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I UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Fundada em 18 de fevereiro de 1808 Monografia Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de fibrose hepática em pacientes com Hepatite C crônica: uma revisão sistemática Pedro Henrique Silva Ribeiro Salvador (Bahia) Outubro, 2016

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Page 1: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

I

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de fevereiro de 1808

Monografia

Avaliação do desempenho do índice APRI no

diagnóstico de fibrose hepática em pacientes com

Hepatite C crônica: uma revisão sistemática

Pedro Henrique Silva Ribeiro

Salvador (Bahia)

Outubro, 2016

Page 2: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

II

FICHA CATALOGRÁFICA

(elaborada pela Bibl. SONIA ABREU, da Biblioteca Gonçalo Moniz: Memória da Saúde

Brasileira/SIBI-UFBA/FMB-UFBA)

Número

de Cutter

Ribeiro, Pedro Henrique Silva

Avaliação do desempenho do índice APRI no

diagnóstico de fibrose hepática em pacientes com Hepatite C

crônica: uma revisão sistemática/ Pedro Henrique Silva Ribeiro.

(Salvador, Bahia): P.H.S., Ribeiro, 2016

VIII + 33 p.

Monografia, como exigência parcial e obrigatória para conclusão do Curso de

Medicina da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB), da Universidade Federal da

Bahia (UFBA)

Professor orientador: Maria Isabel Schinoni

Palavras chaves: 1. Hepatite C crônica. 2. Fibrose hepática. 3. APRI. I.

Schinoni, Maria Isabel. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de

Medicina da Bahia. III. Avaliação do desempenho do índice APRI no

diagnóstico de fibrose hepática em pacientes com Hepatite C crônica: uma

revisão sistemática.

CDU:

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III

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de fevereiro de 1808

Monografia

Avaliação do desempenho do índice APRI no

diagnóstico de fibrose hepática em pacientes com

Hepatite C crônica: uma revisão sistemática

Pedro Henrique Silva Ribeiro

Professor orientador: Maria Isabel Schinoni

Monografia apresentada à Coordenação do

Componente Curricular MED-B60, como pré-

requisito obrigatório e parcial para conclusão do

curso médico da Faculdade de Medicina da Bahia

da Universidade Federal da Bahia, apresentada

ao Colegiado do Curso de Graduação em

Medicina.

Salvador (Bahia)

Agosto, 2016

Page 4: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

IV

Monografia: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de fibrose

hepática em pacientes com Hepatite C crônica: uma revisão sistemática, de Pedro

Henrique Silva Ribeiro.

Professor orientador: Maria Isabel Schinoni

COMISSÃO REVISORA:

Maria Isabel Schinoni, Presidente, Professora orientadora, (Professora do

Departamento de Biofunção do Instituto de Ciências da Saúde da

Universidade Federal da Bahia);

Assinatura: _____________________________________________________

Regina Terse Trindade Ramos, Professora do Departamento de Pediatria da

Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia;

Assinatura: _____________________________________________________

Valéria Gusmão Bittencourt, Professora do Departamento de Medicina

Interna e Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da Bahia da

Universidade Federal da Bahia.

Assinatura: _____________________________________________________

TERMO DE REGISTRO ACADÊMICO: Monografia avaliada

pela Comissão Revisora, e julgada apta à apresentação pública

no VIII Seminário Estudantil de Pesquisa da Faculdade de

Medicina da Bahia/UFBA, com posterior homologação do

conceito final pela coordenação do Núcleo de Formação

Científica e de MED-B60 (Monografia IV). Salvador (Bahia), em

___ de _____________ de 2016.

Page 5: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

V

A beleza é passageira, mas a irmandade é eterna.

(Autor desconhecido)

Page 6: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

VI

Ao meu pai, Leonel, exemplo de

humanidade e altruísmo; à minha mãe,

Suzana, disciplina e honestidade; a

meu irmão, João Victor, simplicidade e

empatia; à minha família, portanto,

pelos exemplos de qualidades, mais

indispensáveis ao exercício da minha

futura profissão do que o próprio

conhecimento técnico da medicina.

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VII

EQUIPE

Pedro Henrique Silva Ribeiro, Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA.

Correio-e: [email protected];

Maria Isabel Schinoni, Instituto de Ciências da Saúde/UFBA;

Maurício de Souza Campos, estudante de Medicina (FMB/UFBA);

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES

Faculdade de Medicina da Bahia (FMB)

Instituto de Ciências da Saúde (ICS)

FONTES DE FINANCIAMENTO

1. Recursos próprios.

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VIII

AGRADECIMENTOS

A minha professora orientadora, Doutora Maria Isabel Schinoni, por todo o

carinho, paciência, apoio e solicitude durante esses três anos de pesquisa em

Hepatologia.

Ao acadêmico Maurício de Souza Campos, colega e praticamente co-

orientador desta monografia, pela inestimável ajuda dada em cada uma das

etapas deste trabalho.

Aos acadêmicos Fernanda Anjos Bastos e Victor Ribeiro Marques, pela

colaboração e crescimento conjunto no âmbito da Pesquisa acadêmica durante

toda a graduação.

À Doutora Regina Terse Trindade Ramos, pela imensa ajuda e atenção

fornecidos e por toda tranquilidade passada nos momentos mais críticos do

trabalho.

A minha tia e professora, Doutora Andreia Silva Evangelista, por toda a

paciência e toda a ajuda dada com extrema solicitude, independentemente do

horário ou dia da semana. Muito obrigado pelos ensinamentos, conselhos,

artigos, correções, críticas, sugestões e elogios.

Page 9: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

1

SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS 2

ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS 3

I. RESUMO 4

II. OBJETIVO 5

III. REVISÃO DE LITERATURA 6

IV. METODOLOGIA 11

V. RESULTADOS 14

VI. DISCUSSÃO 23

VII. CONCLUSÃO 28

VIII. SUMMARY 29

IX. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 30

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2

LISTA DE SIGLAS

AAR: AST-ALT Ratio (Razão AST-ALT)

APC: Célula Apresentadora de Antígeno

APRI: AST-To-Platelet Ratio Index (Índice de Relação Aspartato

aminotransferase sobre Plaquetas)

ALT: Alanino Aminotransferase

AST: Aspartato Aminotransferase

BHP: Biópsia Hepática Percutânea

CHC: Carcinoma Hepatocelular

C-HUPES: Complexo Hospitalar Professor Edgard Santos

DCPF: Doença Crônica Parenquimatosa do Fígado

DRC: Doença Renal Crônica

EHT: Elastografia Hepática Transitória

FH: Fibrose Hepática

FMB: Faculdade de Medicina da Bahia

HBV/VBH: Vírus da Hepatite B

HCC: Hepatite C crônica

HCV/VHC: Vírus da Hepatite C

HIV: Vírus da Imunodeficiência Humana

ICS: Instituto de Ciências da Saúde

NECBA: Núcleo de Ensaios Clínicos da Bahia

OMS: Organização Mundial da Saúde

PNALT: Índices de ALT Permanentemente Normais

PRISMA: Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-

Analyses

ROC: Receiver Operating Characteristics

RVS: Resposta Virológica Sustentada

UFBA: Universidade Federal da Bahia

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ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS

FLUXOGRAMAS

FLUXOGRAMA 1. Processo de busca, exclusão e seleção de publicações. 15

TABELAS

TABELA 1. Estratégia de pesquisa utilizada na base de dados do PubMed 12

TABELA 2. Características demográficas dos estudos 18

QUADROS

QUADRO 1. Resultados da análise de elegibilidade dos artigos após

rastreamento.

16

QUADRO 2. Características analisadas nos artigos incluídos. 19

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4

I. RESUMO

Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de fibrose

hepática em pacientes com Hepatite C crônica: uma revisão sistemática.

Introdução: A Hepatite C é uma doença viral (HCV) de caráter predominantemente

crônico que acomete o parênquima hepático. Um procedimento de suma importância

no acompanhamento de pacientes portadores do HCV é o estadiamento da fibrose

hepática (FH). A biópsia atualmente é o “padrão-ouro” para diagnóstico e graduação

da FH. Dentre os métodos não invasivos para se avaliar e estadiar o grau de FH tem-

se métodos mecânicos, como a elastografia hepática transitória, e bioquímicos, como

o índice de relação AST sobre plaquetas (APRI). Objetivo: Avaliar o índice APRI como

método de estadiamento de FH em pacientes portadores de Hepatite C crônica.

Metodologia: Revisão sistemática da literatura baseada no método Preferred

Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). Foi utilizada a

base de dados do PubMed/Medline, sendo utilizados como palavras-chave os termos

“APRI”, “AST to platelet ratio index” ou “aspartate aminotransferase ratio index” com

“liver fibrosis” ou “liver fibroses” com “chronic hepatitis C” ou “hepatitis C, chronic”.

Foram utilizados os filtros “Clinical Trial” e “Human”, e foram selecionados artigos em

português, inglês ou espanhol. Resultados: Foram identificadas 292 publicações

inicialmente, além de mais 8 incluídas por busca manual. Dessas, apenas 24 foram

consideradas relevantes para o estudo a partir do uso dos filtros de busca. Então, 7

artigos foram excluídos a partir da leitura do título/resumo. Dos 17 trabalhos eleitos,

11 foram excluídos após leitura completa por não satisfazerem os critérios de inclusão,

sendo os 6 artigos restantes selecionados para análise dos dados. Discussão: Nota-

se uma variabilidade muito grande entre os melhores valores encontrados como

pontos de corte para o diagnóstico dos graus de fibrose hepática pesquisados (F2 e

F3), dificultando a realização de comparações e correlações entre os resultados

encontrados. Conclusões: Não foi possível eleger um novo ponto de corte para o

APRI a partir dos estudos analisados (não houve concordância entre os resultados

encontrados). O APRI parece ser uma boa técnica para o diagnóstico de fibrose

hepática, mas ainda é necessária uma padronização com pontos de cortes

conhecidos para tentar elevar a acurácia deste método.

Palavras-chave: 1. Hepatite C crônica; 2. Fibrose hepática; 3. APRI.

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II. OBJETIVO

PRINCIPAL

Avaliar o índice APRI como método de estadiamento de fibrose hepática em

pacientes portadores de Hepatite C crônica.

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III. REVISÃO DA LITERATURA

A Hepatite C é uma doença viral que acomete o parênquima hepático1. Ela

apresenta um quadro clínico silencioso, uma vez que a sintomatologia da fase aguda

dessa não é exuberante e muitas vezes não é detectada. Possuindo um caráter

predominantemente crônico, sabe-se que a hepatite C cronifica em 70 a 85% dos

casos. Em média, 30% destes evoluem para formas histológicas graves, como cirrose

hepática num período de 20 anos. Os 70% restantes evoluem de forma mais lenta, e

boa parte desta última parcela nunca desenvolverá hepatopatia grave.2

O HCV é o agente etiológico dessa morbidade, e sua forma de contágio se dá

primariamente por via parenteral. É possível citar algumas populações de risco

aumentado para a infecção pelo HCV, a exemplo de usuários de drogas que

compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou

seringas para uso de drogas intravenosas, sejam elas ilícitas (a exemplo de heroína)

ou até mesmo lícitas (como complexos vitamínicos). Outra população de risco é a

composta por pessoas com histórico de exposição percutânea potencialmente

contaminada: tatuagens, piercings, procedimentos de saúde cuja realização

desrespeite as normas de biossegurança (uso inadequado da autoclave na

esterilização de instrumental, transfusões de sangue ou hemoderivados que tenham

acontecido antes do ano de 1992), pessoas que não usem preservativos durante

relações sexuais e que tenham múltiplos parceiros.2

A causa para as manifestações clínicas da Hepatite C, bem como para outras

doenças crônicas do fígado, é uma perda de função parenquimatosa associada a uma

limitação estrutural da anatomia hepática causada por disfunção mesenquimatosa,

secundária ao dano primário nos hepatócitos. O dano celular causado pela simples

presença do HCV nos hepatócitos leva a uma ativação em cascata de citocinas e a

uma reação inflamatória intensa, causando apoptose das células lesadas

irreversivelmente e, concomitantemente, uma proliferação hepatocítica

compensatória exuberante, visto que o parênquima hepático é classicamente um

tecido com plena capacidade de realizar reparo por regeneração.1 O dano

hepatocítico leva as células lesadas a intensificarem a produção de espécies reativas

de oxigênio, a ativarem células mesenquimais (e.g. miofibroblastos, células de Ito) e

a liberar mediadores fibrogênicos1, sendo a fibrose hepática o desfecho final da

agressão deste vírus ao fígado.

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7

Portanto, apesar do fígado ser um órgão com capacidades regenerativas

impressionantes, ele também possui um potencial cicatricial elevado. Os lipócitos,

também conhecidos como células de Ito, quando submetidos a agressões e/ou a

citocinas inflamatórias, saem de um estado quiescente e se ativam, com consequente

proliferação, migração, transformação em miofibroblastos e produção exacerbada de

matriz extracelular (MEC).1 As células do endotélio sinusoidal hepático também

respondem ao dano e à cascata de citocinas no órgão, e é possível observar

defenestração em sinusoides hepáticos em fígados cirróticos; acredita-se que

defenestração e capilarização do endotélio sinusoidal hepático é uma causa

importante para o aparecimento de fibrose perissinusoidal.1 As células de Kupffer são

os macrófagos residentes do fígado, e são responsáveis por boa parte do excesso de

citocinas que medeia o dano hepático durante a Hepatite C, uma vez que

desempenham sua função clássica de célula apresentadora de antígeno (APC)

conquanto haja exposição à infecção viral.1 Outros fatores também podem interferir

no processo de fibrose. A exemplo disso, Ryder, S.D. e colaboradores encontraram,

em seu estudo prospectivo, evidências de que a infecção por HCV poderia causar

mais fibrogênese em idades mais avançadas.3

Um procedimento de suma importância no acompanhamento de pacientes

portadores de HCC é o estadiamento da fibrose. A importância do estadiamento da

fibrose hepática para auxiliar na decisão sobre o tratamento ou não dos pacientes

infectados já foi bem estabelecida.4 A biópsia hepática percutânea (BHP) atualmente

representa o “padrão-ouro” para se diagnosticar e graduar a fibrose hepática (FH),4–6

mesmo tendo consideráveis limitações (como erros de amostragem – erros de local

de coleta, tamanho inadequado do fragmento hepático, diferentes classificações de

estadiamento num mesmo fragmento, discordância entre patologistas) e riscos, como

morbidades (1-2% dos casos, principalmente hemorragias) e um índice de letalidade

de 0,03%.4 Segundo a Sociedade Brasileira de Hepatologia, em seu “Consenso sobre

Hepatite C Crônica”, “a biópsia hepática continua sendo o padrão-ouro para o

estadiamento da hepatite crônica C, mas deixa de ser a primeira opção, podendo ser

substituída por métodos não invasivos, na maioria dos pacientes”.

Entretanto, assim como todo método diagnóstico, a biópsia hepática apresenta

algumas limitações. A variabilidade na qualidade das amostras é algo marcante, que

pode comprometer toda a interpretação e impedir a realização de um diagnóstico

correto; amostras menores de dois centímetros de comprimento podem ser difíceis de

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8

interpretar, e é sabido que um maior calibre da agulha utilizada na punção percutânea

realizada durante o procedimento fornece amostras melhores do que o emprego de

agulhas finas.7,8 Há também uma variabilidade amostral inerente ao procedimento. A

amostra representa apenas 0,002% do fígado total,9 ou seja, doenças que acometam

o fígado de forma pouco homogênea implicam em maiores chances de se obter erro

por esse tipo de variabilidade. A variabilidade pode também ocorrer inter ou intra-

observador, devido ao fato de a biópsia consistir numa aferição subjetiva.10 A flutuação

da atividade da doença pode evidenciar uma outra limitação da biópsia, onde as

alterações histológicas encontradas podem não refletir a atividade geral da doença.

Sistemas de estadiamento histológico para doença hepática crônica são

utilizados para caracterizar e predizer progressão da doença, determinar prognóstico

e guiar estratégias terapêuticas. Há várias escalas de estadiamento histológico, como

o escore Knodell, o escore METAVIR, o escore Ishak (ou Knodell modificado), o

sistema de Batts-Ludwig, dentre outros. Elas permitem estratificar, em ordem

crescente, o diagnóstico de fibrose hepática e o da atividade necroinflamatória

hepática do paciente com base em suas gravidades. Essa estratificação permite

estimar o prognóstico e guiar o manejo clínico do paciente.11

O índice METAVIR é um sistema de classificação que consiste em dois escores

separados – um para fibrose e um para atividade necroinflamatória – que são

representados por um sistema de codificação composto por duas letras e dois

números.12,13 O escore da atividade (representado por “A”) é graduado de acordo com

a intensidade das lesões necroinflamatórias (A0 = sem atividade; A1 = atividade leve;

A2 = atividade moderada; A3 = atividade grave). O escore da fibrose hepática

(representado por “F”) é estadiado conforme uma escala de cinco itens (F0 = sem

fibrose; F1 = fibrose portal sem septos; F2 = poucos septos; F3 = septos numerosos

sem cirrose; F4 = cirrose hepática). O escore METAVIR foi especificamente designado

para e validado em pacientes com hepatite C, razão pela qual esta, dentre as outras,

foi a escala adotada no presente estudo.

A fim de se aferir e comparar o poder diagnóstico para a FH de testes

bioquímicos, histológicos e de imagem, por exemplo, pode-se aglutinar dois ou mais

graus de FH segundo o seu estadiamento pelo índice METAVIR em grupos de

pacientes específicos, viabilizando comparações direcionadas para graus mais ou

menos avançados da doença crônica parenquimatosa do fígado para testes distintos.

Num grupo de pacientes portadores de “cirrose”, apenas pacientes estadiados com

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9

F4 estão compreendidos. “Fibrose avançada” se refere a um grupo que reúne

pacientes portadores de fibrose hepática grau 3 ou 4 (F3 ou F4), enquanto no grupo

de “fibrose moderada” estão reunidos os pacientes cujo grau de fibrose é F2 ou mais

grave (F2, F3 ou F4).

Dentre os métodos não invasivos para se avaliar e estadiar o grau de FH tem-

se métodos mecânicos e bioquímicos, e também associação das duas modalidades.

Dos métodos não invasivos mecânicos, o mais estudado e, consequentemente, o

mais validado, é a elastografia hepática transitória (EHT) aferida através do

FibroScan®, que mede precisamente a fibrose do fígado; como há um número grande

de publicações acerca desse estudo, há pontos de corte dos diferentes graus de FH

avaliados através desse método bem estabelecidos; é um exame com bom valor

prognóstico, visto que é possível prever eventuais complicações da hepatite crônica

C a partir dele. No entanto, apresenta como limitações, tais como o fato de ser

examinador-dependente (depende da experiência do examinador) ou de haver uma

diminuição da precisão em pacientes obesos ou com ascite. Outros métodos

mecânicos não invasivos são o ARFI® e a elastografia por ressonância nuclear

magnética, e são menos estudados que a elastografia hepática transitória. Por isso,

tem pontos de corte entre os estágios menos bem definidos, possuem menos

publicações e validações científicas, o que justifica o uso do Fibroscan® em

detrimento desses últimos.

Há diversos métodos bioquímicos não invasivos para se estadiar a FH, e alguns

estudos já sugeriram uma semelhança grande entre os métodos mais relevantes

dessa categoria em relação a sensibilidade e especificidade. Entretanto, há alguns

métodos mais validados e estudados do que outros, dentre eles os mais relevantes

são o índice de relação aspartato aminotransferase sobre plaquetas (APRI), o

Fibrotest® e o Fibrometer®. O Fibrotest® já vem sido extensivamente utilizado na

França e em outros países e vem sido validado para uso em algumas morbidades

hepáticas; o Fibrometer® é um tanto quanto mais recente e expoente no mundo

médico, mas alguns estudos comparativos indicam uma precisão semelhante ou

superior ao Fibrotest®. O índice APRI consiste numa relação simples de divisão,

sendo o numerador o nível sérico de aspartato aminotransferase (AST) do paciente

dividido pelo limite superior de normalidade dessa enzima no sangue e o denominador

a contagem de plaquetas sanguíneas do paciente. Dentre os três, o índice APRI é o

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10

mais reprodutível, simples, barato e de fácil execução destes, porém não deve ser

utilizado isoladamente como método de estadiamento.

O índice APRI pode ser utilizado tanto para diagnosticar fibrose hepática

avançada como cirrose hepática em pacientes portadores de hepatite C crônica, bem

como deferir o tratamento da infecção pelo vírus da hepatite C (HCV).14 Este seu poder

diagnóstico e seu potencial para se definir conduta foi defendido pela Organização

Mundial da Saúde (OMS) em seu guia publicado em abril de 2014,15 que inclusive

define pontos de corte para o diagnóstico do estágio de fibrose hepática avançada.

Este método tem sido muito escolhido por ser de fácil realização, por seu baixo custo

e por não ser tão invasivo (requer apenas uma punção venosa) e não apresentar

tantos de riscos de complicação como ocorre com a biopsia hepática.

No entanto, os pontos de corte podem ter sido estimados de maneira bastante

específica, porém pouco sensível, fazendo com que possivelmente pacientes

portadores de estágios avançados de fibrose hepática não sejam detectados pelo

índice. Este fator pode representar um efeito benéfico para a gestão em saúde pública,

pois garante que o tratamento seja dispensado para pacientes, em sua maioria, de

fato portadores de fibrose avançada ou cirrose; no entanto, um número significativo

de pacientes portadores desse estágio de DCPF secundária a uma infecção por HCV

pode não estar sendo detectado e, por conseguinte, sendo privados de tratamento.

Portanto, faz-se necessária uma busca sistemática, sumarizando os pontos de corte

para o diagnóstico de fibrose moderada, avançada e cirrose encontrados

preferencialmente em estudos de intervenção.

Além disso, esse escore não está bem validado para utilização em pacientes

que portem outra doença crônica parenquimatosa do fígado (DCPF) que não a

hepatite C crônica (HCC); isso acarreta numa utilização do APRI como ferramenta

diagnóstica e de definição terapêutica apenas para pacientes portadores dessa

doença, o que justifica a restrição da população utilizada no presente estudo.

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11

IV. METODOLOGIA

IV.1. Desenho de estudo

Revisão sistemática da literatura baseada no método Preferred Reporting Items

for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). 16,17.

IV.2. Critérios de seleção

Os seguintes critérios de inclusão para seleção de artigos foram utilizados: 1.

Manuscritos em inglês, português ou espanhol; 2. Artigos publicados em periódicos

indexados; 3. Ser ensaio clínico em humanos portadores de Hepatite C crônica; 4.

Artigos que forneçam sensibilidade e especificidade do índice APRI para

estadiamento de fibrose hepática avançada, calculadas a partir de comparação do

diagnóstico desta fibrose realizado por biópsia hepática; 5. Estudos que classifiquem

a fibrose hepática segundo o sistema METAVIR de estadiamento histológico para

doenças hepáticas crônicas.

Não houve limitação na inclusão de artigos com base em seu ano publicação

ou disponibilidade gratuita.

Foram excluídos desta revisão sistemática os estudos que não atenderam aos

critérios de inclusão previamente estabelecidos.

IV.3. Fontes de informação

A fonte de informação utilizada foi a base de dados do PubMed/Medline.

IV.4. Busca sistemática

Para a busca, foram utilizadas combinações dos termos MeSH “chronic

Hepatitis C” ou “Hepatitis C, chronic” com “liver fibrosis” ou “liver fibroses” com “apri”,

“ast to platelet ratio index” ou “aspartate aminotransferase to platelet ratio index”. A

busca foi efetuada na base de dados descrita na ferramenta de busca avançada

(Tabela 1) no item IV.3, com as seguintes combinações de MeSH terms com seus

respectivos termos booleanos:

chronic Hepatitis C AND liver fibrosis AND apri

Hepatitis C, chronic AND liver fibrosis AND apri

chronic Hepatitis C AND liver fibroses AND apri

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12

Hepatitis C, chronic AND liver fibroses AND apri

chronic Hepatitis C AND liver fibrosis AND ast to platelet ratio index

Hepatitis C, chronic AND liver fibrosis AND ast to platelet ratio index

chronic Hepatitis C AND liver fibroses AND ast to platelet ratio index

Hepatitis C, chronic AND liver fibroses AND ast to platelet ratio index

chronic Hepatitis C AND liver fibrosis AND aspartate aminotransferase to platelet

ratio index

Hepatitis C, chronic AND liver fibrosis AND aspartate aminotransferase to platelet

ratio index

chronic Hepatitis C AND liver fibroses AND aspartate aminotransferase to platelet

ratio index

Hepatitis C, chronic AND liver fibroses AND aspartate aminotransferase to platelet

ratio index

Tabela 1. Estratégia de pesquisa utilizada na base de dados do PubMed.

FERRAMENTA DE PESQUISA AVANÇADA – PUBMED/MEDLINE

TERMOS PESQUISADOS E BOOLEANOS UTILIZADOS Nº DE ARTIGOS

ENCONTRADOS

#4: #1 AND #2 AND #3 292

#3: “APRI” OR “AST to platelet ratio index” OR “aspartate

aminotransferase to platelet ratio index” 904

#2: “liver fibrosis” OR “liver fibroses” 114341

#1: “chronic Hepatitis C” OR “Hepatitis C, chronic” 24745

Apenas um investigador integrante do Grupo de Pesquisa em Hepatites Virais,

vinculado à UFBA, efetuou a busca e seleção dos artigos. Em caso de dúvidas, a

solução foi realizada por consulta com especialista participante do Grupo de Pesquisa.

IV.5. Seleção dos estudos

Como maneira de excluir artigos não relevantes à revisão, foram utilizados os

filtros “Clinical trials”, para inclusão apenas de ensaios clínicos e “Human”, para

inclusão de apenas pesquisas realizadas em seres humanos. Os estudos encontrados

foram posteriormente filtrados através da leitura de título e resumos. Os estudos que

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13

a princípio preenchiam os critérios de seleção foram lidos completamente para melhor

averiguação, e então incluídos ou não na revisão.

Neste momento de leitura integral dos estudos para definir elegibilidade, houve

também uma busca manual própria do autor às referências bibliográficas destes

estudos, objetivando a identificação de artigos que não foram encontrados nas buscas

às bases de dados, mas que podiam encontrar-se presentes nas referências

bibliográficas. À medida que os artigos presentes nas referências não foram

identificados nos resultados deste estudo, eles foram selecionados para leitura global

a fim de definir se seriam, ou não, incluídos no estudo.

IV.6. Extração das medidas de desfecho

Apenas um investigador efetivou a extração dos dados manualmente. Em caso

de dúvidas, a solução foi realizada por consulta com especialista.

IV.7. Dados coletados

Os dados extraídos foram: autor do estudo, ano da publicação, desenho do

estudo, tamanho da amostra, faixa etária, sensibilidade e especificidade do índice

APRI para diagnóstico de fibrose avançada, sensibilidade e especificidade do índice

APRI para diagnóstico de fibrose moderada.

Page 22: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

14

V. RESULTADOS

V.1 Dados Bibliométricos

Foram identificados inicialmente, através da base de dados eletrônica, 292

estudos, além de 8 que foram identificados a partir da busca manual pelo próprio autor,

totalizando 300 estudos encontrados. Foram excluídos inicialmente 276 estudos

advindos da base de dados por não serem ensaios clínicos realizados com humanos,

restando 24 artigos a serem avaliados a partir de leitura do título e do resumo. Destes,

7 foram excluídos por evidenciarem desde o resumo a utilização de um sistema de

estadiamento histológico para doenças hepáticas crônicas distinto do METAVIR (cinco

utilizaram o Ishak, um utilizou o Knodell e um utilizou o de Batts-Ludwig),

impossibilitando, assim, a comparação dos índices APRI encontrados.

Os 17 artigos que não foram excluídos na triagem baseada na leitura de títulos

e resumos foram selecionados para avaliação através de leitura completa, a fim de se

definir se atendiam aos critérios de elegibilidade. Destes, 6 foram incluídos neste

estudo por atenderem a todos os critérios de inclusão previamente estabelecidos. O

processo de inclusão está esquematizado no Fluxograma 1, e os autores, título, ano

de publicação, inclusão ou justificativa de exclusão de todos os 17 estudos

selecionados para leitura integral estão relacionados no Quadro 1.

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15

Fluxograma 1. Processo de busca, exclusão e seleção de publicações.

Publicações identificadas através

da pesquisa na base de dados n = 292

n total = 300

Todas as publicações de ensaios

clínicos em seres humanos rastreadas e selecionadas, mais

artigos de busca manual

n = 24

Artigos analisados integralmente para avaliar elegibilidade

n = 17

Publicações incluídas

n = 6

7 artigos excluídos após leitura do

título e resumo por utilizarem um sistema de estadiamento histológico para doenças

hepáticas crônicas distinto do METAVIR

11 artigos excluídos por não atenderem aos critérios de

inclusão após a leitura completa do artigo

IDE

NT

IFIC

ÃO

R

AS

TR

EA

ME

NT

O

EL

EG

IBIL

IDA

DE

IN

CL

US

OS

Artigos identificados através de busca manual

n = 8

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16

Quadro 1. Resultados da análise de elegibilidade dos artigos após rastreamento. (continua)

AUTOR

PRINCIPAL TÍTULO ANO ELEGIBILIDADE

EL-Mezayen,

H.A.18

Diagnostic performance of collagen IV and laminin for the prediction of

fibrosis and cirrhosis in chronic hepatitis C patients: a multicenter study 2015

Excluído: não apresentou S/E do APRI para

diagnóstico de FH.

Vergniol, J.19 Evolution of Noninvasive Tests of Liver Fibrosis Is Associated With

Prognosis in Patients With Chronic Hepatitis C 2014

Excluído: não realizou BH nem calculou valor

diagnóstico do APRI para FH, apenas seu valor

prognóstico na progressão clínica da Hepatite C.

Yada, N.20 Assessment of Liver Fibrosis with Real-Time Tissue Elastography in

Chronic Viral Hepatitis 2013

Excluído: parcela da população não possuía HCV;

não apresentou S/E do APRI para diagnóstico de

FH.

Boursier, J.21 A New Combination of Blood Test and Fibroscan for Accurate Non-

Invasive Diagnosis of Liver Fibrosis Stages in Chronic Hepatitis C 2011

Excluído: não apresentou S/E do APRI para

diagnóstico de FH.

Liu, C.H.22 Transient Elastography to Assess Hepatic Fibrosis in Hemodialysis in

Chronic Hepatitis C Patients 2011 Incluído.

Fierbinteanu-

Braticevici, C.23

Acoustic radiation force imaging sonoelastography for noninvasive

staging of liver fibrosis 2009

Excluído: não apresentou S/E do APRI para

diagnóstico de FH.

Resino, S.24 Diagnosis of advanced fibrosis in HIV and hepatitis C virus-coinfected

patients via a new noninvasive index: the HGM-3 index 2009

Excluído: não apresentou S/E do APRI para

diagnóstico de FH.

Portilla, J.25 Utilidad de 2 modelos bioquímicos predictivos del grado de fibrosis

hepática en la población penitenciaria con hepatitis C 2009 Incluído.

Masuzaki, R26. Comparison of liver biopsy and transient elastography based on clinical

relevance 2008

Excluído: não apresentou S/E do APRI para

diagnóstico de FH.

S/E: Sensibilidade/Especificidade; RVS: Resposta Virológica Sustentada; FH: Fibrose hepática; BH: Biópsia Hepática.

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17

Quadro 1. Resultados da análise de elegibilidade dos artigos após rastreamento. (conclusão)

AUTOR

PRINCIPAL TÍTULO ANO ELEGIBILIDADE

Yu, M.L.27 A simple noninvasive index for predicting long-term outcome of chronic

hepatitis C after interferon-based therapy 2006

Excluído: APRI usado como marcador clínico de

RVS, sem S/E do APRI para diagnóstico de FH.

Gidding, H.F.28 Hepatitis C treatment outcomes in Australian clinics 2012 Excluído: APRI usado como marcador clínico de

RVS, sem S/E do APRI para diagnóstico de FH.

Liu, C.H.29

Noninvasive tests for the prediction of significant hepatic fibrosis in

hepatitis C virus carriers with persistently normal alanine

aminotransferases

2006 Incluído.

Schiavon, L.L.30 Simple blood tests as noninvasive markers of liver fibrosis in

hemodialysis patients with chronic hepatitis C virus infection 2007 Incluído.

Liu, C.H.31 The ratio of aminotransferase to platelets is a useful index for predicting

hepatic fibrosis in hemodialysis patients with chronic hepatitis C 2010 Incluído.

Castéra, L.32 Prospective comparison of Transient Elastography, Fibrotest, APRI,

and Liver Biopsy for the Assessment of fibrosis in chronic hepatitis C 2005

Excluído: não apresentou S/E do APRI para

diagnóstico de FH.

Poynard, T.33 Standardization of ROC curve areas for diagnostic evaluation of liver

fibrosis markers based on prevalences of fibrosis stages 2007

Excluído: não apresentou S/E do APRI para

diagnóstico de FH.

Leroy, V.34 Prospective comparison of six non-invasive scores for the diagnosis of

liver fibrosis in chronic hepatitis C 2007 Incluído.

S/E: Sensibilidade/Especificidade; RVS: Resposta Virológica Sustentada; FH: Fibrose hepática; BH: Biópsia Hepática.

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18

V.2 Características dos Estudos

O Quadro 2 indica os artigos incluídos no estudo destacando o autor, ano de

publicação, local do estudo, desenho do estudo, tamanho e características (faixa

etária e sexo) da amostra, objetivos, sensibilidade e especificidade do índice APRI

para diagnóstico de fibrose avançada, sensibilidade e especificidade do índice APRI

para diagnóstico de fibrose moderada. As características demográficas dos estudos

estão representadas na Tabela 2.

Tabela 2. Características demográficas dos estudos

Variáveis Clínicas e Demográficas Resultados

Número total de pacientes 1190

Idade (média) 44,6 ± 10,4

Sexo masculino, n (%) 765 (64,3)

Sexo (relação H:M) 1,8:1

Pacientes com fibrose leve ou ausente (F≤1), n (%) 779 (65,5)

Pacientes com fibrose moderada (F≥2) , n (%) 411 (34,5)

Pacientes com fibrose avançada (F≥3) , n (%) 178 (15)

Page 27: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

19

Quadro 2. Características analisadas nos artigos incluídos.

Autor Principal Liu, C.H. Portilla, J. Liu, C.H. Schiavon, L.L. Liu, C.H. Leroy, V.

Ano de Publicação 2011 2009 2006 2007 2010 2007

Local do Estudo Taipé, Taiwan Alicante, Espanha Taipé, Taiwan São Paulo, Brasil Taipé, Taiwan Grenoble, França

Desenho do Estudo Ensaio clínico Ensaio clínico Ensaio clínico Corte transversal Ensaio clínico Ensaio clínico

Amostra

Tamanho (n) 284 165 79 203 279 180

Faixa Etária 18-65 anos ≥18 anos 32-54 anos 34-56 anos 37-57 anos 28-59 anos

Sexo

(Relação

H:M)

1,45:1 64:1 0,55:1 1,78:1 1,47:1 1,65:1

Objetivos

Avaliar a EHT e o

APRI na aferição

da gravidade da

FH de pacientes

de HCC em

hemodiálise.

Avaliar a utilidade

de dois modelos

bioquímicos (APRI

e FIB-4) na

predição

do grau de FH na

população

penitenciária com

HCC.

Avaliar o valor de

índices Doppler e

laboratoriais na

predição de FH

moderada em

pacientes de HCC

com índices

persistentemente

normais de ALT.

Avaliar o valor

diagnóstico de

marcadores não-

invasivos para

estadiar FH em

portadores de

doença renal

terminal infectados

com HCV.

Avaliar uma

abordagem mais

simples para

predizer FH e sua

evolução em

pacientes de HCC

utilizando testes

laboratoriais.

Comparar o

desempenho

diagnóstico de 6

escores (MP3,

Fibrotest, Forn’s,

Fibrometer, APRI

e Hepascore) em

pacientes de HCC.

S/E do APRI p/ DGNFH

moderada (≥F2)

S: 74%

E: 82%

Cut-Off: 0,55

S: 51%

E: 78,4%

Cut-Off: 0,83

S: 47,6%

E: 75%

Cut-Off: 0,4

S: 44%

E: 93%

Cut-Off: 0,95

S: 61%

E: 90%

Cut-Off: 0,6

S: 72%

E: 88%

Cut-Off: 1,5

S/E do APRI p/ DGNFH

avançada (≥F3)

S: 93%

E: 90%

Cut-Off: 0,75

S: 63,5%

E: 78,7%

Cut-Off: 0,86

S: -

E: -

Cut-Off:-

S: 42%

E: 89%

Cut-Off: 1,00

S: -

E: -

Cut-Off: -

S: 87/74%

E: 75/84%

Cut-Off:1,5/2,0

DGNFH: Diagnóstico de fibrose hepática; EHT: elastografia hepática transitória; FH: fibrose hepática; HCC: hepatite C crônica.

Page 28: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

20

V.3 Resultados dos Estudos

Em 2011, Liu et al. desenvolveram um ensaio clínico não-controlado com um

total de 284 indivíduos em hemodiálise portadores de hepatite C crônica para avaliar

o potencial diagnóstico da elastografia hepática transitória (EHT) e do índice APRI na

aferição da gravidade da fibrose hepática (FH) de pacientes em hemodiálise

portadores de HCC.

Pacientes com histórico de infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) ou pelo

vírus da imunodeficiência humana (HIV) foram sumariamente excluídos do estudo,

assim como os pacientes com histórico de abuso de álcool, doenças neoplásicas,

outras comorbidades hepáticas, em cirrose descompensada, em uso de drogas

imunossupressoras, que se recusaram ou com contraindicação para execução de

BHP.

O índice APRI e uma EHT foram realizadas antes da biópsia hepática. A

gravidade da fibrose hepática foi estadiada segundo a escala METAVIR. Curvas

Receiver Operating Characteristic (ROC) foram utilizadas para se aferir a precisão

diagnóstica do índice APRI e da EHT, utilizando-se o resultado da BHP como padrão

de referência.

As áreas sob curvas da EHT foram maiores que as do índice APRI para

diagnosticar fibrose moderada (≥F2), fibrose avançada (≥F3) e cirrose (F4) nos

pacientes.

Portilla et al. objetivaram em seu ensaio clínico não controlado avaliar a

utilidade de dois modelos bioquímicos, APRI e Fibrosis-4 (FIB-4), na predição do grau

de FH na população penitenciária portadora de HCC. No estudo, foram inclusos

pacientes com HCC internos dos centros penitenciários Alicante I e Sevilha I, e de

forma consecutiva se realizou uma BHP para conhecer o grau de fibrose e

implementar o tratamento para HCC. Os graus de fibrose foram definidos segundo o

índice METAVIR.

Os índices APRI e FIB-4 foram calculados para todos os pacientes, e sua

capacidade para o diagnóstico de FH foi definida pela área sob a curva ROC, e o

ponto de corte ótimo foi obtido com base no melhor valor de especificidade encontrado

para o diagnóstico daquele determinado grau de fibrose. Após isso, foram calculadas

a sensibilidade, o valor preditivo positivo e o valor preditivo negativo. Valores de

APRI≥0,55 ou de FIB-4≥1,0 mostravam valores preditivos positivos de 91% e 92%,

respectivamente, para diagnosticar a presença de fibrose ≥F1, mesmo tendo uma

Page 29: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

21

sensibilidade baixa. Um valor de APRI≥0,86 ou um de FIB-4≥1,3 apresentavam

valores preditivos negativos para o diagnóstico de FH avançada (≥F3) de 92,5% e

88,4%, respectivamente.

Já em 2006, Liu et al. reuniram 79 pacientes infectados com HCV, virgens de

tratamento, que apresentavam índices de ALT persistentemente normais (PNALT) e

que passaram por biópsia hepática percutânea (BHP) e ultrassonografia hepática com

Doppler.

Pacientes que foram coinfectados com HBV, HIV, tinham história de abuso de

álcool (>50g/dia), doenças hepáticas autoimunes ou CHC foram excluídos do estudo.

Escores Doppler – velocidade da veia porta (PVV), índice de resistência arterial

hepática (HARI), índice pulsátil arterial hepático (HAPI), índice de resistência arterial

esplênica (SARI) e índice pulsátil arterial esplênico (HAPI) – foram comparados com

índices bioquímicos usados comumente em pacientes com altos índices de

aminotransferases – APRI, índice idade-plaquetas (API), razão AST-ALT (AAR).

Este estudo encontrou 0,4 no índice APRI como o melhor ponto de corte para

o diagnóstico de fibrose hepática grau 2, apresentando sensibilidade de 47,6% e

especificidade de 75%.

Em São Paulo, Schiavon et al. (2007) fizeram um estudo de corte transversal a

fim de avaliar o valor diagnóstico de marcadores não-invasivos para estadiar a FH em

203 pacientes portadores de doença renal crônica (DRC) terminal infectados pelo

HCV. O estudo durou 11 anos (1995-2006), sendo publicado em 2007 no periódico

Hepatology.

Pacientes foram excluídos do estudo por não apresentarem DRC terminal,

carga viral negativa para o HCV, não haviam biópsia realizada (por diversas razões,

como contraindicações cirúrgicas ou tecido hepático insuficiente para estadiamento

do grau de fibrose), abuso de álcool, coinfecção por HBV ou HIV ou já tinham passado

por tratamento com Interferon.

Este estudo encontrou 0,95 e 1,0 no índice APRI como os melhores pontos de

corte para o diagnóstico de fibrose hepática grau 2 e grau 3, respectivamente. Suas

respectivas sensibilidades/especificidades foram 44%/93% e 42%/89%.

Pacientes com doença renal crônica também foram característica da população

utilizada por outro estudo. Liu et al., dessa vez em 2011, estudaram 279 pacientes em

hemodiálise com HCC e uma BHP realizada em prol de se avaliar uma abordagem

Page 30: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

22

mais simples para predizer FH e sua evolução em pacientes de HCC utilizando testes

laboratoriais.

Foram excluídos do estudo pacientes co-infectados por HBV, portadores de

CHC, em cirrose descompensada ou que não realizaram a biópsia hepática. Este

estudo, por sua vez, encontrou 0,6 no índice APRI como o melhor ponto de corte para

o diagnóstico de fibrose hepática grau 2, apresentando sensibilidade de 61% e

especificidade de 90%.

Leroy et al. incluíram em seu estudo realizado em Grenoble, na França, 180

pacientes de HCC que foram submetidos a BHP entre 2002 e 2004 em seu centro. O

objetivo era comparar o desempenho diagnóstico de 6 escores (MP3, Fibrotest,

Forn’s, Fibrometer, APRI e Hepascore) em pacientes de HCC.

Assim como em todos os outros trabalhos revisados no presente estudo, o

índice utilizado para estadiamento da FH a partir da BHP foi a escala METAVIR.

Todos os pacientes incluídos no estudo tinham anticorpo anti-HCV no sangue,

carga viral HCV-RNA detectável pelo método de reação em cadeia de polimerase e

tinham níveis séricos de ALT elevados. Os critérios de exclusão aplicados incluíam

co-infecção por HIV ou HBV, outras hepatopatias, abuso de álcool (considerado como

ingestão maior que 30g/dia), CHC, síndrome de Gilbert, hemólise crônica, síndrome

inflamatória ou tratamento antiviral prévio.

Já este estudo encontrou 1,5 no índice APRI como o melhor ponto de corte

para o diagnóstico de fibrose hepática grau 2, apresentando sensibilidade de 72% e

especificidade de 88%. O índice de 1,5 foi identificado também como um dos dois

melhores pontos de corte para o diagnóstico do estágio F3, sendo sua sensibilidade/

especificidade para este diagnóstico de 87%/75%; ao lado deste índice, foi também

apontada a marca de 2,0 para o mesmo diagnóstico do grau 3 de FH, sendo 74% e

84% suas respectivas sensibilidade e especificidade.

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23

VI. DISCUSSÃO

A biópsia hepática (BH) é sabidamente o exame padrão-ouro para o

estadiamento do grau de fibrose hepática; entretanto, apresenta alguns aspectos

negativos para sua utilização ampla, como ter um custo mais elevado quando

comparado com outros métodos de diagnóstico do grau de fibrose hepática, ser um

exame invasivo, apresentar risco de complicações, além de ser necessária uma

interpretação histológica confiável. Pensando nos países de renda insuficiente para,

atendendo à integralidade, realizar um estadiamento clínico do grau de fibrose com a

BH, a OMS, em abril de 2014, sugeriu como recomendação condicional o uso do

índice APRI ou do FIB-4 (outro teste bioquímico) para aferir o grau de fibrose hepática

em pacientes portadores de Hepatite C nessas situações de recursos financeiros

limitados (países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento).15 O uso do índice APRI

foi descrito inicialmente em pacientes infectados pelo vírus C, sem outras causas de

doença hepática, sem CHC, sem histórico de transplante hepático ou de terapias

imunossupressoras/à base de Interferon.35

Embora o tratamento para HCV deva ser considerado para todos os portadores

de HCC, sabe-se que é um tratamento caro e que por isso vários países não podem

o fornecer a todos os pacientes infectados pelo vírus C da hepatite. Além disso, alguns

pacientes com grau leve de fibrose podem nunca vir a desenvolver cirrose, sendo,

portanto, submetidos a um tratamento de potencial iatrogênico grande sem uma tão

favorável relação de risco-benefício. Estes pacientes com graus iniciais de fibrose,

entretanto, apresentam taxas muito melhores de resposta virológica sustentada (RVS)

do que pacientes com hepatopatia viral crônica mais grave, nos quais o tratamento se

faz mais necessário devido à maior gravidade clínica do quadro. Por isso, a OMS

afirma que em países com limitações financeiras, nos quais a disponibilidade do

tratamento possa ser expressivamente restrita, priorizar ou mesmo limitar o

tratamento a essas pessoas em maior risco de morbidade/mortalidade pode ser

necessário.15

A OMS apregoa um esquema diagnóstico que consiste no uso de dois pontos

de corte para o diagnóstico do grau de fibrose desejado a partir do índice APRI: um

ponto de corte baixo, que apresenta sensibilidade alta para o grau de fibrose

pesquisado, garantindo que a imensa maioria dos pacientes portadores desse grau

de fibrose caia acima desse nível; e um ponto de corte alto, com alta especificidade

Page 32: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

24

para o grau de fibrose pesquisado, o que garante que a imensa maioria dos pacientes

encontrados acima deste ponto de fato possuam grau de fibrose igual ou superior ao

pesquisado, apesar de não garantir que a maioria dos pacientes com o grau de fibrose

igual ou superior ao procurado seja identificada por ele, por possuir baixa

sensibilidade. Por isso, o ponto de corte alto serve para que países que precisem

restringir o tratamento apenas a pessoas com grau mais avançado de fibrose hepática

o façam com maior segurança de não tratar pessoas que não necessitem tanto do

tratamento quanto os de condição clínica mais grave. Entretanto, isso faz com que

boa parte dos pacientes que precisam do tratamento sejam banalizados devido a uma

baixa sensibilidade do ponto de corte empregado.

Desde junho de 2015, o Ministério da Saúde do Brasil afirma que o tratamento

para o HCV está liberado para pacientes com índice APRI ≥1,5, pressupondo que o

seu índice METAVIR seja maior ou igual a F3 (fibrose avançada).14 No entanto, a OMS

traz desde 2014 o valor de 1,5 no índice APRI como ponto de corte alto para

diagnóstico de fibrose moderada (≥F2), e o valor de 2,0 como ponto de corte alto para

diagnóstico de cirrose hepática (F4).15 Esses dados foram reproduzidos pelo

Ministério da Saúde nessa publicação do ano de 2015, onde foi deferido no Brasil o

tratamento para Hepatite C com grau de fibrose avançado com base no índice APRI.14

Essa contradição (um mesmo ponto de corte alto para dois graus de fibrose distintos

– F2 e F3) evidencia a obscuridade do índice APRI encontrada até então para

constatar com precisão o diagnóstico de graus baixos e intermediários de fibrose

hepática, fato que reforça a relevância do presente estudo.

Os melhores pontos de corte altos encontrados para o índice APRI em cada

um dos estudos incluídos nesta revisão variaram de 0,4 a 1,5 para o estadiamento F2

de fibrose hepática e de 0,75 a 2,00 para o grau F3. As amostras dos seis estudos

apresentaram tamanhos consideráveis e similares; o número de pacientes estudados

variou de 165 a 284, com exceção do estudo de Liu et al. (2006), que contou com 79

pacientes em sua amostra; apesar de ser metade ou até um terço do tamanho das

amostras utilizadas nos outros cinco estudos, é um número expressivo e o tamanho

desta amostra não comprometeu a validade do estudo em questão.

A proporção entre homens e mulheres na composição das amostras também

foi relativamente constante: quatro dos seis estudos apresentaram de 1,45 a 1,78

homens para cada mulher presente na amostra; apenas o estudo de Liu et al. (2006)

– a menor de todas as amostras – apresentou um número maior de mulheres (0,55

Page 33: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

25

homens para cada mulher). Portilla et al. conduziram um estudo cuja população era

de prisioneiros dos complexos penitenciários de Sevilha I e Alicante I, e seu estudo

contou com uma amostra composta por 54 homens para cada mulher; mulheres

grávidas ou em período de lactação foram excluídas do estudo, e do total de 165

detentos participantes do estudo, apenas 3 eram mulheres.

Ainda no estudo de Portilla et al., os critérios de exclusão descritos foram

“mulheres grávidas ou em período de lactância”, “detentos com distúrbios da

coagulação”, “detentos com doenças psiquiátricas ou neurológicas graves”, “detentos

com alterações anatômicas” e “detentos com lesões focais hepáticas”25 Não foram

feitas menções a buscas por sorologias positivas para o HBV, e este aspecto não foi

mencionado como critério de exclusão neste artigo. Em tempo, do total de 165

detentos, 163 foram investigados para histórico de práticas de risco para doenças

sexualmente transmissíveis; destes, 151 (mais de 92%) apresentaram histórico

positivo para uso de drogas injetáveis. Ademais, pacientes soropositivos para o HIV

não foram excluídos do estudo, e estes representaram parcela significativa do total de

detentos incluídos no trabalho: aproximadamente 25% do total de detentos

apresentavam infecção tanto pelo HCV quanto pelo HIV. Pacientes com histórico de

abuso de álcool também não foram excluídos do estudo.

Apesar de tudo isso, os autores afirmam que a prevalência de fibrose

moderada/avançada foi baixa, e aponta como possíveis fatores contribuintes para tal

fato a abstinência alcoólica durante toda a estadia dos detentos na penitenciária, além

de um bom controle da infecção por HIV mediante tratamento antirretroviral na maioria

dos pacientes coinfectados por este vírus. Este dado é um fator atenuante do grave e

evidente viés amostral e metodológico que reside na discrepância entre o perfil

infeccioso dos pacientes estudados por Portilla et al. em comparação com os demais

trabalhos. Todos os outros cinco artigos apresentaram explicitamente como critérios

de exclusão a coinfecção por HBV/HIV além do histórico de abuso de álcool.

O fato de não serem excluídos os pacientes portadores de HIV, HBV, com

histórico de abuso de álcool ou de prática de risco para contágio por doenças

sexualmente transmissíveis é compreensível, uma vez que o universo da população

do estudo é o de detentos em complexos penitenciários: usar tais fatores como

critérios de exclusão acarretaria num tamanho amostral muito menor ao apresentado,

o que diminuiria a relevância do estudo. Entretanto, por serem fatores que aceleram

a progressão da fibrose hepática36 em comparação com o paciente cuja única etiologia

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26

de sua hepatopatia crônica seja o HCV, a coinfecção por HBV, por HIV e o abuso de

álcool modificam o curso da Hepatite C crônica e aceleram o processo de fibrose

hepática característico dessa doença, o que interfere na acurácia do índice APRI ao

aferir o grau de fibrose nesses pacientes.

Schiavon et al. (2007) e Liu et al. (2011) adotaram como amostras de seus

trabalhos pacientes de DRC terminal infectados pelo VHC. O índice APRI se baseia

na contagem de plaquetas do paciente e nos seus índices séricos de AST, baseando-

se nos pressupostos de que conforme o agravo do grau de fibrose hepática e o

aumento da pressão na veia porta, a síntese de trombopoietina pelos hepatócitos está

comprometida em magnitude proporcionalmente crescente, além de uma prejudicada

depuração plasmática de AST. No entanto, no caso destes pacientes portadores de

DRC em estágio terminal, existem vários fatores confundidores que põem em cheque

a validade dos pontos de corte encontrados para o índice APRI no diagnóstico de

pacientes sem doença renal. Fatores como a lesão hepática induzida por drogas (DILI,

do inglês, Drug-Induced Liver Disease), a trombocitopenia induzida por heparina e

uma atividade reduzida da AST são fatores possivelmente existentes na DRC. Por

isso, é necessária uma maior cautela ao avaliar os pontos de corte propostos pelos

dois artigos em questão, uma vez que há um viés importante para o julgamento do

presente estudo. Inclusive, Schiavon et al. (2007) afirmam que um dos propósitos de

seu estudo era validar o APRI para pacientes portadores de Hepatite C em estágio

terminal de doença renal crônica, propondo novos pontos de corte para essa

população.

Nota-se uma variabilidade muito grande entre os melhores valores encontrados

como pontos de corte tanto para o diagnóstico do grau 2 de fibrose hepática quanto

para o do grau 3 nos artigos incluídos no estudo. Inclusive, houve muita variação não

só dos pontos de corte, mas também das sensibilidades e especificidades

encontradas para cada um deles. Tal fato tornou muito difícil de se realizar

comparações e esboçar correlações entre os resultados encontrados para ambos os

graus de fibrose pesquisados (F2 e F3). Por isso, não foi possível encontrar um ponto

de corte alto para o diagnóstico de fibrose hepática avançada (≥F3) que fosse

consensual entre as publicações estudadas e cuja especificidade fosse mantida alta

o suficiente para não se incluir erroneamente no diagnóstico muitos pacientes em

estágio não avançado de fibrose hepática (≤F2), e ainda assim contasse com uma

melhor sensibilidade para não perder tantos pacientes em fibrose hepática avançada

Page 35: Avaliação do desempenho do índice APRI no diagnóstico de ... Henrique... · compartilhem equipamentos de uso pessoal – como canudos para cocaína ou seringas para uso de drogas

27

(≥F3). Esse ponto de corte seria ideal para que no Brasil fosse dispensado o

tratamento para HCV de forma que mais dos pacientes que se encontram em estágio

avançado de fibrose fossem devidamente atendidos, o que pode não ocorrer com a

magnitude apropriada devido à baixa sensibilidade do ponto de corte alto do índice

APRI.

No entanto, o escore APRI é um método diagnóstico promissor, especialmente

ao se ponderar a sua relação custo-benefício: é um método que apenas requer uma

flebotomia no paciente, diminuindo os riscos de lesões iatrogênicas quando

comparado à biópsia hepática, além do custo bastante reduzido e de sua maior

praticidade – basta a realização de equação a partir dos resultados de dois exames

laboratoriais do paciente.

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28

VII. CONCLUSÃO

1. O índice APRI parece ser uma boa técnica diagnóstica para diagnóstico de

fibrose hepática em portadores de hepatite C crônica.

2. Não foi possível eleger um novo ponto de corte para o APRI a partir dos

estudos analisados pois não houve concordância entre os resultados

encontrados.

3. Ainda se faz necessária uma padronização do índice APRI com pontos de

cortes conhecidos para tentar elevar a acurácia deste método.

4. Ainda são necessários estudos de validação do índice APRI na população

brasileira para garantir que os resultados reflitam o grau de dano hepático.

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VIII. SUMMARY

APRI Index performance evaluation at hepatic fibrosis diagnosis in

patients with chronic hepatitis C: a systematic review. Introduction: The Hepatitis

C is a majorly chronic viral disease (HCV) that affects the hepatic parenchyma. An

important procedure for monitoring HCV-infected patients is the fibrosis staging.

Nowadays, the liver biopsy is the gold-standard test for diagnosing and graduating the

hepatic fibrosis. Amongst the noninvasive methods for evaluating and staging the

hepatic fibrosis degree there are mechanical methods, like the transient elastography,

and biochemical ones, like the AST-to-platelet ratio index (APRI). Objective: Evaluate

the APRI as a liver fibrosis staging method among chronic hepatitis C patients.

Methodology: Systematic review of the literature based on Preferred Reporting Items

for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) method. PubMed/Medline

database was utilized, and as keywords were used the nouns “APRI” OR “AST to

platelet ratio index” OR “aspartate aminotransferase ratio index” AND “liver fibrosis”

OR “liver fibroses” AND “chronic hepatitis C” OR “hepatitis C, chronic”. The search

filters “Clinical Trial” e “Human” were utilized, and articles in Portuguese, English or

Spanish were selected. Results: 292 publication were initially found, and eight other

ones included by manual search. Only 24 of this total were considered relevant for the

study with the application of the search filters. Then, seven articles were excluded after

the title/abstract analysis. Of the elected 17 articles, 11 have been completely read and

excluded, since these did not fulfill the inclusion criteria. The 6 last articles were

selected for data analysis. Discussion: A huge variability have been noticed amongst

the best values found as cutoffs for the researched fibrosis degrees diagnosis (F2 and

F3), making it hard to do comparisons and correlations between the found results.

Conclusions: It was not possible to elect a new cutoff since the analyzed studied

because there was no concordance among the found results. APRI seems to be a

good technique for hepatic fibrosis diagnosis in chronic hepatitis C patients, but a

standardization with known cutoffs is still necessary in order to raise this method

accuracy. APRI validation studies in Brazilian people are still necessary for

guaranteeing that the results reflect the hepatic injury degree.

Keywords: 1. Chronic Hepatitis C; 2. Hepatic fibrosis; 3. APRI.

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