avaliação de diferentes métodos de quantificação

66
EDUARDO RODRIGUES ALVES JUNIOR Avaliação de diferentes métodos de quantificação microscópica da parasitemia de pacientes portadores de malária aguda da Amazônia brasileira UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE MEDICINA Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Ciências da Saúde CUIABÁ 2013

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Page 1: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

EDUARDO RODRIGUES ALVES JUNIOR

Avaliação de diferentes métodos de quantificação

microscópica da parasitemia de pacientes portadores

de malária aguda da Amazônia brasileira

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE MEDICINA

Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Ciências da Saúde

CUIABÁ

2013

Page 2: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE MEDICINA

Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Ciências da Saúde

Avaliação de diferentes métodos de quantificação

microscópica da parasitemia de pacientes portadores

de malária aguda da Amazônia brasileira

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências da Saúde, da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso,

para obtenção do título de mestre em Ciências da

Saúde, área de concentração Doenças Infecciosas e

Tropicais.

Mestrando: EDUARDO RODRIGUES ALVES JUNIOR

Orientador: COR JESUS FERNANDES FONTES

CUIABÁ

2013

Page 3: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

iii

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA

FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Catalogação da Publicação

Serviço de Documentação

Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso

Cuiabá/MT

FICHA CATALOGRÁFICA

Page 4: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

iv

Dedicatória

Para Deus, meus pais Eduardo Rodrigues e Enia Gomes e a pesquisa científica.

Page 5: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

v

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, o único digno de toda honra e toda glória, sem

Ele nada seria possível.

Agradeço a minha família, meus pais Eduardo Rodrigues e Enia Gomes, e

irmãos Elizabela Gomes e Endryus Gomes pela presença essencial.

Imensamente ao Professor Cor Jesus Fernandes Fontes pela amizade e

competência.

A Banca de avaliação composta por nomeados doutores que gentilmente

aceitaram contribuir com esta pesquisa Prof. Dr. Francisco José Dutra Souto, Prof. Dr.

Mariano Martínez Espinosa e Prof. Dr. Dr. Fabrício Rios Santos.

A toda nossa equipe de pesquisa, Fábio Alexandre, Márcia Cattini, Luciano

Teixeira, Luciano Simões, Daniele Ribatski, Thamires Martins, Alexandre Damasceno,

Clebson Rodrigues, Andreia Nery, Elaine Cristina, pelo profissionalismo e amizade.

A Walquirya Simi sempre presente em todos os momentos.

A todos os meus colegas do ambulatório III e da pós-graduação que de alguma

forma participaram do meu desenvolvimento e também nos quais eu ajudei.

Aos amigos Alysson Patricio, Rafael Viana, Marcus Avelino, Isaias Roberto e

Diego Lima, pelo companheirismo.

Ao professor Flávio Aparecido pela consideração e oportunidade de estágio

docência.

Page 6: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

vi

“A curiosidade é mais importante do que o conhecimento.”

Albert Einstein

Page 7: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

vii

RESUMO

Page 8: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

viii

A estimativa da parasitemia é prática rotineira no diagnóstico da malária, uma

vez que auxilia na definição da gravidade e na avaliação da resposta terapêutica in vivo.

Uma vez que erros podem ser introduzidos nas técnicas de sua estimação, delineou-se o

presente estudo para avaliar diferentes métodos de quantificação da parasitemia e em

diferentes valores de leucometria que podem ser assumidos como base de cálculo ou

estimação, tendo-se como referência o método que utiliza a contagem automatizada dos

leucócitos em laboratório. Durante o período compreendido entre 2001 a 2013 foram

incluídos no estudo 403 pacientes do Hospital Universitário Julio Muller com

diagnóstico confirmado de malária e dos quais foi realizada a avaliação hematológica

pelo hemograma oriundos da Amazônia Brasileira. A faixa etária média (DP) é de 34,3

(15,2) anos. A estimação da parasitemia de referência foi feita pela relação entre o

número médio de parasitos contados em 500 leucócitos, tendo-se como base de cálculo

o valor leucometria global automatizada. Além disto, estimativas também foram feitas

com base no valor fixo assumido de 8000 leucócitos/μL para a leucometria do paciente

e pelo volume de sangue em determinada área microscópica examinada, métodos esses

preconizados pela OMS para áreas onde não é disponível a leucometria laboratorial.

Valores fixos de leucometria de 7.000, 6.000, 5.500, 5.250, 5.000 e 4.000, foram

também analisados, a fim identificar o número assumido de leucócitos que melhor

estima a parasitemia obtida com o método de considerado como referência. Os

resultados mostraram que a parasitemia estimada pelo valor fixo de 8.000 leucócitos/µL

superestima a parasitemia do paciente. A alta proporção de adultos na amostra analisada

e a não consideração da faixa etária do paciente foram, provavelmente, as razões para

essa superestimação, uma vez que crianças possuem número de leucócitos superior a

dos adultos. Por outro lado, a parasitemia foi subestimada quando avaliada pelo método

que assume volume fixo de sangue em área microscópica examinada. Os valores

assumidos de leucometria que mostraram melhores indicadores de concordância coma

parasitemia estimada pelo método de referência foram de 5.250 e 5.500 leucócitos/µL,

condizentes com o perfil de leucometria revelado pela amostra estudada e de referência

normal para pessoas brasileiras e sul-americanas, que é próxima a esses valores. Assim,

é plausível supor que valores fixos entre 5.000 e 6000 leucócitos/µL estimem melhor a

parasitemia de pacientes com malária na Amazônia brasileira, em áreas onde a

mensuração laboratorial não é possível.

Palavras-chave: Malária, Diagnóstico, Parasitemia, Leucometria.

Page 9: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

ix

ABSTRACT

Page 10: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

x

The estimation of malaria parasite density is important to define disease severity

and to evaluate the in vivo therapeutic response. Since errors could be introduced in the

estimation techniques, we outlined the present study to analyse different methods of

quantification and different values of leukocytes counting that can be assumed as the

basis of calculation for the estimation. The reference parasitemia was estimated using

automated leukocyte counting. The study included patients with confirmed diagnosis of

malaria and of which was evaluated by hematological blood count. The estimation of

parasitemia reference was made by the ratio between the average number of parasites

counted in 500 leukocytes, taking the automated countin as basis for calculating. In

addition, estimates were also made based on the assumed fixed value of 8000

leukocytes/uL and on the volume of blood in a given microscopic area. These methods

are recommended by WHO for areas where the laboratorial leukocyte it is not available

counting. Other fixed values of leukocytes were also analyzed to identify the number of

assumed leukocytes that best estimates the parasitemia. The results showed that the

fixed value of 8000 leukocytes/uL overestimates parasitemia. The high proportion of

adults in the sample and not considering the age of the patient were probably the

reasons for this overestimation. Moreover, the parasitemia was underestimated when

measured by the method that assumes a fixed volume of blood in the examined

microscopic smear area, probably related to errors in preparation of the blood smear.

The assumed values of leukocytes which showed better agreement whit the actual

patient parasitemia were 5,250 and 5,500 leukocytes/uL, consistent with the profile of

leukocytes revealed by the sample and with the standard reference for people in Brazil

and South America, which is close to these values. Thus, it is plausible to assume that

fixed values between 5,000 and 6,000 leukocytes/uL better estimate the parasitemia of

patients with malaria in the Brazilian Amazon, in areas where laboratory measurement

is not available.

Keywords: Malaria, Diagnosis, parasitaemia, leukocyte count.

Page 11: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

xi

Lista de Figuras

Página

Figura 1- Representação esquemática do ciclo biológico do Plasmodium ..... 4

Figura 2 - Gabarito utilizado para padronização da área de preparação do

distendido espesso na lâmina de vidro ............................................................. 15

Figura 3 - Diagrama representativo das etapas do processamento das

amostras de sangue essenciais à determinação da parasitemia por

Plasmodium...................................................................................................... 19

Figura 4 - Distribuição das parasitemias segundo os métodos de estimação:

leucometria automatizada, leucometria assumida e volume por campo

analisado........................................................................................................... 26

Figura 5 - Teste de equivalência de Bonferroni e intervalo de confiança

(95%) do desvio padrão......................................................................

30

Figura 6 - Distribuição do logaritmo da parasitemia segundo método de

estimação: leucometria automatizada, leucometria assumida e volume por

campo analisado.................................................................................

31

Figura 7 - Boxplot da diferença do logaritmo entre os valores de parasitemia

obtidos a partir da leucometria assumida ou por volume de sangue por

campo examinado, com valores obtidos pela leucometria

automatizada......................................................................................

33

Figura 8 - Relação entre a diferença e a média logarítmica das parasitemias

entre cada método de quantificação, baseados em valores assumidos de

leucometria e volume de sangue assumido por campo microscópico

examinado........................................................................................................

34

Page 12: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

xii

Lista de Tabelas

Página

Tabela 1 - Média geométrica e Intervalo de Confiança 95% (IC 95%) para

leucócitos em quatro etnias distintas descrito por

Wintrobe...........................................................................................

9

Tabela 2 – Características demográficas, clínicas e laboratoriais dos

pacientes

estudados......................................................................................................

17

Tabela 3 - Descrição das parasitemias por Plasmodium sp estimadas por

diferentes métodos de quantificação, em 403 pacientes portadores de malária

aguda.................................................................................................

27

Tabela 4 – Análise das parasitemias médias de 403 pacientes portadores de

malária, obtidas por métodos de quantificação baseados em leucometria

assumida, em comparação à quantificação feita pela leucometria

automatizada........................................................................................

28

Tabela 5 – Análise da discrepância entre as determinações das parasitemias

de 403 pacientes portadores de malária, obtidas por métodos de

quantificação baseados em leucometria assumida e área examinada, em

comparação à quantificação feita pela leucometria

automatizada..............................................................................................

29

Tabela 6 – Resultado do teste de hipótese de que a diferença do logaritmo

das parasitemias obtidas pelos métodos que assumem um valor fixo de

leucometria ou que assumem um volume por campo microscópico

examinado seja igual a zero..................................................................

32

Page 13: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

xiii

Lista de Abreviaturas

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

EDTA Ethylenediamine tetraacetic acid

HUJM Hospital universitário Julio Muller

IC 95% Intervalo de Confiança 95%

OMS Organização Mundial de Saúde

PNCM Programa Nacional de controle da Malária

SUS Sistema Único de Saúde

UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

Page 14: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

xiv

Sumário

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 1

1.1 Ciclo biológico do parasito da malária.................................................................. 2

1.2 Definição de caso de malaria................................................................................. 4

1.3 diagnóstico da malária........................................................................................... 4

1.4 Diagnóstico de malária........................................................................................... 5

1.5 Determinação da parasitemia por Plasmodium...................................................... 7

1.6 Os leucócitos e sua variação quantitativa.............................................................. 8

2. OBJETIVOS........................................................................................................... 11

2.1 Geral....................................................................................................................... 12

2.2 Específicos............................................................................................................. 12

3. MATERIAIS E MÉTODO.................................................................................... 13

3.1 Local do estudo e pacientes estudados................................................................... 14

3.2 Coleta do sangue.................................................................................................... 14

3.3 Pesquisa de Plasmodium pela microscopia de distendido espesso de sangue..... 15

3.4 Hemograma completo............................................................................................ 15

3.5 Caracterização dos pacientes do estudo................................................................. 16

3.6 Contagem dos parasitos no distendido espesso...................................................... 18

3.7 Estimação da parasitemia a partir da leucometria automatizada .......................... 19

3.8 Estimação da parasitemia a partir de um valor fixo para a leucometria do

paciente........................................................................................................................

20

3.9 Estimação parasitemia assumindo-se um volume de sangue em uma área

examinada do distendido espesso no microscópio ..............................................

20

3.10 Procedimentos de análise dos resultados ............................................................ 21

3.11 Considerações éticas ........................................................................................... 23

4. RESULTADO........................................................................................................ 24

4.1 Distribuição dos valores de parasitemia mensurados por diferentes métodos de

quantificação ...............................................................................................................

25

4.2 Análises das parasitemias obtidas pelas leucometrias assumidas em comparação

à quantificação feita pela leucometria automatizada...................................................

28

5. DISCUSSÃO ......................................................................................................... 35

5.1. Superestimação da parasitemia estimada pelo valor assumido de 8.000

Page 15: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

xv

leucócitos/µL................................................................................................. 36

5.2. Subestimação da parasitemia estimada pelo volume assumido em área

microscópica examinada ................................................................................

38

5.3. Análise de diferentes valores assumidos de leucometria para a estimação da

parasitemia por Plasmodium............................................................................

39

6. CONCLUSÕES ........................................................................................ 41

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 43

8. ANEXOS ................................................................................................. 49

Page 16: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

1. INTRODUÇÃO

Page 17: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

2

A malária é uma das principais doenças infecciosas do mundo e é causada por

protozoários do gênero Plasmodium e transmitida pela picada do mosquito fêmea do

gênero Anopheles [1–4]. O gênero Plasmodium está dividido em cinco espécies que podem

parasitar o homem, o Plasmodium vivax, P. falciparum, P. malariae, P. ovale e P.

knowlesi. Essa última espécie, originalmente de primatas não humanos, tem infectado cada

vez mais humanos no continente Asiático, causando doença grave e letal [5–8].

Aproximadamente 40% da população mundial esta sob o risco de contrair malária

e, apenas em 2010, foram registrados 216 milhões casos em todo o mundo com 660.000

mil óbitos [7]. No Brasil, apesar da evidente redução de óbitos por malária, ao longo dos

últimos 12 anos foram registrados uma média de 422.858 casos da doença [8]. O P. vivax é

responsável por mais de 85% dos casos notificados e a região Amazônica concentra 99,7%

dos casos ocorridos no país [7,9].

1.1 Ciclo biológico do parasito da malária no homem.

O ciclo esquizogônico, assexuado, começa logo após a picada do mosquito

anopheles que inocula esporozoítos infectantes na corrente sanguínea do hospedeiro

(homem). Os esporozoítos circulam por alguns minutos e penetram nos hepatócitos no qual

eles possuem tropismo. Neste momento inicia-se o ciclo pré eritrocítico, também chamado

de esquizogonia tecidual e dura seis dias para o P. falciparum, e oito dias para o P. vivax.

Para a espécie P. vivax alguns dos esporozoítos ainda no fígado se transformam em formas

latentes denominadas hipnozoítos, que são responsáveis pelas recaídas da doença após

meses da infecção inicial [9,10].

Ao final do ciclo esquizogônico os esquizontes rompem os hepatócitos liberando

milhares de merossomos sendo aproximadamente 40.000 quando infecção pelo P.

falciparum e 10.000 quando infecção pelo P. vivax. Estes merozoítos invadem as hemácias

Page 18: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

3

e dão início a segunda faze de reprodução assexuada o ciclo sanguíneo ou eritrocítico. O P.

vixax invade apenas hemácias jovens e o P. falciparum invade hemácias em qualquer idade

[9,11].

Para o P. falciparum esta fase se repete em ciclos de 48 horas e o P. vivax em

ciclos de 72 horas. Estes merozoítos que invadiram as hemácias se transformam em

esquizontes e provocam a ruptura da mesma liberando novos merozoítos. É neste momento

que se inicia a tradução da doença nos sintomas clínicos pela liberação de toxinas no

rompimento das hemácias. Estes merozoítos liberados invadem novas hemácias e dão

continuidade ao ciclo sanguíneo [9,12].

Durante este ultimo processo o parasita passa por uma série de transformações

entre as fases merozoítos até esquizontes. No exame microscópico podemos observas as

seguintes fases caracterizadas pela morfologia do parasito: trofozoítos jovens, trofozoítos

maduros, esquizontes jovens e esquizontes maduros [9,13].

Como mecanismo de reprodução e perpetuação da espécie estes parasitos após

algumas fases de replicação assexuada pelos merozoítos se diferenciam em gametócitos

machos e fêmeas, estes amadurecem sem divisão celular e são responsáveis pela infecção

do mosquito após repasto sanguíneo no indivíduo infectado e o início da reprodução

sexuada (esporogônica) do parasito no mosquito anofelino. Essa reprodução ocorre no

intestino médio do mosquito, após a diferenciação dos gametócitos em gametas e a

formação do zigoto. Esse ultimo migra para a parede do intestino do mosquito, formando o

oocisto e do qual desenvolverão os esporozoítos, que são liberados na hemolinfa do inseto

e, posteriormente, migram até as glândulas salivares, de onde infectam o homem em

próximo repasto sanguíneo [9].

Page 19: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

4

1.2 Definição de caso de malária

Um caso suspeito de malária é considerado para toda pessoa com quadro febril, que

seja residente ou que tenha se deslocado para área onde haja transmissão de malária, no

período de 8 a 30 dias antes dos primeiros sintomas. Em área não-endêmica é considerado

para toda pessoa que apresente quadro de paroxismo febril com os seguintes sintomas:

calafrios, tremores, cansaço, mialgia e que seja procedente de área de transmissão

malárica, 8 a 30 dias antes dos primeiros sintomas [14]. A confirmação da doença se dá

principalmente pelo exame microscópico da gota espessa [15].

1.3 Importância histórica do diagnóstico microscópico da malária

A história do diagnóstico da malária é antiga e iniciou-se com o médico francês

Alphonse Laveran na primeira identificação do agente causador da malária em 1880.

Porem Laveran utilizava a microscopia direta para detecção do Plasmodium. Somente mais

Figura 1. Representação esquemática do ciclo biológico do Plasmodium.

Page 20: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

5

tarde o azul de metileno foi introduzido. Em 1891, Dimitri Romanowsky percebeu

diferença na coloração da cromatina do Plasmodium, utilizando uma mistura de eosina e

azul de metileno, sendo denominado método de coloração de Romanowsky [16].

Em 1904 Gustav Giemsa, farmacêutico, foi solicitado em uma colônia Alemã para

melhorar a coloração do esfregaço. Ele percebeu que acrescentando glicerol e metanol, a

coloração de Romanowsky se tornava estável e reprodutível, inaugurando assim o método

de coloração de Giemsa, utilizado até os dias de hoje [16].

O Programa Nacional de Controle da Malária destaca a prioridade ao acesso ao

diagnóstico oportuno e tratamento adequado como principais medidas para o controle da

malária. Além de curar o indivíduo e diminuir sua incapacidade e risco de complicações,

essas medidas buscam reduzir rapidamente a produção de gametócitos, para interromper a

cadeia de transmissão [17,18].

1.4 Diagnóstico da malária

O diagnóstico da malária leva em consideração aspectos clínicos, epidemiológicos

e laboratoriais do paciente. A suspeita epidemiológica se dá pelas informações de

procedência e tempo de permanência em área endêmica da doença [19]. O diagnóstico

clinico é inespecífico, porém é importante para a suspeita da infecção, principalmente

naqueles que procedem de áreas endêmicas. Porém, sem a comprovação da existência do

parasito circulante, em exame laboratorial, não é possível diagnosticar a doença para o seu

correto tratamento. Para o diagnóstico laboratorial, são disponíveis testes microscópicos,

imunotestes e testes moleculares. Dentre esses, a microscopia pelo método de Walker é a

técnica mais utilizada para o diagnóstico da malária[19].

Page 21: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

6

Na Região Amazônica, onde mais de 70% dos episódios febris não são por

malária, é imprescindível garantir um diagnóstico correto, antes de iniciar o tratamento. A

prioridade para o controle da transmissão deve ser, portanto, garantir o acesso universal,

gratuito e oportuno a um diagnóstico parasitológico que oriente o início imediato e

adequado do tratamento. Apesar da existência de métodos de diagnóstico rápido, mediante

fitas reagentes (imunotestes), a microscopia do sangue em distendido espesso é método

ainda de escolha para o alcance desse objetivo [15,17].

O exame microscópico da malária é feito em distendido espesso ou delgado de

sangue, confeccionado em lâmina de vidro e corado por Giemsa. A microscopia do

distendido espesso é mais sensível e possui alta especificidade para o diagnóstico da

infecção [13]. Além do diagnóstico individual da malária, esse método é ainda aplicado

para pesquisas de campo, ensaios clínicos para drogas antimaláricas e estudos com vacinas

contra a doença [20]. É um método simples, de fácil realização e de baixo custo. No

entanto, são necessários profissionais treinados e reagentes de boa qualidade, para não

comprometer os seus resultados [21,22].

Sua técnica baseia-se na visualização do parasito por meio da microscopia óptica,

após coloração com corante vital (azul de metileno e Giemsa), permitindo a diferenciação

específica dos parasitos a partir da análise da sua morfologia e da presença dos diferentes

estágios de desenvolvimento do parasito encontrados no sangue periférico. Por concentrar

maior quantidade de sangue desemoglobinizado em uma área relativamente pequena, o

distendido espesso aumenta a probabilidade de se encontrar parasitos na microscopia, e o

processo de coloração é simples e rápido [9,23,24].

Page 22: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

7

1.5 Determinação da parasitemia por Plasmodium

Diferentes técnicas são utilizadas para a estimação da parasitemia na malária. As

principais são: i) Estimação em distendido delgado, por meio da contagem microscópica de

eritrócitos parasitados e sua relação com a hematimetria automatizada; ii) Estimação em

distendido espesso, usando a leucometria automatizada como referencial de volume de

sangue examinado; iii) Estimação em distendido espesso, assumindo-se um valor fixo

padronizado para a leucometria do paciente; iv) Estimação em distendido espesso,

assumindo-se um volume fixo de sangue em uma área microscópica examinada [9].

A microscopia de distendidos espessos sanguíneos corados por Giemsa, embora

não seja o método mais preciso para estimar a parasitemia por Plasmodium, é o mais

utilizado, em virtude de seu baixo custo e simplicidade de execução. Nesse último caso, o

volume sanguíneo é inferido pela determinação da leucometria ou pela área microscópica

examinada [25]. Em locais onde a realização do hemograma não é factível, utiliza-se um

valor assumido fixo de leucometria para estimar a parasitemia por Plasmodium.

Tradicionalmente esse valor assumido é de 8.000/µL [12,13,20,21,26], embora alguns

autores já tenham chamado a atenção para a variação desse valor, de acordo com a faixa

etária do paciente [25], devendo assumir valores maiores para as crianças menores de 10

anos [27].

A avaliação da parasitemia por Plasmodium no presente estudo foi feita de acordo

com os dois métodos preconizados pela OMS, isto é, pela contagem de parasitos em

relação a certa quantidade de leucócitos examinados na microscopia ou pela contagem de

parasitos em uma determinada área microscópica examinada. Para ambos os métodos, a

quantificação final da parasitemia é feita a partir de parâmetros estimados, que informam

sobre o volume de sangue do parasito.

Page 23: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

8

Para o método que utiliza a quantidade examinada de leucócitos, o parâmetro

utilizado é a contagem de leucócitos por µL de sangue, obtida no hemograma por

contagem automática dessas células ou por contagem manual na Câmara de Neubauer. Na

ausência desses recursos, assume-se um valor fixo de 8.000 leucócitos/µL, conforme

orienta a OMS [21,28]. Resumidamente, é feita a contagem microscópica de parasitos e

leucócitos simultaneamente, até alcançar 500 leucócitos, tendo em mãos a leucometria

(quantidade de leucócitos/µL de sangue) do paciente. A partir desses dados é possível

obter a parasitemia em µL de sangue. Alternativamente, quando não se tem o número de

leucócitos do paciente, assume-se o valor fixo de 8000 leucócitos/µL de sangue [27] e,

assim, o resultado pode ser obtido utilizando o mesmo cálculo anterior [13,21,29].

Em um distendido espesso de tamanho padronizado assume-se que 200 campos

microscópicos, com aumento de 1000 vezes, contenha aproximadamente 0,45 µL de

sangue. Portanto, multiplicando a quantidade de parasito contados nessa área por 2,2,

obtêm-se a parasitemia/µL de sangue [9,24,27,30].

1.6 Os leucócitos e sua variação quantitativa

Os leucócitos, ou glóbulos brancos, são células nucleadas produzidas na medula

óssea e encontradas no sangue, com formato esférico, tamanho e volume superior às

hemácias [31]. Sua função é proteger o organismo, contra agentes patogênicos e suas

toxinas [32,33]. A leucopenia, uma diminuição na quantidade de leucócitos circulantes,

torna uma pessoa mais suscetível a infecções. A leucocitose, um aumento na quantidade de

leucócitos circulantes, pode ser uma resposta a infecções ou substâncias estranhas, ou ser

resultante do estresse ou de determinadas drogas [32,34].

Page 24: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

9

Em uma pessoa sadia, o número de leucócitos circulantes em adultos oscila entre

4 e 11 mil células/µL de sangue. Em situação de resposta a processos infecciosos, essa

quantidade pode triplicar, para atuar, com eficácia, contra os microrganismos invasores

[32,33]. Variação na quantidade normal de leucócitos circulantes é amplamente observada

entre diferentes grupos étnicos [31,35] e regiões geográficas [27,35–42] (Tabela 1).

Tabela 1 - Intervalo de confiança (IC 95%) para a contagem de leucócitos em quatro etnias

distintas.

Origem étnica

(adultos)

Contagem de leucócitos

x 103/µl de sangue

Europeus 3,7-9,8

Caucasianos 4,5-10,1

Americanos negros 3,6-10,2

Africanos negros 2,5-9,0

Wintrobe, 1998 [31]

Atualmente, utilizam-se os contadores automáticos eletrônicos para contagem

direta e mais eficiente dessas células [43,44].

A determinação da densidade parasitária é prática rotineira no diagnóstico da

malária, uma vez que auxilia na avaliação da gravidade e na avaliação da resposta

terapêutica in vivo Por outro lado, ela ainda representa ferramenta de muita valia no

monitoramento e na prospecção da eficácia de velhas e novas drogas antimaláricas, seja em

ensaios in vivo, ex vivo e in vitro [9,13,23,24]. A precisão dessa estimativa varia com o

método empregado, sendo maior para aqueles que quantificam o DNA circulante de

Plasmodium em conhecido volume de sangue por PCR em tempo real [45–47] e menor

Page 25: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

10

para aqueles que utilizam a quantificação dos parasitos pela microscopia de distendidos

sanguíneos [13,19,48]. Nesse último caso, o volume sanguíneo é inferido pela

determinação da leucometria ou pela área microscópica examinada [25].

Diante de grande possibilidade de erros que podem ser introduzidos nas técnicas

de estimação da parasitemia, é importante a avaliação da precisão e da confiabilidade

desses métodos, tão utilizados na clínica como em pesquisas relacionadas à malária.

Page 26: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

11

2. OBJETIVOS

Page 27: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

12

2.1 Geral

Comparar diferentes métodos de quantificação da parasitemia de pacientes

portadores de malária aguda na Amazônia brasileira.

2.2 Específicos

Fazer análise comparativa de diferentes valores de leucometria que podem ser

assumidos como base de cálculo para a estimação da parasitemia de pacientes com malária

aguda, tendo-se como referência o método que utiliza a contagem automatizada dos

leucócitos;

Fazer análise comparativa dos resultados das parasitemias estimadas pelos

métodos da contagem por volume de sangue assumido no esfregaço e da contagem

automatizada dos leucócitos;

Page 28: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

13

3. MATERIAIS E MÉTODO

Page 29: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

14

3.1 Local do estudo e pacientes estudados

O estudo foi realizado no Laboratório de Malária do Hospital Universitário Júlio

Muller, da Universidade Federal de Mato Grosso, onde funciona, desde março de 2001, é o

ambulatório de referência para diagnóstico e tratamento da malária da região metropolitana

de Cuiabá.

Este é um estudo descritivo de corte transversal de características principalmente

laboratoriais de pacientes com malária, no qual foi feita análise exploratória de dados

relativos à contagem de leucócitos e à densidade parasitária por Plasmodium. Foram

incluídos todos os pacientes que tiveram o diagnóstico de malária confirmado por exame

parasitológico do distendido espesso e dos quais foi realizada a avaliação hematológica

pelo hemograma. Os pacientes incluídos para o estudo foram selecionados a partir do

arquivo de lâminas e de prontuários de pacientes existentes no Laboratório de Malária

atendidos no perído de novembro de 2001 a janeiro de 2013, totalizando 403 pacientes.

A análise realizada restringiu-se aos resultados obtidos dos exames

parasitológicos positivos para malária concomitante da presença das contagens de

leucócitos dos hemogramas, realizados em parte dos pacientes atendidos no referido

ambulatório.

3.2 Coleta de sangue

De todos os pacientes incluídos no estudo foram colhidas amostras de sangue em

tubos a vácuo contendo o anticoagulante ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA), para a

pesquisa de hematozoários em distendido espesso e para a realização do hemograma

completo, conforme descrição a seguir.

Page 30: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

15

3.3 Pesquisa de Plasmodium pela microscopia de distendido espesso de

sangue

Dois distendidos espessos de sangue foram confeccionados em lâmina, após sua

limpeza com álcool 70%. Cada distendido foi preparado com duas gotas de

aproximadamente 10 µL de sangue, as quais foram uniformemente distribuídas numa área

de 1,5 cm2, com auxílio de um gabarito demonstrado na Figura 2.

As lâminas foram

secadas com um secador e, em seguida, coradas com Giemsa de acordo com a técnica

descrita por Walker [13,24].

A pesquisa dos hematozoários foi feita pelo exame microscópico da lâmina, com

objetiva de 100X, em óleo de imersão, a preparação da lâmina acontece imediatamente

após a coleta do sangue. Foram excluídos do estudo todos os pacientes com resultados

negativos, isto é, se após observação de 500 campos microscópicos nenhum parasito foi

encontrado.

3.4 Hemograma completo

Figura 2- Gabarito utilizado para padronização da área de

preparação do distendido espesso na lâmina de vidro.

Page 31: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

16

Todos os hemogramas foram realizados pelo laboratório de análises clínicas do

HUJM em até duas horas após coleta e fazem parte da rotina do ambulatório no

atendimento dos pacientes com malária. Os exames foram feitos em contador automático

de células (Sysmex XE-2100D, Kobe/Japan), seguindo as normas de controle interno e

externo, de acordo com as necessidades estipuladas no protocolo do fabricante do

equipamento.

3.5 Caracterização dos pacientes do estudo

Durante o período de novembro de 2001 a janeiro de 2013, 1923 pacientes foram

diagnosticados com malária no Laboratório de Malária do Hospital Universitário Júlio

Muller. Desses, apenas 403 (21%) preencheram os critérios de inclusão, isto é, com

esfregaço sanguíneo arquivado e resultado do hemograma completo, sendo a maioria

(80,1%) homens. Os pacientes se consideravam da cor branca (38,3%), preta (20,2%) e

parda (39,5%) e com média (DP) de idade de 34,3 (15,2) anos. Um total de 322 (79,9%)

pacientes estavam com monoinfecção por P. vivax, 76 (18,9%) com monoinfecção por P.

falciparum e cinco (1,2%) com infecção mista por P. vivax e P. falciparum. O número

médio de episódios pregressos de malária referido pelos pacientes foi de cinco episódios.

Entre esses pacientes, o tempo médio de sintomas foi de oito dias. O número médio (DP)

de leucócitos na amostra estudada foi de 5.605 (1.984)/µL de sangue, com mediana de

5.400 leucócitos/µL (Tabela 2).

Page 32: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

17

Tabela 2 – Características demográficas,e laboratoriais dos 403 pacientes

estudados.

Características n %

Sexo Masculino

Feminino

306

76

80,1

19,9

Idade

(anos)

0 – 4

5 – 9

10 – 19

20 – 49

≥ 50

15

15

34

272

67

3,7

3,7

8,4

67,5

16,7

Espécie P. vivax

P. falciparum

Mista

322

76

5

79,9

18,9

1,2

Leucometria/µL

Media

Desvio padrão

Erro padrão

Valor mínimo

Valor máximo

Percentil 25%

Mediana

Percentil 75%

LI (IC 95%) média

LS (IC 95%) média

Média geométrica

5.605

1.984

99

1.400

16.300

4.210

5.400

6.700

5.411

5.800

5.287

Page 33: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

18

3.6 Contagem dos parasitos no distendido espesso

A contagem dos parasitos no distendido espesso foi feita de acordo com os dois

métodos preconizados pela OMS, isto é, pela enumeração de todos os estágios sanguíneos

do parasito em relação a certa quantidade de leucócitos examinados na microscopia ou em

relação a uma determinada área microscópica examinada. Para garantir maior qualidade na

avaliação microscópica, ambas as contagens foram realizadas por dois microscopistas

devidamente qualificados para essa função, sendo um deles o autor desta dissertação.

Cada lâmina foi contada uma vez por cada microscopista. Para a análise final, utilizaram-

se os valores médios da contagem de parasitos/leucócitos e de parasitos/área examinada no

distendido espesso, fornecidos pelos dois microscopistas. Em caso de valores discordantes

de parasitemia quantificada pelos microscopistas, a discrepância percentual entre as duas

contagens foi calculada pela seguinte fórmula [49]:

Discrepância percentual das contagens = 𝑋′ − 𝑋′′

𝑋′ + 𝑋′′2

x 100

Em que X’: parasitemia quantificada pelo primeiro microscopista

X”: parasitemia quantificada pelo segundo microscopista

Nos casos em que a discrepância percentual foi maior que 40% [49] entre as duas

contagens, um terceiro examinador foi necessário. Neste caso, a contagem de parasitos

considerada para análise foi obtida da media dos valores fornecidos pelos três

microscopistas. Todos os examinadores utilizaram um modelo idêntico de microscópio

com lentes e objetivas do mesmo tipo e a leitura foi em modo cego com planilhas

independentes, ou seja, nenhum dos dois obteve acesso ao resultado do outro

microscopista, até o termino das contagens. A Figura 3 ilustra o fluxo de cada amostra de

Page 34: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

19

sangue dos pacientes do estudo, desde a coleta até a determinação da parasitemia pelos

diferentes métodos.

3.7 Estimação da parasitemia a partir da leucometria automatizada

A estimação da parasitemia por esse método foi feita pela relação entre o número

médio de parasitos contados em 500 leucócitos e a leucometria automatizada, por meio da

seguinte formula [28]:

𝐿𝑒𝑢𝑐𝑜𝑚𝑒𝑡𝑟𝑖𝑎 𝑎𝑢𝑡𝑜𝑚𝑎𝑡𝑖𝑧𝑎𝑑𝑎 𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑐𝑖𝑡𝑒𝑛𝑡𝑒 x número de parasitos contados por 500 leucócitos

500 𝑙𝑒𝑢𝑐ó𝑐𝑖𝑡𝑜𝑠

Figura 3: Fluxograma representativo das etapas do processamento das

amostras de sangue essenciais à determinação da parasitemia por

Plasmodium.

Page 35: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

20

A parasitemia estimada por este método foi considerada como de referência para a

análise das demais estimativas de parasitemia analisadas neste estudo.

3.8 Estimação da parasitemia a partir de um valor fixo para a leucometria

do paciente

A estimação da parasitemia por μL de sangue por esse método foi feita pela

relação entre o número médio de parasitos contados em 500 leucócitos e o valor fixo

assumido para a leucometria do paciente. Além do valor fixo preconizado pela OMS, isto

é, de 8.000 leucócitos/μL de sangue [13,21,28,29], outros valores fixos de leucometria

foram também analisados, quais sejam 7000, 6000, 5500, 5000 e 4000 leucócitos/μL de

sangue, a fim identificar o número assumido de leucócitos que melhor estimou a

parasitemia obtida com o método considerado como referência. A seguinte fórmula foi

utilizada para o cálculo da parasitemia/μL de sangue:

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑙𝑒𝑢𝑐𝑜𝑚𝑒𝑡𝑟𝑖𝑎 𝑎𝑠𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑎 x 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑎𝑠𝑖𝑡𝑜𝑠 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑜𝑟 500 𝑙𝑒𝑢𝑐ó𝑐𝑖𝑡𝑜𝑠

500 𝑙𝑒𝑢𝑐ó𝑐𝑖𝑡𝑜𝑠

3.9 Estimação da parasitemia assumindo-se um volume de sangue em

uma área examinada do distendido espesso no microscópio

A estimação da parasitemia por μL de sangue por esse método foi feita pela

multiplicação do número de parasitos contados em 200 campos do distendido espesso por

2,22 [9,24,25,27,30].

Page 36: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

21

3.10 Procedimentos de análise dos resultados

Com o intuito de identificar semelhanças ou diferenças entre os valores de

parasitemia obtidos pelos diferentes métodos de quantificação avaliados neste estudo,

optou-se pela utilização de diferentes recursos estatísticos de comparação de dados

contínuos, baseados apresentação gráfica das distribuições dos valores e em testes

estatísticos clássicos, tanto paramétricos quanto não paramétricos.

Os valores de parasitemia obtidos pelos diferentes métodos de quantificação

foram inicialmente descritos em todos os seus parâmetros estatísticos e apresentados em

gráficos demonstrativos de sua distribuição, com vistas a identificar semelhança entre

aqueles obtidos a partir de valores assumidos de leucometria (ou de volume de sangue

examinado) com aqueles obtidos pela leucometria automatizada (método de referência).

A comparação das parasitemias médias obtidas pelos métodos que utilizam

valores assumidos de leucometria com aquela obtida pelo método de referência foi feita

pelo teste t de Student para comparação de dois grupos relacionados (pareados), com

hipótese nula considerando como zero a diferença entre suas médias. Para garantir a

utilização da estatística paramétrica na comparação dos dados, foi feita a transformação

logarítmica dos valores de parasitemia, cujas médias e IC95% foram graficamente

apresentados e sendo cada método comparado com o método de referência por meio do

teste t de Student.

Para avaliar a proporção de pacientes com resultados subestimados ou

superestimados pelos métodos que assumem valores fixos de leucometria (ou de volume de

sangue examinado) com o método que se utiliza da leucometria automatizada (método de

referência), foi aplicado o teste de postos sinalizados de Wilcoxon para dados pareados,

com a hipótese de nulidade na diferença entre essas estimações.

Page 37: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

22

A discrepância percentual das estimativas de parasitemia foi obtida pela razão da

diferença pela média, dos valores resultantes do método em análise e do método de

referência, para cada paciente, conforme a seguinte fórmula:

Discrepância percentual das estimativas = 𝑋′ − 𝑋′′

𝑋′ + 𝑋′′2

x 100

Em que X’: parasitemia quantificada pelo método em análise

X”: parasitemia quantificada pelo método de referência

Para testar a hipótese de igualdade da variância dos dados obtidos com os

diferentes métodos de quantificação da parasitemia, valeu-se da apresentação gráfica dos

valores dos intervalos de confiança 95% de Bonferroni para os desvios padrão e dos testes

de Bartlett e Levene para a análise da igualdade das variâncias nos diferentes grupos de

parasitemias.

Finalmente, e objetivando uma melhor medida da concordância entre dois

conjuntos de dados contínuos, conforme proposto por Bland & Altman (1986) [50], foi

analisada a relação entre a média logarítmica e a diferença logarítmica das parasitemias,

com a hipótese de quanto maior concordância entre os dados originais, menor a variância

dos valores obtidos nessa relação.

Para todas as análises estatísticas foi considerado o erro alfa de 0,05. Os dados do

estudo foram primeiramente digitados em uma planilha Excel e, posteriormente,

exportados para os aplicativos Stata versão 12 (Stata Corporation, Texas, EUA) e Epidata

versão 2.1, nos quais foram processadas as análises estatísticas.

Page 38: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

23

3.11 Considerações éticas

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do HUJM da

UFMT sob parecer número CEP/HUJM/130.938.

Um termo de consentimento elaborado foi assinado por todos os pacientes que

aceitaram participar da pesquisa. Para tanto foi explicado para cada paciente os benefícios,

riscos e os objetivos do estudo. Para os participantes menores de idade foi necessário

consentimento do responsável. Todos os dados coletados dos pacientes foram mantidos em

sigilo e apresentados apenas de forma consolidada.

O estudo não ofereceu riscos ao paciente, apenas o desconforto na coleta de

sangue venoso por punção em seringa, o que já é de rotina para realização dos exames

laboratoriais.

Todos os pacientes foram diagnosticados e tratados gratuitamente no Ambulatório

de Infectologia do HUJM. Para todos os procedimentos de diagnóstico e tratamento da

malária, seguiram-se as orientações do Programa Nacional de Controle da Malária do

Ministério da Saúde [51].

Page 39: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

24

4. RESULTADOS

Page 40: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

25

4.1 Distribuição dos valores de parasitemia mensurados por diferentes

métodos de quantificação.

A distribuição das parasitemias obtidas por cada método de quantificação mostrou

grande variabilidade, com distribuição assimétrica à direita e valores discrepantes em todos

eles, principalmente em alta densidade parasitária (Figura 4). A parasitemia média

(IC95%) foi de 7.518 (6.585; 8.451) parasitos/µL para o método que utilizou a leucometria

automatizada, considerada de referência para a análise dos demais métodos de

quantificação avaliados neste estudo, cujas parasitemias médias (IC95%) foram de 11.142

(9.784; 12.500), 9.749 (8.561; 10.938), 8.356 (7.338; 9.375), 7.660 (6.726; 8.594),

7.312(6.421;8.204), 6.964 (6.115; 7.812), 5.571 (4.892; 6.250) parasitos/µL, para os

valores assumidos de 8.000, 7.000, 6.000, 5.500, 5.250, 5.000 e 4.000 leucócitos/µL de

sangue, respectivamente. Para o método que utilizou o volume assumido de sangue em

uma área microscópica analisada, a parasitemia média (IC95%) obtida foi de 4.905 (4.162;

5.648) parasitos/µL (Tabela 3).

Page 41: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

26

Page 42: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

T

ab

ela 3

- Descrição

das p

arasitemias p

or P

lasm

od

ium

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adas p

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da

P

ela leuco

metria assu

mid

a (/µl)

Vo

lum

e po

r

área

exam

inad

a

80

00

70

00

60

00

55

00

52

50

50

00

40

00

Valo

r mín

imo

3

1

40

35

30

27

26

25

20

5,5

Valo

r máxim

o

64

930

1

15

94

7

10

145

3

86

960

79

713

76

090

72

467

5

79

73

63

976

Percen

til 25

%

14

42

25

68

22

47

19

26

17

65

16

85

16

05

12

84

92

5

Med

iana

45

03

60

16

52

64

45

12

41

36

39

48

37

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86

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til 75

%

94

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12

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ia 7

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47

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5

37

8

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95

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6

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97

85

85

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48

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41

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5%

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ia 8

45

2

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10

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93

75

85

94

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78

13

62

50

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ia geo

métrica

3

40

4

51

51

45

07

38

63

35

42

33

80

32

20

25

76

20

37

LI: lim

ite inferio

r; LS

: limite su

perio

r

Page 43: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

4.2 Análise das parasitemias estimadas por diferentes valores de

leucometria assumida, em comparação à quantificação feita pela

leucometria automatizada.

A análise comparativa da densidade parasitária obtida nos diversos métodos

mostrou que a utilização da leucometria assumida superestimou a parasitemia quando as

referências foram 6.000, 7.000 e 8.000 leucócitos/µL e subestimou quando as referencias

foram 5.000 e 4.000 leucócitos/µL, cujas médias observadas foram significativamente

diferentes da média obtida na contagem automatizada, isto é, de referência. Este mesmo

comportamento foi observado quando a parasitemia foi obtida pelo método que utiliza um

volume assumido por campo microscópico analisado. Porém, para as leucometrias

assumidas de 5.500 e 5.250 leucócitos/µL as médias observadas foram semelhantes

(p=0,538, p= 0,360, respectivamente) à média obtida no método automatizado (Tabela 4).

Tabela 4 – Análise das parasitemias médias de 403 pacientes portadores de malária, obtidas por

métodos de quantificação baseados em leucometria assumida, em comparação à quantificação feita

pela leucometria automatizada.

Parâmetros

PARASITEMIA (parasitos/µL de sangue)

Pela

leucometria

automatizada

Pela leucometria assumida (/µL) Volume por

área

examinada 8000 7000 6000 5500 5250 5000 4000

Média 7519 11143 9750 8357 7661 7312 6964 5571 4906

DP 9527 13867 12135 10402 9535 9101 8668 6934 7587

Valor de p - <0,0001 <0,0001 0,0007 0,538 0,360 0,013 <0,0001 <0,0001

Teste t de Student

Page 44: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

29

Quando a comparação foi feita pela análise da discrepância entre os resultados

observados nos diferentes métodos, tendo-se como referência a contagem automatizada,

novamente se confirmou a superestimação da parasitemia, para os valores fixos de

leucometria assumida de 6.000, 7.000 e 8.000 leucócitos/µL e a subestimação para os

valores fixos de 5.000 e 4.000 leucócitos/µL e para o método que utiliza volume de sangue

assumido, mostrando valores de posição estatisticamente diferentes daqueles observados

na leucometria automatizada. Por outro lado a discrepância mínima, não estatisticamente

significante (p=0,33 e p=0,13, respectivamente), foi observada para as leucometrias

assumidas de 5.500 e 5.250 leucócitos/µL (Tabela 5).

Tabela 5 – Análise da discrepância entre as determinações das parasitemias de 403 pacientes portadores

de malária, obtidas por métodos de quantificação baseados em leucometria assumida e área examinada,

em comparação à quantificação feita pela leucometria automatizada.

Métodos de

quantificação da

parasitemia

PARÂMETROS

Proporção média da

discrepância (%)

Proporção com

parasitemia

superestimada (%)

Proporção com

parasitemia

subestimada (%)

Valor de p*

Leu

cóci

tos/

µL

de

san

gu

e

8000 43,2 88,8 10,2 < 0,001

7000 34,4 78,9 19,6 < 0,001

6000 28,0 65,0 33,7 < 0,001

5500 26,3 46,4 52,1 0,33

5250 26,4 47,9 52,1 0,13

5000 26,8 41,2 57,3 < 0,001

4000 35,0 18,6 80,1 < 0,001

Área examinada 54,5 17,6 82,3 < 0,001

* Teste de Wilcoxon

Page 45: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

30

A análise comparativa de suas variâncias mostrou grande e heterogênea

variabilidade dos valores das parasitemias quantificadas pelos diferentes métodos

(p<0,001). Exceção foi feita quando se compararam as parasitemias obtidas pelo método

de referência com aquela obtida pelo valor assumido de 5.500 leucócitos /µL, que mostrou

significativa homogeneidade entre suas variâncias (p=0,360; teste de Bartlett) (Figura 5).

Page 46: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

31

Em decorrência dessa grande variabilidade dos valores obtidos de parasitemia nos

diferentes métodos de quantificação, optou-se pela transformação logarítmica dos dados,

com o intuito de reduzir a assimetria da distribuição e, assim, permitir a análise

paramétrica dos resultados. Semelhante à análise anterior, os resultados do logaritmo dos

valores de parasitemia obtidos nos diferentes métodos de estimação também mostraram

que o valor fixo de leucometria assumida de 5.250 leucócitos/µL foi aquele cuja

variabilidade foi próxima a obtida pelo método automatizado (Figura 6). Testando a

hipótese de que a diferença do logaritmo das parasitemias obtidas pelos métodos que

assumem um valor fixo de leucometria ou que assumem um volume por campo

microscópico examinado seja nula, novamente se confirmou o valor fixo de 5.250

leucócitos /µL como a leucometria assumida que estima uma parasitemia mais próxima

(p= 0,681) daquela obtida pelo método de referência (Tabela 6 e Figura 7).

Page 47: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

Ta

bela

6 –

Resu

ltado

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; -0,9

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Page 48: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

A análise da hipótese de ser nula a razão entre a diferença e a média dos valores

observados de parasitemia obtidas pelo método de referência e os demais que utilizam

valores assumidos, caso haja perfeita concordância entre os seus resultados, confirmou as

constatações anteriores. Houve predomínio de diferenças negativas quando o método

utilizou valor assumido igual ou superior a 6.000 leucócitos/µL e de diferenças positivas

quando os valores assumidos foram de 4.000 leucócitos/µL ou de volume por campo

microscópico. Além disso, a análise ratificou a observação de que a melhor estimativa da

parasitemia é feita a partir de valores assumidos entre 5.000 e 5.500 leucócitos/µL (Figura

8).

Page 49: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

34

Figura 8 – Relação entre a diferença e a média logarítmicas das parasitemias obtidas em

cada método de quantificação, baseados em valores assumidos de leucometria ou de

volume de sangue assumido por campo microscópico examinado em 403 pacientes da

Amazônia Brasileira. (A) 8.000/µL, (B) 5.250/µL, (C) volume assumido por campo

microscópico analisado.

Page 50: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

35

5. DISCUSSÃO

Page 51: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

36

No presente estudo, a parasitemia por Plasmodium foi estimada por três diferentes

métodos clássicos de estimação, a partir da quantificação microscópica de parasitos em

distendido espesso de sangue: pela leucometria automatizada, pela leucometria assumida

de 8.000/µL e pelo volume de sangue em área microscópica examinada [25]. Em

decorrência de menor probabilidade de erro associado à mensuração, a estimação pela

leucometria automatizada foi considerada referência, isto é, como sendo o real parâmetro

da parasitemia na população de pacientes com malária [37,52,53]. Destaca-se que a

enumeração dos parasitos nos distendidos sanguíneos foi feita por dois ou três

microscopistas experientes, o que minimizou a possibilidade de erro sistemático na

contagem.

5.1 Superestimação da parasitemia quantificada pelo valor assumido de

8.000 leucócitos/µL

A análise da parasitemia estimada pelo valor fixo de 8.000 leucócitos/µL

evidenciou importante discrepância positiva em relação ao real valor da parasitemia,

estimada pela leucometria automatizada. Por outro lado, foi subestimada a parasitemia

quantificada pelo volume de sangue em área microscópica examinada. Explicações

plausíveis para justificar esse comportamento são discutidas abaixo.

O valor fixo de 8.000 leucócitos/µL como referencial para a estimação da

parasitemia na malária foi arbitrariamente escolhido na década de 1950, como número

médio de leucócitos em uma população da Nigéria [30]. Contudo, é amplamente conhecido

que a malária pode cursar com leucopenia durante a fase aguda da doença [54–56].

McKenzie et al. (2005) [55] observaram menor número de leucócitos em pacientes

infectados por Plasmodium, quando comparados a controles normais. Além disto, valores

Page 52: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

37

de referência para a contagem de leucócitos variam entre as diversas etnias e regiões

geográficas do mundo [35]. Desta forma, a parasitemia obtida pelo valor assumido de

8.000/µL pode ser viesada e inconsistente, em virtude de erro sistemático na sua

estimação.

A alta proporção de adultos (90%) masculinos (80%) na amostra analisada e a

utilização de valor único de leucometria para todas as faixas etárias são, provavelmente, as

razões para a superestimação da parasitemia, quando o método utilização foi o de valor

assumido de 8.000 leucócitos/µL, recomendado pela OMS. De fato, em países da América

do Sul e no Brasil, os poucos estudos disponíveis relatam leucometria de referência em

torno de 6.000/µL para pessoas adultas [57]. Soma-se a isto a alta variabilidade da

leucometria observada por diversos autores, mesmo em pacientes com malária. Amplitudes

de 3.000 a 20.000 e de 3.000 a 11.500 leucócitos/µL foram registradas entre pacientes com

malária no Gâmbia e Serra Leoa, respectivamente [44,58]. Também neste estudo, a

amplitude de mais 10 vezes (1.400 a 16.300 leucócitos/µL), observada nos valores de

leucócitos dos pacientes, muito provavelmente está contribuindo para o erro na estimativa

da parasitemia por esse método.

Estudo recente apontam para o risco de superestimação da parasitemia, quando se

utiliza o valor assumido de 8.000 leucócitos/µL [37]. Mesmo na Nigéria, de onde se

originou o valor assumido de 8.000 leucócitos/µL como referência populacional e em

alguns países da Ásia, há estudos mostrando leucometrias médias próximas a 5.000/µL em

indivíduos com malária sintomática [37,56,59]. Da mesma forma, um importante estudo

realizado em 3.044 crianças africanas com malária aguda, também mostrou discrepância

entre os valores de parasitemia estimados por leucometria automatizada e por valor

assumido de 8.000 leucócitos/µL, principalmente nos grupos com idades extremas. Porém,

mostrou aceitável concordância dos resultados para o conjunto das crianças, independente

Page 53: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

38

da idade, sugerindo que o valor assumido de 8.000/µL pode ser adequado para faixas

etárias mais altas [60].

Resultado inverso foi, todavia, mostrado por Adu-Gyasi et al.(2012) [61] em

Gana (África), que observaram relevante subestimação da parasitemia com o método da

leucometria assumida de 8.000/µL em 5.902 pacientes com malária por P. falciparum. O

estudo compara as parasitemias quantificadas por diferentes valores de leucometria

assumida e conclui que o valor fixo de 10.000/µL resulta em estimativa mais adequada da

densidade parasitária naquelas crianças. Os autores justificam o resultado pela maior

leucometria já observada entre crianças normais daquele continente [35,38,40,62].

5.2 Subestimação da parasitemia quantifica pelo volume assumido em

área microscópica examinada

Quantificação da parasitemia na malária com base na enumeração dos parasitos

presentes em uma determinada área microscópica examinada é método simples e

representa uma razoável e mais sensível aproximação do verdadeiro número de parasitos

circulantes, principalmente em populações com alta variabilidade da leucometria [58].

Porém, no presente estudo, verificou-se subestimação da parasitemia pelo método de

quantificação pelo volume de sangue em área microscópica examinada. Isto já foi

observado em outros estudos e tem sido explicado por problemas técnicos relacionados ao

exame, tais como a perda sistemática de parasitos durante o procedimento de preparo e

coloração do distendido sanguíneo [30,63]. É plausível supor que menor quantidade de

parasitos tenha sido contada na varredura dos 200 campos, em decorrência de baixa

parasitemia, conforme já demonstraram outros autores [24,30,44]. Além disto, é esperada

alguma variabilidade entre as espessuras de cada distendido sanguíneo, o que implica em

Page 54: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

39

diferentes volumes de sangue parasitado a ser examinado numa mesma área microscópica

[64].

Uma importante fonte de erro no método que utiliza a quantificação da

parasitemia pela área microscópica examinada é a espessura do distendido espesso de

sangue, obviamente relacionada à quantidade de parasitos presentes. Já foi observado que o

volume entre 5 e 10/µL de sangue resulta em distendido espesso adequado para a

determinação da parasitemia [58]. A variação na espessura dos distendidos examinados

neste estudo principalmente se predominou aqueles com menor volume de sangue, pode

também ser uma explicação para a discrepância registrada com esse método.

5.3 Análise de diferentes valores assumidos de leucometria para a

estimação da parasitemia por Plasmodium

Em virtude da superestimação da parasitemia quando se utilizou o método

recomendado pela OMS, isto é, de assumir valor fixo de 8.000 leucócitos/µL para todos os

pacientes, procedeu-se a análise de diferentes outros valores assumidos de leucometria,

com o objetivo de identificar aquele que resulte em medida mais adequada para a

estimação desse parâmetro. Os resultados das diversas análises comparativas, tendo como

referencial a parasitemia estimada pela leucometria automatizada, revelaram que, para a

amostra de pacientes aqui analisada, valores assumidos iguais ou superiores a 6.000

leucócitos/µL superestimam a parasitemia para a maioria dos pacientes. Da mesma forma,

valores assumidos iguais ou inferiores a 5.000 leucócitos/µL, em geral, subestimam a

parasitemia.

Page 55: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

40

Em todas as análises, os valores assumidos que mostraram melhores

indicadores de concordância coma parasitemia estimada pelo método de referência foram

de 5.250 e 5.500 leucócitos/µL. Esses valores são condizentes com o perfil de leucometria

revelado pela amostra estudada, cuja média (DP) de leucócitos foi de 5.605 (1.984)/µL e

com percentil 75% de 6.700 leucócitos/µL. Considerando a leucometria de referência

normal para pessoas brasileiras e sul-americanas [35,42,57] e a leucopenia própria da

doença [65,66], é plausível supor que esses valores estimem melhor a parasitemia de

pacientes com malária na Amazônia brasileira.

Devido à grande importância da determinação acurada da parasitemia na

malária e à baixa acurácia aqui observada para os métodos tradicionalmente utilizados para

a sua estimação, os resultados deste estudo confirmam a baixa acurácia dos dois métodos

recomendados pela OMS, isto é, de utilizar o valor fixo de 8.000 leucócitos/µL ou de

volume assumido de sangue por área microscópica examinada. Contudo, deve-se destacar

que esses métodos são convenientes para locais onde não é disponível a contagem

laboratorial de leucócitos. Assim sendo, pode-se concluir, pelos resultados do presente

estudo, que a utilização de valores assumidos de leucometria mais próximos àqueles de

referência para a população local, mais provavelmente resultará em estimação menos

enviesada e mais consistente da parasitemia em pacientes com malária no Brasil. Valores

assumidos de leucometria entre 5.000 e 6.000 (mais precisamente 5.250) leucócitos/µL

foram os que apresentaram melhores resultados neste estudo e são sugeridos para esse fim.

Page 56: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

41

6. CONCLUSÕES

Page 57: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

42

O método que utiliza valor assumido de leucometria de 8.000 leucócitos/µL,

recomendado pela OMS para áreas onde não é disponível a contagem laboratorial dessas

células, superestima a parasitemia por Plasmodium em pacientes procedentes da Amazônia

brasileira;

O método que utiliza valor assumido de volume de sangue em área

microscópica examinada, recomendado pela OMS para áreas onde não é disponível a

contagem laboratorial dessas células, subestima a parasitemia por Plasmodium em

pacientes procedentes da Amazônia brasileira;

Valores assumidos entre 5.000 e 6.000 leucócitos/µL (especificamente

5.250 leucócitos/µL) são os que melhor estimam a parasitemia por Plasmodium em

pacientes procedentes da Amazônia brasileira. Sugere-se a utilização desses valores como

referencial para a estimação da parasitemia em áreas onde não é disponível a contagem

laboratorial de leucócitos.

Page 58: Avaliação de diferentes métodos de quantificação

43

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8. ANEXOS

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