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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA
MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA
Martha Marcela de Matos Bazilio
Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e resolução temporal) em trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos em Campos, Estado do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro
2010
Martha Marcela de Matos Bazilio
Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e resolução temporal) em trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos em Campos, Estado do Rio de Janeiro.
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós- Graduação em Saúde
Coletiva da UFRJ, como requisito à
obtenção do Título de Mestre em Saúde
Coletiva.
Orientador: Prof. Dr. Volney de Magalhães Câmara.
Co-orientador: Silvana Maria Monte Coelho Frota
Rio de Janeiro
2010
B 363 Bazilio, Martha Marcela de Matos.
Avaliação do processamento auditivo temporal (ordenação) e resolução temporal) em trabalhadores rurais expostos a agrotóxi
cos em Campos, Estado do Rio de Janeiro./ Martha Marcela de
Matos Bazilio. – Rio de Janeiro: UFRJ/IESC, 2010.
79 f. : il. 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva). Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010. Orientador: Volney de Ma
galhães Câmara. Co-orientador: Silvana Maria Monte C. Frota
1. Processamento auditivo. 2. Agrotóxicos. 3.Trabalhadores. 4.Saúde Coletiva. 5. Campos (RJ). I. Título
CDD: 617.8
Martha Marcela de Matos Bazilio
Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e resolução temporal) em trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos em Campos, Estado do Rio de Janeiro.
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós- Graduação em Saúde
Coletiva da UFRJ, como requisito à
obtenção do Título de Mestre em Saúde
Coletiva.
Aprovada em 06 de novembro de 2010
Banca examinadora:
Prof. Dr. Volney de Magalhães Câmara, Pós-Doutor, UFRJ.
Profª. Drª.Silvana Maria Monte Coelho Frota-Doutora, UFRJ.
Profª. Dr.Ciríaco Cristóvão Tavares Atherino- Doutor, UERJ.
Prof. Dr. Ronir Raggio Luiz-Doutor, UFRJ.
Agradecimentos
À Deus, por me dar força para superar as dificuldades e ânimo para proseguir.
À minha família, a qual amo muito, pelo carinho, paciência e incentivo.
Aos meus pais, que contribuem para meu desenvolvimento pessoal e profissional, que
são meus exemplos de determinação e coragem.
Á minha irmã Ana Paula, pelo apoio, e por atender meus infinitos pedidos de ajuda.
Ao meu sobrinho Vinicius, por todos os momentos de brincadeiras e gestos de carinho
durante este árduo trabalho.
A todos os meus amigos, dos quais me orgulho muito e que fizeram parte desse
momento, sempre me ajudando e incentivando.
Ao meu namorado Márcio, pelo amor e paciência nos meus “maus momentos”, pelo
companheirismo e pelas horas de alegria.
Ao Prof. Dr. Volney de Magalhães Câmara pela dedicação, disponibilidade e palavras
de incentivo que tornaram possíveis a conclusão deste trabalho.
À minha co-orientadora Dra. Silvana Frota, pelo exemplo de profissional a ser
seguido, por me incentivar desde a graduação, e pela sua enorme ajuda, sem a qual não seria
possível a realização deste trabalho.
Aos Professores Armando Meyer e Carmen Ildes pelas sugestões que ajudaram a
enriquecer este trabalho.
À Doutoranda Juliana Chrisman, que atendeu aos meus pedidos de socorro e me
orientou na parte de análise estatística.
Às Fonoaudiólogas Maria Isabel Kós e Fátima Miranda que participaram da coleta dos
dados e tornaram esta etapa mais agradável e divertida.
À todos do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Campos dos Goytacazes pela
compreensão e carinho com me acolheram.
Aos trabalhadores rurais que se dispuseram a participar desta pesquisa.
Enfim, a todos que de alguma forma, mesmo que inconsciente me ajudaram em mais
esta etapa.
“A mente que se abre a uma nova idéia,
jamais voltará ao seu tamanho original.”
(Albert Einstein)
BAZILIO, Martha Marcela de Matos. Avaliação do Processamento Auditivo Temporal
(ordenação e resolução temporal) em Trabalhadores Rurais Expostos a Agrotóxicos em
Campos, Estado do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Instituto de
Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
Resumo
Resumo:
Tema: Processamento auditivo temporal e exposição a agrotóxicos. Objetivo: O objetivo da
presente pesquisa foi avaliar as habilidades auditivas de ordenação e resolução temporal em
trabalhadores rurais expostos ocupacionalmente a agrotóxicos do município de Campos dos
Goytacazes. Método: Foi realizado um estudo seccional através da avaliação de 33
indivíduos de ambos os sexos, com idade entre 18-59 anos, que foram expostos
ocupacionalmente a agrotóxicos. Os procedimentos aplicados foram: questionário,
meatoscopia, avaliação audiológica básica e testes do Processamento Auditivo Temporal:
Teste de Padrão de duração (TPD) e Gap in Noise (GIN). Para análise dos resultados foi
criada uma variável denominada índice de exposição, através de um somatório simples de
variáveis presentes no questionário. Os resultados dos testes de Processamento Auditivo
Temporal aplicados foram categorizados segundo os tercis de distribuição, de acordo com a
alteração observada, sendo neste estudo denominado de pouco alterado, alterado e muito
alterado e então comparado com o índice de exposição. Resultados: Verificou-se diferença
significativa em todos os tercis, havendo uma relação dose-resposta, ou seja, conforme
aumentou a média de exposição, pior foi o desempenho do TPD (p-valor=0,001) e do GIN (p-
valor=0,001) em todos os tercis. A maior correlação foi observada entre o tercil muito
alterado e o pouco alterado. Conclusão: Houve associação relação entre o índice de
exposição a agrotóxico e pior desempenho nos testes de Processamento Auditivo Temporal,
sugerindo que o agrotóxico pode ser uma substância nociva às vias auditivas centrais.
Palavras-chave: Percepção auditiva, Agrotóxicos, Trabalhadores rurais, Saúde dos
Trabalhadores.
BAZILIO, Martha Marcela de Matos. Avaliação do Processamento Auditivo
Temporal(ordenação e resolução temporal) em Trabalhadores Rurais Expostos a Agrotóxicos
em Campos, Estado do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Instituto
de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
Abstract
Theme: Temporal auditory processing and exposure to pesticides. Objective: The objective
of this research was to evaluate the auditory abilities of ordering and temporal resolution in
rural workers exposed to pesticides in the city of Campos dos Goytacazes.
Method: A sectional study through the evaluation of 33 individuals of both genders, aged 18-
59 years, who were exposed to pesticides during their daily routine. The procedures applied
were: a questionnaire, meatoscopy, basic audiological evaluation and the Temporal auditory
processing tests: pattern test duration (TPD) and Gap in Noise (GIN). In order to analyse the
results, a variable called „index of exposure‟ was set up through a simple sum of variables
present in the questionnaire. The tests results of Temporal Auditory Processing applied were
categorized accordingly to the tercis of distribution, in accordance with the amendment
observed, in this study were called a little amended, amended, and much amended and then
compared with the exposure index.
Results: Significant difference was verified in all tercis, with a dose-response relationship, or,
when increased to average exposure, the performance of TPD (p-value=0.001) and GIN (p-
value=0.001) was worse in all tercis. The highest correlation was observed between the third
tertile much amended and the little amended.
Conclusion: There was association between the index of exposure to pesticides and worse
performance in Temporal auditory processing tests, suggesting that the pesticides may be a
harmful substance to central auditory pathways.
Key-words: Auditory Perception, Pesticides, Rural Workers, Workers' Health.
Lista de Quadros
Quadro 1 – Classificação toxicológica da Organização Mundial de Saúde (OMS): baseada na
DL 50 em ratos oral e dérmica, por mg / kg de peso, das formulações líquidas e sólidas
................................................................................................................................................ 20
Quadro 2 – Classificação Toxicológica do Ministério da Saúde-Brasil: baseada na DL 50 oral,
formulações líquidas e sólidas............................................................... .................................20
Quadro 3- Equivalência da DL 50 entre animais experimentais e dose letal para o homem
.................................................................................................................................................21
Quadro 4 – Correspondencia da classificação Toxicológica com a coloração do rótulo, de
acordo com o Ministério da Saúde..........................................................................................21
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Análise descritiva dos Testes de Padrão de Duração E Teste de Gap in Noise
segundo correlação destes com o índice de exposição aos agrotóxicos entre Trabalhadores
Rurais do Município de Campos- RJ,
2010...................................................................................................................................63
Tabela 2 – Comparação da Média do Índice de Exposição pelos tercis dos resultados dos
Testes de Padrão de Duração e Teste de Gap in Noise por orelhas entre Trabalhadores Rurais
do Município de Campos-RJ, 2010
...................................................................................................................................................64
Tabela 3 – Regressão Logística ajustada pela idade para avaliar chance de pior desempenho
nos Testes de Padrão de Duração e Teste de Gap in Noise nas orelhas segundo índice de
Exposição entre Trabalhadores Rurais do Município de Campos-RJ, 2010
.................................................................................................................................................64
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACh- Acetilcolina
AChE- Acetilcolinesterase
dB- Decibéis
GIN- Teste de Gap in Noise
Hz- Hertz
IRF- Índice de Reconhecimento de Fala
LRF- Limiar de Recepção de Fala
NA- Nível de Audição
NS- Nível de Sensação
OD- Orelha Direita
OE- Orelha Esquerda
OM- Orelha Média
PAC- Processamento Auditivo Central
SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central
SNC- Sistema Nervoso Central
SPSS- Statistical Package for the Social Sciences
SSW- Staggered Spondaic Word Test (Teste de dissílabos alternados em Português)
13
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO...................................................................................................................14
2. REVISÃO DE LITERATURA..........................................................................................17
2.1 Os agrotóxicos...............................................................................................................17
2.2 Efeitos dos agrotóxicos na saúde...................................................................................22
2.3 Efeitos dos agrotóxicos no sistema auditivo..................................................................25
2.4 Efeitos de outras substâncias químicas no sistema auditivo..........................................27
2.5 Processamento Auditivo Central....................................................................................30
2.6 Processamento Auditivo Temporal................................................................................32
3.OBJETIVOS..............................................................................................................37
.
4. METODOLOGIA. ...........................................38ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
4.1Caracterização do local do estudo.....................................................................................38
4.2 Casuística.........................................................................................................................38
4.3 Procedimentos para selecionar a população estudada.....................................................39
4.3.1 Questionário.............................................................................................................39
4.3.2 Meatoscopia.............................................................................................................40
4.3.3 Audiometria Tonal e Vocal......................................................................................40
4.3.5 Imitanciometria........................................................................................................41
4.4 Procedimento para avaliar o índice de exposição.......................................................42
4.5 Procedimentos para avaliar o Processamento Auditivo Temporal..................................43
4.5.1 Teste de Padrão de Duração....................................................................................44
4.5.2 Teste de Gap in Noise.............................................................................................44
4.6 Aspectos Éticos................................................................................................................45
4.7 Armazenamento e análise dos dados...............................................................................47
5. REFERÊNCIAS..................................................................................................................48
6. ARTIGO . ........................................................................................................ ................54
7. ANEXOS..............................................................................................................................71
14
1. INTRODUÇÃO
Atualmente vem sendo crescente a utilização de agrotóxicos no ambiente agrícola. O
processo de produção da agricultura tem apresentado significativas transformações
tecnológicas e organizacionais resultando em ganho de produtividade. Por outro lado, o
aumento da exposição a estas substâncias gera prejuízos à saúde humana, se tornando desta
forma temas de investigação no âmbito de Saúde Coletiva. (ALVARENJA et al., 2004;
SILVA et al., 2004; SOARES et al., 2003; SIQUEIRA & KRUSE, 2008).
Comumente, nos ambientes de trabalho os trabalhadores estão expostos a uma série de
agentes físicos e químicos, juntamente com fatores psicossociais e organizacionais, que
representam riscos à saúde do trabalhador, sendo, no meio rural, freqüente a exposição destes
trabalhadores aos agrotóxicos, podendo trazer impactos para a saúde tanto da população
trabalhadora como da população em geral.
Novas tecnologias, muitas delas baseadas no uso extensivo de agentes
químicos, foram disponibilizados para o controle de doenças, aumento da
produtividade e proteção contra insetos e outras pragas. Entretanto, essas novas
facilidades não foram acompanhadas pela implementação de programas de
qualificação da força de trabalho, sobretudo nos países em desenvolvimento
expondo as comunidades rurais a um conjunto de riscos ainda desconhecidos,
originado pelo uso extensivo de um grande número de substâncias químicas
perigosas e agravado por uma série de determinantes de ordem social. (MOREIRA
et al., 2002, p: 300)
O uso de agrotóxicos na agricultura teve início por volta de 1920, e sua produção em
escala industrial ocorreu a partir da Revolução Industrial em 1930. No Brasil, o consumo de
agrotóxicos cresceu acentuadamente nas últimas décadas, transformando o país em um dos
líderes mundiais no consumo de agrotóxicos e o maior da América Latina (FARIA et al.,
2007).
15
Dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (SINITOX, 2009)
evidenciam que no Brasil ocorreram 2.754 casos notificados de intoxicação por circunstâncias
ocupacionais por agentes químicos, sendo que destes, 1.082 (40%) por agrotóxicos e 1672
(60%) por outros produtos químicos, como: medicamentos, produtos químicos industriais,
metais e raticidas.
A Agência de Proteção ao Meio Ambiente Americana (EPA, 1980) define agrotóxico
como qualquer substância ou mistura de substâncias que tem a intenção de prevenir, destruir,
matar ou repelir qualquer peste. Eles são frequentemente classificados pelo organismo que
atuam ou pelo modo de uso, como: inseticidas, herbicidas, fungicidas ou acaricidas, havendo
uma subclassificação de acordo com a estrutura química a qual pertencem: organofosforados,
organoclorados, carbamatos, piretróides, triazinas. Indivíduos são frequentemente expostos a
diferentes pesticidas ou mistura de pesticidas simultaneamente. Estas exposições geralmente
são correlacionadas com um grupo funcional ou químico, trazendo dificuldades para que
sejam identificados efeitos à saúde de um agente em particular (KAMEL & HOPPIN, 2004).
A utilização de agrotóxicos tem como fundamento minimizar o tempo de trabalho e
combater um crescente número de pragas (PEDLOWSKI et al., 2006). Por outro lado,
representam um risco em potencial para todos os organismos vivos. Eles podem ser
absorvidos via dérmica, inspirados ou ingeridos através de produtos contaminados (VEIGA,
2007).
A exposição a um determinado produto químico em grandes doses por um curto
período pode provocar efeito agudo, no qual o quadro se mostra bem definido. Em linhas
gerais, este quadro se caracteriza por náuseas, vômitos, cefaléia, tontura, desorientação,
hiperexcitabilidade, parestesia, irritação da pele e mucosas, dificuldades respiratórias,
hemorragias, convulsões e morte (SILVA et al., 2005). Na intoxicação crônica a
16
sintomatologia aparece de forma insidiosa e tardia, após uma exposição pequena ou moderada
aos agrotóxicos por longo período de tempo, dificultando a associação causal.
Muitas das substâncias químicas como os agrotóxicos são reconhecidamente
neurotóxicos (KAMEL & HOPPIN, 2004) podendo afetar a audição agindo primariamente as
vias auditivas centrais. Dessa forma, para a seleção do método de avaliação audiológica de
indivíduos expostos, deve-se considerar a audiometria tonal e vocal como um ponto de
partida, sendo necessária aplicação de testes que avaliem toda a extensão do sistema auditivo,
como testes eletrofisiológicos e testes do Processamento Auditivo Central (MORATA, 2003).
17
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Os Agrotóxicos
O termo agrotóxico engloba um grupo de compostos químicos que, embora
normalmente apresentem elevada toxicidade, são utilizados com a finalidade de eliminação e
controle de pestes, trazendo benefícios econômicos quando utilizados na agricultura, além de
serem também empregados no campo da saúde pública para o controle de vetores de doenças
(BRITT, 2000).
A Lei Federal nº 7.802 de 11/07/89, regulamentada através do Decreto 98.816, no seu
Artigo 2º, Inciso I, define o termo agrotóxico da seguinte forma:
"Os produtos e os componentes de processos físicos,
químicos ou biológicos destinados ao uso nos setores de produção,
armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas
pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas e de
outros ecossistemas e também em ambientes urbanos, hídricos e
industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora e da
fauna, a fim de preservá-la da ação danosa de seres vivos
considerados nocivos, bem como substâncias e produtos
empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e
inibidores do crescimento."
No Brasil, a utilização dos agrotóxicos em larga escala deu-se a partir da década de 70,
quando os pesticidas foram incluídos, compulsoriamente, junto com adubos e fertilizantes
químicos, nos financiamentos agrícolas. Atualmente, o termo "agrotóxico" é o mais
recomendado para designar os pesticidas, pois atesta a toxicidade destas substâncias químicas,
especialmente quando manipuladas sem adequados equipamentos de proteção (ARAÚJO et
al., 2007).
Todo agrotóxico é classificado pelo menos quanto a três aspectos: tipos de organismos
que controlam, toxicidade da(s) substância(s) e grupo químico ao qual pertencem (SILVA et
al., 2005).
18
A classificação dos agrotóxicos de acordo com os tipos de organismo que controlam e
quanto à estrutura química a que pertencem (SILVA, 2006):
a) Inseticidas: possuem ação de combate a insetos, larvas e formigas. Os
inseticidas pertencem a quatro grupos químicos distintos:
Organofosforados: são compostos orgânicos derivados do ácido fosfórico, do
ácido tiofosfórico ou do ácido ditiofosfórico. Ex.: Folidol, Azodrin, Malation,
Diazinon, Nuvacron, Tamaron, Rhodiatox.
Carbamatos: são derivados do ácido carbâmico. Ex.: Carbaril, Temik, Zectram,
Furadan.
Organoclorados: são compostos à base de carbono, com radicais de cloro. São
derivados do clorobenzeno, do ciclo-hexano ou do ciclodieno. Foram muito
utilizados na agricultura, como inseticidas, porém seu emprego tem sido
progressivamente restringido ou mesmo proibido. Ex.: Aldrin, Endrin, BHC,
DDT, Endossulfan, Heptacloro, Lindane, Mirex.
Piretróides: são compostos sintéticos que apresentam estruturas semelhantes à
piretrina, substância existente nas flores do Chrysanthemum (Pyrethrun)
cinenarialfolium. Alguns desses compostos são: aletrina, resmetrina,
decametrina, cipermetrina e fenpropanato. Ex.: Decis, Protector, K-Otrine,
SBP.
b) Fungicidas: ação de combate a fungos. Existem muitos fungicidas no mercado.
Os principais grupos químicos são:
Etileno-bis-ditiocarbamatos: Maneb, Mancozeb, Dithane, Zineb, Tiram.
Trifenil estânico: Duter e Brestan.
19
Captan: Ortocide e Merpan.
Hexaclorobenzeno.
c) Herbicidas: combatem ervas daninhas. Nas últimas duas décadas, esse grupo
tem tido uma utilização crescente na agricultura. Seus principais representantes
são:
Paraquat: comercializado com o nome de Gramoxone.
Glifosato: Round-up.
Pentaclorofenol
Derivados do ácido fenoxiacético: 2,4 diclorofenoxiacético (2,4 D) e 2,4,5
triclorofenoxiacético (2,4,5 T). A mistura de 2,4 D com 2,4,5 T representa o
principal componente do agente laranja, utilizado como desfolhante na Guerra do
Vietnan. O nome comercial dessa mistura é Tordon.
Dinitrofenóis: Dinoseb, DNOC.
Outros grupos importantes compreendem:
d) Raticidas (Dicumarínicos): utilizados no combate a roedores.
e) Acaricidas: ação de combate a ácaros diversos.
f) Nematicidas: ação de combate a nematóides.
g) Molusquicidas: ação de combate a moluscos, basicamente contra o caramujo
da esquistossomose.
h) Fumigantes: ação de combate a insetos, bactérias: fosfetos metálicos (Fosfina)
e brometo de metila.
Os agrotóxicos são classificados, ainda, segundo seu poder tóxico. Esta classificação
é fundamental para o conhecimento da toxicidade de um produto, do ponto de vista de seus
efeitos agudos (ver Quadros 1, 2 e 3). (CHAVES, 2007)
20
Quadro 1 - Classificação toxicológica da Organização Mundial de Saúde (OMS): baseada na
DL 50 em ratos, oral e dérmica, por mg / kg de peso, das formulações líquidas e sólidas.
Classe Toxicidade Sólidos Líquidos Sólidos Líquidos
Ia Extremamente tóxico 5 ou menos 20 ou
menos
10 ou
menos
40 ou
menos
Ib Altamente tóxico 5-50 20-200 10-100 40-400
II Moderadamente
tóxico
50-500 200-2000 100-1000 400-4000
III Levemente tóxico Mais de
500
Mais 2000 Mais 1000 Mais 4000
Classificação de acordo com a DL 50 em ratos, por via oral e dérmica, nas formulações líquidas e sólidas /
Fonte: WHO, 2004
Quadro 2 - Classificação toxicológica do Ministério da Saúde- Brasil: baseada na DL 50 oral,
formulações líquidas e sólidas.
Formulação DL 50 oral (mg / kg)
CLASSE TOXICIDADE LÍQUIDA SÓLIDA
I Altamente tóxico < 200 <100
II Medianamente
tóxico
200-2000 100-500
III Pouco tóxico 2000-6000 500-2000
IV Praticamente não
tóxico
>6000 >2000
Fonte: site do Ministério da Saúde
Via Oral Via dérmica
21
Quadro 3 - Equivalência da DL 50 entre animais experimentais e dose letal para o homem
(Equivalência entre a dose letal 50 em animais com a quantidade suficiente para matar um
adulto de 70 Kg).
DL 50 oral em animais de laboratório (mg /
Kg)
Dose Letal provável em humanos
(mg / Kg)
<1 Algumas gotas
1-50 1 colher de chá
50-500 30 g ou 30 ml
0,5-5 g 500 g ou 500 ml
5g-15 g 1 kg ou 1 L
>15g > 1 kg ou 1 L
Por determinação legal, todos os produtos devem apresentar nos rótulos uma faixa
colorida indicativa de sua classe toxicológica, de acordo com o Ministério da Saúde.
Quadro 4: Correspondência da classificação toxicológica com a coloração do rótulo, de
acordo com o Ministério da Saúde.
Classe I Extremamente tóxico Faixa vermelha
Classe II Altamente tóxico Faixa amarela
Classe III Medianamente tóxico Faixa azul
Classe IV Pouco ou muito pouco
tóxico
Faixa verde.
Fonte: extraído da Comissão de Meio Ambiente- 1 ed, 2000
22
2.2. Efeitos dos Agrotóxicos na Saúde
As intoxicações aos agrotóxicos não são apenas o resultado de um contato simples
entre o produto e a pessoa exposta. Vários fatores participam da determinação das mesmas,
dentre eles os fatores relativos às características do produto (características toxicológicas,
forma de apresentação, estabilidade, solubilidade); características de cada indivíduo exposto
(idade, peso, estado nutricional, escolaridade, conhecimento sobre o efeito e medidas de
segurança); e as condições de exposição (condições gerais do trabalho, freqüência, dose, e
formas de exposição). As características clínicas das intoxicações por agrotóxicos dependem
além dos aspectos citados, do fato de ter ocorrido exposição a único tipo de produto ou a
vários deles (SILVA, 2006).
Foi conduzido um estudo seccional, em agricultores que tinham no mínimo um mês de
trabalho com agrotóxicos e em controles que nunca tinham realizado trabalho agrícola, com
idade entre 28 e 55 anos. Os participantes deste estudo realizaram uma entrevista, pela qual
obtiveram informações sobre o histórico ocupacional e de saúde geral, fatores
socioeconômicos, tempo de trabalho em cada tipo de agricultura, fatores como fumo e
etilismo e questões como: idade, etnia, escolaridade; além disso, foi aplicada uma bateria de
testes neurocomportamentais. Através dos resultados obtidos, verificou-se que a maior
duração do trabalho agrícola estava associada com desempenho ruim nos testes
neurocomportamentais. E que a longa exposição, em decorrência do trabalho agrícola, esteve
mais associada ao prejuízo na função cognitiva e psicomotora (KAMEL, et al., 2003)
Foi realizada uma pesquisa com o objetivo de pesquisar a prevalência de sintomas
respiratórios entre agricultores e avaliar a associação da exposição ocupacional com
agrotóxicos. Foi desenvolvido um estudo transversal com 1379 agricultores, foram medidas a
freqüências e as formas de exposição química aos agrotóxicos, além das intoxicações agudas
para ambos os sexos. Foram entrevistados todos os indivíduos com 15 anos ou mais, com no
23
mínimo 15 horas semanais de atividade. Para investigar os sintomas respiratórios, foi usada
uma adaptação do questionário da American Thoracic Society. Os resultados evidenciaram
que o trabalho agrícola envolvendo agrotóxicos está associado com a elevação da prevalência
de sintomas respiratórios especialmente a asma e este risco é mais evidente quando a
exposição química ocupacional é maior do que dois dias por mês (FARIA et al., 2005)
Foi apresentado um estudo epidemiológico com delineamento ecológico explorando
dados de exposição aos agrotóxicos durante a década de 80 em 11 estados brasileiros e
distúrbios reprodutivos observados nos anos 90. Foram obtidos coeficientes de correlação de
Pearson entre o volume de vendas de agrotóxicos e indicadores da ocorrência de distúrbios
reprodutivos nas mesmas localidades. Coeficientes de correlação moderados e elevados foram
observados para a maioria dos desfechos analisados: infertilidade e câncer do testículo, mama,
próstata e ovário, sugerindo uma possível associação entre a exposição a agrotóxicos e os
distúrbios reprodutivos analisados (KOIFMAN et al., 2002)
As estimativas da incidência de problemas de saúde humana relacionados com a
utilização de agrotóxicos são muito variáveis. A maioria dos casos de doenças relacionadas
aos agrotóxicos envolve o uso de organoclorados e organofosforados, que possuem atividade
neurotóxica. Os organofosforados, a partir da década de 70 passaram a ser os pesticidas mais
utilizados no mundo. Desde então, tem aumentado, drasticamente, o relato de casos de
intoxicação por organofosforado por efeitos tóxicos pela exposição aguda ou crônica, mesmo
a baixas doses (ARAÚJO et al., 2007)
Os compostos pertencentes á categoria dos organofosforados e à dos carbamatos
apresentam mecanismo comum de ação baseado na inibição da acetilcolinesterase e são os
responsáveis pelo maior número de intoxicações no meio rural (SILVA, 2001).
Os compostos organofosforados (OF) são bem absorvidos pela pele, mucosa oral, via
dérmica, gastrointestinal e respiratória, devido esses compostos serem altamente
24
lipossolúveis. Após sua entrada na corrente sanguínea, são distribuídos rapidamente por todo
organismo, atravessam com facilidade a barreira hematoencefálica e se acumula em tecido do
sistema nervoso, em decorrência da lipossolubilidade dos compostos. O principal mecanismo
de ação dos inseticidas é a inibição da enzima acetilcolinesterase (AChE), que tem por função
degradar o neurotransmissor acetilcolina (ACh). Esta inibição ocorre porque os compostos OF
fosforilam a enzima, formando um composto estável e geralmente irreversível. A inibição da
acetil colinesterase provoca a cumulação da acetilcolina em sinapses do cérebro, junções
neuromusculares esqueletais, terminais nervosos pós-ganglionares do sistema nervoso
simpático e no Sistema Nervoso Central (SNC), a exposição a OF leva a redução da AchE
principalmente no córtex cerebral (giro do cíngulo, lobo occipital, núcleo dentado, camada
molecular do cerebelo, gânglio basal e tálamo.) A excreção deste composto, geralmente se dá
através da urina (KAMANYIRE & KARALLIEDDE, 2004).
Os possíveis efeitos clínicos gerados pelos OF são muito variados, sendo que os
efeitos neurotóxicos ocorrem em três estágios clínicos (FELDMAN, 1998):
Crise colinérgica aguda: desenvolve-se horas após a exposição e pode se estender até
96 horas após a exposição. Os sinais e sintomas são resultados da acumulação da Ach
nos receptores muscarínicos, nicotínicos e no SNC. Os efeitos nicotínicos, geralmente
compreendem: fraqueza e fasciculação muscular, taquicardia. Enquanto,
lacrimejamento, sialorréia, broncorreia, broncoconstrição, vômitos e visão turva são
sintomas decorrentes da estimulação dos receptores muscarínicos. Já a acumulação da
Ach no SNC pode provocar: dor de cabeça, insônia, confusão, ataxia, letargia e em
casos mais severos convulsões, coma e depressão respiratória.
Síndrome intermediária: ocorre após 24-96 horas após a exposição e persiste até seis
semanas. É caracterizada por fraqueza muscular predominantemente afetando
músculos cervicais e região proximal dos membros e dificuldade respiratória pode
25
aparecer caso seja afetada a musculatura do diafragma ou de outros músculos
respiratórios.
Neuropatia Periférica tardia: ocorre 1-5 semanas após a exposição e
predominantemente afeta o trato do Sistema Nervoso, fraqueza dos músculos
periféricos das mãos e pés e variável prejuízo sensorial.
Os compostos pertencentes à classe dos herbicidas como o glifosato, também conhecido
como roundup, podem ser absorvidos via dérmica, oral, digestiva e inalatória. Uma vez
absorvido se distribui amplamente em todo o organismo e sua excreção ocorre pela urina,
sangue, ar expirado e principalmente pelas fezes. Seu metabolismo é escasso e seu único
metabólito é o ácido amino-metil-fosfónico. Dentre as manifestações clínicas descritas estão:
problemas de pele, febre, cefaléia, infecção respiratória, diarréia, vomito, dor abdominal, mal-
estar, tontura, medo, angustia, pânico, conjuntivites e outros sintomas (VARONA et al.,
2009).
2.3. Efeitos dos Agrotóxicos no Sistema Auditivo
Considerando os efeitos crônicos dos agrotóxicos à saúde humana, estudos sugerem a
correlação entre exposição a estas substâncias e ocorrência de perdas auditivas centrais ou
periféricas.
Foi realizado um estudo de coorte transversal em 18 trabalhadores rurais, de ambos os
sexos com idade média de 39,6 anos, expostos ocupacionalmente e ambientalmente a
agrotóxicos organofosforado. Todos os trabalhadores responderam questões sobre a saúde
geral e auditiva, tonteira e suas relações com o trabalho e foram submetidos aos exames de
audiometria e vectoeletronistagmografia. Os resultados mostraram que 16 trabalhadores
26
apresentaram alterações do tipo periférico irritativo e sete trabalhadores apresentaram perda
auditiva neurosensorial, desta forma, concluiu-se que os agrotóxicos induzem alterações do
sistema vestibular (HOSHINO et al., 2008).
Segundo pesquisa realizada, no qual o objetivo era descrever a influência do trabalho
agrícola sobre a audição do trabalhador, foram realizados questionários e exames
audiométricos em indivíduos do sexo masculino, subdivididos em dois grupos, sendo o grupo
I composto por 42 sujeitos expostos a ruídos associados ou não a exposição à agrotóxicos e o
grupo II com 42 indivíduos sem exposição a estes agentes, através dos resultados constatou-se
um pior desempenho na audição dos indivíduos com exposição a ruído associada à
agrotóxicos (WERLANG et al., 2004).
Foi realizado um estudo de coorte prospectivo, no qual pesquisou indivíduos expostos
ocupacionalmente a agrotóxicos, seguindo os seguintes critérios de inclusão: homens brancos,
sem histórico de perda auditiva congênita ou por infecção. O acompanhamento foi realizado
através de contato telefônico durante cinco anos de seguimento visando obter informações
sobre os pesticidas utilizados, características sócio-demográficas, estilo de vida, exposição a
pesticidas, tempo de exposição e relatos sobre dificuldade auditiva. O estudo sugeriu que a
exposição à organofosforados aumenta o risco de desenvolvimento de dificuldade auditiva
(CROWFORD et al., 2009).
Foram conduzidos estudos com a finalidade de estudar os efeitos da exposição
ocupacional a organofosforados e piretróides no sistema auditivo central. Informações sobre
histórico do trabalho, histórico da saúde geral, doenças presentes, exposição ocupacional e
não ocupacional a ruído, substâncias químicas e questões sobre o estilo de vida foram obtidas
através de entrevistas. Além disso, foi aplicado o teste de padrão de duração e frequência em
98 trabalhadores expostos a inseticidas e em 54 não expostos. Os resultados sugeriram que a
27
exposição a estas substâncias pode causar efeitos adversos ao sistema nervoso auditivo central
(SNAC) (MORATA et al., 2003).
Foram investigadas alterações auditivas periféricas e centrais em indivíduos expostos
ocupacionalmente a inseticidas organofosforado e piretróides. Foi utilizado para avaliação:
audiometria tonal, imitanciometria e testes de padrão de frequência e duração. O estudo
demonstrou correlação estatisticamente significante entre a exposição ocupacional a
organofosforados e piretróides e alteração auditiva no nível central (FERNANDES, 2000).
2.4. Efeitos de Outras Substâncias Químicas no Sistema Auditivo
Foi realizada uma pesquisa com o objetivo de identificar possíveis alterações auditivas
periféricas e centrais através da avaliação audiológica e de testes do processamento auditivo
central, em 13 trabalhadores de uma indústria de reciclagem de lâmpadas fluorescentes, que
tiveram exposição ao mercúrio metálico. Os trabalhadores eram do sexo masculino, com
idades entre 26 a 58, 5 anos, sendo que a média de idade foi de 38,5 anos e o tempo de
exposição variou de um ano e seis meses a 17 anos e nove meses, sendo o tempo médio de
seis anos. Os procedimentos aplicados foram uma anamnese com informações sobre: histórico
ocupacional, exposição a riscos ocupacionais e extra-ocupacionais, além de dados sobre o
passado otológico, uso de drogas ototóxicas, antecedentes familiares e saúde em geral;
meatoscopia; audiometria tonal e vocal, imitanciometria e avaliação do processamento
auditivo central através dos testes dicótico de dígito e teste de padrão de freqüência. Mesmo
com um número muito reduzido de trabalhadores participantes, foram encontrados resultados
significativos em relação a alterações na avaliação audiológica e do processamento auditivo
central em trabalhadores que tiveram exposição ao mercúrio metálico (LIMA et al., 2005).
28
Foi investigado sobre a relação do desenvolvimento de disfunção cognitiva e
exposição a solventes orgânicos, metais, agrotóxicos e outras substâncias. Foi realizado um
estudo seccional prospectivo, com seguimento de três anos, em 791 indivíduos de ambos os
sexos, com idade entre 50 e 80 anos sem quadro de demência. Os participantes foram
submetidos a um questionário com questões sobre a exposição às substâncias químicas e
testes neurocognitivos. Os achados sugeriram que indivíduos que são freqüentemente
expostas a agrotóxicos, como jardineiros e agricultores podem ter um risco maior de
desenvolver disfunção cognitiva quando comparado com indivíduos não expostos. Os
resultados não diferiram significantemente para as outras substâncias químicas pesquisadas.
As questões relacionadas ao consumo de álcool, fumo, drogas, história familiar de demência,
traumatismo craniano, doenças relevantes como cardiovasculares e doenças mentais não
afetaram os resultados significantemente (BOSMA et al., 2000)
Pesquisou-se o Processamento auditivo central de adolescentes expostos ao mercúrio
metálico. Foram avaliados 52 adolescentes de ambos os sexos que constituíram dois grupos.
Como as análises dos teores de mercúrio na urina estavam abaixo do esperado, o grupo de
estudo (GE) foi composto por 21 adolescentes sendo classificados como expostos àqueles que
referiram trabalhar na queima dos amálgamas de ouro-mercúrio, re-queimar o ouro e em lojas
que comercializam este metal ou residir próximos às áreas de garimpos e as lojas que
comercializam ouro. E, como grupo de comparação (GC) foi selecionado 31 adolescentes que
não apresentaram história de exposição ao mercúrio. Todos estavam matriculados no nono
ano do ensino fundamental de escolas municipais e estaduais e residentes do Município de
Poconé/ MT. Os adolescentes avaliados apresentaram idade entre 13 e 16 anos e limiares
auditivos dentro dos padrões de normalidade. Os procedimentos realizados incluíram um
questionário sobre a história clínica, laboral e da exposição ao mercúrio, audiometria tonal
liminar e bateria de testes para avaliação do Processamento Auditivo Central. Os resultados
29
obtidos sugerem que as diferenças na avaliação do Processamento auditivo central entre o GE
e o GC foram estatisticamente significantes para os testes de memória seqüencial para sons
não-verbais, para os testes de padrão de duração e freqüência e duração e para o SSW em
português. Concluiu-se que adolescentes expostos ao mercúrio metálico apresentaram
desempenho significativamente inferior quando comparados com o grupo comparação para a
maioria dos testes de Processamento Auditivo Central e a principal alteração encontrada nessa
população foi no processamento de sons breves e sucessivos. O principal efeito adverso do
mercúrio metálico no organismo é sobre o SNC, assim a avaliação audiológica periférica é
insuficiente para avaliar a audição desta população (DUTRA, 2008).
Estudou-se as características auditivas e vestibulares de um grupo de 12 indivíduos
expostos ocupacionalmente a mercúrio metálico e ruído de uma empresa de lâmpadas do Rio
de Janeiro e de um grupo de 15 indivíduos não expostos a nenhum desses agentes. Foi
considerado exposto a mercúrio metálico o indivíduo que manuseava lâmpadas fluorescentes
ou mistas, ou que operava máquinas relacionadas à confecção ou quebra destas lâmpadas, no
mínimo 8 horas diárias, há pelo menos três anos. Foi considerado exposto a ruído o indivíduo
que trabalhava no mínimo 8 horas diárias, em setores com ruído em intensidade mínima de 85
dB, há pelo menos três anos. A média de idade do grupo de expostos foi de 44 anos e do
grupo de não expostos de 39 anos, com um predomínio do sexo feminino em ambos os
grupos. Todos os indivíduos foram submetidos à anamnese, meatoscopia, timpanometria,
através do qual foram excluídas possíveis afecções de orelha externa e/ ou média. Após
realizaram o exame de vectoeletronistagmografia. Os resultados da pesquisa indicam que com
relação à avaliação auditiva, vestibular e sintomas como: dificuldade para ouvir, dificuldade
de compreensão da fala, hipersensibilidade a sons intensos, zumbido e tontura houve
diferença estatisticamente significante entre os dois grupos (FERNANDES, 2009).
30
2.5. Processamento Auditivo Central
O sistema auditivo humano pode ser dividido anatomicamente em duas partes: sistema
auditivo periférico, compreendendo a orelha externa, orelha média, orelha interna e VIII par
craniano; e sistema auditivo central, sendo este último constituído pelo tronco encefálico,
mesencéfalo e córtex. A importância dos estudos sobre a avaliação clínica do Sistema
Nervoso Auditivo Central vem aumentando desde a década de 1970, isto se deveu, em grande
parte, aos avanços recentes da compreensão da estrutura e função do SNC. No Brasil, os
testes de processamento auditivo central só começaram a ser realizados a partir da década de
1990, havendo atualmente, um crescente interesse dos estudos em demonstrar a eficácia dos
testes comportamentais e eletrofisiológicos utilizados na identificação dos distúrbios do
SNAC (BARAN & MUSIEK, 2001).
O processamento auditivo central (PAC) é um conjunto de habilidades auditivas que o
indivíduo necessita para interpretar o que ouve. Este processo não envolve apenas a percepção
dos sons, e sim os mecanismos que são utilizados para tornar a mensagem mais clara, para
localizar o sinal percebido, a análise realizada dessa informação acústica, a forma de
armazenamento utilizada e a estratégia de recobrar esta informação auditiva. (SANTOS, et al
2007)
O PAC constitui uma série de processos envolvidos na detecção e interpretação de
eventos sonoros (CAVADAS et al., 2007). O Processamento auditivo central pode ser
entendido como mecanismos e processos do sistema nervoso auditivo, os quais capacitam à
decodificação e o entendimento da fala, especialmente em situações desfavoráveis, como na
presença de ruído de fundo ou fala competitiva. (JERGER & MUSIEK, 2000 apud Neves &
Schochat, 2005).
31
Quando o campo de atividades neurofuncionais, que começam com a detecção do
estímulo (cóclea) e terminam com a análise lingüística da informação, estão em pleno
exercício de suas capacidades, há condição de se obter bom desempenho na comunicação.
Qualquer falha neste rápido e complexo trajeto pode levar o indivíduo a agir de forma a
comprometer suas relações de linguagem interpessoal e intrapessoal (MIRANDA et al.,
2006).
A desordem ou disfunção do processamento auditivo se refere a um distúrbio da
audição em que há um impedimento da habilidade de analisar e/ou interpretar padrões
sonoros. (PEREIRA & CAVADAS, 2003).
Indivíduos com desordens do processamento auditivo central podem apresentar uma
ou mais manifestações comportamentais nas seguintes esferas: comunicação oral,
comunicação escrita, comportamento social, prejuízo no desempenho escolar e audição. Entre
outras manifestações: problemas de fala e linguagem; dificuldade de compreensão em
ambientes ruidosos; disgrafia; agitação; distração; desempenho escolar inferior em leitura,
gramática, ortografia, matemática e atenção ao som prejudicada (PEREIRA, 1996). Sendo, a
principal manifestação comportamental de indivíduos com esta desordem a dificuldade em
escutar e compreender em ambiente ruidoso (DAWES et al., 2008)
A maior razão, pelo interesse na avaliação do PAC está na limitação das informações
sobre a capacidade de comunicação individual que a audiometria convencional fornece. A
audiometria convencional é um instrumento útil para propiciar dados referentes ao tipo e ao
grau da perda auditiva, porém não descreve como esta perda pode influenciar na comunicação
dos indivíduos no dia-a dia, tais medidas auditivas são insuficientes para descrever a relação
do paciente em sua função psicossocial (QUINTERO et al., 2002).
32
A necessidade de uma avaliação auditiva central se torna necessária nos inúmeros
casos em que indivíduos apresentam queixa auditiva, com audição periférica normal, nestes
casos os testes auditivos centrais poderão identificar distúrbios em níveis mais elevados.
O processo auditivo central refere-se, àquilo que fazemos
com o que ouvimos. Não basta, portanto possuir limiares auditivos normais. É preciso que o sinal acústico seja analisado e
interpretado para que se transforme em uma mensagem com
significado. (RAMOS & PEREIRA, 2005, p: 154)
O PAC, de acordo a descrição da American Speech-Language-Hearing Association
(ASHA, 1996), engloba mecanismos e processos do sistema auditivo, que são os responsáveis
pelos seguintes fenômenos comportamentais: localização e lateralização sonora;
discriminação auditiva; reconhecimento de padrões auditivos; aspectos temporais da audição;
incluindo resolução temporal, mascaramento temporal, integração temporal e ordenação
temporal; desempenho auditivo na presença de sinais competitivos e desempenho auditivo
com sinais degradados.
2.6 Processamento Auditivo Temporal
As habilidades do processamento auditivo temporal são as bases do processamento
auditivo, especificamente no que concerne à percepção de fala (SAMELLI & SCHOCHAT,
2008). Grande parte das informações transmitidas através de sons, como a fala e a música, por
exemplo, é expressa por mudanças nas características do som com o decorrer do tempo. O
processamento auditivo temporal envolve a competência para processar estes aspectos do som
que variam com o tempo (NEVES & FEITOSA, 2003).
33
O processamento temporal é especialmente importante na percepção da fala, para a
discriminação de pistas sutis como a sonorização, o reconhecimento de fonemas usando seus
traços distintivos e a discriminação de palavras semelhantes (DLOUHA, 2007).
Muitos padrões que distinguem os sons da fala baseiam-se em diferenças temporais de
poucos milisegundos (ms). Este aspecto do funcionamento do sistema auditivo, no qual
mudanças acústicas transitórias podem ser acuradamente identificadas, é fundamental para a
compreensão da fala humana, constituindo-se num pré-requisito para as habilidades
lingüísticas (SMITH et al; 2006).
O processamento auditivo temporal pode ser definido, como a percepção do som ou da
alteração do som dentro de um período restrito e definido de tempo, ou seja, refere-se à
habilidade de perceber ou diferenciar estímulos que são apresentados numa rápida sucessão
(SHINN, 2003).
O processamento temporal avalia as habilidades auditivas de ordenação ou
sequencialização temporal, mascaramento temporal, resolução e integração temporal
(SANTOS & BARREIRO, 2004).
A habilidade auditiva de ordenação temporal refere-se ao processo de múltiplos
estímulos auditivos na sua ordem de ocorrência. Graças a esta habilidade, um indivíduo é
capaz de discriminar a correta ordem de ocorrência dos sons (SAMELLI & SCHOCHAT,
2008).
Sendo que, a sequencialização ou ordenação temporal seria uma função que envolve a
percepção e/ou o processo de dois ou mais estímulos auditivos em sua ordem de decorrência
no tempo. Na prática clínica, geralmente esta habilidade é avaliada através dos testes de
padrão de freqüência e duração, que tem por objetivo fazer com que o ouvinte reconheça
contornos acústicos (entonação, tonicidade e ritmo) importantes para a sequencialização
temporal. Diversos processos acústicos contribuem para essa habilidade, incluindo a
34
discriminação de diferentes estímulos auditivos; sequencialização dos elementos lingüísticos,
ou ordenação temporal dos sons, reconhecimento do todo, transferência inter hemisférica e
memória quanto ao número de itens utilizados na série (FROTA & PEREIRA, 2003).
Já a resolução temporal pode ser definida como a capacidade de detectar intervalos de
tempo entre estímulos sonoros ou detectar o menor tempo que um indivíduo possa discriminar
entre dois sinais audíveis (FORTES et al; 2007).
A resolução temporal refere-se à habilidade de detectar mudanças nos estímulos ao
longo do tempo, como, por exemplo, perceber gaps ou intervalos de silêncio curtos entre dois
estímulos ou perceber que um som é modulado de alguma maneira. E a integração temporal, é
a habilidade do sistema auditivo em adicionar informação ao longo do tempo para aumentar a
detecção ou a discriminação do estímulo (MOORE, 2004).
O mascaramento temporal é caracterizado pela mudança do limiar de um som na
presença de outro estímulo subseqüente. Isto ocorre quando um estímulo é apresentado com
duração e intensidade suficientes para reduzir a sensibilidade de outro estímulo apresentado
antes ou depois do estímulo inicial. E a habilidade de integração temporal decorre da somação
da atividade neuronal, resultante de uma adicional duração da energia sonora. Em
experimentos de integração temporal, os sujeitos devem detectar sinais fracos em um ruído de
fundo ou no silêncio. O limiar deste sinal fraco é medido em função de sua duração e
geralmente, a detecção do sinal é a mesma se o produto da duração e da intensidade do sinal
se mantiver constante em pelo menos algumas escalas de duração (SAMELLI &
SCHOCHAT, 2008).
Os principais testes disponíveis para a análise do processamento temporal incluem o
Teste de Padrão de Duração e de Padrão de Freqüência que avaliam a habilidade de ordenação
temporal e o teste de detecção de gap, como o teste do GIN (Gaps in Noise), desenvolvido por
Musiek em 2004, com a finalidade de estudar a resolução temporal.
35
O mecanismo fisiológico auditivo do Teste Padrão de Duração é o de discriminação de
padrões de sons, ou processo temporal, que envolve a memória. Tendo por finalidade avaliar
a ordenação temporal e sua alteração traz prejuízo gnóstico não – verbal na percepção de
aspectos acústicos supra – segmentais (PEREIRA & CAVADAS, 2003).
Um estudo com a proposta de padronizar os Testes de Padrão de Freqüência e de
Duração foi realizado com 80 indivíduos adultos jovens, 40 do sexo feminino e 40 do sexo
masculino, sem alterações auditivas periféricas, os indivíduos possuíam grau de escolaridade
superior completo ou estavam cursando uma universidade e não possuíam estudo ou
experiência com música. Nestes indivíduos foram aplicados os testes não - verbais de Padrão
de Freqüência e de Padrão de Duração, apresentando-os nesta ordem e monoauralmente. Com
a análise estatística dos dados observou-se que não houve influências do lado da orelha
(direita ou esquerda), nem do nível de intensidade da aplicação do material (50dBNS e
20dBNS). Quanto à média de acertos, para o Teste de Padrão de Duração foi de 95,87 % e
para o Teste de Padrão de Freqüência foi observado o valor de 91,27 % de acertos. Assim,
através deste estudo, recomendou-se a utilização deste teste para indivíduos com e sem
prejuízo da capacidade de detecção dos sons, a fim de auxiliar no conjunto de procedimentos
que avaliem do funcionamento da habilidade de ordenação temporal do processamento
auditivo temporal (CORAZZA, 1998).
O teste do GIN foi criado objetivando a avaliação da resolução temporal através da
tarefa de detecção de intervalos (gaps) de silêncio inserido em segmentos de ruído branco. O
estudo foi constituído por dois grupos; um composto por indivíduos com audição normal e o
outro grupo com indivíduos com comprometimento neurológico do sistema nervoso auditivo
central. Os resultados do primeiro grupo mostraram uma média de limiar de detecção de gap
de 4,8 milisegundos (ms) para a orelha esquerda e 4,9 ms para a orelha direita. No segundo
grupo, houve um aumento estatisticamente significante nos limiares de detecção de gap em
36
comparação com o primeiro grupo, com a média de limiar de 7,8 ms para a orelha esquerda e
8,5 ms para a orelha direita. De acordo com os dados obtidos, concluiu-se que o teste
apresenta bons índices de especificidade e especificidade (MUSIEK et al., 2005 apud
Liporaci, 2009).
Estudos foram desenvolvidos para estabelecer critérios de normalidade do teste GIN
para adultos com audição normal. O teste GIN foi aplicado em 100 indivíduos, sendo 50 do
sexo feminino e 50 do masculino, de faixa etária entre 18 e 31 anos, após a realização de
outros testes audiológicos para descartar possíveis alterações auditivas e/ou do processamento
auditivo, que pudessem comprometer os resultados. Como resultado, foi observado limiares
de detecção de gap e porcentagens médias de acertos semelhantes para as orelhas direita e
esquerda, para os gêneros masculino e feminino e para as quatro faixas-teste testadas. A
média geral dos limiares de gap foi de 3,98 ms, enquanto a média das porcentagens de acertos
foi de 78,89%. Foi definido um limite mínimo e um máximo para cada uma das faixas-teste
(média dos limiares de detecção de gap-faixa-teste1 :3,73 - 4,01ms; faixa - teste 2: 3,9-4,18
ms; faixa - teste 3: 3,88-4,14 ms. As porcentagens médias de acertos dos participantes por
intervalo de gap foi estabelecida da seguinte forma: para gaps de 2 ms, a porcentagem de
acertos foi sempre igual ou menor do que 5 %; para intervalos de gap iguais ou maiores do
que 5 ms, a porcentagem de acertos alcança 90% ou mais. A autora afirma que todos estes
resultados poderão ser utilizados como parâmetros de normalidade. Desta forma, o teste em
questão mostrou-se consistente e com baixa variabilidade, em relação aos dados obtidos para
os 100 indivíduos (SAMELLI, 2005).
37
3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral:
Avaliar os processos auditivos temporais (ordenação e resolução temporal) em
trabalhadores rurais expostos ocupacionalmente a agrotóxicos do município de Campos dos
Goytacazes.
3.2 Objetivos Específicos:
-Identificar o perfil da população pesquisada.
- Avaliar os processos auditivos temporais.
-Comparar os resultados dos testes dos processos auditivos temporais com o índice de
exposição.
38
4. METODOLOGIA
4.1. Caracterização do local de estudo.
O local escolhido para o estudo foi Campos dos Goytacazes. Este município fica
localizado no Norte do Estado do Rio de Janeiro, sendo o centro econômico desta região.
Segundo o Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro (CIDE) Campos dos Goytacazes
é a maior cidade do interior fluminense, com uma população de 434.008 habitantes (IBGE,
2009). É também o município com a maior extensão territorial do estado, com uma área total
de 4.031,910 km², pouco menor que o Distrito Federal. Sendo considerada a sexta cidade mais
rica do Brasil. Compreende uma região litorânea banhada pelo Oceano Atlântico.
De acordo com o censo agropecuário do IBGE (1995-1996) a área agropecuária
estimada na região Norte Fluminense é de 15.028 ha, sendo 7.114 ha pertencentes ao
município de Campos dos Goytacazes. A região é uma planície de grande extensão o que
favorece a atividade agrícola. Tem na Produção de Petróleo e Gás sua maior fonte de riqueza.
A Bacia de Campos é responsável por mais de 80% da Produção Nacional. Concentra a maior
parte da indústria cerâmica fluminense. É conhecida como sendo o maior produtor de cana-de
açúcar do Estado, tendo participação importante na Produção de Açúcar e Álcool, sendo que
das sete usinas do estado do Rio de Janeiro, seis estão em Campos. O tipo de agrotóxico mais
utilizado nesta região são os herbicidas, em especial o roundup, sendo também relatados em
menor número os inseticidas e fungicidas.
4.2 Casuística
Foi realizado um estudo epidemiológico com delineamento transversal. Para a
realização da pesquisa, inicialmente realizou-se uma mobilização dos trabalhadores em
39
parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de Campos dos Goytacazes
para haver a motivação e adesão dos participantes a pesquisa.
Os trabalhadores convidados para participar da pesquisa foram todos os indivíduos
que utilizavam agrotóxicos de maneira ocupacional e que estiveram na sede do Sindicato dos
trabalhadores rurais no período entre 8 a 19 de março de 2010.
Todos os indivíduos que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido
Para a seleção dos participantes do estudo, determinou-se alguns critérios de inclusão:
Ter idade entre 18 e 59 anos.
Ter sido exposto ocupacionalmente a agrotóxico.
Ser capaz de compreender o objetivo da pesquisa e consequentemente fazer a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Foram incluídos 33 indivíduos de ambos os sexos, com idade entre 18 e 59
anos, com exposição a vários tipos de agrotóxicos, sendo os herbicidas, em especial o
roundup, o tipo mais utilizado e em menor número os inseticidas e fungicidas.
4.3 Procedimentos para seleção da população estudada
Com o objetivo de selecionar a população estudada foi aplicado: questionário,
meatoscopia, avaliação audiológica básica, imitânciometria.
Todos os procedimentos abaixo descritos foram realizados em uma sala silenciosa do
Sindicato dos Trabalhadores rurais do município de Campos dos Goytcazes –RJ.
40
4.3.1 Questionário
Os trabalhadores foram submetidos a um questionário (Anexo 1) contendo questões
estruturadas com a finalidade de obter informações sobre dados pessoais, histórico
audiológico, dados gerais de saúde, exposição a ruído ocupacional, tempo, freqüência e
intensidade de trabalho com agrotóxico.
4.3.2 Meatoscopia
Após a aplicação do questionário, os trabalhadores foram submetidos a meatoscopia,
por meio de um otoscópio, com a finalidade de uma inspeção cuidadosa do meato acústico
externo e visualização da membrana timpânica, excluindo indivíduos com presença de corpo
estranho e de rolha de cera, o que impediria a obtenção correta dos limiares tonais e resultados
timpanométricos (FROTA, 2003).
4.3.3 Audiometria tonal e vocal
Em seguida, foi realizado a avaliação audiológica básica, composta de: audiometria
tonal liminar, limiar de recepção da fala (LRF), índice de reconhecimento de fala (IRF). Estes
procedimentos foram aplicados em cabina acústica, seguindo as determinações da ISO 8253,
com utilização do audiômetro Amplaid 309, e fone TDH- 49 P.
O objetivo imediato da audiometria tonal liminar é a determinação dos limiares de
audibilidade, isto é o estabelecimento do mínimo de intensidade sonora necessária para
provocar a sensação auditiva e a comparação destes valores ao padrão de normalidade,
usando-se como referência um tom puro (SANTOS et al., 2007). Na audiometria tonal liminar
foram pesquisados valores tonais por via aérea nas freqüências de: 250, 500, 1000, 2000,
3000, 4000, 6000, e 8000 Hz. Os limiares tonais foram obtidos através da técnica descendente
41
descrita por Frota em 2003. Considerou-se limiares dentro da normalidade até 25 dB, de
acordo com a classificação do grau de perda auditiva proposto por (LLOYD Y KAPLAN,
1978).
O limiar de recepção de fala (LRF) tem como objetivo confirmar os limiares tonais da
via aérea e exprime a menor intensidade para qual o indivíduo consegue identificar 50% das
palavras apresentadas e foi obtido utilizando palavras trissílabas por meio de técnica
descendente como relatado por Frota & Sampaio em 2003. Os resultados obtidos deveriam
coincidir com a média dos limiares tonais das freqüências de 500, 1000 e 2000 Hz, ou até 5
ou 10 dB acima desta média. Os participantes que não obtiveram este resultado foram
excluídos da pesquisa.
O índice de reconhecimento de fala (IRF) é a medida da inteligibilidade da fala em
uma intensidade fixa na qual o indivíduo consegue repetir corretamente o maior número de
palavras. (RUSSO, et al 2007). Foi utilizada uma lista contendo 25 palavras monossílabas,
sendo que cada erro representa 4%. Excluiu-se da pesquisa os indivíduos que obtiverem score
de acertos inferior a 88%.
4.3.4 Imitanciometria
Também realizou-se a imitanciometria: timpanometria e pesquisa dos reflexos
acústicos ipsilaterais em 500, 1000, 2000 e 4000 Hz, com a finalidade de excluir afecções de
orelha média. Para a execução deste procedimento utilizou-se um Mini-Tymp da marca
Interacoustics. Só foram incluídos os indivíduos com timpanograma com curva tipo A de
acordo com Jeger (1970), no qual é encontrado em indivíduos com função de orelha média
normal. Na pesquisa dos reflexos acústicos foram considerados os reflexos que aparecerem 70
a 90 dB NA, de acordo com Lopes (1972).
Os critérios de exclusão foram:
42
Apresentar alterações neurológicas evidentes que possam dificultar a
realização dos testes.
Ser exposto a ruído ocupacional, de maneira que possa funcionar como fator
de confundimento para o estudo em questão.
Apresentar rolha de cera ou presença de corpo estranho no meato acústico
externo.
Apresentar patologias otológicas de orelha externa (OE) e/ ou orelha média
(OM).
Apresentar perda auditiva neurosensorial (limiares piores que 25 dB).
Apresentar LRF acima de 10 dB da média de 500, 1000 e 2000 Hz.).
Indivíduos que obtiverem score de acertos inferior a 88% no IRF.
4.4 Procedimentos para avaliar o índice de exposição
Com a tentativa de elaborar uma escala de avaliação da exposição ocupacional dos
trabalhadores aos agrotóxicos, criou-se uma variável denominada de índice de exposição
calculado através de um somatório simples das seguintes variáveis presentes no
questionário: número de anos de exposição desde a idade do início do contato com
agrotóxicos até a idade atual; número de dias de uso durante a última estação; número de
vezes por mês em que foram aplicados os agrotóxicos; idade em que foi iniciado o contato
com agrotóxico; número de horas de trabalho por dia com agrotóxico; e distância da
residência até a lavoura. Este índice de exposição foi obtido através de um “sistema de
pontuação”, sendo atribuído maior peso a opção de resposta em que o indivíduo tivesse
maior exposição. De acordo com o quadro a seguir:
43
Código de Pontuação
Variável Respostas Pontuação
Tempo de exposição
Menos de 1 ano 0 pontos
1-5 anos 1 ponto
5-10 anos 2 pontos
11-20 anos 3 pontos
21-30 anos 4 pontos
Mais de 30 anos 5 pontos
Dias de uso durante a
última estação
Nunca 0 pontos
1-5 dias 1 ponto
6-25 dias 2 pontos
26-50 dias 3 pontos
Mais de 50 dias 4 pontos
Quantidade de uso por
mês
1 vez 0 pontos
1-5 vezes 1 ponto
5-10 vezes 2 pontos
Mais de 10 vezes 3 pontos
Idade do início do contato
com agrotóxico
21 anos ou mais 0 pontos
15-20 anos 1 ponto
10-15 anos 2 pontos
Horas de trabalho por
dia
4 ou 6 horas 0 pontos
8 horas 1 ponto
10 horas 2 pontos
12 horas ou mais 3 pontos
Distância da residência
até a lavoura
Mais de 200 metros 0 pontos
100-200 metros 1 ponto
50-100 metros 2 pontos
Menos de 50 metros 3 pontos
4.5 Procedimentos para avaliar o Processamento Auditivo Temporal
Os indivíduos selecionados foram submetidos a testes de processamento auditivo
temporal, a saber:
44
4.5.1 Teste de Padrão de Duração
O Teste de Padrão de Duração, foi elaborado por Pinheiro & Musiek em 1985 consiste
da apresentação de 60 seqüências de padrões, 30 a cada orelha, sendo que cada uma é
formada por três tons: dois de uma mesma duração e um de duração diferente. Os estímulos
foram apresentados monoauralmente em uma intensidade de 50 dB NS. O indivíduo recebeu a
orientação de nomear os padrões como curto ou longo, caso. As sequências são apresentadas
em ordem aleatória. O padrão curto tem duração de 250 ms e o longo de 500 ms, com
intervalo de 300 ms entre os tons, sendo que a freqüência é mantida constante em 1000 Hz.
Os números de acertos para cada orelha foram anotados no protocolo de marcação e o
resultado do teste foi apresentado em porcentagem de acertos em cada orelha. Este teste foi
aplicado utilizando-se o audiômetro acoplado a CD-player, em cabina acústica.
4.5.2 Teste Gap in noise (GIN)
O teste GIN, de acordo com Musiek et al., 2004, foi aplicado em cabina acústica, por
meio do audiômetro acoplado a CD player. Os estímulos sonoros do teste são aplicados
monoauralmente a 50 dB NS, de acordo com a média tritonal de 500,1000 e 2000 Hz.
Cada faixa do teste consiste em um segmento de ruído branco, no qual existem gaps
em posição e duração diferentes. Os gaps podem ser de: 2, 3, 4, 5, 6, 8, 10, 12, 15 e 20 ms.
Nos segmentos de ruído pode haver 1, 2, 3 ou mesmo nenhum gap inserido. Cada gap aparece
por seis vezes em cada faixa, com um total de 60. Foi explicado ao participante que ele deverá
ouvir um ruído e dentro deste ruído existirão gaps, ou seja, intervalos de silêncio, onde o
ruído não estará presente. Estes intervalos podem variar em duração e alguns são
extremamente rápidos e algumas vezes não existiram estes intervalos. Então, o indivíduo foi
45
orientado a levantar a mão toda vez que ouvisse um gap, ou seja, um intervalo de silêncio. Na
interpretação dos resultados, são permitidos dois falsos positivos por orelha, ou seja, que o
participante identifique o gap duas vezes sem que ele exista, em cada orelha. Se ocorrerem
mais que dois, falsos positivos subseqüentes seriam computados como erros e subtraídos do
total de gaps percebidos da orelha. Os gaps percebidos foram contados e anotados de acordo
com suas durações. O limiar de detecção de gap é considerado como sendo o menor gap
percebido em pelo menos 67% das apresentações, ou seja, quatro vezes, já que cada gap
aparece seis vezes em cada faixa – teste. (MUSIEK, 2005). O índice de acertos na faixa –
teste é determinado em porcentagem considerando os 60 gaps existentes.
4.6 Aspectos Éticos
O projeto incorpora os aspectos éticos recomendados pela Resolução 196/96 sobre
Pesquisa Envolvendo Seres Humanos e não apresenta atividades que possam levar a danos à
dimensão física, psíquicas, morais, intelectuais, sociais, culturais ou espirituais destas pessoas.
Em anexo, declaração da Comissão de Ética do IESC e os termos de Consentimento Livre e
Esclarecido dos indivíduos.
Transferência de resultados: O projeto contempla a divulgação dos resultados da pesquisa
através de documentos e da Internet e treinamentos de equipes de vigilância ambiental da cidade
voltada para os riscos e efeitos no uso de pesticidas na produção.
Análise Crítica dos Riscos e Benefícios: Cabe ressaltar que o projeto visou desenvolver
metodologias para a prevenção e controle dos efeitos nocivos do agrotóxico com a utilização de
46
metodologias que diminuem a possibilidade de danos à dimensão física, psíquicas, morais,
intelectuais, sociais, culturais ou espirituais destas pessoas.
Propriedades das Informações Geradas: Serão de uso exclusivo da equipe de pesquisa e o
pesquisador responsável garante que nenhum estranho à equipe de pesquisadores terá acesso aos
dados, para que se preserve a confidencialidade das informações, quando for o caso. Não
obstante, a divulgação dos resultados da pesquisa deverá ser publica e em primeiro lugar
endereçada aos sujeitos da pesquisa.
O Sujeito da Pesquisa: Os sujeitos da pesquisa tiveram garantia de livre consentimento
(modelos em anexo) após total esclarecimento de todos os benefícios e possíveis riscos que
poderão advir do processo investigatório.
Outras informações sobre os sujeitos da pesquisa encontram-se nas páginas anteriores
deste projeto.
Responsabilidades: O Pesquisador Responsável é a pessoa responsável pela coordenação e
realização da pesquisa e pela integridade e bem-estar dos sujeitos da pesquisa. As Instituições
são públicas e habilitadas para a realização de investigações científicas.
Critérios para Suspensão ou Encerramento da Pesquisa: Esta pesquisa foi altamente viável e
a pesquisadora contou com apoio do Sindicato dos Trabalhadores rurais da cidade de Campos
dos Goytacazes. Caso ocorresse algum motivo imprevisto, a suspensão ou encerramento da
pesquisa deverá ser decidido após discussão com todos os atores sociais envolvidos e análise das
razões pelos responsáveis pela pesquisa.
47
4 .7 Armazenamento e análise dos dados:
Para a análise estatística dos dados, foi utilizado o programa computacional Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS) versão 17.0.
Os resultados dos testes aplicados foram categorizados segundo os tercis de
distribuição de acordo com a alteração observada, sendo neste estudo denominado de pouco
alterado, alterado e muito alterado e então comparado com o índice de exposição. No TPD em
OD foi considerado pouco alterado: valores maiores que 46,6%; alterado: valores entre 36,6%
e 46,6%; muito alterado: valores menores que 36,6%. No TPD em OE foi considerado pouco
alterado: valores maiores que 43,3%; alterado: valores entre 36,7% e 43,3%; muito alterado:
valores menores que 36,6%. Já no Gin em ambas as orelhas foi considerado pouco alterado:
valores menores que 5,0 ms; alterado: valores entre 5,1 e 6,0 ms; muito alterado maiores que
6,0 ms.
A estatística descritiva foi utilizada para traçar o perfil da população estudada segundo
as variáveis: sexo, idade, escolaridade. Para avaliar a correlação entre os testes aplicados e o
índice de exposição de forma contínua foi utilizada a correlação de Sperman. Já para analisar
a relação entre os testes realizados em tercis e o índice de exposição foi aplicado a análise de
variância juntamente com o teste de Scheffer. Além disso, para analisar a influencia das
variáveis no resultado dos testes foi utilizada a correlação de Sperman, e a regressão logística
para determinar um risco de alteração mais elevada frente a baixas alterações controladas pelo
fator de confundimento. Os valores dos resultados do TPD e do Gin foram divididos pela
mediana. Sendo considerado um pior desempenho para o TPD valores abaixo de 40,0% ms
em ambas as orelhas, e no Gin, foi considerado pior desempenho valores abaixo de 5 ms em
OD e 6ms em OE.
Os resultados desta pesquisa serão apresentados e discutidos no artigo a seguir
48
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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54
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA
MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA
A R T I G O
Processamento Auditivo Temporal (ordenação e resolução temporal) de
Trabalhadores rurais expostos a agrotóxico.
Rio de Janeiro
2010
55
Resumo:
Tema: Processamento auditivo temporal e exposição a agrotóxicos. Objetivo: Foram
investigadas as habilidades auditivas de ordenação e resolução temporal em trabalhadores
rurais expostos ocupacionalmente a agrotóxicos do município de Campos dos Goytacazes.
Método: Foi realizado um estudo seccional através da avaliação de 33 indivíduos de ambos
os sexos, com idade entre 18-59 anos, que foram expostos ocupacionalmente a agrotóxicos.
Os procedimentos aplicados foram: questionário, meatoscopia, avaliação audiológica básica e
testes do Processamento Auditivo Temporal: Teste de Padrão de duração (TPD) e Gap in
Noise (GIN). Para análise dos resultados foi criada uma variável denominada índice de
exposição, através de um somatório simples de variáveis presentes no questionário. Os
resultados dos testes de Processamento Auditivo Temporal aplicados foram categorizados
segundo os tercis de distribuição, de acordo com a alteração observada, sendo neste estudo
denominado de pouco alterado, alterado e muito alterado e então comparado com o índice de
exposição. Resultados: Verificou-se diferença significativa em todos os tercis, havendo uma
relação dose-resposta, ou seja, conforme aumentou a média de exposição, pior foi o
desempenho do TPD (p-valor=0,001) e do GIN (p-valor=0,001) em todos os tercis. A maior
correlação foi observada entre o tercil muito alterado e o pouco alterado. Conclusão: Houve
associação relação entre o índice de exposição a agrotóxico e pior desempenho nos testes de
Processamento Auditivo Temporal, sugerindo que o agrotóxico pode ser uma substância
nociva às vias auditivas centrais.
Palavras-chave: Percepção auditiva, Agrotóxicos, Trabalhadores rurais, Saúde dos
Trabalhadores.
56
Abstract
Theme: Temporal auditory processing and exposure to pesticides. Objective: The objective
of this research was to evaluate the auditory abilities of ordering and temporal resolution in
rural workers exposed to pesticides in the city of Campos dos Goytacazes.
Method: A sectional study through the evaluation of 33 individuals of both genders, aged 18-
59 years, who were exposed to pesticides during their daily routine. The procedures applied
were: a questionnaire, meatoscopy, basic audiological evaluation and the Temporal auditory
processing tests: pattern test duration (TPD) and Gap in Noise (GIN). In order to analyse the
results, a variable called „index of exposure‟ was set up through a simple sum of variables
present in the questionnaire. The tests results of Temporal Auditory Processing applied were
categorized accordingly to the tercis of distribution, in accordance with the amendment
observed, in this study were called a little amended, amended, and much amended and then
compared with the exposure index.
Results: Significant difference was verified in all tercis, with a dose-response relationship, or,
when increased to average exposure, the performance of TPD (p-value=0.001) and GIN (p-
value=0.001) was worse in all tercis. The highest correlation was observed between the third
tertile much amended and the little amended.
Conclusion: There was association between the index of exposure to pesticides and worse
performance in Temporal auditory processing tests, suggesting that the pesticides may be a
harmful substance to central auditory pathways.
Key-words: Auditory Perception, Pesticides, Rural Workers, Workers' Health.
57
INTRODUÇÃO
Atualmente vem sendo crescente a utilização de agrotóxicos no ambiente agrícola. O
processo de produção da agricultura tem apresentado significativas transformações
tecnológicas e organizacionais resultando em ganho de produtividade. Por outro lado, o
aumento da exposição a estas substâncias gera prejuízos à saúde humana, se tornando desta
forma temas de investigação no âmbito de Saúde Coletiva (ALAVANJA et al., 2004; SILVA
et al., 2005; SOARES et al.,2003). Dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico
Farmacológicas, evidenciam que no Brasil, em 2008, ocorreram 2754 casos notificados de
intoxicação por circunstâncias ocupacionais, sendo que destes, 1.082 (40%) por exposição à
agrotóxicos e 1672 (60%) por outros produtos químicos (SINITOX, 2009).
Muitas das substâncias químicas, como os agrotóxicos, são reconhecidamente
neurotóxicos (KAMEL & HOPPIN, 2009) podendo afetar a audição agindo primariamente as
vias auditivas centrais. Dessa forma, para a seleção do método de avaliação audiológica de
indivíduos expostos, deve-se considerar a audiometria tonal e vocal como um ponto de
partida, sendo necessária aplicação de testes que avaliem toda a extensão do sistema auditivo,
como testes eletrofisiológicos e testes do Processamento Auditivo Central (MORATA, 2003).
O processamento auditivo central refere-se, àquilo que fazemos com o que ouvimos.
Não basta, portanto possuir limiares auditivos normais. É preciso que o sinal acústico seja
analisado e interpretado para que se transforme em uma mensagem com significado.
(RAMOS & PEREIRA, 2005). O processamento auditivo temporal é definido, como a
percepção do som ou da alteração do som dentro de um período restrito e definido de tempo,
ou seja, refere-se à habilidade de perceber ou diferenciar estímulos que são apresentados
numa rápida sucessão (SHINN, 2003).
58
Alguns estudos anteriores sugerem a correlação entre alterações auditivas centrais e
exposição ocupacional a agrotóxicos (FERNANDES, 2000; MORATA, 2003;
CAMARINHA, 2010)
Neste sentido, o objetivo da presente pesquisa foi avaliar os processos auditivos
temporais (ordenação e resolução temporal) em trabalhadores rurais expostos
ocupacionalmente a agrotóxicos do município de Campos dos Goytacazes, Estado do Rio de
Janeiro, e correlacionar estes resultados com o grau de exposição dos trabalhadores.
MÉTODOS
Foi realizado um estudo epidemiológico com delineamento transversal. Esta pesquisa
foi analisada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos em Saúde
Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, parecer 113/2009.
O município de Campos foi escolhido devido sua grande produção agrícola e
consequentemente pela larga utilização de agrotóxicos nesta região. Inicialmente realizou-se
uma mobilização dos trabalhadores em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do
Município de Campos dos Goytacazes – RJ, visando à motivação e adesão dos participantes a
pesquisa.
Os indivíduos convidados a participar da pesquisa foram aqueles trabalhadores rurais
que no período entre 08 a 19 de marco de 2010 procuraram o Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Campos que preenchiam os critérios de inclusão no estudo, ou seja: ter idade entre
18 e 59 anos; exposição ocupacional prévia a agrotóxicos; capacidade de compreensão do
objetivo da pesquisa e, conseqüentemente, assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. Adotamos como critérios de exclusão: apresentar alterações neurológicas
59
evidentes, ser exposto a ruído ocupacional, de maneira que pudesse funcionar como fator de
confundimento para o estudo em questão. Também foi realizado meatoscopia com o objetivo
de excluir indivíduos que apresentassem rolha de cera ou presença de corpo estranho no
meato acústico externo. Além disso, foi realizada imitânciometria, através do Mini-Tymp da
marca Interacoustics, para excluir trabalhadores com patologias otológicas de orelha externa
(OE) e/ou orelha média (OM); e audiometria tonal e vocal para excluir indivíduos com perda
auditiva neurosensorial de acordo com a classificação de Lloyd e Kaplan (1978). Este último
procedimento foi realizado com audiômetro da marca Amplaid 309.
Foi utilizado o Teste de Padrão de Duração (TPD) para avaliar a função de
sequencialização ou ordenação temporal que envolve a percepção e/ou o processo de dois ou
mais estímulos auditivos em sua ordem de decorrência no tempo e tem por objetivo fazer com
que o ouvinte reconheça contornos acústicos como entonação, tonicidade e ritmo (FROTA &
PEREIRA, 2003).
O teste de gap in noise (GIN) foi aplicado com o objetivo de avaliar a habilidade de
resolução temporal que pode ser definida como a capacidade de detectar intervalos de tempo
entre estímulos sonoros ou detectar o menor tempo que um indivíduo possa discriminar entre
dois sons audíveis (FORTES et al.,2007) se refere à habilidade de detectar mudanças nos
estímulos sonoros ao longo do tempo (MOORE-2004).
Além dos testes de ordenação e resolução temporal foi aplicado um questionário a
todos os indivíduos incluindo dados demográficos, ocupacionais, perguntas sobre saúde geral
e auditiva.
Como uma tentativa de criar uma escala de avaliação da exposição ocupacional dos
trabalhadores aos agrotóxicos, criou-se uma variável denominada índice de exposição,
calculado através de um somatório simples das seguintes variáveis presentes no questionário:
número de anos de exposição desde a idade do início de contato com agrotóxicos até a idade
60
atual; número de dias de uso durante a última estação; número de vezes por mês em que
foram aplicados os agrotóxicos, idade em que foi iniciado o contato com agrotóxicos, número
de horas de trabalho por dia com agrotóxicos e distância da residência até a lavoura. Este
índice de exposição foi obtido através de um sistema de pontuação, sendo atribuído maior
peso a opção de resposta em que o indivíduo tivesse maior exposição.
Os resultados dos testes aplicados foram categorizados segundo os tercis de
distribuição de acordo com a alteração observada, sendo neste estudo denominado de pouco
alterado, alterado e muito alterado e então comparado com o índice de exposição. No TPD em
OD foi considerado pouco alterado: valores maiores que 46,6%; alterado: valores entre 36,6%
e 46,6%; muito alterado: valores menores que 36,6%. No TPD em OE foi considerado pouco
alterado: valores maiores que 43,3%; alterado: valores entre 36,7% e 43,3%; muito alterado:
valores menores que 36,6%. Já no Gin, em ambas as orelhas, foi considerado pouco alterado:
valores menores que 5,0 ms; alterado: valores entre 5,1 e 6,0 ms; muito alterado maiores que
6,0 ms.
A estatística descritiva foi utilizada para traçar o perfil da população estudada segundo
as variáveis: sexo, idade, escolaridade. Para avaliar a correlação entre os testes aplicados e o
índice de exposição de forma contínua foi utilizada a correlação de Sperman. Já para analisar
a relação entre os testes realizados em tercis e o índice de exposição foi aplicado a análise de
variância juntamente com o teste de Scheffer. Além disso, para analisar a influencia das
variáveis no resultado dos testes foi utilizada a correlação de Sperman, e a regressão logística
para determinar um risco de alteração mais elevada frente a baixas alterações controladas pelo
fator de confundimento, sendo que os valores dos resultados do TPD foram divididos pela
mediana, considerando-se um pior desempenho valores abaixo de 40,0% em ambas as orelhas
e os valores do GIN, também foram divididos pela mediana, sendo considerado um pior
desempenho valores abaixo de 5 ms em OD e 6,0 ms em OE.
61
A análise estatística dos dados foi realizada através do programa computacional
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 17.0
RESULTADOS
Inicialmente foram avaliados 38 indivíduos, sendo um indivíduo excluído por ser
portador de alterações cognitivas evidentes e quatro excluídos do estudo por apresentarem
perda auditiva sensorioneural.
Inicialmente traçou-se o perfil da população estudada. Dos 33 trabalhadores rurais, 24
(72,7%) eram do sexo masculino e nove (27,3%) do sexo feminino. A escolaridade variou
entre analfabetos até segundo grau, sendo constituída por 5 (15,2%) analfabetos, 25 (75,8%)
com primeiro grau e apenas três com segundo grau (9,1%). A média de idade foi de 45,3
anos, sendo a mínima de 26 e a máxima de 59 anos. Os indivíduos eram expostos â vários
tipos de agrotóxico, sendo os herbicidas, em especial o roundup o tipo mais utilizado, e em
menor número os inseticidas e fungicidas.
Teste do Padrão de Duração
A Tabela 1 apresenta estatísticas sobre medidas de tendência central e correlação com o
índice de exposição entre o desempenho do Teste de Padrão de Duração (TPD) segundo Orelhas dos
trabalhadores estudados.
Foram encontradas correlações significativas entre o desempenho do TPD e o índice
de exposição, considerando p < 0,05. Verificou-se correlação negativa mediana para a orelha
direita (OD) e correlação negativa alta para orelha esquerda (OE).
A Tabela 2 fornece o desempenho do Teste de Padrão de Duração dividido em tercis
comparados com a média do índice de exposição. Verificou-se diferença significativa em
62
todos os tercis, havendo uma relação dose-resposta, ou seja, conforme aumenta a média de
exposição, pior foi o desempenho do teste em ambas as orelhas. Embora, a diferença
significativa tenha sido observada entre o tercil de maior alteração em relação ao de menor
alteração.
Ao analisar a influência das variáveis nos resultados dos TPD, foi encontrada apenas
relação significativa para a variável idade..
Na tabela 3 apresenta-se uma regressão logística controlada pela idade para verificar a
chance de o indivíduo apresentar um pior desempenho no TPD ao apresentar um maior índice
de exposição.
Em ambas as orelhas, observou-se que quanto maior o índice de exposição maior a
chance do indivíduo apresentar um pior desempenho no TPD, ou seja, inferior a 40,0 %,
mesmo controlado pela idade.
Teste de Gap in Noise (GIN)
A tabela 1 expõe a média, a mediana, o desvio-padrão, os valores mínimo e máximo, o
coeficiente de correlação do desempenho do Teste GAP in Noise (GIN) de ambas as orelhas
de acordo com o índice de exposição e o p- valor.
Foi encontrada correlação significativa, considerando p < 0,05 para o teste do GIN em
ambas as orelhas. O limiar do GIN na OD apresentou correlação positiva alta e na OE
correlação positiva mediana.
A tabela 2 demonstra o desempenho do Teste do GIN dividido em tercis comparados
com a média do índice de exposição. Observou-se diferença significativa em todos os tercis,
apresentando relação dose-resposta, ou seja, quanto maior a média de exposição, pior foi o
63
desempenho no teste. No entanto, foi observado diferenças significativas entre o tercil de
maior alteração em relação ao de menor alteração
Ao analisar a influência das variáveis nos resultados do GIN, foi encontrada apenas
relação significativa para a variável idade.
A tabela 3 apresenta-se uma análise de regressão logística controlada pela idade para
verificar a chance de o indivíduo apresentar um pior desempenho no GIN ao apresentar um
maior índice de exposição. Em ambas as orelhas, verificou-se que quanto maior o índice de
exposição maior a chance do indivíduo apresentar um pior desempenho no GIN, ou seja,
piores que 5 ms e a 6 ms, na OD e na OE respectivamente, independente da variável idade.
Tabela 1: Análise Descritiva dos Testes de Padrão de Duração (TPD) e Teste de Gap in Noise (GIN)
segundo correlação destes com o índice de exposição aos agrotóxicos entre Trabalhadores Rurais do
Município de Campos-RJ, 2010.
Teste segundo Orelha
Média
Mediana
Desvio Padrão
Mínimo
Máximo
R
p valor
TPD Orelha Direita
43,7
40,0
10,53
30,0
66,6
-0,615
0,000
TPD Orelha
Esquerda
40,0
40,0
9,34
30,0
66,6
-0,713
0,000
GIN Orelha
Direita
5,82
5,0
2,17
2,0
12
0,713
0,000
GIN Orelha Esquerda
6,25
6,0
2,06
4,0
12
0,566
0,001
R = Coeficiente de Correlação
64
Tabela 2: Comparação da Média do Índice de Exposição pelos tercis dos resultados dos Testes de
Padrão de Duração (TPD) e Teste de Gap in Noise (GIN) por Orelhas entre Trabalhadores Rurais do Município de Campos-RJ, 2010.
Teste
Grau de Alteração
segundo Tercis
Média do Índice
de Exposição
p valor
(a)
p valor
(b)
TPD Orelha Direita
Maior que 46,6% (pouco alterado)
5,3
----
0,001
36,6-46,6%
(alterado)
8,2
0,710
0,001
Menor que 36,6% (Muito alterado)
10,3
0,010
0,001
TPD Orelha
Esquerda
Maior que 43,3%
(pouco alterado)
5,3
----
0,001 36,7-43,3%
(alterado)
7,7
0,191
0,001
Menor que 36,6%
(muito alterado)
10,5
0,001
0,001
GIN Orelha
Direita
Menor que 5ms
(pouco alterado)
5,8
----
0,001 5,1-6,0 ms (alterado) 7,7 0,003 0,001
Maior que 6,0 ms
(muito alterado)
10,3
0,003
0,001 GIN Orelha
Esquerda
Menor que 5ms
(pouco alterado)
7,3
----
0,001
5,1-6,0 ms (alterado) 7,7 0,003 0,001
Maior que 6,0 ms (muito alterado)
11,0
0,044
0,001
p-valor (a) = em relação ao tercil de referência (tercil pouco alterado) calculado pelo Teste de Scheffer
p-valor (b) = Calculado pela ANOVA
Tabela 3: Regressão Logística ajustada pela Idade para Avaliar Chance de Pior Desempenho
nos Testes de Padrão de Duração (TPD) e Teste de Gap in Noise (GIN) nas orelhas
segundo Índice de Exposição entre Trabalhadores Rurais do Município de Campos-RJ,
2010.
Teste segundo
Orelha
Razão de Chances
(OR)
IC (95%)
TPD Orelha
Direita
2,020
1,108 – 3,683
TPD Orelha
Esquerda
1,879
1,157 - 3,050
GIN Orelha
Direita
2,038
1,218 - 3,409
GIN Orelha
Esquerda
1,203
0,948 - 1,526
OR- Razão de chances
IC-Intervalo de confiança
65
DISCUSSÃO:
Poder-se-ia apontar como uma das possíveis limitações do presente estudo o número
de pessoas estudadas e o fato de constituída por voluntários e desta forma não probabilística.
Além de ser pequena para detectarmos sutís diferenças nas alterações do Processamento
Auditivo Temporal em relação ao índice de exposição. Todavia, deve-se ressaltar que embora
a população estudada tenha sido pequena, resultados com magnitude expressiva e
estatisticamente significativos mostram a relevância deste estudo pioneiro no país.
Outra possível limitação é o fato do estudo ser seccional, o que poderia dificultar a
avaliação da relação causal (a exposição precede o desfecho). Porém, a utilização de um
índice de exposição pregressa, minimizou este tipo de limitação
A população estudada foi composta predominantemente por indivíduos do sexo
masculino (72,7%) e majoritariamente por indivíduos adultos, resultados semelhantes aos
estudos de Araújo et al., (2007); Pedlowsky (2006).
Nesta população estudada, todos os resultados (100%) encontrados para o TPD
indicaram desempenho pior quando comparados com o padrão de normalidade, ou seja, índice
de acertos acima de 75% para ambas as orelhas (MUSIEK, 2002). (Tabela 1) Desta forma,
pode-se sugerir que o agrotóxico pode prejudicar a habilidade de ordenação temporal avaliada
pelo TPD.
Atualmente, para o Teste GIN existe padronização até a idade de 31 anos, sendo o
critério de normalidade uma média geral dos limiares de gap de 4,19 ms (SAMELLI &
SCHOCHAT, 2008). Nos trabalhadores deste estudo, observou-se que aproximadamente
51,5% dos resultados do GIN foram alterados na OD e 54,5% na OE, podendo esta
porcentagem de alteração indicar que o agrotóxico é prejudicial à habilidade auditiva de
resolução temporal.
66
No entanto, é importante ressaltar que a população estudada, provavelmente, possui
um nível sócio-econômico inferior ao das populações utilizadas para a padronização dos
Testes de Processamento Auditivo Temporal, o que dificulta a comparação dos dados obtidos
com os valores descritos como normalidade.
Fazendo uma comparação entre os resultados do TPD com os resultados do GIN,
observou-se que o desempenho foi relativamente pior no TPD. Talvez possa ser atribuído este
dado ao fato do TPD envolver não apenas a habilidade auditiva de ordenação temporal, mas
também a memória, ao contrário do GIN. Como afirmam EDDINS et al,. 2001 que a memória
poderia contribuir para a grande variabilidade no desempenho em testes envolvendo
discriminação de pistas acústicas de duração.
A mesma comparação foi feita no estudo de Liporaci & Frota (2009), através do qual
encontrou resultados semelhantes. A autora justifica o fato da tarefa solicitada no TPD exigir
que ocorra transferência inter hemisférica, ou seja, os dois hemisférios cerebrais estão
envolvidos. O reconhecimento do contorno do padrão ocorre no hemisfério direito e a
informação é transferida através do corpo caloso para o hemisfério esquerdo, onde a
nomeação do sinal é feita. Sendo assim, nos casos onde há respostas verbais insatisfatórias é
provável que haja uma disfunção na transferência inter hemisférica para o hemisfério
esquerdo do cérebro. Já no GIN a tarefa solicitada não exige nomeação e sim identificação do
intervalo de silencio levantando a mão, não necessitando de transferência inter hemisférica.
Os testes de Padrão de Duração e o GIN categorizados em tercis com o índice de
exposição (Tabela 2), encontrou-se diferença significativa em todos os tercis, havendo uma
relação dose-resposta, ou seja, conforme aumenta a média de exposição, pior é o desempenho
dos testes em todos os tercis. A maior correlação foi encontrada entre o tercil muito alterado e
o pouco alterado. Talvez, em estudos com o mesmo objetivo e um número maior de
participantes poderia-se encontrar uma forte correlação entre todos os tercis.
67
Ao analisar a influência das variáveis: sexo, idade, escolaridade, foi encontrada
relação significativa apenas para a variável idade. Ou seja, tanto no TPD e no GIN, os
indivíduos incluídos no tercil muito alterado, tiveram um maior índice de exposição, porém
também eram os que possuíam maior faixa etária. Podendo ser a idade um fator de
confundimento para a pesquisa. Ao realizarmos a regressão logística (Tabela 3) para
neutralizar o possível viés da idade, encontramos resultados positivos em relação à hipótese
inicialmente levantada: que os indivíduos com maior índice de exposição apresentaram
desempenho muito alterado nos TPD e no GIN, independentemente da idade. Outros estudos
atuais indicam que há relação entre dificuldades do PAC e envelhecimento (MOORE, 2004;
NEVES & FEITOSA, 2003; LIPORACI, 2009;), porém estes trabalhos foram realizados com
uma população idosa acima de 60 anos, ao contrário da pesquisa atual, na qual foram
incluídos indivíduos com idade até 59 anos, com o objetivo de tentar evitar que a idade
pudesse influenciar nos resultados dos testes de Processamento auditivo temporal aplicados.
Não foram encontrados estudos semelhantes que correlacionem o índice de exposição
aos agrotóxicos e o Processamento Auditivo Temporal.
De acordo com a literatura especializada, são reconhecidos os efeitos adversos que a
exposição a substâncias químicas podem causar no Sistema Nervoso Central (KAMEL et
al.,2003; BOSMA et al., 2000; DUTRA et al., 2010 ), entretanto os efeitos destas substâncias
nas vias auditivas centrais ainda são pouco explorados. Desta forma, estudos que utilizem
testes para avaliar o Sistema auditivo central são necessários para aprofundar o conhecimento
da toxicidade dos agrotóxicos neste sistema.
Os resultados apontam uma associação entre a exposição a agrotóxicos e alterações
mais graves nas habilidades de ordenação e resolução temporal do Processamento Auditivo
Temporal.
68
Conclusão
Este estudo mostrou uma relação entre exposição a agrotóxico e pior desempenho nos
testes de processamento auditivo temporal. Desta forma, sugere-se que o agrotóxico pode ser
uma substância nociva para as vias auditivas centrais. Também foi verificada a importância
das questões auditivas centrais serem consideradas em procedimentos que visem medidas
preventivas para os trabalhadores rurais expostos a estas substâncias.
69
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71
ANEXO 1
QUESTIONÁRIO
I- INFORMAÇÕES GERAIS
Nome:________________________________________________________
Sexo: ( ) F ( ) M Idade:_______________________
Endereço:_____________________________________________________
Bairro:__________________________ Cidade:________________________
Tel.:____________________________ Cep.:_________________________
Estado Civil:___________________
Escolaridade: ( ) Analfabeto
( )Primeiro incompleto
( )Primeiro completo
( ) Segundo incompleto
( ) Segundo completo
II - INFORMAÇÕES DE SAÚDE
( ) Pressão alta ( )Colesterol alto ( )Diabetes |__| Câncer |__| Aids |__| Alt. neurológica
( )Você fuma? quantidede ___________________
( ) Você bebe Álcool ? quantidade_____________________
Faz uso de medicamento ( ) sim ( ) Não
Qual?______________________________________________
III - INFORMAÇÕES AUDITIVAS
Você já percebeu algum líquido saindo do ouvido (otorréia)? ( ) sim ( ) não
( ) sim ( ) não
Você já fez alguma cirurgia no ouvido? ( )sim ( )não
Perfuração timpânica ( ) sim ( ) não
Exposição a ruídos ocupacionais ( ) sim ( ) não
quais?_________________________
Você acha que escuta bem em ambiente silencioso? ( ) sim ( ) não
Você acha que escuta bem em ambiente ruidoso? ( ) sim ( ) não
IV - INFORMAÇÕES SOBRE USO DO AGROTÓXICO
QUAL AGROTÓXICO (veneno/ remédio de planta) VOCÊ USA EM SEU TRABALHO?
( ) Round up (glifosato) ( ) Outros ______________________
( ) Tordon ( )
( ) Gramoxone ( )
( ) Tamaron ( )
72
HÁ QUANTO TEMPO VOCÊ TRABALHA COM AGROTÓXICO (veneno/ remédio de
planta)?
( ) menos de 1 ano ( ) 11-20 anos
( ) 1- 5 anos ( ) 21-30 anos
( ) 5- 10 anos ( ) mais de 30 anos
DURANTE A ÚLTIMA ESTAÇÃO, QUANTOS DIAS VOCÊ APLICOU AGROTÓXICO
(veneno / remédio de planta)?
( ) Nunca
( ) 1 - 5 dias
( ) 6 - 25 dias
( ) 26 - 50 dias
( ) mais de 50 dias
QUANTAS VEZES POR MÊS VOCÊ USA O AGROTÓXICO(veneno/ remédio de planta)?
( ) 1 vez ( )5- 10 vezes
( ) 1-5 vezes ( )mais de 10 vezes
COM QUANTOS ANOS VOCÊ COMEÇOU A TER CONTATO COM
AGROTÓXICO(veneno/remédio de planta)?
( ) 5-10 anos ( )15-20 anos
( ) 10- 15 anos ( )21 anos ou mais
V- QUANTAS VEZES VOCÊ REALIZA ESSAS ATIVIDADES?
ATIVIDADES COM EXPOSIÇÃO A RUÍDO (barulho muito alto), COMO DIRIGIR CAMINHÕES, TRATORES, ÔNIBUS, MOER ALIMENTOS, SOLDAR?
( ) Nunca, ou menos de 1 vez por mês
( ) 1- 3 vezes por mês (mensalmente)
( ) 1-5 vezes por semana (semanalmente)
( ) 6- 7 vezes por semana (diariamente)
VI - HÁBITOS DE TRABALHO
QUANTAS HORAS VOCÊ TRABALHA POR DIA?
( ) 4 horas ( ) 10 horas
( ) 6 horas ( ) 12 horas
( ) 8 horas ( ) mais de 12 horas
QUAL A DISTÂNCIA DA SUA CASA ATÉ ONDE VOCÊ APLICA OU MISTURA O
AGROTÓXICO (veneno/remédio de planta)?
( ) menos de 50 metros ( )100-200 metros
( ) 50-100 metros ( ) mais de 200 metros
73
ANEXO 2
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, Martha Marcela de Matos Bazilio, através do Instituto de Estudos de Saúde
Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro estou realizando um estudo intitulado
“AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO TEMPORAL EM
TRABALHADORES RURAIS EXPOSTOS A AGROTÓXICOS EM CAMPOS, ESTADO
DO RJ.”
Os agrotóxicos são utilizados na agricultura, e é uma substância tóxica para a saúde
em geral, podendo afetar a saúde auditiva. Neste sentido, o objetivo deste estudo é avaliar o
processamento auditivo temporal em trabalhadores rurais e comparar com o grau de
exposição a agrotóxicos, o que contribuirá para um maior conhecimento dos efeitos desta
substância na saúde e poderá auxiliar no desenvolvimento de medidas preventivas.
Os procedimentos realizados incluem aplicação de um questionário contendo
perguntas sobre sua identificação, dados sobre efeitos na saúde geral e auditiva e questões
específicas da exposição aos agrotóxicos e do trabalho; meatoscopia, que é a inspeção do
meato acústico externo; testes audiológicos: audiometria tonal e vocal, imitanciometria e
avaliação do processamento auditivo temporal que será composto pelos testes de padrão de
duração e o GIN (Gap in noise)
A participação nesta pesquisa é voluntária. A qualquer momento você pode recusar a
sua participação na pesquisa ou entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
do IESC através do telefone: (21) 2598-9328 ou com a pesquisadora pelo celular (21) 9819-
0334, através de chamada a cobrar.
Todos os dados da pesquisa serão confidenciais e de restrito caráter científico. Os
participantes têm o direito de serem mantidos atualizados sobre os seus resultados parciais da
pesquisa e após a conclusão será marcada uma reunião para transferência dos resultados aos
participantes da pesquisa.
Eu me comprometo a utilizar os dados coletados somente para pesquisa e os
resultados serão veiculados através de artigos científicos em revistas especializadas e/ou em
encontros científicos e congressos, sem nunca tornar possível sua identificação.
Atenciosamente,
_______________________________
Martha Marcela de Matos Bazilio (Pesquisadora) RG: 13171410-7 do IFP-RJ
Eu, _________________________________________ RG no__________, concordo
participar da pesquisa.
Campos dos Ggoytacazes, ____ de _____________________ de 20___.
_________________________________________________
74
ANEXO 3
Audiometria tonal Audiometria vocal Hz/ dB 250 500 1000 2000 3000 4000 6000 8000 OD OE
OD - VA SRT (dB)
OD - VO IPRF (%)
OE - VA
OE - VO
Imitanciometria
-200 -100 0 100 200
75
ANEXO 4
(MUSIEK, 1999)
NOME:__________________________________IDADE:___________DATA:____/___/____
TESTE DE PADRÃO DE DURAÇÃO
OD______________% OE______________%
OD
1. LCL
2. LLC 3. CLL
4. LLC
5. CCL
6. CLL 7. LLC
8. LCC
9. CCL 10.CLL
11.CCL
12.LCC
13.CLL 14.LCL
15.LCC
16.LLC
17. LCC
18. CLC 19. LLC
20. LLC
21. CCL
22. CLL 23. CLC
24. LLC
25. LLC 26. LCL
27. CCL
28. LCC
29. CLC 30. LCL
31. CLC
32. CCL 33. CLC
OE
1. CCL
2. CLC 3. LCL
4. CLL
5. LCC
6. CCL 7. LCL
8. LLC
9. CLL 10.LCC
11.CLL
12.CLC
13.CCL 14.LCC
15.LLC
16.CLL
17. LCL
18. LCC 19. LCL
20. CLC
21. CLC
22. CCL 23. CCL
24. CLC
25. LCL 26. LCL
27. CLC
28. LLC
29. LCC 30. LCL
31. LCC
32. CLL 33. CLL
76
ANEXO 5
GIN (Gaps in noise)
77
2 ms______________%
3ms______________%
4ms______________%
5ms______________%
6ms______________%
8ms______________%
10ms_____________%
12ms_____________%
15ms_____________%
20ms_____________%
78
ANEXO 6
Numero Idade Sexo Escolaridade TPDOD TPDOE GinOD GinOE Índice de
Exposição
1 36 M Até 1 grau 40 36,6 4 5 6 pontos
2 31 M Até 1 grau 46,6 36,6 6 5 8 pontos
3 36 M Até 1 grau 50 46,6 4 5 8 pontos
4 36 F Até 1 grau 46,6 50 4 4 7 pontos
5 46 M Até 2 grau 53,3 50 4 6 1 ponto
6 49 M Até 1 grau 36,6 60 5 5 6 pontos
7 26 M Até 2 grau 63,3 60 6 4 1 ponto
8 46 M Até 1 grau 36,6 66,6 3 6 3 pontos
9 54 M Até 1 grau 40 36,6 5 6 9 pontos
10 39 M Até 1 grau 36,6 36,6 8 8 9 pontos
11 53 M Até 1 grau 60 46,6 6 8 6 pontos
12 38 M Até 1 grau 40 40 8 6 6 pontos
13 42 M Até 1 grau 36,6 40 5 5 8 pontos
14 29 M Até 1 grau 66,6 66,6 6 4 0 pontos
15 30 M Até 1 grau 33,3 36,6 3 6 8 pontos
16 49 M Analf. 40 40 6 10 8 pontos
17 45 M Analf. 33,3 36,6 8 8 10 pontos
18 43 M Até 1 grau 33,3 30 6 10 15 pontos
19 47 M Até 1 grau 33,3 36,6 12 6 8 pontos
20 39 F Até 2 grau 60 50 6 4 3 pontos
21 40 M Até 1 grau 40 43,3 2 12 9 pontos
22 53 M Até 1 grau 33,3 30 10 5 7 pontos
23 59 M Até 1 grau 33,3 36,6 6 8 10 pontos
24 57 M Até 1 grau 30 33,3 8 10 12 pontos
25 55 F Até 1 grau 36,6 33,3 10 8 8 pontos
26 53 M Até 1 grau 40 43,3 4 5 3 pontos
27 57 F Analf. 36,6 36,6 8 5 9 pontos
28 44 M Até 1 grau 46,6 40 3 4 4 pontos
29 50 M Analf. 36,6 43,3 5 5 8 pontos
30 57 F Até 1 grau 53,3 43,3 4 6 5 pontos
31 51 F Até 1 grau 60 40 5 5 6 pontos
32 45 M Analf. 43,3 40 5 6 5 pontos
33 51 F Até 2 grau 40 40 5 6 8 pontos