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BARRAGENS NA BACIA DO ALTO RIO PARAGUAI: A PRODUÇÃO DE
INJUSTIÇAS DA SUSTENTABILIDADE
Silvia Zanatta1 - [email protected]
Josemar Maciel2 - [email protected]
RESUMO:
A intenção deste trabalho é discutir as contradições existentes na implementação de projetos de
infraestrutura para geração de energia elétrica a partir de fontes hídricas na Bacia Hidrográfica
do Alto rio Paraguai (BAP), as chamadas barragens. A geração de impactos não pode ser
ignorada, são inúmeros os danos sociais, ambientais e econômico o que denominamos
provocativamente de “injustiças da sustentabilidade”. O atual modelo de desenvolvimento
vigente, no qual imperam a omissão da legislação, a fragilidade dos estudos ambientais e a
construção de uma história oficial que exclui a perspectiva dos atingidos, endossa a produção
destas injustiças. Um processo que gera sofrimento social, levando à destituição absoluta dos
modos de vida tradicionais. Diante disso, o Estado apresenta-se, historicamente, como cúmplice
e legitimador da degradação e do descarte dessas populações, a partir da permissividade legal
e da intensificação de programas e de políticas desenvolvimentistas que priorizam o fator
econômico em detrimento da proteção social e ambiental criando, inclusive, estratégias de
banalização desse processo.
Palavras-chave: Barragens, impactados, injustiça.
1 Jornalista pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp), Mestre em
Desenvolvimento Local pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) (UCDB) e atualmente doutoranda em
Desenvolvimento Local da UCDB com bolsa Capes.
2 Graduado em Filosofia pelas Faculdades Unidas Católicas do Mato Grosso; em Teologia pela Pontifícia
Universidade Gregoriana de Roma; mestre em Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco; mestre em
Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e doutor em Psicologia pela Pontifícia
Universidade Católica de Campinas. Atualmente, professor na Universidade Católica Dom Bosco: Mestrado em
Desenvolvimento Local, Programa Master em Desenvolvimento Territorial Sustentável (Master STEDE) Erasmus
Mundus/Erasmus Plus e Licenciatura em Filosofia. Estágio pós-doutoral em andamento (Estudos Culturais,
EACH-USP) com o projeto "Hospitalidade e Desenvolvimento: Por uma pequena conversação.
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1 - INTRODUÇÃO
Já se tornou usual e até mesmo previsível a identificação genérica de “homem”,
“civilização”, “humanidade” ou “toda sociedade” como vítima da crescente degeneração
ambiental que o mundo presencia. Não importa nestas qualificações gerais ponderar onde as
pessoas vivem. O que vemos é um discurso repetitivo de governos, escolas, meios de
comunicação e até organismos que produzem “ciência”, propagando valores e fortalecendo a
ideia que a degradação ambiental é um dos maus da sociedade contemporânea. Os inúmeros
artigos científicos, matérias que ilustram os grandes telejornais e até mesmo as mais chamativas
campanhas desenvolvidas por Organizações Ambientalistas, reforçam o conceito de que
estamos todos igualmente sendo atingidos e sofrendo as consequências do modelo de
desenvolvimento que escolhemos para tornar nosso mundo produtivo o suficiente para suprir
nossas necessidades capitalistas. Em resumo, os riscos intrínsecos às práticas ambientalmente
destrutivas poderiam atingir qualquer ser humano, uma vez que todos fazemos parte de um
macro ecossistema global.
Este pensamento simplista e por vezes propositalmente propagado é uma técnica eficaz
para esconder a forma como os impactos ambientais estão hoje distribuídos tanto em termos de
incidência quando intensidade. Não precisamos de muitos esforços para constatar que sobre os
mais pobres e os coletivos étnicos menos privilegiados e com menos poder, recai a maior parte
dos riscos ambientais. Sejam estes riscos referentes a exploração territorial a partir da extração
de bens naturais ou o convívio com resíduos sólidos.
Sendo assim, dizer e propagar a ideia de que a “crise ambiental” e os “impactos
ambientais” atingem a todos na mesma intensidade é uma grande falácia. A discussão sobre
injustiças ambientais torna-se importante por demonstrar que os riscos, impactos e problemas
ambientais não são democráticos, como muitos autores tentam argumentar e sustentar,
conseguindo desta forma quebrar com o imaginário de que os riscos ambientais são “comuns a
todos”.
Exemplo disso é o que vem acontecendo há algumas décadas na Bacia do Alto rio
Paraguai (BAP), uma unidade ambiental de suma importância para a manutenção da maior área
úmida do planeta, o Pantanal. Pois como é sabido as Usinas Hidrelétricas (UHEs) e as Pequenas
Centrais Hidrelétricas (PCHs) são uma estratégia para a expansão da matriz energética
brasileira e a sua expectativa de crescimento consta no Plano Nacional de Energia. Tal fato se
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deve à ideia errônea de que estes empreendimentos são fontes limpas de geração de energia,
causando impactos ambientais insignificantes, quando comparadas com grandes usinas
nucleares, por exemplo. Em função disso, o Brasil tem flexibilizado as normas ambientais e
concedido incentivos financeiros com o objetivo de facilitar e agilizar a implantação de
empreendimentos deste segmento em todo país. A borda da Bacia do Alto Paraguai é um destes
territórios tidos como prioritários para a instalação das PCHs e UHEs. Hoje já existem 38
empreendimentos em operação e a previsão é de que mais 94 outras usinas sejam instaladas nos
próximos anos. Apesar da imagem limpa, estas usinas alteram significativamente o ambiente
onde são inseridas e geram perdas significativas às populações que vivem no entorno do
empreendimento, principalmente para as comunidades tradicionais que tiram do rio o seu
sustento.
Pensando justamente nestas pessoas e a partir de um olhar etnográfico que nos
debruçamos nesta pesquisa.
2 - CONSIDERAÇÕES E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
A escolha do método utilizado, antes de ser uma regra para o desenvolvimento de uma
pesquisa, é o guia utilizado pelo pesquisador que quer alcançar com primor seus objetivos e
concluir sua pesquisa sem maiores contratempos. Dentro dessa perspectiva, um dos pensadores
que mais contribuíram para a sistematização do que vem a ser método foi René Descartes
(1596-1650). Em seu livro O Discurso do Método, originalmente publicado em 1637, ele
apresenta algumas regras que são imprescindíveis. De acordo com Descartes, o método possui
quatro regras básicas, que são:
[...] jamais aceitar como verdadeira coisa alguma que eu não conhecesse à evidência
como tal, quer dizer, em evitar, cuidadosamente, a precipitação e a prevenção,
incluindo apenas nos meus juízos aquilo que se mostrasse de modo tão claro e distinto
a meu espírito que não subsistisse dúvida alguma. O segundo consistia em dividir cada
dificuldade a ser examinada em tantas partes quanto possível e necessário para
resolvê-la. O terceiro, por ordem em meus pensamentos, começando pelos assuntos
mais simples e mais fáceis de serem conhecidos, para atingir, paulatinamente,
gradativamente, o conhecimento dos mais complexos, e supondo ainda uma ordem
entre os que não se precedem normalmente uns aos outros. E o último, fazer, para
cada caso, enumerações tão exatas e revisões tão gerais que estivesse certo de não ter
esquecido nada. (DESCARTES. 1978, p. 40)
Mais do que ajudar a clarear as ideias, o método serve como mapa a indicar os caminhos
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a percorrer na trajetória de busca e produção de conhecimentos. E esta concepção de que o
método é o caminho vem sendo muito bem aceita pela academia e por todos aqueles que
desenvolvem pesquisas. Marques et al. (2006), mesmo apoiando essa ideia, abre espaço para se
pensar também que não existe um único caminho metodológico, uma vez que ele pode variar
conforme o assunto e a finalidade. Nesse sentido, o aprofundamento da premissa metodológica
básica de todo o presente trabalho é encontrado no imperativo que regula as investigações
epistemológicas mais críticas na ciência social, que iniciam-se na obra monumental de
Feyerabend. Este, dá-lhes uma rara e precisa formulação no parágrafo que segue, prefaciando
a tradução chinesa do seu clássico “Contra o Método”
“...os eventos, procedimentos e resultados que constituem as ciências não
possuem estruturas comuns; não existem elementos que ocorrem em todos os
procedimentos científicos, mas estariam ausentes em outras formas.
Desenvolvimentos concretos (tais como a substituição de teorias cosmológicas e a
descoberta das estruturas do DNA) possuem características distintas, e podemos
entender e explicitar os motivos que as foram conduzindo ao sucesso. Mas não é
possível entender cada descoberta a partir de uma estrutura comum. Procedimentos
que tiveram sua importância em momentos passados podem tornar-se perigosos se
impostos como uma receita, no futuro. A pesquisa de sucesso não pode ser dócil a
padrões generalistas; ela deve basear-se ora em um esquema, ora em um truque; os
movimentos que fazem avançar não são sempre do conhecimento dos que os
planejam. Mudanças de perspectiva em grande escala, como as famosas chamadas
‘revoluções’ copernicana ou darwiniana, afetam áreas diferentes de pesquisa de
formas bastante diversas e, por sua vez, recebem diferentes estímulos da parte delas.
Uma teoria da ciência que sonha com elementos padronizados e elementos estruturais
para todas as atividades científicas, autorizando esse movimento mediante a referência
a uma certa ‘razão’ ou a esquemas de ‘racionalidade’ pode até impressionar aos
desavisados. Mas quem está em campo ou nos laboratórios, ou seja, cientistas de carne
e osso lidando com problemas reais, precisa de ferramentas bem menos cruas do que
isso aí (FEYERABEND, 1993, p. 1).
O imperativo fundamental, assim, do entendimento metodológico da pesquisa em
sentido sistêmico e crítico é a predominância epistêmica, ou seja, na construção da ordem dos
conhecimentos, do campo e de suas demandas, sobre abstrações arquitetônicas a priori. Aqui é
mencionada apenas a reflexão de Feyerabend por ela ser fundante, e por ter se mantido
constante durante as grandes discussões de metodologia da ciência no Século XX (como reporta
AGASSI, 2014).
Além disso, o programa de docilidade ao campo e às suas inventividades, não ao cânon,
e às suas sedutoras regularidades, foi desenvolvido pelo mesmo autor até aos seus últimos
escritos, as Lezioni Trentine (FEYERABEND, 1996) e encontra eco e assume um programa
forte nas reflexões críticas entre a antropologia e o desenvolvimento (EDELMAN;
HAUGERUD, 2005). Trata-se, em poucas linhas, de equilibrar os olhares e as escutas, inserindo
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no campo do estudo das sustentabilidades e das territorialidades a escuta do fenômeno único,
discrepante ou, simplesmente, outro. Com isso o pensamento sistêmico é beneficiado, mas
também uma concepção plural da epistemologia, ou seja, valorizando não a domesticação dos
saberes, mas a sua interação a partir de diversos jogos de interesses e de visões de mundo.
Assim sendo, as investigações aqui realizadas concentraram-se no caudal da escuta de
populações excluídas, trabalho que vem se destacando no cenário mundial a partir da América
Latina e do Brasil, com os esforços da família dos métodos participantes, ou da escuta
etnográfica, como menciona Roberto Cardoso de Oliveira (1996). O desenvolvimento de um
trabalho com opções metodológicas adequadas ao seu objeto - aqui, seus sujeitos, obviamente
-, é fundamental para atingir a proporcionalidade que dá o esteio para todas as opções e
tratamentos dos dados e das interações sociais que estão na base das suas construções.
Levando em consideração os apontamentos acima, a pesquisa foi balizada por uma
escuta de dados duros oriundos de bases sociodemográficas e etnogeográficas, mas, sobretudo
buscando a escuta da alteridade, na fonte da investigação etnográfica. O foco inicial, e que
comandou todo o esforço metodológico, foi a busca de compreensão de uma outra realidade,
por meio de uma abordagem que privilegia e dá voz à subjetividade dos sujeitos-objeto da
investigação, enucleando, narrando e sustentando com dados mais ou menos duros, o seu vivido
e as suas percepções, contribuindo com os processos de sua documentação. Flick (2004)
argumenta que uma pesquisa robusta da realidade social pode ser de matriz interpretativa,
fornecendo a shareholders e stakeholders, mas também a afetados e silenciados, material para
pensar, refletir e tomar decisões que sejam de interesse amplo.
O trabalho etnográfico é descrito no artigo fundante de Oliveira (1996) como sendo a
tarefa de ouvir, olhar, escrever. Na sua formulação lapidar, a ideia é dar um estatuto de escrita
científica a fenômenos que passam abaixo da linha dos radares mais totalizantes. No caso, trata-
se da existência de fenômenos sociais que merecem nota, antes que desapareçam sob
inundações, na corrida para assemelhar-se aos modelos do Norte. As relações entre trabalhos
desta espécie e as visões do desenvolvimento que privilegiam modelos baseados em grande
capital e em ações unilaterais de atores territoriais são estudadas por Lewis (2005), apontando
para dificuldades de assimilação, por parte da Academia, das particularidades territoriais e dos
sistemas de vivência e de construção simbólica e cultural. Uma dificuldade que é central para
o presente trabalho, que entende que a área de concentração “territorialidades” das teorias do
Desenvolvimento Local é uma prioridade metodológica, e não apenas retórica.
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A necessidade de olhares e escutas detidas e atentas à verticalidade dos fenômenos
rendeu e rende boas reflexões ao campo dos Estudos do Desenvolvimento. O grande trabalho
inspirador de todo o presente trabalho é o texto em que Escobar (1995) mostra, para além dos
teóricos da dependência, que existe um “encontro com o Desenvolvimento” (título do trabalho)
que lança um véu de dor e de dúvidas sobre populações inteiras na América Latina. Esta, por
sua vez, passa a ser uma imagem numa grande narrativa de alinhamentos a metas de produção
de indicadores.
Mas aqui referimos mais três estudos, brevemente, por sua especificidade metodológica.
Benton (1990), por exemplo, refere que, para pensar a economia do Desenvolvimento, e não o
crescimento de indicadores a partir de medidas econométricas, há que avaliar com um olhar
complexivo as iniciativas de pequena escala e informais, que contribuem com o sistema como
um todo. Realiza esse objetivo mostrando como a economia neo-institucional na Espanha
cresceu, a partir do olhar etnográfico dirigido a arranjos improvisados e criativos, mas
marginais, até então. Sem esse olhar, atento a detalhes e a descrições e entrevistas longas,
capazes de entender em profundidade o que empreendedores em dificuldades nem mesmo
queriam mais dizer, o tecido industrial espanhol continuaria sendo composto por um grande
número de “fábricas invisíveis” (título do estudo).
De forma parecida mas menos otimista, Crewe e Harrison (1998) escreveram uma forte
análise crítica das relações entre imposição cultural e a retórica do alívio da pobreza, sobretudo
em territórios africanos. Também apontam para um importante desafio, o de levar em conta as
relações de poder, normalmente desequilibradas na escala da produção das territorialidades,
quando o assunto é uma iniciativa de grandes impactos, exógena e sustentada por propaganda.
Assemelha-se aos modelos de alinhamento do Sul com o grande Norte, tentando padronizar a
partir da indústria e de uma política intervencionista todas as iniciativas de desenvolvimento,
em escala planetária (SACHS, 2015). Outro exemplo atual que mostra a forma analítica e
rigorosa de combinação entre o olhar etnográfico e as projeções do Desenvolvimento em suas
diversas escalas, características e possibilidades, é a coleção de oito trabalhos organizada em
um volume por dois antropólogos, mostrando como a insegurança, por falta de maior escuta e
visibilidade, cria um forte impacto social que (des)configura o ser e o viver de territorialidades
inteiras (COOPER; PRATTEN, 2015).
Nos casos citados como exemplo, mas especificamente levando em conta a tensão que
está sendo vista, mas pouco refletida, entre o desenvolvimentismo das novas fontes energéticas
e o silenciamento sobre culturas, vivências e formas de vida, é fundamental entender que o
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olhar etnográfico, com sua atenção à diferença, às escalas minúsculas e às vocalidades
subalternas, pode contribuir com a ampliação da cartografia intelectual, cultural e política das
obras relacionadas ao Desenvolvimento.
Seria desnecessário desenvolver todo o inventário de procedimentos de campo, mas
pode-se recordar que a pesquisa etnográfica, guiada pela visibilidade do senso crítico da
pesquisadora, não segue padrões pré-estabelecidos, mas sim técnicas que vão sendo construídas
a partir do trabalho e dos encontros que também constroem um campo de relacionamento e de
intersubjetividade – o que se denomina como sendo o “trabalho de campo” em sentido estrito
(OLIVEIRA, 1996). As técnicas, por vezes, precisam ser inovadoras, mas o seu traço mais
importante é sua docilidade ao objeto/sujeito. Elas são pensadas a partir e de acordo com cada
realidade estudada. Nessa perspectiva, pode-se atestar que o processo de pesquisa etnográfica
é apontado direta ou indiretamente pelas questões propostas pelo pesquisador.
A etnografia como abordagem de investigação científica traz alguns aportes para o
campo das pesquisas que se preocupam pelo estudo das desigualdades e supressões sociais.
Primeiro, por preocupar-se com uma análise holística ou dialética da cultura, isto é, a cultura
não é vista como um simples reflexo de forças estruturais da sociedade, mas como um sistema
de significados mediadores entre as estruturas sociais e a ação humana. Segundo, por introduzir
os atores sociais com uma participação ativa e dinâmica no processo modificador das estruturas
sociais. Terceiro, por revelar as relações e interações ocorridas (GEERTZ, 1989). Assim, o
“sujeito”, historicamente fazedor da ação social, contribui para significar o universo pesquisado
exigindo uma constante reflexão e reestruturação do processo de questionamento da
pesquisadora.
Conhecida também como pesquisa social, observação participante, pesquisa
interpretativa, pesquisa analítica e pesquisa hermenêutica, a pesquisa etnográfica compreende
o estudo pela observação direta e por um período de tempo, das formas costumeiras de viver de
um grupo particular de pessoas: um grupo de pessoas associadas de alguma maneira, uma
unidade social representativa para estudo, seja ela formada por poucos, seja por muitos
elementos. Como exemplo disso, temos a comunidade ribeirinha da Barra de São Lourenço.
A etnografia estuda preponderantemente os padrões mais previsíveis do pensamento e
comportamento humanos manifestos em sua rotina diária, vistos em seu estranhamento e
unicidade, constituídos como matrizes de uma forma de estabelecimento de padrões de
orientação e simbolização, a que também se chama de cultura. Isso não significa que a
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etnografia não esteja atenta aos fatos e eventos menos previsíveis. Diante do exposto, podemos
atestar que etnografia é a escrita do visível. E a descrição etnográfica depende das qualidades
de observação, da sensibilidade, do conhecimento sobre o contexto estudado, da inteligência e
da imaginação científica do pesquisador.
Para Geertz (1989, p. 15), praticar etnografia não é somente “[...] estabelecer relações,
selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, ou fazer um
diário [...]”; a maior preocupação da etnografia é obter uma ‘descrição densa’, a mais completa
possível, sobre o que um grupo particular de pessoas faz. Ou seja, realizar uma inscrição, na
teoria, de determinados fenômenos, num exercício de aliança para a produção de conhecimentos
gerativos de comportamentos criativos diante dos problemas do ambiente.
Importante salientar aqui que, para o nível de percepção do pesquisador estar bastante
apurado e a descrição mais densa possível, o envolvimento com o sujeito-objeto é primordial.
Tanto que para a etnografia mais tradicional (GEERTZ, 1989; LÉVI-STRAUSS, 1964) quanto
para a mais moderna (ERICKSON, 1992; MEHAN, 1992; SPINDLER, 1982; WILLIS, 1977;
WOODS, 1986), a pesquisa elaborada nesses moldes envolve longos períodos de observação e
a sofisticada teia de criações e invenções técnicas já referida acima. Isso significa que a
pesquisadora deve mergulhar profundamente de um a dois anos na realidade observada. Esse
período se faz necessário para que o pesquisador possa entender e validar o significado das
ações dos participantes, de forma que este seja o mais representativo possível do significado
que as próprias pessoas pesquisadas dariam à mesma ação, evento ou situação interpretada.
Numa pesquisa etnográfica é observado os modos como esses grupos sociais ou pessoas
conduzem suas vidas com o objetivo de “revelar” o significado cotidiano, nos quais as pessoas
agem. O objetivo é documentar, monitorar, encontrar o significado da ação.
Depois desta breve descrição de como tentamos conduzir o trabalho entendemos ser
importante uma compreensão do território para onde nosso olhar foi voltado.
3 - UM OLHAR TERRITORIAL SOBRE A BAP
Até a primeira metade do século passado, as informações sobre o potencial hidrelétrico
no Brasil eram bastante restritas. Limitava-se à identificação de alguns locais promissores nas
áreas de maior interesse, entendendo-se por tal as regiões próximas aos centros de consumo.
Somente a partir de 1960, com a Constituição do Consórcio Canambra - formado por duas
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firmas de consultoria canadenses, Montreal Engineering e Crippen Engineering e uma
americana, Gibbs and Hill Inc., selecionadas pelo Banco Mundial, em conjunto com autoridades
brasileiras – que teve como finalidade a realização de um amplo estudo sobre o potencial
hidráulico e o mercado de energia elétrica na Região Sudeste é que a questão do planejamento
elétrico integrado no Brasil e a avaliação sistematizada e abrangente do potencial hidrelétrico
passou a ganhar visibilidade e importância.
Depois dos estudos Canambra, entre 1960 e 1980 a Eletrobrás e suas subsidiárias, se
ocuparam de dar seguimento no levantamento integrado dos recursos hidrelétricos nacionais o
que evidencia uma evolução histórica da estimativa do potencial hidrelétrico brasileiro. Já os
anos que se seguiram os estudos desta natureza foram sendo gradativamente cessados. Desde a
edição do Plano 2015 (Eletrobrás, 1993) foram descontinuados os estudos de inventário. Pois,
as reformas institucionais introduzidas no setor elétrico a partir da década de 90, reduziu muito
o interesse pelo desenvolvimento de estudos deste caráter.
Como implicação natural da descontinuidade destes estudos, o Plano 2015 foi por muito
tempo referência e os locais apontados como promissores foram os que ganharam maior
visibilidade. O estudo apontou, também, uma tendência para o enquadramento do
aproveitamento com pequena central hidrelétrica (PCHs) - potência de até 30 MW -, pela menor
complexidade ambiental e, principalmente, pelos benefícios fiscais que foram atribuídos a essa
opção.
Hoje, de acordo com o SIPOT – Sistema de Informações do Potencial Hidrelétrico
Brasileiro (sistema desenvolvido pela Eletrobras, com o objetivo de armazenar e processar
informações sobre estudos e projetos de usinas hidrelétricas) o potencial hidrelétrico brasileiro,
tecnicamente explorável, é da ordem de 260 GW.
A maior parte da energia elétrica produzida no Brasil tem procedência de
empreendimentos hidrelétricos, que respondem por quase 62% de toda a capacidade instalada
do País, hoje calculada em 147,8 mil kilowatts (KW). De acordo com o Banco de Informações
de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica, os 1.229 empreendimentos de geração
hidráulica instalados no território nacional têm capacidade de gerar 95,7 mil KW.
A dependência do país frente a essa matriz geradora de energia é nítida, situação
resultante de uma opção estratégica feita ainda nos anos 50 do século passado.
O potencial técnico de aproveitamento da energia hidráulica do Brasil está entre os cinco
maiores do mundo; o País tem 12% da água doce superficial do planeta. Do potencial
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hidrelétrico de 260 GW, como já dito anteriormente, 42,2% estão localizados na Bacia
Hidrográfica do Amazonas. Já a Bacia do Alto rio Paraguai é responsável por somente 1,2%
deste montante. Um percentual baixíssimo de oferta de produção de energia frente aos impactos
gerados na região e o comprometimento da maior área úmida do planeta, o Pantanal.
Importante destacar que a BAP apresenta como potencial hidrelétrico “apenas 3.100
MW, dos quais 499 MW estão aproveitados e mais da metade apenas estimado” (Plano 2030,
2007). Mais um dado que reforça a ideia de que o prejuízo causado à região não é valido diante
do aproveitamento hidrelétrico gerado.
Apesar da BAP frente a outras bacias como a Amazônia ou a Bacia do Paraná ser
responsável por um percentual baixo de produção hidrelétrica o número de empreendimentos
na borda do Pantanal, especialmente aqueles de pequeno porte são alarmantes, como mostra a
imagem a seguir (Figura1).
Figura 1 – Título da Imagem
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Mapa produzido por Silvia Zanatta3
4 - OS PRINCIPAIS IMPACTOS GERADOS POR BARRAGENS
O primeiro trabalho publicado sobre os impactos das represas na BAP foi elaborado em
2002 pelo doutor Pierre Girard, professor da Universidade Federal de Mato Grosso. Intitulado
“Efeitos Cumulativos de barragens no Pantanal”, o estudo mostra alguns dos danos causados
por represas em operação na região e faz projeções sobre as possíveis consequências dos efeitos
cumulativos para o Pantanal, caso todas as barragens previstas àquela altura viessem a entrar
em operação. Expõe sobre as modalidades de impactos, particularmente sobre os ecossistemas
aquáticos, sua diversidade biológica e também sobre o ciclo natural das cheias nas planícies
inundáveis. A respeito da biodiversidade e ecossistemas aquáticos, explica que a condição da
vazão de um rio, a carga e a composição dos sedimentos, a forma e o material do canal são
fatores que exercem controle sobre os habitats e as espécies, o que leva a concluir que qualquer
alteração neste fluxo, principalmente quando há mais do que uma barragem no mesmo rio, pode
afetar a cobertura vegetal da região, causar um desequilíbrio sobre as plantas aquáticas além de
alterar significantemente o movimento lateral dos mamíferos, répteis e anfíbios que estão
ligados ao regime das cheias e secas da localidade.
Outro ponto destacado por Girard é que, sendo o fluxo da água retardado, atrás das
barragens, a temperatura muda e os nutrientes e sedimentos são retidos. Se a represa for rasa, a
temperatura nos rios da bacia do Alto Paraguai tenderá a subir, e, consequentemente, o conteúdo
de oxigênio dissolvido poderá diminuir. Em reservatórios profundos, como o da Usina de
Manso, a maior da região e já em operação desde 2003, a água no fundo é muito mais fria do
que a água que chega pelo fluxo normal do rio e essa mudança de temperatura na represa poderá
afetar a temperatura rio abaixo o que causa diminuição das espécies aquáticas. Hoje pode-se
atestar que barragens impedem a migração reprodutiva de algumas espécies de peixe,
diminuindo ou até mais levando algumas à extinção.
A modificação do regime de fluxo causado pelas barragens leva à redução da inundação
rio abaixo, tanto em relação ao espaço quanto ao tempo. Muitas espécies em planícies
inundáveis como o Pantanal, estão adaptadas às cheias anuais, sendo principal impacto esperado
3 Mapa integrativo produzido em fevereiro de 2017 pela pesquisadora Silvia Zanatta. O mapa está disponível para
consulta no endereço: http://riosvivos.org.br/pantanal/hidreletricas-na-bacia-do-rio-paraguai/
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com a redução dos picos de inundação a diminuição da área da planície inundável submetida à
alternância anual das fases terrestre e aquática pelo pulso das cheias. Esse ciclo mantém uma
alta produtividade, abundância e diversidade nas planícies inundáveis (Junk et al., 1989).
Outra fragilidade gerada pela instalação deste conjunto de empreendimentos
hidrelétricos na Bacia do Alto rio Paraguai recai sobre as questões econômicas e sociais. Se
levarmos em consideração que a pesca, em suas várias modalidades, é a atividade que mais gera
trabalho e renda na planície pantaneira, logo podemos constatar que a economia de muitas
cidades e a vida muitos trabalhadores será afetada. Como exemplo podemos analisar a cidade
de Corumbá/MS, maior município da região Centro-Oeste do país com aproximadamente 108
mil habitantes, onde destes, 30 mil são pessoas que dependem direta e indiretamente da
atividade pesqueira. Em sua maioria são pescadores artesanais, ribeirinhos e coletores de iscas
vivas. Só no ano de 2015, segundo a Associação Corumbaense das Empresas Regionais de
Turismo-ACERT, o município de Corumbá recebeu mais de 52 mil turistas que movimentaram
101 milhões de reais na região. Dados que revelam a importância das modalidades da pesca no
município.
A pesca turística é tida como a mais dinâmica economicamente. A partir de seus barcos
hotéis e pousadas, estrutura toda uma cadeia geradora de empregos diretos e indiretos em
agências de turismo; companhias aéreas; hotéis e bares e nos vários estaleiros e oficinas
existentes em algumas cidades pantaneiras.
Importante também ressaltar que a pesca turística tem acoplada a ela a modalidade
específica de atividade extrativista identificada como captura de iscas vivas que é praticada por
ribeirinhos e comunidades tradicionais. Álvaro Banducci, pesquisador da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul em trabalho intitulado “Turismo cultural e patrimônio”, publicado em
2003, demonstra que a atividade é realizada por toda a extensão do rio Paraguai, a partir da foz
do rio São Lourenço (divisa entre MS e MT) até ao sul do Pantanal, em Porto Murtinho. Nesta
última região os ayoreos, indígenas que vivem em território paraguaio, são os que praticam a
captura.
Estes grupos, chamados regionalmente de “isqueiros”, são considerados os mais
vulneráveis e isso ocorre sob vários aspectos. Imagine, se somado à estas vulnerabilidades já
inerentes, surgirem mais 94 empreendimentos causando a barragem dos rios que os mantém?
5 – O RIO ESTÁ MORTO E O POVO SUCUMBE – O CASO DO RIO JAURU
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Nas margens do rio Jauru – rio pertencente à Bacia do Alto rio Paraguai (BAP) e que
passa pelo município de Porto Esperidião, localizado a 358 km da capital do estado de Mato
Grosso, Cuiabá – moram dezenas de famílias que há muitos anos dependem exclusivamente da
pesca para sobreviver. Ao longo de sua extensão, foram construídas represas que pouco geram
energia, mas causam graves impactos ao ambiente, destruindo as vidas que dele depende. São
cinco Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e uma Usina Hidrelétrica (UHE): PCH
Brennand, PCH Indiavaí, PCH Ombreiras, PCH Salto, PCH Figueirópolis e UHE Jauru.
Os prejuízos causados por estas barragens, somado ao descaso do poder público com os
municípios banhados pelo rio Jauru: Porto Esperidião - com população estimada para o ano de
2016 em 11.535 habitantes pelo IBGE -, Jauru (9003 habitantes) e Indiavaí (2.397 habitantes)
tornam a situação das pessoas que ali vivem, insustentável.
Segundo constatações de CPI, instaurada em 2011 pela Assembleia Legislativa do
Estado de Mato Grosso (ALMT), as represas no rio Jauru foram construídas sem qualquer
planejamento ou estudo em nível de bacia hidrográfica, resultando em danos ambientais, sociais
e econômicos irreparáveis. Através da Comissão de Meio Ambiente da ALMT, foi feita uma
perícia na região onde está o rio Jauru, que comprova a inconstância no nível da água do rio,
fenômeno denominado pelos peritos de “onda de seca”. Neste caso, os peritos sugerem em
caráter de urgência “a modelagem de um programa de planejamento e operação para que as
regiões a jusante não continuem sendo afetadas pela súbita mudança de nível do rio”.
Paralelamente a instauração da CPI, 55 pescadores profissionais da Colônia Z-2
entraram com um processo judicial contra as seis barragens. Depois de três anos da ação
tramitando, no mês de maio de 2017, houve a primeira audiência de conciliação entre as partes.
O que aconteceu nesta ocasião, não foi surpresa para ninguém. As empresas não estavam
dispostas a propor nenhuma alternativa para a solução dos problemas e os pedidos apresentados
pelos ribeirinhos, que consistiam em uma ajuda de custo até alcançarem a aposentadoria, uma
indenização pelos danos que sofrem e a construção de tanques para criação de peixe, foram
incisivamente negados.
Pescadores do rio Jauru acumularam conhecimento ao longo dos anos sobre a influência
do regime das águas e outros saberes locais e atestam os terríveis danos causados pelas represas.
Os que mais chamam a atenção dos ribeirinhos são: profundas modificações na fauna e flora,
diminuição significativa no número de peixes e, o fator mais agravante, a instabilidade do nível
do rio.
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Através do Documento de Pesca Individual (DPI) – preenchido por todo pescador
profissional para garantir o seguro defeso - é comprovada a significativa diminuição do número
de peixes. Deste modo, para garantirem o sustento de suas famílias hoje, a maioria dos
pescadores do rio Jauru é obrigada a fazer “bicos” como ajudante de pedreiro, faxineira, pintor,
entre outras atividades que os descaracterizam como pescadores, e que podem, inclusive,
acarretar na perda do seguro defeso4.
Além de sofrerem com a falta de peixe, os que ainda se arriscam a sair para pescar, não
se sentem mais seguros em seus barcos, isso porque o nível do rio pode diminuir metros em
poucos minutos, correndo o risco das embarcações se chocarem com as pedras.
Outro fato que chama atenção é o município de Porto Esperidião fazer fronteira com a
Bolívia e a região ser tida como “importante” rota para o tráfico de drogas, situação que
favorece o aliciamento de jovens – que não conseguem dar continuidade à tradição de se
tornarem pescadores como seus avós e pais – para servirem de “mulas” para o transporte de
entorpecentes.
Estas situações aqui elencadas são apenas algumas das tantas observadas em campo. A
situação de vulnerabilidade que estas pessoas estão postas é desconcertante. Dizer que estes
pescadores e pescadoras são tão impactas como qualquer outra pessoa que vive num grande
centro comercial como São Paulo, é no mínimo descabido. Sendo assim, entendemos que a
reflexão sobre crescimento, sobre crise ambiental, sobre impactos e sobre as injustiças
promovidas em prol de um “desenvolvimento sustentável” precisa avançar em muitos aspectos.
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Endente-se que, medidas para estabelecer os limites de sustentabilidade ambiental da
exploração do potencial energético da Bacia do rio Paraguai precisam ser desenhados
assegurando a preservação do Pantanal e a fragilidade das vidas humanas que habitam esta
região.
É preciso ter claro que os impactos gerados na Bacia do Alto rio Paraguai atingem
potencialmente regiões e pessoas em outros países, como Bolívia e Paraguai, o que contraria a
4 O seguro defeso é conhecido como o seguro desemprego do pescador artesanal profissional, é concedido em
períodos em que o mesmo é proibido de pescar, para preservar o período de reprodução dos peixes, sendo assim,
os profissionais desta área acabam ficando sem meios de sustento.
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Convenção sobre Diversidade Biológica, em que o Brasil assumiu a “responsabilidade de
assegurar que atividades sob sua jurisdição ou controle não causem dano ao meio ambiente de
outros Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional”.
Para tanto uma ferramenta que auxiliaria significativamente na conformação de uma
olhar mais sistêmico, seria a elaboração de uma Avaliação Ambiental Estratégica (AAE),
prevista como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiental (PNMA - Lei n.º
6.938/81, art. 9º) em toda a Bacia do Alto Paraguai (BAP). A diferença entre a Avaliação
Ambiental Estratégica e as avaliações convencionais é que ela leva em consideração os
impactos cumulativos dos empreendimentos. Assim, os estudos para instalação de uma nova
usina em um rio que já possua uma barragem, por exemplo, deverão somar o impacto já
existente com os impactos do novo empreendimento.
Um olhar mais sistêmico também pode garantir que comunidades diretamente impactas
pela inserção destas represas, como as comunidades na beira do rio Jauru, tenham maior
seguridade sobre seus territórios, o que obviamente minimiza a tensão hoje presente.
Por fim, percebe-se também que, para enfrentar os problemas acarretados pela
instalação dos empreendimentos hidroelétricos na BAP, é necessária a adoção de estratégias e
políticas públicas para o desenvolvimento local das regiões onde serão instalados tais
empreendimentos. E que estas possam influir nos indicadores de desenvolvimento social,
ambiental e econômico, coordenadas pelo poder público e com uma possível contrapartida das
usinas.
7 - REFERENCIAL TEÓRICO
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