bacchi, sergio história da automação industrial - versão revista 2015

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Bacchi, Sergio História Da Automação Industrial - Versão Revista 2015

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História da Automação Industrial

Conteúdo

ÍndicePrefácio........................................................................................................................................3

Introdução....................................................................................................................................5

1. Ramos da Indústria...................................................................................................................7

Ramos das Industrias do setor primário:........................................................................................7

Ramos Industriais do setor secundário:.........................................................................................8

2. Sensores e Atuadores.............................................................................................................10

Sensores.......................................................................................................................................10

Atuadores.....................................................................................................................................10

3. O surgimento da automação industrial..................................................................................12

A.O Controlador Lógico Programável – CLP..................................................................................13

B. O CNC – Controlador Numérico Computadorizado.................................................................15

C. A Eletroerosão.........................................................................................................................17

D. SDCD – Sistema Digital de Controle Distribuído......................................................................21

Aplicação do SDCD....................................................................................................................22

A História do SDCD...................................................................................................................23

Década de 80: A era centralizada na rede................................................................................23

Década de 90: A era centralizada na aplicação.........................................................................24

E. O Robô.....................................................................................................................................27

4. A Automação Industrial e a Sociedade...................................................................................30

A.Consequências Imediatas da Automação Industrial sobre os Trabalhadores...........................31

b) “Prolongamento da jornada de trabalho” AQUI!!................................................................35

c) “Intensificação do trabalho”.................................................................................................37

5. Nossa Época e a Necessidade Histórica..................................................................................41

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História da Automação Industrial

Prefácio

As premissas deste documento são poucas, mas profundas.

Em primeiro lugar que a humanidade, cuja existência, segundo a arqueologia existe entre 50 e 70 mil anos, conseguiu tudo aquilo que atualmente possuímos nesse intervalo de tempo, que para uma espécie animal não é um longo período.

Mas de todas as posses humanas, a mais relevante é o conhecimento que dominamos.

Ao analisarmos nossa história vamos observar que a espécie humana chegou ao mundo encontrando-se na mais absoluta pobreza, tanto em meios de ação, me refiro a ferramentas e conhecimentos, e em meio de uma natureza pródiga em recursos, e essa nossa história tem sido procurar satisfazer todas as necessidades que temos encontrado nesta caminhada.

Mas no instante da primeira grande decisão humana, enveredamos pelo caminho de uma organização social onde os homens repartiram-se em duas classes. E desde então estamos, ao nascermos, insertos ou numa classe ou na outra, sendo uma a que domina e é proprietária de sociedade e a outra sua servente, é dominada pela classe de proprietários.

Mas entre o surgimento do primeiro regime social claramente dividido, ou seja aqui no ocidente a civilização grega antiga, onde as características classistas ficaram patentes através do aparecimento do estado e de uma organização repressora para defender os direitos da classe dominante, a polícia, vem desdobrando-se em novas sociedades, através de revoluções sociais, acompanhando o desdobrar da consciência humana e acompanhando o desenvolvimento do conhecimento humano das três partes constituintes deste mundo, ou seja, da natureza inanimada, da natureza viva (animal e vegetal) e a natureza consciente, ou seja a espécie humana, a única consciente que temos notícias comprovadas. Ainda mais, é essa espécie que não é determinada pela natureza, mas pela sua consciência, tanto dos aspectos naturais do mundo como dos aspectos sociais. Assim, já passamos de uma sociedade escravista, a primeira construção social que tivemos até o V século depois de Cristo, uma sociedade feudal até a Revolução francesa e até nossos dias vivemos no capitalismo inaugurado pela Revolução francesa.

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Este trabalho destina-se a demonstrar que nossa sociedade está atravessando uma crise que já não permite soluções dentro deste regime social, estamos em vias de profundas mudanças sociais que modificarão desde as raízes o sistema social vigente atualmente, o capitalismo.

Não creio que se possa avançar muitas características dessa nova sociedade, mas, sem dúvida, não mais existirá uma sociedade de classes, pois, esse tipo de sociedade, a sociedade de classes sempre promoveu a classe dominante que tem vivido às custas do trabalho da classe dominada, sempre promovendo os valores de troca do produto social, sempre escasso e difícil de produzir. Somente nos dias atuais vemos esse valor em crise junto com os valores morais e éticos no seio do capitalismo. Tendo em conta o dito só podemos avançar que será um sociedade onde o valor de troca deixe de existir e a dualidade de valores de um mesmo objeto também, pois a partir de então os objetos somente terão valor de uso, além disso a apropriação dos bens sociais existentes e os produzidos daí para a frente não poderá ser pelo critério nem hereditário nem da propriedade dos meios de produção, como até agora tem sido no capitalismo, mas será pelo critério da necessidade social, e não só a apropriação, mas também a produção será programada pela necessidade social.

A tarefa atual é continuar buscando esta sociedade, busca que já faz mais de um século começou e que não temos conhecimento até quando continuará. O único que podemos avançar é que a passagem do escravismo ao feudalismo durou mais de 7 séculos e do feudalismo ao capitalismo mais de seis séculos.

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O crescimento exponencial da composição do capital e o fim do lucro

Depois de estar claro que a partir de 1968, ano da primeira manifestação de massas contra a crise que se abatia, esse momento, sobre a humanidade marcando o fim dos “anos dourados” e o início da época em que o capital deixou de ser progressista e passa a destruir as forças produtivas que ele próprio ajudou a construir em grande medida, é necessário investigarmos em profundidade os fatos que conduziram a este desfecho a cena econômica de atuação do capital.

IntroduçãoSabemos que com o surgimento da microeletrônica e do computador, durante os anos 1960, abriu-se a possibilidade da construção de dispositivos de controle automático para todas as máquinas da produção industrial. Esses complexos dispositivos compostos por sensores, pelo menos um computador ou microcomputador e atuadores, passaram a ser o órgão de controle das máquinas. Assim, a diferença das máquinas da “Revolução Industrial” que possuíam três órgãos, (1) motor, (2) transmissão e (3) máquina ferramenta; as máquinas da “Senilidade do Capital” passam a ter um quarto órgão: (4) órgão de controle.

Com isto, essas novas máquinas possuem a capacidade de dispensar quase que completamente o trabalho vivo, transformando o autômata da época da “Revolução Industrial”, que como escreveu Karl Marx: um autômata de máquinas com órgãos vivos incluídos em sua configuração. O autômata da “Senilidade do Capital” é composto de máquinas simplesmente.

Com estas novas técnicas é possível automatizar qualquer processo que não tenha uma operação criativa em seu seio, isto é, que seja um processo repetitivo. Mas como é claro para todos, os processos dentro da indústria são sempre repetições de criações de inventores e inovadores. Assim abriu a possibilidade dos industriais dispensarem imensas quantidades de trabalhadores, gerando um desemprego em massa que chega a atingir mais de 25% dos trabalhadores em determinados países. Além disso, só o trabalho vivo gera valor de troca, e assim a produção da máquina automatizada não gera valor, somente transmite o valor dessas máquinas à sua produção. Isto quer dizer que diminui muito o valor das mercadorias que produzam, relativamente às produções sem máquinas automáticas.

È claro que não teria que haver desemprego com a máquina automática, bastava reduzir as horas de trabalho mantendo o mesmo salário, mas isto é impensável

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sob um regime social onde os capitalistas são a classe dominante, um regime capitalista, como este sob o qual vivemos.

Mas para poder afirmar que o dito órgão de controle gerou o desemprego e a crise que hoje abala o mundo, em lugar da simples especulação econômica, como alegam os economistas mais avançados da sociedade, e mais, que esse quarto órgão gerou a própria especulação desenfreada que hoje oprime até setores da pequena burguesia e caminhando cada vez mais alto na escala social, ou seja, para podermos afirmar o acima dito devemos demonstrá-lo e a única forma é analisando a evolução histórica da indústria desde o surgimento da automação e seguir até nossos dias, em cada um dos ramos industriais, ou pelo menos nos principais.

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1. Ramos da IndústriaEm primeiro lugar vamos adotar a divisão dos ramos industriais em setores, sendo que são três os setores:

Setor Primário: é o conjunto de atividades econômicas que extraem e/ou produzem matéria-prima. Isto implica geralmente a transformação de recursos naturais em produtos primários. Muitos produtos do setor primário são considerados como matérias-primas levadas para outras indústrias, a fim de se transformarem em produtos industrializados. As atividades importantes neste setor incluem agricultura, a pesca, a pecuária e a mineração em geral.

As indústrias fabris em sentido diversificado, que agregam, embalam, empacotam, purificam ou processam as matérias-primas dos produtores primários, normalmente se consideram parte deste setor, especialmente se a matéria-prima é inadequada para a venda, ou difícil de transportar a longas distâncias.

Segundo os economistas, o "setor primário" é composto de sete atividades econômicas.

Ramos das Industrias do setor primário:

Agricultura

Pecuária

Extrativismo vegetal

Caça

Pesca

Mineração

Extração de recursos não-renováveis

Setor Secundário : O setor secundário é o setor da economia que transforma matéria-prima, extraídas e ou produzidas pelo setor primário, em produtos de consumo, ou em máquinas industriais (produtos a serem utilizados por outros estabelecimentos do setor secundário).

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Geralmente apresenta porcentagens bastante relevantes nas sociedades desenvolvidas. É nesse setor, que podemos dizer que a matéria-prima é transformada em um produto manufaturado. A indústria e a construção civil são, portanto, atividades desse setor.

A indústria é a atividade mais importante do setor secundário. Também é importante neste sector o fornecimento de água, gás e electricidade.

Ramos Industriais do setor secundário:- Indústria automobilística;

- Indústria alimentícia;

- Indústria naval;

- Indústria cervejeira;

- Indústria aeroespacial;

- Indústria química;

- Indústria de confecções;

- Indústria eletrônica;

- Indústria de cigarros;

- Indústria de maquinaria;

- Indústria siderúrgica;

- Indústria de energia, como petróleo, gás e energia elétrica;

- Indústria de telecomunicações.

Setor Terciário : O setor terciário também conhecido como serviços, no contexto da economia, envolve a comercialização de produtos em geral, e o oferecimento de serviços comerciais, pessoais ou comunitários, a terceiros.

O Setor Terciário é definido pela exclusão dos dois outros setores. Os serviços são definidos na literatura econômica convencional como "bens intangíveis". Em

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termos de Marketing, os serviços são, muitas vezes, utilizados como um meio de gerar valor ao produto. Tal noção, está intimamente ligada à adição de anéis (acréscimo de valor), ao que é chamado "caroço" do produto, ou seja, o produto na sua função mais básica. Um exemplo clássico, desta ideia, é o chamado serviço de pós-venda. Ou seja, a assistência que é prestada ao cliente, após a venda do produto, é entendido como um serviço prestado, que valoriza o produto, pela garantia da assistência. Foi adicionado um anel, em forma de serviço, à essência da função do produto.

O setor terciário da economia envolve a prestação de serviços às empresas, bem como aos consumidores finais. Os serviços podem envolver o transporte, distribuição e venda de mercadorias do produtor para um consumidor que pode acontecer no comércio atacadista ou varejista, ou podem envolver a prestação de um serviço, como o entretenimento. Os produtos podem ser transformados no processo de prestação de um serviço, como acontece no restaurante ou em equipamentos na atividade de reparações. No entanto, o foco é sobre as pessoas interagindo com as pessoas e servindo ao consumidor, mais do que à transformação de bens físicos.

Para os objetivos deste documento o Setor Terciário não representa interesse, já que é um setor improdutivo, somente complementa o Setor Secundário, que o capital utiliza para agregar valor aos produtos do setor secundário, como a atenção pós-venda que é a forma mais usual de agregar valor a um produto.

Somente queremos comentar que todo o sector bancário e financeiro enquadra-se aqui.

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2. Sensores e AtuadoresPara uma ideia mais clara sobre o controle automático em geral é imprescindível ter em claro algumas ideias sobre sensores e atuadores.

SensoresUm sensor é um dispositivo que responde a um estímulo físico ou químico de maneira específica e mensurável. Também é chamado de dispositivo de entrada, pois sempre envia o sinal para uma entrada, seja de um computador ou outro processador de sinais.

Os sensores utilizados para transmitir sinais para equipamentos eletrônicos medirem necessitam converter a energia do sinal, caso não seja um sinal elétrico em energia elétrica. Por exemplo, se queremos medir a temperatura de um ambiente ou um corpo, tomamos um semicondutor que mude sua resistência elétrica proporcionalmente à temperatura do ambiente ou corpo. Então o computador ou equipamento eletrônico terá que realizar uma medição da resistência do sensor e em seguida realizar uma ou mais operações matemáticas para transformar a resistência no número que corresponde à dada temperatura. No caso, esse sensor é chamado transdutor, porque transforma a temperatura num sinal elétrico, ou seja, um transdutor é um sensor que converte uma dada energia em outra.

Existem padrões para a conversão na saída dos sensores: o padrão mais antigo trabalha com correntes elétricas entre 4 mA e 20mA. Portanto, se estou medindo um sinal que vai de 0 a 1, e recebo 10 mA, significa que o valor é 0,625 (pois 20 - 4= 16; 20 – 10 = 10; 10/16 = 0,625) essas operações devem ser efetuadas pelo receptor do sinal.

Hoje o padrão mais usado varia de 0 Volt a 5V, mas há outros, por exemplo um que usa o intervalo de 0V a 10 V.

Atuadores

No caso do controle eletrônico os atuadores são atuadores elétricos, que são mais simples que os atuadores hidráulicos e os atuadores pneumáticos. Para o caso dos robôs são necessários também atuadores hidráulicos e pneumáticos.

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O exemplo simples de um atuador é um eletro ímã, na presença de um sinal elétrico ele passa a atrair alguma alavanca, acionando um mecanismo e pondo em execução alguma função ou toda uma máquina.

Como se vê os atuadores e sensores desempenham importante papel, sem eles não existe controle automático.

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3. O surgimento da automação industrialKarl Marx escreve: “Na manufatura, o ponto de partida para revolucionar o modo de produção é a força de trabalho, na indústria moderna, o instrumental de trabalho”1.

Na era da “senilidade do capital” o ponto de partida é o autômata da era da grande indústria.

Desde antes da Revolução Industrial, magistralmente descrita por Karl Marx, já existiam dispositivos que automatizavam determinadas operações das máquinas, como por exemplo o regulador de velocidade de um motor a vapor, sem contar que a caixa de descarga de água que possuímos em casa para a higiene de nossos banheiros é também um dispositivo automático e talvez mais antigo que o exemplo citado, o regulador de velocidade do motor a vapor. Mas somente com o surgimento da microeletrônica nos anos 1960 foi possível automatizar todas as operações de uma máquina e mesmo toda uma produção.

Como já dissemos no início deste trabalho, 1968 marca o fim de uma época e o início de outra, e são muito distintas uma da outra, no que tange à indústria e por isso mesmo está provocando mudanças muito profundas em toda a sociedade. Pois cada vez que a humanidade tem mudado seu modo de produzir sua vida, esse fato provoca profundas modificações no seio da organização social que mais dias ou menos dias leva a um revolucionar de toda essa organização, ditando um novo modo de pensar e um novo modo de encarar o mundo e portanto nossos semelhantes.

Nos anos 1960, a indústria automobilística dos Estados Unidos da América do Norte atravessava uma crise estrutural, da qual não sairia se não reestruturasse suas fábricas. Essa indústria se localizava sobretudo na região de Detroit, aí, devido a essas indústrias havia uma imensa concentração de operários e atividades industriais, incluindo atividades satélites da indústria automobilística.

Até meados dos anos 1960 cada indústria automobilística era composta de pelo menos de um comprido pavilhão, onde se realizava a montagem dos veículos. Ao lado deste pavilhão havia outro das mesmas dimensões, que alojava o controle das esteiras transportadoras na linha de montagem, e outros mecanismos. Esse controle era realizado por equipamentos eletromecânico, incluindo alguns eletrônicos primitivos. Na verdade era um imenso emaranhado de reles,

1 O Capital, Karl Marx, Livro I, pg424 editora DIFEL

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temporizadores com mecanismos de relógio e outros dispositivos semelhantes, todos da era anterior ao surgimento da micro eletrônica.

Nessa época, devido a frequentes alterações na linha de montagem, como sempre, também era necessário fazer-se alterações no controle. Isto era difícil e

delicado, já que os circuitos eletro mecânicos são difíceis de manipular e ocupam grandes espaços, além de que qualquer alteração nos mesmos requer alterações físicas nas instalações, o que é caro e difícil. Portanto para fazer alterações nesses circuitos somente pessoas com formação especializada e familiarizada profundamente no funcionamento da fábrica em particular, e além disso conhecedora dos esquemas de montagem desses circuitos em particular.

Em meados dos anos 1960 muitas indústrias já quase tinham perdido o controle de suas linhas de montagem devido à sua complexidade e alterações nem sempre documentadas, isto impedia qualquer alteração e exigia refazer-se todo o controle.

A. O Controlador Lógico Programável – CLPDadas essas dificuldades nasceu o CLP (Controlador Lógico Programável, em inglês PLC – Programming Logic Controller), sob a direção do engenheiro Richard Morley, da Hydronic Division da General Motors, em 1968, seguindo uma especificação que refletia as necessidades de muitas indústrias manufatureiras.

Os CLP`s foram criados com os seguintes objetivos:

1. Facilidade de programação;

2. Facilidade de manutenção com conceito plug-in;

3. Alta confiabilidade;

4. Dimensões menores que painéis de Relês, para redução de custos;

5. Envio de dados para processamento centralizado;

6. Preço competitivo;

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Um CLP atual

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7. Expansão em módulos;

8. Mínimo de 4000 palavras na memória2.

Atualmente o CLP encontra-se em sua 5ª geração relativamente à linguagem empregada em sua programação.

Dick Morley com seu modelo 084, o primeiro Controlador Programável feito em série. Observem a construção modular com placas encaixadas em

bastidores.

Com o avanço nos diferentes campos da eletrônica e computação, hoje (2013) estas máquinas, os CLP’s, são menores e imensamente mais poderosas e fáceis de se usar que os originais dos anos 1960.

O CLP em seguida foi aplicado no controle de máquinas e equipamentos em todos os ramos industriais e até nossos dias representam o equipamento mais usado na automação.

Depois do surgimento desse primeiro dispositivo de automação, o CLP, surgiram os primeiros CNC (Comando Numérico Computadorizado). Este passo adiante na automação industrial representa um avanço importante, não só para o ramo automobilístico, mas especialmente representa o início da automação do ramo metal-mecânico e é usado praticamente em máquinas de todos os ramos industriais.

2 Fonte Wikipedia

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B. O CNC – Controlador Numérico Computadorizado.

Torno a CNC comando Haas, modelo Vektor SL20. Painel antigo de máquina a CNC, comando Siemens.O CNC surgiu a partir de um sistema de controle denominado Controle Numérico desenvolvido na década de 1940, no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), em resposta ao esforço de guerra que devia produzir grandes quantidades de peças de alta precisão, tanto de reposição como para a montagem de equipamento de guerra, e tendo em conta que uma grande parcela dos operários norte-americanos se encontravam engajados como soldados na Segunda Guerra Mundial.

O CNC surge mais tarde que o Comando Numérico que lhe deu origem, durante os anos 1970, tendo como núcleo um microprocessador, que acabava de ser produzido. Este equipamento permite o controle, praticamente de qualquer máquina, partindo do torno mecânico até máquinas de muitíssimos outros ramos industriais. Assim os encontramos em qualquer máquina do ramo metalmecânico, químico, farmacêutico, automobilístico, alimentício, aeroespacial, confecções, elétrico, eletrônico, microeletrônico, maquinaria, siderúrgico, etc. e se emprega até mesmo em equipamentos medicinais.

Os CNC’s modernos estão bastante avançados e permitem o controle de máquinas com vários eixos ao mesmo tempo, trabalham com um sistema operacional de um microcomputador desktop e os sistemas atuais além de comandar a máquina permite o diálogo com o operador, permitindo algum ajuste em algumas operações em pleno funcionamento, além do envio de dados que seja de interesse do usuário para processamento independente.

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Um exemplo elucidativo da capacidade de um CNC é a produção das juntas homocinéticas dos veículos de quatro rodas modernos. Essas juntas homocinéticas são as responsáveis pela tração dianteira dos automóveis atuais, que é mais segura que a tração traseira. Até os anos 60 os únicos automóveis que saiam de fábrica com tração dianteira eram os automóveis Citroen, franceses, mas com um dispositivo chamado cruzeta e não com uma junta homocinética, a cruzeta é um mecanismo bem mais delicado e se rompe muito mais facilmente que uma junta homocinética, pois nessa época produzir uma junta homocinética demorava talvez um dia de trabalho de um mecânico especializado como fresador exímio ou talvez mais. Atualmente uma fresa CNC produz centenas dessas juntas em um dia e não necessita mais que uma pessoa que abasteça de material vária dessas fresas para seguirem trabalhando.

Outro exemplo que podemos citar é o trabalho de um torno mecânico CNC, que a partir de um tarugo de aço de diâmetro adequado produz, em segundos, um parafuso com cabeça sextavada e com o emblema do fabricante gravado no corpo de dito parafuso. É claro que nem pensar que um torneiro mecânico humano fosse capaz de tornear uma peça sextavada, pois, teria que ser um super-homem para ter tanta velocidade.

Como vemos, não é possível separar muito bem o desenvolvimento da automação nos diferentes ramos industriais, pois o controle que serve para as máquinas de um ramo quase sempre vão servir para as máquinas de muitos outros setores, com outra programação.

infotec-plasma-cnc CNC_Shark

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C. A Eletroerosão

ELETROEROSÃO POR PENETRAÇÃO: Modelo S325

A eletroerosão baseia-se na erosão de partículas metálicas por meio de descargas elétricas.

A Eletroerosão, ou usinagem por descargas elétricas, ou ainda EDM (Electrical Discharge Machining), é um processo indicado na usinagem de formas complexas em materiais condutores elétricos, especialmente aqueles de alta dureza, e especialmente de dimensões diminutas, difíceis de serem usinados por processos tradicionais de usinagem.

Aplicando-se uma diferença de potencial (em corrente contínua) entre duas placas condutoras de eletricidade, chamadas de eletrodo e peça, separadas por uma pequena distância (de 0,012mm a 0,050mm) denominada GAP, ocorrem descargas elétricas entre elas. Na verdade, neste espaço entre a peça e o eletrodo, circula um fluido dielétrico que se torna eletrolítico na forma gasosa. No instante da descarga elétrica, o eletrodo e a peça não estão em contato devido ao meio dielétrico que os envolve. Ao iniciar o ciclo de erosão, na pequena região de descarga elétrica, a potência despendida por unidade de área pode chegar até 1000 W/m2, a temperatura até 12.000°C, assim o fluido dielétrico evaporará, tornando-se eletrolítico e no meio gasoso a pressão poderá alcançar as marcas de até 200 atm. Essa descarga elétrica durará alguns milionésimos de segundo (microssegundos). Este período é denominado de Ton. Cessada a descarga

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elétrica, inicia-se, por alguns milionésimos de segundo, o período Toff, período que ocorrerá a emersão dos gases eletrolíticos. Os espaços ocupados pelo gás serão preenchidos pelo fluido dielétrico em temperatura menor que a região em usinagem, assim, com o choque térmico, ocorrerá uma micro-explosão e a desagregação das partículas fundidas da peça, dando início ao processo de usinagem.

As partes podem ser definidas como o conjunto que engloba a geometria da ferramenta propriamente dita, o sistema de fixação da peça e o sistema de lavagem. A geometria da ferramenta modifica a velocidade de usinagem e a TRM (Taxa de Remoção de Material). Um exemplo é um eletrodo cilíndrico maciço e um eletrodo cilíndrico vazado. A usinagem por EDM com eletrodo cilíndrico maciço com parâmetros do processo constantes, terá uma velocidade menor que a usinagem com eletrodo cilíndrico vazado. Isso acontece porque com o eletrodo vazado, o volume de material a ser fundido é bem menor que no caso do eletrodo maciço, onde todo o volume do furo, por exemplo, deverá ser fundido. No eletrodo vazado, o tarugo interno não será fundido, terá que ser fundido apenas o material em volta do mesmo para obtenção da geometria desejada. Atualmente, com o advento de máquinas CNC, as ferramentas se restringem a uma fina haste com extremidade esférica. Com métodos computacionais, é possível obter-se trajetórias definidas, o que viabiliza a obtenção de superfícies complexas, como se fosse uma fresadora CNC. Isto favorece o processo, pois não há a necessidade de se fabricar ferramentas com geometrias não convencionais, que com o decorrer da usinagem requer novas correções de forma.

O sistema de lavagem é outro fator de significativa importância na máquina, tendo várias funções importantes. Uma delas é a de arrastar todo material erodido entre a ferramenta e peça, garantindo um avanço contínuo da ferramenta. Outra função é a renovação constante do fluido dielétrico entre a ferramenta e a peça, mantendo as características físicas e químicas do mesmo. Essa renovação garante também o resfriamento mais pronunciado através da ferramenta ou peça. A lavagem interna pode ser feita por sucção ou injeção. As vantagens de um ou outro sistema dependem de cada caso e deve ser levado em conta não só a geometria da peça, mas também a precisão requerida. O sistema de fixação da peça também influi na TRM, pois se relaciona com o sistema de lavagem permitindo a passagem do dielétrico em diferentes regiões. Todo o conjunto que compõem a máquina relaciona-se mutuamente, portanto a escolha de uma máquina adequada ao tipo de trabalho a ser executado deve levar em consideração todos os fatores envolvidos para que o processo tenha o melhor desempenho.

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Gravadora Lobenwein

Eletroerosão 60A - Santo André

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A eletroerosão começou a ser utilizada a cerca de sessenta anos atrás para a recuperação de peças com ferramentas quebradas em seu interior.

Durante a Segunda Guerra Mundial dada a escassez de força de trabalho e a necessidade grandes volumes na produção industrial, impulsionaram a pesquisa de novas técnicas visando tornar possível o aumento da produção, com um mínimo de desperdício. Esse esforço marcou o início, entre outras realizações, da era da eletroerosão.

O processo de eletroerosão a fio é largamente utilizado na indústria fabricante de ferramentas, principalmente por permitir usinagem após o processo de tempera o que em outros processos convencionais de usinagem, não é comumente possível.

A eletroerosão a fio está destinada ao corte de peças de material de extrema dureza, como é o caso de uma peça de aço temperado de 10 ou 20 cm de espessura com uma forma complicada.

Apesar das vantagens deste processo, pelas suas características, ele introduz defeitos na superfície das peças, que se não forem reduzidas ou mesmo eliminadas, contribuirão para a sua falha prematura.

Os princípios básicos da eletroerosão a fio são semelhantes aos da eletroerosão por penetração. A diferença que nesse caso um fio de latão ionizado atravessa a peça submersa em água deionizada, em movimentos constantes, provocando descargas elétricas entre o fio e a peça, as quais cortam o material. O corte a fio é programado por computador e permite os cortes de perfis complexos com exatidão.

Atualmente, a eletroerosão a fio é bastante usada na indústria para confecção de matrizes (ferramentas de metal duro para corte, dobragem ou repuxo).

Características:

Ausência de forças de corte e tensões comuns dos processos convencionais de usinagem, pois não há contato físico entre o fio e a peça;

Rápida dissipação de calor, pelo fato de a peça permanecer submersa em líquido;

A dureza do material da peça não tem efeito negativo na velocidade de corte.

Analisamos que a eletroerosão é um processo de precisão, mais utilizado atualmente em ferramentaria, e para cortes em materiais de alta resistência.

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Caracteriza-se pela complexidade das peças e das tolerâncias conseguidas, comparadas a outros processos de usinagem.

Algumas peças de alta complexidade e resistência só são possíveis usiná-las com esse processo.3

A eletroerosão por penetração é semelhante a esta a fio, mas produz desenhos em profundidade ao invés de cortar o material que está sendo processado. Isto permite a gravação de complicadas figuras tridimensionais na superfície de uma placa de aço temperado com alta dureza.

D. SDCD – Sistema Digital de Controle DistribuídoO Sistema digital de controle distribuído ou SDCD é um equipamento da área de automação industrial que tem como função primordial o controle de processos de forma a permitir uma otimização da produtividade industrial, para o capital com vistas na diminuição de custos de produção, para a humanidade melhoria na qualidade dos produtos, precisão das operações, segurança operacional, libertação do homem do trabalho, entre outros. Ele é composto basicamente por um conjunto integrado de dispositivos que se completam no cumprimento das suas diversas funções - o sistema pode controlar e supervisionar o processo produtivo de toda uma unidade industrial, seja uma usina ou fábrica. Utilizam-se técnicas de processamento digitais (discreto) em oposição ao analógico (contínuo), com o objetivo de proporcionar uma manutenção no comportamento de um referido processo na planta da indústria, dentro de parâmetros já estabelecidos. O sistema é dotado de processadores (computadores ou mais usualmente microcomputadores dedicados) e redes redundantes e permite uma descentralização do processamento de dados e decisões, através do uso de unidades remotas na planta. Além disso, o sistema oferece uma interface homem-máquina (IHM) que permite o interfaceamento com controladores lógicos programáveis (CLP), controladores PID4, equipamentos de comunicação digital e

3 http://www.ebah.com.br/content/ABA by cAI/eletroerosao-a-fio

4 Controle proporcional integral derivativo, controle PID ou simplesmente PID, é uma técnica de controle de processos que une as ações derivativa, integral e proporcional, fazendo assim com que o sinal de erro seja minimizado pela ação proporcional, zerado pela ação integral e obtido com uma velocidade antecipativa pela ação derivativa. É baseado na resposta da modelagem matemática de uma malha do processo a ser controlada.

Na prática os PID são encontrados no interior de controladores eletrônicos chamados "single-loop", muitas vezes com microprocessadores, e também através de software em Controladores programáveis e outros equipamentos de controle. Fonte Wikipedia

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sistemas em rede. É através das Unidades de Processamento, distribuídas nas áreas, que os sinais dos equipamentos de campo são processados de acordo com a estratégia programada. Estes sinais, transformados em informação de processo, são atualizados em tempo real nas telas de operação das Salas de Controle.

O SDCD é utilizado principalmente em:

Usinas de geração elétrica e redes de abastecimento elétrico;

Sistemas de controle de meio-ambiente;

Semáforos;

Sinais de radio;

Sistemas de tratamento de água;

Refinarias de petróleo;

Usinas químicas;

Indústria farmacêutica;

Redes de sensores;

Navios de transporte de carga seca a granel e Petroleiros.

Aplicação do SDCDSDCD são sistemas dedicados, usados no controle de processos de manufatura de natureza tanto continua quando orientada por lotes, como por exemplo, refino de petróleo, petroquímicas, usinas elétricas, farmacêuticas, indústria de alimentos e bebidas, produção de cimento, metalurgia e industria de papel. SDCD são conectados a sensores e atuadores e usam controle por ponto para controlar o fluxo de material através da planta. Um dos exemplos mais comuns de sistema de controle por ponto consiste em um sensor de pressão, controlador e válvula de controle. A medida da pressão é enviada ao controlador, quando o valor medido alcança certo ponto, o controlador induz a válvula ou atuador a abrir ou fechar até que a pressão atinja o valor do ponto. Grandes refinarias de petróleo podem ter vários milhares de pontos de entrada (sensores) e saída (atuadores) e empregar muitos SDCD’s. Os processos não se restringem ao fluxo fluídico através de canos, mas pode se estender a maquinas de fabricação de papel, centros de

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controle de motores, fornos de clinquerização do cimento, operações de mineração, processamento de minério, entre muitos outros.

Um SDCD típico consiste em controladores digitais distribuídos por função ou localização geográfica, capazes de executar de 1 ate 256 funções de controle em uma caixa de controle. Os dispositivos de entrada e saída podem estar inclusos no controlador ou remotos, através de uma rede. Os controladores contemporâneos possuem alta capacidade computacional, e além de controle proporcional, integral e derivativo(PID), geralmente podem realizar controle continuo e sequencial.

O SDCD pode empregar uma ou mais estações de trabalho (PC’s, por exemplo) e podem ser configurados através delas ou de um PC. A Comunicação local é realizada através de uma rede de cabos de par trançado, coaxial ou de fibra óptica. Um servidor e/ou processador de aplicações pode ser incluso no sistema com o intuito de adicionar capacidade computacional extra assim como de coleta de dados e de gerar relatórios.

A História do SDCDMinicomputadores primitivos foram usados no controle de processos industriais desde o começo dos anos 60. O IBM 1000, por exemplo, era um computador que possuía hardware de entrada e saída para captar sinais de processo da planta.

O primeiro computador para controle industrial foi construído em 1959, na Refinaria Texaco Port Arthur, Texas, com um RW-300 da companhia Ramo-Wooldridge.

O SDCD for introduzido em 1975. A Honeywell e a firma de engenharia elétrica japonesa Yokogawa produziram independentemente e introduziram seus SDCD na mesma época, com os sistemas TDC 2000 e CENTUM, respectivamente. A Bristol dos Estados Unidos também lançou seu controlador universal UCS 3000 em 1975. Em 1980, a Bailey (agora parte da ABB) introduziu o sistema NETWORK 90. Também em 1980, a companhia Fisher & Porter (agora também parte da ABB) introduziu o DCI-400(DCI significa Distributed Control Instrumentation, instrumentação de controle distribuído).

Década de 80: A era centralizada na redeO SDCD trouxe o processamento distribuído à planta e estabeleceu a presença de computadores e microprocessadores no controle de processo, mas ainda não forneceu o grau de abertura necessário para unificar os requisitos de recursos da planta. Em muitos casos o SDCD era meramente uma reposição digital das mesmas funcionalidades fornecidas por controladores analógicos e painéis de visores. Isto foi incorporado no Modelo de referencia purdue (PRM- purdue

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reference model) que foi desenvolvido para definir as relações de gerencia de operações de produção. PRM depois foi usado como base para o padrão de atividades ISA95.

Na década de 80 os usuários começaram a olhar para o SDCD como mais que um sistema de controle básico. Um exemplo bastante antigo de SDCD de controle digital direto foi completado pela empresa australiana Midac em 1981-1982 usando hardware R-Tec criado na Austrália. O Sistema instalado na Universidade de Melbourne usava uma rede de comunicação serial, conectando os prédios do campus ate uma sala de controle. Cada unidade remota rodava 2 microprocessadores Z80, enquanto a sala de controle rodava 11, em configuração de processamento paralelo, que paginava memória comum para compartilhar tarefas e podia rodar ate 20.000 objetos de controle ao mesmo tempo.

Acreditava-se que se uma maior abertura de dados fosse possível e um volume maior de dados pudesse ser compartilhado pela empresa, seria possível realizar coisas ainda maiores. A primeira tentativa de aumentar a abertura dos SDCD resultou na adoção do sistema operacional da época: UNIX. O UNIX e sua tecnologia de rede TCP-IP(o mesmo da Internet) foram desenvolvidos pelo departamento de defesa dos EUA visando ser aberto, o que era precisamente o problema que as indústrias de processo contínuo estavam tentando resolver.

Isso resultou nos fornecedores também começarem a adotar redes baseadas em Ethernet com suas camadas de protocolo proprietário. O padrão TPC/IP completo não foi implementado, mas o uso de Ethernet tornou possível implementar as primeiras instancias de gerencia de objeto e tecnologia de acesso global a dados. A Década de 80 também testemunhou os primeiros CLPs integrados à infraestrutura do SDCD. O primeiro fornecedor a adotar UNIX e tecnologias de rede Ethernet foi a Foxboro, que introduziu o sistema I/A Series em 1987.

Década de 90: A era centralizada na aplicaçãoA busca pela abertura do sistema da década de 80 ganhou momento na década de 90, com a crescente adoção de software comercial pronto (COTS – commercial off-the-shelf) e padrões de TI. Provavelmente a maior transição deste período foi a de sair do sistema operacional UNIX para a o Windows. Enquanto o reino de sistemas operacionais de tempo real (RTOS- real time operational system) para aplicações de controle continua dominado por variantes comerciais de tempo real do UNIX, como o LINUX ou sistemas operacionais proprietários.

A tecnologia da Internet começou a fazer sua marca na automação e no mundo do SDCD, com a maioria dos SDCD HMI suportando conectividade com a internet. A

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Década de 90 também ficou conhecida como a guerra do FieldBus, aonde organizações rivais competiram para definir qual se tornaria o padrão do fieldbus da IEC (International Eletrotechnical Commission – Comissão Eletrotecnica Internacional) para comunicação digital com a instrumentação de campo, em vez das comunicações analógicas de 4-20 mA. A primeira instalação de Fieldbus ocorreu nessa década. No fim dessa década a tecnologia começou a desenvolver um momento significativo, com a consolidação do mercado em volta da Fieldbus Foundation e da Profibus PA. Alguns fornecedores criaram novos sistemas do zero para maximizar sua funcionalidade com o fieldbus, como a Honeywell com o Experion & Plantscape SCADA systems, ABB com o sistema 800xA, Emerson Process Management com o sistema de controle DeltaV, Siemens com o Simatic PCS7, e azbil da Yamatake com o sistema Harmonas-DEO.

O Impacto do software comercial pronto, porém, foi mais substancial na camada de hardware. Durante anos, o negocio principal dos fornecedores de SDCD era fornecer grandes quantidades de hardware, particularmente de entrada e saída e controladores. A proliferação inicial dos SDCD necessitou da instalação de quantidades enormes de hardware, a maioria dele criado integralmente pela fornecedora do SDCD. Componentes padronizados de fabricantes como Motorola e Intel, porém, tornaram inviáveis, do ponto de vista financeiro, os fornecedores de SDCD continuarem a fabricar seus próprios componentes, estações de trabalho e hardware de rede.

Conforme os fornecedores realizaram sua transição para os componentes software comercial pronto. Eles também descobriram que o mercado de hardware estava encolhendo rápido. O software comercial pronto não apenas diminuía os custos de manufatura mas também diminuia os preços para o usuário final, que estavam começando a reclamar sobre os altos preços de hardware. Alguns fornecedores que anteriormente estavam fortemente conectados ao Mercado de CLP, como a Rockwell Automation e Siemens, conseguiram alavancando sua expertise em manufatura de hardware de controle entrar no mercado de SDCD com boas ofertas de custo/beneficio, enquanto a estabilidade/escalabilidade/ confiabilidade e funcionalidade desses sistemas emergentes ainda estavam sendo melhoradas. Os fornecedores de SDCD tradicionais introduziram novos SDCD no mercado, baseados nos mais recentes avanços em comunicação e nos padrões IEC, o que resultou numa tendência de combinar os conceitos tradicionais de SDCD e CLP em uma só solução, chamada “Sistema de automação de processo”. As lacunas nos diversos sistemas permanecem em áreas tais como: integridade do banco de dados, funcionalidade da pré-engenharia, maturidade do sistema, transparência da comunicação e confiabilidade. Enquanto se espera que a razão custo/benefício se mantenha a mesma (onde mais poderoso for o sistema, mais

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caro será), a realidade do negocio da automação normalmente é operar estrategicamente caso a caso. O próximo passo evolucionário é chamado de ‘Sistema Colaborativo de Automação de Processos’.

Os fornecedores também estavam percebendo que o mercado de hardware estava se tornando saturado. O ciclo de vida de componentes de hardware como sensores e atuadores (e/s) e cabeamento tipicamente vai de 15 a 20 anos, criando um mercado de substituições desafiador. Muitos dos sistemas mais antigos que foram instalados nas décadas de 70 e 80 ainda estão em funcionamento, e existe um montante considerável de sistemas no mercado que estão se aproximando do término de sua vida útil. Economias industriais desenvolvidas, na América do Norte, Europa e Japão, já possuem vários milhares de SDCD´s instalados, e com poucas (se alguma) nova industria sendo construída, o mercado para novos hardwares esta transitando rapidamente para regiões menores e de rápido crescimento, como a china, América Latina e Europa Oriental.

Por causa dos encolhimentos do mercado, os fornecedores começaram a fazer a desafiadora transição do negocio baseado em hardware para o negocio baseado em software e serviços de agregação de valor. Esta é uma transição que continua sendo feita hoje em dia. O portfólio de aplicações oferecidas pelos fornecedores aumentou bastante nos últimos anos, incluindo áreas como gerenciamento de produção, controle baseado em modelo, otimização em tempo real, PAM (plant asset management), ferramentas de gerenciamento de performance em tempo real, gerenciamento de alarme, e muitas outras. Para obter o verdadeiro valor dessas aplicações, porém é necessário um volume considerável de serviços, que os fornecedores também proveem.

Fornecedores de SDCD como a Azbil, conhecida como serviços Yamatake também expandiram seu escopo, ao ponto que vários fornecedores podem agir como MACs (Main Automation Contractors), provendo um único centro para a responsabilidade de um projeto relacionado à automação, trazendo, também, um maior grau de envolvimento entre os MACs e o usuário final, aumentando sua cooperação e consequentemente diminuindo as brechas operacionais que antes existiam, quando uma só empresa era responsável por todo o processo.5

Podemos observar que o SDCD é o mais completo e complexo. Por ser um sistema que permite a inclusão de todos os outros tipos de equipamentos de automação em seu seio é o mais empregado na grande indústria.

5 Origem: Wikipédia.

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Atualmente existem ramos industriais, como por exemplo, as refinarias de petróleo e usinas hidroelétricas, onde já não existam estabelecimentos que não sejam comandados por um SDCD.

E. O RobôRobô (ou robot) é um dispositivo, ou grupo de dispositivos, eletromecânicos ou biomecânicos capazes de realizar trabalhos de maneira autônoma, pré-programada, ou através de controle humano. Os robôs são comumente utilizados na realização de tarefas em locais mal iluminados, ou na realização de tarefas sujas ou perigosas para os seres humanos. Os robôs industriais utilizados nas linhas de produção são a forma mais comum de robôs, uma situação que está mudando recentemente com a popularização dos robôs comerciais limpadores de pisos e cortadores de gramas. Outras aplicações são: tratamento de lixo tóxico, exploração subaquática e espacial, cirurgias, mineração, busca e resgate, e localização de minas terrestres. Os robôs também aparecem nas áreas do entretenimento e tarefas caseiras.

A ideia de pessoas artificiais data de épocas como a da lenda de Cadmus, que semeou os dentes de um dragão que se transformaram em soldados, e do mito do Pigmalião, no qual a estátua de Galatéia se torna viva. Na mitologia clássica, o deus deformado da metalurgia (Vulcano ou Hefesto) criou serventes mecânicos, variando de serventes douradas inteligentes a mesas utilitárias de três pernas que poderiam se mover por força própria. As lendas Judias se referem ao Golem, uma estátua de argila animada através de mágica Cabalística. Similarmente, o Younger Edda, da Mitologia escandinava conta que um gigante de argila, Mökkurkálfi ou Mistcalf, foi construído para auxiliar o troll Hrungnir em um duelo com Thor, o Deus do Trovão.

O escritor checo Karel Čapek introduziu a palavra "Robô" em sua peça "R.U.R" (Rossum's Universal Robots), encenada em 1921. O termo "robô" realmente não foi criado por Karel Čapek, mas por seu irmão Josef, outro respeitado escritor checo. O termo "Robô" vem da palavra checa "robota", que significa "trabalho". Dentre as ideias mais antigas que se conhecem sobre dispositivos automáticos, ou autômatos, data de 350 A.C., a criada pelo matemático grego Arquitas de Tarento, amigo de Platão. Ele criou um pássaro de madeira que batizou de “O Pombo”. O pássaro era propulsionado por vapor e jatos de ar comprimido tendo, para muitos, mais méritos de ter sido a primeira máquina a vapor do que a inventada por James Watt.

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O primeiro projeto documentado de um autômato humanoide foi feito por Leonardo da Vinci por volta do ano de 1495. As notas de Da Vinci, redescobertas nos anos 1950, continham desenhos detalhados de um cavaleiro mecânico que era aparentemente capaz de sentar-se, mexer seus braços, mover sua cabeça e o maxilar. O projeto foi baseado em sua pesquisa anatômica documentada no Homem Vitruviano. Não é conhecido se ele tentou ou não construir o mecanismo.

O primeiro autômato funcional foi criado em 1738 por Jacques de Vaucanson, que fez um androide que tocava flauta, assim como um pato mecânico que comia e defecava. A história "The Sandman" de E.T.A. Hoffmann traz uma mulher mecânica semelhante a uma boneca, e "Steam Man of the Prairies", de Edward S. Ellis (1865) expressa a fascinação americana com a industrialização. Uma onda de histórias sobre autômatos humanoides culminou com a obra "Electric Man" (Homem Elétrico), de Luis Senarens (1885).

Uma vez que a tecnologia avançou a ponto das pessoas preverem o uso das criaturas mecânicas como força de trabalho, as respostas literárias ao conceito dos autômatos (robôs) refletiu o medo dos seres humanos, de serem substituídos por suas próprias criações. Frankenstein (1818), de Mary Shelley, muitas vezes considerado o primeiro romance de ficção científica, se tornou sinônimo deste tema. Quando a peça de Čapek RUR (1921) introduziu o conceito de uma linha de montagem que utilizava robôs para tentar construir mais robôs, o tema recebeu uma conotação econômica e filosófica, posteriormente propagada pelo filme clássico de Fritz Lang Metropolis (1927). Porém, na década de 1940, o engenheiro químico Isaac Asimov começou a escrever diversas obras sobre robôs domésticos educados e fieis ao ser humano, onde grande parte do temor do domínio das máquinas (mecânicas) foi afastado parcialmente. Mas, os populares Blade Runner (1982) e The Terminator (1984) são ícones deste temor. No século XXI, com os robôs se tornando mais reais e a perspectiva do surgimento de robôs inteligentes, uma melhor compreensão das interações entre os robôs e os homens é abordada em filmes modernos como A.I. (2001) de Spielberg e Eu, Robô (2004) de Proyas.

Muitos consideram o primeiro robô, segundo as definições modernas, como sendo o barco teleoperado, similar a um ROV moderno, inventado por Nikola Tesla e demonstrado em uma exibição no ano de 1898 no Madison Square Garden. Baseado em sua patente 613 809 para o "teleautomation", Tesla desejava desenvolver o "torpedo sem fio" para se tornar um sistema de armas para a marinha estadunidense.

Nos anos 1930, a Westinghouse fez um robô humanoide conhecido como Elektro. Ele foi exibido no World's Fair (Feira Mundial) de 1939 e 1940.

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O primeiro robô autônomo eletrônico foi criado por Grey Walter na Universidade de Bristol, na Inglaterra, no ano de 1948.

Atualmente a indústria utiliza diferentes tipos de robôs na produção. A indústria automobilística utiliza diversos tipos de robôs na montagem dos veículos especialmente para a solda das diferentes partes da carcaça e lataria, que já não são parafusadas e sim soldadas e na pintura dos veículos, atividade extremamente perigosa para a saúde dos trabalhadores que a exerciam anteriormente.

A indústria de pneumáticos utiliza robôs no transporte e armazenagem de pneus ainda sem a banda de rodagem, pois entre a produção do corpo do pneu e a fundição da banda de rodagem sobre a mesma peça tem que aguardar um intervalo de vários dias, do contrário a banda de rodagem não adere suficientemente ao resto do pneu e em poucos minutos depois de começar a rodar posto no veículo se descolará. Antes do uso de robôs no transporte e armazenagem dos pneus, além de se empregar muitos trabalhadores nessas tarefas, como se anotava manualmente as datas e os locais de armazenagem, havia uma perda próxima a 10% da produção por confusão com os locais de armazenagem. Atualmente, além de terem despedido todos os trabalhadores que atendiam aos armazéns de espera dos pneus ainda se diminuiu as perdas a menos de 1%.

A exemplo da indústria automobilística e de pneus, muitos outros ramos empregam robôs no transporte de peças e equipamentos, na pintura de seus produtos e em tarefas perigosas e em ambientes inapropriados ao ser humano, especialmente na mineração, indústria química e construção naval. Atualmente muitos outros ramos estão utilizando robôs em suas linhas de produção, como exemplo podemos citar a indústria naval, de armamentos militares, a aeroespacial, a indústria química, e outras.

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4. A Automação Industrial e a Sociedade

Ao nos debruçarmos no surgimento da automação industrial e na breve revisão dos tipos de equipamentos utilizados em sua elaboração comentamos que com o surgimento e desenvolvimento do quarto órgão da máquina, além do salto qualitativo que representou na produção da vida humana, deixou imensos contingentes de trabalhadores cessantes, sem trabalho. Desde 1964 que vemos aumentar o número de desempregados e, portanto a miséria no seio da sociedade, principalmente nos países mais industrializados. Mas, por outro lado, as maiores indústrias do mundo cada vez se encontram em situação mais difícil e seus acionistas se desfazem rapidamente de suas ações e passam a investir no setor financeiro que em aparência é o que mais produz mais valia e lucro, em aparência, porque essa atividade não é industrial e não é produtiva, na verdade é uma atividade parasitária da indústria. Os lucros auferidos aí mais dias ou menos dias deixarão amargas lembranças na cabeça da burguesia, que de fato já teve uma demonstração com a crise de 2008.

Na verdade, ao se automatizar uma produção, qualquer que ela seja, em primeiro lugar o capital tem que dispensar importantes somas para aquisição de maquinaria automática e renovação de todo o processo de produção. É verdade que a partir de então passa a dispensar força de trabalho, isto é a gastar menos em salários. Na verdade o que está fazendo é aumentar a parte constante do capital em detrimento da parte variável, ou seja, aumentando a composição do capital. Não é segredo que a fórmula que Marx descobriu para o lucro demonstra que ao aumentar a composição orgânica do capital diminui o lucro: composição orgânica do capital: Coc= c/v; onde Coc - composição orgânica do capital; c – capital constante e v – capital variável. A fórmula da taxa de lucro a que Marx chegou é: l’ = m/Coc = v/(c + v), onde m é a mais valia e m’ a taxa de mais valia m’ = m/v. Portanto: l’ = m’/(Coc + 1).

Assim se demonstra que ao aumentar a composição orgânica do capital, a taxa de lucro diminui ou o que é igual o lucro diminui. Ao fazer tender ao infinito a composição orgânica de capital é evidente que a taxa de lucro tende a zero, ou o que é a mesma coisa, dito de outra forma, o lucro tende a deixar de existir.

Portanto, com o crescimento exponencial da composição orgânica do capital, o lucro que é inversamente proporcional à composição orgânica do capital, cai exponencialmente também, o que não era o que o capital esperava quando iniciou a automação, mas pelo contrário acreditavam que o valor do produto de uma máquina teria o mesmo valor ou mais que o elaborado pelo trabalho humano, já que os produtos das máquinas automáticas são mais perfeitos e uniformes.

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Com isso se demonstrou a validade das conclusões de Marx na prática, coisa que os economistas burgueses não acreditavam que acontecesse.

É por essa razão que a burguesia passou a investir nas empresas financeiras, bancos, empresas de seguros e outras. Isto levou à especulação desenfreada do fim do século XX e dos primeiros anos do século XXI até a onda de falências da crise de 2008 e a corrida dos governos das EUA, Inglaterra e outros países centrais entregando dinheiro em bilhões de dólares, dinheiro de seus estados nacionais, ou seja dinheiro de todo o povo, aos banqueiros para não falirem e deixando a dívida para os proletários de todo o mundo pagarem. Mas até o momento os banqueiros e outros especuladores seguem realizando as mesmas operações financeiras que mascaram de lucros suas falcatruas.

Assim, a cúpula da burguesia transnacional passou a buscar aonde conduzir suas indústrias de formas a continuar a garantir seus lucros históricos. No princípio, quer dizer, durante o final da década de 1960 até os anos 1980 correram para o Japão, onde dadas as condições sociais e históricas ainda era possível auferir lucros razoáveis. Ao mesmo tempo ainda voltou-se para alguns países da América Latina e alguns do extremo oriente, como é o caso de Salvador, Taiwan, Coreia do Sul e outros. Assim, principalmente os produtos para o consumo final passam a sair desses países.

Porém rapidamente mudaram as condições do Japão, e a partir de alguma data da década de 1980 a produção no Japão e outros países deixou de ser interessante.

Assim essa corrida a outros países pelo lucro virou-se especialmente para a China. Até os dias atuais a maior parte da produção de bens industrializados na terra sai da China, de alguns países ditos tigres asiáticos e mais recentemente a Índia também tem participado nessa produção a baixo custo, como sempre dadas as condições infra-humanas dos trabalhadores dos referidos países.

Os fatos acima geraram um desemprego crônico nos EUA e em diversos países europeus. Sem contar que os trabalhadores que continuam empregados viram seus direitos laborais e cidadãos revogados.

A. Consequências Imediatas da Automação Industrial sobre os Trabalhadores

Em 11 de Setembro de 1973 o governo estado-unidense, a CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA), grande parte dos militares chilenos, dirigidos pelo general Augusto Pinochet, como comandante em chefe das forças armadas chilenas, traindo a confiança do governo do Presidente Salvador Allende, perpetram um golpe militar de estado, assassinando o Presidente. Foi então que a

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inteligência de estado dos EUA usa o país para iniciar a experiência de estabelecimento do neoliberalismo no lugar do keynesianismo imperante em todo o mundo ocidental desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Aproveitando diversos indivíduos chilenos que haviam estudado na Universidade de Chicago, com Milton Friedman o papa do neoliberalismo norte americano, formaram um governo terrorista no país, onde as decisões econômicas estavam nas mãos dos discípulos de Milton Friedman, os ditos Chicago Boys.

Esta foi a primeira nação onde se estabeleceu o neoliberalismo a ferro e fogo. Em seguida na Inglaterra, em 1980, foi eleito “democraticamente” o primeiro governo neoliberal, o governo de Margaret Tatcher. Daí para frente o neoliberalismo se estendeu praticamente para todos os países ocidentais.

No fundo, o neoliberalismo é um recurso desesperado, que a burguesia lança mão no intuito de aminorar as consequências da queda dos lucros na produção industrial que então se automatizava. Portanto prega em contra de qualquer medida que possa interferir no lucro do capital. Assim, até mesmo fica em contra a fixação de um salário mínimo, como defendia Friedman, quanto mais qualquer intento do estado de regulamentar o mercado. Ou seja, negando toda a experiência histórica de 2 ou 3 séculos de capitalismo, passam a afirmar que o mercado por si só, sem qualquer intervenção do estado, é capaz de garantir o bem estar nacional.

Dessa forma, o neoliberalismo passa a privatizar todas as empresas que estavam em mãos dos estados e a maioria delas haviam sido instaladas com recursos públicos, já que na época de sua criação, com justiça, argumentava-se que determinadas atividades que interferiam na segurança pública deviam estar nas mãos do estado. Assim, até então as empresas de abastecimento de água, energia elétrica, redes de esgotos, saúde pública, telefones, educação e previsão social que estavam em mãos do estado, foram privatizadas por um valor estipulado pela própria burguesia, ou seja, uma fração de seu valor real. Dessa forma a burguesia passa a auferir grandes lucros dessas empresas, sendo que muitas delas eram as únicas em sua atividade e portanto monopólios.

Ao mesmo tempo, foram desencadeados grandes movimentos propagandísticos das benesses do novo regime, o neoliberalismo e da automação industrial, que produziria bens de qualidade absoluta e do “progresso” que isso representava. Entre outras coisas, lançou-se uma nova norma de padronização industrial, a ISO 9000. Essa padronização, embora não fosse revelado ao público, era uma necessidade para que se pudesse implantar máquinas automáticas, já que essas máquinas necessitam que os semi fabricados que entram em dada produção

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tenham medidas bastante mais precisas que para as máquinas operadas por operários. Isto inaugurou toda uma renovação nas indústrias. Tanto técnicas como administrativas, e as administrativas se limitavam a despedir operários e a terceirizar inúmeras atividades.

Foi assim que se iniciou aquilo que ficou conhecido como desregulamentação do trabalho.

Atualmente na maioria dos países permitem que as empresas façam seus trabalhadores trabalharem 10 e 12 horas por dia, em lugar das 8 horas legalmente legisladas. Existem países onde as empresas podem despedir qualquer de seus trabalhadores somente alegando necessidade da empresa, como é o caso do Chile, por exemplo. Além disso, as empresas, em geral, contratam outras empresas para diversos tipos de serviços, como limpeza, manutenções em determinados equipamentos, e outros, ou seja, um trabalho que chamamos terceirizado, onde os trabalhadores ganham a metade ou menos que os funcionários da empresa em questão. Essas empresas que prestam serviços terceirizados a outras empresas são em geral de pequenos burgueses que aceitam contratos das grandes empresas e exploram os desempregados, pagando-lhes míseros salários de fome, que aceitam trabalhar assim pelo desespero em que se encontram.

Ao mesmo tempo, a burguesia desencadeou a reestruturação de seus estados e empresas, acabando com o “estado de bem estar social” de Keynes, para adotar o estado neoliberal. Isto veio a aumentar ainda mais os problemas vividos pelos trabalhadores. Na verdade estavam declarando a obsolescência do estado burguês e tratando passar para mãos privadas tudo que não fossem os órgãos de repressão social, a polícia. É nessa transição que o imperialismo do capital desencadeia, ajudado pelo estado dos EUA, uma série de golpes de estado para que os diferentes estados da América Latina pudessem enfrentar com segurança as massas de seus países. Esses golpes iniciaram em 1964 no Brasil, e seguiram avançando na Argentina, Chile, Uruguai, Nicarágua, El Salvador e outros, mas mesmo antes a CIA já buscava desestabilizar os governos latino-americanos, para manter sua dominação econômica em toda América Latina, como é o caso da invasão a Cuba em 1959 e à Guatemala em 1954, sem contar as guerras e golpes que tem apoiado ou desencadeado no resto do mundo pelos mesmos motivos. Atualmente a já uns bons 10 anos vem hostilizando, invadindo e destruindo diversos países árabes por seu petróleo e tentando implantar uma nova cultura nesses países, pois a cultura árabe, o islamismo, não convém ao neoliberalismo, além de que a classe dominante dos EUA necessita manter seu “complexo industrial militar” em funcionamento, e portanto, necessita guerras.

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Somente tendo em conta essas agressões fica patente que o capital já deixou de ser um sistema social progressista, que determine o desenvolvimento das forças produtivas, a paz entre os homens, e faz muitos anos que passou a ser o principal destrutor de forças produtivas na face da terra.

É assim que os trabalhadores de todo o mundo estão sofrendo as consequências da baixa rentabilidade da automação industrial e a queda nos lucros da burguesia.

Aqui é interessante notar a semelhança do que aconteceu durante a “Revolução Industrial” na Inglaterra e o que ocorre atualmente durante a “Revolução da Automação Industrial”.

A “Revolução Industrial” inglesa, magistralmente descrita por Karl Marx em sua obra “O Capital”, e especificamente no capítulo XIII, intitulado “A Maquinaria e a Indústria Moderna”, no título 3 “Consequências imediatas da produção mecanizada sobre o trabalhador”, Marx apresenta 3 subtítulos:

a) “Apropriação pelo Capital das forças de trabalho das mulheres e das crianças”;

b) “Prolongamento da jornada de trabalho”;c) “Intensificação do trabalho”.

Como podemos apreciar, estou repetindo o título 3 d’O Capital, pois a automação industrial, atualmente, como a produção mecanizada na época de Marx, que deveria representar um alívio para o trabalhador de suas fainas, já que aumenta consideravelmente a produtividade do trabalho, representa uma ruína maior na vida dos trabalhadores, pois mais ganância desperta nos intelectos doentios dos capitalistas.

Assim, com exceção do subtítulo ‘a’, referente ao trabalho das mulheres e das crianças, que desde a “Revolução Industrial” continua existindo, apesar de que atualmente somente em alguns postos de trabalho se pode empregar crianças, já que a automação industrial nos principais postos de trabalho exigem certo grau de escolaridade, pelo menos uma capacidade de leitura e escritura e muitas vezes saber conhecer o desenho técnico e outras vezes algo mais que isso, mas os subtítulos ‘b’ e ‘c’ descrevem muito aproximadamente os acontecimentos em relação aos trabalhadores na “Revolução da Automação Industrial”.

Mas por outro lado deveríamos acrescentar um subtítulo ‘d’: “Revogação de Direitos Laborais Adquiridos Durante Dois Séculos de Lutas”. E não são somente direitos laborais que foram revogados, mas direitos cidadãos, como direito a uma escolaridade de 8 anos e de qualidade, pondo todos os cidadãos em pé de igualdade, seja ele filho de um trabalhador ou de um milionário explorador,

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também está desaparecendo o direito à saúde, pois os órgãos da saúde pública que ainda continuam existindo, em sua maioria abrumadora, estão deteriorados e sem financiamento por parte dos governos, que muitas vezes se dizem socialista e mesmo são membros da Internacional Socialista, mas que no fundo defendem os interesses de uma burguesia apodrecida e arcaica, como é o caso do atual governo da Espanha.

Vejamos no subtítulo ‘b’ o que diz Marx e qual a realidade atual; Marx diz:

b) “Prolongamento da jornada de trabalho” AQUI!!“Se a maquinaria é o meio mais poderoso para aumentar a produtividade do trabalho, isto é, para diminuir o tempo de trabalho necessário à produção de uma mercadoria, em mãos do capital torna-se ela, de início nos ramos industriais de que diretamente se apodera, o meio mais potente para prolongar a jornada de trabalho além de todos os limites estabelecidos pela natureza humana. A maquinaria gera novas condições que capacitam o capital a dar plena vazão a essa tendência constante que o caracteriza, e cria novos motivos para aguçar-lhe a cobiça pelo trabalho alheio”6.

O texto encaixa-se muito bem ao que ocorre na atualidade, quando o capital, depois de automatizar uma instalação e despedir a maioria dos trabalhadores, obriga os trabalhadores que continuem empregados a trabalharem 10, 12 ou mais horas, contra a legislação, que estipula um trabalho de 8 horas diárias desde faz já quase um século, pois não há organismo que aguente muitos anos de trabalho forçado, ou seja, com mais de 8 horas diárias.

Não é a toa que se vem observando pavorosos desastres com ônibus e caminhões nas autoestradas, pois os donos desses veículos obrigam os motoristas a trabalharem 10 e mais horas no volante, sem descanso e ao esgotarem-se as forças dos motoristas sua atenção e reflexos diminuem, provocando desastres que regularmente custam a vida de muitas pessoas e destruição de muitos bens materiais que representam muitas horas de trabalho.

Num parágrafo seguinte afirma Marx:

“O instrumental passa a ser animado por um movimento perpétuo e produziria ininterruptamente se não fosse tolhido por certas limitações naturais dos auxiliares humanos, a debilidade física e os caprichos. Como capital, esse autômato possui, na pessoa do capitalista, consciência e vontade e está dominado pela paixão de reduzir ao mínimo a resistência que lhe opõe essa barreira natural, elástica, o homem. Além disso, essa resistência diminui ante a aparente leveza do trabalho 6 “O Capital” Karl Marx, Livro Primeiro, volume 1, pgs. 459, 460, 1984, DIFEL (Difusão Editorial S.A.)

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da máquina e com o afluxo de elementos mais dóceis e flexíveis, as mulheres e as crianças.” 7

Em seguida Marx analisa a produtividade da máquina e diz:

“A produtividade da máquina, conforme vimos, está na razão inversa do valor que ela transfere ao produto. Quanto maior o período em que funciona, tanto maior a quantidade de produtos em que se reparte o valor transferido pela máquina, e tanto menor a porção de valor que acrescenta a cada mercadoria em particular. O período de vida ativa da máquina é evidentemente determinado pela duração do dia de trabalho ou do processo diário de trabalho, multiplicado pelo número de dias em que esse processo se repete.”

“O desgaste da máquina de nenhum modo corresponde de maneira matemática e exata ao tempo de utilização dela. Mas, admitida essa correspondência, uma máquina que funciona durante 7¹/² anos, a 16 horas por dia, cobre o mesmo período de produção e acrescenta ao produto total o mesmo valor que a mesma máquina , se funcionasse, durante 15 anos, apenas 8 horas por dia. No primeiro caso, o valor da máquina seria reproduzido com velocidade duas vezes maior do que no segundo, e o capitalista teria embolsado em 7¹ /² anos tanta mais valia, quanto, no segundo, em 15 anos.”

“A máquina experimenta duas espécies de desgaste. Um decorre de seu uso, como as moedas que se gastam na circulação; o outro provém da inanição, como a espada inativa que enferruja na bainha. Esta é a deterioração causada pelos elementos. O desgaste da primeira espécie está na relação mais ou menos direta, e o segundo, até certo ponto, na razão inversa do uso da máquina.”

“Mas a máquina experimenta ainda, além do material, o desgaste moral. Perde valor de troca na medida em que se podem reproduzir mais barato máquinas da mesma construção ou fazer melhores máquinas que com ela concorram. Em ambos os casos, por mais nova e forte que seja a máquina, seu valor não é mais determinado pelo tempo de trabalho que nela realmente se materializou, mas pelo tempo de trabalho necessário para reproduzir ela mesma ou uma melhor. Sofre, por isto, maior ou menor desvalorização. Quanto mais curto o período em que se reproduz seu valor global, tanto menor o perigo de desgaste moral, e quanto maior a duração da jornada de trabalho, tanto mais curto aquele período. Quando se introduz a maquinaria, pela primeira vez, em qualquer ramo industrial, aparecem sucessivamente, novos métodos para reproduzi-la mais barato e aperfeiçoamentos que atingem não só partes e dispositivos determinados, mas

7 “O Capital” Karl Marx, Livro Primeiro, volume 1, pg. 460, 1984, DIFEL (Difusão Editorial S.A.)

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sua construção inteira. É por isso que na primeira fase de sua existência, que esse motivo especial influi de maneira mais poderosa no sentido de prolongar a jornada de trabalho.” 8

Podemos comparar o dito por Marx nesse item com aquilo que acontece atualmente com os trabalhadores e veremos que a semelhança é imensa, mas se a “Revolução Industrial” foi o fato histórico que trouxe o capitalismo à hegemonia como sistema social, a “Revolução da Automação Industrial” é o ocaso do capitalismo, pois determina o fim do capitalismo como sistema de desenvolvimento das forças produtivas e o coloca na posição do destrutor de forças produtivas, o maior de que a História da Humanidade tem notícias, assim como foi o maior modo de produção no desenvolvimento dessas forças produtivas.

c) “Intensificação do trabalho”.

Neste item Marx desvenda toda a luta da burguesia na intensificação do trabalho em busca de maior produtividade, apesar do aumento dessa produtividade somente com a aplicação da maquinaria. Nos dias atuais vemos o mesmo fenômeno, a busca de maior produtividade apesar do crescimento dessa produtividade com a aplicação de equipamentos para a automatização da produção. É assim como podemos ler no artigo: “3 Principais Tendências em Automação Industrial, de David R. Butcher de 12 de Junho de 2012:

“As fábricas do futuro vão alavancar provavelmente "mega tendências", como computação em nuvem, segurança cibernética e de tecnologias de comunicação móvel. Motivados pela necessidade de uma maior produtividade e eficiência, as organizações adotarão essas tecnologias para proporcionar interação efetiva entre o chão de fábrica da empresa e todos os usuários finais, permitindo que os usuários finais ganhem uma vantagem competitiva no mercado global.”

Ou seja, embora se introduza novas técnicas e métodos, tanto no chão de fábrica como na administração de todo o processo, a preocupação por aumentar a produtividade é bem clara por certo e constante na visão dos exploradores do trabalho alheio e seus sequazes.

Um texto interessante sobre a intensificação do trabalho durante a produção automatizada é do filósofo francês, escrito pouco antes de morrer “O trabalho na

8 “O Capital” Karl Marx, Livro Primeiro, volume 1, pg. 460 a 462, 1984, DIFEL (Difusão Editorial S.A.)

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saída do capitalismo”, dado a conhecer dia 17 de Setembro de 2007. Eis um extrato de seu texto:

“A questão da saída do capitalismo nunca foi tão atual. Ela se põe em termos e com uma urgência de radical novidade. Por causa do próprio desenvolvimento, o capitalismo atingiu um limite tanto interno quanto externo, que ele é incapaz de ultrapassar e que faz com que seja um sistema que sobrevive por meio de subterfúgios à crise das suas categorias fundamentais: trabalho, valor e capital.

A crise do sistema se manifesta no nível macroeconômico como também no nível microeconômico. Isso se explica principalmente pela mudança tecnocientífica que introduz uma ruptura no desenvolvimento e arruína, por suas repercussões, a base do seu poder e sua capacidade de reproduzir-se.”

E mais adiante:

“1.- A informação e a robotização permitiram introduzir quantidades crescentes de mercadorias com quantidades decrescentes de trabalho. O custo do trabalho por unidade de produto não cessa de diminuir e o preço dos produtos tende a baixar. Quanto mais a quantidade de trabalho para uma determinada produção diminui, mais o valor produzido por trabalhador – sua produtividade – deve aumentar para que a massa de lucro realizada não diminua. Tem-se, assim, este aparente paradoxo que quanto mais aumenta a produtividade, tanto mais é necessário que ela aumente para evitar que o volume do lucro não diminua. A corrida em busca da produtividade tende assim a acelerar, os efetivos empregados tendem a ser reduzidos, a pressão sobre o pessoal endurece, o nível e a massa dos salários diminui. O sistema evolui para um limite interno onde a produção e o investimento param de ser muito rentáveis.

Os índices atestam que este limite foi atingido. A acumulação produtiva do capital produtivo não para de regredir. Nos EUA, as 500 empresas do índice Standard & Poor´s dispõem de 631 bilhões de reservas líquidas; a metade dos lucros das empresas americanas provém dos mercados financeiros. Na França, o investimento produtivo das empresas do CAC 40 não aumenta mesmo quando os lucros explodem.

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A massa de capital que a indústria financeira drena e gera ultrapassa de longe a massa de capital que valoriza a economia real (o total dos ativos financeiros representa 160 trilhões de dólares, ou seja, quatro vezes mais do que o PIB mundial). O “valor” deste capital é puramente fictício: ele repousa, em grande parte, sobre o endividamento e o “good will” (boa vontade), isto é, sobre as antecipações: a Bolsa capitaliza o crescimento futuro, os lucros futuros das empresas, a alta futura dos preços imobiliários, os ganhos que poderão ser gerados pelas reestruturações, pelas fusões, concentrações, etc. As Bolsas se enchem de capitais e de seus rendimentos futuros e as famílias são incitadas pelos bancos a comprar (entre outros) as ações e os certificados de investimento imobiliário, a acelerar desta maneira a alta da Bolsa, a emprestar dos bancos quantias crescentes à medida que aumenta o capital fictício da Bolsa.

A capitalização das antecipações do lucro e do crescimento mantém o endividamento crescente, alimenta a economia com liquidez devido à reciclagem bancária da mais-valia fictícia, e permite aos EUA um ‘crescimento econômico’ que, fundado sobre o endividamento interno e externo, é, de longe, o principal motor do crescimento mundial (inclusive do crescimento chinês). A economia real torna-se, assim, um apêndice das bolhas especulativas mantidas pela indústria financeira. Até o inevitável momento em que as bolhas estouram, levando os bancos à bancarrota em cadeia, ameaçando com o colapso o sistema mundial de crédito e a economia real de uma depressão severa e prolongada (a depressão japonesa já dura quinze anos).

Sempre poderemos acusar a especulação, os paraísos fiscais, a opacidade e a falta de controle da indústria financeira (particularmente os hedge funds), mas a ameaça de depressão, até mesmo o derrocamento que pesa sobre a economia mundial não é devido à falta de controle; ele se deve à incapacidade do capitalismo de se reproduzir. Ele só se perpetua e funciona sobre bases fictícias cada vez mais precárias. Querer redistribuir por meio da imposição as mais-valias fictícia das bolhas precipitaria o que a indústria financeira quer evitar: a desvalorização da massa gigantesca dos ativos financeiros e a quebra do sistema bancário.

Portanto, o decrescimento é um imperativo de sobrevivência. Mas ele supõe outra economia, outro estilo de vida, outra civilização, outras relações sociais. Na sua ausência, o colapso só será evitado impondo restrições, racionamentos, alocações autoritárias de recursos característicos de uma economia de guerra. A saída do capitalismo, portanto, se dará de uma ou de outra maneira, de modo civilizado ou

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bárbaro. A questão é somente de que forma se dará esta saída e qual o ritmo com que vai se dar.”9

É claro que este processo é todo descarregado sobre o proletariado. É assim, que podemos afirmar que hoje não há país avançado com um desemprego menor que 10% da força de trabalho ativa, existindo países como Portugal e Espanha com mais de 25% de desempregados. Mas por outro lado, os que estão empregados vivem sob uma pressão insuportável, tanto pela quantidade de horas de trabalho diárias, quanto pelo volume de trabalho por hora, ou seja, pela intensidade do trabalho.

9 “O Trabalho na Saída do Capitalismo”, André Gorz http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/12011-o-trabalho-na-saida-do-capitalismo.

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5. Nossa Época e a Necessidade HistóricaComo já examinamos desde o início deste trabalho, o capital, na sua crise sistêmica pelo esgotamento das possibilidades das relações de produção acumular mais força de trabalho, passa a destruir forças produtivas, tanto na forma de força de trabalho, assassinando em massa, seja em guerras, pela fome ou repressão, tratando de aniquilar a “população excedente”, e também na forma de meios de produção, ou seja, destrói máquinas e instalações em pleno estado de utilização, devido ao fato de que já não são rentáveis ao capital, sua mais-valia volatilizou-se pela automatização, pela diminuição do capital variável, e também em suas guerras, quando destroem instalações, máquinas e infraestruturas e toda ambientação produtiva de povos inteiros. Ou seja, o fato é que sua capacidade de acumulação esgotou-se, portanto, é incapaz de seguir desenvolvendo as forças produtivas.

Mas a crise sistêmica do capital é, também, a responsável direta pela implosão do sistema soviético, apesar de que não seja o único responsável pelo fato, e talvez não seja nem o principal responsável. Em seu livro “O Poder da Ideologia”, István Mészáros escreve:

“... A implosão do sistema soviético só pode ser entendida como parte essencial dessa crise sistêmica [do capital]. Pois a solução soviética surgiu como meio de superar em seu próprio ambiente uma grande crise capitalista pela instituição de um modo pós-capitalista de produção e mudou-o pela abolição da propriedade privada sobre os meios de produção. Mas a solução soviética não foi capaz de erradicar o capital do sistema pós-capitalista de reprodução sociometabólica. Assim, seguiu operacional apenas até a necessidade de avançar para além do sistema do capital em si – e não apenas renegar uma forma específica de capitalismo atrasada – surgiu como desafio fundamental na ordem global do período. É por isso que o fim do experimento pós-capitalista soviético foi inevitável.”10

Como vemos pelo raciocínio de Mészáros, para que um sistema pós-capitalista possa adquirir estabilidade e não se afetar com a crise sistêmica do capital, tem que ir mais além de somente “expropriar os expropriadores”, necessita erradicar completamente o capital de seu seio. Caso contrário, o capital se manifestará em suas determinações, mais cedo ou mais tarde. Quando o capital atingiu seus limites, ou seja, quando desenvolveu todas as forças produtivas que é capaz de

10 “O Poder da Ideologia”, István Mészáros, Boitempo Editorial, Introdução à nova Edição – Outro mundo é possível e necessário, Item 3 A crise estrutura do capital e a implosão do sistema soviético, pg. 18.

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conter, arrastou a uma crise inevitável toda a sociedade que de uma forma ou outra carregava o capital, mesmo que este não estivesse em mãos particulares.

“Este fato é extremamente importante e é um dos determinantes de nossa época. Determina que toda revolução que gere um sistema pós-capitalista tem que ser radical em relação à erradicação do capital de seu seio, se quiser desenvolver um sistema que tenha estabilidade histórica. “Expropriar aos expropriadores” – e, nesse sentido, alterar a posição anterior do capital nas relações de propriedade – está muito longe de ser suficiente. Isso porque o capital é essencialmente um modo de controle global da sociedade, e não um mero direito legal codificado. Mesmo que se tome esse direito de cada capitalista individualmente, aos que Marx chamou de “personificações do capital” (que têm o mandato estrito de executar os imperativos do capital, caso contrário são ejetados, sem cerimônias do processo de reprodução social como “capitalistas fracassados”), as questões substantivas do controle efetivo continuarão não resolvidas. Alterar o direito legal não resolve, fundamentalmente, a questão do modo real de existência do capital como força materialmente e não apenas juridicamente controladora do metabolismo social.”11

A conclusão clara é que hoje, se queremos estabelecer um regime que realmente tenha uma perspectiva de superar o modo de produção sob o qual vivemos, temos de pensar em partir com uma forma de erradicar totalmente a relação social denominada capital do seio da sociedade. Isto faz com que a sociedade de transição seja bastante diferente da soviética.

Outra grande diferença é que o Estado sendo “essencialmente uma estrutura hierárquica de comando”, não pode assumir diretamente qualquer função de controle direto da produção. Como sabemos, o Estado surge quando na sociedade de classes, a classe dominante, sente necessidade de defender seus direitos de legitimá-los. Daí a alegada constitucionalidade do Estado, que dizem, sempre emana Do Povo, mas na verdade emana da vontade da classe dominante, principalmente para a legitimação das relações de produção da sociedade em questão e jamais ocorrerá que semelhante estrutura pudesse defender uma democracia nas relações humanas e muito menos nas relações de produção, o Estado só é capaz de impor.

O poder no Estado Soviético, ao se revelar a crise sistêmica do capital teria que ter erradicado progressivamente o capital do seio da sociedade. Para tal teria que subverter toda a hierarquia de mando social, pois essa erradicação do capital só

11 Idem pg. 19

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seria possível com a transferência do “controle das funções reprodutivas da sociedade para as mãos dos produtores livremente associados”.12

“A solução intentada por Gorbachev e seus seguidores, baseada em sua tendenciosamente limitada crítica política da experiência pós-capitalista soviética sob as condições da crise estrutural do capital, buscava o melhor dos dois mundos. Pretendia manter o controle central sobre a “revitalizada economia socialista de mercado” – um autêntico mundo de fantasia – e ao mesmo tempo eximir, as autoridades que controlavam o Estado, da responsabilidade pelos fracassos reais e potenciais atribuído-os aos gerentes locais e às “disfunções inevitáveis” do “mecanismo de mercado, que em realidade está longe de ser um mecanismo, simples ou complicado.

Os proponentes da “perestroika” não foram capazes ou não quiseram admitir, que a lógica interna do mercado totalizador tenderia para a restauração do capitalismo e para seu autoritarismo, tanto no local de trabalho quanto no processo impiedosamente ‘orientado para a eficiência’ de acumulação da sociedade em geral. A noção de ‘mercado controlado’ era, além de um sonho impossível, também contraditório. Eles pareciam não se darem conta de que, em sua concepção impossível, o único significado concreto que se pode atribuir ao ‘controle’ esperado do mecanismo de mercado é que este último fosse anulado no instante em que se tornasse totalmente eficiente. Para eles, era preferível pensar em termos contraditórios, pois o que não conseguiam ver, nem por um instante, era uma democratização substantiva de sua sociedade por meio da progressiva suspensão das hierarquias estruturais existentes de que eles eram os guardiães privilegiados. Por isso, não foram capazes de enfrentar o desafio proposto pela crise estrutural do capital ao seu próprio sistema, preferindo passar de sua instável sociedade pós-capitalista para a restauração completa do capitalismo”13

O texto entra no âmago da questão do fortalecimento e desenvolvimento da sociedade pós-capitalista, deixando para trás o modo de produção capitalista. Só há uma solução para o problema, é a democratização da produção, acabando com a tutela do Estado através de burocratas privilegiados, de outra classe social, no caso, a burguesia ou de qualquer uma que possa querer apoderar-se dos meios de produção. Somente a democracia dos produtores livremente associados pode levar a bom termo a tarefa de desenvolver um sistema pós-capitalista.

12 Idem pg.19

13 Idem pg.20

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Estes fatos narrados acima nos impõem sérios problemas ao pensar a revolução. Até os anos 80 do século XX quando se pensava na revolução socialista e no governo que esta instituiria sempre nos vinha à mente um Estado dito proletário, que teria como missão, entre outras coisas, administrar a produção. Agora temos clareza do perigo que se corre ao estabelecer um Estado semelhante – desenvolver uma burocracia que jamais abandonará seus privilégios. Isto nos leva a repensar o problema. Pois a revolução deve garantir desde o primeiro momento que não desenvolverá tais burocratas. Além disso, na situação que nos encontramos existe verdadeiramente urgência em por um fim nos descalabros capitalistas. O planeta em si está ameaçado de morte se seguir a exploração sem regras, tendo em conta simplesmente o lucro de um punhado de donos de empresas, sem contar que, apesar dos avanços técnicos e científicos, a qualidade de vida real está cada dia pior. Outro problema que adiciona urgência para o fim do regime atual é o perigo de uma catástrofe atômica numa das guerras desenvolvidas pelo imperialismo. Assim, as tarefas dos revolucionários se fazem, cada dia, mais urgentes.

03/04/2013 - revisão 2/09/2015

Sergio Bacchi.

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