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Orientadora: Dra. Tatiana Silva Leite Co-Orientadora: Dra. Priscila F. M. Lopes Autora: Lorena Candice de Araújo Andrade

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Page 1: Autora: Orientadora · agradecendo a minha família que tanto amo. A minha pequena Nalu, agradeço por ser minha grande amiga e companheira, por ter participado de todos os momentos

Orientadora: Dra. Tatiana Silva LeiteCo-Orientadora: Dra. Priscila F. M. Lopes

Autora: Lorena Candice de Araújo Andrade

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I

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

LORENA CANDICE DE ARAÚJO ANDRADE

ESTRATÉGIAS DE EXPLORAÇÃO E COMÉRCIO DA PESCA ARTESANAL DE POLVO

Orientador: Profa. Dra. Tatiana Silva Leite

Co-Orientadora: Profa. Dra. Priscila F. M. Lopes

Natal

2016

Tese apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Ecologia

da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como

requisito para a obtenção do

Título de Doutor em Ecologia.

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II

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Biociências - CB

Andrade, Lorena Candice de Araújo.

Estratégias de exploração e comércio da pesca artesanal de

polvo / Lorena Candice de Araújo Andrade. - Natal, 2016.

132 f.: il.

Orientadora: Profa. Dra. Tatiana Silva Leite.

Coorientadora: Profa. Dra. Priscila Fabiana Macedo Lopes.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em

Ecologia.

1. Pesca - Tese. 2. Octopus insularis - Tese. 3. Cadeia

produtiva - Tese. I. Leite, Tatiana Silva. II. Lopes, Priscila

Fabiana Macedo. III. Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. IV. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 639.2

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III

Ofereço este trabalho aos pescadores e comerciantes de polvo de Rio do Fogo

por tanta generosidade e alegria a cada encontro.

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IV

AGRADECIMENTOS

É com infinita gratidão, amor e lágrimas que inicio esse texto. Sim! Deus é

extremamente generoso comigo e me sinto imensamente feliz em agradecer tamanha

generosidade, pois ele escolheu pessoas maravilhosas para compartilharem comigo

esse ciclo tão importante da minha vida. Ainda me surpreendeu me presenteando com

a oportunidade de gerar uma vida e conhecer o amor mais puro e verdadeiro que é o

amor de mãe, e ao lado de um homem super especial que me ajuda em todos os

momentos dessa dupla caminhada de mãe e doutoranda. Por isso, começo

agradecendo a minha família que tanto amo. A minha pequena Nalu, agradeço por ser

minha grande amiga e companheira, por ter participado de todos os momentos desse

doutorado desde as coletas ainda na barriga até o experimento final. Agradeço

também por todos os beijos e abraços apertados e consoladores que recebi! Obrigada

por mudar a minha vida e minha maneira de pensar, especialmente por me mostrar

que eu posso ser um pouco polvo, mesmo que dentro das minhas limitações! Te amo!

Ao meu esposo Altamir, obrigada pelo seu carinho e apoio diário! Obrigada por

viver intensamente cada momento deste trabalho desde o campo embaixo do pé de

algodão até o chororô das noites durante esta caminhada. Obrigada por compreender

o quanto isso é importante para mim! Te amo!

Quero agradecer à equipe do programa de Manejo de Pesca do Instituto

Mamirauá, por terem plantado em mim essa sementinha, que o meu trabalho deveria

mudar de alguma forma a vida das pessoas!

Ao Professor Jorge Lins agradeço por esses quase 14 anos de convivência, por

ter sido um grande amigo e muitas vezes pai! Obrigada por tudo que aprendi

convivendo ao seu lado, por todo o cuidado e preocupação que tem comigo, pelos

puxões de orelha, pelo ombro amigo, no qual eu já chorei muito e pelos motivos mais

variados, por todo o carinho dedicado a mim e a minha família. Professor, aonde quer

que eu vá, conto contigo! Obrigada por tudo mesmo!

A minha orientadora Tatiana Leite, muito obrigada por tudo que aprendi nesses

anos desde a iniciação científica! Obrigada pela confiança e oportunidade de conduzir

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V

esse trabalho. Obrigada pela convivência dia a dia e por ter me proporcionado

conhecer o fantástico mundo das ilhas oceânicas.

A minha orientadora Priscila Lopes agradeço por estar sempre presente e

disposta a ajudar, pelas conversas e paçoquitas compartilhadas, por tudo que aprendi

nesses anos convivência, especialmente nos últimos meses! Obrigada pelo incentivo e

por me mostrar que eu posso sempre mais... mesmo que seja para falar em inglês!

Ao meu grande amigo de aventura Sr. Wellington, te agradeço pela sua

amizade, pela dedicação a minha pessoa e a esse trabalho em todas as etapas! A todos

os mimos durante todos esses anos! Sempre prestativo e nunca mediu esforços para

me ajudar. Agradeço também por ter disponibilizado o seu próprio carro para as

viagens a Rio do Fogo!

A minha grande amiga Françoise, muito obrigada pela amizade e cumplicidade,

por ser “super legal” e minha psicóloga predileta. Agradeço também pelo incentivo e

pela generosidade desde os primórdios, sempre se disponibilizando a ajudar. Pelo seu

bom humor e suas sábias palavras! Pelas milhares de correções, listas de tudo que for

preciso e um pouco mais! A Grace (Zelinha) pela amizade e pelo apoio de sempre!

Agradeço aos pescadores, pinteiros, donos de peixarias de Rio do fogo pela

confiança e paciência durante todos os anos de coleta. Agradeço especialmente aos

pescadores que participaram do experimento dos potes, à dedicação que tiveram em

todas as etapas deste trabalho foi um grande presente! Agradeço também as esposas

dos pescadores! Infinitamente obrigada ao Sr. Geraldinho e Dona Luzia, que me

acolheram como uma filha, que abriram a sua casa para mim e para minha equipe, que

mudaram até o cardápio quando eu estava grávida e que estavam sempre dispostos a

me ajudar sem limites! Acho que por muitas vezes até abusei de tanta generosidade,

vocês são inesquecíveis! Amo essa família!

As minhas grandes companheiras de coleta Jaciana Barbosa, Geovanine Alves e

Leocledna Fernandes, sempre muito dedicadas e cheias de alegria! O campo

certamente foi mais leve e feliz com vcs!!! Muitíssimo obrigada! Também agradeço aos

colegas Airton Santos, Patrícia Schimit e Lidiane Bahls que participaram do curso no

início do doutorado!!

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VI

À querida professora Adriana Carvalho, pela parceria em um dos artigos da

tese, que o transformou de uma forma muito interessante! Agradeço pelo carinho de

sempre e também por ter aceitado fazer parte da banca como avaliadora!

À Maria Grazia, sempre me recebeu com alegria e tirou todas as minhas

dúvidas! Te agradeço também pela participação em um dos capítulos!

Ao querido César Nobrega por todos os ensinamentos sobre a qualidade do

pescado e sua orientação durante o experimento.

À galera super legal que se disponibilizou a participar do experimento, pegar e

cheirar muito polvo podre sem reclamar e até o fim: Alina, Andrey, Louise, Milena,

Mônica, Sara, Silvia, Sr. Wellington, muitíssimo obrigada. Agradeço também ao

laboratorista Bruno pelos ensinamentos e acompanhamento em laboratório e ao

professor André Megali por ter disponibilizado o laboratório para a realização do

experimento!

Ao Professor Fulvio Aurélio, pela parceria, pelas inúmeras dúvidas estatísticas e

principalmente por estar sempre com sorriso largo e disposto a ajudar! Obrigada

também por ter aceitado participar da banca de qualificação e agora na defesa!

Aos professores Manoel Haimovici e Rodrigo Costa, muito obrigada por

aceitarem participar da banca avaliadora desse trabalho... e principalmente por terem

recebido o documento sem muita antecedência!

A minha família LABIPE e LABECE por todos esses anos de convivência, por

todos os bons e divertidos momentos que compartilhamos! Também agradeço a

Marina Viana, que se prontificou a me ajudar na confecção dos mapas já quase nas

contrações do parto! As meninas do Grupo de Ecologia Humana, pelo carinho e

agradável companhia! Em especial agradeço a querida Monalisa por que mesmo nos

momentos mais difíceis estava sempre disposta a ajudar!

A minha amiga Dina, por estar sempre pronta a atender qualquer dúvida

estatística a qualquer dia e hora! Aos meus amigos e agregados desde a época da

faculdade, sempre dispostos a ajudar (Audra, Priscila, Mateus, Tiago e companhia)!

Muito obrigada!

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VII

Aos amigos de perto, aos amigos de longe (Patrícia e muitos outros), às mãe e

amigas (Paula, Vanessa, Aline, Karol, Analine, etc.), aos amigos de corredor (Camila

Cabral, Rosemberg, Bruno, etc), de cafezinho, de almoço e todas as outras pessoas que

me fizeram companhia durante todos esses anos, O meu muito obrigada!

A minha mãe e minha sogra que foram super babás nessa reta final, Muito

Obrigada! Agradeço também a minha prima Suzana que me presenteou com a capa

deste trabalho!

Agradeço a Capes pela bolsa concedida, ao Programa de Pós-Graduação em

Ecologia pelas disciplinas oferecidas! Agradeço também ao CNPq e ao Ministério da

Pesca pelo financiamento do projeto!

Ao IBAMA , em especial ao Senhor José Airton, por fornecer os dados utilizados

neste trabalho. E ao IDEMA pela licença para a execução deste trabalho!

Aos que pela pressa eu esqueci de citar, agradeço também! Não poderia

economizar palavras, tampouco lágrimas ....

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VIII

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS........................................................................................................................ XII

LISTA DE TABELAS ........................................................................................................................ XV

INTRODUÇÃO GERAL ................................................................................................................... 16

Octopus insularis ..................................................................................................................... 18

Variações na abundância ........................................................................................................ 19

Cadeia produtiva ..................................................................................................................... 20

Estrutura da Tese .................................................................................................................... 21

CAPÍTULO 1 - UMA NOVA ESPÉCIE, UM ALVO ANTIGO: O ESTADO DA PESCA DE Octopus

insularis (Leite et al. 2008) NO BRASIL. ....................................................................................... 23

Resumo .................................................................................................................................... 23

Abstract ................................................................................................................................... 24

Introdução ............................................................................................................................... 25

Metodologia ............................................................................................................................ 26

Área de estudo .................................................................................................................... 27

Coleta de dados ................................................................................................................... 27

Análises Estatísticas ............................................................................................................. 28

Resultados ............................................................................................................................... 29

Captura no Brasil ................................................................................................................. 29

Capturas no Rio Grande do Norte ....................................................................................... 30

Discussão ................................................................................................................................. 36

Conclusões .............................................................................................................................. 40

Agradecimentos ...................................................................................................................... 40

Referências Bibliográficas ....................................................................................................... 40

CAPÍTULO 2 - HOW DO ENVIRONMENTAL VARIABLES CAN AFFECT Octopus insularis

ABUNDANCE? .............................................................................................................................. 46

Introduction ............................................................................................................................ 46

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IX

Material and methods ............................................................................................................. 48

Study area ........................................................................................................................... 48

Species data......................................................................................................................... 48

Statistical models ................................................................................................................ 51

Results ..................................................................................................................................... 52

Discussion ................................................................................................................................ 55

References ............................................................................................................................... 58

CAPÍTULO 3 - RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO DA HIDRATAÇÃO NA QUALIDADE E RENDA DA

CARNE DE POLVO NA PESCA DE PEQUENA ESCALA .................................................................... 61

Resumo .................................................................................................................................... 61

Abstract ................................................................................................................................... 62

Introdução ............................................................................................................................... 62

Material e métodos ................................................................................................................. 64

Simulação do processo de hidratação do polvo ................................................................. 64

Análises estatísticas ............................................................................................................. 65

Resultados e Discussão ........................................................................................................... 66

Custo-benefício da hidratação feita pelos pinteiros ........................................................... 66

Implicações econômicas, para consumo, manejo e pesca do polvo O. insularis ................ 68

Agradecimentos ...................................................................................................................... 69

Referências bibliográficas ....................................................................................................... 69

CAPÍTULO 4 - BENEFÍCIOS ECONÔMICOS E SOCIAIS NA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA

ARTESANAL DE POLVO ................................................................................................................ 71

Resumo .................................................................................................................................... 71

Abstract ................................................................................................................................... 72

Introdução ............................................................................................................................... 72

Descrição da área de estudo ............................................................................................... 74

Material e métodos ................................................................................................................. 75

Monitoramento do desembarque da pesca de polvos ....................................................... 75

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X

Cadeia produtiva e de serviços da pesca de polvo ............................................................. 76

Análises estatísticas ............................................................................................................. 80

Resultados ............................................................................................................................... 80

Características e custos da pesca de polvo ......................................................................... 80

O Setor Produtivo da pesca de polvo .................................................................................. 81

Setor de Serviços da pesca de polvo ................................................................................... 81

O Setor de Distribuição local da pesca de polvo - pinteiro ................................................. 82

O Setor de Distribuição local da pesca de polvo - peixarias................................................ 83

Distribuição interna e externa– atravessadores de Natal e de outros estados .................. 84

O Setor de Consumo de polvo............................................................................................. 85

Benefícios da pesca do polvo em Rio do Fogo .................................................................... 85

Incremento de valor e otimização da cadeia de valores da pesca de polvo ....................... 88

Discussão ................................................................................................................................. 89

Subsídios de informações econômicas ao manejo da pesca de polvo ............................... 92

Conclusão ................................................................................................................................ 94

Referências bibliográficas ....................................................................................................... 94

CAPÍTULO 5 - A PESCA ARTESANAL DE POLVO COM POTES: DA CIÊNCIA A REALIDADE ............ 99

Resumo .................................................................................................................................... 99

Abstract ................................................................................................................................. 100

Introdução ............................................................................................................................. 101

Material e Métodos ............................................................................................................... 102

Área de estudo .................................................................................................................. 103

Pesca.................................................................................................................................. 103

Seleção dos pescadores e planejamento participativo do experimento .......................... 104

Desenho experimental ...................................................................................................... 105

Avaliação e participação dos pescadores .......................................................................... 106

Análises estatísticas ........................................................................................................... 108

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XI

Resultados ............................................................................................................................. 109

Avaliação e participação dos pescadores .......................................................................... 116

Discussão ............................................................................................................................... 120

Referências bibliográficas ..................................................................................................... 124

CONCLUSÕES GERAIS ................................................................................................................ 128

REFERÊNCIAS GERAIS ................................................................................................................ 128

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XII

LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1

Figura 1 - Mapa do litoral do Rio Grande do Norte, destacando os municípios litorâneos que

foram amostrados no presente trabalho .................................................................................... 27

Figura 2- Estimativas das capturas (toneladas) totais de polvo no período de 2001 a 2007 por

estados brasileiros....................................................................................................................... 30

Figura 3 - Estimativas da captura de polvo e lagosta no Rio Grande do Norte no período de

1961 a 2010 ................................................................................................................................. 31

Figura 4 - Mediana da CPUE (Kg/Dia*Nº de pescadores) por município no período de 2001 a

2010 ............................................................................................................................................. 32

Figura 5 - Captura por unidade de esforço (CPUE) de polvo no período de 2001 a 2010. A) Rio

Grande do Norte e B) Rio do Fogo .............................................................................................. 32

Figura 6 - Série temporal da captura de Octopus insularis: A- Decomposição da série temporal

da CPUE da pesca de polvo para o estado do Rio Grande do Norte. (B) Em destaque a

tendência da série temporal da mediana da CPUE no período de 2001 a 2010. A-

Decomposição da série temporal da CPUE da pesca de polvo para o município de Rio do Fogo.

(B) Em destaque a tendência da série temporal da mediana da CPUE no período de 2001 a

2010 ............................................................................................................................................. 33

Figura 7 - Autocorrelação dos dados mensais de captura no período de 2001 a 2010 para o Rio

Grande do Norte (A) e para Rio do Fogo (B) ............................................................................... 34

Figura 8 - Modelos de Fox e Schaefer para a Captura Máxima Sustentável do polvo Octopus

insularis no Rio Grande do Norte e para Rio do Fogo ................................................................. 35

Figura 9 - Valores medianos da CPUE para barcos grandes e barcos pequenos atuando na

captura de Octopus insularis durante o período de 2001 a 2010, no município de Rio do Fogo

(RN).............................................................................................................................................. 36

CAPÍTULO 2

Figura 1 - Map of the study area with the twenty-seven landing areas ..................................... 48

Figure 2 - Time series (2001-2010) of the total LPUE (a), the octopus LPUE (b), the Sea Surface

Temperature (c) and the Chlorophyll-a concentration. Values are annual averages of the entire

studied area. The continuous line represents the fit of the time-series and the dotted lines

show the 95% confidence bands. Locally-weighted regression and bootstrapping was used to

obtain the smoothing curve and confidence intervals. .............................................................. 53

Figure 3 - Functional response plot for the best BRT model. Each plot represents the variable

response shape independent of the other variables, in relation to the LPUE in the model.

Rugosity ranges from 0 (no terrain variation) to 1 (complete terrain variation); autocovariate:

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XIII

influence of neighboring observations on the response variable at a precise location; Chl-a:

Chlorophyll-a concentration (mg/m3); SST: Sea Surface Temperature (C). The range of the

environmental variables are represented on the x-axis and the LPUE of the species on the y-

axis (log scale) ............................................................................................................................. 54

Figure 4 - Yearly maps from 2001 to 2010 of the octopus LPUE in the studied area. Maps were

obtained from the RAC Boosted Regression Trees (BRTs) with Sea Surface Temperature, Chl-a

and rugosity as explanatory predictors ....................................................................................... 55

CAPÍTULO 3

Figura 1 – A) Variação média diária do pH da carne de polvo (valor limite de referência = 6,5); e

B) Valores médios diários do Método do Índice de Qualidade (Quality Index Method - QIM)

para avaliação sensorial da qualidade do produto pescado. Valores gerados após o

experimento de hidratação em 12 polvos de três categorias de tamanho para reproduzir o

processo realizado por pinteiros em Rio do Fogo, município do RN. A linha vermelha indica o

momento em que o polvo atinge o pH máximo aceito para consumo, segundo os padrões do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. ............................................................... 67

CAPÍTULO 4

Figura 1- Localização do município de Rio do Fogo, o maior produtor de polvo (O. insularis) do

estado do Rio Grande do Norte-RN e o tipo de embarcação usada, o paquete ........................ 75

Figura 2 – Fluxo de capital gerado ao município e à cada segmento da cadeia de produção e

serviços da pesca de polvo praticada em Rio do Fogo (RN)........................................................ 86

Figura 3 – Total de pessoas diretamente beneficiadas pela pesca de polvo praticada em Rio do

Fogo (RN) através do número de empregos diretos gerados e do total de dependentes dos

trabalhadores empregados nesta atividade ............................................................................... 87

Figura 4 - Aumento (em porcentagem) do valor do polvo capturado pela pesca de Rio do Fogo

a cada setor da cadeia de produtos e serviços ........................................................................... 88

Figura 5 – Otimização do valor do polvo em toda a cadeia à partir do aumento de R$1,00 no

preço médio por quilograma de polvo vendido pelos pescadores de Rio do Fogo e após apenas

um dia de hidratação do polvo adquirido pelos pinteiros .......................................................... 89

CAPÍTULO 5

Figura 1 - Mapa do Município de Rio do Fogo e pontos dos lançamentos dos espinheis de potes

para pesca do polvo Octopus insularis. ..................................................................................... 103

Figura 2 - Representação esquemática do espinhel de potes (Batista, 2008) ......................... 107

Figura 3 - Peso (g) dos indivíduos de O. insularis capturados mensalmente na primeira e

segunda fase do experimento ................................................................................................... 111

Figura 4 - Distribuição do peso (g) dos indivíduos de O. insularis capturados em Rio do Fogo, RN

durante todo o experimento de pesca com potes .................................................................... 111

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XIV

Figura 5 - Mediana mensal da captura por biomassa (Kg) por espinhel. O símbolo * indica os

meses que apresentaram diferenças significativas em relação ao mês de maior captura

indicado por **.......................................................................................................................... 112

Figura 6 - A) mediana mensal da taxa de ocupação (%) dos indivíduos adultos capturados. B)

mediana mensal da taxa de ocupação (%) para os indivíduos juvenis registrados durante o

experimento. O símbolo * indica os meses que apresentaram diferenças significativas em

relação ao mês de maior taxa de ocupação captura indicado por ** ...................................... 113

Figura 7 - Regressão simples para avaliar a relação entre o número de polvos encontrados por

espinhel (N) e o tempo (dias) de imersão dos potes ................................................................ 114

Figura 8 - Mediana mensal da CPUE Kg/Pote (Captura por unidade de Esforço). O símbolo *

indica os meses que apresentaram diferenças significativas em relação ao mês de maior CPUE

indicado por **.......................................................................................................................... 115

Figura 9 - Mediana mensal da renda (R$) por desembarque por tipo de recurso (lagosta, peixe,

polvo mergulho e polvo pote) durante o ano da amostragem participativa ............................ 117

Figura 10 - Mediana da renda por tipo de recurso (lagosta, peixe, polvo mergulho e polvo pote)

................................................................................................................................................... 118

Figura 11 - Análise de Correspondência para comparar a renda por tipo de recurso (Polvo M,

Polvo P, Peixe e Lagosta) com os meses de acordo com a visibilidade da água ....................... 119

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XV

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 3

Tabela 1 - Porcentagem de aumento de peso dos polvos Octopus insularis hidratados e sua

rentabilidade financeira (em R$) por unidade do produto nas três classes de tamanho, ao

longo de oito dias de experimento. Para estimar a rentabilidade do polvo foi usado o valor

médio de R$17,25/kg de polvo, a partir dos valores de venda correntes no ano de 2015 em Rio

do Fogo (Rio Grande do Norte). .................................................................................................. 67

CAPÍTULO 4

Tabela 1- Dados amostrados durante o acompanhamento do desembarque da pesca de polvo

..................................................................................................................................................... 76

Tabela 2- Informações sociais e econômicas as quais estão envolvidos os atores que participam

da pesca no município de Rio do Fogo ........................................................................................ 78

Tabela 3 - Diferença (teste de Kruskal-Wallis) de valor individual de renda, custo e lucro mensal

nos vários segmentos da cadeia produtiva e de serviços da pesca de polvo de Rio do Fogo (RN)

..................................................................................................................................................... 86

Tabela 4 - Renda anual (em R$) gerada por trabalhador e aos seus dependentes por segmento

da cadeia de produção e de serviços da pesca de polvo praticada em Rio do Fogo (RN) .......... 87

CAPÍTULO 5

Tabela 1- Descrição mensal das capturas de indivíduos adultos e registros dos indivíduos

juvenis referentes aos espinhéis recolhidos ............................................................................. 110

Tabela 2- Valores encontrado no modelo GLM para as variáveis explicativas ......................... 116

Tabela 3 - Diferenças entre os potes de plástico adquiridos pelo projeto para a realização do

experimento e os potes de cimento confeccionados pelos próprios pescadores .................... 120

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16

INTRODUÇÃO GERAL

A Classe Cephalopoda, que inclui polvos, lulas e sépias, possui

aproximadamente 1000 espécies distribuídas em 162 gêneros e 47 famílias (Boyle e

Rodhouse, 2005). Dentre a ordem que inclui os polvos (Octopodida) se destaca o

gênero Octopus com 112 espécies descritas atualmente e distribuídas principalmente

em águas rasas tropicais (Sweeney e Roper, 1998).

Com essa grande variedade de espécies, os polvos desempenham um papel

fundamental nas relações tróficas dos ecossistemas marinhos (Nesis, 1987), tanto

como predadores de uma diversa fauna bentônica, como presas importantes de uma

variedade de espécies que estão no topo de cadeia alimentar, como os atuns, tubarões

e mamíferos marinhos (Clarke, 1996, Hanlon e Messenger, 1996).

Além do papel ecológico, os cefalópodes constituem importantes recursos

pesqueiros, fazendo parte de grandes pescarias em diferentes regiões do mundo.

Tanto os polvos como as sépias representam 12% das capturas de cefalópodes no

mundo, enquanto as lulas predominam com 75% do total dessa pescaria. As espécies

do gênero Octopus são uma importante fonte de alimentação para milhões de

pessoas, com as capturas globais aumentando 42% nas duas últimas décadas (FAO,

2005).

Esse aumento da pesca de cefalópodes tem assumido uma crescente

importância, não só devido à qualidade nutricional como fonte alternativa de proteína,

mas pela necessidade de encontrar recursos pesqueiros opcionais aos tradicionais

estoques (teleósteos e crustáceos), muitos dos quais exauridos pela pesca ou por

mudanças ambientais (Caddy e Rodhouse, 1998; Piatowsky et al., 2001). A produção

mundial da pesca, em 1970, foi de aproximadamente 70 milhões de toneladas, das

quais 0,8% eram de cefalópodes (FAO, 1996). Em 2004, os cefalópodes já constituíam

4,0% da captura mundial (95 milhões de toneladas totais), destacando-se a Espanha e

a Itália como os principais produtores e o Japão como o principal importador (FAO,

2006). O pico mundial da captura de cefalópodes foi atingido em 2008, quando foram

capturadas cerca de quatro milhões de toneladas (FAO, 2010). Apesar dos incrementos

significativos na captura, o nível de esforço de pesca que esses estoques de polvos

podem resistir ainda segue desconhecido devido à falta de conhecimento do ciclo de

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17

vida e dos parâmetros da biologia pesqueira das espécies de interesse comercial

(Leporati, 2008).

Cerca de 31 espécies de polvos pertencentes a vários gêneros foram

identificadas como recursos de interesse ou potencial importância para a pesca (Roper

et al., 1983). Dentre essas, as espécies do complexo Octopus cf. vulgaris, consideradas

cosmopolitas, são os principais alvos da pesca de polvo no mundo (Nesis, 1987),

inclusive no Brasil. No entanto, no Brasil, além de Octopus vulgaris (Cuvier, 1797),

destacam-se também as capturas de Octopus insularis (Leite e Haimovici, 2008).

Ambas as espécies são alvo tanto da pesca industrial quanto artesanal, com registros

desde a região Norte até o Sul do país (Perez et al., 2004, Leite et al., 2009a). Na região

sudeste e sul do Brasil, as capturas de O. vulgaris pela pesca artesanal ocorre como

parte da fauna acompanhante (by catch) da pesca de arrasto de camarão (Costa e

Haimovici, 1990; Perez e Pezzuto, 1998; Tomás, 2003). Já a pesca industrial é bastante

direcionada, sendo praticada através do uso de potes. A pesca de polvos com potes foi

iniciada em 2002 no Sudeste, especificamente no litoral norte paulista, com potes

fabricados a partir de pedaços de tubo de cloreto de polivinila (PVC) (Tomás e Ávila,

2006). Em 2006, a produção brasileira de polvos foi de 2.104,0 ton, dos quais 53,1%

foram capturados pela região sudeste, seguida das regiões sul (23,8%) e Nordeste

(23,1%) (BRASIL, 2006). Nas duas primeiras regiões, destacam-se as capturas de O.

vulgaris, enquanto na última de O. insularis.

Seguindo as tendências internacionais, o polvo ganha destaque nas pescarias

brasileiras na medida em que outros pescados tradicionais, dentre eles o camarão e

alguns peixes predadores de polvos, tornam-se mais escassos. Isto é ainda aliado a

uma tendência mundial de expansão pesqueira sobre os cefalópodes, com maior

demanda no mercado internacional, a qual se deve em parte aos mesmos motivos de

sobre-explotação de outros recursos (Caddy e Rodhouse, 1998).

No Nordeste brasileiro a pesca de polvo se concentra nos estados do Ceará e

do Rio Grande do Norte, onde se captura principalmente O. insularis. Os primeiros

registros da presença do gênero Octopus ao largo da costa do Ceará datam da década

de 40 (Rocha, 1948) e o potencial para a sua exploração foi vislumbrado em meados

dos anos 60, quando esta espécie era capturada como fauna acompanhante da pesca

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da lagosta, utilizando-se covos (Braga et al., 2007; Paiva et. al., 1971). No Ceará, em

2004 foi iniciada a pesca de polvo com espinhel de potes utilizando barcos da frota

lagosteira como alternativa para a época de defeso da lagosta (Panulirus sp.) (Braga, et

al., 2007). Porém, no início de 2005, foi iniciada efetivamente a pesca de polvo com

potes de polietileno por embarcações motorizadas (Braga et al., 2007). Neste estado, a

captura de polvo em 2006 foi de 3,5 t (BRASIL, 2006).

A pesca no Rio Grande do Norte é realizada exclusivamente de forma artesanal

pelos mesmos pescadores de lagosta, os quais utilizam como arte de pesca o bicheiro

(ferro com gancho na ponta) em mergulho livre ou mergulho auxiliado por um

compressor (CEPENE, 2005; Leite et al., 2009a). Atualmente, este estado é um dos

maiores produtores de polvo da região Nordeste, possuindo 20 municípios litorâneos

que participam ativamente da pesca artesanal de O. insularis, gerando uma produção

média anual de 219 toneladas A maior captura de polvo no estado ocorre no município

de Rio do Fogo, que detém 39% das capturas anuais de pescados (Vasconcelos, 2008).

O polvo é capturado através de mergulho livre ou do uso de compressor com o auxílio

de um bicheiro, juntamente com a captura da lagosta, em especial nas áreas dos

arrecifes, restingas e fundos de fanerógamas.

Rio do Fogo encontra-se inserido em uma das áreas de pesca de lagosta de

maior importância para o Estado e também de grande conflito no que diz respeito à

gestão dos recursos pesqueiros, uma vez que se encontra dentro da área da Área de

Proteção Ambiental (APA) Estadual dos Recifes de Coral.

Com um total de 173 barcos e 224,3 toneladas de lagostas e 83,8 toneladas de

polvo pescados no ano de 2005 (CEPENE, 2005), Rio do Fogo concentra uma parcela

importante das comunidades litorâneas de pesca artesanal. A renda deste município

está diretamente ligada à pesca da lagosta, de forma que a pesca de polvo tem caráter

complementar. No entanto, na medida em que as capturas de lagosta diminuem,

aumentam-se as perspectivas de crescimento da pesca de polvo.

Octopus insularis

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Octopus insularis é uma espécie descrita apenas em 2008, a qual se caracteriza

por possuir tamanho médio a grande, com braços curtos e grossos, possuindo manto e

cabeça largos com pele rugosa marrom-avermelhada e lígula pequena (Leite et al.,

2008a). Sua distribuição abrange as águas rasas da costa e ilhas oceânicas do Nordeste

brasileiro, e, como dito anteriormente, é hoje a principal espécie de polvo nas

pescarias comerciais dessa região (Leite et al., 2008, 2009a).

Os polvos alimentam-se de uma grande variedade de presas e são

frequentemente considerados predadores generalistas (Boyle e Rodhouse, 2005). O.

insularis alimenta-se principalmente de crustáceos, bivalves, gastrópodes e, com

menor frequência, também de cefalópodes e peixes (Bouth et al., 2011). No

Arquipélago de Fernando de Noronha, esta espécie mostrou ter forte preferência por

pequenos crustáceos, utilizando a estratégia de forrageio conhecida como

“minimizadora de tempo” (Leite et al., 2009a; Bouth et a.l, 2011).

A biologia e ecologia desta espécie vêm sendo estudada em diversos aspectos

como taxonomia (Leite et al., 2008b), padrões corporais (Leite e Mather, 2008),

ecologia e comportamento alimentar (Bouth et al., 2011, Leite et al., 2009), biologia

reprodutiva (Lima et al., 2014b), dinâmica populacional (Lima et al., 2014a), e pesca

(Leite et al. 2008b) principalmente nas ilhas oceânicas brasileiras. Na costa, onde

ocorre a maior parte da sua extração, sua dinâmica pesqueira e demais aspectos de

captura permanecem ainda desconhecidos.

Variações na abundância

Uma forma de se avaliar as pescarias é através de dados de captura e esforço

provenientes de amostragens de desembarques pesqueiros. Frequentemente os dados

de Captura por Unidade de Esforço (CPUE) são utilizados como índice de abundância

relativa em avaliações de estoques pesqueiros (Gulland, 1956). Como a CPUE é

influenciada por variações tecnológicas das embarcações e por diferenças nos lugares

e épocas de captura, algumas variações observadas podem não corresponder a

variações na abundância do recurso (Hilborn e Walters, 1992; Quinn e Deriso, 1999).

Além disso, a abundância dos estoques explorados também é vulnerável a

flutuações que podem ser causadas por fatores naturais e/ou provocadas pela ação

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humana (Rosenzweig et al., 2007). Por exemplo, diversos estudos empíricos e teóricos

mostram que peixes e invertebrados marinhos tendem a mudar suas distribuições de

acordo com alterações climáticas (Perryet et al., 2005; Cheunget et al., 2008, 2009;

Dulvyet et al., 2008; Mueter e Litzow, 2008). Desta forma, é importante que variáveis

ambientais sejam incluídas em modelos de produção, para que os mesmos não sejam

tão equivocados (CHÉDIA et al. 2010), dificultando, assim, as ações de manejo

adequadas. Uma das formas de se incluir estas informações ambientais relevantes em

modelos gerais de pesca é através da inclusão de variáveis ambientais, muitas das

quais obtidas através de imagens de satélite e sensores oceanográficos (Bellido et al.,

2001; Waluda et al., 2001; Sundermyer et al., 2005; Dawe et al., 2007; Postuma e

Gasalla, 2010). No entanto, isto implica em modelos de menor escala temporal, pois

muitas destas variáveis só passaram a ser colhidas em escala global a partir da década

de 90 ou mesmo posteriormente.

Cadeia produtiva

Uma das formas de se entender a relevância econômica de uma espécie e

buscar um ordenamento de sua extração é através da análise da cadeia produtiva. Esta

também (e talvez principalmente) precisa ser conhecida e ordenada, não apenas

objetivando o equilíbrio do recurso no ambiente, mas também visando não

comprometer a disponibilidade de alimentos e a própria sustentabilidade econômica

da cadeia (Castro et al., 2005).

Entre a captura e a mesa do consumidor, todo recurso pesqueiro passa por

diferentes segmentos de uma cadeia de operações que é uma verdadeira rede de

produção. Esta rede abrange diferentes interesses e habilidades próprias dos agentes

envolvidos nos diversos elos dessa corrente, cujo objetivo é maximizar os ganhos

econômicos a partir da comercialização do pescado. Tal cadeia é um complexo de

atividades envolvendo desde a produção (captura) de matéria-prima, a sua

transformação (quando for o caso) e distribuição (atacado e varejo), até chegar ao

consumidor. Essa cadeia incorpora todos os serviços de apoio, ou seja, também a

pesquisa e assistência técnica, o crédito, e os fabricantes de insumos (petrechos,

embarcações etc.) (Brandão e Medeiros, 1998; Pontes, 2004). Uma cadeia justa e/ou

ideal deveria distribuir os benefícios e rentabilidade a todos os envolvidos, mas sem

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perder o foco na sustentabilidade ambiental e socioeconômica, mantendo sua

competitividade (Pontes, 2004).

A análise da cadeia produtiva é útil por três razões principais: i) ao abordar a

interação entre as etapas, compreende-se o fluxo de bens, de serviços e o papel dos

consumidores; ii) reconhece-se que o fluxo de informação e de bens entre as etapas da

cadeia não ocorre em condições de igualdade, podendo implicar em competências e

conhecimentos escassos para uns e grandes recompensas financeiras para outros; e iii)

é a chave para compreender a apropriação global em torno da produção e a habilidade

de identificar atividades de alto rendimento no interior da cadeia produtiva (Kaplinsky

2000; Wood 2001).

Estrutura da Tese

O objetivo geral deste trabalho é conhecer as estratégias de exploração da

pesca de polvo (do pescador ao consumidor) e como as variáveis ambientais podem

influenciar a captura. Avalia-se aqui ainda como as estratégias de comercialização do

polvo beneficiam economicamente e socialmente os atores envolvidos nessa

produção. A tese está dividida em quatro capítulos e redigida em formato de artigo

científico. Cada capítulo aborda um dos objetivos da tese.

Capítulo 1

O primeiro capítulo busca avaliar os dados de captura da pesca a longo prazo

(10 anos) de O. insularis utilizando como estudo de caso um dos maiores produtores

da região Nordeste do Brasil, o estado do Rio Grande do Norte. O foco deste capítulo é

avaliar através dos dados de captura o estado de exploração do recurso através de

modelos de produção e verificar como o esforço aplicado a esta atividade influencia

nas capturas.

Capítulo 2

O segundo capítulo pretende investigar a relação da abundância e distribuição

da espécie Octopus insularis com as possíveis variações ambientais que ocorreram na

série temporal estudada. Neste capítulo verificamos como a tendência da temperatura

da superfície da água e a concentração de clorofila se relacionam com as capturas de

polvo. Além disso, verificamos também como e quais variáveis ambientai (rugosidade,

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temperatura superficial da água e clorofila) explicam a distribuição de O. insularis no

estado do Rio Grande do Norte.

Capítulo 3

O terceiro capítulo tem como objetivo realizar um experimento de hidratação,

baseado na hidratação realizada pelos atravessadores de polvo para avaliar o custo-

benefício de hidratar o polvo, e subsidiar mudanças neste processo para garantir maior

qualidade do produto com o menor impacto sobre a renda dos intermediários e

assegurar o cumprimento dos padrões de qualidade estabelecidos por lei, bem como a

segurança alimentar dos consumidores.

Capítulo 4

Com o crescimento da produção e comercialização de polvo no Rio Grande do

Norte, o terceiro capítulo teve como objetivo fazer uma análise da cadeia produtiva e

de serviços da pesca de O. insularis, exclusivamente explorado pela pesca artesanal.

Investigamos ainda como os benefícios econômicos e sociais se distribuem ao longo de

sua cadeia de comercialização.

Capítulo 5

Diante do aumento da produção e da importância econômica e social que esta

pesca representa para o Rio Grande do Norte, nós buscamos minimizar os problemas

relacionados à sazonalidade da pesca de polvo quando pesca de mergulho é

inviabilizada devido a períodos de água turva. Para isso, o presente estudo realizou um

experimento para testar a eficiência do espinhel de potes nas capturas de polvo em

embarcações artesanais nas áreas adjacentes às regiões recifais rasas no Rio Grande

do Norte. Este experimento foi norteado pelo conhecimento dos pescadores de Rio do

Fogo a respeito da ecologia da espécie, da pesca e do ambiente, aliado ao

conhecimento científico adquirido sobre a população de polvos daquela região.

As Conclusões Gerais buscam os pontos conclusivos de cada capítulo e tentam

analisá-los de forma integrada.

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CAPÍTULO 1

UMA NOVA ESPÉCIE, UM ALVO ANTIGO: O ESTADO DA PESCA

DE Octopus insularis (Leite et al. 2008) NO BRASIL.

Lorena C. A. Andrade; Priscila F. P. Lopes; Tatiana S. Leite e Jorge E. L. Oliveira

Resumo

O presente estudo busca avaliar os dados de captura da pesca de O. insularis utilizando

como estudo de caso um dos maiores produtores da região Nordeste do Brasil, o

estado do Rio Grande do Norte (RN). Para avaliar a captura de O. insularis no RN

utilizamos informações de desembarque, estimativas de captura e dados de

reconstrução das capturas de polvo de 1994 a 2010, essas informações foram

disponibilizadas pelo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA) e pelo Sea Around Us. Todas as análises da série temporal para o

RN foram realizadas a partir dos valores da mediana da CPUE (Kg/Dia*Nº de

pescadores). E também foram testados os modelos de captura máximo sustentável de

Schaefer e Fox a partir de dados de captura e esforço. Dentre os principais produtores

de polvo do Brasil, RN se destacou como o quarto maior produtor durante os anos de

2001 a 2007, e dentre esses é o único estado onde a pesca é realizada exclusivamente

de forma artesanal. Os registros de captura para o RN iniciaram em no ano de 1994

(199,4 ton), e desde então se manteve com capturas acima de 100 ton, como uma

ascensão das capturas, atingindo um pico máximo de 478,5 ton no ano de 2006.

Dentre os municípios que capturam polvo no RN, Rio do Fogo (RF) se destaca como o

principal produtor com maior valor mediano da CPUE de 4,67. A série temporal

analisada para RF apresenta uma leve diminuição da CPUE no início da série e um

aumento significativo até o ano de 2009, além de uma queda expressiva em 2010. A

análise das capturas de O. insularis sugere que estas ainda estejam em níveis

sustentáveis no Rio Grande do Norte, já que a captura e o esforço observados no

período analisado são inferiores a captura máxima sustentável resultante dos modelos

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testados. Houve um incremento na frota de barcos pequenos ao longo dos anos,

enquanto em 2005 41,9% eram barcos pequenos, em 2010 estes já representavam

82,7% da frota do município. Não houve variação significativa no esforço de pesca nos

anos analisados e o aumento das capturas não está relacionado ao aumento de

esforço ou mesmo de tecnologia, já que os métodos de pesca não se alteraram no

período.

Palavras-chave: capturas, série temporal, modelos de produção excedente, manejo.

Abstract

The present study aims to evaluate the data capture of O. insularis fishing using as case

study one of the largest octopus producers of Northeastern Brazil, Rio Grande do

Norte (RN) State. It was used landing information, capture estimates and data

reconstruction of octopus catches between 1994 and 2010 to evaluate the capture of

O. insularis in RN. These information was provided by the Brazilian Institute of

Environment and Renewable Natural Resources (IBAMA) and the Sea Around Us

Institute. All analyzes of temporal series for octopus catches in RN were performed

with the median values of CPUE (kg/Day*Nº Fishermen). It also tested models of

maximum sustainable catch of Schaefer and Fox from data of capture and effort. The

RN State was the fourth largest octopus producer in Brazil during the years 2001 to

2007 and, among these is the only State where fishing is carried out by artisanal way

exclusively. Catch records in RN started in 1994 (199.4 tons), and since then have

increased with catches over 100 tons, reaching a peak of 478.5 tons in year 2006.

Among the cities that capture octopus in RN, Rio do Fogo (RF) stands out as the main

producer with the highest median value of CPUE (4.67 kg/Day*Nº Fishermen). The

CPUE has a slight decrease at the beginning of the temporal series, increases

significantly until year 2009 and then, has a expressive drop in 2010. The analysis of O.

insularis catches suggest that this resource is still at sustainable levels in Rio Grande do

Norte, since the catch and effort observed in the analyzed period are lower than the

maximum sustainable yield showed by the fishing models. There was an increase in

number of small boats over the years. In 2005 the small boats were 41.9% of the total

fleet, while in 2010 they already accounted for 82.7% of the municipal fleet. There was

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no significant variation in fishing effort in the analyzed years and the increased of

catches are not related to increased efforts or even to appearance of new technologies

because the fishing methods have not changed over the years.

Keywords: catches, temporal series, surplus production models, management.

Introdução

A identificação correta das espécies é imprescindível para avaliação das ações

de monitoramento das espécies exploradas na pesca (Garcia-Vazquez, et al. 2012).

Identificações inadequadas levam a estimativas imprecisas do tamanho de estoques,

induz erros nas estimativas de taxas de exploração, na determinação de tamanho

mínimo e nas estimativas de dados de captura, entre outros (Marko et al., 2004).

Como consequência, algumas decisões na gestão pesqueira podem colocar em perigo

populações exploradas em longo prazo, afetando negativamente a sustentabilidade da

pesca (Fox et al., 2005; Perez et al., 2005; Von der Heyden e Lipinsky, 2007).

Com a diminuição das capturas de pescado no mundo, muitos esforços têm

sido feitos para minimizar esse problema (Pauly et al., 2013). Dessa forma, quando

uma nova espécie é descrita, mas a mesma já vinha sendo explorada como uma

espécie diferente (Garcia-Vazquez et al., 2012; Abercrombie et al., 2005), é iminente

que as informações existentes sobre essa espécie sejam utilizadas para direcionar o

manejo da mesma. Muitas vezes, os dados de captura, como o peso do pescado

capturado a cada ano, podem ser as únicas informações disponíveis e estas podem e

devem ser utilizadas para inferir o status da pesca. Para a maioria das espécies, a

avaliação dos estoques pesqueiros por especialistas pode ter um custo bastante

elevado, inviabilizando a execução desses estudos em curto prazo (Kelisner et al.,

2012; Froeser, 2012; Pauly et al., 2013). Isto é especialmente válido para as regiões

tropicais, marcadas por países ainda em desenvolvimento, os quais são, no entanto,

detentores de boa parte da diversidade do planeta.

Enquanto os estudos e ações como ordenamento e manejo das pescarias estão

muito mais focados em espécies de peixes e de alguns invertebrados de alto valor

histórico, como a lagosta, outras pescarias de invertebrados não têm o mesmo nível de

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atenção e cuidado (Worn et al., 2009; Breen e Kendrick, 1997; Castilla e Fernandez,

1998). Embora as pescarias de alguns invertebrados já existam há séculos (Kirby, 2004;

Lotze et al., 2006), ou se expandiram rapidamente nas últimas duas ou três décadas

(Berkes et al., 2006; Anderson et al., 2008), geralmente essas não são avaliadas,

monitoradas, e tampouco são adequadamente regulamentadas (FAO 2009; Leiva e

Castilla, 2002; Berkes et al., 2006; Anderson et al., 2008; Andrew et a.l, 2002). A

inexistência dessas ações ameaça a sustentabilidade da atividade pesqueira, apesar da

relevância ecológica, social e econômica de muitos invertebrados (Anderson et al.,

2008; Perry et al., 1999), como os polvos. Polvos são normalmente espécies de alto

interesse pesqueiro e de alto valor comercial (Faure, 2002). No entanto, em algumas

regiões, como em partes do Brasil, os polvos estiveram comercialmente relegados a

segundo plano em função de pescarias comercialmente mais lucrativas, como a lagosta

e o camarão (Costa e Haimovici, 1990; Tomás, 2003).

Neste cenário, não é surpreendente que a principal espécie de polvo (Octopus

insularis) alvo da pescaria comercial na região Nordeste do Brasil só tenha sido descrita

em 2008 (Leite et al., 2008). Até então, toda a captura do “polvo comum” era

considerada como Octopus vulgaris e, portanto, sujeita às mesmas regulamentações.

No entanto, essas duas espécies possuem histórias de vida bastante distintas, o que

torna o ordenamento de uma inadequada para a outra. Desde o seu recente

descobrimento, diversos estudos sobre a biologia de O. insularis foram realizados

(Leite et al., 2009; Bouth et al., 2012; Lima et al., 2014a; Lima et al., 2014b), mas ainda

não há nenhuma legislação vigente para sua captura e tampouco se conhece o seu

estado de exploração.

Neste contexto, o presente estudo busca avaliar os dados de captura da pesca

de O. insularis utilizando como estudo de caso um dos maiores produtores da região

Nordeste do Brasil. Ademais, O. insularis é uma espécie altamente adaptada a águas

rasas e quentes (Leite et al., 2009), com potencial de expansão com o aquecimento do

clima. Assim, entendê-la e gerar ferramentas para o seu manejo é fundamental não

apenas para garantir que a exploração se dê de forma adequada, mas também para

antecipar medidas de gestão em suas futuras áreas de ocorrência.

Metodologia

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Área de estudo

O presente estudo focou no Estado do Rio Grande do Norte, o qual concentra

15% da produção de polvos do Brasil e, especificamente, 90% da produção de O.

insularis realizada de forma artesanal no país (IBAMA, 2008). Este estado está situado

no extremo nordeste do Brasil, ocupando 3,4% de área da região Nordeste (IDEMA,

2004). Seu litoral possui uma extensão de 410 km, onde estão localizados 25

municípios litorâneos e 93 comunidades pesqueiras (IBAMA, 2008). (Figura 1).

Figura 1 - Mapa do litoral do Rio Grande do Norte, destacando os municípios litorâneos que foram amostrados no presente trabalho

Coleta de dados

Para avaliar a captura de O. insularis no estado do Rio Grande do Norte

utilizamos informações de desembarque e estimativas de captura do Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). As

informações por estados foram retiradas dos boletins estatísticos anuais do IBAMA de

2001 a 2007, já que os boletins estatísticos da pesca do Ministério da Pesca e

Aquicultura de 2008 a 2010 não discriminaram as capturas por estado.

Já as informações da série histórica da captura de polvo entre 1950 a 2010 para

o Rio Grande do Norte foram cedidas pelo Sea Around Us

(http://www.seaaroundus.org/), através de dados de reconstrução pesqueira (Freire et

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al. 2015). Nos boletins consultados a produção de polvo se refere a O. vulgaris, mas

consideramos toda esta captura como O. insularis, uma vez que todos os exemplares já

capturados no estado do RN até o momento foram identificados como tal (Leite et al.,

2008; Lima et al., 2014a; Lima et al., 2014b).

Além disso, dados diários dos registros de captura de polvo para o período de

2001 a 2010 foram cedidos pelo IBAMA. As informações coletadas foram referentes

aos desembarques de polvo pela frota de pequena escala de 17 municípios do litoral

do estado (Figura 1). Durante os desembarques, foram amostrados: data, local de

coleta, nome do barco, tipo do barco, número de dias de pesca, número de

pescadores, petrecho utilizado, e captura por espécie em quilo (Kg).

O esforço de amostragem efetuado pelo IBAMA entre os anos de 2001 e 2010

por município foi diferente e para eliminar qualquer tendência com relação a

municípios mais bem amostrados que outros calculamos a mediana da CPUE

(Kg/Dias*Número de pescador) por desembarque para uma melhor padronização das

informações. Para os resultados por município, foram selecionados aqueles

amostrados pelo menos por um período de seis anos (Caiçara do Norte, Macau,

Maxaranguape, Natal, Porto do Mangue, Rio do Fogo, São Miguel do Gostoso e

Touros).

Como a pesca de polvo em Rio do Fogo é a mais direcionada de todo o estado,

pois o município tem tradição em pesca com mergulho e o polvo sozinho representa

45% de toda a captura do local, fizemos uma análise mais detalhada sobre a influência

da CPUE e do esforço separadamente por tipo de embarcação que atua neste

município. Neste caso, as embarcações foram agrupadas em embarcações pequenas

(barcos a vela ou com motores até 10 hp) e que atuam na pesca através do mergulho

livre e as embarcações grandes (motores com 12 hp ou mais) pescam com mergulho

de compressor.

Análises Estatísticas

Os dados de desembarque no periodo de 2001 a 2010 para o Rio Grande do

Norte (N=21087) foram analisados através de uma série temporal, em que a mesma foi

decomposta para encontrar a tendência da série de dados, após checagem da

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autocorrelação dos dados. Para essas análises foi utilizado o valor da mediana da CPUE

mensal, ao longo de 120 meses.

Para determinar o nível ótimo do esforço aplicado à pesca de polvo foi

estimada a captura máxima sustentável (Maximum Sustainable Yield- MSY), a partir de

modelos de produção geral de Schaefer (1954) e Fox (1970).

Para verificar a existencia de correlação entre a CPUE e o esforço durante os

anos amostrados foi realizada uma análise de correlação de spearman, já que os dados

não apresentaram distribuição normal.

As análises foram realizadas no programa estatístico R v 3.2.1 (R Core Team,

2014). Especificamente, as análises de série temporal e autocorrelação da série

temporal foram feitas no pacote stats (R Core Team, 2014). Já a análise de correlação

foi realizada no software Statistica 8.

Resultados

Captura no Brasil

Dentre os estados brasileiros que capturam o polvo, São Paulo (488,35 t), Rio

de Janeiro (434,64 t), Santa Catarina (293,71t) e Rio Grande do Norte (224,94t) se

destacam com as maiores capturas anuais durante os anos de 2001 a 2007,

respectivamente (Figura 2). No entanto, apenas no estado do Rio Grande do Norte a

pesca é realizada exclusivamente de forma artesanal. Além disso, somente neste

estado há uma alta probabilidade de que haja apenas uma única espécie sendo

capturada (O. insularis).

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Figura 2- Estimativas das capturas (toneladas) totais de polvo no período de 2001 a 2007 por estados brasileiros

Capturas no Rio Grande do Norte

O registro da captura de polvo no estado do Rio Grande do Norte iniciou no ano

de 1994 com 199,7t, mas sabe-se que a pesca de polvo já fazia parte da captura

acidental da pesca da lagosta, cujos primeiros registros de captura datam do ano de

1961. Com o aumento da captura da lagosta vislumbrou-se também a possibilidade da

captura de polvo para fins comerciais. Os dados mostram que as capturas de polvo

começaram a se destacar a partir do ano de 1994, quando atingiu 199,4 ton, e desde

então se manteve com capturas acima de 100 ton, como uma ascensão das capturas,

atingindo um pico máximo de 478,5 ton no ano de 2006. Apesar das capturas de polvo

não terem superado as capturas de lagosta, as mesmas vêm aumentando

continuamente, especialmente desde 1997, quando as capturas de lagosta entraram

em declínio continuo (Figura 3).

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31

Figura 3 - Estimativas da captura de polvo e lagosta no Rio Grande do Norte no período de 1961 a 2010

Dentre os municípios que capturam polvo no Rio Grande do Norte, Rio do Fogo

e Maxaranguape apresentaram os maiores valores medianos para a CPUE, de 4,67

(Kg/Dia*Nº de pescadores) e 4,33 (Kg/Dia*Nº de pescadores) respectivamente. Estes

municípios foram seguidos por Porto do Mangue, Caiçara do Norte e Touros, cujas

capturas vem se destacando desde 2005 (Figura 4).

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Figura 4 - Mediana da CPUE (Kg/Dia*Nº de pescadores) por município no período de 2001 a 2010

No período de 2001 a 2010 o registro do desembarque de polvo para o estado

apresentou uma mediana da CPUE de 3,7 (Kg/Dia*Nº de pescadores). Neste mesmo

período, o ano 2009 apresentou a maior mediana (5,0 Kg/Dia*Nº de pescadores),

enquanto 2002 foi o ano de menor mediana (2,7 Kg/Dia*Nº de pescadores) (Figura 5

A). Para o município de Rio do Fogo o maior registro da mediana da CPUE foi no ano

de 2009 (6,0 Kg/Dia*Nº de pescadores) e os menores valores foram encontrados no

ano de 2002 (2,4 Kg/Dia*Nº de pescadores) (Figura 5 B).

B A

Figura 5 - Captura por unidade de esforço (CPUE) de polvo no período de 2001 a 2010. A) Rio Grande do Norte e B) Rio do Fogo

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Quando decomposta a série temporal da mediana da CPUE no período

estudado, foi observada uma sazonalidade intra-anual bem marcada, provavelmente

conduzida por períodos de chuva e ventos. (Figura 6 A). A tendência da série mostra

que houve uma diminuição da CPUE no ano de 2005 e posteriormente um aumento

significativo até 2009 (figura 6 B). Para o município de Rio do Fogo também foi

observada uma sazonalidade intra-anual da CPUE (Figura 6 A). A tendência da série

mostra que houve uma leve diminuição da CPUE no início da série e um aumento

significativo até o ano de 2009, além de uma queda expressiva em 2010 (Figura 6 B).

Figura 6 - Série temporal da captura de Octopus insularis: A- Decomposição da série temporal da CPUE da pesca de polvo para o estado do Rio Grande do Norte. (B) Em destaque a tendência da série temporal da mediana da CPUE no período de 2001 a 2010. A- Decomposição da série temporal da CPUE da pesca de polvo para o município de Rio do Fogo. (B) Em destaque a tendência da série temporal da mediana da CPUE no período de 2001 a 2010

.

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34

Os dados mensais da mediana da CPUE do polvo no período de 2001 a 2010

mostraram que estas estão mais autocorrelacionados para o estado que para o

município (Figura 7 A e B).

Figura 7 - Autocorrelação dos dados mensais de captura no período de 2001 a 2010 para o Rio Grande do Norte (A) e para Rio do Fogo (B)

Quando calculada a Captura Máxima Sustentável (MSY) para o estado, o

modelo de Schaefer teve o valor de 45,01 Kg e o Esforço MSY foi de 17,54

(Dias*Número de pescadores). Para o modelo de Fox o MSY foi de 28,36 Kg e o Esforço

MSY foi de 16,05 (Dias*Número de pescadores), mostrando-se assim mais

conservador. Para Rio do Fogo, onde a pesca é mais direcionada para o polvo, a

Captura Máxima Sustentável (MSY) pelo modelo de Schaefer apresentou o valor de

49,93 e o Esforço MSY foi de 17,43, enquanto para o modelo de Fox o MSY foi de 47,58

e o Esforço MSY foi de 25,29 (Figura 8).

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Figura 8 - Modelos de Fox e Schaefer para a Captura Máxima Sustentável do polvo Octopus insularis no Rio Grande do Norte e para Rio do Fogo

A frota de Rio do Fogo variou de 51 a 104 embarcações ao longo do período

amostrado. Em média 59,7% eram barcos pequenos e 40,3% barcos grandes. Houve de

fato um incremento na frota de barcos pequenos ao longo dos anos, enquanto em

2005 41,9% eram barcos pequenos, em 2010 estes já representavam 82,7% da frota do

município. A frota de barcos grandes atua na pesca com compressor e a frota de

barcos pequenos utiliza o mergulho livre para capturar polvos. Quando observado os

valores medianos da CPUE por tipo de barco, percebe-se que a partir do ano de 2006,

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barcos pequenos apresentam uma CPUE superior a barcos grandes. Os menores

valores de CPUE para barcos pequenos foram nos anos de 2002 e 2004 (2,33

Kg/Dia*Nº de pescadores) e para barcos grandes foi no ano de 2002 (2,8 Kg/Dia*Nº de

pescadores). Os maiores valores da CPUE registrados para barcos pequenos foi em

2009 (6) e para barcos grandes foi em 2005 (6,42 Kg/Dia*Nº de pescadores) (Figura 9).

O esforço médio para os barcos pequenos variou de 2,7(Dia*Nº de pescadores)

no ano de 2001 a 3,0(Dia*Nº de pescadores) em 2005 e para os barcos grandes variou

de 5,1(Dia*Nº de pescadores) em 2005 a 9,1(Dia*Nº de pescadores) em 2002. O teste

de correlação de Spearman entre a CPUE e o esforço por desembarque apresentou

uma correlação negativa não significativa (p= -0,158), o que se repetiu para barcos

pequenos (-0,091) e grandes (-0,545) isso significa que um valor pouco se correlaciona

com o outro. Esses resultados mostram que o aumento da CPUE na série estudada não

está correlacionado com o aumento do esforço.

Figura 9 - Valores medianos da CPUE para barcos grandes e barcos pequenos atuando na captura de Octopus insularis durante o período de 2001 a 2010, no município de Rio do Fogo (RN)

Discussão

A análise das capturas de O. insularis sugere que estas ainda estejam em níveis

sustentáveis no Rio Grande do Norte, já que a captura e o esforço observados no

período analisado são inferiores a captura máxima sustentável (MSY) resultante de

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ambos os modelos testados, Schaefer e Fox. Outra informação que reforça a ideia de

que o estoque ainda se encontre em bom estado de exploração é a tendência de

aumento da CPUE a partir do ano de 2005, apesar do declive acentuado no ano de

2010. Para entender este declive, seriam necessários dados de desembarque para os

anos seguintes a 2010; no entanto, estes dados não existem para os principais

municípios produtores de polvo. Também é relevante observar que não houve

aumento no esforço de pesca para os barcos pequenos e nos últimos anos o esforço

para os barcos grandes se manteve constante. Ou seja, as maiores capturas não se

deveram a aumento de esforço ou mesmo de tecnologia, já que os métodos de pesca

não se alteraram no período.

Apesar dos registros da pesca do polvo só terem iniciado em 1994, a sua

exploração no Rio Grande do Norte iniciou em meados dos anos 60, como fauna

acompanhante da pesca da lagosta (Paiva et al., 1971). Devido ao agravamento da

situação de sobrepesca da lagosta, a pesca de polvo vem se desenvolvendo e

conquistando o mercado (Braga et al., 2007). O forte declínio da pesca da lagosta, que

capturava 2.988,2 toneladas em 1995 e teve sua produção reduzida a 657,7 toneladas

em 2010, apontam para a possibilidade de que as comunidades que dependiam da

lagosta hoje busquem no polvo uma alternativa de renda. Esta hipótese encontra

embasamento tanto no aumento da produção do polvo e no seu alto valor de

mercado.

Dentre os estados produtores de polvo, o Rio Grande do Norte se destaca como

o quarto maior produtor. No entanto, diferente dos outros principais produtores, a sua

pesca é exclusivamente artesanal realizada pelos mesmos pescadores de lagosta.

Estes, em períodos de água clara, capturam o polvo durante o mergulho livre ou

mergulho auxiliado por um compressor (Leite, 2010). Esta produção local de polvo

abastece o mercado local e estados vizinhos (Andrade et al. em preparação). Os

demais estados produtores de polvo que se destacaram na produção brasileira são das

regiões sul e sudeste do Brasil e até 2002 suas capturas eram exclusivamente

provenientes da frota de arrasto de portas, em que este recurso era parte da fauna

acompanhante (Costa e Haimovici, 1990; Perez e Pezzuto, 1998; Tomás, 2003). A partir

do ano de 2003 a pesca de polvos nessas regiões teve sua representatividade

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crescente devido ao início da pesca industrial com potes, cuja captura é hoje destinada

à exportação (Archidiacono e Tomáz, 2009).

Como os resultados deste trabalho não indicaram o aumento no esforço de

captura e os dados apresentam uma tendência de crescimento da CPUE na série

estudada, pode-se sugerir que outros fatores estejam contribuindo para uma maior

abundância de polvo nos últimos anos. Alguns autores atribuem alterações na

densidade populacional de polvo, especialmente O. vulgaris, a mudanças ambientais.

Estas alterações, principalmente as relacionadas às fases iniciais do ciclo de vida, como

a dependência da produção secundária do habitat que ocupa durante sua fase

planctônica, podem interferir no seu crescimento, no sucesso de recrutamento e

consequentemente nas capturas da espécie (González et al., 2005; Vargas-Yáñez et al.,

2009; Caballero-Alfonso et al., 2010). Para O. insularis não há, até o momento, estudos

que mostrem a influência de variáveis ambientais em sua abundância.

A autocorrelção apresentada para a CPUE por desembarque demonstra uma

sazonalidade marcada, diferente da autocorrelação para o município de Rio do Fogo

onde não foi observada a sazonalidade dos dados. Como a frota de Rio do Fogo é

direcionada ao polvo mesmo nos períodos de água turva quando se diminui a

intensidade da pesca em outros locais, a produção por desembarque continua

relativamente alta. Dessa forma não é visível a sazonalidade já que a autocorrelação da

CPUE foi analisada por desembarque. Para o estado, como os desembarques nem

sempre são direcionados ao polvo, a variação da CPUE por desembarque ao longo do

tempo pode estar relacionada a outros fatores, como a sazonalidade de condições

climáticas e oceanográfcas.

Os modelos de Fox e Schaefer são modelos simples de produção excedente, o

que, segundo alguns autores, teriam a desvantagem de ignorar os processos biológicos

de crescimento, recrutamento e mortalidade (Pitcher e Hart, 1982). Entretanto, O.

insularis foi uma espécie descrita recentemente, apesar de ser explorado há pelo

menos 20 anos no Rio Grande do Norte. Portanto, a inexistência de informações mais

detalhadas sobre a espécie impossibilita a construção de modelos mais complexos.

Assim, os dados de captura são neste caso a melhor alternativa para avaliar o status da

exploração de O. insularis.

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Apesar das informações apresentadas parecerem favoráveis à espécie

estudada, essas não eliminam a vulnerabilidade da mesma já que não existe nenhuma

regulamentação vigente. A única instrução normativa para a região Nordeste

(Instrução Normativa Interministerial nº 10, de 10 de junho de 2011) sistematiza

licenças para embarcações maiores de 8 m de comprimento e potência de 18 HP,

permitindo apenas o uso de espinhéis de potes na pesca industrial de polvo. Esta

normativa exclui as embarcações utilizadas no Rio Grande do Norte por terem

tamanho e potência inferiores e por atuarem de forma artesanal (Haimovici et al.,

2014). Também até pouco tempo o tamanho mínimo de captura utilizado era o da

espécie O. vulgaris com 110 mm de comprimento do manto, estimativa discrepante da

recentemente estimada para O. insularis (98 mm) (Lima et al.,2014a). Este menor

tamanho deve-se às suas características de história de vida, já que O. insularis atinge

tamanhos e pesos consideravelmente menores, alcança a maturidade sexual mais

precocemente, e apresenta um ciclo de vida mais curto (Lima et al., 2014a, Leite et al.,

2008; Batista, 2011). Desta forma, na ausência de legislação específica, os pescadores

artesanais de polvo do Nordeste são colocados na ilegalidade, ou porque suas

embarcações não se encaixam naquilo que é permitido (embora tenham menor

esforço de captura e sejam provavelmente menos impactantes) ou porque estão

capturando O. insularis abaixo do tamanho mínimo permitido na legislação para O.

vulgaris.

Por fim, a necessidade de se conhecer e manejar adequadamente O. insularis é

reforçada inclusive por fatores exógenos à pesca, como as mudanças climáticas. Isto se

daria porque as características de O. insularis favorecem uma maior amplitude na sua

distribuição em águas rasas e quentes (Leite et al., 2009, Bouth et al.2011), e também

porque a espécie é mais tolerante a maiores salinidades e consequentemente a

maiores temperaturas que O. vulgaris (Amado et al., 2015). Desta forma, com

aumento das temperaturas nas regiões equatoriais e tropicais, há de se esperar que

esta espécie passe a ocorrer em maiores abundâncias em locais onde atualmente ela

ainda é relativamente rara.

Outras informações sobre a biologia de O. insularis como o recrutamento,

crescimento, mortalidade são imprescindíveis para uma melhor avaliação do estoque,

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por serem requisitos para modelos de avaliação mais complexos. Além disso, é

necessário que o governo brasileiro retorne o monitoramento das capturas por estado,

que já não acontecem desde o ano de 2010. Na ausência destes dados, não há

condições minimamente viáveis para se analisar as condições de um estoque que vem

sendo explorado continuamente e que garante a renda e a segurança alimentar de

centenas de comunidades pesqueiras que dependem dessa atividade.

Conclusões

Apesar de ser uma espécie recém-descrita, as capturas de O. insularis já

ocorrem há no mínimo 21 anos no estado do Rio Grande do Norte, e nos últimos dez

anos essa exploração vem apresentando um aumento. Apesar desse aumento, os

valores estimados de captura máximo sustentável nos dois modelos testados são

superiores aos valores encontrados nas capturas. Além disso, este aumento não está

relacionado ao aumento do esforço aplicado a pesca e de uma forma geral essa

atividade parece ocorrer em níveis sustentáveis, apesar da omissão dos órgãos

competentes na regulamentação dessa atividade.

Agradecimentos

Agradecemos as informações sobre as capturas cedidas pelo IBAMA (Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), especialmente ao

senhor José Airton de Vasconcelos, e pelo Sea Around Us. Também agradecemos a

Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes) do governo federal

pela bolsa de doutorado concedida ao primeiro autor. Ao Programa de Pós-Graduação

em Ecologia (UFRN) por oferecer a infraestrutura necessária ao desenvolvimento deste

trabalho.

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CAPÍTULO 2

HOW DO ENVIRONMENTAL VARIABLES CAN AFFECT Octopus

insularis ABUNDANCE?

Lorena C. A. Andrade, Maria G. Penino, Priscila F. M. Lopes e Tatiana S. Leite.

Introduction

The growing human impacts on Earth’s natural resources are causing negative

consequences for marine ecosystem, including climate changes (Doney et al. 2012).

Increasing concentration of atmospheric carbon dioxide (CO2) is one of the most

critical problems because it can be felt globally and are irreversible in ecological time-

scales (Natl. Res. Counc., 2011). The main consequence of it consist in increasing

oceanic temperature (Bindoff et al., 2007) and acidification (Doney et al., 2009). These

consequences drive a series of additional changes, such as the rise in sea level and

stratification, changes in oceanic circulation patterns and precipitation (Keeling et al.

2010). Most surprising is the magnitude of the impact caused by a small change in

temperature. An increase of few degrees in atmospheric temperature may not only

increase oceanic temperature, but also cause large hydrological changes and affect

physicochemical properties of water. Consequently, these may lead to changes in

marine fish, invertebrate and plant communities (McGinn, 2002).

Changes in oceanic conditions may affect the primary productivity, distribution

of species and communities, and food web structure, with direct and indirect impacts

on the distribution and productivity of marine organisms. Empirical and theoretical

studies showed that marine fish and invertebrates tend track climate change (Perryet

et al., 2005; Cheunget et al, 2008, 2009; Dulvyet et al, 2008; Mueter & Litzow, 2008).

Moreover, the abundance of exploited stocks may also be vulnerable to fluctuations

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that may be caused by natural factors and/or human activities (Rosenzweig et al.,

2007).

Fluctuations in stocks may be related to variations in population size,

technological potential of fleets operating in the exploitation of species, and

environmental factors that influence survival of individuals at various stages of their

development (Hilborn and Walters, 1992; Jennings et al., 2001; Walters and Martellis,

2004). These environmental factors may be the most diverse, such as temperature,

chlorophyll, salinity, light incidence, precipitation, dispersion, retention and availability

of food items linked to seasonality in temperature, wind and oceanic circulation

system. These variables can also be correlated, and their effects boosted by positive-

feedbacks (Pierce, 1995; Sobrino et al, 2002; Roberts and van den Berg, 2002; Suda et

al., 2005; Stenevik and Sundby, 2007; Bellido et al., 2008).

Some authors have linked distribution patterns, catches and changes in

abundance of different marine species to the environmental data obtained through

satellite imagery and oceanographic sensors (Bellido et al., 2001; Waluda et al., 2001;

Sundermeyer al. 2005; Dawe et al, 2007). Remote sensing based technologies have

become an important tool in the acquisition of environmental data. This approach

facilitates visualization of biological data in conjunction with environmental variables

in real time and over historical time series (Pohl and Genderen, 1998; Waluda et al.,

2001; Klemas, 2012). Time series analyzes may be of great importance for

understanding and describing causal mechanisms on fisheries changes, and to make

future predictions that can serve as a tool for fisheries management (Vandaele, 1983).

According to Chédia et al. (2010), as the abundance of fish resource depend on

environmental conditions, not including these variations in production models makes

them unreliable, thus hampering proper management actions. With the rapid ongoing

global change, it is necessary to better understand how environmental factors can

influence species abundance and distribution. In this context, this study aims to

investigate the effect of environmental changes over the years on the abundance and

distribution of Octopus insularis, using data obtained from fisheries. This information

may help to understand the abundance and distribution of this species, generating

information for a better management and fishery sustainability.

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Material and methods

Study area

This study concerns analyses done on data gathered in twenty-seven coastal

communities of the Rio Grande do Norte state, NE Brazil (Figure 1). This coastline has

25 towns and 93 fishing communities along 399 km. The twenty-seven communities

were selected both because they can represent the variability in octopus fisheries

along this state and because they are one of the few with regular data sampled along

10 years.

Figura 1 - Map of the study area with the twenty-seven landing areas

Species data

The nation's environmental agency, The Brazilian Institute of Environment and

Renewable Natural Resources (IBAMA), provided past landing data for the twenty-

seven studied communities from 2001 to 2010. This dataset included information on

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the type of vessel and gear used in each fishing trip, crew size, haul duration, and

landing village.

The vessels working in octopus fishery usually operate from the coastline to the

shelf break up to 20 m deep (REF). Fishing grounds were identified with the respective

latitude and longitude coordinates, taking into account an average point of 10 km from

each landing village.

Although octopus fishing can be highly specific in some villages, in others

octopus is considered bycatch with a high commercial value. Therefore, all species

abundance was recorded and identified to species level for each landing. Since the

landing statistics varied markedly between different villages, we computed the landing

per unit effort (LPUE) as the landing in a specific location (in kg), standardized per haul

duration (in h) and number of fishers. We computed this index for the total species

(Total LPUE) and only for octopus (LPUE). These values were then log transformed to

downweight extreme values and to ensure a normal distribution and

homoscedasticity.

Fishing operations in which octopus was the target species (the only or main

species caught in weight) represent the 62% of the total fisheries operations

examined, therefore we used the octopus LPUE as a proxy of its abundance.

Environmental variables

Six environmental variables were considered as potential predictors of the

species LPUE, selected for being known to influence fishing species distribution

(Perryet et al., 2005; Cheunget et al., 2008, 2009; Dulvyet et al., 2008; Mueter &

Litzow, 2008). These included two climatic variables – Sea Surface Temperature (SST)

and Chlorophyll-a concentration (Chl-a) – and four bathymetric features – depth,

slope, distance to coast and rugosity of the seabed.

Specifically, depth, slope and distance to coast were derived from the

MARSPEC database (http://www.marspec.org). MARSPEC is a world ocean dataset

with a spatial resolution of 30 arc-second developed for marine spatial ecology

(Sbrocco and Barber 2013).

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The rugosity map was derived from the depth variable using the “Focal

Statistics tool” in ArcGis 10. The rugosity analysis employed here was done using the

method described by Jenness (2004), which designates a position of a specific point

relatively to its local neighborhood landscape (Lundblad et al. 2006).

Low values of slope correspond to a flatter ocean bottom (or areas of sediment

deposition) while higher values indicate potential rocky ledges (Lauria et al., 2015).

Similarly, rugosity works as an indicator of seafloor complexity highlighting minor

variation in the seabed topography (Lauria et al., 2015). Rugosity values are scaled

between 0 (no terrain variation) to 1 (complete terrain variation). Commonly,

unconsolidated substrate, such as mud and sand, correspond to low rugosity values

thus, high rugosity values are associated to potential rocky substrate. This parameter is

considered to be a useful surrogate of benthic diversity where there is no detailed

information on sediment type and structure (McArthur et al., 2010).

Annual average maps of Chl-a (expressed in mg/m3) and SST (expressed in C)

covering the entire period of the study (2001-2010) were extracted from the NEO

NASA database (http://neo.sci.gsfc.nasa.gov). In particular, Chlorophyll-a can be used

as an index of primary production of an ecosystem (de Levia Moreno et al., 2000).

Obviously, primary production depends on a range of factors, including light and water

transparency, which could not be taken into account because these data were not

available. Nevertheless, the mean value of Chl-a can be used as an independent index

of primary production in the area of interest, since its variability could modify trophic

conditions of the species habitat from oligotrophic to mesotrophic (Katara et al.,

2008). Sea Surface Temperature (SST) is strongly related with primary productivity and

consequently it is a possible candidate to explain the distribution of the species. In

addition, previous studies on octopus species have implied that SST plays an important

role in their distribution.

All environmental data were then aggregated to a spatial resolution of 0.1 x 0.1.

Following the protocol proposed by Zuur et al. (2010), these variables were explored

for correlation, collinearity, outliers, and missing data before their use in the analysis

and modeling. Slope and rugosity variables were highly correlated (Pearson

correlation, r > 0.7) between them, and thus were alternatively used in the models.

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Similarly, depth and distance to coast presented a Pearson correlation index higher

than 0.6, being therefore tested separately in the models.

Statistical models

The analytical approach was divided in two different steps. First, we used a

combination of statistical tools, such as smoothing and bootstrapping techniques, to

explore temporal patterns of LPUE and environmental oceanographic variables in

order to understand inter-annual variability of these series. Second, we performed

Boosted Regression Trees (BRTs) to assess which factors influence the octopus LPUE

variability and to generate yearly map of its distribution in the studied area.

Smoothing techniques and bootstrapping

Time series of the total LPUE, octopus LPUE and oceanographic variables (SST

and Chl-a) were smoothed using a locally weighted scatterplot smoothing, LOESS,

which estimates a polynomial regression curve using local fitting (Cleveland, 1979).

Bootstrap methodology was applied to assess variability. A 95% confidence band

obtained from the bootstrapped samples was calculated for the original LOESS fit.

Bootstrap is a computer-intensive method that quantifies uncertainty for a large range

of problems (Efron, 1979). It is based on re-sampling from an original sample of data to

create replicate datasets and it provides inferences on the quantities of interest

(Pennino et al. 2011; Babouri et al. 2014).

Boosted Regression Trees

We used Boosted Regression Trees (BRT, Elith et al., 2008) to combine

environmental data with LPUE records to generate yearly maps of the environmental

suitability for octopus in the studied area and to assess which factors influence its

variability. BRTs are a modeling strategy combining regression trees and boosting

methods to fit complex nonlinear relationships between predictors and the response

variable, automatically handling interactions between predictors. We performed a

formal training of BRT models using the “caret” package in R software (R Development

Team, 2015). The “train” function uses re-sampling to evaluate the effect of model

tuning parameters on performance, and chooses the optimal model across these

parameters. We assessed the optimal number of boosting trees with the “gbm.step”

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function from the “dismo” package (Hijmans et al. 2013). Based on the results, we

chose to build the model with the following parameters: 7350 trees, interaction depth

of 2 and shrinkage of 0.01, using a Gaussian distribution.

In order to find the best model, all possible combinations between

environmental variables were tested, jointly with the year factor.

To explore the presence of spatial autocorrelation in our results, we performed

the Moran’s index and Moran statistical test, which indicate correlation between

observations depending on their distance. Moran’s index range from -1 to 1, indicating

strong negative (-1) or positive (1) spatial autocorrelation. On the contrary, values of 0

indicate no correlation. Moran’s Index was calculated using the “spdep” (Bivan, 2010)

package in R software.

Then, as the Moran index (Moran's I = 0.14, z = 3.4, p < 0.01) indicated that our

data are spatially clustered, we implemented the residuals autocovariate (RAC)

approach (Crase et al., 2012). In this methodology, the spatial autocorrelation is

included by adding another term to the model (the autocovariate), which represents

the influence of neighboring observations on the response variable at a precise

location. More precisely, the RAC approach is implemented with a three steps

procedure following Crase et al. (2012). First, the classical BRT model is computed.

Second, residuals from the selected model were calculated for locations and were used

to compute the autocovariate variable by a focal calculation. Finally, the residuals

autocovariate is considered as an additional explanatory variable in the previous

model (Crase et al. 2012).

Results

About 22,000 landings were analyzed in a period of 10 years (2001-2010) for

twenty-seven communities of Rio Grande do Norte State.

The Figure 2 shows the smoothing curves with the respective 95% confidence

bands of the studied time series (2001-2010) obtained with locally-weighted

regression and bootstrapping. Specifically, the total LPUE (Figure 2 (a)) increased

constantly during the years studied, while the octopus LPUE increased until 2009, but

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showed a decline in the last year of the time series. The same pattern is showed by the

SST time-series, while the Chl-a concentration recorded an increment in the last year

(2010).

Figure 2 - Time series (2001-2010) of the total LPUE (a), the octopus LPUE (b), the Sea Surface Temperature (c) and the Chlorophyll-a concentration. Values are annual averages of the entire studied area. The continuous line represents the fit of the time-series and the dotted lines show the 95% confidence bands. Locally-weighted regression and bootstrapping was used to obtain the smoothing curve and confidence intervals.

The RAC BRT explained 46% of the total LPUE variability. Species LPUE were

mostly driven by rugosity, followed by Chl-a concentration and SST (respectively

71.1%, 7.8%, 5.1 % of relative influence, Figure 3). The fitted functions indicated that

the suitable habitat for the octopus was characterized by SST comprised between 27.6

and 28.2 C, Chl-a from 0.5 to 1 mg/m3 and rugosity between 0.50 and 0.60.

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Figure 3 - Functional response plot for the best BRT model. Each plot represents the variable response shape independent of the other variables, in relation to the LPUE in the model. Rugosity ranges from 0 (no terrain variation) to 1 (complete terrain variation); autocovariate: influence of neighboring observations on the response variable at a precise location; Chl-a: Chlorophyll-a concentration (mg/m3); SST: Sea Surface Temperature (C). The range of the environmental variables are represented on the x-axis and the LPUE of the species on the y-axis (log scale)

The autocovariate variable was also significantly important to explain the LPUE

variability, although environmental explanatory variables still presented relative

importance in the model. In addition, the RAC model accounted well for the spatial

autocorrelation; this can be seen by the fact that residuals of the RAC BRT did not

present spatial autocorrelation (Moran's I = 0.01, z = 1.2, p > 0.01)

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Distance to coast, slope and bathymetry were also tested in the BRTs, but such

variables were removed from the analysis because they contributed < 5% to the

model.

Yearly maps of LPUE are presented in Figure 4. These maps highlight a strong

inter-annual variability. From 2004 to 2009 there was an increase of the LPUE in the

entire area, while in 2010 an important decline was recorded.

Discussion

The abundance and distribution of O. insularis was strongly associated with the

roughness of the ocean floor, which was the variable that stood out in the model

Figure 4 - Yearly maps from 2001 to 2010 of the octopus LPUE in the studied area. Maps were obtained from the RAC Boosted Regression Trees (BRTs) with Sea Surface Temperature, Chl-a and rugosity as explanatory predictors

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applied inter-annually. However, LCPUE O. insularis increased over the years,

concomitant with the increase in surface water temperature, confirming that

temperature can influence the abundance of this species.

Habitat features and species’ life histories are directly linked to O. insularis

abundance and distribution. In the case of cephalopods, many species are adapted to

pelagic environments. However, some species can habit the seabed, such octopuses

(Ruppert & Barnes, 1996). Thus, this is not surprising that among the variables used in

this study to explain the abundance and distribution this species, the roughness was

the one that stood out. The influence of habitat for octopuses is quite evident due to

their need for shelters for protection, and dependency to the seabed is determinant

for their distribution (Hanlon and Messenger 1996). Besides these features, the

availability of preys and predators exert a direct influence octopuses diet (Ambrose,

1984) and, consequently, abundance (Anderson 1997).

Oceanographic and climatic changes can also influence species abundance.

Ours results shown increased abundance in accordance with sea surface temperature

in the studied period. Previous studies on reproductive biology of O. insularis in Rio

Grande do Norte found that this species show intra-year maturity stages, and these

stages are associated with environmental seasonality, where the coldest season and

more intense winds accelerates juvenile growth, gonadal development and maturity

(Lima et al. 2014). Inter-annually, increased temperature seems to favor species

abundance, and it corroborates the fact that O. insularis is more tolerant to higher

salinities, and thus to higher temperatures if compared to O. vulgaris (Amado et al.,

2015).

Other authors have also emphasized that environmental factors, such as water

surface temperature, affect the catches of different cephalopod species, change

species distribution patterns, growth rates, maturation and spawning (Rathjen and

Voss, 1987). Variations in the abundance of the common octopus (O. vulgaris) due to

environmental factors were observed in the coast of Spain, where the highest

abundance was associated with relatively lower temperatures, coinciding with the

spring periods (Hernandez-Garcia et al., 2002). Similarly, in the Portuguese, mature

females occurred in higher percentages in late winter and early spring, when the water

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temperature in the region decreased 12°C and 14°C (Carvalho and Souza, 2003). As the

greatest abundance and survival of O. vulgaris paralarvae are related to cold water

(André et al, 2010; Caballero-Alfonso et al, 2010), O. insularis seems to be adapted to

hot waters, and its thermal tolerance may increase its abundance and expand its

distribution with the warming of oceans.

Despite the increase in water temperature, decrease in the concentration of

chlorophyll over the years could be an indirect indicator of transparency of the water,

resulting in turbid waters and reducing the penetration of light, which can accelerate

species’ maturation (Schon et al., 2002; Boyle and Rodhouse, 2005). According

Mangold (1983), sexual maturation O. vulgaris is controlled by gonadotropin, which is

produced by the optical gland, and some studies have shown that light has an

inhibitory effect on this gland (Nishioka et al, 1970; Wells and Wells 1975; Iwakoshi-

Ukena et al, 2004).

For cephalopods, environmental changes, especially those related to the early

stages of their life cycle and recruitment, are directly related to the concentration of

chlorophyll, as they are active predator of plankton since early stages and depend on

the secondary productivity of the region their inhabits. When reach the benthic phase,

the common octopus starts to feed on benthic or nektonic species. Due to these

characteristics, and also to the quick response to environmental changes, chlorophyll

concentration and water temperature, are important variables that must be

considered in the analysis of abundance of this species (Mangold, 1983; Mangold,

1997; Sobrino et al. 2002; González et al., 2005; Vargas-Yanes et al, 2009; Caballero-

Alfonso et al, 2010; Polanco et al, 2011).

O. Insularis fishery is performed mainly by free divers, which rely on good

condition for water transparency, and chlorophyll can be an indirect indicator of the

water transparency, translating into turbid waters. The period in which there

chlorophyll increase may have an influenced on O. insularis abundance, since the data

we gathered here came from octopus fishers that depend directly on water visibility.

As the effort applied on octopus fishing in Rio Grande do Norte is not

responsible for the increased LCPUE (Andrade et al. In preparation), another factor

that can influence the greater abundance of O. insularis may be the fishing effort on

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their predators. Many studies showed that populations of cephalopods in the oceans

appear to be expanding due to the removing of their competitors and predators

(Caddy and Rodhouse, 1998). It is possible that population sizes of pelagic squids are

considerably higher than in past decades, since recent studies indicate up to 90% of

their teleost predators were removed (Meyers and Worm, 2003).

Although the present study has found an increase in the abundance of O.

insularis over the years, preventive management actions are still needed, since there is

no regulation for the capture of this species in Rio Grande do Norte. These measures

should take into account variables mentioned here, such as water temperature,

chlorophyll concentration and seabed roughness.

The immediate regulation of octopus fishing in Rio Grande do Norte may

become a great example of successful management and conservation of this fishery

resource, as populations are still abundant and measures will not be taken from

overfished stocks, which would hinder the implementation of social and

environmentally conservation strategies. In addition, with the possible expansion of

this species distribution, it becomes urgent to environmental agencies to take the

necessary steps towards the sustainability in this activity, as many fishing communities

depend on this resource for their food security and wellbeing.

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CAPÍTULO 3

RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO DA HIDRATAÇÃO NA QUALIDADE E

RENDA DA CARNE DE POLVO NA PESCA DE PEQUENA ESCALA

Lorena C. A. Andrade1,2,*, Adriana R. Carvalho2,3, Priscila F. M. Lopes²,³ César C. da

Nobrega4

1Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (UFRN), Natal, RN, Brasil. * [email protected]

2FEME – Fishing Ecology, Management and Economics Group, Natal, RN, Brasil

3Departamento de Ecologia, UFRN, Natal, RN, Brasil

4 Medicina Veterinária, UFPB, PB, Brasil

Resumo

A pesca artesanal de Octopus insularis é uma das mais relevantes para segurança

alimentar e modo de vida de comunidades costeiras do Rio Grande do Norte. No

entanto, o início da sua cadeia de comercialização segue práticas de manipulação do

pescado que podem comprometer sua viabilidade sanitária, como a conservação do

polvo em água com gelo por até cinco dias. Ao longo de oito dias, testamos três

aspectos de polvos frescos fornecidos por pescadores e mantidos em condições

idênticas àquelas praticadas na comunidade: ganho de peso por hidratação (N=12),

variação do pH da carne (N=3), e avaliação sensorial através do Índice de Qualidade

(QIM) (N=12). Os polvos ganharam cerca de 37% de água até o terceiro dia, embora no

primeiro dia já tenham atingido o limite de hidratação estabelecido por legislação.

Tanto o pH máximo permitido, quanto um QIM tolerável, foram atingidos no quarto

dia do experimento. Assim, a manipulação local do polvo prejudica sua qualidade

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sanitária e expõe o consumidor a situações inadequadas. Ainda, é possível que a baixa

qualidade do produto afete o preço pago ao pescador, demandando que o mesmo

aumente seus esforços de pesca para manter sua renda, e, portanto, impondo perdas

também aos estoques pesqueiros.

Palavras- chave: Índice de Qualidade – QIM; hidratação do pescado; análise sensorial;

cadeia produtiva

Abstract

The artisanal fishery of Octopus insularis is one of the most relevant for the food

security and livelihood of coastal communities of Rio Grande do Norte state. However,

the beginning of its food chain follows handling practices that could compromise the

product quality, such as keeping the octopus in iced water for up to five days. Along

eight days, we tested three aspects of fresh octopus provided by fishers and kept in

conditions identical to those practiced in the village: weight gain due to hydration

(N=12), changes in the meat pH (N=3), and sensorial analysis through the Quality Index

Method (QIM) (N=12). The octopuses absorbed about 37% of their weight in water

until the third day, although in the first day they had already reached the hydration

limit established by law. Both the maximum allowed pH and an acceptable QIM were

reached on the forth day of the experiment. Therefore, the octopus local processing

affects its sanitary quality and exposes the consumer to unfavorable conditions.

Besides, it is possible that the product low quality affects the price paid to fishers,

demanding more effort from them to keep their income and causing losses to fishing

stocks as well.

Key-words: Quality Index Method – QIM; seafood hydration; sensorial analysis; value

chain.

Introdução

Globalmente, a maior proporção de capturas (82%) é composta de espécies de

peixes. No Brasil, apesar dos peixes também compreenderemm a maior parte das

capturas (87%), os invertebrados representam 14% das espécies consumidas e

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comercializadas (FAO, 2013; Brasil, 2012). Em alguns casos, a captura regular de

invertebrados garante o fornecimento de proteína em períodos de entressafra

pesqueira (Rocha e Pinkerton, 2015). Lagostas e polvos embora tenham captura

menos regular, são destinados especialmente ao comércio devido ao seu alto valor

comercial (Fonteles-Filho, 2000; Haimovici et al., 2014).

No entanto, as perdas sobre as capturas de lagosta devido à sobre-exploração e

a restrição desta pescaria, como o período de defeso, foi levando gradualmente o

polvo a ser um alvo da pesca. Ao mesmo tempo, a aceitação da carne de polvo pelos

consumidores no mercado regional foi regularmente aumentando. Além disso, os altos

teores de proteícos na carne de polvo e seu baixo teor lipídico, tornou esta carne uma

atraente alternativa para consumo. (Loru, 2005).

Atualmente, as principais espécies exploradas no Brasil são Octopus vulgaris e

O. insularis. Como O. vulgaris, O. insularis também têm alto valor de mercado e

apresentam características ecológicas que promovem a sua exploração sustentável

(Leite et al., 2009). Esta espécie apresenta ciclo de vida curto (<1 ano), reprodução em

águas mais profundas, onde está relativamente mais protegida da pressão pesqueira e

fecundação de fêmeas por machos jovens que poderiam então estar disponíveis para

pesca (Lima et.al, 2014).

A espécie O. insularis é comumente pescada na costa e em ilhas oceânicas do

nordeste brasileiro, em função de suas preferências por águas rasas e mais quentes

(Leite et al., 2009). Em alguns estados, este polvo é pescado de forma industrial, com

espinheis de pote. Esta espécie é explorada no Rio Grande do Norte (RN)

exclusivamente de forma artesanal, por mergulhadores (Haimovici et al., 2014). A

pesca de polvo no município de Rio do Fogo foi inicialmente oportunista, como fauna

acompanhante da pesca da lagosta, e posteriormente foi promovida, com baixas de

capturas de lagosta devido a seu estado de sobrepesca (Paiva e. al., 1971). Embora não

existam estimativas oficiais de cobrança de impostos para produtos da pesca,

atualmente só a pesca de polvo é provável ganhar mais do que o Produto Interno

Bruto total do município (Andrade, 2015).

Apesar de artesanal, as capturas do RN representam a quarta maior produção

de polvos do Brasil. Esta produção é comprada por atravessadores locais, também

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chamados de pinteiros, embora eventualmente donos de peixarias locais também

adquiram polvos diretamente com os pescadores. A compra pelos pinteiros é feita

através de lances, em uma compra semelhante à um leilão que ocorre na praia logo

após o desembarque (Haimovici et al., 2014).

Após a compra, como estratégia para aumentar o valor de venda sem aumentar

o valor do produto, o pinteiro promove uma hidratação caseira para aumentar o peso

de cada polvo comprado. Ao aumentar o peso, os pinteiros podem vender o polvo pelo

mesmo preço de compra. Os pinteiros sabem que a hidratação pode aumentar seus

ganhos, mas são incapazes de indicar o real aumento de peso e de valor do polvo

propiciado pela hidratação, que pode ocorrer por até cinco dias dependendo da época.

Tampouco se preocupam em saber que implicações dessa hidratação podem

representar para a qualidade do produto que comercializam.

Aqui, reportamos o resultado de um experimento de hidratação feito com

polvos da espécie O. insularis capturados pela pesca artesanal do Rio Grande do Norte.

Foram investigados: (i) a diferença no peso do produto final após a hidratação, tal qual

feita pelos pinteiros; (ii) se o ganho de peso é menor em classes mais baixas de

tamanho, como acreditam os pinheiros; (iii) o ganho real de peso e de valor econômico

ao final do processo; e (iv) a qualidade final do produto após a hidratação. A principal

meta é avaliar o custo-benefício de hidratar o polvo, e subsidiar mudanças neste

processo para garantir maior qualidade do produto com o menor impacto sobre a

renda dos intermediários e assegurar o cumprimento dos padrões de qualidade

estabelecidos por lei, bem como a segurança alimentar dos consumidores.

Material e métodos

Simulação do processo de hidratação do polvo

Com o objetivo de reproduzir o processo de hidratação realizada por pinteiros,

12 polvos (Octopus insularis) foram adquiridos durante desembarques em Rio do Fogo,

o principal produtor de O. insularis no RN (Vasconcelos, 2008). No laboratório, todos

os polvos foram distribuídos em três classes de tamanhos: Classe 1 (300 a 500g), Classe

2 (501-700g) e Classe 3 (>700g). Cada espécime foi pesado, enumerado e

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posteriormente acondicionado em um isopor com água e gelo, da mesma maneira que

fazem os pinteiros. Cada um dos quatro exemplares de polvo, por categoria de

tamanho, foi pesado diariamente durante oito dias de experimento e avaliado quanto

à sua qualidade sensorial. Adicionalmente foi feita uma avaliação do pH da carne dos

polvos em hidratação.

Os doze exemplares numerados foram diariamente colocados em bandejas

brancas para que fosse feita uma avaliação sensorial individual da qualidade do polvo

através do Quality Index Method - QIM. Este método permite a estimativa de um

índice de qualidade (QIM) para O. insularis usando seis parâmetros: cor da região

dorsal, cor da região ventral, cor da região da boca, elasticidade da pele, odor e muco

(Aragão, 2013). Para cada um dos parâmetros foi atribuída uma pontuação que variou

de zero, que indica produto mais fresco, à três pontos que indica pior qualidade para

aquela variável (Nunes e Batista, 2004). Assim, quando somados todos os parâmetros

observados, cada indivíduo poderia alcançar o valor máximo de 18 pontos. Esta

avaliação foi feita por nove julgadores que trabalham com polvo ou outro tipo de

pescado e que atuaram como observadores técnicos. Inicialmente, o QIM deveria ter

sido avaliado ao longo de 10 dias, mas os polvos se tornaram inviáveis para análise

após o oitavo dia.

Para medir o pH da carne do polvo, três exemplares extras foram coletados no

mesmo dia dos polvos usados na hidratação e acondicionados junto com os polvos em

hidratação. A determinação do pH foi realizada diariamente seguindo a metodologia

descrita pelo IAL (2005). Assim, uma amostra de 10,0 gramas de carne de cada uma

das três réplicas foi retirada e pesada em balança analítica durante todo o período do

experimento de hidratação. Estas amostras foram picadas, diluídas em 100 mL de água

destilada e homogeneizadas com um bastão de vidro para leitura do pH em

potenciômetro.

Análises estatísticas

Para testar se existe diferença de ganho de peso durante a hidratação entre as

classes de tamanho dos polvos utilizados no experimento foi feita uma Ancova (Análise

de covariância), após transformação por raiz quadrada dos dados, visto que os dados

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não apresentaram normalidade. Para testar se existiam diferenças entre o QIM de

cada indivíduo analisado por dias de hidratação foi aplicado o teste Kruskal-Wallis

seguido do post-hoc Games Howel. As análises foram feitas usando os pacotes

disponíveis no software R 3.2.2 (R Core Development Team 2015) e SPSS 14.

Resultados e Discussão

Custo-benefício da hidratação feita pelos pinteiros

O experimento de hidratação realizado demonstrou que de maneira geral os

polvos aumentam em média 19% em peso absoluto no primeiro dia de hidratação

(Tabela 1). A diferença de ganho de peso nos primeiros dias, marcadamente entre o

primeiro dia e os demais é significativa (F=7.223; p=0.01). Não houve diferença no

ganho de peso dos polvos nas diferentes classes de tamanho durante o processo de

hidratação (todos os p >0.05) e o efeito dos dias (interação) é o mesmo entre as

classes de tamanho. Contudo, o ganho médio de peso acumulado (37% de aumento de

peso) não difere entre o 3o dia e o 5o dia (Tabela 1). Portanto, esta porcentagem

acumulada de peso excede o valor máximo de adição de água permitido pelo

Ministério da Agricultura para comercialização de pescado, que é de 20% (Oficio -

Circular GA/DIPOA n° 26/2010).

Da mesma forma, não houve diferença no valor econômico médio acumulado por

polvo hidratado (R$6,35) entre o 3o e 5o dias de hidratação usando como referência o

valor médio do kg do polvo em 2015 (R$17,25; Tabela 1). Assim, após o segundo dia de

hidratação, o conteúdo de água dos polvos os torna inadequados para a venda. Em

termos de lucro para e desconsiderando qualquer aspecto de saúde pública, o pinteiro

não tem benefício econômico por manter o polvo na hidratação por mais de três dia

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Tabela 1 - Porcentagem de aumento de peso dos polvos Octopus insularis hidratados e sua rentabilidade financeira (em R$) por unidade do produto nas três classes de tamanho, ao longo de oito dias de experimento. Para estimar a rentabilidade do polvo foi usado o valor médio de R$17,25/kg de polvo, a partir dos valores de venda correntes no ano de 2015 em Rio do Fogo (Rio Grande do Norte).

Classe 1

(300-500g)

Classe 2

(501-700g)

Classe 3

(>700g)

Dias Peso (%)

Valor (R$)

Peso (%)

Valor (R$)

Peso (%)

Valor (R$)

1o 21,68 3,79 17,25 2,97 18,42 3,18

2o 11,72 2,05 10,44 1,80 11,82 2,04

3o 6,74 1,18 6,28 1,08 5,50 0,95

4o -6,10 -1,07 -2,84 -0,49 0,19 0,03

5o 2,74 0,48 2,94 0,51 2,98 0,51

6o -5,92 -1,04 -4,15 -0,72 -2,90 -0,50

7o 0,97 0,17 -0,46 -0,08 1,86 0,32

8o 0,60 0,11 1,32 0,23 -1,27 -0,22

Similarmente, o pH medido na carne dos polvos tornou o produto hidratado

improprio para consumo. Não existe na legislação Brasileira valores legais de pH para

cefalópodes. Portanto, foram usados como valores de referência os limites para

pescado em geral, estabelecido pelo Ministério da Agricultura Pecuária e

Abastecimento para peixes (BRASIL, 1962). Estes limites determinam que o pH da

carne do pescado deve ser inferior a 6,5 na parte interna e inferior a 6,8 na parte

externa (Figura 1- A).

Figura 1 – A) Variação média diária do pH da carne de polvo (valor limite de referência = 6,5); e B) Valores médios diários do Método do Índice de Qualidade (Quality Index

B A

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Method - QIM) para avaliação sensorial da qualidade do produto pescado. Valores gerados após o experimento de hidratação em 12 polvos de três categorias de tamanho para reproduzir o processo realizado por pinteiros em Rio do Fogo, município do RN. A linha vermelha indica o momento em que o polvo atinge o pH máximo aceito para consumo, segundo os padrões do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Da mesma forma, o QIM dos polvos analisados parece aumentar de forma mais

expressiva a partir do quarto dia (Figura 1- B). O índice de qualidade sensorial do polvo

hidratado diferiu ao longo do processo de hidratação (Kruskal Wallis; p = 0,000). Até o

quarto dia não houve diferença na qualidade sensorial do polvo em hidratação (1º e 2º

dia p=0,875; 3º diap=0.999; e 4º diap=0.875). A perda da qualidade aparece a partir do

5o dia de hidratação (5º dia p=0,25; 6o, 7o e 8o dia p=0,000). Isto sugere que os

pinteiros considerem apenas os aspectos sensoriais, pois é provável que não notem

mudanças no aspecto da carne. Dessa forma desconsideram aspectos importantes da

legislação referente à acidez do produto, portanto, ameaçando também a saúde do

consumidor.

Implicações econômicas, para consumo, manejo e pesca do polvo O. insularis

De acordo com os resultados encontrados no experimento de hidratação,

podemos observar que o benefício dessa prática se limita até o segundo dia, com

relação ao ganho de peso e lucro e após esse período a qualidade do produto está

comprometida. Portanto, a mudança no comportamento do pinteiro com a diminuição

no período de hidratação da produção de polvo não irá comprometer a sua renda, em

contrapartida as condições do produto comercializado estarão conforme a legalidade

exigida pelos órgãos competente e será ofertado um produto de qualidade superior ao

mercado.

A hidratação excessiva do polvo além de comprometer a qualidade do produto,

diminui o rendimento e consequentemente aumenta o preço do produto para o

consumidor final (Andrade, 2015). Além disso, é possível que a baixa qualidade do

produto afete o preço pago ao pescador, demandando que o mesmo aumente seus

esforços de pesca para manter sua renda, e, portanto, impondo perdas também aos

estoques pesqueiros.

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Agradecimentos

A todos os pescadores, geleiros, pinteiros e peixeiros de Rio do Fogo, pela

atenção e colaboração com este trabalho. À Pós-Graduação em Ecologia pela

infraestrutura oferecida. À CAPES pela bolsa de doutorado oferecida a LCAA. Por fim,

aos colegas que se dispuseram voluntariamente a participar do processo de avaliação

da qualidade do polvo.

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CAPÍTULO 4

BENEFÍCIOS ECONÔMICOS E SOCIAIS NA CADEIA PRODUTIVA

DA PESCA ARTESANAL DE POLVO

Lorena C. A. Andrade, Adriana R. Carvalho, Cesar C. da Nobrega, Priscila F. M. Lopes,

Tatiana S. Leite

Resumo

Este estudo tem como objetivo fazer uma análise da cadeia produtiva e de

serviços da pesca de Octopus insularis, exclusivamente explorado pela pesca artesanal

no município de Rio do Fogo (RF) e investigar como os benefícios econômicos e sociais

se distribuem ao longo de sua cadeia de comercialização. Para isso, foi realizado um

acompanhamento do desembarque da pesca de polvo e informações sobre a

quantidade de polvo capturado (Kg) e informações econômicas (renda e custos) foram

registradas em todos os segmentos da cadeia produtiva e de serviços. Para conhecer o

benefício econômico da pesca de polvo em RF foi estimado o fluxo de capital gerado

por ano pela atividade e para representar o benefício social foi estimado o número de

trabalhadores e seus dependentes mantidos por cada segmento da cadeia de serviços.

O valor gerado mensalmente pela pesca do polvo em RF é de R$119.346,0. Não existe

diferença no benefício econômico (lucro individual) gerado pela pesca de polvo nos

setores de produção, serviços e distribuição. Contudo, os valores de renda e custos se

diferem. Atualmente, 1.285 pessoas estão associadas à cadeia de produção e serviços

da pesca de polvo praticados em RF sejam como trabalhadores diretos/indiretos ou

como dependentes. Isto representa 34,4% da população urbana de Rio do fogo

diretamente beneficiada por esta atividade. Os resultados indicaram alto fluxo de

capital proveniente desta pescaria, gerando um importante benefício econômico para

a comunidade e alto benefício social, visto que a atividade emprega mais de ⅓ da

população local.

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Abstract

This study aims to analyze the production and services chain of Octopus insularis

fishery exclusively exploited by artisanal fleet in a city of Northeast of Brazil, Rio do

Fogo (RF). It also goal to investigate how the economic and social benefits are

distributed throughout commercial chain. It was conducted a monitoring of the

landing of octopus fishing and were recorded information about the amount of

octopus captured (Kg) and economic information (income and costs) in all segments of

the production and services chain. To know the economic benefit of octopus fishing in

RF was estimated the capital flow generated annually by the activity and to represent

the social benefit was estimated the number of workers and their dependents kept for

each segment of the service chain. The value generated monthly by octopus fishery in

RF is R$ 119,346.0. There is no difference in economic benefit (individual income)

generated by octopus fishery in the sectors of production, services and distribution.

However, income and costs values were different. Currently, 1,285 people are

associated with the production and services chain of octopus fishing in RF as

direct/indirect workers or dependents. This represents 34.4% of the urban population

of Rio do Fogo directly benefited by this activity. The results indicated high flow of

capital from this kind of fishery, generating a significant economic benefit to the

community and high social benefit, since the activity employs more than ⅓ of local

people.

Introdução

No mundo, cerca de 90% dos 38 milhões de pessoas que são classificados como

pescadores, são considerados pescadores artesanais. Além destes, estima-se que

outros 100 milhões de pessoas dependam, de alguma forma, da pesca artesanal como

meio de subsistência. Não se sabe, precisamente, a real contribuição da pesca de

pequena escala para subsistência e para a economia dos países em desenvolvimento,

visto que muitas comunidades de pesca artesanal são pobres e vulneráveis. Especula-

se, no entanto, que a pesca de pequena escala gere lucros significativos e contribua

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significativamente para a redução da pobreza e segurança alimentar (Bene et al.,

2007).

No Brasil, mais de 600 mil brasileiros sustentam suas famílias e geram renda

para o país trabalhando na atividade de pesca artesanal desde a captura até a

comercialização (Silva, 2010). Os pescadores artesanais são responsáveis por 45% do

pescado produzido no Brasil (Brasil, 2011), uma porcentagem que pode ser muito mais

alta dependendo do estado que se considera.

Dentre os recursos explorados na pesca artesanal, o polvo tem sido veemente

negligenciado por pesquisas e por legislações específicas. Estima-se que o Brasil

capture em torno de 2000 toneladas de polvo, anualmente, entre duas espécies

principais: Octopus vulgaris (Cuvier, 1797) e O. insularis (Leite et al., 2008a). A primeira

destaca-se por ser capturada quase que exclusivamente pela pesca industrial, através

do uso de espinhel de potes e redes de arrasto no Sul e Sudeste (Costa e Haimovici,

1990; Archidiacono e Tomáz, 2009). Já a última, uma espécie de menor porte, é

capturada exclusivamente pela pesca artesanal, em águas mais rasas e quentes no

norte e nordeste (Leite et al. 2008b, Lima et al., 2014). Enquanto O. vulgaris é

direcionado aos grandes mercados consumidores e exportação (Archidiacono e Tomáz,

2009), aparentemente O. insularis permanece em mercados internos e, possivelmente,

desempenha um papel econômico bastante regional, cuja importância ainda segue

desconhecida.

Uma das formas de se entender a relevância econômica de uma espécie e

buscar um ordenamento de sua extração, é através da análise da cadeia produtiva.

Esta precisa ser conhecida e ordenada, não apenas objetivando o equilíbrio do recurso

no ambiente, mas também visando não comprometer a disponibilidade de alimentos e

a própria sustentabilidade econômica da cadeia (Castro et al., 2005).

Além disso, a análise da cadeia produtiva é útil por três razões principais: i) ao

abordar a interação entre as etapas, compreende-se o fluxo de bens, de serviços e o

papel dos consumidores; ii) reconhece-se que o fluxo de informação e de bens entre as

etapas da cadeia não ocorre em condições de igualdade, podendo implicar em

competências e conhecimentos escassos para uns e grandes recompensas financeiras

para outros; e iii) é a chave para compreender a apropriação global em torno da

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produção e a habilidade de identificar atividades de alto rendimento no interior da

cadeia produtiva (Kaplinsky 2000; Wood 2001).

Diante dessa perspectiva este estudo tem como objetivo fazer uma análise da

cadeia produtiva e de serviços da pesca de O. insularis, exclusivamente explorado pela

pesca artesanal e investigar como os benefícios econômicos e sociais se distribuem ao

longo de sua cadeia de comercialização. Para isto, foi utilizado o principal município

produtor desta espécie no Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil. Devido ao baixo

nível de organização social dos pescadores artesanais brasileiros, em especial na

comercialização do pescado, espera-se uma discrepância entre os benefícios

econômico e sociais entre os agentes do setor de produção e serviços, além de

incrementos de valor crescentes na distribuição.

Descrição da área de estudo

O estudo foi realizado na comunidade pesqueira de Rio do Fogo, localizado no

estado do Rio Grande do Norte (RN). A pesca no RN é praticada por 98 comunidades

pesqueiras distribuídas por 25 municípios ao longo de 410 km de litoral.

Aproximadamente 20 mil pessoas estão diretamente empregadas na atividade de

pesca no Rio Grande do Norte e possivelmente outras 65 mil estejam ligadas ao setor

(Brasil, 2012; Ibama, 2010). A atividade pesqueira é uma das principais economias do

estado que tem 75% das capturas provenientes da pesca artesanal.

No cenário nacional, o RN desponta como o quarto maior produtor de polvo do

Brasil com exploração exclusivamente sobre a espécie O. insularis (Leite et al., 2008).

Esta produção é bastante concentrada em alguns municípios, porém Rio do Fogo é o

maior produtor do estado (Vasconcelos, 2008). Em 2009, por exemplo, Rio do Fogo

gerou 58% do total produzido no estado (229,4 ton; IBAMA, 2010).

Rio do Fogo está situado no Leste Potiguar à aproximadamente 90 km da

capital do estado, Natal. A população municipal é composta por 10.059 habitantes, dos

quais 3.748 residem na zona urbana e 6.311 na zona rural (IBGE, 2012). Todo o litoral

de Rio do Fogo está inserido dentro da Área de Proteção Ambiental Estadual dos

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Recifes de Coral - APARC (Figura 1). A atividade econômica mais importante do

município é a pesca que explora, além do polvo, a lagosta e várias espécies de peixe.

Figura 1- Localização do município de Rio do Fogo, o maior produtor de polvo (O. insularis) do estado do Rio Grande do Norte-RN e o tipo de embarcação usada, o paquete

Material e métodos

Monitoramento do desembarque da pesca de polvos

Os desembarques foram registrados apenas durante os meses de maior

transparência da água (janeiro, fevereiro e março), durante os anos de 2012, 2014 e

2015, pois a pesca de polvo é realizada através do mergulho livre e o pescador

depende da qualidade da visibilidade da água para pescar (Leite et al., 2010).

Em cada desembarque foram anotadas informações sobre a produção e

organização da atividade de pesca (Tabela 1).

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Tabela 1- Dados amostrados durante o acompanhamento do desembarque da pesca de polvo

Produção

Captura (Kg), valor de venda do polvo

(em R$), valor gasto com a viagem

(óleo e alimentação).

Organização da pesca

Nº de tripulantes, divisão do lucro,

estimativa da renda individual e

investimento para cada viagem de

pesca

Monitoramento do desembarque da pesca de polvos

Para estimar o número médio mensal de dias de pesca (água clara), foi feito um

monitoramento participativo de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014. A abordagem

participativa é ampla e pode envolver pesquisadores, usuários, gestores,

conservacionistas e outros grupos de interesse em todas as fases ou parte da pesquisa

em foco (Whyte et al. 1989). Aqui o monitoramento envolveu quatro pescadores que

se dispuseram a participar anotando, diariamente durante um ano, a qualidade da

visibilidade da água, categorizando-a em água clara ou água turva. A renda média

mensal do pescador foi estimada usando-se a renda média diária registrada nos

desembarques amostrados e multiplicando-a pelo número médio mensal de dias de

pesca.

Cadeia produtiva e de serviços da pesca de polvo

A cadeia produtiva e de serviços da pesca de polvo foi descrita por segmentos

que incluem o setor de produção, de consumo, de suprimento ou serviços, de

transformação e de distribuição (Giulietti et al., 1996). Destas, apenas a etapa de

transformação não foi descrita, visto que o polvo na região de estudo é comercializado

in natura (Batalha, 2002). Assim, informações dos segmentos de produção

(pescadores), de consumo (restaurantes de frutos do mar no principal centro

consumidor), do setor de serviços ou suprimento (geleiros e taipeiros/estaleiros) e

setor de distribuição (atravessadores locais, internos e externos) foram quantificadas

para se estimar o benefício econômico e o benefício social da pesca de polvo.

O benefício econômico da pesca de polvo para o município foi representado

pelo fluxo de capital gerado por ano pela atividade. Este fluxo de capital foi estimado

pela soma do lucro médio obtido com a pesca de polvo em cada segmento ao longo da

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cadeia de produtos e serviços sustentada pela exploração desta espécie no município

de Rio do Fogo. O benefício econômico por segmentos da cadeia produtiva e de

serviços foi estimado multiplicando-se o número de pessoas atuando em cada

segmento desta pesca (pescador, geleiro, pinteiro e donos de peixarias) pela

estimativa de lucro médio por segmento.

Para estimar o lucro médio foram calculados a renda média e o custo médio em

cada segmento. Ao final, o fluxo de valores ao longo da cadeia de comercialização foi

agregado para representar a cadeia de valores da pesca de polvo. Nesta agregação, foi

usado como valor inicial do polvo o preço médio por quilo no ano de 2015

(R$17,25/kg) e a agregação à cada elo da cadeia foi representada pela porcentagem de

aumento no valor. Para estimar esta porcentagem, foi usado um índice de crescimento

do valor do polvo ao longo da cadeia usando a fórmula [(valor atual – o valor

anterior/valor anterior) × 100].

Para representar o benefício social da pesca de polvo foram estimados o

número de trabalhadores e seus dependentes mantidos por cada segmento da cadeia

de serviços da pesca de polvo e o número de empregos gerados por quantidade

capturada de polvo. Para relacionar o número de empregos à renda e captura, o valor

anual destas variáveis foi dividido pelo número total de empregos gerados em toda a

cadeia de produto e serviços da pesca de polvo e por segmentos da cadeia.

Para identificar os benefícios econômicos e sociais da pesca de polvo em cada

segmento, seus representantes foram entrevistados (Tabela 2).

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Tabela 2- Informações sociais e econômicas as quais estão envolvidos os atores que participam da pesca no município de Rio do Fogo

Para descrever o setor de consumo, foram selecionados os principais

restaurantes especializados em frutos do mar e comida oriental no principal centro de

consumo próximo (Natal) usando como critério o tempo que atuam no mercado

(mínimo de cinco anos) e oferta permanente de pratos com polvo no cardápio, visto

que alguns restaurantes incluem polvo no cardápio apenas na alta temporada de

turismo. Os restaurantes selecionados foram visitados e seus gerentes foram

entrevistados para fornecer informações sobre compra, beneficiamento e consumo de

polvo. Dentre as informações de compra, foram registrados o valor de compra do

polvo, sua origem, seu fornecedor (atravessador) a quantidade e a frequência de

compra. Cada restaurante informou ainda como armazena o polvo adquirido bem

como as características do produto e os principais problemas de sua disponibilidade no

mercado. Por fim, foram registrados em cada estabelecimento o rendimento por quilo

de polvo beneficiado, o peso das porções ofertadas por refeição, os valores dos pratos

nos cardápios e o lucro líquido da venda de polvo por refeição.

No setor de serviços foram identificadas e descritas as características dos

taipeiros, geleiros e estaleiros. Os taipeiros são os trabalhadores que após a pesca de

polvo levam as embarcações chamadas de paquetes (Figura 1) até um local na areia da

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praia que esteja acima da influência da maré. Os geleiros são moradores locais e que

atuam como fornecedores de gelo para diferentes setores da pesca de polvo.

Os estaleiros que são os trabalhadores que constroem as embarcações para os

pescadores de polvo foram entrevistados individualmente em suas residências e

informaram principalmente quantos são os trabalhadores neste setor e o número de

dependentes de cada um. Para este setor não foi possível estimar renda ou custo pois

como a atividade dos estaleiros é muito variável e de longa duração, eles não têm

nenhum registro, mesmo que aproximado, destas informações.

O setor de distribuição é constituído por atravessadores que foram

identificados usando a metodologia de bola de neve (Goodman, 1961), em que cada

indivíduo identificado indica os demais a serem abordados. Foram registradas

informações de atravessadores externos, de atravessadores internos e dos

atravessadores locais. Os atravessadores externos são aqueles que compram o polvo

em Rio do Fogo e o revendem em outros estados, especificamente Pernambuco e

Alagoas. Os atravessadores internos são aqueles que revendem o polvo pescado em

Rio do Fogo para estabelecimentos do principal centro de comercialização de pescado,

a cidade de Natal-RN, incluindo as peixarias. Os atravessadores internos e externos

foram entrevistados por telefone.

Os atravessadores locais são (i) os donos de peixaria em Rio do Fogo e (ii) os

primeiros compradores localmente conhecidos como Pinteiro e que fornecem o polvo

às peixarias locais, embora eventualmente o dono da peixaria possa comprar polvo

diretamente do pescador.

Foi estimada a porcentagem que a comercialização do polvo representa para

cada estabelecimento, como esta porcentagem representa renda (ou custo) mensal, a

porcentagem por eles informada foi dividida por 30 para se estimar valores diários.

Como o polvo só está disponível por 16 dias ao mês (dias de água clara), este valor

diário foi multiplicado por 16 para se estimar um valor final de renda e custo mensais

para a comercialização do polvo pelos donos das peixarias locais. Os donos de peixaria

informaram ainda a respeito da relação de suporte financeiro (patronagem) que existe

entre eles e os pinteiros.

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Os atravessadores locais, chamados de pinteiros, informaram além de custos e

ganhos, sobre a relação de patronagem que existe entre os pinteiros e os pescadores.

E os dados de rentabilidade do polvo utilizado na cadeia produtiva foram baseados no

trabalho realizado por Andrade e colaboradores (2016) onde foram estimados os

ganhos com a hidratação do polvo, processo utilizado por todos os pinteiros em Rio do

Fogo.

Análises estatísticas

Para verificar se existem diferenças entre a renda, o custo e o lucro de entre os

diversos segmentos da cadeia de serviços associada à pesca de polvo (pescador,

pinteiro peixaria e geleiro) a normalidade dos dados foi testada pelo teste de

Kolmogorov-Smirnoff e como não houve distribuição normal, a diferença foi testada

utilizando o teste de Kruskal-Wallis. Todas as análises foram feitas usando os pacotes

disponíveis no software R 3.2.2 (R Core Development Team 2015).

Resultados

Características e custos da pesca de polvo

As embarcações conhecidas como paquetes (Fig. 1) são pequenas com

comprimento médio de 4,5m (variando de 3,5 à 5,2m) e têm custo médio mensal de

R$30,06. Estes paquetes são movidos a vela ou a motor de 5HP à 10HP. Cerca de 50%

dos pescadores receberam o primeiro motor por subsídio do governo através do

Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA. Entre os pescadores contemplados,

aproximadamente 17% já substituíram o motor inicial por outro motor de maior

potência (em geral 10HP) acoplado à uma “rabeta” em inox. O custo médio mensal

deste equipamento é de R$ 15,34.

A captura de polvo é feita por mergulho livre, em que se utiliza apenas máscara

de mergulho, snorkel, nadadeiras e um gancho de ferro usado como artefato para

captura chamado de bicheiro. Todos estes apetrechos duram em média 10 anos e tem

um custo médio de R$ 1,07 mês. A maioria dos pescadores também dispõe do auxílio

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do GPS (Sistema de Posicionamento Global) portátil para localizar os pontos de pesca.

Esse aparelho tem um custo de R$2,1 por mês já que a vida útil do aparelho foi

estimada em média 10 anos. Em Rio do Fogo o polvo capturado é mantido em baldes

de plástico sem acondicionamento ou custos com gelo durante todo tempo de viagem.

O tempo médio gasto em cada pescaria é de 8 horas e 27 minutos (DP 1hora e 23 min).

O valor médio mensal gasto com combustível e alimentação por embarcação em cada

pescaria foi de R$321,28.

O Setor Produtivo da pesca de polvo

Foram registrados um total 289 desembarques de polvo no período de

amostragem. A produção amostrada nestes desembarques foi de R$41.104,10 e a

captura media desembarcada foi R$128,75. De um universo amostral estimado em 210

pescadores de polvo, foram entrevistados 57 pescadores, dentre os quais 75% vivem

exclusivamente da pesca enquanto que os demais desenvolvem atividades sem vínculo

empregatício.

Cerca de 60% dos entrevistados são proprietários da embarcação usada na

pesca de polvo e todos participam da pescaria. O tamanho da tripulação nas

embarcações amostradas variou de um a cinco pescadores, mas a maioria das

embarcações (52%) opera com três pescadores à bordo.

O salário médio mensal da pesca de polvo obtido pelo pescador é de R$391,84

durante uma média de 16 dias água clara por mês, quando é que possível realizar de

pesca de polvo. A renda é dividida em pagamentos de proporção igual entre cada um

dos tripulantes e para a embarcação. O pagamento destinado à embarcação tem como

objetivo custear as despesas com combustível e alimentação de todos os tripulantes,

além de custear a manutenção da embarcação.

Setor de Serviços da pesca de polvo

Os taipeiros (trabalhadores que transportam as embarcações para trás da linha

da maré após a pesca) são pagos em polvo. Quando a produção é razoável, o pescador

separa em média de um à dois polvos para pagar por este serviço, porém se a

produção for fraca, o taipeiro não recebe pelo serviço. Quando recebe pagamento, o

taipeiro vende os polvos recebidos em retribuição por seu trabalho para o pinteiro. O

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valor recebido pelos taipeiros não pode ser estimado devido à alta variação e

irregularidade nos pagamentos.

O Geleiro em geral fornece gelo principalmente para as peixarias e pinteiros. A

renda média mensal gerada com o suprimento de gelo é de R$1973,33. O custo mensal

desta atividade é em média de R$827,73 e inclui custos com energia elétrica

(R$633,33), água para fabricação do gelo (R$89,33) e o pagamento de funcionários

(R$105,06) que auxiliam no funcionamento do estabelecimento. Assim, o lucro médio

dos geleiros é de 1.145,60 por mês.

O Setor de Distribuição local da pesca de polvo - pinteiro

Dinâmica da atividade dos pinteiros

A primeira comercialização é feita pelo pinteiro no momento em que os

pescadores chegam na praia com sua captura. No início deste trabalho, os seis

pinteiros que atuam no local faziam uma avaliação visual do peso da produção e a

compra dos polvos era feita por kg através de um leilão feito na areia da praia. Após os

primeiros registros de pesagem em campo feitos para esta pesquisa, os pinteiros

compraram suas balanças e passaram a negociar o polvo por pesagem real (em kg).

Todos os pinteiros informaram durante as entrevistas que preferem agora fazer a

negociação usando a balança, porque no leilão visual o ganho é incerto.

A maior parte dos pinteiros entrevistados (60%) preferem comprar polvos a

partir de 800g, pois este é o tamanho mais aceito no mercado e porque os pequenos,

na opinião de alguns, hidratam menos. Alguns pinteiros tem exclusividade na compra

da captura de alguns pescadores, mas há pescadores que decidem a quem vender ao

desembarcar na praia. Se há exclusividade, ocorre uma relação de patronagem pois o

pinteiro adianta quantias em dinheiro ao pescador em épocas de menor produção e o

pescador paga pelo adiantamento quando a produção na pesca de polvo melhorar.

Os pinteiros guardam a produção adquirida em um balde e o carregam

caminhando pela praia até sua residência em Rio do Fogo. Em casa, cada pinteiro lava

os polvos e os acondiciona em caixas de isopor com gelo e água para iniciar a

hidratação que pode durar até cinco dias. O pinteiro acumula um estoque mínimo de

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50Kg para revenda aos donos das peixarias, que buscam a produção na casa do

pinteiro.

O custo médio mensal total das operações dos pinteiros é de R$513,10. Isto

representa o custo com um ajudante na compra do polvo (R$320/mês), o custo com

gelo (R$229,33/mês), o custo com gasto de água (R$7,47/mês) e os custos com

material de limpeza (R$17,50/mês). A renda média mensal do pinteiro foi estimada em

R$1800,00 por mês, o que geral um lucro médio de R$1.286,90/mês por pinteiro.

Para a venda do produto ao dono da peixaria, o pinteiro adiciona R$1,00 por

quilograma ao valor que ele pagou ao pescador. Contudo, o ganho dos pinteiros é

influenciado pelo efeito da hidratação visto que cada unidade de polvo tem adicionado

ao seu peso uma porcentagem de aumento durante o processo hidratação que pode

se estender por um período de até 5 dias.

O Setor de Distribuição local da pesca de polvo - peixarias

Foram entrevistados os donos de cinco peixarias de Rio do Fogo (N = 10). O

sistema de patronagem identificado entre pescadores-pinteiros se repete neste elo da

cadeia, pois as peixarias têm pinteiros específicos que vendem somente a elas o polvo

adquirido. Em contrapartida, o dono da peixaria fornece aos pinteiros o capital de giro

para a compra dos polvos desembarcados na praia.

Assim, todas as peixarias têm um fornecedor certo, mas isso não as impede de

comprar a produção de outros fornecedores. Da mesma forma, todas as peixarias

vendem para a peixaria principal, embora possam vender para compradores de outros

municípios, se houver demanda. Além disso, há uma peixaria principal que é

especializada na compra e venda de polvos e que adquire a produção das demais.

Desta Forma, a peixaria principal comercializa 8000 kg por mês nos períodos de

água clara e 600 kg por mês nos períodos de água turva. A peixaria principal de Rio do

Fogo fornece o polvo pescado para compradores de Natal e de outros estados como

Pernambuco e Alagoas. O transporte é feito pelos compradores em caminhão

frigorífico ou em carros com o polvo acondicionado em isopor. As demais peixarias

comercializam em média 1225 kg por mês nos períodos de água clara e em média 100

kg por mês nos períodos de água turva.

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Os maiores gastos médios mensais são as despesas com gelo (R$ 286,7) e o

pagamento de funcionários (R$166,4). As peixarias que funcionam em local alugado

(Naluguel=2) tem um custo médio de R$330,00 com aluguel por mês. Custos médios com

abastecimento de energia e água foram estimados em R$23,16/mês. Além disso, o

material de limpeza e a compra de isopores por mês tem um custo médio de R$12,00.

Durante a revenda do polvo, as pescarias adicionam o valor de até R$2,00 em cada

quilo vendido, gerando uma renda média mensal de R$ 2133,30.

Distribuição interna e externa– atravessadores de Natal e de outros estados

Os atravessadores externos (outros estados) compram a produção em Rio do

Fogo. Geralmente o polvo é vendido congelado e eles adicionam ao valor de compra

até R$3,00 para revenda. A carga mínima para o atravessador de outro estado ir a Rio

do Fogo é de 500Kg. Esses atravessadores não tem um estabelecimento fixo. Eles

compram a produção de polvo no Rio Grande do Norte e distribuem ou revendem o

produto especialmente para restaurantes de comida japonesa assim que chegam no

seu estado de origem. Na revenda, atravessadores externos pagam impostos em seus

estados de origem (6% no valor do produto) pois os restaurantes exigem nota fiscal.

O principal comprador de Natal adquire o polvo da peixaria principal também

vai a Rio do Fogo pegar a produção. Este geralmente compra o polvo fresco e adiciona

um valor de até R$3,00 para revender. Suas compras médias são de 400Kg por mês,

embora possa haver meses de baixa produção em que nenhum polvo é comprado. Ele

revende para restaurantes de comida japonesa ou restaurantes especializados em

frutos do mar em Natal. Na revenda para os restaurantes o atravessador paga imposto

para emissão de nota fiscal (6% no valor do produto). O custo por viagem é de R$70,00

e ele paga à um ajudante uma diária de R$80,00 por viagem. Como o número de

viagens depende da demanda, o atravessador não tem informação precisa do custo

anual com este serviço.

Foram entrevistados 24 atravessadores internos (peixarias de Natal). Em

nenhuma delas o polvo foi citado como uma espécie importante para a

comercialização e apenas 70% afirmaram que comercializam polvo proveniente de Rio

do Fogo e Touros. Para revenda feita para hotéis e restaurantes, estas peixarias

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acrescentam ao valor de compra do polvo um valor médio de R$4,00 por quilo. A

comercialização média mensal é de 290 Kg/mês (DP 360,00 Kg) no período de alta

estação do turismo. A renda média mensal gerada pela venda do polvo adquirido pelas

peixarias neste período é de R$1.160,00. As peixarias que não comercializam polvo

afirmaram que o motivo é a pouca procura pelo produto e a falta de fornecedor.

O Setor de Consumo de polvo

Foram registradas informações de quatro restaurantes em Natal que compram

em média 165 Kg de polvo fresco por mês (DP 51Kg). Os pratos contendo polvo

representam em média 14% do cardápio dos restaurantes. Apenas um dos

restaurantes possui frigorífico para armazenar o polvo adquirido e por isso a cada seis

meses faz uma compra de duas toneladas de polvo. Nos demais, a compra de polvo

ocorre segundo a demanda do restaurante. Em todos os restaurantes visitados, os

entrevistados informaram que o consumo de polvo não é apreciado na cultura local e

que, por esta razão, seu consumo aumenta durante a alta estação.

A quantidade de polvo por refeição presente no cardápio varia de 80g

(entradas) à 320g (refeição para duas pessoas). O preço médio por refeição contendo

polvo é de R$ 59,00 (DP 33,11) e o lucro líquido por refeição é em média de 22,5% (DP

17,25). Os gerentes entrevistados atribuem o alto custo dos pratos com polvo ao

processo de beneficiamento inicial do produto que perde muita água após o pré-

cozimento. Isto resulta em um aproveitamento em média de 37% por quilo de polvo

beneficiado.

Benefícios da pesca do polvo em Rio do Fogo

Benefício econômico

O valor equivalente de mercado gerado mensalmente pela pesca do polvo no

município de Rio do Fogo é de R$119.346,0 (Figura 2). Não existe diferença no

benefício econômico (lucro individual) gerado pela pesca de polvo nos setores de

produção, serviços e distribuição nos segmentos para os quais foi possível quantificar o

lucro final, isto é, para pescadores, pinteiros, peixarias e geleiros. Contudo, os valores

de renda e custos diferem entre estes segmentos (Tabela 3). Por segmento, a maior

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renda anual (dos donos de peixaria) é cerca de quatro vezes maior que a renda dos

pescadores (Tabela 3; Figura 2).

Figura 2 – Fluxo de capital gerado ao município e à cada segmento da cadeia de produção e serviços da pesca de polvo praticada em Rio do Fogo (RN)

Tabela 3 - Diferença (teste de Kruskal-Wallis) de valor individual de renda, custo e lucro mensal nos vários segmentos da cadeia produtiva e de serviços da pesca de polvo de Rio do Fogo (RN)

Valores (R$) em segmentos da cadeia produtiva e de serviços da pesca de polvo

Parâmetros Pescador Geleiro Pinteiro Peixaria Valor de p

Renda 391,84 1.973,30 1.800,00 2.133,30 0,04

Custo 1,10 827,70 513,10 692,40 0,03

Lucro 390,74 1.145,60 1.286,9 1.440,90 0,17

A renda gerada por dependentes é maior no segmento formado pelos geleiros

(Tabela 4).

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Tabela 4 - Renda anual (em R$) gerada por trabalhador e aos seus dependentes por segmento da cadeia de produção e de serviços da pesca de polvo praticada em Rio do Fogo (RN)

Segmentos No. de

empregos No.

dependentes Renda/trabalhador Renda/dependente

Pescadores 210 924 4.689,24 868,38

Pinteiros 16 55 4.467,24 1.006,70

Peixarias 10 35 17.236,82 498,90

Geleiros 2 3 13.747,24 3.830,41

Total 238 1017 40.140,54 11.204,38

Benefício social

Atualmente, pelo menos 1.285 pessoas estão associadas à cadeia de produção

e serviços da pesca de polvo praticada em Rio do Fogo, seja como trabalhadores

diretos/indiretos ou como dependentes (Figura 3). Isto representa 34,4% da população

urbana de Rio do fogo diretamente beneficiada por esta atividade.

Figura 3 – Total de pessoas diretamente beneficiadas pela pesca de polvo praticada em Rio do Fogo (RN) através do número de empregos diretos gerados e do total de dependentes dos trabalhadores empregados nesta atividade

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Como a captura atual de polvo em Rio do Fogo é de aproximadamente

21ton/anuais, existe uma relação de um emprego gerado a cada 46,9 kg de polvo

pescado. Além disso, à cada 10kg de polvo capturado está associado um dependente

desta cadeia produtiva.

Incremento de valor e otimização da cadeia de valores da pesca de polvo

Há altos incrementos de valor do polvo à cada elo da cadeia e também há uma

grande diferença entre os diferentes elos (ou segmentos da cadeia). A proporção de

aumento no valor do polvo na cadeia desde o pescador até o consumidor final varia de

47,7% até 750,8%, se o consumidor adquirir o produto em restaurantes. Mesmo

quando o produto é adquirido em peixarias de Natal, o incremento no valor pode

chegar à 82% (Figura 4). Estas estimativas consideram o valor médio do polvo à

R$17,25/kg e os 37% de aumento de valor até o terceiro dia de hidratação.

Figura 4 - Aumento (em porcentagem) do valor do polvo capturado pela pesca de Rio do Fogo a cada setor da cadeia de produtos e serviços

Uma otimização do valor do polvo na base da cadeia, aumentando em 5,5% os

ganhos dos pescadores, poderia ser obtida se o polvo fosse vendido com apenas um

real de aumento no seu valor médio por quilo, ou seja por R$18,25. Da mesma forma,

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o valor do polvo seria otimizado para os pinteiros se o produto fosse vendido após o

primeiro dia de hidratação. Isto representaria um incremento de 19% ao peso do polvo

e um ganho para os pinteiros de 31,5% sobre o valor inicial da compra em contraste

com os 48% obtidos hoje.

Estas mudanças se refletiriam por toda a cadeia e principalmente aumentaria o

rendimento por quilo de polvo no pré-cozimento que é feito pelos restaurantes e

diminuiria o valor final do prato. Nessas condições, a proporção de aumento no valor

do polvo desde o pinteiro até o consumidor final iria variar de 31,5 a 410%, se o

consumidor adquirir o produto em restaurantes. Mesmo quando o produto fosse

adquirido em peixarias de Natal, o incremento no valor chegaria apenas à 73,2%

(Figura 5).

Figura 5 – Otimização do valor do polvo em toda a cadeia à partir do aumento de R$1,00 no preço médio por quilograma de polvo vendido pelos pescadores de Rio do Fogo e após apenas um dia de hidratação do polvo adquirido pelos pinteiros

Discussão

O interesse nos diferentes processos que envolvem o mercado de pescado, nas

trocas deste mercado e nos agentes econômicos de sua cadeia de valor e serviços têm

aumentado entre pesquisadores de diferentes áreas (Brewer, 2011; Wamukota et al.,

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2014). Apesar disto, há pouca informação sobre os valores transferidos pela pesca à

comunidade e ao mercado econômico (Teh et al. 2011). Da mesma forma, de maneira

geral os agentes que compõem cada segmento das cadeias produtiva e de serviço da

pesca bem como os processos que influenciam o mercado pesqueiro são pouco

conhecidos (Thyresson et al. 2012).

Aqui, foi investigada a importância econômica e social da pesca do polvo

Octopus insularis através dos valores econômicos gerados na cadeia de produção, de

serviços e de valor desta espécie. Os resultados indicaram alto fluxo de capital

proveniente desta pescaria, gerando um importante benefício econômico para a

comunidade e alto benefício social, visto que a atividade emprega mais de ⅓ da

população local. Estes benefícios, contudo, como esperado, diferem entre os setores

em termos de renda e custos per capita e em número de trabalhadores atuando em

cada setor. O maior benefício econômico per capita foi identificado entre os geleiros

(setor de serviços) ao passo que o maior benefício social se concentra no setor de

produção (pescadores) e em menor proporção no setor de distribuição entre os

primeiros atravessadores, os pinteiros. Estes últimos, para aumentar seus benefícios

na cadeia de valores, introduziram na comercialização do polvo, o processo de

hidratação que aumenta o peso do produto. Porém, a hidratação promove ganhos de

valor significativos apenas no primeiro dia e compromete a qualidade do produto à

partir do quarto dia de hidratação.

Embora com mais frequência seja atribuído às pescarias de pequena escala

importância para mitigar a pobreza e promover segurança alimentar (Bené et al. 2007;

Garcia e Rosenberg, 2010), as evidências encontradas aqui para a pescaria do polvo,

indicam também o papel destas pescarias em contribuir localmente com estabilidade

econômica e social.

À despeito do alto fluxo de capital reportado aqui, estes valores não incluem os

ganhos dos taipeiros (que não puderam ser estimados) e que representa os ganhos

dos atravessadores de outros estados (que não puderam ser rastreados) e não abrange

os dependentes destes atravessadores externos. O entendimento destes processos

inerentes à cada pescaria e do fluxo econômico gerado pelo pescado é fundamental

para dimensionar a contribuição macroeconômica do setor pesqueiro, mesmo que em

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pequena escala. Além da estabilidade social advinda da manutenção dos postos de

trabalho para vários setores dentro desta atividade, a pesca de polvo, mais do que

aliviar a pobreza, evita a pobreza entre os pescadores, garantindo estabilidade

econômica.

Esta tendência de fato, vem sendo globalmente apontada na pesca de pequena

escala como uma atividade que impede a pobreza através dos benefícios econômicos

que gera (Teh et al. 2011; Barnes-Mauthe et al. 2013). Isto permite que se dimensione,

o potencial dos estoques de determinado recurso pesqueiro em gerar capital

econômico e contribuir para o bem-estar social (Cunningham et al., 2009).

Adicionalmente, isto demonstra o potencial das pescarias de pequena escala, em

contribuir substancialmente com a economia local gerando renda e promovendo o

suprimento produtivo e a geração de postos de trabalho (FAO, 2005). Para a pescaria

estudada aqui, no entanto, esta situação implica também em risco, se o fluxo de polvo

for reduzido por sobreexploração ou declínio nos estoques deste recurso.

Atualmente, a redução na captura que ocorre em épocas de água turva não

compromete a estabilidade mantida por esta pescaria devido ao processo de

patronagem que existe na pesca do polvo e que é um processo frequente na pesca

(Lapointe et al., 2006).

A patronagem ocorre quando um agente econômico (em geral um

atravessador) fornece equipamentos, gelo, ou dinheiro em adiantamento para outro

com quem realiza trocas de mercado (em geral o pescador). Assim, este último fica

obrigado a vender sua produção para aquele atravessador, o patrão, para saldar sua

dívida. Este sistema, em muitos casos leva a uma dependência do pescador ao seu

patrão e, em algumas situações, pode causar um estado constante de endividamento

(Gutberlet e Seixas, 2003).

Na pescaria de polvo em Rio do Fogo este sistema existe entre pescadores-

pinteiros e entre pinteiros-peixarias. O segmento de geleiros, existente no município,

não está inserido no sistema de patronagem. Provavelmente porque para os geleiros

há um fluxo de serviços constante, devido à pesca local de outras espécies e ao uso do

gelo para outras finalidades. Assim, uma eventual diminuição da pesca de polvo,

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92

embora tenha impacto econômico negativo sobre todos os segmentos, impactaria

menos este último.

É interessante notar, no entanto, que na pesca do polvo a patronagem ocorre

também entre atravessadores e não apenas entre atravessadores e pescadores. Em

ambos os casos, há o adiantamento de dinheiro na época de entressafra (água turva),

uma vez que há entre eles o entendimento de que a produção durante a safra

garantirá o pagamento do empréstimo e uma margem de renda para quem paga.

Embora na pesca de polvo não tenha sido relatado ou observado endividamento e

subvalorização do produto no momento do pagamento, a relação de obrigação existe,

tornando o pescador e/ou pinteiro compromissado com determinado comprador.

As evidências na literatura de que o desenvolvimento da pesca é determinado

por atributos relacionados ao custo e à renda (Sethi et al., 2010) reforçam a

importância de se compreender quais atributos econômicos diferenciam ou

assemelham os diferentes setores do mercado e como os agentes nos diferentes

segmentos se relacionam no mercado. Este conhecimento, pode subsidiar tomadas de

decisão e implementação de sistemas de gestão que aumentem os benefícios da

pesca, a sustentabilidade do recurso ou até o valor do produto. Isto garantiria

sustentabilidade econômica, ecológica e social na exploração do recurso pesqueiro. A

existência deste sistema de empréstimo e obrigação de venda na cadeia de

comercialização do polvo, contudo, pode ser mais uma das consequências da ausência

de gestão e ordenamento desta pescaria que hoje ocorre como uma atividade ilegal,

não regulada e não reportada (Bray, 2000), tanto em termos produtivos e biológicos

quanto em termos econômicos.

Subsídios de informações econômicas ao manejo da pesca de polvo

Embora não esteja submetida a nenhum ordenamento, a pesca de polvo,

tradicionalmente praticada como a descrita aqui, possui um defeso ambiental, uma

vez que a pescaria diminui nos meses de água turva (de maio à agosto). Contudo, esta

característica isolada não se consiste em uma estratégia de manejo, pois independe da

participação e comprometimento dos pescadores, mas apenas de variações naturais

no ambiente.

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Como a pesca de polvo difere do conceito de pesca multi-espécies, multi-

aparelhos e de consumo local (Béné et al., 2007), as medidas de manejo já propostas

têm focado apenas na espécie alvo, considerando aspectos da dinâmica pesqueira e da

biologia dos polvos (Lima et al. 2014; Leite et al., 2008b). Recomendações de manejo

subsidiadas por estas informações, se encaixam em um dos quatro componentes de

uma abordagem ecossistêmica para a pesca (Ecosystem Approach to Fisheries - EAF,

sensu Rice, 2007). As informações de cadeia de valores da pesca de polvo

apresentadas aqui, isoladamente não direcionam à proposição de medidas de manejo,

porém incorporam o quarto componente da EAF, que requer a explicitação do

benefício social e econômico de uma atividade humana para o setor da sociedade em

que opera.

Assim, as medidas de manejo poderiam usar estas informações para suavizar a

diferença no valor do pescado ao longo da cadeia e para envolver os diferentes

segmentos em atitudes que garantam a sustentabilidade do produto e sua valorização,

sem necessariamente aumentar a produção. Para Rio do Fogo especificamente, estas

medidas poderiam incluir uma ação econômica, como o aumento de R$1,00

(simulação da cadeia de valores) que aumentaria o lucro do pescador e o aumento da

qualidade do produto, reduzindo seu tempo de hidratação.

Conforme a complexidade da cadeia de serviços e de comercialização da pesca

de pequena escala é desvendada, surgem propostas de mecanismos que poderiam

atingir esta meta, aumentando a sustentabilidade das pescarias e o valor que ela

agrega às comunidades, aos agentes econômicos envolvidos e aos esforços de

sustentabilidade ambiental (Kittinger et al. 2015). Um dos mecanismos que tem sido

considerados é a adaptação da certificação dos produtos pesqueiros para a pesca de

pequena escala. Especificamente na pesca de polvo avaliada aqui, qualquer tentativa

de certificação teria que eliminar o habito local de hidratação do polvo por período

maior que um dia para garantir incremento de água dentro do padrão permitido por

lei (Ministério da Agricultura através do Oficio - Circular GA/DIPOA n° 26/2010 permite

adição de água até o limite máximo de 20% do peso do pescado), para minimizar as

perdas para o comprador final e para manter a qualidade do produto, sem

comprometer a estocagem para venda e o ganho dos pinteiros. Isto, no entanto,

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implicaria em envolvimento de peixarias e outros atravessadores para receber o

produto após um dia de hidratação.

Assim, mais do que uma abordagem ecossistêmica, quaisquer ações para o

manejo desta pescaria precisariam incluir uma dimensão humana, representada pelos

agentes econômicos nos diversos setores da cadeia de valores do polvo. Esta

perspectiva tem sido uma tendência crescente na EAF (Rice 2011) e reforça a

necessidade da avaliação econômica em toda a cadeia de comercialização na pesca.

Aqui, além de explicitar o alto potencial econômico da pesca de polvo, o

cenário institucional que envolve esta atividade econômica, sugere que são altos

também os riscos para o bem-estar econômico e social dos agentes envolvidos em

toda a cadeia de produção, serviços e distribuição desta pescaria ainda pouco

estudada e focada na aposta na sustentabilidade de um recurso pesqueiro ainda não

manejado.

Conclusão

A avaliação da dimensão econômica e social da pesca de polvo de pequena

escala, uniespecífica e praticada por cerca de 200 pescadores na porção setentrional

do nordeste do país revelou a rede econômica criada por esta pescaria e os espectros

de valores econômicos que esta pescaria provê para a comunidade e para a cadeia de

comercialização da espécie.

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CAPÍTULO 5

A PESCA ARTESANAL DE POLVO COM POTES: DA CIÊNCIA A

REALIDADE

Lorena C. A. Andrade, Tatiana S. Leite, Priscila F. M. Lopes, Françoise D. Lima, Manuel

Haimovici e Jorge E. Lins

Resumo

Para avaliar a eficiência dos potes nas capturas de polvo em embarcações artesanais no Rio

Grande do Norte, este estudo realizou um experimento de pesca com espinheis de potes,

norteado pelo conhecimento dos pescadores de Rio do Fogo aliado ao conhecimento científico

adquirido sobre a ecologia e biologia da população de polvos desta região. Para isso foram

realizados dois experimentos, no primeiro testamos a capturabilidade dos potes, a influência

do tempo de imersão dos potes na captura e a influência das variáveis ambientais na

abundancia de polvos. No segundo, foi testado se a cor e a distância dos potes influenciariam

na ocupação de indivíduos jovens e adultos. Posteriormente aos experimentos, foi realizado

um monitoramento da pesca pelos pescadores onde verificamos a relação da renda de cada

recurso (Peixe, Polvo Mergulho, Polvo Potes e Lagosta) com a qualidade da visibilidade da água

(clara e turva). Os pescadores também foram entrevistados a respeito das suas perspectivas e

sobre o trabalho de inovação dos potes. O estudo demonstrou que espinheis de potes para a

captura de Octopus insularis pela pesca artesanal pode ser rentável e eficiente. A captura não

está relacionada com o maior tempo de imersão dos potes. A distância da costa reflete numa

maior abundancia de polvos. A cor dos potes não influencia na ocupação de jovens e adultos e

normalmente os polvos ocupam potes próximos. A renda na captura de polvo com a pesca de

potes não está relacionada a períodos de agua turva ou clara. Os pescadores criaram potes

mais baratos e duráveis que aqueles adquiridos pelo projeto e hoje muitos já praticam essa

nova modalidade de pesca. Assim, além de ser uma alternativa renda de pesca mais

sustentável, a pesca de potes pode melhorar a segurança alimentar local, enquanto ele é

mantido como uma atividade de pequena escala.

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Palavras-chave: pesca experimental, potes, Octopus insularis, manejo

Abstract

This study carried out a fishing experiment with longline pots to evaluate the efficiency of the

pots in the octopus catches by artisanal vessels in Rio do Fogo, Rio Grande do Norte. The

experiment was guided by the knowledge of local fishermen together with the scientific

knowledge about the octopus population of this region. Therefore, two experiments were

conducted. In the first it was tested the efficiency of the pots to capture octopus, the influence

of immersion time of the pots in the capture and influence of environmental variables on the

abundance of octopus. In the second, it was tested whether the color and the distance of the

pots influenced the occupation of juveniles and adult individuals. After the experiments, there

was a monitoring of fishing by fishermen, in which it was verified the income relation of each

resource (Fish, Diving Octopus, Pots Octopus and Lobster) to water visibility (clear, blurred).

The fishermen were also interviewed about their prospects and the innovative method of the

pots. This study showed that longline pots for catch Octopus insularis by artisanal fishing can

be profitable and efficient. The capture is not related to time of immersion of the pots. The

distance from the coast and the periods I, III and IV reflect a higher abundance of octopus. The

color of the pots has no influence in the occupation by juvenile and adults and usually

octopuses occupy nearby pots. Income generated by the catches of Octopus Pots is not related

to periods of blurred or clear water. Fishermen have created cheaper and durable pots than

those acquired by the project and currently many fishermen already practice this new fishing

method. Thus, the pots fishing in addition to being an alternative income of more sustainable

fishing, can improve local food security, while it is kept as a small-scale activity.

Keywords: experimental fishing, pots, Octopus insularis, management

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Introdução

As maiores pescarias industriais de polvo são realizadas no Nordeste da África,

Mediterrâneo e no Japão, principalmente através de redes de arrasto e espinheis de potes

(FAO, 1998; Guerra, 1997; Tsangridis et al., 2002; FAO, 2013). Já as pescarias artesanais são

realizadas em diversas regiões do mundo, especialmente em países em desenvolvimento como

Senegal, México, Chile, Madagascar, e regiões da Espanha, como as Ilhas Canarias, entre

outros. Nestes locais, geralmente pequenas embarcações que operam em águas mais rasas

utilizam o mergulho, redes de arrasto e espinheis de potes de menor porte para a captura de

polvo (DeFeo & Castilla, 1998; Rocha & Vega, 2003; FAO, 2013). As pescarias artesanais de

polvo podem ser direcionadas às exportações, mas, no geral, possuem maior importância no

comércio interno para subsistência, segurança alimentar e redução da pobreza em pequenas

comunidades (Oosthuizen & Smale, 2003).

Das espécies de polvo capturadas pelas frotas industrial e artesanal no mundo, as mais

importantes comercialmente são as que formam o complexo de espécies Octopus cf vulgaris

(Guerra, 1997). No Brasil existem duas espécies principais de polvo com interesse comercial:

Octopus vulgaris (Cuvier, 1797), geralmente capturado na região Sul e Sudeste em fundos não

consolidados. Esta espécie é capturada tanto como fauna acompanhante da pesca de camarão

realizada com redes de arrasto com portas (Costa & Haimovici, 1990), como também por

barcos industriais que utilizam espinheis de potes (Ávila-da-Silva et al., 2014); A segunda

espécie, Octopus insularis (Leite et al., 2009) é capturada em toda região Nordeste, através do

mergulho livre ou mergulho com compressor com auxílio de um bicheiro (gancho),

caminhando sobre as pedras e ambientes recifais (Leite et al., 2008ab; Martins et al., 2008;

Leite et al., 2009, Haimovici et al., 2014). O Ceará explora esta espécie através de uma

pescaria industrial com espinheis de potes em áreas mais profundas de fundos cascalhosos

(Braga et al., 2007; Haimovici et al., 2014).

A pesca de polvo na região Nordeste do Brasil se concentra nos estados do Rio Grande

do Norte (RN) e Ceará (CE) e o potencial para sua exploração iniciou em meados dos anos 60,

quando esta espécie era capturada como fauna acompanhante da pesca da lagosta (Paiva et

al., 1971). Devido ao agravamento da situação de sobrepesca da lagosta, a pesca de polvo vem

se desenvolvendo e conquistando o mercado (Braga, et al., 2007). Essa pesca atualmente é

realizada de forma artesanal pelos mesmos pescadores de lagosta, na qual em períodos água

clara capturam o polvo durante o mergulho livre ou mergulho auxiliado por um compressor

(CEPENE, 2006; Leite, 2010).

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O Rio Grande do Norte é atualmente um dos maiores produtores de polvo do país

(IBAMA, 2008), e a maior captura de polvo no estado ocorre no município de Rio do Fogo

(Vasconcelos, 2008) principalmente no período do verão em ambientes recifais e áreas

adjacentes (Batista, 2012). Com a expansão da exploração do polvo, alguns estudos sobre a

dinâmica populacional e biologia da espécie vêm sendo realizados, visando o desenvolvimento

do manejo sustentável da pesca (Lima et al. 2014ab).

Embora com um potencial considerável, a pesca de polvo no Rio Grande do Norte é

limitada pela sazonalidade nas capturas, dependendo dos períodos de água clara e tranquila

para a pesca com mergulho livre. Esta sazonalidade afeta a renda dos pescadores e a

disponibilidade de polvo no mercado durante parte do ano. Os espinhéis de potes surgem

como alternativa de renda para os meses de aguas turvas, como evidenciado pela pesca

industrial de polvo que vem sendo desenvolvida com sucesso em áreas mais profundas no

Estado do Ceará (Braga et al., 2007).

Apesar de não ocorrer a esta modalidade de pesca no RN, este estudo se baseou no

conhecimento cientifico adquirido recentemente sobre a espécie alvo na região (Leite et al.,

2008; Batista, 2012; Lima et al., 2014ab), aliado ao conhecimento dos pescadores sobre o

ambiente e o polvo local, para testar essa nova metodologia pesqueira em épocas de água

turva na região.

No Brasil, temos alguns exemplos de pesca e manejo participativo bastante exitosos,

como o manejo do pirarucu (Arapaima gigas) que só foi possível através do conhecimento do

pescador aliado ao conhecimento cientifico. Nesse experimento foi padronizada uma

metodologia de contagem, a qual permitiu avaliar a densidade de pirarucus no ambiente

(Castello, 2004). Além disso, outros trabalhos mostram a importância do conhecimento

ecológico dos pescadores para o levantamento de informações biológicas, da pesca e do

ambiente (Silvano & Begossi, 2012; Hallwass et al., 2013; Manzan & Lopes, 2015).

Desta forma, para avaliar a eficiência dos potes nas capturas de polvo em embarcações

artesanais nas áreas adjacentes às regiões recifais rasas no Rio Grande do Norte, o presente

estudo realizou um experimento de pesca com espinheis de potes, que foi norteado pelo

conhecimento dos pescadores de Rio do Fogo a respeito da ecologia da espécie, da pesca e do

ambiente, aliado ao conhecimento científico adquirido sobre a população de polvos daquela

região.

Material e Métodos

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Área de estudo

O município de Rio do Fogo situa-se no Leste Potiguar, distando cerca de 90 km da

capital do estado do Rio Grande do Norte, Natal (IBGE, 2005). Rio do fogo tem temperatura

média de 25oC, com uma pequena elevação nos meses de dezembro a março (IDEMA, 2000). O

clima na região apresenta duas estações visivelmente marcadas: seca de setembro a março,

com baixo volume pluviométrico, e chuvosa de abril a agosto, com precipitação média de

1.500mm anuais. A temperatura da água ao longo do ano varia entre 22 a 27 oC (Maida &

Ferreira, 1997). A velocidade do vento é mais forte nos meses de agosto e setembro (IDEMA,

2000), soprando geralmente do quadrante leste (sudeste e nordeste) e gerando ondas e

correntes na mesma direção do vento (Muehe, 1998).

Figure 1 - Mapa do Município de Rio do Fogo e pontos dos lançamentos dos espinheis de potes

para pesca do polvo Octopus insularis.

Pesca

Rio do Fogo encontra-se inserido dentro da Área de Proteção Ambiental

Estadual dos Recifes de Coral (APARC) que é uma das áreas de maior importância para

a pesca lagosta e também uma região de grande conflito no que diz respeito à gestão

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dos recursos pesqueiros (Figura 1). A pesca em Rio do fogo conta com 70 embarcações

de pequeno porte, também conhecidas como paquete, e 28 embarcações de médio

porte. Atuam na pesca aproximadamente 350 pescadores, que se dedicam à pesca da

lagosta, do peixe e do polvo.

Em função das características do fundo, as áreas de pesca em Rio do Fogo são

classificadas como: 1) Parracho: área com profundidade baixa (< 5m), formada por

recife costeiro de estrutura ovalada paralelo à linha da costa, composto por vários

picos de crescimento coralino-algal (Maida & Ferreira, 1997); 2) Cascalho: área de

baixa profundidade (< 7m) com predominância de esqueleto de moluscos, algas

rodófitas e algas calcárias (rodólitos) produtoras de areia e cascalho carbonário

(Queiroz, 2008;. 3) Restinga: possui profundidades intermediárias (5-15 m), é formada

por um platô arenoso com cascalho, esponja e poucos corpos sólidos, na qual foi

observada alta densidade de polvos (Batista, 2012); e 4) Risca: área mais profunda e

distante da costa (>15 m), formada por fragmentos de recifes entre manchas de areia

(Batista, 2012).

A pesca de polvo no munícipio de Rio do Fogo é desenvolvida de forma

artesanal por embarcações de pequeno a médio porte e com média de três

tripulantes. Esta pesca pode ser realizada com embarcações de médio porte (9 -11 m

de comprimento, com motor de 1 a 3 cilindros), através do mergulho com compressor,

ou por embarcações menores (3,5-5,5 m, embarcações a vela ou com motores rabeta

5,5 a 10 hp, também chamada de paquetes), através do mergulho livre (Haimovici et,

al, 2014).

Seleção dos pescadores e planejamento participativo do experimento

Com o intuito de avaliar o potencial da pesca de potes com embarcações

artesanais foi elaborado um projeto de pesca experimental com a participação de

pescadores. Antes da realização do experimento foram realizadas palestras para os

pescadores, esclarecendo os objetivos do trabalho. Posteriormente, os pescadores que

se interessaram em participar do projeto foram convidados a realizar um curso

gratuito de pesca de polvo com espinhel de potes, com duração de três dias, sendo

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105

este composto por duas etapas, teórica e prática. Esse curso foi primordial já que os

pescadores de polvo da região não tinham qualquer conhecimento prévio sobre a

modalidade de espinhel de potes.

Durante a parte prática do curso, além da confecção de todo o material

utilizado no experimento, os pescadores mapearam as áreas de pesca já utilizadas na

pesca de polvo por mergulho e discutiram junto aos pesquisadores as regras que

embasariam o experimento.

As áreas de pesca que viriam a ser utilizadas no experimento foram definidas de

acordo com critérios propostos pela equipe de pesquisadores e pescadores, sendo

eles: alta densidade de alimento disponível, baixa disponibilidade de tocas (o que

excluiria por exemplo, os parrachos), áreas compatíveis com a autonomia das

embarcações dos pescadores e evitar áreas que fossem muito utilizadas pela pesca de

mergulho livre, como a área de Restinga, já que isso evitaria o roubo dos espinheis de

potes (material) e aproveitamento da produção por outros pescadores no período de

água limpa. De fato, um único espinhel foi lançado na Restinga, o qual foi

imediatamente roubado. Assim, definiu-se que apenas a área do Cascalho fosse

utilizada no experimento, apesar da alta abundância de polvos detectadas

previamente pelos estudos de Batista (2012) e Lima et al, (2014a) na restinga.

Definiu-se ainda que os espécimes de polvo que tivessem peso inferior a 500g

seriam devolvidos aos potes. Esta última regra foi baseada no trabalho recente sobre a

dinâmica reprodutiva de O. insularis (Lima et.al, 2014b) que recomenda esse peso

como medida de tamanho mínimo de captura a ser implementado na pesca. Isto

evitaria a captura de machos maduros e fêmeas imaturas.

Desenho experimental

Após a participação dos pescadores no curso e definição das regras e a áreas, o

experimento foi dividido em duas fases. Na primeira fase, de maio de 2011 a maio de

2012, foram utilizados oito espinheis de potes, cada um contendo 49 potes da cor

preta (Figura 2), com distância entre potes de 4 m. Os espinheis foram lançados e

despescados periodicamente pelos pescadores que registraram: data, local de pesca,

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106

número de indivíduos que ocuparam os potes discriminados em juvenis e adultos, e

número de fêmeas ovadas. Todos os polvos adultos tiveram o comprimento do manto

(mm) medidos com paquímetro, o peso (g) registrado com balança digital e o sexo

determinado.

Para o período da primeira fase do estudo dados de temperatura da superfície

do mar (TSM) foram adquiridos do site da National Oceanic & Atmospheric

Administration (NOAA) "Real Time Global Sea Surface Temperature"

(http://www.nsof.class.noaa.gov/saa/products/welcome) (NOAA, 2014), que utiliza

dados de satélite e também observações de boias e navios. Também foram obtidos

dados de velocidade do vento (m/s), direção do vento, precipitação e nebulosidade

disponibilizados no site WindGuru (http://www.windguru.cz/pt/) para a região de

Maracajaú, RN (WindGuru, 2014).

A segunda fase do experimento, entre novembro de 2012 e abril de 2013, teve

como objetivo testar a influência da cor dos potes nas capturas de indivíduos adultos e

juvenis, registrar a distância de ocupação entre os potes, além de aumentar o número

de observações. Foram utilizados 10 espinhéis de potes cada um com 69 potes,

alternando series de potes pretos, vermelhos e verdes. Os espinhéis foram lançados e

depescados periodicamente pelos pescadores que registraram a data, local de pesca,

número de indivíduos que ocuparam os potes, discriminados juvenis e adultos, e

número de fêmeas ovadas. Da mesma forma, os polvos adultos tiveram o

comprimento do manto (mm), o peso (g) e o sexo determinados.

As despescas na primeira fase foram realizadas entre 7, 14, 21 e 28 dias, para

testar a influência do tempo de imersão dos potes na ocupação pelos polvos. Algumas

vezes, houve variação no tempo entre despescas devido as datas que coincidiam com

finais de semana, datas comemorativas e/ou feriados. Já as despescas da segunda fase

foram realizadas mensalmente de acordo com a disponibilidade dos pescadores.

Avaliação e participação dos pescadores

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107

Ao término do experimento foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os

pescadores para avaliar sua satisfação em participar da pesquisa, e suas percepções e

perspectivas futuras em relação ao desenvolvimento dessa nova modalidade de pesca.

Após a finalização da parte experimental, foi proposto a 10 pescadores um

monitoramento participativo da pesca (de fevereiro de 2013 a fevereiro de 2014) para

que eles registrassem sua produção individual diária por recurso (peixe, lagosta, polvo

com mergulho e polvo com potes), e a visibilidade da água, para relacionar as capturas

com os períodos de água limpa ou suja. Os meses foram classificados em meses de

água clara ou água turva de acordo com a predominância de dias (>15 dias) de água

clara ou turva.

Figura 2 - Representação esquemática do espinhel de potes (Batista, 2008)

Ao longo do desenvolvimento da parte experimental desta pesquisa, foi

observado que os potes de plástico não resistiam tão bem ao atrito com as áreas de

cascalho. Diante dessa característica ambiental os pescadores de Rio do Fogo tiveram a

iniciativa de confeccionar diferentes modelos de potes para iniciar a própria pescaria.

Estes modelos confeccionados pelos pescadores foram registrados em relação

aos: tipos de materiais utilizados, o custo por unidade, e peso. Estas características

foram avaliadas em termos de vantagens e desvantagens em relação aos potes

originalmente utilizados nos experimentos.

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108

Análises estatísticas

Para calcular a taxa de ocupação (%) dos potes pelos polvos, foram

considerados para cada despesca: (Número de potes ocupados / Número total de

potes por espinhel)*100.

A captura por unidade de esforço (CPUE) foi definida como: Peso capturado

(Kg)/ número total de potes por espinhel.

Antes das análises estatísticas, foi testada a normalidade dos dados através do

teste de Kolmogorov-Smirnov Para verificar se a taxa de ocupação dos potes pelos

polvos(N) variava com o tempo (dias) de imersão dos potes, foi realizada uma análise

de regressão linear simples.

Para verificar diferenças significativas entre as capturas mensais, entre os

meses na % ocupação de adultos e de juvenis, na CPUE mensal e entre a renda por

recurso foi utilizado o teste não paramétrico Kruskal-wallis. Para identificar as

diferenças significativas entre os meses testados foi utilizado um Post- Hoc Games-

Howel.

Para testar se a abundância capturada foi influenciada por fatores ambientais,

foi realizado um Modelo Linear Generalizado (GLM). Para construção do modelo, a

variável dependente considerada foi abundância e as variáveis explicativas foram: mês

(esses foram separados por trimestres) - I de janeiro a março, II abril a junho, III julho a

setembro e IV outubro a dezembro), tempo de imersão, profundidade, distância da

costa, temperatura superficial da água, velocidade do vento, direção do vento,

precipitação e nebulosidade. Foi realizada uma análise exploratória dos dados com

base no protocolo proposto por Zuur et al. (2010), levando em consideração todas as

premissas exigidas pelo modelo. Ainda nas análises preliminares observamos a

colinearidade entre a profundidade e a distância da costa, dessa forma optamos por

retirar a variável profundidade do modelo. Por ser a abundância uma variável

quantitativa discreta, usamos a família de Poisson, com função de ligação log. Durante

os procedimentos de análise foram retiradas as variáveis ambientais que não tinham

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109

significância e foram observadas a sobredispersão do modelo, por esse motivo

utilizamos o modelo com a família Quasipoisson.

Para verificar influência das cores dos potes (preto, vermelho e verde) na

presença de indivíduos adultos e juvenis f oi realizada uma ANOVA fatorial.

Para verificar a relação entre a renda adquirida por cada tipo de recurso (Polvo

Mergulho, Polvo Pote, Lagosta e Peixe) e a visibilidade da água (Clara e Turva) por mês,

foi realizada uma análise de correspondência.

Os softwares utilizados para desenvolver as análises foram o Statistica 7,1 (2005), SPSS

14, Past versão 2.17c (Hammer et al., 2001) e R v 3.2.1 (R Core Team, 2014), utilizando os

pacotes AER (Kleiber e Zeileis (2008), MASS (Venables and Ripley, 2002) e Lattice (Sarkar,

2015).

Resultados

Na primeira fase do experimento foram recolhidos um total de 97 lançamentos

de espinheis de potes, os quais capturaram 485 indivíduos (392,6 Kg) e foram

registrados 209 indivíduos juvenis. Na segunda fase foram recolhidos 50 lançamentos

de espinheis de potes, que totalizaram 348 indivíduos adultos (221,84Kg) e foram

registrados 210 indivíduos juvenis (Tabela 1). Os pesos dos indivíduos variariam entre

302g a 2005g, em média 736g (Figura 3) e não apresentaram uma distribuição normal

(D=0,09, p=0,000) (Figura 4).

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Tabela 1- Descrição mensal das capturas de indivíduos adultos e registros dos indivíduos juvenis referentes aos espinhéis recolhidos

Mês

Espinheis

recolhidos

(N)

Potes (N)Dias de

imersão

Total

Juvenil (N)

Total

Adulto (N)Total (N)

Total

Capturado

(Kg)

jun/11 6 294 33 6 14 20 10,59

5 245 20 10 21 31 25,04

6 294 25 1 40 41 39,75

ago/11 5 245 28 7 15 22 14,10

set/11 4 196 21 5 22 27 19,66

5 245 7 4 18 22 19,48

5 245 28 11 21 32 24,63

5 245 21 15 26 41 17,88

6 294 21 9 39 48 29,45

5 245 7 2 35 37 29,95

6 294 14 10 12 22 10,18

jan/12 5 245 28 1 23 24 20,27

6 294 15 29 13 42 9,51

6 294 28 6 12 18 10,49

mar/12 5 245 12 21 15 36 8,48

4 196 7 14 28 42 19,35

5 245 14 11 58 69 39,13

5 245 21 28 54 82 30,92

mai/12 3 147 14 19 19 38 13,77

nov/12 6 414 13 37 84 121 47,52

10 690 13 15 66 81 44,22

dez/12 10 690 14 70 100 170 64,96

jan/13 8 552 28 31 46 77 28,98

fev/13 9 621 47 37 28 65 18,80

mar/13 4 276 16 15 12 27 8,30

abr/13 3 207 25 5 12 27 9,06

Pri

mei

ra F

ase

Segu

nd

a Fa

se

abr/12

jul/11

out/11

dez/11

fev/12

nov/11

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Figura 3 - Peso (g) dos indivíduos de O. insularis capturados mensalmente na primeira e segunda fase do experimento

Figura 4 - Distribuição do peso (g) dos indivíduos de O. insularis capturados em Rio do Fogo, RN

durante todo o experimento de pesca com potes

A captura por biomassa por espinhel geral teve uma mediana de 3,57kg.

Durante a primeira fase do experimento, a mediana da captura por espinhel esteve em

3,48kg e variou ao longo dos meses (H=26,71, p=0,005), sendo os meses de agosto

(p=0,015), fevereiro (p=0,001) e março (p=0,002) diferentes do mês de abril, o qual

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teve a maior mediana ao longo da amostragem. Na segunda fase, a mediana da

captura por espinhel esteve em 3,58 kg e não variou ao longo dos meses (Figura 5).

Figura 5 - Mediana mensal da captura por biomassa (Kg) por espinhel. O símbolo * indica os

meses que apresentaram diferenças significativas em relação ao mês de maior captura

indicado por **

A taxa de ocupação (%) de adultos por espinhel teve uma mediana geral de

8,16% e a ocupação de juvenis teve uma mediana de 2,89%. Para a primeira fase do

experimento a taxa de ocupação de adultos teve uma mediana 8,16% e a distribuição

dos dados não foi normal (d=0,201 p=0,0008). A taxa de ocupação variou entre meses

(KH=34 p=0,000), sendo os meses de junho (0,008), agosto (0,002), outubro (0,009),

fevereiro (0,000), março (0,03) diferentes do mês de abril. Na primeira fase a taxa de

ocupação de juvenis por espinhel teve uma mediana 2,04% e a distribuição dos dados

também não apresentou uma distribuição normal (d=0,22 p=0,00000), sendo

encontrada diferença entre os meses (KH=31,8 p=0,001), com os meses junho (0,002),

dezembro (0,03) e janeiro (0,002) sendo diferentes do mês de abril (Figura 6A).

Para a segunda fase do experimento a taxa de ocupação de adultos teve uma

mediana 7,95% e a distribuição dos dados não foi normal (d=0,16 p=0,000) ocorrendo

diferença entre alguns meses (KH=15,27 p=0,009), sendo os meses de fevereiro (0,03)

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113

e março (0,04) diferentes do mês de novembro. A taxa de ocupação de juvenis por

espinhel na segunda fase do experimento teve uma mediana 5,79% e a distribuição

dos dados também não apresentou uma distribuição normal (d=0,14 p=0,12), com

diferença entre o mes (KH=7,04 p=0,02) de dezembro (0,02) e de abril (Figura 6B).

O número de polvos encontrados por espinhel (N) não foi afetado pelo tempo

de imersão (dias) dos potes (r²=0,03) (Figura 7).

A

B

Figura 6- A) mediana mensal da taxa de ocupação (%) dos indivíduos adultos capturados. B) mediana mensal da taxa de ocupação (%) para os indivíduos juvenis registrados durante o experimento. O símbolo * indica os meses que apresentaram diferenças significativas em relação ao mês de maior taxa de ocupação captura indicado por **

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114

Figura 7 - Regressão simples para avaliar a relação entre o número de polvos encontrados por

espinhel (N) e o tempo (dias) de imersão dos potes

A mediana da CPUE (Kg/Pot) encontrada durante todo o experimento foi de

0,059 Kg/Pote. Na primeira fase foi encontrada uma mediana de 0,07 Kg/Pote, os

dados não apresentaram distribuição normal e foram encontradas diferenças entre os

meses (H=26,7, p=0,005) de agosto (p=0,015), fevereiro (p=0,001) e março (p=0,002) e

o mês de abril, o qual teve a maior mediana ao longo da amostragem. Para a segunda

fase do experimento a mediana foi de 0,05 Kg/Pote, com os dados não apresentando

distribuição normal. Também foram encontradas diferenças entre os meses (H=26,7,

p=0,0051), sendo os meses de agosto (p=0,015), fevereiro (p=0,001) e março (p=0,002)

diferentes do mês de abril, o qual também teve a maior mediana ao longo da

amostragem (Figura 8).

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Figura 8 - Mediana mensal da CPUE Kg/Pote (Captura por unidade de Esforço). O símbolo *

indica os meses que apresentaram diferenças significativas em relação ao mês de maior CPUE

indicado por **

Dentre as variáveis ambientais testadas no modelo GLM para verificar quais

influenciaram na abundância de polvo nas capturas dos potes, apenas a distância da

costa e os períodos do ano classificados como I, III e IV foram significativas (Tabela 2).

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Tabela 2- Valores encontrado no modelo GLM para as variáveis explicativas

Variável dependente

(y)

Distância da costa 0.146**

(-0.058)

Período I (Jan a Mar) -0.770***

(-0.199)

Período III (Jul a Set) -0.678***

(-0.192)

Período IV (Out a Dez) -0.697***

(-0.172)

Constante 1.620***

(-0.357)

Observações 89

Note: *p<0.1; ><0.05**p<0.05; >>0.01***p<0.001

A cor do pote não influenciou a ocorrência de indivíduos adultos ou juvenis

(p=0,58). Entretanto foi observado que 54,8% dos potes ocupados estavam a uma

distância de até 16 metros (4 potes) entre si, ou seja, os polvos ocupam potes

relativamente próximos.

Avaliação e participação dos pescadores

Dos 27 pescadores entrevistados, 78% acreditavam inicialmente que o

experimento poderia dar certo, porcentagem que chegou a 100% até o final do

experimento. Apesar desse resultado, 93% dos entrevistados apontaram o roubo do

material de pesca (os espinheis) e o roubo da produção (os polvos dos espinheis) como

o maior problema para o desenvolvimento da utilização de espinheis de potes no

município.

Para 70% dos entrevistados a grande vantagem em utilizar o espinhel de potes

seria poder pescar durante períodos de baixa visibilidade da água, o que é impossível

utilizando a modalidade tradicional de mergulho livre. Todos os entrevistados

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117

vislumbraram a pesca de polvo com espinhel de potes como uma alternativa de renda

ao período de defeso da lagosta.

Os dados fornecidos pelos quatro pescadores que participaram do

acompanhamento participativo da produção (R$) mostrou que a mediana anual da

renda gerada exclusivamente pela venda da lagosta foi R$ 59,98 por desembarque,

seguido de R$55,03 de peixe, R$35,69 do polvo pescado com mergulho e R$75,02 do

polvo pescado com espinhel de pote (Figura 10). Estes valores variaram

significativamente entre si (p=0,0000), especialmente devido a diferença de valores

gerados entre o polvo capturado por mergulho (p=0,000), polvo pote é diferente de

polvo mergulho (p=0,000) e de peixe (p=0,005) e polvo mergulho é diferente de

lagosta (p=0,001) (Figura 10).

Figura 9 - Mediana mensal da renda (R$) por desembarque por tipo de recurso (lagosta, peixe, polvo mergulho e polvo pote) durante o ano da amostragem participativa

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Figura 10 - Mediana da renda por tipo de recurso (lagosta, peixe, polvo mergulho e polvo pote)

Na análise de correspondência, a relação da dos recursos pescados com a

visibilidade da água foi explicada fortemente pelos eixos 1 (46,67%) e 2 (41,37%). Os

resultados mostraram que a renda da lagosta está relacionada apenas aos meses de

junho a setembro independente da visibilidade da água (T e C), haja visto o período de

defeso ser de dezembro a maio. A renda do polvo pescado por mergulho está

relacionada com meses março a maio, e novembro exclusivamente na água clara. Já a

renda da pesca de peixe está relacionada aos meses de água turva, e a renda da pesca

de polvo com espinhel de pote foi independente da visibilidade da água (Figura 11).

.

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119

Os pescadores testaram diferentes materiais para a confecção de potes,

sempre parcialmente preenchidos com cimento, para assentarem no fundo do mar:

telhas de barro, canos de PVC, e garrafas pet com cimento. Estas últimas tiveram

melhor desempenho na percepção dos pescadores e de fato apresentaram uma série

de vantagens em relação aos potes originalmente utilizados (Tabela 3). Ainda durante

o experimento, 25% dos pescadores já tinham seus próprios potes (Média de 86

potes/pescador), valor que chegou a 47% ao final da pesquisa em fins de 2014 (Média

de 220 potes /pescador). Pescadores de praias vizinhas também iniciaram a utilização

dessa nova modalidade de pesca.

Figura 11 - Análise de Correspondência para comparar a renda por tipo de recurso (Polvo M, Polvo P, Peixe e Lagosta) com os meses de acordo com a visibilidade da água

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120

Tabela 3 - Diferenças entre os potes de plástico adquiridos pelo projeto para a realização do experimento e os potes de cimento confeccionados pelos próprios pescadores

Variável Potes de Plástico Potes de Cimento

Preço R$ 5,00 R$ 0,70

Eficiência Eficiente Eficiente

ResistênciaPouco resistente

ao tipo de fundo

Muito resistente

ao tipo de fundo

Peso Leve Pesado

Vulnerabilidade ao

rouboFácil de roubar Difícil de roubar

ViabilidadeCompra na

fábrica

Produz na própria

residência

Diferenças Todos iguais Marcas próprias

Discussão

O estudo demonstrou que espinheis de potes para a captura de Octopus insularis pela

pesca artesanal pode ser rentável e eficiente em áreas rasas tropicais, principalmente em

regiões onde a pesca tradicional de mergulho deixa de ser uma alternativa viável em

determinadas épocas do ano devido à baixa visibilidade. O uso dos barcos de pequeno porte

típicos da região NE, e a utilização dos potes em ambientes consolidados em áreas adjacentes

aos ambientes recifais, como o cascalho e a restingas caracterizam uma nova modalidade de

pescaria artesanal, diferenciada da pesca industrial voltada para o O. vulgaris (Ávila-da-Silva et

al. 2014) e para o O. insularis no CE (Braga et al.,2007), podendo ser uma alternativa de renda

para os pescadores artesanais, em especial em regiões onde esta pesca divide espaço e

importância com a captura de lagostas.

A escolha correta dos ambientes para o experimento baseado tanto no saber

dos pescadores como no conhecimento cientifico foi um dos principais fatores do

sucesso deste experimento. Estudos anteriores haviam sugerido que as restingas e

áreas mais fundas seriam um ambiente mais adequado para o teste deste novo

apetrecho, por haver maior abundância de polvos, grande quantidade de presas, e

baixa quantidade de tocas disponíveis (Batista 2012; Batista et al. 2013). Entretanto, os

pescadores insistiram na utilização do cascalho para diminuir a possibilidade de roubo

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121

do material e da produção. De fato, apesar da menor capturabilidade, os riscos de

perder o material e produção pareceram menores, visto que o único espinhel

tentativamente solto na restinga foi roubado imediatamente.

Os recifes até 5 m de profundidade ou acima de 15 m não foram considerados

no experimento por serem respectivamente, áreas de berçário do O. insularis no NE do

Brasil, e locais importantes para a ocorrência de fêmeas com desovas (Bouth et al,

2011, Lima et al 2014). No entanto, estas áreas originalmente não são utilizadas pelos

pescadores. Além disso, de acordo com o modelo GLM a distância da costa é uma das

variáveis que explicam abundancia de polvos, o que provavelmente signifique que

quanto mais próximo a restinga, ou na própria restinga a abundancia aumente,

corroborando os estudos anteriores.

Os espinheis experimentais capturaram indivíduos em todos os intervalos de

classe de tamanho, entretanto houve a devolução dos animais abaixo de 500 g,

conforme a regra estabelecida junto aos pescadores com base nos estudos biológicos

anteriores (Lima et al. 2014). Da mesma forma que visto anteriormente para estudos

da pesca industrial (Mangold, 1973 e Guerra, 1981), aqui também se sugere uma maior

sustentabilidade da pesca com pote em relação à captura por mergulho livre e uso de

bicheiros. Isto porque com o pote o pescador pode fazer uma avaliação prévia do

tamanho do polvo, protegendo assim indivíduos que ainda não atingiram o tamanho

reprodutivo e/ou as fêmeas ovadas.

As maiores capturas experimentais foram observadas nos meses de abril e

outubro, sugerindo picos sazonais. De fato, um estudo anterior sugeriu a existência de

três picos reprodutivos ao longo do ano e relaciona as flutuações intra-anuais com a

dinâmica reprodutiva da população (Lima et al., 2014). Existe uma marcada

sazonalidade no tamanho e abundância de polvos capturados sobre os recifes ao longo

do ano (Mendes 2002; Martins et al. 2011). No inverno, a quantidade de polvo diminui,

mas o tamanho dos polvos capturados é maior. No verão, do mês de janeiro a abril,

são encontrados em maior quantidade, porém com tamanho menor. Parte destas

variações e picos reprodutivos deve-se a influência da temperatura no ciclo de vida de

O. insularis, o qual influencia diretamente a sua captura (Katsanevakis and

Verriopoulos, 2006).

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A pesca com potes mostrou-se ser viável e rentável ao logo do ano, mesmo

quando comparada a outras pescarias mais tradicionais, como a da lagosta ou de polvo

com mergulho livre. De fato, após o termino do experimento, muitos pescadores

adotaram a pesca de pote durante o período de defeso da lagosta, especialmente

aqueles sem direito a receber o auxílio financeiro (seguro) durante este período.

Além de ser uma alternativa de renda, a espécie O. insularis é responsável pela quase

totalidade das capturas de todas as modalidades de pesca na região nordeste do Brasil. A

espécie contempla ainda um conjunto de características que a torna resiliente, como ciclo de

vida curto, alta fecundidade e distribuição pouco agregada. Além disso, a espécie apresenta

ainda um elevado potencial pesqueiro, passível ao manejo sustentável (Haimovici et al. 2014).

Apesar deste potencial, ainda não há legislação para tamanho mínimo de

captura ou apetrechos permitidos para a exploração desta espécie. A extração da

espécie é regida de forma superficial pelas normas que controlam a exploração de O.

vulgaris (Instrução Normativa Nº 3, de 26 de abril de 2005). Não há controles de

esforço ou qualquer tipo de monitoramento da pescaria nesta região, uma vez que o

ordenamento da pesca de polvo com potes no Nordeste contempla apenas a pesca

industrial e o estado do Ceará (Instrução Normativa SEAP/PR nº 26º/2008). A única

exceção para a pesca artesanal de O. insularis no Nordeste é o Arquipélago de

Fernando de Noronha, onde já existe a regulamentação da pesca de polvo. Entretanto,

em Fernando de Noronha, a regulamentação de O. insularis é direcionada para pesca

com mergulho livre e uso de bicheiro (Leite et al, 2008).

Apesar da importância do Estado do Rio Grande do Norte para as capturas artesanais

de polvo (IBAMA, 2008, Vasconcelos, 2008), a prática dessa pescaria é feita de forma ilegal.

Atualmente, a modalidade de mergulho livre não é discriminada para o permissionamento das

embarcações para o Rio Grande do Norte, pois a pesca de polvo é realizada com as mesmas

embarcações, as mesmas artes e no mesmo ambiente que a pesca de lagosta, a qual tem

defesos regulamentados. A regulamentação da pesca do polvo por mergulho poderia servir

como incentivo à pesca ilegal da lagosta durante o período de defeso da espécie. O

ordenamento da pesca de polvos com potes, por outro lado, poderia contribuir para a

legalidade da pesca artesanal de polvo.

Um dos desdobramentos dessa pesquisa que pode vir a afetar a

sustentabilidade dessa pescaria é o número de potes utilizados pelas embarcações.

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Conforme apontados nos resultados, os pescadores iniciaram a própria confecção dos

potes, diferentes de qualquer outro já citado em literatura (Sobrino et al. 2011; Ulas et

al. 2011). Os potes são feitos nos quintais de casa, a um baixo custo, o que viabilizou a

confecção de mais de 3000 potes contabilizados até o fim da pesquisa. Não só os

pescadores que participavam da pesquisa tiveram essa atitude, pescadores que não

tinham qualquer envolvimento com a pesquisa, e pescadores de outras regiões que

ouviram falar sobre o sucesso da mesma, também participaram mesmo que

individualmente no processo de criação de potes e deram início a pesca com potes

próximo a suas áreas de pesca.

O roubo do material e o roubo da produção dos potes desde antes do início do

experimento preocupa os pescadores. Mesmo depois do experimento, roubos

continuam sendo a principal dificuldade para os pescadores, que já confeccionaram os

seus próprios potes ou os que ainda querem confeccioná-los. Isto levou os pescadores

a desenvolverem estratégias, como: nos períodos de água limpa manejar os potes para

outros pontos menos produtivos; nos períodos de água suja manejar os potes para a

restinga, que é o principal local da pesca de polvo através do mergulho livre durante

águas claras; e antes do termino do defeso da lagosta retirarem os potes da água, já

que nesse período o esforço através do mergulho livre e mergulho com compressor é

bem maior. O roubo de material ou o não comprimento de regras é um problema

vivido em muitas comunidades pesqueiras (Almeida, 2010; Acheson 2002), e necessita

de alternativas para minimiza-los, sem comprometer a implementação de estratégias

pesqueiras de bom potencial para manejo.

Finaliza-se com a certeza de que contribuição do conhecimento dos pescadores

envolvidos neste trabalho foi de grande relevância, uma vez que todas as sugestões

foram discutidas, analisadas e, diante das possibilidades, colocadas em prática. O

respeito a esse conhecimento fortaleceu a confiança e a autoestima dos pescadores e

fez possível o desenvolvimento e o sucesso dessa pesquisa. Outros trabalhos que

consideraram o conhecimento do pescador, como o exemplo já citado do manejo de

pesca do pirarucu na região do Amazonas, e que incentivaram o envolvimento dos

mesmos na pesquisa e manejo da pesca, mostram resultados positivos ao longo dos

anos (Castello et al., 2011).

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Os pescadores que participaram da pesquisa continuaram utilizando os potes

ao final dos experimentos. No entanto, a falta de regulamentação os coloca em uma

situação de ilegalidade, tornando urgente o processo de discussão e legislação da

pesca de O. Insularis. Seria prudente um estudo prévio da capacidade suporte desse

estoque para o embasamento da discussão sobre a regulamentação da modalidade e

definição do esforço a ser empregado (número de potes e números de embarcações)

para permitir a sustentabilidade dessa pesca. Além disso, a regulamentação do

tamanho mínimo e a proibição de áreas devem ser consideradas para promover o

manejo sustentável da espécie.

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CONCLUSÕES GERAIS

Este estudo mostrou que a pesca de polvo vem sendo desenvolvida de forma

sustentável e que fatores ambientais podem relacionados ao aumento da abundância

da espécie. Além disso, os benefícios sociais e econômicos promovidos pela pesca de

polvo são muitos e todas essas informações corroboram para que esta atividade seja

regulamentada e praticada de forma sustentável. Com a regulamentação do uso do

espinhel de potes para a região será possível sanar problemas causado pela

sazonalidade da pescaria e garantir a produção do recurso durante todo ano.

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