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Balanced Scorecard: Evolução Geracional
1. Introdução
O Balanced Scorecard é uma ferramenta estruturada de gestão que permite traduzir a estratégia da
empresa num conjunto completo e integrado de medidas e indicadores financeiros e não financeiros
de desempenho (Barnabe & Busco, 2012; Kaplan & Norton, 2007; Malina et al., 2007; Neely et
al., 2000), capazes de identificar as atividades críticas de criação de valor e, por esta via, avaliar a
performance, independentemente da sua dimensão e/ou da sua natureza socioeconómica (Kaplan
& Norton, 1992, 1996a,b, 2001, 2008; Kaplan et al., 2010).
Enquanto ferramenta propõe-nos “áreas em que as medidas de desempenho podem ser úteis”
(Neely et al., 2000, p.1120) residindo a sua principal limitação no facto de “proporcionar pouca
orientação sobre a forma como medidas adequadas podem ser identificadas, introduzidas e,
finalmente, utilizadas na gestão da empresa” (Neely et al., 2000; p.1120). Questão que deve ser
ultrapassada pela prévia identificação dos fatores críticos (Barnabe & Busco, 2012; Osterwalder &
Pigneur, 2009) e pelo enquadramento estratégico do negócio (Madsen & Stenheim, 2014; Nørreklit
et al., 2012).
A sua importância está, na literatura, amplamente demonstrada (Hoque, 2014), bem como a sua
adequação à monitorização das relações de performance (Malina et al.,2007).
Pela análise da literatura consideramos que a evolução concetual do Balanced Scorecard ocorreu
em sentido vertical, correspondendo a desenvolvimentos da própria ferramenta e a evoluções em
sentido horizontal, correspondendo a desenvolvimentos no âmbito da sua aplicabilidade. Assim,
consideramos três momentos na evolução vertical (Lawrie & Cobbold, 2004):
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1. Primeira geração: centrada na avaliação da performance, pela combinação de um conjunto
integrado, de medidas e indicadores (financeiros e não financeiros) de desempenho,
agrupadas em quatro Perspetivas (Kaplan & Norton, 1992).
2. Segunda geração: centrada na gestão da performance, a partir da identificação dos fatores
chave do negócio (key performance indicators) e das suas inter-relações causais,
materializadas no Mapa Estratégico (Kaplan & Norton, 1996a; 1996b).
3. Terceira geração: centrada no Alinhamento Estratégico e no apoio à mudança (Lawrie &
Cobbold, 2004; Kaplan & Norton, 2008).
2. Evolução geracional
2.1. Primeira geração
O Balanced Scorecard foi inicialmente definido, como um sistema de medida capaz de permitir a
avaliação de performance da empresa a partir de um conjunto de indicadores financeiros e não
financeiros, estruturados em função dos objetivos organizacionais e capazes de monitorizar as
atividades críticas de criação de valor (Kaplan & Norton, 1992).
Os objetivos e os correspondentes indicadores são agrupados em quatro Perspetivas: 1) Inovação
e Aprendizagem; 2) Processos Organizacionais Internos; 3) Clientes; e 4) Resultados Financeiros
(ver Figura 1). Kaplan e Norton (1992, p. 71) sugerem que se “pense no Balanced Scorecard como
um conjunto de indicadores e mostradores de um cockpit de avião. (...). Depender de um só
instrumento pode ser fatal. Da mesma forma, hoje, a gestão de uma empresa, requer que os
gestores sejam capazes de visualizar o desempenho conjugando e simultâneo de diversas áreas.”
O conceito subjacente à afirmação é reconhecer que a finalidade última da empresa é a
maximização dos resultados e que esse processo é consequência de uma cadeia de relações causais
que acontece no âmbito das envolventes, internas e externas, da mesma (Kaplan & Norton, 1992).
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Figura 1. Primeira Geração
Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (1992, p. 72).
Este processo causal deve ser lido de baixo para cima, numa sequência de questões para as quais
se procuram as respostas adequadas à realidade específica e concreta da empresa: 1) podemos nós
continuar a melhorar e a criar valor? – ou seja, em primeiro lugar, deve ser fomentada a
aprendizagem e inovação; 2) em que processos devemos (ou podemos) ser excelentes? – questão
que estabelece a relação causal, isto é, se se aprender bem a empresa por via da inovação, melhora
os seus processos internos; 3) como é que nos veem os nossos clientes? – se os clientes percebem
a excelência, então a empresa pode alcançar os melhores clientes e, consequentemente, 4) como
nos veem os nossos acionistas e financiadores? – melhores clientes implicam melhores resultados.
Esta melhoria nos resultados disponibiliza os meios financeiros necessários para fomentar a
aprendizagem e a inovação e reiniciar o ciclo (Epstein & Manzoni, 1997; Kaplan & Norton, 1992).
A questão fundamental neste processo de melhoria contínua é a capacidade de definir e avaliar as
relações de causais entre os indicadores de cada uma das perspetivas e que asseguram a dinâmica
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integrada do processo de avaliação (Barnabe & Busco, 2012; Kaplan & Norton, 1992; Nørreklit et
al., 2012).
2.2. Segunda geração
A segunda geração do Balanced Scorecard foi definida, por Kaplan e Norton (1996a), a partir da
análise efetuada nas empresas que estavam a utilizar a primeira geração. Os autores constataram
que a ferramenta estava a ser utilizado para clarificar e atualizar a estratégia e integraram esta
prática no modelo. “O Balanced Scorecard permite, que as empresas possam modificar a
estratégia de modo a refletir a aprendizagem em tempo real. Nenhuma das mais de 100 empresas
que estudamos ou com as quais temos trabalhado implementaram o primeiro Balanced Scorecard
com a intenção de desenvolver um novo sistema de gestão estratégica. Mas, em cada uma, os
executivos descobriram que Balanced Scorecard fornecida uma ferramenta focalizada para muitos
dos processos de gestão críticos.” (Kaplan & Norton, 1996a, p. 71). Prosseguem defendendo que
a principal caraterística desta segunda geração é centrar-se na gestão da performance, a partir da
identificação dos fatores críticos do negócio (key performance indicators) e das inter-relações
causais que os caraterizam, materializadas no Mapa Estratégico.
Como forma de enquadrar teoricamente estas práticas são propostos quatro procedimentos (Kaplan
& Norton, 1996a) (Figura 2): 1) Traduzir a Visão: ajuda os gestores de topo a construir um
consenso em torno da visão e da estratégia que querem definir para a empresa; 2) Comunicação e
Ligação: permite aos gestores de topo comunicar a estratégia definida a todos os colaboradores da
empresa através de uma abordagem top-down (de cima para baixo), como forma de alinhar os
objetivos departamentais e individuais. Assegura-se deste modo, o vínculo de todos os
colaboradores. De acordo com os autores, se não existir este alinhamento, o processo de
implementação é posto em causa. 3) Planeamento Empresarial: permite a completa integração das
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atividades empresariais, o estabelecimento de metas e a definição de uma afetação otimizada de
recursos. 4) Feedback e Aprendizagem: proporciona às empresas a capacidade de aprendizagem
estratégica, de acordo com os princípios definidos por Hogarth et al. (1991).
Figura 2. Procedimentos de Alinhamento
Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (1996a, p. 155).
Definida a estratégia o passo seguinte é definir a cadeia de relações causais (Figura 3) que traduz
a sua operacionalização e, deste modo, alinhar Missão, Valores e Visão, com os Objetivos
Estratégicos empresariais (Kaplan & Norton, 1996a,b, 2001).
Figura 3. Tradução da Missão na Estratégia
Traduzir a Visão
Clarificação da Visão
Obtenção de consensos
Feedback e Aprendizagem
Articular a visão partilhada
Fornecer feedback estratégico
Ligar as recompensas às medidas de
performance
Planeamento Empresarial
Estabelecer metas
Alinhar as iniciativas estratégicas
Definir a afectação de recursos
Estabelecer marcos históricos
Comunicação e Ligação
Comunicar e educar
Estabelecer metas
Ligar as recompensas às medidas de
performance
Balanced
Scorecard
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Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (2001, p. 73).
Na prática a operacionalização deste alinhamento processa-se respeitando os seguintes passos:
a) Definir a Missão, os Valores, a Visão e os Objetivos da empresa:
i. Criar uma orientação a partir da gestão de topo.
ii. Conseguir um compromisso ao mais alto nível hierárquico.
b) Enunciar a Missão, os Valores, e a Visão, subordinados aos seguintes objetivos:
i. Motivar e envolver todos os colaboradores.
ii. Permitir que seja definido o futuro da empresa.
iii. Permitir a prospeção de novos caminhos e segmentos de mercado.
iv. Obrigar todos os colaboradores a abordarem todas as situações concretas de trabalho
conduzindo à sua melhoria ou abandono.
c) Definir o formato do enunciado para a Missão, os Valores, e a Visão:
Detentores do
Capital SatisfeitosClientes Fidelizados Processos Eficazes
Colaboradores
Especializados e
Motivados
Resultados Estratégicos
IniciativasO que devemos fazer para atingir os objectivos
MetasQue metas devemos fixar para os indicadores
IndicadoresQue indicadores servem para medir os resultados
Objectivos EstratégicosQue resultados queremos alcançar
VisãoO que queremos ser
Valores Aquilo em que acreditamos
MissãoRazão de ser da nossa existência
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i. Missão: o que nos propomos fazer?
ii. Valores: quem somos, quais são os nossos princípios?
iii. Visão: o que queremos vir a ser?
d) Definir as linhas orientadoras de implementação:
i. Qual é o nosso objetivo?
ii. Qual é a nossa identidade enquanto empresa?
iii. Quais são as políticas da nossa empresa?
iv. O que é que é caraterístico na nossa empresa?
v. O que fazemos?
vi. Como fazemos?
vii. O que queremos vir a ser?
viii. O que é que nos é exigido no(s) segmento(s) de mercado(s) em que atuamos?
Desta operacionalização emerge o sistema de medidas: 1) a definir; 2) a implementar; e 3) a
operacionalizar. Ainda de acordo com os autores, “só se tem o que se mede” (Kaplan & Norton,
1992, p. 71), ou seja, tal como anteriormente referimos, uma vez que os processos de criação de
valor estão relacionados com fatores que as medidas contabilístico-financeiras normalmente não
apreendem, o Balanced Scorecard da segunda geração complementa-as, com as metas e as
iniciativas; financeiras e não financeiras; estratégicas e operacionais; para as quatro Perspetivas
definidas na primeira geração (Figura 4).
Figura 4. Segunda Geração
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Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (1996a, p. 153).
Da combinação da Tradução da Visão e da Estratégia (Figura 1) com o Modelo de
Operacionalização Estratégica (Figura 2), obtemos o Mapa Estratégico (Figura 5).
VISÃO
e
ESTRATÉGIA
Perspetiva Financeira
Objetivos Indicadores Metas Iniciativas
Para conseguir o sucesso financeiro como devemos ser
vistos pelos nossos acionistas ?
Perspetiva Processos Organizacionais Internos
Objetivos Indicadores Metas Iniciativas
Para satisfazer os nossos acionistas e clientes em que
processos devemos excelentes ?
Perspetiva de Clientes
Objetivos Indicadores Metas Iniciativas
Para realizar a nossa visão como devemos ser vistos pelos
nossos clientes ?
Perspetiva de Aprendizagem e Crescimento
Objetivos Indicadores Metas Iniciativas
Para realizar a nossa visão como devemos sustentar a nossa
capacidade de mudar e melhorar ?
Figura 5. Mapa Estratégico
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A Perspetiva Financeira tem como objetivo perceber e avaliar a capacidade da empresa
para gerar o retorno sustentado dos capitais investidos. A seleção dos indicadores deve
permitir avaliar se a estratégia definida, a sua implementação e a sua execução, estão ou
não a contribuir para a melhoria efetiva do desempenho financeiro. Deste modo, os
indicadores financeiros desempenham dois importantes papéis:
1. Definir o desempenho esperado para a estratégia.
2. Ser a meta final dos indicadores das demais Perspetivas.
A Perspetiva de Clientes implica a caraterização não só dos clientes efetivos, mas
também, dos clientes potenciais. Para tal, devemos encontrar resposta para as seguintes
questões:
1. Quem compra? isto é: Quem são os clientes?
2. Quanto compram? isto é: Qual é a dimensão do mercado?
3. Quanto pagam? isto é: Qual o nível de preços?
4. Porque compram? isto é: Qual a motivação da compra?
5. Onde e como compram? isto é: Quais são os canais de distribuição?
Para além de informação quantitativa, pretende-se com esta análise obter dados
qualitativos tais como, hábitos, motivações e comportamentos dos clientes, para que se
possa adequar a Estratégia ao Cliente que se quer satisfazer (Figuras 6).
Figura 6. Proposta de Valor para a Perspetiva do Cliente
Figura 6a. Estratégias de Excelência Operacional
Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (2000, p. 169).
Figura 6b. Estratégias de Relacionamento com Clientes
Prazos SeleçãoQualidadePreçoComprador
Inteligente
Atributos do Produto / Serviço Atributos do Produto / Serviço Imagem
As empresas excelentes do ponto de vista operacional conseguem
vantagens competitivas que as outras empresas não conseguem ,
combinando , preços, qualidade, cumprimento dos prazos de entrega e de
facilidade de compra , a que se associa uma forte imagem de marca .
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Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (2000, p. 169).
Figura 6c. Estratégias de Liderança pelo Produto
Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (2000, p. 169).
A Perspetiva de Processos Internos deve ser definida de modo a assegurar:
1. O controlo de custos.
2. O controlo de qualidade.
3. O controlo do planeamento e do fluxo de produção.
4. O prazo de conceção (time to market).
5. O prazo de fabrico.
O seu desenvolvimento deve estar condicionado ao posicionamento estratégico
relativamente e a cada uma das quatro subdivisões da cadeia de valor: Processos de
Inovação, Processos de Gestão de Clientes, Processos Operacionais e Processos
Reguladores e Operacionais (Figura 7).
Figura 7. Proposta de Valor para a Perspetiva de Processos Internos
Relacionamento
com ClienteServiço
Marca de
Confiança
Atributos do Produto / Serviço Atributos do Produto / Serviço Imagem
As empresas conseguem vantagens
competitivas pelo serviço prestado e pelo
relacionamento duradouro que
estabelecem com os seus clientes , a que
se associa uma forte imagem de marca .
Prazos FuncionalidadeO Melhor na sua
Classe
Atributos do Produto / Serviço Atributos do Produto / Serviço Imagem
As empresas conseguem vantagens
competitivas criando produtos únicos ,
nunca experimentados , ou altamente
desejáveis , a que, conjuntamente , se
associa uma forte imagem de marca .
Práticas Estratégicas - Requisito
diferenciador .
Práticas Gerais - A organização
iguala os requisitos da concorrência .
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Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (2000, p. 171).
A Perspetiva de Aprendizagem e Crescimento tem como objetivo perceber e avaliar as
necessidades da empresa para sustentar, manter e desenvolver a sua capacidade
estratégica. Esta Perspetiva está associada aos colaboradores, às suas capacidades e nível
de desempenho, avaliadas em termos de adequação à estratégia empresarial. Está também
associada à capacidade de assegurar que existe toda uma estrutura, capaz de transmitir a
informação necessária e que possibilite o seu envolvimento, no processo de criação de
valor de toda a estrutura empresarial (Figura 8).
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Figura 8. Proposta de Valor para a Perspetiva de Aprendizagem e Crescimento
Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (2000, p. 175).
Os indicadores para esta Perspetiva devem ser subdivididos em dois grupos:
1. Básicos:
a) Índice de satisfação de colaboradores.
b) Índice de retenção de colaboradores.
c) Índice de rotatividade de colaboradores.
2. Específicos:
a) Índice de reconversão de mão-de-obra.
b) Índice de capacidade dos sistemas de informação.
c) Índices de motivação, empowerment e de alinhamento.
Para Kaplan e Norton (2000) a base de qualquer Mapa Estratégico é a Perspetiva de
Aprendizagem e Crescimento porque define as competências e capacidades básicas, a
tecnologia e a cultura empresarial necessárias para suportar a concretização da estratégia.
Por outras palavras, permite alinhar os recursos humanos e as tecnologias com a
estratégia, ou seja, é pela Perspetiva de Aprendizagem e Crescimento que a empresa vai
determinar os requisitos críticos dos Processos Internos; como vai diferenciar a Proposta
Competências Estratégicas
- Capacidades Estratégicas
- Níveis de Formação
- Transferência de Conhecimento
Tecnologias Estratégicas
- Sistemas Estratégicos
- Bases de Dados Estratégicos
- Redes Estratégicas
Clima de Acção
- Percepção Estratégica
- Moral
- Motivação de Colaboradores
Gestão Estratégica
- Feeback / Processo de Revisão
- Processo de Planeamento
- Remunerações e Incentivos
Aprendizagem e Crescimento
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de Valor e como vai diferenciar os Relacionamentos com Clientes. Sendo que, apesar da
gestão de topo facilmente reconhecer essa importância, geralmente tem problemas para
definir os objetivos correspondentes.
Outra importante caraterística da segunda geração do Balanced Scorecard é a proposta
de agrupar e combinar o conjunto de medidas, não por perspetiva mas por natureza.
Definem-se, assim, dois conjuntos de indicadores:
1. Indicadores de seguimento ou de orientação – Leading indicators
2. Indicadores de desfasamento – Lagging indicators.
Os primeiros devem incidir sobre as “grandes alterações que se têm de articular no nosso
processo laboral” (Kaplan & Norton, 1996b, p. 72), ou seja, sobre os aspetos estratégicos
de médio e longo prazo; os segundos devem incidir sobre os aspetos operacionais ou de
curto prazo.
Para Van der Merwe (2007a,b), esta agregação pode por em causa o processo de
implementação. Na opinião do autor, o problema é que o princípio da causalidade pode
ser aplicado de forma inconsistente e essa inconsistência produzir resultados
contraditórios. A questão fundamental da inconsistência e da contradição reside, na
interpretação pessoal das questões de curto, médio e longo prazo e que se traduzem no
seguinte:
i. Situações de ambiguidade e confusão.
ii. Incapacidade de avaliar os diferentes sinais, uma vez que não existe uma verdade
única, “como podem os gestores lidar com o facto de existirem duas respostas
opostas para uma mesma questão.” (Van der Merwe, 2007a, p. 6)
iii. Enviesamento dos acontecimentos com argumentos que estão para além dos
factos, “se não existe verdade então também não existe mentira” (Van der
Merwe, 2007a, p. 8).
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iv. Dificuldade de comunicação interna e externa, que põe em causa o valor da
ferramenta.
Tal pode por em causa todo o processo. Esta problemática é abordada detalhadamente na
secção seguinte. Na prática, não existindo uma solução padrão, cada empresa segue seu
próprio método de construção, desenvolvido com base no modelo de Gestão Estratégia
adotado (Kaplan & Norton, 1996a,b). O modelo de Gestão Estratégia adotado é
condicionado pelas Envolventes Externas e Internas (Porter, 1979) e de acordo com o
modelo da contingência de Lawrence & Lorsch (1967).
2.3. Terceira geração
O Balanced Scorecard de terceira geração fundamenta-se na segunda geração e tem como
objetivo dar-lhe uma melhor funcionalidade e uma maior relevância estratégica.
Foi inicialmente definido por Lawrie e Cobbold (2004) porque “rapidamente se
descobriu que o rolar para a frente da estratégia era mais fácil de conceptualizar quando
associado a uma data futura específica (…) a uma declaração de destino” (ibidem, p.
616).
Este “saber para onde se quer ir” (ibidem, p. 616), vai possibilitar três ganhos diretos:
1. Um sentido de orientação claro em direção ao resultado proposto.
2. Priorizar os objetivos nessa direção, garantido ainda o equilíbrio entre o
desenvolvimento a longo prazo e as pressões operacionais de curto prazo.
3. Incorporar os conhecimentos que vão sendo adquiridos, nos processos de
planeamento estratégico e operacional.
E dois ganhos indiretos:
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a) A declaração destino permite concretizar o alinhamento estratégico, sem a
aplicação de objetivos comuns, no caso de se estarem a desenvolver Balanced
Scorecards destinados a vários setores organizacionais.
b) Uma simplificação de tarefas., uma vez que a declaração destino vai dirigir a
seleção dos objetivos para as quatro Perspetivas.
O Balanced Scorecard centra-se na estratégia e pode “tornar-se numa das mais
importantes ferramentas no arsenal de um Administrador” (Nair, 2009, p. 83),
potenciando a capacidade das empresas executarem a sua estratégia. Para o autor, o
verdadeiro desafio da Gestão não é “conhecer o desconhecido” é gerir desconhecendo o
desconhecido – unknown unknowns, e gerir, nestas circunstâncias, somente é possível em
empresas resilientes e a resiliência é uma função da capacidade para lidar rapidamente
com a alteração das envolventes. Este autor prossegue, referindo que as empresas
resilientes usam o Balanced Scorecard para antecipar essas alterações.
Também Kaplan e Norton (2007) partilham esta opinião. Para estes, a estratégia nas
empresas é importante mas, por si só, não é suficiente é preciso executá-la e nove em cada
dez empresas falham na sua execução.
Se a estratégia se coloca no centro do processo de gestão, então o Balanced Scorecard
deve permitir executá-la de uma forma eficaz, ou seja por definição: o Balanced
Scorecard deve ser entendido como um sistema de gestão estratégica (Kaplan & Norton,
2008).
Todavia, “antes de formular uma estratégia, os gestores precisam de concordar com o
propósito da empresa (Missão), o seu anseio de resultados futuros (Visão), e a orientação
interna que irá guiar suas ações (Valores)” (Kaplan & Norton 2008, p.64).
Para operacionalizar a terceira geração do Balanced Scorecard é proposto “um sistema
de gestão em circuito fechado” (ibidem, p.64) (Figura 9).
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Figura 9. Terceira Geração
Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (2008, p. 65).
Na prática, a principal caraterística desta terceira geração, traduz-se no reforço da
necessidade de alinhamento porque, “todos aceitam que o alinhamento estratégico é
fundamental para as empresas de sucesso” (Nair, 2009, p. 83) e, portanto, “o objetivo é
alinhar as melhorias no processo de curto prazo com as prioridades estratégicas de
longo prazo” (Kaplan & Norton, 2008, p. 71).
Conclusões
1. Desenvolvimento da Estratégia
· Definir missão, valores e visão
· Realizar a análise estratégica
· Formular a estratégia
2.Traduzir a Estratégia
· Definir os objetivos estratégicos
· Selecionar medidas e objetivos
· Selecionar iniciativas estratégica
3. Plano de Operações
· Aperfeiçoamento processos chave
· Desnvolver plano de vendas
· Planear recursos e capacidades
· Elaborar o orçamento
· Mapa Estratégico
· Balanced Scorecard
· Investimentos
Estratégicos (StratEx)
Plano Estratégico
· Dashboards
· Orçamentos
· Projeção da
rendibilidade esperada
Plano Operacional
Executar processos e
iniciativas
4. Monitorizar e Aprender
· Considerar revisões estratégicas
· Considerar revisões operacionais
5. Validação e Adaptação
Estratégica
· Análisar a rendibilidade
· Avaliar correlações estratégicas
· Avaliar estratégias emergentes
· Realizar a análise estratégica
Resultados
Resultados
Métricas
Métricas
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A evolução geracional do Balanced Scorecard tem permitido qualifica-lo como um
sistema de gestão estratégica, em que a estratégia se constitui como o centro do processo
de gestão (Kaplan & Norton, 2008).
Não obstante o objeto de aplicação - grandes empresas (Kaplan & Norton, 1992),
pequenas e médias empresas (Andersen et al., 2001; Biazzo & Garengo, 2012; Chow et
al., 1997; Garengo et al., 2005; Fernandes et al., 2006), empresas sem fins lucrativos e
governamentais (Kaplan & Norton, 2001) ou alianças e coopetição (Kaplan et al., 2010)
-, o seu foco incide no apoio à formulação da estratégia, onde a montante a Missão, a
Visão e os Valores (Kaplan & Norton 2008) devem ser concretizados.
Esta ferramenta tem demonstrado a sua adequação à monitorização das relações de
performance (Malina et al., 2007), propondo medidas de desempenho úteis (Neely et al.,
2000), não obstante ser amiúde apontada como uma das suas limitações a insuficiente
orientação sobre a forma como essas medidas são identificadas, introduzidas e utilizadas
na gestão da empresa (Neely et al., 2000).
A evolução concetual das gerações do Balanced Scorecard inicia-se com a avaliação da
performance, pela combinação de um conjunto integrado, de medidas e indicadores
(financeiros e não financeiros) de desempenho (Kaplan & Norton, 1992), prosseguindo
com a gestão da performance, a partir da identificação dos fatores chave do negócio (key
performance indicators) e das suas inter-relações causais, materializadas no Mapa
Estratégico (Kaplan & Norton, 1996a; 1996b) e culminando com o alinhamento
estratégico e no apoio à mudança organizacional (Lawrie & Cobbold, 2004; Kaplan &
Norton, 2008).
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