bezerra de menezes ontem e hoje

Upload: pryscilla-beust

Post on 19-Oct-2015

107 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Espiritismo

TRANSCRIPT

  • federao esprita brasileira

    equipe feb

    Ontem e Hoje

    MenezesBezerra de

  • guisa de apresentao

    Completam-se, nesta data, cem anos da desen-carnao de adolfo bezerra de Menezes, o mais proeminente vulto do Movimento esprita brasi-leiro, tanto pela amplitude, gravidade e conse-qncias de suas iniciativas em prol da unio e unificao dos espritas, nos tempos pioneiros, principalmente no exerccio da presidncia da Casa de ismael, quanto por sua ininterrupta, in-cansvel atividade em favor dos pequeninos, dos deserdados, dos aflitos de toda natureza, em nome da caridade.

    , sem dvida, pelos inconfundveis traos de sua luminosa personalidade que ele ficou jus-tamente conhecido, em nossos crculos, como Mdico dos pobres.

    as revelaes em torno desse bondoso es-prito o apontam como um dos diretores espiri-tuais da seara do Mestre em nossa terra, e, nessa condio, ele tem prosseguido a sua obra aps a desencarnao, invariavelmente fiel misso que o prprio Jesus lhe confiou numa assemblia realizada no infinito sob a direo de ismael, o anjo do senhor.

  • Bezerra de Menezes4

    assim que, como esprito, bezerra de Me-nezes se tem desvelado no exerccio da caridade e da humildade, aqui conclamando os adeptos unio fraterna, ali levantando os que tombam, curvados sob o peso das speras provaes ter-renas, acol encaminhando espritos endure- cidos no erro para a regenerao, a todos dando o exemplo da abnegao, do devotamento, da mansido, da benevolncia, da indulgncia, do perdo como nicas vias da felicidade.

    a federao esprita brasileira, como justa reverncia ao eminente servo do senhor, d a pblico o presente volume que enfeixa uma sele-ta de seus escritos, em vida fsica e na liberdade da vida espiritual, bem como de algumas produes com que encarnados e desencarnados lhe tm ho-menageado a memria.

    inobstante a existncia das excelentes obras Vida e obra de bezerra de Menezes, de sylvio bri-to soares, Grandes espritas do brasil, de Zus Wantuil, e allan Kardec (pesquisa biobibliogrfica e ensaios de interpretao), de francisco thiesen e Zus Wantuil, todas de nossa edio, em que se encontram ricas informaes sobre bezerra de Menezes, impunha-se disponibilizar o valioso ma-terial que compe este livro, o qual, por se achar esparso em colees de reformador e em livros

  • OnteM e HOje 5

    diversos de edio da feb, tornava dificultoso o seu conhecimento, tanto ao leitor comum como ao pesquisador. o centenrio de desencarnao do honorvel missionrio propiciou-nos o ensejo para concretizarmos o desiderato.

    Cremos que, com a presente publicao, estamos servindo aos altos propsitos da atuao daquele venervel apstolo do espiritismo no brasil, relembrando aos adeptos, pela reapresen-tao de seus escritos, os critrios por excelncia para a boa prtica da doutrina, critrios que os espritas srios e conscientes vem resumidos nas grandiosas divisas e exortaes: amai-vos uns aos outros fora da Caridade no h salva-o trabalho, solidariedade, tolerncia Mas o maior dentre vs ser vosso servo deus, Cristo, Caridade. elas efetivamente nortearam os passos de bezerra de Menezes. seguindo-as, asseguraremos ao Movimento, s nossas vidas, sociedade, a todas as nossas cons-trues, morais e materiais, a solidez que as tor-nar imunes contra as insidiosas arremetidas das paixes inferiores com todo o squito de seus deplorveis prejuzos.

    a editora

    rio de Janeiro, 11 de abril de 2000.

  • i artigos em reformador

  • Sr. redator. em dias do ms de feve-reiro deste ano, procurou-me uma pobre mu-lher de meu conhecimento para pedir-me que desse remdio a seu filho, rapaz de 22 anos, h tempos sofrendo de perturbao mental, e ul-timamente acometido de verdadeira fria que assusta toda a famlia.

    pela histria que ela me fez, suspeitei de uma obsesso, e, conforme com este pensamen-to, disse-lhe que nos trouxesse o doente, visto sair ele rua.

    No dia seguinte, voltou a triste me a dizer--me que seu filho recusava-se tenazmente a vir falar comigo.

    subiu de pronto minha suspeita, e reiterei a ordem de me trazer o rapaz na prxima quar- ta-feira, dia em que havia sesso do grupo luz e Caridade no lugar onde o mandei vir.

    Marquei s 11 horas da manh para no complicar o meu trabalho com os do grupo e de onde estava impus a minha vontade ao doente

    1 Uma obsesso

  • Bezerra de Menezes8

    para que no deixasse de vir, invocando ao mes-mo tempo o auxlio dos bons espritos.

    No dia e hora aprazados entrou-me a mu-lher, dizendo que seu filho, muito constrangido, viera, mas que s o fizera com a condio de no trazer palet.

    Compreendi que seu perseguidor lhe imps aquela condio para demov-lo do propsito de obedecer ao meu chamado e fiz entrar a vtima, mesmo em calas e colete.

    reconheci um homem desvairado, que di-zia coisas sem nexo e at incompreensveis.

    examinei-o sobre seus princpios religio- sos e vi, com surpresa, que neste ponto no desvairava.

    acreditava em deus, sem cuja vontade nada faz; na imortalidade da alma, com a responsabi-lidade por suas obras; enfim era um verdadeiro cristo.

    de leve expliquei-lhe a causa de seu mal, que ele reconhecia, e perguntei se lhe repugnava orar a deus por seu perseguidor.

    respondeu-me que f-lo-ia de boa vontade, o que me fez crer que seu esprito tinha cons-cincia da justia com que sofria e levava seus sofrimentos com humilde resignao.

    Neste ponto, um mdium que entrara, sem que eu o tivesse visto, sofreu to forte atuao que deu um salto da cadeira, causando-me susto.

  • OnteM e HOje 9

    despedi o doente sob promessa de orar to-dos os dias por seu perseguidor e dirigi ao esp-rito que o abordava palavras de moralizao.

    o mdium foi novamente atuado violenta-mente, dando assim uma prova de que o infeliz procurava, em sua fria, um instrumento para me repelir.

    No tendo um centro, recomendei ao mdium que resistisse e dei por terminado o trabalho.

    tarde, quando se reuniu o grupo, foi o mesmo mdium atuado, e disse para mim:

    Vim pagar-te o sermo de hoje de manh.foi tremenda a luta com aquele esprito,

    que resistiu a todos os argumentos, escarnecen-do quando eu falava em deus, e declarando ser--lhe impossvel deixar o prazer de se vingar do que fora seu algoz noutra existncia.

    debalde o bom romualdo provou-lhe, com um quadro de existncia sua passada, que o mal que lhe fez aquele moo j fora em represlia de mal igual que ele lhe fizera; e portanto, que o verdadeiro algoz era ele.

    riu e escarneceu do quadro e ficou firme em seu endurecimento.

    romualdo ento falou-lhe por um outro m-dium, dizendo que sua vtima, tendo sofrido re-signadamente aquela dura expiao, j merecia a misericrdia do senhor.

    e pois, que ele no queria comparticipar da-quele bem, perdoando-lhe, ser-lhe-ia desde ali

  • Bezerra de Menezes10

    tirada a vista e a fala, para que nunca mais pu-desse alcanar sua vtima e ao mesmo tempo para que sofresse ele a pena de sua ferocidade.

    terminada a sesso, disse-nos Vicente de paula, guia do grupo, que aquele esprito era da ordem dos que s com jejum poderiam ser do-minados, segundo disse Jesus Cristo.

    passaram-se trinta e tantos dias sem que pu-desse eu ter notcia do meu doente.

    em meados de maro, veio ele visitar-me e eu senti o mais vivo prazer, verificando que se acha completamente restabelecido, na mais per-feita integridade intelectual.

    Quanta moralidade, quanta luz decorrem desta singela observao!

    ela revela-nos a pluralidade de existncias no fato de ter sido, a vtima de hoje, o algoz de ontem.

    revela-nos a influncia malfica e, por oposio, a benfica dos espritos desencarnados sobre os encarnados, demonstrando que os dem-nios no so, bem como os anjos, seno seres hu-manos, escravos ainda, aqueles de suas paixes, elevados estes a um altssimo grau de perfeio.

    ...

    extrado de reformador de 15-4-1890.

  • 1) Que crenas tinha antes de ser esprita?Nasci e criei-me, at aos dezoito anos, no

    seio de uma famlia tradicionalmente catlica, que levava a sua crena at aceitao de um absurdo, por mais repugnante que fosse, impos-to f passiva dos crentes, pela igreja romana.

    aprendi aquela doutrina e acostumei-me s suas prticas, mas empiricamente, sem procurar a razo da minha crena.

    dois pontos, entretanto, me apareciam lu-minosos no meio daquela nvoa; eram: a exis-tncia da alma, responsvel por suas obras, e a de deus, criador da alma e de tudo o que existe.

    ao demais, eu considerava sagrado tudo o que meus pais me ensinavam a crer e a praticar: a religio catlica apostlica romana.

    aos dezoito anos, e naquela disposio de esprito, deixei a casa paterna para vir fazer meus

    2 evoluo religiosa de bezerra de Menezes

  • Bezerra de Menezes12

    estudos na capital do imprio, onde vivi, mesmo no tempo de estudante, sobre mim, sem ter a quem prestar obedincia.

    Continuei na crena e prticas religiosas, que eu trouxe do bero; mas na convivncia com os moos, meus colegas, em sua maior par-te livres pensadores: ateus, comecei batendo-me com eles e acabei concorde com eles, pa- recendo-me excelso no ter a gente que prestar contas de seus atos.

    No foi difcil esta mudana, pela razo de no ser firmada em f raciocinada a minha cren-a catlica; mas, apesar disto, a mudana no foi radical, porque nunca pude banir de todo a crena em deus e na alma.

    Houve em mim uma perturbao, de que nasceu a dvida. fiquei mais ctico do que cristo e cristo somente por aqueles dois pontos.

    em todo caso, deixei de ser catlico e via os meus dois pontos luminosos por entre as nuvens.

    Casei-me com uma moa catlica, a quem amava de corao e sempre respeitei suas crenas, guardando nos seios da minha alma a descrena.

    No fim de quatro anos, fui subitamente batido pelo tufo da maior adversidade que me podia sobrevir: minha mulher me foi roubada pela morte, em vinte horas, deixando-me dois filhinhos, um de trs anos e outro de um.

    aquele fato produziu-me um abalo fsico e moral, de prostrar-me.

  • OnteM e HOje 13

    as glrias mundanas, que havia conquistado mais por ela do que por mim, tornaram-se-me aborrecidas, seno odiosas e, como delas, coi-sas da terra, eu no via nada, nada encontrei que me fosse de lenitivo a tamanha dor.

    sempre gostei de escrever, mas inutilmente tentava faz-lo, porque no fim de poucas linhas tdio mortal se apoderava de mim.

    a leitura foi sempre a minha distrao pre-dileta; mas dava-se a este respeito o mesmo que a respeito de escrever: abria um, outro, outro livro sobre Cincia, sobre literatura, sobre o que quer que fosse, mas no tolerava a leitura de uma pgina sequer.

    Um dia, meu companheiro de consultrio trouxe da rua um exemplar da bblia, do padre pereira de figueiredo, entressachado de estam-pas finssimas.

    tomei o livro, no para ler, que j no ten-tava semelhante exerccio; mas para ver as es-tampas, com verdadeira curiosidade infantil.

    passei todas em revista; mas, no fim, senti desejos de ler aquele livro que encerrava minhas perdidas crenas, e que era vergonha para um homem de letras dizer que nunca lera.

    Comecei, pois, e esqueci-me a ler o belo li-vro, at perder a conduo para minha casa; e depois que estive nesta, sentia prazer em pensar que voltaria a l-lo!

  • Bezerra de Menezes14

    eu mesmo fiquei surpreendido do que se passava em mim!

    li toda a bblia e, quanto mais lia, mais vontade tinha de continuar, sentindo doce con-solao com aquela leitura.

    Quando acabei, eu sentia a necessidade de crer, no dessa crena imposta f, mas da cren-a firmada na razo e na conscincia.

    onde descobrir-lhe a fonte?atirei-me leitura dos livros sagrados, com

    ardor, com sede; mas sempre uma falha ao que meu esprito reclamava.

    Comearam a aparecer as primeiras notas es-pritas no rio de Janeiro; mas eu repelia semelhan-te doutrina sem conhec-la nem de leve! somente porque temia que ela perturbasse a tal ou qual paz que me trouxera ao esprito a minha volta reli-gio de meus maiores, embora com restries.

    Um colega, porm, tendo traduzido o li-vro dos espritos, de allan Kardec, fez-me pre-sente de um exemplar, que aceitei, por cortesia.

    deu-mo na cidade, e eu morava na tijuca, a uma hora de viagem de bonde.

    embarquei com o livro e, no tendo distra-o para a longa e fastidiosa viagem, disse comi-go: ora, adeus! no hei de ir para o inferno por ler isto; e, depois, ridculo confessar-me igno-rante de uma filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosficas.

  • OnteM e HOje 15

    pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a bblia.

    lia, mas no encontrava nada que fosse novo para meu esprito, e entretanto tudo aquilo era novo para mim!

    dava-se em mim o que acontece muitas vezes a quem muito l e que, um dia, encontra uma obra onde depara com idias que j leu, mas que no sabe em que autor.

    eu j tinha lido ou ouvido tudo o que se acha em o livro dos espritos, mas com certeza nunca tinha lido obra alguma esprita e, portanto, me era impossvel descobrir onde e quando me fora dado o conhecimento de semelhantes idias!

    preocupei-me seriamente com este fato que me era maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era esprita inconsciente, ou, co-mo se diz vulgarmente, de nascena, e que todas essas vacilaes que sentia meu esprito eram marchas e contramarchas que ele fazia, por des-cobrir o que lhe era conhecido e, porventura, obrigado a isto.

    eis o que fui e em que crena vivi, at que fui esprita.

    ...

    adolfo bezerra de Menezes

    rio de Janeiro, 15 de outubro de 1892.

    extrado de reformador de 1892.

  • adolfo bezerra de Menezes nas ceu no estado do Cear em 29 de agosto de 1831.

    Veio para o rio de Janeiro em 1851, onde dou-torou-se, em 1856, pe la fa cul da de de Me di cina do rio de Ja nei ro.

    por sua incansvel atividade em be ne fcio dos ne-cessitados de to da na tu re za, ficou co nhecido co mo dr. be zer ra de Me ne zes, o m di co dos po bres.

    em 1863 desposou d. Maria Cn di da de la cerda que lhe deixou dois filhos. em 1865, casou-se em se -gun das npcias com d. Cn di da au gus ta de lacerda Ma chado, de quem teve sete filhos.

    iniciou sua trajetria poltica em 1860 pelo par tido liberal, ocu pan do os car gos de Ve reador, pre si den te da Cmara Mu ni ci pal da Cor te e de pu tado Ge ral. em 1885 en cer rou suas ati vi da des po lticas, ten do sem pre agi do em fa vor da jus tia e da ho nes ti dade.

    bezerra de Menezes construiu a Com pa nhia de es -tra da de ferro Maca a Cam pos e, em 1872, par tici pou da aber tura do bou le vard 28 de se tem bro.

    Conheceu o espiritismo em 1875 ao ler a tra duo de o livro dos es p ri tos. No ano de 1886, no salo da Guar da Velha, diante de quase 2.000 pessoas, pro cla mou--se es p rita.

    em 1887 inicia uma srie de ar ti gos, sob o pseud-nimo Max, pu bli ca dos no jornal o paiz, sem que fos se in ter rom pida sua co la borao na re vis ta reformador.

    em tempos difceis, marcados pelo di vi sio nis mo dos es-pritas em cien t fi cos e ms ti cos, bezerra de Me ne zes as sume a pre sidn cia da fe de ra o es p rita bra si lei ra, exer -cen do tal cargo em 1889 e de 1895 a 1900, e lo go ins-tituindo o es tu do sis te m tico de o li vro dos espritos.

    Conhecido como Kardec bra si lei ro, foi in ten sa e fundamental a sua ati vi dade em prol da unio e em defesa dos di reitos e li ber dade dos espritas.

    desencarnou em 11 de abril de 1900, pros seguindo, no mundo es pi ritual, o tra ba lho pela unio em torno dos ideais cris tos.

    sobre o autor: