relatório de estabilidade financeira – março 2014

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Março 2014 Volume 13 | Número 1

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Page 1: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2014

Março 2014Volume 13 | Número 1

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Relatório de

Estabilidade Financeira

Março 2014Volume 13 | Número 1

Relatório de Estabilidade Financeira Brasília v. 13 nº 1 mar. 2014 p. 1-69

ISSN 2176-8102CNPJ 00.038.166/0001-05

Page 3: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2014

Relatório de Estabilidade Financeira

Publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB)

É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Estabilidade Financeira, volume 13, nº 1.

Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamentos.

Não são citadas as fontes das tabelas e dos gráfi cos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil.

Divisão de Atendimento ao Cidadão

Banco Central do BrasilDeati/DiateSBS – Quadra 3 – Bloco B – Edifício-Sede – 2º subsolo70074-900 Brasília – DFDDG: 0800 9792345Fax: (61) 3414-2553Internet: <http://www.bcb.gov.br/?FALECONOSCO>

Page 4: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2014

Sumário

Prefácio 5

Sumário executivo 6

1 Ambiente macroeconômico e financeiro 8

1.1 Introdução ___________________________________________________________________ 81.2 Mercados fi nanceiros internacionais _______________________________________________ 81.3 Mercado fi nanceiro nacional ____________________________________________________ 12

2 Sistema bancário 16

2.1 Introdução __________________________________________________________________ 162.2 Liquidez ____________________________________________________________________ 162.3 Crédito _____________________________________________________________________ 202.4 Rentabilidade ________________________________________________________________ 282.5 Solvência ___________________________________________________________________ 312.6 Testes de estresse de capital _____________________________________________________ 34 2.6.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas ____________ 34 2.6.2 Análise de sensibilidade ___________________________________________________ 36

3 Sistema de Pagamentos Brasileiro 39

3.1 Desempenho dos sistemas de transferência de fundos _________________________________ 393.2 Desempenho dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio __________________________________________ 40

4 Organização do Sistema Financeiro Nacional 46

4.1 Introdução __________________________________________________________________ 464.2 Instituições bancárias __________________________________________________________ 464.3 Níveis de concentração no Sistema Financeiro Nacional ______________________________ 484.4 Instituições não bancárias ______________________________________________________ 494.5 Participação estrangeira no Sistema Financeiro Nacional ______________________________ 504.6 Participação de instituições fi nanceiras brasileiras no exterior __________________________ 50

Page 5: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2014

5 Regulação do Sistema Financeiro Nacional 51

5.1 Aperfeiçoamentos e inovações recentes em regulamentações do SFN ____________________ 51 5.1.1 Regulação do mercado de crédito: portabilidade e correspondentes no país ___________ 51 5.1.2 Critérios para concessão de fi nanciamento imobiliário ___________________________ 52 5.1.3 Certifi cado de Operações Estruturadas _______________________________________ 52 5.1.4 Arranjos e instituições de pagamento ________________________________________ 535.2 Aprimoramentos nas regulamentações prudenciais ___________________________________ 535.3 Modernização das regulamentações de câmbio e de capitais internacionais ________________ 54 5.3.1 Adiantamento sobre Contrato de Câmbio _____________________________________ 54 5.3.2 Recebimento antecipado de exportações ______________________________________ 54 5.3.3 Adaptação da regulamentação cambial e de capitais internacionais aos novos códigos de classifi cação das operações de câmbio __________________________________________ 545.4 Implementação das recomendações de Basileia III ___________________________________ 475.5 Balancete – Conglomerado prudencial ____________________________________________ 495.6 Conta de bancos centrais estrangeiros no BCB ______________________________________ 495.7 Revisão da codifi cação para classifi cação das operações de câmbio ______________________ 505.8 Modernização do Sistema de Transferências Internacionais em Reais (TIR) _______________ 505.9 Alterações no Estatuto e Regulamento do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) _____________ 50

Boxes

Análise de Sensibilidade do Sistema Financeiro Nacional a Variações Negativas dos Preços de Imóveis Residenciais _____________________________________________________________ 37Depósito Centralizado e Registro de Ativos Financeiros e de Valores Mobiliários ______________ 43Regulamentação do Conselho Monetário Nacional e Banco Central do Brasil para Arranjos e Instituições de Pagamento __________________________________________________________ 44Resultado do Regulatory Consistency Assessment Programme _____________________________ 56Trabalhos para Discussão que versam sobre estabilidade fi nanceira _________________________ 57

Apêndice 59

Anexo 65

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Prefácio

O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) é uma publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB) destinada a apresentar, com foco no risco sistêmico, os principais resultados das análises sobre o Sistema Financeiro Nacional (SFN), especialmente com respeito à sua dinâmica recente, às perspectivas e ao grau de resiliência a eventuais choques na economia brasileira ou no próprio sistema. Esta edição concentra-se nos eventos ocorridos no segundo semestre de 2013.1

O relatório é constituído por cinco capítulos. No primeiro, Ambiente macroeconômico e fi nanceiro, é realizada a análise dos principais mercados internacionais e o seu reflexo no mercado financeiro nacional. O segundo capítulo, Sistema bancário, apresenta um panorama da exposição a riscos, da rentabilidade e da solvência das instituições e dos conglomerados que compõem o sistema bancário brasileiro. Os testes de estresse de risco de mercado e de crédito e seus refl exos sobre a situação de solvência das instituições estão incluídos nesse capítulo. No terceiro capítulo, Sistema de Pagamentos Brasileiro, são descritos os resultados da avaliação acerca do funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e do desempenho dos sistemas de liquidação, as principais atividades e os avanços ocorridos no período, o comportamento da liquidez intradia e o resultado dos testes de estresse dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos e valores mobiliários, de derivativos e de câmbio interbancário. O quarto capítulo, Organização do Sistema Financeiro Nacional, analisa as principais alterações ocorridas no controle acionário de instituições fi nanceiras. O quinto capítulo, Regulação do Sistema Financeiro Nacional, trata das principais normas

1/ Neste relatório, foi utilizada a data-base de 31 de dezembro de 2013 para os documentos contábeis e de 30 de novembro de 2013 para os documentos de limites operacionais. Eventuais divergências em relação à edição anterior e a outras publicações do BCB são decorrentes de substituições de documentos.

aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e pelo BCB para regular o funcionamento do SFN.

Esta edição apresenta, também, boxes tratando de: análise de sensibilidade do SFN a variações negativas dos preços de imóveis residenciais; depósito centralizado e registro de ativos fi nanceiros e de valores mobiliários; regulamentação do CMN e BCB para arranjos e instituições de pagamento; resultado do RCAP;2 Trabalhos para Discussão que versam sobre estabilidade fi nanceira.

O relatório em PDF está disponível no endereço eletrônico <www.bcb.gov.br/?relestab>. Também está disponível a base de dados utilizada para a elaboração dos gráfi cos e tabelas do relatório, além de outros dados de interesse, como a matriz de migração de classifi cação de crédito e comparativos internacionais dos principais Financial Soundness Indicators (FSIs).3

2/ Regulatory Consistency Assessment Programme.3/ Os Financial Soundess Indicators (FSIs) foram desenvolvidos pelo

Fundo Monetário Internacional (FMI), em conjunto com a comunidade internacional, com o objetivo de suportar análises macroprudenciais e avaliar os pontos fortes e as vulnerabilidades dos sistemas fi nanceiros.

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Sumário executivo

No segundo semestre de 2013, a atividade econômica global se fortaleceu, mas continuou o quadro de desempenhos heterogêneos entre os países, com as economias maduras consolidando a perspectiva de retomada do crescimento e os países emergentes sendo afetados pelas incertezas associadas ao início da retirada dos estímulos de política monetária nos Estados Unidos da América (EUA). Assim, ao longo do semestre no Brasil, as taxas de juros domésticas mantiveram trajetória crescente; a cotação do real e o mercado bursátil apresentaram grande fl utuação; e o risco-país oscilou em torno do nível mais elevado alcançado ao término do primeiro semestre.

Assim como nos semestres anteriores, e mesmo diante do cenário de redução na liquidez global, manteve-se a avaliação de baixo risco de liquidez e de elevada resiliência do sistema bancário brasileiro.

Continua o movimento de redução da participação dos ativos líquidos na carteira dos bancos, conforme já havia sido observado em semestres anteriores, em razão da realocação de mais recursos em ativos de crédito na busca por maior rentabilidade. Neste semestre, essa redução intensifi cou-se por causa da redução no valor de mercado dos TPFs, decorrente da elevação das taxas de juros.

O crescimento do crédito doméstico mais moderado, que havia sido observado no primeiro semestre, manteve-se no segundo. Os bancos públicos e o crédito com recursos direcionados continuaram impulsionando a evolução dos estoques, mas apresentaram desaceleração no crescimento anualizado, principalmente no último trimestre. A inadimplência total do SFN seguiu em declínio por causa da redução ocorrida nos bancos privados. Manteve-se a tendência de aumento de participação na carteira de crédito de modalidades que apresentam menor inadimplência, principalmente fi nanciamento imobiliário e crédito consignado.

A redução no ritmo de crescimento do resultado com as operações de crédito, observada desde meados de 2012, intensifi cou-se no segundo semestre de 2013, aumentando a pressão sobre a rentabilidade do sistema bancário. Para amenizar esse efeito, os bancos continuaram empreendendo esforços na contenção de despesas administrativas e na ampliação da venda de serviços. Além disso, o resultado foi favorecido por eventos não recorrentes, de forma que o lucro líquido (LL) avançou levemente, mas o retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL) manteve-se estável.

A solvência do sistema bancário permaneceu elevada em semestre marcado pela entrada em vigor das normas conhecidas como Basileia III, que inserem regras mais rígidas, adaptando o arcabouço regulatório nacional às recomendações do Comitê de Supervisão Bancária de Basileia. Essas mudanças são progressivas e seus efeitos serão integrais em 2019, em linha com o cronograma internacionalmente acordado. O arcabouço regulamentar brasileiro foi avaliado pelo Bank for International Settlements (BIS), que concluiu, em dezembro de 2013, pela sua plena aderência aos padrões internacionais, denotando o compromisso do Brasil na adoção dos melhores padrões internacionais em termos de defi nição de capital regulamentar e requerimentos mínimos de capital.

Nas simulações de situações de estresse, o sistema bancário brasileiro apresentou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes: de cenários macroeconômicos adversos; de mudanças abruptas nas taxas de juros, de câmbio ou na inadimplência; ou de queda generalizada dos preços dos imóveis residenciais.

O SPB funcionou de forma eficiente e segura no segundo semestre de 2013. As análises de backtesting, periodicamente realizadas para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira,

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nos quais há uma entidade atuando como contraparte central (CPC), apresentaram resultados satisfatórios ao longo do semestre. Nos sistemas de transferência de fundos, a liquidez intradia agregada disponível continuou acima das necessidades das instituições financeiras participantes, o que garante que as liquidações ocorram com tranquilidade, sobretudo no que diz respeito ao Sistema de Transferência de Reservas (STR).

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1Ambiente macroeconômico e financeiro

1.1 Introdução

A atividade econômica global se fortaleceu no segundo semestre de 2013, com destaque para as economias maduras que, mesmo ainda expandindo abaixo da tendência histórica, consolidaram a perspectiva de retomada do crescimento. Nos países emergentes, o ritmo de expansão da atividade não tem correspondido às expectativas, em que pesem a resiliência da demanda doméstica e o impacto do maior crescimento das economias maduras, por meio do canal do comércio exterior. Notadamente de maio a setembro de 2013, as incertezas associadas ao início da retirada dos estímulos de política monetária introduzidos nos Estados Unidos da América (EUA) se traduziram na elevação das taxas de juros de longo prazo das economias maduras, em especial nos EUA, com contribuição negativa às condições de fi nanciamento das economias emergentes, cujas moedas desvalorizaram-se frente ao dólar estadunidense.

Nesse contexto, governos e autoridades monetárias adotaram medidas variadas – entre elas, o uso de reservas internacionais, acordos bilaterais de swaps de moedas, elevações nas taxas básicas de juros e medidas prudenciais de limitações de posições em moedas estrangeiras –, com o objetivo de suavizar os impactos que a retirada dos estímulos nos EUA poderia causar em seus mercados domésticos. O Banco Central do Brasil (BCB) continuou o ciclo de aumento da taxa básica de juros, iniciado em abril, e anunciou programa de leilões de swap cambial e de venda de dólares com compromisso de recompra, com o objetivo de prover proteção cambial aos agentes econômicos e liquidez ao mercado de câmbio.

O anúncio, em 18 de dezembro, do início do processo de redução do volume de compras de ativos (tapering4) por

4/ “Tapering” refere-se à redução do volume do programa de compras de ativos por parte do Federal Reserve e marca o início do processo de normalização da política monetária dos EUA.

parte do banco central dos EUA (Federal Reserve [Fed]), a ser efetivado a partir de janeiro de 2014, repercutiu modestamente nos mercados fi nanceiros, sugerindo que parte dos seus efeitos já estava incorporada aos preços dos ativos fi nanceiros. Ressalte-se, no entanto, que o tapering, ainda que implique volatilidade no curto prazo, é importante fator para consolidação da estabilidade fi nanceira global. De qualquer forma, os riscos para a estabilidade fi nanceira global permanecem elevados e seguem demandando monitoramento pormenorizado por parte das autoridades reguladoras.

1.2 Mercados financeiros internacionais

No segundo semestre, a atividade econômica acelerou nos EUA, Área do Euro, Reino Unido e China, enquanto desacelerou no Japão. A Área do Euro registrou o primeiro semestre de expansão, após quatro semestres consecutivos de contração,5 mas permanecem os desafi os vinculados à consolidação fi scal, ao processo de desalavancagem fi nanceira e à persistência de taxas de desemprego em patamares elevados. Nos EUA, ressalte-se a melhora dos indicadores associados ao mercado de trabalho, em especial da taxa de desemprego que, embora em patamar elevado, recuou para 6,7% em dezembro, de 7,5% em junho.6

Em meio a esses avanços nas principais economias desenvolvidas, em especial nos EUA, intensifi caram-se as perspectivas associadas ao início do tapering por parte do Fed, ocasionando choques de alta nas taxas de

5/ Em termos trimestrais, a Área do Euro contabilizava, ao fi nal de 2013, o terceiro trimestre consecutivo de expansão.

6/ A redução da taxa de desemprego se deveu, em boa medida, à redução da participação da força de trabalho na população, a qual passou de 63,5%, em junho, para 62,8%, em dezembro, menor patamar desde fevereiro de 1978, quando atingira 62,7%.

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juros de longo prazo dessas economias. Os rendimentos anuais dos títulos soberanos de dez anos dos EUA subiram para 3,03% no fi nal de dezembro, de 2,49% no fi nal de junho (1,63% em 2 de maio); na Alemanha, os rendimentos de papéis similares, na mesma base de comparação semestral, subiram para 1,93%, de 1,73%. Em sentido inverso, os rendimentos anuais dos títulos soberanos da Itália e da Espanha, em consonância com a redução acentuada da percepção de risco soberano dessas economias, reduziram-se para 3,56% e 4,15%, de 3,95% e 4,77%, na ordem (gráfi co 1.2.1). Em relação a esses dois países, ressalte-se que, desde o primeiro trimestre de 2013, as taxas de contração dos respectivos Produtos Internos Brutos (PIB) têm sido progressivamente reduzidas, com a Espanha registrando, no terceiro trimestre daquele ano, o primeiro crescimento trimestral após nove períodos consecutivos de contração.

A alta dos juros nas economias avançadas, em especial nos EUA, impactou de forma adversa os fl uxos de capital para as economias emergentes, especialmente de maio a outubro de 2013. No entanto, de acordo com o Institute of International Finance (IIF),7 associação privada que reúne membros da indústria fi nanceira de todo o mundo, a retração dos referidos fl uxos, além de temporária, foi menos intensa do que a anteriormente divulgada.8 Em seu relatório de janeiro de 2014, o IIF revisou para cima as estimativas dos fl uxos líquidos de capital para economias emergentes em 2013, em relação às de seu relatório de outubro. Parte dessa avaliação é creditada ao fortalecimento da atividade econômica global.

7/ Capital Flows to Emerging Market Economies (30/1/2014). IIF Research Note, disponível em <http://www.iif.com/emr/capfl ows201401.php>.

8/ Os dados do IIF não corroboraram os divulgados pela Emerging Portfolio Fund Research (EPFR) sobre fl uxos de capitais para emergentes no 2º semestre de 2013. As estimativas do IIF indicam que, de maio a outubro de 2013, os mercados emergentes receberam ingressos líquidos de investimentos em carteira de US$10 bilhões para ações (equities) e de US$71 bilhões para títulos de renda fi xa (bonds), enquanto os dados disponibilizados pelo EPFR reportam saídas líquidas de US$36 bilhões (equities) e de US$37 bilhões (bonds). De acordo com o IIF, tal diferença decorre de os investidores institucionais, tais como fundos de pensão e fundos soberanos, terem mantido sua exposição aos mercados emergentes, aumentando a demanda por lançamentos de bonds, enquanto que os retail investors, captados pelas estatísticas do EPFR, apresentaram comportamento mais volátil, desfazendo-se de posições nesses mercados. Os dados do IIF agregam países emergentes que divulgam estatísticas mensais de fl uxos para investimentos em ações e investimentos em renda fi xa. O cenário-base do IIF incorpora gradual recuperação nos fl uxos de capital em 2014 e 2015, a despeito de eventual volatilidade no curto prazo.

A melhora no desempenho econômico das principais economias desenvolvidas refletiu-se na redução da percepção de risco soberano desses países, expressa no declínio nos prêmios dos credit default swaps (CDS) ao longo do semestre. Adicionalmente, a redução da percepção de risco de evento extremo na Área do Euro também repercutiu as ações do Banco Central Europeu (BCE) e os avanços no processo de fortalecimento do sistema bancário da região. Na Itália e na Espanha, os prêmios de CDS de cinco anos (expressos em pontos-base [p.b.]) recuaram, respectivamente, para 168 e 157, de 281 em ambos os casos; na França e na Alemanha, os prêmios diminuíram, na ordem, para 54 e 25, de 80 e 32 (gráfi co 1.2.2). Com relação às economias emergentes, ainda que com maior volatilidade nas respectivas trajetórias, os prêmios dos CDS de cinco anos da África do Sul, da Rússia, do México e do Chile reduziram-se, na ordem, para 204, 165, 92 e 80, de 216, 195, 131 e 98, enquanto os da Turquia e do Brasil elevaram-se para 245 e 194, de 191 e 185, respectivamente, na mesma base de comparação (gráfi co 1.2.3).

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EUA Alemanha Itália Espanha

Fonte: Bloomberg

Gráfico 1.2.1 – Rendimento de títulos soberanos (10 anos)

% a.a.

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Alemanha França Espanha Itália

Fonte: Bloomberg

Gráfico 1.2.2 – CDS soberanos (5 anos)p.b.

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África do Sul Rússia Turquia

Brasil México Chile

Fonte: Bloomberg

Gráfico 1.2.3 – CDS soberanos (5 anos)p.b.

No mercado cambial, no semestre, o dólar valorizou-se 6,2% frente ao iene (valorização de 21,4% no ano), infl uenciado pelo relaxamento monetário proporcionado pelo Banco do Japão (BoJ), mas depreciou-se 8,1% e 5,3%, respectivamente, em relação à libra e ao euro (gráfi co 1.2.4). As economias emergentes, por sua vez, foram mais impactadas pela perspectiva de redução da liquidez global, com o dólar apreciando-se 21,7%, 11,4%, 6,2%, 5,8% e 5,3% frente às moedas da Indonésia, da Turquia, da África do Sul, do Brasil e da Tailândia, na mesma base semestral de comparação. Ressalte-se que, com relação às moedas da África do Sul, do Brasil e da Tailândia, o pico das desvalorizações frente ao dólar, em 2013, concentrou-se no quadrimestre de maio a agosto, enquanto as moedas da Indonésia e da Turquia ainda desvalorizaram-se no último quadrimestre do ano, respectivamente, 8,1% e 5,1% (gráfi co 1.2.5).

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Fonte: Bloomberg

Euro/Dólar Iene/Dólar Libra/Dólar

31.12.2011=100

Gráfico 1.2.4 – Câmbio de economias avançadas

As bolsas de valores de economias desenvolvidas elevaram-se expressivamente no segundo semestre de 2013, evidenciando a credibilidade dos investidores na sustentabilidade da recuperação econômica dessas economias. No período, os índices DAX (Alemanha), Nikkei (Japão), S&P500 (EUA) e FTSE100 (Reino Unido) valorizaram-se, na ordem, 20%, 19,1%, 15,1% e 8,6% (gráfi co 1.2.6). De forma distinta, nos principais mercados emergentes, as bolsas de valores não operaram em sentido único, com os índices acionários da África do Sul, da Índia, do Brasil, da China e do México aumentando 16,9%, 9,2%, 8,5%, 6,9% e 5,2%, respectivamente; enquanto as bolsas da Indonésia, da Turquia e da Tailândia declinaram 11,3%, 11,1% e 10,6%, na ordem (gráfi co 1.2.7).

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Gráfico 1.2.6 – Bolsas de valoresEconomias desenvolvidas

EUA – S&P 500 Reino Unido – FTSE 100

Alemanha – DAX Japão – NIKKEI 225

Fonte: Bloomberg

31.12.2011 = 100

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30.8 31.12

Fonte: Bloomberg

Rúpia indonésia Rande Real Lira Baht

31.12.2011 = 100

Gráfico 1.2.5 – Taxas de câmbio de economiasemergentes versus dólar dos EUA

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3.4 3.7 2.10 1.12013

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31.12.2011 = 100

Gráfico 1.2.7 – Bolsas de valoresEconomias emergentes

África do Sul Brasil Índia

Indonésia Tailândia Turquia

Fonte: Bloomberg

O índice Chicago Board Options Volatility Index (VIX), que afere o sentimento dos investidores a partir da volatilidade implícita de curto prazo dos preços das opções do índice S&P500, oscilou entre 11,8 e 20,3 pontos, pico alcançado em 8 de outubro, repercutindo notadamente o acirramento das incertezas advindas do impasse da negociação fi scal nos EUA. No fechamento do semestre, o índice VIX havia recuado para 13,7 pontos, de 16,9 pontos no fi nal de junho (gráfi co 1.2.8).

A percepção dos investidores em relação aos sistemas bancários estadunidense e europeu melhorou consideradas as perspectivas de fortalecimento da atividade nas economias avançadas e seu impacto positivo nos balanços dos bancos.9 Nesse ambiente, os preços das ações do segmento bancário subiram, e os custos para proteção de crédito para bancos de economias avançadas se reduziram.

9/ Ressalte-se, no entanto, que nos EUA os bancos continuam registrando em seus balanços perdas decorrentes de acordos judiciais decorrentes de processos relacionados à crise fi nanceira de 2008. Adicionalmente, os bancos dos EUA e da Europa sofreram impactos diversos em seus balanços, em razão da aplicação de multas decorrentes da manipulação na determinação da taxa libor. Esses acordos afetaram a rentabilidade de importantes instituições fi nanceiras no último trimestre de 2013.

Os índices Morgan Stanley Capital International (MSCI)10 para bancos dos EUA e da Europa elevaram-se, respectivamente, 10,7% e 22,9% no segundo semestre de 2013, comparativamente às variações de 19,4% e -3,2%, na mesma sequência, no primeiro semestre do ano. O índice MSCI para bancos de economias emergentes subiu 2% no segundo semestre, após declinar 9,2% no semestre anterior (gráfi co 1.2.9).

Os custos médios de proteção contra default (CDS) de bancos relevantes dos EUA e da Europa declinaram significativamente ao longo do segundo semestre, refl etindo, ademais do aumento do vigor econômico nessas regiões, a menor percepção de risco soberano nas economias maduras, bem como os avanços no fortalecimento dos seus sistemas bancários. Dentre esses, destaca-se o aumento nos índices de capitalização dos principais bancos, considerados sistemicamente importantes, dos EUA e da Europa.11 Adicionalmente, os bancos da Área do Euro reportaram continuidade da melhoria nas condições de acesso a fi nanciamento em todas as modalidades no terceiro trimestre de 2013, mas informaram que, no quarto trimestre, houve alguma deterioração nas modalidades varejo e interbancário, enquanto o fi nanciamento via emissão de títulos manteve a tendência positiva observada nos três trimestres anteriores.12 Nesse sentido, os prêmios médios dos

10/ Os índices refletem médias ponderadas dos preços das ações das respectivas indústrias bancárias.

11/ Em seus relatórios para o 3º trimestre de 2013, os bancos “sistemicamente importantes em nível global” dos EUA e da Europa publicaram estimativas de aporte de capital tier 1 fully loaded (especifi cação mais exigente do Acordo de Basileia III, que deverá estar em vigência em 2019) acima de 9%. Vide Relatório de Estabilidade Financeira do Banco da Inglaterra (novembro de 2013), disponível em <http://www.bankofengland.co.uk/publications/Documents/fsr/2013/fsrfull1311.pdf>.

12/ The Euro Area Bank Lending Survey referente ao terceiro e ao quarto trimestres de 2013, divulgados, respectivamente, em outubro de 2013 e janeiro de 2014. Disponíveis em <http://www.ecb.int/stats/money/surveys/lend/html/index.en.html>.

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3.12012

3.4 3.7 2.10 1.12013

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Fonte: Bloomberg

pontos

Gráfico 1.2.8 – CBOE Volatility Index – VIXÍndice de volatilidade

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117

133

149

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1.52012

30.8 31.12 1.52013

30.8 31.12

Gráfico 1.2.9 – MSCI Bancos

EUA Europa Economias emergentes

Fonte: Bloomberg

31.12.2011 = 100

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CDS de cinco anos de bancos declinaram 60,5% na Itália, 60,5% na Espanha, 32,1% na Alemanha, 46,3% na França, 49,3% no Reino Unido e 38,7% nos EUA, situando-se, respectivamente, em 143 p.b., 120 p.b., 97 p.b., 90 p.b., 73 p.b. e 72 p.b. (gráfi co 1.2.10).

Os riscos para a consolidação da estabilidade fi nanceira em nível global permanecem elevados, a despeito de avanços no processo de fortalecimento dos sistemas bancários nas economias desenvolvidas, favorecidos, entre outros fatores, pela melhoria da atividade e pelo arrefecimento das tensões associadas aos riscos soberanos, que têm contribuído para a consolidação de condições mais favoráveis de fi nanciamento para as instituições bancárias,13 possibilitando oferta de crédito ao tomador fi nal em condições menos restritivas.

Na Área do Euro, apesar de as condições de fi nanciamento para bancos terem melhorado,14 o uso das linhas de fi nanciamento do BCE manteve-se elevado em sistemas bancários de economias periféricas da união monetária, evidenciando os impactos adversos da fraca recuperação econômica sobre a lucratividade e a necessidade de provisionamentos elevados para cobertura de perdas com empréstimos em seus balanços. A fragmentação

13/ Basicamente, o nexo entre a precifi cação do risco soberano e as condições de fi nanciamento dos bancos manifesta-se por meio de dois canais: 1) exposição direta, dada a dívida pública em carteira, o que, em caso de elevação do risco soberano, pode reduzir a solidez dos balanços e elevar seu risco como contraparte, difi cultando o acesso aos mercados e aumentando os custos de obtenção de recursos; 2) risco soberano mais elevado, que reduz o valor de garantias governamentais que os bancos podem oferecer para obtenção de fi nanciamento.

14/ Essa condição favoreceu a antecipação dos pagamentos de metade dos recursos inicialmente liberados pelo BCE por meio de operações de refi nanciamento de longo prazo (LTRO) de três anos.

fi nanceira15 persiste, ainda que declinante, explicitando que o processo de fortalecimento dos bancos tem sido lento e heterogêneo. O início efetivo da atuação do BCE como autoridade supervisora, em 2014, tende a elevar a transparência sobre a posição fi nanceira dos bancos, de forma a contribuir para a recuperação mais acentuada da confi ança no sistema bancário europeu.16

As incertezas relativas ao início do tapering nos EUA pontuaram de forma adversa o sentimento dos mercados fi nanceiros internacionais ao longo do segundo semestre de 2013, especialmente em relação às economias emergentes. Neste ano, as reduções progressivas nos montantes de compras mensais de ativos pelo Fed podem impactar os fl uxos de capitais para economias emergentes, bem como infl uenciar as taxas de juros de curto e/ou longo prazo em economias avançadas e emergentes, além da volatilidade do mercado cambial, com possível valorização adicional do dólar. Nesse sentido, portfólios sensíveis a posições alavancadas em moedas estrangeiras ou a mudanças nas taxas de juros são potenciais riscos à estabilidade fi nanceira.

Adicionalmente, destacam-se riscos associados à atividade econômica, como o impacto de eventual elevação, abrupta, nas taxas hipotecárias sobre a recuperação dos mercados imobiliários, prejudicando a atividade econômica em importantes economias maduras; e eventual desaceleração mais forte (“pouso forçado”) do ritmo de crescimento da China, com refl exos negativos no comércio global, impactando de forma mais relevante as economias emergentes e/ou exportadoras de commodities.

1.3 Mercado financeiro nacional

Refletindo, em parte, a complexidade do ambiente internacional, ao longo do semestre, as taxas de juros domésticas exibiram trajetória crescente; a cotação do real apresentou grande fl utuação e terminou o período com pequena desvalorização frente ao dólar norte-americano; o mercado bursátil ensaiou recuperação, mas voltou a cair a partir de outubro; e o risco-país oscilou

15/ A fragmentação se manifesta pela migração de fl uxos de não residentes dos países mais vulneráveis da Área do Euro (Espanha, Grécia, Irlanda, Itália e Portugal) para seus mercados domésticos, assim como a transferência de depósitos de residentes dessas economias para outras consideradas mais seguras.

16/ O BCE irá supervisionar diretamente bancos com ativos totais superiores a €30 bilhões, ou €5 bilhões se estes representarem mais de 20% do PIB do respectivo país, e pelo menos três grandes bancos de cada país do bloco.

50

180

310

440

570

700

31.122011

1.52012

30.8 31.12 1.52013

30.8 31.12

p.b.

Gráfico 1.2.10 – CDS de 5 anos – BancosPrêmios médios de países selecionados1/

Espanha França Alemanha

Reino Unido EUA Itália

Fonte: Bloomberg1/ Calculados pela média aritmética dos prêmios de CDS dos dois maiores bancos pelo critério de capitalização de mercado de cada país. Exceção: EUA: JPM Chase e Bank of America.

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em torno do nível mais elevado alcançado ao término do primeiro semestre.17 No âmbito interno, contribuíram para esses movimentos a sinalização desfavorável dos índices de infl ação, dos resultados fi scais e das projeções de crescimento econômico,18 além da continuidade do ciclo de ajuste na taxa básica de juros.

O BCB havia iniciado em abril de 2013 um ciclo de aumento da taxa de juros, com elevação de 0,25 p.p. da meta para a taxa Selic, seguida de alta de 0,5 p.p. em maio. Em razão da persistência das expectativas de infl ação19 acima do centro da meta de 4,5%,20 o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve, ao longo do segundo semestre, o ritmo de elevação da taxa básica de juros em 0,5 p.p. nas reuniões de julho, agosto, outubro e novembro. Ao fi nal do ano, a taxa Selic estava em 10,00%, e as taxas de curto prazo no mercado futuro de juros haviam acompanhado a trajetória da taxa básica de juros (gráfi co 1.3.1).

Ao longo do segundo semestre de 2013, as taxas de juros no mercado futuro apresentaram trajetória crescente, e houve aumento da inclinação da curva de juros. Inicialmente, entretanto, os dados de infl ação e atividade abaixo das expectativas e o anúncio do corte no orçamento fi scal de R$10,0 bilhões contribuíram para

17/ A média do EMBI+Brasil foi de 228,7 pontos no segundo semestre.18/ A taxa estimada para o crescimento do PIB em 2013, no relatório de

infl ação do BCB de março, de junho, de setembro e de dezembro, era de 3,1%, 2,7%, 2,5% e 2,3%, respectivamente.

19/ A mediana das expectativas de infl ação (IPCA) acumulada para os próximos 12 meses (suavizada) subiu de 5,65% para 6,22% entre junho e setembro e declinou a partir de então, encerrando o ano de 2013 em 6,01% (fonte: site do BCB – Expectativas de Mercado – Séries Históricas).

20/ As resoluções nº 3.991, de 30 de junho de 2011, nº 4.095, de 28 de junho de 2012, e nº 4.237, de 28 de junho de 2013, do Conselho Monetário Nacional (CMN), fi xaram, respectivamente, as metas de infl ação para 2013, 2014 e 2015 em 4,5%, e os intervalos de tolerância em 2,0 p.p. abaixo e acima da meta.

a queda das taxas, a despeito da desvalorização do real frente ao dólar. No entanto, já a partir do fi nal de julho, as taxas de médio e de longo prazo no mercado futuro de juros iniciaram propriamente a trajetória ascendente, refl exo do aumento de incertezas externas e internas. No âmbito externo, prevaleceram dúvidas quanto ao início da redução dos estímulos monetários por parte do Fed – e o consequente movimento das taxas das treasuries –, além do aumento da aversão ao risco com o impasse fi scal norte-americano para aprovação do orçamento e para ampliação do teto da dívida federal. No âmbito interno, a percepção do mercado sobre a evolução do quadro fi scal e o comportamento da taxa de câmbio infl uenciaram as taxas de juros. No fi nal de agosto, após o BCB anunciar o programa de leilões de swap cambial e de venda de dólares com compromisso de recompra, o real começou a se valorizar, reduzindo a pressão do pass-through cambial sobre os preços e, portanto, sobre a curva de juros. As taxas longas se mantiveram relativamente estáveis nesse novo patamar até fi nal de outubro, antes de o real voltar a se desvalorizar. A partir de então, sinalizações desfavoráveis relativas ao rating soberano do Brasil21 e o anúncio de redução de estímulos pelo Fed, em 18 de dezembro, contribuíram para a elevação das taxas longas no mercado futuro de juros ao fi nal do ano.

A volatilidade das taxas de juros domésticas de médio e de longo prazo recuou em relação aos máximos alcançados ao fi nal de junho, mas apresentou elevação em agosto e um repique em setembro, mantendo-se baixa no último trimestre de 2013. O aumento de volatilidade

21/ No início de junho, a agência de rating S&P mantinha a nota do rating soberano do Brasil em “BBB”, mas rebaixou sua perspectiva de estável para negativa; em julho, a agência Fitch Ratings confi rmou a nota de crédito de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil em “BBB” com perspectiva estável. No início de outubro, a Moody’s rebaixou a perspectiva de rating dos títulos do governo do Brasil de positiva para estável, mas manteve o rating em Baa2.

6,5

8,0

9,5

11,0

12,5

14,0

Jan2013

Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

% a.a.

Taxa Selic 3 meses 6 meses

1 ano 2 anos 5 anos

Fontes: BM&FBovespa e BCB

Gráfico 1.3.1 – Evolução das taxas de jurosTaxa Selic e swap de 3 e 6 meses, 1 ano e 2 e 5 anos

0,0

0,8

1,6

2,4

3,2

4,0

Jan2013

Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Gráfico 1.3.2 – Volatilidade das taxas de juros

Curto Médio Longo

Fontes: BM&FBovespa e BCB

% a.a

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 14

das taxas de juros em agosto refletiu as incertezas quanto ao comportamento do câmbio, cedendo após a implementação do programa de leilões de swap cambial. Em setembro, a manutenção da política monetária por parte do Fed frustrou agentes do mercado que esperavam a retirada dos estímulos na reunião do dia 18, o que provocou queda acentuada das treasuries com refl exos nas taxas de juros domésticas, principalmente no trecho de longo prazo. A volatilidade das taxas de curto prazo, por seu turno, ancorada na maior homogeneidade das expectativas quanto à evolução da taxa básica de juros, manteve-se baixa ao longo do segundo semestre. Houve, no entanto, pequena elevação em agosto diante da expectativa, naquele momento, de sinalização de ciclo mais curto para a política monetária restritiva, o que não se materializou (gráfi co 1.3.2).

No segundo semestre de 2013, o mercado de câmbio operou sob intensa volatilidade, influenciado pelo cenário externo. As incertezas associadas à antecipação da redução dos estímulos monetários por parte do Fed com a consequente elevação nos rendimentos anuais dos títulos de dez anos do Tesouro dos EUA tenderam a pressionar as cotações da moeda norte-americana. Em 22 de agosto, o dólar atingiu a maior cotação22 do semestre (R$2,45), acumulando alta de 10,4%. No mesmo dia, com o objetivo de prover hedge cambial aos agentes econômicos e liquidez ao mercado de câmbio, o BCB anunciou programa de leilões de câmbio em que efetuaria, a partir de 23 de agosto, leilões diários de swap cambial e de venda de dólares com compromisso de recompra.23 Com isso, o real reverteu a trajetória de alta, e a cotação alcançou R$2,16 em meados de outubro, mas voltou a subir já no fi nal desse mês, ainda em razão das incertezas quanto ao início da redução dos estímulos à economia norte-americana – somente em 18 de dezembro o Fed anunciaria que iria reduzi-los a partir de janeiro de 2014. No início de dezembro, o BCB havia comunicado a continuação dos leiloes de swap cambial em 2014, porém em menor volume. No semestre, o BCB efetuou leilões de swap cambial tradicional24 no valor nocional de US$100,1 bilhões (incluídas as rolagens de vencimentos),

22/ Cotação da taxa de câmbio real/dólar divulgada pelo BCB (PTAX) calculada segundo metodologia divulgada pela Circular nº 3.506, de 23 de setembro de 2010, e atualizada conforme a Circular nº 3.537, de 25 de maio de 2011.

23/ Os leilões de swap seriam realizados às segundas, terças, quartas e quintas-feiras com oferta de US$500 milhões em cada evento. Às sextas-feiras, por meio de leilão de venda com compromisso de recompra, seria oferecida linha de crédito no valor de US$1 bilhão.

24/ Leilões de swap cambial realizados pelo Banco Central referenciados pela taxa Selic, nos quais o BCB assume a parte passiva em câmbio mais cupom cambial e a parte ativa em taxa de juros.

terminando o período com posição líquida em swap passiva em câmbio de US$75,1 bilhões. O real encerrou dezembro cotado a R$2,34/US$, com desvalorização de 5,7% no semestre. Frente ao euro, no mesmo período, a desvalorização do real foi de 11,7% (gráfi co 1.3.3).

O saldo de câmbio contratado registrou fl uxo negativo de US$21,8 bilhões no segundo semestre de 2013, composto por US$16,1 bilhões no câmbio fi nanceiro e por US$5,7 bilhões no comercial. O volume líquido de investimento estrangeiro direto (IED) foi de US$33,9 bilhões no mesmo período. Já as reservas internacionais, no conceito de caixa, encerraram o ano em US$358,8 bilhões, decréscimo de 2,9% no semestre.

No mercado acionário, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) apresentou trajetória ascendente até meados de outubro, quando reverteu o movimento e reduziu parte dos ganhos, encerrando o segundo semestre de 2013 com alta de 8,5% (gráfi co 1.3.4). Até outubro, o resultado da bolsa refl etiu a percepção de que as economias da China e dos países europeus apresentavam boa recuperação, bem como a decisão do Fed de não alterar as compras mensais de bônus. Em

0,72

0,74

0,76

0,78

1,95

2,05

2,15

2,25

2,35

2,45

Jan2013

Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

EUR/US$R$/US$

Gráfico 1.3.3 – Taxa de câmbio

R$/US$ EUR/US$

Fonte: BCB e Bloomberg

45

49

53

57

61

65

Jan2013

Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Pontos (mil)

Gráfico 1.3.4 – Índice Bovespa

Fonte: BM&FBovespa

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 15

seguida, a proximidade do início da retirada dos estímulos à economia norte-americana pressionou negativamente o Ibovespa. O ingresso líquido de recursos de investidores estrangeiros na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBovespa). totalizou R$7,5 bilhões no semestre, com destaque para os meses de agosto e setembro, que registraram entrada de R$6,4 bilhões.

Portanto, no período, houve melhora nas perspectivas para o crescimento econômico mundial, particularmente das economias desenvolvidas. A recuperação da economia norte-americana e a consequente expectativa de retirada dos estímulos monetários continuaram a afetar os mercados financeiros internacionais e também os indicadores domésticos. Nesse cenário, o BCB deu continuidade ao ciclo de aumento da taxa de juros, iniciado em abril, e, no fi nal do semestre, a volatilidade das taxas de juros domésticas recuou em relação ao fi nal de junho. Em agosto, o BCB implementou programa de leilões de swap cambial e de venda de dólares com compromisso de recompra, com o objetivo de prover proteção cambial aos agentes econômicos e liquidez ao mercado de câmbio, além de manter o nível das reservas internacionais.

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2Sistema bancário

2.1 Introdução

Tal como ocorreu no primeiro semestre do ano, mesmo diante do cenário de redução na liquidez global, manteve-se a avaliação de baixo risco de liquidez e de elevada resiliência do sistema bancário brasileiro.

Continua o movimento de redução da participação dos ativos líquidos na carteira dos bancos, conforme já havia sido observado em semestres anteriores, em razão da realocação de mais recursos em ativos de crédito na busca por maior rentabilidade. Neste semestre, essa redução intensifi cou-se por causa da redução no valor de mercado dos TPFs, decorrente da elevação das taxas de juros.

O crescimento do crédito doméstico mais moderado, que havia sido observado no primeiro semestre, manteve-se no segundo. Os bancos públicos e o crédito com recursos direcionados continuaram impulsionando a evolução dos estoques, mas apresentaram desaceleração no crescimento anualizado, principalmente no último trimestre. A inadimplência total do Sistema Financeiro Nacional (SFN) seguiu em declínio em razão de sua redução registrada nos bancos privados. Manteve-se a tendência de aumento de participação na carteira de crédito de modalidades de menor inadimplência, principalmente fi nanciamento imobiliário e crédito consignado.

A redução no ritmo de crescimento do resultado com operações de crédito, observada desde meados de 2012, intensifi cou-se no segundo semestre de 2013, aumentando a pressão sobre a rentabilidade do sistema bancário. Para amenizar esse efeito, os bancos continuaram empreendendo esforços na contenção de despesas administrativas e na ampliação da venda de serviços. Além disso, o resultado foi favorecido por eventos não recorrentes, de forma que o lucro líquido (LL) avançou levemente, mas o retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL) manteve-se estável.

A solvência do sistema bancário permanece em patamar elevado, apresentando estabilidade ao longo do segundo semestre de 2013. Em outubro, entraram em vigor as normas conhecidas como Basileia III, que adaptam o arcabouço regulatório nacional às recomendações mais rígidas do Comitê de Supervisão Bancária de Basileia, resultantes dos riscos identifi cados na crise fi nanceira internacional de 2007/2008. As mudanças, que objetivam reduzir a probabilidade e a severidade de eventuais crises bancárias e seus potenciais refl exos sobre a economia real, são progressivas e seus efeitos serão integrais em 2019, em linha com o cronograma internacionalmente acordado. O arcabouço regulamentar brasileiro foi avaliado pelo Bank for International Settlements (BIS), que concluiu, em dezembro de 2013, pela plena aderência aos padrões internacionais.

Nas simulações de situações de estresse, o sistema bancário brasileiro apresentou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes: de cenários macroeconômicos adversos; de mudanças abruptas nas taxas de juros, de câmbio ou de inadimplência; ou de queda generalizada nos preços dos imóveis residenciais.

Destaca-se que, para efeito deste capítulo, o sistema bancário é integrado pelas instituições banco comercial, banco múltiplo, caixa econômica e banco de investimento, e pelos conglomerados fi nanceiros compostos ao menos por uma das instituições anteriores. Os bancos de desenvolvimento não estão incluídos nas análises, exceto na seção 2.3 – Crédito, na qual as análises envolvem todo o SFN.

2.2 Liquidez

O risco de liquidez no sistema bancário brasileiro continua baixo, mas apresentou pequeno aumento no período. Assim como no primeiro semestre, houve

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 17

redução no valor de mercado dos TPFs, em razão da elevação da curva de juros, além de realocação de ativos em busca de maior rentabilidade. Mesmo o aumento nas captações, que foi superior ao crescimento do crédito no semestre, mostrou-se insufi ciente para evitar a redução na liquidez.

O índice de liquidez (IL)25 do sistema continua em patamar confortável, mas reduziu de 1,63 para 1,52, por conta da diminuição dos ativos líquidos26 concomitantemente ao aumento do fl uxo de caixa estressado (gráfi co 2.2.1).

25/ O IL relaciona o volume de recursos líquidos disponíveis para a instituição com o fl uxo de desembolso dos trinta dias (21 dias úteis) subsequentes em cenário de estresse. O fl uxo de caixa estressado simula desembolsos em padrões bem acima dos esperados, tendo por parâmetro o histórico de crises passadas. Instituições com IL superior a 1,0 (100%) possuem ativos líquidos sufi cientes para suportar esse cenário de estresse. Como a metodologia simula um cenário de trinta dias em que os ativos líquidos teriam de ser convertidos em dinheiro, eles são marcados a mercado e/ou sofrem ponderação que simula redução de preço no caso de venda forçada. Essa métrica de liquidez tem por base os mesmos conceitos subjacentes ao Liquidity Coverage Ratio (LCR), índice introduzido por Basileia III. O LCR tem sua implementação prevista a partir de janeiro de 2015.

26/ Para defi nição de ativos líquidos e de fl uxo de caixa estressado, vide “Conceitos e Metodologias”, itens f e g.

O baixo risco de liquidez do sistema também é refl etido na melhora da distribuição de frequência do IL individual, com aumento de 109 para 113 do número de instituições fi nanceiras (IFs) com IL acima ou muito próximo a um, além de manutenção em 97% da representatividade em termos de ativos (gráfi co 2.2.2).

Os ativos líquidos continuaram a ser impactados negativamente pela queda no valor de mercado dos TPFs, provocada pelo movimento de elevação da estrutura a termo da taxa de juros. A adesão de bancos ao Programa de Recuperação Fiscal (Refi s),27 que provocou saídas de caixa, também colaborou para a redução nos ativos líquidos. Esses efeitos foram parcialmente compensados pela redução na volatilidade das taxas de juros, que liberou títulos vinculados a garantias para cobrir exposição a risco em bolsas, e pelo crescimento das captações, com o uso de instrumentos que não sofrem incidência de compulsório (gráfi co 2.2.3).

Observa-se que o crescimento no estoque de captações do sistema bancário foi superior ao aumento das operações de crédito (gráfi co 2.2.4). Porém, essa diferença mostrou-se insufi ciente para evitar a queda nos ativos líquidos totais do sistema.

27/ Refis é uma denominação genérica adotada para programas de parcelamento e refi nanciamento de débitos tributários. No caso dos bancos, trata-se do parcelamento de débitos do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofi ns), instituído pelo artigo 39 da Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013. Por meio da Medida Provisória (MP) nº 627, de 11 de novembro de 2013, o governo federal aumentou os benefícios do programa, estimulando a adesão pelas instituições fi nanceiras e seguradoras. O prazo para adesão encerrou-se em 29 de novembro de 2013.

0

130

260

390

520

650

0,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

Jan2012

Jul Jan2013

Jul Dez

R$ bilhões un.

Gráfico 2.2.1 – Índice de liquidez

Ativos líquidos Fluxo de caixa estressado Índice de liquidez

22

7

14

11

6

95

57

17

6

11

7

7

117

64

0

6

12

18

24

30

<0,8 0,8-1,0 1,0-1,2 1,2-1,4 1,4-1,6 1,6-1,8 1,8-2,0 ≥2,0

Gráfico 2.2.2 – Distribuição de frequência para o índice de liquidez1/

Ativos na faixa/total de ativos do sistema

Junho 2013 Dezembro 2013Índice de liquidez

1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras

%

com índice de liquidez pertencente àquele intervalo.

-23,2

3,6

5,1

4,3

-10,1

-25

-20

-15

-10

-5

0

A B C D E

R$ bilhões

Gráfico 2.2.3 – Variação dos componentes dos ativos líquidosJun-dez 2013

A = TPF (marcação a mercado e/ou variação quantitativa)

C = Outros ativosD = Variação no compulsório requeridoE = Variação total

B = TPF (vinculação a garantias – exposição a risco em bolsas)

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 18

Maior captação resultou em elevação na estimativa de resgates em cenário de estresse, o que colaborou para a queda do IL. Esse movimento foi atenuado pela queda na estimativa de perdas por estresse de mercado, decorrente da redução na volatilidade das taxas de juros ao fi nal do semestre (gráfi co 2.2.5).

O estoque de captações atingiu R$3.418 bilhões no fi nal de 2013 (gráfi co 2.2.6), representando um avanço de 8,0%, ante 5,3%, no semestre anterior. A evolução recente foi associada, entre outros fatores, à migração de recursos antes direcionados aos fundos de investimento, que tiveram resgates líquidos de aproximadamente R$36 bilhões no período (gráfi co 2.2.7).

Houve aumento signifi cativo nas captações com títulos (notadamente Letras de Crédito Imobiliário [LCI] e Letras de Crédito do Agronegócio [LCA]), de depósitos de poupança, com empréstimos e repasses e com operações compromissadas utilizando títulos privados. Por outro lado, observou-se redução no estoque de depósitos a prazo e baixo crescimento das captações com base em

instrumentos híbridos de capital e dívida (IHCD) e de Letras Financeiras Subordinadas (LFS) (gráfi co 2.2.8).

Essa alteração de perfi l de captações tende a perdurar, com a utilização de instrumentos de menor custo efetivo, associados a isenções de compulsório, de contribuição ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) ou de tributos.

O crescimento de créditos longos, como os fi nanciamentos imobiliários, provocou aumento maior no prazo médio

-120

-60

0

60

120

180

240

1º Sem 2013 2º Sem 2013

Captações líquidas Operações de crédito Ativos líquidos

Gráfico 2.2.4 – Variação do estoque de ativos líquidos, operações de crédito e captações1/

R$ bilhões

1/ Líquidas de compulsório.

15,3

4,9-9,1

11,0

0

5

10

15

20

25

A B C D

R$ bilhões

A = Estimativa de resgate de depósitos em situação de estresse

C = Estimativa de perdas por estresse de mercadoD = Variação total

B = Fluxo contratado

Gráfico 2.2.5 – Variação dos componentes do fluxo de caixa estressadoJun-dez 2013

0

700

1.400

2.100

2.800

3.500

Jun2008

Dez Jun2009

Dez Jun2010

Dez Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez

R$ bilhõesGráfico 2.2.6 – Perfil das captações

Depósitos a vista Depósitos a prazoDepósitos de poupança Empréstimos e repassesCompromissadas (títulos privados) LCA + LCI + LF + DPGEIHCD + LFS Outros

-20

0

20

40

60

80

Depósitos a vista Depósitos a prazoDepósitos de poupança Empréstimos e repassesCompromissadas (títulos privados) LCA + LCI + LF + DPGEIHCD + LFS Outros

Gráfico 2.2.8 – Variação do estoque de captações Jun-dez 2013 R$ bilhões

-40

-20

0

20

40

60

80

1º sem. 2012 2º sem. 2012 1º sem. 2013 2º sem. 2013

R$ bilhõesGráfico 2.2.7 – Captação líquida dos fundos de investimento1/

1/ Fonte: Anbima

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 19

das operações de crédito vis-à-vis o prazo médio do estoque de captações (gráfi co 2.2.9).28

A mudança de perfil das captações tem mantido suas características de estabilidade,29 pois ganham relevância instrumentos com características de depósito, considerados estáveis e/ou com cobertura do FGC. Nesse sentido, é fundamental a adaptação da mensuração do tradicional loan-to-deposit (LTD) para evitar percepções equivocadas sobre o risco de liquidez do sistema bancário brasileiro. Com esses ajustes, as operações de crédito têm representado cerca de 86% dos depósitos e das outras captações com as mesmas características de estabilidade (gráfi co 2.2.10), o que demonstra que o crescimento da carteira de crédito é compatível com a evolução do funding de boa qualidade.

28/ Foram computados os prazos médios das prestações vincendas da carteira de crédito e dos resgates das captações, ambos ponderados pelos respectivos fl uxos.

29/ São defi nidos como recursos estáveis aqueles captados de aplicadores de varejo. Entre os recursos aplicados por detentores institucionais, também são considerados como estáveis os montantes captados em instrumentos com prazo de resgate maior que um ano. Essa métrica foi adaptada do conceito do Financial Soundness Indicator FSI I22, preconizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Para detalhes da defi nição, vide “Conceitos e Metodologias”, letra a.

A dependência das instituições fi nanceiras relativa a captações externas para suportar as operações no país continuou caindo no período em virtude da liquidação de passivos em moeda estrangeira que representam internalização de recursos30. Os recursos captados no exterior e mantidos para operações fora do país31 continuam com tendência de crescimento, em linha com o processo de internacionalização dos bancos brasileiros (gráfi co 2.2.11).

Em suma, o IL voltou a apresentar pequena queda, mas continua em patamar confortável, refl etindo a elevada liquidez do sistema. Os ativos líquidos reduziram-se diante da continuidade do cenário desfavorável para a precifi cação dos TPFs e de saídas de caixa. O aumento nas captações, mesmo superior ao crescimento do crédito, não foi sufi ciente para repor os ativos líquidos e ainda elevou as estimativas de resgates em cenário de estresse, o que colaborou para a queda do IL.

Quanto ao crescimento das captações, mantém-se o aumento de participação de empréstimos e repasses, de títulos e de poupança, o que é benéfi co no sentido de amenizar a elevação dos custos e para a estabilidade das captações. Acrescenta-se que a menor dependência das operações domésticas em relação ao funding externo é um aspecto positivo no cenário de redução da liquidez global.

30/ Estimativa de captações externas que ingressam no país com base em demonstrativos individuais de instituições fi nanceiras no país.

31/ Estimativa de captações externas que não ingressam no país são captações externas de agências e subsidiárias no exterior, pertencentes a conglomerados bancários com sede no Brasil, que são mantidas nas localidades das respectivas agências e subsidiárias.

0

20

40

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100

Jun2009

Dez Jun2010

Dez Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez

%

Gráfico 2.2.10 – Crédito sobre captações de recursos estáveis

5

11

17

23

29

35

Dez2010

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez

meses

Gráfico 2.2.9 – Prazo médio dos estoques de crédito e de captações

Prazo médio do estoque de captações

Prazo médio da carteira de crédito

0

3

6

9

12

15

Dez2009

Jun2010

Dez Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez

%

Estimativa de captação de agências e subsidiárias no exterior que não ingressa nopaís versus captações totais

Captação externa que ingressa no país versus captações totais

Gráfico 2.2.11 – Perfil das captações externas

Page 21: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2014

Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 20

2.3 Crédito

O crescimento do crédito doméstico mais moderado, que havia sido observado no primeiro semestre, manteve-se no segundo. Os bancos públicos e o crédito com recursos direcionados continuaram impulsionando a evolução dos estoques, mas apresentaram desaceleração no crescimento anualizado, principalmente no último trimestre. A inadimplência permaneceu estável nos bancos públicos e reduziu-se nos bancos privados, porém com queda na inadimplência total do SFN. Manteve-se a tendência de aumento de participação na carteira de crédito de modalidades que apresentam menor inadimplência, principalmente fi nanciamento imobiliário e crédito consignado.

O estoque de operações de crédito doméstico do SFN atingiu R$2,7 trilhões em dezembro de 2013, com expansão de 7,3% no semestre e de 14,6% em doze meses. Esse valor atingiu 56,5% do PIB, ante 55,0% ao fi nal do semestre anterior e 53,9% em dezembro de 2012, continuando, assim, a desaceleração no ritmo de crescimento iniciada em 2011 (gráfi co 2.3.1).

O crescimento do crédito direcionado mostrou desaceleração nos últimos seis meses (gráfi co 2.3.132). Porém, ainda persistiu grande diferença entre sua velocidade de crescimento e a do crédito livre. Enquanto o primeiro cresceu 24,5% no ano de 2013 e 11,1% no segundo semestre, o segundo cresceu, respectivamente, 7,8% e 4,4%. Assim, o crédito direcionado continuou aumentando sua participação no total, passando a 44,4% em dezembro de 2013, ante 42,9% em junho de 2013.

32/ Nesse gráfi co, crédito direcionado ou livre e crédito pessoa física (PF) ou pessoa jurídica (PJ) são perspectivas diferentes sobre a carteira de crédito doméstico do SFN: Livre + Direcionado = Total ; PF + PJ = Total.

Os bancos públicos continuaram impulsionando o crescimento do crédito, mas diminuíram o ritmo no segundo semestre de 2013, passando de um crescimento anualizado de 29,3% em junho de 2013 para 22,6% em dezembro de 2013. De sua parte, os privados apresentaram uma retomada, passando de 5,7% a 7,3%, na mesma base de comparação (gráfi co 2.3.2).

A continuidade da postura mais restritiva dos bancos privados no ano de 2013, principalmente nas operações com inadimplência mais elevada, tem alterado o perfi l de suas carteiras de crédito (gráfi co 2.3.3), com perda de relevância, principalmente, do fi nanciamento de veículos PF33 e do capital de giro. Por outro lado, houve aumento da participação do financiamento imobiliário para pessoa física, empréstimos consignados e de operações para pessoas jurídicas com recursos direcionados, modalidades com menor nível de inadimplência. No caso específico do financiamento imobiliário, cabe destacar que os bancos privados apresentaram taxa de crescimento de 31,5% no ano, próxima à dos bancos públicos, com 34,2%. O crédito consignado também apresentou variação signifi cativa nos bancos privados nacionais, de 15,5% no ano, ainda que abaixo dos bancos públicos, que encerraram o ano com crescimento de 24,2% na modalidade.

O crescimento signifi cativo do fi nanciamento imobiliário nos bancos públicos resultou no aumento de sua representatividade de 18,8% para 20,3% da carteira dessas instituições. Na direção oposta, houve diminuição da participação de operações com recursos do sistema BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –, tanto diretamente quanto por repasses, de 29,2% para 27,2% (gráfi co 2.3.3).

33/ Incluindo os créditos diretos ao consumidor (CDCs) e os arrendamentos fi nanceiros.

0

8

16

24

32

40

Dez2008

Jun2009

Dez Jun2010

Dez Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez

Livre Direcionado PF PJ Total

%

Gráfico 2.3.1 – Crescimento anual da carteira decrédito doméstico

0

10

20

30

40

50

Jun2008

Dez Jun2009

Dez Jun2010

Dez Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez

%

Público Privado

Gráfico 2.3.2 – Crescimento anual do créditopor controle

Page 22: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2014

Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 21

As taxas de juros cobradas pelas instituições se elevaram no semestre, tanto para o crédito livre, quanto para o crédito direcionado (gráfi co 2.3.4), refl exo da continuidade dos aumentos da taxa Selic.34 A taxa média anualizada do crédito livre à pessoa física apresentou o maior crescimento no semestre, 3,2 p.p., mesmo apresentando uma ligeira reversão em dezembro. Esse aumento foi observado de forma generalizada em todas as modalidades, exceto no empréstimo pessoal consignado para trabalhadores do setor público e no crédito pessoal não consignado vinculado à renegociação de dívidas. No crédito livre à pessoa jurídica, a variação na taxa de juros foi menor, de 2,0 p.p., infl uenciada principalmente pela modalidade capital de giro. No crédito direcionado, a elevação foi de 0,6 p.p. para pessoa física e de 0,3 p.p. para pessoa jurídica, sendo as maiores variações nas operações com taxas não reguladas, referentes a fi nanciamentos rurais e imobiliários.

34/ No primeiro semestre de 2013, a taxa Selic variou de 7,25% para 8,00%; no segundo semestre, variou de 8,00% para 10,00%.

Continuou a tendência de redução da inadimplência na carteira de crédito total, alcançando 3,0% em dezembro de 2013, ante 3,4% em junho de 2013, em razão principalmente da redução da inadimplência na carteira dos bancos privados, já que a inadimplência nos bancos públicos, que é mais baixa, caiu apenas 0,1% no semestre e fi cou estável no ano. A redução da inadimplência infl uenciou a leve melhora do índice de cobertura,35 que passou para 1,7 em dezembro de 2013, contra 1,6 em junho de 2013. A comparação entre as provisões constituídas e os créditos baixados para prejuízo nos doze meses seguintes, ou ainda com o total da carteira de maior risco (classifi cada nos níveis E a H), indica a manutenção da sufi ciência das provisões constituídas (gráfi co 2.3.5).

O saldo da carteira doméstica PF aumentou 8,0% no semestre e 16,3% no ano, alcançando R$1,25 trilhão em dezembro de 2013 (gráfi co 2.3.1). Financiamento imobiliário permaneceu como a principal modalidade a determinar o ritmo de crescimento do crédito à pessoa física no ano de 2013, seguido por crédito rural e empréstimos com consignação em folha de pagamento. Já fi nanciamento de veículos continuou em desaceleração, e empréstimos sem consignação, cheque especial e empréstimo rotativo de cartão de crédito apresentaram crescimentos modestos.

O fi nanciamento imobiliário36 respondeu individualmente com a maior participação no crédito total à pessoa física,

35/ O índice de cobertura mede a razão entre a provisão contabilizada e o saldo total das operações vencidas há mais de noventa dias.

36/ Financiamentos imobiliários: todas as operações feitas com recursos direcionados a partir dos depósitos de poupança e do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), destinados à construção e aquisição de residências, aquisição de material para construção de residências e demais fi nalidades defi nidas na regulamentação pertinente. Os fi nanciamentos para aquisição de imóveis residenciais respondiam por 95,7% dos fi nanciamentos imobiliários em dezembro de 2013, percentual que tem se mantido praticamente estável nos últimos dois anos.

0

300

600

900

1.200

1.500

Dez2012

Dez2013

Dez2012

Dez2013

Públicos Privados

R$ bilhões

Gráfico 2.3.3 – Composição da carteira de crédito por controle

Imobiliário Demais direc. PF ConsignadoVeículos Demais livre PF Capital de giroDemais livre PJ BNDES Demais direc. PJ

0

10

20

30

40

50

Mar2011

Jun Set Dez Mar2012

Jun Set Dez Mar2013

Jun Set Dez

Livre PJ Livre PF Direcionado PJ Direcionado PF

Gráfico 2.3.4 – Evolução das taxas de jurosRecursos livres e direcionados, PF e PJ % a.a.

0,0

1,2

2,4

3,6

4,8

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Mar2011

Jun Set Dez Mar2012

Jun Set Dez Mar2013

Jun Set Dez

%

Gráfico 2.3.5 – Inadimplência, provisões e baixas para prejuízo

Carteira de crédito classificada nos níveis de E até HProvisõesInadimplênciaCréditos baixados doze meses seguintes

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 22

com 27,3% de representatividade em dezembro de 2013, e continuou apresentando taxas de crescimento elevadas: a variação foi de 14,4% no semestre e de 33,7% em doze meses. Uma consequência do forte crescimento dos últimos anos é que 77% do estoque de dezembro de 2013 compõem-se de operações concedidas entre 2011 e 2013 (gráfi co 2.3.7). A elevada proporção de operações com concessão recente, portanto em início de amortização, conjugada à tendência observada de alta mais moderada nos preços dos imóveis, tende a manter o loan-to-value (LTV) médio do estoque por mais tempo em nível próximo ao LTV médio de concessão.37

O LTV médio de concessão dos financiamentos imobiliários teve leve redução no semestre, fi cando em 70,1% em dezembro de 2013, ante 71,0% em junho de

37/ O LTV refere-se ao percentual fi nanciado em relação ao valor do imóvel. É calculado com base nas informações sobre garantias que constam no Sistema de Informações de Crédito do BCB (SCR) e levando em conta operações concedidas em cada data-base. Os LTV apresentados foram ponderados pelo valor da dívida de cada contrato.

2013. Analisando-se o LTV médio de estoque, ou seja, o saldo devedor atual como proporção do valor da garantia na concessão da operação, essa relação fi ca em 66,3% em dezembro de 2013. Uma análise mais precisa consideraria a valorização dos imóveis a partir da data de concessão do crédito.38 Por essa metodologia, o LTV médio do estoque com correção das garantias fi caria em 54,8% em dezembro de 2013, o que revela um confortável grau de segurança, mesmo se considerando o peso expressivo das safras mais novas.

Abrindo essa informação por faixa de LTV (gráfi co 2.3.8), constata-se que a proporção de fi nanciamentos com saldo devedor superior a 80% do valor do imóvel cairia de 20% da carteira, sem a correção, para apenas 9%, com a correção. Loan-to-value menor torna a operação mais segura para a IF, porque, sob a ótica do mutuário, maior será seu patrimônio líquido quanto menor o valor da dívida em relação ao valor do bem, desestimulando a inadimplência. Sob a ótica da IF, melhora a relação dos valores da garantia e do crédito.

Além da relação confortável no LTV, os fi nanciamentos imobiliários no Brasil possuem outras características mitigadoras de risco,39 como a alienação fi duciária e a aplicação disseminada do sistema de amortização constante, que diminuem o risco de crédito.

Não obstante esse cenário, o BCB tem adotado medidas a fi m de garantir o crescimento sustentável dessa modalidade. Nesse contexto, foi editada a Resolução nº 4.721, de 30

38/ Utilizou-se o índice médio do Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais Financiados (IVG-R) para fazer as correções dos imóveis dados em garantia. Atualizaram-se as garantias até outubro de 2013, que era o último IVG-R disponível. Já o valor das dívidas de cada contrato foi o de dezembro de 2013.

39/ Descrição mais detalhada dessas características é apresentada no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) publicado em setembro de 2013, disponível no sítio do BCB.

0

20

40

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80

100

Dez2007

Dez2008

Dez2009

Dez2010

Dez2011

Dez2012

Dez2013

%

Imobiliário Consignado Veículos RuralCartão sem juros Maior risco Demais

Gráfico 2.3.6 – Composição da carteira decrédito – PF1/

1/ As modalidades de maior risco são empréstimos sem consignação,

instituições financeiras (IF) vinculadas a cartão de crédito.cheque especial, crédito rotativo e compras parceladas pelas

12%

11%

18%

25%

34%

≤ 2009 2010 2011 2012 2013

Gráfico 2.3.7 – Financiamento imobiliário – PF% no estoque por ano de concessão

2241

33

3525

1618

8

0

20

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Sem correção Com correção

< 50% ≥ 50% e < 70% ≥ 70% e < 80% ≥ 80% e ≤ 90% > 90%

Gráfico 2.3.8 – LTV de estoqueDezembro de 2013

%

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 23

de setembro de 2013, que trata dos critérios de concessão de fi nanciamento imobiliário40 e, entre outras medidas, estabeleceu limites máximos para o LTV de operações enquadradas no Sistema Financeiro de Habitação (SFH).

O crédito rural à pessoa física, por sua vez, cresceu 13,5% no período e 27,2% em doze meses. Esse desempenho foi infl uenciado, pelo lado da demanda, pelo desempenho do setor agropecuário no Brasil41 e, pelo lado da oferta, pelo aumento do percentual dos depósitos a vista destinados à aplicação no fi nanciamento rural e pelo aumento dos depósitos de poupança rural e das captações com base em LCAs42.

Por fim, os empréstimos consignados foram outra modalidade que contribuiu de modo relevante para o crescimento do crédito doméstico à pessoa física, com variação de 5,9% no segundo semestre e de 17,5% no ano. Ressalte-se que 61,8% dessas operações são realizadas com funcionários públicos e 30,1% com aposentados e pensionistas, categorias com menor inadimplência, pela maior estabilidade de suas fontes de renda, comparativamente aos funcionários da iniciativa privada.

40/ Para maiores detalhes sobre essa resolução, ver o capítulo 5 – Regulação do Sistema Financeiro Nacional.

41/ O PIB do setor agropecuário cresceu 7,0% no ano de 2013, ante 2,0% do setor de serviços e 1,3% da indústria.

42/ O aumento da alíquota dos recursos a vista para aplicação em crédito rural aconteceu em 2012 e passou de 28% para 34%. Além disso, a Caixa Econômica Federal (CEF), que não estava obrigada a aplicar na modalidade, passou a fazê-lo com alíquota inicial de 6% dos recursos a vista. Outra fonte que elevou a oferta dos recursos para o crédito rural adveio da poupança. O saldo total da caderneta de poupança rural aumentou 20,4% em 2012 e 21,8% em 2013. Por captarem poupança rural, Banco do Brasil, Banco da Amazônia (Basa), Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Banrisul, Bancoob e Bansicredi estão sujeitos ao direcionamento de recursos da poupança para o crédito rural.

Por outro lado, as modalidades de crédito que apresentam maior inadimplência, mais concentradas nos bancos privados, tiveram menor crescimento. Empréstimos sem consignação, com leve desaceleração, cresceram 2,2% no semestre e 8,3% em doze meses. Cheque especial variou -1,3% e 10,5%, nas mesmas bases de comparação, enquanto empréstimos rotativos vinculados a cartão de crédito variaram, respectivamente, -3,2% e 4,7%. Trata-se de indicativo claro de menor apetite das instituições fi nanceiras privadas por modalidades de maior inadimplência.

Também apresentou baixo crescimento a carteira de fi nanciamento de veículos,43 que se reduziu 2,5% no semestre e 4,9% nos últimos doze meses. O decréscimo dessa carteira tem sido a tendência desde o fi nal de 2012, refl exo de postura mais restritiva na concessão de crédito por parte dos bancos, em razão de perdas observadas nos anos de 2011 e 2012. Um dos refl exos dessa política de crédito foi a redução do LTV médio de concessão, que estava em 85% ao fi nal de 2010 e desde junho de 2012 tem fi cado próximo dos 70%.

A análise das modalidades de operação com cartão de crédito revela o perfi l de sua utilização pelas famílias no pagamento e no fi nanciamento de compras de bens e serviços. Em 2013, a modalidade compra a vista44 foi a que apresentou o maior crescimento no estoque de operações, 17,3%, enquanto as operações de rotativo e parcelado evoluíram 4,7% e 8,1%, respectivamente. Observa-se, assim, um uso mais parcimonioso do cartão de crédito, com maior utilização como meio de pagamento, a vista ou parcelado sem juros, e menor utilização como meio de fi nanciamento bancário com incidência de juros.

A inadimplência da carteira de pessoa física continuou tendência de queda dos dois semestres anteriores, atingindo 4,4% em dezembro de 2013, ante 5,0% em junho de 2013. Essa tendência foi infl uenciada principalmente pela redução da inadimplência em modalidades relevantes, como fi nanciamento de veículos e empréstimos sem consignação, processo em curso há alguns semestres (gráfi co 2.3.10). Analisando um horizonte mais longo, o aumento da participação de fi nanciamentos imobiliários, modalidade de baixa inadimplência, tem colaborado na redução da inadimplência total de pessoa física.

43/ Inclui CDC e arrendamentos fi nanceiros.44/ Operações a vista ou parceladas pelos lojistas, ambas sem incidência de

juros.

-10

0

10

20

30

40

Dez2012

Jan2013

Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Gráfico 2.3.9 – Crescimento anual do créditoPrincipais modalidades – PF

Imobiliário Financiamento ruralConsignado Cartão de créditoSem consignação Veículos

%

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 24

doze meses antes (gráfi co 2.3.12). Esse comportamento é explicado por uma melhora no perfi l do endividamento, associado ao aumento de participação de modalidades com prazos mais longos e taxas e prestações menores, especialmente financiamento habitacional e crédito consignado. A tendência de melhora no perfi l das dívidas é reforçada pelo desempenho de modalidades com taxas de juros elevadas, como o cheque especial e o crédito rotativo de cartão de crédito, que cresceram menos que o aumento da renda.

Em relação às pessoas jurídicas, o crédito bancário doméstico continuou perdendo participação no endividamento total, que considera outras fontes de financiamento, como os mercados de capitais e as captações externas. Em dezembro de 2013, o crédito bancário doméstico representava 63,1% do total, em comparação com 66,0% em dezembro de 2012. O mercado de capitais também registrou queda na representatividade como fonte de recursos, porém em menor magnitude, de 10,7% para 10,3% em doze meses. O crédito externo, por outro lado, cresceu a taxas mais expressivas. O estoque em reais de dívidas contraídas por empresas não fi nanceiras no mercado externo, que considera a dívida externa bruta, incluindo empréstimos

Uma vez que os bancos públicos mantiveram seu baixo nível de inadimplência em relativa estabilidade, observa-se que a queda da inadimplência deu-se pela sua redução nos bancos privados, infl uenciada por dois fatores: o ganho de participação de modalidades de menor risco na carteira dessas instituições, como financiamento imobiliário e crédito consignado, e a redução da inadimplência em modalidades de maior risco nas quais os bancos privados têm atuação mais relevante, como fi nanciamento de veículos, cartões e crédito pessoal.

Outro ponto relevante na avaliação do crédito à pessoa física se refere ao endividamento das famílias com dívidas bancárias e o respectivo comprometimento de renda. O endividamento das famílias teve leve aumento no segundo semestre de 2013, atingindo 45,5% em dezembro de 2013. É importante destacar que esse aumento está associado apenas à maior participação do fi nanciamento imobiliário, pois o endividamento nas demais modalidades tem apresentado leve redução (gráfi co 2.3.11). O indicador de endividamento45 é obtido dividindo-se a dívida das famílias pela Massa Salarial Ampliada Disponível (MSAD) dos últimos doze meses. O indicador de comprometimento de renda das famílias com dívidas bancárias (CRF) é obtido dividindo-se os desembolsos mensais para pagamento de principal e juros referentes às operações de crédito bancário pela MSAD daquele mês.

Já o comprometimento de renda das famílias com dívidas bancárias apresentou leve redução no último ano, alcançando 21,6% em dezembro de 2013, ante 21,8%

45/ Para mais detalhes sobre a metodologia de cálculo do endividamento das famílias e cálculo do CRF, vide boxe “Endividamento e Comprometimento de Renda das Famílias com Dívidas Bancárias: Revisão metodológica”, publicado no REF de setembro de 2011.

0

2

4

6

8

10

Mar2011

Jun Set Dez Mar2012

Jun Set Dez Mar2013

Jun Set Dez

Sem consignação Consignado

Veículos Financiamento rural

Imobiliário

%

Gráfico 2.3.10 – Inadimplência de PF por modalidade

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Dez2005

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Dez2013

%

Gráfico 2.3.11 – Endividamento das famílias

Endividamento demais Endividamento imobiliário

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5

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Dez2013

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CR demais CR imobiliário

Gráfico 2.3.12 – Comprometimento de renda das famílias

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 25

0

20

40

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Dez 2007

Jun Dez 2008

Jun Dez 2009

Jun Dez 2010

Jun Dez 2011

Jun Dez 2012

Jun Dez 2013

Créditolivre

Créditodirecionado

Mercadode capitais

Mercadoexterno

%

Fontes: BCB e Cetip

Gráfico 2.3.13 – Participação do endividamento – PJFonte de recursos

intercompanhia e desconsiderando as do governo geral, da autoridade monetária e de bancos, aumentou no período, em razão tanto do acesso e contratação de dívidas em moeda estrangeira como da desvalorização do real. Consequentemente, sua participação nas fontes de crédito às pessoas jurídicas aumentou de 23,3% em dezembro de 2012 para 26,6% em dezembro de 2013 (gráfi co 2.3.13). Com relação aos empréstimos intercompanhia, a maior variação refere-se aos pagamentos antecipados de exportações, pagáveis em mercadorias. Sem essas operações, o estoque da dívida em dólar norte-americano das empresas não fi nanceiras no mercado externo teria crescido 12,4% no ano, ao invés de 21,7%.

No mercado bancário doméstico, o estoque de crédito das pessoas jurídicas registrou desaceleração mais acentuada em comparação com o crédito às pessoas físicas, sobretudo a partir de setembro de 2013 (gráfi co 2.3.1). Em dezembro de 2013, a carteira atingiu R$1,46 trilhão, alta de 6,6% no semestre e de 13,3% no ano. Com isso, a participação relativa das operações de pessoas jurídicas no crédito doméstico total caiu 0,7 p.p. em doze meses, para 53,9% em dezembro de 2013, ante 54,6% em dezembro de 2012 (tabela 2.3.1).

Assim como na carteira de pessoa física, o aumento do crédito às pessoas jurídicas foi impulsionado pelas operações com recursos direcionados, que totalizaram R$700,9 bilhões em dezembro de 2013, expansão de 8,7% no semestre e de 19,6% no ano. No entanto, os bancos públicos, que vinham ampliando suas carteiras a taxas signifi cativamente superiores às dos privados, desaceleraram no segundo semestre de 2013 e encerraram o ano com crescimento próximo ao dos privados no crédito direcionado, de 20,6% e 17,2% no ano, respectivamente (gráfi co 2.3.14).

Entre as modalidades à pessoa jurídica com recursos direcionados, o crédito rural e o fi nanciamento imobiliário continuaram crescendo acima da média dessa carteira (37,6% e 25,2%, respectivamente). Não obstante, o sistema BNDES, apesar do ritmo mais moderado de crescimento, seguiu como a fonte mais relevante de financiamento, representando 73,4% do crédito direcionado para as pessoas jurídicas.

No que diz respeito às operações indiretas46 do BNDES, merece destaque a diferença de atuação entre os bancos públicos e privados no segundo semestre de 2013. Após forte expansão no primeiro semestre, as instituições estatais reduziram o ritmo de crescimento no segundo semestre de 2013, enquanto as instituições privadas passaram a atuar de forma mais ativa. Ainda assim, a carteira de repasses do BNDES contratada por intermédio

46/ Operações indiretas, também denominadas “repasses”, são aquelas contratadas pelos tomadores por intermédio de instituições fi nanceiras credenciadas, que repassam recursos do banco estatal.

%

2012 2013 2012 2013

Dez Dez Dez Jun

Crédito livre 54,7 52,1 8,0 4,8 Capital de giro 28,3 26,5 5,9 3,9

Comércio exterior1/ 7,9 8,3 20,2 8,0

Crédito direcionado 45,3 47,9 19,6 8,7 BNDES direto 19,5 19,2 11,2 5,9

BNDES indireto 15,0 16,0 20,4 10,0

Crédito rural 3,8 4,6 37,6 15,9

Financiamento imobiliário 3,3 3,7 25,2 13,6

Total PJ / (PJ+PF) 54,6 53,9 13,3 6,6

1/ ACC, financiamento de importações e exportações e repasses externos.

Tabela 2.3.1 – Composição da carteira de crédito PJModalidades selecionadas

Participação da modalidade na

carteira PJ

Crescimento do estoque; dez. 2013

em relação a:

0

6

12

18

24

30

Jun 2012

Dez Jun 2013

Dez

Recursos livres Recursos direcionadosDirecionado público Direcionado privado

%

Gráfico 2.3.14 – Crescimento anual do crédito – PJ

Page 27: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2014

Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 26

dos bancos públicos aumentou acima da média, 31,2% em doze meses, e encerrou o ano com participação de 41,2% no estoque total das operações de repasses. Já a queda do crescimento no crédito concedido diretamente pelo BNDES foi infl uenciada por pré-pagamentos realizados no segundo semestre de 2013 (gráfi co 2.3.15), uma vez que não houve alteração relevante no ritmo de concessões. Sem esses pré-pagamentos, a alta teria sido de 15,3% no ano.

Os empréstimos livres a pessoas jurídicas alcançaram R$763,2 bilhões em dezembro de 2013, variação anual de 8,0% e de 4,8% no semestre. A expansão mais moderada é explicada principalmente pela desaceleração na modalidade capital de giro, que representa mais da metade dessa carteira e cresceu apenas 5,9% no ano. Operando com taxas menores e prazos maiores (gráfi co 2.3.16), a carteira de capital de giro dos bancos públicos aumentou 18,3% no ano, ante uma retração de 2,7% nos privados, elevando a participação relativa dos primeiros nessa carteira em 4,8 p.p. no período de doze meses, atingindo 45,7% em dezembro de 2013. Porém, mesmo nos bancos públicos, observa-se uma desaceleração no ritmo de crescimento nessa modalidade em 2013 (gráfi co 2.3.17).

Em relação à carteira de crédito ao comércio exterior, a variação de 20,2% em 2013 foi infl uenciada principalmente pela desvalorização cambial. Eliminado esse efeito, a alta teria sido de apenas 4,9% no ano.

Quanto à segmentação de acordo com o porte,47 a carteira de crédito das pequenas e médias empresas (PME) continuou registrando taxas mais baixas de crescimento em comparação com as grandes. Assim, a representatividade das PMEs no crédito total à pessoa jurídica caiu para 46,8% em dezembro de 2013, frente a 48,9% no ano anterior. Tal fato é parcialmente explicado pelo crescimento mais acelerado da carteira de crédito com recursos direcionados, na qual as grandes empresas são mais tomadoras, em relação àquela com recursos livres (gráfi co 2.3.18). Adicionalmente, as PMEs têm perdido participação também na carteira de recursos livres, representando 59,0% desta, em dezembro de 2013, ante 61,2% doze meses antes.

47/ A segregação por porte utilizou como proxy o valor devido das operações de crédito doméstico. As PMEs são aquelas cujas dívidas são inferiores a R$100 milhões, e as grandes, igual ou superior a R$100 milhões.

-10

0

10

20

30

40

Jun2012

Dez Jun2013

Dez

Direto Repasse Repasse público Repasse privado

%

Gráfico 2.3.15 – Crescimento anual do crédito – PJSistema BNDES

-15

0

15

30

45

60

Jun2012

Dez Jun2013

Dez

Público Privado

%

Gráfico 2.3.17 – Crescimento anual do créditoCapital de giro

10

14

18

22

26

30

0

10

20

30

40

50

Jun2012

Dez Jun2013

Dez

Público PrivadoPúblico Privado

Prazo:

Taxa:

meses% a.a.

Gráfico 2.3.16 – Prazos e taxas médias das concessões Capital de giro

14,5%

0,1 p.p.

21,3%

0,0 p.p.

4,5%

-0,6 p.p.

18,7%

-0,1 p.p.

0

20

40

60

80

100

Carteira Inadimplência Carteira Inadimplência

Livre Direcionado

Grandes PMEs

Gráfico 2.3.18 – Carteira ativa e inadimplência1/

Por direcionamento e porte do tomador – Dez/2013 %

1/ Os valores dentro dos rótulos expressam a variação anual de cada porte na respectiva carteira.

Page 28: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2014

Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 27

Outro fator que contribuiu para a expansão do crédito às empresas de grande porte decorre do fato de que de parte relevante de suas operações está atrelada à moeda estrangeira,48 o que, com a valorização do dólar, eleva o saldo em reais. Desconsiderando-se esse efeito nas operações vinculadas à moeda estrangeira, a alta no estoque de crédito de pessoas jurídicas de grande porte teria sido de 15,1%, em vez de 18,4%. Dos 2,1 p.p. que essas empresas ganharam em participação na carteira, 0,6 p.p. se refere ao efeito cambial.

A inadimplência de pessoas jurídicas reduziu-se em 0,3 p.p. no semestre, para 1,8% em dezembro de 2013, menor patamar desde março de 2011. A variação da inadimplência foi infl uenciada pela redução dos atrasos nos bancos privados, de 3,1% em junho de 2013 para 2,5% em dezembro de 2013, enquanto nos públicos manteve-se estável em 1,2% no período (gráfi co 2.3.19).

A redução da inadimplência nos bancos privados decorreu da retração nos atrasos das PMEs, de 4,4% em dezembro de 2012 para 3,5% em dezembro de 2013, tendo como fator principal a baixa para prejuízo de operações vencidas. Já nas instituições fi nanceiras de controle público, o nível de inadimplência das PMEs aumentou em 2013, de 2,8% para 3,0% (gráfi co 2.3.20). No entanto, a participação das PMEs na carteira de pessoas jurídicas dos públicos é bem inferior àquela dos privados (33,7% e 61,3%, respectivamente), de forma que a inadimplência das PMEs no SFN caiu de 3,8% para 3,4% em 2013.

A despeito do decréscimo da inadimplência nas PMEs, a provisão média49 nesse segmento caiu de forma menos acentuada (gráfico 2.3.21), indicando postura mais

48/ Em dezembro de 2013, a representatividade das operações atreladas à moeda estrangeira nas grandes empresas era de 21,9%, contra 4,1% nas PMEs.

49/ Calculada de acordo com a provisão mínima, segundo a Resolução nº 2.682.

conservadora das instituições fi nanceiras. Nas empresas de grande porte, apesar da inadimplência ter se mantido praticamente estável no período de doze meses, houve apenas leve aumento na provisão média, de 0,2 p.p.

Sintetizando, o cenário do crédito doméstico manteve as linhas gerais de tendência dos semestres anteriores: crescimento mais moderado, liderado pelos bancos públicos e por recursos direcionados, em especial fi nanciamento habitacional e com menor ênfase nas linhas de crédito ao consumo; continuidade do declínio da inadimplência, tanto das pessoas físicas quanto das pessoas jurídicas, concentrado essencialmente nos bancos privados.

Para o ano de 2014,50 as projeções apontam para crescimento do crédito em níveis próximos aos de 2013, mas com maior vigor dos bancos privados e desaceleração dos públicos, mantendo-se a tendência delineada no último trimestre do ano.

50/ De acordo com projeção do Departamento Econômico do Banco Central do Brasil, o crescimento das operações de crédito no ano de 2014 será de 13%. Na estimativa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a taxa será de 14,5%.

0,0

0,8

1,6

2,4

3,2

4,0

Jun2012

Dez Jun2013

Dez

Público Privado Total

%

Gráfico 2.3.19 – Inadimplência por controlePessoa jurídica

0

1

2

3

4

5

Dez2012

Dez2013

Dez2012

Dez2013

Dez2012

Dez2013

Dez2012

Dez2013

PMEs Grandes PMEs Grandes

Público Privado

%

Gráfico 2.3.20 – Inadimplência – PJPor porte e controle

0,0

1,4

2,8

4,2

5,6

7,0

Dez2012

Jun2013

Dez

Inadimplência Provisão

Inadimplência Provisão

%

Gráfico 2.3.21 – Inadimplência e provisão médiaPor porte – PJ

PMEs:

Grandes:

Page 29: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2014

Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 28

2.4 Rentabilidade

A redução no ritmo de crescimento do resultado com operações de crédito, observada desde meados de 2012, intensifi cou-se no segundo semestre de 2013, aumentando a pressão sobre a rentabilidade do sistema bancário. Para amenizar esse efeito, os bancos continuaram empreendendo esforços na contenção de despesas administrativas e na ampliação da venda de serviços.

Favorecido por esse estímulo e pelo resultado positivo de eventos não recorrentes, o LL avançou R$1,0 bilhão e atingiu R$60,6 bilhões em dezembro de 2013. O patrimônio líquido (PL), por sua vez, cresceu abaixo da sua média histórica, mas proporcionalmente à variação do LL. Dessa forma, o RSPL manteve-se estável em 13,9%, em junho e em dezembro de 2013 (gráfi co 2.4.1 e tabela 2.4.1).

A adoção, pelos bancos de maior porte, do pronunciamento contábil nº 3351 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), e a redução no valor de mercado de títulos classifi cados na carteira disponível para venda52 contribuíram para um crescimento do PL de apenas 1,8% entre junho e dezembro de 2013, percentual bastante inferior ao observado em períodos anteriores.

O LL, por sua vez, foi favorecido pelo menor volume de provisões, pelo incremento na receita de serviços, pela contenção de despesas administrativas e por eventos não recorrentes, entre os quais se destaca a adesão de bancos e seguradoras ao Refi s, que proporcionou aproximadamente R$4,5 bilhões em receitas com reversão de provisões fi scais nas demonstrações de resultado. O efeito positivo desses eventos compensou a queda de R$1,7 bilhão no resultado de intermediação fi nanceira (RSIF) líquido.

O recuo do RSIF líquido está fortemente associado à retração do resultado com crédito. O crescimento da carteira de crédito e a diminuição significativa nas despesas com provisão foram insufi cientes para compensar a queda da margem bruta no último semestre de 2013. Ademais, o leve aumento do resultado com tesouraria também não contribuiu de forma relevante para reverter essa queda (gráfi co 2.4.2).

51/ De forma resumida, o CPC 33 excluiu a possibilidade de utilizar o “método do corredor” – permissão para que os ganhos e perdas atuariais até um limite de 10% do valor presente da obrigação de benefício defi nido ou de 10% do valor justo dos ativos do plano, dos dois o maior, pudessem ser apropriados ao resultado pelo tempo médio remanescente de vida laborativa dos empregados participantes do plano. A partir da adoção do novo pronunciamento, ganhos e perdas atuariais passam a ser reconhecidos integralmente na data das demonstrações contábeis, tendo como contrapartida o PL.

52/ Conforme a Circular nº 3.068, de 8 de novembro de 2001, o ajuste a valor de mercado dos títulos e valores mobiliários classifi cados na carteira disponível para venda devem ser registrados no PL.

Tabela 2.4.1 – Composição do lucro líquidoR$ bilhões

Últimos doze meses findos emJun 2013 Dez 2013

Resultado de intermediação bruto 250,4 246,6 (3,8) Desp. prov. p. crédito, líq. reversões (91,0) (88,9) 2,1 Resultado de intermediação líquido 159,4 157,7 (1,7) Receita de serviços 92,3 96,5 4,3 Despesas administrativas (168,9) (173,6) (4,7) Demais resultados operacionais (20,4) (21,1) (0,7)

Resultados não operacionais eitens extraordinários 6,4 11,0 4,6

IR e CSLL (9,1) (9,9) (0,8) Lucro líquido 59,6 60,6 1,0 Patrimônio líquido médio 427,9 435,6 7,7

Variaçãonominal

-16

0

16

32

48

64

-5

0

5

10

15

20

Dez2011

Mar2012

Jun Set Dez Mar2013

Jun Set Dez

Lucro líquido: sistema bancário (eixo da esquerda)RSPL anualTaxa de crescimento do PLTaxa de crescimento do resultado bruto com operações de crédito

Gráfico 2.4.1 – Lucro líquido e RSPL anual

R$ bilhões %

159,4

-20,4 14,8 2,1 1,8

157,7

0

32

64

96

128

160

RSIF líquidoJun

2013

A B C D RSIF líquidoDez2013

R$ bilhões

Impacto da variação da margem bruta de créditoImpacto da variação da carteira de créditoVariação em depesas de provisãoVariação em resultado com tesouraria

AB C D

Gráfico 2.4.2 – Decomposição da variação do resultado de intermediação financeiraJunho versus dezembro de 2013 (acumulado doze meses)

Page 30: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2014

Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 29

Conforme esperado, em razão dos aumentos na meta Selic, iniciados em abril de 2013, inverteu-se a trajetória de queda do custo de captação anual. Além disso, embora as instituições tenham elevado as taxas de juros nas concessões no fi m do período (vide gráfi co 2.3.4), ainda não houve refl exos positivos na rentabilidade bruta da carteira de crédito, que recuou entre junho e dezembro de 2013, levando a um aperto maior nas margens brutas. Esse comportamento foi muito similar em bancos públicos comerciais e privados (gráfi cos 2.4.3 e 2.4.4).

Não obstante, o comportamento na margem líquida foi distinto entre os tipos de controle. Com alteração no mix de suas carteiras e redução de inadimplência, os bancos privados mantiveram a margem líquida de crédito praticamente estável desde 2012, com leve redução a partir de setembro de 2013. Nos bancos públicos comerciais, por outro lado, houve declínio mais signifi cativo da margem líquida. Até o princípio do segundo semestre de 2013, o efeito desse recuo sobre o resultado estava sendo

6

9

12

15

18

21

Dez2011

Mar2012

Jun Set Dez Mar2013

Jun Set Dez

Bancos públicos comerciais: rentabilidade bruta da carteira de créditoBancos privados: rentabilidade bruta da carteira de créditoBancos públicos comerciais: custo de captaçãoBancos privados: custo de captação

Gráfico 2.4.3 – Rentabilidade da carteira de crédito ecusto de captação, por controleAcumulado nos últimos doze meses %

contrabalançado pelo aumento no volume da carteira de crédito. Ressalta-se que, desde o início do movimento de redução de taxas de juros nas operações de crédito, o sistema bancário não experimentava elevação no custo de captação. Esse aumento deve acentuar-se no início de 2014, pressionando ainda mais as margens no curto prazo.

A difi culdade em ampliar o resultado de intermediação fi nanceira tem resultado em aumento da relevância de outros segmentos de negócio para manter a rentabilidade dos bancos. Nesse sentido, as operações relacionadas a cartões, que contribuíram para 18,3% das receitas de serviços em 2013, são as que apresentaram maior expansão. Enquanto as demais receitas de serviços avançaram 13,8% entre abril de 2012, quando se iniciou o movimento de redução de taxas de concessão, e dezembro de 2013, as receitas com cartões ampliaram-se em 35,9%, nesse mesmo período (gráfi co 2.4.5). Entre essas receitas, destacam-se a tarifa de intercâmbio e as tarifas cobradas dos portadores de cartões, como anuidades e multa por atraso no pagamento53.

Outro segmento importante é o de operações de seguros, previdência e capitalização, que, via equivalência patrimonial54, contribuiu com R$9,1 bilhões ou 15,0% do LL do sistema bancário em 2013. Essa participação tem aumentado gradativamente ao longo dos últimos anos. O recuo em junho de 2013 deve-se ao efeito dos ganhos extraordinários com a alienação do BB Seguridade, que aumentaram em R$4,7 bilhões o LL do sistema bancário (gráfi co 2.4.6).

53/ As receitas com serviços de empresas credenciadoras não foram incluídas nessa análise.

54/ Para a análise do REF, considerou-se o resultado com seguro, previdência e capitalização dos seis maiores bancos – Banco do Brasil (BB), Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal (CEF), Santander e HSBC – obtido nas demonstrações contábeis publicadas.

2

4

6

8

10

12

Dez2011

Mar2012

Jun Set Dez Mar2013

Jun Set Dez

Bancos públicos comerciais: margem brutaBancos privados: margem brutaBancos públicos comerciais: margem líquidaBancos privados: margem líquida

Gráfico 2.4.4 – Margem de crédito bruta e líquida de provisões, por controleAcumulado nos últimos doze meses %

90

100

110

120

130

140

Abr2012

Jul Out Jan2013

Abr Jul Out

Rendas de tarifas bancárias (PF e PJ)Rendas de cartão de créditoDemais serviçosResultado operacional (antes das despesas administrativas)

Gráfico 2.4.5 – Receitas de serviços eresultado operacional Abr 2012 = 100

Page 31: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2014

Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 30

0

4

8

12

16

20

Dez2011

Mar2012

Jun Set Dez Mar2013

Jun Set Dez0

2

4

6

8

10

Lucro líquido com seguro, previdência e capitalização dos seis maioresconglomerados financeiros (eixo da esquerda)

Participação do lucro líquido com seguro, previdência e capitalização dos seismaiores conglomerados no lucro líquido do sistema bancário

Gráfico 2.4.6 – Resultado com seguro, previdênciae capitalizaçãoAcumulado nos últimos doze meses

%R$ bilhões

Além do avanço em serviços e em seguros, previdência e capitalização, as instituições fi nanceiras vêm buscando conter as despesas administrativas. Em relação aos custos com pessoal, basicamente os bancos privados têm atuado sobre essa variável, concomitantemente à redução do ritmo de concessões de crédito. Em relação às outras despesas administrativas, como comunicação, processamento de dados, propaganda e viagens, verifi ca-se esforço de contenção em todo o sistema bancário, porém, maior por parte dos bancos privados (gráfi co 2.4.7).

Apesar do expressivo resultado em outros segmentos de negócio, a efi ciência ajustada ao risco55 fi cou pressionada

55/ A efi ciência operacional ajustada ao risco é calculada tendo como numerador as despesas administrativas e, como denominador, o somatório de: resultado de intermediação fi nanceira líquido de provisões; receitas de serviços; resultado de participações societárias; resultado de arrendamento mercantil operacional; e outras receitas e despesas operacionais. As receitas geradas com a reversão de provisões relacionadas ao Refi s não foram consideradas como resultado operacional e, portanto, não integraram o índice de efi ciência. Quanto maior o índice, pior é a efi ciência.

em ambos os tipos de controle, e de forma mais acentuada nos bancos públicos comerciais (gráfi co 2.4.8). O pior desempenho desses bancos deve-se principalmente a dois fatores: margem líquida de crédito (gráfi co 2.4.4) e despesas de pessoal (gráfi co 2.4.7). Do lado da margem líquida, conforme já destacado, os bancos públicos têm tido mais difi culdade em contrabalançar a perda de margem líquida com aumento no volume. As despesas de pessoal, por sua vez, representam aproximadamente 60% das despesas administrativas dos bancos públicos, bem mais que os cerca de 45% das dos bancos privados. Com mais fl exibilidade para adequar despesas às suas estratégias, esses últimos têm se sobressaído no controle dessas despesas.

Considerando-se as instituições individualmente, ressalta-se que desde dezembro de 2011 tem havido aumento contínuo no número de IF com prejuízo no resultado acumulado em doze meses. Esse número saltou de 26 para 34 e 43, respectivamente, em dezembro de 2011, de 2012 e de 2013. Apesar desse aumento, essas instituições continuam representando apenas 4,1% dos ativos do sistema, tanto em junho quanto em dezembro de 2013 (gráfi co 2.4.9).

50

58

66

74

82

90

Dez2011

Mar2012

Jun Set Dez Mar2013

Jun Set Dez

Bancos públicos comerciais Bancos privados nacionais e estrangeiros

Gráfico 2.4.8 – Índice de eficiência ajustado ao riscoAcumulado nos últimos doze meses %

100

105

110

115

120

125

Abr2012

Jul Out Jan2013

Abr Jul Out

Bancos públicos comerciais – Despesas de pessoal

Bancos privados (nacionais e estrangeiros) – Despesas de pessoal

Bancos públicos comerciais – Demais despesas administrativas

Bancos privados (nacionais e estrangeiros) – Demais despesas administrativas

Gráfico 2.4.7 – Despesas de pessoal e administrativasAbr 2012 = 100

34 43

55

44 37

50

0

20

40

60

80

100

RSPL < 0 0 < RSPL < Selic média RSPL > Selic média

Junho 2013 Dezembro 2013

1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com RSPL anual

% dos ativos

Gráfico 2.4.9 – Distribuição de frequência para o RSPL anual ponderado pelos ativos1/

Junho versus dezembro de 2013

pertencente àquele intervalo.

Page 32: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2014

Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 31

Em síntese, a rentabilidade no segundo semestre de 2013 esteve pressionada pela retração no resultado de intermediação fi nanceira, em razão do desempenho do crédito. Os avanços nas receitas de serviços, no resultado com seguros, previdência e capitalização e a contenção de despesas administrativas foram insufi cientes para compensar tal perda, piorando o indicador de efi ciência. Apesar de menos efi ciente, o sistema bancário manteve o RSPL estável, favorecido por resultados positivos em operações não recorrentes e pelo avanço do PL abaixo de sua média histórica. Para o próximo semestre, ganhos de efi ciência e rentabilidade dependerão de expansão no crédito, mas as IFs enfrentarão um período de margem pressionada por aumento mais forte no custo de captação.

2.5 Solvência

A solvência do sistema bancário permanece em patamar elevado, apresentando estabilidade ao longo do segundo semestre de 2013.56 Em outubro, entraram em vigor as normas conhecidas como Basileia III, que adaptam o arcabouço regulatório nacional às recomendações mais rígidas do Comitê de Supervisão Bancária de Basileia, resultantes dos riscos identifi cados na crise fi nanceira internacional de 2007/2008. As mudanças, que objetivam reduzir a probabilidade e a severidade de eventuais crises bancárias e seus potenciais refl exos sobre a economia real, são progressivas e seus efeitos serão integrais em 2019, em linha com o cronograma internacionalmente acordado. O arcabouço regulamentar brasileiro foi avaliado pelo BIS, que concluiu, em dezembro de 2013, pela plena aderência aos padrões internacionais57.

Nesse cenário, o Índice de Basileia (IB) atingiu 16,6%, nível bem acima do mínimo regulatório de 11%, que, aliado à elevação no ritmo de crescimento do Patrimônio de Referência (PR), ao alto nível da relação capital próprio sobre ativos, e à leve redução no fator de ponderação de risco médio (FPR-m), refl exo da

56/ As análises desta seção se baseiam em dados de julho a novembro de 2013, em função do calendário para envio das informações, defi nido pela Circular nº 3.686 de 29 de novembro de 2013.

57/ A implementação das recomendações do Comitê da Basileia de Supervisão Bancária foram objeto do Regulatory Consistency Assessment Programme (RCAP), tendo o Brasil recebido a classificação final Compliant, o nível mais alto da escala de avaliação. Para mais informações, ver boxe “Resultado do RCAP”, bem como o relatório do BIS, disponível em <https://www.bis.org/bcbs/implementation/l2_br.pdf>.

alteração na composição dos ativos, levam à conclusão de que a solidez do sistema continua confortável58.

Em novembro de 2013, o PR do sistema bancário atingiu R$618,9 bilhões (gráfi co 2.5.1), crescimento de R$13,3 bilhões em relação a junho de 2013, todo ele no capital nível I. O capital nível II apresentou redução, infl uenciada pela migração de instrumentos de dívida para nível I (gráfi co 2.5.3), em especial nos bancos públicos comerciais, e pela limitação normativa no reconhecimento de instrumentos de capital emitidos até 31 de dezembro de 2012. Vale destacar que o valor do capital principal está bem acima do mínimo requerido e inclusive supera o requerimento de capital total, que poderia ser parcialmente atendido com outros tipos de capitais de menor qualidade (capital complementar e nível II) 59.

58/ No primeiro semestre de 2013, o PR cresceu R$6,6 bilhões, e de julho a novembro, R$13,3 bilhões. O FPR-m das parcelas genuinamente de crédito (operações de crédito, arrendamento mercantil, compromisso de crédito não cancelável incondicional e unilateralmente pela instituição, garantias prestadas, avais, fi anças e coobrigações, adiantamentos, créditos a liberar, títulos de empresas fi nanceiras e não fi nanceiras e outros direitos com características de operações de crédito) apresentou leve redução no segundo semestre de 2013, passando de 81,1% para 80,8% de junho para novembro de 2013.

59/ A Resolução nº 3.444, de 28 de fevereiro de 2007, restringia participação dos IHCD reconhecidos a até 15% do capital nível I, com o excedente registrado como nível II. A Resolução nº 4.192, de 1º de março de 2013, passou a reconhecer todo o IHCD como nível I, caso atenda a determinadas exigências. Além disso, os instrumentos de dívida reconhecidos como capital, emitidos até 31 de dezembro de 2012 e que não atendam aos requerimentos estabelecidos nesse normativo, estão sujeitos à limitação progressiva do valor reconhecido até 2022 ou redução do valor de acordo com o prazo até o vencimento, o que for menor. Em outubro de 2013, esse limitador passou a ser de 90%, percentual que cairá 10 p.p. por ano.

0

140

280

420

560

700

0

4

8

12

16

20

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Nov

R$ bilhões

Capital principal Capital complementarCapital nível I Capital nível IIÍndice de Basileia Capital/ativosPRE

%

Gráfico 2.5.1 – PR, PRE e Índice de Basileia

Page 33: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2014

Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 32

venda (R$2,9 bilhões), infl uenciado pela elevação da taxa de juros. Com as novas exigências62 sobre os instrumentos de dívida reconhecidos como capital, observou-se reduzido número de emissões, o que, aliado à limitação nos valores reconhecidos dos títulos emitidos até 31 de dezembro de 2012, levou à redução de R$0,7 bilhão no estoque desses instrumentos.

Além disso, as novas regras introduzidas por Basileia III elevam os requerimentos quanto à quantidade e à qualidade do capital regulatório. Um item de fundamental importância foi a introdução de ajustes prudenciais, os quais eliminam do capital elementos da estrutura patrimonial que não se mostram aptos a suportar perdas. Esses valores totalizam R$109,5 bilhões e serão deduzidos gradualmente até 2018, conforme cronograma estabelecido na Resolução nº 4.192, de 2013. Em outubro de 2013, essas deduções somaram R$9,0 bilhões. Mesmo

62/ Instrumentos emitidos após 31 de dezembro de 2012, para serem reconhecidos como capital, deverão conter a possibilidade de extinção ou conversão em ações caso determinadas condições sejam presenciadas.

Como decorrência do arcabouço de Basileia III, foram instituídos três tipos de capital regulatório divididos em dois níveis:60 o nível I, composto por capital principal, constituído basicamente pelos recursos aportados pelos acionistas e pelas reservas, e por capital complementar, constituído por instrumentos perpétuos de dívida emitidos com características específi cas; e o nível II, composto por instrumentos de dívida com data de vencimento não inferior a cinco anos e menor nível de subordinação que os instrumentos de capital complementar.

Concomitantemente, conforme a Resolução nº 4.193, de 1º de março de 2013, foram criados três diferentes requerimentos mínimos61 de capital, vigorando atualmente os seguintes percentuais: 4,5% dos ativos ponderados pelo risco (RWA) para o requerimento de capital principal; 5,5% do RWA para o requerimento de capital nível I; e 11,0% do RWA para o requerimento de patrimônio de referência. Observa-se elevada capitalização do SFN quando se compara aos três requerimentos mínimos de capital regulatório (gráfi co 2.5.2).

Em relação à variação do PR, observou-se, assim como no primeiro semestre de 2013, a retenção de lucros (colunas A e B do gráfi co 2.5.4) de R$14,4 bilhões, se destacando como a maior responsável pela elevação do PR, e verifi cou-se novamente ajuste negativo nos valores de títulos e valores mobiliários (TVM) disponíveis para

60/ O capital principal é o recurso de melhor qualidade e o primeiro a sofrer perdas na hipótese de prejuízo da instituição fi nanceira. Caso os índices de capitalização da IF caiam abaixo de determinados níveis ou certas condições forem verifi cadas, os demais tipos de capital podem ser extintos ou convertidos em capital principal, de forma que estariam sujeitos a perda durante a existência da instituição.

61/ Os valores dos requerimentos mínimos convergem para o padrão internacional conforme o cronograma estabelecido pela Resolução nº 4.193, de 2013.

439,0 482,6 618,9

167,8 205,1

410,3

Capital principal Nível I Capital total

Nov2013

0

140

280

420

560

700

Capital regulatório Requerimento de capital

R$ bilhões

Gráfico 2.5.2 – Capital regulatório e requerimento de capital

50% 54%

78% 79%

8%22%

42%24%

22% 21%

0

100

200

300

400

500

Jun Nov Jun Nov

Público comercial Privado

R$ bilhões

Capital principal Capital complementar Nível II

Gráfico 2.5.3 – Participação dos tipos de capital

24,1

-9,7

0,8 0,4 0,4-2,9

0,2

13,3

0

5

10

15

20

25

A B C D E F G H

R$ bilhões

Gráfico 2.5.4 – Decomposição da variação do PR2º semestre de 2013

A = Lucro líquidoB = Distribuição de juros sobre o capital próprio, dividendos e recompra de açõesC = Aumento de capitalD = Dívidas subordinadas e instrumentos híbridos de capital e dívida

F = Ajuste TVM e derivativosG = Outros

E = Ajuste prudencial

H= Variação total (PR nível I + PR nível II + ajustes)

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 33

aplicando-se os ajustes em sua plenitude, e considerando-se o requerimento de capital que vigorará em 2019, o qual inclui a exigência de adicional de capital principal de 2,5% do RWA,63 o sistema manter-se-ia enquadrado (tabela 2.5.1 e gráfi co 2.5.5).

O exame dos bancos segregados por controle, público comercial e privado, demonstra que os últimos são mais afetados pelos ajustes prudenciais progressivos. No entanto, como apresentam atualmente maior folga de capitalização, chegariam ao fi nal do período nessa simulação em condição mais confortável que os bancos públicos.

Analisando individualmente os bancos, apresenta-se a simulação da aplicação imediata da regulamentação que entrará em vigor em 2019. O resultado sugere que a maioria das instituições do SFN estaria apta a cumprir a regulamentação estabelecida (gráfi co 2.5.7). O conjunto das instituições com defi ciência de capital principal não teria grande difi culdade de ajustes, considerando-se o prazo para adaptação e a necessidade de R$10,1 bilhões em recursos adicionais, equivalente a 59,0% do lucro

63/ A Resolução nº 4.193, de 2013, estabelece a exigência de um adicional variável de capital principal. Sua exigência começará a partir de 2016, com valores entre 0,625% e 1,25% dos RWA crescendo progressivamente até o intervalo entre 2,5% e 5% do RWA em 2019.

Tabela 2.5.1 – Índices de capitalização2º semestre de 2013

Exigência regulatória1/

2019Tipo de capital

Projeção dosistema2/

7,0% Capital principal / RWA 9,5%

8,5% Capital nível I / RWA 10,1%

10,5% Capital total / RWA 11,1%

2/ Considerando-se ajustes prudenciais plenamente efetivos.1/ A exigência prevista inclui 2,5% do RWA para o adicional de capital principal.

0

3

6

9

12

15

0

20

40

60

80

100

2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Capital principal T1RWA Exigência_CP (eixo à esq.)ICP (eixo à esq.) Exigência_T1 (eixo à esq.)IPR1 (eixo à esq.)

Gráfico 2.5.5 – Projeção dos agregados1/ e dos índices de capitalização

1/ Valores de novembro de 2013 = 100%

%%

0

2

5

7

10

12

2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

p.p.

Público comercial Privado

Gráfico 2.5.6 – Margem de capital principal sobre RWA

líquido dessas instituições no período de doze meses terminado em outubro de 2013.

Em relação ao RWA do sistema bancário, constatou-se elevação de R$3.590,2 bilhões em junho de 2013 para R$3.730,0 bilhões (tabela 2.5.2) em novembro. O crescimento de 6,0% do RWA referente às exposições ao risco de crédito (RWACPAD) foi influenciado por compromissos de crédito, títulos e valores mobiliários, consignado e fi nanciamento imobiliário.

Já o RWA referente às exposições sujeitas ao risco de mercado apresentou retração de 24,4% entre junho e novembro de 2013, reduzindo sua participação no total do RWA. No consolidado do SFN, houve diminuição do prazo médio ponderado (duration) da exposição a juros prefi xados e a cupom de índice de preços, o que, aliado à diminuição da volatilidade, resultou em redução do requerimento de capital, quando comparado ao semestre anterior.

Como consequência das alterações no mix da carteira de crédito, algumas linhas ganharam participação no RWA. Apesar do maior crescimento da carteira de crédito

0 0

5

12

12

1002

2

8

12 1095

0

12

24

36

48

60

0-4,5 4,5-7 7-9 9-11 11-13 >13

2013 20191/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com índice de

%

Gráfico 2.5.7 – Distribuição de frequência para o índice de capital principal ponderado pelos ativos1/

Outubro de 2013 versus janeiro de 2019

%

capital pertencente àquele intervalo.

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 34

imobiliário, esses fi nanciamentos, por apresentarem fatores de ponderação de risco menores, registraram leve aumento na participação, de 5,4% para 5,5% do RWA, enquanto o crédito consignado aumentou sua participação de 4,2% para 4,4%.

Concluindo, a solvência do sistema bancário continua elevada, mesmo diante de regras mais rígidas, tendo apresentado estabilidade ao longo do segundo semestre de 2013, apoiada pela retomada do crescimento do capital, manutenção da relação capital/ativos e leve redução no FPR-m.

Projeta-se, no médio prazo, continuidade da melhora na qualidade do capital regulatório, considerando-se que a retenção de lucros tende a ser a principal responsável pela evolução do capital regulatório em um cenário de redução do crescimento dos instrumentos de dívida elegíveis a capital.

2.6 Testes de estresse de capital

Os testes de estresse de capital têm o objetivo de avaliar o impacto potencial de alterações extremas e adversas nas variáveis econômicas e fi nanceiras sobre os balanços das instituições do sistema bancário. Considerando-se que um

único modelo não é capaz de mensurar os diferentes riscos a que o sistema bancário está exposto, foram desenvolvidas abordagens complementares para avaliar a resistência das instituições fi nanceiras. Entre as abordagens apresentadas, destacam-se as análises de cenário e de sensibilidade.64

Embora os efeitos não sejam lineares para todas as instituições e algumas apresentem limites operacionais inadequados como resultado das simulações, o sistema bancário brasileiro apresenta adequada capacidade de suportar tanto os efeitos de choques decorrentes de cenários adversos por seis trimestres consecutivos, quanto mudanças abruptas nas taxas de juros, de câmbio ou na inadimplência.

2.6.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas

As análises de cenário avaliam o impacto na inadimplência e, consequentemente, no nível de provisões e nos índices de capitalização das IFs, decorrentes de cenário de deterioração econômica. São utilizadas duas abordagens. A primeira pressupõe um cenário ad hoc no qual as classifi cações de risco de todas as operações de crédito dadas pela Resolução nº 2.682, de 21 de dezembro de 1999, são rebaixadas em dois níveis, sem hipótese sobre as causas desse rebaixamento.

A segunda baseia-se em modelo estatístico que relaciona cenários macroeconômicos ao risco de crédito da carteira de empréstimos e fi nanciamentos das IFs. Essa análise contempla quatro cenários para um horizonte de tempo de seis trimestres consecutivos e projeta a inadimplência a partir desses cenários. Todos eles são caracterizados pelo comportamento do produto e das taxas de juros, de câmbio e de infl ação, além de choques externos medidos pelo prêmio de risco Brasil e pelos juros americanos.

O cenário-base65 representa as expectativas do mercado. O pior cenário histórico simula a repetição do comportamento das variáveis macroeconômicas em janelas de dezoito meses desde julho de 1998. É escolhido o cenário que projeta a inadimplência mais alta. O cenário VAR a 5% simula o pior caso para cada variável macroeconômica independentemente e projeta

64/ Para detalhes sobre a metodologia dos testes de estresse, ver anexo “Conceitos e Metodologias – Estresse de capital”.

65/ Cenário obtido das expectativas de mercado para as principais variáveis da economia (Fonte: Relatório de mercado – Focus).

Tabela 2.5.2 – Evolução do RWA

Valor % Valor %

RWA 3.590,2 100,0 3.730,3 100,0

Risco de crédito 3.153,8 87,8 3.345,8 89,7Financiamento imobiliário 192,3 5,4 205,0 5,5

Crédito consignado 151,3 4,2 164,3 4,4

Veículos 154,2 4,3 156,0 4,2

Operações de varejo 201,6 5,6 209,7 5,6Demais operações decrédito 973,0 27,1 1.043,8 28,0Aplicações interfinanceirasde liquidez 133,5 3,7 94,0 2,5

TVM e derivativos 257,4 7,2 287,6 7,7Garantias, avais, fiançase coobrigações prestadas 250,5 7,0 260,2 7,0

Créditos tributários 179,9 5,0 192,7 5,2Compromisso de créditonão cancelávelincondicional e unilateralmente 133,0 3,7 162,5 4,4

Permanente 185,8 5,2 194,1 5,2

Demais exposições 341,5 9,5 375,9 10,1

Risco de mercado 245,9 6,8 185,8 5,0

Risco operacional 190,5 5,3 198,7 5,3

2013

NovJun

R$ bilhões

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 35

as demais variáveis macroeconômicas com base nas relações obtidas por meio do modelo VAR. Novamente, é escolhida, entre as simulações de cada série, aquela que projeta a maior inadimplência. O cenário de quebra estrutural simula os valores mais desfavoráveis para as variáveis macroeconômicas simultaneamente, desprezando as relações do modelo VAR. A tabela 2.6.1 compara o conjunto de cenários utilizados na projeção das inadimplências mostradas no gráfi co 2.6.1.

Ao simular a inadimplência para os cenários macroeconômicos que refletem as expectativas de mercado, o pior cenário histórico ou o cenário VAR a 5%, conclui-se que as provisões constituídas em novembro de 2013 seriam sufi cientes para absorver perdas com a inadimplência projetada até maio de 2015.

Na simulação do cenário de quebra estrutural, a inadimplência superaria levemente as provisões constituídas em 0,1 p.p., atingindo um pico de 5,3% no fi nal do período de avaliação.

A inadimplência somente superaria signifi cativamente as provisões constituídas no cenário ad hoc, com o rebaixamento de dois níveis na classifi cação das carteiras de crédito. Nesse caso, a diferença seria de 6,0 p.p., com uma inadimplência projetada de 11,2%.

Em nenhum dos cenários de inadimplência simulados, haveria insufi ciência de capital no sistema para atender aos requisitos regulamentares. A projeção dos índices de capital no cenário de quebra estrutural, simulação que resultaria na maior inadimplência projetada, é mostrada no gráfi co 2.6.2.

Tabela 2.6.1 – Cenários de estresse macroeconômico (maio de 2015)

Cenários Nov/2013 Cenário base1/ Modelo VAR (α = 5%) Quebra estrutural Pior histórico2/

Produto

(IBC-Br) 2,4% 1,9% -2,0% -2,0% -3,1%

Juros

(Selic) 9,2% 11,9% 20,3% 27,7% 7,5%

Câmbio

(R$/US$) 2,25 2,49 3,26 4,11 2,44

Inflação

(IPCA) 5,5% 5,8% 3,0% 5,0% 3,5%

Prêmio de risco

(EMBI+Br) 234 234 743 743 259

Juros americanos

(Treasury 10 anos) 2,7% 2,7% 5,7% 5,7% 2,5%

2/ Período iniciado em maio de 2008.

Adversos

1/ As variáveis obtidas da pesquisa Focus são a previsão para o PIB, a Selic, o câmbio e a inflação. As demais variáveis são mantidas constantes por todo o período de projeção.

0,0

2,4

4,8

7,2

9,6

12,0

Nov2013

Fev2014

Mai Ago Nov Fev2015

Mai

Consenso de mercado (Focus)Quebra estruturalProvisões constituídas (nov/2013)VAR estressado (α = 5%)Cenário ad hoc (nov/2013)Pior histórico

Gráfico 2.6.1 – Estresse macroeconômico Inadimplência projetada %

3

6

9

12

15

18

Nov2013

Fev2014

Mai Ago Nov Fev2015

Mai

Índice de Basiléia Índice de capital nível 1

Índice de capital principal Mínimos regulatórios

Gráfico 2.6.2 – Estresse macroeconômico Índices de adequação de capitalCenário de quebra estrutural

%

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 36

2.6.2 Análise de sensibilidade

A análise de sensibilidade consiste na aplicação de variações incrementais nas taxas de juros, de câmbio e na inadimplência, e na mensuração do efeito isolado das variações de cada uma dessas variáveis sobre o PL e os IBs das instituições fi nanceiras, mantendo-se os demais fatores de risco inalterados.

Utilizando como referência a maior variação positiva, para a taxa de juros de seis meses, verifi cada em uma janela móvel de 21 dias úteis desde 1999, a análise de sensibilidade66 revela que oito instituições fi nanceiras fi cariam desenquadradas (2,5% dos ativos do sistema) caso as taxas de juros aumentassem para 16,5% a.a. (gráfico 2.6.3). Na direção oposta, utilizando como referência a maior variação negativa verifi cada desde 1999, se os juros se reduzissem a 6,0% a.a., cinco instituições fi nanceiras apresentariam desenquadramento (0,2% do sistema). Em todas as situações examinadas, nenhuma instituição fi nanceira fi caria insolvente.

A análise de sensibilidade à taxa de câmbio mostra que nenhuma instituição fi nanceira fi caria desenquadrada e/ou insolvente para valores da taxa de câmbio entre 0,23 e 4,65.

O resultado da análise de sensibilidade ao risco de crédito67 indica que somente a partir de 13,0% de inadimplência, a representatividade das instituições desenquadradas seria elevada a 28,9% dos ativos do

66/ Os choques aplicados levam as taxas de juros e de câmbio a até 10% do seu valor original no cenário de queda e a até 200% do seu valor original no cenário de elevação.

67/ Os choques incrementais elevam a inadimplência a até 4,5 vezes do seu valor percentual original.

0,0

2,4

4,8

7,2

9,6

12,0

0,0

3,6

7,2

10,8

14,4

18,0

1% 4% 7% 10% 13% 16% 19%

Ativos do sistema (%)

Gráfico 2.6.3 – Análise de sensibilidadeRisco de taxa de juros

Índice de Basileia Índice de capital nível 1Índice de capital principal IFs em insolvênciaIFs desenquadradas

Taxa de juros de 6 meses (%)

Índice de Basileia (%)

Máxima variação em 21 dias desde jan/1999Negativa Positiva

0

8

16

24

32

40

0

4

8

12

16

20

3 6 9 12 15

Ativos do sistema (%)

Índice de Basileia Índice de capital nível 1Índice de capital principal IFs desenquadradasIFs em insolvência

Inadimplência média do sistema (%)

Provisão constituída

atual

Inadimplência nocenário de quebra estrutural

(mai/2015)

Gráfico 2.6.4 – Análise de sensibilidadeRisco de crédito

Índice de Basileia (%)

sistema, com o desenquadramento de uma instituição de grande porte. Quanto à insolvência, seria necessário que a inadimplência alcançasse 6,2% para que uma instituição que representa 0,02% dos ativos do sistema fi casse com seu capital principal (CP) negativo. Na situação mais extrema de 15,3% de inadimplência, seis instituições fi cariam insolventes, representando 0,3% dos ativos do sistema (gráfi co 2.6.4).

Demonstrando sua elevada capacidade para suportar situações adversas, os índices de capitalização do sistema se mantêm sempre acima dos mínimos regulamentares em todas as análises de sensibilidade.

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Tendo em vista a relevância que a oscilação do preço dos imóveis tem para a estabilidade fi nanceira e com o objetivo de medir o impacto direto que uma diminuição nos preços de imóveis residenciais representaria para o Sistema Financeiro Nacional (SFN), o Banco Central do Brasil (BCB) desenvolveu um teste de estresse que estima os efeitos desse impacto no capital e em sua exigência para as instituições bancárias. Dessa maneira, são avaliados os efeitos da inadimplência de fi nanciamentos imobiliários decorrente de quedas nos valores das garantias sobre os índices de capital do sistema. Alternativamente, tal análise permite verifi car qual seria a desvalorização dos imóveis necessária para desenquadrar o sistema1.

Os valores das dívidas de fi nanciamento habitacional e dos respectivos imóveis residenciais vinculados como garantia por meio de alienação fi duciária tiveram como fonte o Sistema de Informações de Crédito (SCR). A avaliação inicial de cada imóvel foi atualizada pelo Índice de Valores IVG-R – Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais.2 A proporção entre a dívida em aberto e o valor presente da garantia constitui o loan-to-value (LTV) atualizado de cada operação.

O teste consiste em simular quedas crescentes em intervalos de 5% no valor das garantias e verifi car o novo LTV de cada operação. Os fi nanciamentos nos quais o novo valor do imóvel representa menos de 90%3 da dívida serão considerados como inadimplentes.

1/ Técnica conhecida como teste de estresse reverso.2/ Disponível no Sistema Gerenciador de Séries Temporais (SGS), sob

o código 21340. Para detalhes da metodologia, ver o boxe “Evolução dos valores de imóveis residenciais no Brasil” do Relatório de Estabilidade Financeira de março de 2013.

3/ A relação entre o montante da dívida em aberto e o valor do imóvel que lhe serve de garantia, conhecida como loan-to-value ratio (LTV), consiste em importante incentivo para o mutuário continuar o pagamento das parcelas, tendo em vista que para os fi nanciamentos imobiliários com alienação fi duciária, nos termos da Lei nº 9.514, a dívida é extinta quando da venda em leilão do imóvel.

Análise de Sensibilidade do Sistema Financeiro Nacional a Variações Negativas dos Preços de Imóveis Residenciais

Apesar de, em tempos de normalidade, o valor da venda do imóvel cobrir quase totalmente o valor do empréstimo inadimplente, considera-se que, nesse exercício de estresse, o valor recuperado pelo banco após venda em leilão do imóvel equivale a 70% do preço da residência após a atualização pelo IVG-R e a respectiva queda.

O impacto sofrido pelos bancos constitui-se da diferença entre o valor da dívida e o montante considerado como recuperado. A transmissão desse impacto para os índices de capital e os critérios de desenquadramento e insolvência seguem a mesma metodologia da análise de sensibilidade para o risco de crédito da sessão 2.6.2.4

O gráfico 1 apresenta os resultados da análise de sensibilidade a quedas nos preços de imóveis residenciais. Observa-se que o desenquadramento de algum banco só aconteceria com um decréscimo de 45% nos preços, enquanto uma queda de 55% seria necessária para levar um banco à insolvência. Ambos os choques são maiores do que a queda acumulada,

4/ Para detalhes sobre a metodologia dos testes de estresse, ver anexo “Conceitos e Metodologias – Estresse de capital”.

0

4

8

12

16

20

3,0

6,2

9,4

12,6

15,8

19,0

0 15 30 45 60 75 90

preços de imóveis residenciais

Índice de Basileia IFs desenquadradasIFs em insolvência Índice de capital nível 1Índice de capital principal

Queda acumulada do S&P Case-Shiller 10 (EUA) durante a crise.do

subprime (abr/06 a mai/09)

Ativos do sistema (%)

Queda acumulada nos preços de imóveis residenciais (%)

Índice de Basileia (%)

Gráfico 1 – Sensibilidade do SFN a quedas nos

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 38

ocorrida em um período de três anos, entre os valores máximo e mínimo dos imóveis residenciais nos Estados Unidos da América durante a recente crise do subprime, de 33%. Além disso, o SFN como um todo não fi caria desenquadrado mesmo em casos extremos de desvalorização.

Dessa forma, conclui-se que o SFN é resistente ao impacto direto causado por grandes oscilações nos preços dos imóveis residenciais. Entre os fatores que ajudam a explicar essa resistência, estão o LTV médio de concessão em níveis seguros; o sistema de amortização constante (SAC) utilizado, que promove uma redução mais rápida do saldo devedor que outros sistemas conhecidos (por exemplo, Price); a constituição de provisões superiores ao mínimo regulamentar; e a capitalização do sistema em níveis elevados.

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3Sistema de Pagamentos Brasileiro

O Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB)68 funcionou de forma efi ciente e segura no segundo semestre de 2013.

As análises de backtesting, periodicamente realizadas para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira, nos quais há uma entidade atuando como contraparte central (CPC), apresentaram resultados satisfatórios ao longo do semestre. No que tange às garantias exigidas nesses sistemas, não foi observada defi ciência de cobertura do risco de crédito apresentado pelos participantes. Os cenários utilizados para o cálculo de margem foram satisfatórios, quando comparados às variações dos fatores de risco efetivamente ocorridas no mercado.

Nos sistemas de transferência de fundos, a liquidez intradia agregada disponível continuou acima das necessidades das instituições fi nanceiras participantes, o que garante que as liquidações ocorram com tranquilidade, sobretudo no que diz respeito ao Sistema de Transferência de Reservas (STR).

3.1 Desempenho dos sistemas de transferência de fundos

Durante o segundo semestre de 2013, o funcionamento do STR foi normal, apresentando, ao fi nal do período, índice de disponibilidade de 99,9%, dentro da meta regulamentar estabelecida para sistemas desse tipo, de, no mínimo, 99,8% de disponibilidade.

Com relação à quantidade de transações (gráfi co 3.1.1), o principal período de concentração se manteve entre 16h e 17h30, representando 28,4% do giro nesse semestre.

68/ O SPB compreende os sistemas de transferência de fundos e de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moedas estrangeiras.

No segundo semestre de 2013, os títulos públicos permaneceram como a principal fonte de liquidez intradia do sistema (gráfi co 3.1.2). Em média, a necessidade de liquidez intradia agregada do sistema foi de 2,1% da liquidez intradia disponível.

0

200

400

600

800

1.000

Jan2013

Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

R$ bilhões

Títulos vinculados ao compulsórioTítulos livresCompulsóriosReservas início de diaNecessidade efetiva de liquidez

Gráfico 3.1.2 – Necessidade de liquidez intradia

0

20

40

60

80

100

0

3

6

9

12

15

6:30 8:00 9:30 11:00 12:30 14:00 15:30 17:00 18:30 20:00

% acumulado%

Faixa: média +/- desvio padrãoPercentual médioPercentual médio acumulado

Gráfico 3.1.1 – STR Quantidade – Perfil intradia (2º semestre de 2013)

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 40

Não houve alterações signifi cativas na distribuição da necessidade efetiva de liquidez intradia (tabela 3.1.1) entre o primeiro e o segundo semestre de 2013. Com 110 das 130 instituições fi nanceiras na faixa de baixo percentual de necessidade de liquidez (inferior a 20%), dezessete na faixa de percentual intermediário de necessidade de liquidez (entre 20% e 80% do potencial) e três com necessidade de liquidez acima de 80% do potencial, mas representando 0,2% dos pagamentos totais efetuados, o cenário de distribuição de liquidez permanece confortável para garantir a fl uidez dos pagamentos. O volume e a distribuição de liquidez foram adequados para garantir a liquidação das ordens de transferência de fundos, não havendo ocorrência de travamento de pagamentos (gridlock) no período considerado.

Os demais sistemas de transferência de fundos69 também apresentaram funcionamento normal.

3.2 Desempenho dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio

Nas análises de backtesting da Câmara de Ações da BM&FBovespa (BM&FBovespa – Ações) (gráfico 3.2.1) e da Câmara de Derivativos da BM&FBovespa (BM&FBovespa – Derivativos) (gráfi co 3.2.2), o valor

69/ O Comunicado nº 25.164, de 23 de janeiro de 2014, relaciona os sistemas de transferência de fundos do SPB, identifi cados como sistemas de pagamento

máximo de risco fi nanceiro líquido (RFL)70 encontrado para os dois participantes mais críticos representaram, respectivamente, 5,5% e 10,3% das salvaguardas adicionais disponíveis (por exemplo, fundos mutualizados).

Para a Câmara de Câmbio da BM&FBovespa (BM&FBovespa – Câmbio), o valor do RFL foi nulo em todo o período, visto que as garantias individuais foram sufi cientes para cobrir as exposições geradas pelos participantes (gráfi co 3.2.3). Com relação ao risco de liquidez em reais, houve quatro dias em que as linhas de liquidez contratadas pela BM&FBovespa não seriam sufi cientes para converter as garantias em reais e cobrir a inadimplência simultânea dos dois maiores devedores (gráfico 3.2.4), apesar de o montante das garantias depositadas suportarem o risco de crédito.

70/ O RFL representa o custo em que a câmara incorreria para encerrar a carteira de um determinado participante, caso se tornasse inadimplente, subtraído do total de garantias por ele constituídas, com base nas variações reais dos preços dos ativos. Representa, pois, a parcela de exposição ao risco que não é coberta pelas garantias individuais do participante. Para cada dia, são considerados os dois participantes aos quais a câmara é mais exposta, isto é, os dois participantes que apresentarem maior valor de RFL.

Tabela 3.1.1 – STRNecessidade efetiva de liquidezPercentual da necessidade efetiva

de liquidez em relação à

disponibilidade total de liquidez Nº de IF %1/ Nº de IF %1/

De 0 a 10% 99 92,4 97 90,7De 10 a 20% 14 2,8 13 4,4De 20 a 30% 6 1,2 6 1,5De 30 a 40% 4 0,9 4 1,5De 40 a 50% 2 0,7 3 0,9De 50 a 60% 2 0,6 2 0,4De 60 a 70% 2 0,8 1 0,4De 70 a 80% 1 0,4 1 0,1De 80 a 90% 1 0,2 1 0,1De 90 a 100% 2 0,2 2 0,1Total 133 100,0 130 100,0

1/ Participação percentual dos pagamentos efetuados pelas instituições que se enquadram na classe em relação ao giro financeiro total.

2013

1º semestre 2º semestre

0

600

1 200

1 800

2 400

3 000

0

100

200

300

400

500

1.72013

23.7 13.8 2.8 23.8 13.9 4.10 25.10 18.11 10.12

Risco financeiro líquido Risco financeiro

RF (R$ milhões)RFL (R$ milhões)

Fontes: BM&FBovespa e BCB

Gráfico 3.2.2 – BM&FBovespa – Câmara de derivativosRisco financeiro e risco financeiro líquido

0

2.500

5.000

7.500

10.000

12.500

0

200

400

600

800

1.000

1.72013

24.7 15.8 6.9 30.9 22.10 13.11 9.12

Risco financeiro líquido Risco financeiro

RF (R$ milhões)RFL (R$ milhões)

Fontes: BM&FBovespa e BCB

Gráfico 3.2.1 – BM&FBovespa – Câmara de açõesRisco financeiro e risco financeiro líquido

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 41

As garantias depositadas na BM&FBovespa – Ações (tabela 3.2.1) foram compostas, majoritariamente, por ações e títulos públicos federais, enquanto as depositadas na BM&FBovespa – Derivativos (tabela 3.2.2) foram compostas, majoritariamente, por títulos públicos federais. A totalidade das garantias depositadas na BM&FBovespa – Câmbio foi composta por títulos públicos federais e dinheiro, em moeda nacional e estrangeira.

No segundo semestre de 2013, as variações acumuladas de dois dias nos principais fatores primitivos de risco (FPR), utilizados pela BM&FBovespa – Derivativos para cálculo de garantias, mantiveram-se dentro dos limites estabelecidos em seus cenários de estresse (tabela 3.2.3).

A acurácia71 do modelo de risco utilizado pela BM&FBovespa – Derivativos na determinação dos níveis de garantia individuais dos seus participantes permaneceu acima dos 99% (gráfico 3.2.5) recomendados pelos Princípios para Infraestruturas do Mercado Financeiro.

71/ O nível de acurácia é defi nido como a proporção de acertos de um modelo de gerenciamento de riscos em um determinado período de tempo. No caso de câmara de liquidação atuando como contraparte central (CPC), o nível de acurácia é dado, simplifi cadamente, pelo número de vezes em que as garantias requeridas dos participantes foram superiores ao risco de fato incorrido pela CPC, dividido pelo número total de participantes que tiveram sua exposição ao risco verifi cada, em um determinado período de tempo.

0,00

0,40

0,80

1,20

1,60

2,00

0,00

0,04

0,08

0,12

0,16

0,20

1.72013

18.7 6.8 23.8 11.9 30.9 17.10 5.11 25.11 12.12

Risco financeiro líquido Risco financeiro

RF (R$ milhões)RFL (R$ milhões)

Fontes: BM&FBovespa e BCB

Gráfico 3.2.3 – BM&FBovespa – Câmara de câmbioRisco financeiro e risco financeiro líquido

0

80

160

240

320

400

1.72013

19.7 7.8 26.8 13.9 2.10 22.10 8.11 2.12 19.12

Falha de um membro da câmara Falha de dois membros da câmara

Gráfico 3.2.4 – BM&FBovespa – Câmara de câmbioDeficit de liquidez

R$ milhões

Fontes: BM&FBovespa e BCB

Tabela 3.2.1 – BM&FBovespa – Câmara de açõesGarantias por tipo de ativo1/

%

Jul Ago Set Out Nov Dez

Ações 49,3 52,2 54,0 54,5 52,1 53,5

Título público 46,8 43,4 41,8 41,2 43,6 42,5

Título internacional 1,4 1,9 1,8 1,9 2,2 2,0

CFI2/ 1,4 1,5 1,4 1,4 1,3 1,3

CDB3/ 0,4 0,4 0,4 0,3 0,3 0,3

Dinheiro 0,4 0,5 0,5 0,6 0,4 0,4

Outros 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1

Fontes: BM&FBovespa e BCB

1/ Consideram-se apenas garantias vinculadas.2/ Carta de fiança interbancária.3/ Certificado de depósito bancário.

2013Discriminação

Tabela 3.2.2 – BM&FBovespa – Câmara de derivativosGarantias por tipo de ativo

%

Jul Ago Set Out Nov Dez

Tít. públicos federais 93,5 93,1 93,3 92,6 93,0 93,1

Cartas fiança 2,1 2,3 2,2 2,4 2,4 2,3

CDB 1,0 1,1 0,9 1,2 0,9 0,9

Ações 2,8 2,9 2,9 3,1 3,1 3,1

Ouro 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0

Dinheiro 0,5 0,5 0,5 0,6 0,4 0,5

Outros 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1

Fontes: BM&FBovespa e BCB

2013Discriminação

Tabela 3.2.3 – BM&FBovespa – Câmara de derivativosFatores primitivos de risco (FPR)

%

Mín1/ Máx1/ N2/ Confiança

do VaR3/

Ibovespa a vista -28 30 0 99

Dólar a vista -39 28 0 99

Pré 42 -4 17 0 99

Pré 126 -12 29 0 99

Pré 252 -16 28 0 99

Pré 756 -28 23 0 99

DDI4/ 180 -13 10 0 99

DDI 360 -9 12 0 99

DDI 1080 -15 12 0 99

Fontes: BM&FBovespa e BCB1/ Segundo semestre de 2013.2/ N é o número de exceções observadas na amostra de tamanho T.3/ Teste de Kupiec, T = 255 dias.4/ Cupom cambial.

Discriminação

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 42

99,0

99,2

99,4

99,6

99,8

100,0

1.72013

1.8 2.9 2.10 1.11 5.12

Gráfico 3.2.5 – BM&FBovespa – Câmara de derivativosAcurácia do cálculo do risco de crédito1/

1/ Estimativas de acurácia do modelo de cálculo de garantias individuais,

Fontes: BM&FBovespa e BCB

realizadas com janela móvel dos últimos três meses (63 dias).

%

No segundo semestre de 2013, foram realizadas no Sistema Central de Cessões de Crédito – C3, 281 operações de cessão, envolvendo 3.314.192 contratos e 162.857.211 parcelas num montante fi nanceiro de R$ 22,1 bilhões. Em comparação com o primeiro semestre de 2013, trata-se de uma redução de 6% em termos de quantidade de cessões e de uma queda de 16% em termos de valor fi nanceiro.

Tabela 3.2.4 – Visão geral do Sistema de Pagamentos Brasileiro: 2º semestre de 2013Principais operações Giro – Valor Giro – Quantidade Forma de Poder de Economia Contraparte

liquidadas Média diária Média diária liquidação compensação de liquidez central

R$ bilhões Mil operações Média diária

R$ bilhões

Sistemas de Trans-

ferência de Fundos

STR Selic, câmaras, TED1/ e

outros pagamentos

críticos2/ 916,4 127,5 LBTR - - - CIP-Sitraf TED1/ 14,2 758,4 Híbrido - - - CIP-Siloc Boleto de pagamento3/,

cartão de pagamento4/ e

DOC 12,2 20972,4 LDL 84,3 10,3 - Compe Cheque5/ 4,5 3447,6 LDL 92,3 4,1 -

Sistemas de com-

pensação e liquida-

ção de ativos

Selic Títulos públicos

federais 802,0 6,6 LBTR - - Não

BM&FBovespa –

derivativos Mercadorias, futuros,

opções e swaps 3,0 127,4 LDL 0,8 2,3 Sim

BM&FBovespa –

câmbio Câmbio interbancário 3,6 0,1 LDL 0,5 1,6 Sim

BM&FBovespa – Títulos públicos

ativos federais 0,0 0,0 LDL 0,0 0,0 Sim

BM&FBovespa – Ações e outros títulos priv. 0,1 0,01 LBTR - - Não

ações 7,1 863,0 LDL 0,9 6,5 Sim

Cetip Títulos privados, títulos

estaduais e municipais 21,9 2,8 LBTR - - Não

e swaps 14,4 3,0 LDL 0,3 4,4 Não

CIP-C3 Cessão de crédito 0,2 0,0 LBTR - - Não

1/ Transferência eletrônica disponível que envolve cliente e por conta de IF.2/ Incluída a liquidação bilateral de cheques de valor unitário igual ou superior a R$250 mil e de boletos de pagamentos com valor unitário igual ou superior a R$250 mil.3/ CIP-Siloc liquida boletos de pagamento de valor unitário menor que R$250 mil.4/ CIP-Siloc liquida alguns cartões de pagamento.5/ Compe liquida cheques de valor unitário menor que R$250 mil.

Discriminação

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A Lei nº 12.810, de 15 de maio de 2013, defi niu, em seus artigos de 22 a 28, a atividade de depósito centralizado e de registro de ativos fi nanceiros e de valores mobiliários e estabeleceu competência para o Banco Central do Brasil (BCB) e para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), nas suas respectivas áreas de competência, de autorizar, supervisionar e estabelecer condições para o exercício dessas atividades.

A crise econômica iniciada em 2008 deu destaque, internacionalmente, ao papel das “infraestruturas do mercado fi nanceiro” na manutenção da estabilidade financeira dos países. Tal expressão denomina um amplo conjunto de entidades que realizam atividades relacionadas à transferência de fundos, ao gerenciamento de riscos, à compensação e à liquidação, incluindo a atividade de registro e de depósito centralizado de ativos financeiros e de valores mobiliários.

O depósito centralizado destina-se a imobilizar determinado ativo nos sistemas da entidade denominada depositário central, de modo que seja transferida a titularidade fi duciária do ativo para essa entidade, que será a única autorizada a registrar as movimentações da titularidade efetiva do ativo ou valor mobiliário depositado. A Lei deixa claro que os ativos fi nanceiros e os valores mobiliários assim detidos não se confundem com o patrimônio da entidade que prestar o serviço, criando a proteção necessária para os reais titulares de tais ativos.

Já o registro compreende a escrituração, o armazenamento e a publicidade de informações referentes a transações financeiras que possuem como principais benefícios agregar informações sobre operações de forma centralizada e dar transparência às posições assumidas pelas instituições.

Depósito Centralizado e Registro de Ativos Financeiros e de Valores Mobiliários

O depósito centralizado e o registro de ativos fi nanceiros no Brasil contribuem para a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional, com a movimentação dos ativos fi nanceiros e valores mobiliários sendo realizada de forma centralizada, além de proporcionar melhor fl uxo de informações, de forma padronizada, para o monitoramento da estabilidade das instituições. A tipificação legal de entidades de registro e de depositários centrais apresenta potencial de trazer maior transparência na prestação desses serviços, aumentando a segurança e a efi ciência do mercado.

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À luz das novas competências atribuídas pela Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013, o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central do Brasil (BCB) editaram, em 4 de novembro de 2013, normas1 disciplinando arranjos e instituições de pagamento. Trata-se da primeira regulamentação para o setor, objetivando ser minimamente sufi ciente para estruturá-lo, de forma regulamentar, e estabelecer os processos de autorização, supervisão e vigilância.

Esse novo arcabouço normativo buscou estabelecer condições mínimas para a oferta segura de serviços de pagamento, estimular a competição, com a entrada de novos atores, e potencializar o surgimento de modelos mais competitivos e efi cientes, criando, portanto, um ambiente mais inclusivo e favorável a inovações em pagamentos de varejo.

O CMN estabeleceu as diretrizes a serem observadas pelo BCB na regulamentação, supervisão e vigilância e, em linha com os objetivos estabelecidos pela Lei, direcionou as ações desta autarquia no sentido de promover a interoperabilidade, a inovação, a solidez, a efi ciência, a competição, o acesso não discriminatório aos serviços e às infraestruturas, o atendimento às necessidades dos usuários finais e a inclusão fi nanceira. Além disso, estendeu à oferta de contas de pagamento os dispositivos relacionados à prevenção de riscos na contratação de operações e na prestação de serviços aplicáveis às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil.

Com base nos direcionamentos dados pelo CMN, o BCB editou normas sobre a prestação de serviço de pagamento no âmbito dos arranjos de pagamentos,

1/ Resoluções nº 4.282 e nº 4.283 e circulares nº 3.680, nº 3.681, nº 3.682 e nº 3.683.

Regulamentação do Conselho Monetário Nacional e Banco Central do Brasil para Arranjos e Instituições de Pagamento

autorização para funcionamento das instituições de pagamento, gerenciamento de riscos por essas instituições e utilização das contas de pagamento.

O processo de autorização dos arranjos de pagamento2 será pautado na avaliação de sua segurança e efi ciência. Espera-se que, por meio de regras claras, promovam, ainda, a competição entre os participantes e a inclusão fi nanceira da população.

Já os processos de autorização e de supervisão de instituições de pagamento3 terão como foco a verifi cação da solidez da própria instituição, em seus aspectos operacionais, fi nanceiros e de governança. Nesse primeiro momento, foram regulamentadas três modalidades de serviços de pagamento: emissão de instrumento pós-pago, emissão de moeda eletrônica e credenciamento.

Para promover o adequado funcionamento dessas instituições, foram estabelecidos requisitos mínimos a serem cumpridos no que diz respeito ao gerenciamento de seus riscos.4 Assim, essas instituições deverão manter estrutura adequada de gerenciamento de riscos operacionais, de liquidez e de crédito, bem como cumprir requerimentos mínimos de patrimônio. A fi m de proteger os recursos dos clientes, as instituições emissoras de moeda eletrônica deverão depositar em conta específi ca no BCB os recursos correspondentes ao valor do saldo das moedas eletrônicas mantidas em contas de pagamento.

Por fim, criou-se5 a conta de pagamento, nas modalidades pré-paga e pós-paga, como conta para

2/ Circular nº 3.682.3/ Circular nº 3.683.4/ Circular nº 3.681.5/ Circular nº 3.680.

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registro de transações de pagamento de usuários fi nais. Essas contas devem ser identifi cadas por usuário fi nal, que pode ser tanto uma pessoa física quanto jurídica. Com o objetivo de promover a inclusão fi nanceira, contas com baixa movimentação apresentam simplifi cações na identifi cação.

Com o propósito de assegurar a adequada adaptação de sistemas, procedimentos e rotinas dos arranjos e das instituições de pagamento já em funcionamento ao disposto na regulamentação, foi estabelecido prazo de 180 dias para entrada em vigor das normas a partir da data de sua publicação.

Dessa forma, as normas passam a ter efetividade plena a partir do início de maio de 2014.

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4Organização do Sistema Financeiro Nacional

4.1 Introdução

O segmento de instituições bancárias neste segundo semestre de 2013 foi marcado por movimentações orgânicas de baixo impacto na estrutura do setor, tais como mudanças de objeto social e incorporações envolvendo instituições do mesmo conglomerado.

Em relação ao segmento das instituições não bancárias, merecem destaque as reduções ocorridas nos quantitativos de cooperativas de crédito, sociedades de arrendamento mercantil e distribuidoras de títulos e valores mobiliários, decorrentes de cancelamentos de autorização para funcionamento por inatividade, mudanças de objeto social, liquidações ordinárias e processos de incorporações.

4.2 Instituições bancárias

As movimentações orgânicas relativas ao segmento bancário no semestre foram as seguintes:

Autorização para funcionamento:

• Banco de Câmbio: MSB Bank S.A. Banco de Câmbio, em 23.10.2013;

Mudanças de objeto social:

• Do segmento não bancário para o bancário:

- Toyota Leasing do Brasil S.A. Arrendamento Mercantil (de Sociedade de Arrendamento Mercantil para Banco Múltiplo), em 15.7.201372;

72/ Trata-se de eventos inter-relacionados – incorporação e mudança de objeto social –, nos quais a Toyota Leasing do Brasil S.A. incorpora o Banco Toyota do Brasil S.A. e, em seguida, muda o seu objeto social, assumindo a mesma denominação da instituição incorporada.

- Bankpar Arrendamento Mercantil S.A. (de Sociedade de Arrendamento Mercantil para Banco Múltiplo), em 31.10.2013;

• Dentro do segmento bancário:

- Banco CR2 (de Banco Comercial para Banco Múltiplo), em 17.9.2013;

- Banco Bracce S.A. (de Banco Múltiplo para Banco Comercial), em 3.10.2013;

Liquidações Extrajudiciais:

• Conglomerado rural:

- Bancos múltiplos:

▪ Banco Rural S.A., em 2.8.2013;

▪ Banco Mais S.A., em 2.8.2013;

▪ Banco Simples S.A., em 2.8.2013;

- Banco de investimentos:

▪ Banco Rural de Investimentos S.A., em 2.8.2013;

Incorporações:

• De Bancos Múltiplos:

- Banco Itaucred Financiamentos S.A., pelo Itaú Unibanco S.A., em 16.9.2013;

- Banco Toyota do Brasil S.A., pela Toyota Leasing do Brasil S.A. Arrendamento Mercantil, em 15.7.2013.

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Com base na relação de eventos acima apresentada e nos dados da tabela 4.2.1, constata-se que o segmento bancário foi marcado por movimentos que não alteraram de forma signifi cativa a confi guração do setor, os quais envolveram, notadamente, mudanças de objeto social, liquidações extrajudiciais e incorporações envolvendo instituições integrantes do mesmo conglomerado fi nanceiro.

Observando-se os quantitativos de instituições bancárias por segmentos, apresentados na tabela 4.2.2, percebe-se que as variações ocorridas no semestre mantiveram-se em linha com as que têm sido registradas desde o segundo semestre de 2012.

No tocante aos quantitativos de agências por regiões geográfi cas, conforme a tabela 4.2.3, a rede de agências da região Centro-Oeste apresentou no semestre taxa de crescimento de 4,4%, a qual é superior às taxas registradas pelas demais regiões, que fi caram entre 1,1% e 1,7%. Vale ressaltar que esse perfi l de crescimento é diferente do que vinha ocorrendo desde o primeiro semestre de 2011, uma vez que as regiões Norte e Nordeste vinham apresentando crescimento das suas redes de agências mais intenso que o das demais regiões do país.

Em relação aos quantitativos de agências bancárias sob a ótica da origem de capital das instituições, os quais constam na tabela 4.2.4, verifi ca-se evolução equivalente à que vem ocorrendo desde o primeiro semestre de 2012, caracterizada por crescimento mais expressivo das redes dos bancos públicos, de menor intensidade para os bancos sob controle estrangeiro e estabilidade das redes dos bancos sob controle de capital privado nacional.

Tabela 4.2.1 – Movimentação orgânica no SFNProcessos aprovados e publicados no Diário Oficial da União -Julho a dezembro de 2013

Eventos BM BC BI B Câmb CFI DTVM CTVM CC SAM SCM Coop

Autorização - - - 1 - 1 - 2 - 2 3

Cancelamento - - - - - 5 - 3 - 2 12

Incorporação 2 - - - - - 1 - - - 23

Cisão - - 1 - - - - - 1 - -

Mudança deobjeto social

- entrada 3 1 - - - - - - - - - - saída 1 1 - - - - - - 2 - -

Liquidaçãoextrajudicial 3 - 1 - - 1 - - - - 1 Intervenção - - - - - - - - - - - RAET - - - - - - - - - - -

Fonte: Diário Oficial da União

Tipo de instituição 2011 2012Dez Dez Jun Dez

Bancos

Múltiplos 139 137 135 132

Nacionais sem particip. estrang. 69 66 64 62

Nacionais com particip. estrang.2/ 16 15 16 15

Sob controle estrangeiro 54 56 55 55

Comerciais e filiais de bancos

estrangeiros 20 22 22 22

Nacionais sem particip. estrang. 11 12 12 11

Nacionais com particip. estrang.2/ 1 1 1 1

Sob controle estrangeiro 2 3 3 4

Filiais de bancos estrangeiros 6 6 6 6

Desenvolvimento 4 4 4 4

Investimento 14 14 15 14

Câmbio 2 2 2 3

Caixa Econômica Federal 1 1 1 1

Sociedades

Arrendamento mercantil 31 30 31 28

Crédito, financiamento

e investimento 59 58 58 58

Crédito ao

microempreendedor 42 40 38 38

Crédito imobiliário, associações

de poupança e empréstimo

e repassadoras 1/ 14 12 11 11

Corretoras de títulos e valores

mobiliários 99 94 93 92

Corretoras de câmbio 47 57 62 62

Distribuidoras de títulos e

valores mobiliários 126 118 119 115

Agências de fomento 16 16 16 16

Companhias hipotecárias 8 7 8 8

Cooperativas 1.312 1.254 1 226 1.192

Administradoras de consórcio 284 222 204 199

Total 2.218 2.088 2.045 1.995

1/ As SCI-Repassadoras não captam recursos do público.

do capital votante, conforme Carta-Circular nº 2.345, de 25 de janeiro de 1993.

2013

2/ Levaram-se em consideração somente as participações maiores ou iguais a 10%

Tabela 4.2.2 – Evolução do quantitativo de instituições financeiras autorizadas

Quantidade de agências

2010 2011 2012

Dez Dez Dez Jun Dez

Nordeste 2.828 3.215 3.474 3.568 3.609

Norte 832 985 1.067 1.087 1.106

Centro-Oeste 1.512 1.610 1.698 1.744 1.820

Sudeste 10.851 11.386 11.725 11.845 12.024

Sul 3.790 4.080 4.254 4.313 4.359

Total 19.813 21.276 22.218 22.557 22.918

2013Região

Tabela 4.2.3 – Distribuição de agências bancárias por região

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 48

As autorizações de transferência de controle acionário concedidas no semestre envolvendo instituições do segmento bancários são as seguintes:

• transferência do controle acionário do Banco Intercap S.A. e de sua controlada, Distribuidora Intercap de Títulos e Valores Mobiliários S.A., para o Banco Indusval S.A., em 24.9.2013;

• transferência do controle acionário do Banco Citicard S.A. (conglomerado financeiro Citibank) para o Banco Itaucard S.A (conglomerado fi nanceiro Itau Unibanco), em 12.12.2013.

Ambas as operações acima citadas foram caracterizadas como ato de concentração e por isso foram analisadas quanto aos impactos nas condições de concorrência nos mercados envolvidos. Sob esse aspecto, a operação envolvendo o Banco Intercap foi aprovada sem restrições. O processo relativo ao Banco Citicard S.A., por sua vez, foi aprovado com restrições, de forma a mitigar os efeitos decorrentes da operação nos níveis de concentração e concorrência no mercado de operações de crédito envolvendo cartões.

4.3 Níveis de concentração no Sistema Financeiro Nacional

O BCB monitora sistematicamente os níveis de concentração do SFN. Para isso, utiliza o índice de Herfi ndahl-Hirschmann (IHH),73 a Razão de Concentração

73/ O IHH é utilizado pelas autoridades nacionais e internacionais de defesa da concorrência como instrumento acessório na avaliação de níveis de concentração econômica. Conforme o Guia para Análise de Atos de Concentração, divulgado pelo Comunicado nº 22.366, de 27 de abril de 2012, o BCB considera que mercados que registraram valores para o IHH situados entre 0 e 0,1 são considerados de baixa concentração; entre 0,1 e 0,18 de moderada concentração; e acima de 0,18 de elevada concentração. O IHH é obtido pelo somatório do quadrado da participação de cada instituição fi nanceira (IF) no mercado considerado: IHH = (IF1)2 + (IF2)2 +... + (IFn)2.

Quantidade de agências

Discriminação 2010 2011 2012

Dez Dez Dez Jun Dez

Público 8.322 8.534 9.315 9.616 9.951

Privado nacional 7.998 9.124 9.206 9.225 9.200

Estrangeiro 3.493 3.618 3.697 3.716 3.767

Total 19.813 21.276 22.218 22.557 22.918

1/ Bancos múltiplos, comerciais e a Caixa Econômica Federal.

2013

Tabela 4.2.4 – Número de agências bancárias1/ por origem de capital

dos quatro maiores (RC4)74 e dos dez maiores participantes (RC10) nos ativos totais, nas operações de crédito e nos depósitos totais do segmento bancário.

Os valores dos indicadores de concentração para o segmento bancário relativos ao segundo semestre de 2013 (dezembro/2013), para cada um dos três agregados contábeis, acima citados, são os seguintes:

• IHH – Índice Herfi ndahl-Hirschmann:

- Ativos totais: 0,1355;

- Operações de crédito: 0,1553;

- Depósitos totais: 0,1643;

• RC4 – Razão de Concentração para os quatro maiores participantes:

- Ativos totais: 69,83%;

- Operações de crédito: 73,85%;

- Depósitos totais: 75,85%;

• RC10 – Razão de Concentração para os dez maiores participantes:

- Ativos totais: 89,32%;

- Operações de crédito: 91,53%;

- Depósitos totais: 91,15%.

Diante dos dados acima apresentados, percebe-se que, para os três agregados contábeis, o IHH manteve-se dentro do intervalo considerado como de moderada concentração, segundo referência adotada pelo BCB, uma vez que os valores mantiveram-se entre 0,1 e 0,18.

Os gráfi cos 4.3.1, 4.3.2 e 4.3.3 apresentam a evolução de dezembro de 2005 a dezembro de 2013 do IHH, RC4 e RC10, do segmento bancário.

Para auxiliar as análises envolvendo os níveis de concentração do segmento bancário, na tabela 4.3.1 e no gráfi co 4.3.4 constam as participações por tipos de origem de capital nos saldos das operações de crédito (conta 3.1.0.00.00-0 do Plano Contábil das Instituições do

74/ O RC4 e o RC10 representam a participação acumulada dos quatro e dos dez maiores concorrentes, respectivamente, em cada mercado.

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 49

Sistema Financeiro Nacional [Cosif]) do segmento, que abrange exclusivamente os bancos múltiplos com carteira comercial, bancos comerciais e Caixa Econômica Federal, excluindo, portanto, as demais instituições do SFN.

No gráfico 4.3.4 , constata-se leve redução na taxa de crescimento da participação dos bancos públicos no mercado de crédito do segmento bancário, em relação ao crescimento que vinha ocorrendo desde o segundo semestre de 2011. Entretanto, os indicadores de concentração relativos a operações de crédito não apresentaram alteração no movimento ascendente iniciado no primeiro semestre de 2012, como bem mostram os gráfi cos 4.3.1; 4.3.2 e 4.3.3.

4.4 Instituições não bancárias

Entre as movimentações ocorridas no semestre nos segmentos de instituições não bancárias, merecem destaque as reduções nos quantitativos das cooperativas de

0,08

0,10

0,12

0,14

0,16

0,18

Dez2013

Dez2012

Dez2011

Dez2010

Dez2009

Dez2008

Dez2007

Dez2006

Dez2005

IHH

Ativos Operações de crédito Depósitos

Gráfico 4.3.1 – Evolução dos níveis de concentração –Segmento bancário

50

56

62

68

74

80

Dez2013

Dez2012

Dez2011

Dez2010

Dez2009

Dez2008

Dez2007

Dez2006

Dez2005

RC4 %

Ativos Operações de crédito Depósitos

Gráfico 4.3.2 – Evolução dos níveis de concentração –Segmento bancárioRazão de concentração – RC4

75

79

83

87

91

95

Dez2013

Dez2012

Dez2011

Dez2010

Dez2009

Dez2008

Dez2007

Dez2006

Dez2005

RC10 %

Ativos Operações de crédito Depósitos

Gráfico 4.3.3 – Evolução dos níveis de concentração –Segmento bancárioRazão de concentração – RC10

Dezembro de 2013%

Discriminação Ativos totais Depósitos totais

Operações de crédito

Bancos1/

Públicos 39,7 51,7 46,2

Privados 60,3 48,3 53,8

Nacionais 41,0 33,5 38,3

Nacionais com participação estrangeira2/ 2,6 1,8 1,2

Nacionais com controle estrangeiro3/ 15,7 12,1 13,6

Filiais de bancos estrang. 1,1 0,9 0,7

Total 100,0 100,0 100,0

Econômica Federal.

e menor que 50%.

Tabela 4.3.1 – Participação dos conglomerados e das instituições independentes do segmento bancário nos principais agregados contábeis

1/ Incluem bancos múltiplos com carteira comercial, bancos comerciais e a Caixa

2/ Somatório das participações estrangeiras no capital votante maior ou igual a 10%

3/ Somatório das participações estrangeiras no capital votante maior que 50%.

0

10

20

30

40

50

Dez2007

Dez2008

Dez2009

Dez2010

Dez2011

Dez2012

Dez2013

%

Público Privado nacional Controle estrangeiro

Gráfico 4.3.4 – Evolução das participações por origem de capital nas operações de crédito dosegmento bancário

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 50

crédito, das distribuidoras de títulos e valores mobiliários e das sociedades de arrendamento mercantil (SAM).

Quanto ao segmento de cooperativas de crédito, houve redução de 34 instituições, o que equivale a 2,8% do número total de cooperativas. De mesma forma que nos três semestres anteriores, esse decréscimo advém de processos de cancelamentos de autorização para funcionamento por inatividade operacional e de ingressos no regime de liquidação ordinária. Além disso, também foram autorizados diversos pleitos de incorporações, resultantes do processo em curso de fortalecimento do setor cooperativista.

Em relação às distribuidoras de títulos e valores mobiliários, identifi cou-se redução de quatro unidades no quantitativo de entidades do segmento, 3,4% do total. Esse fato refl ete o movimento de consolidação pelo qual vem passando o setor de corretagem e distribuição de títulos e valores imobiliários.

No tocante às sociedades de arrendamento mercantil, o quantitativo de instituições desse segmento foi reduzido em três entidades, 9,7% do total. Essa movimentação resulta de duas mudanças de objeto social para banco múltiplo e de uma ocorrência de cisão parcial de patrimônio.

4.5 Participação estrangeira no Sistema Financeiro Nacional

A participação do capital estrangeiro na composição societária das instituições integrantes do SFN não apresentou alterações relevantes no semestre.

Quanto às instituições sob controle estrangeiro, ocorreram as seguintes operações de transferência de controle:

Entre investidores estrangeiros de países diferentes:

• Banco WestLB do Brasil S.A. – transferência do controle societário de investidor de origem Alemã para o Mizuho Corporate Bank, Ltd., sediado no Japão, em 5.5.2013;

• NBC Bank Brasil S.A. – Banco Múltiplo – até então sob controle de capital de origem Uruguaia (Nuevo Banco Comercial), transferência de controle para o Banco Continental S.A.E.C.A., sediado no Paraguai, em 7.11.2013;

De capital privado nacional para estrangeiro:

• Banco CR2 S.A. – transferência indireta do controle de investidor privado nacional para o ABN AMRO Bank N.V., sediado na Holanda, em 17.9.2013.

Entre as ocorrências acima apresentadas, vale destacar a operação envolvendo o ABN AMRO Bank, que marca o retorno da instituição, de origem holandesa, ao SFN.

Com base nos dados constantes da tabela 4.5.1, referentes aos quantitativos de instituições por tipos de controle, percebe-se um aumento de três instituições sob controle de capital estrangeiro. Esse fato, além das ocorrências de transferência de controle acima relacionadas, demonstram que o sistema fi nanceiro nacional mantém-se atrativo perante investidores internacionais.

Em relação às participações minoritárias de estrangeiros no capital votante das instituições do SFN, que também constam da tabela 4.5.1, não ocorreram movimentações que viessem a alterar a confi guração atual do sistema.

4.6 Participação de instituições financeiras brasileiras no exterior

No tocante às participações no exterior das instituições integrantes do SFN, merecem destaque as autorizações concedidas ao Banco BTG Pactual para constituição das seguintes subsidiárias no exterior:

• BTG Pactual Casa de Bolsa, S.A. de C.V., na Cidade do México (México), em 10.9.2013;

• Banco BTG Pactual Luxembourg S.A., em Luxemburgo, Grão-Ducado de Luxemburgo, em 28.11.2013.

Tabela 4.5.1 – Instituições financeiras com controleou participação minoritária estrangeira no país1/

Discriminação2/ 2009 2010 2011 2012

Dez Dez Dez Dez Jun Dez

Com controle (> 50%)3/ 130 133 129 130 130 133

Com participação (≥ 10% e < 50%) 28 41 49 43 38 37

Total 158 174 178 173 168 170

1/ Instituições bancárias e instituições financeiras de outro tipo.2/ Participação no capital votante.3/ O valor referente a junho/2013 foi retificado de 128 para 130.

2013

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Março 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 51

5Regulação do Sistema Financeiro Nacional

5.1 Aperfeiçoamentos e inovações recentes em regulamentações do SFN

5.1.1 Regulação do mercado de crédito: portabilidade e correspondentes no país

A manutenção de ambiente saudável no mercado de crédito é fator essencial para a estabilidade do sistema fi nanceiro. Nesse sentido, a portabilidade do crédito, procedimento que possibilita ao devedor transferir uma operação de crédito para outra instituição fi nanceira em condições de pagamento mais favoráveis, constitui importante mecanismo para o aumento da concorrência no mercado fi nanceiro, contribuindo para o aumento da efi ciência e para a redução do custo do crédito.

Esse mecanismo foi aprimorado pela Resolução nº 4.292, de 20 de dezembro de 2013, mediante o estabelecimento de obrigação de as instituições envolvidas utilizarem sistema eletrônico para a troca de informações, visando à efetivação da portabilidade a pedido do devedor. Essa regra deverá ser observada a partir de maio de 2014. A utilização de sistema eletrônico uniformiza procedimentos e prazos para a realização da portabilidade, garantindo celeridade e eficácia ao processo. Além disso, essa sistemática assegura à instituição credora original prazo e condições para a apresentação de contraproposta ao cliente, com eventual oferta de condições fi nanceiras do contrato que a possibilite manter seu cliente, tornando a competição mais saudável e indutora de maior efi ciência e menores custos no mercado.

A importância dessa medida se ressalta também em razão do papel dos correspondentes no país no processo de distribuição de crédito. Acerca de tal papel, de modo a melhor disciplinar essa participação, foi editada a

Resolução nº 4.294, de 20 de dezembro de 2013, a qual estabeleceu que a partir de 2 de janeiro de 2015 o pagamento da remuneração aos correspondentes contratados para o serviço de recepção e de encaminhamento de propostas de operações de crédito deve passar a ser realizado da seguinte forma:

I – na contratação da operação: pagamento a vista de até 6% do valor da operação, relativo aos esforços desempenhados na captação do cliente quando da originação da operação; e

II – ao longo da operação: pagamento pro rata temporis ao longo do prazo do contrato do percentual restante, enquanto a operação permanecer no balanço do banco, relativo a outros serviços prestados após a originação.

No caso de operações objeto de portabilidade, o pagamento a vista fica limitado a 3% do valor de operação. Além disso, o pagamento da remuneração ao longo do prazo da operação deve ser interrompido no caso de liquidação antecipada da operação.

Visando a aprimorar a gestão da originação das operações de crédito, a regulamentação passou a exigir que a instituição contratante implemente sistemática de monitoramento e controle acerca da viabilidade econômica de cada operação de crédito ou de arrendamento mercantil, cuja proposta seja encaminhada por correspondente, com a produção de relatórios gerenciais contemplando todas as receitas e despesas envolvidas.

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5.1.2 Critérios para concessão de financiamento imobiliário

O Conselho Monetário Nacional aprovou, em 30 de setembro de 2013, a Resolução nº 4.271, estabelecendo critérios para concessão de crédito imobiliário a pessoas físicas garantidas por imóveis residenciais, e atualizando os limites máximos de avaliação e de valor de fi nanciamento de imóveis no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH).

A medida incorporou ao nosso arcabouço regulatório as melhores práticas verifi cadas no mercado imobiliário brasileiro, que, de forma geral, mostra-se bastante conservador no que concerne aos critérios de concessão e de avaliação do risco de crédito, resultado de sua experiência e da evolução e aprimoramento das regras que disciplinam esse segmento do mercado de crédito desde a criação do SFH pela Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964. Tais práticas estão também em consonância com as recomendações do Financial Stability Board, que, no início de 2012, publicou documento estabelecendo um conjunto de princípios que devem nortear a concessão de fi nanciamentos imobiliários residenciais.

Em relação aos limites do SFH, a Resolução nº 4.271, de 2013, atualiza o valor máximo de avaliação de imóveis para R$650 mil, bem como o valor de fi nanciamento, que, entre principal e despesas acessórias, não pode ser superior a 80% do valor de avaliação do imóvel. O valor máximo, contudo, pode atingir R$750 mil, nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo e no Distrito Federal, e o percentual máximo pode alcançar 90% do valor de avaliação para fi nanciamentos que prevejam a utilização do Sistema de Amortização Constante.

Busca-se com essas medidas aprimorar a regulamentação do mercado de crédito imobiliário, estabelecendo-se requisitos em consonância com as melhores práticas nacionais e internacionais, adequadas à nova realidade do mercado imobiliário.

5.1.3 Certificado de Operações Estruturadas

A regulamentação do Certificado de Operações Estruturadas (COE), por meio da Resolução nº 4.263, de 5 de setembro de 2013, do Conselho Monetário Nacional, teve o objetivo de disciplinar determinadas operações praticadas no sistema financeiro que combinavam

características de investimento com estrutura de rentabilidades típica de instrumentos financeiros derivativos. Negociadas de forma dispersa por meio de contratos derivativos, tais operações ofereciam uma série de obstáculos ao seu acompanhamento tempestivo por parte do Banco Central. Dessa forma, a regulação dessas operações contribui para uma maior transparência, favorecendo a adoção de procedimentos de monitoramento e de supervisão mais efi cazes e efi cientes.

Importante frisar que a criação do COE se insere em um contexto de amadurecimento e de sofi sticação de nosso mercado de capitais, no qual os agentes buscam, cada vez mais, perfi s de investimento com prazos mais alongados e maiores expectativas de rentabilidade, características que são perfeitamente compatíveis com a natureza desse produto fi nanceiro. Por ser dotado de grande versatilidade, o certifi cado cria a possibilidade de as instituições fi nanceiras e os investidores atuantes no mercado nacional acessarem uma variedade muito maior de investimentos, com estruturas e estratégias adequadas a seu perfi l de atuação.

Dado que o COE pode apresentar um grau de sofi sticação maior do que as modalidades convencionais de investimento disponíveis, o normativo apresenta também uma série de dispositivos voltados para assegurar a adequação do produto ao seu público e a ampla compreensão por parte do investidor, bem como requisitos mínimos adicionais aos processos de controles operacionais e de gestão de riscos das instituições emissoras.

O Banco Central editou também em 20 de novembro de 2013 dois novos normativos contendo dispositivos referentes ao COE. A Circular nº 3.685, que estabeleceu critérios para avaliação da signifi cância de investimento inicial em COE em relação aos seus resultados potenciais. Tal circular tem o propósito de evidenciar a natureza de captação do COE, distinguindo-o de estruturas puramente alavancadas, típicas de instrumentos derivativos convencionais. Nesse sentido, foram estabelecidos cinco critérios que reforçam essa característica, bem como complementam e trazem maior clareza a outros requisitos atinentes ao certifi cado.

Por sua vez, a Circular nº 3.684 defi niu metodologia padronizada para a realização de análise de sensibilidade do valor de mercado do COE, para fi ns de informação à entidade administradora do sistema de registro. De acordo com o disposto nessa regra, a instituição fi nanceira emissora de COE deve estimar os percentuais de variação

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no valor de mercado do produto correspondentes a choques positivos e negativos em seus ativos subjacentes. Busca-se, dessa maneira, permitir que a unidade de monitoramento do Banco Central realize estudos quantitativos relacionados ao risco de cada instrumento, sendo capaz de identifi car, inclusive, suas não linearidades e demais características relevantes.

5.1.4 Arranjos e instituições de pagamento

O marco regulatório que disciplina a autorização e o funcionamento de arranjos e instituições de pagamento, em conformidade com os preceitos estabelecidos na Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013, foi instituído por meio da Resolução nº 4.282, de 4 de novembro de 2013, e das circulares nº. 3.680, nº 3.681, nº 3.682 e nº 3.683, todas de 4 de novembro de 2013. Conforme estabelecido pela referida legislação, trata-se de uma regulamentação mínima para o setor, sem prejuízo de novas ações regulatórias posteriores, após avaliação de outros segmentos de pagamento caracterizados em lei.

Os arranjos e instituições de pagamento podem ser entendidos como as regras e as instituições que permitem ao cidadão realizar transações de pagamentos sem a necessidade de intermediação de uma instituição fi nanceira. Como refl exo, busca-se promover a ampliação do processo de inclusão fi nanceira e de concorrência no setor de pagamentos de varejo, o que pode resultar em benefícios diretos ao usuário fi nal, tais como maior acesso a serviços, melhoria da qualidade e maior conveniência e possibilidade de redução de preços.

A instituição do marco regulatório disciplina processos e instituições de pagamento visando a um sistema de pagamentos efi ciente e seguro. Assim, além de possibilitar a mitigação de riscos, também potencializa o papel de indutor dos agentes públicos na busca de modelos que atendam aos interesses da sociedade, em sintonia com as políticas públicas existentes. Ademais, traz a segurança jurídica necessária para os altos investimentos demandados a esses novos esquemas de pagamento.

O Conselho Monetário Nacional, por intermédio da Resolução nº 4.282, de 2013, estabeleceu as diretrizes gerais que devem ser observadas pela regulação e supervisão do Banco Central relativamente às necessidades dos usuários finais, entre as quais a confi abilidade, a privacidade, a transparência e acesso

a informações, a liberdade de escolha e tratamento não discriminatório, bem como a inclusão fi nanceira e a inovação, em consonância com o disposto na Lei nº 12.865, de 2013.

Em conformidade com as diretrizes estabelecidas, o Banco Central editou normas que disciplinam: i) a classifi cação, a autorização e o processo de vigilância dos arranjos de pagamento; ii) as modalidades e a autorização de instituições de pagamento; iii) as contas de pagamento; e iv) o processo de gerenciamento de risco e de salvaguarda dos recursos mantidos em contas de pagamento.

Com o propósito de assegurar adequada adaptação de sistemas, procedimentos e rotinas dos arranjos e das instituições de pagamento já em funcionamento ao disposto na regulamentação do Banco Central, foi estabelecido prazo de 180 dias para entrada em vigor das normas, contado a partir da data de publicação dos atos normativos.

5.2 Aprimoramentos nas regulamentações prudenciais

Em 2013, foram editados normativos que disciplinaram aspectos ainda não contemplados da estrutura de capital das instituições fi nanceiras recomendada pelo Comitê de Basileia para Supervisão Bancária, como as regras para uso de modelos internos para apuração do requerimento de capital para o risco operacional. Foram também promovidos aprimoramentos na estrutura de capital segundo as recomendações e o cronograma de implementação, em seu conjunto conhecidas por Basileia III, referentes à defi nição do capital, ao requerimento de capital e à divulgação de informações.

Essencialmente, as recomendações de Basileia III objetivam aumentar a qualidade e quantidade do capital das instituições fi nanceiras, a fi m de tornar o sistema fi nanceiro mais resiliente e reduzir riscos e custos para o setor público e para os demais setores da economia real decorrentes de eventuais crises bancárias. O objetivo primário de Basileia III é o de aperfeiçoar a capacidade de as instituições fi nanceiras absorverem choques provenientes do sistema fi nanceiro ou dos demais setores da economia e ainda reduzir o risco de contágio do setor fi nanceiro sobre o setor real da economia. Em última análise, as recomendações visam auxiliar a manutenção da estabilidade fi nanceira e a promoção do crescimento econômico sustentável.

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Basileia III manteve a defi nição do capital, aprimorando seus requisitos, bem como a estrutura em três pilares e os requerimentos de capital para os riscos de crédito, de mercado e operacional. Foram também introduzidos por Basileia III montantes complementares de capital, conhecidos por buffers (conservação e contracíclico, no Brasil combinados no Adicional de Capital Principal), além de exigências quantitativas de liquidez e limites de alavancagem e, ainda, a alocação de capital suplementar para instituições sistemicamente importantes.

5.3 Modernização das regulamentações de câmbio e de capitais internacionais

5.3.1 Adiantamento sobre Contrato de Câmbio

Uma das formas mais empregadas pelo mercado para propiciar ao exportador, antes do embarque, recursos fi nanceiros que viabilizem a exportação é o adiantamento sobre contrato de câmbio (ACC). Constitui antecipação total ou parcial do valor em moeda nacional correspondente à moeda estrangeira vendida a termo pelo exportador a banco autorizado.

A regulamentação cambial estabelece que, no caso de contratação prévia, o prazo máximo entre a contratação de câmbio e o embarque da mercadoria ou da prestação do serviço é de 360 dias. Verifi cada a incapacidade de a empresa cumprir as suas obrigações, dado o prazo regulamentar, seria requerida a baixa ou o cancelamento dos contratos de câmbio, com incidência do encargo fi nanceiro previsto na Lei nº 7.738, de 9 de março de 1989.

Em outubro de 2013, o BCB aprovou medida que passou a permitir a ampliação do prazo para a realização do embarque ou prestação do serviço relativos a contratos de câmbio de exportação. A prerrogativa é válida em situações específicas, desde que o período entre a contratação e a liquidação do contrato de câmbio não ultrapasse 1,5 mil dias.

A medida visou a tratar situações específi cas de contratos de câmbio pendentes de embarque ou de prestação de serviços em razão de problemas alheios à vontade do exportador, documentalmente comprovados, ou ainda em casos de requerimento de recuperação judicial e de ajuizamento de pedido de falência do exportador.

5.3.2 Recebimento antecipado de exportações

O recebimento antecipado de exportação é a antecipação de recursos que o exportador brasileiro recebe de pagador no exterior para ser utilizada no fi nanciamento de sua produção.

Desde dezembro de 2012, o prazo para antecipação de recebimento de exportação estava limitado a 1,8 mil dias. Considerando-se as mudanças nos cenários econômicos externo e interno verifi cadas no primeiro semestre de 2013, entendeu-se importante que produtores de bens exportáveis, principalmente aqueles com perfi l de produção superior a cinco anos, tivessem suas alternativas de fi nanciamento de longo prazo ampliadas, podendo contar, inclusive, com os benefícios tributários decorrentes da atividade de exportação.

Assim, em julho de 2013, foi proposto e aprovado o fi m da limitação de prazo de cinco anos para o recebimento antecipado de exportação.

5.3.3 Adaptação da regulamentação cambial e de capitais internacionais aos novos códigos de classificação das operações de câmbio

No primeiro semestre de 2013, o BCB criou nova estrutura de codifi cação para classifi cação das operações de câmbio, reduzindo em aproximadamente 40% a quantidade de códigos, buscando maior facilidade na classifi cação das operações de câmbio e maior acurácia nas informações dos contratos de câmbio. A nova codifi cação também permitiu adaptar os códigos de classifi cação à evolução dos padrões internacionais de coleta de informações para a elaboração do balanço de pagamentos, o que permitirá maior adequação metodológica entre as informações prestadas nos contratos de câmbio e os estudos elaborados pelo BCB.

Em dezembro de 2013, visando adaptar as normas cambiais e de capitais internacionais aos novos códigos de classifi cação das operações de câmbio, o Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais Internacionais (RMCCI) foi substituído por quatro circulares dispondo sobre: i) a regulamentação do mercado de câmbio; ii) os códigos de classifi cação das operações de câmbio; iii) a regulamentação dos capitais internacionais – os capitais brasileiros no exterior e os capitais estrangeiros

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no Brasil; e iv) o Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR).

O novo formato de divulgação dessa regulamentação, além de harmonizado com os demais normativos do BCB, também reforça o processo de simplifi cação das regras cambiais e contribui para facilitar o processo de atualização e de consulta de tais normativos. Nesse processo, também foram feitas diversas alterações na regulamentação, com o objetivo de tornar seus comandos mais claros e de leitura mais fácil.

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Ao longo de 2013, o Brasil participou do Regulatory Consistency Assessment Programme (RCAP), que consiste em programa de avaliação do Comitê de Basileia para Supervisão Bancária quanto ao grau de aderência da regulamentação prudencial de um país membro aos padrões mínimos acordados no âmbito do referido Comitê e referendados pelo G20. O Brasil é membro do Comitê de Basileia desde 2009.

Ao final do RCAP, que incluiu um processo de autoavaliação e a visita de equipe de especialistas do Comitê, o resultado da avaliação do arcabouço regulamentar brasileiro foi publicado pelo Comitê de Basileia, e a nota fi nal atribuída foi Compliant, ou seja, em plena conformidade, o nível mais alto da escala de avaliação. Dos quatorze componentes avaliados, onze foram considerados como Compliant. Os demais componentes da avaliação foram considerados como em conformidade ampla (Largely Compliant).

A equipe de avaliadores foi composta por representantes de autoridades supervisoras de países também integrantes do Comitê, como Alemanha, Suécia, França e Índia, e por representantes do secretariado da entidade. No processo de avaliação, ocorreram reuniões presenciais da equipe de avaliação com a diretoria e equipes técnicas do Banco Central do Brasil e também com instituições fi nanceiras nacionais, fi rmas de auditoria e agências de classifi cação de crédito estabelecidas no Brasil.

O Brasil foi o sétimo integrante do Comitê a participar do processo RCAP. As jurisdições da União Europeia, Estados Unidos, China, Japão, Suíça e Cingapura foram avaliadas anteriormente. Estão em andamento a avaliação da Austrália e do Canadá e a reavaliação da União Europeia e dos Estados Unidos.

Resultado do Regulatory Consistency Assessment Programme

O resultado da avaliação denota o compromisso do Brasil na adoção dos melhores padrões internacionais em termos de defi nição de capital regulamentar e requerimentos mínimos de capital. O RCAP, em conjunto com o Programa de Avaliação do Setor Financeiro (Financial Sector Assessment Program [FSAP]), realizado em 2012 conjuntamente pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional, confi rmou a solidez e a resiliência do sistema fi nanceiro brasileiro.

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Trabalhos para Discussão que versam sobre estabilidade financeira

Os Trabalhos para Discussão não devem ser citados como representando o ponto de vista do BCB. As opiniões expressas nos trabalhos são exclusivamente do(s) autor(es) e não refl etem, necessariamente, a visão do BCB.

343. Exposição Cambial e Assunção de Risco dos Bancos Atuantes no BrasilSolange Maria Guerra, Benjamin Miranda Tabak e Rodrigo Andrés de Souza PeñalozaDezembro/2013 Resumo Texto completo

342. How much random does European Union walk? A time-varying long memory analysisA. Sensoy e Benjamin M. TabakDezembro/2013 Resumo Texto completo

338. Um Estudo sobre Comportamento de Tomadores e Ofertantes no Mercado de CréditoTony Takeda e Paulo Evandro DawidDezembro/2013 Resumo Texto completo

337. Opacidade e Crédito Bancário: evidências empíricas a partir da NYSE e da NASDAQ Helder Ferreira de Mendonça, Renato Falci Villela Loures e Délio José Cordeiro GalvãoNovembro/2013 Resumo Texto completo

335. Why Prudential Regulation Will Fail to Prevent Financial Crises. A Legal Approach Marcelo Madureira PratesNovembro/2013 Resumo Texto completo

334. Análise do Comportamento dos Bancos Brasileiros Pré e Pós-Crise Subprime Osmani Teixeira de Carvalho Guillén, José Valentim Machado Vicente e Claudio Oliveira de MoraesNovembro/2013 Resumo Texto completo

333. Do Capital Buffers Matter? A Study on the Profi tability and Funding Costs Determinants of the Brazilian Banking System Benjamin Miranda Tabak, Denise Leyi Li, João V. L. de Vasconcelos e Daniel O. CajueiroNovembro/2013 Resumo Texto completo

328. Mercados Financeiros Globais – Uma Análise da Interconectividade Marcius Correia Lima Filho, Rodrigo Cesar de Castro Miranda e Benjamin Miranda TabakOutubro/2013 Resumo Texto completo

325. Teste da Hipótese de Mercados Adaptativos para o Brasil Glener de Almeida Dourado e Benjamin Miranda TabakSetembro/2013 Resumo Texto completo

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324. Infl ation Targeting and Financial Stability: A Perspective from the Developing World Pierre-Richard Agénor e Luiz A. Pereira da SilvaSetembro/2013 Resumo Texto completo

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Apêndice

Administração do Banco Central do Brasil

Siglas

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Administração do Banco Central do Brasil

Diretoria Colegiada

Alexandre Antonio TombiniPresidente

Aldo Luiz MendesDiretor

Altamir LopesDiretor

Anthero de Moraes MeirellesDiretor

Carlos Hamilton Vasconcelos AraújoDiretor

Luiz Awazu Pereira da SilvaDiretor

Luiz Edson FeltrimDiretor

Sidnei Corrêa MarquesDiretor

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Siglas

a.a. Ao anoACC Adiantamento sobre contrato de câmbioBB Banco do BrasilBC Banco comercialBCâmb Banco de câmbioBCB Banco Central do BrasilBCE Banco Central EuropeuBI Banco de investimentoBM Banco múltiploBM&FBovespa Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São PauloBM&FBovespa – Ações Câmara de Ações da BM&FBovespaBM&FBovespa – Câmbio Câmara de Câmbio da BM&FBovespaBM&FBovespa – Derivativos Câmara de Derivativos da BM&FBovespaBNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e SocialCC Sociedade corretora de câmbioCDB Certifi cado de depósito bancárioCDS Credit default swapCEF Caixa Econômica FederalCetip Central de Liquidação e Custódia de Títulos PrivadosCFI Sociedade de crédito, fi nanciamento e investimentoCMN Conselho Monetário NacionalCompe Centralizadora da Compensação de ChequesCoop Cooperativa de créditoCopom Comitê de Política MonetáriaCP Capital principalCPC Contraparte centralCR Comprometimento de rendaCTVM Corretora de títulos e valores mobiliáriosCVM Comissão de Valores MobiliáriosCSLL Contribuição social sobre o lucro líquidoC3 Central de Cessões de CréditoDI Depósito interfi nanceiroDPGE Depósito a Prazo com Garantia Especial do FGCDPGE1 Depósito a Prazo com Garantia Especial do FGC que não conta com

alienação fi duciáriaDPGE2 Depósito a Prazo com Garantia Especial do FGC que conta com alienação

fi duciária de recebíveis de operações de crédito e de arrendamento mercantilDS Dívida subordinada

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DTVM Distribuidora de títulos e valores mobiliáriosEMBI+ Emerging Markets Bond Index PlusEMBI+Br Emerging Markets Bond Index Plus que refl ete o comportamento de títulos da

dívida externa brasileiraEONIA Euro OverNight Index AverageEUA Estados Unidos da AméricaFampe Fundo de Aval às Micro e Pequenas EmpresasFebraban Federação Brasileira de BancosFed Federal ReserveFGC Fundo Garantidor de CréditoFGTS Fundo de Garantia do Tempo de ServiçoFiname Agência Especial de Financiamento IndustrialFMI Fundo Monetário InternacionalFPR Fator Primitivo de RiscoFpr Fator de ponderação de riscoFpr-m Fator de ponderação de risco médioFSI Financial Soundness IndicatorIB Índice de BasileiaIBC-Br Índice de Atividade Econômica do Banco CentralIbovespa Índice da Bolsa de Valores de São PauloIED Investimento estrangeiro diretoIF Instituição fi nanceiraIHCD Instrumentos Híbridos de Capital e DívidaIHH Índice de Herfi ndahl-HirschmanIL Índice de liquidezIPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor AmploIRB Internal Ratings BasedIVG-R Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais Financiados LCA Letra de Crédito do AgronegócioLCI Letra de Crédito ImobiliárioLCR Liquidity Coverage RatioLF Letra FinanceiraLFS Letra Financeira SubordinadaLL Lucro líquidoLT Liquidez totalLTD Loan-to-depositLTV Loan-to-valueMP Medida ProvisóriaMSAD Massa salarial ampliada disponívelMSCI Morgan Stanley Capital Internationalp.b. Pontos-basePEPR Exposições ponderadas por fator de riscoPF Pessoa físicaPIB Produto Interno BrutoPJ Pessoa jurídicaPL Patrimônio líquidoPLA Patrimônio líquido ajustadoPM Prazo médioPME Pequena e média empresap.p. Ponto percentual

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PR Patrimônio de referênciaPRE Patrimônio de referência exigidoPR1 Patrimônio de referência nível 1PR2 Patrimônio de referência nível 2RC4 Razão de concentração dos quatro maioresRC10 Razão de concentração dos dez maioresRCAP Regulatory Consistency Assessment ProgrammeRDB Recibo de depósito bancárioREF Relatório de Estabilidade FinanceiraRefi s Programa de Recuperação FiscalRF Risco fi nanceiroRFL Risco fi nanceiro líquidoRSPL Retorno sobre o Patrimônio LíquidoRWA Risk-weighted assets (ativos ponderados pelo risco)RWACAM Parcela de requerimento de capital referente às exposições em ouro, em moeda

estrangeira e em ativos sujeitos à variação cambial cujo requerimento de capital é calculado mediante abordagem padronizada

RWACPAD Parcela de requerimento de capital referente às exposições ao risco de crédito sujeitas ao cálculo de capital mediante abordagem padronizada

RWAJUR1 Parcela de requerimento de capital referente às exposições sujeitas à variação de taxas de juros prefi xadas denominadas em real cujo requerimento de capital é calculado mediante abordagem padronizada

RWAJUR2 Parcela de requerimento de capital referente às exposições sujeitas à variação da taxa dos cupons de moedas estrangeiras cujo requerimento de capital é calculado mediante abordagem padronizada

RWAJUR3 Parcela de requerimento de capital referente às exposições sujeitas à variação de taxas dos cupons de índices de preços cujo requerimento de capital é calculado mediante abordagem padronizada

RWAJUR4 Parcela de requerimento de capital referente às exposições sujeitas à variação de taxas dos cupons de taxas de juros cujo requerimento de capital é calculado mediante abordagem padronizada

SAC Sistema de Amortizações ConstantesSAM Sociedade de arrendamento mercantilSCM Sociedade de crédito ao microempreendedorSCI Sociedade de crédito imobiliárioSCR Sistema de Informações de Crédito do BCBSDE Secretaria de Direito EconômicoSelic Sistema Especial de Liquidação e de CustódiaS&P Standard & Poor’s SFN Sistema Financeiro NacionalSGS Sistema Gerenciador de Séries TemporaisSitraf Sistema de transferência de fundosSiloc Sistema de Liquidação Diferida das transferências interbancárias de ordens

de créditoSPB Sistema de Pagamentos BrasileiroSTR Sistema de Transferência de ReservasTIR Transferência internacional em reaisTPF Título público federalTVM Títulos e valores mobiliáriosVaR Value at risk

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VAR Vetor autorregressivoVIX Chicago Board Options Volatility Index

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Anexo

Conceitos e Metodologias

a) Captações estáveis: Pela perspectiva do aplicador (principal), considera as captações por depósitos, títulos e operações compromissadas que não sejam provenientes de “depositantes” institucionais, instituições fi nanceiros e fundos de investimento; pela perspectiva secundária (do instrumento de captação), acrescenta o saldo de instrumentos reconhecidamente de longo prazo (maior que um ano) como obrigações por empréstimos no exterior, obrigações por repasses (BNDES), obrigações por repasses (Finame), obrigações por repasses (outras instituições ofi ciais), repasses do exterior, dividas subordinadas, outras dívidas subordinadas e IHCD. Indicador modifi cado e adaptado do conceito do FSI 022 (Guia de compilação do FMI).

b) Índice de capital principal: Em linha com o estabelecido pela Resolução nº 4.193, de 1º de março de 2013, foi criado um requerimento mínimo para o capital principal a partir de outubro de 2013, correspondendo a 4,5% dos ativos ponderados pelo risco (RWA). Além desse requerimento, foi criado o adicional de capital principal, com requerimentos entre: 0,625% e 1,25% de janeiro de 2016 a dezembro de 2016; 1,25% e 2,5% de janeiro de 2017 a dezembro de 2017; 1,875% e 3,75% de janeiro de 2018 a dezembro de 2018; e entre 2,5% e 5% a partir de janeiro de 2019.

c) Índice de capital nível I: Em linha com o estabelecido pela Resolução nº 4.193, de 2013, foi criado um requerimento mínimo para o capital nível I a partir de outubro de 2013, correspondendo a 5,5% de outubro de 2013 a dezembro de 2014 e a 6% a partir de janeiro de 2015. A esse requerimento, soma-se o adicional de capital principal, conforme mencionado no índice de capital principal.

d) Índice de Basileia: Conceito internacional defi nido pelo Comitê de Basileia que recomenda a relação mínima de 8% entre o PR e o PRE. No Brasil, até setembro de 2013, a relação mínima exigida era dada pelo fator “F”, de acordo com a Resolução nº 3.490, de 29 de agosto de 2007, do CMN, e com a Circular nº 3.360, de 12 de setembro de 2007, do BCB. Devia-se observar o valor de 11% para instituições fi nanceiras e para as demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB, exceto para as cooperativas de crédito singulares não fi liadas a cooperativas centrais de crédito. A partir de outubro de 2013, a relação mínima exigida passa a ser dada pela Resolução nº 4.193, de 2013, que defi ne um calendário de convergência do fator “F”, que deve ser: 11% de outubro de 2013 a dezembro de 2015; 9,875% em 2016; 9,25% em 2017; 8,625% em 2018; e 8% a partir de 2019. A esse requerimento, soma-se o adicional de capital principal, conforme mencionado no índice de capital principal.

e) Índice de liquidez: Razão entre a liquidez total (LT) e seu fl uxo de caixa estressado (FLE), para um horizonte de trinta dias.

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f) Liquidez total (ou ativos líquidos): Recursos líquidos disponíveis para cada conglomerado/instituição honrar seu fl uxo de caixa estressado dos próximos trinta dias. A LT é o somatório dos ativos de alta liquidez, compulsório liberado e recursos suplementares:

i. Ativos de alta liquidez: Incluem títulos públicos federais (TPF), excedente de garantias em bolsas, ações Ibovespa, cotas de fundos de investimento, folga de caixa e margem de compulsório:

a. TPF em poder da instituição compreendem o montante em poder da instituição nas posições livre ou recebido como lastro de operações compromissadas (posição doadora/bancada) e o montante excedente do valor depositado em garantia nas câmaras de negociação (somente se TPF).

b. Valor presente do estoque de ações que fazem parte do índice Ibovespa.

c. Valor presente de cotas dos fundos de investimento regulados pela Instrução Normativa CVM 409.

d. Folga de caixa compreende a diferença entre o saldo da conta Caixa e o encaixa mínimo obrigatório;

ii. Compulsório liberado: Montante de depósito compulsório que será retornado à instituição em decorrência da saída de depósitos estimada no fl uxo de caixa estressado;

iii. Recursos suplementares: Outras opções para realização de caixa no horizonte do cenário:

a. Títulos privados: Certifi cado de depósito bancário (CDB), recibo de depósito bancário (RDB), DI, posições ativas em estratégias de box, posições doadoras em operações compromissadas lastreadas em títulos privados, DPGE (após o prazo de carência para resgate antecipado) com vencimento superior ao horizonte de trinta dias;

b. Cotas de fundos menos líquidas: Cotas seniores de fundos de investimentos em direitos creditórios ou de investimento em cotas desses fundos, regidos pela Instrução CVM nº 356;

c. Potencial para cessão de créditos: montante de recursos a serem obtidos por meio de cessão da carteira de créditos, estimada com base nos critérios passíveis de serem adquiridos pelo FGC;

d. Disponibilidades no exterior.

g) Fluxo de caixa estressado: Estimativa do montante de recursos que as instituições necessitariam dispor no horizonte de trinta dias, sob o cenário de estresse. As análises consideram o perfi l dos depósitos, perspectivas de resgate antecipado, análise do estresse de mercado, fl uxo contratado e demais ativos e obrigações:

i. Perfi l dos depósitos: Estima o valor necessário para cobrir a possibilidade de saque de clientes em depósitos, poupança, operações de box, títulos de emissão própria e operações compromissadas sem TPF;

ii. Resgate antecipado: Estimativa do valor necessário para cobrir a possibilidade de solicitação de resgate antecipado das posições passivas efetuadas com as três maiores contrapartes de mercado;

iii. Estresse de mercado – cenário de crise: Estima o valor necessário para cobrir perdas decorrentes do impacto de oscilações de mercado (todos os fatores de risco considerados para cálculo de capital) nas posições de ativos líquidos ou naquelas que podem gerar saída de recursos da instituição. As perdas compreendem:

a. Chamadas adicionais de margem de garantias depositadas em câmaras;

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b. Desembolsos em posições de mercados derivativos em virtude de pagamentos de ajustes ou liquidação de contratos vincendos no horizonte do cenário de estresse;

c. Perda de valor de ativos líquidos;

iv. Fluxo contratado: Vencimentos e ajustes de posições em derivativos e posições ativas e passivas com agentes de mercado, com vencimento dentro do horizonte do cenário;

v. Demais passivos e obrigações: Resgate de outras posições passivas e obrigações não monitoradas diariamente, compreendendo captações no exterior, outros passíveis exigíveis, linhas de crédito concedidas e não utilizadas, créditos concedidos a liberar, acordos de compra de créditos e outros compromissos.

Conceitos e Metodologias – Estresse de capital

Os testes de estresse de capital são utilizados para estimar as potenciais perdas e a nova exigência de capital das instituições fi nanceiras causadas por grandes oscilações nas taxas de juros e de câmbio (risco de mercado) e pelo aumento do risco de crédito. Podem ser aplicados choques individualmente para cada fator de risco ou simultaneamente para vários fatores de risco.

Para cada cenário de estresse, são calculados os novos índices de exigência de capital: Índice de Basileia (IB), índice de capital nível 1 (IPR1) e índice de capital principal (ICP). Uma instituição é considerada desenquadrada se não atender a qualquer um dos três índices de exigência de capital e insolvente no caso de perda total do capital principal. É avaliada a relevância das instituições que fi cariam desenquadradas e/ou tecnicamente insolventes. A relevância é calculada com base na representatividade do ATA da instituição em relação ao universo analisado. O método assume como premissa que o lucro/prejuízo é o impacto resultante do choque aplicado sobre o fator de risco, que incide diretamente sobre o capital da instituição. Além disso, os efeitos positivos dos possíveis acionamentos dos gatilhos de nível II e de capital complementar, em que os valores são convertidos em capital principal, são considerados como receita. Finalmente, são consideradas as potenciais alterações de constituição e de uso de crédito tributário e suas implicações na apuração do requerimento de capital (RWA), de acordo com a Resolução nº 4.192 do CMN, de 1º de março de 2013, e alterações posteriores.

Estresse para risco de mercado – Análise de sensibilidade

As exposições sujeitas à variação de taxas de juros (taxas de juros prefi xadas e taxas dos cupons de moedas estrangeiras, índices de preços e taxa de juros) classifi cadas na carteira de negociação são estressadas. As posições por vértices (de 21 a 2.520 dias úteis) são recalculadas após a aplicação dos choques, e o impacto fi nanceiro sobre o patrimônio é avaliado. Além do impacto sobre o patrimônio, as posições estressadas classifi cadas na carteira de negociação originam novas parcelas de requerimento de capital para risco de taxas de juros (RWAJUR1, RWAJUR2, RWAJUR3, RWAJUR4). No caso das taxas prefi xadas (RWAJUR1), a cada curva de juros gerada por um choque, novos parâmetros regulamentares de exigência de capital são calculados.

As exposições em ouro, em moeda estrangeira e em ativos e passivos sujeitos à variação cambial são estressadas, e o impacto fi nanceiro sobre o patrimônio e a nova parcela de requerimento de capital (RWACAM) provocados pelas oscilações das taxas de câmbio são recalculados. Assume-se que todas as exposições sujeitas à variação cambial seguem as oscilações percentuais ocorridas para o cenário de estresse do dólar americano.

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Os choques alteram, individualmente, as taxas de juros e de câmbio em degraus de 10%, variando-as para baixo até 10% da taxa original e para cima até 200% da taxa original.

Após os impactos, são calculados novos índices de exigência de capital e é avaliada a situação de desenquadramento e solvência das instituições.

Estresse para risco de crédito

a) Análise de sensibilidade

A análise de sensibilidade busca medir o efeito do aumento da inadimplência (créditos em atraso superior a noventa dias em relação à carteira de crédito total) sobre o PR e o PRE das instituições. Em incrementos percentuais, a inadimplência é elevada a até 350% do seu valor original. No caso de a provisão contabilizada ser insufi ciente para cobrir a inadimplência estressada, o PR e o RWACPAD sofrerão impactos decorrentes do aumento da provisão. Após esses impactos, são calculados os índices de exigência de capital e é avaliada a situação de desenquadramento e solvência das instituições.

b) Cenário ad hoc

O cenário ad hoc utilizado para estimar o aumento do risco de crédito consiste no rebaixamento de dois níveis nas classifi cações de crédito das carteiras de cada instituição fi nanceira. Os critérios para classifi cação das operações de crédito e para constituição de provisão seguem as regras da Resolução nº 2.682 do CMN. O aumento de provisão é obtido pela diferença entre a nova necessidade de provisão e a provisão constituída pela instituição. No caso de a provisão contabilizada ser insufi ciente para cobrir a nova necessidade de provisão, o PR e o RWACPAD sofrerão impactos. Após esses impactos, são calculados os índices de exigência de capital e é avaliada a situação de desenquadramento e solvência das instituições.

c) Cenários macroeconômicos

c.1) Construção de cenários

São projetados quatros cenários macroeconômicos para os seis trimestres seguintes em relação à data de referência com base em informações do mercado e de um modelo de vetor autorregressivo (VAR). As variáveis endógenas do VAR são o produto (média trimestral do índice de atividade econômica do Banco Central [IBC-Br]), a taxa de câmbio do dólar americano (média trimestral da paridade real vs. dólar), a taxa de juros (média trimestral da Selic), e a infl ação (IPCA acumulado em doze meses). O prêmio de risco Brasil (média trimestral do spread EMBI+Br calculado pelo J.P. Morgan Chase) e os juros americanos de dez anos (média trimestral do yield das Treasuries com vencimento para dez anos) são variáveis exógenas.

O cenário-base é construído a partir da mediana das expectativas do mercado (Focus) para as seguintes variáveis componentes do VAR: produto, juros, taxa de câmbio e infl ação. A correlação entre o PIB (expectativa Focus) e o IBC-Br (VAR) é considerada igual a um. Para as variáveis que não estão contidas nas expectativas do mercado (EMBI+Br e yield das Treasuries), os valores da data-base são considerados constantes durante os seis trimestres de projeção.

O cenário VAR a 5% assume a pior inadimplência obtida a partir de quatro projeções feitas por meio do modelo VAR. Em cada uma dessas projeções, considera-se individualmente a trajetória da previsão de cada variável endógena (produto, câmbio, juros e infl ação) a um nível de signifi cância de 5% (unicaudal na direção mais adversa: produto mais baixo e câmbio, juros e infl ação mais altos). As demais variáveis são estimadas pelas

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funções impulso-resposta, que contêm as relações de dependências entre elas, com o objetivo de manter a consistência de cada projeção.

O cenário de quebra estrutural é estimado pelas trajetórias de cada variável endógena (produto, câmbio, juros e infl ação) a um nível de signifi cância de 5% (unicaudal na direção mais adversa, da mesma maneira anterior). O intervalo de projeção de cada variável depende apenas da variância de sua projeção e desconsidera as relações de dependências entre as variáveis.

O cenário histórico simula a repetição do comportamento das variáveis macroeconômicas em janelas de seis trimestres desde julho de 1998. Cada uma dessas janelas de cenário é inserida no painel dinâmico para previsão da inadimplência seis trimestres à frente. O cenário histórico refere-se à previsão que resulta na pior inadimplência projetada dentro desse conjunto de projeções.

Os cenários VAR a 5% e de quebra estrutural assumem trajetórias para a yield das Treasuries de dez anos de acordo com o cenário desenhado pelo Board of Governors of the Federal Reserve System em seu relatório “2014 Supervisory Scenarios for Annual Stress Tests Required under the Dodd-Frank Act Stress Testing Rules and the Capital Plan Rule1. A trajetória do EMBI+Br é projetada simulando a repetição da maior variação histórica ocorrida.

c.2) Projeção do crédito e da inadimplência

Os cenários macroeconômicos gerados são utilizados como entrada nos modelos de painel dinâmico para previsão do crédito e da inadimplência de cada instituição fi nanceira. As carteiras de crédito com as respectivas inadimplências foram segmentadas em três: i) crédito para pessoa física, excluindo o crédito imobiliário; ii) crédito para pessoa jurídica; e iii) crédito imobiliário para pessoa física. Para cada segmento de carteira, são estimados um painel para o crescimento do crédito e outro para a inadimplência, num total de seis painéis.

Para os painéis de crescimento do crédito, o modelo tem como variável dependente a diferença entre o crescimento do crédito e a tendência do crescimento do crédito calculado pelo fi ltro Hodrick–Prescott com parâmetro lambda igual a 1600. As variáveis exógenas incluem a variável dependente defasada, variáveis macroeconômicas (assim como as respectivas defasagens) e variáveis de controle (e.g. público vs. privado).

O crescimento do crédito é controlado pela disponibilidade de capital existente. Nesse sentido, o crescimento do crédito de cada instituição fi nanceira (ex ante os impactos de ajuste de provisão dada a nova inadimplência) fi ca limitado a montantes que não impliquem índices de capitais (IB, IPR1 e ICP) que fi quem em desacordo com os limites regulamentares.

Para os painéis da inadimplência, a variável dependente é a taxa de inadimplência do segmento transformada por uma função logística. As variáveis exógenas incluem a variável dependente defasada, variáveis macroeconômicas (assim como as respectivas defasagens) e variáveis de controle (e.g. público vs. privado). O crescimento do crédito do segmento e suas respectivas defasagens são considerados como variáveis predeterminadas.

c.3) Mensuração dos impactos

Para cada cenário e para cada instituição fi nanceira, ao longo dos seis trimestres à frente, caso a provisão constituída seja insufi ciente para cobrir a inadimplência projetada, o capital é impactado pela nova necessidade de provisão. Em função da evolução da carteira de crédito projetada, são consideradas novas necessidades de provisões, que também afetam o capital, e a nova parcela de requerimento de capital (RWACPAD) é calculada. Após esses impactos, são calculados novos índices de exigência de capital para o sistema.

1/ Vide <http://www.federalreserve.gov/bankinforeg/bcreg20131101a1.pdf>.