banco portugal 2011_relatório de estabilidade financeira

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RELATÓRIO DEESTABILIDADE FINANCEIRA

MAIO 2011

Lisboa, 2011www.bportugal.pt

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BANCO DE PORTUGAL

Av. Almirante Reis, 71

1150-012 Lisboa

www.bportugal.pt

Edição

Departamento de Estudos Económicos

Design, impressão e distribuição

Departamento de Serviços de Apoio

Área de Documentação, Edições e Museu

Serviço de Edições e Publicações

Lisboa, 2011

Tiragem

350 exemplares

ISSN 1646-2254 (impresso)

ISSN 2182-0384 (on-line)

Depósito Legal n.º 227535/05

Este Relatório foi redigido segundo o novo Acordo Ortográfi co.

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ÍNDICE

I. ESTABILIDADE DO SISTEMA FINANCEIRO

3 1. APRECIAÇÃO GLOBAL

11 2. RISCOS MACROECONOMICOS E FINANCEIROS

25 3. SITUAÇÃO FINANCEIRA DO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO

41 4. SISTEMA BANCÁRIO

41 4.1. Atividade e rendibilidade

55 4.2. Risco de mercado

63 4.3. Risco de liquidez

77 4.4. Risco de crédito

91 4.5. Adequação de fundos próprios

97 Caixa 4.1. O papel mitigante das instituições fi nanceiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa

109 Caixa 4.2. Situação fi nanceira dos seis maiores grupos bancários do sistema bancário português no primeiro trimestre de 2011

II. ARTIGOS

115 Dívida e extinção das empresas

António Antunes, José Mata, Pedro Portugal

127 O acesso ao crédito bancário quando os bancos são acionistas das empresas: evidência para Portugal

Paula Antão, Miguel A. Ferreira, Ana Lacerda

141 Estimativa do impacto de fusões bancárias: uma aplicação ao sistema bancário português

Diana Bonfi m, Pedro Pita Barros, Moshe Kim, Nuno C. Martins

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IESTABILIDADE DO SISTEMA FINANCEIRO

APRECIAÇÃO GLOBAL

RISCOS MACROECONÓMICOS E FINANCEIROS

SITUAÇÃO FINANCEIRA DO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO

SISTEMA BANCÁRIO

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1. Apreciação global

Os bancos portugueses enfrentam um período de assinaláveis desafi os, enquadrados por um programa

de ajustamento da economia portuguesa, no âmbito do acordo de assistência fi nanceira recentemente

concluído. Ao longo dos últimos meses, o enquadramento em que os bancos têm vindo a desenvolver a

sua atividade doméstica registou uma signifi cativa deterioração. As tensões associadas à crise da dívida

soberana desde a primavera de 2010 têm colocado fortes pressões sobre os custos de fi nanciamento do

Estado português, mas têm também condicionado de forma severa o acesso dos bancos portugueses

aos mercados internacionais de dívida por grosso. Neste contexto, ao longo do último ano, os bancos

portugueses têm recorrido de forma expressiva a fi nanciamento junto do Eurosistema e, simultanea-

mente, têm vindo a ajustar gradualmente a estrutura do seu balanço, em particular desde o segundo

semestre de 2010.

Em termos globais, o sistema bancário português tem mantido uma assinalável capacidade de adaptação

e resistência desde o início da crise fi nanceira e económica internacional, assegurando, sem perturbações

signifi cativas, o fi nanciamento da economia num enquadramento global muito adverso. De facto, ao

contrário do observado noutros países, os bancos portugueses apresentavam uma exposição negligen-

ciável a ativos de elevado risco e complexidade que originaram perdas signifi cativas em grandes grupos

bancários internacionais. Para além disso, os bancos portugueses têm vindo a desenvolver a sua atividade

com base num modelo de intermediação fi nanceira relativamente tradicional e com níveis de capital

regulamentar globalmente adequados face aos riscos assumidos.

Deste modo, a escalada do prémio de risco da dívida pública portuguesa, no contexto da crise da dívida

soberana na Europa, refl etiu essencialmente fragilidades da situação orçamental, enquadradas por vulne-

rabilidades estruturais da economia, não estando associada a problemas intrínsecos do sistema bancário.

Nos últimos meses assistiu-se a uma forte deterioração da avaliação dos participantes nos mercados

fi nanceiros sobre a sustentabilidade das fi nanças públicas em Portugal, refl etindo inter alia níveis de défi ce

e de dívida pública relativamente altos e superiores ao esperado. A avaliação das fragilidades da situação

orçamental não pode ser dissociada dos vários desequilíbrios estruturais que caracterizam a economia

portuguesa. De facto, ao longo da última década a economia registou taxas de crescimento efetivo e de

crescimento potencial bastante reduzidas, o que se traduziu numa evolução divergente face aos restantes

países da área do euro. Nesse período, este fraco desempenho económico foi acompanhado por uma taxa

de poupança historicamente baixa e por um aumento do endividamento da economia, o que se traduziu

numa signifi cativa deterioração da posição de investimento internacional. Mais recentemente, em março

de 2011, as condições de fi nanciamento externo da economia agravaram-se signifi cativamente, num

contexto de instabilidade política e de incertezas quanto aos mecanismos temporários e permanentes

de assistência fi nanceira na União Europeia. As agências de rating efetuaram sucessivas revisões em

baixa das notações atribuídas ao Estado português, bem como aos bancos e a algumas empresas não

fi nanceiras. O agravamento das pressões sobre a dívida pública e privada portuguesa tornou inevitável

o pedido de assistência fi nanceira internacional do governo português no início de abril.

O programa de ajustamento económico e fi nanceiro defi nido no âmbito desse pedido de assistência

constitui um instrumento fundamental para assegurar a correção inadiável dos desequilíbrios e vulnera-

bilidades estruturais da economia portuguesa, de forma a assegurar um crescimento mais equilibrado

e sustentado no médio e longo prazo. Neste contexto, os atuais desafi os para a economia portuguesa

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assumem duas dimensões complementares, que são contempladas neste programa1: por um lado, é

necessário assegurar a correção dos desequilíbrios das fi nanças públicas; por outro lado, é fundamental

atuar sobre as vulnerabilidades estruturais da economia para promover o seu crescimento potencial.

Neste sentido, o programa prevê a implementação de reformas estruturais em inúmeras áreas, incluindo

nos mercados de trabalho, de bens e serviços e de habitação, bem como no sistema judicial.

A estabilidade fi nanceira é também uma dimensão essencial do programa de ajustamento. Neste sentido,

refi ra-se que, desde o verão de 2010, o Banco de Portugal tem vindo a tomar diversas medidas para

reforçar a estabilidade e a confi ança no sistema bancário português, aconselhando os bancos a promover

uma desalavancagem gradual dos respetivos balanços, de forma a diminuir a sua dependência do recurso

ao fi nanciamento junto do BCE, a adotar políticas prudentes de distribuição de resultados, a reforçar o

seu capital regulamentar, e a melhorar a sua efi ciência operacional. No início de abril, com o objetivo

de reforçar a solvabilidade do sistema bancário português, o Banco de Portugal anunciou, por via da

publicação do Aviso n.º 1/2011, que todos os grupos bancários teriam de ter, em base consolidada, um

rácio Core Tier 1 mínimo de 8 por cento a partir do fi nal de 2011. Estas orientações foram reforçadas no

programa de ajustamento económico e fi nanceiro defi nido no âmbito do pedido de assistência fi nanceira

à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim,

no contexto do programa, vai ter lugar um processo gradual de desalavancagem do sistema fi nanceiro,

que será consistente com o processo de ajustamento do setor privado não fi nanceiro e que irá apro-

fundar o processo que se iniciou de no segundo semestre de 2010. Adicionalmente, o programa engloba

medidas para assegurar a liquidez do sistema fi nanceiro, incluindo o reforço do colateral disponível e

a possibilidade de emissão de dívida com garantia estatal num montante global até 35 mil milhões de

euros. O programa prevê também um reforço das exigências sobre os rácios de solvabilidade, impondo-se

um rácio Core Tier 1 mínimo de 9 por cento a partir do fi nal de 2011 e de 10 por cento o mais tardar até

ao fi nal do ano seguinte, medida já concretizada no Aviso n.º 3/2011 do Banco de Portugal. Os bancos

deverão desejavelmente cumprir as novas exigências de capital através do recurso a soluções privadas de

mercado, ainda que o programa inclua um fundo de apoio à recapitalização dos bancos para assegurar o

cumprimento desta exigência, envolvendo um montante global de 12 mil milhões de euros. Por último, o

programa também prevê a intensifi cação do acompanhamento do sistema bancário e da sua regulação

e supervisão, na linha do trabalho que está já em curso no Banco de Portugal.

Em termos globais, o processo de desalavancagem gradual do sistema fi nanceiro defi nido no âmbito

do programa deverá ser acompanhado por uma melhoria dos rácios de capital e de liquidez e por uma

redução das necessidades de fi nanciamento face ao exterior, condições necessárias para assegurar a

recuperação do acesso a fi nanciamento nos mercados fi nanceiros internacionais de dívida por grosso.

Refi ra-se a importância de que este processo de desalavancagem ocorra de forma gradual e ordenada,

de modo a não comprometer o fi nanciamento dos setores mais produtivos da economia. Deste modo,

os planos específi cos de fi nanciamento e desalavancagem, a nível de cada banco, no âmbito deste

programa deverão permitir conciliar, a nível agregado, a tensão entre a necessidade de redução gradual

dos níveis de alavancagem do sistema bancário e a importância de manter um fl uxo de crédito sufi -

ciente para assegurar o fi nanciamento da economia, nomeadamente de forma a não pôr em causa a

sua gradual recuperação.

Dado o lugar que ocupa o sistema bancário no fi nanciamento da economia portuguesa, é altamente

desejável que este processo de desalavancagem tenha por base estratégias que minimizem o seu impacto

sobre a respetiva capacidade de concessão de novos créditos. Por isso, os bancos deverão privilegiar

estratégias de reforço da sua base de capital, de alienação de créditos e de ativos não estratégicos face

aos setores privado e público, e de reforço do fi nanciamento estável, nomeadamente dos depósitos

1 As principais medidas do programa encontram-se resumidas na “Caixa O programa de ajustamento económico e fi nanceiro no âmbito do pedido de assistência fi nanceira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional”, Banco de Portugal, Relatório Anual, 2010.

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captados junto de clientes. Refi ra-se que um processo de desalavancagem dos bancos assente na

redução da atividade internacional tenderá a afetar menos diretamente a economia portuguesa mas,

em contrapartida, poderá ter um efeito negativo na evolução da rendibilidade e, consequentemente, na

solvabilidade dos bancos, dado que os resultados obtidos por via da atividade internacional têm ofere-

cido um importante contributo para a rendibilidade de vários bancos portugueses ao longo dos últimos

anos. Em contrapartida, a desalavancagem efetuada através da venda de ativos terá um efeito diferente

sobre a economia do que se tiver lugar via redução de novo crédito. Todavia, importa ter presente que

as vendas de ativos têm o seu reverso da medalha, na medida em que podem dar origem a perdas, com

consequências negativas para a rendibilidade e solvabilidade dos bancos.

A implementação deste programa de ajustamento económico e fi nanceiro assume um caráter essencial

para criar as bases para um crescimento sólido e sustentado da economia num horizonte de médio e longo

prazo, promovendo a competitividade e a recuperação do crescimento potencial. Contudo, é necessário

ter presente que o impacto económico e social dos ajustamentos a efetuar será substancial no curto

prazo e que existem riscos, em particular, decorrentes dos desenvolvimentos económicos e fi nanceiros

a nível internacional. Apesar disso, o cumprimento rigoroso do programa, em tudo o que dependa do

empenhamento nacional, constitui um imperativo incontornável. De facto, um novo adiamento da

correção dos profundos desequilíbrios orçamentais e estruturais da economia portuguesa implicaria

um substancial agravamento dos já elevados custos económicos e sociais associados à situação atual.

O ano de 2010 foi globalmente caracterizado pelo adiamento da correção daqueles desequilíbrios

macroeconómicos. Apesar de uma aceleração temporária da atividade económica (em parte assente

em fatores não sustentáveis do lado da procura interna), as condições no mercado de trabalho continu-

aram a deteriorar-se, a consolidação das fi nanças públicas foi insufi ciente e o défi ce externo continuou

a assumir valores elevados, apesar de ter evidenciado uma ligeira melhoria. Adicionalmente, os níveis

de endividamento do setor privado continuaram a apresentar valores muito elevados, acompanhados

pela persistência de um nível reduzido das taxas de poupança, ainda que se tenha observado um ligeiro

aumento da poupança bruta das sociedades não fi nanceiras. Refi ra-se que, por comparação com os

restantes países da área do euro, as empresas portuguesas continuam a evidenciar necessidades de

fi nanciamento muito signifi cativas, enquanto a capacidade de fi nanciamento dos particulares se situa

em níveis próximos da média da área do euro. A correção dos desequilíbrios do setor privado não fi nan-

ceiro constitui, a par da necessária consolidação orçamental e da desalavancagem do sistema fi nanceiro,

um dos pilares do processo de ajustamento da economia portuguesa, sendo essencial para assegurar a

convergência do défi ce externo para níveis compatíveis com um equilíbrio sustentável de longo prazo

numa união monetária.

Os bancos têm vindo a implementar planos de desalavancagem assentes no reforço do capital regula-

mentar, na venda de ativos, no abrandamento da concessão de crédito e na intensifi cação da captação

de depósitos de clientes. Ainda assim, em 2010 continuou a observar-se uma expansão da atividade do

sistema bancário, essencialmente por via do crescimento da carteira de ativos fi nanceiros (centrado no

crescimento da carteira de títulos de dívida pública portuguesa) e do crédito a clientes. Refi ra-se que se

tem vindo a observar uma clara distinção entre a evolução da atividade dos bancos domésticos e não

domésticos residentes em Portugal, o que tem permitido suavizar o perfi l de desalavancagem do conjunto

do sistema fi nanceiro português (ver “Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições fi nanceiras residentes

não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa”, deste Relatório). Contudo,

a intensifi cação dos esforços de desalavancagem do sistema bancário deverá exigir um abrandamento

adicional (ou mesmo uma contração) do total do ativo do sistema bancário.

Importa ter presente que não se pode avaliar a escala e a natureza do processo de desalavancagem

apenas com base na observação da evolução do ativo. Importa atender também à relação deste com as

responsabilidades assumidas pelos bancos e com o capital regulamentar disponível. Deste modo, tendo

em consideração a relação entre crédito e recursos de clientes, a evidência disponível para o sistema

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bancário em base consolidada sugere que o processo de desalavancagem se terá iniciado de forma

consistente no segundo semestre de 2010, tendo-se observado uma diminuição signifi cativa deste rácio,

refl etindo essencialmente o aumento dos depósitos captados junto de clientes, mas também alguma

diminuição do crédito. Adicionalmente, na segunda metade do ano também se assistiu a um reforço

dos rácios de solvabilidade, bem como do rácio de alavancagem que avalia a relação entre o capital e o

ativo do sistema bancário. Refi ra-se que a melhoria dos rácios de adequação de fundos próprios ocorreu

num contexto de níveis historicamente reduzidos de rendibilidade. Ainda assim, no conjunto do ano,

os indicadores de rendibilidade do sistema bancário registaram um ligeiro aumento. Refi ra-se, ainda,

que os resultados obtidos por via da atividade internacional têm oferecido um importante contributo

para a rendibilidade dos bancos portugueses ao longo dos últimos anos, tendência que se manteve em

2010. As perspetivas globalmente favoráveis para o enquadramento macroeconómico global deverão

contribuir para manter esta tendência.

Em suma, o conjunto de informação disponível para o sistema bancário em base consolidada evidencia

uma diferenciação entre o primeiro e o segundo semestre de 2010. Enquanto no primeiro semestre de

2010 os bancos tiveram de reagir a choques negativos não antecipados, no segundo semestre tornou-se

evidente a necessidade de implementação de uma trajetória sustentada de ajustamento. A evidência

disponível para o primeiro trimestre de 2011 aponta para a consolidação desta tendência para os princi-

pais grupos bancários portugueses (ver “Caixa 4.2 Situação fi nanceira dos seis maiores grupos bancários

do sistema bancário português no primeiro trimestre de 2011”, deste Relatório). Apesar disso, estes

deverão ser apenas os primeiros passos num processo gradual e ordenado que permita o reforço dos

rácios de solvabilidade dos bancos e a convergência para uma estrutura de fi nanciamento mais estável

e equilibrada no médio prazo.

De facto, na atual situação, uma das principais vulnerabilidades do sistema bancário português prende-se

com as pressões associadas ao risco de liquidez e de fi nanciamento, num contexto de fortes restrições

no acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso, tendo o acesso a fi nanciamento junto do

Eurosistema assumido um papel importante. Antes da eclosão da crise fi nanceira global, os bancos

portugueses tiveram acesso a fi nanciamento nos mercados de dívida por grosso a prazos longos e em

condições bastante favoráveis, o que permitiu sustentar a expansão do crédito ao setor privado não

fi nanceiro. Contudo, esta expansão teve implicações sobre a estrutura de fi nanciamento do conjunto

do sistema bancário, repercutindo-se numa deterioração estrutural dos indicadores de liquidez. Neste

contexto, um dos pontos essenciais do processo de ajustamento a implementar pelos bancos portugueses

consiste em privilegiar fontes de fi nanciamento mais estáveis, tais como os recursos de clientes, de forma

a diminuir a dependência do acesso a fi nanciamento nos mercados de dívida por grosso. Na segunda

metade de 2010 observaram-se alguns progressos neste domínio, tendo ocorrido um crescimento dos

recursos captados junto de clientes, acompanhado por um aumento do peso dos depósitos a mais de

2 anos, o que contribui de forma favorável para reduzir o mismatch de maturidades entre o ativo e

o passivo dos bancos. O processo de ajustamento a implementar será igualmente consistente com o

cumprimento das novas exigências regulamentares em termos de risco de liquidez no âmbito de Basileia

III. A este respeito refi ra-se que a heterogeneidade da atual situação de liquidez dos bancos portugueses

deverá consubstanciar-se em trajetórias de ajustamento e desalavancagem diferenciadas.

A expansão do crédito ao longo da última década não se traduziu num aumento do crescimento do

produto potencial da economia portuguesa, mas implicou a subida dos níveis de endividamento do

conjunto da economia, com refl exos na forte deterioração da posição de investimento internacional. Estes

desequilíbrios, que condicionam sobremaneira a capacidade de ajustamento face ao atual enquadramento

particularmente desfavorável, terão de ser corrigidos ao longo dos próximos anos. As medidas defi nidas

no programa de ajustamento económico e fi nanceiro oferecem a estrutura de incentivos adequada para

o sucesso deste processo. Deste modo, num contexto de maiores restrições à concessão de crédito,

é fundamental assegurar que os bancos canalizam os recursos disponíveis para o fi nanciamento dos

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setores mais produtivos e competitivos da economia, baseando a sua avaliação e seleção em critérios

de viabilidade e produtividade.

Em 2010 continuou a observar-se alguma heterogeneidade na evolução dos empréstimos de pequena e

grande dimensão. De facto, apesar do crescimento ligeiramente positivo evidenciado pelos empréstimos

concedidos a sociedades não fi nanceiras no seu conjunto, assistiu-se a uma diminuição signifi cativa dos

empréstimos associados a pequenas exposições. A maior parte do fl uxo líquido de crédito a sociedades

não fi nanceiras foi concedido por instituições não domésticas a operar em Portugal, que poderão ter um

contributo importante para mitigar o impacto do processo de desalavancagem do sistema bancário sobre

a economia portuguesa. Por seu turno, os empréstimos concedidos a particulares evidenciaram uma forte

desaceleração a partir do segundo semestre de 2010, justifi cada tanto por restrições do lado da oferta

como por menores pressões por parte da procura. A desaceleração foi particularmente pronunciada nos

empréstimos para consumo e outros fi ns. Esta tendência deverá persistir no curto prazo, num quadro

de expectável contração do consumo privado.

Apesar da recuperação da atividade económica em 2010, manteve-se uma tendência de signifi cativa

materialização do risco de crédito, ainda que com diferenças entre os vários segmentos do mercado

de crédito. Por um lado, o rácio de incumprimento nos empréstimos a particulares para aquisição de

habitação manteve-se estável, em níveis historicamente elevados mas relativamente contidos. Por outro

lado, o incumprimento nos empréstimos a particulares para consumo e outros fi ns e a sociedades não

fi nanceiras continuou a aumentar. O profundo processo de ajustamento a implementar na economia

portuguesa ao longo dos próximos anos terá inevitavelmente repercussões sobre a atividade económica

e, consequentemente, sobre a materialização do risco de crédito, em particular num contexto de subida

das taxas de juro. Neste sentido, afi gura-se desejável o reforço da dotação de imparidades para perdas

na carteira de crédito, sobretudo nos segmentos onde o aumento do incumprimento tem assumido uma

magnitude mais signifi cativa.

Note-se que a desalavancagem do sistema bancário português deverá implicar a diminuição das expo-

sições face a diferentes contrapartes, tanto do setor privado como do setor público. Refi ra-se que,

antes da eclosão da crise fi nanceira global, os bancos portugueses não apresentavam uma exposição

muito signifi cativa ao risco soberano. Contudo, a redução da procura de dívida pública portuguesa

nos mercados fi nanceiros internacionais implicou uma maior colocação destes instrumentos junto dos

bancos portugueses que, por sua vez, podem utilizar estes ativos como colateral junto do BCE. A forte

diminuição dos preços da dívida soberana deverá ter um impacto limitado sobre os resultados e o capital

regulamentar dos bancos, uma vez que estes títulos estão registados na sua maioria nas carteiras de ativos

fi nanceiros disponíveis para venda ou detidos até à maturidade e que os requisitos de fundos próprios

se mantêm inalterados para bancos no método padrão de Basileia II. Não obstante, esta exposição do

sistema bancário não deixa de criar perdas latentes e de ser avaliada negativamente pelos participantes

nos mercados fi nanceiros e pelas agências de rating, devendo ser gradualmente reduzida no âmbito do

processo de desalavancagem do sistema fi nanceiro.

Neste difícil enquadramento, é de salientar o esforço efetuado pela maior parte dos grupos bancários

para reforçar os seus rácios de solvabilidade, que se situam atualmente em níveis elevados em termos

históricos. Este reforço dos rácios de fundos próprios é essencial para recuperar a confi ança dos parti-

cipantes nos mercados fi nanceiros no sistema bancário português, a fi m de assegurar a recuperação

do acesso a fi nanciamento junto dos mercados internacionais de dívida por grosso. Apesar dos níveis

globalmente adequados registados pelos bancos portugueses, continua a ser desejável prosseguir esta

tendência de reforço dos fundos próprios, a fi m de assegurar a sua capacidade para continuar a absorver

choques negativos sobre a sua atividade, bem como a consistência com as novas exigências regulamen-

tares a nível internacional.

Os bancos portugueses estão a enfrentar um dos períodos mais desafi antes da história recente, exigindo

um signifi cativo esforço de adaptação e resistência. Apesar das perspetivas para o enquadramento

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macroeconómico e fi nanceiro internacional serem globalmente positivas, a economia portuguesa irá

passar por um período prolongado de ajustamento dos seus desequilíbrios e vulnerabilidades estruturais.

Adicionalmente, não deixam de existir riscos sobre o enquadramento externo. Apesar dos substanciais

custos decorrentes deste processo de ajustamento no curto prazo, a correção destes desequilíbrios será

essencial para assegurar a convergência para uma situação mais sustentada e sustentável dos diferentes

setores da economia portuguesa, promovendo o crescimento e a competitividade no médio e longo

prazo. Neste sentido, os bancos deverão privilegiar estratégias de reforço da sua base de capital, de venda

de créditos e ativos não estratégicos face aos setores privado e público, e de reforço do fi nanciamento

estável, nomeadamente dos depósitos captados junto de clientes, permitindo a implementação de um

processo gradual e ordenado de desalavancagem do sistema fi nanceiro e do conjunto da economia

portuguesa, num quadro de consolidação orçamental e de profundas reformas estruturais, em linha

com as orientações defi nidas no programa de ajustamento económico e fi nanceiro.

Este Relatório foi elaborado com informação disponível até meados de maio de 2011.

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PRINCIPAIS INDICADORES (CONTINUA) | EM PERCENTAGEM, VALORES EM FINAL DE PERÍODO

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Indicadores macroeconómicos e fi nanceirosPreço do petróleo (Tvh USD brent) 33.6 46.0 1.2 58.9 -60.4 108.9 19.4Taxas de juro de referência da política monetária

EUA 2.25 4.25 5.25 4.25 0.25 0.25 0.25Área do euro 2.00 2.25 3.50 4.00 2.50 1.00 1.00

Euribor 3 meses 2.2 2.5 3.7 4.7 2.9 0.7 1.0Yield das obrigações do Tesouro 10 anos

EUA 4.2 4.4 4.7 4.0 2.3 3.8 3.3Área do euro 3.7 3.3 3.9 4.3 2.9 3.4 2.9Portugal 3.7 3.4 4.1 4.5 4.0 4.1 6.7

Mercados acionistas (tvh)S&P 500 9.0 3.0 13.6 3.5 -38.5 23.5 12.8Dow Jones Euro Stoxx 9.9 23.0 20.3 4.9 -46.3 23.4 -0.1PSI Geral 18.0 17.2 33.3 18.3 -49.7 40.0 -6.2PSI Serviços Financeiros 12.0 24.4 34.8 4.9 -62.9 14.7 -29.9

Situação fi nanceira do setor privado não fi nanceiroParticularesEndividamento (dívida fi nanceira)(a)

Em percentagem do PIB 77 82 87 89 92 96 95Em percentagem do rendimento disponível 109 115 123 127 128 130 129

Empréstimos concedidos por instituições fi nanceiras residentes(b) Taxa de variação anual 10.3 10.7 9.4 8.2 4.5 1.9 2.0dos quais:

Para aquisição de habitação 10.5 11.1 9.9 8.5 4.3 2.6 2.5Para consumo e outros fi ns 9.5 9.4 7.7 7.5 5.4 -0.6 0.2

Capacidade (+) / Necessidade (-) de fi nanciamento(c)

Em percentagem do PIB 2.6 2.9 1.5 1.0 2.0 4.6 4.1Em percentagem do rendimento disponível 3.6 4.0 2.1 1.5 2.8 6.3 5.5

Poupança corrente(c) Em percentagem do PIB 7.1 7.2 5.7 4.9 5.1 8.0 7.2Em percentagem do rendimento disponível(d) 10.0 10.0 8.0 7.0 7.1 10.9 9.8

Investimento em ativos reais(c)

Em percentagem do PIB 5.8 5.9 4.6 4.1 4.1 3.7 3.5Sociedades não fi nanceirasDívida total(e)

Em percentagem do PIB 113 116 115 122 131 138 137Taxa de variação anual 2.6 6.1 7.2 12.7 10.5 3.7 1.9

Dívida fi nanceira(f)

Em percentagem do PIB 104 108 106 114 124 130 129Empréstimos concedidos por instituições fi nanceiras residentes(b)

Taxa de variação anual 3.6 4.6 5.9 13.1 10.7 2.8 0.5Capacidade (+) / Necessidade (-) de fi nanciamento(c)

Em percentagem do PIB -4.9 -6.2 -7.2 -8.3 -11.5 -6.8 -6.1Poupança corrente(c)

Em percentagem do PIB 8.1 6.4 6.0 5.8 3.4 4.9 5.8Investimento em ativos reais(c)

Em percentagem do PIB 13.6 13.9 14.1 15.0 16.0 12.5 12.1

Notas: tvh - taxa de variação homóloga; n.d.- não disponível. (a) A dívida fi nanceira corresponde à soma de empréstimos obtidos e títulos de dívida emitidos pelo setor. (b) Em-préstimos concedidos por Instituições Financeiras Monetárias e Outros Intermediários Financeiros. Os valores referentes a Dezembro de 2010 foram ajustados relativamente à venda de uma carteira de créditos por parte do BPN. (c) Os rácios de capacidade/necessidade de fi nanciamento, poupança e investimento em percentagem do PIB até 2008 (inclusivé) são calculados utilizando dados das Contas Nacionais na base 2006; os rácios de 2009 em diante baseiam-se nas contas trimestrais do INE. O investimento inclui a formação bruta de capital e as aquisições menos cessões de ativos não fi nanceiros não produzidos (essencialmente, terrenos). (d) Rendimento disponível ajustado pela variação da participação líquida das famílias nos fundos de pensões. (e) Inclui empréstimos concedidos a sociedades não fi nanceiras por outros setores institucionais; papel comercial e obrigações emitidas por so-ciedades não fi nanceiras na posse de outros setores e créditos comerciais recebidos de outros setores. (f) Igual à dívida total excluindo créditos comerciais recebidos de outros setores.

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PRINCIPAIS INDICADORES (CONTINUAÇÃO) | EM PERCENTAGEM, VALORES EM FINAL DE PERÍODO

2004 2005 2006 2007 2007* 2008* 2009* 2010*

Atividade e rendibilidadeTaxa de variação anual do ativo total - 12.3 10.5 11.7 - 7.5 7.1 4.1ROE - Rendibilidade dos capitais próprios(g) 13.1 19.4 20.6 18.0 17.7 5.6 7.6 7.8ROE - Rendibilidade dos capitais próprios - ajustada(g),(h) 18.8 10.1 8.8 7.7ROA - Rendibilidade do ativo(g) 0.65 1.03 1.30 1.18 1.15 0.34 0.45 0.48ROA - Rendibilidade do ativo - ajustada(g),(h) 1.18 0.62 0.58 0.51Margem fi nanceira (perc. ativo total médio) 1.91 1.86 1.89 1.88 1.95 1.92 1.62 1.49Comissões líquidas (perc. ativo total médio) 0.72 0.77 0.78 0.76 0.77 0.73 0.70 0.72Rácio entre custos operacionais e produto da atividade 71.7 58.3 53.4 53.7 54.5 55.6 56.8 57.5Exposição internacional (para o conjunto dos bancos domésticos)

Peso dos ativos externos no ativo total(i) 30.5 27.6 30.0 26.8 27.1 28.9 29.3 27.8dos quais:

Ativos locais em moeda local 7.2 6.4 6.7 8.0 7.9 8.2 8.4 8.6Ativos internacionais, por setor de contrapartida:

Setor bancário 13.7 12.7 14.0 8.2 8.2 6.3 5.4 4.0Setor não bancário 9.7 8.5 9.3 10.7 10.9 14.4 15.5 15.2

Solvabilidade(j)

Rácio de adequação global de fundos próprios 10.2 11.3 10.9 10.0 10.4 9.4 10.5 10.3Rácio de adequação de fundos próprios de base 7.0 7.1 7.7 6.5 7.0 6.6 7.8 8.3

Risco de mercadoTaxa de cobertura dos fundos de pensões dos empregados bancários(em percentagem dos fundos próprios) -0.4 1.2 5.3 5.1 4.5 1.2 3.9 2.7

Risco de liquidezRácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes 136.5 143.5 152.1 161.4 160.1 160.3 161.5 157.8Gap de liquidez(l)

até 3 meses 1.4 -0.9 -1.5 -2.5 -1.5 -1.9até 3 meses - Instrução nº 13/2009 -7.6 -2.9 -4.1até 1 ano -5.4 -8.2 -8.9 -11.4 -9.9 -7.0até 1 ano - Instrução nº 13/2009 -15.0 -12.4 -11.7

Para o conjunto dos bancos domésticosRácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes 131.3. 134.8 142.6 152.7 147.1 145.7 147.9 143.2Gap de liquidez(l)

até 3 meses 0.6 -0.7 -0.9 -2.1 -1.4 -2.6até 3 meses - Instrução nº 13/2009 -6.1 -3.0 -2.3até 1 ano -5.4 -7.4 -8.9 -10.1 -9.0 -7.5até 1 ano - Instrução nº 13/2009 -12.9 -12.0 9.2

Risco de créditoEmpréstimos concedidos por instituições fi nanceiras residentes ao setor privado não fi nanceiro(b)

Taxa de variação anual 7.1 8.0 7.8 10.3 10.3 7.2 2.3 1.3Crédito e juros vencidos (em base consolidada)(m)

Em percentagem do crédito sobre clientes 1.8 1.7 1.5 1.5 1.6 1.9 2.7 3.2Em percentagem do ativo 1.3 1.1 1.0 1.0 1.1 1.4 2.0 2.2

Incumprimento no crédito a particulares(n)

Em percentagem do crédito a particulares 1.8 1.7 1.5 1.6 1.6 1.9 2.4 2.7Incumprimento no crédito a sociedades não fi nanceiras(n)

Em percentagem do crédito a sociedades não fi nanceiras 1.7 1.7 1.5 1.4 1.4 2.2 3.9 4.7Fluxo anual de novos créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa(n),(o)

Em percentagem dos empréstimos bancários ajustados de operações de titularização

Particulares 0.2 0.2 0.3 0.4 0.4 0.7 0.6 0.5Ajustado de vendas para fora do sistema bancário 0.3 0.4 0.4 0.4 0.7 0.6 0.5

Sociedades não fi nanceiras 0.5 0.6 0.4 0.6 0.6 1.2 1.9 1.3Ajustado de vendas para fora do sistema bancário 0.6 0.5 0.6 0.6 1.3 2.1 1.6

Provisões para crédito vencido e outro de cobrança duvidosa (base individual)(p),(q)

Em percentagem do crédito 1.1 1.2 1.0 1.0 1.1 1.2 2.0 2.4Em percentagem do crédito com incumprimento(conceito prudencial de incumprimento)(r) 72.0 82.7 83.9 75.7 76.9 74.3 74.9 77.9

Dotação de imparidade (base consolidada)(m),(s)

Em percentagem do crédito 1.6 2.4 2.1 2.0 2.1 2.3 2.9 3.1Em percentagem do crédito vencido 94.0 147.8 153.2 145.5 134.3 119.8 103.8 99.8

Fontes: Bloomberg, INE, Thomson Reuters e Banco de Portugal.

Notas: * Quebra de série relacionada com um alargamento do conjunto de instituições em análise. Esta quebra de série não se aplica aos indicadores baseados nas Estatísticas Monetárias e Financeiras, que dizem respeito às instituições bancárias residentes. (g) Para efeitos do cálculo das rendibilidades do ativo e dos capitais próprios foram considerados os resultados antes de impostos e de interesses minoritários, utilizando valores médios de período para as variáveis de stock. (h) Os indicadores de rendibilidade ajustados em 2006 obtêm-se após dedução aos resultados do impacto da operação de re-estruturação de participações em empresas (nomeadamente na área seguradora) que ocorreu num dos principais grupos bancários considerados. Por sua vez, os indicadores ajustados de 2008 a 2010 são obtidos após a exclusão dos bancos BPN e BPP do agregado de instituições em análise. (i) Os valores comparáveis de 2004 a 2007 têm subjacente estimativas do valor do ativo total. (j) A partir de 2008, todas as instituições em análise determinaram o rácio de adequação de fundos próprios de acordo com a regulamentação de Basileia II, o que se refl etiu essencialmente no cálculo dos requisitos de capital. (l) Até 2008, o cálculo deste indicador tem por base a Instrução n.º 1/2000 e desde então a Instrução n.º13/2009, às quais estão sujeitas apenas as instituições fi nanceiras que captam depósitos. (m) Os indica-dores calculados são obtidos após exclusão do BPN e do BPP a partir de 2008. (n) Os valores apresentados para o mês de dezembro de 2010 foram corrigidos relativamente à venda da carteira de créditos do BPN acrescentando o valor da carteira e o respetivo crédito em incumprimento. (o) Variação do saldo de crédito vencido e outros de cobrança duvidosa no balanço das instituições fi nanceiras monetárias residentes ajustada dos abatimentos ao ativo e das reclassifi cações. As vendas para fora do sistema bancário incluídas no fl uxo ajustado correspondem a créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, conforme reporte trimestral defi nido pela Instrução nº 2/2007. (p) Valores de crédito a residentes reportados em base individual pelas outras instituições fi nanceiras monetárias (bancos, caixas económicas e caixas de crédito agrícola mútuo) e outros intermediários fi nanceiros. As titularizações desreconhecidas não foram consideradas. (q) Os valores apresentados foram calculados excluindo o BPN a partir de 2008. (r) Crédito com incumpri-mento defi nido com base no conceito prudencial que compreende o crédito e juros vencidos há mais de 90 dias e outros créditos de cobrança duvidosa, que respeita às prestações futuras de um crédito quando houver dúvidas quanto à sua cobrança, tal como se encontra estabelecido no Aviso do Banco de Portugal nº3/95 (disponível em www.bportugal.pt/servs/sibap/sibap_p.htm). (s) Valores de crédito reportados em base consolidada pelo agregado do sistema bancário português, incluindo o crédito concedido a residentes e a não residentes bem como os créditos concedidos pelas fi liais estrangeiras dos bancos portugueses. As titularizações desreconhecidas não foram consideradas. Quebra de série em 2007. Para informação adicional consultar o Relatório de Estabilidade Financeira 2008.

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2. Riscos macroeconómicos e financeiros

O enquadramento recente do sistema bancário português tem sido particularmente adverso. A crise de

dívida soberana europeia ao longo do último ano envolveu pressões importantes sobre a dívida pública

portuguesa, acabando por impor o pedido de assistência fi nanceira internacional pelo governo portu-

guês no início de abril de 2011. O substancial aumento do custo da dívida pública, ao longo de 2010 e

sobretudo nos primeiros meses de 2011, difi cultou sobremaneira o acesso aos mercados internacionais

de dívida por grosso por parte dos bancos portugueses. De facto, o fi nanciamento dos bancos nestes

mercados, sobretudo nas maturidades médias e longas, tem vindo a enfrentar fortes restrições desde o

fi nal de abril de 2010, no contexto da intensifi cação da crise da dívida soberana na área do euro. Neste

contexto os bancos portugueses tiveram que recorrer, de forma expressiva, ao fi nanciamento junto do

Eurosistema. Para além disso, mais recentemente, os bancos têm procurado ajustar o seu balanço a um

enquadramento macroeconómico e fi nanceiro adverso. Este processo de desalavancagem do sistema

fi nanceiro, que deverá contribuir também para uma desalanvancagem gradual do setor privado não

fi nanceiro, tem consistido no reforço do capital, na venda de ativos, num abrandamento da concessão

de crédito e na intensifi cação da captação de depósitos de clientes. Refi ra-se que é de esperar a conti-

nuação deste processo de desalavancagem nos próximos anos, em linha com o previsto no programa

de apoio fi nanceiro da União Europeia, de países membros da área do euro e do Fundo Monetário

Internacional (FMI).

As perspetivas quanto ao enquadramento da atividade dos bancos portugueses são dominadas por

uma elevada incerteza. O necessário ajustamento de desequilíbrios estruturais da economia portuguesa

traduzir-se-á, no curto prazo, em quedas signifi cativas da atividade económica. Contudo, num hori-

zonte de médio e longo prazo, a correção destes desequilíbrios deverá contribuir para a recuperação

da competitividade da economia que, ao longo da última década, se caracterizou por um crescimento

potencial muito baixo, consubstanciado numa divergência face à média da União Europeia. Nesse

período, o fraco desempenho económico foi acompanhado por uma taxa de poupança reduzida e por

um aumento generalizado do endividamento da economia, o que se traduziu numa signifi cativa dete-

rioração da posição de investimento internacional. Neste contexto, os atuais desafi os para a economia

portuguesa assumem duas dimensões complementares: por um lado, é necessário assegurar a correção

dos desequilíbrios das fi nanças públicas; e, por outro, é fundamental atuar sobre as vulnerabilidades

estruturais da economia portuguesa para promover o seu crescimento potencial. O programa de ajus-

tamento económico e fi nanceiro engloba estas duas dimensões. As principais medidas deste programa

encontram-se resumidas na “Caixa O programa de ajustamento económico e fi nanceiro no âmbito do

pedido de assistência fi nanceira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo

Monetário Internacional”, do Relatório Anual de 2010 do Banco de Portugal.

As perspetivas para o sistema bancário português não podem ser dissociadas destes desafi os de curto

e médio prazo. Neste difícil enquadramento, os principais riscos sobre a estabilidade fi nanceira em

Portugal prendem-se com:

i) a interação entre o risco soberano, o sistema fi nanceiro e a economia;

ii) a possibilidade de se intensifi carem as difi culdades no acesso a fi nanciamento nos mercados

internacionais de dívida por grosso;

iii) o impacto de um enquadramento económico adverso sobre a atividade, rendibilidade e solva-

bilidade dos bancos, em particular sobre a qualidade do crédito.

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Todos estes riscos interagem entre si, tendendo a reforçar-se mutuamente. Existe uma elevada incerteza

quanto à probabilidade e quanto ao impacto destes riscos, dada a ordem de grandeza do ajustamento

expectável da economia. Refi ra-se que o Banco de Portugal tomou diversas medidas ao longo dos últimos

meses para mitigar o efeito destes riscos sobre a estabilidade do sistema bancário português. Desde o verão

de 2010, o Banco de Portugal recomendou aos bancos uma redução gradual do recurso ao fi nanciamento

junto do BCE, através de uma desalavancagem seletiva e gradual dos respetivos balanços, a retenção

dos resultados do exercício, o reforço do respetivo capital regulamentar, e a melhoria da sua efi ciência

operacional. No início de abril, com o objetivo de reforçar a solvabilidade do sistema bancário português,

o Banco de Portugal anunciou, por via da publicação do Aviso n.º 1/2011, que todos os grupos bancários

teriam de ter, em base consolidada, um rácio Core Tier 1 mínimo de 8 por cento a partir do fi nal de

20111. Refi ra-se que, no fi nal de 2010, o conjunto do sistema bancário português apresentava um rácio

Core Tier 1 médio de 8.3 por cento2. As medidas incluídas no programa de ajustamento económico e

fi nanceiro defi nido na sequência do pedido de apoio fi nanceiro vêm reforçar estas orientações do Banco

de Portugal, contribuindo também para um reforço da estabilidade do sistema bancário por via de um

processo de desalavancagem equilibrado e gradual, acompanhado por um reforço da solvabilidade dos

bancos. Conforme é mencionado na caixa do Relatório Anual supra referida, é possível elencar quatro

dimensões fundamentais do programa de ajustamento económico e fi nanceiro no que diz respeito à

estabilidade do sistema fi nanceiro:

i) garantia de que os bancos portugueses dispõem da liquidez necessária (incluindo o reforço do

colateral disponível e a possibilidade de emissão de obrigações com garantia estatal);

ii) defi nição de planos de fi nanciamento de médio prazo, específi cos para cada instituição, para

assegurar, de forma gradual, a desalavancagem do setor bancário e a redução do fi nancia-

mento junto do Eurosistema;

iii) reforço das exigências recentemente impostas pelo Banco de Portugal sobre os rácios de sol-

vabilidade (impondo-se um rácio Core Tier 1 mínimo de 9 por cento a partir do fi nal de 2011

e de 10 por cento a partir do fi nal do ano seguinte);

iv) intensifi cação do acompanhamento do sistema bancário e da sua regulação e supervisão,

aprofundando a linha de orientação que estava já a ser implementada.

Adicionalmente, serão efetuadas algumas alterações e aperfeiçoamentos nos mecanismos de intervenção

precoce e de resolução dos bancos, assim como nos fundos de garantia de depósitos. Para além disso,

será revisto o enquadramento legal tendo em vista facilitar os processos de re-estruturação da dívida de

empresas e particulares. Esta revisão irá incluir alterações do Código de Insolvência e será complemen-

tada pela intensifi cação do acompanhamento da situação das empresas e dos particulares, incluindo o

desenvolvimento de planos de contingência para gerir de forma efi ciente eventuais problemas decorrentes

do endividamento excessivo destes setores.

Todas as medidas referidas contribuem para mitigar os riscos anteriormente enumerados, promovendo o

reforço da solidez do sistema bancário português, num contexto de ajustamento gradual dos desequilí-

brios da economia portuguesa. Adicionalmente, refi ra-se que se espera que a economia global continue

a recuperar, o que terá impacto positivo sobre o desempenho das empresas portuguesas exportadoras

e sobre a atividade internacional dos bancos portugueses, que tem vindo a assumir um papel cada vez

mais importante na sua rendibilidade. De facto, sendo Portugal uma pequena economia aberta, uma

1 O cálculo do rácio Core Tier 1 é defi nido no Aviso n.º 1/2011, tendo por referência as regras de Basileia III para 2013. As alterações na regulação do sistema fi nanceiro a nível global no âmbito do pacote regulamentar Basileia III encontram-se sumariadas na “Caixa 2.1 As principais propostas de Basileia III”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2010.

2 Excluindo o BPN e o BPP.

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evolução favorável do enquadramento macroeconómico global dará um contributo positivo para a

atividade económica do país bem como para a situação fi nanceira dos bancos, e tanto mais relevante

quanto ocorre num quadro de contração da procura interna. Não obstante, o enquadramento fi nanceiro

internacional, em particular num contexto de intensifi cação das tensões nos mercados de dívida soberana,

poderá continuar a suscitar difi culdades acrescidas aos bancos portugueses.

Recuperação da economia global em 2010, ainda que com bastante heterogeneidade

Depois da recessão global observada em 2009, assistiu-se a uma recuperação signifi cativa, ainda que

heterogénea, da economia mundial em 2010 (Gráfi co 2.1). Em 2009, a contração da atividade económica

foi particularmente severa nas economias avançadas (Gráfi co 2.2). Apesar de se ter observado nestas

economias uma recuperação generalizada em 2010, alguns países continuaram num quadro recessivo

(nomeadamente, Grécia, Islândia, Irlanda e, em menor grau, Espanha). Adicionalmente, de acordo com

as previsões do FMI, a maior parte das economias avançadas deverá continuar a registar um crescimento

económico inferior ao potencial durante algum tempo. Persiste também grande incerteza quanto ao nível

e crescimento do produto potencial, podendo exigir reformas estruturais para promover o crescimento

e a competitividade de algumas economias. Neste contexto, a crise fi nanceira global que se seguiu ao

colapso do banco de investimento Lehman Brothers deverá ter tido efeitos persistentes nalgumas econo-

mias avançadas que deverão continuar a registar elevados níveis de desemprego e taxas de crescimento

relativamente moderadas ao longo dos próximos anos. Este cenário será relevante sobretudo para os

países em que persiste a necessidade de corrigir vulnerabilidades estruturais ou conjunturais, incluindo a

correção de sobrevalorizações nos mercados imobiliários e a resolução de problemas em bancos particu-

larmente afetados pela crise fi nanceira e económica global. Adicionalmente, muitos países prosseguem

esforços signifi cativos de consolidação orçamental, na sequência dos desequilíbrios gerados durante a crise

global. Não obstante esta consolidação ser essencial para assegurar a sustentabilidade a longo prazo das

fi nanças públicas, não deixa de condicionar a capacidade de recuperação das economias no curto prazo.

Apesar destes riscos sobre as perspetivas de crescimento das economias avançadas, a recuperação

registada em 2010 não deixa de ser assinalável: de acordo com o FMI, a taxa de crescimento do produto

nestas economias aumentou 6.4 p.p. em 2010, para 3.0 por cento. Por seu turno, as economias de

mercado emergentes, que não foram tão severamente afetadas pela crise económica e fi nanceira global,

Gráfi co 2.1 Gráfi co 2.2

TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB MUNDIAL E PREVISÕES | MEDIANA E QUARTIS

TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB DAS ECONOMIAS AVANÇADAS E PREVISÕES | MEDIANA

E QUARTIS

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Fonte: FMI (World Economic Outlook). Fonte: FMI (World Economic Outlook).

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também evidenciaram um forte aumento da sua taxa de crescimento, de 2.7 para 7.3 por cento. A

recuperação dos fl uxos de comércio internacional em 2010 contribuiu de forma importante para esta

evolução. Contudo, persistem desequilíbrios macroeconómicos globais signifi cativos, conforme ilustrado

no gráfi co 2.3. Apesar de em 2009 se ter assistido a alguma correção destes desequilíbrios, a discrepância

entre países com saldos positivos e negativos da balança corrente não deixa de assumir uma magnitude

importante e, tendo por base as previsões do FMI, poderá voltar a aumentar nos próximos anos. Um

ajustamento abrupto destes desequilíbrios teria repercussões negativas substanciais sobre a recuperação

da economia mundial.

Outro risco sobre as perspetivas de crescimento da economia global prende-se com a intensifi cação

das pressões sobre os preços das matérias-primas, em particular de bens energéticos, observada desde

meados de 2010 (Gráfi co 2.4). Estas subidas de preços têm vindo a refl etir choques negativos da oferta,

incluindo as recentes tensões nalguns países do Médio Oriente e Norte de África, bem como pressões da

procura, em parte associadas à forte recuperação das economias de mercado emergentes. Contudo, a

transposição do aumento dos preços das matérias-primas em pressões infl acionistas deverá ser relativa-

mente contida, em particular para as economias avançadas, onde as expectativas de infl ação se mantêm

ancoradas em níveis relativamente reduzidos.

A economia portuguesa em 2010, refl etiu uma envolvente externa positiva, com impacto na evolução

das exportações, e uma forte recuperação da procura interna. De facto, o consumo privado e o consumo

público contribuíram para a recuperação temporária da economia, apesar de o investimento ter conti-

nuado a registar uma evolução negativa. Nos próximos anos a economia portuguesa estará sujeita a um

profundo processo de ajustamento de desequilíbrios estruturais que vai determinar uma forte queda da

procura interna, cujo efeito deverá ser mitigado pelo dinamismo projetado para as exportações, tendo

subjacente um aumento da procura externa dirigida às empresas portuguesas num contexto de virtual

estabilização da quota de mercado. Deste modo, a economia deverá registar uma contração, no curto

prazo, sendo de esperar que, a médio prazo, a implementação adequada das medidas decorrentes do

processo de ajustamento das fi nanças públicas e das restantes reformas estruturais, conduza à progressiva

solidifi cação de um processo de crescimento sustentado.

Gráfi co 2.3 Gráfi co 2.4

DESEQUILÍBRIOS GLOBAIS | BALANÇA CORRENTE EM

PERCENTAGEM DO PIB MUNDIAL

PREÇOS DE MATÉRIAS-PRIMAS | COMMODITIES

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Resto do mundoChina e economias de mercado emergentes asiáticasAlemanha e JapãoPaíses exportadores de petróleoOutros países com défices da balança correnteEUADiscrepância estatística

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Índic

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S&P GSCI Commodity indexPreço do crude Brent USD/barril (esc dir.)

Fonte: FMI (World Economic Outlook).

Nota: Previsões a partir de 2011.

Fonte: Thomson Reuters.

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Na área do euro a crise de dívida soberana continua a condicionar a estabilidade fi nanceira e

as perspetivas de crescimento económico

Conforme discutido na edição anterior do Relatório de Estabilidade Financeira, os receios em torno da

crise de dívida soberana contribuíram para uma signifi cativa volatilidade e aversão ao risco ao longo de

2010 e nos primeiros meses de 2011 (Gráfi co 2.5), em particular nalguns países da área do euro. Ao

longo de 2009 assistiu-se a uma deterioração generalizada da situação das fi nanças públicas nas econo-

mias avançadas, num contexto de forte contração da atividade económica. Neste período observou-se

um aumento relativamente generalizado dos prémios de risco da dívida soberana (Gráfi co 2.6). Nalguns

países, a exposição direta e indireta dos bancos a mercados imobiliários sobrevalorizados e a outros ativos

com risco elevado consubstanciou-se em perdas signifi cativas que, nalguns casos, exigiram medidas de

apoio das respetivas autoridades nacionais. Por sua vez, outros países assumiram uma política orçamental

expansionista, com o intuito de mitigar os efeitos recessivos da crise fi nanceira sobre a economia, o

que implicou uma deterioração signifi cativa das fi nanças públicas, expondo vulnerabilidades estruturais

que condicionaram a capacidade de absorção de choques. Deste modo, o forte aumento registado nos

prémios de risco soberano desde o fi nal de 2009 foi mais signifi cativo em países que registaram uma forte

deterioração das fi nanças públicas desde o início da crise fi nanceira, que apresentavam vulnerabilidades

estruturais ou cujo sistema bancário registou perdas avultadas no âmbito da crise económica e fi nanceira

global com repercussões negativas sobre a situação das fi nanças públicas (Gráfi co 2.7).

A situação nos mercados de dívida soberana agudizou-se a partir do fi nal de 2009, assistindo-se a

um aumento sem precedentes do prémio de risco subjacente a alguns países da área do euro, sendo

particularmente expressivo na Grécia, na Irlanda e em Portugal (Gráfi co 2.6). O aumento assinalável dos

diferenciais da dívida pública grega face à alemã no fi nal de 2009 e, sobretudo, no segundo trimestre

de 2010 deu origem a efeitos de contágio entre países europeus, o que justifi cou a implementação

de planos de consolidação orçamental em países que também tinham registado uma deterioração das

fi nanças públicas. Por seu turno, o BCE adotou um conjunto de medidas para assegurar a liquidez do

sistema fi nanceiro e da economia, incluindo a implementação de um programa de aquisição de títulos

de dívida pública e privada da área do euro (Securities Market Programme). A intensifi cação das tensões

nos mercados de dívida soberana deu ainda origem à defi nição de um plano conjunto da União Euro-

Gráfi co 2.5 Gráfi co 2.6

INDICADOR DE APETITE AO RISCO GLOBAL DIFERENCIAIS FACE À ALEMANHA DAS TAXAS DE RENDIBILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA DE EMITENTES EUROPEUS | 10 ANOS

-7-6-5-4-3-2-101234567

Dez-

06

Mar-

07

Jun-0

7

Set-

07

Dez-

07

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08

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8

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08

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9

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10

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0

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11

Euforia

Pânico

0

200

400

600

800

1 000

1 200

1 400

Jun-07 Mar-08 Dez-08 Set-09 Jun-10 Mar-11

Em

ponto

s base

ÁustriaFrançaGréciaIrlandaItáliaPortugalEspanhaReino Unido

Fonte: Credit Suisse.

Nota: Última observação: 17 de maio 2011.

Fonte: Thomson Reuters.

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2011

16

I

peia e do FMI para apoio fi nanceiro à Grécia no valor de 110 mil milhões de euros em maio de 2010.

Neste âmbito, foi constituído o Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira para conceder apoio a

estados-membros da União Europeia em situações excecionais e em articulação com o FMI. Foi ainda

estabelecido o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, através da criação de um veículo fi nanceiro

com a duração prevista de 3 anos.

A implementação destas medidas a nível europeu, a divulgação de informação sobre o novo quadro de

regulação internacional do sistema bancário por parte do Comité de Basileia (Basileia III) e os resultados

do exercício europeu de stress-test dos bancos permitiram reduzir a diferenciação dos prémios de risco

na área do euro durante parte do verão de 2010, ainda que permanecendo em níveis historicamente

elevados. No outono as tensões nos mercados de dívida soberana voltaram a intensifi car-se refl etindo,

por um lado, as discussões em torno da implementação de um mecanismo de assistência fi nanceira

permanente a partir de 2013 (que poderia ter subjacente re-estruturações da dívida, com perdas para

os investidores privados) e, por outro lado, uma deterioração das perspetivas quanto à solvabilidade dos

bancos irlandeses (Gráfi co 2.8). As difi culdades no acesso a fi nanciamento de mercado pressionaram

o governo irlandês a solicitar o apoio fi nanceiro da União Europeia e do FMI no fi nal de 2010, num

montante total de 85 mil milhões de euros, em parte para assegurar a recapitalização do sistema bancário.

Nos primeiros meses de 2011 as tensões sobre a dívida soberana persistiram, continuando a afetar

países com maiores desequilíbrios orçamentais e estruturais ou com vulnerabilidades no sistema bancário

(Gráfi co 2.7). Para mitigar estas tensões intensifi caram-se os esforços de consolidação orçamental em

vários países. Por seu turno, as autoridades espanholas anunciaram diversas medidas para reforçar a

solvabilidade dos bancos espanhóis.

Apesar destes esforços, os prémios de risco soberano mantiveram-se em níveis elevados. Em março a

situação portuguesa registou uma signifi cativa e rápida deterioração, num contexto de instabilidade

política e de novas incertezas quanto aos mecanismos temporários e permanentes de assistência fi nan-

ceira na União Europeia. As agências de rating efetuaram sucessivas revisões em baixa das notações

atribuídas ao Estado português, bem como aos bancos e a algumas empresas não fi nanceiras (Quadro

2.1). Estes desenvolvimentos agudizaram as pressões sobre a capacidade de emissão de dívida pública,

Gráfi co 2.7

DESEQUILÍBRIOS MACROECONÓMICOS E EVOLUÇÃO DOS SPREADS DA DÍVIDA PÚBLICA DE ALGUNS PAÍSES EUROPEUS

30

40

50

60

70

80

90

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07

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Saldo da balança corrente em % do PIB (média 1999 2010)

PT

Saldo da balança corrente em % do PIB (média 1999-2010)

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Saldo da balança corrente em % do PIB (média 1999 2010)

IE

GR

Saldo da balança corrente em % do PIB (média 1999-2010)

Fontes: FMI e Thomson Reuters.

Nota: A área dos círculos corresponde à variação do spread da dívida pública a 10 face à Alemanha de cada país entre o fi nal de agosto de 2008 e 16 de maio de 2011.

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bem como sobre o acesso a fi nanciamento dos bancos portugueses nos mercados fi nanceiros internacio-

nais, dado que estes downgrades exerceram um efeito negativo sobre a valorização dos ativos elegíveis

como colateral em operações de crédito junto do Eurosistema, bem como sobre os requisitos de capital,

conforme discutido na “Secção 4.3 Risco de liquidez“e na“Secção 4.5 Adequação de fundos próprios”,

deste Relatório. Neste quadro, no início de abril o governo português solicitou o apoio fi nanceiro da

União Europeia, dos países membros da área do euro e do FMI, tendo o pedido sido aprovado no dia 17

de maio pelo Conselho de Ministros da Economia e das Finanças da UE e no dia 20 de maio pelo FMI.

Mais recentemente assistiu-se a um novo agravamento da situação nos mercados de dívida soberana

na área do euro. Esta situação traduziu-se numa forte inversão da inclinação da curva de rendimento

dos três países da área do euro com programas de assistência fi nanceira internacional, em particular da

Grécia (Gráfi co 2.9).

Gráfi co 2.8

CREDIT DEFAULT SWAPS DE BANCOS EUROPEUS | 5 ANOS SÉNIOR

0

500

1 000

1 500

2 000

2 500

3 000

Set-08 Fev-09 Jul-09 Dez-09 Mai-10 Out-10 Mar-11

Em

ponto

s base

AlemanhaÁustriaEspanhaFrançaGréciaIrlandaItáliaPortugalReino Unido

Fontes: Thomson Reuters e cálculos do Banco de Portugal.

Nota: As séries para cada país referem-se a médias não ponderadas de credit default swaps de bancos desse país em euros.

Quadro 2.1

NOTAÇÕES DE RATING DA DÍVIDA DE LONGO PRAZO DOS CINCO MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS PORTUGUESES E DA REPÚBLICA PORTUGUESA

S&P Moody’s Fitch

8-Nov-10 15-Mar-11 16-Mai-11 8-Nov-10 15-Mar-11 16-Mai-11 8-Nov-10 15-Mar-11 16-Mai-11

CGD A- A- BBB- A1 A1 Baa1 A+ A BBB-

BCP BBB+ BBB+ BBB- A3 A3 Baa3 BBB+ BBB+ BBB-

BST A A BBB- A1 A1 A3 AA AA AA

BPI A- A- BBB- A2 A2 Baa2 A- A- BBB-

BES A- A- BBB- A2 A2 Baa2 BBB+ - -

República Portuguesa A- A- BBB- A1 A1 Baa1 AA- A+ BBB-

Fonte: Bloomberg.

Nota: Para os bancos, os ratings da S&P referem-se à categoria LT Local Issuer Credit; os ratings da Moody’s referem-se à categoria Long Term Bank Deposits; os ratings da Fitch referem-se à categoria LT Issuer Default Rating. Para a República Portuguesa, os ratings referem-se todos à categoria Local Currency LT Debt.

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I

A interação entre o risco soberano, o sistema fi nanceiro e a economia constitui um dos

principais riscos para a estabilidade fi nanceira

Ao longo do último ano, o aumento do prémio de risco soberano agravou a incerteza e a volatilidade nos

mercados fi nanceiros. Nalguns países, com destaque para a Irlanda, o agravamento do risco soberano

decorreu diretamente da transferência de riscos do sistema bancário para o setor público no período

posterior ao colapso do banco de investimento Lehman Brothers e do impacto sobre as fi nanças públicas

das medidas de apoio ao sistema fi nanceiro assumidas nesse contexto. Noutros países, os bancos não

foram afetados de forma tão direta pela crise fi nanceira global, mas a deterioração das fi nanças públicas

e a existência de desequilíbrios e vulnerabilidades estruturais implicaram um forte aumento do prémio de

risco soberano que, por sua vez, se traduziu em difi culdades no acesso a fi nanciamento nos mercados

internacionais por parte dos bancos desses países (tendo sido este o mecanismo prevalecente nos casos

grego e português).

Neste contexto, os bancos têm vindo a ser afetados direta e indiretamente por estas perturbações. Por

um lado, o sistema bancário é diretamente afetado por via das exposições ao setor público. Em geral,

os bancos devem procurar ter um conjunto de ativos de elevada qualidade e liquidez que lhes permitam

fazer face a choques negativos sobre a sua capacidade de fi nanciamento. As obrigações do Tesouro

com ratings elevados são habitualmente consideradas como um instrumento preferencial para integrar

tais buffers de liquidez. Refi ra-se que o novo enquadramento regulamentar de Basileia III cria incentivos

muito específi cos para a detenção deste tipo de ativos. Contudo, o forte aumento do prémio de risco

associado a obrigações do Tesouro de países sob pressão fi nanceira, acompanhado por sucessivas revi-

sões em baixa das respetivas notações de rating, tem vindo a exercer um efeito muito negativo sobre as

exposições dos bancos a risco soberano, deixando em muitos casos de assumir as características neces-

sárias para se poderem considerar como ativos de elevada qualidade e liquidez. Note-se que este efeito

não se concentra apenas nos bancos dos países mais afetados pela crise da dívida soberana, dado que

existe bastante dispersão geográfi ca na exposição a dívida soberana (Gráfi co 2.10). De facto, tendo em

conta o grau de integração fi nanceira na União Europeia e, sobretudo, na área do euro, os potenciais

efeitos de contágio decorrentes da exposição a ativos de outros países, não apenas de dívida soberana,

são substanciais (Gráfi co 2.11). Conforme discutido na “Secção 4.2 Risco de mercado”, deste Relatório,

os bancos portugueses não apresentavam uma exposição muito signifi cativa ao risco soberano antes da

eclosão da crise fi nanceira (Gráfi co 2.10). Contudo, a redução da procura de dívida pública portuguesa

Gráfi co 2.9

INCLINAÇÃO DA CURVA DE CDS SOBERANOS

-300

-250

-200

-150

-100

-50

0

50

Out-08 Mar-09 Ago-09 Jan-10 Jun-10 Nov-10 Abr-11

Ponto

s base

AlemanhaGréciaIrlandaPortugal

Fontes: Thomson Reuters e cálculos do Banco de Portugal.

Nota: A inclinação da curva refl ete a diferença entre os CDS soberanos a 10 e a 5 anos, para cada país.

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Gráfi co 2.10

EXPOSIÇÃO DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MONETÁRIAS A DÍVIDA SOBERANA (EMPRÉSTIMOS E TÍTULOS) PARA ALGUNS PAÍSES DA ÁREA DO EURO

3.7

2.3

4.84.4

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2

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8

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Em

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tivos to

tais

2007-062011-03

Empréstimos Títulos de dívida

Fontes: BCE e cálculos do Banco de Portugal.

Gráfi co 2.11

EXPOSIÇÕES NÃO DOMÉSTICAS DE BANCOS AOS PAÍSES DA ÁREA DO EURO COM PROGRAMA DE AJUSTAMENTO ECONÓMICO E FINANCEIRO | SETEMBRO 2010

0

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Exposições totais

das quais: setor público

Exposições totais

das quais: setor público

Exposições totais

das quais: setor público

Grécia Irlanda Portugal

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Resto do mundoReino UnidoOutros países da área do euroItáliaFrançaEspanhaAlemanha

Fonte: BIS (Quarterly Review março 2011).

Nota: o total das exposições não domésticas refere-se aos ativos de bancos face a estes três países europeus, incluindo ativos do setor público e privado, numa base de último risco e tendo por base as BIS Consolidated Banking Statistics. As exposições totais também incluem derivados, garantias e compromissos de crédito. Para mais detalhes metodológicos ver quadro 1 do BIS Quarterly Review de março 2011.

nos mercados fi nanceiros internacionais deverá ter implicado uma maior colocação destes instrumentos

junto dos bancos portugueses que, por sua vez, podem utilizar estes ativos como colateral junto do

Eurosistema. Os impactos da forte diminuição dos preços da dívida soberana de países sob pressão sobre

os resultados e o capital regulamentar dos bancos são relativamente limitados, dado que estes títulos

estão registados na sua maioria nas carteiras de ativos fi nanceiros disponíveis para venda ou detidos até à

maturidade e que os requisitos de fundos próprios se mantêm inalterados para bancos no método padrão

de Basileia II. Não obstante, esta exposição do sistema bancário não deixa de criar perdas latentes e de ser

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avaliada negativamente pelos participantes nos mercados fi nanceiros e pelas agências de rating, devendo

ser gradualmente reduzida no âmbito do processo de desalavancagem do sistema fi nanceiro. Contudo,

conforme referido na “Secção 4.2 Risco de mercado”, deste Relatório, a capacidade de alienação dos

títulos em carteira encontra-se limitada pela necessidade de reconhecimento de perdas potencialmente

elevadas nestes ativos, dada a forte diminuição do seu preço ao longo dos últimos meses.

A crise da dívida soberana também tem importantes impactos indiretos sobre a estabilidade do sistema

bancário. Em primeiro lugar, a referida avaliação negativa dos participantes de mercado e das agências

de rating consubstancia-se em maiores custos de fi nanciamento dos bancos nos mercados internacionais

de dívida por grosso e, nalguns casos, em efetivas restrições quantitativas. Neste domínio, os bancos

portugueses têm vindo a enfrentar fortes difi culdades no acesso a fi nanciamento nos mercados de

dívida por grosso ao longo do último ano, conforme discutido na “Secção 4.3 Risco de liquidez”, deste

Relatório. De facto, desde o fi nal de abril de 2010, os bancos portugueses deixaram de ter acesso aos

mercados internacionais de dívida por grosso a médio e longo prazo, fi nanciando-se essencialmente

junto do BCE e do Banco Europeu de Investimento, bem como nos mercados de dívida a curto prazo.

Assim, os bancos procuraram reforçar a captação de depósitos junto da sua base de clientes, o que se

traduziu numa diminuição da margem fi nanceira sobre operações passivas calculada relativamente a taxas

de juro do mercado monetário (tendo vindo a assumir valores médios negativos). Em segundo lugar, o

aumento do risco soberano tem implicações negativas sobre a valorização do colateral dos bancos para

operações de fi nanciamento, exercendo pressões adicionais sobre a sua capacidade de refi nanciamento.

Em terceiro lugar, a deterioração da qualidade de crédito das exposições diretas e, sobretudo, indiretas

a risco soberano tem implicações sobre os rácios de capital dos bancos3. Conforme já referido, estes

dois últimos efeitos foram particularmente relevantes para os bancos portugueses no fi nal de março

e no início de abril de 2011, na sequência das fortes revisões em baixa dos ratings de dívida pública e

privada portuguesa, tendo agravado severamente uma situação que já se caracterizava pela persistência

de difi culdades no acesso a fi nanciamento de mercado. Por último, o agravamento do risco soberano

também afeta potencialmente os bancos por via da perceção dos mercados e das agências de rating da

diminuição da probabilidade de apoio implícito do Estado ao setor bancário em casos de difi culdades.

A este respeito, refi ra-se que o programa de ajustamento económico e fi nanceiro recentemente apro-

vado inclui medidas que asseguram este apoio aos bancos portugueses, nomeadamente a concessão

de garantias estatais para a emissão de dívida e o aumento do montante disponível para injeções de

capital nos bancos4.

As tensões sobre o risco soberano e a sua interação com a estabilidade fi nanceira têm implicações

sobre a evolução da atividade económica. A necessidade de implementar programas de austeridade

para possibilitar a consolidação orçamental tem consequências sobre o crescimento económico no

curto prazo, por via da contração da procura interna. Por outro lado, o aumento da incerteza e da

aversão ao risco tendem a condicionar as expectativas dos agentes económicos, reforçando a pressão

sobre a procura interna, em particular sobre o consumo e o investimento. Por último, a persistência de

difi culdades no acesso a fi nanciamento de mercado também contribui para uma contração da atividade

económica, por via de uma inevitável intensifi cação da restritividade na concessão de crédito. De facto,

neste contexto, os bancos deverão desalavancar gradualmente o seu balanço, sendo este processo

essencial para assegurar a estabilidade do sistema fi nanceiro no médio prazo. No entanto, o processo de

desalavancagem poderá ser efetuado por diferentes vias, com impactos diferenciados sobre a economia

portuguesa. Neste sentido, os bancos deverão privilegiar estratégias de reforço da sua base de capital,

3 Refi ra-se que os requisitos de fundos próprios se mantêm inalterados para exposições a títulos de dívida sobe-rana de países da União Europeia emitidos em euros para os bancos que estejam no método padrão de Basileia II, de acordo com o defi nido Diretiva de Requisitos de Capital (ver Aviso do Banco de Portugal nº 5/2007).

4 Ver “Caixa O programa de ajustamento económico e fi nanceiro no âmbito do pedido de assistência fi nanceira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional”, Banco de Portugal, Relatório Anual 2010.

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de venda de créditos e de ativos não estratégicos face aos setores privado e público, e de reforço do

fi nanciamento estável, nomeadamente dos depósitos captados junto de clientes. Dado o importante

papel desempenhado pelos bancos no fi nanciamento da economia, um processo de desalavancagem

dos bancos implicará necessariamente uma desalavancagem do setor privado. Refi ra-se que um processo

de desalavancagem dos bancos assente na redução da atividade internacional tenderá a afetar menos

a economia portuguesa mas, em contrapartida, poderá ter um efeito negativo na evolução da rendibi-

lidade e, consequentemente, na solvabilidade dos bancos, dado que os resultados obtidos por via da

atividade internacional têm oferecido um importante contributo para a rendibilidade de vários bancos

portugueses ao longo dos últimos anos (ver “Secção 4.1 Atividade e rendibilidade”, deste Relatório).

Por outro lado, a desalavancagem efetuada através da venda de ativos terá um efeito diferente sobre

a economia do que se tiver lugar via redução de novo crédito. Contudo, as vendas de ativos poderão

originar perdas com consequências negativas para a rendibilidade e solvabilidade dos bancos. Refi ra-

-se também que os bancos não domésticos com atividade em Portugal têm contribuído para mitigar o

impacto do processo de desalavancagem do sistema bancário sobre a economia portuguesa, conforme

discutido na “Caixa 4.1 “O papel mitigante das instituições fi nanceiras residentes não domésticas no

processo de desalavancagem da economia portuguesa”, deste Relatório.

Os elevados níveis de endividamento do setor privado, intermediados pelo sistema bancário, traduziram-

-se em desequilíbrios persistentes da economia portuguesa, designadamente face ao exterior. O gráfi co

2.12 ilustra a importância da ligação entre o setor privado não fi nanceiro e o sistema bancário, bem

como a sua exposição face ao resto do mundo, o que se tem refl etido numa progressiva deterioração

da posição de investimento internacional ao longo da última década5. Em 2010, é de referir o aumento

da ligação entre o sistema fi nanceiro e o banco central e deste com o resto do mundo, o que refl ete o

aumento do recurso a fi nanciamento junto do Eurosistema. Em termos estruturais é patente a impor-

tância das exposições intra-setoriais do setor fi nanceiro e, sobretudo, das empresas não fi nanceiras.

Adicionalmente, as exposições brutas entre o resto do mundo e o setor fi nanceiro e a exposição deste

último setor a particulares e a empresas não fi nanceiras também assumem uma magnitude signifi cativa

(existindo também alguma exposição bilateral entre o resto do mundo e as empresas não fi nanceiras).

Estas fortes ligações entre o sistema bancário e o setor privado não fi nanceiro reforçam a necessidade

de que o ajustamento dos desequilíbrios estruturais da economia portuguesa se processe de forma

gradual e não abrupta, num quadro de inadiável consolidação orçamental. Neste sentido, uma dimensão

importante deste processo de ajustamento consiste em assegurar que os bancos continuam a fi nanciar

os setores mais produtivos da economia doméstica, de forma a minimizar eventuais restrições à ativi-

dade das empresas. Em termos globais, a adequada correção destes desequilíbrios, designadamente

a obtenção de uma estrutura de fi nanciamento mais estável, é essencial para assegurar a estabilidade

fi nanceira no médio prazo e a reabertura aos bancos portugueses dos mercados internacionais de dívida

por grosso a médio e longo prazo.

Por último, a deterioração das perspetivas sobre o crescimento económico, num contexto de consolidação

orçamental e de desalavancagem do sistema bancário, terá implicações negativas sobre a atividade, rendi-

bilidade e solvabilidade dos bancos portugueses conforme discutido no “Capítulo 4. Sistema Bancário”,

deste Relatório. A contração da procura interna deverá contribuir para uma redução da procura de crédito,

o que concorre para o necessário processo de desalavancagem. Não obstante, tal redução da atividade

de concessão de crédito poderá exercer pressões sobre a margem fi nanceira dos bancos. Note-se que,

em cenários de aumento gradual da restritividade da política monetária, os bancos portugueses tendem

a benefi ciar de efeitos positivos sobre a margem fi nanceira, ao contrário do observado em países onde

5 Neste gráfi co o diâmetro do círculo é proporcional à exposição intra-setorial e a largura dos traços é proporcio-nal às relações inter-setoriais. A metodologia pressupõe a estimação por máxima entropia de exposições bilate-rais de cada setor, tendo por base exposições bilaterais de empréstimos e depósitos (para mais detalhes sobre a metodologia ver Silva, N. (2010), “Relações inter-setoriais na economia portuguesa: uma aplicação do modelo de dívida contingente”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2010).

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predominam taxas de juro fi xas ou com períodos de refi xação longos nos empréstimos concedidos.

Contudo, dada a expectável compressão da margem fi nanceira em operações passivas e a diminuição

do volume de operações ativas, estes efeitos podem ser menores do que o habitualmente observado. Por

seu turno, o aumento esperado das taxas de juro a curto prazo tenderá a exercer uma pressão negativa

sobre a qualidade de crédito, acrescendo às perspetivas de aumento das imparidades associadas a uma

contração da atividade económica. Os bancos tenderão deste modo a registar uma pressão sobre os

seus requisitos de capital, que poderá ser contrariada com o reforço do capital regulamentar ou com a

venda de ativos, no contexto de um processo gradual e equilibrado de desalavancagem.

Um importante mitigante deste enquadramento globalmente adverso para o sistema bancário português

prende-se com as perspetivas de recuperação da economia mundial que deverão estimular a procura

externa dirigida à economia portuguesa. Nesse sentido, os bancos com atividade internacional relevante

poderão mitigar os impactos do enquadramento nacional sobre a sua rendibilidade, enquanto as empresas

com atividades internacionais ou de exportação poderão benefi ciar de um aumento da procura externa.

Note-se que estas empresas deverão enfrentar também menores restrições no acesso a fi nanciamento,

dada a possibilidade de se fi nanciarem através de créditos comerciais no exterior ou, no caso de empresas

de maior dimensão, nos mercados fi nanceiros internacionais (Gráfi co 2.12). Adicionalmente, conforme

referido, os bancos residentes não domésticos poderão continuar a mitigar o impacto do processo de

desalavancagem do sistema bancário sobre a economia portuguesa.

Estabilidade fi nanceira num cenário de desalavancagem da economia portuguesa

Apesar do enquadramento muito adverso em que os bancos portugueses têm vindo a desenvolver a sua

atividade desde o início da crise fi nanceira global, a sua capacidade de adaptação e resistência a choques

tem sido assinalável. Para esta resiliência contribuíram a inexistência de exposições materialmente relevantes

a ativos associados ao mercado subprime norte-americano ou a outros ativos complexos e a prevalência

de um modelo de intermediação relativamente tradicional, assente numa base de capital adequada.

Gráfi co 2.12

EXPOSIÇÃO BRUTA INTER-SETORIAL NA ECONOMIA PORTUGUESA

2009T4 2010T4

2009 T4

SNF

BC

SF

AP Part

RM

2010 T4

SNF

BC

SF

AP Part

RM

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: BC – banco central; RM – resto do mundo; SF – sistema fi nanceiro; AP – Administrações públicas; SNF – sociedades não fi nanceiras; Part – particulares. Diâmetro do círculo proporcional à exposição intra-setorial; largura dos traços proporcional às rela-ções inter-setoriais. A metodologia pressupõe a estimação por máxima entropia de exposições bilaterais de cada setor, tendo por base exposições bilaterais de empréstimos e depósitos. Para mais detalhes sobre a metodologia ver Silva, N. (2010), “Relações inter--setoriais na economia portuguesa: uma aplicação do modelo de dívida contingente”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2010

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Para além disso, a evolução das imparidades dos bancos portugueses foi moderada, em contraste com

o observado noutros países onde se tinha observado uma valorização excessiva do mercado imobiliário.

De facto, em Portugal a evidência disponível aponta de forma consistente para a inexistência de desali-

nhamentos entre os preços dos bens imobiliários e os fundamentos macroeconómicos.

Neste enquadramento, as fortes difi culdades enfrentadas pelos bancos portugueses no acesso a fi nan-

ciamento refl etiram essencialmente o substancial aumento do risco soberano. Num horizonte de curto

e médio prazo, as perspetivas para o sistema bancário português encontram-se profundamente condi-

cionadas pela interação entre o risco soberano, o sistema fi nanceiro e a economia, dada a existência

de mecanismos de transmissão e contágio que se podem reforçar mutuamente. Por seu turno, estes

mecanismos podem consubstanciar-se na persistência de difi culdades no acesso a fi nanciamento nos

mercados de dívida por grosso e num impacto negativo sobre a situação fi nanceira dos bancos. Estes

riscos para a estabilidade fi nanceira são comuns a outros países europeus que têm enfrentado aumentos

semelhantes no prémio de risco soberano, ainda que por motivos diferenciados. Apesar das perspetivas

para a atividade económica serem globalmente positivas na Europa, a estabilidade fi nanceira continua a

ser ameaçada por efeitos de contágio decorrentes da crise da dívida soberana. Neste contexto, existem

duas fontes de pressão potencialmente críticas: a manutenção de incerteza quanto à sustentabilidade

da dívida pública de alguns países e a possibilidade de uma deterioração das perspetivas dos investidores

internacionais sobre a situação das fi nanças públicas e dos bancos noutros países da área do euro. A

materialização de tais riscos teria efeitos adicionais bastante negativos sobre a estabilidade fi nanceira

na área do euro e em Portugal.

Estes importantes desafi os exigem que os bancos portugueses se dotem com o capital necessário para

enfrentar possíveis choques adicionais, de forma a continuar a assegurar a estabilidade do sistema fi nan-

ceiro. Neste sentido, as recomendações efetuadas pelo Banco de Portugal ao longo dos últimos meses e

as medidas integradas no programa de ajustamento económico e fi nanceiro contribuem para reforçar a

solidez do sistema bancário. Os bancos começaram a implementar planos de desalavancagem que deverão

conduzir a uma situação mais sustentável da economia portuguesa no médio prazo. É essencial, contudo,

que este processo assuma uma natureza gradual, para permitir a progressiva convergência para um novo

equilíbrio. A par deste processo, a prossecução dos esforços de consolidação orçamental é essencial para

assegurar a sustentabilidade das fi nanças públicas, contribuindo também para a estabilidade fi nanceira.

Não obstante, estes esforços têm necessariamente de ser complementados com medidas que permitam

ultrapassar algumas debilidades estruturais da economia portuguesa, promovendo a sua competitividade

e o seu crescimento potencial. Em termos globais, o programa de ajustamento económico e fi nanceiro

engloba medidas essenciais para assegurar uma posição mais sustentável do sistema bancário num

horizonte de médio prazo, assegurando simultaneamente a consistência com o inevitável processo de

ajustamento macroeconómico da economia portuguesa. Dada a posição globalmente sólida do sistema

bancário, a implementação destas medidas deverá permitir um regresso gradual ao fi nanciamento nos

mercados internacionais de dívida por grosso.

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3. SITUAÇÃO FINANCEIRA DO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO

Em 2010, as necessidades de fi nanciamento do setor privado não fi nanceiro permaneceram estáveis, num

nível semelhante ao valor mínimo da última década. Subjacente a esta evolução esteve uma redução das

necessidades de fi nanciamento das sociedades não fi nanceiras, a qual compensou a ligeira diminuição da

capacidade de fi nanciamento dos particulares, num contexto de crescimento signifi cativo do consumo

privado (Gráfi co 3.1). O excedente bruto de exploração das empresas e o rendimento disponível bruto

dos particulares aumentaram, refl etindo, em grande parte, no primeiro caso, um maior dinamismo da

atividade económica e, no segundo, um acréscimo do rendimento de juros. Em ambos os setores, a taxa de

investimento em ativos reais manteve uma tendência de redução. Contudo, a taxa de poupança registou

uma evolução diferenciada, reduzindo-se no caso dos particulares e aumentando no caso das sociedades

não fi nanceiras. Comparativamente com os restantes países da área do euro as empresas portuguesas

continuam a evidenciar necessidades de fi nanciamento bastante superiores, enquanto a capacidade

de fi nanciamento dos particulares se situa em níveis próximos da média da área do euro (Gráfi co 3.2).

Os empréstimos concedidos ao setor privado não fi nanceiro registaram uma moderação em 2010.

Este comportamento resultou de um forte abrandamento dos empréstimos concedidos por instituições

fi nanceiras domésticas residentes, o qual foi parcialmente compensado por um aumento da importância

do crédito concedido por instituições residentes não domésticas e por instituições não residentes1. Para

além dos efeitos negativos sobre a procura e a oferta de crédito, decorrentes das perspetivas negativas

para a atividade económica em Portugal, os empréstimos concedidos pelas instituições fi nanceiras

domésticas ao setor privado estarão a ser negativamente afetados pelas difi culdades de fi nanciamento

enfrentadas pelos bancos, no contexto da crise de dívida soberana, assim como pela necessidade de

desalavancagem dos seus balanços. A transmissão ao setor privado não fi nanceiro das difi culdades de

fi nanciamento dos bancos nos mercados internacionais de dívida por grosso tornou-se mais evidente a

partir de meados de 2010, quando os empréstimos ao setor privado não fi nanceiro retomaram a tendência

de moderação, interrompida na primeira metade do ano, e os respetivos spreads face às taxas de juro

1 Ver “Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições fi nanceiras residentes não domésticas no processo da desalavancagem da economia portuguesa”, deste Relatório.

Gráfi co 3.1

CAPACIDADE/NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO DO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO

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Sociedades não financeirasParticularesSetor privado não financeiro

Fonte: INE.

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de mercado aumentaram. No curto prazo é de esperar que os bancos domésticos continuem a tornar

mais restritivas as condições de concessão de empréstimos, refl etindo um aumento do risco de crédito

assim como a continuação da reestruturação gradual dos seus balanços. Neste aspeto importa mencionar

que o programa de assistência fi nanceira a Portugal engloba várias medidas para reforçar a estabilidade

do sistema fi nanceiro e minimizar o efeito do processo de desalavancagem sobre a concessão de novos

créditos ao setor privado. Refi ra-se em particular o fundo de apoio à recapitalização dos bancos, o qual

pretende contribuir para que estes sejam capazes de cumprir os critérios mais exigentes para os requisitos

de capital, e, por outro lado, as medidas que permitem assegurar liquidez ao sistema bancário, nomea-

damente o reforço dos ativos disponíveis como colateral e a emissão de obrigações com garantia estatal.

A desalavancagem do setor privado não fi nanceiro é, no entanto, parte integrante do processo de

ajustamento da economia portuguesa e a moderação da concessão de crédito por parte do sistema

bancário doméstico irá induzir um processo conducente à realização deste objetivo. Em 2010, o endivi-

damento do setor privado não fi nanceiro estabilizou num nível elevado, após a tendência de aumento

registada na última década. Os fl uxos de incumprimento nos empréstimos, que estavam a apresentar

uma redução até ao terceiro trimestre de 2010, inverteram esta tendência no fi nal do ano, situando-se

em níveis elevados no caso das sociedades não fi nanceiras e dos empréstimos ao consumo e outros fi ns,

mas ainda em linha com os seus valores históricos no caso dos empréstimos à habitação. Num quadro

de ajustamento da economia, que implica um período recessivo, com refl exos ao nível do mercado de

trabalho e da rendibilidade das empresas, e que ocorrerá em simultãneo com o aumento das taxas de

juro, a persistência de níveis de endividamento elevados deverá continuar a traduzir-se em maiores difi -

culdades das famílias e das empresas em satisfazerem os seus compromissos de dívida.

Particulares

A capacidade de fi nanciamento dos particulares diminuiu ligeiramente em 2010, o que

refl etiu uma redução da taxa de poupança superior ao decréscimo da taxa de investimento

A capacidade de fi nanciamento dos particulares, em percentagem do rendimento disponível, reduziu-se

ligeiramente face a 2009, permanecendo, contudo, acima dos valores médios observados na década

anterior. Esta evolução refl etiu principalmente uma redução da taxa de poupança, que mais do que

Gráfi co 3.2

CAPACIDADE/NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO | COMPARAÇÃO INTERNACIONAL

-8.0

-6.0

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IE DE NL AU BE FI ES SK SI FR GR IT PT AE DK SE UK

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Sociedades não financeirasParticulares

Média M

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na

Fonte: Eurostat.

Nota: A média e a mediana foram calculadas com os dados para os países da área do euro para os quais existe informação disponível.

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compensou a manutenção da tendência de diminuição da taxa de investimento registada ao longo

da última década (Gráfi co 3.3). Em 2010, a taxa de poupança dos particulares situou-se em 9.8 por

cento, revertendo parcialmente o acréscimo verifi cado no ano anterior. Este comportamento esteve

associado a um crescimento signifi cativo do consumo, após a redução registada em 2009 (em volume,

-1.1 e 2.2 por cento, em 2009 e 2010, respetivamente), o que sugere que o processo de ajustamento

em baixa da despesa de consumo das famílias foi interrompido temporariamente, apesar das perspetivas

mais negativas para a evolução do rendimento permanente das famílias. O crescimento do consumo em

2010 foi particularmente acentuado na componente de bens duradouros, refl etindo em parte alguma

antecipação de despesas motivada por alterações fi scais.

A aceleração das despesas de consumo ocorreu num contexto de maior crescimento do rendimento

disponível nominal, pese embora a moderação observada no rendimento real. Num quadro de aumento

da taxa de desemprego, de redução do emprego e de moderação nas remunerações por trabalhador, as

remunerações totais do trabalho registaram em 2010 um crescimento semelhante ao do ano anterior em

termos nominais, mas uma redução em termos reais. Adicionalmente os esforços de consolidação das

contas públicas traduziram-se num contributo praticamente nulo das prestações sociais deduzidas das

contribuições sociais, que tinham tido um contributo signifi cativo para o rendimento em 2009. Assim,

a aceleração do rendimento disponível nominal foi em grande parte determinada por um aumento do

rendimento de juros e por uma menor redução dos rendimentos distribuídos das sociedades. A evolução

favorável da diferença entre os juros recebidos e os juros pagos terá decorrido de alguma recomposição

da carteira de investimento dos particulares a favor de instrumentos que vencem juros e com prazos

mais longos mas, principalmente, de uma redução do diferencial entre as taxas de juro dos empréstimos

e as taxas de juro das aplicações fi nanceiras. Com efeito, o diferencial positivo entre as taxas de juro

de mercado de prazos mais longos e as taxas de juro do mercado monetário, às quais a maioria dos

empréstimos das famílias está indexada, aumentou signifi cativamente ao longo de 2010. O rendimento

de juros dos particulares terá ainda benefi ciado de uma redução da margem de intermediação bancária

e, em particular, da margem aplicada aos empréstimos (Gráfi co 3.4). De facto, os spreads das taxas de

juro de saldos dos empréstimos, face às taxas de referência de mercado de curto prazo, reduziram-se em

termos médios anuais em 2010. Estes spreads começaram no entanto a registar um acréscimo moderado

na segunda metade do ano, para o que terá contribuído o aumento da restritividade nos critérios de

Gráfi co 3.3

CAPACIDADE DE FINANCIAMENTO, POUPANÇA E INVESTIMENTO DOS PARTICULARES

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Capacidade/necessidade líquida de fi nanciamentoPoupançaSaldo de transferências de capitalAquisições líquidas de cessões de ativos reais(b)

Cap. líq. fi nanciamento, excluindo contribuições extraordiná-rias para fundos de pensões

Fonte: INE.

Notas: (a) Rendimento disponível ajustado pela variação da participação das famílias nos fundos de pensões. (b) Corresponde à soma da formação bruta em capital fi xo, variação de existências, aquisições líquidas de cessões de objetos de valor e aquisições líquidas de cessões de ativos fi nanceiros não produzidos.

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concessão de crédito. Neste período observou-se também um aumento do diferencial positivo entre as

taxas de juro dos depósitos dos particulares e as taxas do mercado monetário, refl etindo possivelmente

uma tentativa dos bancos de aumentarem a captação de fundos num contexto de difi culdades de fi nan-

ciamento nos mercados de dívida por grosso e de receios quanto a uma eventual alteração na política

de cedência de liquidez por parte do BCE.

A redução registada na capacidade de fi nanciamento dos particulares em 2010 foi essencialmente deter-

minada pela evolução no segundo semestre. Relativamente ao período homólogo, a taxa de poupança

registou uma redução mais acentuada na segunda metade do ano, e as transferências de capital, em

percentagem do rendimento disponível, registaram uma redução depois de terem aumentado ligei-

ramente no primeiro semestre. O agravamento da situação económica na segunda metade de 2010

refl etiu-se numa desaceleração do rendimento disponível, que não foi, contudo, acompanhada por

uma moderação das despesas de consumo na mesma magnitude. Para 2011 espera-se que o processo

de ajustamento da despesa das famílias se acentue, num quadro de níveis de endividamento elevados,

evolução negativa do rendimento corrente e incerteza quanto à sua evolução futura. O aumento dos

custos com juros, decorrentes de uma política monetária menos acomodatícia e da continuação do

aumento da restritividade nos critérios de concessão de crédito por parte dos bancos, deverá contudo

continuar a ser acompanhado por um aumento das taxas de juro dos depósitos bancários.

As transações de ativos e passivos fi nanceiros continuaram a situar-se em níveis

signifi cativamente menores do que os registados antes da crise económica e fi nanceira

Em 2010, as aquisições líquidas de ativos fi nanceiros por parte dos particulares diminuíram ligeiramente

face ao ano anterior (Gráfi co 3.5). A maior parte das transações líquidas de ativos consistiram em aqui-

sições de seguros de vida e fundos de pensões, as quais, depois da interrupção observada em 2008,

retomaram níveis próximos dos registados na década de 2000. Num contexto de acréscimos muito

acentuados nas taxas de rendibilidade das obrigações, as aquisições líquidas de títulos a longo prazo

registaram igualmente um crescimento signifi cativo. Por sua vez, os depósitos aumentaram mais do que

em 2009, embora signifi cativamente menos do que nos anos precedentes. O crescimento moderado dos

Gráfi co 3.4

JUROS LÍQUIDOS RECEBIDOS POR PARTICULARES E MARGEM DA INTERMEDIAÇÃO BANCÁRIA COM PARTICULARES

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Margem dos empréstimos (a)Margem dos depósitos (b)Juros recebidos (c)Juros pagos (d)Juros líquidos (c-d)

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Notas: Os serviços de intermediação fi nanceira indiretamente medidos constituem a remuneração indireta obtida pelas instituições fi nanceiras nas operações de depósitos e empréstimos que realizam com os seus clientes. (a) SIFIM estimados para os empréstimos de particulares. (b) SIFIM estimados para os depósitos de particulares. (c) Corresponde à diferença entre os juros a receber incluídos na conta de distribuição de rendimento dos particulares e os respetivos SIFIM. (d) Corresponde à soma dos juros a pagar incluídos na conta de distribuição de rendimento dos particulares com os respetivos SIFIM.

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depósitos deverá ser em parte justifi cado pelo facto das taxas de juro terem permanecido num nível baixo

em 2010, pese embora a tendência de aumento que têm vindo a registar desde meados desse ano. Esta

evolução mais recente refl ete as expectativas de início de um ciclo de subida da taxa de juro por parte

do BCE, que se veio a materializar em abril de 2011, e também a tentativa dos bancos aumentarem a

captação de recursos junto de clientes. As aquisições líquidas destes ativos contrastam com a redução

das aplicações em ações cotadas e participações em fundos de investimento observadas em 2010, após

algum retorno a este tipo de investimentos no ano anterior.

Apesar da aquisição líquida de ativos fi nanceiros, o valor da carteira de particulares em percentagem

do rendimento disponível reduziu-se ligeiramente face ao fi nal de 2009 (Gráfi co 3.6). Para a redução

no valor dos ativos foi determinante a existência de um efeito de volume no valor de -2.8 mil milhões

de euros, sobre os seguros de vida e fundos de pensões, decorrente da forma como a transferência de

três fundos de pensões do grupo Portugal Telecom para a Caixa Geral de Aposentações é registada na

Contabilidade Nacional. Excluindo este efeito, os ativos fi nanceiros em percentagem do rendimento

disponível situaram-se num nível próximo do registado em 2009. Em 2010, os efeitos negativos de valor

foram mais signifi cativos no caso dos títulos de dívida a longo prazo e das ações cotadas, em linha com

a evolução dos preços destes ativos nos mercados fi nanceiros. As variações negativas de valor registadas

nos últimos anos nos ativos sujeitos a risco de mercado contribuem para que a principal alteração na

carteira de ativos fi nanceiros dos particulares, face ao período anterior à crise económica e fi nanceira,

seja uma redução dos pesos das participações em fundos de investimento e das ações cotadas, que

tem como principal contrapartida um aumento do peso dos depósitos e, excluindo o efeito referido

anteriormente, dos seguros de vida e fundos de pensões.

Em 2010, o fl uxo de empréstimos contraídos por particulares foi positivo mas relativamente

reduzido, o que se traduziu na estabilização do rácio de endividamento face ao rendimento

disponível

Em 2010, o fl uxo liquido total de empréstimos contraídos por particulares foi mais elevado do que em

2009, mas permaneceu num nível reduzido quando comparado com os dos anos anteriores (cerca de 2.7

por cento do rendimento disponível, face a 2.4 por cento em 2009 e cerca de 10 por cento no período

2000-2007) (Gráfi co 3.7). O ligeiro aumento do fl uxo de empréstimos fi cou a dever-se, em parte, a

Gráfi co 3.5

TRANSAÇÕES EM ATIVOS FINANCEIROS POR PARTICULARES

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Outros débitos e créditos(a)

Empréstimos, créditos comerciais e adiantamentosSeguros de vida e fundos de pensõesAções não cotadas e outras participaçõesAções cotadasParticipações em fundos de investimentoTítulos exceto açõesNumerário e depósitosTotal transações líquidas em ativos fi nanceiros

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Notas: Valores consolidados. (a) Inclui outras reservas técnicas de seguros e outras contas a receber.

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uma variação positiva dos empréstimos concedidos por outros intermediários fi nanceiros e auxiliares

fi nanceiros, os quais tinham registado um re-embolso líquido superior em 2009. O fl uxo líquido de

empréstimos concedidos por Instituições Financeiras Monetárias (IFM) manteve a tendência de redução

que vem a registar desde 2007, e de forma mais acentuada desde 2008. No caso das IFM o fl uxo líquido

positivo fi cou a dever-se à componente de habitação, a qual se situou em 2.3 por cento do rendimento

disponível (2.5 por cento em 2009). Os empréstimos bancários concedidos a particulares para consumo

e outros fi ns registaram fl uxos líquidos praticamente nulos em 2010. O enfraquecimento dos emprés-

timos concedidos por IFM a particulares foi essencialmente determinado pelo comportamento a partir

de meados de 2010, existindo alguns indícios de que no início de 2011 os empréstimos, tanto para a

habitação, como para outros fi ns, estejam a registar re-embolsos líquidos.

Para a desaceleração dos empréstimos concedidos por IFM a particulares terá contribuído a continuação

do aumento da restritividade nos critérios de concessão de crédito por parte dos bancos. De acordo

Gráfi co 3.6

ATIVOS FINANCEIROS DE PARTICULARES | POSIÇÕES EM FIM DE PERÍODO

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el Outros débitos e créditos(a)

Empréstimos, créditos comerciais e adiantamentosFundos de pensõesSeguros de vidaAções não cotadas e outras participaçõesAções cotadasParticipações em fundos de investimentoTítulos exceto açõesNumerário e depósitos

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Notas: Valores consolidados. (a) Inclui outras reservas técnicas de seguros e outras contas a receber.

Gráfi co 3.7

TRANSACÇÕES EM PASSIVOS FINANCEIROS POR PARTICULARES

Total

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Outros débitos e créditos(a)Créditos comerciais e adiantamentosOutros empréstimosEmpréstimos bancários para outros finsEmpréstimos bancários para consumoEmpréstimos para habitação

Fonte: INE e Banco de Portugal.

Notas: Valores consolidados. (a) Inclui títulos exceto ações e outras contas a pagar.

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com as respostas dos bancos portugueses participantes no Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de

Crédito, este aumento da restritividade tem-se traduzido principalmente em spreads mais elevados, mas

também em comissões mais altas, menores maturidades e condições mais exigentes ao nível das garantias

aceites2. O maior grau de restritividade aplicado nas condições de concessão de crédito é justifi cado por

parte dos bancos tanto por uma deterioração das expectativas quanto à situação económica, como por

aumentos nos custos de fi nanciamento e restrições de balanço. A menor preponderância deste último

fator no caso dos bancos não domésticos, os quais enfrentam menores restrições ao seu fi nanciamento

por terem acesso a fundos através das respetivas casas-mãe, pode justifi car o aumento signifi cativo do

peso das instituições fi nanceiras residentes não domésticas na concessão de crédito aos particulares3.

Segundo as respostas ao Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, a procura de empréstimos

para habitação reduziu-se ao longo de 2010, refl etindo a deterioração das condições macroeconómicas,

enquanto a procura de empréstimos para consumo e outros fi ns só terá começado a reduzir-se na parte

fi nal do ano, sendo sustentada durante a maior parte de 2010 pelas despesas de consumo de bens

duradouros. Desde o último trimestre de 2010, as respostas ao inquérito apontam para uma acentuação

da queda da procura de empréstimos tanto para habitação como para consumo. Neste período, para

além do efeito negativo associado à deterioração da confi ança dos consumidores, a procura de emprés-

timos para consumo e outros fi ns estará a ser negativamente afetada por uma redução das despesas de

consumo em bens duradouros e a procura de empréstimos à habitação pela intensifi cação das perspetivas

negativas para o mercado de habitação. De acordo com o índice Confi dencial Imobiliário4, os preços

da habitação estão a desacelerar em termos homólogos desde o verão de 2010, observando no início

de 2011 um crescimento nominal baixo e uma redução em termos reais (Gráfi co 3.8). Note-se que em

Portugal, ao contrário do que acontece em alguns países europeus e nos Estados Unidos, a evidência

disponível aponta para a ausência de sobrevalorização dos preços da habitação na segunda metade da

2 No primeiro trimestre de 2011 os bancos reportaram igualmente uma diminuição signifi cativa do rácio entre o valor dos empréstimos à habitação e a garantia exigida.

3 Ver “Secção 4.5 Risco de crédito”, deste Relatório.

4 O índice Confi dencial Imobiliário é calculado com base em preços de oferta e ponderado por região e estado de uso do alojamento. No entanto, o ajustamento de qualidade no cálculo do índice não permite controlar de forma integral variações neste parâmetro, facto que estará subjacente ao crescimento relativamente elevado registado no fi nal de 2008. Para informação metodológica, ver “Índice Confi dencial Imobiliário: procedimentos metodológicos”, Isabel Fonseca e Ricardo Guimarães”, Newsletter Imobiliária Portuguesa – Confi dencial Imobiliário, outubro de 2006.

Gráfi co 3.8

ÍNDICE CONFIDENCIAL IMOBILIÁRIO

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8.0

10.0

Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11

Taxa

de v

ariaçã

o h

om

ólo

ga (em

perc

enta

gem

) NominalReal (a)

Fonte: Newsletter Confi dencial Imobiliário.

Nota: (a) Defl acionado pela taxa de variação homóloga do IPC.

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década de 20005. Neste contexto, a evolução futura dos preços deverá ser essencialmente condicionada

pelo processo de ajustamento em baixa da procura interna.

Refl etindo o crescimento mais moderado dos empréstimos relativamente ao rendimento disponível,

a dívida fi nanceira dos particulares em percentagem do rendimento disponível registou uma redução

marginal em 2010, situando-se em cerca de 129 por cento (130 por cento em 2009) (Gráfi co 3.9). O

endividamento dos particulares tem permanecido relativamente estável desde 2008, tendo assim inter-

rompido a tendência de aumento observada anteriormente, embora se mantenha entre os mais elevados

de entre os países da área do euro (Gráfi co 3.10).

Apesar da estabilização do balanço dos particulares em termos agregados, acentuaram-se os

riscos de uma deterioração da capacidade das famílias satisfazerem o serviço da dívida

No período entre 2008 e 2010, a posição de solvência dos particulares em termos agregados, avaliada

com base no rácio entre a riqueza e a dívida total, permaneceu relativamente estável (Gráfi co 3.11).

Contudo, num quadro em que o nível de endividamento é muito elevado e em que as famílias registam

uma redução substancial do rendimento disponível, ligada, entre outros fatores, à tendência de aumento

da taxa de desemprego, a capacidade das famílias satisfazerem o serviço da dívida terá retomado uma

evolução mais negativa no fi nal de 2010. Os fl uxos de incumprimento nos empréstimos aos particulares,

que tinham apresentado uma redução entre o início de 2009 e o terceiro trimestre de 2010, inverteram

esta tendência no fi nal do ano, situando-se em níveis elevados no caso dos empréstimos para consumo

e outros fi ns, mas ainda em linha com os seus valores históricos no caso dos empréstimos à habitação6.

Para as maiores difi culdades das famílias em satisfazerem o serviço da dívida deverá ainda contribuir, ao

longo de 2011, a manutenção de uma tendência de aumento das taxas de juro do mercado monetário,

o que constitui o cenário mais provável num quadro de aumento das pressões infl acionistas na área do

euro. No contexto atual, de fortes restrições de fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por

grosso, os bancos terão menos capacidade do que no passado, para adaptarem, em termos de outras

5 Ver “Caixa 1.1 Os mercados de habitação na área do euro”, Banco de Portugal, Relatório Anual-2010.

6 Para uma análise pormenorizada da evolução do incumprimento no setor privado não fi nanceiro ver “Secção 4.5 Risco de crédito”, deste Relatório.

Gráfi co 3.9 Gráfi co 3.10

ENDIVIDAMENTO DOS PARTICULARES | POSIÇÕES

EM FIM DE PERÍODO

DÍVIDA FINANCEIRA DOS PARTICULARES | COMPARAÇÃO INTERNACIONAL

0

2

4

6

8

10

12

0

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Dez-00 Dez-02 Dez-04 Dez-06 Dez-08 Dez-10

Em

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gem

Em

perc

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gem

do r

endim

ento

dis

ponív

el

Empréstimos bancários - HabitaçãoEmpréstimos bancários - ConsumoEmpréstimos bancários - Outros finsOutros empréstimosJuros a pagar (percentagem do rendimento disponível; esc.direita)Taxa de juro implicita (esc.direita)

0

20

40

60

80

100

120

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160

País

es

Baix

os

Irla

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Port

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Esp

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Ale

manha

Fin

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o

Din

am

arc

a

Em

perc

enta

gem

do P

IB

2000 20082009 2010

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Nota: Estimativas do Banco de Portugal relativas a juros a pagar de dívida fi nanceira dos particulares.

Fontes: Eurostat e Banco de Portugal.

Nota: Valores consolidados, exceto Irlanda e Reino Unido.

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condições contratuais, as prestações dos empréstimos à capacidade das famílias para servirem a dívida.

Desta forma, a sensibilidade dos encargos com a dívida das famílias portuguesas às taxas de juro do

mercado monetário poderá vir a revelar-se mais signifi cativa do que o habitual. De acordo com a infor-

mação divulgada pelo INE, o valor médio da prestação vencida dos empréstimos à habitação aumentou

cerca de 5 por cento desde meados de 2010, permanecendo, contudo, ainda num nível relativamente

baixo em março de 2011 (Gráfi co 3.12).

Como referido anteriormente, embora desde o início da crise fi nanceira se tenha assistido a uma esta-

bilização do balanço dos particulares, os níveis de endividamento continuam muito elevados. Para o

sucesso do processo de ajustamento da economia portuguesa é essencial que o endividamento do setor

privado se reduza e que a taxa de poupança aumente. Num quadro de redução do rendimento disponível,

esta situação terá que traduzir-se numa menor despesa por parte dos particulares, que terá impactos

negativos no consumo privado e no investimento em habitação, contribuindo assim, no curto prazo,

para uma deterioração adicional da atividade económica e da situação no mercado de trabalho. Este

necessário processo de ajustamento da economia tenderá a ser acompanhado por uma deterioração da

Gráfi co 3.11

RÁCIO ENTRE RIQUEZA E DÍVIDA DOS PARTICULARES | POSIÇÕES EM FIM DE PERÍODO

0

100

200

300

400

500

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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Em

perc

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gem

Riqueza financeira/dívida totalRiqueza não financeira/dívida total

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Gráfi co 3.12

PRESTAÇÃO MÉDIA NO CRÉDITO À HABITAÇÃO

0

50

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Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11

Euro

s

Juros totaisCapital amortizado

Fonte: INE.

Nota: Último valor: março de 2011.

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qualidade de crédito das famílias, o que, dado o peso importante dos empréstimos aos particulares no

crédito total concedido pelos bancos, deverá ter um efeito negativo sobre a rendibilidade dos bancos. A

magnitude deste impacto deverá contudo ser mitigada por diversos fatores. Em primeiro lugar, o crédito

à habitação, e em particular o crédito para a primeira habitação, para o qual a probabilidade de incum-

primento é menor, tem um peso dominante nos empréstimos dos particulares7. Adicionalmente, a dívida

das famílias mais vulneráveis, nomeadamente as mais jovens e de menores rendimentos, tem um peso

relativamente pequeno na carteira de crédito do setor bancário8 e, no caso do crédito à habitação, uma

parte signifi cativa destes créditos para além das garantias hipotecárias, têm associadas garantias pessoais

prestadas por familiares9. É ainda de referir que o rácio das prestações dos empréstimos à habitação no

rendimento familiar é relativamente reduzido em Portugal, quando comparado com o de outros países

da área do euro, incluindo para as famílias de rendimentos mais baixos com crédito à habitação, o que

deve refl etir o prazo elevado dos empréstimos10. Por fi m, o facto de não existir evidência de uma sobre-

valorização em termos agregados dos preços da habitação em Portugal aponta para que, em caso de

execução de hipotecas, as instituições de crédito não deverão registar perdas muito signifi cativas, não

obstante alguma redução de preços que se possa vir a observar decorrente do abrandamento da procura.

Sociedades não fi nanceiras

Em 2010, as necessidades de fi nanciamento das sociedades não fi nanceiras registaram uma

ligeira diminuição, mantendo-se num nível elevado

As necessidades de fi nanciamento das sociedades não fi nanceiras registaram uma ligeira diminuição

face a 2009, mantendo-se, ainda assim, signifi cativas e superiores aos valores observados no período

recessivo de 200311 (Gráfi co 3.13). Esta diminuição resultou essencialmente de um aumento da taxa de

poupança bruta que manteve, não obstante, um nível baixo em termos históricos, tendo-se registado

apenas uma ligeira redução do investimento em ativos reais medido em percentagem do PIB.

O acréscimo da taxa de poupança decorreu de um aumento do excedente bruto de exploração assim

como de uma redução dos rendimentos de propriedade que, no entanto, continuam a apresentar um

valor superior ao observado na primeira metade da década. Por sua vez, o valor de impostos não apre-

sentou alterações signifi cativas (Gráfi co 3.14).

7 Ver “Caixa 4.2 Principais características dos empréstimos a particulares para aquisição de habitação em Portugal”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira-2008.

8 Ver Farinha (2008), “O endividamento das famílias portuguesas: evidência recente com base nos resultados do IPEF 2006-2007”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira-2007.

9 Ver “Caixa 4.3 Crédito concedido às famílias e incumprimento: uma caracterização com base na Central de Responsabilidades de Crédito”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira-maio 2010.

10 Ver “Caixa 4.3 Características dos empréstimos hipotecários de maior risco nos Estados Unidos e na Europa”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira-2008 e “Housing fi nance in the euro area”, Occasional Paper No 101, BCE, 2009.

11 Conforme referido anteriormente, no último trimestre de 2010 procedeu-se à transferência de três fundos de pensões do grupo Portugal Telecom para a Caixa Geral de Aposentações. Para que esta operação se concretizasse, e dado que os referidos fundos não estavam equilibrados, a Portugal Telecom teve de assumir diretamente o montante em falta nos ativos dos fundos. Esta contribuição agravou as necessidades de fi nanciamento do setor, em Contabilidade Nacional, mas não refl ete, de facto, decisões tomadas pelas sociedades não fi nanceiras relativamente à sua atividade económica.

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Gráfi co 3.13

NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO, POUPANÇA E INVESTIMENTO DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

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1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Em

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IB Capacidade/ necessidade líquida de fi nanciamentoCapacidade/ necessidade líquida de fi nanciamento(a)

Poupança brutaSaldo de transferências de capital(a)

Saldo de transferências de capitalAquisições líquidas de cessões de ativos reais(b)

Fonte: INE.

Notas: (a) Estes valores estão corrigidos da operação de transferência dos fundos de pensões da Portugal Telecom para a Caixa Geral de Aposentações. (b) Corresponde à soma da formação bruta em capital fi xo, variação de existências, aquisições líquidas de cessões de objetos de valor e aquisições líquidas de cessões de ativos fi nanceiros não produzidos.

Gráfi co 3.14

CONTRIBUTOS PARA A POUPANÇA BRUTA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

-15

-10

-5

0

5

10

15

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1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Em

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IB Excedente de exploração (bruto)Impostos s/rendimento e patrimónioJuros (saldo)Rendimentos distribuídos de sociedades (saldo)Outros rendimentos de propriedade (saldo)Rendimentos de propriedade (saldo)Outras transferências correntes (saldo)Poupança bruta

Fonte: INE.

Nota: O saldo corresponde à diferença entre recursos e empregos. A partir de 2009 (inclusivé) os dados referem-se às contas trimestrais não sendo possível decompor o saldo de rendimentos de propriedades nas suas componentes , i.e., juros, rendimentos distribuídos de sociedades e outros rendimentos de propriedade.

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A rendibilidade das sociedades não fi nanceiras melhorou em 2010, invertendo a tendência

decrescente registada nos últimos anos

Em 2010, e de acordo com informação trimestral da Central de Balanços do Banco de Portugal12, a rendi-

bilidade do capital investido e dos capitais próprios registou um acréscimo signifi cativo, tendo-se invertido

a tendência decrescente que se vinha a registar desde 2007 (Gráfi co 3.15). Esta evolução esteve associada

a uma recuperação do volume de negócios com origem tanto no mercado interno como no mercado

externo, a qual se seguiu a uma queda muito forte no contexto da recessão de 2009. Adicionalmente,

assistiu-se a uma estabilização dos custos com pessoal, pese embora tenham aumentado os custos com

consumos intermédios, o que deverá estar relacionado com a subida dos preços das matérias-primas,

designadamente do petróleo.

Os encargos com dívida das sociedades não fi nanceiras não aumentaram em 2010 apesar da

subida do prémio de risco soberano

O custo da dívida das empresas que integram a amostra de empresas da Central de Balanços Trimestral

tem mantido uma trajetória descendente desde 2008, refl etindo a evolução das taxas de juro do mercado

monetário (Gráfi co 3.16). Por sua vez, as estimativas disponíveis para juros a pagar em percentagem

12 Para uma caracterização detalhada das empresas participantes na Central de Balanços do Banco de Portugal, de inquirição anual (CBA) e trimestral (CBT), ver Banco de Portugal, Suplemento 5/2005 ao Boletim Estatístico, dezembro-2005 e Suplemento 1/2008 ao Boletim Estatístico, maio de 2008. Refi ra-se que na amostra de empresas da CBT, e, em menor grau, na amostra de empresas da CBA até 2005, existe um enviesamento para as empresas de grande dimensão. A partir de 2006, com a utilização da Informação Empresarial Simplifi cada, a cobertura da CBA melhorou signifi cativamente sendo próxima de 100 por cento em termos do VAB total das sociedades não fi nanceiras.

Gráfi co 3.15 Gráfi co 3.16

RENDIBILIDADE DO CAPITAL INVESTIDO CUSTO DA DÍVIDA

0

2

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6

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10

12

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

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CBA CBT

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gem

Em

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CBACBT Juros a pagar, esc. dir. (a)

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Rendibilidade do capital investido = (resultado líquido do exercício + juros suportados) / (ações e outras participações + dívida fi nanceira) exceto para os dados da CBT no período até 2004 inclusivé em que o numerador corresponde à soma do resultado corrente com os juros suportados. CBA: Central de Balanços anual. CBT: Central de Balanços trimestral. Os rácios são calculados aplicando, ao último valor disponível, taxas de variação calculadas com base em dados de empresas comuns em pares de anos consecutivos. A partir de 2005 (inclusivé), o rácio relativo à CBA é calculado utilizando a Informação Empre-sarial Simplifi cada.

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Notas: Custo da dívida = Juros suportados / dívida fi nancei-ra. CBA: Central de Balanços anual. CBT: Central de Balanços trimestral. Os rácios são calculados aplicando, ao último valor disponível, taxas de variação calculadas com base em dados de empresas comuns em pares de anos consecutivos. A partir de 2005 (inclusivé), o rácio relativo à CBA é calculado utilizando a Informação Empresarial Simplifi cada. (a) Juros a pagar pe-las sociedades não fi nanceiras em percentagem do excedente bruto de exploração do setor, ajustado pelo montante total de serviços de intermediação fi nanceira indirectamente medidos (SIFIM).

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do excedente bruto de exploração do setor das sociedades não fi nanceiras praticamente estabilizou.

O que signifi ca que a alteração das condições de fi nanciamento dos bancos domésticos nos mercados

internacionais de dívida por grosso, ao longo de 2010, decorrentes da crise da dívida soberana e dos

subsequentes aumentos dos spreads da dívida pública portuguesa, terá tido um impacto muito limitado

no custo da dívida das sociedades não fi nanceiras. Note-se, no entanto, que as taxas de juro médias dos

empréstimos a sociedades não fi nanceiras apresentaram no último trimestre de 2010 e primeiros meses

de 2011 uma tendência crescente, em contraste com a estabilidade que se vinha a registar desde meados

de 2009. A maior transmissão das condições mais restritivas de fi nanciamento dos bancos domésticos

ao custo de fi nanciamento das empresas vai ter um impacto muito signifi cativo sobre as condições de

exploração das empresas portuguesas, dado o seu elevado nível de endividamento.

Em 2010, as transações de passivos fi nanceiros das sociedades não fi nanceiras reduziram-se

signifi cativamente, em linha com o verifi cado no ano anterior, tendo a dívida estabilizado a

um nível alto

O fl uxo de fi nanciamento das sociedades não fi nanceiras reduziu-se signifi cativamente em 2010, tal

como já havia acontecido no ano anterior13 (Gráfi co 3.17). Depois de uma redução forte em 2009, o

fl uxo líquido de empréstimos contraídos pelas sociedades não fi nanceiras voltou a diminuir. O fl uxo de

empréstimos com origem em instituições de crédito domésticas residentes manteve uma tendência de

forte redução que foi parcialmente compensada por um aumento dos empréstimos concedidos por

bancos residentes não domésticos e por não residentes. Esta substituição de fontes de fi nanciamento

foi particularmente importante para as empresas de maior dimensão. O maior fi nanciamento, direto e

indireto, por entidades externas constitui uma resposta à maior restritividade na concessão de crédito

pelos bancos domésticos e não é habitual em Portugal, dado que historicamente os bancos residentes

intermedeiam a quase totalidade do fi nanciamento do setor privado não fi nanceiro. Este facto assume

13 A transferência dos fundos de pensões do grupo Portugal Telecom para a Caixa Geral de Aposentações foi precedida pela incorporação do referido fundo no setor das sociedades não fi nanceiras, já que anteriormente era considerado no setor das sociedades fi nanceiras. Assim, no gráfi co 3.17 procedeu-se à decomposição do valor de Outros débitos e créditos em duas parcelas, destacando-se a que corresponde à incorporação do referido fundo no setor das sociedades não fi nanceiras e que não refl ete um fl uxo de fi nanciamento. De facto, no mesmo trimestre, este valor surge como variação de volume de sinal contrário.

Gráfi co 3.17

TRANSAÇÕES DE PASSIVOS FINANCEIROS DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

-5

0

5

10

15

20

25

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

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Efeito da transferência dos fundos de pensõesOutros(a)

Créditos comerciais e adiantamentosAções não cotadas e outras participaçõesAções cotadasTítulos exceto açõesEmpréstimosTotal

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Notas: Valores consolidados. (a) Inclui reservas técnicas de seguros e outras contas a pagar e exclui valores relativos à transferência de fundos de pensões.

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particular relevância na medida em que mitiga o impacto das restrições quantitativas na concessão do

crédito dos bancos domésticos às sociedades não fi nanceiras (Ver “Caixa 4.1 O papel mitigante das insti-

tuições fi nanceiras residentes não domésticas no processo da desalavancagem da economia portuguesa”,

deste Relatório). Também o fi nanciamento das empresas não fi nanceiras através de títulos de dívida se

reduziu refl etindo o re-embolso líquido de títulos a curto prazo, já que as transações de títulos de dívida

a longo prazo permaneceram positivas e praticamente inalteradas face ao ano anterior. Note-se que se

verifi caram emissões líquidas positivas de títulos de dívida ao longo do ano, as quais, sendo em parte

detidas por empresas não fi nanceiras, não são evidentes nos dados consolidados do setor. No que diz

respeito ao fi nanciamento através de emissão de ações e outras participações, registou-se uma alteração

face ao ano anterior, tendo diminuído a importância do fi nanciamento por ações não cotadas e outras

participações e aumentado o fi nanciamento por ações cotadas.

De acordo com as respostas dos bancos portugueses participantes no Inquérito aos Bancos sobre o

Mercado de Crédito, os critérios de concessão de empréstimos ou linhas de crédito a empresas tornaram-se

signifi cativamente mais restritivos no fi nal de 2010 e início de 2011, por comparação com os trimestres

anteriores. Para a adoção de critérios mais restritivos terão contribuído, sobretudo, a deterioração das

condições no acesso ao fi nanciamento de mercado e da posição de liquidez dos bancos e as expectativas

menos favoráveis quanto à atividade económica em geral. Relativamente às condições aplicadas pelos

bancos, a restritividade traduz-se, principalmente, em spreads mais elevados, o que se terá refl etido num

aumento da taxa de juro das empresas no último trimestre do ano. A maior restritividade na concessão

de crédito também se terá traduzido numa diminuição da maturidade dos empréstimos. Para 2011, as

instituições inquiridas no âmbito do referido Inquérito antecipam que os critérios de concessão de crédito

se tornem ainda mais restritivos.

De acordo com a informação disponível na Central de Balanços Trimestral, os prazos médios de recebi-

mentos e de pagamentos aumentaram em 2010, tal como se tinha verifi cado no ano anterior, refl etindo

a maior difi culdade das empresas em fazerem face aos seus compromissos operacionais de curto prazo

(Gráfi co 3.18). Num contexto de restrições à concessão de crédito por parte dos bancos domésticos,

em particular a empresas de menor dimensão, o ritmo de crescimento da atividade destas empresas

poderá ser afetado por difi culdades de fi nanciamento da sua atividade corrente. No entanto, dado que

Gráfi co 3.18

PRAZOS MÉDIOS DE RECEBIMENTOS E PAGAMENTOS

40

45

50

55

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65

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Em

núm

ero

de d

ias

Prazo médio de recebimentosPrazo médio de recebimentos: face ao exteriorPrazo médio de pagamentosPrazo médio de pagamentos: face ao exterior

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Indicadores calculados com base nas empresas da Central de Balanços Trimestral. Dados relativos a dezembro de cada ano. Prazo médio de recebimentos = (créditos comerciais e adiantamentos concedidos / vendas e prestações de serviços) x número de dias no período. Prazo médio de pagamentos = (créditos comerciais e adiantamentos obtidos / (compras de mercadorias, de matérias primas, subsidiárias e de consumo + fornecimentos e serviços externos)) x número de dias no período. Os indicadores são calculados aplicando ao valor de dezembro de 2009 taxas de variação calculadas com base em dados de empresas comuns em pares de anos consecutivos.

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as empresas de maior dimensão não foram tão afetadas pela redução de crédito bancário e, na medida

em que são essas empresas que têm uma maior presença a nível internacional, a recuperação da ativi-

dade económica portuguesa poderá benefi ciar da recuperação da procura externa dirigida a Portugal,

via recuperação económica dos principais parceiros comerciais, tal como se verifi cou em 2010.

O nível de endividamento das empresas portuguesas continua a apresentar-se como um dos mais elevados

no conjunto dos países da área do euro (Gráfi co 3.19). No fi nal de 2010, a dívida fi nanceira deste setor

praticamente estabilizou em torno de 130 por cento do PIB14 (Gráfi co 3.20).

Em 2010 registou-se uma redução do rácio de dívida sobre capital próprio das empresas não fi nanceiras

incluídas na Central de Balanços Trimestral, o que contrasta com o observado nos anos anteriores. Para a

redução deste rácio terá contribuído a estabilização do nível de endividamento das empresas, em conju-

gação com o fi nanciamento via capitais próprios e a rendibilidade positiva (Gráfi co 3.21). Comparando

com outros países europeus, as empresas não fi nanceiras portuguesas continuam a apresentar níveis

elevados do rácio de dívida sobre capital próprio (Gráfi co 3.22).

No futuro próximo, espera-se que se acentue a heterogeneidade no setor das empresas não

fi nanceiras

À semelhança do observado em 2010, o setor das sociedades não fi nanceiras deverá continuar a refl etir

situações heterogéneas em 2011. Por um lado, estando prevista uma forte contração da procura interna,

em consequência das medidas de contenção orçamental e de uma maior restritividade das condições

14 No contexto da notifi cação do Procedimento dos Défi ces Excessivos publicada pelo Instituto Nacional de Estatís-tica em 31 de março de 2011, relativa aos anos de 2007 a 2010, foi adotado, pelas autoridades estatísticas na-cionais, um conjunto de alterações metodológicas, ao nível da classifi cação de setor institucional. Neste sentido, três empresas públicas de transportes (REFER – Rede Ferroviária Nacional - EPE; Metropolitano de Lisboa - EPE; Metro do Porto -SA) foram reclassifi cadas do setor institucional das sociedades não fi nanceiras para o setor ins-titucional das administrações públicas. Esta reclassifi cação contribui para a redução do nível de endividamento das sociedades não fi nanceiras face aos valores apresentados em anteriores publicações em cerca de 7 pontos percentuais do PIB.

Gráfi co 3.19 Gráfi co 3.20

DÍVIDA FINANCEIRA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS(a) | COMPARAÇÃO INTERNACIONAL

DÍVIDA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS | POSIÇÕES EM FIM DE PERÍODO

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Dívida total (a)Dívida financeira (b)Dívida financeira - tva (esc. dir.)Empréstimos concedidos por ICs residentes - tva (esc. dir.)(c)

Fontes: Eurostat e Banco de Portugal.

Notas: O valor da área do euro corresponde à média dos países apresentados no gráfi co. Valores consolidados, exceto Irlanda e Reino Unido. (a) A dívida fi nanceira inclui empréstimos obtidos e títulos de dívida emitidos por sociedades não fi nanceiras.

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Notas: Valores consolidados. (a) A dívida total corresponde à dívida fi nanceira acrescida dos créditos comerciais e adian-tamentos recebidos de outros setores. (b) A dívida fi nanceira inclui empréstimos obtidos e títulos de dívida emitidos por so-ciedades não fi nanceiras. (c) Os valores de dezembro de 2010 foram ajustados relativamente à venda de uma carteira de cré-ditos por parte do BPN.

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de fi nanciamento, as empresas mais orientadas para o mercado interno deverão apresentar níveis de

atividade e rendibilidade inferiores, contribuindo para a deterioração da sua situação fi nanceira e com

consequências para a materialização do risco de crédito do setor bancário. Por outro lado, as empresas

com uma grande parte de atividade dirigida ao mercado externo deverão benefi ciar do aumento da

procura externa na medida em que esta evolua de acordo com a recuperação esperada da atividade

económica a nível europeu e global.

O aumento dos custos de fi nanciamento e, em geral, a maior restritividade das condições de concessão

de crédito, deverá afetar negativamente a rendibilidade das empresas portuguesas e a sua capacidade

de auto-fi nanciamento. Neste contexto a sua atividade poderá ser condicionada. Esta situação será

mais relevante para as empresas de menor dimensão pois foram mais afetadas pela redução de crédito

bancário concedido pelos bancos domésticos, enquanto as empresas de maior dimensão conseguiram

contrair empréstimos junto de instituições residentes não domésticas e instituições não residentes.

Adicionalmente, são as empresas de maior dimensão que também terão maior facilidade em emitir

dívida titulada assim como obter fi nanciamento fora de Portugal. Neste sentido, deverão acentuar-se as

diferenças entre empresas de maior e menor dimensão.

Neste contexto, importa referir que o programa de assistência fi nanceira a Portugal prevê o aperfeiçoamento

do enquadramento jurídico relativo à dissolução de empresas por falência. As alterações previstas à lei de

falências incluem a aceleração dos procedimentos judiciais de aprovação dos planos de re-estruturação

de dívida, com vista a mais rapidamente se identifi carem empresas viáveis que possam ser recuperadas.

Gráfi co 3.21 Gráfi co 3.22

RÁCIO DE DÍVIDA SOBRE CAPITAL PRÓPRIO | VARIAÇÃO HOMÓLOGA

RÁCIO DE DÍVIDA SOBRE CAPITAL PRÓPRIO | COMPARAÇÃO INTERNACIONAL

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Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Variação calculada com base numa amostra constante de empresas em trimestres homólogos, utilizando a informação disponível na Central de Balanços Trimestral. Rácio calculado pelo quociente entre a dívida fi nanceira e o valor contabilístico de ações e outras participações.

Fontes: Eurostat e Banco de Portugal.

Notas: Este rácio corresponde ao quociente entre o valor da dívida fi nanceira, i.e., empréstimos e títulos exceto ações, e o do capital (medido a valores de mercado). O valor da área do euro corresponde à média dos países apresentados no gráfi co. Valores consolidados exceto Irlanda e Reino Unido

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4. Sistema Bancário1

4.1. Atividade e rendibilidade

Os bancos têm procurado adequar o seu balanço a um enquadramento macroeconómico e fi nanceiro

adverso, iniciando um processo de ajustamento através do aumento da captação de depósitos, do

abrandamento da concessão de crédito, da venda de ativos e do reforço de capital. Refi ra-se que é de

esperar uma intensifi cação deste processo de desalavancagem nos próximos anos, em linha com as

metas previstas no programa defi nido no âmbito do programa de assistência fi nanceira internacional2.

Contudo, a inevitável desalavancagem do setor público e privado não deixará de refl etir-se desfavoravel-

mente na atividade económica e num aumento do desemprego no curto prazo. O impacto expectável

no rendimento das empresas e dos particulares deverá refl etir-se numa deterioração da qualidade dos

ativos dos bancos, nomeadamente do crédito concedido a estes setores. A crescente materialização do

risco de crédito e do risco de mercado – nomeadamente através da desvalorização das carteiras de ações

de emitentes nacionais –, com o consequente registo de perdas, tenderá a pressionar negativamente a

rendibilidade dos bancos.

Estes importantes desafi os exigem que os bancos portugueses tenham o capital necessário para enfrentar

possíveis choques negativos adicionais, de forma a continuar a assegurar a estabilidade do sistema fi nan-

ceiro. Neste sentido, as recomendações efetuadas pelo Banco de Portugal ao longo dos últimos meses

e as medidas integradas no programa de assistência fi nanceira internacional contribuem para reforçar

a solidez do sistema bancário. Adicionalmente, caso os bancos não consigam atingir as metas defi nidas

através de soluções de mercado no horizonte especifi cado, o programa inclui um fundo de apoio à

recapitalização dos bancos tendo em vista o cumprimento desta exigência, envolvendo um montante

global de 12 mil milhões de euros.

1 Na análise efetuada neste capítulo, o agregado defi nido como sistema bancário português refere-se às institui-ções de crédito e empresas fi nanceiras a operar em Portugal sob supervisão do Banco de Portugal, com exceção das instituições com sede no off-shore da Madeira. Assim, são considerados os grupos fi nanceiros, em base consolidada, que incluam no perímetro de consolidação pelo menos uma instituição de crédito ou uma empresa de investimento, e as instituições de crédito e empresas de investimento, em base individual, que não são objeto de consolidação em Portugal (incluindo as sucursais de instituições de crédito ou empresas de investimento). A análise deste universo revela-se importante na medida em que é a este conjunto de instituições que se aplica a nova Diretiva de Requisitos de Capital, sendo o universo de referência na generalidade dos países europeus. Todavia, não é possível ter dados anteriores a 2007 para o agregado em consideração, uma vez que a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade (NIC) não foi transversal a todas as instituições, coexistindo em 2005 e 2006 diferentes sistemas contabilísticos. Deste modo, os dados apresentados neste capítulo têm por base diferentes agregados de instituições. Em particular, até 2004 o conjunto de instituições refere-se a bancos e caixas económicas, com exceção dos bancos com sede ou atividade exclusiva no off-shore da Madeira e/ou atividade predominante com não residentes. Foram considerados como bancos as sucursais de instituições de crédito com sede em outro Estado-membro da União Europeia – excluindo aquelas que não sejam classifi cáveis como instituições fi nanceiras monetárias (IFM) – assim como as sucursais de instituições de crédito com sede em países terceiros. De dezembro de 2004 até 2010, são considerados dois conjuntos de instituições. Um pri-meiro, para o período de dezembro de 2004 a dezembro de 2007, que corresponde aos treze grupos bancários que adotaram as NIC (ou as Normas de Contabilidade Ajustadas) na elaboração das respetivas demonstrações fi nanceiras em 2005 (e que representava, em dezembro de 2004, cerca de 87 por cento do total do ativo do conjunto de instituições analisado até então). O segundo para o período de março de 2007 a 2010. O período de sobreposição dos diferentes conjuntos de instituições permite a análise consistente de variações. De forma a facilitar a leitura, sempre que necessário os gráfi cos e quadros deste capítulo apresentamum tracejado vertical que sinaliza as quebras de série.

2 Para mais detalhes sobre o acordo ver “Caixa O programa de ajustamento económico e fi nanceiro no âmbito do pedido de assistência fi nanceira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional”, Banco de Portugal, Relatório Anual 2010.

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A expansão da atividade do sistema bancário foi sustentada em 2010 essencialmente pelo

aumento da carteira de ativos fi nanceiros disponíveis para venda e do crédito a clientes

Em dezembro de 2010, a atividade do sistema bancário português, avaliada pelo ativo total, em base

consolidada, registou uma taxa de variação de 4.1 por cento por comparação com o fi nal de 2009, o

que corresponde a um sensível abrandamento face ao ano anterior, em especial na segunda metade do

ano (Quadro 4.1.1)3. Em 2010, o crescimento do ativo refl etiu essencialmente os aumentos dos ativos

fi nanceiros disponíveis para venda e da carteira de crédito a clientes (Gráfi co 4.1.1). No primeiro caso

destaca-se a aquisição de títulos de dívida pública sobretudo no decurso do primeiro semestre e, em

menor grau, de títulos de dívida não subordinada4. No segundo caso, refi ra-se a importância, para o

crescimento do ativo dos bancos dos empréstimos concedidos à administração central e, em menor

grau, às sociedades não fi nanceiras no segundo trimestre de 20105. Pelo contrário, e em contraste com

o observado no ano anterior, as aplicações em instituições de crédito quer no país quer no estrangeiro

contribuíram negativamente para a variação do ativo em 2010.

De acordo com os dados das Estatísticas Monetárias e Financeiras, importa ainda referir que, após a signi-

fi cativa desaceleração dos empréstimos bancários concedidos ao setor privado não fi nanceiro residente

entre o primeiro semestre de 2008 e o fi nal de 2009, a correspondente taxa de variação anual manteve-se

relativamente estável no decurso de 2010, em torno de 2 por cento. Não obstante, verifi cou-se a partir

de dezembro de 2010 uma clara desaceleração, situando-se a respetiva taxa de variação anual em 1.2

por cento em março de 20116. No entanto, destacaram-se diferentes situações consoante o segmento.

A sustentar o crescimento do crédito estiveram sobretudo os empréstimos a particulares para habitação.

Desde o terceiro trimestre de 2009 até junho de 2010, os empréstimos concedidos a particulares para

aquisição de habitação apresentaram uma ligeira tendência de aceleração, mantendo-se contudo o

crescimento em valores relativamente reduzidos (3.3 por cento em junho de 2010). No período mais

recente, apresentaram algum abrandamento, situando-se a respetiva taxa de variação anual em 1.6 por

cento em março de 2011. No caso dos empréstimos para consumo e outros fi ns, a taxa de variação anual

permaneceu relativamente estável até maio de 2010 (2.4 por cento), apresentando posteriormente uma

signifi cativa desaceleração atingindo taxas de variação anual negativas nos primeiros meses de 2011 (-1.4

por cento em março de 2011). Por sua vez, os empréstimos concedidos a sociedades não fi nanceiras

mantiveram alguma tendência de desaceleração em 2010, após o forte abrandamento observado no

ano anterior, não obstante terem apresentado alguma recuperação a partir do fi nal do segundo trimestre

do ano ainda que mantendo níveis reduzidos (1.5 por cento em março de 2011)7.

De referir que, depois de um período em que a desaceleração observada nos empréstimos bancários

concedidos ao setor privado não fi nanceiro em Portugal foi globalmente menos intensa do que a registada

para o conjunto da área do euro, onde se observaram taxas de variação anual negativas entre setembro

de 2009 e março de 2010, mais recentemente tem-se observado um abrandamento mais pronunciado

dos empréstimos a este setor em Portugal.

3 Em dezembro de 2010, o BPN cedeu um montante signifi cativo de ativos a um conjunto de veículos fi nanceiros, o que teve um impacto relevante em algumas rubricas do balanço do sistema bancário. Excluindo o BPN em toda a série, de forma a obter valores comparáveis, o crescimento do ativo do sistema bancário em base consolidada ascendeu a 4.7 por cento em dezembro de 2010.

4 A carteira de títulos e investimentos fi nanceiros é analisada em detalhe na “Secção 4.2 Risco de mercado”, deste Relatório.

5 Para uma análise pormenorizada ver “Secção 2.2 Condições monetárias e fi nanceiras da economia portuguesa“, Banco de Portugal, Relatório Anual 2010.

6 Note-se que a evolução dos empréstimos bancários em dezembro de 2010 foi condicionada de forma signifi ca-tiva pela venda de empréstimos por parte do BPN à Parvalorem, com destaque para o impacto desta venda nos empréstimos concedidos a sociedades não fi nanceiras. Desta forma, os valores a partir de dezembro de 2010, referidos no texto encontram-se corrigidos desta operação.

7 Para uma análise pormenorizada da evolução da carteira de crédito a clientes e respetiva qualidade ver “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório.

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Gráfi co 4.1.1

CONTRIBUTOS PARA A EVOLUÇÃO DO ATIVO(a)

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Disponibilidades e aplicações em Bancos CentraisDisponibilidades e aplicações em outras instituições de créditoTítulos, derivados e participaçõesCrédito a clientes líquido – ajustados de operações de titularização Outros créditos e valores a receber (titulados)Ativos tangíveis e intangíveisOutros ativosTaxa de variação homóloga do ativo

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A quebra de série representada em 2007 corresponde a um alargamento do conjunto de instituições em análise. Os títulos, derivados e participações compreendem os ativos fi nanceiros ao justo valor através de resultados, os ativos fi nanceiros disponíveis para venda, os investimentos detidos até à maturidade, os investimentos em fi liais e os derivados de cobertura. O crédito a clientes liquído – ajustado de operações de titularização exlui a componente de outros créditos e valores a receber (titulados), classifi cados na carteira de crédito. (a) Face a idêntico período do ano anterior.

Financiamento do sistema bancário fortemente dependente dos recursos obtidos junto do

Eurosistema e intensifi cação da captação de depósitos de clientes

Neste quadro de agravamento das tensões nos mercados internacionais de dívida por grosso, a continuação

da expansão da atividade do sistema bancário dependeu em magnitude elevada do acesso às operações

de cedência de liquidez do BCE, em particular desde maio de 2010. Assistiu-se, assim, a uma recompo-

sição da estrutura de fi nanciamento dos bancos, com uma redução pronunciada do fi nanciamento por

parte de não residentes, quer por via de títulos, quer de depósitos, a par de uma subida acentuada do

fi nanciamento junto do Eurosistema na primeira metade de 2010. Na segunda metade do ano e início

de 2011, a captação de recursos de clientes intensifi cou-se e o recurso às operações de cedência de

liquidez do Eurosistema manteve-se relativamente estável até abril de 2011, quando registou uma subida

signifi cativa8. Este aumento prosseguiu até meados de maio, tendo-se observado no fi nal do mês uma

reversão do recurso a esta fonte de fi nanciamento para um valor próximo do registado no fi nal de abril.

De facto, após a redução observada no primeiro trimestre de 2010, os recursos de clientes sob a forma

de depósitos registaram alguma recuperação a partir de meados do ano9. Neste período, a evolução dos

depósitos deve ser enquadrada quer na estratégia de fi nanciamento dos bancos, envolvendo nomeada-

8 A análise detalhada do fi nanciamento do sistema bancário no decurso de 2010, bem como a respetiva posição de liquidez, é apresentada na “Secção 4.3. Risco de liquidez”, deste Relatório.

9 Refi ra-se que para o aumento dos depósitos no terceiro trimestre do ano contribuiu uma operação de montante elevado decorrente da venda de ativos ao exterior por parte de uma sociedade não fi nanceira em setembro.

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Page 51: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

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Page 52: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

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2011

46

I

mente um aumento da remuneração dos depósitos de clientes, quer nos desenvolvimentos da carteira de

aplicações dos particulares. Estas estratégias são particularmente relevantes tendo em conta a já elevada

dependência dos bancos portugueses dos recursos obtidos junto do Eurosistema10.

Exposição internacional do sistema bancário doméstico permanece concentrada em países

desenvolvidos e no setor privado não fi nanceiro

Em dezembro de 2010, o valor dos ativos externos dos grupos bancários, em base consolidada, registou

uma diminuição de 2.4 por cento face ao fi nal do ano anterior e representava cerca de 28 por cento

do ativo das instituições domésticas (Quadro 4.1.2)11. Esta diminuição refl etiu a redução observada no

segundo semestre de 2010 que mais do que compensou o ligeiro aumento registado na primeira metade

do ano. Não obstante, e à semelhança do observado nos últimos anos, verifi cou-se um aumento do

peso dos ativos com maturidade superior a 2 anos e das aplicações no setor privado não bancário. Em

10 O caráter temporário das medidas de política monetária do Eurosistema e o peso considerável no ativo dos bancos portugueses motivou um conjunto de ações por parte do Banco de Portugal no sentido de incentivar o recurso a fontes de fi nanciamento alternativas. Para uma análise pormenorizada ver “Secção 4.3 Risco de liquidez”, deste Relatório.

11 A análise da exposição internacional é efetuada de acordo com as orientações metodológicas do Bank for In-ternational Settlements para o reporte e publicação das “Consolidated banking statistics”. Nesta análise apenas se considera o subconjunto das instituições domésticas, em base consolidada, uma vez que as instituições não domésticas são integradas no perímetro de consolidação dos sistemas bancários dos países das respetivas sedes.

Quadro 4.1.2

ATIVOS EXTERNOS CONSOLIDADOS DO SISTEMA BANCÁRIO DOMÉSTICO NA ÓTICA DO RISCO IMEDIATO – ESTRUTURA | EM PERCENTAGEM

2008 2009 2010

Dez. Jun. Dez. Jun. Dez.

Total (106 €) 108 913 113 005 117 727 120 299 114 903

Em percentagem do ativo total 28.9 29.0 29.3 29.1 27.8

Ativos internacionais 71.7 72.1 71.2 70.7 69.2

Maturidade

até 1 ano 23.6 21.8 19.0 18.0 17.4

de 1 a 2 anos 4.6 4.1 4.7 5.1 4.4

a mais de 2 anos 36.5 38.7 39.1 41.1 41.3

Outros 7.1 7.5 8.4 6.5 6.1

Contraparte institucional

Bancos 21.8 20.1 18.3 15.3 14.3

Setor público 2.2 2.8 4.5 5.3 4.9

Setor privado não bancário 47.0 48.9 48.1 49.7 49.7

Outros 0.7 0.3 0.2 0.5 0.2

Contraparte geográfi ca

Países desenvolvidos 49.6 53.3 51.6 48.4 48.8

Centros off-shore 7.4 6.1 5.8 6.0 4.9

Países em desenvolvimento na Europa 6.2 5.3 5.2 5.5 5.6

Outros 8.5 7.4 8.5 10.8 9.8

Ativos locais em moeda local 28.3 27.9 28.8 29.3 30.8

Contraparte geográfi ca

Países desenvolvidos 20.5 20.3 20.0 20.2 20.0

Centros off-shore 0.4 0.4 0.5 0.5 0.6

Países em desenvolvimento na Europa 4.7 4.3 5.1 4.8 5.1

Outros 2.8 2.9 3.1 3.8 5.2

Por memória:

Ativos locais em moeda local (106 €) 30 834 31 546 33 899 35 204 35 440

Passivos locais em moeda local (106 €) 21 472 23 007 24 819 22 237 25 291

Fonte: Banco de Portugal.

Page 53: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

47

4

Sist

ema

Banc

ário

2010, evidenciou-se ainda o crescimento das aplicações no setor público, em particular no primeiro

semestre do ano, ainda que o peso destas aplicações no total dos ativos internacionais tenha permane-

cido relativamente contido (4.9 por cento no fi nal do ano). No que diz respeito à contraparte geográfi ca,

domina a exposição aos países desenvolvidos entre os quais se destacam os países da área do euro. A

informação mais recente disponível indica que a dívida soberana de países da União Europeia, incluindo

títulos de dívida e outros créditos, na carteira dos principais quatro bancos portugueses é dominada pela

dívida portuguesa12. Finalmente, note-se que apesar do peso dos ativos fi nanceiros associados a dívida

soberana – portuguesa e estrangeira – na carteira dos bancos ter aumentado, os bancos portugueses

continuaram a apresentar, em geral, uma menor exposição a estes ativos do que outros sistemas fi nan-

ceiros da área do euro13.

A rendibilidade do sistema bancário melhorou em 2010, mas manteve-se em níveis reduzidos

Em 2010, os resultados antes de impostos e interesses minoritários do sistema bancário português, em

base consolidada, registaram um crescimento de 15.5 por cento em termos homólogos (Quadro 4.1.3).

Esta evolução refl etiu-se num ligeiro aumento quer da rendibilidade do ativo (ROA) quer da rendibilidade

dos capitais próprios (ROE) face ao observado no conjunto de 2009, situando-se os respetivos indicadores

em 0.48 e 7.8 por cento. Refi ra-se que, na segunda metade de 2010, os indicadores de rendibilidade

apresentaram uma diminuição por comparação com a primeira metade do ano (Gráfi co 4.1.2).

Em 2010, as curvas de distribuição empírica relativas à rendibilidade do ativo e à rendibilidade dos capi-

tais próprios apontam para uma maior concentração da rendibilidade dos grupos bancários tendo-se

observado alguma compensação entre instituições (Gráfi cos 4.1.3 e 4.1.4).

Para o ligeiro aumento da rendibilidade do ativo em 2010 face ao ano anterior destacaram-se os contri-

butos positivos associados às dotações para provisões e perdas por imparidade, bem como à contenção

dos custos com pessoal. Em 2010, as dotações para provisões e perdas por imparidade registaram uma

diminuição de 7.0 por cento face ao registado no ano anterior, o que se traduziu num contributo positivo

de 11 pontos base para o aumento da rendibilidade do ativo (a parcela respeitante a crédito a clientes

contribuiu com 6 pontos base)14. Para esta diminuição deverá ter contribuído a redução do fl uxo anual

de novos créditos vencidos e de cobrança duvidosa relativos ao setor privado não fi nanceiro em 2010

após o máximo atingido em outubro de 200915. Pelo contrário, ou seja, contribuindo negativamente para

a variação da rendibilidade, destacaram-se a margem fi nanceira e os resultados associados a operações

fi nanceiras (Gráfi co 4.1.5). Esta evolução refl etiu essencialmente a signifi cativa diminuição dos ativos

fi nanceiros ao justo valor através de resultados em 2010 face ao registado no ano anterior. Finalmente,

é de salientar que, no segundo semestre de 2010, se observou uma ligeira diminuição da rendibilidade

por comparação com a primeira metade do ano, refl etindo o contributo negativo associado às outras

dotações para provisões e perdas por imparidade, aos custos operacionais e aos resultados associados a

operações fi nanceiras (Gráfi co 4.1.5). Com efeito, observou-se um aumento das outras dotações para

provisões e perdas por imparidade no segundo semestre de 2010 face à primeira metade do ano – asso-

ciadas sobretudo a ativos fi nanceiros disponíveis para venda – refl etindo a desvalorização das cotações

nos mercados acionistas que desencadeou o reconhecimento de imparidades em algumas participações

fi nanceiras por parte de um dos principais grupos bancários portugueses.

12 A evolução das aplicações em títulos de dívida pública é analisada em detalhe na “Secção 4.2 Risco de merca-do”, deste Relatório.

13 Para mais detalhes ver “Capítulo 2. Riscos Macroeconómicos e Financeiros”, deste Relatório.

14 Para uma análise do contributo da imparidade associada à carteira de títulos e instrumentos fi nanceiros para a rendibilidade do ativo ver “Secção 4.2 Risco de mercado”, deste Relatório.

15 Para uma análise pormenorizada da evolução do incumprimento no setor privado não fi nanceiro ver “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório.

Page 54: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

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Page 55: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

49

4

Sist

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Banc

ário

Gráfi co 4.1.2

RENDIBILIDADE DO ATIVO (ROA) E DOS CAPITAIS PRÓPRIOS (ROE)

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gem

Em

perc

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ROEROE - Excluindo BPN e BPPROA (esc. dir.)ROA - Excluindo BPN e BPP (esc. dir.)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A quebra de série apresentada em 2004 corresponde à introdução das normas internacionais de contabilidade, a qual impli-cou, adicionalmente, uma redefi nição do conjunto de instituições bancárias analisado. Os dados relativos ao semestre encontram-se anualizados.

Gráfi co 4.1.3 Gráfi co 4.1.4

RENDIBILIDADE DO ATIVO | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA RENDIBILIDADE DOS CAPITAIS PRÓPRIOS | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA

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-10 -5 0 5 10 15 20 25 30

Dez-09Jun-10Dez-10

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Distribuição empírica obtida recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo seu ativo; indicador calculado considerando o resultado antes de impostos e de in-teresses minoritários.

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Distribuição empírica obtida recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo seu ativo; indicador calculado considerando o resultado antes de impostos e de in-teresses minoritários.

Em 2010 a margem fi nanceira registou uma ligeira diminuição por comparação com o

conjunto do ano de 2009, mas denotou alguma recuperação face ao observado no primeiro

semestre do ano

Em 2010, dada a sua relevância nos resultados das instituições fi nanceiras (60 por cento do produto da

atividade), refi ra-se a ligeira redução de 0.8 por cento da margem fi nanceira, o que se traduziu num

contributo negativo para a rendibilidade do ativo de cerca de 13 pontos base. Destaque-se, no entanto,

que no segundo semestre de 2010 face à primeira metade do ano o contributo da margem fi nanceira

para a variação da rendibilidade do ativo foi positivo. À semelhança do observado em 2009, o efeito

taxa de juro constituiu o principal fator subjacente à evolução da margem fi nanceira. De facto, em

Page 56: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

BA

NC

O D

E PO

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|

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EIRA

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aio

2011

50

I

2010, o diferencial total das taxas de juro médias implícitas nos saldos das principais operações ativas

e passivas diminuiu por comparação com o ano anterior (Quadro 4.1.4). Não obstante, no primeiro e

segundo semestres de 2010 verifi cou-se já alguma recuperação face ao valor signifi cativamente reduzido

observado na segunda metade de 2009. Decompondo a margem fi nanceira por tipo de operação, a

evolução observada refl etiu sobretudo a redução da margem em operações com clientes, parcialmente

compensada pela variação na margem associada a operações com instrumentos fi nanceiros e no mercado

monetário (Gráfi co 4.1.6).

A evolução do diferencial entre as taxas de juro ativas e passivas com clientes é também visível no compor-

tamento do diferencial entre as taxas de juro dos empréstimos e dos depósitos de clientes, tomando por

base as Estatísticas Monetárias e Financeiras. Desde o fi nal de 2008, registou-se um aumento signifi cativo

dos diferenciais associados às taxas de juro aplicadas pelos bancos nas operações ativas e uma diminuição

dos diferenciais associados às taxas de juro oferecidas nos depósitos com prazo acordado (Gráfi co 4.1.7).

Estes movimentos foram justifi cados, em parte, pelo habitual desfasamento observado na transmissão

das variações nestas taxas de juro às taxas aplicadas pelos bancos a novas operações com clientes, bem

como pelo facto das novas operações – aquelas em que há lugar à fi xação/renegociação da taxa de juro

– representarem apenas uma fração do stock de crédito e depósitos. A evolução no decurso de 2010

sugere, no entanto, que existirão outros fatores – nomeadamente a difi culdade acrescida dos bancos na

obtenção de recursos nos mercados fi nanceiros internacionais e a deterioração das expectativas sobre a

evolução da atividade económica com consequências negativas ao nível da atividade das empresas e do

desemprego – a explicar o facto dos spreads aplicados pelos bancos nas operações ativas se situarem em

níveis claramente superiores aos observados antes do início da crise fi nanceira, verifi cando-se o inverso

Gráfi co 4.1.5

VARIAÇÃO HOMÓLOGA DA RENDIBILIDADE DO ATIVO – ROA | DECOMPOSIÇÃO DE CONTRIBUTOS

VARIAÇÃO FACE AO SEMESTRE ANTERIOR DA RENDIBILIDADE DO ATIVO – ROA | DECOMPOSIÇÃO

DE CONTRIBUTOS

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Margem fi nanceiraComissões liquídasRendimentos de instrumentos de capitalResultados em operações fi nanceirasOutros resultados de exploração Custos operacionais Provisões e imparidade associado a crédito a clientesOutras provisões e imparidadesApropriação de resultados de associadas e diferenças de consolidação

Variação do ROA

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: A rendibilidade do ativo é calculada considerando os resultados antes de impostos e de interesses minoritários.

Page 57: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

51

4

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2002

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15

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2011

52

I

no que respeita aos depósitos16, que, desde maio de 2010, apresentam um valor progressivamente mais

negativo. De facto, no contexto de intensifi cação das perturbações nos mercados de dívida soberana, a

partir de maio de 2010, as taxas dos depósitos a prazo têm vindo a aumentar progressivamente a um

ritmo superior à subida das taxas de juro do mercado monetário17.

No quadro dos riscos associados ao refi nanciamento da dívida dos bancos, dados os elevados montantes

envolvidos, a maior concentração no curto prazo, o elevado recurso ao fi nanciamento junto do Euro-

sistema e o alto nível de aversão ao risco dos investidores é expectável a continuação do aumento dos

recursos de clientes e do abrandamento da atividade bancária. Neste último caso, em particular no

que se refere ao crédito concedido, refl etindo uma diminuição da procura e também um aumento das

restrições da oferta de crédito. Com efeito, os dados disponíveis para o período mais recente sugerem

que, em especial, os bancos domésticos terão iniciado um processo de desalavancagem. Finalmente é

de esperar a continuação deste processo nos próximos anos, em linha com o defi nido no programa de

apoio internacional18.

A contenção dos custos operacionais contribuiu favoravelmente para a variação da

rendibilidade do ativo em 2010

Em 2010, a evolução dos custos operacionais voltou a contribuir positivamente para a variação da

rendibilidade do ativo. A contenção dos custos verifi cou-se essencialmente na componente de custos

com pessoal, mas esteve também patente nas outras componentes. Apesar da contenção dos custos

16 Calculados como a diferença entre a taxa Euribor e as taxas de juro dos depósitos.

17 Para uma avaliação pormenorizada da evolução dos spreads bancários ver “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório.

18 Ver “Capítulo 2 Riscos Macroeconómicos e Financeiros”, deste Relatório.

Gráfi co 4.1.6 Gráfi co 4.1.7

DECOMPOSIÇÃO DA MARGEM FINANCEIRA | EM

PERCENTAGEM DO ATIVO MÉDIO

DIFERENCIAIS DE TAXA DE JURO NAS OPERAÇÕES COM CLIENTES

-1.5

-1.0

-0.5

0.0

0.5

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2007 2008 2009 2010 08S1 08S2 09S1 09S2 10S1 10S2

Em

perc

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Operações com clientesOperações com instrumentos financeiros Operações no mercado monetárioOutras operaçõesMargem financeira - Total

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Em

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Em

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Diferencial dos empréstimosDiferencial dos depósitos a prazo (esc. dir; invertida)Diferencial totalmm6 da taxa Euribor 6 mesesDiferencial dos depósitos - Total (esc. dir; invertida)

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Os valores semestrais encontram-se anualizados.

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: O diferencial das operações ativas foi calculado como a diferença entre as taxas de juro de saldos dos empréstimos (disponibilizadas pelas Estatísticas Monetárias e Financeiras) e a média móvel de seis meses da Euribor a 6 meses, enquanto o das passivas como a diferença entre a média móvel de seis meses da Euribor a 6 meses e as taxas de juro de saldos dos depósitos. O diferencial total corresponde à diferença entre a taxa de juro dos empréstimos e a taxa de juros dos depósitos. Última observação: março de 2011.

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53

4

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operacionais, uma vez que o produto da atividade apresentou um crescimento inferior, o rácio cost to

income registou uma deterioração face ao ano anterior, situando-se em 57.5 por cento. Esta variação

refl ete uma menor dispersão deste indicador entre grupos bancários, visível na respetiva distribuição

empírica em 2010 por comparação com o ano anterior (Gráfi co 4.1.8).

Os resultados da atividade internacional apresentaram um crescimento signifi cativo em 2010,

em particular na primeira metade do ano

Ao contrário do observado em 2009, a atividade desenvolvida no estrangeiro contribuiu de forma expres-

siva para os resultados do sistema bancário português em 2010. Deste modo, embora o peso das fi liais

estrangeiras no ativo total do sistema bancário se mantenha em níveis semelhantes aos apresentados

em 2009, ascendendo a cerca de 11 por cento, os resultados antes de impostos e interesses minoritá-

rios associados à atividade realizada pelas fi liais de alguns dos principais grupos bancários no exterior

registaram um aumento signifi cativo em 2010 (21.1 por cento), representando cerca de 35 por cento

do total dos resultados do conjunto de instituições fi nanceiras em análise (Quadro 4.1.5). Esta evolução

compara com um aumento de 12.7 por cento dos resultados decorrentes da atividade doméstica.

Num contexto de ajustamento gradual dos desequilíbrios da economia portuguesa, o desenvolvimento

da atividade internacional dos bancos portugueses tem vindo a assumir um papel cada vez mais impor-

tante na sua rendibilidade. Sendo Portugal uma pequena economia aberta, o atual enquadramento

macroeconómico global poderá dar um contributo favorável para a situação fi nanceira dos bancos. Não

obstante, o enquadramento fi nanceiro poderá continuar a suscitar difi culdades acrescidas aos bancos

portugueses, em particular num contexto de intensifi cação das tensões nos mercados de dívida soberana.

Gráfi co 4.1.8

RÁCIO COST TO INCOME | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA

30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110

Dez-09Jun-10Dez-10

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Distribuição empírica obtida recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo ativo total; indicador calcula-do como o quociente entre os custos operacionais (defi nidos como o somatório dos custos com pessoal, dos custos administrativos e das depreciações) e o produto da atividade.

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2011

54

I

Quadro 4.1.5

IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE INTERNACIONAL PARA OS RESULTADOS DOS SISTEMA BANCÁRIO | EM

PERCENTAGEM

Peso das fi liais estrangeirasAtividade internacional

Taxa de variação homólogaAtividade doméstica

Taxa de variação homóloga

2009 2010 2009 2010 2009 2010

Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez.

Margem fi nanceira 14.8 15.4 18.7 20.0 -11.4 -18.1 11.3 29.3 1.9 -9.3 -15.9 -6.3

Comissões 14.1 14.9 14.6 14.0 -12.0 -3.8 17.5 4.0 3.2 3.7 13.1 12.0

Produto da atividade 14.0 14.5 20.5 19.4 -13.8 -21.7 38.9 36.3 7.9 0.9 -12.3 -3.9

Gastos administrativos 13.7 13.7 14.3 14.3 -9.2 -8.5 6.4 7.6 0.7 0.3 1.6 2.4

dos quais: Custos com pessoal 13.5 13.6 14.8 14.7 -10.6 -10.7 9.9 11.5 3.9 2.7 -1.2 1.7

Imparidade 7.5 9.3 13.1 12.5 175.7 38.9 56.4 36.0 26.2 -16.5 -16.0 -2.5

Resultado antes de impostos e de interesses minoritários 27.2 33.3 36.3 34.9 -33.4 -34.6 30.2 21.1 -5.0 209.9 -14.6 12.7

Resultado líquido 16.5 15.4 25.1 21.9 -60.3 -74.6 59.5 87.9 1.5 -637.0 -5.9 21.9

Fonte: Banco de Portugal.

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4

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4.2. Risco de Mercado

A carteira de títulos e investimentos fi nanceiros do sistema bancário português apresentou um crescimento

muito signifi cativo nos últimos dois anos1. O aumento desta carteira, essencialmente composta por títulos

de dívida, criou vulnerabilidades acrescidas para as instituições portuguesas dado o risco de taxa de juro,

no contexto de intensifi cação da crise nos mercados de dívida soberana e de pressões infl acionistas na

área do euro. Contudo, uma vez que uma parte muito signifi cativa destes instrumentos está classifi cada

em ativos disponíveis para venda e investimentos detidos até à maturidade, as repercussões sobre a

rendibilidade e adequação de capital das instituições encontram-se limitadas. Por sua vez, a exposição

do ativo dos bancos aos mercados acionistas é relativamente reduzida, sendo a carteira de títulos de

capital maioritariamente constituída por ações de empresas residentes. No entanto, os resultados e o

capital regulamentar das instituições poderão ser negativamente condicionados por esta via no decurso

de 2011, uma vez que a necessidade de desalavancagem do setor privado não fi nanceiro e as novas

medidas de austeridade defi nidas no programa de ajustamento económico e fi nanceiro recentemente

acordado terão efeitos adversos sobre a atividade económica no curto prazo, e consequentemente sobre

a rendibilidade das empresas, apesar de se estar perante medidas que são fundamentais para promover

o crescimento económico a médio prazo. O capital regulamentar poderá também ser penalizado pelas

responsabilidades com fundos de pensões, dada a sensibilidade da carteira destes fundos a fl utuações

nos mercados fi nanceiros. Por fi m, será de salientar que a alienação de alguns ativos no atual enqua-

dramento poderá originar o registo de menos valias, com impacto desfavorável na rendibilidade e, por

sua vez, nos fundos próprios das instituições.

A carteira de títulos e investimentos fi nanceiros voltou a registar um crescimento

signifi cativo em 2010, aumentando a exposição do sistema bancário a dívida soberana

Em 2010, a carteira de títulos e investimentos fi nanceiros do sistema bancário português apresentou

novamente um crescimento bastante expressivo, próximo de 40 por cento (Gráfi co 4.2.1). À semelhança

do observado no ano anterior, a dinâmica desta carteira foi crucial para a expansão do balanço do sistema

1 A carteira de títulos e investimentos fi nanceiros compreende os ativos fi nanceiros ao justo valor através de re-sultados incluindo derivados de negociação (líquidos de passivos detidos para negociação), os ativos fi nanceiros disponíveis para venda, os investimentos detidos até à maturidade, os investimentos em fi liais e o valor líquido de derivados de cobertura, registados no balanço do sistema bancário português, em base consolidada.

Gráfi co 4.2.1

CARTEIRA DE TÍTULOS E INVESTIMENTOS FINANCEIROS | DE ACORDO COM A CLASSIFICAÇÃO NIC

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Jun/07 Dez-07 Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10

Em

perc

enta

gem

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Ativos financeiros ao justo valor através de resultadosAtivos financeiros disponíveis para vendaInvestimentos detidos até à maturidadeInvestimento em filiaisDerivados detidos para negociaçãoDerivados de cobertura

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Carteira de títulos e investimentos fi nanceiros registada no balanço do sistema bancário, em base consolidada.

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2011

56

I

bancário, passando a representar cerca de 16 por cento do ativo total (no fi nal de 2008 situava-se em

torno de 8 por cento). A aquisição líquida de títulos de dívida foi determinante para o crescimento desta

carteira, num período em que a evolução das taxas de juro nos mercados de dívida contribuiu para a

redução do valor da carteira destes instrumentos. Por seu turno, a componente de títulos de capital

registou uma diminuição, em linha com a alienação de alguns títulos e com as desvalorizações observadas

no mercado acionista nacional no conjunto do ano.

O crescimento da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros concentrou-se nos ativos fi nanceiros

disponíveis para venda e investimentos detidos até à maturidade (Gráfi co 4.2.2). Como já foi referido,

este aumento refl etiu, em grande medida, a aquisição de títulos de dívida, evidenciando-se a aquisição

de títulos de dívida pública portuguesa, sobretudo no decurso do primeiro semestre. A componente de

outros títulos de dívida apresentou igualmente um aumento signifi cativo, o qual esteve relacionado com

a transformação de alguns ativos em instrumentos elegíveis como colateral nas operações de fi nancia-

mento junto do Eurosistema e a aquisição por parte da CGD de obrigações emitidas pelas entidades

criadas no âmbito da re-estruturação do BPN. Refi ra-se ainda que a variação da carteira de investimentos

detidos até à maturidade resultou também da reclassifi cação de títulos anteriormente registados em

outras carteiras de ativos2.

Deste modo, o peso da carteira de títulos de dívida no ativo total do sistema bancário português, em

base consolidada, voltou a aumentar em 2010, situando-se próximo de 14 por cento. Refl etindo a aqui-

sição de títulos de dívida pública em montantes signifi cativos desde meados de 2009, cerca de metade

desta carteira é composta por títulos de dívida soberana, dominando a componente de dívida pública

portuguesa (Gráfi co 4.2.3). Quando comparados com outras instituições monetárias da área do euro,

em particular com as de países também sujeitos a fortes pressões nos mercados de dívida soberana, os

bancos portugueses continuaram a apresentar, em geral, uma menor exposição dos respetivos balanços

a títulos de dívida pública (Gráfi co 4.2.4). De qualquer forma, uma vez que estes títulos são normalmente

emitidos a taxa de juro fi xa, o aumento do peso destes instrumentos implica uma maior exposição das

2 Esta reclassifi cação de títulos tornou-se possível após a revisão das normas contabilísticas efetuada no fi nal de 2008, na sequência das fortes perturbações nos mercados fi nanceiros que ocorreram no segundo semestre desse ano. A este respeito, veja-se “Caixa 1 Principais medidas das autoridades portuguesas relativamente ao sistema fi nanceiro no âmbito da crise fi nanceira internacional”, Banco de Portugal, Boletim Económico, outono -2008.

Gráfi co 4.2.2

DECOMPOSIÇÃO DA CARTEIRA DE TÍTULOS E INVESTIMENTOS FINANCEIROS | DE ACORDO COM A

CLASSIFICAÇÃO NIC E FONTE DE RISCO

-2

0

2

4

6

8

10

12

Dez08

Dez09

Dez10

Dez08

Dez09

Dez10

Dez08

Dez09

Dez10

Dez08

Dez09

Dez10

Dez08

Dez09

Dez10

Ativos financeiros ao

justo valor através de resultados (líquidos)

Ativos financeiros

disponíveis para venda

Investimentos detidos até à maturidade

Derivados de cobertura e de

negociação

Investimento em filiais

Em

perc

enta

gem

do a

tivo

Taxa de juroAçõesCambialOutrosFiliais

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Carteira de títulos e investimentos fi nanceiros registada no balanço do sistema bancário, em base consolidada.

Page 63: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

57

4

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instituições portuguesas a variações de taxa de juro. Note-se, no entanto, que tal situação poderá ser

mitigada pela existência de posições de cobertura de risco de taxa de juro.

Neste contexto, recorde-se que a evolução das carteiras de ativos fi nanceiros a justo valor através de

resultados e de ativos fi nanceiros disponíveis para venda, ambas registadas a valor de mercado, condi-

ciona de forma diferenciada os resultados e o capital (contabilístico e regulamentar) das instituições.

Enquanto as variações na carteira de ativos fi nanceiros a justo valor através de resultados têm sempre

contrapartida nas rubricas de resultados, a evolução da carteira de ativos fi nanceiros disponíveis para

venda apenas infl uencia os resultados do exercício quando os títulos são alienados ou quando a variação

do seu valor implica o reconhecimento de perdas por imparidade. As restantes variações de valor não

realizadas associadas aos ativos fi nanceiros disponíveis para venda são contabilizadas na conta de reservas

de reavaliação, componente dos capitais próprios. Adicionalmente, as fl utuações de valor dos títulos de

Gráfi co 4.2.3

DECOMPOSIÇÃO DA CARTEIRA DE TÍTULOS DE DÍVIDA

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Jun-07 Dez-07 Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10

Em

mil

milh

ões

de e

uro

s

Dívida pública portuguesa e outros emitentes públicos residentesEmitentes públicos estrangeiros e organismos financeiros internacionaisOutros títulos de dívida

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Carteira de títulos de dívida no balanço do sistema bancário, em base consolidada.

Gráfi co 4.2.4

TÍTULOS DE DÍVIDA PÚBLICA DETIDOS POR INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MONETÁRIAS EM ALGUNS PAÍSES DA ÁREA DO EURO

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Jan-07 Jul-07 Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11

Em

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Espanha GréciaIrlanda ItáliaPortugal

Fonte: BCE.

Nota: Última observação - março 2011.

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capital classifi cados na carteira de ativos fi nanceiros disponíveis para venda têm impacto sobre o capital

regulamentar das instituições3. Por sua vez, as variações associadas aos títulos de dívida desta carteira

têm um efeito neutro em termos prudenciais.

Os resultados associados à carteira de títulos e investimentos fi nanceiros mantiveram um

contributo positivo para a rendibilidade do ativo

Em 2010, os resultados associados a variações na carteira de títulos e investimentos fi nanceiros dimi-

nuíram face ao ano anterior, mas continuaram a contribuir positivamente para a rendibilidade do ativo

(Gráfi co 4.2.5)4. Os resultados benefi ciaram da realização de mais valias em alguns títulos de capital,

registados essencialmente durante o segundo semestre e associados à carteira de ativos fi nanceiros

disponíveis para venda. Observou-se também um contributo signifi cativo dos resultados obtidos em

diferenças cambiais e em outras operações fi nanceiras. Em sentido oposto, refi ram-se os contributos

negativos dos resultados decorrentes da carteira de derivados e das menos valias em alguns títulos de

dívida, as quais refl etiram sobretudo os desenvolvimentos observados na segunda metade do ano. Por

sua vez, o contributo para a rendibilidade do ativo das perdas por imparidade associadas à carteira de

títulos e investimentos fi nanceiros aumentou ligeiramente face ao registado em 2009.

3 O impacto das variações de valor dos títulos de capital sobre o capital regulamentar ocorre também de forma diferenciada. As menos valias latentes são registadas na sua totalidade como elemento negativo dos fundos próprios, enquanto as mais valias potenciais apenas são reconhecidas em 45 por cento como elemento positivo destes fundos.

4 Os resultados de operações fi nanceiras correspondem à soma dos resultados de ativos fi nanceiros e passivos fi nanceiros avaliados ao justo valor através de resultados, dos resultados de ativos fi nanceiros disponíveis para venda, dos resultados de reavaliações cambiais e dos resultados de alienação de outros ativos fi nanceiros.

Gráfi co 4.2.5

CONTRIBUTOS DOS RESULTADOS DE OPERAÇÕES FINANCEIRAS E RESPETIVAS IMPARIDADES PARA A RENDIBILIDADE DO ATIVO | DE ACORDO COM A CLASSIFICAÇÃO NIC E FONTE DE RISCO

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

Taxa de juro Ações Outrosriscos

Taxa de juro Ações Outros riscos

Ativos f in. ao justo valor através de resultados

Ativos f in. disponíveis para venda

Derivadosde coberturae negociação

Inv. em f iliais

Res. emdiferenças cambiais

Outros resultados

em op.f inaceiras

Imparidades associadas à carteira de títulos

e inv. f inanceiros

Total

Em

perc

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2007 2008 2009 2010

Fonte: Banco de Portugal.

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Ainda relativamente aos resultados relacionados com os mercados fi nanceiros, as comissões líquidas

obtidas em operações fi nanceiras aumentaram em 2010, permanecendo o respetivo contributo para a

rendibilidade do ativo similar ao do ano anterior. Subjacentes a esta evolução estiveram essencialmente

as comissões aplicadas na gestão dos fundos de investimento e na montagem de operações.

A posição fi nanceira dos fundos de pensões foi penalizada pelos desenvolvimentos nos

mercados fi nanceiros e refl etiu-se negativamente na evolução do capital regulamentar

Em 2010, o valor da carteira dos fundos de pensões dos empregados bancários apresentou uma dimi-

nuição de 2.4 por cento (Quadro 4.2.1). Esta variação refl etiu essencialmente a quebra da rendibilidade

dos ativos em carteira, num contexto de instabilidade nos mercados fi nanceiros. No mesmo período,

as responsabilidades associadas a estes fundos aumentaram ligeiramente. Assim, em 2010, registou-se

uma diminuição da cobertura dos fundos de pensões dos empregados bancários (mas compatível com

os requisitos regulamentares).

A evolução da posição fi nanceira dos fundos de pensões traduziu-se num acréscimo dos desvios atuariais

negativos acumulados, decorrente de diferenças signifi cativas entre os valores efetivos e alguns pressu-

postos, bem como numa redução do “corredor contabilístico”, i.e. do limite a partir do qual as perdas

atuariais condicionam adversamente os fundos próprios das instituições5. Estes factos, em conjugação

com o reconhecimento prudencial de parte das perdas atuariais registadas em 2008, de acordo com o

regime transitório defi nido pelo Banco de Portugal no Aviso N.º11/2008, repercutiram-se negativamente

na variação do capital regulamentar do sistema bancário em 20106. Note-se, contudo, que esta situação

foi bastante diferenciada entre os principais grupos bancários.

O impacto negativo de uma evolução desfavorável dos fundos de pensões dos empregados bancários

sobre o capital das instituições tem sido referenciado como uma das vulnerabilidades do sistema bancário

5 O “corredor contabilístico” corresponde a 10 por cento do máximo entre o valor da carteira dos fundos de pensões e o valor das responsabilidades. Em termos prudenciais, o montante das perdas atuariais negativas acumuladas que exceda o “corredor” é totalmente registado como elemento negativo dos fundos próprios.

6 Dadas as características excecionais registadas nos mercados fi nanceiros em 2008, o Banco de Portugal, através do Aviso N.º11/2008, permitiu que os desvios atuariais negativos apurados em 2008, deduzidos do rendimento esperado dos ativos do fundo de pensões no ano, fossem reconhecidos nos fundos próprios de forma faseada ao longo de 4 anos. Assim, durante esse período, existe um alargamento do “corredor” para efeitos pruden-ciais, sendo esse alargamento progressivamente diminuído até 2012.

Quadro 4.2.1

MAPA DE FUNDO DE PENSÕES - SISTEMA BANCÁRIO | EM BASE INDIVIDUAL, EM MILHÕES DE EUROS

2008 2009 2010

Responsabilidades

Responsabilidades totais 14 004 13 991 14 017

Nível mínimo de responsabilidades a cobrir 13 360 13 410 13 505

Fundo de pensões

Valor do Fundo de Pensões no início do ano 14 544 13 268 14 388

Rendimento líquido do fundo -2 346 1 190 -209

Contribuição entregue ao fundo 1806 464 482

Contribuições entregues pelos benefi ciários 53 53 52

Pensões de reforma pagas pelo fundo 618 633 647

Pensões de sobrevivência pagas pelo fundo 34 36 32

Variações do valor do Fundo resultantes de cortes ou liquidações -39 0 0

Outras variações líquidas -41 60 10

Valor do fundo de pensões no fi m do ano 13 325 14 365 14 042

Cobertura do fundo (Valor fundo pensões fi m ano (inc. outras formas cobertura) - Nível mínimo de responsabilidades a cobrir) 362 1336 912

Fonte: Banco de Portugal.

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português em anteriores Relatórios de Estabilidade Financeira. Tal fragilidade advém, por um lado, do

facto da carteira de ativos dos fundos de pensões estar bastante exposta a fl utuações nos mercados

fi nanceiros (para o conjunto das principais instituições, a componente de ações e obrigações represen-

tava cerca de 65 por cento dos ativos em carteira no fi nal de 2010) e, por outro, do facto das perdas

atuariais acumuladas estarem signifi cativamente acima do “corredor” para alguns grupos bancários.

Neste caso, um choque negativo adicional sobre a posição fi nanceira dos fundos de pensões refl ete-se

diretamente nos fundos próprios.

A maior exposição do sistema bancário português aos desenvolvimentos nos mercados

de dívida soberana constitui um risco adicional num período em que o enquadramento

macroeconómico, fi nanceiro e regulamentar é particularmente exigente

A evolução da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros, sobretudo de títulos de dívida pública,

contribuiu favoravelmente para a geração de resultados nos últimos anos, permitindo mitigar a redução

da margem fi nanceira obtida em operações com clientes. Contudo, o aumento desta carteira impõe

constrangimentos na gestão de ativos das instituições, uma vez que o aumento das yields dos títulos de

dívida pública tem originado diminuições de valor, que se acentuaram consideravelmente nos primeiros

meses de 2011. Estas variações, apesar de não afetarem, de um modo geral, nem os resultados nem

os fundos próprios (na medida em que os títulos subjacentes estão maioritariamente classifi cados nas

carteiras de ativos fi nanceiros disponíveis para venda e detidos até à maturidade), limitam signifi cativa-

mente a capacidade de desinvestimento destes títulos. De facto, a alienação destes ativos nas presentes

circunstâncias implicaria o reconhecimento de perdas elevadas, penalizando a rendibilidade e conse-

quentemente os rácios de solvabilidade das instituições.

Por sua vez, a contração da atividade económica projetada para Portugal nos próximos dois anos deverá

condicionar adversamente a evolução do mercado acionista nacional, em contraste com o esperado para

os principais mercados acionistas internacionais. Apesar da reduzida dimensão da carteira de títulos

de capital no balanço dos bancos, esta evolução poderá condicionar negativamente os resultados e

adequação de capital das instituições. Neste contexto, a variação de valor da carteira de ações dos fundos

de pensões poderá também penalizar o capital regulamentar.

A materialização destes riscos no futuro próximo poderá ser particularmente relevante, uma vez que a

generalidade das instituições do sistema bancário português terá que reforçar o respetivo capital, em linha

com a nova regulamentação relativa ao rácio Core Tier I, inicialmente defi nida pelo Banco de Portugal e

posteriormente revista no âmbito do programa de ajustamento económico e fi nanceiro7. Será, contudo,

de salientar que, a par da defi nição de uma trajetória mais exigente para este rácio, o programa contem-

plou também um aumento do fundo de apoio à recapitalização dos bancos portugueses.

Apesar das novas exigências de adequação de capital, existe ainda um conjunto alargado de alterações

regulamentares que têm que ser implementadas, no contexto de Basileia III, com custos de ajusta-

mento signifi cativos8. A este respeito, refi ra-se a eliminação progressiva, a partir de 2014, do “corredor

contabilístico” no apuramento do impacto sobre o capital das perdas atuariais relativas aos fundos de

pensões. Uma vez que para algumas instituições estas perdas estão acima do limite permitido, a nova

7 O Banco de Portugal (pelo Aviso N.º 1/2011) estabeleceu, no início de abril, 8 por cento como nível mínimo para o rácio Core Tier I a partir de dezembro de 2011. No contexto do programa de assistência fi nanceira a Portugal acordado em maio, foi defi nida uma nova trajetória para este rácio: mínimo de 9 por cento no fi nal de 2011 e de 10 por cento a partir de dezembro de 2012. Para mais detalhes sobre as medidas defi nidas no programa, em particular as relacionadas com o sistema fi nanceiro português, ver “Caixa O programa de ajustamento econó-mico e fi nanceiro no âmbito do pedido de assistência fi nanceira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional“, Banco de Portugal, Relatório Anual 2010.

8 Uma breve descrição das propostas associadas ao Novo Acordo de Capital é efetuada na “Caixa 2.1 As princi-pais propostas de Basileia III”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira-novembro de 2010.

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regulamentação deverá originar necessidades adicionais de capital. No longo prazo, o impacto desta

medida poderá ser mitigado pela integração dos empregados bancários no ativo (contratados antes

de 2009) no Regime Geral de Segurança Social a partir de 2011, para efeitos das responsabilidades

futuras de pensões por velhice e nas eventualidades de maternidade, paternidade e adoção. De facto,

a partir de janeiro de 2011, o Regime Geral passou a ser responsável pelo pagamento das pensões dos

empregados bancários relativas aos anos de serviço prestado após essa data, sendo a parcela referente

aos anos anteriores assegurada pelos fundos de pensões das instituições bancárias.

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4.3. Risco de liquidez

O ano de 2010 foi marcado pela acentuada diferenciação do risco nos mercados de dívida soberana da

área do euro, com um forte impacto sobre a República portuguesa. Uma vez que a avaliação do risco de

crédito dos emitentes de um determinado país está intrinsecamente associada ao respetivo risco soberano,

esta situação traduziu-se em signifi cativas difi culdades de acesso aos mercados internacionais de dívida

por grosso por parte dos bancos portugueses. De facto, tanto as taxas de rendibilidade associadas à dívida

pública como o rating soberano tendem a constituir referências para os respetivos valores associados

aos emitentes privados1. A evolução dos ratings é particularmente relevante no sentido em que alguns

investidores institucionais estão sujeitos a regras de investimento internas que os impedem de adquirir

títulos com rating inferior a um determinado limiar e alguns instrumentos de dívida preveem alterações nas

condições em caso de determinadas revisões em baixa da notação de rating2. Neste contexto, os bancos

aumentaram de forma acentuada o seu recurso ao fi nanciamento junto do Eurosistema. Contudo, esta

não constitui uma fonte de fi nanciamento sustentável a médio prazo. Adicionalmente, a evolução negativa

da notação de rating da República pressiona o valor dos títulos detidos pelos bancos para utilizar como

colateral junto do Eurosistema, e não se anteveem para o futuro próximo melhorias na sua capacidade

de acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso. Face a estes desenvolvimentos, os dados

disponíveis apontam para que os bancos tenham iniciado na segunda metade de 2010 um processo

de desalavancagem através do aumento da captação de depósitos, do abrandamento da concessão de

crédito, da venda de ativos e do aumento do capital, embora não se tenha ainda observado até ao fi nal

de 2010 uma diminuição do balanço do sistema bancário em base consolidada.

A evolução do risco soberano como principal fator de risco para a situação de liquidez dos

bancos

Uma vez que as difi culdades de liquidez dos bancos portugueses resultaram em grande medida do efeito

de contágio decorrente das perturbações nos mercados de dívida soberana, não advindo diretamente de

problemas intrínsecos de solvabilidade ou de rendibilidade, a perceção dos participantes nos mercados

fi nanceiros relativamente à evolução da situação das fi nanças públicas portuguesas é determinante para

a situação de liquidez dos bancos. Neste contexto, assume especial relevância a implementação bem

sucedida do programa de ajustamento económico e fi nanceiro. Adicionalmente, com base na evolução

observada em 2010, existe o risco de uma deterioração adicional da situação de outros países da área

do euro ter, por efeito de contágio, um impacto negativo na avaliação do risco soberano nacional. A

materializar-se, esta evolução poderá surgir associada a uma deterioração adicional da notação de rating

da República portuguesa, com um impacto negativo adicional nos ratings dos bancos e no valor dos títulos

utilizados como colateral no mercado de repos e nas operações de fi nanciamento junto do Eurosistema.

A consolidação orçamental no contexto do programa de ajustamento económico e fi nanceiro

e a transição para um enquadramento regulamentar mais exigente

O programa de ajustamento económico e fi nanceiro permite assegurar o fi nanciamento do Estado nos

próximos anos, ao mesmo tempo que prevê um conjunto alargado de reformas estruturais que têm em

vista promover o crescimento potencial da economia. No que respeita ao sistema bancário, merecem

1 Refi ra-se no entanto que, nos períodos de maiores perturbações nos mercados de dívida soberana, apesar de terem registado um aumento, as taxas de rendibilidade em mercado secundário de algumas empresas não fi nanceiras portuguesas mantiveram-se abaixo das correspondentes à dívida pública. Para mais detalhe a este respeito, ver “Secção 2.2 Condições Monetárias e Financeiras da Economia Portuguesa”, Banco de Portugal, Relatório Anual-2010.

2 As alterações previstas nas condições de alguns instrumentos de dívida poderão ir desde uma exigência do aumento do colateral associado até ao reembolso antecipado.

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destaque as medidas do programa que visam uma redução do grau de alavancagem do sistema, uma

redução ordenada do fi nanciamento junto do Eurosistema e um reforço da posição de capital, que visam

garantir a consolidação, a médio prazo, de uma estrutura de fi nanciamento sustentável da economia

portuguesa. Esta deverá privilegiar as fontes de fi nanciamento mais estáveis, tais como os recursos de

clientes, de forma a diminuir a dependência do fi nanciamento nos mercados de dívida por grosso. Adicio-

nalmente, o programa inclui algumas medidas que têm em vista a garantir a estabilidade fi nanceira e

minimizar os impactos sobre a oferta de crédito ao setor produtivo. No domínio da liquidez, está previsto

um reforço do colateral elegível para o recurso a operações de cedência de liquidez junto do Eurosistema,

incluindo, se necessário, a emissão de dívida com garantia do Estado num um valor até 35 mil milhões

de euros. Recorde-se que a adoção de regras mais exigentes para a gestão de liquidez, no âmbito da

futura regulamentação comunitária sobre requisitos de liquidez, constitui um desafi o adicional para os

bancos a nível internacional, incluindo os portugueses3. De facto, embora estas medidas visem uma dimi-

nuição do risco de liquidez a médio e longo prazo, haverá o compromisso de proceder a ajustamentos

signifi cativos no balanço de algumas instituições no período de adaptação ao novo enquadramento

regulamentar, reforçando o peso dos ativos líquidos e privilegiando fontes de fi nanciamento globalmente

estáveis. De qualquer modo, o ajustamento do balanço dos bancos portugueses previsto no programa

de ajustamento económico e fi nanceiro é consentâneo com a regulamentação internacional de liquidez

a aplicar no futuro. A signifi cativa dispersão da situação de liquidez dos bancos portugueses deverá

repercutir-se em esforços de ajustamento bastante diferenciados. Assim, o programa de ajustamento

económico e fi nanceiro visa reforçar a solidez dos bancos, nomeadamente através de um processo de

desalavancagem exigente mas gradual e adequado.

Signifi cativa deterioração das condições de acesso dos bancos portugueses aos mercados

internacionais de dívida por grosso desde o segundo trimestre de 2010

Durante o ano de 2010 observou-se um signifi cativo aumento do prémio de risco associado à dívida

pública portuguesa no contexto da emergência de sérias perturbações nos mercados de dívida soberana

da área do euro. Esta situação refl etiu-se num forte aumento dos Credit Default Swaps (CDS) para a

República portuguesa e para os principais grupos bancários portugueses, tendo o efeito sobre estes

últimos sido particularmente evidente aquando do recurso aos mecanismos de apoio fi nanceiro inter-

nacionais da Grécia em abril e da Irlanda em novembro de 2010 ( Gráfi co 4.3.1). O diferencial entre os

CDS dos maiores bancos nacionais e os da República portuguesa aumentou signifi cativamente durante

estes períodos de maior incerteza. Durante os primeiros meses de 2011 verifi cou-se uma diminuição dos

CDS correspondentes aos maiores bancos privados nacionais, convergindo para os valores registados

pelos CDS da República portuguesa, que continuaram a aumentar até fi nais de abril, registando alguma

diminuição até meados de maio.

As taxas de juro do mercado monetário mantiveram-se ao longo de 2010 em valores reduzidos, em linha

com as taxas de juro ofi ciais do BCE, embora apresentando uma tendência de subida desde a segunda

metade do ano (Gráfi co 4.3.2). Ainda assim, os bancos sentiram signifi cativas restrições quantitativas

no acesso ao mercado monetário, essencialmente nos segmentos de prazos mais longos, bem como um

aumento do custo de fi nanciamento associado. Esta situação, que foi particularmente marcada desde

o segundo trimestre do ano, refl etiu o impacto dos downgrades da notação de rating da República

Portuguesa nos ratings dos próprios bancos, bem como no valor dos títulos de dívida soberana e na

disponibilidade das contrapartes os aceitarem como colateral. Adicionalmente, num enquadramento

marcado pelo aumento da diferenciação do risco soberano, verifi caram-se nos meses de abril e novembro

de 2010 fortes aumentos das taxas de rendibilidade em mercado secundário das obrigações emitidas

3 Para mais detalhes sobre as propostas para o novo enquadramento regulamentar, ver “Caixa 2.1 As principais propostas de Basileia III”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira-Novembro-2010.

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por bancos portugueses com garantia estatal e das obrigações subordinadas de bancos portugueses.

Contudo, tendo em conta as fortes restrições quantitativas no acesso aos mercados de dívida titulada

por grosso e a liquidez reduzida no mercado secundário dos títulos de dívida dos bancos portugueses,

importa sublinhar que a evolução das respetivas taxas de rendibilidade deverá ser interpretada apenas

como uma aproximação ao custo que os bancos enfrentariam se acedessem de facto ao mercado.

Financiamento do sistema bancário português dependente, em larga medida, dos recursos

obtidos junto do Eurosistema e de depósitos de clientes, face às difi culdades de acesso aos

mercados internacionais de dívida por grosso

No primeiro semestre de 2010, e em particular no segundo trimestre do ano, a expansão da atividade do

sistema bancário português foi fi nanciada essencialmente através do forte aumento do recurso às opera-

ções de cedência de liquidez do Eurosistema (Gráfi co 4.3.3). Por outro lado, registou-se uma signifi cativa

diminuição das responsabilidades representadas por títulos desde o segundo trimestre do ano, em linha

com as difi culdades de acesso aos mercados fi nanceiros de dívida por grosso. Neste enquadramento, os

bancos realizaram, na segunda metade de 2010, algumas operações de titularização de crédito e outras

emissões de dívida titulada que, em certas circunstâncias, permitiram um reforço da pool de colateral

para a realização de operações de crédito do Eurosistema. De salientar que o valor da referida pool de

colateral foi negativamente afetado pela forte diminuição do rating da República.

Gráfi co 4.3.1 Gráfi co 4.3.2

CREDIT DEFAULT SWAP SPREADS DE BANCOS PORTUGUESES (5 ANOS SENIOR)

CUSTO DE FINANCIAMENTO DOS BANCOS PORTUGUESES

0

100

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300

400

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1000

Jan-07 Jul-07 Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11

Em

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s base

BCPCGDBESDJ iTraxx Financial Senior 5 yearsCDS República Portuguesa

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Dez-06 Jun-07 Dez-07 Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10E

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Operações principais de refinanciamento do BCEEuribor 6 meses (média mensal)Taxas de rendibilidade de obrigações senior de bancos portuguesesTaxas de rendibilidade de obrigações com garantia estatal de bancos portuguesesDepósitos a prazo do setor privado não financeiro (saldo)

Fontes: Bloomberg e Thomson Reuters. Fontes: Bloomberg e Banco de Portugal.

Nota: Última observação: 16/05/2010. Nota: A série da taxa de rendibilidade de obrigações senior de bancos portugueses refere-se a médias ponderadas pelo mon-tante de emissão de obrigações do BCP, BPI, BES, BST, CGD e MG. A série correspondente a obrigações com garantia estatal de bancos portugueses inclui obrigações emitidas pelo BCP e BES. A falta de liquidez do mercado restringe a representativi-dade dos preços das obrigações, pelo que as taxas apresenta-das devem ser interpretadas como meramente indicativas. As obrigações emitidas com garantia estatal têm subjacente uma comissão paga ao governo de 50 p.b., a que se adiciona o pré-mio de risco do credit default swap do banco (ou de bancos semelhantes, caso não exista CDS para esse emitente) à data de emissão se esta tiver uma maturidade superior a 1 ano.

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No primeiro trimestre de 2010, o valor emitido de obrigações a taxa fi xa foi signifi cativamente superior

ao de obrigações a taxa variáve l (Quadro 4.3.1). Adicionalmente, no contexto da estratégia dos bancos

de emissão de títulos para utilizar como colateral nas operações cedência de liquidez do Eurosistema, o

peso das covered bonds aumentou de cerca de 30 por cento do total de obrigações emitidas no período

entre janeiro de 2009 e março de 2010 para um valor próximo de 75 por cento entre o segundo trimestre

de 2010 e março de 2011. Quanto à estrutura de fi nanciamento dos bancos no mercado de títulos,

observou-se ao longo de 2010 uma diminuição considerável do stock de certifi cados de depósito no passivo

dos bancos, que levou a uma diminuição do peso destes instrumentos no total das responsabilidades

representadas por títul os (Gráfi co 4.3.4). As emissões líquidas de obrigações e de outras responsabilidades

representadas por títulos foram também negativas desde o segundo trimestre de 2010. As difi culdades

de acesso aos mercados de fi nanciamento por grosso traduziram-se numa diminuição do saldo vivo das

obrigações emitidas por bancos portugueses em 2010 e no primeiro trimestre de 2 011 (Gráfi co 4.3.5).

Os recursos de clientes sob a forma de depósitos mantiveram-se como a principal fonte de fi nanciamento

dos bancos, representando em dezembro de 2010 cerca de 43 por cento do ativo em base consolidada (48

por cento no caso das instituições domésticas). Face às difi culdades de acesso aos mercados internacionais

de dívida por grosso, ao forte aumento do fi nanciamento junto do Eurosistema e ao compromisso de

desalavancagem dos bancos assumido no contexto do programa de ajustamento económico e fi nanceiro,

a captação de depósitos de clientes tem vindo a assumir um papel mais relevante na sua estratégia de

fi nanciamento. Neste contexto, após a relativa estabilidade dos recursos de clientes observada no primeiro

semestre de 2010, verifi cou-se um aumento dos depósitos na segunda metade do ano. Esta evolução

está em linha com a aceleração dos depósitos em Portugal e no exterior do setor não monetário residente

Gráfi co 4.3.3

FLUXOS DE FINANCIAMENTO DO SISTEMA BANCÁRIO EM BASE CONSOLIDADA

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

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S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2

2007 2008 2009 2010 2007 2008 2009 2010

Em

milh

are

s de m

ilhões

de e

uro

s

Bancos domésticosSistema bancário

Recursos de clientes e outros empréstimosResponsabilidades representadas por títulosPassivos subordinadosPassivos por ativos não desreconhecidos em operações de titularizaçãoRecursos (líq.) de outras instituições de créditoRecursos (líq.) de bancos centraisFinanciamento total

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Existe uma quebra de série em Junho de 2007 que corresponde a um alargamento do conjunto de instituições em análise.

Quadro 4.3.1

EMISSÕES BRUTAS DE OBRIGAÇÕES DOS GRUPOS BANCÁRIOS PORTUGUESES | ESTRUTURA POR TIPO DE

TAXA (EM PERCENTAGEM DO TOTAL)

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011(a) Posição em 31 de março de 2011

Taxa variável 87.8 98.1 82.7 75.9 49.7 32.4 60.3 85.1 56.1

Taxa fi xa e outros 12.2 1.9 17.3 24.1 50.3 67.6 39.7 14.9 43.9

Fontes: Bloomberg, Dealogic Bondware e Thomson Reuters.

Notas: (a) Inclui observações até 31 de março.

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que mais do que compensou a evolução negativa dos depósitos do setor não monetário não resid ente

(Gráfi co 4.3.6). Esta última, por sua vez, esteve associada aos depósitos de instituições fi nanceiras não

monetárias não residentes. O aumento dos depósitos do setor não monetário residente foi relativamente

generalizado em termos de setor institucional dos depositantes, estando associado essencialmente à

evolução dos depósitos de instituições fi nanceiras não monetárias e do setor privado não fi nanceiro. A

taxa de variação homóloga dos depósitos de particulares residentes situou-se nos primeiros quatro meses

de 2010 em torno de 1 por cento, mantendo-se nos restantes meses do ano em valores ligeiramente

acima de 2 por cento (Gráfi co 4.3.7). O aumento dos depósitos em 2010 inseriu-se no ajustamento da

Gráfi co 4.3.4 Gráfi co 4.3.5

ESTRUTURA DAS RESPONSABILIDADES REPRESENTADAS POR TÍTULOS | EM BASE

CONSOLIDADA

SALDO VIVO DAS OBRIGAÇÕES EMITIDAS POR BANCOS PORTUGUESES POR MATURIDADE RESIDUAL | EM PORTUGAL E NO EXTERIOR

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Dez-07

Jun-08

Dez-08

Jun-09

Dez-09

Mar-10

Jun-10

Set-10

Dez-10

Dez-07

Jun-08

Dez-08

Jun-09

Dez-09

Mar-10

Jun-10

Set-10

Dez-10

Em

perc

enta

gem

ObrigaçõesCertificados de depósitoOutras responsabilidades representadas por títulos

Sistema bancário Bancos domésticos0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Dez-06 Dez-07 Dez-08 Dez-09 Dez-10 Mar-11

Em

milh

are

s de m

ilhões

de e

uro

s

Mais de 10 anos ou obrigações perpétuas5 a 10 anos3 a 5 anos2 a 3 anos1 a 2 anosAté 1 ano

Fonte: Banco de Portugal Fontes: Bloomberg, Dealogic Bondware e Thomson Reuters.

Nota: Inclui emissões de sucursais e fi liais de bancos portugue-ses no exterior.

Gráfi co 4.3.6

TAXAS DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA DOS DEPÓSITOS DE CLIENTES

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Dez-98 Jun-00 Nov-01 Mai-03 Nov-04 Mai-06 Nov-07 Mai-09 Nov-10

Em

perc

enta

gem Depósitos em Portugal do setor não monetário (residente e

não residente) e depósitos no exterior (residentes)(a)

Depósitos em Portugal e no exterior do setor não monetário residente(a)

Recursos de clientes (sistema bancário em base consolidada)

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: (a) Excluindo passivos por contrapartida de operações de titularização não desreconhecidas do balanço, registados sob a forma de depósitos (e equiparados) de OIFAF.

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• M

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2011

68

I

carteira de aplicações fi nanceiras dos particulares caracterizado por um aumento mais signifi cativo das

aplicações em seguros de vida e em títulos de dívida a longo prazo, em detrimento das aplicações em

ações e fundos de investimento4. Adicionalmente, contribuindo de forma favorável para a posição de

liquidez dos bancos, continuou a verifi car-se durante o ano de 2010 um aumento do peso dos depó-

sitos a mais de 2 anos no total dos depósitos de particulares, em contrapartida de uma diminuição da

importância dos depósitos a prazos mais curtos, embora de forma progressivamente menos marcada

ao longo do ano (Gráfi co 4.3.8).

No primeiro trimestre de 2011 observou-se uma aceleração dos depósitos de particulares residentes,

registando em março uma taxa de variação homóloga de 3.8 por cento. Em contraste com a evolução

observada desde meados de 2009, em março de 2011 o principal contributo para o crescimento dos

depósitos de particulares adveio dos depósitos com prazo inferior a 1 ano (Gráfi co 4.3.8). Durante o

primeiro trimestre de 2011, observou-se uma diminuição das aplicações em certifi cados de aforro mais

signifi cativa do que o aumento nas aplicações em certifi cados do Tesouro, a par de uma diminuição das

subscrições líquidas de unidades de participação em fundos de investimento. Esta evolução sugere que a

aceleração dos depósitos no período mais recente deverá estar associada a um movimento de recomposição

da carteira de aplicações fi nanceiras dos particulares. No que respeita à estratégia de fi nanciamento dos

bancos, para além da oferta de remunerações mais atrativas nos depósitos, as instituições terão adotado

uma estratégia comercial direcionada para a transferência de recursos de clientes de títulos de dívida e

de instrumentos extrapatrimoniais para depósitos. Paralelamente, a prazo, a evolução dos depósitos de

particulares tenderá a refl etir o aumento expectável da taxa de poupança no contexto do processo de

ajustamento da economia portuguesa ao longo dos próximos anos.

4 Para mais detalhes a respeito da evolução da carteira de aplicações fi nanceiras dos particulares, ver “Capitulo 3 Situação fi nanceira do setor privado não fi nanceiro”, deste Relatório.

Gráfi co 4.3.7 Gráfi co 4.3.8

DEPÓSITOS DE PARTICULARES RESIDENTES | TAXAS DE VARIAÇÃO

DEPÓSITOS DE PARTICULARES RESIDENTES E DE EMIGRANTES NO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS | TAXA DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA E

RESPETIVOS CONTRIBUTOS

-10.0

-5.0

0.0

5.0

10.0

15.0

20.0

25.0

30.0

35.0

Dez-98 Jun-00 Nov-01 Mai-03 Nov-04 Mai-06 Nov-07 Mai-09 Nov-10

Em

perc

enta

gem

Taxa de variação homóloga

Taxa de variação trimestral anualizada

-18

-15

-12

-9

-6

-3

0

3

6

9

12

15

18

-18

-15

-12

-9

-6

-3

0

3

6

9

12

15

18

Jan-99 Jul-00 Jan-02 Jul-03 Jan-05 Jul-06 Jan-08 Jul-09 Jan-11

Em

perc

enta

gem

Em

ponto

s perc

entu

ais

Dep. prazo mais de 2 anosDep. prazo de 1 a 2 anosDep. prazo até 1 anoDep. ordem e pré-avisoTotal (esc. direita)

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Nota: A taxa de variação trimestral anualizada é calculada com base em valores ajustados de sazonalidade.

Page 75: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

69

4

Sist

ema

Banc

ário

Diminuição do rácio entre o crédito e os recursos de clientes no período mais recente, apesar

do aumento verifi cado no primeiro semestre de 2010, sugerindo que se terá iniciado na

segunda metade do ano o processo de desalavancagem do sistema bancário

O rácio entre o crédito e os recursos de clientes apresentou uma evolução diferenciada ao longo de 20105.

Na primeira metade do ano, apesar das perturbações nos mercados internacionais de fi nanciamento por

grosso, registou-se um aumento do crédito superior ao dos recursos de clientes, em base consol idada

(Gráfi co 4.3.9 e Gráfi co 4.3.10). Esta evolução foi semelhante para o sistema bancário e para o agregado

dos bancos domésticos, mantendo estes últimos níveis inferiores aos observados para os bancos não

domésticos. Importa referir que, para o aumento do rácio entre o crédito e os depósitos observado no

contexto de intensifi cação da turbulência nos mercados de dívida soberana, contribuiu o signifi cativo

aumento do crédito concedido à administração central e às empresas não fi nanceiras de maior dimensão6.

Entre o segundo semestre de 2010 e o primeiro trimestre de 2011, observou-se uma diminuição do

rácio entre o crédito e os recursos de clientes, refl etindo essencialmente o aumento dos depósitos de

clientes, mas também alguma diminuição do crédito. Esta evolução surge em linha com o compromisso

de desalavancagem assumido no âmbito do programa de ajustamento económico e fi nanceiro, e deverá

prosseguir nos próximos anos. O rácio entre o crédito e os depósitos relativo à atividade internacional dos

bancos domésticos registou um aumento até ao terceiro trimestre de 2010 e uma diminuição no último

trimestre do ano. Este rácio manteve-se em valores relativamente reduzidos comparativamente com os

observados para a atividade doméstica7. No contexto da área do euro, o sistema bancário português

apresentava no fi nal de 2009 um rácio entre o crédito e os depósitos relativamente elevado.

O aumento do rácio entre o crédito e os recursos de clientes no primeiro semestre de 2010 e a diminuição

que se seguiu na segunda metade do ano e, em menor grau, no primeiro trimestre de 2011, foram obser-

5 O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não considera os títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes.

6 Para mais detalhes ver “Secção 2.2 Condições monetárias e fi nanceiras da economia portuguesa”, Banco de Portugal, Relatório Anual-2010.

7 O valor dos créditos titularizados e não desreconhecidos, que não está incluído nos rácios entre o crédito e os depósitos calculados para a atividade internacional, está em larga medida concentrado na atividade doméstica dos bancos.

Gráfi co 4.3.9

RÁCIOS ENTRE CRÉDITO E RECURSOS DE CLIENTES(a) | SISTEMA BANCÁRIO

120

130

140

150

160

170

180

Jun-05 Mar-06 Dez-06 Set-07 Jun-08 Mar-09 Dez-09 Set-10

Em

perc

enta

gem

Rácio crédito bruto (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientesRácio crédito bruto (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes(b)

Rácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titulari-zados e não desreconhecidos) - recursos de clientes

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) São utilizados dados em base consolidada. O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não con-sidera os títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes. A quebra de série em 2007 corresponde a um alargamento do conjunto de instituições em análise. (b) Dados recolhidos ao abrigo da instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal, que considera apenas as instituições que recebem depósitos de clientes.

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70

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vados para a generalidade das instituições domésticas (Gráfi co 4.3.11). Ainda assim, importa destacar o

contributo particularmente relevante para a diminuição do rácio entre o crédito e os depósitos por parte

de uma instituição que detinha um rácio particularmente elevado e que, para além de ter desenvolvido

um plano de desalavancagem que permitiu reduzir o crédito, registou um aumento signifi cativo dos

depósitos, em parte por via da transferência de recursos de fora do balanço.

Gráfi co 4.3.10

RÁCIOS ENTRE CRÉDITO E RECURSOS DE CLIENTES(a) | BANCOS DOMÉSTICOS

90

100

110

120

130

140

150

160

Jun-05 Mar-06 Dez-06 Set-07 Jun-08 Mar-09 Dez-09 Set-10

Em

perc

enta

gem

Rácio crédito bruto (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientesRácio crédito bruto (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes(b)

Rácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titulari-zados e não desreconhecidos) - recursos de clientesRácio crédito bruto - recursos de clientes (Atividade interna-cional)(c)

Rácio crédito líquido de imparidade - recursos de clientes (atividade internacional)(c)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) São utilizados dados em base consolidada. O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não con-sidera os títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes. A quebra de série em 2007 corresponde a um alargamento do conjunto de instituições em análise. (b) Dados recolhidos ao abrigo da instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal, que considera apenas as instituições que recebem depósitos de clientes.

Gráfi co 4.3.11

RÁCIO ENTRE O CRÉDITO E OS RECURSOS DE CLIENTES - INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS | DISTRIBUIÇÃO

EMPÍRICA

0 50 100 150 200 250 300

Dez-09Jun-10Dez-10Mar-11

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Dados em base consolidada. O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não considera os títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes. Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal. Distribuição empírica obtida recorrendo a métodos não paramétricos, nomeadamente a um kernel gaussiano que pondera as insti-tuições pelo seu ativo.

Page 77: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

71

4

Sist

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ário

Num quadro de signifi cativas difi culdades de acesso aos mercados de fi nanciamento

por grosso, registou-se um forte aumento dos recursos líquidos de aplicações junto do

Eurosistema

No contexto da signifi cativa deterioração das condições de acesso aos mercados de dívida internacional,

quer em termos de preços, quer em termos de quantidades, observou-se em 2010, em particular no

segundo trimestre do ano, um forte aumento do recurso dos bancos portugueses ao fi nanciamento

junto do Eurosistema (Quadro 4.3.2). Estes recursos permitiram ao sistema bancário continuar a fi nan-

ciar o setor não monetário residente num enquadramento de perturbações nos mercados fi nanceiros

internacionais e de subida limitada dos recursos de clientes. Adicionalmente, os recursos obtidos junto

do Eurosistema foram em parte utilizados para fi nanciar sucursais de bancos portugueses no exterior

no primeiro semestre de 2010, num contexto da aplicação de regras de liquidez mais exigentes às suas

fi liais e sucursais no estrangeiro.

No primeiro trimestre de 2010, e relativamente às instituições domésticas, os recursos líquidos de outras

instituições de crédito mantiveram-se relativamente estáveis. No caso das instituições não domésticas

registou-se no mesmo período um aumento dos recursos líquidos de outras instituições de crédito,

motivado essencialmente pelo aumento dos recursos de outras instituições de crédito no estrangeiro.

A evolução observada para os recursos de outras instituições de crédito desde o segundo trimestre

de 2010 refl etiu as tensões acrescidas nos mercados de dívida soberana, e a sua repercussão sobre o

acesso dos bancos portugueses aos mercados internacionais de dívida por grosso. Assim, no caso dos

Quadro 4.3.2

POSIÇÃO DOS BANCOS PORTUGUESES FACE A BANCOS CENTRAIS E A OUTRAS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO | EM BASE CONSOLIDADA, EM MILHARES DE MILHÕES DE EUROS

Sistema bancário Dez-07

Dez-08

Jun-09

Dez-09

Mar-10

Jun-10

Set-10

Dez-10

Recursos (líq.) de bancos centrais -6.9 3.7 -4.8 4.2 7.5 34.9 38.2 38.7

Recursos (líq.) de outras instituições de crédito 32.7 40.7 39.2 35.4 39.1 43.1 42.0 49.2

Caixa, disponibilidades e aplicações em bancos centrais 12.7 10.7 17.8 15.3 13.2 11.1 8.4 10.5

Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito 39.7 33.6 33.8 38.9 38.9 35.9 36.3 31.9

no país 8.5 11.9 11.0 13.2 12.2 13.0 12.6 8.8

no estrangeiro 31.2 21.7 22.9 25.7 26.6 22.9 23.7 23.0

sede e sucursais da própria instituição 3.2 1.0 0.9 0.5 1.8 9.4 9.3 9.5

Recursos de bancos centrais 5.7 14.4 13.1 19.4 20.7 46.0 46.7 49.2

Recursos de outras instituições de crédito 72.4 74.3 73.0 74.3 78.0 79.0 78.3 81.1

no país 7.7 10.2 7.8 8.6 6.3 7.5 7.2 7.0

no estrangeiro 64.7 64.1 65.3 65.8 71.6 71.5 71.1 74.1

sede e sucursais da própria instituição 12.6 15.6 14.6 13.0 14.1 26.5 28.6 29.4

Bancos domésticos Dez-07

Dez-08

Jun-09

Dez-09

Mar-10

Jun-10

Set-10

Dez-10

Recursos (líq.) de bancos centrais -8.1 2.4 -6.2 2.2 5.6 30.5 31.8 32.9

Recursos (líq.) de outras instituições de crédito 9.8 8.4 8.6 6.0 6.3 8.5 6.5 10.7

Caixa, disponibilidades e aplicações em bancos centrais 11.6 9.2 16.5 13.4 11.3 9.2 6.9 9.0

Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito 26.0 23.4 22.8 23.4 22.9 18.4 19.5 15.4

no país 6.1 9.3 8.7 10.8 9.5 9.3 9.1 6.2

no estrangeiro 19.9 14.2 14.2 12.6 13.4 9.1 10.4 9.2

sede e sucursais da própria instituição 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0

Recursos de bancos centrais 3.5 11.5 10.2 15.7 17.0 39.7 38.7 41.9

Recursos de outras instituições de crédito 35.8 31.8 31.4 29.5 29.2 26.9 26.0 26.1

no país 5.5 7.9 5.6 6.0 4.6 4.8 5.0 5.7

no estrangeiro 30.3 23.9 25.9 23.5 24.7 22.2 21.0 20.4

sede e sucursais da própria instituição 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0

Fonte: Banco de Portugal.

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72

I

bancos domésticos, observou-se uma diminuição dos recursos obtidos junto de outras instituições de

crédito que foi compensada por uma diminuição mais expressiva das disponibilidades e aplicações junto

de outras instituições de crédito. No caso dos bancos não domésticos registou-se, de forma particular-

mente marcada no segundo trimestre, um aumento dos recursos obtidos junto da sede e sucursais das

próprias instituições.

A informação disponível para o primeiro trimestre de 2011, que considera apenas as instituições que

recebem depósitos de clientes, ilustra a intensifi cação das difi culdades de acesso aos mercados inter-

nacionais de dívida por grosso. No caso dos bancos domésticos, registou-se um aumento dos recursos

líquidos obtidos junto de bancos centrais e, de forma mais signifi cativa, um aumento dos recursos líquidos

de outras instituições de crédito, que refl etiu essencialmente uma diminuição das disponibilidades e

aplicações em outras instituições de crédito.

Manutenção do recurso ao fi nanciamento junto do Eurosistema em valores elevados

No contexto das difi culdades de obtenção de fi nanciamento junto dos mercados de dívida internacionais,

os bancos recorreram ao fi nanciamento junto do Eurosistema em montantes elevados, tendo atingido,

em Agosto de 2010, um valor superior a 10 por cento do ativo consolidado das outras instituições fi nan-

ceiras monetárias residentes – valor que em dezembro de 2010 ainda era da ordem de 8 por cento. O

programa de ajustamento económico e fi nanceiro prevê um reforço do colateral dos bancos, de forma

a possibilitar um aumento do recurso a esta fonte de fi nanciamento, em resposta a desenvolvimentos

negativos inesperados. Ainda assim, tal aumento deverá ter um caráter pontual, devendo os bancos

transitar de uma forma ordenada para uma estrutura de fi nanciamento mais baseada em recursos

estáveis, nomeadamente recursos de clientes. Ainda em 2010, o forte peso do fi nanciamento obtido

junto do Eurosistema no balanço dos bancos motivou um conjunto de ações do Banco de Portugal junto

daquelas instituições no sentido de incentivar o recurso a fontes de fi nanciamento alternativas. Neste

contexto, verifi cou-se em setembro uma diminuição do saldo das operações de política monetária dos

bancos portugueses, em linha com o aumento dos recursos de clientes, com a realização de algumas

operações de venda com acordo de recompra de títulos no mercado e com alguma melhoria nas condi-

ções de acesso aos mercados de dívida por grosso de curto prazo, sendo ainda de destacar o contributo

de uma operação de montante elevado decorrente da venda de ativos ao exterior por parte de uma

empresa nã o fi nanceira (Gráfi co 4.3.12).

Posteriormente, o recurso ao fi nanciamento junto do Eurosistema manteve-se relativamente estável em

níveis elevados. Em abril, no contexto da deterioração da avaliação do risco associado aos emitentes

portugueses que culminou no pedido de assistência fi nanceira internacional, observou-se um aumento

adicional do recurso dos bancos portugueses às operações de política monetária. Esta evolução prosse-

guiu até meados de maio tendo-se observado no fi nal do mês uma reversão do recurso a esta fonte de

fi nanciamentro para um valor próximo do registado no fi nal de abril. Por sua vez, o recurso ao fi nan-

ciamento obtido junto do Eurosistema para o conjunto dos países da área do euro tem seguido uma

trajetória descendente no período mais recente (Gráfi co 4.3.13).

Deterioração generalizada dos gaps de liquidez no primeiro semestre de 2010, seguida de

alguma reversão e de uma nova deterioração no período mais recente

Os gaps de liquidez do sistema bancário português apresentaram no primeiro semestre de 2010 uma

deterioração em todos os prazos considerados sendo que, para o agregado das instituições domésticas,

esta foi particularmente marcada nos horizont es mais curtos (Gráfi co 4.3.14)8. Esta evolução deveu-se

8 Gap de liquidez defi nido como (Ativos Líquidos – Passivos Voláteis)/(Ativo – Ativos Líquidos)*100, em cada es-cala cumulativa de maturidade.

Page 79: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

73

4

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ário

essencialmente ao aumento dos passivos voláteis, que mais do que compensou o aumento dos ativos

elegíveis como colateral para as operações de política monetária do Eurosistema, refl etindo em grande

medida a substituição de fi nanciamento a prazos mais longos por fi nanciamento junto do Eurosistema

(Gráfi co 4.3.15). Este efeito surgiu reforçado pelo facto de, a partir de maio, o fi nanciamento junto do

Eurosistema ter sido feito a prazos mais curtos do que na segunda metade de 2009. No terceiro trimestre

de 2010 assistiu-se a uma melhoria dos gaps de liquidez que foi particularmente signifi cativa para as

instituições domésticas e que, no que respeita aos prazos mais longos, se prolongou até ao fi nal do

ano. Esta evolução surge num contexto em que se observou uma estabilização dos recursos líquidos de

aplicações junto de bancos centrais, ao passo que os ativos elegíveis para operações de crédito junto de

Gráfi co 4.3.13

SALDO DAS OPERAÇÕES DE POLÍTICA MONETÁRIA DO EUROSISTEMA

-600

-400

-200

0

200

400

600

800

1000

Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11

Em

milh

are

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ilhões

de e

uro

s

Operações principais de refi nanciamentoOperações de refi nanciamento de prazo alargadoFacilidade permanente de cedência de liquideOutras operações de cedência de liquidez(a)

Facilidade permanente de depósitoOutras operações de absorção de liquidez(b)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Inclui as “Operações ocasionais de regularização de liquidez” e as “Operações estruturais de ajustamento de liquidez”. (b) Inclui “Depósitos a prazo” e “Acordos de recompra”.

Gráfi co 4.3.12

SALDO DAS OPERAÇÕES DE POLÍTICA MONETÁRIA DOS BANCOS PORTUGUESES

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11

Em

perc

enta

gem

Em

milh

are

s de m

ilhões

de e

uro

s Operações principais de refi nanciamentoOperações de refi nanciamento de prazo alargadoFacilidade permanente de cedência de liquideOutras operações de cedência de liquidez(a)

Facilidade permanente de depósitoOutras operações de absorção de liquidez(b)

Peso do fi nanciamento obtido junto do Eurosistema no ativo concolidado das OIFM residentes(c)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Inclui as “Operações ocasionais de regularização de liquidez” e as “Operações estruturais de ajustamento de liquidez”. (b) Inclui “Depósitos a prazo” e “Acordos de recompra”. (c) OIFM - Outras Instituições Financeiras Monetárias.

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• M

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74

I

bancos centrais continuaram a aumentar, essencialmente no que respeita aos bancos domésticos. Os

indicadores para os prazos mais longos situavam-se assim em dezembro de 2010 em valores superiores

aos observados no fi nal do ano anterior (ou seja, em valores menos negativos).

No primeiro trimestre de 2011, verifi cou-se uma deterioração dos gaps de liquidez, em linha com a dimi-

nuição observada nos ativos líquidos. Esta evolução refl etiu, no contexto da deterioração da avaliação

do risco soberano português nos mercados de dívida internacionais, a diminuição do valor dos ativos

Gráfi co 4.3.14

GAPS DE LIQUIDEZ EM ESCALAS CUMULATIVAS DE MATURIDADE

-21

-18

-15

-12

-9

-6

-3

0

3

6

9

12

Dez-08Mar-09 Jun-09 Set-09 Dez-09Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10Mar-11

Em

perc

enta

gem

dos

ativ

os

tota

is d

eduzi

dos

dos

ativ

os

líquid

os

Até 1 mêsAté 3 mesesAté 1 ano

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Gap de liquidez defi nido como (Ativos líquidos - Passivos voláteis)/(Ativo - Ativos líquidos)x100 em cada escala cumulativa de maturidade residual. O indicador foi calculado com base nos dados e nos conceitos defi nidos na Instrução 13/2009. Os resultados para as instituições domésticas surgem a tracejado.

Gráfi co 4.3.15

GAP DE LIQUIDEZ DAS INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS PARA HORIZONTES TEMPORAIS DE ATÉ 12 MESES | PRINCIPAIS CONTRIBUTOS

-40

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Dez-08 Mar-09 Jun-09 Set-09 Dez-09 Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11

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eduzi

do d

os

ativ

os

líquid

os

Ativos elegíveis como garantia em operações de crédito de bancos centrais (disponíveis)Instrumentos fi nanceiros derivadosCompromissos assumidos perante terceirosOutros ativos/passivosRecursos (liq.) de bancos centraisRecursos (liq.) de outras instituições de créditoResponsabilidades representadas por títulosGap de liquidez - Até 1 mêsGap de liquidez - Até 3 mesesGap de liquidez - Até 1 ano

Fontes: Banco de Portugal.

Nota: Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal.

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elegíveis como colateral para as operações de política monetária junto do Eurosistema bem como, no

caso das instituições domésticas, a evolução dos recursos líquidos obtidos junto de outras instituições

de crédito que não bancos centrais.

Os gaps de liquidez evoluíram de forma próxima para a generalidade das instituições em 2010 e no

primeiro trimestre de 2011. Contudo, em linha com a intensifi cação das perturbações nos mercados de

fi nanciamento, observou-se na primeira metade de 2010 um aumento da dispersão dos valores obser-

vados para este indicador, em particular para os pr azos mais cu rtos (Gráfi co 4.3.16 e Gráfi co 4.3.17).

O processo de desalavancagem do sistema bancário português nos próximos anos, acordado no âmbito

do programa de ajustamento económico e fi nanceiro, deverá traduzir-se numa melhoria dos gaps de

liquidez à medida que os bancos convirjam para uma estrutura de fi nanciamento mais estável, traduzindo-

-se em rácios entre o crédito e os recursos de clientes mais baixos. Este facto deverá contribuir para que,

a prazo, os bancos recuperem o acesso aos mercados de dívida por grosso.

A evolução dos elementos extrapatrimoniais, e nomeadamente a sua probabilidade de

execução, como risco adicional para a posição de liquidez dos bancos e para o processo de

desalavancagem

No atual contexto de crise económica, e em particular de signifi cativas difi culdades de fi nanciamento

das empresas, uma possível fonte de pressão adicional sobre a liquidez dos bancos prende-se com os

compromissos assumidos perante terceiros, que incluem linhas de crédito, descobertos bancários e

garantias concedidas. De facto, existe a possibilidade de se verifi car uma utilização dos compromissos

assumidos mais intensa do que o esperado por parte das instituições, traduzindo-se na transferência

destes elementos extrapatrimoniais para o balanço dos bancos e, consequentemente, num risco adicional

para o processo de desalavancagem que os bancos deverão desenvolver nos próximos anos.

Gráfi co 4.3.16 Gráfi co 4.3.17

GAP DE LIQUIDEZ ATÉ 1 MÊS - INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA

GAP DE LIQUIDEZ ATÉ 12 MESES - INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA

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Dez-09Jun-10Dez-10Mar-11

-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40

Dez-09Jun-10Dez-10Mar-11

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal. Distribuição empírica obtida recorren-do a métodos não paramétricos, nomeadamente a um kernel gaussiano que pondera as instituições pelo seu ativo.

Notas: Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal, considerando dados em base consoli-dada. Distribuição empírica obtida recorrendo a métodos não paramétricos, nomeadamente a um kernel gaussiano que pon-dera as instituições pelo seu ativo.

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De acordo com a instrução do Banco de Portugal No. 12/2009 os bancos reportam, por maturidades resi-

duais, o valor dos compromissos assumidos perante terceiros em relação aos quais haja certeza ou elevada

probabilidade de execução, incluindo na classe de maturidade superior a 12 meses os compromissos que

considerem como sendo de execução improvável. Embora o valor dos compromissos assumidos perante

terceiros tenha registado uma diminuição no primeiro trimestre de 2011, estes constituíram ainda assim

um valor muito signifi cativo. A fração dominante deste valor é representada pelos compromissos com

reduzida probabilidade de execução ou com maturidade residual superior a 12 meses. Por seu turno, os

compromissos incluídos nas classes de maturidade até 1 ano representaram cerca de 1.5 por cento do

ativo total, merecendo entre estes particular destaque os compromissos com prazo de execução esperado

inf erior a uma semana (Gráfi co 4.3.18). Importa ainda referir que estes valores incluem compromissos

revogáveis e irrevogáveis, representando estes últimos cerca de um terço do total em março de 2011.

Gráfi co 4.3.18

COMPROMISSOS ASSUMIDOS PERANTE TERCEIROS PELO SISTEMA BANCÁRIO

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6 000

8 000

10 000

12 000

Dez-08 Jun-09 Dez-09 Abr-10 Jun-10 Dez-10

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ões

de e

uro

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À vista e até 1 semanaSuperior a 1 semana e até 1 mêsSuperior a 1 mês e até 3 mesesSuperior a 3 meses e até 6 mesesSuperior a 6 meses e até 12 meses

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Dados recolhidos ao abrigo da instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal, que considera apenas as instituições que recebem depósitos de clientes.

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4.4. Risco de crédito

A taxa de variação anual dos empréstimos bancários ao setor privado não fi nanceiro permaneceu estável

em torno de 2 por cento ao longo de 2010, embora com uma clara desaceleração para valores próximos

de 1 por cento a partir de dezembro1. A contribuir para o crescimento do crédito em 2010 estiveram

sobretudo os empréstimos a particulares para aquisição de habitação e os empréstimos a sociedades não

fi nanceiras de grande dimensão. Este crescimento foi sustentado de forma signifi cativa por instituições

fi nanceiras residentes não domésticas (ver “Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições fi nanceiras

residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa”, deste Relatório).

Ao nível do incumprimento, seguindo a tendência registada em 2010, o primeiro trimestre de 2011

caracterizou-se por uma forte materialização do risco de crédito (Gráfi co 4.4.1). No entanto, registam-

-se situações diferenciadas consoante o segmento. Assim, enquanto o rácio de incumprimento nos

1 O mês de dezembro de 2010 fi cou marcado por duas operações com um forte impacto nas estatísticas mone-tárias e fi nanceiras. De forma a facilitar a análise, os dados apresentados neste relatório foram corrigidos destas operações. Assim, em primeiro lugar, as empresas Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto passaram do setor das sociedades não fi nanceiras para o setor das administrações públicas. Esta passagem foi tratada nas estatís-ticas monetárias e fi nanceiras, para fi ns de cálculo das taxas de variação anual, por via de uma reclassifi cação. No entanto, note-se que todas as variáveis stock permanecem afetadas por esta alteração. Paralelamente, o BPN procedeu à venda de uma carteira de crédito com um valor próximo de 1.7 mil milhões (dos quais 1.6 mil milhões ao setor privado não fi nanceiro) à Parvalorem, empresa que, também no mês de dezembro, transitou para o setor das administrações públicas. Esta operação teve impacto tanto ao nível das taxas de variação dos empréstimos como nos rácios de incumprimento. Relativamente às taxas de variação anuais, as estatísticas mo-netárias e fi nanceiras publicadas corrigem cerca de 55 por cento do impacto gerado por esta operação (corres-pondentes às imparidades). Os gráfi cos apresentados corrigem esta operação na totalidade. Ao nível do rácio de incumprimento, tratando-se de um rácio de duas varáveis stock, este não se encontra corrigido nas estatísticas monetárias e fi nanceiras. De forma a melhor compreender a evolução deste indicador corrigiram-se os valores na totalidade, sendo que os gráfi cos publicados apresentam as duas séries.

Gráfi co 4.4.1

INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS AO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO RESIDENTE

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Rácio de incumprimento(a)

Rácio incumprimento corrigido(a),(c)

Fluxo anual de novos empréstimos vencidos e de cobrança duvidosa (esc. dir.)(b)

Fluxo corrigido (esc. dir.)(b),(c)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Defi nido como crédito em incumprimento (empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa) em percentagem do sal-do dos empréstimos ajustados de titularização. (b) A estimativa do fl uxo anual de novos empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em percentagem dos empréstimos, corrigidos de titularização, sendo calculada ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassifi cações e, a partir de dezembro de 2005, das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reporta-dos em base trimestral conforme a Instrução nº 2/2007 do Banco de Portugal. (c) Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem e da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das administrações públicas.

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empréstimos a particulares para aquisição de habitação permaneceu estável a níveis historicamente

elevados mas relativamente contidos, o incumprimento nos empréstimos a particulares para consumo

e outros fi ns e nos empréstimos a sociedades não fi nanceiras continuou a aumentar. Ao nível do fl uxo

anual de novos empréstimos em incumprimento, após cerca de um ano de clara redução, assistiu-se no

primeiro trimestre de 2011 a um novo aumento para níveis que, à exceção dos empréstimos às famílias

para aquisição de habitação, se podem considerar como elevados. Dado o atual contexto económico,

caracterizado por uma necessidade de desalavancagem do setor público e privado, as perspetivas de

aumento de incumprimento sugerem a necessidade de um reforço da dotação de imparidade para

perdas na carteira de crédito, em especial nos empréstimos a particulares para consumo e outros fi ns e

nos empréstimos às sociedades não fi nanceiras (Quadro 4.4.1).

Desaceleração dos empréstimos concedidos a particulares assente tanto em fatores do lado

da procura como do lado da oferta

Após um ano de gradual aceleração, assistiu-se a partir do segundo semestre de 2010 a uma forte

diminuição da taxa de variação anual dos empréstimos a particulares, em especial no segmento de

empréstimos para consumo e outros fi ns. No caso dos empréstimos para aquisição de habitação (Gráfi co

4.4.2), a taxa de variação anual passou de 3.3 por cento em junho de 2010 para 1.6 por cento em março

de 2011. O facto de a taxa de variação trimestral anualizada se encontrar abaixo da sua equivalente

Quadro 4.4.1

INDICADORES PROVISÕES E IMPARIDADES DE CRÉDITO | EM PERCENTAGEM

Dez. 2007

Dez. 2008

Jun. 2009

Dez. 2009

Jun. 2010

Último mês: Dez. 2010

Rácio de incumprimento na carteira de crédito/empréstimosao setor privado não fi nanceiro

Crédito, reporte em base consolidada(a)(b) 1.6 1.9 2.6 2.7 3.0 3.2

Crédito, reporte em base individual (conceito prudencial de incumprimento)(c)(d) 1.4 1.7 2.4 2.7 3.0 3.1

Fluxo anual de novos empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa (Estatísticas Monetárias e Financeiras)(e) 0.5 0.9 1.3 1.2 0.9 0.9

Provisões para crédito vencido e outro de cobrança duvidosa(base individual)(d)

Em percentagem do crédito 1.1 1.3 1.7 2.0 2.3 2.4

Em percentagem do crédito com incumprimento(conceito prudencial de incumprimento)(c) 76.9 74.3 69.2 74.9 75.7 77.9

Dotação de imparidade (base consolidada)(b)

Em percentagem do crédito 2.1 2.3 2.6 2.9 2.9 3.1

Em percentagem do crédito vencido 134.3 119.8 99.9 103.8 98.6 99.8

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Os valores apresentados não são comparáveis com anteriores edições do Relatório de Estabilidade Financeira, na medida em que, de forma a facilitar a análise, decidiu-se excluir o BPN a partir de 2008. (a) O crédito em incumprimento compreende o crédito e juros vencidos há mais de 30 dias. (b) Valores de crédito reportados em base consolidada pelo agregado do sistema bancário português, incluindo o crédito concedido a residentes e a não residentes, bem como os créditos concedidos pelas fi liais estrangeiras dos bancos portugueses. As titularizações desreconhecidas não foram consideradas. Para informação adicional consultar o Relatório de Estabilidade Financeira de 2008. (c) Crédito com incumprimento defi nido com base no conceito prudencial que compreende o crédito e juros vencidos há mais de 90 dias e outros créditos de cobrança duvidosa, que respeita às prestações futuras de um crédito quando houver dúvidas relativamente à sua cobrança, tal como se encontra estabelecido no Aviso do Banco de Portugal nº 3/95. (d) Valores de crédito a residentes reportados em base individual pelas outras instituições fi nanceiras monetárias (bancos, caixas econó-micas e caixas de crédito agrícola mútuo) e outros intermediários fi nanceiros. As titularizações desreconhecidas não foram conside-radas. (e) Valores dos empréstimos concedidos pelas outras instituições fi nanceiras monetárias a residentes, sendo o saldo ajustado pelo total das titularizações. A estimativa do fl uxo anual dos empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em percentagem dos empréstimos, corrigidos de titularização, sendo calculada ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassifi cações e das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados em base trimestral conforme Instrução do Banco de Por-tugal nº 2/2007. Ao contrário das restantes estatísticas deste quadro, que foram corrigidas do efeito da venda da carteira do BPN por exclusão da instituição, o fl uxo anual de novos créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa foi corrigido acrescentando no mês de dezembro de 2010 o valor da carteira e o respetivo crédito em incumprimento.

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anual desde o segundo trimestre de 2010 indicia que esta tendência de redução da taxa anual deverá

manter-se no futuro próximo. A contribuir para a maior sustentação do crescimento dos empréstimos a

particulares para aquisição de habitação terão estado sobretudo instituições fi nanceiras residentes não

domésticas, as quais estarão a aproveitar o atual quadro de maiores difi culdades de fi nanciamento das

instituições domésticas nos mercados internacionais de dívida por grosso para ganhar quota de mercado

(ver “Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições fi nanceiras residentes não domésticas no processo de

desalavancagem da economia portuguesa”, deste Relatório). No caso dos empréstimos para consumo

e outros fi ns, apesar do contributo positivo das instituições não domésticas, verifi caram-se taxas de

crescimento negativas (Gráfi co 4.4.3). Dadas as previsões de forte contração do consumo privado para

o resto do ano, é de esperar que estas taxas permaneçam negativas ao longo de 2011. Tal parece estar

já a ser indicado pelo facto de a taxa de variação trimestral anualizada se encontrar próxima de -3 por

cento. Por fi m, refi ra-se que, tal como no primeiro semestre de 2010, o crescimento dos empréstimos a

particulares para aquisição de habitação continua acima do que seria expectável, dados os seus deter-

minantes de longo prazo (taxas de juro e investimento em habitação)2.

De acordo com o Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, na base desta desaceleração terão

estado fatores tanto do lado da procura como da oferta. Do lado da procura, os bancos apontam a

menor confi ança dos consumidores, as perspetivas negativas relativamente ao mercado da habitação

e a menor despesa em bens de consumo duradouro. Do lado da oferta, o atual quadro de difi culdades

de fi nanciamento dos bancos domésticos nos mercados internacionais, acompanhado de perspetivas

negativas relativamente à evolução da atividade económica, terá conduzido a uma maior restrição dos

critérios de concessão de empréstimos, o que se terá traduzido num aumento dos spreads nos emprés-

timos para aquisição de habitação. Este aumento terá sido mais acentuado a partir de julho de 2010

2 Castro, G. e C. Santos, (2010), “Determinantes das taxas de juro e do crédito bancário”, Banco de Portugal, Boletim Económico – Primavera.

Gráfi co 4.4.2 Gráfi co 4.4.3

EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES | PARA

AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO

EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES | PARA

CONSUMO E OUTROS FINS

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Taxa de variação anualTaxa de variação trimestral anualizada

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Taxa de variação anualTaxa de variação trimestral anualizadaTaxa de variação anual corrigida(a)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A taxa de variação anual e trimestral é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fi m de mês, ajustados de operações de titularização, e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi cações, de abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de preço. A taxa de variação trimestral é ajustada de sazonalidade. Os valores apresentados estão corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem.

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A taxa de variação anual e trimestral é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fi m de mês, ajustados de operações de titularização, e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi cações, de abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de preço. A taxa de variação trimestral é ajustada de sazonalidade. (a) Valores corrigidos da venda de uma carteira de créditos do BPN à Parvalorem em dezembro de 2010.

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(Gráfi co 4.4.4) levando a taxa de juro das novas operações de crédito à habitação a situar-se, em março

de 2011, aproximadamente 100 p.b. acima da taxa de juro média de saldos. Note-se, no entanto, que

estes valores estão afetados negativamente por um efeito composição sem o qual o aumento do spread

teria sido ainda maior. Assim, o facto de os bancos estarem a limitar a concessão de empréstimos de maior

risco deverá estar a mitigar parcialmente o efeito do aumento do spread. No mesmo sentido, o crescente

peso dos bancos não domésticos, que atualmente praticam um spread mais baixo (ver “Caixa 4.1 O

papel mitigante das instituições fi nanceiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem

da economia portuguesa”, deste Relatório), no fl uxo de empréstimos concedidos estará a contribuir para

o não aumento do spread das novas operações. No caso dos empréstimos a particulares para consumo,

apesar do forte crescimento da taxa de juro das novas operações e das indicações dos bancos, não se

verifi cou um aumento do spread. Este facto deverá estar relacionado não só com um efeito composição

semelhante ao que se verifi ca nos empréstimos para aquisição de habitação, mas também à utilização da

taxa de rendibilidade das obrigações do Tesouro portuguesas como referência em relação à taxa de juro

praticada nos empréstimos para consumo com maturidade superior a 5 anos. Assim, a não repercussão

sobre as taxas de crédito ao consumo dos fortes aumentos da taxa de rendibilidade das obrigações

de dívida pública explicam em parte a obtenção de valores mais baixos para o spread bancário neste

segmento. O aumento das taxas de juro das novas operações de empréstimos a particulares refl etiu,

para além da evolução dos spreads, a subida das taxas Euribor em resultado das expectativas em torno

de uma possível sequência de aumentos da taxa de juro por parte do BCE.

Ao nível da distribuição da taxa de crescimento dos empréstimos a particulares, a elevada incerteza do

atual quadro económico conduziu a uma maior convergência das estratégias implementadas pelas dife-

rentes instituições fi nanceiras (Gráfi co 4.4.5). No caso dos empréstimos a particulares para aquisição de

habitação, onde essa convergência já era patente em dezembro de 2009, assistiu-se a uma ainda maior

concentração da distribuição em torno da sua moda, a qual teve uma ligeira diminuição. Não obstante

esse movimento de convergência, observou-se um forte crescimento por parte de algumas instituições

residentes não domésticas. Relativamente aos empréstimos a particulares para consumo e outros fi ns,

e apesar da elevada dispersão de quotas de mercado neste segmento, verifi cou-se também alguma

Gráfi co 4.4.4

TAXAS DE JURO DE EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO E PARA CONSUMO

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Spread - habitação (esc.dir.)(a)Spread - consumo (esc.dir.)(b)Taxa de juro de novas operações - habitaçãoTaxa de juro de novas operações - consumo(c)Taxa de juro de saldos - habitação

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Spread de taxa de juro de novos empréstimos a particulares para aquisição de habitação utilizando Euribor a 6 meses. (b) Spread de taxa de juro de novas empréstimos a particulares para consumo estimado utilizando, respetivamente, a Euribor a 6 meses, a Euribor a 1 ano e a taxa de rendibilidade das obrigações de Tesouro portuguesas com prazo residual de 5 anos, nos casos em que o prazo de fi xação inicial da taxa é 1 ano, entre 1 e 5 anos e mais de 5 anos). (c) Taxa de juro média calculada com base nas taxas de novos empréstimos por prazo de fi xação inicial da taxa, ponderados pelos montantes de novas operações em cada prazo.

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convergência, ainda que num intervalo relativamente amplo. Esta concentração deu-se sobretudo em

torno de taxas de variação ligeiramente negativas. Ainda assim, um número bastante signifi cativo de

instituições apresentou taxas de crescimento fortemente positivas.

Forte materialização do risco de crédito sustentada pelos empréstimos a particulares para

consumo e outros fi ns

Dando seguimento à tendência de aumento iniciada no primeiro trimestre de 2008, observou-se, ao

longo de 2010 e no primeiro trimestre de 2011, uma subida do rácio de incumprimento dos empréstimos

bancários a particulares (Gráfi co 4.4.6)3. O referido acréscimo do incumprimento refl ete no entanto duas

situações distintas. Assim, no que concerne aos empréstimos a particulares para aquisição de habitação, o

rácio de incumprimento permanece estável em níveis mais elevados do que os observados antes do início

da crise fi nanceira internacional, mas que podem ser considerados relativamente contidos. Esta estabili-

zação esteve associada a uma gradual diminuição nos fl uxos de novos empréstimos em incumprimento

a partir do primeiro semestre de 2009 (Gráfi co 4.4.7). Apesar de esta tendência ter sido revertida no

primeiro trimestre de 2011, o fl uxo de novos empréstimos para aquisição de habitação em incumprimento

permanece em linha com a média registada desde o início da área do euro. Adicionalmente, refi ra-se

que embora o rácio de incumprimento permaneça estável, existe evidência que o número de devedores

em incumprimento no crédito à habitação está a reduzir-se, o que poderá estar a refl etir, em parte, um

aumento da execução de hipotecas e/ou das dações em pagamento (Quadro 4.4.2).

A situação atual poderá registar alterações com a evolução de vários indicadores. Por um lado, o atual quadro de aumento da taxa de desemprego e de queda da atividade económica, acompanhado por um aumento das taxas de juro do mercado interbancário poderá contribuir para um aumento do incum-

3 A carteira de créditos vendida pelo BPN à Parvalorem (já referida na nota 1) era constituída maioritariamente por empréstimos a sociedades não fi nanceiras (86 por cento), sendo que dos restantes 14 por cento, apenas 1.5 por cento correspondia a empréstimos a particulares para aquisição de habitação. Aproximadamente 68% da carteira correspondia a créditos de cobrança duvidosa. Dado este perfi l, o impacto desta venda nos rácios de incumprimento tendeu a concentrar-se nos empréstimos a sociedades não fi nanceiras e nos empréstimos a particulares para consumo e outros fi ns.

Gráfi co 4.4.5

DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DA TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES

Para aquisição de habitação Para consumo e outros fi ns

-20 -16 -12 -8 -4 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48

Taxa de variação anual dos empréstimos

Dez 09Dez 10

-20 -16 -12 -8 -4 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56 60

Taxa de variação anual dos empréstimos

Dez 09Dez 10

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano que pondera as instituições fi nanceiras pelo crédito concedido.

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primento. Por outro lado, a existência de vários mitigantes, de onde se destaca o facto das famílias de menor rendimento terem uma participação muito baixa neste segmento de mercado, os relativamente contidos rácios de serviço da dívida das famílias portuguesas em comparação com as famílias de outros países da área do euro e o facto de um grande número de empréstimos terem associadas garantias pessoais que acrescem à hipoteca do imóvel, deverá contribuir para diminuir a vulnerabilidade dos rácios de incumprimento a uma conjuntura macroeconómica desfavorável4.

No que se refere aos empréstimos a particulares para consumo e outros fi ns, e em contraste com o observado nos empréstimos para aquisição de habitação, registou-se uma forte subida do rácio de incumprimento ao longo de 2010 e no primeiro trimestre de 2011 (Gráfi co 4.4.6). Este aumento refl ete sobretudo o facto dos fl uxos de novos empréstimos em incumprimento permanecerem em valores historicamente elevados (Gráfi co 4.4.7). Acresce que, eliminando o efeito causado pela venda da carteira de crédito do BPN, o fl uxo de novos empréstimos em incumprimento apresenta desde setembro de 2010 uma tendência ascendente. A contribuir para o elevado nível dos fl uxos de novos empréstimos em incumprimento no caso do crédito ao consumo deverão ter estado duas ordens de fatores. Por um lado, o maior acesso a este mercado por parte de famílias de rendimento mais reduzido durante os anos que antecederam a atual crise fi nanceira5 poderá ter tornado este segmento mais sensível ao forte aumento do desemprego no contexto da atual crise. Em segundo lugar, o facto do crédito para consumo e outros fi ns ser em larga maioria concedido a taxa fi xa faz com que este tenha benefi ciado em menor grau do facto das taxas de juro do mercado monetário se encontrarem em valores historicamente baixos.

4 Ver Housing Finance in the Euro Area, Occasional Paper Series No 101, European Cen-tral Bank, 2009 e “Caixa 4.3 Crédito concedido às famílias e incumprimento: uma caracterizaçãocom base na Central de Responsabilidades de Crédito “, Relatório de Estabilidade Financeira Maio 2010.

5 Resultados apresentados nos inquéritos ao Património e Endividamento das Famílias, realizados em 2000 e em 2006/2007.

Gráfi co 4.4.6 Gráfi co 4.4.7

RÁCIOS DE INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS

FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA

Particulares Particulares

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TotalHabitaçãoConsumo e outros finsTotal corrigido(a)Habitação corrigido(a)Consumo e outros fins corrigido(a)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Defi nido como crédito com incumprimento (emprésti-mos vencidos e outros de cobrança duvidosa) em percentagem do saldo dos empréstimos ajustados de titularização. (a) Valo-res corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem.

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A estimativa do fl uxo anual de novos empréstimos ven-cidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em percen-tagem dos empréstimos, corrigidos de titularização, sendo cal-culada ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassifi cações e, a partir de dezembro de 2005, das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados em base trimestral conforme a Instrução nº 2/2007 do Banco de Portugal. (a) Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem.

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Quadro 4.4.2

INDICADORES DE INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES, POR DIMENSÃO DA EXPOSIÇÃO(a)

Jun. 2009 Dez. 2009 Jun. 2010 Dez. 2010

Habitação

Exposição total

Número de devedores com incumprimento (%) 6.7 5.1 5.4 4.9

Crédito e juros vencidos (%) 1.6 1.7 1.9 1.8

Exposições de montante superior ao P90

Percentagem do crédito 28.3 28.5 28.6 28.6

Número de devedores com incumprimento (%) 7.8 6.3 6.4 5.9

Crédito e juros vencidos (%) 1.5 1.6 1.8 1.8

Consumo

Exposição total

Número de devedores com incumprimento (%) 11.6 12.2 12.7 12.8

Crédito e juros vencidos (%) 5.9 6.9 7.5 8.6

Exposições de montante superior ao P90

Percentagem do crédito 54.5 54.5 54.7 54.7

Número de devedores com incumprimento (%) 12.7 13.0 13.3 13.7

Crédito e juros vencidos (%) 4.4 5.3 5.9 7.1

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC). Correspondem a crédito con-cedido por bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições fi nanceiras de crédito, sociedades de facto-ring, sociedades de locação fi nanceira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários fi nanceiros residentes. Apenas as exposições face a uma determinada instituição fi nanceira superiores a 50 euros foram consideradas e foram excluídas as linhas de crédito não utilizadas. Considerou-se que uma determinada sociedade não fi nanceira se encontra em situação de incumprimento se o montante de crédito vencido for superior a 0.5 por cento da sua exposição face ao sistema fi nanceiro. Os valores obtidos através da CRC não têm necessariamente que coincidir com os apurados no âmbito das Estatísticas Monetárias e Financeiras (EMF) visto que as instituições com obrigações de reporte direto para efeito das EMF (Bancos, Caixas Económicas e Caixas de Crédito Agrícola Mútuo) são um subconjunto das entidades participantes na CRC.

Crescimento ligeiramente positivo dos empréstimos concedidos a sociedades não fi nanceiras,

apesar de uma diminuição signifi cativa dos empréstimos de pequena dimensão

Após um longo período de desaceleração entre 2008 e o primeiro semestre de 2010, as taxas de variação anual dos empréstimos às sociedades não fi nanceiras mantiveram-se estáveis em torno de 1 por cento desde o segundo semestre de 2010. Não obstante o reduzido crescimento, este é ainda assim superior ao que se encontra subjacente aos seus determinantes de longo prazo (investimento empresarial e taxas de juro bancárias)6. Para este crescimento estarão a contribuir sobretudo as instituições não domésticas a operar em Portugal, visto que a taxa de crescimento dos empréstimos às sociedades não fi nanceiras por parte dos bancos domésticos, mesmo corrigindo da venda da carteira do BPN, apresenta valores negativos desde dezembro de 2010 (ver “Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições fi nanceiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa”, deste Relatório). Adicionalmente, analisando um agregado mais lato, nomeadamente o total de empréstimos às sociedades não fi nan-ceiras, que inclui para além dos empréstimos concedidos por bancos residentes, os concedidos por não residentes, por outros intermediários fi nanceiros e auxiliares fi nanceiros e por particulares, observa-se que em dezembro de 2010 o crescimento anual do total de empréstimos às sociedades não fi nanceiras se situou em 1.6 por cento (ver “Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições fi nanceiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa”, deste Relatório). Este crescimento estará em larga medida associado a uma entrada de fundos do exterior, nomeadamente de instituições fi nanceiras não residentes, o que, a par da atuação dos bancos residentes não domésticos, permitiu atenuar ligeiramente os efeitos sobre o fi nanciamento das sociedades não fi nanceiras das perturbações existentes nos mercados de dívida soberana.

6 Castro, G. e C. Santos, (2010), “Determinantes das taxas de juro e do crédito bancário”, Banco de Portugal, Boletim Económico – Primavera.

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De acordo com o Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, o reduzido crescimento dos emprés-

timos a sociedades não fi nanceiras estará associado à adoção de critérios substancialmente mais exigentes

por parte dos bancos. Com efeito, no último trimestre de 2010 e no primeiro trimestre de 2011, registou-

-se um forte aumento do grau de restritividade aplicado pelos bancos na concessão de empréstimos,

em especial, a grandes empresas. A maior exigência dos critérios de concessão de empréstimos ter-se-á

refl etido num aumento dos spreads (Gráfi co 4.4.9), o que ocorreu de forma bastante acentuada nos

bancos domésticos a partir do quarto trimestre de 2010 (ver “Caixa 4.1 O papel mitigante das institui-

ções fi nanceiras residentes não domésticas no processo de desalavancagem da economia portuguesa”,

deste Relatório).

No que refere ao prazo contratual dos empréstimos a sociedades não fi nanceiras, e apesar da desace-

leração registada no início de 2011, os empréstimos com maturidade superior a 5 anos continuam a

ser os únicos a contribuir positivamente para o crescimento dos empréstimos (Gráfi co 4.4.10). A contri-

buir negativamente estiveram todas as restantes maturidades. No entanto, enquanto nos descobertos

bancários e nos empréstimos até 1 ano se regista um contributo progressivamente menos negativo, nos

empréstimos de 1 a 5 anos regista-se um contributo progressivamente mais negativo.

Relativamente à distribuição das taxas de crescimento dos empréstimos a sociedades não fi nanceiras

(Gráfi co 4.4.11) verifi cou-se uma forte bipolarização nas políticas de concessão de crédito. Assim, se

por um lado existe uma proporção signifi cativa de instituições a executar estratégias de redução da sua

carteira de empréstimos a sociedades não fi nanceiras, por outro, observa-se uma fração ainda mais

Gráfi co 4.4.8 Gráfi co 4.4.9

CRÉDITO CONCEDIDO ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS | TAXAS DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA

TAXAS DE JURO DO MERCADO MONETÁRIO, DE EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS E RESPETIVO SPREAD

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Taxa de variação anual dos empréstimos e dos títulos emitidos pelas sociedades não fi nanceiras e detidos pelo sistema fi nanceiroTaxa de variação anual dos empréstimosTaxa de variação anual dos empréstimos(a)

Taxa de variação trimestral anualizada dos empréstimos

Taxa de juro de saldos de empréstimos bancáriosEuribor a 6 mesesDiferencial (esc. dir.)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A taxa de variação homóloga e trimestral é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos bancários (ou saldos de empréstimos bancários e títulos de curto prazo detidos pelo sistema bancário) em fi m de mês, ajustados de operações de titularização, e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi cações, de abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de preço. A taxa de variação trimestral é ajustada de sazonalidade. Os valores apresentados encontram-se corrigidos da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das administrações públicas e parcialmente corrigidos da venda da carteira de créditos do BPN. (a) Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem.

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Taxas e diferencial referentes a saldos em fi m de perío-do. Os fi nais de ano encontram-se sublinhados. Até dezembro de 2002, as taxas de saldos são estimativas. O diferencial é cal-culado como a diferença entre a taxa sobre saldos e a média móvel de 6 meses da Euribor a 6 meses.

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notória a apresentar taxas de crescimento moderadamente positivas, bem como um número relevante

com taxas de variação muito elevadas. No entanto, ao contrário do que acontece nos empréstimos a

particulares para aquisição de habitação, neste caso as instituições não domésticas não são dominantes.

No que respeita à dimensão das exposições, a carteira de empréstimos às sociedades não fi nanceiras

permanece concentrada nas exposições de montante mais elevado, sendo que são estas que continuam

a apresentar a maior taxa de crescimento (Quadro 4.4.3)7. Com efeito, enquanto as exposições de

maior dimensão registaram uma aceleração no segundo semestre de 2010, as exposições de pequena

dimensão apresentaram uma ligeira redução. Na medida em que empresas de menor dimensão tendem

a apresentar taxas de incumprimento maiores, esta diferenciação nas taxas de crescimento deverá estar

a traduzir critérios mais restritivos de concessão de crédito a estas empresas por parte das instituições

fi nanceiras. Esta diminuição ganha maior relevância dado que as pequenas empresas, ao contrário das

grandes, não estão a conseguir aumentar o seu fi nanciamento quer junto dos bancos não domésticos

a operar em Portugal quer de bancos não residentes. Adicionalmente, verifi ca-se que os empréstimos

7 Note-se que os valores apresentados não são comparáveis com anteriores edições do Relatório de Estabilidade Financeira na medida em que, de forma a facilitar a análise da evolução dos agregados de crédito, excluíram-se da base de dados todos os empréstimos relativos à Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto, bem como todos os empréstimos concedidos pelo BPN (nota 1).

Gráfi co 4.4.10 Gráfi co 4.4.11

CONTRIBUTOS DOS SEGMENTOS DE PRAZO CONTRATUAL PARA A TAXA DE VARIAÇÃO DO SALDO DE EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DA TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

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Taxa de variação anual dos empréstimos

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Empréstimos a mais de 5 anosEmpréstimos de 1 a 5 anosEmpréstimos até 1 ano, excluindo descobertosDescobertos bancáriosTaxa de variação homóloga do saldo de empréstimos bancáriosTaxa de variação anual dos empréstimos bancários

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Os contributos referem-se ao saldo de empréstimos bancários contabilizados no ativo dos bancos, sem qualquer ajustamento, para o qual a taxa de variação homóloga é apre-sentada. A taxa de variação homóloga dos empréstimos ajusta-dos é calculada com base na relação entre os saldos ajusta dos de operações de titularização e transações mensais calculadas a partir dos saldos corrigidos de reclassifi cações, abatimentos ao ativo e reavaliações cambiais e de preço. Os descobertos bancários foram classifi cados como tendo prazo inferior a um ano. Os valores apresentados encontram-se corrigidos tanto da venda da carteira de créditos do BPN à Parvalorem como da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das administrações públicas através de uma estimativa baseada em dados da CRC.

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano que pondera as instituições fi nanceiras pelo crédito concedido.

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de maior dimensão têm maturidades residuais mais elevadas (Quadro 4.4.4). Dado que a maioria da

carteira de empréstimos às sociedades não fi nanceiras se encontra concentrada nos empréstimos de

maior dimensão, este é um fator mitigante do risco de refi nanciamento das empresas.

Por fi m, e dado que o setor bancário também se encontra exposto ao risco de crédito das sociedades não fi nanceiras através de posições em dívida titulada, é relevante analisar o comportamento de um agregado de crédito mais amplo que contemple não só os empréstimos concedidos mas também este tipo de dívida na posse dos bancos. Assim, em março de 2011 a dívida titulada emitida por sociedades não fi nanceiras na posse dos bancos ascendia a cerca de 17.8 mil milhões de euros, correspondentes a cerca de 13.4 por cento do total de crédito disponibilizado pelas instituições fi nanceiras a este segmento. Conforme é apresentado no gráfi co 4.4.8 e após um crescimento mais forte no período que antecedeu a atual crise fi nanceira, a taxa de variação anual deste tipo de crédito encontra-se em linha com a dos empréstimos bancários às sociedades não fi nanceiras.

Quadro 4.4.4

NÚMERO DE EMPRÉSTIMOS POR DIMENSÃO E POR MATURIDADE RESIDUAL(a)

Prazo residual

Dimensão dasexposições

Até 90 dias

90 dias a 180 dias

180 dias a 1 ano

1 a 5 anos 5 a 10 anos

10 a 20 anos

Mais de 20 anos

Maturidade média (anos)

Pequenas exposições 57 577 34 736 39 324 210 560 34 311 12 562 311 2.9

Superior ao percentil 90 1 671 1 234 1 101 6 501 3 495 2 665 114 5.4

Superior ao percentil 99 69 53 78 231 139 160 24 6.5

Superior ao percentil 99.5 45 25 37 185 153 160 31 7.9

Superior ao percentil 99.9 3 4 6 29 38 18 9 8.4

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A variável dimensão encontra-se defi nida de forma semelhante ao quadro 4.4.3. (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC), sendo cada exposição caracterizada pelo valor total dos empréstimos do sistema fi nanceiro a uma determinada sociedade não fi nanceira. Foram considerados como elementos do sistema fi nanceiro todos os ban-cos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições fi nanceiras de crédito, sociedades de factoring, sociedades de locação fi nanceira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários fi nanceiros residentes. Apenas as exposições face a uma determinada instituição fi nanceira superiores a 50 euros foram consideradas.

Quadro 4.4.3

CRÉDITO A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS, POR DIMENSÃO DAS EXPOSIÇÕES(a) | TAXAS DE VARIAÇÃO

HOMÓLOGA, EM PERCENTAGEM(b)

Por memória (em Dezembro 2010):

Dez-09 Jun-10 Dez-10 Limite inferior(d) (103€)

Saldo médio (103€)

Peso do saldono total (%)

Total 1.1 -0.6 0.6 100

Exposições de montante superior ao percentil 90(b) 1.3 -0.3 1.2 542 4 299 87

das quais: exposições de montante superior ao percentil 99(b) 2.4 0.8 2.9 7 344 27 700 56

das quais: exposições de montante superior ao quantil 99.5(b) 2.2 0.6 3.2 14 400 45 400 46

das quais: exposições de montante superior ao quantil 99.9(b) 0.8 0.6 2.5 56 400 123 000 25

Pequenas exposições(c) 0.3 -2.8 -3.0 0.05 70 13

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC), sendo cada exposição caracteri-zada pelo valor total dos empréstimos do sistema fi nanceiro a uma determinada sociedade não fi nanceira. Foram considerados como elementos do sistema fi nanceiro todos os bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições fi nanceiras de crédito, sociedades de factoring, sociedades de locação fi nanceira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários fi nanceiros residentes. Apenas as exposições face a uma determinada instituição fi nanceira superiores a 50 euros foram consideradas. (b) Para o cálculo das taxas de variação homóloga, os limites inferiores de cada grupo de exposições coincidem com os quantis, que em cada momento do tempo são defi nidos com base no número de empresas ordenadas segundo o montante da exposição total. (c) Exposições cujos montantes são menores do que o limite inferior das grandes exposições. Correspondem a 90 por cento das empresas com dívida junto das instituições participantes na CRC. (d) Montante da exposição de menor valor do conjunto das exposições consideradas no quantil.

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Diferenciação na evolução dos empréstimos às sociedades não fi nanceiras nos vários setores

de atividade dá lugar a homogeneização das taxas de crescimento

O ano de 2010 fi cou marcado por uma forte desaceleração dos empréstimos às sociedades não fi nan-

ceiras, com os setores mais atingidos pela crise, nomeadamente “Construção” e “Atividades imobiliá-

rias”, a registarem taxas de variação fortemente negativas (Quadro 4.4.5). Ainda assim, houve setores

que apresentaram uma tendência de crescimento, tais como “Transportes e armazenagem”, “Aloja-

mento, restauração e similares”, “Atividades das SGPS não fi nanceiras” e “Atividades de comunicação

e informação”. Este padrão bipolar de crescimento foi atenuado no primeiro trimestre de 2011 com os

setores que registavam taxas de crescimento mais baixas no fi nal de 2010, nomeadamente, “Indústrias

extrativas”, “Construção” e “Atividades imobiliárias” a serem aqueles que mais aceleraram apesar de

nos últimos dois casos estas permanecerem em valores negativos. Assim, a evolução dos empréstimos a

estes setores compensou de alguma forma um maior abrandamento por parte dos setores que registavam

taxas de crescimento mais elevadas no fi nal de 2010, nomeadamente “Atividades de informação e de

comunicação”, “Alojamento, restauração e similares” e “Transportes e armazenagem”.

Forte materialização do risco de crédito nas sociedades fi nanceiras traduzida num elevado e

crescente fl uxo de novos empréstimos em incumprimento

Dando seguimento à tendência iniciada em 2008, o rácio de incumprimento dos empréstimos às sociedades

não fi nanceiras continuou a subir ao longo de 2010 e no primeiro trimestre de 2011 (Gráfi co 4.4.12).

Assim, os créditos de cobrança duvidosa totalizavam em março de 2011 cerca de 4.7 por cento do total

de empréstimos concedidos às sociedades não fi nanceiras face a 4.1 por cento em janeiro de 2010.

Acresce que este crescimento encontra-se afetado pela venda da carteira de crédito do BPN referenciada

na nota 1 deste capítulo. Corrigindo o efeito desta operação, o rácio de incumprimento ascenderia a 5.3

Quadro 4.4.5

EMPRÉSTIMOS CONCEDIDOS POR OUTRAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MONETÁRIAS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS(a) | DESAGREGAÇÃO SETORIAL, TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL EM FIM DE PERÍODO(b)

2007 2008 2009 2010(c) 2011 Peso no total

Mar.(c) Dez. 2010

Total

Por setor de atividade:

Agricultura, produção animal, caça, fl oresta e pesca 17.6 23.4 5.6 6.1 4.0 1.8

Indústrias extrativas 4.6 9.4 1.4 -1.9 2.6 0.4

Indústrias transformadoras 10.6 9.2 3.2 0.6 2.3 13.0

Eletricidade, gás, vapor, água, gestão de resíduos e despoluição 11.8 49.6 9.6 9.3 5.8 4.2

Construção 10.8 3.1 0.7 -6.1 -2.8 21.0

Comércio por grosso e a retalho, reparação de veículos automóveis e motociclos 4.8 4.2 -2.6 1.1 2.9 13.3

Transportes e armazenagem 9.9 20.8 5.0 11.8 6.9 6.4

Alojamento, restauração e similares 21.0 12.9 11.2 16.4 7.9 5.0

Atividades de informação e de comunicação 11.2 10.3 6.1 19.4 6.1 1.2

Atividades das SGPS não fi nanceiras 21.5 15.5 2.3 8.4 7.7 9.7

Atividades imobiliárias 15.0 13.8 1.4 -5.1 -4.2 13.9

Atividades de consultoria técnicas e administrativas 3.5 8.7 -7.4 -2.1 -2.2 6.3

Educação, saúde e outras atividades de serviços sociais e pessoais 11.0 13.7 15.7 4.8 3.3 3.9

Outras atividades de serviços 110.7 149.7 96.1 804.6 625.0 0.1

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) São considerados os empréstimos concedidos por outras instituições fi nanceiras monetárias, sendo a afetação dos em-préstimos por setor de atividade estimada com base na estrutura da Central de Responsabilidades de Crédito. (b) As taxas de varia-ção são calculadas com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fi m de período e transações calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi cações. São igualmente ajustados de operações de titularização e corrigidos de abatimentos ao ativo e reavaliações cambiais e de preço. (c) As taxas de variação anual de dezembro de 2010 e de março de 2011 foram corrigidas do efeito causado pela venda da carteira de créditos do BPN através de uma estimativa baseada na variação da composição da carteira de empréstimos do banco e das reclassifi cações efetuadas em cada setor.

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por cento. De realçar que a materialização do risco de crédito traduziu-se num elevado fl uxo de novos

créditos em incumprimento. Assim, corrigindo o efeito da venda de créditos do BPN, verifi ca-se que a

partir de novembro de 2010, e após um ano de fl uxos de incumprimento gradualmente menores, o fl uxo

de novos empréstimos em incumprimento voltou a aumentar. Tendo em conta a evolução esperada dos

seus determinantes, designadamente o hiato do produto e a taxa de juro dos empréstimos às empresas,

e dado que o fl uxo de novos empréstimos em incumprimento se encontra em valores historicamente

muito elevados, é de esperar que o rácio de incumprimento continue a aumentar ao longo de 2011.

De acordo com o quadro 4.4.68, o risco de crédito das empresas não fi nanceiras continua a exibir um

perfi l muito diferenciado consoante a dimensão da exposição. Assim, as exposições de retalho (inferiores

a 542 mil euros) apresentam um rácio de incumprimento muito superior a todas as outras categorias,

sendo que o rácio de incumprimento diminui à medida que se consideram exposições cada vez maiores.

Em termos de evolução, relativamente a dezembro de 2009, o rácio de incumprimento registou um

aumento em média de cerca de 1 ponto percentual, transversal aos empréstimos de todas as dimensões.

Adicionalmente, o gráfi co 4.4.13 apresenta a evolução do rácio de incumprimento para os principais

setores de atividade. O gráfi co mostra que, tendo por base os valores corrigidos do efeito da venda da

carteira de créditos do BPN, o aumento do incumprimento foi generalizado a todos os setores, mas com

especial incidência sobre as “Atividades imobiliárias”, “Construção” e “Indústrias transformadoras”.

8 Note-se que, tal como no quadro 4.4.3, os valores apresentados não são comparáveis com anteriores edições do Relatório de Estabilidade Financeira na medida em que, de forma a facilitar a análise da evolução dos agregados de crédito, resolveu-se retirar da base de dados todos os empréstimos relativos à Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto, bem como todos os empréstimos concedidos pela instituição BPN.

Gráfi co 4.4.12

INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

-0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

1

2

3

4

5

6

7

8

Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11

Em

perc

enta

gem

Em

perc

enta

gem

Rácio de incumprimento(a)

Rácio de incumprimento corrigido(a),(c)

Fluxo anual de novos empréstimos vencidos e de cobrança duvidosa (esc.dir.)(b)Fluxo corrigido (esc. dir,)(b),(c)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Defi nido como crédito em incumprimento (empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa) em percentagem do sal-do dos empréstimos ajustados de titularização. (b) A estimativa do fl uxo anual de novos empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em percentagem dos empréstimos, corrigidos de titularização, sendo calculada ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassifi cações e, a partir de dezembro de 2005, das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reporta-dos em base trimestral conforme a Instrução nº 2/2007 do Banco de Portugal. (c) Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem e da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das administrações públicas.

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89

4

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Quadro 4.4.6

INDICADORES DE INCUMPRIMENTO DO CRÉDITO A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS | POR DIMENSÃO DAS

EXPOSIÇÕES(a), EM PERCENTAGEM

Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10

Exposição total

Número de devedores com incumprimento(b) 18.3 18.5 19.4 19.4 19.9

Crédito e juros vencidos(c) 3.8 3.8 4.2 4.2 5.2

Exposições de montante superior ao percentil 90(d)

Número de devedores com incumprimento(e) 15.2 13.8 15.4 15.4 16.2

Crédito e juros vencidos(f) 3.2 3.2 3.6 3.6 4.8

das quais: exposições de montante superior ao percentil 99(d)

Número de devedores com incumprimento(e) 8.5 13.2 10.7 12.6 12.3

Crédito e juros vencidos(f) 0.7 2.4 2.0 2.1 2.9

das quais: exposições de montante superior ao percentil 99.5(d)

Número de devedores com incumprimento(e) 6.8 12.2 8.6 11.5 10.4

Crédito e juros vencidos(f) 0.5 2.1 1.6 1.7 2.4

das quais: exposições de montante superior ao percentil 99.9(d)

Número de devedores com incumprimento(e) 5.5 10.3 7.2 8.4 6.7

Crédito e juros vencidos(f) 0.1 1.7 1.2 0.6 1.4

Exposições de retalho(g)

Número de devedores com incumprimento(e) 16.7 18.6 19.0 19.9 20.4

Crédito e juros vencidos(f) 5.7 7.2 7.6 8.4 9.4

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC). Correspondem a crédito con-cedido por bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições fi nanceiras de crédito, sociedades de facto-ring, sociedades de locação fi nanceira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários fi nanceiros residentes. Apenas as exposições face a uma determinada instituição fi nanceira superiores a 50 euros foram consideradas e foram excluídas as linhas de crédito não utilizadas. Considerou-se que uma determinada sociedade não fi nanceira se encontra em situação de incumprimento se o montante de crédito vencido for superior a 0.5 por cento da sua exposição face ao sistema fi nanceiro. (b) Em percentagem do número de sociedades não fi nanceiras com dívidas a instituições fi nanceiras participantes na CRC. (c) Em per-centagem do crédito total concedido por instituições fi nanceiras participantes na CRC a sociedades não fi nanceiras residentes. (d) Percentis defi nidos com base no número de empresas ordenadas segundo o montante da exposição total. (e) Em percentagem do número de devedores desta carteira. (f) Em percentagem do crédito total desta carteira. (g) Exposições cujos montantes são menores do que o limite inferior das grandes exposições.

Gráfi co 4.4.13

RÁCIO DE INCUMPRIMENTO DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

3

4

5

6

7

8

9

tage

m

Correção BPNRácio de incumprimento

0

1

2

3

Dez-

08

Dez-

09

Dez-

10

Dez-

08

Dez-

09

Dez-

10

Dez-

08

Dez-

09

Dez-

10

Dez-

08

Dez-

09

Dez-

10

Dez-

08

Dez-

09

Dez-

10

Dez-

08

Dez-

09

Dez-

10

Dez-

08

Dez-

09

Dez-

10

Dez-

08

Dez-

09

Dez-

10

Indústrias transformadoras

Construção Comércio por grosso e a

retalho, reparação de

veículos automóveis e

Transportes e armazenagem

Alojamento, restauração e

similares

Atividades das SGPS não financeiras

Atividades imobiliárias

Atividades de consultoria técnicas e

administrativas

Em p

erce

nt

automóveis emotociclos

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Os valores relativos à carteira de crédito vendida pelo BPN foram estimados com base na diferença entre a posição do banco no mês de novembro e de dezembro e ajustados pelo montante das reclassifi cações efetuadas em cada setor. Relativamente ao setor “Atividades das SGPS não fi nanceiras”, o qual registou uma diminuição no rácio de incumprimento ao longo do último ano, note-se que este corresponde em larga medida a veículos de fi nanciamento de grupos com atividades bastante distintas.

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91

4

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4.5. Adequação de fundos próprios1

No fi nal de 2010, o rácio de adequação global de fundos próprios do sistema bancário português, em

base consolidada, situou-se em 10.3 por cento, enquanto o rácio de adequação de fundos próprios de

base, rácio Tier I, se fi xou em 8.3 por cento. Note-se, contudo, que os rácios de adequação de fundos

próprios do sistema bancário continuaram a ser negativamente afetados pela situação particularmente

adversa do BPN (instituição intervencionada pelas autoridades nacionais no fi nal de dezembro 2008).

Com efeito, excluindo os valores relativos ao BPN e BPP2, o rácio de adequação global de fundos e o rácio

Tier I situaram-se em 11.1 e 9.1 por cento, respetivamente (Gráfi co 4.5.1 e Quadro 4.5.1). Finalmente, o

rácio Core Tier I situou-se em 7.3 por cento em dezembro de 2010 e em 8.3 por cento excluindo o BPN3.

Uma diminuição dos fundos próprios totais, em paralelo com um aumento dos fundos

próprios de base, como refl exo de uma signifi cativa redução dos fundos próprios

complementares

Em dezembro de 2010, os fundos próprios totais registaram uma diminuição de 1.9 por cento face ao

fi nal de 2009. Esta diminuição refl etiu sobretudo a redução dos fundos próprios complementares por

parte de três dos principais grupos bancários. Para esta redução contribuiu essencialmente a diminuição

dos passivos subordinados elegíveis como capital.

1 O conjunto de instituições analisado nesta secção difere do considerado nas secções anteriores, na medida em que foram excluídas as sucursais de grupos fi nanceiros com sede em países membros da União Europeia.

2 Note-se que o BPP entrou em liquidação em abril 2010, deixando a partir dessa data de ser incluído no universo de instituições bancárias.

3 O Rácio Core Tier I estabelece um nível mínimo de capital que as instituições devem ter em função dos requisitos de fundos próprios decorrentes dos riscos associados à sua atividade. Como tal, este rácio é apurado através do quociente entre o conjunto de fundos próprios designado de “core” e as posições ponderadas em função do risco. O conjunto de fundos próprios “core” compreende o capital de melhor qualidade da instituição, em termos de permanência e capacidade de absorção de prejuízos, deduzido de eventuais prejuízos e de certos ele-mentos sem valor de realização autónomo, numa perspetiva de continuidade da atividade de uma instituição. Para mais detalhes relativos ao rácio Core Tier I ver Aviso Nº. 1/2011 do Banco de Portugal.

Gráfi co 4.5.1

RÁCIO DE ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS

6

7

8

9

10

11

12

Dez 1999

Dez 2000

Dez 2001

Dez 2002

Dez 2003

Dez 2004

Dez 2005

Dez 2006

Dez 2007

Dez 2008

Dez 2009

Dez 2010

Em

perc

enta

gem

Rácio de adequação global de fundos própriosRácio de adequação de fundos próprios de baseRácio de adequação global de fundos próprios - excluindo BPN e BPP (a)Rácio de adequação de fundos próprios de base - excluindo BPN e BPP (a)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A quebra de série apresentada em 2004 corresponde à introdução das normas interrnacionais de contabilidade, a qual im-plicou, adicionalmente, uma redefi nição do conjunto de instituições bancárias analisado. Por sua vez, a quebra de série representada em 2007 corresponde a um alargamento do conjunto das instituições em análise. A partir de 2008, o rácio de adequação de fundos próprios foi determinado de acordo com os critérios de Basileia II para a totalidade das instituições em análise, que alterou essencial-mente a metodologia de cálculo dos requisitos de fundos próprios. (a) Note-se que o BPP entrou em liquidação em abril de 2010, deixando a partir dessa data de ser incluído no universo de instituições bancárias.

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De facto, em 2010, observou-se um aumento dos fundos próprios de base por comparação com o fi nal

do ano anterior. Para esta evolução contribuiu, em larga medida, o aumento observado nas reservas

associadas a resultados transitados de exercícios anteriores, reservas legais, estatutárias e outras formadas

por resultados não distribuídos incluídas nos outros elementos positivos e, também, o aumento dos

interesses minoritários (Gráfi co 4.5.2). Em sentido contrário, i.e., contribuindo para a diminuição dos

fundos próprios de base, destacou-se a evolução dos fundos de pensões. Tal fragilidade advém, por

um lado, do facto da carteira de ativos dos fundos de pensões estar bastante exposta a fl utuações nos

mercados fi nanceiros, em particular nos mercados acionistas, e, por outro, do facto das perdas atuariais

acumuladas estarem signifi cativamente acima do corredor para alguns dos principais grupos bancários.

Finalmente é de salientar que, uma vez que a maior parte dos títulos de dívida soberana se encontra

classifi cado nas carteiras de ativos disponíveis para venda ou detidos até à maturidade, o impacto da

sua desvalorização sobre o capital regulamentar dos bancos é relativamente limitado, restringindo-se

à realização de menos valias em caso de venda destes ativos fi nanceiros ou de registo de imparidades,

nomeadamente no caso de incumprimento de um estado soberano4.

4 Para mais detalhes sobre a evolução dos fundos de pensões e dos títulos de dívida soberana ver “Secção 4.2 Risco de Mercado”, deste Relatório.

Quadro 4.5.1

ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS | EM BASE CONSOLIDADA, EM MILHÕES DE EUROS

2009 2010

Jun. Dez. Jun. Dez.

1. Fundos próprios

1.1. Fundos próprios de base totais para efeitos de solvabilidade 23 904 25 572 26 124 26 996

1.1.1. Fundos próprios de base (brutos) 25 233 27 000 27 416 28 914

1.1.2. Deduções aos fundos próprios de base 1 329 1 427 1 292 1 918

1.2. Fundos próprios complementares totais para efeitos de solvabilidade 9 646 9 049 8 385 7 292

1.2.1. Fundos próprios complementares (brutos) 10 861 10 352 9 593 8 943

1.2.2. Deduções aos fundos próprios complementares 1 215 1 303 1 207 1 651

1.3. Deduções aos fundos próprios totais 1 284 386 1 672 702

1.4. Fundos próprios suplementares totais disponíveis para cobertura de riscos de mercado 34 0 0 0

Total dos fundos próprios 32 300 34 235 32 837 33 586

2. Requisitos de fundos próprios

2.1. Requisitos de FP para risco de crédito, risco de crédito de contraparte e transações incompletas 22 898 23 571 23 453 23 383

2.2. Risco de liquidação 1 0 0 0

2.3. Requisitos de fundos próprios para riscos de posição, riscos cambiais e riscos de mercadorias 711 759 855 874

2.4. Requisitos de fundos próprios para risco operacional 1 732 1 795 1 765 1 817

2.5. Requisitos de fundos próprios - Despesas gerais fi xas 5 5 4 4

2.6. Grandes riscos - Carteira de negociação 0 0 0 0

2.7. Requisitos transitórios de fundos próprios ou outros requisitos de fundos próprios 0 0 0 0

Total dos requisitos de fundos próprios 25 346 26 130 26 077 26 079

3. Rácios (em percentagem)

3.1. Fundos próprios/Requisitos totais 127.4 131.0 125.9 128.8

3.2. Fundos próprios/(Requisitos totais x 12.5) 10.2 10.5 10.1 10.3

3.3. Fundos próprios de base/(Requisitos totais x 12.5) 7.5 7.8 8.0 8.3

3.4. Rácio Core Tier I(a) - - - 7.3

Por memória:

Rácios de capital excluindo BPN e BPP(b)

Fundos próprios/Requisitos totais 141.4 145.3 136.5 138.8

Fundos próprios/(Requisitos totais x 12.5) 11.3 11.6 10.9 11.1

Fundos próprios de base/(Requisitos totais x 12.5) 8.6 8.9 8.8 9.1

Rácio Core Tier I(a) - - - 8.3

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Calculado como o rácio entre (fundos próprios de base - elementos non-core) e (requisitos totais x 12.5) (b) Note-se que o BPP entrou em liquidação em abril de 2010, deixando a partir dessa data de ser incluído no universo de instituições bancárias..

Page 99: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

93

4

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As perturbações nos mercados de dívida soberana não terão tido refl exos marcados nos

requisitos de capital em 2010, mas a situação deteriorou-se nos primeiros meses de 2011

Em 2010, os requisitos totais de fundos próprios registaram uma ligeira redução face ao observado no

fi nal de 2009 (-0.2 por cento). Esta redução refl etiu evoluções diferenciadas das suas componentes.

Por um lado, observou-se uma diminuição nos requisitos associados a risco de crédito, de contraparte

e a transações incompletas – que representam cerca de 90 por cento dos requisitos totais – bastante

concentrada num dos principais grupos bancários5. Por outro lado, compensando parcialmente esta

diminuição, observou-se um aumento dos requisitos associados a riscos de posição, cambiais e de merca-

dorias, essencialmente associados a títulos de dívida, por parte de outro dos principais grupos bancários.

Ligeiro aumento do rácio de adequação de fundos próprios de base

Entre dezembro de 2009 e dezembro de 2010, verifi cou-se um aumento do rácio de adequação de

fundos próprios de base, rácio Tier I, de 7.8 para 8.3 por cento. De acordo com a distribuição empírica

deste indicador, observou-se uma concentração signifi cativa no intervalo entre 8 e 9 por cento em

dezembro de 2010 (Gráfi co 4.5.3). Por sua vez, verifi cou-se uma deterioração do rácio de adequação

global de fundos próprios, generalizada entre os grupos fi nanceiros, conforme ilustrado na sua distri-

buição empírica (Gráfi co 4.5.4).

O grau de alavancagem do sistema bancário manteve-se estável face ao fi nal do ano anterior

Em dezembro de 2010, verifi cou-se uma virtual estabilização do rácio entre os capitais próprios e o ativo

total por comparação com o fi nal do ano anterior, mesmo quando excluídas as componentes intangíveis

(designadamente as diferenças de consolidação positivas – Goodwill; Gráfi co 4.5.5)

5 Os requisitos de fundos próprios deste grupo bancário passaram a ser calculados através do método das Nota-ções Internas (IRB) que assenta na utilização, previamente autorizada pelo Banco de Portugal, de metodologias internas que se baseiam nos parâmetros de risco “probabilidade de incumprimento”, “perda dado o incumpri-mento” e “fatores de conversão”. Para mais detalhes relativos ao método de Notações Internas ver Aviso Nº. 5/2007 do Banco de Portugal.

Gráfi co 4.5.2

DECOMPOSIÇÃO DOS FUNDOS PRÓPRIOS DE BASE - TIER I

-10000

-5000

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

Jun-07 Dez-07 Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10

Em

milh

ões

de e

uro

s

Capital elegível Interesses minoritáriosOutros elementos positivos Elementos negativosDeduções ao FP de Base Fundos Próprios Totais

Fonte: Banco de Portugal.

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2011

94

I

A transição para um enquadramento regulamentar mais exigente a curto e médio prazo

As fortes difi culdades registadas pelos bancos portugueses no acesso ao fi nanciamento de mercado

refl etiram essencialmente o signifi cativo aumento do risco soberano. Num horizonte de curto e médio

prazo, as perspetivas para o sistema bancário português encontram-se profundamente condicionadas

pela interação entre o risco soberano, o sistema fi nanceiro e a economia, dada a existência de meca-

nismos de transmissão e contágio que se reforçam mutuamente. Por seu turno, estes mecanismos

podem consubstanciar-se na persistência de difi culdades no acesso a fi nanciamento nos mercados de

dívida por grosso e num impacto negativo sobre a atividade, rendibilidade e solvabilidade dos bancos,

em particular sobre a qualidade do crédito6.

Refi ra-se que, desde o verão de 2010, o Banco de Portugal tomou diversas medidas para mitigar estes

riscos sobre a estabilidade do sistema bancário português, ao recomendar, nomeadamente, a desala-

vancagem gradual do balanço dos bancos tendo em vista reduzir a dependência do fi nanciamento de

curto prazo, em particular junto do Eurosistema, a retenção dos resultados de 2010, o reforço do capital

regulamentar e a melhoria da efi ciência operacional. Na mesma linha de orientações, e tendo em vista

reforçar a solvabilidade do sistema bancário português, o Banco de Portugal determinou, em Abril de

2011, por via da publicação do Aviso n.º 1/2011, que todos os bancos teriam de apresentar um rácio

Core Tier I mínimo de 8 por cento a partir do fi nal de 2011. Conforme já referido, em dezembro de 2010,

o sistema bancário português apresentava um rácio de Core Tier I, excluindo o BPN, de 8.3 por cento.

As medidas incluídas no programa de assistência fi nanceira internacional reforçam estas orientações

do Banco de Portugal, contribuindo também para um ajustamento do sistema bancário por via de um

processo de desalavancagem equilibrado e gradual, acompanhado por um reforço da solvabilidade dos

bancos. Com efeito, uma das quatro dimensões fundamentais do acordo no que diz respeito ao sistema

6 Para mais detalhes ver “Capítulo 2. Riscos macroeconómicos e fi nanceiros”, deste Relatório.

Gráfi co 4.5.3 Gráfi co 4.5.4

RÁCIO DE ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS DE BASE - TIER I | FUNDOS PRÓPRIOS DE BASE /

REQUISITOS TOTAIS * 12.5, DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA

RÁCIO DE ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS | FUNDOS PRÓPRIOS / REQUISITOS TOTAIS * 12.5, DISTRIBUIÇÃO

EMPÍRICA

4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Dez-09

Jun-10

Dez-10

8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

Dez-09Jun-10Dez-10

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Distribuição empírica recorrendo a um Kernel gaussia-no que pondera as instituições pelo total do ativo. O rácio foi calculado aplicando os critérios defi nidos em Basileia II por to-das as intituições analisadas. Dada a situação fi nanceira dos bancos BPN e BPP, estas instituições não foram incluidas nas distribuições.

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Distribuição empírica recorrendo a um Kernel gaussia-no que pondera as instituições pelo total do ativo. O rácio foi calculado aplicando os critérios defi nidos em Basileia II por to-das as intituições analisadas. Dada a situação fi nanceira dos bancos BPN e BPP, estas instituições não foram incluidas nas distribuições.

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4

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fi nanceiro refere-se ao reforço das exigências em matéria de rácios de solvabilidade (impondo-se um rácio

Core Tier I mínimo de 9 por cento no fi nal de 2011 e de 10 por cento a partir do fi nal do ano seguinte)7.

Note-se que, em 2011, a evolução dos rácios de adequação de fundos próprios deverá ser condicionada

pela deterioração da qualidade dos ativos no balanço, por via da materialização do risco de crédito, e

também pelos downgrades sobre os ativos detidos pelos bancos. Contudo, a informação disponível para

o período mais recente sugere que os bancos iniciaram já um processo de desalavancagem, através do

reforço do capital, da venda de ativos e de um abrandamento signifi cativo da concessão de crédito, o

que contribui para a redução dos ativos ponderados pelo risco. Caso os bancos não consigam atingir

através de soluções de mercado as metas que estão estabelecidas no programa de ajustamento para os

rácios no horizonte especifi cado, o programa de assistência fi nanceira internacional contempla um fundo

de apoio à recapitalização dos bancos, envolvendo um montante global de 12 mil milhões de euros8.

7 Para mais detalhes sobre o acordo ver “Caixa O programa de ajustamento económico e fi nanceiro no âmbito do pedido de assistência fi nanceira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional”, Banco de Portugal, Relatório Anual 2010.

8 Tendo por base as regras já defi nidas na Lei N.º 63-A/2008 e especifi cadas na Portaria N.º 493-A/2009, que impõem diversas limitações à gestão das instituições que recorram a estas medidas de apoio.

Gráfi co 4.5.5

RÁCIO ENTRE CAPITAL E ATIVO

3.0

3.5

4.0

4.5

5.0

5.5

6.0

6.5

7.0

4.0

4.5

5.0

5.5

6.0

6.5

7.0

7.5

8.0

Dez 2005

Jun 2006

Dez 2006

Jun 2007

Dez 2007

Jun 2008

Dez 2008

Jun 2009

Dez 2009

Jun 2010

Dez 2010

Em

perc

enta

gem

Em

perc

enta

gem

Capital/AtivoCapital/Ativo - excluindo BPN e BPPCapital Tangível/Ativo Tangível (esc. dir.)Capital Tangível/Ativo Tangível - excluindo BPN e BPP (esc. dir.)

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: A quebra de série apresentada em 2007 corresponde a um alargamento do conjunto das instituições em análise.

Page 102: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira
Page 103: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

CAIXA 4.1 | O PAPEL MITIGANTE DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS RESIDENTES NÃO DOMÉSTICAS NO PROCESSO DE DESALAVANCAGEM DA ECONOMIA PORTUGUESA

O ano de 2010 e o primeiro trimestre de 2011 fi caram marcados por uma deterioração da perceção

dos investidores internacionais relativamente ao risco soberano português que culminou com o pedido

de assistência fi nanceira internacional no início de abril de 2011. As fortes perturbações nos mercados

fi nanceiros internacionais traduziram-se de forma especialmente negativa sobre as condições de fi nan-

ciamento do sistema bancário nacional. Não obstante estas difi culdades, os números relativos ao fl uxo

de crédito concedido pelos bancos mostram que este ajustamento tem acontecido de forma bastante

gradual. Para tal estará a contribuir sobretudo a atual política de cedência de liquidez do BCE. No

entanto, também a atuação de bancos não domésticos residentes em Portugal tem permitido mitigar

uma desalavancagem mais forte por parte dos bancos domésticos, contribuindo assim para uma maior

estabilidade da oferta de crédito na economia. Dada a necessidade de reduzir o fi nanciamento junto

do BCE, estes bancos poderão continuar a desempenhar um papel especialmente relevante no processo

de desalavancagem da economia portuguesa.

A importância das instituições fi nanceiras não domésticas para a estabilidade do sistema fi nanceiro

A literatura sobre os efeitos da entrada de bancos estrangeiros no sistema fi nanceiro de um país é

bastante vasta. No entanto, tende a focar-se nos efeitos sobre a efi ciência operacional e concorrência

(Claessens e Laeven, (2004)1) e nas alterações no acesso ao crédito por parte de empresas e particu-

lares (Goldberg, (2002)2). Recentemente, a literatura tem dado uma maior importância ao impacto da

entrada de instituições fi nanceiras estrangeiras na estabilidade fi nanceira dos países de acolhimento.

Mais concretamente, pretende-se avaliar se a entrada de bancos estrangeiros contribui para a estabili-

zação da oferta de crédito, ou pelo contrário, acentua a concessão de crédito em momentos de forte

crescimento económico e retrai essa mesma oferta em períodos recessivos, contribuindo assim para

uma maior volatilidade da oferta de crédito. Infelizmente, a existência de aspetos específi cos a cada

país e às instituições não tem permitido concluir de forma clara sobre o efeito da entrada de bancos

estrangeiros na volatilidade do ciclo de crédito do país de acolhimento (Morgan and Strahan, 20043).

Entre os argumentos a favor de um efeito estabilizador sobre a oferta de crédito, destaca-se o facto

das fi liais e sucursais de bancos estrangeiros fazerem parte de grandes grupos internacionais com uma

carteira de ativos bastante diversifi cada. Assim, as respetivas casas-mãe podem funcionar como uma

espécie de credores de último recurso, tornando estas instituições menos sujeitas a choques. Em linha

com este pensamento, Galindo, Micco e Powell (2004)4 argumentam que perante choques negativos

de liquidez ou aumento do custo de fi nanciamento, a quota de mercado dos bancos estrangeiros tende

a aumentar signifi cativamente. Em sentido contrário, tem sido apontado que instituições fi nanceiras

estrangeiras tendem a ter políticas de crédito pró-cíclicas. Assim, a casa-mãe tende a realocar o capital

nas diferentes áreas geográfi cas consoante as suas expectativas em relação ao risco e retorno. Nos casos

1 Claessens, S. and Laeven, L, (2004), “What drives bank competition? Some international evidence”, Journal of Money, Credit and Banking, 36, 3, pp. 563-583.

2 Goldberg, L.S., (2002), “When is US bank lending to emerging markets volatile?”, Preventing Currency Crises in Emerging Markets, University Of Chicago Press.

3 Morgan, D. and Strahan, P., (2003), “Foreign bank entry and business volatility: Evidence from US states and other countries”, NBER Working Paper, 9710, National Bureau of Economic Research (Cambridge, EUA).

4 Galindo, A., Micco, A., Powell, A., (2004), “Loyal lenders or fi ckle fi nanciers: foreign banks in Latin America”, Working Paper Series, Inter-American Development Bank.

97

4

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Page 104: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

em que as instituições fi nanceiras domésticas estão menos diversifi cadas, estas não terão outras alter-

nativas de investimento que não a concessão de crédito no próprio país. Paralelamente, a literatura tem

chamado à atenção para a importância de um conjunto de outros aspetos, tais como, o ciclo económico

do país de origem da instituição, a condição fi nanceira da casa-mãe, a dimensão da instituição e o tipo

de relacionamento desenvolvido com os clientes. Analisemos cada um destes fatores. Relativamente

ao ciclo económico do país de origem da instituição, é difícil avaliar o seu efeito. Por um lado, pode-se

argumentar que perante difi culdades no país de origem, as instituições fi nanceiras estrangeiras tendem

a centrar-se no core do seu negócio funcionando como transmissores de choques adversos. Esta lógica

tende a ser mais forte quando as casas-mãe apresentam difi culdades fi nanceiras. No entanto, é possível

também argumentar que, em situações de recessão ou de difi culdades no mercado doméstico, as insti-

tuições bancárias tendem a focar-se nas oportunidades presentes nos mercados internacionais como

forma de crescimento. Clarke, Cull, Peria e Sanchez (2002)5 sublinham a importância da dimensão do

banco na estabilização ou não da oferta de crédito. Bancos estrangeiros de maior dimensão tendem a

ter um nível de compromisso maior com a economia, o que se traduz em estratégias de longo prazo.

Em contrapartida, bancos mais pequenos tendem a atuar em nichos, o que lhes permite reduzir as suas

operações com maior facilidade e em consonância com as suas perspetivas de curto prazo. Por último,

Has e Lelyveld (2005)6 diferenciam dois tipos de atuação. Por um lado, aqueles bancos que praticam

uma política de “transação por transação”, ou seja, aumentam a oferta quando a procura aumenta e

reduzem-na quando as condições económicas pioram. Por outro lado, os bancos que apostam mais

na relação com os seus clientes, como forma de obter uma vantagem competitiva no processo de

intermediação fi nanceira, tendem a ser menos sensíveis às fl utuações do ciclo económico. Assim, dada

a importância de um vasto conjunto de fatores específi cos na avaliação do contributo das instituições

fi nanceiras estrangeiras para a estabilidade na oferta de crédito na economia, torna-se indispensável

uma análise caso a caso.

As instituições fi nanceiras não domésticas em Portugal

O mercado de crédito em Portugal é claramente dominado por instituições domésticas (Quadro 1). Este

facto é mais evidente nos empréstimos a empresas não fi nanceiras e nos empréstimos a particulares

para habitação onde a quota de mercado das instituições domésticas é de cerca de 80%. No caso dos

empréstimos para consumo e outros fi ns, a quota de mercado das instituições domésticas é ligeiramente

superior a 60%. Os bancos não domésticos a operar em Portugal são maioritariamente instituições com

origem em Espanha, cujo peso neste grupo é de 64 por cento, 79 por cento e 49 por cento nos emprés-

timos a sociedades não fi nanceiras, particulares para aquisição de habitação e particulares para consumo

e outros fi ns, respetivamente. Este facto é especialmente relevante dada a proximidade geográfi ca entre

os dois países e a perceção por parte dos agentes económicos de pertença a um “mercado único”, a

qual leva a crer que os bancos espanhóis a operar em Portugal tendam a ter uma perspetiva de longo

prazo nos seus investimentos.

5 Clarke, G. and Cull, R. and Peria, M.S.M. and Sanchez, S.M., (2005), “Bank lending to small businesses in Latin America: does bank origin matter?”, Journal of Money, Credit and Banking, pp. 83-118.

6 Has, R., e Lelyveld, I., (2005), “Foreign banks and credit stability in Central and Eastern Europe. A panel data analysis”, Journal of banking and fi nance, 30, pp. 1927-1952.

Quadro 1

QUOTA DE MERCADO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO DOMÉSTICAS

Dez-07 Dez-08 Dez-09 Dez-10

Sociedades não fi nanceiras 21.3 21.5 21.5 21.3

Habitação 18.1 18.4 18.4 20.2

Consumo e outros fi ns 31.8 33.6 33.6 36.7

Fonte: Banco de Portugal

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Em termos de dimensão, a larga maioria destas instituições faz parte de grandes grupos fi nanceiros

internacionais com uma carteira diversifi cada geografi camente (Santander, Barclays, BBVA). No entanto,

apenas uma destas instituições tem um peso verdadeiramente signifi cativo no sistema fi nanceiro nacional

(Santander-Totta). O facto de estas instituições fazerem parte de grandes grupos internacionais tende a

traduzir-se em duas vantagens face aos restantes concorrentes domésticos. Por um lado, estes bancos

dispõem de uma situação mais facilitada em termos de liquidez, visto poderem recorrer às suas casas-

-mãe. O gráfi co 1 apresenta os recursos dos bancos domésticos e não domésticos com contraparte

no banco central ou noutras instituições de crédito entre dezembro de 2007 e dezembro de 2010. O

gráfi co mostra dois padrões muito distintos a partir de maio de 2010, aquando da intensifi cação da

crise da dívida soberana europeia. Enquanto as instituições domésticas tenderam a compensar uma

menor capacidade de recurso ao mercado interbancário com um aumento do recurso ao banco central,

as instituições não domésticas recorreram sobretudo às suas casas-mãe, as quais mantiveram o acesso

aos mercados internacionais de dívida por grosso a médio e longo prazo, o que não aconteceu com os

bancos domésticos. Dada a maior sustentabilidade deste modo de fi nanciamento a longo prazo, quando

em comparação com o recurso ao BCE, conclui-se que as instituições fi nanceiras não domésticas têm

uma clara vantagem face às restantes.

De facto, a inclusão em grandes grupos fi nanceiros internacionais tem garantido o acesso a fi nanciamento

com custos mais baixos, o que contrasta com a situação de racionamento quantitativo do fi nanciamento

dos bancos domésticos nos mercados de dívida por grosso. O gráfi co 2 compara a evolução das taxas de

rendibilidade das obrigações seniores de médio prazo de um conjunto de instituições domésticas (BCP,

BES, BPI e CGD) e não domésticas (Santander-Totta, BBVA e Barclays). No caso do Santander apresenta-

-se a rendibilidade das obrigações tanto da fi lial portuguesa (BST) como da casa-mãe. Relativamente ao

BBVA e ao Barclays, na medida em que não emitem dívida em Portugal, apresentam-se apenas as taxas

de rendibilidade das obrigações emitidas pela casa-mãe. O gráfi co mostra uma clara diferença, com as

taxas de rendibilidade das obrigações dos quatro bancos domésticos (BCP, BES, BPI e CGD) a registarem

valores signifi cativamente superiores aos restantes, o que evidencia uma clara desvantagem competitiva

das instituições domésticas. Adicionalmente, o novo enquadramento do sistema bancário português

contemplado no programa de apoio fi nanceiro internacional, assinado em maio, e segundo o qual todos

os grupos bancários sujeitos à regulação do Banco de Portugal deverão atingir um rácio de capital de 9

Gráfi co 1

RECURSOS DOS BANCOS COM CONTRAPARTE EM BANCOS CENTRAIS E OUTRAS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO

0

10 000

20 000

30 000

40 000

50 000

60 000

70 000

80 000

Dez-07 Abr-08 Ago-08 Dez-08 Abr-09 Ago-09 Dez-09 Abr-10 Ago-10 Dez-10

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Bancos domésticos

Sede e sucursais da própria instituiçãoBancos CentraisOutros

0

10 000

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50 000

60 000

70 000

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Dez-07 Abr-08 Ago-08 Dez-08 Abr-09 Ago-09 Dez-09 Abr-10 Ago-10 Dez-10

Em

milh

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Bancos não domésticos

Sede e sucursais da própria instituiçãoBancos CentraisOutros

Fonte: Banco de Portugal.

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por cento até ao fi nal de 2011 e de 10 por cento a partir do fi nal de 2012, deverá ter impacto ao nível

da competitividade de algumas instituições fi nanceiras. Neste contexto, refi ra-se que em dezembro de

2010 a quota de mercado das instituições fi nanceiras não sujeitas à regulação do Banco de Portugal era

de 8.9 por cento nos empréstimos a sociedades não fi nanceiras, 3.5 por cento nos empréstimos para

aquisição de habitação e 8.1 por cento nos empréstimos para consumo e outros fi ns7.

A literatura existente parece sugerir que no caso português as instituições não domésticas possam

ter um contributo positivo para a suavização da oferta de crédito. Subjacente a esta conclusão está

a elevada dimensão de algumas das instituições fi nanceiras não domésticas a operar em Portugal, as

suas menores restrições de fi nanciamento nos mercados fi nanceiros internacionais e o facto da maioria

destas instituições ter um horizonte temporal alargado de investimento. Não obstante, existem alguns

fatores que devem ser tidos em linha de conta. Assim, a grande importância das instituições fi nanceiras

espanholas aumenta o grau de interdependência do sistema fi nanceiro português em relação à evolução

macroeconómica em Espanha. Adicionalmente, a forte presença de algumas destas instituições na

América Latina, onde existem neste momento fortes oportunidades de crescimento, aumenta também

a exposição da economia portuguesa a esta região.

O papel das instituições fi nanceiras não domésticas no contexto da atual crise fi nanceira em Portugal

Analisemos agora os desenvolvimentos em cada um dos segmentos do mercado de crédito. O gráfi co 3

mostra a taxa de variação anual dos empréstimos concedidos a sociedades não fi nanceiras pelos bancos

residentes domésticos e não domésticos entre janeiro de 2008 e fevereiro de 2011. Distinguem-se dois

padrões. Enquanto os bancos domésticos têm gradualmente desacelerado a concessão de crédito às

empresas desde 2008, os bancos não domésticos têm vindo a seguir um comportamento que resulta

essencialmente de dois fatores. Por um lado, as expectativas relativas à evolução da atividade económica

internacional levaram a uma muito forte restrição na concessão de crédito a partir de setembro de 2008.

7 As principais instituições não domésticas não sujeitas à regulação prudencial do Banco de Portugal são o Bar-clays Bank, o Eurohypo Aktiengesellschaft e o Banque PSA Finance.

Gráfi co 2

TAXA DE RENDIBILIDADE DAS OBRIGAÇÕES DE ALGUNS BANCOS DOMÉSTICOS E NÃO DOMÉSTICOS

0.00

2.00

4.00

6.00

8.00

10.00

12.00

14.00

Ago-10 Out-10 Dez-10 Fev-11 Abr-11

Em

perc

enta

gem

BCP BES BPI CGD BST BBVA Santander Barclays

Fonte: Bloomberg.

Nota: As obrigações no gráfi co correspondem a títulos sénior não colateralizados com maturidades entre janeiro de 2013 (Santan-der) e junho de 2015 (BST). Com exceção do Barclays e do Santander, cujas obrigações são em dólares, todos os restantes títulos estão cotados em euros.

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Page 107: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

Por outro lado, as difi culdades de fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por grosso, que

se traduziram num gradual aperto da concessão de empréstimos por parte dos bancos domésticos,

sobretudo a partir do segundo semestre de 2010, poderá ter gerado oportunidades de negócio para

os bancos não domésticos, o que se traduziu numa aceleração na concessão de empréstimos. Esta

diferença de comportamento é também visível em termos absolutos (Gráfi co 4), com os bancos não

domésticos a apresentarem um fl uxo semestral de empréstimos positivo e largamente superior ao dos

bancos domésticos, apesar de terem uma quota de mercado bastante inferior no stock de crédito. Esta

dualidade entre bancos domésticos e não domésticos explica em grande medida o caráter bimodal da

distribuição empírica da taxa de variação anual dos empréstimos bancários a sociedades não fi nanceiras

apresentado no gráfi co 4.4.11 da secção 4.4 deste relatório. Apesar do maior crescimento do fl uxo de

empréstimos concedido por bancos não domésticos, a sua quota de mercado em dezembro de 2010

teve uma diminuição ligeira face a igual período de 2009 (Quadro 1). Isto aconteceu, no entanto, devido

a um vasto conjunto de empréstimos detidos por bancos não domésticos que foram reclassifi cados na

sequência da passagem de algumas empresas para a esfera das administrações públicas. Em termos

agregados, a taxa de variação anual dos empréstimos às sociedades não fi nanceiras encontrava-se em

março de 2011 em valores próximos de 1 por cento.

A contribuir para a trajetória de desaceleração dos empréstimos às sociedades não fi nanceiras terá

estado um aumento generalizado dos spreads praticados pelas instituições fi nanceiras a partir do terceiro

trimestre de 2008, após um longo período de spreads historicamente baixos (Gráfi co 5). Com a inten-

sifi cação da crise da dívida soberana europeia observou-se uma diminuição do spread praticado pelas

instituições não domésticas em oposição a uma forte subida por parte das instituições domésticas. Este

facto pode no entanto estar relacionado com um efeito composição. A este respeito, o gráfi co 6 mostra

Gráfi co 3 Gráfi co 4

TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

FLUXO SEMESTRAL DE EMPRÉSTIMOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

-5

0

5

10

15

20

Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11

Em

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DomésticasNão domésticasTOTAL

-2 000

-1 000

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1 000

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3 000

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6 000

7 000

8 000

Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11

Em

milh

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de e

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s

DomésticasNão domésticasTOTAL

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A taxa de variação anual é calculada com base na re-lação entre saldos de empréstimos bancários em fi m de mês, ajustados de operações de titularização e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassi-fi cações e abatimentos ao ativo. Os valores apresentados estão corrigidos tanto do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem, como da passagem da Refer, Metro de Lis-boa e Metro do Porto para as administrações públicas (ver nota 1 da “secção 4.4 Risco de crédito”)

Notas: O fl uxo semestral é calculada com base na relação en-tre saldos de empréstimos bancários em fi m de mês, ajustados de operações de titularização e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi cações e abatimentos ao ativo. Os valores apresentados estão corrigidos tanto do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parva-lorem, como da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para as administrações públicas (ver nota 1 da “secção 4.4 Risco de crédito”).

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Page 108: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

que é nos empréstimos de maior dimensão, superiores a 14 milhões de euros, os quais tipicamente

apresentam um menor risco de crédito, que as instituições fi nanceiras não domésticas mais têm crescido.

Em oposição, é nas exposições de menor dimensão, inferiores a 542 mil euros que o diferencial é mais

reduzido, apresentando as instituições não domésticas um crescimento próximo de zero enquanto as

instituições domésticas registaram uma redução de 3.7 por cento.

Adicionalmente, se analisarmos um agregado de crédito mais lato, nomeadamente o total de emprés-

timos às sociedades não fi nanceiras, que inclui, para além dos empréstimos concedidos por instituições

fi nanceiras monetárias (domésticas e não domésticas), os empréstimos concedidos por instituições fi nan-

ceiras não residentes, outros intermediários fi nanceiros e auxiliares fi nanceiros e particulares, observa-se

que este tem tido uma taxa de variação anual superior à dos empréstimos bancários, o que se explica

por um maior recurso por parte de algumas empresas, de maior dimensão, a entidades fi nanceiras não

residentes como forma de fi nanciamento. Assim, da análise dos gráfi cos 6 e 7, realça-se que, apesar de

as instituições fi nanceiras não domésticas residentes e não residentes estarem a contribuir positivamente

para o fi nanciamento da economia portuguesa, este papel tende a centrar-se nas empresas de maior

dimensão, defrontando-se as empresas de menor dimensão com maiores restrições na oferta de crédito.

À semelhança da análise feita para os empréstimos a sociedades não fi nanceiras, os gráfi cos 8 e 9 mostram,

respetivamente, a taxa de variação anual e o fl uxo semestral de empréstimos a particulares para aquisição

de habitação. No que se refere às instituições domésticas, a par do que se observa nos empréstimos

a empresas não fi nanceiras, verifi ca-se que estas têm vindo a abrandar a concessão de empréstimos

desde 2008. Esta tendência acentuou-se a partir de maio de 2010, aquando da intensifi cação da crise

da divida soberana europeia. Relativamente às instituições não domésticas, também estas apresentam

um comportamento no segmento de habitação semelhante ao das sociedades não fi nanceiras. Assim,

a taxa de variação anual apresentou uma tendência descendente desde o início de 2008. No entanto,

ao contrário do que ocorreu nos empréstimos às empresas, a desaceleração nos empréstimos a parti-

culares para aquisição de habitação foi mais suave, mantendo-se sempre claramente acima da registada

pelos bancos domésticos. Com a intensifi cação da crise da dívida soberana em maio de 2010, algumas

instituições não domésticas aproveitaram a maior restrição nos critérios de concessão de crédito de

algumas instituições nacionais para adotar uma estratégia de forte crescimento, visível na existência de

alguns valores extremos no gráfi co 4.4.5 da secção 4.4 deste relatório relativo à distribuição empírica

Gráfi co 5

SPREAD NAS NOVAS OPERAÇÕES DE EMPRÉSTIMOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

Jan-03 Out-03 Jul-04 Abr-05 Jan-06 Out-06 Jul-07 Abr-08 Jan-09 Out-09 Jul-10

Em

ponto

s perc

entu

ais

DomésticasNão domésticasTotal

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: O spread é calculado com base no diferencial entre a taxa de juro das novas operações e a Euribor a 3 meses.

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Gráfi co 6

TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS POR DIMENSÃO DA EXPOSIÇÃO EM DEZEMBRO DE 2010

-6.0

-4.0

-2.0

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

Pequenas exposições

Exposições superiores ao percentil

90

Exposições superiores ao percentil

99

Exposições superiores ao percentil

99.5

Exposições superiores ao percentil

99.9

Total

Em

perc

enta

gem

Bancos não domésticos

Bancos domésticos

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC), sendo cada exposição caracterizada pelo valor total dos empréstimos do sistema fi nanceiro a uma determinada sociedade não fi nanceira. Foram considerados como elementos do sistema fi nanceiro todos os bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições fi nanceiras de crédito, sociedades de factoring, sociedades de locação fi nanceira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários fi nanceiros residentes. Apenas as exposições face a uma determinada instituição fi nanceira superiores a 50 euros foram consideradas. Para o cálculo das taxas de variação homóloga, os limites inferiores de cada grupo de exposições coincidem com os quantis, que em cada momento do tempo são defi nidos com base no número de empresas ordenadas segundo o montante da exposição total. De forma a facilitar a análise, a Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto foram excluídas da análise, bem como o BPN. Ver quadro 4.4.3 da secção 4.4 Risco de crédito para mais informação relativamente ao limite inferior dos intervalos relativos à dimensão das exposições.

Gráfi co 7

EMPRÉSTIMOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

-10.0

-5.0

0.0

5.0

10.0

15.0

20.0

25.0

30.0

35.0

Jun-07 Dez-07 Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10

Em

perc

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gem

Taxa de variação anual dos empréstimos (Contas Nacionais Financeiras)Taxa de variação anual de empréstimos (Estatísticas Monetárias e Financeiras)Taxa de variação anual de empréstimos (exceto empréstimos concedidos por IFMs residentes)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A taxa de variação anual dos empréstimos (Estatísticas Monetárias e Financeiras) é calculada com base na relação entre saldos de empréstimos concedidos por Instituições Financeiras Monetárias (IFM) em fi m de mês, ajustados de operações de titularização, e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi cações, de abatimentos ao ativo e de reavalia-ções cambiais e de preço. A taxa de variação anual de empréstimos (Contas Nacionais Financeiras) é baseada nas contas nacionais fi nanceiras, que incluem os empréstimos concedidos por Outros Intermediários Financeiros e Auxiliares fi nanceiros (OIFAF), institui-ções fi nanceiras não residentes e particulares. A taxa de variação anual dos empréstimos (exceto empréstimos concedidos por IFM a residentes) é calculada a partir das restantes.

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Page 110: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

das taxas de crescimento anuais. A implementação de estratégias mais competitivas traduziu-se num

ganho de quase 2 pontos percentuais de quota de mercado por parte das instituições não domésticas

no período de um ano. Este forte aumento da quota de mercado num segmento de elevada importância

estratégica para estes bancos como é o da habitação traduz um elevado nível de compromisso por

parte dos bancos não domésticos em Portugal, na medida em que estão a aproveitar o atual contexto

de difi culdades dos bancos domésticos para angariar um elevado número de novos clientes de longo

prazo. Em termos agregados, a taxa de variação anual dos empréstimos para aquisição de habitação

situava-se em março de 2011 em 1.6 por cento. No entanto, e em face dos resultados do Inquérito aos

Bancos sobre o Mercado de Crédito, este valor deverá diminuir nos próximos meses, sobretudo devido

a uma redução da procura, conforme indicado por todas as instituições que responderam ao inquérito.

A contribuir para esta dicotomia em termos de taxas de crescimento anuais poderão estar os menores

spreads praticados pelas instituições fi nanceiras não domésticas. O gráfi co 10 mostra a evolução do spread

bancário nas novas operações de crédito para aquisição de habitação para as instituições domésticas

e não domésticas. Com base na análise gráfi ca distinguem-se três períodos. Assim, entre 2003 e 2007

assistiu-se a uma diminuição gradual dos spreads. Este cenário inverteu-se no terceiro trimestre de 2008

na sequência da falência do banco de investimento Lehman Brothers, tendo-se assistido a uma subida

generalizada dos spreads. A partir de maio de 2010, com a intensifi cação da crise da dívida soberana

registou-se um forte aumento do spread por parte das instituições domésticas e uma forte diminuição

por parte das instituições não domésticas. Assim, em fevereiro de 2011, as instituições domésticas

apresentavam um spread médio no novo crédito à habitação 95 p.b. acima das suas congéneres não

domésticas, correspondendo os novos empréstimos à habitação concedido por instituições fi nanceiras

Gráfi co 8 Gráfi co 9

TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO

FLUXO SEMESTRAL DE EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO

0.00

2.00

4.00

6.00

8.00

10.00

12.00

14.00

Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11

Em

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gem

DomésticasNão domésticasTOTAL

-1 000

0

1 000

2 000

3 000

4 000

5 000

Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11E

m m

ilhões d

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uro

s

DomésticoNão domésticasTOTAL

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A taxa de variação anual é calculada com base na re-lação entre saldos de empréstimos bancários em fi m de mês, ajustados de operações de titularização e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassi-fi cações e abatimentos ao ativo. Os valores apresentados estão corrigidos tanto do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem, como da passagem da Refer, Metro de Lis-boa e Metro do Porto para as administrações públicas (ver nota 1 da “secção 4.4 Risco de crédito”)

Notas: O fl uxo semestral é calculada com base na relação en-tre saldos de empréstimos bancários em fi m de mês, ajustados de operações de titularização e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi cações e abatimentos ao ativo. Os valores apresentados estão corrigidos tanto do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parva-lorem, como da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para as administrações públicas (ver nota 1 da “secção 4.4 Risco de crédito”).

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não domésticas a cerca de 40 por cento do total de novos empréstimos à habitação, um valor muito

acima da sua quota de mercado no total do stock de crédito à habitação (20.2 por cento).

O gráfi co 11 mostra a taxa de variação anual para o segmento de consumo e outros fi ns. Tal como nos

restantes segmentos, a taxa de variação anual dos empréstimos concedidos por instituições domésticas

apresenta uma forte tendência de desaceleração desde 2008. No entanto, ao contrário dos restantes

segmentos, este abrandamento é também acompanhado pelas instituições não domésticas, embora

de forma mais lenta. Em termos agregados, a taxa de variação anual dos empréstimos ao consumo e

outros fi ns apresenta uma clara tendência descendente, encontrando-se em valores negativos desde o

início de 2011. Dada a atual conjuntura económica marcada por uma diminuição da procura interna é de

esperar que o fl uxo de empréstimos a particulares para consumo e outros fi ns continue a diminuir. Esta

tendência descendente é já visível no gráfi co 12, onde os fl uxos semestrais total e relativo aos bancos

domésticos apresentam valores negativos desde agosto de 2010. Ao nível das taxas de juro (Gráfi co 13)

notam-se comportamentos distintos entre os empréstimos ao consumo e os empréstimos para outros

fi ns. Assim, enquanto nos empréstimos ao consumo, o diferencial médio na taxa de juro praticada

pelos bancos domésticos e não domésticos se encontra abaixo do praticado nos restantes segmentos

(90 p.b.), nos empréstimos para outros fi ns este diferencial atinge 300 p.b.. Este valor é especialmente

signifi cativo dado o reduzido peso das instituições não domésticas neste segmento, quer em termos

de quota no agregado de crédito, quer sobretudo ao nível da quota no novo crédito concedido, a qual,

ao contrário do que acontece noutros segmentos, permanece em valores bastante reduzidos (13 por

cento em fevereiro de 2011).

Gráfi co 10

SPREAD NAS NOVAS OPERAÇÕES DE EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO

-0.50

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0.50

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DomésticasNão domésticasTotal

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: O spread é calculado com base no diferencial entre a taxa de juro das novas operações e a Euribor a 6 meses. Note-se que o uso de um indexante diferente da Euribor a 6 meses poderá resultar num erro de cálculo do spread aplicado.

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Gráfi co 11 Gráfi co 12

TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS PARA CONSUMO E OUTROS FINS

FLUXO SEMESTRAL DE EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES PARA CONSUMO E OUTROS FINS

-5.00

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DomésticasNão domésticasTOTAL

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A taxa de variação anual é calculada com base na re-lação entre saldos de empréstimos bancários em fi m de mês, ajustados de operações de titularização e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassi-fi cações e abatimentos ao ativo. Os valores apresentados estão corrigidos tanto do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem, como da passagem da Refer, Metro de Lis-boa e Metro do Porto para as Administrações Públicas (ver nota 1 da “secção 4.4 Risco de crédito”).

Notas: O fl uxo semestral é calculada com base na relação en-tre saldos de empréstimos bancários em fi m de mês, ajustados de operações de titularização e transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi cações e abatimentos ao ativo. Os valores apresentados estão corrigi-dos tanto do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem, como da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para as Administrações Públicas (ver nota 1 da “secção 4.4 Risco de crédito”).

Gráfi co 13

TAXA DE JURO NOS EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES PARA CONSUMO E OUTROS FINS

0.0

2.0

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6.0

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Jan-03 Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11

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Consumo - domésticasConsumo - não domésticasOutros fins - domésticasOutros fins - não domésticas

Fonte: Banco de Portugal.

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Page 113: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

Conclusão

Conforme sugerido na literatura apresentada, a informação disponível indica que as instituições fi nanceiras

não domésticas têm tido um papel importante para a suavização do presente ciclo de desalavancagem

da economia portuguesa. Assim, o maior fl uxo de crédito por parte dos bancos não domésticos tem

compensado parcialmente a clara desaceleração por parte dos bancos domésticos. Este contributo ganha

especial relevância no caso dos empréstimos às sociedades não fi nanceiras em face das difi culdades

atuais de refi nanciamento dos seus passivos. Adicionalmente, o menor spread praticado pelos bancos não

domésticos poderá estar a mitigar alguma perda de competitividade das empresas nacionais em virtude

de um maior custo de fi nanciamento comparativamente às suas congéneres europeias. No entanto, os

menores spreads dos bancos não domésticos poderão estar a refl etir um efeito composição, ou seja,

estes bancos poderão estar a fi nanciar clientes de menor risco, o que naturalmente contribui para que

o seu spread médio seja mais baixo. A este propósito note-se que o aumento do fl uxo de empréstimos

dos bancos não domésticos diz respeito sobretudo a grandes empresas, com um perfi l de risco tradicio-

nalmente menor. Assim sendo, o aumento da oferta de crédito por parte das instituições não domésticas

não estará a evitar um ajustamento mais forte por parte das empresas de menor dimensão. No caso

dos empréstimos a particulares para aquisição de habitação e para consumo, o maior fl uxo de crédito

por parte de bancos não domésticos tem concorrido para a suavização do processo de desalavancagem

das famílias, em especial nos empréstimos para aquisição de habitação que apresentaram ao longo de

2010 o maior crescimento de entre os empréstimos ao setor privado não fi nanceiro.

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Page 115: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

CAIXA 4.2 | SITUAÇÃO FINANCEIRA DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS DO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS NO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 20111

No primeiro trimestre de 2011, verifi cou-se uma redução da atividade em base consolidada dos seis maiores

grupos bancários portugueses face ao trimestre anterior, refl etindo essencialmente a diminuição da carteira

de ativos fi nanceiros disponíveis para venda e, em menor grau, do crédito concedido a clientes. Neste período,

os indicadores de rendibilidade reduziram-se ligeiramente mantendo a tendência decrescente que têm vindo a

observar desde o início da crise fi nanceira no verão de 2007. Por seu turno, os rácios de capital regulamentar

registaram um ligeiro aumento por comparação com o trimestre anterior. Finalmente, a informação disponível

para o primeiro trimestre de 2011 aponta para uma deterioração em termos agregados quer da qualidade

de crédito quer das condições de liquidez face ao fi nal do ano anterior2.

Considerando os dados para o primeiro trimestre de 2011 dos seis maiores grupos bancários do sistema

bancário português, a atividade, avaliada pelo ativo total em base consolidada, registou uma queda de 2.3

por cento face ao fi nal do último trimestre de 2010 (diminuição de 0.6 por cento em termos homólogos;

Quadro 1). Para esta redução contribuiu essencialmente a diminuição da carteira de ativos fi nanceiros

disponíveis para venda por parte de três dos grupos bancários em análise. A diminuição generalizada da

carteira de crédito a clientes incluindo operações de titularização não desreconhecidas, refl etindo em larga

medida a evolução dos empréstimos concedidos quer às administrações públicas quer às sociedades não

fi nanceiras, contribuiu também para a redução observada no ativo. No primeiro trimestre de 2011, manteve-se

a tendência de recomposição do fi nanciamento destes grupos bancários, destacando-se a diminuição das

responsabilidades representadas por títulos e o aumento dos recursos de clientes sob a forma de depósitos

face ao observado no fi nal de 2010. Os recursos obtidos junto do Eurosistema registaram uma ligeira redução

face ao último trimestre de 2010, não obstante o seu peso no total dos recursos das instituições em análise

ter permanecido virtualmente inalterado.

No primeiro trimestre de 2011, os resultados antes de impostos e interesses minoritários do conjunto de

instituições em análise registaram uma diminuição quando comparados com os resultados apurados em igual

período de 2010, o que implicou uma redução dos indicadores de rendibilidade (Quadro 2 e Gráfi co 1). Esta

redução refl etiu essencialmente a evolução dos resultados de ativos e passivos fi nanceiros avaliados ao justo

valor através de resultados, em particular de títulos de dívida pública, parcialmente compensada pelo aumento

observado na margem fi nanceira, face ao observado no primeiro trimestre de 2010 (Gráfi co 2). Refi ra-se

que, face ao último trimestre de 2010, os indicadores de rendibilidade apresentaram uma ligeira redução.

No que diz respeito à adequação de capital, em março de 2011, os rácios de adequação dos fundos próprios

das instituições em análise registaram em geral um ligeiro aumento face ao fi nal do ano anterior (Quadro 3).

Adicionalmente, o rácio de adequação de fundos próprios de base registou também um nível mais elevado

do que o observado no período homólogo do ano anterior, refl etindo essencialmente os aumentos registados

por parte de dois dos grupos bancários em análise. Para um dos grupos contribuiu sobretudo o aumento

observado nos respetivos instrumentos de dívida elegíveis como fundos próprios. Por sua vez, o outro grupo

bancário benefi ciou do aumento das reservas e resultados elegíveis como capital, bem como da redução dos

requisitos de fundos próprios para risco de crédito, risco de crédito de contraparte e transações incompletas.

Finalmente, o rácio Core Tier I situou-se em 8.0 por cento no fi nal de março de 2011, face a 7.7 por cento

em dezembro de 2010.

1 O total do ativo dos seis grupos bancários analisados na presente caixa (Caixa Geral de Depósitos, Espírito Santo Financial Group, BCP, Banco Português de Investimento, Banco Santander Totta e Caixa Económica Montepio Geral) representava cerca de 78 por cento do ativo do sistema bancário português em dezembro de 2010.

2 Para mais detalhes ver “Secção 4.3 Risco de liquidez” e “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório.

109

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Page 117: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

Gráfi co 1

RENDIBILIDADE DO ATIVO (ROA) E DOS CAPITAIS PRÓPRIOS (ROE) DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS

0.0

0.1

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gem

Em

perc

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gem

ROE

ROA (esc. dir.)

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Os dados intra-anuais encontram-se anualizados. Os indicadores de rendibilidade são calculados considerando os resultados antes de impostos e interesses minoritários.

Quadro 2

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS | BASE CONSOLIDADA

Estrutura (em percentagem do ativo médio)(a)

Taxas de variação homóloga (em percentagem)

2010 2011 2010 2011

T1 T2 T3 T4 T1 T1 T2 T3 T4 T1

Margem fi nanceira 1.30 1.33 1.38 1.38 1.39 -22.1 -14.5 -6.4 -1.7 7.5

Rendimentos (líquidos) de serviços e comissões 0.70 0.70 0.71 0.71 0.71 13.8 13.2 13.0 10.2 2.3

Resultados em operações fi nanceiras 0.36 0.33 0.27 0.28 0.14 -2.7 7.1 -17.9 -20.1 -60.3

Outros resultados 0.08 0.15 0.16 0.18 0.09 -35.2 0.1 34.2 64.6 5.1

Produto da atividade 2.45 2.52 2.52 2.55 2.33 -12.3 -4.6 -1.2 1.7 -4.1

Custos operacionais 1.35 1.38 1.39 1.41 1.33 -2.6 1.4 1.8 3.2 -0.3

Dotações de provisões e de imparidade 0.46 0.62 0.64 0.63 0.53 -24.0 1.8 9.9 4.5 14.8

Das quais: associadas a crédito a clientes 0.37 0.50 0.46 0.45 0.41 -25.2 -2.9 -1.1 -6.5 10.7

Diferenças de consolidação e apropriação de resultados -0.04 -0.05 -0.06 -0.06 -0.06 - - - - -

Resultados antes de impostos e de interesses minoritários 0.68 0.57 0.55 0.57 0.53 -10.5 -14.8 -12.7 -1.0 -21.8

Imposto sobre os lucros do exercício 0.11 0.05 0.06 0.05 0.09 -32.4 -54.7 -47.4 -42.8 -19.0

Resultado antes de interesses minoritários 0.57 0.52 0.49 0.52 0.44 -4.3 -6.9 -5.4 6.0 -22.4

Interesses minoritários 0.16 0.17 0.17 0.18 0.14 28.8 20.6 32.6 24.5 -9.1

Resultado líquido 0.41 0.35 0.31 0.34 0.29 -13.0 -16.0 -18.4 -1.6 -27.6

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: (a) Os dados trimestrais encontram-se anualizados.

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Page 118: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

Quadro 3

ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS | BASE CONSOLIDADA, EM

MILHÕES DE EUROS

2010 2011

Mar. Jun. Set. Dez. Mar.

1. Fundos próprios 30 924 28 679 28 387 29 543 29 971

1.1 Fundos próprios de base totais 23 604 22 693 22 834 23 599 24 185

1.2 Fundos próprios complementares 7 704 7 508 7 365 6 539 6 529

1.3 Deduções aos fundos próprios totais - 384 -1 522 -1 811 - 595 - 744

2. Requisitos de fundos próprios 21 513 21 336 21 541 21 471 21 426

3. Rácios (em percentagem)

3.1 Rácio de adequação global de fundos próprios 11.5 10.8 10.5 11.0 11.2

3.2 Rácio de adequação de fundos próprios de base 8.8 8.5 8.5 8.8 9.0

3.3 Rácio Core Tier I 7.7 8.0

Fonte: Banco de Portugal.

Gráfi co 2

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS | FLUXOS TRIMESTRAIS

-200

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Margem financeiraRendimentos (líquidos) de serviços e comissõesResultados de operações financeiras e imparidades associadas Custos operacionaisProvisões e imparidades associadas a crédito a clientesResultados antes de impostos e de interesses minoritários

Fonte: Banco de Portugal.

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Page 119: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

IIARTIGOS

DÍVIDA E EXTINÇÃO DAS EMPRESAS

O ACESSO AO CRÉDITO BANCÁRIO QUANDO OS BANCOS SÃO ACIONISTAS DAS EMPRESAS: EVIDÊNCIA PARA PORTUGAL

ESTIMATIVA DO IMPACTO DE FUSÕES BANCÁRIAS:UMA APLICAÇÃO AO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS

Page 120: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

115

Art

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DÍVIDA E EXTINÇÃO DAS EMPRESAS*

António Antunes** | José Mata*** | Pedro Portugal**

Mas aprende que a morte é uma dívida que todos pagaremos.

Eurípides

Resumo

O fi nal da atividade de uma empresa por via da falência pode ser traumático para

os seus credores. Por outro lado, uma empresa que saia de atividade liquidando

voluntariamente as suas dívidas raramente representará um problema económico

importante. Neste artigo procuramos validar os resultados teóricos que mostram,

em geral, que um maior nível de endividamento tende a aumentar a probabilidade

de saída com falência e a reduzir a probabilidade de liquidação voluntária. Usando

dados da central de responsabilidades de crédito e dos Quadros de Pessoal, mostramos

que, tudo o resto igual, uma empresa com o dobro da dívida de outra tem uma

probabilidade anual de saída por falência 25 por cento maior, enquanto que para a

saída por liquidação voluntária a probabilidade cai 5 por cento. Estes resultados têm

implicações evidentes no apreçamento dos empréstimos a empresas não fi nanceiras

endividadas, visto que maiores probabilidades de saída implicam maiores spreads no

crédito.

1. Introdução

Quando uma empresa cessa a sua atividade, pode fazê-lo de muitas formas diferentes. Uma possibilidade

é a sua saída ser preparada com antecedência; por assim dizer, a empresa é encerrada de forma ordeira.

Neste caso, as dívidas contraídas junto de instituições de crédito e fornecedores serão reembolsadas,

os empregados serão avisados das perspetivas de fecho e, após os procedimentos necessários, os seus

responsáveis procederão à formalização do fecho. No pólo oposto situa-se a falência clássica: a empresa

simplesmente deixa de funcionar e as dívidas não são pagas, no todo ou em parte. Em muitos casos os

próprios empresários e trabalhadores sairão penalizados. Entre estas duas situações outras haverá com

algumas caraterísticas de uma ou outra; interessa-nos, no entanto, reduzir essa variedade de situações

a estes dois casos polares.

* As opiniões expressas no artigo são da responsabilidade dos autores, não coincidindo necessariamente com as do

Banco de Portugal ou do Eurosistema. Eventuais erros e omissões são da exclusiva responsabilidade dos autores.

** Banco de Portugal, Departamento de Estudos Económicos.

*** NOVA School of Business and Economics.

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O objetivo deste trabalho é usar dados empíricos para estudar os fatores que levam uma empresa a

sair de atividade por liquidação ordeira ou por falência. Mais especifi camente, estamos interessados na

relação que possa existir entre o montante de dívida de uma empresa e a maneira como se processa a

sua saída de atividade. A resposta a esta questão é também um teste às teorias sobre endividamento de

empresas que surgiram na literatura económica ao longo dos últimos trinta anos.

Diferentes teorias sugerem previsões distintas no que toca à probabilidade e ao de modo de saída de

atividade das empresas. Os economistas acreditam que, em mercados efi cientes com baixos custos de

monitorização e de fi nanciamento, as empresas menos efi cientes são as que abandonam a atividade,

enquanto as que têm melhores projetos permanecem no mercado. No entanto, quando existem assi-

metrias de informação entre empresas e bancos, ou diferentes incentivos entre gestores e investidores,

por exemplo, esta conclusão pode não ser aplicável.

No que diz respeito ao que nos interessa, ou seja, à questão de uma eventual saída ser voluntária ou

por via de uma falência1, um primeiro argumento deve-se a Ross (1977) e baseia-se na assimetria de

informação existente entre os gestores de uma empresa e agentes externos, em particular as instituições

de crédito2. Em termos simples, os gestores de boas empresas têm um incentivo em aumentar o valor

da dívida da empresa para assinalar uma baixa probabilidade de sair de atividade. O endividamento

excessivo funciona porque aumenta a probabilidade de, a ocorrer, a saída ser por via de uma falência, o

que conduziria a grandes perdas para eles, sob a forma de perda de reputação, redução de rendimentos,

ou mesmo custos legais. O agente externo percebe que, em caso de liquidação, os gestores têm de

suportar grandes perdas; deduzem então que, se a empresa fosse má, eles não quereriam incorrer em

dívidas elevadas; logo, a empresa deverá ser boa. Em termos empíricos, este argumento implica, ceteris

paribus, que a dívida deverá aumentar a probabilidade de, em caso de saída, esta ser por via da falência.

O segundo argumento baseia-se nas diferenças de incentivos que existem entre os donos das empresas e

os detentores da sua dívida e está desenvolvido, por exemplo, em Myers (2001). Os donos de empresas

com níveis de dívida elevados têm um incentivo em prosseguir estratégias empresariais mais arris-

cadas. Pensemos num projeto com probabilidade de sucesso baixa, mas, em caso de sucesso, ganhos

elevados; em caso de insucesso, as perdas são também elevadas. Nesta situação, os benefícios em caso

de sucesso irão essencialmente para os donos das empresas, visto que eles apenas deverão reembolsar

as dívidas contraídas nos termos acordados, fi cando com o resto; em caso de insucesso do projeto, as

perdas recairão essencialmente sobre os detentores da dívida, pois não haverá recursos para reembolsar

a dívida. Para os gestores, os ganhos estão truncados inferiormente mas não superiormente; para os

detentores da dívida, os ganhos estão truncados superiormente, mas podem ir até uma perda igual ao

montante global da dívida. Esta assimetria de ganhos induz uma escolha racional desta estratégia face

a uma estratégia que garantisse o repagamento da dívida com grande probabilidade, mas que limitasse

os ganhos potenciais para os gestores.

Há ainda uma linha de argumentação (ver Jensen, 1986) que defende estar a simples existência de dívida

associada a uma maior probabilidade de saída. O argumento é o seguinte: se uma oportunidade de

investimento precisar de fi nanciamento interno porque o nível de endividamento é elevado, o dono terá

de injetar o capital necessário; no entanto, ele poderá não benefi ciar totalmente dos ganhos do inves-

timento visto que a empresa pode entretanto cessar a atividade. Isto implica que alguns investimentos

rentáveis não são efetuados, o que aumenta a probabilidade de saída. Em princípio, o argumento é

válido quer para a falência quer para a liquidação voluntária. No entanto, não esperamos ver um impacto

1 A noção de falência que utilizaremos não é a jurídica mas sim a ideia de saída de atividade sem pagamento inte-

gral da dívida, como veremos adiante. O leitor interessado num tratamento mais detalhado destes argumentos

deve reportar-se a Mata, Antunes e Portugal (2010).

2 Admitimos que os gestores da empresa têm os seus interesses alinhados com os donos das empresas. Esta é

certamente uma hipótese natural em muitas empresas, mas em algumas, e em especial em empresas de grandes

dimensões, é possível que haja incentivos diferentes para os gestores e os donos das empresas.

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signifi cativo da dívida na saída voluntária porque este problema põe-se precisamente quando o endi-

vidamento é elevado e já só se pode recorrer a fi nanciamento interno, o que signifi ca que, em caso de

saída, a empresa difi cilmente escapará à falência.

Existem muitos outros argumentos relacionando endividamento com falência. Em geral, quase todos

preveem uma relação positiva entre o nível de endividamento e a probabilidade de falência. Adicional-

mente, como vimos por exemplo no argumento exposto no parágrafo anterior, o nível de endividamento

deverá também estar associado a uma menor probabilidade de saída voluntária. Aliás, o caso em que

a empresa liquida as suas dívidas atempadamente sugere que os problemas de agência e assimetria de

informação associados à dívida não são relevantes; daí esperarmos, por esta via também, um impacto

negativo da dívida na probabilidade de saída voluntária3.

Os resultados empíricos confi rmam estas previsões teóricas. Usando a especifi cação estatística de base,

estimamos que, numa empresa típica, a uma duplicação do nível de endividamento corresponda um

agravamento da probabilidade de saída por falência em cerca de 25 por cento (de 1.9 por cento para

2.3 por cento ao ano), e uma redução da probabilidade de saída voluntária em cerca de 5 por cento (de

4.1 por cento para 4 por cento ao ano). Dadas as probabilidades de saída por falência e por liquidação

voluntária para uma empresa típica, isto implica um aumento total na probabilidade de saída de 6 para

6.3 por cento ao ano. Ou seja, o nível de endividamento tem um impacto grande na incidência de falên-

cias, e pequeno na incidência de liquidações voluntárias, em sentidos opostos; como a probabilidade de

saída da empresa típica é maior por liquidação voluntária do que por falência, a probabilidade global de

saída é relativamente pouco agravada pelo nível de endividamento.

2. Dados empíricos e estratégia de modelação

O tipo de questão a que queremos responder presta-se a uma modelação em que, no fi nal de cada

período, estão disponíveis três opções mutuamente exclusivas: a continuação da atividade, a liqui-

dação voluntária e a falência. Esta estrutura de dados sugere o uso de modelos estatísticos de escolhas

discretas multinomiais, e será essa a estratégia que adotaremos. Mas antes de mergulharmos na questão

da modelação, viremo-nos para os dados disponíveis e para a maneira como iremos caraterizar cada

uma das opções que referimos acima. Este desvio será útil para melhor compreendermos as opções de

modelação tomadas e a interpretação que faremos dos resultados. Para a informação relativa à dívida

iremos usar a Central de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal (CRC), uma base de dados

contendo todas as relações de crédito entre empresas não fi nanceiras (entre outras entidades) e institui-

ções de crédito a operar em Portugal. Embora as medidas de endividamento registadas na CRC possam

parecer limitativas, já que não incluem a dívida emitida pelas empresas, é um facto bem conhecido que

em Portugal, como de resto nos outros países da Europa continental, a maioria das relações de crédito

se processa entre bancos e empresas, e o recurso a fi nanciamento por emissão de dívida ou dispersão

de capital em mercados organizados é relativamente restrito. Para além da componente do crédito,

necessitamos também algumas medidas que caraterizem as empresas e que se sabe serem relevantes

para o seu nível de dívida, como a dimensão, o setor de atividade, a idade, e por aí em diante. Esses

dados são obtidos usando os Quadros de Pessoal. Trata-se de dados de periodicidade anual cobrindo

o universo dos estabelecimentos com empregados contratados, e incluem variáveis como o número de

empregados ao serviço, o volume de vendas no ano anterior, a data de fundação da empresa, e o setor

de atividade. Neste artigo usamos dados para o período de 1995 a 2000.

3 Para uma descrição mais detalhada destes argumentos, bem como para um tratamento mais exaustivo das

questões abordadas neste artigo, ver Mata et al.(2010).

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2.1. Saídas de empresas e sua classifi cação

Para identifi car saídas de empresas, usámos a seguinte metodologia. Dado que os Quadros de Pessoal são

de preenchimento obrigatório, considerámos que ocorre uma saída sempre que uma dada empresa está

ausente desta base de dados durante dois anos seguidos. Assim, se uma empresa reporta aos Quadros

de Pessoal no ano t e permanece ausente nos anos 1t + e 2t + , consideramos que ocorre uma saída

no ano t . Foram efetuados mais alguns ajustamentos aos dados, designadamente quando ocorre apenas

um ano de ausência de reporte; nesses casos preenchemos os dados do ano de ausência com a média

dos anos anterior e seguinte4. Uma vez ligadas as duas bases de dados, obtemos, para cada empresa,

o seu historial de crédito. O próximo passo consiste em classifi car as saídas em falências ou liquidações

voluntárias. Defi nimos falência como uma saída para a qual a empresa teve algum registo de crédito

signifi cativo em incumprimento, de acordo com a classifi cação de créditos da CRC, durante os dois anos

subsequentes à saída. Quer o montante total do crédito quer a parte que estava em incumprimento (se

existente) foi calculada por agregação dos respetivos montantes para todas as instituições de crédito com

que a empresa em questão tinha relacionamento. Todos os outros casos foram considerados liquidação

voluntária: a empresa consegue cumprir integralmente as suas obrigações de crédito (se ainda existentes)

nos dois anos subsequentes à sua saída.

De forma a centrarmos a nossa análise em empresas com relacionamentos bancários, apenas conside-

rámos observações em que a empresa teve um montante positivo de dívida no ano corrente ou no ano

anterior, ou em ambos. De um total de 229630 observações para os anos de 1995 a 1998, a propensão

para saída é relativamente baixa, com um total anual médio de saídas igual a 6 por cento das empresas.

Paralelamente, observa-se uma divisão de 69 contra 31 por cento entre saídas por liquidação voluntária

e por falência (Quadro 1).

2.2. Dívida e variáveis de controlo

De entre as variáveis explicativas, ou seja, as variáveis que nos hão de ajudar a racionalizar os diferentes

modos de saída ou permanência das empresas, a mais importante é o nível da dívida. Como é comum

nesta literatura, iremos usar o logaritmo do montante da dívida em euros mais 1 euro, visto existirem

observações com dívida nula. Na saída por falência, as empresas estão em média mais endividadas (cerca

de 69 mil euros) do que a média quer das empresas que permanecem em atividade (cerca de 16 mil

euros), quer das que saem por liquidação voluntária (cerca de 3 mil euros). Estas observações sugerem,

4 Ver Mata et al. (2010) para mais detalhes sobre este procedimento.

Quadro 1

ESTATÍSTICAS RESUMO DA AMOSTRA

Permanência Saída Total

Liquidação voluntária Falência

Nº de observações 215783 9569 4278 229630

Variável

Log (1 + dívida) média 9.7 8.1 11.1 9.6

desvio-padrão 3.4 3.7 2.1 3.5

Log (nº empregados) média 2.1 1.3 1.7 2.1

desvio-padrão 1.2 1.1 1.1 1.2

Idade média 14.8 11.8 12.0 14.6

desvio-padrão 12.5 11.4 11.3 12.4

Fontes: Quadros de Pessoal, Banco de Portugal (Central de Responsabilidades de Crédito) e cálculos dos autores.

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desde já, que os argumentos teóricos expostos anteriormente poderão ter sustentação empírica. No

entanto, como sabemos de inúmeros exemplos da literatura económica, sem levarmos em consideração

outras dimensões importantes do processo de saída das empresas poderemos estar a ser induzidos em

erro e retirar conclusões erradas dos nossos resultados (Quadro 1).

Que outras vertentes – para além do nível de endividamento – podem ser também importantes para

explicar o fenómeno da saída de empresas? Uma delas será a dimensão da empresa. Neste caso, usamos

o logaritmo do número de empregados. Em termos gerais, as empresas que sobrevivem tendem a ser

maiores, se aferirmos o seu tamanho pelo número de empregados. Convertendo as unidades logarít-

micas para unidades naturais, as empresas que sobrevivem têm em média cerca de 8.1 trabalhadores,

contra 5.4 e 3.6 para as que saem por falência ou liquidação voluntária. No que diz respeito ao tempo

de atividade das empresas, não se observam grandes diferenças entre as empresas que saem por liqui-

dação ou falência. Em ambos os casos, a idade média à saída ronda os 12 anos, contra 14.6 do total

das empresas (Quadro 1).

Estas observações parecem desde já indicar que mais dívida, menos empregados e menos idade favorecem

a saída por falência, em detrimento da permanência em atividade. Em contraste, menos endividamento

favorece a saída por liquidação voluntária relativamente à permanência; nas outras duas variáveis o efeito

é igual ao caso da saída por falência. Estas observações, no entanto, são apenas sugestivas dos efeitos

fi nais. Será necessária uma análise de regressão para as validar.

Para eliminar a especifi cidade do setor de atividade e o impacto sistemático das fl utuações macroeconó-

micas, adicionámos também variáveis categóricas por setor de atividade (com determinada granularidade)

e por ano a que a observação diz respeito.

Uma objeção que se pode fazer a esta escolha de regressores é que todas estas variáveis estão a medir

a mesma coisa: quanto mais velhas, maiores serão as empresas, e maior capacidade terão para pedir

empréstimos bancários. Na verdade, o método de estimação que usamos levará isso em conta. Mesmo

que essa associação exista, o método de estimação dos parâmetros do modelo escolhido (descrito um

pouco adiante) assenta justamente na comparação de mudanças de modos de saída de empresas atribu-

íveis a mudanças na variável sob estudo, tomando todas as outras como constantes. Uma objeção mais

profunda é a seguinte. Suponhamos que há uma variável que nós não conhecemos e que determina em

larga medida o modo de saída de uma empresa. Um exemplo é a qualidade do empresário em questão.

Então, quando estimamos os nossos modelos, e abstraindo dos outros regressores, estamos a atribuir

todas as variações no modo de saída a variações no endividamento, quando parte deveria estar a ser

atribuída à variável que omitimos5. Para leitores mais habituados à terminologia econométrica, a variável

que estamos a estudar está correlacionada com o termo do erro do modelo estatístico, isto é, com a

parte do modelo estatístico que captura tudo aquilo que não conhecemos e também infl uencia a saída.

Para resolver este problema, os economistas recorrem a variáveis instrumentais, ou instrumentos. Neste

caso, gostaríamos de aceder a alguma variável que, não fazendo parte do elenco de variáveis que têm um

efeito sistemático sobre as saídas, ainda assim fosse correlacionada com a nossa variável de interesse (no

nosso caso, o nível de endividamento), condicional aos restantes regressores. O instrumento não deverá

padecer do mesmo problema da variável de interesse, ou seja, não deverá estar correlacionado com o

termo do erro. Uma sugestão poderá ser a variação de alguma (ou várias) das variáveis que citámos,

incluindo da própria dívida. Este procedimento dá mais ênfase à evolução temporal da empresa, e se,

no exemplo de se tratar da qualidade do empresário, esta for constante ao longo do tempo, temos

de facto um instrumento possível. Fica fora do âmbito deste trabalho apresentar um tratamento mais

detalhado deste tópico (ver, por exemplo, Train, 2009); contentar-nos-emos em estimar uma regressão

por variáveis instrumentais.

5 Note-se igualmente que o mesmo problema ocorrerá se o tipo de saída tiver alguma infl uência no endividamen-

to. Por exemplo, se a ameaça de saída por falência permitir um endividamento maior, então o resultado que se

pretende estudar tem infl uência no próprio nível de endividamento. Esta é uma situação de causalidade inversa.

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2.3. Modelação estatística

A estratégia de modelação é, pode dizer-se, convencional. Em cada período existem três possibilidades

mutuamente exclusivas: a permanência em atividade, a saída por liquidação voluntária e a saída por

falência. Esta estrutura sugere um modelo de escolha multinomial, como o logit ou o probit multinomial.

O modelo em particular que iremos usar tem especifi cação probit multinomial. Trata-se de um modelo

de escolha múltipla mutuamente exclusiva, em que uma das escolhas possíveis é defi nida como a refe-

rência e as restantes opções são comparadas com essa referência. Em termos formais, suponhamos que

as caraterísticas relevantes da empresa i no ano t são sumariadas pelo vetor itx , e que o benefício

da opção 0,1,2j = é

,jit it j jitu x g e= +

em que jg é um vetor de coefi cientes de regressão, jite é um erro aleatório com distribuição normal,

e o índice j é 0 em caso de permanência, 1 em caso de saída voluntária, e 2 em caso de falência6. A

decisão é tomada de acordo com o benefício em cada opção. A opção m é escolhida se e só se m jit itu u³

para todo j m¹ . Se ity for a variável aleatória que nos dá a opção escolhida pela empresa i no ano

t , aquilo que acabámos de expor implica que a probabilidade de a escolha ser m é

Pr( ) Pr( para todo ).m jit it ity m u u j m= = ³ ¹

Se repararmos bem, o modelo da equação anterior é invariante no caso de (i) somarmos a mesma

constante a todas as equações (o que não altera a ordem quando comparamos as diferentes opções)

e de (ii) alterarmos a magnitude dos desvios-padrão dos erros no mesmo fator (por uma razão um

pouco mais obscura, e que assim permanecerá se o leitor não consultar, por exemplo, Long e Freese,

2006, pág. 272). O facto (i) implica que as decisões são tomadas com base na diferença entre os

benefícios para as diferentes alternativas, pelo que, escolhendo uma alternativa como referência –

por exemplo, 0j = , a permanência – podemos exprimir o modelo em termos dessas diferenças.

Defi nindo 0j jit it itv u u= - ,

0jit jit ite e e= - e 0j jb g g= - , para 1,2j = , fi camos com um modelo um

pouco diferente:

11 1

22 21 2 1

2 1 2

Pr( 1) Pr( e 0)

Pr( 2) Pr( e 0).

it it it

it it it

it it it it

it it it it

v x

v x

y v v v

y v v v

b e

b e

= +

= +

= = ³ ³

= = ³ ³

(1a)

(1b)

(1c)

(1d)

Como temos as expressões para os jitv ‘s em termos dos jite ‘s e admitimos que os erros têm distribuição

normal, podemos usar a distribuição normal bivariada para calcular as probabilidades acima, condicionais

a 1b e 2b . Em seguida maximizamos a verosimilhança da amostra (basicamente o produto de todas

as probabilidades, uma por cada observação) nesses dois vetores de parâmetros. Na verdade, temos

também que maximizar num parâmetro adicional, a variância de 2ite ; a observação (ii) acima implica

que podemos normalizar a variância de 1ite a 1.

6 Os erros são considerados independentes equação a equação e observação a observação. Também foram con-

sideradas especifi cações em que permitimos correlação equação a equação; essa modelação é bastante mais

complexa do que a usada neste trabalho, estando por isso fora do seu âmbito, mas conduz a resultados consis-

tentes com os aqui apresentados.

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3. Resultados

O gráfi co 1 representa grafi camente os resultados de diversas regressões multinomiais. Para cada tipo de

saída (liquidação ou falência) e para cada uma das quatro regressões efetuadas, a barra é proporcional

ao valor do coefi ciente associado à dívida. Recordemos que a literatura económica prevê que a um nível

de dívida maior corresponda uma menor propensão a sair de atividade por liquidação voluntária, e uma

maior tendência para sair por falência. Esta conclusão é sugerida pela regressão (1), que usa apenas o

nível de dívida como regressor. Vemos que, para esse caso, o coefi ciente associado à saída por liquidação

voluntária é negativo, e é positivo para a saída por falência. Num contexto de modelo probit multinomial,

isto corresponde a uma redução da probabilidade de saída por liquidação voluntária, e a um aumento

na probabilidade de saída por falência. Este resultado é inteiramente consistente com os argumentos

apresentados na secção 1.

Pode agora argumentar-se: o resultado é espúrio porque a dívida é apenas uma medida da qualidade

creditícia da empresa; dever-se-ia considerar explicitamente variáveis relacionadas com o historial da

empresa e com a envolvente macroeconómica ou setorial. Para atalhar a estes argumentos, a regressão

(2) mostra o resultado quando incluímos, além da dívida, dummies anuais e setoriais, a idade da empresa

e a idade da empresa ao quadrado. Esta última variável pretende capturar efeitos não lineares da idade

na decisão de sair. O resultado inicial sobrevive: mais dívida implica maior propensão a sair por falência

e a menor propensão a sair por liquidação voluntária.

Gráfi co 1

EFEITO DO VOLUME DA DÍVIDA

Regressões de modelos probit multinomiais, com as seguintes especifi cações:

(1) somente a dívida como regressor;

(2) a anterior mais dummies anuais e setoriais, a idade da empresa e a idade da empresa ao quadrado;

(3) a anterior mais o logaritmo do número de trabalhadores;

(4) a anterior usando variáveis instrumentais.

Fontes: Quadros de Pessoal, Banco de Portugal (Central de Responsabilidades de Crédito) e cálculos dos autores.

Nota: Valores em fração do coefi ciente para saída por falência da regressão (3). A categoria omitida é a permanência em atividade.

Todos os coefi cientes são signicativos a 1%.

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Um outro argumento poderá ser: a dívida pode ser uma medida da dimensão da empresa, e é sabido que

as empresas com melhores projetos, ou seja, com menos probabilidade de irem à falência, atingem uma

escala maior. A regressão (3) inclui, além dos controlos anteriores, uma medida da dimensão da empresa:

o logaritmo do número de trabalhadores. Neste caso, na verdade, obtemos um reforço signifi cativo da

magnitude do efeito da dívida na saída por falência, e uma atenuação do efeito de redução na probabi-

lidade de saída por liquidação voluntária. A utilização do número de trabalhadores da empresa permite

isolar o efeito de dimensão do efeito da dívida7. Na verdade, o coefi ciente associado à dimensão da

empresa é semelhante para os dois tipos de saída, e equivale a cerca do dobro do coefi ciente associado

à variável de dívida na saída por falência.

A regressão (4) consiste na utilização de instrumentos para eliminação de efeitos de enviesamento nas

nossas estimativas por variável omitida ou endogeneidade dos regressores – ver secção 2.2. As variáveis

instrumentais usadas são variações anuais quer do logaritmo da dívida, quer do logaritmo do número de

empregados. A técnica usada para estimação vem referida em Train (2009). Neste caso, é tranquilizador

observar que o efeito da dívida permanece praticamente inalterado.

Referimos anteriormente que os erros podem ser multiplicados por um fator positivo arbitrário sem

que os nossos resultados se alterem. A consequência disto é que a escala dos coefi cientes do gráfi co 1

é, per se, arbitrária. É certo que comparar a magnitude dos coefi cientes para as diferentes variáveis e

para as duas equações é um exercício inteiramente válido, mas para verifi carmos se o efeito da dívida

é substancial ou não convém estimar os efeitos marginais da dívida. Uma medida possível é a variação

média na probabilidade da saída em questão, calculada para a amostra, desencadeada por uma variação

na variável de interesse, neste caso a dívida. Consideremos a regressão de referência (3). Com base no

modelo estimado podemos calcular a probabilidade média, para a amostra, de saída por liquidação ou

por falência. Os valores que obtemos são de 4.1 por cento anual para a saída por liquidação voluntária,

e 1.9 por cento anual para a saída por falência. Mas para além disso podemos obter uma estimativa

razoável de qual seria a probabilidade média de saída se, por exemplo, o nível da dívida de cada empresa

fosse o dobro do nível original. O resultado encontra-se representado no gráfi co 2.

A conclusão que se tira do gráfi co é que o efeito quantitativo do nível de endividamento na probabilidade

de saída por falência é elevado, e na probabilidade de saída global (ou seja, incluindo ambos os tipos de

saída) é mais pequeno. De facto, vemos que, quando duplicamos o nível da dívida, ocorre um aumento

da probabilidade de saída por falência em cerca de 25 por cento; a redução da probabilidade de saída

voluntária cifra-se em cerca de 5 por cento do nível original. Em termos globais, estes valores implicam

um aumento na probabilidade de saída de 6 para 6.2 por cento ao ano. Como número de referência,

estimamos que uma redução em 10 por cento na dívida de uma empresa implica, sob certas hipóteses

simplifi cadoras e por via da redução da probabilidade de falência8, uma redução máxima na taxa de juro

cobrada de cerca de 7 pontos base.

Uma última questão relaciona-se com a infl uência da dimensão da empresa, medida pelo logaritmo

do número de empregados, na probabilidade de saída. No gráfi co 3 verifi camos que a dimensão

exerce uma enorme infl uência na probabilidade de saída. Por exemplo, uma empresa relativamente

pequena, ou seja, uma empresa cujo número de empregados seja igual ao percentil 10 dessa variável

na amostra (2 empregados), tem probabilidades estimadas médias de saída de 7.4 por cento por liqui-

dação voluntária e 4.6 por cento por falência. Em contraste, para uma empresa relativamente grande

(no percentil 90 da dimensão, 37 empregados) as mesmas probabilidades são de 1 e 0.65 por cento.

7 Incluir outras variáveis de dimensão, como por exemplo as vendas anuais, pouco altera estes resultados.

8 As hipóteses são: condições de concorrência na concessão de crédito; perda total do crédito em caso de incum-

primento; perdas por liquidação voluntária desprezáveis. Ver Chatterjee, Corbae, Nakajima e Rios-Rull (2007)

para um modelo em que a probabilidade de incumprimento afeta a taxa de juro cobrada pela instituição de

crédito, de acordo com Δi=Δp, em que Δi é a variação da taxa de juro cobrada e Δp é a variação da probabilidade

de falência.

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123

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Gráfi co 2

IMPACTO DO NÍVEL DE DÍVIDA NAS PROBABILIDADES DE SAÍDA

Fontes: Quadros de Pessoal, Banco de Portugal (Central de Responsabilidades de Crédito) e cálculos dos autores.

Nota: Para cada observação, é estimada a probabilidade de saída por liquidação voluntária ou falência, quer usando o nível de dívida

original, quer para um nível duplo do inicial. Os valores do gráfi co são médias amostrais para essas probabilidades.

Gráfi co 3

PROBABILIDADES DE SAÍDA DE ACORDO COM A DIMENSÃO DA EMPRESA

Fontes: Quadros de Pessoal, Banco de Portugal (Central de Responsabilidades de Crédito) e cálculos dos autores.

Nota: Para cada observação, é estimada a probabilidade de saída por liquidação voluntária ou falência, fi xando a variável de dimen-

são nos respetivos percentis 10 e 90. Os valores do gráfi co são médias amostrais para essas probabilidades.

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4. Conclusão

Os resultados deste trabalho sugerem que a dívida de uma empresa é um determinante essencial para o

cálculo da probabilidade de saída e o modo como esta se processa. Esta constatação é consistente com

uma volumosa literatura sobre endividamento e saída de empresas. Na verdade, tendo existido na maioria

desses trabalhos uma tendência para identifi car qualquer tipo de saída como falência, mostramos que

na maior parte das vezes a saída se processa de forma relativamente ordeira e sem demasiados créditos

por pagar. E o que distingue as duas situações? A dívida, esse elemento simultaneamente salvífi co e

comprometedor. Se, por um lado, permite melhorar a efi ciência na alocação dos recursos e explorar

convenientemente o potencial de um projeto, por outro gera incentivos poderosos a comportamentos

estratégicos e de risco moral nefastos para o investidor, e que se traduzem em efeitos palpáveis na

probabilidade de incumprimento no crédito.

Talvez os resultados deste trabalho possam emprestar suporte à noção de que, ao contrário daquilo que

uma economia sem fricções deveria exibir, numa economia com problemas de agência e de assimetria

de informação – entre outras fricções – a probabilidade de extinção de uma empresa, e em especial

de extinção por um processo traumático de falência, depende consideravelmente do nível de endivi-

damento. Esse acréscimo de risco é, como não podia deixar de ser, refl etido na taxa de juro cobrada:

empresas mais endividadas, na presença de fricções fi nanceiras, enfrentam taxas de juro mais altas. Esta

é uma realidade com que não poucas vezes os agentes económicos endividados, ou até os países, são

dolorosamente confrontados.

Page 130: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

125

Art

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Referências

Chatterjee, S., Corbae, D., Nakajima, M. e Rios-Rull, J.-V. (2007), “A quantitative theory of unsecured

consumer credit with risk of default”, Econometrica 75(6), 1525–1589.

Jensen, M. C. (1986), “Agency Costs of Free Cash Flow, Corporate Finance, and Takeovers”, American

Economic Review 76(2), 323–329.

Jensen, M. C. e Meckling, W. H. (1976), “Theory of the Firm: Managerial Behavior, Agency Costs and

Ownership Structure”, Journal of Financial Economics 3(4), 305–360.

Long, J. S. e Freese, J. (2006), Regression Models for Categorical Dependent Varia-bles Using Stata, sec-

ond edn, Stata Press.

Mata, J., Antunes, A. e Portugal, P. (2010), “Borrowing Patterns, Bankruptcy and Voluntary Liquidation”,

Working Paper 27, Banco de Portugal.

Myers, S. C. (1977), “Determinants of Corporate Borrowing”, Journal of Financial Economics 5, 147–

175.

Myers, S. C. (2001), “Capital Structure”, Journal of Economic Perspectives 15(2), 81–102.

Ross, S. A. (1977), “The Determination of Financial Structure: The Incentive-Signalling Approach”, Bell

Journal of Economics 8(1), 23–40.

Train, K. (2009), Discrete Choice Models with Simulation, second edn, Cambridge University Press.

Page 131: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira
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127

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O ACESSO AO CRÉDITO BANCÁRIO QUANDO OS BANCOS SÃO ACIONISTAS DAS EMPRESAS: EVIDÊNCIA PARA PORTUGAL*

Paula Antão** | Miguel A. Ferreira*** | Ana Lacerda****

Resumo

A teoria fi nanceira sugere que a participação de um banco no capital de uma empresa não fi nanceira contribui para aumentar a probabilidade desse banco conceder um empréstimo a essa empresa, na medida em que permite atenuar assimetrias de informação e custos de agência da dívida. Usando uma amostra de empréstimos bancários a empresas portuguesas, conclui-se que a participação de um banco no capital de uma empresa aumenta em 10 pontos percentuais a probabilidade de lhe conceder um empréstimo, face a um banco sem participação no capital. Esta conclusão é robusta à inclusão de variáveis explicativas que permitem capturar diferentes características das empresas com potencial impacto na capacidade de obtenção de crédito, bem como à estimação do modelo utilizando variáveis instrumentais, que permitem corrigir a potencial endogeneidade da variável participação do banco no capital das empresas. O efeito é menor quando a empresa tem relações comerciais com um maior número de grupos bancários e quando o seu capital se encontra disperso por um maior número de grupos bancários. Os nossos resultados sugerem, desta forma, que a existência de participações no capital das empresas tem impacto no mercado de crédito bancário.

1. Introdução

Os empréstimos bancários são a nível internacional a fonte mais comum de fi nanciamento externo

empresarial. Em concreto, para os países da zona do euro os empréstimos têm um peso muito maior

no fi nanciamento das empresas do que os títulos de dívida, que representam menos de 10 por cento

da dívida total. Os bancos, através do desenvolvimento de um relacionamento próximo e permanente

com as empresas, adquirem vantagens no acesso e na produção de informação. De facto, a concessão

de crédito e a prestação de outros serviços fi nanceiros de uma forma continuada por um determinado

banco implica que informações confi denciais possam ser acumuladas, o que lhe permite usufruir de

benefícios signifi cativos na concessão de crédito. Existe evidência empírica, bem como argumentos

teóricos, que suportam esta análise1.

A relação banco-empresa está para além das repetidas operações de crédito. De facto, atualmente, a

função dos bancos universais não se esgota no fi nanciamento das empresas, pois procedem à emissão

e transação de títulos, detêm participações no capital das empresas e gerem fundos de investimento.

Desta forma, o papel dos bancos na governação das empresas pode ser de importância extrema2. Para

1 Para uma revisão da literatura ver Boot (2000). Outros artigos na mesma temática incluem Bharath et al. (2007).

2 Nos EUA é pouco frequente a participação dos bancos no capital das empresas, dadas as restrições históricas decorrentes da Lei Glass-Steagall, relativa aos bancos como proprietários de empresas não-fi nanceiras. Outros países permitem que os bancos assumam participações em empresas não fi nanceiras (para uma discussão deste tema ver, a título exemplifi cativo, Santos (1998)).

* As opiniões expressas no artigo são da responsabilidade dos autores, não coincidindo necessariamente com as do Banco de Portugal ou do Eurosistema. Eventuais erros e omissões são da exclusiva responsabilidade dos autores.

** Banco de Portugal, Departamento de Estudos Económicos.

*** NOVA School of Business and Economics.

**** Banco de Portugal; em exercício de funções na Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia.

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além das participações diretas no capital, um outro canal de infl uência crescente dos bancos sobre a

governação empresarial consiste em participações via investidores institucionais. Nos últimos anos, muitos

grupos bancários universais desenvolveram departamentos de gestão de ativos com elevados volumes de

negócios, que incluem fundos de investimentos e fundos de pensões. Estes fundos têm a possibilidade,

que efetivamente exercem, de investir nas mesmas empresas a quem os bancos concedem crédito e

onde têm participações no capital.

Este trabalho pretende examinar o efeito que o envolvimento dos bancos na governação das empresas

portuguesas (enquanto acionistas), tem sobre a concessão de empréstimos. Esta questão assume atual-

mente importância adicional dada a relevância do crédito bancário para as empresas, em particular as

de pequena e média dimensão que se têm relevado cruciais para o desenvolvimento económico de

algumas economias. Neste sentido, começa por testar-se se um banco com informação privilegiada

pode fazer um acompanhamento mais efi caz da empresa, mitigando potenciais restrições fi nanceiras.

De facto, com a informação adicional que obtêm como acionistas da empresa, os bancos podem mais

facilmente monitorizar os empréstimos e obter informações privadas sobre a situação fi nanceira da

empresa. Caso a vantagem informacional seja partilhada com as empresas, por exemplo em termos de

condições contratuais mais vantajosas, é expectável que um banco que tenha um papel na gestão de

uma empresa conceda um maior volume de empréstimos. Em consequência, uma hipótese testável é a

de que a um banco com informação privilegiada está associada uma maior probabilidade de capturar

futuras operações de crédito bancário:

– Hipótese 1 (H1): A participação de um banco no capital de uma empresa aumenta a probabili-

dade de lhe conceder empréstimos.

A segunda hipótese testada neste trabalho respeita à intensidade da relação, na medida em que se

acredita que condiciona a escolha de um futuro credor. As empresas com uma relação mais intensa com

o banco que tem informação privilegiada poderão ter mais facilidade em obter crédito desse banco.

Além disso, uma relação muito forte com um determinado banco pode estar associado à ausência de

alternativas de fi nanciamento, devido a um problema de seleção adversa, tendo por isso a empresa que

recorrer a empréstimos bancários a essa mesma instituição com mais frequência3. Esta ideia é capturada

na seguinte hipótese:

– Hipótese 2 (H2): Quanto mais intenso o relacionamento entre uma empresa e um banco, maior

a probabilidade da empresa contratar futuros empréstimos com esse banco.

Este estudo utiliza uma amostra de empréstimos a empresas não fi nanceiras portuguesas (cotadas e não

cotadas) para o período 2001-2007, com vista a analisar a relação entre a existência de participações

dos bancos no capital das empresas e o acesso das mesmas ao crédito bancário. A amostra é dominada

por empresas não cotadas, onde se acredita que a assimetria de informação e custos de agência da

dívida são mais elevados.

Os resultados indicam que as empresas tendem a obter mais empréstimos de bancos que têm participa-

ções no seu capital do que de bancos sem essas participações. Os bancos com participação no capital

da empresa têm uma probabilidade aproximadamente 10 pontos percentuais maior de serem escolhidos

para uma operação de crédito do que os bancos sem participação. Relativamente à hipótese 2, os resul-

tados indicam que quer o número de relações bancárias quer o número de bancos acionistas, variáveis

utilizadas para medir a intensidade da relação entre a empresa e o banco, contribuem para reduzir a

probabilidade de um banco com participação realizar um empréstimo a essa empresa no futuro. Estas

conclusões são consistentes com a hipótese 2.

3 Uma posição especial de um banco como um “insider” da empresa, pode-lhe permitir obter ganhos devido à sua posição privilegiada para aceder a informação sobre a empresa e potencialmente “prendê-la” devido à assimetria de informação entre a empresa e outros credores (Sharpe (1990) e Rajan (1992)).

Page 134: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

129

Art

igos

O artigo está organizado da seguinte forma. Na Secção 2 é apresentada uma breve revisão da literatura,

enquanto que na Secção 3 é realizada uma descrição dos dados e apresentadas as estatísticas descritivas.

Na Secção 4 é apresentada a metodologia e os principais resultados empíricos. Finalmente, na última

secção são apresentadas as principais conclusões deste trabalho.

2. Literatura

A participação dos bancos no capital das empresas não-fi nanceiras permite-lhes aceder a informação

sobre a situação fi nanceira das mesmas. De facto, as empresas podem ter mais incentivo para revelar

informações adicionais ao banco, ao mesmo tempo que o banco tem maiores incentivos para a produção

de informação (Boot (2000)). Sempre que um acionista pertence ao Conselho de Administração, ele terá

acesso a informações adicionais que podem proporcionar algum controle sobre a empresa. Desta forma,

as condições de acesso ao mercado de crédito poderão ser alteradas se o banco com participação na

empresa for um potencial credor.

Diferentes autores estudaram o efeito de atividade creditícia passada sobre a probabilidade de um banco

conceder empréstimos e ganhar mandatos de subscrição (Yasuda (2005), Bharat et al. (2007) e Drucker

e Puri (2005)). Existe, porém, evidência mista sobre a infl uência dos bancos nas empresas através de

participações no capital ou assentos no Conselho de Administração (Drucker e Puri (2006)). Utilizando

dados alemães, Gorton e Schmid (2000) concluiram que os bancos utilizam as suas participações no

capital, ou assentos no Conselho de Administração, para melhorar o desempenho da empresa, enquanto

mais recentemente Dittman, Maug e Schneider (2007) encontraram evidência de que a representação do

banco no Conselho de Administração das empresas não-fi nanceiras não é necessariamente no melhor

interesse das mesmas. No Japão, as empresas com maior proximidade aos bancos têm custos mais altos

associados aos empréstimos (Weinstein e Yafeh (1998)); têm menor rendibilidade (Morck, Nakamura e

Shivdasani (2000)); adotam políticas que favorecem os credores sobre os acionistas (Morck e Nakamura

(1999)) e enfrentam taxas de subscrição de obrigações mais elevadas (Yasuda (2007)). Por sua vez, na

Europa, Kracaw e Zenner (1998) encontram evidência de impacto negativo na capitalização bolsista

de uma empresa aquando da obtenção de empréstimos bancários junto de bancos que pertencem ao

Conselho de Administração.

O presente trabalho contribui para a literatura das relações bancárias utilizando as posições de capital

privilegiadas para captar a dependência da empresa face ao seu credor. Outros autores concentram-se

em outras medidas da intensidade das relações empresa-banco, tais como a distância geográfi ca entre o

banco e o mutuário (Petersen e Rajan (1994), Degryse e Ongena (2005)), a duração da relação (Petersen

e Rajan (1994 ), Berger e Udell (1995), Degryse e Van Cayseele (2000) e Ongena e Smith (2001)) e a

nacionalidade tanto do banco como do mutuário (Carey e Nini (2007) e Houston, Itzkowitz e Naranjo

(2007)). A evidência aponta para uma maior disponibilidade do crédito, havendo contudo sinais mistos

sobre os custos dos empréstimos. Berger e Udell (1995) concluíram que as empresas com relações mais

longas pagam taxas de juro mais baixas nos seus empréstimos, enquanto Degryse e Van Cayseele (2000)

concluíram que na Europa as condições dos contratos se deterioraram com a duração dos mesmos.

Os nossos resultados sugerem que a participação dos bancos no capital das empresas não-fi nanceiras

tem implicações no mercado de crédito. Um banco com informação privilegiada é suscetível de ser o

credor principal da empresa, o que pode gerar benefícios em termos de disponibilidade de crédito mas

também pode condicionar a empresa. Este monopólio de informação poderá ser explorado mais tarde

pelo banco com informação previligiada, extraindo rendas da empresa. Os resultados deste trabalho

sugerem que os reguladores devem estar conscientes das implicações no mercado de crédito de políticas

sobre a estrutura do sistema bancário, em particular no que respeita ao envolvimento dos bancos como

acionistas das empresas não-fi nanceiras.

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Uma preocupação associada aos nossos resultados é o facto de a presença de um banco como acionista

ser endógena a questões de governação (Adams, Hermalin e Weisbach (2010)). Na verdade, um banco

pode tornar-se insider em empresas que enfrentam difi culdades de acesso aos mercados de crédito e

que têm custos mais elevados. Este problema é tratado no presente trabalho de diferentes formas. Numa

primeira abordagem, a participação no capital dos bancos foi medida com um desfasamento temporal

de um ano em relação ao momento em que se avalia a relação creditícia. Os resultados encontrados

mantêm-se válidos caso a participação de capital seja medida com um desfasamento de três anos. O

efeito positivo de uma participação de capital sobre a escolha do banco credor continua forte após serem

incluídas diferentes co-variáveis. Além disso, os resultados são robustos à inclusão de efeitos fi xos ao nível

da empresa e banco. A última abordagem utilizada para fazer face às preocupações de endogeneidade

consistiu na estimação de um modelo de variáveis instrumentais.

3. Dados

Neste trabalho foi utilizada uma base de dados original, construída a partir de diferentes fontes: o Sistema

Integrado de Estatísticas de Títulos, a Central de Responsabilidades de Crédito, a Central de Balanços, os

Quadros de Pessoal e a Thomson Reuters. Os dados cobrem o período de 2001 a 2007. A análise foi restrita

aos 20 maiores grupos bancários que operam em Portugal, utilizando como unidade de medida o crédito

concedido a empresas ou as participações de capital.

O Sistema Integrado de Estatísticas de Títulos reúne informação sobre as emissões de capital e de títulos

de dívida das empresas não-fi nanceiras, o que permite identifi car as empresas portuguesas não-fi nanceiras

nas quais os grupos bancários têm participações de capital e das quais detêm títulos de dívida, bem como

o valor de mercado das suas detenções. Esta base de dados também permite identifi car se as posições de

capital e/ou dívida são detidas pelo banco, por um fundo de investimento ou outra instituição pertencente

ao mesmo grupo bancário.

A Central de Responsabilidades de Crédito, gerida pelo Banco de Portugal, dispõe de informação mensal

sobre os empréstimos concedidos a sociedades não fi nanceiras por todas as instituições de crédito a operar

em Portugal. Esta base de dados foi também utilizada para calcular o número de relações bancárias de

cada empresa bem como a quota de mercado dos bancos, medida em função dos empréstimos concedidos

a empresas não fi nanceiras.

A Central de Balanços, com informação contabilística das empresas portuguesas, permite obter informação

sobre o valor do ativo, capital, resultados e juros da dívida. As duas outras fontes de informação - Quadros

de Pessoal e Thomson Reuters – permitiram obter informaçao adicional ao nível da empresa, completando

a lista de variáveis a utilizar. Utilizando informação dos Quadros de Pessoal, que contém informação do

inquérito (obrigatório) ao emprego efetuado anualmente pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade

Social, foi possível obter informação sobre a existência de acionistas estrangeiros na empresa. Informação

sobre as empresas cotadas em bolsa é obtida na Thomson Reuters.

Como neste trabalho se pretende testar se é mais provável um banco conceder um empréstimo a uma

empresa onde tem uma participação acionista, face a outras onde não tem posição acionista, a base de

dados foi expandida para considerar todas os pares possíveis empresa – grupo bancário (para cada ano),

tendo sido considerados os 20 maiores grupos bancários a operar em Portugal. Alguns desses pares são

correspondidos, ou seja, um banco tem uma participação no capital de determinada empresa e também

lhe concede crédito, enquanto outros pares não são correspondidos. Na amostra foram também incluídas

empresas em que os bancos não têm participações, que constituem o grupo de controlo. Para o período

amostral 2001-2007 são analisados 20 grupos bancários e mais de 2 000 empresas, tendo a amostra mais

de 300 000 observações. Estes números incluem apenas as empresas não-fi nanceiras que, durante o período

amostral, dispõem de informação na Central de Responsabilidades de Crédito e na Central de Balanços

durante pelo menos quatro anos e cujo ativo total anual é de pelo menos dez milhões de euros.

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131

Art

igos

O quadro 1 apresenta uma defi nição detalhada das variáveis utilizadas neste estudo. São apresentadas vari-

áveis com informação ao nível da relação banco-empresa (tais como a existência de crédito e de participação

no capital da empresa); variáveis com informação apenas ao nível da empresa, que permitem caracterizar

as empresas na amostra; e uma variável ao nível do banco, que mede a quota de mercado de cada banco

em termos do crédito concedido a empresas não fi nanceiras. A nossa amostra compreende um total de

874 participações no capital das empresas, correspondendo a um total de 454 observações empresa-ano.

No período amostral, os bancos mostraram ter participações acionistas em cerca de 60 empresas que, por

sua vez, têm na maior parte dos casos 1 ou 2 grupos bancários como acionistas. As participações de capital

são mais frequentemente detidas pelo banco do que por outras divisões não-bancárias do grupo bancário

(ou seja, companhias de seguros, fundos de investimento, fundos de capital de risco e fundos de pensões).

O gráfi co 1 apresenta uma caracterização do número de participações e o valor médio de cada participação,

para os diversos bancos na amostra (a dimensão do círculo corresponde à quota de mercado de cada banco).

Como seria de esperar, os bancos de maior dimensão caracterizam-se por um número de participações mais

elevado, considerando as participações tomadas pelo banco ou outras instituições não-banco pertencentes

ao grupo bancário. Por sua vez, entre os bancos de menor dimensão existe maior heterogeneidade ao nível

do valor médio da participação acionista do que entre os bancos de maior dimensão. Na amostra global, o

valor médio de uma participação de capital, medido em percentagem do valor contabilístico do capital, é

de 12%, enquanto a mediana é de 5%.

Quadro 1

DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS

A participação de capital é defi nida como o valor de mercado da participação em percentagem do valor contabilístico do capital se superior a 1 por cento. Caso seja inferior a 1 por cento, esta variável toma o valor 0.

Variáveis com informação ao nível banco e empresa

Empréstimos (dummy) Variável discricionária que assume o valor 1 se o grupo bancário concede empréstimos à empresa. Em caso contrário, assume o valor 0.

Empréstimos (%) Empréstimos concedidos pelo grupo bancário em percentagem do valor total dos empréstimos bancários da empresa.

Participação de capital (dummy) Variável discricionária que assume o valor 1 quando a participação de capital é estritamente positiva. Em caso contrário, assume o valor 0.

Participação de capital (%) Valor da participação de capital, caso esta exista. Em caso contrário, o valor desta variável é 0.

Detenção de dívida titulada (dummy) Variável discricionária que assume o valor 1 se o grupo bancário detém títulos de dívida da empresa. Em caso contrário, assume o valor 0.

Detenção de dívida titulada (%) Valor dos títulos de dívida detidos pelo banco em percentagem da dívida total da empresa.

Relação creditícia Empréstimo bancário concedido pelo grupo bancário a uma determinada empresa, em percentagem dos empréstimos totais concedidos a essa empresa, no fi nal do ano anterior ao da concessão do empréstimo.

Variáveis com informação ao nível da empresa

Ativos Logaritmo do ativo total.

Rendibilidade do investimento (ROI) EBITDA em percentagem do ativo total.

Ativos fi xos tangíveis Ativos fi xos tangíveis em percentagem do ativo total.

Cobertura de juros EBITDA em percentagem dos juros pagos.

Endividamento Dívida fi nanceira em percentagem do ativo total.

Número de relações bancárias Número de grupos bancários que concedem empréstimos, ou linhas de crédito, a uma determinada empresa. As instituições fi nanceiras que não pertencem a um grupo bancário são contabilizadas como um grupo bancário.

Número de bancos acionistas Número de grupos bancários com participação de capital estritamente positiva numa determinada empresa. As instituições fi nanceiras que não pertencem a um grupo bancário são contabilizadas como um grupo bancário.

Obrigações Variável discricionária que assume o valor de 1 caso a empresa detenha dívida titulada. Em caso contrário, assume o valor de 0.

Capital estrangeiro Percentagem de capital detido por estrangeiros.

Cotação bolsa Variável discricionária que assume o valor de 1 se a empresa está cotada em bolsa. Em caso contrário, assume o valor de 0.

Variáveis com informação ao nível do banco

Quota de mercado do banco Quota de mercado do banco em termos de empréstimos concedidos às empresas não-fi anceiras.

Fontes: Quadros de Pessoal, Thomson Reuters e Banco de Portugal (Central de Balanços, Central de Responsabilidades de Crédito).

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II

O gráfi co 2 pretende caracterizar a variável empréstimos assim como outras variáveis com informação

ao nível da empresa. Esta caracterização é apresentada para dois grupos de empresas: as empresas

nas quais os bancos têm participação acionista e as empresas sem participação acionista dos bancos.

A variável empréstimos refere-se ao valor do empréstimo concedido pelo banco em percentagem dos

empréstimos totais da empresa. Observamos que os empréstimos concedidos pelos bancos que são

simultaneamente credores e acionistas da empresa representam, em média, 40% dos empréstimos totais

da empresa. Tomando em consideração todas as observações empresa / banco quando o banco não tem

uma participação acionista, o empréstimo médio é menor (25%), implicando que quando um banco

tem uma participação no capital da empresa é mais suscetível de conceder um empréstimo à empresa.

As empresas onde os bancos têm uma participação no capital são, em média, ligeiramente maiores,

mas com menos ativos tangíveis do que as restantes empresas. As empresas onde os bancos têm uma

Gráfi co 1

CARATERIZAÇÃO DOS BANCOS COM PARTICIPAÇÃO NO CAPITAL

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s vi

a b

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do

V l édi d ti i ãValor médio da participação

Fonte: Cálculos dos autores.

Nota: A dimensão dos círculos corresponde à quota de mercado de cada banco.

Gráfi co 2

ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS

Fonte: Cálculos dos autores.

Notas: Os triângulos correspondem ao percentil 95 e os quadrados ao percentil 25. Os limites superior e inferior da zona a sombre-ado correspondem aos percentis 25 e 75, respectivamente. O traço corresponde ao valor médio. Todas as variáveis estão defi nidas no quadro 1.

40

60

80

100

erc

enta

gem

-20

0

20

40

60

80

100

com parti-cipação

sem parti-cipação

com parti-cipação

sem parti-cipação

com parti-cipação

sem parti-cipação

com parti-cipação

sem parti-cipação

com parti-cipação

sem parti-cipação

Empréstimo ROI Ativos fixos tangíveis

Endividamento Capital estrangeiro

Pe

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em 10

15

20

25

0

5

10

15

20

25

com parti-

cipação

sem parti-

cipação

com parti-

cipação

sem parti-

cipação

Ativos (logaritmo) Número relações bancárias

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133

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participação no capital também são menos rentáveis e a importância dos acionistas estrangeiros é menor.

Não se observa uma diferença signifi cativa no número de relações bancárias entre os dois grupos de

empresas. A análise de outras variáveis não apresentados neste artigo, mas disponível em Antão, Ferreira

e Lacerda (2011), permite-nos concluir que as empresas onde os bancos têm uma participação no capital

são mais propensas a serem fi nanciadas por títulos de dívida e a serem cotadas em bolsa. Essas empresas

também apresentam um rácio de cobertura de juros inferior.

4. Análise empírica

Uma relação próxima entre um banco e uma empresa está geralmente associada a um melhor fl uxo de

informação, permitindo aos bancos uma melhor avaliação dos riscos subjacentes aos empréstimos. Na

verdade, a proximidade entre o banco e a empresa contribui para ultrapassar os problemas de informação

assimétrica. Neste cenário, o objetivo principal deste trabalho é testar se os bancos com participações

acionistas na empresa são mais propensos a captar empréstimos futuros dessa mesma empresa. Para testar

essa hipótese, para cada empresa e em cada ano, criou-se um conjunto de 20 potenciais fi nanciadores, o

que resulta em 20 pares banco-empresa por ano. Deste modo, a unidade de observação a utilizar neste

trabalho corresponde ao trio empresa-banco-ano. Foram utilizados dois modelos, um modelo logit e um

modelo de regressão linear (OLS), para a estimação da seguinte especifi cação:

, , , , 1

, , , 1 , , ,

Empréstimos (Participação de capital)

(Relação creditícia)i g t t i g i g t

i g t i t g t i g tX Y

q a j bg d l e

-

-

= + + ++ + + +

(1)

onde Empréstimosi,g,t corresponde no modelo logit a uma variável discricionária que assume o valor

1 se o banco g concede crédito à empresa i no ano t e 0 nas restantes situações, enquanto que no

modelo OLS corresponde ao valor do crédito concedido pelo banco g à empresa i em percentagem dos

empréstimos bancários totais da empresa no ano t. A variável Participação de capitali,g,t corresponde

ou a uma variável discricionária que assume o valor 1 se o banco g tem uma participação no capital da

empresa i no ano t, e 0 nas restantes situações; ou ao valor da participação de capital do banco g em

percentagem do valor contabilístico da empresa i no ano t; esta variável está desfasada um período. A

variável Relação creditíciai,g,t mede o valor do empréstimo bancário concedido pelo banco g à empresa

i, em percentagem dos empréstimos totais concedidos a essa empresa, no fi nal do ano anterior ao

da concessão do empréstimo. Xi,t corresponde a variáveis caracterizadoras da empresa i em cada ano

t, referindo-se ao logaritmo do valor do ativo, rendibilidade do investimento, percentagem de ativos

fi xos tangíveis no ativo total, rácio de cobertura de juros, nível de endividamento, número de relações

bancárias, número de bancos acionistas, existência de títulos de divida e existência de títulos de capital

cotados em bolsa. Estas variáveis apresentam-se desfasadas um período. Yg,t corresponde à quota de

mercado do banco g considerando apenas os créditos concedidos a empresas não fi nanceiras no ano t.

θt, αi e φg medem efeitos fi xos ao nível do ano, empresa (ou setor de atividade) e banco, respetivamente.

Foi estimada uma especifi cação com efeitos fi xos para a indústria e para o ano, bem como outra espe-

cifi cação com efeitos fi xos ao nível da empresa, banco e ano. Os desvios-padrão foram ajustados para

múltiplas observações para a mesma empresa.

4.1. Resultados da hipótese 1

O quadro 2 reporta os resultados da estimação da equação (1), com vista a testar a hipótese de que a

participação de um banco no capital de uma empresa aumenta a sua probabilidade de lhe conceder

crédito no futuro. As colunas (1) a (4) reportam os resultados do modelo logit e as colunas (5) e (6)

reportam os resultados da estimação por OLS. Com vista a eliminar relações espúrias foram excluídos os

outliers, sendo-lhes atribuído o valor do percentil relevante para cada uma das variáveis. O coefi ciente

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da variável participação no capital é positivo e estatisticamente signifi cativo em todas as especifi cações.

O efeito também tem signifi cado económico.

Os resultados do quadro 2 mostram que a relação positiva entre a participação no capital e a futura

concessão de crédito é robusta a diferentes especifi cações. Em primeiro lugar, usámos uma variável contínua

para a variável participação no capital, tendo posteriormente sido utilizada uma especifi cação OLS onde

a variável dependente corresponde à percentagem dos empréstimos concedidos pelo banco à empresa,

em percentagem de todos os empréstimos da empresa. Finalmente, estimamos uma especifi cação com

efeitos fi xos ao nível da empresa. Os resultados desta especifi cação mostram que as características das

empresas não observadas e invariantes ao longo do tempo não parecem explicar os nossos resultados.

Com base nos resultados para a variável participação no capital apresentados na coluna (1), a proba-

bilidade de um banco conceder crédito a uma empresa na qual não tenha participação no capital é de

14%, enquanto a mesma probabilidade aumenta para 25% no caso de um banco com participação no

capital da empresa (todas as restantes variáveis avaliadas na média). Assim, tudo o resto constante, a

probabilidade de um banco conceder crédito a uma empresa aumenta cerca de 10.7 pontos percentuais

se o banco tiver uma posição acionista na empresa.

As outras variáveis explicativas têm um impacto signifi cativo sobre a escolha do banco credor, apresentado

o sinal previsto. O coefi ciente da quota de mercado do banco é positivo e signifi cativo. Utilizando a espe-

cifi cação apresentada na coluna (1), observa-se que o aumento da quota de mercado do percentil 5 ao

percentil 95 implica um aumento na probabilidade do banco conceder crédito em 40 pontos percentuais.

Adicionalmente, o coefi ciente da variável que mede a existência de uma relação de crédito no passado

tem um coefi ciente positivo e signifi cativo, o que indica que os relacionamentos passados aumentam a

probabilidade de o mesmo banco ser escolhido para futuros empréstimos.

O quadro 3 apresenta os resultados de testes de robustez incluindo variáveis de controlo adicionais.

Começamos por controlar para a detenção de dívida titulada da empresa, isto é, se o banco que concede

Quadro 2

RELAÇÃO ENTRE A CONCESSÃO DE CRÉDITO BANCÁRIO E PARTICIPAÇÃO NO CAPITAL

Variáveis (1) (2) (3) (4) (5) (6)

Participação no capital (dummy) 0.695*** 0.411* 0.021***

(3.55) (1.87) (2.63)

Participação no capital (%) 3.575*** 3.239*** 0.169***

(4.60) (2.79) (3.54)

Quota de mercado do banco 11.655*** 9.589*** 11.673*** 9.580*** 0.343*** 0.343***

(78.58) (12.33) (78.72) (12.32) (8.39) (8.39)

Relação creditícia 12.404*** 8.763*** 12.403*** 8.763*** 0.706*** 0.705***

(27.69) (29.49) (27.69) (29.48) (113.22) (113.10)

Dummies setor de atividade Sim Não Sim Não Não Não

Dummies ano Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Dummies banco Não Sim Não Sim Sim Sim

Dummies empresa Não Sim Não Sim Sim Sim

Modelo Logit Conditional logit Logit Conditional logit OLS OLS

pseudo-R2 0.501 0.501 0.592 0.592

Efeito marginal (participação no capital) 0.107*** 0.437***

(2.93) (4.60)

Número de observações 268887 264349 266667 264349 268887 268887

Fonte: Cálculos dos autores.

Notas: Nas colunas 1 a 4, a variável dependente é uma variável discricionária que toma o valor 1 se o grupo bancário concede crédito à empresa num determinado ano, e zero nas restantes situações. Nas colunas 5 e 6, a variável dependente corresponde à percen-tagem do crédito concedido pelo grupo bancário à empresa num determinado ano sobre o valor total dos créditos dessa empresa no mesmo ano. As restantes variáveis estão defi nidas no quadro 1. Em parêntesis apresentam-se as estatísticas t calculadas com desvios-padrão robustos e ajustadas para múltiplas observações para a mesma empresa. ***, ** e * indicam signifi cância estatística com grau de confi ança 1%, 5% e 10%.

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135

Art

igos

o crédito bancário também detém dívida titulada emitida pela empresa. Consideramos uma variável

discricionária e uma variável contínua, à semelhança do tratamento dado à variável participação no

capital. Incluímos também outras variáveis ao nível da empresa, tais como a dimensão da empresa,

rendibilidade, endividamento, juros, tangibilidade dos ativos, o número de relações bancárias, número

de bancos acionistas, se a empresa tem dívida titulada e se tem acionistas estrangeiros. Os resultados

são robustos, permanecendo o coefi ciente da variável participação no capital positivo e signifi cativo. A

dimensão da empresa e o número de relações bancárias têm um efeito positivo e signifi cativo sobre os

empréstimos concedidos, enquanto a cobertura de juros tem um efeito negativo.

Foram realizados outros testes de robustez. Verifi cámos a robustez dos resultados a uma defi nição alter-

nativa de participação no capital impondo que existe participação só quando o valor de capital detido

pelo banco exceder 5 por cento do valor contabilístico, em vez de 1 por cento. Para esta defi nição de

Quadro 3

RELAÇÃO ENTRE A CONCESSÃO DE CRÉDITO BANCÁRIO E PARTICIPAÇÃO NO CAPITAL | ANÁLISE DE

ROBUSTEZ

Variáveis (1) (2) (3) (4)

Participação de capital (dummy) 0.501* 0.021***

(2.11) (2.54)

Participação de capital (%) 3.638*** 0.173***

(2.92) (3.32)

Quota de mercado banco 9.208*** 9.142*** 0.342*** 0.339***

(10.21) (10.15) (6.61) (6.65)

Relação creditícia 9.351*** 9.353*** 0.704*** 0.703***

(24.82) (24.81) (99.35) (100.86)

Detenção de dívida titulada (dummy) 0.367** -0.000

(2.43) (-0.07)

Detenção de dívida titulada (%) 0.742 0.020

(0.79) (0.44)

Ativos 0.249*** 0.250*** 0.001* 0.001*

(5.06) (5.10) (1.74) (1.73)

Rendibilidade do investimento 0.051 0.053 -0.002 -0.001

(0.21) (0.22) (-0.41) (-0.42)

Ativos fi xos tangíveis 0.245 0.243 -0.001 -0.001

(1.58) (1.57) (-0.73) (-0.76)

Cobertura de juros -0.001** -0.001*** -0.000 -0.000

(-2.46) (-2.46) (-0.77) (-0.76)

Endividamento 0.152 0.155 -0.000 -0.001

(1.47) (1.50) (-0.83) (-0.93)

Número de relações bancárias 0.145*** 0.150*** -0.000 0.000

(18.40) (18.37) (-0.00) (0.01)

Número de bancos acionistas -0.001 -0.002 0.000 0.000

(-0.20) (-0.21) (1.42) (1.40)

Obrigações 0.043 0.044 0.000 0.000

(1.05) (1.08) (0.63) (0.59)

Capital estrangeiro -0.001 -0.001 0.000 0.000

(-0.91) (-0.91) (0.78) (0.77)

Dummies ano Sim Sim Sim Sim

Dummies banco Sim Sim Sim Sim

Dummies empresa Sim Sim Sim Sim

Modelo Conditional logit Conditional logit OLS OLS

pseudo-R2 0.509 0.509 0.589 0.589

Número de observações 193 292 193 292 196 355 196 355

Fonte: Cálculos dos autores.

Notas: Nas colunas 1 e 2, a variável dependente é uma variável discricionária que toma o valor 1 se o grupo bancário concede crédito à empresa num determinado ano, e zero nas restantes situações. Nas colunas 3 e 4, a variável dependente corresponde à percen-tagem do crédito concedido pelo grupo bancário à empresa num determinado ano sobre o valor total dos créditos dessa empresa no mesmo ano. As restantes variáveis estão defi nidas no quadro 1. Em parêntesis apresentam-se as estatísticas t calculadas com desvios-padrão robustos e ajustadas para múltiplas observações para a mesma empresa. ***, ** e * indicam signifi cância estatística com grau de confi ança 1%, 5% e 10%.

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participação, concluímos que a probabilidade de um banco conceder crédito aumenta de 14% se o banco

não tiver uma posição no capital da empresa para 28% se tiver uma posição no capital da empresa. De

seguida, procedemos à estimação da equação (1) tendo em consideração qual a instituição no grupo

bancário que detinha uma posição no capital, isto é, se a posição no capital era detida pelo banco ou

por outras instituições dentro do grupo, tais como companhias de seguros ou fundos de investimento.

Estas instituições, denominadas não-bancárias, não podem conceder crédito mas podem investir nas

empresas. Além disso, os motivos para a realização deste investimento podem diferir entre diferentes

instituições. Concluiu-se que a probabilidade de um banco conceder crédito à empresa aumenta em

14 pontos percentuais se tiver uma posição acionista detida pelo banco. O resultado é semelhante se a

posição acionista for detida por instituições não-bancárias. Em geral, os nossos resultados são robustos

a defi nições alternativas do tamanho da participação no capital e do tipo de instituições que detém a

participação.

4.2. Resultados da hipótese 2

Nesta secção apresentam-se os resultados relativos à hipótese de que relações bancárias mais intensas têm

um efeito sobre a probabilidade de um banco com participação no capital conceder um crédito à empresa.

Do ponto de vista da empresa uma relação mais forte com o banco pode ser considerada valiosa, na medida

em que pode contribuir para a redução das restrições fi nanceiras que as empresas defrontam em períodos

de menor atividade. De facto, os bancos podem estar mais dispostos a conceder empréstimos não rentáveis

durante tempos difíceis para os clientes, no pressuposto que irão recuperar essas perdas ao longo de uma

longa relação. Por outro lado, os bancos podem obter informações privilegiadas sobre as empresas e efeti-

vamente “prender” esses clientes. Vários estudos empíricos usam a duração de uma relação bancária como

uma medida da intensidade da relação. Petersen e Rajan (1994) e Berger e Udell (1995) concluíram que a

duração da relação bancária afeta positivamente a disponibilidade de crédito. Este resultado é consistente

com a ideia de que quanto maior o tempo da relação, maior é a troca de informações. Por outro lado,

Ongena e Smith (2000) concluem que o valor de uma relação declina ao longo do tempo e que as empresas

podem terminar essas relações precocemente, possivelmente para evitar fi carem “presas” ao banco. Além

disso, a capacidade de um banco manter “presa” uma empresa é menor para as empresas com fontes

alternativas de crédito bancário.

Para testar a hipótese 2, procedeu-se à estimação dos modelos logit e OLS com efeitos fi xos ao nível da

empresa e do banco, incluindo para este efeito na equação (1) um termo de interação entre a variável

participação no capital e variáveis ao nível da empresa. Foram utilizadas duas variáveis ao nível da empresa

como proxy da intensidade da relação bancária: o número de relações bancárias e o número de grupos

bancários acionistas da empresa. Espera-se que uma empresa com um maior número de relações bancárias

e um maior número de bancos acionistas apresente uma menor probabilidade de selecionar o banco que

tem uma posição no capital para a contração de créditos futuros. Em contrapartida, as empresas com um

menor número de relações bancárias, ou menor número de bancos acionistas, são mais propensas a confi ar

no banco que tem uma posição no capital da empresa pois estão mais expostas a problemas de seleção

adversa (lemmons problem), se não usarem esse banco para a obtenção de crédito bancário.

O coefi ciente do termo de interação é negativo e signifi cativo em ambos os casos, sugerindo que a relação

positiva entre participação do banco no capital e a concessão de crédito diminui com o número de relações

bancárias e com o número de bancos acionistas (Quadro 4). Empresas com mais relações bancárias tendem

a ser capazes de obter crédito de outros bancos, o que contribui para reduzir a capacidade do banco com

participação no capital em manter “presa” a empresa. Por outro lado, os bancos com participação no

capital em empresas com um número mais elevado de bancos como acionistas, poderão ter acesso a menos

informação. Em ambos os casos, o efeito positivo entre posição no capital e a concessão futura de crédito

diminui. Estes resultados são consistentes com a hipótese 2 mas deverão ser interpretados com algum

cuidado na medida em que os efeitos marginais, assim como o seu nível de signifi cância, estão dependentes

dos valores assumidos pela variável.

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Quadro 4

RELAÇÃO ENTRE A CONCESSÃO DE CRÉDITO E A INTENSIDADE DAS RELAÇÕES BANCÁRIAS

Variáveis (1) (2) (3) (4)

Número de relações

bancárias

Número de bancos

acionistas

Número de relações

bancárias

Número de bancos

acionistas

Participação de capital (dummy) 1.286*** 0.732*** 0.044** 0.033***

(3.37) (2.58) (2.52) (2.88)

Participação de capital x variável da empresa -0.145*** -0.017*** -0.004 -0.001**

(-3.20) (-2.76) (-1.65) (-2.30)

Variável da empresa 0.175*** 0.001 -0.000 -0.000

(23.16) (0.26) (-0.06) (-0.39)

Quota de mercado do banco 9.031*** 8.615*** 0.343*** 0.343***

(11.64) (12.37) (8.39) (8.39)

Relação creditícia 8.623*** 8.762*** 0.706*** 0.706***

(29.92) (29.49) (113.19) (113.17)

Dummies ano Sim Sim Sim Sim

Dummies banco Sim Sim Sim Sim

Dummies empresa Sim Sim Sim Sim

Modelo Conditional logit Conditional logit OLS OLS

pseudo-R2 0.505 0.501 0.592 0.592

Número de observações 264 349 264 349 268 887 268 887

Fonte: Cálculos dos autores.

Notas: Nas colunas 1 e 2, a variável dependente é uma variável discricionária que toma o valor 1 se o grupo bancário concede crédito à empresa num determinado ano, e zero nas restantes situações. Nas colunas 3 e 4, a variável dependente corresponde à percen-tagem do crédito concedido pelo grupo bancário à empresa num determinado ano sobre o valor total dos créditos dessa empresa no mesmo ano. As restantes variáveis estão defi nidas no quadro 1. Em parêntesis apresentam-se as estatísticas t calculadas com desvios-padrão robustos e ajustadas para múltiplas observações para a mesma empresa. ***, ** e * indicam signifi cância estatística com grau de confi ança 1%, 5% e 10%.

4.3. Endogeneidade

Os problemas de endogeneidade são omnipresentes em pesquisas empíricas sobre governo das sociedades.

No nosso trabalho, muitas razões podem ser indicadas para que a participação no capital das empresas

e a escolha do banco credor possa ser defi nida conjuntamente. Este problema potencial foi abordado

usando métodos com efeitos fi xos ao nível da empresa que controlam para fontes não observadas de

heterogeneidade entre as empresas. Os métodos com efeitos fi xos resolvem problemas de determinação

conjunta na qual uma variável não observada e invariante no tempo determina simultaneamente a

escolha do banco credor e a participação no capital. É também equivalente a olhar para alterações na

participação no capital na mesma empresa. Os resultados de métodos com efeitos fi xos contribuem

signifi cativamente para eliminar situações em que variáveis omitidas são fontes de endogeneidade. Na

medida em que apenas os efeitos de alteração na participação do capital em determinada empresa são

considerados, as variáveis omitidas específi cas à empresa não explicam a relação observada entre escolha

do banco credor e a participação no capital.

Outra abordagem para resolver problemas de endogeneidade consiste na utilização da variável partici-

pação no capital desfasada um período. Fizemo-lo em todas as nossas estimativas. No entanto, pode-se

pensar que desfasamento de um ano não é sufi ciente para responder à preocupação de determinação

conjunta. Assim, estimamos os modelos logit e OLS da equação (1) com efeitos fi xos ao nível da empresa

e do banco, com a variável participação no capital com um desfasamento de três anos.

Foi também utilizada a metodologia de mínimos quadrados em 2 passos (2SLS) para abordar a questão

da endogeneidade potencial. Esta metodologia permite tratar simultaneamente as questões relativas a

variáveis omitidas e causalidade reversa. Para avaliar a robustez de nossas conclusões a partir da metodo-

logia de variáveis instrumentais 2SLS, recorremos a uma estratégia empírica adicional que envolve estimar

o efeito de uma variável endógena discricionária (participação no capital) em outra variável endógena

contínua (empréstimo concedido pelo banco em percentagem dos empréstimos totais da empresa). Esta

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confi guração pode ser estimada utilizando o modelo de treatment effects. Os detalhes desta análise estão

disponíveis em Antão, Ferreira e Lacerda (2011). O coefi ciente é positivo e signifi cativo. Assim, depois

de controlar para a existência de endogeneidade em ambos as metodologias, 2SLS e treatment effects,

mantém-se o resultado que bancos com participações nas empresas apresentam maior probabilidade

de virem a conceder crédito a essa empresa no futuro.

5. Conclusão

Este trabalho procura medir a relação entre a participação dos bancos no capital das empresas e a concessão

de crédito bancário, nomeadamente, na escolha do banco credor. Para os credores, o estabelecimento de

uma ligação via capital, permite-lhes produzir informação e processar a oferta de empréstimos futuros de

forma mais efi ciente. Por conseguinte, é mais provável que um banco com uma participação no capital

da empresa garanta empréstimos futuros a essa empresa.

Usando uma amostra de empresas portuguesas, cotadas e não cotadas em bolsa, conclui-se que a

existência de uma participação no capital da empresa, por parte de um banco, aumenta signifi cativa-

mente, tanto estatística quanto economicamente, a probabilidade desse banco conceder empréstimos

a essa empresa no futuro. Os resultados não são explicados pela reputação do banco, pela existência de

relações creditícias no passado, e uma variedade de características da empresa, tais como a dimensão

da empresa, o desempenho, composição acionista e endividamento, entre outros. Além disso, os resul-

tados são robustos à inclusão de efeitos fi xos ao nível da empresa e do banco. A especifi cação de efeitos

fi xos ao nível da empresa controla para fontes não observadas de heterogeneidade entre as empresas e

resolve problemas associados ao facto de uma variável não observada e invariante no tempo determinar

simultaneamente a escolha do credor e a participação no capital da empresa.

Os resultados sugerem que a participação dos bancos como acionistas em empresas não-fi nanceiras

tem implicações no mercado de crédito. Um banco com informação privilegiada é suscetível de ser o

principal credor da empresa, o que pode gerar benefícios para a empresa em termos de disponibilidade

de crédito, mas também pode limitar o seu recurso a outros bancos.

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139

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141

Art

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ESTIMATIVA DO IMPACTO DE FUSÕES BANCÁRIAS: UMA APLICAÇÃO AO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS*

Diana Bonfim** | Pedro Pita Barros*** | Moshe Kim**** | Nuno C. Martins*****

resumo

A maior parte dos estudos de avaliação do impacto de fusões bancárias analisam o impacto diferencial destes processos sobre diferentes variáveis que caracterizam o sistema bancário. Contudo, esta metodologia apresenta limitações importantes, ignorando mudanças endógenas na estrutura de mercado após as fusões. Neste artigo analisa-se o impacto nos mercados de crédito de um conjunto de fusões bancárias no sistema bancário português tendo em consideração a metodologia habitualmente utilizada, bem como uma metodologia alternativa assente na estimação de um modelo estrutural, que permite a derivação de um cenário contrafactual. Neste contexto, torna-se possível avaliar, com base neste modelo estrutural, o que teria acontecido se as fusões não tivessem ocorrido. Observa-se que estas fusões contribuíram para uma diminuição das taxas de juro dos empréstimos superior ao que se poderia antecipar. O fl uxo de crédito concedido a empresas não fi nanceiras também assumiu um montante superior ao sugerido pela combinação do equilíbrio prevalecente antes das fusões com o enquadramento exógeno posterior. Em contrapartida, o fl uxo de empréstimos a particulares assumiu uma magnitude inferior ao esperado, ainda que o crédito concedido a este setor tenha registado um crescimento signifi cativo durante o período em estudo.

1. INTRODUÇÂO

Durante as últimas décadas prevaleceu uma tendência de consolidação global no sistema bancário

(Boot, 1999, Berger et al., 2004, Uhde e Heimeshoff, 2009). Em Portugal, o aumento da concentração

bancária foi especialmente signifi cativo no ano 2000. Naquele ano ocorreram várias fusões e aquisições,

envolvendo quatro dos sete maiores grupos bancários em atividade nesse período (incluindo um grande

banco não doméstico). A magnitude dessas fusões e aquisições deu origem a mudanças profundas na

estrutura do sistema bancário português, com implicações sobre o equilíbrio nos mercados de crédito.

Neste artigo é analisado o impacto desta vaga de fusões no sistema bancário português, utilizando

diferentes metodologias econométricas. Uma das abordagens mais comuns na literatura sobre este tema

consiste na estimação do impacto diferencial das fusões. Esta abordagem baseia-se essencialmente na

comparação de diversas variáveis relevantes nos períodos anteriores e posteriores às fusões. Contudo, esta

metodologia apresenta limitações signifi cativas, uma vez que ignora mudanças endógenas na estrutura

* Os autores agradecem os comentários e sugestões de Nuno Alves, Mário Centeno, Ana Cristina Leal e Nuno Ribeiro. As opiniões expressas no artigo são da responsabilidade dos autores, não coincidindo necessariamente com as do Banco de Portugal ou do Eurosistema.

** Banco de Portugal, Departamento de Estudos Económicos e ISEG-UTL.

*** NOVA School of Business and Economics.

**** Universitat Pompeu Fabra e University of Haifa.

***** O trabalho subjacente a este artigo foi iniciado quando Nuno Martins colaborava com o Banco de Portugal e com a Universidade Nova de Lisboa.

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do mercado subjacentes ao equilíbrio no sistema bancário após as fusões. Num artigo recente, Barros

et al. (2010) propõem uma nova metodologia que permite ultrapassar essas limitações metodológicas.

Utilizando um modelo estrutural do mercado de crédito, esta nova metodologia permite o desenvolvi-

mento de uma análise contrafactual das fusões, combinando o equilíbrio de mercado prevalecente antes

das fusões com o enquadramento subjacente ao período posterior, tendo em consideração a propagação

de alterações endógenas na estrutura de mercado. Tendo por base este procedimento, torna-se possível

estimar os fl uxos de crédito e as taxas de juro que seriam observados se o equilíbrio prevalecente antes

das fusões não se tivesse alterado, ou seja, se as fusões não tivessem ocorrido. Neste artigo aplica-se a

metodologia apresentada em Barros et al. (2010) para estudar a vaga de fusões observada no sistema

bancário português em 2000. A avaliação de impacto incide sobre os fl uxos de crédito e as taxas de juro

de empréstimos, diferenciado o impacto sobre particulares e sociedades não fi nanceiras.

São identifi cadas diferenças importantes no impacto das fusões e aquisições de bancos sobre os emprés-

timos concedidos a particulares e a empresas, observando-se que as fusões parecem ter aumentado o

volume de crédito concedido a empresas e, em contrapartida, restringido de alguma forma a concessão

de empréstimos a particulares, tendo em consideração a comparação com o cenário contrafactual. Deste

modo, em termos globais, os particulares podem ter enfrentado algumas restrições no acesso ao crédito

após este período de fusões e aquisições, ainda que os empréstimos a particulares tenham registado taxas

de crescimento bastante signifi cativas durante este período. Em contraste, os empréstimos concedidos a

sociedades não fi nanceiras parecem ter assumido montantes superiores ao que poderia ter sido previsto

antes das fusões. Para além disso, a vaga de fusões induziu uma redução das taxas de juro mais forte

do que o que seria expectável, benefi ciando deste modo os clientes bancários.

Este artigo encontra-se estruturado da seguinte forma. Na secção 2 é apresentada uma breve revisão

da literatura sobre a avaliação do impacto de fusões bancárias e na secção 3 descrevem-se os dados

utilizados na análise empírica. Na secção 4 apresenta-se uma análise das mudanças na estrutura do

sistema bancário português e europeu. Na secção 5 descreve-se sucintamente a metodologia de análise

contrafactual proposta por Barros et al. (2010) e na secção 6 apresentam-se os principais resultados

sobre o impacto da vaga de fusões no mercado de crédito português. A secção 7 resume as principais

conclusões deste artigo.

2. REVISÃO DA LITERATURA

Existe uma vasta literatura sobre os benefícios potenciais para os bancos decorrentes de fusões e

aquisições. Por exemplo, Focarelli et al. (2002) constatam que as fusões têm um efeito positivo sobre

a rendibilidade, ainda que também possam conduzir a um aumento dos custos com pessoal. Adicio-

nalmente, estes autores concluem que as aquisições geram uma redução a longo prazo na concessão

de empréstimos, sobretudo para as pequenas empresas, e uma redução permanente nos empréstimos

de má qualidade, o que afeta positivamente a rendibilidade a longo prazo. Tendo por base a análise de

fusões europeias, Altunbas e Marqués (2008) verifi cam que as melhorias no desempenho dos bancos

após as fusões são mais signifi cativas se existirem similitudes estratégicas entre os bancos envolvidos nas

operações. As fusões e aquisições também originam mudanças importantes na estrutura do mercado e

na concorrência, conforme discutido por Berger et al. (2004), Cerasi et al. (2010), Craig e Santos (1997)

ou Gowrisankaran e Holmes (2004). Alguns autores também concluem que as fusões podem permitir a

redução de custos e melhorar a alocação de recursos. Por exemplo, Carbó Valverde e Humphrey (2004)

argumentam que as fusões deverão reduzir os custos suportados pelos bancos, aumentar a rendibilidade

dos ativos e melhorar a utilização dos recursos em geral. Estes autores também constatam que as fusões

têm uma maior probabilidade de sucesso se envolverem um montante signifi cativo (efeito escala) e se

forem iniciadas por um banco que tenha estado anteriormente envolvido num processo semelhante

(efeito de aprendizagem). Para além disso, as fusões podem gerar ganhos de informação que melhoram

a capacidade dos bancos na seleção e discriminação de clientes (veja-se, por exemplo, Hauswald e

Marquez, 2006, ou Panetta et al., 2009).

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Adicionalmente, as fusões bancárias podem ter implicações importantes para a estabilidade fi nanceira,

uma vez que dão origem a alterações no poder de mercado, concentração e concorrência no sistema

bancário. Alguns autores consideram que existe um trade-off entre concorrência e estabilidade fi nan-

ceira, o que pode justifi car a intervenção das autoridades de supervisão bancária e de concorrência

nalgumas situações. Chan et al. (1986) demonstram que a intensifi cação da concorrência no sistema

bancário implica uma erosão das margens que os bancos podem obter através da avaliação adequada

da qualidade dos devedores. Esta redução dos incentivos para uma seleção adequada dos devedores

conduz necessariamente a uma deterioração global da qualidade das carteiras de empréstimos dos

bancos. Hellman et al. (2000) e Repullo (2004) apresentam resultados teóricos que complementam a

evidência sobre este trade-off entre o poder de mercado e o risco dos bancos. O principal argumento

desta linha de investigação baseia-se no facto de o poder de mercado estar diretamente relacionado

com o valor dos bancos, limitando assim os incentivos à assunção de riscos. Empiricamente, Beck et

al. (2006) constatam que as crises bancárias são menos prováveis quando o sistema bancário regista

um nível de concentração mais elevado. Craig e Santos (1997) também mostram que a consolidação

no setor bancário nos Estados Unidos permitiu uma maior diversifi cação do risco, diminuindo assim o

risco individual de cada banco. No entanto, os autores referem que esta diminuição do risco do sistema

bancário pode ser limitada por um aumento do risco moral associado ao problema too-big-to-fail. Com

efeito, se os bancos acreditarem que existe uma elevada probabilidade de apoio público em situação de

crise, podem existir incentivos para a tomada de riscos excessivos. Jiménez et al. (2007) também obtêm

evidência empírica que apoia esta perspetiva de trade-off. Estes autores observam uma relação negativa

entre o poder de mercado no mercado de crédito dos bancos espanhóis e a assunção de riscos, avaliada

pelo rácio de incumprimento de empréstimos a empresas.

Contudo, alguns autores têm contestado esta perspetiva tradicional de “concorrência-fragilidade”, apre-

sentando uma teoria alternativa de “concorrência-estabilidade”, conforme discutido por Berger et al.

(2009). Por exemplo, Boyd e De Nicoló (2005) investigam a relação teórica entre a concorrência bancária e

a assunção de riscos e identifi cam várias limitações nos modelos do paradigma “concorrência-fragilidade”.

De acordo com estes autores, estes modelos não conseguem identifi car mecanismos importantes de

incentivos ao risco, que encorajam os bancos a assumir mais riscos quando os mercados se tornam mais

concentrados. Mais especifi camente, quando existe menos concorrência os bancos podem aumentar as

rendas cobrando juros mais altos aos seus clientes, o que pode implicar por sua vez uma maior tomada

de riscos por parte dos devedores, traduzida num aumento das taxas de incumprimento. Allen e Gale

(2004), Carletti e Hartmann (2002) e Carletti et al. (2007) também apresentam argumentos teóricos

que desafi am a visão tradicional de “concorrência-fragilidade”, demonstrando que a concorrência

bancária pode, sob determinadas condições, promover a estabilidade fi nanceira. Adicionalmente, Uhde

e Heimeshoff (2009) apresentam evidência empírica sobre o efeito negativo da concentração bancária

na solidez fi nanceira dos bancos, utilizando dados relativos a bancos europeus entre 1997 e 2005.

De um modo global, as interações entre a concorrência bancária e a estabilidade fi nanceira são complexas

e multifacetadas, tal como discutido por Allen e Gale (2004). Num artigo recente, Berger et al. (2009)

mostram empiricamente que as duas visões acima descritas não são necessariamente incompatíveis. Os

resultados destes autores, baseados em dados de bancos para 23 economias avançadas, sugerem que

os bancos com mais poder de mercado se encontram geralmente menos expostos a risco em termos

globais (o que é consistente com a perspetiva “concorrência-fragilidade”). Contudo, estes autores

também observam que o poder de mercado aumenta o risco da carteira de crédito, o que é consistente

com o paradigma “concorrência-estabilidade”.

Também é importante avaliar o impacto das fusões de bancos sobre os clientes bancários. Vários autores

concluem que as fusões bancárias podem afetar negativamente os devedores, principalmente as pequenas

e médias empresas que se encontram geralmente dependentes de fi nanciamento bancário e que têm

um número limitado de relações bancárias. Por exemplo, Bonaccorsi di Patti e Gobbi (2007) constatam

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que as fusões de bancos têm um efeito negativo sobre o crédito concedido a empresas italianas, sobre-

tudo se a relação entre o banco e a empresa não tem continuidade na sequência da fusão (embora este

efeito deva persistir apenas durante os três anos após a fusão). No entanto, este efeito adverso não é

sufi ciente para gerar um impacto negativo sobre o investimento ou a sensibilidade dos fl uxos de caixa das

empresas. Outros autores encontram resultados contraditórios quanto ao impacto das fusões bancárias.

Por exemplo, utilizando também uma amostra de empresas italianas, Sapienza (2002) conclui que as

fusões no mesmo mercado benefi ciam os clientes se estas envolverem bancos com poder de mercado

relativamente limitado. No entanto, à medida que a quota de mercado do banco adquirido aumenta, os

ganhos de efi ciência são compensadas por um aumento do poder de mercado, o que poderá implicar

uma diminuição na oferta de crédito, especialmente para pequenos devedores. Noutro estudo, Scott e

Dunkelberg (2003) analisam os resultados de um inquérito a empresas norte-americanas e verifi cam que

as fusões bancárias não afetam a oferta de crédito ou as taxas de juro, ainda que exista alguma dete-

rioração das condições dos empréstimos não relacionadas com os preços, tais como taxas e comissões

para serviços específi cos. Degryse et al. (2010) constatam que o impacto de uma fusão bancária é mais

negativo para os devedores mais pequenos e para os que têm uma única relação bancária. Para além

disso, os clientes do banco adquirido tendem a ser mais prejudicados pela fusão do que os do banco

adquirente. Finalmente, Karceski, et al. (2005) concluem que as fusões podem ter impactos sobre os

devedores para além dos observados sobre a concessão de crédito e taxas de juro. Estes autores mostram

que as fusões podem de facto ter consequências importantes sobre o valor das empresas, observando

que os clientes dos bancos adquirentes normalmente benefi ciam da fusão, enquanto as empresas com

empréstimos do banco adquirido sofrem um impacto de sentido contrário.

Existe menos evidência disponível sobre o impacto das fusões bancárias nos depositantes. Alguns resul-

tados empíricos para empresas italianas sugerem que as fusões bancárias podem ter consequências

positivas para os depositantes no longo prazo, ainda que possam existir alguns efeitos negativos no curto

prazo (Focarelli e Panetta, 2003). No entanto, Craig e Dinger (2009), utilizando dados para os Estados

Unidos, obtêm um resultado oposto, não observando qualquer efeito positivo das fusões a longo prazo

nas taxas de juro de depósitos. Estes resultados são consistentes com a investigação anterior de Prager

e Hannan (1998).

3. DADOS

Neste artigo a análise empírica do impacto de um conjunto de fusões e aquisições no sistema bancário

português tem por base três fontes de dados diferentes.

Em primeiro lugar, a maior parte dos dados tem por base as Estatísticas Monetárias e Financeiras do

Banco de Portugal. Utilizando dados individuais para cada banco é possível analisar trajetórias específi cas

para taxas de juro e fl uxos de crédito, distinguindo explicitamente os particulares e as sociedades não

fi nanceiras. As Estatísticas Monetárias e Financeiras resultam de um reporte mensal obrigatório que

envolve todas as instituições fi nanceiras que operam no país, incluindo informações de fi nal do período

sobre saldos vivos e fl uxos de crédito a particulares e a sociedades não fi nanceiras1. Os dados referentes

a taxas de juro referem-se a novas operações em cada período.

A segunda base de dados utilizada inclui informações sobre a localização dos balcões dos bancos. Os

dados são compilados pelo Departamento de Supervisão Prudencial do Banco de Portugal. Sempre que

um banco estabelece uma sucursal é necessário que tal seja reportado ao supervisor, assim como quando

existe uma alteração de morada de um balcão, um encerramento ou qualquer outra mudança relevante.

1 Para mais detalhes sobre as Estatísticas Monetárias e Financeiras ver http://www.bportugal.pt/pt-PT/Estatisticas/Dominios%20Estatisticos/Paginas/EstatisticasMonetariaseFinanceiras.aspx.

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Finalmente, a terceira base de dados inclui características regionais, mais precisamente estatísticas

demográfi cas trimestrais por distrito em Portugal, compiladas pelo INE.

Em termos globais, os dados assumem uma frequência trimestral, referindo-se ao período compreendido

entre o primeiro trimestre de 1995 e o terceiro trimestre de 2002. Cada observação corresponde a um

banco num dado trimestre.

4. FUSÕES NO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS

Durante as últimas duas décadas observou-se uma signifi cativa consolidação do sistema bancário a nível

global (Boot, 1999, Berger et al., 2004, Uhde e Heimeshoff, 2009). Os bancos tornaram-se maiores por

via da aquisição e/ou fusão com outros bancos, tanto a nível nacional como internacional. Na União

Europeia esta tendência foi apoiada em parte pela crescente integração fi nanceira e económica entre

Estados-membros. Em particular, o alargamento da União Europeia aos países da Europa Central e de

Leste ofereceu a alguns grupos bancários oportunidades atrativas para a expansão da sua atividade,

mesmo que ainda possam persistir algumas barreiras para uma maior consolidação na Europa, conforme

discutido por Berger et al. (2001).

A tendência de consolidação no sistema bancário europeu encontra-se ilustrada nos gráfi cos 1 e 2. Tanto

a quota de mercado das 5 maiores instituições de crédito como o índice de Herfi ndahl para os ativos

totais das instituições de crédito apresentam uma tendência crescente ao longo da última década2. O

número de balcões por 1000 habitantes diminuiu signifi cativamente entre 1997 e 2005, ainda que tenha

ocorrido alguma reversão desta tendência nos anos mais recentes (Gráfi co 3).

O número total de operações de fusão e aquisição de instituições de crédito na União Europeia foi

bastante elevado no período imediatamente após a criação da área do euro (Gráfi co 4), tendo diminuído

desde 2000 (BCE, 2007)3. A maior parte das operações envolveu apenas instituições de crédito domés-

2 Estes valores referem-se a dados de bancos não consolidados. Possivelmente, os valores em base consolidada poderiam apontar para uma tendência de concentração mais forte.

3 Apesar da diminuição do número de operações durante a última década, o valor das transações aumentou entre 2006 e 2008, depois de ter diminuído signifi cativamente entre 2001 e 2005 (BCE, 2010).

Gráfi co 1 Gráfi co 2

CR5 - QUOTA DE MERCADO DAS 5 MAIORES INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO NO TOTAL DOS ATIVOS | EM PERCENTAGEM

ÍNDICE DE HERFINDAHL PARA OS ATIVOS TOTAIS DAS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO

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1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

PTMédia ponderada UE

Fontes: BCE (Structural analysis of the EU banking setor, novembro 2002, novembro 2003; ECB EU Banking structures outubro 2005, setembro 2010) e cálculos dos autores.

Nota: Dados não consolidados.

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ticas (Gráfi co 5), contribuindo desta forma para explicar o aumento dos indicadores de concentração

observado durante este período (Gráfi cos 1 e 2).

O número de operações foi bastante signifi cativo em muitos países europeus durante este período, conforme

ilustrado no gráfi co 6. O número absoluto de operações foi particularmente elevado na Alemanha, Itália,

França, Espanha e Reino Unido. Contudo, quando avaliado em percentagem do PIB, o número de fusões

e aquisições foi mais notável no Luxemburgo e, em menor grau, na Itália, Grécia e Portugal.

De facto, as fusões no sistema bancário português durante este período deram origem a mudanças

importantes na estrutura do sistema bancário. As fusões e aquisições de bancos portugueses ocorreram

Gráfi co 5

PERCENTAGEM DE FUSÕES E AQUISIÇÕES DOMÉSTICAS ENVOLVENDO INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO NA UNIÃO EUROPEIA | EM PERCENTAGEM

0

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40

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70

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1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Fontes: BCE (Structural analysis of the EU banking sector, novembro 2003; ECB EU Banking structures outubro 2005) e cálculos dos autores.

Gráfi co 3 Gráfi co 4

NÚMERO DE BALCÕES DE INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO POR 1000 HABITANTES

NÚMERO TOTAL DE FUSÕES E AQUISIÇÕES DE INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO NA UNIÃO EUROPEIA

0.40

0.45

0.50

0.55

0.60

0.65

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

PTUEÁrea do euro

80

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100

110

120

130

140

150

160

170

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Fontes: BCE (Structural analysis of the EU banking setor, no-vembro 2002, novembro 2003; ECB EU Banking structures ou-tubro 2005, setembro 2010) e cálculos dos autores.

Fontes: BCE (Structural analysis of the EU banking sector, no-vembro 2003; ECB EU Banking structures outubro 2005) e cál-culos dos autores.

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sobretudo no ano 2000, tendo envolvido vários dos maiores grupos bancários. Em março de 2000, o

grupo Banco Pinto e Sotto Mayor (BPSM), que incluía os bancos BPSM, Banco Totta e Sotto Mayor Inv

(BTSM Inv), Banco Totta e Açores (BTA) e Crédito Predial Português (CPP), foi extinto. O banco BPSM

foi adquirido pelo Banco Comercial Português (BCP). Simultaneamente, o BTSM Inv foi adquirido pela

Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o CPP foi adquirido pelo BTA. No fi nal do ano, o grupo bancário

espanhol Santander adquiriu o BTA. Estas operações envolveram diretamente quatro dos sete maiores

grupos fi nanceiros desse período, originado mudanças profundas na estrutura do sistema bancário

português. A magnitude dessas alterações é claramente ilustrada nos gráfi cos 1 e 2, onde se observa

um aumento signifi cativo da concentração no sistema bancário português. Apesar deste aumento, o

gráfi co 7 demonstra que o sistema bancário português não apresenta um índice de concentração muito

elevado, por comparação com outros países europeus.

A evidência disponível sugere que as mudanças substanciais que ocorreram em 2000 podem ter tido

consequências importantes no mercado de crédito português, nomeadamente na concessão de crédito,

nas taxas de juro cobradas e nos efeitos estratégicos entre agentes fi nanceiros.

No quadro 1 apresentam-se algumas estatísticas descritivas que permitem caracterizar o sistema bancário

português durante o período analisado (1995-2002)4.

Em termos globais, a base de dados inclui 71 bancos com atividade durante pelo menos um trimestre

ao longo do período de análise. Os bancos foram agrupados em oito grandes grupos fi nanceiros:

consideram-se os sete maiores grupos fi nanceiros, que incluem 26 bancos, e um grupo adicional, que

inclui os restantes bancos5. Quatro destes grupos bancários estiveram diretamente envolvidos na vaga

de fusões do ano 2000.

O quadro 1 apresenta um conjunto de estatísticas descritivas para o saldo vivo e fl uxos de crédito, bem

como para outras variáveis, tendo em consideração três conjuntos diferentes de bancos: i) os quatro

grandes grupos bancários envolvidos na vaga de fusões; ii) os três grandes grupos bancários que não

estiveram envolvidos nas fusões e iii) os outros bancos mais pequenos que não estiveram envolvidos neste

4 Uma análise mais detalhada do sistema bancário português durante este período pode ser consultada em Antão et al. (2009).

5 Conforme discutido por Park e Pennacchi (2009), as fusões bancárias afetam de forma distinta bancos pequenos e grandes, o que justifi ca a sua análise diferenciada.

Gráfi co 6

NÚMERO TOTAL DE FUSÕES E AQUISIÇÕES DE INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO

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45

50

BE DK DE GR ES FR IE IT LU NL AT PT FI SE UK

19971998199920002001200220032004

Fontes: BCE (Structural analysis of the EU banking sector, novembro 2003; ECB EU Banking structures outubro 2005) e cálculos dos autores.

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processo. A quota do mercado de crédito média de um banco integrado no conjunto de instituições

envolvidas nas fusões é de 3.4 por cento, enquanto os grandes bancos que não pertencem a este grupo

têm em média 6.7 por cento do saldo vivo total de crédito. Por sua vez, os bancos mais pequenos que

não estiveram envolvidos nas fusões têm apenas, em média, 0.6 por cento do mercado de crédito. Este

último resultado demonstra a importância de se considerar estes bancos separadamente, pelo que serão

excluídos da restante análise empírica.

A taxa de juro média sobre o fl uxo de crédito total aplicada pelos bancos envolvidos em operações de

fusão é de 11.1 por cento (9.2 por cento para os outros grandes bancos e 8.5 por cento para os bancos

mais pequenos). O segmento de empréstimos a particulares regista taxas de juro mais elevadas neste

período (13.2, 10.4 e 10.2 por cento para os diferentes conjuntos de bancos em análise) do que o setor

empresarial (9.9, 9.3 e 7.9 por cento, respetivamente)6.

Estas estatísticas referem-se ao conjunto do período em estudo. Na secção 6 analisa-se em que medida

a vaga de fusões afetou os fl uxos de crédito e as taxas de juro, nos segmentos de empréstimos a parti-

culares e a sociedades não fi nanceiras, utilizando o modelo descrito na secção 5.

5. UM MODELO ESTRUTURAL DO SISTEMA BANCÁRIO

Num artigo recente, Barros et al. (2010) apresentam uma nova metodologia para avaliar o impacto das

fusões no sistema bancário, baseada num modelo estrutural do mercado de crédito. Utilizando este

6 A maioria dos bancos da amostra tem atividade nos segmentos de crédito a particulares e a empresas não fi -nanceiras, apesar de alguns pequenos bancos registarem fl uxos de crédito nulos num desses segmentos nalguns trimestres. Todos os bancos considerados concedem crédito a particulares e apenas dois pequenos bancos não concedem crédito a empresas durante o período total da amostra. Note-se que o segmento dos particulares engloba empréstimos para consumo e outros fi ns e para aquisição de habitação. Durante o período da amostra, a taxa de juro estimada para os empréstimos para consumo e outros fi ns foi cerca de 4 p.p. superior à estimada para os empréstimos à habitação.

Gráfi co 7

QUOTA DE MERCADO DAS CINCO MAIORES INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO 2002

ÍNDICE HERFINDAHL 2002

quartil 4quartil 3quartil 2quartil 1

sem dados

quartil 4quartil 3quartil 2quartil 1

sem dados

Fontes: BCE (Structural analysis of the EU banking sector, novembro 2003) e cálculos dos autores.

Nota: As diferentes cores referem-se aos quatro quartis das distribuições da quota de mercado das 5 maiores instituições de crédito (acima) e do índice Herfi ndahl para os ativos totais de instituições de crédito (abaixo).

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édito

tot

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327

5151

341.

531

866

232

5422

7270

0.04

3701

479

141

958

00.

2432

68

Núm

ero

de b

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317

524

91

1312

232

242

229

178

679

126

441

217

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33.

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3.9

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640.

239

776

232

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791

314

555

035

14

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331

876

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5769

232

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141

780

437

Flux

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cré

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319

5053

350

3565

523

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410

1381

279

127

349

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3116

Taxa

s d

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Taxa

s de

juro

323

11.1

53.

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.723

29.

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3.8

20.0

791

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42.

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20.0

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528

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juro

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)26

49.

94

3.1

23.5

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.873

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93

2.6

22.3

Taxa

de

juro

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35.

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2.4

9.1

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323

0.00

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30.

30.

30.

11.

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30.

30.

11.

079

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50.

30.

11.

0

POP

323

14.0

3.8

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21.4

232

13.0

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2.4

21.4

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15.0

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2.5

21.4

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banc

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t.

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LID

AD

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NA

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• M

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2011

150

II

modelo estrutural é possível construir uma análise contrafactual das fusões de bancos, combinando o

equilíbrio prevalecente antes das fusões com características do enquadramento observado após as fusões

e considerando simultaneamente a propagação de alterações endógenas na estrutura de mercado. Esta

metodologia permite estimar os fl uxos de crédito e as taxas de juro que teriam sido observadas se o

equilíbrio existente antes das fusões não se tivesse alterado, ou seja, se as fusões não tivessem ocorrido.

Deste modo, torna-se possível obter estimativas do impacto de fusões de bancos que consideram os efeitos

associados às alterações endógenas na estrutura de mercado e no comportamento dos agentes após as

fusões. Estes efeitos são geralmente ignorados na avaliação do impacto de fusões e podem originar um

enviesamento signifi cativo nos resultados obtidos. Para além disso, esta metodologia permite separar os

efeitos associados a mudanças no enquadramento macroeconómico e fi nanceiro dos relacionados com

alterações endógenas na estrutura de mercado decorrentes das fusões.

Nesta secção apresentam-se sucintamente os principais pilares deste modelo estrutural de equilíbrio no

sistema bancário (para mais detalhes ver Barros et al., 2010).

Considera-se que a função de procura de empréstimos nos mercados de crédito é:

0 1 2 1 2 3 4 5ln ln ln ln ln ln ln ln

it i t t it it it it itL r Z B B r Pop LCa a a a f f f f f-= + + + + + + + + (1)

Lit é a procura total dirigida a cada banco i durante o trimestre t, avaliada com base em fl uxos de crédito.

Esta função procura engloba duas componentes principais: variáveis macroeconómicas (identifi cadas

com o subscrito t) e variáveis específi cas de cada banco (com um subscrito it). α0 é uma constante e αi

é um efeito fi xo para cada banco. O conjunto de variáveis macroeconómicas inclui a taxa de juro média

agregada de novos empréstimos concedidos em Portugal em cada trimestre, rt, e uma medida das

condições macroeconómicas globais, Zt (PIB trimestral). Por seu turno, as variáveis específi cas de cada

banco incluem o número de balcões desse banco e dos seus concorrentes (Bit e B-it respetivamente), a

taxa de juro aplicada nos empréstimos por cada banco, e dois indicadores de concorrência local, POPit

e LCit. Estes dois indicadores defi nem-se como:

1...

iktit ikt

k K it

BPOP POP

B=

= å

2

1...

kt ikt iktit

k K kt it

B B BLC

B B=

æ ö- ÷ç ÷ç= ÷ç ÷÷çè øå

onde a soma é efetuada para todos os distritos k do país. POPit é uma medida da importância de cada

mercado local para o banco i no período t: a proporção de balcões de cada banco no mercado local k

é ponderada pela população nesse mercado. Deste modo, os bancos que têm uma maior proporção

de balcões em áreas com maior densidade populacional terão, ceteris paribus, uma maior procura de

empréstimos. A variável LCit é o somatório do quadrado dos valores de concorrência de mercado local

ao nível de cada distrito, pretendendo avaliar a intensidade da concorrência. O seu elemento base é a

importância relativa da concorrência por via de balcões enfrentada pelo banco i no mercado local k.

Este indicador é obtido considerando o peso dos balcões de bancos concorrentes no número de balcões

total no mercado k, ponderado pela importância deste mercado, em termos de balcões, para o banco i.

Este índice permite acomodar os efeitos sobre a procura decorrentes do facto de um banco ter muitos

balcões num mercado em que outros bancos não têm balcões, por comparação com mercados com

muitos balcões de concorrentes.

No modelo, a maximização da função de lucros dos bancos dá origem à seguinte expressão:

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151

Art

igos

3 1

3 3

1( )

1 1jt

it it ij jt jt ij i t it

Lr c r c

n L

f al b

f f¹

= + - ++ - -å (2)

Nesta equação, j representa todos os bancos rivais e cit são custos de fi nanciamento. Os efeitos fi xos

de cada banco são representados por βi. Os efeitos estratégicos entre o banco i e os seus j rivais são

incorporados no conjunto de parâmetros λij. Se λij = 1, existe conluio entre os bancos, enquanto se λij =

0 os bancos maximizam os lucros de forma independente.

O equilíbrio nos mercados de crédito é dado por:

0

0 1 2 1 2 3

4 5

1 2

31

3

ln ln ln ln ln ln

ln ln

min

1

1min ( )

jt

it i t t it it it

it it it

it it it it

jtit r jt jt

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L r Z B B r

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LR Min r c

n L

a a a a f f ff f e

b b b

fb

f

-ìï = + + + + + + +ïïï + +ïïïïïïï = + + +ïïïïïïíïï =ïï +ïïï é ùï ê úï = -ï ê úïï ê úë ûïïïïïî

(3)

De forma a simplicar a estimação empírica, optou-se por reduzir o número de efeitos estratégicos λij considerando apenas a interação entre o banco i e o seu principal rival, defi nido como a instituição

fi nanceira com a taxa de juro mais baixa em cada trimestre, Rminit7.

O sistema de equações é estimado empiricamente por via de um modelo SUR (seemingly unrelated

regression), que permite considerar a correlação de resíduos entre equações.

6. ESTIMATIVA DO IMPACTO DAS FUSÕES DO ANO 2000 NO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS

6.1. O que se alterou depois das fusões?

Nesta secção analisa-se o impacto do processo de fusões do ano 2000 nos fl uxos de crédito e nas taxas

de juro. Para além disso, também se avalia em que medida estas fusões afetaram a concorrência ao nível

local e as estratégias de coordenação no sistema bancário.

No quadro 2 é apresentada uma comparação entre os fl uxos de crédito, taxas de juro e indicadores de

concentração antes e depois da vaga de fusões. Após as fusões, os fl uxos de crédito foram superiores ao

observado no período anterior, tanto para particulares como para empresas. Note-se que esta tendência

foi mais forte para os bancos diretamente envolvidos nas fusões. De facto, os outros bancos registaram

uma diminuição dos fl uxos de empréstimos a particulares. Refi ra-se ainda que os fl uxos de crédito

médios são estatisticamente diferentes antes e depois das fusões apenas para os bancos que estiveram

diretamente envolvidos neste processo. Comparando as taxas de juro nos períodos anterior e posterior

às fusões, observa-se uma queda generalizada nas taxas de juro após as fusões, em parte refl etindo

os menores custos fi nanciamento dos bancos neste período, associados às reduzidas taxas de juro no

mercado monetário interbancário, bem como o acesso a fontes de fi nanciamento mais diversifi cadas no

7 Foram consideradas outras interações estratégicas possíveis, mas os resultados mantêm-se globalmente robus-tos. Considerou-se, por exemplo, (i) defi nir o principal concorrente como o banco que concedeu mais crédito em cada trimestre; (ii) o banco com fl uxo de crédito mais próximo em cada trimestre; (iii) a interação dos cinco principais rivais; ou (iv) a média da interação dos cinco principais rivais.

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152

II

contexto da participação na área do euro. Não obstante, os dados mostram que os bancos diretamente

envolvidos nas fusões reduziram as taxas de juro de forma mais agressiva do que os outros bancos, dimi-

nuindo as suas margens fi nanceiras com o objetivo de captar novos clientes e, possivelmente, refl etindo

também ganhos de efi ciência e de informação decorrentes do processo de fusões (veja-se, por exemplo,

Sapienza, 2002, Hauswald e Marquez, 2006, Panetta et al., 2009).

Contudo, esta análise relativamente simples é necessariamente incompleta, uma vez que muitos fatores

podem estar na origem das diferenças nas taxas de juro e nos fl uxos de crédito observadas nestes dois

períodos. Neste contexto, uma estratégia de identifi cação mais robusta consiste na utilização do modelo

estrutural do mercado de crédito descrito na secção anterior para estudar o impacto diferencial da

vaga de fusões. Mais precisamente, é possível estimar a seguinte versão empírica do modelo (3) com

as seguintes alterações:

0

0 01 1 2 1 2 3

4 5 51

01 1 2 3

31

3

ln ln ln ln ln ln

ln ln ln *

min min *

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1min ( )

jt

it i t t it it it

it it it it

it it it it it

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L DEPOIS r Z B B r

Pop LC LC DEPOIS

r DEPOIS c R R DEPOIS v

LR Min r c

n L

a a a a a f f ff f f e

b b b b b

fb

f

-= + + + + + + + ++ + +

= + + + + +

=+

é ùê ú= -ê úêë û

ìïïïïïïïïïïïïïïïïïíïïïïïïïïïïïï úïïïïïî

(4)

Neste modelo, o coefi ciente α01 considera potenciais alterações nos fl uxos de crédito na sequência da

vaga de fusões e Φ51 considera o impacto diferencial da concorrência bancária local ao nível dos balcões

nos fl uxos trimestrais de crédito após as fusões ocorridas no ano 2000, tendo por referência o impacto

desta variável no período anterior às fusões. A variável DEPOIS é uma variável binária que assume o

valor 1 quando uma das observações se refere a um trimestre do ano 2000 ou posterior. Os resultados

da análise de impacto diferencial são apresentados no quadro 3.

Neste quadro, as colunas (1)-(2) apresentam a análise para o conjunto do setor privado não fi nanceiro

e as colunas (3)-(4) e (5)-(6) apresentam os resultados para particulares e sociedades não fi nanceiras,

Quadro 2

ANÁLISE DE FLUXOS DE CRÉDITO E TAXAS DE JURO ANTES E DEPOIS DAS FUSÕES

Todos os bancos Bancos envolvidos diretamente nas fusões

Bancos não envolvidos diretamente nas fusões

Período anterior às fusões

Período posterior às fusões

Dif Período anterior às fusões

Período posterior às fusões

Dif Período anterior às fusões

Período posterior às fusões

Dif

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9)

Fluxos de crédito (ln)

Total 5.76 5.81 0.05 5.50 5.76 0.26 6.16 5.88 -0.28

Particulares 4.10 4.77 0.67 *** 3.74 5.07 1.33 *** 4.60 4.37 -0.23

Empresas 5.59 6.01 0.42 * 5.39 6.14 0.74 * 5.84 5.89 0.05

Taxas de juro

Total 11.46 8.20 -3.26 *** 12.18 8.92 -3.26 *** 10.39 7.30 -3.09 ***

Particulares 13.31 9.37 -3.95 *** 14.49 10.46 -4.03 *** 11.68 7.96 -3.72 ***

Empresas 11.03 6.83 -4.20 *** 11.30 6.58 -4.72 *** 10.68 7.07 -3.62 ***

Fontes: Banco de Portugal e cálculos dos autores.

Notas: O período anterior às fusões engloba os anos 1995-1999, enquanto o período posterior às fusões se refere ao período entre 2000 e 2002. O grupo de instituições fi nanceiras diretamente envolvidas nas fusões inclui instituições integradas nos grupos fi nanceiros que adquiriram ou venderam pelo menos uma instituição fi nanceira a outro grupo fi nanceiro no ano 2000. As taxas de juro dizem respeito a novos empréstimos concedidos em cada trimestre. Os asteriscos referem-se a testes de comparação de médias das variáveis no período anterior e posterior às fusões. * signifi cativo a 10%; ** signifi cativo a 5%; ***signifi cativo a 1%.

Page 158: Banco Portugal 2011_Relatório de Estabilidade Financeira

153

Art

igos

Quadro 3

ANÁLISE DO IMPACTO DIFERENCIAL DA VAGA DE FUSÕES

Fluxos de crédito totais Particulares Sociedades não fi nanceiras

(1) (2) (3) (4) (5) (6)

Sistema de equações Sistema de equações Sistema de equações

ln(crédito) rit ln(crédito) rit ln(crédito) ritDEPOIS 0.343 ** -1.628 *** -0.471 *** -2.003 *** 0.971 *** -1.939 ***

(2.09) -(8.07) -(3.01) -(8.22) (4.48) -(8.40)

ln (número de balcões) 0.974 *** 1.052 *** 1.168 **(3.07) (2.89) (2.50)

ln (número de balcões de outros bancos) -0.745 0.774 -3.337 ***

-(1.05) (1.13) -(3.56)

ln(rt) -0.133 0.343 -0.545-(0.38) (0.81) -(1.04)

ln(rit) -0.310 *** -1.064 *** -1.268 ***

- - -

PIB 0.041 0.130 *** -0.045(1.37) (4.01) -(0.91)

POP 0.130 * -0.023 -0.213 *(1.65) -(0.21) -(1.87)

LC 6.066 *** 6.559 ** 17.389 ***(2.63) (2.31) (5.46)

LC*DEPOIS -1.021 *** 0.462 -2.289 ***-(4.02) (1.47) -(5.21)

cit 1.046 *** 1.036 *** 1.068 ***(22.71) (19.30) (20.68)

Rmin -15.475 -1.147 0.622 ***-(1.34) -(1.01) (4.47)

Rmin*DEPOIS 4.953 -6.171 -0.491 ***(0.12) -(0.42) -(3.49)

constante 4.598 6.102 *** -9.142 7.247 *** 32.409 *** 6.202 ***(0.68) (9.12) -(1.36) (9.55) (3.53) (8.64)

Lambda (λ) -80.6 -0.2 -0.3

H0 = λ = 0 [Prob> χ2] 0.71 0.53 0.31

H0 = λ = 1 [Prob> χ2] 0.71 0.00 0.00

Lambda*DEPOIS (λdepois) 25.8 -1.2 0.2

H0 = λ = 0 [Prob> χ2] 0.91 0.71 0.32

H0 = λ = 1 [Prob> χ2] 0.91 0.49 0.00

Observações 562 562 507 507 496 496

Fontes: Banco de Portugal e cálculos dos autores.

Notas: Todas as regressões incluem efeitos fi xos para os bancos e desvios padrão robustos. As estatísticas t robustas são apresentadas entre parênteses. * signifi cativo a 10%; ** signifi cativo a 5%; *** signifi cativo a 1%. As estimações são efetuadas com dados tri-mestrais durante o período 1995-2002. A estimação considera a restrição incluída no sistema através de um modelo SUR (seemingly unrelated regression). DEPOIS é uma variável binária que assume o valor 1 quando a observação se refere a 2000 ou a um período posterior. As taxas de juro referem-se a novos empréstimos concedidos em cada trimestre. LC é um indicador de concorrência local e POP é um indicador da importância de cada mercado para o banco i no período t. Cit é um indicador de custos de fi nanciamento ponderados, tendo em consideração depósitos e passivos interbancários. Rmin é uma variável que avalia as interações estratégicas entre bancos, sendo defi nida como Rmin = (1/nbancos) * Ljt / Lit * (rjt - cjt), onde Ljt e rjt são, respetivamente, o fl uxo de emprés-timos e as taxas de juro para cada rival do banco, sendo esse rival defi nido como o banco com a taxa de juro mais baixa em cada trimestre, em cada segmento de mercado. As estatísticas t para o coefi ciente associado a ln(rit) nas colunas (1), (3) e (5) são omitidas, uma vez que este coefi ciente é determinado por uma restrição no modelo. O número mais reduzido de observações nas regressões para particulares e empresas deve-se ao facto de alguns bancos registarem fl uxos de crédito nulos num destes segmentos de mercado nalguns trimestres (dois bancos pequenos nunca concedem crédito a empresas durante todo o período amostral). λ mede a impor-tância dos bancos rivais na função de maximização de lucros de cada banco e é derivado a partir de uma combinação de coefi cientes estimados, resultando do modelo.

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2011

154

II

respetivamente. Deve notar-se que neste contexto é possível admitir a separabilidade do produto bancário

entre empréstimos a particulares e a empresas sem assumir qualquer hipótese sobre a sua complementa-

ridade ou substituibilidade, dado que estes dois segmentos de mercado são intrinsecamente diferentes e

independentes. Isto implica uma elasticidade cruzada nula da procura entre estes dois segmentos dado

que, por defi nição, os clientes não podem passar de um segmento para outro. Assim, a especifi cação

de funções de procura linear não tem subjacentes os problemas que existiriam em mercados onde estas

elasticidades cruzadas variam em resposta a diferentes estratégias dos agentes8. Conforme mencio-

nado anteriormente, o sistema de equações (4) é estimado utilizando um modelo SUR, que considera a

correlação dos resíduos entre equações, bem como a restrição incluída no modelo estrutural. Todas as

regressões são estimadas com efeitos fi xos para cada banco e com desvios padrão robustos.

Analisando os resultados para os fl uxos de crédito agregado, nas colunas (1) e (2), observa-se que o

número total de balcões regista uma relação positiva e signifi cativa com o logaritmo do crédito total

concedido, sugerindo que a estrutura de balcões a nível local constitui um elemento importante na criação

de liquidez9. Para além disso, a taxa de juro cobrada pelos bancos encontra-se negativamente relacionada

com o crédito total concedido, como seria de esperar10. Por seu turno, a taxa de juro cobrada por cada

banco, rit, está signifi cativa e positivamente relacionada com os respetivos custos de fi nanciamento,

cit (cit é um indicador ponderado do custo de fi nanciamento, tendo em consideração os depósitos e os

passivos interbancários).

Apesar de as colunas (1) e (2) revelarem estimativas consistentes dos determinantes dos fl uxos de crédito

e das taxas de juro cobradas pelos bancos, esta análise dos fl uxos de crédito agregados suaviza impor-

tantes características idiossincráticas dos determinantes relevantes para o crédito concedido a particulares

e a empresas, que são analisados nas colunas (3)-(4) e (5)-(6), respetivamente. A análise diferenciada

destes setores institucionais permite identifi car diferenças importantes nestes mercados, justifi cando

assim uma especifi cação desagregada da análise, em vez de um tratamento puramente homogéneo do

mercado de crédito.

É possível observar que o número de balcões do próprio banco infl uencia positivamente o crédito conce-

dido, tanto a particulares como a empresas (os coefi cientes estimados são 1.05 e 1.17, respetivamente).

Por sua vez, o número de balcões dos outros bancos não se encontra signifi cativamente correlacionado

com o crédito a particulares, conforme ilustrado na coluna (3), embora tenha um impacto negativo e

signifi cativo sobre o crédito concedido ao setor empresarial (coluna (5)).

A primeira linha de coefi cientes estimados no quadro 3 apresenta os resultados para a variável DEPOIS.

Para o conjunto do setor privado não fi nanceiro (coluna (1)), os fl uxos de crédito aumentaram após a vaga

de fusões e as taxas de juro diminuíram signifi cativamente. No entanto, existem diferenças importantes

no impacto do processo de fusões sobre os segmentos de particulares e de empresas não fi nanceiras.

De facto, o coefi ciente negativo para a variável binária DEPOIS na coluna (3) revela que o fl uxo de

crédito trimestral diminuiu após as fusões para os particulares, apesar da diminuição das taxas de juro

(coluna (4)). Isto sugere que deverão ter ocorrido alterações importantes no equilíbrio de mercado após

as fusões, uma vez que uma deslocação pura ao longo da curva de procura implicaria um efeito positivo

sobre o crédito num contexto de queda das taxas de juro.

8 Berg e Kim (1998) apresentam evidência empírica desta separabilidade para o mercado de crédito norueguês e discutem as interações entre mercados quando os bancos produzem diferentes outputs.

9 Num artigo recente, Corvoisier e Gropp (2009) argumentam que a utilização generalizada das plataformas bancárias baseadas na internet deverá ter diminuído os custos afundados e aumentado a contestabilidade na banca de retalho, dado que o estabelecimento de balcões se deverá ter tornado menos importante. No entanto, os autores concluem que, embora esta hipótese possa ser verdadeira para os depósitos a prazo e de poupança, não é válida para empréstimos a pequenas empresas, onde a criação de uma rede de balcões com relações locais ainda é importante.

10 No quadro omitem-se as estatísticas t para este coefi ciente nas colunas (1), (3) e (5), dado que este coefi ciente é determinado pela restrição imposta no sistema de equações.

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Durante o período em análise não estão disponíveis dados desagregados ao nível de cada banco para

empréstimos a particulares (e respetivas taxas de juro) para habitação e para consumo e outros fi ns. No

entanto, dadas as diferenças estratégicas potencialmente relevantes nestes dois segmentos do mercado

de crédito, foi realizado um exercício de simulação adicional para obter resultados aproximados para

esses dois segmentos11. Utilizando estas estimativas, verifi ca-se que a diminuição dos fl uxos de crédito

e das taxas de juro nos empréstimos a particulares após as fusões foi, possivelmente, bastante mais

acentuada nos empréstimos para consumo e outros fi ns.

Por sua vez, para o setor empresarial, o crédito concedido aumentou após as fusões, verifi cando-se

simultaneamente uma diminuição das taxas de juro, conforme demonstrado nas colunas (5) e (6). Após o

aumento da concentração no sistema bancário, as taxas de juro de equilíbrio tendem a diminuir quando

a concentração permite reduções signifi cativas de custos em relação ao aumento do poder de mercado

dos bancos, conforme demonstrado por Carletti et al. (2007). Os nossos resultados são consistentes com

Fonseca e Normann (2008), que argumentam que ainda que uma fusão envolvendo a maior empresa

num mercado crie uma estrutura de mercado mais assimétrica, os mercados assimétricos tendem geral-

mente a apresentar preços inferiores aos de mercados simétricos com o mesmo número de empresas12.

Avaliando o efeito sobre a concorrência local entre balcões (LCit) observa-se que o impacto das fusões

e aquisições foi mais signifi cativo para o setor empresarial. Neste segmento do mercado de crédito,

verifi ca-se que o aumento da concentração origina uma redução do impacto da concorrência local sobre

o fl uxo de crédito. Assim, o impacto positivo da concorrência bancária local sobre o crédito concedido

a empresas torna-se ligeiramente menor, em termos globais, após o processo de fusões (embora ainda

positivo e signifi cativo).

A evidência sobre o comportamento estratégico dos bancos, avaliada pelo parâmetro de coordenação

λ, sugere que, de um modo geral, não existe conluio entre bancos. Os testes estatísticos sobre estes

parâmetros rejeitam a hipótese de conluio no mercado de crédito a particulares para todo o período,

embora esta conclusão não seja válida quando se considera apenas o período pós-fusões. Por sua vez, no

mercado de empréstimos a empresas rejeita-se sempre a existência de movimentos de plena coordenação

entre os bancos, ainda que λ tenha aumentado ligeiramente após a vaga de fusões. Estes resultados são

consistentes com evidência anterior obtida por Berg e Kim (1998), que argumentam que a mobilidade

dos clientes no segmento empresarial é mais forte do que noutros segmentos de mercado, gerando

comportamentos mais concorrenciais por parte dos bancos. Mais recentemente, Degryse et al. (2010)

mostram que as empresas podem ter alguns benefícios em mudar de banco depois de uma fusão, o que

está relacionado com estratégias de concorrência entre bancos.

6.2. Limitações da análise diferencial e a proposta de uma nova metodologia

A análise da subsecção anterior estima o impacto diferencial sobre variáveis específi cas, assumindo que

todas as outras interações permanecem constantes. Esta é uma das abordagens mais comuns na literatura

para estimar o impacto de fusões bancárias. Contudo, esta metodologia não permite considerar de forma

plena as mudanças estruturais que ocorrem nos mercados de crédito após um processo importante de

11 Para tal, foi utilizada informação sobre a proporção relativa dos fl uxos de empréstimos concedidos para estas duas fi nalidades, com o objetivo de obter estimativas para o novo crédito concedido (no entanto, enquanto no resto do artigo os fl uxos de crédito se referem a novo crédito concedido, neste ponto esta proporção é estimada utilizando a diferença entre o saldo vivo de empréstimos em t e t-1; deste modo, estes fl uxos de empréstimos refl etem o novo crédito concedido deduzido das amortizações de empréstimos). Adicionalmente, para as taxas de juro foi considerada a diferença entre as taxas de juro agregadas sobre o saldo vivo de empréstimos nestes dois segmentos de empréstimos a particulares para obtenção de estimativas ao nível de cada banco.

12 Para confi rmar a validade e a relevância destes impactos diferenciais, testou-se a existência de uma quebra es-trutural após a vaga de fusões, utilizando testes de Chow. Em todos os testes realizados rejeitou-se a hipótese nula de estabilidade estrutural dos parâmetros.

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fusões. Dada a magnitude e extensão de alguns processos de consolidação, a forma como os bancos (e

os seus clientes) interagem pode mudar substancialmente após grandes fusões. Em Barros et al. (2010) é

proposta uma nova metodologia para ultrapassar as limitações da análise diferencial. Utilizando o modelo

estrutural brevemente descrito na secção 5 torna-se possível estimar um cenário contrafactual para o

período pós-fusão, o que vai bastante além da simples (e insufi ciente) comparação das variáveis antes

e depois das fusões geralmente efetuada na avaliação do impacto destes processos de concentração.

A estimação de contrafactuais para avaliar os impactos de uma fusão pode ser um importante instrumento

analítico. Por exemplo, Ivaldi e Verboven (2005) sublinham que a avaliação de uma fusão não se deve

basear unicamente numa análise estática comparativa, mas também deve considerar efeitos dinâmicos

e cenários de fusão alternativos. Berry e Pakes (1993) também argumentam que os modelos estáticos de

equilíbrio não têm em consideração as reações de longo prazo das empresas envolvidas e não envolvidas

nas fusões, gerando resultados enviesados. Numa aplicação para a indústria aeronáutica, Peters (2006)

demonstra a importância de defi nir uma análise contrafactual para avaliar o impacto das fusões, mas é

omisso quanto à possibilidade de conluio ou de interações estratégicas entre as empresas. Berger et al.

(1998) encontram evidência empírica de que a consideração de efeitos dinâmicos associados às fusões

pode originar resultados diferentes dos obtidos através de uma análise estática. Os autores identifi caram

uma diminuição na concessão de empréstimos a pequenas empresas depois de uma fusão, embora este

efeito estático seja largamente compensado pelos efeitos dinâmicos associados às mudanças estratégicas

dos bancos envolvidos na fusão ou à reação de outros bancos. No entanto, estes autores não consideram

as mudanças nos mercados locais induzidas por uma fusão, nem comparam o impacto sobre diferentes

setores institucionais.

Em suma, a metodologia de análise contrafactual proposta em Barros et al. (2010) considera que um

cenário totalmente novo é criado depois do processo de fusões, o que infl uencia todas as variáveis

do mercado de crédito. Sob este cenário, a avaliação das alterações nos efeitos estratégicos requer a

comparação entre os resultados observados no período pós-fusão e os resultados obtidos a partir da

estimativa do equilíbrio prevalecente antes das fusões, utilizando os dados de enquadramento exógeno

para o período posterior (contrafactual). A principal vantagem desta metodologia reside no facto de se

tornar possível analisar o impacto de fusões tendo em consideração o enquadramento macroeconómico

e fi nanceiro posterior.

Para construir o contrafactual para a estimação empírica, o primeiro passo consiste em estimar o modelo

(3) para o período anterior às fusões (1995-1999). Em seguida, são utilizados os coefi cientes estimados

por este modelo para o período 2000-2002, utilizando dados relativos às variáveis exógenas para obter

o valor da estimativa de fl uxos de crédito e taxas de juro após o processo de fusões. Isto signifi ca que

as duas variáveis estimadas são os fl uxos de crédito e as taxas de juro no período pós-fusão, tendo em

consideração o impacto do enquadramento exógeno, mas também os efeitos estratégicos e a concorrência

no mercado local no período anterior ao aumento da concentração. Deste modo, o modelo estrutural

de equilíbrio nos mercados de crédito é utilizado para analisar o impacto das alterações nos mercados

associadas à vaga de fusões. Utilizando esta metodologia, é possível comparar as taxas de juro e os

fl uxos de crédito na confi guração de equilíbrio pós-fusão com o valor destas variáveis num equilíbrio

contrafactual. Este equilíbrio contrafactual é estimado utilizando o enquadramento exógeno após as

fusões sob a estrutura de mercado anterior.

6.3. Principais resultados contrafactuais

No quadro 4 apresentam-se os principais resultados da análise contrafactual do processo de fusões

do ano 2000 no sistema bancário português. As duas primeiras colunas mostram os fl uxos de crédito

observados antes e depois da vaga de fusões (tal como no quadro 2) e coluna (3) apresenta as estimativas

contrafactuais. Tal como descrito anteriormente, estas estimativas resultam da projeção destas duas vari-

áveis no período pós-fusão, tendo em conta simultaneamente o equilíbrio anterior e o enquadramento

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posterior. Assim, variáveis como as taxas de juro do mercado monetário, o PIB ou o número de balcões

são consideradas no período pós-fusão para obter estas estimativas. Apresentam-se também os resul-

tados dos testes de comparação de médias entre as estimativas contrafactuais e as variáveis observadas

no período pós-fusões.

A comparação dos fl uxos de crédito observados após as fusões com os fl uxos estimados para este período

com base no contrafactual permite concluir que os fl uxos de empréstimos totais teriam aumentado ainda

mais se as fusões não tivessem ocorrido, ainda que a diferença entre o contrafactual e o fl uxo de crédito

efetivamente observado não seja estatisticamente signifi cativa. Contudo, os resultados evidenciam que

existem diferenças importantes entre a evolução dos empréstimos a particulares e a empresas. Por um

lado, o modelo prevê um abrandamento do crédito concedido às empresas, em contraste com a acele-

ração observada na realidade durante este período. Por outro lado, o modelo sugere que o crédito a

particulares poderia ter sido signifi cativamente superior ao que foi realmente observado.

Para compreender melhor estes resultados foram utilizadas as proxies referidas na secção 6.1 para

estimar o contrafactual separadamente para estimativas de taxas de juro e empréstimos para aquisição

de habitação e para consumo e outros fi ns. Embora esta análise apresente várias limitações, observa-se

que os resultados contrafactuais obtidos para os empréstimos a particulares no quadro 4 devem estar

essencialmente associados à evolução dos empréstimos para consumo e outros fi ns, dado que os fl uxos

de empréstimos para aquisição de habitação no cenário contrafactual não são estatisticamente muito

diferentes dos observados no período pós-fusão. De facto, as estimativas efetuadas sugerem que os

fl uxos de empréstimos para aquisição de habitação aumentaram ligeiramente mais após a fusão do que

aquilo que poderia ter sido previsto pelo contrafactual.

As estimativas contrafactuais sugerem ainda que as taxas de juro também diminuiriam se não tivessem

ocorrido fusões. Contudo, comparando estas estimativas com os valores observados após as fusões,

podemos concluir que a queda observada nas taxas de juro foi, em termos absolutos, maior do que

o previsto pelo equilíbrio pré-fusão, mesmo tendo em consideração a evolução das taxas de juro do

mercado monetário no período pós-fusão.

De um modo global, esta queda acentuada das taxas de juro, que superou largamente as estimativas

contrafactuais em todos os segmentos do mercado de crédito, deveria estar associada a um aumento

no crédito concedido. No entanto, no quadro 4 observa-se que tal não ocorreu nos empréstimos a parti-

Quadro 4

ANÁLISE DE FLUXOS DE CRÉDITO E NÍVEIS DE TAXA DE JURO EM DIFERENTES CENÁRIOS | CONTRAFACTUAL

Observado no período anterior

às fusões

Observado no período posterior às

fusões

Contrafactual para o período posterior às

fusões

(1) (2) (3)

Fluxos de crédito (ln)

Total 5.76 5.81 5.93

Particulares 4.10 4.77 5.26 ***

Empresas 5.59 6.01 4.36 ***

Taxas de juro

Total 11.46 8.20 9.53 ***

Particulares 13.31 9.37 11.08 ***

Empresas 11.03 6.83 8.92 ***

Fontes: Banco de Portugal e cálculos dos autores.

Notes: As estimações são efetuadas com dados trimestrais durante o período 1995-2002. O período anterior às fusões engloba os anos 1995-1999, enquanto o período posterior às fusões se refere ao período entre 2000 e 2002. As taxas de juro referem-se a novos empréstimos concedidos em cada trimestre. Na coluna (3) apresentam-se as estimativas do contrafactual para o período posterior às fusões, tendo em consideração o equilíbrio anterior às fusões e o enquadramento prevalecente no período posterior. Os asteriscos referem-se a testes de comparação de médias entre o contrafactual e os valores observados no período posterior às fusões. * signifi cativo a 10%; ** signifi cativo a 5%; ***signifi cativo a 1%.

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culares, onde os fl uxos de empréstimos observados após as fusões foram de facto inferiores ao previsto

pelo contrafactual (embora acima dos valores observados no período pré-fusões). Conforme discutido

anteriormente, este resultado dever-se-á atribuir sobretudo à evolução dos empréstimos para consumo

e outros fi ns, dado que o fl uxo de empréstimos concedidos para aquisição de habitação foi maior na

realidade do que o previsto pelo contrafactual. Uma vez que uma deslocação pura ao longo da curva de

procura implicaria simplesmente um efeito positivo sobre o crédito como resultado da diminuição da taxa

de juro, este resultado nos empréstimos a particulares sugere que ocorreram alterações importantes no

equilíbrio de mercado após as fusões, especialmente nos empréstimos para consumo: mesmo tendo os

bancos diminuído as taxas de juro de forma agressiva neste segmento, a procura de empréstimos não

foi possivelmente tão forte como o esperado. De facto, entre o fi nal de 1999 e início de 2003 as taxas

de variação anuais dos empréstimos a particulares para consumo e outros fi ns diminuíram signifi cati-

vamente, de cerca de 30% para variações praticamente nulas. Esta evolução ocorreu num contexto de

contração do consumo de bens duradouros.

Em Barros et al. (2010), a análise contrafactual também considera a possibilidade de ignorar as altera-

ções na rede de balcões após as fusões, uma vez que estas alterações podem ter tido impactos sobre a

estrutura desta rede de balcões e, principalmente, sobre a concorrência local entre bancos. Deste modo,

também foram estimados contrafactuais para os fl uxos de crédito e taxas de juro assumindo que a rede

de balcões permanece inalterada nos níveis anteriores às fusões. Para além disso, foram analisados sepa-

radamente, dois grupos distintos de instituições fi nanceiras, mais especifi camente os que estão e não

estão diretamente envolvidos na vaga de fusões. Adicionalmente, utilizando o modelo estrutural foram

decompostos os impactos das fusões em diferentes componentes, distinguindo as mudanças no enqua-

dramento exógeno dos bancos das alterações associadas à rede de balcões e à estrutura de mercado.

7. CONCLUSÕES

Neste artigo foi estimado o impacto de um grande processo de fusões e aquisições no sistema bancário

português, utilizando duas metodologias distintas. Em primeiro lugar, foi efetuada uma análise diferen-

cial do impacto da vaga de fusões, em linha com o que geralmente é feito na literatura. Contudo, esta

ferramenta analítica apresenta várias limitações importantes, uma vez que ignora mudanças endógenas

na estrutura de mercado no equilíbrio do sistema bancário após as fusões. Em segundo lugar, para

superar estas limitações, foi analisado o impacto deste processo de fusões utilizando um modelo estru-

tural do mercado de crédito descrito em Barros et al. (2010). Este modelo permite estimar um cenário

contrafactual, possibilitando a comparação de fl uxos de empréstimos e taxas de juro observados após

as fusões com os que teriam sido observados se as fusões não tivessem ocorrido.

Os principais resultados deste estudo demonstram que as taxas de juro observadas após as fusões foram

inferiores ao que o contrafactual poderia sugerir. Isto pode refl etir ganhos de efi ciência e de informação

resultantes das fusões, traduzidos em preços mais competitivos. Para além disso, são identifi cadas

diferenças importantes entre os empréstimos concedidos a particulares e a empresas não fi nanceiras:

enquanto os empréstimos concedidos a particulares foram na realidade inferiores ao sugerido pelo contra-

factual, os empréstimos concedidos a empresas registaram um crescimento mais signifi cativo do que o

que se poderia ter verifi cado se não tivessem ocorrido estas fusões. Em termos globais, os particulares

podem ter enfrentado algumas restrições no acesso a crédito após as fusões, ainda que os empréstimos

a particulares tenham registado taxas de crescimento relativamente elevadas durante este período. Em

contrapartida, os empréstimos concedidos a empresas parecem ter superado de forma signifi cativa as

estimativas subjacentes ao cenário contrafactual.

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