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    no o desaparecimento) da narrao n a cincia histrica atual, q ueprocura falar das estrutura s mais do que das cronologias, implicamu ito mais do que uma simples mudan a de escola: uma verdadei-ra transformao ideolgica; a narrao histrica morre porque osigno da Histria doravante menos o real do que o inteligvel.

    1967, Informao sobre as cincias sociais.

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    O EFEITO DE REAL

    Quando Flaubert, descrevendo a sala onde se encontra a senhora Aubain, patroa de Felicite, diz-nos que "um velho pian o su-portava, sob um barmetro, um monte piramidal de caixas"1;quando Michelet, contando a morte de Charlotte Corday e rela-tando que, na priso, antes de o carrasco chegar, recebeu a vide um pintor que lhe fez o retrato, acaba por dizer que "ao cde hora e meia batem suavemente pequena porta que estatrs dela"2; esses autores (entre muitos outros) produzem nota-es que a anlise estrutu ral, ocupada em extrair e sistematizgrandes articulaes da narrativa, ordinariamen te e at agora,deixado de parte, quer po r excluir do inventrio (no falando de-les) todos os pormenores "suprfluos" (com relao estrutura),quer por tratar esses mesmos pormenores (o prprio autor de

    1. G. Flaubert, Un coeur simple , Trois Contes, Parisf Charpentier-Fasquelle, 1893, p. 4.2. J. Michelet, Histoire e e France, La Rvolution, t. V, Lausanne, Rencontre, 1967, p. 292.

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    linhas tentou faz-lo3) como "enchimento s" (catalises), afetados deum valor funcional indireto, na medida em que, somando-se unsao s outros, constituem algum ndice de carter ou de atmosfera,e assim podem finalmente ser recuperados pela estrutura.

    Parece, entretanto, que, se a anlise se quer exaustiva (e quevalor poderia ter um mtodo que no desse conta da integralidadede seu objeto, isto , no caso presente, de toda a superfcie do te-cido narrativo?), buscando atingir, para designar-lhe um lugar naestrutura, o detalhe absoluto, a unidade insecvel, a transio fu-gitiva, deve fatalmente encontrar notaes que nenhuma funo(mesmo a mais indireta que seja) permite justificar: essas notaesso escandalosas (do ponto de vista da estru tura), ou, o que maisinquietante, parecem concesses a uma espcie de luxo da narra-

    o, prdiga a ponto de dispensar pormenores inteis e elevarassim, em algumas passagens, o custo da informao narrativa.Porque, se na descrio de Flaubert , a rigor, possvel ver na no-tao do piano um ndice do padro burgus da sua proprietriae, na das caixas, um sinal de desordem e como que de deseranaprprias a conotar a atmosfera da casa Aubain, n enhum a finali-dade parece justificar a referncia ao barmetro, objeto que no nem descabido nem significativo e no participa, portanto, pri-meira vista, da ordem do notvel; e, na frase de Michelet, mesma

    dificuldade para dar conta estruturalmente de todos os detalhes: ocarrasco sucede ao p intor, s isso necessrio histria; o tempoqu e durou a pose, a dimenso e a posio da porta s o inteis(mas o tema da porta, a suavidade da morte qu e bate tm valorsimblico indiscutvel). Mesmo que no sejam numerosos, os "por-

    3. "Introduction 1'analyse scructurale du rcit", Communications, n? 8, 1966, pp. 1-27.(Retomado na col. "Points Essais", Ed. du Seuil, 1981.)

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    menores inteis" parecem pois inevitveis: toda narrativa, pelo me-nos toda narrativa ocidental de tipo corrente, possui alguns.

    A notao insignificante4 (tomando-se a palavra no sentidoestrito: aparentemente subtrada estrutura semitica da nana i iv) aparenta-se com a descrio, mesmo que o objeto s pareadenotado por uma nica palavra (n a realidade, a palavra pur a noexiste: o barmetro de Flaubert no citado em si; ele situatomado num sintagma ao mesmo tempo referencial e sinttico);assim fica sublinhado o carter enigmtico de qualquer descrio,a respeito da qual preciso dizer um a palavra. A estrutura geralda narrativa, aquela, pelo menos, que at agora tem sido anaaqui e ali, aparece como essencialmente preditiva; esquematizandoao extremo, e sem levar em conta numerosos desvios, atrasos,ravoltas e decepes que a narrativa impe institucionalmente a esquema, pode-se dizer que, a cada articulao d o sintagma narrati-vo, algum diz ao heri (ou ao leitor, pouco importa): se voc agirde tal modo, se escolher tal parte da alternativa, eis o que vai (o carter relatado dessas predies no lhes altera a natureza prti-ca). Bem diferente a descrio: no tem qualquer marca pred"analgica", sua estrutura puramente somatria e no contmtrajeto de escolhas e alternativas que d narrao um desenho devasto d ispatching, dotado de uma temporalidade referencial (e nomais apenas discursiva). Essa uma oposio que, antropolomente, tem a sua importncia: qu ando, sob a influn cia dos lhos de Von Frisch, comeou-se a imag inar que as abelhas pudter uma linguagem, imps-se o fato de que, se esses animais dis pu-nham de um sistema preditivo de danas (p ara reunir o alim en

    4. Nesse breve apanhado, no se daro exemplos de notaes "insignificantes", pois o ficante n o pode denunciar-se seno no nvel de uma estrutura m uito vasta: citada, uma no-tao no nem significante nem insignificante; -lhe necessrio um contexto j analisado.

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    nada a se aproximava de uma descrio''. A descrio aparece assimcomo uma espcie de "prprio" das linguagens ditas superiores, namedida, aparentemente paradoxal, em que ela no se justifica po rnenhuma finalidade de ao ou de comun icao. A singularidadeda descrio (ou do "pormenor intil") no tecido narrativo, a sua so-lido, designa um a questo da maior importncia para a anlise es-trutural das narrativas. a seguinte questo: tudo, na n arrativa, seriasignificante, e seno, se subsistem no sintagma narrativo alguns in-tervalos insignifican tes, qual , def initiva men te, se assim se podedizer, a significao dessa insignificncia?

    Primeiro preciso lembra r que a cultura ocidental, nu ma desuas correntes maiores, no deixou de modo algum a descriofora do sentido e a dotou de um a finalidade perfeitamente reco-nhecida pela instituio literria. Tal corren te a retrica e a fina-lidade o belo : a descrio teve, p or muito tempo, uma funoesttica. A An tigidade bem cedo jun tara ao s dois gneros expres-samente funcionais do discurso, o judicirio e o poltico, um tercei-ro gnero, o epidtico, discurso de aparato, destinado admira-o do auditrio (e no sua persuaso), qu e continha em germe- fossem quais fossem as regras rituais de seu emprego: elogio deum heri ou necrologia - a prpria idia de uma finalidade est-tica da linguagem; na neo-retrica alexandrina (no sculo II d.C.)houve um gosto pronunciado pela kphrasis, trecho brilhante, des-tacvel (com finalidade em si mesma, portanto, independente dequalquer funo de conjunto), com o objetivo de descrever luga-res, tempos, pessoas ou obras de arte, tradio que se manteve atra-vs da Idade Mdia. Nessa poca (conforme sublinhou Curtius 6),

    5. F. Bresson, "La signification", Prohtmes depsycho-linguistique, Paris, PUF, 1963.6. E. R. Curtius, L a littrature europene et l Moyen Ag e latin Paris, PUF, 1956, cap. X.

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    a descrio no est subordinada a nenhum realismo; pouco im-porta a sua veracidade (ou mesmo a sua verossimilhana); nonen hum acanham ento em colocar lees ou oliveiras num a renrdica; s conta a injuno do gnero descritivo; a verossimi-lhana aqui no referencial, mas abertam ente discursiva: so as

    regras genricas do discurso que fazem a lei.Se dermos um salto at Flaub ert, observa-se que a finalida

    esttica da descrio ainda fortssima. Em Madame Bovary, a des-crio de Ro uen (referente mais real impossvel) est submetida sinjunes tirnicas do que se deve chamar de verossimilhana es-ttica, como do prova as correes feitas nesse trecho no decorrerde seis redaes sucessivas7. V-se primeiro que as correes noprocedem de modo algum de uma considerao mais acurada domodelo: Rouen, vista p or Flaubert, permanece sempre a mesma,

    ou, mais exatamente, se muda um pouco de uma para outra ver-so unicamente por ser necessrio ajustar uma imagem ou evitaruma redundncia fnica reprovada pelas regras do belo estilo, ouainda "encaixar" uma contingentssima expresso feliz8; v-se emseguida que o tecido descritivo, qu e parece primeira vista da rum a grande impo rtncia (pela dimenso, pelo cuidado com o por-menor) ao objeto Rouen, na realidade no passa de um fu ndo des-tinado a receber as jias de algumas metforas raras, o excipienteneutro , prosaico, que veste a preciosa substncia simblica, c

    se, em Rouen , s impo rtassem as figuras de retrica a que se pta a vista da cidade, como se Rouen s fosse notvel por suas subs-

    7. As seis verses sucessivas desta descrio so dadas por A. Albalat, L travail d u syle, Pa -ris, Armand Colin, 1903, pp. 72 ss.

    8. M ecanismo bem localizado por Valry, em Littrature, quando comenta o verso de Bau-delaire: "La servante au grand coeur... ("Este verso veio a Baudelaire... E Baudelaire con-tinuou. Enterrou a cozinheira num gramado, o que contra o costume, mas conforme rima, etc.")

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    tituies ( os mastros como um a floresta de agulhas, as ilhas como gran-des peixes negros parados, a s nuvens como vagas areas que se quebramem silencio contra um a falsia); v-se enfim que toda a descrio construda com vistas a aparentar Rouen a uma pin tura; uma cenapintada que a linguagem assume ("Assim, vista do alto, a paisageminteira tinha o aspecto imvel de uma pintura"); o escritor reali-za aqui a definio que Plato d ao artista, que um fazedor emterceiro grau, pois que imita o qu e j a simulao de uma essn-cia9. Desse modo, embora a descrio de Rouen seja perfeitamen-te "impertinente" co m relao estrutura narrativa de MadameBovary (no se pode lig-la a nenhum a seqncia funciona l nema nenhum significado caracterial, atmosferial ou sapincia ), elano absolutamente escandalosa, apenas se v justificada pela l -gica da obra, ao menos pelas leis da lite ratur a: seu "sentido" exis-te, ele depende da conformidade, no ao modelo, mas s regrasculturais da representao.

    Todavia, a finalidade esttica da descrio flaubertiana todamesclada de imperativos "realistas", como se a exatido do refe-rente, superior ou indiferente a qualquer outra f uno, ordenassee justificasse sozinha, aparentem ente, descrev-lo, ou no caso dasdescries reduzidas a uma palavra - denot-lo; as injunes est-ticas aqui se penetram - ao menos a ttulo de libi - de injunesreferenciais: provvel que, caso se chegasse a Rouen de diligncia,a vista que se teria ao descer a encosta que conduz cidade noseria "objetivamente" diferente do panorama descrito po r Flaubert.Essa mistura - esse chass-crois - de injunes tem dupla vanta-gem: por uma parte, a fun o esttica, ao dar sentido "ao trecho",pra o que se poderia chamar de vertigem d a notao, pois, a par-

    9. Plato, Repblica, X, 599.

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    tir do momento em que o discurso j no fosse guiado e l imi-tado pelos imperativos estruturais do enredo (funes c ndices),nada mais poderia indicar por que parar aqui e no ali os porme-nores da descrio; se ela no fosse submetida a uma escolha es-ttica o u retrica, toda "vista" seria inesgotvel pelo discurso: sempre haveria um canto, um pormenor, uma inflexo de espao ou decor a acrescentar; e, por outra parte, colocando o referente comoreal, fing indo segui-lo de ma neira escrava, a descrio realista evi-ta deixar-se levar por uma atividade fantasstica (precauo que sejulgava necessria "objetividade" do relato); a retrica clssivia de certo modo institucionalizado a fantasia sob o nome deuma figura particular, a hipotipose, encarregada de "pr as coisassob os olhos do ouvinte" no de maneira neutra, constativa, masdeixando representao todo o brilho do desejo (isso fazia partedo discurso f ortemente iluminado, de contornos coloridos: a illustrsoratio); ren unciando declaradamente s injunes do cdigo rrico, o realismo tem de procurar uma nova razo para descrever.

    Os resduos irredutveis d a anlise fu ncional tm em comumdenotarem o que correntemente se chama de "real concreto" (pe-quenos gestos, atitudes transitrias, objetos insignificantes, vras redundantes). A "representao" pura e simples do "real", o re-lato nu "daquilo que " (ou f oi) aparece assim como uma rescia ao sentido; essa resistncia co nfirm a a grande oposio mticado vivido (do vivo) a o inteligvel; basta lem brar que, na ideologiado nosso tempo, a referncia obsessiva ao "concreto" (naquilo qu ese pede retoricamente s cincias humanas, literatura, aos com-portamentos) est sempre armada como uma mquina de guerracontra o sentido, como se, por um a excluso de direito, o que viven o pudesse significar - e reciprocamente. A resistncia do real(sob a forma escrita, bem entendido) estrutura limitads

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    na narrativa de fico, construda, po r definio, sobre um mo-delo que, nas grandes linhas, outras injunes no tem seno asdo inteligvel; mas esse mesmo "real" passa a ser a referncia es-sencial d a n arrativa histrica, que se supe qu e relate "aquilo qu ese passou realmente": qu e importa ento a infuncionalidade de

    um pormenor, desde qu e denote "aquilo que se deu"; o "real con-creto" torna-se a justificativa suficiente do dizer. A histria (o dis-curso histrico: historia rerum gestarum) , na verdade, o modelodessas narrativas qu e admitem preencher os interstcios de suasfunes com notaes estruturalmente suprfluas, e lgico queo realismo literrio tenha sido, co m algumas dcadas de diferena,contemporneo do reinado da histria "objetiva", ao que se deveacrescentar o desenvolvimento atual das tcnicas, obras e institui-es fundamentadas na incessante necessidade de autenticar o "real":a fotografia (testemunha bruta "do que esteve presente"), a reporta-gem, as exposies de objetos antigos (o sucesso do show Tutanc-mon mostra-o bem), o turismo ao s monumentos e lugares histri-cos. Tudo isso diz que ao "real" reputado bastar-se a si mesmo , que bastante forte para desmentir qualquer idia de "funo", que suaenunciao n o precisa ser integrada num a estrutura e que o ter-es-tado-presente das coisas um princpio suficien te da palavra.

    Desde a Antigidade, o "real" estava ao lado da H istria; m asera para melhor opor-se verossimilhana, isto , prpria ordemda narrativa (da imitao ou "poesia"). Toda a cu ltura clssica viveudurante sculos com a idia de que o real no podia em nada con-taminar a verossimilhana; primeiro porque a verossimilhana nun-ca mais do que o opinvel: est inteiramente sujeita opinio (dopblico ); Nicole dizia: "No se deve olhar as coisas como so em simesmas, nem tais como as conhece quem fala ou escreve, masco m relao apenas quilo qu e delas sabem os que lem ou ou-

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    vem"10; em seguida, porque ela geral, no particular, o que aHistria, acreditava-se (donde a propenso, nos textos clssicos,para funcionalizar todos os pormenores, produzir estruturas for-tes e no deixar, parece, nenhuma notao apenas sob a cauo do"real"); enfim, porque, na verossimilhana, o contrrio nunca

    impossvel, visto que a a notao repousa numa opinio majori-tria, mas no absoluta. A palavra im portante qu e est subenten di-da no limiar de todo discurso clssico (submisso verossimilhanaantiga) : Esto (Seja, Admitamos.. .) . A notao "real", parcelar, in-tersticial, poder-se-ia dizer, de que se levanta aq ui o caso, renun-cia a essa introduo implcita e, desembaraada de toda segundainteno postulativa, toma lugar n o tecido estrutural. Por esse mes-mo fato, h ru ptura entre a verossimilhana antiga e o realismo mderno; mas, por isso mesmo tambm, nasce um a nova verossimi-

    lhana, que precisamente o realismo (entenda-se todo discursoqu e aceita enunciaes s creditadas pelo referente).

    Semioticamente, o "pormenor concreto" constitudo pelacoluso direta de um referente e de um significante: o significadofica expulso do signo e, com ele, evidentemente, a possibilidadede desenvolver um a forma do significado, isto , na realidade, aprpria estrutura narrativa (a literatura realista , por certo, rativa, mas porque nela o realismo apenas parcelar, errtico,confinado ao s "pormenores", e porque a narrativa mais realista

    que se possa imaginar desenvolve-se segundo vias irrealistas).isso que se poderia chamar iluso referencial . A verdade dessailuso a seguinte: suprimido da enunciao realista a ttulo de

    10. Citado por R. Bray, Formation de Ia doctrine classique, Paris, Nizet, 1963, p. 208.11. Iluso claramente ilustrada pelo programa que Thiets designava ao historiador: "Ser

    simplesmente verdadeiro, ser o que so as prprias coisas, no ser nada mais do queelas, nada ser seno por elas, como elas, tanto quanto elas. (Ver nota 10, p. 178.)

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    significado de denotao, o real volta a ela a ttulo de significadode conotao; no momento mesmo em que se julga denotaremtais detalhes diretamente o real, nada mais fazem, sem o dizer, do quesignific-lo; o barmetro de Flaubert, a pequena porta de Micheletafinal no dizem mais do que o seguinte: somos o real; a categoria

    do real (e no os seus contedos contingentes) que ento signi-ficada; noutras palavras, a prpria carncia do significado em provei-to s do referente torna-se o significante mesmo do realismo: pro-duz-se um e f e i to de real, fundamento dessa verossimilhana inconfes-sa que forma a esttica de todas as obras correntes da modernidade.

    Essa nova verossimilhana muito diferente da antiga, poisno nem o respeito das "leis do gnero nem sequer a sua msca-ra, mas procede da inteno de alterar a natureza tripartida do sig-no para fazer da notao o simples encontro de um objeto e de sua

    expresso. A desintegrao do signo que parece ser a grande cau-sa da modernidade est certamente presente n o empreendimen-to realista, mas de maneira algo regressiva, pois que se faz em nomede uma plenitude referencial, quando se trata, ao contrrio, hoje,de esvaziar o signo e afastar infinitamente o seu objeto at colocarem causa, de maneira radical, a esttica secular da representao .

    1968, Communications

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    n xo

    A ESCRITA DO ACONTECIMENTO

    Descrever o acontecimento implica que este tenha sido escrito.Como um acontecimento pode ser escrito? O que pode quererdizer a escrita do acontecimento ?

    O acontecimento de Maio de 68 parece ter sido escrito detrs maneiras, co m trs escritas, cuja conjugao poligrfica talvezforme a sua originalidade histrica.

    1 A fala

    Todo abalo nacional produz uma brusca eflorescncia de co-mentrios escritos (imprensa e livros). No disso que se quer falaraqui. A fala de Maio de 68 teve aspectos originais que precisosublinhar.

    1) A fala radiofnica (a das rdios no-estatais, ditas perif-ricas) ficou colada ao acontecimento medida que ele ia se pro-

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