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AVENIDA BRASIL: Eixo estruturador e histórico da cidade de Passo Fundo, RS.

MELO, EVANISA FÁTIMA REGINATO QUEVEDO. (1); VISENTIN, CAROLINE. (2)

1. Universidade de Passo Fundo. Faculdade de Engenharia e Arquitetura

BR 285 quilometro 171, São José, Passo Fundo, RS [email protected]

2. Universidade de Passo Fundo. Faculdade de Engenharia e Arquitetura

BR 285 quilometro 171, São José, Passo Fundo, RS [email protected]

RESUMO

A vegetação é de grande importância, como composição em contraste com as massas construídas, como elo afetivo com a natureza, na qualidade do microclima amenizando a temperatura do ar, na satisfação dos usuários, contribuindo para o aumento do valor das propriedades e confere ao espaço urbano a integração com a paisagem. A Avenida Brasil é a principal via de passagem do município de Passo Fundo, fazendo a ligação entre pontos extremos da cidade, no sentido Leste-Oeste, possuindo 6,7 km de extensão. A importância desta Avenida está muito além de ser um eixo estruturador, passando a fazer parte da história da região. Dessa forma, os objetivos deste estudo são verificar o histórico de ocupação do município, tendo como foco a sua relação com esta Avenida, além disso, busca-se avaliar a sua importância na estruturação da cidade de Passo Fundo. A cidade de Passo Fundo fazia parte da Rota dos Tropeiros, por meio da Estrada das Missões, na qual a Avenida Brasil, conhecida na época como Rua do Comércio, era componente de um de seus trechos. Neste caminho surgiram as primeiras casas e armazéns da região. Estas ocupações ocorreram ao longo da Rua do Comércio sendo observadas a partir do ano de 1827, estendendo-se até o final do século XIX, caracterizando-se, principalmente no seu sentido Oeste (bairro Boqueirão). Além disso, conforme a cidade crescia tornava-se necessário construir casas, tanto residenciais como comerciais, e para isso, novas ruas deveriam ser estruturadas. Estas ruas eram traçadas de diferentes formas, paralela e/ou transversal, tomando como referência a Rua do Comércio. Desde a elevação da Vila Passo Fundo a cidade, a Avenida já era considerada a principal via de passagem do município. Em sua estrutura, a Avenida é dividida em dois setores: Avenida Brasil Leste e Avenida Brasil Oeste, sendo normalmente adotada mais um setor, correspondente a sua parte central (Avenida Brasil Centro). Diariamente, milhares de pessoas transitam por ela, com diferentes meios de transporte. Em relação a este ponto, a Avenida é um importante eixo estruturador do transporte público, sendo que o seu trecho central é aquele que apresenta maior sobreposição de linhas de ônibus, das diferentes empresas atuantes na cidade, responsáveis estas pela locomoção de mais de um milhão de habitantes. Além disso, destaca-se também, os diversos usos observados na Avenida, abrangendo desde comercial, residencial, educacional e religioso, evidenciando, mais uma vez, a sua importância para o município.

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Na parte econômica, 90% dos imóveis presentes nesta via possuem algum fim comercial, sendo que desses, 52% correspondem a locais de uso exclusivamente comercial, e 38% de uso misto (comercial e residencial). Do mesmo modo, esta via apresenta, grande relevância a nível ambiental, em virtude do tamanho de seus canteiros centrais, os quais formam verdadeiras “praças” urbanas, possuindo diversas funções, sendo a mais significativa à melhoria da qualidade de vida da população. A Avenida Brasil é apontada como cartão postal da cidade há muitos anos, seja em virtude da sua importância histórica, social, ambiental, ou estruturadora. Sendo assim, torna-se necessário preservar essa Avenida, de forma a manter a sua identidade histórica, propiciar o desenvolvimento econômico do município e acima de tudo, manter a qualidade de vida da população respeitando o seu patrimônio cultural.

Palavras-chave: Patrimônio cultural; Preservação da paisagem; Planejamento; Importância

histórica.


Introdução

As ruas são consideradas espaços públicos que oferecem meios de ligação entre diferentes

pontos e locais de uma cidade. Aquelas ruas de maior importância, usualmente são

chamadas de Avenidas, as quais, em muitos casos, constituem-se em uma via larga e

extensa, de ligação de vias e bairros. Ainda, estas Avenidas podem possuir destaque em

diferentes setores, tais como comercial, turístico, cultural e histórico do local no qual se

inserem, como, por exemplo, a Avenida Paulista em São Paulo; a Avenida Atlântica, no Rio de

Janeiro; a Times Square e a Quinta Avenida, em Nova Iorque ou a Avenida da Liberdade em

Lisboa.

Figurada como a principal e mais importante via de passagem da cidade de Passo Fundo, a

Avenida Brasil possui 6,7 km de extensão, realizando a ligação entre pontos extremos do

município, por meio de duas vias, cujo direcionamento do transito contempla os dois sentidos.

A configuração da Avenida Brasil foi gerada por fatores históricos, uma vez esta era o trajeto

percorrido por tropas, na época da formação da cidade, o antigo povoado denominado

Caminho dos Tropeiros. Em ambos os lados foram se estabelecendo prédios, moradias,

comércio, serviços, tornando-se o centro para a formação do município.

Atualmente este caminho permite o ingresso à cidade a partir de várias direções e por ela

transita, não só grande número de veículos de passeio e de carga, mas trata-se de via de

passagem dos visitantes do Mercosul enquanto suas laterais e seu entorno comportam a

circulação de grande número de pessoas.

Além disso, a Avenida Brasil apresenta, no seu centro 58 canteiros centrais, sendo que alguns

destes canteiros apresentam-se mais largos, constituindo verdadeiras praças públicas. Esta

via urbana apresenta uma situação privilegiada em relação a sua arborização, a qual

determina um aspecto paisagístico mais interessante e agradável, promovendo bem-estar

psicológico ao homem, contribuindo com benefícios ambientais como sombreamento para

pedestres e veículos, amenização da temperatura, melhorias na qualidade do ar, proteção e

direcionamento do vento e redução da poluição sonora (SILVA FILHO et al. 2002, p. 632).

Dessa forma, os objetivos deste estudo são verificar o histórico de ocupação do município de

Passo Fundo, tendo como foco principal a sua relação com a Avenida Brasil, além disso,

busca-se avaliar a importância desta via na estruturação da cidade.


Materiais e Métodos

O município de Passo Fundo localiza-se na região Norte do Rio Grande do Sul, sendo a

Avenida Brasil, objeto do presente estudo, a sua principal via de passagem. A avenida possui

6,7 km de extensão, percorrendo a cidade no sentido leste - oeste, passando por diversos

bairros, sendo composta por dois setores principais: Avenida Brasil Leste e Avenida Brasil

Oeste, entretanto, usualmente, adotam-se mais um setor, correspondente a sua parte central

(Avenida Brasil Centro). Na Figura 1 detalha-se a Avenida na malha da cidade de Passo

Fundo, RS.

Figura 1: Avenida Brasil na malha urbana de Passo Fundo, RS.

Fonte: Adaptado Google Maps (2014).

O levantamento do histórico de ocupação da Avenida foi realizado por meio de pesquisas

bibliográficas em documentos da Prefeitura Municipal, além de livros e trabalhos de diversos

autores (GOSCH, 2005; BATISTELA e KNACK, 2007, FERRETO, 2012).

O diagnóstico do uso e ocupação do solo foi desenvolvido por meio da verificação visual dos

elementos presentes ao longo da Avenida, sendo estes agrupados de acordo com os seus

usos (residencial, comercial, centros religiosos, educacionais, etc.). Os resultados deste


levantamento foram tabulados em planilhas do programa Excel e sintetizados em gráficos.

Ainda, realizou-se um documentário fotográfico dos principais usos.

Resultados e Discussão

Histórico de Ocupação

De acordo com Ferreto (2012, p.20) a ocupação da cidade de Passo Fundo iniciou nas

primeiras décadas do século XVII, através das missões jesuíticas espanholas. No ano de

1632 instalou-se na cidade a Missão de Santa Tereza dos Pinhais, a qual contava com a

presença de índios catequizados. Entretanto, os índios desta missão acabaram por serem

escravizados pelos bandeirantes. No final do século XVII os caboclos, como mão-de-obra nas

bandeiras paulistas, passaram a habitar a região de Passo Fundo (BATISTELA e KNACK,

2007, p.39).

A fase do tropeirismo iniciou por volta do ano de 1733, com o português Cristóvão Pereira de

Abreu, abrindo estradas na região Sudeste do país para o transporte das mulas e do gado. A

cidade de Passo Fundo fazia parte da Rota dos Tropeiros, por meio da Estrada das Missões,

na qual a Avenida Brasil, conhecida na época como Rua do Comércio, era componente de um

de seus trechos. A partir do ano de 1809, as novas rotas abertas influenciaram na formação

da Vila do Passo Fundo, sendo que neste caminho surgiram as primeiras casas e armazéns

da região (GOSCH, 2005, p.70). Estas ocupações ocorreram ao longo da Rua do Comércio

sendo observadas a partir do ano de 1827, estendendo-se até o final do século XIX,

caracterizando-se, principalmente no seu sentido Oeste (bairro Boqueirão). De acordo com

Gosch (2005, p.70) o primeiro morador da cidade de Passo Fundo que se tem registo foi o

Cabo Manoel José das Neves, que se estabeleceu no Boqueirão, dando início ao povoamento

da região.

Conforme a cidade crescia tornava-se necessário construir casas, tanto residenciais como

comerciais, e para isso, novas ruas deveriam ser estruturadas. Estas ruas eram traçadas de

diferentes formas, paralela e/ou transversal, tomando como referência a Rua do Comércio.

Desde a elevação da Vila Passo Fundo a cidade, a Avenida já era considerada a principal via

de passagem do município. Em virtude do crescimento da cidade, e do aumento da sua

população urbana, Passo Fundo, em 28 de janeiro de 1857 foi reconhecido como município,

através da Lei n° 340, sendo desmembrada de Cruz Alta (GOSCH, 2005, p. 71).


A partir da década de 1920 a cidade passou a expandir-se para leste, sendo que em 1922,

ocorreu o alargamento da urbanização ao longo da Rua do Comércio. Ainda, na década de

1940, o espaço urbano contou com modificações no seu panorama, por meio do inicio do

processo de verticalização da área central com a construção dos primeiros prédios (GOSCH,

2005, p. 77). O desenvolvimento urbano da cidade foi verificado também no aumento

populacional. Em 1950 a população rural de Passo Fundo, predominava em relação à urbana,

com 71 mil habitantes, devido a sua economia ser baseada na produção rural, como a

extração de erva mate, madeira, e o trigo. A partir desse ano, verifica-se um processo de

migração dos cidadãos para a cidade, em virtude, principalmente da construção da via férrea,

e da ampliação da sua importância a nível Estadual, em virtude da facilidade de acesso a

capital, Porto Alegre (PAIVA, 2000, p.50). Por conseguinte, observa-se que em sessenta

anos, a população urbana teve um aumento de 106,95%. (IBGE, 2010). A Figura 2 ilustra o

panorama do crescimento da cidade, na década de 60 e no ano de 2012, sendo detalhada a

Avenida Brasil ao centro.

Figura 2: Vista aérea da cidade de Passo Fundo, à esquerda na década de 60 e a direita no ano de

2012.

Ao longo dos anos o núcleo urbano da cidade contou com a realização de inúmeras melhorias

em termos de infraestrutura, tais como calçamentos, iluminação pública, abastecimento de

água, entre outros. A Avenida Brasil, modificou-se neste período, sendo a verticalização mais

intensa a partir do início do século XIX. Além disso, percebe-se que a maioria dos

investimentos públicos foram concentrados na área central, ficando as periferias carentes em

termos de infraestrutura básica (GOSCH, 2005, p. 81).


Eixo Estruturador

A Avenida Brasil é considerada o principal eixo viário e comercial da cidade de Passo Fundo,

constituindo em um importante canal de comunicação entre os bairros, além de conectar a

zona urbana com as principais rodovias que convergem ao município, sendo ainda um eixo

ordenador na localização de diversos equipamentos urbanos (PMPF, 2014, p.189). Nesse

contexto a Praça Ernesto Tochetto, na Av. Brasil, deixou de ser um espaço estritamente de

lazer e recreação como apoio à área residencial e a escola, para constituir-se em um espaço

público multifuncional de grande importância como ponto de referência, valorização dos

imóveis próximos a ela, via de passagem e elo de distribuição do fluxo viário entre os bairros e

o centro da cidade além do comércio informal (MELO e ROMANINI, 2008, p.63).

Diariamente, milhares de pessoas transitam pela Avenida, com diferentes meios de

transporte. Em relação a este ponto, verifica-se que a Avenida é um importante eixo

estruturador do transporte público, sendo que o seu trecho central é aquele que apresenta

maior sobreposição de linhas de ônibus, das diferentes empresas atuantes na cidade,

responsáveis estas pela locomoção de mais de um milhão de habitantes.

De acordo com dados de um estudo realizado sobre a abrangência e circulação do transporte

coletivo na cidade de Passo Fundo, há um excesso de ônibus que circulam pela Avenida,

sendo que, das 44 linhas de ônibus da cidade, 24 passam pela via. Este fato justifica a

afirmação de que a Avenida constitui-se em um importante eixo estruturador da cidade, tanto

pela sua importância comercial, quanto pela mobilidade urbana. Entretanto, em virtude do

grande fluxo de veículos que é observado nesta via, esta apresenta em horários de picos,

inúmeros pontos de lentidão. Ainda, devido à passagem da maioria das linhas pela mesma, e

a inexistência de corredores de ônibus, acabam por dificultar o trafego, sendo este o principal

motivo de insatisfação nos moradores.

Ainda, os canteiros centrais que constituem a Avenida também são considerados como eixo

estruturador da paisagem urbana e constituem–se cada vez mais como elemento

fundamental para a qualidade do espaço urbano, em virtude de seus benefícios tanto

estéticos, quanto ambientais. Segundo Melo e Severo (2010, p 7) a diversidade da vegetação

dos canteiros da Avenida Brasil, é um cartão de visitas do município de Passo Fundo,

resgatando a história e melhorando a ambiência urbana.


Uso e Ocupação do Solo

A história do surgimento de Passo Fundo justifica a existência dos imponentes canteiros

encontrados ao longo de toda a Avenida Brasil, delineados pela rota seguida pelos tropeiros,

onde foram se estabelecendo prédios, moradias, comércio, serviços, tornando-se o centro da

formação do município.

No Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) do município foi incentivada a

verticalização da área central da cidade, procurando dar uma imagem de grande centro

econômico, social e cultural, sendo denominada a Capital do Planalto. Essa tendência

significou a alteração do valor do solo no cento estabelecendo altas taxas de ocupação e

índices de aproveitamento (TEDESCO et al., 2007, p.357).

A análise do entorno da Avenida foi realizada no seu trecho central, entre as ruas Teixeira

Soares e Silva Jardim. A Avenida constitui no principal eixo de expansão urbana da cidade de

Passo Fundo, desse modo, percebe-se que 95% dos imóveis presentes nesta via possuem

algum fim comercial, o que enfatiza a questão de transformar Passo Fundo em um polo

econômico conforme Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) de 1984. Ainda,

58% dos estabelecimentos correspondem a locais de uso exclusivamente comercial, e 37%

de uso misto (comercial e residencial) e 3% institucionais, como escolas (Figura 3).

Cabe ainda, ressaltar que a base econômica do município se concentra, fundamentalmente,

na indústria (19,85%), comércio (28,04%) e serviços (28,64%). Sendo que, o setor de

comércio, sobretudo o varejista, e de serviços, é o responsável pela maior parte dos

empregos gerados localmente; mais de 70% do emprego gerado no município de Passo

Fundo está no setor terciário (PMPF, 2014, p.93). Assim sendo, percebe-se novamente, a

importância da Avenida no contexto econômico da cidade, em virtude da elevada

concentração de locais comerciais ao longo de sua extensão.


Figura 3: Localização das tipologias edilícias no trecho analisado de acordo com o uso do solo, e sua

respectiva quantificação, Passo Fundo, 2014.

A Avenida caracteriza-se pela presença de poucas residências de um pavimento (23%),

vários edifícios de apartamentos de grande altura e especialmente comércio, sendo que

destes, 38% são de dois pavimentos, 21% de três a cinco, enquanto que 18% possuem mais

de seis pavimentos (Figura 4). Além disso, o fluxo de veículos e de pedestres é intenso sendo

nos dois sentidos devido à distribuição em relação aos bairros para o centro.

Figura 4: Localização das tipologias edilícias no trecho analisado de acordo com o tipo de pavimento, e

sua respectiva quantificação, Passo Fundo, 2014.


Percebe-se ainda o predomínio de construções mais antigas comparadas às construções

novas, que apresentam maior número de pavimentos, mesmo assim, o surgimento de

edifícios em altura, com uso misto (comercial e/ou serviços e residencial) vem sendo cada vez

mais intenso. O impacto da construção civil foi evidente no período de 1980 a 1999, mas

pode-se constatar que essa tendência permanece com a escala de edifícios de apartamentos

sendo um novo estilo de vida moderno. Com o processo de verticalização do centro ocorreu

um processo de expansão urbana associada principalmente a loteamentos populares

(TEDESCO et al., 2007, p.359).

A evidente verticalização do centro resulta de uma grande pressão do mercado imobiliário em

que o público alvo é a classe média e alta, sendo a grande maioria dos edifícios com uso

misto, térreo comercial e torres residenciais. A oferta é crescente de novos empreendimentos

de alto padrão na área central, sendo que esta é dotada de grande prestígio social o que

incentiva a corrida imobiliária, além da proximidade com a área comercial, especialmente o

Shopping Bella Cittá e a concentração dos serviços de saúde, reforçando a centralidade, tanto

em escala intraurbana como regional.

Barbosa (2001, p.100) em seu estudo verificou o histórico de ocupação da Avenida Paulista

da cidade de São Paulo, evidenciando que inicialmente (anos de 1890 a 1921) esta Avenida

tinha como principio o uso residencial horizontal de elite, sendo ocupada por importantes

fazendeiros. Ao longo dos anos, esse panorama sofreu modificações, passando no século XX

a sofrer o processo de verticalização, com inúmeras lojas comerciais instaladas ao longo de

sua extensão. Ainda, no final deste século, iniciou-se a ocupação por edifícios de empresas,

bancos, etc. Desse modo, percebe-se algumas similaridades com o caso de Passo Fundo, em

que a verticalização mostra-se uma ferramenta de crescimento da cidade.

Aspectos Ambientais

A característica que destaca a Avenida Brasil no quesito ambiental é a presença de canteiros

centrais ao longo de toda a sua extensão, sendo que alguns destes canteiros apresentam-se

mais largos, constituindo verdadeiras praças públicas. Nestes locais há presença de diversas

espécies arbóreas em diferentes etapas de desenvolvimento, com várias idades e, portanto,

também com diferentes condições sanitárias e de durabilidade. Há árvores centenárias, ao

lado de exemplares jovens plantados para substituir, por exemplo, algumas já em fase senil

ou com recomendação de remoção, por questões de saúde pública, como é o caso do ligustro


ou alfeneiro (Ligustrum lucidum W.T.Aiton), cujo plantio, na década de 1960-1970, foi

festejado como a solução para as vias públicas de municípios brasileiros.

A arborização urbana é uma ferramenta de suma importância na melhoria da qualidade de

vida. Os benefícios da arborização vão além da importância ambiental, como melhoria do

microclima, purificação do ar, fixação de poeira e materiais residuais, depuração bacteriana e

de outros microrganismos, estabilização de superfícies do solo pelas raízes das plantas,

redução da velocidade do vendo, temperatura amena, equilíbrio de umidade no ar, estão

relacionados a um fator fundamental na salubridade ambiental, por ter influência direta sobre

o bem-estar do homem em razão dos múltiplos benefícios que proporciona ao meio

(BUCCHERI FILHO e NUCCI, 2006, p.50; RESENDE, 2009, p.4; REDDIN, 2010, p.151;

OLIVEIRA FILHO, et al., 2013, p.90).

As árvores além de propiciarem uma paisagem contrastante aos prédios resguardam um

pouco da flora e da fauna local (DEMATTÊ, 1997, p.54), formam corredores ecológicos – em

ruas e avenidas, pela utilização de espécies nativas, possibilitando a produção de frutos e

sementes em diversas épocas do ano, bem como, abrigo para as aves que podem usufruir

dos mesmos para a sua alimentação. Além disso, no ambiente urbano tem considerável

potencial de remoção de partículas e gases poluentes da atmosfera. As folhas das árvores

podem absorver gases poluentes, como o CO2, e prender partículas sobre sua superfície,

especialmente se forem pilosas, cerosas ou espinhosas (REDDIN, et al., 2010).

O aumento da população urbana aliado ao desenvolvimento do município de Passo Fundo,

geraram no espaço variações tipológicas ao longo da Avenida Brasil, a qual foi

verticalizando-se. Entretanto, a presença dos canteiros centrais continua sendo o grande eixo

estruturador da paisagem urbana e constituem-se cada vez mais como elemento fundamental

para a qualidade da cidade. Assim sendo, a vegetação é de grande importância, como

composição em contraste com as massas construídas, como elo afetivo com a natureza, na

qualidade do microclima amenizando a temperatura do ar, na satisfação dos usuários,

contribuindo para o aumento do valor das propriedades e confere ao espaço urbano a

integração com a paisagem.


Conclusões

A configuração da Avenida Brasil foi gerada por fatores históricos, uma vez que esta consistia

no trajeto percorrido pelas tropas, na época da formação do povoado denominado Caminho

dos Tropeiros.

A Avenida Brasil é apontada como cartão postal da cidade há muitos anos, seja em virtude da

sua importância histórica, social, ambiental, ou estruturadora. Sendo assim, torna-se

necessário preservar essa Avenida, de forma a manter a sua identidade histórica, propiciar o

desenvolvimento econômico do município e acima de tudo, manter a qualidade de vida da

população respeitando o seu patrimônio cultural.

A importância da Avenida Brasil para a cidade de Passo Fundo está muito além de esta ser a

sua principal via de passagem e ligação entre pontos extremos da cidade, figurando também

na parte histórica da colonização do município, através da Rota dos Tropeiros. Além disso, a

Avenida configura uma grande relevância social, por constituir em um cartão postal da cidade,

devido a sua extensão, os estabelecimentos presentes, e de seus canteiros, os quais

proporcionam melhorias visuais e ambientais ao local.

A vegetação e a infraestrutura aplicada adequadamente dentro de normas sustentáveis têm

papel importante para minimizar os impactos ambientais da urbanização, tornando os

ambientes públicos de lazer cada vez mais agradáveis e convidativos ao uso da população,

devendo ser considerado nas diretrizes de planejamento ambiental. Os canteiros da Avenida

Brasil, além de funcionarem como divisores de vias ainda têm o papel de proporcionar maior

qualidade de vida e melhorar a ambiência urbana, amenizando os impactos ambientais e

visuais causados pela urbanização, através de grande quantidade e variedade de espécies

arbóreas, qualificando e dando identidade de um Boulevard à Avenida.

Tanto a cidade quanto a Avenida Brasil encontram-se em constante transformação, sendo

que na atualidade essa modificação fica mais evidente e cada vez mais rápida. Verifica-se em

virtude deste fato a falta de preocupação com o patrimônio histórico, e sim uma tendência à

verticalização das edificações que se tornou um símbolo de progresso tão forte quanto o

próprio patrimônio e muito mais lucrativo. Desse modo, cabe à sociedade passofundense

encontrar a forma de manter, preservar e até reconstruir tanto sua memória histórica tanto da

cidade como um todo, quanto da sua principal Avenida, sob pena de negar esse direito às

gerações futuras. Além disso, deve-se resguardar a identidade histórica da Avenida, de forma

a propiciar o desenvolvimento econômico do município e acima de tudo, manter a qualidade

de vida da população respeitando o seu patrimônio cultural.


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