avaliação da responsabilidade ambiental de uma pme do sector da metalomecânica

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  • MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA DO AMBIENTE

    Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    Patrcia Lusa Almeida Soares

    Dissertao submetida para obteno do grau de MESTRE EM ENGENHARIA DO AMBIENTE RAMO DE GESTO

    ___________________________________________________________

    Presidente do Jri: Manuel Afonso Magalhes da Fonseca Almeida (Professor Associado do Departamento de Engenharia Metalrgica e de Materiais da

    Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto)

    ___________________________________________________________ Orientador acadmico: Belmira de Almeida Ferreira Neto

    (Professora Auxiliar do Departamento de Engenharia Metalrgica e de Materiais da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto)

    ___________________________________________________________

    Co-orientador acadmico: Antnio Manuel Antunes Fiza (Professor Catedrtico do Departamento de Engenharia de Minas da Faculdade de

    Engenharia da Universidade do Porto)

    ___________________________________________________________ Orientador na empresa: Maria Cludia Sotto-Mayor Rgo Ribeiro

    (Engenheira Responsvel do Departamento de Ambiente e Higiene e Segurana do Centro de Apoio Tecnolgico Indstria Metalomecnica)

    Porto, Outubro de 2011

  • MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA DO AMBIENTE 2010/2011 Editado por FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO Rua Dr. Roberto Frias 4200-465 PORTO Portugal Tel. +351-22-508 1400 Fax +351-22-508 1440 Correio electrnico: [email protected] Endereo electrnico: http://www.fe.up.pt Reprodues parciais deste documento sero autorizadas na condio que seja mencionado o Autor e feita referncia a Mestrado Integrado em Engenharia do Ambiente 2010/2011 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2011. As opinies e informaes includas neste documento representam unicamente o ponto de vista do respectivo Autor, no podendo o Editor aceitar qualquer responsabilidade legal ou outra em relao a erros ou omisses que possam existir.

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    i

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a todos os que tornaram possvel a realizao deste trabalho, ao Eng. Hildebrando

    Vasconcelos, Eng. Cludia Ribeiro, Eng Ana Teixeira e Marisa Santos do CATIM, Dr. Goreti

    Oliveira e Eng Ana Correia e aos Professores Doutora Belmira Neto, Doutor Antnio Fiza e

    Doutora Aurora Futuro Silva da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

    Agradeo ainda ao Andr, Nuno e Sandra.

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    iii

    RESUMO

    A responsabilidade por danos ambientais constitui um instrumento legal de proteco do

    ambiente actualmente em vigor em Portugal e na Europa. Segundo a legislao vigente,

    aprovada pelo Decreto-Lei n 147/2008, de 29 de Julho, todas as organizaes causadoras de

    danos no ambiente so obrigadas a realizar as medidas de reparao primria, complementar

    ou compensatria, necessrias restituio da situao anterior ocorrncia dos danos. So

    tambm responsveis por suportar os custos associados reparao dos danos.

    Neste contexto, existem vrias organizaes de pequena e mdia dimenso, com riscos

    ambientais moderados e com escassez de recursos tcnicos e financeiros, que se confrontam

    com a necessidade de avaliar os riscos ambientais associados s suas actividades, bem como

    determinar os custos que podero resultar da implementao das eventuais medidas de

    reparao. Salienta-se, no entanto, que a legislao vigente no especifica qual a metodologia

    a usar para avaliao da responsabilidade por danos ambientais.

    O trabalho realizado consiste na definio e aplicao de uma metodologia de identificao

    dos eventuais danos ambientais causados pela actividade de uma instalao industrial, de

    mdia dimenso do sector da metalomecnica, e de clculo dos custos associados reparao

    desses danos. A metodologia tem por base o enquadramento estabelecido pelo Decreto-Lei n

    147/2008, de 29 de Julho, e recorre identificao de cenrios de dano ambiental e

    estimativa dos custos associados sua reparao. Foram identificados e caracterizados oito

    cenrios de dano sobre a gua e o solo, dos quais foram avaliados dois, de modo a identificar

    os tipos de medidas de reparao a implementar, bem como os custos associados. Foi ainda

    realizada uma caracterizao do ambiente no local e na envolvente da instalao, no que diz

    respeito s guas superficiais, subterrneas, solos e espcies e habitats naturais protegidos,

    com recurso a informao existente em bases de dados nacionais e comunitrias. Esta

    informao foi complementada com a realizao de caracterizaes fsico-qumicas do solo e

    da gua do poo da instalao.

    Concluiu-se que, para os dois cenrios avaliados, os custos de reparao, primria e

    compensatria, so de cerca de 240 mil , para o cenrio de contaminao do solo por

    emulses oleosas numa extenso de pequena dimenso, e de cerca de 500 mil para o

    cenrio de contaminao do solo por metais pesados num extenso suficiente para afectar o

    aqufero. Estes resultados podem ser utilizados pela empresa como factor de deciso para a

    constituio de uma ou mais garantias financeiras, obrigatrias ao abrigo do diploma legal da

    responsabilidade por danos ambientais.

    Palavras-chave: responsabilidade ambiental, risco ambiental, garantia financeira e gesto do

    risco.

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    v

    ABSTRACT

    Environmental liability constitutes a legal instrument for preventing and remedying

    environmental damage, and is now in force in Portugal and Europe. In Portugal the

    Environmental Liability Directive (Directive 2004/35/EC) was transposed by decree-law n

    147/2008. According to current legislation, those who cause environmental damage have to

    take and pay for the costs of remedial measures. These remedial measures can be primary,

    complementary and compensatory.

    Many small and medium companies, with reasonable environmental risk and low technical and

    financial resources, faces the need to estimate the environmental risks related with its own

    activities. Moreover, these companies need to estimate the costs that could result from the

    implementation of remedial measures. However, it should be noted that the current

    legislation does not specify the methodology to evaluate the liability for environmental

    damage.

    This study defines and implements a methodology to identify environmental damage caused

    by the activity of a medium scale metal industry, as well as the calculation of the cost

    corresponding to the remedial measures. The methodology, based on the environmental

    liability directive, creates environmental damages scenarios and sets the cost of its remedial

    measures. Eight scenarios of water and soil damages were created, and two of the previous

    were studied, in order to set the remedial measures and its cost. Furthermore, an

    environmental characterization was made on site, respecting superficial water, groundwater,

    soil, protected species and natural habitats. This characterization was supported by

    Portuguese and European databases, as well as soil and groundwater analysis. It was

    concluded that for the two studied scenarios, the cost of the environmental remedial

    measures (primary and compensatory) is about 240 k for a scenario of hydrocarbons soil

    contamination, and about 500 k for a scenario of heavy metal soil and groundwater

    contamination. These results can be used by the organization to decide for one or more

    required financial guarantees, under the statute of environmental damage liability.

    Keywords: environmental liability, environmental risk, financial guarantee and risk

    management.

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    vii

    NDICE

    1. INTRODUO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1

    1.1 OBJECTIVOS E MBITO --------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2

    1.2 ORGANIZAO DA DISSERTAO -------------------------------------------------------------------------------------------------- 2

    2. A RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS --------------------------------------------------------------------------------- 3

    2.1 REGIME JURDICO DA RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS EM PORTUGAL: DESCRIO DO DIPLOMA LEGAL ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3

    2.1.1 Aspectos importantes da aplicao do regime jurdico da responsabilidade por danos ambientais -- 10

    2.2 RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS NA UNIO EUROPEIA -------------------------------------------------- 11

    3. METODOLOGIA DE AVALIAO DA RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS ---------------------------------- 14

    3.1 NORMAS DE ANLISE DE RISCO: ISO 31000 E UNE 150008 --------------------------------------------------------------- 14

    3.1.1 A norma internacional ISO 31000 (Gesto de risco princpios e orientaes) ---------------------------- 15

    3.1.2 A norma espanhola UNE 150008 (Anlise e avaliao do risco ambiental) ---------------------------------- 18

    3.2 IDENTIFICAO DA METODOLOGIA USADA NO TRABALHO -------------------------------------------------------------- 22

    3.2.1 Identificao de cenrios de dano ambiental ----------------------------------------------------------------------- 22

    3.2.1.1 Identificao das fontes, eventos e factores condicionantes ------------------------------------------ 24

    3.2.1.2 Caracterizao do local e da rea envolvente da instalao industrial ------------------------------ 24

    3.2.2 Identificao das medidas de reparao e do custo associado a cada cenrio ----------------------------- 25

    4. AVALIAO DA RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS DE UMA INSTALAO INDUSTRIAL DO SECTOR DA METALOMECNICA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 27

    4.1 CARACTERIZAO DA INSTALAO INDUSTRIAL E DO MEIO ENVOLVENTE ------------------------------------------- 27

    4.1.1 Descrio dos processos da instalao industrial ------------------------------------------------------------------ 29

    4.1.2 Caracterizao ambiental do local e envolvente ------------------------------------------------------------------- 34

    4.2 AVALIAO DOS DANOS AMBIENTAIS ------------------------------------------------------------------------------------------ 39

    4.2.1 Identificao de cenrios de dano ambiental ----------------------------------------------------------------------- 39

    4.2.2 Identificao das medidas de reparao e do custo associado a cada cenrio ----------------------------- 46

    4.2.3 Anlise de sensibilidade -------------------------------------------------------------------------------------------------- 47

    5. CONCLUSES, LIMITAES E PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS -------------------------------------------------- 49

    ANEXO A ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 55

    ANEXO B ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 67

    ANEXO C------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 68

    ANEXO D ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 76

    ANEXO E ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 77

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    viii

    NDICE DE FIGURAS ........................................................................................... PG.

    Figura 1. Processo de gesto do risco segundo a ISO 31000 [9] .................................................................................. 16

    Figura 2. Processo de identificao, avaliao e gesto do risco ambiental segundo a UNE 150008 [10] ................... 19

    Figura 3. Fases da metodologia de avaliao da responsabilidade por danos ambientais .......................................... 22

    Figura 4. Tarefas a realizar durante a Fase 1 (Identificao de cenrios de dano ambiental) ..................................... 23

    Figura 5. Tarefas a realizar durante a Fase 2 (identificao das medidas de reparao e dos custos associados a cada cenrio) ........................................................................................................................................................................ 26

    Figura 6. Envolvente da instalao em estudo (Fonte: GoogleEarth 2011) ................................................................. 28

    Figura 7. Fluxograma do processo produtivo da instalao industrial em estudo ....................................................... 29

    Figura 8. Localizao do poo de captao e ligaes ao exterior das redes de guas pluviais, guas residuais industriais e domsticas (Fonte: GoogleEarth 2011) ................................................................................................... 33

    Figura 9. Rede hidrogrfica na envolvente da rea em estudo [12] ............................................................................ 34

    Figura 10. Localizao da estao de Perres e classificao da qualidade da gua nesta estao [13] ..................... 35

    Figura 11. Unidades hidrogeolgicas de Portugal e sistemas aquferos da unidade Orla Ocidental [13 e 15] ............ 35

    Figura 12. Caracterizao litolgica do local da instalao e sua envolvente [12] ....................................................... 36

    Figura 13. Caracterizao dos solos no local da instalao e sua envolvente [12]....................................................... 37

    Figura 14. Localizao da Rede Natura 2000 na envolvente da instalao industrial [14] ........................................... 38

    Figura E1. Resultados da medio n. 1 de metais no solo .......................................................................................... 77

    Figura E2. Resultados da medio n. 2 de metais no solo .......................................................................................... 78

    Figura E3. Local de medio de metais (medio n. 1) ............................................................................................... 78

    Figura E4. Local de medio de metais (medio n. 2) ............................................................................................... 78

    Figura E5. Distribuio granulomtrica do solo (histograma) ...................................................................................... 79

    Figura E6. Distribuio dos cmulos inferiores ............................................................................................................ 80

    Figura E7. Identificao da amostra analisada no diagrama triangular de solo ........................................................... 81

    Figura E8. Ilustrao do processo de recolha da amostra de solo ............................................................................... 81

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    ix

    NDICE DE TABELAS ........................................................................................... PG.

    Tabela 1. Definies do Decreto-Lei n. 147/2008 com a alterao introduzida pelo Decreto-Lei n245/2009 [1 e 3] 5

    Tabela 2. Actividades produtivas da instalao industrial em estudo ......................................................................... 30

    Tabela 3. Actividades de suporte da instalao industrial em estudo ......................................................................... 31

    Tabela 4. Descrio do cenrio C1 ............................................................................................................................... 42

    Tabela 5. Descrio do cenrio C2 ............................................................................................................................... 42

    Tabela 6. Descrio do cenrio C3 ............................................................................................................................... 43

    Tabela 7. Descrio do cenrio C4 ............................................................................................................................... 43

    Tabela 8. Descrio do cenrio C5 ............................................................................................................................... 44

    Tabela 9. Descrio do cenrio C6 ............................................................................................................................... 44

    Tabela 10. Descrio do cenrio C7 ............................................................................................................................. 45

    Tabela 11. Descrio do cenrio C8 ............................................................................................................................. 45

    Tabela 12. Medidas de reparao e determinao dos custos de reparao para o cenrio C3 ................................. 46

    Tabela 13. Medidas de reparao e determinao dos custos de reparao para o cenrio C4 ................................. 47

    Tabela 14. Gama de variao dos parmetros considerados e resultados obtidos na anlise de sensibilidade .......... 48

    Tabela B1. Caractersticas (perigosidade e volume) dos banhos de tratamento de superfcie da instalao em estudo ..................................................................................................................................................................................... 67

    Tabela C1. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de cromagem) .......... 68

    Tabela C2. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de pintura) ............... 69

    Tabela C3. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de manuteno) ....... 72

    Tabela C4. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de desengorduramento) ................................................................................................................................................... 73

    Tabela C5. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de montagem) .......... 74

    Tabela C6. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de polimento) ........... 74

    Tabela C7. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (ETAR) ......................................... 74

    Tabela C8. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de soldadura) ........... 75

    Tabela C9. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (produtos usados como combustvel)................................................................................................................................................................. 75

    Tabela D1. Resultados da caracterizao da gua do poo da instalao em estudo e valores de referncia para contaminao de gua subterrnea............................................................................................................................. 76

    Tabela E1. Resultados da medio de metais no solo e valores de referncia para contaminao de solo ................ 77

    Tabela E2. Resultados da determinao de carbono orgnico e inorgnico no solo ................................................... 78

    Tabela E3. Resultados da distribuio granulomtrica do solo .................................................................................... 79

    Tabela E4. Repartio por classe textural do solo (pedregulho, areia, silte e argila) ................................................... 80

    Tabela E5. Repartio por classe textural do solo (areia, silte e argila) ....................................................................... 80

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    x

    SMBOLOS E ABREVIATURAS

    EU European Union

    PME Pequena e Mdia Empresa

    APA Agncia Portuguesa do Ambiente

    SNIRH Sistema Nacional de Informao de Recursos Hdricos

    SNIAMB Sistema Nacional de Informao do Ambiente

    UNE Una Norma Espaola

    ISO International Organization for Standardization

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    1

    1. INTRODUO

    A legislao nacional e comunitria tem promovido a proteco do ambiente, pondo em

    prtica os princpios estabelecidos na Lei de Bases do Ambiente, aprovada pela Lei n. 11/87,

    publicada no Dirio da Repblica n. 81, 1. srie, de 7 de Abril de 1987.

    Especificamente o princpio da responsabilizao foi reforado com a publicao, em Julho de

    2008, de um diploma legal (Decreto-Lei n. 147/2008) que estabeleceu o regime jurdico da

    responsabilidade por danos ambientais.

    Para efeitos legais, a partir desta data, todos os que causem danos ao ambiente no mbito de

    uma actividade econmica ficam obrigados a realizar as medidas de reparao necessrias e

    suportar os custos associados. Contudo, e seguindo as directrizes estabelecidas pela directiva

    comunitria de base, somente so considerados na anlise as espcies e habitats naturais

    protegidos, as guas e os solos quando as aces que resultam nestes possam pr em risco a

    sade humana. Para alm da obrigatoriedade de reparao dos danos ambientais, uma grande

    parte das organizaes ainda obrigada a constituir uma garantia financeira que lhe permita

    assumir a responsabilidade pelo dano causado.

    O diploma legal referido aplica-se, assim, a um universo vasto de organizaes, de dimenso,

    potenciais riscos ambientais e capacidade tcnica e financeira muito diversificadas. Salienta-se

    que muitas das organizaes no esto familiarizadas com metodologias de avaliao e

    preveno do risco ambiental. Para alm disso, os seguros de responsabilidade civil da maior

    parte das organizaes no permitem fazer face a esta nova obrigao de reparao dos danos

    causados ao ambiente.

    Neste contexto, e na ausncia de uma metodologia especfica definida pelas entidades

    competentes para a avaliao econmica de danos ambientais ou para a avaliao do risco

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    2

    ambiental, surge a necessidade de desenvolver uma metodologia que possa ser usada por

    organizaes de pequena e mdia dimenso e riscos ambientais moderados, de modo a

    determinar o custo associado reparao dos potenciais danos causados ao ambiente. Os

    resultados podem ser usados pelas organizaes na gesto dos seus riscos ambientais,

    nomeadamente na constituio de uma garantia financeira, obrigatria ao abrigo do Decreto-

    Lei n. 147/2008, que permita repor a situao anterior verificada antes da ocorrncia do

    dano.

    1.1 OBJECTIVOS E MBITO

    Este trabalho tem como objectivo a determinao do custo que poder estar associado

    reparao dos potenciais danos causados ao ambiente de uma instalao industrial de mdia

    dimenso do sector da metalomecnica, localizada no distrito de Aveiro.

    A metodologia desenvolvida tem por base a metodologia de cenrios e segue o preconizado

    no diploma da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n. 147/2008). Os cenrios avaliados

    dizem respeito a danos sobre as guas e solos, tendo sido excludos do mbito do trabalho os

    cenrios de dano que focam as espcies e habitats naturais protegidos.

    1.2 ORGANIZAO DA DISSERTAO

    A dissertao est estruturada em cinco captulos. Neste primeiro captulo enquadrado o

    tema da responsabilidade por danos ambientais e descrita a motivao para a realizao deste

    trabalho. So ainda identificados os objectivos e o mbito, bem como a organizao da

    dissertao.

    No segundo captulo apresentado o regime jurdico da responsabilidade por danos

    ambientais, bem como alguns aspectos relevantes da sua aplicao. ainda realizado o

    enquadramento deste tema na Unio Europeia.

    No terceiro captulo apresentada a metodologia usada no trabalho. So ainda descritas duas

    abordagens normativas de gesto do risco ambiental.

    No quarto captulo caracterizada a instalao em estudo e avaliada a responsabilidade por

    danos ambientais, tendo por base a metodologia apresentada no terceiro captulo.

    No quinto captulo so apresentadas as principais concluses e limitaes do trabalho

    realizado. Neste captulo tambm so identificadas recomendaes para trabalhos futuros.

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    3

    2. A RESPONSABILIDADE POR DANOS

    AMBIENTAIS

    2.1 REGIME JURDICO DA RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS EM

    PORTUGAL: DESCRIO DO DIPLOMA LEGAL

    O regime jurdico da responsabilidade por danos ambientais foi estabelecido pelo Decreto-Lei

    n. 147/2008, publicado no Dirio da Repblica n. 145, 1. srie, de 29 de Julho de 2008, cujo

    texto apresentado na ntegra no Anexo A [1]. Entrou em vigor a 1 de Agosto de 2008 e

    constituiu a transposio para a ordem jurdica nacional da Directiva 2004/35/CE, do

    Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Abril de 2004 [2].

    Desde a data de transposio, o diploma legal anteriormente referido foi objecto de duas

    alteraes. Uma rectificou a definio de danos causados gua, anulando a excepo a

    referenciada, e a outra est relacionada com a criao de uma portaria regulamentar

    relacionada com a garantia financeira prevista no diploma legal. Estas alteraes foram

    introduzidas por dois diplomas legais, nomeadamente o Decreto-Lei n 245/2009 (publicado

    no Dirio da Repblica n 184, 1 srie, de 22 de Setembro de 2009) e o Decreto-Lei n. 29-

    A/2011 (publicado no Suplemento ao Dirio da Repblica n 42, 1 Srie, de 1 de Maro de

    2011) [3 e 4].

    A entidade competente para efeitos da sua aplicao a Agncia Portuguesa do Ambiente

    (APA). As entidades fiscalizadoras so a Inspeco-Geral do Ambiente e do Ordenamento do

    Territrio (IGAOT), a APA e o Servio de Proteco da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da

    Guarda Nacional Republicana (GNR). Como diploma complementar identifica-se o Despacho

    n. 12778/2010 (publicado no Dirio da Repblica n. 153, 2. srie, de 9 de Agosto de 2010)

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    4

    que determina a criao da Comisso Permanente de Acompanhamento para a

    Responsabilidade Ambiental (CPA-RA), composta por elementos da APA, do Instituto da

    Conservao da Natureza e da Biodiversidade, I.P. (ICNB), do Instituto da gua, I.P. (INAG), das

    Administraes das Regies Hidrogrficas, I.P. (ARH) e das Comisses de Coordenao e

    Desenvolvimento Regional (CCDR). Os objectivos desta comisso so o estabelecimento de

    mecanismos de articulao expeditos e o auxlio da APA na tomada de decises, atravs da

    cooperao tcnica e partilha de informao entre as vrias entidades, sempre que esteja em

    causa um dano ambiental ou ameaa eminente desse dano.

    O Decreto-Lei n. 147/2008 composto por cinco captulos e seis anexos, sendo de destacar o

    captulo III que estabelece a responsabilidade administrativa pela preveno e reparao de

    danos ambientais e os anexos III (enumera as actividades econmicas abrangidas pela

    responsabilidade objectiva), IV (estabelece orientaes para avaliao do carcter significativo

    dos danos causados aos espcies e habitats naturais protegidos) e V (tece consideraes

    importantes acerca das medidas de reparao dos danos ambientais).

    O mbito de aplicao do diploma so os danos ambientais, bem como as ameaas iminentes

    desses danos, causados em resultado do exerccio de uma qualquer actividade desenvolvida

    no mbito de uma actividade econmica, independentemente do seu carcter pblico ou

    privado, lucrativo ou no. Alguns aspectos associados responsabilidade ambiental no so,

    no entanto, aplicados em determinadas circunstncias. Estes so listados no captulo I do

    diploma legal e referem-se a, por exemplo, danos ambientais causados por actos de conflito

    armado; fenmenos naturais de carcter totalmente excepcional; actividades cujo principal

    objectivo reside na defesa nacional ou na segurana internacional; outras actividades cujo

    nico objectivo reside na proteco contra catstrofes naturais; incidentes relativamente aos

    quais a responsabilidade seja abrangida pelo mbito de aplicao de convenes

    internacionais; outras decorrentes de riscos nucleares ou causados pelas actividades

    abrangidas pelo Tratado que institui a Comunidade Europeia da Energia Atmica ou por

    incidentes ou actividades relativamente aos quais a responsabilidade ou compensao seja

    abrangida pelo mbito de outros instrumentos internacionais.

    fundamental a compreenso dos conceitos apresentados no diploma, nomeadamente os de

    danos ambientais, guas, espcies e habitats naturais protegidos, ameaa eminente de danos,

    emisso, recursos naturais, servios de recursos naturais, estado inicial, custos, medidas de

    preveno, medidas de reparao e regenerao dos recursos naturais. A definio destes

    conceitos apresentada na Tabela 1.

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    5

    Tabela 1. Definies do Decreto-Lei n. 147/2008 com a alterao introduzida pelo Decreto-Lei n245/2009 [1 e 3]

    Conceito Definio

    Danos ambientais

    Danos causados s espcies e habitats naturais protegidos

    Danos com efeitos significativos adversos para a consecuo ou a manuteno do estado de conservao favorvel desses habitats ou espcies, cuja avaliao tem que ter por base o estado inicial, nos termos dos critrios constantes no anexo IV ao presente decreto-lei, do qual faz parte integrante, com excepo dos efeitos adversos previamente identificados que resultem de um acto de um operador expressamente autorizado pelas autoridades competentes, nos termos da legislao aplicvel.

    Danos causados gua

    Danos que afectem adversa e significativamente, nos termos da legislao aplicvel, o estado ecolgico ou o estado qumico das guas de superfcie, o potencial ecolgico ou o estado qumico das massas de gua artificiais ou fortemente modificadas, ou o estado quantitativo ou o estado qumico das guas subterrneas.

    Danos causados ao solo

    Contaminao do solo que crie um risco significativo para a sade humana devido introduo, directa ou indirecta, no solo ou sua superfcie, de substncias, preparaes, organismos ou microrganismos.

    guas Todas as guas abrangidas pelo regime jurdico das guas, constante da Lei n. 58/2005, de 29 de Dezembro, e respectiva legislao complementar e regulamentar.

    Espcies e habitats naturais protegidos

    Os habitats e as espcies de flora e fauna protegidos nos termos da lei.

    Ameaa eminente de danos

    Probabilidade suficiente da ocorrncia de um dano ambiental, num futuro prximo.

    Emisso Libertao para o ambiente de substncias, preparaes, organismos ou microrganismos, que resulte de uma actividade humana.

    Recursos naturais As espcies e habitats naturais protegidos, a gua e o solo.

    Servios de recursos naturais

    Funes desempenhadas por um recurso natural em benefcio de outro recurso natural ou do pblico.

    Estado inicial A situao no momento da ocorrncia do dano causado aos recursos naturais e aos servios, que se verificaria se o dano causado ao ambiente no tivesse ocorrido, avaliada com base na melhor informao disponvel.

    Custos

    Todos os custos justificados pela necessidade de assegurar uma aplicao adequada e eficaz do presente decreto-lei, nomeadamente os custos da avaliao dos danos ambientais, da ameaa iminente desses danos, das alternativas de interveno, bem como os custos administrativos, jurdicos, de execuo, de recolha de dados, de acompanhamento e de superviso e outros custos gerais.

    Medidas de preveno

    Medidas adoptadas em resposta a um acontecimento, acto ou omisso que tenha causado uma ameaa iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou minimizar ao mximo esses danos.

    Medidas de reparao

    Qualquer aco, ou conjunto de aces, incluindo medidas de carcter provisrio, com o objectivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos naturais e os servios danificados ou fornecer uma alternativa equivalente a esses recursos ou servios, tal como previsto no anexo V ao presente decreto-lei, do qual faz parte integrante.

    Regenerao dos recursos naturais

    Incluindo a regenerao natural, no caso das guas, das espcies e dos habitats naturais protegidos, o regresso dos recursos naturais e dos servios danificados ao seu estado inicial, e no caso dos danos causados ao solo, a eliminao de quaisquer riscos significativos que afectem adversamente a sade humana.

    Operador

    Qualquer pessoa singular ou colectiva, pblica ou privada, que execute, controle, registe ou notifique uma actividade cuja responsabilidade ambiental esteja sujeita a este decreto -lei, quando exera ou possa exercer poderes decisivos sobre o funcionamento tcnico e econmico dessa mesma actividade, incluindo o titular de uma licena ou autorizao para o efeito.

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    6

    de realar que, no mbito deste diploma, so considerados recursos naturais:

    as espcies e habitats naturais protegidos; abrangidas pelo Decreto-Lei n 49/2005, de

    24 de Fevereiro, que procede reviso da transposio para o direito interno de duas

    directivas comunitrias, a Directiva 92/43/CEE (directiva habitats) e a Directiva

    79/409/CEE (directiva aves);

    as guas; abrangidas pela Lei da gua, aprovada pela Lei n. 58/2005, de 29 de

    Dezembro, e respectiva legislao complementar e regulamentar 1; aqui incluem-se as

    guas interiores, de transio, costeiras e as guas subterrneas, qualquer que seja o

    seu regime jurdico, abrangendo, alm das guas, os respectivos leitos e margens, bem

    como as zonas adjacentes, zonas de infiltrao mxima e zonas protegidas;

    e o solo, quando se verifica risco para a sade humana.

    Adicionalmente, s se considera a existncia de dano ambiental quando os efeitos so

    significativos e adversos para as espcies e habitats naturais protegidos e/ou para a gua e, no

    caso do solo, quando h um risco significativo para a sade humana. Em relao s espcies e

    habitats naturais protegidos, conforme referido anteriormente, no anexo IV esto descritas

    orientaes sobre como avaliar se os efeitos so significativos e adversos.

    A responsabilidade resultante deste diploma legal traduz-se na obrigatoriedade de adopo

    das medidas de preveno e de reparao dos danos ou ameaas causados ao ambiente. A

    responsabilidade objectiva incide sobre os operadores nas prticas operacionais citadas no

    anexo III que causem danos ambientais ou ameaa eminente, independentemente da

    existncia de dolo ou culpa. Por outro lado, a responsabilidade subjectiva incide sobre os todos

    os operadores de prticas operacionais distintas das referidas no mesmo anexo que causem

    danos ambientais ou ameaa eminente, com dolo ou negligncia.

    Sendo responsabilidade do operador a realizao das medidas de preveno, por sua iniciativa

    ou por exigncia da APA, em determinadas circunstncias, esta tambm pode ser da APA. O

    que acontece quando, no obstante as medidas que o operador tenha adoptado, a ameaa

    iminente de dano ambiental no tenha desaparecido, ou quando a gravidade e as

    consequncias dos eventuais danos assim o justifiquem; quando o operador no cumpriu a sua

    obrigao; quando no possvel identificar o operador responsvel ou quando o operador

    no obrigado a suportar esses custos. De igual modo, a responsabilidade pelas medidas de

    reparao a adoptar quando ocorreram danos ambientais pode ser da APA, quando a

    1 DecretoLei n. 77/2006 de 30 de Maro, DecretoLei n. 208/2008 de 28 de Outubro, Portaria n. 702/2009 de 6

    de Julho e Portaria n. 1115/2009 de 29 de Setembro.

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    7

    gravidade e as consequncias dos danos assim o exijam ou quando no possvel identificar o

    operador responsvel ou, ainda, quando o operador no obrigado a suportar esses custos.

    Constitui tambm uma obrigao dos operadores informarem imediatamente a APA sobre

    todos os aspectos relacionados com a existncia de uma ameaa iminente de danos

    ambientais verificada, das medidas de preveno do dano adoptadas e do sucesso destas

    medidas. No caso de ocorrncias de danos ambientais e da necessidade da adopo de

    medidas de reparao, o diploma define um procedimento administrativo que passa pela

    aprovao da APA da proposta do operador, do plano de medidas de reparao, bem como a

    realizao de audincias aos operadores e partes interessadas.

    Este diploma legal estabelece ainda que todos os interessados podem apresentar APA

    observaes relativas a situaes de danos ambientais, ou de ameaa iminente desses danos,

    de que tenham tido conhecimento e tm o direito de pedir a sua interveno ao abrigo da

    responsabilidade ambiental, apresentando com esse pedido os dados e informaes

    relevantes de que disponham.

    Os custos das medidas de preveno e reparao so suportados pelo operador responsvel

    pelo dano ambiental ou ameaa iminente desse dano. No caso de a APA ter actuado

    directamente ser exigido o reembolso desses custos. Os casos de excepo obrigam que o

    operador demonstre que o dano ou a ameaa eminente do dano foi causado por terceiros e

    ocorreu apesar de terem sido adoptadas as medidas de segurana adequadas ou que resultou

    do cumprimento de uma ordem ou instruo de uma autoridade pblica. Ainda assim, nesta

    situao, o operador obrigado a adoptar e executar as medidas de preveno e reparao

    dos danos ambientais, sendo indemnizado posteriormente. Constituem ainda excepo as

    situaes em que o operador demonstre que, sem dolo ou negligncia, o dano ambiental foi

    causado por uma de duas situaes: uma emisso ou um facto permitido ao abrigo de um dos

    actos autorizadores identificados no anexo III do diploma legal, com respeito pelas condies

    nele estabelecidas e no regime jurdico aplicvel ao mesmo data da ocorrncia. A outra

    situao refere-se a uma emisso, actividade ou qualquer forma de utilizao de um produto

    no decurso de uma actividade, que no sejam consideradas susceptveis de causar danos

    ambientais de acordo com o estado do conhecimento cientfico e tcnico no momento em que

    se produziu a emisso ou se realizou a actividade.

    Um outro aspecto importante do diploma da responsabilidade ambiental relaciona-se com a

    constituio de uma garantia financeira. Os operadores que exercem actividades listadas no

    anexo III do diploma legal tm obrigatoriamente de constituir uma ou mais garantias

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    8

    financeiras prprias e autnomas, alternativas ou complementares entre si, que lhes permitam

    assumir a responsabilidade ambiental inerente actividade por si desenvolvida. Estas

    garantias financeiras so indicadas como obrigatrias no diploma legal a partir de 1 de Janeiro

    de 2010. Os formatos incluem a subscrio de aplices de seguro, a obteno de garantias

    bancrias, a participao em fundos ambientais ou a constituio de fundos prprios

    reservados para o efeito, e devem obedecer ao princpio da exclusividade.

    As medidas que assegurem a reparao dos danos ambientais devem ser realizadas de

    acordo com as directrizes genricas estabelecidas no anexo V do diploma da responsabilidade

    ambiental que as divide em dois tipos, dependendo se os danos so causados gua ou as

    espcies e habitats naturais protegidos ou se so causados ao solo.

    A reparao de danos ambientais causados gua, s espcies e habitats naturais protegidos

    alcanada atravs da restituio do ambiente ao seu estado inicial por via de reparao

    primria, complementar e compensatria, implicando tambm a eliminao de qualquer risco

    significativo de danos para a sade humana.

    A reparao primria tem como objectivo restituir os recursos naturais e/ou servios

    danificados ao estado inicial, ou aproxim-los desse estado. Podem ser consideradas aces

    que conduzem ao estado inicial num prazo acelerado ou atravs da regenerao natural.

    A reparao complementar realizada sempre que os recursos naturais e/ou servios

    danificados no tiverem sido restitudos ao estado inicial e tem como objectivo proporcionar

    um nvel de recursos naturais e/ou servios similar ao que teria sido proporcionado se o stio

    danificado tivesse regressado ao seu estado inicial. Pode incluir um stio alternativo que,

    quando possvel e apropriado, deve estar geograficamente relacionado com o stio danificado,

    tendo em conta os interesses da populao afectada.

    A reparao compensatria tem como objectivo compensar perdas transitrias de recursos

    naturais e/ou de servios, verificados a partir da data de ocorrncia dos danos at sua

    recuperao. As perdas transitrias so resultantes do facto de os recursos naturais e/ou

    servios danificados no poderem realizar as suas funes ecolgicas ou prestar servios a

    outros recursos naturais ou ao pblico enquanto as medidas primrias ou complementares

    no tiverem produzido efeitos. A compensao consiste em melhorias suplementares dos

    habitats naturais e espcies protegidos ou da gua, quer no stio danificado quer num stio

    alternativo. No est prevista uma compensao financeira para o pblico em geral.

    Para a determinao da escala das medidas de reparao complementar e compensatria,

    deve considera-se em primeiro lugar a utilizao de abordagens de equivalncia recurso-a-

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    9

    recurso ou servio-a-servio. Segundo esses mtodos, devem considerar-se em primeiro lugar

    as aces que proporcionem recursos naturais e/ou servios do mesmo tipo, qualidade e

    quantidade que os danificados. Se no for possvel utilizar as abordagens de equivalncia de

    primeira escolha recurso-a-recurso ou servio-a-servio, o diploma sugere que ser utilizadas

    tcnicas alternativas de valorao, com base em prescries da APA.

    Os critrios a usar na escolha entre opes de reparao, utilizando as melhores tecnologias

    disponveis, sempre que estejam definidas, devem ser o efeito positivo na sade pblica e na

    segurana; o custo de execuo; a probabilidade de xito; a medida em que cada opo

    previne danos futuros e evita danos colaterais resultantes da sua execuo; a medida em que

    cada opo beneficia cada componente do recurso natural e ou servio; a medida em que cada

    opo tem em considerao preocupaes de ordem social, econmica e cultural e outros

    factores relevantes especficos da localidade; o perodo necessrio para que o dano ambiental

    seja efectivamente reparado e a relao geogrfica com o stio danificado.

    Ao avaliar as diferentes opes de reparao identificadas, podem ser escolhidas medidas de

    reparao primria que no restituam totalmente ao estado inicial as guas e as espcies e

    habitats naturais protegidos danificados ou que os restituam mais lentamente. Esta deciso s

    pode ser tomada se os recursos naturais e/ou servios de que se prescindiu no stio primrio

    forem compensados com a intensificao de aces complementares ou compensatrias para

    proporcionar um nvel de recursos naturais e/ou de servios similar ao daqueles de que se

    prescindiu. Ser o caso, por exemplo, quando se puderem proporcionar recursos naturais e/ou

    servios equivalentes noutro local a custo mais baixo. Estas medidas de reparao adicionais

    so determinadas segundo os critrios identificados anteriormente.

    A APA pode decidir no tomar outras medidas de reparao se as j realizadas assegurarem a

    inexistncia de riscos significativos de efeitos adversos para a sade humana, as guas ou as

    espcies e habitats naturais protegidos, ou se o custo das medidas de reparao que deveriam

    ser tomadas para atingir o estado inicial ou um nvel similar for desproporcionado em relao

    aos benefcios ambientais a obter.

    Em relao ao solo, o diploma refere que devem ser adoptadas as medidas necessrias para

    assegurar, no mnimo, que os contaminantes em causa sejam eliminados, controlados,

    contidos ou reduzidos, a fim de que o solo contaminado deixe de comportar riscos

    significativos de efeitos adversos para a sade humana. A presena destes riscos avaliada

    atravs de um processo que tem em conta as caractersticas e funes do solo, o tipo e a

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    10

    concentrao das substncias, preparaes, organismos ou microrganismos perigosos, os seus

    riscos e a sua possibilidade de disperso.

    2.1.1 Aspectos importantes da aplicao do regime jurdico da responsabilidade por danos

    ambientais

    A estratgia da APA para a implementao da responsabilidade ambiental em Portugal,

    enquanto autoridade competente, engloba uma srie de aces. Das medidas j realizadas,

    destacam-se o desenvolvimento de uma ferramenta informtica, designada de SARA.E, em

    resultado de um protocolo estabelecido com entidades privadas, bem com a publicao no seu

    stio da internet de orientaes acerca da aplicao do diploma legal, nomeadamente no que

    se refere determinao do montante da garantia financeira e caracterizao do estado

    inicial ambiental do local onde a organizao se insere. Destaca-se ainda a publicao, prevista

    para breve, de diversos documentos tais como guias metodolgicos para avaliao de ameaa

    eminente e dano ambiental que definem dano adverso e significativo para as trs

    componentes ambientais, um documento relacionado com as garantias financeiras que prev

    a iseno da sua constituio para actividades consideradas de baixo risco e um guia

    metodolgico para a constituio de garantias financeiras [5].

    As orientaes estabelecem que o valor para a garantia financeira deve ser determinado com

    base na estimativa dos custos das medidas de preveno e reparao dos danos

    potencialmente envolvidos. Esta estimativa deve ter por base vrias aces, tais como a

    caracterizao da actividade ocupacional, incluindo todas as operaes que envolvam riscos

    para o ambiente; a identificao do estado inicial realizada por anlise da situao actual das

    espcies e habitats naturais protegidos, das massas de gua de superfcie e subterrneas e dos

    solos na envolvente da actividade ocupacional, susceptveis de serem afectadas pelas

    situaes de risco que a ocorram; a identificao e anlise dos cenrios de risco previsveis,

    isto , os incidentes susceptveis de ocasionarem danos ambientais com probabilidade de

    ocorrncia no negligencivel, como por exemplo, a libertao acidental de substncias

    perigosas, incndio ou exploses; a avaliao dos danos ambientais associados aos cenrios de

    risco previsveis; a definio dos programas de medidas para a preveno e a reparao dos

    danos ambientais, nos termos do disposto no anexo V do diploma legal, e a determinao dos

    custos das medidas referidas [6].

    A identificao do estado inicial deve centrar-se nas trs componentes ambientais abrangidas

    pelo diploma e deve estar sempre acompanhada do ano de referncia para o incio da

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    11

    caracterizao, da frequncia de actualizaes dessa caracterizaes e das fontes de

    informao utilizadas. Para as espcies e habitats naturais protegidos deve ser realizada a

    delimitao dos habitats naturais com estatuto de proteco legal e a identificao da

    distribuio natural das espcies de fauna e flora, de acordo com a melhor informao

    disponvel. Para a gua devem ser identificadas as massas de gua de superfcie e subterrneas

    e o respectivo estado, de acordo com a legislao aplicvel e a melhor informao disponvel.

    No solo, atravs das caractersticas fsicas e qumicas do solo, de acordo com a melhor

    informao disponvel. No caso de serem realizadas actividades de transporte de substncias

    perigosas fundamental o conhecimento dos trajectos realizados, sendo deixada em aberto a

    melhor metodologia a aplicar nestas situaes [6].

    2.2 RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS NA UNIO EUROPEIA

    O quadro da responsabilidade ambiental na Unio Europeia foi introduzido pela Directiva

    2004/35/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Abril de 2004 [2]. A sua

    transposio pelos EstadosMembros prolongou-se at 1 de Julho de 2010, muito para alm

    do prazo limite de 30 de Abril de 2007 que somente 4 dos EstadosMembros respeitaram [7].

    Em Outubro de 2010 foi publicado um relatrio de avaliao da eficcia da directiva [7],

    elaborado pela Comisso Europeia. As informaes mais relevantes deste relatrio so a seguir

    apresentadas.

    Os atrasos na transposio da directiva deveram-se necessidade de adaptao dos quadros

    jurdicos nacionais de responsabilidade ambiental j existentes, da realizao de debates e

    obteno de consensos face margem de liberdade deixada pela directiva e tambm da

    complexidade de alguns dos seus requisitos, tais como a avaliao econmica de danos

    ambientais, metodologias de reparao e a componente de espcies e habitats naturais

    protegidos.

    A sua aplicao pelos Estados-Membros decorreu com diferenas significativas,

    nomeadamente a incluso dos danos causados a espcies e habitats naturais protegidos, de

    carcter facultativo; a permisso de isenes ao pagamento das medidas de reparao em

    situaes relacionadas com autorizaes ou estado do conhecimento cientfico e tcnico; a

    incluso da actividade de disperso de lamas de guas residuais provenientes de instalaes

    de tratamento de resduos urbanos e tambm as regras da responsabilidade partilhada e a

    obrigatoriedade de constituio de uma garantia financeira.

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    12

    Em Outubro de 2010, a Comisso Europeia estimava que os casos de danos ambientais na

    Unio Europeia tratados no mbito da directiva fossem 50, embora somente 16 casos tenham

    sido reportados pelos Estados-Membros. Na maioria dos casos tinham sido aplicadas medidas

    de reparao primria e em nenhum existia referncia a medidas complementares ou

    compensatrias. O custo total associado s medidas de reparao situava-se entre os 12 000

    euros e 250 000 euros e o tempo necessrio para a recuperao ambiental variava entre uma

    semana e trs anos.

    O nvel de preparao dos Estados-Membros para a pr em prtica tambm muito varivel,

    nomeadamente no que se refere definio de orientaes, procedimentos e manuais sobre a

    avaliao tcnica e econmica de danos ambientais ou avaliao do risco. O incentivo para o

    desenvolvimento de mercados e instrumentos de garantia financeira foi bastante reduzido,

    pelo que, na maioria dos casos, esses mercados desenvolveram-se por iniciativa das

    seguradoras. O seguro foi o instrumento mais popular para a cobertura da responsabilidade

    ambiental, seguido das garantias bancrias e de outros instrumentos baseados no mercado,

    tais como fundos e obrigaes.

    A avaliao realizada pela Comisso Europeia para a implementao da directiva conclui que

    as informaes disponveis nessa data ainda no permitiam concluses concretas sobre os

    objectivos a que se propunha, nomeadamente a avaliao da eficcia da directiva em termos

    de reparao de danos ambientais. Conclui tambm que no existia justificao suficiente para

    a introduo de um sistema harmonizado de garantia financeira obrigatria. Aces de

    informao e comunicao, orientaes de interpretao da directiva e o registo dos casos so

    referidas como medidas de melhoria da aplicao e da eficcia da directiva. So ainda

    identificados os pontos que exigem especial ateno na sua reviso, prevista para 2013 ou

    2014, nomeadamente no que se refere lacuna existente para uma plena reparao dos

    danos causados ao meio marinho, destacando-se os derrames de petrleo provocados por

    actividades petrolferas.

    Salienta-se que a Comisso Europeia tem patrocinado trabalhos de investigao sobre

    metodologias de avaliao econmica dos danos ambientais dos quais se destaca o projecto

    REMEDE (abreviao para Resource Equivalency Methods for Assessing Environmental Damage

    in the EU) que visou o desenvolvimento, teste e disseminao de mtodos de determinao da

    escala das medidas de reparao necessrias para uma adequada compensao dos danos

    ambientais [8]. Neste projecto participaram os Estados-Membros da Unio Europeia e os

    Estados Unidos da Amrica e contou com tcnicos de diversas especialidades, ecologistas,

    economistas e juristas. Os resultados, apesar de importantes para a definio de medidas de

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    13

    reparao primria, complementar e compensatria, a implementar em caso de dano

    ambiental (no mbito do definido no anexo V do Decreto-Lei n. 147/2008) aplicadas em geral,

    no so descritos por se considerar que no so relevantes no mbito deste trabalho.

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    14

    3. METODOLOGIA DE AVALIAO DA

    RESPONSABILIDADE POR DANOS

    AMBIENTAIS

    Neste captulo apresentada a metodologia usada no trabalho para a avaliao da

    responsabilidade por danos ambientais de uma instalao industrial de mdia dimenso do

    sector da metalomecnica. Tem por base a metodologia de cenrios e segue o preconizado no

    diploma da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n. 147/2008). Na definio da

    metodologia foram usados elementos definidos em duas normas de anlise de risco que

    tambm so aqui apresentadas.

    3.1 NORMAS DE ANLISE DE RISCO: ISO 31000 E UNE 150008

    So aqui so apresentadas duas normas que definem princpios e linhas de orientao para a

    realizao de uma anlise de riscos, enquadrada num processo mais abrangente de gesto do

    risco. So apresentadas a norma internacional ISO 31000 (Gesto de risco princpios e

    orientaes) [9] e a norma espanhola UNE 150008 (Anlise e avaliao do risco ambiental)

    [10]. A norma internacional aplica-se a riscos de natureza diversa, incluindo a ambiental. A

    norma espanhola foi desenvolvida especificamente para riscos ambientais.

    Enquanto documentos normativos tm como objectivo orientar a realizao de avaliaes de

    risco, fornecendo uma linguagem comum aos envolvidos no processo (organizaes

    industriais, mercado financeiro, administrao pblica e outros grupos interessados). A seguir

    so descritos os requisitos de cada uma das normas, sendo de realar que existem conceitos e

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    15

    fundamentos definidos em cada uma delas que nem sempre so coincidentes. No final

    realizada uma anlise comparativa entre os dois documentos normativos.

    3.1.1 A norma internacional ISO 31000 (Gesto de risco princpios e orientaes)

    Esta uma norma internacional publicada, na sua primeira edio, em Novembro de 2009 [9].

    Estabelece que risco o efeito da incerteza na obteno dos objectivos de uma organizao e

    descreve um processo sistemtico e lgico de gesto do risco em todas as suas etapas,

    designadamente identificao, anlise, avaliao e tratamento do risco. Estabelece ainda

    princpios que devem ser seguidos por forma a realizar uma efectiva gesto do risco. uma

    norma aplicvel a qualquer tipo de organizao, privada ou pblica, associaes, grupos ou

    mesmo individualmente, no estando vocacionada para qualquer tipo de indstria ou sector.

    Pode ser aplicada em toda a organizao ou somente em algumas das suas actividades, tais

    como estratgicas, operaes, processos, projectos ou produtos. Os riscos a gerir podem ser

    de qualquer natureza, com consequncias negativas ou positivas.

    Para compreender esta norma importante ter presente algumas das suas definies de base,

    descritas na norma e num documento guia auxiliar [11].

    O risco definido como o efeito da incerteza na obteno dos objectivos, os quais podem ser

    de mbito financeiro, ambiental, de segurana e sade no trabalho, entre outros. A

    combinao entre as consequncias de um evento e a sua probabilidade de ocorrncia ,

    talvez, o modo mais comum de definir o risco. A gesto do risco consiste nas actividades

    coordenadas para dirigir e controlar uma organizao no que respeita ao risco. O processo de

    gesto do risco inclui a aplicao sistemtica de polticas, procedimentos e prticas de gesto

    s actividades de comunicao, consulta, estabelecimento do contexto e identificao, anlise,

    avaliao, tratamento, monitorizao e reviso do risco. A apreciao do risco, muitas vezes

    tambm designada por avaliao do risco, engloba as etapas de identificao, anlise e

    avaliao do risco. Uma fonte de risco o elemento que, por si s ou em combinao com

    outros, tem o potencial intrnseco de originar um risco. Um perigo uma fonte de dano

    potencial, podendo ser uma fonte de risco. Um evento trata-se de uma ou mais ocorrncias ou

    alterao de um conjunto particular de circunstncias, podendo ter vrias causas, nunca

    ocorrer, sendo muitas vezes designado por incidente ou acidente. A consequncia o

    resultado de um evento que afecta objectivos. O processo para modificar o risco consiste no

    tratamento do risco e o risco residual aquele que subsiste aps o seu tratamento.

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    16

    Os princpios que tm de estar presentes para que a gesto do risco seja efectiva so os de

    constituir um processo que acrescenta valor organizao, estar integrada nos seus processos,

    fazer parte da tomada de deciso, demostrar que a incerteza est prevista, ser um processo

    sistemtico, estruturado e actual, basear-se na melhor informao disponvel, estar adaptado

    organizao, ter em considerao os factores humanos e culturais, ser transparente e

    abrangente, dinmico e adaptar-se s alteraes e contribuir para a melhoria contnua da

    organizao.

    Para que a gesto do risco possa ser realizada, necessrio estabelecer uma estrutura da

    gesto do risco. Esta estrutura consiste num conjunto de elementos que fornecem os

    fundamentos e disposies organizacionais para conceber, implementar, monitorizar, rever e

    melhorar continuamente o processo de gesto do risco em toda a organizao. Os

    fundamentos incluem a poltica, os objectivos, o mandato e o compromisso para gerir o risco.

    As disposies organizacionais incluem os planos, as relaes, a responsabilizao, os recursos,

    os processos e as actividades. Orientaes para o estabelecimento de uma estrutura da gesto

    do risco numa organizao esto descritos na norma. O processo de gesto de risco

    constitudo pelas etapas de comunicao e consulta, definio do contexto, apreciao do

    risco (identificao, anlise e avaliao), tratamento do risco e monitorizao e reviso,

    interrelacionadas de acordo com a Figura 1.

    Figura 1. Processo de gesto do risco segundo a ISO 31000 [9]

    COMUNICAO E CONSULTA

    DEFINIO DO CONTEXTO

    IDENTIFICAO DO RISCO

    ANLISE DO RISCO

    AVALIAO DO RISCO

    TRATAMENTO DO RISCO

    APRECIAO DO RISCO

    MONITORIZAO E REVISO

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    17

    Na definio do contexto a organizao define os objectivos, os parmetros que devem ser

    tomados em considerao no processo, o mbito e os critrios. Devem ser avaliados os

    contextos externos e internos organizao, bem como as actividades onde se pretende

    aplicar a gesto do risco. Os critrios a definir sero os usados para avaliar a significncia do

    risco. Na identificao do risco devem ser identificadas as fontes de risco, os eventos, as suas

    causas e consequncias potenciais. O objectivo desta etapa criar uma lista de riscos baseada

    em eventos que conduzem, previnem, degradam, aceleram ou atrasam a obteno dos

    objectivos. Esta etapa muito importante, uma vez que os riscos no identificados no sero

    tidos em conta nas etapas seguintes. A etapa de anlise do risco envolve a compreenso dos

    riscos identificados. So produzidas consideraes acerca das causas e fontes de risco, suas

    consequncias e a probabilidade destas ocorrerem. Devem ser identificados os factores que

    afectam as consequncias e a probabilidade destas ocorrerem. Os controlos existentes e a sua

    eficcia devem ser tidos em considerao. A anlise de risco pode ser realizada com diferentes

    nveis de detalhe, dependendo do risco, do objectivo da anlise e da informao, dados e

    recursos disponveis. Pode ser do tipo qualitativa, semi-quantitativa, quantitativa ou uma

    combinao destes. As consequncias e probabilidades podem ser determinadas por modelos

    de resultados de eventos, por extrapolao de dados experimentais ou com base nos dados

    disponveis. O objectivo da avaliao de risco apoiar a tomada de deciso sobre que riscos

    devem ser tratados e em que prioridade. Envolve a comparao do nvel de risco determinado

    na etapa anterior, de anlise, com os critrios definidos no estabelecimento do contexto. O

    tratamento do risco envolve a seleco de uma ou mais opes que permitem a modificao

    do risco e inclui novas medidas de controlo ou modificao das existentes. Trata-se de um

    processo cclico que se inicia com a apreciao do risco e deciso se o risco residual tolervel.

    No caso de no ser, realiza-se novo tratamento do risco e avaliao da sua eficcia. Constituem

    opes de tratamento do risco a eliminao da fonte de risco, alterao da probabilidade,

    alterao das consequncias ou partilha financeira do risco. A seleco das vrias opes deve

    ter em considerao o balano entre os custos e os benefcios. A comunicao e consulta

    devem garantir que todos os interessados entendem as bases das decises a aces tomadas

    durante o processo. A monitorizao e reviso do processo devem estar planeadas e

    envolvem verificaes regulares. Tm como objectivos garantir que os controlos

    implementados so efectivos e eficazes, fornecer informao acerca de eventos ocorridos,

    detectar alteraes no contexto definido ou identificar riscos emergentes. Todo o processo de

    gesto do risco deve ser registado de modo a garantir a sua rastreabilidade.

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    18

    3.1.2 A norma espanhola UNE 150008 (Anlise e avaliao do risco ambiental)

    Esta uma norma espanhola, datada de Maro de 2008 [10], que descreve um mtodo para

    analisar e avaliar o risco ambiental, incluindo o estabelecimento de bases para uma gesto de

    modo a facilitar a tomada de deciso. No define ferramentas especficas, tcnicas ou

    algoritmos de clculo para a anlise de riscos ambientais, defendendo que, para o efeito,

    devem ser usados dados rastreveis e modelos, ferramentas e tcnicas, robustos e

    reconhecidos internacionalmente pela comunidade tcnica e cientfica. Pode ser aplicada a

    organizaes de qualquer natureza, ao conjunto das suas actividades ou apenas a partes do

    processo. A avaliao pode ter como objecto as fases de projecto, construo, arranque,

    operao ou desmantelamento de uma instalao.

    O risco ambiental resulta da probabilidade de ocorrncia de um determinado cenrio de

    acidente e as consequncias negativas do mesmo sobre o ambiente e factores humanos ou

    scio-econmicos. A probabilidade pode ser substituda pela frequncia. ainda feita

    referncia ao carcter subjectivo do risco, dado que a sua percepo est relacionada com

    diversos factores tais como as crenas, valores e sentimentos das pessoas, bem como valores e

    regras sociais e culturais. A gesto do risco consiste nas actividades coordenadas para dirigir e

    controlar uma organizao no que respeita ao risco. O factor ambiental qualquer

    componente do meio ambiente que pode ser afectada pelas actividades decorrentes das fases

    de construo, explorao, manuteno, encerramento ou desmantelamento de um dado

    projecto (por exemplo: populao, fauna, flora, solo, gua, ar, factores climticos, bens

    materiais, contexto scio-econmico, paisagem ou patrimnio cultural e arqueolgico). O

    processo estabelecido pela norma para a identificao, avaliao e gesto do risco ambiental

    iterativo, seguindo as etapas apresentadas na Figura 2.

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    19

    Figura 2. Processo de identificao, avaliao e gesto do risco ambiental segundo a UNE 150008 [10]

    O processo de gesto do risco deve ser precedido de uma etapa prvia que pode ser designada

    por definio do contexto. Aqui, o alcance do estudo deve ser definido e justificado,

    explicitando, entre outros, os locais que podem ser afectados, as linhas do processo ou partes

    da organizao objecto de estudo, as fases da actividade alvo de estudo, o nvel de

    profundidade e detalhe requerido para o estudo e os grupos interessados. A equipa de

    trabalho deve ser de cariz multidisciplinar, formada por elementos com formao e

    experincia em mtodos e tcnicas de anlise e avaliao do risco ambiental, conhecedores da

    actividade em estudo, bem como de aspectos especficos dos factores ambientais includos no

    estudo.

    A anlise do risco ambiental composta por duas partes, cenrios de causas e cenrios de

    consequncias, entendidas como o encadeamento de causas, por uma lado, e consequncias,

    por outro, que resultam num acidente concreto com danos associados. O elemento de ligao

    entre ambos os cenrios o evento iniciador, ou seja, o acontecimento gerado pelas causas

    que d lugar primeira das consequncias. Na identificao de causas e perigos devem ser

    identificadas e caracterizadas as possveis fontes de perigo na actividade em estudo. As

    actividades da instalao devem ser hierarquizadas em funo do seu potencial de risco, de

    modo a aplicar nas de maior potencial ferramentas mais exigentes. Devem ser consideradas as

    COMUNICAO E CONSULTA

    Identificao de causas e perigos

    SEGUIMENTO E REVISO

    ANLISE DO RISCO AMBIENTAL

    GESTO DO RISCO Eliminao do risco

    Reduo e controlo do risco Transferncia do risco Comunicao do risco

    AVALIAO DO RISCO Expectativas das partes interessadas

    Custo-benefcio Outras

    Factores ambientais

    Identificao de eventos iniciadores

    Cenrios

    Estimativa de consequncias

    Atribuio de probabilidade

    Estimativa do risco (probabilidade/frequncia)

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    20

    fontes de perigo relacionadas com o factor humano, organizacional e individual, com as

    actividades e instalaes e com os elementos externos instalao. Como factores humanos

    identificam-se a estrutura, o sistema de gesto, a cultura preventiva, os procedimentos, a

    comunicao interna e externa, as condies ambientais do posto de trabalho, o clima laboral,

    a formao, o treino, os erros humanos, entre outros. Nas actividades e instalaes devem ser

    considerados o armazenamento de matrias-primas, combustveis, produto intermdio e final,

    os processos e instalaes de produo, os processos e instalaes auxiliares tais como a

    produo de calor ou frio, produo de energia elctrica, proteco contra incndios,

    tratamento de gua, instalaes de tratamento de guas residuais, emisses para a atmosfera,

    resduos e rudo. So elementos externos instalao os factores naturais tais como

    inundaes e terramotos, infra-estruturas de transporte, gua e energia, factores scio-

    econmicos tais como vandalismo, sabotagem ou terrorismo e caractersticas das instalaes

    vizinhas. Uma vez realizada a identificao de perigos, devem ser identificados os eventos

    iniciadores que podem ser falhas humanas ou tcnicas (tais como fugas ou rupturas em

    equipamentos). Deve ser atribuda uma probabilidade a cada um deles, se possvel recorrendo

    a dados de acidentes ocorridos anteriormente. A fase de definio de cenrios tem como

    objectivo, estabelecer, a partir dos eventos iniciadores identificados, a sequncia de eventos

    que, com uma probabilidade conhecida, podem dar lugar aos vrios cenrios de acidente,

    sobre os quais se vo estimar as potenciais consequncias sobre um dado meio receptor. Para

    tal, necessrios identificar os factores condicionantes a esses cenrios. Delimitar um mbito

    geogrfico e realizar uma descrio dos factores ambientais potencialmente afectados dentro

    desse mbito outra das etapas necessrias definio de cenrios. A probabilidade de

    ocorrncia de cada um dos cenrios calculada com base na probabilidade de ocorrncia de

    cada um dos eventos iniciadores identificados. A fase seguinte consiste em estimar as

    consequncias de cada um dos cenrios no meio receptor. Assim, tendo em conta a definio

    de risco, com base nos cenrios identificados e sua probabilidade de ocorrncia, bem como as

    suas consequncias potenciais, possvel estimar o risco de cada um dos eventos iniciadores e

    da organizao no seu conjunto.

    A avaliao do risco trata-se de um processo que, tendo por base a anlise de riscos e uma

    srie de critrios e factores que actuam como condicionantes, a organizao decide acerca da

    sua tolerncia ao risco e, consequentemente, da sua aceitao. Esta avaliao deve realizar-se

    ao mais alto nvel hierrquico da organizao e como factores a ter considerao na avaliao

    podem estar os legais, polticos, econmicos, sociais, tecnolgicos, cientficos, culturais ou

    ticos. Para que a avaliao de riscos pode ser usada como um mecanismo de gesto eficaz,

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    21

    devem ser identificadas as fontes de incerteza associadas a todo o processo e, se possvel, a

    sua contribuio para a estimativa do risco. Podem ser fontes de incerteza a falta de

    conhecimento cientfico, a variabilidade do meio ambiente, a atribuio de valores de

    probabilidade, as simplificaes usadas nos modelos de estimativa de efeitos e consequncias

    ou a qualidade dos dados usados nesses modelos.

    A gesto de risco tem como como objectivo principal a tomada das decises mais adequadas

    face aos riscos ambientais, com base nos critrios de segurana e eficincia econmica. Assim,

    as fases de anlise e avaliao do risco constituem somente o incio do processo que dever

    incluir tambm o tratamento dos riscos avaliados no que se refere aos seus aspectos

    financeiros (tais como a transferncia para o mercado de seguros ou a reteno financeira) e

    tcnicos (tais como a implementao de medidas para a eliminao, reduo e controlo dos

    riscos), bem como a comunicao com os grupos interessados relevantes.

    A comunicao e consulta uma etapa transversal a todo o processo de identificao,

    avaliao e gesto do risco ambiental, embora no esteja pormenorizadamente descrita na

    norma. Por fim, o seguimento e reviso de todo o processo devem ser realizados com uma

    periodicidade que depende da complexidade e perigosidade da actividade, do valor e

    fragilidade do ambiente, das expectativas dos grupos interessados, das alteraes do contexto

    legal ou normativo aplicvel e das modificaes nos processos ou instalaes.

    Nesta norma possvel encontrar ainda informaes acerca de ferramentas de gesto do risco,

    de tcnicas e ferramentas para a anlise de riscos ambientais, referncias a bases de dados

    para consulta de informao relacionada com anlise de riscos, recomendaes para a

    valorao econmica de consequncias sobre o meio ambiente, um exemplo de aplicao da

    metodologia a um caso concreto e aplicao a uma pequena instalao industrial.

    Uma anlise comparativa das duas normas, no que diz respeito s etapas e sua interligao

    (Figura 1 e 2), permite concluir que as metodologias apresentadas so semelhantes e

    consistem num processo sistemtico e iterativo de anlise, avaliao e tratamento dos riscos.

    A anlise de riscos contempla a sua identificao e descrio. As tarefas necessrias para a

    realizao desta etapa so pormenorizadas na norma espanhola. Esta norma identifica sete

    passos como os necessrios para a anlise de riscos. A avaliao consiste na comparao do

    nvel de risco com critrios estabelecidos e na deciso acerca da tolerncia da organizao aos

    riscos. Por fim, o tratamento de riscos identifica as aces a realizar de forma a reduzir,

    eliminar ou transferir os riscos avaliados. As duas normas incluem ainda processos de

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    22

    comunicao e consulta e de monitorizao/seguimento e reviso, os quais so comuns e

    transversais a todas as etapas de gesto do risco.

    Estes princpios das duas normas, juntamente com os pressupostos definidos no diploma legal

    da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n. 147/2008), so aplicados na identificao da

    metodologia de avaliao de danos ambientais usada no presente trabalho.

    3.2 IDENTIFICAO DA METODOLOGIA USADA NO TRABALHO

    A metodologia usada neste trabalho para a determinao do custo associado aos potenciais

    danos ambientais de uma instalao industrial, tendo por base o enquadramento do Decreto-

    Lei n. 147/2008, inclui duas fases principais (Fase 1 identificao de cenrios de dano

    ambiental e Fase 2 - identificao das medidas de reparao e dos custos associados a cada

    cenrio) (Figura 3). Na Fase 1 so identificados os cenrios que podem conduzir a danos

    ambientais e na Fase 2 so identificadas as medidas de reparao necessrias em cada cenrio

    e estimados os custos associados s medidas. Esta metodologia baseia-se nas linhas gerais

    definidas pela Agncia Portuguesa do Ambiente no que respeita estimativa dos custos

    associados responsabilidade por danos ambientais [6], tal como descrito na seco 2.1.1.

    Para a definio desta metodologia so includos alguns conceitos e fundamentos da norma

    internacional ISO 31000 [9] e da norma espanhola UNE 150008 [10], nomeadamente no que se

    refere s tarefas a realizar nas etapas de identificao e anlise dos riscos.

    Figura 3. Fases da metodologia de avaliao da responsabilidade por danos ambientais

    3.2.1 Identificao de cenrios de dano ambiental

    Um cenrio de dano traduz as alteraes face a um estado designado por estado inicial. Na

    construo de cenrios so identificados o tipo de contaminantes envolvidos, os mecanismos

    de introduo no ambiente, os recursos naturais afectados (sua extenso espacial e temporal)

    IDENTIFICAO DE

    CENRIOS DE DANO AMBIENTAL

    Fase 1

    IDENTIFICAO DAS MEDIDAS DE

    REPARAO E DOS CUSTOS

    ASSOCIADOS A CADA CENRIO

    Fase 2

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    23

    e a populao eventualmente afectada. Os recursos naturais a serem considerados, em

    conformidade com o Decreto-Lei n. 147/2008, so a gua, o solo quando est presente risco

    para a sade humana e as espcies e habitats naturais protegidos. Importa ainda reforar que

    as funes desempenhadas por estes recursos naturais (tais como as diversas utilizaes da

    gua, nomeadamente consumo humano ou rega), so tidas em considerao na construo de

    cenrios.

    Durante a identificao de cenrios de dano ambiental e tendo em foco a instalao industrial,

    so identificadas as fontes de perigo para o ambiente, bem como os eventos que podem

    transformar essas fontes em danos concretos. So tambm identificados os factores que

    previnem ou potenciam esses danos. Um outro foco de ateno a caracterizao ambiental

    do local onde a instalao industrial est implantada, bem como da rea envolvente. Esta

    caracterizao permite avaliar os recursos ambientais que podem potencialmente ser

    afectados. As tarefas a realizar durante a Fase 1, bem como a sua interligao, so

    identificadas na Figura 4.

    Figura 4. Tarefas a realizar durante a Fase 1 (identificao de cenrios de dano ambiental)

    Seguindo os pressupostos do Decreto-Lei n. 147/2008 no so identificados os cenrios que

    poderiam resultar do funcionamento normal e autorizado da instalao, como o caso, por

    exemplo, de cenrios de dano em resultado da descarga de guas residuais em que todos os

    parmetros cumprem os valores limite constantes na autorizao de descarga.

    IDENTIFICAO DE CENRIOS DE DANO AMBIENTAL

    IDENTIFICAO DAS FONTES

    IDENTIFICAO DOS EVENTOS

    IDENTIFICAO DOS FACTORES CONDICIONANTES

    CARACTERIZAO DO LOCAL E DA REA

    ENVOLVENTE

    (estado inicial)

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    24

    3.2.1.1 Identificao das fontes, eventos e factores condicionantes

    A identificao das fontes, eventos e factores condicionantes de danos ambientais de uma

    dada instalao industrial resultado de visitas s instalaes, reunies e entrevistas com os

    seus responsveis e recolha e anlise de documentos. Nestas visitas so recolhidas

    informaes sobre todas as actividades da empresa, produtivas ou auxiliares, bem como as

    suas licenas e autorizaes (por exemplo, licenas de captao de gua ou licena ambiental).

    Estes pontos so completados pela anlise de fichas de dados de segurana de produtos

    qumicos e por caracterizaes ambientais disponibilizadas pela instalao.

    As fontes de danos incluem o consumo de gua, a utilizao de produtos perigosos, bem como

    o seu armazenamento e transporte (dentro e fora das instalaes), as descargas de guas

    residuais, a produo e armazenamento de resduos e a libertao de emisses para a

    atmosfera. Os eventos que podem conduzir aos danos ambientais incluem as falhas humanas

    ou de equipamentos. Constituem factores condicionantes as medidas de preveno e

    resposta, quer fsicas, incluindo, por exemplo, a impermeabilizao de pavimentos ou bacias

    de conteno de derrames, quer organizacionais, incluindo, por exemplo, os procedimentos e

    formao dos intervenientes para a resposta a situaes de emergncias implementadas na

    instalao. So tambm factores condicionantes os mecanismos de introduo dos

    contaminantes no meio envolvente, tais como a introduo no solo, em guas superficiais e

    subterrneas ou disperso na atmosfera, e a vulnerabilidade do meio natural.

    3.2.1.2 Caracterizao do local e da rea envolvente da instalao industrial

    O mbito da caracterizao do local e da rea envolvente restringe-se gua, ao solo e s

    espcies e habitats naturais protegidos, seguindo, uma vez mais, os pressupostos do diploma

    da responsabilidade ambiental.

    A caracterizao, no domnio da gua, implica a identificao dos circuitos de abastecimento

    de guas e drenagem de guas pluviais, guas residuais domsticas e guas residuais

    industriais existentes na instalao industrial. Os circuitos devem ser considerados desde o

    ponto de ligao da instalao industrial rede municipal at introduo no meio natural.

    importante identificar a existncia de Estaes de Tratamento de guas. As plantas de redes

    de guas da instalao constituem um elemento importante nesta identificao. A

    identificao da rede hidrogrfica e da qualidade da gua superficial recorre a cartografia e

    bases de dados de entidades nacionais reconhecidas tais como cartografia militar em escala

    1:25000 do Instituto Geogrfico do Exrcito (IGEOE), Sistema Nacional de Informao de

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    25

    Ambiente (SNIAmb) da APA [12] e Sistema Nacional de Informao de Recursos Hdricos

    (SNIRH) do Instituto da gua, IP (INAG) [13]. Para as guas subterrneas, designadamente

    unidade hidrogeolgica do local e dados de qualidade da gua, recorre-se tambm a

    informao disponibilizada pelo INAG [13].

    Para a caracterizao dos solos est disponvel cartografia relevante no SNIAmb [12]. A

    informao disponibilizada inclui litologia e tipo de solos.

    Para a identificao da presena de espcies e habitats naturais protegidos recorre-se a

    cartografia e bases de dados de entidades nacionais e europeias reconhecidas, nomeadamente

    o Natura 2000 viewer, disponibilizado pela Agncia Europeia do Ambiente (EEA) [14].

    Nas caracterizaes efectuadas til o recurso a ferramentas de informao geogrfica (como

    por exemplo, o GoogleEarth) para identificao do local e das coordenadas de localizao, bem

    como para obter imagens areas da rea em estudo. Reala-se que para a caracterizao do

    estado inicial recorre-se caracterizao fsico-qumica de guas e solos, como sendo os

    recursos potencialmente afectados pela instalao industrial.

    Como nota final salienta-se que a legislao nacional e comunitria aplicvel a cada um dos

    domnios deve ser tida em considerao, nomeadamente no que se refere a valores de

    referncia de qualidade da gua ou solos, bem como regimes de proteco de recursos

    naturais.

    3.2.2 Identificao das medidas de reparao e do custo associado a cada cenrio

    Reala-se que o diploma da responsabilidade ambiental somente considera danos ambientais

    sobre a gua e as espcies e habitats naturais protegidos os que se traduzem em efeitos

    significativos adversos. No caso do solo, so considerados danos quando existe risco

    significativo para a sade humana. No entanto, o diploma no estabelece os critrios que

    determinam o carcter significativo adverso de um efeito sobre a gua ou as espcies e

    habitats naturais protegidos ou os critrios de atribuio de significncia de um risco para a

    sade humana. Como forma de ultrapassar esta questo, neste trabalho so usados como

    critrios de significncia a extenso da rea afectada e o carcter permanente ou temporrio

    dos danos potenciais. No so avaliados nesta fase os cenrios de dano em que se considera

    que os efeitos sobre o ambiente ou o risco para a sade humana no so significativos.

    Nesta fase so estudados os cenrios de dano ambiental identificados anteriormente e para

    cada um so identificadas as medidas de reparao adequadas aos danos ambientais e

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    26

    calculados os respectivos custos (Figura 5). As medidas de reparao consideradas esto

    associadas aos danos gua, solo e espcies e habitats naturais protegidos, dentro do

    enquadramento da responsabilidade ambiental.

    Para os danos causados na gua so identificadas as medidas que possibilitam a restituio do

    ambiente ao seu estado natural (medidas de reparao primria) e, nos cenrios em que tal

    no possvel, equacionam-se medidas de reparao complementar (proporcionam um nvel

    de recursos naturais similar ao do estado inicial) e as medidas compensatrias (que permitem

    compensar as perdas transitrias at a reparao primria ter atingido os seus objectivos).

    Em relao aos danos no solo, so identificadas medidas que previsivelmente garantem que

    este no pode causar efeitos nefastos na sade humana, atravs da eliminao, reduo ou

    controlo dos contaminantes presentes.

    As medidas de reparao so baseadas nas tecnologias ambientais disponveis e seleccionadas

    em funo da sua adequao a cada cenrio, tendo por base o tipo de contaminantes

    introduzidos no ambiente, a extenso espacial e temporal dos danos e a existncia de risco

    para a sade humana. Quando necessrio, para determinar a extenso espacial dos danos,

    como a disperso de um dado contaminante no solo, recorre-se a modelos simplistas de

    disperso de contaminantes. A determinao dos custos das medidas de reparao previstas

    para cada cenrio tem por base informao geral sobre custos de tratamento disponvel na

    bibliografia corrente.

    Figura 5. Tarefas a realizar durante a Fase 2 (identificao das medidas de reparao e dos custos associados a

    cada cenrio)

    DANO 1 DANO 2 ..... DANO n

    MEDIDAS DE

    REPARAO

    MEDIDAS DE

    REPARAO .....

    MEDIDAS DE

    REPARAO

    CUSTO 1

    CUSTO 2

    ..... CUSTO

    n

  • Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica

    27

    4. AVALIAO DA RESPONSABILIDADE

    POR DANOS AMBIENTAIS DE UMA

    INSTALAO INDUSTRIAL DO SECTOR DA

    METALOMECNICA

    4.1 CARACTERIZAO DA INSTALAO INDUSTRIAL E DO MEIO

    ENVOLVENTE

    A instalao industrial em estudo uma empresa de mdia dimenso, do sector da

    metalomecnica, que se dedica essencialmente fabricao de componentes metlicos para

    veculos de duas rodas. Com entrada em funcionamento em 1977, possui actualmente uma

    capacidade de produo instalada de 1 450 000 unidades anuais. Em 2010 cerca de dois teros

    da produo foi colocada no mercado internacional. O produto final maioritariamente

    exportado para diversos pases da Europa, destacando-se as vendas para Espanha, Itlia e

    Holanda.

    O regime de funcionamento de 1 turno dirio de 8 horas, durante 5 dias por semana. No

    entanto, em perodos com maiores necessidades produtivas, este regime alterado, sendo

    realizadas horas extraordinrias de trabalho. A 31 de Dezembro de 2010 contava com a

    colaborao de 111 trabalhadores.

    A empresa possui o seu sistema de gesto da qualidade certificado pela norma NP EN ISO

    9001:2008. Actualmente est em fase de implementao um sistema de gesto ambiental,

    integrado no sistema de gesto da empresa, de acordo com a norma NP EN ISO 14001:2004.

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