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AUTOMAÇÃO BANCÁRIA NO BRASIL: O CIRCUITOESPACIAL DE PRODUÇÃO E A DIFUSÃO DOS TERMINAIS
DE AUTOATENDIMENTO (ATMs) PELO TERRITÓRIOBRASILEIRO NO PERÍODO DA GLOBALIZAÇÃO1
Victor Zuliani Iamonti2
Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo
“E do mesmo modo/ que há muitas velocidades/ num só
dia/ e nesse mesmo dia muitos dias/ assim/ não se pode
também dizer/ que o dia tem um único centro/ (feito um
caroço/ ou um sol)/ porque na verdade um dia/ tem
inumeráveis centros”
Ferreira Gullar – trecho de Poema Sujo
INTRODUÇÃO
A automação bancária é um dos inúmeros fenômenos que perpassam o
território brasileiro no período da globalização. São incontestáveis as mudanças ocorridas
na esfera da produção – permeada por novas tecnologias e novas formas de organizar o
trabalho –, nas questões urbanas e no papel cada vez mais proeminente da cidade de São
Paulo no contexto nacional. Não se pode perder de vista, também, a crescente força motora
da variável financeira e o dinamismo dos fluxos de informação e de mercadorias no
território.
Sem dúvida, todos esses fenômenos trazem à tona elementos fundamentais
para o presente trabalho, cujo principal – e talvez mais ousado – objetivo é contribuir para
aprofundar o conhecimento relativo às dinâmicas territoriais do sistema bancário no país.
Para tanto, busca-se compreender tanto o funcionamento do conjunto de indústrias que
1 Este trabalho é parte integrante do projeto de pesquisa “Automação bancária no Brasil e o circuito espacial detecnologias bancárias”, orientado pelo Prof. Dr. Fabio Betioli Contel junto ao Departamento de Geografia daUniversidade de São Paulo.
2 Mestrando em Geografia Humana e bolsista do CNPQ.
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produzem, distribuem e comercializam os Terminais de Autoatendimento (Automatic Teller
Machines – ATMs)3 no Brasil, quanto o uso efetivo feito pelos bancos desses terminais.
O conceito de circuito espacial de produção foi visto como uma importante
categoria explicativa, uma vez que, além de considerar o espaço geográfico como uma
instância ativa, permite estudar o processo produtivo – muitas vezes disperso
geograficamente – em sua totalidade, isto é, desde a produção propriamente dita até a
distribuição e o consumo (SANTOS, 1985)4. Nesse sentido, agentes (pessoas, empresas,
instituições), materialidades (infraestruturas, meio construído, objetos técnicos), políticas
públicas e fluxos de diferentes ordens (mercadorias e informações) foram considerados
elementos intrinsecamente associados.
A atuação do Estado pode ser vista como um elemento crucial, na medida em
que suas políticas, diretrizes, planos de desenvolvimento, instituições, entre outros, podem
favorecer a presença, concentração e/ou difusão dos agentes econômicos no território
(tanto nacionais, quanto estrangeiros). As diferentes ações do Estado permitem
compreendê-lo, igualmente, como um importante regulador do sistema financeiro e de suas
respectivas instituições, que, em meio a um complexo processo histórico e junto de
determinadas materialidades e topologias, estruturam parcela considerável das relações e
fluxos entre lugares e regiões, espaços nacionais e dinâmicas globais (MARTIN, 1999;
SANTOS, 1999).
Assim, a partir de tal enfoque buscou-se pensar o tratamento dado ao circuito
espacial de produção como um do recurso de método para o estudo das diversas situações
geográficas presentes no país (GRIMM, 2002) – cada vez mais integradas funcionalmente em
um território constituído desigualmente.
Dessa forma, este trabalho foi organizado de modo a estudar o desenvolvimento
histórico da automação bancária no país e situar a emergência e os desdobramentos do
circuito espacial de produção dos ATMs. Também foram tratadas sistematicamente as
empresas presentes no território nacional e algumas questões relativas ao uso, expansão e
distribuição territorial dos caixas automáticos.
3 Diversos termos tem sido empregados para designar este objeto técnico. Neste trabalho serão consideradostambém sinônimos de caixa eletrônico e caixa automático.
4 Para uma recente revisão deste conceito é possível consultar o artigo de Ricardo Castillo e Samuel Frederico (2010).
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A FORMAÇÃO DO CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO DE TERMINAIS DE AUTOATENDIMENTO
Fruto de um intenso investimento, iniciado em meados década de 1960, diversos
bancos nacionais passaram a incorporar a automação de suas atividades (sobretudo
aquelas relacionadas à contabilidade financeira) em território nacional, além de
impulsionarem um conjunto de indústrias ligadas à automação.
Vale ressaltar que alguns entraves à expansão do sistema bancário ainda
existiam, devido, entre outros fatores, ao processo de integração física do território nacional
(ainda incompleto à época) e ao caráter eminentemente regional dos bancos, que limitavam
a oferta e abrangência geográfica dos serviços de cada instituição (CORREA, 1989).
Com o objetivo de superar tais limitações teve início, no período pós1964, um
projeto de integração nacional fundado na busca pela modernização e reorganização
produtiva do território, tendo nas finanças e nas telecomunicações elementos centrais desta
reorganização. A criação do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central – que
assumiram o lugar da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC) – e,
posteriormente, a criação da Empresa Brasileira de Telecomunicações e do Ministério das
Comunicações foram medidas institucionais importantes nessa direção (DIAS, 1996;
CONTEL, 2006).
O principal objetivo para a automação era a busca por maior controle interno e
por “promover a redução de custos operacionais do sistema financeiro e melhorar a
qualidade dos produtos e serviços bancários” (PIRES, 1997, p. 4). A produção desses
sistemas técnicos era realizada, nesse momento, por algumas poucas empresas
estrangeiras, podendo ser destacadas as seguintes: Burroughs, IBM, Univac, NCR,
Bull-Honeywell, Siemens-RCA. Os computadores de grande porte (também conhecidos como
mainframes) foram a principal tecnologia adquirida por essas empresas naquele período
(PIRES, 1997).
O ano de 1961 pode ser considerado um momento importante, pois foi nele que
o Banco Bradesco comprou um grande computador da IBM para controlar o serviço de
cobrança de títulos, aumentando enormemente sua eficiência na prestação deste tipo de
serviço. No mesmo período, o Banco Nacional adquiriu (em 1962) da Burroughs o seu
primeiro computador de grande porte. Em 1965 o Itaú comprou junto à IBM seu
computador e o Bamerindus incorporou um computador da Univac em 1968.
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Esses computadores de grande porte reorganizaram as formas de atuação da
atividade bancária, como mostrou H. Pires (1997, p. 5):
As modificações na estrutura tecnológica do hardware implantado e dos
sistemas de telecomunicações influíram nas formas territoriais de gestão
centralizadas das informações em grandes CPDs [Centro de Processamento de
Dados].
Inicialmente concentrados nas metrópoles e posteriormente expandidos para
alguns centros regionais, os Centro de Processamento Dados (CPDs) engendraram uma
nova forma de organização da atividade bancária: os dados das agências passaram a ser
digitados e transmitidos diariamente para os CPDs que, por sua vez, os processavam,
atualizavam e transmitiam de volta para as respectivas agências (DINIZ, 2004).
Com o II Plano Nacional de Desenvolvimento, em 1974, o governo passou a atuar
ativamente também no processo de desenvolvimento tecnológico das indústrias nacionais.
Em 1975, foram estabelecidas diversas restrições à importação de computadores,
impulsionando produtores nacionais a investirem no setor (ACCORSI, 1992; CERNEV, DINIZ;
JAYO, 2009).
A criação da empresa estatal Cobra (Computadores e Sistemas Brasileiros Ltda.),
em 1974, foi um importante marco para a criação de um circuito espacial de produção de
tecnologias para automação em bases nacionais. O surgimento desta empresa favoreceu a
produção de minicomputadores no país e o desenvolvimento dos primeiros ATMs, que
facilitaram o acesso de alguns produtos e serviços bancários diretamente pelos clientes (e
externamente às agências).
Além disso, como pode ser visto no quadro a seguir (Quadro 1), diversas
empresas privadas nacionais também se formaram nesse momento, como foram os casos
da Moddata fundada em 1976, da Digirede e da Edisa, constituídas em 1977. Os bancos
nacionais também investiram em empresas privadas próprias, para a produção de
tecnologias voltadas para a automação bancária. Em 1978, o Bradesco – junto com a Sharp –
ajudou a fundar a SID Informática S/A e, em 1979, o mesmo banco participou da fundação
da empresa Laboratórios Digital S/A. Ainda nesse ano, o Itaú fundou a Itautec Informática.
Por fim, a Procomp foi fundada em 1985.
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Quadro 1. Principais empresas voltadas para produção de sistemas técnicos para automaçãobancária instaladas no Brasil em meados das décadas de 1970 e 80.
Empresa Ano de Fundação Localização (sede) Principais produtos
Cobra 1974 Rio de JaneiroMinicomputadores, Automatic Teller Machines (ATMs), Terminais de transferências de fundos, entre outros.
Moddata 1976 Rio de Janeiro
Equipamentos de comunicação (modens, centrais de comutação telefônica) para uso e gerenciamento interativo de banco de dados entre agências.
Digirede 1977 Diadema
Sistemas de automação, sistema de transferênciade fundos, sistema automático de resposta audível, concentrador de terminais de videotexto,sistemas multiusuários.
Edisa 1977Barueri/Campinas
Produzir a partir de importação de tecnologia impressoras, terminais de caixa bancário, terminal de consulta bancário, vídeos de sistemasbancários.
SID 1978 CuritibaMinicomputadores, Terminais de Transferências de fundos, entre outros.
Digilab 1979 São Paulo
Impressoras de Grande Porte, terminais de caixa,terminais de extrato, terminais de dispensadores de dinheiro, terminais de vídeo, interface de comunicação, servidores de disco e winchester, equipamentos de proteção de transmissão.
Itautec 1979São Paulo, Jundiaí, Manaus
Equipamentos para automação bancária, comercial e industrial, comunicação de dados, software e microcomputação; circuitos integrados, semicondutores e Banco Eletrônico.
Conpart 1980 Rio de Janeiro Sem informações
Procomp 1985 São Paulo
Automatic Teller Machines (ATMs), Terminais de Transferências de fundos, processadores front-end, processadores risc, computadores e CPUs.
Tecban 1989 BarueriAutomatic Teller Machines (ATMs) e Banco Eletrônico
Fonte: Elaboração do autor com base em H. Pires (1995) e de consulta na internet junto aos sites de empresas citadas.
Progressivamente, passou a ganhar corpo uma nova estratégia de automação
por parte das instituições bancárias, pautada na integração eletrônica das redes de agências
de cada banco, descentralizando a transmissão e processamento de dados também para as
agências5. A integração das informações inseridas pelos caixas de cada agência bancária aos
5 Segundo W. Hoff (2003), no Banco do Brasil os primeiros CPDs foram instalados e utilizados ao longo da década de1970, enquanto que, nas agências, os primeiros computadores foram instalados ao longo da década de 1980. Já C.
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CPDs ocorreu com a aquisição e instalação de minicomputadores e de microcomputadores
que, integrados em redes de telefonia, centrais PABX e telex, permitiram transmitir e
processar as informações ainda com maior velocidade.
Ao mesmo tempo, ensejaram uma nova divisão territorial do trabalho bancário
com a separação espacial das atividades administrativas e das tarefas de prospecção,
envolvimento e recepção ao cliente (VERDIER, 1986). Trata-se do que L. Blass (1993)
caracterizou como a “fragmentação das tarefas bancárias” desde a sua concepção nos
centros administrativos até a execução nas agências e centros de processamentos de dados,
seguindo a busca pela produção em massa mediante tarefas padronizadas (ditadas por
papéis e documentos) e repetitivas.
Foi neste contexto que as cidades da Região Sudeste abrigaram a maior parte
destas empresas, cujos principais fatores de localização estavam associados a uma maior
densidade das infraestruturas de telecomunicações (DIAS, 1996), presença de economias
externas favoráveis e a centralização da função de gestão da atividade bancária (CORREA,
1989).
A crescente convergência entre os centros de gestão bancários e circuito espacial
de produção de tecnologias bancárias na Região Metropolitana de São Paulo a consolidou
como “lócus privilegiado da gestão do capital e do trabalho imaterial” no país (LENCIONI,
2000, p. 474).
A INTERNACIONALIZAÇÃO DO CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO DE TERMINAIS DE AUTOATENDIMENTO
No início da década de 1990, foi proposto pelo Estado um conjunto de medidas
que acabou por ter diversos impactos sobre a indústria nacional da automação bancária,
com a abertura do mercado, com uma maior facilidade para as importações e privatizações
de bancos públicos. Pode-se dizer que a progressiva abertura comercial para a importação
(iniciada em 1991), representou uma aceleração da instalação de grandes empresas
estrangeiras do setor em território nacional, que alterou a divisão do trabalho então vigente
e modificou o funcionamento do circuito espacial da produção de tecnologias bancárias
existente.
Com menores possibilidades de financiamento e maiores custos de produção,
Frischtak (1992) enfatizou que muitos bancos aceleraram a instalação de computadores nas agências ao longo detoda a década de 1980.
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diversas empresas nacionais do circuito da automação bancária perderam dinamismo e
passaram a adotar uma nova estratégia competitiva: a associação com grandes empresas
estrangeiras. A Procomp foi uma das primeiras empresas a estabelecer parceria com essas
empresas (via joint ventures), reduzindo significativamente os custos de produção e forçando
as empresas nacionais a constituir novas parcerias (PIRES, 1997; LEE, 2003).
O Plano Real, criado em 1994, também pode ser considerado como um evento
significativo para o sistema bancário nacional, pois engendrou a estabilidade
macroeconômica da moeda e, junto de outras medidas, criou uma nova forma de
funcionamento para todo o sistema financeiro nacional. Ao mesmo tempo, o Programa de
Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária (PROES, de 1996) e o
Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional (PROER, de 1995)
significaram uma nova forma de atuação do Estado e de organização da atividade bancária
no país. O primeiro Programa foi a base legal para a privatização de bancos públicos,
enquanto o segundo catalisou a entrada de bancos estrangeiros no Sistema Financeiro
Nacional.
Outro resultado dessa busca por uma maior “racionalização” das atividades
bancárias foi um rearranjo espacial da atividade em âmbito nacional. Tal rearranjo
significou, igualmente, a consolidação da tendência de entrada de grandes empresas
estrangeiras no ramo da automação bancária. Conforme apontaram P. Melo et al. (2000, p.
56):
Os novos bancos já trazem suas parcerias consolidadas com fornecedores
internacionais, sendo muito difícil a entrada de ofertantes nacionais na parcela
de mercado que eles representam. O mesmo ocorre quando tradicionais bancos
nacionais têm seu controle vendido a bancos estrangeiros, demandando das
empresas nacionais uma ação de vendas não mais junto aos seus clientes locais,
mas às matrizes internacionais, o que requer um adicional de investimento em
marketing e vendas nada desprezível.
Houve também a diversificação de produtos e de soluções oferecidos para os
bancos, conforme destacou H. Pires (1997, p. 13-14):
O uso do sistema de código de barras nos cheques e de cartões magnéticos
também eliminou inúmeras antigas funções bancárias. As informações e
decisões passaram a ser tratadas instantaneamente em tempo real, via on line,
em várias redes locais integradas por servidores e microcomputadores,
telefones, faxs/modens, ATMs, TTFs, interligados por satélites.
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Novos produtos e serviços passaram a ser oferecidos, como o internet banking,
cartões magnéticos, além da difusão mais acentuada dos caixas automáticos, o que acabou
reduzindo – em termos relativos – o papel das agências bancárias na oferta de certos
produtos e serviços. De tal modo, como foi apontado por S. Larangeira e V. Ferreira (2000), a
descentralização do atendimento ao cliente, a ampliação da cadeia de produtos através da
automação e a flexibilidade de certos serviços de atendimento ao cliente foram vistos, nesse
momento, como estratégias competitivas. Tal fato é corroborado por P. Melo et al. (2000),
quando apontaram que, em 1998, os bancos investiram 6,5 bilhões de reais em tecnologias
da informação.
Assim, intensificou-se a competição entre as empresas do circuito da automação
bancária, cujos mercados passaram a ser cada vez mais disputados e concorridos. Estendida
não apenas para o processamento da informação, como também para a entrada de dados
através dos canais de atendimento e implantação de sistemas online, a automação permitiu
a transmissão de dados em tempo real e a troca de dados em rede entre computadores
centrais dos bancos e as diversas agências (e também entre elas próprias).
Tais processos articularam-se com as novas formas de organização espacial das
redes bancárias no país, dentre as quais pode ser citada como exemplo a redução em
aproximadamente 30% dos municípios participantes das redes de agências dos bancos
Bradesco, Bamerindus e Unibanco (entre 1986 e 1996), ao passo que o número de agências
diminuiu em 1,42%, significando uma maior seletividade no padrão de localização deste tipo
de fixo (DIAS; LENZI, 2009).
O ano 2000 foi outro momento importante para a atuação dos bancos e para as
respectivas estratégias e demandas de automação bancária: com as resoluções n° 2.640
(1999) e n° 2707 (2000) do Banco Central um novo fixo passou a ser incorporado pelo
sistema bancário: os chamados correspondentes bancários6. Trata-se de estabelecimentos
comerciais pré-existentes no território (farmácias, padarias, supermercados, lotéricas etc.)
que, com esta nova regulamentação, passaram a oferecer serviços bancários (JAYO, 2010).
6 Conforme ressaltou M. Jayo (2010, p. 33): “Do ponto de vista da regulação, embora a figura do correspondente jáestivesse prevista na regulamentação do sistema financeiro brasileiro desde outubro de 1973, quando a Circular 220permitiu a bancos comerciais firmar contratos com pessoas jurídicas para um conjunto ainda limitado de serviços(cobrança de títulos e a execução de ordens de pagamento em nome do banco contratante), o divisor de águas viriaem 1999 e 2000, com as Resoluções 2640 e 2707 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que expandiramsubstancialmente o leque de serviços possível de ser oferecido, além de estenderem a maior número de instituiçõesfinanceiras a possibilidade de contratação de correspondentes. Hoje a atividade dos CBs se encontra regulada pelasResoluções 3110 e 3156 do CMN, que consolidaram as normas anteriores com poucas modificações (SOARES eMELO SOBRINHO, 2008)”.
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O novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), consolidado também pelo
Banco Central no ano de 2002, também foi importante marco normativo desse momento
que contribuiu para expandir o uso de instrumentos eletrônicos de pagamento, de redes de
terminais de autoatendimento (ATMs) e de transferência de crédito a partir de ponto de
venda, tendo em vista uma maior integração entre sistemas de compensação e de
liquidação (CONTEL, 2006).
A difusão de correspondentes bancários pelo território tornou-se uma das
principais soluções encontradas pelo sistema bancário nacional e permitiu que muitos
municípios pudessem, rapidamente, ter acesso aos produtos e serviços financeiros, devido à
sua maior flexibilidade locacional, economia de capitais fixos e variáveis e sua
funcionalidade (CONTEL, 2006).
Entretanto, a interligação entre cada banco e pontos conveniados podia não se
fazer de forma direta e, conforme foi observado por A. Moreira (2011), houve uma
multiplicidade de arranjos tecnológicos e de possibilidades de conexão entre os atores. A
principal tecnologia utilizada nos correspondentes foram as máquinas conhecidas como
point of sales, mas também havia totems, ATMs e computadores que operavam “como
terminais nos pontos de serviços conveniados, e interligados aos sistemas transacionais de
um banco contratante” (JAYO, 2010, p. 1). A conexão e a transmissão de dados transacionais
entre estes atores faziam-se através de envio de mensagens TCP/IP por meio de uma
multiplicidade de canais, tais como internet, rádio (GPRS) e sistemas 3G (MOREIRA, 2011).
De forma complementar, ao longo dos anos 2000 houve a instalação da empresa
estadunidense NCR, em 2009, para produção de sistemas técnicos ligados à automação
bancária. Além disso, a empresa japonesa OKI, em 2013, adquiriu 70% das ações referentes
à Itautec. Estes eventos apontam para a tendência de “internacionalização dos circuitos de
produção” (ARROYO, 2003), isto é, ao progressivo movimento de entrada de empresas
estrangeiras no circuito espacial das tecnologias bancárias.
A DIFUSÃO E O CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO DOS TERMINAIS DE AUTOATENDIMENTO NO TERRITÓRIO BRASILEIRO: SITUAÇÕES RECENTES
Assim, tais processos de expansão e descentralização de formas de atendimento
e de serviços, em conjunto com uma crescente bancarização da população (gráfico 1) – com
crescimento de 26 milhões de pessoas entre 2002 e 2011 – tem contribuído para um
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exponencial aumento do número de ATMs no território nacional.
Gráfico 1. Evolução da população bancarizada no Brasil (em milhões de pessoas).
Fonte: Elaboração do autor com base em dados disponibilizados pelo Banco Central do Brasil.
Como pode ser visto no gráfico 2, segundo dados da Federação Brasileira de
Bancos (FEBRABAN), o número de caixas eletrônicos cresceu, entre 2002 e 2011, em 58 mil
unidades, atingindo um total de 182 mil unidades em 2011, cuja principal localização era
ligada às agências bancárias (FEBRABAN, 2012a).
As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, apesar liderarem a expansão
desse fixo entre 2008 e 2012 (conforme gráfico 3), ainda possuem o menor número destes
terminais a cada 10.000 adultos (FEBRABAN, 2012b).
Gráfico 2. Evolução do total de Terminais de Autoatendimento (ATMs) instalados no Brasil – 2002 a2013.
Fonte: Elaboração do autor com base em dados da FEBRABAN (2012a).
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Gráfico 3. Crescimento de Terminais de Autoatendimento por região do Brasil (em porcentagem).
Fonte: Elaboração do autor com base em dados da FEBRABAN (2012b).
Vale destacar que, em 2011, 31% dos caixas automáticos instalados no país
concentravam-se no Estado de São Paulo, seguido pelos seguintes valores relativos: Rio de
Janeiro (11,2%), Minas Gerais (9,9%), Rio Grande do Sul (7,2%), Paraná (6,4%), Bahia (4,6%),
Santa Catarina (3,5%), Pernambuco (3,0 %); nos demais Estados distribuíam-se 23,2% dos
terminais (mapa 1 a seguir).
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Além disso, entre 2002 e 2011 houve um aumento de 128 mil correspondentes
no país (mapa 2), ao mesmo tempo em que também houve aumento do número de
agências em todas as regiões do país entre 2009 e 2013 (como pode ser visto no mapa 3).
O número de cartões magnéticos cresceu de 183 para 687 milhões. Outro dado
marcante é a expansão no número de contas correntes com internet banking, que aumentou
em 33 milhões entre 2002 e 2011, atingindo a marca de 49 milhões de contas com acesso ao
internet banking em 2011. Há também o chamado mobile banking, isto é, contas acessadas
via celulares que passou de zero em 2008 para 3,3 milhões em 2011 (FEBRABAN, 2012a).
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Mapa 2. Penetração de correspondentes por regiões do Brasil (em milhares) – 2009-2013.
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Mapa 3. Penetração de Agências por Regiões do Brasil (em milhares) – 2009-2013.
Há, ainda, tendências recentes relacionadas à implantação de agências
eletrônicas7, além de uma busca por novas formas de abastecimento de dinheiro, cujos mais
recentes pilotos de caixas eletrônicos ofereceriam a possibilidade de reutilizar notas de
depósitos em transações para saque de numerário8.
7 Segundo reportagem de Carolina Vandi para o jornal Valor Econômico (veiculada em 3/6/2014), o banco Itaú lançou “após um ano de testes e R$ 100 milhões de investimentos, (...) um atendimento 100% on-line, o Personalité Digital, que até o fim do ano deve atender 120 mil clientes de alta renda”.
8 A existência destes caixas está sendo divulgada na mídia “não-especializada”, com reportagens veiculadas nos jornaisO Estado de São Paulo e Valor Econômico. Conhecidos pelo jargão “caixas recicladores”, estes novos objetos técnicos possibilitariam, segundo reportagem de Aline Bronzati, “mais dinheiro efetivo” e reduzir “gastos com transportes de valores” (O Estado de São Paulo, 7/6/2014). A reportagem de Cibelle Bouças (Valor Econômico, 4/6/2014), enfatizou o fato de tal caixa já estar presente em 46 países do mundo, enquanto que, no Brasil, apenas a empresa Saque e Pague possui este tipo de caixa em operação. Todavia, segundo informações destes jornais, outras empresas presentes no país já tem projetos de produção e de comercialização desses objetos, como a Diebold e a NCR.
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Dessa forma, a associação entre os avanços tecnológicos e a automação tem se
constituído como uma possibilidade para extração de valor das regiões do país, “oferecendo
produtos e serviços financeiros em todos os locais sem necessariamente estar presente
neles na forma de agência física” (CAMOCARDI, 2013, p. 30).
Os processos de desenvolvimento tecnológico tem, igualmente, permitido
crescentes demandas para o circuito espacial de tecnologias bancárias, com elevados
investimentos bancários em tecnologias da informação e comunicação. Tais investimentos
passaram de 12 bilhões de reais em 2008 para a marca de 20 bilhões em 2012 (FEBRABAN,
2012b).
Tais recursos direcionam-se sobretudo para as principais empresas que detém o
comando sobre as decisões relativas à produção e à distribuição dos caixas automáticos,
cujo mercado possui uma presença significante de estrangeiros, como a Itautec, Diebold e
NCR; há, ainda a Tecban – diretamente ligada a grandes bancos instalados no país –, com
predominância de bancos nacionais; destacam-se, ainda, empresas nacionais, como a
Cobra, a Perto, Saque e Pague e a Scopus – esta última ligada ao Banco Bradesco.
A Itautec é um dos exemplos mais notórios cuja oferta de produtos e serviços
pelo território nacional, atinge a marca de 3700 municípios atendidos, 33 filiais de serviços,
10 laboratórios de suporte e mais de 5.000.000 de equipamentos (nos quais se incluem os
ATMs, mas também de informática, de automação comercial e industrial) em contratos de
manutenção. Tal estrutura não se completa, sem a cooperação de mais de 200 empresas
distribuídas pelo país que prestam serviços de assistência técnica especializada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho, procurou-se explicitar alguns dos principais processos
envolvidos na difusão da automação bancária no território brasileiro. É importante ressaltar
que a pesquisa ainda encontra-se em aberto e algumas questões precisam ser
aprofundadas, tais como:
• De que forma a entrada de empresas estrangeiras impactou na importação de
componentes dos caixas automáticos?
• Quais componentes dos ATMs as fábricas instaladas no país efetivamente produzem?
• Há algum tipo de interdependência entre as empresas do circuito espacial de
produção?
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• Como os Terminais de Autoatendimento são instalados nos diferentes lugares do
país?
• Como se dá o abastecimento de dinheiro desses caixas automáticos no território?
De todo modo, pode-se dizer que a automação contribuiu para a reorganização
espacial da atividade bancária em escala nacional – com novas possibilidades de
manipulação e concentração dos fluxos de dinheiro e informação –, impondo um novo ritmo
de funcionamento à formação socioespacial brasileira (vista como uma totalidade em
movimento).
Também é possível compreender a automação como um dos processos que
articularam elementos internos e externos ao território nacional, como por exemplo: o
surgimento de novas tecnologias de informação e comunicação; os investimentos realizados
pelos grandes bancos nacionais; as diversas medidas e projetos estatais voltados para a
formação de uma indústria nacional de produção de alta tecnologia via substituição de
importações; entre outros.
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AUTOMAÇÃO BANCÁRIA NO BRASIL: O CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO E A DIFUSÃO DOS TERMINAIS DE AUTOATENDIMENTO (ATMs)PELO TERRITÓRIO BRASILEIRO NO PERÍODO DA GLOBALIZAÇÃO
EIXO 3 – Desigualdades urbano-regionais: agentes, políticas e perspectivas
RESUMO
A automação bancária é um fenômeno amplo, que envolve diversos países, atividades
econômicas, infraestruturas, agentes e processos. O presente trabalho visa compreendê-la junto
das dinâmicas da formação socioespacial brasileira, enquanto sistema técnico composto por
artificialidades e intencionalidades, formas de fazer e de regular, que funcionam de forma solidária,
isto é, utilizando-se e dando condições para que outros sistemas técnicos funcionem (SANTOS,
1996). Nesse sentido, busca-se analisar criticamente o fenômeno da automação bancária ocorrido
no Brasil, dando ênfase na análise do circuito espacial de produção de seus sistemas técnicos,
principalmente os Terminais de Autoatendimento (ou Automatic Teller Machines - ATMs), e da
difusão e uso destes sistemas pelos bancos instalados no território brasileiro. A metodologia
adotada para a realização desta investigação dividiu-se em dois principais procedimentos: 1.
Revisão bibliográfica – Os principais materiais utilizados foram livros, artigos, teses e dissertações
produzidas sobre os temas do sistema financeiro, bancos comerciais e automação bancária no
país. Esta revisão bibliográfica foi feita também a partir de uma busca de compreensão da
problemática específica da pesquisa, com o intuito de interpretar os debates e formas de
entendimento do tema proposto para a investigação. 2. Pesquisa Documental – Foram
investigados os anuários de órgãos específicos do sistema financeiro nacional, como o Banco
Central do Brasil e a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), entre outros. Além disso,
análises setoriais da automação bancária feitas pela FEBRABAN foram importantes fontes
documentais para a pesquisa. Dessa forma, foi possível fazer um resgate histórico e compreender
que a automação bancária tem sido um dos principais fenômenos ligados ao processo
reorganização do sistema bancário em escala nacional: impulsionados pelo Estado, mas também
pelos lucros obtidos com a inflação das décadas de 1970 e 1980, diversos bancos puderam
investir em novas tecnologias e catalisar a formação de uma indústria da automação bancária no
Brasil, sobretudo com o uso do computador e de redes de integração entre eles (grande inovação
tecnológica deste período). Nesse sentido, formou-se um conjunto de empresas que, apesar de
diferentemente localizadas, configuraram um circuito espacial de produção dos Terminais de
Autoatendimento (ATMs) e que passaram a fornecê-los aos diversos bancos presentes no Brasil.
Tal circuito espacial, em conjunto com os diferentes círculos de cooperação que dele emergem,
são de fundamental importância no entendimento de processos de expansão e descentralização
espacial de formas de atendimento e de serviços bancários, que, em conjunto com uma crescente
bancarização da população – com crescimento de 26 milhões de pessoas entre 2002 e 2011 –,
tem favorecido um exponencial aumento do número de ATMs no território nacional, que, com suas
variadas localizações, atingiram a marca de 182 mil terminais em 2012 (FEBRABAN, 2012).
Palavras-chave: automação bancária; circuito espacial das tecnologias bancárias; sistemas
técnicos.
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