baiÃo, fábio ribeiro. qualidade de vida dos pacientes

130
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL Fábio Ribeiro Baião Qualidade de Vida dos pacientes com fratura da perna submetidos à reconstrução de membros com fixação externa circular pelo método de Ilizarov Belo Horizonte 2013

Upload: vutuyen

Post on 08-Jan-2017

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

LOCAL

Fábio Ribeiro Baião

Qualidade de Vida dos pacientes com fratura da perna submetidos à

reconstrução de membros com fixação externa circular pelo método de

Ilizarov

Belo Horizonte

2013

Page 2: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

Fábio Ribeiro Baião

Qualidade de Vida dos pacientes com fratura da perna

submetidosàreconstrução de membros com fixação externa circular

pelo método de Ilizarov

Dissertação apresentada ao curso de

Mestrado em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local do Centro

Universitário UNA, como requisito parcial

para obtenção do título de Mestre.

Área de concentração: Inovações Sociais,

Educação e Desenvolvimento Local.

Linha de pesquisa:

Processos político-sociais: articulações

interinstitucionais e desenvolvimento local.

Orientadora: Profa.Drª Matilde Meire

Miranda Cadete.

Belo Horizonte

2013

Page 3: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

Dedico este trabalho aos meus pais, Artur (Laerte) e Adayr (Dadá) que, com seu

exemplo de vida, souberam transmitir aos filhos os seus valores. Agradeço ainda à

minha esposa Patrícia pelo seu companheirismo, motivação, apoio e paz. Aos meus

filhos Fabiana e Natan pela inspiração para prosseguir lutando por um mundo melhor. À

minha orientadora Profa. Dra. Matilde Meire pelos ensinamentos durante esta trajetória.

Page 4: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

“Professores e educadores são como eucaliptos e jequitibás.

Os eucaliptos são formados aos montes, são árvores idênticas umas às outras e podem

ser prontamente substituídas.

Os educadores são como as velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma história a

ser contada. Não só habitam, mas transformam o mundo...Hoje deitamos sob as

sombras de carvalhos, jequitibás e aroeiras. Que não sejamos eucaliptos, mas sejamos

parte de uma história lavrada em madeira de lei...”

Rubem Alves

Page 5: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

RESUMO

A Qualidade de Vida (QV) só se torna possível na medida em que vários fatores se

integram para proporcioná-la. O aspecto físico é apenas um deles. Mesmo nas situações

mais dramáticas, como nos acidentes em que ocorrem fraturas graves, como

odepessoascom fratura da perna e submetidos à reconstrução de membros com fixação

externa circular pelo método de Ilizarov, os quesitos de função, dor e impacto

emocional decorrentes do ocorrido não são suficientes para se verificar a QV.Valores

pessoais, estilo de vida e aspirações, entre estes, vida familiar, afetiva, social, lazer e

trabalho, passam a influenciar, sobremaneira, a QV. O objetivo deste trabalho foi

analisar as mudanças ocorridas e a qualidade de vida dos pacientes submetidos ao

tratamento para fraturas expostas dos ossos da perna com o fixador externo circular de

Ilizarov, com vistas ao desenvolvimento local. Realizou-se um estudo quantiqualitativo,

retrospectivo, no Ambulatório da Unidade Maria Ambrosina do Hospital da Baleia,com

44 pacientes. A coleta de dados se constituiu de três etapas e de três instrumentos:

primeiro, pretendeu-se conhecer o perfil sociodemográfico dos pacientes a partir dos

dados dos prontuários do Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME) do referido

hospital. Na segunda etapa, aplicou-se, individualmente, o questionário Short-Form 36

(SF-36) validado no Brasil, e, por último, realizou-se entrevista semiestruturada, cujos

discursos foram analisados de acordo com Bardin (2008). Os resultados do perfil

abalizaram que 37 (84,1%) sujeitos eram do sexo masculino e sete (15,9%) do feminino,

com média de idade de 43 anos, tendo 21 (47,7%) sujeitos a escolaridade de primeiro

grau incompleto. Mostraram que,dos 44 pacientes,32 (72,7%)foram vítimas de acidente

motociclístico; do universo pesquisado,24 (54,5%) eram provenientes do interior de

Minas Gerais;e 27 (61%) com renda pessoal declarada de até R$1.000,00.Os resultados

do questionário SF-36 revelaram que o quesito limitações por aspectos físicos foi o mais

afetado, obviamente porque a perna fraturada, com lesões associadas de partes moles e

em uso de aparelho que acompanhará o paciente na fase de cicatrização dos tecidos, tem

um tempo de adaptação. A dependência da locomoção dos membros inferiores e a dor

fizeram a capacidade funcional do paciente com fixador ser a mais comprometida. As

entrevistas revelaram que o acidente havia impedido os pacientes de viverem

plenamente, tolhidos na sua liberdade de participar da engrenagem da vida, apesar de

confiantes no tratamento. Os acidentes são produtos do caos do tráfego, da opção pela

motocicleta como solução individual de transporte ágil e barato, na ausência de políticas

de mobilidade urbana que ofereçam locomoção segura e eficiente. Somente com a

consciência de que esta não é umarealidade pontual, nossa sociedade conseguirá atacar

as raízes do problema que ceifa milhares de vidas produtivas anualmente, com graves

danos familiares, econômicos e sociais. Espera-se que o produto técnico elaborado em

forma de Cartilha a partir desta pesquisa subsidie estratégias que possam auxiliar os

pacientes na condução com mais autonomia de seu tratamento,auxiliar seus

familiarespara que se tornem corresponsáveis, e os profissionais de saúdepara que sejam

mais solidários, éticos e humanos.

Palavras chave: Qualidade de vida. Ortopedia. Técnica de Ilizarov. Desenvolvimento

local.

Page 6: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

ABSTRACT

Quality of Life (QL) becomes possible when several factors are integrated. Physical

wellness is just one aspect. Even in dramatic situations, as in case of accidents with

severe fractures, resulting in tibial fractures, reconstructed through Ilizarov method,

questions such function, pain, emotional impact, are not enough to express completely

QL. Personal values, life style, personal projects, among them family life, personal

relationships, social, leisure and work, have a huge influence in QL. The aim of this

paper is to comprehend modifications ocurred, and the QL of the patients while in

treatment of compound tibial fractures with the Ilizarov external fixator, and its

influence on the local development. A retrospective, quanti-

qualitativestudywasconducted in 44 patients, attheAmbulatório da Unidade Maria

Ambrosina, Hospital da Baleia, Belo Horizonte, Brazil. Data was gathered in three

stages, using three instruments. First, socio-demographic profile was collected from the

hospital registers. Secondly, all subjects answered questionnaire Short-Form 36 (SF-36)

validated in Brazil, and at last, all went through a semistructured interview, which was

analyzed posteriorly using Bardin's method (2008). Results: 37 (84,1%) of the subjects

were masculine e seven (15,9%) feminine, age average was 43 y.o., 21 (47,7%) had an

incompleted primary school. Of all 44 subjects interviewed, 32 were victims of

motorcycle accidents, 24 (54,5%) came from the state countryside, and 21 (61%) had a

declared personal income at the maximum R$ 1.000,00 a month. Results of SF-36

revealed physical aspect as the dominium most affected, obviously because of the

fractured leg, with associated soft tissue injury, using the external fixator device for

treatment.Direct dependency of the legs for walking, and pain put at the most inferior

level functional evaluation.Interview also showed how accidents don't allowsubjects to

participate of day-to-day activities, even though, they were satisfied with their

treatment. Accidents are a result of the chaotic traffic condition, the choice of

motorcycle as the solution cheap and rapid for urban transportation, since secure and

efficient public transport is insufficient. Being aware of the complexity of this problem,

our society must pursue the reasons why this happens, in order to avoid the killing of

thousands of lives annually, generating much suffering to families, economic loss, and

social costs. We hope the booklet elaborated with this knowledge can guide the patients

in their treatment, help families to become co-participants in the process of cure, and

finally motivate physicians to be more giving, virtuous and empathetics.

Keywords: Quality of life, orthopedics, Ilizarov technic, local development.

Page 7: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Frontispício da capa do livro de Nicolas Andry. 16

Figuras 2a e 2b - Fixador externo circular dinâmico de Ilizarov para a tíbia. 18

Figura 3 - Domínios do questionário Short-form 36. 52

Figura 4 - Domínios e subdivisões do questionário SF-36. 53

Page 8: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição dos pacientes por sexo, Belo Horizonte, 2013. 44

Gráfico 2 - Idade dos entrevistados, Belo Horizonte, 2013. 45

Gráfico 3 - Cobertura da seguridade social dos sujeitos, Belo Horizonte, 2013. 46

Gráfico 4 - Nível de escolaridade dos sujeitos, Belo Horizonte, 2013. 46

Gráfico 5 - Causas das fraturas expostas, Belo Horizonte, 2013. 47

Gráfico 6 - Procedência dos pacientes atendidos em Belo Horizonte, 2013. 48

Gráfico 7 - Rendimentos da população, por faixa, Belo Horizonte, 2013. 49

Gráfico 8 - Estado civil dos sujeitos, Belo Horizonte, 2013. 50

Gráfico 9 - Número de filhos, Belo Horizonte, 2013. 50

Gráfico 10- Distribuição da incidência das fraturas expostas, Belo Horizonte, 2013.

52

Gráfico 11 - Resultado do teste de QV-SF-36, Belo Horizonte, 2013. 53

Page 9: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Índice da Síndrome da Extremidade Esmagada. 31

Quadro 2 - Exemplo do Cálculo do InjurySeverity Score. 32

Quadro 3 - Comparação dos valores de escore do SF-36. 52

Page 10: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIS - AbbreviatedInjuryScale

E -Entrevistado

ISS -InjurySeverity Score

IPEA- Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas

MESS -MangledExtremitySeverity Score

OMS - Organização Mundial de Saúde

PIB- Produto Interno Bruto

SAME - Serviço Arquivo Médico e Estatística

SIP -SicknessImpact Profile

Sm -Salário mínimo

SUS - SistemaÚnico de Saúde

UNESCO -United Nations Educational, Scientific e Cultural Organization

Whoqolbref -World Health Organization Quality of Lifeabreviado

Page 11: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

2 JUSTIFICATIVA 23

3 HIPÓTESES 25

4 OBJETIVOS 26

5 REFERENCIAL TEÓRICO 27

6 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE INVESTIGAÇÃO 40

7 RESULTADOS E ANÁLISE 44

8 PRODUTO TÉCNICO 61

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS 66

REFERÊNCIAS 70

APÊNDICES 76

ANEXOS 120

Page 12: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

12

1 INTRODUÇÃO

Na VIII Conferência Nacional de Saúde, em Brasília, no período de 17 a 21 de março de

1986, definiu-se que saúde é resultante das condições de educação, lazer, trabalho, emprego,

renda, habitação, alimentação, meio ambiente, liberdade e acesso a serviços de saúde, entre

outros. Essa concepção de saúde tornou-se assegurada com a constituição do Sistema Único

de Saúde (SUS) no Brasil, baseado na Constituição Federal de 1988 (MEDEIROS;

BERNARDES; GUARESCHI, 2005). Apreende-se, portanto, que saúde é também

constituída a partir de condições sociais, econômicas e culturais de uma sociedade e não

significa simplesmente ausência de doença.

O SUS, criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pelas Leis Orgânicas da

Saúde, Leis n.º 8.080/90 e nº 8.142/90, de 19 de setembro de 1990, tornou o acesso à saúde

direito de todo cidadão. Inclui nas suas diretrizes as condições para a promoção, proteção e

recuperação da saúde de todo cidadão, bem como a organização e o funcionamento dos

serviços correspondentes, constituindo essas ações um dos seus principais

objetivos(BRASIL, 1990).

Quando se fala em promoção da saúde, Buss (2000) afirma que ela está relacionada a vários

fatores, tais como: Qualidade de Vida (QV), saúde, solidariedade, equidade, democracia,

cidadania, desenvolvimento, participação e parceria.

No que diz respeito à proteção e, principalmente, à recuperação da saúde, há que se ter em

mente que, nos cuidados da saúde, muita ênfase se dá aos procedimentos a se realizarem no

paciente com vistas à resolução do seu problema principal.Porém pouco se atenta para a

compreensão dos fatores que podem, de fato, interferir para o restabelecimento da sua

qualidade de vida (O‟TOOLE, CASTILLO e POLLAK,2008;BHANDARI, 2008).

Segundo a OMS, qualidade de vida é entendida como "a percepção do indivíduo de sua

posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores, nos quais ele vive e em relação

aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações"(FLECK, LEAL e LOUZADA,

2008, p. 199). Esses dizeres apontam que diferentes aspectos abrangem a vida de uma pessoa.

Page 13: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

13

E ainda mais, essa multidimensionalidade denota que a QV envolve várias dimensões da vida da

pessoa e, na avaliação, é um fator que deve ser considerado.

Fleck, Leal e Louzada (2008) relatam que o avanço da Medicina nas diversas áreas do

conhecimentoatrelou a busca de cura das doenças ou o controle dos sintomas e o aumento da

expectativa de vida da população a um contexto social. Essa visão mais abrangente

deflagrou a necessidade de avaliar como o indivíduo vive esses anos a mais e, nesse cenário,

o conceito de QV ganhou visibilidade,sendo introduzido na saúde a partir da década de

1970.

ParaPoljak-Guberinaet al. (2005, p. 604), mais de 500 questionários para se avaliar a

qualidade de vida já foram criados, sem se chegar a um padrão. Pode-se citar o

KarnovskyPerfomance Status de 1948, passando pelo SicknessImpact Profile (SIP) de 1981,

até o SF-36, nos dias de hoje. Elegemos este último que tem se mostrado de grande

reconhecimento quando se deseja avaliar a qualidade de vida em saúde. Acrescenta-se ainda

ao rol de questionários existentes, o Whoqolbref (World Health OrganizationQualityof Life

abreviado), que é um questionário formulado pela Organização Mundial de Saúde a respeito

de como uma pessoa se sente em relação à qualidade de vida, saúde e outras áreas da vida.

No momento de preenchimento desse questionário, é importante que as pessoas tenham em

mente valores, aspirações, prazeres e preocupações, tomando como referência as duas

últimas semanas.

Todavia sabe-se que, além da satisfação com o tratamento em si mesmo, muitos outros

fatores clínicos, funcionais, sequelas, aspectos psicológicos e dor residual, além das

características sociodemográficas do paciente, a natureza da lesão e da condução do

tratamento, podem exercer uma influência significativa na forma como a vida será vivida

daquele momento em diante (O‟TOOLE, CASTILLO e POLLAK,2008).

O tratamento, por exemplo, de um trauma grave dos membros inferiores pode durar anos e

causar sofrimento à pessoapor um longo período de tempo, alterando, por conseguinte, sua

QV.A experiência de longos anos no tratamento e cuidado de pessoas que precisam se

submeter à cirurgia ortopédica e também por ser preceptor de residentes de Medicina na área

de ortopedia e traumatologia, fizeram emergirvárias inquietações no sentido de buscar uma

aproximação com essas pessoas que vivenciarama doença e seu tratamento. Deseja-se uma

Page 14: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

14

aproximação que permita a compreensão da vida dessas pessoas em aspectos que

transcendam osaspectos funcionais e físicose possam abarcaras diversas dimensões que

circundam o viver humano.

A cirurgia ortopédica tornou-se relevante à medida que traumatismos foram produzidos em

cada época por diferentes causas. A introdução do tiro de canhão no século XIV criou um

novo tipo de lesão musculoesquelética desconhecida até então e inaugurou um novo capítulo

na história da Medicina, que se prolonga até nossos dias com as armas

modernas(metralhadoras automáticas, por exemplo), os esportes radicais, os automóveis,

motocicletas velozes,tudo isso associado ao desenvolvimento das cidades com um trânsito

caótico.

Grande esforço tem sido feito em todo o mundo para se conseguir tratar adequadamente as

vítimas de traumatismos de forma geral. As fraturas expostas, ferimentos que atingem as

partes moles e os ossos de forma profunda, rompendo em diversos graus as estruturas

anatômicas, são um grupo de doenças de alta morbidade, mesmo quando tratadas em

serviços de referência. A tíbia (osso da perna) é o osso longo mais acometido na fratura

exposta, dada a sua localização anatômica abaixo do joelho, isto é, localiza-se na altura dos

para-choques dos automóveis. Nos dias atuais, verifica-se a multiplicação do número de

veículos, de motocicletas e da violência, o que contribui para esse tipo de fratura.

Se o desenvolvimento industrial do século XX propiciou aumento considerável da frota de

veículos em circulação em todo o mundo, em contrapartida os acidentes de trânsito se

tornaram uma questão de saúde pública. Sabe-se que, no Brasil, os gastos do SUS com os

traumas são maiores do que com os tratamentos de doenças, o que comprova um prejuízo

enorme para os cofres públicos. Diante dessa situação, Oncken (2004) afirma que os

recursos destinados à recuperação das vítimas após o acidente poderiam ser endereçados

para aprimorar a qualidade de outros serviços para a sociedade, tais como educação, lazer,

saúde, segurança e cultura, entre outros.

A alocação dos recursos econômicos existentes se depara sempre com a finitude do caixa e,

por isso, uma política clara do sistema de saúde deve estar sempre presente, pois a demanda

é infinita. Assim, a identificação da eficácia dos tratamentos e seu custo para o sistema

Page 15: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

15

podem servir de guia para o estabelecimento de protocolos ou discernir prioridades,

inclusive para a avaliação de incorporação de novas tecnologias. (FALLOWFIELD, 2009).

Os homens vivem com o problema dos traumatismos desde sempre. Os livros da escola de

Hipócrates, 360 AC, já discorriam sobre fraturas e luxações com apresentação de excelentes

discussões sobre seus aspectos clínicos e seu tratamento. É de Hipócrates a máxima até hoje

utilizada “o exercício fortalece e a inatividade consome”(PONSETI, 1991). Daí nossa

preocupação em possibilitar logo ao paciente vítima de um traumatismo que reinicie,o quão

breve possível,a função útil de seu membro, para que sejam minoradas todas as

transformações que o seu desuso acarreta.

Situação diferente foi vivida na Idade Média, quando as deformidades e más-formações

sempre eram escondidas da sociedade e consideradas infortúnio incurável.Por outro lado, os

ortopedistas dos séculos XVII e XVIII já colecionavam uma vasta gama de conhecimentos

herdados dos gregos, romanos e outros médicos do Renascimento sobre as deformidades e

outros problemas ortopédicos. Porém, ainda sem o desenvolvimento da anestesiologia e com

a falta de aplicação dos princípios da antissepsia, os procedimentos invasivos carregavam

consigo altíssima taxa de mortalidade. A cirurgia reconstrutora era por isso pouco exercida,

e a prática da amputação era um procedimento heroico. Nessa época, o êxito letal dos

procedimentos ameaçava inclusive a integridade física dos profissionais em seu mister

(BRAKOULIAS, 2012).

Ponseti (1991) descreve que o desenvolvimento da cirurgia teve seu primeiro momento de

destaque na escola de Salerno, no século XII,e culminou com a publicação de um livro,de

Roger de Parma, que foi o primeiro grande livro da literatura médica ocidental. Ele continha

os conhecimentos gregos acumulados com um pouco de influência dos conhecimentos

árabes. Sua grande contribuição foi valorizar o conhecimento da anatomia como a base para

a prática cirúrgica, conceito ratificado até os nossos dias.Atesta também que a Universidade

de Bologna, desde sua fundação em 1113,encontra-se até hoje na vanguarda da cirurgia

ortopédica. Desse período,destaca-se o livro de Saliceto, de 1275, intitulado “Cyrurgia”, que

pode ser considerado o melhor livro de anatomia escrito antes do Renascimento. Aborda

conceitos inovadores cruciais até os dias de hoje, tal como a limpeza do ambiente cirúrgico,

e o conceito de antissepsia tal como defendido por Hipócrates para evitar a contaminação da

ferida.

Page 16: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

16

Historicamente, durante os séculos XV e XVI, a anatomia passou por uma revisão completa

baseada nos trabalhos de Leonardo da Vinci (1452-1519), culminando no trabalho de

Vesalius. O trabalho de VesaliusDe humanicorporis fabrica, publicado em 1543, é um

marco na história da Medicina por sua perfeição em revelar os detalhes da anatomia

humana, fornecendo a base para a compreensão do corpo e para a cirurgia (PONSETI,

1991).

De acordo ainda com Ponsetti (1991), a palavra ortopedia foi utilizada pela primeira vez em

1741, por Nicholas Andry, professor de Medicina da Universidade de Paris, no livro

intitulado “A arte de prevenir e corrigir as deformidades do corpo das crianças”.De origem

grega, “orto” significa correção, endireitar, e “paidios” significa criança. Posteriormente, à

medida que essa arte foi se desenvolvendo, passou a cuidar também das demais

manifestações musculoesqueléticas dos adultos, bem como das doenças oriundas dos

traumatismos.

Apenas para ilustrar, apresento,a seguir, a capa do livro referido anteriormente onde se unem

ortopedia e arte.

Figura 1 - Frontispício da capa do livro de Nicolas Andry

Fonte: <http://medbiography.blogspot.com.br/2006/08/andry-venel-mathysen-

fundadores-da.html>Acesso em: 26 ago. 2012.

Page 17: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

17

As revoluções científica e filosófica ocorridas no Renascimento propiciaram um

reconhecimento da existência dos defeitos físicos. Tanto que tais defeitos foram

considerados um problema social somente no século XVII, quando foi promulgado na

Inglaterra o “PoorReliefAct”. Assim, pela primeira vez, os deficientes, de forma geral,

foram reconhecidos pela comunidade, que lhes daria alguma proteção, e a profissão médica

passou a lhes dar atenção para promover a cura, prevenção ou alívio (PONSETI, 1991).

Há várias técnicas de se realizar a recuperação de extremidades traumatizadas. Os ossos

longos fraturados podem ser tratados de diversas formas, de acordo com as várias

características da fratura, levando em conta a idade do paciente, a configuração da fratura, o

acometimento articular, se fechada ou exposta, o grau de contaminação, a intensidade da

lesão das partes moles, a concomitância de complicações vasculares e neuronais, etc. Pode

variar desde a tração com repouso no leito, gesso, hastes intramedulares, placas com

parafusos, até pinos ou associação de técnicas. Outros casos demandam o uso de fixadores

externos. Eles são escolhidos para a reconstrução de membros gravemente traumatizados,

quando outros métodos, tais como as hastes utilizadas internamente ou placas e parafusos,

não podem obter o sucesso esperado, como na vigência de infecção, perda de substância

óssea ou de tecidos, ou o traumatismo grave das partes moles, situação em que uma

dissecção cirúrgica aumentaria ainda mais os danos já existentes ou faria aumentar a chance

de infecção (CASTRO, 1997; SALTER, 2001; DRUMOND, BRAGA e CUNHA, 2007).

Sutherland (2008) conceitua o fixador externo como um aparelho que é colocado no

segmento doente do paciente e se fixa ao osso através de parafusos rosqueados ou lisos.

Estes últimos podem ser inseridosnas mais diversas regiões anatômicas, mais comumente

braços e pernas, sendo conectados ao aparelho. Os fixadores externos podem ser usados

ainda em outras regiões dos membros superiores além dos braços, na bacia, na coxa, no pé,

na boca, na coluna e até mesmo no crânio. Cada aparelho pode ter diferentes configurações,

e são descritos mais de oitocentos modelos de montagens cujos usos, segundo Ilizarov

(1992), vãodepender da região a serem colocados e da necessidade do que se pretende fazer.

Apresento a seguir uma figura do modelo do fixador circular de Ilizarov para a perna.

Figura 2- a e b - Fixador externo circular dinâmico de Ilizarov para a perna.

Page 18: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

18

Fig. 2a Fig. 2b

Fig. 2a:Fonte:<https://encrypted-

tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcR5w4OVp4ELTNJD_6UeWCN_KFou-KVM-

56n_N6NSou__iy5UXed>Acesso em: 08 mar. 2013.

Fig. 2b: Arquivo pessoal.

Os aparelhos podem formar as mais diferentes configurações geométricas em relação ao

membro lesado, podendo ser mais simples e menores, com ocupação de apenas uma região

do membro ou dois ou mais lados, em forma de triângulo, quadrado, ou em forma de

círculo, envolvendo todo o membro. Estes últimos são chamados fixadores externos

circulares, ou de Ilizarov, frequentemente usados nos casos complexos de reconstrução de

membros, que é o objeto de estudodeste trabalho(CATAGNI, 2003).

O método de Ilizarov e seu aparelho abriram um novo capítulo na história da Medicina

ortopédica. Propiciaram o salvamento de membros e modificaram as estatísticas do

tratamento dos casos desafiadores.

Para O‟Toole, Castillo e Pollak (2008) e Refaat (2002), os resultados de avaliação dos

tratamentos são geralmente pobres e similares, quer se faça a reconstrução por preservação

ou por amputação. Porém, para Aksnes (2008) e Eiser (2001), pacientes contemplados com a

Page 19: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

19

preservação do membro desempenham melhor as atividades do diaadia.A mesmaopinião

relata Karladaniet al.(2001), para quem 90% dos pacientes submetidos a salvamento de seus

membros, após serem avaliados em sua função física, status psicológico e função geral,

estavam satisfeitos, e, quando perguntados se fariam a reconstrução novamente, 88%

escolheram sim. É sabido que muitos estudos demonstram que a amputação, quando

indicada com critérios apropriados, traz os benefícios de melhor função do membro e menor

índice de complicações em longo prazo.

Doukas (2010),em um estudo com o quantitativo de 1621 militares americanos amputados

após combate na recente guerra do Iraque e Afeganistão, afirma que 20% deles apresentam

dor residual mesmo após a amputação. Dessas amputações, 37% foram acima do joelho e

51% abaixo do joelho. Trinta e cinco por cento desses pacientes não conseguiram retornar

ao trabalho ou à escola devido a sintomas depressivos, estresse pós-traumático ou dor.

Porém os amputados se envolvem mais em atividades desportivas do que os submetidos à

reconstrução. Mas este grupo estudado pode não servir de parâmetro para a população

comum, por ser tão particularizado e homogêneo, segundo Hannah (2013).

Outro estudo, este realizado na população geral por Datta, Vaidya e Alsindi (1999), revela

que dois terços dos amputados na perna e com idade entre 16 e 60 anos, sofreram a

amputação devido a traumatismos.O estudo expõe as dificuldades para quem precisa da

prótese, pois sua obtenção e manutençãosão caras. Isso ocorre porque uma prótese dura em

média cinco anos. O soquete de encaixe da prótese no coto dura em média dois anos. Num

período de dez anos, a prótese necessita,em média,de dois reparos maiores na oficina,

quando então o paciente fica temporariamente sem a prótese por cerca de dezessete dias no

total. No período de dez anos,o paciente comparece à oficina ortopédica para pequenos

reparos,em média, dezessete vezes(DATTA, VAIDYA e ALSINDI, 1999). Naturalmente, na

presença de dificuldade econômica e não conseguindo manter a prótese em perfeitas

condições, ela passa a machucar o coto (região de encaixe da prótese). Dessa forma, o

paciente não consegue usá-la e passa a andar novamente com muletas, às vezes, perdendo a

habilidade de voltar a usá-la. Ou abdica de seu uso por não conseguir adquirir outra prótese

ou mantê-la.

A avaliação dos desfechos nos pacientes é o núcleo da pesquisa clínica e deve servir de

sustentáculo para a conduta a ser tomada. É o que chamamos de “Medicina Baseada em

Page 20: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

20

Evidências”. Segundo Guyatt (1992), é o processo de sistematicamente descobrir, avaliar e

usar achados de investigações como base para decisões clínicas. Agir embasado dessa

maneira constitui, para Atallah (1999), o novo paradigma das exigências e premissas das

principais entidades médicas do mundo, OMS, além de governos e agências de pesquisa. É o

esteio para beneficiar o cenário da saúde com os aprimoramentos da ciência, da ética e da

eficiência.

Porém, historicamente, os desfechos têm sido descritos em formatos dirigidos pelo

profissional, tais como observações e interpretações pessoais. O viés inerente, que está

presente dentro de tais dados eventuais, é assim problemático. Além disso, a perspectiva e a

subjetividade do paciente são marginalizadas ou ignoradas. O exemplo mais notável desse

fenômeno na literatura ortopédica é o uso de parâmetros radiográficos para definir desfechos

de tratamento.

O caminho percorrido pelo paciente que chegou ao resultado final demonstrado pela

consolidação óssea radiográficafrequentemente é medido pelo número de intervenções

cirúrgicas. Com um bom resultado final, isto é, consolidação, a técnica utilizada, qualquer

que seja, é coroada com o princípio de que os fins justificaram plenamente os meios. E o

paciente fica amiúde esquecido em sua totalidade como ser e como paciente, atentando-se

apenas para a sua doença.

As medidas de desfecho derivadas do paciente melhoram a objetividade dos resultados e,

quando usadas apropriadamente, oferecem realimentação crítica para o médico. Para

Coutinho (2002), os estudos randomizados seriam a forma mais confiável de se avaliarem as

intervenções em Medicina, devendo sempre considerar sua importância para o paciente e sua

qualidade de vida relacionada à saúde.Porém os objetivos específicos de um estudo já

podem dirigir os resultados para um aspecto isolado da questão, sem contextualizar. Isso

ocorre porque os desfechos apresentam características diversas, dependendo da situação em

questão e da possibilidade de se ajustarem a critérios rigorosos. Pode-se dizer isso quando se

trata de resultados dicotômicos, tal como vida ou morte após um procedimento. Mas,

quando se trata da qualidade de vida, comporta-se comoum desfecho “frouxo” (soft

endpoint), pois traz, em si, uma subjetividade quando analisado por observadores distintos.

Page 21: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

21

Dessa forma, a validade interna de um questionário para esse tipo de estudo é o aspecto mais

importante para se chegar a um resultado que possa neutralizar os vieses existentes. Já os

desfechos duros ou definitivos (hard endpoints) são eventos bem definidos no protocolo de

estudo que não requerem subjetividade, tal como consolidação após uma fratura, que, no

caso deste estudo, é critério fundamental para o sucesso do tratamento proposto, condição

sinequa non para o restante que se pretende avaliar.Ressalta-se que o restabelecimento da

marcha e o uso útil e funcional do membro dependem da consolidação e da cicatrização dos

tecidos.Entretanto torna-se imperativo lembraro viés emque a consolidação radiográfica não

é a prova do uso útil do membro recuperado.

Outra formade desfecho descrita é o desfecho substituto (surrogateendpoints), quando um

evento fisiológico pode levar a outro, tal como a presença de um determinado grau de

osteoporoseque pode facilitar a ocorrência de fraturas. Assim, não se pode perder de vista o

que os trabalhos pretendem demonstrar para não inferir resultados além do que é

significante.

Para O‟Toole, Castillo e Pollak(2008), o grau de satisfação após uma lesão grave da perna

está na dependência do restabelecimento da função, presença ou não de dor residual e da

manifestação de depressão dois anos após o acidente, não se correlacionando com as

características do paciente, lesão ou tratamento. Percebe-se, porém, que outros aspectos

relacionados à qualidade de vida não foram contemplados, tais como a vida familiar, afetiva,

social, lazer, trabalho, entre outros, o que despertou a necessidade de se buscar conhecê-los.

Observa-se que pouco se fala dos sujeitos após a reconstrução de membros e de sua vida

pessoal, social e profissional.De praxe, tem-se uma visão paternalista e médica cartesiana

deles. Acredita-se que há outras perspectivas que convocam para novas abordagens e

avaliações sob diversos pontos de vista, incluindo, nesse contexto, a qualidade de vida dos

pacientes, que estão além da simples posse do membro pós-trauma ou sua consolidação.

Percebe-se, assim, que há uma lacuna a esse respeito.

A grande maioria das pesquisas realizadas com pacientes que necessitam de reconstrução

dos membros se caracteriza pelabusca do perfil desses sujeitos, investigando suas

características como idade, sexo, nível educacional, nível econômico, condição

Page 22: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

22

previdenciária, raça, profissão, comorbidades. Priorizam-se dados objetivos que

consideramos de extrema importância, mas sem alertarem para dados subjetivos.

Diante dessa incompletude de dados que nos possibilitem maior compreensão da pessoa

com reconstrução dos membros e, especificamente, neste estudo, com o uso do fixador

externo,é que questionamos: como se sentem os pacientes em uso de fixador externo? Que

mudanças ocorreram em suas vidas profissional, pessoal, social e econômica? Como

definem sua qualidade de vida? E quem são esses pacientes?

Destaca-se mais uma vez que a progressiva concentração da população nas grandes cidades,

em convívio com um trânsito conturbado, propicia a ocorrência de traumatismos por

acidentes e atropelamentos. As vítimas devem receber os cuidados médicos para conduzi-los

de volta a uma vida normal.Entretanto, para os traumatismos graves dos membros

inferioresreconstruídos com técnicas de fixadores externos, deseja-se saber o quanto isso

valeu a pena. O quanto eles restabeleceram o paciente em termos de qualidade de vida e o

quanto esse paciente se beneficiou dos conhecimentos da Medicina moderna.

É ingênuo pensar que, num mundo com tão grandes transformações, os tratamentos não

sofram os impactos desses novos conhecimentos. Para Minayo (2010), o paradoxo da

situação, no entanto, vem do fato de que as mudanças aceleradoras do desenvolvimento vêm

exatamente do campo da ciência e tecnologia, cuja dinâmica movimenta o surgimento das

inovações. Assim, não podemos ignorar os novos instrumentos teórico-metodológicos que

podem nos ajudar no campo dessa investigação.

Sendo as ciências financiadas principalmente pelos recursos do Estado, é justo que se

debruce sobre um dos temas mais relevantes da atualidade, que é a epidemia do trauma.

Dessa forma, é imprescindível a articulação do conhecimento gerado com as práticas

evoltado para as necessidades prioritárias da população. No documento de consenso da

Conferência Mundial em Budapeste, em 1999, a UNESCO (United NationsEducational,

Scientific e Cultural Organization) e o Conselho Internacional para a Ciência assumiram o

compromisso ético de que a ciência deve contribuir para a qualidade de vida e estar a serviço

de toda a humanidade (UNESCO, 2003).

Page 23: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

23

2 JUSTIFICATIVA

Acredita-se que a qualidade de vida, após um trauma grave na perna e que requereu a

inserção do fixador externo, é determinada pelo tipo de lesão e seu tratamento, de forma

geral, bem como pelobackground psicológico e sociológico do paciente. Nesse sentido, o

tratamento requisita um olhar do profissional de saúde que transcenda o corpo físico e que se

paute pelavisão mais integral da pessoa. Essa assertiva poderá ser ou não corroborada por

este estudo que pretende dar voz às pessoas que, após acidente ou doença,tiveram de usar o

fixador externo. Tem-se em vistamaisaproximaçãoda realidade do sujeito e um

aprimoramento da escolha de condutas que poderão proporcionar melhor qualidade de

vida,buscando-se a maior contribuição que a Medicina possa dar.

A qualidade de vida do paciente após um tratamento emergiu como mais um instrumento

para guiar as decisões médicas. Apesar de alguns advogarem que os pacientes não têm

condições de fazer um bom julgamento do tratamento que recebem, outros insistem que eles

devem ser ouvidos para que a opinião deles tenha influência efetivas nas decisões futuras. E

há muito pouca pesquisa nesse campo dentro da traumatologia ortopédica.

Este trabalho busca oferecer a compreensão de quão extensa é a contribuição da técnica de

reconstrução de membros, com sua preservação,para a qualidade de vida dos pacientes. É

sabido que escolhas pautadas em conhecimentos aumentam a eficiência dos gastos públicos

em saúde na medida em que conduzem a melhores tratamentos.

O setor saúde é considerado, na atualidade, como um dinamizador da economia pela sua

capacidade de produção de bens e serviços, um campo gerador de novos conhecimentos e

absorção de novas tecnologias. Considerada direito do cidadão e da coletividade, a saúde é

um dos maiores ideais das comunidades que a consideram um dos pilares da qualidade de

vida. Milhares de vítimas de traumatismos graves são produzidas a cada ano em nossa

Page 24: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

24

sociedade. Compreender exatamente a eficácia dos tratamentos que recebem para

restabelecer a qualidade de vida é de grande valia para que a comunidade médica possa

repensar suas escolhas ditas científicas e adotadas sob a ótica puramente médica.

Pacientes reabilitados voltarão às suas atividades pessoais e profissionais, mantendo sua

colaboração com a sociedade e preservando sua inserção cidadã. Assim, conhecer a

realidade local nos proporciona a oportunidade de guiar a gestão das políticas públicas para

o setor.

Soma-se a esse contexto, o fato de que os conhecimentos validados também consolidam a

matriz curricular de um curso para identificar o que deve ser ensinado aos alunos com a

finalidade de que usem os instrumentos de decisão da melhor forma.

Um questionário com a representação dos pilares da qualidade de vida em todas as suas

dimensões então se faz fundamental. Ele irá municiar a equipe médica de informações

enriquecedoras sobre o grau de satisfação com a vida depois de o paciente ter vivenciado

experiências em que determinadas condutas foram tomadas para preservar-lhe a vida. É

preciso saber a resposta, em que culminaram tais condutas.

Em síntese,esta pesquisa é o instrumento de conhecimento da realidade e poderá oferecer

reflexões e promover a obtenção do conhecimento acerca da escolha de determinados

métodos de tratamento para o futuro, ampliando a visão dos profissionais sobre este tema.

Page 25: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

25

3 HIPÓTESES

Pessoas que tinham uma vida social, afetiva, econômica, profissional e espiritual

considerada dentro dos padrões da normalidade foram acidentadas e tiveram suas vidas

modificadas por um acidente. O tratamento indicado, no caso de fraturas expostas

complexas, é o fixador externo.

Acredita-se que a qualidade de vidadessas pessoas tenha sido abalada durante a vigência de

um tratamento que buscaa recuperação de membros inferiores por meio da inserção do

fixador externo, ocasionando, inclusive, dificuldade de deambulação.Acredita-se ainda que,

para algumas pessoas, determinados aspectos da vida sofreram maior e mais duradouro

impacto.

Page 26: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

26

4 OBJETIVOS

4.1 Objetivo geral

Analisar as mudanças ocorridas na qualidade de vida dos pacientes em tratamento para

fraturas expostas dos ossos da perna com o fixador externo circular de Ilizarov, com vistas

ao desenvolvimento local.

4.2 Objetivos específicos

Identificar o perfil sociodemográfico de pessoas com o fixador externo circular de Ilizarov,

no Hospital da Baleia, em Belo Horizonte, MG.

Avaliar a qualidade de vida de pessoas nessa situaçãopor meio do instrumento SF-36,

validado no Brasil.

Compreender o sentido que os pacientes atribuem às mudanças operadas na sua vida

cotidiana, bem como ao sucesso ou insucesso de seu tratamento.

Desenvolver material didático educativo que auxilie os profissionais de saúde, os pacientes

em uso de fixador externo e seus familiares a terem melhor convívio pessoal e social.

Page 27: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

27

5 REFERENCIAL TEÓRICO

5.1 Desenvolvimento local e o Fixador Externo de Ilizarov

Hoje, somos 5.562 municípios que formam o Brasil. Encontrar soluções para um problema

que aflige a população é o anseio de todos. Estamos nos referindo à violência no trânsito,

especificamente a que envolve veículos motorizados e que acaba vitimando pessoas em

todas as faixas etárias. Como cada pessoa tem lidado com parentes e/ou amigos vítimas de

trauma grave? Sabemos que, em municípios onde há apenas recursos para a assistência

básica, o fornecimento de transporte para o centro de referência é a solução encontrada. Ao

chegar a esses centros, que tipo de assistência as vítimas têm recebido? Assim, como

salienta Dowbor(2010, p. 5):

Essas soluções envolvem os processos decisórios, o acesso aos recursos, à organização da

participação, as políticas de reequilíbrio social, a gestão intermunicipal – um conjunto de

iniciativas que, por serem descentralizadas e dispersas nesse imenso território, são pouco

visíveis, mas são fundamentais para o processo de mudança que experimentamos.

Segundo Arruda, Silva e Malerba (2009), o país perde principalmente sua força jovem,

numa média de idade de 30 anos, ou seja, em plena idade produtiva. E a força de uma nação

é formada pela colaboração local de cada um. A globalização fez com que a percepção do

que acontece em cada local seja muito importante, levando a uma valorização das atitudes e

comportamentos de cada lugar, o que tem sido qualificado como paradoxo global

(NAISBITT, 2009).

E, como afirma Tomelin (2008), nunca os cidadãos da comunidade global foram tão

intolerantes com as injustiças percebidas, que ora rodam o mundo em seus flagrantes em

questão de segundos. A consciência cidadã passou a exigir dos governantes, cada vez mais,

que cumpram seus papeis de gestores, pois 82% dos cidadãos vivendo nas

Page 28: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

28

cidadestransformaram as políticas sociais em núcleo central das atividades do território

local. Não há como escapar de prover o munícipe de saúde, educação, cultura e segurança,

garantidos pela Carta Magna.

ParaDowbor (2010), há uma expressão-chave que explicita o acesso aos recursos locais

pelos membros da comunidade, para a construção da paz social: equilibrar os direitos. Com

a interconectividade mundial, o acesso à informação democratiza o conhecimento do que

pode ser útil para uma comunidade para resolver um problema específico. Daí, o acesso

toma uma dimensão política, com relações complexas de poder para viabilizar a articulação

da cooperação entre setores capazes de compartilhar as inovações e os recursos

tecnológicos. A governança metropolitana buscará formas práticas de promover a assistência

ao seu cidadão no limite de seus recursos, naquele tempo e lugar.

A organização do modo de resgate dos acidentados e a construção de um modelo de

primeiro atendimento fazem parte do desenvolvimento das cidades. Ressalta-se que cerca de

60% das fraturas expostas ocorrem no ambiente urbano, nas vias públicas, atingindo

estudantes, motociclistas e trabalhadores da construção civil, nesta ordem, o que demonstra

a fragilidade dos primeiros e terceiros, vitimados como pedestres. Não se podem isentar de

responsabilidade as cidades, com seu modelo de trânsito e de educação para o trânsito que

deveria educar, no sentido mais radical do verbo,condutores e pedestres. Não se pode

esquecer que em quase um quinto dos casos, o uso de bebida alcoólica ou de drogas foi

identificado como agente contribuinte para a ocorrência dos acidentes (ARRUDA, SILVA e

MALERBA,2010).

A fratura exposta da perna é a de maior incidência, seguindo-se a da mão. Para alguns, a

fratura exposta é de tal gravidade que leva à amputação imediata em 6% dos casos que

adentram a Unidade de Urgência (ARRUDA, SILVA e MALERBA,2006). Para se

compreender a gravidade dos ferimentos, suas possíveis consequências e a melhor forma de

serem tratados, usa-se uma graduação de acometimento. É um método que classifica a

gravidade das lesões conhecidas como fraturas expostas.Essa classificação é denominada de

Classificação de Gustilo e Anderson (GUSTILO, 1976).

A Classificação de Gustilo e Anderson é a mais amplamente usada na ortopedia. Ela

descreve a extensão da lesão conforme se segue: lesão tipo I: compreende as fraturas tanto

Page 29: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

29

expostas quanto limpas, com exposição < 1 cm; na lesão classificada como tipo II encontra-

se a fratura exposta >1 cm de extensão, sem dano excessivo de partes moles e sem retalhos

ou avulsões. Quanto à lesão considerada do tipo III, tem-se a fratura segmentar, com dano

excessivo de partes moles e/ou com amputação traumática. Essa lesão do tipo III é

classificada em tipo III-A , quando ocorre dano extenso das partes moles, lacerações,

fraturas segmentares, ferimentos por armas de fogo, com boa cobertura óssea de partes

moles; em tipo III-B, quando há vigência de cobertura inadequada de partes moles ao osso; e

a do tipo III-C, quando incide lesão arterial importante, requerendo reparo (GUSTILO,

1976).

Essa classificação é uma tentativa de padronização da linguagem entre os ortopedistas para

que relatem a gravidade das lesões tratadas e auxiliem na escolha da conduta mais adequada

a cada caso. Os principais objetivos quando se está diante de uma fratura exposta são:

priorizar a estabilização definitiva; promover a consolidação adequada da fratura; diminuir a

incidência de complicações infecciosas, osteoarticulares, musculares, vasculares e nervosas;

restaurar a funcionalidade do membro e diminuir os custos do tratamento da doença

(GUSTILO, 1976).

No que diz respeito ao tratamento das fraturas, a fixação das expostas do tipo I deve ser a

mesma, caso a fratura seja fechada. Quando se trata de fixação das fraturas expostas tipo II e

III-A, deve ser fixada interna ou externamente, sendo a osteossíntese escolhida com base na

classificação do traço da fratura, da gravidade das lesões das partes moles e a condição do

paciente (ROCKWOOD, 2013).

Destaca-se que o paciente que receber um fixador externo de urgência pode ficar com ele até

o término do tratamento ou pode ser submetido à conversão para haste intramedular,

preferencialmente entre o 5º e o 10º dia, para evitar complicações tromboembólicas e

infecciosas.

O fixador externo circular de Ilizarov foi desenvolvido na antiga União Soviética pelo

médico GavriilAbramovichIlizarov, no final dos anos de 1940. O método foi difundido para

o ocidente, em 1981, durante um congresso italiano do qual Ilizarovfora convidado a

participar. O método de usar o aparelho trouxe um conhecimento inovador para a ortopedia,

pois permitiu o tratamento de casos complexos, tais como ausência de consolidação, falhas

Page 30: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

30

ósseas, correção de deformidades, fraturas multifragmentares e infecções ósseas. Esses tipos

de casos frequentemente não eram bem sucedidos com as técnicas convencionais, e

geralmente se propunha a amputação após múltiplos insucessos com as técnicas

convencionais (GOLYAKHOVSKY e FRANKEL,1986).

Os pacientes que não apresentarem condições de conversão para uma técnica de fixação

interna permanecerão com o aparelho de fixação externa, que poderá ser modificado ou

aprimorado para ser capaz de durar todo o tratamento ou atender às necessidades que se

apresentarem. Em cada circunstância ele desempenhará um papel diferente, tal como

estabilização para permitir o cuidado das partes moles, transporte ósseo ou alongamento

ósseo para preenchimento de falhas ósseas porventura existentes, correção de deformidades

articulares em segmentos adjacentes etc.

A decisão de reconstruir o membro afetado, para Sanders (2013), leva em consideração

diversos fatores. Entre elesa integridade nervosa do membro é considerado dos mais

importantes. A ausência de função do nervo tibial posterior é um dos aspectos cruciais para

se obter um bom resultado final em alguns casos, embora um membro útil possa ser obtido

mesmo com a perda da sensibilidade plantar. Podemos afirmar, categoricamente, que a

isquemia é crítica, e a habilidade de restabelecer rapidamente a perfusão é essencial para o

sucesso da reconstrução. A integridade das partes moles, por sua vez, é a terceira variável

considerada importante. O dano à pele ou músculos pode complicar tanto o procedimento

reconstrutor como uma eventual amputação. E a extensão do dano muscular deve ser

também considerada, pois, quando vários compartimentos musculares são afetados de forma

grave, o resultado final da reconstrução fica comprometido. Por incrível que pareça, com o

desenvolvimento das técnicas de alongamento e transporte ósseo hoje em dia, a falha óssea

deixou de ser um fator determinante para o salvamento do membro. Finalmente, a condição

geral do paciente certamente vai influenciar a decisão de se optar pela reconstrução que

demandará múltiplos procedimentos a serem tolerados pelo paciente.

Para Korompilias (2009), os fatores pessoais tais como o consumo de álcool e o status

socioeconômico têm um significado menor nessa decisão, que deve ser tomada de forma

consciente, pois investir numa perna e não obter o resultado desejado pode render, no final,

uma depressão, um divórcio, um desemprego e/ou uma incapacidade permanente.

Page 31: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

31

Mesmo os avanços das técnicas microcirúrgicas, que possibilitaram significativo avanço em

termos de salvamento do membro para reconstrução secundária,devem ser feitos dentro do

tecnicamente possível. Conforme explicita Korompilias (2009),a expertise e o entusiasmo

poderão levar a procedimentos caros, mórbidos e, algumas vezes, letais, não devendo haver

lugar para o triunfo deles sobre a razão.

Assim, vários sistemas de pontuação foram descritos para se tentar prever que membros

devem ser reconstruídos. O MangledExtremitySeverity Score (MESS), termo em inglês mais

comumente utilizado, traduzido para o português como “Índice da Síndrome da Extremidade

Esmagada”, é um dos mais utilizados (SGARBI, GOTFRYD, 2006). Foi desenvolvido em

1990 e é dividido em quatro componentes: lesão de tecidos moles e ósseo, graduados de 1 a

4; isquemia, graduada de 1 a 3; choque, graduado de 0 a 2e idade do paciente, graduado de 0

a 2, conforme Quadro 1, a seguir, de Gregory, segundo Sgarbi e Gotfryd (2006). Um índice

menor do que sete é considerado um excelente prognóstico para o salvamento do membro.

Quadro 1-Índice da Síndrome da Extremidade Esmagada

Escore de severidade de injúria ( ISS):

0 -25 1

25-50 2

> 50 3

Tegumento 1

Guilhotina 2

Esmagamento/queimadura 3

Avulsão/desluvamento 1

Nervo 2

Contusão 3

Transecção 1

Avulsão 2

Vascular

Artéria

Transecção 1

Trombose 2

Avulsão 3

Veia 1

Osso

Simples 1

Segmentar 2

Segmentar-cominutiva 3

Segmentar-cominutiva com perda óssea < 6 cm 4

Page 32: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

32

Segmentar intra/extra-articular 5

Segmentar intra/extra-articular com perda óssea < 6 cm 6

Perda óssea > 6

Perda óssea maior que 6 cm, adicionar 1 tempo de espera ( 1 ponto a cada hora

após 6 horas)

Idade

40 – 50 anos 1

50 – 60 anos 2

60 – 70 anos 3

Doença pré-existente 1

Choque 2

Fonte: GREGORY(1985) apudSGARBI eGOTFRYD, 2006, p. 265(grifos do autor).

Mesmo que os índices existam e possam ser úteis, somente o julgamento do cirurgião poderá

decidir o melhor tratamento para cada caso. É esperado que quanto mais graves as lesões,

piores poderão ser os resultados funcionais, mesmo com todos os recursos existentes

disponíveis nas grandes instituições com equipes multidisciplinares. Para Sgarbie

Gotfryd(2006, p. 264), o “salvamento de membros esmagados com severa lesão de partes

moles de vítimas politraumatizadas pode resultar em graves distúrbios metabólicos,

secundários às alterações de potássio e cálcio séricos, ácido lático e mioglobina”.O autor

prossegue afirmando que, caso ocorra essa tentativa, corre-setambém o risco da

disseminação sistêmica, levando ao quadro de septicemia, isto é, uma infecção generalizada

que pode matar. Quando não se toma uma decisão adequada, pode-se correr o risco de adiar

uma amputação inevitável, incrementando o ônus financeiro, pessoal e social.

Outro sistema preditivo de êxito da reconstrução quando o paciente sofre lesões corporais

múltiplas em diversas regiões, édenominado “ISS”, sigla inglesa mais usada na rotinapara

“InjurySeverity Score”, traduzido para a língua portuguesa como Escore de Severidade da

Injúria. Nesse sistema, cada lesão é assinalada em uma Escala Abreviada de

Lesões,AbbreviatedInjuryScale (AIS), e alocada em uma das seis regiões corpóreas (cabeça,

face, tórax, abdômen, extremidades e pele). Apenas o maior AIS de cada região corpórea é

incluído no somatório. As três principais regiões corpóreas afetadas têm seus escores

multiplicados ao quadrado e então somados para produzirem o ISS, que varia de 0 a 75. O

limite de 20 pontos define se o membro deve ou não ser preservado (BAKERet al., 1974).

Vide exemplo no Quadro 2, a seguir.

Page 33: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

33

Quadro 2- Exemplo do cálculo do ISS

Escore de Severidade da Injúria (ISS): 50

Região Descrição da lesão AIS Três principais

lesões

Cabeça e

pescoço

Contusão cerebral 3 9

Face Sem lesão 0

Tórax Tórax instável 4 16

Abdômen Contusão hepática menor +

ruptura complexa do baço

2

5

25

Extremidades Fratura de fêmur 3

Pele

Sem lesão

0

Fonte: Associação para o avanço da Medicina Automotiva (Association for

theAdvancedofAutomotive Medicine - AAAM), revisão de 1990.

5.2 Qualidade de vida e desenvolvimento local

O termo qualidade de vida é bastante genérico e é importante clarificarmos o que significa.

Todos têm uma noção do que seja qualidade de vida para si mesmos e, por isso, às vezes,a

expressão é usada em sentidos diferentes. Por exemplo, Rufino Netto (1994)apudMinayo,

Hartz e Buss (2000, p. 2) conceitua:

Vou considerar como qualidade de vida boa ou excelente aquela que ofereça um

mínimo de condições para que os indivíduos nela inseridos possam desenvolver o

máximo de suas potencialidades, sejam estas: viver, sentir ou amar, trabalhar,

produzindo bens e serviços, fazendo ciência ou artes.

Porém a área médica se apoderou da expressão qualidade de vida, dando-lhe a conotação de

conquista de conforto físico e psicológico, em situações em que o sofrimento dos enfermos

pudesse caminhar na direção do bem-estar ou da cura de sinais e sintomas. Nessas

circunstâncias, o termo “qualidade de vida em saúde” é mais apropriado, ao se considerar a

dicotomia saúde x doença. E os indicadores criados para medir essa qualidade de vida são

principalmente bioestatísticos, psicométricos e econômicos, fundamentados em uma lógica

de custo-benefício. E de forma alguma consideram o contexto cultural, social, de história de

vida dos indivíduos cuja qualidade de vida propõem medir (HUBERT, 1997, apud

MINAYO, HARTZ e BUSS, 2000).

Page 34: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

34

Já a qualidade de vida em saúde,para Fallowfield (2009),é o resultado do que o paciente

relata, geralmente mensurado por meio de questionários validados ou entrevistas

semiestruturadas. Atualmente pode ser obtida até mesmo por meio de tecnologias

computacionais, com telas touchscreen, e obtenção dos dados em tempo real.

O fato éque qualidade de vida poder ser medida de muitas maneiras, o que torna sua

mensuração e incorporação nos estudos científicos um desafio. Por exemplo, quando se está

doente, o bem-estar psicológico, social e econômico está afetado, além, obviamente, da

integridade biológica. Assim, as definições são sempre amplas, devendo permitir delinear

aspectos particulares para que possamos diferenciar os possíveis efeitos de doenças e

tratamentos diferentes nos vários aspectos da vida (FALLOWFIELD, 2009).

Outra característica do significado de qualidade de vida é que ele se amplia à medida que as

pessoas vivem de forma livre, podendo escolher os rumos de sua própria vida, tendo acesso

igualitário aos bens materiais e culturais dentro da sociedade. Esse grau de satisfação da vida

familiar, amorosa, social tem, por isso, sem dúvida, um forte componente cultural. Podemos

então admitir que a qualidade de vida, como descreve Lopes (1999, p. 1), tem um “conceito

que poderá ser classificado de „sincrético‟, quer dizer, de uma visão de conjunto, confusa e

compreensiva de um todo complexo”.

Destarte, diferentes indivíduos, em diferentes épocas da história, referiram-se à qualidade de

vida de uma forma peculiar. Mudanças ocorreram também nas ideias sobre os valores e o

papel das pessoas na sociedade. Na década de 1980 se valorizava a autonomia do sujeito,

mas, a partir da década seguinte, a qualidade de vida teve vez como um dos aspectos da

evolução do conceito de cidadania. Nessa época já tínhamos conquistado direitos básicos de

liberdade, com a luta pela redemocratização do Brasil, que culminou com o movimento das

“Diretas Já”, com a Constituinte e a Carta Constitucional de 1988 que assegurou os direitos

civis e políticos. Começamos a cobiçar novos espaços além de casa, abrigo e comida.

Empoderados, vislumbramos a conquista de outros direitos sociais modernos, que

ampliassem nossa satisfação com a vida, a nossa cidade e o nosso país (GOHN, 2004).

Por certo, sempre houve um estilo de vida apregoado e sonhado fazendo contraponto à

realidade. Por isto, Martin e Stockler (1998) sugerem que quanto menor a distância entre

sonhos e realidade, talvez aí esteja uma maior qualidade de vida. Dessa forma, podemos

Page 35: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

35

perceber que a qualidade de vida depende do momento histórico, cultural e da classe social

do indivíduo. Esse aspecto se confunde com o próprio processo de desenvolvimento da

sociedade, em seu avanço civilizatório, na medida em que as mudanças, no decorrer da

modernização, geram aumento do grau de satisfação dos cidadãos em todos os aspectos de

suas vidas (WILHEIM,1999,apud NEVES, 1999).

O relativismo cultural não impede, porém, de perceber que há um modelo hegemônico que,

nos nossos dias,torna-se até mesmo planetário. O mundo ocidental urbanizado, com

múltiplas opções de gozo de bens materiais,frequentemente exerce um fascínio sobre as

pessoas do mundo todo. Quem não se encanta por uma tela colorida de um computador ou

smartphone, ou não cobiça uma máquina que diminuiria seu trabalho manual?

Todavia essa ideia de infinitude de possibilidades se choca com a finitude dos recursos

disponíveis para toda a população do planeta, se todos são alçados ao mesmo nível de

consumo. Com certeza, nossas concepções devem ser amadurecidas em nome da

sustentabilidade. A exploração predatória inescrupulosa engendra danos gravíssimos aos

ecossistemas, que terminam por atingir a própria vida dos seres vivos (DOWBOR, 1998). Se

toda a população do planeta vivesse em padrões de primeiro mundo, precisaríamos

comparativamente, segundo Scarpa e Soares (2012), de 5,22 planetas Terra, se tomarmos

como base a América do Norte; 2,66 se a Europa; 0,72 se a Ásia Oriental e Oceania; 0,61 se

a África e 1,11 se a base for a América Latina. Grande parte do “excedente de planetas” é

causada pelo consumismo irracional que contribui para o esgotamento dos recursos naturais

existentes.

A relação intrínseca entre o homem e o ambiente onde vive, incluindo a biosfera, é, sem

sombra de dúvida, uma relação de cumplicidade, com benefícios incontestáveis para o

homem, que recebe de doação da mãe natureza muitos bens que ela, e só ela, tem a

capacidade de renovar. Essa relação desigual é frequentemente usurpada, esquecida, muitas

vezes, por motivos econômicos e políticos.

Mas, mesmo para sociedades ditas ricas, com renda per capita elevada, quando se

investigam os aspectos relevantes para sua qualidade de vida, os valores imanentes das

pessoas estão no ranking dos bens mais preciosos: felicidade, realização pessoal,

solidariedade, amor e liberdade (MINAYO, HARTZ e BUSS, 2000).

Page 36: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

36

Entretanto, temos de levar em consideração que alimentação, moradia, acesso à água

potável, energia elétrica, trabalho, educação, saúde e lazer são insumos imprescindíveis para

as coletividades de nosso tempo, onde quer que estejamos. A ausência de apenas um deles

pode revelar um comprometimento da qualidade de vida. E por que não se lembrar também

de desemprego, exclusão social e violência, fatores que degradam as conquistas sociais mais

evidentes.

Para Dowbor (1998), sejam quais foremas soluções,elas exigirão difícil costura política com

todos os atores sociais da sociedade realmente existente.Nessa linha, a agenda brasileira para

o desenvolvimento das políticas urbanas optou, em consonância com a agenda internacional

dos anos 1980 e 1990 para o desenvolvimento social, por investir em capital humano. Seu

objetivo era viabilizar reformas estruturais que possibilitassem, segundo Melo(1999,apud

NEVES, 2012, p. 36),“a ampliação do papel dos mercados na oferta de bens e serviços

sociais, a estabilização macroeconômica e a focalização da ação pública em bens públicos

que produzem externalidades, tais como saúde e educação”.

Dessa maneira, o termo qualidade de vida tem uma semântica polissêmica. De um lado,

suporta-se no estilo de vida e condições de existência e, de outro, se assenta nos ideais

democráticos, no desenvolvimento sustentável e na vivência dos direitos humanos e

sociais.E isso é plenamente viável, pois hoje temos instrumentos técnicos e meios

econômicos amplamente suficientes para enfrentar o novo desafio de humanização do

planeta (DOWBOR, 1998). No dizer de Lopes (1999, p. 1):

[...] compete aos vários níveis de decisão contribuir decisivamente para criar o

quadro multivariável para o desenvolvimento de um melhor quadro de vida, seja

na habitação, na saúde, na educação, na cultura, no trabalho ou na ocupação do

tempo livre.

Consubstanciando esse ponto de vista,Fares (2007) afirma que a conquista de novos

processos, produtos e métodos com vistas à melhoria da qualidade de vida é um sentimento

comum e umapretensão de todas as comunidades. Nessa acepção, ter acesso a oportunidades

de usufruto dos bens que a sociedade produz possibilita não só melhorar, possivelmente,

aqualidade de vida, mas também diminuiras desigualdades sociais, educacionais,

assistenciais, entre outras, para as pessoas.Assim, é inadmissível, do ponto de vista ético,

negar que determinados tratamentos, por exemplo, só beneficiam uma classe social, ainda

que hoje estejamos assegurados em uma estrutura com mecanismos públicos que,apesar de

Page 37: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

37

suas dificuldades, seguem ofertando aos cidadãos o direito universal à saúde dentro do

território nacional.No caso específico do acesso ao tratamento ortopédico dos pacientes

graves, para Sanders (2013), quando se fala em reabilitação, necessitamos ir bem além da

parte física ebuscar também um resgate social e vocacional.

É digno de nota que, ao sebuscar compreender a saúde como um produto da sociedade,

estamos refletindo seu conjunto de valores, como justiça social, democracia, cidadania,

equidade, participação, solidariedade, parceria e ética.Concordamos com Minayo, Hartz e

Buss(2000, p. 8),ao mencionaremque “o conceito de saúde tem relações ou deve estar mais

próximo da noção de qualidade de vida, que saúde não é mera ausência de doença, já é um

bom começo, porque manifesta o mal-estar com o reducionismo biomédico”.

Compreender que superar os determinantes sociais e ambientais do aparecimento das

doenças é aspecto fundamental da promoção da saúde convoca-nos a compreender que as

necessidades humanas fundamentais, materiais e espirituais são o foco da questão

denominada qualidade de vida em saúde, em última análise. O Sistema de Saúde não pode

passar ao largodisso como mediador intersetorial das populações sob o risco ou em situação

de vulnerabilidade. O poder público constituído tem deveres inquestionáveis na coordenação

de políticas capazes de ser inclusivas, neutralizando grupos de interesses das organizações

com foco voltado puramente para o econômico.

Para Dowbor (1998), o problema que enfrentamos não se coloca em termos de alternativas

entre assegurar justiça social ouassegurar as liberdades econômicas, mas de se articularemas

duas coisas de maneira adequada.Lopes (1999, p. 1) corrobora esse ponto de vista ao

enfatizar:

[...] as aspirações de uma melhor qualidade de vida podem muito bem ser uma

meta inatingível, deixando proliferar os germes que contaminam e transformam

cada vez mais a vida numa civilização de betão edificado e de catedrais de

consumo gigantescas que nos leva a questionar: será que mesmo com toda a

riqueza produzida não somos capazes, ou não estamos ainda preparados, para

fornecer, a toda a sociedade, uma civilização de bem-estar?

Por isto, concordamos com as ideias de Ferreira e Buss (2008), ao proferirem que somente

com o resgate da dívida social gerada pela desigualdade, com esforços intersetoriais para

articular as políticas econômicas, sociais e culturais abrangentes, alcançaremos o

desenvolvimento local sustentável e a equidade. Ressalta Neves (2012, p. 1) que“...há

Page 38: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

38

patamares iniciais de qualidade de vida que, no Brasil, ainda não foram alcançados por parte

da população. Abaixo de uma determinada linha, não é o caso de se falar em qualidade de

vida: trata-se das necessidades básicas da sobrevivência”.

Assim, não se consegue falar em alterar a qualidade de vida se não houver uma cooperação

dos diferentes setores da sociedade: o Estado, com suas políticas intersetoriais, a sociedade

civil e o Sistema de Saúde propriamente dito. Essa estratégia revela a tendência mundial da

descentralização das políticas sociais, da distribuição e da administração dos recursos da

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), conforme ela própria ressalta:

Uma experiência de município e comunidade saudável começa com

odesenvolvimento e/ou o fortalecimento de uma parceria entre autoridadeslocais,

líderes da comunidade e representantes dos vários setores públicos eprivados, no

sentido de posicionar a saúde e a melhoria da qualidade da vidana agenda política

e como uma parte central do planejamento do desenvolvimentomunicipal. Um

componente vital deste material é construir efortalecer alianças intersetoriais para

melhorar as condições sociais e de vidanos lugares onde as pessoas vivem (OPAS,

2000, p. 7).

A própria Carta de Ottawa (BRASIL, 2002) reconhece que somente com o esforço conjunto

de cinco campos de atuação conseguir-se-á avançar na promoção da saúde e qualidade de

vida no sentido mais amplo, a saber: políticas públicas saudáveis; ambientes

favoráveis;fortalecimento de ações comunitárias; desenvolvimento de habilidadesindividuais

e a reorientação dos serviços de saúde, chamando especialmenteatenção para o necessário

diálogo e o trabalho conjunto com osdemais setores da administração pública.A consciência

cidadã, expressa na participação comunitária, implica o envolvimento e o compromisso das

pessoas não apenas na identificação de necessidades e prioridades, mas também na troca de

experiência, na valorização das vivências locais para se enfrentar os desafios que se

apresentam. Como destacaDowbor, (1998, p. 7):

Frente a estas mudanças, o mais importante não é mais definir a sociedade ideal

que queremos, e sim gerar na sociedade instituições e mecanismos de regulação

que permitam à sociedade ir se transformando e se reconstruindo de acordo com os

seus desejos e necessidades.

Ressalta-se ser necessário estar ciente de que o sucesso na conquista da qualidade de vida

não poderá ser contabilizado simplesmente pelo valor dispendido com a saúde ou com a

aquisição de bens e serviços. Muito pelo contrário, como ainda atestaDowbor (2008),

quando se gasta muito com medicamentos e hospitais é porque há uma doença, e o objetivo

Page 39: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

39

é minimizar a sua ocorrência. Corroborando esse pensamento,Gadrey e Jany-Catrice (2008)

fizeram um trabalho de revisão das diferentes metodologias disponíveis para a medição da

qualidade de vida, dos tipos de indicadores, do potencial que hoje se apresenta para quem

quer saber não apenas se o PIB cresceu, mas se estamos vivendo melhor, questão chave, que

não pode ser maquiada nas sociedades com grande desigualdade de distribuição da riqueza.

Para esses autores, precisamos saber, de forma prática, o que de fato proporciona bem-estar

às populações, para saber para quem e para quantos nossas atividades têm utilidade social.

Assim, discutir qualidade de vida é promover o desenvolvimento local não pelo processo de

acumulação, mas pela criação de oportunidades de realização do ser humano na integridade

de sua personalidade existencial (FRANCO, 2000).

Para Caron (2007), essas reflexões sobre as inovações saíram do campo econômico e foram

para o social, pois o âmago da questão é a realização das potencialidades das pessoas, sua

melhor qualidade de vida, bem-estar e felicidade como ser humano.

Ainda referenciando Dowbor (1998, p. 8):

O que nos propomos aqui é recuperar as implicações práticas de um objetivo social

que hoje já é razoavelmente consensual: a visão de um mundo justo é tão essencial

para a nossa sobrevivência como a de um mundo produtivo e a de um meio-

ambiente sustentável. Discutir qual dos três é mais importante é não entender que

não se trata de alternativas, e sim de objetivos articulados, onde conseguir o

avanço de um em detrimento dos outros não constitui avanço, e sim recuo para

todos.

Dessa forma, muitos dos problemas locais que queremos focar neste estudo podem servir de

inspiração para soluções regionais ou nacionais, pois se ancoramno que mais faz sentido, a

geração de uma vida melhor.Nesse sentido,estado e sociedade civil são copartícipes desse

ideal, conforme o Ministério da Saúde (BRASIL 1990), citado por Silva (2009, p. 3):

Nesse sentido, a Lei n. 8080 de setembro de 1990 é clara quando estabelece a

alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a

renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais

como determinantes da saúde, e convoca Estado e sociedade civil a assumirem a

responsabilidade de promovê-la, protegê-la e recuperá-la.

Page 40: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

40

6 METODOLOGIA

A escolha do caminho metodológico de uma pesquisa se faz conforme o que se busca

alcançar com os seus resultados, melhor dizendo, conforme os objetivos que se intenciona

atingir. Portanto, neste estudo, a metodologia quanti/qualitativa se apresentoucomo uma

trajetória que se adequa à compreensão do fenômeno “Qualidade de Vida dos pacientes com

fratura da perna submetidos à reconstrução de membros com fixação externa circular pelo

método de Ilizarov”.

Inicialmente, pretendeu-se conhecer o perfil sociodemográfico dos pacientes atendidos no

Ambulatório da Unidade Maria Ambrosina do Hospital da Baleia, a partir dos dados dos

prontuários do Serviço Arquivo Médico e Estatística (SAME) do referido hospital. Nesse

perfil buscou-se, entre outros dados, identificar: gênero, idade, escolarização, renda e

ocupação profissional, estado civil, origem do trauma, data do acidente, data da colocação

do aparelho (APÊNDICE A).

Outro instrumento aplicado foi oSF-36, que é uma versão encurtada de 149 perguntas

validadas e relacionadas à saúde e que originalmente foram parte de um estudo de desfechos

médicos em mais de 22.000 pacientes (ANEXO A).

O SF-36 é um questionário sobrequalidade de vida reconhecido internacionalmente. Ele

mede três aspectos de saúde: capacidade funcional, bem-estar e saúde global. Em uma

tentativa para quantificar esses aspectos, o SF-36 avalia oito domínios de qualidade de vida.

Um único item também avalia a percepção do paciente sobre alterações na sua saúde.

Destaca-se que ele permite encontrar níveis altos de confiabilidade entre pacientes

portadores de uma condição de saúde semelhante.

É um instrumento multidimensional, formado por 36 itens, englobados em oito domínios:

capacidade funcional (10 itens), aspectos físicos (4 itens), dor (2 itens), estado geral de

saúde (5 itens), vitalidade (4 itens), aspectos sociais (2 itens), aspectos emocionais (3 itens),

saúde mental (5 itens) e mais uma questão de avaliação comparativa entre as condições de

saúde atual e as de um ano antes. A pontuação dos itens do SF-36 é completada para cada

uma das subescalas individuais. As pontuações são ponderadas e transformadas em uma

escala de 0 (pior saúde possível, incapacidade grave) a 100 (melhor saúde, nenhuma

incapacidade). A pontuação acontece só quando o paciente tiver respondido a pelo menos

Page 41: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

41

metade dos itens dentro de cada escala. Nenhuma pontuação total é calculada. Os resultados

podem ser exibidos em diversos formatos. As tabelas permitem a comparação direta dos

valores numéricos. O uso de gráficos de barra com marcadores de desvio-padrão permite a

comparação visual direta das pontuações entre os conjuntos de dados. É um instrumento

genérico de avaliação de qualidade de vida, tendo sido elaborado para ser um instrumento

simples, autoadministrável e de fácil compreensão(PATEL, DONEGAN e ALBERT,2007).

É importante frisar que o teste pode ser autoadministrado pelo paciente e mesmo respondido

pelo paciente em seu domicílio, depoisdevolvido ao médico. O tempo médio para completar

o preenchimento é de cerca de 10 minutos, embora isso dependa da condição cultural e

clínica do paciente.

O SF-36, conforme a literatura ortopédica, tem sido utilizado para alcançar quatro objetivos

distintos:

1. determinar o efeito de uma condição na qualidade da saúde do paciente;

2. determinar o desfecho de um tratamento;

3. comparar o efeito das opções de tratamento para uma condição;

4. comparar o efeito de um procedimento contra outros procedimentos e condições médicas

não relacionados (PATEL, DONEGAN e ALBERT, 2007).

Como se pode apreender, os dados obtidos via aplicação do SF-36 são objetivos. Assim,

com vistas ao aprofundamento do fenômeno estudado, a abordagem qualitativa, na

perspectiva hermenêutico-dialética, fez-sepresente, uma vez que não se desejou verificar

apenas o ponto de vista unidimensional ortopédico. De acordo comMinayo, (2010,

p.26),“ahermenêutico-dialética poderá contribuir para que se contextualizem de forma

crítica a história e a linguagem dos problemas de saúde e das práticas sociais da área”.

Afinal, espera-se conhecer a interação dos aspectos objetivos e subjetivos do ser humano,

pois todas as partes formam a vida com suas interações em todos os campos, indo dos

sistemas físicos e químicos aos biológicos, sociológicos e políticos.

Conforme expressa Minayo (2010, p. 31):

Page 42: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

42

[...] todas as ações clínicas, técnicas de tratamento, de prevenção ou de

planejamento devem estar atentas aos valores, atitudes e crenças das pessoas a

quem a ação se dirige. É preciso entender que, ao ampliar duas bases conceituais

incluindo o social e o subjetivo como elementos constitutivos, as ciências da saúde

não se tornam menos “científicas”, pelo contrário, elas se aproximam com maior

luminosidade dos contornos reais dos fenômenos que abarcam.

A abordagem qualitativa possibilitou captar os pontos de vista sob a ótica dos atores, das

relações e muitas situações humanas que só são caracterizadas quando se consideram as

percepções dos que delas participam. Volta-se a afirmar que, em relação ao objeto deste

estudo, é comum encontrar pesquisas com análises apenas do ponto de vista da ciência

médica, observando meramente atributos biológicos tais como consolidação óssea,

sensibilidade, amplitude de movimento, esquecendo-se do sujeito. Sabe-se que um

tratamento bem sucedido é apenas uma faceta da realidade. Contudo acredita-se que a

declaração do “estar bem” revelado pelos pacientes solicitaque se busquea compreensão do

sentido dessa comunicação em seu meio cultural, esmiuçando os fatos, os relatos e as

observações no contexto dos pacientes atores.

Foram sujeitos da pesquisa todos ospacientes que retornaram para sua avaliaçãomensal.

Habitualmente, nessa visita com agendamento prévio,eles fazem uma avaliação radiográfica

para monitorar o grau de evolução da consolidação óssea e são inquiridos sobre vários

aspectos pertinentes: liberdade de movimento das articulações adjacentes (joelho e

tornozelo), intensidade da dor, consumo de medicamentos, qualidade do sono, condição dos

pertuitos dos fios, pois cerca de uma vez ao mês ocorre uma inflamação onde a estrutura

ancora no osso e em partes moles. O atendimento abrange, em média, cerca de cinquenta

pacientes, no ambulatório, uma vez por semana, sendo que,entre eles, cerca de oitopacientes

encontram-se em uso dos fixadores externos. Portanto os sujeitos que compareceram para

controle nos meses de abril, maio e junho do corrente ano (2013)foram convidados a

participar da pesquisa, e os 44 que aceitaram responderam ao questionário semiestruturado e

preencheram o SF-36, após explicação e anuência para assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

(APÊNDICE B).

Outros critérios de inclusão definidos foram: pacientes com mais de 18 anos de idade,

referenciados para tratamento com história de uma lesão grave na perna, com indicação de

reconstrução do membro devido ao risco de amputação, com pelo menos 30 dias de pós-

Page 43: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

43

operatório da colocação do aparelho e que consentiram em participar do estudo. Esclarece-se

que tais lesões incluem as fraturas expostas tipo III de Gustilo-Anderson, A, B ou C. Para

ser considerada como C, a lesão vascular deve ter sido tratada pelo Cirurgião Vascular para

reparo. Quanto aos critérios de exclusão, definiu-se que pacientes com lesão medular ou

trauma crânio-encefálico, amputação prévia no pé ou perna, paciente em uso de aparelhos na

coxa ipsilateral ou lado oposto, devido a fratura concomitante femoral, paciente psiquiátrico

incapaz ou com retardo mental não comporiam o universo da pesquisa.

Os dados obtidos, tanto por meio do questionário estruturado quanto pelo SF-36, foram

computados e armazenados em banco de dados do programa Microsoft Excel 2013, com

dupla entrada para validação. Os dados, após análise, foram expressos em gráficos e tabelas.

Quanto aos sujeitos convidados também para fazerem a entrevista aberta,eles

foramconvidados,nasquartas-feiras, nos meses de abril, maio e junho (APÊNDICE C). As

entrevistas foram feitas com os 44 sujeitos.Depois de gravadas, com o consentimento dos

sujeitos, elas foram transcritas e analisadas de acordo com Bardin(2008).

Quanto aos aspectos éticos, esta pesquisa só teve início a partir da autorização do Comitê de

Ética da UNA (ANEXO B) e aquiescência dos sujeitos e do próprio Hospital da Baleia.

Page 44: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

44

7RESULTADOS E ANÁLISE

7. 1 Perfil dos sujeitos

Os resultados oriundos das respostas ao questionário acerca do perfil dos 44 pacientes com

história de fratura exposta dos ossos da perna, em uso de fixadores externos,

apontaramestatisticamente o seguinte:

Gráfico 1 - Distribuição dos pacientes por sexo, Belo Horizonte, 2013.

Dos quarenta e quatro entrevistados, sete (15,9%)são do sexo feminino e 37 (84,1%) do

masculino. Na casuística de Arruda, Silva eMalerba(2009), em que se investigarampacientes

vítimas de fraturas expostas numa unidade de urgência,verificou-se, também,entre os 342

pacientes avaliados, predominância masculina, com 86,84% dos casos atendidos. O estudo

de Castro et al. (2013), realizado com 346 pacientes ortopédicos internados, identificou

89,6% sujeitos do sexo masculinoentre os pacientes vítimas de acidentes. Há, por

conseguinte, confirmação da incidência do sexo masculino no que tange aos acidentes com

fraturas expostas.

15,9%

84,1%

Feminino Masculino

Page 45: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

45

Gráfico 2 - Idades dos entrevistados, Belo Horizonte, 2013.

82705846342210

14

12

10

8

6

4

2

0

Idade

me

ro d

e P

acie

nte

s

2

6

10

13

10

3

Distribuição da Idade dos Pacientes

Conforme os dados mostrados no Gráfico 2, a média de idade dos pacientes foi de 43 anos.

A média de idade das mulheres foi de 54 anos, e a dos homens 41 anos. A mediana das

idades foi 41,5 anos. A mediana das idades femininas foi 54 anos e da masculina foi 38

anos. Assim, a moda desta amostragem foi do sexo masculino.

Quanto à idade, o conjunto feminino se revelou amodal, enquanto encontramos no conjunto

masculino a característica bimodal, 34e 57 anos, cada um tendo aparecido três vezes. Assim,

a moda bruta masculina encontrada foi 45,5 anos. Dessa forma, observamos medidas de

idade de tendência central aproximadamente simétricas na amostragem. Na amostragem de

Arruda, Silva,Malerba (2009), a idade média encontrada foi 30,41 anos, assim, inferior à

média de 43 anos encontrada nesta pesquisa. Porém, em sua casuística,incluíram-seas

fraturas expostas de todas as partes do corpo, das quais somente 37,86%se referiam a

fraturas dos ossos da perna. Castro, Ribeiro, Andrade (2013) informaram apenas a mediana

de 29 anos de idade de seus pacientes, inferior à mediana de 41,5 anos encontrada neste

estudo, uma vez que incluíram em seu estudo adolescentes a partir de 13 anos, internados na

enfermaria ortopédica.

Page 46: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

46

Gráfico 3 -Cobertura da seguridade social dos sujeitos, Belo Horizonte, 2013.

Do conjunto dos 44 pacientes, dois declararam não possuir cobertura da seguridade social;

quatro encontravam-se afastados pelo instituto de pecúlio de classe, sendo dois militares e

dois funcionários públicos do estado; seis já se encontravam aposentados por ocasião do

acidente, destes três eram do sexo feminino; e os 32 restantes (72,7%) encontravam-se

afastados pelo INSS.Isso demonstra o impacto causado por nossos acidentados sobre a

previdência social. Em outras palavras, esse ônus recai sobre toda a sociedade, que paga

impostos. Para o trabalhador, que frequentemente tem outros ganhos acrescidos ao salário,

como vale-refeição, vale-transporte, produtividade,o impacto negativo também é

considerável, já que ele passa a auferir um valor inferior ao que percebia quando na ativa.

Aparentemente pouco, esses valores são percentualmente altos, chegando até mesmo a

dobrar o baixo valor salarial que consta em carteira. Isso afeta, sobremaneira, o orçamento

familiar, podendo alterar os hábitos alimentares, a capacidade de pagar por locomoção no

transporte público, sem falar nas impossibilidades de arcar com despesas rotineiras de uma

família, como insumos eventuais para escola dos filhos, um lanche ou uma atividade de

lazer. Tudo isso denota piora da qualidade de vida usufruída.

No que diz respeito à escolaridade,o Gráfico 4,a seguir, mostra que há sujeitosdesde

analfabetos até com nível de instrução superior completa.

Gráfico 4 - Nível de escolaridade dos sujeitos, Belo Horizonte, 2013.

24

6

32

0

5

10

15

20

25

30

35

Ausência de Seguridade

Pecúlio de Classe Aposentados INSS

Page 47: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

47

Do universo de sujeitos pesquisados, um se declarou analfabeto, 21 (47,7%) com primeiro

grau incompleto, 11 sujeitos (25%) com segundo grau completo, seis (13,6%) com primeiro

grau completo, e cinco (11,4%)com escolaridade superior completa. Das sete mulheres, duas

declararam ter o primeiro grau incompleto; duas,o segundo grau completo; e três, o superior

completo, demonstrando claramente mais alto nível de escolaridade feminina. Arruda,

Silva,Malerba (2009) encontraram,em sua investigação de pacientes vítimas de quaisquer

fraturas expostas,a predominância de ensino fundamental incompleto (41,52%), seguindo-se

20,76% com segundo grau incompleto. Esses dados assemelham-se aos encontrados nesta

pesquisa.

As causas das fraturas expostas apresentadas no Gráfico 5 apontaram que os acidentes

motociclístico superam, em muito, as outras causas.

Gráfico 5 - Causas das fraturas expostas, Belo Horizonte, 2013.

1

21

6

11

5

0

5

10

15

20

25

Analfabeto Primeiro Grau Incompleto

Primeiro Grau completo

Segundo Grau Completo

Superior Completo

1 2 3 6

32

05

101520253035

Page 48: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

48

Os dados do Gráfico 5 mostram que uma fratura exposta ocorreu devido à acidente por

máquina agrícola; dois, por acidente automobilístico; três, por queda; seis (13,63%), por

atropelamento; 32 (72,7%), por acidente motociclístico. Na casuística de fraturas expostas

de diversas causas, Arruda, Silva e Malerba (2009) encontraram 31,28% casos que tiveram

como causa o acidente motociclístico, seguindo-se o atropelamento em 16,66% dos

casos.Castro, Ribeiro, Andrade (2013), no relato de internações ortopédicas de origens

diversas, encontraram 28,2% de incidência de acidente motociclístico, seguindo-se 14,1% de

atropelamento. Percebe-se, por conseguinte, que os dados encontrados neste estudo são

corroborados por estudos anteriores,confirmando que os acidentes por motocicletas

comandam as fraturas expostas nos membros inferiores.

Gráfico 6 - Procedência dos pacientes atendidos, em Belo Horizonte, 2013.

A leitura do gráfico mostra que os sujeitos são, na sua grande maioria, provenientes do

interior do estado. Oito (18,2%) pacientes declararam domicílio em Belo Horizonte, cinco

(11,4%) em Contagem, cinco (11,4%) em Betim, dois (4,5%) em Sabará e cada um dos 24

(54,5%) restantesé oriundode cidades diferentes no interior de Minas Gerais.Isso demonstra

a carência de oferta de assistência ortopédica especializada no interior de Minas Gerais pelo

Sistema Único de Saúde. Na maioria das cidades do interior, onde não há serviço de

ambulâncias de resgate, as vítimas de acidente são socorridas de maneira informal e levadas

para o hospital mais próximo. Recebem primeiro atendimento para alívio da dor e cuidado

inicial dos ferimentos. Constatando-se fraturas expostas complexas, são encaminhados para

centros de referência em urgência, onde recebem o tratamento ortopédico especializado de

8

5 5

2

24

0

5

10

15

20

25

30

Belo Horizonte Contagem Betim Sabará Interior de Minas Gerais

Page 49: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

49

urgência. O tratamento dispensado à fratura exposta grave é, com frequência, um fixador

externo linear. Então são encaminhados dentro da própria rede SUS paraos hospitais

conveniados de apoio, entre os quais o Hospital da Baleia,para se dar sequência ao

tratamento. É uma trajetória longa, de muitas horas de espera e incertezas. Pode levar dias

ou meses para um paciente com fixação temporária de uma fratura exposta conseguir um

local para acompanhamento definitivo de seu caso. Posteriormente, ele depende do sistema

público para autorizar as ambulâncias ou ônibus municipal a trazê-los às consultas.

Vejamos no próximo gráfico, os rendimentos desses sujeitos.

Gráfico 7 - Rendimentos da população, por faixa, Belo Horizonte, 2013.

Em relação aosrendimentospercebidos, doissujeitos não os declararam, e vinte e sete

(61,4%) declararam rendimentos de até R$1.000,00; oito (18,2%),até R$2.000,00; dois

(4,5%), até R$3.000,00; e os cinco (11,4%) restantes declararam o teto de R$4.800.00.

Quatro das sete mulheres declararam rendimentos de até R$1.000,00.Os valores estão

semelhantes aos encontrados por Anjos (2012), que, em sua casuística de 68 acidentados por

motos, encontrou 7,4% dos sujeitos com rendimentos de um salário mínimo (sm); 51,5% até

dois sm; 25% até três sm; 11,8% até quatro sm; e 4,4% acima de quatro sm. Vale relatar que

o salário mínimo na época de seu trabalho era de R$ 515,00. Assim, 61,4% dos valores

recebidos pelos sujeitos desta pesquisa se assemelham à soma da remuneração dos sujeitos

que recebiam até dois sm, conforme dados do trabalho de Anjos. Isso mostra a dependência

da população de baixa renda damotocicleta como veículo de transporte, dado seu baixo

custo, baixo valor de manutenção, melhor mobilidade no trânsito e seu preço decrescente.

2

27

8

2

5

0

5

10

15

20

25

30

Page 50: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

50

Pesquisa de Marin (2010), citada por Anjos (2012), revela que, enquanto o preço de uma

moto em 1994 equivalia a 39,4% de um Gol 1000, atualmente equivale a 19,6% do valor do

mesmo modelo de carro.

Quanto ao estado civil, os resultados que se veem no gráfico 8 revelam que a categoria de

sujeitos solteiros é maior do que as demais.

Gráfico 8 -Estado civil dos sujeitos, Belo Horizonte, 2013.

Como apontam os dados, 19sujeitos se declararam casados, um viúvo e 24 solteiros.

Nenhum dos trabalhos consultados fez referência ao estado civil declarado dos sujeitos.

Pensamos ser importante esse dado, pois permite saber um pouco mais sobre os vínculos

familiares. A mulher tem o dom de cuidar, e sabemos o quanto a demanda por cuidados se

faz presente em casos de incapacidade. Não que o homem não possa se cuidar e se bastar,

mas contar com o apoio da família pode proporcionar uma qualidade de vida emocional

fundamental para a superação de tempos difíceis, bem como auxílio financeiro diante da

diminuição de rendimentos, além de ajudar na locomoção, tão prejudicada na vigência do

tratamento em foco nesta pesquisa.

Gráfico 9 - Número de filhos, Belo Horizonte, 2013.

.

19

1

24

0

5

10

15

20

25

30

Casados Viúvo Solteiros

Page 51: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

51

Dos 44 sujeitos, 10 não tiveram filhos, 10 relataram ter um filho; 14, dois filhos; cinco, três

filhos; dois, quatro filhos; um, cinco; um, seis e outro, sete filhos. Nove declararam não

terem filhos. A média foi de 1,8 filhos para cada paciente. Considerando apenas os pacientes

que têm filhos, a média foi de 2,3 filhos para cada paciente. A posição de provedor da

família, mesmo que compartilhada, torna a condição de acidentado muito angustianteno

tange às responsabilidades assumidas com a estrutura familiar e sua manutenção.

Gráfico 10- Distribuição da incidência das fraturas expostas, Belo Horizonte, 2013.

Dos 44 sujeitos estudados, 21 (47,72%) sofreram fratura exposta tipo III-A de Gustilo-

Anderson, 22 (50%) tipo III-B e um tipo III-C (2,27%). Arruda, Silva e Malerba (2009)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Nenhum filho

Um filho Dois filhos

Três filhos

Quatro filhos

Cinco filhos

Seis filhos

Sete filhos

0

5

10

15

20

25

III A III B III C

Page 52: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

52

encontraram em sua pesquisa realizada em 342 pacientes de um Pronto Atendimento, 25%

das fraturas grau I, 29% grau II, 30% grau IIIA, 5% grau III B, e 11% grau III C. Atribuímos

nossa diferença de casuística por sermos um centro terciário, que recebe habitualmente os

casos mais complexos.

7.2 Análise do Questionário Short Form 36

Os dados referentes ao questionário SF-36 para avaliação dos pacientes foram avaliados

mediante a atribuição de escores para cada questão, os quais foram transformados numa

escala de zero a 100, onde zero correspondeu a uma pior qualidade de vida e 100 a uma

melhor qualidade de vida (ANEXO C). Cada dimensão foi analisada separadamente

(Gráfico 11), obtendo-se oito notas no final, que são mantidas separadamente, não se

podendo somá-las e fazer uma média.

Gráfico 11 - Resultado do teste de QV-SF-36. Belo Horizonte, 2013.

Cada domínio pertence exclusivamente a um componente físico ou mental, conforme

ilustram asfiguras 3 e 4.

39,29

61,90

35,71

55,00

69,71

62,50

38,14

69,86

40,54

23,42

16,89

53,38

69,08

64,86

46,35

67,89

40,34

29,55

19,89

53,64

69,18

64,49

45,05

68,20

0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00

CAPACIDADE FUNCIONAL

LIMITAÇÕES POR ASPECTOS SOCIAIS

LIMITAÇÕES POR ASPECTOS FÍSICOS

VITALIDADE

SAÚDE MENTAL

ASPECTOS SOCIAIS

DOR

ESTADO GERAL DE SAÚDE

Teste sobre a Qualidade de Vida - SF-36

Ambos Masculino Feminino

Page 53: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

53

Figura 3 - Domínios do questionário SF-36.

Fonte: <http://www.sf-36.org/tools/sf36.shtml>Acesso em: 02 ago.2013.

A sequência de pontuação dos domínios em ordem crescente de resultados está a seguir.

1- limitações por aspectos físicos (domínio físico), 19,89

2- limitações por aspectos sociais (domínio mental), 29,55

3- capacidade funcional, (domínio físico), 40,34

4- dor (domínio físico), 45,05

5- vitalidade, (domínio mental), 53,64

6- aspectos sociais, (domínio mental), 64,49

7- saúde mental, (domínio mental), 69,18

8- estado geral de saúde, (domínio físico), 68,2

Figura 4 - Domínios e subdivisões do questionário SF-36

Page 54: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

54

Fonte: <http://www.sf-36.org/tools/sf36.shtml>Acesso em: 02 ago.2013.

Assim, quando se ordenam os domínios físicos em ordem crescente,temos:

1- limitações por aspectos físicos, 19,89;

2- capacidade funcional, 40,34;

3- dor, 45,05;

4- estado geral de saúde, 68,2.

E quando se ordenam os domínios mentais em ordem crescente, temos:

1- limitações por aspectos sociais, 29,55;

2- vitalidade, 53,64;

3- aspectos sociais, 64,49;

4- saúde mental, 69,18.

Page 55: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

55

O quesito limitações por aspectos físicos foi o mais afetado. Obviamente, a perna fraturada,

com lesões associadas de partes moles, tendo recebido um aparelho que acompanhará o

paciente na fase de cicatrização dos tecidos, tem um tempo de adaptação.Isso traz, por si só,

umajustificativa do resultado. O mesmo resultado de limitações dos aspectos físicos foi

encontrado por Oliveira (2006) em seu estudocom 22 pacientes que usaram fixador

externo.Mckee (1998)tambémavaliou a qualidade de vida de 22 pacientes que usaram o

fixador externo de Ilizarov. Observou que a qualidade de vida estava mais comprometida

nesses pacientes do que em alguma outra doença. Constatouaindaque a qualidade de vida

voltava aos valores normais somente 24 meses após a retirada do fixador externo. Constatou

também que o item que apresentava maior comprometimento abrangia os aspectos físicos,

seguido pelos aspectos emocionais, sendo difícil o processo de aceitação psicológica do

aparelho. Isso sugere que a qualidade de vida também se relaciona com a funcionalidade do

membro inferior.

O Quadro 3 a seguir é uma descrição comparativados valores de escore do SF-36 dos

pacientes em uso de fixadores externos com os resultados da população geral de outros

países e outras doenças. Observa-se como a pontuação do paciente com fixador externo é

inferior à de paciente com uma doença crônica, como a psoríase, que não envolve um

membro de locomoção e, como esperado, inferior à população geral (Atlas

ofpsoriaticarthritis, 2013; ADORNO e BRASIL-NETO, 2013).

Quadro 3 - Comparação dos valores de escore do SF-36, Belo Horizonte, 2013.

Fratura

exposta,

neste trabalho

Psoríase Lombalgia

crônica

Reino Unido EUA

Limitações

por aspectos

físicos

19,89 68.8 20 86.2 85.2

Limitações

por aspectos

sociais

29,55 81,4 78.8 88,4 84,6

Capacidade 40,34 65,8 58,5 84,6 82,9

Page 56: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

56

funcional

Dor 45,05 61,5 43,5 80,9 74

Vitalidade 53,64 57,5 55 61,7 62,4

Aspectos

sociais

64,49 71,4 78.8 84,4 82,9

Saúde mental 69,18 73 56,7 75,1 75,6

Estado geral

de saúde

68,2 58,8 62,2 72 72,1

Chama a atenção na análise dessequadro a comparação de escoredo uso do fixador externo

com uma doença bem conhecida, a lombalgia: 19,89 x 20, respectivamente. Lombalgia é

uma síndrome dolorosa da região lombar, também conhecida como dor de coluna. O

paciente com fixador externo muitas vezes se sente acorrentado e,coincidência ou não,faz

alusão ao aparelho como "gaiola". O paciente com lombalgia pode ter episódios de crises de

dor intensa (por vezes relata "travamento") em que não sai do lugar. Talvez daí a

semelhança de como os pacientes sentem-se incapazes de se locomover e se expressam de

forma semelhante nesse quesito.

Esses achados remetem-nos ao que Doukas (2010) encontrou referente à dor. Ele relata que

35% dos 1621 militares americanos amputados após combate na guerra do Iraque e

Afeganistão não conseguiram retorno ao trabalho e às atividades escolares por conta de

sintomas depressivos, estresse pós-traumático e dor.

Não podendo frequentar os seus locais habituais, é esperado do paciente com fixador externo

esse índice de limitação de aspecto social (29,55)destoante de todos os outros. O paciente

com dor lombar (78,8), porém medicado, e o psoriáticio (81,4), mas com roupas que lhe

cobrem o físico (constrangimento social da pele descamativa), frequentam os ambientes a

que são chamados.

A dependência da locomoção dos membros inferiores e a dor fazem a capacidade funcional

do paciente com fixador ser a mais comprometida. Obtivemos 40,34, enquanto na população

normal é cerca de 80.

Page 57: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

57

A intensidade da dor é muito semelhante entre os usuários de fixador e os com dores

lombares: 45,5 e 43,5, respectivamente; e intermediário na psoríase: 61,5, sendo 74 na

população geral americana e 80,9 na do Reino Unido. A explicação para essa vizinhança

ascendente progressiva nos índices pode se dever à alta prevalência de dor na população

geral, chegando a 31% em qualquer tempo (BRASIL, 2012).

Interessantemente, a vitalidade dos usuários de fixador é levemente inferior àdossujeitos

normais: 53 a 62. Atribuímos esse resultado à média da idade de 41 anos encontrada na

população estudada, ressaltando que a maioria era sadia até a data do acidente.

Quanto aos aspectos sociais, os lombálgicos (78,8) e psoriáticos (71,4) estão melhores do

que os pacientes com fixadores (64,49).Quanto à saúde mental, 69 nos pacientes com

fixadores e 75 nas pessoas normais é uma diferença pouco significativa. Sabemos que os

pacientes lombálgicos têm um perfil mental mais deprimido, uma vez que os

neurotransmissores da dor e a depressão seguem os mesmo caminhos biológicos.Segundo

Shah, Kataria e Joshi (2011, p. 35),“55,14% dos pacientes com dor lombar crônica têm

depressão clínica”.

Sabidamente, o estado geral de saúde do paciente ortopédico é bom. São, na maioria,jovens

sadios, em plena capacidade produtiva,masque sofreram um acidente. Por isso, o estado

geral de saúde é tão próximo ao de uma população geral qualquer: 68nos que usam

fixadores, e 72 na população geral.

7.3 Análise dasentrevistas

Em relação à análise da entrevista, respondida pelos 44 sujeitos deste estudo e baseada nos

pressupostos de Bardin (2008), optamos por relatar os dois primeiros grupos de respostas

mais significativas do grupo entrevistado. Quando perguntados sobre o como era a vida

antes do acidente, 22 dos 44 sujeitos declararam: "trabalhava" em primeiro lugar; e dezoito

disseram, em suas palavras, "vida normal". Para quem tinha uma vida cheia de

compromissos, o discurso relatava a limitação e as impossibilidades presentes: Entrevistado

Page 58: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

58

E 61: "a minha vida era agitada, muito trabalho, eu era mais alegre e independente"; E 16:

"vida era boa, trabalhava e divertia"; E 29: "trabalhava, estudava, fazia curso, saía bastante,

dirigia".

Podemos identificar, nesses fragmentos de discurso, a "interrupção da vida". As falas

encontram-se verbalizadas no “passado”, sem articulação explícita com o presente.

Posteriormente, desvenda-se o “conformismo” com a nova situação imposta pelo tratamento,

com "aceitação do método de tratamento usando o fixador externo, apesar dos

desconfortos". Em seguida, destaca-se o "refazer a vida", utilizando o aprendizado e o

amadurecimento trazidos pela vivência dessa experiência.

Podemos perceber contradições nos dizeres dos sujeitos: do conformismo ao desejo de

restauração da vida. Nesse movimento de avanços e retrocessos, a esperança está implícita,

“apesar dos desconfortos advindos do uso do fixador". Mas o mais importante é que, nesse

processo de passar de uma “vida agitada, trabalho, independência e alegria” para uma “vida

de dependência, não trabalho, de tristeza e calmaria”, as pessoas amadurecem porque a

experiência os faz refletir acerca da vida e de valorar, possivelmente, os pequenos detalhes

do cotidiano, que antes eraminvisíveis.Assim, podemos afirmar, a partir de várias leituras a

respeito da qualidade de vida, que o seu significado se expande de acordo com o momento

vivido pelo sujeito, isto é, de acordo com a noção de poderviver de forma livre, fazendo

escolhas, construindo sua história de vida conforme sua visão de mundo e opções, tendo

acesso aos bens materiais e culturais dentro da sua comunidade.

Dowbor (1998) declara quea expressão “qualidade de vida” é polissêmica, uma vez que

transita do estilo de vida e condições de existência até os ideais democráticos, o

desenvolvimento sustentável e a vivência dos direitos humanos e sociais.

Ao serem perguntados se estavam melhorando, 42 dos 44 sujeitos relataram que sim, e dois

disseram que ainda não tinham tido tempo para avaliar, de acordo com as unidades de

registro: E 13: "sim, consigo agora firmar mais na perna. Agora sinto que ela tá firme"; E

23: "o aparelho está me ajudando, é melhor do que o gesso"; e E 36: "o aparelho é bom,

apesar de ser um pouco desconfortável".

1 E significa entrevistado. O número arábico corresponde ao sujeito de número 6 e assim por diante, com todos

os demais entrevistados.

Page 59: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

59

À pergunta "o que acha de usar este aparelho?", 27 responderam em ordem de frequência:

causa limitações para as atividades rotineiras, para o trabalho, para andar e para o lazer.

Nove responderam: "dolorido". Neste sentido E 2 relatou: "A vida está restrita, tive de

abandonar a profissão de agricultor, tinha dívidas para pagar...". Por sua vez, E 21 contou:

"Não posso praticar esportes, estou incapaz para ir para o trabalho, meu salário diminuiu"; e

E 28 afirmou: "o acidente tirou toda minha liberdade".

Resgatam-se, neste momento, as definições de qualidade de vida ligada à saúde, de

Auquieret al. (1997), citado por Minayo, Hartz e Buss (2000). É clara a diminuição da

capacidade funcional dos sujeitos. Auquier ressalta que qualidade de vida é um valor que a

ela se atribui, "ponderado pelas deteriorações funcionais, as percepções e condições sociais

que são induzidas pela doença, agravos, tratamentos; e a organização política e econômica

do sistema assistencial". Percebe-se claramente o distanciamento entre o desejo de

realização, de participação na vida em todos os seus aspectos e a impossibilidade decorrente

da doença.

Martin e Stocler (1998), atentos à noção de pessoalidade, tentam sintetizar o conceito de

qualidade de vida baseados no fato de que quanto maior a distância entre as expectativas

individuais e a realidade, mais afetada estará a sua qualidade. Nessa hora, o padrão de

conforto e condições de vida esperados determinarão o grau de satisfação para com o

momento de vida.

Em relação à pergunta "que mudanças ocorreram em sua vida profissional, pessoal, social e

econômica", 22 sujeitos relataram grande repercussão na vida econômica e 17 disseram ter

sofrido grande repercussão na vida social. E5 destacou: "não vejo mais meus amigos, as

pessoas sumiram, não vejo ninguém"; E 18 relatou: "fico triste porque estou preso dentro de

casa, sinto muita falta do trabalho...; E 21: "fiquei dependente, minha autonomia é zero,

estou limitada".

A autonomiados pacientes com o fixador externo é abalada. Mesmo que o queiram, algumas

atividades e decisões fogem-lhes ao controle . Instaura-se uma assimetria de relações

intersubjetivas, sociais e econômicas. Essa falta de autonomia traz a angústia da liberdade

perdida de poder decidir por sua própria conta e do exercício pleno de sua cidadania. Não se

Page 60: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

60

podem fazer algumas escolhas...Há, nesse contexto, a não escolha porque limites são

impostos e são incontroláveis.

Kovács (2003, p.118) assim se reporta à autonomia: “ [...] autonomia se refere ao respeito à

vontade e ao direito de autogovernar-se, favorecendo que a pessoa possa participar

ativamente dos cuidados de sua vida [...]". O uso do fixador externo sequestra do paciente

seu direito de governar-se, e vários cuidados são realizados sob a égide de outra pessoa.

Com isso, podemos inferir que a qualidade de vida dessas pessoas sofre abalos, mesmo que

sejam transitórios.

As respostas ao questionamento: "como definem qualidade de vida", retrataram as seguintes

unidades de discurso: E 1: "para ter qualidade de vida é necessário participar da vida em sua

plenitude", demonstrando o quanto estava perdendo por não poder mais, temporariamente,

frequentar todas as atividades de que participava. E 10: "perdi a qualidade de vida na medida

em que não estou participando de tudo que fazia antes". E 12: QV: “é ter saúde, comer,

beber. Dinheiro...não tem mesmo...". E 4: "QV é ter vida boa, paz, saúde, fidelidade, ter

amigos". Demonstram, de forma clara, que certos valores inerentes à qualidade de vida não

podem ser comprados. E 29: "QV agora é melhor do que antes, pois dou mais valor à vida e

enxergo com outros olhos. Antes não tinha juízo". Alguns afirmam o caráter reflexivo e de

aprendizado para a vida trazido pela experiência vivida. Isso sinaliza que não estavam

inseridos no contexto a que pertenciam, antes do acidente.

Novamente, valemo-nos do significado de “ser cidadão autônomo”. A assertiva dos sujeitos,

ao entenderem QV como “vida em plenitude e não estou participando de tudo que fazia

antes; é poder beber, ter amigos, etc.”, permite inferir que a QV não é a mesma de antes pois

lhes falta autonomia para tomada de decisões. Autonomia no sentido de governar-se e

autodeterminar-se, o que convoca a pessoa a tomar decisões inerentes à vida, à saúde e às

relações sociais, entre outras. Implica dizer que ser autônomo é decidir sobre o que é “bom”

e aquilo que lhe traz “bem-estar”. É ter liberdade de pensamento, de fazer escolhas entre

várias opções: escolher o que fazer, como fazer e onde fazer (ARAÚJO, BRITO e

NOVAES, 2008).

Page 61: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

61

A autonomia implica, portanto, a capacidade que têm as pessoas para decidirem ou não

acerca de suas opções individuais. E como bem atestam Araújo, Brito e Novaes (2008,

p.120): “Vale ressaltar que as pessoas vulneráveis, deficientes, dependentes ou dotadas de

necessidades especiais possuem autonomia reduzida, porém protegidas contra qualquer

intenção de dano ou abuso”.

Outras unidades de registro explicitam a visão que os sujeitos desta pesquisa têm a respeito

de qualidade de vida: E 1: "QV é viver sem limitações, em plenitude"; E 2: "QV é estar

saudável, poder trabalhar, fazer esporte, tomar cerveja final de semana, viajar"; E 3: "QV é

poder trabalhar, cuidar da família"; E 5: "QV é ser feliz, fazer o que gosta, se dar bem com

todos." Assim, o sujeito busca tanto o apoio da família, das pessoas de que gosta, quanto

deseja compreender a nova realidade para poder resgatar a sua vida novamente. É um

processo de crescimento pessoal à custa de muitos desafios traduzidos pela dor, por

incertezas quanto aos procedimentos cirúrgicos múltiplos, pelas internações, mas mantendo

o olhar no horizonte, em busca do dia em que o tratamento irá terminar, quando restarão

apenas lembranças.

Page 62: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

62

8 PRODUTO TÉCNICO

A análise de todo o material coletado nos permitiu compreender melhor as necessidades do

paciente em uso de fixador externo. Munidos desse conhecimento planejamos:

1- organizar grupos de discussão e apoio, periódicos, com a participação da equipe de

saúde, dos pacientes e de seus familiares;

2- elaborar uma cartilha com as principais orientações para quem está usando o aparelho;

3- produzir um seminário regional anual sobre o tema para compartilhar nossa experiência;

4- produzir minifilme para ser veiculado noYouTube eFacebook com dicas sobre a maior

dificuldade encontrada neste tratamento que os pacientes recebem, que é: como manejar

o aperto da porca do aparelho para alongamento ósseo.

Ressalta-se que os itens 1 e 2 estão em atividade constante e contínua.

O item 3 se materializou com a minha participação ativa como vice-presidente do XII

Congresso Brasileiro de Alongamento e Reconstrução Óssea realizado em Tiradentes, Minas

Gerais,entre os dias 05 e07 de setembro de 2013, tendo apresentado, na ocasião, tema livre

sobre a Qualidade de Vida do paciente em uso de fixador externo com fratura exposta da

perna, tema desta dissertação.

O item 4 pode ser visto no vídeo "como torcer as porcas para o alongamento quando

orientado", disponível no YouTube, fazendo a busca por "Fixador Externo Fabio Baiao", ou

no Facebook em:

<https://www.facebook.com/photo.php?v=589791197749094>.

Cito os eventos, palestras proferidas e atividades desenvolvidas, tendo em mira o

aprimoramento da Qualidade de Vida:

1- I Encontro Intersetorial: consolidando políticas públicas para a pessoa idosa. 30 maio

2012. Universidade FUMEC.

2- Palestra proferida: “Atualização em Osteoporose”, no Centro de Estudos Ubaldo Pena,

Hospital Maria Amélia Lins – FHEMIG, Belo Horizonte, 14 fev. 2012.

3- “Ergonomia, produtividade e qualidade de vida”. Segundo simpósio de gestão, tecnologia

e inovação. Centro Universitário UNA. 19 abr. 2012.

Page 63: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

63

4- “Qualidade de vida”. Palestra para os alunos docurso Gestão de Recursos Humanos do

Centro Universitário UNA,noCampus Liberdade,em 30 maio 2012.

5- Perspectiva histórica do papel do estado brasileiro na assistência à saúde e qualidade de

vida no Brasil. I Seminário sobre Qualidade de Vida dos Pacientes em uso de Fixador

Externo. Encontro Interdisciplinar em Saúde. Serviço de Ortopedia Professor Matta

Machado - Hospital da Baleia. Centro Universitário UNA – Mestrado em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local, Belo Horizonte – MG, 30 jan. 2013.

6- Por que as mulheres vivem mais do que os homens. II Seminário sobre Qualidade de

Vida. Tema: Qualidade de Vida da Mulher. Encontro Interdisciplinar em Saúde. Serviço de

Ortopedia Professor Matta Machado - Hospital da Baleia. Centro Universitário UNA –

Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, Belo Horizonte – MG, 08

mar. 2013.

7- Orientações para o checkup na terceira idade. II Seminário sobre Qualidade de Vida.

Tema: Qualidade de Vida da Mulher. Encontro Interdisciplinar em Saúde. Serviço de

Ortopedia Professor Matta Machado - Hospital da Baleia. Centro Universitário UNA –

Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, Belo Horizonte – MG, 08

mar. 2013.

8- Perspectiva histórica do papel do estado brasileiro na assistência à saúde e qualidade de

vida no Brasil. III Seminário sobre Qualidade de Vida dos Pacientes em uso de Fixador

Externo. Encontro Interdisciplinar em Saúde. Serviço de Ortopedia Professor Matta

Machado - Hospital da Baleia. Centro Universitário UNA – Mestrado em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local, Belo Horizonte – MG, 05 set. 2013.

9- Qualidade de Vida do paciente ortopédico. Curso de Educação Continuada. SBOT-MA.

São Luís, MA. 18 set. 2013.

10- A Qualidade de Vida dos pacientes com membros reconstruídos. Simpósio de Fixadores

Externos do Hospital Lifecenter. Belo Horizonte, 16 out. 2013. <sbot-

mg.org.br/plus/modulos/agenda/lista.php>.

11- Palestra proferida: “Osteoporose e Qualidade de Vida”, no Centro de Estudos Ubaldo

Pena, Hospital Maria Amélia Lins – FHEMIG, Belo Horizonte, 29 out. 2013.

Participação em minicurso

12- Abordagem Ergológica do Trabalho, Prof. Yves Schwartz, 11 e 12 abr. 2012. Faculdade

de Educação da UFMG.

Page 64: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

64

Apresentação de Pôster:

13- A Escala de Michigan como instrumento de educação para a Neuropatia Diabética. I

Encontro Intersetorial: Consolidando PolíticasPúblicas para a Pessoa Idosa. 30 maio 2012.

Universidade FUMEC. Representando o Hospital da Baleia e o Mestrado em GSDEL -

UNA.

Apresentação de Tema Livre em Congresso:

14- Qualidade de vida do paciente em uso de fixador externo com fratura exposta da perna.

XII Congresso Brasileiro de Alongamento e Reconstrução Óssea. Tiradentes, 05 set. 2013.

Disponível em:

<http://www.reconstrucaoossea2013.com.br/wp-content/uploads/2013/09/06.09-

09h50_10h.pdf>.

15- Qualidade de vida do paciente em uso de fixador externo com fratura exposta da perna.

Apresentação oral no 45º Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia, Curitiba, 15

nov. 2013.

Organização de Eventos:

16- I Seminário sobre Qualidade de Vida dos Pacientes em uso de Fixador Externo.

Encontro Interdisciplinar em Saúde. Serviço de Ortopedia Professor Matta Machado -

Hospital da Baleia. Centro Universitário UNA – Mestrado em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local, Belo Horizonte – MG, 30 jan. 2013, 13h e30min às 17h e 30min.

17- II Seminário sobre Qualidade de Vida. Tema: Qualidade de Vida da Mulher. Encontro

Interdisciplinar em Saúde. Serviço de Ortopedia Professor Matta Machado - Hospital da

Baleia. Centro Universitário UNA – Mestrado em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local, Belo Horizonte – MG, 08 mar. 2013, 13h e 30min às 17h e 30min.

18- III Seminário sobre Qualidade de Vida dos Pacientes em uso de Fixador Externo.

Encontro Interdisciplinar em Saúde. Serviço de Ortopedia Professor Matta Machado -

Hospital da Baleia. Centro Universitário UNA – Mestrado em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local, Belo Horizonte – MG, 05 jul. 2013.

Artigo publicado

19- Saúde e Qualidade de Vida. Jornal Estado de Minas. Belo Horizonte, 25set. 2013.

Caderno Opinião. p. 11.

Capítulo de livro publicado

20- Cuidados com o Corpo. In:Sabedorias para a Mulher Madura. Editora Eneida

Magalhães Caetano. p.50-55, 2012. ISBN: 978-85-907288-1-8.

Page 65: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

65

8.1Cartilha

Quanto à Cartilha Educativa (APÊNDICE E), ela é o produto técnico desta dissertação.

Tendo começado timidamente, foi se avolumando à medida que novos conhecimentos se

agregaram. As dúvidas e os tópicos abordados referem-se aos problemas mais comuns

levantados pelos próprios pacientes, às trocas de ideias nos seminários produzidos, à escuta

atenta das dificuldades e vivências mais importantes relatadas pelos pacientes.

Page 66: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

66

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicio este capítulo afirmando que este trabalho para mim resgata a essência da vida: as

pessoas são mais importantes do que as coisas. As técnicas não podem desconsiderar o

sujeito. Os profissionais devem se lembrar o tempo todo das consequências de suas escolhas

para a pessoa, a família e a sociedade.

Ouvir da outra parte o que se espera de uma situação pode mudar a forma como elegemos

determinados métodos e aprimorar nossa conduta. Os pacientes e suas famílias são também

brindados com a oportunidade de crescimento e compreensão do mundo com as vicissitudes

da vida. Algumas adversidades provêm de nossas escolhas e é preciso que tenhamos a

clarividência de poder reconhecer que influenciamos também o nosso destino. Aprender a

viver em sociedade, colocando os interesses da coletividade acima dos interesses próprios é

o maior desafio do homem que, em busca do "sucesso", faz escolhas insensatas, agride a

natureza, compromete a sustentabilidade em toda a sua inteireza de aspectos. E depois sofre

as consequências, porque respiramos todos o mesmo ar.

Após leituras e análises de artigos, livros e da própria experiência como médico cuidando de

pacientes que, após acidente, viram e tiveram suas vidas mudadas em todos os aspectos,

podemos perceber a amplidão das ideias e das nuances que abarcam a qualidade de vida.

Essa QV variará de acordo com a faixa etária, interesses imediatos e condição social. Viver,

sentir, amar e trabalhar governam o eixo dos desejos de realização, consoante com os

aspectos descritos por Rufino Netto (1994),apudMinayo, Hartz e Buss (2000). Todos têm

uma clara noção o que significa QV. E desejam ardentemente retornar a essa condição.

O discurso dos sujeitos ao descreverem suas histórias de vida e suas escalas de valores é a

síntese cristalina do que é qualidade de vida para o grupo em estudo esta população

(FALLOWFIELD, 2009). O elenco de ideias trazidastorna mais rico o conceito de qualidade

de vida em saúde e aprofunda de modo inquietante o que os questionários estruturados

podem fornecer de informações. Aqui vê-se que a dicotomia saúde x doença padece de uma

simplicidade inaceitável. O contexto econômico, cultural, social, de história de vida, serão

determinantes, junto com o bem-estar físico, para se alcançar o estilo de vida que cada um

Page 67: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

67

pretende viver, na sua justa medida (HUBERT, 1997, apud MINAYO, HARTZ eBUSS,

2000).

Os sujeitos deste estudo são conscientes de que têm o direito de reconquistar um dos

aspectos da saúde que foi perdido no momento do acidente. Buscam, de todas as maneiras, a

forma de alcançar o "recurso de tratamento". Nessa hora, valem-se da estrutura

administrativa de seus municípios e, se esta falha, fazem-na valer até mesmo através de

mandatos judiciais. O esclarecimento sobre os direitos constitucionais e a sua aplicação

tornam a cidadania um valor relevante nessa hora, em busca de equidade de oportunidade de

tratamento e reabilitação (BUSS, 2000).

Compreender a saúde será sempre um desafio para os estudos científicos. Quando o bem-

estar psicológico, social e econômico é afetado pelos fatores físicos, a mensuração se torna

complexa. Para Fallowfield (2009), os questionários deverão permitir delinear aspectos

particulares para que possamos diferenciar os possíveis efeitos de doenças e de tratamentos

diferentes nos vários aspectos da vida.

A cultura local é um componente relevante para ajudar a traduzir o significado de qualidade

de vida. Quanto mais os sujeitos puderem escolher os rumos de sua própria vida, mais e

mais buscarão conciliar realizações espirituais, materiais, e resgatar seu bem-estar físico. No

dizer de Lopes (1999), há verdadeiramente um "sincretismo" quando se aspira qualidade de

vida.

As aspirações de nossos entrevistados são absolutamente semelhantes às pesquisadas em

sociedades ricas, com renda per capita elevada, quando se investigam os aspectos relevantes

para sua qualidade de vida. Nesta pesquisa percebeu-se que os aspectos relevantes para a

qualidade de vida, isto é, os valores imanentes das pessoas estão no ranking dos bens mais

preciosos. Eles são: felicidade, realização pessoal, solidariedade, amor e liberdade.

Para impedir que uma vida seja interrompida por um acidente, a Agenda Brasileira para o

Desenvolvimento das Políticas Urbanas necessita de uma diretiva revolucionária: alterar a

forma que rege a mobilidade urbana. A carência de um complexo viário que ofereça

transporte de qualidade para todos estimula a solução individual de transporte. Competindo

pelo mesmo espaço, cada um com seu veículo,egoisticamente,cria um conflito diário, na

Page 68: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

68

medida em que não cabemos mais em nossa cidade. A atração que o veículo de duas rodas

exerce, dado seus custos, facilidade de estacionamento e outras peculiaridades, não pode

continuar a ceifar milhares de vida como tem ocorridoanualmente.

Segundo Andriow (2009) e Ribeiro (2010), perdem-se 18.000 vidas por ano com acidentes

de moto e ocorrem cerca de 214.000 internações. É uma perda colossal para o país, sem

contar os dramas familiares impossíveis de mensurar. Significa uma guerra de proporções

gigantescas a cada ano com sacrifício de vidas inocentes.

Sejam quais forem as soluções propostas, exigirão difícil costura política com todos os

atores sociais (DOWBOR, 1998). Essa consciência nascerá apenas se for instrumentalizada

pela educação, que sedimentará as bases para decisões democráticas, guiará nossas escolhas

no caminho do desenvolvimento sustentável e da vivência dos direitos humanos. Assim,

transformará o nosso lugar num planeta melhor para se viver.

Ser educado para viver em sociedade, contribuindo com a parte que lhe cabe é a mais árdua

e promissora tarefa de um país para com seus cidadãos. Somente com atitudes individuais

acertadas poderemos construir comunidades capazes de crescer e se desenvolver com

responsabilidade social. O artigo 205 da Constituição Federal de 1988 expressa essa

preocupação na medida que claramente estabelece: "A educação, direito de todos e dever do

Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando

ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho." Preparar a infra-estrutura para acolher e motivar a capacitação

de todos ainda é o investimento que trará os melhores frutos a curto, médio e longo prazo

sob quaisquer aspectos que se desejar analisar.

Para que ocorra o desenvolvimento brasileiro uma mudança drástica na gestão dos

investimentos em infra-estrutura deve ocorrer. O Brasil, segundo o Instituto de Pesquisas

Econômicas e Aplicadas (IPEA) (2010) tem investido 1,5% do valor de seu Produto Interno

Bruto (PIB) na ampliação das estruturas econômicas e sociais do país. Os países

desenvolvidos mantém 3,8% de seu PIB comprometidos com a manutenção e

aprimoramento das condições de fomento para o seu desenvolvimento. Dada a

heterogeneidade de nossas regiões, as desigualdades e injustiças sociais que nos assolam,

podemos afirmar que temos um desafio à nossa frente. E enfaticamente prever que se essas

Page 69: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

69

dificuldades não forem transpostas, não alcançaremos o patamar de qualificação dos

recursos humanos e materiais necessários ao ambiente de inovação que caracteriza o alicerce

para a prosperidade.

Que este trabalho inspire o aprofundamento de questões cotidianas tão corriqueiras e que se

banalizaram, pois se repetem todos os dias, mas cuja resolução está esperando atitudes

responsáveis que se desenvolvam nesta e nas próximas gerações.

Page 70: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

70

REFERÊNCIAS

ADORNO, M.L.G.R.; BRASIL-NETO, J.P. Avaliação da Qualidade de Vida com o

Instrumento SF-36 em Lombalgia Crônica. Acta Ortop Bras. v.21, n.4, p.202-7, 2013.

ARAÚJO, A.A.; BRITO, A.M.; NOVAES, M. Saúde e autonomia: novos conceitos são

necessários? Revista Bioética. v.16, n.1, p.117-124, 2008.

ATALLAH, A.N. Medicina baseada em evidências no Brasil. Disponível em:

<http://www.centrocochranedobrasil.org.br/apl/artigos/artigo_518.pdf>Acesso em: 28

jan. 2013.

ATLAS OF PSORIATIC ARTHRITIS, 2013. Disponível

em:<http://www.univadis.com.br/medical-media-library/Adjusted-mean-SF-36-health-

survey-scores-for-PsA-sample-and-UK-and-US-general-populations> Acesso em: 04

ago. 2013.

ANJOS, K.C. Implicações Sociais e Econômicas nos Pacientes Vítimas de

Acidentes com Motocicletas Internados no IOT-HCFMUSP.2012. 124 folhas.

Dissertação (Mestrado - área de Concentração em Ciências). Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo. São Paulo, 2012.

ARRUDA, L.R.P.; SILVA, M.A.C.; MALERBA, F.G. Fraturas Expostas: Estudo

epidemiológico e prospectivo. Acta ortop. bras. v.17, n.6, p.326-330, 2009.

BAKER, S.P. et al. The Injury Severity Score: a method for describing patients with

multiple injuries and evaluating emergency care. J Trauma. v.14, n.3, p.187-196, 1974.

Disponível em: <http://www.aaam.org/ais-index.html>Acesso em: 27 jan. 2013.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Editora 70, 2008.

BRAKOULIAS, V. History of Orthopaedics. Disponível em:

<http://www.worldortho.com/dev/index.php?option=com_content&view=article&catid=&id

=143:history-of-orthopaedics>Acesso em: 16 nov. 2012.

BRASIL. Constituição Federal do Brasil. 1998. Disponível em:

<http://www.dji.com.br/constituicao_federal/cf205a214.htm>Acesso em 10-09-2013.

BRASIL, Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Lei 8.080 SUS, de 19 de

setembro 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da

saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Brasília, 1990.

Page 71: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

71

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da

Saúde. As Cartas da Promoção da Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de

Saúde, Projeto Promoção da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2002.

BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da dor

crônica.Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Disponível em:

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/pt_sas_1083_dor_cronica_2012.pdf>Acesso

em: 24 out. 2013.

BUSS, P.M. Promoção da saúde e qualidade de vida. CienSaudeColet[periódico na

Internet]. v.5, n.1, p.163-177, 2000.

CASTRO, R.R.M.; RIBEIRO, N.F.; ANDRADE, A.M.; JAQUES, B.D. Perfil dos pacientes

da enfermaria de ortopedia de um hospital público de Salvador-Bahia. Acta ortop.

bras. v.21, n.4, July/Aug, São Paulo, 2013.

CASTRO, U.B. Complicações no Alongamento de Membros Inferiores com o Método

de Ilizarov.Dissertação (Mestrado - área de concentração Ortopedia e Traumatologia).1997.

34 folhas. Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 1997.

CATAGNI. M.A. Atlas da anatomia para a transfixação de fios e pinos. Método de

Ilizarov. Tradução de Fábio Ribeiro Baião. Milão: Editor A. Bianchi Maiocchi, 2003.

CICONELLI, R.M.; FERRAZ, M.B.; SANTOS, W.; MEINÃO, I.; QUARESMA, M.R.

Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário genérico de avaliação de

qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-36). Rev. Bras.Reumatol, v.39,n.3,p.143-50, 1999.

COUTINHO, M.S.S.A. Desfechos clínicos substitutos e relevantes.Rev. Bras. Hipertens.

v.9, n.1, jan-mar. p.28-28, 2002.

DATTA, D.; VAIDYA, S.P.; ALSINDI, Z. Analyses of prosthetic episodes in trans-tibial

amputees.ProsthetandOrthotInt, v.23,n.1,apr.,p.9-12,1999.

DRUMOND, J.M.N.; BRAGA, G,F.; CUNHA, F.M. Protocolo de tratamento primário

das fraturas expostas. Disponível em: <http://www.fhemig.mg.gov.br/protocolosclinicos>

Acesso em: 02 set. 2007.

DOUKAS, W. et al. The Military extremity trauma association limb salvage (METALS)

study: Comparing outcomes for amputation versus limb salvage following major lower

extremity trauma. Paper #72. Presented at the 2010 Annual Meeting of the Orthopaedic

Trauma Association. Baltimore. p.13-16, Oct., 2010. Acesso em: 27 jan. 2013.

Page 72: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

72

DOWBOR, L. A reprodução social: propostas para uma gestão descentralizada. 2010.

Disponível em:

<http://www.unisinos.br/ihuonline/index.php?option=com_tema_capa&Itemid=23&task=de

talhe&id=1639>Acesso em: 30 dez. 2012.

DOWBOR, L. O que é poder local. 1998. Disponível em:

<www.dowbor.org/artigos/repro-98.doc>Acesso em: 30 dez. 2012.

EISER, C. et al. Quality of life implications as a consequence of surgery: limb salvage,

primary and secondary amputation. Sarcoma. v.5, n.4, dec. p.189-195, 2001.

FALLOWFIELD, L. What is quality of life? - Medical Sciences Division – 2009.

Disponível em: <www.medicine.ox.ac.uk/.../WhatisQOL.pdf> Acesso em: 26 jan. 2013.

FLECK, M.P.A.; LEAL, O.F.; LOUZADA. S.et al. Desenvolvimento da versão em

português do instrumento de avaliação de qualidade de vida da OMS (WHOQOL-

100)DevelopmentofthePortugueseversionofthe OMS evaluationinstrumentofqualityoflife.

Rev. Bras. Psiquiatr. v.21, n.1, p.19-28, 1999.

GEORGIADIS, G.M. et al. Open tibial fractures with severe soft-tissue loss. Limb salvage

compared with below-the-knee amputation. J Bone Joint Surg Am. v.75, n.10, p.1431-41,

1993.

GUYATT, G. et al. Evidence-Based Medicine:A New Approach to Teaching the Practice of

Medicine. JAMAv.268, n.17, p.2420-2425, 1992.

GOLYAKHOVSKY,V.; FRANKEL, V.H. Manual de técnicas operatórias do método de

Ilizarov. Tradução de Vilma Ribeiro de Souza. Rio de Janeiro: Revinter, 1996.

GOHN, M.G. Empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais. Saúde e

Sociedade, v.13, n.2, p.20-31, maio-ago. 2004.

GUSTILO, R.B.; ANDERSON, J.T. Prevention of infection in the treatment of one

thousand and twenty-five open fractures of long bones: retrospective and prospective

analyses. J. Bone Joint Surg Am, v.58, p.453-458, 1976.

HANNAH, F. U.S. Military Casualty Statistics: Operation.

New Dawn, Operation Iraqi Freedom, and Operation Enduring Freedom.2013. Disponível

em: <http://www.fas.org/sgp/crs/natsec/RS22452.pdf>Acesso em: 27 jan. 2013.

ILIZAROV, G.A. The transosseous osteosynthesis: theoretical and clinical aspects of the

regeneration and growth of tissue. Berlin: Ed. Springer, Verlag, 1992.

Page 73: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

73

ILIZAROV, G.A. The Apparatus: Components and Biomechanical Principles of

Aplication. Transosseus Osteosynthesis. Berlin: Ed. Springer,Verlag, 1992.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. IPEA. Desenvolvimento - 2010.

Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/bd/pdf/Livro_BD_vol1.pdf>Acesso em 10 set.

2013.

KARLADANI, A.H. et al. Salvaged limbs after tibial shaft fractures with extensive soft

tissue injury: abiopsychological function analysis. J Trauma. v.50, p.60-64, 2001.

KOROMPILIAS, A.V.et al. The mangled extremity and attempt for limb salvage.

JournalofOrthopaedicSurgeryandResearch. v.4, p.4, 2009.

KOVÁCS, M. J. Bioética nas questões da vida e da morte. Revista de Psicologia da

Universidade de São Paulo. v.14, n.2, p.115-67, 2003.

LETAIF, O.B. et al. Comparação funcional entre revisão de artroplastia de joelho séptica e

asséptica.Acta Ortop. Bras. v.17, n.3, p.159-161, 2009.

LOPES, A.M. Qualidade de Vida - Uma problemática do desenvolvimento da sociedade.

1999.Disponível em: <http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=79&doc=7657&mid=2>Acesso em: 09 fev.

2013.

MCKEE, M.D.; Yoo D.; Schemitsch, E.H. Health status after Ilizarov reconstruction of

post-traumatic lower-limb deformity. J Bone Joint Surg. v.80, n.2, p.360-5, 1998.

MEDEIROS, P.F.; BERNARDES, A.G.; GUARESCHI, N.M.F. O conceito de saúde e suas

implicações nas práticas psicológicas. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Brasília, DF, v.21, n.3,

p.263-269, 2005.

MINAYO, Maria Cecília de Souza; HARTZ, Zulmira Maria de Araújo;BUSS, Paulo

Marchiori. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário.Ciênc. saúde coletiva [online].

v.5, n.1, p.7-18, 2000.

MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento. São Paulo: Editora Hucitec, 2010.

NAISBITT, J. Paradoxo global. Tradução de Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Campus; São

Paulo: Publifolha, 1999.

NEVES, E.Desenvolvimento em debate.Disponível em:

<www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/.../3-DesenvUrbano.pdf>Acesso em: 09 fev. 2013.

Page 74: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

74

OLIVEIRA, R.B. Qualidade de vida e perfil clínico de pacientes submetidos à fixação

externa em membros inferiores atendidos em ambulatório de ortopedia. 2006.

Monografia (Especialização). Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC,

Florianópolis, 2006.

ONCKEN, L. Violência no trânsito precisa ter fim. Revista da Associação Paulista de

Medicina. Organização Mundial de Saúde. (WHOQOL GROUP, 1994), 2000.

O'TOOLE, R.V.; CASTILLO, R.C.; POLLAK, A.N. Determinants of Patient Satisfaction

After Severe Lower-Extremity Injuries. J Bone Joint Surg Am. v.90, n.6, jun., p.1206–

1211, 2008.

PATEL, A.A.; DONEGAN, D.; ALBERT, T. O. Questionário Short Form 36. Journal of

the American Academy of Orthopedic Surgeons. v.5, n.5, p.193-201, 2007.

POLJAK-GUBERINA R.et al. The Amputees and Quality of Life. Coll. Antropol. v.29,

n.2, p.603-609, 2005.

PONSETI, I.V. History of Orthopaedic Surgery. Iowa Orthop J. v.11, p.59-64, 1991.

RIBEIRO, A.A.C.R. Caracterização do perfil das vítimas de acidente de trânsito com

motocicleta, na área de abrangência no PSF Boa Esperança, no município de Alfenas-

MG.2010. Monografia (Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família)

Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. 2010. Disponível em:

<www.nescon.medicina.ufmg.br>Acesso em: 25 out. 2013.

SALTER, R.B. Distúrbios e lesões do sistema musculoesquelético. 3.ed. Rio de Janeiro:

Guanabara-Koogan, 2001.

SANDERS, D. The Mangled Extremity - Limb Salvage vs Amputation. Disponível em:

<http://www.coa-aco.org/library/clinical-topics/the-mangled-extremity-limb-salvage-vs-

amputation.html>Acesso em: 27 jan. 2013.

SCARPA, F.;SOARES, A.P. O futuro que queremos. Disponível em:

<http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/RIO+20-web.pdf>Acesso em: 09 fev. 2013.

SGARBI, M. W.; GOTFRYD, A.O. Amputation or reconstruction of a smashed end: use of

the mangled extremity syndrome index – mesi,Actaortop bras.v.14, n.5, p.264-267, 2006.

SHAH, S.H.; KATARIA, L.R.; JOSHI, D. Incidence of depression in chronic low-back pain

– A hospital based study.Healthline,v.2 Issue 2 July-December, 2011.

SILVA, M.E.K. da Participação social, saúde e desenvolvimento local: fragmentos e

possíveis costuras na gestão de políticas públicas. Revista Grifos, v.1, n.24, 2009.

TOMELIN, N.B. Blogspot. Disponível em:

<http://niltonbrunotomelin.blogspot.com.br/2008/08/naisbitt-john-paradoxo-global-

traduo.html>Acesso em: 25 nov. 2012.

Page 75: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

75

UNESCO, 2003. A ciência para o século XXI: uma nova visão e uma base de ação.

Disponível em: <eventos.unesco.org.br/.../PDF/cienciaparaseculoxxi.pdf>Acesso em: 25

out. 2012.

Page 76: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

76

APÊNDICE A

Ficha de Identificação

Idade:

Sexo:

Naturalidade:

Escolaridade:

Estado civil:

Número de filhos:

Renda:

Ocupação profissional

Origem do trauma:

Data do acidente:

Data da colocação do aparelho:

Cidade onde habita:

Cobertura da securidade social:

Page 77: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

77

APÊNDICE B

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Prezado cliente,

Eu, Fábio Ribeiro Baião, médico, convido-o(a) a participar da pesquisa intitulada

“Qualidade de Vida dos pacientes com fratura da perna submetidos à reconstrução de

membros com fixação externa circular pelo método de Ilizarov”. Trata-se da minha

dissertação de mestrado no Centro Universitário UNA, sob orientação da Profª. Drª. Matilde

Meire Miranda Cadete. O objetivo desta pesquisa é analisar as mudanças ocorridas na

qualidade de vida dos pacientes submetidos ao tratamento para fraturas expostas dos ossos

da perna com o fixador externo circular de Ilizarov.

Sua participação é de fundamental importância para a realização deste trabalho e seu

consentimento em participar deve considerar as seguintes informações:

1- Sua participação é voluntária e você pode desistir a qualquer momento, caso deseje, sem

risco de qualquer natureza.

2- Seu nome será mantido em anonimato, ou seja, não será revelado a ninguém, bem como o

sigilo de todos os dados prestados.

3- Os seus dados pessoais e a verificação de outros dados no seu prontuário ficarão apenas

sob meu conhecimento, pois seu nome não será revelado.

4- Você responderá ou preencherá um questionário de fácil entendimento e também seu

nome/ sua identidade serão preservados.

5-Você não terá qualquer tipo de despesa e não receberá gratificação alguma para a

participação na pesquisa.

6- Não há qualquer benefício direto pela sua participação, mas o conhecimento da sua

opinião a respeito deste tema é muito importante para a discussão sobre as possibilidades

futuras paraelaboração de uma cartilha com orientações para quem está usando o aparelho.

Suas respostas serão usadas exclusivamente para os fins deste estudo.

7- Este termo de consentimento ficará sob minha guarda até finalização da pesquisa e após

será incinerado/queimado. Os dados, sem a sua identificação, serão reproduzidos nos

trabalhos para publicação e/ou apresentação em reuniões científicas.

Page 78: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

78

8-A sua participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Os

procedimentosadotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com

Seres Humanos, conforme Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum

dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade.

9 -Você poderá entrar em contato com os pesquisadores a qualquer momento que lhe

convier ou com o Comitê de Ética em Pesquisa da UNA.

TERMO DE CONSENTIMENTO

Eu, ________________________________, após ter lido este termo de consentimento e

esclarecido minhas dúvidas, concordo em participar da pesquisa, “Qualidade de Vida dos

pacientes com fratura da perna submetidos à reconstrução de membros com fixação externa

circular pelo método de Ilizarov”, uma vez que fui devidamente orientado(a) sobre a

finalidade e objetivo do estudo, bem como da utilização dos dados exclusivamente para fins

acadêmicos e científicos, sendo que meu nome será mantido em sigilo.

Assinatura do profissional Assinatura do pesquisador mestrando

Fábio Ribeiro Baião (31) 9616-1334 (31) 9613-1053

Matilde Meire Miranda Cadete Telefones: 3262-0861 / (31)9972-8033

Belo Horizonte, ___/___/____

Centro Universitário UNA. Rua Guajajaras, 175, 4º Andar, Centro,

Belo Horizonte, MG, telefone: 3508-9110 /3508-9108

Contato: e-mail do CEP/UNA: [email protected] .

Page 79: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

79

APÊNDICE C (para os sujeitos que serão entrevistados)

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Prezado cliente,

Eu, Fábio Ribeiro Baião, médico, convido-o(a) a participar da pesquisa intitulada

“Qualidade de Vida dos pacientes com fratura da perna submetidos à reconstrução de

membros com fixação externa circular pelo método de Ilizarov”. Trata-se da minha

dissertação de mestrado no Centro Universitário UNA, sob orientação da Profª. Drª. Matilde

Meire Miranda Cadete. O objetivo desta pesquisa é analisar as mudanças ocorridas na

qualidade de vida dos pacientes submetidos ao tratamento para fraturas expostas dos ossos

da perna com o fixador externo circular de Ilizarov.

Sua participação é de fundamental importância para a realização deste trabalho e seu

consentimento em participar deve considerar as seguintes informações:

1- Sua participação é voluntária e você pode desistir a qualquer momento, caso deseje, sem

risco de qualquer natureza.

2- Seu nome será mantido em anonimato, ou seja, não será revelado a ninguém, bem como o

sigilo de todos os dados prestados.

3- Sua entrevista, se concordar, será gravada para não perdermos suas informações.

4- Você não terá qualquer tipo de despesa e não receberá gratificação alguma paraa

participação na pesquisa.

5- Não há qualquer benefício direto pela sua participação, mas o conhecimento da sua

opinião a respeito deste tema é muito importante para a discussão sobre as possibilidades

futuras para elaboração de uma cartilha com orientações para quem está usando o aparelho.

Suas respostas serão usadas exclusivamente para os fins deste estudo.

6- Este termo de consentimento ficará sob minha guarda até a finalização da pesquisa e após

será incinerado/queimado. Os dados, sem a sua identificação, serão reproduzidos nos

trabalhos para publicação e/ou apresentação em reuniões científicas.

7- A sua participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Os procedimentos

adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos,

conforme Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos

usados oferece riscos à sua dignidade

Page 80: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

80

8- Você poderá entrar em contato com os pesquisadores a qualquer momento que lhe

convier ou com o Comitê de Ética em Pesquisa da UNA.

TERMO DE CONSENTIMENTO

Eu, ________________________________, após ter lido este termo de consentimento e

esclarecido minhas dúvidas, concordo em participar da pesquisa, “Qualidade de Vida dos

pacientes com fratura da perna submetidos à reconstrução de membros com fixação externa

circular pelo método de Ilizarov”, uma vez que fui devidamente orientado(a) sobre a

finalidade e o objetivo do estudo, bem como da utilização dos dados exclusivamente para

fins acadêmicos e científicos, sendo que meu nome será mantido em sigilo.

Assinatura do profissional Assinatura do pesquisador mestrando

Fábio Ribeiro Baião (31) 9616-1334 (31) 9613-1053

Matilde Meire Miranda Cadete Telefones: 3262-0861 / (31)9972-8033

Belo Horizonte, ___/___/____

Centro Universitário UNA. Rua Guajajaras, 175, 4º Andar, Centro,

Belo Horizonte, MG, telefone: 3508-9110 /3508-9108/-

Contato: e-mail do CEP/UNA: [email protected]

Page 81: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

81

APÊNDICE D

ENTREVISTA

Nome:

Idade:

Procedência:

Dia da entrevista:

Fale, para mim, como era sua vida antes do acidente e, principalmente, antes da colocação

desse aparelho que está usando.

Você sente que está melhorando com o uso desse aparelho? O que acha de usar esse

aparelho?

Como é sua vida agora, depois do acidente e em uso desse aparelho, na perna?

Que mudanças ocorreram em sua vida, profissional, pessoal, social e econômica?

Como você define sua qualidade de vida?

Page 82: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

82

APÊNDICE E

Cartilha

FÁBIO RIBEIRO BAIÃO

Fixadores Externos

Cartilha de Orientações para o Tratamento

1ª edição

Belo Horizonte

Edição do Autor

2013

Page 83: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

83

Fixadores Externos

Orientações para o tratamento

APRESENTAÇÃO

Idealizamos esta cartilha para ajudar você e todos os que participam de seus

cuidados, enquanto estiver em uso do fixador externo. Compreender o

tratamento é uma etapa fundamental para tudo dar certo. Médicos e pacientes

se tornam parceiros. Assim é muito importante estar afinado para perseguir o

mesmo objetivo: o seu restabelecimento.

O fixador externo é uma técnica que permite operar sem realizar grandes cortes

ou dissecções na região da lesão. Essa característica faz com que ele não agrida

a vascularização dos tecidos, condição fundamental para que respondam bem

em seu caminho de volta à função normal. Quando há feridas, ele permite

também livre acesso a elas para acompanhamento, tornando possível o apoio

do membro já no pós-operatório imediato. Para se manterem nutridos

adequadamente, nossos tecidos músculoesqueléticos necessitam de movimento

e carga.

Há vários tipos de fixadores externos. Um dos mais usados por mim, é o

fixador externo circular de Ilizarov. Ele oferece uma versatilidade incrível para

Page 84: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

84

montagens que possibilitam a resolução de quase todo tipo de problema. E

também porque está disponível no Sistema Único de Saúde. Mas as orientações

gerais sobre os fixadores se aplicam à maioria deles.

Esta cartilha é um produto da dissertação intitulada Qualidade de vida dos

pacientes com fratura da perna submetidos à reconstrução de membros

com fixação externa circular pelo método de Ilizarov, cujo autor é o médico

ortopedista Fábio Ribeiro Baião, orientado pela Prof.ª Dra. Matilde Meire

Miranda Cadete, como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em

Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local (Centro Universitário UNA

- Belo Horizonte, Minas Gerais).

Assim, faça bom proveito destes conhecimentos. Durante o seu tratamento,

recorra sempre ao manual para estar amparado nas mais diversas

circunstâncias. Bom tratamento!

Page 85: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

85

Dedicatória

Dedico esse trabalho aos meus pais, Artur (Laerte) e Adayr (Dadá) que, com seu

exemplo de vida, souberam transmitir aos filhos os seus valores. Agradeço ainda à minha

esposa Patrícia pelo seu companheirismo, motivação, apoio e paz. Aos meus filhos Fabiana

e Natan pela inspiração para prosseguir lutando por um mundo melhor.

SUMÁRIO

1 Manutenção do aparelho 10

2 Fios 12

3 Uso da perna operada 14

4 Métodos de auxílio para marcha 15

5 Prevenção de deformidades 16

6 Alongamento através das hastes rosqueadas 23

7 Vídeo 25

8 Pertuito dos fios 25

9 Como se escolhe o local para a colocação dos fios 29

10 Cuidados com os pertuitos dos fios 30

11 Cuidado com os pés 35

12 Dor é uma anormalidade 35

13 Sono 39

14 Câimbras 39

Page 86: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

86

15 Temperatura ambiente e o fixador 40

16 Temperatura corporal e outras anormalidades 40

17Abandone o tabagismo e evite o álcool 41

18 Planejamento 41

19 Exames pré-operatórios 42

20 Internação 43

21 Uso de medicamentos 43

22 Exames de imagem 45

23 Controle ambulatorial 45

24 Participe 47

25 Retirada do fixador 47

26 Acessibilidade 49

27 Uso do toalete 50

28 Natação 51

29 Roupas 52

30 Trabalho 53

31 Escola 53

32 Recebimento de seguros e indenizações 54

33 Vacinas 55

34 Grupos de ajuda 55

35 Qualidade de vida 56

36 Exercícios 57

37 Avaliação do resultado final 59

38 Salto de compensação 61

39 Muletas - suportes para auxílio à locomoção 63

40 Anestesia 71

Referências

Page 87: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

87

1- MANUTENÇÃO DO APARELHO

Confira diariamente todas as porcas do aparelho para conferir seu aperto

utilizando as duas chaves de boca (fig. 1 a 3).

Fig. 1 Fig. 2 Fig. 3

Fig. 1- Exemplo de parafusos e porcas. Há mais de um modelo e tamanho na montagem do aparelho.

Fig. 2- Parafuso se perdeu por falta de aperto. Fig. 3- Parafuso conectado.

As porcas já estão bem apertadas, entretanto ao serem checadas com as chaves,

serão apenas conferidas. Ao exagerar no torque pode-se espanar a rosca. Se

isso ocorrer, comunique-nos para que troquemos o parafuso ou porca espanada.

Em situações especiais temos duas porcas juntas conforme a fig. 4. Elas devem

ser apertadas entre si.

Fig.4- Exemplo de duas porcas para possibilitar movimento de uma dobradiça

Fios bambos levam à dor e à maior irritação da pele no local onde eles estão.

Por isso necessitam de atenção especial.

Uma chave estabiliza a cabeça do parafuso enquanto a outra faz o aperto da

porca. Elas podem ser compradas em lojas de ferramentas. Prefira as que são

combinadas, isto é, de um lado ela é "fixa" e do outro "estrela" (orifício

fechado), sempre de número dez (fig. 5 a 7).

Page 88: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

88

Fig. 5- Exemplo de chave de boca fixa.

Fig. 6 Fig. 7 Fig. 5 a 7- Exemplo de chave de boca número 10, combinada. Este modelo proporciona maior

versatilidade para uso em situações diversas. Preço médio: R$ 4 a R$ 9,00, dependendo da marca.

Traga sempre as suas chaves de manutenção do aparelho. Não as empreste

nem tome emprestado, pois podem transmitir germes de um paciente para

o outro. Isso vale também para os seus outros objetos de uso pessoal durante a

internação, tais como muletas, andadores, chinelos, livros, etc. Gentilmente

explique que você está proibido de emprestá-los. Eventualmente, usamos

aparelhos que carecem de chave do modelo allen (fig. 8 e 9) para sua

manutenção ou retirada. É muito importante que você sempre traga a sua

chave, pois ela é específica do modelo do aparelho usado.

Fig. 8- Aparelho com parafuso sextavado. Fig. 9- Chave allen

2- FIOS

Chamamos de "fio" ou "pino" de Kirschner às estruturas metálicas

filamentares. É um arame duro, reto, geralmente de 1,5 ou 1,8mm de diâmetro

usado para fixação do membro ao aparelho (fig. 10).

Page 89: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

89

Fig. 10- Fio de Kirschner antes e depois de serem cortados e dobrados, adaptados aos anéis.

Depois de colocado ele é cortado para se adequar ao tamanho necessário. Fio e

pino é a mesma coisa. O fio fino é adaptado ao anel do aparelho por meio de

um parafuso que contém um sulco, onde ele se encaixa.

Chamamos de "fio" ou "pino" de Schanz às estruturas metálicas mais grossas

que penetram o membro (fig. 11 a 13).

Fig. 11- Fios de Schanz conectados aos anéis.

Geralmente são das espessuras 4,5 e 6,0 mm de diâmetro para os ossos longos

dos membros inferiores. Eles são adaptados aos anéis que circundam o membro

por meio de conectores de diversos tamanhos e formatos.

Fig. 12 e 13- As pontas dos fios podem ser protegidas com esparadrapos ou borrachinhas. Isso

evita que suas extremidades ásperas ou pontiagudas que se formam após seu corte, machuquem ao

encostar nelas, rasguem os lençóis ou colchões.

Page 90: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

90

A cabeça do parafuso que contém o fio fino deve permanecer parada na

posição original. Quem é apertada no sentido horário, é sempre a porca.

Quando a cabeça do parafuso se move, ela modifica a posição do fio na pele

podendo levar à dor.

3- USO DA PERNA OPERADA

Na medida do tolerável, a cada passo encoste o pé no chão. Isso é muito

importante para manter a qualidade óssea e para que o novo osso se forme.

FAÇA TUDO O QUE VOCÊ DER CONTA. Tente levar a vida o mais

próximo do normal possível. Recomendamos repouso apenas em raras

ocasiões. A falta de movimento enfraquece todo o corpo por desuso.

4- MÉTODOS DE AUXÍLIO PARA MARCHA

Providencie um par de muletas ou andador para lhe auxiliar a caminhar. Não

pule numa perna só, pois pode causar dor de sobrecarga no lado sadio. Quando

você já estiver liberado para andar apenas com uma muleta, ela é utilizada no

lado oposto da lesão, isto é, aparelho na perna esquerda, a muleta na mão

direita. Leia mais adiante orientações específicas sobre os diversos tipos de

auxílio para marcha.

5- PREVENÇÃO DE DEFORMIDADES

Cuide para que as articulações próximas à região do aparelho mantenham seu

movimento total. No caso de aparelho só na perna, esteja atento para que o

joelho não perca sua capacidade de extensão (ficar reto com a perna

espichada).

Page 91: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

91

Faça o possível para estar sempre calçado. Ou improvise uma sandália de

apoio, amarrada pelas bordas, quando estiver em uso de aparelho no pé. Mais

importante ainda, é manter a articulação do tornozelo em posição de uso, como

se o pé estivesse pisando. No pé calçado, você pode adaptar uma faixa elástica

que o traciona para cima. A faixa pode passar sob o calçado ou ser amarrada ao

cadarço do calçado. Caso o tornozelo já apresente alguma dificuldade de

dorsiflexão (movimento para cima) você deve usar a faixa 24h para combater a

deformidade. Em caso de dor forte, descanse por alguns minutos, recolocando

em seguida. Não coloque a faixa direto na pele do pé, porque o machuca

(fig. 14). Não serve faixa de crepom, pois perdem a elasticidade rapidamente.

Fig. 14- A região escurecida na borda do pé é uma necrose de pele onde uma faixa de crepom estava

pressionando por muito tempo.

A faixa elástica pode ser improvisada com tirantes de câmara de ar de

borracha, elástico largo ou mangueiras elásticas de borracha (fig. 15 a 17).

Fig. 15 Fig. 16 Fig. 17

Fig. 15 a 17- Tracionamento por banda elástica de borracha.

Page 92: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

92

Existem também sandálias prontas, que já vêm com os tirantes de sustentação,

que podem ser adquiridas em lojas ortopédicas especializadas. Nessas lojas,

elas são conhecidas como sandálias tipo Cambras ou para aparelhos Ilizarov,

vêm em tamanhos P, M e G e custam cerca de R$80,00 (fig. 18 e 19).

Fig 18 Fig. 19

Fig. 18 e 19- Sandália modelo "Cambras ou Ilizarov".

O apoio para o pé pode ser também improvisado, usando-se plataformas

diversas (fig. 20 a 23).

Fig. 20 Fig. 21

Fig. 22 Fig. 23

Fig. 20 a 23- Apoio para os dedos dos pés quando fixados. Isto é muito importante para ajudar a

prevenir deformidades e contraturas dos dedos. Se ocorrerem, só serão resolvidas depois com

cirurgia.

Page 93: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

93

Algumas vezes colocamos esparadrapos com gominhas para sustentar o apoio e

prevenir deformidades dos dedos dos pés. Eles não podem ser molhados no

banho, pois os esparadrapos úmidos podem ferir a pele. Retire-os para o

banho. Quando sujarem ou as gominhas arrebentarem, devem ser trocados por

você. O suporte pode ser feito de esparadrapo ou outros materiais (fig. 24 a

33). Devem apoiar todo o dedo, pois se forem estreitos podem dificultar a

circulação do dedo. A gominha não pode ficar muito tensa e nem pode ser

colocada diretamente debaixo do dedo para não prender a circulação. Deve ser

regulada para que o dedo fique no mesmo nível do pé. Se houver dor forte, o

suporte pode ser retirado para descansar e recolocado em intervalos

menores até haver tolerância.

Fig. 24- Retire uma fita de esparadrapo colando uma parte colante na outra.

Fig. 25 Fig. 26

Fig. 25 e 26- Dobre o esparadrapo na porção onde se deseja fazer o orifício. A quina é cortada com

uma tesoura.

Fig. 27- Passe a gominha no orifício.

Page 94: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

94

Fig. 28- Passe a gominha primeiro no aparelho e depois encaixe a alça de esparadrapo no artelho.

Fig. 29 Fig. 30

Fig. 31 Fig. 32 Fig. 33

Fig. 29 a 33- Suporte individual para os artelhos. Construído de gominhas e esparadrapos, nesses

casos. Mas pode ser de outros materiais.

6- ALONGAMENTO ATRAVÉS DAS HASTES ROSQUEADAS

Se o seu caso envolver alongamento ou tração de alguma haste, observe a

direção que deve ser seguida pela porca, apontada pela seta do esparadrapo

indicador. O movimento de um quarto de volta corresponde à trajetória de 15

min. do ponteiro do relógio.

O movimento de meia volta corresponde a 30 min. do ponteiro. Uma volta

inteira corresponde a 60 min., e faz a porca deslocar uma rosca da haste,

correspondendo à distância de 1mm. Em relação ao ritmo de tração, isto é, ao

intervalo que se faz o ajuste das porcas, ele varia de acordo com a orientação

do médico. Pode ser um quarto de volta de 6/6 h, que é o ritmo mais

Page 95: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

95

comumente usado por proporcionar tração mais suave, permitindo melhor

acomodação e estímulo de todos os tecidos. Podem ser necessárias mudanças

no ritmo de tração no decorrer do tratamento. Para o alongamento ósseo a

tração se inicia normalmente cinco a sete dias após a cirurgia.

Eventualmente pode ocorrer um estalido seguido de dor alguns dias após ter

iniciado a tração. Isso ocorre devido ao desprendimento completo do osso para

se distanciar e permitir o alongamento. Tome os remédios para dor. Se a dor

persistir, aumente o intervalo de tração para duas ou apenas uma vez ao dia até

a dor passar. Este ritmo diminuído pode ser mantido por dois ou três dias.

Então retome o ritmo normal orientado. Comunique o ocorrido no retorno à

consulta.

Podem ocorrer danos nas roscas das hastes que sustentam a tração para o

alongamento devido sua sobrecarga ou encurvamento. Se isto ocorrer a porca

não conseguirá progredir e a haste deverá ser trocada. Isso não envolve nova

cirurgia. A troca é feita frequentemente no próprio ambulatório. É comum

alongar maior quantidade nos locais de mais fácil acesso e menos nos locais

mais difíceis. Com uma régua, meça a distância entre os anéis para

verificar essas pequenas diferenças e as corrija aos poucos.

Se durante uma tração para alongamento em várias hastes, uma haste termina

antes das outras, e ainda há alongamento remanescente a ser feito, todo o

alongamento deve ser paralisado até orientação médica.

7- VÍDEO

Veja o vídeo demonstrativo de como torcer as porcas para o alongamento

quando orientado no You Tube fazendo a busca por "Fixador Externo Fabio

Baiao" ou no Facebook em:

<https://www.facebook.com/photo.php?v=589791197749094>.

Page 96: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

96

8- PERTUITO DOS FIOS

Chamamos de pertuito do fio o local onde ele penetra na pele indo até a

profundidade do osso (fig. 34).

Fig. 34- Aspecto de pertuito de fio de Schanz sem problemas.

Habitualmente a pele sela o nosso corpo ao ambiente externo. O ponto de

entrada do pino "abre" nosso corpo, mesmo que de forma mínima para

bactérias presentes na superfície da pele ou no meio ambiente ao redor. Assim,

pode haver apenas uma irritação por agressões de graus variados ou até mesmo

uma infecção mais profunda. O pertuito pode também estar inflamado, sem

estar infeccionado, principalmente quando ocorre mudança de posição da

região nas correções necessárias (fig. 35 a 38).

EXEMPLOS DE SITUAÇÕES CLÍNICAS COMUNS:

Fig. 35 Fig. 36

Fig. 35 e 36- Dor, calor, rubor, inchaço. Frequentemente é sinal de início de uma infecção da pele na

vizinhança do aparelho, chamada erisipela. Os médicos se referem a essa condição como "celulite".

O germe causador da infecção penetra geralmente pelo pertuito do fio e se espalha pela pele ao redor.

Page 97: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

97

Fig. 37- Infecção do pertuito de fio com secreção purulenta local. Requer tratamento com

antibióticos.

Fig. 38- Infecção profunda do trajeto do fio com formação de granuloma. Requer além de

antibióticos, troca do local do fio e/ou curetagem.

Dentre os cuidados necessários para manter o pertuito saudável, ressaltamos

que ele deve ser lavado diariamente com soro fisiológico, ou com água e sabão

neutro (por exemplo, Soapex®), removendo-se todas as crostas. Depois deve

ser enxugado com gaze ou secador de cabelos usando ar frio. Se o pertuito

estiver com um pouco de secreção, deve ser protegido com gaze seca que é

mantida no lugar pela borrachinha. Quando houver aumento de produção

de secreção, principalmente hemorrágica, os curativos então deverão ser

realizados com maior frequência, pois gazes embebidas em sangue

propiciam a proliferação de bactérias.

A borrachinha deve ser retirada para evitar a compressão e ferimento da pele,

caso haja inchaço dos tecidos em sua proximidade (fig 39).

Page 98: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

98

Fig. 39- Fio cuja borracha foi retirada devido inchaço do pé.

OS PERTUITOS ABSOLUTAMENTE SECOS NÃO PRECISAM DE GAZE.

Fios próximos às articulações merecem sempre atenção redobrada devido ao

risco de infecção articular.

CUIDADOS

Lave as mãos por 5 min. com água e sabão antes de manusear seu

curativo.

Você pode também usar luvas de procedimentos, descartáveis, que são

compradas em caixas em farmácias.

Após realizar o curativo lave novamente as mãos.

As luvas de procedimento não podem ser reutilizadas.

9- COMO SE ESCOLHE O LOCAL PARA A COLOCAÇÃO DOS FIOS

Os fios colocados obedecem a zonas de segurança em cada região do corpo

para não machucarem os nervos ou vasos sanguíneos. São como mapas para o

cirurgião (fig. 40).

Fig. 40- Exemplo de orientação para colocação de fios na perna, próximo ao joelho, de acordo com a

anatomia local.

Page 99: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

99

10- CUIDADOS COM OS PERTUITOS DOS FIOS

Não usamos antissépticos ou antibióticos locais nos pertuitos, pois eles

terminam por selecionar cepas de bactérias resistentes ou promover alergias

devido ao seu uso repetitivo. Quando necessitamos de antibióticos para os

vários estágios de infecção do pertuito, comumente usamos a via oral. Em

média, ocorre uma infecção de pertuito de fios por mês. Iniciamos o antibiótico

quando ocorre vermelhidão, dor forte, saída de secreção purulenta local.

Quando a dor é leve e a secreção é serosa (salmoura) apenas

intensificamos os cuidados de higiene e remédios para dor. Pode ser

necessária uma internação para antibiótico endovenoso (na veia) em

circunstâncias especiais.

Se houver grande quantidade de sangramento em algum pertuito de fio,

coloque gazes para compressão do local, eleve o membro, e se não ceder,

procure o hospital para avaliação.

Enquanto a ferida cirúrgica estiver em cicatrização, principalmente na

primeira semana após a cirurgia, mantenha os seguintes cuidados:

não molhe o membro operado no banho.

use uma proteção de saco plástico.

quando todas as feridas estiverem cicatrizadas então o membro pode ser

molhado com a água do chuveiro ou chuveirinho.

Se sua pele estiver ressecada, use um lubrificante, um óleo hidratante ou

creme hidratante (esse último somente na pele íntegra). O Intra® gel, o óleo

Dersani ®, o óleo de girassol, ou o óleo mineral são frequentemente utilizados

com esta finalidade e esses podem atingir a região das feridas ou o pertuito dos

fios sem problemas. Algumas vezes é necessário manter uma gaze com óleo ou

vaselina no pertuito para dar maior conforto nas diferentes posições do

movimento de andar quando então o fio pressiona e estabiliza a pele

diminuindo o incômodo.

Page 100: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

100

11- CUIDADO COM OS PÉS

Pode ser necessário você receber auxílio para higiene do pé do lado do

aparelho, bem como para cortar as unhas adequadamente. Unha encravada no

membro que está mais inchado é uma ocorrência comum, por exemplo, e deve

ser comunicado imediatamente à equipe para que o problema possa ser

resolvido, uma vez que uma infecção local pode trazer outros riscos.

12- DOR É UMA ANORMALIDADE

Ajustaremos a dose de sua medicação analgésica de acordo com a intensidade

de sua dor. Durante o processo de alongamento a dor pode aumentar, sendo

necessária maior quantidade de medicamentos.

Quando se inicia uma tração para alongamento, nos primeiros dias pode

ocorrer um estalido seguido de dor intensa por algumas horas. Isto acontece no

processo de desprendimento por completo do osso operado, que deve se

separar totalmente para dar espaço ao novo osso que será formado. Nessa crise

dolorosa faça repouso, associe os diversos medicamentos para dor prescritos e

diminua o ritmo de tração até a dor ceder. Comunique ao seu médico a

ocorrência do fato.

Não use medicamentos por conta própria e sempre nos relate o nome de

todos os remédios que você está tomando.

ATENÇÃO

Evitamos sempre o uso de remédios da classe dos anti-inflamatórios tais como

cetoprofeno, diclofenaco de sódio, diclofenaco de potássio, nimesulide,

meloxicam, piroxicam, etc., pois além de poderem lhe atrasar a produção de

Page 101: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

101

tecidos, podem prejudicar o seu estômago e outros órgãos, com o uso

contínuo.

Às vezes, é interessante manter a borrachinha pressionando duas ou três gazes

dobradas nos pertuitos onde o movimento da articulação próxima faz a pele

doer. Tal procedimento firma a pele, proporcionando diminuição da dor.

Quando se usa o aparelho na coxa, pode ocorrer dor devido à tração exercida

pelo peso dos músculos, principalmente na região interna e de trás, onde

habitualmente não passam fios. Essa sensação é aliviada fazendo um rolinho

de pano para sustentação que é colocado entre o anel do aparelho e a coxa

(fig. 41 e 42).

Fig. 41 Fig. 42

Fig. 41 e 42- Suporte de tecido para firmar a coxa e aliviar a dor.

Pode ocorrer ainda edema do membro além do esperado e compressão da pele

na região do anel do aparelho. Recomendarmos usar um papelão para distribuir

a pressão e evitar o surgimento de uma ferida no ponto de contato com a

estrutura metálica conforme a fig. 43 a seguir.

Fig. 43- Papelão protegendo a pele da hiperpressão.

Page 102: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

102

13- SONO

Se você não conseguir dormir, investigaremos os motivos e poderemos

também lhe prescrever medicamentos para possibilitar uma noite de sono

melhor.

14- CÂIMBRAS

Eventualmente podem ocorrer câimbras ou contraturas musculares

espontâneas na perna ou na coxa. Elas podem passar com massagens, bolsa

de água morna, bolsa de gelo ou necessitar de medicamentos se forem de

intensidade forte ou estiverem acordando você à noite.

15- TEMPERATURA AMBIENTE E O FIXADOR

Proteja o aparelho de variações térmicas excessivas. Sendo de metal, essas

alterações de temperatura são imediatamente transmitidas para o corpo. Você

pode fazer uma capa de tecido ou alargar uma perna de calça para protegê-lo.

16- TEMPERATURA CORPORAL E OUTRAS ANORMALIDADES

Se você sentir febre, use o termômetro para medir a temperatura e anote a hora

e data de todas as medidas realizadas para poder relatá-las com precisão. Dor

forte, vermelhidão, inchaço excessivo do membro, peças do aparelho

machucando a pele, pus nos pertuitos dos fios, náuseas, vômitos ou outras

anormalidades que o preocuparem demandam AVALIAÇÃO MÉDICA

IMEDIATA.

17- ABANDONE O TABAGISMO E EVITE O ÁLCOOL

Page 103: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

103

Não fume durante o seu tratamento. Se você é fumante informe-nos para que

possamos orientá-lo a respeito desse hábito. O tabagismo pode retardar ou

complicar o seu tratamento. O álcool também é prejudicial à sua saúde e não

dever ser usado durante o tratamento.

18- PLANEJAMENTO

Frequentemente o tratamento com o fixador externo envolve várias etapas. Em

média o paciente vai ao bloco cirúrgico para revisões quatro vezes. Os

motivos são vários: reposicionar hastes de tração, trocar fios que se quebram,

alinhar deformidades, debridar ossos doentes, colocar enxerto, etc. O tempo de

uso do aparelho varia de acordo com cada caso.

19- EXAMES PRÉ-OPERATÓRIOS

Toda vez que agendarmos bloco cirúrgico, será necessário que tenha

consigo todos os seus exames de sangue, Risco Cirúrgico, radiografias,

documentos de identificação, guias de autorização, etc. NÃO DEIXE SEUS

EXAMES NO HOSPITAL QUANDO RECEBER ALTA. Leve-os consigo, pois

precisará deles.

NÃO HÁ NECESSIDADE DE DEPILAÇÃO PARA NOSSAS CIRURGIAS.

Faça uma cópia de seu Risco Cirúrgico e exames laboratoriais. Frequentemente

eles são esquecidos na primeira internação hospitalar ou perdidos. Assim, não

terá de repeti-los num pequeno intervalo de tempo caso precisemos deles

novamente para novos procedimentos. Os exames têm uma validade de seis

meses.

20- INTERNAÇÃO

Page 104: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

104

Pacientes acima de 18 anos podem se internar sozinhos. MAS NENHUM

PACIENTE RECEBE ALTA DO HOSPITAL DESACOMPANHADO.

Pacientes menores de idade necessitam de estar acompanhados dos

responsáveis legais.

21- USO DE MEDICAMENTOS

Toda vez que comparecer ao bloco siga o mesmo protocolo da primeira

operação em relação aos medicamentos eventualmente em uso. Os

anticonvulsivantes e anti-hipertensivos arteriais (remédios para pressão alta)

devem ser tomados mesmo em jejum no dia da operação. Um pouco de água

para ajudar a descer o medicamento não é quebra do jejum. Se você usa

hipoglicemiante oral (Metformina, Glibenclamida, Glipizida e outros) para

Diabetes não devem ser tomados no dia da cirurgia, sendo o controle da

glicose feito com outros medicamentos neste dia no hospital. SE VOCÊ USA

AAS, SUSPENDA-O SETE DIAS ANTES DA OPERAÇÃO. Em relação a outros

anticoagulantes (Varfarina, Marevan, etc.) oriente-se quanto a sua suspensão

previamente, pois há cuidados especiais a serem seguidos. Para outros

medicamentos cada um tem sua particularidade. Informe-se.

22- EXAMES DE IMAGEM

As radiografias realizadas no hospital são disponibilizadas a você

imediatamente após serem vistas. Providencie uma pasta para guardá-las e

traga-as sempre para comparação com as novas que fará, para ser observada a

evolução do tratamento.

23- CONTROLE AMBULATORIAL

Page 105: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

105

Crianças, idosos, pacientes em pós-operatório imediato, para retirada de pontos

e com curativos a realizar têm prioridade de atendimento. Apresente-se assim

que o ambulatório se iniciar, pois a enfermagem de apoio cuidará de você

prioritariamente.

O AMBULATÓRIO DE CONTROLE FUNCIONA SEMPRE NO MESMO DIA DA

SEMANA.

Caso haja marcação para outro dia, entre em contato para conferir. Pode ter

ocorrido um engano na hora da marcação.

Deixe-nos saber suas mudanças de endereço e telefone para que possamos

encontrar você. Alguns tratamentos requerem retornos próximos continuados,

como é o caso dos alongamentos ósseos. Se você liga e não consegue agendar,

venha no dia marcado pelo médico mesmo assim. Informe-se das normas de

marcação de retorno na portaria.

Ida ao hospital: caso você tenha dificuldades de se locomover, você pode

agendar com antecedência uma ambulância no posto de saúde mais próximo da

sua casa para que possa levá-lo. Tenha sempre consigo o seu comprovante de

retorno comprovando o agendamento e peça o relatório para informar a sua

incapacidade.

24- PARTICIPE

Não fique com dúvidas, pergunte sempre, compreenda o que está acontecendo

com você. Faça uma lista das perguntas em casa e traga-a para você não se

esquecer de nada durante a consulta. Ligue, mande um e-mail ou compareça ao

hospital quantas vezes forem necessárias. Traga os familiares para

esclarecimentos.

Page 106: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

106

25- RETIRADA DO FIXADOR

Após a retirada do aparelho, ocorre uma mudança gradual até o apoio sem

muletas, de acordo com a situação de cada um. Não ande com a perna no ar. A

cada passo, apoie levemente. O osso leva tempo para se fortalecer e aguentar o

seu peso sem auxílios. Dos pacientes que usam aparelhos na perna, até um em

cada sete pode sofrer refraturas por usar excessivamente o osso ainda fraco. E

dos que usam no fêmur, a possibilidade de refratura é ainda maior, uma em

três. Por isso, principalmente nos primeiros três meses pós-retirada, não retire

os auxílios para marcha (muletas, andador, bengala) sem orientação médica.

Quando passamos de duas muletas para apenas uma, ela é usada no lado

oposto da perna em tratamento.

Após a remoção do aparelho o membro é habitualmente enfaixado. A faixa de

crepom pode ser removida no dia seguinte, e os curativos podem ser feitos

conforme de costume, até a completa cicatrização dos pertuitos.

Alguns pacientes podem necessitar temporariamente de gesso ou órteses de

polietileno (moldes de plástico) para proteger a perna e pé de refraturas ou

deformidades.

A retirada do aparelho de fixador externo dos pacientes operados no hospital,

do convênio SUS, não precisa de carimbos ou autorizações prévias. Estando de

posse da guia, basta comparecer ao hospital na data e hora agendadas. As guias

de procedimentos dos outros convênios necessitam de senha de autorização,

funcionando cada um de um determinado modo. Verifique antes.

26- ACESSIBILIDADE

A maior parte dos edifícios modernos, hoje em dia, apresenta rampas de

acessibilidade para facilitar a locomoção de quem precisa. Procure sempre por

elas para evitar possíveis quedas em escadas. Caso você tenha rampas ou

Page 107: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

107

escadas dentro de casa, elas devem estar equipadas com um corrimão. Retire

os tapetes nos quais você poderá tropeçar.

Andando de carro como passageiro, você deve ocupar o banco da frente,

empurrando-o para trás ganhando mais espaço e mais conforto. Outra opção é

o banco de trás com a perna estendida sobre o mesmo. Você pode precisar de

almofadas para melhorar o posicionamento da perna.

Banho: coloque cobertura antiderrapante no piso de seu banheiro e

acessórios de segurança tipo corrimão ou alças de segurança, em locais

estratégicos (fig. 44 e 45). No chuveiro, você pode ficar de pé ou assentado em

um banquinho para maior conforto e equilíbrio.

Fig. 44 Fig. 45

Fig. 44 e 45- Barras de apoio para prevenção de acidentes no banheiro.

27- USO DO TOALETE

Habitualmente, o toalete pode ser usado normalmente. Algumas vezes pode ser

necessário um assento elevado que é adaptado no vaso sanitário (fig. 46 e 47).

Ele é encontrado em lojas de utensílios hospitalares. Comadres, marrecos, e

urinóis também podem ser usados em situações em que o banheiro esteja

inalcançável ou a deambulação impossibilitada, como fraturas de vários

membros.

Page 108: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

108

Fig. 46 Fig. 47

Fig. 46 e 47- Assento elevado de vaso sanitário. Existem de vários tamanhos, dependendo da marca,

7,5 cm, 12 cm, 13,5 cm, etc. Podem ou não ter alça de apoio para maior firmeza.

28- NATAÇÃO

Se os pertuitos dos fios estiverem cicatrizados e sem inflamação, é permitida a

natação ou a ginástica dentro d‟água. Porém, caso a piscina seja pública ou de

uso comum, verifique as suas regras de uso.

29- ROUPAS

Com pequenas adaptações você poderá continuar a usar as mesmas roupas do

dia a dia, porém adaptadas. Roupas íntimas: se o volume do aparelho não

permitir passar as pernas da calcinha ou cueca, elas podem ser abertas

lateralmente sendo adaptado um velcro, botões, cadarços, colchetes de

pressão ou de gancho ou até mesmo um fecho tipo zíper (fig. 48 a 50). O

mesmo deve ser feito com shorts, bermudas ou calças compridas. Nada que a

criatividade da costureira não possa resolver. Lembre-se de que as roupas

elásticas têm maior facilidade de ceder e passar pelo aparelho.

Fig. 48 Fig. 49

Fig. 48 e 49- Exemplo de calça aberta na lateral e fechada por meio de cadarços.

Page 109: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

109

Fig. 50- Calça aberta na lateral com zíper

30- TRABALHO

Se você trabalha por conta própria, procure retornar às suas atividades fazendo

aquilo que você der conta. Se você é empregado, seguirá regras próprias do

INSS, do Ministério do Trabalho, e da Medicina do Trabalho de sua empresa.

31- ESCOLA

Recomendamos que frequente suas aulas dentro do possível. Converse com

seus professores sobre suas dificuldades, bem como suas eventuais

necessidades para conciliar seu tratamento e os compromissos escolares.

Utilize atestados e relatórios médicos para justificar legalmente suas ausências

ou requerimento de segunda chamada de provas, caso seja necessário. Veja

com antecedência opções de locomoção como rodízio de carona, ônibus

escolares, especiais, etc. Planeje como não sobrecarregar seus familiares ou

algum membro específico da família. Mesmo assim, veja quem de fato tem

disponibilidade para ajudá-lo. Toda ajuda será bem vinda. Tratamentos

ortopédicos podem demorar. Com o tempo ocupado, os dias passam mais

rápido.

32- RECEBIMENTO DE SEGURO OU INDENIZAÇÕES

Providencie uma pasta para guardar todos os documentos relativos à sua

doença: receitas, relatórios, atestados, sumários de alta. Peça nota fiscal de

Page 110: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

110

todos os gastos que tiver com medicamentos, muletas, materiais de curativos,

etc. Eles serão necessários no futuro para comprovação de suas despesas. Se

você tiver direito, você será reembolsado apenas daquilo que tiver

comprovante legal.

33- VACINAS

Mantenha suas vacinas em dia. Leve seu cartão de vacinas ao Posto de Saúde

para atualização. A vacina de tétano e Febre Amarela vencem a cada dez anos.

34- GRUPOS DE AJUDA

Há muitos grupos e fóruns para discussão de temas relacionados aos fixadores

externos na internet. Nas redes sociais, principalmente no Facebook. Basta

procurar pelo nome Ilizarov, ou fixador externo que você será endereçado a

diversos grupos no Brasil e no exterior. É uma ótima oportunidade de conhecer

pessoas que estão vivendo o mesmo problema e trocar experiências.

35- QUALIDADE DE VIDA

Numa pesquisa que realizamos sobre qualidade de vida dos pacientes com

fixadores externos, pudemos testemunhar que o maior sofrimento que

apresentam é a limitação da locomoção. Em segundo lugar ficou o isolamento

social que afeta de modo intenso a condição psicológica da pessoa. A

interrupção do trabalho, a impossibilidade de realizar os afazeres do dia a dia, o

distanciamento dos amigos, a dificuldade de ir e vir, e a falta de lazer foram os

fatores que mais pesaram para caracterizar como difícil este momento de vida.

Sabendo disso, motivamos que não se distancie da vida, interaja, chame seus

Page 111: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

111

amigos e sua família para visitá-lo, se você não puder ir até eles. O segredo da

existência feliz está na preservação dos vínculos que mais valorizamos.

36- EXERCÍCIOS

Se você puder contar com o apoio contínuo de um fisioterapeuta, será melhor

ainda. A fisioterapia pode atuar em todas as etapas do tratamento: antes,

durante e depois.

Amostra de exercícios domiciliares para serem feitos após a cirurgia (fig 51 a

56). Fazer três vezes ao dia:

Fig. 51- Fortalecimento do músculo da coxa (quadríceps). Coloque um rolinho de toalha debaixo do

joelho. Faça movimentos de elevar e descer a perna suavemente. Repita 5x.

Fig. 52- Deslizamento do calcanhar. Flexione o joelho em direção às nádegas o máximo que puder.

Repita 5x.

Fig. 53- Flexão e extensão do joelho assentado. Repita 5x.

Fig. 54- Abertura do quadril. Abra a perna lentamente e depois retorne ao centro. 5x.

Fig. 55- Exercícios para as panturrilhas. Puxe o tornozelo para cima e para baixo. 10x.

Page 112: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

112

Fig. 56- Fortalecendo os músculos da coxa. Endureça a musculatura da coxa, e conte até 5. Relaxe e

reinicie a contração. 10x.

37- AVALIAÇÃO DO RESULTADO FINAL

Como os médicos avaliam o resultado final após o término do tratamento?

Eles se baseiam em alguns critérios que não são difíceis de compreender. Um

deles é a "classificação dos resultados do tratamento com fixadores externos"

descrita no quadro seguir.

Grau Critérios Resultado da

função

1- Excelente Consolidação óssea,

deformidade < 7º,

discrepância < 2,5 cm

Habilidade para

realizar as

atividades prévias

da vida diária,

ausência de dor ou

dor leve. Não

mancar.

Ausência de dor.

Contratura do

joelho ou tornozelo

< 5º. Perda de

movimento do

joelho ou tornozelo

< 15º.

2- Bom Consolidação óssea,

falha em se alcançar

um dos outros

critérios

Habilidade para

realizar quase

todas as

atividades da vida

diária, ou com

dificuldade

mínima. Ausência

de dor ou dor

leve. Falha em se

alcançar um dos

outros critérios

3- Razoável Consolidação óssea,

falha em se alcançar

dois dos outros

Dificuldade

mínima para

realizar a maioria

Page 113: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

113

critérios

das atividades da

vida diária.

Ausência de dor

ou dor mínima.

Falha em se

alcançar dois dos

outros critérios.

4- Ruim Pseudartrose ou

refratura, falha em se

alcançar três dos

outros critérios

Atividades da

vida diária

significativamente

limitadas. Dor

significativa com

necessidade de

analgésicos fortes.

Falha em se

alcançar três dos

outros critérios.

Quadro 1. Classificação de resultados de tratamento. Fonte: <www.asamifix.com.br>Acesso

em 31 out. 2012.

38- SALTO DE COMPENSAÇÃO

Se há uma sequela em que uma perna está maior que a outra, até que a

diferença de comprimento se corrija será útil o uso de uma compensação no

calçado. A partir de quanto deve se iniciar essa correção é motivo de debate. A

partir de 10 mm começamos a pensar no desalinhamento que provoca no

corpo, e já se inicia a correção através de palmilhas compensatórias. A partir de

20 mm (dois cm) com certeza é um consenso que a diferença deve ser

compensada ou que se prossiga o tratamento ortopédico corretivo. O lado

maior passa a carregar mais peso, com consequente sobrecarga e desgaste de

suas articulações, atingindo até a coluna vertebral no decorrer dos anos. Os

calçados "de passeio" devem ser corrigidos e, principalmente, os chinelos de

ficar em casa (fig. 57 a 64).

Fig. 57 Fig. 58

Page 114: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

114

Fig. 59 Fig. 60 Fig. 61 Fig. 57 a 61- Exemplos do salto de compensação para calçado masculino e feminino.

Fig. 62 Fig. 63 Fig. 64

Fig. 62 a 64- Exemplo de sandália construída simplesmente colando-se um pé de borracha sobre o

outro.

39- MULETAS – SUPORTES PARA AUXÍLIO À LOCOMOÇÃO

Para quem tem uma lesão na perna, as muletas são uma boa opção para auxiliar

a andar, atenuar o desconforto quando é permitido o apoio, mas ainda há dor e,

assim, diminuir o tempo de recuperação. O sistema músculo esquelético

precisa estar em movimento para manter-se saudável. O uso das muletas

remonta a épocas antigas sendo encontradas até mesmo em tumbas de faraós

egípcios datadas de 3.000 anos A.C.

As muletas devem fazer duas coisas: diminuir a carga de peso no lado lesado e

ampliar a base de apoio para melhorar seu equilíbrio. Também permitem a

locomoção para quem usa cadeira de rodas nos locais onde ela não consegue

passar.

Ficar em pé melhora a circulação, previne a formação de escaras, ajuda os

órgãos internos a funcionarem melhor, principalmente os rins, pulmões e

intestinos.

Para que o cálcio permaneça nos ossos, eles devem sentir o peso do corpo.

Page 115: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

115

Para usar as muletas você deve desenvolver gradualmente a força nos braços,

equilíbrio e coordenação motora. Importante: no processo de se liberar do

apoio das muletas, a primeira que é abandonada situa-se do lado da lesão.

Há basicamente quatro tipos de suportes auxiliares para caminhar:

1- Muletas axilares: o tipo mais comum. Podem ser de madeira (fig. 65) ou de

alumínio (fig. 66). Têm ajustes para o apoio das mãos e altura da pessoa.

Estando de pé a muleta deve estar 2 a 3 dedos de distância da axila,

inclinada a 15-20 cm lateral ao pé. O apoio para as mãos deve estar numa

altura que o cotovelo fique a 30º. Se você ainda não pode ficar de pé para fazer

a medida então prepare a muleta numa altura 40 cm a menos do que sua

estatura.

Fig.- 65 Fig.- 66

2- Muletas de apoio no antebraço, também chamadas de muletas

canadenses (fig. 67), devem permitir os cotovelos estarem 15-30º de flexão,

possibilitando transferência de peso ao braço. Devem estar posicionadas

acerca de 10 cm para fora e 15 cm adiante do pé. O apoio para o

antebraço deve situar-se a cerca de 4 cm abaixo do cotovelo.

Fig.- 67

Page 116: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

116

3- Andador (fig. 68): permite maior equilíbrio principalmente para pacientes na

terceira idade ou aqueles com pouca força nos punhos para locomoção. Devem

ser regulados para ficarem na altura do osso lateral do quadril (grande

trocânter femoral), de modo que o cotovelo trabalhe a 30º de flexão.

Fig. 68

4- Bengala (fig. 69 e 70): usada para lesões leves, no processo de desmame

gradativo das muletas, ou para auxiliar o equilíbrio em pacientes com maior

susceptibilidade a quedas. O tamanho a ser escolhido é o que permite o

apoio da mão estando o cotovelo a 20º de flexão (fig. 71).

Fig. 69 Fig. 70 Fig. 71- Cotovelo a 20º flexão

A regra para andar de bengala é que ela sempre acompanha a perna lesada,

usada na mão do lado contrário à lesão (fig, 72).

Fig. 72- Bengala na mão do lado contrário à lesão

Qualquer que seja o tipo escolhido deve-se estar sempre atento ao desgaste das

borrachas de apoio (fig. 73 e 74) que devem ser trocadas quando estiverem

gastas.

Page 117: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

117

Fig. 73 Fig. 74

Uso correto das muletas

Para começar a andar transfira seu peso para a perna sadia. Mova as muletas

para adiante do seu pé. Então transfira o peso para o apoio dos braços e dê a

passada, transferindo novamente o seu peso para a perna sadia. Estudos

mostraram que durante a fase de balanço, em que o corpo se apoia sobre os

punhos, eles recebem de uma a três vezes o peso do seu corpo, uma carga não

planejada para eles suportarem.

Dicas:

Nunca apoie o peso do corpo através da axila sobre o suporte da muleta. Pode

ocorrer a lesão temporária do nervo que passa debaixo da axila e ficar sem

conseguir estender o punho. É a chamada paralisia das muletas, que comprime

o nervo radial. O apoio da muleta é no punho e não na axila (sovaco). Para

os iniciantes, uma luva de proteção para a mão evita dor durante o apoio,

diminui a formação de calosidade ou até mesmo de bolhas (fig. 75 a 77).

Fig. 75 Fig. 76 Fig. 77

Fig. 75 a 77- Exemplos de luvas de proteção para as mãos. Elas podem ser encontradas em

lojas de materiais ortopédicos com o nome de luvas para cadeiras ou para muletas, ou em

lojas de materiais esportivos com o nome de luvas para musculação.

Ao ficar de pé mantenha as muletas a 25 cm à sua frente.

Não tente dar longos passos com as muletas, pois elas podem escorregar e você

cair.

Page 118: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

118

Ao subir escadas, apoie com a perna boa no degrau acima e então transfira o

peso para as muletas. Se possível, tenha alguém junto a você (fig. 78).

Fig. 78

Ao descer escadas, coloque as muletas no degrau debaixo e então avance com a

perna boa (fig. 79).

Fig. 79

40 ANESTESIA

O médico anestesiologista é o profissional mais preparado para escolher o tipo

de anestesia a ser realizada para cada procedimento proposto. Permita-o

exercer essa escolha para você. Se você tem alguma preferência ou opinião

formada sobre que tipo de anestesia você deseja receber, discuta isso numa

consulta pré-anestésica e traga o resultado por escrito. Não há como lhe

explicar os prós e contras de cada técnica anestésica, estando você já deitado na

mesa de operação.

REFERÊNCIAS:

1: Crutches Instructions, Tips, Types. Disponível em:

<http://www.emedicinehealth.com/crutches/article_em.htm>Acesso em: 13 out. 2013.

2: External Fixator. Disponível em: <http://www.slideshare.net/mamunk56/external-

fixator>Acesso em: 20 out. 2013.

Page 119: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

119

3: Roncoletta, M.R. Calçados Sensuais para Mulheres Excepcionais. Dissertação (Mestrado

em Design) 2009. 134 folhas. Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo. 2009.

Disponível em: <http://www.anhembi.br/ppgdesign/pdfs/mariana.pdf>Acesso em 13 out.

2013.

4: Size - Lucite Walking Canes. Disponível em:

<http://www.clearcanes.com/size.html>Acesso em: 13 out. 2013.

Envie sugestões para situações que não são abordadas aqui para

<[email protected]>.

Page 120: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

120

ANEXO A

Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida -SF-36

1- Em geral você diria que sua saúde é:

Excelente Muito Boa Boa Ruim Muito Ruim

1 2 3 4 5

2- Comparada há um ano atrás, como você se classificaria sua idade em geral, agora?

Muito Melhor Um Pouco Melhor Quase a Mesma Um Pouco Pior Muito Pior

1 2 3 4 5

3- Os seguintes itens são sobre atividades que você poderia fazer atualmente durante

um dia comum. Devido à sua saúde, você teria dificuldade para fazer estas

atividades? Neste caso, quando?

Atividades

Sim,

dificulta

muito

Sim,

dificulta

um pouco

Não, não

dificulta

de modo

algum

a) Atividades Rigorosas, que

exigem muito esforço, tais como

correr, levantar objetos pesados,

participar em esportes árduos.

1 2 3

b) Atividades moderadas, tais

como mover uma mesa, passar

aspirador de pó, jogar bola, varrer

a casa.

1 2 3

c) Levantar ou carregar

mantimentos

1 2 3

d) Subir vários lances de escada 1 2 3

e) Subir um lance de escada 1 2 3

f) Curvar-se, ajoelhar-se ou

dobrar-se

1 2 3

g) Andar mais de 1 quilômetro 1 2 3

h) Andar vários quarteirões 1 2 3

i) Andar um quarteirão 1 2 3

j) Tomar banho ou vestir-se 1 2 3

4- Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com seu

trabalho ou com alguma atividade regular, como conseqüência de sua saúde física?

Sim Não

Page 121: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

121

a) Você diminui a quantidade de tempo que se dedicava ao

seu trabalho ou a outras atividades?

1 2

b) Realizou menos tarefas do que você gostaria? 1 2

c) Esteve limitado no seu tipo de trabalho ou a outras

atividades.

1 2

d) Teve dificuldade de fazer seu trabalho ou outras

atividades (p. ex. necessitou de um esforço extra).

1 2

5- Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com seu

trabalho ou outra atividade regular diária, como conseqüência de algum problema

emocional (como se sentir deprimido ou ansioso)?

Sim Não

a) Você diminui a quantidade de tempo que se dedicava ao

seu trabalho ou a outras atividades?

1 2

b) Realizou menos tarefas do que você gostaria? 1 2

c) Não realizou ou fez qualquer das atividades com tanto

cuidado como geralmente faz.

1 2

6- Durante as últimas 4 semanas, de que maneira sua saúde física ou problemas

emocionais interferiram nas suas atividades sociais normais, em relação à família,

amigos ou em grupo?

De forma nenhuma Ligeiramente Moderadamente Bastante Extremamente

1 2 3 4 5

7- Quanta dor no corpo você teve durante as últimas 4 semanas?

Nenhuma Muito

leve

Leve Moderada Grave Muito

grave

1 2 3 4 5 6

8- Durante as últimas 4 semanas, quanto a dor interferiu com seu trabalho normal

(incluindo o trabalho dentro de casa)?

De maneira alguma Um pouco Moderadamente Bastante Extremamente

1 2 3 4 5

9- Estas questões são sobre como você se sente e como tudo tem acontecido com você

durante as últimas 4 semanas. Para cada questão, por favor dê uma resposta que

mais se aproxime de maneira como você se sente, em relação às últimas 4 semanas.

Page 122: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

122

Todo

Tempo

A

maior

parte

do

tempo

Uma

boa

parte

do

tempo

Alguma

parte

do

tempo

Uma

pequena

parte do

tempo

Nunca

a) Quanto

tempo você tem

se sentindo cheio

de vigor, de

vontade, de

força?

1 2 3 4 5 6

b) Quanto

tempo você tem

se sentido uma

pessoa muito

nervosa?

1 2 3 4 5 6

c) Quanto tempo

você tem se

sentido tão

deprimido que

nada pode

anima-lo?

1 2 3 4 5 6

d) Quanto

tempo você tem

se sentido calmo

ou tranqüilo?

1 2 3 4 5 6

e) Quanto tempo

você tem se

sentido com

muita energia?

1 2 3 4 5 6

f) Quanto tempo

você tem se

sentido

desanimado ou

abatido?

1 2 3 4 5 6

g) Quanto

tempo você tem

se sentido

esgotado?

1 2 3 4 5 6

h) Quanto

tempo você tem

se sentido uma

pessoa feliz?

1 2 3 4 5 6

i) Quanto tempo

você tem se

sentido

1 2 3 4 5 6

Page 123: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

123

cansado?

10- Durante as últimas 4 semanas, quanto de seu tempo a sua saúde física ou

problemas emocionais interferiram com as suas atividades sociais (como visitar

amigos, parentes, etc)?

Todo

Tempo

A maior parte

do tempo

Alguma parte do

tempo

Uma

pequena

parte do

tempo

Nenhuma

parte do

tempo

1 2 3 4 5

11- O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você?

Definitivament

e verdadeiro

A

maioria

das vezes

verdadei

ro

Não

sei

A

maiori

a das

vezes

falso

Definitiva

-

mente

falso

a) Eu costumo

obedecer um pouco

mais facilmente que

as outras pessoas

1 2 3 4 5

b) Eu sou tão

saudável quanto

qualquer pessoa que

eu conheço

1 2 3 4 5

c) Eu acho que a

minha saúde vai

piorar

1 2 3 4 5

d) Minha saúde é

excelente 1 2 3 4 5

Page 124: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

124

ANEXO B

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA/MG

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

Pesquisador:

Título da Pesquisa:

Instituição Proponente:

Versão:

CAAE:

Qualidade de Vida dos pacientes com fratura da perna submetidos à reconstrução de

membros com fixação externa circular pelo método de Ilizarov

Matilde Meire Miranda Cadete

Centro Universitário UNA

114363613.8.0000.5098

Área Temática:

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Número do Parecer:

Data da Relatoria:

228.780

21/03/2013

DADOS DO PARECER

É sabido que pouca atenção se dá aos aspectos sociais, emocionais, econômicos e espirituais

das pessoas hospitalizadas. O aspecto biológico se faz hegemônico, nesse espaço de cuidar.

Não se busca conhecer os fatores que interferem para o restabelecimento da qualidade de

vida, como é o caso das pessoas vítimas de acidentes com veículos automotores. Assim,

neste estudo, buscar-se-á, por meio de pesquisa quantiqualitativa, analisar a qualidade de

vida de pessoas que foram submetidas a cirurgia ortopédica com implantação do fixador

externo de Ilizarov. A pesquisa será desenvolvida no Hospital da Baleia e os sujeitos, após

consentimento formal, responderão, em uma primeira etapa, o questionário SF 36. Nessa

fase, nos meses de maio e junho, há aproximadamente 100 pessoas que retornam ao

Ambulatório para prosseguirem o tratamento. Portanto, todas elas serão convidadas a ser

sujeitos. Em uma segunda etapa, os pacientes que forem ao Ambulatório do referido

hospital, às quartas -feiras, nos meses de maio e junho, serão convidados a responder uma

entrevista semiestruturada. Os dados quantitativos serão analisados pelo Programa EPI

INFO e as entrevistas, após transcritas serão analisadas com base em Bardin. Os resultados

da pesquisa subsidiarão a elaboração de cartilhas e filmes direcionados a estes pacientes.

Apresentação do Projeto:

Patrocinador Principal: Financiamento Próprio

30.180-100

(313)508--9110 E-mail: [email protected]; [email protected]

Endereço:

Bairro: CEP:

Telefone:

Rua dos Guajajaras, 175

Centro

UF: MG Município: BELO HORIZONTE

Fax: (313)508--9112

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA/MG

Page 125: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

125

Analisar as mudanças ocorridas e a qualidade de vida dos pacientes submetidos ao

tratamento de fraturas expostas dos ossos da perna com o fixador externo circular de

Ilizarov, com vistas ao desenvolvimento local.

Identificar o perfil sociodemográfico das pessoas com o fixador externo circular de Ilizarov,

no Hospital da Baleia, em Belo Horizonte, MG.

Avaliar a qualidade de vida por meio do instrumento Short Form-36, validado no Brasil.

Compreender o sentido que os pacientes atribuem às mudanças operadas na sua vida

cotidiana bem como ao sucesso ou insucesso de seu tratamento.

Desenvolver material didático educativo que auxilie os profissionais de saúde, os pacientes

em uso de fixador externo e seus familiares ao melhor convívio pessoal e social.

Objetivo da Pesquisa:

O risco é o de constrangimento ou de não querer participar da pesquisa. Será esclarecido ao

paciente que ele nada sofrerá por não querer participar e seu tratamento continuará

transcorrendo como antes.

Os benefícios incluem a confecção de cartilhas e filmes educativos para o paciente e

familiares, além das publicações com vistas à socialização do conhecimento.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:

O projeto possui justificativa e relevância. O referencial teórico foi apresentado com clareza

e a metodologia parece ser adequada aos objetivos. Não há dúvidas quanto a pertinência e

valor científico do estudo.

Quanto aos aspectos éticos, o projeto evidencia a necessidade do Termo de Livre

Consentimento e este se encontra anexado. Há a informação aos usuários de que serão

atendidos os princípios da Resolução 196/96. O TCLE atende ao disposto na legislação

sendo conciso e objetivo e com linguagem adequada ao nível sociocultural dos sujeitos de

pesquisa. Registra-se a presença dos compromissos exigidos do pesquisador e da instituição

responsável, a garantia dos direitos fundamentais do sujeito de pesquisa (informação,

privacidade, recusa inócua, desistência, etc.). O modelo de questionário também se encontra

em anexo o que permite a análise de seu conteúdo e a verificação dos aspectos éticos.

Observa-se ainda que o projeto apresenta orçamento e o cronograma de ação viáveis.

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:

Apresenta folha de rosto devidamente assinada pela instituição proponente, currículo lattes

da pesquisadora principal, cronograma de execução, tabela de custos, termo de

consentimento livre e esclarecido, questionário e roteiro semiestruturado para coleta de

dados e autorização para realização da pesquisa.

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:

30.180-100

(313)508--9110 E-mail: [email protected]; [email protected]

Endereço:

Bairro: CEP:

Telefone:

Rua dos Guajajaras, 175

Centro

UF: MG Município: BELO HORIZONTE

Fax: (313)508--9112

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA/MG

Ver conclusões.

Recomendações:

Os membros acompanham o voto do relator pela aprovação do projeto.

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:

Aprovado

Page 126: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

126

Situação do Parecer:

Não

Necessita Apreciação da CONEP:

Considerações Finais a critério do CEP:

BELO HORIZONTE, 25 de Março de 2013

Daniela Almeida do Amaral

(Coordenador)

Assinado por:

30.180-100

(313)508--9110 E-mail: [email protected]; [email protected]

Endereço:

Bairro: CEP:

Telefone:

Rua dos Guajajaras, 175

Centro

UF: MG Município: BELO HORIZONTE

Fax: (313)508--9112

Page 127: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

127

ANEXO C

CÁLCULO DOS ESCORES DO QUESTIONÁRIO DE QUALIDADE DE VIDA

Fase 1: Ponderação dos dados

Questão Pontuação

01 Se a resposta for

1

2

3

4

5

Pontuação

5,0

4,4

3,4

2,0

1,0

02 Manter o mesmo valor

03 Soma de todos os valores

04 Soma de todos os valores

05 Soma de todos os valores

06 Se a resposta for

1

2

3

4

5

Pontuação

5

4

3

2

1

07 Se a resposta for

1

2

3

4

5

6

Pontuação

6,0

5,4

4,2

3,1

2,0

1,0

Page 128: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

128

08 A resposta da questão 8 depende da nota da questão 7

Se 7 = 1 e se 8 = 1, o valor da questão é (6)

Se 7 = 2 à 6 e se 8 = 1, o valor da questão é (5)

Se 7 = 2 à 6 e se 8 = 2, o valor da questão é (4)

Se 7 = 2 à 6 e se 8 = 3, o valor da questão é (3)

Se 7 = 2 à 6 e se 8 = 4, o valor da questão é (2)

Se 7 = 2 à 6 e se 8 = 3, o valor da questão é (1)

Se a questão 7 não for respondida, o escorre da questão 8 passa a ser o

seguinte:

Se a resposta for (1), a pontuação será (6)

Se a resposta for (2), a pontuação será (4,75)

Se a resposta for (3), a pontuação será (3,5)

Se a resposta for (4), a pontuação será (2,25)

Se a resposta for (5), a pontuação será (1,0)

09 Nesta questão, a pontuação para os itens a, d, e ,h, deverá seguir a seguinte

orientação:

Se a resposta for 1, o valor será (6)

Se a resposta for 2, o valor será (5)

Se a resposta for 3, o valor será (4)

Se a resposta for 4, o valor será (3)

Se a resposta for 5, o valor será (2)

Se a resposta for 6, o valor será (1)

Para os demais itens (b, c,f,g, i), o valor será mantido o mesmo

10 Considerar o mesmo valor.

11 Nesta questão os itens deverão ser somados, porém os itens b e d deverão

seguir a seguinte pontuação:

Se a resposta for 1, o valor será (5)

Se a resposta for 2, o valor será (4)

Se a resposta for 3, o valor será (3)

Se a resposta for 4, o valor será (2)

Se a resposta for 5, o valor será (1)

Page 129: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

129

Fase 2: Cálculo do RawScale

Nesta fase você irá transformar o valor das questões anteriores em notas de 8

domínios que variam de 0 (zero) a 100 (cem), onde 0 = pior e 100 = melhor para

cada domínio. É chamado de rawscale porque o valor final não apresenta nenhuma

unidade de medida.

Domínio:

Capacidade funcional

Limitação por aspectos físicos

Dor

Estado geral de saúde

Vitalidade

Aspectos sociais

Aspectos emocionais

Saúde mental

Para isso você deverá aplicar a seguinte fórmula para o cálculo de cada domínio:

Domínio:

Valor obtido nas questões correspondentes – Limite inferior x 100

Variação (Score Range)

Na fórmula, os valores de limite inferior e variação (Score Range) são fixos e estão

estipulados na tabela abaixo.

Domínio Pontuação das questões

correspondidas

Limite inferior Variação

Capacidade

funcional

03 10 20

Limitação por

aspectos físicos

04 4 4

Dor 07 + 08 2 10

Estado geral de

saúde

01 + 11 5 20

Vitalidade 09 (somente os itens a +

e + g + i)

4 20

Aspectos sociais 06 + 10 2 8

Limitação por

aspectos emocionais

05 3 3

Saúde mental 09 (somente os itens b +

c + d + f + h)

5 25

Page 130: BAIÃO, Fábio Ribeiro. QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

130

Exemplos de cálculos:

Capacidade funcional: (ver tabela)

Domínio: Valor obtido nas questões correspondentes – limite inferior x 100

Variação (Score Range)

Capacidade funcional: 21 – 10 x 100 = 55

20

O valor para o domínio capacidade funcional é 55, em uma escala que varia de

0 a 100, onde o zero é o pior estado e cem é o melhor.

Dor (ver tabela)

- Verificar a pontuação obtida nas questões 07 e 08; por exemplo: 5,4 e 4, portanto

somando-se as duas, teremos: 9,4

- Aplicar fórmula:

Domínio: Valor obtido nas questões correspondentes – limite inferior x 100

Variação (Score Range)

Dor: 9,4 – 2 x 100 = 74

10

O valor obtido para o domínio dor é 74, numa escala que varia de 0 a 100,

onde zero é o pior estado e cem é o melhor.

Assim, você deverá fazer o cálculo para os outros domínios, obtendo oito notas

no final, que serão mantidas separadamente, não se podendo soma-las e fazer uma

média.

Obs.: A questão número 02 não faz parte do cálculo de nenhum domínio, sendo

utilizada somente para se avaliar o quanto o indivíduo está melhor ou pior

comparado a um ano atrás.

Se algum item não for respondido, você poderá considerar a questão se esta tiver

sido respondida em 50% dos seus itens.