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Gustavo Santanna Regular Verbo Jurídico [email protected] 1 BENS PÚBLICOS Introdução O conceito legal de bem público art. 98 do Código Civil: são bens públicos do domínio nacional, pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem. Alguns doutrinadores consideram bens públicos os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público (União, Estados, Distrito Federal, Municípios suas autarquias e fundações). Outros entendem que todos os bens da administração direta e indireta (incluindo, então, empresas públicas, sociedades de economia mista, etc.). Há ainda uma terceira corrente, que considera bem público além dos bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público, os bens, que mesmo não pertencentes a estas pessoas, estejam afetados para a prestação de serviços públicos (por exemplo, bens de empresas públicas e sociedades de economia mista que prestem serviços públicos). Há ainda outra conceituação que merece destaque: o conceito de domínio público. O termo domínio público tem conceituação mais ampla que bem público, ainda que muitas vezes sejam utilizados como sinônimos. Domínio público é o conjunto de bens sujeitos ou pertencentes ao Estado. Logo, bem é a coisa propriamente dita, enquanto domínio é o direito que se exerce sobre esta coisa. 1 A expressão domínio público possui os seguintes desdobramentos: domínio público eminente é o poder político que o Estado exerce sobre todas as coisas de seu território, uma manifestação de Soberania Nacional, o que justificaria as limitações ao uso da propriedade privada como as servidões, a desapropriação, etc.; domínio patrimonial é o poder exercido pelo Estado sobre os seus próprios bens. O domínio público em sentido amplo é o poder de dominação ou de regulamentação que o estado exerce sobre os bens do seu patrimônio (bens públicos), ou sobre os bens do seu patrimônio privado (bens particulares de interesse público), ou sobre as coisas inapropriaveis individualmente, mas de fruição geral da coletividade (res nullius). Neste sentido amplo e genérico o domínio público abrange não só os bens das pessoas jurídicas de direito público interno como as demais coisas que coisas que, por sua utilidade coletiva, merecem a proteção do poder público, tais como as águas, as jazidas, as florestas, a fauna, o espaço aéreo e as que interessam ao patrimônio histórico e artístico nacional. 1 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 35.ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 521.

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Gustavo Santanna Regular Verbo Jurídico [email protected]

1

BENS PÚBLICOS

Introdução

O conceito legal de bem público art. 98 do Código Civil: são bens públicos do

domínio nacional, pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos

os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.

Alguns doutrinadores consideram bens públicos os bens pertencentes às

pessoas jurídicas de direito público (União, Estados, Distrito Federal, Municípios suas

autarquias e fundações). Outros entendem que todos os bens da administração direta

e indireta (incluindo, então, empresas públicas, sociedades de economia mista, etc.).

Há ainda uma terceira corrente, que considera bem público além dos bens

pertencentes às pessoas jurídicas de direito público, os bens, que mesmo não

pertencentes a estas pessoas, estejam afetados para a prestação de serviços públicos

(por exemplo, bens de empresas públicas e sociedades de economia mista que

prestem serviços públicos).

Há ainda outra conceituação que merece destaque: o conceito de domínio

público. O termo domínio público tem conceituação mais ampla que bem público,

ainda que muitas vezes sejam utilizados como sinônimos. Domínio público é o

conjunto de bens sujeitos ou pertencentes ao Estado. Logo, bem é a coisa

propriamente dita, enquanto domínio é o direito que se exerce sobre esta coisa.1

A expressão domínio público possui os seguintes desdobramentos: domínio

público eminente é o poder político que o Estado exerce sobre todas as coisas de seu

território, uma manifestação de Soberania Nacional, o que justificaria as limitações ao

uso da propriedade privada como as servidões, a desapropriação, etc.; domínio

patrimonial é o poder exercido pelo Estado sobre os seus próprios bens.

O domínio público em sentido amplo é o poder de dominação ou de regulamentação

que o estado exerce sobre os bens do seu patrimônio (bens públicos), ou sobre os bens do seu

patrimônio privado (bens particulares de interesse público), ou sobre as coisas inapropriaveis

individualmente, mas de fruição geral da coletividade (res nullius). Neste sentido amplo e

genérico o domínio público abrange não só os bens das pessoas jurídicas de direito público

interno como as demais coisas que coisas que, por sua utilidade coletiva, merecem a proteção

do poder público, tais como as águas, as jazidas, as florestas, a fauna, o espaço aéreo e as que

interessam ao patrimônio histórico e artístico nacional.

1 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 35.ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 521.

Gustavo Santanna Regular Verbo Jurídico [email protected]

2

Para Hely Lopes Meirelles,2 o domínio público exterioriza-se, assim, o domínio

público em poderes de soberania e em direitos de propriedade. Aqueles se exercem sobre todas

as coisas de interesse público, sob a forma de domínio eminente; estes só incidem sobre os

bens pertencentes às entidades públicas, sob a forma de domínio patrimonial. O domínio

eminente é o poder político pelo qual o estado submete à sua vontade todas as coisas de seu

território. É uma das manifestações da soberania interna; não é direito de propriedade. Como

expressão da soberania nacional, não encontra limites senão no ordenamento jurídico-

constitucional estabelecido pelo próprio Estado. Esse domínio alcança não só os bens

pertencentes às entidades públicas como a propriedade privada e as coisas inapropriaveis, de

interesse público. O domínio patrimonial do Estado sobre seus bens é direito de propriedade,

mas direito de propriedade pública, sujeito a um regime administrativo especial. A esse regime

subordinam-se todos os bens das pessoas administrativas, assim considerados bens públicos e,

como tais, regidos pelo direito público, embora supletivamente se lhes aplicarem algumas

regras da propriedade privada. Mas advirta-se que as normas civis não regem o domínio

público; suprem, apenas, as omissões das leis administrativas.

Administração dos bens públicos3

No conceito de administração de bens compreende-se, normalmente, o poder de

utilização e conservação das coisas administradas, diversamente da idéia de propriedade, que

contém, além desse, o poder de oneração e disponibilidade e a faculdade de aquisição. Daí por

que os atos triviais de administração, ou seja, de utilização e conservação do patrimônio

público, independem de autorização especial, ao passo que os de alienação, oneração e

aquisição exigem, em regra, lei autorizadora e licitação para o contrato respectivo.

Em sentido estrito, a administração dos bens públicos admite unicamente sua

utilização e conservação segundo a destinação natural ou legal de cada coisa, e em sentido

amplo abrange também a alienação dos bens que se revelarem inúteis ou inconvenientes ao

domínio público e a aquisição de novos bens, necessários ao serviço público. Quanto à

oneração, não admitidos que possa incidir sobre o bem público, salvo quando incorporado a

empresa estatal.

Classificação dos bens públicos

Quanto à titularidade

Federais: constantes de forma não taxativa no art. 20 da CRFB/88, que assim

afirma: os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos.

2 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 35.ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 522

e 523. 3 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 35.ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 528

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3

Estaduais: constantes no art. 26 da CRFB/88.

Distritais: previstos no art. 16, §3º do ADCT.

Municipais: sem previsão constitucional.

Quanto à destinação (art. 99 do Código Civil)

Bens de uso comum do povo: aqueles destinados ao uso da coletividade em

igualdade de condições. São os bens destinados à utilização geral pelos

indivíduos, normalmente gratuita (art. 103 do Código Civil) como mar, praias, ruas,

praças, rios, estradas e o meio ambiente.

Bens de uso especial: visam à execução dos serviços públicos. São os prédios

onde funcionam as repartições públicas, teatros, escolas, museus, quartéis,

cemitérios, aeroportos, etc.

Bens dominicais ou dominiais: diferentemente dos demais, não possuem

destinação pública específica, e por isso podem ser utilizados de qualquer forma,

ou até alienados pela Administração (art. 101 do CCB). Recebem também a

denominação de bens do patrimônio disponível ou bens do patrimônio fiscal. São

os prédios desativados, bens móveis inservíveis e as terras devolutas: não são

destinadas a qualquer uso pelo Poder Público nem incorporadas ao domínio

privado. Pertencem à União as indispensáveis à defesa das fronteiras, das

fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à

preservação ambiental (art. 20, II, da CRFB/88). As demais pertencem aos

Estados-Membros (art. 26, IV da CRFB/88).4

Art. 225, § 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos

4 Terras devolutas. Terras devolutas são todas aquelas que, pertencentes ao domínio público de

qualquer das entidades estatais, não se acham utilizadas pelo poder público, nem destinadas a fins

administrativos específicos. São bens públicos patrimoniais ainda não utilizados pelos respectivos

proprietários. Tal conceito nos foi dado pela lei Imperial 601, de 18.9.1850, e tem sido aceito

uniformemente pelos civilistas. Essas terras, até a proclamação da República, pertenciam à Nação; pela

constituição de 1891 foram transferidas aos Estados-membros (art.64) e alguns destes as traspassaram,

em parte, aos municípios. Constituem, todavia, domínio da União as terras devolutas dos territórios

federais e as que forem por lei declaradas indispensáveis à segurança e ao desenvolvimento nacionais,

nos termos do art. 20, II, da CF. Dentre estas últimas, de acordo com o Dec.-lei 2.375, de 24.11.87, estão

as terras devolutivas incluídas na faixa de fronteira e as contidas nos Municípios que especifica. O

deslinde das terras da União, dos Estados ou Municípios faz-se por meio da ação discriminatória,

regulada pela Lei 6.383, de 7.12.76, ação, essa, que se inicia com o chamamento dos interessados para

exibir seus títulos de propriedade e termina com o julgamento do domínio e subseqüente demarcação

para o registro, como dispõe a Lei 5.972, de 11.12.73. No âmbito federal a discriminação de terras é

promovida pelo INCRA. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 35.ed. São Paulo:

Malheiros, 2009, p. 555 e 556.

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Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas

naturais.

São também indisponíveis as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios (art.

231, §4º, da CRFB/88), e por isso são absolutamente inalienáveis

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

§ 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

§ 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.

§ 4º - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.

§ 5º - É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad referendum" do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.

§ 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.

§ 7º - Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.

Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.

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ADI 255 / RS - RIO GRANDE DO SUL AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO Relator(a) p/ Acórdão: Min. RICARDO LEWANDOWSKI Julgamento: 16/03/2011 Órgão Julgador: Tribunal Pleno

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INCISO X DO ART. 7º DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. BENS DO ESTADO. TERRAS DOS EXTINTOS ALDEAMENTOS INDÍGENAS. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 20, I E XI, 22, CAPUT E INCISO I, E 231 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INTERPRETAÇÃO CONFORME. EXTINÇÃO OCORRIDA ANTES DO ADVENTO DA CONSTITUIÇÃO DE 1891. ADI JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. I - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, por diversas vezes, reconheceu que as terras dos aldeamentos indígenas que se extinguiram antes da Constituição de 1891, por haverem perdido o caráter de bens destinados a uso especial, passaram à categoria de terras devolutas. II - Uma vez reconhecidos como terras devolutas, por força do artigo 64 da Constituição de 1891, os aldeamentos extintos transferiram-se ao domínio dos Estados. III – ADI julgada procedente em parte, para conferir interpretação conforme à Constituição ao dispositivo impugnado, a fim de que a sua aplicação fique adstrita aos aldeamentos indígenas extintos antes da edição da primeira Constituição Republicana.

Quanto à disponibilidade

Bens indisponíveis por natureza: são aqueles que, por não possuírem caráter

patrimonial, a Administração não pode deles dispor. Os bens de uso comum do

povo são, em regra, absolutamente indisponíveis.

Bens patrimoniais indisponíveis: ainda que sejam bens com natureza

patrimonial, a Administração Pública não pode deles dispor por estarem afetados

a uma destinação pública específica. São os bens móveis ou imóveis de uso

especial e os bens de uso comum do povo suscetíveis de avaliação patrimonial

(art. 100 do CCB).

Bens patrimoniais disponíveis: contrariamente aos bens patrimoniais

indisponíveis, a Administração pode aliená-los (na forma e nas condições

constantes em lei) por não estarem afetados, ou seja, não possuírem destinação

pública específica. São os bens dominicais em geral.

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Afetação e Desafetação

Diz respeito ao destino dado aos bens públicos. Afetação é a atribuição

explícita (por lei, por ato administrativo, etc.) ou implícita (o Poder Público

simplesmente passa a utilizar um bem sem manifestação formal) de uma destinação

específica de um bem público.

Se um bem público estiver sendo utilizado para determinado fim público, o

bem estará afetado. A retirada desta destinação pública corresponde à desafetação.

Portanto, desafetado é o bem que não possui qualquer fim público.

Tanto a afetação como a desafetação podem se dar tanto por ato

administrativo (lei ou decreto, por exemplo) como por fato administrativo (o poder

público simplesmente constrói um cemitério em um terreno, ou quando há um incêndio

que destrua inteiramente um prédio escolar).5

A desafetação é a mudança da destinação do bem. De regra, a desafetação visa a incluir bens de uso comum do povo ou bens de uso especial na categoria de bens dominicais para possibilitar a alienação. A desafetação pode advir de manifestação explicita, como no caso de autorização legislativa para venda de bem de uso especial, na qual esta contida a desafetação para bem dominical; ou decorrer de conduta da administração como na hipótese de operação urbanística que torna inviável o uso de uma rua próxima como via de circulação.

6

Enquanto possuírem destinação específica ou afetação os bens públicos não

podem ser alienados, por serem considerados bens fora do comércio. Para a

alienação de qualquer bem de uso comum do povo ou de uso especial exige-se a

prévia desafetação.

Características

Inalienabilidade: o administrador público não dispõe livremente dos bens

públicos. Muito pelo contrário, ao administrador cabe o dever de guardá-los e

conservá-los. A regra é que os bens públicos não possam ser vendidos, doados

ou permutados. Entretanto, esta inalienabilidade não é absoluta, pois poderão ser

objeto de alienação os bens que sejam suscetíveis de valorização econômica

(excluem-se o mar e os rios, por exemplo), desde que desafetados e ainda

obedeçam aos devidos trâmites legais como prévia avaliação e interesse público.

5 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 22.ed. São Paulo: Atlas, 2009, p.673, não

aceita a desafetação por não-uso 6 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 12.ed. São Paulo: RT, 2008, p. 241.

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Impenhorabilidade: sobre os bens públicos não pode recair nenhuma penhora.

Isto acontece porque segundo dispõe o art. 100 da CRFB/88, a forma com que a

Fazenda Pública satisfaz seus débitos em virtude de sentença judicial é através

do sistema de pagamento de precatórios. O art. 649 do Código de Processo Civil

afirma que os bens inalienáveis são impenhoráveis.

Não-onerabilidade: os bens públicos não podem ser gravados, ou seja, não

podem ser oferecidos como garantia (penhor, hipoteca) para eventual credor. Da

mesma forma como acontece com a impenhorabilidade o Código Civil no art.

1.420, diz que só podem ser objeto de penhor, hipoteca ou anticrese os bens

passíveis de alienação, característica que os bens públicos não possuem.

Imprescritibilidade: com esta característica os bens públicos são insuscetíveis

de aquisição por usucapião (o transcurso de tempo não transfere a propriedade –

prescrição aquisitiva da propriedade). Neste sentido a CRFB/88 nos arts. 183, §3º

e 191, o CCB no art. 102 e ainda a Súmula nº 340 do STF.

Uso dos bens públicos

Existem determinadas formas que particulares podem fazer uso privativo de

um bem público. Salienta-se que não é o caso do pagamento do pedágio, pois o uso

livre de qualquer bem público, além de ser gratuito, também pode ser remunerado. O

uso livre, neste caso, quer dizer que independe de outro ato administrativo que permita

a utilização do bem, o que não exclui a remuneração para ou pelo uso.

Uso especial – uso especial é todo aquele que, por um titulo individual, a administração atribui a determinada pessoa para fruir de um bem público com exclusividade, nas condições convencionadas. É também uso especial aquele a que a administração impõe restrições ou para o qual exige pagamento, bem como o que ela mesma faz de seus bens para a execução dos serviços públicos, como é o caso dos edifícios, veículos e equipamentos utilizados por suas repartições, mas aqui só nos interessa a utilização do domínio público por particulares com privacidade. Todos os bens públicos, qualquer que seja sua natureza, são passiveis de uso especial por particulares, desde que a utilização concedida pela administração não os leve a inutilização ou destruição, caso em que se converteria em alienação. O Dec. - lei 1.561, de 13.7.77, dispõe sobre a ocupação de terrenos da União e a Lei 9.636, de 15.5.98, dispõe sobre a regularização, administração, aforamento e alienação de bens imóveis de domínio da União, altera dispositivos dos Decs. -leis 9.760, de 5.9.46, e 2.398, de 21.12.87, e regulamenta o § 2º do art. 49 do ADCT.7

7 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 35.ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 530

e 531.

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Autorização de uso: ato unilateral, discricionário e precário, independentemente

de licitação ou autorização legislativa, pelo qual a Administração Pública no

interesse do particular, transfere o uso de bem público por um período de curta

duração. São exemplos: o uso de área municipal para instalação de um circo, o

fechamento de uma rua para efetuar uma feira livre, etc.

Permissão de uso: ato unilateral, discricionário, precário, gratuito ou oneroso, por

prazo determinado ou não, pelo qual a Administração Pública, no interesse da

coletividade, transfere o uso de bem público, mediante certas condições ou não.

Independe de autorização legislativa, mas deve ocorrer procedimento licitatório

(art. 17, I, f da Lei nº 8.666/93) quando houver mais de um interessado, para

assegurar o tratamento isonômico entre os interessados. São exemplos: a

permissão para instalação de bancas de jornal, mesas e cadeiras em frente aos

restaurantes, etc.Não confunda a permissão de uso de bem público com a

permissão de prestação de serviço público da Lei nº 8.987/95, formalizada

mediante contrato de concessão

Concessão de uso: é contrato administrativo no qual o Poder Público transfere a

particular o uso exclusivo de um bem para que este explore segundo sua

destinação, nos termos e condições previamente estabelecidas. É dependente,

em regra, de autorização legislativa e de procedimento licitatório, podendo ser de

forma gratuita ou onerosa. É o caso dos boxes de um mercado municipal,

restaurantes em aeroportos, lanchonetes em rodoviárias e escolas, etc.

A concessão de uso gratuito não é sinônimo de comodato, assim como a

concessão de uso onerosa não o é de locação. Tanto o comodato como a locação,

embora de aplicação não vedada pela legislação à Administração Pública, são

institutos de natureza de direito privado. Existe, ainda, de natureza privada a

enfiteuse prevista no art. 49, §3º, do ADCT e o aforamento mencionado na Lei nº

9.760/46 arts. 64, §1º e 96.

O que caracteriza a concessão de uso e a distingue dos demais institutos

assemelhados – autorização e permissão de uso – é o caráter contratual e estável

da outorga do uso do bem público ao particular, para que o utiliza com

exclusividade e nas condições convencionadas com a administração.

A concessão pode ser remunerada ou gratuita, por tempo certo ou

indeterminado, mas deverá ser sempre precedida de autorização legal e,

normalmente, de licitação para o contrato. Sua outorga não é nem

discricionária nem precária, pois obedece a normas regulamentares e

tem a estabilidade relativa dos contratos administrativos, gerando

direitos individuais e subjetivos para o concessionário, nos termos do

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ajuste. Tal contrato confere ao titular da concessão de uso um direito

pessoal de uso especial sobre o bem público, privativo e intransferível

sem prévio consentimento da administração, pois é realizado (intuitu

personae), embora admita fins lucrativos. É o que ocorre com a

concessão de uso remunerado de um hotel municipal, de áreas em

mercado ou de locais para bares e restaurantes em edifícios ou

logradouros públicos.

Erroneamente, as administrações têm feito concessões remuneradas de

uso de seus bens sob a imprópria denominação de locação, pretendendo

submetê-las ao Código Civil ou às leis do inquilinato e até mesmo à lei de

locações para fins comerciais, o que é inadmissível tratando-se de uso

especial de bem público. Também não se deve confundir a concessão

gratuita de uso com o comodato, pois são institutos diferentes e sujeitos

a normas diversas. 8

A locação e o comodato são contratos de direito privado, impróprios e inadequados

para a atribuição de uso especial de bem público a particular; em seu lugar deve ser sempre

adotada a concessão de uso, remunerada ou gratuita, conforme o caso.

Concessão de direito real de uso: criada pelo Decreto-Lei nº 271/67, se aplica a

bens imóveis não construídos ou sobre o espaço aéreo que se ergue acima da

superfície. É contrato administrativo, remunerado ou gratuito, precedido por

licitação (com a ressalva do art. 17, I, f e §2º da Lei nº 8.666/93), mediante lei

autorizadora, pela qual a Administração Pública concede ao particular o uso de

terrenos públicos para que os utilize com o fim de regularização fundiária de

interesse social, urbanização, industrialização, edificação, cultivo de terra,

aproveitamento sustentável das várzeas, bem como outras modalidades de

interesse social em áreas urbanas.

Concessão de uso especial para fins de moradia: figura criada pela MP nº

2.220/01 com o objetivo de regularizar a ocupação ilegal de terrenos públicos, em

atenção ao disposto no art. 183 da CRFB/88. Provadas as condições exigidas na

medida provisória (art. 1º), o possuidor passa a ter direito à concessão (ato

administrativo vinculado).

Art. 1o Aquele que, até 30 de junho de 2001, possuiu como seu, por cinco

anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinqüenta metros

8 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 35.ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 534,

535 e 536.

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quadrados de imóvel público situado em área urbana, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, tem o direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural. § 1

o A concessão de uso especial para fins de moradia será

conferida de forma gratuita ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2

o O direito de que trata este artigo não será reconhecido ao

mesmo concessionário mais de uma vez. § 3

o Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de

pleno direito, na posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão. Art. 2

o Nos imóveis de que trata o art. 1

o, com mais de duzentos e

cinqüenta metros quadrados, que, até 30 de junho de 2001, estavam ocupados por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por possuidor, a concessão de uso especial para fins de moradia será conferida de forma coletiva, desde que os possuidores não sejam proprietários ou concessionários, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural. § 1

o O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este

artigo, acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas. § 2

o Na concessão de uso especial de que trata este artigo, será

atribuída igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os ocupantes, estabelecendo frações ideais diferenciadas. § 3

o A fração ideal atribuída a cada possuidor não poderá ser

superior a duzentos e cinqüenta metros quadrados. Art. 3

o Será garantida a opção de exercer os direitos de que tratam

os arts. 1o e 2

o também aos ocupantes, regularmente inscritos, de imóveis

públicos, com até duzentos e cinqüenta metros quadrados, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que estejam situados em área urbana, na forma do regulamento. Art. 4

o No caso de a ocupação acarretar risco à vida ou à saúde dos

ocupantes, o Poder Público garantirá ao possuidor o exercício do direito de que tratam os arts. 1

o e 2

o em outro local.

Art. 5o É facultado ao Poder Público assegurar o exercício do direito

de que tratam os arts. 1o e 2

o em outro local na hipótese de ocupação de

imóvel: I - de uso comum do povo; II - destinado a projeto de urbanização; III - de interesse da defesa nacional, da preservação ambiental e da proteção dos ecossistemas naturais; IV - reservado à construção de represas e obras congêneres; ou V - situado em via de comunicação. Art. 6

o O título de concessão de uso especial para fins de moradia

será obtido pela via administrativa perante o órgão competente da Administração Pública ou, em caso de recusa ou omissão deste, pela via judicial. § 1

o A Administração Pública terá o prazo máximo de doze meses

para decidir o pedido, contado da data de seu protocolo. § 2

o Na hipótese de bem imóvel da União ou dos Estados, o

interessado deverá instruir o requerimento de concessão de uso especial para fins de moradia com certidão expedida pelo Poder Público municipal, que ateste a localização do imóvel em área urbana e a sua destinação para moradia do ocupante ou de sua família.

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§ 3o Em caso de ação judicial, a concessão de uso especial para fins

de moradia será declarada pelo juiz, mediante sentença. § 4

o O título conferido por via administrativa ou por sentença judicial

servirá para efeito de registro no cartório de registro de imóveis. Art. 7

o O direito de concessão de uso especial para fins de moradia é

transferível por ato inter vivos ou causa mortis. Art. 8

o O direito à concessão de uso especial para fins de moradia

extingue-se no caso de: I - o concessionário dar ao imóvel destinação diversa da moradia para si ou para sua família; ou II - o concessionário adquirir a propriedade ou a concessão de uso de outro imóvel urbano ou rural. Parágrafo único. A extinção de que trata este artigo será averbada no cartório de registro de imóveis, por meio de declaração do Poder Público concedente. Art. 9

o É facultado ao Poder Público competente dar autorização de

uso àquele que, até 30 de junho de 2001, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinqüenta metros quadrados de imóvel público situado em área urbana, utilizando-o para fins comerciais. § 1

o A autorização de uso de que trata este artigo será conferida de

forma gratuita. § 2

o O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este

artigo, acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas. § 3

o Aplica-se à autorização de uso prevista no caput deste artigo,

no que couber, o disposto nos arts. 4o e 5

o desta Medida Provisória.

Concessão florestal: trazida pela Lei nº 11.284/06 é a delegação onerosa do

direito de praticar manejo florestal sustentável para exploração de produtos ou

serviços em unidade de manejo, formalizada por contrato e mediante prévia

licitação. Quanto à obrigatoriedade de autorização pelo poder legislativo constante

no art. 49, XVII, da CRFB/88, entendeu o STF na STA nº 235/RO pela sua

desnecessidade.

DAS CONCESSÕES FLORESTAIS Seção I

Disposições Gerais Art. 7º A concessão florestal será autorizada em ato do poder concedente e formalizada mediante contrato, que deverá observar os termos desta Lei, das normas pertinentes e do edital de licitação. Parágrafo único. Os relatórios ambientais preliminares, licenças ambientais, relatórios de impacto ambiental, contratos, relatórios de fiscalização e de auditorias e outros documentos relevantes do processo de concessão florestal serão disponibilizados por meio da Rede Mundial de Computadores, sem prejuízo do disposto no art. 25 desta Lei. Art. 8º A publicação do edital de licitação de cada lote de concessão florestal deverá ser precedida de audiência pública, por região, realizada pelo órgão gestor, nos termos do regulamento, sem prejuízo de outras formas de consulta pública. STA 235 / RO - RONDÔNIA SUSPENSÃO DE TUTELA ANTECIPADA Relator(a): Min. PRESIDENTE Julgamento: 05/05/2008

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A base normativa que fundamenta o instituto da suspensão (Leis 4.348/64, 8.437/92, 9.494/97 e art. 297 do RI-STF) permite que a Presidência do Supremo Tribunal Federal, para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas, suspenda a execução de decisões concessivas de segurança, de liminar ou de tutela antecipada, proferidas em única ou última instância, pelos tribunais locais ou federais, quando a discussão travada na origem for de índole constitucional. Assim, é a natureza constitucional da controvérsia que justifica a competência do Supremo Tribunal Federal para apreciar o pedido de contracautela, conforme a pacificada jurisprudência desta Corte, destacando-se os seguintes julgados: Rcl 497-AgR/RS, rel. Min. Carlos Velloso, Plenário, DJ 06.4.2001; SS 2.187-AgR/SC, rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 21.10.2003; e SS 2.465/SC, rel. Min. Nelson Jobim, DJ 20.10.2004. Embora ainda não se tenha contemplado a questão com a necessária atenção, é certo que se, de um lado, a transferência para o Superior Tribunal de Justiça da atribuição para conhecer das questões relativas à observância do direito federal acabou por reduzir a competência do Supremo Tribunal Federal às controvérsias de índole constitucional, não subsiste dúvida de que, por outro lado, essa alteração deu ensejo à Excelsa Corte para redimensionar o conceito de questão constitucional. O próprio significado do princípio da legalidade, positivado no art. 5.º, II, da Constituição, deve ser efetivamente explicitado, para que dele se extraiam relevantes conseqüências jurídicas já admitidas pela dogmática constitucional. O princípio da legalidade, entendido aqui tanto como princípio da supremacia ou da preeminência da lei (Vorrang des Gesetzes), quanto como princípio da reserva legal (Vorbehalt des Gesetzes), contém limites não só para o Legislativo, mas também para o Poder Executivo e para o Poder Judiciário. A idéia de supremacia da Constituição, por outro lado, impõe que os órgãos aplicadores do direito não façam tabula rasa das normas constitucionais, ainda quando estiverem ocupados com a aplicação do direito ordinário. Daí porque se cogita, muitas vezes, sobre a necessidade de utilização da interpretação sistemática sob a modalidade da interpretação conforme à Constituição. É de se perguntar se, nesses casos, tem-se simples questão legal, ou se o tema pode ter contornos constitucionais e merece, por isso, ser examinado pelo Supremo Tribunal Federal. Ainda nessa linha de reflexão, deve-se questionar se a decisão judicial que se ressente de falta de fundamento legal poderia ser considerada contrária à Constituição, suscitando uma legítima questão constitucional. Na mesma linha de raciocínio seria, igualmente, lícito perguntar se a aplicação errônea ou equivocada do direito ordinário poderia dar ensejo a uma questão constitucional. Tal como outras ordens constitucionais, a Constituição brasileira consagra como princípio básico o postulado da legalidade segundo o qual “ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (CF, art. 5.º, II). O princípio da legalidade contempla, entre nós, tanto a idéia de supremacia da lei (Vorrang des Gesetzes), quanto a de reserva legal (Vorbehalt des Gesetzes). O princípio da reserva legal explicita as matérias que devem ser disciplinadas diretamente pela lei. Este princípio, na sua dimensão negativa, afirma a inadmissibilidade de utilização de qualquer outra fonte de direito diferente da lei. Na sua dimensão positiva, admite-se que apenas a lei pode estabelecer eventuais limitações ou restrições1. Por seu turno, o princípio da supremacia ou da preeminência da lei submete a administração e os tribunais ao regime da lei, impondo tanto a

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exigência de aplicação da lei (dimensão positiva) quanto a proibição de desrespeito ou de violação da lei Enfim, é possível aferir uma questão constitucional na violação da lei pela decisão judicial. A decisão ou ato sem fundamento legal ou contrário ao direito ordinário viola, dessa forma, o princípio da legalidade. No presente caso, a controvérsia suscitada pela União diz respeito à lesão à ordem pública, entendida como ordem administrativa, decorrente da violação a dispositivos da Constituição da República (art. 49, XVII, e art. 225), que dizem respeito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, e, principalmente, da Lei n° 11.284/2006, a qual disciplina a gestão de florestas públicas para a produção sustentável. A presença da questão constitucional, portanto, é evidente. Feitas essas considerações preliminares, passo à análise do pedido, o que faço apenas e tão-somente com base nas diretrizes normativas que disciplinam as medidas de contracautela. Ressalte-se, não obstante, que, na análise do pedido de suspensão de decisão judicial, não é vedado ao Presidente do Supremo Tribunal Federal proferir um juízo mínimo de delibação a respeito das questões jurídicas presentes na ação principal, conforme tem entendido a jurisprudência desta Corte, da qual se destacam os seguintes julgados: SS 846-AgR/DF, rel. Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 29.5.96; SS 1.272-AgR/RJ, rel. Ministro Carlos Velloso, DJ 18.5.2001. O art. 4º da Lei 8.437/92, c/c o art. 1º da Lei 9.494/97, autoriza o deferimento do pedido de suspensão da execução da tutela antecipada concedida nas ações movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento da pessoa jurídica de direito público interessada, em caso de manifesto interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas. No caso, entendo que está devidamente demonstrado o risco de grave lesão à ordem pública, entendida como ordem administrativa, no tocante ao regular funcionamento dos serviços da Administração Pública e à normal execução das atividades típicas do Estado-administração. A decisão impugnada suspendeu o processo de concessão da Floresta Nacional do Jamari-RO até que o Serviço Florestal Brasileiro obtenha autorização prévia do Congresso Nacional. Conforme demonstrou a Advocacia-Geral da União, “quando a concorrência (processo licitatório) objetivar a concessão de florestas públicas (exploração de produtos e serviços de uma unidade de manejo), não se mostra indispensável a submissão prévia ao Parlamento Nacional (como previsto no art. 49, XVII, da Constituição) para a aprovação ou não de tal certame” (fl. 13). Parece razoável, também, o argumento de que “não se pode confundir a concessão florestal com a concessão dominial (ou concessão de terras públicas)”. Segundo bem descreve a AGU, “a primeira (concessão florestal), nos termos da Constituição da República e da Lei n° 11.284/2006, não implica a transferência da posse da terra pública, mas sim a delegação onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de praticar manejo florestal sustentável para exploração de produtos e serviços numa unidade de manejo, mediante licitação, à pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências do respectivo edital de licitação e demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado” (fl. 15). O processo de licitação para a concessão florestal está disciplinado pela Lei n° 11.284, de 2 de março de 2006, a qual não exige a submissão do Plano Anual de Outorga Florestal - PAOF à prévia aprovação do Congresso Nacional. Ao contrário, conforme descreve a União, o § 4º do art. 10, “que determinava a submissão prévia do PAOF à apreciação do Congresso Nacional (nas hipóteses de concessões de florestas públicas com área superior a 2.500 hectares), foi vetado pelo Presidente da República, sob a justificativa de que 'o texto aprovado pelo Congresso

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Nacional se contrapõe ao princípio apontado no inciso VIII do art. 2º - que diz: 'a garantia de condições estáveis e seguras que estimulem investimentos de longo prazo no manejo, na conservação e na recuperação das florestas'; uma vez que determina sistemática de submeter o Plano Anual de Outorga Florestal ao Congresso Nacional, o que vincula sua aprovação, inclusive, a contingências políticas de curto prazo, além de criar novos processos administrativos para a tramitação da matéria”. Ressalte-se que a questão relacionada à eventual inconstitucionalidade da referida lei em relação ao art. 49, inciso VII, da Constituição da República, é objeto da ADI n° 3.989/DF, Rel. Min. Eros Grau, e deverá ser apreciada, no momento oportuno, por esta Corte. Ademais, também está presente a probabilidade de concretização do denominado “efeito multiplicador” (SS 1.836-AgR/RJ, rel. Min. Carlos Velloso, Plenário, unânime, DJ 11.10.2001), ante a possibilidade de multiplicação de medidas liminares em demandas que contenham o mesmo objeto. Ante o exposto, defiro o pedido para suspender a execução da decisão proferida pela Des. Selene Maria de Almeida, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região - TRF da 1ª Região, nos autos do Agravo de Instrumento n° 2008.01.00.004474-1/RO. Brasília, 5 de maio de 2008. Ministro GILMAR MENDES

Cessão de uso: é a transferência gratuita do uso de certo bem público de um

órgão para outro, mediante termo de cessão, por prazo determinado ou não. É em

verdade uma colaboração entre órgãos. É, por exemplo, o caso do Poder

Judiciário Estadual ceder uma sala para funcionamento da Defensoria Pública; ou

ainda o Estado ceder um imóvel para um Município ali instalar um órgão

municipal, etc.

Aquisição dos bens públicos

São várias as formas pelas quais os bens públicos passam a integrar o

acervo patrimonial público. Além das formas previstas no Direito Privado como compra

e venda, adjudicação, usucapião, testamento, doação, dação em pagamento, dentre

outros, há formas específicas de aquisição de propriedade pelo Poder Público, como é

o caso da desapropriação; o confisco ou perdimento de bens, previsto nos arts. 5º,

XLVI e 243, parágrafo único, da CRFB/88; no art. 91, I e II do Código Penal; no art. 24

da Lei nº 9.605/98; na Lei nº 8.429/92, art. 12; o registro de parcelamento de solo, no

qual a Lei nº 6.766/79 (que regula o parcelamento do solo urbano), em seu art. 22,

estabelece que desde a data de registro do loteamento passam a integrar o domínio

do Município as vias e praças, os espaços, livre e as áreas destinadas a edifícios

públicos e outros equipamentos urbanos, constantes do projeto e do memorial

descritivo.

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Alienação dos bens públicos

Alienação é a transferência da propriedade podendo ser remunerada ou

gratuita. Pode ocorrer por institutos de natureza privada como dação em pagamento,

doação, permuta, bem como por institutos de natureza pública como a investidura (é a

alienação aos proprietários lindeiros de área remanescente ou resultante de obra

pública inapropriável isoladamente, por preço nunca inferior ao da avaliação, art. 17,

§3º, da Lei nº 8.666/93), retrocessão, legitimação de posse, etc. Para que seja

procedida a alienação de bens públicos o primeiro requisito que deve haver é o

interesse público (sempre).

Os bens públicos são inalienáveis, enquanto conservarem a sua afetação

(destinação pública). Para que seja procedida a alienação, outro requisito que se faz

necessário é a desafetação dos bens, especificamente, de uso comum do povo e dos

bens de uso especial. Os bens dominicais já são desafetados, e os bens imóveis da

Administração derivados de procedimentos judiciais ou de dação em pagamento (art.

19 da Lei nº 8.666/93), jamais adquiriram uma destinação pública, tendo somente

passado pela Administração, motivo pelo qual não há de se falar em desafetação.

Devem obedecer ao que preceitua o art. 17 da Lei nº 8.666/93. O art. 17 da

Lei nº 8.666/93 refere-se à alienação dos bens imóveis no inciso I e dos bens móveis

no inciso II. Com relação a esta espécie de dispensa expõe Dirley da Cunha Junior:9 é

aquela que a própria lei declarou-a como tal, de modo que não há discricionariedade

administrativa de decidir se realiza ou não a licitação (art. 17, I e II). Aqui, configurada

a hipótese legal, a Administração está obrigada a dispensar a licitação, por

determinação da própria lei.

Para a venda de bens móveis inservíveis para a Administração, ou de

produtos que foram legalmente apreendidos ou penhorados bem como aqueles

avaliados isolada ou globalmente em quantia que não supere o limite de R$

650.000,00, indica-se a modalidade de leilão, arts. 22 §5º e 17, § 6º da Lei nº

8.666/93: art. 22, §5o : Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados

para a venda de bens móveis inservíveis para a administração ou de produtos

legalmente apreendidos ou penhorados, ou para a alienação de bens imóveis prevista

no art. 19, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação.

9 CUNHA JUNIOR, Dirley da. Curso de direito administrativo. 7.ed. Salvador: JusPodivm, 2009, p. 435.

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Seção VI Das Alienações

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Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse público devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes normas:

I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa para órgãos da administração direta e entidades autárquicas e fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades paraestatais, dependerá de avaliação prévia e de licitação na modalidade de concorrência, dispensada esta nos seguintes casos:

a) dação em pagamento;

b) doação, permitida exclusivamente para outro órgão ou entidade da administração pública, de qualquer esfera de governo, ressalvado o disposto nas alíneas f, h e i;

c) permuta, por outro imóvel que atenda aos requisitos constantes do inciso X do art. 24 desta Lei;

d) investidura;

e) venda a outro órgão ou entidade da administração pública, de qualquer esfera de governo;

f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente utilizados no âmbito de programas habitacionais ou de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração pública;

g) procedimentos de legitimação de posse de que trata o art. 29 da Lei n

o 6.383, de 7 de dezembro de 1976, mediante iniciativa e

deliberação dos órgãos da Administração Pública em cuja competência legal inclua-se tal atribuição;

h) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis de uso comercial de âmbito local com área de até 250 m² (duzentos e cinqüenta metros quadrados) e inseridos no âmbito de programas de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração pública;

i) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita ou onerosa, de terras públicas rurais da União na Amazônia Legal onde incidam ocupações até o limite de 15 (quinze) módulos fiscais ou 1.500ha (mil e quinhentos hectares), para fins de regularização fundiária, atendidos os requisitos legais;

II - quando móveis, dependerá de avaliação prévia e de licitação, dispensada esta nos seguintes casos:

a) doação, permitida exclusivamente para fins e uso de interesse social, após avaliação de sua oportunidade e conveniência sócio-econômica, relativamente à escolha de outra forma de alienação;

b) permuta, permitida exclusivamente entre órgãos ou entidades da Administração Pública;

10

Com relação ao art. 17, I, b e c; II, b e §1º o STF na ADI nº 927-3/SP suspendeu em relação aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a eficácia da expressão permitida exclusivamente para outro órgão ou entidade da Administração Pública.

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c) venda de ações, que poderão ser negociadas em bolsa, observada a legislação específica;

d) venda de títulos, na forma da legislação pertinente;

e) venda de bens produzidos ou comercializados por órgãos ou entidades da Administração Pública, em virtude de suas finalidades;

f) venda de materiais e equipamentos para outros órgãos ou entidades da Administração Pública, sem utilização previsível por quem deles dispõe.

§ 1o Os imóveis doados com base na alínea "b" do inciso I deste

artigo, cessadas as razões que justificaram a sua doação, reverterão ao patrimônio da pessoa jurídica doadora, vedada a sua alienação pelo beneficiário.

§ 2o A Administração também poderá conceder título de

propriedade ou de direito real de uso de imóveis, dispensada licitação, quando o uso destinar-se:

I - a outro órgão ou entidade da Administração Pública, qualquer que seja a localização do imóvel;

II - a pessoa natural que, nos termos da lei, regulamento ou ato normativo do órgão competente, haja implementado os requisitos mínimos de cultura, ocupação mansa e pacífica e exploração direta sobre área rural situada na Amazônia Legal, superior a 1 (um) módulo fiscal e limitada a 15 (quinze) módulos fiscais, desde que não exceda 1.500ha (mil e quinhentos hectares);

§ 2º-A. As hipóteses do inciso II do § 2o ficam dispensadas de

autorização legislativa, porém submetem-se aos seguintes condicionamentos:

I - aplicação exclusivamente às áreas em que a detenção por particular seja comprovadamente anterior a 1

o de dezembro de 2004;

II - submissão aos demais requisitos e impedimentos do regime legal e administrativo da destinação e da regularização fundiária de terras públicas;

III - vedação de concessões para hipóteses de exploração não-contempladas na lei agrária, nas leis de destinação de terras públicas, ou nas normas legais ou administrativas de zoneamento ecológico-econômico; e

IV - previsão de rescisão automática da concessão, dispensada notificação, em caso de declaração de utilidade, ou necessidade pública ou interesse social.

§ 2o-B. A hipótese do inciso II do § 2

o deste artigo:

I - só se aplica a imóvel situado em zona rural, não sujeito a vedação, impedimento ou inconveniente a sua exploração mediante atividades agropecuárias;

II – fica limitada a áreas de até quinze módulos fiscais, desde que não exceda mil e quinhentos hectares, vedada a dispensa de licitação para áreas superiores a esse limite;

III - pode ser cumulada com o quantitativo de área decorrente da figura prevista na alínea g do inciso I do caput deste artigo, até o limite previsto no inciso II deste parágrafo.

IV – (VETADO)

§ 3o Entende-se por investidura, para os fins desta lei:

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I - a alienação aos proprietários de imóveis lindeiros de área remanescente ou resultante de obra pública, área esta que se tornar inaproveitável isoladamente, por preço nunca inferior ao da avaliação e desde que esse não ultrapasse a 50% (cinqüenta por cento) do valor constante da alínea "a" do inciso II do art. 23 desta lei;

II - a alienação, aos legítimos possuidores diretos ou, na falta destes, ao Poder Público, de imóveis para fins residenciais construídos em núcleos urbanos anexos a usinas hidrelétricas, desde que considerados dispensáveis na fase de operação dessas unidades e não integrem a categoria de bens reversíveis ao final da concessão.

§ 4o A doação com encargo será licitada e de seu instrumento

constarão, obrigatoriamente os encargos, o prazo de seu cumprimento e cláusula de reversão, sob pena de nulidade do ato, sendo dispensada a licitação no caso de interesse público devidamente justificado;

§ 5o Na hipótese do parágrafo anterior, caso o donatário necessite

oferecer o imóvel em garantia de financiamento, a cláusula de reversão e demais obrigações serão garantidas por hipoteca em segundo grau em favor do doador.

§ 6o Para a venda de bens móveis avaliados, isolada ou

globalmente, em quantia não superior ao limite previsto no art. 23, inciso II, alínea "b" desta Lei, a Administração poderá permitir o leilão.

§ 7o (VETADO).

Art. 18. Na concorrência para a venda de bens imóveis, a fase de habilitação limitar-se-á à comprovação do recolhimento de quantia correspondente a 5% (cinco por cento) da avaliação.

Parágrafo único.

Art. 19. Os bens imóveis da Administração Pública, cuja aquisição haja derivado de procedimentos judiciais ou de dação em pagamento, poderão ser alienados por ato da autoridade competente, observadas as seguintes regras:

I - avaliação dos bens alienáveis;

II - comprovação da necessidade ou utilidade da alienação;

III - adoção do procedimento licitatório, sob a modalidade de concorrência ou leilão.

QUESTÕES

1-Denomina-se afetação o fato administrativo pelo qual se atribui ao bem público uma destinação pública específica. 2-Os bens de uso comum do povo e de uso especial convertem-se em dominicais, quando perdem sua destinação pública específica. 3-Os bens dominicais são, por regra, alienáveis, desde que obedecidas as condições fixadas em lei. 4-Os bens públicos são insuscetíveis de aquisição por usucapião, independentemente da categoria a que pertençam. 5-Os bens de uso comum e se uso especial, por estarem afetados a fins públicos, estão fora do comércio jurídico, como compra e venda. Para serem alienados, têm que ser previamente desafetados.

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16-(ESAF/AFC/CGU/Correição/2006) As terras devolutas da União incluem-se entre os:

a) Afetados b) Aforados c) De uso comum d) Dominicais e) De uso especial 17-(ESAF/Procurador DF/2004) As terras devolutas:

a) pertencem aos Municípios b) Constituem res nullius c) Pertencem ao Estado, ressalvadas aquelas definidas por lei, como pertencentes à União Federal d) Pertencem aos proprietários dos terrenos adjacentes e) Constituem território reservado à preservação ambiental 20-(FCC/Juiz do Trabalho/14ª Reg./2003) Sobre o regime jurídico de bens públicos é correto afirmar:

a) São imprescritíveis e impenhoráveis e não podem ser alienados, em nenhuma hipótese; b) São impenhoráveis, alienáveis nos termos da lei e suscetíveis de usucapião; c) São alienáveis nos termos da lei, impenhoráveis e imprescritíveis; d) São penhoráveis nas execuções dos créditos de natureza alimentícia, alienáveis nos termos da lei e imprescritíveis; e) São suscetíveis de usucapião, inalienáveis em qualquer hipótese e impenhoráveis. 21-(FCC/Analista Judiciário/Adm./TRT22ª/2004) Para realização de uma tradicional festa de rua, o poder público municipal da cidade de Vento Forte expediu, no interesse privado do utente, ato administrativo unilateral, discricionário e precário, que facultou a interdição de uma via pública, pelo prazo de 2 dias, para abrigar o evento. O instituto que possibilitou o uso do bem público denomina-se:

a) Concessão de uso b) Autorização de uso c) Permissão de uso d) Cessão de uso e) Concessão de direito real de uso 28-Os bens públicos, no direito brasileiro, são marcados por características de regime. Sobre a terra, assinale a resposta incorreta:

a) a inalienabilidade ou alienabilidade nos termos da lei, são características os bens públicos de uso do povo e os de uso especial, enquanto conservem a sua qualificação, na forma que a lei determinar; b) Os bens públicos dominicais não podem ser alienados; c) Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião, ainda que seja ocupado por aquele que, não sendo proprietário rural ou urbano, possa ter como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela moradia; d) a alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional; e) São bens dos Estados Federados, dentre outros, as áreas, nas ilhas oceânicas, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios e terceiros. 32-(CESPE/Exame de Ordem/2008.3) Acerca dos bens públicos, assinale a opção correta.

a) Segundo a orientação da doutrina, os bens públicos podem sofrer desafetação tácita pelo não-uso. b) Os potenciais de energia hidráulica são bens públicos pertencentes aos estados onde se encontrem. c) Segundo a CF, as terras devolutas ou arrecadadas pelos estados por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais, são bens indisponíveis. d) Os bens públicos dominiais estão fora do comércio jurídico do direito privado. 35-(ESAF/PFN/2004) Sobre os bens públicos, assinale a opção incorreta.

a) Os bens dominicais constituem objeto de direito pessoal ou real das pessoas de direito público. b) Os bens públicos de uso comum e os bens dominicais estão fora do comércio. c) A imprescritibilidade dos bens públicos diz respeito à impossibilidade de que sejam usucapidos. d) A legislação pátria vigente admite a possibilidade de que o uso comum de bens públicos seja, em alguns casos, oneroso. e) Aplicam-se aos bens das autarquias os atributos da impenhorabilidade e da imprescritibilidade.

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38-(Min. Público do DF/1999) A impossibilidade de oneração dos bens públicos abrange:

a) Os bens de uso comum do povo, os bens de uso especial, os bens dominiais ou do patrimônio disponível e as rendas públicas. b) Apenas os primeiros, excluídos os demais c) apenas os de uso comum e os de uso especial, excluídos os demais. d) Os de uso comum e os dominiais, excluídos os demais. e) Os de uso comum do povo, os de uso especial e as rendas públicas, excluídos os dominiais ou do patrimônio disponível. 42-(ESAF/PFN/2004) O ato administrativo unilateral, discricionário e precário, pelo qual a Administração consente que o particular utilize bem público de modo privado, primordialmente no interesse do utente, é o (a)

a) concessão de uso. b) autorização de uso. c) permissão de uso. d) aforamento. e) concessão de domínio pleno 49-(Juiz Substituto/2000) Os estacionamentos localizados nas ruas públicas cujo uso enseje pagamento à administração pública constituem:

a) bem de uso comum do povo. b) servidão administrativa. c) bem de natureza dominial. d) bem de uso especial. 52- Observando-se a classificação prevista no art. 99 do Código Civil, são bens públicos de uso especial:

(A) as estradas, as praças e os rios. (B) as estradas, os rios e os teatros públicos. (C) as praças, os veículos oficiais e os teatros públicos. (D) as praças, os veículos oficiais e os imóveis onde estão localizadas as repartições públicas. (E) os cemitérios públicos, os teatros públicos e os imóveis onde estão localizadas as repartições públicas. 54-(CESPE/UnB - OAB 2009/1) Assinale a opção correta acerca dos bens públicos.

A) Depende de prévia aprovação do Congresso Nacional a alienação ou cessão de terras públicas, de qualquer tamanho, incluindo-se as destinadas à reforma agrária. B) Pode ser autorizada por meio de permissão de uso a utilização, a título precário, de bens públicos imóveis federais para a realização de eventos de curta duração, de natureza recreativa, esportiva, cultural, religiosa ou educacional. C) Consideram-se privados os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público aos quais a lei tenha dado estrutura de direito privado. D) Considera-se bem público de uso comum o bem público imóvel onde funcione repartição pública. 59-(Juiz de Direito TJRS/2009) Em relação a bens públicos, considere as assertivas abaixo.

I – Permissão de uso é o ato administrativo unilateral que autoriza o particular a utilizar-se de um bem público, mediante o preenchimento de determinadas condições, como acontece com a instalação de uma banca de jornal na calçada. II – Afetação é o ato ou fato pelo qual um bem é incorporado ao domínio da pessoa jurídica pública, e decorre da lei. III – Integram o rol dos bens públicos os imóveis por acessão física, como eletrodutos, oleodutos, aviões civis e navios mercantes. Quais são corretas? (A) Apenas I (B) Apenas II (C) Apenas III (D) Apenas I e III (E) I, II e III 74-A autorização de uso de bem público por particular caracteriza-se como ato administrativo:

a) vinculado e bilateral, ensejando indenização ao particular no caso de revogação pela administração. b) bilateral, efetivado mediante a celebração de contrato com a administração, de forma a atender interesse eminentemente público. c) discricionário e precário, empregado para atender interesse predominantemente público, formalizado após a realização de licitação. d) unilateral, discricionário e precário, para atender interesse predominantemente particular.

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NTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE

O direito à propriedade é reconhecido constitucionalmente (art. 5º, XXII e 170,

II), porém não possui mais caráter absoluto. Realmente, em alguns momentos

históricos, o direito à propriedade foi visto como intangível, pelo menos até o final do

século XIX primeiras décadas do século XX: a doutrina do laissez faire, do Estado

puramente liberal.

Assim, o Estado, para garantir esse bem-estar social, necessita em alguns

momentos intervir na propriedade, para garantir o bem da coletividade, de forma que a

propriedade hoje só se justifica quando atenda a sua função social (art. 5º, XXIII, 170,

III, 182, §2º, 186, todos da CRFB/88 e art. 1.228, §1º, do CCB).

A intervenção estatal, verdadeiro poder de império que restringe o caráter

absoluto ao direito de propriedade (supremacia do interesse público sobre o interesse

particular), só se justifica quando tem por objetivo o interesse da sociedade, em

adequar o uso da propriedade particular a este interesse coletivo.

É competência privativa da União legislar sobre o direito de propriedade,

desapropriação e requisições civis e militares (art. 22, I, II e III da CRFB/88), o que não

impede que os demais entes políticos não possam legislar sobre eventuais restrições

e condicionamentos ao uso da propriedade, com fulcro no art. 24, I, VI, VII e VIII, art.

30 I, II e VIII da CRFB/88.

A vigente constituição é peremptória no que se refere ao reconhecimento do direito: “É garantido o direito de propriedade” (art.5º, XXII). O mandamento indica que o legislador não pode erradicar esse direito do ordenamento jurídico positivo. Pode, sim, definir-lhe os contornos e fixar-lhe limitações, mas nunca deixará o direito de figurar como objeto da tutela jurídica. A propriedade não mais se caracteriza como direito absoluto, como ocorria na época medieval. Hoje, o direito de propriedade só se justifica diante do pressuposto que a constituição estabelece para que a torne suscetível de tutela: a função social. Se a propriedade não esta entendendo a sua função social, deve o Estado intervir para amoldá-la a essa qualificação. E essa função autoriza não só a determinação de obrigações de fazer, como de deixar de fazer, sempre para impedir o uso egoístico e anti-social da propriedade. Por isso, o direito de é relativo e condicionado. O novo Código Civil, depois de repetir a norma que confere ao proprietário e a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa (art. 1.228), fez a seguinte ressalva, em conformidade com a disciplina constitucional, e para consolidar o caráter social da propriedade: “O direito de

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propriedade deve ser exercido em consonância com suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas” (art.1.228, § 1°). Ficou, portanto, reforçado o sentido social da propriedade. Se o proprietário não respeita essa função, nasce para o Estado o poder jurídico de nela intervir e até de suprimi-la, se esta providencia se afigurar indispensável para ajustá-la aos fins constitucionalmente assegurados.11

Modalidades de intervenção na propriedade: servidão administrativa,

requisição administrativa, ocupação temporária, limitação administrativa, tombamento

(estas restritivas - brandas) e desapropriação (esta supressiva - drástica).

Servidão Administrativa

É direito real público que autoriza o Poder Público a usar a propriedade

imóvel de forma a permitir a execução de obras e serviços de interesse coletivo.

Toda a servidão limita a propriedade, mas nem toda limitação da propriedade

implica a existência de servidão. Assim, se a restrição que incide sobre um imóvel for

em benefício do interesse público genérico e abstrato, como a estética, a proteção do

meio ambiente, a tutela do patrimônio histórico e artístico, existe limitação à

propriedade, mas não servidão; esta se caracteriza quando, no outro extremo da

relação (o dominante) existe um interesse público corporificado, ou seja, uma coisa

palpável, concreta, a usufruir a vantagem prestada pelo prédio serviente.12

O primeiro cuidado que se deve ter com relação à servidão administrativa é

não confundi-la com a servidão de direito privado, regulada pelos arts. 1.378 a 1.389

do CCB. Esta servidão privada se dá entre particulares, enquanto aquela constitui

direito real público, instituída em favor do Estado.

Quando se compara, portanto, a servidão de direito privado e a servidão administrativa, vemos que, embora idêntico o núcleo dos institutos, se apresentam duas diferenças principais; - A servidão administrativa atende a interesse público, enquanto a servidão privada visa ao interesse privado; e

11

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 20.ed. Rio de Janeiro: Lúmen

Júris, 2008, p. 718 12

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 22.ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 150.

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- A servidão administrativa sofre o influxo de regras de direito público, ao contrario das servidões privadas, sujeitas ao direito privado.13

Não existe norma específica regulando a servidão administrativa, sendo

encontrada referência no art. 40 do Decreto-Lei nº 3.365/41. A sua promoção pode ser

transferida a terceiros, como preconiza o art. 31, VI, da Lei nº 8.987/95, mas a

declaração de necessidade ou utilidade pública cabe ao Poder Público (art. 29, IX, da

Lei nº 8.987/95). A exemplo, cita-se decreto 12.935/10 que: declara de utilidade

pública, para fins de desapropriação, total ou parcial, ou de instituição de servidão

administrativa, em favor da Petróleo Brasileiro S.A. - PETROBRAS, os imóveis que

menciona, situados no Estado do Rio Grande do Norte, necessários à construção do

Trecho Terrestre do Projeto do Aqueduto UTPF/PUB-3, bem como de suas instalações

complementares, e dá outras providências (Processo MME no 48000.002447/2009-96)

tendo por fundamento o art. 8º, VIII da Lei nº 9.478/97 (norma semelhante ao que

estipula o art. 29, IX da Lei nº 8.987/95).

A base legal para a servidão administrativa está no art. 40 do Dec. Lei 3.365/41 (lei geral de desapropriação), que possibilita, aos mesmos entes que podem expropriar, a constituição deste ônus. Como na desapropriação, edita-se declaração de necessidade pública, utilidade pública, ou interesse social de parte do imóvel para fins de servidão administrativa, o que não parece pertinente em servidões simples, não gravosas, genéricas, por exemplo, para a fixação de placas de nome de ruas. Nos termos da Lei 8.987/95 (concessão de serviço público), art. 29,VIII, entre os encargos do concedente figura a declaração de necessidade ou utilidade pública, para fins de servidão, dos bens necessários à execução de serviço ou obra pública promovendo-a diretamente ou mediante outorga de poderes à concessionária, caso em que será desta o ônus indenizatório; por outro lado, dentre os encargos da concessionária inclui-se instituir servidões autorizadas pelo concedente, conforme previsto no edital e no contrato (art.31,VI). Após editado o ato declaratório da servidão, esta poderá concretizar-se por acordo ou mediante sentença do judiciário em ação movida pelo poder público ou seu delegado. Caso servidão seja instituída de fato, o proprietário poderá pleitear ressarcimento na via administrativa; não obtendo êxito ou não pretendendo usar esta via, moverá ação de reparação de dano. Algumas servidões advêm diretamente da lei: servidão para transporte e distribuição de energia elétrica, servidão nas margens dos rios (Código de Águas).

14

Sua extinção pode se dar por desaparecimento do bem gravado, perda do

interesse público ou pela incorporação do imóvel ao domínio público.

13

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 20.ed. Rio de Janeiro: Lúmen

Júris, 2008, p. 724 14

MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 12.ed. São Paulo: RT, 2008, p. 348.

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24

Possui natureza jurídica de direito real de uso;

Pode ser instituída por acordo administrativo (precedido de declaração de

necessidade/utilidade pública) ou sentença judicial, quando não há acordo (não é

autoexecutável);15

REsp 857596 / RN Relator(a) Ministra ELIANA CALMON Data do Julgamento 06/05/2008 ADMINISTRATIVO – SERVIDÃO ADMINISTRATIVA – LINHAS DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA – DECRETO DO PODER EXECUTIVO DE DECLARAÇÃO DE CONSTITUIÇÃO DA SERVIDÃO – AUSÊNCIA. 1. Segundo a doutrina, as servidões administrativas, em regra, decorrem diretamente da lei (independente de qualquer ato jurídico, unilateral ou bilateral) ou constituem-se por acordo (precedido de ato declaratório de utilidade pública) ou por sentença judicial (quando não haja acordo ou quando adquiridas por usucapião). 2. Não observadas as formalidades necessárias à implementação da servidão administrativa (decreto de declaração de utilidade pública), em atenção ao princípio da eficiência e da continuidade do serviço público, deve ser mantida a servidão, com a indenização correspondente à justa reparação dos prejuízos e das restrições ao uso do imóvel, como ocorre com a desapropriação indireta.

Deve ser levada a registro no Registro de Imóveis;

Possui caráter de permanência (definitividade);

Dá-se sobre bens imóveis;

Indenização prévia e condicionada (se houver prejuízo).

Informativo nº 0432 Período: 26 a 30 de abril de 2010. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA. REVISÃO. VALOR INDENIZATÓRIO.

In casu, a entidade expropriante, ora recorrente, ajuizou ação para instituir servidão administrativa sobre a propriedade dos ora recorridos, tendo em vista a necessidade de instalar linhas de

15

Para DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 22.ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 150,

pode decorrer ainda diretamente de lei como por exemplo sobre as margens dos rios navegáveis e servidão ao redor de aeroportos. Nesta hipótese Não caberia direito à indenização, porque imposta a toda a coletividade de imóveis que se encontram na mesma situação. Quando decorrer de acordo ou sentença judicial, incidindo sobre imóveis determinados, a regra é a indenização, porque seus proprietários estão sofrendo prejuízo em benefício da coletividade, devendo ser calculada a cada cãs concreto, devendo demonstrar o prejuízo. Há duas formas de instituição de servidões administrativas. A primeira delas decorre de acordo entre o proprietário e o poder público. Depois de declarar a necessidade pública de instituir a servidão, o Estado consegue o assentimento do proprietário para usar a propriedade deste com o fim já especificado no decreto do chefe executivo, no qual foi declarada a referida necessidade. Nesse caso, as partes devem celebrar acordo formal por escritura pública, para fins de subseqüente registro do direito real. A segunda forma é através de sentença judicial. Não tendo havido acordo entre as partes, o poder público promove ação contra o proprietário, demonstrando ao juiz a existência do decreto especifico, indicativo da declaração de utilidade pública. O procedimento, nessa hipótese, é idêntico ao adotado para a desapropriação, estando previsto, como já vimos, no art. 40 do Decreto-Lei n° 3.365/41 - CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo.

20.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 726

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transmissão de energia elétrica naquele local. Em decorrência disso, ofereceu, a título de indenização, o valor de R$ 21.460,95, o qual não foi aceito pelos expropriados. A sentença, que foi integralmente mantida em sede de apelação, fixou o valor indenizatório em mais de 10 vezes do que o oferecido pela expropriante, com fundamento em laudo fornecido pelo perito oficial. Condenou-a, também, ao pagamento de juros compensatórios no percentual de 12% ao ano contados da efetiva ocupação e calculados sobre o valor da indenização, bem como de juros moratórios de 6% ao ano a partir do trânsito em julgado da sentença. Os honorários advocatícios foram arbitrados em 15% sobre o valor da condenação. No REsp, alegou-se omissão do aresto impugnado, pois não expôs adequadamente os motivos utilizados para a fixação do valor indenizatório, bem como dos respectivos juros e dos honorários advocatícios. Alegou-se, ainda, violação dos arts. 15-A, 15-B, 27, caput e § 1º, do DL n. 3.365/1941. Nesta instância especial, no que tange à alegada afronta ao art. 27, caput, do citado diploma legal, entendeu-se que o valor da indenização fixado pelo acórdão recorrido tomou por base laudo ofertado pelo perito judicial, o qual enfrentou as peculiaridades do caso concreto. Registrou-se, ainda, não ser possível, em REsp, revisar as circunstâncias fáticas consideradas pelas instâncias ordinárias para a aferição do justo valor indenizatório. Quanto aos juros e honorários advocatícios, eles não foram abordados em grau de apelação, que se ateve a impugnar o laudo de avaliação elaborado na origem. Ademais, em relação à suposta ofensa ao art. 535, II, do CPC, o tribunal a quo utilizou fundamentos suficientes para dirimir a controvérsia, apreciando a demanda nos limites em que devolvida no recurso de apelação. Diante disso, a Turma, ao prosseguir o julgamento, conheceu parcialmente do especial, mas lhe negou provimento. REsp 1.121.222-PI, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 27/4/2010.

REsp 1152028 / MG Relator(a) Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES Data do Julgamento 17/03/2011 ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. ARTIGO 535, II, DO CPC. ALEGADA VIOLAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. INDENIZAÇÃO DOS TERRENOS RESERVADOS. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA 479/STF. JUROS MORATÓRIOS. INCIDÊNCIA. TERMO A QUO. REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. No tocante à alegada violação do disposto no artigo 535, II, do CPC, é de se destacar que os órgãos julgadores não estão obrigados a examinar todas as teses levantadas pelo jurisdicionado durante um processo judicial, bastando que as decisões proferidas estejam devida e coerentemente fundamentadas, em obediência ao que determina o art. 93, inc. IX, da Constituição da República vigente. Isto não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC. Neste sentido, existem diversos precedentes desta Corte. 2. Sobre o mérito da demanda, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça vinha adotando posicionamento pelo afastamento da Súmula 479/STF em hipóteses que era possível identificar algum título legítimo pertencente ao domínio particular. Concluía-se que os terrenos marginais presumiam-se de domínio público, podendo,

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excepcionalmente, integrar o domínio de particulares, desde que objeto de concessão legítima, expressamente emanada da autoridade competente. 3. Hodiernamente, a Segunda Turma, por ocasião do julgamento do Resp 508.377/MS, em sessão realizada em 23/10/2007, sob a relatoria do eminente Ministro João Otávio de Noronha e voto-vista do Ministro Herman Benjamin, reviu o seu posicionamento para firmar-se na linha de que a Constituição Federal aboliu expressamente a dominialidade privada dos cursos de água, terrenos reservados e terrenos marginais, ao tratar do assunto em seu art. 20, inciso III (Art. 20: São bens da União: III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;). Desse modo, a interpretação a ser conferida ao art. 11, caput, do Código de Águas ("ou por algum título legítimo não pertencerem ao domínio particular"), que, teoricamente, coaduna-se com o sistema constitucional vigente e com a Lei das Águas (Lei 9.433/1997), é a de que, no que tange a rios federais e estaduais, o título legítimo em favor do particular que afastaria o domínio pleno da União seria somente o decorrente de enfiteuse ou concessão, este último de natureza pessoal, e não real. Ou seja, admissível a indenização advinda de eventuais benefícios econômicos que o particular retiraria da sua contratação com o Poder Público. 4. Na espécie, o acórdão recorrido consignou expressamente que a servidão administrativa nas faixas marginais das águas públicas não retiraria a propriedade do particular, coibindo somente as construções deste que impeçam o transito das autoridades para a fiscalização dos rios e lagos. Assim, concluiu, se realizadas obras ou serviços públicos nestas áreas que impeçam sua utilização pelos particulares, impõe-se a desapropriação. 5. Quanto aos juros moratórios, a questão já não encontra mais controvérsia nesta Corte, desde o julgamento do EREsp 615.018/RS, da relatoria do Eminente Ministro Castro Meira, ocasião em que a 1ª Seção decidiu pela aplicabilidade da norma constante do art. 15-B do DL. 3.365/1941, que determina a incidência dos juros de mora somente a partir de 1º de janeiro do exercício financeiro seguinte àquele em que o pagamento deveria ser efetuado, às desapropriações em curso no momento em que editada a MP 1.577/97. 6. Quanto aos honorários advocatícios, o limite máximo de 5% em desapropriações aplica-se às sentenças proferidas após a publicação da MP 1.997-37/2000 (em 12 de abril de 2000), que deu nova redação ao art. 27, § 1º, do Decreto-Lei 3.365/1941. Tal restrição incide no caso destes autos, porque a sentença foi proferida em data posterior à 2000, razão pela qual limito os honorários em 5% sobre o valor da desapropriação. 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, parcialmente provido. AgRg no Ag 1255718 / MT Relator(a) Ministro HERMAN BENJAMIN Data do Julgamento 18/05/2010 PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. INEXISTÊNCIA DE DIREITO DE REGRESSO. DENUNCIAÇÃO À LIDE. IMPOSSIBILIDADE. 1. A solução integral da controvérsia, com fundamento suficiente, não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC. 2. Hipótese em que se discute a viabilidade de os agravantes denunciarem a Aneel à lide, promovida por concessionária para

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instituição de servidão administrativa (passagem de linhas de transmissão de energia elétrica). 3. Os particulares argumentam que têm direito de regresso contra a agência em relação ao dever de a concessionária indenizá-los dos prejuízos causados pelo ato administrativo. 4. Não há previsão legal de direito de regresso dos agravantes contra a Aneel por eventual indenização decorrente da servidão, o que demonstra ser inaplicável a denunciação à lide (art. 70, III, do CPC). 5. A rigor, ainda que se desconsiderasse a inexistência de previsão legal, seria possível imaginar direito de regresso da concessionária (que pagará a indenização) em relação à Aneel (que, segundo os agravantes, responde pelo prejuízo), mas nunca dos particulares (que receberão a indenização) em relação à agência. 6. Agravo Regimental não provido.

São exemplos: a implantação de gasodutos e oleodutos, a passagem de

redes elétricas, telefônicas e cabos ópticos, a colocação dos nomes de ruas em

prédios e casas e de ganchos para sustentar fios da rede elétrica, etc.

Requisição Administrativa

É o meio de intervenção estatal no qual o Estado, nas situações de perigo

iminente, utiliza bens móveis, imóveis ou, ainda, serviços particulares. A requisição

pode ser tanto civil, como em inundações, incêndio, comoção social, catástrofes e

sonegação de gêneros de primeira necessidade, quanto militar, como nos casos de

manutenção da segurança interna, da soberania nacional, conflito armado, etc.

Possui fundamento constitucional no art. 5º, XXV e legislativo no art. 1.228,

§3º, do Código Civil e legislativo no Decreto-Lei nº 4.812/42; Lei nº 8.080/90, art. 15,16

16

Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu âmbito administrativo, as seguintes atribuições: XIII - para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias, a autoridade competente da esfera administrativa correspondente poderá requisitar bens e serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas, sendo-lhes assegurada justa indenização. MS 25295 / DF - Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA - Julgamento: 20/04/2005 Órgão Julgador: Tribunal Pleno - CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. UNIÃO FEDERAL. DECRETAÇÃO DE ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. REQUISIÇÃO DE BENS E SERVIÇOS MUNICIPAIS. DECRETO 5.392/2005 DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA. MANDADO DE SEGURANÇA DEFERIDO. Mandado de segurança, impetrado pelo município, em que se impugna o art. 2º, V e VI

(requisição dos hospitais municipais Souza Aguiar e Miguel Couto) e § 1º e § 2º (delegação ao ministro de Estado da Saúde da competência para requisição de outros serviços de saúde e recursos financeiros afetos à gestão de serviços e ações relacionados aos hospitais requisitados) do Decreto 5.392/2005, do presidente da República. Ordem deferida, por unanimidade. Fundamentos predominantes: (i) a requisição de bens e serviços do município do Rio de Janeiro, já afetados à prestação de serviços de saúde, não tem amparo no inciso XIII do art. 15 da Lei 8.080/1990, a despeito da invocação desse dispositivo no ato

atacado; (ii) nesse sentido, as determinações impugnadas do decreto presidencial configuram-se efetiva

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e art. 25 da Lei nº 4.771/65.17

O vigente código civil, confirmando o instituto na parte em que disciplina a propriedade, deixou expresso que o proprietário pode ser privado da coisa não só em caso de desapropriação, como também “no de requisição, em caso de perigo público iminente” (arte. 1.228, § 3°), o que reforça o caráter social da propriedade. De outro lado, a lei n° 8.080, de 19.09.90, que regula os serviços de saúde, contempla a requisição de bens e serviços de pessoas naturais ou jurídicas, para atendimento de “necessidades coletivas, urgentes e transitórias, oriundas de perigo iminente, calamidade pública ou irrupção de epidemias”, assegurada justa indenização. Assim como ocorre com a servidão administrativa, consuma-se em cinco anos a prescrição da pretensão do proprietário para postular indenização (se for o caso) em face da pessoa responsável pela requisição, contado o prazo a partir do momento em que se inicia o efetivo uso do bem pelo poder público. A requisição, tal como sucede com a servidão, reflete restrição decorrente de ato do poder público, e é exatamente ela que rende ensejo ao pedido indenizatório, em havendo a ocorrência de prejuízos.18

Por tratar-se de intervenção administrativa presente em situações de iminente

perigo, é autoexecutória (não necessita de prévia intervenção judicial).

Possui natureza jurídica de direito pessoal;

Unilateral e autoexecutória;

Incide sobre bens móveis, imóveis e serviços;

Necessita como pressuposto o perigo público iminente;

Possui caráter transitório (enquanto perdurar o perigo público).19 Diógenes

intervenção da União no município, vedada pela Constituição; (iii) inadmissibilidade da requisição de bens municipais pela União em situação de normalidade institucional, sem a decretação de Estado de Defesa ou Estado de Sítio. Suscitada também a ofensa à autonomia municipal e ao pacto federativo. Ressalva do ministro presidente e do relator quanto à admissibilidade, em tese, da requisição, pela União, de bens e serviços municipais para o atendimento a situações de comprovada calamidade e perigo públicos. Ressalvas do relator quanto ao fundamento do deferimento

da ordem: (i) ato sem expressa motivação e fixação de prazo para as medidas adotadas pelo governo federal; (ii) reajuste, nesse último ponto, do voto do relator, que inicialmente indicava a possibilidade de saneamento excepcional do vício, em consideração à gravidade dos fatos demonstrados relativos ao estado da prestação de serviços de saúde no município do Rio de Janeiro e das controvérsias entre União e município sobre o cumprimento de convênios de municipalização de hospitais federais; (iii) nulidade do § 1º do art. 2º do decreto atacado, por inconstitucionalidade da delegação, pelo presidente da República ao ministro da Saúde, das atribuições ali fixadas; (iv) nulidade do § 2º do art. 2º do decreto impugnado, por ofensa à autonomia municipal e em virtude da impossibilidade de delegação. 17

Art. 25. Em caso de incêndio rural, que não se possa extinguir com os recursos ordinários, compete não só ao funcionário florestal, como a qualquer outra autoridade pública, requisitar os meios materiais e convocar os homens em condições de prestar auxílio. 18

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 20.ed. Rio de Janeiro: Lúmen

Júris, 2008, p. 731 e 732 19

Verificada a situação de perigo público iminente, a requisição pode ser de imediato decretada. Significa, pois, que o ato administrativo que a formaliza é auto-executório e não depende, em conseqüência, de qualquer decisão do judiciário. É esse ato administrativo, portanto, que institui a atuação interventiva sob

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Gasparini20 entende que sobre vestuário e gêneros alimentícios possui caráter

definitivo;21

Indeniza só se houver dano (a posteriori).

Ocupação temporária (ou provisória)

É a utilização transitória, remunerada ou gratuita, de imóveis particulares, não

edificados, como apoio à execução de obras, serviços ou atividades públicas ou de

interesse público.

Possui fundamento no art. 36 do Decreto-Lei nº 3.365/41: É permitida a

ocupação temporária, que será indenizada, afinal, por ação própria, de terrenos não

edificados, vizinhos às obras e necessários à sua realização.

Mediante a ocupação temporária o poder público, por seus próprios agentes ou por empreiteiros, utiliza provisoriamente terrenos não edificados, visinhos a obras públicas – essa utilização provisória é necessária a realização da obra. A base legal dessa figura encontra-se no art.36 do Dec.-lei 3.365/41 (lei de desapropriações), que prevê, também, indenização a final, mediante ação própria. O mesmo dispositivo determina que o poder público preste caução, se exigida pelo proprietário. A ocupação temporária deve ser precedida de declaração de utilidade pública, conforme orientação jurisprudencial. Outro tipo de ocupação temporária decorre do regime dos contratos administrativos disciplinados na Lei 8.666/93. Os arts. 58, V, e 80, II, possibilitam ao poder público contratante, no caso de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens moveis e imóveis, vinculados ao objeto do contrato, para acautelar apuração de faltas contratuais do contratado e para assegurar continuidade, no caso de rescisão do contrato. No caso das concessões e permissões de serviço público, a Lei 8.987/95, art.35, § 3°, prevê a ocupação das instalações e a ocupação, pelo poder concedente, de todos os bens reversíveis quando este, extinta a concessão, assume o serviço.

22

a modalidade de requisição. O ato de requisição apresenta dois ângulos que devem ser devidamente analisados. Sob o aspecto da necessidade da situação de perigo público iminente, pressuposto do instituto, o ato de requisição é vinculado. Quer dizer que o agente administrativo não pode prejudicá-lo se ausente esse pressuposto; nenhuma liberdade de ação se lhe confere nesse ponto. A situação de perigo público, porém, só pode ser avaliada pelo administrador, e nessa avaliação não há como deixar de se lhe reconhecer o poder jurídico de fixá-la como resultado de valoração de caráter eminentemente administrativo. A extinção da requisição se dará tão logo desapareça a situação de perigo público iminente. Por essa razão, a requisição é de natureza transitória, sabido que aquela situação não perdurará eternamente. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 20.ed.

Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 732 e 733 20

GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. 11.ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 749. 21

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 22.ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 136: quando recajosi sobre bens móveis fungíveis, assemelha-se à desapropriação, porém com ela não se confunde: na requisição a indenização é a posterior, o fundamento é necessidade pública inadiável e urgente; na desapropriação, a indenização é prévia e o seu fundamento pode ser a necessidade pública, a utilidade pública ou o interesse social. Alem disso, na desapropriação, o Poder Público depende de autorização judicial para imitir-se na posse do imóvel. 22

MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 12.ed. São Paulo: RT, 2008, p. 346

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30

Ainda existem as ocupações provisórias previstas na Lei nº 8.666/93, arts. 58,

V, 80, II e na Lei nº 8.987/95, art. 35, §3º.

Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:

V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipótese de rescisão do contrato administrativo.

Art. 80. A rescisão de que trata o inciso I do artigo anterior acarreta as seguintes conseqüências, sem prejuízo das sanções previstas nesta Lei:

II - ocupação e utilização do local, instalações, equipamentos, material e pessoal empregados na execução do contrato, necessários à sua continuidade, na forma do inciso V do art. 58 desta Lei;

Art. 35. Extingue-se a concessão por:

§ 1o Extinta a concessão, retornam ao poder concedente todos os

bens reversíveis, direitos e privilégios transferidos ao concessionário conforme previsto no edital e estabelecido no contrato.

§ 2o Extinta a concessão, haverá a imediata assunção do serviço pelo

poder concedente, procedendo-se aos levantamentos, avaliações e liquidações necessários.

§ 3o A assunção do serviço autoriza a ocupação das instalações e a

utilização, pelo poder concedente, de todos os bens reversíveis.

Quanto a sua autoexecutoriedade ou não, bem como a necessidade de ato

formal instituidor, a doutrina é bastante divergente. Diógenes Gasparini23 não admite a

autoexecutoriedade do ato de instituição da ocupação temporária. Marcelo

Alexandrino24 entende necessitar do ato instituidor, mas diversamente entende ser

este autoexecutório. José dos Santos Carvalho Filho25 entende que quando se tratar

de ocupação vinculada à desapropriação o ato instituidor é necessário, se

desvinculada o ato é dispensável, mas em ambos os casos a ocupação é

autoexecutória. Lucia Valle Figueiredo,26 a seu turno, diz que na ocupação há “auto-

executoriedade da decisão administrativa de utilizar a propriedade alheia, desnecessidade de

prévia comunicação (se houver urgência imediata) e indenização devida”.

Cuida-se de direito pessoal;

23

GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. 11.ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 740. 24

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 15.ed. Niterói:

Impetus, 2008, p. 653. 25

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 20.ed. Rio de Janeiro: Lúmen

Júris, 2008, p. 735-6 26

FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 9.ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p.

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31

Incide sobre bens imóveis;

Possui caráter transitório (enquanto perdurar a realização da obra, serviço ou

atividade pública);

Indeniza só se houver dano (posteriormente).

O dever do Estado de indenizar o proprietário pelo uso do imóvel. O referido dispositivo da lei expropriatória estabelece que a ocupação “será indenizada, afinal”. Nota-se aqui que a utilização estatal se consuma por período de tempo mais extenso, gerando, em conseqüência, o dever indenizatório. Na ocupação desvinculada da desapropriação, a regra é a mesma que vale para servidão administrativa, ou seja, em principio não haverá indenização, mas esta será devida se o uso acarretar comprovado prejuízo ao proprietário. Por isso é que os casos que citamos, de obras em estradas e de serviços eleitorais, não rendem, como regra, ensejo a qualquer indenização. Em qualquer caso, contudo, ocorre em cinco anos a prescrição da pretensão para que o proprietário postule indenização pelos prejuízos decorrentes da ocupação temporária, que, tanto como a servidão administrativa e a requisição, se caracteriza como restrição a propriedade. É o fato em si da ocupação que constitui o termo inicial da contagem do referido prazo prescricional.

27

São exemplos os depósitos de equipamentos e materiais para a realização de

obra pública, instalação de barracas de vacinação em clubes ou escolas, de urnas

eleitorais, etc.

Limitação Administrativa

São determinações genéricas, gerais, unilaterais e gratuitas por meio

das quais o Poder Público condiciona o exercício de direitos dos proprietários

de bens imóveis a obrigações positivas, negativas ou permissivas objetivando o

atendimento da função social. Condiciona o uso da propriedade em prol da

coletividade para que atenda sua função social – deriva do poder de polícia.

Informativo nº 0380 Período: 8 a 12 de dezembro de 2008. PARQUE ESTADUAL. CRIAÇÃO. IMÓVEIS PARTICULARES.

Em razão da criação de parque estadual em área que abrange imóveis pertencentes a particulares, discute-se a configuração

27

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 20.ed. Rio de Janeiro: Lúmen

Júris, 2008, p. 735

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da desapropriação indireta. Para se falar em desapropriação indireta, impõe-se que sejam preenchidos os seguintes requisitos: que o bem tenha sido incorporado ao patrimônio do Poder Público e que a situação fática seja irreversível. Na espécie, não ficou constatado que as apontadas restrições estatais implicaram o esvaziamento do conteúdo econômico da propriedade da recorrente, tampouco que o Poder Público revelou qualquer intenção de incorporar a seu patrimônio o imóvel de propriedade da embargante. Contudo, demonstra-se conveniente ressalvar que as apontadas restrições impostas pelo Estado à utilização do imóvel da embargante podem configurar, desde que mais extensas do que as já existentes quando da edição do Dec. estadual n. 37.536/1993, a chamada limitação administrativa, cabendo à parte, por meio de ação própria, questionar o cabimento de eventual indenização. Diante disso, a Seção negou provimento aos embargos. Precedentes citados: REsp 257.970-SP, DJ 13/3/2006; AgRg no REsp 610.158-SP, DJ 10/4/2006; REsp 442.774-SP, DJ 20/6/2005; REsp 727.404-SP, DJ 20/9/2007, e REsp 649.809-SP, DJ 5/12/2007. EREsp 628.588-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgados em 10/12/2008.

Informativo nº 0439 Período: 14 a 18 de junho de 2010. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. INDENIZAÇÃO.

A Turma reafirmou o entendimento de ser indevida indenização em favor de proprietários de imóvel atingido por ato administrativo, salvo se comprovada limitação mais extensa que as já existentes, na hipótese em que a aquisição do imóvel objeto da demanda tiver ocorrido após a edição dos atos normativos que lhe impuseram as limitações supostamente indenizáveis. Ademais, as limitações administrativas preexistentes à aquisição do imóvel não geram indenização pelo esvaziamento do direito de propriedade, principalmente quando o gravame narrativo é antecedente à alienação e à ciência do adquirente. Precedentes citados: AgRg no REsp 769.405-SP, DJe 16/4/2010; EAg 404.715-SP, DJ 27/6/2005, e EREsp 254.246-SP, DJ 12/3/2007. REsp 1.168.632-SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/6/2010.

Sua imposição pode ser decorrente de lei ou decreto, alcançando uma

quantidade indeterminada de propriedades.

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. DECRETO 750/93. PROIBIÇÃO DO CORTE, DA EXPLORAÇÃO E DA SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO

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PRIMÁRIA OU NOS ESTÁGIOS AVANÇADO E MÉDIO DE REGENERAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA. SIMPLES LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. AÇÃO DE NATUREZA PESSOAL. PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. DECRETO 20.910/32. RECURSO PROVIDO. 1. Para que fique caracterizada a desapropriação indireta, exige-se que o Estado assuma a posse efetiva de determinando bem, destinando-o à utilização pública, o que não ocorreu na hipótese dos autos, visto que a posse dos autores permaneceu íntegra, mesmo após a edição do Decreto 750/93, que apenas proibiu o corte, a exploração e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração da Mata Atlântica. 2. Trata-se, como se vê, de simples limitação administrativa, que, segundo a definição de Hely Lopes Meirelles, "é toda imposição geral, gratuita, unilateral e de ordem pública condicionadora do exercício de direitos ou de atividades particulares às exigências do bem-estar social" ("Direito Administrativo Brasileiro", 32ª edição, atualizada por Eurico de Andrade Azevedo, Délcio Balestero Aleixo e José Emmanuel Burle Filho - São Paulo: Malheiros, 2006, pág. 630). 3. (...) 4. Não se tratando, todavia, de ação real, incide, na hipótese, a norma contida no art. 1º do Decreto 20.910/32, o qual dispõe que "todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, seja qual for a sua natureza, prescreve em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem". 5. (...) 6. Recurso especial provido. (STJ no REsp nº 901.319/SC, julgado em 17/05/2007, Min. Rel. Denise Arruda). Grifei. REsp 922786 / SC Relator(a) Ministro FRANCISCO FALCÃO Data do Julgamento 10/06/2008 MATA ATLÂNTICA. PROIBIÇÃO DO CORTE, DA EXPLORAÇÃO E DA SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO PRIMÁRIA OU NOS ESTÁGIOS AVANÇADO E MÉDIO DE REGENERAÇÃO. DECRETO 750/93. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. AÇÃO DE NATUREZA PESSOAL. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. DECRETO 20.910/32. PRECEDENTE. I - Nos termos de firme posicionamento jurisprudencial (REsp nº 442.774/SP, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJ de 20.6.2005), para que reste caracterizada a desapropriação indireta, exige-se que o Estado assuma a posse efetiva de determinando bem, destinando-o à utilização pública, situação que não ocorreu na hipótese dos autos, visto que a posse dos autores permaneceu íntegra, porquanto o Decreto 750/93 apenas proibiu o corte, a exploração e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração da Mata Atlântica. II - Não se trata, assim, de desapropriação indireta, mas de simples limitação administrativa que, segundo a definição de

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Hely Lopes Meirelles, se traduz em "(...) toda imposição geral, gratuita, unilateral e de ordem pública condicionadora do exercício de direitos ou de atividades particulares às exigências do bem-estar social" (In "Direito Administrativo Brasileiro", 32ª edição, Malheiros Editores, 2006, pág. 630). Precedente: REsp nº 901.319/SC, Rel. Min. DENISE ARRUDA, DJ de 11.06.07). III - Deve ser afastada a alegação de impossibilidade jurídica do pedido, haja vista que o tombamento de determinados bens, ou mesmo a imposição de limitações administrativas pode, em tese, trazer prejuízos aos seus proprietários, gerando, a partir de então, a obrigação de indenizar. IV - Não se tratando, pois, de ação real, incide, na hipótese, a norma contida no art. 1º do Decreto 20.910/32, o qual dispõe sobre a prescrição qüinqüenal, a contar da data do ato ou do fato do qual se originaram. No caso, verifica-se a ocorrência da prescrição, tendo em conta que a ação foi ajuizada somente em 10.02.2003, quando já decorridos dez anos do referido ato, ou seja, da publicação do Decreto 750/93, que se deu em 11.02.93. V - Recurso provido, declarando-se a extinção do feito nos termo do artigo 269, IV, do Código de Processo Civil. AgRg no REsp 1204607 / SC Relator(a) Ministro CESAR ASFOR ROCHA Data do Julgamento 05/05/2011 Data da Publicação/Fonte DJe 17/05/2011 AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ART. 535 DO CPC. MATA ATLÂNTICA. DECRETO N. 750/1993. RESTRIÇÕES ADMINISTRATIVAS AO USO. POSSE MANTIDA. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA E AÇÃO DE NATUREZA REAL NÃO CARACTERIZADAS. INDENIZAÇÃO. AÇÃO PESSOAL. PRESCRIÇÃO DE CINCO ANOS. - A ausência de efetiva omissão no acórdão afasta a violação do art. 535 do Código de Processo Civil. - Carece de prequestionamento o tema relativo à efetiva violação do art. 170, I, do anterior CC e dos artigos 269, II, 471 e 473 do CPC, não enfrentado no acórdão dos embargos infringentes, expressamente, porque "não fizeram parte do julgado por estarem fora dos estritos limites da divergência dos embargos infringentes". - Na linha da jurisprudência desta Corte, não tendo o Decreto n. 750/1993 retirado do proprietário a posse do imóvel, mas, apenas, imposto restrições administrativas ao uso, proibindo o corte, a exploração e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração da Mata Atlântica, a ação viável tem natureza pessoal, indenizatória, com prazo prescricional de cinco anos. Agravo regimental improvido. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CRIAÇÃO DO "PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO MAR". ESVAZIAMENTO DO CONTEÚDO ECONÔMICO DA PROPRIEDADE. ALEGADA VIOLAÇÃO DOS ARTS. 44 E 674 DO CÓDIGO CIVIL. AUSÊNCIA DE

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PREQUESTIONAMENTO. LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS. DECRETO ESTADUAL 10.251/77. INDENIZAÇÃO INDEVIDA. LIMITAÇÕES PRÉ-EXISTENTES EM DECORRÊNCIA DE OUTRAS NORMAS. 1. (...) 2. (...) 3. Ao criar o Parque Estadual da Serra do Mar, o Decreto 10.251/77 previu, em seu art. 6º, a ulterior expedição de ato declaratório de utilidade pública, para fins de desapropriação, das terras particulares abrangidas pelo Parque. Todavia, o Estado de São Paulo não procedeu às transferências de todas as terras para o seu patrimônio mediante a competente ação de desapropriação. Assim, a criação do parque pelo Decreto 10.251/77 não resultou na perda da posse, mas sim em limitação ao uso de propriedade, realizada de forma geral, carente de natureza subjetiva ou individualizada, mas vinculativo a todos os proprietários de imóveis localizados na área abrangida pelo Parque Estadual em referência. Certo é que, tendo ocorrido mera limitação administrativa que afeta, em caráter não substancial, o direito de propriedade, não se justifica a imposição de indenização correspondente ao valor da terra quando o que lhe atinge é apenas limitação de uso, visto que não se concretizou a transferência do imóvel pela desapropriação. Precedentes da Primeira Seção: EAg 407817 / SP, rel. Ministra Denise Arruda, Dje 3/6/2009; EREsp 610158 / SP, rel. Ministro Castro Meira, DJe 22/9/2008. 4. No caso dos autos, o acórdão recorrido deixou assentado que o particular não perdeu a exclusividade dos poderes sobre o imóvel em discussão, não obstante possuir o dever de respeitar as limitações estabelecidas por lei, fato que afasta o cabimento da indenização pela desapropriação indireta. Nada impede, todavia, que se postule indenização em ação própria acaso comprovada a ocorrência de prejuízos ao proprietário decorrente de limitação administrativa mais extensa do que aquelas já existentes à época da edição do Decreto 10.251/77. 5. (...) (STJ no REsp nº 703.591/SP, julgado em 23/03/2010, Min. Rel. Mauro Campbell Marques).

Caracteriza-se por:28

Decorrer de ato legislativo ou administrativo (ato de caráter geral);

Possuir caráter de definitividade;

Ser motivada por interesses públicos abstratos;

Indenizável somente se perpetrando dano.

28

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 20.ed. Rio de Janeiro:

Lúmen Júris, 2008, p. 740.

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Informativo nº 0439 Período: 14 a 18 de junho de 2010. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. INDENIZAÇÃO.

A Turma reafirmou o entendimento de ser indevida indenização em favor de proprietários de imóvel atingido por ato administrativo, salvo se comprovada limitação mais extensa que as já existentes, na hipótese em que a aquisição do imóvel objeto da demanda tiver ocorrido após a edição dos atos normativos que lhe impuseram as limitações supostamente indenizáveis. Ademais, as limitações administrativas preexistentes à aquisição do imóvel não geram indenização pelo esvaziamento do direito de propriedade, principalmente quando o gravame narrativo é antecedente à alienação e à ciência do adquirente. Precedentes citados: AgRg no REsp 769.405-SP, DJe 16/4/2010; EAg 404.715-SP, DJ 27/6/2005, e EREsp 254.246-SP, DJ 12/3/2007. REsp 1.168.632-SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/6/2010.

São exemplos: a imposição de limpeza de terrenos, parcelamento ou

edificação compulsória de terrenos (art. 182, §4º, da CRFB/88: § 4º - É

facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área

incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do

solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu

adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou

edificação compulsórios),29 proibição de construir além de determinada altura, a

proibição de desmatamento florestal em área de preservação permanente, o

29

CAPÍTULO II (Lei nº 10.257/01) DOS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA URBANA Seção II - Do parcelamento, edificação ou utilização compulsórios

Art. 5º Lei municipal específica para área incluída no plano diretor poderá determinar o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, devendo fixar as condições e os prazos para implementação da referida obrigação. § 1º Considera-se subutilizado o imóvel: I – cujo aproveitamento seja inferior ao mínimo definido no plano diretor ou em legislação dele decorrente; II – (VETADO) § 2º O proprietário será notificado pelo Poder Executivo municipal para o cumprimento da obrigação, devendo a notificação ser averbada no cartório de registro de imóveis. § 3º A notificação far-se-á: I – por funcionário do órgão competente do Poder Público municipal, ao proprietário do imóvel ou, no caso de este ser pessoa jurídica, a quem tenha poderes de gerência geral ou administração; II – por edital quando frustrada, por três vezes, a tentativa de notificação na forma prevista pelo inciso I. § 4

o Os prazos a que se refere o caput não poderão ser inferiores a:

I - um ano, a partir da notificação, para que seja protocolado o projeto no órgão municipal competente; II - dois anos, a partir da aprovação do projeto, para iniciar as obras do empreendimento. § 5

o Em empreendimentos de grande porte, em caráter excepcional, a lei municipal específica a que se

refere o caput poderá prever a conclusão em etapas, assegurando-se que o projeto aprovado compreenda o empreendimento como um todo. Art. 6

o A transmissão do imóvel, por ato inter vivos ou causa mortis, posterior à data da notificação,

transfere as obrigações de parcelamento, edificação ou utilização previstas no art. 5o

desta Lei, sem interrupção de quaisquer prazos.

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recuo de calçada nas construções, a permissão de vistoria em elevadores, etc.

AgRg no REsp 1235798 / RS Relator(a) Ministro HUMBERTO MARTINS Data do Julgamento 05/04/2011 DIREITO ADMINISTRATIVO. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. ACÓRDÃO QUE NÃO ACOLHEU A TESE DE ESVAZIAMENTO ECONÔMICO DA PROPRIEDADE. SÚMULA 7/STJ. FUNDAMENTO INATACADO. SÚMULA 283/STF. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. SÚMULA 83/STJ. 1. A Corte a quo não analisou, sequer implicitamente, os arts. 12 e 19 da Lei n. 4.771/65; 64 da Lei n. 4.504/64; 8º da Lei n. 5.868/72; 6º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, e art. 436 do CPC. Incidindo no caso o enunciado da Súmula 211 do Superior Tribunal de Justiça. 2. A agravante não impugnou as razões dispostas na decisão recorrida, de que não haveria de se conhecer da alegada violação do disposto no art. 535 do CPC, pois deficiente a fundamentação contida no especial; e porque não estaria o magistrado obrigado a manifestar-se sobre todos os termos trazidos pelas partes. Incidência da Súmula 283/STF. 3. A limitação administrativa distingue-se da desapropriação; nesta há transferência da propriedade individual para o domínio do expropriante, com integral indenização; naquela há, apenas, restrição ao uso da propriedade imposta genericamente a todos os proprietários, sem qualquer indenização. Limitações administrativas são, p. ex., a proibição de desmatamento de parte da área florestada em cada propriedade rural. Mas, se o impedimento de desmatamento de área florestada atingir a maior parte da propriedade ou sua totalidade, deixará de ser limitação para ser interdição de uso da propriedade, e, neste caso, o Poder Público ficará obrigado a indenizar a restrição que aniquilou o direito dominial e suprimiu o valor econômico do bem. (Hely Lopes Meirelles. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2009. 35º ed., págs. 645/646). 4. Não há desapropriação indireta sem que haja o efetivo apossamento da propriedade pelo Poder Público. Desse modo, as restrições ao direito de propriedade, impostas por normas ambientais, ainda que esvaziem o conteúdo econômico, não se constituem desapropriação indireta. 5. No caso dos autos, assentou o juízo anterior, com soberania na análise das circunstâncias fáticas e probatórias, que não houve o desapossamento da propriedade pelo Estado, e, sim, uma limitação administrativa, "por ato com características de intervenção geral, abstrato, imperativo e não-confiscatório". 6. "Reconhecido no acórdão impugnado, com base nas provas dos autos, que não houve desapropriação indireta, mas, sim, limitação administrativa, a alegação em sentido contrário, a motivar insurgência especial, requisita exame do acervo fáctico-probatório e análise de cláusulas contratuais, vedados na

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instância excepcional." (EDcl nos EDcl no REsp 1.192.106/RJ, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Primeira Turma, DJe 10.12.2010.).

QUESTÕES

6-Requisição é o direito real público que autoriza o Poder Público a usar da propriedade imóvel para permitir a execução de obras e serviços de interesse coletivo. 7-Servidão administrativa é o meio de intervenção estatal por meio do qual o Estado utiliza bens móveis, imóveis e serviços particulares em situação de perigo público iminente, com indenização ulterior, se houver dano. 8-Ocupação temporária é a forma de intervenção pela qual o Poder Público usa transitoriamente imóveis privados, como meio de apoio à execução de obras e serviços públicos. 9-Limitações administrativas são determinações de caráter geral, por meio das quais o Poder Público impõe a proprietários indeterminados obrigações positivas, negativas ou permissivas, para o fim de condicionar as propriedades ao atendimento da função social. 19-(ESAF/EPPGG-MPOG/2005) Em decorrência do denominado regime jurídico-administrativo, o Poder Público apresenta-se em posição de supremacia em relação ao administrado. Tal posição de supremacia ampara a existência de diversos institutos jurídicos de intervenção na propriedade privada, de forma a atender ao interesse público. No rol, assinale o instituto que não se enquadra neste conceito.

a) Desapropriação b) Interdição c) Tombamento d) Servidão administrativa e) Requisição administrativa 40-(Min. Público do DF/1999) Qual dos meios interventivos do Estado na propriedade privada pode acarreta, à semelhança da desapropriação, a retirada do domínio sobre o bem pelo particular?

a) a limitação administrativa b) a requisição c) a servidão administrativa d) a ocupação temporária e) o tombamento 47-(Exame de Ordem/2007.2) Acerca da intervenção do Estado na propriedade, assinale a opção correta.

a) A servidão administrativa não precisa ser registrada no registro de imóveis. b) O ato administrativo que formaliza a requisição não é auto-executória, dependendo de prévia apreciação judicial ou administrativa, assegurando-se ampla defesa e o contraditório. c) O tombamento só pode recair sobre bens imóveis. d) A vedação de desmatamento de parte da área de floresta em cada propriedade rural é exemplo de limitação administrativa 61-(ESAF/Procurador da Fazenda Nacional/2005/06) Sobre as servidões administrativas, assinale a opção incorreta.

a) Como regra, dão direito à indenização. b) Estão fora do comércio. c) Observam o Principio da indivisibilidade. d) Podem incidir sobre o bem público. e) Podem implicar não apenas uma obrigação de deixar de fazer, mas também uma obrigação de fazer.

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Tombamento

DECRETO-LEI Nº 25, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1937.

CAPÍTULO I

DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL30

Art. 1º Constitue o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interêsse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.

§ 1º Os bens a que se refere o presente artigo só serão considerados parte integrante do patrimônio histórico o artístico nacional, depois de inscritos separada ou agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo, de que trata o art. 4º desta lei.

§ 2º Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pelo natureza ou agenciados pelo indústria humana.

Art. 2º A presente lei se aplica às coisas pertencentes às pessôas naturais, bem como às pessôas jurídicas de direito privado e de direito público interno.

Art. 3º Exclúem-se do patrimônio histórico e artístico nacional as obras de orígem estrangeira:

1) que pertençam às representações diplomáticas ou consulares acreditadas no país;

2) que adornem quaisquer veiculos pertecentes a emprêsas estrangeiras, que façam carreira no país;

3) que se incluam entre os bens referidos no art. 10 da Introdução do Código Civíl, e que continuam sujeitas à lei pessoal do proprietário;

4) que pertençam a casas de comércio de objetos históricos ou artísticos;

5) que sejam trazidas para exposições comemorativas, educativas ou comerciais:

6) que sejam importadas por emprêsas estrangeiras expressamente para adôrno dos respectivos estabelecimentos.

30

Patrimônio histórico. O conceito de patrimônio histórico e artístico nacional abrange todos os bens,

móveis e imóveis, existentes no País, cuja conservação seja de interesse público, por seu excepcional valor artístico, arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou ambiental. Tais bens tanto podem ser realizações humanas como obras da natureza; tanto podem ser preciosidades do passado como criações contemporâneas. A proteção de todos esses bens é realizada por meio do tombamento, ou seja, da inscrição da coisa em livros especiais – livros do tombo – na repartição competente, para que sua utilização e conservação se façam de acordo com o prescrito na respectiva lei. As expressões livros do tombo e tombamento provêm do direito português, onde a palavra tombar significa inventariar, arrolar ou inscrever nos arquivos do reino, guardados na torre do tombo. Por tradição, o legislador Brasileiro conservou as expressões reinícolas na nossa lei de tombamento. E fez bem, porque começou, assim, a preservar o nosso patrimônio lingüístico, dando o exemplo aos que vão cumprir a lei. (Hely Lopes Pg. 581 e 582)

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Parágrafo único. As obras mencionadas nas alíneas 4 e 5 terão guia de licença para livre trânsito, fornecida pelo Serviço ao Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

CAPÍTULO II

DO TOMBAMENTO

Art. 4º O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatro Livros do Tombo, nos quais serão inscritas as obras a que se refere o art. 1º desta lei, a saber:

1) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, as coisas pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular, e bem assim as mencionadas no § 2º do citado art. 1º.

2) no Livro do Tombo Histórico, as coisas de interêsse histórico e as obras de arte histórica;

3) no Livro do Tombo das Belas Artes, as coisas de arte erudita, nacional ou estrangeira;

4) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas, as obras que se incluírem na categoria das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras.

§ 1º Cada um dos Livros do Tombo poderá ter vários volumes.

§ 2º Os bens, que se inclúem nas categorias enumeradas nas alíneas 1, 2, 3 e 4 do presente artigo, serão definidos e especificados no regulamento que for expedido para execução da presente lei.

Art. 5º O tombamento dos bens pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios se fará de ofício, por ordem do diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, mas deverá ser notificado à entidade a quem pertencer, ou sob cuja guarda estiver a coisa tombada, afim de produzir os necessários efeitos.

Art. 6º O tombamento de coisa pertencente à pessôa natural ou à pessôa jurídica de direito privado se fará voluntária ou compulsóriamente.

Art. 7º Proceder-se-à ao tombamento voluntário sempre que o proprietário o pedir e a coisa se revestir dos requisitos necessários para constituir parte integrante do patrimônio histórico e artístico nacional, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou sempre que o mesmo proprietário anuir, por escrito, à notificação, que se lhe fizer, para a inscrição da coisa em qualquer dos Livros do Tombo.

Art. 8º Proceder-se-á ao tombamento compulsório quando o proprietário se recusar a anuir à inscrição da coisa.

Art. 9º O tombamento compulsório se fará de acôrdo com o seguinte processo:

1) o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por seu órgão competente, notificará o proprietário para anuir ao tombamento, dentro do prazo de quinze dias, a contar do recebimento da notificação, ou para, si o quisér impugnar, oferecer dentro do mesmo prazo as razões de sua impugnação.

2) no caso de não haver impugnação dentro do prazo assinado. que é fatal, o diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mandará por símples despacho que se proceda à inscrição da coisa no competente Livro do Tombo.

3) se a impugnação for oferecida dentro do prazo assinado, far-se-á vista da mesma, dentro de outros quinze dias fatais, ao órgão de que houver emanado a iniciativa do tombamento, afim de sustentá-la. Em seguida,

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independentemente de custas, será o processo remetido ao Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que proferirá decisão a respeito, dentro do prazo de sessenta dias, a contar do seu recebimento. Dessa decisão não caberá recurso.

Art. 10. O tombamento dos bens, a que se refere o art. 6º desta lei, será considerado provisório ou definitivo, conforme esteja o respectivo processo iniciado pela notificação ou concluído pela inscrição dos referidos bens no competente Livro do Tombo.

Parágrafo único. Para todas os efeitos, salvo a disposição do art. 13 desta lei, o tombamento provisório se equiparará ao definitivo.

CAPÍTULO III

DOS EFEITOS DO TOMBAMENTO

Art. 11. As coisas tombadas, que pertençam à União, aos Estados ou aos Municípios, inalienáveis por natureza, só poderão ser transferidas de uma à outra das referidas entidades.

Parágrafo único. Feita a transferência, dela deve o adquirente dar imediato conhecimento ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Art. 12. A alienabilidade das obras históricas ou artísticas tombadas, de propriedade de pessôas naturais ou jurídicas de direito privado sofrerá as restrições constantes da presente lei.

Art. 13. O tombamento definitivo dos bens de propriedade partcular será, por iniciativa do órgão competente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, transcrito para os devidos efeitos em livro a cargo dos oficiais do registro de imóveis e averbado ao lado da transcrição do domínio.

§ 1º No caso de transferência de propriedade dos bens de que trata êste artigo, deverá o adquirente, dentro do prazo de trinta dias, sob pena de multa de dez por cento sôbre o respectivo valor, fazê-la constar do registro, ainda que se trate de transmissão judicial ou causa mortis.

§ 2º Na hipótese de deslocação de tais bens, deverá o proprietário, dentro do mesmo prazo e sob pena da mesma multa, inscrevê-los no registro do lugar para que tiverem sido deslocados.

§ 3º A transferência deve ser comunicada pelo adquirente, e a deslocação pelo proprietário, ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional, dentro do mesmo prazo e sob a mesma pena.

Art. 14. A. coisa tombada não poderá saír do país, senão por curto prazo, sem transferência de domínio e para fim de intercâmbio cultural, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional.

Art. 15. Tentada, a não ser no caso previsto no artigo anterior, a exportação, para fora do país, da coisa tombada, será esta sequestrada pela União ou pelo Estado em que se encontrar.

§ 1º Apurada a responsábilidade do proprietário, ser-lhe-á imposta a multa de cincoenta por cento do valor da coisa, que permanecerá sequestrada em garantia do pagamento, e até que êste se faça.

§ 2º No caso de reincidência, a multa será elevada ao dôbro.

§ 3º A pessôa que tentar a exportação de coisa tombada, alem de incidir na multa a que se referem os parágrafos anteriores, incorrerá, nas penas cominadas no Código Penal para o crime de contrabando.

Art. 16. No caso de extravio ou furto de qualquer objéto tombado, o respectivo proprietário deverá dar conhecimento do fáto ao Serviço do

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Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, dentro do prazo de cinco dias, sob pena de multa de dez por cento sôbre o valor da coisa.

Art. 17. As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruidas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de cincoenta por cento do dano causado.

Parágrafo único. Tratando-se de bens pertencentes á União, aos Estados ou aos municípios, a autoridade responsável pela infração do presente artigo incorrerá pessoalmente na multa.

Art. 18. Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibílidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objéto, impondo-se nêste caso a multa de cincoenta por cento do valor do mesmo objéto.

Art. 19. O proprietário de coisa tombada, que não dispuzer de recursos para proceder às obras de conservação e reparação que a mesma requerer, levará ao conhecimento do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a necessidade das mencionadas obras, sob pena de multa correspondente ao dobro da importância em que fôr avaliado o dano sofrido pela mesma coisa.

§ 1º Recebida a comunicação, e consideradas necessárias as obras, o diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional mandará executá-las, a expensas da União, devendo as mesmas ser iniciadas dentro do prazo de seis mezes, ou providenciará para que seja feita a desapropriação da coisa.

§ 2º À falta de qualquer das providências previstas no parágrafo anterior, poderá o proprietário requerer que seja cancelado o tombamento da coisa.

§ 3º Uma vez que verifique haver urgência na realização de obras e conservação ou reparação em qualquer coisa tombada, poderá o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tomar a iniciativa de projetá-las e executá-las, a expensas da União, independentemente da comunicação a que alude êste artigo, por parte do proprietário.

Art. 20. As coisas tombadas ficam sujeitas à vigilância permanente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que poderá inspecioná-los sempre que fôr julgado conveniente, não podendo os respectivos proprietários ou responsáveis criar obstáculos à inspeção, sob pena de multa de cem mil réis, elevada ao dôbro em caso de reincidência.

Art. 21. Os atentados cometidos contra os bens de que trata o art. 1º desta lei são equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional.

CAPÍTULO IV

DO DIREITO DE PREFERÊNCIA

Art. 22. Em face da alienação onerosa de bens tombados, pertencentes a pessôas naturais ou a pessôas jurídicas de direito privado, a União, os Estados e os municípios terão, nesta ordem, o direito de preferência.

§ 1º Tal alienação não será permitida, sem que prèviamente sejam os bens oferecidos, pelo mesmo preço, à União, bem como ao Estado e ao município em que se encontrarem. O proprietário deverá notificar os titulares do direito de preferência a usá-lo, dentro de trinta dias, sob pena de perdê-lo.

§ 2º É nula alienação realizada com violação do disposto no parágrafo anterior, ficando qualquer dos titulares do direito de preferência habilitado a sequestrar a coisa e a impôr a multa de vinte por cento do seu valor ao transmitente e ao adquirente, que serão por ela solidariamente responsáveis.

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A nulidade será pronunciada, na forma da lei, pelo juiz que conceder o sequestro, o qual só será levantado depois de paga a multa e se qualquer dos titulares do direito de preferência não tiver adquirido a coisa no prazo de trinta dias.

§ 3º O direito de preferência não inibe o proprietário de gravar livremente a coisa tombada, de penhor, anticrese ou hipoteca.

§ 4º Nenhuma venda judicial de bens tombados se poderá realizar sem que, prèviamente, os titulares do direito de preferência sejam disso notificados judicialmente, não podendo os editais de praça ser expedidos, sob pena de nulidade, antes de feita a notificação.

§ 5º Aos titulares do direito de preferência assistirá o direito de remissão, se dela não lançarem mão, até a assinatura do auto de arrematação ou até a sentença de adjudicação, as pessôas que, na forma da lei, tiverem a faculdade de remir.

§ 6º O direito de remissão por parte da União, bem como do Estado e do município em que os bens se encontrarem, poderá ser exercido, dentro de cinco dias a partir da assinatura do auto do arrematação ou da sentença de adjudicação, não se podendo extraír a carta, enquanto não se esgotar êste prazo, salvo se o arrematante ou o adjudicante for qualquer dos titulares do direito de preferência.

CAPÍTULO V

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 23. O Poder Executivo providenciará a realização de acôrdos entre a União e os Estados, para melhor coordenação e desenvolvimento das atividades relativas à proteção do patrimônio histórico e artistico nacional e para a uniformização da legislação estadual complementar sôbre o mesmo assunto.

Art. 24. A União manterá, para a conservação e a exposição de obras históricas e artísticas de sua propriedade, além do Museu Histórico Nacional e do Museu Nacional de Belas Artes, tantos outros museus nacionais quantos se tornarem necessários, devendo outrossim providênciar no sentido de favorecer a instituição de museus estaduais e municipais, com finalidades similares.

Art. 25. O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional procurará entendimentos com as autoridades eclesiásticas, instituições científicas, históricas ou artísticas e pessôas naturais o jurídicas, com o objetivo de obter a cooperação das mesmas em benefício do patrimônio histórico e artístico nacional.

Art. 26. Os negociantes de antiguidades, de obras de arte de qualquer natureza, de manuscritos e livros antigos ou raros são obrigados a um registro especial no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cumprindo-lhes outrossim apresentar semestralmente ao mesmo relações completas das coisas históricas e artísticas que possuírem.

Art. 27. Sempre que os agentes de leilões tiverem de vender objetos de natureza idêntica à dos mencionados no artigo anterior, deverão apresentar a respectiva relação ao órgão competente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, sob pena de incidirem na multa de cincoenta por cento sôbre o valor dos objetos vendidos.

Art. 28. Nenhum objéto de natureza idêntica à dos referidos no art. 26 desta lei poderá ser posto à venda pelos comerciantes ou agentes de leilões, sem que tenha sido préviamente autenticado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou por perito em que o mesmo se louvar, sob pena de multa de cincoenta por cento sôbre o valor atribuido ao objéto.

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Parágrafo único. A. autenticação do mencionado objeto será feita mediante o pagamento de uma taxa de peritagem de cinco por cento sôbre o valor da coisa, se êste fôr inferior ou equivalente a um conto de réis, e de mais cinco mil réis por conto de réis ou fração, que exceder.

Art. 29. O titular do direito de preferência gosa de privilégio especial sôbre o valor produzido em praça por bens tombados, quanto ao pagamento de multas impostas em virtude de infrações da presente lei.

Parágrafo único. Só terão prioridade sôbre o privilégio a que se refere êste artigo os créditos inscritos no registro competente, antes do tombamento da coisa pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

O tombamento é modalidade de intervenção no uso da propriedade,

utilizado (também) como instrumento de preservação do patrimônio cultural

brasileiro, com fundamento Constitucional no art. 216, §1º. São exemplos desta

espécie de proteção (do Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil): a feira

nordestina de São Cristóvão, a feira de Caruaru, o Carimbó Paraense, a roda

de capoeira, o samba carioca, o ofício das baianas de acarajé, o frevo, a festa

do bumba-meu-boi, entre outros. O instrumento legal que assegura a

preservação do patrimônio cultural imaterial do Brasil é o registro, instituído

pelo IPHAN.

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.

§ 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.

§ 3º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.

§ 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.

§ 5º - Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.

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A competência para legislar sobre a proteção do patrimônio histórico,

cultural e artístico é concorrente entre a União, Estados e Distrito Federal (art.

24, VII da CRFB/88) e suplementar dos municípios 30, II da CRFB/88. A

competência material (administrativa ou executiva – para efetivar o

tombamento) vem prevista nos arts. 23, III, IV e 30, IX da CRFB/88.

Omissão: Quando o poder executivo não toma as medidas

necessárias para o tombamento de um bem que reconhecidamente deva ser

protegido, em face de seu valor histórico ou paisagístico, a jurisprudência tem

entendido que, mediante provocação do ministério público (ação civil pública)

ou de cidadão (ação popular), o judiciário pode determinar ao executivo faça a

proteção. De igual forma, a omissão administrativa em concluir o processo de

tombamento afeta o direito de propriedade e lesa o patrimônio individual,

justificando, assim, a sua anulação pelo judiciário.31

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;

Art. 30. Compete aos Municípios:

IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

A finalidade primordial do tombamento é a proteção do meio ambiente

cultural, nele compreendido os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,

paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e cientifico. Pode

incidir sobre bens móveis ou imóveis, materiais ou imateriais. O tombamento

de coisa pertencente à pessoa natural ou à pessoa jurídica de direito privado

se fará de forma voluntária ou compulsória. Voluntário, quando o proprietário

consente no tombamento do bem, seja a pedido ou por aceitação.

31

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 35.ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 587

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Compulsório, quando o proprietário se recusar a anuir à inscrição da coisa.

O tombamento dos bens pertencentes à União, aos Estados e aos

Municípios se fará de ofício, devendo ser notificada a entidade a quem

pertencer a coisa, ou sob cuja guarda estiver a coisa tombada, a fim de

produzir os necessários efeitos (art. 5º do DL 25/37). As coisas tombadas que

pertençam à União, aos Estados ou aos Municípios, inalienáveis por natureza,

só poderão ser transferidas de uma para à outra das referidas entidades (art.

11 do Decreto-Lei).

Será provisório o tombamento enquanto estiver em curso o processo

de tombamento e definitivo com a respectiva inscrição do tombamento no

registro de imóveis.

Traz como conseqüência a imodificabilidade, a proibição de alterar,

destruir, transformar ou modificar o bem, cabendo tão-somente ao proprietário

a sua manutenção e conservação, ficando, ademais, submetida a coisa

tombada à vigilância permanente do IPHAN, que poderá inspecioná-lo sempre

que for julgado conveniente, não podendo o respectivo proprietário ou

responsável criar obstáculos à inspeção. Uma vez tombada a coisa, não

poderá esta sair do país, senão por curto prazo, sem transferência de domínio

e para fim de intercâmbio cultural.

O ato de tombamento não transfere a propriedade do bem ao Poder

Público, permanecendo com o respectivo dono a sua posse e propriedade,

devendo, entretanto, o ato ser averbado junto à matrícula do imóvel. Não

impede também de alienar (o Poder Público neste caso tem direito de

preferência) ou gravar o bem por meio de penhor, anticrese ou hipoteca. Os

imóveis vizinhos acabam também por sofrer restrição por via reflexa, pois não

poderão realizar construção que impeça ou reduza a visibilidade, nem nela

colocar cartazes ou anúncios.

Em princípio é cabível indenização quando o tombamento é individual

(isolado) como um prédio, por exemplo, e desde que o proprietário comprove

que o ato de tombamento lhe causou prejuízo. Não o será, se tiver alcance

geral, como uma cidade (Ouro Preto ou Olinda), por exemplo.

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Relator(a) Ministro HUMBERTO MARTINS Data do Julgamento 09/06/2009 ADMINISTRATIVO – RECURSO ESPECIAL – TOMBAMENTO GERAL – CIDADE DE TIRADENTES – POSSIBILIDADE – DESNECESSIDADE DE INDIVIDUALIZAÇÃO DO BEM – PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO, HISTÓRICO E CULTURAL – DESRESPEITO À NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL DO IPHAN – RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO – DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADA – AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA. 1. Não é necessário que o tombamento geral, como no caso da cidade de Tiradentes, tenha procedimento para individualizar o bem (art. 1º do Decreto-Lei n. 25/37). As restrições do art. 17 do mesmo diploma legal se aplicam a todos os que tenham imóvel na área tombada. Precedente. 2. É incongruente a alegação da recorrente de que o bem não foi individualizado no tombamento, se sabia claramente das restrições impostas pelo Decreto-Lei n. 25/37, uma vez que, inclusive, solicitou autorização ao IPHAN para a realização da obra e desrespeitou os limites estabelecidos pelo órgão. 3. A divergência jurisprudencial não pode ser conhecida por ausência de similitude fática, tendo em vista o reconhecimento do acórdão recorrido do caráter agressor das obras e reconhecimento pelo acórdão paradigma da ausência de demolição, destruição ou mutilação do bem tombado. Recurso especial conhecido em parte e improvido.

O tombamento é sempre uma restrição parcial ao direito de

propriedade do imóvel. Se esta restrição for integral, estaremos diante de uma

desapropriação indireta.

Natureza jurídica do tombamento.

Alguns autores entendem a natureza do tombamento como de

servidão.32 Outros como instrumento especial de intervenção restritiva do

Estado na propriedade privada.33 José do Santos Carvalho Filho34 entende

também ser uma intervenção especial na propriedade, entretanto, aceita como

natureza de servidão ou desapropriação quando o tombamento interdita o uso

do bem pelo proprietário.

32

GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. 11.ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 744-5. 33

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 22.ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 147. Para

ela, não é servidão porque não há coisa dominante. Não é limitação por haver a individualização do imóvel. Em relação aos prédios vizinhos, diz a autora: trata-se de servidão administrativa, onde dominante é a coisa tombada e serviente, os prédios vizinhos. Idem, p. 144. 34

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 20.ed. Rio de Janeiro:

Lúmen Júris, 2008p. 744.

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Varia bastante o enfoque dado pelos autores à natureza jurídica do tombamento. Para alguns, trata-se de servidão administrativa. Outros sustentam que o bem tombado é um bem de interesse público. Defende-se também a natureza de limitação administrativa. Não concordamos com a posição segundo a qual se trata de servidão administrativa. Por mais de uma razão. Primeiramente, o tombamento não é um direito real, como o é a servidão; depois, inexistem as figuras do dominante e do serviente, intrínsecas à servidão administrativa. De outro lado, classificar o tombamento como bem de interesse público nos parece uma idéia vaga, que não chega a caracterizar esse tipo de intervenção. Limitação administrativa também é natureza inadequada: enquanto a limitação se reveste de caráter geral, o tombamento tem caráter especifico, ou seja, incide apenas sobre determinados bens, discriminados no competente ato. Temos para nós que o tombamento não é nem servidão nem limitação administrativa. Trata-se realmente de instrumento especial de intervenção restritiva do Estado na propriedade privada, com fisionomia própria e inconfundível com as demais formas de intervenção. Alem disso, tem natureza concreta e especifica razão por que, diversamente das limitações administrativas, se configura como uma restrição ao uso da propriedade. Podemos, pois, concluir que a natureza jurídica do tombamento é a de se qualificar como meio de intervenção do Estado consistente na restrição do uso de propriedades determinadas.

35

REsp 435128 / SP Relator(a) Ministro LUIZ FUX Data do Julgamento 11/02/2003 PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. TOMBAMENTO ÁREA DA SERRA DO MAR. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. PATRIMÔNIO AMBIENTAL. LEGITIMAÇÃO PASSIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. AÇÃO DE NATUREZA REAL. PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA. SÚMULA Nº 119/STJ. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535, II DO CPC. DECISÃO EXTRA PETITA. NÃO CARACTERIZAÇÃO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL PREJUDICADO. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA Nº 83/STJ. 1. Não caracterizada a omissão do acórdão recorrido, afasta-se a preliminar de nulidade com base na violação do artigo 535, II do CPC, porquanto o Tribunal a quo não só acolheu os embargos de declaração para declarar o acórdão, como o próprio aresto recorrido já havia enfrentado os pontos levantados como omissos, os quais diziam respeito às preliminares argüidas em contestação, reiteradas em agravo retido, analisado na oportunidade do julgamento da apelação. 2. A decisão não se revela extra petita, quando a legislação apontada no relatório foi indicada pelo Ministério Público, não tendo o condão de alterar a causa de pedir, nem de desviar o curso da demanda mercê de não ter sido demonstrado prejuízo para a defesa, eis que teve a oportunidade de se manifestar sobre o ponto. 3. A prescrição na desapropriação indireta é vintenária decorrente de tombamento de área ambiental em que se

35

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 20.ed. Rio de Janeiro: Lúmen

Júris, 2008, p. 743 e 744

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encontra o imóvel. Caracterização da natureza real da ação. Aplicação da Súmula 119/STJ. 4. Limitação administrativa. Consoante reiterada jurisprudência do STJ, a limitação gera obrigação de indenizar quando resulta em prejuízo para o proprietário. A verificação de prejuízo e de sua extensão é questão de prova, obstaculizada pela Súmula 7/STJ. Como soi ocorrer, em sede de Recurso Especial, averiguação sobre se as restrições efetivamente já existiam como também se as características topográficas do terreno tornaram antieconômica a exploração da floresta. 5. O dissídio jurisprudencial resta prejudicado, na hipótese do acórdão recorrido ter decidido na esteira da jurisprudência do STJ. Inteligência da Súmula 83/STJ. 6. Recurso especial conhecido, mas desprovido.

REsp 307535 / SP Relator(a) Ministro FRANCISCO FALCÃO Data do Julgamento 12/03/2002 DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TOMBAMENTO. PARQUE FLORESTAL. NATUREZA DE AÇÃO: REAL. FORO DA SITUAÇÃO DO IMÓVEL. PRESCRIÇÃO: VINTENÁRIA. DIREITO A INDENIZAÇÃO. JUROS COMPENSATÓRIOS INDEVIDOS. COBERTURA VEGETAL. EXCLUSÃO. VERBA HONORÁRIA. SÚMULA Nº 7. - "A jurisprudência vem firmando o entendimento de que as restrições de uso de propriedade particular impostas pela Administração, para fins de proteção ambiental, constituem desapropriação indireta, devendo a indenização ser buscada mediante ação de natureza real, cujo prazo prescricional é vintenário." (REsp 149.834/SP, Relator Ministro José Delgado, D.J.U 21.03.1999, pág. 81). - Sendo a ação de natureza real, uma vez que fundada no direito de propriedade, é competente o foro da situação do imóvel, de acordo com o artigo 95, do Código de Processo Civil. - A cobertura vegetal em questão, integrante da mata atlântica, é caracterizada unicamente como acessório da terra nua, englobada então nos valores fixados para seu pagamento. A vegetação em comento, em face da dificuldade de acesso para sua exploração, conseqüência da irregularidade do terreno, tem valor econômico desprezível, não incindível na indenização. - Os juros compensatórios tem função indenizatória, destinada a remunerar o expropriado pelo não desenvolvimento da atividade econômica prevista, na hipótese em comento, conforme constatado dos autos, mesmo se considerando o esvaziamento econômico que a criação do parque trouxe para a área, vê-se, in casu, que a ação indenizatória somente foi movida em setembro de 1995, ou seja, quase vinte anos após a criação do referido Parque Florestal, infirmando totalmente a função compensatória do Instituto. - A análise dos critérios utilizados pelo magistrado para fixar os

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honorários advocatícios em 10% invade o campo do conjunto probatório dos autos, incidindo no teor do verbete sumular nº 7, desta Corte. - Recurso especial dos autores improvido. - Recurso especial da Fazenda Estadual parcialmente provido.

É ato discricionário, e por conseqüência pode ser objeto de revogação

(quando o ato torna-se inconveniente ou inoportuno) ou anulação, por

ilegalidade. O ato de tombamento deve ser precedido de processo

administrativo, em que se apurará a necessidade de intervenção do Estado na

propriedade, devendo respeitar-se o contraditório e a ampla defesa (o devido

processo legal).

REsp 761756 / DF Relator(a) Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI Data do Julgamento 15/12/2009 ADMINISTRATIVO. TOMBAMENTO. INSTALAÇÃO DE GRADES DE PROTEÇÃO EM EDIFÍCIO RESIDENCIAL DO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA. VIOLAÇÃO À NORMA DE TOMBAMENTO. 1. É fato notório que o tombamento da Capital da República não atingiu apenas os prédios públicos, ou o seu arruamento, ou qualquer outra parte isoladamente considerada. Tombada foi a cidade em seu conjunto, com o seu singular conceito urbanístico e paisagístico, que expressa e forma a própria identidade da Capital. 2. Assim, está também protegido por tombamento o conceito urbanístico dos prédios residenciais, com a uniformidade de suas áreas livres, que propiciam um modo especial de circulação de pessoas e de modelo de convívio. O gradeamento desses prédios comprometerá severamente esse conceito, importando ofensa ao art. 17 do DL 35/1937. Precedente: REsp 840.918, 2a. Turma, Min. Herman Benjamin. 3. Recursos Especiais providos.

REsp 840918 / DF Relator(a) Ministra ELIANA CALMON - Relator(a) p/ Acórdão Ministro HERMAN BENJAMIN Data do Julgamento 14/10/2008 ADMINISTRATIVO E URBANÍSTICO. BRASÍLIA. PLANO PILOTO E REGIÃO ADMINISTRATIVA DO CRUZEIRO. PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. TOMBAMENTO. PATRIMÔNIO MUNDIAL. INSTALAÇÃO DE GRADES EM TORNO DOS PILOTIS DOS EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS NAS SUPERQUADRAS.

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INCOMPATIBILIDADE COM O PROJETO ORIGINAL. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 17 E 18 DO DL 25/1937 E DA CONVENÇÃO RELATIVA À PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO MUNDIAL, CULTURAL E NATURAL. 1. O Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional é o órgão encarregado de zelar pela preservação do patrimônio cultural brasileiro, sobretudo pelos bens que, considerando sua importância nacional de caráter histórico, cultural e ambiental, tenham sido tombados, competência essa que não deve ser dificultada, inviabilizada ou impedida pela ação ou omissão de Estados e Municípios a pretexto de exercerem poderes privativos de ordenamento do seu território ou da responsabilidade que lhes incumbe de deliberar sobre assuntos de interesse estadual ou local. 2. Em razão do singular conjunto arquitetônico e do revolucionário conceito urbanístico-paisagístico (sobretudo a organização em superquadras povoadas por prédios sustentados por pilotis), o Plano-Piloto de Brasília foi, em 1990, tombado pelo Iphan, nos termos do Decreto-Lei n° 25, de 30 de novembro de 1937, estatuto federal que protege o patrimônio histórico e artístico nacional. 3. Além disso, em 1987 a UNESCO reconheceu Brasília como patrimônio mundial, no contexto da Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, adotada em Paris em 16 de novembro de 1972 e que entrou em vigor, no Brasil, em 2 de dezembro de 1977. 4. O art. 17 do Decreto-Lei n° 25/1937 contém dois núcleos distintos de proteção dos bens tombados. De um lado, uma proibição absoluta de obras ou atividades que os exponham a risco de destruição, demolição ou mutilação. De outro, uma proibição relativa, já que intervenções de reparação, pintura e restauração – isto é, ações destinadas a conservar o bem – podem ser realizadas, desde que com autorização prévia, expressa e inequívoca do Iphan. 5. No art. 18, que também traz uma proibição relativa, acham-se vedadas, exceto se legitimadas por prévia, expressa e inequívoca autorização do Iphan, tanto construções na vizinhança do bem tombado que lhe impeçam ou reduzam a visibilidade (= proteção do entorno), como a colocação, nele mesmo, de anúncio ou cartazes. 6. Não obstante a variedade e numerosidade de bens individuais que o integram, o patrimônio cultural tombado ou protegido como conjunto (é o caso de Brasília) assume, em diversos sistemas jurídicos, a forma de universitas rerum. Ou seja, as qualidades históricas, artísticas, naturais ou paisagísticas do todo - como patrimônio comum e intangível dos cidadãos do País e até da humanidade – são vistas e reconhecidas unitariamente pelo Direito, em entidade ideal e complexa, que transcende a individualidade de cada um dos seus elementos-componentes. No Direito brasileiro, o Código Civil (art. 91) disciplina tal instituto como universalidade de direito ou universitas iuris. 7. Nesses conjuntos, os termos "mutilar" e "destruir", utilizados pelo art. 17 do Decreto-Lei n° 25/1937, não têm apenas o sentido

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estrito de salvaguarda de edifícios e construções isolados, mas também de proteção da globalidade arquitetônica e urbanístico-paisagística, isto é, dos bens agregados em universalidade de direito. Trata-se de salvaguarda que se faz, a um só tempo, do todo a partir dos seus elementos e destes a partir daquele. 8. O Decreto-Lei n° 25/1937 veda e reprime tanto a destruição, demolição e mutilação total, como a parcial; tanto a comissiva como a omissiva; a que atinge as bases materiais, como a que afeta os aspectos imateriais do bem. Nele, “destruir” e “demolir” são empregados em sentido mais amplo que na linguagem coloquial, pois não se resumem a “derrubar” ou “pôr no chão”. “Destruir” inclui modalidades mais tênues e discretas de intervenção no bem tombado ou protegido, como “estragar”, “reduzir as suas qualidades”, “afetar negativamente de maneira substancial”, “inviabilizar ou comprometer as suas funções” e “afastar-se da concepção original”. Igual sucede com o verbo “mutilar”, que no seu significado técnico-jurídico traduz-se em “cortar” ou “retalhar”, e também abarca “causar estrago menor”, "alterar fração", “modificar topicamente” ou “deteriorar”. 9. A Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural tem aplicabilidade judicial direta no Brasil, seja porque seus princípios gerais e obrigações, mesmo os aparentemente mais abstratos e difusos, iluminam o sistema constitucional e legal brasileiro e com ele dialogam, em perfeita harmonia, coerência e complementaridade, seja por ser inadmissível que o País negocie, assine e ratifique tratados internacionais para em seguida ignorá-los ou só aplicá-los de maneira seletiva, cosmética ou retórica. 10. A cooperação entre os Estados-Parte, uma das marcas da Convenção, não a transforma em desidratado acordo de cavalheiros, que legitima a inação e a omissão estatal, algo que imunizaria seu texto, em cada País, contra eventual tentativa de implementação pelo Poder Judiciário. 11. Segundo a Convenção, os Estados-Parte reconhecem que lhes cabe “a obrigação de identificar, proteger, conservar, valorizar e transmitir às futuras gerações” o seu patrimônio cultural e natural e que deverão “tudo fazer para esse fim” (art. 4º); além disso, de maneira mais precisa, estabelece que visando a “garantir a adoção de medidas eficazes para a proteção, conservação e valorização do patrimônio cultural e natural situado em seu território”, cada Estado-Parte empenhar-se-á em “tomar as medidas jurídicas, científicas, técnicas, administrativas e financeiras adequadas para a identificação, proteção, conservação, valorização e reabilitaçãodesse patrimônio” (art. 5º, “d”, grifo acrescentado). 12. As ações e medidas, de caráter mínimo e em numerus apertus, previstas no art. 5º, “d” da Convenção, não constituem simples faculdades de agir para cada Estado-parte, uma espécie de frouxa declaração não-prescritiva de boas-intenções, condenada a ficar refém do poder discricionário dos seus administradores públicos. Tampouco devem ser lidas como rol exortatório de políticas públicas, a cargo do Poder Executivo, ou proclamação vazia de conseqüências práticas, no âmbito judicial. Ao contrário, são

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deveres que convidam o escrutínio e a implementação judicial em cada Estado-Parte. 13. Naquilo que importa para a solução da presente demanda, no art. 5º, “d”, da Convenção, encontra-se, a rigor, um genuíno e amplo dever exigível dos Estados-Parte (aí se incluindo, no caso do Brasil, a União, os Estados federados e os Municípios), consistente na adoção, para proteger e conservar os bens listados como patrimônio mundial, de medidas jurídicas e administrativas “adequadas” (= eficazes). 14. É certo que tratados são firmados pela União, sujeito dotado de personalidade internacional. Isso não implica dizer que, uma vez celebrados, vinculem somente o Governo Federal. Ao contrário, o espírito e os deveres específicos dos acordos internacionais (entre eles a Convenção do Patrimônio Mundial), por integrarem o Direito supremo da nação, devem ser observados por todos e cada um dos órgãos administrativos, tanto federais como estaduais e municipais. 15. Nos processos judiciais que envolvam monumentos, conjuntos, locais notáveis, formações geológicas e fisiográficas, e outros sítios inscritos como patrimônio mundial, o Poder Judiciário brasileiro não só pode, como deve, fazer valer diretamente a Convenção, já que seu texto vincula os Estados-Parte ao ponto de influenciar e orientar as decisões de seus juízes. 16. Lúcio Costa, no seu projeto visionário, concebeu uma cidade aberta, sem muros ou grades, que tem por consentâneo a manutenção de amplos espaços públicos e o trânsito desimpedido de pessoas pelo interior das superquadras e por baixo dos prédios construídos sobre pilotis. 17. Logo, o livre ir e vir sob os prédios residenciais é característica essencial de Brasília, que a torna distinta de qualquer outra grande cidade brasileira. O Projeto original somente permitiu a ocupação privada do primeiro ao sexto andar dos prédios. O piso térreo deveria ficar exposto e aberto ao público, na esperança de uma maior aproximação dos moradores entre si e deles com a Natureza à sua volta. 18. No desenho de Brasília, levou-se ao extremo a idéia de democratização da cidade, assim como o diálogo entre os bens construídos, sobretudo edifícios residenciais, e o mundo natural ou naturalizado que os cerca. Pretendeu-se, pela força criativa da arquitetura, da engenharia e do paisagismo, estabelecer espaços físicos de solidariedade, que a um só tempo combatessem o isolamento típico de outras metrópoles e viabilizassem um vasto campo de convivência coletiva. 19. Na contramão das obrigações internacionais do Brasil e do disposto na legislação nacional, o governo do Distrito Federal vem, de maneira reiterada, admitindo ou simplesmente ignorando a violação das características básicas do conjunto arquitetônico e urbanístico-paisagístico de Brasília, sobretudo no que se refere ao crescente gradeamento da área comum do piso inferior dos edifícios residenciais das superquadras, que, composto de pilotis, deveria permanecer aberto e livre ao trânsito de pessoas, moradores ou não.

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20. A instalação de grades em volta dos pilotis dos blocos de apartamentos infringe o art. 17 do Decreto-Lei n° 25/1937. Viola, ainda, o espírito da Convenção. Primeiro, porque o governo do Distrito Federal deixa de “tomar as medidas jurídicas, científicas, técnicas, administrativas e financeiras adequadas para a ... proteção, conservação ...” do patrimônio cultural de Brasília (art. 5º, “d”, da Convenção, grifo acrescentado), considerado de “valor universal excepcional” ou de "interesse excepcional". Segundo, porque, mais grave ainda, em alguns casos apóia (como na hipótese dos autos), velada ou abertamente, as ações privadas de descaracterização dos bens que deveriam ser, sincera e eficazmente, salvaguardados. 21. O gradeamento isola as áreas de livre circulação e mutila o projeto original da cidade e, em conseqüência, afeta negativamente atributos e características arquitetônicos, paisagísticos, ambientais e sociais dorsais do Projeto de Brasília, perenizados pelo tombamento e pela declaração do Plano-Piloto como patrimônio cultural mundial. 22. O grave problema da violência urbana, que assola e amedronta as nossas cidades, não legitima o comprometimento do patrimônio cultural brasileiro, nem autoriza a apropriação privada de espaços públicos. Segurança pública é alcançada com maior e melhor policiamento, associado a programas de inclusão social, e não com ofensa a outros bens e interesses coletivos, notadamente aqueles de que também são titulares as gerações futuras. 23. Brasília fez a escolha de ser livre nos seus espaços arquitetônicos e paisagísticos. Para continuar a ser o que é ou o que deveria ser, precisa controlar o individualismo, a liberdade de construir onde e como se queira, e a ênfase de seus governantes no curto-prazo, que tende a sacrificar o patrimônio público imaterial, o belo, o histórico e, portanto, os interesses das gerações futuras.

24. Recurso Especial provido, para reconhecer que o Distrito

Federal violou o art. 17 do Decreto-Lei n° 25/1937, bem como as

obrigações internacionais do Brasil, das quais é devedor-solidário,

decorrentes da Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio

Mundial, Cultural e Natural, em particular as estatuídas nos arts.

4º e 5º, “d”.

Efeitos do tombamento (quanto ao proprietário do bem):36

Positivos: fazer as obras de conservação necessárias à preservação do bem ou, se

não tiver meios, comunicar a sua necessidade ao órgão competente; em caso de

alienação onerosa do bem, deverá assegurar o direito de preferência da União,

Estados e Municípios, nessa ordem, sob pena de nulidade do ato, seqüestro do bem

36

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 22.ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 143-4

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por qualquer dos titulares do direito de preferência. Se o bem tombado for público,

será inalienável, ressalvada a possibilidade de transferência entre União, Estados e

Municípios;

Negativos: não pode destruir, demolir ou mutilar as coisas tombadas nem, sem prévia

autorização do IPHAN, repara-las, pintal-as ou restaura-las, sob pena de multa de

50% do dano causado; em se tratando de bens móveis não pode retira-los do país,

sanao por curto espaço de tempo, para fins de intercâmbio cultural

Obrigação de suportar: sujeito à fiscalização do bem pelo órgão técnico competente.

Desfazimento: Embora não seja comum, é possível que, depois do tombamento, o poder público, de oficio ou em razão de solicitação do proprietário ou de outro interessado, julgue ter desaparecido o fundamento que deu suporte ao ato. Reconhecida a ausência do fundamento, desaparece o motivo para a restrição ao uso da propriedade. Ocorrendo semelhante hipótese, o efeito há de ser o de desfazimento do ato, promovendo-se o cancelamento do ato de inscrição, fato também denominado por alguns de destombamento. Nota-se, porém, que o cancelamento não resulta de avaliação discricionária da administração; ao revés, está ela vinculada ás razões que fizeram desaparecer o fundamento anterior. Assim, se o bem tombado continua a merecer proteção, não pode a administração agir a seu exclusivo arbítrio e proceder ao destombamento, porque, assim agindo, sua conduta seria ofensiva aos mandamentos constitucionais que impõe (e não facultam) a tutela dos órgãos públicos.37

QUESTÕES

22-(FCC/Defensor Público/Maranhão/2003) NÃO é efeito do tombamento da edificação urbana:

a) A proibição de construções no entorno que prejudiquem sua visibilidade b) A proibição de sua derrubada c) A inalienabilidade do imóvel em que construída d) O dever do proprietário de conservá-la e) A sujeição à fiscalização do órgão público competente 23-(FCC/Procurador do Município de São Paulo /2004) Tombamento é:

a) Procedimento administrativo por meio do qual o Poder Publico sujeita alguns bens a restrições, cuja conservação seja de interesse público. b) Instrumento utilizado pela Administração Pública em situação excepcional de emergência em prejuízo da propriedade particular, para conservação de bens imóveis. c) Ato administrativo por meio do qual a Administração Pública ocupa temporariamente o imóvel, para a conservação que atenda o interesse público, assegurado ao proprietário indenização pertinente. d) Procedimento administrativo de desapropriação de bem imóvel para fim de preservação, em virtude de seu excepcional valor cultural, arqueológico ou artístico. e) Direito real de gozo, de natureza pública, instituído pelo Poder Público sobre imóvel particular, em virtude de seu excepcional valor cultural, arqueológico ou artístico.

37

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 20.ed. Rio de Janeiro: Lúmen

Júris, 2008, p. 747 e 748

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33-(CESPE/Exame de Ordem/2008.3) Carlos, morador de Ouro Preto – MG, é proprietário de casarão cujo valor histórico foi reconhecido pelo poder público. Após regular procedimento, o bem foi tombado pela União, e Carlos, contrariado com o tombamento, decidiu mudar-se da cidade e alienar o imóvel. Na situação hipotética apresentada, Carlos.

a) pode alienar o bem livremente, sem qualquer comunicação prévia ao poder público. b) somente pode alienar o bem para a União, instituidora do tombamento. c) pode alienar o bem, desde que o ofereça, pelo mesmo preço, à União, bem como ao estado de Minas Gerais e ao município de Ouro Preto, a fim de que possam exercer o direito de preferência da compra do bem. d) não pode alienar o bem, visto que, a partir do tombamento, o casarão tornou-se bem inalienável. 69-(TRF 3º Região / Juiz Federal) Sobre o tombamento, é correto afirmar-se que: a) o bem tombado pela Municipalidade pode ser objeto de desapropriação, desde que por ente federado

superior, e por motivo de interesse público, ainda que não relacionado à preservação do patrimônio histórico, cultural artístico; b) o tombamento configura desapropriação indireta, passível de indenização, quando, além de limitar e

interditar o uso e o gozo regular do bem, suprime-os, isoladamente, de molde a afetar também a sua utilidade econômica, onerando o seu proprietário, de forma individual e concreta; c) o tombamento provisório, embora não previsto em lei, tem sido admitido como providência própria d

medida cautelar, quando seja necessário assegurar, desde logo, a eficácia do ato definitivo, nos termos do Decreto-Lei nº 25/37; d) o dever de preservar e preparar o bem particular tombado é do Poder público, uma vez que a este

interessa a sua conservação, como patrimônio histórico, cultural ou artístico, cabendo ao proprietário o direito de requerer o cancelamento do tombamento se as obras necessárias não forem realizadas, colocando em risco a integridade do bem. 70-(TRF 3º Região / Juiz Federal) O tombamento, como instrumento de preservação de conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico: a) Somente pode ser feito por lei federal, e não gera direito a indenização; b) Não gera direito a indenização, pois não afeta o direito de propriedade; c) Somente pode ser feito por lei federal, estadual ou municipal, e sempre acarreta o dever de

indenização; d) Pode ser feito por ato administrativo, federal, estadual ou municipal, e pode ou não acarretar direito a

indenização. 71-(Cespe-UNB – OAB/2009-2) Acerca da intervenção do Estado na propriedade, assinale a opção correta.

a) No tombamento, modalidade de intervenção restritiva da propriedade, não há mudança de propriedade. b) O direito de preempção municipal, por meio do qual se assegura ao município preferência para aquisição do imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares, não é exemplo de limitação administrativa. c) A ocupação temporária não pode incidir sobre bens imóveis. d) A servidão administrativa é um direito pessoal 75-(CESP/UnB – OAB – 2009-3) Assinale a opção correta com relação às modalidades de restrição do Estado sobre a propriedade.

a) A requisição de imóveis é restrição imposta ao proprietário que não utiliza adequadamente a sua propriedade. b) As limitações administrativas consubstanciam obrigações de caráter específico a proprietários determinados, sem afetar o caráter absoluto do direito de propriedade, que confere ao titular o poder de usar, gozar e dispor da coisa do modo como melhor lhe convier. c) O tombamento, que configura instituição de direito real de natureza pública, impõe ao proprietário a obrigação de suportar ônus parcial sobre o imóvel e não afeta o caráter absoluto do direito de propriedade. d) A servidão administrativa afeta a exclusividade do direito de propriedade, visto que transfere a outrem faculdades de uso e gozo. 77-(ESAF/ Procurador da Fazenda Nacional/2007.2) Com relação aos bens públicos analise os itens a seguir: I. as margens dos rios navegáveis são se domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso mesmo, excluídas de indenização. II. servidão de transito não-titulada, mas tornada permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas, considera-se não-aparente, não conferindo direito à proteção possessória.

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III. uma das características das servidões públicas é a perpetuidade, entretanto, a coisa dominante também se extingue caso seja desafetada, não podendo extinguir-se pela afetação. IV. em regra não cabe direito à indenização quando a servidão decorre diretamente da lei. V. O tombamento pode atingir bens de qualquer natureza: móveis ou imóveis, materiais ou imateriais, públicos ou privados.

Assinale opção correta.

a) Apenas os itens II e III estão incorretos. b) Apenas os itens I e II estão corretos. c) Apenas o item III está incorretos. d) Apenas o item I está correto. e) Todos os itens estão incorretos. 7. Acerca das servidões administrativas e das desapropriações, julgue os itens a seguir.

1) Servidão administrativa é um direito real de gozo que independe de autorização legal, recaindo sobre imóvel de propriedade alheia. Sejam públicas ou privadas, as servidões se caracterizam pela perpetuidade, podendo, entretanto, ser extintas no caso de perda da coisa gravada ou de desafetação da coisa dominante. Em regra, não cabe indenização quando a servidão, incidente sobre imóvel determinado, decorrer de decisão judicial. 12. Relativamente aos bens públicos, julgue os itens seguintes.

1) As terras devolutas são espécies de terras públicas que, por serem bens de uso comum do povo, não estão incorporadas ao domínio privado. São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos estados-membros, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. Constituem bens da União as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei. 2) Os rios públicos são bens da União quando situados em terrenos de seu domínio, ou ainda quando banharem mais de um estado da Federação, ou servirem de limites com outros países, ou se estenderem a território estrangeiro ou dele provierem. Os demais rios públicos bem como os respectivos potenciais de energia hidráulica pertencem aos estados membros da Federação.

1. Sobre os bens públicos, observe as seguintes proposições:

I. A afetação é a destinação do bem público à satisfação das necessidades coletivas e estatais, do que deriva inclusive a sua inalienabilidade, sendo decorrente ou da própria natureza do bem ou de um ato estatal. II. Os bens públicos de uso comum e de uso especial não podem ser desafetados, diante do regime jurídico a que se sujeitam. III. Uma diferença fundamental entre bens dominicais e outras espécies de bens públicos consiste na possibilidade de alienação daqueles, desde que respeitadas as exigências e formalidades previstas em lei. IV. Os bens dominicais, assim como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião. V. Apesar de inalienáveis, os bens públicos afetados podem ser objeto de penhora quando a execução contra a Fazenda Pública tiver por objeto créditos de natureza trabalhista. A. somente as proposições I, II e III são corretas B. somente as proposições I, III e IV são corretas C. somente as proposições II, III e IV são corretas D. somente as proposições II, IV e V são corretas E. todas as proposições são corretas 7. Acerca da intervenção do Estado sobre a propriedade, julgue o item seguinte.

A requisição constitui modalidade de intervenção cujo procedimento é unilateral, autoexecutório e independente da aquiescência do particular para sua concretização, ao passo que a desapropriação tem por objeto bem exclusivamente privado e configura procedimento administrativo pelo qual o poder público ou seus delegados impõe(m) ao proprietário a perda de um bem, mediante justa indenização. 8. No que concerne às formas de intervenção do Estado na propriedade, assinale a opção correta.

A. Ocupação temporária é a modalidade de intervenção estatal na propriedade particular fundada na urgência, que incide sobre bens móveis, imóveis e até mesmo serviços prestados por particulares. B. Quanto à eficácia, o tombamento dos bens poderá ser provisório ou definitivo, mas nem sempre poderá gerar direito a indenização. C. A requisição administrativa destina-se ao uso da propriedade do particular, ocorre sempre em caso de urgência - mediante autorização judicial - e não enseja qualquer indenização ao particular. D. Segundo jurisprudência reiterada do STF, a limitação administrativa non aedificandi imposta aos terrenos marginais nas estradas de rodagem da zona rural afeta o domínio do particular e obriga a administração a promover a indenização devida.

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E. O tombamento somente poderá incidir sobre bens particulares, não havendo previsão legal para incidir sobre bens públicos. 4. Julgue os itens que se seguem, relativos aos bens públicos.

1) O bem móvel tombado não poderá sair do país. 2) O tombamento voluntário de bem pertencente a pessoa física impede a alienação da coisa tombada. 3) O proprietário pode dar o bem imóvel tombado em garantia hipotecária de contrato bancário. 2. Relativamente ao regime jurídico dos bens públicos imóveis do Estado de São Paulo, a Constituição Estadual faz depender de autorização da Assembléia Legislativa a

a. alienação de bens, sua dação em locação e o recebimento de doações. b. alienação e a aquisição de bens. c. concessão de uso e a concessão de direito real de uso, exceto para realizadas em caráter precário. d. permissão de uso e a autorização de uso, ainda que em caráter precário. e. alienação de bens e o recebimento de doações com encargo. 6. Ter possuído, até 30 de junho de 2001, como seus, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinqüenta metros quadrados de imóvel público situado em área urbana, utilizando-os para sua moradia ou de sua família, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural. Esses são os requisitos para que se exerça o direito

a. à concessão de direito real de uso, o que depende de concordância discricionária da Administração Pública. b. à concessão de uso especial para fins de moradia, cujo título pode ser obtido por via administrativa ou judicial. c. ao usucapião pro moradia de imóvel público, o que depende de decisão judicial. d. ao usucapião extraordinário de imóvel público, o que depende de decisão administrativa ou judicial. e. de aforamento sobre bens públicos, o que depende de processo administrativo perante o órgão registral competente. 9. Acerca dos bens públicos, é correto afirmar:

a. Na alienação de bens dominicais imóveis, dispensase autorização legislativa e o certame adequado é o leilão. b. Os bens dominicais são aqueles que, por determinação legal ou por sua própria natureza, podem ser utilizados por todos, em igualdade de condições. c. Para aquisição de bem imóvel, via de regra é exigida licitação na modalidade leilão. d. Considerando rol exemplificativo contido no Código Civil, uma ciclovia construída por uma Prefeitura é bem de uso especial. e. Na retrocessão, faz-se desnecessária a licitação 1. No tocante ao uso de bens públicos por particulares, NÃO é correto sustentar que

a. a autorização de uso é ato discricionário, de título precário, podendo ser revogado a qualquer tempo, dependendo sempre de licitação e de lei autorizadora. b. a concessão de direito real resolúvel do uso aplicase apenas aos dominicais, permitindo ao particular, mediante autorização legislativa e licitação, desempenhar atividade para fins de interesse social, de modo gratuito ou remunerado. c. a concessão de uso, em regra exige autorização legislativa e licitação, e tem por objeto uma utilidade pública de certa permanência. d. a permissão de uso é dada no interesse público, em caráter precário, dependendo, em regra, de licitação e gerando um dever de utilização, sob pena de revogação. e. os bens de uso comum do povo, os de uso especial e os dominicais podem ser utilizados por particulares. 9. Considerando que a execução de obras para implantação de uma linha de metrô compreende inúmeras fases, destaca-se a primeira delas como sendo a identificação das áreas que serão afetadas pelo investimento público. Nem todas as áreas utilizadas para a implantação da obra terão seu aproveitamento econômico esvaziado, de forma que muitas prescindirão de aquisição de domínio ( p. ex., áreas para canteiro de obras ou margem de segurança para perfuração ). Neste sentido, é correto afirmar que, além da desapropriação para alguns trechos da obra, poderão ser utilizados pela Cia. do Metropolitano - METRÔ, os seguintes institutos de intervenção na propriedade privada:

a. limitação administrativa, na medida em que impõe obrigações de não fazer decorrentes de necessidade urgente do Poder Público. b. ocupação temporária, na medida em que viabiliza a utilização transitória remunerada de propriedade particular. c. requisição administrativa, instituída por acordo entre as partes e que visa à obrigação de fazer pelo proprietário, que deverá colaborar com a obra.

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d. tombamento, que grava a propriedade particular com limitações do aproveitamento econômico, restringindo- lhe os usos permitidos. e. servidão, na medida em que impõe ao proprietário o dever de suportar, gratuita e por meio de lei, o serviço público cuja prestação justificou sua instituição. 6. Sobre bens públicos é correto afirmar:

a. Apenas bens imóveis podem ser apontados como bens de uso comum do povo. b. No Estado de São Paulo, o patrimônio físico, cultural e científico dos museus, institutos e centros de pesquisa da Administração direta, indireta e fundacional não podem ser alienados sem prévia audiência da comunidade científica. c. Como assentado na jurisprudência dos tribunais superiores, bem público dominical pode ser objeto de contrato de locação regido pela lei civil, estando sujeito, portanto, à ação renovatória de aluguel. d. O regime jurídico do bem da empresa privada que presta serviço público mediante contrato de concessão, mesmo se não afetado à prestação do serviço, é de direito público. e. A afetação de bem público exige prévia existência de um ato estatal formal. 9. O uso privativo de bem público pelo particular é

a. permitido, desde que o uso seja compatível com o fim a que ele se destina e que tenham sido colhidas as autorizações normativas e administrativas necessárias. b. vedado, pois caracteriza ofensa ao princípio da inalienabilidade dos bens públicos, o que compreende a impossibilidade de sua oneração. c. vedado, pois caracteriza ato de desvio de finalidade, tendo em vista que o patrimônio público deve ser exclusivamente destinado ao atendimento do interesse público. d. permitido, desde que restrito às hipóteses de uso normal, que a finalidade seja de interesse público e que tenham sido colhidas as autorizações legais necessárias. e. permitido, desde que sua utilização seja precedida de licitação, sob pena de desvio de finalidade. 3. Considerando as limitações ao direito de propriedade, considere:

I. Utilização coativa de bens e serviços particulares pelo Poder Público por ato de execução imediata e direta da autoridade, com indenização posterior, para atendimento de necessidades coletivas urgentes e transitórias. II. Utilização transitória, remunerada ou gratuita, de bens particulares pelo Poder Público, para a execução de obras, serviços ou atividades públicas de interesse público. Estes conceitos referem-se, respectivamente, a

a. desapropriação e servidão. b. requisição e ocupação temporária. c. ocupação temporária e desapropriação. d. tombamento e desapropriação indireta. e. requisição e servidão. 1. Em matéria de intervenção do Estado na propriedade, analise:

I. Utilização transitória, remunerada ou gratuita, de bens particulares pelo Poder Público, para a execução de obras, serviços ou atividades públicas ou de interesse público, como modalidade de intervenção do Estado na propriedade. II. Toda imposição geral, gratuita, unilateral e de ordem pública condicionada ao exercício de direitos ou de atividades particulares às exigências do bemestar social. Tais situações dizem respeito, respectivamente

a. desapropriação e requisição. b. ocupação temporária e limitação administrativa. c. servidão administrativa e tombamento. d. requisição e ocupação temporária. e. limitação administrativa e tombamento. 2. Sobre os bens públicos, é correto afirmar que os bens

a. do domínio público são os que se destinam especialmente à execução dos serviços públicos e não podem ser alienados. b. dominiais, ou dominicais, por integrarem o patrimônio público, não podem ser alienados pela Administração Pública. c. dominiais, ou dominicais, são bens pertencentes ao patrimônio disponível da Administração Pública e podem ser alienados. d. de uso especial são restritos aos destinados às instalações do Poder Judiciário. e. de uso comum e os de uso especial não podem ser vendidos mesmo se forem desafetados.

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3. Sobre as modalidades de intervenção do Estado na propriedade, é correto afirmar que

a. a ocupação provisória caracteriza-se como a utilização temporária que o Estado faz de bem improdutivo ou produtivo exclusivamente para instalação de canteiro de obra de grande porte, sem direito a indenização do proprietário. b. a requisição insere-se no poder discricionário da Administração e pode ser adotada em quaisquer circunstâncias, a critério do agente público competente. c. a limitação administrativa é medida concreta, restrita a determinada propriedade e é sempre indenizável. d. a servidão administrativa tem natureza de direito real e só é indenizável se causar dano ou prejuízo. e. o tombamento é medida sempre compulsória e definitiva. 2. A imprescritibilidade dos bens públicos implica a

a. continuidade de sua sujeição ao regime de direito público, mesmo se cedidos a particulares. b. necessidade de autorização legislativa para sua alie nação. c. insuscetibilidade de o proprietário perder o domínio, em razão de usucapião. d. impossibilidade de recuperação de sua posse por meio de reintegração liminar. e. perenidade de sua existência no tempo. 18. As servidões administrativas constituem-se

a. sempre mediante acordo com o proprietário do imóvel, que disciplinará o valor da indenização a ser paga. b. diretamente por lei ou por ato administrativo, cabendo ao proprietário o direito de receber indenização, conforme o caso concreto. c. mediante ato administrativo objeto de registro imobiliário, sem o qual não produz efeitos. d. por comando legal com destinatários genéricos, abrangendo indistintos imóveis, sem indenização. e. de acordo com o procedimento aplicável às desapropriações, iniciando-se com prévio decreto de instituição. 10. Com base na doutrina e na legislação vigente, acerca dos bens públicos,

a. bens dominicais e de uso comum do povo não podem ser alienados. b. é vedada a autorização a particular para uso privativo de bens de uso comum do povo. c. quando a licitação não for dispensada, a modalidade própria para alienação de bens imóveis é a concorrência. d. quando a licitação não for dispensada, a modalidade própria para alienação de bens móveis é o pregão. e. a concessão de uso de bem público a particular deve ser precedida de licitação na modalidade tomada de preços. 1. São bens da União

a. as ilhas fluviais e lacustres em zonas Municipais. b. os lagos que banhem um Estado. c. as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras. d. os potenciais de energia solar. e. os recursos minerais, exceto os do subsolo. 13. O instrumento jurídico adequado para a destinação de bens públicos às organizações sociais integrantes do terceiro setor é a

a. concessão de direito real de uso, com prévia licitação. b. autorização de uso, com prévia licitação. c. concessão de uso, sendo dispensada a licitação. d. permissão de uso, sendo dispensada a licitação. e. permuta, sendo dispensada a licitação. 3. Os bens públicos são classificados em

a. de domínio privado do Estado, divididos em de uso especial e de uso comum do povo; e de domínio público, também denominados bens dominicais. b. de uso comum do povo, de uso especial e dominicais, sempre inalienáveis, imprescritíveis e impenhoráveis. c. disponíveis e indisponíveis, em decorrência da forma de aquisição da propriedade pela Administração. d. de domínio público do Estado, podendo caracterizarse como de uso especial e de uso comum do povo, e de domínio privado do Estado, denominados bens dominicais. e. de domínio público e de domínio privado, sendo apenas os de domínio público passíveis de utilização pelo particular sob a forma de concessão ou permissão de uso.