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22 Cães&Companhia Barbado da Terceira Raça D A ilha Terceira é popular e humoristicamente denominada pelos terceirenses como “o parque de diversões dos Açores”. Esta expressão aplica-se perfeitamente ao seu cão de pastor nativo, um cão vivaz, voluntarioso e de carácter afirmado, mas cuja maior alegria é agradar ao dono! Por: Carla Cruz, do afixo “Aradik” Fotos: Arquivo ARADIK Um pastor em casa

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Artigo de fundo sobre o Barbado da Terceira, publicado na revista Cães e Companhia de Dezembro 2010

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Barbado da Terceira

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A ilha Terceira é popular e humoristicamente denominada pelos terceirenses como “o parque de diversões dos Açores”. Esta expressão aplica-se perfeitamente ao seu cão de pastor nativo, um cão vivaz, voluntarioso e de carácter afirmado, mas cuja maior alegria é agradar ao dono!

Por: Carla Cruz, do afixo “Aradik” Fotos: Arquivo

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Para perceber a origem do Barbado da Terceira, é necessário entender a his-tória da ocupação humana dos Açores. Desde o séc. XV, o povoamento foi feito não só por portugueses, mas também

por nativos de vários locais da Europa – espanhóis, franceses, belgas, flamengos, holandeses, ingleses, etc. Ora, os Açores não tinham originalmente ma-míferos, logo foi necessário levá-los do continente, para servirem de alimento, fornecerem trabalho, etc.Juntamente com o gado que para aí foi levado, certamente terão ido também cães pastores e cães

boieiros (cães de pastoreio de gado bovino), para auxiliar no seu maneio. Todos estes povos possuem raças autóctones de cães de pastoreio, algumas de pêlo curto, outras de pêlo comprido, outras barbu-das. Assim, o Barbado da Terceira (tal como, aliás, o Cão de Fila de São Miguel) será originário da misci-genação destes diferentes cães, tendo sido escolhi-do na ilha Terceira um tipo de cão de pêlo comprido e ondulado, com barbas.Também não pode ser descartado o possível contri-buto do Cão de Água Português, presente nas cara-velas. Considerando que o Cão de Água Espanhol,

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por exemplo, é utilizado não só como cão de água mas também de pastoreio, não será inviável pensar que alguns cães de água provenientes navios te-nham sido capazes de dar o seu contributo no pas-toreio do gado, fixando-se nas ilhas e influenciando a sua população canina. Nos anos 1980s, terá tam-bém ocorrido um influxo de cães de pastoreio de origem americana.Desde a década de 1970 há referências mais con-cretas relativamente a este tipo de cães na ilha Terceira, sendo que nessa altura algumas pessoas começaram a criar cães deste tipo para familiares e amigos.

Estudo e reconhecimento da raçaA partir de meados dos anos 1990 começaram a ser desenvolvidos alguns estudos sobre esta popula-ção. Diferentes personalidades, como por exemplo o Dr. Deocliceano Pereira da Silva (Médico Veteri-nário em Angra do Heroísmo), o Dr. Artur Machado (da Universidade dos Açores), o Eng. João Baldaia (conde de Rego Botelho), o Sr. João Barata, o Sr. Dé-dalo Henrique Ribeiro da Silva, o Sr. Emanuel Vieira, o Dr. António José do Amaral (delegado do CPC nos Açores), estiveram envolvidas em estudos sobre a raça, o seu efectivo, a sua caracterização morfológi-ca e inclusive propostas de estalão – uma das quais chegou a ser publicada no jornal Açoriano Oriental.Com o apoio do Departamento de Ciências Agrá-rias da Universidade dos Açores, foi apresentado em 1998 um primeiro trabalho científico sobre a morfologia da raça, da autoria do Eng. André Oli-veira, seguido por outros estudos biométricos e genéticos.Desde a década de 1990 que o Clube Português de Canicultura (CPC), por intermédio da sua Direcção

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e da Comissão de Raças Portuguesas, acompanhou o trabalho que foi feito na Terceira em prol da raça. Confirmando-se a existência de características e homogeneidade adequadas, a 13 de Novembro de 2004, em Assembleia-geral do CPC, foi aprovado o estalão provisório do Barbado da Terceira, que se tornou assim a 10ª raça canina portuguesa.

Em Portugal e no MundoAté ao final de 2009, foram registados mais de 400 exemplares desta raça, a maioria a título inicial e por exame (isto é, sem que a sua ascendência es-tivesse previamente registada). No entanto, além destes, existirá ainda um número considerável de animais não registados, quer na Terceira quer no continente.Efectivamente, ao longo dos anos, mesmo desde antes do reconhecimento da raça, foram enviados vários exemplares para Portugal continental. A maioria destinou-se a companhia, guarda e/ou tra-balho com ganadeiros. Muitos são cães sem regis-to, que potencialmente poderão dar um contributo importante para a caracterização e evolução da raça, mas cuja existência a Canicultura organizada desconhece.Desde 2005, têm sido realizados anualmente na Terceira concursos destinados a promover e fomen-tar localmente a raça, tendo sido o primeiro realiza-do logo dois meses após o reconhecimento da raça, a 15 de Janeiro.No continente, a primeira aparição da raça em Ex-posições Caninas contando para o Campeonato Nacional ocorreu a 22 de Outubro de 2005, na 3ª Exposição Canina Especializada de Raças Portugue-sas do Fundão, a 22 de Outubro de 2005. No entan-to, até ao final de 2007 a visibilidade da raça em eventos de morfologia canina foi bastante discreta e irregular. Em contrapartida, desde o início de 2008 tem havido exemplares a participar assiduamente nestes eventos, com brilhantes resultados e defini-

tivamente contribuindo para projectar a imagem da raça.Apesar de não estar ainda reconhecido a nível internacional, o Barbado da Terceira é conhecido além-fronteiras. Vários exemplares foram já en-viados para os Estados Unidos, antes e depois do reconhecimento nacional da raça, facto a que não serão alheias as relações privilegiadas históricas que existem entre a Terceira e aquele país. Existem ainda exemplares pelo menos na Finlândia e na Nova Zelândia.

FunçãoO Barbado da Terceira é originalmente um cão de pastoreio de gado bovino, muito abundante na ilha. Para trabalho, seleccionavam-se os animais que mordiam baixo (na zona da quartela) para o ma-neio de vacas de leite e os que mordiam mais alto (no curvilhão ou acima) para o gado bravo.Mais recentemente, tem sido também usado no maneio de caprinos e ovinos, tarefa mais árdua e que deve feita por utilizadores experientes, devido à propensão da raça em morder quando é neces-sário convencer o gado relutante a mover-se, si-tuação potencialmente problemática uma vez que

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os pequenos ruminantes são mais frágeis que os bovinos.Nos últimos anos, a raça tem sido cada vez mais uti-lizada para companhia e guarda de propriedades, sendo essa actualmente a função da maioria dos exemplares. É um excelente companheiro, sempre vivaz e procurando a interacção com o dono. Como guarda, é um excelente cão de dissuasão, mas que não hesita também em fazer o que for necessário para evitar que um intruso entre no seu território.Porém, se se aperceber que o seu dono, em quem confia, aceita a outra pessoa, rapidamente passa de cão de guarda para alegre companheiro, recebendo bem, nesta situação, o anterior “invasor”.

ComportamentoApesar do seu aspecto folião, em grande parte de-vido à pelagem que lhe dá uma expressão patusca, o Barbado da Terceira é um cão voluntarioso e de carácter afirmado. Nem outra coisa seria de esperar de um animal destinado ao maneio de bovinos de lide.Assim, necessita de um dono que saiba impor-se naturalmente, caso contrário tenderá a ser o cão a controlar (como aliás ocorre com a generalidade dos cães). O seu ar de “ursinho de peluche” não deve levar a que se ceda aos seus “caprichos”,

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pois isso potencialmente poderá levar a situações problemáticas, pois é um animal muito robusto e forte.É um cão que gosta de se sentir útil. Dotado de uma grande inteligência, aprende muito facilmente, e a sua maior felicidade é agradar ao dono. E, sobretu-do com este, é um cão muito jovial e brincalhão - a ponto de, por vezes, se esquecer da força que tem!

Educação e treinoPorém, a educação de um Barbado é muito fácil. Se o cão sente o dono satisfeito com a sua atitude, irá esforçar-se por a manter, sendo assim um compa-nheiro extremamente agradável e afável.A educação e o trato diário deverão ser feitos de uma forma fundamentalmente positiva; é o tipo de cão em que, mais do que uma palmada (são animais fisicamente muito resistentes), um tom mais duro ou desagradado do seu dono é dos piores castigos que pode receber. É extremamente fácil de educar e treinar, aprendendo rapidamente o que se lhe ensina.No entanto, esta grande facilidade de aprendiza-gem também pode ter um lado negativo para o dono, que inadvertidamente pode ensinar ao cão também aquilo que não pretende – a consistên-cia na aplicação das regras básicas de educação e convivência é importante.

Em famíliaEm virtude da sua grande necessidade de contacto humano, não é um cão que se dê bem em situa-ção de canil ou ficando relegado exclusivamente a um canto do quintal. Isto é sobretudo relevante na fase de crescimento, quando o seu carácter se está a formar e moldar. Neste período, deve ser exposto ao máximo de situações, de forma a evitar que se torne num animal tímido ou medroso.Apesar de se entender e relacionar optimamente com todos os membros da família, é fundamen-

Apesar de ser essencialmente um cão de condução de bovinos, com um treino adequado adapta-se a outras espécies, como ovinos, caprinos ou mesmo aves.

O seu ar de “ursinho de peluche” não deve levar a que se ceda aos seus “caprichos”.

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talmente um cão de um só dono. O Barbado irá escolher uma pessoa da família com quem se irá relacionar de forma preferencial. E é fácil de sa-ber quem – é a pessoa de quem o cão não tira os olhos, a quem segue independentemente do local para onde as outras se dirigirem…

Sociável, mas com cuidadoO Barbado poderá entender-se bem com outros cães, se a eles estiver habituado, mas de uma for-ma geral, tem tendência a ser um pouco brigão. Isto é mais notório no caso de se tratar de cães estranhos. Deve tomar-se particular atenção nas apresentações e primeiros contactos com outros animais. Em casa, o dono deve ter atenção em não sobre-proteger nenhum cão em especial, pertur-bando as relações entre os animais.Dá-se bem com crianças, mas tal como ocorre com qualquer outro cão, as interacções deverão ser sempre vigiadas. Nunca se deve deixar qualquer cão, seja de que raça e tamanho for, sozinho com crianças sem supervisão.

Adora exercícioApesar de ser um cão muito vivaz, o Barbado não requer necessariamente um grande espaço para viver. Do que precisa mesmo é de contacto estrei-to com o dono, pelo que pode viver em aparta-mento. Porém, terá de lhe ser dada a possibilidade de poder desgastar diária e regularmente a sua energia.Devido às suas características atléticas, obediência e vontade de agradar, o Barbado da Terceira é um excelente candidato para diversas disciplinas des-portivas, como Obediência e Agility, por exemplo. Estimula-se assim a mente e o físico do cão, ao mesmo tempo que, sendo actividades efectuadas

em estreita ligação com o dono, se reforça o laço entre ambos.

MorfologiaO Barbado da Terceira é um cão de médio porte, de aspecto volumoso e robusto. As alturas e pesos são de 52 a 58 cm e 25 a 30 kg para os machos, 48 a 54 cm e 21 a 26 kg para as fêmeas, com uma tolerância no porte entre os 48 e os 60 cm.A cabeça é forte, com eixos craniofaciais parale-los. O chanfro é relativamente curto e largo, com amplas barbas, que dão o nome à raça. O nariz é amplo e cubóide, dando um aspecto característico à face. Os olhos são muito expressivos, denotando inteligência e travessura; a cor varia entre o mel e o castanho-escuro, mas não devem ser parcial ou totalmente azuis. As orelhas são de tamanho médio, pendentes e de inserção alta. O pescoço é sólido e bem musculado.O tronco, volumoso e de peito profundo, é ape-nas ligeiramente mais comprido que a altura ao garrote. A cauda tem implantação média a baixa; normalmente é longa, chegando pelo menos ao curvilhão, mas admitem-se também os exempla-res anuros. Os membros são bem musculados e de ossatura larga; os posteriores são bem angulados, denotando uma boa capacidade de impulsão.

O Barbado é um cão muito activo e ener-gético, deve ter a possibilidade de desgastar regularmente a sua energia.

Muito inteligente, obedidente e fácil de

treinar, é um exce-lente candidato para diferentes disciplinas

desportivas.

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Cauda e orelhas cortadas… ou nãoTal como no caso do Cão de Fila de S. Miguel, também no Barbado tradicionalmente a cauda é amputada e as orelhas são cortadas em redondo. Hoje em dia, já é relativamente comum ver cães de orelhas inteiras, sendo porém ainda raros os exem-plares de cauda inteira – devido à idade em que as amputações normalmente são feitas, o corte ou não de orelhas (a partir dos 2/3 meses) é uma opção do dono do cão, enquanto que o da cauda (após o nascimento) é decidido pelo criador.

Pelagem e coresO pêlo é longo e ligeiramente ondulado, com sub-pêlo abundante. É comum ser tosquiado no Verão, sobretudo nos exemplares de trabalho. As pelagens actuais são muito variadas tanto em termos de cor como de textura, mas não devem ser ásperas.As cores mais comuns são o preto, o cinzento, o ful-vo e o amarelo, em diferentes tonalidades da mais escura à mais clara, quase branca, mas todas as co-res são aceites excepto o castanho e o merle.É normal e frequente os cães nascerem com uma tonalidade mais escura que a que terão em adultos; ao longo dos primeiros meses a pelagem irá aclarar gradualmente até ao seu tom final. Por exemplo, um exemplar que tenha nascido fulvo escuro poderá ser em adulto quase branco, e os Barbados cinzentos te-rão normalmente nascido pretos. Nestas situações,

O Barbado da Terceira pode entender-se bem com outros cães, mas tem tendência a ser um pouco brigão com animais estranhos.

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quando o cão sofre um ferimento que leve à perda de pêlo na zona, o novo pêlo que nasce irá apresen-tar a cor “original”, aclarando depois progressiva-mente ao longo dos meses.Os Barbados podem apresentar manchas brancas na cabeça, pescoço, peito, ventre, membros e ponta da cauda. Historicamente, os exemplares “encoleira-dos” (com branco à volta do pescoço) e de “frente aberta” (com mancha branca na cabeça e chanfro) eram os preferidos para trabalho.

Presunhos nos membrosAntigamente era comum os cães terem presunhos nos membros posteriores (simples ou duplos). Esta é uma característica apreciada pelos lavradores (tal como ocorre em numerosas raças de cães de pastoreio ou de protecção de rebanhos), pelo que tipicamente não são cortados. Hoje em dia, a sua ocorrência parece não ser tão frequente.

ReproduçãoAs fêmeas normalmente atingem a maturidade sexu-al aos 9-10 meses de idade, apesar de poder haver alguma variação – cios aos 6 meses não são muito frequentes, mas não será de estranhar que o primeiro estro ocorra apenas depois dos 12 meses.No entanto, não é aconselhável cruzá-las logo no pri-meiro cio. Além de regulamentarmente não ser per-mitido registar ninhadas de cadelas com menos de um ano de idade, nesta fase as fêmeas estão ainda em crescimento e desenvolvimento, pelo que uma ninhada numa altura tão precoce irá comprometer o desenvolvimento da mãe e dos próprios cachorros.Será preferível esperar pelo menos pelo segundo ou terceiro cio, de forma a assegurar que as cadelas tenham terminado o seu desenvolvimento físico e tenham já alcançado a maturidade psicológica neces-sária para criarem uma ninhada de forma adequada.As montas e os partos não costumam apresentar problemas particulares, nascendo em geral entre 4 a 9 cachorros. As fêmeas são, por norma, excelen-tes mães, muito cuidadosas e atentas aos cachorros. Mesmo após o desmame é normal continuarem a tra-tar cuidadosamente das suas crias (e dos cachorros de outras cadelas, se os houver).

CachorrosOs cachorros tendem a ser bastante activos desde tenra idade. A partir do momento que começam a andar, exploram com afinco todo o seu ambien-

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te. Podem, por vezes, ser verdadeiros “artistas de fuga”, conseguindo mesmo passar por buracos mí-nimos, se isso significar que podem ir brincar para outros sítios.Devido à sua grande actividade, associada à típi-ca inconsciência de cachorros, deverá ter-se algum cuidado em que não se magoem inadvertidamente, assegurando que não têm acesso a locais de onde possam cair ou saltar de grande altura. Mas de uma forma geral, o crescimento é muito fácil e decorre sem problemas particulares.Normalmente, o dono não precisa de se preocupar com o exercício do cachorro – tendo possibilidade, esse irá gerir por si os seus períodos de actividade e de descanso. Porém, se o cão viver num aparta-mento, deverá ter oportunidade de fazer exercício de forma regular.Devem ser bastante estimulados, naturalmente com os necessários cuidados antes de iniciarem o seu plano de vacinação. Deverão ter à sua dispo-sição brinquedos adequados e evitar que tenham ao seu alcance objectos indesejáveis (não esquecer os cabos eléctricos) – são cachorros extremamente curiosos e a boca é o principal meio que têm para explorar o mundo!Nos exemplares destinados a pastoreio, normal-mente é recomendado que apenas comecem a contactar com o gado após a muda de dentição. Se o treino começar demasiado cedo, com o cachor-ro ainda física e psicologicamente imaturo, poderá deixar sequelas negativas num encontro que corra pior. Adicionalmente, apenas após alguns meses de vida é que começam a surgir comportamentos predatórios organizados, necessários para o bom desempenho do pastoreio.

Cuidados no dia-a-diaA sua alimentação deve ser ponderada. Apesar de a raça não ser particularmente exigente a este nível,

uma ração de alta qualidade irá minimizar proble-mas de saúde a médio e longo prazo e conferir um melhor aspecto à pelagem.É necessário assegurar que o cão pode desgastar a sua grande energia, de preferência em activida-des envolvendo o seu proprietário, uma vez que é um cão que vive fundamentalmente em função dos desejos e presença do dono. Reforça-se assim o laço entre ambos, o bem-estar físico e psicológico do animal e evita-se que o excesso de energia seja desviado para comportamentos não desejáveis pelo proprietário. Como referido anteriormente, as disci-plinas desportivas podem constituir uma excelente actividade para o Barbado (e o seu dono).

Manutenção da pelagemO Barbado da Terceira é uma raça relativamente pouco exigente a nível de trato. Os principais cui-dados prendem-se com a manutenção da pelagem – como não faz mudas de pêlo, as escovagens e penteadelas regulares (semanais ou pelo menos quinzenais) são uma necessidade para eliminar o pêlo morto e manter a pele e pelagem em boas condições e manter a sua capacidade de isolamen-to térmico. Caso contrário, o pêlo terá tendência a embaraçar-se, criando “rastas”, obrigando a uma tosquia para a pelagem recuperar a sua condição.Estes cães não temem a neve, pois o sub-pêlo for-A

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Os cachorros têm um ar extremamente apelativo, mas pense primeiro se tem as condições necessárias para um Barbado. Ele será infeliz passando a vida sozinho num canto do quintal.

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nece um bom isolamento, porém é necessário veri-ficar que não ficam ensopados. Também no Verão uma pelagem bem cuidada confere um bom isola-mento térmico. Existe muito a tendência a cortar o pêlo, com a ideia que o cão tem calor, mas as tos-quias parciais normalmente apenas cortam o pêlo de fora, quando o que está envolvido na protecção térmica é essencialmente o sub-pêlo.Se este for regularmente penteado, de forma a evi-tar a criação de nós e permitir um bom arejamento da pele, não serão necessários cuidados especiais adicionais.

SaúdeSendo uma raça relativamente recente, pouco se sabe ainda sobre os problemas que poderão afec-tar o Barbado. Tipicamente são animais robustos e saudáveis, que não exigem grandes cuidados a nível veterinário, para além da vacinação, despa-rasitação e check-up regulares.Tal como ocorre com as restantes raças de médio e grande porte, poderá existir alguma propensão para a displasia da anca. Alguns poucos exempla-res foram também examinados relativamente a 12 patologias do foro ocular, não tendo apresentado nenhuma à data do exame, nomeadamente atro-fia progressiva da retina ou cataratas.

Será a sua raça?O Barbado da Terceira é uma raça cheia de po-tencial para companhia, trabalho ou desporto, que merece ser melhor conhecida. No entanto, devido

ao seu carácter forte, não é um cão para qualquer pessoa.Antes de se decidir por um exemplar desta raça, vi-site e fale com diferentes criadores, procure conhe-cer bem a raça, ver o cachorro e os seus irmãos e se possível a ascendência do seu futuro companheiro.Não hesite em colocar todo o tipo de perguntas; esteja também preparado para o criador lhe co-locar numerosas perguntas, pois apenas assim se conseguirá averiguar se é uma raça adequada para o interessado e o seu estilo de vida e conjugar o exemplar adequado com a pessoa certa. Irá assim maximizar a probabilidade de uma sã convivência e parceria durante 10 a 15 anos. D

Nota de agradecimento: Agradecemos a Carla Cruz do afixo “Aradik”, a António Ferreira & André Oliveira do afixo “Casa da Mina”, a Neusa e Paulo Toste do afixo “Estrela do Mar”, a Patricia e João Oliveira e Sousa do afixo “Monte de Magos” e a Telmo Melo, por nos terem cedido fotografias de exemplares da sua propriedade para ilustrar este artigo.

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O Barbado da Terceira é uma raça cheia de potencial para com-panhia, trabalho ou desporto, que merece ser melhor conhecida

O Barbado é um excelente companheiro para crianças. Mas, naturalmente, as interacções devem ser sempre vigiadas.