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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO COPPEAD AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS HIDRELÉTRICAS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS Antonio Luiz Fonseca Abreu Jorge COPPEAD/UFRJ: Mestrado Orientadora: Prof a . Letícia Casotti D.Sc., UFRJ Rio de Janeiro 2002

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Page 1: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS

INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

COPPEAD

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NAIMPLANTAÇÃO DE USINAS HIDRELÉTRICAS NO BRASIL:

ESTUDO DE CASOS

Antonio Luiz Fonseca Abreu Jorge

COPPEAD/UFRJ: Mestrado

Orientadora: Profa. Letícia Casotti

D.Sc., UFRJ

Rio de Janeiro

2002

Page 2: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

ii

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃODE USINAS HIDRELÉTRICAS NO BRASIL:

ESTUDO DE CASOS

Antonio Luiz Fonseca Abreu Jorge

Dissertação submetida ao Corpo Docente do Instituto de Pós-Graduação e

Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro -

COPPEAD/UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do

grau de Mestre em Administração.

Aprovada por:

_______________________________________________ - Orientadora

Profa. Letícia Casotti, D.Sc. – COPPEAD/UFRJ

_______________________________________________

Prof. Celso Lemme, D.Sc. – COPPEAD/UFRJ

_______________________________________________

Profa. Ana Carolina Pimentel Duarte, D.Sc. – FACC/UFRJ

Rio de Janeiro

2002

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iii

Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu.

Avaliação de impactos ambientais na implantação

de usinas hidrelétricas no Brasil: estudo de casos /

Antonio Luiz Fonseca Abreu Jorge. Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPEAD, 2002.

xi, 149p. il.

Dissertação – Universidade Federal do Rio de

Janeiro, COPPEAD.

1. Meio Ambiente. 2. Energia. 3. Usinas

Hidrelétricas. 4. Avaliação de Impacto Ambiental.

5. Dissertação (Mestr. UFRJ/COPPEAD). I. Título.

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iv

À minha esposa, Alessandra,

pelo amor e carinho, apoio e incentivo.

À minha mãe, pelo exemplo de dedicação.

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v

AGRADECIMENTOS

À Profa. Letícia Casotti, pela orientação segura e ponderada, fundamental para

a realização deste trabalho.

Ao Professor Renato Cotta de Mello, pela contribuição mesmo à distância, e

por ter sempre confiado no resultado deste trabalho.

Aos professores e funcionários do COPPEAD, que com sua dedicação e

competência comprovam que é possível um ensino público eficiente.

À Universidade Federal do Rio de Janeiro, que mais uma vez participa da

minha formação.

Aos amigos da turma 98, pelo companheirismo e pelo prazer de estudar,

debater e conviver neste período.

Aos meus irmãos e em especial ao meu irmão e sócio Paulo, que segurou a

barra durante a minha ausência na AJECON Engenharia, enquanto eu estava

na sala de aula ou concentrado nos inúmeros trabalhos e leituras.

Aos colegas da Tractebel, pelas lições sobre o Setor e pela obtenção das

informações junto à ANEEL, em especial ao Victor e ao Édio pela paciência em

responder às minhas perguntas.

Aos amigos Marcelo e Luiz Antônio, ex-alunos do Mestrado em Administração,

que me incentivaram a estudar no COPPEAD.

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vi

RESUMO

JORGE, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de Impactos Ambientais na

Implantação de Usinas Hidrelétricas no Brasil: Estudo de Casos. Orientadora:

Profa Letícia Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertação

(Mestrado em Administração).

Este estudo teve como objetivo avaliar o estágio em que se encontram os

procedimentos para a Avaliação de Impacto Ambiental - AIA na implantação de

usinas hidrelétricas no Brasil, analisando a aplicação prática desses

procedimentos, através de estudo de quatro casos.

Adicionalmente, os resultados desta pesquisa foram comparados com estudo

semelhante realizado há dez anos.

Verificou-se, através dessa análise, que houve uma evolução para uma visão

mais sistêmica, por parte dos órgãos licenciadores, no processo de

licenciamento. Conseqüentemente, observou-se uma elaboração mais

cuidadosa das AIAs dos aproveitamentos hidrelétricos, que apresentam

análises mais abrangentes e ao mesmo tempo integradas, no que diz respeito

aos impactos ambientais dos empreendimentos analisados.

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vii

ABSTRACT

JORGE, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de Impactos Ambientais na

Implantação de Usinas Hidrelétricas no Brasil: Estudo de Casos. Orientadora:

Profa Letícia Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertação

(Mestrado em Administração).

The objective of this thesis was to evaluate the current stage of the procedures

for Environmental Impact Assessment – EIA in the installation of hydropower

plants in Brazil, analyzing the practical use of these procedures, through the

study of four cases.

Additionally, the results of this research were compared with a similar study

carried out ten years ago.

Through this analysis, an evolution to a more systemic approach by the

licensing agencies was observed during the process. Consequently, a more

careful elaboration of the hydropower plant’s EIAs was observed, which

denotes a wider and more integrated analysis, related to the environmental

impacts of the analyzed projects.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

AIA Avaliação de Impacto Ambiental

AMC Análise Multicritério

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

CAET Comitê de Acompanhamento da Expansão de Termelétricas

CMMD Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento

COMASE Comitê Coordenador das Atividades do Meio Ambiente do Setor

Elétrico

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

EIA Estudo de Impacto Ambiental

IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais

Renováveis

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LI Licença de Instalação

LO Licença de Operação

LP Licença Prévia

NRC National Research Concil

OEMA Órgão Estadual de Meio Ambiente

PIB Produto Interno Bruto

PNMA Política Nacional do Meio Ambiente

RIMA Relatório de Impacto Ambiental

SEMA Secretaria de Meio Ambiente

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

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LISTA DE QUADROS

Quadro Título Página

2-1 Sistemática de planejamento e licenciamento dos

empreendimentos hidrelétricos

19

2-2 Usinas hidrelétricas licitadas pela ANEEL 29

2-3 Sistema gerador existente 36

2-4 Programa Prioritário de Termelétricas 37

2-5 Taxas de crescimento previstas de consumo da energia e

do PIB

46

2-6 Sistema Sul/Sudeste/Centro-Oeste 48

2-7 Obras em andamento ou em motorização 49

2-8 Projetos com concessão ou autorização já outorgadas 50

2-9 Projetos termelétricos priorizados pelo CAET (N/NE e

S/SE/CO)

51

2-10 Projetos Indicativos - Hidrelétricos maiores que 30 MW 54

2-11 Projetos ainda não programados até janeiro de 2001 -

Hidrelétricas maiores de 30 MW

55

2-12 Projetos ainda não programados – Projetos Termelétricos 55

3-1 Comparação de métodos de pesquisa em Ciências Sociais 60

4-1 Dados dos empreendimentos analisados 63

5-1 Comparação de aspectos deste estudo com MAGRINI

(1992)

98

5-2 Simulação simplificada de uma AMC 103

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x

SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 1

1.1 - OBJETIVO DO ESTUDO.................................................................................................... 1

1.2 - IMPORTÂNCIA DO ESTUDO .............................................................................................. 1

1.3 - ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO............................................................................................. 3

1.4 - DELIMITAÇÃO DO ESTUDO .............................................................................................. 4

2 - REVISÃO DA LITERATURA................................................................................................ 5

2.1 - HISTÓRICO..................................................................................................................... 6

2.2 - DANOS AO MEIO AMBIENTE ............................................................................................ 7

2.2.1 - Causas Humanas................................................................................................ 7

2.3 - EFEITOS NAS EMPRESAS ................................................................................................ 9

2.3.1 - Gestão Ambiental e ISO 14.000.......................................................................... 9

2.3.2 - Marketing Ambiental.......................................................................................... 10

2.4 - O LICENCIAMENTO AMBIENTAL ..................................................................................... 11

2.4.1 - Resolução CONAMA nº 001, de 23/01/86 ........................................................ 14

2.4.2 - Resolução CONAMA nº 006, de 16/09/87 ........................................................ 14

2.4.3 - Resolução CONAMA Nº 237, de 19/12/97........................................................ 15

2.4.4 - Resolução CONAMA nº 279, de 27/06/01 ........................................................ 15

2.5 - ESTUDOS DE VIABILIDADE............................................................................................. 17

2.5.1 - Etapas de Estudos e Projetos para Implantação de um AHE........................... 17

2.5.2 - Objetivos dos Estudos de Viabilidade ............................................................... 19

2.5.3 - Aspectos Institucionais e Legais ....................................................................... 20

2.5.4 - Estudos de Viabilidade e Licitações de Concessões ........................................ 21

2.5.5 - Licenciamento Ambiental .................................................................................. 22

2.6 - A ANÁLISE MULTICRITÉRIO ........................................................................................... 22

2.7 - O SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO .................................................................................. 25

2.7.1 - Organização do Setor........................................................................................ 25

2.7.2 - O Mercado de Energia Elétrica ......................................................................... 26

2.7.3 - Fontes de Energia ............................................................................................. 352.7.3.1 - Energia Hidrelétrica...................................................................................................35

2.7.3.2 - Energia Termelétrica .................................................................................................36

2.7.3.3 - Energia Nuclear.........................................................................................................40

2.7.3.4 - Fontes Alternativas de Energia .................................................................................42

2.7.3.5 - Conclusões sobre Alternativas Tecnológicas............................................................45

2.7.4 - O Programa Decenal......................................................................................... 48

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xi

3 - METODOLOGIA DE PESQUISA ....................................................................................... 57

3.1 - TIPO DE PESQUISA....................................................................................................... 57

3.2 - O CONCEITO DE PESQUISA QUALITATIVA ...................................................................... 58

3.3 - O ESTUDO DE CASOS .................................................................................................. 59

3.4 - UNIVERSO E AMOSTRA ................................................................................................. 60

3.5 - COLETA E TRATAMENTO DE DADOS .............................................................................. 62

4 - DESCRIÇÃO DOS CASOS................................................................................................ 63

4.1 - O APROVEITAMENTO HIDRELÉTRICO PEIXE ................................................................... 63

4.1.1 - Descrição do Empreendimento AHE Peixe....................................................... 63

4.1.2 - Metodologia Adotada para a Elaboração da AIA .............................................. 64

4.1.3 - Organização e Encaminhamento da AIA .......................................................... 65

4.2 - O APROVEITAMENTO HIDRELÉTRICO SÃO SALVADOR .................................................... 76

4.2.1 - Descrição do Empreendimento AHE São Salvador .......................................... 76

4.2.2 - Metodologia Adotada para a Elaboração da AIA .............................................. 77

4.2.3 - Organização e Encaminhamento da AIA .......................................................... 79

4.3 - O APROVEITAMENTO HIDRELÉTRICO SIMPLÍCIO - QUEDA ÚNICA .................................... 84

4.3.1 - Descrição do Empreendimento AHE Simplício – Queda Única ........................ 84

4.3.2 - Metodologia Adotada para a Elaboração da AIA .............................................. 85

4.3.3 - Organização e Encaminhamento da AIA .......................................................... 85

4.4 - O APROVEITAMENTO HIDRELÉTRICO ESTREITO............................................................. 90

4.4.1 - Descrição do Empreendimento AHE Estreito.................................................... 90

4.4.2 - Metodologia Adotada para a Elaboração da AIA .............................................. 90

4.4.3 - Organização e Encaminhamento da AIA .......................................................... 92

5 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................................ 97

5.1 - CONCLUSÕES .............................................................................................................. 97

5.2 - RECOMENDAÇÕES...................................................................................................... 100

6 - SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS................................................................. 106

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 107

ANEXO I: RESOLUÇÃO CONAMA Nº 001, DE 23 DE JANEIRO DE 1986............................ 113

ANEXO II: RESOLUÇÃO CONAMA N.º 006 DE 16 DE SETEMBRO DE 1987 ...................... 120

ANEXO III: RESOLUÇÃO Nº 237 , DE 19 DE DEZEMBRO DE 1997 ..................................... 126

ANEXO IV: RESOLUÇÃO Nº 279 , DE 27 DE JUNHO DE 2001............................................. 142

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1 - Introdução

1.1 - Objetivo do Estudo

Este estudo tem como objetivo avaliar o estágio em que se encontram os

procedimentos para a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) na implantação de

novos empreendimentos, analisando a aplicação prática desses procedimentos

no caso de usinas hidrelétricas no Brasil.

Para tanto, foi realizada uma revisão tanto da legislação vigente no país acerca

do tema, como da literatura pertinente, compilando o conhecimento existente

sobre os diversos tópicos relacionados ao assunto.

Adicionalmente, analisou-se a aplicação prática dos procedimentos para a

avaliação de impacto ambiental e comparou-se com procedimentos adotados

há dez anos e descritos na literatura.

A pergunta que esta pesquisa procurou responder foi: Em que estágio se

encontram os procedimentos para a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) na

implantação de novos empreendimentos hidrelétricos no Brasil e como esses

procedimentos são aplicados ?

1.2 - Importância do Estudo

No fim dos anos 80, os indivíduos, de forma isolada ou organizada,

começaram a manifestar-se contra a poluição em geral. Acompanhando esta

tendência, os governos passam a combater o dano ambiental aprovando leis,

fixando padrões, promulgando proibições e aplicando regulamentações

(CAIRNCROSS, 1992).

Alguns estudos indicam que esses indivíduos admitem pagar mais caro por

produtos e serviços considerados não prejudiciais ao meio ambiente

(BENNETT, 1992).

A crescente preferência dos consumidores por produtos considerados menos

agressivos ao meio ambiente impõe um desafio ao setor produtivo, influindo

fortemente na competitividade das empresas (BANCO DO NORDESTE, 1999).

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2

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (1996),

organizações de todos os tipos estão cada vez mais preocupadas em atingir e

demonstrar um desempenho ambiental correto, controlando o impacto de suas

atividades, produtos ou serviços no meio ambiente, levando em consideração

sua política e seus objetivos ambientais. Esse comportamento se insere no

contexto de uma legislação cada vez mais exigente, do desenvolvimento de

políticas econômicas, de outras medidas destinadas a estimular a proteção ao

meio ambiente e de uma crescente preocupação das partes interessadas em

relação às questões ambientais e ao desenvolvimento sustentável.

De acordo com ALMEIDA (1998), a questão ambiental enquadra-se na visão

estratégica da empresa e incorpora-se como cultura empresarial. Deixa de ser

vista como um resultado, uma conseqüência, para se incorporar à análise e ao

planejamento do processo produtivo, internalizando o conceito na empresa e

assumindo que este item de qualidade também pode ser diferenciador em

termos de competitividade, ao permitir que a empresa se apresente aos seus

públicos como ambientalmente responsável.

O que se apresenta neste novo cenário é um indicativo de que a proteção

ambiental está deixando de ser considerada responsabilidade exclusiva dos

órgãos oficiais de meio ambiente, passando a ser compartilhada por todos os

setores da sociedade (BANCO DO NORDESTE, 1999).

Adicionalmente, algumas instituições de financiamento, adequaram-se à

tendência mundial, e cientes da sua responsabilidade frente às questões

ambientais, passaram a seguir diretrizes e estratégias para a incorporação da

variável ambiental no processo de concessão e gestão de crédito e benefícios

fiscais (BANCO DO NORDESTE, 1999).

Outra questão envolvendo cuidados com impactos ao meio ambiente, diz

respeito ao comércio internacional. Representantes de setores industriais

alegam desvantagens competitivas, por terem que produzir em países onde a

legislação ambiental é mais rígida, devido a custos de redução da poluição e

aumento do controle ambiental (BAUMOL e OATES, 1975).

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3

O presente estudo buscará analisar as seguintes questões ambientais

relacionadas à implantação de empreendimentos, em particular o caso de

usinas hidrelétricas:

- A verificação do estágio em que se encontram os procedimentos

para a avaliação de impacto ambiental de empreendimentos

hidrelétricos;

Para tanto é necessário analisar:

- A evolução do processo de avaliação ambiental, em particular dos

projetos de usinas hidrelétricas no Brasil;

- O estágio atual da legislação ambiental brasileira que regula o tema;

- A prática da aplicação, comparada com referências dos

procedimentos para a avaliação de impacto ambiental adotadas há

dez anos.

Por sua importância no cenário nacional, e seu grande potencial de impacto ao

meio ambiente, o caso de implantação de usinas hidrelétricas foi escolhida

para este estudo, uma vez que o parque gerador brasileiro é composto,

predominantemente, por usinas hidrelétricas, que constituem cerca de 82% da

potência instalada total. Face ao amplo potencial hidrelétrico economicamente

competitivo ainda existente no país, esta predominância da geração de origem

hidráulica deverá perdurar, no mínimo, ao longo dos próximos 20 anos

(ENGEVIX, 2002a).

1.3 - Organização do Estudo

O estudo está organizado em cinco capítulos:

Capítulo 1 - Introdução: corresponde à apresentação do trabalho, seu objetivo

e relevância;

Capítulo 2 – Revisão da Literatura: contém um breve histórico sobre a

evolução da questão ambiental na História, os danos que vêm sendo causados

pelo homem ao meio ambiente e o reflexo na sociedade, os efeitos nas

empresas de uma forma generalista e que servem como base para a condução

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4

deste estudo, fornecendo ferramental para a conceituação e sistematização. É

apresentada, então, a legislação ambiental vigente no país, em especial àquela

aplicável a novos empreendimentos hidrelétricos. Finalmente, informações

sobre o setor elétrico brasileiro são apresentadas, com o objetivo de facilitar a

compreensão do texto e da importância das usinas hidrelétricas no país.

Capítulo 3 – Metodologia de Pesquisa: neste capítulo é apresentada a

metodologia que foi adotada para a execução da pesquisa;

Capítulo 4 – Descrição dos Casos: corresponde à descrição dos

empreendimentos analisados;

Capítulo 5 - Conclusões e Recomendações: apresentação dos Conclusões e

Recomendações do estudo. Nesta seção também são feitas recomendações

para pesquisas futuras.

1.4 - Delimitação do Estudo

A intenção deste trabalho é avaliar o estágio em que se encontram os

procedimentos para a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) na implantação de

usinas hidrelétricas no Brasil, analisando a aplicação prática desses

procedimentos.

Não é o objetivo deste estudo propor novos sistemas de gestão ou auditoria

ambiental ou qualquer outro método de avaliação de desempenho ambiental

das empresas.

Também não é o objetivo deste estudo apresentar o panorama da gestão

ambiental no Brasil nem do Setor Elétrico como um todo.

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5

2 - Revisão da Literatura

Segundo ODUM (1988), ao contrário do que é observado, ecologia e economia

deveriam ser disciplinas companheiras, uma vez que ambas derivam da raiz

grega oikos, com sentido de casa. Uma vez que logia significa estudo:

ecologia seria o estudo do ambiente da casa, incluindo todos os organismos

contidos nela e todos os processos funcionais que a tornam habitável. Já

nomia significa manejo ou gerenciamento, economia significa, então, manejo

da casa.

Os sistemas econômicos de toda e qualquer ideologia política valorizam as

coisas feitas por seres humanos que trazem benefício primariamente para o

indivíduo, mas dão pouco valor aos produtos e serviços da natureza que

trazem benefício a toda a sociedade. Enquanto não ocorre uma crise,

aproveitamos esses serviços e produtos naturais sem pensar; imaginamos que

são ilimitados ou, de certa forma, substituíveis por inovações tecnológicas,

apesar de evidências que indicam o contrário (ODUM, 1988).

Entende-se que um estudo sobre as percepções dos consumidores, o

comportamento das empresas e dos governos em relação ao meio ambiente,

passa obrigatoriamente por uma análise dos impactos causados pelo homem à

natureza, a fim de se compreender a importância que é dada atualmente à

proteção ambiental.

No caso da implantação de novos empreendimentos, é necessário conhecer o

processo ao qual os mesmos são submetidos para obterem seus

licenciamentos ambientais. Por isso é apresentado neste trabalho, um

levantamento da legislação vigente.

Para um entendimento da importância de novos empreendimentos hidrelétricos

no país, é feita uma descrição do Setor Elétrico Brasileiro e de fontes

alternativas de energia.

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6

2.1 - Histórico

Segundo Hipócrates (460-377) na Grécia Antiga, os vapores provenientes das

fábricas de derreter prata infestavam o ar. O imperador romano Dioclécio (243-

316) escreveu em seu texto Hygienia contra a "sujeira do ar", que era tanta que

o excesso de fuligem no ar obrigou os senadores a deixar de usar seus trajes

brancos.

A Revolução Industrial é um marco na nossa história. Naquela época homens

e meio ambiente foram explorados abusivamente, ignorando-se

completamente a poluição do ar ou da água. A partir daquele marco, a

poluição começou a ganhar outras proporções, com efeitos globais

(SILVERSTEIN, 1993).

Essa poluição do meio ambiente e a exploração do homem acelerou

grandemente a acumulação de capital no qual o mundo industrializado está

baseado, segundo HARDIN (1985). Porém, mesmo que justificáveis nos

estágios iniciais do desenvolvimento para a produção de bens, chegamos em

um ponto na História em que não é mais possível postergar os custos

humanos e ambientais do desenvolvimento sem incorrer na difusão de danos

no sistema global que dá suporte à vida.

Na década de 70, de acordo com BARNES e FERRY (1992), as interações das

empresas com o governo no que tange aos problemas ambientais, nos EUA,

podiam ser descritas como de confronto, as empresas tipicamente se opunham

às imposições de controle ambiental devido aos custos envolvidos e

procuravam sempre que possível adiar sua instalação.

Nos anos 80, as empresas dos EUA passaram a desempenhar um papel pró-

ativo, procurando influenciar o curso de novas legislações e regulamentações.

Muitas corporações criaram em suas estruturas organizacionais posições de

alto nível de apoio para monitorarem o cumprimento das legislações

ambientais e dirigirem os programas ambientais das companhias (BARNES e

FERRY, 1992).

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7

Como a preocupação do público e as questões a respeito do meio ambiente

tomaram proporções globais, os anos 90 foram proclamados como a década

mundial do meio ambiente. Em 1990, na reunião anual do World Economic

Forum, o meio ambiente foi ordenado em primeiro lugar como desafio para as

empresas. O foco das empresas foi mudado para a minimização do potencial

do impacto nocivo que a produção, processamento, consumo e descarte

produzirá no meio ambiente e naqueles que ali habitam (BARNES e FERRY,

1992).

2.2 - Danos ao Meio Ambiente

Os sintomas do estresse ambiental já são facilmente perceptíveis e continuam

crescendo. De acordo com a CMMD (1991), estão ocorrendo mudanças

inesperadas na atmosfera, nos solos, nas águas, na flora e na fauna, assim

como na relação entre todos eles. O ritmo das mudanças vem suplantando os

conhecimentos científicos e nossa capacidade atual de avaliação e

aconselhamento.

Para entender a mudança ambiental global, conforme descrito por NRC (1993),

é preciso concentrar-se nas interações entre os sistemas ambientais, inclusive

a atmosfera, a biosfera, a geosfera e a hidrosfera, e os sistemas humanos,

inclusive econômicos, políticos, culturais e sócio-tecnológicos. Os sistemas

humanos e os sistemas ambientais encontram-se em dois pontos: onde as

ações humanas proximamente causam mudança ambiental, ou seja, onde elas

alteram diretamente aspectos do meio ambiente, e onde as mudanças

ambientais afetam diretamente aquilo que os seres humanos valorizam. As

principais questões sobre as causas humanas envolvem as fontes subjacentes

ou as forças sociais propulsoras que dão origem às causas próximas de

mudança global.

2.2.1 - Causas Humanas

De acordo com NRC (1993), quase todas as atividades humanas têm alguma

pertinência potencial à mudança global. Pesquisadores de uma variedade de

campos têm estudado as interações dos seres humanos com o meio ambiente,

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8

comumente dentro dos limites de disciplinas isoladas e quase sempre abaixo

do nível global. Eles têm demonstrado que um complexo de variáveis sociais,

políticas, econômicas, tecnológicas e culturais, às vezes citadas como forças

propulsoras, influencia as atividades humanas que proximamente podem

causar mudança global.

NRC (1993) classificou as forças propulsoras da seguinte forma:

- Crescimento Populacional: cada pessoa reclama do meio ambiente

alguma coisa para as necessidades básicas da vida – alimento, água,

vestuário, moradia e etc.. Se tudo o mais for igual, quanto maior o

número de pessoas, maiores as exigências impostas ao meio

ambiente para a provisão de recursos e absorção de resíduos e

poluentes;

- Crescimento Econômico: o crescimento econômico necessariamente

submete o meio ambiente à pressão, mas a quantidade de pressão

proveniente de determinada quantidade de crescimento depende,

entre outras coisas, do padrão de bens e serviços produzidos, da

população e da base de recursos para o desenvolvimento, das formas

de organização da política nacional e das políticas de

desenvolvimento;

- Mudança Tecnológica: a tecnologia pode influir na mudança ambiental

ao desvendar novas maneiras de se descobrir e explorar recursos

naturais ou ao mudar o volume de recursos exigidos – ou a

quantidade ou tipo de resíduos produzidos – por unidade de produção;

- Instituições Político-Econômicas: O meio ambiente global reage às

ações dos mercados, dos governos e da economia política

internacional. Os mercados são sempre imperfeitos e o impacto da

atividade econômica sobre o meio ambiente depende de qual método

de administração ambiental em mercado imperfeito está sendo usado.

A estrutura e as políticas governamentais também podem ter

significativas conseqüências ambientais, intencionais ou não. E a

economia política internacional, com sua divisão global da mão-de-

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obra e riqueza, pode promover abusos ambientais, particularmente

nos países mais pobres;

- Atitudes e Convicções: As convicções, atitudes e valores relacionados

às posses materiais e a relação entre humanidade e natureza

freqüentemente são vistas como algo que repousa na raiz da

degradação ambiental. Os maiores efeitos de tais atitudes e

convicções talvez sejam independentes a longo prazo, numa escala

de tempo de algumas gerações humanas ou mais. Dentro de prazos

de vidas particulares, as atitudes e convicções podem ter significativa

influência sobre o comportamento no uso dos recursos, até mesmo

quando as variáveis sócio-estruturais e econômicas se mantêm

constantes.

Não obstante cada uma dessas forças propulsoras seja importante em certos

momentos e sob certas circunstâncias, grande parte permanece desconhecida

em relação ao que determina a importância relativa das mesmas, como elas

afetam umas às outras, e como as forças propulsoras em lugares particulares

se combinam para produzir efeitos globais (NRC, 1993).

2.3 - Efeitos nas Empresas

Conforme já foi citado no Capítulo 1, as empresas passaram a estar inseridas

em um novo cenário, com consumidores mais preocupados com as causas

ambientais e com legislações ambientais mais rígidas.

2.3.1 - Gestão Ambiental e ISO 14.000

De acordo com a ABNT (1996), sistema de gestão ambiental é a parte do

sistema de gestão global que inclui estrutura organizacional, atividades de

planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e

recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter

a política ambiental.

As normas internacionais de gestão ambiental têm por objetivo prover às

organizações os elementos de um sistema de gestão ambiental eficaz,

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10

passível de integração com outros requisitos de gestão, de forma a auxiliá-las

a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos, não tendo sido concebidas

para criar barreiras comerciais não-tarifárias, nem para ampliar ou alterar as

obrigações legais de uma organização (ABNT, 1996).

Em relação aos processos produtivos, VITERBO (1998) sugere que seja

considerado o princípio dos 4 R’s na redução da poluição:

- Reutilização (de matérias-primas e de resíduos);

- Reciclagem (de produtos e embalagens);

- Redução (da geração de resíduos, através da melhoria dos

processos);

- Substituição - Replacement (de matérias-primas e de processos).

2.3.2 - Marketing Ambiental

De acordo com CODDINGTON (1993), atualmente outro grande influenciador

atua no processo de planejamento e implantação de Marketing: o meio

ambiente. Meio ambiente aqui referindo-se aos impactos ambientais dos

processos de manufatura, gerência e marketing.

Em resposta à pressão regulatória, algumas empresas se limitam a atender o

mínimo requerido por lei. Apesar de legalmente adequado, este

comportamento é estrategicamente regressivo. Pensando mais adiante, os

administradores estão identificando e avaliando novas oportunidades de

negócios relacionados ao meio ambiente, indo desde a prevenção da poluição

e tecnologias mais eficientes até a educação ambiental e promoção de

produtos “verdes” (CODDINGTON, 1993).

O meio ambiente é acrescentado à mistura de variáveis para a tomada de

decisões, sendo entretanto uma variável única, pois é onipresente, servindo

sobre todas as decisões estratégicas, não importando qual o assunto: projeto e

desenvolvimento de produto ou embalagem, rotulagem e propaganda, ou

estratégia de promoção (DALTRO-SANTOS, 1996).

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11

CODDINGTON (1993) ressalta que para muitos consumidores, uma

consideração altruística sobre a contaminação e degradação de seu meio

ambiente físico natural é acompanhada de preocupações pessoais e práticas

sobre o impacto ambiental implicando em danos na sua própria saúde e

segurança e daqueles que amam. A elevada natureza das ansiedades

ambientais dos consumidores as tornam duplamente importantes para que os

profissionais de marketing exercitem extremo cuidado quando incorporam o

meio ambiente nas suas decisões sobre os negócios, gerenciando

cuidadosamente, mas não defensivamente.

De acordo com LIVESEY (1999), o estabelecimento das alianças verdes

podem beneficiar um negócio não só em termos de credibilidade ambiental,

mas através de uma ampla extensão de outras frentes de negócios.

2.4 - O Licenciamento Ambiental

Nesta seção são apresentados os procedimentos necessários para o

Licenciamento Ambiental, assim como a referência da legislação na qual esses

procedimentos estão estabelecidos.

A Constituição de 1988 trata sobre o meio ambiente ao longo de vários artigos,

bem como das imposições legais de preservá-lo. Há na Constituição um

sistema ambiental definido, não sendo este tema restrito a disposições

esparsas.

Há no país uma estrutura mínima capaz de assegurar que não haja destruição

em termos ambientais.

Ao Ministério Público está atribuída a tarefa constitucional de agir judicialmente

em defesa dos bens ambientais.

Por outro lado, a Constituição da República no seu art. 225, estatui que “todos

têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum

do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e

à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

gerações”.

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Deve-se atentar também para o estabelecido no art. 5º inciso XXIII, que

reformulou a característica do direito de propriedade. Antes da Constituição

este direito era absoluto àquele que o detinha. Atualmente, a propriedade deve

atender a sua função social, que de acordo com o art. 186 – que trata da

propriedade rural – é, entre outros, a preservação do meio ambiente

(COMASE, 1999).

Finalmente, é importante ressaltar que, antes da Lei 6.938/81, não havia no

direito brasileiro uma preocupação sistemática com a tutela ambiental e, o que

é mais importante, a preocupação com a defesa do meio ambiente era sempre

uma preocupação secundária da legislação.

As normas que compõem o ordenamento jurídico encontram-se dispostas

segundo uma hierarquia e formando uma espécie de pirâmide. A Constituição

da República ocupa o ponto mais alto, o ápice desta pirâmide legal, fazendo

com que todas as demais normas que lhe vêm abaixo encontrem-se a ela

subordinadas. Estar juridicamente subordinada implica em que uma

determinada norma prevaleça sobre a inferior em qualquer caso em que ela

conflite. A norma superior demanda obediência da subordinada, de tal sorte

que esta lhe deverá dar sempre inteiro cumprimento sob pena de vir a ser

viciada (COMASE, 1999).

A Constituição da República no seu artigo 59 estabelece o processo legislativo

brasileiro, de forma hierárquica, compreendendo:

I. emendas à Constituição;

II. leis complementares;

III. leis ordinárias;

IV. leis delegadas;

V. medidas provisórias;

VI. decretos legislativos;

VII. resoluções.

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COMASE (1999) apresenta a legislação ambiental de interesse do setor

elétrico.

A Lei Federal 6.938 de 31 de agosto de 1981, estabelece a Política Nacional

do Meio Ambiente (PNMA), define fins e mecanismos de formulação e

aplicação da PNMA, além de criar o Sistema Nacional do Meio Ambiente

(SISNAMA) e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

Anteriores à Lei 6.938/81, o Decreto 24.643/34 (Código de Águas), e a Lei

6.803 de 2 de julho de 1980 (Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de

Poluição), já tratavam a questão ambiental, sendo que esta última já

estabelece os estudos de impacto ambiental como exigência para a localização

industrial de pólos petroquímicos, cloroquímicos, carboquímicos, centrais

nucleares, entre outras atividades.

Os procedimentos de licenciamento ambiental atuais são estabelecidos nas

Resoluções CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986, e nº 237, de 19 de

dezembro de 1997 e, para empreendimentos do setor elétrico, de forma

complementar, na Resolução CONAMA nº 006, de 16 de setembro de 1987.

A Resolução CONAMA nº. 279 de 27 de junho de 2001, foi criada devido à

necessidade de incremento da oferta de energia elétrica no País, considerando

a crise de energia elétrica e a necessidade de atender a celeridade

estabelecida pela Medida Provisória. nº 2.152-2, de 1° de junho de 2001.

O processo de Avaliação de Impacto Ambiental no Brasil, de acordo com

MAGRINI (1992), apesar de ser inspirado no modelo americano, aproxima-se

do modelo europeu, existindo entretanto algumas especificidades relevantes.

Ainda, de acordo com MAGRINI (1992), o quadro institucional brasileiro

apresenta uma estrutura mais descentralizada. A legislação brasileira é a única

dentre os países analisados naquele estudo (Brasil, Itália, França, EUA e CEE)

que especifica que o EIA deve ser analisado por equipe multidisciplinar não

dependente direta ou indiretamente do proponente do projeto.

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14

A participação do público no processo se assemelha ao modelo europeu,

permitindo comentários ao RIMA e estabelecendo a necessidade de realização

de audiência pública.

Abaixo são apresentadas, em síntese, as Resoluções CONAMA nº 001/86, nº

006/87, nº 237/97 e nº 279/01, indicando os procedimentos estabelecidos, por

estas resoluções, no licenciamento ambiental de usinas hidrelétricas. Estas

Resoluções são apresentadas, na íntegra, nos anexos.

2.4.1 - Resolução CONAMA nº 001, de 23/01/86

A Resolução CONAMA nº 001/86 estabelece definições, responsabilidades,

critérios básicos e diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação do

Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio

Ambiente.

A Resolução considera como impacto ambiental “qualquer alteração das

propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por

qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas (...)”.

A mesma resolução estabelece que dependerá de elaboração de Estudo de

Impacto Ambiental – EIA e respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA,

a serem submetidos à aprovação do órgão competente (órgão estadual,

IBAMA ou o município), o licenciamento de atividades modificadoras do meio

ambiente. No caso de usinas hidrelétricas, esta resolução estabelece esta

necessidade em obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais

como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW.

2.4.2 - Resolução CONAMA nº 006, de 16/09/87

A Resolução CONAMA nº 006/87 resolve que as concessionárias de

exploração, geração e distribuição de energia elétrica, ao submeterem seus

empreendimentos ao licenciamento ambiental perante o órgão competente,

deverão prestar as informações técnicas sobre o mesmo.

Caso o empreendimento necessite ser licenciado por mais de um Estado, pela

abrangência de sua área de influência, os órgãos estaduais deverão manter

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entendimento prévio no sentido de, na medida do possível, uniformizar as

exigências. O IBAMA supervisionará estes entendimentos.

Na hipótese dos empreendimentos de aproveitamento hidrelétrico, respeitadas

as peculiaridades de cada caso, a Licença Prévia (LP) deverá ser requerida no

início do estudo de viabilidade da Usina; a Licença de Instalação (LI) deverá

ser obtida antes da realização da Licitação para construção do

empreendimento1 e a Licença de Operação (LO) deverá ser obtida antes do

fechamento da barragem.

A Resolução CONAMA nº 006/87 estabelece a documentação necessária para

cada etapa do licenciamento.

2.4.3 - Resolução CONAMA Nº 237, de 19/12/97

O CONAMA, através da Resolução nº 237, de 19 de dezembro de 1997,

definiu os empreendimentos e atividades que estão sujeitos ao licenciamento

ambiental e que o licenciamento será efetuado em um único nível de

competência, repartindo-se harmonicamente as atribuições entre o IBAMA, em

nível federal, os órgãos ambientais estaduais e os órgãos ambientais

municipais.

A Resolução CONAMA 237/97 foi estabelecida devido à necessidade de

revisão dos procedimentos e critérios utilizados no licenciamento ambiental, de

forma a efetivar a utilização do sistema de licenciamento como instrumento de

gestão ambiental, instituído pela Política Nacional do Meio Ambiente.

2.4.4 - Resolução CONAMA nº 279, de 27/06/01

Esta Resolução foi criada em meio à crise energética de 2001, onde o

CONAMA teve a necessidade de estabelecer procedimento simplificado para o

licenciamento ambiental, com prazo máximo de sessenta dias de tramitação,

dos empreendimentos com impacto ambiental de pequeno porte, necessários

1 Atualmente a ANEEL está licitando os Aproveitamentos Hidrelétricos antes da obtenção da

Licença Prévia.

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16

ao incremento da oferta de energia elétrica no país e à necessidade de atender

à celeridade estabelecida pela Medida Provisória. nº 2.152-2.

Porém, existe uma dificuldade em definir-se, a priori, impacto ambiental de

pequeno porte, antes da análise dos estudos ambientais que subsidiam o

processo de licenciamento ambiental e, tendo em vista as diversidades e

peculiaridades regionais, bem como as complexidades de avaliação dos efeitos

sobre o meio ambiente decorrentes da implantação de projetos de energia

elétrica.

Esta Resolução, apesar da necessidade da implantação de um procedimento

simplificado, deve estar em concordância com os dispositivos constitucionais.

Os procedimentos e prazos estabelecidos nesta Resolução, aplicam-se, em

qualquer nível de competência, ao licenciamento ambiental simplificado de

empreendimentos elétricos com pequeno potencial de impacto ambiental, aí

incluídas as usinas hidrelétricas e sistemas associados, que deverão ser

analisados em conjunto com aos empreendimentos principais.

Nesta Resolução, foi definido o Relatório Ambiental Simplificado (RAS), que

são os estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados ao

empreendimento, que deverá conter as informações relativas ao diagnóstico

ambiental da região de inserção do empreendimento, sua caracterização, a

identificação dos impactos ambientais e das medidas de controle, de mitigação

e de compensação.

O prazo para emissão da Licença Prévia - LP e da Licença de Instalação - LI

será de, no máximo, 60 (sessenta) dias, contados a partir da data do protocolo

do requerimento das respectivas licenças.

A Licença de Operação será emitida pelo órgão ambiental competente no

prazo máximo de 60 (sessenta) dias após seu requerimento, desde que

tenham sido cumpridas todas as condicionantes da Licença de Instalação.

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17

2.5 - Estudos de Viabilidade

ELETROBRÁS (1997) vem a ser uma referência para o Setor, no que diz

respeito à implantação de empreendimentos hidrelétricos e condução de

estudos de viabilidade. Aquele estudo “destina-se a servir como roteiro básico

para programação, contratação, elaboração, controle da execução e

verificação da qualidade dos estudos de viabilidade (...) constituindo-se,

essencialmente, num Termo de Referência”. Dessa forma, ELETROBRÁS

(1997) apresenta as atividades que devem ser desenvolvidas para a

comprovação da viabilidade técnica, econômica e ambiental de

aproveitamentos hidrelétricos.

2.5.1 - Etapas de Estudos e Projetos para Implantação de um AHE

As etapas de estudos e projetos para implantação de um aproveitamento

hidrelétrico são as seguintes (ELETROBRÁS, 1997):

- Estimativa do Potencial Hidrelétrico: é a etapa dos estudos em que

se procede à análise preliminar das características da bacia

hidrográfica, especialmente quanto aos aspectos topográficos,

hidrológicos, geológicos e ambientais, no sentido de verificar a

vocação da bacia para geração de energia elétrica. Essa análise,

exclusivamente pautada nos dados disponíveis, permite efetuar uma

primeira avaliação do potencial, definir prioridades, prazos e os

custos dos estudos da etapa seguinte;

- Estudos de Inventário Hidrelétrico: é a etapa em que se determina o

potencial hidrelétrico da bacia hidrográfica e se estabelece a melhor

divisão de queda, mediante a identificação dos aproveitamentos que,

no seu conjunto, propiciem o máximo de energia, ao menor custo e

com o mínimo impacto ao meio ambiente. Essa análise é efetuada

com base em dados secundários, complementados com essenciais

informações de campo, e pautada em estudos básicos

hidrometeorológicos, energéticos, geológicos, ambientais e outros

usos de água. Dessa análise resultará um conjunto de

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aproveitamentos, suas principais características, estimativas de

custo, índices custo-benefício e índices ambientais. Nesta etapa é

solicitada a Licença Prévia;

- Estudos de Viabilidade: é a etapa em que se define a concepção

global de um dado aproveitamento, da divisão de queda selecionada

na etapa anterior, visando sua otimização técnico-econômica e

ambiental e a obtenção de seus benefícios e custos associados.

Essa concepção compreende o dimensionamento do

aproveitamento, as obras de infra-estrutura local e regional

necessárias à sua implantação, o reservatório, a área de influência,

os outros usos da água e as ações sócio-ambientais

correspondentes. Nesta etapa são apresentados o EIA e o RIMA. Ao

final desta etapa é obtida a Licença Prévia, a aprovação dos estudos

e o empreendimento é posto em processo de licitação;

- Projeto Básico: é a etapa em que o aproveitamento concebido nos

Estudos de Viabilidade, é detalhado de modo a definir, com maior

precisão, as características técnicas do projeto, as especificações

técnicas das obras civis e equipamentos eletromecânicos, bem como

programas sócio-ambientais. Nesta etapa é solicitada a Licença de

Instalação e é apresentado o Projeto Básico Ambiental (PBA). Ao

final desta etapa, os estudos são aprovados e a autorização da

construção e a Licença de Implantação são obtidas (ELETROBRÁS,

1995);

- Projeto Executivo/Construção: é a etapa em que se processa a

elaboração dos desenhos de detalhamento das obras civis e dos

equipamentos eletromecânicos, necessários à execução da obra e à

montagem dos equipamentos. Nesta etapa são tomadas todas as

medidas pertinentes à implantação do reservatório. Nesta etapa é

solicitada a Licença de Operação, que é obtida ao final da etapa e

antes da fase de enchimento do reservatório.

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19

Quadro 2-1: Sistemática de Planejamento e Licenciamento dos

Empreendimentos HidrelétricosÓ

rgão

Con

cede

nte

Aprovaçãodos Estudos eLicitação para

Concessão

Aprovaçãodos Estudos eAutorização

de Construção

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Inventário Viabilidade Projeto BásicoProjeto

Executivo /Construção

Operação

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Solicitação daLicençaPrévia

Apresentaçãodo EIA / RIMA

Obtenção daLP

Solicitação daLI /

Apresentaçãodo PBA

Obtenção daLI

Solicitação daLO

Obtenção daLO

Renovação daLO

Fonte: ELETROBRÁS, 1997

2.5.2 - Objetivos dos Estudos de Viabilidade

O conceito de Estudos de Viabilidade, visa aos seguintes objetivos:

- Concluir sobre a exeqüibilidade ou não do aproveitamento através de

avaliações, análises e definições fundamentadas nos custos e nos

benefícios múltiplos que podem ser obtidos;

- Subsidiar a tomada de decisões quanto à época de início de

construção do aproveitamento hidrelétrico;

- Subsidiar a elaboração dos documentos necessários para o

licenciamento ambiental;

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20

- Subsidiar as ações junto a órgãos públicos e privados, visando

otimizar a utilização dos recursos naturais existentes na área do

futuro aproveitamento, e promover sua inserção na região.

Para que os objetivos mencionados sejam atingidos, é necessário que os

estudos sejam realizados de maneira uniforme e homogênea, devendo,

portanto, ser considerado o emprego dos critérios básicos que devem nortear a

qualidade e quantidade dos estudos. Os critérios básicos utilizados deverão

ser indicados nos estudos.

2.5.3 - Aspectos Institucionais e Legais

Os aspectos institucionais e legais, de interesse à realização dos Estudos de

Viabilidade que devem ser considerados, desde a autorização até a aprovação

dos estudos pela ANEEL, abrangem uma faixa ampla da legislação vigente,

tendo como linhas mestras a Constituição da República Federativa do Brasil,

de 1988, o Código de Águas - Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934, a

Política Nacional de Meio Ambiente, Lei n º 6938, de 31 de agosto de 1981, a

Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei 9433 de 08 de janeiro de 1997 e

legislação subseqüente. Destaca-se, a Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de

1996, que criou a Agência Nacional de Energia Elétrica -ANEEL.

Para iniciar-se o Estudo de Viabilidade de um aproveitamento hidrelétrico, a

Agência Nacional de Energia Elétrica deverá ser informada, para fins de

registro. Se houver interesse, seja na realização de levantamentos de campo

em terrenos marginais de propriedade de terceiros, seja no futuro

ressarcimento dos custos incorridos nos estudos, pelo vencedor da licitação da

concessão do aproveitamento, deverá ser solicitada e obtida uma “autorização

de estudos” daquela Agência (Lei no 9.427).

A autorização para elaboração dos Estudos de Viabilidade e a aprovação do

Relatório Final são importantes para garantir o ressarcimento parcial ou

integral dos investimentos realizados, quando a concessão do aproveitamento

hidrelétrico for levada à licitação pública.

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21

Os gastos realizados por pessoas físicas ou jurídicas para desenvolvimento de

Estudos de Viabilidade de aproveitamentos hidrelétricos, cuja concessão será

objeto de licitação, deverão atender às exigências da ANEEL para eventual

reembolso pelo vencedor da licitação. A solicitação de autorização dos estudos

deverá ser acompanhada de uma estimativa detalhada dos custos dos

mesmos, assim como, a solicitação de aprovação deverá ser acompanhada de

demonstração dos gastos incorridos.

Os procedimentos recomendados têm caráter geral, independem do tipo de

pessoa jurídica (empresa estatal, privada, etc.) que realizará o estudo e da

destinação da energia a ser gerada pelo potencial (autoprodução, produção

independente, ou serviço público).

2.5.4 - Estudos de Viabilidade e Licitações de Concessões

Os Estudos de Viabilidade para se constituírem em documento de suporte

técnico de um processo de licitação, para outorga de concessão do

aproveitamento hidrelétrico, devem atender às seguintes condições

(ELETROBRÁS, 1997):

a) conter dados relativos à obra, inclusive ou dentre os quais os

elementos de projeto que permitam sua plena caracterização,

os quais devem ser preservados no projeto básico (inciso XV,

art. 18 da Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995);

b) atender o conceito de “aproveitamento ótimo” do potencial,

com o que poderá ser atribuído ao licitante vencedor a

responsabilidade pelo desenvolvimento dos projetos básico e

executivo. Considera-se “aproveitamento ótimo”, todo

potencial definido em sua concepção global pelo melhor eixo

do barramento, arranjo físico geral, níveis d’água operativos,

reservatório e potência, integrante da alternativa escolhida

para divisão de quedas de uma bacia hidrográfica. (§ 2º e § 3º

do art. 5º da Lei nº 9.074, de 07 de julho de 1995);

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c) conter os dados relativos aos custos de implantação que

permitam calcular o valor de tarifa resultante de energia, nos

casos de venda para serviço público (art. 9º, 14º e 15º da Lei

nº 8987, de 13 de fevereiro de 1995);

d) conter o projeto de integração da usina com a rede básica de

transmissão;

e) atender o art. 21 da Lei nº 8.987, de fevereiro de 1995,

havendo interesse em que o vencedor da licitação ressarça os

dispêndios efetuados nos estudos e projetos;

f) vir instruído com o pertinente licenciamento ambiental.

2.5.5 - Licenciamento Ambiental

Com relação aos aspectos sócio-ambientais, um aproveitamento hidrelétrico

está submetido a dois processos de autorização: um junto à ANEEL e outro

junto ao órgão competente de licenciamento ambiental.

No primeiro caso, os aspectos sócio-ambientais são analisados mediante a

apresentação do Relatório Final dos Estudos de Viabilidade, buscando a

comprovação da viabilidade do aproveitamento em todos os seus aspectos de

engenharia, energéticos, econômicos.

O segundo caso, corresponde ao atendimento da legislação ambiental vigente,

a qual já foi citada anteriormente.

2.6 - A Análise Multicritério

Como a influência de fatores subjetivos está presente na avaliação de

impactos ambientais de empreendimentos, foi sugerida a aplicação de uma

metodologia que utiliza a análise multicritério (AMC), com o objetivo de tornar

as análises mais coerentes, transparentes, sistemáticas e de base teórica mais

sólida.

A AMC fundamenta-se em conceitos e métodos desenvolvidos no âmbito de

diferentes disciplinas como a economia, a pesquisa operacional, a teoria das

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23

organizações e a teoria social das decisões. Surge num contexto crítico ao

modelo racional clássico da teoria das decisões, passando de uma concepção

na qual o decisor e critério são únicos e a informação é perfeita para um

enfoque que considera seja a pluralidade dos atores e dos critérios, seja a

imperfeição da informação (GIANGRANDE Apud MAGRINI, 1992). A AMC tem

sido aplicada no auxílio de acidentes decisórios de natureza diversa que

envolvem pontos de vista diferenciados e, por vezes, contraditórios.

Segundo MAGRINI (1992), “Embora não se possa estabelecer uma teoria

única de AMC, são recorrentes na literatura especializada alguns conceitos de

base como: ator, ação, critério e família de critérios. Sempre em termos gerais,

a análise multicritério é operada segundo um esquema seqüencial de fases

não estático nem linear que pressupõe realimentações, revisões e

reformulações no decorrer do processo. As etapas básicas do processo são:

definição das ações potenciais ou desejáveis a serem analisadas, formulação

dos critérios de análise, avaliação das ações com base em cada critério e

agregação final utilizando um método de AMC”.

Ainda de acordo com MAGRINI (1992), o termo ator é empregado para

designar o indivíduo que tem a capacidade de influenciar direta ou

indiretamente a decisão.

Uma ação é a representação que um ator constrói para si da solução de um

problema ou de um elemento que permite avançar no sentido da solução.

Um critério é um indicador, índice ou função que permite estabelecer um

julgamento de preferência entre ações. Para cada ação identifica-se um

conjunto de conseqüências e procede-se à decomposição das mesmas em

conseqüências elementares. À cada conseqüência elementar corresponde um

critério. O conjunto de critérios deve satisfazer certas condições e deve ser

coerente. Os critérios devem ser independentes entre si e restrito ao menor

número possível (MAGRINI, 1992).

A quantificação de critérios, composta da definição de escalas de mensuração

e do estabelecimento de pesos, é um aspecto fundamental relativo aos

critérios.

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24

“A avaliação de ações com base nos critérios se traduz, normalmente, numa

matriz de julgamentos ou de avaliação que relaciona cada ação potencial a

cada critério. A escolha do método de AMC a ser empregado posteriormente

para efetuar a agregação, depende do tipo de aplicação e da problemática

decisória de referência” (MAGRINI, 1992).

A utilização da AMC no âmbito da quantificação de impactos ambientais é

ainda muito restrito. De acordo com MAGRINI (1992), as vantagens da AMC

neste campo de estudo seriam:

- permitir uma análise sistematizada, não estática e gradual;

- fundamentar-se em pressupostos teóricos sólidos;

- permitir operar uma avaliação com base em critérios diversos, seja

quantitativos ou qualitativos, e em presença de imperfeição de

informação;

- admitir pontos de vista diferenciados;

- agregar aspectos de caráter teórico e técnico aos processos de

diálogo e negociação.

De acordo com MAGRINI (1992), a AMC aplicada ao encaminhamento da AIA

é um método que admite as limitações e a complexidade do problema,

operando de forma dinâmica e transparente. A aplicação da AMC mostra-se

particularmente apropriada para comparar alternativas de projeto (ações),

sendo no caso da AIA, recomendável para a fase que antecede a tomada de

decisão em termos de impactos ambientais (critérios).

Ainda de acordo com MAGRINI (1992), a AMC pode ser utilizada no âmbito da

AIA de um único projeto para identificar além de seu grau de impacto global, as

ações mais impactantes e portanto mais sujeitas a modificações e mitigações.

O modelo apresentado neste estudo considera a pontuação utilizando a

análise multicritério, que vem a ser um procedimento simples onde é dada uma

pontuação para cada alternativa em cada critério num problema de tomada de

decisão (RAGSDALE, 2001).

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25

Devem ser dadas ponderações ou pesos para cada critério, indicando a

importância relativa entre os critérios.

A pontuação de cada critério deve variar de zero a um e a soma das

ponderações deve somar um.

Sob o ponto de vista ambiental, a melhor alternativa seria a que apresentasse

menor pontuação, ou seja: menor impacto ambiental.

2.7 - O Setor Elétrico Brasileiro

Para uma maior compreensão deste trabalho, é necessário conhecer o setor

elétrico brasileiro e a importância que a geração hidráulica tem no sistema.

Portanto, são apresentados nesta seção informações sobre o planejamento e

funcionamento do setor.

2.7.1 - Organização do Setor

A reforma do Estado no Brasil começou a ser desenhada com a aprovação da

Lei de Concessão dos Serviços Públicos, Lei 8.987, de fevereiro de 1995. Os

artigos dispostos nesta primeira iniciativa precisavam ser aprofundados para

permitir o ingresso de recursos da iniciativa privada no aumento da oferta de

energia elétrica. Então, quatro meses depois, em julho de 1995, a Lei 9.074

regulamentou a legislação anterior no que diz respeito ao mercado de energia.

No ano seguinte, a Lei 9.427, em 26 de dezembro de 1996, criou a Agência

Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, cujo regulamento foi definido no Decreto

2.335, em 6 de outubro de 1997. O decreto estabelece as diretrizes da ANEEL,

suas atribuições e estrutura básica. Em 28 de novembro de 1997, a ANEEL

teve seu Regimento Interno aprovado pela Portaria MME nº 349 (ANEEL,

2002).

O Setor Elétrico Brasileiro, portanto, está em processo de reestruturação para

introduzir a competição nos segmentos de geração e comercialização, através

da desverticalização das empresas e do livre acesso aos sistemas de

transmissão e distribuição. Fazem parte deste novo modelo entidades

especializadas para executar as funções de regulação, planejamento da

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26

expansão, operação e comercialização de energia de curto prazo. A ANEEL, o

ONS – Operador Nacional do Sistema e o MAE – Mercado Atacadista de

Energia, desempenham especificamente a primeira, a terceira e a quarta

funções. A entidade responsável pelo planejamento da expansão é o recém

criado Comitê Coordenador do Planejamento da Expansão dos Sistemas

Elétricos – CCPE, vinculado ao Ministério das Minas e Energias. Esse órgão irá

substituir paulatinamente o GCPS - Grupo Coordenador de Planejamento dos

Sistemas Elétricos, que era vinculado à ELETROBRÁS (THEMAG, 2000a).

A ANEEL é uma autarquia em regime especial, vinculada ao Ministério de

Minas e Energia - MME, que tem como atribuições: regular e fiscalizar a

geração, a transmissão, a distribuição e a comercialização da energia elétrica,

defendendo o interesse do consumidor; mediar os conflitos de interesses entre

os agentes do setor elétrico e entre estes e os consumidores; conceder,

permitir e autorizar instalações e serviços de energia; garantir tarifas justas;

zelar pela qualidade do serviço; exigir investimentos; estimular a competição

entre os operadores e assegurar a universalização dos serviços.

A missão da ANEEL é proporcionar condições favoráveis para que o mercado

de energia elétrica se desenvolva com equilíbrio entre os agentes e em

benefício da sociedade (ANEEL, 2002).

A ANEEL surgiu, desta forma, da reestruturação do setor elétrico brasileiro. O

Estado abriria mão, gradualmente, dos meios de produção do setor elétrico e

passaria a ser regulador e fiscalizador da qualidade dos serviços prestados à

população. À ANEEL foi reservado o papel de regular e fiscalizar o novo

mercado, que se estabeleceu no País a partir da introdução da livre

competição nos segmentos de geração e comercialização de energia elétrica.

2.7.2 - O Mercado de Energia Elétrica

Os empreendimentos são, no novo modelo, bem-vindos, desde que sigam as

orientações da política energética do Governo e respeitem o meio ambiente. E

ainda quando os serviços prestados resultam em preços finais que podem ser

absorvidos pelo mercado consumidor, bem como remuneram de modo

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27

satisfatório os investimentos e despesas operacionais das empresas (ANEEL,

2002).

São as seguintes as definições dos agentes:

Autoprodutor de energia elétrica - É a pessoa física ou jurídica ou empresas

reunidas em consórcio que recebem concessão ou autorização para produzir

energia elétrica destinada ao seu uso exclusivo;

Comercializador - É a pessoa jurídica especialmente constituída para exercer a

atividade de comercialização de energia elétrica, que compreende a compra e

a venda de energia elétrica para concessionários, autorizados ou a

consumidores que tenham livre opção de escolha do fornecedor,

regulamentado pela Resolução n° 265 de 13 de agosto de 1998;

Concessionária de Serviço Público (ou Permissionária) - Agente Titular de

Serviço Público Federal delegado pelo Poder Concedente mediante Licitação,

na modalidade de concorrência, a pessoa jurídica ou consórcio de Empresas

para exploração e prestação de serviços públicos de energia elétrica,

regulamentado pela Lei 8987 de 13 de fevereiro de 1995;

Produtor Independente de Energia Elétrica - PIE - É a pessoa jurídica ou

empresas reunidas em consórcio que recebam concessão ou autorização do

poder concedente para produzir energia elétrica destinada ao comércio de toda

ou parte da energia produzida, por sua conta e risco (ANEEL, 2002).

O mercado de energia elétrica experimenta um crescimento da ordem de 4,5%

ao ano, devendo ultrapassar a casa dos 100 mil MW em 2008. O planejamento

governamental de médio prazo prevê a necessidade de investimentos da

ordem de R$ 6 a 7 bilhões/ano para expansão da matriz energética brasileira,

em atendimento à demanda do mercado consumidor (ELETROBRÁS, 2002).

Para o futuro, algumas alterações devem ocorrer na estrutura dos

investimentos em energia, incluindo a instalação de centrais termelétricas a

gás natural, que exigem prazos de implementação e investimentos menores

que as hidrelétricas. Por outro lado, deverão ser ampliadas as importações de

energia da Argentina, Venezuela e Bolívia; e a interligação elétrica entre o Sul

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e o Norte do Brasil, o que significa maiores investimentos em rede de

transmissão.

As principais oportunidades de negócios no mercado de energia elétrica

nacional estão ligadas à oferta de novos empreendimentos de geração para

exploração pela iniciativa privada e à construção de linhas de transmissão,

bem como à privatização de ativos de sistemas de distribuição e de geração.

Outro foco se concentra na universalização do atendimento às comunidades

isoladas da Região Norte do País e ao meio rural, que devem estar concluídos

até 2005 (ELETROBRÁS, 2002).

O sistema elétrico brasileiro apresenta como particularidade grandes

extensões de linhas de transmissão e um parque produtor de geração

predominantemente hidráulica. O mercado consumidor (47,2 milhões de

unidades) concentra-se nas regiões Sul e Sudeste, mais industrializadas. A

região Norte é atendida de forma intensiva por pequenas centrais geradoras, a

maioria termelétricas a óleo diesel.

Ao longo das últimas duas décadas, o consumo de energia elétrica apresentou

índices de expansão bem superiores ao Produto Interno Bruto (PIB), fruto do

crescimento populacional concentrado nas zonas urbanas, do esforço de

aumento da oferta de energia e da modernização da economia.

De acordo com MAGRINI (1992), na segunda metade dos anos 80, o intenso

programa de expansão de usinas hidrelétricas elaborado pelo setor elétrico

despertava particulares preocupações, seja pelo montante de investimentos

requeridos, seja, e principalmente, pelos potenciais impactos que estes

empreendimentos de grande porte poderiam provocar ao meio ambiente.

As classes de consumo residencial, comercial e rural obtiveram expressivos

ganhos de participação, enquanto o segmento industrial teve participação

menor neste crescimento, principalmente pela utilização de tecnologias mais

eficientes no uso final da eletricidade, aliada às medidas de racionalização de

consumo postas em prática especialmente na década de 90.

Page 40: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

29

O mercado de distribuição de energia elétrica é atendido por 64

concessionárias, estatais ou privadas, de serviços públicos que abrangem todo

o País. As concessionárias estatais estão sob controle dos governos federal,

estaduais e municipais. Em várias concessionárias privadas verifica-se a

presença, em seus grupos de controle, de diversas empresas nacionais e

multinacionais. São atendidos cerca de 47 milhões de unidades consumidoras,

das quais 85% são consumidores residenciais, em mais de 99% dos

municípios brasileiros (THEMAG, 2000).

A licitação por leilão abre aos investidores interessados no mercado de energia

a possibilidade de participar dos empreendimentos de geração hidrelétrica e da

construção de linhas de transmissão. Antes, o Estado construía e administrava

as usinas e o sistema de transmissão. Hoje qualquer empresa, inclusive de

outros países, pode participar das licitações.

A ANEEL fez o primeiro leilão para usinas hidrelétricas em 1998, em seu

auditório em Brasília (Quadro 2-2), com a disputa dividida entre empresas de

capital nacional e internacional. A potência total dos três empreendimentos

licitados em 1998 chegava a 580 MW e implicaram investimentos estimados

em R$ 1,5 bilhão, entre a fase de construção e operação.

No ano seguinte, a ANEEL ofereceu aos empreendedores a primeira chance

de investir em rede de transmissão, com três linhas e uma subestação, que

representavam a expansão de 765 quilômetros do sistema interligado. Os

vencedores do leilão estão investindo um total de R$ 411,28 milhões na

construção das instalações das futuras linhas de transmissão (ANEEL, 2002).

Quadro 2-2: Usinas hidrelétricas licitadas pela ANEEL

Usina (ano da licitação) ConcessionáriaConcorrências - 1996 -Emboque Companhia Força e Luz Cataguazes-LeopoldinaCubatão Usina Hidrelétrica Cubatão S.A.Concorrências - 1997 -Rosal Rosal Energia S.A.Queimado CEMIG/CEBPorto Estrela CEMIG (PI), CVRD, COTEMINAS e NESLajeado Rede Lajeado Energia S.A. = 44,895%; EDP Lajeado =

27,37%; CEB Lajeado = 19,80%; Paulista Lajeado = 6,93%;Investco = 1%

Page 41: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

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Usina (ano da licitação) ConcessionáriaConcorrência/Leilão - 1998 -Cana Brava Companhia Energética Meridional – CEMPonte de Pedra Ponte de Pedra EnergéticaSanta Clara Construtora Queiroz GalvãoCampos Novos Campos Novos EnergiaPirajú Companhia Brasileira de Alumínio S.A.Itapebi Itapebi Geração de Energia S.A.Irapé CEMIGLeilão – 1999 -Ourinhos Ourinhos Energia S.A.Leilão – 2000 -Itumirim Companhia Energética ItumirimCandonga Companhia Vale do Rio Doce (50%) e EPP – Energia Elétrica,

Promoções e Participações Ltda. (50%)Quebra Queixo Companhia Energética Chapecó – CECBarra Grande VBC Energia S.A. (44,7399%), Alcoa Alumínio S.A.

(31,5791%), Valesul Alumínio S.A. (10,5307%) e DMEnergética Ltda. (7,8902%) – PI’s; Camargo Corrêa CimentosS.A. (5,2601%) – AP

Corumbá IV Corumbá Concessões S.A.CERAN Companhia Energética Rio das Antas – CERAN14 de Julho -Castro Alves -Monte Claro -Picada Companhia Paraibuna de Metais (99%) e Paraibuna de

Energia (1%)Capim Branco Cemig Capim Branco Energia S.A. (20%), Companhia Vale do

Rio Doce – AP (46%), Comercial e Agrícola Paineiras Ltda.(17%), Companhia Mineira de Metais – AP (12%) e CamargoCorrêa Cimentos S.A. – AP (5%)

I -II -Murta Murta Energética S.A.Barra do Braúna Cat-Leo Energia S.A.Itaocara Light Sinergias Ltda.Espora Fuad Rassi Engenharia, Indústria e Comércio Ltda.Leilão – 2001 -Fundão -Santa Clara -Complexo Centrais Elétricas do Rio Jordão S.A. (ELEJOR)Corumbá III Energética Corumbá III S.A.São Jerônimo Consórcio São Jerônimo (COPEL – 21%, Tibaji – 30% e SJ

Investidores e Participações Ltda. – 49%)Bau I Cat-Leo Energia S.A.Foz do Chapecó Consórcio Energético Foz do Chapecó (CVRD – 40%, Foz do

Chapecó Energia S.A. – 60%)Serra do Facão Consórcio Grupo de Empresas Associadas Serra do Facão

(Alcoa Alumínio S.A. – 50,4386%, CBA – 16,9737% AP, DMEEnergética Ltda. – 10,0877% e Votorantim Cimentos Ltda. –22,5%)

Peixe Consórcio ENERPEIXE (Enerpaulo – Energia Paulista Ltda. –93%, Rede Peixe Energia S.A. – 5% e Enerpeixe S.A. – 2%)

Leilão – 2001 / 2o Semestre -Simplício Lidil Comercial Ltda.Salto Pilão CPFL – Geração de Energia S.A., Alcoa Alumínio S.A.,

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Usina (ano da licitação) ConcessionáriaCamargo Corrêa Cimentos S/A, DME Energética Ltda. EVotorantim Cimentos Ltda., que constituem o CONSÓRCIOGRUPO EMPRESARIAL SALTO PILAÕ

São João -Cachoeirinha -Complexo Energético SãoJoão/ Cachoeirinha

Enterpa Engenharia Ltda.

São Salvador Tractebel Sul Ltda.Monjolinho Engevix Engenharia Ltda.Pedra do Cavalo Votorantim Cimentos Ltda.Traira II Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIGPai Querê CPFL – Geração de Energia S.A., Alcoa Alumínio S.A.,

Companhia Estadual de Energia Elétrica-CEEE, DMEEnergética Ltda. E Votorantim Cimentos Ltda., que constituemo CONSÓRCIO GRUPO EMPRESARIAL PAI QUERÊ

Couto Magalhães Companhia de Energia Elétrica do Estado do Tocantins –CELTINS e ENERPAULO Energia Paulista Ltda., queconstituem o CONSÓRCIO ENER-REDE COUTOMAGALHÃES

Santa Isabel Billiton Metais S/A, Companhia Vale do Rio Doce, CamargoCorrêa S/A, Alcoa Alumínio S/A e Votorantim Cimentos Ltda.,que constituem o CONSÓRCIO GESAI-Grupo EmpresarialSanta Isabel

Fonte: ANEEL, 2002

A ANEEL examina os processos de empreendimentos que dependem de

autorização para exploração. Neste bloco estão as Pequenas Centrais

Hidrelétricas (PCH´s), que produzem até 30 MW cujos procedimentos de

Autorização e Registro, são estabelecidos na Resolução ANEEL nº 395/1998,

as centrais geradoras termelétricas, de cogeração e fontes alternativas (eólica,

solar e biomassa) que podem obter registro ou autorização conforme requisitos

definidos na Resolução ANEEL nº 112/1999, que simplificou os processos,

bem como se qualificar como cogerador desde que atendidos os requisitos

estabelecidos na Resolução ANEEL nº 021/2000.

A Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos (CFURH) é

um percentual que as concessionárias e empresas autorizadas a produzir

energia por geração hidrelétrica pagam pela utilização de recursos hídricos. A

ANEEL gerencia a cobrança da taxa e a distribuição dos recursos arrecadados

entre os municípios, estados e a União.

Conforme estabelecido pela Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, são

destinados 45% dos recursos aos municípios atingidos pelas barragens,

enquanto que os estados onde se localizam as represas têm direito a outros

Page 43: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

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45%. A União fica com 10% do total. Geradoras caracterizadas como

Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH´s), são dispensadas da taxa.

As concessionárias pagam 6,75% do valor da energia produzida como taxa de

Compensação Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos. O total a ser

pago é calculado segundo uma fórmula padrão: CFURH = energia gerada x

tarifa atualizada de referência x 6,75%. Em 01/03/02, a tarifa atualizada de

referência era de R$ 29,40/MWh.

O percentual da CFURH que cabe à União é dividido entre o Ministério de Meio

Ambiente, Recursos Hídricos e Amazônia Legal (3%); o Ministério de Minas e

Energia (3%) e para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (4%), administrado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. O

percentual de 0,75% de CFURH é repassado à Agência Nacional de Águas -

ANA.

Os contratos de concessão assinados entre a ANEEL e as empresas

prestadoras dos serviços de transmissão e distribuição de energia estabelecem

regras claras a respeito de tarifa, regularidade, continuidade, segurança,

atualidade e qualidade dos serviços e do atendimento prestado aos

consumidores. Da mesma forma, define penalidades para os casos em que a

fiscalização da ANEEL constatar irregularidades.

Os novos contratos de concessão de distribuição priorizam o atendimento

abrangente do mercado, sem que haja qualquer exclusão das populações de

baixa renda e das áreas de menor densidade populacional. Prevê ainda o

incentivo à implantação de medidas de combate ao desperdício de energia e

de ações relacionadas às pesquisas voltadas para o setor elétrico.

A concessão para operar o sistema de transmissão é firmada em contrato com

duração de 30 anos. As cláusulas estabelecem que, quanto mais eficiente as

empresas forem na manutenção e na operação das instalações de

transmissão, evitando desligamentos por qualquer razão, melhor será a sua

receita.

Page 44: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

33

Quanto aos contratos de concessão de geração, no caso de novas

concessões, outorgadas a partir de processos licitatórios, os mesmos têm

vigência de 35 anos, podendo ser renovados por igual período, a critério da

ANEEL.

Para as concessões outorgadas anteriores às leis nº 8.987/1995 e 9.074/1995,

a renovação é por 20 anos.

A matriz energética brasileira é composta, aproximadamente, por 82% de

geração hídrica ficando o restante distribuído entre a geração térmica, eólica e

nuclear. Cabe à ANEEL receber os pedidos dos investidores interessados em

empreendimentos de geração hidrelétrica. Estes investidores devem consultar

a legislação pertinente.

As novas condições de concorrência que estão sendo introduzidas no setor

elétrico criam novos paradigmas para a atividade de planejamento. Estas

condições repercutem nos estudos de previsão de mercado, já que os agentes

passam a atribuir conotação estratégica a uma série de informações antes

compartilhada, sem restrições, com todos os participantes do processo de

planejamento do setor. Alteram também as premissas e os principais objetivos

do planejamento de expansão da oferta, agora de natureza indicativa.

O planejamento da transmissão é impactado da mesma forma, uma vez que

pretende-se estabelecer um sistema de transporte de energia que não iniba a

concorrência entre os agentes de mercado, um condicionante necessário para

a minimização dos custos de fornecimento.

Tendo em conta estas considerações, deverão ser objetivos principais do

CCPE:

- Orientar ações de governo para assegurar o fornecimento de energia nos

níveis de qualidade e quantidade demandados pela sociedade, em

consonância com a Política Energética Nacional, emanada do Conselho

Nacional de Política Energética;

- Oferecer aos agentes do mercado elétrico um quadro de referência para

seus planos de investimento; e

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34

- Estabelecer a expansão mais adequada da rede elétrica de transmissão,

em consonância com os aspectos operacionais do sistema.

Neste novo ambiente institucional o planejamento deverá ser conduzido

como função do Governo Federal, exercida pelo Ministério das Minas e

Energia. Contudo, a representação dos agentes e entidades do setor deverá

ser garantida pela composição da estrutura do CCPE, através da participação

de entidades de classe em consultas públicas para avaliação e aprovação dos

principais produtos, refletindo um processo decisório participativo e aberto.

No sentido de atender aos requisitos acima mencionados e na qualidade

de Agente Planejador do Sistema Elétrico Brasileiro, o CCPE terá, entre outras

atribuições:

- Elaborar, de forma integrada, o planejamento de longo prazo do setor

elétrico;

- Elaborar e manter atualizados os Planos Indicativos de Expansão e o

Programa Determinativo da Transmissão;

- Estruturar e manter atualizado o Sistema de Informações Técnicas do

planejamento da expansão do setor de energia elétrica, disponibilizando-o

aos agentes que atuam no setor e à sociedade em geral;

- Estimar os investimentos de capital para expansão da oferta de geração e

de transmissão de energia elétrica, subsidiando as ações de governo na

busca de adequação ou viabilização dos mesmos;

- Acompanhar as condições de atendimento ao mercado de energia elétrica,

sugerindo ações para manter este atendimento em níveis de qualidade

preestabelecidos; e

- Propor à ANEEL, os critérios, normas, procedimentos e referências de

qualidade para o desempenho do sistema elétrico na realização da

atividade de planejamento (ANEEL, 2002).

Mesmo com o aumento previsto da geração termelétrica, o potencial

hidrelétrico deverá responder por cerca de 75% da geração ao final do

horizonte decenal. Isso decorre da alta competitividade econômica do potencial

Page 46: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

35

hidrelétrico, reforçado pelo fato de ser uma fonte renovável e tecnologicamente

conhecida. Além disso, os reservatórios das hidrelétricas, desde que

planejados e operados adequadamente dentro da ótica de usos múltiplos da

água, possibilitam a implantação de empreendimentos com inserção regional.

As restrições aos empreendimentos hidrelétricos são fundamentalmente de

ordem sócio-ambiental. Atualmente, contudo, o setor elétrico tem reorientado

suas ações no sentido de consolidar e sistematizar o conhecimento nessa

área, avaliar e caracterizar os custos e benefícios sócio-ambientais, intensificar

e ampliar as ações mitigadoras e, por fim, ampliar a participação da sociedade

no processo de discussão de programas e projetos. Essas ações visam

atenuar os aspectos negativos e ampliar os aspectos positivos dos

empreendimentos, cabendo à sociedade como um todo a responsabilidade de

estabelecer a medida de exploração desse potencial, a partir de uma

perspectiva de desenvolvimento sustentado.

2.7.3 - Fontes de Energia

2.7.3.1 - Energia Hidrelétrica

A opção pelas usinas hidrelétricas foi a trajetória tecnológica escolhida pelo

país devido à ampla disponibilidade de potenciais hidráulicos, a custos

competitivos e, sobretudo, devido à falta de disponibilidade nacional de

combustíveis fósseis.

O parque gerador brasileiro é composto, predominantemente, por usinas

hidrelétricas, que constituem cerca de 82% da potência instalada total. As

usinas termelétricas, que contribuem com os 18% restantes, são hoje

utilizadas, nos sistemas interligados, para complementar a geração hidráulica

nos períodos secos e nas horas de maior demanda. São também usadas no

suprimento a sistemas isolados das Regiões Norte e Centro-Oeste do país.

Face ao amplo potencial hidrelétrico economicamente competitivo ainda

existente no país, esta predominância da geração de origem hidráulica deverá

perdurar, no mínimo, ao longo dos próximos 20 anos (ENGEVIX, 2002a).

Page 47: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

36

A Região Sudeste detém a maior parcela da capacidade instalada de geração,

com destaque para os Estados de Minas Gerais e São Paulo.

A fim de atender ao crescente consumo de energia elétrica no país,

principalmente no que se refere às Regiões Sul e Sudeste, o governo brasileiro

vem desenvolvendo uma política abrangente de planos e programas de

investimentos para o Setor Elétrico Brasileiro, visando inclusive diversificar a

matriz energética do pais.

O Quadro 2-3 resume algumas características do parque gerador brasileiro da

atualidade.

Quadro 2-3: Sistema Gerador Existente

Produtor Capacidade Instalada (MW)HIDRO TERMO TOTAL

SUL-SUDESTE-CENTRO OESTE 43.427 3.809 47.236NORTE-NORDESTE 14.417 314 14.731SISTEMAS ISOLADOS 543 1.744 2.287CAPITAIS 506 1.285 1.791INTERIOR 459 37 496

(FONTE: CTEM/GCPS - ELETROBRÁS, 2000)

A mais recente avaliação do potencial hidrelétrico no País indica um valor

aproximado de 130 GW/ano de energia firme, equivalente a uma potência

instalável de 260 GW, para um fator de capacidade da ordem de 50%, sendo

importante lembrar que, atualmente, apenas 20% dessa disponibilidade

encontram-se aproveitadas (THEMAG, 2000).

Deve-se, entretanto, salientar que o potencial das Regiões Nordeste e Sudeste

- esta a mais desenvolvida, englobando 44% da população e 64% do consumo

de energia elétrica - deverá praticamente esgotar-se até o final deste século.

2.7.3.2 - Energia Termelétrica

O Programa Prioritário de Termelétricas - PPT tem por objetivo aumentar a

oferta de energia no país em mais de 15 mil MW a partir da implementação,

até 2003, de 49 novas usinas termelétricas em 18 Estados brasileiros, além da

conversão de 4 usinas existentes para funcionamento com gás natural.

Page 48: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

37

O Programa pretende promover uma alteração da matriz energética brasileira,

aumentando para cerca de 25% a geração de energia de origem térmica nos

próximos dez anos.

Essa nova composição da matriz energética, principalmente com utilização de

gás natural, propicia condições de atendimento ao mercado a curto prazo e

permite ganhos de confiabilidade e eficiência no sistema gerador de energia

elétrica. Dessa forma, a participação do gás natural na matriz energética

nacional, que hoje é de 3%, deverá aumentar para 10%.

Além disso, a geração termelétrica com o seu avanço tecnológico traz

inúmeras vantagens, tais como: atendimento aos requisitos ambientais;

instalação próxima aos centros de carga, otimizando o carregamento e a

expansão dos sistemas de transmissão; geração estratégica para a operação

de hidrelétricas e menor prazo de construção.

Dado que as novas bases de funcionamento e regulamentação do setor visam

garantir a prática da livre competição sem degeneração da qualidade do

serviço, torna-se necessário garantir e promover o adequado equilíbrio entre

disponibilidades e demandas, por meio de esforços nas áreas de planejamento

e gestão de recursos naturais e financeiros. Dessa forma, dado que em 2003

se inicia efetivamente a prática do livre mercado, para tal horizonte foi definida

a implantação das usinas termelétricas listadas no Quadro 2-4.

Quadro 2-4: Programa Prioritário de Termelétricas

USINAS LOCALIZAÇÃO POTÊNCIA (MW)USINAS DE COGERAÇÃO A GÁS NATURAL

VALE DO AÇU RIO GRANDE DONORTE

240

SERGIPE SERGIPE 90TERMOBAHIA BAHIA 460

TERMORIO RIO DE JANEIRO 450CUBATÃO SÃO PAULO 180

RHODIA PAULÍNIA SÃO PAULO 152RHODIA SANTO ANDRÉ SÃO PAULO 100

ALTO TIETÊ I, II SÃO PAULO 88CAPUAVA SÃO PAULO 230

VALPARAÍSO SÃO PAULO 220IBIRITÉ MINAS GERAIS 240USINAS A GÁS NATURAL EM CICLO COMBINADO

DUNAS CEARÁ 250PARAÍBA PARAÍBA 150

TERMOALAGOAS ALAGOAS 120TERMOPERNAMBUCO PERNAMBUCO 460

Page 49: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

38

USINAS LOCALIZAÇÃO POTÊNCIA (MW)VITÓRIA ESPÍRITO SANTO 500

NORTE FLUMINENSE RIO DE JANEIRO 720CABIUNAS RIO DE JANEIRO 450

RIOGEN RIO DE JANEIRO 500POÇOS DE CALDAS MINAS GERAIS 500

JUIZ DE FORA MINAS GERAIS 78SANTA BRANCA SÃO PAULO 1067

VALE DO PARAÍBA SÃO PAULO 480ARARAQUARA SÃO PAULO 500

PAULÍNIA SÃO PAULO 240PAULÍNIA DSG SÃO PAULO 550

CARIOBA SÃO PAULO 750ABC SÃO PAULO 500

BARIRI SÃO PAULO 700CACHOEIRA PAULISTA SÃO PAULO 180

INDAIATUBA SÃO PAULO 180DUKE ENERGY 1 SÃO PAULO 350

ARAUCÁRIA PARANÁ 480TERMOCATARINENSE SANTA CATARINA 300

GAUCHA RIO GRANDE DO SUL 480TERMOSUL RIO GRANDE DO SUL 750

CAMPO GRANDE MATO GROSSO DO SUL 300CORUMBÁ MATO GROSSO DO SUL 250CUIABÁ II MATO GROSSO 480

TERMONORTE II RONDÔNIA 340MANAUS AMAZONAS 180

USINAS A GÁS NATURALTERMONORTE I RONDÔNIA 64

PITANGA PARANÁ 20USINAS COM OUTROS COMBUSTÍVEIS

COFEPAR PARANÁResíduo Asfáltico (RASF)

616

FIGUEIRA PARANÁCarvão

100

SÃO MATEUS PARANÁXisto

70

SUL CATARINENSE SANTA CATARINACarvão

400

SEIVAL RIO GRANDE DO SULCarvão

250

CANDIOTA III RIO GRANDE DO SULCarvão

350

USINAS EXISTENTES A SEREM CONVERTIDAS PARA GÁSNATURAL COM PROCESSO DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA

MANAUS AMAZONAS 500SANTA CRUZ RIO DE JANEIRO 1125CAMAÇARI BAHIA 420

BONGI PERNAMBUCO 213(Fonte: THEMAG, 2000)

De acordo com os dados do Quadro 2-4, nota-se que a concretização do

Programa Prioritário de Termelétricas, além de incrementar a utilização do gás

natural, também visa a utilização de combustíveis nacionais como o carvão

mineral e o xisto, porém com uma participação bem inferior à do gás.

O programa conta com a participação da Petrobrás, da ELETROBRÁS, do

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da

Page 50: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

39

Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e da Agência Nacional de

Petróleo (ANP).

Particularmente, a participação da Petrobrás tem um papel fundamental, pois é

o agente que deverá garantir o suprimento de gás natural, por prazo de até

vinte anos, ao preço de US$ 2,26/MMbtu, na base de setembro de 1999, para

as usinas vinculadas ao sistema elétrico interligado, de acordo com a política

de gás natural nacional e de acordo com as demais condições de

comercialização constantes nos contratos firmados para o gás natural

importado. Os preços serão variáveis a cada ano dependendo da maior ou

menor disponibilidade de gás brasileiro. O MME e a ANP estão estudando uma

fórmula permanente para correção destes valores, visando definir critérios para

o preço do gás para geração termelétrica.

A questão do suprimento de gás é um dos aspectos que tem trazido grande

polêmica ao programa. Como há o risco de aumento dos preços do gás natural

importado, devido à variação cambial, e como, por outro lado, não há garantias

de repasse desse aumento para a tarifa, os investidores tem tido dificuldades

em viabilizar as operações de financiamento, principalmente junto aos agentes

internacionais.

Atualmente, a proposta do Ministério das Minas e Energia é adotar um fundo

de compensação semelhante à Conta Consumo de Combustíveis, do setor de

derivados de petróleo.

De qualquer forma, o equacionamento desse impasse é fundamental para a

continuidade do programa.

Outro aspecto relevante e vital para o sucesso do PPT refere-se à

disponibilidade de fornecimento de turbinas no mercado internacional.

Atualmente, os fabricantes de turbinas estão com sua capacidade de produção

esgotada devido ao crescimento da demanda.

Do ponto de vista ambiental, a implantação e operação de usinas termelétricas

provoca uma série de impactos ambientais, particularmente ligados às

emissões aéreas e de efluentes líquidos.

Page 51: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

40

Em função das pequenas reservas de gás natural no país e da conseqüente

priorização para outros usos, pode-se concluir que não haviam muitas

perspectivas de um programa termelétrico baseado nessa fonte energética, a

partir das reservas nacionais.

A possibilidade que se apresenta mais promissora, a curto prazo, por razões

de estratégia econômica, é a importação de países limítrofes, com a previsão

de um acordo a ser assinado com a Bolívia (importação de 6,0 MMm³/dia de

gás e seus derivados: energia elétrica, fertilizantes e petroquímicos), as

tratativas com a Argentina (importação de 2,5 a 4,0 MMm³/dia) e Peru (gás de

Camisea).

O país dispõe também de reservas de carvão na Região Sul. Embora não

significativas a nível mundial, essas reservas totalizam 32.446 bilhões de

toneladas, correspondendo a uma potência instalável de 100 GW.

Entretanto, além do custo dessa forma de energia ainda não ser competitivo

com o da geração de origem hidráulica, as usinas termelétricas a carvão

apresentam sérios problemas ambientais, destacando-se aqueles ligados à

emissão de óxidos de nitrogênio e enxofre na atmosfera, responsáveis pela

chuva ácida. Para minimizar tais emissões, impõe-se a instalação de onerosos

equipamentos para lavagem e tratamento dos gases de exaustão.

2.7.3.3 - Energia Nuclear

Outra opção que se coloca refere-se à energia nuclear, pelo fato do Brasil

dispor de uma reserva recuperável de óxido de urânio da ordem de 120.000 t,

equivalente a uma capacidade instalada de 26 GW.

Em 1968, o Governo Brasileiro decidiu ingressar no campo da produção da

energia termonuclear, com o objetivo primordial de propiciar ao setor elétrico a

oportunidade de conhecer esta moderna tecnologia e adquirir experiência para

fazer frente às possíveis necessidades futuras. Como àquela época já estava

prevista uma complementação termelétrica na área do Rio de Janeiro, foi

decidido que este aumento se fizesse mediante a construção de uma usina

nuclear de cerca de 600MW. Esta incumbência foi, então, confiada pela

Page 52: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

41

ELETROBRÁS à FURNAS Centrais Elétricas S.A., que realizou uma

concorrência internacional, vencida pela empresa norte-americana

Westinghouse.

A construção de Angra 1 foi iniciada em 1972, a primeira reação nuclear em

cadeia foi estabelecida em março de 1982 e a usina entrou em operação

comercial em 1985.

Mesmo obedecendo aos mais exigentes padrões internacionais de segurança,

a Usina Nuclear de Angra 1, construída na Praia de Itaorna, Angra dos Reis,

vem sendo alvo de debates e discussões, principalmente após o acidente de

Chernobyl, na antiga União Soviética.

Em junho de 1975, o Governo Brasileiro assinou com a República Federal da

Alemanha o Acordo sobre Cooperação para Uso Pacífico da Energia Nuclear.

Dentro do âmbito deste acordo, em julho de 1975 foi concretizada a aquisição

das usinas Angra 2 e 3 da empresa alemã Kraftwerk Union A.G. - KWU,

subsidiária da SIEMENS.

As obras civis de Angra 2 foram iniciadas em 1976. Entretanto, a partir de

1983, o empreendimento teve o seu ritmo progressivamente desacelerado

devido à redução dos recursos financeiros disponíveis.

Em 1991, o Governo decidiu retomar as obras de Angra 2 e a composição dos

recursos financeiros necessários à conclusão do empreendimento foi definida

ao final de 1994.

Angra 2, com 1.309 MW de potência, entrou em operação comercial em 2000.

A usina de Angra 3, também com 1.309 MW de potência, foi contratada

juntamente com Angra 2, visando uma redução de custos. As datas originais

de entrada em operação no sistema elétrico eram, para Angra 2, maio de 1983

e, para Angra 3, dezembro de 1984. Desta forma, o projeto de Angra 3 foi

sendo desenvolvido em paralelo ao de Angra 2, embora com uma defasagem

crescente.

Page 53: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

42

Em 1991, o Governo decidiu concluir Angra 2 e interromper os trabalhos

relativos à construção de Angra 3, visando concentrar todos os recursos para

atingir o primeiro objetivo.

A Eletronuclear, subsidiária da ELETROBRÁS encarregada de gerir o

Programa Nuclear, está efetuando estudos técnicos e de viabilidade

econômica de Angra 3, para submetê-los às autoridades do setor elétrico.

Por outro lado, vários países da Europa, além de EUA e Canadá, estão

desativando suas usinas nucleares existentes e/ou abandonando seus

programas de implantação de novos reatores. Esse fato decorre dos graves

problemas gerados com o destino dos rejeitos radioativos e dos riscos

associados de contaminação ambiental e humana, cujos resultados podem ser

catastróficos (THEMAG, 2000).

Apesar do Brasil ter em operação as usinas nucleares Angra I e Angra II e em

construção a usina Angra III, fatos novos contribuem para modificar a

estratégia vislumbrada anteriormente de novas usinas nucleares, tais como:

atraso nas datas previstas para o comissionamento de Angra II e III; queda

expressiva das projeções de mercado; oposição pública à disseminação de

reatores no país; desenvolvimento de tecnologias nacionais relativas ao ciclo

do combustível e à construção de reatores de menor porte. O panorama atual

é, pois, de reavaliação do programa nuclear. O Programa Nuclear brasileiro é

alvo de grande polêmica. As questões mais controvertidas no tocante à energia

nuclear referem-se aos riscos de acidentes e à destinação final dos resíduos

radioativos de forma segura e controlada. Após a tragédia de Chernobyl, a

opinião pública mundial ficou muito mais sensível à implantação dessas

centrais, gerando uma resistência coletiva acentuada por parte das populações

em geral (ENGEVIX, 2002).

2.7.3.4 - Fontes Alternativas de Energia

O setor elétrico tem procurado intensificar o uso de energias renováveis, entre

elas a solar, eólica e de biomassa, não só porque elas vêm despertando

Page 54: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

43

grande interesse devido às crescentes exigências de preservação do meio

ambiente, como também pelos seus custos, que podem se tornar competitivos.

Em termos estratégicos, as nações desenvolvidas sinalizam essas fontes

alternativas de energia (FAE) como tecnologias do futuro, investindo

expressivamente na sua disseminação através de incentivos, subsídios e,

inclusive, créditos especiais.

Apesar do sistema elétrico brasileiro não contribuir significativamente para a

degradação ambiental, é importante considerar a promoção de transferência

tecnológica e as capacitações técnica e industrial necessárias à adoção, em

nosso País, de geração descentralizada em escala, particularmente de FAE.

Desse modo, é possível antever, mesmo que a longo prazo, algum

redirecionamento dos investimentos em energia para empreendimentos

localizados mais próximos aos centros de consumo, resultando em uma maior

eficiência em função da redução de perdas na transmissão de blocos de

energia centralizada, além da redução de custos decorrentes da expansão da

rede.

- Biomassa

Uma das ações mais importantes nessa área é o Projeto WBP/SIGAME -

Sistema Integrado de Gaseificação de Madeira para Produção de Eletricidade -

que visa o aproveitamento de biomassa florestal como combustível primário na

geração de energia elétrica, desenvolvido em parceria com a CHESF e a

SHELL, no Município de Mucuri, no Sul da Bahia. O potencial desse projeto é

da ordem de 32 MW, e sua operação comercial está prevista para 2006

(THEMAG, 2000).

Da mesma forma, esforços também estão sendo direcionados para o uso da

energia da biomassa associada a óleos vegetais e o aproveitamento de

resíduos agro-industriais, como por exemplo, as sobras de madeira, o bagaço-

de-cana e os rejeitos do setor de papel e celulose.

Com relação ao bagaço-de-cana, resíduo proveniente das usinas de álcool, a

potência instalada atual é de 1.000 MW, concentrada no Estado de São Paulo.

Page 55: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

44

O potencial técnico do setor é avaliado em cerca de 4.000 MW, que pode ser

agregado através da instalação de unidades produtoras, envolvendo a

substituição de caldeiras e a construção de subestações e ramais de

transmissão.

Contudo, existem algumas questões que devem ser equacionadas para que o

setor venha a realizar os investimentos necessários. Dentre eles se destacam

a necessidade de financiamentos com condições de amortização compatíveis

com a realidade do setor, criação de regras claras para compra dos

excedentes energéticos e definição de uma política energética para a produção

de álcool.

- Energia Eólica

Atualmente, existem 7 empreendimentos de energia eólica no Brasil,

totalizando uma capacidade de cerca de 20 MW. Dentre estes, destaca-se o

projeto de Prainha, no Ceará, que responde por cerca de 50% desse total.

Está prevista a implantação de mais 8 projetos dessa natureza ao longo da

próxima década. Esse potencial é estimado em cerca de 350 MW, onde se

destacam os projetos de Palmas, no Paraná, com cerca de 90 MW, e o de

Jericoacara no Ceará, com capacidade de 100 MW.

- Energia Solar

Com a finalidade de desenvolver um mercado sustentável de energia, levando

a eletricidade às quase 100.000 comunidades desassistidas do País, o

governo instituiu o Programa para o Desenvolvimento Energético de Estados e

Municípios (PRODEEM), voltado para a implementação de sistemas

descentralizados, com predominância de uso de painéis fotovoltáicos. O

escopo do Programa engloba o atendimento de cerca de 100 mil comunidades

e de 3 milhões de propriedades rurais não assistidas do País.

Recentemente o PRODEEM foi integrado ao programa "Brasil em Ação" do

Governo Federal. Pela sua dimensão, o programa deverá ser gradativamente

descentralizado, bem como estabelecer condições para desenvolvimento de

forma sustentada, para que possa, nos próximos 10 anos, atingir a curto prazo

Page 56: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

45

3.000 comunidades/ano e, a mais longo prazo, a marca de 10.000

comunidades/ano.

2.7.3.5 - Conclusões sobre Alternativas Tecnológicas

Considerando os dados básicos utilizados nos estudos de planejamento da

geração do Setor, os custos unitários médios de geração para as principais

alternativas no País são (THEMAG, 2000):

- usinas hidráulicas: 40 a 60 US$/MWh

- usinas térmicas: 60 a 80 US$/MWh

- usinas nucleares: 100 a 120 US$/MWh

Embora se tenha buscado deixar transparente que o sistema gerador brasileiro

continuará baseando sua expansão na opção hidrelétrica, há que se ponderar

a necessidade de análises conjunturais do programa de expansão,

subordinando a programação dos novos empreendimentos à crise econômica

que o país tem vivenciado nos últimos anos. Esta crise se reflete no Setor,

tanto pelas grandes incertezas nas projeções de mercado, como pela

indisponibilidade de recursos financeiros para os investimentos.

Com base no panorama exposto pode-se notar que a alternativa hidrelétrica

ainda é altamente atrativa, tanto do ponto de vista técnico e econômico, como

estratégico e ambiental.

Por isso, a atual estratégia de expansão contempla um programa básico de

usinas hidrelétricas e outro conjunto de usinas cuja decisão de construção

deve ser tomada em função dos limites de investimento e tendência do

mercado.

Mesmo com o aumento previsto da participação termelétrica, o montante a ser

adicionado ainda é marginal em relação ao potencial de desenvolvimento da

hidreletricidade.

Por outro lado, a expansão da energia nuclear está altamente comprometida,

sendo que o planejamento oficial prevê apenas a implantação de Angra 3,

sendo esta provavelmente a última usina nuclear brasileira.

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46

O papel das Fontes Alternativas de Energia (FAE) está associado, pelo menos

para a próxima década, a aspectos estratégicos e suplementares. Mesmo com

a desregulamentação do Setor, ainda são necessárias algumas ações

complementares específicas para tornar as FAE efetivamente uma

oportunidade de negócio interessante para a iniciativa privada. Uma das

principais barreiras é a questão da competitividade com as fontes

convencionais de energia.

A experiência vivida pelos países mais desenvolvidos aponta para a

necessidade de incentivos para tornar as FAE competitivas com relação às

fontes convencionais. No caso brasileiro, este aspecto se reveste de maior

gravidade pelo baixo custo da energia hidrelétrica, hoje fortemente amortizada,

e pela incorporação do gás natural à base térmica com custos bastante

interessantes.

Nos últimos planejamentos do Setor Elétrico, foram admitidas as taxas médias

de crescimento do consumo, no Brasil e nas Regiões Sul e Sudeste,

apresentadas no Quadro 2-5.

Quadro 2-5: Taxas de Crescimento Previstas de consumo da Energia e do PIB

PERÍODO PIB (%) ENERGIA (%)

BRASIL REGIÕES S/SE

1999/2004 4,3 5,5 5,1

2004/2009 5,2 4,4 4,1

1999/2009 5,0 5,0 4,6

(FONTE: CTEM/GCPS - ELETROBRÁS, 2000)

Dentro de uma perspectiva histórica recente, a análise da elevação do

consumo de energia elétrica no país permite evidenciar alguns fatos:

- uma progressiva mudança estrutural na dinâmica de evolução destes dois

indicadores;

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47

- a despeito desta mudança, o consumo de energia elétrica segue uma

trajetória de acréscimo permanentemente superior a evolução da economia

e do consumo de energia global.

De um lado a elasticidade-renda (relação do consumo e do PIB) tem

decrescido nos últimos anos, indicando alterações estruturais na economia, e

de outro, uma componente inercial da dinâmica do mercado de eletricidade

que explica seu maior crescimento relativo. O primeiro aspecto é a provável

utilização de tecnologias mais eficientes no uso final da eletricidade, e o

segundo que pode ser associado à penetração crescente de energia elétrica,

em razão da modernização dos diversos setores da economia, do crescimento

populacional e da extensão das redes elétricas.

No período 1970/1980, com expressiva expansão de economia, houve

aumento da renda e do consumo per capita. Na última década o consumo de

energia por unidade de produção evoluiu de 0,162 para 0,215 kwh/US$ e o

consumo per capita de 430 para 1.025 kwh.

Desta forma espera-se um crescimento da demanda no horizonte de

planejamento. Estes horizontes foram definidos através de cenários baseados

em premissas básicas (referenciais para previsões de mercado).

As principais variáveis que referenciam o mercado de energia e foram

os elementos de referências são as seguintes:

- crescimento populacional;

- evolução da economia;

- perspectivas de expansão e investigação da produção dos setores

industriais;

- evolução da autoprodução;

- evolução da conservação de energia.

Estas premissas permitiram construir os cenários do planejamento para

definição das previsões de carga própria de energia e de demanda máxima

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para os sistemas interligados. O Quadro 2-6 apresenta os valores de

disponibilidade e demanda nos cenários.

Quadro 2-6: Sistema Sul/Sudeste/Centro-Oeste

ANOS ENERGIA MW/MÉDIO DEMANDA MW/h

1999 30967 44775

2000 32067 46622

2005 36837 55888

2009 45732 65651

(FONTE: CTEM/GCPS - ELETROBRÁS, 2000)

2.7.4 - O Programa Decenal

No âmbito do GCPS - Grupo Coordenador do Planejamento dos Sistemas

Elétricos (ELETROBRÁS), foi elaborado o Programa de Obras para o período

2000/2009.

A elaboração do Programa Decenal de Geração do Sistema Interligado procura

desenvolver a formulação do Cenário de Referência mediante a identificação

de um conjunto de projetos de geração passíveis de entrarem em operação no

período 2000/2009 e para os quais existe um certo grau de certeza quanto a

sua implementação.

Esse conjunto de projetos, que representa, na prática, um programa

determinativo da expansão de geração, tal o grau de certeza de sua execução,

bem como dos respectivos empreendedores responsáveis, foram divididos em

três subconjuntos, a saber:

- Obras de Motorização em Andamento - para os quais a avaliação

dos cronogramas físico-financeiros permite validar as datas de

entrada em operação dos empreendimentos;

- Projetos com Concessão ou Autorização - para os quais os aspectos

legais de prazos e capacidade a ser instalada estão definidas no ato

da Concessão ou Autorização, pela ANEEL.

Page 60: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

49

O Quadro 2-7 apresenta, por Sistema Interligado e por fonte de geração, o

subconjunto de Obras em Andamento ou em Motorização, constituído de 20

empreendimentos os quais deverão acrescentar, nos próximos dez anos,

13.268 MW ao atual parque gerador instalado. Também pode-se observar os

atrasos ou antecipações de cronogramas com relação ao Ciclo de

Planejamento anterior.

Quadro 2-7: Obras em andamento ou em motorização

Sistema/Empreendimento

PotênciaTotal(MW)

Empresa DataCiclo

(98) (1)

DataCiclo

(99) (2)

AtrasosMeses(2) - (1)

Sul/Sudeste/Centro-OesteHidrelétricasRosal 55 PARANAPANEMA Dez/99 Dez/99 -Porto Primavera 1.814,4 CESP Out/99 Jan/00 3Palmeiras (ampliação) 7 CELESC Mar/99 Jan/00 10Ita 1.450 GERASUL/ITASA Jun/00 Jun/00 -Manso 210 FURNAS Dez/00 Dez/00 2Dona Francisca 125 DFESA Dez/00 Fev/01 2Baruíto 9,4 GLOBAL Abr/00 Mar/01 11Alto Jauru 20,0 ARAPUTANGA Dez/99 Abr/01 16Salto Caiacanga 9,5 IPFC Out/00 Jul/01 9Itiquira I 60,7 TRIUNFO Set/00 Nov/00 14Itiquira II 95,3 TRIUNFO Jan/01 Jan/02 12Machadinho 1.140 GERASUL/GEAM Set/03 Ago/02 (13)Cana Brava 450 GERASUL Jul/02 Jan/03 6TermelétricasUruguaiana I (GN) 600 AES Nov/00 Dez/99 (11)Angra II (N) 1.309 ELETRONUCLEAR Nov/99 Jan/00 2Cuiabá I (GN) 480 ENRON Jan/00 Mai/00 4NORTE/NORDESTEHidrelétricasLajeado 850 INVESTCO Dez/01 Dez/01 -Tucuruí 2ª etapa 4.125 ELETRONORTE Dez/02 Dez/02 -Itapebi 450 ITAPEBI GERAÇÃO Jan/03 Jan/03 -TermelétricasTermobahia (GN) 460 BA Jul/01 Dez/02 5Total de 20 Aproveitamentos Acréscimo no Horizonte decenal: 13.268 MW

Nota: (*) Valores negativos representam antecipações; (GN) Gás natural; (N)Nuclear.

(Fonte: ENGEVIX, 2002a)

O Quadro 2-8 apresenta por Sistema Interligado e por fonte de geração, o

subconjunto de Projetos com Concessão ou Autorização já Outorgadas. Estes

projetos, embora ainda não tenham suas obras iniciadas, pelo fato do

empreendedor já dispor de concessão/autorização para o aproveitamento, tudo

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50

indica que os mesmos têm grande chance de serem construídos dentro dos

prazos factíveis e necessários para atendimento ao mercado consumidor.

Quadro 2-8: Projetos com concessão ou autorização já outorgadas

Sistema /Empreendimento

PotênciaTotal(MW)

Empresa DataCiclo

(98) (1)

DataCiclo

(99) (2)

Atrasosmeses(2) - (1)

SUL/SUDESTE/ENTRO-OESTEHidrelétricasSalto (amplIação) 8 CELESC Fev/02 Jun/01 (8)Porto Estrela 112 CEMIG/CONS. Set/01 Set/01 -Poço Fundo 12 CEMIG Jan/01 Set/01 8Ponte de pedra II 30 ELMA Jun/00 Nov/01 17Pai Joaquim(ampliação).

23 CEMIG Mar/01 Nov/01 8

Agrária 10 COOP. AGRÁRIA Dez/00 Dez/01 12Guaporé 120 SANTA ELINA Jun/01 Dez/01 6Santa Clara 60 QUEIRÓZ GALVÃO Jun/01 Fev/02 8Itaipu 16ª e 20ª 1.400 ITAIPU Jun/02 Out/02 4Funil-Grande 180 CEMIG/CONS. Jul/02 Nov/02 4Aimorés 396 CEMIG Mai/02 Nov/02 6Queimado 105 CEMIG/CEB Mai/01 Jan/03 20Jauru 110 CINCO ESTRELAS Jul/01 Nov/03 28Piraju 70 CBA Jun/02 Dez/03 18Irapé 360 CEMIG Dez/03 Mar/04 3Ponte de Pedra 179,1 C. PONTE PEDRA Nov/03 Set/04 10Cubatão-Sul 45 CUBATÃO S.A. Out/01 Dez/04 38Ourinhos 44 CONS. GOMES L.V. Jan/05 Dez/04 (1)Glicerio 10 CERJ Jul/00 Dez/04 53Campos Novos 880 GICN Jul/04 Abr/05 9São João 25 ESCELSA Jun/02 jun/05 36Lajes 60 LIGHT Jun/02 Dez/08 78Tombos 12 CERJ Set/00 Dez/08 99Portobello 15 REF. CATARIN Jun/01 Jun/09 96TERMELÉTRICASJacuí (c) 350 GERASUL Dez/01 Mar/02 3Candiota III-1 (C) 350 CEEE Mar/03 Dez/03 9Angra III (N) 1.309 ELETRONUCLEAR Dez/05 Jun/06 6NORTE/NORDESTETERMELÉTRICASPROJETO WBP-SIGAME (B)

32 CHESF/SHELL Dez/03 Dez/04 12

Total de 28 aproveitamentos Acréscimo no horizonte decenal: 6.307 MWNota: (*) Valores negativos representam antecipações; (C) Carvão; (B) Biomassa; (GN) Gás natural; (N) Nuclear

(Fonte: ENGEVIX, 2002a)

Existe um total de 28 Projetos assim classificados e que poderão acrescentar

ao Sistema Interligado, nos próximos dez anos, 6.307 MW (incluindo as

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51

unidades 19 e 20 da UHE Itaipu que irão acrescentar mais 1.400 MW ao

Sistema).

O Quadro 2-9 apresenta, por Sistema Interligado, o conjunto de Projetos

Termelétricos Priorizados pelo Comitê de Acompanhamento da Expansão de

Termelétricas - CAET para o Sistema Interligado. Ressalta-se que está

apresentada a totalidade de todos os Projetos em fase de viabilização técnica

e econômico-financeira, com as respectivas datas prováveis de

implementação.

Esta totalidade representa 47 usinas térmicas priorizadas no âmbito do CAET

para os Sistemas Interligados e que representam uma oferta total nos anos

entre 2001 e 2004, de 17.469 MW. Um dos aspectos importantes para

viabilização das térmicas se refere ao suprimento de gás natural que vem

sendo tratado no âmbito do MME.

Quadro 2-9: Projetos termelétricos priorizados pelo CAET (N/NE e S/SE/CO)

Sistema/Empreendimento

PotênciaTotal(MW)

Empresa/Estado

DataCiclo

(98) (1)

DataCiclo

(99) (2)

AtrasosMeses(2) - (1)

SUL/SUDESTE/CENTRO-OESTEPitanga (GN) 20 RS - Jul/01 -Figueira (C) 100 SC - Dez/01 -C. Paulista (GN) 180 SP - Dez/01 -Sta. Cruz - rec. (GN) 1.125 RJ - Dez/01 -Termorio (GN) 450 RJ - Mar/02 -Cubatão (RASF) 180 SP Jul/01 Mar/02 08Araucária (GN) 480 COPEL Dez/04 Set/02 (27)Capuava (GN) 230 SP - Mar/02 -Ibirité (GN) 240 MG - Dez/02 -Termocatarinense(GN)

300 SC - Dez/02 -

N. Fluminense (GN) 720 RJ Dez/00 Dez/02 24Rio Gen (GN) 500 RJ - Dez/02 -Paulínia (GN) 240 SP - Dez/02 -Rhodia Paulínia (GN) 152 SP - Dez/02 -Cuiabá II (GN) 480 MT - Dez/02 -Vale do Paraíba (GN) 480 SP - Dez/02 -Gaúcha (GN) 480 RS - Dez/02 -Indaiatuba (GN) 180 SP - Dez/02 -Rhodias s. Andre (GN) 100 SP - Dez/02 -Alto Tietê I e II (GN) 88 SP - Dez/02 -Santa Branca I (GN) 1.067 SP - Dez/02 -Termosul (GN) 750 RS - Jan/03 -São Mateus (XISTO) 70 PR - Mar/03 -

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Sistema/Empreendimento

PotênciaTotal(MW)

Empresa/Estado

DataCiclo

(98) (1)

DataCiclo

(99) (2)

AtrasosMeses(2) - (1)

Seival (C) 250 RS - Mai/03 -Cofepar (RASF) 616 PR - Jul/03 -Vitória (GN) 500 ES - Jul/03 -Paulínia - DSG (GN) 550 SP - Jul/03 -Campo Grande (GN) 300 MS - Jul/03 -Poços de Caldas (GN) 500 MG - Set/03 -Carioba (GN) 750 SP - Dez/03 -Araraquara 500 SP - Dez/03 -Corumbá (GN) 250 MS - Dez/03 -Valparaíso 220 SP - Dez/03 -Juiz de Fora (GN) 78 MG - Dez/03 -ABC (GN) 500 SP - Dez/03 -Sul Catarinense (GN) 400 SC - Dez/03 -Bariri (GN) 700 SP - Dez/03 -Duke Energy (GN) 350 SP - Dez/03 -Cabiúnas (GN) 450 RJ - Dez/03 -NORTE/NORDESTECamaçari - rec. (GN) 420 BA - Dez/01 -Bongi - rec. (GN) 213 PE - Dez/01 -Paraíba (GN) 150 PB - Dez/01 -Sergipe (GN) 90 SE - Jul/02 -Dunas (GN) 250 CE - Dez/02 -T. Pernambuco (GN) 460 PE - Dez/02 -Termoalagoas (GN) 120 AL - Dez/02 -Vale do Açu (GN) 240 RN Dez/01 Dez/03 24Total de 47 projetos. Acréscimo no horizonte decenal: 17.469 MWNota: (*) Valores negativos representam antecipações; (GN) Gás Natural; (RASF) Resíduo Asfáltico

(Fonte: ENGEVIX, 2002a)

A segunda etapa para a formulação do cenário de Referência do Programa

Decenal de geração foi a identificação do conjunto de projetos de geração

necessários e factíveis de entrarem em operação no período 2000/2009 para a

adequação aos critérios de atendimento ao mercado consumidor, embora

exista um certo grau de incerteza quanto a implementação de cada projeto.

Esses Projetos, denominados de Projetos Indicativos, representam os

empreendimentos que, embora ainda não tenham concessão ou autorização

(outorga), já possuem autorização de estudos / projetos dada pela ANEEL;

alguns deles, inclusive, não estavam programados no Ciclo de Planejamento

anterior, porém, entende-se que os titulares dessas autorizações estão dando

continuidade aos respectivos estudos / projetos, o que os credencia para

serem indicados como alternativas possíveis de ampliação da oferta de

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energia, embora, ainda, tenham que passar por todo o processo licitatório de

outorga de concessão e evidentemente, de confirmação da viabilidade

econômica / empresarial de um interessado na sua viabilização.

Não obstante à essa situação, em razão das necessidades do mercado, esses

empreendimentos foram programados tendo como base a disponibilidade de

informações, mesmo que preliminares, das estimativas de custos finais de

construção, procurando-se ordenar a indicação de entrada em operação de

acordo com o índice de economicidade (US$/MWh), ponderando-se o estágio

dos estudos em desenvolvimento.

O Quadro 2-10 apresenta, por Sistema Interligado e por fonte de geração, a

programação de 29 aproveitamentos que poderão acrescentar, nos próximos

dez anos, um total de 6.546,6 MW aos Sistemas Interligados.

Finalmente, cabe comentar que, além desses, existe um conjunto adicional de

projetos de geração que, apesar de ainda não terem concessão/autorização,

os respectivos estudos estão sendo desenvolvidos pelos empreendedores

autorizados pela ANEEL.

É importante destacar que num contexto de planejamento indicativo, esses

projetos, como quaisquer outros não indicados neste Programa Decenal,

constituem alternativas de expansão que poderão ser empreendidas a

qualquer tempo (respeitadas as restrições físico-ambientais) por agentes que

os consigam viabilizar, podendo até mesmo deslocar projetos programados no

Cenário de Referência. Neste ambiente competitivo, o CCPE deverá observar,

para que possam ser indicadas, a tempo e a hora, quando serão necessárias

novas ações para garantir a expansão da oferta, preservando, assim, a

qualidade e a continuidade do fornecimento de energia elétrica ao mercado

consumidor (ENGEVIX, 2002a).

Page 65: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

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Quadro 2-10: Projetos Indicativos - Hidrelétricos maiores que 30 MW

Sistema/Empreendimento

PotênciaTotal (MW)

Empresa /Estado

Data Ciclo(98) (1)

DataCiclo

(99) (2)

AtrasosMeses(2) - (1)

SUL/SUDESTE/CENTRO-OESTEHidrelétricasBarra do Braúna 39 MG Nov/03 Jun/04 7Itumirim 50 GO Set/04 Jan/05 4Candonga 95 MG Out/03 Jun/05 20Murta 110 MG Mar/03 Jun/05 27Quartel II 90 MG - Dez/05 -Quebra-Queixo 93 SC - Abr/06 -Espora 48,6 GO - Jun/06 -Serra do Facão 210 GO Nov/05 Jun/06 7Traíra ii 110 MG Set/04 Jun/06 21Picada 50 MG Jan/03 Dez/06 45Capim Branco I 306 MG Dez/04 Abr/07 28Couto Magalhães 220 MT/GO Jan/06 Mai/07 16Castro Alves 120 RS - Jun/07 -Corumbá IV 143 MS - Jun/07 -Capim Branco II 210 MG Abr/05 Ago/07 2814 de Julho 98 RS - Set/07 -Monte Claro 130 RS - Nov/07 -Bocaina 150 MG Mai/04 Abr/08 45Itaocara 195 RJ Ago/06 Abr/08 20São Jerônimo 284 PR Out/04 Jun/08 44Salto Pilão 220 SC Fev/05 Jun/09 52Barra Grande (1) 690 SC/RS Abr/07 Out/09 30Pedra do Cavalo 300 BA Mai/04 Jan/05 8Sacos 114 BA Nov/03 Dez/05 25Gatos I 33 BA Jun/02 Jun/07 60Araça 120 PI/MA Mar/07 Jul/07 4Serra Quebrada 1.328 TO Jun/06 Set/07 15Estreito 1.200 TO/MA Out/07 Jul/08 9Belo Monte 11.000 PA Set/08 Out/09 13Total de 29 Projetos. Acréscimo no horizonte decenal: 6.546,6 MW

(Fonte: ENGEVIX, 2002a)

Esse conjunto de Projetos são programados e estão apresentados, nos

quadros a seguir, divididos em:

Hidrelétricas - maiores do que 30 MW, que engloba não só novos estudos em

andamento como também projetos que concluíram algumas etapas de

estudos, mas não avançaram na viabilização do empreendimento.

Page 66: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

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Termelétricas - que são projetos térmicos em estudo que, entretanto, estão,

até o momento em estágio de negociação para viabilização além daquelas pelo

CAET. Estes projetos, tão logo avancem nas negociações poderão substituir

ou se agregarem aos modelos térmicos indicativos programados.

Quadro 2-11: Projetos ainda não Programados até janeiro de 2001 -

Hidrelétricas maiores de 30 MW

Usina Potência EstadoBaguari 169 MGCachoeira Grande 38 MGCamping 47 ESCebolão 168 PREspigão 34 RSFoz do Chapecó 840 RSFundão 108 PRIpueiras 600 TOJataizinho 155 PRMonjolinho 72 RSOlho d'Água 38 GOPai Querê 288 SC/RSPeixe 1.106 TOPilar I 170 MGSanta Clara 107 PRSão Domingos 68 MSSão Miguel 51 RSSão Marcos 57 RSSimplício 346 MG/RJTupiratins 1.000 TOTotal de 22 aproveitamentos 5.462 MW

(Fonte: ENGEVIX, 2002a)

Quadro 2-12: Projetos ainda não Programados – Projetos Termelétricos

USINA Potência EstadoBom Jardim 800 SPFafen 25 BAIgarapé (GN) 255 MGLondrina (GN) 476 PRNorte capixaba (GN) 150 ESRefap (coque) 70 RSRegap 600 MGRevap (coque) 320 SPSepetiba (carvão) 1.320 RJTotal de 09 Aproveitamentos 4.016 MW

(Fonte: ENGEVIX, 2002a)

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56

O Plano 2010, publicado em 1987, pretendia alcançar no ano 2010 uma

potência instalada de 142 GW de origem hídrica que, de acordo com estudos

da época, corresponderiam a 87% da capacidade hidrelétrica total do país.

Deste total, 58,5 GW seriam instalados entre 1987 e 2001 (MAGRINI, 1992).

Porém, de acordo com dados da CTEM/GCPS (ELETROBRÁS, 2000), a

potência total instalada em 2000 era de apenas 60 GW. Ou seja, no período

compreendido entre 1987 e 2001, menos da metade da capacidade planejada

para instalação no Plano 2010 foi efetivamente implantada, já que capacidade

instalada foi ampliada em 20 GW no mesmo período.

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57

3 - Metodologia de Pesquisa

3.1 - Tipo de Pesquisa

De acordo com SELLTIZ (1975) e YIN (1989), quando o estudo for de natureza

exploratória e onde exista a necessidade de familiarização com dado

fenômeno sobre o qual se deseja obter conhecimentos adicionais, assim como

a ênfase dada em eventos contemporâneos, deve-se adotar a abordagem

qualitativa.

GIL (1989) prescreveu a abordagem qualitativa quando o número de casos

disponíveis a serem examinados for reduzido e houver uma abordagem

profunda para se obter amplo conhecimento sobre o objeto específico do

estudo.

Devido à natureza do estudo, o presente trabalho é uma pesquisa

essencialmente exploratória, se classificada quanto à sua finalidade

(VERGARA, 1997), devido aos seguintes fatores:

- A preocupação com o meio ambiente por parte das empresas é um fato

relativamente recente;

- Há pouca incidência de estudos empíricos ou desenvolvimentos teóricos

que abordem este tema no Brasil.

O tipo de pesquisa do presente trabalho pode ser dividida em duas partes

principais:

Parte 1: Conceituação e Sistematização da problemática ambiental,

apresentadas no Capítulo 2, através de levantamento bibliográfico;

Parte 2: Estudo dos Casos, apresentado no Capítulo 4, através de

levantamentos junto a empreendimentos selecionados, também através de

levantamento bibliográfico.

Adequando-se a classificação acima à classificação quanto aos meios de

investigação sugerida por VERGARA (1997), as partes 1 e 2 devem ser

Page 69: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

58

classificadas como bibliográficas, sendo que a parte 2 se classifica como de

estudo de caso.

Ainda de acordo com VERGARA (1997), a pesquisa de estudo de caso é

realizada contando-se com uma pequena amostragem, porém realizada com

profundidade.

PORTER (1991) relatou que em suas próprias pesquisas foi forçado a abdicar

dos estudos quantitativos, à medida que aumentava a complexidade das

questões examinadas, optando por estudos de casos em profundidade, de

modo a identificar as variáveis significativas, explorar as relações entre elas e

considerar adequadamente a especificidade das escolhas estratégicas.

3.2 - O Conceito de Pesquisa Qualitativa

A pesquisa qualitativa identifica a presença ou ausência de algo, seu tipo e sua

qualificação, enquanto a pesquisa quantitativa envolve a medição do quanto

algo determinado se apresenta. A pesquisa qualitativa está, em Ciências

Sociais, comprometida com o trabalho de campo e não com a enumeração.

Entretanto, não se deve supor que a pesquisa qualitativa englobe tudo o que

não é quantitativo. Suas diversas expressões incluem a indução analítica, a

análise de conteúdo, semiótica, hermenêutica, entrevistas com a elite, o estudo

de histórias de vida, e certas manipulações utilizando arquivos, computador e

manipulação estatística (KIRK e MILLER, 1986).

Segundo KIRK e MILLER (1986), objetividade em pesquisa qualitativa implica

entender um mundo de realidades empíricas que se coloca diante do

pesquisador. Nesse sentido, nem todas as interpretações são igualmente

válidas ou bem aceitas. Haveria um compromisso intelectual através do qual os

pesquisadores se dispõem coletivamente a interpretar esta realidade empírica,

através de melhorias parciais e incrementais no entendimento da questão.

Estas melhorias viriam através de identificação de ambigüidades em visões

anteriores aparentemente claras ou em mostrar casos em que uma visão

alternativa parece funcionar melhor. Estas visões geralmente não refutam, mas

complementam as anteriores.

Page 70: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

59

De acordo com BARRETTO (1998), a pesquisa em Ciências Sociais, e,

particularmente no campo da Administração de Empresas, tem sido fortemente

influenciada pela visão positivista, que pressupõe muitas vezes a idéia de que

existe uma única maneira de ver determinado fenômeno. No entanto, muitos

estudiosos vêm apontando a necessidade de adotar uma visão relativista, que

se contraporia à anterior, ou seja, a idéia de que se devem aceitar todas as

teorias tentativas possíveis para explicar uma dada realidade.

KIRK e MILLER (1986) observaram que a abordagem quantitativa não está

dirigida para a descoberta do novo, trata-se muito mais de um tipo de pesquisa

confirmatória. A pesquisa qualitativa fugiria ao modelo confirmatório da

realidade e , embora tenha retido alguns princípios do método científico devido

ao seu caráter exploratório, foge de certos aspectos mais estritos do método, o

que facilitaria a descoberta do novo e do inesperado, sem perder a

objetividade.

3.3 - O Estudo de Casos

O estudo de caso com foco no problema específico do estudo foi escolhido

dentre os métodos qualitativos disponíveis. Segundo YIN (1989), uma análise

de caso é uma pesquisa empírica que investiga um fenômeno contemporâneo

no seu contexto real, quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não

se encontram nitidamente definidas e em que diversas fontes de informação

são utilizadas.

De acordo com BARRETTO (1998), o método do estudo de casos na pesquisa

em Ciências Sociais teve sua origem na Antropologia e na Sociologia sendo,

ainda hoje, fundamental na Antropologia.

No campo da Administração de Empresas, o estudo de casos como método de

pesquisa já vem sendo usado há décadas. No entanto, sua valorização como

método é bastante recente, acompanhando a tendência observada em outras

Ciências Sociais (BARRETTO, 1998).

Assim, utilizou-se o Método de Estudo de Caso para a realização desta

pesquisa.

Page 71: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

60

O Quadro 3-1 apresenta uma comparação entre os métodos de pesquisa em

Ciências Sociais.

Quadro 3-1: Comparação de Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais

Método Tipo de pergunta depesquisa

Necessidade decontrolar eventos

comportamentais ?

Focalizaeventos

recentes ?Experimento Como, por que Sim SimSurvey Quem, o que, onde, quanto Não SimAnálise de arquivo Quem, o que, onde, quanto Não Sim/NãoHistória Como, por que Não NãoEstudo de caso Como, por que Não SimFonte: YIN (1989)

Foram utilizados, principalmente, os Relatórios de Impacto Ambiental – RIMAs

dos empreendimentos, que contêm de forma mais resumida e em linguagem

acessível ao público em geral, as informações técnicas e conclusões do

Estudo de Impacto Ambiental – EIA, que também foram consultados quando

alguma informação complementar foi necessária. Ou seja, o RIMA apresenta

as principais conclusões dos EIAs, porém não contém todos os detalhes dos

trabalhos realizados no diagnóstico. Portanto, para maiores esclarecimentos,

os EIAs foram consultados.

O RIMA faz parte dos instrumentos técnicos necessários aos órgãos

ambientais competentes para avaliação dos impactos e dos respectivos

programas de mitigação e compensação, com vistas à licença ambiental prévia

do empreendimento.

Este estudo se concentrou na análise do encaminhamento dos AIAs e não nas

questões específicas de diagnóstico ambiental, de identificação dos impactos

ambientais, de medidas mitigadoras ou compensatórias.

3.4 - Universo e Amostra

O primeiro filtro a ser aplicado no universo representado pelas empresas

brasileiras, será a identificação de setores da economia representados por

empresas que tradicionalmente apresentam uma política ambiental.

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61

Identificados os setores, aplicar-se-á o segundo filtro que seria a

disponibilidade de dados para a realização da pesquisa.

O terceiro filtro aplicado seria para selecionar empreendimentos de um mesmo

setor em que haja informações suficientes para conduzir o estudo.

Assim, para os propósitos do presente estudo, foi selecionado o Setor

Energético e os empreendimentos selecionados foram aproveitamentos

hidrelétricos2 (AHEs) recentemente licitados pela Agência Nacional de Energia

Elétrica - ANEEL em 2001, com exceção do AHE Estreito, que será licitado

ainda este ano:

- AHE Peixe, localizado no Estado do Tocantins;

- AHE São Salvador, localizado nos Estados do Tocantins e Goiás;

- AHE Simplício – Queda Única, localizado nos Estados do Rio de

Janeiro e Minas Gerais;

- AHE Estreito, localizado nos Estados do Tocantins e Maranhão.

Os Estudos de Impacto Ambiental – EIAs e os Relatórios de Impacto Ambiental

- RIMA desses empreendimentos foram obtidos junto à ANEEL, para servirem

como fontes de informação para o presente estudo.

A fim de simular a análise comparativa, de forma simplificada, dos impactos

ambientais entre dois empreendimentos, foram escolhidos os estudos dos

AHEs São Salvador e Peixe. Ambos estão inseridos dentro de uma mesma

região, o que simplifica a comparação e, além disso, nos respectivos RIMAs é

apresentada a Matriz de Classificação dos Impactos Ambientais de cada

empreendimento, contendo a qualificação dos impactos. Esses dados facilitam

a análise comparativa efetuada.

2 O termo Aproveitamento Hidrelétrico é utilizado para definir todo o conjunto que realmente ou

potencialmente são capazes de produzir energia hidrelétrica: rio, queda d’água, reservatório,

barragem e usina.

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62

Adicionalmente, são analisadas as informações obtidas por MAGRINI (1992)

relativas às Avaliações de Impacto Ambiental - AIAs de empreendimentos

hidrelétricos, desenvolvidos há dez anos.

3.5 - Coleta e Tratamento de Dados

A coleta de dados se deu, principalmente, através de pesquisa bibliográfica,

obtendo-se uma grande quantidade de material de alta qualidade nos Estudos

de Impacto Ambiental, além disso, contou-se com o apoio de diversos técnicos

do Setor Elétrico, que disponibilizaram um série de informações que vieram a

complementar os dados da pesquisa bibliográfica.

A partir dos dados e das informações coletados, construiu-se os casos

utilizando uma estrutura comum em que se descreveu as características dos

empreendimentos, as metodologias adotadas para a elaboração das AIAs e a

organização e encaminhamento das AIAs.

Por fim, foi estruturado um quadro-referência contendo aspectos da situação

das AIAs analisadas neste estudo e da situação dos RIMAs analisados por

MAGRINI (1992).

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63

4 - Descrição dos Casos

A seguir são apresentadas as características, a organização e o

encaminhamento dos estudos de impacto ambiental dos empreendimentos

analisados.

O Quadro 4-1 apresenta dados dos empreendimentos analisados e de seus

reservatórios.

Quadro 4-1: Dados dos Empreendimentos Analisados

Usina PotênciaTotal(MW)

Energia Firme(MW médios)

Área doReservatório

(km2)

FamíliasAtingidas

(unid.)

MW/km2 CustoÍndice

(US$/kW)Peixe A. 450 292 294 279 1,53 1.236,00São Salvador 240 153,04 86 60 2,79 1.025,00Simplício Q.U. 325 202,2 13,5 250 24,07 1.238,00Estreito 1.109,7 587,3 590 3.485 1,88 710,00

4.1 - O Aproveitamento Hidrelétrico Peixe

4.1.1 - Descrição do Empreendimento AHE Peixe

O AHE Peixe, a ser implantado no rio Tocantins, Estado do Tocantins, terá 450

MW de potência instalada e um reservatório de 294 km2 de área total.

As obras serão localizadas nos municípios de Peixe e São Salvador e o

reservatório atingirá áreas destes dois municípios, além de Paranã e de

pequena porção de Palmeirópolis.

A usina agregará 292 MW médios de energia firme ao sistema interligado

brasileiro.

A usina será interligada com a subestação Gurupi da linha de transmissão

Imperatriz - Serra da Mesa, que interliga o Sistema Norte-Nordeste com o

Sistema Sul-Sudeste.

Assim, a localização da usina permite que a sua energia seja injetada em um

ou em outro Sistema, de acordo com as necessidades e as situações

hidrológicas dos reservatórios. Devido à formação do reservatório, um total de

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64

279 famílias serão atingidas e deverão ser remanejadas (56 famílias urbanas e

223 famílias rurais).

O órgão licenciador do empreendimento é a Naturatins, órgão ambiental do

Estado do Tocantins, que emitiu o Termo de Referência para os Estudos de

EIA-RIMA.

4.1.2 - Metodologia Adotada para a Elaboração da AIA

De acordo com o relatório em questão, as técnicas utilizadas na avaliação

foram compostas de forma a identificar, organizar, analisar e comparar as

informações sobre os impactos ambientais do empreendimento, com o objetivo

de permitir uma avaliação que minimizasse a subjetividade, enfatizando a

descrição e qualificação dos impactos ambientais que o empreendimento

causaria.

Os métodos utilizados são citados a seguir:

- Metodologias Espontâneas (“Ad Hoc”), baseadas no conhecimento

empírico de especialistas no assunto e/ou na área em questão;

- Metodologia de Listagem (“Check-List”), para identificação dos

impactos, a partir do diagnóstico ambiental;

- Matrizes de Interação, relacionando as ações impactantes do

empreendimento com os fatores (componentes) ambientais que

podem ser impactados;

- Modelos de Simulação, utilizados, especificamente neste caso, para

análise da qualidade de água do futuro reservatório;

- Mapas de Superposição (“Overlay Mapping”), técnica cartográfica

utilizada na localização e abrangência de impactos relacionados a

aptidão e uso do solo, vegetação, entre outros.

Através da combinação dos métodos de avaliação citados acima, foram

desenvolvidos os trabalhos de elaboração da avaliação, de acordo com os

seguintes passos:

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65

- Sistematização das características do projeto, seus objetivos e

técnicas construtivas, identificando e descrevendo as ações do

empreendimento que poderão gerar impactos;

- Sistematização do meio ambiente de forma a definir os fatores

ambientais, componentes do meio, que poderão sofrer

transformações com a implantação e operação do empreendimento;

- Elaboração de Matriz de Interação – correlacionando as ações do

empreendimento com os fatores ambientais, numa relação de

causa/efeito;

- Elaboração de Matriz de Identificação de Impactos – a partir de

Matriz de Interação e do conhecimento dos especialistas;

- Preenchimento da Matriz de Caracterização, qualificando os

impactos;

- Elaboração das descrições e quantificações dos impactos;

- Proposição de medidas mitigadoras e compensatórias;

- Seleção dos impactos mais importantes, através de reunião da

equipe multidisciplinar que desenvolveu os estudos.

4.1.3 - Organização e Encaminhamento da AIA

O RIMA do AHE Peixe (THEMAG, 2000a), está organizado em dez capítulos.

No Capítulo 1, Justificativa do Empreendimento, são feitas considerações

gerais sobre o empreendimento, como custo de geração (considerado atrativo),

localização e características energéticas.

Ainda no primeiro capítulo, o mercado a ser atendido pela usina é analisado,

sendo a sua localização considerada “altamente estratégica”, pela sua

proximidade com a subestação de Gurupi, possibilitando que a energia gerada

possa ser fisicamente introduzida tanto no sistema interligado

Sul/Sudeste/Centro Oeste como no Norte/Nordeste.

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66

A energia firme da usina poderá ser comercializada através de contratos de

suprimento com concessionárias de serviço público de energia elétrica e com

consumidores finais habilitados, dando origem a fluxos comerciais entre

geradores, detentores de concessões de usinas e distribuidores e

consumidores com opção de compra.

Alternativas Tecnológicas à usina foram analisadas no Capítulo 1 do RIMA,

considerando as seguintes alternativas:

- Energia Termelétrica;

- Energia Nuclear;

- Fontes Alternativas de Energia (Biomassa, Eólica e Solar).

Concluiu-se que, comparada às alternativas apresentadas, a UHE é a opção

mais viável economicamente.

Na etapa seguinte, as Alternativas Locacionais foram analisadas. A escolha de

alternativas em relação a localização de uma usina hidrelétrica envolve vários

aspectos, sendo os mais importantes aqueles relacionados com a bacia

hidrográfica, os impactos ambientais, a escolha de eixo e o mercado.

Os Estudos de Inventário Hidrelétrico das Bacias Hidrográficas, que

estabelecem os aproveitamentos mais convenientes para aproveitamento do

potencial do rio, constituem as bases para definição da alternativa locacional

das usinas hidrelétricas.

O Aproveitamento de Peixe é analisado desde 1973, nos estudos referentes ao

Inventário Hidrelétrico do rio Tocantins ao longo de todo seu curso. Nesses

estudos foi definido o aproveitamento de Peixe nas proximidades da foz do rio

Santa Cruz, com reservatório na cota 300,30 m, para combinar com o

aproveitamento de São Félix, a montante (THEMAG, 2000a).

Na década de 80, os estudos de inventário do rio Tocantins, referentes ao

trecho ao sul do paralelo 12o S, foram retomados por FURNAS, resultando

numa divisão de quedas que incluiu os seguintes aproveitamentos:

- Peixe, no local Santa Cruz, com reservatório na cota 287,00 m;

Page 78: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

67

- Cana-Brava, com reservatório na cota 331,00 m;

- Serra da Mesa, com reservatório na cota 460,00 m.

O aproveitamento de Serra da Mesa já se encontra em operação comercial,

todavia a fase de enchimento do reservatório ainda não está concluída e o de

Cana-Brava está em construção, assim como o de Lajeado, mais ao norte.

Em 2000, o Consórcio CELTINS-EDP-FURNAS-ENGEVIX realizou uma

reavaliação da divisão de quedas no trecho Lajeado - Cana Brava, com vistas

a encontrar uma solução para os altos impactos ambientais do AHE Peixe com

reservatório na cota 287,00 m, que inundava totalmente as cidades de Paranã

e São Salvador, e a localidade de Retiro, além das pontes sobre os rios

Paranã, Palma e Tocantins da estrada Natividade - Palmeirópolis e de mais de

110.000 ha dos municípios de Paranã, Peixe, São Salvador e Palmeirópolis.

A conclusão desse estudo, que analisou 7 alternativas de divisão de quedas no

trecho, foi o rebaixamento da cota da barragem de Ipueiras e a substituição do

aproveitamento Peixe 287,00 m por um conjunto de 4 barragens: Peixe com

reservatório na cota 263,00 m (24 metros abaixo do original) e mais três

barragens localizadas no final dos 3 ramos principais desse reservatório, nos

rios Tocantins, Paranã e Palma. O conjunto desses 4 empreendimentos

menores terá uma área afetada da ordem da metade daquela do Peixe 287,00

m original, e não inundará as cidades de Paranã e São Salvador, atingindo

pequena porção da localidade de Retiro.

Por outro lado, a produção de energia do conjunto de 4 usinas é praticamente

igual à da usina original, sendo a energia adicionada da ordem de 10% menor,

em função da perda de volume de regularização do rio, que era bastante

grande no reservatório de Peixe 287,00 m.

A comparação de alternativas de divisão de quedas levou em conta, de acordo

com procedimentos estabelecidos pelo setor elétrico, índices de custo -

benefício energético e índices ambientais que consideram 6 componentes -

síntese do meio ambiente: ecossistemas terrestres, ecossistemas aquáticos,

base econômica, modos de vida, organização territorial e população indígena.

Page 79: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

68

A escolha foi decidida considerando peso 0,6 para o índice ambiental e peso

0,4 para o índice custo - benefício energético, resultando uma alternativa com

grandes vantagens ambientais, indicando que a questão ambiental teve

importância relativa superior à questão econômica, no entanto, não fica claro

no relatório o critério que levou a equipe a adotar os fatores de ponderação.

Também não é descrita a forma em que as diferentes variáveis sócio-

ambientais e econômicas foram comparadas.

Na fase seguinte, de Estudos de Viabilidade do AHE Peixe, foi ainda elaborado

um estudo de alternativas de localização do eixo da barragem, considerando 5

locais possíveis, entre o antigo eixo Santa Cruz, no extremo montante do

trecho e o Travessão de São Miguel, no extremo jusante. A medida que se

consideram eixos mais a jusante o aproveitamento ganha queda e portanto

energia, visto que o reservatório de Ipueiras teve o seu nível rebaixado para a

cota 235,00 m a fim de minimizar interferências na cidade de Peixe.

A contrapartida de incremento de área de reservatório, decorrente do

deslocamento do eixo para jusante, é pequena até encontrar os afluentes rio

das Almas e Tucum, na margem esquerda. O vale desses dois rios agrega da

ordem de 35% de área ao reservatório, quando se chega ao eixo Travessão de

São Miguel. A planície que seria inundada desses tributários, por outro lado,

apresenta características bióticas e sócio-econômicas que aconselham a sua

preservação.

Como conseqüência, foi escolhido um eixo localizado logo a montante da

confluência do rio das Almas, denominado Foz do Almas, que combina

vantagens energéticas e ambientais.

No Capítulo 2 do RIMA, que trata da Descrição do Empreendimento, o arranjo

geral das obras é mostrado, com dados gerais da barragem, vertedouro, Casa

de Força e Área de Montagem.

As instalações para apoio à construção (canteiro de obras e acampamentos)

bem como a subestação elétrica e as áreas de empréstimo estão indicadas

neste capítulo.

Page 80: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

69

Ainda no Capítulo 2, os acessos ao empreendimento e a logística para a

construção e operação são apresentados.

No Capítulo 3, Aspectos Legais e Institucionais são abordados, sob os

aspectos do Licenciamento Ambiental, da Desapropriação, da Concessão de

Uso do Recurso Hídrico, da Compensação Financeira, da Unidade de

Conservação e da Regulamentação de Outros Recursos Naturais.

O Capítulo 4 apresenta o Diagnóstico Ambiental, com a descrição das

principais características físicas, biológicas e sócio-econômicas da área de

influência do empreendimento.

Este capítulo é iniciado com a definição das Áreas de Influência do

empreendimento. As áreas de abrangência dos estudos de impacto ambiental

são definidas em função do grau de interferência do empreendimento sobre os

aspectos ambientais considerados nos meios físico, biótico e sócio-econômico.

O recorte espacial deve ser definido de modo a alcançar, dentro do possível, o

entendimento geral das áreas a serem influenciadas pelo empreendimento.

Assim, os estudos ambientais do AHE Peixe foram desenvolvidos em dois

níveis de análise em função dos diferentes graus de interferência a serem

causados pelo empreendimento: Área de Influência Indireta - AII e Área

Diretamente Afetada - ADA.

A Área de Influência Indireta (AII) é aquela que, apesar de não ser ocupada

pelas obras, será atingida através dos efeitos induzidos pela presença do

empreendimento.

Em relação aos meios físico e biótico, os limites da Área de Influência Indireta

foram definidos por aspectos fisiográficos como a bacia hidrográfica

contribuinte direta do reservatório, incluindo-se a área de jusante do

reservatório até a cidade de Peixe. Além dos trechos correspondentes dos rios

Tocantins, Paranã e Palma, devem ser considerados os afluentes do rio

Tocantins e do rio Paranã.

Em relação aos aspectos sócio-econômicos, a Área de Influência Indireta do

AHE Peixe foi definida como o conjunto dos municípios que terão parcelas de

Page 81: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

70

seus territórios inundadas pelo empreendimento (Palmeirópolis, Peixe, Paranã

e São Salvador). A sede urbana de São Valério da Natividade foi incluída na

área estudada em virtude de possíveis impactos relativos à atração de

população em busca de trabalho na construção da barragem e/ou aumento da

demanda por bens e serviços no núcleo urbano, tendo em vista a sua

proximidade da obra.

De outro lado, considerando a precariedade das estruturas urbanas de

comércio e serviços presentes nas cidades de Peixe e São Valério da

Natividade, algumas das análises, em especial sobre as atividades econômicas

urbanas e dinâmica demográfica, estenderam-se a Gurupi, centro polarizador

da AII, ao qual deverão dirigir-se muitas das demandas que surgirão durante o

período de construção do AHE Peixe.

A Área Diretamente Afetada (ADA) é aquela necessária à implantação do

empreendimento. É constituída pela área destinada à formação do

reservatório, pelas áreas para implantação da barragem, do canteiro de obras

e instalações de apoio; pelas áreas de empréstimo e bota-fora e pelas áreas

necessárias para obras complementares.

Definidas as áreas de influência do empreendimento, é feito um diagnóstico

do:

- Meio Físico: Geologia, Relevo, Solos e Aptidão Agrícola das Terras,

Clima e Recursos Hídricos (Descrição da Bacia Hidrográfica,

Disponibilidades Hídricas);

- Meio Meio Biótico: Vegetação, Vertebrados, Limnologia e Qualidade

da Água, Ictiofauna;

- Meio Sócio-Econômico.

No diagnóstico do Meio Sócio-Econômico, são apresentados os

Procedimentos Metodológicos seguidos para a execução deste

diagnóstico, para a Área de Influência Indireta são apresentados os

levantamentos de: Uso e Ocupação do Solo, Atividades Econômicas,

Infra- Estrutura, População e suas Características, Educação e Saúde

Page 82: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

71

Para a Área Diretamente Afetada são apresentados os levantamentos de:

Interferências, Estabelecimentos Rurais, Famílias Rurais, Áreas e

Propriedades Urbanas, Famílias Urbanas e Edificações Institucionais.

Concluindo o diagnóstico do Meio Sócio-Econômico, são apresentados os

estudos de Arqueologia.

O Capítulo 5, Projetos Co-Localizados, apresenta outros projetos importantes,

planejados ou em via de implantação, localizados na região de influência do

aproveitamento de Peixe.

O Capítulo 6, Identificação e Avaliação dos Impactos, contém a descrição dos

principais efeitos da construção e operação da usina, de forma a possibilitar a

compreensão das mudanças que ocorrerão como resultado do projeto.

Neste capítulo são descritas as ações ligadas à construção, enchimento do

reservatório e operação, agrupadas de forma a facilitar a identificação dos

impactos.

A Avaliação dos Impactos Ambientais foi realizada seguindo procedimentos de

análises sucessivas e/ou complementares, que permitiram identificar, avaliar e

hierarquizar os impactos, a partir das ações do empreendimento, que

representam os fatos geradores de impacto.

A primeira etapa no processo de análise dos impactos ambientais é a

identificação das ações do empreendimento que promoverão interferências no

ambiente. São descritas as ações ligadas à construção, ao enchimento e à

operação do reservatório, agrupadas de forma a facilitar a identificação dos

impactos.

A partir das ações, os impactos foram identificados e avaliados seguindo três

procedimentos paralelos e complementares:

- Preenchimento da Matriz de Interação;

- Elaboração da Matriz de Identificação;

- Descrição e Avaliação de Impactos por fator ambiental e

preenchimento dos Quadros de Caracterização.

Page 83: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

72

Os impactos identificados foram discutidos pelos membros da equipe técnica,

sendo selecionados aqueles considerados mais relevantes.

Por último, foram identificadas as medidas para reduzir ou compensar os

impactos.

A primeira etapa no processo de análise dos impactos ambientais é a

identificação das ações do empreendimento que promoverão interferências no

ambiente. Essas ações geradoras são as seguintes:

- Planejamento;

- Aquisição das Áreas para Implantação do Aproveitamento;

- Adequação de Acessos e Instalação de Canteiro e Acampamento;

- Operação do Canteiro e do Acampamento;

- Abertura e Exploração de Jazidas e Áreas de Empréstimo;

- Desvio do Rio;

- Construção da Barragem, do Vertedouro e da Tomada d’Água -

Casa de Força;

- Enchimento do Reservatório;

- Conclusão da Obra;

- Operação da Barragem e da Usina;

A Matriz de Interação relaciona, nas colunas, as diversas ações geradoras e,

nas linhas, os fatores ambientais. A interseção desses elementos representa a

origem dos impactos.

Do ponto de vista das ações do empreendimento, a Matriz de Interação

permite concluir que, na fase de implantação, o enchimento do reservatório é a

ação responsável por impactos em todos os fatores ambientais considerados.

Na fase seguinte, a ação mais importante é a operação da usina, que causa

interferências em um grande número de fatores ambientais. Também

impactados na fase anterior, muitos fatores continuam a sofrer interferências,

Page 84: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

73

porém de natureza distinta daquela provocada pela implantação do

empreendimento.

As Matrizes de Identificação dos Impactos, também relacionam, nas colunas,

as diversas ações geradoras de impactos, mas nas linhas, estão listados os

impactos significativos, identificados pelos especialistas.

Esta matriz, mostra apenas, uma relação de causa/efeito, não permitindo,

ainda, identificar os impactos de maior magnitude e importância.

A avaliação é realizada, após descrição e discussão dos impactos, nas

matrizes de Caracterização de Impactos, onde os impactos são classificados

como se segue:

Natureza do Impacto: Correspondendo à classificação da natureza dos

impactos, isto é, positivo ou negativo em relação ao(s) componente(s)

ambiental(is) atingido(s);

Forma Como se Manifesta o Impacto: Diferenciando impactos diretos,

decorrentes de ações do empreendimento, dos impactos indiretos, decorrentes

do somatório de interferências geradas por outro ou outros impactos,

estabelecidos direta ou indiretamente pelo empreendimento;

Duração do Impacto: Nesta categoria de qualificação, o impacto será

classificado de acordo com suas características de persistência, tendo como

momento inicial o instante em que ele se manifesta. Assim sendo, ele pode

ser: permanente, mantendo-se indeterminadamente; temporário,

desaparecendo por si próprio, após algum tempo; ou cíclico, reaparecendo de

tempos em tempos;

Temporalidade da Ocorrência do Impacto: Refere-se ao prazo de manifestação

do impacto, ou seja, se ele se manifesta imediatamente após a sua causa

(curto prazo), ou se é necessário que decorra um certo lapso de tempo para

que ele venha a se manifestar (longo prazo);

Reversibilidade: se ele é reversível, se o fator alterado pode restabelecer-se

como antes, ou irreversível, podendo ser compensado, mas não mitigado ou

evitado;

Page 85: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

74

Abrangência: se seus efeitos serão sentidos local ou regionalmente.

Considera-se, como efeito local, aquele que atinge, no máximo, a área

diretamente afetada pelo empreendimento e, como regional, aquele que afeta

áreas mais amplas;

Magnitude: Expressa a variação de um fenômeno em relação à sua situação

prévia, ou seja, se o impacto vai transformar intensamente uma situação

preexistente (alta); se ele tem pouca significação em relação ao universo

daquele fenômeno ambiental (baixa) e média, se ocupa situação intermediária.

A magnitude de um impacto é, portanto, tratada exclusivamente em relação ao

componente ambiental em questão, independentemente de sua importância

por afetar outros componentes ambientais;

Importância: Ao contrário da magnitude, expressa a interferência do impacto

ambiental em um componente e sobre os demais componentes ambientais.

Para efeito dessa classificação, tal categoria será subdividida em Pequena

Importância, quando o impacto só atinge um componente ambiental sem

afetar, em decorrência, outros componentes; Média Importância, quando o

efeito de um impacto atinge outros, mas não chega a afetar o conjunto do fator

ambiental em que ele se insere ou a qualidade de vida da população local;

Grande Importância, quando o impacto sobre o componente põe em risco a

sobrevivência do fator ambiental em que se insere ou atinge de forma

marcante a qualidade de vida da população;

Caráter do Impacto: Os impactos serão classificados como estratégicos ou

não-estratégicos, o que permitirá identificar quais deles geram alterações

positivas ou negativas em indicadores sociais ou nos níveis gerais de

qualidade de vida.

Uma vez identificados, listados e qualificados os impactos decorrentes da

implantação do AHE Peixe sobre os ecossistemas e a sociedade, torna-se

possível realizar uma seleção, destacando-se os mais importantes, com o

objetivo de estabelecer prioridades quanto à importância atribuída aos

programas de mitigação ou compensação e subsidiar as conclusões sobre a

viabilidade ambiental do empreendimento.

Page 86: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

75

Para tanto, foi utilizado um método “ad hoc”, através de uma reunião de

especialistas, onde os efeitos do empreendimento foram discutidos numa

perspectiva multidisciplinar, agrupando-se os impactos em conjuntos coerentes

e interrelacionados, o que permitiu a escolha dos grupos mais significativos.

Após apresentação e discussão de todos os impactos significativos foram

selecionados, de comum acordo, os impactos mais importantes, sem

estabelecer uma hierarquia entre eles:

- Alteração e redução da vegetação e fauna por sobrelevação do nível

de água para formação do reservatório e aumento da pressão

antrópica;

- Alteração de fauna aquática a montante e jusante da barragem;

- Atração de contingentes populacionais em busca de trabalho;

- Deslocamento compulsório de população rural e urbana

Os Programas propostos para mitigar ou compensar os efeitos negativos

identificados são apresentados no Capítulo 7. São eles:

- Monitoramento do Clima Local;

- Monitoramento de Níveis d’Água;

- Monitoramento Sedimentológico;

- Monitoramento Sismológico;

- Monitoramento de Encostas Marginais;

- Monitoramento Hidrogeológico;

- Recomposição de Áreas Degradadas;

- Levantamento e Manejo de Flora;

- Desmatamento e Limpeza do Reservatório;

- Levantamento, Acompanhamento e Manejo de Fauna;

- Monitoramento Limnológico;

- Monitoramento e Conservação da Ictiofauna;

Page 87: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

76

- Unidade de Conservação;

- Faixa de Proteção do Reservatório;

- Aquisição de Terras;

- Recomposição da Infra-estrutura Física e Social;

- Adequação de Infra-Estrutura Social;

- Relocação Urbana;

- Relocação Rural;

- Monitoramento da Qualidade de Vida da População;

- Recomposição de Áreas de Turismo e Lazer;

- Saúde Pública;

- Resgate do Patrimônio Arqueológico e Histórico;

- Educação Ambiental;

- Comunicação Social;

Os Capítulos 8, 9 e 10 apresentam respectivamente o Prognóstico da

Qualidade Ambiental Futura com e sem a implantação do empreendimento, as

Conclusões e a Composição da Equipe Técnica.

4.2 - O Aproveitamento Hidrelétrico São Salvador

4.2.1 - Descrição do Empreendimento AHE São Salvador

O AHE São Salvador prevê o aproveitamento integral do trecho do rio

Tocantins, situado entre o final do reservatório da futura UHE de Peixe e a

Casa de Força e Barragem da UHE Cana Brava. Está localizada

estrategicamente próximo aos mercados consumidores de outras Usinas em

construção (Cana Brava) e em operação (Serra da Mesa) e próximo de linhas

de transmissão.

A Usina Hidrelétrica (UHE) São Salvador, terá 240 MW de potência instalada,

localiza-se no rio Tocantins a cerca de 10 km da localidade de São Salvador e

Page 88: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

77

a 60 km da cidade de Paranã. Seu reservatório, de 86 km2 atinge terras dos

municípios de São Salvador, Paranã e Palmeirópolis no Estado do Tocantins,

Minaçu e Cavalcante no Estado de Goiás. Devido à formação do reservatório,

um total de 60 famílias serão atingidas e deverão ser remanejadas (todas as

famílias residem na zona rural).

O órgão licenciador do empreendimento é o IBAMA, que emitiu o Termo de

Referência para os Estudos de EIA-RIMA.

4.2.2 - Metodologia Adotada para a Elaboração da AIA

A metodologia utilizada para a avaliação dos impactos ambientais foi chamada

de Análise Integrada. O objetivo desta análise é procurar, a partir do

diagnóstico ambiental, elaborar uma integração das várias disciplinas e

estudos setoriais, estabelecendo correlações ou relações que se evidenciaram

pertinentes.

De acordo com o Relatório em questão, para a avaliação dos Impactos

Ambientais do AHE São Salvador, foram conjugados alguns dos importantes

métodos já consagrados: reuniões multidisciplinares, “checklist”, Sistemas

Cartográficos e Matrizes de Interação.

O desenvolvimento do processo de avaliação dos impactos ambientais ocorreu

em quatro etapas principais de trabalho:

Etapa I: buscou-se o conhecimento das características do empreendimento,

em suas fases de implantação e operação, destacando-se as ações

programadas e os possíveis efeitos sobre o meio ambiente. Nesta fase já é

possível indicar aspectos que necessitam de um maior aprofundamento. Esta

etapa foi realizada através de estudo dos documentos técnicos do projeto, de

realização de reuniões entre os especialistas dos estudos de meio ambiente e

de interações com a equipe de projeto de engenharia;

Etapa II: efetuou-se o Diagnóstico Ambiental, onde são explicitados as

características físicas, bióticas e socioeconômicas da área em estudo. Buscou-

se a reunião de vários dados estatísticos, cartográficos, e de imagens de

satélites, além dos bibliográficos e documentais, que permitiram análises

Page 89: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

78

extensas sobre a realidade sócio-ambiental da região. Estas, por sua vez,

foram enriquecidas com os reconhecimentos “in loco”, marcados pela

realização de pesquisas, entrevistas e amostragens, subsídios básicos para a

elaboração dos Diagnósticos Ambientais das Áreas de Influência - Indireta e

Direta;

Etapa III: é feita a Avaliação dos Impactos Ambientais e Proposição de

Medidas, identificando e avaliando os efeitos do empreendimento sobre o

ambiente, dando suporte para a definição das medidas mitigadoras ou

potencializadoras.

O conhecimento adquirido sobre a região e o empreendimento, permitiram que

se vislumbrasse um conjunto de interferências ambientais, originalmente

organizadas por uma concepção de Listagens de Controle - as “checklists”.

Posteriormente, foram definidas com mais precisão os impactos ambientais e

construiu-se análises classificatórias das possíveis interferências sobre o meio

ambiente. Foi elaborada a Matriz de Interação.

Nesta matriz, foram relacionados, em um esquema bidimensional, as ações

programadas do empreendimento em seu eixo vertical - as obras, a

contratação de mão-de-obra, a mobilização de equipamentos, a formação do

reservatório, a abertura de acessos, dentre outros. Horizontalmente, foram

dispostos os fatores ambientais relevantes, que foram abordados no

Diagnóstico Ambiental.

Assim, a interação de cada ação programada com os diversos fatores

ambientais, indicou as principais interferências sócio-ambientais do AHE São

Salvador. Os impactos ambientais são indicados por uma numeração, que

associa qual a ação programada que lhe dá origem e qual o fator ambiental

que é afetado.

Cada impacto ambiental identificado foi classificado de acordo com as

diretrizes da Resolução CONAMA 1/86 e aquelas indicadas no Termo de

Referencia para elaboração do EIA/RIMA estabelecido pelo IBAMA. Esta

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79

classificação é apresentada na Matriz de Classificação dos Impactos

Ambientais.

Além das Matrizes de Interação e de Classificação dos Impactos Ambientais,

foi elaborado uma descrição de cada impacto ambiental, onde objetivou-se

explicitar os efeitos esperados, suas causas e conseqüências, destacando

ainda as medidas recomendadas para mitigação, compensação ou

potencialização dos mesmos.

Etapa IV: esta etapa aborda os Programas Ambientais, apresentando as

recomendações de planos e programas de monitoramento, correção ou

compensação considerados pertinentes aos efeitos sócio-ambientais do

empreendimento.

4.2.3 - Organização e Encaminhamento da AIA

O RIMA do AHE São Salvador (ENGEVIX, 2000a), está organizado em quatro

capítulos. No primeiro capítulo, Introdução, são apresentados os objetivos e

conteúdo do relatório.

No mesmo capítulo, o relatório já coloca que “foram levantadas várias

alternativas para a realização do estudo e chegou-se a forma mais viável, tanto

a nível de execução quanto a nível econômico e ambiental”. O

empreendimento é considerado como “uma opção altamente atrativa por ser

um investimento com características técnico - econômicas plenamente

justificáveis dentro do contexto de expansão do parque gerador brasileiro,

segundo análise comparativa com outros investimentos no setor”.

A seguir, é informada a Localização e Definição das Áreas de Influência.

O Projeto é originado de estudos realizados na bacia hidrográfica do rio

Tocantins, por parte de várias entidades e empresas desde a década de 1960.

Em meados de 1980 FURNAS Centrais Elétricas deu início aos novos estudos

necessários a exploração do potencial hidrelétrico disponível na bacia do

Tocantins.

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80

Estes estudos concluíram pela implantação das Usinas Hidrelétricas de Serra

da Mesa, Cana Brava e Peixe no rio Tocantins.

No período de 1999/2000 o grupo REDE / EDP / FURNAS / ENGEVIX,

elaborou a revisão do Inventário Hidrelétrico deste trecho do rio, isto é, de

Cana Brava até o reservatório da UHE Lajeado. Estes estudos concluíram pela

implantação dos seguintes Aproveitamentos:

- UHE São Salvador com reservatório na elevação 287,0m;

- UHE Peixe com reservatório na elevação 263,0m;

- UHE Ipueiras com reservatório na elevação 235,0m.

Nesta revisão do Inventário anterior procurou-se minimizar a área de

inundação dos reservatórios e suas interferências.

Ainda no primeiro capítulo, são apresentadas as Características do Projeto:

barragem de solo e estruturas de concreto armado projetadas para a

instalação das máquinas (turbinas e geradores) para geração de energia

elétrica a partir da força das águas (vazão e queda d'água) e, também,

estruturas de vertimento para dar passagem às cheias do rio Tocantins.

A Usina de São Salvador vai operar a fio d'água, isto é, as vazões que chegam

ao barramento são passadas para jusante ou pelas estruturas de geração

(turbinas) ou pelas estruturas de vertimento. Sendo assim, o reservatório

criado não tem capacidade de regularizar as vazões do rio Tocantins. O

volume armazenado não permite a modificação da sazonalidade do rio, isto é,

alteração do seu regime de estiagens e cheias.

Apenas o reservatório da UHE Serra da Mesa, situado a montante, que foi

projetado para este fim, tem volume armazenado com capacidade para

regularizar as vazões do rio Tocantins, isto é, diminuindo o efeito das maiores

cheias e aumentando as vazões do rio Tocantins a jusante (rio abaixo).

O Capítulo 1 é concluído com um levantamento das Principais Interferências

do Projeto: municípios, propriedades, estradas vicinais, acessos a

propriedades e residências e infra-estrutura local (escolas, postos, etc.) que

terão que ser relocadas.

Page 92: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

81

O Capítulo 2, Como é a Região, apresenta o diagnóstico do:

- Meio Ambiente Social: População, Organização dos Núcleos

Urbanos, Infra-estrutura de Transportes, Uso e Ocupação do Solo

nas Áreas Urbanas, Caracterização Sócio Econômica das

Comunidades Afetadas, Patrimônio Histórico, Cultural e

Arqueológico;

- Meio Ambiente Natural: Clima, Relevo e Solos, Qualidade e Uso das

Águas, Qualidade das Águas, Usos das Águas, Navegação, A

Hidrovia do Tocantins, Lazer e Turismo, Agricultura e Irrigação,

Consumo Humano e Dessedentação de Animais, Pesca, Conflitos

de Uso;

- Meio Biótico: Flora, Fauna, Limnologia e Qualidade da Água e

Ictiofauna.

No Capítulo 3, Impactos Ambientais e Medidas Mitigadoras, os Impactos

Ambientais são classificados como modificações:

- com a população;

- nas atividades econômicas;

- na infra-estrutura;

- com animais silvestres e vegetações;

- no solo; e

- na água.

Para a avaliação dos Impactos Ambientais do AHE São Salvador, foram

conjugados métodos de avaliação que procuram relacionar o meio

ambiente da região e as fases e ações do empreendimento.

Estes métodos são resumidos em duas matrizes, uma que classifica

cada impacto segundo as determinações da legislação brasileira,

expressas na Resolução CONAMA 01/86, e outra, que relaciona cada

impacto identificado a uma fase do empreendimento, e outra.

Page 93: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

82

Os estudos indicaram a possibilidade de ocorrência de 33 impactos

ambientais. A matriz que classifica os impactos ambientais é chamada

de Matriz de Classificação dos Impactos Ambientais, sendo os impactos

classificados os seguintes:

- Alteração no Micro-Clima;

- Ocorrência de Sismos Induzidos;

- Início ou Aceleração de Processos Erosivos;

- Perda de Áreas de Produção Agropecuária;

- Alteração na Qualidade da Água;

- Elevação do Nível do Lençol Freático;

- Alteração do Regime Hídrico;

- Supressão da Vegetação Atual;

- Supressão de Habitats;

- Proliferação de Macrófitas;

- Perda de Espécimes da Fauna Terrestre;

- Perda de espécimes da Mastofauna Aquática;

- Isolamento das populações aquáticas do canal principal e

interrupção de rotas de migração;

- Alterações da Fauna Aquática a Jusante da Barragem;

- Isolamento de populações de peixes de afluentes;

- Alteração da ictiofauna a montante da barragem e

comprometimento de rotas migratórias;

- Interferências com o Patrimônio Arqueológico e Histórico Cultural;

- Alteração nos fluxos migratórios da população;

- Mudanças nos Padrões Atuais de Uso e Ocupação do Solo;

- Interferência no Sistema de Circulação e Transporte;

Page 94: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

83

- Melhoria dos Acessos Circunvizinhos ao Empreendimento;

- Expansão na Oferta de Energia Elétrica e das Possibilidades de

Interligação;

- Alteração no Mercado de Bens e Serviços e na Renda Regional;

- Alteração no Mercado Imobiliário;

- Alteração no Mercado de Trabalho;

- Alterações na Oferta e na Demanda por Serviços Educacionais;

- Interferências com Direitos Minerários;

- Alteração no Quadro de Saúde;

- Interferências com o Potencial Turístico Local;

- Transferência Compulsória da População Atingida;

- Geração de Expectativa da população diante do empreendimento;

- Surgimento de Movimentos Sociais;

- Ampliação das Responsabilidades e Encargos Associados ao Poder

Público Municipal;

No Capítulo 4, Programas Ambientais, são apresentados os programas que

têm como objetivo mitigar, diminuir ou compensar as interferências e impactos

ambientais do empreendimento.

Os programas são apresentados a seguir:

- Programa de Monitoramento Climatológico;

- Programa de Monitoramento do Lençol Freático;

- Programa de Recuperação de Áreas Degradadas;

- Programa de Acompanhamento das Interferências Minerarias;

- Programa de Monitoramento Sismológico;

- Programa de Monitoramento Limnológico e Qualidade da Água;

- Programa de Limpeza da Bacia de Acumulação;

Page 95: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

84

- Programa de Resgate e Monitoramento da Flora;

- Programa de Resgate e Monitoramento da Fauna;

- Programa de Monitoramento da Ictiofauna;

- Programa de Consolidação de Unidade de Conservação;

- Programa de Salvamento do Patrimônio Arqueológico Pré-Histórico;

- Programa de Salvamento do Patrimônio Arqueológico Histórico e

Cultural;

- Programa de Comunicação Social;

- Programa de Remanejamento da População;

- Programa de Saúde;

- Programa de Recomposição da Infra-estrutura;

- Programa de Monitoramento Sócio-Econômico e Cultural.

4.3 - O Aproveitamento Hidrelétrico Simplício - Queda Única

4.3.1 - Descrição do Empreendimento AHE Simplício – Queda Única

O AHE Simplício – Queda Única prevê o aproveitamento integral da queda

hidráulica disponível no trecho de 30 km, sem sinuosidades, do rio Paraíba do

Sul, na divisa dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, entre a cidade de

Três Rios e o final do reservatório da Usina Hidrelétrica da Ilha dos Pombos.

Está localizado estrategicamente próximo aos mercados consumidores (RJ, SP

e BH).

A UHE Simplício – Queda Única terá 110 MW de potência instalada. Seu

reservatório, de 14 km2 atinge terras dos municípios de Três Rios e Sapucaia,

no Rio de Janeiro, e Além Paraíba e Chiador, em Minas Gerais. Devido à

formação do reservatório, um total de 250 famílias serão atingidas e deverão

ser remanejadas (109 famílias da zona urbana e 141 famílias da zona rural).

O órgão licenciador do empreendimento é o IBAMA, que emitiu o Termo de

Referência para os Estudos de EIA-RIMA.

Page 96: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

85

4.3.2 - Metodologia Adotada para a Elaboração da AIA

A metodologia adotada para a AIA do AHE Simplício – Queda Única é bastante

parecido com aquela adotada para a AIA do AHE São Salvador, visto que As

AIAs foram desenvolvidas pela mesma empresa.

Desta forma, deve-se considerar a mesma metodologia de AIA do AHE São

Salvador.

4.3.3 - Organização e Encaminhamento da AIA

Conforme mencionado anteriormente, o RIMA do AHE Simplício – Queda

Única (ENGEVIX, 2001a) foi desenvolvido pela mesma empresa que

desenvolveu o RIMA do AHE São Salvador, desta forma a organização e

encaminhamento dos estudos são bastante parecidos.

O RIMA está organizado em cinco capítulos. No primeiro capítulo, Introdução,

são apresentados os objetivos e conteúdo do relatório.

O relatório, ainda na introdução, descreve que “foram levantadas várias

alternativas para a realização do estudo e chegou-se a forma mais viável, tanto

a nível de execução quanto a nível econômico e ambiental”. O

empreendimento é considerado como “uma opção altamente atrativa por ser

um investimento com características técnico - econômicas plenamente

justificáveis dentro do contexto de expansão do parque gerador brasileiro,

segundo análise comparativa com outros investimentos no Setor”.

A seguir, é informada a Localização e Definição das Áreas de Influência.

O Projeto é originado em 1965 e 1966, quando a CANAMBRA - consórcio de

empresas internacionais responsável pelo inventário hidrelétrico do Brasil -

realizou um estudo envolvendo os rios Paraíba do Sul, Pomba e Novo.

Em meados de 1984, FURNAS Centrais Elétricas deu início aos estudos

necessários à exploração do potencial hidrelétrico disponível na bacia do

Paraíba do Sul.

Page 97: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

86

Os estudos para avaliação do potencial hidrelétrico da área de interesse do

AHE Simplício - Queda Única foram contratados por FURNAS à Consultora

THEMAG Engenharia e à ENGE-RIO S/A e divididos em duas fases: Estudos

Preliminares de Inventário e Estudos Finais de Inventário, tendo sido concluído

em meados de 1986.

Ainda em 1986, dando prosseguimento ao processo de levantamento,

FURNAS iniciou os Estudos de Viabilidade do Aproveitamento Hidrelétrico de

Simplício e de Sapucaia para escolher a melhor localização para a usina,

dentre aquelas apontadas pelo inventário. Durante os anos de 1987 e 1988

realizou um aprofundamento destes estudos e em 1995 iniciou o projeto do

AHE Simplício - Queda Única.

Ainda no primeiro capítulo, são apresentadas as Características do Projeto:

barragem de solo e estruturas de concreto armado projetadas para a

instalação das máquinas (turbinas e geradores) para geração de energia

elétrica a partir da força das águas (vazão e queda d'água) e, também,

estruturas de vertimento.

É apresentado um levantamento das Principais Interferências do Projeto:

municípios, propriedades, estradas vicinais, acessos a propriedades e

residências e infra-estrutura local (escolas, postos, etc.) que terão que ser

relocadas.

O Capítulo 1 é concluído com um Estudo dos Efeitos dos Reservatórios.

O Capítulo 2, Como é a Região, apresenta o diagnóstico do:

- Meio Ambiente Social: População, Economia, Infra-estrutura dos

Serviços (Transporte e Energia, Saúde e Saneamento, Educação,

Turismo;

- Meio Ambiente Natural: O Clima, o Relevo e os Solos, Qualidade da

Água, Animais Silvestres (Aves, Mamíferos, Répteis e Anfíbios e

Peixes) e Vegetação.

No Capítulo 3, Impactos Ambientais e Programas Ambientais. Os

Impactos Ambientais são classificados como modificações:

Page 98: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

87

- com a população;

- nas atividades econômicas;

- na infra-estrutura;

- com animais silvestres e vegetações;

- no solo; e

- na água.

Da mesma forma que foi feito no RIMA da AHE São Salvador, para a

avaliação dos Impactos Ambientais do AHE Simplício – Queda Única,

foram conjugados métodos de avaliação que procuram relacionar o

meio ambiente da região e as fases e ações do empreendimento.

Estes métodos são resumidos em duas matrizes, uma que classifica

cada impacto segundo as determinações da legislação brasileira,

expressas na Resolução CONAMA 01/86, e outra, que relaciona cada

impacto identificado a uma fase do empreendimento, e outra.

Os estudos indicaram a possibilidade de ocorrência de 31 impactos

ambientais. A matriz que classifica os impactos ambientais é chamada

de Matriz de Classificação dos Impactos Ambientais, sendo os impactos

classificados os seguintes:

- Ocorrência de Sismos Induzidos;

- Início ou Aceleração de Processos Erosivos;

- Perda de Áreas de Produção Agropecuária;

- Alteração na Qualidade da Água;

- Elevação do Nível do Lençol Freático;

- Alteração do Regime Hídrico;

- Supressão da Vegetação;

- Alteração de Habittats da Fauna Terrestre;

- Proliferação de Macrófitas;

Page 99: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

88

- Interferências com o patrimônio arqueológico e histórico cultural;

- Alteração nos fluxos migratórios da população;

- Mudanças nos padrões atuais de uso e ocupação do solo;

- Interferência no sistema de trânsito terrestre;

- Melhoria de acessos circunvizinhos ao empreendimento;

- Expansão na oferta de energia elétrica e das possibilidades de

interligação;

- Alteração no mercado de bens e serviços e na renda regional;

- Alteração no mercado imobiliário;

- Alteração no mercado de trabalho;

- Alterações na oferta e na demanda por serviços educacionais;

- Interferência com atividade pesqueira;

- Interferência com direitos minerários;

- Alteração no Quadro de Saúde;

- Perdas de áreas de lazer e turismo e interferência com o potencial

turístico local;

- Aumento de demanda por equipamentos e lazer;

- Transferência compulsória da população atingida;

- Geração de expectativa da população diante do empreendimento;

- Surgimento de movimentos sociais;

- Ampliação das responsabilidades e encargos associados ao poder

público municipal;

- Alteração da Ictiofauna do Rio Paraíba do Sul a Jusante do

Barramento;

- Alteração da Ictiofauna a Montante do Barramento;

- Comprometimento de rotas migratórias;

Page 100: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

89

Ainda no Capítulo 3, são apresentados os Programas Ambientais, que têm

como objetivo mitigar, diminuir ou compensar as interferências e impactos

ambientais do empreendimento. Os Programas Ambientais são os seguintes:

- Programa de Monitoramento Climatológico;

- Programa de Monitoramento do Lençol Freático;

- Programa de Recuperação de Áreas Degradadas;

- Programa de Acompanhamento das Interferências Minerárias;

- Programa de Monitoramento Sismológico;

- Programa de monitoramento limnológico e qualidade da água;

- Programa de limpeza da bacia de acumulação;

- Programa de Resgate e Monitoramento da Fauna;

- Programa de monitoramento da ictiofauna;

- Programa de Consolidação de Unidade de Conservação;

- Programa de salvamento do patrimônio arqueológico pré-histórico;

- Programa de salvamento do patrimônio arqueológico histórico e

cultural;

- Programa de Comunicação Social;

- Programa de Remanejamento da população;

- Programa de Saúde;

- Programa de Monitoramento Sócio-Econômico e Cultural;

No Capítulo 4 é apresentada a Equipe Técnica que desenvolveu o

estudo.

Page 101: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

90

4.4 - O Aproveitamento Hidrelétrico Estreito

4.4.1 - Descrição do Empreendimento AHE Estreito

O AHE Estreito localiza-se no médio curso do rio Tocantins, na divisa dos

estados do Maranhão e Tocantins, com coordenadas geográficas aproximadas

de 6°35’11’’ S e 47°27’27’’W.

A usina está projetada para uma potência total de 1.109,7 MW, com um

reservatório de 590 km2 de superfície, sendo 434 km2 de terras inundadas e de

5.400 x 106 m3 de volume de água.

As obras deverão se localizar nos municípios de Estreito/MA e

Aguiarnópolis/TO e o seu reservatório atinge terras dos municípios Estreito e

Carolina no Estado do Maranhão, e no Estado do Tocantins, os municípios de

Aguiarnópolis, Babaçulândia, Barra do Ouro, Darcinópolis, Filadélfia, Goiatins,

Itapiratins, Palmeirante, Palmeiras do Tocantins e Tupiratins.

A operação da usina é a fio d’água, com energia firme de 587,3 MW, que

deverá ser incorporada aos Sistemas Norte/Nordeste e Norte/Sul/Sudeste, por

intermédio da rede básica do sistema interligado. Devido à formação do

reservatório, um total de 3.485 famílias serão atingidas e deverão ser

remanejadas (2.250 famílias da zona urbana e 1.235 famílias da zona rural).

O órgão licenciador do empreendimento é o IBAMA, que emitiu o Termo de

Referência para os Estudos de EIA-RIMA.

4.4.2 - Metodologia Adotada para a Elaboração da AIA

De acordo com o Relatório em questão, a análise dos impactos ambientais da

UHE Estreito foi fundamentada em metodologia específica e de domínio usual

em empreendimentos hidrelétricos.

A estruturação dessa metodologia desenvolveu-se a partir da análise integrada

sobre os compartimentos ambientais considerando-se três etapas:

- elenco das ações do empreendimento geradoras de impactos

ambientais;

Page 102: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

91

- matriz de identificação de impactos; e

- análise, qualificação e avaliação dos impactos.

As ações geradoras de impactos ambientais guardam estreita correspondência

com as atividades de implantação e operação do empreendimento, e são

variáveis dependentes, uma vez que se vinculam à natureza e ao porte do

mesmo.

Desse modo, a identificação dos impactos está vinculada às características do

empreendimento e à experiência vivenciada no setor elétrico, tendo sido

considerados os principais fatores geradores de impactos ambientais e

discriminadas suas respectivas ações.

Uma vez definidos os fatores geradores, foi elaborada a matriz de identificação

de impactos, que discrimina das ações correspondentes, em linhas, e os

principais componentes ambientais, susceptíveis aos efeitos do

empreendimento, em colunas, facultando a análise da possibilidade de

ocorrência dos potenciais impactos na forma de um “check-list” elaborado a

partir de discussões e reuniões multidisciplinares com especialistas de diversas

áreas da engenharia e do meio ambiente.

Dessa forma, a matriz de identificação de impactos tem como estruturação

básica os componentes de dois conjuntos de variáveis: de um lado as ações

necessárias à implantação e operação do empreendimento e, de outro, os

componentes ambientais referentes aos meios físico, biótico e sócio-

econômico, passíveis de sofrerem os efeitos dessas ações.

O conjunto de impactos apresentado na matriz inclui, além dos identificados

nas discussões técnicas realizadas com especialistas, também aqueles

decorrentes de estudos anteriormente elaborados e os inferidos pelo o Órgão

Ambiental Licenciador, por ocasião da análise do Termo de Referência.

Após a identificação, procedeu-se à avaliação dos impactos, embasada na

análise das possíveis repercussões ambientais decorrentes da implantação e

operação do empreendimento. Na ponderação dos resultados da valoração,

incorporou-se o nível de complexidade da implementação dos programas e

Page 103: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

92

medidas mitigadoras, que configuram os compromissos do futuro

empreendedor, bem como a eficácia de sua implementação, como garantia de

prevenção, correção e compensação dos impactos indesejáveis, assim como a

potencialização dos positivos, resguardando a qualidade ambiental da região.

4.4.3 - Organização e Encaminhamento da AIA

O RIMA do AHE Estreito (CNEC, 2001a) é organizado em Apresentação e

mais 6 capítulos.

No Capítulo 1 são apresentadas as características do empreendimento

(estruturas principais de obras civis, acessos, canteiro de obras, áreas de

empréstimo e bota-foras, infra-estrutura de apoio e mão de obra necessária),

Objetivos e Justificativas, Alternativas Locacionais e Tecnológicas.

No Capítulo 2 são apresentados os Aspectos Legais e Institucionais, incluindo:

- Licenciamento Ambiental;

- Legislação Estadual;

- Espaços Territoriais Legalmente Protegidos e Compensações;

- Áreas de Preservação Permanente;

- Terras Indígenas;

- Patrimônio Cultural;

- Produção Mineral.

O Capítulo 3 apresenta as Áreas de Influência (Direta e Indireta),

Características da Região (Meio Natural, Dinâmica Sócio-Econômica e Análise

Integrada das Regiões).

Os Impactos Ambientais são apresentados no Capítulo 4. A estruturação da

metodologia desenvolveu-se a partir da análise integrada sobre os

compartimentos ambientais considerando-se três etapas, compreendendo:

- elenco das ações do empreendimento geradoras de impactos

ambientais;

Page 104: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

93

- identificação de impactos; e

- análise, qualificação e avaliação dos impactos.

Uma vez definidos os fatores geradores, passou-se à identificação de

impactos, que discrimina das ações correspondentes e os principais

componentes ambientais, susceptíveis aos efeitos do empreendimento

facultando a análise da possibilidade de ocorrência dos potenciais impactos na

forma de um “check-list”.

Após a identificação, procedeu-se à avaliação dos impactos, embasada na

análise das possíveis repercussões ambientais decorrentes da implantação e

operação do empreendimento.

Os fatores geradores de impactos, relacionados à implantação e operação da

UHE Estreito, são apresentados a seguir, conforme seqüência cronológica de

ocorrência e com a discriminação das respectivas ações correlatas:

- ações iniciais: divulgação/veiculação de informações sobre o

empreendimento; desapropriação/aquisição de terras necessárias

para a implantação de canteiros de obras e para formação do

reservatório;

- implantação da infra-estrutura e serviços de apoio ao

empreendimento: recrutamento e contratação da mão-de-obra;

desmatamento e terraplenagem para implantação dos acessos ao

canteiro e demais locais das obras; ampliação e melhoria da infra-

estrutura existente;

- execução das obras civis abrangendo o desvio do rio e as barragens

de terra e de concreto;

- enchimento do reservatório: desocupação da área a ser submersa

pelo reservatório (áreas urbanas e rurais e infra-estrutura);

desmatamento e limpeza da área de inundação; enchimento;

- desmobilização: encerramento das atividades de construção;

- operação da usina.

Page 105: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

94

Os impactos ambientais listados foram os seguintes:

- Alteração das Condições Climáticas

- Sismicidade Induzida

- Interferências sobre Jazimentos Minerais e Áreas Legalizadas

- Elevação do Lençol Freático

- Instabilidade e Potencial Erosivo de Taludes e Encostas Marginais

- Intensificação do Processo de Assoreamento a Montante da

Barragem

- Perdas de Terras Agricultáveis

- Alteração da Qualidade das Águas com a Formação do Reservatório

- Aumento da Pressão Antrópica sobre a Vegetação

- Supressão da Vegetação pela Implantação da Infra-estrutura de

Apoio

- Supressão da Vegetação pelo Enchimento do Reservatório

- Aumento da Fragmentação de Ambientes

- Alteração dos Ambientes Marginais

- Aumento da Pesca e Caça Predatória

- Alterações e/ou Perda de Hábitats da Fauna Terrestre

- Afugentamento da Fauna Terrestre

- Redução Populacional de Vertebrados Terrestres

- Aumento de Risco de Acidentes com Animais Peçonhentos

- Proliferação de Vetores de Interesse Médico

- Interferência nas Comunidades Íctias e de Mamíferos Aquáticos no

Reservatório

- Perda ou Alteração de Hábitats da Ictiofauna no Reservatório e nas

Áreas de Execução das Obras Civis

Page 106: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

95

- Interferência nas Comunidades Íctias a Jusante da Barragem

- Interferência com as Comunidades Íctias nas Obras Civis –

(Construção da Ensecadeira e Desvio do Rio)

- Interferência com as Comunidades de Microorganismos Aquáticos

Zooplâncton, Fitoplâncton e Bentos no Reservatório

- Interferência com as Comunidades de Microorganismos Aquáticos

Zooplâncton, Fitoplâncton e Bentos de Jusante

No Capítulo 5, Soluções Propostas, são apresentados os Programas

Ambientais como forma de mitigar e compensar os impactos ambientais

causados pela implantação e operação do empreendimento.

Os Programas Ambientais propostos são os seguintes:

- Programa de Monitoramento e Gerenciamento Ambiental;

- Programa de Controle Ambiental na Fase de Construção;

- Programa de Monitoramento Climatológico;

- Programa de Monitoramento Sismológico;

- Programa de Proteção e Recuperação Ambiental nos Sítios das

Obras;

- Programa de Monitoramento de Pontos Propensos à Instabilização

de Encostas e Taludes Marginais;

- Programa de Monitoramento Hidrogeológico;

- Programa de Pesquisa Científica do Meio Físico;

- Monitoramento da Qualidade da Água do Reservatório;

- Programa de Desmatamento e Limpeza da Área de Inundação;

- Programa de Revegetação da Faixa de Proteção do Reservatório;

- Programa de Coleta de Espécies Vegetais;

- Programa de Monitoramento da Fauna Terrestre;

- Programa de Conservação da Ictiofauna;

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96

- Programa de Resgate e Salvamento da Fauna Terrestre;

- Programa de Controle de Vetores;

- Programa de Educação Ambiental;

- Programa de Controle das Condições de Saúde;

- Programa de Relocação e Apoio às Atividades Comerciais e de

Serviços Afetados;

- Programa de Fomento às Atividades Produtivas Locais,

Aproveitamento dos Usos Múltiplos do Reservatório e Identificação

de Novas Oportunidades de Investimentos;

- Programa de Apoio à Produção Familiar de Subsistência;

- Programa de Recomposição dos Sistemas de Infra-Estrutura

Regional;

- Programa de Recomposição Urbana;

- Programa de Implantação das Unidades de Conservação;

- Programa de Recuperação das Margens do Reservatório (Plano

Diretor);

- Programa de Recomposição das Áreas de Turismo e Lazer;

- Programa de Prospecções Arqueológicas Intensivas;

- Programa de Resgate Arqueológico;

- Programa de Valoração do Patrimônio Cultural;

- Programa de Ações para Reposição de Perdas e Relocação da

População Rural e Urbana;

- Programa de Comunicação Social.

No Capítulo 6, Futuro da Região, o Relatório conclui que à luz de todas as

avaliações, a UHE Estreito é considerada um empreendimento econômica e

ambientalmente viável.

Page 108: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

97

5 - Conclusões e Recomendações

5.1 - Conclusões

A partir dos Estudos de Impacto Ambiental e dos Relatórios de Impacto

Ambiental dos empreendimentos selecionados, foi possível identificar o estágio

atual da metodologia desenvolvida nas Avaliações de Impactos Ambientais -

AIAs.

Os estudos analisados, de forma geral, seguem uma mesma metodologia, que

é recomendada pela ELETROBRÁS (1997), que é uma referência para o Setor

Elétrico Brasileiro, no que diz respeito à implantação de empreendimentos

hidrelétricos e condução de estudos de viabilidade, não apenas dos aspectos

de estudos sócio-ambientais, mas também acerca de aspectos técnicos e

econômicos.

Nota-se um padrão de encaminhamento das AIAs composto de:

- Identificação das ações do empreendimento;

- Diagnóstico ambiental;

- Correlação das ações com os fatores ambientais, gerando a Matriz

de Interação;

- Definida a interação das ações com o Meio Ambiente, gera-se a

Matriz de Identificação de Impactos;

- Identificados os impactos ambientais, estes são qualificados,

gerando a Matriz de Caracterização ou Classificação;

- Proposição de medidas mitigadoras e compensatórias (Programas

Ambientais);

Esses procedimentos, para a avaliação de impacto ambiental, foram

comparados com os estudos efetuados no passado e analisados por

Page 109: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

98

MAGRINI3 (1992), em seu estudo pioneiro sobre o assunto e onde são

apresentados os primeiros resultados desses procedimentos no Brasil.

Verificou-se, através dessa análise, que houve uma evolução para uma visão

mais sistêmica, por parte dos órgãos licenciadores, no processo de

licenciamento. Conseqüentemente, observou-se uma elaboração mais

cuidadosa das AIAs dos aproveitamentos hidrelétricos, que apresentam

análises mais abrangentes e ao mesmo tempo integradas, no que diz respeito

aos impactos ambientais dos empreendimentos analisados. O Quadro 5-1

apresenta o tratamento de alguns aspectos observados neste estudo,

comparados com os mesmos aspectos observados por MAGRINI (1992).

Quadro 5-1: Comparação de aspectos deste estudo com MAGRINI (1992)

Aspectos Situação das AIAsanalisados neste estudo

Situação dos RIMAsanalisados porMAGRINI (1992)

Análise de alternativas deprojetos

Presente Ausente

Análise da alternativa de nãoexecução do empreendimento

Presente Ausente

Interferências com planos eprogramas previstos para aregião

Limitado a uma listagem deplanos e programas, sem a

análise de possíveisinterferências

Limitado a uma listagem deplanos e programas, sem a

análise de possíveisinterferências

Matriz de Caracterização ouClassificação de Impactos

Presente Ausente

Incompatibilidade entreinformações nas diferentespartes da AIA

Verificada Verificada

Mensuração dos impactos Identificados e qualificados,com a importância e a

magnitude indicadas. Semmensuração.

Apenas identificados e nãomensurados.

Importância relativa dosimpactos

Considerada, porém semexposição clara dos critérios

Considerada, porém semexposição clara dos critérios

3 MAGRINI (1992) analisou os Relatórios de Impacto Ambiental da seguintes usinas

hidrelétricas: Simplício (180 MW) e Sapucaia (300 MW) na Região Sudeste; Manso (210 MW) e

Serra da Mesa (1.200 MW) na Região Centro-Oeste; Samuel (217 MW), Cachoeira Porteira

(700 MW) e Paredão (27 MW), sistemas isolados na Região Norte.

Page 110: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

99

Diferentemente do observado por MAGRINI (1992), os EIAs e os RIMAs

analisados no presente estudo contam com uma análise das alternativas aos

projetos, das interferências com planos, programas ou outros

empreendimentos previstos para a região, contemplando inclusive a alternativa

de não implantação da usina.

Os chamados efeitos sinérgicos, com outros empreendimentos implantados ou

previstos para a região onde será inserida a usina, são analisados nos EIAs e

nos RIMAs dos projetos descritos neste trabalho. Esta análise consta nos

termos de referência emitidos pelo IBAMA para o desenvolvimento das AIAs.

Transcorridos dez anos desde a publicação de MAGRINI (1992), verifica-se,

através da análise deste estudo, um amadurecimento no processo de

licenciamento e conseqüentemente, o amadurecimento das AIAs dos AHEs

pesquisados, que sugerem uma análise mais abrangente e, ao mesmo tempo,

integrada dos impactos ambientais de empreendimentos.

Mesmo com o amadurecimento e uma maior sistematização na condução das

AIAs, ainda são evidentes alguns problemas levantados por MAGRINI (1992):

“um conjunto de insuficiências de caráter metodológico e

instrumental que denotam, em última instância, a própria

dificuldade de tratamento de sistemas tão complexos como o

meio ambiente. Essas insuficiências representam limitações

operacionais para as três fases em que se baseia

tradicionalmente a elaboração da AIA: a identificação, a predição

e a avaliação de impactos”.

Com respeito à identificação, dada à complexa inter-relação entre a sócio-

economia, os indivíduos que compõem o meio biótico e, até mesmo, as

influências que alterações no meio físico podem provocar, torna-se muito difícil

uma delimitação espacial da região onde os impactos irão ocorrer. Este

problema é crítico em regiões pouco conhecidas, como são os casos do

Pantanal e da Amazônia.

Page 111: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

100

Da mesma forma, observou-se que nos EIAs e nos RIMAs analisados continua

imprecisa a predição de como o meio reagirá à intervenção, em particular, o

meio sócio-econômico. Mesmo já sendo possível prever, com precisão

adequada, o comportamento do meio físico frente às intervenções em

ecossistemas onde se tem um conhecimento empírico, os projetos analisados

neste estudo permanecem com incertezas relativas a essas predições para os

meios biótico e sócio-econômico.

Quanto à avaliação dos impactos, assim como identificado por MAGRINI

(1992), verifica-se que, nos projetos estudados, permanece inalterada a

questão de problemas metodológicos relativos à mensuração e à ponderação

desses impactos.

Apesar de a variável ambiental estar incluída desde os estudos preliminares, a

utilização da AIA na implantação dos projetos analisados neste estudo parece

ser mais utilizada de forma a prevenir ou mitigar impactos de um

empreendimento que, via de regra, é selecionado apenas pela análise dos

parâmetros técnico-econômicos.

As AIAs analisadas neste estudo, apresentam uma matriz que classifica os

impactos ambientais, a chamada Matriz de Classificação dos Impactos

Ambientais, onde os impactos são classificados.

De acordo com os critérios utilizados, os impactos são classificados e

apresentados. Porém, nos projetos analisados neste estudo, esta

apresentação nem sempre corresponde aos resultados dos estudos de cada

programa ambiental. Esta apresentação torna-se, por este motivo, confusa ao

invés de se transformar em um instrumento extremamente útil para a análise

do empreendimento como um todo.

5.2 - Recomendações

A Matriz de Classificação dos Impactos Ambientais, conforme já é

apresentada, pode transformar-se no passo inicial para a análise multicritério

(AMC) da AIA, já que os impactos encontram-se tabelados e classificados, ou

seja, os critérios para a AMC podem ser quantificados, através de uma

Page 112: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

101

definição de escalas de mensuração, restando então o estabelecimento de

pesos.

Uma vez definidos os empreendimentos ou as alternativas para um mesmo

empreendimento como sendo as ações, a avaliação dessas ações, com base

nos critérios se traduziria numa matriz de julgamentos ou de avaliação que

relaciona cada ação potencial a cada critério.

Neste ponto a análise multicritério (AMC) apresenta-se como uma alternativa

para esse tipo de avaliação, onde diferentes critérios são avaliados em

conjunto, chegando-se a um resultado que possibilite a quantificação de cada

critério e de cada ação, avaliada pelo seu conjunto de critérios.

Conforme sugerido por MAGRINI (1992), pode-se utilizar, nas avaliações de

impactos ambientais, escalas de valor, medidas na unidades físicas ou em

termos qualitativos.

Essas escalas de impacto seriam compostas de retas, curvas, por funções

descontínuas ou uma combinação das três. Os valores extremos seriam 0 para

ausência de impactos e 1 seria o limite superior de um determinado impacto.

Impactos positivos teriam valores negativos.

Por exemplo, o impacto sobre o critério “comunidades indígenas” em um

empreendimento que não é inserido próximo de terras indígenas, teria valor

igual a 0. Enquanto um empreendimento onde os estudos indicam que o

critério “qualidade da água” sofrerá uma modificação tal que os parâmetros

físico-químicos ou biológicos da água passem a apresentar valores

incompatíveis com aqueles previstos em lei, teria valor igual a 1.

A maior importância entre critérios será dada na ponderação dos mesmos.

Uma vez estabelecidos os pesos ou ponderações de cada critério, várias

análises poderiam ser feitas e chegaria-se, através da soma dos diferentes

índices, a um índice de impacto ambiental global que poderia ser comparado

com os índices de diferentes alternativas de um dado empreendimento ou

mesmo com as alternativas ao empreendimento.

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102

Para alguns critérios poderia-se utilizar os próprios resultados amostrais, por

exemplo: para um concentração de coliformes fecais igual a 0 coliformes/mm o

valor na escala seria 0; para um valor de coliformes fecais superior ao limite

estabelecido para o corpo d’água em questão, o valor na escala seria igual a 1.

Valores intermediários teriam uma variação linear em função da concentração

de coliformes fecais.

Para o caso de concentração de coliformes fecais, e de outros parâmetros, a

definição da escala é bastante simples, porém, alguns critérios são bastante

complexos e subjetivos. Principalmente no meio sócio-econômico, onde há

divergências até mesmo entre identificar se um impacto é positivo ou negativo.

A própria energia produzida poderia ser introduzida como um critério. Por

exemplo: na definição da cota do reservatório. Quanto maior a cota do

reservatório, definido o eixo da barragem, maior a área inundada e

conseqüentemente maior o impacto ambiental. Porém, quanto maior a cota do

reservatório, maior a queda livre e maior a produção de energia.

Da forma como são analisados os empreendimentos atualmente, as decisões

entre as alternativas avaliadas é quase que subjetiva, salve alguns casos onde

por exemplo, a redução da cota do reservatório impede a inundação de uma

área de preservação ambiental ou um sítio arqueológico.

Já utilizando a metodologia sugerida, as análises tenderiam a ser mais

consistentes e avaliações subjetivas poderiam ser minimizadas, e o que pode

ser ainda melhor: o impacto ambiental é tratado de forma única, o que torna

mais clara a justificativa da alternativa escolhida.

Para demonstrar isso, elaborou-se o Quadro 5-2 que apresenta uma

comparação entre os AHEs São Salvador e Peixe, considerando apenas os

seguintes parâmetros: (i) Alteração no Microclima, (ii) elevação do lençol

freático; (iii) ocorrência de processos erosivos; (iv) Ocorrência de sismos

induzidos. Os dados qualitativos foram obtidos na Matriz de Classificação dos

Impactos Ambientais dos RIMAs dos empreendimentos e a pontuação para a

AMC foi determinada com base nos dados qualitativos.

Page 114: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

103

Quadro 5-2: Simulação Simplificada de uma AMC

Nat

urez

a

Form

a

Dur

ação

Tem

pora

lidad

e

Rev

ersi

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ade

Abra

ngên

cia

Mag

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de

Impo

rtânc

ia

Pont

uaçã

o AM

C

Alteraçãodomicroclima

POS IND PER CP IRR LOC PEQ PEQ-0,1

Elevação dolençolfreático

POSNEG DIR PER CP

MLP IRR LOC GDE MED0,5

Início ouaceleraçãodeprocessoserosivos

NEG DIR PER MLP IRR LOC PEQ PEQ

0,2

Peix

e

Ocorrênciade SismosInduzidos

NEG DIR PER CPMLP IRR REG PEQ PEQ

MED

0,3

Alteraçãono Micro-clima

Neg. Direto Perm. Médio Irrev. Local Baixa Peq.0,2

Elevação doNível doLençolFreático

Neg. Direto Perm. Curto Irrev. Local Média Grande

0,8

Início ouAceleraçãodeProcessosErosivos

Neg. Direto Perm. Curto Irrev. Local Média Média

0,5

São

Salv

ador

Ocorrênciade SismosInduzidos

Neg. Direto Perm. Curto Irrev. Local Baixa Peq.0,2

Considerando-se como igual a 0,25 os pesos de todos os parâmetros, obtemos

os seguintes resultados de índice de impacto ambiental global:

- UHE Peixe: 0,225

- UHE São Salvador: 0,425

Esses resultados indicam que os impactos ambientais na UHE São Salvador

são maiores que na UHE Peixe.

Porém, analisando-se as características das UHEs em questão, nota-se que

este resultado não faz sentido. Primeiramente, as duas UHEs estão inseridas

na mesma região, ou seja, são observadas poucas diferenças no meio físico.

Page 115: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

104

Em segundo lugar, a UHE Peixe formará um lago maior, causando

potencialmente maiores impactos no meio físico.

Essas informações indicam que a equipe que desenvolveu o RIMA de São

Salvador é mais conservadora, na avaliação dos impactos ambientais, que a

equipe que desenvolveu o RIMA de Peixe.

Parece claro então que mesmo com a utilização de uma AMC, a subjetividade

não está eliminada, o que pode estar relacionado ao fato dos trabalhos terem

sido desenvolvidos por equipes diferentes e com métodos de qualificação de

impactos diferentes.

Numa análise de empreendimentos, para a tomada de decisão, os integrantes

da equipe responsável por qualificar e quantificar os impactos devem estar

seguindo os mesmos parâmetros e a mesma metodologia de forma a evitar

resultados incoerentes. A AMC poderia, por exemplo, ser utilizada para a

aplicação da Resolução CONAMA 279/01, criada em meio à crise energética

de 2001, onde o CONAMA estabelece procedimento simplificado para o

licenciamento ambiental dos empreendimentos com impacto ambiental de

pequeno porte.

Até o momento, nenhum empreendimento hidrelétrico com potência total

superior a 30 MW, foi licenciado de forma simplificada. A grande dificuldade

está em definir-se, a priori, impacto ambiental de pequeno porte, antes da

análise dos estudos ambientais que subsidiam o processo de licenciamento

ambiental. Até mesmo após a análise dos estudos, “impacto ambiental de

pequeno porte” é algo extremamente subjetivo, causando dificuldades e

incertezas ao empreendedor e à equipe técnica que analisa o

empreendimento.

Com a análise proposta, seria possível determinar um valor limite para o índice

de impacto ambiental global e, conseqüentemente possibilitar uma análise

mais consistente do que seria “impacto ambiental de pequeno porte”.

Entende-se que o presente trabalho contribuiu no sentido de promover uma

análise da evolução das AIAs de empreendimentos hidrelétricos. Apesar de

Page 116: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

105

não analisados, é razoável supor que outros setores da economia também

perceberam um avanço no encaminhamento das AIAs.

Outro fator importante apontado neste estudo é a proposição de uma forma

bastante simplificada, a partir das Matrizes de Classificação de Impactos

Ambientais já disponíveis nos RIMAs de UHEs, para aplicar a análise

multicritério na seleção de alternativas para um determinado empreendimento.

A AMC parece possibilitar, inclusive, a inclusão de parâmetros econômicos na

análise.

A aplicação da metodologia sugerida pode resultar em análises mais

coerentes, transparentes, sistemáticas e de base teórica mais sólida,

diminuindo assim a influência de fatores subjetivos na tomada de decisão.

Page 117: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

106

6 - Sugestões para Pesquisas Futuras

Sugere-se que a questão da quantificação de impactos ambientais deva ser

melhor investigada em pesquisas futuras.

Outra questão que poderia ser objeto de pesquisas futuras é a situação das

empresas em relação ao Marketing Ambiental e à percepção dos

consumidores brasileiros quanto às ações de empresas ambientalmente

responsáveis.

Além disso, a valoração de passivos e riscos ambientais poderiam ser objeto

de estudos futuros.

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107

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113

Anexo I: RESOLUÇÃO CONAMA Nº 001, de 23 de janeiro de 1986

Publicado no D. O . U de 17 /2/86.

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - IBAMA, no uso das

atribuições que lhe confere o artigo 48 do Decreto nº 88.351, de 1º de junho de

1983, para efetivo exercício das responsabilidades que lhe são atribuídas pelo

artigo 18 do mesmo decreto, e Considerando a necessidade de se

estabelecerem as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as

diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental

como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, RESOLVE:

Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental

qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio

ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das

atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

II - as atividades sociais e econômicas;

III - a biota;

IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V - a qualidade dos recursos ambientais.

Artigo 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e

respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à

aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA e1n caráter supletivo, o

licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:

I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;

II - Ferrovias;

III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;

IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei nº

32, de 18.11.66;

Page 125: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

114

V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de

esgotos sanitários;

VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;

VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como:

barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de

irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação

de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias,

diques;

VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);

IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de

Mineração;

X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou

perigosos;

Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia

primária, acima de 10MW;

XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos,

siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de

recursos hídricos);

XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;

XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100

hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos

percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental;

XV - Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de

relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e

estaduais competentes;

XVI - Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a

dez toneladas por dia.

Page 126: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS ... · iii Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliação de impactos ambientais na implantação de usinas hidrelétricas

115

Artigo 3º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e

respectivo RIMA, a serem submetidos à aprovação do IBAMA, o licenciamento

de atividades que, por lei, seja de competência federal.

Artigo 4º - Os órgãos ambientais competentes e os órgãossetoriais do

SISNAMA deverão compatibilizar os processos de licenciamento com as

etapas de planejamento e implantação das atividades modificadoras do meio

Ambiente, respeitados os critérios e diretrizes estabelecidos por esta

Resolução e tendo por base a natureza o porte e as peculiaridades de cada

atividade.

Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender à legislação, em

especial os princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do

Meio Ambiente, obedecerá às seguintes diretrizes gerais:

I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto,

confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto;

II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas

fases de implantação e operação da atividade ;

III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada

pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em

todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza;

lV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em

implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade.

Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental o

órgão estadual competente, ou o IBAMA ou, quando couber, o Município,

fixará as diretrizes adicionais que, pelas peculiaridades do projeto e

características ambientais da área, forem julgadas necessárias, inclusive os

prazos para conclusão e análise dos estudos.

Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as

seguintes atividades técnicas:

I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição e

análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo

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116

a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto,

considerando:

a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos

minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o regime

hidrológico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas;

b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando

as espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e

econômico, raras e ameaçadas de extinção e as áreas de preservação

permanente;

c) o meio sócio-econômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e a

sócio-economia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos

e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade

local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos.

II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através

de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos

prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e

negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e

longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas

propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios

sociais.

III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os

equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a

eficiência de cada uma delas.

lV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os

impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem

considerados.

Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto Ambiental o

órgão estadual competente; ou o IBAMA ou quando couber, o Município

fornecerá as instruções adicionais que se fizerem necessárias, pelas

peculiaridades do projeto e características ambientais da área.

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117

Artigo 7º - O estudo de impacto ambiental será realizado por equipe

multidisciplinar habilitada, não dependente direta ou indiretamente do

proponente do projeto e que será responsável tecnicamente pelos resultados

apresentados.

Artigo 8º - Correrão por conta do proponente do projeto todas as despesas e

custos referentes á realização do estudo de impacto ambiental, tais como:

coleta e aquisição dos dados e informações, trabalhos e inspeções de campo,

análises de laboratório, estudos técnicos e científicos e acompanhamento e

monitoramento dos impactos, elaboração do RIMA e fornecimento de pelo

menos 5 (cinco) cópias,

Artigo 9º - O relatório de impacto ambiental - RIMA refletirá as conclusões do

estudo de impacto ambiental e conterá, no mínimo:

I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as

políticas setoriais, planos e programas governamentais;

II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais,

especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação a área

de influência, as matérias primas, e mão-de-obra, as fontes de energia, os

processos e técnica operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos

de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados;

III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de

influência do projeto;

IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação

da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo

de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios

adotados para sua identificação, quantificação e interpretação;

V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência,

comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas,

bem como com a hipótese de sua não realização;

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118

VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em

relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser

evitados, e o grau de alteração esperado;

VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;

VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e

comentários de ordem geral).

Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada

a sua compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem

acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de

comunicação visual, de modo que se possam entender as vantagens e

desvantagens do projeto, bem como todas as conseqüências ambientais de

sua implementação.

Artigo 10 - O órgão estadual competente, ou o IBAMA ou, quando couber, o

Município terá um prazo para se manifestar de forma conclusiva sobre o RIMA

apresentado.

Parágrafo único - O prazo a que se refere o caput deste artigo terá o seu termo

inicial na data do recebimento pelo estadual competente ou pela SEMA do

estudo do impacto ambiental e seu respectivo RIMA.

Artigo 11 - Respeitado o sigilo industrial, assim solicitando e demonstrando

pelo interessado o RIMA será acessível ao público. Suas cópias permanecerão

à disposição dos interessados, nos centros de documentação ou bibliotecas da

SEMA e do estadual de controle ambiental correspondente, inclusive o período

de análise técnica,

§ 1º - Os órgãos públicos que manifestarem interesse, ou tiverem relação

direta com o projeto, receberão cópia do RIMA, para conhecimento e

manifestação,

§ 2º - Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental e

apresentação do RIMA, o estadual competente ou o IBAMA ou, quando couber

o Município, determinará o prazo para recebimento dos comentários a serem

feitos pelos órgãos públicos e demais interessados e, sempre que julgar

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119

necessário, promoverá a realização de audiência pública para informação

sobre o projeto e seus impactos ambientais e discussão do RIMA,

Artigo 12 - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

(Alterada pela Resolução nº 011/86)

(Vide item I - 3º da Resolução 005/87)

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120

Anexo II: RESOLUÇÃO CONAMA N.º 006 de 16 de Setembro de 1987

Publicada no D.O.U, de 22/10/87, Seção I, Pág. 17.499.

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, no uso de suas

atribuições legais,

Considerando a necessidade de que sejam editadas regras gerais para o

licenciamento ambiental de obras de grande porte, especialmente aquelas nas

quais a União tenha interesse relevante como a geração de energia elétrica, no

intuito de harmonizar conceitos e linguagem entre os diversos intervenientes

no processo, RESOLVE:

Art. 1º - As concessionárias de exploração, geração e distribuição de energia

elétrica, ao submeterem seus empreendimentos ao licenciamento ambiental

perante o órgão estadual competente, deverão prestar as informações técnicas

sobre o mesmo, conforme estabelecem os termos da legislação ambiental

pelos procedimentos definidos nesta Resolução.

Art. 2º - Caso o empreendimento necessite ser licenciado por mais de um

Estado, pela abrangência de sua área de influência, os órgãos estaduais

deverão manter entendimento prévio no sentido de, na medida do possível,

uniformizar as exigências.

Parágrafo Único - O IBAMA supervisionará os entendimentos previstos neste

artigo.

Art. 3º - Os órgãos estaduais competentes e os demais integrantes do

SISNAMA envolvidos no processo de licenciamento, estabelecerão etapas e

especificações adequadas às características dos empreendimentos objeto

desta Resolução.

Art. 4º - Na hipótese dos empreendimentos de aproveitamento hidroelétrico,

respeitadas as peculiaridades de cada caso, a Licença Prévia (LP) deverá ser

requerida no início do estudo de viabilidade da Usina; a Licença de Instalação

(LI) deverá ser obtida antes da realização da Licitação para construção do

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empreendimento e a Licença de Operação (LO) deverá ser obtida antes do

fechamento da barragem.

Art. 5º - No caso de usinas termoelétricas, a LP deverá ser requerida no início

do estudo de viabilidade; a LI antes do início da efetiva implantação do

empreendimento e a LO depois dos testes realizados e antes da efetiva

colocação da usina em geração comercial de energia.

Art 6º - No licenciamento de subestações e linhas de transmissão, a LP deve

ser requerida no início do planejamento do empreendimento, antes de definida

sua localização, ou caminhamento definitivo, a LI, depois de concluído o

projeto executivo e antes do início das obras e a LO, antes da entrada em

operação comercial.

Art 7º - Os documentos necessários para o licenciamento a que se refere os

Artigos 4º, 5º e 6º são aqueles discriminados no anexo.

Parágrafo Único - Aos órgãos estaduais de meio ambiente licenciadores,

caberá solicitar informações complementares, julgadas imprescindíveis ao

licenciamento.

Art. 8º - Caso o empreendimento esteja enquadrado entre as atividades

exemplificadas no Artigo 2º da Resolução CONAMA nº 001/86, o estudo de

impacto ambiental deverá ser encetado, de forma que, quando da solicitação

da LP e concessionária tenha condições de apresentar ao(s) órgão(s)

estadual(ais) competente(s) um relatório sobre o planejamento dos estudos a

serem executados, inclusive cronograma tentativo, de maneira a possibilitar

que sejam fixadas as instruções adicionais previstas no parágrafo Único do

Artigo 6º da Resolução CONAMA nº 001/86.

§ 1º - As informações constantes de inventário, quando houver, deverão ser

transmitidas ao(s) órgão(s) estadual(ais) competente(s) responsável(eis) pelo

licenciamento.

§ 2º - A emissão da LP somente será feita após a análise e aprovação do

RIMA

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122

Art. 9º - O estudo de impacto ambiental, a preparação do RIMA, o

detalhamento dos aspectos ambientais julgados relevantes a serem

desenvolvidos nas várias fases do licenciamento, inclusive o programa de

acompanhamento e monitoragem dos impactos, serão acompanhados por

técnicos designados para este fim pelo(s) órgão(s) estadual(ais)

competente(s).

Art 10 - O RIMA deverá ser acessível ao público, na forma do Artigo 11 da

Resolução CONAMA nº 001/86.

Parágrafo Único - O RIMA destinado especificamente ao esclarecimento

público das vantagens e conseqüências ambientais do empreendimento

deverá ser elaborado de forma a alcançar efetivamente este objeto, atendido o

disposto no parágrafo único do Artigo 9º da Resolução CONAMA nº 001/86.

Art. 11 - Os demais dados técnicos do estudo de impacto ambiental deverão

ser transmitidos ao(s) órgão(s) estadual(ais) competente(s) com a forma e o

cronograma estabelecido de acordo com o Artigo 8º desta Resolução.

Art. 12 - O disposto nesta Resolução será aplicado, considerando-se as etapas

de planejamento ou de execução em que se encontra o empreendimento.

§ 1º - Caso a etapa prevista para a obtenção da LP ou LI já esteja vencida, a

mesma não será expedida.

§ 2º - A não expedição da LP ou LI, de acordo com o parágrafo anterior, não

dispensa a transmissão aos órgãos estaduais competentes dos estudos

ambientais executados por força de necessidade do planejamento e execução

do empreendimento.

§ 3º - Mesmo vencida a etapa da obtenção da LI, o RIMA deverá ser elaborado

segundo as informações disponíveis, além das adicionais que forem

requisitadas pelo(s) órgão(s) ambiental(ais) competente(s) para o

licenciamento, de maneira a poder tornar públicas as características do

empreendimento e suas prováveis conseqüências ambientais e sócio-

econômicas.

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123

§ 4º - Para o empreendimento que entrou em operação a partir de 1º de

fevereiro de 1986, sua regularização se dará pela obtenção da LO, para a qual

será necessária a apresentação de RIMA contendo, no mínimo, as seguintes

informações: descrição do empreendimento; impactos ambientais positivos e

negativos provocados em sua área de influência; descrição das medidas de

proteção ambiental e mitigadoras dos impactos ambientais negativos adotados

ou em vias de adoção, além de outros estudos ambientais já realizados pela

concessionária.

§ 5º - Para o empreendimento que entrou em operação anteriormente a 1º de

fevereiro de 1986, sua regularização se dará pela obtenção da LO sem a

necessidade de apresentação de RIMA, mas com a concessionária

encaminhando ao(s) órgão(s) estadual(ais) a descrição geral do

empreendimento; a descrição do impacto ambienta1 provocado e as medidas

de proteção adotadas ou em vias de adoção..

Art. 13 - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

ANEXO DA RESOLUÇÃO CONAMA N.º 006

DOCUMENTOS NECESSÁRIOS AO LICENCIAMENTO

TIPOS DE LICENÇA

USINAS HIDRELÉTRICAS

USINAS TERMELÉTRICAS

LINHAS DE TRANSMISSÃO

Licença Prévia (LP)

Requerimento de Licença Prévia

Portaria MME autorizando o Estudo da Viabilidade

Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) sintético e integral, quando necessário.

Cópia da publicação de pedido na LP

Requerimento de Licença Prévia

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Cópia de Publicação do pedido de LP

Portaria MME autorizando o Estudo da Viabilidade

Alvará de pesquisa ou lavra do DNPN, quando couber

Manifestação da Prefeitura

RIMA (sintético e integral)

Requerimento de Licença Prévia

Cópia de publicação de pedido de LP

RIMA (sintético e integral)

Licença de Instalação (LI)

Relatório do Estudo de Viabilidade.

Requerimento de licença de Instalação.

Cópia da publicação da concessão da LP

Cópia da Publicação de pedido de LI

Cópia do Decreto de outorga de concessão do aprovei-tamento hidrelétrico

Projeto Básico Ambiental

Requerimento de Licença de Instalação

Cópia da publicação da concessão da LP

Cópia da publicação do pedido de LI

Relatório de Viabilidade aprovado pelo DNAEE

Projeto Básico Ambiental

Requerimento de Licença de Instalação

Cópia da publicação da concessão de LP

Cópia da publicação do pedido de LI

Projeto Básico Ambiental

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Licença de Operação (LO)

Requerimento de Licença de Operação

Cópia da Publicação da Concessão da LI

Cópia da Publicação de pedido de LO.

Requerimento de Licença de Operação

Cópia da publicação de concessão da LI

Cópia da publicação do pedido de LO

Portaria do DNAEE de aprovação do Projeto Básico

Portaria do MME autorizando a implantação do empreendimento

Requerimento de Licença de Operação

Cópia da publicação de concessão da LI

Cópia da publicação do pedido de LO

Cópia da Portaria DNAEE aprovando o Projeto

Cópia da Portaria MME (Servidão Administrativa).

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126

Anexo III: RESOLUÇÃO Nº 237 , de 19 de dezembro de 1997

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, no uso das

atribuições e competências que lhe são conferidas pela Lei nº 6.938, de 31 de

agosto de 1981, regulamentadas pelo Decreto nº 99.274, de 06 de junho de

1990, e tendo em vista o disposto em seu Regimento Interno, e

Considerando a necessidade de revisão dos procedimentos e critérios

utilizados no licenciamento ambiental, de forma a efetivar a utilização do

sistema de licenciamento como instrumento de gestão ambiental, instituído

pela Política Nacional do Meio Ambiente;

Considerando a necessidade de se incorporar ao sistema de licenciamento

ambiental os instrumentos de gestão ambiental, visando o desenvolvimento

sustentável e a melhoria contínua;

Considerando as diretrizes estabelecidas na Resolução CONAMA nº 011/94,

que determina a necessidade de revisão no sistema de licenciamento

ambiental;

Considerando a necessidade de regulamentação de aspectos do licenciamento

ambiental estabelecidos na Política Nacional de Meio Ambiente que ainda não

foram definidos;

Considerando a necessidade de ser estabelecido critério para exercício da

competência para o licenciamento a que se refere o artigo 10 da Lei no 6.938,

de 31 de agosto de 1981;

Considerando a necessidade de se integrar a atuação dos órgãos competentes

do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA na execução da Política

Nacional do Meio Ambiente, em conformidade com as respectivas

competências, resolve:

Art. 1º - Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições:

I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão

ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a

operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos

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127

ambientais , consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas

que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando

as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao

caso.

II - Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o órgão ambiental

competente, estabelece as condições, restrições e medidas de controle

ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou

jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou

atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou

potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam

causar degradação ambiental.

III - Estudos Ambientais: são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos

ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de

uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise

da licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle

ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de

manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco.

III – Impacto Ambiental Regional: é todo e qualquer impacto ambiental que

afete diretamente (área de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o

território de dois ou mais Estados.

Art. 2º- A localização, construção, instalação, ampliação, modificação e

operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos

ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os

empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação

ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão ambiental

competente, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.

§ 1º- Estão sujeitos ao licenciamento ambiental os empreendimentos e as

atividades relacionadas no Anexo 1, parte integrante desta Resolução.

§ 2º – Caberá ao órgão ambiental competente definir os critérios de

exigibilidade, o detalhamento e a complementação do Anexo 1, levando em

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128

consideração as especificidades, os riscos ambientais, o porte e outras

características do empreendimento ou atividade.

Art. 3º- A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas

efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio

dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de

impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade,

garantida a realização de audiências públicas, quando couber, de acordo com

a regulamentação.

Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando que a atividade ou

empreendimento não é potencialmente causador de significativa degradação

do meio ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo

processo de licenciamento.

Art. 4º - Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis - IBAMA, órgão executor do SISNAMA, o licenciamento

ambiental, a que se refere o artigo 10 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de

1981, de empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental de

âmbito nacional ou regional, a saber:

I - localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no

mar territorial; na plataforma continental; na zona econômica exclusiva; em

terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da União.

II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados;

III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País

ou de um ou mais Estados;

IV - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar

e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia

nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da

Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN;

V- bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a

legislação específica.

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129

§ 1º - O IBAMA fará o licenciamento de que trata este artigo após considerar o

exame técnico procedido pelos órgãos ambientais dos Estados e Municípios

em que se localizar a atividade ou empreendimento, bem como, quando

couber, o parecer dos demais órgãos competentes da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, envolvidos no procedimento de

licenciamento.

§ 2º - O IBAMA, ressalvada sua competência supletiva, poderá delegar aos

Estados o licenciamento de atividade com significativo impacto ambiental de

âmbito regional, uniformizando, quando possível, as exigências.

Art. 5º - Compete ao órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal o

licenciamento ambiental dos empreendimentos e atividades:

I - localizados ou desenvolvidos em mais de um Município ou em unidades de

conservação de domínio estadual ou do Distrito Federal;

II - localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de vegetação

natural de preservação permanente relacionadas no artigo 2º da Lei nº 4.771,

de 15 de setembro de 1965, e em todas as que assim forem consideradas por

normas federais, estaduais ou municipais;

III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais de um

ou mais Municípios;

IV – delegados pela União aos Estados ou ao Distrito Federal, por instrumento

legal ou convênio.

Parágrafo único. O órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal fará o

licenciamento de que trata este artigo após considerar o exame técnico

procedido pelos órgãos ambientais dos Municípios em que se localizar a

atividade ou empreendimento, bem como, quando couber, o parecer dos

demais órgãos competentes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, envolvidos no procedimento de licenciamento.

Art. 6º - Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os órgãos

competentes da União, dos Estados e do Distrito Federal, quando couber, o

licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades de impacto

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ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por

instrumento legal ou convênio.

Art. 7º - Os empreendimentos e atividades serão licenciados em um único nível

de competência, conforme estabelecido nos artigos anteriores.

Art. 8º - O Poder Público, no exercício de sua competência de controle,

expedirá as seguintes licenças:

I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do

empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção,

atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e

condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;

II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou

atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas

e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais

condicionantes, da qual constituem motivo determinante;

III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou

empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das

licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes

determinados para a operação.

Parágrafo único - As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou

sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do

empreendimento ou atividade.

Art. 9º - O CONAMA definirá, quando necessário, licenças ambientais

específicas, observadas a natureza, características e peculiaridades da

atividade ou empreendimento e, ainda, a compatibilização do processo de

licenciamento com as etapas de planejamento, implantação e operação.

Art. 10 - O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes

etapas:

I - Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do

empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais, necessários

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131

ao início do processo de licenciamento correspondente à licença a ser

requerida;

II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos

documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida

publicidade;

III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA , dos

documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a realização de

vistorias técnicas, quando necessárias;

IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental

competente, integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência da

análise dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, quando

couber, podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os

esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios;

V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação

pertinente;

VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental

competente, decorrentes de audiências públicas, quando couber, podendo

haver reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e complementações

não tenham sido satisfatórios;

VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico;

VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida

publicidade.

§ 1º - No procedimento de licenciamento ambiental deverá constar,

obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o

tipo de empreendimento ou atividade estão em conformidade com a legislação

aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for o caso, a autorização para

supressão de vegetação e a outorga para o uso da água, emitidas pelos

órgãos competentes.

§ 2º - No caso de empreendimentos e atividades sujeitos ao estudo de impacto

ambiental - EIA, se verificada a necessidade de nova complementação em

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decorrência de esclarecimentos já prestados, conforme incisos IV e VI, o órgão

ambiental competente, mediante decisão motivada e com a participação do

empreendedor, poderá formular novo pedido de complementação.

Art. 11 - Os estudos necessários ao processo de licenciamento deverão ser

realizados por profissionais legalmente habilitados, às expensas do

empreendedor.

Parágrafo único - O empreendedor e os profissionais que subscrevem os

estudos previstos no caput deste artigo serão responsáveis pelas informações

apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e penais.

Art. 12 - O órgão ambiental competente definirá, se necessário, procedimentos

específicos para as licenças ambientais, observadas a natureza,

características e peculiaridades da atividade ou empreendimento e, ainda, a

compatibilização do processo de licenciamento com as etapas de

planejamento, implantação e operação.

§ 1º - Poderão ser estabelecidos procedimentos simplificados para as

atividades e empreendimentos de pequeno potencial de impacto ambiental,

que deverão ser aprovados pelos respectivos Conselhos de Meio Ambiente.

§ 2º - Poderá ser admitido um único processo de licenciamento ambiental para

pequenos empreendimentos e atividades similares e vizinhos ou para aqueles

integrantes de planos de desenvolvimento aprovados, previamente, pelo órgão

governamental competente, desde que definida a responsabilidade legal pelo

conjunto de empreendimentos ou atividades.

§ 3º - Deverão ser estabelecidos critérios para agilizar e simplificar os

procedimentos de licenciamento ambiental das atividades e empreendimentos

que implementem planos e programas voluntários de gestão ambiental,

visando a melhoria contínua e o aprimoramento do desempenho ambiental.

Art. 13 - O custo de análise para a obtenção da licença ambiental deverá ser

estabelecido por dispositivo legal, visando o ressarcimento, pelo

empreendedor, das despesas realizadas pelo órgão ambiental competente.

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Parágrafo único. Facultar-se-á ao empreendedor acesso à planilha de custos

realizados pelo órgão ambiental para a análise da licença.

Art. 14 - O órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de análise

diferenciados para cada modalidade de licença (LP, LI e LO), em função das

peculiaridades da atividade ou empreendimento, bem como para a formulação

de exigências complementares, desde que observado o prazo máximo de 6

(seis) meses a contar do ato de protocolar o requerimento até seu deferimento

ou indeferimento, ressalvados os casos em que houver EIA/RIMA e/ou

audiência pública, quando o prazo será de até 12 (doze) meses.

§ 1º - A contagem do prazo previsto no caput deste artigo será suspensa

durante a elaboração dos estudos ambientais complementares ou preparação

de esclarecimentos pelo empreendedor.

§ 2º - Os prazos estipulados no caput poderão ser alterados, desde que

justificados e com a concordância do empreendedor e do órgão ambiental

competente.

Art. 15 - O empreendedor deverá atender à solicitação de esclarecimentos e

complementações, formuladas pelo órgão ambiental competente, dentro do

prazo máximo de 4 (quatro) meses, a contar do recebimento da respectiva

notificação

Parágrafo Único - O prazo estipulado no caput poderá ser prorrogado, desde

que justificado e com a concordância do empreendedor e do órgão ambiental

competente.

Art. 16 - O não cumprimento dos prazos estipulados nos artigos 14 e 15,

respectivamente, sujeitará o licenciamento à ação do órgão que detenha

competência para atuar supletivamente e o empreendedor ao arquivamento de

seu pedido de licença.

Art. 17 - O arquivamento do processo de licenciamento não impedirá a

apresentação de novo requerimento de licença, que deverá obedecer aos

procedimentos estabelecidos no artigo 10, mediante novo pagamento de custo

de análise.

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Art. 18 - O órgão ambiental competente estabelecerá os prazos de validade de

cada tipo de licença, especificando-os no respectivo documento, levando em

consideração os seguintes aspectos:

I - O prazo de validade da Licença Prévia (LP) deverá ser, no mínimo, o

estabelecido pelo cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos

relativos ao empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a 5

(cinco) anos.

II - O prazo de validade da Licença de Instalação (LI) deverá ser, no mínimo, o

estabelecido pelo cronograma de instalação do empreendimento ou atividade,

não podendo ser superior a 6 (seis) anos.

III - O prazo de validade da Licença de Operação (LO) deverá considerar os

planos de controle ambiental e será de, no mínimo, 4 (quatro) anos e, no

máximo, 10 (dez) anos.

§ 1º - A Licença Prévia (LP) e a Licença de Instalação (LI) poderão ter os

prazos de validade prorrogados, desde que não ultrapassem os prazos

máximos estabelecidos nos incisos I e II

§ 2º - O órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de validade

específicos para a Licença de Operação (LO) de empreendimentos ou

atividades que, por sua natureza e peculiaridades, estejam sujeitos a

encerramento ou modificação em prazos inferiores.

§ 3º - Na renovação da Licença de Operação (LO) de uma atividade ou

empreendimento, o órgão ambiental competente poderá, mediante decisão

motivada, aumentar ou diminuir o seu prazo de validade, após avaliação do

desempenho ambiental da atividade ou empreendimento no período de

vigência anterior, respeitados os limites estabelecidos no inciso III.

§ 4º - A renovação da Licença de Operação(LO) de uma atividade ou

empreendimento deverá ser requerida com antecedência mínima de 120

(cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na

respectiva licença, ficando este automaticamente prorrogado até a

manifestação definitiva do órgão ambiental competente.

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Art. 19 – O órgão ambiental competente, mediante decisão motivada, poderá

modificar os condicionantes e as medidas de controle e adequação, suspender

ou cancelar uma licença expedida, quando ocorrer:

I - Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais.

II - Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a

expedição da licença.

III - superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.

Art. 20 - Os entes federados, para exercerem suas competências licenciatórias,

deverão ter implementados os Conselhos de Meio Ambiente, com caráter

deliberativo e participação social e, ainda, possuir em seus quadros ou a sua

disposição profissionais legalmente habilitados.

Art. 21 - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, aplicando

seus efeitos aos processos de licenciamento em tramitação nos órgãos

ambientais competentes, revogadas as disposições em contrário, em especial

os artigos 3o e 7º da Resolução CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986.

ANEXO 1

ATIVIDADES OU EMPREENDIMENTOS

SUJEITAS AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Extração e tratamento de minerais

- pesquisa mineral com guia de utilização

- lavra a céu aberto, inclusive de aluvião, com ou sem beneficiamento

- lavra subterrânea com ou sem beneficiamento

- lavra garimpeira

- perfuração de poços e produção de petróleo e gás natural

Indústria de produtos minerais não metálicos

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- beneficiamento de minerais não metálicos, não associados à extração

- fabricação e elaboração de produtos minerais não metálicos tais como:

produção de material cerâmico, cimento, gesso, amianto e vidro, entre outros.

Indústria metalúrgica

- fabricação de aço e de produtos siderúrgicos

- produção de fundidos de ferro e aço / forjados / arames / relaminados com ou

sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia

- metalurgia dos metais não-ferrosos, em formas primárias e secundárias,

inclusive ouro

- produção de laminados / ligas / artefatos de metais não-ferrosos com ou sem

tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia

- relaminação de metais não-ferrosos , inclusive ligas

- produção de soldas e anodos

- metalurgia de metais preciosos

- metalurgia do pó, inclusive peças moldadas

- fabricação de estruturas metálicas com ou sem tratamento de superfície,

inclusive galvanoplastia

- fabricação de artefatos de ferro / aço e de metais não-ferrosos com ou sem

tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia

- têmpera e cementação de aço, recozimento de arames, tratamento de

superfície

Indústria mecânica

- fabricação de máquinas, aparelhos, peças, utensílios e acessórios com e sem

tratamento térmico e/ou de superfície

Indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações

- fabricação de pilhas, baterias e outros acumuladores

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- fabricação de material elétrico, eletrônico e equipamentos para

telecomunicação e informática

- fabricação de aparelhos elétricos e eletrodomésticos

Indústria de material de transporte

- fabricação e montagem de veículos rodoviários e ferroviários, peças e

acessórios

- fabricação e montagem de aeronaves

- fabricação e reparo de embarcações e estruturas flutuantes

Indústria de madeira

- serraria e desdobramento de madeira

- preservação de madeira

- fabricação de chapas, placas de madeira aglomerada, prensada e

compensada

- fabricação de estruturas de madeira e de móveis

Indústria de papel e celulose

- fabricação de celulose e pasta mecânica

- fabricação de papel e papelão

- fabricação de artefatos de papel, papelão, cartolina, cartão e fibra prensada

Indústria de borracha

- beneficiamento de borracha natural

- fabricação de câmara de ar e fabricação e recondicionamento de

pneumáticos

- fabricação de laminados e fios de borracha

- fabricação de espuma de borracha e de artefatos de espuma de borracha ,

inclusive látex

Indústria de couros e peles

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- secagem e salga de couros e peles

- curtimento e outras preparações de couros e peles

- fabricação de artefatos diversos de couros e peles

- fabricação de cola animal

Indústria química

- produção de substâncias e fabricação de produtos químicos

- fabricação de produtos derivados do processamento de petróleo, de rochas

betuminosas e da madeira

- fabricação de combustíveis não derivados de petróleo

- produção de óleos/gorduras/ceras vegetais-animais/óleos essenciais vegetais

e outros produtos da destilação da madeira

- fabricação de resinas e de fibras e fios artificiais e sintéticos e de borracha e

látex sintéticos

- fabricação de pólvora/explosivos/detonantes/munição para caça-desporto,

fósforo de segurança e artigos pirotécnicos

- recuperação e refino de solventes, óleos minerais, vegetais e animais

- fabricação de concentrados aromáticos naturais, artificiais e sintéticos

- fabricação de preparados para limpeza e polimento, desinfetantes, nseticidas,

germicidas e fungicidas

- fabricação de tintas, esmaltes, lacas , vernizes, impermeabilizantes, solventes

e secantes

- fabricação de fertilizantes e agroquímicos

- fabricação de produtos farmacêuticos e veterinários

- fabricação de sabões, detergentes e velas

- fabricação de perfumarias e cosméticos

- produção de álcool etílico, metanol e similares

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Indústria de produtos de matéria plástica

- fabricação de laminados plásticos

- fabricação de artefatos de material plástico

Indústria têxtil, de vestuário, calçados e artefatos de tecidos

- beneficiamento de fibras têxteis, vegetais, de origem animal e sintéticos

- fabricação e acabamento de fios e tecidos

- tingimento, estamparia e outros acabamentos em peças do vestuário e

artigos diversos de tecidos

- fabricação de calçados e componentes para calçados

Indústria de produtos alimentares e bebidas

- beneficiamento, moagem, torrefação e fabricação de produtos alimentares

- matadouros, abatedouros, frigoríficos, charqueadas e derivados de origem

animal

- fabricação de conservas

- preparação de pescados e fabricação de conservas de pescados

- preparação , beneficiamento e industrialização de leite e derivados

- fabricação e refinação de açúcar

- refino / preparação de óleo e gorduras vegetais

- produção de manteiga, cacau, gorduras de origem animal para alimentação

- fabricação de fermentos e leveduras

- fabricação de rações balanceadas e de alimentos preparados para animais

- fabricação de vinhos e vinagre

- fabricação de cervejas, chopes e maltes

- fabricação de bebidas não alcoólicas, bem como engarrafamento e

gaseificação de águas minerais

- fabricação de bebidas alcoólicas

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Indústria de fumo

- fabricação de cigarros/charutos/cigarrilhas e outras atividades de

beneficiamento do fumo

Indústrias diversas

- usinas de produção de concreto

- usinas de asfalto

- serviços de galvanoplastia

Obras civis

- rodovias, ferrovias, hidrovias , metropolitanos

- barragens e diques

- canais para drenagem

- retificação de curso de água

- abertura de barras, embocaduras e canais

- transposição de bacias hidrográficas

- outras obras de arte

Serviços de utilidade

- produção de energia termoelétrica

-transmissão de energia elétrica

- estações de tratamento de água

- interceptores, emissários, estação elevatória e tratamento de esgoto sanitário

- tratamento e destinação de resíduos industriais (líquidos e sólidos)

- tratamento/disposição de resíduos especiais tais como: de agroquímicos e

suas embalagens usadas e de serviço de saúde, entre outros

- tratamento e destinação de resíduos sólidos urbanos, inclusive aqueles

provenientes de fossas

- dragagem e derrocamentos em corpos d’água

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- recuperação de áreas contaminadas ou degradadas

Transporte, terminais e depósitos

- transporte de cargas perigosas

- transporte por dutos

- marinas, portos e aeroportos

- terminais de minério, petróleo e derivados e produtos químicos

- depósitos de produtos químicos e produtos perigosos

Turismo

- complexos turísticos e de lazer, inclusive parques temáticos e autódromos

Atividades diversas

- parcelamento do solo

- distrito e pólo industrial

Atividades agropecuárias

- projeto agrícola

- criação de animais

- projetos de assentamentos e de colonização

Uso de recursos naturais

- silvicultura

- exploração econômica da madeira ou lenha e subprodutos florestais

- atividade de manejo de fauna exótica e criadouro de fauna silvestre

- utilização do patrimônio genético natural

- manejo de recursos aquáticos vivos

- introdução de espécies exóticas e/ou geneticamente modificadas

- uso da diversidade biológica pela biotecnologia

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Anexo IV: RESOLUÇÃO Nº 279 , de 27 de junho de 2001

Estabelece procedimentos para o licenciamento

ambiental simplificado de empreendimentos elétricos

com pequeno potencial de impacto ambiental

O Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA, no uso das competências

que lhe são conferidas pela Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, alterada

pela Lei n° 8.028, de 12 de abril de 1990, regulamentadas pelo Decreto n°

99.274, de 6 de junho de 1990, alterado pelo Decreto n° 2.120, de 13 de

janeiro de 1997, tendo em vista o disposto em Regimento Interno, e

Considerando a necessidade de estabelecer procedimento simplificado para o

licenciamento ambiental, com prazo máximo de sessenta dias de tramitação,

dos empreendimentos com impacto ambiental de pequeno porte, necessários

ao incremento da oferta de energia elétrica no País, nos termos do Art. 8o, par.

3º, da Medida Provisória nº 2.152-2, de 1o de junho de 2001;

considerando, a crise de energia elétrica e a necessidade de atender a

celeridade estabelecida pela Medida Provisória. nº 2.152-2, de 1° de junho de

2001;

considerando a dificuldade de definir-se, a priori, impacto ambiental de

pequeno porte, antes da análise dos estudos ambientais que subsidiam o

processo de licenciamento ambiental e, tendo em vista as diversidades e

peculiaridades regionais, bem como as complexidades de avaliação dos efeitos

sobre o meio ambiente decorrentes da implantação de projetos de energia

elétrica;

considerando as situações de restrição, previstas em leis e regulamentos, tais

como, unidades de conservação de uso indireto, terras indígenas, questões de

saúde pública, espécies ameaçadas de extinção, sítios de ocorrência de

patrimônio histórico e arqueológico, entre outras, e a necessidade de

cumprimento das exigências que regulamentam outras atividades correlatas

com o processo de licenciamento ambiental;

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considerando os dispositivos constitucionais, em especial o Artigo 225,

relativos à garantia de um ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à

sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever

de defendê-lo e preservá-lo para as gerações futuras;

considerando os princípios da eficiência, publicidade, participação e

precaução;

considerando que os procedimentos de licenciamento ambiental atuais são

estabelecidos nas Resoluções CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986, e nº

237, de 19 de dezembro de 1997 e, para empreendimentos do setor elétrico,

de forma complementar, na Resolução CONAMA nº 006, de 16 de setembro

de 1987, resolve:

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1o Os procedimentos e prazos estabelecidos nesta Resolução, aplicam-se,

em qualquer nível de competência, ao licenciamento ambiental simplificado de

empreendimentos elétricos com pequeno potencial de impacto ambiental, aí

incluídos:

I - Usinas hidrelétricas e sistemas associados;

II - Usinas termelétricas e sistemas associados;

III - Sistemas de transmissão de energia elétrica (linhas de transmissão e

subestações).

IV - Usinas Eólicas e outras fontes alternativas de energia.

Parágrafo único. Para fins de aplicação desta Resolução, os sistemas

associados serão analisados conjuntamente aos empreendimentos principais.

Art. 2o Para os fins desta Resolução, são adotadas as seguintes definições:

I – Relatório Ambiental Simplificado (RAS): os estudos relativos aos aspectos

ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de

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uma atividade ou empreendimento, apresentados como subsídio para a

concessão da licença prévia requerida, que conterá, dentre outras, as

informações relativas ao diagnóstico ambiental da região de inserção do

empreendimento, sua caracterização, a identificação dos impactos ambientais

e das medidas de controle, de mitigação e de compensação.

II – Relatório de Detalhamento dos Programas Ambientais – é o documento

que apresenta, detalhadamente, todas as medidas mitigatórias e

compensatórias os programas ambientais propostos no RAS.

III – Reunião Técnica Informativa: Reunião promovida pelo órgão ambiental

competente, às expensas do empreendedor, para apresentação e discussão

do Relatório Ambiental Simplificado, Relatório de Detalhamento dos

Programas Ambientais e demais informações, garantidas a consulta e

participação pública.

IV – Sistemas Associados aos Empreendimentos Elétricos: sistemas elétricos,

pequenos ramais de gasodutos e outras obras de infra-estrutura

comprovadamente necessárias à implantação e operação dos

empreendimentos.

CAPÍTULO II

PROCEDIMENTOS PARA O LICENCIAMENTO AMBIENTAL SIMPLIFICADO

Art. 3o Ao requerer a Licença Prévia ao órgão ambiental competente, na forma

desta Resolução, o empreendedor apresentará o Relatório Ambiental

Simplificado, atendendo, no mínimo, o conteúdo do Anexo I, bem como o

registro na ANEEL, quando couber, e as manifestações cabíveis dos órgãos

envolvidos.

§ 1º O requerimento de licença conterá, dentre outros requisitos, a declaração

de enquadramento do empreendimento a essa Resolução, firmada pelo

responsável técnico pelo RAS e pelo responsável principal do

empreendimento, bem como apresentação do cronograma físico–financeiro a

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partir da Concessão da Licença e Instalação, com destaque para a data de

início das obras.

§ 2º A Licença Prévia somente será expedida, mediante apresentação, quando

couber, da outorga de direito dos recursos hídricos ou da reserva de

disponibilidade hídrica.

Art. 4o O órgão ambiental competente definirá, com base no Relatório

Ambiental Simplificado, o enquadramento do empreendimento elétrico no

procedimento de licenciamento ambiental simplificado, mediante decisão

fundamentada em parecer técnico.

§ 1º Os empreendimentos que, após análise do órgão ambiental competente,

não atenderem ao disposto no caput ficarão sujeitos ao licenciamento não

simplificado, na forma da legislação vigente, o que será comunicado, no prazo

de até 10 (dez) dias úteis, ao empreendedor.

§ 2º Os estudos e documentos juntados ao RAS poderão ser utilizados no

Estudo Prévio de Impacto Ambiental, com ou sem complementação, após

manifestação favorável do órgão ambiental.

Art. 5o Ao requerer a Licença de Instalação ao órgão ambiental competente,

na forma desta Resolução, o empreendedor apresentará a comprovação do

atendimento das condicionantes da Licença Prévia, o Relatório de

Detalhamento dos Programas Ambientais, e outras informações, quando

couber.

Parágrafo único. A Licença de Instalação somente será expedida mediante a

comprovação, quando couber, da Declaração de Utilidade Pública do

empreendimento, pelo empreendedor.

Art. 6o O prazo para emissão da Licença Prévia - LP e da Licença de

Instalação - LI será de, no máximo, 60 (sessenta) dias, contados a partir da

data do protocolo do requerimento das respectivas licenças.

§ 1o Quando for necessária, a critério do órgão ambiental competente,

mediante justificativa técnica, a realização de estudos complementares, a

contagem do prazo será suspensa até a sua entrega.

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§ 2o O prazo de suspensão será de até 60 (sessenta) dias, podendo ser

prorrogado pelo órgão ambiental mediante solicitação fundamentada do

empreendedor.

§ 3o A não apresentação dos estudos complementares no prazo final previsto

no parágrafo anterior acarretará o cancelamento do processo de

licenciamento.

§ 4o A licença de instalação perderá sua eficácia caso o empreendimento não

inicie sua implementação no prazo indicado pelo empreendedor conforme

cronograma apresentado, facultada sua prorrogação pelo órgão ambiental

mediante provocação justificada.

Art. 7o Aos empreendimentos que já se encontrarem em processo de

licenciamento ambiental na data da publicação desta Resolução e se

enquadrarem nos seus pressupostos, poderá ser aplicado o licenciamento

ambiental simplificado, desde que requerido pelo empreendedor.

Art. 8o Sempre que julgar necessário, ou quando for solicitado por entidade

civil, pelo Ministério Público, ou por 50 (cinqüenta) pessoas maiores de 18

(dezoito) anos, o órgão de meio ambiente promoverá Reunião Técnica

Informativa.

§ 1º A solicitação para realização da Reunião Técnica Informativa deverá

ocorrer no prazo de até 20 (vinte) dias após a data de publicação do

requerimento das licenças pelo empreendedor.

§ 2º A Reunião Técnica Informativa será realizada em até 20 (vinte) dias a

contar da data de solicitação de sua realização e deverá ser divulgada pelo

empreendedor.

§ 3º Na Reunião Técnica Informativa será obrigatório o comparecimento do

empreendedor, das equipes responsáveis pela elaboração do Relatório

Ambiental Simplificado e do Relatório de Detalhamento dos Programas

Ambientais, e de representantes do órgão ambiental competente.

§ 4º Qualquer pessoa poderá se manifestar por escrito no prazo de 40 dias da

publicação do requerimento de Licença nos termos desta Resolução cabendo

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o órgão ambiental juntar as manifestações ao processo de Licenciamento

ambiental e considerá-las na fundamentação da emissão da licença ambiental.

Art. 9º A Licença de Operação será emitida pelo órgão ambiental competente

no prazo máximo de 60 (sessenta) dias após seu requerimento, desde que

tenham sido cumpridas todas as condicionantes da Licença de Instalação, no

momento exigíveis, antes da entrada em operação do empreendimento,

verificando-se, inclusive, quando for o caso, por meio da realização de testes

pré-operacionais necessários, previamente autorizados.

Art. 10 As exigências e as condicionantes estritamente técnicas das licenças

ambientais constituem obrigação de relevante interesse ambiental.

Art. 11 O empreendedor, durante a implantação e operação do

empreendimento comunicará ao órgão ambiental competente a identificação

de impactos ambientais não descritos no Relatório Ambiental Simplificado e

no Relatório de Detalhamento dos Programas Ambientais, para as

providências que se fizerem necessárias.

Art. 12 O órgão ambiental competente, mediante decisão motivada,

assegurado o princípio do contraditório, ressalvadas as situações de

emergência ou urgência poderá, a qualquer tempo, modificar as

condicionantes e as medidas de controle e adequação do empreendimento,

suspender ou cancelar a licença expedida, quando ocorrer:

I – violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou infração a normas

legais; ou,

II – superveniência de graves riscos ambientais ou à saúde.

Parágrafo único. É nula de pleno direito a licença expedida com base em

informações ou dados falsos, enganosos ou capazes de induzir a erro, não

gerando a nulidade qualquer responsabilidade civil para o Poder Público em

favor do empreendedor.

Art. 13 As publicações de que trata esta Resolução deverão ser feitas em

Diário Oficial e em jornal de grande circulação ou outro meio de comunicação

amplamente utilizado na região onde se pretende instalar o empreendimento

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devendo constar a identificação do empreendedor, o local de abrangência e o

tipo de empreendimento, assim como o endereço e telefone do órgão

ambiental competente.

§ 1º O empreendedor deverá encaminhar cópia da publicação de que trata o

caput deste artigo ao conselho de meio ambiente competente.

§ 2º A divulgação por meio de rádio, quando determinada pelo órgão ambiental

competente ou a critério do empreendedor, deverá ocorrer por no mínimo três

vezes ao dia durante três dias consecutivos em horário das 6:00 às 20:00.

Art. 14 A aplicação desta Resolução será avaliada pelo Plenário do CONAMA

um 1 ano após a sua publicação.

Art. 15 Esta Resolução entra em vigor na data da sua publicação.

ANEXO I

PROPOSTA DE CONTEÚDO MÍNIMO PARA O RELATÓRIO AMBIENTAL

SIMPLIFICADO

A. Descrição do Projeto

Objetivos e justificativas, em relação e compatibilidade com as políticas

setoriais, planos e programas governamentais;

Descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais,

considerando a hipótese de não realização, especificando a área de influência;

B. Diagnóstico e Prognóstico Ambiental

Diagnóstico ambiental;

Descrição dos prováveis impactos ambientais e sócio-econômicos da

implantação e operação da atividade, considerando o projeto, suas

alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os

métodos, técnicas e critérios para sua identificação, quantificação e

interpretação;

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Caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência,

considerando a interação dos diferentes fatores ambientais;

C. Medidas Mitigadoras e Compensatórias

Medidas mitigadoras e compensatórias, identificando os impactos que não

possam ser evitados;

Recomendação quanto à alternativa mais favorável;

Programa de acompanhamento, monitoramento e controle.