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1 AVALIAÇÃO DA REDUÇÃO TÉRMICA E REDUÇÃO DE RUÍDO EM TELHAS GALVANIZADAS COM E SEM APLICAÇÃO DE TINTA EMBORRACHADA Letícia Alves da Costa 1 , Paulo Donádio 2 , Rafael Dias 1 , Ricardo Antônio Francisco Machado 1 1 Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Química, Laboratório de Controle de Processos / 2 Anjo Química do Brasil Ltda. E-mail p/ contato: [email protected] RESUMO Este trabalho buscou quantificar a redução térmica provocada pela aplicação de tinta na qualidade emborrachada em telhas de zinco galvanizadas expostas a condições extremas de luz solar, bem como, avaliar a atenuação do ruído causado pela chuva. Para a avaliação da redução térmica foi realizado um teste que consistiu em monitorar e fazer um comparativo da temperatura interna de corpos de prova fechados e cobertos com a telha de zinco galvanizado sem pintura com as revestidas com a tinta emborrachada nas cores cinza, vermelho e branco. A temperatura foi registrada a cada 10 segundos através de um “field logger”, no qual foram conectados termopares aos seus canais de entrada para a aquisição da temperatura. Os resultados mostraram que a temperatura interna dos corpos de prova nos quais as cores cinza e vermelho foram utilizadas, apresentaram valores maiores, resultando em uma média de 30,5 ºC. Já a cor branca apresentou o melhor resultado de redução térmica, atingindo uma diferença de 3 °C comparando-se ao corpo de prova “sem tinta” e 4,5 °C comparando-se as cores escuras. A mesma tendência foi observada na superfície da telha, nesse caso com diferenças ainda mais significativas. A diferença de temperatura da cor branca chegou a valores próximos a 25 °C para a cor cinza, 14,7 °C para a cor vermelha e 20,4 °C para a telha sem pintura. Quanto à avaliação da atenuação de ruído, causado pela chuva, a mesma foi medida por meio de um teste que consiste em criar uma chuva artificial controlada para medir o nível de pressão sonora em várias condições com ou sem a tinta aplicada na telha. Para realizar as medições foi construído um sistema de geração artificial de chuva e um suporte para os corpos de prova (4 telhas galvanizadas, sendo 3 dessas pintadas com tintas emborrachadas nas cores branca, vermelha e cinza). Foram feitas medições com duração de 60 segundos dos níveis de pressão totais e espectros de ruído em banda de 1/3 de oitava para avaliar a atenuação causada pela aplicação da tinta no corpo de prova. A atenuação de ruído que a tinta causa pode ser dada pela comparação do nível de ruído das telhas sem tinta com a telha com tinta. Os resultados para o teste de atenuação de ruído mostraram que nos corpos de prova que possuíam pintura ficou entre 4 a 5 dBA (escala do ouvido humano). Sendo que a tinta cinza demonstrou a menor atenuação nos níveis de ruído globais tanto em dB(Z) como em dB(A). Como o ouvido humano tem sensibilidade de percepção até 1 dB, podemos afirmar que a atenuação obtida (4 a 5 dBA) é boa e bem percebida. Nota–se para ruído externo (que depende da montagem especifico de cada caso) uma atenuação obtida que fica entre 5 a 7 dBA. Diante do exposto, a tinta emborrachada, mostrou ser uma boa alternativa para redução térmica e acústica de edificações.

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AVALIAÇÃO DA REDUÇÃO TÉRMICA E REDUÇÃO DE RUÍDO EM TELHAS GALVANIZADAS COM E SEM APLICAÇÃO DE TINTA

EMBORRACHADA

Letícia Alves da Costa1, Paulo Donádio2, Rafael Dias1, Ricardo Antônio Francisco Machado1

1Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Química, Laboratório de Controle de Processos / 2Anjo Química do Brasil Ltda.

E-mail p/ contato: [email protected]

RESUMO

Este trabalho buscou quantificar a redução térmica provocada pela aplicação de tinta na qualidade emborrachada em telhas de zinco galvanizadas expostas a condições extremas de luz solar, bem como, avaliar a atenuação do ruído causado pela chuva. Para a avaliação da redução térmica foi realizado um teste que consistiu em monitorar e fazer um comparativo da temperatura interna de corpos de prova fechados e cobertos com a telha de zinco galvanizado sem pintura com as revestidas com a tinta emborrachada nas cores cinza, vermelho e branco. A temperatura foi registrada a cada 10 segundos através de um “field logger”, no qual foram conectados termopares aos seus canais de entrada para a aquisição da temperatura. Os resultados mostraram que a temperatura interna dos corpos de prova nos quais as cores cinza e vermelho foram utilizadas, apresentaram valores maiores, resultando em uma média de 30,5 ºC. Já a cor branca apresentou o melhor resultado de redução térmica, atingindo uma diferença de 3 °C comparando-se ao corpo de prova “sem tinta” e 4,5 °C comparando-se as cores escuras. A mesma tendência foi observada na superfície da telha, nesse caso com diferenças ainda mais significativas. A diferença de temperatura da cor branca chegou a valores próximos a 25 °C para a cor cinza, 14,7 °C para a cor vermelha e 20,4 °C para a telha sem pintura. Quanto à avaliação da atenuação de ruído, causado pela chuva, a mesma foi medida por meio de um teste que consiste em criar uma chuva artificial controlada para medir o nível de pressão sonora em várias condições com ou sem a tinta aplicada na telha. Para realizar as medições foi construído um sistema de geração artificial de chuva e um suporte para os corpos de prova (4 telhas galvanizadas, sendo 3 dessas pintadas com tintas emborrachadas nas cores branca, vermelha e cinza). Foram feitas medições com duração de 60 segundos dos níveis de pressão totais e espectros de ruído em banda de 1/3 de oitava para avaliar a atenuação causada pela aplicação da tinta no corpo de prova. A atenuação de ruído que a tinta causa pode ser dada pela comparação do nível de ruído das telhas sem tinta com a telha com tinta. Os resultados para o teste de atenuação de ruído mostraram que nos corpos de prova que possuíam pintura ficou entre 4 a 5 dBA (escala do ouvido humano). Sendo que a tinta cinza demonstrou a menor atenuação nos níveis de ruído globais tanto em dB(Z) como em dB(A). Como o ouvido humano tem sensibilidade de percepção até 1 dB, podemos afirmar que a atenuação obtida (4 a 5 dBA) é boa e bem percebida. Nota–se para ruído externo (que depende da montagem especifico de cada caso) uma atenuação obtida que fica entre 5 a 7 dBA. Diante do exposto, a tinta emborrachada, mostrou ser uma boa alternativa para redução térmica e acústica de edificações.

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1. INTRODUÇÃO

Uma série de fatores são considerados por consumidores ao comprar uma tinta,

como resistência, brilho, cor e rendimento. Hoje alguns produtos destacam-se por apresentar propriedades diferenciadas e desta forma são consideradas inteligentes, ou seja, superam as características primordiais de proteger e embelezar e exercem outras funções como ação anti-bacteriana, anti-chama, repelente, anti-mofo, anti-ferrugem, entre outras. Neste sentido as tintas Emborrachadas possuem o conceito de inteligente, pois propiciam aos ambientes redução térmica e atenuação de ruído.

A tinta Emborrachada é um revestimento, indicado para pintura de paredes externas e internas e telhados com aderência direta em fibrocimento, barro, concreto, zinco, alumínio e galvanizado. O termo emborrachada foi atribuído ao produto pela capacidade de oferecer em sua aplicação final uma película com alongamento na ordem de 330%, porém difere do conceito elastomérico pois não tem propriedade impermeabilizante para aplicação em alvenaria.

Neste contexto, o estudo realizado teve como finalidade avaliar as propriedades alegadas, como redução térmica e atenuação do ruído provocado por chuva, pela aplicação de tinta na qualidade emborrachada em telhas de zinco galvanizadas.

1.1 ATENUAÇÃO DE RUÍDO

A parte da física responsável pelo estudo das oscilações e ondas ocorrentes em meios elásticos é denominada Acústica. Pode-se dizer, então, que Acústica é o ramo da física que estuda o som. Segundo Lazzarini (1998), o som é uma qualidade perceptiva que resulta de distúrbios (em forma de ondas) das moléculas em um meio num certo período de tempo. Para que este fenômeno ocorra são precisos três elementos: emissor, meio de transmissão/propagação e receptores. O emissor produz um distúrbio no meio, que será percebido pelo receptor. Nota-se aqui que o meio influi na qualidade do distúrbio ao afetar a maneira como o mesmo se propaga. Estes distúrbios são pequenas e rápidas mudanças de pressão do meio, causadas pelo movimento das moléculas e caracterizadas por compressões e rarefações. Esse movimento se relaciona com uma onda de pressão que se propaga através do meio. As ondas mecânicas se dividem em dois tipos: longitudinais e transversais. As ondas de pressão que caracterizam o som são do tipo longitudinal e se propagam por uma série de compressões e descompressões do meio.

Para medir a energia de uma onda sonora, mede-se a quantidade de som presente nela. O que mais interessa, na verdade, é a quantidade de energia transferida por unidade de tempo (número de joules por segundo – watts) que se propagam. Como o som é uma quantidade tridimensional, leva-se em conta a área ao se falar em transmissão de energia – define-se então uma quantidade (intensidade sonora) em termos de watts por unidade de área. Essa quantidade nos dá uma medida da densidade da potência de um som que se propaga em uma direção particular.

O ouvido humano é o órgão responsável pela nossa audição e equilíbrio. Apesar de captar sons com frequências compreendidas entre 20 e 20000 Hz, só os capta se tiverem intensidade sonora suficientemente forte. Para determinar o quão forte ou fraco é um som, determina-se o nível sonoro produzido – que é uma relação entre a intensidade sonora de um som e a intensidade sonora do som mais fraco que podemos ouvir. A intensidade sonora representa o fluxo de energia por unidade de área e pode variar em uma escala muito grande (10-12). Por isto se expressa a intensidade em escala logarítmica – a escala de Decibel (dB) – em que se define como referência uma pressão sonora de 2x10-5 N/m2, valor que é tomado como o zero na escala Decibel. Se a variação do nível de pressão sonora for acima de 1 dB o ouvido humano percebe a variação, abaixo deste valor a percepção é difícil.

O nível de pressão sonora (SPL) é a medida mais usada ao se falar em amplitude da onda sonora devido à sensibilidade do ouvido às variações de pressão e

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por ser uma quantidade simples de ser medida (requer apenas os dados da pressão sonora real – Pr - e da pressão sonora de referencia - Pref).

Por causa das características da audição humana (alta sensibilidade), o nível de pressão também é expresso em uma escala logarítmica, caracterizada pela equação 1:

SPL = 20 log(Pr/Pref) Equação (1)

1.2 REDUÇÃO TÉRMICA

A radiação solar é responsável por importante parcela da carga térmica de edifícios e galpões e seu impacto sobre esta carga depende, principalmente, da absortância solar do envelope construtivo.

Pintar a cobertura com cores altamente refletivas permite diminuir o ganho de calor solar através da mesma, enquanto mantém a capacidade da edificação perder calor rapidamente após o pôr-do-sol (Dornelles, 2008). O uso de coberturas com elevada capacidade de refletância solar pode diminuir consideravelmente a temperatura do ar no interior das edificações e, em uma escala mesoclimática, diminuir as temperaturas do ambiente urbano que, por sua vez, reduzem os riscos das ilhas de calor (Cheng, 2004). Além disso, a elevada refletância permite diminuir o uso anual de energia em climas onde predomina o uso de refrigeração (Dornelles, 2008).

Uma pesquisa realizada pela Green Building Council Brasil (2008), avaliou 78 diferentes cores e tipos de tintas, entre acrílica fosca, acrílica semi-brilho e PVA fosca, extraídas dos catálogos de dois grandes fabricantes brasileiros. As cores que mais absorvem calor são as de tonalidade escura, como o preto, que absorve 98% do calor solar que chega à superfície, cinza-escuro (90%), verde-escuro (79%), azul-escuro (77%), amarelo-escuro (70%), marrom e vermelho-escuro (70%). Sendo assim, a diferença da temperatura superficial máxima no verão em regiões desérticas, entre uma cobertura branca e uma preta, pode chegar a 40 °C. O ganho de calor resultante no interior da edificação dependerá, fundamentalmente, das propriedades termofísicas da cobertura, mas a absortância tem efeito bastante significativo.

Bansal, Garg e Kothari (1992) realizaram medições em protótipos para analisar o efeito da cor da estrutura sobre o desempenho térmico de edificações. Os resultados experimentais demonstraram que a “cor” do envelope (ou sua absortância) tem efeito considerável sobre o comportamento térmico das edificações. De acordo com seus resultados, as temperaturas do ar no verão em um ambiente pintado de branco (baixa absortância) podem ser cerca de 7 °C mais baixas do que no mesmo ambiente pintado de preto (elevada absortância). Para o inverno, essa diferença pode ser de até 4 °C, mesmo com trocas de ar no ambiente.

Cheng (2004) apresenta resultados de um experimento realizado em Hong Kong, em que foram medidas as temperaturas do ar no interior e exterior de dois protótipos pintados com duas cores diferentes: branco fosco, com absortância solar de 25% e preto fosco, com absortância solar de 80%. Os resultados demonstraram que, tanto no verão quanto no outono, a temperatura máxima interna no protótipo preto foi cerca de 12 °C superior à do protótipo branco. A temperatura do ar no protótipo branco, durante o dia, permaneceu próxima à temperatura do ar exterior, com temperatura máxima interna de cerca de 2 °C a 3 °C superior à externa. Durante a noite, as temperaturas internas nos dois protótipos foram similares.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Todas as medições foram realizadas nas proximidades do Laboratório de

Controle de Processos, nas dependências do departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos, situado no Campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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Os corpos de prova testados foram quatro telhas galvanizadas de 1,25 por 1,00m, sendo três delas pintadas com tinta emborrachada em diferentes cores, segundo a Tabela 1. Na Figura 1 pode ser observado o suporte utilizado para sustentar os corpos de prova.

Tabela 1: Referência entre telha e tinta aplicada. Amostra Discriminação Telha 1 Sem tinta Telha 2 Tinta emborrachada – Branca Telha 3 Tinta emborrachada – Vermelha Telha 4 Tinta emborrachada – Cinza

Figura 1 – Suporte para os corpos de prova.

2.1 ATENUAÇÃO DE RUÍDO

Para que as medições pudessem ser realizadas, foi construída uma estrutura metálica que deu sustentação a caixa d’água utilizada para gerar chuva artificial e uma estrutura em madeira para servir de suporte aos corpos de prova (Figura 2).

Para realizar as medições foi utilizado um medidor de nível de pressão sonora, que foi verificado antes do início e do término das medições com o auxilio de um calibrador. O sistema de geração artificial de chuva consistia em uma estrutura metálica com suporte para o tanque de água, no qual foram feitos furos de aproximadamente 5 milímetros distribuídos uniformemente (conforme descrito na norma ISO 140-18:2006). Esse tanque foi colocado na posição horizontal, sem inclinação, a 4,2 metros de altura em relação ao chão. Foram utilizadas duas mangueiras comuns para que se atingisse a vazão necessária para o tanque de água. O corpo de prova e a estrutura suporte ficaram situados no nível do chão e abaixo do tanque de água de forma que as gotas caíssem na melhor distribuição possível sobre o corpo de prova, como mostrado na Figura 1. Foram feitas medições dos níveis de pressão totais e espectros de ruído em banda de 1/3 de oitava para avaliar a atenuação que a tinta aplicada ao corpo de prova poderia causar.

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Figura 2 – Estrutura utilizada para executar os experimentos/medições.

As medições duraram 60 segundos, sendo feitas três medições no interior da estrutura de suporte, com o sistema de geração de chuva artificial ligado e estabilizado.

2.2 REDUÇÃO TÉRMICA

Para realizar as medições foi utilizado um “field logger” caracterizado como um

sistema de aquisição e registro de variáveis analógicas. Este equipamento opera como um registrador eletrônico de dados, armazenando as informações adquiridas em sua memória interna para análise posterior. Aos seus oito canais de entrada foram conectados termopares Pt-100 para aquisição da temperatura. O intervalo entra cada aquisição foi de 10 segundos.

Na Figura 3 pode ser observada a estrutura montada para a execução dos experimentos/medições. Foram colocados dois sensores de temperatura por estrutura, um colado na superfície interna da telha e outro disposto no interior da estrutura, próximo ao chão.

Figura 3 – Disposição dos sensores.

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3. RESULTADOS

3.1 ATENUAÇÃO DE RUÍDO Os resultados a seguir serão mostrados na faixa de frequência de 1/3 de oitava

com variação de 100 a 5000 Hz (conforme norma ISO 140-3) em dB(Z) e com o valor global em dB(Z) e dB(A). O local em que foram realizadas as medições possuía um ruído de fundo abaixo de 15 dB em relação ao ruído das medições realizadas, sendo assim, não foi preciso realizar correções das medições (é importante notar que todos os valores apresentados estarão em decibéis).

A Tabela 2 apresenta as medições realizadas no interior da estrutura de suporte do corpo de prova e uma medição externa para o corpo de prova com telha sem tinta. Da mesma forma, a Tabela 3 apresenta os resultados para as medições de ruído externas ao corpo de prova.

Tabela 2: Resultados de medição no interior da estrutura (média de 03 medidas).

Frequência Corpo de Prova (Telha)

Branca Cinza Vermelho Sem Tinta 100 Hz 74,45 73,91 74,70 76,88 125 Hz 70,73 73,12 71,52 71,06 160 Hz 62,47 66,50 63,56 66,84 200 Hz 65,27 66,54 64,63 65,19 250 Hz 77,20 77,73 74,71 77,77 315 Hz 72,93 73,56 73,65 77,12 400 Hz 72,25 77,10 74,35 74,08 500 Hz 76,30 79,73 77,47 80,03 630 Hz 69,07 71,98 69,58 76,50 800 Hz 69,63 72,28 71,31 74,99 1 kHz 74,17 75,36 74,49 78,51

1,25 kHz 76,68 75,02 76,28 79,97 1,6 kHz 70,79 71,74 71,69 76,85 2 kHz 70,22 70,61 70,86 77,39

2,5 kHz 63,33 63,98 63,94 72,95 3,15 kHz 61,83 62,81 63,03 71,04

4 kHz 62,03 63,03 63,01 71,19 5 kHz 61,36 62,45 62,16 70,44

Global dB(A) 82,25 83,35 82,65 87,31 Global dB(Z) 85,55 86,88 85,77 89,13

A atenuação de ruído que a tinta provoca pode ser dada pela comparação entre

o nível de ruído das telhas sem tinta com o nível de ruído das telhas com tinta. A Tabela 4 mostra o resultado de atenuação de pressão sonora para os três corpos de prova, diferente para as medições interna e externa.

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Tabela 3: Resultados de medição no exterior da estrutura (média de 03 medidas).

Frequência Corpo de Prova (Telha)

Branca Cinza Vermelho Sem Tinta 100 Hz 54,79 57,36 57,92 58,44 125 Hz 52,13 55,11 54,99 52,11 160 Hz 52,75 52,42 54,54 55,12 200 Hz 57,36 58,69 59,71 61,59 250 Hz 59,01 59,50 60,65 61,62 315 Hz 59,92 62,55 60,84 62,96 400 Hz 62,61 65,10 64,46 64,38 500 Hz 63,39 64,11 65,22 66,81 630 Hz 62,16 65,09 65,21 66,55 800 Hz 61,79 63,63 63,40 67,12 1 kHz 63,65 66,15 66,05 70,44

1,25 kHz 63,41 65,50 65,60 70,45 1,6 kHz 61,49 63,22 63,56 68,39 2 kHz 60,13 63,20 63,42 69,37

2,5 kHz 54,35 57,10 57,46 65,75 3,15 kHz 52,48 53,33 55,36 61,93

4 kHz 54,04 56,27 56,02 63,79 5 kHz 52,36 55,31 54,64 63,24

Global dB(A) 71,38 73,65 73,73 78,44 Global dB(Z) 73,64 75,27 75,23 78,85

Tabela 4: Níveis de atenuação de ruído para as telhas com tinta emborrachada comparando ao ruído provocado por telhas sem tinta, para medições interna e externa.

Frequência Telha Branca Telha Vermelha Telha Cinza

Interno Externo Interno Externo Interno Externo 100 Hz 2,4 3,65 2,2 0,52 3,0 1,08 125 Hz 0,3 -0,02 -0,5 -2,88 -2,1 -3 160 Hz 4,4 2,37 3,3 0,58 0,3 2,7 200 Hz -0,1 4,23 0,6 1,88 -1,4 2,9 250 Hz 0.6 2,61 3,1 0,97 0,0 2,12 315 Hz 4,2 3,04 3,5 2,12 3,6 0,41 400 Hz 1,8 1,77 -0,3 -0,08 -3,0 -0,72 500 Hz 3,7 3,42 2,6 1,59 0,3 2,7 630 Hz 7,4 4,39 6,9 1,34 4,5 1,46 800 Hz 5,4 5,33 3,7 3,72 2,7 3,49 1 kHz 4,3 6,79 4,0 4,39 3,2 4,29

1,25 kHz 3,3 7,04 3,7 4,85 4,9 4,95 1,6 kHz 6,1 6,9 5,2 4,83 5,1 5,17 2 kHz 7,2 9,24 6,5 5,95 6,8 6,17

2,5 kHz 9,6 11,4 9,0 8,29 9,0 8,65 3,15 kHz 9,2 9,45 8,0 6,57 8,2 8,6

4 kHz 9,2 9,75 8,2 7,77 8,2 7,52 5 kHz 9,1 10,88 8,3 8,6 8,0 7,93

Global dB(A) 5,1 7,06 4,7 4,71 4,0 4,79 Global dB(Z) 3,6 5,21 3,4 3,62 2,3 3,58

Analisando as tabelas acima nota-se que a atenuação do ruído nos corpos de

prova que foram pintados ficou entre 4 e 5 dBA (escala do ouvido humano). A tinta cinza apresenta menor atenuação do ruído global tanto em dB(Z) quanto em dB(A), quando comparada com as demais cores. É importante notar que na frequência de 400 Hz houve uma atenuação negativa que não teve uma contribuição significativa para a atenuação total (demonstrada pelas bandas de 2000 a 5000 Hz).

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Como mencionado anteriormente, o dB é a unidade usada para medir a intensidade sonora, sendo 1 dB a mínima variação de intensidade que o ouvido humano pode discriminar (dado extraído de matéria técnica publicada na revista digital áudio e vídeo). Como a atenuação obtida ficou entre 4 e 5 dBA podemos considerá-la boa e bem percebida. Para o ruído externo (que depende da montagem específica de cada caso) a atenuação ficou entre 5 e 7 dBA.

3.2 REDUÇÃO TÉRMICA

Na Tabela 5 e Figura 4 encontram-se apresentados os resultados obtidos para

os sensores colocados no chão da estrutura, temperatura esta que pode ser caracterizada como a temperatura do ambiente, ao longo das cinco horas de experimento.

Tabela 5: Temperatura para os sensores dispostos no chão da estrutura. Hora Temperatura ( °°°°C) – Sensor Localizado no Chão

Vermelho Branco Cinza Sem Tinta 11:30 30,6 26,0 30,8 28,7 12:00 30,3 26,1 30,6 28,6 12:30 30,1 26,6 30,5 28,8 13:00 30,2 27,1 30,5 29,0 13:30 30,3 27,6 30,6 29,1 14:00 30,1 27,7 30,5 28,9 14:30 30,3 27,9 30,6 20,0 15:00 31,3 28,2 30,6 29,1 15:30 31,3 28,1 30,5 29,0 16:00 31,2 27,8 30,5 29,0 16:30 30,8 27,3 30,2 28,8

Figura 4 - Gráfico da variação da temperatura no interior dos corpos de prova em

função do tempo.

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Por serem as tintas com maior absorbância solar, a temperatura interna dos corpos de prova onde as cores cinza e vermelho foram utilizadas, apresentaram os maiores valores ao longo de todo o experimento. Já a cor branca apresentou os melhores resultados de redução térmica por todo o período de estudo. A redução térmica pelo uso da cor branca chegou a 3 °C comparando-se ao corpo de prova “sem tinta” e de 4,5 °C para as cores escuras.

Estes resultados são semelhantes aos obtidos por Bansal (1992), que verificou uma redução de 7 °C em um ambiente revestido com a cor branca quando comparado ao mesmo ambiente revestido com a cor preta.

É importante salientar que este experimento é válido para comparar a variação de temperatura com o tempo para os materiais testados nas condições estudadas, porém medidas com diferentes condições climáticas ou em corpos de prova com tamanhos diferentes, qualquer comparação é meramente subjetiva.

Na Tabela 6 são apresentados os resultados obtidos para os sensores posicionados na superfície interna das telhas.

Tabela 6: Temperatura para os sensores dispostos na superfície da telha.

Hora Temperatura ( °°°° C) - Superfície da Telha Vermelho Branco Cinza Sem Tinta

11:30 33,7 27,8 34,7 31,5 12:00 38,8 30,0 41,8 37,2 12:30 41,3 31,1 45,1 41,9 13:00 43,4 31,7 45,9 41,0 13:16 50,2 35,5 60,5 55,9 13:30 42,0 31,4 43,5 37,3 14:00 37,5 29,9 39,7 35,8 14:30 42,2 32,1 49,6 42,5 15:00 42,5 31,5 45,9 40,1 15:30 37,5 30,0 41,8 36,8 16:00 36,9 29,2 41,1 37,9 16:30 32,3 27,7 34,8 34,2

As medidas de temperatura na superfície interna da telha são importantes, pois através delas pode-se relacionar de forma mais evidente a absortância de cada tinta com a temperatura. Como descrito anteriormente cores escuras absorvem maior quantidade de luz solar, enquanto cores claras refletem parte da luz que incidem sobre o corpo de prova. Segundo estudos do Green Building Council Brasil, a diferença de temperatura na superfície de um material com cor escura para um material com cor clara pode chegar a 40 °C. Neste experimento, como pode ser observado na Figura 5, os valores obtidos para as diferentes cores estudadas seguem tendência parecida. Num ponto de máxima incidência solar a diferença de temperatura para a cor branca chegou a valores próximos a 25° C para a cor cinza, 14,7° C para a cor vermelha e 20,4° C para a telha sem pintura.

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Figura 5 - Gráfico da variação da temperatura na superfície da telha em função

do tempo.

Apesar de serem observadas diferenças tão significativas da temperatura na superfície das telhas, a transferência de calor para o meio vai depender de fatores como o dimensionamento do envelope construtivo e do tipo de material utilizado na cobertura.

4. CONCLUSÕES

Diante das possíveis mudanças na legislação de grandes cidades brasileiras

obrigando a aplicação de cores claras em telhados, a tinta emborrachada na cor branca apresenta-se como uma excelente alternativa. Em dias de forte calor e com grande incidência de luz solar a temperatura ambiente em estruturas onde a tinta foi aplicada pode ser reduzida em 3,0 °C, e na superfície da cobertura a redução pode chegar a 20,4° C quando comparado às telhas de zinco. Para o caso de coberturas revestidas com cores escuras a redução é ainda maior, chegando a 4,5° C no ambiente e 25,0° C na superfície da cobertura. Quanto à atenuação acústica provocada pela aplicação da tinta na qualidade emborrachada, pode-se notar indiscutivelmente que houve atenuação de ruído nos corpos de prova que possuíam pintura na faixa entre 4 a 5 dBA (escala do ouvido humano). A tinta cinza demonstrou uma atenuação menor que as demais nos níveis de ruído globais tanto em dB(Z) como em dB(A). Considerando que o ouvido humano tem sensibilidade de percepção ate um dB, então o atenuação obtida de 4 a 5 dBA são considerada boa e bem percebida. Para ruído externo (que depende da montagem especifica do nossa caso) a atenuação obtida é maior que para a área interna, ficando entre 5 a 7 dBA.

5. REFERÊNCIAS

ÁUDIO E VÍDEO. Matéria Técnica: Ouvido Humano. Em: <http://www.hifishow.com.br/materiatecnica/ouvido_humano.aspx> Acesso em 27 fev. 2012.

BANSAL, N. K.; GARG, S. N.; KOTHARI, S. Effect of exterior surface colour on the thermal performance of buildings. Building and Environment, v. 27, p. 31-37, 1992.

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CHENG, V. Predicting thermal performance of building design i n Hong Kong: scale-model measurement and field study. 2004. 171p. Thesis (Master of Philosophy in Architecture) – The Chinese University of Hong Kong, Hong Kong. 2004.

DORNELLES, K.A. Absortância Solar de Superfícies Opacas: Métodos de Determinação e Base de Dados para Tintas Látex Acrílica e PVA. 152p, Tese de Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008.

GREEN BUILDING COUNCIL BRASIL. Lei Telhados Brancos. Em: <http://www.gbcbrasil.org.br/pt/index.php?pag=noticia_full.php&id=176>. Acesso em: 04 mar. 2011.

ISO 140 – 3: 1995. Acoustics -- Measurement of sound insulation in buildings and of building elements -- Part 3: Laboratory measurements of airborne sound insulation of building elements

ISO 140-18:2006. Acoustics – Measurement of sound insulation in buildings and of building elements – Part 18: Laboratory measurement of sound generated by rainfall on building elements

LAZZARINI, V.E.P. Elementos de acústica. Londrina, 1998.

POLITINTAS. Pinte o Telhado de Branco e Ajude a Diminuir a Temperatura do Planeta. Em: <http://www.politintas.com.br/dicas-de-pintura/600-pinte-o-telhado-de-branco-e-ajude-a-diminuir-a-temperatura-do-planeta-.html>. Acesso em: 14 mar. 2011.