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375 ARTIGO ARTICLE Bases para uma política nacional de ciência, tecnologia e inovação em saúde The basis for a Brazilian national policy in science, technology, and innovation in health 1 Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde e Conselho Superior da Faperj. Esplanada dos Ministérios Bloco G, Ed Sede – 8 o andar. 70058-900 Brasília DF. [email protected]> Reinaldo Guimarães 1 Abstract This paper discusses the basis for a Brazilian National Policy in Science, Technology, and Innovation in Health (PNCTI/S) as the structural element for a Brazilian health research effort. At least since the National Research Coun- cil (CNPq) was founded in 1951, this huge effort, including a set of nearly 18,000 researchers in 4,900 research groups, has not been backed by an explicit national health research policy. The paper takes the view that the appropriate body for es- tablishing this policy is the Ministry of Health, as occurs in the majority of countries with a research tradition. Such a National Policy should be backed by a priority research agenda, developed through agreement by the most relevant players, namely health researchers and managers. The National Policy should be extensive in relation to the knowledge chain and inclusive towards re- searchers and research institutions. Finally, it should be based on the quest for equity in health and ethical research standards in practice. Key words Science and technology, Health re- search, Strategic research Resumo O texto discute as bases para uma Polí- tica Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTI/S) como elemento estrutura- dor do esforço brasileiro de pesquisa em saúde. Pelo menos desde a fundação do CNPq, em 1951, esse imenso esforço, que no Brasil se traduz por um conjunto de quase 18.000 pesquisadores atu- antes em 4.900 grupos de pesquisa, não se susten- ta em uma política pública explícita de pesquisa em saúde. O texto adota o ponto de vista de que o organismo adequado para constituir essa política é o Ministério da Saúde, de resto como ocorre na maioria dos países com tradição em pesquisa. Uma PNCTI/S necessita ser respaldada em uma agenda de pesquisa prioritária, cuja construção deve ser pactuada entre os atores mais relevantes, quais sejam os pesquisadores e os gestores de saú- de. Deve também prever novos canais e fontes de fomento. A PNCTI/S deve ser extensiva no que se refere à cadeia do conhecimento e inclusiva no que toca aos pesquisadores e instituições de pes- quisa. Por fim, deve sustentar-se na busca da eqüidade em saúde e na prática de padrões éticos de pesquisa. Palavras-chave Ciência e tecnologia, Pesquisa em saúde, Pesquisa estratégica

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No artigo, o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, aborda os principais dilemas para concretizar o setor de pesquisa nesse âmbito.

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Bases para uma política nacional de ciência,tecnologia e inovação em saúde

The basis for a Brazilian national policy in science,technology, and innovation in health

1 Departamento de Ciênciae Tecnologia do Ministérioda Saúde e ConselhoSuperior da Faperj.Esplanada dos MinistériosBloco G, Ed Sede – 8o andar. 70058-900Brasília [email protected]>

Reinaldo Guimarães 1

Abstract This paper discusses the basis for aBrazilian National Policy in Science, Technology,and Innovation in Health (PNCTI/S) as thestructural element for a Brazilian health researcheffort. At least since the National Research Coun-cil (CNPq) was founded in 1951, this huge effort,including a set of nearly 18,000 researchers in4,900 research groups, has not been backed by anexplicit national health research policy. The papertakes the view that the appropriate body for es-tablishing this policy is the Ministry of Health, asoccurs in the majority of countries with a researchtradition. Such a National Policy should bebacked by a priority research agenda, developedthrough agreement by the most relevant players,namely health researchers and managers. TheNational Policy should be extensive in relation tothe knowledge chain and inclusive towards re-searchers and research institutions. Finally, itshould be based on the quest for equity in healthand ethical research standards in practice.Key words Science and technology, Health re-search, Strategic research

Resumo O texto discute as bases para uma Polí-tica Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovaçãoem Saúde (PNCTI/S) como elemento estrutura-dor do esforço brasileiro de pesquisa em saúde.Pelo menos desde a fundação do CNPq, em 1951,esse imenso esforço, que no Brasil se traduz porum conjunto de quase 18.000 pesquisadores atu-antes em 4.900 grupos de pesquisa, não se susten-ta em uma política pública explícita de pesquisaem saúde. O texto adota o ponto de vista de que oorganismo adequado para constituir essa políticaé o Ministério da Saúde, de resto como ocorre namaioria dos países com tradição em pesquisa.Uma PNCTI/S necessita ser respaldada em umaagenda de pesquisa prioritária, cuja construçãodeve ser pactuada entre os atores mais relevantes,quais sejam os pesquisadores e os gestores de saú-de. Deve também prever novos canais e fontes defomento. A PNCTI/S deve ser extensiva no que serefere à cadeia do conhecimento e inclusiva noque toca aos pesquisadores e instituições de pes-quisa. Por fim, deve sustentar-se na busca daeqüidade em saúde e na prática de padrões éticosde pesquisa.Palavras-chave Ciência e tecnologia, Pesquisaem saúde, Pesquisa estratégica

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À memória de Sérgio Arouca, sanitarista brasileiro (1941 – 2003)

Introdução: a importância da pesquisa em saúde

Com a possível exceção da pesquisa militar, asaúde é o setor que despende a maior quanti-dade de recursos em termos mundiais. Em1998, segundo o Global Forum for Health Re-search, estimava-se terem sido algo como US$73,5 bilhões, mais de 90% nos países ricos e vi-sando resolver os problemas dos países ricos. Eno Brasil, qual a relevância da pesquisa em sa-úde? Em primeiro lugar, cabe uma delimitação.Por motivos variados, a pesquisa em saúde cos-tuma ser circunscrita, mesmo em alguns ambi-entes especializados, ao seu maior, mas de mo-do algum exclusivo, componente: a pesquisabiomédica. Essa imprecisão conceitual gerouuma complicação metodológica e uma acomo-dação empírica. A complicação foi a de consi-derar “saúde” uma área do conhecimento, quan-do se trata de um setor de aplicação ou de ati-vidade. A acomodação empírica subseqüentefoi medir o esforço de pesquisa em saúde pelosomatório daquilo que na árvore do conheci-mento do CNPq está incluído nas grandes áreasdas ciências da saúde e das ciências biológicas.

Numa perspectiva conceitual expandida enuma abordagem setorial, cerca de 50% do es-forço de pesquisa em saúde no país provém degrupos vinculados às ciências da saúde, cercade 25% provêm de grupos vinculados às ciên-

cias biológicas e os 25% restantes de gruposdas demais grandes áreas. Essa repartição é ex-clusivamente quantitativa. Os 25% das ciênciasbiológicas se referem quase que exclusivamentea grupos pertencentes às áreas cobertas pela Fe-deração das Sociedades de Biologia Experimen-tal (FeSBE), à genética e à microbiologia/para-sitologia. Dentre as demais grandes áreas doconhecimento, as ciências agrárias, as ciênciashumanas e as ciências sociais aplicadas possu-em uma presença maior. As engenharias e as ci-ências exatas e da Terra estão presentes em graubastante pequeno. Esse desenho mobiliza, nosdias de hoje, cerca de 4.900 grupos, com 18.000pesquisadores (11.000 doutores) e circunscrevecerca de 30% do esforço global de pesquisa noBrasil (CNPq, 2002). Trata-se do maior com-ponente científico-tecnológico apropriável numúnico setor ou grande área do conhecimentono país. Números de contorno da pesquisa emsaúde no Brasil para 2002 estão nas tabelas 1 e 2.

A “reemergência” da pesquisa em saúde

No plano histórico, a importância da pesquisaem saúde no Brasil é largamente reconhecida,estando os institutos de pesquisa em saúdedentre os primeiros e mais importantes do paísdesde o século 19, na tradição de Claude Ber-nard, de Pasteur e da escola alemã. Da mesmaforma, naquela que poderíamos denominar defase acadêmica da pesquisa brasileira (a partirde 1934, com a fundação da Universidade deSão Paulo), a pesquisa em saúde sempre ocu-

Tabela 1Grupos que atuam em saúde e total de grupos cadastrados no Censo 2002 do Diretório dos Grupos de Pesquisa, segundo a grande área do conhecimento predominante nas atividades dos grupos.

Grande área do conhecimento1 Grupos que atuam Total de grupos %em saúde2 (S) cadastrados (T) (S)/(T)

Ciências da Saúde 2.507 2.513 99,8Ciências Biológicas 1.129 2.126 53,1Ciências Humanas 430 2.399 17,9Ciências Exatas e da Terra 319 2.051 15,6Ciências Agrárias 216 1.653 13,1Engenharias e C. da Computação 199 2.243 8,9Ciências Sociais Aplicadas 91 1.429 6,4Lingüística, Letras e Artes 23 744 3,1Total 4.914 15.158 32,34

1 Grande área do conhecimento predominante nas atividades dos grupos de pesquisa.2 Grupos com pelo menos uma linha de pesquisa relacionada à grande área Ciências da Saúde ou ao setor de atividade Saúde Humana.

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pou um lugar de destaque, na qual permane-ceu durante o período inaugurado com a cria-ção do CNPq em 1951. No entanto, entre aque-las duas primeiras fases e esta última operou-seum crescente divórcio entre o núcleo hegemô-nico da pesquisa em saúde e as políticas de sa-úde, que se traduziu em um afastamento cres-cente entre a temática da pesquisa e as necessi-dades de saúde da população.

Esse quadro perdurou até muito recente-mente, quando uma parte importante da pes-quisa em saúde em todo o mundo foi convida-da a reorganizar-se para enfrentar o desafio dasdoenças emergentes ou reemergentes, cujo ber-ço estava no Terceiro Mundo, mas que passa-ram a ameaçar crescentemente as populaçõesdo Hemisfério Norte. À mobilização propostapor organismos multilaterais, tendo à frente aOrganização Mundial de Saúde, o Brasil reagiucom um conjunto de iniciativas que resultaramna realização da I Conferência Nacional de Ci-ência e Tecnologia em Saúde, em 1994. Pelaprimeira vez em nossa história, foi elaboradauma proposta explícita e abrangente de umaPolítica Nacional de Ciência e Tecnologia emSaúde.

Por várias razões, entre as quais a de ter si-do realizada ao final de um período atípico(curto) de governo, a maioria das resoluções daConferência não foi implementada. De qual-quer modo, tratou-se de uma iniciativa de altarelevância e a maior parte do acervo de idéiasque lá se desenvolveu permaneceu vivo até osdias de hoje. Em dezembro de 2000, a XI Con-ferência Nacional de Saúde deliberou pela ne-

cessidade da realização da II Conferência Naci-onal de C&T em Saúde, prevista para o primei-ro semestre de 2004. Este gesto político mobili-zou diversos atores envolvidos com o tema dapesquisa em saúde e várias organizações, entreas quais a Associação Brasileira de Pesquisa ePós-graduação em Saúde Coletiva (Abrasco),produziram propostas de políticas nacionaisorientadoras da pesquisa em saúde. As idéiasque serão expostas a seguir foram, em sua mai-oria, debatidas no âmbito do Grupo de Traba-lho em C&T da Abrasco (Carlos Coimbra, Ce-cília Minayo, Célia Almeida, José da RochaCarvalheiro, Madel Therezinha Luz, MaurícioLima Barreto, Moises Goldbaum, Reinaldo Gui-marães (coordenador), Rita Barradas Barata.)

A política brasileira de C&T privilegia aeleição de setores de atividade econômica co-mo base de sua concepção e orientação. Estaênfase, embora compreensível como direçãogeral, tem deixado de lado uma outra visão daspolíticas de C&T, em setores que possuem umaenorme relevância no Brasil e nos quais a ativi-dade de pesquisa deveria ocupar um lugar mui-to mais central do que ocupa hoje e do que ja-mais ocupou. Trata-se do olhar em direção aossetores de atividade social, em particular os dealimentação, saúde, habitação e educação.

Este olhar da política de C&T em direção àspolíticas sociais possui também a virtude deoperar um deslocamento na direção de um no-vo projeto nacional no qual possa ser mais va-lorizado o mercado interno e as necessidadesda população brasileira. Por exemplo, no quese refere à alimentação, ao lado de aumentar a

Tabela 2Número de grupos, linhas de pesquisa e pesquisadores que atuam em saúde, segundo a grande área do conhecimento predominante nas atividades dos grupos.

Grande área do Grupos Linhas de Pesquisa- Doutores Pesquisa- Doutores conhecimento Pesquisa dores dores (P*) (D*)

Ciências da Saúde 2.507 7.958 13.371 8.277 10.302 5.886Ciências Biológicas 1.129 3.261 5.054 4.064 3.983 3.081Ciências Humanas 430 864 2.003 1.113 1.825 979Ciências Exatas e da Terra 319 544 1.210 957 1.142 896Ciências Agrárias 216 479 1.025 710 725 463Engenharias e C. da Computação 199 410 782 596 727 547Ciências Sociais Aplicadas 91 131 352 175 339 165Lingüística, Letras e Artes 23 41 110 58 108 56Total 4.914 13.688 23.907 15.950 19.151 12.073Todas as grandes áreas sem 17.773 10.938dupla contagem de pesquisadores

(P*) Pesquisadores sem dupla contagem.

(D*) Doutores sem dupla contagem.

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competitividade das commodities brasileiras deexportação (o que é, sem dúvida, importante),será essencial inaugurar linhas de apoio à pes-quisa com vistas, por exemplo, a uma políticade segurança alimentar. Uma nova PNCT&I/Sterá, portanto, o desafio de, ao mesmo tempo,fomentar o avanço do conhecimento científicono setor de saúde, orientar os vetores de desen-volvimento tecnológico e de inovação da in-dústria de equipamentos, medicamentos, imu-nizantes e outros insumos básicos à saúde,sempre sem perder de vista os mecanismos deapropriação societária dos resultados alcança-dos no conjunto de suas ações.

O aumento da ênfase na pesquisa dirigidaàs políticas sociais impõe também o desafio demudar a escala de articulação entre os organis-mos gestores de cada uma delas no âmbito fe-deral. Nesse terreno as experiências não têm si-do bem-sucedidas e mudanças nos padrões dearticulação são essenciais para diminuir o des-perdício e aumentar a efetividade das ações defomento. Nos quatro setores mencionados, umaforte sinergia entre os Ministérios da Ciência eTecnologia, da Saúde, da Educação, da Agricul-tura e do Meio Ambiente será necessária.

Fundamentos e diretrizes da política de pesquisa em saúde

A desigualdade é o calcanhar-de-aquiles da ci-vilização brasileira. Todo o progresso conquis-tado por gerações, em todos os campos em queisso foi observado, esbarra na marca infame –muitas vezes crescente – da desigualdade. Nãoé diferente no campo da saúde. Os indicadoresregionais e os referentes a diferentes grupos so-ciais em cada região demonstram a profundadiscriminação social quanto à saúde, seja nospadrões de morbidade, de mortalidade, no aces-so aos serviços, na qualidade do atendimento,na disponibilidade de infra-estrutura sanitária,enfim em qualquer aspecto da intervenção pú-blica ou privada atinente à mesma. O compro-misso de combater a marca da desigualdade nocampo da saúde (aumentar os padrões de eqüi-dade do sistema de saúde) deve ser o primeirofundamento básico da PNCT&I/S e deve ori-entar todos os seus aspectos, todas as suas es-colhas, em todos os momentos.

Em artigo recente, publicado no Bulletin ofthe World Health Organization, lê-se: Se o siste-ma de pesquisa em saúde de um país pode serconsiderado o “cérebro” do seu sistema de saúde,

então a ética constitui a sua “consciência”. É im-perativo que sistemas de saúde operem segundoas mais altas aspirações éticas e de justiça distri-butiva (Butha, 2002). Não resta dúvida de queas crescentes restrições observadas nos paísescentrais quanto a experimentos in anima nobi-le dentro de suas fronteiras têm estimulado aexportação de projetos de pesquisa, em parti-cular de protocolos de ensaios clínicos e tera-pêuticos para serem executados em populaçõesde países em desenvolvimento, em condiçõesque seriam legalmente proibidas porque etica-mente inaceitáveis no país de origem. O respei-to estrito a padrões éticos na pesquisa deve sero segundo fundamento básico da PNCT&I/S.

Uma PNCT&I/S voltada para as necessida-des de saúde da população deveria ter comoobjetivo principal desenvolver e otimizar osprocessos de absorção de conhecimento cientí-fico e tecnológico pelas indústrias, pelos servi-ços de saúde e pela sociedade. O acatamentodesta assertiva implica analisar o esforço naci-onal de C&T em saúde como um componentesetorial do sistema de inovação brasileiro. Poroutro lado, essa perspectiva não deve sugeriruma visão reducionista ou utilitarista da políti-ca. Pelo contrário, reconhecendo a complexi-dade dos processos de produção de conheci-mento científico e tecnológico neste setor, aPNCT&I/S deve dar conta de todas as dimen-sões da cadeia do conhecimento envolvida napesquisa em saúde. Em outras palavras, deveser uma política extensiva. Este caráter extensi-vo por um lado e seu compromisso social, poroutro, sugerem que a PNCT&I/S necessita serpensada, proposta e executada segundo ummodelo de lógicas complementares. No planode sua missão, segundo a lógica da Política Na-cional de Saúde, à qual está subordinada, comsuas prioridades e objetivos gerais vinculadosao atendimento das necessidades de saúde dapopulação e à conquista de padrões mais eleva-dos de eqüidade em saúde. No plano de seuexercício, segundo a lógica das práticas e méto-dos da pesquisa científica e do desenvolvimen-to tecnológico que são muitas vezes distintasdas que governam a política de saúde.

Conceitualmente, no Brasil, não parecehaver maiores dificuldades na delimitação docampo da pesquisa em saúde. Numa vertentede apreciação metodológica, o elemento cen-tral contido nesse conceito é que ele é fundadonuma perspectiva de finalidade da ação da pes-quisa: em outras palavras, numa perspectivasetorial. Entre outras coisas, a apropriação em-

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pírica do conceito de pesquisa em saúde basea-do numa abordagem setorial sugere que ela de-ve ter um caráter abrangente, no sentido de in-corporar uma grande variedade de atores, atu-antes em outras áreas do conhecimento quenão apenas as ciências da saúde e as ciências bi-ológicas. O corolário imediato desse ponto devista é que a PNCT&I/S deve tratar de umaagenda que incorpore potencialmente todo oleque da pesquisa científica e tecnológica quetenha como finalidade, imediata ou mediata,contribuir para a melhoria do estado de saúdeda população. Em outras palavras, que sejaabrangente. Compromisso social, extensivida-de e abrangência, estas deverão ser as três ca-racterísticas estruturais mais importantes deuma PNCT&I/S brasileira.

A pesquisa estratégica

Vivemos uma época de intensas reformulaçõesnos modelos explicativos do progresso técnicoe, nesse contexto, um dos aspectos mais debati-dos nos últimos anos tem sido o das relações en-tre a pesquisa científica e a inovação tecnológi-ca. Estão sob tela de juízo faz bastante tempo asexplicações lineares que trabalham com a pers-pectiva de que essas inovações são o ponto dechegada de um continuum cujo ponto de parti-da foi uma bancada de “pesquisa básica”. Nessasnovas aquisições conceituais deve ser ressaltadaa pesquisa estratégica, que é relevante para umaPNCT&I/S por várias razões. Entre outras, porser o tipo de pesquisa capaz de mobilizar a mai-or parte dos pesquisadores ativos no país.

A ênfase na pesquisa estratégica, para osbrasileiros, possui ainda um outro aspecto a serressaltado. Talvez não se trate apenas de priori-zar um padrão original de prática de pesquisa,mas de recuperar uma tradição centenária emnosso país, posto que ela está na raiz históricada pesquisa em saúde no Brasil, no InstitutoBacteriológico de São Paulo (com Adolfo Lutz),no Instituto de Manguinhos (com OswaldoCruz), no Instituto Butantã (com Vital Brasil)e no Instituto Biológico de São Paulo (com Ar-tur Neiva e Rocha Lima). Essas instituições,desde o final do século 19 e até os anos 30 doséculo 20, nada mais fizeram do que praticar apesquisa estratégica de seu tempo, inspiradasno modelo de Pasteur. Um pouco mais tarde,podemos citar também o Instituto EvandroChagas de Belém, tendo à frente o seu patrono.Nelas, cada uma a seu modo, fez-se uma pes-

quisa experimental, muitas vezes de fronteira,que nunca teve dificuldade em manter seuscompromissos com o atendimento às necessi-dades de saúde da população. Que foi capaz deamalgamar as aquisições desta pesquisa com aobservação clínica e com a intervenção popu-lacional de saúde pública, bem como tratou detransferir muitas de suas descobertas para oterreno da produção industrial (como no casodos soros e vacinas). E que, finalmente, nãodeixou de formar recursos humanos qualifica-dos e de disseminar seus achados através de re-vistas científicas de excelente nível, algumasexistentes até hoje.

Naturalmente, nossa realidade atual é mui-to diferente da que existiu no tempo da funda-ção da pesquisa em saúde no Brasil. São novasinstituições, a magnitude das tarefas e dos pro-blemas é muito maior e os interesses nacionaise internacionais em jogo são gigantescos. Noentanto, numa perspectiva heurística, a experi-ência histórica deve chamar nossa atenção paraa possibilidade de uma redefinição dos padrõesde pesquisa em saúde no país. Deve, além dis-so, sugerir uma direção para a mudança, naqual um olhar mais atento da comunidade ci-entífica e tecnológica às necessidades e às polí-ticas de saúde não signifique um empobreci-mento de sua capacidade de invenção ou umaperda de sua autonomia criativa.

As ações atuais de fomento

Uma análise das ações de fomento atuais noâmbito da pesquisa em saúde revela alguns as-pectos importantes, a maior parte deles tribu-tária da cinqüentenária tradição brasileira deapoio à pesquisa científica e tecnológica.1) A qualidade e a transparência nas ações defomento, em particular as realizadas pelas agên-cias do MCT, pela Capes, bem como pela mai-oria das agências estaduais. Essas característicasdecorrem da experiência brasileira com práti-cas de fomento em bases relativamente compe-titivas.2) A baixa capacidade de indução, especial-mente nas mesmas agências do MCT, na Capese em algumas agências estaduais.3) Especificamente no campo da pesquisa emsaúde, a existência de uma tradição importanteem termos de institutos de pesquisa federais eestaduais.4) Um modelo de fomento descentralizado eplural, que também deve ser creditado à tradi-

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ção nacional de fomento e deve ser capituladoentre as suas qualidades. Historicamente, a plu-ralidade de agências tem sido um instrumentode proteção dos executores de pesquisa contraeventuais obscurecimentos no que se refere àqualidade e à transparência nas ações de fo-mento.5) A ausência de mecanismos de coordenaçãoadequados entre as múltiplas instâncias de fo-mento, em especial entre os dois atores princi-pais, o MCT e o MS.6) Uma baixa capacidade de articulação entreas ações de fomento científico-tecnológico e apolítica de saúde. Entre outras conseqüências,isto contribui para uma baixa capacidade detransferência de conhecimento novo para asindústrias, serviços de saúde e para a sociedadeem geral.7) Uma extensa e generalizada carência de ati-vidades de pesquisa e desenvolvimento realiza-da nas empresas.8) Finalmente, uma quantidade de recursos pa-ra o fomento bastante aquém das necessidades.

Essas características indicam o ponto departida para uma PNCT&I/S no que se refere àgestão das atividades de pesquisa. Por um lado,revelam a existência de um patrimônio institu-cional de execução e fomento muito importan-te. Por outro, apontam os principais empecilhospara um aproveitamento integral de suas capa-cidades, que são a falta de coordenação e a bai-xa capacidade de articulação apontadas acima.

Além do volume de recursos estar aquémdas necessidades e, em grande parte, desvincu-lado de um critério racional de prioridades, amarca do modelo de gastos federais hoje emdia é a quase total desarticulação entre os finan-ciadores principais. Com a exceção do CNPq eda Capes, que costumam entender-se, pelo me-nos quanto à distribuição de bolsas de mestra-do e doutorado, em nada mais se percebe arti-culação. A falta de articulação entre o Ministé-rio da Ciência e Tecnologia (MCT) e o Minis-tério da Saúde (MS) sustenta-se historicamen-te no seguinte: o MCT percebe no MS uma vi-são restritiva e imediatista da atividade de pes-quisa (nos nossos termos, pouco extensiva eabrangente), além de não avalizar, de modo ge-ral, as práticas de fomento do Ministério da Sa-úde. O ministério percebe na maioria das açõesde fomento do MCT um quase total alheamen-to das necessidades de saúde da população e/oudas prioridades da política de saúde do país(nos nossos termos, ações com pouco compro-misso social e divorciadas da busca de eqüida-

de). O fato é que essa situação terminou porgerar um modelo de gestão política da pesqui-sa em saúde com características bifrontes, noqual o diálogo entre as suas duas cabeças nãotem encontrado canais adequados para expres-sar-se. Naturalmente, para ser capaz de promo-ver a articulação político-institucional propos-ta, uma nova PNCT&I/S deve superar essa maisque falsa disjuntiva e buscar somar os aspectospositivos das duas tradições institucionais (Fi-gura 1).

Portanto, ultrapassadas as heranças da tra-dição, cuja superação depende quase totalmen-te de determinação política, a nova PNCT&I/Spoderá então falar da necessidade de sustentara pesquisa em saúde como um exercício de ló-gicas complementares. O mundo da pesquisa eo mundo do sistema de saúde não são integralou perfeitamente correspondentes. Têm histó-rias, culturas e regras distintas, embora sejamcapazes de conviver e convergir, nos marcos deobjetivos corretamente estabelecidos. O siste-ma de saúde identificará os alvos e o sistema depesquisa contribuirá para que sejam atendidoscom efetividade. Em todos os ministérios en-volvidos e também nos estados.

A agenda de prioridades em pesquisa

Finalmente, a PNCT&I/S deveria adotar comodiretriz a necessidade de aumentar a capacida-de indutora do sistema de fomento científico etecnológico. Se, como recomendou a I Confe-rência Nacional de Ciência e Tecnologia em Sa-úde (1994), concordamos que a pesquisa emsaúde deve aproximar-se da Política Nacionalde Saúde, então devemos propor o aumento desua capacidade de induzir, com base numa es-colha racional de prioridades. Para isso, o pon-to mais importante a ser contemplado é a ne-cessidade de construção de uma agenda de pri-oridades para a pesquisa em saúde. Uma dasprincipais características históricas de nossosistema de fomento à pesquisa é sua baixa sele-tividade, significando uma insuficiente capaci-dade de indução. E para que esta política maisindutiva possa ocorrer num ambiente de maiorracionalidade, na perspectiva do interesse dopaís, é necessária a organização das necessida-des de pesquisa segundo um padrão de priori-dades. Se, como acreditamos, a pesquisa em sa-úde deve ser entendida como um exercício delógicas complementares, a agenda de priorida-des de pesquisa em saúde não será perfeita-

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mente sobreposta à agenda de necessidades desaúde da população. Por um lado, o atendimen-to às necessidades de saúde nem sempre é umavariável dependente da pesquisa em saúde e,por outro, nem sempre há, no campo do sabere das práticas científicos e tecnológicos, concei-tos, metodologia ou ferramentas adequadospara que se possa produzir soluções através dapesquisa.

A agenda de prioridades não deve, também,ser subordinada ao olhar de curto prazo. Saúdee pesquisa em saúde são, ambas, urgentes. Noentanto o tempo, os métodos e as estratégiasdessas urgências são diferentes. A idéia da ex-tensividade – incorporação na política de todasas etapas da cadeia do conhecimento – deve seexpressar na agenda de prioridades. Nela esta-rão identificados os principais problemas desaúde cuja resolução depende da contribuiçãoda pesquisa e estes problemas hão de requererdistintas abordagens de pesquisa. Haverá lugarpara pesquisa operacional de curto prazo. Mashaverá também lugar para investigação funda-mental bem como haverá lugar para a já men-cionada pesquisa estratégica, que se desenvolveno ambiente da pesquisa fundamental, quelança mão de seu ferramental mas que, diferen-temente dela, inclui desde a origem considera-ções de aplicação. E, por fim, o desenvolvimen-

to de novos produtos e processos destinados aosistema de saúde, realizado pelas empresas epelos próprios serviços, também terá o seu lu-gar nessa agenda.

Numa palavra, esse deslocamento em dire-ção à maior capacidade de indução, deve preser-var e aperfeiçoar todas as características compe-titivas do fomento à pesquisa desenvolvidos nosúltimos 50 anos no Brasil. Assim, as ações de fo-mento orientadas pela agenda de prioridadesproposta no âmbito da PNCT&I/S deveriam tercomo forma canônica: a) a relevância como des-tino; b) o mérito como ponto de partida; e c) acompetição como norma operacional básica.

Do conhecimento internacional acumula-do na elaboração de agendas de prioridades ecom o objetivo de inscrever a necessidade daelaboração de uma como estratégia básica daPNCT&I/S, destacamos as seguintes caracterís-ticas básicas. 1) Há mais de uma agenda de pri-oridades possível dependendo da orientação dapolítica de pesquisa em saúde e uma boa agen-da de prioridades deve estar a serviço dos prin-cípios e das diretrizes daquela política. 2) A ela-boração da proposta da agenda deve ser basea-da no estado da arte do conhecimento científi-co e tecnológico disponível. Sua base técnicadeve incorporar as melhores ferramentas e asevidências mais atualizadas. 3) A construção da

Figura 1Relações entre sistemas e políticas de saúde e de ciência e tecnologia. O modelo bifronte.

Sistema Único de SaúdeMinistério da Saúde

Política Nacional de Saúde

Sistema Nacional de C&TMinistério da Ciência e Tecnologia

Política Nacional de C&T

Cerca de R$100 milhões/anoCerca de R$400 milhões/ano,através de agências federais,

estaduais, etc.

Ações de C&T em saúde.Agências federais, estaduais, etc.

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agenda e, principalmente, sua implementaçãosão processos de construção política. Pesquisaem saúde é um campo no qual atuam muitosatores distintos com experiências e linguagensdistintas. Também com interesses e visões dis-tintos da pesquisa e da saúde. Agregá-los a to-dos em torno ao conteúdo da agenda é a açãomais importante e esta ação objetiva, essencial-mente, construir um consenso político em tor-no dela. O corolário desta proposição é queuma agenda de prioridades é uma ferramentaem permanente discussão e atualização.

A construção da Agenda é um processo téc-nico-político. Daí que durante todo o processoinstâncias técnicas e instâncias políticas deveminterferir. Com este objetivo, foi constituídoum Comitê Técnico Assessor (CTA), compostode pesquisadores em biociências, epidemiolo-gia e pesquisa clínica, além de gestores de saú-de de larga experiência. Durante 2003 foramdados passos importantes no processo de cons-trução da agenda, que culminaram na realiza-ção do seminário realizado em 6 e 7 de novem-bro. Seu objetivo foi a identificação de temasprioritários de pesquisa em saúde organizadosem 12 subagendas e contou com a participaçãode cerca de 400 pessoas entre pesquisadores egestores de saúde.

A etapa final do atual momento de constru-ção da Agenda será sua apresentação ao plená-rio da II Conferência de Ciência, Tecnologia eInovação em Saúde, a realizar-se no ano cor-rente, para debate e aprovação.

Recursos para a pesquisa em saúde no Brasil

São muito precárias as estimativas sobre gastoscom pesquisa em saúde no Brasil, havendo nes-te momento uma iniciativa internacional desti-nada a avaliar o fluxo de recursos com esta fi-nalidade do qual o Brasil participa, sob a coor-denação do Ministério da Saúde. Conforme jáfoi mostrado, os números dos censos de 2000 e2002 do Diretório dos Grupos de Pesquisa in-dicam que os números de grupos de pesquisa ede pesquisadores envolvidos com a pesquisaem saúde chegam a 30% do total. Tomando co-mo referência o número de linhas de pesquisa,a porcentagem correspondente é 27%. Por ou-tro lado, levantamento preliminar do fluxo derecursos públicos para a pesquisa em saúde em2001 atinge o volume de R$500 milhões, con-forme os dados da tabela 3.

Muito ou pouco dinheiro para o númerode pesquisadores e de grupos envolvidos compesquisa em saúde? Algum, mas certamenteaquém das necessidades, principalmente se le-varmos em conta o estado de crise em que seencontra a maioria dos hospitais universitáriose de ensino, assunto que comentaremos maisadiante. Uma nova PNCT&I/S deverá ter, entresuas ênfases, a de buscar novas fontes de recur-sos para a pesquisa em saúde.

Pode-se dizer que a pesquisa agropecuáriabrasileira se situa entre as mais articuladas comas políticas públicas de desenvolvimento seto-

Tabela 3Desembolsos estimados em 2001 com atividades de pesquisa em saúde no setor público.Principais fontes.

Fonte Total Formação Apoio à Total (%) Formação Apoio à (mil R$) de pessoal pesquisa de pessoal pesquisa

(mil R$) (mil R$) (%) (%)

Ministério da Saúde1 100.674,00 35.617,00 65.057,00 20,3 13,2 28,6Ministério da Ciência e Tecnologia 156.917,00 92.037,00 64.880,00 31,7 34,2 28,6

Finep2 26.577,00 26.577,00 5,4 11,7CNPq3 130.340,00 92.037,00 38.303,00 26,3 34,2 16,9

Ministério da Educação4 135.018,00 112.790,00 22.228,00 27,2 42,0 9,8Estado de São Paulo (Fapesp)5 103.298,00 28.418,00 74.880,00 20,8 10,6 33,0Total 495.907,00 262.862,00 227.045,00 100,0 100,0 100,00

1 Decit/SPS/MS. Investimentos em ações de C&T em saúde no Ministério da Saúde em 2001.2 Levantamento ad hoc realizado na carteira da Finep.3 AEI/DAD/CNPq. Investimentos do CNPq em Estados e instituições em 2001.4 Capes/MEC. Relatório da Capes para a Transição, 2002.5 Revista Fapesp 79:20-23, setembro de 2002.

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rial. Embora detentora de uma histórica traje-tória de sucessos, em particular no Estado deSão Paulo, foi após a criação da Embrapa, em1973, que esta articulação adquiriu maiores ve-locidade e intensidade. Faço essa digressão comvistas a comparar o financiamento público atu-al neste setor com o financiamento à pesquisaem saúde, mostrado nos quadros 1 e 2.

Muito embora em termos absolutos o mon-tante investido em pesquisa em saúde seja qua-se 60% maior do que o investido em pesquisaagropecuária, se ponderarmos esses valores pe-la massa crítica envolvida em cada um dos doissetores, chegaremos a uma situação distinta,apresentada no quadro 3.

O investimento anual per capita nos pes-quisadores em saúde foi de R$ 27.907,00, con-tra R$ 38.217,00 destinados a cada pesquisadorem agropecuária. Para que o aporte de recur-sos financeiros aos pesquisadores do setor saú-de pudesse igualar-se ao dos pesquisadores dosetor agropecuário, o desembolso em saúdeem 2001 deveria ter sido de R$ 679 milhões(R$ 27.907,00 x 17.770). Em relação ao quefoi efetivamente desembolsado, ficam faltandoR$ 183 milhões.

Pode ainda ser notado que a principal dife-rença no perfil do financiamento à pesquisanos dois setores encontra-se exatamente naparticipação dos ministérios responsáveis pe-los mesmos. Enquanto o Ministério da Saúdeparticipa com 20% do total de investimentosna pesquisa em saúde, o Ministério da Agricul-tura, através da Embrapa, comparece com qua-se o dobro (38,6%). Portanto, para gerir ummontante de recursos adequado à importânciada pesquisa em saúde no Brasil talvez seja ne-cessário pensar uma estrutura vinculada aoMinistério da Saúde especializada em captar,fomentar, acompanhar e avaliar a atividade depesquisa.

Há poucos anos foi lançada a idéia da cria-ção de uma agência de fomento específica paraa gestão da pesquisa em saúde. Essa idéia foi vi-timada por um intenso conflito político-buro-crático entre o MCT e o MS e acabou por serretirada de pauta pelo próprio MS, antes quepudesse ser melhor discutida. Consideramosque a proposta da agência deve voltar ao deba-te, posto que pode vir a tornar-se uma ferra-menta essencial para a PNCT&I/S. Esta agênciateria a missão de coordenar a construção daagenda de prioridades de pesquisa em saúde,bem como de acompanhar sua operacionaliza-ção. Além disso, deveria também coordenar,

em estrita articulação com as agências do MCTe com a Capes, a aplicação dos recursos parapesquisa em saúde, em particular os oriundosdo MS. Numa palavra, deveria ser a principalguardiã de uma PNCT&I/S renovada, como aque estamos propondo.

Em 2002, o Congresso Nacional aprovou aLei do Fundo Verde-Amarelo, que reserva umaparte de seus recursos para a constituição deum Fundo específico para a saúde. As expecta-tivas iniciais eram de que o valor do mesmo noano de sua criação estaria em torno a R$ 90 mi-lhões. O valor comprometido em 2002 não che-

Quadro 2Estimativa de desembolsos em 2001 com atividades de pesquisa agropecuária no setor público.Brasil, principais fontes.

Fonte Desembolsos (mil R$)

Ministério da Agricultura1 121.408,00Ministério da Ciência e Tecnologia 77.923,00

Finep2 10.000,00CNPq3 67.923,00

Ministério da Educação3 63.700,00Estado de São Paulo (Fapesp)3 61.649,00Total 314.680,00

1 Relatório de Atividades 2001. Orçamento executado nos programas de P&D.2 Execução do Fundo de Agronegócios (R$ 8,1 milhões) arredondadopara R$ 10 milhões.3 Parcela do orçamento executada nos programas da grande área de ciências agrárias (13% do total do orçamento do CNPq).

Quadro 1Estimativa de desembolsos em 2001 com atividades depesquisa em saúde no setor público. Brasil, principais fontes.

Fonte Desembolsos (mil R$)

Ministério da Saúde1 100.674,00Ministério da Ciência e Tecnologia 156.917,00

Finep2 26.577,00CNPq3 130.340,00

Ministério da Educação4 135.018,00Estado de São Paulo (Fapesp)5 103.298,00Total 495.907,00

1 Decit/SPS/MS. Investimentos em ações de C&T em saúde no MS em 2001.2 Levantamento ad hoc realizado na carteira da Finep.3 AEI/DAD/CNPq. Investimentos do CNPq em Estados e instituições em 2001.4 Capes/MEC. Relatório da Capes para a Transição, 2002.5 Revista Fapesp 79:20-23, setembro de 2002.

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gou a 5% da expectativa e para 2003 o valorcomprometido deverá corresponder a menosda metade daquele originalmente estimado. So-mado aos recursos já existentes, será um refor-ço, mas continuaremos aquém do necessário.

Mas talvez a maior renovação de fontes derecursos deva vir mesmo do Ministério da Saú-de. Como vimos acima, o ministério desembol-sa cerca de R$ 100 milhões anuais com proje-tos fomentados por ele próprio e pelos institu-tos de pesquisa a eles vinculados. Ocorre que aseleção e contratação desses projetos não obe-decem a qualquer agenda de prioridades doministério como um todo, mas sim às priori-dades de vários de seus componentes, por ve-zes contraditórias entre si. A primeira mudan-ça importante seria, portanto, unificar as prio-ridades do Ministério da Saúde. Em segundolugar, seria preciso estimular que as agênciasreguladoras subordinadas ao MS (Anvisa e ANS)venham participar das ações de fomento à pes-quisa em saúde, aportando recursos financei-ros. Em terceiro lugar, seria muito importanteque a Secretaria de Assistência à Saúde, que éresponsável pela execução do financiamentodo SUS, pudesse aprofundar os esforços já emcurso para que sua contribuição financeira àpesquisa nos hospitais de ensino fosse maisbem utilizada (comentaremos este ponto adi-ante). E, finalmente, será indispensável recolo-car na agenda a proposta nascida no próprioMS há dois anos, que foi retirada de pauta pelomesmo ministério e que trata da taxação dasindústrias do tabaco e do álcool, com vistas àcriação de um outro Fundo para financiar pes-quisa em saúde. Pensamos que esta idéia deveretornar com uma ampliação conceitual, nosentido de fazer com que todos os setores in-dustriais claramente produtores de “dívida sa-nitária” contribuam com um fundo para o fo-mento de pesquisa prioritária em saúde.

O Departamento de Ciência e Tecnologiado Ministério da Saúde teve, em 2003, uma do-

tação orçamentária de cerca de R$ 13 milhões.Deve ser registrada a aprovação, pelo Congres-so Nacional, de uma dotação correspondentede R$ 67,8 milhões para 2004. Cumpre aindaregistrar que o Departamento de AssistênciaFarmacêutica, pertencente também à Secreta-ria de Ciência e Tecnologia, teve aprovada umarubrica orçamentária específica para inovaçãotecnológica no setor farmacêutico no valor deR$ 80 milhões.

Hospitais de ensino e avaliação tecnológica

Nas últimas décadas, em escala mundial, temsido observado um importante movimento dapesquisa em saúde em direção ao paciente hos-pitalar. Isso decorreu de vários fatores, entre osquais podem ser destacados: 1) a revolução nadescoberta de moléculas bioativas e o conse-qüente crescimento da necessidade de testá-lasem populações humanas; 2) a igualmente im-portante revolução nos métodos diagnósticos,onde um dos espaços privilegiados de experi-mentação e desenvolvimento é também o hos-pital; 3) o envelhecimento populacional e o au-mento correlato da incidência das enfermida-des degenerativas, responsáveis pela internaçãode parte importante da população dos pacien-tes; 4) em conseqüência de tudo isso, o fortale-cimento de medidas regulatórias destinadas aproteger os indivíduos que se submetem aostestes de novas drogas, métodos diagnósticos,etc. Estes e outros fatores terminaram por dar àpesquisa clínica uma nova importância no ce-nário geral da pesquisa em saúde e vieram for-talecer e consagrar o espaço hospitalar comoum local privilegiado dessa pesquisa.

Na maioria dos países com atividade de pes-quisa, os hospitais de ensino desenvolveram ca-racterísticas de referência nessas atividades depesquisa. A circunstância de estarem muitas

Quadro 3Número de linhas de pesquisa, pesquisadores e grupos associados aos setores de agricultura,pecuária, silvicultura e exploração florestal; e saúde humana. Brasil, 2002.

Setor Grupos Linhas Pesquisadores

Agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal 2.641 7.133 8.234Saúde humana 4.914 13.688 17.770

Pesquisador/ano em saúde humana: R$ 27.907,00.

Pesquisador/ano em agropecuária: R$ 38.217,00.

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vezes associados a universidades ou institutosde pesquisa e de abrigarem programas de gra-duação ou pós-graduação formadores de pro-fissionais de saúde e de pesquisadores, fez comque neles os padrões de referência se instalas-sem com naturalidade. A tradição brasileiranão é diferente. Historicamente, os hospitais deensino brasileiros foram a vanguarda da pes-quisa clínica e da avaliação de novos medica-mentos e equipamentos, constituindo-se eminstituições de referência.

O Sistema Único de Saúde (SUS) abriga ho-je em dia mais de 6.000 hospitais, dos quais 154(2,6%) são reconhecidos pelos Ministérios daSaúde e da Educação como hospitais de ensino.Em 2001, estes foram responsáveis por 9% dosleitos, 12% das internações e 24% dos recursosdo SUS. Responderam por cerca de 50% das ci-rurgias cardíacas, 70% dos transplantes e 50%das neurocirurgias ocorridas no país. Os hos-pitais de ensino constituem um conjunto insti-tucional muito heterogêneo, incluindo hospi-tais públicos federais, estaduais, municipais,hospitais privados filantrópicos e entidades pú-blicas de direito privado. Heterogêneo, tam-bém, em termos da qualidade dos serviços queprestam.

Nos últimos anos, por vários motivos oshospitais de ensino brasileiros vêm passandopor uma crise de graves proporções, em queum dos fulcros pode ser situado em dificulda-des no seu financiamento. Em parte decorren-tes da crise fiscal, em parte por opções de polí-tica macroeconômica e em parte pelo processode desvalorização geral do serviço público veri-ficado nos anos 90. Na realidade, crescente-mente os hospitais de ensino vêm perdendo su-as características históricas e talvez o compo-nente que mais esteja sendo erodido na crise éo de uma de suas finalidades precípuas: as ati-vidades de pesquisa. Se este breve diagnóstico éverdadeiro, então o que ocorre no Brasil nesteterreno é o oposto da tendência internacionale, prosseguindo os problemas, provavelmentenão teremos condições de desenvolver um doscomponentes mais importantes da PNCT&I/S.Em outras palavras, a pergunta a se fazer é: Se-rá possível desenvolver a pesquisa clínica noBrasil, em níveis compatíveis com nossa tradi-ção científica e na intensidade requerida pelospadrões internacionais sem que os hospitais deensino ocupem um lugar central? A resposta é:muito provavelmente não.

Dentre os problemas bem estabelecidos noterreno da pesquisa em saúde atual, está o da

assimetria entre a velocidade dos avanços (etambém o tamanho dos custos) da pesquisa embancada e a velocidade de apropriação do co-nhecimento produzido em benefício da popu-lação. Neste último componente, a velocidadeé bem mais baixa e os custos são muito maio-res. Este processo de apropriação pode ser de-nominado genericamente de Avaliação Tecno-lógica, incluindo o desenvolvimento de produ-tos e processos e, com grande intensidade, a rea-lização de testagem clínica de novos medica-mentos, equipamentos, normas operacionais,etc. O núcleo mais importante da atividade depesquisa clínica nos hospitais de ensino vincu-la-se à avaliação tecnológica e é sobre ela quedeveria recair a maioria dos esforços de umapolítica de recuperação da atividade de pesqui-sa nessas instituições.

Uma das expressões mais agudas da crisedos hospitais de ensino no Brasil é a decadên-cia de sua infra-estrutura. A deterioração da in-fra-estrutura repercute sobre a prestação deserviços, sobre o ensino e, para o que mais nosinteressa aqui, sobre a viabilidade da realizaçãode pesquisa. Além disso, contribui para retirardo ambiente dos hospitais de ensino os profis-sionais, docentes ou não, capazes de realizarpesquisa e reproduzir a força de trabalho empesquisa. Um dos aspectos mais contundentesna crise geral dos hospitais de ensino é a dimi-nuição da dedicação temporal dos melhoresprofissionais ao hospital.

O modelo de financiamento atual do SUSpara os hospitais de ensino agrega à remunera-ção-padrão pela prestação de serviços, umcomplemento denominado Fundo de Incenti-vo ao Desenvolvimento de Ensino e Pesquisaem Saúde (FIDEPS). Ele é fornecido como umcomplemento àquela remuneração e, com acrise do financiamento, os recursos do FIDEPSforam sendo crescentemente destinados ao cus-teio indiferenciado das atividades hospitalares,afastando-se de seus objetivos. Não será realis-ta propor, hoje ou nos próximos anos, um re-torno integral do FIDEPS à sua destinação ori-ginal, pelo menos até que se recomponha a ca-pacidade dos hospitais de reequilibrar suas con-tas na prestação de serviços.

Portanto, para a recuperação da infra-es-trutura de pesquisa dos hospitais de ensino(mas também para apoiar o custeio das ativi-dades de pesquisa neles realizadas) será neces-sário propor outro complemento específico,também no âmbito da política de financiamen-to do SUS, governado por um modelo de ges-

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tão que impeça o desvio de suas funções origi-nais, conforme ocorreu com o FIDEPS. Para is-so, este novo recurso deveria incorporar em suagestão os padrões gerais de financiamento exis-tentes nas agências de fomento à C&T, quaissejam: 1) solicitação de recursos mediante pro-jetos detalhados; 2) disputa por recursos medi-ante processos competitivos; 3) acompanha-mento e avaliação de resultados dos projetos fi-nanciados.

O Fundo de Infra-estrutura, gerido peloMCT e operado pela Finep, destina-se ao forta-lecimento da infra-estrutura de pesquisa emgeral nas instituições públicas do país. Sua re-ceita é composta por 20% do montante globaldo conjunto dos Fundos Setoriais. Começou aoperar efetivamente em 2001 e em três editaislançados (até julho de 2002) aprovou projetosno valor de cerca de R$ 260 milhões. Comoparte do esforço de recompor a infra-estruturade pesquisa dos hospitais de ensino, poderá sernegociado o lançamento de um edital anual oubienal específico para esta finalidade, duranteum certo número de anos. Amadurece, hoje emdia, a convicção de que os 20% dos recursosdos Fundos Setoriais destinados ao Fundo deInfra-estrutura são insuficientes para as finali-dades deste último. A proposta da existência deeditais específicos para a infra-estrutura depesquisa em hospitais universitários está vin-culada ao aumento daquele percentual.

O valor anual do FIDEPS repassado aoshospitais de ensino é de R$ 480 milhões. O va-lor do CT-Infra com um percentual, por exem-plo, de 40% do montante dos Fundos pode serestimado em cerca de R$ 350 milhões/ano. Es-timando-se um valor anual de R$ 50 milhões/ano para os editais do novo incentivo do SUS/FIDEPS e R$ 30 milhões/ano para os editais doCT-Infra, teríamos um aporte de R$ 130 mi-lhões/ano para a recuperação da infra-estrutu-ra dos hospitais de ensino e para apoio de par-te das atividades de custeio diretamente asso-ciadas à pesquisa, integralmente submetidos àsboas práticas de avaliação de projetos. Essesmontantes representariam menos de 10% docomprometimento anual do CT-Infra e poucomais de 10% do valor atual do FIDEPS.

O complexo industrial da saúde

Por fim, é preciso mencionar que uma PNCT&I/Snum país como o Brasil deverá dar uma aten-ção especial ao desenvolvimento tecnológico e

à inovação e, para tanto, deverá incorporarpropostas e ações especificamente dirigidas aoComplexo Industrial da Saúde. Essa atençãodecorre do fato de possuirmos uma estruturaindustrial complexa e, em alguns setores, com-petitiva e, como já vimos, uma importante ca-pacidade instalada de pesquisa acadêmica e emalguns institutos de pesquisa. Decorre tambémdo fato de o país ter grande necessidade de uti-lização dos principais insumos industriais des-tinados à saúde – medicamentos, vacinas, so-ros, hemoderivados, kits diagnósticos e equipa-mentos – e de que um atendimento adequadodessas necessidades exige um máximo de capa-citação tecnológica e, em vários aspectos, auto-nomia e auto-suficiência tecnológicas.

Cada um desses insumos à saúde apresentacaracterísticas industriais e mercadológicas par-ticulares, muito embora todos eles tenham, emcomum, o fato de serem segmentos industriaisde grande dinamismo e lucratividade em ter-mos mundiais. Além disso, no que se refere aosmedicamentos e às vacinas pode-se testemu-nhar uma verdadeira revolução tecnológica nasúltimas décadas. No plano da estrutura indus-trial, essa revolução vem promovendo um mo-vimento de concentração de capital e de tecno-logia que resulta em imensos conglomeradosmultinacionais que competem/repartem o mer-cado mundial de medicamentos e também devacinas. Este é o terreno sobre o qual teremosde construir nossa política tecnológica e deinovação em saúde e que, por si só, sugere o ta-manho das dificuldades a serem enfrentadas.

Sem dúvida, o campo mais desafiador e di-fícil é o dos medicamentos e fármacos, no qualo processo de concentração e repartição domercado mundial vai mais avançado e que, emconseqüência da equivocada abertura comer-cial indiscriminada observada no Brasil duran-te a década de 1990, nos fez recuar em relaçãoao que já havíamos conquistado em períodosanteriores. Nosso recuo nos fez perder terrenonão apenas para os países líderes, mas tambémpara outros países em desenvolvimento como aÍndia e a China. A retomada de uma posiçãocompetitiva em relação a estes últimos países éuma tarefa básica da política tecnológica emsaúde. O fortalecimento da empresa privadanacional e sua capacitação tecnológica é a rotamais importante para realizá-la. O grau de in-ternacionalização do mercado de fármacos su-gere que associações com empresas multina-cionais em que estejam incluídos mecanismosde transferência tecnológica também sejam co-

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gitados. Finalmente, não deve deixar de sermencionada a necessidade de ampliar, capaci-tar tecnologicamente e melhorar os modelosde gestão das poucas, muito embora importan-tes, instituições públicas produtoras de medi-camentos.

Diferentemente do que se observa para osmedicamentos, a produção de vacinas e soros épredominantemente pública, havendo, portan-to, melhores condições para a construção deuma política tecnológica focada nas necessida-des nacionais. Nesse terreno, talvez o desafiomais importante seja o de não deixar aumentarexcessivamente a distância entre o Brasil e oconjunto de países produtores no que se refereà tecnologia de novas gerações de vacinas. Comainda maior razão do que no caso dos medica-mentos, as ações voltadas ao fortalecimento, ca-pacitação tecnológica e melhoria da gestão dosprodutores públicos são uma tarefa essencial.

Hemoderivados, kits e equipamentos pos-suem, cada um, suas especificidades de merca-do e essas devem ser estabelecidas, examinadase detalhadas de per si. O importante é que aconstrução do componente tecnológico da po-lítica de pesquisa em saúde seja realizada combase em evidências concretas da situação demercado, das possibilidades tecnológicas au-tóctones e, principalmente, das necessidadesnacionais. Para tanto, é de especial importânciaa realização de estudos prospectivos que orien-

tem informadamente a construção da política,com a mobilização dos principais atores e to-madores de decisão públicos e privados envol-vidos.

Uma das principais características de umapolítica de tecnologia e inovação em saúde é asua flexibilidade. A definição dos alvos priori-tários, os arranjos institucionais mais adequa-dos para cada objetivo e os mecanismos de fo-mento a serem acionados devem obedecer àavaliação de cada situação específica. A defini-ção dos alvos prioritários deve ser produto dosmencionados estudos de prospecção e deverãocompor a agenda de prioridades de pesquisaem saúde. Os arranjos institucionais deverão,sempre que possível, privilegiar as empresaspúblicas e privadas, agentes decisivos no desen-volvimento tecnológico e, principalmente, nainovação. Quanto aos mecanismos de fomento,o leque deve ser aberto desde o apoio financei-ro direto ao desenvolvimento de projetos nasempresas, passando pelo financiamento de ar-ranjos onde se componham instituições depesquisa e empresas até a encomenda de proje-tos específicos a institutos de pesquisa e uni-versidades. Por outro lado, como instrumentode fomento, além do financiamento direto de-ve ser utilizada no limite do possível a capaci-dade de regulação do mercado por parte doMinistério da Saúde, através de suas comprasde medicamentos, vacinas e outros insumos.

Referências bibliográficas

Buttha A 2002. Bulletin of the World Health Organization.CNPq/PRE/AEI 2002. Diretório dos Grupos de Pesquisa

no Brasil. Censo 2002.

Artigo apresentado em 8/12/2003Aprovado em 17/2/2004Versão final apresentada em 2/3/2004