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65 RESUMO Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 16, n. 30, p. 65-87, jun. 2008 Igor Gastal Grill PROCESSOS, CONDICIONANTES E BASES SOCIAIS DA ESPECIALIZAÇÃO POLÍTICA NO RIO GRANDE DO SUL E NO MARANHÃO Recebido em 3 de março de 2008. Aprovado em 2 de abril de 2008. No artigo são examinados os processos de especialização política, as carreiras e os perfis de deputados federais (1945-2006) em dois estados brasileiros (Rio Grande do Sul e Maranhão), identificando as vinculações entre profissionalização política e hierarquização social. São cotejadas as combinações entre bases sociais, trajetórias e concepções de política que apontam para modalidades diferenciadas de afirma- ção e reprodução políticas. A partir disto, são comparadas as dinâmicas de diversificação social da “elite política” nos dois estados, os condicionantes para ascensão política, as estratégias de reconversão de bases sociais em bases eleitorais e as redefinições dos mecanismos de legitimação dos papéis políticos ao longo do tempo e em cada configuração regional. As fontes privilegiadas na pesquisa foram repertórios biográficos, memórias, biografias e entrevistas em profundidade. PALAVRAS-CHAVE: elites; especialização política; recrutamento; carreiras. I. INTRODUÇÃO O foco da pesquisa apresentada neste artigo está centrado no exame dos condicionantes soci- ais de afirmação e das modalidades de constitui- ção de especialistas da atividade política em dois estados brasileiros: Rio Grande do Sul e Maranhão. Para tanto, foram analisados os perfis, as carrei- ras políticas e as estratégias de apresentação das origens sociais e da atuação política de deputados federais eleitos entre 1945 e 2006. A comparação entre duas configurações 1 re- gionais mostrou-se um procedimento importante de investigação. A forma como a “política local” é descrita em cada contexto traduz fatores de dife- renciação; porém, ao explorar as dinâmicas mais detidamente, é possível encontrar aproximações de padrões e de itinerários, assim como identifi- car contrastes em dimensões da “vida política” ainda não examinadas de maneira detalhada. No caso do Rio Grande do Sul, a bibliografia “local” descreve a “política gaúcha” ao longo do século XX como marcada por uma “secular bipolarização” (TRINDADE & NOLL, 1991; CÁNEPA, 1999, entre outros) com ênfase nos modelos de organizações partidárias e nos alinha- mentos ideológicos afirmados em “ismos” (“castilhismo”, “borgismo”, “positivismo”, “fede- ralismo”, “liberalismo”, “trabalhismo”, “petismo” etc.). Maior “politização do eleitorado” e sua iden- tificação com os partidos, bem como definição “programática” e experiências ímpares de forma- ções partidárias são elementos grifados para fixar a “especificidade regional”. Além disso, no bojo das disputas entre “forças políticas”, ocorreu o ingresso de segmentos sociais diversificados na arena política: os estancieiros do Norte do estado, que se opuseram às “elites” da “campanha” nas primeiras décadas do século XX (PINTO, 1986); as camadas “médias” e “populares” (em siglas como a AIB (Ação Integralista Brasileira) e a ANL (Aliança Nacional Libertadora)); a absorção de “elites” ligadas à imigração (descendentes de imi- grantes alemães, sírios, libaneses e italianos) a partir de 1945 (TRINDADE & NOLL, 1991, p. 12-24); os agentes vinculados à liderança junto aos sindicatos (rurais, de ferroviários, de comerciários), à Igreja Católica, ao cooperativismo (CORADINI, 1998a); por fim, nas últimas déca- 1 A noção de “configuração” utilizada aqui se inspira nas formulações de Elias (1999) e Sawicki (1997). Para Elias (1999, p. 142) a noção comporta ações e reações dos joga- dores, tensões e interdependências entrelaçadas responsá- veis pelas modificações históricas e pelos arranjos societais. Sawicki (1997, p. 37) definiu a configuração como o espa- ço onde as relações de força entre grupos sociais tomam uma forma singular, modelando e retraduzindo as mudan- ças de todas as ordens que a afetam.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 65-87 JUN. 2008

RESUMO

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 16, n. 30, p. 65-87, jun. 2008

Igor Gastal Grill

PROCESSOS, CONDICIONANTES E BASES SOCIAISDA ESPECIALIZAÇÃO POLÍTICA NO RIO GRANDE

DO SUL E NO MARANHÃO

Recebido em 3 de março de 2008.Aprovado em 2 de abril de 2008.

No artigo são examinados os processos de especialização política, as carreiras e os perfis de deputadosfederais (1945-2006) em dois estados brasileiros (Rio Grande do Sul e Maranhão), identificando asvinculações entre profissionalização política e hierarquização social. São cotejadas as combinações entrebases sociais, trajetórias e concepções de política que apontam para modalidades diferenciadas de afirma-ção e reprodução políticas. A partir disto, são comparadas as dinâmicas de diversificação social da “elitepolítica” nos dois estados, os condicionantes para ascensão política, as estratégias de reconversão debases sociais em bases eleitorais e as redefinições dos mecanismos de legitimação dos papéis políticos aolongo do tempo e em cada configuração regional. As fontes privilegiadas na pesquisa foram repertóriosbiográficos, memórias, biografias e entrevistas em profundidade.

PALAVRAS-CHAVE: elites; especialização política; recrutamento; carreiras.

I. INTRODUÇÃO

O foco da pesquisa apresentada neste artigoestá centrado no exame dos condicionantes soci-ais de afirmação e das modalidades de constitui-ção de especialistas da atividade política em doisestados brasileiros: Rio Grande do Sul e Maranhão.Para tanto, foram analisados os perfis, as carrei-ras políticas e as estratégias de apresentação dasorigens sociais e da atuação política de deputadosfederais eleitos entre 1945 e 2006.

A comparação entre duas configurações1 re-gionais mostrou-se um procedimento importantede investigação. A forma como a “política local” édescrita em cada contexto traduz fatores de dife-renciação; porém, ao explorar as dinâmicas maisdetidamente, é possível encontrar aproximaçõesde padrões e de itinerários, assim como identifi-car contrastes em dimensões da “vida política”ainda não examinadas de maneira detalhada.

No caso do Rio Grande do Sul, a bibliografia“local” descreve a “política gaúcha” ao longo doséculo XX como marcada por uma “secularbipolarização” (TRINDADE & NOLL, 1991;CÁNEPA, 1999, entre outros) com ênfase nosmodelos de organizações partidárias e nos alinha-mentos ideológicos afirmados em “ismos”(“castilhismo”, “borgismo”, “positivismo”, “fede-ralismo”, “liberalismo”, “trabalhismo”, “petismo”etc.). Maior “politização do eleitorado” e sua iden-tificação com os partidos, bem como definição“programática” e experiências ímpares de forma-ções partidárias são elementos grifados para fixara “especificidade regional”. Além disso, no bojodas disputas entre “forças políticas”, ocorreu oingresso de segmentos sociais diversificados naarena política: os estancieiros do Norte do estado,que se opuseram às “elites” da “campanha” nasprimeiras décadas do século XX (PINTO, 1986);as camadas “médias” e “populares” (em siglascomo a AIB (Ação Integralista Brasileira) e a ANL(Aliança Nacional Libertadora)); a absorção de“elites” ligadas à imigração (descendentes de imi-grantes alemães, sírios, libaneses e italianos) apartir de 1945 (TRINDADE & NOLL, 1991, p.12-24); os agentes vinculados à liderança juntoaos sindicatos (rurais, de ferroviários, decomerciários), à Igreja Católica, ao cooperativismo(CORADINI, 1998a); por fim, nas últimas déca-

1 A noção de “configuração” utilizada aqui se inspira nasformulações de Elias (1999) e Sawicki (1997). Para Elias(1999, p. 142) a noção comporta ações e reações dos joga-dores, tensões e interdependências entrelaçadas responsá-veis pelas modificações históricas e pelos arranjos societais.Sawicki (1997, p. 37) definiu a configuração como o espa-ço onde as relações de força entre grupos sociais tomamuma forma singular, modelando e retraduzindo as mudan-ças de todas as ordens que a afetam.

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PROCESSOS, CONDICIONANTES E BASES SOCIAIS DA ESPECIALIZAÇÃO POLÍTICA

das, os “setores sindicais” e quadros oriundos domovimento estudantil, do Movimento dos Traba-lhadores Rurais Sem-Terra (MST) e dos partidosde “esquerda” (REIS, 2007).

A partir dos alinhamentos partidários e da di-versificação social assinalados para o caso do RioGrande do Sul é possível perceber processos de“sucessão” controlados por “famílias de políticos”e por lideranças de facções estaduais que definemuma dinâmica de seleção prévia (em relação à es-colha dos eleitores) dos futuros ocupantes de car-gos eletivos. A despeito da singularidade procla-mada, têm-se práticas orquestradas – comumentetipificadas como “tradicionais” – de controle pela“elite política gaúcha” do ingresso e da ascensãopolítica, bem como de reprodução de práticas emodalidades de atendimento às bases por partedos agentes, “famílias” e segmentos que ascen-dem politicamente ao longo do século XX (GRILL,2003).

No caso do Maranhão, os diferentes autoresque se dedicam ao estudo das “elites políticas”apontam para o caráter “conservador” e“oligárquico” da política no estado, mas ressal-tam igualmente o ingresso de alguns novos perfisno cenário eleitoral (GONÇALVES, 2000; 2004;BORGES, 2004; COSTA, 2006; REIS, 2007). Nãoraro, nessa literatura é sublinhado o surgimentode novos repertórios de atuação política e de trun-fos como o “gosto literário”, a preocupação com“problemas sociais e econômicos”, a idéia de “pro-jeto de desenvolvimento para o estado” sob “ba-ses científicas”, a “retórica modernizadora” e,conseqüentemente, a afirmação de bacharéis, jor-nalistas, economistas etc. na ascensão das cha-madas “oposições coligadas”2 nas décadas de1950 e 1960. Nesse período, marcado pelos em-bates entre “vitorinistas” e “oposicionistas”, ocor-rera a absorção, pelas duas facções que polariza-vam a política estadual, de “descendentes de imi-grantes libaneses” ligados às atividades comerci-ais (BUZAR, 1998; 2001). O ingresso de novossegmentos sociais e a edificação de móbiles deidentificação também são evidenciados no final dadécada de 1970 e início da década de 1980. Noperíodo posterior ao regime militar, o movimento

estudantil, as organizações de base da Igreja Ca-tólica, a Sociedade Maranhense dos Direitos Hu-manos e o sindicalismo rural afirmaram-se como“viveiros” de lideranças políticas, entre outrosmeios de inscrição (BORGES, 2004).

Na esteira dos trabalhos acima citados é factívelrefletir sobre a persistência de práticas e lógicaspolíticas classificadas na própria produção “local”como “patrimoniais”, “oligárquicas”, de “apelo aocentro” (COSTA, 2006; REIS, 2007) ou queenfatizam a legitimação pelo princípio “dinástico”,da “descendência” e dos “laços pessoais” (GON-ÇALVES, 2000; 2006) ou ainda que realçam ocaráter “personalista”, “assistencialista” e acentralidade da mediação “entre as várias esferasde poder e controle de recursos” (BORGES,2004). Os autores mencionados chamam a aten-ção para semelhanças e continuidades em proces-sos ou momentos que aparentam rupturas e subs-tituição de forças políticas.

Nesta pesquisa, objetivamos contemplar, nasduas configurações, três dimensões sistematiza-das por Michel Offerlé (1999) para o estudo dosprocessos de especialização política que estão li-gadas às agendas de estudos descritas acima. Emprimeiro lugar, procuramos captar a influência docabedal na entrada e no desempenho das carrei-ras políticas, utilizando macrofatores explicativosdas formas de recrutamento político (origem so-cial, profissão, escolarização etc.), bem comoponderar sobre os micromecanismos que proces-sam tais elementos a partir das dinâmicas sociais,eleitorais e escolares que são específicas em cadacontexto, sem deixar de acentuar a relevância dosusos das origens sociais nas auto-apresentações(idem, p. 27). Em segundo lugar, consideramos olongo movimento que gera a imposição da especi-alização na política, isto é, em que se exige dosagentes que se tornem “profissionais”, consagran-do a maior parte do seu tempo às atividades polí-ticas, desligando-se de uma profissão anterior oumesmo não chegando a exercê-la, conseguindomonopolizar a ocupação de cargos e o direito àscandidaturas e conquistando antiguidade e conti-nuidade no interior do espaço político (idem, p.15). Por fim, é indispensável não nos descolar-mos da idéia de que o processo deprofissionalização política comporta a lógica dedenegação identitária, que faz que os políticos,“apesar de consagrarem todo tempo a essa ativi-dade, como profissionais, reivindiquem o seu exer-cício como vocação [...]” (idem, p. 17).

2 “Frente” que reunia os políticos que faziam oposição àfacção política comandada por Vitorino Freire e que pas-sou a ser denominada de “vitorinismo” (cf. GONÇALVES,2000; COSTA, 2006).

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Levando em conta essas dimensões, privilegi-amos as seguintes fontes: o Dicionário histórico-biográfico do Brasil pós-30, do Centro de Pes-quisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas(ABREU et alii, 2001), que possibilitou reunir in-formações sobre os perfis (profissão, grau deescolarização, título superior obtido e instituiçãoem que o obteve) e as carreiras políticas (cargo eidade de ingresso na ocupação de cargos públicose eletivos, tempo de carreira em cargos públicose eletivos, carreira eletiva prévia à ocupação domandato de Deputado Federal e número de candi-daturas) de 200 deputados gaúchos e 100 deputa-dos “maranhenses”. Foram também analisadasmemórias, biografias e genealogias concernentesaos deputados federais e a suas “famílias”, assimcomo um conjunto de 35 entrevistas realizadascom deputados ou com membros das suas “fa-mílias” (24 com agentes provenientes do Rio Gran-de do Sul e 11 do Maranhão). A partir da análisedesse material foi possível relacionar: a) as ori-gens sociais, b) os percursos escolares, profissi-onais e políticos, c) as estratégias de consagraçãodos deputados, como também dos seus “ascen-dentes” e de outros membros da “família” queigualmente ocuparam postos eletivos.

II. PERFIS: PROFISSÃO E ESCOLARIZAÇÃO

Como foi dito, os perfis dos parlamentaresforam identificados mediante o exame das infor-mações reunidas para 200 deputados federais doRio Grande do Sul e para 100 do Maranhão, so-bre ocupações exercidas, grau de escolarização,títulos escolares obtidos e instituições em que osobtiveram.

O que os dados revelam sobre a profissão pré-via dos ocupantes de cargos eletivos? A questãopermite explorar duas hipóteses distintas: a pri-meira sustenta a existência de proximidades, cum-plicidades e habilidades comuns entre espaços deexercício de determinadas profissões e a esferapolítica (GARRAUD, 1989; DOGAN, 1999, en-tre outros). A segunda hipótese afirma que a es-colha de determinada ocupação é condicionada poruma série de disposições e relações de origem esua reconversão para a política depende mais deuma multiplicidade de outros recursos herdadosou adquiridos pelos agentes do que do treinamen-to, da formação ou do exercício profissional(WILLEMEZ, 1999; CORADINI, 2001). Antesque opostas, tais formas de tratamento são com-plementares e profícuas.

As características dos universos ora analisa-dos denotam um fenômeno bastante conhecidode sobre-representação das camadas mais altasda população e sub-representação das mais bai-xas na política (GAXIE, 1980). Do mesmo modo,assinalam a relevância de profissionais como ad-vogados, médicos, funcionários públicos de vári-os escalões (considerados tanto aqueles que pas-saram por concurso como aqueles indicados pormeio de laços políticos), empresários (de grandee médio portes), proprietários rurais (idem), jor-nalistas, entre outros.

Tanto no Rio Grande do Sul como noMaranhão o conjunto das profissões exercidas3

no período que precede o ingresso na carreiraeletiva (ocupação do primeiro cargo eletivo) sina-liza a importância de três fatores: 1) a reconversãode uma notoriedade profissional (indicada princi-palmente pelo número de advogados, médicos, jor-nalistas, professores e professores universitários);2) o peso do patrimônio econômico e dopertencimento aos círculos que compõem as “eli-tes econômicas” nas carreiras políticas (sugeridopela significativa presença de empresários e pro-prietários rurais); 3) a passagem por funções pú-blicas (via concurso ou nomeação com base emlaço político)4 – sendo que as bases sociais deriva-das da profissão não são excludentes entre si.

No entanto, é necessário apresentar as dife-renças que existem entre os dois estados. Propor-cionalmente, no Rio Grande do Sul há um núme-ro maior de advogados, professores e professo-

3 Optamos por considerar todas as atividades exercidaspreviamente à ocupação do primeiro cargo porque assim épossível observar a interdependência entre diferentes in-serções sociais prévias à carreira política dos agentes. Pro-va disso é que a soma das profissões identificadas no con-junto da população de cada estado extrapola em muito onúmero de casos analisados.4 Dogan (1999, p. 174) salientou a “afinidade evidente”entre profissões do domínio du verbe et de la plume (“doverbo e da pluma”) como advocacia, jornalismo e magisté-rio, assim como o peso dos funcionários públicos, na esfe-ra política na caso da França. Rodrigues (2002, p. 116)destacou, a partir da bibliografia sobre diversos países, aimportância de categorias como funcionários, professores,advogados, jornalistas e profissionais liberais como “fon-tes de abastecimento da classe política”; o principal moti-vo apontado é justamente que essas profissões possibili-tam um tempo livre maior e/ou grande flexibilidade no ho-rário de trabalho, além do “domínio da oratória”. Por fim,esse autor também salientou a presença de empresáriosnos parlamentos.

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res universitários, ao passo que no Maranhão pre-dominam os empresários, os proprietários ruraise os funcionários públicos. No primeiro caso, adiversificação social no recrutamento é mais con-tundente, assim como é maior o peso de profis-sões que possibilitam a afirmação de um reconhe-cimento como intelectual e de uma posição deporta-voz de causas legítimas5. No segundo caso,o recrutamento é mais concentrado em termos deextração social e há uma forte recorrência de pro-fissões relacionadas ao domínio econômico e àadministração pública. Esse contraste tem corre-lação com os padrões de carreiras descritos napróxima seção e que demonstram, por meio dositinerários apreendidos, que para os deputadosgaúchos há uma predominância no uso da titulaçãoe da formação profissional (associados a outrosrecursos) para a construção de bases eleitorais,enquanto para os deputados maranhenses consta-ta-se a existência de uma simbiose entre o mundoempresarial e a gestão do estado, conjugada à ab-sorção de médicos, engenheiros e advogados emcargos públicos que, posteriormente, reconvertemos recursos acumulados em bases eleitorais.

A associação de um deputado a determinadacategoria profissional depende em parte do aces-so aos cursos universitários e do investimento naconquista de um diploma de curso superior. Osdados explicitam a importância da titulação supe-rior nos dois contextos, ou seja, a porcentagemde deputados com título superior somados àque-les que possuem pós-graduação supera 85% doscasos (87% no Rio Grande do Sul e 85% noMaranhão)6.

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entre-vistas.

QUADRO I - PROFISSÃO EXERCIDA ANTES DOPRIMEIRO CARGO ELETIVO

NÚMERO DE CASOS

PROFISSÃO

RS MA Advogados 100 34 Empresários (grandes e médios)

30 50

Proprietários Rurais (grande e médio)

30 30

Professores Universitários 30 11 Professores 20 7 Jornalistas 15 7 Comunicadores (rádio e TV) 6 - Médicos 10 15 Dentistas 4 1 Alto Funcionário Público 18 25 Médio Funcionário Público 14 30 Baixo Funcionário Público 10 5 Metalúrgico 3 1 Pescador 1 - Pequeno Agricultor 3 - Estudante 1 3

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entre-vistas.

QUADRO 2 – GRAU DE ESCOLARIZAÇÃORS MA NÍVEL DE

ESCOLARIZAÇÃO N. % N. % Superior + Pós-Graduação

28 14 21 21

Superior 146 73 64 64 Superior incompleto 1 0,5 3 3 Médio 15 7,5 7 7 Curso Técnico 7 3,5 3 3 Médio incompleto 3 1,5 2 2 Total 200 100 100 100

5 Para um estudo detalhado sobre as estratégias de afirma-ção de recursos intelectuais e militantes, ver Reis (2007).

6 Porcentagens próximas à identificada por Rodrigues(2002, p. 99) para o conjunto dos deputados federais quecompõem a 51ª Legislatura. Segundo o autor, um total de82% dos casos analisados por ele têm algum diploma doEnsino Superior.7 Mais uma vez tomando como parâmetro o trabalho deRodrigues (2002), que se limita a uma única legislatura, eleencontrou os seguintes números: 31% em Direito, 13,1%em Medicina e 11,7% em Engenharia. Os índices encontra-dos para o Maranhão estão com porcentagens nos trêsprincipais cursos acima daqueles que Rodrigues determi-nou, especialmente no caso da Engenharia. Chama-nos tam-bém a atenção a alta porcentagem de parlamentares forma-dos em Direito no Rio Grande do Sul comparativamenteàqueles formados em Medicina e Engenharia.

Porém, evidentemente ocorrem variações noque se refere aos diplomas escolhidos e às insti-tuições de ensino freqüentadas. Apesar de nos doisestados predominarem os deputados titulados noscursos de Direito, Medicina e Engenharia, em ter-mos proporcionais observa-se no Rio Grande doSul maior incidência de parlamentares formadosem Direito (63,2% contra 41,2% no Maranhão)7

e uma diversificação maior de títulos; por outrolado, no Maranhão a freqüência é maior dos for-mados em Medicina (17,7% contra 5,7% no Rio

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 65-87 JUN. 2008

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entre-vistas.NOTA: Quando o deputado possui mais de um título supe-rior foi considerado o primeiro.

QUADRO 3 – PRIMEIRO DIPLOMA DE NÍVELSUPERIOR OBTIDO

Os dados sobre o tipo de instituição de EnsinoSuperior em que foi obtido o título reforçam no-vamente a constatação de uma diversificação so-cial maior da “elite política gaúcha” e uma con-centração maior em termos de segmentos sociaisde origem da “elite política maranhense”. Entreos deputados com título superior, os números re-ferentes àqueles que obtiveram diplomas nas ins-tituições públicas (federal e estadual) situadas nacapital assemelham-se (pouco mais de 45% doscasos). O que os diferencia significativamente é opeso no Rio Grande do Sul das instituições públi-cas situadas no interior e das instituições particu-lares na capital ou no interior, em contraposição àimportância no Maranhão das instituições públi-cas e particulares de outros estados.

RS MA PRIMEIRO TÍTULO OBTIDO N. % N. % Direito 1101 63,2 35 41,2 Medicina 10 5,7 15 17,7 Engenharia 10 5,7 18 21,1 Administração 5 2,9 4 4,7 Economia 15 8,6 5 5,8 Medicina Veterinária

4 2,3 1 1,1

Agronomia 2 1,2 1 1,1 Comunicação Social

4 2,3 - -

Ciências Humanas em geral

8 4,6 4 4,7

Farmácia - - 2 2,3 Odontologia 5 2,9 - - Matemática 1 0,6 - - Total 174 100 85 100

8

Grande do Sul) e Engenharia (21,1% contra 5,7%)e há maior concentração nos três principais cur-sos (Direito, Medicina e Engenharia). RS MA TIPO DE

INSTITUIÇÃO SUPERIOR N. % N. %

Públicas da capital 80 46 40 47 Públicas de outros estados

8 4,5 41 48,2

Públicas do interior 20 11,5 0 0 Particulares da capital

31 17,6 1 1,1

Particulares do interior

35 20,1 0 0

Particulares de outros estados

0 0 3 3,5

Total 174 100 85 100

QUADRO 4 – TIPO DE INSTITUIÇÃO DE ENSINOSUPERIOR

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entre-vistas.

Sendo assim, o tipo de instituição na qual foiconcluído o curso universitário impõe-se comoum indicador potente para a verificação da acen-tuada diversificação social da “elite política gaú-cha” ao contrário do caráter mais fechado da “eli-te política maranhense”. Os trunfos permitidospelo acesso ao Ensino Superior (título, relações esocialização no movimento estudantil, entre ou-tros) são extremamente relevantes para o desdo-bramento das carreiras políticas. Portanto, quan-do as instituições de ensino são mais variadas emais próximas das “comunidades” de origem,existem condições favoráveis para que segmen-tos cada vez mais distintos ingressem no âmbitouniversitário e nele iniciem itinerários políticosascendentes. Diferentemente, quando essas insti-tuições são mais raras e as opções são mais res-tritas, somado à distância em termos geográficos,agravam-se os dispêndios de tempo, recursos eenergia necessários para freqüentá-las; os obstá-culos à entrada no sistema de Ensino Superioravolumam-se e, conseqüentemente, avolumam-seos entraves à reconversão dos possíveis recursosextraídos para a política. Esse fator é, então, si-multaneamente causa e conseqüência de dadacomposição do perfil das “elites políticas estadu-ais” e incidem sobre padrões de carreiras (maiseletivas ou de cargos públicos, ascendente a par-tir de cargos locais ou de “ingresso por cima”),de que trataremos na próxima seção.

Ao longo do período analisado (1945-2006)os deputados federais do Rio Grande do Sul pas-saram cada vez com maior freqüência por insti-

8 Nota-se que o número de deputados com formação emDireito é maior que o número de deputados que exercerama advocacia. Isso se deve a que uma parte dos parlamenta-res formados em Direito obteve o título quando já ocupavacargos eletivos.

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PROCESSOS, CONDICIONANTES E BASES SOCIAIS DA ESPECIALIZAÇÃO POLÍTICA

tuições públicas e privadas localizadas no interior.Em contrapartida, os deputados federais doMaranhão permaneceram submetidos a pratica-mente apenas duas escolhas: instituições públicas

na capital e instituições públicas (principalmente)e particulares fora do estado (geralmente em “cen-tros” maiores).

QUADRO 5 – TIPO DE INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR POR ANO DAS ELEIÇÕES (RS)

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entrevistas.

ELEIÇÕES INSTITUIÇÕES

1945

1950

1954

1958

1962

1966

1970

1974

1978

1982

1986

1990

1994

1998

2002

2006

Públicas da Capital

12 12 10 13 17 15 8 9 7 9 6 10 7 8 7 7

Públicas Outros Estados

3 1 2 1 - - - - - - - 1 1 1 1 -

Públicas Interior

- 2 2 2 - 1 1 4 4 6 4 4 6 5 2 2

Particulares Capital

- 1 1 3 3 4 5 8 7 7 9 6 2 2 4 7

Particulares Interior

- - - - - - 1 3 6 5 5 6 8 13 11 9

Particulares Outros Estados

- - - - - - - - - - - - - - -

Total 15 16 15 19 20 20 15 24 24 27 24 27 24 29 25 25

ELEIÇÕES INSTITUIÇÕES

1945

1950

1954

1958

1962

1966

1970

1974

1978

1982

1986

1990

1994

1998

2002

2006

Públicas da Capital

1 2 1 3 5 5 2 4 5 7 8 8 8 8 11 12

Públicas Outros Estados

6 7 7 5 5 9 4 2 3 3 6 10 10 7 5 3

Públicas Interior

- - - - - - - - - - - - - - - -

Particulares Capital

- - - - - - - - - - - - - - - 1

Particulares Interior

- - - - - - - - - - - - - - - -

Particulares Outros Estados

- - - - 1 - - - - 1 1 2 2 1 1 -

Total 7 9 8 8 11 14 6 6 8 11 15 20 20 16 17 16

QUADRO 6 – TIPO DE INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR POR ANO DAS ELEIÇÕES (MA)

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entrevistas.

II.1. Profissionalização e carreiras políticas

Os estudos sobre a profissionalização políticaem linhas gerais apontam para dois processosinterdependentes: a concentração dos mandatospor um número reduzido de agentes e a perma-

nência desses agentes em cargos eletivos e políti-cos por um período longo de tempo (cf.GARRAUD, 1989; OFFERLÉ, 1999;PHELIPPEAU, 2002). Um conjunto de indicado-res é utilizado para descrever tais lógicas de fun-cionamento da política, entre os quais podemos

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 65-87 JUN. 2008

citar: a idade e o cargo de ingresso na carreia po-lítica; o tempo de ocupação de cargos públicos eo número de candidaturas.

As informações sobre idade e cargos de in-gresso são elucidativas da escolha da carreira po-lítica em detrimento de outras opções de profis-sões em pauta para os agentes, pois permitemperceber em que medida essa atividade implica ounão recrutamento precoce, assim como se ocor-rem por posições periféricas ou centrais. Logo,evidenciam se a carreira política está pautada porum aprendizado lento, gradual e progressivo (ini-ciado muito cedo e incluindo a passagem por di-ferentes cargos da hierarquia política e pouca de-dicação a outras atividades profissionais) comoexigência para a afirmação ou para a ascensão naarena. Os números concernentes ao tempo deocupação de cargos atestam o desligamento daprofissão de origem e a dedicação mais ou menosintensa à carreira eletiva ou política. Por seu tur-no, o número de candidaturas indica a monopoli-zação não só de funções eletivas, mas deinvestiduras partidárias (monopólio de cargoseletivos e partidários).

Com base nos dados coletados é possível ob-servar que mais da metade dos parlamentares dosdois estados iniciaram-se na carreira eletiva (ouseja, ocuparam o primeiro cargo conquistado empleitos eleitorais) com menos de 35 anos. Esseingresso precoce torna-se ainda mais visível quan-do se considera a idade nos primórdios da ocupa-ção dos cargos (incluindo eletivos e nomeados):mais de 70% dos agentes estrearam com idadeinferior a 35 anos, mais da metade antes dos 30anos e entre 23% no Rio Grande do Sul e 25% noMaranhão antes dos 25 anos.

Ainda no tocante à idade, a comparação entreas configurações regionais aponta para uma varia-ção relativa à forma de entrada na política dos agentesque iniciaram suas carreiras relativamente jovens.O Rio Grande do Sul apresenta maiores índices deingresso precoce na carreira eletiva, ou seja, nesseestado mais de 40% dos agentes começaram suaatuação antes dos 30 anos, contra 28% noMaranhão. Por sua vez, quando considerada a ida-de de ocupação do primeiro cargo público, emambos os estados encontram-se índices que seaproximam de 60% de entrada antes dos 30 anos.Essa constatação está ligada à tendência do iníciona carreira por cargos eletivos no Rio Grande doSul e por cargos públicos no Maranhão.

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entre-vistas.

QUADRO 7 – IDADE DE INGRESSO NA CARREIRAELETIVA

RS MA IDADE N. % N. %

18-25 30 15 11 11 26-30 55 27,5 17 17 31-35 33 16,5 20 20 36-40 37 18,5 29 29 + de 40 45 22,5 23 23 Total 200 100 100 100

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entre-vistas.

QUADRO 8 – IDADE DE INGRESSO NA CARREIRAPOLÍTICA

RS MA IDADE N. % N. %

18-25 46 23 25 25 26-30 67 33,5 34 34 31-35 29 14,5 16 16 36-40 31 15,5 15 15 + de 40 27 13,5 10 10 Total 200 100 100 100

Cotejando as informações por estado sobre oprimeiro cargo eletivo ocupado, as dessemelhançasentre os padrões regionais vêm à tona, uma vezque 39,5 % dos deputados federais do Rio Gran-de do Sul ingressaram na carreira política via po-sições eletivas locais (vereança, vice-Prefeitura ePrefeitura) contra 13% do Maranhão. Ademais,50% dos deputados federais do Maranhão inicia-ram-se em cargos políticos administrativos, logonão-eletivos (somando cargos de primeiro e se-gundo escalões nos níveis municipal, estadual efederal) contra 25% no Rio Grande do Sul. Exa-minando os deputados federais que começaram acarreira política diretamente pelo parlamento es-tadual ou nacional não se percebem diferenças sig-nificativas entre os estados.

Tais padrões são corroborados com a verifi-cação das informações sobre o cargo de ingressona carreira eletiva (primeiro cargo eletivo ocupa-do). Os dados mostram que, no Rio Grande doSul, 47% dos deputados federais começaram acarreira eletiva por posições locais, como verea-dores (39%), vice-prefeitos e prefeitos (8% so-mados), contra apenas 18% no Maranhão que ini-ciaram por posições do mesmo tipo, isto é, como

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PROCESSOS, CONDICIONANTES E BASES SOCIAIS DA ESPECIALIZAÇÃO POLÍTICA

vereadores (12%) e como prefeitos e vice-prefei-tos (6%). Contrariamente, no Maranhão 80% dosagentes investigados debutaram na ocupação decargos eletivos como deputados federais (44%)ou estaduais (36%), contra 53% no Rio Grandedo Sul que ingressaram pelos mesmos cargos(27% e 26%, respectivamente). Dois dados me-recem destaque: 1) dos deputados federais anali-sados no Rio Grande do Sul 39% e no Maranhão12%, iniciaram suas carreiras eletivas como ve-readores; 2) dos deputados gaúchos, 27% che-gam diretamente à Câmara dos Deputados sempassar por vereança, Prefeitura ou deputação es-tadual; para os maranhenses, esse índice é de 44%.

QUADRO 9 – CARGO DE INGRESSO NA CARREIRAPOLÍTICA

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entre-vistas.

RS MA CARGO N. % N. %

Vereador 67 33,5 9 9 Deputado estadual 34 17 21 21 Deputado federal 37 18,5 16 16 Prefeito/Vice-prefeito

12 6 4 4

Cargos administrativos (nomeação)

50 25 50 50

Total 200 100 100 100

QUADRO 10 – CARGO DE INGRESSO NACARREIRA ELETIVA

RS MA CARGO N. % N. %

Vereador 78 39 12 12 Deputado Estadual 52 26 36 36 Deputado Federal 54 27 44 44 Prefeito e vice-Prefeito

16 8 6 6

Vice-Governador - - 2 2 Total 200 100 100 100

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entre-vistas.

O primeiro cargo conquistado na carreiraeletiva, assim como o local de escolarização su-perior verificado anteriormente, é um indicadorconsistente que permite cotejar as duas popula-ções e demonstrar os processos de diversificaçãosocial e ampliação relativa do acesso à “elite polí-

tica” no Rio Grande do Sul e de controle das opor-tunidades políticas por parte de uma “elite políti-ca” mais “fechada” no Maranhão. Quando se ob-servam os percursos políticos seguidos pelos agen-tes que iniciaram suas carreiras por posições pe-riféricas (principalmente Vereador) e alcançaramposições de destaque da política estadual (como éo caso do cargo de Deputado Federal), evidencia-se um espaço político mais competitivo e aberto.Quando prevalece o “ingresso por cima” na car-reira política eletiva, quer dizer, diretamente pelaocupação de cargos mais altos na hierarquia polí-tica, o controle e a seleção prévia por parte dosagentes já estabelecidos ou das máquinas políti-cas mostram-se decisivos. No decorrer do perío-do estudado (1945-2006) constata-se o aumento,principalmente a partir da década de 1970, de de-putados federais gaúchos que começaram suacarreira eletiva como vereadores. Já os deputa-dos federais maranhenses continuaram debutan-do em cargos eletivos principalmente como de-putados federais e estaduais.

QUADRO 11 – CARGOS INGRESSO NA CARREIRA ELETIVA POR ANO DAS ELEIÇÕES (RS)ELEIÇÕES CARGOS

1945

1950

1954

1958

1962

1966

1970

1974

1978

1982

1986

1990

1994

1998

2002

2006

Vereador - 3 1 1 3 3 10 16 16 15 12 10 10 20 14 13 Prefeito e vice-Prefeito

2 - - - 2 3 2 4 4 2 - 2 3 3 1 1

Deputado Estadual

5 7 12 11 11 11 3 3 3 6 4 7 3 1 4 5

Deputado Federal

8 6 4 6 9 7 5 5 5 5 11 10 10 8 7 5

Vice-Governador

Total 15 16 17 18 25 24 20 28 28 28 27 29 26 32 26 24 FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entrevistas.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 65-87 JUN. 2008

QUADRO 12 – CARGOS INGRESSO NA CARREIRA ELETIVA POR ANO DAS ELEIÇÕES (MA)ELEIÇÕES CARGOS

1945

1950

1954

1958

1962

1966

1970

1974

1978

1982

1986

1990

1994

1998

2002

2006

Vereador - 2 - 1 1 - - 1 2 - 3 2 2 1 1 3 Prefeito e vice-Prefeito

- - - - 1 1 - - 1 1 1 1 2 2 2 -

Deputado Estadual

3 1 3 2 5 7 2 5 6 7 10 9 12 9 8 7

Deputado Federal

7 6 6 6 6 8 4 3 4 8 5 8 5 9 11 8

Vice-Governador

- - - 1 1 2 - - - - - 1 - - - -

Total 10 9 9 10 14 18 6 9 13 16 19 21 21 21 22 18 Fontes: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entrevistas.

Tal discrepância nos padrões de carreiras tra-duz-se igualmente nas diferenças quanto à experi-ência eletiva prévia à chegada ao cargo de Deputa-do Federal. Somando os anos de cargos eletivosque os deputados federais exerceram ou alcança-ram antes de elegerem-se deputados pela primeiravez, revela-se mais uma vez a variação regional.Analisando-se o quadro abaixo, percebe-se que28,5% dos casos analisados do Rio Grande do Sule apenas 10% dos casos analisados do Maranhãodesempenharam ou conquistaram nas urnas maisde oito anos de mandatos eletivos antes de chega-rem ao Congresso Nacional. E 73% (quase 3/4)dos parlamentares maranhenses chegaram à Câ-mara dos Deputados com menos de quatro anosde mandatos eletivos conquistados, contra 47,5%– menos da metade – dos parlamentares gaúchos.

RS MA ANOS DE CARGOS ELETIVOS PRÉVIOS N. % N. % 0 56 28 44 44 1-4 39 19,5 29 29 5-8 48 24 17 17 + de 8 57 28,5 10 10 Total 200 100 100 100

QUADRO 13 – EXPERIÊNCIA ELETIVA PRÉVIA AOMANDATO DE DEPUTADO FEDE-RAL

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entre-vistas.

Os dados apresentados até aqui conformampadrões de carreiras e de profissionalização polí-tica e são reforçados pela exposição de informa-ções referentes ao tempo de mandato eletivo, aotempo de ocupação de cargos políticos e ao nú-

mero de candidaturas. Essas últimas informaçõesforam coletadas somente entre aqueles deputadosque estão afastados das disputas políticas. Foram,portanto, excluídos os ocupantes de mandatos en-tre 2000 e 2006 e aqueles que concorreram a car-gos eletivos no mesmo período, pois sua inclusãoacarretaria prejuízo no poder de explicação dos in-dicadores. Contabilizar os deputados em plena car-reira (alguns mesmo no seu início) implicaria a ten-dência à redução dos índices de tempo de ocupa-ção de cargos e de número de candidaturas.

De modo geral, prevalecem as carreiras políti-cas longas em termos de tempo de ocupação decargos: mais de 70% dos deputados ultrapassa-ram 16 anos e mais da metade ultrapassaram 20anos de cargos políticos. De modo específico,entre os deputados gaúchos, acima de 65% delesultrapassam 16 anos de mandatos eletivos, ao pas-so que entre os maranhenses esse índice é de50%. Sendo assim, observa-se o maior peso doscargos eletivos no tempo total de carreira para osdeputados do Rio Grande do Sul e o maior pesodos cargos públicos no tempo total de carreirapara aqueles do Maranhão.

QUADRO 14 – TEMPO DE CARREIRA POLÍTICARS MA Anos

N. % N. % 10 ou - 17 13,6 4 10 11-15 15 12 4 10 16-20 24 19,2 10 25 + de 20 69 55,2 22 55 Total 125 100 40 100

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entre-vistas.

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PROCESSOS, CONDICIONANTES E BASES SOCIAIS DA ESPECIALIZAÇÃO POLÍTICA

QUADRO 15 – TEMPO DE CARREIRA ELETIVARS MA ANOS

N. % N. % 10 ou - 26 20,8 11 27,5 11-15 17 13,6 9 22,5 16-20 41 32,8 8 20 + de 20 41 32,8 12 30 Total 125 100 40 100

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entre-vistas.

Deve-se salientar também que mais de 60%dos deputados nos dois estados concorreram cin-co vezes ou mais a cargos eletivos e apenas 8,8%dos deputados gaúchos e 12% dos deputadosmaranhenses concorreram uma ou duas vezes.

RS MA CANDIDATURAS N. % N. %

1-2 11 8,8 5 12,5 3-4 30 24 11 27,5 5-6 40 32 15 37,5 7 ou + 44 35,2 9 22,5 Total 125 100 40 100

FONTES: o autor, a partir de Abreu et alii (2001) e entre-vistas.

QUADRO 16 – NÚMERO DE CANDIDATURAS

Ao monopólio de cargos eletivos, de cargospolíticos e de candidaturas, soma-se o controledos mesmos por um conjunto de “famílias depolíticos” em ambos os contextos examinados. Apesquisa permitiu identificar que 50% dos depu-tados federais do Rio Grande do Sul e 70% dosdeputados federais do Maranhão possuem paren-tes que ocuparam ou ocupam cargos eletivos. Noconjunto da população analisada em cada estado,25% no Rio Grande do Sul e 30% no Maranhãotêm ascendentes que exerceram ou exercem car-gos eletivos; 16% no Rio Grande do Sul e 22% noMaranhão possuem descendentes que ocuparamou ocupam cargos eletivos; 31% no Rio Grandedo Sul e 40% no Maranhão têm membros da mes-ma geração na “família” que desempenharam oudesempenham cargos eletivos. Ademais, o núme-ro de parentes com cargos eletivos em um mes-mo grupo familiar é outro dado importante. NoRio Grande do Sul 10% dos deputados têm, nomínimo, cinco parentes que ocuparam ou ocu-pam cargos eletivos, enquanto no Maranhão a

porcentagem chega a 15%. Mais de 30% dos de-putados gaúchos e 42% dos deputadosmaranhenses possuem entre dois e quatro paren-tes que ocuparam ou ocupam cargos eletivos, semdesconsiderar que 30% dos deputados gaúchos e47% dos deputados maranhenses pertencem a“famílias de políticos” de duas, três ou quatrogerações de ocupantes de cargos eletivos. Os da-dos demonstram, então, um peso maior do vín-culo de parentesco entre políticos ocupantes demandatos eletivos no Maranhão, mas indicam umasignificativa presença também de laços familiaresentre a “elite política” gaúcha9.

III. DIVERSIFICAÇÃO SOCIAL E PADRÕESDE ESPECIALIZAÇÃO (1945-2006)

Após examinar os padrões de especializaçãopolítica nos dois estados e confrontar as basessociais e políticas de profissionalização, nesta se-ção apresentaremos um panorama longitudinal ediacrônico que permite caracterizar as dinâmicasde concorrência e de alianças entre agentes oriun-dos de segmentos sociais distintos e engajadosem carreiras cada vez mais profissionalizadas.Assim, pretende-se expor os elementos que inter-ferem na própria constituição dos espaços políti-cos. A análise que segue centra-se, então, nos pro-cessos de reconversão, reprodução, ascensão eafirmação de agentes e “famílias de políticos” aolongo do século XX, sobretudo a partir de 1945.Seguindo as diretrizes de Norbert Elias (2001) parao estudo da sociogênese da profissão naval naInglaterra10 e a aplicação das mesmas orientaçõesfeita por Eric Phelippeau (1999; 2001; 2002) para

9 Seria necessária uma análise mais minuciosa para verifi-car o peso entre os agentes com parentesco com outrospolíticos da “hereditariedade política” (a contribuição fa-miliar para predispor os agentes a investirem na carreira) eda “hereditariedade eletiva” (o parentesco como um recur-so eleitoral) (cf. GARRAUD, 1989). Além disso, os reper-tórios biográficos ainda são pouco confiáveis na tarefa dedetectar tais informações, apenas apresentando os casosde maior notoriedade.10 Como sugere Norbert Elias (2001), cumpre percebercomo o processo histórico de constituição de uma profis-são implica a complementaridade entre diferenciação eintegração, entre especialização e fusão. Os conflitos e ten-sões entre agentes com origens em camadas sociais diferen-ciadas (características sociais, estilos de vida, auto-percep-ções da sua posição social diversa), assim como a forma-ção, o treinamento e as carreiras distintas que definem osingressos em um domínio em vias de profissionalização

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 65-87 JUN. 2008

a análise da invenção do “homem político” na Fran-ça, o acento aqui recai sobre as tensões micros-cópicas, as entradas e as defecções, as osmosese as interpenetrações entre agentes provenientesde extrações sociais diferenciadas.

O período inaugurado com a queda do EstadoNovo marcou um dos “ciclos de redemocrati-zação” na política brasileira. A dinâmica da dispu-ta partidária e os padrões de comportamento elei-toral no período são aspectos estudados em deta-lhe pela Ciência Política no Brasil11. No referidoperíodo, apesar da instabilidade do “sistema polí-tico” brasileiro, verifica-se a diversificação sociale ideológica da “elite política”, com o ingresso deagentes oriundos de segmentos sociais distintos ea redefinição dos repertórios de mobilização acio-nados por ocupantes de cargos eletivos. No en-tanto, pouca atenção tem sido dada para as trans-formações na composição da “elite política”, suasorigens sociais, a diversificação das bases sociaisde recrutamento e as conseqüências nareconfiguração do espaço político no país (entreas exceções, encontra-se o trabalho de Miceli(1981)).

Estudos com ênfase institucional que se de-bruçaram sobre o novo “ciclo de redemocrati-zação” e a instauração do multipartidarismo, a partirdo final dos anos 1970, deslocaram o debate paraas relações entre os poderes Executivo eLegislativo; a disciplina ou a coesão das bancadasno Congresso Nacional e nas assembléiaslegislativas; as coligações e as migrações partidá-rias; os resultados eleitorais etc. Avaliações maisou menos críticas e conflitantes entre si sobre osistema partidário vigente de lá para cá passarama dominar a agenda12; ao mesmo tempo, desen-volveram-se alguns trabalhos mais isolados sobreperfis, recursos, recrutamento e composição so-cial das “elites políticas” (MARENCO, 2000;

CORADINI, 2001; 2007; RODRIGUES, 2002;2006).

Entre os aspectos que parecem ainda não pri-vilegiados pelos analistas das competições políti-cas ocorridas ao longo da segunda metade do sé-culo XX e início do século XXI, estão os meca-nismos responsáveis pela presença em cargoseletivos de agentes que pertencem a “famílias tra-dicionais” e pela persistência das mesmas no inte-rior da “elite”. Da mesma forma, as entradas napolítica13, no período 1945-1964, de “descenden-tes de imigrantes” (alemães, italianos, sírios, liba-neses etc.) radicados no Brasil no século XIX eno início do século XX, a reprodução “familiar”na política e o aumento da presença de agentescom essas origens nos momentos subseqüentesnão mereceram atenção especial – ainda que al-guns autores tenham apresentado pistas impor-tantes nesse sentido (como FAUSTO, 1995;GRÜN, 1995; SAKURAI, 1995; TRUZZI, 1995;CORADINI, 1998B; SEYFERTH, 1999). Tambémimporta frisar a escassez de pesquisas concentra-das nos condicionantes e nos efeitos das entradasna política de agentes com origens sociais maisbaixas a partir da militância sindical, associativa,partidária etc. (com destaque para Coradini (2001;2007), Rodrigues (2002; 2006), Marenco e Serna(2007) e Reis (2007)). Menos comuns ainda sãoos estudos que se lançam a estabelecer compara-ções entre configurações regionais, mesmo que ofator “federalismo” seja constantemente mencio-nado na bibliografia de inspiração institucionalista.

Os dados referentes aos perfis dos deputadose às carreiras, assim como à posição social deorigem (principal atividade profissional desempe-nhada pelo ascendente do primeiro ocupante decargo eletivo na “família”) e ao momento de en-trada na política do Deputado ou da “família de

produzem divisão de tarefas ou de atribuições, rivalidadese lutas. No entanto, fabricam ao mesmo tempo funçõessociais que mesclam as habilidades e as competências dosagentes e pautam padrões e códigos inovadores para asrelações humanas entre profissionais e destes com os “pro-fanos”.11 Para uma revisão bibliográfica sobre o período, verCánepa (1999, p. 52-59).12 Alguns importantes balanços da literatura sobre o perí-odo podem ser encontrados em Marenco (2000) e emRodrigues (2002).

13 O termo é usado aqui no sentido proposto por Offerlé(1996, p. 3), “[...] combinando predisposições social e his-toricamente constituídas para a realização política [...] e aidéia de constituição de uma atividade especializada [...].Entradas na política no plural, pois trata-se de estudartanto trajetórias individuais quanto trajetórias coletivas [...];de perceber de que maneira os novos ingressantes devemadaptar suas propriedades aos condicionantes estruturaisda atividade e da profissão política tendencialmente deli-mitados sem ser fechados ou codificados; de que maneiraos ingressantes criam e recriam pela sua concorrência (en-tre eles e seus predecessores) as condições de possibilida-de de sua realização política”.

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PROCESSOS, CONDICIONANTES E BASES SOCIAIS DA ESPECIALIZAÇÃO POLÍTICA

políticos” (quando é o caso), permitiram atentarpara os processos de especialização em realida-des contrastantes e de identificar padrões em con-corrência em cada uma delas. Tais informaçõesforam encontradas para 93 deputados federais doRio Grande do Sul e 42 do Maranhão.

Sendo assim, na seqüência analisaremos trêspadrões de acesso, afirmação e reprodução noespaço político. O primeiro abarca os “descen-dentes” das “famílias mais tradicionais”,estabelecidas social e politicamente desde o sécu-lo XIX e início do século XX; o segundo reúne osdeputados egressos de “famílias” marcadas poruma “ascensão social” significativa na primeirametade do século XX, com presença preponde-rante de “descendentes de imigrantes”; o terceiropadrão, minoritária nos dois estados investigados,congrega os casos de ascensão política a partirde origens sociais mais baixas, calcada na atua-ção militante em diversos espaços.

III.1. “Tradição” e especialização política

Tanto no Rio Grande do Sul quanto noMaranhão os casos que se aproximam do primei-ro padrão compartilham em linhas gerais algumascaracterísticas. Os “antepassados” dos agentespertencem às “elites locais” desde o século XIX eo pai do primeiro político na “família” dedicou-seà administração de grandes propriedades rurais,ao comércio urbano estabelecido e às carreiraspúblicas e militares – sendo que tais ocupaçõesnão eram excludentes entre si. O ingresso noâmbito dos cargos eletivos do primeiro membroda “família” geralmente ocorreu ainda no séculoXIX ou na primeira metade do século XX; quasesempre os deputados debutaram na ocupação decargos eletivos por postos mais centrais (especi-almente pelas deputações estadual e federal). Emgeral, obtiveram títulos superiores (sobretudo emDireito, Medicina e Engenharia) em grandes insti-tuições públicas nas capitais de seus estados ouem centros maiores. Nos dois contextos pesaramdecisivamente o investimento em títulos escola-res e a reconversão dos laços herdados e adquiri-dos em prestígio no interior de máquinas partidá-rias estaduais ou nacionais. As variações regio-nais mais significativas em termos de perfis soci-ais no interior desse padrão residem no fato deque, diferentemente do Rio Grande do Sul, paraos deputados do Maranhão há um peso maior napassagem por cargos políticos não eletivos no iní-cio e ao longo das carreiras e em instituições pú-

blicas de Ensino Superior em outras capitais dopaís.

No padrão mais “tradicional” ou estabelecidohá mais tempo os deputados federais e membrosda “família” com atuação política e eletiva bus-cam na sua vinculação com o passado políticolocal trunfos para a distinção no espaço de com-petição ou para a legitimação das suas carreiraspolíticas. No caso do Rio Grande do Sul, tal elofaz-se com a ativação, nas narrativas oferecidaspelos agentes, da participação de “antepassados”em lutas entre facções políticas e militares quemarcaram o cenário estadual no século XIX e noinício do século XX, bem como na ênfase dadaao fato de pertencerem aos restritos círculos deelites culturais e econômicas. No caso doMaranhão, a associação estabelecida é com a “ima-gem” difundida de um apogeu econômico e cul-tural que se traduzia em um estilo de vida sofisti-cado e em uma tradição intelectual de diferentesmatizes e passíveis de diversos usos.

A referência de síntese que esses agentes aci-onam nas definições sobre o exercício da ativida-de política é a de “vocação pública” (ou, nos ter-mos utilizados: para a “coisa pública”, para o “ser-viço público”, para a “doação às funções públi-cas” etc.). O binômio formado pelas idéias de“vocação” e “público” apóia-se em um conjuntode atributos naturalizados como “formação”, “pre-paro”, “cultura”, “erudição”, “conhecimento”,“poder argumentativo”, “tradição de estudo” etc.Como se vê, a vinculação a grupos familiares es-tabelecidos há mais tempo e o acesso a títulos –que durante muito tempo foram raros nas confi-gurações regionais –, fixam um conjunto de “ima-gens” pessoais e “familiares”. Essas imagens aca-bam servindo de trunfos para as tentativas de es-tabelecer distinções em relação aos demais políti-cos e de proclamar um desempenho político “no-bre”, “desinteressado”, “qualificado” etc., pautan-do modelos de conduta.

Podem ser associados ao padrão Nélson Jobime Jaime Santana, ex-deputados federais pelo RioGrande do Sul e pelo Maranhão.

O ex-Deputado Federal Nélson Jobim é des-cendente de “grandes proprietários” da “metadeSul” do Rio Grande do Sul. Segundo biografiapublicada sobre um dos fundadores da AcademiaNacional de Medicina, José da Cruz Jobim, a “fa-mília Jobim” é originária de uma localidade cha-

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mada Santa Cruz do Jobim, em Portugal. O “fun-dador” da “família Cruz” no Brasil, que na se-qüência passou a ser designada “Jobim”, JoséMartins da Cruz, era militar. Como tal foi inicial-mente enviado para os Açores e posteriormentepara o Brasil. Recebeu como retribuição aos seusfeitos militares uma “sesmaria de campo” no RioGrande do Sul e mais tarde foi Juiz de Órfãos,cargo que exerceu até 1816. Assim, o “primeiromembro da família” instalou-se em Rio Pardo,casou-se com uma portuguesa e teve quatro fi-lhos. O mais velho foi Senador do Império e fun-dador da Academia Nacional de Medicina; outroconquistou o título nobiliárquico de Barão deCambaí. José Martins da Cruz casou-se pela se-gunda vez e teve mais quatro filhos, um dos quaisfoi “agraciado com a Ordem da Rosa no grau deComendador” (FERNANDES, 1980, p. 248).

De um desses irmãos descende o advogadoformado pela Faculdade de Direito de Porto Ale-gre e filho de funcionário público, Walter Jobim.Ele formou-se em 1913 e estabeleceu-se em San-ta Maria nas primeiras décadas do século XX;casou-se com uma descendente de militares (quetiveram destacada atuação na Guerra do Paraguai)e filha de um importante comerciante urbano domesmo município. Walter Jobim atuou como juize promotor. Posteriormente, montou um escritó-rio de advocacia. O exercício dessas profissõesauxiliou-o na fixação dos atributos utilizados aolongo da sua carreira política: “capacidade orató-ria” e “aptidão para a escrita” (JOBIM NETO,2001). Aliado a isso, sua participação nas lutaspolíticas ou conflitos militares do período contri-buíam para a solidificação da liderança política e ainserção em uma das facções políticas estaduais.Entre 1923 e 1932 participou da “Revolução de1923” liderada por Assis Brasil; da “Revolução de1930”, ao lado de Getúlio Vargas, e da RevoluçãoConstitucionalista de 1932. Foi candidato aIntendente de Santa Maria em 1927 pelo PartidoLiberal (PL). Depois, em 1935, concorreu à de-putação federal, elegendo-se (com 43 anos)14.

Walter Jobim passou a ser membro do círculodirigente da facção política e chegou a importan-tes secretarias de estado nos anos 1930 e 1940.Entre 1938 e 1945 foi Secretário de Obras e Se-

cretário de Segurança. Em 1946, Walter Jobimchegou ao ápice da carreira política, elegendo-seGovernador do Estado (com 54 anos). Após dei-xar o governo do estado, foi indicado para ocupara Embaixada do Brasil em Montevidéu.

Dos filhos de Walter Jobim, dois tiveram fun-ções públicas destacadas: Walter Jobim Filho eHélvio Jobim. Walter Jobim Filho formou-se emEngenharia e Hélvio Jobim, em Direito; obtiveramseus respectivos títulos superiores em Porto Ale-gre, na Universidade Federal do Rio Grande doSul (UFRGS). O engenheiro e professor universi-tário Walter Jobim Filho ocupou cargos junto aospoderes Executivo estadual e federal, legitimadopelo título escolar, pela formação profissional epelas redes de relações (políticas e pessoais) acu-muladas pelo pai. Atuou no Departamento Nacio-nal de Obras; foi nomeado Diretor Técnico daEletrosul Centrais Elétricas; escolhido SecretárioEstadual de Minas e Energia do Rio Grande doSul pelo Governador Sinval Guazelli; finalmente,foi indicado pelo então Governador Amaral deSouza para a Presidência da Aços Finos Piratini.Já Hélvio Jobim herdou o reduto local e a inserçãoprofissional por meio da liderança partidária e daadvocacia em Santa Maria. Como advogado,Hélvio Jobim assumiu o escritório do pai em 1936;casou-se com a filha de uma “tradicional família”de Santa Maria, líderes militares e políticos(“chimangos”) no município. Foi durante muitosanos Presidente do Partido Social-Democrata(PSD) daquela cidade e concorreu a DeputadoEstadual em 1958. Nessa eleição conquistou umacadeira na Assembléia Legislativa (com 38 anos).Agregou a essa liderança partidária o “nome”, aaliança matrimonial e a atividade como advogadoem que se destacava – segundo o depoimento deseu filho – como “excelente tribuno de júri” (idem).

Teve três filhos homens: Walter Jobim Neto,Nélson Jobim e Hélvio Jobim Filho. Nélson Jobimocupou o primeiro cargo eletivo em 1986 (aos 40anos). Após encerrar seus estudos de graduaçãoem Direito pela UFRGS, atuou na “Ala Moça daArena [Aliança Renovadora Nacional]” e no Insti-tuto de Estudos Políticos Tarso Dutra. Foi Dire-tor do Clube Comercial e membro do Lions Club– assim como boa parte dos membros da “famí-lia” – e casou-se com uma filha de grandes fazen-deiros da “região”. Foi também membro do Insti-tuto dos Advogados do Rio Grande do Sul e doInstituto dos Advogados Brasileiros. Fez omestrado em Filosofia Analítica e Lógica Mate-

14 Walter Jobim renunciou a esse cargo em nome de umacordo entre as lideranças dos partidos que compunham aFrente Única Gaúcha, resultante do acordo entre o PartidoLiberal e o Partido Republicano Riograndense.

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mática entre 1982 e 1984 e lecionou no curso deDireito da Universidade Federal de Santa Maria(UFSM), na Escola Superior de Magistratura daAssociação dos Juízes do Rio Grande do Sul(AJURIS), na Escola Superior do Ministério Pú-blico e na Escola Superior de Advocacia da Or-dem dos Advogados do Brasil (OAB). Destacou-se ainda como presidente da OAB do município ecomo vice-Presidente e candidato a PresidenteRegional da mesma entidade; essa candidatura foiretirada para dedicar-se à campanha à AssembléiaConstituinte em 1986, incentivado pelo então De-putado Federal do Partido do Movimento Demo-crático Brasileiro (PMDB) pelo município e tam-bém advogado João Gilberto Lucas Coelho, queconcorreu ao Senado Federal. Reelegeu-se em1990 mas em 1994 não concorreu ao terceiromandato. Em 1995 foi empossado Ministro daJustiça pelo Presidente da República FernandoHenrique Cardoso; em 1997 foi indicado comoMinistro do Supremo Tribunal Federal (STF) epresidiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e opróprio STF. Atualmente é Ministro da Defesa deLuís Inácio Lula da Silva.

A caracterização da atuação política familiarcentra-se em valores e atributos associados àsprofissões exercidas e na excelência dos percur-sos escolares e profissionais. São acionadas cate-gorias como “formação humanística”, “destrezacom as palavras”, “capacidade profissional”, “vo-cação política”, “conhecimento generalista”, “vi-são abrangente”, “poder argumentativo”, “habili-dade de debatedor” (idem).

O também ex-Deputado Federal Jaime ManoelTavares Neiva de Santana descende de “tradicio-nais famílias” da política maranhense com atua-ção destacada no “sertão maranhense” (municí-pios de Pastos Bons e Nova Iorque). SegundoBuzar (2001, p. 275), desde o século XIX “[...]uma luta ferrenha entre duas famílias abalava osertão maranhense. De uma lado, os Neiva[s], deoutro, os Teixeira[s], empenhavam suas forçaspelo domínio econômico e política daquela região”.

O seu avô paterno, cearense, radicou-se noestado ainda no século XIX e tornou-se um dosmaiores comerciantes e fazendeiros da “região”.Contou para tanto com o casamento com a filhade um importante fazendeiro, comerciante e “lí-der político”. Os avós (paterno e materno) de Jai-me Santana foram prefeitos, um dos tios chegouao Senado da República, outro foi Prefeito da ca-

pital, um último foi Prefeito e Deputado Estadual.Cabe grifar também, como pertencentes ao “clãdos Neivas” (COUTINHO, 2007, p. 169) JoséNeiva de Sousa, que se elegeu Deputado Federalem duas ocasiões e Senador em uma, e José Gui-marães Neiva Moreira, que chegou à AssembléiaLegislativa em uma vez e à Câmara dos Deputa-dos em sete oportunidades.

O pai de Jaime Tavares Neiva de Santana, PedroNeiva de Santana, formou-se em Medicina no Riode Janeiro. A partir da década de 1930 radicou-seem São Luís, trabalhou no Gabinete de Identifica-ção e no Gabinete Médico-Legal da Polícia Civil efoi nomeado Prefeito da capital pelo InterventorPaulo Ramos para o período 1937-1945. Dessemodo, na seqüência, foi catedrático de MedicinaLegal na Faculdade de Direito de São Luís e deSociologia na Faculdade de Filosofia de São Luíse da Faculdade de Ciências Médicas do Maranhão.Em 1966 voltou a ocupar um cargo público, as-sumindo a Secretaria de Planejamento do entãoGovernador José Sarney; logo em seguida foi oprimeiro Reitor da Fundação Universidade doMaranhão (a atual Universidade Federal doMaranhão (UFMA)); por fim, foi Governador doEstado entre 1971 e 1974. Antes de morrer, foieleito membro da Academia Maranhense de Le-tras. Segundo Nunes (2000, p. 332), “os cargose postos referidos ao campo de poder viabilizamo acesso às posições consagradas no domínio dasrelações intelectuais”. Em outras palavras, “ele fazuso de sua consagração no campo de poder paraalçar posições de consagração no campo intelec-tual” (idem, p. 344).

O imbricamento entre os domínios político eintelectual também está presente na justificaçãofeito pelo seu filho para o destaque público alcan-çado pelo pai. A ele junta-se o conteúdo moral quebusca ser associado à “imagem”, mediante ex-pressões como “homem culto”, “sujeito bem in-formado”, “formador de opinião”, “homem decredibilidade”, “cidadão acima de qualquer sus-peita” etc. (SANTANA, 2006).

Seu filho, o ex-Deputado Federal Jaime deSantana, é economista formado na FaculdadeCândido Mendes, no Rio de Janeiro. Em 1968assumiu a Secretaria Municipal da Fazenda emSão Luís (aos 25 anos), após um período comoassessor do pai na Secretaria Estadual da Fazendado Maranhão. A partir de 1971 passou a acumulara Chefia da Casa Civil do Governo do Estado e a

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Secretaria Estadual da Fazenda, quando seu paiocupava o cargo de Governador. Durante a ges-tão do sucessor de seu pai, Osvaldo Nunes Freire,trabalhou como Diretor da Companhia de Águase Esgotos do Maranhão (Caema). No início dadécada de 1980, após mais de dez anos ocupandocargos públicos de primeiro escalão, concorreupela primeira vez à deputação federal, com suces-so, pelo Partido Democrático Social (PDS). Em1985 concorreu à Prefeitura de São Luís peloPartido da Frente Liberal (PFL), com o apoio doentão Presidente da República, José Sarney. Ree-legeu-se Deputado Federal em 1986 pelo PMDB eem 1990 e 1994 pelo Partido da Social-Democra-cia Brasileira (PSDB). Nos últimos anos atuoucomo assessor especial do Governador do Esta-do do Maranhão.

Sua auto-apresentação como “político” e asdefinições de política mobilizadas são calcadas emnoções como “vocação” e “arte”, associadas àshabilidades “em formular, articular e operar” e “serintelectualmente sério”. A forma de conceber apolítica e de descrever a atuação dos demais mem-bros da “família” realça o “desinteresse”, as com-petências compartilhadas por círculos restritos desociabilidades e as qualidades intelectuais consi-deradas raras (idem).

III.2. Imigração, ascensão social e especializa-ção política

No que diz respeito ao segundo padrão identi-ficado, ele compreende os “descendentes” de “fa-mílias” que se estabeleceram socialmente nas dé-cadas de 1930 a 1950 e o pai do primeiro políticocomumente se dedicava ao comércio, muitas ve-zes fazendo intermediação de “regiões” de “colô-nias de imigrantes”. Muitas dessas famílias esti-veram ligadas às dinâmicas de imigração do sécu-lo XIX e início do século XX e seus membrosascenderam e tornaram-se prósperos comercian-tes e empresários. O ingresso da “família” na com-petição eleitoral ocorreu, então, a partir dos anos1930 com forte incremento no período posteriorà democratização de 1945. A grande maioria dospolíticos é portadora de títulos superiores seme-lhantes àqueles conquistados pelos “descenden-tes” de “grupos familiares” estabelecidos há maistempo. Outro fator comum é a combinação daocupação de cargos municipais (prefeituras e ve-reança) e estaduais (deputação estadual ou fede-ral, secretarias etc.) por diferentes membros das“famílias”. Essa divisão do trabalho político faci-

lita tanto a manutenção de redutos (em geral ondese encontra a “colônia de imigrantes” de que sãooriginários) como a afirmação estadual junto àsmáquinas e facções partidárias que disputam ahegemonia no cenário regional.

Em que pese a existência dessas semelhanças,uma série de aspectos distingue os casos exami-nados. No Rio Grande do Sul o ingresso na car-reira eletiva ocorreu majoritariamente por meio decargos locais (com destaque para a vereança); noMaranhão, pela deputação estadual ou federal e,eventualmente, pela Prefeitura (muito raramentepela vereança). No primeiro estado há maior afir-mação eleitoral local baseada no prestígio conquis-tado como comerciantes e empresários e umaascensão gradativa às posições eletivas e partidá-rias centrais no estado. No segundo estado, háigualmente a obtenção de notoriedade advinda dosucesso empresarial, porém essa notoriedade pro-porciona a fixação na capital e a cooptação para oexercício de cargos políticos, para a direção dasmáquinas políticas estaduais e para as candidatu-ras. No que se refere aos elementos ligados à imi-gração, cabe ressaltar a maior diversificação étni-ca no Rio Grande do Sul (alemães, italianos, sírios,libaneses, poloneses etc.) e o uso muito mais di-reto e explícito dessa identificação como recursode mobilização eleitoral, ao passo que, noMaranhão, a identificação com imigrantes restrin-ge-se a segmentos de “descendentes de libane-ses” que constroem suas bases eleitorais via ali-anças políticas e matrimoniais no interior das má-quinas partidárias e do círculo de “famílias” queas controlam. Finalmente, deve-se grifar a maiordiversificação dos investimentos escolares no RioGrande do Sul, que ocorre por meio de institui-ções públicas situadas na capital (como as “famí-lias tradicionais”), por instituições privadas nacapital (sobretudo a Pontifícia Universidade Ca-tólica do Rio Grande do Sul (PUC-RS)) e por ins-tituições no interior, públicas ou privadas (as cha-madas “instituições comunitárias”). No Maranhãotais segmentos ascendentes necessitaram freqüen-tar instituições públicas situadas na capital ou emcentros maiores, configurando maior concentra-ção e seleção social na formação da “elite políti-ca” estadual.

A tônica na celebração da “origem familiar”entre os políticos que pertencem a “famílias” quese afirmaram mais recentemente recai na descri-ção das condições de origem adversas, sobretudo

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entre “imigrantes”, e na excepcionalidade do tra-jeto do grupo familiar. O contraste entre o pontode partida (obstáculos, dificuldades, discrimina-ção) e o itinerário de “sucesso” em termos de as-censão social é grifado nos relatos. Nas formasde definição do exercício da atividade política es-ses agentes acionam qualidades naturalizadas quesão buscadas exatamente nas biografias individu-ais e coletivas bem-sucedidas e ascendentes; apre-sentam-se como detentores de uma “vocação”para o “empreendedorismo” e para o “trabalhocomunitário”. Para tanto, utilizam-se de atributosque acreditam serem inatos como “capacidade detrabalho”, “capacidade de comunicação”, “audá-cia”, “vivência empresarial” etc. É interessante queos trunfos e as “habilidades” construídas sobrecondicionantes específicos de afirmação social eeconômica acabam constituindo-se “qualidades”tidas como próprias dos “alemães”, dos “italia-nos”, dos “sírios”, dos “libaneses” e/ou de deter-minadas “famílias de políticos”. Sendo assim, asexceções (os casos excepcionais de ascensão)estabelecem a “regra” e prescrevem condutasmodelares na política.

Aproximam-se desse padrão os casos de JoséOtávio, Pedro e Otávio Germano no Rio Grandedo Sul e os de Joaquim e Nagib Haickel noMaranhão.

O atual Deputado Federal José Otávio Germanoé neto de um casal de sírios. Seu avô, TaufikGermano, foi mascate, depois comerciante e, fi-nalmente, empresário; foi um imigrante que, se-gundo seu filho, “veio da Síria em 1914 [...] eteve uma vida de luta, de muita dificuldade”, as-cendeu socialmente em Cachoeira do Sul e teriatido uma “intensa atuação comunitária”(GERMANO, 2001). Além disso, Taufik tinha for-tes ligações com as lideranças então dominantesna política gaúcha. Soma-se a isso o seu papel deintermediário comercial entre os diferentes distri-tos na “região” e entre as zonas rural e urbana.Tal atividade seria responsável pelas influência eprojeção que obteve; como destaca José OtávioGermano, “cresceu o negócio dele [...] e entãoele começou a ter influência em toda a região”(GERMANO, 2002).

O ex-Deputado Federal e advogado formadona UFRGS Otávio Germano é o terceiro filho deTaufik Germano. Atuou no movimento estudantile foi Presidente Estadual da ala moça do PSD.Casou-se com uma descendente de imigrantes

sírios, ligados ao comércio e vinculados por laçosde parentesco à “família Germano”. OtávioGermano iniciou sua carreira como Vereador (aos28 anos); depois de exercer a vereança entre 1952e 1962 e de perder uma eleição para a AssembléiaLegislativa em 1958, elegeu-se Deputado Estadu-al três vezes consecutivas. Nesse período (1963-1974) foi Secretário de Estado e Presidente daAssembléia Legislativa. Em 1974 chegou à Câ-mara dos Deputados e, em 1978, ao cargo de vice-Governador (eleito pela Assembléia Legislativa).Em 1982 perdeu as prévias no interior do seu parti-do para a escolha do candidato a Governador.Ocupou a Presidência da Caixa Econômica Esta-dual entre 1983 e 1985; em 1986 não obteve su-cesso na tentativa de voltar à Câmara dos Depu-tados e foi posteriormente convidado a ocupar umcargo em uma indústria estatal (Aços FinosPiratini).

Seu irmão, o médico veterinário formado naUFRGS e advogado formado na Universidade deCruz Alta (Unicruz) Pedro Germano elegeu-seVereador em Cachoeira do Sul (aos 32 anos).Depois de ocupar a Presidência da Câmara deVereadores, concorreu a Prefeito por uma das sub-legendas da Arena, em 1968, sem sucesso. Foientão convidado a assumir a Chefia de Gabinete,entre 1971 e 1972, da Secretaria do Interior e daJustiça, dirigida pelo irmão. Em 1972 PedroGermano elegeu-se Prefeito de Cachoeira do Sulcom base na forte influência do trabalho de “aten-dimento ao município” exercido na Secretaria. Em1978 e em 1982 elegeu-se Deputado Federal.

O irmão mais novo de Otávio Germano, Ge-raldo Germano, foi Vereador em Cachoeira e Pre-sidente da Câmara de Vereadores. Em 1974 con-correu a Deputado Estadual em “dobradinha” comOctávio Germano e elegeu-se. Em 1978 e em 1982conseguiu a reeleição, dessa vez em “parceria”com o outro irmão, Pedro Germano, que tambémfoi exitoso nas duas eleições.

Na atual geração, o principal protagonista po-lítico é o filho de Otávio Germano, José OtávioGermano. Advogado formado na PUC-RS, ondeatuou no movimento estudantil, e ex-Presidentedo “Movimento Jovem do PDS”, estabeleceu-seprofissionalmente em Cachoeira do Sul como ad-vogado e professor universitário, após ter sidoChefe de Gabinete do pai na Presidência da CaixaEconômica Estadual. Em 1988 elegeu-se Verea-dor (aos 26 anos) e em 1990 chegou à Assem-

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bléia Legislativa. Ocupou dois mandatos (1991-1998) e a Presidência do parlamento gaúcho. Foiainda Secretário Estadual dos Transportes do RioGrande do Sul entre 1995 e 1998; em 1998 con-correu a vice-Governador, sem êxito. Ocupou oMinistério Adjunto dos Esportes durante o últimomandato do Presidente Fernando Henrique Car-doso (1999-2002) e elegeu-se Deputado Federalem 2002; em 2003 passou a dirigir a SecretariaEstadual de Justiça e Segurança Pública e reele-geu-se Deputado Federal em 2006.

Paralelamente ao exercício por parte de JoséOtávio Germano dessa liderança estadual, outromembro da “família” desempenhou atribuiçõesmais “locais”. Trata-se do empresário TaufikGermano Neto, conhecido como “Pipa” Germano,primo de José Otávio Germano. Ele elegeu-se Ve-reador de Cachoeira do Sul em 1992 e Prefeito damesma cidade em 1996 e 2000, além de ter sido oPresidente da Federação dos Municípios do Esta-do do Rio Grande do Sul (Famurs).

“Os Germanos”, ao longo de duas gerações,conseguiram articular as posições locais e esta-duais e maximizar sua notoriedade e hegemonialocais como trunfo nas disputas e ascensão polí-tica, assim como mantiveram seus redutos com o“atendimento” e a intermediação possibilitada pelaocupação de mandatos de deputados e a ocupa-ção de secretarias de estado.

Os ex-deputados federais pelo Maranhão Joa-quim Nagib Haickel e Nagib Haickel são descen-dentes de libaneses. Entre os antepassados queimigraram para o Brasil, parte da “família” fixou-se no Rio Grande do Sul e parte no Maranhão.Nagib Haickel é filho de um casal de primos liba-neses e o pai era comerciante. Os ascendenteschegaram ao estado na primeira década do séculoXX e radicaram-se em Pindaré Mirim. Nessemunicípio, segundo um dos descendentes da “fa-mília”, constituiu-se “uma espécie de fronteira dedesenvolvimento e os imigrantes iam para o pátiodessas fábricas vender: vender roupas, vendermantimentos e utensílios; foi nessa enxurrada quemeus avós vieram então se estabelecer em PindaréMirim e lá tem uma grande uma grande colônialibanesa” (HAICKEL, 2006).

O irmão mais velho de Nagib Haickel foi o pri-meiro a ingressar na arena eletiva. José AntônioHaickel, comerciante e proprietário de uma usinade arroz, aproximou-se de José Sarney, então can-

didato das “oposições coligadas” ao Governo doEstado, e elegeu-se Prefeito de Pindaré Mirim pelaprimeira vez em 1965. Constituiu uma sólida lide-rança local que possibilitou que se elegesse duasoutras vezes Prefeito do Município.

Um ano após a eleição do irmão, Nagib Haickelconcorreu pela primeira vez à deputação estaduale elegeu-se. Já estava radicado em São Luís, ondetrabalhou inicialmente com uma “família de liba-neses” também atuantes politicamente (“osAbouds”). Posteriormente, “teve sucesso na vidaempresarial [...]; enveredou mais no comérciomesmo de atacado de material de construção, degêneros alimentícios” (idem). Tinha como princi-pal “reduto eleitoral” a cidade de Pindaré Mirim emunicípios próximos. Segundo depoimento do seufilho, os sucessos empresarial e político decorri-am de “qualidades inatas” como ser “comunicati-vo”, “trabalhador”, “audaz” e “homem de visão”(idem). Casou-se com uma filha de pequenos co-merciantes de origem portuguesa.

Nagib Haickel elegeu-se, então, Deputado Es-tadual três vezes consecutivas (1966,1970 e 1978).Em 1978 e 1982 elegeu-se Deputado Federal; nestaúltima eleição fez “dobradinha” com o filho, o entãoestudante de Direito da UFMA, Joaquim NagibHaickel, contribuindo decisivamente para a pri-meira eleição deste como Deputado Estadual. Em1986 decidiu lançar o filho candidato à Assem-bléia Nacional Constituinte, com sucesso, e con-correu novamente à deputação estadual. Sofreu aprimeira derrota em virtude da divisão da base comoutros candidatos diretamente vinculados a ele.Entre 1987 e 1988 tornou-se o primeiro adminis-trador do município recém-criado, chamado ZéDoca. Em 1990 voltou a concorrer a DeputadoEstadual, com sucesso, e morreu na Presidênciada Assembléia Legislativa.

Seu filho, Joaquim Nagib Haickel, ingressouna carreira eletiva como Deputado Estadual (aos22 anos) com base no prestígio acumulado pelopai (ao longo de três mandatos de Deputado Esta-dual e um de Deputado Federal) e do tio (devidoàs três gestões na Prefeitura de Pindaré Mirim).Antes de concorrer pela primeira vez a um cargoeletivo foi Chefe do Gabinete do Governador JoãoCastelo (aos 20 anos). Sua primeira eleição foiconquistada basicamente com votos concentra-dos na “região de Pindaré Mirim”. Joaquim Haickelconcluiu o curso de Direito na UFMA e participoude movimentações culturais como poeta e escri-

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tor durante o mandato. Em 1986 substituiu o paicomo candidato a Deputado Federal – segundosua versão, devido à sua formação jurídica, maiscondizente com o papel de constituinte. Duranteainda o mandato investiu na atividade empresarialcomo proprietário de uma concessionária de au-tomóveis, de uma editora e de uma cadeia de rádi-os e televisões em sociedade com Fernando Sarney(filho de José Sarney).

Em 1990 não concorreu à reeleição. O esfor-ço familiar concentrou-se no retorno de NagibHaickel à Assembléia Legislativa. Foi então convi-dado a ocupar o cargo de Subsecretário de AçõesPolíticas no governo Édison Lobão, responsabili-zando-se diretamente pelo atendimento aos plei-tos dos prefeitos do interior. Posteriormente ocu-pou a Subsecretaria de Educação. Entre 1995 e1998 investiu exclusivamente nas suas empresas,incrementando mesmo a sociedade com FernandoSarney e, em 1998, concorreu a Deputado Esta-dual. A passagem pelo poder Executivo e o “su-cesso empresarial” conquistado permitiram umareentrada na arena eletiva como Deputado Esta-dual e o início de uma nova carreira calcada nosfeitos pessoais, sem se desvincular da “herançapolítica”. Assim, reelegeu-se três vezes consecu-tivas Deputado Estadual (1998, 2002 e 2006).

III.3. “Origem humilde”, militância e especiali-zação política

O terceiro padrão identificado contempla umconjunto de deputados que se aproximam pela“origem humilde” reivindicada nas auto-apresen-tações. Seus “antepassados” pertenceram às ca-madas mais baixas da população e a ascensão so-cial sucedeu ao ingresso na competição eleitoral.O pai do deputado ou do primeiro político na “fa-mília” exerceu profissões como de pequeno agri-cultor, pequeno comerciante, empregado de gran-des propriedades rurais, pescador, metalúrgico,pedreiro etc. A estréia dos agentes ou dos seus“familiares” na disputa por cargos eletivos acon-teceu a partir do final dos anos 1950, intensifi-cando-se nas décadas mais recentes. Predominamos deputados com título superior. Raramente oscasos associados a esse padrão inauguraram suaatuação como ocupantes de cargos eletivos comoDeputado Federal. Majoritariamente eles estrea-ram como vereadores (mais freqüentemente noRio Grande do Sul) ou deputados estaduais (situ-ação mais freqüente no Maranhão). A relevânciada passagem por instituições privadas na capital e

privadas e públicas no interior entre os deputadosgaúchos, em contraposição à centralidade das ins-tituições públicas na capital para os deputadosmaranhenses, é o principal elemento de diferenci-ação regional.

Por fim, entre aqueles políticos que se aproxi-mam do terceiro padrão, os relatos concernentesàs “origens familiares” centram-se na caracteri-zação da “precariedade”, da “humildade”, da “ca-rência” que marcaram os “antepassados” do pri-meiro político. São enfatizados os aspectos queos diferenciam dos demais políticos de origem“tradicional” ou que são originários de “famílias”que ascenderam economicamente, como ainexistência de “tradição política familiar”, as difi-culdades de acesso aos títulos escolares e a “ne-cessidade de conciliar trabalho e estudo”. Os en-trevistados, nas estratégias de auto-apresentaçãoe para explicar a ascensão política a partir da “ori-gem humilde”, utilizam termos para definir a sua“vocação política” e a de seus familiares como“obstinação”, “superação”, “missão” e até“predestinação”. A idéia de excepcionalidade, as-sim, apóia-se na raridade do perfil no interior da“classe política”, na baixa probabilidade de êxitosob tais condições e no exemplo de “superação”.

O ex-Deputado Federal pelo Rio Grande doSul Wilson Branco e o atual Deputado Federal peloMaranhão Domingos Dutra são casos exempla-res do padrão descrito.

Originário de uma “família de pescadores”, oex-Deputado Federal Wilson Branco é considera-do o “fundador” de uma “família de políticos” doRio Grande do Sul, como salienta o depoimentodo seu filho: “a gente pode conversar sobre comocomeçou a história do pai, porque a política, umacoisa, a política não tava no sangue, o pai iniciou[...]” (BRANCO, 2003). Wilson Branco estudouaté a quinta série do Ensino Fundamental no colé-gio Sipriano Porto Alegre em Rio Grande e con-cluiu o curso técnico de mecânica marítima doServiço Nacional de Aprendizagem Industrial(Senai). Sua baixa escolaridade costuma sercontrabalançada pela ênfase no autodidatismo evalorizada como símbolo de proximidade e asso-ciação com o seu eleitorado. Aliou a atuação nofutebol amador (inicialmente como jogador, de-pois como dirigente e técnico e finalmente comocomentarista de rádio) à liderança política entreos pescadores, como Presidente, a partir de 1985,da Colônia de Pescadores Z1 e como Presidente

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da Federação dos Pescadores do Estado do RioGrande do Sul. Soma-se a isso uma aliança matri-monial com a filha de um pequeno comerciantedo distrito de origem.

O “acesso” que os eleitores desfrutavam juntoao homem político e a ausência de barreiras soci-ais entre ele e aqueles que o procuravam com “de-mandas” e “solicitações” de atendimentos são in-gredientes importantes da sua afirmação política.Acrescenta-se a isso uma série de atos realizadose divulgados no sentido de fixar a imagem de umlíder com componentes de heroísmo: “coragem”e “iniciativa” para posicionar-se em situações queenvolviam conflitos e relações desiguais de poderfirmaram sua condição de mediador local e assi-nalaram o acesso assim conquistado junto aoscentros local e nacional da vida política. A uniãodesses componentes em uma trajetória políticaexcepcional devido a uma posição social de ori-gem incomum para os cargos ocupados permitiua sua auto-apresentação como alguém “ilumina-do”, com elementos que faziam alusão a uma“predestinação” (idem) igualmente presente notrabalho de produção do seu carisma.

Assim, Wilson Branco tem seu carisma fun-damentado em atributos pessoais, em feitos he-róicos ligados à sua vida privada (a superação deobstáculos de origem) e em suas tomadas de po-sição públicas, bem como na exaltação de deter-minadas carências sociais. Logo, seria detentorde qualidades individuais (facilidade de comuni-cação, domínio de códigos populares eautodidatismo) singulares e originadas dodesapossamento social, político e cultural: issocontribuiu para a sua “imagem política”.

Wilson Branco percorreu um itinerário de car-gos eletivos que se iniciou com a sua eleição comoVereador de Rio Grande em 1992 pelo PMDB; em1994 concorreu a Deputado Federal pelo mesmopartido, ficando em uma das suplências. Assumiuem 1995 e dedicou-se à “defesa do setor primá-rio, sobretudo pesqueiro” (idem). Em 1996 ele-geu-se Prefeito de Rio Grande e morreu em 2000em plena campanha de reeleição, quando era olíder das pesquisas e grande favorito.

Assim, o então candidato a Vereador, FábioBranco, e o Secretário Municipal, Janir Branco,respectivamente sobrinho e filho do candidato lí-der das pesquisas e seus principais colaborado-res, impuseram-se como “continuadores” do seu

“trabalho”. Sucessor do tio na Presidência da co-lônia de pescadores, assessor na Câmara de Vere-adores e no Congresso Nacional e supervisor daSecretaria Municipal de Agricultura durante omandato de Wilson Branco na Prefeitura, FábioBranco foi escolhido candidato a Prefeito de RioGrande. O “acompanhamento do trabalha políti-co” de Wilson Branco é sempre realçado como ogrande trunfo dos primos e como justificativa paraa sucessão das posições políticas. Ambos teriamparticipado das atividades na colônia de pescado-res, além de assessorar no mandato na Câmara deVereadores e coordenar o escritório – cuja sedeera na própria colônia de pescadores – de atendi-mento do mandato de Deputado. Finalmente, con-tribuíram com a ocupação de cargos no governomunicipal (gestão 1996-2000).

Fábio Branco elegeu-se e a gestão municipalpassou a ser o novo “teste” dos “jovens políti-cos”. Fábio Branco contou, na administraçãomunicipal, com o auxílio direto de seu primo, oentão estudante de Engenharia da Fundação Uni-versidade Federal do Rio Grande (FURG) JanirBranco, escolhido para ocupar o cargo de Secre-tário-Geral de Governo, além de outros colabora-dores da equipe de Wilson Branco. Nesse proces-so, a candidatura de Janir Branco à deputação es-tadual constituiu mais uma “aposta” na sucessãopolítica e um movimento de sedimentação da lide-rança. Janir Branco elegeu-se Deputado Estaduale passou a cursar Direito nas Faculdades Rio-Grandenses (FARGS). Sua eleição foi apresenta-da como “a realização do sonho do pai”; expres-sões como “predestinação”, “missão”, “desafio”,“destino” etc. são acionadas na apresentação pes-soal e familiar (idem).

Atualmente Janir Branco ocupa a Prefeitura deRio Grande, em virtude da cassação do seu pri-mo, Fábio Branco, durante o pleito de 2004. Fá-bio Branco concorria à reeleição e foi substituídopor Janir Branco duas semanas antes da eleição.Mesmo com o período exíguo de campanha, oprincipal posto político local permaneceu sob ocontrole da “família de políticos” com aproxima-damente 70% dos votos locais.

O atual Deputado Federal Domingos Dutra édescendente de uma “família” de “trabalhadoresrurais” em uma pequena localidade do interior doMaranhão, Saco das Almas, hoje município Buritide Inácia Vaz, que, segundo ele, “recentementepassou a ser a denominado Quilombo”. Seu pai

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foi “vaqueiro” e “lavrador” e a mãe, “quebradeirade coco”, “doméstica” e “lavradora” (DUTRA,2006). Teve 20 irmãos por parte de mãe e 29 porparte de pai, dos quais apenas uma irmã chegou àuniversidade.

Seu deslocamento para capital deu-se aos 11anos de idade. Alfabetizou-se depois de adulto. Naadolescência atuou em um grupo de teatro da “pe-riferia” ligado à Igreja Católica e chamado “Gri-ta”. Após “servir no Exército”, foi empacotadorde supermercado e integrou um grupo de teatroda Universidade Federal do Maranhão denomina-do “Gangorra”. Teria combinado a influência doscolegas do grupo de teatro e a realização de umcurso pré-vestibular para ingressar no curso deDireito da UFMA: “com a economia de ir a pétodos os dias, eu paguei cursinho. [...] E [foi] nauniversidade que eu vim [a] descobrir o movi-mento político, naquele tempo já era... já[es]tava[m] surgindo as greves do ABC15” (idem).

Durante a graduação foi professor de Históriaem colégios particulares; na universidade partici-pou de “grupos” no movimento estudantil cujosintegrantes formaram as principais “agremiaçõespartidárias de esquerda” do estado (notadamenteo Partido dos Trabalhadores (PT)). Profissional-mente atuou como advogado da Comissão Pasto-ral da Terra, da Sociedade Maranhense dos Direi-tos Humanos, da Cáritas Brasileira, de sindicatosrurais e urbanos e em defesa dos “quilombolas”.

Concorreu a Vereador de São Luís em 1982 e1988 e não obteve êxito. Ainda na década de 1980foi um dos principais líderes do PT e de uma ten-dência denominada “PT de Aço”, notabilizada pelaatuação junto aos movimentos de trabalhadoresrurais. Ocupou vários cargos de direção nosdiretórios municipal e estadual. Alcançou o pri-meiro cargo eletivo como Deputado Estadual em1990 (aos 34 anos); em 1994 elegeu-se DeputadoFederal e, em 1996, vice-Prefeito de São Luís.Em 2002 retornou ao poder Legislativo estaduale, em 2006, reconquistou o mandato de Deputa-

do Federal. É o atual Presidente do Diretório Re-gional do PT. Um dos seus filhos prepara umacandidatura à vereança em um pequeno municí-pio localizado na “Ilha de São Luís” (faz limitecom a capital do estado por meio de um bairro noqual a “família” habitou durante décadas e sem-pre foi um importante “reduto eleitoral” de Do-mingos Dutra).

Sua auto-apresentação apóia-se em qualidadescomo a de ser portador de “um discurso muitoforte baseado no real e não no livro”, fazendo usode expressões alusivas à sua “origem rural e hu-milde”, a um sentido de “missão” que não permite“omissão diante das injustiças”, além da “identi-dade partidária” e da “coerência partidária”. Taiselementos possibilitariam, segundo ele, que, ape-sar de não possuir “tradição política na família”,ter optado por “canalizar a ação pro segmento maispobre”. A origem da escolha seria “Uma coisa danatureza, vem de dentro. E por vir de dentro éque faz com que a gente resista a todas as dificul-dades [...]. E acabou levando, aprofundando essaopção de ser militante. Então, nós nos tornamosmilitantes e tem horas que nós nos tornamos mi-litares” (idem).

III.4. Desqualificações, osmoses e interpene-tra-ções

Além de utilizarem suas origens e recursoscomo critérios de legitimação e de definição dassuas atuações políticas, os agentes investem tam-bém na desqualificação ou estigmatização dos ad-versários. Por um lado, a aproximação com o “pa-drão mais tradicional” contribui para que os agen-tes identifiquem nos novos perfis que ingressamna arena eletiva causas da “degeneração da políti-ca”, do “espírito público” etc. que seriam compa-tíveis com as suas qualidades ou atributos. Entreos principais repertórios de “desqualificação” en-contra-se a crítica à “profissionalização da políti-ca”, ao “carreirismo”, à busca da política como“subsistência” etc.

Por outro lado, aqueles que buscam afirmar-se no jogo político assinalam a importância para a“democracia” da “renovação” e da presença denovos segmentos sociais nos postos políticos,associando os agentes ligados a “grupos familia-res” estabelecidos, social e politicamente há maistempo a traços de “conservadorismo”, “atraso” e“estagnação”. Como elemento fundamental dedesqualificação, esses agentes lançam mão da as-sociação entre “famílias tradicionais” e “oligarqui-

15 A região chamada de “ABCD paulista” é compostapelas seguintes cidades da Região Metropolitana de SãoPaulo: Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema.Elas concentram indústrias automotivas e, no final dos anos1970, foram palco de grandes greves de trabalhadores; es-sas greves – as primeiras que ocorriam em cerca de dezanos, durante o regime militar – marcaram o surgimento do“novo sindicalismo” (nota do revisor).

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as”, “aristocratismo”, “dinastias”, “nepotismo”,“clientelismo” etc.

É necessário realçar que tais “denúncias” nãosignificam que os seus promotores abdiquem delongos períodos de cargos políticos (no primeirocaso) ou de promover a sucessão política no inte-rior da “família” (no segundo caso). É importantesalientar ainda que, embora haja uma correlaçãoentre perfis e estratégias que visam a desacreditaros concorrentes, tais investimentos dedesqualificação são relativos às relações que es-tão sendo enunciadas. As designações de “políti-co tradicional” e “família tradicional”, por exem-plo, podem ser usadas para classificar qualquerpolítico ou grupo familiar estabelecido há maistempo que aquele que faz uso da expressão, bus-cando afirmar-se. Do mesmo modo, a crítica à“profissionalização na política” é sempre maiscontundente em entrevistados que estão no inícioda carreira e é dirigida aos políticos mais experi-entes.

Contudo, as interações não se resumem às opo-sições ou às rivalidades. Da mesma forma há ali-anças, osmoses e interpenetrações. É significati-vo o número de casamentos entre descendentesde “famílias” com perfis diferenciados (“tradicio-nal”, “ascendente” e de “origem humilde”) for-mando “famílias de políticos” ainda com melho-res resultados eleitorais e com uma superfície derelações e de bases sociais ainda mais variada eeficaz. Além disso, as lógicas de concorrência le-varam à produção de meios, de tecnologias e derepertórios comuns e próprios ao espaço político.O enfraquecimento das redes de dependentes eclientes administradas pelas “elites tradicionais”fez que as mesmas investissem em máquinas par-tidárias (cooptando e integrando novos segmen-tos sociais sob a sua influência), em meios de co-municação, em cabos eleitorais remunerados, emdiscursos inovadores etc. Os mecanismos jásedimentados de relação candidato-eleitor levaramas novas camadas sociais a utilizarem práticasbaseadas na reciprocidade, no dom e na honra,possibilitadas, por seu turno, pela complexificaçãodo espaço da “representação política” (organiza-ções, instituições etc.).

IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conjunto de dados apresentados ao longodo texto revela alguns aspectos do processo deespecialização na política em curso ao longo do

território brasileiro, das variações regionais da eli-te política e a diversificação social no recrutamentodos parlamentares ocorrido nos últimos 60 anosno país.

No primeiro momento, mediante o exame deduas configurações regionais – que estão entre asconsideradas mais distintas –, foi possível de-monstrar elementos comuns de profissionalizaçãopolítica (ingresso precoce, longos períodos deocupação de cargos eletivos e políticos etc.) e demonopolização de postos políticos por agentes e“famílias”. No segundo momento, destacou-se,com pesos e modalidades distintos, o ingresso denovos segmentos sociais na arena política, novostrunfos de atuação e estratégias de legitimaçãoímpares. A despeito dessas constatações, os me-canismos de ingresso, os condicionantes sociaisde atuação política e as formas de ascensão oucontinuidade na carreira política revelaram-secontrastantes.

No caso do Rio Grande do Sul, predominamitinerários ascendentes a partir de cargos eletivos(com destaque para a vereança), profissionais li-gadas ao “saber humanístico”, formação escolarde nível superior capilarizada pelo território pormeio de instituições públicas e privadas e pesodas posições conquistadas via processos eleito-rais nos trajetos políticos. No Maranhão, prevale-cem percursos iniciados via cargos de primeiroescalão e/ou cargos eletivos centrais (especialmen-te a deputação federal), salientam-se as ocupa-ções associadas ao “saber técnico” e a formaçãoem instituições públicas situadas na capital ou emcentros maiores, além da importância dos cargospúblicos como instrumento de cooptação e comotrampolins nas carreiras.

A concorrência, as osmoses e asinterpenetrações entre agentes com perfis distin-tos que são resultantes e propulsoras de transfor-mações da estrutura social e política de cada con-figuração foram modelando recursos e trunfos ti-dos como legítimos de serem usados na disputaeleitoral. Do mesmo modo, é viável extrapolar taisconsiderações para refletir a respeito da composi-ção da “elite política brasileira” e das suas práti-cas como resultante de uma configuração de for-ças regionais e sociais que interagem, mesclam-se, fundem-se e forjam “modelos de comporta-mentos”, instituições compósitas (partidos,legislativos etc.) e linguagens de exercício da ati-vidade política.

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Artigo modificado por solicitação do editor em (Abril/2009).