ava-pda: um ambiente virtual de aprendizagem acessível...

8
AVA-PDA: Um ambiente virtual de aprendizagem acessível para pessoas com deficiência auditiva Vanessa de A. Moura¹, André Luiz L. da Costa¹, Marcelo Airton Yamashita¹ ¹Núcleo de Inovação e Tecnologias Educacionais (ITED) – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) da Bahia {vanessam,andrelc,marceloy}@fieb.org.br Resumo. Na atualidade, a maioria da população tem acesso às novas tecnologias da informação e comunicação, contudo, há uma parcela que ainda não usufrui de seus benefícios, a exemplo das pessoas com deficiência auditiva, devido às restrições na acessibilidade. Diante disto, o núcleo de Inovação em Tecnologias Educacionais do SENAI da Bahia propôs desenvolver um AVA acessível para pessoas com deficiência auditiva, através do projeto Ambiente Virtual de Aprendizagem para Pessoas com Deficiência Auditiva (AVA-PDA). O AVA foi validado por alunos surdos e obteve uma boa avaliação, demonstrando ser uma importante ferramenta para esse público- alvo. Abstract. Nowadays, most of population has access to new communication and information technologies, however there is a part that has not yet enjoyed of this access benefits such as people with hearing impairment, for example, due to restrictions on accessibility .Given this, the Core of Innovation in Educational Technologies of SENAI in Bahia propose to develop an Virtual Learning Environment accessible for people with hearing impairment by the project "Ambiente Virtual de Aprendizagem para Pessoas com Deficiência Auditiva (AVA-PDA)". This project was validated by deaf students and got a good appraisal, showing itself as an important tool to target audience. 1 Introdução A tecnologia tem evoluído exponencialmente de modo a acompanhar o próprio ritmo transformativo da humanidade. O seu legado abrange as mais diversas áreas da vida humana, a exemplo da tecnologia social, visando solucionar demandas pessoais, como as necessidades básicas de alimentação, lazer, educação, etc. O avanço tecnológico, somado ao fenômeno popularizado da Internet, culminou na eclosão do relevante conceito da inclusão digital e na abrangência do conceito da acessibilidade, principalmente no âmbito das tecnologias de informação e comunicação (TICs). É notório que a informática está presente nos diversos contextos sociais, profissionais e educacionais, utilizada como meio de comunicação, lazer e de estudo, e seu uso é uma condição humana necessária para o exercício pleno da cidadania. Neste contexto, faz parte da concepção de sistemas computacionais especificar requisitos tais como acessibilidade, usabilidade, navegação, design de interfaces entre outros, com a finalidade de facilitar a utilização desses sistemas pelos seus usuários.

Upload: letuong

Post on 18-Apr-2018

227 views

Category:

Documents


6 download

TRANSCRIPT

Page 1: AVA-PDA: Um ambiente virtual de aprendizagem acessível ...portais.fieb.org.br/portal_ead/images/portal/Artigos/Artigo... · avaliação, demonstrando ser uma ... faz parte da concepção

AVA-PDA: Um ambiente virtual de aprendizagem acessível para pessoas com deficiência auditiva

Vanessa de A. Moura¹, André Luiz L. da Costa¹, Marcelo Airton Yamashita¹

¹Núcleo de Inovação e Tecnologias Educacionais (ITED) – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) da Bahia

{vanessam,andrelc,marceloy}@fieb.org.br

Resumo. Na atualidade, a maioria da população tem acesso às novas tecnologias da informação e comunicação, contudo, há uma parcela que ainda não usufrui de seus benefícios, a exemplo das pessoas com deficiência auditiva, devido às restrições na acessibilidade. Diante disto, o núcleo de Inovação em Tecnologias Educacionais do SENAI da Bahia propôs desenvolver um AVA acessível para pessoas com deficiência auditiva, através do projeto Ambiente Virtual de Aprendizagem para Pessoas com Deficiência Auditiva (AVA-PDA). O AVA foi validado por alunos surdos e obteve uma boa avaliação, demonstrando ser uma importante ferramenta para esse público-alvo.

Abstract. Nowadays, most of population has access to new communication and information technologies, however there is a part that has not yet enjoyed of this access benefits such as people with hearing impairment, for example, due to restrictions on accessibility .Given this, the Core of Innovation in Educational Technologies of SENAI in Bahia propose to develop an Virtual Learning Environment accessible for people with hearing impairment by the project "Ambiente Virtual de Aprendizagem para Pessoas com Deficiência Auditiva (AVA-PDA)". This project was validated by deaf students and got a good appraisal, showing itself as an important tool to target audience.

1 Introdução A tecnologia tem evoluído exponencialmente de modo a acompanhar o próprio ritmo transformativo da humanidade. O seu legado abrange as mais diversas áreas da vida humana, a exemplo da tecnologia social, visando solucionar demandas pessoais, como as necessidades básicas de alimentação, lazer, educação, etc.

O avanço tecnológico, somado ao fenômeno popularizado da Internet, culminou na eclosão do relevante conceito da inclusão digital e na abrangência do conceito da acessibilidade, principalmente no âmbito das tecnologias de informação e comunicação (TICs).

É notório que a informática está presente nos diversos contextos sociais, profissionais e educacionais, utilizada como meio de comunicação, lazer e de estudo, e seu uso é uma condição humana necessária para o exercício pleno da cidadania. Neste contexto, faz parte da concepção de sistemas computacionais especificar requisitos tais como acessibilidade, usabilidade, navegação, design de interfaces entre outros, com a finalidade de facilitar a utilização desses sistemas pelos seus usuários.

Page 2: AVA-PDA: Um ambiente virtual de aprendizagem acessível ...portais.fieb.org.br/portal_ead/images/portal/Artigos/Artigo... · avaliação, demonstrando ser uma ... faz parte da concepção

Observa-se, no entanto, no que diz respeito à utilização desses sistemas por pessoas com deficiência, que o requisito acessibilidade é pouco ou nunca contemplado. Isto restringe a utilização e atuação plena desses sujeitos na construção coletiva de conhecimento. Destarte, evidencia-se a importância do desenvolvimento de recursos digitais acessíveis que garantam a plena utilização pelas pessoas com deficiência.

A reflexão acerca dessa questão incitou o SENAI da Bahia, através do núcleo de Inovação em Tecnologias Educacionais (ITED) a desenvolver um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) acessível para pessoas com deficiência auditiva, por meio do projeto Ambiente Virtual de Aprendizagem para Pessoas com Deficiência Auditiva (AVA-PDA), financiado pela FINEP1.

Serão apresentados neste artigo os detalhes do AVA desenvolvido, seu diferencial em relação a um AVA convencional e os resultados obtidos com a execução da turma piloto para validação do ambiente.

2 Uso das tecnologias a favor da inclusão Segundo Corradi (2007), um ambiente informacional digital, que se propõe a ser inclusivo necessita contemplar valores conceituais referentes às tecnologias digitais e assistivas assim como à acessibilidade e usabilidade. Uma das soluções apontadas pela autora para desenvolver ambientes digitais inclusivos é a participação de usuários que possam contribuir para melhorias no sistema, de acordo com suas próprias expectativas.

Em se tratando, especificamente, da inclusão digital de pessoas surdas, compartilham-se as considerações de Corradi quanto à afirmação que esta inclusão requer

“a aplicação de elementos de acessibilidade na estruturação da arquitetura da informação que visa à inclusão de usuários específicos, sejam eles sinalizadores em Línguas de Sinais, leitores em SignWriting e/ou em português escrito como segunda língua no atendimento de suas necessidades informacionais” (CORRADI, 2007, p. 24).

De acordo com Arcoverde (2006), uma vez oferecidas as condições de criação, comunicação e vivências práticas e respeitadas as particularidades da pessoa surda no contexto da inclusão digital, as oportunidades de compartilhamento de informação e interação na rede serão múltiplas. Nessa perspectiva, o desenvolvimento de soluções educacionais - softwares, metodologias de ensino, ambientes virtuais de aprendizagem - tem sido significativo, já que são considerados, na sua concepção, requisitos que favorecem a utilização dessas soluções, de forma autônoma e independente, pelas pessoas surdas.

No que se refere a esse desenvolvimento, compartilham-se as considerações de Souza (2010) quanto ao uso de multimídias (recursos visuais e de interação) como importantes aliados para o ensino de surdos e de metodologias que considerem as diversas possibilidades que a tecnologia, principalmente a internet, propicia como enriquecedoras para o processo de aprendizagem.

1 Financiadora de Estudos e Projetos: http://www.finep.gov.br/

Page 3: AVA-PDA: Um ambiente virtual de aprendizagem acessível ...portais.fieb.org.br/portal_ead/images/portal/Artigos/Artigo... · avaliação, demonstrando ser uma ... faz parte da concepção

Os denominados Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) são exemplos de tecnologias disponibilizadas pela Internet. Estes ambientes podem servir de apoio para a educação nas modalidades a distância e presencial, e disponibilizam recursos diversos como fórum, bate-papo, correio, lista de discussão, blog, materiais didáticos, entre outros recursos (ALMEIDA, 2003; SANTOS, 2003; SOUZA, 2010).

Guimarães (2009) aponta para alguns dos itens relevantes que conferem acessibilidade desses ambientes para pessoas surdas, a exemplo da pedagogia bilíngue, layout de tela, vídeos com legendas e Língua de Sinais em conjunto com os textos escritos, clareza, linguagem contendo imagens gráficas, entre outros.

No entanto, analisando-se alguns estudos comparativos de plataformas para educação a distância (EaD), conclui-se que o número de AVAs customizados, com a finalidade de melhor atender a pessoa com deficiência no quesito da acessibilidade, ainda é incipiente. Dentre esses, pode-se citar o estudo apresentado no artigo de Gabardo, Quevedo e Ulbricht (2010) no qual, das oito principais plataformas utilizadas em EaD no Brasil, apenas a Learning Space menciona estar dentro das diretrizes de acessibilidade do W3C2 e o Moodle é parcialmente acessível, porém somente para pessoas com deficiência visual. Diante disso, o SENAI da Bahia propôs e desenvolveu um AVA acessível para pessoas com deficiência auditiva, o AVA-PDA.

3 O projeto AVA-PDA

O AVA-PDA é fruto do projeto Modelo de Qualificação para Portadores de Deficiência Auditiva, utilizando as Tecnologias da Informação e Comunicação (QUALI-PDA)3, também realizado pelo ITED, cujo objetivo foi desenvolver um curso de Informática Básica em Linux acessível para esse público. Este projeto recebeu, em 2009, o Prêmio FINEP de Inovação na categoria Tecnologia Social.

O AVA-PDA complementou o projeto anterior customizando um AVA para hospedar o curso de Informática Básica a fim de torná-lo acessível para pessoas com deficiência auditiva e pessoas surdas4, que não tenham o domínio do Português escrito, permitindo-lhes realizar cursos a distância.

A metodologia proposta pelo ITED para execução de cursos voltados para pessoas com deficiência auditiva, com uso de TICs, prevê aulas disponibilizadas no AVA e acessadas em um laboratório de informática (do SENAI ou da instituição parceira) com o apoio de um tutor, com domínio em LIBRAS e conhecimento em Informática, acompanhamento pedagógico e disponibilização de um especialista em Informática (on-line).

Para validação do AVA foi executada uma turma piloto com 20 alunos distribuídos em duas turmas e matriculados para o curso presencial de Informática Básica em Linux (160 h). Este curso está disponibilizado no AVA-PDA e teve o apoio

2 Word Wid Web Consortium: http://www.w3.org/. 3 BITTENCOURT,C.R; SILVA,M.G.B. Modelo de Qualificação para Portadores de Deficiência Auditiva, utilizando as Tecnologias da Informação. In: Seminários Nacionais de Educação a Distância da Associação Brasileira de Educação a Distância, 4, 2006, Brasília. Anais Eletrônicos... Brasília: ABED, 2006. Disponível em: < http://www.abed.org.br/seminario2006/pdf/tc005.pdf>.Acesso em: 27 mar. 2013. 4 Surdez concebida como diferença que confere ao indivíduo uma identidade linguística e cultural própria (SACKS, 1990).

Page 4: AVA-PDA: Um ambiente virtual de aprendizagem acessível ...portais.fieb.org.br/portal_ead/images/portal/Artigos/Artigo... · avaliação, demonstrando ser uma ... faz parte da concepção

de uma tutora, com domínio em LIBRAS, que oferecia suporte aos alunos no laboratório (localizado nas dependências da APADA5 da Bahia, instituição parceira) e esclarecia as dúvidas sobre o funcionamento do sistema e dos conteúdos das unidades de estudo.

Além da customização desse AVA, foi desenvolvido um Ambiente de Comunicação On-Line, também acessível, que permite a comunicação de usuários com deficiência auditiva, que não dominam o português escrito, com usuários ouvintes que não dominam a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

4 AVA Acessível Para a customização do AVA acessível escolheu-se, dentre os ambientes virtuais de aprendizagem existentes, o Moodle6 por ser uma plataforma para a Educação a Distância (EaD) livre e de ampla aceitação mundial, utilizada por várias instituições de ensino superior.

A Universidade Federal de Santa Catarina, por exemplo, utilizou o Moodle para o curso a distância LetrasLIBRAS, mediante customização e adaptação a fim de “incorporar, tanto em sua interface gráfica quanto em sua estrutura de funcionamento, características que refletissem a alma do curso, ou seja, a Cultura Surda”, como o uso de vídeos, para envio de exercícios e exposição de conteúdos, e de ícones em escrita de sinais (PEREIRA, CERNY e QUADROS, 2010, p.4).

A customização do Moodle realizada pelo ITED abrangeu adaptações nos tópicos acessibilidade do aluno, adequações no painel administrativo e acessibilidade na exibição do conteúdo por meio do padrão SCORM7, que possibilitam incorporar as peculiaridades da pessoa surda, como sua imanente visualidade, na estruturação do ambiente e das ferramentas de inserção e gerenciamento de cursos. Desse modo, é possível disponibilizar ao usuário surdo um ambiente acessível com uso de vídeos em LIBRAS nas animações, nos tutoriais, nos textos de conteúdo e nas interfaces gráficas do AVA.

4.1 Acessibilidade para o aluno Na página de acesso ao ambiente, conforme Figura 1, os formulários de login e de cadastro foram desenvolvidos em Flash para que os vídeos com as traduções fossem exibidos com mais agilidade. Quando o usuário posiciona o cursor do mouse sobre o texto, abre-se uma janela com o vídeo da tradução em LIBRAS. Adicionou-se, ainda, um vídeo explicativo para facilitar o entendimento do usuário.

5 APADA: Associação de Pais e Amigos do Deficiente Auditivo. 6 MOODLE: http://www.moodle.org. 7 SCORM: http://abt-br.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=361&Itemid=25

Page 5: AVA-PDA: Um ambiente virtual de aprendizagem acessível ...portais.fieb.org.br/portal_ead/images/portal/Artigos/Artigo... · avaliação, demonstrando ser uma ... faz parte da concepção

Figura 1− Tela inicial.

Fonte: O Autor (2013).

As demais páginas do ambiente também disponibilizam os vídeos com as traduções dos textos para LIBRAS, tornando todo o ambiente acessível, não sendo necessário que o aluno tenha completo conhecimento do português escrito para navegar no ambiente.

Além da acessibilidade na interface também foram desenvolvidos outros recursos para facilitar a interatividade do aluno. O menu, também desenvolvido em flash, permite que o usuário navegue nas seguintes páginas: cursos, chat, perfil e relatório, como pode ser visto na Figura 2.

Figura 2 – Menu de navegação.

Fonte: O Autor (2013).

4.2 Administração A parte administrativa do Moodle também ganhou novas funcionalidades, facilitando a inclusão dos vídeos, sem a necessidade de alteração no código-fonte do sistema. Para isto, foi necessário adicionar aos formulários a opção de incluir um vídeo no momento de cadastro.

Para promover a criação das páginas e do arquivo final no formato SCORM, foi desenvolvido um gerador de conteúdo que facilita todo o processo, desde a criação de uma página, definindo o tipo de página a ser utilizado, o texto do conteúdo e o seu respectivo vídeo, até a geração do pacote no formato SCORM.

O usuário, portanto, não precisa criar qualquer tipo de arquivo, pois o sistema o gera de forma automática, incluindo os arquivos no formato XML.

Page 6: AVA-PDA: Um ambiente virtual de aprendizagem acessível ...portais.fieb.org.br/portal_ead/images/portal/Artigos/Artigo... · avaliação, demonstrando ser uma ... faz parte da concepção

4.3 Conteúdo Cada curso contém as suas unidades de estudo, e cada unidade de estudo possui um vídeo explicativo sobre os desafios e os assuntos que serão abordados durante a unidade, estando a sua lista de tópicos localizada abaixo do vídeo.

Os conteúdos de cada tópico foram desenvolvidos utilizando o padrão SCORM e, para torná-los acessíveis, foi necessário adaptar a forma como o Moodle exibia as atividades nesse formato, como pode ser visto na Figura 3.

Figura 3 – Conteúdo no formato SCORM.

Fonte: O Autor, 2013.

Necessitou-se desenvolver no AVA um mecanismo para identificar o tipo de página a ser exibida, sendo mais comum a exibição do conteúdo em Português, anexado à direita do vídeo, com a tradução para LIBRAS. Há a possibilidade, ainda, de exibir vídeos que ocupam toda a tela, normalmente utilizada para demonstrar alguma atividade na prática, como pode ser visto na Figura 4.

Figure 4 – Conteúdo no formato SCORM.

Fonte: O Autor, 2013.

5. Resultados A proposta da customização do Moodle, da concepção do curso de qualificação

com uso de TICs e da metodologia de execução de cursos foi realizada tendo como pressupostos requisitos de acessibilidade, tais como dimensões dos vídeos, tradução dos

Page 7: AVA-PDA: Um ambiente virtual de aprendizagem acessível ...portais.fieb.org.br/portal_ead/images/portal/Artigos/Artigo... · avaliação, demonstrando ser uma ... faz parte da concepção

links das interfaces, vídeos e animações em LIBRAS, visando favorecer ao sujeito surdo o desenvolvimento de suas capacidades de forma autônoma e participativa.

Os resultados dessa proposta foram observados na validação do sistema e na execução da turma piloto. Na validação, realizada mediante análise do AVA por uma colaboradora surda (falante da LIBRAS com ensino médio completo e noções básicas da escrita do Português) acompanhada pela intérprete, foram observados os aspectos de compreensão, navegabilidade e interação no uso do sistema de forma autônoma.

Na execução da turma piloto, foi possível observar durante o curso diferentes respostas dos usuários na interação com o sistema uma vez que o grupo era bastante heterogêneo. De modo geral, a turma interagia com o ambiente do curso e tinha motivação para participar do mesmo. Porém, uma análise mais acurada evidencia que os alunos que obtiveram melhores resultados eram fluentes em LIBRAS e possuíam noções de Informática. Esses interagiam com certa facilidade e autonomia na realização das atividades práticas, enquanto que os sem fluência em LIBRAS tinham maior dificuldade e solicitavam mais apoio da tutora.

Além disso, os alunos avaliaram quantitativamente os quesitos apresentação visual e funcionamento do curso, facilidade em navegar e acessar os itens do AVA e compreensão da LIBRAS empregada, mediante formulário de satisfação. A média das notas conferiu ao AVA-PDA e ao curso a classificação 9.0 (nove), indicando uma boa aprovação por parte dos alunos. Ao final do curso os alunos concluintes receberam certificação chancelada pelo SENAI da Bahia.

Outros resultados obtidos pelo projeto AVA-PDA foram a disponibilização, para a comunidade surda, de um comunicador on-line que facilita a comunicação entre ouvintes e surdos e do ambiente virtual de aprendizagem acessível, além da ampliação da expertise do ITED na oferta de qualificação profissional para pessoas com deficiência.

6. Considerações Finais O projeto Ambiente Virtual de Aprendizagem para Pessoas com Deficiência Auditiva foi desenvolvido com o intuito de possibilitar a oferta de cursos on-line para a pessoa surda e, deste modo, contribuir para a sua qualificação profissional. Portanto, o AVA-PDA e o comunicador on-line distinguem-se por serem recursos tecnológicos acessíveis cujo aproveitamento pode expandir as possibilidades de uso tanto no contexto profissionalizante e educacional quanto no pessoal.

A realização desse projeto representa, para a equipe de trabalho envolvida, o compromisso com a democratização da qualificação profissional da pessoa surda, por meio da utilização de tecnologias de comunicação e informação acessíveis, levando em consideração as suas peculiaridades linguístico-culturais.

Referências ALMEIDA, M. E. B. Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003.

Page 8: AVA-PDA: Um ambiente virtual de aprendizagem acessível ...portais.fieb.org.br/portal_ead/images/portal/Artigos/Artigo... · avaliação, demonstrando ser uma ... faz parte da concepção

ARCOVERDE, R. D. L. Tecnologias digitais: novo espaço interativo na produção escrita dos surdos. Cad. Cedes, Campinas, vol. 26, n. 69, p. 251-267, maio/ago. 2006. Disponível em: < http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 25 mar. 2013.

CORRADI, J. A. M. Ambientes informacionais digitais e usuários surdos: questões de acessibilidade. 2007. 214 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) –

Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2007. Disponível em: < http://www.marilia.unesp.br/Home/Pos Graduacao/CienciadaInformacao/Dissertacoes/corradi_jam_me_mar.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2013.

GABARDO, P.; QUEVEDO, S. R. P.; ULBRICHT, V. R. Estudo comparativo das plataformas de ensino-aprendizagem. R. Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, 2010. ISSN 1518-2924. Disponível em: < http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/16888>. Acesso em: 02 Abr. 2013.

GUIMARÃES, A. D. S. Leitores surdos e acessibilidade Virtual mediada por Tecnologias de Informação e Comunicação. 2009. 71f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Educação Profissional Tecnológica Inclusiva) – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso, Cuiabá, 2009. Disponível em: http://bento.ifrs.edu.br/site/midias/arquivos/20100611100471angela_deise_santos_guimaraes.pdf>. Acesso em: 01 abr. 2013.

PEREIRA, A.T.C.; CERNY, R.Z.; QUADROS, R.M.; O Ambiente Virtual de Ensino-Aprendizagem do curso LetrasLIBRAS. R. Técnico-Científica do Instituto Federal de Santa Catarina, v.1, n. 2010. Disponível em: < https://periodicos.ifsc.edu.br/index.php/rtc/article/view/209>. Acesso em: 16 abr. 2013.

SANTOS, E. O. Ambientes virtuais de aprendizagem: por autorias livres, plurais e gratuitas. Revista FAEBA, v.12, n. 18. 2003. Disponível em: <http://www.comunidadesvirtuais.pro.br/hipertexto/home/ava.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2013.

SACKS, O. Vendo vozes. Rio de Janeiro: Imago, 1990.

SOUZA, G. V. Ambiente computacional para auxiliar na Aprendizagem do surdo. 2010. 100f. Dissertação (Mestrado Integrado Profissional em Computação Aplicada) – Universidade Estadual do Ceará e Instituto Federal Educação Ciência e Tecnologia do Ceará, Fortaleza, 2010.