avaliação in vitro da atividade antitumoral de · pdf file1.3 – compostos...
TRANSCRIPT
AVALIAÇÃO IN VITRO DA ATIVIDADE ANTITUMORAL DE COMPOSTOS DE
COORDENAÇÃO DE FERRO
FRANZ VIANA BORGES
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE – DARCY R IBEIRO
CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
AGOSTO – 2008
i
AVALIAÇÃO IN VITRO DA ATIVIDADE ANTITUMORAL DE COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO DE FERRO
FRANZ VIANA BORGES
Orientador: Prof. Milton Masahiko Kanashiro
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
AGOSTO – 2008
“Dissertação apresentada ao Centro de
Biociências e Biotecnologia da Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro,
como pa rte das exigências para obtenção do título
de Mestre em Biociências e Biotecnologia”.
ii
AVALIAÇÃO IN VITRO DA ATIVIDADE ANTITUMORAL DE COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO DE FERRO
FRANZ VIANA BORGES
Comissão Examinadora:
Dr. Maurício Afonso Vericimo (Doutor em Biociências e Biotecnologia) - IB/UFF
Dr. Renato Augusto DaMatta (Doutor em Ciências) - LBCT/UENF
Dra. Michelle Frazão Muzitano (Doutora em química de produtos naturais) LBR/UENF
Dr. Milton Masahiko Kanashiro (Doutor em Biociências e Biotecnologia) - LBR/UENF
“Dissertação apresentada ao Centro de
Biociências e Biotecnologia da Universidade
Estadual do Nor te Fluminense Darcy Ribeiro,
como parte das exigências para obtenção do título
de Mestre em Biociências e Biotecnologia”.
iii
Este trabalho foi desenvolvido sob orientação do Pr ofessor Milton Masahiko
Kanashiro, no Laboratório de Biologia do Reconhecer do Centro de
Biociências e Biotecnologia; da Universidade Estadu al do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro.
Apoio financeiro:
Fundo de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Jane iro (FAPERJ)
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy R ibeiro (UENF)
iv
Dedico este trabalho aos meus Pais, Renato e Carol por todo apoio,
dedicação, amor e confiança a mim dispensados.
Aos meus irmãos Marcell e Renata , pelos momentos felizes e descontraídos
ao longo dessa caminhada.
Ao meu “pequeno” grande amor Thaís , pelos bons momentos, pelo carinho,
compreensão e por me dar forças sempre que precisei.
Dedico também a Maria Inês Borges Pinheiro, Ivone Mary Vianna Dresj an
e Benedito Bastos Brasil – In Memorian
v
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar sempre comigo.
À Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, pela minha
formação e pelos conhecimentos adquiridos ao longo desse tempo.
Ao Professor Milton Masahiko Kanashiro por contribuir de forma relevante
para minha formação e pela paciência que teve comigo durante esse tempo.
Ao professor Adolfo Horn Jr. e professora Christiane Fernandes e sua equipe,
Josane, Luciana, Vagner, Gabi e Érika, responsáveis pela síntese dos compostos,
sem os quais esse trabalho não seria possível.
Ao Professor Edésio Melo, pela ajuda em alguns experimentos, pelos
conselhos e pela paciência.
Aos companheiros e amigos, Inarei, Thiago, Willian, Layla, Halyka, Alba e
Marcela pelos excelentes momentos de descontração.
Aos técnicos de Laboratório, Rosângela, Jorge, Fernando, Patrícia, Núbia e
Claudinha, sem os quais esse trabalho certamente não seria possível.
Ás técnicas Rita e Juju, verdadeiras professoras, pela ajuda indispensável.
À minha segunda família, Dona Ilda, Cáudia, Cláudio, Lala e Lucas, por me
aceitarem como neto, filho e irmão.
A todos meus familiares que acreditaram em mim, em especial à minha avó
Norma, pela preocupação e amor materno dedicados a mim todo esse tempo.
Por fim àqueles que contribuíram para realização desse trabalho e a todos,
que de certa forma me ajudaram, contribuindo com minha formação acadêmica e
profissional.
vi
Índice
Lista de Figuras.........................................................................................................VIII
Lista de Tabelas...........................................................................................................X
Lista de Pranchas.......................................................................................................XI
Lista de Abreviaturas.................................................................................................XII
Resumo....................................................................................................................XIV
Abstract.....................................................................................................................XVI
1 – Introdução...............................................................................................................1
1.1 – Câncer: Aspectos gerais..........................................................................2
1.2 – Quimioterapia antitumoral…...…..……………...…………………………....6
1.2.1 – Quimioterápicos antineoplásicos.….....……………….......................8
1.2.2 – Resistência à cisplatina..…....………………………………………..13
1.3 – Compostos de coordenação e nucleases sintéticas...............................16
1.4 – Apoptose............................................................................ ……………..19
1.4.1 – Apoptose, câncer e quimioterapia….…......…………………………22
2 – Justificativa ..……….…….….….…….....…………………………………………….24
3 – Objetivos.........….……….…..……..…....……………………………………………..25
3.1 – Objetivo Geral…......….…........……………………………………………..25
3.2 – Objetivos específicos.……..….……………………………………………..25
4 – Materiais e métodos.…..………...…..…………...………....………………………..26
4.1 – Compostos de coordenação.....….…......…………………........…………26
4.2 – Animais utilizadados………..….….…..……...…………..….…..………....28
4.3 – Cultura das linhagens de células de origem tumoral…............…..…….28
4.4 – Avaliação da atividade biológica dos compostos de coordenação frente
às células tumorais em cultura…….…….…...............................................................28
4.5 – Avaliação dos efeitos citotóxico e citostático dos compostos de
coordenação frente às células tumorais.....................................................................29
4.6 – Avaliação da apoptose por microscopia de fluorescência......................29
4.7 – Avaliação da apoptose pela fragmentação do DNA em gel de
agarose......................................................................................................................31
vii
4.8 – Avaliação da toxicidade dos compostos in vitro.....................................31
4.8.1 – Obtenção de Células Mononucleares do Sangue Periférico
(PBMC)......................................................................................................................31
4.8.2 – Avaliação da toxicidade dos compostos frente às Células
Mononucleares do Sangue Periférico........................................................................32
4.9 – Análise da ultra estrutura das células tumorais tratadas com os
compostos por Microscopia Eletrônica de Transmissão (M.E.T.)..............................33
4.10 – Análise da funcionalidade mitocondrial por Microscopia Confocal.......34
4.11 – Determinação da toxicidade dos compostos in vivo.............................35
4.12 – Análise estatística…………………………………………………………..35
5 – Resultados………………………………………………………………………………36
5.1 – Avaliação do efeito dos compostos na viabilidade celular......................36
5.2 – Avaliação da indução de apoptose em células tumorais mediada pelos
compostos…...............................................................................................................41
5.2.1 – Avaliação da indução de apoptose mediada pelos sais dos
compostos..................................................................................................................48
5.3 – Cálculo de dose efetiva 50% dos compostos (IC50)...............................51
5.4 – Avaliação de apoptose por fragmentação de DNA em gel de agarose..52
5.5 - Avaliação da atividade mitocôndrial através de Microscopia Confocal
(M.C.)..........................................................................................................................53
5.6 - Análise da ultra-estrutura celular por Microscopia Eletrônica de
Transmissão (M.E.T.).................................................................................................57
5.7 - Determinação da toxicidade dos compostos in vivo (DL50)....................60
6 – Discussão.............................................................................................................62
7 – Conclusões...........................................................................................................69
8 – Referências Bibliográficas....................................................................................70
viii
Lista de Figuras
Figura 1: Estimativa mundial de mortes por câncer para 2020....................................2 Figura 2: Estimativa das principais causas de morte mundial para 2030....................3 . Figura 3: Capacidades adquirias pelas células tumorais.............................................5 Figura 4 – Estruturas de alguns antimetabólitos usados no tratamento de
neoplasias..................................................................................................................10
Figura 5 – Estruturas de mostardas nitrogenadas usadas como quimioterápicos.....11 Figura 6 – Estruturas de nitrossuréias usadas como quimioterápicos.......................11 Figura 7: Mecanismo de ação da cisplatina...............................................................12 Figura 8: Mecanismos de resistência à cisplatina......................................................14 Figura 9: Vias de ativação e mecanismos centrais da apoptose...............................22
Figura 10: Esquema de síntese e estrutura dos compostos de coordenação estudados...................................................................................................................28 Figura 11: Microscopia de Fluorescência de células U937........................................31
Figura 12: Efeito citotóxico dos compostos (1), (2) e (3) frente às células leucêmicas
humanas U937, THP-1 e HL-60 após 72 horas de incubação...................................38
Figura 13: Efeito citotóxico dos compostos (1), (2) e (3) frente às células leucêmicas
humanas MOLT-4 e JURKAT após 72 horas de incubação......................................39
ix
Figura 14: Efeito citotóxico dos compostos (1), (2) e (3) frente às células humanas
normais (PBMC) após 72 horas de incubação...........................................................41
Figura 15: Porcentagem de apoptose induzida pelo composto (1) em cinco células
leucêmicas humanas determinada por microscopia de fluorescência ......................44
Figura 16: Porcentagem de apoptose induzida pelo composto (2) em cinco células
leucêmicas humanas determinada por microscopia de fluorescência ......................45
Figura 17: Porcentagem de apoptose induzida pelo composto (3) em cinco células
leucêmicas humanas determinada por microscopia de fluorescência ......................46
Figura 18: Porcentagem de apoptose induzida pelo composto (1), (2) e (3) em
células mononucleares do sangue periférico de um individuo normal (PBMC),
determinada por microscopia de fluorescência..........................................................48
Figura 19: Porcentagem de apoptose induzida pelo sal FeCl3, que faz parte da
síntese dos 3 compostos, em cinco células leucêmicas e em células normais
(PBMC) humanas determinada por microscopia de fluorescência...........................50
Figura 20: Porcentagem de apoptose induzida pelo sal FeSO4, que faz parte da
síntese apenas do composto (3), em cinco células leucêmicas e em células normais
(PBMC) humanas determinada por microscopia de fluorescência............................51
Figura 21: Eletroforese em gel de agarose para detecção de fragmentação do DNA
de células U937 tratadas com 100 e 200µM dos compostos (1), (2) e (3) durante 24
horas...........................................................................................................................54
x
Figura 22: Eletroforese em gel de agarose para detecção de fragmentação do DNA
de células THP-1 tratadas com 100 e 200µM dos compostos (1), (2) e (3) durante 24
horas...........................................................................................................................54
Figura 23: Ensaio de toxicidade in vivo dos compostos de coordenação 2 e 3.........63
xi
Lista de Tabelas
Tabela 1: Estimativas, para o ano 2008, de número de casos novos por câncer, em
homens e mulheres, segundo localização primária.....................................................1
Tabela 2: Dose efetiva 50% dos compostos de ferro 1, 2 e 3....................................52
xii
Lista de Pranchas
Prancha 1: Microscopia Confocal de células U937 analisadas após 36 horas, grupo
controle.......................................................................................................................56
Prancha 2: Microscopia Confocal de células U937 incubadas durante 12, 24 ou 36
horas com os compostos 1, 2 e 3...............................................................................57
Prancha 3: Efeito do tratamento com composto 1 na morfologia ultra-estrutural de
células U937 por visualizado microscopia eletrônica de transmissão........................60
Prancha 4: Efeito do tratamento com os compostos 2 e 3 na morfologia ultra-
estrutural de células U937 visualizado por microscopia eletrônica de transmissão...61
xiii
Lista de Abreviaturas Bcl-2 – B cell lymphoma 2
cis-[Pt(NH3)2Cl2] – Cisplatina
Cis-DDP – cis-diamminedichloridoplatinum (II)
DD – Death Domain
DISC – Death inducing signaling complex
DL50 – Dose Letal para 50% de um grupo de animais
DMEM – Dulbecco's Modified Eagle's Medium
DNA – Ácido Desoxirribonucléico
D.O – Densidade Óptica
FADD – Fas-Associated Death Domain
G2 – Grow 2
GA – Glutaraldeído
HPClNOL – N,N-bis-(piridil-(2-il-metil)[(3-cloro)(2-hidroxi)]propilamina)
HTP – Hematoporfirínicos
IC50 – Concentração necessária para 50% de inibição
IAP – Inhibitor of Apoptosis Protein
INCA – Instituto Nacional do Câncer
KDa – Quilo Dalton
MET – Microscopia eletrônica de Transmissão
MDR – Multiple-drug resistance
MMR – Mismatch repair
MTT – [3(4,5-dimethylthiazol-2-yl)-2,5-diphenyltetrazolium bromide]
OMI/HtrA2 – Serino protease mitocondrial que ajuda na ativação da apoptose
OMS – Organização Mundial de Saúde
PA – Paraformaldeído
PBMC – Células Mononucleares do Sangue Periférico
PBS – Tampão Salina Fosfato
RNA – Ácido Ribonucléico
RR – Recombinação Homóloga
SEB – Enterotoxina B Estafilocócica
SMAC/DIABLO – proteína mitocôndrial que ajuda na ativação da apoptose
xiv
TLS – Síntese de Translesão
TNF – Fator de Necrose Tumoral
TRAIL – TNF-related apoptosis-inducing ligand
XIAP – X-linked Inhibitor of Apoptosis Protein
xv
RESUMO
As neoplasias são hoje a terceira maior causa de morte no Brasil, e estima-se que
em meados do século 21 o câncer já atinja o primeiro lugar em número de mortes
em nosso país. Atualmente o câncer é responsável por aproximadamente sete
milhões (12,5%) de mortes por ano em todo o mundo, apesar de diferentes terapias
existentes. Neste trabalho foi estudada a ação antitumoral de três compostos de
coordenação de ferro frente a cinco linhagens celulares de origem leucêmica
humanas (U937, THP-1, HL-60, JURKAT e MOLT-4), bem como o efeito tóxico dos
compostos frente a células normais humanas (PBMC) e a determinação da DL50
para camundongos suíço-albino. O ensaio com MTT [3(4,5-dimethylthiazol-2-yl)-2,5-
diphenyltetrazolium bromide] demonstrou que todos os compostos foram capazes de
inibir o crescimento das células tumorais mesmo na menor concentração testada
(50µM). A análise por microscopia de fluorescência mostrou que os compostos
foram capazes de induzir apoptose nas linhagens celulares testadas de maneira
tempo e dose dependentes, sendo que a linhagem THP-1 mostrou maior resistência
aos compostos (2) e (3) e a linhagem HL-60 ao composto (3). A apoptose induzida
pelos compostos foi confirmada pelo ensaio de fragmentação de DNA em gel de
agarose. A análise por microscopia confocal das células tratadas com os compostos
e incubadas com rhodamina 123, demonstrou que havia um comprometimento
mitocondrial nas células testadas. Essa alteração foi confirmada nas amostras
analisadas por microscopia eletrônica de transmissão, quando foi também
observado o envolvimento do reticulo endoplasmático no processo. Os compostos
foram tóxicos às células normais humanas (PBMC), porém em grau menor do que
para células tumorais, exceto para o composto (2), que se mostrou mais tóxico para
células normais. Os compostos (1) e (2) mostraram toxicidade similar ao do
composto cisplatina frente a células normais humanas in vitro, enquanto que o
composto (3) foi menos tóxico para células normais quando comparado a cisplatina.
A DL50 dos compostos (2) e (3) foram, respectivamente, 108,5 mg kg-1 e 147,2 mg
kg-1, possuindo toxicidade inferior que a do composto cisplatina descrita na literatura
(50,0 mg kg-1). Esses resultados mostram que os compostos de coordenação
testados inibem o crescimento de células tumorais in vitro por induzir morte celular
xvi
por apoptose e sugerem que a via apoptótica mitocondrial está envolvida neste
processo.
Palavras-chave: Cisplatina, Compostos de coordenação, câncer, apoptose.
xvii
ABSTRACT
Neoplasias are the third leading cause of death in Brazil and death by cancer is
estimated to reach the most important death cause in Brazil at the middle of this
century. Nowadays cancer causes nearly 7 million deaths every year (12.5%)
worldwide, although several cancer therapies are available. In this work we studied
the antitumoral activity of three iron coordinated compounds against five human
leukemia cell lines (U937, THP-1, HL-60, JURKAT e MOLT-4), as well as the toxic
effect of the complexes in human normal cells (PBMC) and DL50 complexes values in
Swiss albino mice. The MTT assay [3(4,5-dimethylthiazol-2-yl)-2,5-
diphenyltetrazolium bromide] showed that all complexes were able to inhibit tumoral
cell growing, even in the lowest concentration (50µM). Fluorescence microscopy
analysis showed that all complexes were able to induce apoptosis in all cell lines
tested in a time- and dose-dependent manner. However, THP-1 cell line was less
responsive to the complexes (2) and (3) and HL-60 cell line to the complex (3). The
apoptosis mediated by the complexes was confirmed by DNA ladder fragmentation
assay in agarose gel. Analysis with confocal laser scanning microscopy of cells
treated with the complexes and incubated with rhodamine 123 suggests a
mitochondrial commitment in these cells. This change was confirmed in the samples
analyzed by transmission electron microscopy, where we observed the involvement
of the endoplasmatic reticulum in the process. All complexes were toxic to the human
normal cells (PBMC); however they were more toxic to tumor cells, except for
complex (2) that was more toxic to normal cells. Complexes (1) and (2) showed
similar toxicity to the cisplatina in human normal cells in vitro, while complex (3) was
less toxic to normal cells than cisplatina. DL50 value of complexes (2) e (3) was,
respectively, 108,5 mg kg-1 and 147,2 mg kg-1, showing less toxicity than cisplatina
complex described in the literature (50 mg kg-1). In summary, we found that these
iron coordinated compounds inhibit cancer cell growth by inducing apoptosis cell
death in vitro and support the hypothesis that mitochondrial apoptotic pathway is
involved in this process.
Key words: Cisplatin, Coordinated compounds, cancer, apoptosis.
Borges F. V. Introdução
1
1 – Introdução
1.1 – Câncer: Aspectos gerais
Entende-se por câncer o conjunto de doenças que tem por característica o
crescimento desordenado e difuso de células anormais, causado por diversos
fatores, sejam eles externos (químicos, tabaco, radiações e infecções por
organismos) ou internos (mutações herdadas ou que podem ocorrer durante o
metabolismo, hormônios e condições imunológicas). Fatores como esses podem
atuar juntos ou em seqüência, promovendo assim, o início da carcinogênese (Cotran
et al., 2000).
O câncer é hoje considerado um dos principais problemas mundiais de saúde
e uma das mais importantes causas de enfermidade e morte em crianças e adultos.
Para o ano de 2008, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA),
466.730 novos casos da doença serão registrados só no Brasil (Tab. 1). As maiores
incidências ficam por conta do câncer de próstata em homens e de mama em
mulheres (Inca, 2008).
Fonte: MS/Instituto Nacional de Câncer
Tabela 1 - Estimativas, para o ano 2008, de número de casos novos por câncer, em
homens e mulheres, segundo localização primária.
Borges F. V. Introdução
2
Considerando as estimativas mundiais os números não são menos
alarmantes. O câncer é responsável por 12,5% das mortes, uma porcentagem maior
que as estimadas para AIDS, tuberculose e malária juntas. Em 2005, a Organização
Mundial de Saúde contabilizou 53 milhões de mortes no mundo, das quais 7,6
milhões foram causadas por câncer (13%). Em 2007, segundo a OMS foram 11
milhões de novos casos (excluindo câncer de pele) e 7 milhões de mortes Em uma
projeção feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para 2020, o câncer
poderá levar ao óbito 10,3 milhões de pessoas no mundo (Figura 1).
Figura 1 – Estimativa mundial de mortes por câncer para 2020. Fonte: OMS (2005).
Borges F. V. Introdução
3
Em 2030, as estimativas apontam o câncer como a principal causa de morte
mundial, conforme mostrado na figura 2.
Projeção de Mortes Mundiais por causa, 2002-2030
Ano
Projeção de Mortes Mundiais (Milhões) Câncers
Isquemia
Doenças Cardiacas
TuberculoseMalária
HIV/AIDS
Out ras doenças Infecciosas
Acidentes de trâns ito
Derrame
Figura 2 – Estimativa das principais causas de morte mundial para 2030. Fonte: OMS
(2007).
Os diversos tipos de cânceres são classificados de acordo com o tecido e tipo
de célula dos quais se originam. Cânceres originados de células epiteliais são
denominados carcinomas; aqueles originados a partir de tecidos conjuntivos ou
células musculares são denominados sarcomas. Cânceres que não se encaixam em
nenhuma dessas categorias incluem os vários tipos de leucemia, derivados de
células hematopoiéticas, e cânceres derivados de células do sistema nervoso.
Aproximadamente 90% dos cânceres humanos são carcinomas, talvez porque a
maioria das células em proliferação no corpo se encontram no epitélio, ou porque os
tecidos epiteliais são mais expostos a várias formas de danos físicos e químicos que
favorecem o desenvolvimento do câncer (Alberts, et al., 2002).
As causas que podem levar ao desenvolvimento do câncer são variadas.
Fatores ambientais e o modo de vida, associados à constituição genética do
indivíduo são responsáveis por governar o desenvolvimento do câncer de uma forma
geral (Alberts, et al., 2002).
Borges F. V. Introdução
4
Após muitos avanços, as pesquisas sobre câncer geraram um rico e
complexo corpo de conhecimento, revelando ser o câncer uma doença que envolve
mudanças dramáticas no genoma de uma célula ao longo de sua vida. Tais
mudanças passaram a ser elucidadas após a descoberta de mutações que
produzem oncogenes com ganho de função e genes supressores tumorais com
perda recessiva de função. Ambas as classes de genes foram identificadas em
células humanas e animais, através de alterações em suas funções e pela produção
do fenótipo cancerígeno em modelos experimentais (Bishop & Weinberg, 1996).
Várias linhas de evidência indicam que a tumorigênese é um processo que
ocorre em várias etapas e que essas etapas refletem alterações genéticas que
dirigem uma progressiva transformação de células normais em células altamente
malignas (Hanahan & Weinberg, 2000). Essa transformação pode ser evidenciada
em células em cultura, onde células de roedores requerem pelo menos a introdução
de duas mudanças genéticas até que elas adquiram a competência tumorigênica,
enquanto células humanas são mais difíceis de transformar (Hahn et al., 1999).
Acredita-se que o vasto genótipo de células tumorais seja resultado da
manifestação de seis alterações essenciais na fisiologia celular, que coletivamente
ditam o crescimento de células malignas: auto suficiência em fatores de crescimento,
insensibilidade a fatores inibidores de crescimento, evasão do programa de morte
celular (apoptose), potencial de replicação ilimitado, angiogênese sustentada e
invasão tecidual e metástase (fig. 3) (Hanahan & Weinberg, 2000).
Borges F. V. Introdução
5
Figura 3 – Capacidades adquirias pelas células tumorais. É sugerido que a maioria senão
todos os tipos de câncer adquirem o mesmo grupo de capacidades funcionais durante seu
desenvolvimento, embora através de várias estratégias diferentes (Hanahan & Weinberg,
2000).
Observações de cânceres em humanos e em modelos animais apontam que
o desenvolvimento tumoral acontece via um processo formalmente análogo à
evolução Darwiniana, no qual uma sucessão de mudanças genéticas, cada uma
conferindo vantagens para o crescimento celular, leva à progressiva conversão de
células normais em células cancerígenas, quebrando assim a harmonia tecidual e
levando a sociedade celular ao colapso através de um processo microevolucionário
(Nowell, 1976).
Essa forma peculiar de ação faz do câncer um conjunto de doenças de difícil
combate. O sistema imunológico muitas vezes não reconhece as células tumorais
como sendo uma perigosa ameaça que deve ser eliminada, pois essas células,
mesmo transformadas, ainda possuem um fenótipo muito similar aos das células
normais. Dessa forma, as células tumorais acabam por induzir tolerância
imunológica através de diversos mecanismos (Mapara & Sykes, 2004), o que
Angiogênese sustentada Invasão tecidual e metástase
Pontencial replicativo ilimitado
Evasão da apoptoseInsensibilidade a sinais anti-crescimento
Auto suficiência em fatores de crescimento
Borges F. V. Introdução
6
impede o sistema imunológico de produzir uma resposta imune eficaz contra o
tumor, permitindo assim, que a massa de células transformadas cresça sem nenhum
controle imunológico efetivo (Mapara & Sykes, 2004).
1.2 – Quimioterapia antitumoral
Existem três tipos principais de tratamento para o câncer: cirurgia,
radioterapia e quimioterapia (Murad & Katz, 2000). Outros métodos, também
utilizados hoje em dia, é o de fotorradiação com derivados hematoporfirínicos (HTP)
(Machado, 2000) e a imunoterapia (Salmonm, 1998). O objetivo de cada um destes
tratamentos é erradicar o câncer, normalmente por meio da terapia combinada, onde
é associado mais do que um tipo de tratamento. Apenas com os métodos de
tratamento citados, um terço dos pacientes alcança a cura total através de medidas
locais (cirurgia ou radioterapia), que são eficazes quando o tumor ainda não sofreu
metástase por ocasião do tratamento. Todavia, na maioria dos casos, a neoplasia
caracteriza-se pelo desenvolvimento precoce de micrometástases, indicando a
necessidade de uma abordagem sistêmica, que pode ser efetuada, em cerca de 60-
70% dos casos com a quimioterapia (Chabner & Longo, 1996; Spence & Jonhston.
2001)
A quimioterapia contra o câncer ou antineoplásica refere-se à administração
de drogas citotóxicas, capazes de promover morte celular ou pelo menos inibir o
crescimento celular. O tratamento quimioterápico tem como objetivo, erradicar o
tumor ou reduzir seu crescimento, diminuindo dessa forma os sintomas relacionados
ao câncer, promovendo a cura ou prolongando a vida do paciente (Nygren, 2001).
A quimioterapia para o tratamento do câncer foi introduzida na medicina há
cinqüenta anos atrás. Na verdade, o tratamento do câncer com agentes químicos
teve inicio a várias centenas de anos, porém foi só no início da década 1940 que o
primeiro uso da quimioterapia sistêmica foi documentada com sucesso. Baseado na
experiência da guerra sobre os efeitos do gás mostarda no sistema linfático, esse
agente foi utilizado para o tratamento de um paciente com linfoma. Embora o tumor
tenha rapidamente crescido após um efeito antitumoral inicial, essa experiência
marcou o inicio da quimioterapia a tumores malignos (Gilman, 1963; Kidwai et al.,
Borges F. V. Introdução
7
2002). O avanço no conhecimento sobre a bioquímica do metabolismo celular levou
ao desenvolvimento de antimetabólicos durante as décadas seguintes, como
metotrexato, 6-mercaptopurina, 6-tioguanina, citarabina e 5-fluorouracil. Nos anos 60
e 70 surgiram os agentes naturais como os antibióticos actinomicina D e
doxorubicina e substâncias puras extraídas de extratos vegetais, como os alcalóides
de vinca (Pratt & Ruddon, 1979).
O grande avanço da quimioterapia moderna aconteceu após a introdução da
cisplatina durante a década de 70, o que mudou consideravelmente a perspectiva
para pacientes com câncer testicular, sendo mais tarde também usada no
tratamento de outros tumores sólidos (O’Dwyer et al. 1997).
Durante as décadas seguintes, alguns novos fármacos contribuíram
substancialmente como opções para o tratamento do câncer foram introduzidos,
entre elas a taxol, com alta atividade contra o câncer de mama, e os inibidores de
topoisomerase I, como o Irinotecano. Além disso, os antimetabólicos fludarabina e
cladribina têm estendido o leque de opções para o tratamento de alguns tipos de
linfoma (Nygren, 2001).
Uma grande limitação da quimioterapia no tratamento do câncer são seus
freqüentes efeitos colaterais. Embora os fármacos com ação antitumoral sejam
produzidos especificamente contra células cancerígenas, células hematopoiéticas e
células epiteliais intestinais normais, e os queratinócitos da matriz capilar são
freqüentemente suscetíveis aos efeitos tóxicos desses agentes, o que explica a
maior parte dos efeitos colaterais da quimioterapia: náuseas, perda de cabelo e
susceptibilidade maior às infecções (Almeida et al, 2005). Porém, o corpo recupera-
se destes inconvenientes após o tratamento, e o uso clínico desses fármacos exige
que os benefícios sejam confrontados com a toxicidade, na procura de um índice
terapêutico favorável (Foye & Sangupta, 1996).
Parece que a toxicidade dos fármacos é devido, em parte, a apoptose induzida
pela proteína p53, já que camundongos nocautes para p53 tratados com drogas
quimioterapêuticas ou radioterapia não sofrem o mesmo grau de agressão nos
tecidos suscetíveis, e sobreviveram a doses que são letais para camundongos wild-
type (Kormarova & Gudkov, 2000). Isso aparentemente resulta de uma perturbação
na via intrínseca apoptótica, já que a expressão ectópica de Bcl-2 em células da
Borges F. V. Introdução
8
medula óssea alcança efeitos similares (Dome et. al, 1998). Existe uma correlação
direta entre a ativação de p53 e os sítios de toxicidade em tecidos normais. Esses
estudos destacam as razões fundamentais da falta geral de sucesso em desenvolver
fármacos que podem matar células de maneira específica usando uma abordagem
empírica. Por um lado, p53 potencializa a ação da maioria das drogas, mas é
inativada na maioria dos tumores, por outro, a via intacta de p53 em células normais
contribui para sua própria destruição. Uma abordagem combinada utilizando um
bloqueador de p53 com uma droga anticancerígena poderia eliminar a toxicidade
enquanto mantém o efeito antitumoral (Johnstone et al., 2002).
Outra importante limitação da quimioterapia é a resistência específica de
alguns tumores a determinados medicamentos aliada ao problema da resistência a
múltiplas drogas (MDR), os quais têm sido apontados como uma das principais
causas de falha terapêutica e de mortes (Fernandes et al, 2005).
1.2.1 – Quimioterápicos antineoplásicos
A importância clínica dos agentes antineoplásicos induz a necessidade de
estudo sistemático, o que primeiramente deveria ser feito com o uso de
classificações químicas, levando-se em conta os diferentes grupos funcionais
presentes na estrutura das moléculas desses agentes. Contudo, a variedade de
tipos de compostos utilizados em quimioterapia oncológica é tão grande, que tal
classificação só pode ser feita indiretamente. Calabresi e Chabner em 1995
descreveram uma classificação conveniente dos fármacos antineoplásicos onde o
critério classificatório baseia-se no ponto de interferência no mecanismo de ação das
diferentes etapas da síntese do DNA, transcrição e tradução. Entretanto, os autores
consideram esta classificação arbitrária pois, por exemplo, os agentes hormonais,
entre outros, não são classificáveis desta forma.
Os agentes antineoplásicos mais antigos e mais usados são conhecidos
como agentes alquilantes que, comprovadamente, interagem quimicamente com o
DNA e não são ativos somente no processo de divisão celular. De fato, na
quimioterapia são descritos muitos alvos que podem ser estudados com o intuito de
se estabelecer novos fármacos antitumorais, sendo que o DNA apresenta-se como
Borges F. V. Introdução
9
um dos alvos mais estudados (Keskin et al, 2000). As moléculas com potencial
atividade antitumoral mais estudadas interagem de alguma forma com o DNA. Com
isso é possível fazer uma subclassificação dos antitumorais em relação ao
mecanismo de ação no DNA (Lehninger, 2000):
• inibição da síntese de nucleotídeos: através do uso dos análogos das bases
nitrogenadas (Agentes antimetabólicos);
• efeito direto no DNA: são os agentes alquilantes como as mostardas nitrogenadas,
nitrossuréias, complexos tipo cisplatina e outros. A bleomicina forma radicais livres
que destroem o DNA, pois fragmenta as hélices, mecanismo diferente dos outros
fármacos mostrados;
• ligantes que interagem na fenda menor do DNA: berenil, pentamidina e análogos;
• alteração das propriedades de pareamento de bases: intercalantes como a
proflavina, acridina, amsacrina;
• inibição da DNA-girase: doxorrubicina.
Alguns dos principais compostos que interagem de certa forma com o DNA
são: Agentes antimetabólicos, mostardas nitrogenadas, nitrossuréias, e os
complexos de platina.
Agentes antimetabólicos
O desenvolvimento de quimioterápicos com ações sobre o metabolismo
intermediário das células em proliferação é importante do ponto de vista clínico, pois
estes agentes são muito estudados e clinicamente empregados. Embora não se
tenha ainda descoberto qualquer propriedade bioquímica peculiar compartilhada por
todas as células cancerosas, sabe-se que essas células possuem várias diferenças
metabólicas quantitativas em comparação com as células normais, tornando-as mais
suscetíveis aos diversos antimetabólicos ou análogos estruturais das bases
nitrogenadas (Oliveira & Alves, 2002). Os agentes antimetabólicos exercem seus
efeitos principalmente por bloquearem bioquimicamente a síntese do DNA e,
portanto, são restritos à fase S do ciclo celular (Oliveira & Alves, 2002). Pode-se
citar alguns exemplos de antimetabólicos utilizados clinicamente no tratamento do
câncer, por meio das seguintes subclasses: Análogo do ácido fólico: Metotrexato
(MXT); Antagonistas das pirimidinas: Fluorouracil (5-Fluoroouracil; 5-FU), Floxuridina
Borges F. V. Introdução
10
(5-Fluorodesoxiuridina; FUDR) e Citarabina (citosina arabinosídeo, ara-C); análogos
das purinas: Mercaptopurina (6-mercaptopurina; 6-MP); tioguanina (6-
tioguanina;TG); Pentostatina (2’-desoxicoformicina); Fosfato de fludarabina (mono
fosfato de 2-fluoro-arabinofuranosiladenina; Cladribina (2-clorodesoxiadenosina)
(fig.4).
Figura 4 – Estruturas de alguns antimetabólicos usados no tratamento de neoplasias Mostardas nitrogenadas
Como dito anteriormente os agentes alquilantes são antineoplásicos pioneiros
pois, em 1942, o agente alquilante tipo mostarda nitrogenada, meclorometamina, foi
utilizado com sucesso para induzir remissão tumoral transitória em um paciente
portador de linfoma; esse acontecimento marcou o início da era moderna de
quimioterapia do câncer (Kidwai et al., 2002). Os agentes alquilantes são, também,
os antineoplásicos mais estudados e considerados os antitumorais mais usados na
atualidade. Eles são capazes de formar ligações interfilamentares com o DNA e
necessitam ser metabolizados pelas fosfamidases (enzimas microssomais
Borges F. V. Introdução
11
hepáticas), para que seus metabólitos possam exercer o efeito alquilante celular.
Dentro dessa classe têm-se os fármacos Mecloretamina (Mustargen®) e Clorambucil
(Leukeran®), além da ciclofosfamida (Cytoxan®), a Isofosfamida® e o melfalano
(Alkeran®), (fig.5) (Salmonm, 1998).
Figura 5 – Estruturas de mostardas nitrogenadas usadas como quimioterápicos.
Nitrossuréias
São agentes antitumorais que precisam ser biotransformados nos seus
derivados alquilantes por decomposição não enzimática (Salmonm, 1998). Formam
diferentes adutos de alquilação com o DNA, porém a formação da ligação cruzada
interfilamentar entre a posição N1 da deoxiguanosina e N3 da deoxicitosina é a
responsável pela atividade citotóxica. Também alquilam o RNA e inibem a auto-
reparação do DNA (Oliveira & Alves, 2002). As nitrossuréias utilizadas clinicamente
são a Carmustina (BCNU), Lomustina (CCNU) e Semustina (metil-CCNU) (fig.6).
Estes agentes antineoplásicos são altamente lipossolúveis, tornando-os úteis no
tratamento de tumores cerebrais (Salmonm, 1998).
Figura 6 – Estruturas de nitrossuréias usadas como antitumorais
Borges F. V. Introdução
12
Cisplatina
Os compostos de platina representam a mais importante classe de agentes
antitumorais, e o desenvolvimento clínico do complexo de coordenação cis-
diaminodicloroplatina (II), comumente conhecido como cisplatina ou cis-DDP,
marcou os anos setenta como uma nova era no tratamento do câncer (Gonzalez et
al., 2001). A Cisplatina e outros compostos relacionados, como a oxaplatina e a
carboplatina são importantes agentes quimioterapêuticos usados amplamente no
tratamento de muitos tumores, incluindo cânceres de testículo, ovário, bexiga,
cervical, cabeça, pescoço e pulmão (Rosenberg, 1999; Jordan & Carmo-Fonseca,
2000; Wang & Lippard, 2005).
Entre todos os compostos de platina, a Cisplatina é o composto mais bem
estudado e ainda hoje é um dos mais potentes agentes antitumorais,
desempenhando uma atividade clínica significante contra uma variedade de tumores
sólidos (Wang et al., 2004). Em alguns casos como para o câncer de testículo, a
taxa de cura pode ultrapassar 90%, chegando a 100% quando detectado
precocemente (Zhang & Lippard, 2003; Wang & Lippard, 2005). Apesar do sucesso
da cisplatina no tratamento do câncer de testículo, sua efetividade no tratamento de
outros cânceres é mais limitada devido aos mecanismos de resistência intrínsecos
ou adquiridos das células tumorais (Kartalou & Essigmann, 2001).
A Cisplatina é administrada aos pacientes pela via intravenosa. A
concentração de cloreto no sangue é de 100 mM, alta o suficiente para suprimir a
hidrólise da cisplatina, permitindo que a droga chegue às células como uma
molécula neutra (Reedijk, 2003).
A cisplatina entra na célula por difusão passiva (Jamieson & Lippard, 1999) e
também – como recentemente descoberto – por transporte ativo mediado por
transportadores cooper Ctr1p em leveduras e mamíferos (Ishida et al., 2002). Dentro
da célula, a concentração de cloreto é de 4 mM, conseqüentemente levando a
hidrólise da cisplatina, embora de maneira lenta. Os radicais cloreto são então
substituídos por moléculas de água, gerando espécies aquosas positivamente
carregadas que podem reagir com sítios nucleofílicos de algumas macromoléculas
intracelulares, formando adutos em proteínas, RNA e DNA (fig. 7). Esses adutos por
Borges F. V. Introdução
13
sua vez, bloqueiam a replicação e a transcrição do DNA induzindo morte celular
através de mecanismos de apoptose ou necrose (Fuertes et. al., 2003).
Sangue
Citoplasma
Bloqueio da transcrição
Bloqueio da replicação
Parada em G2 Morte celular programada
Polimerase
Polimerase
Figura 7 – Mecanismo de ação da cisplatina (Kartalou & Essigmann, 2001).
A inibição da síntese de DNA por cisplatina foi inicialmente indicada como a
responsável por sua atividade antitumoral. Contudo, subseqüentes estudos
mostraram que a inibição da síntese de DNA não estava correlacionada com a
sensibilidade de diferentes linhagens celulares à droga (Sorenson & Eastman,
1988). Mais recentemente foi proposto que a cisplatina mata as células tumorais por
induzir o bloqueio do ciclo celular em G2 e por ativar mecanismos apoptóticos (Chu,
1994).
Embora ainda esteja sobre confirmação se o sucesso clínico da cisplatina se
apóia primariamente na sua habilidade em induzir apoptose. Duas proteínas
celulares, p53 e p73, são responsáveis por induzir o bloqueio do ciclo celular e
apoptose em resposta a danos no DNA. Alguns resultados obtidos por Gong e
colaboradoes em 1999, sugerem que cisplatina pode induzir duas vias paralelas de
resposta de morte celular, uma dependente de p53 e a outra de p73.
Borges F. V. Introdução
14
A proteína supressora tumoral p53 é uma potente ativadora da apoptose, e
células cancerígenas deficientes de p53 são menos responsivas à terapia com
cisplatina (Gallagher et. al., 1997). O gene que codifica a proteína p53, TP53, é o
mais freqüentemente mutado em cânceres humanos, a proteína é encontrada inativa
em aproximadamente 50% dos tumores. Esse fator de transcrição é considerado um
“guardião do genoma”. Ele está presente em uma forma inativa em células normais,
e torna-se funcional quando ativado em resposta ao estresse celular. A ativação de
p53 leva a expressão de vários genes alvos responsáveis pela parada do ciclo
celular ou apoptose, dependendo do ambiente celular (Bouchet et al., 2006).
Existem evidências de que as células podem ser mortas pela cisplatina de
uma maneira independente de p53, o que implica na presença de outras vias
apoptóticas (Jordan & Carmo-Fonseca, 2000). Uma das vias alternativas pode
envolver o produto de um gene relacionado a p53, a proteína p73. O gene p73
codifica proteínas com habilidade de induzir apoptose. A cisplatina induz a ativação
da tirosina quinase c-Abl, um mediador essencial que interrompe o ciclo celular em
resposta a um dano causado no DNA, potencializando a atividade pró-apoptótica de
p73. Esses resultados sugerem que os sinais de dano no DNA são canalizados
através de c-Abl para p73 (Jordan & Carmo-Fonseca, 2000).
Outros prováveis reguladores da apoptose induzida por cisplatina incluem a
expressão de proteínas da família Bcl-2, ativação de cascatas de quinases induzidas
por stress e a perda dos telômeros (Stresser et. al., 1994; Sanches-Perez et. al.,
1998; Ishibashi & Lippard, 1998).
1.2.2 – Resistência à cisplatina
A principal limitação na aplicação clínica da cisplatina e dos outros derivados
de platina, tem sido o desenvolvimento de resistência dos tumores à essas drogas
(Boulikas & Vougiouka, 2003).
Sabe-se hoje que alguns tipos de cânceres são insensíveis ao tratamento
com cisplatina, enquanto outros desenvolvem resistência somente durante a
quimioterapia. A resistência a drogas baseadas em platina pode ocorrer por diversos
mecanismos, incluindo aumento do efluxo da droga, sua inativação, alterações no
Borges F. V. Introdução
15
seu alvo, processamento do dano induzido pela droga (reparo de adutos) e evasão
da via de apoptose (fig. 8) (Brabec & Kasparkova, 2002; Morin, 2003; Siddik, 2003;
Torigoe, 2005).
Figura 8 – Mecanismos de resistência à cisplatina (Katalou & Essigmann, 2001).
O acúmulo reduzido de cisplatina intracelular pode surgir ou devido à
diminuição da captação ou pelo aumento do efluxo da droga, o que é
freqüentemente observado em linhagens de células resistentes à cisplatina. O
inibidor da sódio-potássio ATPase, ouabaína inibe a captação da droga, e o acúmulo
de cisplatina é potássio-dependente, mesmo que a cisplatina não seja transportada
para células pela bomba de sódio-potássio, sugerindo que o acúmulo é dependente
do potencial de membrana celular (Andrews et. al., 1988). Além disso, vários
aldeídos inibem a captação, presumivelmente formando bases de Schiff com
proteínas de membrana. De forma interessante, uma proteína de membrana de 48
kDa é expressa em níveis mais baixos nas células resistentes a cisplatina apontando
um decréscimo na acumulação intracelular da droga (Bernal et. al., 1990)
Além dos mecanismos para captação reduzida da cisplatina, a diminuição do
acúmulo celular de cisplatina pode acontecer por um aumentado efluxo da droga
pelas células. A cisplatina não é um substrato para glicoproteína P (produto do gene
mdr) que é superexpressa em células multi-drogas resistentes e funciona como
bomba para o efluxo da droga (Toffoli et al., 1991). Algumas células resistentes a
Aumento do efluxo
Inativação por Glutationa
Diminuição da entrada
Envelope nuclear Aumento da remoção do
adutos de cisplatina
Defeito nos mecanismos apoptóticos
Aumento do “bypass” dos adutos de cisplatina
Borges F. V. Introdução
16
cisplatina superexpressam uma proteína de 200 kDa. Estas células exibem um
acúmulo reduzido de cisplatina, sugerindo que esta proteína pode estar envolvida no
efluxo da cisplatina (Kawai et. al., 1990). Além disso, a bomba de exportação
glutationa S-conjugada dependente de ATP pode expulsar a cisplatina conjugada a
glutationa e pode estar envolvida na redução da concentração de cisplatina
intracelular em células resistentes a esta droga (Chen et. al., 1998).
O reparo do DNA é tido como o principal mecanismo de resistência à
quimioterapia baseada em cisplatina. Em células humanas, a maioria das ligações
cruzadas entre as fitas de DNA feitas pela cisplatina é removida principalmente pelo
sistema de reparo por excisão de nucleotídeos (NER-Nucleotide Excision Repair)
(Zamble et. al., 1996, Kartalou & Essigmann, 2001). Esse mecanismo atua nos
adutos cisplatina-DNA da cromatina. Por isso, a maneira como os nucleossomos
modulam o NER nos adutos formados pela cisplatina no DNA é de grande interesse.
Modificações pós traducionais de histonas, como fosforilação e acetilação, podem
modular NER a partir de um dano na cromatina causando mudanças na estrutura do
nucleossomo, aumentando a acessibilidade de outras proteínas. Esses eventos
facilitam a ligação de complexos remodeladores e proteínas de reparo ao
nucleossomo, estimulando dessa forma o reparo do DNA e ajudando as células a
sobreviverem ao stress induzido pela cisplatina (Brabec & Kasparkova, 2005).
Embora o mecanismo de NER seja o principal meio pelo qual as células tumorais
adquirem resistência à cisplatina, há evidências de mecanismos celulares de reparo
adicionais que também podem afetar a eficácia antitumoral da cisplatina (Beljanski
et. al., 2004).
O reparo por recombinação homóloga (RR) e a síntese de translesão (TLS)
fornecem rotas pelas quais células podem continuar o processo de replicação
mesmo na presença dos aductos bloqueando a forquilha de replicação. RR e TLS
são consideradas vias de tolerância a danos no DNA, pois elas permitem que as
células completem a replicação e mitose, aumentando assim, a freqüência de
mutações e recombinações. Linhagens da levedura Saccharomyces cerevisiae que
eram deficientes em RR e TLS individualmente, foram hipersensitivas quando
expostas à cisplatina (Doetsch et. al., 2001).
Borges F. V. Introdução
17
Outro importante mecanismo de resistência à cisplatina ocorre devido a um
sistema de reparo celular intrínseco conhecido como Mismatch repair (MMR). O
papel primário do MMR é a correção de erros durante a replicação do DNA,
supressão da recombinação, interação com outras vias de reparo do DNA, regulação
dos pontos de checagem do ciclo celular e indução de apoptose (Meyers et. al.,
2004). O status do MMR de uma célula pode influenciar sua resposta a uma
variedade de agentes quimioterapêuticos. Observações recentes sustentam a visão
de que o mecanismo de MMR medeia a citotoxidade da cisplatina frente às células
tumorais e que uma disfunção nesse tipo de reparo do DNA pode resultar em
resistência ou tolerância de células tumorais à cisplatina (Papouli et. al., 2004). A
ligação do complexo MMR aos adutos cisplatina-DNA parece aumentar a
citotoxidade desses adutos, ou por ativar vias de sinalização que levam a apoptose
ou por causar “ciclos fúteis” durante a TLS ao passarem pelos aductos cisplatina-
DNA (Nehme et. al., 1999).
Alterações na expressão de oncogenes (como c-fos, c-myc, H-ras, c-jun, e c-abl)
e de genes supressores tumorais (como p53) também têm sido relacionadas com a
resistência celular à cisplatina. Porém, como uma mudança na expressão destes
genes pode levar a efeitos pleiotrópicos sobre a homeostase celular, o mecanismo
relacionado à resistência não está completamente esclarecido (Kartalou &
Essigmann, 2001).
1.3 – Compostos de coordenação e nucleases sintétic as
Os compostos de coordenação são substâncias que contêm complexos
metálicos; os complexos metálicos contêm íons metálicos ligados a vários ânions ou
moléculas nulas circundantes conhecidas como ligantes. O íon metálico e seus
ligantes compreendem a esfera de coordenação do complexo. O átomo do ligante
que se liga ao íon metálico é o átomo doador. O número de átomos doadores
ligados ao íon metálico é o número de coordenação do íon metálico (Brown et al.,
2005).
Atualmente muitos compostos de coordenação têm sido sintetizados com o
objetivo de simularem a ação de nucleases naturais com diferentes aplicações. Entre
Borges F. V. Introdução
18
elas a terapêutica contra o câncer, uma vez que a integridade do material genético é
essencial para a sobrevivência da célula. Mas a extraordinária resistência do DNA a
hidrólise, que é bioquimicamente essencial para a manutenção da integridade do
material genético, torna-se um desafio para a síntese de fosfodiesterases ou
nucleases que possam promover a sua hidrólise em uma escala de tempo razoável
(Sreedhara & Cowan, 2001).
O desenvolvimento de drogas antitumorais baseadas em metais foi
estimulado pelo sucesso clínico do composto de coordenação cis-
diaminodicloroplatina(II) (cis-[Pt(NH3)2Cl2], cisplatina) e seus análogos (Brabec,
2002). Com a descoberta de que este composto inibia o crescimento de células
cancerígenas por atuarem sobre o DNA, confirmou-se que compostos de
coordenação podem interagir com a dupla fita do DNA. Tal interação pode ocorrer de
diferentes formas: (a) interações não covalentes (eletrostática); b) interações
covalentes; (c) interação por intercalação; (d) interação por oxidação; (e) interação
via hidrólise (Hecht, 1996).
Enquanto o cis-[Pt(NH3)2Cl2] interage com o DNA pela formação de ligações
covalentes, um grande número de compostos de metais do primeiro período de
transição interage por um mecanismo oxidativo, devido a rica química redox
apresentada por tais elementos (Burrows, 1998). Embora já existam metalofármacos
que atuam sobre o DNA seguindo o mecanismo oxidativo, o mesmo não é
apropriado quando se pensa na utilização em biotecnologia, tendo em vista que a
clivagem oxidativa do DNA atua de forma diferente daquela apresentada pelas
nucleases naturais (Cowan, 2001; Burrows, 1998). Com base neste aspecto,
estudos têm sido realizados de forma a buscar compostos que possam atuar
promovendo a clivagem hidrolítica do DNA (Neves et al., 2001; Horn et al., 2004).
Compostos de coordenação que são candidatos a apresentarem atividade
hidrolítica sobre o DNA devem apresentar as seguintes características: (a)
apresentarem cargas positivas quando em solução, o que facilita a atração de tais
compostos pelo DNA, pois o mesmo apresenta cargas residuais negativas; (b)
ambiente de coordenação insaturado ou contendo ligantes lábeis, o que facilita a
interação com os grupos fosfatos do DNA; (c) possibilidade de formarem espécies
nucleofílicas (OH-) em condições suaves de pH; (d) apresentarem certa solubilidade
Borges F. V. Introdução
19
em água; (e) serem, de preferência, eletroquimicamente inertes em condições
biológicas. Com estas características em mente, pode-se promover o planejamento
racional de compostos, iniciando-se pela proposição de ligantes que permitam a
obtenção de complexos com ambientes de coordenação insaturados (Horn et al.,
2004).
Aliado ao estudo da síntese e caracterização das propriedades dos compostos,
o que por si só tem se mostrado de fundamental relevância ao desenvolvimento da
ciência básica, os compostos que apresentam as características relatadas acima são
elegíveis para serem estudados na promoção da clivagem do DNA. A confirmação
inicial desta habilidade propicia a realização de estudos posteriores para evidenciar
se o mecanismo de ação se dá por via hidrolítica ou oxidativa. O estabelecimento do
tipo de interação composto-DNA abre um amplo leque de possibilidades para
aplicação dos mesmos, tendo em vista que todo ser vivo, incluindo aqueles que
agridem espécimes de interesse ao homem e o próprio, são dependentes do seu
código genético para crescerem e se replicarem. Desta forma, compostos que
apresentam atividade na promoção da clivagem da molécula do DNA isolada, são
fortes candidatos a apresentarem atividade frente a microorganismos ou células
tumorais.
Diferentes complexos metálicos já demonstraram ser capazes de promover a
clivagem do DNA, entre eles, [Fe2(BPClNOL)2(H2O)2]2+ (Neves et al., 2001),
[Fe2(IDB)2(µ-O)(µ-OAc)2]Cl2 (Liu et al., 2002), Zn2HP (Sissi et al., 2001),
[Cu(HPClNOL)Cl]Cl (Fernandes et al., 2006) e [Fe(HPClNOL)(SO4)]2-µ-oxo · 6H2O
(Parrilha et al., 2008)
Outros compostos de coordenação ainda não tiveram a confirmação de
atuarem como nucleases, porém foram capazes de induzir apoptose em diversos
tipos de células cancerígenas e são vistos como promissores agentes antitumorais.
Muitos compostos de rutênio com estado de oxidação 2+ ou 3+ mostraram atividade
antitumoral, especialmente contra cânceres com metástases (Zhang & Lippard,
2003). Estudos da atividade biológica de compostos de diródio conduzidos na
década de 70 mostraram que compostos Rh2(µ-O2CR)4 (R=Me, Et, Pr) exibem
significante atividade antitumoral in vivo contra tumores L1210, carcinoma ascítico
de Ehrlich, sarcoma 180 e linhagens tumorais P388 (Chifotides & Dunbar, 2005). Um
Borges F. V. Introdução
20
grande número de complexos de ouro utilizados no tratamento da artrite reumatóide,
especialmente a auranofina e [Au(dppe)2]Cl, também têm sido investigados como
agentes quimioterápicos contra o câncer (Ahmad et al., 2006). Alguns grupos de
compostos de vanádio também apresentaram atividade antitumoral, sendo o
principal exemplo o dicloreto de vanadoceno (Cp2VCl2), que demonstrou atividade
contra certos tipos de tumores comparável ao observado com o composto cisplatina
(Noblía et al., 2005). Outros compostos como lantânio (Kostova et al., 2005), cério
(Kostova et al., 2005) e zircônio (Kostova & Momekov, 2006) também apresentaram
bons resultados frente a células tumorais.
1.4 – Apoptose
A principal forma de suicídio celular é conhecida como apoptose ou morte
celular programada. Tal mecanismo é central para vários processos biológicos e
pode ser ativado em resposta a estímulos específicos ou a várias formas de injúria
ou estresse celular (Hannun, 1997). A apoptose é essencial para a regulação do
desenvolvimento, geração do sistema imune e posteriormente para manutenção da
homeostase em tecidos adultos, sendo conseqüência de uma balanceada taxa de
morte versus proliferação celular (Fischer & Schulze-Osthoff, 2005).
Igualmente ou talvez mais importante, é o papel da apoptose como causa de
doenças. A desregulação da taxa apoptótica pode resultar em severas síndromes
patológicas. Ataque cardíaco ou falência do fígado estão associadas à “morte súbita”
de áreas ou órgãos inteiros, enquanto certas síndromes degenerativas são
resultados de uma morte celular neuronal progressivamente mais lenta. De maneira
controversa, a baixa taxa de apoptose pode promover a sobrevivência e o acúmulo
de células anormais que por sua vez podem evoluir para a formação de um tumor ou
levar a doenças autoimunes (Fischer & Schulze-Osthoff, 2005).
Atualmente muitos dos eventos moleculares necessários para ativação,
amplificação e execução dos mecanismos apoptóticos já foram elucidados
(Johnstone et al., 2002). O processo de apoptose é caracterizado por distintas
mudanças morfológicas e bioquímicas, incluindo blebbing de membrana,
encolhimento celular, condensação da cromatina, fragmentação do DNA,
Borges F. V. Introdução
21
externalização de fosfatidilserina e inicialização de transdução de sinais apoptóticos.
A cascata de reações bioquímicas pode incluir novos mRNA e síntese de proteínas,
expressão de p53, ativação de caspases, ação de endonucleases ativadas por
caspases e ativação de Fas ligante ou receptor de TNF. Esse processo é seguido
por uma rápida fagocitose das células apoptóticas por células vizinhas. Distinguindo-
se assim, da morte por necrose, pela ausência de uma resposta inflamatória
(Renehan et al., 2001; Kiechle & Zhang, 1998).
A morte por apoptose é definida por distintas mudanças morfológicas e
bioquímicas mediadas por uma família de proteínas conhecida com caspases, que
são expressas como zimogênios e são proteoliticamente processadas a um estado
ativo seguindo um estímulo apoptótico (Johnstone et al., 2002). Examinando os
padrões de ativação de caspases seguido de diferentes estímulos apoptóticos, pelo
menos duas distintas vias foram elucidadas. A via mitocondrial e a via dos
receptores de morte, que podem ser divididas em três estágios: sinalização, ativação
e execução (fig. 9) (Schulze-Osthoff et. al., 1998; Yu & Zhang, 2003).
Sinais de morte originados por estresse celular, incluindo radiação e drogas
quimioterapêuticas, ativam um programa intrínseco de apoptose que é mediado
amplamente pelas mitocôndrias. A liberação de citocromo c por essas organelas no
citoplasma induz a formação de um complexo oligomérico contendo citocromo c e
Apaf-1. Este complexo, chamado de apoptossomo, promove a ativação catalítica da
caspase-9, que posteriormente cliva e ativa a caspase-3 efetora resultando em uma
subseqüente degradação de substratos de morte celular. Juntamente com citocromo
c, as proteínas SMAC/DIABLO e Omi/ HtrA2 localizadas nas mitocôndrias também
são liberadas no citoplasma. Uma vez liberadas, essas duas proteínas se ligam a
uma proteína inibidora de caspases conhecida como XIAP, essa ligação ajuda a
ativar os mecanismos de apoptose por neutralizar a função inibitória dessa proteína
(Fischer & Schulze-Osthoff, 2005).
Borges F. V. Introdução
22
Em contraste à via intrínseca, a estimulação de receptores de morte ativam um
programa extrínseco de apoptose que freqüentemente não necessita do
envolvimento mitocôndrial. Receptores de morte formam um subgrupo da
superfamília de receptores para fator de necrose tumoral (TNF) que incluem TNF-
R1, CD95, e receptores de ligantes indutores de apoptose relacionados a TNF
(TRAIL – TNF-related apoptosis-inducing ligand). Todos os receptores de morte são
caracterizados por possuírem um motivo intracelular chamado de domínio de morte
(DD – Death domain). Após o reconhecimento do ligante, os receptores de morte
interagem via seus domínios de morte com os domínios de morte de proteínas
adaptadoras tais como FADD. Essas proteínas adaptadoras também contem um
segundo motivo de interação, o domínio efetor de morte, que facilita a ligação
dessas proteínas a caspase-8 iniciadora, para formar o complexo sinalizador indutor
de morte (DISC – Death inducing signaling complex). Depois de ser ativada por
DISC a caspase-8 cliva e ativa a caspase-3, resultando em futura clivagem de alvos
Figura 9 – Vias de ativação e mecanismos centrais da apoptose (Yu & Zhang, 2003).
Sinalização
Execução
Comprometimento
Estímulo apoptótico
Proteínas das familias Bcl-2 BH3
Proteínas da família Bcl-2 multidominio
Proteínas mitocondriais apoptogênicas
Dano no DNA
Fatores de crescimento
Receptores de Morte
Citocinas
Morte Celular
Degradação do DNA
Caspases
Citocromo C
Mitocôndria
Reticulo Endoplasmático
Apoptosomo
Borges F. V. Introdução
23
celulares. Em alguns tipos de células, contudo, a progressão linear da formação de
DISC até a ativação da caspase-3 é insuficiente para completar o programa de
morte celular, e a amplificação do estímulo gerado pelos receptores de morte torna-
se necessária. Isso é feito pela participação da via mitocôndrial (Fischer & Schulze-
Osthoff, 2005).
Um mecanismo conhecido pelo qual a via mitocôndrial auxilia na apoptose
após ativação dos receptores de morte é através clivagem de Bid (um membro pró-
apoptótico da família Bcl-2) mediada pela caspase-8. Uma vez clivada, tBid
(Truncated Bid) transloca-se para a mitocôndria, aonde ela pode induzir a liberação
de citocromo c, SMAC e Omi/HtrA2. Desta maneira, os sinais gerados pelos
receptores de morte podem ser amplificados através da formação de ativação do
apoptosomo, o qual aumenta a ativação das caspase efetoras (Fischer & Schulze-
Osthoff, 2005).
A falha em ativar a apoptose representa o principal obstáculo no tratamento do
câncer com drogas antitumorais. Em adição, acredita-se que defeitos na maquinaria
apoptótica possuem um importante papel na sobrevivência e proliferação de células
neoplásicas na ausência de quimioterapia, por permitir que subpopulações de
células danificadas e geneticamente instáveis evitem ser eliminadas. O
reconhecimento de discretas anormalidades em células tumorais que ocorrem no
centro da maquinaria apoptótica e em suas vias regulatórias de sinalização tem
destacado a maquinaria apoptótica como um novo e interessante alvo potencial para
o desenvolvimento racional de drogas antitumorais (Cummings et al., 2004; Kamb &
Lassota, 2004).
1.4.1 – Apoptose, câncer e quimioterapia
Uma característica marcante da tumorigênese é o crescimento desordenado de
uma população clonal de células que se tornam insensíveis a certos sinais
apoptóticos (Hanahan & Weinberg, 2000). O mecanismo de apoptose é um
paradigma para o entendimento de como as drogas antitumorais funcionam e como
os tumores evadem sua ação. A descoberta de que a apoptose contribui para a
atividade antitumoral de muitas drogas quimioterapêuticas permitiu repensar como
Borges F. V. Introdução
24
um mecanismo de resistência intrínseca para maioria das drogas poderia surgir.
Defeitos na maquinaria apoptótica permitem as células neoplásicas sobreviverem
além do período normal de vida, acumular mutações genéticas, sustentar o
crescimento sob condições de hipóxia e stress oxidativo, e ainda promover a
angiogenese tumoral. Além disso, essa célula também deve evadir a resposta imune
antitumoral do hospedeiro (Yu & Zhang, 2003).
A apoptose é regulada em muitos níveis, incluindo os estágios de iniciação,
transdução, amplificação e execução, e mutações que afetem cada um desses
estágios foram encontradas em células tumorais. A expressão alterada ou a
mutação de genes que codificam proteínas chaves da maquinaria apoptótica podem
fornecer às células cancerígenas uma vantagem intrínseca de sobrevivência e uma
inerente resistência a drogas quimioterapêuticas. Essa dupla modificação resulta
em crescimento e expansão de células neoplásicas em primeira instância e pode
frustrar uma subseqüente terapia (Johnstone et al., 2002).
Drogas com diferentes estruturas e especificidades induzem mudanças
morfológicas características associadas com apoptose, e agora acredita-se que vias
apoptóticas contribuem para ação citotóxica da maioria das drogas
quimioterapêuticas (Lowe & Lin, 2000). Em conjunto essas observações indicam que
células podem interpretar um estímulo induzido por droga da mesma maneira que
um estímulo fisiológico, tais como hipoxia e privação de fatores de crescimento são
interpretados (Johnstone et. al., 2002). Por isso, proteínas que regulam as vias de
apoptose são excitantes alvos para o desenvolvimento de novas drogas e de outras
abordagens para o tratamento do câncer (Vermeulen et. al., 2005).
Diversos métodos possibilitam a identificação de células em apoptose,
comumente as mais empregadas são as técnicas com marcadores fluorescentes,
microscopia eletrônica para diagnóstico morfológico e eletroforese em gel de
agarose onde é possível identificar apoptose em um padrão característico
denominado “DNA ladder”, como conseqüência da clivagem do DNA em regiões
nucleossômicas (Chandra et. al, 2000; Hutchins & Barger, 1998; Zimmerman et. al.,
2001).
101 Borges F. V. Justificativa
25
2 – Justificativa
Dentre as várias enfermidades que acometem o homem, o câncer tem mostrado
ser uma das doenças de mais difícil tratamento, visto que ainda não estão disponíveis
no mercado fármacos ou métodos de controle mais práticos e efetivos.
A quimioterapia ainda continua sendo a principal forma de tratamento para a
maior parte dos cânceres, onde aliada à outros tratamentos como a radioterapia
alcança boas taxas de cura e regressão do tumor. Em relação à quimioterapia, a
grande limitação continua sendo o problema gerado pelos efeitos tóxicos dos fármacos
usados durante o tratamento, os quais não são específicos para o tumor e acabam
provocando fortes efeitos colaterais no organismo do paciente, como náuseas, perda de
cabelo e imunodeficiência, que estão entre os mais comuns.
Outro problema muito comum é resistência dos tumores às principais drogas,
intrínseca a alguns tumores e adquirida por outros durante o tratamento, elevando o
número de falhas terapêuticas e mortes.
Por isso, a identificação de novos agentes antitumorais mais potentes, seletivos,
e menos tóxicos, permanecem como uma das mais urgentes metas para o combate ao
câncer.
Borges F. V. Objetivos
26
3 – Objetivos
3.1 – Objetivo Geral Este trabalho tem como objetivo a avaliação da atividade antitumoral do
composto de coordenação mononuclear de ferro [Fe(HPClNOL)(Cl)2]NO3 e dos
compostos dinucleares de ferro [Fe(HPClNOL)Cl]2-µ-O.2NO3.CH3OH e
[Fe(HPClNOL)(SO4)]2-µ-O.9H2O frente às células de origem tumoral humanas.
3.2 – Objetivos específicos
1. Avaliar os efeito dos compostos na viabilidade celular
2. Avaliar a indução de apoptose mediada pelos compostos nas células de
origem tumoral.
3. Determinação da toxicidade dos compostos frente à células mononucleares
do sangue periférico humano.
4. Verificar alterações morfológicas, induzidas pelos compostos, na ultra-
estrutura das células tumorais.
5. Determinar a Dose Letal Mediana (DL50) dos compostos em camundongos
CF1 (suíço-albino).
6. Analisar a provável via de apoptose pela qual os compostos atuam.
Borges F. V. Materiais e Métodos
27
4 – Materiais e métodos 4.1 – Compostos de coordenação
Foram estudados os efeitos de três compostos de coordenação. Um
mononuclear [Fe(HPClNOL)(Cl)2]NO3 (composto 2) e dois dinuclreares,
[Fe(HPClNOL)Cl]2-µ-O.2NO3.CH3OH (composto 1) e [Fe(HPClNOL)(SO4)]2-µ-O.9H2O
(composto 3), onde HPCINOL significa N,N-bis-(piridil-(2-il-metil)[(3-cloro)(2-
hidroxi)]propilamina). Os compostos foram sintetizados no Laboratório de Ciências
Químicas, CCT, UENF, e gentilmente cedidos pela equipe do Professor Adolfo Horn Jr
e Dra. Christiane Fernandes. Os compostos (1) e (2) fazem parte da mesma síntese,
por isso estão representados na mesma figura, (Fig. 10a). O sal FeCl3 que faz parte da
síntese dos compostos (1) e (2), e o sal FeSO4 que faz parte da síntese do composto
(3) também foram testados frente as células tumorais e normais. Os sais foram
utilizados nas maiores concentrações testadas para os compostos, 200µM ou 400µM.
Os três compostos, bem como os sais, foram diluídos em meio D-MEM F12 (Gibco
BRL, EUA) para atingir as concentrações de 400µM, 200µM, 100µM e 50µM.
Borges F. V. Materiais e Métodos
28
Fe
N
N
N
Cl OFe
NHO
Cl
N
N
Cl
OH
Cl
Fe
N
N
N
Cl
OH
Cl
Cl
+NO3 2 NO3.CH3OH
MeOH
N
N
N
Cl
OH
+ FeCl3 + NaNO3
1
N Cl
OHN
N
N
FeN
N
O
Cl
OSO3
N
FeO
N
O3SO
Cl
N
O
H
H
FeSO4.7H2OMeOH
Figura 10 – Esquema de síntese e estrutura dos compostos de coordenação estudados: a)
Composto mononuclear de Ferro Fe(HPClNOL)(Cl)2]NO3 (2) e composto dinuclear de Ferro
[Fe(HPClNOL)Cl]2-µ-O.2NO3.CH3OH (1) e b) Composto dinuclear de Ferro
[Fe(HPClNOL)(SO4)]2-µ-O.9H2O (3).
a
b
Composto 1 Composto 2
Composto 3
Borges F. V. Materiais e Métodos
29
4.2 – Animais utilizados Camundongos de ambos os sexos, suíço albino, com idade mínima de 35 dias e
peso entre 18 e 22g, provenientes do Biotério da UENF foram utilizados para o ensaio
de toxicidade dos compostos.
4.3 – Cultura das linhagens de células de origem tu moral
As células de origem leucêmica humanas THP-1 e HL-60 (linhagens mielóides),
e U937, JURKAT, e MOLT-4 (linhagens linfóides) foram cultivadas em meio D-MEM
F12 (Gibco, BRL) suplementado com 20µg/mL de gentamicina (Gibco, BRL) e 10% de
soro fetal bovino (Gibco, BRL). As culturas foram repicadas a cada 2 dias e mantidas
em estufa (Forma Scientific Inc., modelo 3159) a 37°C, com 5% de CO2 e umidade
controlada.
4.4 – Avaliação da atividade biológica dos composto s de coordenação frente às
células tumorais em cultura
As células leucêmicas citadas no item 4.3 foram plaqueadas em volume de 100
µL/poço (1x106 cels/mL) em placas de 96 poços, tratadas com as drogas nas
concentrações finais de 50µM, 100µM e 200µM para os testes de viabilidade celular
com MTT e para análise de Microscopia Confocal; 50µM, 100µM, 200µM e 400µM para
os testes de indução de apoptose, e 50µM e 100µM para análise por microscopia
eletrônica de transmissão. As células foram mantidas em estufa a 37°C, com 5% de
CO2 e umidade controlada. No tempo de 72 horas as células foram avaliadas quanto a
inibição de crescimento (MTT), após 12, 24 e 36 horas quanto a taxa de apoptose e
necrose por microscopia de fluorescência e para análise por microscopia confocal e
após 24 para análise por microscopia eletrônica de transmissão.
Borges F. V. Materiais e Métodos
30
4.5 – Avaliação dos efeitos citotóxico e citostátic o dos compostos de
coordenação frente às células tumorais
Após tratamento como no item 4.4, a viabilidade celular foi determinada através
do microensaio colorimétrico utilizando MTT [3(4,5-dimethylthiazol-2-yl)-2,5-
diphenyltetrazolium bromide]. As células foram incubadas por 72 horas com os
compostos e após o tempo determinado (72 horas) foram adicionados 10µL de MTT
(Sigma, 5mg/mL) para cada 100µL de cultivo. As placas foram mantidas na estufa por
quatro horas. Após esse período foram retirados 150µL do sobrenadante de cada poço
e depois adicionados 100µL de uma solução de HCl com isopropanol, homogeneizando
bem até a completa dissolução dos cristais de sal formados. A placa de 96 poços foi
lida em espectrofotômetro (MULTISKAN-EX) utilizando o comprimento de onda de
570nm. Os resultados foram analisados através da absorbância de cada poço e os
experimentos foram realizados em triplicatas. Para os experimentos com as linhagens
celulares U937, THP-1 e HL-60 o composto cisplatina foi utilizado com fins
comparativos com os compostos testados na concentração final de 50 µM.
4.6 – Avaliação da apoptose por microscopia de fluo rescência
As células cultivadas com a droga conforme os tempos e concentrações
indicados no item 4.4 (12, 24 e 36 horas) foram coradas com uma solução de 10 µg/mL
laranja de acridina (Sigma) e 10 µg/mL de brometo de etídio (Sigma). Após a
montagem em lâmina e lamínulas, as células foram levadas ao microscópio de
fluorescência (Axioplan – Carl Zeiss) e contadas aproximadamente 300 células em
vários campos escolhidos aleatoriamente, descriminando-se as células apoptóticas,
necróticas e normais. Foram feitas duplicatas para cada condição e os experimentos
foram repetidos pelo menos duas vezes.
Foram adotados padrões convencionais com relação à morfologia e coloração
das células (fig.11):
Borges F. V. Materiais e Métodos
31
• Células vivas: possuem morfologia do núcleo intacta, DNA corado por laranja de
acridina (cor verde).
• Células apoptóticas: condensação da cromatina e fragmentação do núcleo,
DNA corado por laranja de acridina (cor verde), que reflete a membrana plasmática
intacta e não permeável ao brometo de etídio.
• Células necróticas
- primárias: morfologia do núcleo necrótico, corado por brometo de etídio (cor
vermelha).
- secundárias: condensação da cromatina e fragmentação do núcleo, DNA corado por
brometo de etídio (cor vermelha) e laranja de acridina, que demonstra a
permeabilização necrótica da membrana plasmática que permite a entrada do brometo
de etídio.
Figura 11 – Microscopia de Fluorescência de células U937 evidenciando as
características para classificação das células como mencionadas acima em: 1 –
Normais, 2 – Necrose, 3 – Apoptose Primária e 4 – Apoptose-necrose (necrose
secundária). As fotos foram feitas após 24 horas de incubação das células com o
composto (1) na concentração de 200µM.
1
1
1
1
2
3
3
4
4
Borges F. V. Materiais e Métodos
32
A porcentagem de cada população celular – células normais, apoptóticas e
necróticas – em relação ao total foi calculada. Foi considerado para o cálculo da
porcentagem de apoptose as células apoptóticas e as necróticas secundárias, também
chamadas de apoptose-necrose.
4.7 – Avaliação da apoptose pela fragmentação do DN A em gel de agarose
Para avaliação da apoptose pela fragmentação do DNA células U937 e THP-1
foram incubadas com 100 e 200µM dos compostos durante 24 horas. Após esse tempo
as células foram colhidas e centrifugadas a 500xg e o pellet lavado com 1mL de
solução salina (PBS pH 7,4). A extração do DNA foi feita de acordo com as
especificações do fabricante através do kit Enhanced Apoptotic DNA Ladder Detection
Kit (BioVision). O DNA extraído aplicado em gel de agarose a 1,5% em TBE. A corrida
foi realizada a 50V durante 2 horas. Após esse tempo o gel foi corado e visualizado em
transiluminador com luz ultravioleta.
4.8 – Avaliação da toxicidade dos compostos in vitro
4.8.1 – Obtenção de Células Mononucleares do Sangue Periférico (PBMC)
Voluntários saudáveis do Laboratório de Biologia do Reconhecer (UENF) foram
submetidos a coleta de sangue venoso com sistema de tubos "VacutainerTM" (Becton
Dikinson) contendo heparina sódica, para a obtenção das células; foram coletados
20mL de sangue por voluntário.
O sangue total coletado foi lentamente adicionado sobre o Ficoll-Paque™ Plus
(1,08g/mL), na proporção de 2:1 (20mL de sangue para 10mL de Ficoll) em tubos
cônicos de 50 mL, e submetido a centrifugação de fracionamento (500g, à temperatura
Borges F. V. Materiais e Métodos
33
ambiente, próxima a 20ºC, durante 40 minutos). O fracionamento dos componentes do
sangue ocorre por diferença de densidade dos mesmos.
O plasma, que compõe a primeira camada do gradiente obtido, foi descartado.
As células mononucleares do sangue periférico (PBMC) formam a camada logo abaixo
do plasma e das plaquetas, em forma de anel que se dispõe acima do colchão de Ficoll.
Abaixo do Ficoll há o tapete de células polimorfonucleares, que compreende os
granulócitos, e abaixo deste estão os eritrócitos formando o sedimento no fundo do
tubo.
As PBMC coletadas foram lavadas com meio RPMI-1640 (Meio HEPES
modificado – GIBCO-BRL) através de três centrifugações de 500g, a 4ºC durante 10
minutos, cada. Após o processo de lavagem, as células foram ressuspendidas em
RPMI. A partir desta suspensão uma alíquota foi retirada e diluída em Azul de Tripan
(0,2%), para a realização da contagem do número de células e avaliação da viabilidade.
As contagens foram feitas em câmara de Neubauer. As células foram colocadas em
garrafas de cultivo (25cm2, Corning) para que os monócitos aderissem. Após 2 horas, o
sobrenadante, sem os monócitos, foi colhido e as células plaqueadas como descrito no
próximo item.
Toda a manipulação com o sangue e PBMC, exceto a contagem das células, foi
feita em condições estéreis, em capela de fluxo laminar.
4.8.2 – Avaliação da toxicidade dos compostos frente às Células Mononucleares do
Sangue Periférico
As PBMCs separadas como no item 4.8.1 foram cultivadas em placas de 96
poços, nas quais foram distribuídas numa quantidade aproximada de 1,0 x 106
células/poço. O meio utilizado para cultura e para diluição dos compostos foi RPMI –
1640 (GIBCO BRL) suplementado com 10% de soro fetal bovino e com antibiótico
Gentamicina 20µg/mL (GIBCO BRL). As células foram cultivadas na presença dos
Borges F. V. Materiais e Métodos
34
compostos e na presença do ativador inespecífico enterotoxina B estafilocócica (SEB –
0,25µg/mL). A avaliação da viabilidade das células mononucleares do sangue periférico
foi feita também através do ensaio com MTT como no item 4.5 e o ensaio para
avaliação de apoptose foi feito por microscopia de fluorescência como no item 4.6, nas
mesmas concentrações e tempos utilizados para as células tumorais. Para o ensaio de
toxicidade com MTT o composto cisplatina foi utilizado com fins comparativos com os
compostos testados na concentração final de 50 µM.
4.9 – Análise da funcionalidade mitocondrial por Mi croscopia Confocal
A microscopia confocal foi utilizada com a finalidade e analisar alterações
funcionais nas mitocôndrias de células tumorais tratadas com os compostos. Para
avaliar a atividade mitocôndrial foi utilizado o marcador fluorescente rodamina 123
[metil-O-(6-amino-3’-imino-3H-xantem-9il benzoato monoclorídrico)]. Este marcador
acumula-se seletivamente nas mitocôndrias funcionais de uma maneira dependente do
potencial transmembrana. Células U937 foram incubadas com os compostos nas
concentrações de 50, 100 e 200µM de acordo com o item 4.4, porém obedecendo a
uma cinética inversa (36, 24 e 12 horas). Após as últimas 12 horas a solução estoque
de rodamina (1mg/mL) foi diluída diretamente em meio DEMEM-F12 (Gibco BRL, EUA)
para obter uma concentração de 10µg/mL. As culturas foram incubadas por 30 minutos,
no escuro, e observadas usando laser de argônio de 543nm. As micrografias das
células U937 foram tiradas no Microscópio Confocal modelo CLSM (Zeiss, Alemanha).
Borges F. V. Materiais e Métodos
35
4.10 – Análise das células tumorais tratadas com os compostos por Microscopia
Eletrônica de Transmissão (M.E.T.)
Para verificar alterações morfológicas nas células tumorais tratadas com os
compostos as mesmas, após tratadas, foram processadas para analise por M.E.T.
Células U937 foram descongeladas e deixadas crescer durante 24 horas de acordo
com o item 4.3. Após esse tempo, foram adicionados os compostos diretamente no
meio das células nas concentrações de 50 e 100µM. As células foram mantidas em
estufa a 37°C, com 5% de CO2 e umidade controlada durante 24 horas.
Após o período de incubação com os compostos, as células foram centrifugadas,
por 10 min a 1200rpm e lavadas 3 vezes com Tampão Salina Fosfato (PBS, pH 7,2). O
pellet foi fixado por 1 h em solução de Karnovsky (1% GA, 4% PA, 5mM CaCl2, 5%
sacarose e tampão CaCo 0,1M). Após a fixação as células foram lavadas 3 vezes em
uma solução de 5% sacarose e 0,1M de tampão CaCo e pós-fixadas por 2h protegido
da luz em solução 1:1 de ósmio e Ferrocianeto de potássio. Após o período de pós-
fixação as células foram lavadas 2x, desidratadas sequencialmente em soluções de
acetona (30, 50, 70, 90 e 100%) e deixadas overnight em uma solução 1:1 de acetona e
resina epóxi (EPON). A solução foi então trocada por epon puro e os tubos colocados
em estufa para polimerização da resina durante 48 horas. Os blocos polimerizados
foram seccionados em ultramicrótomo e as seções ultrafinas colocadas em grades de
cobre. As micrografias das células U937 foram tiradas no Microscópio Eletrônico de
Transmissão modelo TEM-900 (Zeiss, Alemanha).
Borges F. V. Materiais e Métodos
36
4.11 – Determinação da toxicidade dos compostos in vivo
Para o ensaio de toxicidade in vivo foram utilizados somente os compostos 2 e 3,
sintetizados em maior quantidade. Camundongos suíço albino, não isogênicos, de
ambos os sexos, como massa média de 20g, foram inoculados com diferentes
concentrações da droga via intraperitoneal. O camundongos foram separados em
grupos de 4 animais para cada um dos compostos, totalizando 6 grupos por composto.
Foram utilizadas 5 concentrações de ambos os compostos de acordo com cada grupo
(50, 75, 100, 150 e 250 mg kg-1). O 6° grupo foi inoculado apenas com o veículo (água
ultra-pura e DMSO ou apenas água), sendo, portanto, o grupo controle. A mortalidade
dos animais foi acompanhada por até 72 horas. Após esse tempo foi determinada a
DL50 dos compostos in vivo através do programa Graph Pad versão 4.0
4.12 – Análise estatística
As análises estatísticas foram feitas para os testes de viabilidade e indução de
apoptose utilizando o programa Graph Pad versão 4.0. Para ambos os experimentos foi
utilizado o teste estatístico One-way ANOVA. As diferenças significativas foram
consideradas como P<0,05, P<0,01 e P<0,001.
Borges F. V. Resultados
37
5 – Resultados
5.1 – Avaliação do efeito dos compostos na viabilid ade celular
O experimento para avaliação do efeito citotóxico ou citostático dos compostos
foi realizado através do microensaio colorimétrico utilizando MTT [3(4,5-dimethylthiazol-
2-yl)-2,5-diphenyltetrazolium bromide].
Todos os compostos testados foram capazes de reduzir a viabilidade das
linhagens de células testadas, sendo que o composto (1) se mostrou mais eficaz dentre
os três compostos. Como pode ser observado na figura 12 a menor concentração do
composto (50µM) foi capaz de inibir o crescimento da linhagem HL-60. Nessa mesma
figura pode ser visto também que essa linhagem foi a que mostrou maior resistência
frente aos compostos (2) e (3), quando comparada com as demais linhagens celulares
testadas.
As linhagens JURKAT e MOLT-4 (fig.13) também se mostraram um pouco mais
resistentes ao composto (3) para a concentração de 50µM. Para as concentrações de
100 e 200µM todos os compostos foram satisfatórios na redução da viabilidade celular,
quando comparados aos controles após 72 horas de incubação (figs.12 e 13). A
linhagem celular U937 mostrou ser a mais susceptível aos compostos. Sua viabilidade
foi reduzida aproximadamente em 90% após 72 horas, mesmo na menor concentração
para todos os compostos.
Borges F. V. Resultados
38
Figura 12 – Efeito citotóxico dos compostos (1), (2) e (3) e dos sais FeCl3 e FeSO4 frente às
células leucêmicas humanas U937, THP-1 e HL-60 após 72 horas de incubação. A avaliação foi
feita através do microensaio colorimétrico utilizando MTT. O composto cisplatina foi usado como
controle positivo. n=3; **P<0,01.
THP-1 - Mielóide (72 horas)
0
Sal(20
0µM) 50 10
020
0
Cis(50
M) 0
Sal(20
0µM) 50 10
020
0
Cis(50
M) 0
Sal(20
0µM) 50 10
020
0
Cis(50
M)0.00.10.20.30.40.50.60.70.80.91.01.11.21.31.41.51.6
******************** ****
Concentração ( µµµµM)
DO
570
U937 - Linfóide (72 horas)
0
Sal(20
0µM
) 50 100
200
Cis (5
0M) 0
Sal(20
0µM
) 50 10020
0
Cis (5
0M) 0
Sal(20
0µM
) 50 10020
0
Cis (5
0M)
0.00.10.20.30.40.50.60.70.80.91.01.11.21.31.41.51.6
**** **
Composto 1Composto 2Composto 3
******************
Concentração ( µµµµM)
DO
570
HL-60 - Mielóide (72 horas)
0
Sal (2
00µM
) 50 100
200
Cis (5
0µM
) 0
Sal (2
00µM
) 50 100
200
Cis (5
0µM
) 0
Sal (2
00µM) 50 10
020
0
Cis (5
0µM
)0.00.10.20.30.40.50.60.70.80.91.01.11.21.31.41.51.6
** ****** **************
Concentração ( µµµµM)
DO
570
Borges F. V. Resultados
39
Figura 13 – Efeito citotóxico dos compostos (1), (2) e (3) e dos sais FeCl3 e FeSO4 frente às
células leucêmicas humanas MOLT-4 e JURKAT após 72 horas de incubação. A avaliação foi
feita através do microensaio colorimétrico utilizando MTT. n=3; *P<0,05, **P<0,01.
JURKAT - Linfóide (72 horas)
0
Sal(20
0µM) 50 10
020
0 0
Sal(20
0µM) 50 10
020
0 0
Sal(20
0µM) 50 10
020
0
0.00.10.20.30.40.50.60.70.80.91.01.11.21.31.41.51.6
Composto 1
Composto 3
Composto 2
***
** ****** ******
Concentração ( µµµµM)
DO
570
MOLT-4 - Linfóide (72 horas)
0
Sal (2
00µM) 50 10
020
0 0
Sal (2
00µM
) 50 100
200 0
Sal (2
00µM) 50 10
020
0
0.00.10.20.30.40.50.60.70.80.91.01.11.21.31.41.51.6
**
**
** ************
Concentração ( µµµµM)
DO
570
Borges F. V. Resultados
40
Para avaliar a toxicidade dos compostos in vitro, células mononucleares do
sangue periférico (PBMC) de indivíduos normais foram incubadas com os compostos.
Após os tempos determinados, as células foram avaliadas quanto à inibição de
crescimento, também pelo ensaio colorimétrico com MTT.
. As células normais, assim como as células tumorais foram incubadas com os
compostos nas concentrações de 50, 100 e 200µM. Após 72 horas o MTT foi
adicionado à cultura, que ficou incubada em estufa por mais 4 horas. Após esse tempo
os cristais de MTT formados pelo metabolismo celular foram dissolvidos utilizando uma
solução de isopropanol e HCl. A densidade ótica foi então determinada em um
espectrofotômetro utilizando comprimento de onda de 570nm. O composto cisplatina
(50µM), foi utilizado para fins comparativos com os compostos testados.
A figura 14 mostra que o composto 3 foi o que menos interferiu na viabilidade
celular, mesmo na concentração de 200µM após 72 horas. Nas concentrações de 50 e
100µM não houve diferença significativa quando comparado ao grupo controle
(P>0,05). Os compostos 1 e 2 assim como a cisplatina reduziram a viabilidade celular
em 50% após 72 horas.
Borges F. V. Resultados
41
Figura 14 – Efeito citotóxico dos compostos (1), (2) e (3) e dos sais FeCl3 e FeSO4 frente às
células humanas normais (PBMC) após 72 horas de incubação. A avaliação foi feita através do
microensaio colorimétrico utilizando MTT. n=3; *P<0,05, **P<0,01, P>0,05 para as
concentrações de 50 e 100µM do composto 3.
PBMC (72 horas)
0
Sal (2
00µM
) 50 100
200
Cis (2
5µM
) 0
Sal (2
00µM
) 50 100
200
Cis (2
5µM
) 0
Sal (2
00µM
) 50 100
200
Cis (2
5µM
)0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.35
0.40
0.45
0.50
0.55
Composto 1
Composto 3
Composto 2
****
****
**
*** **
********
Concentração ( µµµµM)
DO
570
Borges F. V. Resultados
42
5.2 – Avaliação da indução de apoptose em células t umorais mediada pelos
compostos
Devido à indução de apoptose ser o resultado de diferentes mecanismos de ação
de várias drogas antineoplásicas, como exemplo o taxol (Blagosklonny et al., 1996) e a
cisplatina (Gonzalez et al., 2001), a análise de indução de apoptose é usada como um
método de triagem de compostos com ação antitumoral.
A taxa de apoptose induzida pelos três compostos foi analisada utilizando a
microscopia de fluorescência, pelo método de coloração de células com os corantes de
DNA, laranja de acridina e brometo de etídio. Laranja de acridina, um corante vital,
entra nas células através da membrana intacta e interage com o DNA pelo
intercalamento de bases ou interações eletrostáticas. Quando ligada ao DNA se torna
espectralmente similar a fluoresceína, com um máximo de excitação em 502nm e
máximo de emissão em 525nm, resultando em uma coloração verde. Ao contrário o
brometo de etídio é capaz de penetrar apenas em células com membrana rompida e
deixa o núcleo com uma coloração alaranjada (Kosmider et al., 2004). Os parâmetros
para discriminação das células estão descritos no item 6.4.4 de acordo com Coligan et
al, 1992.
Após a incubação com os diferentes compostos as células foram coradas,
levadas ao microscópio de fluorescência e discriminadas em normais, apoptóticas e
necróticas, segundo os parâmetros descritos acima, para os três tempos determinados
(12, 24 e 36 horas).
A figura 15 mostra a porcentagem de apoptose induzida pelo composto (1) em
cinco linhagens de células leucêmicas humanas (THP, U937, HL-60, JURKAT e MOLT-
4) após 12, 24 e 36horas. Podemos observar nos gráficos dessa figura que o composto
(1) foi capaz de induzir altas taxas de apoptose em todas as linhagens de células
leucêmicas quando comparado com os controles já em 24 horas, principalmente na
concentração de 400µM. Em 36 horas já observamos uma taxa de mais de 50% de
apoptose para todas as células na concentração de 200µM. Assim como nos
experimentos de viabilidade celular a linhagem celular U937 mostrou ser a mais
Borges F. V. Resultados
43
suscetível dentre as outras, apresentando 67,5% de apoptose após 36 horas na
concentração de 100µM e de quase 100% na concentração de 200µM.
Os compostos (2) (fig.16) e (3) (fig.17) se mostraram menos eficazes que o
composto (1) na indução de apoptose em todas as linhagens de células. A exceção foi
a linhagem celular MOLT-4 que se mostrou mais suscetível ao composto (3),
ultrapassando 40% de apoptose já em 12 horas na concentração de 100 µM.
A linhagem celular U937 se mostrou mais suscetível ao composto (2) do que ao
composto (3), apresentando 65,6% de apoptose na concentração de 200µM após 24
horas para o composto (2) e apenas 24,1% de apoptose para o composto (3) no
mesmo tempo.
O contrário foi observado para linhagem celular JURKAT, que apresentou 43%
de apoptose após 36 horas na concentração de 200µM para o composto (3) e apenas
20% de apoptose para o composto (2) no mesmo tempo e mesma concentração.
De maneira interessante a linhagem celular THP-1 se mostrou resistente aos
compostos (2) e (3) quando comparados com o composto (1). Mesmo na concentração
mais elevada (400µM) e após 36 horas, ambos os compostos induziram um baixo
percentual de apoptose. Como pode ser observado nas figuras 16 e 17, os compostos
(2) e (3) induziram apenas 13% e 35% de apoptose respectivamente para a
concentração de 400µM. A linhagem celular HL-60 também foi mais resistente ao
composto 3, mesmo em altas concentrações (fig. 17) quando comparado com os outros
compostos.
As taxas de necrose não excederam os 3% para todos os compostos em todas
as concentrações, mesmo após 36 horas (dados não apresentados).
Borges F. V. Resultados
44
Figura 15 – Porcentagem de apoptose induzida pelo composto (1) em cinco linhagens de
células leucêmicas humanas (U937, THP-1, MOLT-4, JURKAT e HL-60), determinada por
microscopia de fluorescência em três tempos diferentes, 12, 24 e 36 horas. n = 2; *P<0,05,
**P<0,01,***P<0,001.
U937
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
***
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
***
**
***
***
***
***
**
***
THP-1
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
**
***
******
***
***
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
* *
MOLT-4
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
* ****
***
***
******
JURKAT
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose ***
***
***
***
*
***
***
***
HL-60
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
12 h24 h36 h
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
***
******
***
***
***
Borges F. V. Resultados
45
Figura 16 – Porcentagem de apoptose induzida pelo composto (2) em cinco linhagens de
células leucêmicas humanas (U937, THP-1, MOLT-4, JURKAT e HL-60), determinada por
microscopia de fluorescência em três tempos diferentes, 12, 24 e 36 horas. n = 2; *P<0,05,
**P<0,01, ***P<0,001.
U937
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
***
***
***
***
***
***
***
THP-1
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
** *
MOLT-4
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
***
***
**
***
***
JURKAT
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
* ** *****
***
***
HL-60
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
12 h24 h36 h
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
****
***
***
******
Borges F. V. Resultados
46
Figura 17 – Porcentagem de apoptose induzida pelo composto (3) em cinco linhagens de
células leucêmicas humanas (U937, THP-1, MOLT-4, JURKAT e HL-60), determinada por
microscopia de fluorescência em três tempos diferentes, 12, 24 e 36 horas. n = 2; *P<0,05,
**P<0,01, ***P<0,001.
U937
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
*****
***
***
******
*
THP-1
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
* * * ****
***
MOLT-4
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
* *****
***
***
****** ***
******
***
***
JURKAT
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
**
***
***
***
***
***
****
HL-60
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
12 h24 h36 h
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
******
Borges F. V. Resultados
47
Os compostos foram testados também em células humanas normais (PBMC)
para determinar seu percentual de apoptose frente a essas células. Após a incubação
com os diferentes compostos as células foram coradas, levadas ao microscópio de
fluorescência e discriminadas em normais, apoptóticas e necróticas, segundo os
mesmos parâmetros descritos para células tumorais.
A figura 18 mostra a porcentagem de apoptose induzida pelos compostos (1), (2)
e (3) em células mononucleares do sangue periférico de doadores saudáveis após 12,
24, e 36 horas. Ao contrário do que ocorreu para células tumorais, os compostos 1 e 3
foram menos tóxicos quando comparados com o composto 2. O composto 2 foi o
menos ativo frente às células tumorais e o que mais induziu apoptose em células
normais. Os compostos 1 e 3 induziram altas taxas de apoptose nas concentrações de
200µM após 36 horas (83%) e 400µM após 24 e 36 horas (80 e 82% respectivamente),
enquanto que o composto 2 induziu altas taxas de apoptose já em 24 horas numa
concentração de 200µM (74,5%) e após 36 horas numa concentração de 100µM
(81,4%).
Borges F. V. Resultados
48
Figura 18 – Porcentagem de apoptose induzida pelo composto (1), (2) e (3) em células
mononucleares do sangue periférico de um individuo normal (PBMC), determinada por
microscopia de fluorescência em três tempos diferentes, 12, 24 e 36 horas. n=2, *P<0,05,
**P<0,01, ***P<0,001.
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Composto 1
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
*
**
******
***
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Composto 2
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
*
*****
*********
**
Composto 3
0.0 50.0 100.0 200.0 400.00
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
12 h24 h36 h
Concentração ( µµµµM)
% A
popt
ose
****
***
******
Borges F. V. Resultados
49
5.2.1 – Avaliação da indução de apoptose mediada pelos sais dos compostos
Os sais FeCl3 e FeSO4 fazem parte das sínteses dos compostos (1) e (2) e do
composto 3, respectivamente. Ambos os sais foram testados a uma concentração de
400µM (maior concentração testada para os compostos) frente às mesmas cinco
células tumorais utilizadas nos testes anteriores (U937, THP-1, JURKAT, MOLT-4 e HL-
60) bem como frente as células normais (PBMC).
As figuras 19 e 20 mostram a taxa de apoptose induzida pelos sais comparada
com a apoptose ocorrida no grupo controle (células sem os compostos, nos gráficos é
mostrado como zero). Como podemos observar pelos gráficos, não houve diferença
significativa (P>0,05) entre as taxas de apoptose nas células tratadas com os sais
quando comparadas com o grupo controle. Nenhum dos dois sais foi capaz de induzir
apoptose em nenhuma das células testadas, inclusive nas células normais. As taxas de
apoptose só chegaram a 10% (após 36 horas) para células normais. Isso ocorre devido
às células normais serem mais suscetíveis a morrerem do que as células tumorais em
condições de cultivo, principalmente pelo fato de não conseguirem se dividir quando
não estão sob ativação. Por isso pode-se perceber também uma taxa de
aproximadamente 10% de apoptose no grupo controle.
Os sais também não induziram necrose (menos que 1%) em nenhuma das
células testadas, mesmo nas células normais (resultado não apresentado).
Borges F. V. Resultados
50
Figura 19 – Porcentagem de apoptose induzida pelo sal FeCl3, que faz parte da síntese dos
compostos (1) e (2), em cinco células leucêmicas humanas (U937, THP-1, MOLT-4, JURKAT e
HL-60) e em células normais (PBMC) determinada por microscopia de fluorescência em três
tempos diferentes, 12, 24 e 36 horas. n = 2; P>0,05.
U937
0 FeCl3 (400µM)0
102030405060708090
100
% A
popt
ose
THP-1
0 FeCl3 (400µM)0
102030405060708090
100
% A
popt
ose
JURKAT
0 FeCl3 (400µM)0
102030405060708090
100
% A
popt
ose
MOLT-4
0 FeCl3 (400µM)0
102030405060708090
100
% A
popt
ose
HL-60
0 FeCl3 (400µM)0
102030405060708090
100
% A
popt
ose
PBMC
0 FeCl3 (400mM)0
102030405060708090
10012 h24 h36 h
% A
popt
ose
Borges F. V. Resultados
51
Figura 20 – Porcentagem de apoptose induzida pelo sal FeSO4, que faz parte da síntese
apenas do composto 3, em cinco células leucêmicas humanas (U937, THP-1, MOLT-4,
JURKAT e HL-60) e em células normais (PBMC) determinada por microscopia de fluorescência
em três tempos diferentes, 12, 24 e 36 horas. n = 2; P>0,05.
U937
0 FeSO4 (400µM)0
102030405060708090
100
% A
popt
ose
THP-1
0 FeSO4 (400µM)0
102030405060708090
100
% A
popt
ose
JURKAT
0 FeSO4 (400µM)0
102030405060708090
100
% A
popt
ose
MOLT-4
0 FeSO4 (400µM)0
102030405060708090
100
% A
popt
ose
HL-60
0 FeSO4 (400µM)0
102030405060708090
100
% A
popt
ose
PBMC
0 FeSO4 (400mM)0
102030405060708090
10012 h24 h36 h
% A
popt
ose
Borges F. V. Resultados
52
5.3 – Cálculo de dose efetiva 50% dos compostos (IC 50)
Para efeito de uma melhor comparação da atividade dos compostos frente as
diferentes células testadas foi feito o cálculo de dose efetiva 50% (concentração dos
compostos capaz de induzir morte em 50% das células tratadas). A IC50 foi determinada
utilizando o programa GraphPad Prism versão 4.0. através da curva de regressão não
linear, a partir dos dados apresentados nas figuras 15, 16 e 17.
Analisando os dados da tabela 2 pode-se observar, em geral, que o composto 1
possui os menores valores de IC50 e o composto 2 os maiores. A menor IC50 foi obtida
no tratamento das células U937 com o composto 1, onde 82,2 µM é capaz de induzir
morte em 50% das células após 36 horas. Pela tabela pode também perceber o quanto
as células THP-1 são resistentes aos compostos 2 e 3.
Tabela 2: Dose efetiva 50% dos compostos de ferro 1, 2 e 3.
Composto 1 (µM) Linhagem Celular 12 horas 24 horas 36 horas
U937 HL-60
MOLT-4 JURKAT THP-1
> 400 148,2 ± 1,06 82,2 ± 1,01 291,9 ± 1,04 203,2 ± 1,04 187,7 ± 1,02 > 400 331,4 ± 1,06 178,7 ± 1,08 > 400 289,5 ± 1,03 153,7 ± 1,02 > 400 212,3 ± 1,12 156,4 ± 1,04
Composto 2 (µM) Linhagem Celular 12 horas 24 horas 36 horas
U937 HL-60
MOLT-4 JURKAT THP-1
> 400 177,1 ± 1,08 109,9 ± 1,03 > 400 > 400 237,9 ± 1,03 > 400 > 400 300,2 ± 1,02 > 400 > 400 > 400 > 400 > 400 > 400
Composto 3 (µM) Linhagem Celular 12 horas 24 horas 36 horas
U937 HL-60
MOLT-4 JURKAT THP-1
> 400 289,1 ± 1,01 171,4 ± 1,02 > 400 > 400 >400 > 400 184,0 ± 1,12 104,4 ± 1,04 > 400 264,8 ± 1,04 207,8 ± 1,05 > 400 > 400 > 400
Borges F. V. Resultados
53
5.4 – Avaliação de apoptose por fragmentação de DNA em gel de agarose
O método DNA laddering foi utilizado para verificar a fragmentação
internucleosomal do DNA das céulas tumorais, para confirmar a apoptose induzida
pelos compostos. Células THP-1 e U937 foram incubadas durante 24 horas com 100 e
200µM dos compostos (1), (2) e (3). Após esse tempo, as células foram lavadas em
PBS (pH 7,4) e o DNA foi extraído através do kit Enhanced Apoptotic DNA Ladder
Detection Kit (BioVision). Após a extração, as amostras foram aplicadas em gel de
agarose 1,5% e a corrida foi feita a 50V durante 2 horas. O gel foi então corado,
visualizado e foto-documentado em transiluminador com luz ultravioleta.
Como pode ser observado na figura 21, todos os compostos foram capazes de
induzir fragmentação do DNA em células U937, tanto em 200µM quanto em 100µM
após 24 horas de incubação. Contudo, para a linhagem THP-1 somente o composto 1
foi capaz de induzir fragmentação do DNA em ambas as concentrações (200 e 100µM)
após 24 horas (fig. 22). O composto (2) não foi capaz de induzir apoptose nessa
linhagem celular em nenhuma das concentrações testadas e o composto (3) induziu
apoptose somente na concentração de 200µM.
Borges F. V. Resultados
54
Padrão C1-200 C1-1 00 C2-200 C2-100 C3-200 C3-100 Controle (µM)
Figura 21 – Eletroforese em gel de agarose para detecção de fragmentação do DNA de
células U937 tratadas com 100 e 200µM dos compostos (1), (2) e (3) durante 24 horas.
Padrão C1-200 C1-100 C2-200 C2-100 C3 -200 C3-100 Controle (µM)
Figura 22 – Eletroforese em gel de agarose para detecção de fragmentação do DNA de
células THP-1 tratadas com 100 e 200µM dos compostos (1), (2) e (3) durante 24
horas.
Borges F. V. Resultados
55
5.5 – Avaliação da atividade mitocôndrial através d e Microscopia Confocal (M.C.)
Para verificar a provável interação da mitocôndria com os compostos, foi utilizado
o corante fluorescente rodamina 123. Este marcador acumula-se seletivamente nas
mitocôndrias funcionais de uma maneira dependente do potencial transmembrana.
Céluas U937 foram incubadas com diferentes concentrações dos 3 compostos
durante 12, 24 e 36 horas. Após os tempos determinados a rodamina foi adicionada às
culturas, que foram mantidas no escuro por 30 minutos. Após esse tempo as células
foram observadas e em microscópio confocal utilizando um laser de argônio de 543nm.
A prancha 1 (a) e (b) mostra células U937 sem o tratamento com os compostos
(grupo controle). Nessas células observa-se que as mitocôndrias se encontram
organizadas na periferia da célula, ou seja, ao redor do núcleo, que nessas células
ocupa a maior parte do citoplasma. Na prancha 2, que mostra as células tratadas com
os compostos nas diferentes concentrações e tempos, pode-se notar que a
fluorescência é quase que uniforme por todo citoplasma da célula. Mesmo em 12 horas,
numa concentração de 100µM, para o composto (3) ou após 24 horas numa
concentração de 50µM para o composto (1) já se observa uma marcação uniforme por
toda a célula. Isso sugere o comprometimento mitocôndrial durante o processo de
apoptose.
Borges F. V. Resultados
56
Prancha 1 – Microscopia Confocal de células U937 analisadas após 36 horas. (a) e (b) controle
(células sem os compostos). A fluorescência se concentra ao redor do núcleo, aonde se encontra um
grande número de mitocôndrias.
b
a
25µm
Borges F. V. Resultados
57
b a
d c
e f 10µm
Borges F. V. Resultados
58
Prancha 2 – Microscopia Confocal de células U937 incubadas durante 12, 24 ou 36 horas com os
compostos 1, 2 e 3. (a) células incubadas durante 24 horas com 50µM do composto 1. (b) Células
incubadas com 200µM do composto 1 durante 12 horas. (c) células incubadas com 100µM do
composto 2 durante 24 horas. (d) células incubadas com 50µM do composto 2 durante 36 horas. (e)
células incubadas com 100 µM do composto 3 durante 12 horas. (f) células incubadas com 100 µM do
composto 3 durante 36 horas. Fluorescência difusa por todo citoplasma celular, evidenciando um
comprometimento mitocôndrial durante o processo de apoptose.
Borges F. V. Resultados
59
5.6 – Análise das células tumorais tratadas com os compostos por Microscopia
Eletrônica de Transmissão (M.E.T.)
A fim de avaliar as alterações induzidas pelos compostos, na ultra-estrutura das
células tumorais, as mesmas foram analisadas por Microscopia eletrônica de
transmissão. A linhagem celular monocítica U937 foi escolhida por ter se mostrado a
mais sensível aos compostos nos testes de indução de apoptose. As células foram
incubadas durante 24 horas com 50 e 100µM dos compostos. Após o tempo
determinado, as células foram lavadas e processadas de acordo com o item 4.9 para
posterior visualização em microscópio eletrônico de transmissão.
A prancha 3 mostra células U937 não tratadas (grupo controle) e tratadas com
50 e 100µM do composto (1) durante 24 horas. Podemos notar nas células normais que
o núcleo é grande e disforme, com cromatina difusa e não condensada. As
mitocôndrias e o RE aparecem normais e em grande número. Nas células tratadas com
o composto (1) podemos notar, mesmo em 50µM, áreas condensadas de cromatina na
periferia do núcleo e o inicio da fragmentação nuclear, marcas típicas de apoptose
(prancha 3c). Em 100µM, após 24 horas, observa-se a total fragmentação nuclear, o
colapso do reticulo endoplasmático e inúmeros vacúolos presentes no citoplasma
(prancha 3d). Tais características são marcas mais avançadas do processo de
apoptose.
A prancha 2 mostra os efeitos dos compostos (2) e (3) na ultra-estrutura das
células U937 após 24 horas. Em 50µM já aparecem áreas de cromatina condensada na
periferia do núcleo (prancha 4a). Com 100µM as áreas de cromatina condensada
aumentam, o núcleo começa a se encolher e já pode ser observado o inicio da
formação dos corpos apoptóticos e blebbing de membrana (prancha 4b). Para o
composto (3) o processo é semelhante. Com 50µM do composto já são observadas
áreas de cromatina condensada na periferia do núcleo (prancha 4c). Na concentração
de 100µM podemos notar a intensa condensação da cromatina e núcleo picnótico.
Borges F. V. Resultados
60
Prancha 3 – Efeito do tratamento com composto 1 na morfologia ultra-estrutural de células
U937 visualizado por microscopia eletrônica de transmissão. (a) e (b), grupo controle, células
sem os compostos. (c), células incubadas com 50µM do composto 1 durante 24 horas,
cromatina começa a se condensar na periferia. (d), células incubadas com 100µM do
composto 1 durante 24 horas, núcleo fragmentado, vacúolos são observados. M –
mitocôndria, N – núcleo, RE – Reticulo endoplasmático, V – vacúolos.
M
RE
N
N
N
N N
N
c d
M
M
RE
RE
RE
V
a b
2µm
Borges F. V. Resultados
61
Prancha 4 – Efeito do tratamento com os compostos 2 e 3 na morfologia ultra-estrutural de
células U937 visualizado por microscopia eletrônica de transmissão. (a), células incubadas
com 50µM do composto 2, cromatina condensada na periferia da célula. (b), células incubadas
com 100µM do composto 2, formação de corpos apoptóticos, núcleo diminui de tamanho. (c),
células incubadas com 50µM do composto 3, cromatina condensada na periferia da célula. (d),
células incubadas com 100µM do composto 3, encolhimento celular, núcleo pequenótico. M –
mitocôndria, N – núcleo, RE – Reticulo endoplasmático.
2µm
a
c
b
d
N
RE
M N
N
N
M
RE
M
Borges F. V. Resultados
62
5.7 – Determinação da toxicidade dos compostos in vivo (DL50)
A fim de verificar a toxicidade dos compostos in vivo, camundongos suíço albino,
não isogênicos, com 4-5 semanas, foram separados em grupos de 4 animais para cada
umas das concentrações para ambos os compostos (2 e 3). As concentrações
utilizadas para os dois compostos foram: 50, 75, 100, 150 e 250 mg kg-1. A figura 23
mostra a porcentagem de animais vivos de acordo com a concentração crescente dos
compostos. Os animais foram acompanhados por até 72 horas.
Como mostrado nos gráficos da figura 23, o composto (2) foi o mais tóxico para
os animais, causando a morte de 40% dos animais na concentração de 100 mg kg-1. A
DL50 para esse composto foi calculada em 108,5 mg kg-1. Assim como observado nos
experimentos in vitro o composto (3) foi menos tóxico para os camundongos. Podemos
observar no gráfico que até a concentração de 100 mg kg-1 todos os animais
permaneceram vivos após 72 horas. A DL50 para esse composto foi calculada em 147,2
mg kg-1.
Borges F. V. Resultados
63
Figura 23 – Ensaio de toxicidade in vivo dos compostos de coordenação 2 e 3. O
animais foram inoculados via intraperitoneal com diferentes concentrações dos
compostos testados. Os gráficos mostram a porcentagem de animais vivos de acordo
com a concentração dos compostos.
0 50 100 150 200 250 3000
102030405060708090
100110
Composto 2
mg/kg
Ani
mai
s vi
vos
(%)
0 50 100 150 200 250 3000
102030405060708090
100110
Composto 3
mg/kg
Ani
mai
s vi
vos
(%)
Borges F. V. Discussão
64
6 – Discussão O câncer se origina devido ao mau funcionamento de vários sistemas de
controle de uma célula (Sompayrac, 2004). Sem a ação adequada dos sistemas de
controle essa célula mutante sofre uma proliferação anormal que leva a formação de
uma população de células tumorais que cresce ativamente. A progressão do tumor
continua com mutações adicionais que ocorrem nas células em proliferação. Essas
mutações podem ter uma variedade de efeito nas células, mas eventualmente
resultam em um crescimento ainda mais acelerado (Cooper, 1993).
A quimioterapia ainda é hoje o tratamento terapêutico mais utilizado contra a
maior parte dos cânceres, sendo administrada sozinha ou em conjunto com outras
técnicas. No entanto, a resistência intrínseca e extrínseca a drogas antitumorais é o
maior obstáculo para o seu sucesso (Kohno et al., 2005). Desta forma, existem
diversas pesquisas em busca de novas drogas que possam atuar de forma mais
eficaz. Entre as abordagens utilizadas na busca de novas drogas está a síntese de
compostos metálicos que possam interagir com a molécula de DNA, baseada na
descoberta de que a o composto cis-[Pt(NH3)2Cl2] (cisplatina), age através dessa
interação (Burrows e Muller, 1998).
O composto cisplatina é administrado por via intravenosa e devido aos níveis
de íons cloreto na corrente sanguínea ser relativamente alto (100 mM) isso suprime
a hidrólise e mantêm o composto em um estado neutro. Uma vez dentro da célula a
concentração do íon cloreto diminui (~20 mM) facilitando a hidrólise. Isso resulta em
uma forma ativada cis-[Pt(NH3)2Cl(OH2)]+ (Jamieson e Lippard, 1999). Essas
espécies aquosas carregadas positivamente podem reagir com sítios nucleofílicos
de algumas macromoléculas intracelulares, formando aductos em proteínas, RNA e
DNA. Esses aductos por sua vez, bloqueiam a replicação e a transcrição do DNA
induzindo morte celular através de mecanismos de apoptose ou necrose (Fuertes et.
al., 2003).
Dentre os compostos sintetizados como esse objetivo, estão os compostos
produzidos pela equipe dos professores Adolfo Horn Jr e Christiane Fernandes.
Fernandes e colaboradores em 2006 demonstraram que o composto de
coordenação [Cu(HPClNOL)Cl]Cl foi capaz de clivar o DNA plasmidial pB II KS+ e
Borges F. V. Discussão
65
induzir apoptose em células THP-1. Acredita-se que o mecanismo de clivagem do
DNA utilizado seja via hidrólise, uma vez que os experimentos conduzidos na
ausência e presença de oxigênio mostraram resultados similares. A clivagem da
forma superenovelada e da forma linear foram significativamente diferentes mesmo
na presença de oxigênio. Além disso, o mecanismo aceito para a clivagem via
hidrólise por alguns complexos metálicos é pela substituição de moléculas lábeis por
um grupo fosfato do DNA, seguido de um ataque nucleófilo intramolecular, não
liberando desta forma o fosfato, que permanece coordenado ao cobre, para a
religação da fita de DNA. Outro composto sintetizado pelo mesmo grupo também foi
testado quanto sua atividade nucleásica. Em 2008, Parrilha e colaboradores
mostraram que o composto 3, [Fe(HPClNOL)(SO4)]2-µ-oxo · 6H2O, foi capaz de
promover a clivagem do DNA fita dupla e fita simples em concentrações muito
baixas e pH fisiológico, tanto em ambiente aeróbico quanto em anaeróbico. O que
indica que o processo de clivagem deve seguir um mecanismo hidrolítico. Além
desses, outros compostos semelhantes também apresentaram o mesmo processo
de clivagem do DNA, como por exemplo [Fe2(BPClNOL)2(H2O)2]2+ (Neves et al.,
2001), [Fe2(IDB)2(µ-O)(µ-OAc)2]Cl2 (Liu et al., 2002) e Zn2HP (Sissi et al., 2001).
Com bases nesses resultados, mais dois compostos de estruturas similares,
[Fe(HPClNOL)(Cl)2]NO3 (composto 2), [Fe(HPClNOL)Cl]2-µ-O.2NO3.CH3OH
(composto 1), foram sintetizados pelo mesmo grupo.
Baseado em suas características químicas, os três compostos de
coordenação foram testados quanto sua atividade antitumoral in vitro, bem como sua
toxicidade in vitro e in vivo. Primeiramente, os compostos (1), (2) e (3), foram
colocados em culturas com diferentes linhagens celulares para verificar seu efeito
citotóxico ou citostático. Após 72 horas de incubação foi verificado que os três
compostos promoveram um efeito citotóxico em todas as células tumorais testadas
(figs. 12 e 13). Mesmo na concentração de 50µM, todos os compostos foram
capazes de provocar uma redução significativa no número de células tumorais
quando comparado com grupo controle. A linhagem HL-60 mostrou-se mais
resistente quando comparada as demais (inclusive THP-1), como pode ser
observado nos gráficos da figura 12 para os compostos (2) e (3) na concentração de
50µM. Uma provável explicação para essa diferença é que essas células se replicam
Borges F. V. Discussão
66
em uma velocidade muito maior que as demais linhagens, por isso, em 72 horas o
crescimento das células HL-60 supera o efeito inibidor do composto para
concentração de 50µM. Os sais FeCl3 e FeSO4 que fazem parte das sínteses dos
compostos (1) e (2) e do composto 3, respectivamente, também foram testados
frente as células tumorais (figs. 19 e 20). Como pode ser observado nos gráficos
dessas figuras, nenhum dos dois sais foi capaz de induzir apoptose nas 5 linhagens
celulares testadas (P>0,05).
A morte celular programada ou apoptose é a principal forma de morte celular
e é central para diversos processos biológicos. A apoptose pode ser ativada em
resposta a estímulos específicos ou a várias formas de injúria ou estresse celular
(Hannun, 1997). A maioria das drogas com diferentes estruturas e especificidades
induzem mudanças morfológicas características associadas com apoptose, e
acredita-se que vias apoptóticas contribuem para ação citotóxica da maioria das
drogas quimioterapêuticas (Lowe e Lin, 2000). Os compostos foram então testados
quanto ao potencial de indução de apoptose. Diferente da apoptose, a morte celular
por necrose se processa como uma resposta a estímulos agressivos, como a
exposição a tóxicos. Na necrose ocorre liberação de citocinas provocando resposta
inflamatória no local, fato que difere da morte por apoptose (Ziegler e Groscurth,
2004).
Os compostos foram, então, testados quanto sua capacidade de induzir
apoptose ou necrose em cinco linhagens de células tumorais. Os gráficos das
figuras 15, 16 e 17 mostram apenas a porcentagem de apoptose induzida pelos três
compostos de ferro, já que as taxas de necrose não excederam os 3% para todos os
compostos em todas as concentrações testadas, mesmo após 36 horas O composto
(1) mostrou ser o mais eficiente na indução de apoptose quando comparado aos
compostos (2) e (3). Esse composto foi capaz de induzir uma significativa taxa de
apoptose em todas as células testadas. Diferentemente do composto (1), os
compostos (2) e (3) não foram capazes de induzir altas taxa de apoptose em todas
as células. A linhagem THP-1 mostrou-se resistente a esses dois compostos, nos
tempos e concentrações testadas, apesar de se mostrar susceptível aos compostos
no teste de citotoxicidade. Essa diferença pode ser devido ao tempo de incubação,
que para o teste de citotoxicidade foi de 72 horas contra no máximo 36 horas para
Borges F. V. Discussão
67
os testes de apoptose. De uma forma geral, o composto (2), mononuclear, foi o
menos eficiente na indução de apoptose e a linhagem celular U937 a mais
susceptível aos três compostos. De maneira interessante, essa linhagem foi a mais
resistente para os compostos de cobre sintetizados pelo mesmo grupo, e a linhagem
THP-1, que se mostrou mais resistente aos compostos de ferro, foi a mais
susceptível aos compostos de cobre (Fernandes et. al., 2006; Cortês, 2007).
Os sais FeCl3 e FeSO4 também foram testados quanto sua capacidade de
induzir apoptose ou necrose nas linhagens celulares utilizadas. De acordo com os
experimentos de citotoxicidade, nenhum dos sais foi capaz de induzir apoptose ou
necrose nas células testadas (P>0,05), o que indica que a ação dos compostos é
devido ao ligante (HPClNOL) coordenado ao íon de ferro doado pelos sais.
A morte por apoptose também foi comprovada pela análise da fragmentação
do DNA das células tumorais em gel de agarose. Nessa técnica, apesar de não ser
possível quantificar, é possível identificar o processo apoptose através de um padrão
característico denominado “DNA ladder”, como conseqüência da clivagem do DNA
em regiões nucleossômicas. Os três compostos foram capazes de induzir apoptose
em células U937 em ambas as concentrações testadas (100 e 200µM) como pode
ser observado na figura 21. Para a linhagem THP-1 somente o composto (1) foi
capaz de induzir apoptose nas concentrações testadas de 100 e 200µM (figura 22)
após 24 horas, de uma maneira dose dependente. Contudo, o composto (2) não foi
capaz de induzir apoptose nessa linhagem celular nas concentrações e tempos
testados. O composto (3) foi capaz de induzir apoptose nessa célula somente na
concentração de 200µM. Esses resultados estão de acordo com o que foi verificado
pela microscopia de fluorescência para os compostos e para as linhagens U937 e
THP-1 (figs. 15, 16 e 17).
O efeito tóxico dos compostos foi avaliado frente à células mononucleares do
sangue periférico humanas. O ensaio com MTT mostrou que os compostos foram
significativamente tóxicos para células normais, porém em menor intensidade que
para células tumorais. O composto cisplatina, rotineiramente utilizado no tratamento
de diversos tipos de câncer, foi utilizado como método de comparação e também foi
tóxico às células normais, talvez até mais do que os compostos testados, visto que a
cisplatina foi utilizada em uma concentração menor que a dos outros compostos
Borges F. V. Discussão
68
(25µM). O composto (3) apresentou uma menor toxicidade quando comparado aos
outros dois compostos e com o composto cisplatina. Somente a concentração de
200µM foi considerada significativa na redução da viabilidade das células normais.
Os testes de indução de apoptose nas células normais mostrou que o
composto (2), menos ativo frente à células tumorais, foi o mais tóxico para células
normais. Na concentração de 50µM após 36 horas e 100µM após 24 horas, os níveis
de apoptose já eram significativos. Os compostos (1) e (3) foram similares quanto a
indução de apoptose nas PBMC humanas. Deve ser considerado para esse
experimento que mesmo na presença do ativador inespecífico enterotoxina B
estafilocócica (SEB), responsável pela ativação das células, estas apresentavam
uma taxa basal de apoptose de aproximadamente 10%, como pode ser observado
no grupo controle. A taxa de necrose para células normais (PBMC) não ultrapassou
os 4% (dados não apresentados). Os sais FeCl3 e FeSO4 não apresentaram efeito
tóxico frente à células normais, como pode ser observado nas figuras 16, e 17.
Juntos esses resultados mostram que os compostos (1) e (3) apesar de induzirem
apoptose em células normais, são menos tóxicos para essas do que para as células
tumorais. Para o teste de citotoxicidade utilizando MTT o composto (3) foi menos
tóxico do que a cisplatina, utilizada em uma concentração inferior ao desse
composto (25µM).
A Microscopia Eletrônica de Transmissão revelou as alterações ultra-
estruturais, causadas pelos compostos, em células U937 tratadas. Como mostrado
nas pranchas 1 e 2, mesmo em uma concentração de 50µM após 24 horas, sinais
clássicos do processo de apoptose são evidentes. Nesse estágio a cromatina
começa a se condensar na periferia celular (áreas mais escuras no núcleo). Essa
característica não é possível de ser observada na microscopia de fluorescência, por
isso, é observado uma baixa taxa de apoptose nessa concentração no tempo de 24
horas. Contudo, fica claro que o processo de apoptose já foi iniciado. Na
concentração de 100µM o processo já esta mais avançado como mostrado nas
pranchas 1 e 2. A cromatina já esta mais condensada, o núcleo já aparece
fragmentado ou pequeno (núcleo pequenótico), a célula sofre um processo de
encolhimento e já pode ser observado o inicio da formação dos corpos apoptóticos
(blebbing de membrana). Não foram observadas células em necrose nessas
Borges F. V. Discussão
69
concentrações no tempo de 24 horas. Esses resultados, reforçam o que foi
observado pela microscopia de fluorescência e pela fragmentação do DNA em gel
de agarose. Os compostos (1), (2) e (3) induzem apoptose, mas não induzem
necrose em células tumorais, nas concentrações e tempos testados.
Através de estudos sobre o padrão de ativação de caspases seguido de
diferentes estímulos apoptóticos, pelo menos duas distintas vias foram elucidadas. A
via mitocondrial e a via dos receptores de morte (via mitocôndria independente), que
podem ser divididas em três estágios: sinalização, ativação e execução (Schulze-
Osthoff et. al., 1998; Yu e Zhang, 2003). Confirmando a indução de apoptose pelos
compostos testados, procuramos um indicativo de qual das duas vias de apoptose
seria disparada pelos compostos.
Sabe-se que a alteração no potencial transmembrana mitocondrial é um dos
primeiros eventos a acontecer durante o processo de apoptose via mitocôndria
(Takahashi et al., 2004). Como pode ser observado nas figuras da prancha 2, pela
marcação difusa no citoplasma celular, percebe-se que o potencial transmembrana
mitocondrial é visivelmente afetado em concentrações e tempos em que ainda não
podemos perceber uma taxa significativa de apoptose. Esse resultado sugere o
comprometimento mitocôndrial durante os primeiros estágios do processo de
apoptose. Contudo, estudos complementares a fim de esclarecer a real participação
da via mitocôndrial na indução desse processo são necessários. Além disso, nossos
estudos não nos permitem excluir a indução de apoptose através da via dos
receptores de morte.
A toxicidade dos composto (2) e (3) foi determinada in vivo como mostra a
figura 19. O conhecimento do parâmetro DL50 é fundamental para avaliação da
toxicidade de compostos experimentados em animais. Como se esperava, o
composto (2) também foi o mais tóxico in vivo quando comparado ao composto (3).
A DL50 para o composto (2) foi de 108,5 mg kg-1 e para o composto (3) em 147,2 mg
kg-1. A DL50 da cisplatina administrada via intraperitoneal é descrita na literatura
como estando na ordem de 4,33 x10-5, ou seja, aproximadamente 50 mg kg-1 (Hydes
e Russel, 1988). Outros compostos mostram valores ainda menores de DL50, como
por exemplo o composto de cobre CuNG, [copper N-(2-hydroxy acetophenone)
glycinate] que possui uma DL50 de 35 mg kg-1 (Majumder et al., 2003). A
Borges F. V. Discussão
70
comparação desses valores com os resultados obtidos nesse trabalho indicam que
os compostos mono e dinucleares de ferro testados possuem toxicidade inferior que
a de alguns compostos descritos na literatura, inclusive toxicidade inferior a da
cisplatina que é clinicamente utilizada no tratamento de inúmeros tipos de câncer.
Para definir melhor o mecanismo pelo qual os compostos induzem apoptose
nas células testadas (incluindo qual via de apoptose esta ativada) serão necessários
mais estudos, inclusive para verificar se eles realmente conseguem interagir com o
DNA presente no núcleo celular, considerando que existe um ambiente celular com
diferentes moléculas que também podem interagir com os compostos. O que
sabemos até momento, é que a via de resposta a danos ao DNA utilizando p53 já
pode ser excluída como o único mecanismo de ação, desses compostos, uma vez
que as células testadas ou possuem a proteína p53 não funcional – linhagens THP-
1, U937 e MOLT-4 – ou simplesmente não expressam tal proteína – linhagens HL-60
e JURKAT. (Marchini et al., 1999; Sugimoto et al., 1992; Bhatia et al., 1995). Além
disso, tais constatações nos indicam que o prosseguimento das pesquisas com os
compostos de ferro Fe(HPClNOL)(Cl)2]NO3 (2), [Fe(HPClNOL)Cl]2-µ-O.2NO3.CH3OH
(1) e [Fe(HPClNOL)(SO4)]2-µ-O.9H2O (3) (como por exemplo para determinação da
dose terapêutica em camundongos com tumor), é um trabalho que merece maior
atenção, sendo bastante promissor.
Borges F. V. Conclusões
71
7 – Conclusões
Os resultados aqui apresentados nos permitem concluir que:
� Para os três compostos testados nesse trabalho foi observado um efeito
citotóxico frente todas as linhagens celulares testadas, mesmo na menor
concentração após 72 horas.
� Os três compostos foram capazes de induzir apoptose em células
tumorais de maneira dose dependente. Sendo que a linhagem THP-1 se
mostrou resistente aos compostos (2) e (3) e a linhagem HL-60 mais
resistente ao composto (3), nos tempos e concentrações testados.
� A apoptose foi comprovada através da análise do padrão “ladder” de
fragmentação do DNA em regiões nucleossômicas e através da
microscopia eletrônica de transmissão, que evidenciou alterações típicas
do processo de apoptose na ultra-estrutura de células U937 tratadas com
os compostos.
� Os compostos foram tóxicos para células normais in vitro. Porém, a
toxicidade foi menor quando comparado com as células tumorais. O
composto (2) foi o mais tóxico in vitro, seguido pelos compostos (1) e (3),
respectivamente. O composto (3) foi ainda menos tóxico do que a
cisplatina (25µM) nas concentrações de 50 e 100µM.
� A Microscopia Confocal mostrou evidências de que a via de apoptose
ativada pelos compostos pode ser a via mitocondrial.
� O composto (2) foi também o mais tóxico in vivo com a DL50 calculada em
108,5 mg kg-1 contra 147,2 mg kg-1 do composto (3). Comparando com
dados da literatura, esses compostos mostraram ser menos tóxicos do que
o composto cisplatina in vivo.
Borges F. V. Referências Bibliográficas
72
8 – Referências bibliográficas
AHMAD, S.; Isab, A.A.; Ali, S.; Al-Arfaj, A.R., (2006) Perspectives in bioinorganic
chemistry of some metal based therapeutic agents. Polyhedron. Vol. 25, 1633-1645.
ALBERT, B.; Johnson, A.; Lewis, J.; Raff, M; Roberts, K.; Walter, P., (2002)
Molecular biology of the cell. 4th ed. Garland Science. Cap. 23, 1313-1332.
ALMEIDA, V.L.; Leitão, A.; Reina, L. del C.B.; Montanari, C.A.; Donnici, C.L.; Lopes,
M.T.P., (2005) Câncer e agentes antineoplásicos ciclo-celular específicos e ciclo-
celular não específicos que interagem com o DNA: uma introdução. Química
Nova. Vol. 28 (1).
ANDREWS, P.A.; Velury, S.; Mann, S.C.; Howell, S.B., (1988) Cis-
diamminedichloroplatinum(II) accumulation in sensitive and resistant human ovarian
carcinoma cells. Cancer Research. Vol. 48, 68–73.
BHATIA, U,; Danishefsky, K.; Traganos, F., Darzynkiewicz, Z., (1995) Induction of
apoptosis and cell cycle-specific change in expression of p53 in normal lymphocytes
and MOLT-4 leukemic cells by nitrogen mustard. Clinical Cancer Research. Vol. 8,
873-80.
BELJANSKI, V.; Marzilli, L.G.; Doetsch, P.W. (2004) DNA damage-processing
pathways involved in the eukaryotic cellular response to anticancer DNA croos-
linking drugs. Mol. Pharmacology. Vol. 65, 1496-1506.
BERNAL, S.D.; Speak, J.A.; Boeheim, K.; Dreyfuss, A.I.; Wright, J.E.; Teicher, B.A.;
Rosowsky, A.; Tsao, S.W.; Wong, Y.C., (1990) Reduced membrane protein
associated with resistance of human squamous carcinoma cells to methotrexate and
cis-platinum, Molecular Cell Biochemistry. Vol. 95, 61–70.
Borges F. V. Referências Bibliográficas
73
BISHOP, J.M.; Weinberg, R.A., (1996). Molecular Oncology. (New York: Scientific
American, Inc.).
BLAGOSKLONNY,M.V.; Schulte,T.W.; Nguyen, P.; Treoel, J.; Neckers, L. (1996)
TAXOL-induced apoptosis and phosphorylation of bcl-2 protein involves c-raf-1 and
represents a novel c-raf-1 signal transduction pathway. Cancer Research, Vol.56,
1851–1854.
BOUCHET, B.P., Fromentel, C.C., Puisieux, A., Galmarini, C.M. (2006) p53 as a target
for anti-cancer drug development. Critical Reviews in Oncology/Hematology, Vol. 58,
190-207.
BOULIKAS, T.; Vougiouka, M., (2003) Cisplatin and platinum drugs at the molecular
level. Oncology Reports. Vol. 10, 1663-1682.
BRABEC, V., (2002) DNA modifications by antitumor platinum and ruthenium
compounds: their recognition and repair. Progress in Nucleic Acid Research and
Molecular Biology, Vol. 71.
BRABEC, V.; Kasparkova, J., (2002) Molecular aspects of resistance to antitumor
platinum drugs. Drug Resistance Updates. Vol. 5, 147-161.
BRABEC, V.; Kasparkova, J., (2005) Modifications of DNA by platinum complexes
Relation to resistence of tumors to platinum antitumor drugs. Drug resistence
Updates. Vol. 4, 1000-1016.
BROWN, T.L.; Lemay Jr., H.E.; Bursten, B.E., (2005) Química, a ciência central. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 9. ed, p.109.
BURROWS, C. J.; Muller, J. G., (1998) Oxidative Nucleobase Modifications Leading
to Strand Scission. Chemical Reviews, Vol. 98.
Borges F. V. Referências Bibliográficas
74
CHABNER, B.A.; Calabresi, P., (1995) As Bases Farmacológicas da Terapêutica;
ed.; Mc Graw Hill: Rio de Janeiro, p. 903-949.
CHABNER, B.A.; Longo, D.L. (1996) Cancer chemotherapy and biotherapy; 2a. ed.,
Lippincott-Raven: Filadélfia.
CHANDRA, J., Samali, A., Orrenius, S., (2000) Triggering and Modulation of
Apoptosis by Oxidative Stress, Free Radic. Biol Med. Vol. 29, 323-333.
CHEN, Z.S.; Mutoh, M.; Sumizawa, T.; Furukawa, T.; Haraguchi, M.; Tani, A.; Saijo,
N.; Kondo, T.; Akiyama, S., (1998) An active efflux system for heavy metals in
cisplatin-resistant human KB carcinoma cells. Exp. Cell Res. Vol. 240, 312–320.
CHIFOTIDES, H.T.; Dunbar, K.R., (2005) Interactions of Metal-Metal-Bonded
Antitumor Active Complexes with DNA Fragments and DNA. Accounts Of Chemical
Research. Vol. 38, 146-156.
CHU, G., (1994) Cellular responses to cisplatin. J. Biol. Chem. Vol. 269, 787-790.
CORTÊS, F.H., (2007) Avaliação comparativa da atividade antitumoral dos
compostos de coordenação [Cu(HPClNOL)Cl]Cl, [Cu(H2BPClNOL)Cl]Cl e
[Zn(HBPClNOL)Cl]. Universidade Estadual do Norte Fluminense, Monografia.
COTRAN, R.S., Kumar, V., Collins, T., (2000) Patologia Estrutural e Funcional. 6 ed.
Guanabara: Rio de Janeiro. p.1251.
COOPER, G.M., (1993) The Cancer Book: a guide to understanding the causes,
prevention, and treatment of cancer. Boston: Jones and Bartlett Publishers, p.16.
COWAN, J. A., (2001) Chemical nucleases. Curr. Opinion in Chem. Biol., Vol. 5, 637-
642.
Borges F. V. Referências Bibliográficas
75
CUMMINGS, J.; Ward, T.H.; Ranson, M.; Dive, C., (2004) Apoptosis pathway-
targeted drugs – from the bench to the clinic. Biochimica et Biophysica Acta, Vol.
1705, 53-66
DOETSCH, P.W.; Morey, N.J.; Swanson, R.L.; Jinks-Robertson, S., (2001) Yeast
base excision repair: interconnections and networks. Prog. Nucleic Acid Res. Mol.
Biol. Vol. 68, 29-39.
DOMEN, J.; Gandy, K.L.; Weissman, I.L., (1998) Systemic overexpression of Bcl-2 in
the hematopoietic system protects transgenic mice from the consequences of lethal
irradiation. Blood. Vol. 91, 2272-2282.
FERNANDES, C.; Parrilha, G.L.; Lessa, J.A.; Santiago, L.J.M.; Kanashiro, M.M.;
Boniolo, F.S.; Bortoluzzi, A.J.; Vugman, N.V.; Herbst, M.H., Horn JR., A., (2006)
Synthesis, crystal structure, nuclease and in vitro antitumor activities of a new
mononuclear copper(II) complex containing a tripodal N3O ligand. Inorganica
Chimica Acta, Vol. 359, 3167-3176.
FERNANDES, J.; Rumjanek, V.M.; Castilho, R.O.; Kaplan, M.A.; Gattass, C.R.,
(2005) Alternativas contra o câncer. Ácido extraído de planta medicinal popular
demonstra capacidade antitumoral. Disponível em: <
http://www.sbpo.com.br/noticias/not_140504.htm> Consultado em: 26 dez 2005.
FISCHER, U.; Schulze-Osthoff, K., (2005) New approaches and therapeutics
targeting apoptosis in disease. Pharmacological Reviews, Vol. 57, 187-215.
FOYE, W. O.; Sengupta, S. K.; Lemke, T. L.; Williams, D. A., (1996) Principles of
Medicinal Chemistry, eds.; Williams & Wilkins: Baltimore, p. 822-845.
FUERTES, M.A.; Castilla, J.; Alonso, C.; Perez, J.M., (2003) Cisplatin biochemical
mechanism of action: From citotoxicity to induction of cell death through
interconnections between apoptotic and necrotic pathways. Curr. Med. Chemistry.
Vol. 10, 257-266.
Borges F. V. Referências Bibliográficas
76
GALLAGHER, W.M.; Cairney, M.; Schott B.; Roninson, I.B.; Brown, R., (1997)
Indentification of p53 genetic suppressor elements witch confer resistance to
cisplatin. Oncogene. Vol. 14, 185-193.
GILMAN, A., (1963) The initial clinical trial of nitrogen mustard. Am J Surgery. Vol.
105, 574–578.
GONG, J.; Costanzo, A.; Yang, H.Q.; Melino, G.; Kaelin, W.G. Jr; Leverro, M., (1999)
The tyrosine kinase c-Abl regulates p-73 in apoptotic response to cisplatin-induced
DNA damage. Nature. Vol. 399, 806-809.
GONZALEZ, V.M.; Fuertes, M.A.; Alonso, C.; Perez, J.M., (2001) Is Cisplatin-induced
cell death always produced by apoptosis? Molecular Pharmacology, Vol. 59, 657-
663.
HAHN, W.C.; Counter, C.M.; Lundberg, A.S.; Beijersbgern, R.L.; Brooks, M.W.;
Weinberg, R.A., (1999). Creation of human tumor cells with defined genetic
elements. Nature. Vol. 400, 464–468.
HANAHAND, Weinberg, R.A., (2000) The hallmarks of cancer. Cell. Vol. 100, 57–70
HANNUM, Y.A., (1997) Apoptosis and the dilemma of cancer chemotherapy. Blood,
Vol. 86 (6).
HYDES, P.C.; Russell, M.J., (1988) Advances in platinum cancer chemotherapy.
Advances in the design of cisplatin analogues. Cancer Metastasis Rev. Vol.7, 67-89.
HECHT, S. M., (1996) Bioorganic Chemistry: Nucleic Acids. New York: Oxford
University Press.
HORN, A. Jr.; Filgueiras, C.A.L.; Wardell, J.L.; Herbst, M.H.; Vugman, N.V.; Santos,
P.S.; Lopes, J.G.S.; Howie, R.A., (2004) A fresh look into VO(salen) chemistry:
Borges F. V. Referências Bibliográficas
77
synthesis, spectroscopy, electrochemistry and crystal structure of
[VO(salen)(H2O)]Br · 0.5 CH3CN. Inorganica Chimica Acta. Vol. 357, 4240-4246.
HUTCHINS, J. B., Barger, S. W., (1998) Why Neurons Die: Cell Death in the Nervous
System, Anat. Rec. Vol. 253, 79-90.
ISHIBASHI, T.; Lippard, S.J., (1998) Telomere loss in cells treated with cisplatine.
Proc. Natl. Acad. Science USA. Vol. 95, 4219-4223.
ISHIDA, S.; Lee J.; Thiele, D.J.; Herskowitz, I., (2002) Uptake of the anticancer drug
cisplatin mediated by the copper transporter Ctr1 in yeast and mammals. Proc Natl
Acad Sci. Vol. 99, 14298-14302.
JAMIESON, E.R.; Lippard, S.J., (1999) Structure, recognition, and processing of
cisplatin-DNA adducts. Chem Rev. Vol. 99, 2467-2498.
JOHNSTONE, R.W.; Ruefli, A.A.; Lowe, S.W., (2002) Apoptosis: A link between
cancer genetics and chemotherapy. Cell, Vol. 108, 153-164.
JORDAN, P.; Carmo-Fonseca, M., (2000) Molecular mechanisms involved in
cisplatin cytotoxicity. Cellular and Molecular Life Sciences. Vol. 57, 1229-1235.
KAMB, A.; Lassota, P., (2004) Disease models of cancer: apoptosis. Drug Discovery
Today: Disease Models, Vol. 1, 31-36.
KARTALOU, M.; Essigmann, J.M., (2001) Mechanisms of resistance to cisplatin.
Mutation research. Vol. 478, 23-43.
KAWAI, K.; Kamatani, N.; Georges, E.; Ling, V., (1990) Identification of a membrane
glycoprotein overexpressed in murine lymphoma sublines resistant to cis-
diamminedichloroplatinum (II). J. Biol. Chem. Vol. 265, 13137–13142.
Borges F. V. Referências Bibliográficas
78
KESKIN, O.; Bahar, I.; Jeringan, R.L.; Beutler, J.A.; Shoemaker, R.H.; Sausville,
E.A.; Covell, D.G.(2000) Characterization of anticancer agents by their growth
inhibitory activity and relationships to mechanism of action and structure. Anti-Cancer
Drug Des. Vol. 15, 79.
KIDWAI, M.; Venkataramanan, R.; Mohan, R.; Sapra, P., (2002) Cancer
Chemotherapy and Heterocyclic Compounds. Current Medicinal Chemistry. Vol. 9,
1209-1228
KIECHLE, F.L.; Zhang, X., (1998) Apoptosis: A brief review. Journal of Clinical
Ligand Assay, Vol. 21 (1).
KOHNO, K.; Uchiumi, T.; Niina, I.; Wakasugi, T.; Igarashi, I.; Momii, Y.; Yoshida, T.;
Matsuo, K.; Miyamoto, N.; Izumi, H. A (2005) Transcription factors and drug
resistance. European Journal of Cancer, Vol. 41, 2577–2586.
KOMAROVA, E.A.; Gudkov, A.V. (2000) Supression of p53: a new approach to
overcome side effects of antitumor therapy. Biochemistry. Vol. 65, 41-48.
KOSMIDER, B.; Zyner, E.; Osiecka, R.; Ochocki, J. (2004) Induction of apoptosis in
A549 cells by the cis-Pt(II) complex of 3-aminoflavone in comparison with cis-DDP.
Mutation research. Vol. 563, 61-70.
KOSTOVA, I.; Momekov , G.; Zaharieva, M.; Karaivanova, M., (2005) Cytotoxic
activity of new lanthanum (III) complexes of bis-coumarins. European Journal of
Medicinal Chemistry. Vol. 40, 542–551.
KOSTOVA, I.; Manolov, I.; Momekov, G.; Tzanova, T.; Konstantinov, S.; M.;
Karaivanova, M., (2005) Cytotoxic activity of new cerium (III) complexes of bis-
coumarins. European Journal of Medicinal Chemistry. Vol. 40, 1246–1254.
Borges F. V. Referências Bibliográficas
79
KOSTOVA, I.; Momekov, G., (2006) New zirconium (IV) complexes of coumarins with
cytotoxic activity. European Journal of Medicinal Chemistry. Vol. 41, 717–726.
LEHNINGER, A.L.; Nelson, D.L.; Cox, M.M., (2000) Principles of Biochemistry, 3rd
ed., Worth Publisnhing: New York.
LIU, C.; Yu, S.; Li, D.; Liao, Z.; Sun, X.; Xu, H., (2002) DNA Hydrolytic Cleavage by
the Diiron (III) Complex Fe2(DTPB)(µ-O)(µ-Ac)Cl(BF4)2: Comparison with Other
Binuclear Transition Metal Complexes. Inorganic Chemistry. Vol. 41, 913-922.
LOWE, S.W.; Lin, A.W., (2000) Apoptosis in cancer. Carcinogenesis. Vol. 21, 485-
495.
MACHADO, A. E. D., (2000) Química. Nova, 23, 237.
MAJUMDER, S.; Panda, G.S.; Choudhuri, S.K., (2003) Synthesis, characterization
and biological properties of a novel copper complex. European Journal of Medicinal
Chemistry. Vol. 38, 893-898
MAPARA, M.; Sykes, M., (2004) Tolerance and Cancer: Mechanisms of Tumor
Evasion and Strategies for Breaking Tolerance. Journal of Clinical Oncology. Vol. 22,
1136-1151.
MARCHINI, S.; Ciro, M.; Broggini, M., (1999) p53-Independent caspase-mediated
apoptosis in human leukaemic cells is induced by a DNA minor groove binder with
antineoplastic activity. Apoptosis. Vol. 4, 39–45.
MEYERS, M.; Hwang, A.; Wagner, M.W.; Boothman, D.A., (2004) Role of DNA
mismatch repair in apoptotic responses to therapeutic agents. Environ. Mol.
Mutagen. Vol. 44, 249-264.
Borges F. V. Referências Bibliográficas
80
MORIM, P.J., (2003) Drug resistance and the microenvironment: nature and nurture.
Drug Resistance Update. Vol. 6, 169-172.
MURAD, A.M.; Katz, A. (2000) Oncologia Bases Clínicas do Tratamento; Guanabara;
Rio de Janeiro, p. 41.
NEHME, A.; Baskaran, R.; Nebel, S.; Fink, D.; Howell, S.B.; Wang, J.Y.J., (1999)
Induction of JNK and c-Abl signaling by cisplatin and oxaplatin in mismatch repair-
proficient and -deficient cells. Br. J. Cancer. Vol. 79, 1104-1110.
NEVES, A., Rossi, L.M.; Bottoluzzi, A.J.; Mangrich, A.S.; Haase, W.; Wener, R.,
(2001) Synthesis, Structure, Physicochemical Properties and Catecholase-like
Activity of a New Dicopper(II) Complex . Journal of the Brazilian Chemical Society.
Vol. 12, 388-391.
NOBLÍA, P.; Vieites, M.; Parajón-Costa, B.S.; Baran, E.J., Cerecetto, H.; Draper, P.,
González, M.; Piro, O.E.; Castellano, E.E.; Azqueta, A.; Ceráin, A.L.; Monge-Vega,
A.; Gambino, D. (2005) Vanadium (V) complexes with salicylaldehyde
semicarbazone derivatives bearing in vitro anti-tumor activity toward kidney tumor
cells (TK-10): crystal structure of [VVO2(5 bromosalicylaldehyde semicarbazone)].
Journal of Inorganic Biochemistry, 99: 443–451.
NYGREN, P. for the SBU-group, (2001) What is cancer chemotherapy? Acta
Oncologica Vol. 40, 166–174.
NOWELL, P.C., (1976). The clonal evolution of tumor cell populations. Science Vol.
194, 23–28.
OLIVEIRA, R. B.; Alves, R. J., (2002) Quim. Nova, 25, 976.
Borges F. V. Referências Bibliográficas
81
PAPOULI, E.; Cejka, P.; Jirieny, J., (2004) Dependence of the citotoxicity of DNA-
damaging agents on the mismatch repair status of human cells. Cancer Research.
Vol. 64, 3391-3394.
PARRILHA, G. L; Fernandes, C.; Bortoluzzi, A.J.; Szpoganicz, B.; Pich, C. T.;
Terenzi, H.; Horn Jr., A., (2008) A new m-oxo di-iron complex with suitable features
to mimic metallohydrolase activity: X-ray molecular structure, aqua solution behavior
and nuclease activity of the complex [Fe(HPClNOL)(SO4)]-m-oxo. Inorganic
Chemistry Communications, Vol. 11, 643-647.
PRATT, W.; Ruddon R., (1979) The anticancer drugs. New York: Oxford University
Press.
REEDIJK, J., (2003) New clues for platinum antitumor chemistry: Kinetically
controlled metal binding to DNA. PNAS. Vol. 100, 3611-3616.
RENEHAN, A.G., Booth, C.; Potten, C.S., (2001) What is apoptosis, and why is it
important? BMJ, Vol. 322
ROSENBERG, B. (1999) Platinum complexes for the treatment of cancer: Why the
search goes on, in Cisplatin. Chemistry and Bichemistryof a Leading Anticancer
Drug. 3-27.
SALMONM, S.E., (1998) Farmacología Básica & Clínica, Katzung, B.G., ed.;
Guanabara Koogan S.A.: Rio de Janeiro, p. 629-655.
SANCHEZ-PEREZ, I.; Murguia, J.R.; Perona, R., (1998) Cisplatin induces a
persistent activation of JNK that is related to cell death. Oncogene. Vol. 16, 533-540.
SCHULZE-OSTHOFF, K.; Ferrari, D.; Los, M.; Wesselborg, S.; Peter, M.E., (1998)
Apoptosis signaling by death receptors. Eur. J. Biochemistry. Vol. 254, 439-459.
Borges F. V. Referências Bibliográficas
82
SIDDIK, Z.H., (2003) Cisplatin: mode of citotoxic action and molecular basis of
resistance. Oncogene. Vol. 22, 7265-7279.
SOMPAYRAC, L., (2004) How cancer works. Boston: Jones and Bartlett Publishers,
p.3.
SORENSON, C.M.; Eastman, A., (1988) Influence of cis-amminedichloroplatinum(II)
on DNA synthesis and cell cycle progression in excision repair proficient and deficient
Chinese hamster ovary cells. Cancer Research. Vol. 48, 6703-6707.
SPENCE, R.A.J.; Jonhston, P.G. (2001) Oncology; ed. Oxford University Press:
Oxford, p. 1-14, 121-132.
SREEDHARA, A.; Cowan,; J.A. (2001) Catalytic hydrolysis of DNA by metal ions and
complexes. Journal of biological inorganic chemistry. Vol. 6, 337-347.
STRASSER, A.; Harris, A.W.; Jacks, T.; Cory, S., (1998) DNA damage can induce
apoptosis in proliferating lymphoid cells via p53-independent mechanisms inhibitable
by Bcl-2. Cell. Vol. 79, 329-339.
TAKANASHI, A.; Masuda, A.; Sun, M.; Centonze, V.E.; Herman, B., (2004).
Oxidative stress-induced apoptosis is associated with alterations in mitochondrial
caspase activity and Bcl-2 dependent alterations in mitochondrial ph (pHm). Brain
Res. Bull. Vol. 62, 497–504.
SUGIMOTO, K.; Toyoshima, H.; Sakai, R.; Miyagawa, K.; Hagiwara, K.; Ishikawa, F.;
Takaku, F.; Yazaki, Y., Hirai, (1992) H. Frequent Mutations in the p53 Gene in
Human Myeloid Leukemia Cell Lines. Blood. Vol. 79, 2378- 2383.
TOFFOLI, G.; Viel, A.; Tumiotto, L.; Biscontin, G.; Rossi, C.; Boiocchi, M., (1991)
Pleiotropic-resistant phenotype is a multifactorial phenomenon in human colon
carcinoma cell lines, Br. J. Cancer Vol. 63, 51–56.
Borges F. V. Referências Bibliográficas
83
TORIGOE, T.; Izumi, H.; Yoshida, Y.; Tanabe, M.; Yoshida, T.; Igarashi, T.; Niina, I.;
Wakasugi, T.; Momii, Y.; Kuwano, M.; Kohno, K. (2005) Cisplatin resistence and
transcription factors. Curr. Med.Chem. Anti-Cancer Agents. Vol. 5, 15-27.
VERMEULEN, K; Van Bockstaele, D.R.; Berneman, Z. (2005) Apoptosis:
Mechanisms and relevance in cancer. Ann Hematol. Vol. 84, 627-639.
WANG, G.; Reed, E.; Li, Q.Q. (2004) Molecular basis of cellular response to cisplatin
chemotherapy in non-small cell lung cancer (Review). Oncology Reports. Vol. 12,
955-965.
WANG, D.; Lippard, S.J. (2005) Cellular processing of platinum anticancer drugs.
Nature Reviews. Vol. 4, 307-320.
YU, J.; Zhang, (2003) Apoptosis in human cancer cells. Curr Opin Oncol. Vol. 16, 19-
24.
ZAMBLE, D. B.; Mu, D.; Reardon, J.T.; Sancar, A.; Lippard, S.J., (1996) Repair of
cisplatin-DNA adducts by the mammalian excision nuclease. Biochemistry. Vol. 35,
10004-10013.
ZHANG, C.X.; Lippard, S.J., (2003) New metal complexes as potential therapeutics.
Current Opinion in Chemical Biology. Vol. 7, 481–489.
ZIEGLER, U.; Groscurth, P., (2004) Morphological Features of Cell Death. News
Physiological Sciences. Vol. 19,124-128.
ZIMMERMAN, K. C., Bonzon, C., Green, D. R., (2001) The Machinery of
Programmed Cell Death, Pharmacol Ther., Vol. 92, 57-70.