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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DA FALA EM UM GRUPO DE CRIANÇAS USUÁRIAS DE IMPLANTE COCLEAR
CURITIBA-PR 2010
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DA FALA EM UM GRUPO DE CRIANÇAS USUÁRIAS DE IMPLANTE COCLEAR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção da nota final pelo Acadêmico Mário Cezar Camparim, Curso de graduação em Fonoaudiologia. Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Tuiuti do Paraná. Profª Drª Ângela Ribas
CURITIBA-PR 2010
Agradecimentos À UTP pela concessão da bolsa de estudos possibilitando minha
permanência no Curso de Fonoaudiologia.
À Ana Paula Kochen, Fonoaudióloga atuante no Hospital Iguaçu, que me
auxiliou na pesquisa de campo dando-me suporte e fornecendo os dados dos
pacientes.
À Profª Drª Ângela Ribas que orientou este trabalho com cuidado
levinasiano e zelo acadêmico.
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1 2. O IMPLANTE COCLEAR .................................................................................. 2
2.1 Componentes do Implante Coclear ........................................................2 2.2 Tipos de Implante Coclear ………………………………………………….3 2.3 A evolução do Implante Coclear ........................................................... 4
3. PERCEPÇÃO AUDITIVA ...................................................................................8 3.1 Categorias de Audição ..........................................................................10 4. MATERIAL E MÉTODO ................................................................................... 12 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 14
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 21 7. REFERÊNCIAS ............................................................................................... 22
1. INTRODUÇÃO 1
A deficiência auditiva neurossensorial severa ou profunda bilateral, quando
congênita ou adquirida logo no início da vida, traz conseqüências graves para o
desenvolvimento lingüístico, cognitivo e social do sujeito. Em perdas auditivas
profundas, muitas vezes o uso do aparelho de amplificação sonora individual
(AASI) e a intervenção terapêutica não são suficientes para garantir seu
desenvolvimento oral.
Hoje em dia o implante coclear está sendo bastante utilizado como opção
de tratamento para pacientes com deficiência auditiva neurossensorial profunda
bilateral, mas somente o uso desse dispositivo eletrônico não garante o
desenvolvimento das habilidades auditivas e de linguagem, é necessário que haja
acompanhamento fonoaudiológico rigoroso, além da presença de outros
profissionais e, da participação e apoio da família.
O implante coclear multicanal oferece ao paciente a possibilidade de falar
ou melhorar a inteligibilidade de sua fala. Auxilia também na percepção dos sinais
de alerta ou perigo. Melhora a capacidade de comunicação, aprendizagem, e as
relações sociais. A vantagem do uso do implante coclear em crianças é a
possibilidade de desenvolvimento da linguagem e percepção da fala. Os
resultados são mais satisfatórios quando o procedimento é realizado no inicio da
surdez, principalmente nos casos pré-linguais ou congênitos (FRANCO 2002).
O objetivo deste trabalho é relatar achados fonoaudiológicos da avaliação
da percepção de fala antes e depois da realização do implante coclear de um
grupo de crianças usuárias de implantes multicanais, realizados em um serviço de
atendimento particular de Curitiba.
2. O IMPLANTE COCLEAR 2
O implante coclear é uma prótese eletrônica introduzida cirurgicamente na
orelha interna do deficiente auditivo.
Ao contrário da prótese auditiva convencional, o implante coclear capta a
onda sonora e a transforma em impulso elétrico, estimulando diretamente o nervo
coclear.
A idéia do implante coclear começou na década de 30/40, porém somente
em 1957, Djourno e Eyries, descreveram pela primeira vez os efeitos da
estimulação do nervo auditivo em um indivíduo surdo. Desde então, a tecnologia
envolvendo implantes cocleares desenvolveu-se rapidamente. Desde a década de
70 até os dias atuais, já são mais de 65 mil pacientes implantados em todo o
mundo. (KOZLOWSKI 1997)
2.1. Componentes do implante coclear
O implante coclear é composto por duas unidades: unidade externa e
unidade interna.
A unidade externa é usada pelo paciente conforme sua vontade, pois fica
externamente conectada a sua cabeça, com ímãs fazendo a conexão da parte
externa com a parte interna, além, de conter um microfone, um processador de
fala, e uma antena transmissora.
A unidade interna, cirurgicamente implantável, contém um
receptor/estimulador e um fino cabo que contem feixes de eletrodos.
Os componentes essenciais que compõe o sistema de implante coclear
são:
1. Microfone direcional: situado no compartimento retroauricular, capta a
informação acústica e converte em sinais elétricos;
2. Processador de fala externo: filtra, analisa e digitaliza o som em sinais
3
codificados de acordo com uma estratégia pré-definida;
3. Antena de transmissão: envia os sinais codificados como sinais de rádio FM
para o receptor;
4. Receptor/estimulador (uma das partes internas do implante fica debaixo da
pele): libera energia elétrica adequada para o feixe de eletrodos inseridos na
cóclea;
5. Feixe de eletrodos: estimulam as fibras nervosas remanescentes da cóclea;
2.2. Tipos de implante coclear
Os implantes cocleares podem ser monocanais e multicanais.
Os implantes monocanais foram amplamente utilizados durante as décadas
de 70 e 80. Este tipo de implante estimula o nervo auditivo através de um campo
elétrico formado por dois eletrodos, um ativo na cóclea ou em sua superfície
localizado fora da cóclea. Este tipo de estimulação, denominada monopolar,
permite que a corrente elétrica se espalhe por uma área relativamente grande,
possibilitando o estímulo de um grande número de elementos neurais a uma
intensidade baixa de corrente elétrica. Os implantes monocanais capacitaram os
pacientes ao reconhecimento de sons ambientais, facilitaram a leitura labial e
proporcionaram uma melhora psicológica, porém, falham em permitir a
discriminação e o reconhecimento de palavras e frases sem o auxílio da leitura
labial.
Com o avanço da tecnologia digital e da informática, houve um progresso
da bioengenharia, possibilitando que haja sistemas mais complexos de
estimulação sensorial e, principalmente, o desenvolvimento de processadores de
fala que permitem estratégias de estimulação mais sofisticadas.
Os sistemas multicanais foram desenvolvidos com o objetivo de utilizar,
4
além, da estimulação monopolar, uma estimulação que proporciona um campo
elétrico mais específico. Desde então os sistemas multicanais suplantaram os
aparelhos monocanais na discriminação de freqüências sonoras e percepção da
fala, praticamente sendo substituídos completamente.
2.3. A evolução do implante coclear Outros cientistas interessados no sistema auditivo passaram a investigar os
efeitos da estimulação do aparelho auditivo. Tentativas na mudança da fonte de
estimulação e da fórmula do estímulo provocaram diferentes sensações. Brenner,
em 1868, alternando a polaridade, a taxa, e a intensidade do estímulo, publicou
que a sensação auditiva não era tão desconfortável como em outras ocasiões. A
corrente aplicada foi pela primeira vez de forma bipolar.
Após um período de desinteresse científico pela estimulação do aparato
auditivo, houve um ressurgimento pelo tema, que foi notado com as descrições de
Glen Wever e Charles Bray em 1930. Os dois eram professores de Psicologia da
Universidade de Princeten e demonstravam interesse no mecanismo e fisiologia
da audição. Neste ano publicaram que o ouvido era capaz de gerar sinais
bioelétricos em resposta a uma estimulação auditiva. Esta descoberta trouxe
avanços na área e então foi descrito o fenômeno do microfonismo coclear ou
Efeito Wever-Bray. Ernest Glen Wever sempre denominou estes potenciais
endococleares como AC Cochlear Potentials.
Em 1936, os russos Gersuni e Volokhov propuseram que o órgão
responsável pela captação dos sons era a cóclea, pois mesmo após a remoção da
Membrana do Tímpano e da cadeia ossicular, o estímulo sonoro era captado.
Conseguiram dessa forma, determinar que os estímulos elétricos deveriam ser
aplicados no órgão receptor da audição para conseguir uma melhor
reprodutibilidade e qualidade sonora.
5
Sobre os estímulos elétricos aplicados à Cóclea, Stevens e Jones
propuseram que ocorria um estímulo eletrofônico, ou seja, a corrente elétrica
desencadearia ondas de vibração sonora que poderiam estimular o aparato
auditivo. O estímulo a partir de uma corrente elétrica desencadeia a audição de
três formas:
- O ouvido médio atuaria como um transdutor, que converte a energia do campo
elétrico criado na orelha média em vibrações mecânicas capazes de produzir
sons.
- Um efeito mecânico da energia elétrica sobre a membrana basilar e subseqüente
estímulo nas células ciliadas externas.
- Estimulação direta da corrente elétrica sobre o nervo auditivo.
Em 1950, durante a realização de um procedimento neurocirúrgico,
Lundberg estimulou o nervo auditivo com uma corrente elétrica sinusoidal e o
paciente referiu apenas barulhos sem discriminação auditiva. Esta foi a primeira
tentativa de estimular as vias auditivas de um ser humano. Sete anos mais tarde,
Djourno e Eyries implantaram um eletrodo e tentaram a estimulação elétrica de um
paciente com surdez profunda. A estimulação foi realizada através da emissão de
ondas de rádio e houve percepção de ruídos como o de um gafanhoto ou grilo. O
paciente foi capaz de reconhecer palavras simples como mama, papa e alô.
(KOZLOWSKI 1997)
Este primeiro teste impulsionou os cientistas sobre as possibilidades do
desenvolvimento de um aparato de transmissão de sons para o interior da cóclea,
atual procedimento, o implante coclear.
Uma tentativa de estimulação sonora das vias auditivas com eletrodos na
cóclea foi realizada pelos cirurgiões John M Doyle, William F House, e um
engenheiro eletrônico James Doyle em 1964. Em 1966, Dr Blair Simmons e cols.
da Universidade de Stanford, realizaram o implante de uma cadeia de seis
eletrodos no promontório (pequena saliência na parede interna do tímpano) e no
6
vestíbulo em contato com o modíolo da Cóclea. Esta tentativa culminou com o
melhor conhecimento da maneira do cérebro codificar as diferentes freqüências as
suas respostas ao estímulo elétrico. Mas antes, estudos foram desenvolvidos por
Sohmer e Feinmesse, em 1967, que realizaram as primeiras tentativas de registro
da atividade elétrica do tronco cerebral humano evocada por estimulações
acústicas, que ficaram conhecidas como potenciais precoces das vias auditivas e
em 1968, por Aran e Lê Bel, em Bordeaux, na França que estabeleceram as
bases da eletrococleografia como método objetivo de avaliação auditiva.
O desenvolvimento final da tecnologia do Implante Coclear veio com o
Otoneurologista William House de Los Angeles. Primeiramente ele padronizou a
inserção dos eletrodos na escala Timpânica em íntimo contato com o modíolo e
gânglio espiral. Suas tentativas iniciais não obtiveram grande sucesso,
principalmente devido a rejeições e incompatibilidades do material implantado.
Após a união com o bioengenheiro Jack Urban, o Implante Coclear se tornou uma
realidade com a introdução da tecnologia dos computadores e a confecção dos
microcircuitos.
Com a chegada de uma nova tecnologia que poderia restabelecer em parte
a audição, grandes empresas passaram a se interessar pela fabricação e
distribuição desta tecnologia. Assim, em 1972, o primeiro processador de fala é
desenvolvido para ser usado com o modelo House / 3M, um implante monocanal.
A década de 70 foi um período em que dezenas de crianças foram implantadas
com o dispositivo, e 12 anos após o FDA aprovou seu uso em larga escala para os
Estados Unidos, apesar do ceticismo da comunidade científica por todo o mundo.
Paralelamente nas universidades de Melbourne, Utah e São Francisco
iniciaram-se o desenvolvimento de Implantes Cocleares com novas tecnologias.
De especial interesse, a Universidade Australiana com a equipe do Dr. Clark e
cols. desenvolveu o primeiro Implante Multicanal, que foi comercializado com o
nome Nucleus 22. Este novo dispositivo foi lançado em 1984 e apresentava
melhor capacidade de percepção dos sons e reconhecimento da fala. Em 1985 o
7
dispositivo Nucleus da Cochlear Corporation, foi aprovado para comercialização e
utilização por adultos pelo FDA, e em 1989 a primeira criança foi implantada com
um aparelho Nucleus nos Estados Unidos. (KOZLOWSKI 1997)
O resultado altamente favorável tornou possível a realização de
procedimento em maiores que dois anos. Em 1990 no território Norte americano, a
empresa advanced bionics começa a produzir implantes multicanais e seis anos
após é liberada pelo FDA.
No Brasil o primeiro implante coclear foi realizado pelo
Otorrinolaringologista Pedro Luiz Mangabeira Albernaz, em 1977. Os Implantes
cocleares estão se tornando rapidamente parte da clinica Otológica e Audiológica.
A última década tornou possível a criação de novos processadores de fala
com diferentes estratégias de codificação e, associado à melhora na qualidade e
velocidade do sinal para transmissão, tornou o implante coclear de maior
aceitação como método de reabilitação para pessoas com perda neurossensorial
profunda bilateral.
A técnica cirúrgica mais utilizada é a da mastoidectomia com uma
timpanotomia posterior. O eletrodo ou grupo de eletrodos são introduzidos na
cóclea através da janela redonda. O paciente retorna para os cuidados pós-
operatórios comuns às outras cirurgias de ouvido, e após quatro a seis semanas,
o paciente retorna para colocação do componente externo e ativação do implante
coclear.
Apesar de todo o desenvolvimento e conhecimento cientifico na
Otorrinolaringologia, o processo degenerativo natural da vida humana ainda é
corrente. Zumbidos, vertigens e perda auditiva (hipoacusia) continuam sendo
fatores que contribuem na diminuição de qualidade de vida. Estas queixas se
tornam ainda mais importantes quando observamos crianças sendo afetadas,
antes mesmo de terem vivenciado experiências auditivas. Isto impulsionou o
desenvolvimento das próteses auditivas implantáveis e dos implantes cocleares.
(BEVILACQUA, 1997)
3. PERCEPÇÃO AUDITIVA 8
A percepção auditiva nada mais é do que um som transformado em
informação útil. Quando há um déficit desta percepção, o sujeito não é capaz de
fazer o uso perfeito deste som, e compreender a mensagem na íntegra. Qualquer
perda auditiva independentemente do seu grau, mesmo as perdas auditivas de
grau leve, compromete a essa percepção auditiva.
Para que aconteça a percepção auditiva é necessário um conjunto de
várias funções além dos estímulos sonoros, como o nome já diz, percepção
auditiva é a recepção e interpretação dos sons através da audição, e também está
relacionado com o envolvimento de outras funções auditivas superiores que não
podem ser medidas ou mensuradas diretamente, uma vez que é preciso o
amadurecimento do cérebro e a significação de cada som ao sujeito desde seu
nascimento. Segundo Bateson (1986), é o cérebro que forma os sons e dá o
significado ao que nós achamos que percebemos.
Quando nos comunicamos, estamos utilizando na maioria das vezes a
linguagem verbal por intermédio da nossa fala. Essa percepção dos sons da fala
envolve um conjunto de sensações, a recepção, a discriminação, o
reconhecimento de diferentes sons dentro do sistema lingüístico que ultrapassa a
uma simples detecção de sons.
Para compreender a mensagem falada é importante que haja subsídio em
algumas condições, é necessário que o falante utilize de atenção à mensagem a
ser passada, não competir com o ruído ambiental, fatores supra-segmentais,
temporais, ritmo, velocidade de fala, articulação, pronuncia e qualidade vocal,
além dessas condições, é certo que a audição será priorizada sobre os demais
sentidos, e lembrando sempre que é imprescindível a percepção auditiva, como a
redundância de pistas cinestésicas, vibratórias, tátil e principalmente visual para
que possa ser determinado o grau de dificuldade que o sujeito receberá a
mensagem. Nesta percepção identificam-se algumas habilidades como a detecção
do som, discriminação, localização, reconhecimento, compreensão, atenção e a
9
memória auditiva para que exista a percepção. (BEVILACQUA & FORMIGONI
1998).
A percepção auditiva refere-se à forma como o sujeito capta a informação
no meio em que vive, podendo ser visual, auditiva, tátil, olfativa e gustativa.
Lúria (2002) relatou que para haver a percepção tem que existir a
estimulação sensorial, com sinais físicos, características de situação e posição, e
experiências anteriores, assim o cérebro realiza a seleção, interpretação e
integração dos mesmos para interpretar o sentido, isto é, a percepção. Nos
últimos anos foram propostos diferentes sistemas para tentar explicar a percepção
auditiva. Sempre baseados em distinções da acústica e articulatória.
Segundo Kozlowski (1997) há duas formas para tentar explicar a percepção
auditiva: a percepção auditiva passiva e a percepção auditiva ativa.
Na percepção passiva da fala é baseada na noção de que as
características das ondas acústicas da fala são registradas automaticamente
(Abbs & Sussman, 1971). Sendo assim, as células corticais são as responsáveis
pela detecção das ondas sonoras, que passivamente são registradas. Nessa
teoria é demonstrado que somente os aspectos fonológicos da fala são
decodificados por meio das localizações neurossensoriais receptivas.
E no modelo de percepção auditiva ativa da fala, Stevens & House (1972)
defendem a hipótese de que uma análise preliminar do estímulo acústico pode ser
realizada. Em um estado inicial, algumas informações fonéticas são
diferentemente decodificadas por meio de traços auditivos invariáveis que estão
em relação direta com os segmentos fonéticos.
3.1 CATEGORIAS DE AUDIÇÃO 10
Crianças com perdas auditivas severas ou profundas, quando usam AASI
ou implante coclear pela primeira vez, não sabem interpretar os sons ou estímulos
recebidos. Será necessário um trabalho que possibilite dar significado a eles
associando-se a fonte geradora, trabalho esse que tenha como objetivo praticar a
habilidade particular de escuta. (BEVILACQUA & FORMIGONI 2003), segundo as
mesmas autoras, a seqüência de habilidades auditivas a serem desenvolvidas
são:
Detecção auditiva, habilidade de perceber a presença e ausência de som.
Essa é a primeira habilidade a ser desenvolvida e fundamental para que se possa
desenvolver as demais fases.
Discriminação auditiva, habilidade de discriminar dois ou mais estímulos,
percebendo se são iguais ou diferentes, o que se espera é que a criança consiga
indicar se os sons possuem diferença, tanto na articulação ou na entonação.
Reconhecimento auditivo, habilidade de identificar o som e a fonte sonora
com capacidade de classificar o que ouve, repetir o estimulo e apontar figuras,
palavras a sentenças correspondentes, são divididas em dois níveis que levam o
nome de conjunto fechado. Uma atividade de múltiplas escolhas, que é dado o
estímulo auditivo e em seguida as alternativas para que a criança consiga
aproximar o máximo possível. No conjunto aberto o estímulo é diferente, são dito
frases sem apoio de múltiplas respostas, a própria criança dirá o que ouviu.
Compreensão auditiva, habilidade para entender os estímulos sonoros sem
a necessidade de repeti-los, responder perguntas, recontar histórias e seguir
instruções, é quando a criança entende o significado da linguagem oral, e ainda,
capaz de manter um diálogo compreendendo e se fazer compreender. A
compreensão auditiva é o conjunto de todas as demais fases juntas.
Para a avaliação da percepção da fala de crianças implantadas, é comum a
utilização de testes como o TACAM (Teste de Avaliação da Capacidade Auditiva
Mínina) e do teste GASP (Glendonald Auditory Screening Procedure).
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Os resultados destes testes permitem a classificação de acordo com sete
categorias de percepção de fala, propostas por GEERS,1994 de acordo com esta
proposta, uma seqüência de habilidades auditivas é classificada e uma nota para
o grau de audição é declarada. A isso chama-se categorias de audição, com um
simbólico numérico de zero a seis, onde zero representa o mínimo de audição e
seis o máximo de audição atingido, como segue abaixo:
0 Não é capaz de detectar a fala.
1 Detecção de fala, porém sem diferenciar os estímulos em seus
aspectos supra-segmentais.
2 Padrão de percepção (capaz de diferenciar as palavras pelos traços
supra-segmentais).
3 Iniciando a identificação de palavras. Esta criança diferencia palavras,
em conjunto fechado, com base na informação fonética (palavras que são
idênticas na duração, mas contém diferenças espectrais múltiplas).
4 Identificação de palavras por reconhecimento da vogal. Esta criança
diferencia entre palavras em conjunto fechado que diferem primordialmente no
som da vogal.
5 Identificação de palavras por meio do reconhecimento da consoante
(mão, pão, cão, chão).
6 Reconhecimento de palavras em conjunto aberto. Esta criança é
capaz de ouvir palavras fora do contexto e extrair bastante informação fonêmica, e
reconhecer a palavra exclusivamente por meio da audição.
4. MATERIAL E MÉTODO 12 Para a realização deste estudo foram analisados os prontuários de 28
crianças oriundas de um serviço particular de otorrinolaringologia da cidade de
Curitiba que se submeteram ao implante coclear.
O dispositivo implantado foi da marca e modelo Freedon no volume P4 com
multicanais, colocado dentro da cóclea com 22 eletrodos, divididos em bandas
freqüênciais em toda sua extensão, com informações freqüêncial entre 0/4 Hz até
6.000 Hz.
A amostra foi selecionada aleatoriamente, dentre os pacientes que
possuíam entre 2 e 12 anos.
Foram registradas as seguintes variáveis:
1 Idade
2 Sexo
3 Tipo e grau da perda auditiva
4 Causa da perda auditiva
5 Tipo de implante realizado
6 Lado implantado
7 Categoria de percepção auditiva antes e depois de realizado o
implante
8 Tempo de uso do implante
Para levantamento dos dados foram estudados os seguintes documentos:
1 Avaliação otorrinolaringológica
2 Audiometria tonal limiar
3 Imitanciometria
4 Emissão otoacústica
5 PEATE
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6 Relatório da cirurgia
7 Relatório fonoaudiológico pré e pós implante coclear
Os dados foram digitados em planilha eletrônica e analisados
qualitativamente.
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética CEP-UTP047/09.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 14
O gráfico 1 mostra a classificação da amostra por idade.
0
1
2
3
4
5
6
7 2 a n o s3 a n o s4 a n o s5 a n o s6 a n o s7 a n o s8 a n o s9 a n o s1 0 a n o s1 1 a n o s1 2 a n o s
Gráfico 1: Classificação da amostra de acordo com a idade
Verifica-se que a maior amostragem em termos de idade concentra-se na
faixa etária de 5 e 6 anos. Provavelmente tal fato é verificado neste estudo, pois
muitas crianças não tiveram acesso ao serviço público em função da demora do
diagnóstico da perda profunda. Em razão disto buscaram a realização do
procedimento em serviço particular.
Com relação ao gênero, verificou-se que 50% da amostra são do sexo
feminino e 50% do sexo masculino.
O gráfico 2 mostra que vinte e cinco crianças possuem uma perda auditiva
profunda bilateralmente e somente três crianças apresentam uma perda auditiva
severa bilateralmente.
15
0
5
10
15
20
25
30
P rofundaS evera
Gráfico 2: Classificação da amostra de acordo com o grau da perda auditiva Sabe-se que a causa da perda auditiva é fundamental para o prognóstico
da cirurgia de implante coclear. O gráfico 3 demonstra a classificação da amostra
de acordo com a etiologia da surdez.
0
5
1 0
1 5
2 0
2 5In d e f i n i d a
M e n i n g i te
R u b é o la /g r a v i d e z
S i n d r o m e /W a a n de r b o u r gC i to m e g a lo v i r u s
G e n é t i c a
M á fo r m a ç ã o d ac o c le a
Gráfico 3: Classificação da amostra de acordo com a causa da perda auditiva
16
Verifica-se que a maioria da amostra não tem causa definida para a perda
auditiva. Em seguida, três crianças perderam a audição devido a uma meningite.
Com exceção das crianças que contraíram a meningite, todas as demais já
nasceram com a perda auditiva.
O gráfico 4 especifica o tempo de uso do implante coclear de cada criança.
Verifica-se que 10 crianças estão implantadas há três anos, fato que remete
novamente ao gráfico 1, pois o uso do dispositivo, se considerarmos a faixa etária
da amostra, se dá a pouco tempo, o que certamente restringirá o ganho de
percepção auditiva esperado.
0
2
4
6
8
1 0
1 2
1 4
3 a n o s2 a n o s1 a n oa té 1 a n o
Gráfico 4: Classificação da amostra de acordo com o tempo de uso do Implante Coclear
17
No gráfico 5 está representada a classificação da amostra de acordo com o
lado implantado.
0
5
10
15
20
DireitoE s querdo
Gráfico 5: Classificação da amostra de acordo com o lado do Implante Coclear
De acordo com a literatura consultada, escolhe-se o lado que deverá ser
implantado a partir do resultado dos exames audiológicos e de imagem. Caso não
sejam relevantes estes resultados, opta-se, em função da plasticidade e
dominância cerebral, pelo lado direito em crianças pequenas (MORET, 2007).
Registramos que dezoito crianças da amostra tiveram o implante realizado no lado
direito.
18
Os gráficos 6 e 7 revelam os resultados do teste de percepção auditiva antes e
depois da realização do implante.
0
5
10
15
20
012
Gráfico 6: Classificação da amostra de acordo com a categoria de audição antes do Implante Coclear
0
2
4
6
8
10
12
01234
Gráfico 7: Classificação da amostra de acordo com a categoria de audição após o uso do Implante Coclear
19
A avaliação da percepção auditiva pelo fonoaudiólogo antes e depois de
realizado o procedimento cirúrgico tem por finalidade monitorar o desempenho
auditivo do paciente e dar subsídios para os procedimentos de regulagem,
mapeamento e ajustes do implante (RIBAS, 2010).
Todos os pacientes da amostra foram submetidos à esta avaliação e
tiveram seus resultados classificados de acordo com GEERS,1994.
Observa-se que das 28 crianças, antes da realização do implante, 19
atingiram o nível zero na categoria de audição, ou seja, não detectam sons de
fala. Tal resultado é esperado tendo em vista que a maioria dos sujeitos desta
pesquisa possuem perda auditiva profunda. Apesar de usuários de prótese
auditiva nenhuma criança ultrapassou o nível dois na categoria de audição.
Seguindo o mesmo parâmetro da avaliação de categorias de audição,
repetiu-se o procedimento após a realização do implante e seu uso. Verificamos
que dez crianças se mantiveram no nível zero de audição, porém, sete crianças
atingiram o nível um de audição, nove crianças atingiram o nível dois de audição.
A maioria das crianças que se mantém no nível zero de audição foram
implantadas há um ano ou menos.
Duas crianças atingiram o nível três e quatro de audição.
A Análise do prontuário demonstra que a grande maioria das crianças
passou a identificar os sons ambientais (campainhas, telefones, tráfegos etc.),
dado importante para a verificação de consciência auditiva.
A deficiência auditiva produz como conseqüência direta, problemas na
comunicação, e seu grau de dificuldade variam proporcionalmente ao nível da
surdez (KOZLOWKI, 1997).
Como todas as crianças da pesquisa que foram implantadas têm uma
perda auditiva de severa à profunda bilateral, foi previsto que a avaliação de
categorias de audição apresentaria um escore baixo. Também é preciso levar em
conta que uma das crianças que teve nível dois na avaliação de categoria de
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 21
O implante coclear no tratamento de crianças deficientes auditivas com
privação sensorial auditiva que não se beneficiam com o aparelho de amplificação
sonora individual (AASI), devido sua perda auditiva bilateral a partir de severa é
bastante indicado.
A pesquisa revelou o aumento da detectabilidade e compreensão dos sons
de cada criança implantada, também é importante ressaltar que o implante por si
só não gera o resultado que os pais e familiares da criança esperam sem o auxilio
contínuo e ininterrupto de terapias fonoaudiológicas.
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