avaliaÇÃo do uso de medicamentos entre idosos … · lista de quadros quadro 1 – medicamentos...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO LENIDAS E MARIA DEANE - FIOCRUZ
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR
MESTRADO EM SADE, SOCIEDADE E ENDEMIAS NA AMAZNIA
AVALIAO DO USO DE MEDICAMENTOS ENTRE IDOSOS
ATENDIDOS EM CENTROS DE REFERNCIA EM
MANAUS AM.
Bruna Monteiro Rodrigues
MANAUS-AM
2013
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO LENIDAS E MARIA DEANE - FIOCRUZ
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR
MESTRADO EM SADE, SOCIEDADE E ENDEMIAS NA AMAZNIA
Bruna Monteiro Rodrigues
AVALIAO DO USO DE MEDICAMENTOS ENTRE IDOSOS
ATENDIDOS EM CENTROS DE REFERNCIA EM
MANAUS AM.
Dissertao apresentada ao Programa de
Ps-Graduao em Sade, Sociedade e
Endemias na Amaznia, em convnio
com UFAM/Fiocruz/UFPA, como requisito
obteno do ttulo de Mestre em Sade,
Sociedade e Endemias na Amaznia.
Orientadora: Profa. Dra. Ana Cyra dos Santos Lucas
Manaus-AM
2013
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BRUNA MONTEIRO RODRIGUES
AVALIAO DO USO DE MEDICAMENTOS ENTRE IDOSOS
ATENDIDOS EM CENTROS DE REFERNCIA EM
MANAUS AM.
Dissertao apresentada ao Programa de
Ps-Graduao em Sade, Sociedade e
Endemias na Amaznia, em convnio
com UFAM/Fiocruz/UFPA, como requisito
obteno do ttulo de Mestre em Sade,
Sociedade e Endemias na Amaznia.
Aprovado em 25 de junho de 2013.
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Ao meu esposo pelo total apoio, meu
pai e minha me pelo amor, minhas
irms pelo aprendizado e aos amigos
pelo incentivo perseverana na
realizao deste trabalho.
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AGRADECIMENTOS
A Deus pelo amor concedido, sabedoria transmitida e pelas promessas
fiis que nos fez por meio de Jesus Cristo.
Aos meus pais por sempre me apoiarem e me ensinarem o melhor
caminho a seguir.
Ao Leandro Rodrigues pelo apoio incondicional e constante.
A minha orientadora, Prof. Dra. Ana Cyra dos Santos Lucas, pela
orientao, pelo imenso aprendizado e amizade.
A Prof. Dra. Rosana Cristina Pereira Parente, pelas orientaes na
elaborao do projeto.
Ao Prof. Dr. Igor Rafael dos Santos Magalhes pelas contribuies durante
todo o trabalho.
Aos membros do grupo de Toxicologia, especialmente Adriana Carla e Ana
Jacqueline pelas contribuies durante o trabalho.
Aos amigos do mestrado: Andrea, Andria, Andria, Eric, Gabriel, Ivany,
Joyce, Joyce, Luena, Marcuce, Marluce, Mirlia, Rainer, Snia, Tllio e Wagner.
s amigas: Adriana, Ana, Claire, Fernanda, Gianne, Larissa, Rosie e Slvia.
Ao Dr. Pritesh Lalwani pelas contribuies no resumo.
Gleici Jane Cruz pelas contribuies na anlise dos dados.
Secretaria de Estado da Sade (SUSAM) pelas informaes concedidas.
Aos funcionrios dos CAIMI pela colaborao durante a coleta de dados.
Aos idosos que participaram da pesquisa e nos acolheram com grande
compreenso e esprito de colaborao.
AGRADEO
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Eu, a sabedoria, moro com a
prudncia, e tenho o conhecimento que
vem do bom senso. Provrbios 8:12.
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RESUMO
O envelhecimento populacional uma realidade mundial, decorrente da reduo da
mortalidade infantil e da fecundidade, do aumento da expectativa de vida e dos
avanos tecnolgicos na rea da sade, o aumento da incidncia de doenas
crnico-degenerativas, as quais necessitam de tratamentos prolongados e/ou
contnuos, o que torna os idosos grandes consumidores de medicamentos. O uso de
medicamentos pode representar riscos ao paciente, principalmente se realizado de
maneira inadequada, e por isso tornou-se uma preocupao para sade pblica.
Assim, o objetivo deste trabalho foi identificar o perfil do uso de medicamentos entre
idosos atendidos nos Centros de Ateno a Melhor Idade (CAIMI) em Manaus-AM.
Realizou-se estudo descritivo-observacional de recorte temporal no qual foram
entrevistados 355 pacientes idosos nas trs unidades que fornecem servio de
ateno exclusivo e especializado para pacientes idosos. Os dados sobre os
medicamentos utilizados nos ltimos sete dias foram coletados por meio de um
formulrio, e estes medicamentos foram classificados de acordo com o Anatomical
Therapeutical Chemical Classification System. Para obteno de informaes sobre
interaes medicamentosas foi utilizado o Micromedex e os medicamentos
inapropriados foram classificados de acordo com a atualizao do Critrio de Beers
realizado pela American Geriatrics Society. Foram analisadas a ocorrncia de
polifarmcia, redundncia e automedicao. Dentre os entrevistados, a maioria eram
mulheres (83,1%), entre a faixa etria de 60 e 69 anos (62,5%), casados (43,7%) e
possuam filhos (95,5%). A prevalncia do uso de medicamentos foi de 80,3% e os
medicamentos mais consumidos foram os para sistema cardiovascular (43,7%). A
prevalncia de polifarmcia foi de 19,3%, sendo superior nas mulheres (78,9%), a
redundncia foi verificada em 14,7% e automedicao em 13% dos idosos.
Possveis interaes medicamentosas foram verificadas em 42,5% dos usurios de
medicamentos e dentre o total de medicamentos, 122 (14,7%) foram considerados
inapropriados para uso em idosos. Embora com padro elevado de uso de
medicamentos foram baixas as prevalncias de automedicao, polifarmcia, uso
redundante e uso de medicamentos inapropriados. Os resultados positivos em
relao ao uso dos medicamentos indica que os servios de sade especializados e
exclusivos para os idosos, com atendimento multiprofissional, podem promover
melhor qualidade de vida e uso correto dos medicamentos, em virtude do melhor
atendimento e ateno sade.
Palavras-chave: Uso de medicamentos, Sade do Idoso, Farmacoepidemiologia.
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ABSTRACT
Population aging is a global reality, due to the reduction in child mortality and fertility,
increased life expectancy and technological advances in healthcare. On the other
hand, elderly people have become largely dependent on drugs/medicine due to the
increasing incidence of chronic diseases, which require prolonged and/or continuous
treatment. Excessive and improper intake of medications may pose risks to the
patient and is a concern for public health. The objective of this work was to identify
the profile of drug use among elderly patients in the Centros de Ateno a Melhor
Idade (CAIMI) in Manaus-AM. We conducted a descriptive observational study in
which we interviewed 355 elderly patients in the three different units that provide
unique and specialized care for elderly patients. Data on drug use in the past seven
days was collected through a form, and these drugs were classified according to the
Anatomical Therapeutic Chemical Classification System. To obtain information about
drug interactions was used Micromedex and inappropriate drugs were classified
according to the update of the Beers Criteria conducted by the American Geriatrics
Society. We then analysed the occurrence of polypharmacy, redundancy and self-
medication. Among the most respondents, 83.1% were women, aged between 60
and 69 years (62.5%), married (43.7%) and had children (95.5%). The prevalence of
drug use was 80.3% and was the most drugs were for cardiovascular system
(43.7%). The prevalence of polypharmacy was 19.3%, being higher in women
(78.9%), redundancy was observed in 14.7% and 13% of self-medication in the
elderly. Potential drug interactions were observed in 42.5% of the users of drugs and
medicines within the total, 122 (14.7%) were considered inappropriate for use in the
elderly. Although with high standard of medication use were low prevalence of self-
medication, polypharmacy, use redundant and inappropriate use of drugs was
observed. Our study demonstrates positive results regarding the use of drugs, a
specialized and exclusive health services for the elderly in combination with
multidisciplinary care, can promote better quality of life and correct use of drugs
associate with improved health care.
Key words: Drug Utilization, Health of Elderly, Pharmacoepidemiology.
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Medicamentos Potencialmente Inapropriados para Idosos de
acordo com o Critrio de Beers atualizado pela American
Geriatrics Society. Fonte: AGS (2012). ................................. 45
Quadro 2 Nmero de entrevistados por unidade de sade. .................... 54
Quadro 3 Critrios para codificao dos indivduos abordados durante a
pesquisa. .............................................................................. 58
Quadro 4 Classificao da gravidade de interaes medicamentosas.
Fonte: MICROMEDEX, 2013. ............................................... 61
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuio socioeconmica dos idosos atendidos em centros
de referncia, Manaus, AM, 2012. ........................................ 84
Tabela 2 Distribuio das variveis ler e escrever, escolaridade e classe
econmica entre idosos, Manaus, AM, 2012. ....................... 85
Tabela 3 Anlise bivariada entre fatores socioeconmicos e uso de
medicamentos entre idosos, Manaus, AM, 2012. ................. 86
Tabela 4 Distribuio de variveis relacionadas sade de idosos
atendidos em centros de referncia, Manaus, AM, 2012. ..... 87
Tabela 5 Anlise bivariada entre renda e automedicao entre idosos
atendidos em centros de referncia, Manaus, AM, 2012. ..... 90
Tabela 6 Anlise bivariada entre escolaridade e automedicao entre
idosos atendidos em centros de referncia em Manaus, AM,
2012. ..................................................................................... 90
Tabela 7 Anlise bivariada entre automedicao e sexo, faixa etria e
classe social entre idosos, Manaus, AM, 2012. .................... 90
Tabela 8 Anlise bivariada entre polifarmcia e sexo, faixa etria, estado
civil e classe social entre idosos, Manaus, AM, 2012 ........... 91
Tabela 9 Anlise bivariada entre polifarmcia e percepo da sade entre
idosos atendidos em centros de referncia, Manaus, AM,
2012. ..................................................................................... 92
Tabela 10 Anlise bivariada entre redundncia e sexo, faixa etria e
classe social entre idosos atendidos em centros de referncia,
Manaus, AM, 2012. ............................................................... 92
Tabela 11 Anlise bivariada entre uso de medicamentos considerando
polifarmcia e redundncias entre idosos atendidos em
centros de referncia em Manaus-AM. ................................. 93
Tabela 12 Principais medicamentos envolvidos em interaes
medicamentosas entre idosos em Manaus, AM, 2012. ........ 94
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Tabela 13 Quantidade de possveis interaes medicamentosas frmaco-
frmaco entre idosos em Manaus, AM, 2012........................ 94
Tabela 14 Anlise bivariada entre percepo da sade e possveis
interaes medicamentosas entre idosos atendidos em centos
de referncia em Manaus, AM, 2012. ................................... 95
Tabela 15 Fonte da informao sobre interaes medicamentosas
obtidas entre idosos, Manaus, AM, 2012. ............................. 95
Tabela 16 Interaes medicamento-etanol e a classificao de gravidade
da interao em idosos atendidos em centros de referncia,
Manaus, AM, 2012. ............................................................... 96
Tabela 17 Distribuio de medicamentos inapropriados e as variveis
sexo e faixa etria de idosos atendidos em centros de
referncia, Manaus, AM, 2012. ............................................. 97
Tabela 18 Medicamentos potencialmente inapropriados para uso em
idosos de acordo com o critrio de Beers encontrados entre
idosos em Manaus, AM, 2012............................................... 98
Tabela 19 Frequncia de medicamentos que atuam no (SNC) utilizados
por idosos de centros de referncia, Manaus, AM, 2012. ... 100
Tabela 20 Medicamentos psicotrpicos utilizados por idosos atendidos
em centros de referncia em Manaus, AM, 2012. .............. 101
Tabela 21 Uso de lcool e tabaco entre idosos atendidos em centros de
referncia em Manaus, AM, 2012. ...................................... 102
Tabela 23 - Distribuio do uso de tabaco por sexo entre idosos atendidos
em centros de referncia, Manaus, AM, 2012. ................... 103
Tabela 24 Uso na vida de substncias psicoativas entre idosos atendidos
em centros de referncia, Manaus, AM, 2012. ................... 104
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LISTA DE ABREVIATURAS
AGS American Geriatrics Society
ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
ATC Anatomical Therapeutical Chemical Classification
AUDIT Alcohol Use Disorders Identification Test
CAGE Cutdown, Annoyed, Guilty e Eye-opener
CAIMI Centros de Ateno a Melhor Idade
DCB Denominao Comum Brasileira
DEF Dicionrio de Especialidades Farmacuticas
DUR Drug Utilization Review
MAI Medicaton Appropriateness Index
MAST Michigan Alcoholism Screening Test
MIP Medicamentos Potencialmente Inapropriados
SAAST Self-Administered Alcoholism Screening Test
STOPP Screening Tool of Older Persons Potentially
Inappropriate Prescriptions.
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TFV Teste de Fluncia Verbal
WHO World Health Organization
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SUMRIO
1. INTRODUO ....................................................................................... 15
2. JUSTIFICATIVA ..................................................................................... 19
3. REVISO DA LITERATURA .................................................................. 21
3.1. Importncia da caracterizao socioeconmica em sade ............. 22
3.2. Aspectos relacionados sade do idoso ........................................ 26
3.3. Morbidades em idosos .................................................................... 28
3.4. Aspectos relacionados ao uso de medicamentos ........................... 30
3.4.1. Medicamentos psicotrpicos ............................................... 36
3.4.2. Reaes adversas e interaes medicamentosas .............. 38
3.4.3. Medicamentos potencialmente inapropriados ..................... 39
3.5. Aspectos relacionados ao uso de demais substncias ................... 48
4. OBJETIVOS ........................................................................................... 51
5. MATERIAIS E MTODOS ..................................................................... 52
5.1. Tipo de Estudo ................................................................................ 52
5.2. Populao em Estudo ..................................................................... 52
5.3. Critrios de Incluso ....................................................................... 52
5.4. Critrios de Excluso ...................................................................... 52
5.5. Local de Estudo .............................................................................. 53
5.6. Amostragem ................................................................................... 53
5.7. Instrumento de coleta de dados ...................................................... 54
5.8. Estudo Piloto ................................................................................... 56
5.9. Calibrao ....................................................................................... 56
5.10. Levantamento de dados ............................................................... 57
5.11. Estratgia para tratamento dos dados .......................................... 60
5.12. Aspectos ticos ............................................................................. 61
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6. RESULTADOS ....................................................................................... 62
6.1. Artigo .............................................................................................. 63
6.2. Fatores socioeconmicos ............................................................... 84
6.3. Aspectos relacionados sade ...................................................... 86
6.4. Aspectos relacionados ao uso de medicamentos ........................... 88
6.4.1. Automedicao .................................................................... 89
6.4.2. Polifarmcia ......................................................................... 91
6.4.3. Redundncias ...................................................................... 92
6.4.4. Interaes medicamentosas ................................................ 93
6.4.5. Medicamentos potencialmente inapropriados para Idosos .. 97
6.4.6. Medicamentos que atuam no Sistema Nervoso Central ...... 99
6.4.7. Uso de outras substncias psicoativas .............................. 102
7. DISCUSSO ........................................................................................ 105
8. CONCLUSO ...................................................................................... 117
9. REFERNCIAS.................................................................................... 119
10. ANEXOS..............................................................................................143
10.1. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................ 143
10.2. Formulrio ................................................................................... 145
10.3. Normas para submisso - Cadernos de Sade Pblica ............. 152
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1. INTRODUO
Antes considerada uma tendncia somente de pases desenvolvidos, o
envelhecimento populacional , atualmente, uma realidade verificada em todos os
pases no mundo em velocidades e caractersticas variadas. A reduo da
fecundidade e da mortalidade infantil, o aumento da expectativa de vida e os novos
conhecimentos e avanos cientficos na rea sade contribuem para que esta
realidade se torne cada vez mais frequente (VERAS, 2009).
De acordo com o World Health Organization (WHO) a estimativa da
populao idosa no mundo em 2025 de 1,2 bilhes de pessoas, valor que
corresponde ao dobro da populao idosa verificada no ano 2000. A proporo de
idosos ir dobrar de 11% em 2006 para 22% em 2050. Considerando os dados da
Amrica Latina e Caribe, o percentual de 9%, verificado em 2006, alcanar 24% em
2050 (WHO, 2007; WHO, 2009).
Ao analisar os dados nacionais, o Brasil passou de 3 milhes de idosos
em 1960 para 7 milhes em 1975, e em 2008 apresentou uma populao de 20
milhes de idosos o que representa um aumento de quase 700% em menos de 50
anos. As projees apontam que em 2020 o Brasil ser o sexto pas com a maior
populao idosa, com um nmero superior a 30 milhes de pessoas (VERAS, 2009;
CARVALHO & GARCIA, 2003, LIMA-COSTA & VERAS, 2003).
Em Manaus, os idosos residentes representam 6% da populao do
municpio. Comparando-se os anos de 2000 e 2010, houve um aumento de 39,6%
nessa populao, o que deixou a capital na 7a posio de cidade brasileira mais
populosa e maior cidade da Regio Norte do pas. Dos 108.902 idosos residentes
em Manaus, 56,2% so mulheres (DATASUS, 2013; IBGE, 2013).
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Acompanhando este cenrio de envelhecimento populacional, verifica-se
aumento na incidncia e doenas crnicas e degenerativas, que geralmente
necessitam de tratamentos prolongados e contnuos. De acordo com Cruz et al.
(2006) as doenas neurolgicas e psiquitricas tambm acompanharam este
processo. Portanto, o aumento da populao idosa no Brasil traz desafios cada vez
maiores aos servios e profissionais de sade, uma vez que h aumento da
demanda de usurios e consequentemente aumento dos gastos em sade.
Os idosos se tornaram grandes consumidores de medicamentos, sendo
considerado por Rozenfeld (2003) o grupo etrio mais medicalizado da sociedade. A
presena de mltiplas doenas requer o uso concomitante de vrios medicamentos,
o que se torna uma preocupao, principalmente para os pacientes idosos. O uso de
medicamentos pode representar riscos, principalmente quando realizado de maneira
incorreta, tornando importante a educao teraputica e o uso racional de
medicamentos para este grupo.
Segundo Cramer (1991) diversos fatores podem influenciar no uso de
medicamentos, como os relacionados ao paciente (sexo, idade, etnia, estado civil,
escolaridade e nvel socioeconmico); doena (cronicidade, ausncia de sintomas
e consequncias tardias); s crenas de sade, hbitos de vida e culturais
(percepo da seriedade do problema, desconhecimento, experincia com a doena
no contexto familiar e autoestima); ao tratamento (desconhecimento, falta do
medicamento, esquecimento); qualidade de vida (custo, efeitos indesejveis,
esquemas teraputicos complexos); instituio (poltica de sade, acesso ao
servio de sade, tempo de espera, tempo de atendimento) alm do relacionamento
com a equipe de sade.
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Dentre os frmacos mais utilizados em idosos, destacam-se: anti-
hipertensivos, estrgenos e progesteronas, antidepressivos e ansiolticos, trato
alimentar e metabolismo (BUENO et al., 2009; RIBEIRO et al., 2008; LOYOLA
FILHO et al., 2006; PEREIRA et al., 2004; FLORES,2003). Alm desses, Fleming &
Goetten (2005) tambm citam os antiulcerosos.
O uso de medicamentos visando modificar comportamento, humor e
emoes tambm tem se mostrado expressivo em idosos, sendo utilizados para
modificar o comportamento normal produzindo estados alterados ou para alvio de
enfermidades mentais (BALDESSARINI, 1995). Porm, estudos demonstram que o
uso de psicotrpicos tem sido associado a problemas importantes entre idosos: risco
de reaes adversas, intoxicaes, dficit cognitivo e aumento das taxas de
acidentes, quedas e fraturas (LVARES et al., 2010; NBREGA & KARNIKOWSKI,
2005; DAAL & VAN LIESHOUT, 2005; CHAIMOWICZ et al., 2000; APA, 1990).
Quando se trata do uso de medicamentos entre idosos, alguns fatores
merecem destaque porque podem influenciar diretamente na qualidade da terapia
medicamentosa, assim como podem influenciar negativamente na adeso ao
tratamento entre idosos: uso em dosagens inadequadas (CORRER et al., 2007), uso
de associaes medicamentosas (ROZENFELD, 2003), redundncias (GONTIJO et
al., 2012), uso de medicamentos sem valor teraputico (GAVA, 2010),
automedicao (DAINESI, 2005), polifarmcia (VITOR et al., 2008), ocorrncia de
interaes medicamentosas (JUURLINK et al., 2003) e uso de medicamentos
potencialmente inapropriados (AGS, 2012).
Uma vez que a promoo de sade ao idoso apresenta contexto complexo
e que os servios de sade precisam estar preparados para atender s demandas
sempre crescentes desta parcela da populao, criou-se a Poltica Nacional de
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Sade do Idoso, na qual foram definidas como diretrizes essenciais: a promoo do
envelhecimento saudvel, ateno integral sade, capacitao dos recursos
humanos especializados, cooperao na divulgao de conhecimentos cientficos
nacionais e internacionais, bem como apoio a estudos e pesquisas (BRASIL, 2006).
Como a populao idosa reconhecidamente utiliza mais os servios de sade, o
acesso a servios especializados se faz importante, uma vez que pacientes idosos
requerem cuidados especializados em maior intensidade (TRAVASSOS & VIACAVA,
2007).
Deste modo, considerando os diversos fatores que influenciam no uso de
medicamentos e o risco que o uso de forma inadequada representa para a
populao idosa, estudos epidemiolgicos que informem o perfil do uso de
medicamentos na populao idosa so de extrema importncia em termos de Sade
Pblica.
Neste trabalho, foram estudados idosos atendidos em centros de sade de
referncia - os Centros de Ateno a Melhor Idade (CAIMI) na cidade de Manaus,
em relao s caractersticas socioeconmicas, perfil de sade e uso de
medicamentos.
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19
2. JUSTIFICATIVA
O aumento da populao idosa e consequente aumento da prevalncia de
doenas crnico-degenerativas e psiquitricas tm gerado diversas discusses
sobre polticas pblicas em relao implicao social e sade (VERAS, 2007).
fato que os idosos se encontram em situao de maior vulnerabilidade
em relao aos problemas de sade. Por isso, importante considerar que com o
passar dos anos, os idosos apresentam mudanas fisiolgicas, metablicas e
bioqumicas importantes, que devem ser consideradas pelos profissionais de sade,
principalmente no que se refere terapia medicamentosa. comum verificar para
este grupo o uso concomitante de vrios frmacos (prescritos ou no) que devem
ser cuidadosamente analisados, a fim de promover o uso racional de medicamentos,
evitando a ocorrncia de interaes medicamentosas ou reaes indesejadas
(COELHO FILHO et al., 2004, SILVA, 2004).
Problemas relacionados aos medicamentos podem influenciar
negativamente na capacidade funcional, psicomotora e cognitiva em idosos,
aumentando o risco de acidentes, ferimentos, isolamento e internao,
principalmente no que se refere ao uso de psicotrpicos (HULSE, 2002).
Em geral, o objetivo do tratamento mdico a cura, mas muitas
enfermidades presentes em idosos so passveis de tratamento para controle e por
isso h necessidade de tratamentos prolongados ou contnuos. Desta forma, a
estratgia do tratamento mdico para idosos deve ser promover maior adeso
terapia e manuteno da qualidade de vida do paciente (ALMEIDA et al., 2007).
Segundo Cramer (1991), dentre os principais fatores relacionados ao uso,
ou no, de medicamentos, citam-se os fatores relacionados ao paciente (sexo,
idade, escolaridade e nveis socioeconmicos), patologia (tipo, cronicidade,
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ausncia de sintomas e consequncias tardias), ao tratamento (custo, efeitos
adversos, adeso, esquemas complexos), hbitos de vida (uso de lcool e tabaco) e
at mesmo institucionais (acesso aos sistemas de sade e fatores que dificultam o
acesso).
Em Manaus, os idosos contam com servios especializados atravs de
atendimento nos CAIMI Centros de Ateno a Melhor Idade, que promovem
atendimento exclusivo para populao idosa. Dividido em trs unidades nas zonas
norte, sul e oeste; o servio disponibiliza atendimento ambulatorial, com nfase no
manejo das doenas prevalentes e aes preventivas, sendo por estes motivos
escolhidos como local de estudo.
Considerando a falta de estudos epidemiolgicos sobre o uso de
medicamentos em idosos no estado do Amazonas e a relevncia de tais
informaes para a gesto dos servios de sade, avaliou-se a prevalncia do uso
de medicamentos na populao idosa atendida em centros de sade de referncia
em Manaus Centros de Ateno ao Idoso (CAIMI) e suas relaes com demais
fatores relacionados ao uso de medicamentos.
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21
3. REVISO DA LITERATURA
Assim como em outros pases, o envelhecimento populacional ocorre de
forma acentuada no Brasil, como consequncia da reduo da fecundidade e da
mortalidade infantil, alm do aumento da expectativa de vida. O tema vem sendo
bastante enfatizado no que se refere s suas implicaes sociais, econmicas,
sanitrias, culturais e polticas, visto que so necessrios gastos diferenciados, com
novos recursos e estruturas para atender ao perfil epidemiolgico e demogrfico que
se consolida (PEREIRA et al., 2006; LOYOLA FILHO et al., 2005; SIQUEIRA et al.,
2002).
Conforme a populao envelhece, novos paradigmas de sade surgem.
Antes, somente a presena ou ausncia de doenas era um indicador de sade
importante. Hoje, necessrio avaliar o grau de capacidade funcional do indivduo.
O processo de envelhecimento sem doenas envolve graus de perda funcional, mas
tambm importante avaliar como essa perda pode ser acentuada em virtude de
fatores genticos e ambientais (RAMOS, 2009).
Em um pas de dimenses continentais e em contextos de importantes
desigualdades regionais e sociais, o sistema pblico de sade e previdncia no
capaz de atender a necessidades da populao idosa. Os problemas de sade
tpicos da idade, como a presena de doenas crnicas, perda de autonomia e
aumento das incapacidades acabam por diminuir a qualidade de vida. Assim,
questes relacionadas capacidade funcional e autonomia em idosos se tornam
mais relevantes do que as prprias morbidades, pois esto diretamente ligadas
qualidade de vida (CHAIMOWICZ, 1997).
Em virtude do aumento da populao idosa, verifica-se simultaneamente o
aumento de patologias com diversificada sintomatologia, principalmente crnicas
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degenerativas, que frequentemente necessitam de terapias prolongadas e
contnuas, o que torna esse grupo um grande consumidor de medicamentos
(ANDRADE et al., 2004). Por isso, os idosos so, possivelmente, o grupo etrio mais
medicalizado da sociedade (ROZENFELD, 2003; MOSEGUI et al., 1999).
A problemtica de sade do idoso no tange apenas o uso de
medicamentos. reconhecido que essa populao utiliza mais servios de sade,
apresenta internaes hospitalares mais frequentes, alm de maior tempo de
ocupao de leitos em hospitais, quando comparados a outras faixas etrias
(VERAS, 2002).
Tendo em vista que este um problema multifatorial, que a sade um
direito universal e que a reduo das desigualdades prioridade das polticas
pblicas, o acesso aos servios de sade, em seus diversos graus de especialidade,
deve priorizar no somente o tratamento, mas deve fornecer uma verdadeira rede de
suporte social, com nfase na equidade e na integralidade (LOUVISON et al, 2008).
3.1. Importncia da caracterizao socioeconmica em sade
Segundo Duarte et al. (2002) a situao socioeconmica exerce papel
central na sade dos indivduos e da populao. Durante muito tempo, essa
caracterizao permitiu que fossem tomadas medidas em termos de sade pblica
que auxiliassem atividades de preveno e controle de algumas doenas, bem como
acompanhamento da populao, planejamento e at certo ponto, avaliao das
aes de sade desenvolvidas (CESAR et al., 1996).
O conceito de classe social em sade antes era utilizado na tentativa de
ampliar o entendimento do processo sade-doena na perspectiva da sua
determinao social, porm, estudos epidemiolgicos tm demonstrado que
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23
doenas e limitaes no so consequncias inevitveis do envelhecimento, mas
que so fatores influenciados tambm pelo acesso aos servios de sade, reduo
dos fatores de risco, mudana de hbitos, sociedade na qual o individuo se insere,
bem como suas condies socioeconmicas (BRETAS, 2003; CESAR et al., 1996)
Alguns estudos de base populacional demonstraram que idosos com
melhores condies socioeconmicas apresentam melhores condies de sade
(ALVES et al., 2010; GIACOMIN et al., 2005; KNESEBECK et al., 2003; PARKER et
al., 1999; BERKMAN & GURLAND, 1998). Em contrapartida, outros autores
demonstraram que associao entre condies de sade e indicadores
socioeconmicos no so significativos quando analisados entre a populao idosa
(DUNCAN et al. 2002, BECKETT, 2000).
Em estudo realizado no Brasil baseado em amostra da PNAD Pesquisa
Nacional por Amostra de Domiclio, Lima-Costa et al. (2003) verificaram que idosos
com renda mais baixa apresentaram piores condies de sade (pior percepo da
sade, interrupo de atividades por problemas de sade, ter estado acamado e
relato de algumas doenas crnicas), pior funo fsica e menor uso de servios de
sade (menor procura e menos visitas a mdicos e dentistas).
Para que sejam planejadas polticas pblicas especficas para a terceira
idade, o conhecimento das condies de sade e a influncia da situao
econmica devem ser considerados, buscando corrigir distores por classe social
(BERQU, 1999). As aes devem ser realizadas com base pesquisas que
determinem um diagnstico bsico atravs dos seguintes indicadores: idade, sexo,
nvel educacional, condies socioeconmicas, descrio dos problemas e
necessidades bsicas para promoo de sade e bem-estar, alm de dados sobre
morbidade e incapacidade (KALACHE, 1993).
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24
Outro importante fator que deve ser analisado o nvel de escolaridade.
Segundo Meireles et al. (2007) baixos nveis de escolaridade associados a fatores
socioeconmicos e culturais podem influenciar no aparecimento de doena, uma vez
que podem dificultar a obteno de informaes e a conscientizao das pessoas
sobre a relevncia dos cuidados com a sade ao longo da vida, bem como interferir
na adeso ao tratamento e na manuteno de hbitos saudveis.
A estrutura demogrfica, sexo, fatores socioeconmicos,
comportamentais, culturais, o perfil de morbidade, polticas governamentais e
propaganda tambm podem influenciar no padro do uso de medicamentos em
determinadas regies. Por isso necessrio que se investigue qual a relao entre
esses fatores e sua influncia no uso de medicamentos por idosos (BATISTA et al.,
2008; ARRAIS, 2009; ARRAIS et al., 2005; BERTOLDI et al., 2004; LOYOLA FILHO
et al., 2002).
Em estudo sobre uso de medicamentos e polifarmcia em idosos
residentes em comunidade, Linjakupum et al. (2002) verificou que idosos do sexo
feminino, mais velhos e vivos consomem mais medicamentos. J Chen et al. (2001)
verificou que idosos em pior situao econmica consomem mais medicamentos.
Em estudo sobre o perfil de uso de medicamentos em idosos no nordeste
brasileiro, Coelho Filho et al. (2004) verificaram que o uso de medicamentos
prescritos apresentou associao com idade avanada, sexo masculino, e nvel
socioeconmico. J o uso de medicamentos no prescritos estava associado ao
nvel de comprometimento funcional e nvel socioeconmico. Os autores concluram
que as desigualdades se deram em virtude dos diferentes nveis socioeconmicos.
Em pesquisa de base populacional em Minas Gerais, na cidade de
Bambu, Loyola Filho et al. (2005) verificaram que o consumo de medicamentos
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25
prescritos esteve associado ao sexo feminino, idade (70-79 e 80 anos), renda
familiar(maior), estado de sade (pior) e nmero de consultas mdicas (maior). O
uso de medicamentos no prescritos apresentou associao negativa com consulta
mdica e associao positiva com sexo (feminino) e consulta a um farmacutico.
Em outro estudo sobre uso de medicamentos em idosos, desta vez na
regio metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, Loyola Filho et al. (2006)
verificaram que o consumo de qualquer numero de medicamento apresentou
associao independente com o sexo feminino, idade (80 anos ou mais), ter visitado
um mdico e apresentar alguma condio crnica.
Os resultados encontrados por Silva et al. (2010) verificaram que a
correlao entre idade, estado civil e com quem mora esteve estatisticamente
associado ao uso de medicamentos. J em inqurito postal nacional, Silva et al.
(2012) verificaram associao com o uso de medicamentos para as variveis: sexo
feminino, benefcio recebido via INSS (Instituto Nacional do Seguro Social),
participao em plano de sade privado e maior nmero de consultas mdicas.
Para definir os critrios considerados para caracterizao socioeconmica,
escolheu-se o Critrio de Classificao Econmica Brasil (CCEB), que foi
desenvolvido pela Associao Brasileira de Empresas de Pesquisa. Este critrio
divide a populao segundo padres e potenciais de consumo.
Em virtude da facilidade de aplicao, a classificao socioeconmica
bem aceita. Realizada por meio da atribuio de pesos a um conjunto de itens, so
avaliados desde o conforto domstico e at o nvel de escolaridade do chefe de
famlia. O critrio atribui pontos em funo de cada caracterstica domiciliar e realiza
a soma destes pontos. feita ento uma correspondncia entre faixas de
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26
pontuao do critrio e estratos definidos por A1, A2, B1, B2, C1, C2, D, E; quanto
maior a pontuao, melhor a situao socioeconmica (ABEP, 2012).
3.2. Aspectos relacionados sade do idoso
O envelhecimento saudvel depende da interao de diversos fatores, que
influenciam no estado de sade do indivduo e devem ser analisados conjuntamente.
Assim, a caracterizao da sade requer inqurito sobre mltiplas informaes
referentes a diferentes aspectos da vida dos idosos (ALVES & RODRIGUES, 2005;
PORTRAIT et al., 2001).
Tornou-se importante conhecer no s os aspectos socioeconmicos, mas
tambm obter informaes sobre o estado de sade, restries de atividades da vida
diria, necessidades percebidas de sade e o uso de servios, bem como de gastos
com bens e servios de ateno sade. Portanto, variaes nas condies de
sade, bem-estar, capacidade funcional e necessidades de cuidado distinguem
diferentes grupos de idosos (CREWS & ZAVOTKA, 2006; DACHS, 2002).
Bailis et al. (2003) sugerem que uma forma de realizar esses estudos o
levantamento de informaes sobre a percepo dos idosos sobre seu prprio
estado de sade. Embora esta mensurao seja difcil, visto que uma varivel
multifatorial, em geral tem se mostrado um mtodo confivel.
Segundo Appels et al. (1996) a autopercepo se associa fortemente ao
estado real ou objetivo de sade das pessoas e pode ser utilizada como uma
representao das avaliaes objetivas de sade. Para Blaxter (1990) a
autopercepo de sade, alm de ser um dado fcil de ser coletado, apresenta
concordncia de 80% entre a autoavaliao do estado de sade e a avaliao
clnica da presena ou ausncia de condio crnica.
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27
Como a autoavaliao em sade um indicador importante sobre o
comportamento da populao em relao busca por servios de sade,
principalmente no caso dos idosos, este um dado tradicionalmente coletado e que
de certa forma permite qualificar informaes mais diretamente relacionadas
limitao de atividades causadas por problemas de sade de longa durao
(STURGIS et al., 2001).
Outro importante aspecto a prtica de atividade fsica. fato que a
relao entre atividade fsica, sade, qualidade de vida e envelhecimento vem sendo
cada vez mais analisada cientificamente. Tornou-se consenso que a atividade fsica
um fator determinante no processo de envelhecimento e que sua prtica indica
certo grau de independncia e capacidade funcional. Capaz de exercer efeitos
positivos contra o aumento e evoluo de doenas crnico-degenerativas, o
exerccio proporciona melhora no estado geral de sade da populao,
especialmente a idosa (SILVA et al., 2012; MATSUDO et al., 2001).
Considerando o conceito de capacidade funcional como a habilidade fsica
e mental para que se mantenha uma vida independente e autnoma, define-se que
incapacidade funcional a inabilidade ou dificuldade no desempenho de
determinadas atividades bsicas da vida cotidiana, que so indispensveis para uma
vida independente na comunidade (YANG & GEORGE, 2005; RAMOS et al., 1993).
Da mesma forma, a relao do idoso com os servios de sade deve ser
avaliada. reconhecido que o idoso necessita de ateno em sade especializada,
utiliza mais servios de sade, enfrenta frequentes internaes hospitalares, alm de
maior tempo em ocupao de leitos quando comparado a outras faixas etrias
(VERAS, 2002).
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28
Desta forma, informaes obtidas sobre manifestao de doenas ou
sintomas ao longo da vida, a presena de doena nos ltimos 12 meses e a busca
por servios de sade so dados importantes. A Organizao Mundial de Sade
considera que a presena de doena nos ltimos 12 meses o indicador mais
adequado para monitoramento da sade da populao (WHO, 1990).
O Brasil possui um sistema de sade nico no mundo, o SUS Sistema
nico de Sade, que legalmente garante atendimento gratuito e igualitrio, mas que
no consegue atender as demandas de toda a populao. Na realidade, o modelo
de ateno sade predominante caracteriza-se pela fragmentao do cuidado,
centralizao do poder no profissional mdico e dificuldade de acesso da populao
com menor poder aquisitivo. Desta forma, no se tem conseguido atender
adequadamente aos diversos e complexos problemas de sade, principalmente da
populao idosa, pela necessidade de atendimento especializado (MARIN et al.,
2008; VERAS, 2003).
3.3. Morbidades em idosos
De acordo com Rodrigues et al. (2008) a literatura brasileira demonstra
que o aumento de doenas crnicas no transmissveis est intimamente
relacionado com o aumento da demanda de idosos.
Para Amaral et al. (2004) e Almeida et al. (2002) as doenas crnicas so
a principal causa de incapacidade, a maior razo para a demanda aos servios de
sade e so responsveis por considerveis gastos efetuados no setor de sade,
principalmente para atendimento de idosos, uma vez que os tratamentos
prolongados e a recuperao mais lenta e complicada onerosa para os servios de
sade.
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Neste contexto, o conceito de morbidade tem sido utilizado para designar
um conjunto de casos de uma mesma doena ou a soma de agravos de sade que
atingem um determinado grupo de indivduos, em tempo e lugar especfico.
Tambm se considera que a ocorrncia, frequncia e desvio de bem estar esto
associados ao termo morbidade (MINARI, 1997).
Quando associadas ao prprio envelhecimento, as morbidades podem
resultar em perdas das funes fsicas e mentais, interferindo na capacidade
funcional. Assim, o nmero de comorbidades um fator fortemente associado s
incapacidades funcionais, bem como dependncia de cuidados em sade
(RAMOS, 2003; ROSA et al., 2003). Estudos demonstram associaes importantes
entre doenas crnicas e incapacidade funcional em idosos (KATTAINEN et al.,
2004; ROSA et al., 2003; BARDAGE & ISACSON, 2001).
Conhecer as doenas que afetam a populao idosa no pas, bem como
as necessidades de ateno em sade, pode auxiliar na promoo de polticas
pblicas diferenciadas para atendimento das demandas assistenciais de forma
adequada. Do mesmo modo, estratgias preventivas mais eficazes podem reduzir os
custos com servios de sade e diminuir a carga sobre a famlia (ALVES et al., 2007;
DUARTE, 2003).
De acordo com Almeida et al. (2002) estudos tm sido feitos para validar
informaes sobre morbidade ou estado de sade autorreferido, com o intuito de
permitir interpretaes e anlises obtidas em inquritos domiciliares mais fidedignas.
Para Barreto & Figueiredo (2009) estudos epidemiolgicos frequentemente utilizam
informaes autorreferidas pela relativa simplicidade e baixo custo na coleta dos
dados.
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30
Para Viacava (2002) coletar dados sobre doenas crnicas uma questo
arbitrria, visto que algumas doenas crnicas s podem ser reconhecidas a partir
de um diagnstico mdico, assim, os inquritos podem subestimar a prevalncia de
algumas enfermidades.
A sugesto da OMS para coleta de tais dados que os pases devem
selecionar as doenas de maior impacto em cada realidade, porm sugere que
algumas doenas crnicas estejam presentes nos inquritos, tais como: hipertenso,
asma, bronquite, problemas com tireoide, diabetes, doena crnica de pele, doena
crnica de corao, cistite crnica, problema dental crnico, dor nas costas crnica,
artrite e acidente vascular cerebral (WHO, 1990).
3.4. Aspectos relacionados ao uso de medicamentos
O uso de drogas para os mais diversos fins antigo. O desenvolvimento
de medicamentos representa um grande avano na histria, visto que contribui de
forma relevante para melhoria da qualidade de vida da populao (FERNNDEZ-
LLIMS et al., 2004; SAYD et al., 2000).
Apesar do uso de medicamentos apresentar vantagens, h possibilidade
de produzir danos sade em decorrncia da utilizao incorreta. Mesmo quando os
frmacos so utilizados em doses preconizadas e com correta indicao mdica, h
riscos associados ao uso de medicamentos (QATO et al., 2008; CIPOLLE et al.,
2006).
A falta de estudos epidemiolgicos sobre sade do idoso, principalmente
no que se refere terapia medicamentosa e efetividade do tratamento, dificulta a
implementao de uma poltica de assistncia farmacutica adequada a real
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31
necessidade da populao, assim como impede a melhoria da qualidade da ateno
ao idoso no Brasil (RIBEIRO et al., 2005).
Com o crescimento de avanos tecnolgicos e o desenvolvimento de
formulaes cada vez mais potentes e de custo elevado, a venda de frmacos
movimenta um mercado milionrio (CALIXTO & SIQUEIRA JR, 2008). Porm, em
termos de sade pblica, a preocupao com a sade e o bem estar do indivduo
devem estar acima de interesses financeiros.
Pereira & Freitas (2008) demonstram que o acompanhamento
farmacacoteraputico pode promover melhor controle das patologias, por promover
melhor relao entre os pacientes e os medicamentos e melhor comunicao entre
as equipes de sade, contribuindo para reduo de erros de medicao e reaes
adversas.
Posto isto, pesquisas sobre avaliao do uso de medicamentos so
importantes para conhecer quais fatores podem influenciar no consumo de
medicamentos. Do mesmo modo, Sayd et al. (2000) consideram que pesquisas
devem ser realizadas para que se conhea a motivao e os fatores determinantes
para o uso de medicamentos, tanto em relao prescrio quanto
automedicao.
Problemas diversos podem ser decorrentes do mau uso e abuso de
consumo de medicamentos, principalmente na populao idosa. Esses fatores,
aliados a no adeso terapia tm provocado impacto sobre medidas pblicas para
preveno de agravos e promoo da sade, assim como influencia nos gastos
envolvidos na prestao de servios de sade (GOMES et al., 2007).
A adeso fica ainda mais comprometida quando os tratamentos so
longos ou quando h alteraes no estilo de vida, o que frequente na populao
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32
idosa (SILVEIRA & RIBEIRO, 2005). Segundo Vasconcelos et al. (2005), fatores
como capacidade de ler e escrever, desconhecimento sobre o medicamento, nmero
de comprimidos consumidos diariamente, local de armazenamento e o contexto
familiar influenciam no correto tratamento medicamentoso.
Sayd et al. (2000) consideram que tambm so critrios de uso de
medicamentos o hbito, aceitao propagandas da indstria farmacutica, atrao
por novas frmulas e at mesmo a falta de conhecimento pode induzir a um uso
incorreto de medicamentos, que poderia levar a um aumento de complicaes
iatrognicas e a gastos desnecessrios para o tratamento.
Em relao quantidade de medicamentos utilizados, Rozenfeld (2003)
afirma que a maioria dos idosos consome pelo menos um medicamento e cerca de
um tero faz uso de cinco ou mais simultaneamente. Assim, a mdia de consumo
entre idosos varia entre dois e cinco princpios ativos, dependendo da condio
socioeconmica e do seu estado de sade.
Em diferentes estudos verificou-se que os frmacos mais consumidos
normalmente consistem naqueles utilizados em doenas crnicas prevalentes na
terceira idade. Dentre esses, destacam-se os medicamentos para o sistema
cardiovascular, sistema nervoso e trato alimentar e metabolismo (NETO et al. 2012;
SILVA et al., 2012; LOYOLA FILHO et al., 2006; NBREGA et al., 2005; CASTRO,
2001; MOSEGUI et al., 1999; MIRALLES & KIMBERLIN, 1998).
Ribeiro et al. (2008) tambm verificaram que os medicamentos mais
utilizados por idosos atuavam sobre os sistemas cardiovascular, nervoso e trato
alimentar e metabolismo, sendo o consumo superior entre as mulheres, tornando-as
mais vulnerveis aos prejuzos de polifarmcia tais como risco de interaes e uso
inadequado.
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33
Dentre os principais indicadores da qualidade da terapia medicamentosa
para idosos, destacam-se: nmero de medicamentos empregados, a proporo de
frmacos contraindicados para a idade, assim como associaes que podem causar
interaes medicamentosas potencialmente perigosas e as redundncias
farmacolgicas (ROZENFELD, 1997).
Interaes medicamentosas so tipos especiais de respostas
farmacolgicas, em que os efeitos de um ou mais medicamentos so alterados pela
administrao simultnea ou anterior de outro frmaco, alimento, bebida ou algum
agente qumico ambiental (HOEFLER & WANNMACHER, 2010; OGA & BASILE,
1994). Como a populao idosa reconhecidamente faz uso de diversos frmacos
simultaneamente, se faz necessrio avaliar a possibilidade de ocorrncia de
interaes entre frmacos.
Quanto maior o nmero de frmacos utilizados, maior o risco de interao
frmaco-frmaco. De acordo com Juurlink et al. (2003) os idosos so particularmente
suscetveis interao medicamentosa em virtude da polifarmcia, presena de
comorbidades e tratamento por vrios mdicos. Goldberg et al. (1996) em estudo
com 205 pacientes verificou que interaes medicamentosas ocorriam em 13% dos
pacientes tomando dois medicamentos e em 85% dos pacientes que consumiam
mais de seis medicamentos.
Como respostas decorrentes de interao podem ocorrer: potencializao
do efeito teraputico, reduo da eficcia, surgimento de reaes adversas com
distintos graus de gravidade ou ainda, no causar nenhuma modificao no efeito
desejado do medicamento (OGA & BASILE, 1994). Assim, a interao entre
medicamentos pode ser benfica, ou ainda pode causar respostas indesejadas no
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34
previstas no regime teraputico (reao adversa) ou apresentar pouco significado
clnico (SECOLI, 2001).
Revela-se importante tambm a redundncia, que a utilizao de mais
de um medicamento pertencente mesma classe teraputica e que, portanto,
possuem o mesmo mecanismo de ao. Embora se utilize a redundncia na terapia
de algumas patologias, como por exemplo, o diabetes, prefervel recorrer
monoterapia, a fim de reduzir os riscos ao paciente (GONTIJO et al., 2012; AGUIAR
et al., 2008; RUMEL et al., 2006; MOSEGUI et al. 1999).
Dentre outros problemas relacionados ao uso, encontram-se as
associaes em doses fixas e o uso de medicamentos sem valor teraputico. Estes
no apresentam eficcia clnica quando comparados a outros medicamentos j
disponveis no mercado, enquanto aqueles no so recomendados em virtude da
maior probabilidade de ocorrncia de reaes adversas, bem como pela
impossibilidade de individualizao da dose de cada medicamento (GAVA et al.,
2010; ROZENFELD, 2003).
Existem associaes em doses fixas que representam potencial de causar
reaes adversas. Esses medicamentos s podem ser recomendados caso haja
vantagens acumuladas, maior eficcia, melhor cumprimento da prescrio mdica e
reduo de custos (NBREGA et al., 2005). Pode ser necessria a monitorizao
teraputica dos nveis sanguneos do frmaco para realizar eventuais ajustes de
dose (ROSA et al., 2006).
Outro problema frequentemente relatado no Brasil a automedicao, que
ocorre quando um indivduo faz o consumo de medicamentos sem prescrio por
profissional habilitado (mdico ou dentista) ou indicado por balconistas de farmcia,
farmacuticos, leigos (parentes, vizinhos ou amigos), por conta prpria ou refazendo
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terapias anteriores, o que representa um grave problema de sade pblica, visto que
nenhum medicamento isento de riscos (OLIVEIRA et al., 2012; DAINESI, 2005).
Para Coelho Filho et al. (2004) o conhecimento do perfil de utilizao de
medicamentos de fundamental importncia para o delineamento de estratgias de
prescrio e de uso racional de frmacos, a fim de garantir a qualidade da terapia
medicamentosa na populao idosa. Para Rocha et al. (2008) o conhecimento sobre
o uso de medicamentos pode auxiliar na identificao de problemas relacionados ao
uso entre idosos, o que pode interferir na adeso prescrio mdica e na
conscientizao da farmacoterapia responsvel.
A preocupao com o uso racional de medicamentos por idosos se mostra
relevante, visto que em virtude de mudanas fisiolgicas, a prescrio do idoso deve
considerar peculiaridades farmacocinticas e farmacodinmicas, assim como o custo
para manuteno da terapia e eventuais dificuldades para adeso ao tratamento
(ANDRADE et al., 2004). Essas mudanas podem influenciar negativamente na
capacidade funcional, bem como na habilidade psicomotora e cognitiva, aumento o
risco de acidentes, ferimentos, isolamento e institucionalizao (HULSE, 2002).
Em relao ao consumo de medicamentos psicotrpicos, verifica-se um
aumento expressivo do uso em idosos, fato decorrente da ampliao da indicao
teraputica, do lanamento de novos frmacos com menor perfil de toxicidade e do
reconhecimento de determinados quadros clnicos que necessitam do uso desses
medicamentos (NOIA, 2010).
O estudo do uso de medicamentos entre idosos importante, pois apesar
da necessidade do uso de medicamentos, h eventuais riscos relacionados ao uso,
principalmente quando este se faz inadequado. Os idosos so particularmente
vulnerveis, pois como utilizam mltiplos medicamentos, aumentam os riscos da
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ocorrncia de reaes adversas (TEIXEIRA & LEFVRE, 2001). Analisar os fatores
relacionados ao uso e adeso da terapia pode auxiliar os profissionais de sade a
promover melhorias na ateno sade do idoso.
3.4.1. Medicamentos psicotrpicos
Os medicamentos psicotrpicos so modificadores seletivos do Sistema
Nervoso Central e podem ser classificados, segundo a Organizao Mundial de
Sade em: ansiolticos e sedativos, antipsicticos, antidepressivos, estimulantes
psicomotores, psicomimticos e potencializadores da cognio (RANG et al., 2001).
Dentre os mais utilizados entre idosos, destacam-se os ansiolticos e sedativos
(FIRMINO et al., 2011; SANTOS et al., 2009; ROZENFELD, 2003).
Em estudo transversal de base populacional realizado em idosos de 75
anos ou mais em So Paulo, Noia et al. (2010) verificaram prevalncia 12,2%
(n=136) de uso de psicotrpicos: 7,2% de antidepressivos; 6,1% de
benzodiazepnicos; e 1,8% de antipsicticos.
Entre idosos de instituies de longa permanncia, lvares et al. (2010)
verificaram prevalncia de consumo de psicotrpicos de 59,7% (n=145). Em estudos
internacionais, Hosia-Randell & Pitkl (2005) verificaram que entre os idosos
participantes de 65 anos ou mais, 79,7% usam medicamentos psicotrpicos
regularmente. Mann et al. (2009) verificaram a prevalncia do uso de psicotrpicos
em 74,6% e Bergman et al. (2007) verificaram que os sedativos hipnticos e os
antidepressivos estavam entre os dez medicamentos mais prescritos, com
prevalncias de 55,1 e 51% respectivamente, o que demonstra que os psicotrpicos
so amplamente utilizados em instituies de longa permanncia e asilos.
O uso de medicamentos psicotrpicos tem sido considerado um
importante fator de risco para acidentes e quedas. Dentre os frmacos que
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representam os maiores riscos, encontram-se: benzodiazepnicos, neurolpticos,
sedativos, hipnticos, antidepressivos e antiparkinsonianos. Alm dos psicotrpicos,
outras classes ou medicamentos tm sido associadas ao risco de acidentes e
quedas, tais como diurticos, antiarrtmicos, anti-hipertensivos e digoxina
(COUTINHO & SILVA, 2002; BRITO et al., 2001; LEIPZING et al., 1999a, 1999b).
O uso desses medicamentos pode provocar acidentes porque podem
diminuir as funes motoras, causar fraqueza muscular, fadiga, vertigem ou
hipotenso postural, provocando perda da autonomia, da qualidade de vida, entre
outras perdas (ANDRADE et al., 2004; FABRCIO et al., 2004).
Verifica-se que se faz uso cada vez maior de medicamentos psicotrpicos
em idosos, visto que sndromes psiquitricas so entidades frequentes na psiquiatria
geritrica (ROCHA et al., 1997). Dados demonstram que a prevalncia de
transtornos mentais em idosos variada, porm estima-se que 25% 9 milhes de
pessoas no mundo tm sintomas psiquitricos significativos. A expectativa de que
o nmero de pessoas idosas com transtorno mental dobre at a metade do sculo
XXI, constituindo um grave problema clnico e de sade pblica (SADOCK &
SADOCK, 2007).
Estudos sobre a prevalncia de transtornos psiquitricos no Brasil so
escassos. Almeida (1999) em estudo realizado em idosos atendidos em emergncia
psiquitrica verificou que o transtorno de humor era o diagnstico sindrmico mais
comum entre os idosos (40,0%), sendo 2,24 vezes mais frequente nas mulheres.
Transtornos mentais de origem orgnica so a segunda causa mais frequente de
atendimento mdico (19,2%) e demncia o principal diagnstico entre esses casos
(14%). Outros diagnsticos frequentes so transtornos ansiosos (15,4%) e
esquizofreniformes (14,4%), alcoolismo (4,1%) e abuso de sedativos (2,6%).
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Para Garrido & Menezes (2002) e Irigaray & Schineider (2007) os
problemas mentais mais prevalentes na populao idosa so as sndromes
depressivas e demenciais. Sua importncia se d porque esto relacionados s
perdas de autonomia e ao agravamento de quadros patolgicos existentes.
A escassez de estudos sobre prevalncia de transtornos psiquitricos no
Brasil, principalmente em idosos, pode ser explicada pela dificuldade de
determinao do padro de normalidade para idosos. Em muitas ocasies difcil
distinguir entre normalidade e doena mental, o que no permite definio clara de
diagnstico psiquitrico (STELLA et al., 2002; PAOLIELLO, 2001).
Aliado a isso, diferenas entre psiquiatras quanto a critrios diagnsticos e
a forma de obteno das informaes dos indivduos podem variar, necessitando
assim de instrumentos padronizados para que diferentes investigadores possam
realizar a comparao de resultados (MENEZES et al., 2000).
3.4.2. Reaes adversas e interaes medicamentosas
fato que a teraputica medicamentosa essencial para o controle da
maioria das doenas, porm importante considerar que no existem frmacos
seguros, visto que seu uso pode desencadear reaes adversas (PASSARELLI et
al., 2007).
A reao adversa a medicamentos considerada como uma resposta
nociva e no intencional ao uso de um medicamento que ocorre em associao a
doses normalmente empregadas em seres humanos para profilaxia, diagnstico e
tratamento de doenas e/ou para a modificao de funes fisiolgicas, excludos os
casos de falha teraputica (EDWARD & ARONSON, 2000).
Diversos estudos tm colaborado para demonstrar que alguns
medicamentos especficos ou categorias de medicamentos devem ser evitados ou
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utilizados com cautela, visto que no organismo do idoso podem induzir reaes
indesejadas (NBREGA & KARNIKOWSKI, 2005).
Alm do risco da ocorrncia de reaes adversas, comum verificar o uso
simultneo de vrios medicamentos (polifarmcia) entre idosos, o que os expe a
interaes medicamentosas. Entende-se como interao medicamentosa a alterao
na atividade farmacolgica o que resulta em modificaes na velocidade ou na
extenso de absoro, distribuio, metabolismo ou excreo, de um determinado
medicamento pela administrao prvia ou concomitante de outro medicamento
(KAWANO et al., 2006; HOEFLER, 2005).
Reconhece-se que tambm possvel ocorrer interaes entre
medicamento-alimento, medicamento-etanol, medicamento-tabaco, medicamento-
teste de laboratrio, medicamento-gravidez, medicamento-lactao, duplicao de
princpio ativo e alergia. Como forma de auxiliar os profissionais em relao essas
informaes, a ferramenta Micromedex, fornece informaes baseadas em
evidncias sobre as drogas, o manejo da doena, toxicologia, a dosagem neonatal,
medicinas alternativas, e educao do paciente (MICROMEDEX, 2013).
3.4.3. Medicamentos potencialmente inapropriados
O fato do organismo do idoso apresenta mudanas em suas funes
fisiolgicas, bem como particularidades farmacocinticas e farmacodinmicas,
presena de mltiplas doenas e a necessidade de uso de vrios frmacos de forma
contnua possibilitam que este grupo apresente risco mais elevado de ocorrncia de
reaes adversas, principalmente quando se faz uso de medicamentos
potencialmente inapropriados para idosos (FICK et al., 2008; PASSARELLI &
JACOB FILHO, 2007; NBREGA & KARNIKOWSKI, 2005; GURWITZ, 2004).
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Deve-se tambm considerar o fato de que tais alteraes fisiolgicas
podem resultar em durao mais longa da atividade de frmacos, efeitos maiores ou
menores e aumento do risco de intoxicao (HAYES et al., 2007).
Em virtude desses problemas, algumas categorias de medicamentos
passaram a ser considerados imprprios para uso em idosos, seja por falta de
eficcia teraputica comprovada ou pelo risco aumentado de efeitos adversos, o que
justifica seu impedimento de uso (NBREGA & KARNIKOWSKI, 2005).
Como exemplo de medicamentos contraindicados para uso em idosos, os
antidepressivos como amitriptilina e doxepina, em virtude de suas propriedades
anticolinrgicas e sedativas no so a melhor escolha. Os antipsicticos
frequentemente so txicos e podem provocar sedao, distrbios do movimento e
efeitos colaterais anticolinrgicos (MERK, 2002).
Para Gallagher et al. (2008a) o uso de medicamentos inapropriados em
pacientes idosos uma prtica comum e se associa a efeitos adversos, mortalidade
e consequentemente maiores gastos pblicos nos servios de sade. Assim, o tema
se tornou alvo de especialistas e diversos mtodos de adequao da terapia
farmacolgica para idosos foram propostos.
Os primeiros a criar um conjunto de critrios para identificar medicamentos
inadequados para uso em idosos foram Beers et al. (1991). Neste estudo, diferentes
aspectos puderam ser abordados para definir a qualidade do uso de medicamentos:
prtica da polifarmcia, ou seja, uso concomitante de vrias classes teraputicas,
substituio de frmacos e uso indevido de alguns medicamentos. Considerou-se
um frmaco inadequado quando este apresenta mais riscos do que benefcios.
O critrio de Beers j sofreu quatro revises, sendo a ltima no ano de
2012 pela American Geriatrics Society - AGS. Alm do apoio da AGS, o estudo foi
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conduzido por um painel interdisciplinar de 11 especialistas em cuidados geritricos
e farmacoterapia, aplicando uma verso modificada do mtodo Delphi para reviso
sistemtica e classificao.
Como resultado, 53 medicamentos ou classes foram considerados
inadequados para uso em idosos, divididos em 3 categorias: 1) medicamentos
potencialmente inapropriados para idosos, 2) medicamentos potencialmente
inapropriados para idosos na presena de doenas ou sndromes e 3)
medicamentos a serem utilizados com precauo (AGS, 2012). A descrio dos
medicamentos potencialmente inapropriados para idosos encontra-se no Quadro 1.
Outros critrios para a identificao de medicamentos inapropriados para
idosos so considerados importantes para a literatura. McLeod et al. (1997),
identificaram 38 prticas inadequadas para prescrio em idosos. Knapp (1991)
desenvolveu o DUR Drug Utilization Review, no qual se considerou como critrio
avaliativo a qualidade e o custo dos medicamentos.
No estudo de Lipton et al. (1993) foram definidas seis categorias de
problemas com prescries aps painel realizado com cinco clnicos e dois
farmacuticos clnicos.
Hanlon et al. (1992) props o uso da ferramenta MAI Medicaton
Appropriateness Index, que consiste em um instrumento semelhante ao
desenvolvido por Lipton et al. e foi elaborado como parte de um ensaio clinico para
avaliao de servios de sade nos Estados Unidos. A principal diferena que o
MAI um modelo mais abrangente, j submetido a estudos de confiabilidade e
validade.
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Medicamentos Inapropriados para Idosos Justificativa para Inapropriao
Anticolinrgicos Anti-histamnicos de Primeira Gerao (como agente nico ou em combinao) Bronfeniramina, Carbinoxamina, Clorfeniramina, Clemastina, Ciproeptadina, Dexbronfeniramina, Dexclofeniramina, Difenidramina (oral), Doxilamina, Hidroxizina, Prometazina, Triprolidina
Altamente anticolinrgicos. Diminuio do clearance com a idade avanada e desenvolvimento de tolerncia quando usado como hipntico. Risco aumentado de confuso, boca seca, constipao e outros efeitos anticolinrgicos e txicos.
Agentes Antiparkinsonianos Benztropina (oral), Triexifenidil
No recomendados para preveno de sintomas extrapiramidais com antipsicticos.
Antispasmdicos Alcalides de Belladonna, Clordiazepxido-Clinidium, Diciclomina, Hiosciamina, Propantelina, Escopolamina
Altamente anticolinrgicos, eficcia no comprovada.
Antitrombticos Dipiridamol, oral de ao curta (no se aplica a de liberao prolongada em combinao com cido acetilsaliclico), Ticlopidina
Podem causar hipotenso ortosttica. Alternativas mais seguras esto disponveis.
Antibitico Nitrofurantona
Potencial toxicidade pulmonar. Alternativas mais seguras esto disponveis.
Cardiovascular Bloqueadores Alfa-1 Doxazosina, Prazosina, Terazosina
Risco elevado de hipotenso ortosttica, no recomendado como tratamento de rotina para hipertenso, outras alternativas com risco-benefcio superior esto disponveis.
Agonistas Alfa, Central Clonidina, Guanabenzo, Guanfacina, Metildopa, Reserpina (> 0,1 mg/d)*
Risco elevado de efeitos adversos no Sistema Nervoso Central, podem causar bradicardia e hipotenso ortosttica, no recomendados para tratamento de rotina para hipertenso
Antiarrtmicos (Classes Ia, Ic, III) Amiodarona, Dofetilida, Dronedarona, Flecainida, Ibutilida, Procainamida, Propafenona, Quinidina, Sostalol
Dados sugerem que o controle rende melhor equilbrio dos benefcios. A amiodarona est associada com toxicidades mltiplas, desordens pulmonares e prolongamento do intervalo QT.
Disopiramida
Disopiramida um potente inotrpico negativo e, portanto pode induzir insuficincia cardaca em adultos mais velhos; fortemente anticolinrgico; outros antiarrtmicos so preferidos.
Dronedarona Piores resultados foram relatados em pacientes com fibrilao atrial permanente ou falncia cardaca.
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Digoxina > 0,125 mg/d Na insuficincia cardaca, dosagens elevadas esto associadas a nenhum benefcio adicional e podem aumentar o risco de toxicidade.
Nifedipino, liberao imediata Potencial efeito hipotensor, risco de isquemia miocrdica.
Espironolactona > 25 mg/d
Na insuficincia cardaca, o risco de hipercalemia maior em idosos, especialmente para uso >25mg/d ou uso concomitante de antiinflamatrio no esteroidal, inibidor de enzima conversora de angiotensina ou suplemento de potssio.
Sistema Nervoso Central Antidepressivos Tricclicos (em combinao ou no) Amitriptilina, Clordiazepxido-amitriptilina, Clomipramina, Doxepina > 6 mg/d, Imipramina, Perfenazina-amitriptilina, Trimipramina
Altamente colinrgico, sedativo e causa hipotenso ortosttica.
Antipsicticos de Primeira Gerao (convencionais) Clorpromazina, Flufenazina, Haloperidol, Loxapina, Molindona, Perfenazina, Pimozida, Promazina, Tioridazina, Tiotixeno, Trifluoperazina, Triflupromazina Antipsicticos de Segunda Gerao (atpicos) Aripiprazolem, Asenapina, Clozapina, Iloperidona, Lurasidona, Olanzapina, Paliperidona, Quetiapina, Risperidona, Ziprasidona
Risco aumentado de acidente vascular cerebral e mortalidade em pessoas com demncia. Risco aumentado de acidente vascular cerebral e mortalidade em pessoas com demncia.
Tioridazina, Mesoridazina
Altamente anticolinrgico e risco de prolongamento do intervalo QT.
Barbituratos Amobarbital, Butabarbital, Butalbital, Mefobarbital, Pentobarbital, Fenobarbital, Secobarbital
Altas taxas de dependncia fsica; tolerncia aos benefcios sedativos; risco de overdose em baixas dosagens.
Benzodiazepnicos De ao curta e intermediria Alprazolam, Estazolam, Lorazepam, Oxazepam, Temazepam,Triazolam Ao prolongada Clorazepato, Clordiazepxido, Clordiazepxido-amitriptilina, Clidinium-clordiazepxido, Clonazepam, Diazepam, Flurazepam, Quazepam
Em geral, todos os benzodiazepnicos aumentam o risco de comprometimento cognitivo, delrio, quedas, fraturas e acidentes veiculares em idosos. Podem ser apropriados para distrbios como movimento rpido dos olhos, distrbios do sono, abstinncia de benzodiazepnicos e etanol, severo distrbio de ansiedade generalizado, anestesia periprocedural e cuidados de fim de vida.
Cloral hidratado
Ocorre tolerncia dentro de 10 dias e os riscos superam os benefcios em relao overdose com 3 vezes a dose recomendada.
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Meprobamato Alta taxa de dependncia fsica; muito sedativo.
Hipnticos no-benzodiazepnicos Eszopiclona, Zolpidem, Zaleplona
Os eventos de reao adversa so similares ao uso de benzodiazepnicos em idosos (delrio, quedas, fraturas); melhoria mnima na durao e latncia do sono.
Mesilato de ergotamina, Isoxsuprina Falta de eficcia comprovada.
Endcrino Andrgenos Metiltestosterona, Testosterona
Risco para problemas cardacos e contra indicado para homens com cncer de prstata.
Tireide dessecada
Preocupaes sobre os efeitos cardacos, alternativas mais seguras esto disponveis.
Estrgenos com ou sem progesterona
Evidncia de potencial carcinognico (mama e endomtrio), falta de efeito cardioprotetor e proteo cognitiva entre idosas. Evidncias demonstram que estrgenos vaginais para tratamento de secura vaginal seguro e efetivo em mulheres com cncer de mama.
Hormnio do crescimento
O efeito sobre a composio corporal pequeno e associado com edeme, atralgia, sndrome do tnel do carpo, ginecomastia, glicose alterada em jejum.
Insulina, escala mvel Risco aumentado de hipoglicemia sem melhora no manejo da hiperglicemia.
Megestrol
Efeito mnimo sobre o peso; aumenta os riscos de eventos trombticos e possibilidade de morte entre idosos.
Sulfonilurias, longa durao Clorpropamida, Glibenclamida
Clorpropamida: meia-vida prolongada em idosos; pode causar hipoglicemia prolongada; causa sndrome da secreo inapropriada de hormnio antidiurtico. Glibenclamida: maiores riscos de hipoglicemia prolongada severa em idosos.
Gastrointestinal Metoclopramida
Pode causar efeitos extrapiramidais incluindo discinesia tardia; risco pode ser ainda maior entre idosos.
leo Mineral, oral Risco de aspirao e efeitos adversos, alternativas mais seguras esto disponveis.
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Trimetobenzamida Um dos menos eficazes antiemticos; pode causar efeitos adversos extrapiramidais.
Dor Meperidina
No um analgsico eficaz para dosagens comumente usadas para uso oral; pode causar neurotoxicidade; alternativas mais seguras esto disponveis.
Antiinflamatrios no estereoidais no seletivos, oral cido acetilsaliclico > 325 mg/d, Diclofenado, Diflunisal, Etodolaco, Fenoprofeno, Ibuprofeno, Cetoprofeno, Meclofenamato, cido Mefenmico, Meloxicam, Nabumetona, Naproxeno, Oxaprozina, Piroxicam, Sulindaco, Tolmetina
Aumentam os riscos de sangramento gastrointestinal e lcera pptica nos grupos de risco; o uso de inibidor de bomba de prtons ou misoprostol reduzem, mas no eliminam os riscos.
Indometacina Cetorolaco, inclui parenteral
Aumentam os riscos de sangramento gastrointestinal e lceras ppticas nos grupos de risco. De todos os antiinflamatrios no estereoidais, a indometacina a que mais tem efeitos adversos.
Pentazocina Analgsico opiide que causa efeitos adversos no Sistema Nervoso Central, incluindo confuses e alucinaes, mais comum do que em outros narcticos. Alternativas mais seguras esto disponveis.
Relaxantes do msculo esqueltico Carisoprodol, Clorzoxazona, Ciclobenzaprina, Metaxalona, Metocarbamol, Orfenadrina
A maioria dos relaxantes musculares so mal toleradas por idosos por causa dos efeitos adversos anticolinrgicos, sedao, risco de fratura; eficcia em doses toleradas em idosos questionvel.
Quadro 1 Medicamentos Potencialmente Inapropriados para Idosos de acordo com o
Critrio de Beers atualizado pela American Geriatrics Society. Fonte: AGS (2012).
Aps estudo conduzido com 715 pacientes, Gallagher & OMahony
(2008b) apresentaram o Critrio STOPP - Screening Tool of Older Persons
Potentially Inappropriate Prescriptions. Tendo seu uso indicado para pacientes
idosos hospitalizados, quando comparado ao critrio de Beers, o critrio STOPP
identifica uma proporo significativamente maior de pacientes que necessitam de
hospitalizao em virtude do uso de medicamentos inapropriados.
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Diante do exposto em tantos estudos, segundo Nbrega & Karnikowski
(2005) a prescrio adequada para idosos deve: considerar o estado clnico,
minimizar o uso de drogas, iniciar com doses menores e adequ-las conforme
resposta, evitar o uso de medicamentos considerados imprprios pela literatura e em
caso de necessidade, realiz-lo com cautela e monitoramento constante.
No Brasil, um dos primeiros estudos que avaliou o uso de medicamentos
inapropriados foi Mosegui et al. (1999). Realizado entre idosas no Rio de Janeiro,
verificou-se que 17% dos medicamentos utilizados eram inapropriados para uso.
Tambm foi verificado que 14% faziam uso de medicamentos redundantes e 16%
estavam expostas a interaes medicamentosas.
Em artigo publicado em 2003, Rozenfeld descreve vinte frmacos
potencialmente contraindicados para os idosos, entre os quais foram citados: os
benzodiazepnicos e os hipoglicemiantes orais de meia-vida longa, os barbituratos
de curta durao, os antidepressivos com forte ao anticolinrgica, os analgsicos
opioides, as associaes em doses fixas de antidepressivos e antipsicticos, a
indometacina e alguns relaxantes musculares - como a orfenadrina e o carisoprodol
(ROZENFELD, 2003).
Coelho Filho et al. (2004) em perfil sobre uso de medicamentos em idosos
em rea urbana do Nordeste brasileiro verificou que os benzodiazepnicos de longa
durao foram os medicamentos inadequados mais utilizados (7%), seguido de
clorpropamida (4%), laxantes (1,5%) e outros.
Em estudo sobre reaes adversas e uso de medicamentos inapropriados
para idosos, Passarelli & Jacob Filho (2007) verificaram que de 115 pacientes idosos
internados, 61,8% apresentaram no mnimo uma reao adversa durante o tempo de
internamento. Os fatores de risco considerados significativos para a ocorrncia de
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reaes adversas foram: nmero de diagnsticos, o nmero de medicamentos e o
uso de medicamento inapropriado para idosos.
Em pesquisa sobre uso de drogas e polifarmcia em 800 indivduos de 60
anos ou mais residentes na cidade do Rio de Janeiro, Rozenfeld et al. (2008)
verificaram que 10,4% dos entrevistados faziam o uso de medicamentos
considerados inapropriados, sendo que os mais encontrados foram os relaxantes
musculares, anti-histamnicos e os benzodiazepnicos de longa durao.
Em avaliao da prescrio de 149 pacientes idosos internados em um
servio de clnica mdica de um hospital pblico, Costa (2009) verificou que a
prevalncia de prescrio de medicamentos inadequados foi 38,9% e os principais
medicamentos foram: diazepam, dexclorfeniramina e amiodarona. Alm disso, foram
identificadas 599 interaes medicamentosas potenciais.
Em estudo sobre medicamentos inapropriados utilizados por idosos
admitidos em um hospital geral filantrpico realizada por Nassur et al. (2010),
verificou-se a presena de polifarmcia em 40,6%, o uso de um ou mais
medicamentos inapropriados em 29,2%, uso de dose incorreta em 42,7%, uso de
medicamentos de eficcia duvidosa em 20,8%, uso redundante em 7,3%, possveis
interaes frmaco-frmaco em 6,4% e possveis interaes frmaco-doena em
5,3%.
O estudo sobre o uso de medicamentos inapropriados de acordo com o
critrio de Beers e sua presena no Sistema nico de Sade realizado por Obreli
Neto & Cuman (2011) encontrou alta prevalncia desses medicamentos,
representando de 19,6 a 29,6% do total de medicamentos padronizados nas listas
de medicamentos dos municpios da microrregio de Ourinhos, em So Paulo.
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Em estudo do Projeto SABE Sade, Bem-estar e Envelhecimento, com
1258 idosos que afirmaram fazer uso de medicamentos, Cassoni (2011) constatou
que 28% deles faziam uso de medicamentos potencialmente inapropriados de
acordo com o critrio de Beers, utilizando 41 tipos ou classe destes medicamentos.
3.5. Aspectos relacionados ao uso de demais substncias psicoativas
Diferentes grupos populacionais tm diferentes riscos de adoecerem,
sofrerem acidentes ou morrerem. Na presena de determinados fatores, aumenta-se
a probabilidade da ocorrncia de danos sade. Do ponto de vista da sade pbica,
o consumo de lcool e o tabagismo so importantes fatores de risco para doenas
crnicas no transmissveis (MAIA et al., 2006; WHO, 2003).
Para Levin & Kruger (2000) o uso de lcool entre idosos uma epidemia
invisvel, pois seus ndices so subestimados e mal identificados. Como o consumo
de lcool apresentou aumento significativo entre a populao idosa, estudos tm
sugerido questionrios padronizados a fim de identificar esse problema na
populao, tais como CAGE Cutdown, Annoyed, Guilty e Eye-opener, AUDIT -
Alcohol Use Disorders Identification Test , MAST Michigan Alcoholism Screening
Test e o SAAST Self-Administered Alcoholism Screening Test (SENGER et al.,
2011; AERTGEERTS et al., 2004).
O alcoolismo representa um problema de sade pblica, uma vez que
responsvel por uma parcela significativa de bitos evitveis; seu consumo est
associado ao aumento da hipertenso arterial, cirrose, acidente vascular
hemorrgico e aos cnceres da orofaringe, laringe, esfago e fgado (BARROS et al.
2008; BARROS et al., 2007).
O tabagismo, caracterizado como uma pandemia pela OMS,
considerado como a maior causa passvel de preveno de doena, visto que o
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cigarro um dos mais potentes agentes carcinognicos (BARROS et al., 2007;
WHO, 2003).
Em idosos, o fumo causa catarata e contribui para o desenvolvimento de
osteoporose, aumentando os riscos de fratura. Tambm um fator de risco para
ataque isqumico transitrio bem como acidente vascular cerebral (ARAJO et al.,
2004). Para stbye et al. (2002) o incentivo interrupo do fumo relevante entre
os idosos, visto que podem ser obtidos diversos benefcios, tais como a reduo do
risco de adoecer, melhor controle de evoluo de doenas preexistentes, melhora na
qualidade de vida e aumento da expectativa de vida.
O consumo de substncias como de lcool, tabaco e outras drogas
preocupante porque pode causar dficit cognitivo como problemas de memria,
que interferem na compreenso e esquecimento da terapia estabelecida,
aumentando os riscos de abandono do tratamento (RAMOS et al., 2010).
O consumo prolongado dessas substncias tambm pode induzir os
idosos dependncia. Os sintomas do abuso de lcool e drogas muitas vezes so
confundidos com sintomas prprios do envelhecimento, tais como demncia e
depresso, o que dificulta que se submeta o paciente a tratamentos para
dependncia qumica (RAMOS et al., 2010; BENSHOFF et al., 2003).
Mudanas na vida dos idosos podem justificar as mudanas no padro de
utilizao de drogas. Aposentadoria e perda do papel social podem levar ao
consumo excessivo de lcool e medicamentos como benzodiazepnicos, drogas
antipsicticas e polifarmcia. Tabaco, lcool e outros sedativos so frequentemente
utilizados para bloquear solido, dar autoconfiana, animar, ajudar com o sono e
relaxamento, ou aliviar tenses (KORRAPATI & VESTAL, 1995).
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A prevalncia do uso, abuso e dependncia de substncia psicoativa entre
idosos muito variada, visto que depende do mtodo utilizado para detectar seus
usos e consequncias, bem como da distribuio geogrfica e da amostra, o que
dificulta a realizao de comparaes (DUFOUR & FULLER, 1995).
Recentemente a literatura tem evidenciado a relao entre abuso de
drogas, dependncia e outras desordens psiquitricas. Os problemas de abuso de
drogas tm sido explorados, independente das desordens psiquitricas, o que
dificulta o entendimento de como a dependncia de drogas se associa s
psicopatologias (WEISS & COLLINS, 1992).
Segundo Pillon et al. (2010) o uso de substncias psicoativas em idosos
um problema complexo e pouco explorado, em virtude do baixo nmero de idosos
que procuram os servios especializados para tratamento do uso de substncias
psicoativas. necessrio que os profissionais de sade estejam preparados para
identificao desse problema e recorram a prticas assistncias adequadas para
tratamento.
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4. OBJETIVOS
Objetivo Geral
Avaliar o perfil de uso de medicamentos entre idosos atendidos em centros de
referncia em sade do idoso em Manaus-AM.
Objetivos Especficos
Analisar as relaes entre fatores socioeconmicos e o uso de medicamentos
entre idosos;
Estimar a prevalncia e o consumo total de medicamentos;
Identificar as principais classes de medicamentos utilizadas pelos idosos;
Verificar a fonte da medicao utilizada pelos idosos para identificar a
ocorrncia de automedicao;
Verificar a presena de polifarmcia, possveis interaes medicamentosas e
redundncias farmacolgicas;
Determinar a prevalncia do uso de medicamentos psicotrpicos;
Identificar o uso de medicamentos inapropriados para idosos de acordo com o
Critrio de Beers atualizado;
Investigar o uso de outras substncias psicoativas.
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5. MATERIAIS E MTODOS
5.1. Tipo de Estudo
Este trabalho consiste em um estudo transversal do tipo descritivo-
observacional com recorte temporal de agosto a novembro de 2012.
5.2. Populao em Estudo
Foram includas no estudo pessoas com 60 anos ou mais de idade,
atendidas nos trs centros de sade de referncia em sade do idoso em Manaus -
CAIMI (Centros de Ateno a Melhor Idade), distribudos nas zonas norte (CAIMI
Andr Arajo), sul (CAIMI Dr. Paulo Csar Arajo Lima) e oeste (CAIMI Ada
Rodrigues Viana).
5.3. Critrios de Incluso
Foram considerados os seguintes critrios: a) O paciente deveria ter idade
igual ou superior a 60 anos; b) Ser paciente cadastrado e receber atendimento em
um CAIMI e c) Os idosos consumidores de medicamentos deveriam apresentar no
momento da entrevista bula, embalagens ou prescries dos medicamentos
consumidos na ltima semana.
5.4. Critrios de Excluso
Foram excludos da amostra: a) Idosos que receberam atendimento em
mais de uma unidade dos CAIMI e b) Idosos que no alcanaram os pontos de corte
determinados pelo mtodo Teste de Fluncia Verbal (TFV) categoria animais
(BRUCKI et al., 1997) no teste de avaliao da cognio.
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5.5. Local de Estudo
O estudo foi realizado nos CAIMI (Centros de Ateno a Melhor Idade). O
servio conta com trs unidades distribudas pela cidade nas zonas norte (CAIMI
Andr Arajo), sul (CAIMI Dr. Paulo Csar de Arajo Lima) e oeste (CAIMI Ada
Rodrigues Viana) e realiza atendimento ambulatorial, com nfase no manuseio das
doenas prevalentes da terceira idade e em aes preventivas relativas a polticas
de sade.
Nestes centros so oferecidas consultas de Clinica Geral e nas
especialidades de Cardiologia, Cirurgia Geral, Ortopedia, Gastroenterologia,
Endocrinologia, Odontologia, Psicologia, Fonoaudiologia, Ginecologia, Nutrio,
Ginecologia, Urologia e Radiologia, como tambm so realizados alguns exames
laboratoriais.
Os pacientes so atendidos por meio de consultas agendadas e o servio
conta com farmcia de dispensao exclusiva para pacientes cadastrados, com
presena de farmacutico durante todo o perodo de funcionamento.
5.6. Amostragem
Neste estudo, para o clculo do tamanho amostral foram utilizadas
frmulas aplicadas para varincia populacional desconhecida. Considerou-se o valor
de de acordo com a prevalncia do uso de psicotrpicos entre idosos em estudos
anteriores realizados no Brasil. Analisando os estudos de Mosegui et al. (1999),
Coelho Filho et al. (2004), Flores & Mengue (2005), Loyola Filho et al. (2006), Correr
et al. (2007), Ribeiro et al. (2008) e Marin et al. (2008), verificou-se que a prevalncia
do uso de varia de 6,1% a 36%, sendo considerado para clculo o valor de 36,8%
obtido no estudo de Correr et al. (2007), por haver fornecido a amostra maior.
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Estabeleceu-se o nvel de significncia de 5% e o intervalo de confiana
de 95%. Considerando os idosos cadastrados nas unidades dos CAIMI, foi obtido o
tamanho de amostra de 353 indivduos. De acordo com o critrio de
proporcionalidade, o nmero de entrevistas em cada unidade foi dividido conforme
descrito no Quadro 2.
No de Entrevistados Unidade de Sade
146 CAIMI Andr Arajo Cidade Nova
120 CAIMI Paulo Csar de Arajo Lima Col. Oliveira Machado
87 CAIMI Ada Rodrigues Viana Compensa
Quadro 2 Nmero de entrevistados por unidade de sa