bens públicos

10
Finanças Públicas 5 2. As necessidades colectivas São aquelas que se apresentam como estados de carência ou insuficiência sentidos pela colectividade, e cuja satisfação é tida como factor de desenvolvimento e estabilidade. Para serem satisfeitas em condições julgadas convenientes, o Estado cobre todo ou parte do custo de produção dos bens que as podem suprir. São, portanto, necessidades de satisfação passiva, uma vez que a afectação dos bens que as satisfazem é feita sem intervenção directa dos sujeitos que as sentem, cabendo a disponibilização desses bens ao Estado e outros entes públicos. 3. Os bens públicos Bens públicos são todos aqueles que o estado e outros entes públicos afectam à satisfação das necessidades colectivas ou todos aqueles que integram o património da administração pública directa e indirecta. Ex.: estradas, hospitais públicos, escolas públicas, etc. Os bens públicos subdividem-se em: a) Bens públicos propriamente ditos – são os que se limitam a satisfazer as necessidades colectivas. O consumo destes bens por um indivíduo não afecta o seu acesso por outro. Todos usufruem dos bens e não há como o governo mensurar o quanto cada indivíduo o usa e assim tributá-lo, podendo ser usados ______________________________________________________________________ _______________ ECF – 4º ano, PL | Amélia Baptista, Ilidio Malunguisse

Upload: ilidiomoz

Post on 04-Jul-2015

643 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Bens públicos

Finanças Públicas 5

2. As necessidades colectivas

São aquelas que se apresentam como estados de carência ou insuficiência sentidos pela

colectividade, e cuja satisfação é tida como factor de desenvolvimento e estabilidade. Para serem

satisfeitas em condições julgadas convenientes, o Estado cobre todo ou parte do custo de

produção dos bens que as podem suprir. São, portanto, necessidades de satisfação passiva, uma

vez que a afectação dos bens que as satisfazem é feita sem intervenção directa dos sujeitos que as

sentem, cabendo a disponibilização desses bens ao Estado e outros entes públicos.

3. Os bens públicos

Bens públicos são todos aqueles que o estado e outros entes públicos afectam à satisfação das

necessidades colectivas ou todos aqueles que integram o património da administração pública

directa e indirecta.

Ex.: estradas, hospitais públicos, escolas públicas, etc.

Os bens públicos subdividem-se em:

a) Bens públicos propriamente ditos – são os que se limitam a satisfazer as necessidades

colectivas. O consumo destes bens por um indivíduo não afecta o seu acesso por outro.

Todos usufruem dos bens e não há como o governo mensurar o quanto cada indivíduo o

usa e assim tributá-lo, podendo ser usados mesmo por aquele que não é tributado. Ex.:

iluminação pública.

b) Bens semi-públicos – são os que atendem ao princípio de exclusão ou seja excluem do

usufruto aqueles que não pagam. Ex.: educação e saúde.

3.1 Caracterização

Os bens públicos apresentam as seguintes características:

a) Prestam utilidades indivisíveis – todos os indivíduos tem acesso aos bens públicos à

mesma disponibilidade, isto é, os bens públicos não são susceptíveis de serem utilizados

por um só indivíduo isoladamente. Ex.: a iluminação pública.

_____________________________________________________________________________________ECF – 4º ano, PL | Amélia Baptista, Ilidio Malunguisse

Page 2: Bens públicos

Finanças Públicas 6

b) São não exclusivos – dos bens públicos ninguém pode ser privado. Ex.: o estado de

segurança nacional que é garantido pelo exército e pela polícia é usufruído por todos sem

nenhuma exclusão.

c) São bens não emulativos – para usufruir das vantagens da sua utilização os sujeitos não

entram em concorrência uns com os outros, pois não se trata de bens oferecidos no

mercado, mas sim criados, sustentados e oferecidos por pessoas dotadas de autoridade

que definirão e imputarão as utilidades que eles prestam e cobrarão continuamente o

montante do seu financiamento.

 

3.2 Os meios de financiamento dos bens públicos

Os bens públicos são financiados por três tipos de receitas públicas, nomeadamente, as receitas

patrimoniais, as receitas tributárias e as receitas creditícias.

a) Receitas patrimoniais – são valores que o estado recebe pela prestação de serviços,

venda de bens e produtos sob o seu domínio ou pela utilização individual do património

público. As receitas patrimoniais são voluntárias, pois surgem da manifestação de

vontade de um determinado indivíduo em usufruir de um produto, bem ou serviço que

esteja sob domínio do estado.

b) Receitas tributárias (impostos e taxas) – são valores provenientes do cumprimento de

obrigações impostas por lei aos cidadãos. São, portanto, receitas coativas.

Os impostos – são prestações coativas, unilaterais, sem fins de punição, que são impostas

aos indivíduos em relação aos quais se verificam certos pressupostos, previstos na lei e

que exprimem determinadas situações de riqueza.

As taxas – são prestações do mesmo tipo que os impostos mas que se diferem daqueles

pelo facto de que os particulares a quem são exigidas auferem uma determinada utilidade

relacionada com o funcionamento de um serviço ou utilização de um bem.

c) Receitas creditícias – são resultantes dos empréstimos contraídos pelo estado para cobrir

défices orçamentais ou de tesouraria, ou ainda para esterilizar o poder de compra e

combater a inflação. Podem ser portanto, receitas voluntárias ou coativas.

_____________________________________________________________________________________ECF – 4º ano, PL | Amélia Baptista, Ilidio Malunguisse

Page 3: Bens públicos

Finanças Públicas 7

4. O liberalismo e as finanças neutrais ou clássicas

O liberalismo é um sistema político-económico baseado na defesa da liberdade individual, nos

campos económico, político e intelectual, contra a interferência e atitudes coercitivas do poder

estatal.

As finanças públicas correspondentes ao período do liberalismo económico (sec. XIX ao início

do sec. XX), são designadas por finanças públicas clássicas e estão ligadas à concepção de

Estado defendida por economistas clássicos, com destaque para Adam Smith, Jean Baptiste Say

e David Ricardo.

Segundo Adam Smith, os agentes económicos actuando livremente no mercado, chegariam a

uma situação de eficiência, dispensando assim a acção do Estado para esse efeito. Assim,

actuando de forma livre, os mercados seriam regidos como se por uma mão invisível que o

regula automaticamente sempre chegando a situação óptima ou de máxima eficiência.

4.1 Princípios das finanças neutrais ou clássicas

As clássicas caracterizam-se por quatro princípios fundamentais:

a) Privatização da economia – o estado devia simplesmente criar as condições para manter

a sociedade organizada e estável, defender a propriedade e iniciativas privadas, dedicar-

se apenas às actividades que não apresentam interesse para a iniciativa privada ou que à

sociedade não convém que os particulares a desenvolvam.

b) Sector público reduzido – limitando-se a actividade do estado à gestão administrativa, à

defesa e segurança públicas, justiça e diplomacia.

c) Princípio do mínimo – de acordo com este princípio, tanto quantitativa como

qualitativamente, a actividade financeira do estado devia absorver a menor parcela

possível do rendimento nacional.

d) Simplicidade das Finanças Públicas – corresponde a uma administração financeira do

estado com funções bastante reduzidas.

_____________________________________________________________________________________ECF – 4º ano, PL | Amélia Baptista, Ilidio Malunguisse

Page 4: Bens públicos

Finanças Públicas 8

5. A transição para as finanças modernas

A transição das finanças neutrais para as finanças modernas ou intervencionistas foi determinada

pelos seguintes factores:

a) A passagem do sufrágio de censitário a universal – o voto passa a ser garantido não só

pelas classes possuidoras mas também pela classe operária e para conquistar o voto desta

última classe, o governo no poder cria certos benefícios que aumentam a despesa pública,

nomeadamente a instrução e a assistência médica gratuitas entre outros, abrindo-se deste

modo o caminho para o alargamento do sector público;

b) O reconhecimento pelos clássicos de que a distribuição da riqueza, exclusivamente

fundada no funcionamento do mercado, não era a mais desejável do ponto de vista do

equilíbrio geral;

c) A existência de muitos monopólios e oligopólios, o que levou à subida de preços,

aumentou a necessidade da intervenção do estado como regulador e como agente

económico, dedicando-se a actividades que exigiam grandes quantidades de capital e que

pudessem concorrer com as grandes organizações monopolistas.

d) Após os efeitos nefastos das guerras, o liberais sentiram já a necessidade de que o estado

lhes garantisse a paz, liberdade e segurança.

e) O surgimento de novas teorias económicas com maior ênfases nas de Keynes, que

defendiam a existência de um “estado do bem estar” (welfare state), reafirmando a

necessidade da intervenção do governo com vista a corrigir os desequilíbrios, dos quais o

subemprego era a manifestação mais visível. Foi com estas teorias que se desenvolveu a

ideia de que o recurso ao empréstimo e à emissão da moeda em certas circunstâncias

podia ser benéfico à economia.

6. As finanças intervencionistas

As Finanças Intervencionistas ou activas – têm a sua génese nas teorias keynesianas dos anos 30

do séc. XX e defendiam políticas económicas com vista à construção de um “estado do bem estar

social” – (Well fare state).

_____________________________________________________________________________________ECF – 4º ano, PL | Amélia Baptista, Ilidio Malunguisse

Page 5: Bens públicos

Finanças Públicas 9

6.1 Princípios fundamentais das finanças intervencionistas

a) A regra do mínimo é substituída pela regra do estado óptimo – o estado procura, com a sua

intervenção directa, suprir as falhas do mercado;

b) Alargamento do sector público, motivado pelas novas funções assumidas pelo estado;

c) O estado passa a intervir directamente na economia, abandonando o seu papel abstencionista e

assumindo um papel de relevo na actividade económica.

_____________________________________________________________________________________ECF – 4º ano, PL | Amélia Baptista, Ilidio Malunguisse

Page 6: Bens públicos

Finanças Públicas 10

CONCLUSÃO

Os bens públicos, apesar da indivisibilidade que lhes é característica, podem prestar utilidades

individuais. É o caso dos bens semi-públicos.

Importa salientar que o uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou oneroso, conforme for

estabelecido por meio da lei da pessoa jurídica à qual o bem pertencer. Ex: o uso do zoológico é

oneroso.

A introdução das receitas tributárias como meio de financiamento dos bens públicos deveu-se

essencialmente à insuficiência das receitas patrimoniais, as quais tornaram-se muito mais baixas

desde a afirmação do liberalismo. Hoje em dia, as receitas tributárias apresentam a parte mais

significativa das receitas públicas e em Moçambique apresentaram um aumento considerável

desde o último trimestre do ano passado.

A intervenção do estado no domínio económico é muito importante, não só em questões de

regulação e controle, mas também para a criação e execução de políticas de distribuição do

rendimento que reduzam as desigualdades sociais.

_____________________________________________________________________________________ECF – 4º ano, PL | Amélia Baptista, Ilidio Malunguisse

Page 7: Bens públicos

Finanças Públicas 11

BIBLIOGRAFIA

RIBEIRO, J.A.T; Lições de Finanças Públicas, 5ª edição, Coimbra Editora, 1995.

SOUSA, D.P; Finanças Públicas, Universidade Técnica de Lisboa.

_____________________________________________________________________________________ECF – 4º ano, PL | Amélia Baptista, Ilidio Malunguisse