avaliação do processamento auditivo temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · pac-...

77
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA Martha Marcela de Matos Bazilio Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e resolução temporal) em trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos em Campos, Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro 2010

Upload: others

Post on 01-Aug-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA

MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

Martha Marcela de Matos Bazilio

Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e resolução temporal) em trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos em Campos, Estado do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro

2010

Page 2: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

Martha Marcela de Matos Bazilio

Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e resolução temporal) em trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos em Campos, Estado do Rio de Janeiro.

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós- Graduação em Saúde

Coletiva da UFRJ, como requisito à

obtenção do Título de Mestre em Saúde

Coletiva.

Orientador: Prof. Dr. Volney de Magalhães Câmara.

Co-orientador: Silvana Maria Monte Coelho Frota

Rio de Janeiro

2010

Page 3: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

B 363 Bazilio, Martha Marcela de Matos.

Avaliação do processamento auditivo temporal (ordenação) e resolução temporal) em trabalhadores rurais expostos a agrotóxi

cos em Campos, Estado do Rio de Janeiro./ Martha Marcela de

Matos Bazilio. – Rio de Janeiro: UFRJ/IESC, 2010.

79 f. : il. 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva). Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010. Orientador: Volney de Ma

galhães Câmara. Co-orientador: Silvana Maria Monte C. Frota

1. Processamento auditivo. 2. Agrotóxicos. 3.Trabalhadores. 4.Saúde Coletiva. 5. Campos (RJ). I. Título

CDD: 617.8

Page 4: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

Martha Marcela de Matos Bazilio

Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e resolução temporal) em trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos em Campos, Estado do Rio de Janeiro.

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós- Graduação em Saúde

Coletiva da UFRJ, como requisito à

obtenção do Título de Mestre em Saúde

Coletiva.

Aprovada em 06 de novembro de 2010

Banca examinadora:

Prof. Dr. Volney de Magalhães Câmara, Pós-Doutor, UFRJ.

Profª. Drª.Silvana Maria Monte Coelho Frota-Doutora, UFRJ.

Profª. Dr.Ciríaco Cristóvão Tavares Atherino- Doutor, UERJ.

Prof. Dr. Ronir Raggio Luiz-Doutor, UFRJ.

Page 5: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

Agradecimentos

À Deus, por me dar força para superar as dificuldades e ânimo para proseguir.

À minha família, a qual amo muito, pelo carinho, paciência e incentivo.

Aos meus pais, que contribuem para meu desenvolvimento pessoal e profissional, que

são meus exemplos de determinação e coragem.

Á minha irmã Ana Paula, pelo apoio, e por atender meus infinitos pedidos de ajuda.

Ao meu sobrinho Vinicius, por todos os momentos de brincadeiras e gestos de carinho

durante este árduo trabalho.

A todos os meus amigos, dos quais me orgulho muito e que fizeram parte desse

momento, sempre me ajudando e incentivando.

Ao meu namorado Márcio, pelo amor e paciência nos meus “maus momentos”, pelo

companheirismo e pelas horas de alegria.

Ao Prof. Dr. Volney de Magalhães Câmara pela dedicação, disponibilidade e palavras

de incentivo que tornaram possíveis a conclusão deste trabalho.

À minha co-orientadora Dra. Silvana Frota, pelo exemplo de profissional a ser

seguido, por me incentivar desde a graduação, e pela sua enorme ajuda, sem a qual não seria

possível a realização deste trabalho.

Aos Professores Armando Meyer e Carmen Ildes pelas sugestões que ajudaram a

enriquecer este trabalho.

À Doutoranda Juliana Chrisman, que atendeu aos meus pedidos de socorro e me

orientou na parte de análise estatística.

Às Fonoaudiólogas Maria Isabel Kós e Fátima Miranda que participaram da coleta dos

dados e tornaram esta etapa mais agradável e divertida.

À todos do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Campos dos Goytacazes pela

compreensão e carinho com me acolheram.

Aos trabalhadores rurais que se dispuseram a participar desta pesquisa.

Enfim, a todos que de alguma forma, mesmo que inconsciente me ajudaram em mais

esta etapa.

Page 6: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

“A mente que se abre a uma nova idéia,

jamais voltará ao seu tamanho original.”

(Albert Einstein)

Page 7: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

BAZILIO, Martha Marcela de Matos. Avaliação do Processamento Auditivo Temporal

(ordenação e resolução temporal) em Trabalhadores Rurais Expostos a Agrotóxicos em

Campos, Estado do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Instituto de

Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.

Resumo

Resumo:

Tema: Processamento auditivo temporal e exposição a agrotóxicos. Objetivo: O objetivo da

presente pesquisa foi avaliar as habilidades auditivas de ordenação e resolução temporal em

trabalhadores rurais expostos ocupacionalmente a agrotóxicos do município de Campos dos

Goytacazes. Método: Foi realizado um estudo seccional através da avaliação de 33

indivíduos de ambos os sexos, com idade entre 18-59 anos, que foram expostos

ocupacionalmente a agrotóxicos. Os procedimentos aplicados foram: questionário,

meatoscopia, avaliação audiológica básica e testes do Processamento Auditivo Temporal:

Teste de Padrão de duração (TPD) e Gap in Noise (GIN). Para análise dos resultados foi

criada uma variável denominada índice de exposição, através de um somatório simples de

variáveis presentes no questionário. Os resultados dos testes de Processamento Auditivo

Temporal aplicados foram categorizados segundo os tercis de distribuição, de acordo com a

alteração observada, sendo neste estudo denominado de pouco alterado, alterado e muito

alterado e então comparado com o índice de exposição. Resultados: Verificou-se diferença

significativa em todos os tercis, havendo uma relação dose-resposta, ou seja, conforme

aumentou a média de exposição, pior foi o desempenho do TPD (p-valor=0,001) e do GIN (p-

valor=0,001) em todos os tercis. A maior correlação foi observada entre o tercil muito

alterado e o pouco alterado. Conclusão: Houve associação relação entre o índice de

exposição a agrotóxico e pior desempenho nos testes de Processamento Auditivo Temporal,

sugerindo que o agrotóxico pode ser uma substância nociva às vias auditivas centrais.

Palavras-chave: Percepção auditiva, Agrotóxicos, Trabalhadores rurais, Saúde dos

Trabalhadores.

Page 8: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

BAZILIO, Martha Marcela de Matos. Avaliação do Processamento Auditivo

Temporal(ordenação e resolução temporal) em Trabalhadores Rurais Expostos a Agrotóxicos

em Campos, Estado do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Instituto

de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.

Abstract

Theme: Temporal auditory processing and exposure to pesticides. Objective: The objective

of this research was to evaluate the auditory abilities of ordering and temporal resolution in

rural workers exposed to pesticides in the city of Campos dos Goytacazes.

Method: A sectional study through the evaluation of 33 individuals of both genders, aged 18-

59 years, who were exposed to pesticides during their daily routine. The procedures applied

were: a questionnaire, meatoscopy, basic audiological evaluation and the Temporal auditory

processing tests: pattern test duration (TPD) and Gap in Noise (GIN). In order to analyse the

results, a variable called „index of exposure‟ was set up through a simple sum of variables

present in the questionnaire. The tests results of Temporal Auditory Processing applied were

categorized accordingly to the tercis of distribution, in accordance with the amendment

observed, in this study were called a little amended, amended, and much amended and then

compared with the exposure index.

Results: Significant difference was verified in all tercis, with a dose-response relationship, or,

when increased to average exposure, the performance of TPD (p-value=0.001) and GIN (p-

value=0.001) was worse in all tercis. The highest correlation was observed between the third

tertile much amended and the little amended.

Conclusion: There was association between the index of exposure to pesticides and worse

performance in Temporal auditory processing tests, suggesting that the pesticides may be a

harmful substance to central auditory pathways.

Key-words: Auditory Perception, Pesticides, Rural Workers, Workers' Health.

Page 9: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

Lista de Quadros

Quadro 1 – Classificação toxicológica da Organização Mundial de Saúde (OMS): baseada na

DL 50 em ratos oral e dérmica, por mg / kg de peso, das formulações líquidas e sólidas

................................................................................................................................................ 20

Quadro 2 – Classificação Toxicológica do Ministério da Saúde-Brasil: baseada na DL 50 oral,

formulações líquidas e sólidas............................................................... .................................20

Quadro 3- Equivalência da DL 50 entre animais experimentais e dose letal para o homem

.................................................................................................................................................21

Quadro 4 – Correspondencia da classificação Toxicológica com a coloração do rótulo, de

acordo com o Ministério da Saúde..........................................................................................21

Page 10: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Análise descritiva dos Testes de Padrão de Duração E Teste de Gap in Noise

segundo correlação destes com o índice de exposição aos agrotóxicos entre Trabalhadores

Rurais do Município de Campos- RJ,

2010...................................................................................................................................63

Tabela 2 – Comparação da Média do Índice de Exposição pelos tercis dos resultados dos

Testes de Padrão de Duração e Teste de Gap in Noise por orelhas entre Trabalhadores Rurais

do Município de Campos-RJ, 2010

...................................................................................................................................................64

Tabela 3 – Regressão Logística ajustada pela idade para avaliar chance de pior desempenho

nos Testes de Padrão de Duração e Teste de Gap in Noise nas orelhas segundo índice de

Exposição entre Trabalhadores Rurais do Município de Campos-RJ, 2010

.................................................................................................................................................64

Page 11: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACh- Acetilcolina

AChE- Acetilcolinesterase

dB- Decibéis

GIN- Teste de Gap in Noise

Hz- Hertz

IRF- Índice de Reconhecimento de Fala

LRF- Limiar de Recepção de Fala

NA- Nível de Audição

NS- Nível de Sensação

OD- Orelha Direita

OE- Orelha Esquerda

OM- Orelha Média

PAC- Processamento Auditivo Central

SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central

SNC- Sistema Nervoso Central

SPSS- Statistical Package for the Social Sciences

SSW- Staggered Spondaic Word Test (Teste de dissílabos alternados em Português)

Page 12: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

13

SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO...................................................................................................................14

2. REVISÃO DE LITERATURA..........................................................................................17

2.1 Os agrotóxicos...............................................................................................................17

2.2 Efeitos dos agrotóxicos na saúde...................................................................................22

2.3 Efeitos dos agrotóxicos no sistema auditivo..................................................................25

2.4 Efeitos de outras substâncias químicas no sistema auditivo..........................................27

2.5 Processamento Auditivo Central....................................................................................30

2.6 Processamento Auditivo Temporal................................................................................32

3.OBJETIVOS..............................................................................................................37

.

4. METODOLOGIA. ...........................................38ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

4.1Caracterização do local do estudo.....................................................................................38

4.2 Casuística.........................................................................................................................38

4.3 Procedimentos para selecionar a população estudada.....................................................39

4.3.1 Questionário.............................................................................................................39

4.3.2 Meatoscopia.............................................................................................................40

4.3.3 Audiometria Tonal e Vocal......................................................................................40

4.3.5 Imitanciometria........................................................................................................41

4.4 Procedimento para avaliar o índice de exposição.......................................................42

4.5 Procedimentos para avaliar o Processamento Auditivo Temporal..................................43

4.5.1 Teste de Padrão de Duração....................................................................................44

4.5.2 Teste de Gap in Noise.............................................................................................44

4.6 Aspectos Éticos................................................................................................................45

4.7 Armazenamento e análise dos dados...............................................................................47

5. REFERÊNCIAS..................................................................................................................48

6. ARTIGO . ........................................................................................................ ................54

7. ANEXOS..............................................................................................................................71

Page 13: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

14

1. INTRODUÇÃO

Atualmente vem sendo crescente a utilização de agrotóxicos no ambiente agrícola. O

processo de produção da agricultura tem apresentado significativas transformações

tecnológicas e organizacionais resultando em ganho de produtividade. Por outro lado, o

aumento da exposição a estas substâncias gera prejuízos à saúde humana, se tornando desta

forma temas de investigação no âmbito de Saúde Coletiva. (ALVARENJA et al., 2004;

SILVA et al., 2004; SOARES et al., 2003; SIQUEIRA & KRUSE, 2008).

Comumente, nos ambientes de trabalho os trabalhadores estão expostos a uma série de

agentes físicos e químicos, juntamente com fatores psicossociais e organizacionais, que

representam riscos à saúde do trabalhador, sendo, no meio rural, freqüente a exposição destes

trabalhadores aos agrotóxicos, podendo trazer impactos para a saúde tanto da população

trabalhadora como da população em geral.

Novas tecnologias, muitas delas baseadas no uso extensivo de agentes

químicos, foram disponibilizados para o controle de doenças, aumento da

produtividade e proteção contra insetos e outras pragas. Entretanto, essas novas

facilidades não foram acompanhadas pela implementação de programas de

qualificação da força de trabalho, sobretudo nos países em desenvolvimento

expondo as comunidades rurais a um conjunto de riscos ainda desconhecidos,

originado pelo uso extensivo de um grande número de substâncias químicas

perigosas e agravado por uma série de determinantes de ordem social. (MOREIRA

et al., 2002, p: 300)

O uso de agrotóxicos na agricultura teve início por volta de 1920, e sua produção em

escala industrial ocorreu a partir da Revolução Industrial em 1930. No Brasil, o consumo de

agrotóxicos cresceu acentuadamente nas últimas décadas, transformando o país em um dos

líderes mundiais no consumo de agrotóxicos e o maior da América Latina (FARIA et al.,

2007).

Page 14: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

15

Dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (SINITOX, 2009)

evidenciam que no Brasil ocorreram 2.754 casos notificados de intoxicação por circunstâncias

ocupacionais por agentes químicos, sendo que destes, 1.082 (40%) por agrotóxicos e 1672

(60%) por outros produtos químicos, como: medicamentos, produtos químicos industriais,

metais e raticidas.

A Agência de Proteção ao Meio Ambiente Americana (EPA, 1980) define agrotóxico

como qualquer substância ou mistura de substâncias que tem a intenção de prevenir, destruir,

matar ou repelir qualquer peste. Eles são frequentemente classificados pelo organismo que

atuam ou pelo modo de uso, como: inseticidas, herbicidas, fungicidas ou acaricidas, havendo

uma subclassificação de acordo com a estrutura química a qual pertencem: organofosforados,

organoclorados, carbamatos, piretróides, triazinas. Indivíduos são frequentemente expostos a

diferentes pesticidas ou mistura de pesticidas simultaneamente. Estas exposições geralmente

são correlacionadas com um grupo funcional ou químico, trazendo dificuldades para que

sejam identificados efeitos à saúde de um agente em particular (KAMEL & HOPPIN, 2004).

A utilização de agrotóxicos tem como fundamento minimizar o tempo de trabalho e

combater um crescente número de pragas (PEDLOWSKI et al., 2006). Por outro lado,

representam um risco em potencial para todos os organismos vivos. Eles podem ser

absorvidos via dérmica, inspirados ou ingeridos através de produtos contaminados (VEIGA,

2007).

A exposição a um determinado produto químico em grandes doses por um curto

período pode provocar efeito agudo, no qual o quadro se mostra bem definido. Em linhas

gerais, este quadro se caracteriza por náuseas, vômitos, cefaléia, tontura, desorientação,

hiperexcitabilidade, parestesia, irritação da pele e mucosas, dificuldades respiratórias,

hemorragias, convulsões e morte (SILVA et al., 2005). Na intoxicação crônica a

Page 15: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

16

sintomatologia aparece de forma insidiosa e tardia, após uma exposição pequena ou moderada

aos agrotóxicos por longo período de tempo, dificultando a associação causal.

Muitas das substâncias químicas como os agrotóxicos são reconhecidamente

neurotóxicos (KAMEL & HOPPIN, 2004) podendo afetar a audição agindo primariamente as

vias auditivas centrais. Dessa forma, para a seleção do método de avaliação audiológica de

indivíduos expostos, deve-se considerar a audiometria tonal e vocal como um ponto de

partida, sendo necessária aplicação de testes que avaliem toda a extensão do sistema auditivo,

como testes eletrofisiológicos e testes do Processamento Auditivo Central (MORATA, 2003).

Page 16: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

17

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Os Agrotóxicos

O termo agrotóxico engloba um grupo de compostos químicos que, embora

normalmente apresentem elevada toxicidade, são utilizados com a finalidade de eliminação e

controle de pestes, trazendo benefícios econômicos quando utilizados na agricultura, além de

serem também empregados no campo da saúde pública para o controle de vetores de doenças

(BRITT, 2000).

A Lei Federal nº 7.802 de 11/07/89, regulamentada através do Decreto 98.816, no seu

Artigo 2º, Inciso I, define o termo agrotóxico da seguinte forma:

"Os produtos e os componentes de processos físicos,

químicos ou biológicos destinados ao uso nos setores de produção,

armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas

pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas e de

outros ecossistemas e também em ambientes urbanos, hídricos e

industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora e da

fauna, a fim de preservá-la da ação danosa de seres vivos

considerados nocivos, bem como substâncias e produtos

empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e

inibidores do crescimento."

No Brasil, a utilização dos agrotóxicos em larga escala deu-se a partir da década de 70,

quando os pesticidas foram incluídos, compulsoriamente, junto com adubos e fertilizantes

químicos, nos financiamentos agrícolas. Atualmente, o termo "agrotóxico" é o mais

recomendado para designar os pesticidas, pois atesta a toxicidade destas substâncias químicas,

especialmente quando manipuladas sem adequados equipamentos de proteção (ARAÚJO et

al., 2007).

Todo agrotóxico é classificado pelo menos quanto a três aspectos: tipos de organismos

que controlam, toxicidade da(s) substância(s) e grupo químico ao qual pertencem (SILVA et

al., 2005).

Page 17: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

18

A classificação dos agrotóxicos de acordo com os tipos de organismo que controlam e

quanto à estrutura química a que pertencem (SILVA, 2006):

a) Inseticidas: possuem ação de combate a insetos, larvas e formigas. Os

inseticidas pertencem a quatro grupos químicos distintos:

Organofosforados: são compostos orgânicos derivados do ácido fosfórico, do

ácido tiofosfórico ou do ácido ditiofosfórico. Ex.: Folidol, Azodrin, Malation,

Diazinon, Nuvacron, Tamaron, Rhodiatox.

Carbamatos: são derivados do ácido carbâmico. Ex.: Carbaril, Temik, Zectram,

Furadan.

Organoclorados: são compostos à base de carbono, com radicais de cloro. São

derivados do clorobenzeno, do ciclo-hexano ou do ciclodieno. Foram muito

utilizados na agricultura, como inseticidas, porém seu emprego tem sido

progressivamente restringido ou mesmo proibido. Ex.: Aldrin, Endrin, BHC,

DDT, Endossulfan, Heptacloro, Lindane, Mirex.

Piretróides: são compostos sintéticos que apresentam estruturas semelhantes à

piretrina, substância existente nas flores do Chrysanthemum (Pyrethrun)

cinenarialfolium. Alguns desses compostos são: aletrina, resmetrina,

decametrina, cipermetrina e fenpropanato. Ex.: Decis, Protector, K-Otrine,

SBP.

b) Fungicidas: ação de combate a fungos. Existem muitos fungicidas no mercado.

Os principais grupos químicos são:

Etileno-bis-ditiocarbamatos: Maneb, Mancozeb, Dithane, Zineb, Tiram.

Trifenil estânico: Duter e Brestan.

Page 18: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

19

Captan: Ortocide e Merpan.

Hexaclorobenzeno.

c) Herbicidas: combatem ervas daninhas. Nas últimas duas décadas, esse grupo

tem tido uma utilização crescente na agricultura. Seus principais representantes

são:

Paraquat: comercializado com o nome de Gramoxone.

Glifosato: Round-up.

Pentaclorofenol

Derivados do ácido fenoxiacético: 2,4 diclorofenoxiacético (2,4 D) e 2,4,5

triclorofenoxiacético (2,4,5 T). A mistura de 2,4 D com 2,4,5 T representa o

principal componente do agente laranja, utilizado como desfolhante na Guerra do

Vietnan. O nome comercial dessa mistura é Tordon.

Dinitrofenóis: Dinoseb, DNOC.

Outros grupos importantes compreendem:

d) Raticidas (Dicumarínicos): utilizados no combate a roedores.

e) Acaricidas: ação de combate a ácaros diversos.

f) Nematicidas: ação de combate a nematóides.

g) Molusquicidas: ação de combate a moluscos, basicamente contra o caramujo

da esquistossomose.

h) Fumigantes: ação de combate a insetos, bactérias: fosfetos metálicos (Fosfina)

e brometo de metila.

Os agrotóxicos são classificados, ainda, segundo seu poder tóxico. Esta classificação

é fundamental para o conhecimento da toxicidade de um produto, do ponto de vista de seus

efeitos agudos (ver Quadros 1, 2 e 3). (CHAVES, 2007)

Page 19: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

20

Quadro 1 - Classificação toxicológica da Organização Mundial de Saúde (OMS): baseada na

DL 50 em ratos, oral e dérmica, por mg / kg de peso, das formulações líquidas e sólidas.

Classe Toxicidade Sólidos Líquidos Sólidos Líquidos

Ia Extremamente tóxico 5 ou menos 20 ou

menos

10 ou

menos

40 ou

menos

Ib Altamente tóxico 5-50 20-200 10-100 40-400

II Moderadamente

tóxico

50-500 200-2000 100-1000 400-4000

III Levemente tóxico Mais de

500

Mais 2000 Mais 1000 Mais 4000

Classificação de acordo com a DL 50 em ratos, por via oral e dérmica, nas formulações líquidas e sólidas /

Fonte: WHO, 2004

Quadro 2 - Classificação toxicológica do Ministério da Saúde- Brasil: baseada na DL 50 oral,

formulações líquidas e sólidas.

Formulação DL 50 oral (mg / kg)

CLASSE TOXICIDADE LÍQUIDA SÓLIDA

I Altamente tóxico < 200 <100

II Medianamente

tóxico

200-2000 100-500

III Pouco tóxico 2000-6000 500-2000

IV Praticamente não

tóxico

>6000 >2000

Fonte: site do Ministério da Saúde

Via Oral Via dérmica

Page 20: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

21

Quadro 3 - Equivalência da DL 50 entre animais experimentais e dose letal para o homem

(Equivalência entre a dose letal 50 em animais com a quantidade suficiente para matar um

adulto de 70 Kg).

DL 50 oral em animais de laboratório (mg /

Kg)

Dose Letal provável em humanos

(mg / Kg)

<1 Algumas gotas

1-50 1 colher de chá

50-500 30 g ou 30 ml

0,5-5 g 500 g ou 500 ml

5g-15 g 1 kg ou 1 L

>15g > 1 kg ou 1 L

Por determinação legal, todos os produtos devem apresentar nos rótulos uma faixa

colorida indicativa de sua classe toxicológica, de acordo com o Ministério da Saúde.

Quadro 4: Correspondência da classificação toxicológica com a coloração do rótulo, de

acordo com o Ministério da Saúde.

Classe I Extremamente tóxico Faixa vermelha

Classe II Altamente tóxico Faixa amarela

Classe III Medianamente tóxico Faixa azul

Classe IV Pouco ou muito pouco

tóxico

Faixa verde.

Fonte: extraído da Comissão de Meio Ambiente- 1 ed, 2000

Page 21: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

22

2.2. Efeitos dos Agrotóxicos na Saúde

As intoxicações aos agrotóxicos não são apenas o resultado de um contato simples

entre o produto e a pessoa exposta. Vários fatores participam da determinação das mesmas,

dentre eles os fatores relativos às características do produto (características toxicológicas,

forma de apresentação, estabilidade, solubilidade); características de cada indivíduo exposto

(idade, peso, estado nutricional, escolaridade, conhecimento sobre o efeito e medidas de

segurança); e as condições de exposição (condições gerais do trabalho, freqüência, dose, e

formas de exposição). As características clínicas das intoxicações por agrotóxicos dependem

além dos aspectos citados, do fato de ter ocorrido exposição a único tipo de produto ou a

vários deles (SILVA, 2006).

Foi conduzido um estudo seccional, em agricultores que tinham no mínimo um mês de

trabalho com agrotóxicos e em controles que nunca tinham realizado trabalho agrícola, com

idade entre 28 e 55 anos. Os participantes deste estudo realizaram uma entrevista, pela qual

obtiveram informações sobre o histórico ocupacional e de saúde geral, fatores

socioeconômicos, tempo de trabalho em cada tipo de agricultura, fatores como fumo e

etilismo e questões como: idade, etnia, escolaridade; além disso, foi aplicada uma bateria de

testes neurocomportamentais. Através dos resultados obtidos, verificou-se que a maior

duração do trabalho agrícola estava associada com desempenho ruim nos testes

neurocomportamentais. E que a longa exposição, em decorrência do trabalho agrícola, esteve

mais associada ao prejuízo na função cognitiva e psicomotora (KAMEL, et al., 2003)

Foi realizada uma pesquisa com o objetivo de pesquisar a prevalência de sintomas

respiratórios entre agricultores e avaliar a associação da exposição ocupacional com

agrotóxicos. Foi desenvolvido um estudo transversal com 1379 agricultores, foram medidas a

freqüências e as formas de exposição química aos agrotóxicos, além das intoxicações agudas

para ambos os sexos. Foram entrevistados todos os indivíduos com 15 anos ou mais, com no

Page 22: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

23

mínimo 15 horas semanais de atividade. Para investigar os sintomas respiratórios, foi usada

uma adaptação do questionário da American Thoracic Society. Os resultados evidenciaram

que o trabalho agrícola envolvendo agrotóxicos está associado com a elevação da prevalência

de sintomas respiratórios especialmente a asma e este risco é mais evidente quando a

exposição química ocupacional é maior do que dois dias por mês (FARIA et al., 2005)

Foi apresentado um estudo epidemiológico com delineamento ecológico explorando

dados de exposição aos agrotóxicos durante a década de 80 em 11 estados brasileiros e

distúrbios reprodutivos observados nos anos 90. Foram obtidos coeficientes de correlação de

Pearson entre o volume de vendas de agrotóxicos e indicadores da ocorrência de distúrbios

reprodutivos nas mesmas localidades. Coeficientes de correlação moderados e elevados foram

observados para a maioria dos desfechos analisados: infertilidade e câncer do testículo, mama,

próstata e ovário, sugerindo uma possível associação entre a exposição a agrotóxicos e os

distúrbios reprodutivos analisados (KOIFMAN et al., 2002)

As estimativas da incidência de problemas de saúde humana relacionados com a

utilização de agrotóxicos são muito variáveis. A maioria dos casos de doenças relacionadas

aos agrotóxicos envolve o uso de organoclorados e organofosforados, que possuem atividade

neurotóxica. Os organofosforados, a partir da década de 70 passaram a ser os pesticidas mais

utilizados no mundo. Desde então, tem aumentado, drasticamente, o relato de casos de

intoxicação por organofosforado por efeitos tóxicos pela exposição aguda ou crônica, mesmo

a baixas doses (ARAÚJO et al., 2007)

Os compostos pertencentes á categoria dos organofosforados e à dos carbamatos

apresentam mecanismo comum de ação baseado na inibição da acetilcolinesterase e são os

responsáveis pelo maior número de intoxicações no meio rural (SILVA, 2001).

Os compostos organofosforados (OF) são bem absorvidos pela pele, mucosa oral, via

dérmica, gastrointestinal e respiratória, devido esses compostos serem altamente

Page 23: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

24

lipossolúveis. Após sua entrada na corrente sanguínea, são distribuídos rapidamente por todo

organismo, atravessam com facilidade a barreira hematoencefálica e se acumula em tecido do

sistema nervoso, em decorrência da lipossolubilidade dos compostos. O principal mecanismo

de ação dos inseticidas é a inibição da enzima acetilcolinesterase (AChE), que tem por função

degradar o neurotransmissor acetilcolina (ACh). Esta inibição ocorre porque os compostos OF

fosforilam a enzima, formando um composto estável e geralmente irreversível. A inibição da

acetil colinesterase provoca a cumulação da acetilcolina em sinapses do cérebro, junções

neuromusculares esqueletais, terminais nervosos pós-ganglionares do sistema nervoso

simpático e no Sistema Nervoso Central (SNC), a exposição a OF leva a redução da AchE

principalmente no córtex cerebral (giro do cíngulo, lobo occipital, núcleo dentado, camada

molecular do cerebelo, gânglio basal e tálamo.) A excreção deste composto, geralmente se dá

através da urina (KAMANYIRE & KARALLIEDDE, 2004).

Os possíveis efeitos clínicos gerados pelos OF são muito variados, sendo que os

efeitos neurotóxicos ocorrem em três estágios clínicos (FELDMAN, 1998):

Crise colinérgica aguda: desenvolve-se horas após a exposição e pode se estender até

96 horas após a exposição. Os sinais e sintomas são resultados da acumulação da Ach

nos receptores muscarínicos, nicotínicos e no SNC. Os efeitos nicotínicos, geralmente

compreendem: fraqueza e fasciculação muscular, taquicardia. Enquanto,

lacrimejamento, sialorréia, broncorreia, broncoconstrição, vômitos e visão turva são

sintomas decorrentes da estimulação dos receptores muscarínicos. Já a acumulação da

Ach no SNC pode provocar: dor de cabeça, insônia, confusão, ataxia, letargia e em

casos mais severos convulsões, coma e depressão respiratória.

Síndrome intermediária: ocorre após 24-96 horas após a exposição e persiste até seis

semanas. É caracterizada por fraqueza muscular predominantemente afetando

músculos cervicais e região proximal dos membros e dificuldade respiratória pode

Page 24: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

25

aparecer caso seja afetada a musculatura do diafragma ou de outros músculos

respiratórios.

Neuropatia Periférica tardia: ocorre 1-5 semanas após a exposição e

predominantemente afeta o trato do Sistema Nervoso, fraqueza dos músculos

periféricos das mãos e pés e variável prejuízo sensorial.

Os compostos pertencentes à classe dos herbicidas como o glifosato, também conhecido

como roundup, podem ser absorvidos via dérmica, oral, digestiva e inalatória. Uma vez

absorvido se distribui amplamente em todo o organismo e sua excreção ocorre pela urina,

sangue, ar expirado e principalmente pelas fezes. Seu metabolismo é escasso e seu único

metabólito é o ácido amino-metil-fosfónico. Dentre as manifestações clínicas descritas estão:

problemas de pele, febre, cefaléia, infecção respiratória, diarréia, vomito, dor abdominal, mal-

estar, tontura, medo, angustia, pânico, conjuntivites e outros sintomas (VARONA et al.,

2009).

2.3. Efeitos dos Agrotóxicos no Sistema Auditivo

Considerando os efeitos crônicos dos agrotóxicos à saúde humana, estudos sugerem a

correlação entre exposição a estas substâncias e ocorrência de perdas auditivas centrais ou

periféricas.

Foi realizado um estudo de coorte transversal em 18 trabalhadores rurais, de ambos os

sexos com idade média de 39,6 anos, expostos ocupacionalmente e ambientalmente a

agrotóxicos organofosforado. Todos os trabalhadores responderam questões sobre a saúde

geral e auditiva, tonteira e suas relações com o trabalho e foram submetidos aos exames de

audiometria e vectoeletronistagmografia. Os resultados mostraram que 16 trabalhadores

Page 25: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

26

apresentaram alterações do tipo periférico irritativo e sete trabalhadores apresentaram perda

auditiva neurosensorial, desta forma, concluiu-se que os agrotóxicos induzem alterações do

sistema vestibular (HOSHINO et al., 2008).

Segundo pesquisa realizada, no qual o objetivo era descrever a influência do trabalho

agrícola sobre a audição do trabalhador, foram realizados questionários e exames

audiométricos em indivíduos do sexo masculino, subdivididos em dois grupos, sendo o grupo

I composto por 42 sujeitos expostos a ruídos associados ou não a exposição à agrotóxicos e o

grupo II com 42 indivíduos sem exposição a estes agentes, através dos resultados constatou-se

um pior desempenho na audição dos indivíduos com exposição a ruído associada à

agrotóxicos (WERLANG et al., 2004).

Foi realizado um estudo de coorte prospectivo, no qual pesquisou indivíduos expostos

ocupacionalmente a agrotóxicos, seguindo os seguintes critérios de inclusão: homens brancos,

sem histórico de perda auditiva congênita ou por infecção. O acompanhamento foi realizado

através de contato telefônico durante cinco anos de seguimento visando obter informações

sobre os pesticidas utilizados, características sócio-demográficas, estilo de vida, exposição a

pesticidas, tempo de exposição e relatos sobre dificuldade auditiva. O estudo sugeriu que a

exposição à organofosforados aumenta o risco de desenvolvimento de dificuldade auditiva

(CROWFORD et al., 2009).

Foram conduzidos estudos com a finalidade de estudar os efeitos da exposição

ocupacional a organofosforados e piretróides no sistema auditivo central. Informações sobre

histórico do trabalho, histórico da saúde geral, doenças presentes, exposição ocupacional e

não ocupacional a ruído, substâncias químicas e questões sobre o estilo de vida foram obtidas

através de entrevistas. Além disso, foi aplicado o teste de padrão de duração e frequência em

98 trabalhadores expostos a inseticidas e em 54 não expostos. Os resultados sugeriram que a

Page 26: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

27

exposição a estas substâncias pode causar efeitos adversos ao sistema nervoso auditivo central

(SNAC) (MORATA et al., 2003).

Foram investigadas alterações auditivas periféricas e centrais em indivíduos expostos

ocupacionalmente a inseticidas organofosforado e piretróides. Foi utilizado para avaliação:

audiometria tonal, imitanciometria e testes de padrão de frequência e duração. O estudo

demonstrou correlação estatisticamente significante entre a exposição ocupacional a

organofosforados e piretróides e alteração auditiva no nível central (FERNANDES, 2000).

2.4. Efeitos de Outras Substâncias Químicas no Sistema Auditivo

Foi realizada uma pesquisa com o objetivo de identificar possíveis alterações auditivas

periféricas e centrais através da avaliação audiológica e de testes do processamento auditivo

central, em 13 trabalhadores de uma indústria de reciclagem de lâmpadas fluorescentes, que

tiveram exposição ao mercúrio metálico. Os trabalhadores eram do sexo masculino, com

idades entre 26 a 58, 5 anos, sendo que a média de idade foi de 38,5 anos e o tempo de

exposição variou de um ano e seis meses a 17 anos e nove meses, sendo o tempo médio de

seis anos. Os procedimentos aplicados foram uma anamnese com informações sobre: histórico

ocupacional, exposição a riscos ocupacionais e extra-ocupacionais, além de dados sobre o

passado otológico, uso de drogas ototóxicas, antecedentes familiares e saúde em geral;

meatoscopia; audiometria tonal e vocal, imitanciometria e avaliação do processamento

auditivo central através dos testes dicótico de dígito e teste de padrão de freqüência. Mesmo

com um número muito reduzido de trabalhadores participantes, foram encontrados resultados

significativos em relação a alterações na avaliação audiológica e do processamento auditivo

central em trabalhadores que tiveram exposição ao mercúrio metálico (LIMA et al., 2005).

Page 27: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

28

Foi investigado sobre a relação do desenvolvimento de disfunção cognitiva e

exposição a solventes orgânicos, metais, agrotóxicos e outras substâncias. Foi realizado um

estudo seccional prospectivo, com seguimento de três anos, em 791 indivíduos de ambos os

sexos, com idade entre 50 e 80 anos sem quadro de demência. Os participantes foram

submetidos a um questionário com questões sobre a exposição às substâncias químicas e

testes neurocognitivos. Os achados sugeriram que indivíduos que são freqüentemente

expostas a agrotóxicos, como jardineiros e agricultores podem ter um risco maior de

desenvolver disfunção cognitiva quando comparado com indivíduos não expostos. Os

resultados não diferiram significantemente para as outras substâncias químicas pesquisadas.

As questões relacionadas ao consumo de álcool, fumo, drogas, história familiar de demência,

traumatismo craniano, doenças relevantes como cardiovasculares e doenças mentais não

afetaram os resultados significantemente (BOSMA et al., 2000)

Pesquisou-se o Processamento auditivo central de adolescentes expostos ao mercúrio

metálico. Foram avaliados 52 adolescentes de ambos os sexos que constituíram dois grupos.

Como as análises dos teores de mercúrio na urina estavam abaixo do esperado, o grupo de

estudo (GE) foi composto por 21 adolescentes sendo classificados como expostos àqueles que

referiram trabalhar na queima dos amálgamas de ouro-mercúrio, re-queimar o ouro e em lojas

que comercializam este metal ou residir próximos às áreas de garimpos e as lojas que

comercializam ouro. E, como grupo de comparação (GC) foi selecionado 31 adolescentes que

não apresentaram história de exposição ao mercúrio. Todos estavam matriculados no nono

ano do ensino fundamental de escolas municipais e estaduais e residentes do Município de

Poconé/ MT. Os adolescentes avaliados apresentaram idade entre 13 e 16 anos e limiares

auditivos dentro dos padrões de normalidade. Os procedimentos realizados incluíram um

questionário sobre a história clínica, laboral e da exposição ao mercúrio, audiometria tonal

liminar e bateria de testes para avaliação do Processamento Auditivo Central. Os resultados

Page 28: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

29

obtidos sugerem que as diferenças na avaliação do Processamento auditivo central entre o GE

e o GC foram estatisticamente significantes para os testes de memória seqüencial para sons

não-verbais, para os testes de padrão de duração e freqüência e duração e para o SSW em

português. Concluiu-se que adolescentes expostos ao mercúrio metálico apresentaram

desempenho significativamente inferior quando comparados com o grupo comparação para a

maioria dos testes de Processamento Auditivo Central e a principal alteração encontrada nessa

população foi no processamento de sons breves e sucessivos. O principal efeito adverso do

mercúrio metálico no organismo é sobre o SNC, assim a avaliação audiológica periférica é

insuficiente para avaliar a audição desta população (DUTRA, 2008).

Estudou-se as características auditivas e vestibulares de um grupo de 12 indivíduos

expostos ocupacionalmente a mercúrio metálico e ruído de uma empresa de lâmpadas do Rio

de Janeiro e de um grupo de 15 indivíduos não expostos a nenhum desses agentes. Foi

considerado exposto a mercúrio metálico o indivíduo que manuseava lâmpadas fluorescentes

ou mistas, ou que operava máquinas relacionadas à confecção ou quebra destas lâmpadas, no

mínimo 8 horas diárias, há pelo menos três anos. Foi considerado exposto a ruído o indivíduo

que trabalhava no mínimo 8 horas diárias, em setores com ruído em intensidade mínima de 85

dB, há pelo menos três anos. A média de idade do grupo de expostos foi de 44 anos e do

grupo de não expostos de 39 anos, com um predomínio do sexo feminino em ambos os

grupos. Todos os indivíduos foram submetidos à anamnese, meatoscopia, timpanometria,

através do qual foram excluídas possíveis afecções de orelha externa e/ ou média. Após

realizaram o exame de vectoeletronistagmografia. Os resultados da pesquisa indicam que com

relação à avaliação auditiva, vestibular e sintomas como: dificuldade para ouvir, dificuldade

de compreensão da fala, hipersensibilidade a sons intensos, zumbido e tontura houve

diferença estatisticamente significante entre os dois grupos (FERNANDES, 2009).

Page 29: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

30

2.5. Processamento Auditivo Central

O sistema auditivo humano pode ser dividido anatomicamente em duas partes: sistema

auditivo periférico, compreendendo a orelha externa, orelha média, orelha interna e VIII par

craniano; e sistema auditivo central, sendo este último constituído pelo tronco encefálico,

mesencéfalo e córtex. A importância dos estudos sobre a avaliação clínica do Sistema

Nervoso Auditivo Central vem aumentando desde a década de 1970, isto se deveu, em grande

parte, aos avanços recentes da compreensão da estrutura e função do SNC. No Brasil, os

testes de processamento auditivo central só começaram a ser realizados a partir da década de

1990, havendo atualmente, um crescente interesse dos estudos em demonstrar a eficácia dos

testes comportamentais e eletrofisiológicos utilizados na identificação dos distúrbios do

SNAC (BARAN & MUSIEK, 2001).

O processamento auditivo central (PAC) é um conjunto de habilidades auditivas que o

indivíduo necessita para interpretar o que ouve. Este processo não envolve apenas a percepção

dos sons, e sim os mecanismos que são utilizados para tornar a mensagem mais clara, para

localizar o sinal percebido, a análise realizada dessa informação acústica, a forma de

armazenamento utilizada e a estratégia de recobrar esta informação auditiva. (SANTOS, et al

2007)

O PAC constitui uma série de processos envolvidos na detecção e interpretação de

eventos sonoros (CAVADAS et al., 2007). O Processamento auditivo central pode ser

entendido como mecanismos e processos do sistema nervoso auditivo, os quais capacitam à

decodificação e o entendimento da fala, especialmente em situações desfavoráveis, como na

presença de ruído de fundo ou fala competitiva. (JERGER & MUSIEK, 2000 apud Neves &

Schochat, 2005).

Page 30: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

31

Quando o campo de atividades neurofuncionais, que começam com a detecção do

estímulo (cóclea) e terminam com a análise lingüística da informação, estão em pleno

exercício de suas capacidades, há condição de se obter bom desempenho na comunicação.

Qualquer falha neste rápido e complexo trajeto pode levar o indivíduo a agir de forma a

comprometer suas relações de linguagem interpessoal e intrapessoal (MIRANDA et al.,

2006).

A desordem ou disfunção do processamento auditivo se refere a um distúrbio da

audição em que há um impedimento da habilidade de analisar e/ou interpretar padrões

sonoros. (PEREIRA & CAVADAS, 2003).

Indivíduos com desordens do processamento auditivo central podem apresentar uma

ou mais manifestações comportamentais nas seguintes esferas: comunicação oral,

comunicação escrita, comportamento social, prejuízo no desempenho escolar e audição. Entre

outras manifestações: problemas de fala e linguagem; dificuldade de compreensão em

ambientes ruidosos; disgrafia; agitação; distração; desempenho escolar inferior em leitura,

gramática, ortografia, matemática e atenção ao som prejudicada (PEREIRA, 1996). Sendo, a

principal manifestação comportamental de indivíduos com esta desordem a dificuldade em

escutar e compreender em ambiente ruidoso (DAWES et al., 2008)

A maior razão, pelo interesse na avaliação do PAC está na limitação das informações

sobre a capacidade de comunicação individual que a audiometria convencional fornece. A

audiometria convencional é um instrumento útil para propiciar dados referentes ao tipo e ao

grau da perda auditiva, porém não descreve como esta perda pode influenciar na comunicação

dos indivíduos no dia-a dia, tais medidas auditivas são insuficientes para descrever a relação

do paciente em sua função psicossocial (QUINTERO et al., 2002).

Page 31: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

32

A necessidade de uma avaliação auditiva central se torna necessária nos inúmeros

casos em que indivíduos apresentam queixa auditiva, com audição periférica normal, nestes

casos os testes auditivos centrais poderão identificar distúrbios em níveis mais elevados.

O processo auditivo central refere-se, àquilo que fazemos

com o que ouvimos. Não basta, portanto possuir limiares auditivos normais. É preciso que o sinal acústico seja analisado e

interpretado para que se transforme em uma mensagem com

significado. (RAMOS & PEREIRA, 2005, p: 154)

O PAC, de acordo a descrição da American Speech-Language-Hearing Association

(ASHA, 1996), engloba mecanismos e processos do sistema auditivo, que são os responsáveis

pelos seguintes fenômenos comportamentais: localização e lateralização sonora;

discriminação auditiva; reconhecimento de padrões auditivos; aspectos temporais da audição;

incluindo resolução temporal, mascaramento temporal, integração temporal e ordenação

temporal; desempenho auditivo na presença de sinais competitivos e desempenho auditivo

com sinais degradados.

2.6 Processamento Auditivo Temporal

As habilidades do processamento auditivo temporal são as bases do processamento

auditivo, especificamente no que concerne à percepção de fala (SAMELLI & SCHOCHAT,

2008). Grande parte das informações transmitidas através de sons, como a fala e a música, por

exemplo, é expressa por mudanças nas características do som com o decorrer do tempo. O

processamento auditivo temporal envolve a competência para processar estes aspectos do som

que variam com o tempo (NEVES & FEITOSA, 2003).

Page 32: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

33

O processamento temporal é especialmente importante na percepção da fala, para a

discriminação de pistas sutis como a sonorização, o reconhecimento de fonemas usando seus

traços distintivos e a discriminação de palavras semelhantes (DLOUHA, 2007).

Muitos padrões que distinguem os sons da fala baseiam-se em diferenças temporais de

poucos milisegundos (ms). Este aspecto do funcionamento do sistema auditivo, no qual

mudanças acústicas transitórias podem ser acuradamente identificadas, é fundamental para a

compreensão da fala humana, constituindo-se num pré-requisito para as habilidades

lingüísticas (SMITH et al; 2006).

O processamento auditivo temporal pode ser definido, como a percepção do som ou da

alteração do som dentro de um período restrito e definido de tempo, ou seja, refere-se à

habilidade de perceber ou diferenciar estímulos que são apresentados numa rápida sucessão

(SHINN, 2003).

O processamento temporal avalia as habilidades auditivas de ordenação ou

sequencialização temporal, mascaramento temporal, resolução e integração temporal

(SANTOS & BARREIRO, 2004).

A habilidade auditiva de ordenação temporal refere-se ao processo de múltiplos

estímulos auditivos na sua ordem de ocorrência. Graças a esta habilidade, um indivíduo é

capaz de discriminar a correta ordem de ocorrência dos sons (SAMELLI & SCHOCHAT,

2008).

Sendo que, a sequencialização ou ordenação temporal seria uma função que envolve a

percepção e/ou o processo de dois ou mais estímulos auditivos em sua ordem de decorrência

no tempo. Na prática clínica, geralmente esta habilidade é avaliada através dos testes de

padrão de freqüência e duração, que tem por objetivo fazer com que o ouvinte reconheça

contornos acústicos (entonação, tonicidade e ritmo) importantes para a sequencialização

temporal. Diversos processos acústicos contribuem para essa habilidade, incluindo a

Page 33: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

34

discriminação de diferentes estímulos auditivos; sequencialização dos elementos lingüísticos,

ou ordenação temporal dos sons, reconhecimento do todo, transferência inter hemisférica e

memória quanto ao número de itens utilizados na série (FROTA & PEREIRA, 2003).

Já a resolução temporal pode ser definida como a capacidade de detectar intervalos de

tempo entre estímulos sonoros ou detectar o menor tempo que um indivíduo possa discriminar

entre dois sinais audíveis (FORTES et al; 2007).

A resolução temporal refere-se à habilidade de detectar mudanças nos estímulos ao

longo do tempo, como, por exemplo, perceber gaps ou intervalos de silêncio curtos entre dois

estímulos ou perceber que um som é modulado de alguma maneira. E a integração temporal, é

a habilidade do sistema auditivo em adicionar informação ao longo do tempo para aumentar a

detecção ou a discriminação do estímulo (MOORE, 2004).

O mascaramento temporal é caracterizado pela mudança do limiar de um som na

presença de outro estímulo subseqüente. Isto ocorre quando um estímulo é apresentado com

duração e intensidade suficientes para reduzir a sensibilidade de outro estímulo apresentado

antes ou depois do estímulo inicial. E a habilidade de integração temporal decorre da somação

da atividade neuronal, resultante de uma adicional duração da energia sonora. Em

experimentos de integração temporal, os sujeitos devem detectar sinais fracos em um ruído de

fundo ou no silêncio. O limiar deste sinal fraco é medido em função de sua duração e

geralmente, a detecção do sinal é a mesma se o produto da duração e da intensidade do sinal

se mantiver constante em pelo menos algumas escalas de duração (SAMELLI &

SCHOCHAT, 2008).

Os principais testes disponíveis para a análise do processamento temporal incluem o

Teste de Padrão de Duração e de Padrão de Freqüência que avaliam a habilidade de ordenação

temporal e o teste de detecção de gap, como o teste do GIN (Gaps in Noise), desenvolvido por

Musiek em 2004, com a finalidade de estudar a resolução temporal.

Page 34: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

35

O mecanismo fisiológico auditivo do Teste Padrão de Duração é o de discriminação de

padrões de sons, ou processo temporal, que envolve a memória. Tendo por finalidade avaliar

a ordenação temporal e sua alteração traz prejuízo gnóstico não – verbal na percepção de

aspectos acústicos supra – segmentais (PEREIRA & CAVADAS, 2003).

Um estudo com a proposta de padronizar os Testes de Padrão de Freqüência e de

Duração foi realizado com 80 indivíduos adultos jovens, 40 do sexo feminino e 40 do sexo

masculino, sem alterações auditivas periféricas, os indivíduos possuíam grau de escolaridade

superior completo ou estavam cursando uma universidade e não possuíam estudo ou

experiência com música. Nestes indivíduos foram aplicados os testes não - verbais de Padrão

de Freqüência e de Padrão de Duração, apresentando-os nesta ordem e monoauralmente. Com

a análise estatística dos dados observou-se que não houve influências do lado da orelha

(direita ou esquerda), nem do nível de intensidade da aplicação do material (50dBNS e

20dBNS). Quanto à média de acertos, para o Teste de Padrão de Duração foi de 95,87 % e

para o Teste de Padrão de Freqüência foi observado o valor de 91,27 % de acertos. Assim,

através deste estudo, recomendou-se a utilização deste teste para indivíduos com e sem

prejuízo da capacidade de detecção dos sons, a fim de auxiliar no conjunto de procedimentos

que avaliem do funcionamento da habilidade de ordenação temporal do processamento

auditivo temporal (CORAZZA, 1998).

O teste do GIN foi criado objetivando a avaliação da resolução temporal através da

tarefa de detecção de intervalos (gaps) de silêncio inserido em segmentos de ruído branco. O

estudo foi constituído por dois grupos; um composto por indivíduos com audição normal e o

outro grupo com indivíduos com comprometimento neurológico do sistema nervoso auditivo

central. Os resultados do primeiro grupo mostraram uma média de limiar de detecção de gap

de 4,8 milisegundos (ms) para a orelha esquerda e 4,9 ms para a orelha direita. No segundo

grupo, houve um aumento estatisticamente significante nos limiares de detecção de gap em

Page 35: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

36

comparação com o primeiro grupo, com a média de limiar de 7,8 ms para a orelha esquerda e

8,5 ms para a orelha direita. De acordo com os dados obtidos, concluiu-se que o teste

apresenta bons índices de especificidade e especificidade (MUSIEK et al., 2005 apud

Liporaci, 2009).

Estudos foram desenvolvidos para estabelecer critérios de normalidade do teste GIN

para adultos com audição normal. O teste GIN foi aplicado em 100 indivíduos, sendo 50 do

sexo feminino e 50 do masculino, de faixa etária entre 18 e 31 anos, após a realização de

outros testes audiológicos para descartar possíveis alterações auditivas e/ou do processamento

auditivo, que pudessem comprometer os resultados. Como resultado, foi observado limiares

de detecção de gap e porcentagens médias de acertos semelhantes para as orelhas direita e

esquerda, para os gêneros masculino e feminino e para as quatro faixas-teste testadas. A

média geral dos limiares de gap foi de 3,98 ms, enquanto a média das porcentagens de acertos

foi de 78,89%. Foi definido um limite mínimo e um máximo para cada uma das faixas-teste

(média dos limiares de detecção de gap-faixa-teste1 :3,73 - 4,01ms; faixa - teste 2: 3,9-4,18

ms; faixa - teste 3: 3,88-4,14 ms. As porcentagens médias de acertos dos participantes por

intervalo de gap foi estabelecida da seguinte forma: para gaps de 2 ms, a porcentagem de

acertos foi sempre igual ou menor do que 5 %; para intervalos de gap iguais ou maiores do

que 5 ms, a porcentagem de acertos alcança 90% ou mais. A autora afirma que todos estes

resultados poderão ser utilizados como parâmetros de normalidade. Desta forma, o teste em

questão mostrou-se consistente e com baixa variabilidade, em relação aos dados obtidos para

os 100 indivíduos (SAMELLI, 2005).

Page 36: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

37

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral:

Avaliar os processos auditivos temporais (ordenação e resolução temporal) em

trabalhadores rurais expostos ocupacionalmente a agrotóxicos do município de Campos dos

Goytacazes.

3.2 Objetivos Específicos:

-Identificar o perfil da população pesquisada.

- Avaliar os processos auditivos temporais.

-Comparar os resultados dos testes dos processos auditivos temporais com o índice de

exposição.

Page 37: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

38

4. METODOLOGIA

4.1. Caracterização do local de estudo.

O local escolhido para o estudo foi Campos dos Goytacazes. Este município fica

localizado no Norte do Estado do Rio de Janeiro, sendo o centro econômico desta região.

Segundo o Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro (CIDE) Campos dos Goytacazes

é a maior cidade do interior fluminense, com uma população de 434.008 habitantes (IBGE,

2009). É também o município com a maior extensão territorial do estado, com uma área total

de 4.031,910 km², pouco menor que o Distrito Federal. Sendo considerada a sexta cidade mais

rica do Brasil. Compreende uma região litorânea banhada pelo Oceano Atlântico.

De acordo com o censo agropecuário do IBGE (1995-1996) a área agropecuária

estimada na região Norte Fluminense é de 15.028 ha, sendo 7.114 ha pertencentes ao

município de Campos dos Goytacazes. A região é uma planície de grande extensão o que

favorece a atividade agrícola. Tem na Produção de Petróleo e Gás sua maior fonte de riqueza.

A Bacia de Campos é responsável por mais de 80% da Produção Nacional. Concentra a maior

parte da indústria cerâmica fluminense. É conhecida como sendo o maior produtor de cana-de

açúcar do Estado, tendo participação importante na Produção de Açúcar e Álcool, sendo que

das sete usinas do estado do Rio de Janeiro, seis estão em Campos. O tipo de agrotóxico mais

utilizado nesta região são os herbicidas, em especial o roundup, sendo também relatados em

menor número os inseticidas e fungicidas.

4.2 Casuística

Foi realizado um estudo epidemiológico com delineamento transversal. Para a

realização da pesquisa, inicialmente realizou-se uma mobilização dos trabalhadores em

Page 38: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

39

parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de Campos dos Goytacazes

para haver a motivação e adesão dos participantes a pesquisa.

Os trabalhadores convidados para participar da pesquisa foram todos os indivíduos

que utilizavam agrotóxicos de maneira ocupacional e que estiveram na sede do Sindicato dos

trabalhadores rurais no período entre 8 a 19 de março de 2010.

Todos os indivíduos que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido

Para a seleção dos participantes do estudo, determinou-se alguns critérios de inclusão:

Ter idade entre 18 e 59 anos.

Ter sido exposto ocupacionalmente a agrotóxico.

Ser capaz de compreender o objetivo da pesquisa e consequentemente fazer a

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Foram incluídos 33 indivíduos de ambos os sexos, com idade entre 18 e 59

anos, com exposição a vários tipos de agrotóxicos, sendo os herbicidas, em especial o

roundup, o tipo mais utilizado e em menor número os inseticidas e fungicidas.

4.3 Procedimentos para seleção da população estudada

Com o objetivo de selecionar a população estudada foi aplicado: questionário,

meatoscopia, avaliação audiológica básica, imitânciometria.

Todos os procedimentos abaixo descritos foram realizados em uma sala silenciosa do

Sindicato dos Trabalhadores rurais do município de Campos dos Goytcazes –RJ.

Page 39: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

40

4.3.1 Questionário

Os trabalhadores foram submetidos a um questionário (Anexo 1) contendo questões

estruturadas com a finalidade de obter informações sobre dados pessoais, histórico

audiológico, dados gerais de saúde, exposição a ruído ocupacional, tempo, freqüência e

intensidade de trabalho com agrotóxico.

4.3.2 Meatoscopia

Após a aplicação do questionário, os trabalhadores foram submetidos a meatoscopia,

por meio de um otoscópio, com a finalidade de uma inspeção cuidadosa do meato acústico

externo e visualização da membrana timpânica, excluindo indivíduos com presença de corpo

estranho e de rolha de cera, o que impediria a obtenção correta dos limiares tonais e resultados

timpanométricos (FROTA, 2003).

4.3.3 Audiometria tonal e vocal

Em seguida, foi realizado a avaliação audiológica básica, composta de: audiometria

tonal liminar, limiar de recepção da fala (LRF), índice de reconhecimento de fala (IRF). Estes

procedimentos foram aplicados em cabina acústica, seguindo as determinações da ISO 8253,

com utilização do audiômetro Amplaid 309, e fone TDH- 49 P.

O objetivo imediato da audiometria tonal liminar é a determinação dos limiares de

audibilidade, isto é o estabelecimento do mínimo de intensidade sonora necessária para

provocar a sensação auditiva e a comparação destes valores ao padrão de normalidade,

usando-se como referência um tom puro (SANTOS et al., 2007). Na audiometria tonal liminar

foram pesquisados valores tonais por via aérea nas freqüências de: 250, 500, 1000, 2000,

3000, 4000, 6000, e 8000 Hz. Os limiares tonais foram obtidos através da técnica descendente

Page 40: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

41

descrita por Frota em 2003. Considerou-se limiares dentro da normalidade até 25 dB, de

acordo com a classificação do grau de perda auditiva proposto por (LLOYD Y KAPLAN,

1978).

O limiar de recepção de fala (LRF) tem como objetivo confirmar os limiares tonais da

via aérea e exprime a menor intensidade para qual o indivíduo consegue identificar 50% das

palavras apresentadas e foi obtido utilizando palavras trissílabas por meio de técnica

descendente como relatado por Frota & Sampaio em 2003. Os resultados obtidos deveriam

coincidir com a média dos limiares tonais das freqüências de 500, 1000 e 2000 Hz, ou até 5

ou 10 dB acima desta média. Os participantes que não obtiveram este resultado foram

excluídos da pesquisa.

O índice de reconhecimento de fala (IRF) é a medida da inteligibilidade da fala em

uma intensidade fixa na qual o indivíduo consegue repetir corretamente o maior número de

palavras. (RUSSO, et al 2007). Foi utilizada uma lista contendo 25 palavras monossílabas,

sendo que cada erro representa 4%. Excluiu-se da pesquisa os indivíduos que obtiverem score

de acertos inferior a 88%.

4.3.4 Imitanciometria

Também realizou-se a imitanciometria: timpanometria e pesquisa dos reflexos

acústicos ipsilaterais em 500, 1000, 2000 e 4000 Hz, com a finalidade de excluir afecções de

orelha média. Para a execução deste procedimento utilizou-se um Mini-Tymp da marca

Interacoustics. Só foram incluídos os indivíduos com timpanograma com curva tipo A de

acordo com Jeger (1970), no qual é encontrado em indivíduos com função de orelha média

normal. Na pesquisa dos reflexos acústicos foram considerados os reflexos que aparecerem 70

a 90 dB NA, de acordo com Lopes (1972).

Os critérios de exclusão foram:

Page 41: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

42

Apresentar alterações neurológicas evidentes que possam dificultar a

realização dos testes.

Ser exposto a ruído ocupacional, de maneira que possa funcionar como fator

de confundimento para o estudo em questão.

Apresentar rolha de cera ou presença de corpo estranho no meato acústico

externo.

Apresentar patologias otológicas de orelha externa (OE) e/ ou orelha média

(OM).

Apresentar perda auditiva neurosensorial (limiares piores que 25 dB).

Apresentar LRF acima de 10 dB da média de 500, 1000 e 2000 Hz.).

Indivíduos que obtiverem score de acertos inferior a 88% no IRF.

4.4 Procedimentos para avaliar o índice de exposição

Com a tentativa de elaborar uma escala de avaliação da exposição ocupacional dos

trabalhadores aos agrotóxicos, criou-se uma variável denominada de índice de exposição

calculado através de um somatório simples das seguintes variáveis presentes no

questionário: número de anos de exposição desde a idade do início do contato com

agrotóxicos até a idade atual; número de dias de uso durante a última estação; número de

vezes por mês em que foram aplicados os agrotóxicos; idade em que foi iniciado o contato

com agrotóxico; número de horas de trabalho por dia com agrotóxico; e distância da

residência até a lavoura. Este índice de exposição foi obtido através de um “sistema de

pontuação”, sendo atribuído maior peso a opção de resposta em que o indivíduo tivesse

maior exposição. De acordo com o quadro a seguir:

Page 42: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

43

Código de Pontuação

Variável Respostas Pontuação

Tempo de exposição

Menos de 1 ano 0 pontos

1-5 anos 1 ponto

5-10 anos 2 pontos

11-20 anos 3 pontos

21-30 anos 4 pontos

Mais de 30 anos 5 pontos

Dias de uso durante a

última estação

Nunca 0 pontos

1-5 dias 1 ponto

6-25 dias 2 pontos

26-50 dias 3 pontos

Mais de 50 dias 4 pontos

Quantidade de uso por

mês

1 vez 0 pontos

1-5 vezes 1 ponto

5-10 vezes 2 pontos

Mais de 10 vezes 3 pontos

Idade do início do contato

com agrotóxico

21 anos ou mais 0 pontos

15-20 anos 1 ponto

10-15 anos 2 pontos

Horas de trabalho por

dia

4 ou 6 horas 0 pontos

8 horas 1 ponto

10 horas 2 pontos

12 horas ou mais 3 pontos

Distância da residência

até a lavoura

Mais de 200 metros 0 pontos

100-200 metros 1 ponto

50-100 metros 2 pontos

Menos de 50 metros 3 pontos

4.5 Procedimentos para avaliar o Processamento Auditivo Temporal

Os indivíduos selecionados foram submetidos a testes de processamento auditivo

temporal, a saber:

Page 43: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

44

4.5.1 Teste de Padrão de Duração

O Teste de Padrão de Duração, foi elaborado por Pinheiro & Musiek em 1985 consiste

da apresentação de 60 seqüências de padrões, 30 a cada orelha, sendo que cada uma é

formada por três tons: dois de uma mesma duração e um de duração diferente. Os estímulos

foram apresentados monoauralmente em uma intensidade de 50 dB NS. O indivíduo recebeu a

orientação de nomear os padrões como curto ou longo, caso. As sequências são apresentadas

em ordem aleatória. O padrão curto tem duração de 250 ms e o longo de 500 ms, com

intervalo de 300 ms entre os tons, sendo que a freqüência é mantida constante em 1000 Hz.

Os números de acertos para cada orelha foram anotados no protocolo de marcação e o

resultado do teste foi apresentado em porcentagem de acertos em cada orelha. Este teste foi

aplicado utilizando-se o audiômetro acoplado a CD-player, em cabina acústica.

4.5.2 Teste Gap in noise (GIN)

O teste GIN, de acordo com Musiek et al., 2004, foi aplicado em cabina acústica, por

meio do audiômetro acoplado a CD player. Os estímulos sonoros do teste são aplicados

monoauralmente a 50 dB NS, de acordo com a média tritonal de 500,1000 e 2000 Hz.

Cada faixa do teste consiste em um segmento de ruído branco, no qual existem gaps

em posição e duração diferentes. Os gaps podem ser de: 2, 3, 4, 5, 6, 8, 10, 12, 15 e 20 ms.

Nos segmentos de ruído pode haver 1, 2, 3 ou mesmo nenhum gap inserido. Cada gap aparece

por seis vezes em cada faixa, com um total de 60. Foi explicado ao participante que ele deverá

ouvir um ruído e dentro deste ruído existirão gaps, ou seja, intervalos de silêncio, onde o

ruído não estará presente. Estes intervalos podem variar em duração e alguns são

extremamente rápidos e algumas vezes não existiram estes intervalos. Então, o indivíduo foi

Page 44: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

45

orientado a levantar a mão toda vez que ouvisse um gap, ou seja, um intervalo de silêncio. Na

interpretação dos resultados, são permitidos dois falsos positivos por orelha, ou seja, que o

participante identifique o gap duas vezes sem que ele exista, em cada orelha. Se ocorrerem

mais que dois, falsos positivos subseqüentes seriam computados como erros e subtraídos do

total de gaps percebidos da orelha. Os gaps percebidos foram contados e anotados de acordo

com suas durações. O limiar de detecção de gap é considerado como sendo o menor gap

percebido em pelo menos 67% das apresentações, ou seja, quatro vezes, já que cada gap

aparece seis vezes em cada faixa – teste. (MUSIEK, 2005). O índice de acertos na faixa –

teste é determinado em porcentagem considerando os 60 gaps existentes.

4.6 Aspectos Éticos

O projeto incorpora os aspectos éticos recomendados pela Resolução 196/96 sobre

Pesquisa Envolvendo Seres Humanos e não apresenta atividades que possam levar a danos à

dimensão física, psíquicas, morais, intelectuais, sociais, culturais ou espirituais destas pessoas.

Em anexo, declaração da Comissão de Ética do IESC e os termos de Consentimento Livre e

Esclarecido dos indivíduos.

Transferência de resultados: O projeto contempla a divulgação dos resultados da pesquisa

através de documentos e da Internet e treinamentos de equipes de vigilância ambiental da cidade

voltada para os riscos e efeitos no uso de pesticidas na produção.

Análise Crítica dos Riscos e Benefícios: Cabe ressaltar que o projeto visou desenvolver

metodologias para a prevenção e controle dos efeitos nocivos do agrotóxico com a utilização de

Page 45: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

46

metodologias que diminuem a possibilidade de danos à dimensão física, psíquicas, morais,

intelectuais, sociais, culturais ou espirituais destas pessoas.

Propriedades das Informações Geradas: Serão de uso exclusivo da equipe de pesquisa e o

pesquisador responsável garante que nenhum estranho à equipe de pesquisadores terá acesso aos

dados, para que se preserve a confidencialidade das informações, quando for o caso. Não

obstante, a divulgação dos resultados da pesquisa deverá ser publica e em primeiro lugar

endereçada aos sujeitos da pesquisa.

O Sujeito da Pesquisa: Os sujeitos da pesquisa tiveram garantia de livre consentimento

(modelos em anexo) após total esclarecimento de todos os benefícios e possíveis riscos que

poderão advir do processo investigatório.

Outras informações sobre os sujeitos da pesquisa encontram-se nas páginas anteriores

deste projeto.

Responsabilidades: O Pesquisador Responsável é a pessoa responsável pela coordenação e

realização da pesquisa e pela integridade e bem-estar dos sujeitos da pesquisa. As Instituições

são públicas e habilitadas para a realização de investigações científicas.

Critérios para Suspensão ou Encerramento da Pesquisa: Esta pesquisa foi altamente viável e

a pesquisadora contou com apoio do Sindicato dos Trabalhadores rurais da cidade de Campos

dos Goytacazes. Caso ocorresse algum motivo imprevisto, a suspensão ou encerramento da

pesquisa deverá ser decidido após discussão com todos os atores sociais envolvidos e análise das

razões pelos responsáveis pela pesquisa.

Page 46: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

47

4 .7 Armazenamento e análise dos dados:

Para a análise estatística dos dados, foi utilizado o programa computacional Statistical

Package for the Social Sciences (SPSS) versão 17.0.

Os resultados dos testes aplicados foram categorizados segundo os tercis de

distribuição de acordo com a alteração observada, sendo neste estudo denominado de pouco

alterado, alterado e muito alterado e então comparado com o índice de exposição. No TPD em

OD foi considerado pouco alterado: valores maiores que 46,6%; alterado: valores entre 36,6%

e 46,6%; muito alterado: valores menores que 36,6%. No TPD em OE foi considerado pouco

alterado: valores maiores que 43,3%; alterado: valores entre 36,7% e 43,3%; muito alterado:

valores menores que 36,6%. Já no Gin em ambas as orelhas foi considerado pouco alterado:

valores menores que 5,0 ms; alterado: valores entre 5,1 e 6,0 ms; muito alterado maiores que

6,0 ms.

A estatística descritiva foi utilizada para traçar o perfil da população estudada segundo

as variáveis: sexo, idade, escolaridade. Para avaliar a correlação entre os testes aplicados e o

índice de exposição de forma contínua foi utilizada a correlação de Sperman. Já para analisar

a relação entre os testes realizados em tercis e o índice de exposição foi aplicado a análise de

variância juntamente com o teste de Scheffer. Além disso, para analisar a influencia das

variáveis no resultado dos testes foi utilizada a correlação de Sperman, e a regressão logística

para determinar um risco de alteração mais elevada frente a baixas alterações controladas pelo

fator de confundimento. Os valores dos resultados do TPD e do Gin foram divididos pela

mediana. Sendo considerado um pior desempenho para o TPD valores abaixo de 40,0% ms

em ambas as orelhas, e no Gin, foi considerado pior desempenho valores abaixo de 5 ms em

OD e 6ms em OE.

Os resultados desta pesquisa serão apresentados e discutidos no artigo a seguir

Page 47: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

48

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALAVANJA, M. C. R; HOPPIN, J. A; KAMEL, F. Health effects of chronic pesticide

exposure: Cancer and Neurotoxicity. Rev. Public Health, 2004.

AMERICAN SPEECH-LANGUAGE-HEARING ASSOCIATION (ASHA). Central auditory

processing: current status of research and implications of clinical practice. Am J. Audiol

1996; 5: 41-54.

ARAÚJO, A. J et al. Exposição múltipla a agrotóxicos e efeitos á a saúde: estudo transversal

em amostra de 102 trabalhadores rurais, Nova Friburgo, RJ. Ciências e Saúde Coletiva, Rio

de Janeiro, v.12, n. 1, jan. / mar. 2007.

BARAN, J. A; MUSIEK,F. E. Avaliação Comportamental do Sistema Nervoso Auditivo

Central. In: Musiek; Rintelmann. Perspectivas Atuais em Avaliação Auditiva. 1a ed. São

Paulo: Manole, 2001. p 371-401.

BOSMA. H et al. Pesticide exposure and risk of mild cognitive dysfunction. Research Letters.

V.356, set. 2000.

BRASIL. Constituição Federal. Lei n. 7802 de 11 de julho de 1989, regulamentada através do

Decreto 98.816 artigo 2º Inciso I.

BRITT, J. K. Properties and Effects of Pesticides. In: WILLIAMS, P. L; JAMES, C. R;

ROBERTS S. M. Principles of Toxicology: Environmental and Industrial Applications. 2

ed. John wiley & Sons, Inc; p. 345-365, 2000.

CAVADAS, M; PEREIRA, L. D;MATTOS, P. Effects of methylphenidate in auditory

processing evaluation of children and adolescents with attention deficit hyperactivity disorder.

Arquivos de Neuro-Psiquiatria. São Paulo, v.65, n. 1, 2007.

CIDE - Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro. Disponível em:

www.cide.rj.gov.br. Acessado em: 19 out. 2009.

CHAVES, T. V. S. Avaliação do impacto do uso de agrotóxicos nos trabalhadores rurais

do município de Ribeiro Gonçalves, Baixa Grande do Ribeiro e Uruçuí – Piauí.

[dissertação]. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2007.

CORAZZA, M. C. A. Avaliação do processamento auditivo central em adultos:testes de

padrões tonais auditivos de freqüência e teste de padrões tonais auditivos de duração.

São Paulo, SP, 150 p. Tese de Doutorado. Universidade Federal de São Paulo, 1998.

CROWFORD, M. J et al. Hearing Loss among Licensed Pesticide Applicators in the

Agricultural Health Study Running title: Hearing Loss among Licensed Pesticide Apllicators.

J Occup Environ Med. 50 (7): 817-826, jul. 2009.

Page 48: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

49

DAWES, P et al. Profile and etiology of children diagnosed with auditory processing

disorder. International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology. 72, 483-489, 2008.

DLOUHA, O; NOVAK, A.; VOKRAL, J. Central auditory processing disorder (CAPD) in

children with specific language impairment (SLI). Int J Pediatr Otorhinolaryngol,

v.71, n. 6, p. 903-7, 2007.

DUTRA, M. D. S. Avaliação do Processamento Auditivo Central em Adolescentes Expostos

ao mercúrio metálico. [dissertação]: Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de

Janeiro/IESC.

EPA- United States Environmental Protection Agency. Disponível em:

http:www.epa.gov/.Acessado em 21 abr. 2009.

FARIA, M. X. et al. Pesticides and respiratory symptoms among farmers. Revista de Saúde

Pública, São Paulo, v. 39, n.6, dez.2005

FARIA, N. M. X; FASSA, A. G; FACCHINI, L. A. Intoxicação por agrotóxico no Brasil: os

sistemas oficiais de informação e desafios para realização de estudos epidemiológicos.

Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, jan./ mar. 2007.

FELDMAN, R. G. Occupational Environmental Neurotoxicology. Lippincott- Raven:

Publis Hers. Philadelfia: New York; p. 421-441, 1998.

FERNANDES, A. S. Estudo das características auditivas e vestibulares em indivíduos

expostos ocupacionalmente a mercúrio metálico e ruído. [dissertação]. Rio de Janeiro:

Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2009.

FERNANDES, T. C. Exposição ocupacional aos inseticidas e seus efeitos na audição: a

situação dos agentes de saúde pública que atuam em programas de controle de endemias

vetoriais em Pernambuco [dissertação]. Recife: Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães,

2000.

FORTES, A. B; PEREIRA, L. D; AZEVEDO, M. F. Resolução temporal: análise em pré-

escolares nascidos a termo e pré-termo. Pró-Fono. Revista de atualização científica,

Barueri, jan./apr. 2007.

FROTA, Silvana; PEREIRA, Liliane Desgualdo. Revista Iberoamericana de Educación.

Rio de Janeiro, 2003.

FROTA, S. Avaliação Básica da Audição. In: ______ (Org). Fundamentos em

Fonoaudiologia: audiologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; p. 41-59,

2003.

Page 49: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

50

FROTA, S; SAMPAIO,F. Logoaudiometria. In: FROTA, S.(Org). Fundamentos em

Fonoaudiologia: audiologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; p.61-68, 2003.

HOSHINO, A. C. H. et al Estudo da ototoxicidade em trabalhadores expostos a

organofosforados. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. v. 74, n.6. São Paulo,

nov./dec. 2008.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em:

www.ibge.gov.br. Acessado em 19 out. 2009

JEGER, J. A experiência clínica com audiometria e impedância. Otolaryng Arch.92:311-24,

1970.

KAMANYRE, R; KARALLIEDDE, L. Organophosphate toxicity and occupational exposure.

Occupacional Medicine. v. 54, n. 2, 2004.

KAMEL, F. et al. Neurobehavioral Performance and Work Experience in Florida

Farmworkers. Environmental Health Perspectives. v. 111, n. 14, nov. 2003.

KAMEL, F; HOPPIN, J. A. Association of Pesticide Exposure with Neurologic

Dysfunction and Disease. Dec, 2004. Disponível em: http: //www.medscape.com. Acesso em

28 maio. 2009.

KOIFFMAN, S; KOIFFMAN, R. J; MEYER, A. Distúrbios do sistema reprodutivo humano e

exposição a pesticidas no Brasil. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 18, n. 2,

mar. /apr. 2002.

LIMA, E. R. Z; COLON. J. C; SOUZA. M. T. Alterações auditivas em trabalhadores

expostos a mercúrio. Revista CEFAC. São Paulo, v. 11, supl. 1, mar. 2009.

LIPORACI, F, D. Estudo do Processamento Auditivo Temporal (Resolução e ordenação)

em idosos. [dissertação]. Rio de Janeiro: Universidade Veiga de Almeida, 2009.

LLOYD, L. L.; KAPLAN, H. Audiometric interpretation: a manual of basic audiometry.

Baltimore: University Park Press, 1978.

LOPES FILHO, O.C. Contribuição ao estudo clínico da impedância acústica.[tese]. São

Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 1972.

"Meio Ambiente, Saúde e Trabalho", CUT-RJ, Comissão de Meio Ambiente. 1ª ed. Rio de

Janeiro; 2000. Disponível em: www.sindipetro.org.br/extra/cartilha-cut/index.htm. Acessado

em: 27 jul. 2009.

MIRANDA, E. S. et al. Avaliação do processamento auditivo de sons não-verbais em

indivíduos com doença de Parkinson. Rev Bras Otorrinolaringol., v. 70, n. 4, p. 534-9,

2006.

Page 50: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

51

MINISTÉRIO DA SAÚDE-BRASIL. Portal da Saúde Disponível em : www.saude.gov.br.

Acessado em 27 jul. 2010.

MOORE, B. C. J. Temporal processing in the auditory system. In:______. An introduction

to the psychology of hearing. 5. ed. San Diego: Academic Press,

cap. 5, p. 163-194, 2004.

MORATA, T. C. Chemical exposure as a risk factor for hearing loss. J Occup Environ Med.

45: 676-682, 2003

MOREIRA, J. C et al. Avaliação integrada do impacto do uso de agrotóxicos sobre a saúde

humana em uma comunidade agrícola de Nova Friburgo, RJ. Ciência e Saúde Coletiva, 7

(2): 299-311, 2002.

MUSIEK, F. et al. The GIN (Gaps-in-Noise) Test performance in subjects with confirmed

central auditory nervous system involvement. Ear and Hearing, v. 26, p.

608-18, 2005.

MUSIEK, F. E. et al. Assessing temporal processes in adults with LD: the GIN test.In:

Convention of American Academy of Audiology. 2004, Salt Lake City. Annals.Salt Lake

City: AAA, p. 203, 2004.

NEVES, I. F; SCHOCHAT, E. Maturação do processamento auditivo em crianças com e sem

dificuldades escolares. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, Barueri, v. 17, n. 3,

2005.

NEVES, V. T; FEITOSA, M. A. G. Contovérsias ou complexidade na relação entre

processamento temporal auditivo e envelhecimento. Revista Brasileira de

Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 69, n. 2, mar./abr. 2003.

PEDLOWSKI, M. A et al. Um estudo sobre a utilização de agrotóxicos e os riscos de

contaminação num assentamento de reforma agrária no Norte Fluminense. J. Braz. Soc.

Ecotoxicol., v. 1, n. 2, 2006.

PEREIRA, L. D. Identificação de desordens do Processamento Auditivo Central através de

observação comportamental: organização de procedimentos padronizados. In: SCHOSCHAT,

E. (Org.). Processamento Auditivo. São Paulo:Lovise, p. 43-56, 1996.

PEREIRA, L. D; CAVADAS, M. Pocessamento auditivo central. In: Frota. S. Fundamentos

em Fonoaudiologia. 2ª ed, Rio de Janeiro: Guanabara e koogan, 2003.

QUINTERO, S. M; MAROTA R. M. B; MARONE, S. A. M. Limites para o teste de

reconhecimento de dissílabos em tarefa dicótica (SSW) em indivíduos idosos. Arquivos de

Otorrinolaringologia. v. 6, n. 3. 2002.

Page 51: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

52

RAMOS, C. S; PEREIRA, L. D. Processamento Auditivo e audiometria de altas freqüências

em escolares de São Paulo. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, Barueri, v. 17, n.

2, maio./ago, 2005.

RUSSO, I. C. P; et al. Logoaudiometria. In: Santos, T. M. M; Russo, I. C. P. Prática da

Audiologia Clínica. 6ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 2007. p. 135-155.

SAMELLI, A. G. O teste GIN (Gap in Noise): limiares de detecção de gap em adultos

com audição normal. [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005.

SAMELLI, A. G; SCHOCHAT, E. Pocessamento auditivo, resolução temporal e teste de

detecção de gap: revisão da literatura. Revista CEFAC, São Paulo, v. 10, n. 3, 2008.

SANTOS, T. M. M et al. Anatomia e fisiologia do órgão da audição e do equilíbrio. In:

Santos, Russo. Prática da Audiologia Clínica. 6ºed, São Paulo: Cortez Editora, 2007.

SANTOS, T. M. M et al. Determinação dos limiares tonais por via aérea e por via óssea. In:

Santos, Russo. Prática da Audiologia Clínica. 6ºed, São Paulo: Cortez Editora, 2007.

SANTOS, T. M. M, DIAS, A. M. N; ASSAYAG, F. H. M. Processamento auditivo. In:

Santos, Russo. Prática da Audiologia Clínica. 6ºed, São Paulo: Cortez Editora, 2007.

SANTOS, T. M. M; BARREIRO, F. C. A. B. Avaliação e intervenção Fonoaudiológica no

Transtorno de Processamento Auditivo. In: Ferreira et al. Tratado de Fonoaudiologia, São

Paulo: Roca, 2004.

SHINN, J. B. Temporal processing: the basics. Pathways Hear J. 56: 7, 2003.

SILVA, J. J. O et al. Influência de fatores socioeconômicos na contaminação por agrotóxicos,

Brasil. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 35, n. 2, apr. 2001.

SILVA, J.M et al. Agrotóxico e trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do

trabalhador rural. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.10, n. 4, out./dez. 2005.

SILVA, M. V. A utilização de agrotóxicos em lavouras cafeeiras frente ao risco da Saúde

do Trabalhador Rural no município de Cocoal- RO. (Brasil). [dissertação]. Brasília:

Universidade de Brasília, 2006.

SINITOX- Sistema Nacional de Informações Tóxico- Farmacológicas. Disponível em:

\\www.fiocruz.br/sinitox. Acessado em 21 abr. 2009.

SIQUEIRA, S. L; KRUSE, M. H. L. Agrotóxico e saúde humana: contribuição dos

profissionais do campo da saúde. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v.

42, n.3. set. 2008.

Page 52: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

53

SMITH, N. A; TRAINOR L. J; SHORE, D. I. The development of temporal resolution:

between-channel gap detection in infants and adults. J. Speech Lang Hear Res. 49 (5): 1104-

13, 2006.

SOARES, W; ALMEIDA, R. M. V. R., MORO, S. Trabalho rural e fatores de risco

associados ao regime de uso de agrotóxicos em Minas Gerais, Brasil. Caderno de Saúde

Pública, Rio de Janeiro, 19(4): 1117-1127, jul./ago. 2003.

The WHO Recommended classification of pesticides by hazard and guidelines to classification, 2004. Disponível em: www.who.int/ipcs/publications/pesticides. Acessado em

27 jul.2009.

VARONA, M. et al. Evaluación de los efectos Del glifosato y otros plaguicidas em La salud

humana em zonas objeto Del programa de erradicación de cultivos ilícitos. Biomédica; 29:

456-75. 2009

VEIGA, M. M. Agrotóxicos: eficiência econômica e injustiça sócioambiental. Ciência e

Saúde Coletiva. v.12, n. 1. Rio de Janeiro, jan./mar. 2007.

WERLANG, C et al. Perfil audiométrico de trabalhadores agrícolas. Arquivos

Internacionais de Otorrinolaringologia. v. 8, n. 4, out./dez. 2004.

Page 53: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

54

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA

MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

A R T I G O

Processamento Auditivo Temporal (ordenação e resolução temporal) de

Trabalhadores rurais expostos a agrotóxico.

Rio de Janeiro

2010

Page 54: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

55

Resumo:

Tema: Processamento auditivo temporal e exposição a agrotóxicos. Objetivo: Foram

investigadas as habilidades auditivas de ordenação e resolução temporal em trabalhadores

rurais expostos ocupacionalmente a agrotóxicos do município de Campos dos Goytacazes.

Método: Foi realizado um estudo seccional através da avaliação de 33 indivíduos de ambos

os sexos, com idade entre 18-59 anos, que foram expostos ocupacionalmente a agrotóxicos.

Os procedimentos aplicados foram: questionário, meatoscopia, avaliação audiológica básica e

testes do Processamento Auditivo Temporal: Teste de Padrão de duração (TPD) e Gap in

Noise (GIN). Para análise dos resultados foi criada uma variável denominada índice de

exposição, através de um somatório simples de variáveis presentes no questionário. Os

resultados dos testes de Processamento Auditivo Temporal aplicados foram categorizados

segundo os tercis de distribuição, de acordo com a alteração observada, sendo neste estudo

denominado de pouco alterado, alterado e muito alterado e então comparado com o índice de

exposição. Resultados: Verificou-se diferença significativa em todos os tercis, havendo uma

relação dose-resposta, ou seja, conforme aumentou a média de exposição, pior foi o

desempenho do TPD (p-valor=0,001) e do GIN (p-valor=0,001) em todos os tercis. A maior

correlação foi observada entre o tercil muito alterado e o pouco alterado. Conclusão: Houve

associação relação entre o índice de exposição a agrotóxico e pior desempenho nos testes de

Processamento Auditivo Temporal, sugerindo que o agrotóxico pode ser uma substância

nociva às vias auditivas centrais.

Palavras-chave: Percepção auditiva, Agrotóxicos, Trabalhadores rurais, Saúde dos

Trabalhadores.

Page 55: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

56

Abstract

Theme: Temporal auditory processing and exposure to pesticides. Objective: The objective

of this research was to evaluate the auditory abilities of ordering and temporal resolution in

rural workers exposed to pesticides in the city of Campos dos Goytacazes.

Method: A sectional study through the evaluation of 33 individuals of both genders, aged 18-

59 years, who were exposed to pesticides during their daily routine. The procedures applied

were: a questionnaire, meatoscopy, basic audiological evaluation and the Temporal auditory

processing tests: pattern test duration (TPD) and Gap in Noise (GIN). In order to analyse the

results, a variable called „index of exposure‟ was set up through a simple sum of variables

present in the questionnaire. The tests results of Temporal Auditory Processing applied were

categorized accordingly to the tercis of distribution, in accordance with the amendment

observed, in this study were called a little amended, amended, and much amended and then

compared with the exposure index.

Results: Significant difference was verified in all tercis, with a dose-response relationship, or,

when increased to average exposure, the performance of TPD (p-value=0.001) and GIN (p-

value=0.001) was worse in all tercis. The highest correlation was observed between the third

tertile much amended and the little amended.

Conclusion: There was association between the index of exposure to pesticides and worse

performance in Temporal auditory processing tests, suggesting that the pesticides may be a

harmful substance to central auditory pathways.

Key-words: Auditory Perception, Pesticides, Rural Workers, Workers' Health.

Page 56: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

57

INTRODUÇÃO

Atualmente vem sendo crescente a utilização de agrotóxicos no ambiente agrícola. O

processo de produção da agricultura tem apresentado significativas transformações

tecnológicas e organizacionais resultando em ganho de produtividade. Por outro lado, o

aumento da exposição a estas substâncias gera prejuízos à saúde humana, se tornando desta

forma temas de investigação no âmbito de Saúde Coletiva (ALAVANJA et al., 2004; SILVA

et al., 2005; SOARES et al.,2003). Dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico

Farmacológicas, evidenciam que no Brasil, em 2008, ocorreram 2754 casos notificados de

intoxicação por circunstâncias ocupacionais, sendo que destes, 1.082 (40%) por exposição à

agrotóxicos e 1672 (60%) por outros produtos químicos (SINITOX, 2009).

Muitas das substâncias químicas, como os agrotóxicos, são reconhecidamente

neurotóxicos (KAMEL & HOPPIN, 2009) podendo afetar a audição agindo primariamente as

vias auditivas centrais. Dessa forma, para a seleção do método de avaliação audiológica de

indivíduos expostos, deve-se considerar a audiometria tonal e vocal como um ponto de

partida, sendo necessária aplicação de testes que avaliem toda a extensão do sistema auditivo,

como testes eletrofisiológicos e testes do Processamento Auditivo Central (MORATA, 2003).

O processamento auditivo central refere-se, àquilo que fazemos com o que ouvimos.

Não basta, portanto possuir limiares auditivos normais. É preciso que o sinal acústico seja

analisado e interpretado para que se transforme em uma mensagem com significado.

(RAMOS & PEREIRA, 2005). O processamento auditivo temporal é definido, como a

percepção do som ou da alteração do som dentro de um período restrito e definido de tempo,

ou seja, refere-se à habilidade de perceber ou diferenciar estímulos que são apresentados

numa rápida sucessão (SHINN, 2003).

Page 57: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

58

Alguns estudos anteriores sugerem a correlação entre alterações auditivas centrais e

exposição ocupacional a agrotóxicos (FERNANDES, 2000; MORATA, 2003;

CAMARINHA, 2010)

Neste sentido, o objetivo da presente pesquisa foi avaliar os processos auditivos

temporais (ordenação e resolução temporal) em trabalhadores rurais expostos

ocupacionalmente a agrotóxicos do município de Campos dos Goytacazes, Estado do Rio de

Janeiro, e correlacionar estes resultados com o grau de exposição dos trabalhadores.

MÉTODOS

Foi realizado um estudo epidemiológico com delineamento transversal. Esta pesquisa

foi analisada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos em Saúde

Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, parecer 113/2009.

O município de Campos foi escolhido devido sua grande produção agrícola e

consequentemente pela larga utilização de agrotóxicos nesta região. Inicialmente realizou-se

uma mobilização dos trabalhadores em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do

Município de Campos dos Goytacazes – RJ, visando à motivação e adesão dos participantes a

pesquisa.

Os indivíduos convidados a participar da pesquisa foram aqueles trabalhadores rurais

que no período entre 08 a 19 de marco de 2010 procuraram o Sindicato dos Trabalhadores

Rurais de Campos que preenchiam os critérios de inclusão no estudo, ou seja: ter idade entre

18 e 59 anos; exposição ocupacional prévia a agrotóxicos; capacidade de compreensão do

objetivo da pesquisa e, conseqüentemente, assinatura do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido. Adotamos como critérios de exclusão: apresentar alterações neurológicas

Page 58: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

59

evidentes, ser exposto a ruído ocupacional, de maneira que pudesse funcionar como fator de

confundimento para o estudo em questão. Também foi realizado meatoscopia com o objetivo

de excluir indivíduos que apresentassem rolha de cera ou presença de corpo estranho no

meato acústico externo. Além disso, foi realizada imitânciometria, através do Mini-Tymp da

marca Interacoustics, para excluir trabalhadores com patologias otológicas de orelha externa

(OE) e/ou orelha média (OM); e audiometria tonal e vocal para excluir indivíduos com perda

auditiva neurosensorial de acordo com a classificação de Lloyd e Kaplan (1978). Este último

procedimento foi realizado com audiômetro da marca Amplaid 309.

Foi utilizado o Teste de Padrão de Duração (TPD) para avaliar a função de

sequencialização ou ordenação temporal que envolve a percepção e/ou o processo de dois ou

mais estímulos auditivos em sua ordem de decorrência no tempo e tem por objetivo fazer com

que o ouvinte reconheça contornos acústicos como entonação, tonicidade e ritmo (FROTA &

PEREIRA, 2003).

O teste de gap in noise (GIN) foi aplicado com o objetivo de avaliar a habilidade de

resolução temporal que pode ser definida como a capacidade de detectar intervalos de tempo

entre estímulos sonoros ou detectar o menor tempo que um indivíduo possa discriminar entre

dois sons audíveis (FORTES et al.,2007) se refere à habilidade de detectar mudanças nos

estímulos sonoros ao longo do tempo (MOORE-2004).

Além dos testes de ordenação e resolução temporal foi aplicado um questionário a

todos os indivíduos incluindo dados demográficos, ocupacionais, perguntas sobre saúde geral

e auditiva.

Como uma tentativa de criar uma escala de avaliação da exposição ocupacional dos

trabalhadores aos agrotóxicos, criou-se uma variável denominada índice de exposição,

calculado através de um somatório simples das seguintes variáveis presentes no questionário:

número de anos de exposição desde a idade do início de contato com agrotóxicos até a idade

Page 59: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

60

atual; número de dias de uso durante a última estação; número de vezes por mês em que

foram aplicados os agrotóxicos, idade em que foi iniciado o contato com agrotóxicos, número

de horas de trabalho por dia com agrotóxicos e distância da residência até a lavoura. Este

índice de exposição foi obtido através de um sistema de pontuação, sendo atribuído maior

peso a opção de resposta em que o indivíduo tivesse maior exposição.

Os resultados dos testes aplicados foram categorizados segundo os tercis de

distribuição de acordo com a alteração observada, sendo neste estudo denominado de pouco

alterado, alterado e muito alterado e então comparado com o índice de exposição. No TPD em

OD foi considerado pouco alterado: valores maiores que 46,6%; alterado: valores entre 36,6%

e 46,6%; muito alterado: valores menores que 36,6%. No TPD em OE foi considerado pouco

alterado: valores maiores que 43,3%; alterado: valores entre 36,7% e 43,3%; muito alterado:

valores menores que 36,6%. Já no Gin, em ambas as orelhas, foi considerado pouco alterado:

valores menores que 5,0 ms; alterado: valores entre 5,1 e 6,0 ms; muito alterado maiores que

6,0 ms.

A estatística descritiva foi utilizada para traçar o perfil da população estudada segundo

as variáveis: sexo, idade, escolaridade. Para avaliar a correlação entre os testes aplicados e o

índice de exposição de forma contínua foi utilizada a correlação de Sperman. Já para analisar

a relação entre os testes realizados em tercis e o índice de exposição foi aplicado a análise de

variância juntamente com o teste de Scheffer. Além disso, para analisar a influencia das

variáveis no resultado dos testes foi utilizada a correlação de Sperman, e a regressão logística

para determinar um risco de alteração mais elevada frente a baixas alterações controladas pelo

fator de confundimento, sendo que os valores dos resultados do TPD foram divididos pela

mediana, considerando-se um pior desempenho valores abaixo de 40,0% em ambas as orelhas

e os valores do GIN, também foram divididos pela mediana, sendo considerado um pior

desempenho valores abaixo de 5 ms em OD e 6,0 ms em OE.

Page 60: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

61

A análise estatística dos dados foi realizada através do programa computacional

Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 17.0

RESULTADOS

Inicialmente foram avaliados 38 indivíduos, sendo um indivíduo excluído por ser

portador de alterações cognitivas evidentes e quatro excluídos do estudo por apresentarem

perda auditiva sensorioneural.

Inicialmente traçou-se o perfil da população estudada. Dos 33 trabalhadores rurais, 24

(72,7%) eram do sexo masculino e nove (27,3%) do sexo feminino. A escolaridade variou

entre analfabetos até segundo grau, sendo constituída por 5 (15,2%) analfabetos, 25 (75,8%)

com primeiro grau e apenas três com segundo grau (9,1%). A média de idade foi de 45,3

anos, sendo a mínima de 26 e a máxima de 59 anos. Os indivíduos eram expostos â vários

tipos de agrotóxico, sendo os herbicidas, em especial o roundup o tipo mais utilizado, e em

menor número os inseticidas e fungicidas.

Teste do Padrão de Duração

A Tabela 1 apresenta estatísticas sobre medidas de tendência central e correlação com o

índice de exposição entre o desempenho do Teste de Padrão de Duração (TPD) segundo Orelhas dos

trabalhadores estudados.

Foram encontradas correlações significativas entre o desempenho do TPD e o índice

de exposição, considerando p < 0,05. Verificou-se correlação negativa mediana para a orelha

direita (OD) e correlação negativa alta para orelha esquerda (OE).

A Tabela 2 fornece o desempenho do Teste de Padrão de Duração dividido em tercis

comparados com a média do índice de exposição. Verificou-se diferença significativa em

Page 61: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

62

todos os tercis, havendo uma relação dose-resposta, ou seja, conforme aumenta a média de

exposição, pior foi o desempenho do teste em ambas as orelhas. Embora, a diferença

significativa tenha sido observada entre o tercil de maior alteração em relação ao de menor

alteração.

Ao analisar a influência das variáveis nos resultados dos TPD, foi encontrada apenas

relação significativa para a variável idade..

Na tabela 3 apresenta-se uma regressão logística controlada pela idade para verificar a

chance de o indivíduo apresentar um pior desempenho no TPD ao apresentar um maior índice

de exposição.

Em ambas as orelhas, observou-se que quanto maior o índice de exposição maior a

chance do indivíduo apresentar um pior desempenho no TPD, ou seja, inferior a 40,0 %,

mesmo controlado pela idade.

Teste de Gap in Noise (GIN)

A tabela 1 expõe a média, a mediana, o desvio-padrão, os valores mínimo e máximo, o

coeficiente de correlação do desempenho do Teste GAP in Noise (GIN) de ambas as orelhas

de acordo com o índice de exposição e o p- valor.

Foi encontrada correlação significativa, considerando p < 0,05 para o teste do GIN em

ambas as orelhas. O limiar do GIN na OD apresentou correlação positiva alta e na OE

correlação positiva mediana.

A tabela 2 demonstra o desempenho do Teste do GIN dividido em tercis comparados

com a média do índice de exposição. Observou-se diferença significativa em todos os tercis,

apresentando relação dose-resposta, ou seja, quanto maior a média de exposição, pior foi o

Page 62: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

63

desempenho no teste. No entanto, foi observado diferenças significativas entre o tercil de

maior alteração em relação ao de menor alteração

Ao analisar a influência das variáveis nos resultados do GIN, foi encontrada apenas

relação significativa para a variável idade.

A tabela 3 apresenta-se uma análise de regressão logística controlada pela idade para

verificar a chance de o indivíduo apresentar um pior desempenho no GIN ao apresentar um

maior índice de exposição. Em ambas as orelhas, verificou-se que quanto maior o índice de

exposição maior a chance do indivíduo apresentar um pior desempenho no GIN, ou seja,

piores que 5 ms e a 6 ms, na OD e na OE respectivamente, independente da variável idade.

Tabela 1: Análise Descritiva dos Testes de Padrão de Duração (TPD) e Teste de Gap in Noise (GIN)

segundo correlação destes com o índice de exposição aos agrotóxicos entre Trabalhadores Rurais do

Município de Campos-RJ, 2010.

Teste segundo Orelha

Média

Mediana

Desvio Padrão

Mínimo

Máximo

R

p valor

TPD Orelha Direita

43,7

40,0

10,53

30,0

66,6

-0,615

0,000

TPD Orelha

Esquerda

40,0

40,0

9,34

30,0

66,6

-0,713

0,000

GIN Orelha

Direita

5,82

5,0

2,17

2,0

12

0,713

0,000

GIN Orelha Esquerda

6,25

6,0

2,06

4,0

12

0,566

0,001

R = Coeficiente de Correlação

Page 63: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

64

Tabela 2: Comparação da Média do Índice de Exposição pelos tercis dos resultados dos Testes de

Padrão de Duração (TPD) e Teste de Gap in Noise (GIN) por Orelhas entre Trabalhadores Rurais do Município de Campos-RJ, 2010.

Teste

Grau de Alteração

segundo Tercis

Média do Índice

de Exposição

p valor

(a)

p valor

(b)

TPD Orelha Direita

Maior que 46,6% (pouco alterado)

5,3

----

0,001

36,6-46,6%

(alterado)

8,2

0,710

0,001

Menor que 36,6% (Muito alterado)

10,3

0,010

0,001

TPD Orelha

Esquerda

Maior que 43,3%

(pouco alterado)

5,3

----

0,001 36,7-43,3%

(alterado)

7,7

0,191

0,001

Menor que 36,6%

(muito alterado)

10,5

0,001

0,001

GIN Orelha

Direita

Menor que 5ms

(pouco alterado)

5,8

----

0,001 5,1-6,0 ms (alterado) 7,7 0,003 0,001

Maior que 6,0 ms

(muito alterado)

10,3

0,003

0,001 GIN Orelha

Esquerda

Menor que 5ms

(pouco alterado)

7,3

----

0,001

5,1-6,0 ms (alterado) 7,7 0,003 0,001

Maior que 6,0 ms (muito alterado)

11,0

0,044

0,001

p-valor (a) = em relação ao tercil de referência (tercil pouco alterado) calculado pelo Teste de Scheffer

p-valor (b) = Calculado pela ANOVA

Tabela 3: Regressão Logística ajustada pela Idade para Avaliar Chance de Pior Desempenho

nos Testes de Padrão de Duração (TPD) e Teste de Gap in Noise (GIN) nas orelhas

segundo Índice de Exposição entre Trabalhadores Rurais do Município de Campos-RJ,

2010.

Teste segundo

Orelha

Razão de Chances

(OR)

IC (95%)

TPD Orelha

Direita

2,020

1,108 – 3,683

TPD Orelha

Esquerda

1,879

1,157 - 3,050

GIN Orelha

Direita

2,038

1,218 - 3,409

GIN Orelha

Esquerda

1,203

0,948 - 1,526

OR- Razão de chances

IC-Intervalo de confiança

Page 64: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

65

DISCUSSÃO:

Poder-se-ia apontar como uma das possíveis limitações do presente estudo o número

de pessoas estudadas e o fato de constituída por voluntários e desta forma não probabilística.

Além de ser pequena para detectarmos sutís diferenças nas alterações do Processamento

Auditivo Temporal em relação ao índice de exposição. Todavia, deve-se ressaltar que embora

a população estudada tenha sido pequena, resultados com magnitude expressiva e

estatisticamente significativos mostram a relevância deste estudo pioneiro no país.

Outra possível limitação é o fato do estudo ser seccional, o que poderia dificultar a

avaliação da relação causal (a exposição precede o desfecho). Porém, a utilização de um

índice de exposição pregressa, minimizou este tipo de limitação

A população estudada foi composta predominantemente por indivíduos do sexo

masculino (72,7%) e majoritariamente por indivíduos adultos, resultados semelhantes aos

estudos de Araújo et al., (2007); Pedlowsky (2006).

Nesta população estudada, todos os resultados (100%) encontrados para o TPD

indicaram desempenho pior quando comparados com o padrão de normalidade, ou seja, índice

de acertos acima de 75% para ambas as orelhas (MUSIEK, 2002). (Tabela 1) Desta forma,

pode-se sugerir que o agrotóxico pode prejudicar a habilidade de ordenação temporal avaliada

pelo TPD.

Atualmente, para o Teste GIN existe padronização até a idade de 31 anos, sendo o

critério de normalidade uma média geral dos limiares de gap de 4,19 ms (SAMELLI &

SCHOCHAT, 2008). Nos trabalhadores deste estudo, observou-se que aproximadamente

51,5% dos resultados do GIN foram alterados na OD e 54,5% na OE, podendo esta

porcentagem de alteração indicar que o agrotóxico é prejudicial à habilidade auditiva de

resolução temporal.

Page 65: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

66

No entanto, é importante ressaltar que a população estudada, provavelmente, possui

um nível sócio-econômico inferior ao das populações utilizadas para a padronização dos

Testes de Processamento Auditivo Temporal, o que dificulta a comparação dos dados obtidos

com os valores descritos como normalidade.

Fazendo uma comparação entre os resultados do TPD com os resultados do GIN,

observou-se que o desempenho foi relativamente pior no TPD. Talvez possa ser atribuído este

dado ao fato do TPD envolver não apenas a habilidade auditiva de ordenação temporal, mas

também a memória, ao contrário do GIN. Como afirmam EDDINS et al,. 2001 que a memória

poderia contribuir para a grande variabilidade no desempenho em testes envolvendo

discriminação de pistas acústicas de duração.

A mesma comparação foi feita no estudo de Liporaci & Frota (2009), através do qual

encontrou resultados semelhantes. A autora justifica o fato da tarefa solicitada no TPD exigir

que ocorra transferência inter hemisférica, ou seja, os dois hemisférios cerebrais estão

envolvidos. O reconhecimento do contorno do padrão ocorre no hemisfério direito e a

informação é transferida através do corpo caloso para o hemisfério esquerdo, onde a

nomeação do sinal é feita. Sendo assim, nos casos onde há respostas verbais insatisfatórias é

provável que haja uma disfunção na transferência inter hemisférica para o hemisfério

esquerdo do cérebro. Já no GIN a tarefa solicitada não exige nomeação e sim identificação do

intervalo de silencio levantando a mão, não necessitando de transferência inter hemisférica.

Os testes de Padrão de Duração e o GIN categorizados em tercis com o índice de

exposição (Tabela 2), encontrou-se diferença significativa em todos os tercis, havendo uma

relação dose-resposta, ou seja, conforme aumenta a média de exposição, pior é o desempenho

dos testes em todos os tercis. A maior correlação foi encontrada entre o tercil muito alterado e

o pouco alterado. Talvez, em estudos com o mesmo objetivo e um número maior de

participantes poderia-se encontrar uma forte correlação entre todos os tercis.

Page 66: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

67

Ao analisar a influência das variáveis: sexo, idade, escolaridade, foi encontrada

relação significativa apenas para a variável idade. Ou seja, tanto no TPD e no GIN, os

indivíduos incluídos no tercil muito alterado, tiveram um maior índice de exposição, porém

também eram os que possuíam maior faixa etária. Podendo ser a idade um fator de

confundimento para a pesquisa. Ao realizarmos a regressão logística (Tabela 3) para

neutralizar o possível viés da idade, encontramos resultados positivos em relação à hipótese

inicialmente levantada: que os indivíduos com maior índice de exposição apresentaram

desempenho muito alterado nos TPD e no GIN, independentemente da idade. Outros estudos

atuais indicam que há relação entre dificuldades do PAC e envelhecimento (MOORE, 2004;

NEVES & FEITOSA, 2003; LIPORACI, 2009;), porém estes trabalhos foram realizados com

uma população idosa acima de 60 anos, ao contrário da pesquisa atual, na qual foram

incluídos indivíduos com idade até 59 anos, com o objetivo de tentar evitar que a idade

pudesse influenciar nos resultados dos testes de Processamento auditivo temporal aplicados.

Não foram encontrados estudos semelhantes que correlacionem o índice de exposição

aos agrotóxicos e o Processamento Auditivo Temporal.

De acordo com a literatura especializada, são reconhecidos os efeitos adversos que a

exposição a substâncias químicas podem causar no Sistema Nervoso Central (KAMEL et

al.,2003; BOSMA et al., 2000; DUTRA et al., 2010 ), entretanto os efeitos destas substâncias

nas vias auditivas centrais ainda são pouco explorados. Desta forma, estudos que utilizem

testes para avaliar o Sistema auditivo central são necessários para aprofundar o conhecimento

da toxicidade dos agrotóxicos neste sistema.

Os resultados apontam uma associação entre a exposição a agrotóxicos e alterações

mais graves nas habilidades de ordenação e resolução temporal do Processamento Auditivo

Temporal.

Page 67: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

68

Conclusão

Este estudo mostrou uma relação entre exposição a agrotóxico e pior desempenho nos

testes de processamento auditivo temporal. Desta forma, sugere-se que o agrotóxico pode ser

uma substância nociva para as vias auditivas centrais. Também foi verificada a importância

das questões auditivas centrais serem consideradas em procedimentos que visem medidas

preventivas para os trabalhadores rurais expostos a estas substâncias.

Page 68: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

69

Referências Bibliográficas

ALAVANJA, M. C. R; HOPPIN, J. A; KAMEL, F. Health effects of chronic pesticide

exposure: Cancer and Neurotoxicity. Rev. Public Health, 2004.

ARAÚJO, A. J et al. Exposição múltipla a agrotóxicos e efeitos á a saúde: estudo transversal

em amostra de 102 trabalhadores rurais, Nova Friburgo, RJ. Ciências e Saúde Coletiva, Rio

de Janeiro, v.12, n. 1, jan. / mar. 2007.

BOSMA. H et al. Pesticide exposure and risk of mild cognitive dysfunction. Research Letters.

V.356, set. 2000.

DUTRA, M. D. S; CAVADAS, M. M; CÂMARA, V. M. Avaliação do Processamento

Auditivo Central em adolescentes expostos ao mercúrio metálico. Pró-Fono. Revista de

atualização científica, Barueri, v.22, n. 3. 2010.

EDDINS, A. et al. Cognitive and sensory influence on the perception of complex auditory

signals. J Acost. Soc. Am, Lancast (PA), v. 109, n. 5, p: 2475-2479, 2001.

FERNANDES, T. C. Exposição ocupacional aos inseticidas e seus efeitos na audição: a

situação dos agentes de saúde pública que atuam em programas de controle de endemias

vetoriais em Pernambuco [dissertação]. Recife: Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães,

2000.

FORTES, A. B; PEREIRA, L. D; AZEVEDO, M. F. Resolução temporal: análise em pré-

escolares nascidos a termo e pré-termo. Pró-Fono. Revista de atualização científica,

Barueri, jan./apr. 2007.

FROTA, S; PEREIRA, L. D. Revista Iberoamericana de Educación. Rio de Janeiro, 2003.

KAMEL, F. et al. Neurobehavioral Performance and Work Experience in Florida

Farmworkers. Environmental Health Perspectives. v. 111, n. 14, nov. 2003.

KAMEL, F; HOPPIN, J. A. Association of Pesticide Exposure with Neurologic

Dysfunction and Disease. Dec, 2004. Disponível em: http: //www.medscape.com. Acesso em

28 maio. 2009

LIPORACI, F. D; FROTA, S. Envelhecimento e ordenação temporal auditiva. Revista

CEFAC, Jul. 2010.

LLOYD, L. L.; KAPLAN, H. Audiometric interpretation: a manual of basicaudiometry.

Baltimore: University Park Press, 1978.

MOORE, B. C. J. Temporal processing in the auditory system. In:______. An introduction

to the psychology of hearing. 5. ed. San Diego: Academic Press, cap. 5, p. 163-194, 2004.

MORATA, T. C. Chemical exposure as a risk factor for hearing loss. J Occup Environ Med.

45: 676-682, 2003.

Page 69: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

70

MUSIEK, F.E. The frequency pattern test: A guide. Pathways Hear J., 2002. 55:6.

NEVES, V. T; FEITOSA, M. A. G. Contovérsias ou complexidade na relação entre

processamento temporal auditivo e envelhecimento. Revista Brasileira de

Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 69, n. 2, mar./abr. 2003.

PEDLOWSKI, M. A et al. Um estudo sobre a utilização de agrotóxicos e os riscos de

contaminação num assentamento de reforma agrária no Norte Fluminense. J. Braz. Soc.

Ecotoxicol., v. 1, n. 2, 2006.

SAMELLI, A. G; SCHOCHAT, E. The Gaps in Noise Test. Gap detection thresholds in

normal-hearing young adults. Int J. Audiol, v. 47, n.5, p:238-245, 2008.

SHINN, J. B. Temporal processing: the basics. Pathways Hear J. 56: 7, 2003.

SILVA, C. R. C. Avaliação do Processamento Auditivo em trabalhadores rurais expostos

ocupacionalmente a agrotóxicos organofosforado, 2010.

SILVA, J. M et al. Agrotóxico e trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do

trabalhador rural. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.10, n. 4, out./dez. 2005.

SINITOX- Sistema Nacional de Informações Tóxico- Farmacológicas. Disponível em:

\\www.fiocruz.br/sinitox. Acessado em 18 ago. 2010.

SOARES, W; ALMEIDA, R. M. V. R., MORO, S. Trabalho rural e fatores de risco

associados ao regime de uso de agrotóxicos em Minas Gerais, Brasil. Cadernos de Saúde

Pública, Rio de Janeiro, 19(4): 1117-1127, jul./ago. 2003.

RAMOS, C. S; PEREIRA, L. D. Processamento Auditivo e audiometria de altas freqüências

em escolares de São Paulo. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, Barueri, v. 17, n.

2, maio./ago, 2005.

Page 70: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

71

ANEXO 1

QUESTIONÁRIO

I- INFORMAÇÕES GERAIS

Nome:________________________________________________________

Sexo: ( ) F ( ) M Idade:_______________________

Endereço:_____________________________________________________

Bairro:__________________________ Cidade:________________________

Tel.:____________________________ Cep.:_________________________

Estado Civil:___________________

Escolaridade: ( ) Analfabeto

( )Primeiro incompleto

( )Primeiro completo

( ) Segundo incompleto

( ) Segundo completo

II - INFORMAÇÕES DE SAÚDE

( ) Pressão alta ( )Colesterol alto ( )Diabetes |__| Câncer |__| Aids |__| Alt. neurológica

( )Você fuma? quantidede ___________________

( ) Você bebe Álcool ? quantidade_____________________

Faz uso de medicamento ( ) sim ( ) Não

Qual?______________________________________________

III - INFORMAÇÕES AUDITIVAS

Você já percebeu algum líquido saindo do ouvido (otorréia)? ( ) sim ( ) não

( ) sim ( ) não

Você já fez alguma cirurgia no ouvido? ( )sim ( )não

Perfuração timpânica ( ) sim ( ) não

Exposição a ruídos ocupacionais ( ) sim ( ) não

quais?_________________________

Você acha que escuta bem em ambiente silencioso? ( ) sim ( ) não

Você acha que escuta bem em ambiente ruidoso? ( ) sim ( ) não

IV - INFORMAÇÕES SOBRE USO DO AGROTÓXICO

QUAL AGROTÓXICO (veneno/ remédio de planta) VOCÊ USA EM SEU TRABALHO?

( ) Round up (glifosato) ( ) Outros ______________________

( ) Tordon ( )

( ) Gramoxone ( )

( ) Tamaron ( )

Page 71: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

72

HÁ QUANTO TEMPO VOCÊ TRABALHA COM AGROTÓXICO (veneno/ remédio de

planta)?

( ) menos de 1 ano ( ) 11-20 anos

( ) 1- 5 anos ( ) 21-30 anos

( ) 5- 10 anos ( ) mais de 30 anos

DURANTE A ÚLTIMA ESTAÇÃO, QUANTOS DIAS VOCÊ APLICOU AGROTÓXICO

(veneno / remédio de planta)?

( ) Nunca

( ) 1 - 5 dias

( ) 6 - 25 dias

( ) 26 - 50 dias

( ) mais de 50 dias

QUANTAS VEZES POR MÊS VOCÊ USA O AGROTÓXICO(veneno/ remédio de planta)?

( ) 1 vez ( )5- 10 vezes

( ) 1-5 vezes ( )mais de 10 vezes

COM QUANTOS ANOS VOCÊ COMEÇOU A TER CONTATO COM

AGROTÓXICO(veneno/remédio de planta)?

( ) 5-10 anos ( )15-20 anos

( ) 10- 15 anos ( )21 anos ou mais

V- QUANTAS VEZES VOCÊ REALIZA ESSAS ATIVIDADES?

ATIVIDADES COM EXPOSIÇÃO A RUÍDO (barulho muito alto), COMO DIRIGIR CAMINHÕES, TRATORES, ÔNIBUS, MOER ALIMENTOS, SOLDAR?

( ) Nunca, ou menos de 1 vez por mês

( ) 1- 3 vezes por mês (mensalmente)

( ) 1-5 vezes por semana (semanalmente)

( ) 6- 7 vezes por semana (diariamente)

VI - HÁBITOS DE TRABALHO

QUANTAS HORAS VOCÊ TRABALHA POR DIA?

( ) 4 horas ( ) 10 horas

( ) 6 horas ( ) 12 horas

( ) 8 horas ( ) mais de 12 horas

QUAL A DISTÂNCIA DA SUA CASA ATÉ ONDE VOCÊ APLICA OU MISTURA O

AGROTÓXICO (veneno/remédio de planta)?

( ) menos de 50 metros ( )100-200 metros

( ) 50-100 metros ( ) mais de 200 metros

Page 72: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

73

ANEXO 2

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, Martha Marcela de Matos Bazilio, através do Instituto de Estudos de Saúde

Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro estou realizando um estudo intitulado

“AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO TEMPORAL EM

TRABALHADORES RURAIS EXPOSTOS A AGROTÓXICOS EM CAMPOS, ESTADO

DO RJ.”

Os agrotóxicos são utilizados na agricultura, e é uma substância tóxica para a saúde

em geral, podendo afetar a saúde auditiva. Neste sentido, o objetivo deste estudo é avaliar o

processamento auditivo temporal em trabalhadores rurais e comparar com o grau de

exposição a agrotóxicos, o que contribuirá para um maior conhecimento dos efeitos desta

substância na saúde e poderá auxiliar no desenvolvimento de medidas preventivas.

Os procedimentos realizados incluem aplicação de um questionário contendo

perguntas sobre sua identificação, dados sobre efeitos na saúde geral e auditiva e questões

específicas da exposição aos agrotóxicos e do trabalho; meatoscopia, que é a inspeção do

meato acústico externo; testes audiológicos: audiometria tonal e vocal, imitanciometria e

avaliação do processamento auditivo temporal que será composto pelos testes de padrão de

duração e o GIN (Gap in noise)

A participação nesta pesquisa é voluntária. A qualquer momento você pode recusar a

sua participação na pesquisa ou entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)

do IESC através do telefone: (21) 2598-9328 ou com a pesquisadora pelo celular (21) 9819-

0334, através de chamada a cobrar.

Todos os dados da pesquisa serão confidenciais e de restrito caráter científico. Os

participantes têm o direito de serem mantidos atualizados sobre os seus resultados parciais da

pesquisa e após a conclusão será marcada uma reunião para transferência dos resultados aos

participantes da pesquisa.

Eu me comprometo a utilizar os dados coletados somente para pesquisa e os

resultados serão veiculados através de artigos científicos em revistas especializadas e/ou em

encontros científicos e congressos, sem nunca tornar possível sua identificação.

Atenciosamente,

_______________________________

Martha Marcela de Matos Bazilio (Pesquisadora) RG: 13171410-7 do IFP-RJ

Eu, _________________________________________ RG no__________, concordo

participar da pesquisa.

Campos dos Ggoytacazes, ____ de _____________________ de 20___.

_________________________________________________

Page 73: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

74

ANEXO 3

Audiometria tonal Audiometria vocal Hz/ dB 250 500 1000 2000 3000 4000 6000 8000 OD OE

OD - VA SRT (dB)

OD - VO IPRF (%)

OE - VA

OE - VO

Imitanciometria

-200 -100 0 100 200

Page 74: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

75

ANEXO 4

(MUSIEK, 1999)

NOME:__________________________________IDADE:___________DATA:____/___/____

TESTE DE PADRÃO DE DURAÇÃO

OD______________% OE______________%

OD

1. LCL

2. LLC 3. CLL

4. LLC

5. CCL

6. CLL 7. LLC

8. LCC

9. CCL 10.CLL

11.CCL

12.LCC

13.CLL 14.LCL

15.LCC

16.LLC

17. LCC

18. CLC 19. LLC

20. LLC

21. CCL

22. CLL 23. CLC

24. LLC

25. LLC 26. LCL

27. CCL

28. LCC

29. CLC 30. LCL

31. CLC

32. CCL 33. CLC

OE

1. CCL

2. CLC 3. LCL

4. CLL

5. LCC

6. CCL 7. LCL

8. LLC

9. CLL 10.LCC

11.CLL

12.CLC

13.CCL 14.LCC

15.LLC

16.CLL

17. LCL

18. LCC 19. LCL

20. CLC

21. CLC

22. CCL 23. CCL

24. CLC

25. LCL 26. LCL

27. CLC

28. LLC

29. LCC 30. LCL

31. LCC

32. CLL 33. CLL

Page 75: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

76

ANEXO 5

GIN (Gaps in noise)

Page 76: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

77

2 ms______________%

3ms______________%

4ms______________%

5ms______________%

6ms______________%

8ms______________%

10ms_____________%

12ms_____________%

15ms_____________%

20ms_____________%

Page 77: Avaliação do Processamento Auditivo Temporal (ordenação e … · 2014-05-05 · PAC- Processamento Auditivo Central SNAC- Sistema Nervoso Auditivo Central SNC- Sistema Nervoso

78

ANEXO 6

Numero Idade Sexo Escolaridade TPDOD TPDOE GinOD GinOE Índice de

Exposição

1 36 M Até 1 grau 40 36,6 4 5 6 pontos

2 31 M Até 1 grau 46,6 36,6 6 5 8 pontos

3 36 M Até 1 grau 50 46,6 4 5 8 pontos

4 36 F Até 1 grau 46,6 50 4 4 7 pontos

5 46 M Até 2 grau 53,3 50 4 6 1 ponto

6 49 M Até 1 grau 36,6 60 5 5 6 pontos

7 26 M Até 2 grau 63,3 60 6 4 1 ponto

8 46 M Até 1 grau 36,6 66,6 3 6 3 pontos

9 54 M Até 1 grau 40 36,6 5 6 9 pontos

10 39 M Até 1 grau 36,6 36,6 8 8 9 pontos

11 53 M Até 1 grau 60 46,6 6 8 6 pontos

12 38 M Até 1 grau 40 40 8 6 6 pontos

13 42 M Até 1 grau 36,6 40 5 5 8 pontos

14 29 M Até 1 grau 66,6 66,6 6 4 0 pontos

15 30 M Até 1 grau 33,3 36,6 3 6 8 pontos

16 49 M Analf. 40 40 6 10 8 pontos

17 45 M Analf. 33,3 36,6 8 8 10 pontos

18 43 M Até 1 grau 33,3 30 6 10 15 pontos

19 47 M Até 1 grau 33,3 36,6 12 6 8 pontos

20 39 F Até 2 grau 60 50 6 4 3 pontos

21 40 M Até 1 grau 40 43,3 2 12 9 pontos

22 53 M Até 1 grau 33,3 30 10 5 7 pontos

23 59 M Até 1 grau 33,3 36,6 6 8 10 pontos

24 57 M Até 1 grau 30 33,3 8 10 12 pontos

25 55 F Até 1 grau 36,6 33,3 10 8 8 pontos

26 53 M Até 1 grau 40 43,3 4 5 3 pontos

27 57 F Analf. 36,6 36,6 8 5 9 pontos

28 44 M Até 1 grau 46,6 40 3 4 4 pontos

29 50 M Analf. 36,6 43,3 5 5 8 pontos

30 57 F Até 1 grau 53,3 43,3 4 6 5 pontos

31 51 F Até 1 grau 60 40 5 5 6 pontos

32 45 M Analf. 43,3 40 5 6 5 pontos

33 51 F Até 2 grau 40 40 5 6 8 pontos