barbado da terceira - dos açores para o mundo

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22 | Anuário Cães & Companhia 2009/2010 2009/2010 Cães & Companhia Anuário | 23 Grupo 1 Por: Carla Cruz, do afixo Aradik Pr. Dédalo Henrique ©Aradik ©Aradik ©Aradik ©Aradik ©Aradik ©Aradik ©Aradik ©Aradik ©Aradik ©Aradik Dotado de uma vivacidade contagiante, o Barbado da Terceira tem uma capacidade especial de se “insinuar” na vida do seu dono. Muito ágil, extre- mamente inteligente e com uma grande facilidade na aprendizagem, é um excelente companheiro para todas as horas. O Barbado da Terceira é originário da ilha Terceira, nos Açores. A sua origem está enraizada na história da ocupação humana deste arquipélago. Nas ilhas não havia mamíferos, pelo que todos os ani- mais domésticos tiveram que ser para levados pelos vários povos que aí rumaram – portu- gueses, espanhóis, franceses, belgas, flamengos, ingleses, holandeses, etc. Juntamente com o gado, necessário para a alimentação humana, certamente terão sido também levados cães de pastoreio, para ajudar no seu maneio. Assim, o Barbado descenderá dos cães de pastor ou boieiros de estatura média e pêlo alongado existentes um pouco por toda a Europa. Nos anos 1980, terá também ocorrido um influxo de cães de pastoreio de origem americana. Desde a década de 1970 que há referências mais concretas relativamente a este tipo de cães, e a partir de meados dos anos 1990 começaram a ser desenvolvidos alguns estudos sobre esta população. Diferentes personalida- des, como o Dr. Deocliceano Pereira da Silva (Médico Veterinário em Angra do Heroísmo), o Dr. Artur Machado (da Universidade dos Açores), o Eng. João Baldaia (conde de Rego Botelho), o Sr. João Barata, o Sr. Dédalo Hen- rique Ribeiro da Silva, o Sr. Emanuel Vieira, o Dr. António José do Amaral (delegado do CPC nos Açores), estiveram envolvidas em diversos estudos sobre a raça e inclusive pro- postas de estalão – uma das quais chegou a ser publicada no jornal “Açoriano Oriental”. Com o apoio do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, foi apresentado em 1998 um primeiro trabalho científico sobre a morfologia da raça, da autoria do Eng. André Oliveira, seguido por outros sobre a sua biometria e genética. Em 2004, o Clube Português de Canicultura aprovou o reconhe- cimento provisório da 10ª raça portuguesa, confirmando assim a existência de característi- cas e homogeneidade adequadas. Desde 2005, têm vindo a ser realizados na ilha Terceira concursos destinados a fomentar e promover a raça. No continente, a visibilidade da raça foi durante muito tempo reduzida, apesar de diversos exemplares terem sido para aí enviados, a maioria dos quais cães sem registo (trazidos inclusive ainda antes da raça ser reconhecida) destinada a companhia e/ou trabalho com ganadeiros, e como tal “desapa- recidos” da canicultura oficial e do potencial contributo que poderiam dar para a evolução da raça. Apesar de a raça ter participado pela primeira vez numa Exposição de campeonato ainda em 2005, com 2 exemplares vindos da Terceira para esse fim (“Pastor” e “Açor-B”) e um aí nascido mas vivendo no continente (“Bravo”), apenas desde 2008 o Barbado da Terceira começou a ter uma presença regular e de alto impacto em Eposições caninas, aumen- tando de forma notória a visibilidade e (re) conhecimento da raça junto do público. O Barbado da Terceira é originalmente um cão de pastoreio de gado bovino, muito abun- dante na ilha. Para trabalho, seleccionavam-se Barbado da Terceira original, o Barbado é um cão voluntarioso e de carácter afirmado. Necessita de um dono que saiba impor-se naturalmente, caso contrário tentará ser ele o dominante (como aliás ocorre com a maioria dos cães em geral). O seu ar de “ursinho de peluche” não deve levar a que se ceda aos seus “caprichos”, pois isso potencial- mente poderá levar a situações problemáticas, quando o cão fica a pensar que é ele quem manda. No entanto, a maior felicidade de um Barbado é agradar ao seu dono, pelo que com um dono com noções básicas de educação de um cão, é um companheiro extremamente agradável e afável. A educação e o trato diário deverão ser feitos de uma forma fundamen- talmente positiva; é o tipo de cão em que um tom mais duro do seu dono é dos piores castigos que pode receber. É extremamente agradável de educar e treinar, aprendendo rápida e facilmente o que se lhe ensina. Dá-se bem com crianças, mas tal como ocorre com qualquer outro cão, as interacções deverão ser sempre vigiadas, particularmente no caso de crianças pequenas. De uma forma geral, o Barbado poderá entender-se bem com os outros cães da casa, mas tem tendência a ser um pouco brigão, em particular no caso de não sentir autoridade adequada por parte do seu dono. Isto é mais notório no caso de se tratar de cães estranhos. Em casa, o dono deve ter em atenção em não sobre-proteger nenhum cão em especial, perturbando as relações hierár- quicas entre os animais. O Barbado da Terceira é um cão de porte médio, com um aspecto robusto mas ele- gante. Os machos podem alcançar os 58 cm. Tipicamente, a cauda é amputada e as orelhas cortadas em redondo, ficando erectas. No entanto, cada vez mais se vêm exemplares de orelhas inteiras; nesta situação são pendentes e de tamanho médio. Também começam a aparecer exemplares de cauda inteira, compri- da. O pêlo é longo e ligeiramente ondulado, com sub-pêlo abundante, sendo comum ser tosquiado no Verão; na cabeça forma as típicas barbas que dão o nome à raça. As pelagens actuais são ainda muito variadas tanto em termos de cor como de textura, mas não devem ser ásperas. As cores mais comuns são o preto, o cinzento, o fulvo e o amarelo, em diferentes tonalidades da mais escura à mais clara, quase branca. Podem apresentar manchas brancas na cabeça, pescoço, peito, ventre, membros e ponta da cauda. Histori- camente, os exemplares “encoleirados” (com branco à volta do pescoço) e de “frente aber- ta” (com mancha branca na cabeça e chanfro) eram os preferidos para trabalho. Para manter a pelagem, e uma vez que não sofre mudas, o pêlo deve ser escovado regular- mente, pelo menos uma vez por semana em profundidade. Isto irá permitir retirar o pêlo morto e arejar a pele, contribuindo para uma melhor saúde e higiene da pelagem e da pele e reduzindo os odores. Apesar de ser um cão muito vivaz, não requer necessariamente uma grande quinta para viver. Do que precisa mesmo é de contacto estreito com o dono, pelo que pode viver mesmo num apartamento. Porém, terá de lhe ser dada a possibilidade de poder desgastar diariamente a sua energia. É uma raça muito rústica, não lhe sendo conhecidas patologias particulares. No en- tanto, poderá ser susceptível à ocorrência de displasia da anca. Se optar por um Barbado da Terceira, poderá contar com um compa- nheiro para os próximos 10 a 15 anos! c Dos Açores para o Mundo os animais que mordiam baixo (na zona da quartela) para o maneio de vacas de leite e os que mordiam mais alto (no curvilhão ou acima) para o gado bravo. É também usado no maneio de caprinos e ovinos, tarefa mais árdua e que deve feita por utilizadores experientes, devido à propensão da raça em morder quan- do é necessário convencer o gado relutante a mover-se e à maior fragilidade destes animais. Nos últimos anos, a raça tem sido cada vez mais utilizada para companhia e guarda de propriedades, sendo essa actualmente a função da maioria dos exemplares. Como se poderá supor com base na sua função A maioria dos exemplares é hoje utilizado para companhia e guarda de propriedades

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Artigo sobre o Barbado da Terceira no Anuário da revista Cães e Companhia 2009/2010

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Page 1: Barbado da Terceira - dos Açores para o Mundo

22 | Anuário Cães & Companhia 2009/2010 2009/2010 Cães & Companhia Anuário | 23

Grupo 1

Por: Carla Cruz, do afixo Aradik

Pr. D

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Dotado de uma vivacidade contagiante, o Barbado da Terceira tem uma capacidade especial de se “insinuar” na vida do seu dono. Muito ágil, extre-mamente inteligente e com uma grande facilidade na aprendizagem, é um excelente companheiro para todas as horas.

O Barbado da Terceira é originário da ilha Terceira, nos Açores. A sua origem está enraizada na história da

ocupação humana deste arquipélago. Nas ilhas não havia mamíferos, pelo que todos os ani-mais domésticos tiveram que ser para levados pelos vários povos que aí rumaram – portu-gueses, espanhóis, franceses, belgas, flamengos, ingleses, holandeses, etc. Juntamente com o gado, necessário para a alimentação humana, certamente terão sido também levados cães de pastoreio, para ajudar no seu maneio. Assim, o Barbado descenderá dos cães de pastor ou boieiros de estatura média e pêlo alongado existentes um pouco por toda a Europa. Nos anos 1980, terá também ocorrido um influxo de cães de pastoreio de origem americana.Desde a década de 1970 que há referências mais concretas relativamente a este tipo de cães, e a partir de meados dos anos 1990 começaram a ser desenvolvidos alguns estudos sobre esta população. Diferentes personalida-des, como o Dr. Deocliceano Pereira da Silva (Médico Veterinário em Angra do Heroísmo), o Dr. Artur Machado (da Universidade dos Açores), o Eng. João Baldaia (conde de Rego Botelho), o Sr. João Barata, o Sr. Dédalo Hen-rique Ribeiro da Silva, o Sr. Emanuel Vieira, o Dr. António José do Amaral (delegado do

CPC nos Açores), estiveram envolvidas em diversos estudos sobre a raça e inclusive pro-postas de estalão – uma das quais chegou a ser publicada no jornal “Açoriano Oriental”. Com o apoio do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, foi apresentado em 1998 um primeiro trabalho científico sobre a morfologia da raça, da autoria do Eng. André Oliveira, seguido por outros sobre a sua biometria e genética. Em 2004, o Clube Português de Canicultura aprovou o reconhe-cimento provisório da 10ª raça portuguesa, confirmando assim a existência de característi-cas e homogeneidade adequadas.

Desde 2005, têm vindo a ser realizados na ilha Terceira concursos destinados a fomentar e promover a raça. No continente, a visibilidade da raça foi durante muito tempo reduzida, apesar de diversos exemplares terem sido para aí enviados, a maioria dos quais cães sem registo (trazidos inclusive ainda antes da raça ser reconhecida) destinada a companhia e/ou trabalho com ganadeiros, e como tal “desapa-recidos” da canicultura oficial e do potencial contributo que poderiam dar para a evolução da raça. Apesar de a raça ter participado pela primeira vez numa Exposição de campeonato ainda em 2005, com 2 exemplares vindos da Terceira para esse fim (“Pastor” e “Açor-B”) e um aí nascido mas vivendo no continente (“Bravo”), apenas desde 2008 o Barbado da Terceira começou a ter uma presença regular e de alto impacto em Eposições caninas, aumen-tando de forma notória a visibilidade e (re)conhecimento da raça junto do público.O Barbado da Terceira é originalmente um cão de pastoreio de gado bovino, muito abun-dante na ilha. Para trabalho, seleccionavam-se

Barbado da Terceira

original, o Barbado é um cão voluntarioso e de carácter afirmado. Necessita de um dono que saiba impor-se naturalmente, caso contrário tentará ser ele o dominante (como aliás ocorre com a maioria dos cães em geral). O seu ar de “ursinho de peluche” não deve levar a que se ceda aos seus “caprichos”, pois isso potencial-mente poderá levar a situações problemáticas, quando o cão fica a pensar que é ele quem manda. No entanto, a maior felicidade de um Barbado é agradar ao seu dono, pelo que com um dono com noções básicas de educação de um cão, é um companheiro extremamente agradável e afável. A educação e o trato diário deverão ser feitos de uma forma fundamen-talmente positiva; é o tipo de cão em que um tom mais duro do seu dono é dos piores castigos que pode receber. É extremamente agradável de educar e treinar, aprendendo rápida e facilmente o que se lhe ensina.Dá-se bem com crianças, mas tal como ocorre com qualquer outro cão, as interacções deverão ser sempre vigiadas, particularmente no caso de crianças pequenas. De uma forma geral, o Barbado poderá entender-se bem com os outros cães da casa, mas tem tendência a ser um pouco brigão, em particular no caso de não sentir autoridade adequada por parte do seu dono. Isto é mais notório no caso de se tratar de cães estranhos. Em casa, o dono deve ter em atenção em não sobre-proteger nenhum cão em especial, perturbando as relações hierár-quicas entre os animais.O Barbado da Terceira é um cão de porte médio, com um aspecto robusto mas ele-gante. Os machos podem alcançar os 58 cm. Tipicamente, a cauda é amputada e as orelhas cortadas em redondo, ficando erectas. No entanto, cada vez mais se vêm exemplares de orelhas inteiras; nesta situação são pendentes e de tamanho médio. Também começam a aparecer exemplares de cauda inteira, compri-

da. O pêlo é longo e ligeiramente ondulado, com sub-pêlo abundante, sendo comum ser tosquiado no Verão; na cabeça forma as típicas barbas que dão o nome à raça. As pelagens actuais são ainda muito variadas tanto em termos de cor como de textura, mas não devem ser ásperas. As cores mais comuns são o preto, o cinzento, o fulvo e o amarelo, em diferentes tonalidades da mais escura à mais clara, quase branca. Podem apresentar manchas brancas na cabeça, pescoço, peito, ventre, membros e ponta da cauda. Histori-camente, os exemplares “encoleirados” (com branco à volta do pescoço) e de “frente aber-ta” (com mancha branca na cabeça e chanfro) eram os preferidos para trabalho. Para manter a pelagem, e uma vez que não sofre mudas, o pêlo deve ser escovado regular-mente, pelo menos uma vez por semana em profundidade. Isto irá permitir retirar o pêlo morto e arejar a pele, contribuindo para uma melhor saúde e higiene da pelagem e da pele e reduzindo os odores.Apesar de ser um cão muito vivaz, não requer necessariamente uma grande quinta para viver. Do que precisa mesmo é de contacto estreito com o dono, pelo que pode viver mesmo num apartamento. Porém, terá de lhe ser dada a possibilidade de poder desgastar diariamente a sua energia.É uma raça muito rústica, não lhe sendo conhecidas patologias particulares. No en-tanto, poderá ser susceptível à ocorrência de displasia da anca. Se optar por um Barbado da Terceira, poderá contar com um compa-nheiro para os próximos 10 a 15 anos!c

Dos Açores para o Mundo

os animais que mordiam baixo (na zona da quartela) para o maneio de vacas de leite e os que mordiam mais alto (no curvilhão ou acima) para o gado bravo. É também usado no maneio de caprinos e ovinos, tarefa mais árdua e que deve feita por utilizadores experientes, devido à propensão da raça em morder quan-do é necessário convencer o gado relutante a mover-se e à maior fragilidade destes animais. Nos últimos anos, a raça tem sido cada vez mais utilizada para companhia e guarda de propriedades, sendo essa actualmente a função da maioria dos exemplares.Como se poderá supor com base na sua função

A maioria dos exemplares é hoje utilizado para companhia e guarda de propriedades