relatório de estabilidade financeira – março 2015§o 2015 | relatório de estabilidade...

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Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 17 2 Sistema bancário 2.1 Introdução No segundo semestre de 2014, o sistema bancário brasileiro continuou apresentando baixo risco de liquidez e elevada solvência. O risco de liquidez de curto prazo manteve-se baixo, com elevação do estoque de ativos líquidos das instituições financeiras. Além disso, o risco de liquidez estrutural também permanece baixo, uma vez que os recursos estáveis mantêm-se suficientes para suportar o estoque de crédito. Acerca do mercado de crédito, destaca-se a continuidade das principais tendências observadas no primeiro semestre: crescimento do estoque em ritmo menor, elevação das taxas de juros aos tomadores e relativa estabilidade do nível de inadimplência e do índice de cobertura da inadimplência (ICI) 34 . Entretanto, há distinções entre as tendências quando segmentadas por tipo de controle (público ou privado), porte de tomador e produto. Em particular, destaca-se o aumento da inadimplência das pequenas e médias empresas e a elevação das renegociações de créditos habitacionais em bancos públicos. Aspectos adicionais que podem afetar as tendências futuras do crescimento do crédito e da inadimplência incluem a evolução do ambiente econômico nacional e internacional, os efeitos na capacidade de pagamento das empresas investigadas na Operação Lava Jato e em sua cadeia de fornecedores, bem como o cenário de incerteza sobre as condições e custos da oferta de energia elétrica e de água. A elevação nas taxas de juros aos tomadores começou a produzir efeito positivo na rentabilidade da carteira de crédito e contribuiu para impulsionar o resultado. O avanço do resultado de crédito e a significativa ampliação 34/ O índice de cobertura da inadimplência mede a razão entre a provisão contabilizada e o saldo total das operações vencidas há mais de noventa dias. dos ganhos em participações societárias favoreceram o incremento no retorno sobre o patrimônio líquido. A solvência do sistema bancário permaneceu estável no semestre e as métricas utilizadas para a sua mensuração continuaram em patamar elevado. Os índices de capitalização seguiram em níveis superiores aos dos requerimentos regulatórios, o que, associado aos resultados da simulação da plena implementação do arcabouço de Basileia III e da introdução do futuro requerimento de razão de alavancagem, confirmaram a confortável situação de solvência do sistema. Nas simulações de situações de estresse, o sistema bancário brasileiro apresentou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários adversos, bem como mudanças abruptas nas taxas de juros, de câmbio, na inadimplência ou nos preços dos imóveis residenciais. Destaque-se que, para efeito deste capítulo, o sistema bancário é constituído pelas instituições banco comercial, banco múltiplo, caixa econômica, banco de câmbio e banco de investimento, e pelos conglomerados financeiros compostos por ao menos uma dessas modalidades de instituições. Os bancos de desenvolvimento não estão incluídos nas análises, exceto na seção 2.3 Crédito, na qual as análises envolvem todo o Sistema Financeiro Nacional (SFN). 2.2 Liquidez O risco de liquidez de curto prazo do sistema bancário brasileiro, que já se apresentava em baixo patamar, reduziu-se ainda mais no segundo semestre de 2014, evento fortemente influenciado pela elevação do estoque de ativos líquidos 35 nas instituições financeiras (IF). O 35/ Para definição de ativos líquidos e de fluxo de caixa estressado, vide “Conceitos e Metodologias”, itens a e d.

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Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 17

2Sistema bancário

2.1 Introdução

No segundo semestre de 2014, o sistema bancário brasileiro continuou apresentando baixo risco de liquidez e elevada solvência.

O risco de liquidez de curto prazo manteve-se baixo, com elevação do estoque de ativos líquidos das instituições financeiras. Além disso, o risco de liquidez estrutural também permanece baixo, uma vez que os recursos estáveis mantêm-se suficientes para suportar o estoque de crédito.

Acerca do mercado de crédito, destaca-se a continuidade das principais tendências observadas no primeiro semestre: crescimento do estoque em ritmo menor, elevação das taxas de juros aos tomadores e relativa estabilidade do nível de inadimplência e do índice de cobertura da inadimplência (ICI)34. Entretanto, há distinções entre as tendências quando segmentadas por tipo de controle (público ou privado), porte de tomador e produto. Em particular, destaca-se o aumento da inadimplência das pequenas e médias empresas e a elevação das renegociações de créditos habitacionais em bancos públicos.

Aspectos adicionais que podem afetar as tendências futuras do crescimento do crédito e da inadimplência incluem a evolução do ambiente econômico nacional e internacional, os efeitos na capacidade de pagamento das empresas investigadas na Operação Lava Jato e em sua cadeia de fornecedores, bem como o cenário de incerteza sobre as condições e custos da oferta de energia elétrica e de água.

A elevação nas taxas de juros aos tomadores começou a produzir efeito positivo na rentabilidade da carteira de crédito e contribuiu para impulsionar o resultado. O avanço do resultado de crédito e a significativa ampliação

34/ O índice de cobertura da inadimplência mede a razão entre a provisão contabilizada e o saldo total das operações vencidas há mais de noventa dias.

dos ganhos em participações societárias favoreceram o incremento no retorno sobre o patrimônio líquido.

A solvência do sistema bancário permaneceu estável no semestre e as métricas utilizadas para a sua mensuração continuaram em patamar elevado. Os índices de capitalização seguiram em níveis superiores aos dos requerimentos regulatórios, o que, associado aos resultados da simulação da plena implementação do arcabouço de Basileia III e da introdução do futuro requerimento de razão de alavancagem, confirmaram a confortável situação de solvência do sistema.

Nas simulações de situações de estresse, o sistema bancário brasileiro apresentou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários adversos, bem como mudanças abruptas nas taxas de juros, de câmbio, na inadimplência ou nos preços dos imóveis residenciais.

Destaque-se que, para efeito deste capítulo, o sistema bancário é constituído pelas instituições banco comercial, banco múltiplo, caixa econômica, banco de câmbio e banco de investimento, e pelos conglomerados financeiros compostos por ao menos uma dessas modalidades de instituições. Os bancos de desenvolvimento não estão incluídos nas análises, exceto na seção 2.3 Crédito, na qual as análises envolvem todo o Sistema Financeiro Nacional (SFN).

2.2 Liquidez

O risco de liquidez de curto prazo do sistema bancário brasileiro, que já se apresentava em baixo patamar, reduziu-se ainda mais no segundo semestre de 2014, evento fortemente influenciado pela elevação do estoque de ativos líquidos35 nas instituições financeiras (IF). O

35/ Para definição de ativos líquidos e de fluxo de caixa estressado, vide “Conceitos e Metodologias”, itens a e d.

Page 2: Relatório de Estabilidade Financeira – Março 2015§o 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 18 risco de liquidez estrutural36 também permaneceu baixo, pois o estoque de

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risco de liquidez estrutural36 também permaneceu baixo, pois o estoque de recursos estáveis37 manteve-se em montante suficiente para suportar o estoque do crédito.

No semestre, o montante de ativos líquidos das IF aumentou em cerca de R$82 bilhões, influenciado principalmente pela mudança no mix das captações, que inclusive reduziu o volume das exigibilidades de compulsório.

Apesar do crescimento do estoque das captações, o fluxo de caixa estressado (de curto prazo) manteve-se praticamente inalterado no período, efeito do ganho de estabilidade proporcionado pela mudança no mix de captações. Esses movimentos resultaram na elevação do índice de liquidez (IL)38 do sistema de 1,71 para 2,02 no semestre (gráfico 2.2.1).

36/ Liquidez estrutural de uma IF refere-se à relação entre operações ativas de prazos mais longos e as fontes de recursos suficientemente estáveis para suportá-las. Quanto maior a estabilidade dos recursos, menor o risco futuro de insuficiência de recursos.

37/ Recursos estáveis são aqueles com risco reduzido de corrida bancária em situação de estresse: a) primeiramente pela perspectiva do aplicador (principal) são estáveis as captações de varejo (detentores não institucionais) e b) de forma complementar, pela perspectiva do prazo efetivo do instrumento de captação, são estáveis quando maior que um ano. Indicador modificado e adaptado do conceito do Financial Soundness Indicator FSI I22, preconizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Detalhes da definição, ver “Conceitos e Metodologias”, item b.

38/ O IL relaciona o volume de ativos líquidos disponíveis para a instituição com o fluxo de caixa estressado (desembolso dos 30 dias/21 dias úteis subsequentes em cenário de estresse). O fluxo de caixa estressado simula desembolsos em padrões bem acima dos esperados, tendo por parâmetro o histórico de crises passadas. Instituições com IL superior a um (100%) possuem ativos líquidos suficientes para suportar esse cenário de estresse. Como a metodologia simula um cenário de trinta dias em que os ativos líquidos teriam de ser convertidos em dinheiro, eles são marcados a mercado e/ou sofrem ponderação que simula redução de preço no caso de venda forçada. Essa métrica de liquidez tem por base os mesmos conceitos subjacentes ao Liquidity Coverage Ratio (LCR), índice introduzido por Basileia III. No Brasil, o LCR deve ser calculado e divulgado a partir de 2016, conforme Resolução CMN nº 4.401, de 27 de fevereiro de 2015, e Circular BCB nº 3.749, de 5 de março de 2015.

A elevação foi acompanhada de melhora na distribuição do risco de liquidez das instituições, caracterizada pela redução da representatividade no sistema das IFs com IL abaixo de um e também pelo aumento da participação das IFs com IL acima de dois (gráfico 2.2.2).

Com variações equiparadas dos estoques de captação e de crédito domésticos, a menor proporção do compulsório em relação ao estoque de recursos captados resultou no aumento dos ativos líquidos no semestre e consequente redução do risco de liquidez (gráfico 2.2.3).

O crescimento do funding estável permaneceu compatível com o aumento de prazo médio e do volume da carteira de crédito, mantendo o risco de liquidez estrutural baixo. Entre os instrumentos de captação de maior estabilidade, destacam-se a poupança, a letra financeira (LF) e a letra de crédito imobiliário (LCI) (gráfico 2.2.4).

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R$ bilhões un.

Gráfico 2.2.1 – Índice de liquidez

Ativos líquidosFluxo de caixa estressadoÍndice de liquidez

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Gráfico 2.2.2 – Distribuição de frequência para o índice de liquidez1/

Junho 2014 Dezembro 2014Índice de liquidez

1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições

% dos ativos do sistema

financeiras com índice de liquidez pertencente ao intervalo correspondente.

Base de dados

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Jul Jan2014

Jun Dez

%

Relação compulsório versus captações domésticas

Variação semestral do estoque de captações domésticas

Variação semestral da carteira de crédito doméstica

Gráfico 2.2.3 – Relação compulsório versus captações domésticas e variações semestrais dos estoques domésticos de captações e crédito

Base de dados

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Permanece baixa a dependência por funding externo. A captação externa total reduziu-se em US$8 bilhões no semestre, com destaque para a diminuição em aproximadamente US$16 bilhões dos recursos captados e mantidos no exterior39. Essa redução, entretanto, não é verificada nos estoques em reais devido à depreciação frente ao dólar verificada no período (gráfico 2.2.5).

Em suma, o risco de liquidez permanece baixo tanto em perspectiva de curto quanto de médio prazo. O volume de ativos líquidos do sistema mostra-se compatível com a estrutura de passivos, bem como o funding estável com a carteira de crédito. Ademais, a desaceleração do crescimento dessa carteira tende a reforçar essa constatação.

39/ Além dos recursos captados e mantidos no exterior, ainda compõem as captações externas aquelas que ingressam no país. Subdividem-se em: 1) recursos externos vinculados a operações de comércio exterior ou empréstimos e; 2) recursos externos livres: demais recursos que ingressam no país.

2.3 Crédito

Os principais destaques sobre o crédito40 no segundo semestre de 2014 referem-se à continuidade de tendências observadas no primeiro semestre, especialmente o ritmo menor de crescimento do estoque, a elevação das taxas de juros aos tomadores e a manutenção relativa do nível de inadimplência,41 oscilando em torno de 3,0%. O ICI também permaneceu relativamente estável, próximo a 1,7, o que, em conjunto com o menor crescimento das carteiras e a inadimplência estável até o momento, aponta para a manutenção da resiliência do sistema de crédito na perspectiva agregada. Há, no entanto, diferenças entre esses indicadores e suas tendências quando segmentados por tipo de controle, porte de tomador ou produto de crédito. Acesso mais restrito a financiamentos pelas empresas investigadas no contexto da Operação Lava Jato e seus fornecedores, bem como indefinições quanto às condições e custos de oferta de energia elétrica e de água, ensejam atenção relativamente aos seus impactos potenciais sobre a capacidade de pagamento dos tomadores de crédito.

Analisando especificamente a variação do estoque do crédito doméstico, no segundo semestre manteve-se a tendência de redução no ritmo de crescimento das carteiras, encerrando o ano com aumento de 11,3% em relação a dezembro de 2013. Além disso, esse crescimento teria sido ainda menor em relação ao observado, se não fosse pelos efeitos da desvalorização cambial sobre as operações referenciadas em moeda estrangeira.42

Essa redução advém essencialmente dos bancos públicos, que continuaram a diminuir suas taxas de crescimento de carteira. Essa queda, no entanto, foi menos significativa que nos dois semestres anteriores, encerrando o ano com crescimento de 16,5% nas carteiras domésticas.43 Diferentemente, os bancos privados não retomaram o ritmo de crescimento do estoque de crédito, mantendo suas taxas de crescimento levemente abaixo de 6% ao ano (a.a.) ao longo da maior parte do segundo semestre (gráfico 2.3.1). Com isso, observou-se aumento da

40/ Refere-se ao crédito bancário doméstico.41/ Inadimplência mensurada pela relação do saldo total de operações de

crédito com parcelas vencidas há mais de noventa dias, com o valor total da carteira de crédito.

42/ Do total de operações de crédito, 7,9% eram representadas por operações referenciadas em moeda estrangeira em dezembro de 2014, basicamente o dólar dos EUA. A desvalorização de 13,4% do real frente ao dólar dos EUA no ano foi responsável por 0,4 p.p. do crescimento anual das operações de crédito.

43/ Em junho, o crescimento anual dos bancos públicos foi de 17,1%, enquanto em dezembro de 2013 havia sido de 22,6%.

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Captações externas mantidas no exterior versus captações totais

Captações externas que ingressam (vinculadas) versus captações totais

Captações externas que ingressam (livres) versus captações totais

Gráfico 2.2.5 – Perfil das captações externas como percentual da captação total

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Gráfico 2.2.4 – Captações de recursos estáveis sobre crédito e seu prazo médio

Captação estável versus crédito (%)Prazo médio da carteira de crédito doméstica (meses)

Base de dados

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participação das instituições públicas no crédito doméstico total, atingindo 53,6% em dezembro de 2014.

As taxas de juros para o crédito livre se elevaram no semestre (gráfico 2.3.2), influenciadas pela continuidade dos aumentos da taxa Selic.44 Foram observados aumentos nas principais modalidades de crédito, com mais intensidade naquelas que apresentam maior nível de inadimplência, como o cheque especial e o capital de giro. O início de 2015 tende a apresentar continuidade dos aumentos do custo para o tomador de crédito livre, em razão do aumento do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos e Valores Mobiliários (IOF) ocorrido em janeiro de 2014 e do provável repasse para o crédito dos aumentos da meta da taxa Selic.

A inadimplência da carteira de crédito doméstico oscilou entre 3,0% e 3,1% entre junho e novembro, atingindo 2,9% em dezembro de 2014. Entretanto, a inadimplência

44/ No primeiro semestre de 2014, a meta para a taxa Selic variou de 10,00% para 11,00%. No segundo semestre, variou de 11,00% para 11,75%.

apresentou comportamentos diferentes nas instituições financeiras quando consideradas por tipo de controle: enquanto nos bancos privados houve melhora, com diminuição de 0,2 p.p. no semestre, nos bancos públicos houve aumentos de julho a novembro e queda apenas no mês de dezembro (gráfico 2.3.3). Ressalte-se, porém, que essa redução está associada a cessões de crédito45 e renegociações de operações inadimplentes, e não a mudanças efetivas no perfil da carteira. Sem esses eventos, a inadimplência nos bancos públicos teria mantido sua tendência e a do SFN teria encerrado o semestre estável.

O ICI apresentou aumento de 0,07 p.p. de junho a dezembro de 2014 (gráfico 2.3.4), decorrente da diminuição da inadimplência nos bancos privados. Nos bancos públicos, o ICI praticamente não variou, em que pesem as cessões de crédito e renegociações realizadas. De qualquer modo, em ambos os casos o indicador continua em nível adequado, mesmo levando-se em conta os eventos citados no parágrafo anterior, permanecendo em patamar superior ao mantido pelas instituições financeiras da maioria dos países.46

A existência de volume suficiente de provisões é, como no semestre anterior, corroborada por outras métricas, tais como a relação entre as provisões constituídas e os créditos baixados para prejuízo nos doze meses seguintes, ou as provisões constituídas e o total da carteira de maior

45/ Houve volume relevante de cessões de operações inadimplentes para fora do SFN, sem retenção de risco, nos meses de setembro e dezembro. A cessão de créditos inadimplentes sem retenção de riscos implica a baixa contábil desses ativos, reduzindo o índice de inadimplência da instituição cedente. Note-se que a cessão e a renegociação de créditos são práticas usuais para gestão de riscos da carteira de crédito, mas o objetivo em ressaltar esses eventos é seu efeito na redução do indicador de inadimplência.

46/ Dados disponíveis no sítio do FMI, reproduzidos no Anexo Estatístico.

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Gráfico 2.3.3 – Inadimplência por controle

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Gráfico 2.3.2 – Evolução das taxas de jurosRecursos livres e direcionados, PF e PJ % a.a.

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Gráfico 2.3.1 – Crescimento anual do crédito por controle

Público Privado Total

Base de dados

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risco,47 composta pelas operações de crédito classificadas nos níveis de E a H (gráfico 2.3.5).48

A análise da dispersão do ICI por banco49 (gráfico 2.3.6) nas posições de junho e de dezembro de 2014 evidencia que o movimento mais expressivo no período foi o aumento das instituições com cobertura de provisões maiores do que 1,6, tanto em quantidade quanto em volume de carteira, reforçando a avaliação de que o SFN, em geral, encontra-se com adequado nível de provisões. Na faixa de ICI inferior a 1,0, embora tenha havido aumento

47/ Os percentuais do gráfico 2.3.5 representam o valor de cada métrica dividido pelo valor total da carteira de crédito doméstico.

48/ O volume de provisões constituídas superior às baixas a prejuízo indica que as perdas materializadas são inferiores às perdas esperadas, denotando margem de segurança relevante nesse quesito. Também reforça esse entendimento o fato de a carteira E-H, que pode ser entendida como a fração da carteira mais sujeita à materialização de perdas esperadas, ter nível compatível com as provisões.

49/ Nesse teste, as cooperativas de crédito e as instituições financeiras não bancárias não foram consideradas, pois, apesar de seu grande número, respondiam somente por 3,2% do crédito doméstico total em dezembro de 2014. Além disso, só são considerados os bancos que têm carteira de crédito.

no número de bancos, a relevância dessa carteira sobre o SFN se manteve estável em relação a junho de 2014, em torno dos 2%. Por fim, salienta-se que, em dezembro de 2014, 97% da carteira de crédito no SFN encontrava-se no ativo de instituições com ICI superior a 1,3.

Analisando especificamente os principais aspectos do crédito à pessoa física, cabe destacar que a expansão das carteiras, embora em menor ritmo, não foi acompanhada de alterações significativas na capacidade de pagamento dos tomadores, quando avaliada com foco no comprometimento de renda. O comprometimento de renda é medido de duas formas: uma considerando toda a população e a partir dos agregados monetários medindo o comprometimento de renda das famílias (CRF)50, outra, considerando somente os tomadores de crédito e suas respectivas rendas, medindo o comprometimento de renda dos tomadores de crédito no SFN (CRTC)51. Embora os níveis não possam ser comparados em razão de diferenças metodológicas, ambas as séries indicam uma redução na comparação com doze meses antes.

50/ Para mais detalhes sobre a metodologia, veja-se boxes no Relatório de Inflação (RI) “Evolução Recente do Crédito, da Inadimplência e do Endividamento das Famílias”, de setembro de 2008; “Evolução da Inadimplência, do Endividamento e do Comprometimento de Renda após a Crise”, de março de 2010; “Endividamento e Comprometimento da Renda das Famílias: Incorporação do Conceito de Massa Salarial Ampliada Disponível”, de setembro de 2010 e no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) “Endividamento e Comprometimento de Renda das Famílias com Dívidas Bancárias: Revisão Metodológica”, de setembro de 2011. Divulgado no Sistema Gerenciador de Séries Temporais (SGS) – Série 19.881.

51/ O comprometimento de renda dos tomadores de crédito considera apenas a renda das pessoas físicas que possuem endividamento junto ao SFN. É realizado o cálculo individualizado tomador a tomador e então é utilizada a mediana. Trata-se de métrica distinta do comprometimento de renda das famílias, divulgado no Sistema Gerenciador de Séries Temporais – Série 19.881, que computa a renda de toda a população conforme metodologia utilizada internacionalmente. Para mais detalhes sobre o comprometimento de renda dos tomadores de crédito no SFN, ver seção “Conceitos e metodologias”, item c.

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Junho 2014 Dezembro 2014

Gráfico 2.3.6 – Distribuição de frequência para o índice de cobertura da inadimplência1/

1/ As barras indicam a representatividade da carteira e os valores sobre asbarras referem-se ao número de instituições financeiras com índice decobertura da inadimplência naquele intervalo.

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Gráfico 2.3.5 – Inadimplência, provisões e baixas para prejuízo

Carteira de crédito classificada nos níveis de E até HProvisõesInadimplênciaCréditos baixados nos doze meses seguintes

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Set Dez Mar Jun2014

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Gráfico 2.3.4 – Índice de cobertura da inadimplência por segmento

Público Privado Total

Base de dados

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instituições, situa-se abaixo de 40% (gráfico 2.3.9).53 Esse dado indica que, no geral, as políticas de concessão de crédito das instituições financeiras têm observado limites razoáveis de comprometimento de renda total dos tomadores.

As instituições financeiras permanecem dando maior ênfase às modalidades de menor risco em suas políticas de crédito (gráfico 2.3.10). Observa-se a continuidade na redução das carteiras de veículos e na desaceleração do ritmo – já anteriormente baixo – dos empréstimos sem consignação. Por outro lado, o crescimento do crédito com consignação em folha de pagamento segue estável e acima da média da carteira, enquanto o crédito

53/ Para melhor compreensão do gráfico 2.3.8, suponha-se um devedor que comprometa 25% de sua renda líquida em um conglomerado A e 10% em um conglomerado B. Para ambos os conglomerados, o devedor entrará no cômputo do comprometimento de renda com o valor de 35%, pois o valor relevante é o do seu CRTC no Sistema Financeiro Nacional e não nos conglomerados individuais. O CRTC de cada conglomerado é calculado por meio da mediana do CRTC de seus clientes considerando-se sua dívida total no SFN.

Avaliando a evolução do CRTC nos últimos meses, observam-se tendências distintas de acordo com a faixa de renda do tomador de crédito, com a queda sendo observada apenas na faixa de menor renda (gráfico 2.3.8). Nesse caso, a queda do CRTC é explicada por um crescimento da renda levemente mais significativo na faixa até três salários mínimos e pelo aumento na quantidade de tomadores de crédito nesse grupo. Nas faixas mais altas, o leve aumento do CRTC, ainda em patamares relativamente baixos, decorre de maior participação do crédito imobiliário no serviço da dívida.

Outro aspecto importante é que, na maioria dos conglomerados financeiros52, o nível de comprometimento de renda de seus tomadores de crédito (CRTC), considerando-se todo o crédito tomado nas demais

52/ Foram consideradas apenas as instituições financeiras bancárias com carteira de crédito pessoa física.

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CRTC abaixo de 30% CRTC de 30% a 40% CRTC acima de 40%

Gráfico 2.3.9 – CRTC em todo o SFN por conglomerado1/

Pessoa física %

1/ O rótulo de dados mostra a quantidade de conglomerados em cada faixa de CRTC. O eixo vertical mostra o percentual da carteira ativa total para cada faixa.

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Até 3 s.m. 3 a 5 s.m. 5 a 10 s.m. > 10 s.m. SFN

Dezembro 2013 Junho 2014 Dezembro 2014

Gráfico 2.3.8 – CRTC no SFNPessoa física %

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Jun2012

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Gráfico 2.3.7 – Comprometimento de rendaPessoa física

CRF CRTC

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Dez2012

Mar2013

Jun Set Dez Mar2014

Jun Set Dez

Gráfico 2.3.10 – Crescimento anual do crédito Principais modalidades PF

Imobiliário ConsignadoCartão de crédito Sem consignaçãoVeículos

%

Base de dados

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Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 23

A inadimplência da carteira de cartão de crédito e dos empréstimos sem consignação, modalidades mais sensíveis a eventuais pioras no cenário econômico pelo menor nível de robustez de suas garantias e pelo perfil do tomador59, manteve a tendência de elevação observada desde o início do ano, revertendo, assim, um ciclo de redução que vinha ocorrendo a partir do segundo semestre de 2012 (gráfico 2.3.12). Apesar disso, a participação das operações de cartão de crédito rotativo na carteira total de cartões e o nível médio de pagamento das faturas, que são indicadores antecedentes considerados no monitoramento, pelo BCB, do risco da carteira de cartões, mantiveram-se estáveis no semestre.

Nas demais modalidades de crédito a pessoa física, a inadimplência mostra sinais de arrefecimento ou de

59/ Parte importante do processo de inclusão financeira se dá por meio da modalidade cartão de crédito, na qual não há histórico conhecido do tomador. A mesma assertiva também é válida para o crédito sem consignação, no qual parte relevante é contratada com não clientes.

imobiliário prossegue em desaceleração, mas ainda mantendo taxa de crescimento elevada.

O crédito consignado apresentou crescimento relevante após outubro de 2014, em razão de medidas do governo que elevaram o prazo máximo das operações para aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)54 e para servidores públicos federais.55 As evidências indicam que, por vezes, os recursos do crédito consignado são utilizados para amortização de outras dívidas no SFN. Essa consequente melhora no perfil da dívida fica caracterizada pela constatação da redução na inadimplência das demais operações desses tomadores no mesmo período. O aspecto negativo, nesse caso, é o comprometimento da renda desses tomadores por prazos mais longos, especialmente no caso dos servidores públicos federais.

A carteira de veículos retraiu em 6,6% na comparação anual.56 Todavia, há na margem uma pequena retomada nas concessões, que cresceram 2,5% em relação ao ano anterior, crescimento esse favorecido principalmente pela antecipação das compras em dezembro, por conta do fim do benefício de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) naquele mês. Apesar do aumento das concessões, o volume ainda expressivo de baixas para prejuízo57 contribuiu para a retração da carteira.

Quanto à inadimplência das operações com pessoas físicas, observou-se redução ao longo do segundo semestre de 2014. Esse efeito se mostrou presente em todas as faixas de renda dos tomadores de crédito58 (gráfico 2.3.11), com forte contribuição da redução da inadimplência na carteira de veículos. Há que se mencionar, no entanto, que a magnitude dessa melhora nas faixas menores de renda é, ao menos parcialmente, oriunda das cessões de crédito para fora do SFN realizadas no segmento de bancos públicos, anteriormente mencionadas.

54/ Resolução MPS/CNPS n° 1.324, de 25.09.2014.55/ Decreto n° 8.321, de 2 de outubro de 2014.56/ O saldo da carteira de veículos é mensurado a partir das séries temporais

número 20581 e 20584, divulgadas no SGS, as quais se referem ao financiamento e ao arrendamento mercantil de veículos, respectivamente, adotando metodologia distinta para apuração do saldo daquela apresentada na Nota para a Imprensa sobre Política Monetária e Operações de Crédito do SFN, que considera apenas a série temporal 20581.

57/ Parte relevante desses créditos baixados para prejuízo é oriunda de contratos pactuados há alguns anos, durante o período de maior apetite a risco das instituições financeiras.

58/ Na inadimplência por faixa de renda e no comprometimento de renda dos tomadores de crédito são consideradas apenas modalidades de crédito ao consumo e financiamento imobiliário, o que não inclui as operações de financiamento rural.

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Mar2011

Jun Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez

Imobiliário ConsignadoCartão de crédito Sem consignaçãoVeículos

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Gráfico 2.3.12 – Inadimplência PF Principais modalidades

Base de dados

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Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez

Até 3 salários mínimosDe 3 a 5 salários mínimosDe 5 a 10 salários mínimosMaior que 10 salários mínimos

Gráfico 2.3.11 – Inadimplência por faixa de rendaPessoa física

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Base de dados

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participação no estoque total de crédito, de 45% em junho de 2014 para 42,5% em dezembro de 2014, consequência de crescimento cada vez menor da carteira de crédito para essas empresas (gráfico 2.3.13).

Nos bancos privados, a inadimplência apresentou uma leve queda ao longo do segundo semestre de 2014, ao passo que, nos bancos públicos, aumentou na mesma base de comparação, tendência esta observada ao longo do último ano (gráfico 2.3.14).

Apesar da elevação da inadimplência das PMEs nos bancos públicos, a inadimplência das pessoas jurídicas como um todo teve leve queda no segundo semestre de 2014, em razão da relativa estabilidade dos atrasos das PMEs nos bancos privados e do aumento da participação das carteiras das grandes empresas (57,5%), cuja inadimplência ficou relativamente estável, oscilando entre 0,4 e 0,5% (gráfico 2.3.15).

estabilidade. Destaca-se a continuidade do vigoroso ciclo de queda da inadimplência nos financiamentos de veículos, consequência do reposicionamento estratégico das instituições financeiras, que reduziram o apetite a risco para financiamentos de veículos usados em favor dos veículos novos e seminovos, resultando em critérios de concessão mais conservadores, especialmente no que se refere ao loan-to-value (LTV) e ao prazo das operações, que permaneceram estáveis. Também contribuíram para a queda da inadimplência dessa carteira as baixas para prejuízo das operações de alto risco concedidas em safras mais antigas, anteriores a 2012, cabendo destacar que as safras de concessão mais recentes vêm apresentando nível de inadimplência em patamares baixos e estáveis. Essa redução do risco da carteira de veículos teve contribuição importante na redução da inadimplência na carteira de pessoa física (PF), com efeito mais significativo nos bancos privados.

Em relação ao crédito imobiliário, vale ressaltar que a carteira vinha apresentando tendência de aumento da inadimplência até novembro, a qual foi revertida em dezembro. No entanto, parte significativa dessa redução de inadimplência está associada à renegociação das operações, incluindo a repactuação de prazos e de outras condições contratuais dos financiamentos que se encontravam em atraso.60 Cabe contrapor, no entanto, que se trata de modalidade com baixo nível histórico de perdas, por conta de suas garantias.

Quanto às perspectivas para o mercado de crédito à pessoa física, a Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito no Brasil (PTCC) de dezembro/2014, realizada pelo BCB, indicou que uma potencial redução na oferta de crédito às pessoas físicas teria como principal fator a preocupação com o nível de emprego e com as condições salariais. Tais elementos podem impactar de forma mais acentuada a concessão e os riscos de crédito nas carteiras de crédito para pessoas físicas no início de 2015 e seus desdobramentos devem ser observados ao longo do ano.

No que tange ao crédito à pessoa jurídica, a análise por porte dos tomadores de crédito aponta que pequenas e médias empresas (PME)61 continuaram perdendo

60/ Tal movimento de renegociação de contratos em atraso se concentrou especialmente nos bancos públicos. Caso as renegociações não tivessem sido realizadas, haveria um pequeno incremento da inadimplência do crédito imobiliário nesse segmento.

61/ A segregação por porte utilizou como proxy o valor devido das operações de crédito doméstico. As PME são aquelas cujas dívidas são inferiores a R$100 milhões, e as grandes, as com dívidas iguais ou superiores a R$100 milhões.

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Público Privado Total

Gráfico 2.3.13 – Crescimento anual do crédito Pessoa jurídica – Pequenas e médias empresas

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Dez2011

Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez

Público Privado Total

Gráfico 2.3.14 – InadimplênciaPessoa jurídica – Pequenas e médias empresas %

Base de dados

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Para as grandes empresas, a taxa de crescimento anual do crédito ficou em patamar próximo ao do ano anterior62 (gráfico 2.3.15), sem grandes diferenças entre os bancos de controle privado ou público. Entre os setores econômicos mais representativos, o crédito para os grandes tomadores cresceu mais em setores como energia e governo,63 ao longo do segundo semestre de 2014. No geral, para o início de 2015, há incerteza do comportamento do crédito para as grandes empresas, principalmente no que tange às concessões para as atividades das indústrias de petróleo e de construção pesada.

Para o universo das empresas, a PTCC apontava para uma expectativa de oferta menor de crédito para as grandes empresas ao longo dos meses iniciais de 2015, basicamente em razão das condições gerais da economia doméstica; no caso das micro, pequenas e médias empresas, os níveis de inadimplência e de tolerância ao risco são os principais limitadores à oferta de crédito no início do ano. Para essas empresas, do ponto de vista da demanda, o principal fator de impacto para a tomada de crédito é a alteração das taxas de juros. De um modo geral, a conjunção de tais fatores é determinante para o comportamento da aprovação de crédito às empresas, ao menos para o início do ano corrente.

Por fim, o menor ritmo de crescimento das carteiras, dinâmica predominante no crédito doméstico no segundo semestre e, em um horizonte mais amplo, ao longo de 2014, tende a continuar presente no início de 2015. O fraco ritmo de crescimento do crédito nos

62/ Crescimento de 19,5% em 2014 ante 18,5% em 2013.63/ O setor governo é constituído principalmente pela administração direta.

Entre os devedores que mais aumentaram o endividamento no último ano estão principalmente governos estaduais.

bancos privados, a contínua desaceleração dos bancos públicos, inclusive considerando-se um cenário de maior restrição de recursos orçamentários ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), bem como as tendências para demanda e oferta de crédito, sugerem a manutenção do baixo crescimento do estoque nos próximos meses, eventualmente em ritmo até menor que o observado no semestre em análise.

Se em períodos anteriores diversos agentes expressaram preocupação com o ritmo excessivo de crescimento, em particular dos bancos públicos, então o atual arrefecimento não é indesejável na perspectiva da estabilidade financeira. Resta, porém, que a retomada do crescimento do crédito nas instituições privadas se mostraria oportuna a fim de assegurar um sistema de crédito diversificado em termos de agentes, de produtos e de fontes de recursos.

Quanto à inadimplência, não se esperam variações abruptas, não obstante as incertezas derivadas do ambiente econômico nacional e internacional e dos elementos do mercado doméstico apresentados nos parágrafos anteriores. Ainda assim, e mesmo que as alterações do cenário possam resultar em alguma elevação mais significativa da inadimplência, o SFN, em geral, apresenta adequados fundamentos para fazer frente a esse ambiente, notadamente o elevado nível de provisões, mas também a adoção de políticas de risco saudáveis. Os principais fatores a serem observados quanto a seus impactos e tendências são, além da evolução do ambiente econômico interno e externo, os efeitos da Operação Lava Jato na solvência de setores específicos e o cenário de incerteza sobre as condições e custos da oferta de energia elétrica e de água, bem como a evolução da inadimplência nas instituições financeiras de controle público.

2.4 Rentabilidade

O retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL)64 do sistema bancário avançou 0,3 p.p. no semestre e atingiu 13,0% a.a. em dezembro de 2014, ampliando sua vantagem em relação à proxy para taxa livre de risco65 (gráfico 2.4.1).

64/ A partir deste REF, os instrumentos de dívida elegíveis a capital principal, conforme Resolução nº 4.192 de 2013, artigo 16, § 2º, contabilizados no passivo exigível, estão sendo considerados como PL para fins de cálculo do RSPL.

65/ Para efeito de comparação com o RSPL, utilizou-se como proxy para taxa livre de risco a média anual da Selic acumulada nos últimos 36 meses, multiplicada por 0,85 para minimizar efeitos tributários. O prazo de 36 meses foi definido com base no prazo médio da carteira de crédito, principal fonte de receita do sistema bancário.

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Dez2011

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Crescimento anual do crédito

Inadimplência (eixo da esquerda)

Gráfico 2.3.15 – Crescimento anual do crédito e inadimplênciaPessoa jurídica – Grandes empresas

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Base de dados

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Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 26

A elevação no resultado de intermediação financeira67 também contribuiu para o melhor desempenho do sistema no semestre. Apesar do aumento de R$4,4 bilhões em despesas de provisão,68 interrompendo a trajetória de redução observada nos últimos três semestres, e do menor avanço no resultado de tesouraria quando comparado a junho de 2014, o resultado de intermediação líquido cresceu R$8,0 bilhões.

No segundo semestre de 2014, a rentabilidade bruta da carteira de crédito dos bancos públicos voltou a subir, acompanhando a elevação dos custos de captação. Isso permitiu a interrupção da acentuada queda da margem líquida, a qual se manteve praticamente estável (gráfico 2.4.4). Desse modo, houve leve avanço do resultado das operações de crédito desses bancos, o que não acontecia havia dois semestres, contribuindo para melhorar o resultado de intermediação financeira.

O resultado das operações de crédito dos bancos privados manteve a trajetória de crescimento, beneficiando-se do movimento de reestruturação de suas carteiras iniciado em 2012. Se, por um lado, os ganhos com o volume das operações tornaram-se menos expressivos, por outro lado, menores despesas de provisões têm ajudado a manter a margem líquida estável, permitindo avanços contínuos no resultado.

67/ O resultado de intermediação financeira é composto pelo resultado com crédito e pelo resultado com tesouraria.

68/ Considera-se o resultado de despesas de provisão líquido de reversões, de recuperação de crédito e de descontos concedidos em renegociação.

Esse avanço foi determinado pela atuação dos bancos privados, cujo lucro líquido (LL) cresceu R$4,3 bilhões. O LL dos bancos públicos manteve-se estável (gráfico 2.4.2).

Não obstante a opção por limitar a expansão da carteira de crédito, os bancos têm aumentado o foco em outros negócios, tais como seguros, previdência, capitalização e adquirência,66 os quais têm ganhado crescente participação no LL do sistema. No segundo semestre de 2014, o resultado de participações societárias avançou 21,9%, impulsionando o avanço do LL do sistema bancário (gráfico 2.4.3).

66/ O negócio de adquirência, cujo resultado entra no sistema bancário via participação societária, refere-se ao credenciamento de lojistas para captura de transações com cartões. Os bancos atuam no mercado de meios de pagamento, também, por meio da emissão de cartões, gerando receitas de serviços.

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RSPL anual

Proxy para taxa livre de risco

RSPL anual / proxy para taxa livre de risco (eixo da esquerda)

Gráfico 2.4.1 – Retorno sobre o patrimônio líquido anualAcumulado nos últimos doze meses

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Dez2012

Jun2013

Dez Jun2014

Dez

R$ bilhões

Resultado com créditoResultado com tesourariaReceitas com serviçosOutros resultados operacionais e não operacionaisResultado de participação societáriaDespesas administrativas (eixo da esquerda)

Gráfico 2.4.3 – Composição do resultado, antes detributos sobre faturamento e lucroAcumulado nos últimos doze meses

R$ bilhões

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Dez2009

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Dez Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

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LL bancos públicos (eixo da esquerda)

LL bancos privados (eixo da esquerda)

RSPL bancos privados

RSPL bancos públicos

Gráfico 2.4.2 – Lucro líquido e RSPL anual por controle acionárioAcumulado nos últimos doze meses

R$ bilhões %

Base de dados

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Adicionalmente, as receitas de serviços do sistema bancário (gráfico 2.4.5) continuam a crescer, impulsionadas pelo mercado de cartão de crédito, e especificamente nos bancos públicos também pela atividade de administração de fundos e programas de governo e loterias. As despesas administrativas, por sua vez, seguem controladas com rigor pelos bancos privados e crescem abaixo da inflação, contribuindo para aumentar a eficiência. Nos bancos públicos, o crescimento das despesas administrativas ainda é elevado quando comparado ao incremento de resultado, o que leva à piora na eficiência. No entanto, percebe-se que nesses bancos houve contenção de despesas administrativas ao longo de 2014, com a redução do crescimento na despesa mais representativa, a de pessoal.

Destaque-se que o avanço do lucro líquido foi possível mesmo com a significativa redução em outros resultados operacionais e não operacionais (gráfico 2.4.3), decorrente basicamente de menores ganhos com a reversão de provisões para contingências fiscais69 e com a venda de participações acionárias, o que sugere melhora na qualidade da composição do resultado.

Considerando as instituições individualmente, verificou-se redução no número de instituições com prejuízo acumulado nos últimos doze meses (gráfico 2.4.6). Essa melhora deve-se, principalmente, a um grupo de instituições que conseguiu reverter prejuízos em razão de rendas com títulos e valores mobiliários, câmbio e aplicações em moedas estrangeiras.

Para 2015, se confirmadas a expectativa do mercado para crescimento do PIB e as previsões dos maiores bancos para crescimento da carteira de crédito, não haverá ganho expressivo no volume de operações. O custo de captação continuará em elevação, pressionando a margem líquida de crédito, cujo comportamento dependerá, principalmente, da dinâmica da inadimplência.

Esse cenário deve dificultar avanços significativos no resultado de intermediação financeira. Desse modo, desconsiderando fontes não recorrentes de resultado, os ganhos de rentabilidade passam a depender mais dos ganhos de eficiência, a partir da ampliação de receitas de serviços e de receitas em outros negócios e da limitação das despesas administrativas.

69/ Em 2013, a adesão ao Programa de Recuperação Fiscal (Refis) gerou ganhos extraordinários de aproximadamente R$5 bilhões com reversões de provisões.

Base de dados

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Dez2009

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Dez

Rentabilidade líquida das operações: bancos privadosRentabilidade líquida das operações: bancos públicosCusto de captação: bancos privadosCusto de captação: bancos públicosMargem líquida de crédito: bancos privadosMargem líquida de crédito: bancos públicos

Gráfico 2.4.4 – Margem de crédito, por controle acionárioAcumulado nos últimos doze meses %

35 37

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RSPL < 0 0 < RSPL < 0,85 * Selic RSPL > 0,85 * Selic

Junho 2014 Dezembro 2014

1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com RSPL

% dos ativos do sistema

Gráfico 2.4.6 – Distribuição de frequência do RSPL anual1/

anual pertencente ao intervalo correspondente.

Base de dados

0

4

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Dez2010

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez

Despesas administrativas: bancos privadosDespesas administrativas: bancos públicosReceita de serviços: bancos privadosReceita de serviços: bancos públicosInflação doze meses IPCA/IBGE

Gráfico 2.4.5 – Taxa anual de crescimento de despesas administrativas e receitas de serviçosAcumulado nos últimos doze meses

%

Base de dados

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2.5 Solvência

A solvência do sistema bancário permaneceu estável no semestre e as métricas utilizadas para a sua mensuração continuaram em patamar elevado. Os índices de capitalização seguiram em níveis superiores aos dos requerimentos regulatórios, o que, associado aos resultados da simulação da plena implementação do arcabouço de Basileia III e da introdução do futuro requerimento de razão de alavancagem, confirmaram a confortável situação de solvência do sistema.

Em dezembro de 2014, o Índice de Basileia (IB) atingiu 16,7% (gráfico 2.5.1), aumento absoluto de 1,2 p.p. em relação a junho de 2014, influenciado por mudanças regulatórias70 que visaram a adequar o arcabouço normativo à fase atual do ciclo de crédito no Brasil.

O índice de capital principal, que, isoladamente, supera os três requerimentos regulatórios, apresentou aumento de 1,4 p.p. no período, para 12,3%, influenciado por aditamento, nos bancos públicos, de instrumentos elegíveis a capital adquiridos pela União, de forma que passaram a atender aos requisitos para enquadramento como capital principal nos termos da Resolução nº 4.192, de 1º de março de 2013, e por retenção de resultados do exercício.

70/ As principais alterações trazidas pelas circulares nº 3.711 e de 3.714, de 25 de julho de 2014 e 20 de agosto de 2014, respectivamente, são: a ampliação dos critérios de exposição e de receita máximas para classificação de operações como varejo; a introdução do mitigador de risco de crédito para empréstimo consignado do INSS e de servidores públicos; a extinção dos fatores de ponderação de risco (Fpr) aplicados a algumas exposições de crédito (150% e 300%); a redução dos fatores de conversão em crédito de operações de comércio exterior e de garantias de performance; e a redefinição de Fprs para exposições a risco soberano.

O Patrimônio de Referência (PR) atingiu R$663,4 bilhões em dezembro de 2014, aumento de R$43,9 bilhões em relação a junho de 2014. Destacaram-se como contribuição positiva para a variação do PR a retenção de resultados de aproximadamente R$18 bilhões, a emissão de R$11,2 bilhões em instrumentos elegíveis a capital de nível II e o ganho oriundo de aditamento de instrumentos híbridos de capital e dívida emitidos por bancos públicos comerciais (R$7,2 bilhões).

Os ativos ponderados pelo risco (RWA) reduziram 0,6% para R$3.979,2 bilhões71 em dezembro de 2014, influenciados principalmente por mudanças regulatórias que reverteram as medidas macroprudenciais72 adotadas a partir de 2010 e trouxeram alterações que visam a dar continuidade ao processo de convergência da regulação brasileira aos parâmetros internacionais de Basileia.

Em linha com os dados agregados do sistema, verifica-se melhora na capitalização de instituições financeiras entre junho e dezembro de 2014 (gráfico 2.5.2), inexistindo em dezembro qualquer instituição com nível de capital principal inferior a 7% do RWA, que será o nível requerido em 2019, caso o adicional de capital principal73

mantenha-se nos limites inferiores estabelecidos no art. 8º, incisos de I a IV, da Resolução nº 4.193, de 2013.

71/ 89,5% do RWA correspondem ao risco de crédito.72/ As circulares nº 3.515 e 3.563, de 3 de dezembro de 2010 e 11 de novembro

de 2011, respectivamente, criaram Fprs de 150% e 300% para modalidades de crédito de prazo mais dilatado.

73/ A circular nº 3.741, de 29 de dezembro de 2014, que dispõe sobre a fixação do valor do Adicional de Capital Principal (ACP), estabeleceu nos limites inferiores o valor do ACP que vigorará a partir de 1º de janeiro de 2016.

1 0 310

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<4,5 4,5 - 5,125 5,125 - 7 7 - 10,5 >10,5

Junho 2014 Dezembro 2014

1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com índice de

%

capital principal pertencente àquele intervalo.

Gráfico 2.5.2 – Distribuição de frequência para o índice de capital principal ponderado por ativos1/

Base de dados

11,811

5,5

12,3

12,9 13

16,6

4,5

16,7

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15

18

Nov2013

Jan2014

Jun Dez

%

Índice de capital principalÍndice de patrimônio de referência nível IÍndice de Basileia

Gráfico 2.5.1 – Índices de capitalização eexigência regulatória1/

1/ As setas representam os requerimentos regulatórios para os diferentesníveis de capital.

Base de dados

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Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 29

Quando se simula a aplicação dos ajustes regulatórios de Basileia III em sua totalidade74 aos dados de junho75 e de dezembro de 2014, fica evidenciada estabilidade no nível de capitalização do sistema. O IB projetado, caso as regras que entrarão em vigor até 2019 estivessem válidas imediatamente, apresentaria aumento de 0,3 p.p., para 13,5%, enquanto a necessidade total de capital do SFN para atender aos requerimentos futuros76 aumentaria de R$2,1 bilhões em junho de 2014 para R$4 bilhões77 em dezembro, equivalente a 0,6% do PR do SFN ou a 6,5% do lucro anual do sistema em 2014.

Ainda com base nas simulações de Basileia III, verifica-se a estabilidade no nível de capitalização quando se considera as instituições individualmente (gráfico 2.5.3), em linha com o dado agregado do sistema.

A sólida situação de solvência do SFN é constatada quando se analisa a posição brasileira em relação à razão de alavancagem (gráfico 2.5.4), futuro requerimento regulatório que teve a metodologia de cálculo definida pela Circular nº 3.748, de 27 de fevereiro de 2015.

74/ Os ajustes regulatórios de Basileia III têm cronograma de implantação que vigerá até 2018, conforme a Resolução nº 4.192 de 2013.

75/ Nesse exercício, para os dados de junho, as alterações normativas promovidas pelas circulares nº 3.711 e 3.714, de 2014, são consideradas. Elas afetam os índices de capitalização e realinham o requerimento de capital para algumas modalidades de exposição. Também já se consideram como capital principal os instrumentos híbridos de capital e dívida adquiridos pela União e emitidos pelos bancos públicos comerciais, em virtude de readequação das cláusulas e nova autorização do BCB, nos termos da Resolução nº 4.192, de 2013.

76/ Em 2019, considera-se requerimento de 7% do RWA constituído sob a forma de capital principal, 8,5% do RWA sob a forma de capital de nível I e 10,5% do RWA sob a forma de PR, contemplando o limite inferior do adicional de capital principal, conforme a Resolução nº 4.193, de 1° de março de 2013.

77/ As projeções de capitalização para 2019 revelam que doze instituições não atenderiam a pelo menos um dos requerimentos de capital regulatório em junho e seis em dezembro de 2014.

Simulações indicam que o índice de alavancagem para o SFN em dezembro de 2014 seria de 7,1%, 0,2 p.p. abaixo do índice obtido com os dados de junho, embora bem superior ao potencial requerimento inicial de 3% estabelecido no arcabouço internacional.78

É também possível aferir a solidez do SFN por meio da comparação de indicadores com outras jurisdições. Para esse fim, avaliou-se o IB e a relação capital/ativos, uma medida mais simples de alavancagem, para uma amostra de países componentes do G-20.79 Esse exercício corrobora a percepção de robustez do SFN, colocando o Brasil entre as economias que apresentam maior IB e menor alavancagem – maior capital/ativos (gráfico 2.5.5).

78/ Para a versão final da norma internacional de alavancagem, ver <http://www.bis.org/publ/bcbs270.htm>.

79/ G-20 é o grupo constituído em 1999, composto pelas dezenove maiores economias mundiais e pela União Europeia.

AU

FRIN

CHIT

RU

JPKO

USA

UK

SA

CA

AR

MXBR2/

ID

TU

GE

0

3

6

9

12

15

10 12 14 16 18 20

Gráfico 2.5.5 – Capital/ativos e IBÚltimos dados disponíveis1/

Fonte: FMI. 1/ As siglas acima correspondem a:

Capital/ativos (%)

IB (%)

AR = Argentina; AU = Austrália; BR = Brasil; CA = Canadá; CH = China; FR = França; GE = Alemanha; ID = Indonésia; IN = Índia; IT = Itália; JP = Japão; KO = Coreia do Sul; MX = México; RU = Rússia; SA = África do Sul; TU = Turquia; UK = Reino Unido; e USA = Estados Unidos da América.

2/ As informações divergem dos dados encontrados em <http://fsi.imf.org>, em razão de serem utilizados dados de dezembro de 2014 do BCB, ainda nãodisponíveis no referido sítio.

Base de dados

2 5

13

17 950

6

14

13

990

16

32

48

64

80

0-3 3-5 5-7 7-9 >9Junho 2014 Dezembro 2014

1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com razão de

%

Gráfico 2.5.4 – Distribuição de frequência para a razãode alavancagem ponderada por ativos1/

alavancagem pertencente àquele intervalo.

Base de dados

3 0

1

12116

0 0

4

11117

0

10

20

30

40

50

<4,5 4,5-5,125 5,125-7 7-10,5 >10,5

Junho 2014 – Proj. 2019 Dezembro 2014 – Proj. 2019

1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com índice de

%

Gráfico 2.5.3 – Distribuição de frequência para a projeçãodo índice de capital principal ponderado por ativos1/

capital principal pertencente àquele intervalo.

Base de dados

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Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 30

Concluindo, a solvência do sistema bancário continua elevada, com níveis de capitalização adequados para suportar os riscos assumidos. Grande parte da variação nominal dos referidos índices é resultado de retenção de resultados e de alteração no método de cálculo do RWA, para torná-lo mais compatível com as recomendações internacionais. Simulações da plena implementação de Basileia III – considerando o mesmo arcabouço normativo – e da introdução do futuro requerimento de razão de alavancagem reforçam a conclusão acerca da estabilidade da solvência em patamar elevado.

2.6 Testes de estresse de capital80

Com a finalidade de mensurar a resistência, bem como a capacidade de absorção de perdas causadas pela materialização dos principais riscos a que o sistema bancário se encontra exposto, foram simuladas alterações extremas e adversas nas principais variáveis econômicas e financeiras.

Os resultados obtidos permitem concluir que o sistema bancário brasileiro apresenta adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários adversos por seis trimestres consecutivos; mudanças abruptas nas taxas de juros e de câmbio, ou na inadimplência; ou queda generalizada dos preços dos imóveis residenciais.

80/ Para detalhes sobre o conceito de teste de estresse e a metodologia relacionada aos testes e cenários, veja-se o anexo Conceitos e Metodologias – Estresse de Capital.

2.6.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas

A análise de cenário baseia-se em modelo estatístico que relaciona o risco de crédito da carteira de empréstimos e financiamentos dos bancos a cenários macroeconômicos. Essa análise contempla quatro cenários para um horizonte de seis trimestres consecutivos e projeta a inadimplência e o crescimento da carteira de crédito a partir desses cenários. Todos se fundamentam na projeção da atividade econômica e das taxas de juros, de câmbio e de inflação, além de choques externos medidos pelo prêmio de risco Brasil e pelos juros americanos.

Na tabela 2.6.1 podem ser observadas as variáveis que compõem cada cenário: cenário-base, VAR estressado, quebra estrutural e pior histórico. As inadimplências projetadas podem ser vistas no gráfico 2.6.1.

Os resultados do VAR estressado revelam que a inadimplência projetada atingiria o máximo de 5,9%, superando as provisões constituídas em dezembro de 2014 em 0,9 p.p. Para o cenário de quebra estrutural, o máximo seria de 6,1%. Ambos seriam atingidos em junho de 2016.

Apesar de as projeções das variáveis macroeconômicas no cenário VAR estressado serem mais desfavoráveis

Tabela 2.6.1 – Cenários de estresse macroeconômico (junho de 2016)

VAR estressado (α = 5%) Quebra estrutural Pior histórico

Atividade econômica (IBC-Br) 0,0% 0,5% -4,2% -4,2% 0,2%

Juros(Selic) 11,2% 11,8% 12,7% 24,7% 12,5%

Câmbio(R$/US$) 2,55 2,84 3,76 3,96 3,30

Inflação(IPCA) 6,2% 5,7% 4,3% 17,4% 12,1%

Desemprego(PME-IBGE) 5,1% 4,3% 9,7% 9,7% 5,7%

Prêmio de risco(EMBI+ Br)2/ 243 243 243 243 352

Juros americanos(Treasury 10 anos) 2,3% 3,7% 5,0% 5,0% 2,1%

mantidas constantes por todo o período de projeção.

gradativamente ao valor inicial em junho de 2016.

Adversos

1/ As variáveis obtidas da pesquisa Focus são a previsão para o PIB, para a Selic, para o câmbio e para a inflação. As demais variáveis são

2/ Para o VAR estressado e quebra estrutural, o prêmio de risco Brasil (EMBI+Br) máximo, igual a 467, é atingido em junho de 2015, retornando

Cenários Dez 2014 Cenário base1/

Base de dados

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Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 31

2.6.2 Análise de sensibilidade

A análise de sensibilidade consiste na aplicação de variações incrementais nos principais fatores de risco a que está exposto o SFN e a avaliação dos efeitos isolados das alterações em cada uma dessas variáveis sobre o capital e os índices de capitalização dos bancos, mantendo-se os demais fatores de risco inalterados. Os fatores de risco analisados são taxas de juros, taxa de câmbio, inadimplência e redução nos preços de imóveis residenciais.

Os testes de sensibilidade às taxas de câmbio e de juros revelam que os impactos seriam irrelevantes para o sistema.

O resultado dos testes de sensibilidade à materialização do risco de crédito, sumarizados no gráfico 2.6.4, indica que, caso se repita a maior inadimplência já observada no sistema bancário brasileiro desde dezembro de 2000, próxima a 7%, a representatividade dos ativos das instituições bancárias desenquadradas seria de 1,0% do total de ativos do sistema bancário.

Em uma situação de inadimplência extrema, próxima de 14,2%, as instituições desenquadradas necessitariam de um aporte de capital de 3,7% do patrimônio de referência do sistema para que se evitasse o desenquadramento.

Na simulação de reduções sequenciais nos preços de imóveis,82 somente após 30% de queda – variação semelhante à depreciação acumulada em três anos

82/ A primeira análise do impacto dos preços dos imóveis no sistema bancário foi publicada no Relatório de Estabilidade Financeira, Volume 13, Número 1 (Março 2014), no boxe intitulado “Análise de Sensibilidade do Sistema Financeiro Nacional a Variações Negativas dos Preços de Imóveis Residenciais”.

em relação às mesmas projeções realizadas em junho de 2014, houve significativa redução da necessidade de capital (gráfico 2.6.2) por conta dos efeitos das circulares nº 3.711 e 3.714, do tratamento dos Instrumentos Híbridos de Capital e Dívida (IHCDs) nos bancos públicos, da retenção de resultados e da redução da projeção do crescimento do crédito. Em todos os cenários, o sistema bancário permanece com seus índices de capitalização acima dos mínimos regulamentares.

Assim, num cenário de seis trimestres de deterioração macroeconômica, a necessidade estimada de capitalização do sistema para que nenhum banco ficasse desenquadrado81 seria de 0,39% do patrimônio de referência atual do sistema (gráfico 2.6.3).

81/ Uma instituição é considerada desenquadrada se não atender a pelo menos um dos três índices de exigência de capital: Índice de Basileia (IB), Índice de Capital Nível 1 (IPR1) e Índice de Capital Principal (ICP).

USADO ESTE 2.6.3 NO REF201412

0,0

3,6

7,2

10,8

14,4

18,0

0

1

2

4

5

6

Dez2014

Mar Jun Set2015

Dez Mar Jun2016

Capital principal (dir.) Complementar (dir.)

Nível 2 (dir.) Índice de Basileia

Gráfico 2.6.3 – Necessidades de capital VAR estressado

% do PRÍndice de Basileia (%)

0,0

1,4

2,8

4,2

5,6

7,0

Dez2014

Mar Jun Set2015

Dez Mar Jun2016

Cenário FocusVAR estressado (α = 5%)Quebra estruturalPior históricoProvisões constituídas (dez/2014)

Gráfico 2.6.1 – Estresse macroeconômico Inadimplência projetada %

Base de dados

Base de dados

USADO ESTE 2.6.3 NO REF201412

0,0

0,6

1,2

1,8

2,4

3,0

0 1 2 3 4 5 6Trimestres

Data base junho 2014 Data base dezembro 2014

Gráfico 2.6.2 – Necessidades de capitalVAR estressado – Evolução % do PR

Base de dados

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Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 32

ocorrida na última crise imobiliária norte-americana – uma instituição ficaria desenquadrada. Em relação à insolvência, seria necessária uma queda de mais de 50% para que uma instituição ficasse com seu capital principal negativo. O gráfico 2.6.5 detalha os resultados.

As análises de sensibilidade confirmam que o sistema bancário brasileiro apresenta elevada resistência, uma vez que o índice de Basileia do conjunto de instituições bancárias só ficaria levemente abaixo do mínimo regulamentar em situações extremamente adversas.

IB Estressado (%)

22,1

0,613,9

16,7 10,1

0,0

18,3

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

28

30

32

34

36

38

40

42

44

46

48

50

52

54

56

58

60

62

64

66

68

70

72

74

76

78

80

82

84

86

88

90

92

94

96

98

100

0

4

8

12

16

20

24

28

32

36

40

44

48

52

56

60

64

68

72

76

80

84

88

92

96

100

104

108

112

116

120

124

128

132

136

140

144

148

152

156

160

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90Queda no preço dos imóveis (%)

Queda percentual acumulada do

S&P Case-Shiller 10 (EUA) durante a crise do subprime

(abr/06 a mai/09)

Gráfico 2.6.5 – Análise de sensibilidadeRisco de crédito imobiliário residencial

Necessidade de capital (% do capital total):

PrincipalComplementarNível II

Bancos em insolvência (% do ativo total)Bancos desenquadrados (% do ativo total)

IB estressado (%)

Base de dados

1,20,61,9

0,0

2,5

16,7 12,8

0,0 1,0

26,9

0

2

4

6

8

10

12

0

4

8

12

16

20

24

28

32

36

40

44

48

52

56

60

64

68

72

76

80

84

88

92

96

100

104

108

112

116

120

124

128

132

136

140

144

148

152

156

160

3 5 7 9 11 13

Gráfico 2.6.4 – Análise de sensibilidadeRisco de crédito

Inadimplência média do sistema (%)

Provisão constituída

atual

Bancos em insolvência (% do ativo total)Bancos desenquadrados (% do ativo total)

IB estressado (%)

Necessidade de capital (% do capital total):

Principal

ComplementarNível II

Maior inadimplência observada

(desde dez/2000)

Base de dados

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Shadow Banking no Brasil

1 Introdução

Um dos fatores de amplificação da última crise financeira internacional foi a existência de ativos financeiros escriturados fora do balanço dos bancos. Além disso, várias entidades, com pouca ou nenhuma regulação, empreendiam intermediação financeira similar à bancária, mas ficavam “à sombra” da regulação e da supervisão. Nesse contexto, surgiu o termo shadow banking system1 para designar o conjunto de tais entidades e atividades.

Em 2010, o G20 atribuiu ao Comitê de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês) o desafio de desenvolver propostas para reduzir os riscos relacionados ao shadow banking. Assim, o FSB, juntamente com o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia (BCBS, na sigla em inglês) e a Organização Internacional das Comissões de Valores (IOSCO, na sigla em inglês), vem empreendendo esforços com vistas a ampliar o entendimento do conceito de shadow banking, bem como das entidades e atividades a ele relacionadas, com intuito de desenvolver recomendações de políticas efetivas para proteger o sistema financeiro e a economia real.

A definição atualmente adotada por esses organismos estabelece o shadow banking como um sistema de intermediação de crédito que envolve atividades e entidades fora do sistema bancário tradicional2.

Por um lado, tais atividades podem ser complementares ou concorrentes às desempenhadas pelo sistema bancário tradicional, ampliando o acesso ao crédito e provendo fontes alternativas de investimento, contribuindo, dessa forma, para uma maior eficiência do mercado financeiro. Por outro lado, o shadow banking pode ser fonte de risco sistêmico, por envolver, sem a devida supervisão e regulação, riscos tipicamente bancários, tais como alavancagem, transformações de maturidade e de liquidez e transferência de risco de crédito. Além disso, suas conexões com os bancos podem implicar na transferência de riscos desse setor para o sistema bancário tradicional, razão pela qual os organismos internacionais têm desenvolvido estudos e recomendações com o objetivo de reduzir as oportunidades de arbitragem regulatória e de mitigar a disseminação de riscos entre os diversos setores do sistema financeiro.

2 Estimativas do shadow banking

O esforço de mapeamento do shadow banking global, coordenado pelo FSB, produz uma estimativa dos ativos de todas as entidades e atividades que, numa interpretação ampla, enquadram-se no conceito de shadow banking. Posteriormente, um refinamento é empreendido com vistas a manter apenas instituições cujas atividades – em particular, transformação de maturidade ou de liquidez, transferência imperfeita de risco de crédito ou

1/ Também conhecido como sistema bancário paralelo, bancos-sombra ou market-based financing. Utilizaremos o termo shadow banking por ser o mais difundido internacionalmente.

2/ Para maiores detalhes, vide Shadow Banking: Strengthening Oversight and Regulation, publicado pelo FSB em outubro de 2011, e disponível em http://www.financialstabilityboard.org/wp-content/uploads/r_111027a.pdf.

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alavancagem – de fato contribuem para o aumento do risco sistêmico ou indicam alguma arbitragem regulatória que esteja minando os benefícios da regulação financeira.

2.1 Estimativa ampla

A estimativa ampla dos ativos do shadow banking global é de US$63,8 trilhões em dezembro de 20133. No caso brasileiro, essa estimativa compreende uma vasta gama de participantes4 do Sistema Financeiro Nacional (SFN), tais como fundos de investimento5, veículos estruturados ou estruturas de securitização – fundos de investimento em direitos creditórios (FIDC), certificados de recebíveis imobiliários (CRI) e certificados de recebíveis do agronegócio (CRA) –, fundos de investimento imobiliário (FII), intermediários de mercado6 e companhias financeiras7 (gráfico 1).

A estimativa ampla dos ativos do shadow banking brasileiro era de R$2,6 trilhões (US$1,1 trilhão) ao final de 2013, valor correspondente a 1,8% da estimativa ampla global do FSB – participação que pouco variou nos últimos anos –, a 54,2% do PIB doméstico, e a 46,1% dos ativos do sistema bancário tradicional brasileiro,8

3/ No último relatório anual de mapeamento do shadow banking global, o citado refinamento empreendido pelo FSB, que resultou numa estimativa de US$34,9 trilhões, contemplou a exclusão dos fundos de ações, das operações de self-securitisation e das entidades típicas de shadow banking que são prudencialmente consolidadas em conglomerados bancários. Este relatório está disponível em http://www.financialstabilityboard.org/wp-content/uploads/r_141030.pdf, apenas em inglês.

4/ As seguradoras, reguladas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), e os fundos de pensão, regulados pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), não são incluídos no conceito de shadow banking pelo FSB e pelo BCB, tendo em vista que não estão envolvidos em significativa transformação de maturidade ou de liquidez.

5/ Os fundos de investimento regidos pela Instrução CVM nº 409/2004 (atual ICVM 555/2014, que entrará em vigor em julho de 2015), regulados e supervisionados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), foram incluídos na estimativa ampla do shadow banking por se classificarem como veículos coletivos de investimento, a princípio, estando sujeitos a corridas, além de poderem se envolver em transferência de risco de crédito, em transformação de maturidade e de liquidez e em alavancagem.

6/ Correspondem basicamente às corretoras de câmbio e às corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários, que foram incluídas na estimativa ampla do shadow banking para fins de harmonização com os padrões internacionais, segundo a qual entidades semelhantes envolvem-se em financiamentos a clientes com recursos captados no mercado financeiro.

7/ O conceito de “companhias financeiras”, que compreende entidades que financiam clientes ou negócios com funding de curto prazo, no Brasil, corresponde às sociedades de arrendamento mercantil, às sociedades de crédito imobiliário repassadoras e às sociedades de crédito ao microempreendedor que não pertencem a conglomerado bancário. Embora essas entidades sejam reguladas e supervisionadas pelo BCB de forma similar às entidades bancárias, foram incluídas na estimativa ampla do shadow banking por estarem envolvidas na concessão de crédito e não possuírem acesso direto ao BCB nem ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC), em linha com os padrões internacionais.

8/ Neste caso, o sistema bancário tradicional é composto por bancos e conglomerados bancários; por entidades similares por terem acesso ao BCB ou a fundos garantidores de crédito, inclusive as cooperativas de crédito, as sociedades de crédito, financiamento e investimento, as associações de poupança e empréstimo, os conglomerados não bancários de crédito, as companhias hipotecárias; e por instituições de controle governamental: os bancos de desenvolvimento e as agências de fomento.

2.360.870 90%

127.529 5%

53.809 2%

31.701 1%

1.572 0%

49.473 2%

Fundos de investimento

Veículos estruturados

Fundos imobiliários

Intermediários demercado

Companhias financeiras

Outros1/

Gráfico 1 – Estimativa ampla do shadow bankingbrasileiroDezembro 2013, ativos em R$ milhões

Fontes: BCB, CVM, Cetip, Susep, BM&F1/ Sociedades de capitalização, credenciadoras e emissores não bancários

de cartão de crédito.

Base de dados

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Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 35

razão esta próxima à média dos países participantes do exercício internacional. Todavia, o crescimento mais vigoroso do sistema bancário tradicional nos últimos anos (gráfico 2) tem concorrido para uma redução da importância relativa da estimativa ampla do shadow banking no país.

2.2 Estimativa estrita

Além do refinamento nas estimativas iniciado pelo FSB, as autoridades brasileiras9 têm se empenhado no sentido de melhorar a estimativa do shadow banking, com vistas a uma medida estrita que seja mais representativa dos riscos que essas entidades e atividades podem trazer ao SFN.

Análise dos fundos de investimento apontou que a indústria brasileira aplica seus recursos predominantemente em ativos de alta liquidez, como títulos públicos federais e operações compromissadas garantidas por esses mesmos títulos (gráfico 3), o que reduz sobremaneira as preocupações com transformação de liquidez e com transferência de risco de crédito. Além disso, o grau de alavancagem dos fundos brasileiros é baixo, com a razão contábil entre ativos e patrimônio líquido (PL) em torno de 103%.

Contudo, essa análise agregada não permite avaliar riscos que estão individualmente presentes nos balanços dos fundos de investimento. Procurou-se, então, identificar um conjunto mais restrito de entidades com atividades

9/ O BCB e a CVM são responsáveis pela coleta de informações para os grupos de trabalho internacionais coordenados pelo FSB.

100

160

220

280

340

400

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Sistema bancário tradicional Shadow banking amplo

Gráfico 2 – Sistema bancário tradicional e shadow banking – Estimativa amplaCrescimento acumulado dos ativos, 2005 = 100

Fontes: BCB, CVM

Base de dados

834.13435%

569.97624%

325.502; 14%

215.2969%

257.36211%

158.600 7%

Títulos públicos federais(TPFs)

Compromissadas comTPFs

Títulos bancários

Ações

Títulos privados de não-financeiras

Outros1/

Gráfico 3 – Ativos dos fundos de investimentoDezembro 2013, ativos em R$ milhões

1/ Inclui principalmente ativos no exterior e derivativos.

Fonte: CVM

Base de dados

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Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 36

características de shadow banking, ou seja, que poderia estar envolvido em transferência de risco de crédito, alavancagem e transformações de maturidade e de liquidez.

Nesse sentido, a CVM desenvolveu uma metodologia de refinamento dos fundos de investimento que compõem a estimativa ampla do shadow banking10, que consistiu na exclusão daqueles que não apresentam esses riscos, que poderiam levar a corrida na indústria de fundos – risco típico de setor bancário tradicional. Assim, foram retirados, por exemplo, os fundos: (i) fechados e exclusivos, por não serem sujeitos a corridas; (ii) de curto prazo, por não apresentarem transformação de maturidade ou de liquidez, nem alavancagem; (iii) de ações, dada a inexistência de intermediação de crédito; e (iv) de elevada liquidez e de baixa alavancagem11, com ativos líquidos12 superiores a 30% dos ativos totais e, ao mesmo tempo, alavancagem inferior a 125%. Empreendido esse refinamento, R$256,9 bilhões – somente 10,9% do total da indústria brasileira de fundos de investimento – corresponderam àqueles que poderiam apresentar alguma característica típica de shadow banking.

Além disso, do grupo de entidades que compõe a estimativa ampla, foram excluídos mais R$139,0 bilhões, referentes a: fundos de investimento imobiliário, por investirem predominantemente em propriedades imobiliárias; FIDCs fechados, por não estarem sujeitos a corridas; e CRIs e CRAs, por inexistência de transformações de maturidade e de liquidez.

Por fim, ao somar os ativos das demais entidades não pertencentes à indústria de fundos, a estimativa estrita dos ativos do shadow banking brasileiro alcança R$382,0 bilhões (gráfico 4), correspondendo a apenas 6,7% dos ativos do sistema bancário tradicional brasileiro, proporção bem abaixo da média dos países participantes do exercício internacional do FSB.

10/ De forma geral, essa metodologia está em linha com as discussões empreendidas no FSB, mas com enfoque maior nas atividades (funções econômicas) típicas a ele relacionadas, independentemente do tipo de entidade que as empreende. A CVM tem ressaltado a estrutura regulatória aplicável aos fundos de investimento como fator crucial a ser levado em consideração. O fato de todos os fundos serem registrados na Autarquia e de existirem disposições normativas sobre administração do risco de liquidez, bem como outros dispositivos sobre precificação a valor de mercado e restrições de alavancagem em diversas categorias de fundos, mitiga, já na partida, a suscetibilidade dos fundos à corrida por parte de seus cotistas.

11/ Razão entre ativos e patrimônio líquido.12/ Para este fim, foram considerados ativos líquidos as disponibilidades de caixa, os títulos públicos federais e as operações compromissadas garantidas

por esses títulos.

2.625,0

543,6

110,2 280,8

1.092,9

76,5 139,0 382,0 0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

A B C D E F G H

R$ bilhões

A = Medida ampla do shadow banking

C = Fundos de curto prazoD = Fundos de ações

E = Fundos líquidos e sem alavancagemB = Fundos fechados e exclusivos F = Deduções adicionais

G = FII + FIDCs fechados + CRI + CRAH = Medida estrita do shadow banking

Gráfico 4 – Estimativa estrita do shadow bankingno BrasilDezembro 2013

Fontes: BCB, CVM

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3 Interconectividade do shadow banking com o sistema bancário

Outra preocupação recorrente relacionada ao shadow banking global no âmbito das discussões internacionais diz respeito à materialização de riscos nessas entidades e sua possível transmissão para o sistema bancário tradicional. Por esse motivo, em cada jurisdição, as autoridades buscam mensurar o grau de interconectividade entre esses dois setores.

No caso brasileiro, apenas 0,6% dos ativos financeiros13 do sistema bancário estão aplicados nas entidades shadow banking compreendidas na medida estrita, enquanto as captações provenientes desse setor representam apenas 2,4% dos ativos financeiros bancários (tabela 1), indicando que a possibilidade de transferência de riscos pelo canal de contágio direto para o sistema bancário é irrelevante.

Existem outros possíveis canais de contágio, por meio dos quais o estresse de um setor pode ser transmitido ao outro, podendo, inclusive, voltar de forma amplificada ao primeiro por retroalimentação. Um exemplo é o chamado canal indireto ou de mercado, que ocorre em situações nas quais entidades dos dois setores investem em um mesmo mercado, onde eventuais rupturas ou situações de estresse ocasionadas pela ação de uma delas podem provocar vendas em massa dos ativos, deprimindo seus preços e causando prejuízos à outra.

O contágio indireto é tradicional fonte de preocupação das autoridades reguladoras, haja vista os riscos para a estabilidade financeira. A despeito das dificuldades para mapeá-lo, avaliações preliminares apontam que as entidades que compõem a estimativa estrita do shadow banking brasileiro possuem uma participação não desprezível no mercado de títulos privados do país.

Por fim, a gestão e a administração de recursos de terceiros, predominantemente desempenhadas pelos conglomerados bancários no Brasil, podem resultar, em tese, em diversos tipos de riscos, tais como: i) a instabilidade econômico-financeira de um gestor de ativos, elevando a volatilidade nos mercados em que atua ou aumentando a probabilidade e a magnitude de resgates dos fundos por ele geridos; ii) contrapartes que podem não distinguir entre exposições aos fundos e ao gestor em situações de estresse, buscando a mitigação de riscos e agravando a situação do gestor; iii) a administração de inúmeros fundos sem o devido monitoramento do risco operacional, resultando em perdas para os fundos; e iv) a materialização destes ou outros riscos sobre as cotas dos fundos, acarretando percepções negativas sobre a capacidade de gestão de ativos da instituição financeira e, em última instância, sobre sua reputação e imagem. Todavia, cabe mencionar que não há evidências de que tais riscos, embora válidos do ponto de vista teórico, tenham se materializado na indústria de fundos brasileira, mesmo em momentos de estresse.

Apesar de, até o momento, não terem identificado riscos relevantes provenientes do shadow banking para a estabilidade financeira, as entidades reguladoras, como o BCB e a CVM, têm se dedicado ao aprimoramento dos conhecimentos sobre o tema e ao aperfeiçoamento de métricas de avaliação dos riscos presentes nas entidades por eles regulados, tais como os referentes à administração de recursos de terceiros, aos fundos de investimento, aos intermediários de mercado, às companhias financeiras e às medidas de contágios direto e indireto.

13/ Ativos financeiros são classificados de acordo com o art. 2º da Resolução CMN nº 3.534, de 1º de janeiro de 2008.

Tabela 1 – Interconectividade entre o sistema bancário e o shadow banking estritoDezembro 2013Ativos financeiros Bancos investindo no SB SB investindo em bancos

% dos ativos bancários 0,6 2,4% dos ativos do SB 7,6 30,3

Fonte: BCB

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4 Regulação e supervisão

O perímetro regulatório brasileiro é bastante abrangente e as entidades identificadas no shadow banking, inclusive em sua estimativa ampla, estão sob regulação e supervisão de autoridades com jurisdição nacional, principalmente do CMN, da CVM e do próprio BCB. O quadro 1 resume as principais medidas e informações coletadas que visam mitigar os riscos oferecidos pelas entidades mais relevantes que compõem a medida ampla do shadow banking no país.

Destaca-se que, em relação aos fundos de investimentos e seus administradores e gestores, a regulamentação brasileira é extensiva, inclusive com disposições sobre composição de carteiras, alavancagem, política de resgates e administração de riscos, como a compatibilização da liquidez das carteiras com os passivos14.

No Brasil, não há diferenças materiais entre a regulação e a supervisão aplicáveis às instituições bancárias e as que recaem sobre entidades não-bancárias classificadas como intermediários de mercado e companhias financeiras. Ademais, recentemente, foi ampliado o escopo de consolidação prudencial das entidades que compõem o sistema bancário, passando a incluir, entre outros, as sociedades securitizadoras controladas, as sociedades de objeto exclusivo controladas e os fundos de investimento nos quais exista retenção substancial de riscos e benefícios por parte do conglomerado bancário15.

A coleta de informações detalhadas permite análises apropriadas das características tanto das entidades em si quanto dos canais de transmissão de riscos para o sistema bancário. O mencionado refinamento das estimativas, recomendado pelos organismos internacionais, só foi possível devido à vasta gama de informações colhidas pelos supervisores e, no caso específico dos fundos de investimentos, disponibilizadas publicamente. Além disso, a interconectividade com o sistema bancário pode ser determinada a partir das informações fornecidas pelos serviços de registro, liquidação e custódia de títulos e derivativos, disponíveis em bases diárias para as autoridades supervisoras.

O BCB e a CVM participam de fóruns internacionais16 de estudos e de discussão sobre o shadow banking, fornecendo dados, trazendo e contribuindo com experiências que permitem aprimorar o ambiente regulatório.

Adicionalmente, o Coremec (Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização), que inclui, além da CVM e do BCB, a Susep e a Previc, tem a finalidade de promover a coordenação e o aprimoramento da atuação das entidades da administração pública federal que regulam e fiscalizam as atividades relacionadas à captação pública da poupança popular. Por seu turno, o Sumef (Subcomitê de Monitoramento da Estabilidade do SFN) mantém o Coremec informado sobre a evolução dos mercados e as suas interconexões, além de sinalizar as situações que possam comprometer a estabilidade do SFN e em que seja necessária a atuação conjunta ou coordenada das entidades-membro.

Por fim, no âmbito do BCB, está constituído o Comef (Comitê de Estabilidade Financeira), responsável por definir as estratégias e as diretrizes da Autarquia para a condução dos processos relacionados à estabilidade financeira, além de orientar a sua atuação no Coremec.

14/ A Instrução CVM nº 522, de 8 de maio de 2012, incluiu o artigo 65-B à Instrução CVM nº 409, ampliando os requerimentos sobre as políticas, práticas e controles internos dos fundos de investimentos – incluindo testes de estresse periódicos – para garantir a liquidez necessária para fazer face aos resgates de cotas e às obrigações do fundo.

15/ A Resolução CMN nº 4.280, de 31 de outubro de 2013, em vigor a partir de 1º de janeiro de 2014, instituiu o novo Conglomerado Prudencial aplicável às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB, exceto cooperativas de crédito.

16/ Por exemplo: no FSB, no BCBS e na IOSCO.

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Companhias financeiras

Sociedade de crédito imobiliário Sociedade de crédito imobiliário repassadoraSociedade de arrendamento mercantil

Intermediários de mercadoSociedade corretora de TVM*

Sociedade distribuidora de TVM*

Sociedade corretora de Câmbio

* Também são reguladas/supervisionadas pela CVM em sua área de atuação.

Quadro 1 – Mitigadores dos riscos relacionados às principais entidades que compõem a medida ampla do shadow banking brasileiro

Instituições/ativos shadow banking Regulador/supervisor

Alguns mitigadores de risco

Transformação de liquidez/risco de corrida Alavancagem

CMN/BCB

Sociedade de crédito ao microempreendedor

• Exigência de estruturas de gerenciamento de riscos (resoluções CMN nº 3.380, nº 3.464, nº 3.721 e nº 4.090)• Envio trimestral de informações contábeis (Circular BCB nº 3.402)• Remessa mensal de dados para cálculo de limites de capital realizado, patrimônio líquido, endividamento e risco de crédito por cliente (Resolução CMN nº 3.567; Circular BCB nº 3.398)

• Exigência de estruturas de gerenciamento de riscos de liquidez, mercado, crédito e operacional (resoluções CMN nº 3.380, nº 3.464, nº 3.721 e nº 4.090)• Envio mensal/trimestral de informações contábeis (Circular BCB nº 3.402) e remessa mensal de informações prudenciais para realização do monitoramento/supervisão direta e indireta (resoluções CMN nº 4.192 e nº 4.193 e circulares BCB nº 3.398 e nº 3.429)• Dependendo da relevância, tem os mesmos requerimentos que os bancos quanto a capital mínimo, riscos de mercado, crédito e operacional (Basileia III) (resoluções CMN nº 4.192 e nº 4.193 e circulares BCB nº 3.429, nº 3.644, nº 3.640 e nº 3398)

Fundos de investimento ICVM 409

CMN/CVM

• Exigência de marcação a mercado dos ativos dos fundos (Instrução CVM nº 438)• Requerimento de controle de liquidez por parte do gestor• Envio diário de informações a CVM• Obrigatoriedade de os administradores suspenderem os resgates em situação de extrema iliquidez em que um pedido de resgate puder prejudicar os demais cotistas• Resgates em espécie em casos específicos• Testes de estresse com cenários para saques, liquidez, passivos e concentração de cotistas • Mudança do administrador/gestor por deliberação em assembleia na qual cada cota tem direito a um voto.(Todos esses itens referem-se à Instrução CVM nº 409)

• Não podem tomar/conceder empréstimos (Instrução CVM nº 409)• Aluguel de ativos somente por meio de contraparte central (Resolução CMN nº 3.539; Instrução CVMnº 441)• Limites de concentração de ativos/emissores também valem para derivativos e repos (Instrução CVM nº 409)• Todos os derivativos devem ser registrados em câmaras (Lei nº 12.543, de 2011; Resolução CMNnº 3.505; Instrução CVM nº 409) • Algumas categorias de fundos só podem usar derivativos para proteção (Instrução CVM nº 409)

FIDCs

• Subscrição ou aquisição de cotas de FIDCs apenas por investidores qualificados (Instrução CVM nº 356)• Informe mensal à CVM de dados sobre os fundos, como carteira, inadimplência, retenção de riscos (Instrução CVM nº 489)• Uso de derivativos apenas para proteção (Instrução CVM nº 356)• Mesma estrutura de exigências da Instrução CVM nº 409 para os FIDCs (ex.: controles do risco de liquidez, testes de estresse, etc.)• Em determinados casos há limites para concentração por devedor da carteira de recebíveis (Instrução CVM nº 356)• O originador dos recebíveis não pode ser parte relacionada ao gestor, administrador, custodiante ou consultor do fundo (Instrução CVM nº 356)

Fundos de investimento imobiliário (FII)

• Constituídos somente sob a forma de condomínio fechado, não permitem resgate de cotas• Integralização de imóveis e direitos relativos a estes deve ser feita com base em laudo de avaliação elaborado por empresa especializada e com informações asseguradas pelo administrador• Envio períodico de informações à CVM, tais como carteira de ativos, balancetes, parecer de auditor independente etc., e aos cotisas, neste caso do valor do patrimônio e das cotas e de movimentações ocorridas etc. (Instrução CVM nº 472)

CRI/CRA

• Exigência de termo de securitização, levando a uma estrutura de pass-through , na qual o fluxo de caixa gerado pelos ativos do lastro é repassado aos investidores, sem transformação de maturidade e liquidez• Instituição de regime fiduciário apartando os ativos que são lastros de um CRI do patrimônio da securitizadora e do lastro de outras emissões de CRI.(Todos esses itens estão na Lei nº 9.514, de 1997 e na Instrução CVM nº 414)

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5 Conclusões

Diferentemente de outros países, o shadow banking brasileiro compreende basicamente entidades que são reguladas e supervisionadas pelo BCB e pela CVM. A regulação dessas entidades segue as melhores práticas internacionais, demonstrando ser um eficiente mitigador dos riscos potenciais do shadow banking, fato também verificável pela experiência empírica durante as crises financeiras recentes. Além disso, o Brasil encontra-se em posição privilegiada quando se trata da disponibilidade de dados detalhados, permitindo refinamentos que melhor identifiquem as atividades e entidades expostas a riscos típicos de shadow banking, bem como suas interconexões com o restante do sistema financeiro.

Infere-se que, atualmente, não há riscos relevantes para o sistema bancário tradicional decorrentes do shadow banking brasileiro, em razão da abrangência da regulação e da supervisão sobre as diversas entidades que o compõem, do seu pequeno tamanho relativo e da sua baixa interconectividade.

No entanto, o processo de monitoramento e de supervisão ainda se encontra em fase de desenvolvimento, especialmente no que se diz respeito ao refinamento da estimativa estrita, ainda sujeito a aperfeiçoamentos que podem alterar a percepção das autoridades reguladoras acerca do risco do shadow banking no Brasil. A interconectividade por meio do canal de mercado é outro assunto que merece ser explorado mais a fundo, com vistas a uma melhor avaliação dos seus riscos. Por fim, o tamanho da indústria de fundos de investimento e o grau de concentração das atividades de administração e gestão de recursos recomendam a continuidade e mesmo o aprofundamento dos estudos quanto aos seus riscos para a estabilidade financeira.

Por isso, prossegue o aprimoramento dos processos de monitoramento do shadow banking, em especial no que se refere à avaliação de riscos e ao contágio para o restante do sistema financeiro. Desta forma, as autoridades reguladoras vêm atuando para minimizar o risco sistêmico do shadow banking, sem prejudicar eventuais benefícios do setor para a economia doméstica e para o bom funcionamento do SFN.