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Este trabalho tem por objetivo discutir a importância da investigação etnobiológica no ensino de Ciências e Biologia a partir de uma experiência vivenciada por uma professora de Biologia, autora do artigo, com alunos do segundo ano do Ensino Médio, com idades entre 17 e 25 anos, de uma escola pública estadual do município de Coração de Maria-BA.

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  • INVESTIGAO ETNOBIOLGICA E ENSINO DE BIOLOGIA: UMA

    EXPERINCIA DE INCLUSO DO CONHECIMENTO DE ALUNOS

    AGRICULTORES NA SALA DE AULA DE BIOLOGIA.

    BAPTISTA, G. C. S. & EL-HANI, C. N. Investigao etnobiolgica e ensino de biologia: uma experincia de incluso do conhecimento de alunos agricultores na sala de aula de biologia. In: TEIXEIRA, P. M. M. (Organizador). Ensino de Cincias: Pesquisas e Reflexes. Ribeiro Preto: Editora Holos, 2006, 84-96 p.

    Geilsa Costa Santos Baptista

    Ncleo de Estudos e Pesquisas sobre Formao de Professores UEFS Grupo de Pesquisa em Histria, Filosofia e Ensino de Cincias Biolgicas, Instituto de

    Biologia, Universidade Federal da Bahia - UFBA

    E-mail: [email protected]

    Charbel Nio El-Hani

    Grupo de Pesquisa em Histria, Filosofia e Ensino de Cincias Biolgicas, Instituto de

    Biologia, UFBA

    Mestrado em Ensino, Filosofia e Histria das Cincias, UFBA/UEFS

    Mestrado em Ecologia e Biomonitoramento, UFBA

    RESUMO. Este trabalho tem por objetivo discutir a importncia da investigao

    etnobiolgica no ensino de Cincias e Biologia a partir de uma experincia vivenciada por

    uma professora de Biologia, autora do artigo, com alunos do segundo ano do Ensino Mdio,

    com idades entre 17 e 25 anos, de uma escola pblica estadual do municpio de Corao de

    Maria-BA. Ao ministrar suas aulas de Biologia, a professora encontrou dificuldades para

    trabalhar os contedos, quando abordava apenas conceitos cientficos. Os alunos

    demonstravam desinteresse e, quando questionados os motivos, alegavam cansao por

    exercerem atividades agrcolas no turno oposto s aulas (matutino). Assim, na tentativa de

    facilitar o ensino e a aprendizagem da Biologia, partiu-se da Etnobiologia, que investiga os

    conhecimentos de diferentes sociedades a respeito dos seres vivos, para a construo de uma

    prtica pedaggica que inclusse o conhecimento tradicional dos agricultores na sala de aula.

    O primeiro passo consistiu na investigao do conhecimento etnobiolgico dos alunos que

    eram agricultores, realizando-se entrevistas abertas e semi-estruturadas com os estudantes

    em campo. Foram enfocados, particularmente, o nome popular dos vegetais cultivados e as

    tcnicas empregadas em seu cultivo. Pediu-se aos alunos que fizessem, ainda, desenhos

    esquemticos sobre a biologia dos vegetais. A anlise dos dados permitiu que conclussemos

    que os alunos-agricultores possuem um conhecimento amplo sobre a biologia das plantas

    cultivadas no municpio, em especial sobre sua morfologia, classificao e reproduo. O

    reconhecimento e a incluso do conhecimento etnobiolgico dos agricultores na sala de aula

    permitiu estabelecer um dilogo entre o saber tradicional e o conhecimento cientfico, o que

    motivou os alunos, favorecendo seu engajamento nas atividades de aprendizagem.

    Palavras-Chave: Etnobiologia; Conhecimento Tradicional; Ensino de Biologia.

    Key-Words: Ethnobiology; Traditional knowledge; Biology teaching.

  • INTRODUO

    Na literatura sobre a educao cientfica, vrios trabalhos apontam a influncia das

    concepes prvias dos estudantes sobre os processos que envolvem o ensino e a

    aprendizagem escolar (Moreira, 1999; Mortimer, 2000; Bizzo, 2001; Cobern, 2001) sob o

    consenso de que o conhecimento ativamente construdo pelo aprendiz e no apenas

    transmitido pelo professor (COLL, 1999). Em outras palavras, sob o entendimento de que o

    aluno, por no ser um sujeito neutro, traz para a escola e a sala de aula seus conhecimentos

    prvios ou sua cultura prevalente, anterior aprendizagem escolar, como conseqncia de

    estar atuando fora dela tambm (DELIZOICOV e outros, 2002).

    Dentre esses trabalhos, destaca-se aqui as discusses de William Cobern que propem

    a teoria do Construtivismo Contextual. Uma das idias centrais do construtivismo contextual

    a de que, no decurso do ensino de Cincias, os alunos no devem ser levados a romper

    com suas vises de mundo, mas sim a utiliz-las para dar sentido s idias cientficas.

    Assim, no construtivismo contextual, destacada no somente a natureza social da

    aprendizagem, mas, de um modo mais amplo, o papel central da cultura no desenvolvimento

    e na organizao das idias dos aprendizes (EL-HANI, 2001). Para Cobern (2001), a

    educao cientifica s poder ser bem sucedida se fizer com que o conhecimento cientfico

    encontre um nicho no meio cognitivo e scio-cultural de estudantes.

    El-Hani e Bizzo (2002) destacam que, do ponto de vista do construtivismo contextual,

    os estudantes, sejam quais forem suas origens, sempre trazem para a sala de aula uma viso

    de mundo produzida mediante o contato com sua cultura primeira. Desta maneira, o que est

    sendo ensinado em qualquer sala de aula deve ser entendido como parte de uma segunda

    cultura para os estudantes. desta perspectiva que as relaes entre cultura e ensino de

    cincias se mostram relevantes para a prtica docente e a compreenso do processo

    complexo de ensino e aprendizagem de Cincias.

    A cultura, segundo Malinovski (citado por Oliveira, 2001), compreende os artefatos,

    os bens, os processos tcnicos, as idias, os hbitos e os valores herdados por um povo.

    Culturas so os modos especficos ou padres que regem a convivncia e a sobrevivncia

    social por um tempo mais ou menos prolongado (VIERTLER, 2002). Conhecimentos

    tradicionais sobre a natureza so uma parte importante das culturas humanas.

    De acordo com Bandeira (2001), os conhecimentos tradicionais tratam restritamente

    das dimenses manifestamente visveis do mundo cotidiano, isto , surgem como

    conseqncia da necessidade de resolver problemas prticos que aparecem no dia-a-dia e

    que so percebidos principalmente atravs da percepo sensorial, constituindo um sistema

    que est estruturado entre o mundo simblico, espiritual e natural, que inclui as espcies

    vegetais e animais, minerais, recursos hdricos, astros e galxias, componentes do clima etc.

    Cada cultura comporta uma interpretao particular da natureza, que constitui um elemento

    importante da viso de mundo de um povo.

    O conceito de viso de mundo, tomado da antropologia cultural, tem um papel central no construtivismo contextual. A viso de mundo de um indivduo corresponde

    organizao fundamental de sua mente, incluindo um conjunto de pressupostos subjacentes

    a seus atos, seus pensamentos, suas disposies, seus juzos etc. (EL-HANI & BIZZO

    2002). A viso de mundo de um indivduo condicionada pela cultura na qual ele se

    encontra inserido. Kearney (1984) compreende a viso de mundo como um modo de pensar

    organizado culturalmente, o conjunto de suposies cognitivas bsicas de uma pessoa, que

    se relacionam de forma dinmica e determinam grande parte de seu comportamento e de sua

    tomada de decises, bem como organizam grande parte de seu corpo de criaes simblicas

    mito, religio, cosmologia , bem como, em termos gerais, sua etnofilosofia. Em termos supra-individuais, ele define a viso de mundo de um povo como ... seu modo de olhar

  • para a realidade, constitudo por ... suposies e imagens bsicas que propiciam um modo de pensar o mundo mais ou menos coerente, embora no necessariamente acurado (KEARNEY 1984, p. 41).

    No que tange tentativa de compreender a viso de mundo de comunidades humanas,

    a etnobiologia cumpre um papel importante. No h uma definio do que seja a

    etnobiologia aceita de modo geral (BERLIN, 1992). No entanto, pode-se distinguir, a grosso

    modo, duas vises sobre este campo de investigao, que diferem na amplitude que

    conferem ao seu objeto de estudo (Jos Geraldo Wanderley Marques, comunicao pessoal).

    Numa viso mais estrita, o objeto da etnobiologia o estudo dos sistemas taxonmicos

    encontrados nas diversas culturas. Numa perspectiva mais ampla, assumida, por exemplo,

    pela Sociedade Internacional de Etnobiologia, esta cincia entendida como o estudo das

    interaes de seres vivos e sistemas culturais, tanto nas sociedades passadas como nas

    atuais. Para a linha editorial da revista editada por esta sociedade cientfica (Journal of

    Ethnobiology), a etnobiologia inclui qualquer estudo vinculando biologia e antropologia.

    Nesses termos, Posey (1986, p.15) caracteriza a etnobiologia como o estudo do

    conhecimento e das conceituaes de qualquer sociedade a respeito da biologia e Berlin (op.

    cit., p. 3) considera provvel a concordncia da maioria dos etnobilogos praticantes com a

    idia de que este campo de investigao se dedica ao estudo, no sentido mais amplo

    possvel, do conjunto complexo de relaes de plantas e animais com as sociedades

    humanas passadas e presentes.

    A metodologia de pesquisa utilizada por esta cincia est baseada em tcnicas

    etnogrficas, buscando-se investigar, na medida do possvel, a soma total dos conhecimentos

    que um determinado grupo cultural tem sobre o universo social e natural e sobre si mesmo

    (TOLEDO, 1990).

    Os objetivos da pesquisa etnobiolgica incluem a anlise dos processos cognoscitivos,

    da conceituao do ambiente, das formas de percepo, classificao e nomenclatura, do uso

    e aproveitamento das plantas e animais pelos sistemas culturais (VILLAMAR, 1997). Tendo

    em vista estes objetivos, El-Hani (2001) argumenta que, do ponto de vista do construtivismo

    contextual, as investigaes etnobiolgicas e etnoecolgicas podem fornecer informaes

    preciosas para os educadores. Afinal de contas, no devemos restringir as chamadas

    concepes prvias dos estudantes s idias que eles tm sobre contedos cientficos antes de episdios de ensino. Como enfatiza Sepulveda (2003, p. 71), ... os conhecimentos prvios [...] incluem todo o conjunto de pressupostos e crenas fundadas culturalmente. As concepes oriundas das experincias individuais e coletivas dos estudantes em sua primeira

    cultura no devem ser negligenciadas no contexto escolar. Torna-se evidente, assim, que a

    pesquisa etnobiolgica, ao contribuir para a compreenso da viso de mundo dos aprendizes,

    no s em culturas indgenas e tradicionais, mas tambm nos meios urbanos, tem um papel

    importante a desempenhar na construo de uma prtica de ensino de Cincias que tenha na

    devida conta as relaes entre conhecimento cientfico, conhecimento escolar e cultura.

    Na perspectiva de um professor-investigador, o emprego dos referenciais conceituais e

    metodolgicos da etnobiologia pode, assim, contribuir para a construo de iniciativas

    educacionais culturalmente apropriadas, ou seja, que propiciem aos estudantes

    oportunidades para que se engajem num dilogo cultural com a cincia. Uma prtica docente

    culturalmente apropriada no ensino de Cincias deve ter por meta no somente ampliar o

    universo de conhecimentos do aluno com concepes cientficas, mas tambm reforar no

    indivduo o ser social, o sentido de ser membro de uma coletividade, caracterizada por

    orientaes culturais especficas (FORQUIN, 1993). Deve promover no aluno a

    independncia de opinies, admitindo a existncia de outros modos de conhecer o mundo,

    alm das cincias, que tm seus prprios domnios de validade e compromissos filosficos.

    Estas outras formas de conhecimentos se mostram teis em seus contextos e nas relaes

  • prticas que o homem estabelece consigo mesmo, com os outros e com a natureza

    (MALDANER, 2000). importante ter em vista, alm disso, que, medida que o aluno

    compreende o conjunto de conceitos, explicaes, habilidades, prticas e valores que

    caracterizam sua cultura, ele se torna mais capaz de interagir de forma adaptada com o meio

    fsico e social em que vive (COLL, 1997).

    Isso no significa que o ensino de Cincias deva perder de vista seus objetivos, como

    meio de enriquecer a viso de mundo dos alunos com o legado cultural inegavelmente

    importante trazido pelo conhecimento cientfico (MATTHEWS, 1994). O conhecimento

    escolar na rea das Cincias tem como parmetro necessrio o conhecimento aceito de

    maneira consensual pela comunidade cientfica de uma dada poca, a partir do qual ser

    feita a transposio de conceitos, teorias, hipteses etc. para o contexto das escolas (LIMA-

    TAVARES & EL-HANI 2001). No se trata, contudo, de que o papel do conhecimento

    cientfico como fonte de normatividade e fundamento de legitimidade (Chevallard, 1991) do

    conhecimento escolar na rea de Cincias implique a necessidade de que a educao

    cientfica exclua por completo outras formas de conhecimento da sala de aula. Na educao

    cientfica, no se deve excluir um saber em nome de outro, admitindo-se, sempre, o dilogo

    entre diferentes modos de conhecer na sala de aula, sem perder de vista, contudo, os

    objetivos do ensino de Cincias. O dilogo entre saberes na sala de aula permite, inclusive,

    que o aluno relacione seus conhecimentos prvios com os contedos trabalhados no ensino

    de Cincias Biolgicas, estabelecendo semelhanas e diferenas, delimitando os contextos

    de aplicaes de ambos. Como salienta Campos (2002), o conhecimento s poder

    estabelecer-se atravs de dilogos que, pela conscincia da diferena, permita o

    reconhecimento pela diferena, no s entre cada um dos saberes em jogo, mas tambm em

    outras leituras de situaes e contextos scio-culturais.

    Cobern (1994) prope uma srie de questes para a avaliao, pelos educadores, da

    adequao cultural de seu modo de instruo: (i) Quais so as crenas dos estudantes acerca

    do mundo ao seu redor, especialmente o mundo fsico?; (ii) Como os estudantes

    compreendem seu lugar no mundo e, em particular, suas relaes com o mundo fsico? (iii)

    Qual o meio cultural no qual as crenas, valores e relaes dos estudantes esto fundadas e

    apoiadas?; (iv) Qual a cultura da cincia e como esta cultura interpretada na sala de

    aula?; (v) O que acontece quando as culturas dos estudantes, do professor e da cincia se

    encontram na sala de aula?; (vi) Quando h objeo cincia, a objeo cincia em si ou

    ao contexto no qual a cincia apresentada?; (vii) Quando os aprendizes so influenciados

    pela educao cientfica, eles esto sendo influenciados pela cincia apenas, ou pela cincia

    mais o contexto no qual ela apresentada? El-Hani (2001) argumenta que a etnobiologia

    pode fornecer subsdios importantes para responder s trs primeiras perguntas, bem como

    pode resultar em informaes importantes para as tentativas de responder quarta e quinta

    questes.

    O presente artigo trata da contribuio da investigao etnobiolgica para a construo

    de uma prtica docente no ensino de Cincias mais consciente das relaes entre

    conhecimento cientfico, conhecimento escolar e a primeira cultura de seus alunos. Trata-se

    de um estudo de interveno da perspectiva de uma professora-investigadora, que no sofre,

    por conseguinte, da lacuna pesquisa/prtica que tem sido percebida por alguns autores nas

    inovaes propostas no contexto da pesquisa em educao em cincias (PEKAREK et al.

    1996, MONK & OSBORNE 1997). Deve ressaltar, ainda, que o prprio elemento motivador

    da investigao surgiu a partir da experincia vivenciada por G. C. S. Baptista em sua

    prtica pedaggica, numa escola pblica estadual do municpio de Corao de Maria-Ba.

  • BREVE CARACTERIZAO SCIO-CULTURAL DO MUNICPIO DE

    CORAO DE MARIA, ESTADO DA BAHIA.

    O municpio de Corao de Maria est localizado na regio semi-rida do estado da

    Bahia, entre as coordenadas geogrficas 120 14' 14'' Lat. Sul e 380 45' 0" Long. Oeste, a 104

    Km da cidade do Salvador, capital da Bahia (SEI, 2001). De acordo com dados da prefeitura

    local, em 2001, quando o estudo aqui relatado foi realizado, a populao residente no

    municpio era de aproximadamente 27.000 habitantes, encontrando-se 16.578 na zona rural

    e 10.422, na zona urbana.

    A populao do municpio de Corao de Maria sobrevive da pecuria, do comrcio e

    da agricultura, sendo que esta ltima representa sua maior fonte de renda. As principais

    espcies vegetais cultivadas so o abacaxi (Ananas sativus), a mandioca (Manihot sculenta),

    o fumo (Nicotiana tabacum) e o milho (Zea mays).

    Quanto rede educacional, o municpio conta com dez escolas pblicas estaduais, que

    atendem tanto os alunos da zona urbana quanto da zona rural, sendo que nove atuam no

    Ensino Fundamental e apenas uma, o Colgio Estadual D. Pedro II, no Ensino Mdio. Esta

    ltima deve ser caracterizada em maior detalhe, por tratar-se do local no qual foi realizado o

    estudo relatado neste artigo. O Colgio Estadual D. Pedro II possui oito salas de aula, dois

    sanitrios, uma cantina, uma biblioteca, um laboratrio de Cincias, uma secretaria, uma

    sala de direo e vice-direo, e uma sala de professores. O colgio conta com trinta e seis

    professores, sendo quatro de Biologia e o restante, distribudo nas demais disciplinas do

    currculo escolar. Segundo a direo da escola, os alunos que freqentam a escola se

    dedicam, em sua maioria, agricultura e, ao conclurem o Ensino Mdio, continuam

    desenvolvendo atividades agrcolas, visto que o municpio no dispe de um mercado de

    trabalho que consiga incluir os jovens egressos da escola.

    METODOLOGIA

    As atividades de ensino e pesquisa aqui relatadas aconteceram no ano letivo de 2001,

    com alunos de uma turma do segundo ano do Ensino Mdio do Colgio Estadual D. Pedro

    II, localizado no municpio de Corao de Maria-BA. A idade dos alunos variou de 17 a 25

    anos.

    Em sua atividade pedaggica, a primeira autora deste artigo, professora de Biologia de

    uma das turmas daquele colgio, encontrou dificuldades para trabalhar os contedos, quando

    a nfase recaa apenas sobre os conceitos cientficos prprios do ensino de Biologia. Nesse

    contexto, os alunos demonstravam desinteresse e indisposio e, quando questionados os

    motivos, alegavam cansao por exercerem atividades agrcolas no turno oposto s aulas

    (matutino). Diante deste achado, a professora-investigadora em questo decidiu inserir os

    conhecimentos etnobiolgicos dos alunos no contexto de suas aulas.

    Inicialmente, atravs de questionamentos orais em sala de aula, foram identificados os

    alunos agricultores e, em particular, aqueles que estavam interessados em participar da

    pesquisa. Em seguida, foram realizadas visitas aos espaos agrcolas dos estudantes que

    consentiram participar da primeira etapa da pesquisa, de natureza etnobiolgica. Nestas

    visitas, foram feitas observaes diretas de suas atividades, a fim de identificar os alunos

    especialistas no assunto (agricultura). Assim, foi possvel identificar especialistas

    tradicionais, necessrios para a pesquisa etnobiolgica. Entrevistas semi-estruturadas foram

    conduzidas com estes especialistas, utilizando-se um protocolo preparado previamente,

    contendo alguns tpicos sobre a biologia dos vegetais cultivados que deveriam ser

    abordados na entrevista. Na conduo da entrevista, procuramos criar condies para que os

    alunos descrevessem da maneira mais natural possvel, seus conhecimentos sobre os

  • processos de cultivo das plantas, etnoclassificao das espcies vegetais, sua morfologia e as

    tcnicas de reproduo. Foram tomados os cuidados necessrios para impedir a induo de

    respostas dos alunos por pistas dadas pelo entrevistador sobre a inteno de suas perguntas.

    Todos os dados colhidos durante as observaes e as entrevistas foram anotados

    paralelamente em caderno de campo, a partir do qual foi feita a elaborao de uma tabela na

    qual as descries feitas pelos alunos sobre a biologia dos vegetais foram comparadas com

    citaes de livros didticos de Biologia. A inteno desta comparao no foi validar o conhecimento etnobiolgico dos agricultores com base no conhecimento cientfico (o que

    no nos parece um procedimento apropriado), mas somente buscar subsdios para um

    dilogo entre conhecimento tradicional e conhecimento cientfico na sala de aula de

    Biologia.

    Aps esta etapa inicial de pesquisa, foi solicitado, na sala de aula, a todos os alunos,

    participantes ou no das entrevistas, que, em grupos, identificassem as principais plantas

    cultivadas no municpio, bem como descrevessem as principais tcnicas utilizadas em seu

    cultivo. Eles foram instrudos a realizar a atividade com base nas suas experincias

    individuais e coletivas, preparando uma apresentao oral dos resultados obtidos. Na

    apresentao oral, os alunos deveriam discorrer sobre seus conhecimentos, utilizando

    exemplares vegetais e desenhos esquemticos. Durante as falas dos alunos, a professora fez

    intervenes, nas quais questes sobre o tema (agricultura) foram levantadas com o intuito

    de estabelecer um dilogo entre o saber dos agricultores e o conhecimento biolgico.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Os questionamentos orais feitos em sala de aula para identificar os alunos agricultores

    ali presentes mostraram que esto envolvidos no trabalho agrcola tanto jovens do gnero

    masculino quanto do gnero feminino. As observaes em campo, nos espaos agrcolas,

    para a identificao dos especialistas na agricultura local comprovaram esses dados obtidos

    em sala de aula; porm, apenas indivduos do gnero masculino consentiram a realizao

    das entrevistas. Devemos atentar, nesse caso, para o fato de que, se o falar importante para

    a comunicao, o no falar tambm pode ter vrios significados. A observao de que as

    mulheres no se dispuseram a participar das entrevistas pode indicar desde sua timidez e

    humildade at uma discordncia ou reprovao da atividade proposta; ou, ainda, ela poderia

    estar relacionada a uma diviso de trabalho na vida dos agricultores da localidade, que pode

    fazer com que jovens de gneros diferentes tenham participaes diferenciadas na cultura de

    sua comunidade (VIERTLER, 2002).

    A anlise dos dados mostrou que os alunos agricultores so detentores de um amplo

    conhecimento tradicional sobre a biologia das plantas cultivadas no municpio, em especial

    sobre a morfologia, classificao e reproduo vegetais (Tabela 1 e 2).

    A comparao de trechos das entrevistas com citaes de livros didticos de Biologia

    mostrou concordncias entre o conhecimento etnobiolgico dos alunos e contedos

    cientficos de biologia vegetal (Tabela 1). o caso, por exemplo, da explicao dada pelos

    alunos para a reproduo da mandioca (Manihot esculenta). Segundo os alunos, pequenas

    partes so retiradas do caule do vegetal e colocadas no solo, para que se desenvolva uma

    nova planta. Paulino (2002, p.284 ), por exemplo, afirma que muito comum na agricultura

    a propagao vegetativa e isso acontece porque os caules possuem clulas com elevada

    capacidade proliferativa, capazes de originar uma nova planta.

    As comparaes tambm mostraram diferenas entre o conhecimento etnobiolgico

    dos agricultores e o conhecimento cientfico (Tabela 2). Um exemplo diz respeito

    morfologia do abacaxi (Ananas sativus): os alunos chamam de fruta a estrutura carnosa, que, de acordo com Lopes (1998, p. 170), um pseudofruto, i.e., uma estrutura carnosa,

  • contendo reservas nutritivas, que tem forma semelhante aos frutos, mas se desenvolvem a

    partir de outras partes da flor, e no do ovrio.

    Tanto as semelhanas quanto as diferenas entre o conhecimento tradicional e o

    conhecimento cientfico podem ser utilizadas como base para o planejamento de atividades

    que possibilitem um dilogo entre conhecimento cientfico e tradicional na sala de aula.

    Neste contexto, importante insistir que no se deve derivar de tais comparaes nem uma

    tentativa de validar o conhecimento etnobiolgico (no caso das concordncias), nem o estabelecimento de uma suposta superioridade do conhecimento cientfico. Os

    conhecimentos tradicionais obedecem aos seus prprios critrios de validao, no sendo

    necessrio, no contexto de um trabalho desta natureza, valid-los por referncia ao

    conhecimento cientfico. Nosso propsito com esta comparao foi o de identificar

    oportunidades para estabelecer, no contexto da sala de aula de Biologia, dilogos entre os

    conhecimentos tradicional e cientfico. De um lado, as concordncias entre estas duas

    formas de conhecimento que foram encontradas foram instrumentais para que o dilogo em

    sala de aula pudesse ser realizado com sucesso. De outro, as diferenas tambm cumpriram

    seu papel, buscando-se levar os alunos a compreenderem, por exemplo, a maneira como a

    biologia explica a natureza de pseudofruto, com o cuidado de evitar a desvalorizao de seu conhecimento tradicional. Para isto, foi apresentado alguns conceitos bsicos para a

    compreenso da reproduo das Angiospermas como, por exemplo, o conceito de

    polinizao e de fertilizao.

    A investigao prvia dos conhecimentos tradicionais destes alunos agricultores de

    Corao de Maria permitiu, pois, contextualizar a abordagem dos contedos cientficos

    (Classificao Sistemtica, Morfologia e Reproduo Vegetal) relativamente cultura do

    aluno. Um dilogo entre os saberes tradicionais e o conhecimento cientfico foi conseguido

    na sala de aula, criando-se condies para que os alunos relacionassem os conhecimentos

    construdos no contexto de sua cultura e de suas prticas aos contedos cientficos. Ao

    traarem tais relaes, eles pareceram ter em vista a importncia de delimitar os contextos

    em que essas diferentes formas de conhecimento so convenientes para eles. Isso pode ser

    visto na seguinte frase, dita por uma aluna na sala de aula: (...) na nossa comunidade, a gente fala caroo da planta pra que todo mundo entenda mas se eu for fazer um vestibular,

    eu sei que caroo da planta uma semente". A aluna no se mostra disposta a abandonar

    suas concepes prvias, mas sim a ampliar o espectro de conhecimentos que tem sua

    disposio, a partir da incorporao do conhecimento cientfico, tal como proposto no

    construtivismo contextual (COBERN 1996, EL-HANI & BIZZO 2002).

    Durante as apresentaes orais, quando a professora realizou intervenes, solicitando

    aos alunos que nomeassem cientificamente os vegetais e explicassem em termos cientficos

    seus processos de reproduo, eles se mostraram inseguros. Esta insegurana ficou patente

    em declaraes com a seguinte forma: eu no tenho certeza mas acho que o nome .... As falas de alguns desses alunos indicaram, ainda, que eles haviam esquecido parte do que fora

    trabalhado anteriormente em sala de aula. Segundo eles, isso decorre do fato de que no so

    estabelecidas relaes entre os conhecimentos construdos e aplicados no contexto de suas

    prticas agrcolas e aqueles que so trabalhados na escola. A seguinte afirmao, de um dos

    alunos, mostra esta dissociao entre o mundo da escola e o seu mundo cotidiano: "(...) ns

    no sabemos explicar ... na escola a gente aprende a cincia dos livros, que diferente da

    nossa ... e como a gente no usa, esquece". Neste contexto, consideramos que o tipo de

    prtica pedaggica proposto e utilizado na experincia de ensino e pesquisa relatada no

    presente artigo pode contribuir para uma aprendizagem mais eficaz dos contedos

    cientficos pelos alunos, na medida em que a distncia entre o mundo da escola e o mundo

    de sua cultura e de suas prticas seja diminuda.

  • importante salientar que, ainda que apenas uma parte dos alunos tenha participado

    da pesquisa em campo, durante as apresentaes orais, feitas por todos os alunos, as

    informaes fornecidas coincidiram com os dados coletados durante as entrevistas. Isso

    sugere que, mesmo sendo a prtica agrcola desenvolvida em diferentes localidades dentro

    do municpio, h uma base cultural comum, que mantm estes conhecimentos relativamente

    homogneos.

    Durante as apresentaes, medida que explicavam as tcnicas tradicionais de

    reproduo das plantas, os alunos tambm realizaram desenhos esquemticos na lousa e em

    papel ofcio (Figuras 2 e 3). Estes esquemas ajudaram na compreenso das idias

    tradicionais sobre a reproduo e morfologia dos vegetais e, alm disso, auxiliaram no

    trabalho pedaggico desenvolvido para apresentar aos alunos os contedos cientficos a este

    respeito.

    Por fim, parece-nos importante registrar que a motivao mostrada pelos alunos na

    realizao das atividades parece estar relacionada sua satisfao com as mesmas, como

    indica o seguinte depoimento, dado por uma aluna ao trmino das atividades:

    (...) Essa pesquisa nos ensinou muito, foi um aprendizado importantssimo, sabemos todos ns a importncia de uma pesquisa to gratificante. Afinal aprofundar-se mais nas coisas

    importantes da nossa cidade sempre importante para o nosso conhecimento no dia-dia.

    CONCLUSO

    fato conhecido que o homem, desde os primrdios da sua existncia, estabelece

    mltiplas relaes com a natureza ao seu redor. Dessas relaes, surgem os conhecimentos

    prticos, os quais integram uma parte da cultura humana. Cada cultura, por sua vez,

    comporta uma interpretao particular da natureza, que constitui um elemento importante da

    viso de mundo de um povo.

    Assim, o aluno, ao chegar no espao escolar, j traz consigo a sua cultura primeira,

    como conseqncia de estar atuando fora desse espao. Desta maneira, no se poderia impor

    um modelo de conhecimento como algo acabado e que no sofre interferncias no momento

    da aprendizagem cientfica. O que est sendo ensinado em qualquer sala de aula deve ser

    entendido como parte de uma segunda cultura para os estudantes. Deve, portanto, buscar

    relaes entre a viso de mundo do aluno e ensino da cincia.

    Neste sentido, a etnobiologia que estuda as interaes de seres vivos e sistemas culturais pode contribuir para a compreenso da viso de mundo dos aprendizes, no s em culturas indgenas e tradicionais, mas tambm nos meios urbanos, desempenhando

    importante papel na construo de uma prtica de ensino de Cincias que tenha na devida

    conta as relaes entre conhecimento cientfico, conhecimento escolar e cultura.

    A investigao prvia dos conhecimentos tradicionais ligados agricultura de

    Corao de Maria permitiu estabelecer dilogos com os alunos, nos quais a abordagem dos

    contedos cientficos (Classificao Sistemtica, Morfologia e Reproduo Botnica) foi

    contextualizada dentro da cultura do aluno. Tal fato favoreceu a aprendizagem, sem que

    fosse preciso para o aluno abandonar as suas concepes prvias a respeito da natureza, mas

    sim ampli-las.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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  • NOME

    TRADICIONAL

    NOME CIENTFICO

    TCNICA TRADICIONAL

    DE REPRODUO

    VEGETAL

    COMPARAO AOS

    CONTEDOS DOS

    LIVROS DIDTICOS

    DE BIOLOGIA

    Fumo (Nicotiana tabacum) "(...) quando a planta vai

    crescendo, a gente vai capando

    o olho pro fumo d galho...

    Dois meses depois est no

    ponto de cortar as folhas e

    colocar para secar

    (...) ".A remoo do pice

    do caule permite o

    crescimento das gemas

    laterais, pois nessas

    condies, o teor de auxinas

    nessas gemas diminui. A

    poda permite o aumento do

    nmero de ramos porque as

    gemas apicais so

    eliminadas.MARCONDES,

    1998, p. 549)

    Mandioca

    (Manihot esculenta) A plantao do p de mandioca

    se faz contando 5 n no galho,

    tirar a parte de cima e de baixo

    e a tem a maniva que deve ser

    plantada deitada nas covas, em

    terra forte.

    (...) ".A propagao

    vegetativa consiste na

    reproduo assexuada de

    plantas por meio de partes

    de seu corpo vegetativo,

    principalmente pedaos de

    caule, que so utilizados

    como "mudas".

    (PAULINO, 2002, p. 284).

    Tabela 1. Tabela mostrando algumas espcies vegetais cultivadas pelos alunos agricultores,

    suas tcnicas tradicionais de reproduo e analogias com trechos de livros didticos de

    Biologia do ensino Mdio.

    NOME

    TRADICIONAL

    NOME

    CIENTFICO

    TCNICA TRADICIONAL

    DE REPRODUO

    VEGETAL

    COMPARAO AOS

    CONTEDOS DOS LIVROS

    DIDTICOS DE BIOLOGIA

    Abacaxi (Ananas sativus) "O abacaxi uma fruta que d

    sozinha no meio da planta. Do

    lado dela nasce os filhotes que

    o que se planta para nascer uma

    nova planta".

    O abacaxi, que sendo

    popularmente considerado

    fruta, no constitui exemplo de

    fruto verdadeiro, uma vez que

    no se origina do ovrio da

    flor. (PAULINO, 1996, p 132)

    Milho (Zea mays) "Pra plantar o milho, a gente

    primeiro faz as covas no cho.

    Depois tira as sementes da espiga

    e bota nas covas

    "O gro de milho um

    pequenino fruto seco, cuja

    semente ocupa quase todo o

    seu volume. (SOARES, 1992,

    p. 82)

    Tabela 2. Tabela mostrando algumas espcies vegetais cultivadas pelos alunos agricultores,

    suas tcnicas tradicionais de reproduo e diferenas em comparao a trechos de livros

    didticos de Biologia do ensino Mdio.

  • 1. Qual o seu nome?

    2. Qual o nome da planta que voc cultiva?

    3. De que maneira essa planta cultivada?

    4. Como voc chama as partes dessa planta?

    5. Tem alguma parte da planta que usada para reproduo?

    6. Como acontece a reproduo da planta que voc cultiva?

    Figura 1. Protocolo preparado previamente, contendo alguns tpicos sobre a biologia dos

    vegetais cultivados que deveriam ser abordados na entrevista.

    Figura 2. Desenho esquemtico realizado por um aluno indicando a morfologia do abacaxi

    (Ananas sativus).

  • Figura 3. Desenho feito por um aluno indicando a morfologia do p de mandioca (Manihot esculenta).