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AVALIAÇÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: uma reflexão
Profa. Rosemary do Rocio Mangialardo Romanos Perini *
Profa. Dra. Roseli Terezinha Selicani Teixeira **
RESUMO
A pesquisa de caráter qualitativa descritiva teve como objetivo refletir e levantar novas possibilidades de avaliação da aprendizagem na disciplina de educação física, que contemplem os objetivos da educação buscando desmistificar a avaliação no âmbito escolar, contribuindo para melhoria do ensino aprendizagem e para formação de um ser humano crítico e reflexivo, reconhecendo-se como sujeito histórico, político, social e cultural. A revisão de literatura subsidiou as discussões realizadas com professores e posterior elaboração de questionário orientado por Hill (2002) e aplicado a vinte alunos da 5º série Colégio Estadual Pedro II de Umuarama e analisados a partir de Bardin (1994). Como resultado dos encontros do grupo de estudo, envolvendo professores de educação física, chegou-se ao consenso de que instrumentos de avaliação como o portfólio, o diário conseguem regular o processo de aprendizagem dos alunos. O processo avaliativo faz diferença quando, há critérios definidos e objetivos claros a serem atingidos nos planejamentos bem como as informações referentes a ele passe a ser de conhecimento dos alunos, pois quando ele conhece para quê e como vai ser avaliado o processo fica mais coerente com as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná podendo despertar o lado crítico do aluno. Na pesquisa de campo chegou-se à conclusão que já caminhamos muito dentro do tema avaliação, porém não se conseguiu atingir todos os alunos, portanto ainda se tem muito a estudar e investigar para que haja um avanço maior em relação à avaliação da aprendizagem.
PALAVRAS-CHAVE: Avaliação. Educação Física. Educação.
ABSTRACT
The descriptive research of qualitative character had with objective to reflect and to raise new possibilities of evaluation of the learning in disciplines of physical education, that contemplates the objectives of the education searching to demystify the evaluation in the pertaining to school scope, contributing for improvement of education learning and formation of a critical and reflective human being, recognizing itself as subject description, politician, social and cultural. The literature revision subsidized the dissens carried through with professors and posterior elaboration of questionnaire guided for Hill (2002) and applied the thirty pupils of 5º serie of Colegio Estadual Pedro II of Umuarama and analyzed from Bardin (1994). As result of the meeting of the group of study involving professors of physical education, arrived themselves in a consensus that evaluation instruments as the portfolio, the daily one obtain to regulate the process of learning of the pupils. Thus, since that it has clear objective definite and criteria to be reached in the planning as well as the referring information to the evaluative process pass to be of knowledge of the pupils, therefore when it knows so that and as he goes to be evaluated the process is more coherent with the Diretrizes Curriculares of direction being able to awake the critical side of the pupil. In the field research it was arrived in the conclusion that already we very walk inside of the subject evaluation, however it was not got to reach all the pupils, therefore still it has much if to study and to investigate so that it has a bigger advance in relation to the evaluation of the learning.
KEY WORDS: Avaluation. Physical Education. Education.
* Professora do Quadro Próprio da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná da disciplina de Educação Física, lotada no Colégio Estadual Pedro II do município de Umuarama. E-mail: [email protected]
** Professora Doutora da Universidade Estadual de Maringá. E-mail: [email protected]
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INTRODUÇÃO
Em nossa vida diária somos, a todo o momento, avaliados. Avaliados por nossas
ações, atitudes, falas e tudo mais. Também avaliamos os outros em todas as
situações, com isto aprendemos com os erros e acertos, regulando nossa prática de
vida e reformulando projetos. Este conjunto de ações é chamado por Teixeira e
Tavares (1992, p. 1) de “método natural de avaliação”. Porém na escola a avaliação
é vista de forma diferente, pois é a avaliação que determina o futuro da vida escolar
do aluno, embora a avaliação seja parte integrante do processo ensino
aprendizagem, ela hierarquiza e rotula os alunos (TEIXEIRA; TAVARES, 1992, p. 1).
Para Vianna (2000, p. 18) a avaliação educacional:
[...] não constitui uma teoria geral, mas um conjunto de abordagens teóricas sistematizadas que fornecem subsídios para julgamento valorativo. Além do mais, a avaliação nunca é um todo acabado, auto-suficiente, mas uma das múltiplas possibilidades para explicar um fenômeno, analisar suas causas, estabelecer prováveis conseqüências e sugerir elementos para discussão posterior, acompanhada de tomada de decisões, que considerem as condições que geraram os fenômenos analisados criticamente.
Na maioria dos estabelecimentos de ensino da rede estadual paranaense, o sistema
de ensino é seriado, dividido por disciplinas e a promoção do aluno de uma série
para outra é efetuado por meio de notas. As notas são resultantes de avaliações
realizadas durante o ano letivo, que medem a porcentagem assimilada pelo aluno do
conhecimento científico, conteúdo da disciplina, transmitido pelo professor.
Além do sistema de ensino institucionalizado requerer notas para a ascensão do
aluno para outra série, também exige um conselho de classe, onde se analisam os
resultados obtidos pelos alunos, que por sua vez deveria se apresentar como um
momento efetivo de análise. Neste sentido, Dalben (1994, p. 112) destaca:
[...] o Conselho de Classe teria como papel fundamental dinamizar o processo de avaliação, por intermédio da riqueza das análises múltiplas de seus participantes, e estruturar os trabalhos pedagógicos segundo essas análises coletivas, permitindo-se um fazer coletivo. [...] Em vez de o Conselho de Classe apresentar-se como um momento efetivo de análise, o que se verifica é um momento em que os profissionais constroem uma fotografia da turma.
O conselho de classe acontece nos finais de cada bimestre, deveria se constituir em
um momento de reflexão crítica acerca do aprendizado efetivo dos alunos e também
sobre a metodologia utilizada durante o bimestre, mas acaba se reduzindo a
comentários sobre o comportamento e o retrato social das famílias dos alunos. O
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que seria um momento rico para reflexão, acaba por se perder em comentários
vazios, não solucionando os problemas por meio de estratégias de ação mais
efetiva.
Revendo a história da educação, percebemos que a avaliação da aprendizagem
recai nas provas escritas ou orais, cujo poder é centrado no professor e a escola
detém o saber absoluto. A avaliação demonstra mais fragilidade ainda, quando
percebemos o distanciamento entre o discurso e a prática do processo pedagógico,
principalmente do educador. Para pensar em avaliação é necessário rever teorias,
práticas e refletir sobre o trabalho que está sendo realizado nas escolas.
Tradicionalmente a avaliação se preocupa em atribuir notas aos saberes assimilados
pelos alunos, mas seu objetivo, em sua essência, deve ser contribuir para o controle,
adaptação e transformação do processo ensino-aprendizagem, além de levantar
dados para reorientar o processo pedagógico.
Embora a atribuição de notas seja uma obrigatoriedade do sistema de ensino atual,
é necessário refletir sobre quais instrumentos seriam mais adequados às avaliações
da aprendizagem na disciplina de Educação Física, para que possa ser alcançando
o objetivo da educação, que é colaborar para uma melhor aprendizagem, formando
alunos críticos, reflexivos e autônomos.
Esse estudo tem o objetivo de refletir sobre a avaliação da aprendizagem no Colégio
Estadual Pedro II, da cidade de Umuarama e buscar instrumentos avaliativos que
alcancem o objetivo proposto pelas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná
para a disciplina de Educação Física na Educação Básica. Como complemento foi
utilizada uma pesquisa de campo visando levantar a percepção do que os alunos da
5ª série do Colégio Estadual Pedro II, do município de Umuarama, sentem e
entendem sobre avaliação. Foram envolvidos nesta pesquisa trinta alunos da rede
estadual de ensino, que serão delineados na metodologia. Para análise dos dados
utilizou-se estatística descritiva em nível de percentagem e análise de conteúdo.
Avaliação escolar: revendo conceitos
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Mas o que é avaliação? Avaliação pode ser considerada o valor determinado pelos
avaliadores e avaliar é determinar valia ou valor. E dentro da educação, nas escolas,
o que é avaliação da aprendizagem? Para que a avaliação é utilizada?
De acordo com Hadji (2001, p. 129) avaliação:
Não é nem medir um objeto, nem observar uma situação, nem pronunciar incisivamente julgamento de valor. É pronunciar-se, isto é, tomar partido, sobre a maneira como expectativas são realizadas; ou seja, sobre a medida na qual uma situação real corresponde a uma situação desejada. Isso implica que se saiba o que se deve desejar (para pronunciar um julgamento sobre o valor, desse ponto de vista, daquilo que existe); e que se observe o real (será preciso coletar observáveis) no eixo do desejado. A avaliação é uma operação de leitura orientada da realidade.
Soares (1993, p. 98) enfatiza que: “A avaliação do processo ensino-aprendizagem é
muito mais do que simplesmente aplicar testes, levantar medidas, selecionar e
classificar alunos”. Conforme Alonso (1992), avaliar é atribuir um valor de acordo
com critérios definidos para a interpretação de dados e compreender que o valor
atribuído faz parte dum processo formativo e devem-se considerar os problemas
técnicos intrínsecos as decisões avaliativas.
O entendimento de avaliação por parte da maioria dos professores é que ela é um
fato isolado de todo o processo pedagógico de ensino aprendizagem. Percebemos
que na escola existe a ação de educar e a ação de avaliar, mas, no entanto avaliar
deve fazer parte de todo o processo, deve estar presente em todos os momentos do
ensino aprendizagem.
De acordo com Lourenço Júnior (2005, p. 1):
A avaliação na escola é um processo contínuo de investigação que tem como objetivos interpretar os conhecimentos, habilidades, atitudes e necessidades dos alunos, atribuindo valores ou conceitos, tendo em vista mudanças esperadas no seu desempenho e comportamento, proporcionando condições de rever o que foi inicialmente planejado pelo professor de determinada disciplina e pela escola.
No atual sistema de ensino a avaliação é utilizada para atribuir valores que fazem
parte do currículo do aluno, servindo para passar de uma série para outra. Mas a
avaliação deve ter o sentido de avaliar também o conteúdo transmitido para o aluno
e o método utilizado pelo professor, pois se o conteúdo não está sendo assimilado
pelo aluno, pode ser que o método usado para transmitir o conteúdo não esteja de
acordo com a capacidade dos mesmos.
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Conforme Alonso (1992, p. 26), a avaliação tem uma função reflexiva ligada a função
formativa e orientadora no processo curricular e currículo é um projeto integrado e
global que fundamenta, articula e orienta os planejamentos específicos das
disciplinas que por sua vez, fundamentam, articulam e orientam o ensino-
aprendizagem objetivado. Sendo assim, o processo curricular deve ser aberto,
progressivo e cíclico, à medida que vai sendo construído. O instrumento que garante
a coerência e a articulação da adequação do currículo à necessidade dos alunos é a
avaliação. A função da avaliação, neste caso, não é tanto de verificar, controlar e
medir se o objetivo do currículo foi cumprido, mas clarear os significados das ações,
descobrir e caracterizar problemas, levantar hipóteses e, compreender melhor para
decidir melhor, o que passa por uma consciência crítica dos critérios que orientam a
prática da avaliação. Nesse sentido, esse processo pode ser compreendido como
um mecanismo desencadeado de regulação da aprendizagem. Dessa maneira, o
projeto político-pedagógico será formativo quando explicitar os princípios e critérios
que fundamentam e dão sentido às decisões, interações e experiências construídas
no processo de desenvolvimento. Também o será quando integra a avaliação como
consciência crítica deste projeto, como uma “lanterna” que ilumina, questiona,
problematiza e clareia as práticas e teorias que as sustentam, por meio do processo
reflexivo que a antecede, acompanha e conclui no processo ensino aprendizagem.
Nesse sentido, Pavão (1998, p. 12) enfatiza: “[...] sendo a avaliação educacional um
fenômeno social, não é neutra, isto é, contém ideologia intrínseca. Decorre daí a
importância de ser tratada em base científica para minimizar a carga ideológica e
transformá-la num instrumento de justiça possível”. Sendo assim, a avalição deve
ser tratada como um fator importante no processo educacional, que além de instruir,
quer dizer transmitir conhecimento e conteúdo, tem como meta educar o aluno para
que esse possa “construir” conhecimento desenvolvendo sua capacidade e o
cognitivo. E a educação física faz parte deste processo, Bracht (1992, p. 29) afirma
que:
A Educação Física possui um conteúdo, um saber, cuja transmissão deve ser assumida como tarefa pela Escola. A Educação Física na transmissão deste saber, em função das características deste elemento da cultura, pode contribuir para com os objetivos da Escola.
Ensinar depende de um conjunto de políticas educacionais, regimento escolar,
projeto político-pedagógico, planejamento, domínio do conteúdo, comprometimento
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do professor, do aluno, familiares, equipe pedagógica da escola, conteúdo e muito
mais, porém se não avaliarmos de acordo com todo o conjunto, corremos o risco de
não alcançarmos o objetivo proposto para educação. Podemos dizer que avaliar
pode ser um ato dinâmico ou estático, para a educação, depende de como a
avaliação é aplicada e quais os instrumentos utilizados. O processo é estático
quando somente mensura o conhecimento cognitivo absorvido pelo aluno, mas ele
pode ser dinâmico, quando consegue fazer com que o aluno desenvolva seu
aspecto crítico, reflexivo e criativo. Trataremos aqui sobre avaliação numa
perspectiva formativa e política, pois são aspectos fundamentais para a educação.
De acordo com Oliveira (2006, p.1), ao longo da história a avaliação se encontra em
três bases epistemológicas: o objetivismo, o subjetivismo e a dialética. O objetivismo
leva em consideração o aspecto formal, desprezando o sujeito, valoriza as técnicas
de avaliação, como provas, exames e outros. A ênfase é voltada para o produto, na
quantidade de conhecimento que o aluno consegue assimilar. O subjetivismo
considera o sujeito e a apreensão das habilidades já adquiridas ou em
desenvolvimento. A pedagogia começa a se preocupar com auto-avaliações, ou
seja, avaliações com abordagens qualitativas. A ênfase nesse período era com
relação a processo e produto. A dialética preocupa-se com o objeto e com o sujeito.
A avaliação dialética concebe que na interação entre sujeito e o objeto do
conhecimento, está a potencialidade do sujeito de transformar e ao fazê-lo,
transformar também o objeto do conhecimento.
Oliveira (2006) afirma que o aspecto político da avaliação determina os objetivos e
os instrumentos da avaliação, ou seja, o objetivo da avaliação é promover a
emancipação política e a autonomia crítica e criativa do estudante, fazendo uso de
meios quantitativos e qualitativos, não somatórios, mas integradores.
A avaliação no processo educacional deve ser uma ação intencional e
sistematizada, ela é parte integrante do ato educativo. Para se avaliar é necessário
ter uma visão de mundo, de homem, de sociedade e, por conseqüência, de escola.
É no projeto político-pedagógico da escola que se definem o que trabalhar e para
quem trabalhar e que metodologia utilizar no desenvolvimento do ensino
aprendizagem, sendo assim o projeto político-pedagógico também deve ter uma
visão de avaliação.
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Aprender é um prazer inalienável do ser humano; não dá para ser negociado;
não pode ter preço. A nota ou qualquer outro signo equivalente não precisam
ser escamoteados, não precisam deixar de existir. Podem ser ferramentas
muito úteis, desde que reflitam, principalmente, a qualidade dessa
aprendizagem; desde que jamais contribuam para que o aluno aprenda a não
aprender (RABELO, 1998, p. 35).
É necessário que as práticas docentes trabalhem com processos educativos que
façam a inclusão, isto é, um posicionamento político ético e de engajamento
profissional, com objetivo de formar alunos críticos, reflexivos e criativos.
Avaliação da aprendizagem em Educação Física: verificação ou avaliação?
Desde 2003 vêm sendo construídas, coletivamente pelos professores da rede
estadual de ensino, as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, por iniciativa do
Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Educação, visto que o
modelo de ensino utilizado não contemplava a riqueza das manifestações corporais
produzidas socialmente pelos diferentes grupos humanos, trabalhando em sua
maioria somente com esporte (PARANÁ, 2008, p. 18).
A Diretriz Curricular do Estado do Paraná para a disciplina de Educação Física na a
Educação Básica foi implantada nos estabelecimentos de ensino da rede estadual
com o objetivo de definir e sugerir os conteúdos da disciplina a serem transmitidos
para o aluno e também orientar, direcionar e auxiliar o professor com a metodologia
utilizada nas aulas para “formação de um ser humano crítico e reflexivo,
reconhecendo-se como sujeito, que é produto, mas também agente histórico,
político, social e cultural” (PARANÁ, 2008, p. 16).
Baseando-se em Soares (1993, p.61), a Diretriz Curricular do Estado do Paraná
para a disciplina de Educação Física na a Educação Básica define como objeto de
estudo e ensino a cultura corporal que “representa as formas culturais do
movimentar-se humano historicamente produzido pela humanidade” (PARANÁ,
2008, p. 17), entendendo que a prática pedagógica da disciplina no âmbito escolar
deve tematizar diferentes formas de atividades expressivas corporais,
sistematizadas pelos conteúdos estruturantes: esporte, ginástica, lutas, dança e
jogos e brincadeiras.
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Os conteúdos estruturantes devem ser tratados sob uma abordagem que contemple
a cultura corporal, em articulação com os aspectos políticos, históricos, sociais,
econômicos, culturais, bem como a valorização do trabalho coletivo, a convivência
com as diferenças e o incentivo na formação social crítica e autônoma (PARANÁ,
2008, p. 32).
A disciplina de educação física, igualmente às demais disciplinas oferecidas nas
escolas, tem o compromisso com a escolarização e deve estar articulada ao projeto
político-pedagógico do estabelecimento de ensino, sempre em favor da formação
humana. “Tendo como objetivo formar a atitude crítica perante a cultura corporal,
exigindo domínio do conhecimento e a possibilidade de sua construção a partir da
escola” (PARANÁ, 2008, p. 17). De acordo com Rabelo (1998, p. 21): “[...] uma
avaliação só é produtivamente possível se realizada como um dos elementos de um
processo de ensino e de aprendizagem, que estejam claramente definidos por um
projeto pedagógico”.
Baseando-se na metodologia de Gasparin (2007) em seu livro Uma didática para a
pedagogia histórico-crítica, a Diretriz Curricular do Estado do Paraná para a
disciplina de Educação Física na Educação Básica (PARANÁ, 2008, p. 44,45)
propõe o seguinte encaminhamento metodológico: fazer uma primeira leitura da
realidade levando em consideração aquilo que o aluno traz como referência acerca
do conteúdo proposto. Este momento se caracteriza como preparação e mobilização
do aluno para construção do conhecimento. Para o próximo momento, é proposto
um desafio, remetendo os alunos ao seu cotidiano, criando um ambiente de dúvidas
sobre os conhecimentos prévios, esse momento é chamado de “problematização”.
Seguindo os encaminhamentos, o professor apresenta aos alunos o conteúdo
sistematizado para que possam assimilá-lo e recriá-lo, desenvolvendo assim, as
atividades relativas à apreensão do conhecimento por meio da prática corporal,
chamada de instrumentalização. Nesse momento o professor realiza as
interferências pedagógicas, para que a prática fique vinculada ao objetivo
estabelecido. Finalizando a aula ou um conjunto de aula, o professor solicitará aos
alunos que criem outras formas, outras regras, para aquela atividade, vivenciando-
as, chamada de catarse ou transformação social. O último momento é o diálogo que
permite ao aluno avaliar o processo de ensino-aprendizagem, de maneira a entender
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se houve a transformação intelectual e qualitativa em relação à prática realizada,
chamado de “prática social final”.
As práticas pedagógicas aplicadas nas escolas ao longo do tempo são decorrentes
do processo histórico, em que cada momento defendia-se uma concepção ou
tendência pedagógica diferente. Com a característica positivista nas aulas de
Educação Física, foi priorizado o esporte e valorizado os mais habilidosos. Os
professores se utilizavam de testes padronizados para a seleção de atletas. Nessa
perspectiva a avaliação nada mais era do que uma verificação físico-motora do
rendimento, tendo critérios e objetivos classificatórios e seletivos (PARANÁ, 2008, p.
49).
A avaliação da aprendizagem em Educação Física, quando realizada, denota claramente os aspectos quantitativos de mensuração do rendimento do aluno, através de gestos técnicos, destrezas motoras e qualidades físicas, visando principalmente à seleção e a classificação. Muitas das vezes, o único critério para aprovação e reprovação é a assiduidade (presença) dos alunos nas aulas (DA SILVA, 1999, p. 101).
Em conversas informais, com os professores da disciplina de Educação Física, da
rede estadual de ensino do município de Umuarama, percebe-se que a avaliação
utilizada nas aulas, em sua maioria, continua sendo baseada em técnica, rendimento
e presença do aluno na aula prática, garantida pela Deliberação nº. 007/1999 do
Conselho Estadual de Educação, em seu artigo 8º, parágrafo único: “a avaliação na
educação física deverá levar em consideração a participação nas atividades
realizadas”.
A partir das discussões efetuadas para construção das diretrizes e a proposta do
referencial teórico histórico-critíco a ser utilizado nas aulas de Educação Física,
houve também uma preocupação na elaboração da avaliação da aprendizagem.
Com o “objetivo de favorecer maior coerência entre a concepção defendida e as
práticas avaliativas que integram o processo de ensino e aprendizagem” (Paraná,
2008, p. 50), sendo assim, a avaliação deve ter critério, ferramentas e estratégias
que reflitam a avaliação no contexto escolar.
A partir da sugestão de utilizar a pedagogia histórico-crítica, na Diretriz Curricular
Estadual para a disciplina de Educação Física, a avaliação começa ter valor
diferente, deixando de ser classificatória e seletista para estar a serviço da
aprendizagem de todos os alunos, tendo a preocupação de não excluir, de maneira
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a contemplar o conjunto de ações pedagógicas. Nesse sentido, devemos refletir
sobre a avaliação enquanto parte do processo pedagógico não sendo apenas objeto
de nota ou aferição, mas que colabore com o objetivo da educação, contribuindo
com a sociedade para que os alunos se tornem sujeitos capazes de reconhecerem o
próprio corpo, adquirindo uma expressividade corporal consciente e refletindo
criticamente sobre as práticas corporais (PARANÁ, 2008, p. 50).
Para Veiga (1995), a avaliação educacional é complemento de todo um processo
pedagógico planejado para se alcançar um objetivo e deve estar contida no projeto
político-pedagógico do estabelecimento de ensino, estar de acordo com a
metodologia e pedagogia eleita pelo corpo docente, assim se garante que o
processo ensino-aprendizagem mantenha seu objetivo. É importante salientar que
todo planejamento pedagógico deve ser participativo, levando em consideração a
realidade de cada comunidade e suas necessidades.
No mesmo sentido, Luckesi (2005, p. 85) diz:
A avaliação da aprendizagem escolar adquire seu sentido na medida em que se articula com o projeto pedagógico e com seu conseqüente projeto de ensino. A avaliação, tanto no geral quanto no caso específico da aprendizagem, não possui uma finalidade em si; ela subsidia um curso de ação que visa construir um resultado previamente definido.
De acordo com Oliveira (2006, p. 04), “[...] o processo avaliativo deve se basear o
quanto possível numa prática pedagógica de coerência entre o falar e o fazer, entre
as proposições descritas no projeto político-pedagógico e a práxis”.
Como se pode notar há várias etapas no processo ensino aprendizagem, e são de
suma importância cada uma delas, desde a construção do projeto político-
pedagógico até a aula em si. No projeto político-pedagógico está todo o
planejamento pedagógico do estabelecimento de ensino, nele se definem
metodologias, pedagogias e avaliações. No entanto, isto é teoria e nada vale se não
for combinada com a prática, para se obter o resultado almejado.
No mesmo sentido Soares (1993, p. 98) diz:
[...] é necessário considerar que a avaliação do processo ensino-aprendizagem está relacionada ao projeto pedagógico da escola, está determinada também pelo processo de trabalho pedagógico, processo inter-relacionado dialeticamente com tudo o que a escoa assume, corporifica, modifica e reproduz e que é próprio do modo de produção da vida em sociedade capitalista, dependente e periférica.
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Mediante essas reflexões recaem algumas questões: Considerando que a avaliação
deve estar de acordo com o projeto político-pedagógico da escola, que é orientado
pela Diretriz Curricular do Estado do Paraná para disciplina de Educação Física na
Educação Básica, como ela está sendo aplicada nas aulas de Educação Física e
quais são os instrumentos utilizados pelos professores desta disciplina para avaliar
os conteúdos trabalhados, tomando como base a Diretriz Curricular, que afirma: o
professor deve, por meio da avaliação, proporcionar aos alunos formas de se auto-
avaliaem em suas práticas, suas capacidades motoras, cognitivas e afetivas
(PARANÁ, 2008)? A avaliação está atingindo seu objetivo e para que está sendo
utilizada, para avaliar ou para verificar? Como os professores interpretam os dados
coletados na avaliação?
Respeitando a legislação, a avaliação deve se caracterizar como um processo
contínuo, permanente e cumulativo, de acordo com a Lei de Diretrizes e Base nº.
9.394/1996. Assim, a avaliação é contínua quando acompanha os avanços no
desenvolvimento dos alunos. Eles não aprendem simplesmente, precisam receber
as informações, levantam dúvidas e incertezas, processam-nas de forma diferente e
significativa construindo seu conhecimento. Com o surgimento de novos desafios
acontecem novas aquisições de conceitos. A avaliação contínua é o
acompanhamento da aprendizagem, a valorização das conquistas do
desenvolvimento educacional real do aluno. Quando falamos em avaliação
permanente queremos dizer que a avaliação deve ocorrer em todos os momentos do
processo educacional, desde seu planejamento até o final. A avaliação cumulativa é
realizada ao final de cada unidade pedagógica para reconhecer o conhecimento
adquirido pelo aluno e a eficiência da metodologia utilizada. Cada resultado parcial é
o recomeço na continuidade do processo educacional e possibilita novas ações
pedagógicas.
A avaliação da aprendizagem deve estar de acordo com os encaminhamentos
metodológicos da disciplina, deve fazer parte de todo o processo pedagógico de
forma a resgatar as experiências e sistematizações realizadas durante o processo
de ensino aprendizagem. Ela é um subsídio usado pelo professor e pelo aluno para
analisar o trabalho realizado, “identificando avanços e dificuldades no processo
pedagógico, com objetivo de (re)planejar e propor encaminhamentos que
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reconheçam os acertos e ainda superem as dificuldades constatadas” (PARANÁ,
2008, p. 51).
A avaliação ainda é vista com dificuldade e resistência à mudança por muitos
professores da disciplina de Educação Física. Entretanto existem caminhos a serem
seguidos que levam a possibilidades de mudanças como à formação continuada,
encontros científicos, grupos de estudo e outros. Para auxiliar e amenizar esta
dificuldade pretende-se, com este estudo buscar conceitos de avaliação e refletir, na
tentativa de desmistificar a avaliação no âmbito escolar.
METODOLOGIA
A pesquisa de campo envolveu um professor de educação física e 20 alunos do
Colégio Estadual Pedro II, da cidade de Umuarama para discutir, refletir e organizar
idéias referentes à avaliação. Os encontros do grupo de estudo, aconteceram no
próprio estabelecimento de ensino a partir da apresentação do projeto à direção, à
equipe pedagógica e aos professores. A dinâmica utilizada foi de leitura e discussão
de artigos sobre a temática e levantamento dos principais instrumentos avaliativos
utilizados pelo professor nas aulas de Educação Física. Desde o início o projeto de
implementação, foi direcionado para a escola, envolvendo professores e alunos,
considerando as conversas informais com professores da área que tinham dúvidas
em relação à avaliação, justificando assim a relevância da sua realização. Durante
as discussões realizadas foi possível perceber a necessidade de recolher
informações junto aos alunos acerca dessa temática, contribuindo para o debate.
Foram escolhidos aleatoriamente 20 alunos e alunas da 5ª série do ensino
fundamental do Colégio Estadual Pedro II, do município de Umuarama, do período
vespertino que responderam um questionário fechado, orientado por Hill (2002), com
cinco questões de múltipla escolha.
Na primeira questão relacionada ao entendimento sobre avaliação foi possível
perceber em 33% dos alunos entendem que ela serve para regular a aprendizagem,
30% responderam que a mesma faz parte do processo educativo, 17% dos alunos
entendem que a avaliação serve para ganhar nota, 17% dos alunos responderam
que serve para medir o conhecimento e 3% responderam que é um instrumento de
para punição para o aluno, como mostra a tabela abaixo.
13
0
20
40
60
80
100 Serve para regular aaprendizagem
Faz parte do processo educativo
Serve para ganhar nota
Serve para medir conhecimento
Instrumento de punição para oaluno
Neste sentido, observa-se que 33% dos alunos compreendem a finalidade da
avaliação no contexto escolar, pois entendem que avaliação serve para regular a
aprendizagem. Outros 30% dos alunos relacionaram a avaliação a parte do
processo educativo, o que denota certa compreensão sobre a avaliação, pois
entendem também que a ela faz parte do processo educativo. Já os 17% dos alunos
que responderam que a avaliação serve simplesmente para medir o conhecimento,
requerem certa atenção por parte dos professores no sentido de estarem ampliando
discussões acerca dos objetivos e finalidades da avaliação. Essa preocupação se
acentua mais nos 17% dos alunos que responderam que serve para ganhar nota e
nos 3% disseram que serve para punir o aluno. “[...] existe uma forte relação entre a
cultura de avaliação praticada e o desenvolvimento das concepções dos alunos
sobre a avaliação, como consequência das suas vivências e dos seus resultados em
termos de aprendizagem” (NUNES, PONTE, 2009), quer dizer, os alunos repetem o
que sabem ou aprendem.
Na segunda questão relacionada aos instrumentos de avaliação que conheciam, foi
possível observar em 83% dos alunos elegeram a prova escrita, 10% dos alunos a
prova prática, 7% dos alunos o trabalho de pesquisa. Nenhum aluno respondeu
sobre a prova oral, como mostra a seguir.
0
20
40
60
80
100
Prova escrita
Prova prática
Trabalho de pesquisa
Prova oral
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A maioria dos professores se utiliza da prova para avaliar o aluno. Santos e Santos
(2001) dizem que:
[...] cada área de conhecimento tem a sua forma de avaliação, sendo necessária a autonomia neste campo. Normas institucionais que buscam uniformizar os modos de avaliação acabam por limitar a ação docente. A norma é apenas um dispositivo legal, que limita a liberdade das partes e ao mesmo tempo garante o seu direito.
Assim, os instrumentos avaliativos oferecidos pelos professores devem ser
diversificados para garantir o direito de o aluno demonstrar o conhecimento
adquirido, pois existe a possibilidade de melhor adaptação do aluno com
determinados instrumentos avaliativos ou entendimento, sendo assim, não
necessariamente quando o aluno tenha ido mal naquela prova queira dizer ele não
saiba o conteúdo. No mesmo sentido VASCONCELLOS (2009) diz:
[...] a avaliação do saber se faz diariamente em sala de aula. Restringi-la a um momento, uma data marcada faz perder o sentido. O professor como mediador na construção do conhecimento deve promover atividades que favoreçam a reflexão, a criatividade dos alunos e não apenas avaliá-los pelas respostas das provas, mas também valorizar o dia-a-dia, suas conquistas, posicionamentos, bem como interesse e participação.
Sobre avaliação existe muita discussão, mas não existe um consenso. Resolvendo a
avaliação, não vamos resolver o problema da educação que ainda é muito amplo,
mas será de grande contribuição. Podemos levar o professor a refletir sobre o tema
e perceber a necessidade de avaliar o aluno de forma crítica, deixando de lado a
verificação, tão presente ainda nas aulas de Educação Física.
[...] é preciso entender que avaliar é muito mais do que aplicar um teste, uma prova, fazer uma observação. O essencial não é saber se o aluno merece esta ou aquela nota, este ou aquele conceito, mas fazer da avaliação um instrumento auxiliar de um processo de conquista do conhecimento. É preciso parar de pagar a um aluno pelas suas tarefas de aprendizagem. Aprender é um prazer inalienável do ser humano; não dá para ser negociado (RABELO, 1998, contra capa).
Sendo assim, as respostas obtidas dos alunos demonstram que, em relação aos
instrumentos utilizados pelos professores, os alunos não têm claro quais poderiam
ser utilizados e por quê.
A terceira questão relacionada ao sentimento do aluno quando está sendo avaliado,
revelou que 40% dos alunos possuem um sentimento de segurança, 37% dos
alunos sentem tranquilidade, 13% dos alunos sentem medo e 10% sentem
insegurança como mostra a tabela abaixo.
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0
20
40
60
80
100
Segurança
Tranquilidade
Medo
Insegurança
O medo é um sentimento que pode influenciar o resultado da avaliação
negativamente, pois é quase incontrolável, principalmente quando se sente inseguro
em relação ao conhecimento adquirido. Os momentos que antecedem uma prova
são sempre de muita tensão, pois nossas emoções não nos obedecem e nos
atrapalham, neste momento que precisamos de equilíbrio e tranquilidade, pois é a
tranqüilidade que nos deixa pensar e organizar as idéias, relembrando o
conhecimento adquirido. Precisamos lembrar que “Avaliação é sempre processo
ambíguo, também contraditório, extremamente complexo e incompleto, que precisa
ser mantido sob cautela permanente, para não descambar em atitudes agressivas e
humilhantes, tipicamente seletivas e excludentes” (DEMO, 2004, p. 8).
Assim as respostas obtidas nesta questão demonstram que nem todos os alunos
sentem-se seguros em relação ao conteúdo proposto que vai ser avaliado, pois 23%
dos alunos sentem-se com medo ao realizar as avaliações e 10% sentem
insegurança. Neste sentido Gasparin (2007, p. 145), diz:
“O ponto de chegada do processo pedagógico na perspectiva histórico-crítica é o retorno à Prática Social. Esta fase representa a transposição do retórico para o prático dos objetivos da unidade de estudo, das dimensões do conteúdo e dos conceitos adquiridos.”
Na quarta questão relacionada ao entendimento do aluno acerca da avaliação
percebeu-se que 46% dos alunos responderam que a mesma serve para verificar a
aprendizagem, 37% responderam que serve para promoção para série seguinte,
10% responderam que serve para regular a aprendizagem e 7% dos alunos
responderam que é um elemento pedagógico.
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0
20
40
60
80
100Serve para verificar aaprendizagem
Serve para promoção parasérie seguinte
Serve para regular aaprendizagem
É um elemento pedagógico
Nesta questão 37% dos alunos que responderam que a avaliação serve para a
promoção da série seguinte, não reconhecem a avaliação como parte integrante da
educação.
O processo educacional contem várias ações pedagógicas e todas são importantes
para o desempenho do aluno e para a educação global. A avaliação faz parte deste
processo, sendo essencial para a educação, mas deve ser concebida como
problematização, questionamento e reflexão sobre a ação. A aula em si não garante
a qualidade do ensino, ela serve para orientar, informar e motivar o aluno a assimilar
o conhecimento. O professor tem que ensinar o aluno a pensar, refletir, argumentar,
questionar, contra-argumentar, escutar com atenção, responder com elegância e
profundidade para que ele possa construir sua autonomia e sua cidadania. “Não se
trata apenas de cidadania comum, mas daquela que se organiza com conhecimento
de causa, produz e usa conhecimento para intervir, orienta-se pela informação mais
atualizada possível, alcança colocar as questões pertinentes e as enfrenta” (DEMO,
2004, p. 24).
Na quinta questão relacionada ao tempo utilizado para o estudo antes das provas,
43% dos alunos responderam que estudam até uma hora, 33% dos alunos
responderam que não estudo, 17% responderam que estudam mais que duas horas
e 7% responderam que estudam de uma a duas horas.
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0
20
40
60
80
100
Estudam até uma hora
Não estudo
Estudam mais que duas horas
Estudam de uma a duas horas
Nesta questão pode ser levada em consideração a segurança do aluno em relação
ao conteúdo aprendido da disciplina ou a falta de compromisso com a educação,
mas 47% dos alunos estudam fora do horário de aula, sendo assim se percebe a
necessidade de fixação do conteúdo.
Questão que deve ser levada em consideração é o planejamento. O
estabelecimento de ensino tem um projeto político-pedagógico, onde está definida a
linha pedagógica que será seguida, a metodologia usada nas aulas e quais os tipos
de avaliação que devem ocorrer nas disciplinas. A avaliação deve seguir a mesma
linha pedagógica, fazendo o complemento do conhecimento sistematizado oferecido
ao aluno, levando-o a pensar criticamente. Fator importante, que não deve ser
esquecido, é o conhecimento científico do professor, pois quem não sabe não pode
ensinar, sendo assim o tempo reservado para os estudos, fora das aulas, pode estar
relacionados ao fator ensinar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No grupo de estudo, depois de vários encontros, com muita reflexão sobre a
avaliação, não podemos dizer que chegamos numa conclusão definitiva, pois o
assunto é complexo e de muita importância. Muitos são os autores que discorrem
sobre o tema, mas avaliar, sem punir, sem dar nota pela nota, não é tarefa fácil.
Podemos dizer que levantamos algumas ideias sobre o tema como conhecer,
estudar e refletir sobre o projeto político-pedagógico do estabelecimento de ensino,
o que é de fundamental importância, pois é ele que determina e define critérios para
avaliação e que o aluno deve ter conhecimento do conteúdo a ser transmitido a ele,
do objetivo a ser atingido e de como vai ser avaliado aquele conhecimento. O
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professor deve ter critérios e objetivos definidos, assim o aluno tem a possibilidade
de também avaliar se o objetivo foi atingido ou não e fazer auto avaliação. Um
instrumento avaliativo, levantado durante o grupo de estudo, que parece alcançar
nossos objetivos, é o portfólio.
Com o questionário sobre a avaliação da aprendizagem nas aulas de Educação
Física pretendeu-se levantar dados e informações sobre o entendimento e a
compreensão da mesma na educação. Podendo assim oferecer uma avaliação mais
crítica, com o objetivo de interferir na qualidade da aprendizagem significativamente
para o aluno enquanto sujeito. Entendendo que o desempenho do aluno depende da
intervenção mediadora do professor, em relação ao conteúdo sistematizado. O
professor bem como a escola, deve ter claro em seus objetivos, qual o aluno que se
quer formar e qual seu papel na sociedade.
Podemos observar nas respostas obtidas no questionário, que a avaliação está a
caminho da evolução na educação, porém é necessário que avance muito mais, pois
a avaliação faz parte do contexto educacional e deve contribuir para o alcance do
objetivo da educação.
A Diretriz Curricular do Estado do Paraná para a disciplina de Educação Física na
Educação Básica sugere três momentos para avaliação da aprendizagem: no
primeiro momento o professor deve buscar, por meio do diálogo em grupo,
dinâmicas ou jogos, conhecer as experiências individuais e coletivas que os alunos
possuem, resultado de suas vivências. Neste momento o professor reconhece as
experiências corporais e o entendimento prévio, por parte dos alunos, do conteúdo
que será desenvolvido. No segundo momento o professor proporá o conteúdo
sistematizado para apreensão do conhecimento, por meio da observação e fará
registros das atitudes que os alunos expressam em relação à capacidade de
criação, de socialização, (pré)conceitos, capacidade de resolução de situações
problemas e apreensão dos objetivos traçados pelo professor. No terceiro momento
o professor deverá proporcionar aos alunos, uma reflexão crítica sobre o trabalho
desenvolvido. Poderá se utilizar da escrita, de debates, de expressão corporal e
outros, possibilitando aos alunos expressarem o que aprenderam o que mais lhes
chamou atenção. É importante utilizar técnicas que favoreçam também a auto-
avaliação (PARANÁ, 2008, p. 52).
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Em relação as notas dadas pela presença do aluno é necessário repensar, pois nem
todos têm a mesma capacidade de demonstrar o conhecimento de sua expressão
corporal, levando em consideração a sociedade em que vive (família, religião, opção
sexual, (pré)conceitos, etc.), mas o fato dele não participar da prática não quer dizer
que ele não esteja adquirindo o conhecimento, embora não consiga participar, este
aluno poderia ter condições de demonstrar o conhecimento na teoria.
A avaliação quando mal empregada ou fragmentada do processo ensino-
aprendizagem, pode resultar em fracasso escolar, evasão e/ou repetência. Assim
deve ser planejada e é relevante que realmente o foco seja o domínio do
conhecimento, de acordo com os princípios e objetivos da escola e da educação.
Provas e trabalhos escritos podem ser utilizados como avaliação da aprendizagem,
desde que o professor tenha critérios bem definidos e saiba qual o objetivo e tenha
claro, que as provas ou trabalhos escritos, não servem somente para dar nota e/ou
aprovar ou reprovar o aluno.
Provas práticas de gestos técnicos também podem ser utilizadas como avaliação da
aprendizagem, levando em consideração o crescimento individual do aluno, com
suas limitações e não para classificar em melhores e piores ou atletas e não atletas.
Devemos levar em consideração que o esporte dentro da escola é o “esporte da
escola” que não visa à construção de atletas, mas oferece a oportunidade ao aluno
de conhecer e vivenciar as expressões corporais nele contidas como linguagem
social e historicamente construída.
Para avaliar também podem ser utilizadas a organização e realização de festivais,
jogos escolares, seminários, debates, júri simulado, (re)criação de jogos, pesquisa
em grupos de maneira que os alunos possam expressar suas opiniões frente aos
demais colegas, demonstrando apreensão dos conhecimentos e como estes se
aplicam numa situação real de atividade que demonstre a capacidade de liberdade e
autonomia dos alunos (PARANÁ, 2008, p. 52).
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Outra possibilidade de avaliação é o portfólio1. O Portfólio é uma ferramenta
pedagógica usada como instrumento de construção de conhecimento, é uma forma
de avaliação contínua e diagnóstica de acompanhar a aprendizagem pedagógica. O
portfólio pode ser considerado um diário de aprendizagem, pode ser construído pelo
professor e/ou pelo aluno, onde pode ser registrado o conhecimento adquirido,
dúvidas e sugestões, também pode ser utilizado como material de pesquisa. O
objetivo do portfólio é fazer uma reflexão crítica sobre o processo ensino-
aprendizagem visando à melhoria do conhecimento. Normalmente é uma coletânea
de documentos ligada a um conteúdo seguindo uma lógica reflexiva.
Lembrando, que o professor de Educação Física tem que se adaptar a inventariar
todo o processo pedagógico, com a finalidade de registrar o envolvimento, o
interesse dos alunos e outras questões que julgar importante. O inventário pode ser
por aluno, individual ou coletivo, por conteúdo. O importante é que se tenha
registrado se o objetivo foi atingido ou não, e de que maneira isto aconteceu
(PARANÁ, 2008, p. 52).
Outro objetivo importante da avaliação é oferecer pistas de como o processo ensino-
aprendizagem caminha. Sendo assim, o professor deve analisar o resultado das
avaliações dos alunos e concluir como está sua ação pedagógica, podendo
aprimorá-la ou redimensioná-la se for o caso. A avaliação deve estar a favor do
ensino-aprendizagem, servindo como direcionamento.
Na educação, devemos entender que, a avaliação deve ser parte do processo de
ensino aprendigem, devendo estar incluída nas estratégias didático-pedagógicas e
que este processo é contínuo, permanente e cumulativo.
Sendo assim, por meio de grupos de estudos, debates, capacitações, os professores
devem fazer escolhas conscientes, que respondam às exigências atuais do
processo pedagógico de abordagens avaliativas, dando importância à avaliação
dentro do processo ensino-aprendizagem, tendo como foco o ensino público de
1 Consulta realizada nos seguintes sites: <http://portfolio.alfarod.net/>. Acesso em 22/09/2008, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Portf%C3%B3lio#Educa.C3.A7.C3.A3o>. Acesso em 22/09/2008, e <http://www.uberaba.mg.gov.br/websemec/formacao/portifolio.pdf>. Acesso em 22/09/2008.
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qualidade visando à formação do indivíduo, tornando-o crítico, político e participativo
e com possibilidades de transformação da sociedade.
Embora os debates e pesquisas sobre avaliação tenham avançado muito, muito
ainda há para discutir, concluir e evoluir. Sugerimos que haja outras pesquisas
relacionadas ao tema para que possamos contribuir ainda mais para a valorização e
qualidade do ensino no estado do Paraná.
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