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BENTO GONÇALVES

RELATÓRIO

EPIDEMIOLÓGICO

MORTALIDADE POR

DOENÇAS DO APARELHO CIRCULATÓRIO

SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE MORTALIDADE - SIM

8ª REVISÃO

1990 a 2012 Rio Grande do Sul Bento Gonçalves

Secretaria Municipal da Saúde Serviço de Vigilância Epidemiológica

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

BENTO GONÇALVES

Secretaria Municipal de Saúde

Serviço de Vigilância Epidemiológica

Colaboradores José Antônio Rodrigues da Rosa (coordenador e organizador)

Letícia Biasus Fabiane Giacomello

Jakeline Galski Rosiak Márcia Dal Pizzol

Dezembro de 2013

Rua Goiânia, nº 590, Bairro Botafogo, CEP 95700-000 e-mail: [email protected]

Os dados desta publicação são de domínio público e podem ser utilizados, desde que citadas as fontes.

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Bento Gonçalves - Mortalidade por Doenças do Aparelho Circulatório 1990 a 2012 SMS – Serviço de Vigilância Epidemiológica

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SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE MORTALIDADE - SIM O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) foi implantado no Brasil em 1977. Ele consiste num conjunto de ações executadas pelos níveis municipal, estadual e federal que visam garantir que todas as instâncias envolvidas cumpram suas obrigações técnicas e legais no processo do óbito. Essa cadeia de ações inicia-se, antes mesmo, da ocorrência do óbito através da impressão e da distribuição dos formulários de declaração de óbito para os serviços e profissionais que têm a responsabilidade de atestar e declarar um óbito. A declaração de óbito (DO) compõe-se de um formulário de três vias (branca, rosa e amarela) no qual serão registradas as informações relativas ao óbito: nome do falecido, data de nascimento e óbito, endereço de residência do falecido e de ocorrência da morte, circunstâncias e/ou patologias que determinaram a morte, entre outros dados. Após corretamente preenchidas e assinadas pelo profissional que atestou a morte, as vias branca e amarela são fornecidas para os familiares do falecido, a fim de que realizem o seu registro no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais (RCPN) do local de ocorrência do óbito. A via rosa permanece arquivada junto ao prontuário hospitalar do falecido ou no setor responsável pelos registros da instituição que atestou a morte. O RCPN realiza as ações de registro civil do óbito, retendo as duas vias da DO. Os familiares do falecido recebem, então, a Certidão de Óbito, documento que permitirá o sepultamento no cemitério. A via branca da DO é entregue à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a via amarela permanece no cartório. Em Bento Gonçalves, o Serviço de Vigilância Epidemiológica da SMS, desde o ano 2000, é o responsável por garantir o correto funcionamento do SIM no município, de tal forma que cada óbito ocorrido no município cumpra as exigências do sistema e seja devidamente informado para a SMS. Desde que a atual equipe do SVE assumiu o SIM, foram corrigidos alguns problemas que estavam comprometendo a sua operacionalidade, como, por exemplo: sepultamento em cemitérios públicos sem o registro prévio do óbito no RCPN, liberação dos falecidos do hospital para o serviço funerário sem a respectiva DO, inexistência de um controle efetivo da emissão das DO e do seu posterior recebimento (não era feita a busca ativa das DO emitidas pela SMS, a fim de garantir o seu retorno). Para evitar a subnotificação de óbitos e melhorar a qualidade das informações prestadas, o Serviço de Vigilância Epidemiológica da SMS começou a corrigir essas deficiências. Assim, a partir de 2000, foram implantadas as seguintes medidas: o estabelecimento de um rigoroso controle do fluxo das DO (todas as DO emitidas deveriam retornar a SMS); o esclarecimento e a atualização contínuos das normas operacionais do sistema junto as equipes das funerárias, cemitérios, Instituto Médico Legal (IML), hospital, cartórios e equipe médica do pronto atendimento da Secretaria Municipal de Saúde e, mais recentemente, do SAMU; o estabelecimento da obrigatoriedade do fornecimento da DO para todos os óbitos ocorridos ou atendidos no hospital (antes da liberação do corpo) e no Pronto Atendimento da SMS; a confecção de um prospecto informativo sobre a obrigatoriedade do registro da declaração de óbito em cartório, fornecido para os familiares junto com a DO; a proibição do sepultamento de cadáveres nos cemitérios públicos do município sem o registro prévio do óbito no cartório. Além disso, o SVE vem trabalhando consistentemente para qualificar as informações prestadas nas DO, de modo a diminuir problemas relacionados a informações duvidosas ou não prestadas. Para tanto, o SVE tem investigado os óbitos declarados como sendo de causa mal definida, como causa intermediária, como causa não especificada, de patologias que não podem ser codificadas como causa básica da morte, de mulheres em idade fértil, de crianças menores de 1 ano (óbito infantil), fetais, de mulheres grávidas ou puérperas (óbito materno), de doenças e agravos de notificação obrigatória, de causas externas que não descrevem o tipo e/ou a circunstância do acidente ou da violência. A investigação é feita através da busca de informações em diferentes fontes, tais como: médicos que declararam o óbito ou profissionais que prestaram assistência ao falecido antes da morte, prontuários médicos (seja no hospital ou nas Unidades de Saúde Pública), boletins de atendimento em serviços de urgência (pronto atendimento, corpo de bombeiros, SAMU), notícias de jornal (sites de notícias na internet), boletim de ocorrência policial e entrevista com os familiares do falecido. Complementarmente, o SVE, juntamente, com a Câmara de Vereadores, instituiu uma Lei Municipal que orienta sobre o sepultamento e o registro de óbitos. Após o cumprimento de todas as etapas, as informações da via branca da DO são digitalizadas em um programa do Ministério da Saúde, denominado Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Mensalmente, os dados deste sistema são enviados pelo SVE ao nível estadual e, deste, para o federal. Este banco de dados, alimentado com as informações das DO, servirá como ferramenta de acompanhamento e análise epidemiológica da mortalidade, tanto no município, estado e país. Todos estes cuidados com o SIM e com a qualidade de suas informações é que garantirão a fidedignidade dessas análises. Tanto que, dada a inexistência de outras fontes de informações, o sistema de mortalidade tornou-se uma das mais preciosas ferramentas para avaliar a situação de saúde da população brasileira.

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Em Bento Gonçalves, o SVE vem utilizando o SIM para caracterizar algumas das principais questões de Saúde Pública no município. O presente relatório corresponde a 8ª revisão de dados, ampliando e atualizando o relatório publicado em 2011 (o primeiro relatório de mortalidade por neoplasias foi publicado no ano de 2006). Ele procura descrever o perfil de morbimortalidade por doenças do aparelho circulatório de Bento Gonçalves, apresentando séries históricas relativas ao período de 1990 a 2012. Costuma-se utilizar diferentes tipos de indicadores para estudar o comportamento da mortalidade. Aquele que certamente oferece mais subsídios é o coeficiente de mortalidade específico por causa, sexo e idade (coeficiente por cem mil habitantes). Na ausência de informações que permitam o cálculo de coeficientes, o Serviço de Vigilância Epidemiológica utilizou o cálculo de taxas relativas (mortalidade proporcional), representadas sob a forma de percentuais. De modo geral, os dados informados neste relatório, em particular, os anteriores a 1999, têm como fonte o Ministério da Saúde (In: datasus.gov.br), a Secretaria Estadual da Saúde do RS (Núcleo de Informações em Saúde), a 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (Caxias do Sul) e o próprio Serviço de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Bento Gonçalves.

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Bento Gonçalves - Mortalidade por Doenças do Aparelho Circulatório 1990 a 2012 SMS – Serviço de Vigilância Epidemiológica

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MORTALIDADE POR DOENÇAS DO APARELHO CIRCULATÓRIO As doenças cardiovasculares constituem um conjunto de afecções com etiologias e manifestações clínicas diversas de grande importância na estrutura da morbimortalidade. Representam a primeira causa de óbito em todos os países desenvolvidos e em muitos dos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil

[5, 6, 12].

Além de contribuírem de modo destacado para a mortalidade, as moléstias do aparelho circulatório são causas freqüentes de morbidade, constituindo-se na principal causa de internação hospitalar e de gastos com assistência médica no país

[5].

Em Bento Gonçalves, durante os anos de 2001 e 2002, as doenças cardiocirculatórias constituíram a primeira causa de internação clínica pelo Sistema Único de Saúde - SUS (Fonte: AIH/SUS). Neste grupo, destacaram-se a insuficiência cardíaca e os eventos hipertensivos como a 1ª e a 2ª causas de internação. Os acidentes vasculares cerebrais (AVC - derrames) ocuparam a 4ª posição nas internações pelo SUS. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) constitui um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares tendo forte relação com 80% dos casos de AVC e 60% dos casos de doença isquêmica do coração

[6]. Constituem, sem dúvida, o principal fator de risco para as doenças cardiovasculares, cuja

principal causa de morte, o AVC, tem como origem a hipertensão não controlada[6]

. Em 2001, o Serviço de Vigilância Epidemiológica coordenou um estudo

[13] que avaliou a pressão sangüínea

de 10.941 adultos com idade maior ou igual a 40 anos residentes em Bento Gonçalves. Utilizando os critérios de classificação de hipertensão do Ministério da Saúde

[6] (isto é, hipertensão leve [PA sistólica 140-

159 e/ou PA diastólica 90-99], hipertensão moderada [PA sistólica 160-179 e/ou PA diastólica 100-109], hipertensão grave [PA sistólica ≥180 e/ou PA diastólica ≥110]), foi encontrada uma prevalência geral de hipertensos de 46,7%. A população com hipertensão leve correspondeu a 58,3%, os hipertensos moderados totalizaram 30,7% e os hipertensos graves responderam por 11,0% dos casos. Vale citar que, se forem utilizados os critérios de classificação de hipertensão leve sugeridos pelo Programa de Controle de Hipertensão da Secretaria Estadual da Saúde do RS

[10] (isto é, hipertensão leve [PA sistólica 141-159 e/ou

PA diastólica 91-99]), a prevalência geral de hipertensos na população residente cairia para 23,5%. Segundo estimativa de 2004 do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), a prevalência de hipertensão na população brasileira com 40 anos ou mais é de 35%. Em uma pesquisa realizada pelo Vigitel em 2006, sobre a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis na população brasileira, verificou-se que 21,6% dos pesquisados referenciaram diagnóstico médico de hipertensão arterial

[12].

1. Comportamento da Mortalidade por Doenças do Aparelho Cardiocirculatório As doenças do aparelho circulatório compõem o capítulo IX do manual de Classificação Internacional de Doenças, 10ª Revisão (CID 10) sob os códigos I00 a I99, subdivididos em dez categorias: febre reumática aguda (I00-I02), doença reumática crônica do coração (I05-I09), doenças hipertensivas (I10-I15), doenças isquêmicas do coração (I20-I25), doença cardíaca pulmonar (I26-I28), outras formas de doença cardíaca (I30-I52), doenças cerebrovasculares (I60-I69), doenças das artérias, arteríolas e capilares (I70-I79), doenças das veias, dos vasos linfáticos e dos gânglios linfáticos (I80-I89) e outros transtornos do aparelho circulatório (I95-I99). Historicamente, o conjunto das patologias do aparelho circulatório tem se destacado como a primeira causa de óbitos da população residente em Bento Gonçalves. Situação semelhante, também encontrada no estado do Rio Grande do Sul

[9] e no Brasil

[12].

De acordo com o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), durante o período de 1990 a 2012, 3.412 bentogonçalvenses (ver Tabela 1) morreram devido a doenças cardiocirculatórias (todos os tipos), resultando numa média de 148 mortes por ano. Os menores coeficientes de mortalidade por doenças do aparelho circulatório do município ocorreram nos anos de 2002 (137,3 óbitos por 100.000 habitantes) e no ano 2009 (113,1 óbitos por 100.000 habitantes). Os maiores coeficientes de mortalidade foram verificados nos anos de 1995 e 1996 (217,6 e 206,7 óbitos por 100.000 habitantes), demonstrando uma tendência de queda, especialmente a partir de 2001 (ver Gráfico 1). A redução desses coeficientes, particularmente até 2010, deve-se, em parte, ao progressivo aumento do número de mortes decorrentes de outras patologias. As doenças endócrinas (principalmente o diabetes mellitus), por exemplo, experimentaram um aumento proporcional de 161,2% na década de 2000, em relação a década de 1990. As mortes por doenças do sistema nervoso, por sua vez, aumentaram cerca de 188,9%. No grupo das neoplasias, a mortalidade cresceu 31,2%, enquanto que no grupo das doenças cardiovasculares esse aumento foi de apenas 3,4%

[16].

Essa “mudança” no cenário epidemiológico da mortalidade tem contribuído para amenizar o impacto dos óbitos por doenças do aparelho circulatório. E, embora ainda figurem como a principal causa de morte no município, elas passaram para a segunda posição nos anos de 2002 e de 2009, ficando atrás das neoplasias.

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Em 2009, a epidemia de gripe por influenza A H1N1 atuou com um fator contributivo para a redução dos índices de mortalidade por doenças cardiocirculatórias, a medida que influenciou os profissionais a diagnosticarem mais casos de doenças respiratórias. Como resultado, um número maior de óbitos acabou sendo atribuído à pneumonia, o que fez a mortalidade por essa doença aumentar em 120,0% em relação ao ano anterior. Entre as mortes declaradas como pneumonia, cerca de 30,0% também tinham alguma doença cardiocirculatória associada que não foi selecionada como causa básica da morte

[16].

Outro motivo que ajudou a reduzir a mortalidade por doenças circulatórias neste ano foi o aumento inesperado de cerca de 60,0% das mortes atribuídas às doenças do aparelho geniturinário (principalmente, a insuficiência renal) em relação a 2008. Importante que se diga que a equipe da Vigilância Epidemiológica (VE) tem feito a investigação de todas as mortes cuja causa tenha sido declarada como “indeterminada”. O objetivo é o de tentar encontrar doenças e condições (acidentes, por exemplo) pré-existentes do falecido que possam servir como nexo causal da morte. Em 2002, por exemplo, a VE havia investigado 58 óbitos cuja causa inicial havia sido declarada como sendo indeterminada (mal definida). Em 22 destes casos (37,9%), a causa acabou sendo reclassificada como decorrente de doenças circulatórias

[8]. Não fosse isso, o coeficiente de mortalidade por doenças circulatórias

teria sido bem menor, caindo de 137,3 para 111,3 óbitos por 100.000 habitantes (redução de 18,9%). No ano 2009, das 46 mortes declaradas inicialmente como “causa desconhecida”, 26 (56,5%) foram reclassificadas como doenças circulatórias, após a investigação. Sem essa reclassificação, o coeficiente de mortalidade por doenças circulatórias do município em 2009 seria de apenas 85,9 óbitos por 100.000 habitantes (redução de 23,4%). 1.1 - Mortalidade por Doenças do Aparelho Cardiocirculatório – Bento Gonçalves, RS e Brasil Ao elaborar os relatórios de mortalidade de Bento Gonçalves, a equipe da VE tem utilizado diversas referências bibliográficas, a fim de fundamentar seus achados e melhorar suas análises. Além disso, a VE também tem utilizado estudos e dados sobre mortalidade publicados pela Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (Núcleo de Informações em Saúde – NIS) e pelo Ministério da Saúde (DATASUS). Assim, sempre que possível, os indicadores municipais são comparados aos estaduais e nacionais, permitindo avaliar qual a situação do município em relação ao RS e ao Brasil. No que se refere à mortalidade por doenças do aparelho circulatório, os coeficientes de Bento Gonçalves sempre têm apresentado resultados inferiores aos do Rio Grande do Sul (RS), ao longo dos últimos anos (ver Gráfico 1). No período avaliado (23 anos), o coeficiente médio de mortalidade por doenças do aparelho circulatório do município tem sido de 160,4 óbitos por 100.000 habitantes, contra 217,2 do RS

[9] (1990-2011) e 159,8 do

Brasil[11]

(1990-2011). Em teoria, quando as taxas de mortalidade por doenças do aparelho cardiocirculatório atingem valores superiores a 200,0 óbitos por 100.000 habitantes, deve-se considerar a população como sendo de alto risco para doenças cardiovasculares. Isso significa que existem três ou mais fatores de risco associados interferindo sobre a saúde da população, como por exemplo: tabagismo, obesidade, stress. Quando estes coeficientes situam-se entre 150 e 200 óbitos por 100.000 habitantes, a população é considerada de médio risco. Isso significa que há dois fatores de risco associados agindo sobre a saúde da população. É o caso de Bento Gonçalves. Em pesquisa realizada pelo Vigitel

[12] sobre indicadores de doenças crônicas na população brasileira, 43,0%

dos entrevistados afirmaram ter excesso de peso, 29,2% ser sedentários, 5,3% ser diabéticos e 21,6% hipertensos. 2. Mortalidade pelas Principais Doenças do Aparelho Cardiocirculatório Para uma melhor avaliação, os dez principais grupos de doenças do aparelho cardiocirculatório do CID 10, foram discriminados em 16 subgrupos com base no CID 10 BR: (1) febre reumática aguda e doença reumática crônica (I00-I02/I05-I09); (2) doenças hipertensivas (I10-15); (3) doenças isquêmicas cardíacas (I200-I209/I230-I259); (4) infarto agudo do miocárdio (I210-I229); (5) doença cardíaca pulmonar (embolia pulmonar) (I26-I28); (6) pericardite, endocardite e miocardite (I30-I33/I40-I41); (7) transtornos das válvulas cardíacas (I34-I39); (8) cardiomiopatias (I42-I43); (9) bloqueio, transtornos de condução e arritmias/fibrilação (I44-I49); (10) insuficiência cardíaca (I50); (11) restante das cardiopatias e as não especificadas (I51-I52); (12) doenças cerebrovasculares (I60-I69); (13) aterosclerose (I70); (14) aneurismas (I71-I72); (15) demais doenças dos vasos sangüíneos e linfáticos (I73-I89); (16) restante das doenças do aparelho circulatório e as não especificadas (I95-I99). Como resultado, pôde-se observar o comportamento de doenças como as cardiomiopatias, a insuficiência cardíaca e as arritmias cardíacas, por exemplo, que estavam “mascaradas” no grupo “outras formas de

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Bento Gonçalves - Mortalidade por Doenças do Aparelho Circulatório 1990 a 2012 SMS – Serviço de Vigilância Epidemiológica

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doença cardíaca” (I30-I52), bem como, do infarto agudo do miocárdio, originalmente incorporado no grupo das doenças isquêmicas do coração (I20-I25). Dentro dos 16 subgrupos de doenças do aparelho cardiocirculatório, cinco patologias têm se destacado como as principais causas de morte (para ambos os sexos) no município: doenças cerebrovasculares (DCV: I60-I69) – a mais importante, o infarto agudo do miocárdio (IAM: I210-I229), as doenças isquêmicas cardíacas (I200-I209/I230-I259), a insuficiência cardíaca (I50) e as cardiomiopatias e cardiopatias não especificadas (I42-I43). O Gráfico 2 apresenta os coeficientes médios de mortalidade destas cinco patologias, calculados em períodos de três anos (exceto 2011-2012). A seguir, apresenta-se uma breve análise das mortes causadas por doenças cerebrovasculares (I60-I69), pelo infarto agudo do miocárdio (I210-I229) e pelas doenças isquêmicas cardíacas (I200-I209/I230-I259). 2.1 - Doenças Cerebrovasculares (Acidente Vascular Cerebral – AVC) (Subgrupo 12) As DCV (grupo I60-I69 do CID 10) também são conhecidas como acidente vascular cerebral, ou, popularmente, como derrame. Elas têm representado a patologia com o maior número de óbitos do aparelho cardiocirculatório (n= 1.031), correspondendo a 30,5% do total de mortes deste aparelho (ver Tabela 1). Anualmente, cerca de 45 bentogonçalvenses morrem devido às DCV. Se forem consideradas todas as outras doenças e agravos causadores de morte, as DCV também se constituem na primeira causa de mortes dos bentogonçalvenses (ver Quadro 1). No Gráfico 2, pode-se observar a evolução dos coeficientes médios de mortalidade por DCV, calculados para cada triênio, entre 1990 a 2012, com uma incidência média de 48,9/100.000. A maior incidência de mortes por DCV ocorreu no triênio 1993-1995 (55,4/100.000). No que se refere a faixa etária, os coeficientes de mortalidade por DCV no município têm sido substancialmente mais elevados entre a população da terceira idade, principalmente, nas pessoas com 80 anos e mais (ver Gráfico 5). No grupo feminino, a incidência de óbitos por DCV tem sido 1,2 vezes maior do que o masculino (ver Tabela 1). 2.1.1 - Doenças Cerebrovasculares por Tipo De acordo com o CID 10, as DCV podem ser subdividas em: hemorragia subaracnóide (I600-I609); hemorragia intracerebral (I610-I619); outras hemorragias intracranianas não traumáticas (I620-I629); infarto cerebral (I630-I639); acidente vascular cerebral não especificado (I64); outras doenças cerebrovasculares (I670-I679); acidente vascular cerebral isquêmico (I678); transtornos cerebrovasculares classificados em outra parte (I680-I688) e seqüelas de DCV (I690-I698). Das 1.039 mortes atribuídas às DCV em Bento Gonçalves, 29,0% estavam associadas a eventos hemorrágicos (grupo I600 a I629). Os AVCs não especificados (I64) responderam por 30,4% deste total, enquanto que as seqüelas de AVC responderam por 19,2% (ver Tabela 3). Como mencionado anteriormente, o grupo das DCVs (I60-I69) tem se constituído na primeira causa isolada de morte na população de Bento Gonçalves, com um coeficiente médio de 48,9 óbitos por 100.000 habitantes (ver Tabela 1). No RS

[9] (coeficiente médio de 73,6/100.000 [1990-2011]) e no Brasil

[11] (51,7/100.000 [1990-2010]), as DCV

também tem representado a primeira causa de morte da população. 2.2 - Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) (Subgrupo 4) É importante lembrar que o IAM é uma das patologias que faz parte do grupo das doenças isquêmicas cardíacas (DIC), classificadas sob os códigos I200 a I259. Dos 1.072 óbitos por DIC ocorridos entre 1990 a 2012, 637 (59,4%) deveram-se ao IAM (ver Tabela 1 - subgrupo 4). Se o IAM não tivesse sido desmembrado do grupo das DIC, estas somariam o maior número de óbitos por doenças cardiocirculatórias no município, ficando acima das DCV. O IAM, sozinho, tem aparecido como a segunda causa de morte dentro do grupo do aparelho cardiocirculatório. Anualmente, 28 bentogonçalvenses morrem devido ao IAM. O coeficiente médio de mortalidade por IAM resultou em 30,0 óbitos por 100.000 habitantes. O triênio com o maior coeficiente foi o de 1993-1995, com 41,8/100.000 (ver Gráfico 2). A mortalidade por IAM entre os homens é cerca de 1,6 vezes maior do que entre as mulheres (37,0 contra 23,1 óbitos/100.000, respectivamente) (ver Tabela 1).

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A faixa etária de 80 anos e mais é a que têm registrado os maiores coeficientes de mortalidade por IAM (524,5/100.000) (ver Gráfico 5). Em 10 dos 23 anos do período correspondente a 1990 a 2012, o IAM apareceu como a 2ª causa de morte no ranking de mortalidade geral do município. Em 1999, foi a primeira causa de morte da população. No RS, o IAM apareceu como a segunda principal causa de morte dos gaúchos em 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012. No Brasil, também tem assumido uma grande importância no perfil geral de mortalidade, aparecendo como a terceira principal causa de morte dos brasileiros em 2008 e 2009, e a segunda causa em 2010 e 2011. 2.3 - Doenças Isquêmicas Cardíacas (DIC) (Subgrupo 3) O grupo das doenças isquêmicas do coração (patologias correspondentes aos códigos I200 a I259 do CID 10 [excluído o infarto agudo do miocárdio]) tem constituído a terceira causa de morte do grupo do aparelho circulatório. No total, foram contabilizadas 435 mortes por DIC, resultando num coeficiente médio de 20,5 óbitos por 100.000 habitantes (ver Tabela 1, subgrupo 3). No ranking geral de mortalidade do município (todas as causas), as doenças isquêmicas têm aparecido entre a 3ª e a 5ª causa de óbito da população (ver Quadro 1). As DIC têm sacrificado mais homens do que as mulheres em Bento Gonçalves (23,2 contra 17,7 óbitos/100.000). A faixa etária de 80 anos e mais é a que tem registrado os maiores coeficientes de mortalidade (753,2/100.000) (ver Gráfico 5). Como citado anteriormente, se os óbitos por IAM forem somados aos das doenças isquêmicas, estas, em conjunto, passariam a constar entre as primeiras causas de morte do grupo do aparelho cardiocirculatório e do município como um todo. 3. Mortalidade por Doenças do Aparelho Circulatório – Distribuição por Sexo No contexto geral de mortalidade do município, os homens têm morrido mais do que as mulheres em 12 dos 21 grupos de doenças (capítulos) descritos no manual de Classificação Internacional de Doenças – 10ª Revisão (CID 10)

[16].

Em Bento Gonçalves, no período de 1990 a 2012, ocorreram 1.685 óbitos masculinos e 1.727 óbitos femininos (50,6%) por doenças do aparelho circulatório (ver Tabela 1), resultando num coeficiente médio de 160,5 e 160,3 óbitos por 100.000 habitantes, respectivamente. No RS

[9], em 2012, os coeficientes de mortalidade por doenças circulatórias no grupo masculino e feminino

foram de 210,6 e 208,6 óbitos por 100.000 habitantes. No Brasil

[11], em 2011, esses coeficientes representaram 186,0 óbitos por 100.000 homens e 162,9 óbitos

por 100.000 mulheres. A partir de 1996, tem se observado uma predominância de óbitos no grupo feminino no município. Neste ano, pela primeira vez, as mulheres morreram mais do que os homens (230,1 contra 182,8 óbitos por 100.000 habitantes). Essa tendência se confirmou a partir de 1998 e, em particular, em 1999, quando mais de 60,0% dos óbitos por doenças do aparelho circulatório ocorreram no grupo feminino (ver Gráfico 3). Na primeira década de 2000, houve um incremento de 8,2% no número de mortes femininas em relação a década de 90, enquanto que, entre os homens, houve uma redução de 1,4%. No Gráfico 3, pode-se avaliar os coeficientes médios de mortalidade por doenças cardiocirculatórias em homens e mulheres residentes no município. O cálculo foi feito para períodos de três anos. Nos triênios (1990-1992, 1993-1995 e 2005-2007), os homens morreram mais do que as mulheres por doenças cardiocirculatórias. Nos triênios (1996-1998, 1999-2001, 2002-2004 e 2008-2010), foram as mulheres que morreram mais, principalmente, entre 1996-1998, quando o coeficiente médio de mortalidade alcançou 187,4/100.000 mulheres. Em 2011, novamente, o coeficiente feminino foi superior ao masculino. Em 2012, os coeficientes homemxmulher resultaram em 161,7 e 161,2/100.000, respectivamente. Assim, embora a incidência média de mortalidade masculina ainda seja (inexpressivamente) maior no período avaliado (1990 a 2012), observa-se um crescimento das taxas de mortalidade entre as mulheres, principalmente na década primeira de 2000. De acordo com o estudo do Ministério da Saúde

[12] que avaliou os fatores de risco e de proteção para

doenças crônicas não transmissíveis, os homens apresentaram as maiores freqüências para tabagismo, ex-tabagismo, excesso de peso, sedentarismo, consumo de carne animal com gordura e consumo abusivo de bebidas alcoólicas. Embora as mulheres tenham mostrado maiores freqüências para hipertensão arterial (24,4%) e diabetes (6,0%), elas obtiveram melhores resultados para os fatores de proteção alimentar. A constatação de que os homens apresentam uma maior freqüência de fatores de risco poderia justificar a maior incidência de mortes por doenças do aparelho cardiovascular.

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Bento Gonçalves - Mortalidade por Doenças do Aparelho Circulatório 1990 a 2012 SMS – Serviço de Vigilância Epidemiológica

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Em Bento Gonçalves, no estudo da Vigilância Epidemiológica[13]

sobre a prevalência de hipertensão arterial na população, observou-se uma maior taxa de hipertensos no grupo masculino (26,0%) do que no grupo feminino (21,8%). Em contrapartida, no estudo sobre a prevalência de diabetes

[14], as taxas da doença

foram maiores entre as mulheres (9,4%) do que entre os homens (8,6%). Para melhor entender o porquê das doenças cardiocirculatórias estarem progressivamente vitimando uma parcela maior de mulheres em nosso município, seria necessária a realização de estudos adicionais que levem em conta os diversos fatores proteção e de risco para as doenças crônicas e como eles têm interferido sobre a saúde da população. 3.1 - Mortalidade por Sexo pelas Principais Doenças do Aparelho Cardiocirculatório Este relatório também avaliou quais foram as patologias cardiocirculatórias que, individualmente, mais vitimaram os homens e as mulheres do município (utilizando os 16 subgrupos baseados na classificação do CID 10 BR). As mulheres morreram mais do que os homens em 9 destes 16 subgrupos, principalmente devido a: doenças cerebrovasculares – subgrupo 12, correspondente aos códigos I600 a I698 (53,2 óbitos por 100.000 mulheres contra 44,4 óbitos por 100.000 homens) e insuficiência cardíaca – subgrupo 10, correspondente aos códigos I500 a I509 (16,7 contra 9,4/100.000). Os homens, por sua vez, morreram mais do que as mulheres por infarto agudo do miocárdio – subgrupo 4, I210 a I229 (37,0 óbitos por 100.000 homens contra 23,1 óbitos por 100.000 mulheres), doenças isquêmicas cardíacas – subgrupo 3, I200 a I259 (23,2 contra 17,7/100.000) e cardiomiopatias – subgrupo 8, I42 a I43 (10,2 contra 8,7/100.000) (ver Tabela 1). No RS

[9], em 2012, os coeficientes de mortalidade por DCV foram de 75,4 óbitos por 100.000 mulheres

contra 67,7 por 100.000 homens; os do IAM foram de 58,0 óbitos por 100.000 homens, contra 41,1 por 100.000 mulheres. Em 2010, as DCV haviam matado 76,4 gaúchas por 100.000 e 72,9 gaúchos por 100.000. O IAM havia matado 60,2 homens gaúchos e 45,1 mulheres gaúchas por 100.000 habitantes. No Brasil

[11], em 2010, as DCV representaram a primeira causa de morte masculina (54,1 óbitos por 100.000

homens) e feminina (50,5 óbitos por 100.000 mulheres). Em 2011, novamente, as DCV representaram a primeira causa de morte entre os homens (54,0 óbitos por 100.000) e mulheres (50,8 óbitos por 100.000). 4. Mortalidade por Doenças do Aparelho Circulatório – Distribuição por Faixa Etária Em relação à faixa etária, a Tabela 2 mostra o total de óbitos por doenças do aparelho circulatório (ambos os sexos) nos 16 subgrupos de patologias, durante o período de 1990 a 2012. O número de óbitos aumenta com o avançar da idade, atingindo seu maior valor na população de 80 anos e mais (n= 1.286) e de 70 a 79 anos (n= 911). No Gráfico 4, pode-se observar os coeficientes de mortalidade por doenças cardiocirculatórias do município, do estado e do país segundo a faixa etária da população. Para Bento Gonçalves, calculou-se o coeficiente médio etário correspondente ao período de 1990 a 2012. Os idosos de 80 anos e mais representam a parcela da população mais vitimada pelas doenças do aparelho circulatório nos três níveis (município, estado e país). Em nosso município, o coeficiente médio de mortalidade nessa faixa etária foi de 5.071,4/100.000 habitantes, cerca de 30,0% superior ao do Rio Grande do Sul. Nas demais faixas etárias, os coeficientes de mortalidade foram muito semelhantes nas três instâncias. 4.1 - Mortalidade por Faixa Etária pelas Principais Doenças do Aparelho Cardiocirculatório Utilizando-se os 16 subgrupos do CID 10 BR, avaliou-se a mortalidade municipal pelas principais patologias cardiocirculatórias em cada faixa etária. Para esta avaliação, calculou-se o coeficiente médio relativo ao período de 1990 a 2012. As doenças cerebrovasculares (DCV) têm se destacado como a principal causa de óbito em praticamente todas as faixas etárias, exceto a de 50 a 59 anos. A partir dos 60 anos de idade, há um marcado crescimento dos coeficientes de mortalidade, atingindo seu maior valor entre os idosos de 80 anos e mais (1.557,7/100.000) (ver Gráfico 5). A primeira causa de morte na população de 50 a 59 anos tem sido o infarto agudo do miocárdio. Uma das prováveis razões pelas quais os coeficientes de mortalidade por doenças circulatórias sejam maiores nas faixas etárias mais longevas deve-se ao fato de que estas doenças costumam apresentar um longo período de evolução, superior a 10 anos, como no caso das doenças coronarianas. Além disso, a existência de tratamento medicamentoso conservador, disponível para algumas das principais patologias

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cardiocirculatórias na rede de saúde pública (hipertensão, por exemplo), contribui para controlar a sua morbidade e aumentar a expectativa de vida dos pacientes. Assim, a ocorrência de óbitos por doenças do aparelho circulatório, em pessoas nas faixas etárias menores de 60 anos, pode indicar a existência de pacientes sem diagnóstico precoce e, conseqüentemente, sem tratamento, bem como, a existência de pacientes com quadros patológicos mais graves (com comorbidades, como obesidade, tabagismo, por exemplo) que não aderiram ou não tiveram acesso ao tratamento (medicamentoso ou cirúrgico) ou que não responderam ao mesmo. Isso revela a importância do diagnóstico precoce da doença e da adoção das medidas de prevenção e controle, a fim de aumentar a sobrevida desta parcela da população. Entretanto, cabe ressaltar que não se trata apenas de aumentar a expectativa de vida das pessoas, mas fazê-lo de tal sorte que elas possam chegar à velhice com uma melhor qualidade de vida. Neste aspecto, a elevada incidência de mortes por doenças cerebrovasculares (acidente vascular cerebral - AVC) na população da terceira idade do município chama a atenção para uma importante questão: antes de morrerem, quais as condições de saúde que se encontravam os idosos vitimados pelo AVC? Tal questão é levantada, porque, antes de causar a morte, as doenças cerebrovasculares podem determinar seqüelas neurológicas e motoras permanentes com as quais os pacientes se obrigarão a conviver por muitos anos. Como se sabe, os pacientes seqüelados freqüentemente apresentam variados graus de dependência física e costumam sofrer com diferentes comorbidades (infecções respiratórias e urinárias, desnutrição, caquexia, por exemplo), afetando diretamente a sua qualidade de vida (e de sua família). Além disso, eles acabam sendo grandes demandadores de cuidados familiares, sociais e de saúde (consultas, medicamentos, exames, internações, etc.), repercutindo em custos em todos os níveis de atenção. 5. Doenças Cardiocirculatórias e Saúde Pública É importante lembrar que, entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiocirculatórias, admitem-se: o tabagismo e os hábitos alimentares com muito consumo de sal e gordura, que elevam a pressão sangüínea e o colesterol, o sedentarismo, a diabetes e a hereditariedade. À exceção da hereditariedade, os demais fatores são passíveis de serem controlados e prevenidos. Estudo do IBGE revelou que cerca da metade da população adulta do país está com peso acima do padrão recomendado para uma vida saudável. No período de 34 anos avaliado, o excesso de peso triplicou entre os homens e duplicou entre as mulheres. A obesidade já atinge 12,4% dos homens e 16,4% das mulheres brasileiras

[3].

Estimativas demonstram que a população brasileira consome cerca de 12 gramas de sal por dia, mais do que o dobro recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de até 5 gramas diárias. Para tentar diminuir esse número, o Ministério da Saúde (Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa) lançou no ano de 2011 a Campanha de Redução do Consumo de Sal. O projeto piloto, em conjunto com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), objetiva conscientizar os consumidores em relação à redução do uso do sal e orientá-los a fazer escolhas mais saudáveis ao adquirir alimentos, criando o hábito de ler a rotulagem nutricional dos alimentos industrializados e escolher aqueles com menor teor de sódio

[15].

Outro aspecto relevante é o que se refere ao envelhecimento progressivo da população, principalmente em países em desenvolvimento, fazendo aumentar o número de pessoas que passam a apresentar doenças características da terceira idade, como as doenças cardiovasculares e o câncer, por exemplo

[1].

No estado do RS, a população da terceira idade que correspondia a 7,4% da população gaúcha no início da década de 80, passou para 13,6% em 2012 (um aumento de cerca de 160,0% em 40 anos). No ano de 2012, em 81,9% dos municípios gaúchos a taxa de idosos era ≥13,0%. Em Bento Gonçalves, a população da terceira idade aumentou 82,0% entre 1980 a 2012, passando de 7,0% para 12,6%. Cada um desses fatores tem um peso “social” diferenciado na determinação das doenças do aparelho circulatório e, em particular, sobre as doenças cerebrovasculares. Em relação às condições socioeconômicas, por exemplo, observam-se taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares significativamente maiores nos estados brasileiros que possuem menores taxas de pobreza

[2].

Segundo Caplan[7]

, o atendimento às vítimas de doença cerebrovascular é considerado deficiente em todos os países, mesmo nos EUA. Além disso, fatores de risco como a hipertensão arterial e o tabagismo encontram-se mais disseminados nas populações de baixa renda. Sabe-se, por exemplo, que a hipertensão arterial sistêmica é altamente prevalente na população brasileira, e que o seu diagnóstico e tratamento precoces são essenciais para o controle da mortalidade e redução das internações por doença cerebrovascular. Segundo o Ministério da Saúde, há uma estreita associação da hipertensão com a ocorrência de quadros de AVC (85% dos pacientes com acidente vascular cerebral também apresentam hipertensão

[6]). Do mesmo modo, reconhece-se a relevância das ações voltadas a prevenção, diagnóstico

precoce e controle da hipertensão (uma redução de cerca de 4 mmHg da pressão arterial diastólica média da população resultaria em uma diminuição de 35 a 42% dos casos de acidente vascular cerebral

[6]) como

estratégia para a redução de danos à saúde da população.

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Bento Gonçalves - Mortalidade por Doenças do Aparelho Circulatório 1990 a 2012 SMS – Serviço de Vigilância Epidemiológica

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Todavia, apesar de serem medidas simples de serem adotadas, esbarram na incapacidade do modelo brasileiro de assistência à saúde, em estender, a toda população, e, em particular, a população carente, os cuidados básicos de saúde. Os dados de internação e mortalidade reforçam a importância de priorizar o controle das doenças circulatórias, com certa ênfase sobre os eventos hipertensivos e as doenças cerebrovasculares. Do ponto de vista da Saúde Pública, isto implica a implementação de programas eficazes e sistemáticos destinados a: incentivar a adoção de hábitos alimentares saudáveis; prevenir a obesidade; estimular atividade física regular; desestimular o tabagismo; e principalmente, diagnosticar, acompanhar e, quando necessário, assegurar o tratamento da hipertensão arterial e das demais doenças que interferem sobre o aparelho circulatório, como a diabetes e as dislipidemias. Neste sentido, é importante que se diga que os programas de saúde destinados ao atendimento dos portadores de hipertensão arterial e diabetes melittus estão passando por uma reestruturação, sendo a mais importante, a que vincula o fornecimento de medicamentos ao cadastramento dos pacientes nas Unidades de Saúde. 6. Principais Conclusões do Relatório sobre Mortalidade por Doenças do Aparelho Circulatório - Em relação aos óbitos por doenças do aparelho circulatório, fica evidente a sua relevância no cenário de mortalidade do município, principalmente se considerarmos que elas constituem a primeira causa de morte da população bentogonçalvense (média de 160,4 óbitos /100.000), inferior a média gaúcha (217,2/100.000) e superior a média nacional (159,8/100.000). - Entre 1990 a 2012, foram registrados 3.412 óbitos por doenças do aparelho circulatório na população residente de Bento Gonçalves. Anualmente, morrem cerca de 148 bentogonçalvenses devido a doenças do aparelho circulatório. - As mortes por doenças do aparelho circulatório responderam por 30,0% do total de mortes (por todas as causas) ocorridas na população residente do município entre 1990 a 2012. No RS (2012), as doenças do aparelho circulatório também responderam por 28,5% do total de mortes dos gaúchos. - No período de 23 anos entre 1990 a 2012, as doenças cerebrovasculares apareceram como a primeira causa de morte em 20 anos, sendo a patologia cardiocirculatória que mais vitimiza a população residente. - A incidência média da mortalidade por doenças cardiocirculatórias no grupo masculino tem sido de 160,5 óbitos por 100.000 homens, contra 160,3 óbitos por 100.000 mulheres. Apesar disso, observa-se um crescimento de 8,2% no número de óbitos femininos e uma redução de 1,4% nos óbitos masculinos. As doenças cerebrovasculares têm vitimado mais as mulheres do que os homens. - A faixa etária com o maior número absoluto de óbitos e com o maior coeficiente de mortalidade por doenças do aparelho circulatório no município tem sido a de 80 anos e mais. As doenças cerebrovasculares foram as principais responsáveis pela morte das pessoas acima dos 60 anos. - É fundamental desenvolver e integrar ações de saúde que promovam a prevenção dos principais fatores de risco relacionados às doenças circulatórias (tabagismo, maus hábitos alimentares, hipertensão arterial sedentarismo e diabetes), bem como, estimulem a aderência ao tratamento da hipertensão arterial e do diabetes como estratégias para reduzir os danos à saúde e melhorar a qualidade de vida da população.

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Gráfico 1. Mortalidade Por Doenças do Aparelho Circulatório Por 100.000 Habitantes – Bento Gonçalves, RS, Brasil, 1990 a 2012.

Gráfico 2. Mortalidade Média Trienal das Principais Doenças do Aparelho Circulatório Segundo CID 10 BR Por 100.000 Habitantes – Bento Gonçalves, 1990 a 2012.

Gráfico 3. Mortalidade Média Trienal das Doenças do Aparelho Circulatório Segundo Sexo Por 100.000 Habitantes – Bento Gonçalves, 1990 a 2012.

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Gráfico 4. Mortalidade Por Doenças do Aparelho Circulatório Por Faixa Etária Por 100.000 Habitantes – Bento Gonçalves, RS e Brasil.

Para B. Gonçalves, calculou-se o coeficiente médio etário relativo a 1990 a 2012 (valores mostrados no gráfico).

Gráfico 5. Mortalidade Média Por Doenças do Aparelho Circulatório Segundo CID 10 BR Por Faixa Etária Por 100.000 Habitantes – Bento Gonçalves, 1990 a 2012.

Calculou-se o coeficiente médio etário pelas principais patologias do aparelho circulatório relativo a 1990 a 2012.

Tabela 1. Número, Proporção e Incidência* Média de Óbitos Por Doenças do Ap. Circulatório Segundo CID 10 BR Por Sexo – Bento Gonçalves, 1990 a 2012.

Por 100.000 habitantes.

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Tabela 2. Número Total de Óbitos Por Doenças do Aparelho Circulatório Segundo CID 10 BR Por Faixa Etária (Ambos os Sexos) – Bento Gonçalves, 1990 a 2012.

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Tabela 3. Total de Óbitos Por Doenças Cerebrovasculares (DCV) Por Tipo – B. Gonçalves, 1990 a 2012.

*Exclui o acidente vascular cerebral isquêmico (I678)

Quadro 1. Ranking Municipal de Mortalidade* Pelas Patologias Mais Importantes, Bento Gonçalves, 1990, 1995, 2000, 2005, 2010, 2011 e 2012. Posição 1990 1995 2000 2005 2010 2011 2012

1º DCV DCV DCV DCV DCV DCV DCV

2º IAM IAM

DBPOC IAM

DBPOC IAM ATR

DM NTBP DM

DM

3º MD DIC NTBP ATR

NTBP NTBP ATR

IAM Neo Cólon Doe Hipert

NTBP

4º DIC ATR DIC ICC

DM IAM PNEU PNEU

5º DBPOC

ATR PNEU SUI DBPOC PNEU DIC ATR

*Para o rankiamento, foi calculado e utilizado o Coeficiente de Mortalidade Específico por 100.000 habitantes de cada patologia do CID 10. Capítulo II – Neoplasias: - NTBP: Neoplasia maligna da traquéia, brônquios e pulmões (C34) - Neo Cólon: Neoplasia maligna do colo, reto e ânus (C18-C21) Capítulo IV – Doenças Endócrinas, Metabólicas e Nutricionais: - DM: Diabete mellitus (E10-E14) Capítulo IX – Doenças do Aparelho Circulatório: - DCV: Doenças cerebrovasculares (I60-I69) - DIC: Doenças isquêmicas do coração (excluído o infarto agudo do miocárdio [I21]) (I20-I25) - IAM: Infarto agudo do miocárdio (I21) - ICC: Insuficiência Cardíaca Congestiva (I500-I509) - Doe Hipert: Doenças hipertensivas (I10-I15) Capítulo X – Doenças do Aparelho Respiratório: - DBPOC: Doença pulmonar obstrutiva crônica (J44) - PNEU: Pneumonias (J12-J18) Capítulo XVIII – Mal Definidas (MD) Capítulo XX – Causas Externas: - ATR: Acidentes de transporte (V01-V99) - HOM: Homicídios (X85-Y09) - SUI: Suicídios (X60-X84)

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2012. 4ª Revisão. Secretaria Municipal da Saúde. Serviço de Vigilância Epidemiológica. Bento Gonçalves, RS, 2013.