nos não amam, quanto ele tem amado àqueles que o fizeram chorar.

Ele tem sido a luz que brilha na grande noite, apontando o rumo na direção de Jesus através de Allan Kardec.

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E hoje quando a Terra está abatida pelo vendaval e os furacões da discórdia, da inimizade.

Quando a violência estruge a chibata do desequilíbrio, destruindo corpos e arrebatando as vidas físicas, urge que peçamos a Bezerra de Menezes para que interceda junto à Maria, a fim de que ela peça a Jesus piedade para a Terra; piedade para os homens e as mulheres do mundo; para que Ele, o Mestre de Nazaré, diga ao Pai:

- Perdoa-lhes meu Pai, pois ele não sabem o que fazem.

Nesta hora de tantos problemas, sejamos nós aqueles que juntamos, não aqueles que espalham. Sejamos pessoas pontes que ligam abismos e não pessoas paredes que dificultam o passo. Sejamos aqueles que se doam e não aqueles que tomam.

Amemos as pessoas e usemos as coisas, para não amarmos as coisas e usarmos as pessoas.

Consideremos as criaturas, sem as ter na condição de descartáveis para não produzirmos danos nas almas, lesões nas almas.

Divulguemos o Espiritismo ao mundo. Ensinemo-lo corretamente. Quem o aplique indevidamente é problema de sua consciência.

Que tenhamos a consciência de fazer melhor, de realizar o mais corretamente o conteúdo, mas que haja por base a recomendação do espírito de verdade:

- Espíritas, amai, este é o primeiro mandamento; e instruí-vos para que a Terra de amanhã seja em verdade a Jerusalém

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libertada.

Para que possamos tomando as mãos dizer:

-Senhor, nós queremos bendizer-Te o nome, agradecer-Te a alegria e a honra de amar-Te!

- Senhor, esperamos que chegue o dia em que o sol da nova era esteja esplendoroso, e as rosas estejam fitando os lares, voltadas para dentro de casa. E a natureza, enriquecida de festa, seja um poema de ternura. E a dor, a tristeza, a amargura, saiam dos anais da humanidade em nome da Tua lição de liberdade.

- Senhor, neste momento, pois, vem ter conosco e permite que o teu apóstolo Bezerra, tomando das nossas mãos, possa dizer:

- Venha comigo, Jesus está chamando, e nos Teus braços, amigo, possamos repousar.

Muita paz!

PARECER DE BEZERRA DE MENEZES A transcendência do trabalho foge ao vosso alcance, pois, às vezes, não desejais vislumbrar mais longe, ou vos acomodais na condição de simples espectadores dos fatos. Atraídos para tal realização da seara espiritualista, estão ao vosso lado centenas de núcleos espirituais, orientados diretamente por Ismael, preposto de Jesus no Brasil. É imprescindível, pois, que em cada um de vós haja a dedicação devida, para que possamos desenvolver paulatinamente este serviço,

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dando-lhe uma maior amplitude, que trará, por certo, conseqüências benéficas para vós e principalmente para o campo espiritual, onde as vibrações serão aproveitadas ao máximo. Este trabalho de vibrações realiza-se no espaço, da seguinte forma: Os necessitados são divididos em quatro grupos distintos, a saber: Primeiro Grupo – doentes que sofrem de enfermidades graves: Segundo Grupo – doentes cujos estados não apresentam gravidade, mas requerer alívio imediato; Terceiro Grupo – doentes afligidos por males psíquicos; Quarto Grupo – lares que demandam pacificação e ajustamentos. Para esses grupos são destacados quatro companheiros que exercem função de orientadores e que têm a seu cargo, conforme as exigências do momento, dois, três ou quatro mil colaboradores. Cada um desses orientadores recebe a lista dos irmãos a serem beneficiados e respectivos endereços, os quais são atendidos individualmente. Temos, então, como vemos, um amigo espiritual para cada necessitado. Às dezoito horas, esses milhares de servidores espirituais já estão a postos neste recinto, impregnando a própria atmosfera de elementos sutis e bênçãos curadoras. Após as dezenove horas, inicia-se o ingresso dos irmãos encarnados e à porta de entrada é destacada para cada um deles, um entidade espiritual que o acompanha até o seu lugar. Ao se ouvir a prece cantada é que consideramos o trabalho iniciado e, no momento em que vossas almas se elevam junto à melodia, caem sobre vós, em abundância, elementos curadores e confortadores que o irmão encarnado retém em maior ou menor quantidade, conforme a sua receptividade. Iniciam-se, então, as vibrações que possuem, como já sabeis, cor, perfume e densidade e que são recolhidas em receptáculos distribuídos pelo salão. O amigo espiritual que vos acompanha, estabelece convosco uma corrente, mantendo-a em contato mútuo e constante até os receptáculos, que vão se enchendo e se iluminando rapidamente, ou não, consoante a capacidade vibratória de cada um. Em seguida, entram em ação os trabalhadores dos quatro grupos já citados; exercendo o seu mister de conformidade com a necessidade, retiram do receptáculo a quantidade de elemento que precisam para suas tarefas, segundo o grupo a que pertencem. A seguir, afastam-se para o cumprimento de suas obrigações. Entram, após, grandes grupos, formados de seiscentos a oitocentos

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amigos espirituais, para as vibrações, durante as quais vibram também convosco os irmãos desencarnados que vos acompanham desde o início. O que vemos, então é um espetáculo grandioso: todo o ambiente se reveste de intensa luz e, ao vibrarem, os vossos pequeninos corações fazem o papel de um refletor e, então, iluminando e riscando o espaço, vemos luzes das mais variadas tonalidades e intensidades e esses grupos de irmãos, com os braços estendidos para vós, recebem o presente carinhoso do vosso coração par ser levado aos mais distantes setores da Terra, enquanto que ao serem enumeradas as Fraternidades, já então de regresso de suas tarefas, perfilam-se os espíritos à vossa frente, envolvendo-vos na carícia do Amor Fraternal. Por fim, quando o espírito destacado para a exortação evangélica encerra o trabalho, de esferas mais altas jorram sobre vós as bênçãos do Amor do Pai e ao vos retirardes, apesar de muito terem dado os vossos organismos físicos, retornais ao lar saturados de elementos revitalizadores em muito maior quantidade do que aquela despendida por vós. BEZERRA DE MENEZES, 1950. Fonte revista "A Centelha" Fevereiro 1945

Nada pode deter a marcha Mensagem do Dr. Bezerra de Menezes aos membros do Conselho Federativo Nacional exortando-os a avançar unidos, pois ‘‘o ideal de unificação vem do mundo espiritual para a Terra Lutas Meus Filhos Permaneça conosco a paz do Senhor!

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Recrudescem as lutas. Os anunciados tempos de transição chegam e fragorosas batalhas são travadas. É indispensável a aferição de valores que devem caracterizar os combatentes. Dificuldades e desafios apresentam-se no planeta em todas as áreas do conhecimento e do comportamento. As estruturas mal construídas do passado esboroam-se ante o fragor das demolições incessantes. A árvore que não foi plantada pelo Bem é derrubada, e as casas edificadas sobre as areias movediças ruem desastrosamente. Mas a obra do bem permanece suportando os vendavais, enfrentando todos os desafios. Não nos preocupemos com esses momentos que nos chegam, estabelecendo entre as criaturas o desequilíbrio e estimulando à debandada. Os discípulos da verdade devem permanecer fiéis aos postulados que abraçam, vivenciando-os.

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Não seja, pois, de estranhar, que a incompreensão sitie os nossos passos e obstáculos imprevistos apareçam pela senda que percorremos. Devemos contar com a consciência ilibada e nunca aguardar o aplauso da insensatez. Nosso modelo é Jesus, para Quem não houve lugar no mundo. O Codificador igualmente seguiu-Lhe as pegadas e soube arrostar as consequências do messianato a que se entregou, incorruptível e tranquilo. Lamentamos que as maiores dificuldades sejam intestinas em nosso Movimento, mas compreendemos que as criaturas se demoram em diferentes patamares de consciências, possuindo a ótica própria para observação dos fatos e interpretação da mensagem. Já que não nos é lícito impor a proposta espírita libertadora, não nos preocupemos com as imposições que nos chegam. Todos estamos informados dos fins dos tempos e o

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egrégio Codificador da Doutrina asseverou-nos que o mundo de provas e de expiações cederia lugar ao mundo de regeneração. Através dos tempos se tem informado que essa modificação se dará por meio de fenómenos sísmicos dolorosos; através de lutas cruentas, em guerras intermináveis; mediante os conflitos humanos. No entanto, se observarmos a História, encontraremos todos esses acontecimentos assinalando períodos de transição. A grande luta deste momento se travará no país da consciência de cada discípulo de Jesus. As convulsões serão de natureza interna. A batalha mais difícil será a da superação das más inclinações, administrando-as e direcionando-as para o Bem. Por mais difíceis se nos apresentem as acusações, e por mais terrível seja a morbidez direcionada para impossibilitar-nos o avanço, mantenhamos a serenidade. Que receio nos podem proporcionar aqueles que apenas falam contra nós?!

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Atuando no bem e sabendo confiar no tempo, levaremos a mensagem de libertação da Doutrina Espírita às diferentes Nações da Terra, pulcra, conforme no-la legaram os Espíritos por intermédio de Allan Kardec e dos seus discípulos mais dedicados. O movimento expande-se; nada pode deter a marcha da Doutrina Espírita, nem mesmo aqueles que, dizendo-se adeptos da palavra do Codificador, erguem-se para zurzir-nos com as expressões destrutivas, utilizando-se das armas da impiedade disfarçada de dedicação à Causa. O servidor da verdade permanece-lhe fiel, não divulgando o mal, mas apresentando o bem; mesmo do erro tirando a melhor parte, aquela que serve de lição para não se voltar ao engano ou não se estabelecerem novos compromissos negativos. Confiai, filhos dedicados! Vossos passos na Terra devem deixar sinais que possam servir de roteiro para os que vierem depois.

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O nosso compromisso é com Jesus, o Amor, e com Allan Kardec, a razão, para que a religião cósmica da verdade domine os corações humanos, restaurando no planeta a era da legítima fraternidade. O Espiritismo vem desempenhando o papel para o qual foi codificado. Não nos detenhamos na análise dos impedimentos, dos erros, mas examinemos a extensão dos benefícios que hoje conduzem milhões de vidas que se norteiam para o Bem. Não guardemos qualquer ressentimento, nem nos deixemos entristecer ou entibiar, quando as forças parecerem diminuídas. Não nos permitamos desanimar, porquanto o nosso é um trabalho pioneiro, a nossa é uma tarefa caracterizada pelo estoicismo. Nossa jornada deve estar assinalada pelo amor, e é

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natural que ainda não haja lugar para ele entre muitos Espíritos que se encontram em níveis de evolução diferentes. Avancemos unidos. O ideal de unificação vem do mundo espiritual para a Terra. Se não formos capazes de discutir as nossas dificuldades idealistas em clima de paz, de fraternidade, de respeito mútuo, de dignificação dos indivíduos e das instituições, que mensagem podemos oferecer ao mundo e às criaturas estúrdias deste momento?! Tem-se a medida do valor moral do homem pelas resistências que vive nas lutas que trava. Os ideais tomam-se grandiosos pelo que provocam nos inimigos gratuitos do progresso. A Doutrina Espírita, repitamos, é Jesus, meus filhos, em nova linguagem perfeitamente compatível com os arroubos da Ciência e os fatos demonstrados pela experimentação de laboratório, assim com pelas

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conquistas tecnológicas. Mas, a criatura humana, que é o laboratório da própria evolução, no seu encontro com Jesus através da fé racional, clara e nobre, é o campo onde o bem se instalará em definitivo, como célula do organismo social. E dessa criatura transformada teremos a sociedade melhor que o Espiritismo deve construir. Fiquem, no passado, todos os problemas-desafios. Fiquem, no silêncio das nossas palavras e no verbo das nossas ações edificantes, os nossos propósitos de servir, confiando que a casa construída na rocha sobreviverá aos fatores externos que, aparentemente, a ameaçam, e o ideal sobrepairará conduzindo todos ao imenso fanal da plenitude. Senhor de nossas vidas, prossegue conduzindo-nos! Ovelhas tresmalhadas que somos do Teu rebanho, apieda-Te da nossa tibieza de caráter, da nossa fragilidade moral e conduze-nos com Tua paciência de Pastor multimilenário, que nos guarda pelas trilhas da

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evolução. Despede-nos, Excelente Filho de Deus, enriquecidos de paz e de entusiasmo, na certeza de que nunca nos deixará a sós, mesmo quando, por qualquer circunstância, nos resolvamos afastar de Ti; concede-nos então uma outra oportunidade, permanecendo conosco por todo o tempo. Que assim seja! Muita paz, meus filhos. Que o Senhor permaneça conosco, são os votos do servidor humílimo e fraternal de sempre. Autor: Bezerra de Menezes Psicografia de Divaldo Franco

DECLARAÇÕES DO Dr. BEZERRA DE MENEZES, FEITAS EM 15 DE OUTUBRO DE 1892 PUBLICADAS NA REVISTA REFORMADOR

Nasci e criei-me, até aos 18 anos, no seio de uma família

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tradicionalmente católica, que levava a sua crença até à aceitação de um absurdo, por mais repugnante que fosse, imposto à fé passiva dos crentes, pela Igreja Romana.

Aprendi aquela doutrina e acostumei-me às suas práticas, mas empiricamente, serra procurar a razão da minha crença.

Dois pontos, entretanto, me apareciam luminosos no meio daquela névoa; eram: a existência da alma, responsável por suas obras, e a de Deus, criador da alma e de tudo o que existe.

Ao demais, eu considerava sagrado tudo o que meus pais me ensinavam a crer e a praticar; a religião católica, apostólica, romana.

Aos 19 anos, e naquela disposição de espírito, deixei a casa paterna, para vir fazer meus estudos na capital do Império, onde vivi, mesmo no tempo de estudante, sobre mim, sem ter a quem prestar obediência.

Continuei na crença e práticas religiosas que eu trouxe, do berço, mas, na convivência com os moços, meus colegas, em sua maior parte livres pensadores, ateus, comecei batendo-me com eles - e acabei concorde com eles, parecendo-me excelso não ter a gente que prestar conta de seus atos.

Não foi difícil esta mudança, pela razão de não ser firmada em fé raciocinada a minha crença católica; mas, apesar disto, a mudança não foi radical, porque nunca pude banir de todo a crença em Deus e na alma.

Houve em mim uma perturbação, de que nasceu a dúvida. Fiquei mais céptico do que cristão - e cristão somente por

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aqueles dois pontos

Em todo o caso deixei de ser católico - e via os meus dois pontos luminosos por entre as nuvens.

Casei-me com uma moça católica, a quem amava de coração - e sempre respeitei suas crenças, guardando nos seios de minha alma a descrença.

No fim de quatro anos, fui subitamente batido pelo tufão da maior adversidade que me podia sobrevir: minha mulher me foi roubada pela morte, em 20 horas, deixando-me dois filhinhos, um de 3 anos e outro de 1

Aquele fato produziu-me um abalo físico e moral, de prostrar-me.

As glórias mundanas, que havia conquistado mais por ela que por mim, tornaram-se-me aborrecidas, senão odiosas, e, como delas, coisas da terra, eu não via nada, nada encontrei que me fosse de lenitivo a tamanha dor.

Sempre gostei de escrever, mas inutilmente tentava fazê-lo, porque, no fim de poucas linhas, tédio mortal se apoderava de mim.

A leitura foi sempre a minha distração predileta, mas dava-se a este respeito o mesmo que a respeito de escrever: abria um, outro, outro livro sobre ciência, sobre literatura, sobre o que quer que fosse, mas não tolerava a leitura de uma página sequer.

Um dia, meu companheiro de consultório trouxe da rua um exemplar da Bíblia, tradução do padre Pereira de Figueiredo, entressachado de estampas finíssimas.

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Tomei o livro, não para ler, que já não tentava semelhante exercício, mas para ver as estampas, com verdadeira curiosidade infantil.

Passei todas em revista, mas, no fim, senti desejo de ler aquele livro que encerrava minhas perdidas crenças, e também porque eia vergonha para um homem de letras dizer que nunca o lera.

Comecei, pois, e esqueci-me a ler o belo livro, até perder a condução para minha casa; e, depois que cheguei à residência, sentia prazer em pensar que voltaria a lé-lo!

Eu mesmo fiquei surpreendido do que se passava em mim!

Li toda a Bíblia e, quanto mais lia, mais vontade tinha de continuar, fruindo doce consolação com aquela leitura.

Quando acabei, eu sentia a necessidade de crer, não nessa crença imposta à fé, mas numa crença firmada na razão e na consciência.

Onde lhe descobrir a fonte?

Atirei-me à leitura dos livros sagrados, com ardor, com sede; mas sempre uma falha ao que meu espírito reclamava.

Começaram a aparecer as primeiras notas espíritas no Rio de Janeiro; mas eu repelia semelhante doutrina, sem conhecê-la nem de leve! Somente porque temia que ela perturbasse a tal ou qual paz que me trouxera ao espírito a minha volta à religião de meus maiores, embora com restrições.

Um colega (Dr. Joaquim Carlos Travassos), porém, tendo traduzido O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, fez-me

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presente de um exemplar, que aceitei, por cortesia.

Deu-mo na cidade, e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde.

Embarquei com o livro, e, não tendo distração para a longa e fastidiosa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto; e, depois, é ridículo confessar-me ignorante de uma filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas.

Pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a Bíblia.

Lia, mas não encontrava nada que fosse novo para o meu espírito, e entretanto tudo aquilo era novo para mim!

Dava-se em mim o que acontece muitas vezes a quem muito lê, e que um dia encontra uma obra onde se lhe deparam idéias, que já leu, mas que não sabe em que autor.

Eu já tinha lido e ouvido tudo o que se acha em O Livro dos Espíritos, mas eu tinha a certeza de nunca haver lido obra alguma espírita, e, portanto, me era impossível descobrir onde e quando me fora dado o conhecimento de semelhantes idéias!

Preocupei-me seriamente com este fato que me era maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, como se diz vulgarmente, de nascença, e que todas essa vacilações que meu espírito sentia eram marchas e contramarchas que ele fazia, por descobrir o que lhe era conhecido e, porventura, obrigado a isto.

Eis o que fui e em que crença vivi, até que me tornei

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espírita

Apesar de convencido da verdade do Espiritismo, eu nunca tinha assistido, nem tentado assistir a qualquer trabalho experimental, confirmativo sequer da comunicação dos Espíritos

Tendo sido atacado de dispepsia, que me reduziu a um estado desesperador, sem que me tivesse proporcionado o menor alívio a medicina oficial, apesar de ter eu recorrido aos mais notáveis médicos desta capital, resolvi, depois de um sofrimento de cinco anos, recorrer a um médium receitista, em quem muito se falava, o Sr. João Gonçalves do Nascimento.

Eu não acreditava nem deixava de acreditar na medicina medianímica, e confesso que propendia mais para a crença de que o tal médium era um especulador.

Em desespero de causa, porém, eu recorreria a ele, mesmo que soubesse ser um curandeiro.

Tentava um recurso desesperado, e fazia uma experiência sobre a mediunidade receitista

Era preciso, porém, visto que se tratava de urna experiência, que eu tomasse todas as cautelas, para que ela me pudesse dar uma convicção fundada.

Combinei com o Dr. Maia de Lacerda, completamente desconhecido de tal médium, ser ele que fizesse pessoalmente a consulta, recomendando-lhe que assistisse ao trabalho do médium, enquanto este escrevesse, e pedisse-lhe o papel, logo que acabasse de escrever; porque bem podia ter ele um médico hábil, por detrás do reposteiro, que lhe

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arranjasse aquelas peças.

É verdade que um médico, não sabendo de quem se tratava, visto que só dava ao médium o nome de batismo e a idade dos consulentes, não podia adivinhar-lhe os sofrimentos, mas, em todo o caso, eu queria ter a certeza de que era exclusivamente do médium, homem completamente ignorante de medicina.

O Dr. Lacerda fez como lhe recomendei, e trouxe-me o que, a meu respeito, escreveu o médium, que não podia reconhecer-me por meu nome próprio, "Adolfo", não só porque há muitas pessoas com este nome, como porque sou conhecido geralmente por Bezerra de Menezes, e bem poucos dos que não entretêm relações íntimas comigo sabem que me chamo Adolfo.

Tomei o papel, que dizia:

"O teu órgão, meu amigo (era o Espírito que falava ao médium), não é suficiente para satisfazer este consulente, em vista das circunstâncias de sua elevada posição social (eu era membro da Câmara dos Deputados) e principalmente de sua proficiência médica.

"Entretanto, como não dispomos de outro, faremos com ele o mais que pudermos.

"Vejo do organismo do consultante . . ."; seguia-se uma descrição minuciosa de meus sofrimentos e suas causas determinantes, tão exatos aqueles, quanto perfeitamente fisiológicas estas.

Não posso descrever o abalo que me produziu este fato estupendo!

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Segui o tratamento espírita, e o que os mestres da Ciência não conseguiram em cinco anos, Nascimento obteve em três meses.

Em três meses, eu estava completamente curado; estava forte, comia e dormia perfeitamente bem, era um homem válido, em vez de um valetudinário.

Logo após este fato, deu-se o de ser minha segunda mulher condenada como tuberculosa em segundo para terceiro grau, por importantes médicos, e disse Nascimento, a quem consultei, com as precisas cautelas para ele não saber de quem se tratava:

"Enganam-se os médicos que diagnosticaram tuberculose (quem lhe disse que os médicos haviam feito tal diagnóstico?)

"Esta doente não tem tubérculo algum. Seu sofrimento é puramente uterino, e, se for convenientemente tratada, será curada.

"Se os médicos soubessem a relação que existe entre o útero, o coração e o pulmão esquerdo, não cometeriam erros como este."

Sujeitei a minha doente, já que tinha febres, suores e todos os sinais da tisica em grau avançado, ao tratamento espírita, e em poucos meses tudo aquilo desapareceu, e já são decorridos dez anos, durante os quais ela tem tido e criado quatro filhos, sem mais sentir nenhum incomodo nos pulmões.

Como resistir à evidência de fatos tais?

Depois deles comecei as investigações experimentais sobre

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os vários pontos da doutrina, e posso afirmar, daqui, que tenho verificado, quanto é permitido ao homem alcançar em certeza, a perfeita exatidão de todos os princípios fundamentais do Espiritismo.

Não cabe num trabalho desta ordem referir o resultado experimental alcançado sobre cada um, e por isto me limito a dizer:

O espiritismo é para mim uma ciência, cujos postulados são demonstrados tão perfeitamente como se demonstra o peso de um corpo.

Nada me impressionou mais do que ver um homem, sem conhecimentos médicos até sem instrução regular, discorrer sobre moléstias, com proficiência anatómica e fisiológica, sem claudicar, como bem poucos médicos o podem fazer.

Mais do que isto, porém, é, para impressionar, ver dizer um indivíduo, que não se conhece, que não se examina, de quem não se colhem sequer informações, e não se sabe senão a idade -dizer, em tais condições, que sofre de tais moléstias, com tais e tais complicações, por tais e tais causas, e confirmar o diagnóstico pelo resultado eficaz do tratamento aplicado naquele sentido.

'Tive, porém, de minha experiência pessoal, outro fato que muito me impressionou.

Eu estava em tratamento com o médium receitista Gonçalves Nascimento, e este costumava mandar-me os vidros, logo que eu acabava uma prescrição, por um primo meu, estudante de preparatórios, que morava em minha casa, na Tijuca, a uma hora de viagem da cidade.

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Meu primo costumava, sempre que me trazia os remédios (homeopáticos) da casa do Nascimento, entregar-me os vidros em mão, e nunca, durante três meses que já durava meu tratamento, me trouxe do médium recado por escrito, senão simplesmente os vidros de remédios, tendo no rótulo a indicação do modo pelo qual devia ser tomado.

Um dia, deixei de ir à Câmara dos Deputados, de que fazia parte, e, pelas duas horas da tarde, passeava, na varanda, lendo uma obra que me tinha chegado às mãos, quando me apareceu um vizinho, Sr. Andrade Pinheiro, filho do Presidente da Relação de Lisboa, e moço de inteligência bem cultivada.

O Sr. Pinheiro não conhecia o Espiritismo, senão de conversa, e como eu fazia experiência em mim, ele aproveitava a minha experiência, para fazer juízo sobre a verdade ou falsidade da nova Doutrina.

Depois dos primeiros cumprimentos, perguntou-me como ia eu com o tratamento espírita.

Respondi-lhe com estas palavras: "Estou bom; sinto apenas uma dorzinha nos quadris e uma fraqueza nas coxas, como quem está cansado de andar muito."

Conversamos sobre o fato de minha cura em três meses, quando nada alcancei com a medicina oficial, em cinco anos, e passamos a outros assuntos, até que, uma hora pouco mais ou menos depois, entrou meu primo com os vidros de remédios e com um bilhete, escrito a lápis, que me mandava Nascimento, e que dizia:

"Não, meu amigo, não estás bom como pensas.

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"Esta dor nos quadris, que acusas, esta fraqueza das coxas, são a prova de que á moléstia não está de todo debelada.

"'Es médico e sabes que muitas vezes elas parecem combatidas, mas fazer erupções, porventura perigosas.

"Tua vida é necessária; continua teu tratamento."

É fácil compreender a surpresa, a admiração, o abalo profundo que produziu na minha alma um fato tão fora de tudo o que tinha visto em minha vida.

Repetiram-se, da cidade, textualmente, as minhas palavras, como só poderia fazer quem estivesse ao alcance de ouvi-Ias!

Efetivamente, calculado o tempo que leva o bonde da casa do Nascimento à minha, reconhecemos, eu e Pinheiro, que aquela resposta me fora dada, na cidade, precisamente à hora em que eu respondia, na Tijuca, à interpelação de meu visitante.

Pode haver fatos mais importantes no domínio do Espiritismo; eu porém, não tive ainda nenhum que me impressionasse como este, e, atendendo-se ao tempo em que ele se deu (quando eu estava sujeitando à prova experimental a nova doutrina), compreende-se que impressão poderia causar-me.

Creio que se eu fosse ainda um incrédulo, desses que fecham os olhos para não ver, ainda assim não poderia resistir à impressão que me causou semelhante fato.

Saulo não teve, mais do eu teria, razão para fazer-se Paulo.

Influência física, nenhuma senti; porém, moralmente sou outro homem.

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Minha alma encontrou finalmente onde pousar, tendo deixado os espaços agitados pelo vendaval da descrença, da dúvida, do cepticismo, que devasta, que esteriliza, que calcina, se assim me posso exprimir, recordando as torturas de quem sente a necessidade de crer, mas não encontra onde assentar sua crença.

E não encontrava onde assentar minha crença, porque o ensino de Jesus - que uma força intrínseca e uma disposição psíquica me levaram a procurar, como o nauta perdido na vastidão dos mares procura o Norte - me era oferecido sob um aspecto impossível de acomodar-se com um sentimento íntimo, instrutivo, exato, que me desse a razão e a consciência de ali estar a verdade; mas a verdade não é aquilo.

Ah! a Igreja Romana! a Igreja Romana!

O Cristianismo nunca terá tão formidável inimigo! O materialismo nunca terá aliado tão prestimoso!

Eu já disse como, antes de aceitar o Espiritismo, vivi a fugir de toda a crença religiosa, por não poder aceitar uma que impõe à fé, por decreto de seus ministros, e a ser arrastado para essa mesma crença, que não podia aceitar, como se mão amiga me arrastasse para o cascalho, dentro do qual estava incrustado o brilhante.

Eu já disse como me abracei com o cascalho para não rolar no abismo da descrença, e como aquela mão me impeliu para ele, quebrou-o a meus olhos, e me fez patente o brilhante nele contido.

Minha alma encontrou finalmente onde pousar!

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Posso dizer o meu "credo" espírita, com aplauso de minha consciência, e não por

força de uma autoridade que se arroga o direito de impor a fé! '"

Nestas condições, tendo encontrado a linfa que me saciou a sede de crer, posso ser mais o que era antes?

A moral cristã, iluminada pelos inefáveis princípios do Espiritismo, não pode deixar de modificar, para melhor, a quem cultiva não somente por dever, mas também e principalmente por nela ter encontrado a paz do espírito!

Não sou, por minha fraqueza, o que ela deve fazer do coração humano; não posso julgar, sem incorrer em orgulho ou falsa modéstia; mas posso assegurar que já compreendo os meus deveres para com Deus, para com os meus semelhantes, de um modo diverso, acentuadamente mais elevado, que antes de ser espírita.

Julgo, pois, que me é lícito dizer que as novas opiniões acarretaram para mim sensível modificação moral.

E, para confirmá-lo, basta consignar este fato:

Antes de ser espírita, só pensar em perder um filho, fazia-me mentalmente blasfemar, punha-me louco.

Depois de espírita, tenho perdido quatro filhos adorados, e depois de criados, louvando e agradecendo ao Pai de amor ter provado, por aquele modo, minha obediência a seus sacrossantos decretos.

***

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Esta declaração de princípios, cuja leitura é imprescindível para o conhecimento da firmeza de caráter e amplitude da fé nos desígnios superiores do DR. BEZERRA DE Menzes, que tanta bondade e amor dispensa aos seus filhos amados , foi tirado do livro "VIDA E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES", escrito por Sylvio Brito Soares, editado, em sucessivas edições, pela FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA, obra que poderá ser encontrada nas boas livrarias e cuja leitura recomendamos a todos àqueles que quiserem conhecer um pouco mais da sua vida, composta de muitas lutas e muitas glórias, principalmente no que tange ao Mundo Espiritual.

Neste mês de abril, o movimento espírita brasileiro presta a este importante vulto do Cristianismo Revivido, que nos proporciona a verdade através da fé raciocinada, uma homenagem singela e comovente. Erguem-se nossas preces, ao alto, para agradecer a Deus, Pai Amantíssimo, permitir permaneça Dr. Bezerra de Menezes, em espírito, no nosso meio, amparando-nos e aliviando-nos em todas as necessidades, físicas ou espirituais, quando, mercê a sua elevação, poderia ascender a planos mais elevados. '

No dia 11 de abril de 1900, às onze horas e trinta minutos, retomava o seu espírito à Pátria Eterna. O seu desenlace foi acompanhado com muita tristeza, mas nenhum desespero, por um grande número de seus "filhos amados". Cem anos - 1° Centenário.

Fonte: LUZ DO EVANGELHO 176 - ABRIL DE 2000

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ATITUDE DE AMOR Um Novo Tempo para a Doutrina Espírita Pois, se amardes os que vos amam, que galardão havereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?

Jesus em Mateus. 5:46

A Conferência de Bezerra de Menezes Na primeira noite após o memorável Congresso Espírita Brasileiro (1), fomos convocados para ouvir a palavra sóbria e cândida do paladino da unificação, Bezerra de Menezes, em ativo núcleo de nosso plano destinado aos empreendimentos voltados para o Consolador.

Ainda invadidos pelos sentimentos sublimes despertados pelo inesquecível conclave ora encerrado na cidade de Goiânia, trazíamos nossa mente imersa em profundas meditações acerca do quanto a ser feito ante as perspectivas descerradas.

No momento azado, dirigimo-nos para o salão onde se daria o conclave. Chegamos minutos antes no intuito de rever companheiros queridos que labutavam em plagas distantes e que, a convite de Bezerra, mantiveram-se ali

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após o congresso exclusivamente para ouvir-lhe a palestra.

A lotação era para cinco mil participantes e não havia lugares desocupados. Eram os trabalhadores do evento ora realizado, militantes da Seara em outros continentes, poetas, educadores, seareiros dos primeiros tempos, personagens da história brasileira, enfim, grupo imenso;todos comprometidos com os destinos do Espiritismo. Representações de caravaneiros de todos os estados brasileiros e dos países participantes do magno evento também estavam presentes, além dos servidores anônimos que se prestaram aos mais variados serviços de amparo e defesa pelo bem da tarefa concluída no plano físico.

Seria impossível relacionar todos, mas com intuitos que atendem a nossas ponderações do momento destacamos a presença de Robert Owen (o filho), César Lombroso, Humberto Mariotti, Milton O'Relley, Anita Garibaldi, Helena Antipoff, Edgard Armond, Torteroli, Jean Baptiste Roustaing, Benedita Fernandes, Deolindo Amorim, Herculano Pires, Carlos Imbassahy, Freitas Nobre, Toulosse Lautrec, Tarsila do Amaral, Frederico Fígner, Cassimiro de Abreu, Olavo Bilac, Castro Alves, Antônio Wantuil de Freitas, Alziro Zarur, Rui Barbosa, Antônio Luiz Sayão, Antônio Olímpio Telles de Menezes, Cairbar Schutel.

Fomos chamados para o instante aguardado. Uma pequena e singela mesa com um belíssimo ornamento de flores embelezava o palco ao lado de potente aparelho sonoro dirigido ao grande público presente. Tudo guardando extrema simplicidade. Sem cerimônias e

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delongas, após oração comovida por parte de nosso condutor é passada a oportunidade ao imbatível “médico dos pobres”(2):

Um Novo Tempo para o Movimento Espírita.

Irmãos, Jesus seja nossa inspiração e Kardec a luz de nossos raciocínios.

O cinqüentenário do acordo de unificação, o Pacto Áureo, ainda agora enaltecido pela comunidade espírita mundial, é vitória de incomensurável quilate espiritual para a glória do Espiritismo. Os esforços não foram em vão.

Passado o conclave nosso olhar se volta, mais que nunca, para o futuro.

Sem demérito de qualquer espécie a corações que têm feito o melhor que podem, os que aqui se encontram presentes conhecem de perto a extensão das necessidades com as quais estamos lidando.

E ainda agora, enquanto muitos se encontram inebriados com a nobre comemoração face às conquistas logradas em meio século de serviço austero, atentemos para o quanto nos falta caminhar, a fim de merecermos com justiça o título de Cristãos da nova era.

Evolução Cronológica das Idéias Espíritas.

Desde as primeiras idéias para a formação das bases organizativas do movimento, são passados quase cem anos. O progresso é evidente.

Entretanto, não será demais e insano afirmar que, a despeito das conquistas, encontramo-nos na infância de

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nosso movimento libertador ante a envergadura da missão a nós confiada na humanidade.

A progressão do ideário espírita está em boas mãos e a Falange Verdade continua o programa com sucesso, não obstante os empecilhos que são variados.

Inteiremo-nos com acerto sobre o que o momento espera de todos e façamos o que for preciso, a fim de impedirmos o prolongamento da conveniência prejudicial ao prosseguimento de planos maiores.

Os primeiros setenta anos do Espiritismo constituíram o período da consagração das origens e das bases em que se assentam a Doutrina, que lhe conferiram legitimidade. Heróis da tenacidade e fibra moral, dispostos a imolar-se pela causa, venceram o preconceito do tempo e a pressão da inferioridade humana no resguardo e defesa da empreitada de Allan Kardec. O último lance que delimitou esse período foi o Congresso Internacional de Espiritismo realizado em Paris (3), onde o arauto do bem, Leon Dénis, suportou a lâmina sutil da mentira e consolidou o perfil definitivo do Espiritismo como Doutrina dos Espíritos, eximindo-a de desfigurações que em muito prejudicariam sua feição educativa e conscientizadora.

O segundo período de mais setenta anos, que coincide com o fechamento do século e do milênio, foi o tempo da proliferação. Uma idéia universal jamais poderia ficar confinada a grupos de estudo ou experimentos da fenomenologia mediúnica de materialização; fazia-se necessária a intensificação dos conhecimentos dentro de um crescimento ordenado e defensivo na elaboração de um perfil filosófico. Eis o mérito das entidades

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promotoras da unificação e da multiplicação de centros espíritas. Sob o regime de controle e zelo foram predicados os seus objetivos primaciais. A literatura subsidiária provocou o questionamento, a discussão, o estudo, e com isso o aprendizado dilatou-se.

A primeira etapa consagrou o Espiritismo como ideário do bem, atraindo a simpatia e superando o preconceito; a segunda ensejou a difusão. Penetramos agora o terceiro portal de mais setenta anos, etapa na qual pretende-se a maioridade das idéias espíritas

É necessário atestar a vitalidade dos postulados espiritistas como alavanca de transformações sociais e humanas. Sua influência na cultura, nas artes, na ciência, nas leis, na filosofia e na religião conduzirá as comunidades, que lhe absorverem os princípios, a novos rumos para o bem do homem através da mudança do próprio homem.

Esse novo tempo deverá, igualmente, conduzir a efeitos salutares a nossa coletividade espírita, criando entre nós, seus adeptos, o período da atitude. O velho discurso sem prática deverá ser substituído por efetiva renovação pela educação moral. É a etapa da fraternidade na qual a ética do amor será eleita como meta essencial, e a educação como o passo seguro na direção de nossas finalidades.

Jesus definiu seus discípulos por muito se amarem, o Espírito Verdade assinalou o “amai-vos e instrui-vos” como plataforma do verdadeiro espírita, e esses ensinos deverão constituir a base do programa transformador para nossas metas ante a era nova.

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Assim como nas demais fases foram programadas reencarnações missionárias, a exemplo do que sucedeu no iniciar dos séculos XIX e XX, igualmente se apronta uma geração nova para os novéis ofícios da causa, dentre os quais muitos de vós aqui presentes estão esclarecidos sobre seu auspicioso retorno às fileiras do Consolador em missões de solidariedade e renovação, enquanto os que guardam maiores compromissos na vida extra-física estão conscientes dos desafios que a todos nos esperam.

Descrevamos algo de essencial acerca dessas batalhas que enfrentaremos, para não localizarmos o “joio” onde está o “trigo” e definirmos melhor as estratégias de ação.

Nosso Maior Inimigo: o Orgulho.

Afirmamos outrora que o serviço da unificação é urgente, porém, não apressado(4). Verificamos no tempo que alguns corações sinceros e leais, entretanto, sem larga vivência espiritual, inspirados em nossa fala, elegeram a lentidão em nome da prudência e a acomodação passou a chamar-se zelo, cadenciando o ritmo das realizações necessárias ao talante de propósitos personalistas na esfera das responsabilidades comunitárias. O receio da delegação, a pretexto de ordem e vigilância, escondeu propósitos hegemônicos em corações desavisados, conquanto amantes do Espiritismo. Em verdade, a tarefa é urgente, não apressada, mas exige ousadia e dinamismo sacrificial para encetar as mudanças imperiosas no atendimento dos reclames da hora presente, e o hábito de esperar a hora ideal converteu-se, muita vez, em medida emperrante.

Ninguém pode vendar os olhos a título de caridade,

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porque deliberadamente o apego institucional marcou esse segundo período de nossas lides, em muitas ocasiões, com enfermiças atitudes de desamor como forte influência atávica de milenares vivências. Isso era previsível e, por fim, repetimos velhos erros religiosos...

Honrar e respeitar os antepassados e a história não significa aboná-la de todo, embora os nossos sentimentos devam ser enobrecidos no perdão, no entendimento, na oração e no trabalho. Foi o melhor que conseguimos em se considerando as imperfeições que nos são peculiares.

Na seara espírita, que declara inspirar sua ação em Jesus, o Mestre operoso, e em Kardec, o infatigável trabalhador, não deve haver o pacto insensato com os privilégios e a representatividade improdutiva. Se o Senhor deixou definido que o maior seria quem se fizesse servo de todos (5), de igual forma a função das entidades doutrinárias, de qualquer âmbito, é servir e servir sempre, mais e mais, no atendimento das extensas necessidades a vencer nas lavouras doutrinárias, cumprindo o roteiro dos deveres de orientação e apoio sem jamais avocar para si direitos ilusórios no campo do poder.

Há de se ter em conta que nos referimos ao institucionalismo como grilhão pertinente a todos nós, sem jamais vinculá-lo a essa ou àquela entidade organizativa em particular, porque semelhante marca de nosso psiquismo, por muito tempo ainda, criará reflexos indesejáveis na obra do bem.

O institucionalismo é fruto da ação dos homens; ele em si não é o nosso adversário maior e sim os excessos que o

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tornam nocivo.

Nosso maior inimigo, de fato, é o orgulho em suas expressões inferiores de arrogância, inflexibilidade, perfeccionismo, autoritarismo, intolerância, preconceito e vaidade, seus frutos infelizes que, sem dúvida, insuflam a institucionalização perniciosa e incentivam o dogmatismo e a fé cega, adubando a hierarquização e o sectarismo.

Seus frutos geram sementes, e precisamos interromper essa semeadura do “joio” que sustenta a ilusão de trabalhadores desprevenidos e invigilantes.

Quando os homens forem bons farão boas instituições(6), asseverou o insigne apóstolo de Lyon, Allan Kardec.

Nossa luta deve ser íntima e não exterior, não contra organizações, mas contra nós mesmos quando em atitudes praticadas sob o manto da mentira que acostumamos a venerar em favor de vantagens pessoais.

Esses desvios perpetrados lembram os primeiros momentos do Evangelho sobre a Terra, quando teve circunscrito seu raio de ação ao Judaísmo dominante. Tal realidade levou o Mais Alto a chamar o espírito corajoso e nobre de Paulo de Tarso na ingente missão de servir para além dos muros institucionais da capital do religiosismo, e tornar universal a mensagem do Sábio Pastor.

Conclamamos novos apóstolos para a “gentilidade” nesse momento delicado de nossa seara, porque o orgulho humano reeditou, em larga amplitude, os ambientes estéreis à propagação dos ensinos do Senhor. Temos um novo centro de convergência estipulado pela egolatria humana, buscando fixar estacas demarcatórias injustas e

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dispensáveis para o futuro glorioso da religião cósmica da verdade e do amor.

Essa velha bagagem da alma tem solução. Melhorando os homens, melhoramos as instituições. Por isso, nossa meta prioritária jamais foi ou será incentivar dissidências a fim de comprovar a eficácia de alguma ideologia, porque, em verdade, todas cooperam para um destino comum no futuro.

Apenas não podemos mais adiar medidas, esperando que os homens acordem naturalmente para as realidades que os cercam, junto às perigosas investidas levadas a efeito pelos inimigos confessos do Evangelho do Cristo na humanidade, em ambos os planos da vida. A hora é de ação e campanha para chamar na Estrada de Damasco os que queiram suportar o sacrifício, a renúncia e a obstinação em nome de uma nobre causa que é libertar a mensagem de Jesus dos círculos impregnados de bazófia e fascinação, através de exemplos de vida e do serviço construtivo de uma mentalidade em plena identificação com a mensagem moral do Espiritismo Cristão.

A hora pede clareza e determinação para a segurança dos ideais.

Há um momento em que a atitude de amor pede a verdade a fim de escapar dos pântanos da omissão. Estamos nesse momento. As diretrizes do Espírito Verdade não pactuam com as conveniências, embora não incentive o desamor. Esse tempo é daqueles que souberem ser coerentes, sem que a coerência custe o preço da discórdia tempestuosa. O desagrado existirá, porque a verdade incomoda quem se acostumou aos

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caminhos largos. Estamos no tempo dos “caminhos estreitos”, e os que aceitarem perlustrá-lo não terão as coroas de glórias passageiras e nem a aclamação geral dos distraídos do caminho. Serão taxados de egoístas simplesmente por decidirem buscar a “contra-mão” das opiniões e a percorrer o caminho inverso das consagrações humanas. Entretanto, terão um “contrato de assistência” permanente e irrevogável para angariarem as condições justas ao desiderato. Contudo, justiça aqui não significa facilidades, mas ação mediadora da Divina Providência para o bom andamento dos labores encetados. Temos grupos dispostos a comprometer-se com os misteres da hora a custo de sacrifício; eles serão os apóstolos da “gentilidade” dos tempos modernos.

Respeitaremos em nome do amor a quantos ainda estagiam nas formalidades e convencionalismos. Firmaremos bases seguras fora dos limites da conveniência, para assegurar, aos mais novos que chegarão, a oportunidade de vislumbrarem horizontes que atendam as suas exigentes expectativas, com as quais renascerão no soerguimento desse período de moralização e atitude, nesse momento de Espiritismo por dentro e não fora de nossos corações.

Carecemos de um movimento espírita forte, marcado por uma cultura de raciocínios lógicos e coerentes, e por atitudes afinadas com a ética do amor.Temos sim um problema, temos um inimigo. Atitude, eis a questão. Más atitudes, eis nosso problema. Atitudes de orgulho, nosso maior inimigo.

Nossa Meta Essencial: o Amor.

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Para que não nos chafurdemos em análises míopes, torna-se prioritário definir nossa grande meta em auxílio aos que mourejam na coletividade doutrinária, para maximizarem seus esforços nas direções mais nobres e úteis aos deveres dessa nova etapa de maioridade espiritual.

A meta primordial é aprendermos a amarmo-nos uns aos outros, para que tudo o que for criado em nome da causa espírita reflita a essência do Espiritismo em nossas movimentações.

Nossa meta essencial é o amor, a atitude que reflete Deus em nós.

Meditemos na inolvidável pergunta do Mestre: Que galardão teremos em amar somente os que nos amam? (7)

A diversidade é uma realidade irremovível da Seara e seria utopia e inexperiência tratá-la como “joio”. Imprescindível propalar a idéia do ecumenismo afetivo entre os seareiros, para que a cultura da alteridade seja disseminada e praticada no respeito incondicional a todos os segmentos. A atitude de alteridade será o termômetro do progresso das idéias espíritas no movimento, será o “trigo” vicejante e plenificado na ética da fraternidade vivida. As instituições embebidas desse espírito promoverão o diálogo franco e transparente e construirão através das relações as transformações. O desafio está lançado.

Temos como certo que as barreiras de aproximação estão mais frágeis que se imagina em alguns setores, embora

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muitos apostem na impossibilidade de rompê-las. Falta habilidade para conduzir processos que desafiam a inteligência das direções segmentares, e, não propriamente, o desejo de efetivá-las. Precisaremos todos de muita humildade para construir um terreno neutro como frisou Kardec (8), e de muito amor para garantir perpetuidade às novas relações de pluralismo e convivência com as diferenças.

Voltemos a atenção para a influência dos exemplos cristãos que constituem referências decisivas para os que, legitimamente, anseiam empreender o discipulado com Jesus e Kardec. Apesar das lutas humanas, necessárias e naturais, não faltaram e não faltam as balizas na Seara para que os espíritas, dispostos ao desafio de superar a si mesmos, encontrem inspiração para travarem o bom combate em direção ao crescimento e à libertação. A jornada é árdua e o calvário é doloroso, por isso muitos preferem as poltronas macias de valores temporais nos regimes institucionais.

No entanto, a despeito da certeza que guardamos sobre a atitude de amor, devemos estar conscientes sobre as sendas a seguir, a fim de não permitirmos romantismo e ingenuidade num momento de lutas ingentes. Para isso, divulguemos a diretriz a tomar para que não aprisionemos tal meta nos sonhos fantasistas do menor esforço e das crenças improdutivas.

Nossa Diretriz Insuperável: a Renovação de Atitudes.

A renovação de atitudes na edificação de uma nova mentalidade solicita uma inevitável mudança cultural em nossos ambientes doutrinários. O repúdio ao debate e a

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aversão ao confronto de opiniões são expressões do institucionalismo que ainda estão presentes no psiquismo humano, muita vez realimentado por organismos e oradores respeitáveis.

Quando Jesus convocou seus discípulos ao serviço do amor “deu-lhes poder”, conforme assevera o texto de Mateus(9). Reeditar esse fato é fundamental, a fim de alcançarmos melhores condições morais ao movimento espírita. Conferir poder é propiciar respostas, caminhos, horizontes, alternativas pedagógicas para instrumentalizar e capacitar alguém para alguma coisa. O Mestre, como educador, após os ingentes deveres públicos do dia, recolhia-se em colóquios íntimos com os corações dos apóstolos, ampliava-lhes as perspectivas sobre os ensinos, dimensionava as realizações extra-físicas em torno dos feitos de todo o grupo, e respondia a questões símplices, porém, de rara profundidade moral. Era ali, naqueles momentos íntimos, que se efetivava o poder de percepção e o desenvolvimento das condições necessárias ao apostolado, porque havia debates sinceros e resolução de conflitos em clima pacífico, sob a tutela do Senhor.

Hoje, mais que nunca, precisamos repetir tal episódio e permitir o “espírito do Senhor” na contenção de nossos impulsos de desagregação e isolamento. É urgente trabalhar por uma cultura de trocas e crescimento grupal, habituando-se a ter nossas certezas abaladas pelo conflito e pela permuta, para que ampliemos a capacidade de enxergar com mais exatidão as questões que supomos terem sido esgotadas. Essa diretriz conduzirá os homens a uma maior possibilidade de diálogo e intercâmbio, fazendo-os perceber a

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inconveniência do isolamento em muros de pseudo-sabedoria ou nas masmorras do autoritarismo institucional, ditando normas e idéias em nome de uma verdade exclusivista. Daí a importância de incentivarmos os dirigentes ao contato sadio com a dinâmica operacional dos centros espíritas e dos diversos segmentos da Seara, estabelecendo contatos, atualizando conceitos, tirando dúvidas, agendando encontros, criando ensejos ecumênicos para servirem de exemplos aos menos afeiçoados ao hábito da complacência com a diversidade do entendimento.

A melhor instituição será a que mais expandir as condições para o amor.

O melhor homem será o que mais apresentar tenacidade em amar.

A melhor Casa será a que mais implementar o regime de amor em grupo, imprimindo a seus deveres um caráter educacional.

Os heróis da fibra moral estão despedindo-se da Terra, porque cumpriram seu ministério de amor. Agora é o tempo dos atos solidários pela união das forças, relembrando o calvário no qual Jesus despediu-se glorioso, conferindo a continuidade da obra a quantos partilharam Seu percurso Divino.

Melhoremos o homem, despreocupemos dos excessos de medidas quanto à renovação de modelos institucionais que, inevitavelmente, surgirão sem pressa. Urgente é nossa adesão consciente aos princípios éticos da mensagem de Jesus atualizada pelo Espiritismo, sem o

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qual os modelos organizativos, por mais ajustados, vãoruir improfícuos.

Carecemos estabelecer programas centrados em valores éticos ao lado das bases fundamentais já esquadrinhadas pelo estudo. Favorecer os trabalhadores e lideranças com melhores noções sobre “As Leis Morais”, contidas na terceira parte de “O Livro dos Espíritos”, e aprofundar o entendimento sobre o inesquecível e universal sermão do monte de Jesus, assim como o fez Allan Kardec em “O Evangelho Segundo Espiritismo”, construindo um programa eficiente de renovação moral baseado na sábia filosofia de Jesus.

O conhecimento das verdades espíritas, por si, levará a velhas mazelas do saber se não for acompanhado pela vivência.

O fascínio resultante dos princípios espíritas não ocorre em função de estar o homem diante de conhecimentos novos que o surpreendem, mas sim porque está retomando o contato com idéias que já fizeram parte de seu patrimônio cultural, as quais não teve ele a capacidade de utilizar para a transformação de si mesmo, submetendo-se às injunções das idéias pagãs e do rompimento com a ética do bem. Destarte, é preciso hoje conjugar esse conhecimento, que é milenar, com a moralização, pela educação.

O tão decantado processo educacional de si mesmo passa pela melhor compreensão do mundo moral e suas implicações, que resultarão em melhor auto-conhecimento, pois, o “conhecimento de si mesmo é a

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chave do progresso individual”.(10)

Esse investimento no homem é a nossa chance de subtrair a noção inferior, que tenta subjugar o Espiritismo a mera religião de formalidades atualizadas, e colocá-lo, onde deveria estar, no patamar de roteiro lúcido de educação integral da humanidade.

A diretriz insuperável de Jesus continua como roteiro de rara oportunidade. Precisamos “conferir poder”. Como amar o próximo? Como obter abnegação? Como treinar a alteridade? Comprometimento é difícil para quem? É possível desenvolver a indulgência? Como dialogar em climas adversos? Como dialogar? O que é solidariedade e parceria? Como conceber a unificação em tempos de pluralismo? Ela é viável? Como oferecer essas condições de “poder” aos novos servidores da causa cristã? Qual o poder de transformação estamos viabilizando a homens comuns que encontram esperanças e alento nos celeiros de paz da casa espírita? Que temos feito para que as direções abram-se ao espírito de simplicidade? Que propostas temos a apresentar para facilitar um tempo de aproximação pacífica entre as várias tendências da Seara? Por que é tão importante essa aproximação?

O Espírito Verdade legou-nos o inspirado roteiro no “amai-vos e instruí-vos”. Instrução e amor, conhecimento e dinamização ética.

Levantemos a bandeira da unificação ética em torno da qual ser-nos-á possível atrair pela ação, mais que pelo discurso, ensejando a formação de pólos de congraçamento ecumênico entre nós, os espíritas com diversidade de idéias, mas num único sentimento, o do

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amor exalando a fraternidade.

Tomemos como lema a tríade inspirada do Codificador “trabalho, solidariedade, tolerância” (11), e cerremos esforços na campanha para que essa indicativa torne-se o programa da Casa e do movimento espírita mundial.

O trabalho opera as mudanças pela força das circunstâncias, a tolerância cria o clima indispensável para torná-las possíveis e a solidariedade é a mola propulsora capaz de fazê-las acreditáveis.

De que nos valerá conhecer a imortalidade e viver intencionalmente o materialismo? Essa foi uma indagação levantada pelo Codificador com fito de chamar-nos a atenção para a essência ética do Espiritismo.(12)

Se Kardec assim indaga quanto ao Espiritismo, perguntamo-nos de que nos valerá o Evangelho sem a vivência? Por que chamar Jesus se não atentamos para Sua presença no desenvolvimento de relações eticamente ajustadas com Seus ensinos?

Enveredemos pela religião, pela filosofia ou pela ciência, estudemos o Espiritismo ou o Evangelho, adotemos essa ou aquela prática com a qual melhor nos afeiçoemos, criemos essa ou aquela entidade para servir a novas experiências, tudo isso pouco importa se não tivermos amor. Recordemos o apóstolo Paulo em sua belíssima poesia: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”. (13)

Nosso Caminho de Solução: a Educação.

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Qual a solução?

Mencionamos a meta prioritária, conhecemos a diretriz insuperável, mas todos sentimos um vácuo no coração quando pensamos nesse ideário maior confrontado com a realidade moral de nosso movimento bendito. O que fazer já sabemos. A indagação que agora toma-nos a mente é: como fazer?

A melhor campanha para a instauração de um novo tempo na Seara passa pela necessidade de melhoria das condições do centro espírita, que é a célula operadora do objetivo do Espiritismo. Lá sim se concretizam não só o conhecimento e o trabalho, mas a absorção das verdades no campo individual consentidas em colóquios íntimos e permanentes, que reproduzem os momentos de Jesus com seu colégio apostólico.

Por isso, temos que promover as Casas, de posto de socorro e alívio a núcleo de renovação social e humana, através do incentivo ao desenvolvimento de valores éticos e nobres capazes de gerar a transformação.

Para isso só há um caminho: a educação.

O núcleo espiritista deve sair do patamar de templo de crenças e assumir sua feição de escola capacitadora de virtudes e formação do homem de bem, independentemente de fazer ou não com que seus transeuntes se tornem espíritas e assumam designação religiosa formal.

Elaboremos um programa educacional centrado em valores humanos para dirigentes, trabalhadores, médiuns, pais, mães, jovens, velhos, e o apliquemos

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consentaneamente com as bases da Doutrina.

Saber viver e conviver serão as metas primaciais desse programa no desenvolvimento de habilidades e competências do espírito.

O que faremos para aprender a arte de amar? Como aprender a aprender? Como desenvolver afeto em grupo? Como “devolver visão a cegos, curar coxos e estropiados, limpar leprosos, expulsar demônios”?

Muitos adeptos conhecem a profundidade dos mecanismos desencarnatórios à luz dos princípios espíritas, entretanto, temos constatado quantos chegam por aqui em deploráveis condições por não se imunizarem contra os padrões morais infelizes e degeneradores.

A melhoria das possibilidades do centro espírita indiscutivelmente facilitará novos tempos para o pensamento espírita, haja vista que estaremos ali preparando o novo contingente de servidores da causa dentro de uma visão harmonizada com as implicações da hora presente. Dessa forma, estaremos retirando a Casa da feição de uma “ilha paradisíaca de espiritualidade”, projetando-a ao meio social e adestrando seus partícipes a superarem sua condição sem estabelecer uma realidade fictícia e onerosa, insufladora de conflitos e de medidas impositivas, longe das reais possibilidades de transformação que a criatura pode e precisa efetivar em si mesma.

Interagindo com o meio em permuta incessante de valores e experiências, o centro espírita sai da condição de um reduto isolado no cumprimento de sua missão, e

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passa a delinear a formação de uma rede de intercâmbios, fenômeno esse que vem abarcando a humanidade inteira sob a designação de globalização.

Contudo, a interação da casa doutrinária com o meio deve ser ativa a ponto de transformar-se em pólo irradiador de benesses a outras co-irmãs e, igualmente, para o agrupamento social no qual encontra-se inserida.

Por isso, mais uma vez torna-se imprescindível renovar conceitos e reciclar métodos, a fim de atingirmos os patamares de instituições multiplicadoras da mentalidade imortalista e fraternal.

Esse processo de interação social reclama posturas novas, dentre elas a de abrir canais de permanente relação inter-institucional, na qual o centro espírita catalise fulcros de cultura e modelos experimentais, transformando-se em ambiente de diálogo e convivência para dirigentes e trabalhadores de outros grupos afins,passando suas vivências e aperfeiçoando suas realizações ao tempo em que converte-se em pólo espontâneo da união entre co-idealistas, no regime do mais livre pluralismo de concepções acerca dos postulados espíritas.

Mais uma vez a visão futurista do Codificador, prenunciando esse tempo, levou-o a declarar: “esses grupos, correspondendo-se entre si, visitando-se, permutando observações, podem, desde já, formar o núcleo da grande família espírita, que um dia consorciará todas as opiniões e unirá os homens por um único sentimento: o da fraternidade, trazendo o cunho da

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caridade cristã”. (14)

A criação desses pólos são medidas salutares contra o isolacionismo e, pela sua característica essencial de fortalecimento de idéias, ensejam uma relação mais participativa, descentralizadora, operando entre os grupos a prática da solidariedade.

Incentivaremos não só a renovação cultural nas casas espíritas, mas também a estruturação das entidades específicas que, pela sua neutralidade institucional, obterão um trânsito mais intenso junto à seara na dinamização de um arejamento cultural, no atendimento das necessidades humanas que abarrotam em solicitações e demandas.

Há serviço intenso a realizar, e devemos ver com bons olhos a multiplicidade de funções e a diversificação de medidas em favor dos clamores da sociedade.

Os dirigentes, ricos de boa-vontade e espírito cooperativo, anseiam por novos horizontes, todavia, tem faltado quem se disponha a dividir vivências ou a edificar um ambiente que se constitua verdadeira oficina de idéias e diálogo para a criação de caminhos novos.

Serão esses pólos as cooperativas de afeto cristão que permitirão aos servidores e condutores das responsabilidades doutrinárias renovarem esperanças, quebrando os circuitos de rotina dentro do labirinto de obrigações a que se renderam no ramerrão do centro espírita. Serão pólos de arejamento e solidariedade mútua regidos por intenso e espontâneo desejo de somar que, em última análise, é a unificação no que de mais

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sublime exprime o sentido dessa palavra.

Um Programa Renovador para o Movimento Espírita.

Estamos, portanto, meus irmãos e amigos do coração, instaurando o período da unificação ética, da maioridade das idéias espíritas através do melhor aproveitamento individual dos seareiros dispostos a mais amplos vôos de renúncia, sacrifício e amor à causa.

Assim, todos nós aqui hoje reunidos estamos convocados a cerrar esforços continuados ao programa renovador de nosso abençoado movimento espírita, com vistas a ampliar na humanidade a mensagem de esperança e libertação trazida por Jesus e explicada com lucidez pelo trabalho de Allan Kardec.

Estamos em campanha.

Campanha pela unificação com amor.

Campanha pela renovação das atitudes.

Temos um problema na Seara: as más atitudes.

Temos uma solução para a Seara: novas atitudes. Seja essa a nossa campanha no bem pelos tempos novos a que todos somos chamados.

Todos aqui, mormente os que se acostumaram à docilidade e ternura de meu coração, não se surpreendam com a franqueza de minhas palavras.

Estejam certos que o sentimento é o mesmo e sempre será.

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A clareza e a definição de minha fala são em obediência incondicional e servil a ordens maiores que cumpro em nome do Espírito Verdade.

Sem perder a fraternidade, vós outros que têm o acesso livre pela palavra mediúnica, levai essa mensagem ao conhecimento de todos. Aqueles que hoje aqui se encontram temerosos ante as novas chances que logo envergarão na carne, levai convosco a esperança de que em plena infância serão bafejados pelas claridades desse momento de renovação, dentro e fora das movimentações espirituais a que se matricularão. Aqueles que servem a outras fileiras de obrigações junto à humanidade, cooperem com nosso ideal incentivando a superação dos preconceitos e abrindo picadas para a penetração das idéias espíritas frente à sociedade.

Enaltecendo a comemoração, da qual ainda agora quase todos aqui presentes tivemos a benção de acompanhar junto aos irmãos no Congresso Espírita Brasileiro, peçamos ao Senhor da Vida que fortaleça sempre os ideais em nosso coração, para que as medidas salvadoras representem mãos estendidas e guiadas pelo coração sempre pulsante no bem, em favor das lutas e do aprendizado daqueles que receberam de Deus a gloriosa oportunidade de regressarem à carne no torrão brasileiro, fruindo das benesses do Consolador Prometido. Amparemos nossa bendita Seara em seus novos dias, relembrando sempre a nossos tutelados a importância do amor.

Rememoremos como fonte inspiradora de nossa campanha a sublime e inesquecível fala de nosso Mestre: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos

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amardes uns aos outros”. (15)

Encontros Inesquecíveis.

Terminada a fala de nosso benfeitor Bezerra, estávamos todos como que hipnotizados pelo afeto e pela autoridade com que externava seus conceitos.

Dissera ele muito bem acerca da surpresa que, durante muitos trechos de sua alocução, tomou-nos de assalto graças à franqueza e clareza com que explanava suas idéias.

Ele fora claro e fraterno, sendo que estávamos habituados somente com sua paternal e ilimitada complacência para com a extensão de nossas necessidades.

Percebia-se durante sua apresentação que irradiações muito intensas vinham de esferas superiores, para nós ainda desconhecidas, deixando evidenciar que, além de sua grandeza espiritual peculiar, realmente ele cumpria a determinações excelsas frente aos assuntos dissertados.

Terminada a palestra, tivemos o ensejo de presenciar encontros inesquecíveis que merecem nossos registros, para que os corações na Terra meditem sobre as realidades impostas pela imortalidade na jornada dos antigos servidores da coletividade espírita.

Destacamos o abraço fraterno entre Torteroli e Bezerra que se olharam como irmãos queridos de longa caminhada; em canto discreto do salão, percebíamos um dos mais procurados para o abraço afetivo e a palavra amiga que era Jean Baptiste Roustaing, cercado por

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amigos da Itália e da França; em outra cena presenciamos amigos queridos vinculados às propostas do Pacto Áureo discutindo as graves medidas que os aguardavam: ali estavam Wantuil de Freitas, Manuel de Quintão, Armando de Oliveira Assis, Osvaldo de Mello, Djalma Montenegro Farias, Militão Pacheco e outros mais. Era indisfarçável o interesse de todos em fraternizar com os nomes que fizeram história no país como Rui Barbosa e Olavo Bilac, cercados por Freitas Nobre, Carlos Imbassahy e outros políticos e religiosos. Observávamos também as caravanas vindas de vários estados e países reunindo-se a esse ou àquele coração de seu interesse no campo do aprendizado, e no caso da Caravana Mineira, composta por um grupo valoroso de servidores, estava ao centro das considerações o nosso estimado Antônio Lima tecendo alvitres quanto ao futuro.

Para nós, porém, entre tantos encontros e reencontros, ficou gravado no coração o instante de abraçarmos o nosso benfeitor Bezerra.

Acompanhando-nos, discreta como de costume, a nossa Ermance Dufaux, que tem sido o coração de nossas movimentações espirituais.

Constatei surpreendido que os olhos de Bezerra dilataram-se com o aproximar de Ermance; ele, que sempre ensaiava um termo ou outro na sua costumeira ternura, emudeceu-se, pegou as mãos delicadas da nossa amiga, beijou-as e disse:

“Filha, suas mãos representam troféus luminosos da vitória do Espiritismo nascente, quando as cedeste para a

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sublime consecução de “O Livro dos Espíritos”, e se anseias por torná-las úteis novamente nos serviços do bem, providenciaremos rumos a teus inspirados desejos.”

Ermance enrubesceu e lacrimejou, porque o sentimento elevado de Bezerra lhe havia sondado as profundezas da alma, percebendo-lhe a súplica velada na intensa disposição de contribuir com os destinos novos da causa.

Ela, num ímpeto generoso, mas guardando a típica fleuma de uma dama francesa, osculou com um fraterno afago a cabeleira do paladino, e sem dizer uma só palavra abraçou-o incontinente, com efusivo amor.

Terminada a atividade, olhamos para o infinito no firmamento e ficamos a meditar longamente sobre o que nos aguardava no futuro...

Referências: (1) Realizado na cidade de Goiânia a 05 de outubro de 1999, em comemoração ao cinqüentenário do acordo de unificação, o Pacto Áureo. (2) Nota da editora: o texto que segue é a descrição que o autor espiritual fez da palavra de Bezerra de Menezes. (3) Congresso Internacional de Espiritismo em 1925 coordenado por Leon Dénis. (4) Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, na Comunhão Espírita Cristã, em 20 de abril de 1963, Uberaba - MG, publicada na revista Reformador de dezembro de 1975. (5) Mateus, 20:26 a 27. (6) Obras Póstumas, segunda parte, Credo Espírita, Preâmbulo. (7) Mateus, 5:46.

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(8) A Gênese, Allan Kardec, capítulo XVII, item 32. (9) Mateus, 10:1. (10) O Livro dos Espíritos, questão 919a. (11) Obras Póstumas, biografia de Allan Kardec. (12) O Livro dos Médiuns, item 350. (13) I Coríntios, 13:1. (14) O Livro dos Médiuns, item 334. (15) João, 13:35.

Transcrito do livro Seara Bendita, publicado pelo INEDE - Instituto Espírita de Estudo e Divulgação do Evangelho (site: www.inede.com.br / e-mail: [email protected]) ditado por diversos Espíritos e psicografado pelos médiuns Maria José C. Soares de Oliveira e Wanderley Soares de Oliveira (MG).