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j Popper é/ reconhecidamente, um dos maiores nomes  d a Fi losofi a d a C i ê nci a e m no ssos d i a s. N e st a sua fas- cinante AUTOBIOGR AF IA IN TELECTUAL  , d á no s e le um estudo pessoal de suas 'próprias idéias e do ambiente hi stór i co onde e las se de se nv olv e r am . A ssi m é que ,  com sinceridade e. humor, fala~nos de Carnap, Einstein,  R u sse ll, W i t í g e ns t e í n e outr os contem por âne os s e us  , a o  mesmo tempo em que fórmula apreciações críticas do  Círculo de Viena, do Positivismo Lógico, âõ desenvol- vimento do nazismo e do marxismo, dos problemas do  j u d a í sm o e do a nti se m i ti sm o , e nfi m, de mu i to do que  é intelectualmente importante na Cultura do nosso  c ulo . T udo i ss o faz, de st e l i vro  , uma excelente intro- dução não só ao pensamento popperiano como a alguns  dos principais dilemas culturais, políticos e científicos  da atualidade. EDITORA CULTRIX

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jPopper é/ reconheci dam ent e, um dos mai ores nomes  da Fi l osofi a da Ciênci a em nossos dias. Nesta sua fas- cinante  A U TO B I OGRA FI A I N T EL ECTU A L , dános ele um  estudo pessoal de suas 'própr i as i déias e do ambi ent e  hi stóri co onde elas se desenv ol veram. Assim éque, com sinceri dade e. humor , fala~nos de Carnap, Einst ei n, ■Russel l , W i tígenst eín e out ros cont emporâneos seus  , ao  mesmo t empo em que fórmul a ap reciações crít i cas do  Círculo de Vi ena, do Posi t i v i smo Lógico, âõ desenv ol- v imento do nazi smo e do marxi smo, dos probl emas do   j udaísmo e do ant i semi t i smo, enf im , de mui t o do que  éintelectualmente importante na Cultura do nosso  sécul o. Tudo isso faz, deste l i vro  , uma excel ent e i nt ro- 

dução não só ao pensament o popperi ano como a al guns  dos pr i nci pa i s di l emas cul t urai s, polít i cos e cient ífi cos  da atual i dade.

EDITORA CULTRIX

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AUTOBIOGRAFIA

INTELECTUAL

Karl Popper 

Popper é o maior vulto da Filosofia da Ciência de hoje, assim como um dos maiores nomes da Filosofia Liberal, Esta autobiografia focaliza o desenvolvimento das suas idéias. A obra é na realidade um estudo pessoal da evo-lução das idéias popperíanas e do ambiente intelectual onde se desenvolveram. Nesse am-biente desfilam vultos como Carnap, Einstein, Gõdel, Polanyi, Russelí, Schrodinger, Tarski, 

 Wittgenstein, Woodger e outros de igual emi-nência, suas idéias e suas relações com Popper. Na análise da “ecologia” das idéias de Popper figuram brilhantes histórias e apreciações d o ,Círculo de Viena, do Positivismo Lógico, do' desenvolvimento do nazismo e do marxismo, dos problemas do judaísmo e do antisemitismo, en-fim, de muito do que é intelectualmente impor-tante na Cultura do nosso século. As informa-ções pessoais são apresentadas de forma humana, sincera e com muito humor. O livro de Popper é precioso. É um documentário do maior inte-resse não só sobre a Filosofia neste século mas, o que é raro, uma história da evolução das idéias de um grande filósofo escrita por ele mesmo. A obra, além de ser uma excelente introdução ao pensamento popperiano e ao seu desenvolvimento, tem o inestimável valor de ' mostrar como esse desenvolvimento ocorreu, quais os. fatores que contribuíram para a sua evolução e qual o ambiente em que se pro-cessou. É, assim, ura relato precioso e raro para a História, & Sociologia e a Psicologia no desenvolvimento das idéias.

Esses fatos tornam a Au t o b io g r a f ia   In -t e l e c t u a l   de Popper não só indispensável para todos os estudiosos da Filosofia, especialmente da Filosofia da Ciência, mas também do maior valor para todos aqueles que têm interesse pela história social e cultural do nosso século e pela compreensão da evolução e da “ecologia” das idéias.

A. Br it o   d a Cu n h a  

(da Universidade de São Paulo)

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AUTOBIOGRAFIA INTELECTUAL

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Karl (Rainiurid) POPPER'

Nasceu em Viena, 1902

Professor emérito, Universidade de Londres

PhJD. (Viená):; D. Lit. (Londres); possui títulos honoríficos que lhe foram concedidos pelas Universidades de Chicago, Denver, War  wiijk, Ghristchurch (N ova Ze lân dia), Salford. .

Fe l l ow . da “Royal Society” e da “British Acaderay” .Membro correspoiidéntè do "Institut de Fra nc e” ; méirtbro da “International 

Acadèiny íòr the Philosophy of Science” ; membro estrangeiro ho-norário dá “Am erican Academy of Arts and Sciences” ; membro honorário da: “Royal Society of New Zéaland ” ; fe l low  honorário da “Ldridcm School of Econom ics and Political Science” ; membro honorário do “Harvard Chapter” de Phi Beta Kappa.

Recebeu ò título de Si r  em 1965.

Prêmio “GÍdade de Viena”, em 1965; prêmio “Sonning”, da Univer-sidade de Gopenhague, 1973.

Publicações (apen as livros, que já foram traduzidos para 19 idiomas) :

Lp.g i f i der Forsckung 

ÍChe Õpen Societ y an d i ts Enem i es 

T he Pow er t y o f H i s t o r i ci sm 

Th,e Logic of Sc ient i f i c Discovery 

Cof i j ect ures and R efu t a i tons.

O b j ect i v e K now l edge 

“Autobiografia e Réplicas aos Meus Gríticos” — incluídas em  The Ph i l o s ophy o f Ka r l Poppe r 

U nend ed Q úest  , A n I n t el l ect ua l ' A u t ob i og raphy .

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M  ■

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FICHA CATALOGRÁFICA

(Preparada pelo Centro de CatalogaçãonaFcmtesCâmara Brasileira do Livro, SP)

Popper, Kacl Raimund, 1902 P 86 6a Autobiografia intelectual [po r] Ka rl Pop per; tra-

dução de Leônidas Hegenberg e Octanny Silveira da2 . ed* M ota. 2. e d ._ — , São Paulo, Cultríx,. 19 86 .

Bibliografia.

1 . Cicncia — Filosofia 2 . Filosofia inglesa3 . Popper, Karl Raimund, 1902 I . Título.

■ 'jj CDDS21 .2  

«192770336 501

índices para catálogo sistemático:

1 . Ciên cia : Filosofia. 3012. Filosofia inglesa 1923 . Filósofos ingleses.: Autobiografia 9 2 1 .24 . G rãB retan ha: Filosofia 192

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K A R L P O P P E R

AUTOBIOGRAFIA INTELECTUAL

Tradução de 

L e o n i d a s H e g e n b e r g   

e

OcTANNY SlLVJEERA DA MoTTA

EDITORA GULTRIXSÃO PAULO

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Título do original:

TJNENDED QUEST 

 A  j m I n t e l l e g t u a l A u -t o b io g r a p h y

Copyright © 1974 by the Library of Living Philosophers Inc. Copyright © 1976 by Karl R. Popper ■

Edição Ano

2- 3- 4- 5- 6- 7- 8*9 86- 87- 88- 89- 90- 9 ! - 92^93

Direitos de tradução para a língua portuguesa adquiridos com exclusividade pela

EDITORA GULTRDC LTDA.Rua Dr. Mário Vicente, 374, 04270 São Paulo, SP, fone 633141, 

que se reserva a propriedade literária, desta tradução.

ímpresto nas ofitinas gráficas da Editora Pensamento.

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S U M Á R I O

Ag radec imen t o s   1 j0 1 ; Onisciência e falibilismo 13

0 2 . Lemb ranças da infância 14

0 3 . Primeiras influencias 160 4 . A Primeira Grande Guerra 19

0 5 . U m antigo problema filosófico: o infinito 21

0 6 . M inh a prim eira falha filosófica. O problema do essenciàiismo 230 7 . Long a digressão a respeito do essenciàiismo: aquilo que ainda

me separa da maioria dos pensadores contemporâneos 24

0 8 . Um ano importante: marxismo, ciência e pseudociência 37

0 9 . Primeiros estudos 45

1 0 . Segunda digressão: pensamento dogmático e critico; aprendersem auxílio da indução 50

11 * Música 6012. Especulações em torno do surgimento da música polifônica: psico

. logia, da descoberta ou lógica da descoberta? 6213. Dois tipos de música 67

14 . Idéias progressistas em Arte , especialmente em M úsica 751 5 . Ültimos anos de Universidade 79

16 . T eoria do conhecimento: Log i k de r Fo r s chung  86

1 7 . Qu em matou o positivismo lógico? 951 8 . Realismo e teoria quântica 9819 . Objetividade e Física 104

2 0 . V erd ad e; probabilidade; corroboração 106

2 1 . A gue rra próxima: o problema judeu 1132 2 . Em igraçã o: Inglaterra e Nova Zelândia 116

2 3 . Primeiros trabalhos na Nova Zelândia 1 1 9

2 4 . “A Sociedade Aberta” e “A Indigência do' Historicismo” 122

2 5 . Outros trabalhos realizados na Noya Zelândia 128

26. Inglaterra: na “ London School of Economics and Political Science” 1292 7 . Primeiros trabalhos na Inglaterra 1342 8 . Primeira visita aos E .U .A . Encontro com Eiiistein 1362 9 . Problemas e teorias 140

3 0 . Debates com Schrodinger 144

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31O b j e t i v i d ad e e c r í t i c a

32 . Indução; dedução ; verdade objetiva

33 . Programas de pesquisa metafísica

34 . Combatendo o subjetivismo em Física : a Mecânica Quântica  /•propensão

35 . Boltzinann e a direção do tempo

•36 . A teoria subjetivista ‘ da entropia

 ;37 . O darwinismo como pro grama metafísico de pesquisai38. Mundo 3, ou o Te rceiro. Mund o

39 . O problema corpomente e o Mu ndo 3

4 0 . A posição dos valores num mundo dè fatos>-t.Notas 

Pr i nci pa i s pu bl i cações e abr evi ações do s tít ul os  

Bibl iograf ia selecionada  ín d i ce Remi ssi v o 

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A GR A D E G I M E N T O S

Esta autobiografia foi preparada a fim de ser incluída nos dois volumes da obra Th e Phi losopHy of Kar l P o p p er editada por Paul Arthur Schilpp, que apareceu com os números 14/1 e 14/11 na coleção "The Library of Living Philosophers” (La Salle, Illinois: The Open Court Publíshing Gompany, 1974). Gomo em todos os volumes desta série, a autobiografia se deve à iniciativa do Professor Schilpp, fundador da coleção. Sou muito grato a ele por tudo quanto fez e pela sua infinita paciência em aguardar, a autobiografia de 1963 a 1969. '

Muito peiihoradamente agradeço a Ernst Gombrich, Bryan Magee, Arne Petersen, Jeremy Sheamur, Sra. Pamela Watts e, aci-ma de tudo, a David Miller e a minha esposa pelo trabalho paciente  que. realizaram, lendo e melhorando o manuscrito.

Vários problemas surgiriam durante a fase de produção da edi-ção original. Somente depois de prontas e revistas as provas tipo-gráficas é que se deliberou reunir todas as notas, colocandoas ao final — fato que não é destituído de importância, pois ò manuscrito 

havia sido preparado segundo orientação previamente assentada pela qual se deixariam as notas ao pé das páginas correspondentes. .Foi imenso o trabalho de organização dos volumes da série “The 

Library of Living Philosophers”' executado pelo Professor Eugene Freeman, pela Sra. Ann Freeman e seus coadjuvantes: aqui regis-tro meus agradecimentos pela atenção que me dispensaram e pelo cuidado com que levaram a bom termo suas atividades.

O texto da presente edição foi revisto. Introduziramse alguns 

breves adendos e uma curta passagem saiu do corpo da obra para integrarse à nota 20.

K. R. P.

Penn, Buçkinghamshire Maio, 1975

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) r J t í

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O que exclu ir e . o que incluir ? Esse é o p r o b l e m á .

H ü g h L o f t i n G j D o c t o T D o o l it t íe Js Z o o .

1. Qnisciêucia e falibilismo

Aos vinte anos, fizme aprendiz de um velho mestre marceneiro  de Viena, cujo nome era Adalbert Põsch, e com ele trabalhei de 1922 a 1924, em tempos não muito distanciados da Primeira Guerra Mundial. Ele se parecia muito com Georges Glemenceau, mas era homem cordato e bondoso. Depois de haverlhe ganho a confiança, aconteceu, muitas vezes, que, sozinhos na oficina, ele me tornasse beneficiário de sua inexaurível riqueza de conhecimentos. Certa ocasião, disseme que, por vários anos, se dedicara a trabalhar em diversos modelos de máquina de movimento perpétuo, acrescentando cismadoramente: “Dizem que não é possível construíla, mas, depois de construída, dirão coisa diferente!” (“Da sag’n s5 dass ma’ so was net mach’n kann; aber wann amai eina ein’s g5machthat, dann wer’n s’ schon anders redn!” ). Tinha ele como hábito favorito fazerme tuna pergunta a respeito de História e respondêla ele próprio, quando ocorria eu não saber a resposta (embora eu, seu aprendiz, fosse alüno da Universidade — fato que muito o orgu-lhava). “Você sabe”, perguntavame, “quem inventou as botas de cano alto? Não sabe? Foi Wailenstein, duque de Friedlarid, du-rante a Guerra dos Trinta Anos”. Depois de uma ou duas per guntas ainda mais difíceis, por ele formuladas e por ele triunfante-mente respondidas, meu mestre dizia com modesto orgulho: “Vocé pode me perguntar o que quiser. Eu sei t ud o ”  (“Da kõnnen S5 mi frag,n was Sie wolI’n: ich weiss alies”) 

Creio que, ya respeito de teoria do conhecimento, aprendi mais com meu querido e onisciente mestre Adalbert Pòsch do que com qualquer outro .de meus professores. Ninguém, como ele, contribuiu 

tanto para que eu me tornasse discípulo de Sócrates. Foi ele, com efeito, quem me ensinou não apenas o quão pouco eu sabia, mas ■também que a sabedoria a que eu pudesse aspirar talvez consistisse

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. ápénás; em darme eu conta mais amplamente do infinito de minha ignórância.

Essas e outras reflexões, que se colocavam no campo da Epis temologia, ocupavamme o espirito enquanto eu trabalhava com uma. escrivaninha. Recebemos, por aquela époça> uma grande en 

 , comenda de trinta escrivanilihas de mogno, com muitas gavetas.Receio que a qualidade de algumas daquelas escrivaninhas, espe-cialmente no tocante ao envemizamento, haja deixado muito a de-sejar, em razão de minhas preocupações com a Bpístemología. Isso mostrou a meu mestre, e a mim também, que eu era demasiado ignorante e demasiado falível para semelhante espécie de trabalho. Assim, decidi que, ao completar o aprendizado^ em outubro de 1924, eu deveria procurar algo mais fácil de fazer do que escrivaninhas de mogno. Durante um ano, dediqueime ao trabalho social com crian-ças abandonadas, trabalho que já executara a n t e s e havia conside-rado muito árduo. Mais tarde, após cinco anos devotados princi-palmente a estudar e escrever, caseime e entregueime, com satisr fação, ao mister de professor. Isso foi em 1930.

Naquela ocasião, eu não tinha outras ambições profissionais que nao a de ensinar, embora viesse a sentiririe um tanto cansado de. tal função, após ver publicada a minha Logik der Forsehung, em fins de 1934. Foi, portanto/com satisfação que, em 1937, tive opor 

' tunidade de abandonar o ensino e tornarme um filósofo profissional.Eu havia quase atingido os trinta é cinco anos e julguei que, final-mente, resolvera o problema de trabalhar numa escrivaninha e, ape-sar; disso,; preocuparme com Episteinologia.

2. Lembranças da infância

Conquanto a maioria de nós conheça a data e lugar de nasci-mento; mo imeu caso, 28 de julho. de 1902, em Himmelhof, no 

distríto=.db Obet St; Veit, em Viena — , poucos sabem como e quan-do iniciáram;ssua? ; vida. intelectual; No que respeita a meu desen volvimento : filosóficoy .lembro~me de alguns de. seus. primeiros está-gios. E não faáv duvida* de que éle éoineçou depois de principiado meu desenvolvimento emocional e moral. :

Em criança, tenho‘ a impressão de ter sido algo severo e até mesmo presumido, : embora: essa : atitude; ise temperasse com o sen timento de .que eu. não ,tinha. o' direito ,de. jjilg&r pessoa alguma salvo eu próprio. Dentre as. minhas Jembranças mais recuadas, estão senr timentos .de admiração pelos mais; velhos* ;çpmo por meu primo . Eric Schiff, a quem eu, admirava por ser um: ano maí§ velho, por sua

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aparência bem euidâda e, especialmente, pela süa beleza — dons que sempre considerei importantes e inatingíveis.

Hoje, ouvese dizer com freqüência que: as crianças são' cruéis 

por natureza, Não creio, Eu era. quandò criança, o que os norte americanos denominariam “molenga” e a compaixão é: uma das mais fortes emoções dè que. tenhó recordação; ^ÍPoi o componente principal de j^ha^pifeièirá/ amor, octírrida quaiidoeu tinha quatro ou cinco anos. Fui leyádo a uní jardim de infância, onde havia uma linda ijiefiàha ide dpis!;aüõs cega.. ’ ’Meu* coração se dilacerou, tanto pela feelèzàvrdo sorrisQvjielfr quanto ‘ pela tragédia de sua cegueira. Efal ainorià Jamàis "a 'estjueci, a^esárde têla encontrado apenas uma véz é tãò^oménte por uma hoía oü  

duas. Não voltei ao! jardiln dè irifâiiGia ; íálvi z: ;minha ‘mãe: Jivessc notado o quanto ali jae períurbeil " •: ; íA visão ' da pobreza abjeta, em "Viena, foi1. uih^dòkr píiiicipais. 

problemas a me comoverem quando eu era1 ainda. 'Criança; >— e. a comoção era tanta que estava sempre no fundo dè irietis pensa-mentos, Poucas, dentre, as pessoas que vivem atualmente numâ :;das democracias ocidentais, sabem o que significava a pobreza no começo deste século: homens, mulheres e crianças vítimas da fome, dò frio e da desesperaria. Nós, crianças, éramos, porém, inütèis. Não 

podíamos' fazer mais que pedir alguns centavos para dár a um pobre.

So muitos anos depois vim a saber que meu pai se esforçara longamente para pôr paradeiro a tal situação, embora jamais hou-vesse falado acerca dessas atividades. Ele trabalhava em duas co-missões que buscavam oferecer abrigo para os semlar: uma lojamáçônica, de que durante longo tempo ele foi Mestre, administrava um a casa para órfãos, enquanto a outra comissão (nãomaçônica) erigira e mantinha uma grande instituição para adultos e famílias 

desabrigadas. (Um dos internados nessa instituição — o Asyl für  Obdachlose  foi Adolf Hitler, quando de sua primeira passagem por Viena.)

O trabalho de meu pai recebeu inesperado reconhecimento ao darlhe o velho Imperador o título de Cavalheiro da Ordem de Francisco José (Ri èt er des Franz Josef O rdens), o que deve ter cons-tituído não apenas uma surpresa, mas um problema. Com efeito, embora, à semelhança da maioria dos austríacos, respeitasse: o Impe-

rador, meu pai era um liberal radical, da escola de John Stuart Milí e de modo algum apoiava o governo. Na condição de maçom, pertencia a uma sociedade que, na 

ocasião, foi declarada ilegal pelo governo austríaco, embora o go

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firno íhungajio! d& Francisco José não fizesse o mesmo. Os maçons freqüentemente se reuniam do lado de lá da fronteira húngara, em P.ressburg:. (hoje Bratislava, na Checoslováquia). O Império Austro “Hungarp, apesar de ser monarquia constitucional, não era gover-nado por seus dois Parlamentos: não. tinham estes o poder de depor os.: dois: PrimeirosMinistros ou os dois Gabinetes, e nem mesmo o poder de emitir um voto de. censura.. O Parlamento Austríaco era, ao. que parece, ainda mais impotente do que o Parlamento inglês ao. tempo dè. William e Mary, se é que esta comparação tem algum cabimento. Travaramse lutas pelo poder e havia severa censura política; por exemplo, uma brilhante . sátira política, Anno 1903, que .meu pai escrevera com.; o pseudônimo de Siegmund Karl Pflug, foi apreendida pela polícia, . quando de sua publicação em 1904, e até 1918 permaneceu no I ndex  de livros proibidos.

Nãò obstante tudo isso, naqueles dias anteriores a 1919 rei-nava, na Europa, a oeste da Rússia czarísta, uma atmosfera, de libe-ralismo, atmosfera: que também dominava a Áustria e que foi destruída, para. sempre, ao que. hoje ; parece, pela Primeira Guerra Mundial. A Universidade de Viena, com seus muitos professores de grande eminência, gozava de elevado grau de liberdade é auto-nomia. O mesmo era verdade com relação aos teatros, importantes na vida dê Viena — quase tao importantes quanto a música. O Imperador se mantinha .à distância de todos os partidos políticos 

e não se identificava com nenhum dos governos. Seguia, quase ao pé . da letra, o conselho dado por Sdren Kierkegaard a Cristiano VIII,. da Dinamarca

3. Primeiras influências

Fui criado em ambiente indiscutivelmente livresco. Meu p ai,,o Dr; Simon Siegmund Carl Popper, era, como seus dois irmãos, doutor em leis' pela Universidade de Viena. Tinha uma grande 

biblioteca e haviá em casa livros por toda parte — com exceção da sala de jantar; onde> estava um majestoso^ Bõsendotfer de concertos e muitos volumes de. Bach, Haydn, Mozart, Beethoven, Schubert e Brahms. Meu pai, que '.tinha a mesma idade de Sigmund Freud ~  cujas obras possuía e. lera quando da publicação — trabalhava como advogado. Acerca de minha mãe, Jenny Popper, nêe Schiff, falarei quando vier a ocuparme de. música. Meu pai era um orador con-sumado. Ouvio no tribunal apenas uma vez, em 1924 ou 1925, sendo eu. o réu. O caso estava, em minha opinião, bem definido2. Por. isso mesmo, não lhe pedi que me. defendesse e sentime emba

16 

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raçado quando ele insistiu. E a completa simplicidade, clareza e sinceridade de seu discurso me impressionaram muito.

Meu pai trabalhava ativamente na profissão. Havia sido amigo 

e . sócio do último burgomestre liberal de Viena,, o Dr. Gari Grübl, a quein sucedera a testa de um escritorio de advocacia. Esse escritório se integrava ao . grande apartamento onde vivíamos, no coração de Viena, em frente à porta principal da catedral (Stephanskirche ). Papai trabalhava no escritório por longas horas, mas, em verdade, era antes homem de estudos que advogado Historiador (parte con-siderável de sua biblioteca dizia' réspeitq à H istó ria)tin h a par-ticular interesse pelo período helenístáco e. pelos séculòs X V III e X IX . Fez poesia e verteu para o alemão versos gregos e latinos. 

(Raramente falava de tais assuntos. Fòi por acaso que certo dia, descobri algumas ágeis traduções de versos de Horácío. Seus dons característicos eram a delicadeza de trato e o forte senso de humor.)  Mostrava grande inclinação péla Füosofia. A ele pertenceram obras que ainda possuo, de Platão, Bacon, Descartes, Spinoza, Locke, Kant, Schópenhauer e Eduard Von Hartmann; obras escolhidas de  J. S. Mill (em versão alemã, editada por Theodor Gomperz (a  cujos Pensadores Gregos devotava grande admiração) ; a maior parte dos livros de Kierkegaard, Nietzsche e Eucken,. e os trabalhos de 

Ernst Mach, a Crít i ca de L i nguagem , de Fritz Mauthner e Geschlecht  und Charakt er, de Otto Weininger (obrais que parecem ter exercido alguma influência sobre Wittgenstein)3; e traduções da maior parte dos livros de Darwin. (Em seu escritório, havia os retratos de Dar win e de Schópenhauer!) Ali estavam também os autores consa-grados da literatura alemã, francesa, inglesa, russa e escandinava. Uma das grandes preocupações de meu pai eram, entretanto, os problemas sociais. Não apenas possuía as principais obras de Marx  e Engels, de Lassalle, Karl KLautsky e Eduard Bernstein, mas ainda 

as dos críticos dç Marx: BõhmBawerk, Gari Menger, Anton Men ger, P. A. Kropotkin e Josef. PopperLynkeus (ao que parece, dis-tante parente meu, pois nascera em Kolin, cidadezinha de origem de meu avô paterno). A biblioteca incluía um setor dedicado ao pacifismo, com livros de Bertha von Suttner, Friedrich Wilhêlm Fõrster e Norman Angell.

Assim, os livros fizeram parte de minha vida muito antes que eu pudesse lêlos. O primeiro livro a causarme impressão forte e duradoura foi lido, por minha mãe, para minhas duas irmãs e para 

mifflj pouco antes de eu aprender a, ler. (Fui eu o último dos três filhos.) Era um livro para crianças, da.grande escritora sueca Selma Lagerlõf, em bela, versão alemã ( W underba re Rei se des K l ei nen 

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N ils:;. l i o Igersson mi i den W i l dgãnsen^ dC versão inglesa se intitula The 'Wònderful Advent ures of Ni l s.)  Durante muito e muito tempo, relij.èsse: livro pelo menos uma vez .por ano; e, posteriormente, li (prpyavelmente mais de uma vez) tudo quanto Selma Lagerlõf, 

escreveu. Não aprecio sèu primeiro jomance, Gosta Berling, embora ele tenha, indubitavelmente^ muitas qualidades. Todos os outros livros, dessa escritora continuam a ser. para mim, todavia, obras primas. • •

.Aprender a ler e, em menor grau, a escrever são, naturalmente,  os^acontécimentos mais significativos. no.. desenvolvimento intelectual de ;úma pessoa. Nada há comparável, pois . poucas são as pessoas (Heien Keller é a grande exceção) capazes de recordar, o què para ela?;. significou aprender a falar. Serèi sempre grato a minha pro-

fessora,. Emma Goldberger, que jne ensinou a ler, escrever e. contar, Issò , é, creio eu, o que há de. essencial para ensinar a uma criança; e, para aprendê~lo} algumas crianças nem sequer precisam ser ensi-nadas. Tudo o mais é atmosfera e aprendizado através ,de leitura e reflexão.

Sem contar meus pais, minha professora e Selma Lagerlõf,. a  maior •influência exercida sobre os primeiros estágios de meu de-senvolvimento intelectual foi, julgo eu, a de um amigo de toda a  vida, Arthur Arndt, parente de Ernst Moritz von Arndt, um dos 

famosos, patriarcas do nacionalismo alemão no período das guerras napoleônicas V Arthur Arndt era antinacionalista ardoroso. Embora de; ascendência alemã, nascera em Moscou, onde passou a juven-tude. Era mais velho do que eu cerca de vinte anos — ele estava próximo; dos trinta quando o conheei em 1912. Havia estudado engenharia .na. Universidade de Riga e fora um dos líderes estu-dantis durante a ^malograda revolução russa de 1905. Era socialista e., ao mesmo tempo, feroz adveísárip dos bolcheviques, alguns de eujos chefes conhecia pessoalmente desde 1905. Descreviaos como 

jesuítas: do í socialismo, istO' é, capazes? de sacrificar pessoas inocentes, mesma qüe da; mesma, orientação, pois os: grandes fins justificavam todos osineios. >Arndt não era marxista convicto, embora conside rasse? ;que, atét aquelas íéppca, fora Ivíarxi o; mais importante teórico do socialismo. Ele encontrou em mim álguétn assaz disposto a ouvir íalar, das. idéias socialistasnada, acreditava, eu, podia ser màis.importante do,. .que pôr .fim à. pobreza.

Arndt também se interessava .profundamente (muito mais do que meu pai) pelo movimento qiie os: .discípulos de Ernst Mach e 

 Wilhelm Ostwald haviam; iniciado,, aima sociedade cujos membros denominavam a si próprios^ “rnonistas’.5 ( e q u e tinha ligação com

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a célebre revista norteamericana The Monis t , de que Maçíl era colaborador). Os monistas. sentiamse atraídos pela Ciência, pela Epistemologia e pelo que hoje chamaríamos Filosofia da Ciência. 

.Entre os. monistas .de.: Viena, o 'ímeíosocialistaí, PopperLynkeus teve considerável número de seguidores, inclusive, Otto jNeurath.

A primeira obra, que li acerca do socialismo (provavelmente sob influência de meu amigo, Arndt;: meu pai. relutava em influen-ciarme) foi Looki ng; Backw urd, de Edward Bellamy. Creio que/ a  li quando tinha mais, ou menosdozeianos, e^oílivro ;muito me irnpres 

{ sionou. Arndt levavame a passeios^promo.vidos pelos monistas nosbosques de Viena,. e, nessas ocasiões, expunha e discutiamarxismo e darwinismo. A maior parte do ;que ele: .dizia.ficava* ;sem dúvida,

 , além de meu alcance; Mas era interessante e estimulante.Uma dessas excursões domingueiras dos marxistas realizouse 

no dia 28 de junho de 1914. Ao cair da noite, quando: nos aproxi-mávamos dos subúrbios de Viena, soubemos, que o arquiduque Fer dinando, herdeiro presuntivo da Áustria, havia sido assassinado em Sarajevò. Cerca de uma semana dçpois, minha mãe saiu comigo e minhas duas ■irmãs para gozar férias de verão em AltAussee, aldeia não muito distante de Salzburgo. Ali, rio meu décimo segundo ani 

| versário, recebi carta de mêu pai em que ele dizia sentir não poder| juntarse a nós, como pretendera, "porque, infelizmente, há guerra”

(“denn es ist leider Krieg”). Como a carta chegou no dia em que í houve a declaração de guerra entre a ÁustriaHungria e a Sérviají. parece que meu pai davase conta do que estava por vir.V  1 ' ^

4. A Primeira Grande Guerra

Tinha eu portanto doze anos quando começou a Primeira \ Grande Guerra; e os anos de conflito e suas conseqüências foram,r sob todos os aspectos, decisivos no que respeita a meu desenvolvi-

mento intelectual. Tornaramme um crítico das opiniões correntes,* especialmente das opiniões políticas.,

Claro está que, por aquela época, poucas pessoas sabiam o que a guerra significava. Corria por todò o país um ensurdecedor brado de patriotismo, peío qual até. mesmo alguns membros do nosso grupo, anteriormente alheio às provocações de guerra, foram envolvidos. Meu pai vivia triste e deprimido. Arndt, contudo, entrevia algo 

desejável. Esperava ocorresse uma revolução democrática na Rússia.I .Posteriormente, recordei com freqüência, aqueles dias. Antesda guerra, muitos. integrantes, de nosso grupo haviam examinado teorias políticas de cunho decididamente pacifista que, pelo menos,

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faziam fortes restrições ao sistema existente, e tinham dirigido críti-cas à aliança entre a Áustria e a Alemanha e à política expansio nista da Áustria, nos Bálcãs, especialmente na Sérvia. Desconcerta-vame o fato de que pudessem eles transformarse subitamente em defensores dessa mesma política.

Hoje entendo melhor tais coisas. Não havia apenas a pressão da opinião pública; havia também o problema das realidades divi-didas. E havia ainda o medo — o meda das medidas violentas que, na guerra, as autoridades têm de tomar contra os dissidentes, pois não há como traçar nítida linha divisória entre dissensao e traição. Na época, contudo, seriti grande perplexidade. Nada sabia, natural-mente, do que tinha ocorrido com os partidos socialistas da Alema-nha e da França; nadá sabia do modo por que o internacionalismo defendido por eles se hâvia desintegrado. (Maravilhosa descrição 

desses acontecimentos pode ser lida nos últimos volumes de Os  Th ibau l t ^ , de Roger Martin du Gard.)

Durante algumas semanas, sób influência da propaganda de guerra feita em minha escola, deixeime contaminar pela atmosfera geral. ’ No outono de 1914, escrevi um ridículo poema, “Celebração da Paz”, onde admitia que os austríacos e alémães haviam resistido vitoriosamente ao ataque (acreditava, então, que "nós” tivéssemos sido'atacados) e descrevia e louvava a restauração da paz. Conquanto não se tratasse de um poema de caráter muito belicoso, logo me 

envergonhei cóm a suposição de que; “nós” houvéssemos sido ataca-dos. Percebi que a agressão austríaca à Sérvia e a agressão alemã à Bélgica eram coisas terríveis e que um poderoso sistema de pro-paganda estava tentando persuadirme de que tais agressões tinha justificativa. No inverno de 191516, convencime — sem dúvida sob influência da propaganda socialista de préguerra — de que era má a causa da Áustria e da Alemanha, de que merecíamos perder a guerra (e de que, portanto, a perderíamos, como eu ingenuamente argumentava).

Certo dia, penso que em 1916, abordei meu pai com o fito de mostrarlhe uma justificação razoavelmente bem preparada dessa posição, mas ele foi menos receptivo do que eu esperava. Tinha mais dúvidas do que eu acerca dos erros e acertos da guerra e de seu resultado. Á um e outro respeito, cabialhe razão e, obviamente, eu vira as coisas de maneira demasiadamente simplificada. Não obstante, ele considerou com grande seriedade meus pontps de vista e, depois de longo debate, mostrouse inclinado a concordar com eles. O mesmo ocorreu com meu amigo Arndt. Depois disso, pou-cas dúvidas me restaram.

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A essa altura, todos os meus primos com idade suficiente com-batiam como oficiais do exercito austríaco, o mesmo acontecendo coro muitos de meus amigos. IVtinha mae continuava a levarnos para férias de verão nos Alpes e, em 1916, estivemos novamente em Salzkàmmergut — dessa vez em Isclil, onde alugamos uma pequena casa que se .erguia sobre um talude de madeira. Conosco esteve a irma de Freud, Rosa Graf, amiga de meus pais. Seu filho Hermann, só cinco anòs mais velho do que eu,, veio visitarnos, uniformizado, em sua última licença, antes de partir para a frente de batalha. Pouco depois, chegava a notícia de sua morte. O pesar da mãe— e' da irmã, a sobrinha favorita de Freud1— foi enorme. Fezme compreender o significado das longas e aterradoras listas de pessoas mortas feridas e desaparecidas.

Logo depois, ressurgiram as questões políticas.' A :velha Áustria havia sido um Estado multilingual: nela se reuniam checos, eslo vacos, poloneses, eslavos do sul (iugoslavos) e gente de . fala italiana. Começaram a surgir boatos de estarem os checos, eslavos e italianos desertando do exército austríaco. A desagregação começava. Um amigo de nossa família, que vinha atuando como auditor militar, falounos a respeito do movimento panreslavo, que, em razão de suas funçoês, estava compelido a estudar, e falounos de Masaryk, 

um filósofo saído das universidades de Viena e Praga que se tornara líder dos checos. Soubemos de um exército checo formado na Rússia e integrado por prisioneiros de guerra austríacos, de língua checa. E soubemos de sentenças de morte pronunciadas em casos de trai-ção e do ambiente de terror em que as autoridades austríacas en-volviam as pessoas suspeitas de deslealdade.

5. Um antigo problema lilosófico: o infinito

De há muito acredito haja problemas filosóficos genuínos que não são meros quebracabeças nascidos do mau emprego da lingua-gem. Alguns desses problemas são infantilmente óbvios. Ocorreu que eu tropeçasse num deles quando era ainda criança, prova-velmente áos oito anps de idade.

Haviamme falado âcerca do sistema solar e do infinito do espaço (do. espaço newtoniano, é claro) e eu me senti perplexo: não podia imaginar nem que o . espaço fosse finito (que existiria, então, pára além deíe?), nem que fosse infinito. Meu pai aconse-lhoume a consultar um de seus irmãos, hábil, disseme ele, para expli car' esse tipo de coisas. Esse tio começou por indagar se eu tinha

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alguma dificuldade em imaginar uma seqüência de números que aumentasse continuamente. Disselhe que não. Ele me pediu então que imaginasse uma pilha de tijolos à qual se acrescentasse mais um 

tijolo, e mais outro, e assim por diante, interminavelmente; essa pilha jamais chegaria a ocupar todo o espaço do Universo. Con-cordei, de maneira algo relutante, que se tratava de . uma resposta conveniente, embora ela não me satisfizesse por completo. Claro está que eu nao tinha como formular as dúvidas que ainda me  assaltavam: tratavase da diferença, entre infinito real e infinito potencial, e da impossibilidade de reduzir o infinito real ao poten-cial. O problema faz parte (a porção espacial) da primeira anti-nomia de Kant e é (especialmente se lhe acrescentarmos a porção temporal) um problema filosófico difícil e ainda não resolvido6— sobretudo depois que mais ou menos foram abandonadas as espe-ranças que Einstein teve de solucionálo. pela demonstração de que o Universo é um espaço riemaniano fechado, de raio finito. Não me ocorreu, naturalmente, que minha perplexidade dizia respeito a um problema em aberto; muito ;aó; contrário, imaginei que se tratasse de questão que um adultò inteligente — mèu tio, por exem-plo — deveria entender, ao passo que eu era ainda muito ignorante, ou talvez muito jovem ou muito estúpido, pára compreendêlo intei-ramente. Lembrome de numerosos problemas . semelhantes — pro-

blemas genuínos e nao quebracabeças — enfrentados mais tarde, quando eu tinha doze ou treze anos: ò problema da origem da vida, por exemplo, deixado em ; aberto pela teoria darwiniana, e o de saber se a vida é simplesmente um processo químico (optei pela teoria de que os organismos são chamas) .

Esses, creio eu, são problemas quase inevitáveis para quem, criança ou adulto, tenha tido contato com Darwin. O fato de o trabalho experimental estar relacionado com eles nao os torna pro-blemas nãofilosóficos. E de modo algum devemos decidir, do alto de nossa suficiência, qué os problemas, filosóficos não existem ou que são insolúveis (embora talvez sejam dissolúveis).

Minha atitude perante esses problemas permaneceu invariável durante muito tempo. Sempre imaginei que as questões que me preocupavam tivessem sido há muito resolvidas; jamais imaginei que qualquer delas ; pudesse ser nova. Eu não duvidava de. que pessoas como o grande Wilhelm Ostwald, editor da revista Das monistische  Jahrhundert  (i. e. “O Século do Monismo”) ; conhecessem todas as respostas. As dificuldades, julgava eu, deviamse, totalmente, à mi-

nha compreensão limitada.

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6 . Minha primeira falha filosoficá: o problema do essencialàsmo

Lembrome perfeitamente da primeira discussão da primeira 

questão filosófica que se. tòrnou decisiva para o meu desenvolvi-mento intelectual. A questão surgiu devido à minha. rejeição da atitude de atribuir importância a pal av ras, e seu si gni fi cado  (ou seu. .“ verâàâeiro.■significado” ).

Eu deviá ter quinze anos, aproximadamente. Meu pai havia sugerido que eu lesse alguns volumes dà autobiografia de Strindberg. Não me recordo quais foram as passagens que melevaram. a,. con-versando com meu pai, criticar o que eu/Considerava uma. atitude obscurantista de Strindberg: sua tentativa de extrair algo impor-tante do “verdadeiro” significado de alguns vocábulos. Tenho lem-brança, porém, de que me senti perturbadò em verdade; choca-do — ao perceber que meti pai, enquanto eu formulava minhas objeçÕes, não se dava conta de minhas posições. Q ponto me parecia óbvio é, de fato, cada vez mais óbvio, na medida em que o expunha no correr da discussão. Quando interrompemos o diálogo, tarde da noite, compreendi que minhas idéias não tinham provocado muito impacto; havia de fato entre nós um abismo, que concernia a uma questão importante. Lembrome ‘ de que depois dessa discussão pro-curei convencerme a mim mesmo da. necessidade de. ter sempre presente o pr i ncípi o de j amai s discut i r a respei t o de palav ras e seus  significados, porque as discussões desse gênero, além de especiosas, são destituídas de importância. Lembrome ainda de haver, ima-ginado que esse princípio simples devia ser bem conhecido e ampla-mente aceito: suspeitei que meu pai e Strindberg tinhamse esque-cido de acompanhar os tempos.

Verifiquei, anos depois, que fora injusto com ambos; a erença 

na importância das palavras e de seus significados, particularmente das definições, era quase universal. A atitude que mais tarde deno-minei “essencialismo” está ainda hoje muito disseminada e a frus-tração sentida nos anos de escola tem voltado a perseguirme com freqüência recentemente.

A sensação de que eu havia , falhado repetiuse, pela primeira vez, quando tentei ler alguns, livros de Filosofia da biblioteca de meu pai. Descobri que a atitude de Strindberg e de meu pai. era, em verdade, muito generalizada. Isso gerou dificuldades para mim e certa aversão à Filosofia. Meu pai haviame sugerido que eu lesser obras de Spinoza (uma cura, talvez), Infelizmente, não li .as. Cartas, mas a Ét i ca  e os Pr i ncípi os Segundo Descar t es  , obras , que' estão cheias de definições que me pareceram arbitrárias, inúteis ,e

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* • ^viciosasv (quando. chegavam a dizer alguma coisa). Disso, resultou uiria, ojeriza permanente pelas teorizações a propósito de Deus. (Á geologia, segundo penso ainda hoje, resulta da falta de fé.) Tam-bém. percebi que a semelhança entre os procedimentos geométricos 

 ,(a? Geometria riie Üavia fascinado, nos tempos de escola) e o more  geometrico  spinoziano era superficial. Kant era diferente. Embora eu achasse a Crít i ca  muito difícil, pude notar que não abordava problemas ilusórios. Após tentar ler (com .encantamento, mas, se-gundo imagino, sem clara compreensão do assunto) o “Prefácio” dâ segunda edição da Crít i ca  (edição. <ie Benno Erdm ann), lembro me de ter virado as páginas e de pérturbarme e surpreender~me cOm o singular arranjo das antinomias. Não compreendi o ponto em exame. Não entendia o que Kant (ou qualquer outra pessoa) queria dizer ao asseverar que a razão podia contradizerse a si 

mesma. Ainda assim observei, no quadro correspondente à primeira antinomia, que alguns problemas reais estavam em pau tá; e notei, com base no Prefácio, que era necessário compreender Matemática e Física a fim de debater tais problemas*

Neste ponto, creio que preciso voltarme para a questão subja-cente àquela discussão, cujo impacto sobre mim ténho presente ainda hoje. Tratàse de uma questão que contínua a separarme da maioria de meus contemporâneos e que, por haver assumido impor-tância vital em minha vida de filósofo, devo examinar pormenori-

zadamente, ainda que isso exija uma longa digressão.

7 . Longa digressão a respeito do essenciàiismo : aquilo que ainda me separa da maioria dos pensadorès contemporâneos

Dois são os motivos que me levam a considerar isto uma di-gressão. Em primeiro lügar, porque a. maneira pela. qual formulo minha posição antiessencialista, no terceiro parágrafo logo a seguir, é indiscutivelmente tendenciosa, pois resulta, de idéias muito poste-

riores aquelas que defendi na época a que alude, o capítulo anterior. Em segundo lugar, porque as partes finais do capítulo não visam propriamente a traçar a história de meu desenvolvimento intelec-tual (embora esse aspecto não seja olvidado), mas a discutir uma questão cujo esclarecimento me tomou praticamente a vida inteira.

Não pretendo insinuar que a formulação apresentada a seguir estivesse presente no meu espírito quándo eü tinha quinze anos de idade. Todavia, não vejo eomo definir1com maior precisão a atitude que adotei após ia discussão travada còm meu pai, referida na seção  

anterior.24 

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N unca se i ncl i ne a consi derar seri ament e probl emas relat i vos a  pal av ras e seus signi fi cados. O que deve ser encar ado com seri edade  sao questões de fat o e asserções a propósi t o, de fat osx teorias e hi pó- tesesf bem como os probl emas que elas resol vem e.. suscit am.

No que segue, aludirei a este conselho que dei a., mim mesmo chamandolhe minha exort açao !ant i ess encial i s t a .i . Dfiscóiisidefsnclò! a referência às teorias e às hipóteses (que deve ser;. provavelmente, bem posterior), a exortação traduz, com apreciável!/ fidelidade, os sentimentos que tive ao tomar consciência das armadilhas repre-sentadas pelas preocupações ou discussões em torno de: palavras £ seus significados. Aí está, segundo ainda hoje me parece,. ;.a. yia mais segura para a perdição intelectual: abandonar problemas reais em favor de problemas verbais.

Cumpre ressaltar, porém, que meus pensamentos acerca desse ponto estiveram, durante longo período, imersos na crença ingênua, mas firme, de que; tudo isso devia ser bem conhecido, particular-mente pelos filósofos, desde que estivessem suficientemente atualizados.

A crença conduziume posteriormente, quando passei a . ler com a devida atenção as obras filosóficas, à tentativa de localizar meu problema — o da relativa falta de importância das palavras —  entre os problemas tradicionais da Filosofia. Disso resultou minha 

decisão de que o problema estava intimamente associado ao clássico problema dos universais. Foi um erro de julgamento. Todavia, o erro índuziumè a dar atenção ao problema dos universais e à sua história; Convencime bem depressa de que por trás do clássico problema das palavras universais e deseus significados (ou sentidos, ou denotações) havia um problema de maior profundidade e impor-tância: o problema das leis universais e da sua verdade, isto é, o problema das regularidades.

O problema dos universais é tratado, ainda hoje, como se fora um problema acerca de palavras ou de usos da linguagem; ou de similaridades que se manifestam em certas situações e de como elas se põem em correspondência com similaridades de nossos simbo-lismos lingüísticos. Pareciame óbvio, entretanto, que o problema tinha muito maior, alcance; qúe ele dizia respeito, fundamentalmente, a reações simi l ares, em situações biologicamente similares, Uma vez que todas (ou quase todas) as' reações, biologicamente falando, possuem um valor antecipatório, somos levados a considerar o proble-ma da antecipação ou da expectativa

e,por conseguinte, o problema 

da adaptação às regularidades. : Em toda a minha vida não apenas acreditei na existência do 

que os filósofos denominam “mundo exterior** como também con

- : — ' ' ....... - ....................................................... - ........• 2 3

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pjosiçãò ^GontráriÈt como indigna de: .ser encarada com ' :)^ ^ M fe r1?Sissa' íãb; .quer dizer que eu não tenha discutido a questão comigo: inéàrno ou que não tenha tentado analisar, digamós5 o “mo :nismo neutro” e outras posições idealistas semelhantes. Contudo, 

sempre :fut um adepto do realismo e isso meLpermitiu notar que o termo s(t real i smo”  era empregado, no contexto da questão dos uni-versais; com. significado bem peculiar: para indicar concepções:opostas ao nominal ismo . A fim de contornar dificuldades oriundas dèsse* modo de entender o vocábulo, inventei o termo “ essenciài i smo”  ■■(que provavelmente surgiu quando èu escrevia The Pover ty  .of  Histoi ic ism  , em 1935; ver “Nota Histórica*\ na edição em livro) para indicar qualquer concepção (clássica) oposta ao nominal ismo  , particularmente às teorias de Platão e de Aristóteles (e a “intuição, 

das?.essências”, de Husserl, entre os modernos);Pelo menos dez anos antes de escolher esse nome eu já havia  

tomado, consciência .de que o: meu problema, diversamente do que sucedia, com o clássi,co problema, dos universais (e sua variante biológica), era ^ ni pTo bl em a.demêt od a. Com efeito, o que eu pro-curara; gravar .na mente, era uma, exortação, a pensar ou agir de uma;;dada! .maneira :e ínãor de outra*. Essa ai razão pela quãl, muito

e “antiessencialisma”, eu j^^a^a^rtquaUÊicado ;‘‘ rninaHsmo’! xomo. termo de caráter “me-

todológico”, utilizando a> expressão “nominalismo metodológico” p^afídesignarv a^ tit)iid% caracterizada pela exortação. (Penso, hoje, que;;:p;. nqme. ,é; uni pouco enganador. A escolha de “nominalismo” resultou da, tentativa de comparar minha atitude com certas con  cepções. conhecidas ou da tentativa de pelo menos encontrar seme-lhanças entre a atitude e alguma daquelas concepções. Todavia, nunca aceitei o “nominalismo” clássico.),

. No início da década iniciada em 1920 travei duas discussões que tiveram certa influência nessas idéias. A primeira com o eco-

nomista e teórico político Polanyi. Karl Polanyi acreditava que aquilo que eu chamava “nominalismo metodológico” era típico das Giências. Naturais, mas não das Ciências Sociais. A segunda dis-cussão, que ocorreu um pouco mais tarde, traveia com Heinrich Gomperz, pensador de idéias muito originais e vasta erudição, que muito me impressionou ao descrever minha posição como “realista”, em ambos os sentidos da palavra.

 Julgo, agora, que tanto Polanyi como Gomperz estavam certos. Polanyi, porque as Ciências Naturais estão, isentas, em grande parte, 

de debates verbais, ao passo que o verbalismo. campeava (e ainda campeia) sob muitas f o r m a s nas Ciências Sociais. Mas isso não

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é tudo. Eu deveria dizer7a que as relações sociais pertencem, de múltiplas maneiras,: ao que em épocas recentes denominei 4‘terceiro mundo”, ou melhor, "mundo3”, o mundo das teorias, dos, livros, das idéias, dos problemas; mundo que desde Platão — que o via como um universo de conceitos;— tem sido analisado essencialistica mente. De outra parte,' Gomperz estava certo, porque. ,um realista que admita a existência do “mundo.: exterior” acredita., necessaria-mente, num cosmòs; nao em um. caos*" acredita, para dizelò de outro modo, em regularidades. ‘E, conquanto’ eu .combatesse mais o essencialismo clássico do que o nòminálismo não me. dàva conta, na ocasião, de que, substituindo o problema ;da, existênciá de simi laridades pelo probiqma da adaptação' biológica âs. regularidades, eu de fato me aproximava do “reâlismò” e não do nomihalisrno.

A fim de explanar essas questões, nos moldes em que as coloco hoje, empregarei a tabela das idéias que publiquei em “On the Sources of Knowledge and Ignorance” 8.

IDÉIAS  

ou sèjit f 

ENUNCIADOS o u PROPOSIÇÕES 

ou TEORIAS

DESIGNAÇÕES ou TERMOS 

ou CONCEITOSpa depi ser for pm làdas 

• em 

PALAVRAS 1 ASSERÇÕ ES

que po dem ser 

SIGNIFICATIVAS j VERDA DEIRAS

más çu j a 

SIGNIFICAÇÃO | VERDADE

se r eduz, p o r rt ièi o d e  

DE FIN IÇÕ ES . j DEDUÇÕES

 à de 

CON CEITO S NÃODEFINIDOS. |’ PROPO SIÇÕES PRIM ITIVA S

a t ent a t iv a de estabe lecer {em vez de redu z i r )  por iats metos seu 

S IG N IF IC A D O | , V E R D A D E

conduz a umâ regr essão  i n f i n i t a  

27 

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í? j©;quadro é;.trivial:. está bem firmada a analogia lógica entre a coluna àa. esquerda  e a da direi ta . Contudo, esse quadro permite 

^situai; minha exortação, que pode ser assim reformulada:. ' • Em que pese a perfeita analogia lógica •entre a coluna da es- querda e a col una da di rei t a, a pr imei ra éfi l osofi cament e dest i t uída  ãe~import ancia, ao passo que a segunda e fi l osof i camente essenci al 9.

Isso implica que as filosofias do significado e as filosofias da linguagem (na medida em que se preocupem com palavras) seguem trilha errada. No que concerne àos assuntos i nt el ectuai s, os úni cos  alvos dignos de persegui r são teorias? verdadeiras ou t eori as que se  aproximam da verdade — isto é, que estão mais próximas da ver-dade do que outras teorias rivais, mais antigas, por exemplo.

Acredito que a maioria das pessoas concordará com o que acabo de dizer; inclinarseão essas pesSoas, porém, a argumentar como segue. Saber se uma teoria é verdadeira, ou nova, ou intelec-tualmente signifiqatíva, é coisa que depende de seu significado; e o significado de uma teoria  (desde que formulada sem ambigüidades* de um ponto de vista gramatical) éuma função dos signi f i cados  das palavras em que a teoria évazada. (“Função”, neste contexto, assim como na Matemática, é vocábulo utilizado com o objetivo de dar conta dà ordem, dos argumentos.)

Essa maneira de conceber p significado de uma teoria parece  quase; óbvia; e amplamente acéita e, freqüentes vezes, inconsciente-mente acolhida10. Apesar disso, quase não há verdade, no que ela sustenta. Eu: a refutaria sem descer a minúcias, com a. seguinte fprtnulação:

A relação? ent re uxn enunciado ou uma t eor ia e as pal avras usa- das para f ormulál os e semel hant e, .sob vári os pr i smas, à relação que  vi ge: ent re palavras,, escri tas e as let ras ut i l i zadas  , para escrevêlas.

Obviamente^. as., "letras^ naç^ “significado”, no sentido em que a, têm as palavras j todavia, é indispensável conhecer as letras (ou seja,: seus “significados”, em. algum, outro sentido) para reco-nhecer as palavras; e, assim, discemlrlhes os significados. Aproxi-madamente, esm ole podè dizer de palavras e enunciados outeoriasv

s ’ As. letras, têm 'um papél meramente pragmático, ou técnico, na formação das palavras, No meu. entender, as palavras também de-sempenham um : papél ^simplesmente pragmático, ou técnico, na for-mulação de teorias» Assim, ietras^e palavras são. apenas meios para certos fins (e fins diversificados).: E os únicos fins intelectualmente importantes, são; a formulação de problemas; a apresentação, em

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caráter de tentativa, de teorias que possam resolvei* esses problemas; e a discussão crítica de teorias rivais. A discussão crítica aprecia as teorias em termos de seu valor racional ou intelectual, como solu-ções para o problema em pauta* e no que diz. respeito. à sua verdade  

ou aproximação da verdade. A. verdade é o princípio regulador fundamental quando se efetua a crítica das teorias; outro princípio é a capacidade que as teorias têm. :de colocar e jesolver novos pro-blemas. (Ver, meu Conjectures and. Refutations;  capítulo 10.)

Há exemplos excelentes para mostrar que duas: .teorias, e X 2, apresentadas em termos: inteiramente diversos (termos: que não se traduzem de maneira biunívoca), podem ser. apesar ídisso; logica-mente equivalentes, a ponto de se poder afirmar que se trata de meras formulações diferentes de uma: única teoria>. Isso atesta que 

é errôneo encarar o “significado” lógico dec mmà teoria ;como algo que se determine pelos “significados” das palavras. (A fim de esta-belecer a equivalência entre T 1 e T 2, pode ser necessário construir uma teoria mais ampla, T 3, na qual Tx e T 2 venham a ser tra duzíveis.' Sirva de exemplo um conjunto de axiomatiz&ções diversas da Geometria Projetiva; outro exemplo é dado pelos formalismos da Mecânica . Quântica, em termos de partículas ou em termos de ondas, cuja equivalência pode ser fixada quando os dois formalismos sao levados parà a linguagem dos operadores.)11

É óbvio, naturalmente, que a alteração de uma palavra pode produzir alterações radicais no significado de uma teoria ou de um  enunciado, exatamente como a troca de uma letra pode modificar de todo o significado de Uma palavra e, assim, modificar uma teoria, fato que qualquer pessoa compreende, se já se interessou, digamos, pela interpretação dos textos de Parmênides. Todavia, os enganos de copistas ou de linotipistas,conquanto fatalmente desnorteadores, podem ser corrigidos, via de regra, pelo exame do contexto,

Quem já se tenha dado ao trabalho de traduzir trechos escritos em outro idioma e tenha refletido sobre o tipo de esforço requerido, sabe que não existe uma tradução gramaticalmente correta e quase literal de qualquer texto iiiteressante. Uma boa tradução é uma i nt erp ret ação  do original; eu iria mais longe, afirmando que a boa tradução de um texto nao trivial deve ser uma reconstrução teoré tica. Deve incorporar até pequenos comentários. Toda boa tradu-ção tem de ser, a um tempo, próxima e livre. Incidentemente, é errôneo supor que as considerações de ordem estética não sejam 

pertinentes rias traduções de escritos de cunho teórico. Basta pensar numa teorià como. a de Newton ou a de Einstein para notar quão insatisfatória seria a tradução que fixasse o conteúdo da teoria se^u,

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 ;íoda,via 4trazer à. t ona  certas ; simetrias internas que ela apresenta. Se alguém ;lesse uma tradução em que tais simetrias nao se fizessem pi:esé.ntesji;,esse .alguém, ao descobrilas, “julgaria com razão que tinha umái iGontribuição original a dar, que havia descoberto um teorema, 

aind.á.que o teorema interessasse apenas por motivos de ordem esté-tica... (Motivos análogos: tornam preferível — mantendose outros fatores em pé de igualdade — uma tradução em verso das obras de Xenófanes, Parmênides, Empédocles ou Lucrécio, que se há de r e v e l a r m u i t o s u p e r i o r à t r a d u ç ã o e m p r o s a . ) 1 2

De qualquer maneira, embora uma tradução possa mostrarse imperfeita por não ser suficientemente precisa*, a tradução precisa  de um texto difícil simplesmente não existe. E se as duas línguas em tela tiverem estruturas diversas, algumas teorias poderão ser quase intraduzíyeis (como Benjamin Lee Whorf tão bem ressaltou). Ê claro que se as duas línguas se assemelharem tanto quanto, por exem-plo, o grego e o latim, a introdução de alguns poucos vocábulos novos tornará a tradução possível. Contudo, há casos em. que co-mentários minuciosos precisam; substituir a tradução 13.

Tendo em conta todos. essesr fatos* percebese quanto equívoco existe na idéia de linguagem precisa ou de. precisão de linguagem. Se nos, dispuséssemos a colocar “Precisão” em nosso Quadro de  I déias; apresentado acimaj fesse iermo: figuraria.na coluna da ésquerda (porqueaj precisão lingiMstica de ,uxn .enunciado, dependeria inteira , 

menter/d ^ ^ècis^ãòí;ídas palavras •utiUzadas^ vj.. ò termo teria por .cor respôndeiitè^na .cpluna, da direita,; algo como; “Certeza” . Todavia, não ,po|og.uéi{. çsse tennçs.. .jip:. quádro porque; desejei construílo de maneir;ã: ;a:. conservar ánte^almenteMO. y;alor da., coluna da direita; e a pi^ççisa^> : e z  ideais; impossível alcançálos, de modo,;:que;,ígles sef/íomamvp^iSP5 ??1 11 6 enganadores, quando aceitos, sem; críticaj na concÜção de guias. Persegui r . precisão êo mesmo que  perseguir certezas e, ambos, os; tobjetivos deverá ser .abandonados. ■

Não estou sugerindo, é, clarp, que lo aumento ,de. precisão nao 

possa, tornarse assazrdesejáyel. numa previsão ouna. formulação de .ç tas íMoçÕesÇ.r. e s t o u sugerindo resumese nisto:, ésempre And& ejaueUéf& zer: jesforços.. no, sent ido de. aument ar , a  pr.eçisãpj a bem.âel a^ r—: par t i cul arment e a: precisão l i ngüíst i ca  ■— po r que. isso l eva, de. .':}iabito.j._..a. uma. dimi nu ição da clareza, a uma perda de tempo e deílenergia..com. .aspectos secundários (que muitas vezes são., inúteis, pois^e^yeem^supexadospelo real avanço da matéria). N unca se. deve procurar rnaipr, precisão do que a exi gida: pela sit uação.

Creio poder, formular minha posição da seguinte maneira. Cada  

aument o de clareza t em, por si: mesmo, u m  valor i nt el ect ual ; o au- 

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ment o de precisão ou de exat i dão, ent ret an t o „ j<5 t em val or pragmá- tico  , de meio: para a. consecução de algum objetivo detérminado. Esse objetivo, geralmente, é uma maior possibilidade de prova ou de critica;, exigidos pela situaçãoproblema. (que pode exigir, por 

exemplo, a distinção entre duas teorias rivais que levam a previsões qüase indiscrimináveis)14.

Está claro que estas concepções diferem grandemente das idéias implicitamente defendidas por mm tos, filósofos da. ciência de nossos dias. A* atitude desses filósofos, no que concerne à precisão, remonta, creio eu, à época em que/Matemátiçare Físiea<erain vistas, comoas  Ciências Exatas: Cientistas £;.íü$sofjÇ>5 inclinações cientificas im-pressionaramse muito com a.preçi$ão; ,áè»á^^iâisç!çlinas. ; Sentiramse obrigados a acompanhar 011 a estimular essa; ‘‘exâtidâo’ esperando

 provavelmente que a. fertilidade surgisse como. .unia. espécie de sub-produto da precisão.. Todavia, a fertilidade nãò é decorrência da  exatidão, mas da percepção de novos problemas onde ninguém os havia' visto antes e da invenção de novas maneiras de resolvêlos.

Minhas observações a respeito da História da Filosofia contem-porânea, eu as deixo, entretanto, para o final desta digressão; vol-tome, novamente, para a questão do sentido ou da significação de um enunciado ou de uma teoria. ,

Em que pese minhà exortação de não me envolver em que relas a propósito de palavras, estou pronto a admitir (um pouco desdenhosamente, talvez) que podem existir significados da palavra ^significado” que tornem, o significado de uma teoria inteiramente dependente das palavras utilizadas na sua formulação. (£, possível que a “denotaçao”, de Frege, seja um de tais sentidos, embora muita coisa dita pelo próprio Frege contradiga a suposição.) Também nao nego o fato de que, muitas vezes, é preciso entender as palavras 

para entender úma teoria (embora isso não seja, de modo algum, uma verdade geral, como o pode atestar a existência de definições•implícitas). Mas o que torna interessante ou significativa uma teoria

— aquilo que procuramos entender, se desejarmos entendêla — é algo muito diferente. Formulando a noção de modo meramente intuitivo e, pois, rudimentar, o que torna interessante uma teoria é a relação lógica vigente entre ela' e a situaçãoproblema prevale cénte^: a relação que mantém com teorias rivais anteriores, sua capa-cidade, de resolver problemas existentes e sugerir novòs problemas* 

Em outras ..palavras, o significado ou a importância de uma teoria, neste ; sentido,: depende de contextos muito amplos, embora, é claro, o interesse :de tais contextos dependa, por sua vez, das várias teorias, problemas e situações problemáticos de que se componha.

n .

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É interessante notar que essa idéia aparentemente vaga (e, po derseia dizer, “holicista”) da importância de uma teoria pode ser analisada e consideravelmente, esclarecida em termos estritamente lógicos — com o auxílio da noção de cont eúdo  de um enunciado ou de uma teoria.

No geral, estão em uso duas idéias de conteúdo muito diversas, aparentemente* sob um prisma intuitivo, porém quase idênticas sob um prisma lógico, e que denominei,, algumas vezes, de “conteúdo  lógico” e “conteúdo informativo ” ; a uip caso particular deste último tipo de conteúdo também chamei '‘conteúdo empírico”.

O conteúdo lógico dé um enunciado ou de uma teoria podeidentificado ao que Tarski denoitxinou “classe das conseqüências” (ou “çlasseconseqüência” ) , isto é, a classe de todas as conseqüên-cias lógicas (mas riãotáütológicas). deduzíveis do enunciado qu. da 

teoria. ■ . VParia, compreender o conteúdp, informativo  (comò o chamei), é 

preeiso considerar a noção, intuitiva, segundo a qual enunciados ou teorias tanto mais afirmam qúantò “ mais. proíbem” ou excluem1S. Essa idéia ihtuitiva: nos leva ã: ;uma definição de conteúdo informa-tivo que, para niüitôs, pareccu ãbsurda:. o conteúdo informativo de  uma teoria é o conj unt o de enunciados que se most ram i ncompat í- veis com a teoria 1B.

Podese ver de imediato, pórém, que os elementos desse con

junto, e os elementos do conteúdo lógica se' acham em correspondên-cia biunívoca: a cada elemento qüe se encontre num. dos conjuntos corresponde um elemento que se encontra nõ outro* ‘a saber, sua negação.

Percebemos, portanto, que se jumenta ou diminui a força lógica, ou o poder, ou a quantidade de informação de uma teoria, aumen-tam ou diminuem cçmcomitantemente seu conteúdo lógico e seu conteúdo informativo. Isso mostra que as duas idéias, sao semelhan-tes; há uma correspondência biunívoca entre o .que se pode asseverar 

a respeito de uma e o que se pode asseverar a respeito da outra. E  mostra também que minha definição de conteúdo informativo não .é inteiramente absurda.

Entretanto, há diferenças. Àssim, por exemplo, vale a seguinte regra de t ransxt i v iàaâe, no. que; respeita ao conteúdo lógico:  se b  e um elemento do. conteúdo de, a e se o é um elemento do conteúdo de bj então, o também é elemento ./da conteúdo de a. Embora exista, é claro, uma, regra, similar, para o conteúdq inf ormativ o  , não se trata de uma regra de. simples transitividàde como esta17.

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Acresce que e in f in i to o conteúdo de qualquer enunciado (não tautológico), uma teoria t , digamos. Gora. efeito, seja a, b, c, urxia lista mfniitci de enunciados:mdividviülmeritc? não acar-retam t  e que, aos pares, sejam contraditórios. (Para a 'maioria> .das teorias é viável considerar, por exemplo, a>:  ‘k> número . de. planetas é 0”; b :  “o número de planetas é .1” ; e. assim. ,ppr .diànte.) Resulta que " t ou a ou ambos31 se .deduz; ■ ; & & portanto, ao con-teúdo logico de .í; .ioutrgs..eijunciados da lista. Em decorrência; da'hipótese fonrmlacla a prppósito de a} b, c, . . ., resulta que nãb é possiyeí deduzia, üm de outro, qualquer dos enunciados do5.j)aresr de enunciados"jiá seqüência " t ou  a ou ambos” , ÍCt ou;; b  , Em'outras; palavras, rnenhumdesses enunciado^ acarreta qualquer outro. Seguese que o conteúdo 

' lógico • : r • . ; '

Esse iesultãdp sifcnples:.' íacerça.: do: conteúdo áógico <de iqualquer teoria nãotautòlógica é, naturalmente, bem conhecido. : A argur inenta.çãoi é trivial, porque se baseia numa operação corriqueira, em que ;se: aplica o conectivo lógico “ou”  (em seu sentido nãoexclu dente)18; daí decorre a suspeita de que talvez a questão da infini tude do conteúdo lógico também seja, em última análise, uma questão trivial.— que depende apenas de enunciados como “t ou a  

ou, um bo s  resultantes de triviais maneiras de enfraquecer t . En-tretanto, em. termos de conteúdo informativo, percebese, de ime 4|álo,*5C|ue. a. .situação nao e tão banal quanto parece.

*4 . imaiginese. que a teoria em pauta seja ,a teoria da grayfta^ãosjâe^tíeiA^on;; chamemola N . Nesse caso, qualquer enunciado jfifeómpátíyéli com: N  pertencerá ao conteúdo informativo de N . De-signemos por E  a teoria da gravitação de Einstein. De vez que as duas, teorias sao incompatíveis, cada uma dèlas pertence ao con-

teúdo informativo da outra: , uma exclui ou proíbe a outra.1 3stOi’Eevela, de maneira intuitiva, que a asserção de o conteúdo informativo de uma teoria t ser infinito não é nada banal: qualquer teoria incqm^patível.. .com t  e, pois, qua lquer ‘ teoria futura que venha  a sóbrepiifórjfr (num 'momento em que, digamos, certo experimento crucial nôs: h^ja legado, à decisão de abandonar t) pertence, obvia- mente, ao conteúdo informativo de t. Mas é . igualmente óbvio que não estamos eiri condições de conhecer ou de construir tais teorias por. antecipação. Kèwton não: podia vaticinar o surgimento da teoria de Einstein, ou das que a sucederam.

Tornase agora possível compreender o que se passa com o conteúdo lógico, onde a situ.ação é semelhante, embora um pouco

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menos. «cl^i^títuiti^nient^ .Jalando. Gomo E  pertence ao conteúdo informativo.^ áèrW, resulta qúe nãoE. pertence ao conteúdo lógico  de N ]  òu sejaviinSò^ií decorEe de <N, um fato que nao podia ser conhecido, obviamente, por Nèwton oü por qualquer outra pessoa, 

antés da :fòrmulaçao de E. J’:..' \ Esta situação curiosa eu a tenho descrito em minhas preleções, afirmando: núnca sabemos acerca de que falamos . De fato, quando forníulàmos umá teoria ou procuramos entender uma teoria, tam-bém formulamos ou tentamos compreender as suas implicações ló-gicas, isto é, todos ós enunciados que dela decorrem. Todavia, como

— sublinhamos, semelhante tarefa é impossível de concretizar: há uma  i nf i ni dade de enunci ados nãot ri vi ais impredi zívei s que fazem par t e  do : cont eúdo i nformat i vo de uma t eori a  e uma correspondente infi-

nidade, de enunciados que fazem parte de seu conteúdo lógico. Não é;:;p:ossível, pois, conhecer ou compreender todas as implicações de uma teoria ou a sua plena significação.

Aí está, no que respeita ao conteúdo lógico, um resultado sur-preendente, no meu entender, embora seja, no que concerne ao conteúdo informativo, perfeitamente natural. {Somente uma vez ehtontrei esse resultado formulado em letra de imprensa19, mas já  me referi a ele diversas vezes, por muitos anos, em minhas preleções.)  O resultado mostra que compreender uma teoria é, entre outras coi-sas, uma tarefa interminável e que, em princípio, há uma compreen-são cada vez melhor das teorias. Mostra ele ainda que, a fim de entender melhor uma teoria, é preciso, antes de tudó, descobrir as relações lógicas que a teoria mantém com problemas e teorias exis-tentes e que formam o que poderíamos chamar " si t uaçãoprobl ema” , naquele determinado instante do tempo.

Nao se nega que também haja a tentativa  de contemplar o futuro: procuramos, em verdade, descobrir novos problemas, susci-tados por nossa teoria. Mas a tarefa é infinità e jamais poderá ser concluída.

Percebese, pois, que a formulação que, como acentuei, devia sei* ‘"meramente intuitiva e, portanto, rudimentar”, pode ser escla-recida agora. À infinitude naotrivial do conceito dè uma teoria, tal como aqui a descrevo, transforma a importância de uma teoria numa questão que tem aspectos lógicos e aspectos históricos. Estes ultlmòs'"dependem daquilo que foi descoberto, em certo instante, à luz da situaçãoproblema prevalecente, acerca do conteúdo da teorià; •tratasse, por assim dizer, de uma projeção do problema histórico sobre üXGohteúdô lógico da teoria20.

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Em suma, há pelo menos um significado do “significado” (ou da, ‘•signiücância”), de uma ;teoriá: que a. torna dependente de seu contendo . e> por. .conseguinte,, imais . .dependente, das relações* que' mant^ni; tGpm:. oútrasi teoj^às do~ que ídosi ^significados; de quaisquer conjuntos cle;vocábulos* ^ wi;5

 Jí jí<

Uma^ USGà:^ÍIuSGÃ S lM & lèS ^ ék tê ri Snvfp^ik * í á X & à r :à «in i?V rvr rt ri irrrt

dê 'hájbito _;ho . còntekto*prõiblema; em queapareçam. ; (Nofârj pofêi*i* que "30 cruzeiros” é j Còmü  conceito so&iãlv ?õu %fcOriômiCO' um conceito muito variável: seu significado, há; /alguns^ãnos, era muito diverso daquele que possui hoje.)

 ;; Á òjuhiãò de Frege ê diferente. Com efeito, afirma ele: "Uma . definirão dè úm conceito ( . . . ) deve determinar, sem ambigüida-des, inativamente a qualquer objeto, se ele se acha ou nao subsu 

mido :;no conceito. ( . . . ) Para falar metaforicamente, cabe dizer:0 CcòriGeito deve possuir fronteiras bem delimitadas21: É claro,entretanto, que exigir esse gênero de precisão absoluta de um condèitò definido  requer, antes, que haja precisão nos conceitos dei? defi ríiens' ;e, mais ainda, que haja precisão nos conceitos pr im i- t ivos j óu não de f i n i do s .  Isso, contudo, é impossível. De fato, ou os noésost íconceitos primitivos* nãodefinidos, têm significados tradicio naisi Cque nunca sao* muito precisos) ou são introduzidos pelas cha mádàs^ “definições implícitas” — isto é, por vià da maneira por que 

serão ^utilizados no contexto de uma dada teoria. Esta segunda forrna de apresentálos — se é que necessitam de “apresentação”— parece a melhor. Entretanto, o ■significado dos conceitos passa a (depender, nesse caso, do significado da teoria e a maior parte das 

' teorias; admite mais de uma interpretação. Em conseqüência, os impHcitamente definidos (e, com eles, os conceitos expii 

 ;éi|ãiíièníe Sjdèfinidos. por seu intermédio) tornamse não apenas “va •gSi JÇnas sisf emat i cament e ambíguos. E as várias interpretações 

sis^maitíjsamente .ambíguas (como os pontos e as retas da Geometria P^ojeti^a) .pod,em ser completamente distintas.

?,f ’ /l§ 0^ a s % para.; estabelecer a inexistência de conceitos “sem ambigüidad^síoU:'; dea conceitos “de fronteiras nítidas”. Não é pre

- • 35 

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•7tásp, •• íquefe nos ''.espantemos' diante de ■observações como a der’jÍlüfÍ0Í:d;^Aã Ttuesdelfc a respeito das leis da Termodinâmica: “Qual-quer, físico^sabe^exataménte ò que significam a primeira e a segunda 

 ;jv]d&d^ termodinâm ica; entretanto, ( . . . ) não há dois deles que se ganham de acordo quanto a tais significados” 22.

Sabemos, hoje, que a escolha de termos naodefinidos, tal como a ;êscolha de axiomas de uma teoria, pode ser arbitrária em grande pàrte. Frege estava enganado no que concerne a este ponto, pelo menos' até 1692: acreditava existirem alguns termos intrinsecamente não^definíveis, porque “aquilo que é logicamente simples não admite Uma definição apropriada” 23■ Todavia, o que ele imaginava ser üiti exemplo de conceito simples — o conceito de “conceito” — reve-louse bem diverso do quê ele supunha. Transformouse em conceito que se assòcia ao de “conjunto”, e poucos se atreveriam,, atuais 

mente, a e,ncarálo como simples ou destituído de ambigüidades.Sem émbargo, a busca ilusória prosseguiu. (Refirome ao inte-

resse pela coluna da esquerda de minha Tabela de Idéias.) .. Ao escrever Logi k der Forschung, imaginei que a busca dos significados de palavras estava prestes a encerrarse. Falso otimismo, pois a busca, em verdade, ganhava ímpeto24. A tarçfa da Filosofia era caracterizada, cada vez mais amplamente^ como relativa a signifi-cados, sobretudo ao significado de palavras. E ninguém contestava a. sério o dogma implicitamente aceito,, de que o significado de um

enunciado, pelo menos em sua formulação maisexplícita e desti-tuída de ambigüidades, dependia (era; funçaò) dos significados das palavras que encerrasse. Isto se aplicá não apenas aos analistas da linguagem, na GrãBretanha, mas também a todos os que, seguindo os passos de Carnap, sustentam caber à Filosofia a tarefa da “eluci-dação de conceitos”, ou seja, a tarefa de tornar precisos os conceitos. Contudo, não exi ste o que se possa denomi nar “ el ucidação” ou con- cei to " expl i cado13, ou “ preci so13. .

O problema, todavia, continua de pé: que fazer, a fim de

tornar claro o significado, se se impõe maior clareza, ou a fim de  tornálo preciso, se a precisão for necessária? Eis a diretriz principal, à li# de minha exortação: toda iniciativa que se tome para aumen-tar a clareza ou a precisão temde ser ad hoc ou “gradual”. Imagi-nese que surja algum, malentendido em virtude da falta de clareza; nap/ Se deve procurar fundamentos novos e sólidos sobre os quais erigir um preciso "sistema de referência conceptual’V e sim pro-curar, ^reformulações ad hoc, que contornem esse malentendido já píiesentevOU que:. visem à evitar o surgimento de malentendidos se

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poderão■l ft .íi.Éti fíí í!r!l:cWírfii^ií^á^wr\rríKTÁíri 0v:. :ri v*s/Ir*_ riã.Ó Slir ltloS J 'citS 

evoliição da teoria pode armas intelectuais de que

.. |aGuM^|Mêsi^^^âí^i;iiè!? itíj Íifífear, é; quase certo que as pessoas 

 ; o . conceito de simultaneidade antes das«k* Einstein (as assimetrias nâ Eletrodinâ . jamais chegariam à “análise” .einsteiMÍana^ (€ ãò'í'íS'è!. limagine que eu esteja endossando a idéia, ainda íiojé1?iriúito freqüentemente defendida, de que a descoberta de Einstein fqi a; (“análise operativa”. Não foi. Vejase a página 20 de meu SlP# !1 "Sofiiety :[;1957.>(h) ] * e edições posteriores, volume. II.)

ÒHiiétodo: ad hoc de tratar os problemas de clareza e precisão, abordandoos de acordo còm as necessidades, pode ser denominado 'tt^ i i al i }ê ip ára dístingui*lo do método de anál i se, da nOção de que Tàf àn^íâév dá linguagem, como tal, está em condições de resolver problémâs%:u .de criar o arsenal de que possamos precisar no futuro. A ‘dialiàe nãò resolve problemas. Não pode resolvêlos, assim como a definirão •oví a explifcáçao ou a,, linguagem também não podem. Os probleíriâs são resolvidos com/ o auxílio, de novas idéias. Todavia, èxigtem, muitas vezes, novas distinções — que serão elaboradas ad  hoCj  diante ' dos objetivos imediatamente em vista.

=Esta longa digressão25 afastoume da linha principal de minha narrativa, à qual agora retorno.

' iíL •%v ano; Im portan te: marxismo, ciência e pseudociência•i\hJrâ Uà ^ i  óiímos^Uimos *e: terríveis; anos da guerra, provavelmente em

" "^ ^R éf ef âiG ils ááf^ásíche íê^; fornos ,[1 95 7( h )j ; álüdern às obras reuni-das írfb ígia lgra fji

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estabelecimentosv de^ensinò sécundário\da Áustria (chamados " Gim ^asiUtn^*},.!e^^*,ihoTmBile dictu* — Healgymnasium ")' era espantosa a•pejcdade: dempo,. embora, os professores tivessem bom preparo e ten XASs lii poÉ todas as vias, fazer das escolas as melhores do mundo. Não;te,ér;aí novidade para raim que o., ensino podia ser extremamente 

•aborrecido — horas e horas de tortura irremediável. (Os mestres írnuntóaramnie; nunca mais me aborreci. Nas escolas, descobriam •quândo os alunos pensavam em coisas diversas das que eram dis-cutidas, de modo que era preciso estar atento. Mais tarde, porém,se uma palestra se mostrasse monótona, podiàse ignorálae voltar aatenção para os próprios pensamentos.) Apenas em uma das maté-rias tínhamos um professor interessante e realmente inspirador. A matéria: Matemática; o professor: Phillip Freud. (Nao sei se era parente de Sigmund Freud.) Depois de dois meses de ausência, motivada pela enfermidade, constatei, todavia, que minha turma não; havia feito progressos de monta, nem mesmo em Matemática. Isso me abriu os olhos: comecei a pensar seriamente em deixar a escola.

A derrocada do Império Austríaco e as conseqüências da Pri-meira Guerra — a fome, as greves salariais em Viena, a inflação galopante — já foram descritas com: minúcias; Elas destruíram o mundo em que eu havia crescido. Teve início a fase da guerra civil, que culminou com a invasão dá Áüstria pelas tropas de Hitler e deu margem à Segunda Guerra Mundial. Eu estava com 16 anos quan-do a guerra terminou, e a revolução incitoume a preparar minha própria revolução. Decidi, era fins de 1918, que deixaria a escola e passaria a estudar por conta própria. Matriculeime na Universidade de Viena. Sem fazer o vestibular ( “Ma tu ra ” ) , foi admitido como ouvinte; após o vestibular, que fiz em 1922, torneime estudante regular da Universidade. Não havia bolsas de estudo, mas o paga-mento da matrícula era apenas nominal. E qualquer estudante podia acompanhar, os cursos que desejasse.

O período era de agitação, embora os levantes nao fossem anas políticos.' Eu ouvi o silvar das balas quando, por ocasião da Declaração da República Austríaca, òs soldados puseramse a atirar nos; membros do Governo Provisório, reunidos na escadaria do edi flício. do Parlamento. (Esta experiência levoume a escrever um artigo 'acerca.;da liberdade.) Havia pouco de comer. Quanto a roupas, a :máioria de nós só tinha recursos para adquirir velhos uniformes, adaptandoos para o uso civil. Raros eram os que, entre nós, cogi 

ta am, de,, uma carreira. Aliás, quase não existiam carreiras (exceto,  ;possiyelmente, numa organização bancária; mas a atividade comer

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' L>iroriavamonob a estudar e ay < ív. *r

 Jjnpcipaist. o socialdemocrático e ^W I^P ^lK á^ ^â ^^ ^M ^^ ^^ ljÈs^ g^ iigreg an do os nacionalistas

posteriormente r ^ ^ ^ i i c ^ ^ p a r ü d q . .d a . .Igreja 

ai£s^síí?à} eía^oHiman têmeíi te > çatólicâ) t denprninado^^çris

, f i i r - <rSl- K pj ■- , r 

S^âní’ YV~sbrr ~ ■* +rembora^fpss e, antisòcialista,,' Havia

 __  j»í£-iR,, r;.. ••••«'•---••••■•tíí.' ...- jb - . -- - ... -•- --........ ....... - _-dasíÇrêditioes BiÔhiSvftlãs" pelos" estudantes^ universitários socialistas.

w - • ■ ? , . , - t . V * r  r '

Ipca^ |muito semelhantes. Aléin disso, os oradores discutiamOs comunistas alegavam ter 

^•^^j|^^^^Uis>~|ntéa|pè^;|>àd£ià'tas pondo fim à guerra na Rússiadiziam eles, era seu alvo maior. Naquela 

Íuí &V‘ãm ‘ apenas em fãvor da paz como ainda, pelo :de propaganda, contra qualquer violência “des 

Dilrante vâlgum tempo, sobretudo em função do que “havia. dito,', suspeitei •dos comunistas. Na prima 

Çvíf’ra^'dã^l^l®,. .porém, convertimé, juntamente com outros amigos, 4 ^ ^ ^ :^ l á , : px'bjga^andà que faziam. Durante uns dois ou três méâes^consldèrêitne comunista.ü lc n "■T^ Z'. h ■ .■■} ■■'■ , _ . .

A 'deálusão. O incidente que me incitou a^ ^ ^ ^ .q ^ m u n i s m o e logo me afastou por completo do marxismo |^£;^m |dbs,.v.mais...iniportarrtes de minha vida. Alguns comunistas íiãviam sido detidos e se achavam na central de polícia de. Viena,  íifôti^ádbs por comunistas, alguns  rapazes socialistas, desarmados, faziam Hiihâ. mariif estação de protesto, a fim de ajudar os presos a fíififl 'Afaü ' tirõteio principiou. Vários jovens trabalhadores comu-nistas ísòcialistás" fòrani mortos. Fiquei horrorizado e chocado com  á "brulcLÜâà^ da polícia? e preocupado com minha participação: pelo 

: meiiòs èm_ princípio, na condição de marxista, parte da responsabili . >did|^^WítnÍLHâ.sT^ ^tèona. onarxista pede que a luta de classes sel :|^t Si£i|[d.%ffal£íiih;^e^sffiéleí’ar; a?jmp]antaçã° ,d°. socialismo. A tese ":^P^Í|ü^êíJâ;3èf^É|cá^|iO^\.ia, reVòlução possa reclamar algumas . número maior do que as de

-

s£ ~f   -

" — r<paE%> .da chamado socialismp^çiefttíflço’ tBèrguí}tei fa ^ 11% mesmo^se, esses. rcálçulos poderiam

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^.ser s tfeiiiadps ^éientiídeiat£íeaté’’. A experiência e, era especial, essa y iindag.açao . provocaram no meu íntimo uma permanente reviravolta 

depsentimentos. ,

í;i« ^ ^ ô m Unismo é. um credo que promete a concretização de um 

müiiclòíímelhor. Diz basearse em . conhecimento: conhecimento das  ; lêis íido; desenvolvimento histórico. Eu ansiava por um mundo me*Menos: violento e mais justo, mas tinha dúvidas quanto aò 

f sàher ‘ — o que eu imaginava ser conhecimento podia não passar de dlusão; Eu tinha lido, é claro, algumas obras de Marx e de Engels. Té^lasia entendido, porém? Examinaraas com olhos críticos, como •sé ?deve fazer antes de aceitar um credo que justifica seus meios tendo eiii conta um fim algo distante?

Preocupeime com o fato de não "só ter aceito, sem maior exame* 

uma teoria complexa, como também de haver, efetivamente notado alguns dos pontos que estão errados na teoria e na prática do comu-nismo. Eu reprimira, todavia, essas considerações —■ em parte para ser fiel aos amigos; em parte para ser fiel à “ c a us a ” ; em parte por-que há uma espécie de mecanismo a nos envolver com força cres-cente: uma vez feita determinada concessão, que sacrifique a cons-ciência intelectual, mesmo a propósito de algum aspecto de somenos relevância, não é fácil retroceder; procurase então justificar a falha em nome da fundamental grandeza da causa, que ' parece sobre-

pujar os . pequenos compromissos de ordem moral ou intelectual. A cadá pequeno sacrifício moral ou intelectual desse gênero, afunda-mos mais. e mais. Esta m os prontos^ nesse caso, para fazer novos ihyestimentos, a fim de não perder os investimentos morais e inte-lectuais já feitos em favor da causa. A situação se assemelha à de quem está preparado para empregar suas economias em busca, de lucros não muito honestos. '

Percebi de que maneira o mecanismo atuava em mim e. issò' me espantou. Percebi ainda de que mòdo atuava nos outros, parti-cularmente nos meus amigos comunistas. A experiência capacitoume a entender mais tarde muitas coisas que, de outra forma, eu não teria entendido.

Eu aceitara um credo perigoso; aceitarao sem crítica, dogma-ticamente. A reação principiou por, tornarme cético; depois, ainda qucvússo acontecesse num período curto, passei a combater todos os tipos de. racionalismo. (Essa é, segundo vim a notar posteriormente, uma reação típica dos que ficam desapontados com o marxismo.)

’ v;Aos 17 anos, torneime um antimarxista. Compreendi que o jiisrxisnio tinha cunho dogmático e que era incrível a sua arrogância,

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V.r.U*WlWAlJ,Vm\ -•V>WiXAV' ' VM' ÚVVJIUAUVAAAVVi. MWU»7IwlUlU11ALU

fi s ic a m e n te idêntico aos movimentos autoritários que «reoçjapr o nome de fascismo. .É claro que debati  Sí0 ^M ^ti|of c6 m ; jpe ti^/t^ leg as. M as foi só dezesseis anos mais tard e,  

emlé©Bo,'yque coffiécèi, -a. escrever acerca do marxismo, com a inten  pub licai; è^ ítrabalh os. E m consêqü ência, dois livros, ap are  

llJell^S^n^e Jj9%$il pi À $ 4 3 : The Povert y o f. H i st ori ci sm   e The Open ^Wo0BiB^ :£ jv emies.

 __ 

d©s?;*rnetis amigos e colegas marxistas, que davam por^ ^ g | S ÍÉ ^ ií d iç ã o d e ^ u tu ro s líderes da classe trabalhadora. Eles 

rp» sabia perfeitamente.) qualificações intelectuais que^ podiam afirmar era conhecerem, alguma 

ÍÍ|||l|í|i#fcnrâ' 'marxista — que, aliás, não conheciam a fundo espírito crítico. A propósito da vida de um 

p^^U M ã^ísfbía1 ainda menos do que eu. (Feio menos, eu ^ál^jfflí^Éieãfesi durante a guerra, numa fábrica.) Reagi ^|^ontra:séssa“presunção. Seritia que estava diante de uns 

^e qi^^ièêáíê havia dado (nem sempre mereci dam ente) ifllpipfàIÍ$j£e, por .conseguinte, decidi que me tornaria

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Operário ' Decidi também que nao procuraria tornarme influente em partidospolíticos, r . • • .

 ,1' r rFiz, de^fato' vaiiás teritativas no sentido de transformarme em operário. ívliiiha segunda tentativa ^falhou porque eu não possuía cójnpleíção física adequada, capaz de me permitir trabalhar dias seguidos, com uma picareta, no asfalto das estradas. Minha última tentativa foi de tornarme entalhado r. Isso não requeria condições físicas especiais, mas certas especulações teóricas interferiram no meu trabalho.

vt??vEste. é, provavelmente, o melhor ponto para falar de minha adrfiiração pelos operários de Viena e pelo movimento em que se empenhavam — liderado pelo partido socialdemocrático — , con-quanto eu encarasse o historicismo de cunho marxista defendido pelos líderes socialdemocratas como algo inteiramente errôneo 27. Os líde-res tinham o poder de inspirar, nos trabalhadores, uma fé inabalável na missão a cumprir, que seria (nada menos!) que a salvação da humanidade. Embora o movimento Vsocialdemocrata fosse èm gran-de parte ateu (ainda que um pequeno e admirável grupo se des-crevesse como socialista religioso), o que movia seus integrantes só pode ser descrito em termos de ardejite fé religiosa e humanitária. O movimento era de trabalhadores ■que tentavam educarse para cumprir a “missão histórica” a eles■destinada; que procuravam eman-ciparse a fim de. liberar a humanidade; que desejavam,, acima de 

tudo, acabar com a' guerra. Os poucos momentos de lazer eram utili-zados pelos operários, velhos e jovens, para freqüentar cursos de extensão ou para acompanhar as aulas das “Universidadès Populares” (Vol kshochsclíul en ) . Os trabalhadores preocupavamse com sua pró-pria educação e com a educação de seus filhos, tentando melhorar as condições de vida, sobretudo as de moradia. O programa era admi-rável. Em suas vidas, embora houvesse aqui e ali um toque de pedantismo, os; operários trocavam o álcool pelo alpinismo, o swing  pela música erudita, os romances policiais por leituras mais sérias. 

Asw atividades eram pacíficas, mas executadas numa atmosfera po-luída . pelo fascismo e pela guerra civil latente e. envenenada; e outros sirai, infelizmente, por confusas e repetidas ameaças, pois os líderes trabalhistas insinuavam que seria preciso abandonar os métodos democráticos e fazer uso da. violência — um legado da ambígua pòsiçao de Marx e Engels. Esse grande movimento e sua trágica destruição pelo fascismo impressionou vividaínente alguns observa-dores .ingleses e norteamericanos (por exemplo, G. E. R. Gedye 28)>■'ífContinuei socialista por vários anos, mesmo após rejeitar o 

marxismo; E se existisse um socialismo capaz de combinarse com

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V /’ daá^differêtrcasfiirále^istem ^entre o Ipensamento^ dogmático e^open "r f 3Sâ.m,eritop;cpitiBbíC £.***•’*   , ■ v.;.y .xfqfit is  t S t * £ s , * i > : ' J e . e>r Meuíj> ericontros icom ^a, ‘psicologia individual” 'de Alfréd Adlér

^ :: ^j| in |L.Apsj[ç4ttjÍi} e:A e»4J^^d^^p.i^ija^. emelhantes!. ao meu encontro embora tudo ocor

tJ"’' " " " ' p||iíi£Üj$ i(em 1919) 29.

oi .tjuè1Ísé?£páSsou‘ ;naquèle ano, não deixo de surpre !pode acontecer, em tão pequeno prazo, 

Hntelfeç.tual dè uma pessoa. Com efeito, foi nessafiâê mâ piSc i jqxiéí'ent&é* em contato com as idéias de Einstein, que

X ^tojaia^âiiÍj!, i Èffl.ilâifeía •dominante em meu próprio pensar — asT" " ■ =Vi]■. ’Y^'Y Jlông^V^r b^E?áÈnaís importante influência, talvez. Em maio de 1919, 

'^fV^tf^^e^^eâi^eS^inglfeSas'. puderam pôr à prova, com grande êxito, as ’ ipÉieyísõès> dé: fEitisteih relativas a eclipses. Com essas provas, surgiu 

;. J' ^/siibitameiíte: innã^ nova teoria da gravitação e. uma nova cosmologia, i ^ t y.àaoàGbmò” sünples' possibilidade, mas como real aperfeiçoamento das 

Y;: Jideias de? «NeAVtonj Como melhor aproximação da verdade.'^j^^^^iÃfetèin^íez, uma preleção era Viena a que compareci. Lem 

<Y 'blrfme*a£ienás dè que fiquei deslumbrado. O temâ estava bem acima " dà',jílíiiliá compreensão. Eu havia sido criado numa atmosfera na 

u'  qjaal a. mecânica newtoniana e a eletrodinâmica de Maxwell eram y acéitãsj, lado'a lado, como verdades inquestionáveis. Até Mach, que f Kiüóata I^ewton,. em seu T he Sci ence of M echani cs, combatendo a 

espaçQv absoluto e do tempo absoluto, acolhia as leis new é;| :'":%to^anas^ a lei da inércia, para a qual oferecera nova e^ST^fáse^ãnteiíinterpretação. E embora: Mach tivesse considerado a pos

rYS fedéV tióvos " conhecimentos, físicos e astronômicos, acerca de regiões do

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çspaço ^onde ocorriam movimentos mais rápidos e. mais complexos deívque os movimentosencontrados em nosso próprio Sistema Solar 30. A. mecânica de Hertz, por sua vez, também não fugia da linha newto niana, a não ser em sua forma de apresentação.

A idéia, de que a teoria de Newton espelhava a verdade resul tava, naturalmente, de seu êxito incrível, que culminara na desco-berta do planeta Netuno. O êxito era impressionante porque (tal como eu iria afirmar posteriormente) a. teoria de Newton reitera damente corri gia o mat eri al empír i co que procurava expl i car 31. Apesar disso tudo, Einstein conseguira apresentar uma alternativa, real, formulando, ao que tudo indicava; sem esperarpor novos expe-rimentos, uma teoria melhor. Tal còmo Newton, Einstein fizera previsões acerca de novos efeitos que s.e manifestariam no Sistema Solar (e fora dele) . E algumas dessas previsões, por ocasião das 

provas, revelaramse bem’ sucedidas.• . < Tive á. sorte de ser iniciado nessas idéias graças a. um jovem e 

brilhante estudante de Matemática* Max Elstêin, que viria a falecer em 1922, quando «ontavaapenas 21 anos de idade. Meu jovem amigo . não era um positivista .(como Einstein. o era e continuaria a^ér,durante, .bom, tempo),,: modq que:;se ■esforçava por sublinharosaspectos, .pbjetivos da teoriaeinsteiniàna:. o enfoque em termos de teoria ^os^campos j .à^Eletrpdihamiça è a Mecânica e seus novos tipos de 'conexão; ey,â.maravilhosa idéia, deuma nova cosmologia — um 

universo finito, mas ilimitado. Mas ressaltou que o próprio Einstein considerava^ íundamental para a " sua teoria o fato de ela acarretar a teoria newtóniana, dandoa como boa aproximação; sublinhou que Einstein, mesmo ao considerar sua teoria como um progresso em relação; à de. Newton, encaravalhe as propostas como simples passos em direção a uma teoria ainda mais geral; e chamou minha atenção para o fato de que Hermann Weyl havia publicado, antes das obser-vações feitas por ocasião dos eclipses, um livro (Raum, Zei t , Ma~  terie, 1918) em que formulava uma teoria mais ampla è mais geral que a de Einstein.

Não há dúvida de que Einstein tinha tudo isso em mente ao descrever, mais tarde, em outro contexto, que “não pode haver me-lhor destino para uma teoria física do que abrir inargem para uma teoria mais. ampla, na qual sobreviva, como casolimite” 32. Entre-tanto, o que mais me impressionou foi a explícita asserção dè Einstein, de que consideraria insustentável a sua teoria caso ela viesse.) a falhar em certas provas. Einstein escreveu, por exemplo, que “se o desvio das linhas espectrais para o vermelho devido ao

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potencial gravitacional não ocorrer, a teoria geral da relatividade será insustentável*’ 33.

Aí estava: Uma atitude., completamente diversa da atitude dogmá-

tica dé Marx, Frèud', Adler' e mesmo de alguns de seus. sucessores. Einstein: procurava ;éxperífàentos Cruciais, cujb acordo com suas pre Y ^ £ ^ ã o ,J ; teonà relatividade, mas^3 ;, íièèücòtpSi' '^roprio düiisil;hà eiii •■•aòsntüàr, revelaria aimpossibilidade <âè aceitarse a teoríà. ■’ .""'V

Eásâ '£ r a ^ & i ^ ,pieni#iça. Ela diferiapor completo dá atituele dògmátiga, ;què,gòii^  haver encontrado ‘verifièaçoes” de , teorias ;pre|liletaS:J\ , r

Gheguei, assim, em; £ins.de 1919, à conclusao ;de que. a atitude científica era uma atitude crítica, em que nao importam as verifica-ções, mas as provas cruciais — provas, que poderiam refutar a teoria em exame, conquanto jamais pudessem estabelecêla ou provála.

9. Primeiros estudos

Embora os anos que vieram após a Primeira Grande Guerra 

fossem anos sombrios para a maiòr parte de meus amigos e para mim, a época foi estimulante. Não que estivéssemos felizes.. Quase ninguém tinha perspectivas: ou planos para o futuro. Vivíamos num pais muito pobre, em que a guerra, civil era endêmica, recrudescendo cie quando „em quando: . Senti amonos, freqüentemente deprimidos, abatidos, desencorajados. Mas estudávamos e nossos espíritosman-tinhamse ativòs, progrediam. Liamos avidamente tudo que nos caía sob os olhos * havia debates, mudanças de opinião, estudo, análise 

crítica, meditação. Ouvíamos música, vagabundeávamos pelas belas montanhas da Áustria e sonhávamos com um mundò melhor, mais saudável, mais simples e mais honesto.

No inverno de 19191920, embora meus pais preferissem natu-ralmente que eú continuasse a morar com éles, passei a viver numa  ala abandonada de um antigo hospital militar, transformada pelos colegas nüma “casa de estudantes” extremamente primitiva. Não só desejava eu independência como tentava não ser um fardo para meu pai, que já passara dos 60 aiios e havia perdido todas as suas economias com a grave inflação de pósguerra.

Eu tinha, feito alguns serviços nãoremunerados na clínica de orientação de crianças de Alfred Adier; agora trabalhava de. maneira esporádijEa, também praticamente sem receber pagamento. : Geríás

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ajtijvddadesr eram árduas (pavimentação de estradasy. Mas eu auxi-liava alguns universitários dos Estados Unidos, que . se mostravam müito generosos. Minhas .necessidades eram ínfimas; não havia muita coisa para comer e eu não fumava nem bébia. A dificuldade mais 

difícil de contornar eram os preços das entradas para os concertos músicais. Os ingressos não custavam: muito (especialmente pára os que ficassem em pé), mas durante vários anos representavam uma despesa quase que diária.  à' 

Na Universidade, acompanhèi cursos em diversas disciplinas: História, Literatura, Psicologia, Filosofia, e até conferências na Fa-culdade de Medicina, Cedo, porém, deixei de freqüentar as aulas, exceto as de Matemática e de Física teórica. A Universidade con-tava, naquele tempo, muitos professores eminentes, mas lerlhes os 

livros era uma experiência incomparavelmente melhor do que a de ouvirlhes as conferências. (Os seminários destinavamse apenas aos estudantes mais adiantados.) Comecei também a abrir caminho por entre a Crít i ca da Razão Pura e os Prolegomena, de Kant.

Aulas fascinantes só as oferecia o ‘ Departamento de Matemática. Os professores, naqueles anos, eram wirtinger, Furtwangler e Hans Hahn. Todos os três eram matemáticos criativos, de renome inter-nacional. Wirtinger, que seria, segundo ’os rumores correntes, o mais genial dos três, paYeceume difícil de entender. Furtwãngler era es-

pantoso, pela sua clareza e pelo seu' domínio da matéria (Álgebra e Teoria dos Números). Mak for c<pm Hahn que aprendi mais. Suas aulas atingiam um grau de perfeição que nunca mais me foi dado encontrar. Cada uma delas era uma obra de arte: dramática na sua estrutura lógica; nenhuma palavra supérflua; clareza total; lin: guagem bela e polida.. O tema (e, em algumas ocasiões, o pro-blema) em foco vinha precedido' de estimulante escorço histórico. Tudo era vivo, embora, por força mèsmo da perfeição, um poüco distante.

Havia também o “Dozent” Helly, que ensinava Teoria das Pro-babilidades e por intermédio de quem soube, pela primeira vez, da existência de Richard von Mises. Posteriormente, veio da Alemanha, mas por prazo , curto, um jovem professor, Kurt Reidemeister, com quem estudei Álgebra Tensorial. Todos esses homens (salvo Rei-demeister, que não se importava com às interrupções e permitia que fizéssemos perguntas durante as aulas) eram semideuses. Estavam infinitamente além do nosso alcance. Nao havia contato entre pro-fessores e estudantes, a não ser os que já se houvessem qualificado 

para a dissertação de doutoramento. E eu não tinha nenhuma ambi-ção, nem mesmo esperanças, de entràr em contato mais estreito com

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aé[üè.las,?figurass .Não ipiaginava, .que, mais tarde, fosse ter relações ípesSíàaíss: /gòiíij Hahn, l^éll)5r...:.v:orb «Mises e com Hans Xhirring, que •çhsiiiava Física* Teórica. \ . ^ . ,,

?im^átüdér Matemática lfevadí* só pelo desejo de saber, achando 

que, nessa area, eià poderia 'aptehdér "alguma coisa acerca dos pa-drões de verdade • dediqueime ^ éla porque, paralelamente, meu interesse voltavase para a Física Tèóricár A Matemática era um assunto vasto e difícil e, se eu dy esçe?: alguma pretensão de tornarme matemático profissional,. muitq>^ed^^ . \Mas: não cul-tivava tal pretensão/ Se> ••phej^^*.àT:péiK^^ meu sonhoera fundar uma escola .em;;que;ps^jpvens; !pudess.ei^ jestudar sem abor recerse; em que fossem; estimulados va. áorinular}^ a discutilos* uma escola, eni quç Jiinguem precisafiaj .dar .atenção a 

discussões indesejáveis ém torno dè qüestõèff Üesiniei;essàrites,' uma escola em que não fosse preciso estudar com ò üriiçi>' objetivo de passar nos exames.

Fui aprovado no exame vestibular ("Ma t u r a ” )   em 1922, um ano depois daquele em que seria aprovado se não tivesse abandonado a escola. Todavia, a experiência ganha valeu o ano “perdido”. Tor-neime, então,. estudante regular e matriculado da Universidade. Dois anos mais tarde, consegui aprovação num segundo “M a tura” ;   

numa Faculdade de Educação, que me habilitou a ensinar em escolas primárias. Prestei o exame enquanto procurava aprender o oficio de entalhador. Posteriormente, qualifiqueime. para ensinar . Matemá-tica, Física e Química em escolas secundárias. Entretanto, como não havia vagas para professores, torneime, após concluir o aprendizado do ofício de entalhador, assistente social (Hor terz ieher)  , atuando junto a crianças desamparadas.

Durante essa fase, desenvolvi màis minuciosamente meus pen-

samentos acerca da demarcação ent re teor i as ci ent ífi cas  (como as de Einstein) e t eor ias pseudo cient ífi cas  (como as de Marx, Freud e Adler). Tornouse claro, para mim, que a cientificidade de um enunciado ou de uma teoria estava em sua capacidade de eliminar ou de excluir a ocorrência de alguns acontecimentos possíveis — de proibir ou impedir a ocorrência desses eventos: quanto mais uma  t eor i a proíbe, mai s eía di z  ..

Embora aí já estivesse, em embrião, a idéia do “conteúdo infor-

mativo” de uma teoria, com a qual se acha intimamente associada, não levei a investigação adiante; então. Preocupavame, porém, enor-memente o problema do pensament o dogmát i co e sua . rel açao pa ra 

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com o £ ej i sarji ento crít i co. O que importava, a meu ver, era a idéia, de que ;p: pensamento dogmático, por mim dado como précientífico, era um estágio necessário para atingirSe o pensamento crítico^ A crítica tem de ter, previamente, algo que criticar e isso, supunha, eu, devia ser o resultado de um pensamento dogmático.

Direi, agora, mais alguma coisa acerca do problema da demar- cação  e da solução que lhe dei.

(1) Tal como imaginei na primeira vez que,foi objeto de minha atenção, o problema da demarcação nao era o traçar fronteiras entre a Ciência e a Metafísica,. mas separar Ciência e pseudociência. Na-quela época, a Metafísica nao me interessava. Foi somente mais tarde que estendi meu “ cr i téri o de demarcação”  à Metafísica.

(2) Em 1919, minha concepção principal cra a seguinte; se alguém formulasse uma teoria científica, deveria dar resposta, exata mente como Einstein havia feito, a esta questão; “Sob que condi-ções eu admitiria que minha, teoria era insustentável?” Em Outras

•' palavras, que fatos concebíveis' eu aceitaria. como refutações ou fai seamehtos de minha teoria?

(3) Surpree;nderame o fátò de que os marxistas (que se consi-deravam cientistks sociais) e os estudiosos da Psicanálise' (de todas as correntes) estivessem em condições de interpretar quaisquer acon-tecimentos concebíveis comprovações de suas teorias. Esse fato, associado ao meu critériode demarcação, levoume a pensar que apenas as refutações intentadas, mas não bem sucedidas qua  refuta-ções, é que podiam ser vistas como “verificações”.

(4) Ainda mantenho a posição indicada em ( 2). Mais tarde, porém, ao prçcurar introduzir, ainda em caráter de tentativa, a no-ção de falseabilidade  (ou t estabi lídade, ou refútabilidade) de uma  teoria, entendendoa como cr i tério de demarcação, verifiquei que qualquer teoria pode ser “imunizada” (este excelente vocábulo se  deve a Rans Albert35) contra a crítica. Permitida a imunização,, qualquer teoria tornase nãofalseávél. Seguese que pelo menos 

algumas formas de imunização precisam ser excluídas.De outra parte, compreendi ainda que nèm todas as imuniza-

ções devem ser eliminadas, nem mesmo todas as que introduzam hi-póteses auxiliares ad hoc. Exemplificando; o movimento de Netuno poderia ter sido visto como falseamento da teoria de Newton. Sem embargo, introduziuse a hipótese ad hoc de um planeta exterior, imunizandose assim a teoria. A idéia foi feliz: a hipótese auxiliar .era passível de. prova ..(ainda que est^ fosse difícil) e resistiu pos-teriormente, com êxito cabal, às provâs a que foi submetida.

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2**  rlss©, mòstra nãò apenas que certos dogma tísmo produz,. frutos, , mèsmboém Ciência;, mas> . ainda, que st, falseabilidade;.\ou.■testabilidade rnaokjíóde.» ;ser vista, logicamente faliandò, reóino . .critêrit»; muito preciso. Tratet dessa: questão, de...májieira^mLnudosav no.rLo^ik^de^F.orschung.  

Introduzi' graus de testabilidade' te; : estes&se •frevelaram intimamente a^sóciados a;.:(graus de) conteúdo.^  ^urpreeà>dc^£exn^ite%:jf.érteis. V;o aumento: rde conteúdo transformouse.:mmi c it õi>: . aU;safc>.er?v:se valia a ; pena aceitar ou nao, tentativamente^. Áumá vdadaiihijaQtese ^uxiliar.’ Emborao assunto esteja; claramente' Vèíxposto no sLogik der Forj frhung, publicado em 1934|r'm üitá¥:^ disseniiniáram.GÓncernentes às?iiiriàasv^oíicel^DiÊ^.'' íde que euhavia introduzido, o falseamento como critério de significado, e não como critério, de demarcação. Em segundò; .lugar :. a ;vde>: que eu não  

percebera que a imunização é sempre possível^ riíeghgerifeiàndo, pois, o fato de as teorias nao' poderem ser descritas conto*‘f alseáveis”, já que todas podem ser salvas do falseamento. Em outras palavras* meus próprios resultados foram vistos^ segundo essas análises^ como razões pãra nao acolher o enfoque por mim proposto37.

(5) Como.uma espécie de sumário, é útil mostrar, através d. exemplos, de que maneira vários tipos de sistemas teoréticos se rela 

cionam com à testabilidade (ou com o falseamento) e os processos 

de imunização. .(a) Há teorias metafísicas, de caráter puramente existencial  

(amplamente discutidas em Conjectures and Refutat ions 38).(b) Há teorias como as da Psicanálise, de Freud, Adler e Jung, 

ou, ctigamos, semelhantes às doutrinas (suficientemente vagas) da Astrologia39.

(c) Há teorias que poderiam ser chamadas “destituídas de so fisticação”, como a de que “Todos os cisnes são brancos” ou a geo 

cêntrica “Todos os corpos celestes, excetuados os planetas, movemse em órbitas circulares”. As leis de Kepler (embora altamènte sofis-ticadas, sob muitos aspectos) caberiam na presente categoria. Essas teorias são falseáveis, conquanto os falseamentos sejam, está claro, contornáveis: a imunização é sempre possível. Contudo, a evasiva seria, de hábito, desonesta: consistiria, digamos, em negar que um cisne negro fosse um cisne ou em negar que um corpo celeste nao kepleriano fosse um corpo celeste.

(d) O caso do marxismo é interessante. Sublinhei, em meu 

O pen Soci et y 40, que a teoria marxista pode ser vista como teoria refutada pelos acontecimentos que tiveram lugar durante a Revolu-ção Russa, De acordo com Marx, as mudanças revolucionárias {êm

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início ná base, por asisim dizer: em primeiro lugar, alterámse os meios de produção; em seguida, as,,condições sociais de produção;  depois, o poder político; por fim, as crenças ideológicas, que são as últimas a se alterarem. Na Revolução/ Russa, entretanto, o poder político jfoi o primeiro a transformarse; em seguida, a ideologia (di-tadura mais eletrificação) produziu, alterações nas condições sociais e nos meios de produção, partindo do topo. A reinterpretação da teoria marxista da revolução permite contornar esse falseamento, imunizandose a teoria contra novos ataques; ela se transforma na teoria marxista vulgar . (ou sócioanalitica), de acordo com a qual os “motivos econômicos” e á luta dé classes impregnavam a vida social.

(e.) Existem, ainda, as teorias mais abstratas, como as de Newton 

ou de Einstein relativas à gravitação. São falseáveis — digamos porque perturbações previstas não são encontradas ou porque é ne-gativo um teste feito com radar, em substituição a observações diretas de eclipses. Essas teorias, diante do que pareceria, prima faci e, um falseamento, também podem  ser salvaguardadas, não só com certas imunizações desinteressantes mas, aindá$ por meio da introdução de hipóteses auxiliares passíveis, de prová (como no caso de tipo Ura noNetuno), que tornam o conteúdo empírico do sistema constituído pela teoria original e pelas hipóteses auxiliares, um conteúdo maior 

que o conteúdo da teoria original. Podese considerar isso como um aumento de conteúdo informativo — como Um caso de aurrtento  de conhecimento. Existem também, é claro, hipóteses auxiliares que nao passam de manobras imunizadoras evasivas. Estas diminuem o conteúdo da teoria. Tudo isto sugere uma regra metodológica:  não efetuar manobras que conduzam ao decréscimo de conteúdo (ou seja, para adotar a terminologia proposta por Imre Lakatos41, não aceitar “alterações degeneradoras do problema”).

10. Segunda digressão: pensamento dogmático e crítico;aprender sem auxílio da indtição

Kònrad Lorenz é o aútor dé uma bela teoria no campo da  Psicologia Animal, por ele denominada impr in t i ng  (“imprintação”) . Diz ela que os filhotes de animais possuem um mecanismo inato para chegar a conclusões inabaláveis. Assim, por exemplo, o ganso recémnascido considera “mãe” o primeiro objeto móvel que per-cebei' Q mecanismo ajustase bem a circunstâncias normais, apesar 

dei. ser um pouco perigoso para o animalzinho. (E pode ser peri-goso para o pai adotivo, como Lorenz também assinala.) Todavia,

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e um; mecanismo que da, bons resultados em condições normais,' >e que também dá bons resultados em certas circunstâncias não; intek ramente normais.

São importantes os seguintes pontos acerca da “impríntação” de Lorenz:

(1 ) Tratase de um processo — mas nao o único — de apren-dizagem por meio de observação.

(2) O problema resolvido pelo estímulo da observação ,é um problema inato; isto é, o gánsinho está geneticamente condicionado a procurar a mãe: espera vêla.

(3) A teoria ou expectativa que resolve o problema também é, 

até certo ponto, geneticamente condicionada: tem alcance maior que o da simples observação efetiva^ que se limita (por assim dizer) a deflagrar a adoção de. unia teoria que está, em grande parte, pré formada no organismo.

(4) O processo de aprendizado é não repet i t i vo, embora requeira cèr.to intervalo de tempo (um prazo curto 42) e exija alguma ativida-de normal, ou “esforço5^ por parte do organismo; pode envolver, portanto, uma situação que não se afasta em demasia da situação 

encontrada usualmente. Direi, de tais processos de aprendizado não repetitivos, que são “naoindutivos”, encarando a repetição como traço característico da “indução”. (A teoria do aprendizado não repetitivo pode ser descrita como seletiva  ou darwiniana, ao passo que a teoria do áprendizado repetitiyo ou indutivo é uma teoria de aprendizado pela i nst rução  , e é lamarckiana.) A questão, natural-mente, é de terminologia, simplesmente: se alguém insistir em con-siderar a impríntação como processo indutivo, eu terei apenas de alterar os termos escolhidos.

(5) A observação atua como 6 girar de uma. chave na; fecha-dura. O papel da observação é importante, mas o resultado alta-mente complexo está quase todo préformado.

(6) A impríntação é um processo irreversível de aprendizado:  não está sujeito a correções ou revisões.

Está claro que eu nada sabia, em 1922, acerca das teorias de Konrad Lorenz (embora o tivesse conhecido^ menino, em Alten berg, onde. tínhamos vários amigos comuns) . Usarei aqui a teoria 

■da impríntação como mero veículo para a exposição de ininhas con-jecturas que são similares, mas no entanto diferentes dela. Minhas conjecturas não diziam respeito a animais irracionais (embora eu tivesse sofrido influência de G. Lloyd Morgan e, ainda mais acen

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tuadameíite, de II. S. Jennings.43) , mas aos seres humanos, parti cularmehte às crianças. Eram as seguintes.

Os processos dê aprendizado, na maioria das vezes (ou sempre, talyez)^ consistem na formação de teorias, ou seja, na formação de expectativas. A formação de umà teoria ou de uma conjectura atra-vessa, invariavelmente, uma fase “dogmática” e., amiúde, uma fase “crítica”. A fase dogmática partilha com a imprintação os fraços típicos (2) a (4) e, muitas vezes, os traços (1) e ( 5 ) normalmente, porém, não possuí o traço (6 ). A fase crítica, por sua vez, corres  ponde a abandonar a teoria dogmática, em virtude de expectatiyas nãoconcretizadas (ou refutações), paràíàcolher novos idogmas. Notei qüe certos dogmas se enraizavam de taí maneira que ás refutações não os abalavam. É claro que, neste caso — e somente neste caso —, a formação dogmática de teorias se apróxiina bastante da imprintação, 

cujo traço típico é o (ô)44. Entretanto, eu estava inclinado a enca-rar (6) como uma espécie de aberração neurótica (ainda que as neuroses não me interessassem particularmente, pois. meu objetivo era a psicologia da invenção). Essa atitude para còm o item (6) mostra que aquilo que eu tinha em. mente nao era exatamente a  imprintação, embora se assemelhasse a esta.

Eu via esse método de formação de teorias como um método de aprendizagem através de tentativas .e erros. Entretanto, ao con-siderar “tentativa” a formação de um dogma teorético, eu não a  encarav a como uma tentati va al eatóri a.

É de intèi;esse examinar, o problema da aleatoriedade (ou não aleatoriedade) das tentativas — no procedimento de tentativas e erros. Tomemos um exemplo simples de Aritmética: a divisão de um número por outro, no caso em que tais números não figurem nas tabuadas que conhecemos de cor. A divisão é feita por tentativa e erro, mas isso não quer dizer que as tentativas sejam aleatórias, pois conhecemos a tabuada e sabemos, por exemplo, os resultados das multiplicações45 dos números de 1 a 10 por 7 ou por 8, Está claro que um computador poderia ser programado para dividir por  via de um método de seleção aleatória' de um dígito qualquer, dé 0 a 9, como tentativa e, havendo erro, passar para outro dígito aleatoriamen te escolhido (após iexcluir I o dígito qüe levou a erro) VEsse procedimènto, entretanto, seria obviamente menos adequado que um procedimento mais sistemático: na pior das hipóteses, teríamos de fazer com que o computador verificasse'o tipo de erro cometido na primeira tentativa; se o errosedjéyia à escolha de um dígito muito grande ou dé um dígito muito* pequeno, com o que se redu-ziria a gama de escolhas para a segunda tentativa.

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A idéia de aleatoriedade é, em tese,, aplicáveis esseí exemplo  de vez que há; uma seleção a fazer em cada pàSsodé uma^lònga divisão, a partir de um conjunto bem delimitado de possibilidades 

(os ^dígitos). Contudo, na maioria dos exemplos de. aprendizado; biologico, pelo. método de tentativa e erro, o número de possíveis  alternativas, ou sèja, o conjunto de reações possíveis (movimentos de qualquer grau de complexidade), não é dado por antecipação; e como não conhecemos os elementos desse conjunto, não é possível atribuirlhes probabilidades, o que séria indispensável para, . com alguma clareza, falarse em aleatoriedade.

Precisámos rejeitar, pois, a idéia de que o" método da tentativa 

e do erro opera, em geral ou normalmente, através de tentativas aleatórias; ainda que possamos, com certa habilidade, elaborar con-dições altamente artificiais (como a dos labirintos de ratos) a que se aplique a. noção de aleatoriedade . Ô fato de que a nóção seja aplicávelj porém, nao basta para estabelecer que as tentativas ;sejam de fató aleatórias; nosso computador pode perfeitamente adotar, com vantagens, um método mais. sistemáticopara a seleção dos dígi-tos ; e um rato no labirinto pode igualmente agir com base em prin-cípios nãoaleatórios.

De outro lado, em qualquer caso onde o método de tentativa  e erro seja usado para resolver problemas como o da adaptação (a  um labirinto, por exemplo), as tentativas não são, via de regra,determinadas, ou completamente determinadas, pelo próprio pro-blema. Elas também nao podem, a nao ser acidentalmente, antecipar uma solução (desconhecida) do problema. Na terminologia de D. T. Campbell, podemos dizer que as tentativas devem ser “cegas” (e eu creio preferível dizer que devem ser “ cegas em relação à so-

lução do problema” 46). Não é a tentativa, mas o método crítico, ou. seja, o método da eliminação do erro após a tentativa — o que corresponde ao; dogma — que nos dirá qüão satisfatória foi a supo-sição; que nos dirá, em outras palavras, se a suposição foi suficien tejnente apropriada para resolver o problema em pauta e se pode ser provisoriamente aceita.

Ainda assim, as tentativas nao são de todo cegas, relativamente ao que o problema reclama: o problema determina, muitas vezes, o 

âmbito em que as tentativas sao escolhidas (como no caso dos dígitos) :; Esse ponto é muito bem descrito por David Katz: “Um animal^£% ' minto separa as coisas do ambiente em duas classes, as; comestíveis e as nãocomestíveis, Um animal em vôo distingue vias; de: íug&^e? locais de abrigo.” 47 Além disso, o problema pode; alterár^e^erns;

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certa, medida,, face às tentativas bem sucedidas; pode, por exemplo, diminuir de âmbito. Mas há. casos diferentes, sobretudo no que tange aos seres humanos; casos «em que tudo depende da habilidade de. romper limites fixados por supostas fronteiras. Esses casos mos-

tram que a seleção do âmbito pode ser, ela própria uma tentativa (uma conjectura inconsciente) e que o pensamento crítico pode consistir nao apenas na rejeição de um a. determinada tentativa ou conjectura, mas, ainda, na rejeição do que pode ser descrito como con-jectura mais profunda — a suposição do âmbito de. “todas as tenta-tivas possíveis”. Isso é o que acontece, creio eu, em muitos casos de pensamento “criativo”.

O que caracteriza o pensamento criativo, a par da intensidade do interesse pèlo problema, pareceme ser, freqüentemente, a capaci-

dade de romper os limites do â m b i t o o u de alterar o âmbito —  a partir do qual'pessoas menos criativas selecionam suas alternati-vas. Essa capacidade, que constitui obviamente uma capacidade de critica, poderia ser descrita em termos •de imagi nação crít i ca. Muitas vezes, ela é resultante de um conflito'4de culturas, ou seja, de um conflito de idéias ou de esquemas de' referência em que as idéias se localizam. Conflitos desse gênero ajudamnos. a eliminar limitações que nos pesam sobre a imaginação.

As observações feitas nao podem satisfazer, porém, aos que buscam formular uma. teoria psicológica do. pensamento criativo ou uma teoria: da investigação científica. Com efeito, o que buscam é uma teoria do pensamento bemsucedido..

De minha parte, acho que. nao se pode formular; uma teoria do pensamento bem sucedido e que ela nao eqüivale à teoria do 

 / pensamento criativo. O êxito depende de muitos fatores — entre os, quais a sorte. Depende, por exemplo de encontrar um problema promissor. Depende de não se repetir ó que alguém já tenha feito. 

Depende da hábil divisão do tempo, a. fim de que se possa manter em dia os conhecimentos e, simultaneamente, burilar as próprias idéias*

No meu entender, porém, é essencial, para o pensamento “cria-tivo” ou “inventivo”, uma combinação de vários elementos: inte-resse profundo por um problema (e, portanto, vontade de tentar uma e outra vez) com pensamento altamente crítico; aptidão para considerar até mesmo aqueles pressupostos que determinam, para os menos criativos, os limites dentro dos quais as alternativas (conjec-turas) devem ser escolhidas; e liberdade de imaginação, que permita 

identificar fontes insuspeitas de erros: possíveis preconceitos quereclamem exame crítico.

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(Minha opinião é a de que.^uase todos os estudos acerca da psicologia do. pensamento criativo são, estéreis— ou antes, ,mais lógi-cos do que psicológicos. Isso porque o pensamento crítico, oü a eli-minação do erro, é mais fácil de caracterizar em^ermos; lógicos do 

que em termos psicológicos.) ... •••..'•*:•. . . . . XJma tentativa ou um novo " dogma’’ óu utna nova> “expec-

tativa ç fruto, pois, em grande parte, d&Jríiecessidad^ s^ina.ta.s, que originam problemas específicos, Mas também: é, iruto^dasmecessídade inata de criar expectativas (èm certas áreas determinadas que3 ,por seu turno, se associam a outras necessidades) como pode ser tam-bém, em parte, resultado de expectativas anteriores frustradas. /'Não nego, é claro, que possa haver certa habilidade pessoal* náfformação de dogmas' ou na seleção de tentativas, mas penso que a habüidade 

e a imaginação desempenham pápel mais relevante no processo  cri t i co de el imi nação de erro. Quase todas as grandes teorias, que se colocam entrè as supremas conquistas do espírito humano, são resultantes de dogmas anteriores somados à crítica. •

O que se tornou claro para mim, no que concerne à formação de dogmas, foi, em primeiro lugar, que as crianças (e especialmeriiè as. de tenra idade) ..necessitavam urgentemente de regularidadès iéco? nhecíveis à sua volta; havia uma necessidade inata nao só de ali-

mento e de amor cómo de invariantes estruturais discerníveis do ambiente (entre as quais estariam as “coisas”), de uma rotina assente, , de expectativas fixas. Esse tipo de dogínatismo infantil foi observado 

por Jane Austen: “Henry e John continuavam pedindo, a cada dia, que Se repetisse a estória de Harriet e os ciganos; e corrigiam tenaz mente [Emma]. . . se ela modificasse qualquer pormenor da narrativa original.” 48 Notei que havia, particularmente entre crianças de mais idade, certa alegria quando as variações se manifestavam, mas tais variações deviam situarse dentro de uma gama limitada de expec-

tativas. Os jogos, por exemplo, tinham esse caráter; e as regras (os invariantes) do. jogo não podiam amiúde ser aprendidas pela mera observação 49.

O ponto que eu sustentava era o de que a forma dogmática deviase a uma necessidade inata de encontrar regularidades e ã mecanismos inatos de descoberta, mecanismos que nos levam a buscar as regularidades. Uma de minhas teses era a de que, ao falar um pouco livremente de "hereditariedade e ambiente”, cornamos. .0 riscO de subestimar o imenso papel da hereditariedade — que, entre 

outras coisas, determina grandemente quais os aspectos do ambiente: objetivo (o nicho ecológico) que fazem ou nao fazem, partèi ijdò ambiente subjetivo, ou biologicamente significativo, de um; àniiiiàí;

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aí íDistingui três tipos principais: de processos de aprendizado, sendo  0 ; ::primeiro deles o fundamental:

(1) Aprendizado nó sentido de descoberta,: formação (dogmá-tica) de teorias ou expectativas,, ou comportamento regular, con-

trolado pela eliminação (crítica) de erros. . (2) Aprendizado pela imitação. Podese mostrar que esse apren-

dizado é um caso especial de (1).

(3) Aprendizado por “repetição” ou “prática”, tal como ocor-re quando se aprende a tocar um instrumento ou a dirigir um carro.  Minha tese, aqui, é a de qüe {a )  não^háj “repetição” genuína50, mas, em vez disso, (b )  alterações devidas à eliminação, dos erros (após

fa formação de teorias), e (c) um processo qué ajuda a tornar auto-máticas certas ações ou reações, permitihdo assim, que se mantenham  

em nível meramente fisiológico e sejàm realizadas sem requerer atenção. .'

A importância dé disposições o u . necessidades inatas para des-cobrir regularidades e. regras, pode ser avaliada num processo bas-tante estuaado: o aprendizado, He. uma língua pela criança. Temse, aqui, naturalmente,. um tipo; de aprendizado por imitação; o que mais surpreende nesse aprendizado preòoce é o fato de que se trata  de processo, de tentativa e eliminação de erro pela crítica, em que. tal eliminação crítica desempenha papel de grande relevância. O poder de necessidades e disposições inatas/ nesse desenvolvimento, pode ser mais bem observado nas crianças que, em virtude da surdez, não participam naturalmente das situações, de fala que ocorrem em seus ambientes. Os casos, mais convincentes são, talvez, os de crianças surdas e cegas (como Laura Bridgman ou Heien Keller) de que só ouvi falar mais tarde.. Reconhecidamente, mesmo nestes casos, há contatos sociais — como o de Héleh K.ellèr com sua professora — e também a imitação está presente. Mas a imitação de Heien Keller, soletrando o que sua professora lhe soletrava na mão, difere 

muito da imitação das crianças comuns, que repetem sons ouvidos durante largos intervalos de tempo, sons cuja função comunicativa  pode ser compreendida e assinalada até por um cão.

As grandes diferenças entre as línguas humanas atestam que deve haver, um importante elemento ambièntal no aprendizado da linguagem. Acresce que o aprendizado* de uma linguagem, por parte da criança, é quase todo elé ; um exemplo ~de. aprendizado por imi-tação. Contudo, a reflexão acerca dos 'aspectos biológicos da lingua-gem mostra que os fatores genéticos devem ser muito mais relevantes

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do que os ambientais. Concordo, pois, com.; a afirmativa de. Joseph Ghurch;^ “Embora parte da mudança que .ocorre na infância, possa ser explicada em termos. ..de maturaçaò física,. sabeínos' .que: esta se associa circularmente, em . processo de: realinienta.ção,à experiência — aquilo que o organismofaz, isente^ei^a^que peagei.r Não se negli-gencia com isso o papel da maturação^ iinsiste se íapenas em que não e possível vêla como simples: florescimento de? HGaraçtfcrísticas biológicas predestinadas.” 51 Discordo . porém, de: Churçh, quándo sustento que o processo de maturação, de tbàs.e genética, é, muito mais complexo e tem muito miaior influência ido:que;. .os sinais; defla-gradores e a experiênciá de recebêlos, embora um ^íimmóÁde ,tais sinais e experiências seja sem dúvida necessário para estimular o “florescimento”. Segundo imagino, o fato de Helen. Keíler com-preender que a palavra “água” soletrada, tinha Como significado aquilo que sentia com a mão e que já conhecia tão.bem^..tem;..certa similaridade com a “impríntação” ; mas há, a par disso, várias .dife-renças. A similaridade está numa inerradicável impressão ^causada nela e na forma pela qual uma única experiência libera disposições e necessidades enclausuradas. Uma diferença óbvia foi a gama .ex-traordinária de variações que a experiência abriu a Helen Keller e que a levou, com o tempo, a dominar a linguagem.

À luz dessas reflexões, duvido da exatidão dos comentários de Church: “O . bebê nao caminha porque seus ‘mecanismos de loco-moção’ hajam atingido um determinado estágio de desenvolvimento, mas porque conseguiu uma espécie de orientação espacial em que andar se tòrna um modo possível de . ação.” 52 Pareceme que Helen Keller não possuía orientação nò espaço lingüístico (ou, se cKpossuía, devia ser extremamente pobre) antes de descobrir que o toque dos dedos de sua instrutora denotava a água e de saltar, daí, à conclu-são de que certos toques teriam significado denotativo ou referencial. 

O que ali devia'haver era uma espécie de prontidão, uma disposi-ção, uma necessidade de. interpretar sinais; e uma necessidade de uma aptidão, pára aprender a usar tais sinais pela imitação, através do método de tentativa e erro (isto é, pelas tentativas naoaleatórias e pela eliminação crítica de erros no soletrar).

Parece que há disposições inatas, muito variadas e complexas, que atuam conjuntamente neste campo: a disposição para o amor, para a simpatia, para a imitação de movimentos, para o controle e 

correção dos movimentos imitados; a disposição para usálos e para, com sua ajuda, comunicarse; a disposição para empregar a. lin-guagem como veículo através do qual são recebidas ordens, adinfres1 taçÕes, avisos; a disposição para interpretar enuriciadoís descritivos

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é>formulálos. No caso de Heien Keller (em oposição ao que acon-tece _no Cáso de crianças nojmais), a maior parte de suas informações acerca da realidade chegoulhe através da linguagem.. Em decor-rência disso, ela não teve condições,' durante algum tempo, de dis-

tinguir claramente a imaginação (mesmo sua própria imaginação) dó que poderíamos chamar “ouvir 'dizer” e experiência: os trêselementos vinhamlhe no mesmo código simbólico53.

O exemplo do aprendizado da linguagem reveloume que meu esquemá de uma seqüência natural, em que uma fase dogmática vem seguida de uma fase. crítica, era ■um esquema demasiado sim-ples. Como ocorre no caso do aprendizado1 da linguagem, esuste claramente uma disposição inata para efetuar correções (isto é, uma disposição que favorece a flexibilidade, a crítica e a eliminação dos erros), que se vai enfraquecendo com o passar do tempo. A criança aprende que o feminino de “ladrão” é “ladrona” ; se, em seguida usa “barona” para o feminino de “barão”, èstá operando^com base numa disposição orientada no sentido de encontrar regularidades. A criança logo corrigirá seu. erro, provavelmente pela influência da crítica dos adultos. Mas parece haver uma fase, no aprendizado da linguagem, em que as estruturas lingüísticas se: tornam rígidas ■— possivelmente em virtude da “automatização” a que aludimos, acima, no item 3 ( í ) . •

Escolhi o aprendizado; da linguagem apenas como um exemplo em que se percebe de que maneira a imitação é ura caso especial do método de tentativa e eliminação de erro Também é um exem-plo do entrelaçamento de fases. de formação dogmática de teorias, formação de expectativas ou formação de regularidades de compor 

„tamento, de um lado, e de fases de crítica, de outro lado.

Embora seja excessivamente simplista a idéia de que existe uma fase dogmática a que se segue uma fase crítica, nao deixa de ser verdadeiro que não pode haver fase crít i ca sem uma f ase dogmát i ca  

anterior, fase em que algo se forma ——uma expectativa, uma regu- lari dade comport ament al  — de manei ra que .a el imi nação do erro  possa começar a at uar sobre ela.

Essa concepção levoume à rejeitar a teoria psicológica do apren-dizado pela indução, teoria que o próprio Hume perfilhou, mesmo depois de haver abandonado a indução, com base em considerações estritamente lógicas, (Nao è preciso repetir aqui o que já disse, em Conj ect ures and . Refut at i ons, acerca das idéias de Hume sobre o hábito.55) A concepção levoume, ainda, a; notar que não existe 

nada a que se possa chamar observação destituída de preconceitos. Qualquer observação é uma atividade com um objetivo (encontrar

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ou. verificar alguma, regularidade que foi pelo menos  vagamente vislumbrada) ; tratase de uma atividade norteada pelos problemas e pelo contexto das expectativas, ,(q “horizonte:. ,das ..expectativas53, como eu o chamaria mais tarde).. 3$ã.Oí há* experiência .passiva ■ não 

há recebimento passivo de idéias previamente concatenadas,, A expe-riência é resultado de uma exploração atiya executada;^pelor orga-nismo, da busca de regularidades ou.. ÍatQiie5f4 V3uriap<t^í ..Mã©;.ie?áste outra forma de percepção que não seja, no £ o ri tex to7: d e ~ánter esse s e expectativas, e, portanto, de regularidades e “Ijèisl.V/  názz  • .

Essas reflexões levaramme à suposição de que a. conjectura ou hipótese precede a observação ou percepção; temos;; expectativas inatas; dispomos de conhecimentos inatos latenteSj na formá de ^ex-pectativas latentes, que hão de ser ativadas por estímulos:, aps .quáis reagimos, via de regra, enquanto nos empenhamos? na Jêxploração ativa. Todo aprendizado é uma modificação (que pode assumir a forma de'refutação) de algum conhecimento anterior, ou sêja em última instância, de algum conhecimento inato56.

Foi essa a teoria psicológica que tentei elaborar, numa termi-nologia não muito precisa, entre 1921 e 1926 Foi a tçoria de fbr mação de nosso conhecimento que me ocupou e distraiu no períòdò em que eu trabalhava como aprendiz de marceneiro.

Um dos pontos peculiares de minha vida intelectual é o se-guinte. Embora me preocupasse, naquela época, o •contraste entre o pensamento dogmático e o pensamento crítico; embora eu visse ò pensamento dogmático em, termos de pensamento précientífico (e como “naocientífico”, no momento em que pretendesse tornarse “científico” ) ; e embora eu compreendesse que havia um liame entre essas noções e o critério de falseamento, para demarcação entre Ciên-cia e pseudqciêncía, não cheguei a notar que tudo isso se ligava ao problema da indução.. Durante anos, esses dois problemas conti-nuaram a ocupar escaninhos diferentes (e q u a s e hermeticamente fe-chados) de minha mente, conquanto eu julgasse ter solucionado o problema da indução ao descobrir que simplesmente inexistia indução pela repetição (como inexistia o aprendizado de algo novo pela repetição): o.chamado método indutivo da. Ciência fora substituído pelo método, da tentativa (dogmática) e da eliminação de erro (crítica), que era o procedimento de descoberta usado por todos os organismos, da ameba até Einstein.

Eu não dáva conta, evidentemente, de que as soluções por mim propostas para os dois problemas — o da demarcação e o; da, indur; ção — assentavam numa só idéia: a da separação, entre pensamentoí

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:d©ginátieo e crítico. Ainda assim, os dois problemas pareciamme di-versos— e a demarcação não se assemelhava à seleção darwiniana. Somente após alguns anos cheguei a ^compreender que havia uma conexão estreita entre eles e que o problema' da indução decorria,  essencialmente, da solução errônea dada ao problema da demarca-

ção — decorria da falsa crença de que ' a Ciência se sobrepunha à pseudociência por força do “método científico5’ (método de obter conhecimento verdadeiro, seguro, justificável) e de qué esse método científico seria o indutivo: uma crença qüe estava eivada de falhas.

11. Música

Em meio a tudo isso, especulações acerca da música desempe^ nharam um papel importante, especialmente durante meu período de aprendizagem.

A música, tem sido tema dominante em minha vida. Minha mãe tinha grande pendor musical: tocava piano excelentemente. Parece que a música é como que um dom de família, embora seja difícil  explicar por que isso acontece. ■A música. européia é invenção dema-siado recente para que tenha, fundamento genetico e a música pri-mitiva desagrada a muitas pessoas que apreciam a música escrita  a partir de Dunstable, Dufay,: Josquin des Prés, Palestrína, Lassus e 

Byrd.Seja como for, a família de minha mãe era “musical”. Talvez 

a inclinação se devesse à minha avó má ter na, née Schlesinger. (Bruno  Walter pertencia à família SchlesingferV Èu não o admirava, espe-cialmente após haver cantado/sob sua direção, A Pai xão Segundo  São M at eus, de Bach). Meus avós •Schiff eram ambos membros fundadores da famosa Gesel l schafti der M usi k fr eunde, que> em Viena, construiu o belo M usi kv erei nssaal . Ambas as irmãs de minha mãe tocavam piano muito bem. A mais velha era pianista profissional e 

seus três filhos, músicos prendados, tal como o eram três outros primos meus, do lado de minha mãe. Ú m dos irmãos desta foi, du-rante muitos anos, o primeiro violino; de um excelente quarteto.

Criança, recebi umas poucas lições de violino, mas não fui muito adiante. Não tive lições de piano e, embora gostasse de tocar, tocava (e ainda toco) muito mal. Aos dezessete anos, conheci Rudolf Ser kin. Tornamonos amigos e a vida toda continuei a ser admirador ardente de sua incomparável maneira de tocar; éle fica inteira-mente absorvido pela obra que executa e esquecido de si mesmo.

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Por algum témpo — entre o outono de 1920 e, talvez, .1922  __ 

pensei, muito seriamente, em dedicarme à música. Todavia, tal como se dera com varias outras coisas — a Matemática, a Física, a marcenaria senti, no fim, que nao tinha dotes bastantes. Ao longo da vida, compus algumas peças, tomando composições de Bach à guisa de 'modelos platônicos, porém jamais me enganei a mim próprio quanto ao inérito dessas composições.

Em música, sempre fui conservador , Achava q u e S c h u b e r t  fora o último dos grandes compositores e, conquanto eu .apfeciasse  e admirasse Bruckner (especialmente, suas três* últimas sihfonias) e certo Brahms (o Requ iem) , desagradavame Richard Wagner, mais como autor da letra do Ring  (letra que, francamente . rsó; posso, con-siderar ridícula) •do que nà condição de compositor, i j^üitor me de-sagradava também a música de Richard Strauss, embora.; eu reco-nhecesse que ele e Wagner eram músicos de alta. categoria. (Qual-quer pessoa pode imediatamente perceber que D er Rosenkaval i er  pretendia ser um Fígaro  escrito para os tempos modernos; mas, des-considerando o fato de que essa intenção historicista foi mal conce-bida, como poderia um músico da estatura de Strauss ser tão pouco perceptivo, a ponto de pensar, ainda que fosse pqr um minuto, que sua intenção se havia concretizado?) Sem embargo, sob a influência 

de algumas composições de Mahler (influência que nãó ç£urou) e do fato dê ele haver defendido Schõnberg, pensei que eu devia fazer um esforço; sincero pará chegar a conhecer e apreciar a música de nosso tempo. Filieime à “Sociedade de Concertos Privados” (Verein  f üf M usikal i sche Pr i v at auf führu ngen), que era presidida por Arnold  Schõnberg e se dedicava à execução de obràs de Schõnberg, Alban Berg, AntOn von Weberh e de outros compositores contemporâneos “avançados”, como Ravel, Bartok e Stravinsky. • Por algum tempo, fui aluno de um discípulo de Schõnberg, Erwin Stein, mas com ele 

só. tive pouquíssimas lições; ajudeio, entretanto, em seus ensaios p a i a concertos da Sociedade. Dessa maneira, vim a conhecer, de perto, músicas de Schõnberg, especialmente a Kammersymphonie  e o Pier rot L unai r e . Eu também ia a audições de Webern, especial-mente os, de sua Orchesterstücke, e de Berg.

Depois de dois anos, concluí que conseguira chegar a saber algo — acerca de um tipo de música que eu, e n tã o , apreciava menos 

que no começo. Por isso, passei a freqüentar, durante um ano, uma escola ,de música muito diferente: o departamento de música sacra do Konservator ium  (“Academia de Música”) de Viena. Fui admi-tido graças a uma fuga composta por mim. No fim desse anoj tomei a decisão já mencionada: de que eu não tinha dotes suficiferítes

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par.aj/ser músico. Tudo isso fala, entretanto, em prol de um amor péla jcnúsica. ‘‘clássica” e de minha admiração sem limites, pelos gran-des, compositores do passado.;

A conexão entre a música e méu desenvolvimento intelectual, 

em sentido estrito, está em que, de me?u interesse por ela, surgiram pelo menos três idéias que me infliiènciaram a vida toda. A pri-meira estava estreitamente ligada às minhas idéias sobre o pensa-mento dogmático e crítico e os dogmas e tradições. A segunda tinha a ver com a distinção entre duas espécies de" composição musical, distinção a que eu atribuía então enôrme importância e que fazia empregando, para meu próprio uso, os termos “objetiva” e “sub-jetiva”. A terceira idéia traduzia a compreensão da pobreza intelec-tual e do poder destruidor qué têm as idéias historicistas no. campo 

da música e das ' artes em geral. Passarei a examinar essas três idéias 57.

12. Especulações em torno do surgimento da música polifôuica:psicologia da descoberta ou lógica da descoberta?

As especulações que agora recordarei rapidamente relaciona vamse de perto com as especulações, já referidas, acerca do pensa-mento dogmátito e crítico. Creio que foram uma das primeiras 

tentativas que fiz no sentido de aplicar essas idéias psicológicas a outro setor; mais tarde, elas me levaram a uma interpretação do nascimento da ciência grega. Ás idéias acerca da ciência grega pareceramme historicamente proveitosas; as idéias acerca do apare-cimento da polifonia talvez estivesçem erradas. Tempos depois es-colhi, como segunda disciplina para meu exame de doutoramento, a História da Música, na. esperança de que isso me oferecesse opor-tunidade para saber se naquelas idéias, havia algo de aproveitável, mas a nada cheguei e, . dentro em poúco, minha atenção se voltava 

para outros problemas. Hoje, estou esquecido da maior. parte das coisas que, nesse caso, cheguei a aprender. Não obstante, essas idéias muito infhúram posteriormente na i^nha reinterpretação de Kant e na mudança do méu interesse, da psicologia da descoberta, para uma Epistemologia objetivista, ou seja, para a lógica da descoberta.

Meu problema era o seguinte.: a polifonia, como a Ciência, é peculiar à civilização ocidental. (Estou empregando o termo "po-lifonia” para denotar não apenas o contraponto, mas também a  harmonia musical própria do Ocidente..) Diversamente da Ciência, a polifonia não parece ter tido origem grega, surgindo entre os sé-

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culos IX e X V de nossa era. Se assim é, tratarseá, possivelmente, dè uma realização sem raizes anteriores, a mais original e, na veir dadep a mais miraculosa da civilização ocidental, sem , excluir a Ciência.

Os fatos, são, aparentemente3 os que passarei a referir. Havia muito canto melódico — musica , dè dança, música folclórica e, acima de tudo, música religiosa. As melodias — especialmente quandolentas, çomo as cantadas na. Igreja----era m . naturalmente cantadas,por vezes, em oitavas paralelaá: Há referências de que eram tam-bém cantadas em quintas paralelas (que, com as oitavas, formam também quartas, embora não a contar da nota mais grave). Essa maneira de cantar { “organum” )  ligase ao sétulò .X e existiu pro-

vavelmente antes. O canto gregoriano era. tambéíií éní terçaspara-lelas, assim como em sextas paralelas (ambas' a Cohtar";dq baixo:  ‘ ' fauxbourdon” , “ faburder i ”) 58. Isso, ao que parece, era Cònsiderado como uma real. inovação, como um acompanhamento ou mesmo ornato.

Aparentemente, o passó seguinte (conquanto se diga que .suas origens remontam ao século IX ) terá consistido no seguinte: per-manecendo inalterada a\ melodia do cantochão, as vozes de acom-panhamento deixaram de ser apenas em terças e sextas paralelas. Permitiase, agora, um movimento antiparalelo de nota contra nota (punctum contra punctum, ponto contra ponto) que podia levar não.somente a terças e sextas, mas a quintas, a contar do baixo e, portanto, a quartas entre este e algumas das outras vozes.

. Em rainhas reflexões, considerei este último passo, a invenção . do contraponto, como o decisivo. Embora não haja certeza de que ele tenha sido cronologicamente o último, foi o que levou à polifonia.

Talvez — acaso com exceção dos responsáveis pela música sacra— nao se considerasse na época que p “organum”  fosse um acrés-cimo à melodia de uma só voz. É bem possível que ele tenha nascido simplesmente dos diferentes níveis de voz de uma congregação que procurava cantar, a . melodia. Assim, “organum”  talvez tenha sido a conseqüência naointencionai de uma prática religiosa, a saber, a en~ toação das respostas por parte da congregação. Enganos dessa espé-cie podem ocorrer no canto grupai. É bem sabido, por exemplo, que, nos festivais anglicanos, onde há o cant us fi rmus do tenor, as con-

gregações tendem a cometer o erro de acompanhar (em oitavas) a voz mais alta, de soprano, e não a detenor. De qualquer modo, enquanto o canto se mantenha em paralelas estritas, não ha> polir fonia. Podè haver mais de uma voz, mas há uma única: melodia.

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 ,í i;.í.,. .íip<erfeitaraente concebível que a origem do canto em contra ponto se corcunda c om . erros cometidos pela congregação. Quando p  canto em. paralelo levasse a voz a uma nota mais alta do que a que poderia sustentar, a voz caía para a nota cantada abaixo, 

movendose assim contra punct um  e nao em paralelo, cum puncto. Isso pode ter ocorrido no canto organum  ou no fauxbourdon. De qualquer modo, assim se explicaria a primeira regra básica do con-traponto simples de nota para nota; a de que o resultado do contramovimento deva ser apenas uma oitava ou quinta ou terça  ou sexta (sempre contadas a partir do baixo) / Embora, entretanto, possa ter sido essa a origem  do contraponto, sua invenção deve terse devido ao músico que pela primeira vez se ideu conta de que  áli havia a possibilidade dè uma segunda melodia* mais ou menos independente, a ser cantada conjuntamente com a melodia original 

ou fundamental, o cantus ftrmus, sem perturbála ou interferir com . ela mais dò que o organum  ou o fauxbourdon. E isso nos leva à segundaregra básica do contraponto: importa evitar oitavas e quintas paralelas, po rque dest rui ri àm ò pret end i do efei t o de uma segunda  melodia independente  , Com efeito, elas levariam a um nãodesejado (embora temporário) efeito organum  e, assim,; ao desaparecimento da segunda melodia como tal, pois a segunda voz reforçaria apenas (como no canto organum)  o cant us f i r m u s  Terças'a sextas’ para-lelas (como no fauxbourdon)  são permitidas, contanto que pronta-mente precedidas ou seguidas por um contramovimento real (com respeito a algumas das partes).

Assim, a idéia básica é a que sç exporá a seguir. A melodia fundamental ou dada, o cantus firmus  , põe limitações a qualquer segunda melodia (ou contraponto), mas, á despeito dessas limita-ções, o contraponto deve aparecer como uma melodia independente, livremente. inventada, melodiosa por si mesma e, sem embargo, quase miraculosamente conjugada ao cantus firmus, embora, diver-samente do organum  e do fauxbourdon, de maneira alguma depen-dente dele. Uma vez apreendida essa idéia básica, compreendese 

a polifonia.Nao alongarei o assunto. Passarei, em vez. disso, a expor a conjectura histórica por mim formulada nesse particular — con-jectura que, embora possa ser falsa, foi de grande significação para 

 ,todo o meu posterior desdobramento^ de idéias. E consistiu no seguinte.

Considerada a herança dos gregos e ó .desenvolvimento (e con-sagração) dos modos da Igreja, na época de Ambrósio e Gregório o Grande, não haveria necessidade de invenção da polifonia, nem

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estímulo para tanto, se os músicos sacros tivessem gozado da mesma liberdade que tinham, digamos, os criadores da canção folclórica. Minha conjectura era a de que foi a canonização das melodias litúr gicas e as rest r ições dogmát i cas que sobre elas pesavám que produzi-ram o cantus fi rmus  em oposição ao. qual o contraponto encontrou meio de desenvolverse. Foi o cantus firmus estabelecido que pro-piciou a estrutura, a ordem e a regularidade que. tornaram possível a liberdade inventiva sem caos.

Na música de algumas regiões nãoeuropéias, verificamos que as melodias estabelecidas  dão nascimento a variações, melódicas —  o que me parece um processo análogo ao referido. Sem embargo/ a combinação de uma tradição de melodias cantadas em paralélo com 

a segurança de um cantus firmus, que não se altera nem mesmo com d contramovimento, abriu para nós, de acordo com a conjectura mencionada, toda uma nova ordenação do mundo, um novo cosmos.

Uma vez exploradas até certo ponto as possibilidades desse cos-mos — através de tentativas audaciosas e da eliminação de erros — , as melodias autênticas originais, aceitas pela Igreja, podiam ser aban-donadas. Melodias novas , podiam ser inventadas para substituir o cantuç f i rmus  original; umas se tornariam tradicionais por algum tempo,: enquanto outras só podiam ser usadas numa única composi-

ção músicaí-----

por exemplo, como tema de uma fuga.Nos termos dessa talvez insustentável conjectura histórica foi, 

assim, a canonização das melodias gregorianas, um ato de dogma txsmo, que proporcionou o quadro necessário ou, melhor, o vigamento necessário para construirmos um mundo novo. Também formulei a conjectura nos termos seguintes: o dogma fornecenos o. sistema de coordenadas necessário para explorar esse mundo novo, desconhe-cido e possivelmente álgo caótico e, ao mesmo tempo, fornecenos o necessário para criar ordem onde a ordem falte. Assim, a criação 

musícái e a científica parecem. ter isto em comum: o recurso ao dogmá ou ao mitò, como trilha construída pelo homem, ao longo dá qual nos. dirigimos para o desconhecido], explorando o mundo e, a um tempoj criando regularidades ou regras; e: investigando regularidades existentes. Uma vez que teríhamos encontrado ou erigido alguns marcos, passamos a ensaiarrnovas formas de ordenar o mundo, novas coordenadas, novos modos5 de exploração e criação, novas maneiras de construir um mundo novo, de que a Antiguidade nao suspeitou, a rião: ser ao esboçar o mito da música das esferas.

Com efeito, uma grande composição musical (assim como uma grande teoria científica) é um cosmos que se impõe a um caos —

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com tensões e . harmonias inexauríveis áté mesmo para seu próprio criador. Isso foi dito por Kepler59, com maravilhosa penetração, em passagem dedicada à música dos céus i ...

Assim, os movimentos celestes n ã é f! passam de uma espécie de con   certo perene, racional, embora nãõ sonoro ou audível. Os corpos celestes se movem em meio à tensão de dissonâncias, •que são como síncopés ou suspensões, com suas resoluções (através, das quais os homens imitám as correspondentes dissonâncias da natu reza) que atin-gem fechos seguros e predetenninádos, cada um deles encerrando seis termos, como um acorde formado de seis vozes. E por meio dessas marcas apartam e articu lam a imensidade do tempo. Assim, não há  maravilha maior ou mais sublime do que as regras do canto conjunto  em harm onia, regras desconhecidas , dos antigos mas, afinal, descober-tas pelo homem, macaco de seü Criador; de sorte que, através da  engenhosa sinfonia de muitas vozes, pudesse ele evocar, na breve por-

ção de uma hora, a visão da total perpetuídade do mundo no tempo; e que, no m ai s. grato sentido da beatitude alcan çada através da M u, sica, eco de Deus, ele deve quase atingir a alegria que Deus, o Criador,  encontra em Suas Próprias obras.

São essas algumas, das idéias que me distraíam e perturbavam o, trabalho qüe eu executava naquelas escrivaninhas, durante meus tempos de aprendiz de marceneiro60. Era a época em que eu lía a primeira Crít i ca  de Kant repetidas vezes. Desde, logo concluí, que sua idéia central era a de que as t eori as científi cas const i t uem um  produto humano que tentamos impor ao mundo : “Nosso intelecto nao deriva suas leis da Natureza, mas impõe suas leis à Natureza”. Combinando isso com minhas idéias, cheguei ao que passo a relatar.

Nossas teorias, a começardos mitos primitivos e até chegar às teorias da Ciência, são indiscutivelmente um produto humano, como disse Kant. Tentamos impôlas; .ao mundo e sempre p o d emos aderir a elas dogmaticamente, se assim o . desejarmos, ainda que sejam falsas (como o são, ao que. parece, a maioria dos mitos religiosos, mas também a teoria de Newton,. que era a que Kant tinha em 

mente)61. Embora tenhamos a. princípio de apegarnos a nossas teorias — sem t eori as não podemos^ nem mesmo começar y pois não há outra coisa capaz de guiar.nos. cabe, com o tempo, adotarmos uma atitude mais crítica em relação a, elas. Podemos tentar substi-tuílas por algo, melhor, se tivermos aprendido, com o auxílio delas, em que ponto deixam de nos ser úteis. È surgirá assim a fase científica ou crítica da reflexão^ necessariamente precedida por uma  fase nãocrít i ca.

Kant, julgava eu, acertara aò afirmar ser impossível que o co-

nhecimento fosse, por assim dizer, uma cópia ou impressão da reali

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dade. E acertara ao afirmar que oiícofíhecitaentGi è^0 t i e i i camente  ou psicologicamente "a priori”, ’nhecimento pudesse ser vál ido  “a priôíilf^r^òssàsH^âàshsãôkin^ehJ 

ções nossas; mas podem não passar de xonjectuíâs^^ál^ndadâs,. conjecturas audaciosas, hipóteses . A pàrtir, :ddas xi í# i^ õs^ ^:;iíiüM§f' não o mundo real, mas nossas próprias X€des^«aâ5\qüiãijí|p^c.ü^dósí'’ colher o mundo real, • <

Se assim era, o que eu originalmente considfeíáWC çòiiio: a^sico^'; logia da descoberta assentava sua base na Lógica:: por^motivpsMogif cos, não havia outro caminho capaz de levar ao desçÕfíhéGidoí ?‘í"'

13. Dois tipos de música /t.Meu interesse por música, levoume ao que eu então supusílsérf. 

uma descoberta intelectual de menor importância (isso ocorreu erru 1920, antes de eu dar atenção à psicologia da descoberta, fato a: que aludi na. seção precedente, e na seção 10). Posteriormente, essa descoberta muito influenciou meu pensamento filosófico e, em últimá análise, mé levou à distinção que estabeleci entre mundo 2 e mundo 3, distinção que desempenha importante papel na filosofia desenr 

volvida nà minha idade madura. De começo, as coisas assumiram a forma de uma interpretação da diferença entre a música de Bach e a de Beethoven, ou da maneira de eles abordarem a música. Ainda penso haver algo de aproveitável na idéia que me ocorreu, embora, segundo refleti depois, minha interpretação particular exa-gerasse demasiado a difeíença entre ambos. Contudo, a origem dessa descoberta intelectual está de tal forma ligada a esses dois grandes compositores, que a relatarei nos termos em que, na ocasião, me ocorrèu. Não pretendo sugerir, entretanto, que minhas observações 

façam justiça a eles ou a outros compositores, ou que acrescentem algo de, novo às muitas coisas, boas e más, que vêm sendo escritas a respeito da música: minhas observações têm caráter essencialmente autobiográfico.* :s A descoberta foi, para mim, um grande choque. Eu admirava, 

tanto? JBach quanto Beetlioven — não apenas a música de.. um e  outíojvinas; as personalidades de ambos que, julgava eu, tornavamse rVisívèis através da música por eles composta. (Não se dá o mesmo feüm^l&bzart: há alguma coisa de inatingível, atrás de sua fasci 3iâ^ã@0 í(|)i choque se deu quando me ocorreu que eram diferéntéS: 'âs^elà^es de Bach e Beethoven com as respectivas obras e que* tímbbra^íòssei admissível tomar Bach por modelo, era inadmissível adotar ásrriesma atitude em relação a Beethoven. •

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Beethoven, a meu ver, fizera da música, um instrumento de autoexpressão. Para ele, em seu desespero, talvez tenha sido essa a única maneira de continuar vivo. (Creio que tal idéia é sugerida em seu Heiligenstddter Testament, de 6 de outubro de 1802.). Não 

há obra mais comovente do que o Fidelio ; não há expressão mais comovente da fé de um homem, de suas esperanças, de seus sonhos e de sua heróica luta contra o desespero. Todavia, a pureza de coração, a capacidade dramática, os singulares dons criadores de Beethoven permitiramlhe trabalhar de' maneira que, achava eu, não era acessível a outros, pareciarine que nao poderia haver perigo maior para a música do que tentar transformar a maneira de ser de Beethoven num ideal, ou padrão, ou modelo.

Foi com o propósito de estabelecer uma distinção entre as ati-tudes de Bach e dè. Beethoven para; com as suas composições que introduzi — para meu uso?apenas — os termos “objetivo” e “subje-tiva”. Talvez esses termos: nao tenham sido bem escolhidos (o que nao importa muito) e, num contexto como este, talvez pouco signi-fiquem para um filósofo; .entretanto, causoume satisfação, muitos anos mais tarde, saber que Albert Schweitzeros tinha usado, em 1905* na abertura, do seu grande livro: sobre Bach ^ Para mim, o contraste entre uma abordagem õu atitude objetiva e uma abordagem ou atitude subjetiva, especialmente em, relação à própria obra, tornou se de importância decisiva. E, dentro em breve, começou a influenciar concepções minhas no campo da Epistemologia. (Considerese, por exemplo, os títulos de alguns de meus artigos mais recentes^ “Epis-temologia sem um Sujeito Cognoscente”, “A Propósito da Teoria da Mente Objetiva”, “A Mecânica Quântica sem 'o Observador’.”) 64

Tentarei agora explicar o que tenho tido em mente ao falar  (até hoje, apenas de mim para comigo e, talvez, para uns poucos amigos) acerca ;de música ou arte “objetiva” e “subjetiva”. Para explicar melhor , algumas de minhas primeiras idéias, recorrerei a formulações de que dificilmente teria "sido capaz naquela época.

Talvez eu devesse começar criticando uma teoria de arte que é amplamente aceita: a teoria de que a arte é uma autoexpressão da personalidade do artista ou, quiçá, uma expressão de suas emoções. (Croce e Collingwood são dois dos muitos: defensores dessa teoria.  Meu ponto de vista antiessencialista implica em que as indagações do tipo que é?, tal como a indagação “Qué é arte?’5, jamais cor-respondem a problemas genuínos.)65 . A crítica principal que dirijo a essa teoria é simples :r a t eor ia expressioni st a da arte. évazia. Com efeito, tudo o que um. homem ou animal faz é (entre outras coisas)

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expressão de um estado intimo, de.. emoçoes.e de uma. personalidade. Essa é uma verdade trivial, váMda .para^ iodas, as espécies de lingua-gens humanas e animais. .' . Aplicase à. maneira como caminha um homem ou um leão, à maneira como o homem tosse ou a s s o a o nariz, à maneira como o homem ou o leaò ;olha ou ignora alguém. Vale para a maneira como o pássaro constrói ovninho, a aranha tece a . teia ou o homem ergue uma. casa. í^n/outxas palavras, não e . um traço característico da Arte. Por essa.: razãoyf. à J,|eoriàs ^pres^ionistas ou emotivas da linguagem são banais, nãoesclareoédorás e. inúteis 65ü.

■ f. í í " ,FH3' 'VJ ; •: i .. • •• <■

Claro está que nao me proponho.. responder u^?qufeSíãòs dow ttiipó que é, traduzida Ha indagação "Que e arte?ny,mas; 4esej^ su^er.ir que o que torna uma obra de arte interessante: ou. .#ígç>.

rauito diferente da autoexpressão. Do ponto de vistà> psicológico, há certos dotes que o artista precisa possuir e :qüe ^ptídbríarriòb cha mar de imaginação criadora, talvez huihor; gosto •e^^^piYqüe e de alguma ■importância : — integral devoção, ao própHb'*•trtbalho A obra deve ser tudo para ele, deve transcendèrlhè a;>pHrsòhahdade Isto não passa, todavia, de um ângulo psicológico do ?assuhtO e, exatamente por esse motivo, é de alcance reduzido; O importante é a obra de arte. E, neste ponto, quero dizer, primeiramente, algumas coisas negativas.

Pode haver grandes obras de arte sem muita originalidade. Di-ficilmente haverá grande obra de arte que o artista haja pretendido, acima dèqual quer outra coisa, fazer original ou “diferente” (exceto, talvez, num sentido jocoso). O primeiro propósito do verdadeiro artista é a perfeição da" obra. A originalidade é dom dos deuses ■como a ingenuidade, não pode ser obtida por desejo ou alcançada por busca. Tentar seriamente ser diferente ou original, assim como tentar exprimir a própria personalidade, é coisa que deve interferir 

com o que tem sido denominado “integridade” da obra de arte. O artista não procura incorporar suas rasteiras ambições pessoais a umã grande obra de arte, mas recorre a essas ambições pará servir  a sua obra. Dessa maneira,. poderá desenvolverse, como pessoa, através da interação com o que faz. Por via de uma espécie de realimentaçao, ele pode ganhar habilidade artesanal e òutras capa cijdades. que fazem um artista66.

• : , O que eu acabei de dizer terá talvez indicado qual a diferença 

.rqaie. existia entre Bach e Beethoven e que tanto me impressionou.;  ,^ach ise; esquece de si em sua obra, é servo dela. Claro está que< não deixa dimprimirlhe sua personalidade: isso é inevitável.. Contudo, •ele; .não se mostra, como por vezes o faz Beethoven, consciente;;de

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estarse ^expressando a si mesmo e aos seus modos de ser. Por essa razão é que eu os via como. a encarnação de duas atitudes opostas frente à música.

Assim, ao ditar a seus alunos instruções concernentes à maneira  

de tocar o contínuo, Bach disse: “O contínuo deve compor uina harmonia eufônica, para a glória dè Deus e o permitido prazer do espírito; e, como toda a música, seu f in is è causa final jamais devem ser outra coisa que nao a glória de Deus e o deleite da alma. Quando nao se dá atenção a isso, deixa de existir música; só há  bulha, estardalhaço e execráveis ruídos.” 67

Penso que Bach desejava excluir, como causa final da música, a produção de ruídos pára a maior glória do músico,

Tendo citado Bach, devo deixar claro que a diferença que tenho em mente não é a que se pode estabelecer entre arte religiosa e arte  secular. A M issa em Ré, de Beethoven, evidencia esse ponto. Ali se lê “Partindo do coração, esta,,música pode chegar de novo ao coração” (“Vom Herzen .— mõge es wierder — zu Herzen gehen”). Devo também dizer que a ênfase por. mim colocada nessa diferença nada tem a, ver com a negação do conteúdo emocíonal ou do impacto  emocional da música. Um oratório .dramático, tal como A Pai xão  Segundo São M at eus  , de Bach, retraia  emoções fortes e assim, por 

afinidade, desperta emoções fortes — talvez mais fortes que as pro-vocadas pela M issa em Ré  , de Beethoven. Não há razão para duvidar que o compositor também tenha sentido essas emoções; julgo, po-rém, que as sentiu porque a música por ele inventada causou um impacto sobre ele (de outro modo, ele teria sem dúvida deitado fora a peça, dandoa por mal sucedida) e nao pòrque o compositor estivesse de início numa disposição emocional que veio a expressar na música.

A diferença entre Bach e Beethoven reveste aspectos técnicos característicos. Exemplificando: o papel estrutural do elemento dinâ-mico (forte versus piano) é diferente. Existem, é claro, . elementos dinâmicos em Bach. Nos concertos, há as mudanças de tu t t i  para solo. Há o brado “Barrabaml” na Paixão Segundo São. M at eus. Bach é freqüentes vezes, altamente dramático. Sem embargo, émbora ocorram surpresas e contrastes dinâmicos, raramente constituem de-terminantes significativos da estrutura da composição. Via de regra, surgem longos períodos sem maiores •contrastes dinâmicos. E algo semelhante pode ser dito de Mozart. V'Mas não pode ser dito, por 

exemplo, da Appassionata  de Beethoven, onde os contrastes dinâ-micos são quase tão importantes quanto os harmônicos.

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. Schopenhauer disse que, numa sinfonia de Beethoveri, “falam todas as paixões e emoções humanas: dor e alegria, amor e ódio, temor e esperança ( . . . ) em. incontáveis e delicados matizes” 68; e ele apresentou da seguinte forma a teoria da expressão e ressonância emocionais: “A maneira como nossos corações são tocados pela mú-sica ( . . . ) prendese ao fato dè ela refletir todos os impulsos de nossa mais profunda essência.” Caberia dizer que a, teoria, elabor.ada por Schopenhauer, a propósito da música e da arte em .geral, só escapa ao subjetivismo (se é que o consegue) porque, segundo ele, “nossa mais profunda essência” — nossa vontade — é também obje-tiva, pois constitui a essência do mundo objetivo.

Retornemos, porém, à musica objetiva. Sem colocar uma inda-

gação do tipo que é?, examinemos as I nv enções, de Bach, 'e á pági-na de título, um tanto longa, em que deixa claro têlàs escrito para pessoas que desejem tocar piano. Aprenderão elas, assegura Bàch, “como tocar de forma clara, com duas e três partes ( . . .) e de ma-neira melodiosa” 69; e serão estimuladas a mostrarse inventivas e, assim, “eventualmente, a sentir um primeiro gosto pela composição”. Aqui, a música deve ser aprendida a partir de exemplos. Por assim dizer, o músico terá de desenvolverse na oficina de Bach. Ele aprende uma disciplina, mas é também encorajado a utilizar suas 

próprias idéias musicais, sendolhe mostrado como desenvolvêlas clara e proficientemente. As idéias do músico podem, sem dúvida, ganhar corpò. Através do trabalho, ele pode, à semelhança de um cientista, aprender por tentativa e erro. E com o progresso do trabalho, o juízo e gosto musicais poderão também aguçarse — e talvez, ao mesmo tempo, haja proveito para sua imaginação criadora. Esse aperfeiçoamento dependerá, todavia, de esforço, empenho, dedicação ao próprio trabalho, sensibilidade para o trabalho dos outros e auto-crítica. Haverá constante interação entre o artista e a obra e nao 

um “dar” unilateral. — mera expressão da personalidade artística na obra.

O exposto deve deixar claro que estou longe de sugerir que o grande músico, e a grande arte em geral, não possam causar pro-fundo impacto emocional. E muito menos sugiro que o musico não possa ser profundamente comovido pelo que executa ou compõe. Todayia, admitir o impacto emocional da música nao é, evidente mejntéj.íaceitar o expressionismo musical, que é uma teoria a propór  

silo^da musica  (e teoria que levou a certas práticas musicais). O expressionismo, segundo penso, é uma teoria errônea acerca, da rèía^ão 'entre. emoções humanas de um lado, e a música, a Arte em geral,,.dó outro.

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T A relação entre as emoções humanas e. a música pode ser enca(  rada; por diferentes ângulos. Uma das primeiras e mais fecundas| teorias é a teoria da inspiração divina,: que se traduz na divinaj loucura ou no divino arrebatamento do poeta ou do músico: o| poeta é possuído pór um espírito, mas um espírito benigno, não ma

[ ligno. Uma clássica formulação dessa maneira de ver encontrase ; no íon 70, de Platão. As concepções que Platão ali exprime são mul{ tifacetadas e incorporam várias teorias diferentes. Em verdade, o! tratamento que ela dá ao tema pode ser usado çomo base para um^ exame sistemático:

(1) O que o músico ou poeta compõe não ,é obra própria, mas uma mensagem ou dote dos deuses, : |?árticularmente das Musas; O póeta ou músico é apenas instruméiito através do qual falam as Musas, é portavoz de um deus e. “para proválo,a ’ divindade cantou

 ; • a màis bela das canções através do mais insignificante dos poetas” 71.

(2) O artista (seja criador ou executante) que é possuído por um espíritoj entra em delírio, isto é, tomase emocionalmente super

j excitado; e o estado em que se encontra comunicase à audiência| por um processo de ressonância simpática (que Platão compara' ao[ magnetismo).

í (3) Quando o poeta oü átor compõe ou recita, ele se emocionaí fortemente e deixase possuir (não apenas pela divindade, mas. tam

! bém) pela mensagem; pela cena que descreve, por exemplo. E a| obra; mais que o estado emocional do artista, induz no auditório| emoções semelhantes.| (4) Devemos distinguir entre a mera habilidade ou engenho ou| “arte”, adquiridos por exercício ou estudo, e a inspiração divina;

 J só esta última faz o músico ou o poeta.

| Importa assinalar que, expondo l essas concepções, Piá tão esta| Jongç de falar seriamente: brinca. Uma pilhéria, em especial, é

| significativa e engraçada. À observação de Sócrates, de que o rapsodo,| quando possuído pela divindade, se transforma ostensivamente (tremeí de medo, por exemplo, embora não esteja em perigo) e transmite àí  audiência as mesmas emoções absurdas, o rapsodo íon  responde:! “Exatamente: quando olho do palco os espectadores, vejo como cho) ram. e me contemplam com olhos aterrados ( . . . ) E sou obrigadof a obseírválos muito cuidadosamente: se eles; chorarem, eu rirei peloI dinheiro que irei receber e, se rirem, chorarei pelo dinheiro perÉ dido.” 72 Claro está que Platão pretende darnos a entender qué,] se o rapsodo observar a audiência, ;,;à fim de, por suas reações,

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regular o próprio comportamento, está possuído por essas preocupa-ções mundanas e muito pouco “transtornadoras”, então n ão pode estar falando a sério quando sugere, (como faz fon naquela mesma passagem) que o efeito produzido pelo artista sobre o auditório de-

pende, inteiramente de sua sinceridade — isto é, do fato de estar completa e genuinamente possuído pela divindade, de estar fora de si. (O gracejo de Platão é, tipicamente, urá gracejo dirigido a si próprio — uma autoreferência quase paradoxal. ) 73 Com efeito, Platão insinua enfaticamente74 que todo conhecimento ou habilidade (capaz de, por exemplo, manter a platéia fascinada) será um embuste ou prática desonesta, pois interferirá necessariamente; com a men-sagem divina. E) sugere que o rapsodo (ou músico ou ppp.tá}' .ç, pelo menos algumas vezes, um trapaceador habilidoso e não um,; verdadeiro 

intérprete dos deuses.Passarei a utilizar agora a relação que fiz dás teorias (1) , a . (4) 

de Platão, para construir uma teoria moderna da arte como: expres-são. Minha; afirmação básica é a de que, se tomarmos a tcpçia da inspiração e aírebatamento e dela afastarmos a fonte divind, chega-remos, de imediato, à moderna teoria da arte como autoexpressão ou, mais precisamente, como autoinspiração e como expressão e comunicação, de emoções. Em outras palavras, a teoria moderna 

é uma espécie de teologia sem Deus — a essência ou natureza oculta  do artista assume o lugar dos deuses: o artista inspirase a si mesmo.

Evidentemente, esta doutrina subjetivista tem de afastar oucontestar o ponto (3), a concepção de que o artista e seu auditório sejam emocionalmente atingidos pela obra de arte. Sem embargo, a meu ver, esse ponto (3) traduz precisamente a teoria que exprime de modo correto a relação entre a Arte e as emoções. Tratase de uma teoria objetivista, a afirmar que a música e a poesia descrevem ou retratam ou dramatizam cenas de significação emocional e que

 podem, inclusive,. descrevei ou retratar emoções como tais. (Noteseque não está implícito na teoriaseja essa a única maneira de aArte se tornar significaiíte,)

Essa teoria objetivista acerca da relação entre a Arte e asemoções pode ser entrevista no trecho de Kepler citado na seçãò anterior.

* Desempenhou eia importante papel no surgitnento da ópera e

dpiioratório. Bach e Mozart, por certo, têlaiam aceito. Notemos, de passagem^ que ela é perfeitamente compatível com a teoria, de Platão., •exposta ., por exemplo, na República  e também nas Leis, teoria ;ser gundo .qual a música tem o poder de despertar emoçõesy; .d^:zafialr

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málas (como se dá com uma canção de ninar) e até mesmo de formar o caráter de um homem: algumas espécies de música, podem tornálo ousado, enquanto outras o farão covarde — teoria que, para dizer o menos, exagera o poder da músicá75.

De acordo.com minha teoria objetivista (que não nega a auto expressão, mas sublinha sua total trivialidade) , a função realmente importante das emoções do compositor não é a de que devam elas ser expressas, m as. a de que podem servir de crivo para avaliar o êxito ou adequação do impacto. da obra (objetiva) ; o comgósitor pode utilizarse a si mesmo como corpo.de ensaio e modificará ou refará sua obrá (como tantas vezes se deu com Beethoven) quando lhe paréça insatisfatória sua própria reação ■afcesse trabalho, ou a abandonará inteiramente. (Seja ou nao seja a composição basica-

mente emocional, o artista recorrerá dessa maneira às suas próprias reações — áo seu ''bom gosto”, o que implica em outra aplicação do método de tentativa e erro.)

Notese que a teoria (4) de Platão, em sua forma nãoteológica, dificilmente se compatibiliza com uma teoria objetivista que afere a sinceridade da obra menos pelo caráter genuíno da inspiração do artista do que pelo resultado da autocrítica1realizada, por este. Não obstante, uma concepção expressionista, como a teoria (4) de Pla-tão, veio à tornarse, informame Ernst Gombrich, parte da tradição 

clássica da doutrina retórica é poética. E foi até o ponto de sugerir que a descrição ou pintura bem sucedida das emoções depende da  profundidade de emoção de que o artista seja capaz76. Talvez tenha sido esta última e dúbia concepção, forma secularizada da teoria (4) de Platão, que considera “falso” 77 ou . “insincero” tudo quanto não seja autoexpressão pura, a que levou à moderna teoria expressionista da Música e da Arte78.

Em resumo: (1 ), (2) e (4 ), afastada a divindade, podem ser encaradas como formulação da teoria subjetivista ou expressionista 

da Arte e de sua relação com as emoções, enquanto (3) pode ser vista como a formulação parcial de uma teoria objetivista dessa relação. De acordo .com tal teoria objetivista, a obra é a principal responsável pelas emoções do músico, e iíão o contrário.

Pássando, agora, à concepção objetivista da música, fica claro que (3) nao basta, pois se ocupa tãosomente da relação entre a música e as emoções, que não constituem o elemento único, nem o principal elemento a tornar a Arte significativa: O músico pode ter como propósito retratar emoções e aliciar nossa simpatia, como nA Pai xão Segundo São M at eus; mas há, a par desse, muitos outros

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problemas que ele se empenha, eih . solver. (Isso é ób.vio numa; arte como a Arquitetura, onde sempre Jiá problemas/prátiéos e: técnicos a serem resolvidos.) Ao compor uma; fuga/vo; :probíémà rdo còmpoT sitor é o de encontrar um tema interessante: ,e um;contraponto f con-

trastante, para, então, explorar esse materiaktãol ibera quantó^possivel Poderá ele orientarse por umíexperimentadosáerítidcíí^è^, adequação geral, ou “equilíbrio”. O resuItadouvcoh.tinuáráí^%tálvèz; v^èndól jde caráter emotivo;. mas pod<^>^ax*<tô^uje^nô^^#pr£dãç|lóiãs.é^ãp.óie nura sentimento de adequação;— deí^iitSeõsmos ^ èmérgihS.darjtjüa: secaos — e não d e' percepção:de ,,umagemoção^ qu^ üj^ ^ê^esèn tada. O mesmo se dirá . dè ; algemas '.j nv&açQes, de 3açhj^cjija>;|pEçp . cupaçao era a de proporcionar. ao:,alunq.^um ,piimeiro%sa|^£^dp^çq^;; posição, de solução para um problema musical^>: Analpgãçqien|igi;;. „a 

tarefa de compor um minueto ou um. £xio çplocàfeió^ .um problema definido; e o problema se tornará maispespeçífiGpjãna hipótese de exigirse que a composição se integre númarísúite; a; ser' completada. Ver o músico a empenharse na solução dé .problemas musicais é, claro, muito diverso de vêlo buscando expressar . :suas emoções (o qvie, trivialmente, ninguém pode deixar de fazer).

 , Procurei dar uma idéia razoavelmente clara da diferença. entre essas duas teorias concernentes à música, a objetivista e a subjetivista, 

e busquei relacionálas com as duas espécies de música — a deBach e a de Beethoven — que, na época, me pareciam muito diversas, embora eu apreciasse ambas. .

Tornouse de importância para mim a distinção entre a visaó objetiva e a visão subjetiva de uma obra; e essa distinção, possodizêlo, matizOume as concepções acerca do mundo è da vida, desde os meus 17 ou 18 anos.

14. Idéias progressistas em Arte, especialmente em Música

Por cérto que nao era muito justo eu considerar Beethoven res  ; ponsável pelo surgimento do expressionismo em música. Não há 

dúvida de que ele sofreu influência do movimento romântico, mas podemos verificar, por seus livros de anotações, que estava m u i t olonge de apenas expressar os próprios sentimentos òu fantasias . ;

Amiúde, elè trabalhava arduamente versão após versão de uma idéiaj procurando darlhe simplicidade e clareza, tal como é possíy elver^se^; comparando a Fantasia Coral  com as anotações relativas;v^ ^ o f e ; :: Sinfonia . Entretanto, a influência indireta de sua personahdade. íemblí' pestuosa e as tentativas de emuláIo levariam* segundò crèio,.:av.iini

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declínio na música. Ainda me parece que, em grande parte, esse declínio foi provocado pelas teorias musicais expressionistas. Mas eu nao afirmaria agora que inexistam . outros credos igualmente perni-ciosos e, entre eles, alguns credos antiexpressionistas, que têm levado a toda espécie de experimentos formalistas, desde o sefialismo até a 

musi que concrèt e. Todos esses ^movimentos, contudo, e em parti-cular os movimentos tcanti” resultam desse ramo do “historicismo”, que examinarei logo adiante, nesta seção e, especialmente, da atitude histçricista em face do. "progresso”. '

Naturalmente que ; existe em Arte. algo como o progresso, no sentido de que se podem descobrir novas possibilidades, assim como novos problemas7&. Em música, invenções como a •do contraponto revelaram quase que uma infinidade de novas perspectivas e de questões novas. Além disso, há o processo púramente tecnológico 

puro (por exemplo, em certos instrumentos)' que, embora abrindo ca-minhos novos, não tem significação fundamental. (Alterações do “meio” podem afastar mais problemas do què criálos.) Goncebivel mente, há progresso até mesmo no sentido do aumento dó conhecimen-to musical, isto ê,  no sentido de um compositor dominar as descobertas feitas por seus grandes predecessorès; mas não creio que nada dessa ordem haja sido alcançado por qualquer músico. (Einstein talvez não tenha sido um físico superior a Newton, mas dominou comple-tamente a técnica newtoniána; nenhuma relação similar parece ter 

jamais existido no campo da música.) Mesmo Mozart, que, mais do que qualquer outro, se aproximou desse ponto, nao chegou a atingilo e Schubert dele sequer se aproximou, Há sempre também o perigo de que possibilidades recentemente concretizadas destruam as anteriores: os feitos dinâmicos, a dissonância e mesmo a moduláçao, caso utilizados demasiado livremente, podem desgastarnos a sensi bilidade para os efeitos mènos óbvios do contraponto ou, digamos, para uma alusão aos velhos modos.

A perda de possibilidades, como resultado de uma inovação, 

constitui um problema, interessante. Assim, o contraponto suscitou o perigo de se perderem, òs. efeitos monódicos e, especialmente, os rítmicos, e por essa razão a música de tipo contrapontístico foi criti-cada, como também o foi por sua complexidade. Não há dúvida de que: tàl ■crítica teve algumas; conseqüências salutares e de que grandes.mestres do contraponto., Bach inclusive, tiveram o maior interesse pelas dificuldades e contrastes que .decorrem da combinação de recitativoSjvárias e outras alternativas, monódicas com a escrita cóntrapontística. Muitos compositores recentes se mostraram menos 

imaginosos. (Schõnberg deuse conta de que, num contexto de

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dissonancias, as consonâncias devem ser cuidadosamente preparadas introduzidas e, talvez, até mesmo resolvidas. Isto significava, entre-tanto, que estava, perdida a velha função que elas desempenhavam.)

Foi Wagner80 quem introduziu^.,na' música uma idéia de pro-

gresso que (era 1935 aproximadamente); denominei “historicista” e éle se tomou, por isso, continuo a crer,oprincipal vilão da peça.  Defendeu Wagner também a idéia. ,.iiãocrítica, „e quase histérica do gênio incompreendido: gênio que expressa;;nãq, só.o espírito de sua época, mas que, na verdade, ,.es tá. ' adiante; ;.de ; seu tempo’5j um líder que, normalmente, é mal interpretado porvítodos os seus , çpntempo râneos, salvo uns poucos espíritos “avançados”, ■: ...... .;

Minha tese é a de que a doutrina da Arte como.'auto^èxpressão é trivial, confusa e vazia — embora não necessariámeri te., viciosa, a nãò ser que tomada, a sério* pois, nesse caso, poderá levar; facilmente a atitudes egocêntricas e à . megalomania. Mas a doutrina de . que o gênio tem de estàr adiante. de seu tempo é quase inteiramente falsa e viciosa, e expõe o universo da arte a juízos que nada têm a . ver cora valores artísticos.

Do ponto de vista intelectual, ambas as teorias se colocara em nível tão baixo que surpreende o fato de terem sido levadas a sério. Com base em argumentos puramente intelectuais, e sem mesmo con-

siderar de mais perto a própria Arte, a primeira dessas teorias pode ser descartada por banal e mal orientada. A segunda — a teoria de que a. Arte é expressão do gênio que. está adiante de sua época —  refutamna inúmeros exemplos de gênios apreciados em seu tempo por muitos patrocinadores das artes. A maioria dos grandes pintores do Renaseimento foi muito apreciada. ; E também o foram muitos .dos grandes músicos. Bach foi admirado pelo rei Frederico da Prússia

aliás, ele obviamente não estava à frente de seu tempo (tal como esteve, talvez, Telemann) : seu filho Gari Phillip Emanuel julgavao passé e a ele se referia habitualmente, chamandoo de “velho imper-tinente” (“ der aíte Z o p f ’ ) . Mózart, embora tenha morrido pobre, foi admirado em toda, a Europa. Uma exceção talvez seja Schubert, apreciado apenas por um círculo relativamente pequeno de amigos vienenses; mas ele começava a ser conhecido mais amplamente ao tempo de sua prematura morte. A história de que Beethoven não e r a estimado por seus contemporâneos não passa de um mito. JMaõ obstante, permitamme repetir aqui (ver seção 10, atrás) o nieu 

pensamento de que o êxito na vida é, em grande parle* uma questão de sorte. Isso tem muito pouco a ver com o mérito è erri todòâ :os campos da atividade humana houve sempre pessoas r; dotadas:.de

7,7 

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grandes qualidades que não alcançaram êxito. Ê, pois, de esperar que isso também tenha acontecido na esferã das Ciências e das Artes.

A teoria de que a Arte ayança com os grandes artistas é não apenas um mito;..levou à.formação de facções e de grupos de pressão que, com suas máquinas de propaganda, chegam quase a lembrar 

um partido político ou uma seita religiosa.Houve/ indiscutivelmente, grupos facciosos antes de Wagner. 

Mas não houve algo que se. assemelhasse aos wagnerianos (a não ser, posteriormente, os freudianos) : um grupo de pressão, um partido, uma seita com rituais. Entretanto, nada mais direi a este respeito, pois Nietzsche já disse tudo e muito melhor que eu 81.

Percebi de perto algumas dessas coisas na Sociedade de Con-certos Privados, de Schõnberg.. Schõnberg foi, de iníciò, wagneriano, como. tantos ,de seus contemporâneos.. Depois de algum tempo, seu problema e o de muitos membros do seu círculo passou a ser, como um ; deles disse numa conferência, “Como poderemos suplantar  Wagner?” ou mesmo ''Çomo poderemos superar o que* em nós, resta de Wagner?” Mais tarde ainda, a indagação tornouse “Como poderemos permanecer à vanguarda de todos os outros e, apesar  disso, suplantarnos constantemente a nós mesmos?” Pareceme, en-tretanto, que estar adiante da própria épòca nada tem a ver com servir à música, nada tem a ver còm a genuína dedicaçao à própria  obra. . '

Anton von Webern era, nesse ponto, uma exceção. Eoi músico dedicado e homem simples e agradável. Contudo, tinha sido. edu-cado na doutrina filosófica da autoexpressão, de cuja verdade jamais duvidou. ContOume ele, certa vez, como . havia composto seus Orchesterstücke: ouvia apenas os sons que lhe ocorriam e lhes dava forma escrita; quando não mais lhe ocorreram sons, parou. Essa, dizia ele, era a explicação da extrema brevidade de suas peças. Nin-guém poderia pôr em dúvida sua pureza de coração; mas não havia muita música , em suas modestas composições.

Talvez possa haver algo na ambição de compor uma grande obra; talvez essa ambição seja um instrumento para criar uma grande obra; porém,, muitas grandes obras foram produzidas sem outra. ambição que não a de executar bem o próprio trabalho. To-davia, ã ^mbição de compor uma obra, que esteja adiante da época 

: é;^úé;:; preferivelmente, não seja entendida demasiado cedo — que vcho.qúe: o? maior número possível de pessoas — é alheia à Arte, a 

 ;;: iespéitÒv:dè:..niuitos críticos de arte haverem estimulado e populari .•vzâlâiõfiSsSSÊr Liitude'.. ’•

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Á moda, suponho eu, é tao inevitável em Arte como era muitos outros campos. Entretanto, deveria, ser obvio •que os raros artistas que foram não apenas mestrès de sua arte, mas também distinguidos 

com o dom da originalidade, raramente se mostraram inclinados a  seguir a moda ou a criar moda. Ném Johann Sebastian Bach nem Beethoven nem Mozart criaram, em música, uma nova moda ou um novo “estilo”. Criouo, porém, Gari Philiip. Emanuel Bach, músico bem formado, que tinha talento e graça;; e menos. origina-lidade de invenção que os grandes mestres. O ;. que ficouf dito vale para todas as modas, inclusive a do prirUitivismo ^ : conquanto p primitivismo possa, em parte, decorrer de, uma preferência pela sim-plicidade; e uma das mais sábias observações de Schopénhauèr *

(embora talvez nao a mais original) foi a de que "Em toda arte ( . . . ) a simplicidade é essencial ( . . . ) ; pelo menos é sempre peri-goso, esquecêla” ®V Penso que ele pretendia referirse ao empenho de atingir a espécie de simplicidade que encontramos, de maneira especial, nos temas dos grandes compositores. Como podemos ver no Seraglio, por exemplo, o resultado será talvez complexo, mas. apesar de tudo, Mozart pôde responder orgulhosamente ao Impera-dor José que, naquela peça, não havia sequer uma nota de mais.

Conquanto as modas sejam inevitáveis e surjam novos estilos, devemos desdenhar ás tentativas de estar na moda. Deveria estar claro, que o “modernismo” — o desejo de ser original ou diferente a qualquer preço, de estar à frente da época, de produzir A Óbra de  A rt e do Fut uro  (título de Um ensaio de Wagner) — é algo estranho ao que um artista deveria valorizar e esfòrçarse por criar.

O historicismo em Arte não passa de um equívoco. Encontra-molo, apesar disso, em todos ps lugares. Mesmo no campo filosó-fico ouvese falar de um novo estilo de filosofar, de uma “Filosofia em Nova Clave” — como se importasse a clave e não a melodia, como se importasse o fato de a clave ser nova ou velha.

Claro que não reprovo um músico ou artista que tenta dizer álgo novo. Aquilo que reprovo em muitos dos músicos “modernos” é a incapacidade de amar a grande música — os grandes mestrès^ e suas obras miraculosas, as maiores,, talvez, que o Homem ja produziu.

15 •Últimos anos de Universidade

Em 1925, quando eu trabalhava com crianças •abandonadás, a ! Cidade de Viéna fundou um novo instituto de^educáçãó;. denòmi 

nado Instituto Pedagógico. O Instituto deveria vincularse, um tanto

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frouxamente, à Universidade. Seria autônomo, mas seus alunos fre-qüentariam cursos na Universidade, além de cursos desenvolvidos no próprio Instituto. . Alguns cursos universitários (como o de Psico-logia) eram obrigatórios para os alunos do Instituto, enquanto outros eram optativos. Tinha o novo Insdtüto o objetivo de facilitar e dar 

apoio à reforma, èntão em processo, das' escolas primárias e secun-dárias de Viena, è alguns interessados em trabalhos de caráter social  foram admitidos como alunos; eu: estava èntre eles. Entre eles esta vam também alguns amigos meus de toda a vida — Fritz Kolb, que após a Segunda Guerra Mundial fói embaixador da Áustria no Paquistão, .e Robert Lammer, os dois meus intérlocutores em muitas discussões fascinantes.

Isso queria dizer que, após um curto período como trabalhadores sociais, teríamos de abandonar a ocupação (sem auxílio de s emprego 

ou renda de qualquer espécie, exceto, no meu caso, a ocasional ajuda de estudantes norteamericanos). Estávamos entretanto entu-siasmados com a reforma escolar e ansiosos por estudar — ainda que a experiência com crianças abandonadas tivesse tornado alguns de nós céticos no que se referisse a teorias educacionais, que deve-ríamos absorver em grandes doses. Essas teorias eram. importadas, principalmente dos Estados Unidos da América (John Dewey) e da Alemanha (Georg Kerschensteiner).

De um ponto de vista pessoal e intelectual, os ános de Instituto 

foram, para mim, de grandé significação, pois ali encontrei a que seria minha mulher. Era uma de minhas colegas e tornarseia um dos mais severos juizes de minha obra. A parte qúe lhe cabe nessa obra, desde aquela época, é pelo menos tão ativa quanto a minha própria. Com efeito, sem minha mulher, grandeparte demeus tra-balhos jamais teria sido escrita.

Os anos que passei no Instituto foram anos de estudos, de lei-turas e de trabalhos — embora eu nada publicasse. Foram meus primeiros anos de docência acadêmica (naooficial). Ao longo de todo esse tempo, orientei seminários freqüentados por meus colegas. Conquanto, na época, eu não me desse conta, disso, foram seminários proveitosos. Alguns deles eram1despidos de qualquer formalidade e se realizavam durante excursões, enquartto esquiávamos ou quando passávamos o dia numa ilha, no rio Danúbio. Com os professores do Instituto, aprendi muito pouco, porém ‘ aprendi muito com Karl Bühler, professor d e,Psicologia da Universidade. (Embora os alunos do Instituto Pedagógico lhe freqüentassem asaulas, ele não ensinavano Instituto, nem tinha uma posição ali.)

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^Além dos seminários, ministrei aulas, também nãooficialmente, a fim de preparar meus colegas para os incontáveis exames que tinha mos de fazer, inclusive os exames de Psicologia, propostos por Bühler. Disseme ele mais tarde (na primeira conversa privada que mantive coín. um professor universitário) que aquele havia sido o grupo mais bem preparado que ele examinara.. Bühler fora chamado pouco antes para lecionar Psicologia, em Viena e, naquele tempo, era. mais conhecido por seu livro O Desenvolvimento..^Mental da  Cr i ança* ?. Ele fora também um dos primeiros psicólogos; da. Gestalt. De fundamental importância para meu desenvolvimento futuro loi sua teoria dos três níveis ou funções da linguagem (já referida, nota 78): a função expressiva (Kundgabefunk t ion) , a função de assina 

lamento ou liberação (Auslôsenfunktion)  e em nível superior, , a função descritiva (Darstel lungsfunkt ion ) . Esclarecia ele que as duas funções inferiores são comuns às linguagens humana e animal e de presença constante, ao passo que a terceira função é caracte-rística tãosomente da linguagem humana e, por vezes (como nas exclamações) está ausente até mesmo dela.

Essa teoria tornouse relevante para mim por várias razões. Ela confirmava minha concepção de improcedência da teoria de que a 

arte é autoexpressão. Levoume, posteriormente, a concluir que a teoria segundo a qual a arte é “comunicação” (isto é, liberação)84 também, era vazia, pois essas duas funções estão trivialmente pre-sentes em todas as linguagens, mesmo na linguagem animal. Le-voume a reforçar minha .visãó “objetivista”. E fez com que — alguns anos depois---- , às três funções apontadas por Bühler, éu acres-centasse a que chamei função argumentativa85. A função argu mentativa da linguagem revestiuse de particular importância para 

m im devido ao fato de eu considerála a base de todo pensamento crítico.

Estava eu no segundo ano do Instituto quando conheci o pro-fessor Heinrich Gomperz, a quem. fui apresentado por Karl Po lanyi. Heinrich Gomperz era filho de Theodor Gomperz (autor dé Pensadores Gregos, amigo e tradutor de John Stuart Mill). Tal como o pai, ele e ra profundo conhecedor da Grécia; além de inte réssarsè. muito por Epistemologia. Era o segundo filósofo profissio-

nal e o primeiro professor universitário de Filosofia que eu conhecia. Anteriormente, eu havia sido apresentado a Julius Kraft (de Hano ver, distante parente meu e discípulo de L e o n a r d Nelson)86, que viria a tornàrse professor de Filosofia e Sociologia em Frankfurt; 

. nossa amizade perdurou até sua morte, em 196087.

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 Julius Kraftj à semelhança de Leonard Nelson, era um. Socialista nãomarxista, e cerca de metade das discussões havidas entre nós, que freqüentemente se prolongavam até as primeiras horas da ma-nhã, tinham como tema central minha crítica de Marx. A outra metade das discussões girava em torno da teoria do conhecimento, especialmente em tórno da cham ada: “dedução transcendental”, =de Kant (em que eu via uma petição de princípio), da solução por ele proposta, para as antinomias,. e da “Impossibilidade da Teoria do Conhecimento” , de Nelson88. Em torno desses assuntos travamos árdua batalha, que se prolongou de 1926 a 1956 e, até um pouco antes de sua prematura morte, em 1960, nada anunciava que che-gássemos a um acordo. Quanto ao marxismo, logo nos pusemos em concordância. í

Heinrich Gomperz sempre , fòi paciente comigo. Tinha a repu-tação de ser mordaz e irônico, mas nunca constatei nada disso. Mos-travase muito espirituoso ao falar a respeito de colegas seus famosos, como Brentáno e Mach. De tempos em tempos, convidavame para visitálo em sua casa e deixavame falar. Em, geral, eu lhe dava trechos de manuscritos para. ler, mas eram poucos os seus  comen-tários. Jamais criticou o que eu dizia, mas chamoume a atenção . com muita freqüência para concepções afins é para livros e artigos que se ocupavam da mesma questão. Jamais deixou entrever que julgasse importante o que eu dizia, até que lhe encaminhei, alguns 

anos depois, 0 manuscrito de meu primeiro livro (ainda inédito —  ver seção 16, adiante). Nessa ocasião (dezembro de 1932), dirigiu me uma carta altamente elogiosa, a primeira que recebi acerca de: algo que escrevera.

Li todos' os trabalhos dele, que eram notáveis pela abordagem histórica: ele sabia como acompanhar um problema histórico através de todas as suas vicissitudes, desde Heráelito até Husserl e (pelo menos em, conversas)' até Otto Weiniriger, que ele conhecera pes~ soalménte e considerava quase um gênio. Discordávamos quanto à 

Psicanálise^ Na ocasião, ele acreditava na Psicanálise e chegou a colaborar em Imago.

Os problemas que eu discutia còm Gomperz eram os relativos à psicologia do conhecimento ou da. descoberta; foi durante esse período que eu os troquei pelos problemas da lógica da descoberta. Eu reagia mais fortemente contra qualquer enfoque “psicologista”, inclusive contra o psicologismo de Gomperz.

O próprio Gomperz havia criticado o psicologismo — apenas .p ala recair nele89. Foi principalmente em discussões com ele que

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comecei a acentuar, ò meu realismo, a convicção de que há um mundo , real e de que o problema do, conhecimento é o problema de saber como descobrir esse mundo. Convencime de que, se dese-jarmos discutir acerca do mundo, nao poderemos partir, de nossas experiencias sensoriais (nem mesmò de nossossentimentos, como a teoria de Gomperz reclamava) sob pena de sermos,.apanhados pelas armadilhas do psicologismo, do idealismo, do positivismo,, do feno menaíismo e àte do solipsismo — concepções a que . eu me . recusava" a atribuir importância. Meu senso de responsabilidade social;diziame que levar a sério tàis problemas eqüivalia a uma espécie de traição  do intelectual — e desperdício do tempo que devíamos dedicar a problemas verdadeiros.,

Como eu tinha acesso aó laboratório de Psicologia, realizei alguns experimentos que logo me convenceram de que os dados sensoriais, idéiás ou impressões “simples”, e outras coisas dessa mesma espécie, nao existem; são fictícios — invenções fundadas em errôneas tentativas de transferir o atomismo (ou a lógica aristotélica — ver adiante) da Física para a Psicologia. Os defensores da Psicologia da Gestalt  sustentavam concepções semelhantes, mas pareciame que estas não eram suficientemente radicais. Verifiquei que minhas con-

cepções eram análogas às de Oswald Kulpe e sua escola (a Würz  burger Schule)  , especialmente às de Bühler30 e de Otto Selz91. Tinham eles concluído que não pensamos por imágens, mas em ter-mos de problemas e de tentativas de solucionálos. Darme conta de que algumas de minhas conclusões haviam sido antecipadas, em particular por Otto Selz, foi, suspeito, uma das razões menores para ei} me' afastar da Psicologia.

Abandonar a psicologia da descoberta e da reflexão, à qual eu havia devotado anos, fpi um processo demorado, que veio a culminar na seguinte introvisão: ; entendi què a Psicologia da associação — a Psicologia de Locke, Berkeley e Hume — era simplesmente uma tradução da lógica aristotélica de sujeitopredicado em termos 

. psicológicos.A lógica aristotélica dá atenção a enunciados como “Os ho-

mens são mortais”: ‘Aqui, há dois “termos”;, e uma “cúpula” què os liga ou associa. Traduzase isso em termos psicológicos e dirsea que pensár consiste em ter eis “idéias” de homem « de mortalidade 

“associadas” uma, à'outra.' Basta ler as obras de Locke a partir desse ponto de vista para perceber como o fato ocorreu: seus pressupostos básicos são de que a íógica aristotélica é válida e de quedéscreve  

. nossos processos mentais subjetivos, psicológicos. Contudo, a lógica de sujeitopredicado é algo muito primitivo. (Pode ser encaxada

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como Interpretação de um reduzido fragmento de álgebra booleana, descuidadamente combinado, com uma pequena pòrçao de ingênua teoria.dos conjuntos.) i t incrível que alguém ainda a considere uma psicologia empírica.

Um novo passo adiante mostroume que o mecanismo de trans-

formar uma. doutrina lógica duvidosa em psicologia supostamente empírica ainda continuava em operação e apresentava perigos, mes-mo para um . pensador notável como Bühler.

Com efeito, ná Lógica de Kulpe82, que Bühler aceitava e muito admirava, os argumentos eram vistos como juízos complexos (o que é um erro do pontò de;vistayda Lógica moderna)93. Em conseqüên-cia, não podia haver úma distinção reál entre julgar e argumentar.  Outra/ícònseqüência era a de que a função descritiva da linguagem (correspondente aos “juízos”), e a função argumèntativa eqüivaliam 

à mesma coisá; assim, Bühíer deixara de perceber que elas poderiam ser tão claramente separadas, quanto as três funções da linguagem que ele já havia distinguido.

A função expressiva de Bühler poderia ser separada da sua fun-ção comunicativa (ou função de assinalamento, ou função de libe-ração) porque a um homem ou animal é dado expressarse ainda que não haja “receptor” a ser estimulado. O conjunto das funções expressiva e comunicativa poderia distinguirse da função, descritiva de Bühler porque um homem ou animal pode comunicar o medo 

(por exemplo) sem descrever o objeto temido. A funçãò descritiva (função superior, ao ver de Bühler, e apanágio do homem) era, ségUndo verifiquei então, claramente distinguível da função argu mentativa, pois existem linguagens, como a dos mapas, que são des-critivas, mas nao argument^tivas94. (Isso, anotemos de passagem,torna particularmente infeliz a analogia corrente entre mapas e teo-rias científicas. As teorias são sistemas de enunciados essencialmente argumentativos:. seu ponto principal é explicarem de forma dedutiva. Os mapas sao nãoargumeiitativos. Está claro que toda teoria é também descritiva, à semelhança de um mapa — e é, como todas

 as linguagens descritivas, comunicativa, de . vez que pode levar as pessoas a agir; e é também expressiva, pois se constitui em sintoma cio . “estado” do comunicador — que poderá ser, talvez, um compu-tador,). Havia, assim, um segundo. caso, ém que um erro de Lógica . levava •.a ?erro em Psicologia envolvendo, nesta hipótese, a psicologia 

: idaferdispqsições lingüísticas e das necessidades biológicas inatas, sub-jacentes: aos usos e realizações da linguagem humana. ífe4#|FLudo;.iss6 marcava a meus olhos a prioridade do estudo da  Lógiçai.flsobre o . estudo dos processos subj et i vos de pensament o . E

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fezme suspeitar dé muitas das teorias psicológicas aceitas na época. Cheguei, por exemplo, a conclusão de que a teoria do reflexo con- di cionado e erroneà. Não há ref l exo condi cionado. Temos de en-tender que os cães de Pavlóv estão buscando invariantes no campo 

dá obtenção de alimentos (campo que é essencialmente “plástico35, ou, em outras palavras, suscetível de modificação por tentativa e erro) e que estao formulando expectativas ou. antecipações acerca de even-tos por se realizarem. A isso podeirseia: chamar “condicionamento” ; não se trata, porém, de um reflexo formado como conseqüência de um processo de „aprendizado^ mas dei uma descoberta (equivo-cada, talvez) acerca do que antecipar 95. Assim,até mesmo os re-sultados aparentemente empíricos obtidos por; Pavlovji e a Reflexo logia de Bechterev 96} e a maioria das conclusões dá moderna teoria 

do aprendizado mostraram, sob esse ponto dé vista,;. ser ; interpreta-ções errôneas, de caráter lógicoaristotélico, dos próprios / fatos por elas verificados; pois a reflexologia e a teoria do condicionamento não passam de psicologia da associação, traduzida em termos neu-rológicos.

Em 1928, apresentei, uma tese de doutoramento que, embora fosse o resultado indireto de anos de trabalho no campo da psicologia, do pensamento, e da descoberta, assinalou finalmente meu afasta-mento da Psicologia. Deixei inacabado p trabalho relativo à esfera psicológica; eu nao dispunha'nem mesmo de cópia decente da maior parte do que havia escrito; e a tese "A Propósito do «Problema do Método na Psicologia do Pénsamento” 97 era uma espécie de peça de última hora, originalmente concebida apenas como introdução metodológica a meu trabalho em Psicologia, embora indicativa ágora de minha transferência para o campo da Metodologia.

A tese me desagradou muito, e nao voltei sequer a olhála. Também me desagradaram muito meus dois exames “rigorosos” 

(“ Ri gorosum3> era o nome dos exames orais públicos pára obtenção do título de doutor em Filosofia), um de História da Música e o outro de Filosofiá e Psicologia. Bühler,. que já me haviaex;aminado em Psicologia, não. fez nenhuma pergunta relativa a essa matéria, mas estimuloume a falar de minhas ideias acerca de Logica e de Lógica da Ciência. Schlick argüiume principalmente a proposito de História dá Filosofia e me saí tão mal em Leibniz que temi uma reprovação. Quase não acreditei em meus ouvidos quando soube que fora aprovado em ambos os exames com o mais alto grau, “einst immig mit Auszeichnung”. Sentirme naturalmente aliviado e feliz, mas foi 'preciso que algum tempo se passasse para eu me liber-tar da sensação de que merecia ter sido reprovado.:

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16. Teoria do conhecimento: “L.ogit der Forschuhg”

Doutoreime em 1928 e no ano seguinte qualifiqueime para o ensino de Matemática e Física em escolas secundárias*. Para obter essa qualificação, preparei uma tese sobre problemas de axiomati zação em Geometria, na qual havia também um capítulo devotado às geometrias naoeuclidianas. ” ;

Só após o exame d e: doutoramento foi que consegui coordenar meus pensamentos e colocar minhas antigas idéias em seus devidos lugares. Compreendi .por que se havia enraizado fortemente, desde Bacon, uma errônea .teoria dá ; Ciência — . a de que as Ciências Na-turais eram ciências indut ivas e que a indução era um processo de estabelecimento: ou justificação de teorias, mediante observações ou 

experimentos repetidos. ' O :motivo què/levava essa concepção a do-minar .estava em que os cientistas procuravam demarcar suas. ativida-des, separandoas da pseudociência, bem como da Teologia e da Metafísica, e usando como critério de demarcação o método indutivo proposto por Bacon. (De outra, ‘parte, eles ansiavam por justificar suas teorias valendose de fontes de. conhecimento comparáveis, quanto à fidedignidade, às fontes religiosas). Entretanto, eu tinha em mãos, havia vários anos, um critério de demarcação mais satisfatório: tes tabilidade ou falseamento.

Erame possível, pois, deixar de ladò a indução, sem com isso envolverme em dificuldades relacionadas com a demarcação. Além disso, eu estava em condições de aplicar os resultados do método de tentativa e erro de manieira tal que toda a .metodologia indutiva fosse substituída por. metodologia dedutiva. A refutação oü. falseamento de teorias, através de refutação ou falseamento de suas conseqüên-cias dedutivas, era, obviamente, uma inferência dedutiva (modus  tol lens). De acordo com essa concepção, as t eor i as cient ífi cas  , se  não for em refut adas, devem cont i nuar com o carát er dè hipót ese  

ou conjecturas.Esclareceuse, portanto, dessa maneira, toda a questão do mé-

todo científico e, com ela, a questão do progresso científico. O progresso consistia num movimento em direção a teorias que nos dizem.< sempre mais — teorias de conteúdo sempre maior. Entretanto, quanto, mais uma teoria afirma, tanto mais ela exclui ou proíbe, dé ..modo que crescem as oportunidades para seu falseamento. Assim, avrteoria de maior conteúdo é a que admite as provas mais severas.

^Primeiro" nível, que eqüivale no Brasil ao antigo ginásio, isto é, aos ^uaüòtíúltimos anos do atual curso de primeiro grau (N . dos T .) .

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Tais considerações levaram a uma teoria era queiO íprogresso^èntífiÊÒ demonstrou consistir, não em acumulação de observações, mas;?ern superação de teorias menos satisfatórias, e sua substituição porHço . rias melhores, ou seja, em particular, por teorias de maior .:éonteúdò. 

Havia, portanto, competição entre as teorias — uma espécie ;de,'iuta darwiniana pela sobrevivência.

Está claro que teorias que pretendemos sejam simples còrijèctütàâ ou hipóteses dispensam justificativas (e dispensam, sobretudo^ ; justi-ficativas baseadas num inexistente “método indutivo”, que nuncá chegou a ser adequadamente descrito). Contudo, é possível aprer •sentar muitas vezes razões que nos levam a preferir uma das conjec^ turas, em luta, à luz da discussão critica delas ®®.

Tudó isso era claro e, se me permitem dizêlo, muito coerente,. Mas diferia fundamentalmente do que sustentavam os positivistas machianos e os wittgensteinianos do Círculo de Vièna. Eu ouvira falar do Círculo em 1926 ou em 1927. A primeira vez,, num artigo de Otto Neurath, divulgado em jornal; a segunda, numa palestra 

. feita pelo próprio Neurath a um grupo de jovens do partido social democratâ. (Esta foi, aliás,, a única vez em què participei de uma reunião de partido; e compareci porque já havia ouvido falar de Neurath, a quem conhecia ligeiramente desde 1919 ou 1920.) Eu 

havia lido à produção programática do Círculo e do F erein  Ernst Mach; em particular, um panfleto preparado por meu professor, o matemático Hans Hahn. Também já conhecia o Tractatus, de  Wittgenstein, arios antes da preparação de minha tese de^ doutora-mento; e lia os livros de Carnap, à medida em que e r a m publicados.

Pareçiame qüe todos esses estudiosos procuravam ura critério de demarcação qúe separasse, não tanto a Ciência da pseudociência, mas, antes, a Ciência da Metafísica. Também me parecia claro que meu velho critério de demarcação era melhor do que o proposto 

por eles. Com efeito, eles; procuravam encontrar, antes de tudo, um critério que tornasse, a Metafísica um contrasenso destituído de sig-nificado, mero palavreado vazio, e qualquer critério desse gênero tendia a suscitar dificuldades, uma vez que as idéias metafísicas saò com freqüência as precursoras de idéias científicas. Além disso,; a demarcação feita em termos de significado e naosignificado limita vase a postergar o problema.. Como o Círculo r e c o n h e c e u , essà demarcação criou a necessidade de um novo Critério, capaz de dis-tinguir o que tem do que nao tem significado. Tal critério, oâ mém1 

bros do Círculo o encontraram na verificabilídade, entendida/como comprobabilidade por via de enunciados de observação^. Isso;' ; po-rém, era apenas outra maneira de formular o v e n e r á v e l . critério idos

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indutivistas; não havia diferença real entre as idéias de indução e de verificação. Entretanto, de acordo com meu modo de ver, a  ciência não tinhá caráter indutivo; a indução era um mito que havia sido destruído por Hume, (Ponto adicional, menos interessante,, posteriormente acolhido por Ayer, era o de que parecia absurdo usar  

a verificabilidade. como critério de significado: como sustentar que uma teoria, por não ser passível de verificação, é palavreado oco? Pois não era necessário entender uma teori^. para. julgar a possibili-dade de sua verificação? E uma teoria compreensível podia ser palavreado oco?) Tudo isso me.levou a considerar que eu possuía, para cada um dos principais problemas abordados pelo Círculo, res-postas melhores — respostas mais coerentes — do que as oferecidas por eles.

O ponto principal, talvez, estava era que eles eram positivistas 

e, por conseguinte, idealistas. epistemológicos, na tradição Berkeley Mach. Está claro que eíes não admitiam ser idealistas. Descre-viamse como “monistas neutros”. Em: minha opinião, porém, esse é apenas outro nome do idealismo H "e acresce que o idealismo presente nas obras de Garhap39 (sob o nome de solipsismo metodo-lógico) éra mais ou ; menos abertamente aceito como hipótese de trabalho..

Escrevi bastante acerca desses temas (sem todavia publicar o que escrevi), estudando minuciosamente os livros. de Carnap e ide 

 Wittgenstein. As idéias ordenaramse de maneira coerente, sob o prisma das concepções a que eu tinha chegado. Havia apenas uma pessoa a quem eu podia apresentar, essas idéias — Heinrich Gomperz. No tocante a um dos pontos capitais de minhas concepções — o de que as teorias científicas sempre se mantêm na condição de hipó-teses ou conjecturas ~ Gomperz recomendou que eu lesse a obra On Assumpt iòns (t )ber Ânnàhmen^  1902) de Alexis Meinòng. A meu ver, Méinong .mantinhase, nessa obra, demasiado preso ao psi cologismo e, além disso, aceitava implicitamente — como Husserl, 

nas suas Logical Inüestigations (Lôgische ZJntersuchungen, 1.900, 1901) ~ que as teorias científicas fossem verdadeiras. Durante mui-tos anos, percebi que ás pessoas tinham grande dificuldade em admi-tir que, logicamente' consideradas, teorias eram o . mesmo que hipó téses. A concepção prevalecente era a de que as hipóteses seriam teorias ainda não comprovadas, e de'que teorias, seriam hipóteses esta-belecidas ou comprovadas. Mesmo os que admitiam o caráter hipo-tético de todas as teorias acreditavam que estas necessitavam de alguma justificação; que, se não fosse possível demonstrarlhes a 

verdade, era preciso estabelecer pelo menos sua elevada probabilidade.

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.O ponto decisivo, no que concerne ao Caráter hipotético de todas as teorias, parecia* no xneu vmodo de. verj vumaf consèqüência razoavelmente trivial da revolução einstèniana, a qualmostrara que nem mesmo a teoria mais satisfatoriamente súbmètidá a .prova; como 

a de Newton, deve ser encarada. Gomo.tralgo ., situadp acima, do.'íníve 1das hipóteses, como unia.. proximaçãouÍGlà ,:verdade,.

Poi* haver eu. perfilhado o dèpquéas teorias sao sistemas hipat é ticp dédütivos;;; e ?~d ei.qúé p "m é tò do «da Ciência não é indutivo — ,' Çomperè?íre^tfeüm^Kraft, um membro do Círculo■de .■*Vièhla^í^tò^ dè Üín; 4iyíõ: sóbre 'A s Formas. Básicas .do Método  •q^htinftainunãdescrição. muito valiosa de vários métodós êfeüvamèhtèi;; empregados na Ciência e acentuava que pelo menos algtitfs" de, tafer làétoüòs^nãor. sao indutivos, mas dedutivos — hi potét i codedut i vosr  Gò mpèrz> ;déu me uma apresentação para Victor Kraft (que não tem'rélaçãòíeòm  Julius Kraft) e falei com ele diversas vezes no Volksgafterij úm;par que situado nas cercanias da Universidade. Victor Kraft foi o ípri mèiro membro do Circulo de Viena com quem tive a oportunidade de falar pessoalmente (a nao ser que eu inclua Ziísel entre os mem-bros do Círculo, mas ele, segundo Feigl101, não era membro) . Kraft dispôsse à ouvir minhas criticas às idéias sustentadas pelo Círculo— còm muito mais boa vontade que a maioria dos membros com quem rpude falar posteriormente. Mas lembrome de como ficòu  chocado quando eu predisse que a filosofia do Círculo se transfor-maria numa nova f o r m a de escolasticismo e de Verbalismo. Essa  previsão, no meu entender, concret izouse . Refirome à c o n c e p ç ã o  p r o g r a m á t i c a de que a tarefa da Filosofia é a “explicação de, 

conceitos”.Em 1929 ou 1930 {ano em que, afinal, fui designado para um 

posto no magistério secundário) falei com outro membro do Círculo 

de Viena; Herbert Feigl102. O encontro, preparado por meu tio  Walter Schiff, professor de Estatística e Economia na Universidade de Viena, que sabia de meu interesse pelas questões de Filosofia, foi decisivo em minha vida. : Eu já havia encontrado antes algum esti-mulo no interesse demonstrado por Julius Kraft, Gomperz e Victor Kraft. Entretanto, nenhum deles animoume a . divulgar minhas idéias, embora soubessem que eu já escreverá muitos trabalhos (ainda inéditos)103. Gomperz prevenirame, na. verdade, de que era muito difícil divulgar quaisquer  idéias filosóficas. (Os tempos mudaram.) 

E essa afirmação tinha pôr base o fato de que o grande livro de Victor Kraft acereá dos métodos científicos só fora publicado por contar com. o apoio dé um fundo especial.

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Herbert feigl, porém, durante o nosso encontro, que se pro-longou noite adentro, disseme que não só achava minhas idéias im-portantes, quase revolucionárias, como achava também que eu devia divulgálas cm forma de livrp 104.

Nunca me havia ocorrido escrever um livro. Eu havia desen-volvido ás idéias em função do interesseque me despertavam os pro-blemas e havia colocado muitas delas, np papel para meu próprio uso, pois isso permitia que tornásse claras as noções discutidas e abria margem para a autocrítica. Naquela época,, eu me conside-rava um kantiano nãoortodoxo e, ao . mesmo tempo, um realista105. Admitia, com os idealistas, que nossas teorias, são ativamente produ-zidas pelas nossas mentes (em vez de .se. apresentarem como fruto de impressão que a realidade exerceria sobre nós), e que as teorias  

transcendem nossa ‘'experiência” ; contudo, eu sublinhava que o fal-seamento podia ser entendido como um conflito direto com a reali-dade. Também interpretava a doutrina'kantiana da impossibilidade de se chegar áo conhecimento das. coisas em si còmo algo que cor-respondia ao permanente caráter hipotético de nossas teorias.* Quanto  ao pròhlema da Ética, eu me julgava, aí também, um kantiano. Naquele tempo, eu costumava pensar que minha crítica ao Círculo de Vièna resultava simplesmente do fato de ter lido Kant e com-preendido algumas de suas principais concepções.

Creio que eu nao téria escrito um livro se não fosse o estímulo de, Herbert Feigl. Escrever livro não se coaduna com meu modo de viver, nem com a atitude que tinha para comigo mesmo. Eu simplesmente não me animava a crer que os outros pudessem inte-ressarse por aquilo que me interessava1 a mim. Acresce que não voltei a receber nenhum outro encorajamento como o de Feigl, depois que ele viajou para os Estados Unidos; Gomperz, a quem relatei a história de meu emocionante encontro com Feigl, desen-corajoume de todo; e o mesmo fez meu pai, que temia viesse eu a  transformarme em jornalista, Minha esposa opôsse à idéia.de éu escrever o livro, pois queria que usássemos ò tempo livre para passear nas montanhas, esquiando e praticando alpinismo — as atividades que nos davam, maior prazer. Entretanto, assim que iniciei a tarefa, ela aprendeu datilografia, e passou a dátilografar tudo que dâí por  diante eu viria &  escrever. (De minha parte, não consigo usar a máquina . de escrever, pois tenho o hábito de corrigir e emendar muitas vezes, o que registro no papel.)

O livro que escrevi focalizava dois problemas — o da indução e o da demarcação — e suas mútuas relações.: Nasceu, desse modo, o seu título, O s D o i s P r o b l em a s F u n d a m en t a i s d a T eo r i a d o C o n h ec i  -

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mento {Die beiden Grundprobleme der Erkenntnistheorie ) , alusão a um título de Schopenhauer, Die beiden Grundprobleme der Eth.iL

Assim que alguns capítulos ficáram prontos, deios a ler ao meu 

amigo e excolega do Instituto Pedagógico, Robert Lammer. Èle foi o leitor mais meticuloso, e mais. ;crítico de quantos encontrei: atacou cada úm dos pontos que não achava cristalinamente claros, discutiu cada falha de argumentação/ debateu cada. uma das: fraquezas de minha exposição. Eu havia preparado ra primeira; versão meio às pressas, mas graças:; aòs cornéntáridsv áè  Lammer,. graçasao que áprendi com sua crítica insistente, nunca mais ;ívoltei a :ésCrever assim. Também aprendi a não defender qualquer coisa : que;; eu: escrevesse da acusação de falta de clareza. Se. um leitor cuidadoso considera 

obscura' uma passagem, ela deve ser reescrita. Adquiri, .dessa ;maneira, o costume de escrever a mesma coisa diversas vezes, esclarecendo e simplificando. Creio que esse costume eu o devo quase inteiramente a Robert Lammer. Escrevo, pòr assim dizer, com alguém ao méu lado, constantemente assinalando os trechos que não estão claros. Sei muito bem que não se pode antecipar todas as possíveis causas de malentendidos; mas penso que é viável evitar alguns deles, admi-tindo que o leitor deseja entender o que lê.

Por intermédio dè Lammer, eu havia conhecido Franz Urbach, físico experimental qúe trabalhava no Instituto de Pesquisas de Ra dium daUniversidade de Viena. Tínhamos vários pontos de afini-dade (a Música era um deles) e Urbach me encorajou bastante. Apreseiitoume a Fritz Waismann, que formulara pela primeira vez o famoso critério de significado — . o critério da verificabilidade de significação — com o qual, por muitos anos, se identificou o Cír-culo de Viena. Waismann mostrou grande interesse por minhas cri-ticas. Creio, que foi por iniciativa dele que recebi o primeiro convite 

para ler alguns artigos, em que criticava as concepções do Círculo, num dos grupos “epicíclicos” que, por assim dizer, constituíamlhe o “halo”.

O Círculo propriamente dito, segundo depreendi, era constituído pelos intègrantes dó seminário conduzido por Schlick, os quais se reuniam nas noites de quintafeira. Participavam apenas aqueles a quem Schlick convidava. Nunca fui convidado a participar das reuniões e nem insinuei que desejaria receber tal convite106. Con-tudo, havia outros grupos, que se reuniam em vários locais, como, digamos, os apartamentos de : Victor Kraft ou de Edgar Zilsel; . e havia, ainda, o . famoso mat êmat i sches Col l oqui um , de Karl Menger, Vários desses grupos, de cuja existência eu nem ouvira falar, con

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vidàramme a apresentar . minhas críticas às doutrinas principais do Circulo de Viena. Foi no apartamento de Edgar Zilsel, numa sala repleta de ouvintes, que li meu primeiro artigo. Lembrome ainda hoje do nervosismo que ine acometeu.

Em algumas dessas primeiras palestras, eu discutia também pro-blemas relativos à teoria da probabilidade. De todas as interpretações existentes, a que me parecia mais convincente era a chamada “in-terpretação em termos de. freqüências” e, dentre estas, a mais satis) fatória pareciame ser a de Richard von Mises. Ainda assim, ela deixava em aberto alguns pontos difíceis, particularmente quando vista dp prisma de que os enunciados acerca de probabi l i dades são  hipóteses. A questão principal era esta: são passíveis de prova?  Tentei discutir esse ponto e alguns pontos correi atos, e tenho, desde então, aperfeiçoado, sob vários ângulos, a minha maneira de ver 

o problema*07. (Certos aperfeiçoamentos não foram divulgados até hoje.)

' Vários, membros do Círculo, alguns dos quais haviam estado nessas reuniões, convidaramme a debater pessoalmente com eles çer  

. tas questões nelas, discutidas. Entre eles, Hans Hahn, qúe tanto ,me impressionara em suas aulas, e Phillip Fraiík e Richard von Mises (que. visitavam Viena com regularidade). : Háns Thirrirlg, o físico teórico,, convidoume a . proferir palestra iio seminário por ele con-duzido;. e K a rl Menger convidòume a . integrar ~o grupo que parti-

cipava de seu colóquio. Devo a Menger a sugestão, (que me ofereceu quando lhe pedi seus comentários) de que aplicasse a sua teoria das dimensões à comparação dos graus de testabilidade.

Completei, no início de 1932, o que julgava ser o volume I de. Os Doi s Problemas Fundament ai s da1 Teori a do Conheciment o. O livro fora concebido, desde o princípio, como uma ampla discussão crítica e como uma correção das doutrinas do Círculo de Viena; longas seções eram. também dedicadas a criticar Kant e Fries. A obra, que nao chegou aindá a: ser publicada, foi lida por Feigl e, em seguida, por Carnap, Schlick, Frank, Hahn, Neurath e outros mem-bros do Círculo; e também por Gomperz;

Schlick e Frank aceitaram o livro èm 1933, para publicálo na  série Schriften zur wissenschaftlichen Weltauffassung  , que dirigiam. (A série era composta, sobretudo, de obras escritas pelos membros do Círculo de Vièna. Gontudo, os editores .. da Sprihger Verlag, insis-tiram em que o manuscrito fosse ; radicalmente? reduzido. Na ocasião em que o livro foi aceito,, eu já> haviam preparado quase todo o se 

' guhdo volume. Isso . queria dizer, que apenas um esboço de meu tra-

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balho poderia ser divulgado no número de. páginas, quéoa iSpíinger aceitara publicar. Com a anuência de Schlick e .Fjank;;jpreparei' novo manuscrito, que consistia de extratos dos dois volumes, Mesmov.esse 

manuscrito, foi devolvido . pelos editores por •excessivamen te longo. A Springer insistia. num total maximò de 15 folhas (que còrresponr dem a 240 páginas comuns) . A versão final ~ por fim publicada com o titulo de L ogik der Forschung — foi elaborada por meu ;tio,  Walter Schiff, que cortou impiedosamente cerca da metade do téxto original108. Não creio que, téndo procurado, com tanta insistência  tornarme claro e explícito, eu mesmo pudesse fazer os desejados cortes.

Dificilmente poderei dar aqui um esboço daquele esboço que 

se tornou a minha primeira obra publicada. Há, entretanto, um òu dois pontos que desejo mencionar* O livro devia oferecer uma teoria do conhecimento e, ao mesmo tempo, pretendia ser um tratado  acerca do método — o método da Ciência. Tal combinação era viável porque, no meu entender, o conhecimento humano consiste em teorias, hipóteses e conjecturas que nós formulamos como pro-duto de nossas atividades intelectuais. Há, é claro, outra maneira de encarar o “conhecimento” : podese considerálo como um “es-tado de espírito” subjetivo, como um estado subjetivo de certo orga-nismo. Para mim, contudo, o conhecimento era um sistema; de enunciados — teorias' apresentadas à discussão. O “conhecimento15, neste sentido, é objetivo;  e é hipotético ou conjectural.

Essa maneira de ver o conhecimento permitiame reformular o probl ema da i ndução, de Hume. Nessa reformulação objetiva, ele deixava de ser um problema acerca de nossas crenças — ou da Nacionalidade delas — para transformarse num problema acerca das relações lógica;s entre enunciados singulares (descrições de fatos 

singulares “observáveis” ) e teorias universais.Dessa fo tma  , o probl ema dà i ndução t ornase resol vível 103; não 

há indução, porque teorias universais não são deduzíveis de enun-ciados singulares. Mas elas podem . sêr refutadas por enunciados singulares, pois estes podem conflitar com descrições de fâtos observáveis. r

Acresce que é possível, em sentido objetivo, falar de teorias “melhores” e “piores”, mesmo antes de submetêlas a prova: teorias 

melhores são as de conteúdo maior e de maior poder explicativo (conteúdo e poder vistos sob o ângulo do problema que tentamos resolver). E as teorias melhores são, como pude m o s t r a r , as téòíiás mais suscetíveis de prova; e — quando resistem a ela —aá tèónas mais bem testadas. '

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Esta solução do problema da indução dá, origem a uma novà teoria do: método da Ciência, dá origem a uma análise do método  crít i co, o método da tentativa e erro: o método da apresentação de hipóteses ousadas, com o fito de submetêlás a severas críticas que 

permitirão identificar os pontos em que erramos.Sob o prisma dessa metodologia, i iniciamos nòssas investigações 

partindo de problemas. Sempre nos encontramos numa situação pro-blemática e escolhemos um problema que esperamos poder solucio-nar. A solução, que sempre tem o caráter de tentativa, consiste numa teoria, numa hipótese, ‘niimá, conjectura. As várias teorias rivais sao comparadas e discutidas criticamente, a fim de identifi-carse suas deficiências; os resultados permanentemente cambiantes, sempre inconcludentes, dessa discussão crítica, formam o que poderia 

ser denominado “a ciência do momento”;Não há, poi s, i ndução:  núnca argumentamos passando dos fatos 

para as teorias — a não ser com o objetivo de refutar ou “falsear” as teorias. Essa maneira dè ver a Ciência pode ser descrita como seletiva, ou darwiniana. Èm oposição, teorias do método que asse-veram procèderinps .por indução, òu seja, què enfatizam a verifica- ção  (em .vez. do: falseamento)  , são tipicamente lamarckianas; elas realçam, a i nst rução, provinda do ambiente, em vez de realçar a sel eção, feita pelo ambiente.

Cabe lembrar (embora esta nao fosse uma tese do Logik der  Forschung)  que a solução proposta para o problema da indução mostra, paralelamente, que há solução para um problema ainda mais antigo — o problema d a . racionalidade de nossas crenças. Com efeito podemos, de iníçio, substituir a idéia de crença pela idéia de ação; a seguir, podemos dizer que os atos (ou os nãoatos) são “racionais” quando praticados , em consonância com o estado atingido, no momento, pela discussão científica e crítica. Nao há melhor sinônimo para “racional” do que “crítico”. (A crença, naturalmente, 

nunca é “racional” : racional é ia suspensão  da crença; conferir nota ^226. adiante.)

Minha solução para o problema da indução tem sido em grande  parte mal compreendida. Acerca desse' ponto, ver as “Réplicas a meus: críticos” 109a. . 1

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17. Quem matou o positivismo lógico?

O positivismo lógico, portanto, está morto; tao  morto quanto pode estar mórto um movimento  

filosófico. J o h n : P a s s m o r e

Em virtude da maneira pela qual nasceu, meu livro Logik der  Forschung, publicado em fins de 1934, tomou, em parte, a forma de crítica ao positivismo. A mesma forma tomaram o livro prece-dente, não publicado, de 1932, e minha breve carta aos editores, enviada em 1933 aos responsáveis pela revista Erkenntnis 111. Entre-tanto, uma vez que minhas concepções eram, nessa época, ampla-

mente discutidas pelos membros do Círculo, e uma vez que o livro apareceu na série dirigida por Frank e Schlick, série destinada emi-nentemente a divulgar o, pensamento positivista, esse aspecto do Logik der Forschung  teve curiosas conseqüências. Uma delas foi a de filósofos ingleses e norteamericanos (com raras exceções, como é o caso de J. R. Weinberg m ) situaremse entre os positivistas lógi-cos — ou, na melhor das hipóteses, como um membro dissidente do positivismo lógico, que apenas sugeria uma substituição do critério de verificabilidade pelo critério de falseabilidade113. O malenten dido perdurou até a publicação da versão inglesa de meu livro, em 1959, com o título Logic of Scient i f ic Discovery. Os próprios posi-tivistas lógicos, lembrando que o livro havia sido publicado na série editada por Frank e Schlick, preferiram verme. antes como aliado, do que crítico113a. Eles imaginavam que podiam esquivarse à mi-nha crítica mediante algumas concessões----preferivelmente mútuas— e com auxílio de certos estratagemas verbais114. (Assim, por exemplo, persuadiramse a si mesmos de que eu concordaria em subs-

tituir verificação por falseamento como critério de signif icatividade.)  Uma vez que não voltei à carga (pois lutar contra o positivismo lógico nao era um de meus interesses principais), os positivistas lógi-cos hão sentiram que sua doutrina estivesse sèriaménte ameaçada. Antes da Segunda Guerra Mundial (e mesmo depois dela) conti-nuaram a surgir livros e artigos em que estava patente o processo de concessões e pequenos ajustes. Contudo, nessa ocasião o posi-tivismo lógico já estava morto.

Todos sabem, atualmente, que o positivismo lógico está morto.Mas poucos se lembram de que há uma questão a propor aquiapergunta “Quem é o responsável?”, o u antesJ:, cíQuem matou: o . po-sitivismo lógico?” (O excelente artigo de cunho histórico, escrito por  Passmore e citado em n. 110, não suscita a pergunta.) Receio , que

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eu deva assumir essa responsabilidade. Todavia, não agi proposita-d a m e n t e : m i n h a i n t e n ç ã o era apenas assinalar o que me parecia uma série de enganos fundamentais. Passmorè afirma, corretamente a m eu ver, que á dissolução do positivismo lógico deveuse a um grande número de insuperáveis dificuldades internas. A maior parte 

dessas dificuldades eu as tinha sublinhado em minhas preleçÕes e discussões e, de modo especial, no meu livro Logik der For schung^ 1   Alguns membros do Círculo perceberam a necessidade de fazer alte-rações. As sementes,, portanto, haviam sido lançadas. Elas levaram, no curso dos muitos anos seguintes,, à desintegração. das teses defen-didas no Círculo.

Todavia,. a desintegração do Círculo antecedeu a de suas teses. O Circulo de Viena era uma instituição admirável. Com efeito, foi um seminário singular, em que os filósofos trabalhavam em coope-

ração estreita com matemáticos e cientistas de primeira linha, muito interessados em problemas; de Lógica e . ftos fundamentos da Ma-temática; um seminário que atraiu: alguns dos grandes inovado-res 'nessa áreà, como Kurt Gõdel e Alfred Tarski. O desapare-cimento do Círculo foi uma: perda muito séria. Pessoalmenté, tènho uma dívida de gratidão para com alguns dos integrantes do Círculo, especialmente Herbert Feigl, Victor Kraft e Karl Menger — sem falar em Phillip Frank^  Moritz Schlick, que acolheram meu livro, apesar das. críticas severas que eu lhes fazia às concepções. Acresce que foi indiretamente através do Círculo que eu conheci Tarski, 

primeiro na Conferência de Praga, em agosto dê 1934 (quando eu levava comigo as provas tipográficas de Logik der Forschung ) , de-pois em Viena, 193435 e, mais uma, vez, no Congresso dè Paris, em setembro de 1935. E Tarski, mais do que qualquer outra pessoa, foi quem mais coisas me ensinou.

O que, porém, me fascinava no Círculo de Viena era à “atitude científica”, ou, como agora prefiro denominála, a atitude racional. Essa atitude foi retratada com muita felicidade por Carnap nos três últimos parágrafos do Prefácio da primeira edição de seu livro prin-

cipal, Der Logische Aufbau der Welt. Discordo de muitas afirma-ções feitas por Carnap;. até mesmo nesses três parágrafos há pontos que considero errôneos: embora concòrde com ele, quando afirma que há alguma coisa de “deprimente” (niederdrückend)  na maioria dos sistemas filosóficos, nãopenso que a "pluralidade” desses sistemas é que deva ser condenada; também acho que é um erro exigir a  eliminação da Metafísica, como errado está dizer que ela deva ser eliminada porque “suas teses nao podem ser racionalmente justifi-cadas’?. Conquanto a reiterada solicitação de “justificações”, por

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parte de Carnap, mé tenha ..parecido (e ainda m erpareça^ fmróf .erro grave, , esse ponto é quase insignificante no caso presénte.feífâe ^átò,o que .Carnap pede e racionalidade, ou seja, maior responsabilidade; intelectual, ele pede que. aprendamos a agir como os matemáticos 

e os cientistas e contrapoe ao procedimento deles a maneira (depri-mente pela qual agem os filosofos; sua sabedoria p r e t e n s i os a , e s u a  usurpaçao de conhecimento, que nos é apresentado sem. um m í n i m o  

de argumentação racional ou crítica.

Ê com respeito a essà atitude geral, atitude de esclarecimento, ea essa concepção crítica da Filosofia — daquilo que ela é, infeliz-mente, e daquilo que deveria ser — que me sinto irmanado com o Círculo de Viena e; com seu pai espiritual, Bertrand Russell. Isso 

explica talvez por que os membros do Círculo, como Carnap, por exemplo, acreditavam ser eu um aliado que exagerava as divergên-cias que nos separavam.

É claro que nunca pensei em acentuar tais diferenças. Ao escrever o Logi k der Forschung, meu desejo era o de desafiar ami gos1e opositores positivistas. Nesse particular, não deixei de ter . algum êxito. Quando Feigl, Carnap e eu nos encontramos no TiroH15, no verão de 1 9 3 2 , Carnap leu o primeiro volume d o meu 

inédito Grundprobleme e, para minha surpresa, escreveu logo após uin artigo na revista Erkenntnis, intitulado “Über Protokollsàtze” 116, . em que discorria pormenorizadamente, indicando a procedência, acerca de algumas de minhas concepções. Ele sumariou a situação explicando que ™ e por que — admitia, ser meu “procedimento”(Verfahren  5 ) o melhor até éntao. disponível acerca, de teoria do conhecimento. Tratavase do procedimento dedutivo de submeter  a prov a os enunciados dà Física, um procedimento que considera todos os enunciados, até mesmo os próprios enunciados de prova, 

como hi potét i cos ou conjecturais. Carnap adotoü esse ponto de vista por um período considerável117; o mesmo aconteceu com Hempel118. As resenhas elogiosas que ambos escreveram do Logik der Fors- chung 119 eram sinais promissores, como o eram, de o u t r a parte, os 

ataques dé NéuràtH e Reichenbach120.

Uma vez que mencionei o artigo d e Passmore rio início d e s t a  

seção, talvez . caiba dizer que a causa d a dissolução definitiva d ó  

. Circula de Viena e do Positivismo Lógico  , nó meu entender, não 

foram os muitos e graves erros doutrinários ( m u i t o s dos quãís apon-tei), mas a declínio do interesse por grandes problemas, qüé cedeu lugar ao interesse por minut iae  (“enigmas”) e, em especial, por questões relativas a significados de palavras; ou seja, pelo escolas t i

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cismo. Esse escoiasticismo foi transmitido aos sucessores dos positi , vistas lógicos, na Inglaterra e nos Estados Unidos da América.

18 . Realismo e teoria quãiiticã

Embora meu Logik der Forschung fosse visto, por alguns leir' tores, como crítica ao Círculo de Viena, seus objetivos principais eram positivos. Tentei apresentar nessa obra úma teoria do co-nhecimento : llumânò; Entretanto, eu encarava esse conhecimento de üm prisma bem divêrso do adotado pelos pensadores clássicos.

: Até Hunié, Mill e Mach, am aiò riad o s filósofos dava; o .conheci-mento humano como algo assentado.; Mesmo Hume, que se consi-derava um cético, e que escreveu "o Tfeatise na. esperança de revo-lucionar as Ciências Sociais, praticaimente identificava o conheci-mento. humano aos hábitos do homem. O conhecimento humano, era o que quase todos sabiam: que o gato dormia no tapete; que 

 Júlio César fora assassinado; •que a grama é. verde. Isso tudo me parecia profundamente desinteressante. Interessante era o conheci-mento problemático, ■o aumento do conhecimento — a descoberta .

Se encararmos a teoria dp conhecimento como teoria1da desco-berta, será melhor considerála como teoria da investigação, e des-coberta científi ca . Uma teoria do aumento de conhecimento deveria 

 ,ter ■algo especial a dizer acerca do desenvolvimento da Física e do conflito de opiniões entre os* estudiosos dessa disciplina.

Na época (1930) em que Feigl me estimulava a escrever meu livro, á Física moderna atravessava um período de agitação. . A Me-cânica Quântica fora criada por Werner Heisenberg em 1925121; mas alguns anos se passaram antes que os leigos — e mesmo alguns profissionais da Física compreendessem que havia surgido uma inovação importante. E as dissensÕes e confusões surgiram desde logo. Os dois maiores físicos, Einstein e Bohr, possivelmente os dois maiores pensadores do século X X , discordavam entre si. E as diver

 . gências entre eles eram tao profundas íio ano da morte de Einstein, 1955, como o haviam sído ém 1927, ano da; reunião realizada em Solvay. Consta que Bohr teria saído vitorioso em seus debates com Einstein122; e a maioria dos físicos criativos apoiava Bohr, endos-sando esse mito da vitória sobre Einstein. Entretanto, dois dos grandes físicos da época, de Broglie e Schrõdinger, não se mostra-vam nada contentes com as idéias defendidas por Bohr (mais tarde conhecidas como “interpretação de Copenhague da Mecânica Quân tiça>)?ve desenvolviam suas próprias concepções, em linhas indepen-

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dentes. Apos a Segunda Guerra Mundial, vários físícos importantes engrossaram as fileiras dos que não concordavam com a Escola de Copenhague, figurando entre eles, em particular, Bohm, Bunge, Landé, Margenau e Vigier.

Os .opositores da interpretação. de Copenhague ainda constituem pequena minoria e . assim hão provavelmente de continuar. Não há  acordo entre eles próprios. GóntudÒ,1 existem,também na ortodoxia de Gopénhague:; Os ortodoxos não notam esses desacordos ou, ao qúe parece, não se preocupam; com eles, assim como não percebem as dificuldades inerentes às suas concepções. Mas tais divergências e tais dificuldades são claramente percebidas pelos que vêem a situação de fora.

Estas anotações assaz superficiais explicarão, talvez, por que me senti um tanto desorientado quando procurei, pela primeira vez, estudar a Mecânica Quântica, naquela época denominada amiúde “nova teoria quântica”. Eu trabalhava por conta própria, lendo livros e artigos; o único físico com quem cheguei a falar algumas vezes de minhas dificuldades foi Franz Urbach. Eu tentava com- preender a teoria e Urbaçh tinha suas dúvidas quanto à possibilidade de ela ser compreensível — ao menos pelo mortal comum.

1 A luz começou a fazerse quando percebi a importância da interpretação estatística da teoria, devida a Born. De início, a inter-pretação de Born desagradoume: a interpretação original, de Schrõ dinger, mé parecia mais apropriada, quer sob um ângulo estético, quer na condição de expl i cação do assunto. Ao notar, porém, que á interpretação de Schrõdinger não era sustentável e que a de Born era bem sucedida, perfilhei esta última, e nao compreendia como 'alguém que aceitasse as idéias de Born podia defender a inter-

pretação que Heisenberg atribuía às suas fórmulas de indetermiriação. ParecÍame óbvio que, se a Mecânica Quântiòa devia ser interpre-tada estatisticamente, assim também deviam ser, interpretadas :.ás fórmulas de Heisenberg: tinham de ser entendidas .comov rèlaçÕes  d e. espal ha ràent o/  isto é, como relações que indicassem::;os limites inferiores de espalhamento estatístico, <iu ríòs limiiéS' superiores •:de homogeneidade, em; qualquer seqüência :dò; ;expèrimentos dá IMêcâ. nica. Quântica. . Essa maneira. ,dél vèjrMéStá"íÍÍojeicfríisider^velineníe difundida123. (Devo 4deixar . claro,, porémj; que de início eu nem sempre. distinguia com clareza entre o espalhamento de resultados de um; conjunto de experimentos, de um lado, e o espalhamento de um; conjunto dèpartículas, ; dè outro; conquanto eu houvesse encon-trado um irieio rde contornar a dificuldade nos enunciados ‘‘formal

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mente singulares” de probabilidades, a questão só se aclarou com-pletamente com a ajuda dà noção de propensão.) 124

Um segundo problema de Mecânica Quântica era a famosa questão da “redução do&^pacotes ,de ondas”.. Poucos estudiosos con-cordarão comigo quando , afirmo que o problema foi rèsdlvido em 1934, no meu Logik der Forschung] alguns físicos de nomeada, con-tudo, aceitaram a minha solução como correta. A solução proposta consiste em ressaltar que as probabilidades que se apresentam nó domínio da Mecânica Quântica são probabilidades relativas  (ou condicionais)125.

Esse segundo problema associase ao que erá, possivelmente, um dos pontos básicos, de minhas considerações — a uma conjectura que se transformou era convicção: t odos os pr obl emas da i nt erpret ação  da M ecâmca Quânt i ca podem Ser consi derados como probl emas re~  

lát ivos à int erpr et ação do cálculo de probabi l i dades.Um terceiro problema resolvido foi o dá distinção entre pre-

paração de um estado e uma medida particular. Embora minha discussão desse ponto estivesse correta e, segundo creio, fosse real-mente importante, cometi um sério engano em. .determinado expe-rimento coriceptual (cf. seção 77 de Logik der Forschun g) . Esse erro abaloume profundainente: eu não sabia, nessa ocasião, que até mesmo Einstein cometera enganos similiares, e a minha falha, pen-sava eu, revelava minha incoínpetçncià. Foi em 1936, em Gope 

nhague, durante o “Congresso em Prol da Filosofia Científica”, rea-lizado nessa capital,'que'oúvi falar dos enganos de Einstein. Graças à iniciativa de Victor Weisskopf, o físico teórico, Niels Bohr. convi-darame a participar das discussões qúê seriam travadas, durante  alguns dias, no Instituto por ele dirigido. Eu já havia anterior? mente defendido meu experimento conceptual contra as críticas de von Weizsácker e de; Héisenberg, cujos argumentos não me conven-ceram, e contra as críticas de Einstein, que lograram convencerme. Eu também já havia discutido d assunto com Thirring e (em Oxford) com Schrõdinger, que me confessou seu descontentamento em rela-

ção à mecânica quântica, dizendo supor que ninguém realmente a  entendia. Eu estava, póis, dominado pelo pessimismo quandó Bohr mè falou das suas discussões com Einstein — as mesmas que, poste-riormente, descreveu no volume Einstein  da série “The Library òf Living Philosophérs”, organizada por Schílpp 126. Nao me consolou a informação, transmitida por Bohr, de que Einstein errara tanto  quanto; eu; sentime derrotado e não fui capaz de resistir ao tre-mendo impacto da personalidade de Bohr, (Naquela época, aliás, ninguém resistiria.) Retraíme, mas ainda reuni forças para de

' M i ' - - m - '  ........ ■ ...

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fender minha explanação da “redução do pacote de ondas”. Weiss kopf pareceu inclinado a aceitala, mas Bohr, inteiramente dominado pelo desejo de expor sua teoria da complementaridade, não tomou conhecimento de meus débeis esforços, orientados no sentido de 

fazêlo ouvir o que tinha a. dizer; não insisti e contenteime com aprender, em vez. de ensinar. Deixei as reuniões vivamente impres-sionado com a bondade, o brilho e o entusiasmo de Bohr; não du-videi de que ele estivesse certo ^ eu errado. Àinda assim, não consegui persuadirme de que entendera a "complementaridade” de Bohr, e passei a duvidar de que os demais a houvessem compreendido, embola alguns parecessem convencidos do contrário. Minhas dú vidaá foram partilhadas por Einstein, como ele próprio me disse mais  tarde, e por Schrõdinger.

Isso me levou a cogitar dá “compreensão”. Bohr afirmava, de certa maneira, que a Mecânica Quântica não era compreensível; que tãosomente a Física clássica o era; e que devíamos resignarnos com o fato de que á Mecânica Quântica era apenas em parte com-preensível ç, mesmo assim só através da Física,, clássica. Parte da compreensão era. alcançada por via do clássico “modelo de. partículas5’ e parte, por via do clássico “modelo ondulatório” ; os dois modelos eram incompatíveis e. constituíam o que Bohr chamava complemen- 

taridade. Não havia esperanças de chegar a uma compreensão mais Completa ou mais direta da teoria; exigiase “renúncia” à qualquer . tentativa de compreensão mais cabal.

Suspeitei que a teoria de. Bohr assentava numa compreensão muito estreita acerca de qual compreensão  se pode atingir. Bohr, áo que. parece, imaginava a compreensão em termos de figuras e modelos — em termos de uma espécie de visualização. Isso, pen-sava eu, era muito limitado; e, com o passar do tempo, desenvolvi uma concepção inteiramente diversa. Segundo ela, o que importa é não a compreensão desfiguras mas da força lógica de uma teoria: seu poder explicativo, as relações que mantém com outras teorias 

■e com problemas relevantes. Elaborei tai concepção ao lóngo de muitos anos, no decurso de minhas prelèçoes. Iniciei o trabalho, se não me engano, em Alpbach (1948), para desenvolvêlo, depois, em Princeton (1950), em Cambridge (1953 ou 1954), quando ali falei da Mecânica. Quântica, em Minneapolis (1962) e novamente em Princeton (1963), bem como em outros locais (inclusive, é cla-

ro, em Londres). A concepção pode ser encontrada, embora de maneira sumária, em alguns de meus artigos mais recentes127.No que respeito à Física Quântica, sentime assaz desenco 

rajado por vários anos. Nao conseguia esquecer o erro do meu

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.experimento conceptual, Hoje, todavia, embora ache natural lamen-tar qualquer engano, penso que atribuí demasiada importância a essa falha. Somente em 1948 ou 1949, depois de algumas discussões com Ârthur March, físico especialista em Mecânica Quântica cujo livro sobre ela eu havia citado e.m .L ogik der Forschung 12e, foi que me senti capaz de retomar áo tema, com novo .alento.

Reexaminei, os velhos argumentos e cheguei às seguintes con-clusões129:

(A) O problema, do determinismo e do indeterminismo.

(1) Não existe algo que se possa considerar um argumento específico da Mecânica Quântica Contra ° determinismo. A Mecâ-nica Quântica é, naturalmente, uma teoria estatística e não,. pr ima  fac ie  , uma teoria determinista, sem que isso queira dizer que ela seja incompatível com uma teoria determinista prima facie. (Em

. especial, não é valida — pomo o revelou, recentemente, por vias mais diretas, John S. Bell —r a famosa prova de incompatibilidade, devida a von Neumann e endossada por David Bòhm e outros., em que se estabeleceria a inexistência de “variáveis ocultas”..)130 A conclusão a que eu tinha chegado em 1934 era a de que nada, na Mecânica Quântica., justificava a tese de que o determinismo estaria 

refutado pór ser incompatível com ia;<Mecânica Quântica. Desde entao, porém, minhas opiniões a esse tespeito mudaram várias vezes. .David Bohm mostrou, em 1951, nó seu modelo, que ã existência 

de uma .■teoria prima facie  determinista é formalmente compatível com os resultados da Mecânica Quântica. (As idéias subjacentes da demonstração de Bohm já haviam sido antecipadas por De Broglie.)

(2) De outra parte, nao há razão legítima que permita asse-verar que o determinismo tenha base na Física; em verdade, há  muitas razões para supor o contrário, como foi salientado por G. Si 

Peirce13i, Franz Exner, Schrõdinger 132 e von Neumann133, os quais chamaram á atenção para o fato de que o caráter determinista da mecânica de Newton é compatível com o indèterminismo134. Além disso, embora seja possível explicar a existência de teorias determi-nistas pr i ma facie como macroteorias com hase em microteorías inde-terministas e probabilísticas, o inverso nao é possível: conclusões prçbabi l i st i càs nãot ri vi ai s só podem ser deduzi das (e, poi s, exp l i ca- das) com auxíl io de premi ssas probabi l i st i cas135. (A esse respeito,

. alguns argumentos muito interessantes de Lande devem ser objeto 

de consulta.)136 ;

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(B) Probabilidade. .

Na Mecânica Quântica, precisamos dé uma interpretação do cálculo de probabilidade que

(1) seja física e objetiva (ou “realista”)(2) leve a hipóteses probabilísticas, passíveis de .prova estatística.

Além disso,

(3) as hipóteses devem, ser aplicáveis a casos singulares; e(4) devem ser relativas ao arranjo experimental.

No Logi k der Forschung desenvolvi uma interpretação “forma lista” do cálculo de probabilidades que satisfazia a todos esses requi-

sitos. Depois disso, porém, aperfeiçoei essa interpretação e substi tuía por uma “interpretação em termos de propensão” 137.

(G) Teoria quântica*

(1) Realismo. Embora èu não tivesse objeçoes a apresentai con-tra a s '“ondículas” ou “portondas” (partículasc umondas) * ou enti-dades naoclássicas similares, não percebi (como não percebo hoje) motivo para nos afastarmos da concepção clássica, intuitiva e realista, de que os eléctronis e demais partículas são apenas isso: partículas. 

Em outras palavras, achamse localizadas e possuem um momentum. (É claro que ulterior, desenvolvimento da teoria poderá mostrar que a razão,, está com aqueles que não concordam com essa maneira de ver.)138

(2) O chamado “princípio da indeterminação”, de Heisèn berg é uma interpretação: errônea de certa fórmula, que afirma o espa l hameni o estatíst ico.

(3) As fórmulas de Heisenbérg  não se referem a mensu r ações; o que implicá que toda a atual “teoria da medida quântica” está 

cheia' de. malentendidos. Medições “proibidas” pelas interpretações usuais das fórmulas de Heisenberg são, de acordo com meus resul-tados, não apenas permissíveis como efetivamente exigidas para a  prova   dessas mesmas fórmulas139. Todavia, as relações derespâlha mento referemse à preparação dos estados de sistemas da Mécanica Quântica. Ao preparar um estado, sempre se introduz urir: espálhà mento (conjugado)139*. \

(4) O que é de fato pèculiar à teoria quânticra é a i r i tèrférênci a  de probabi l i dades  (que depende da fase). Ê possível que tènhámòs

* No original, w av i cl es (N . dos T).

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de aceitar isso como uma espécie de dado último .ou definitivo. To-davia, esse não parece ser o caso: embora ainda em oposição às provas cruciais feitas por Compton da teoria dos fótons, de Einstein,* Duane formulou, em 1923, muito antes da Mecânica Ondulatória se haver desenvolvido, uma nova regra quântica140, que pode ser vista como o correspondente, com respeito ao momento, da regra  de Planck relativa à energia, A regra de Duane parã a quanti zaçao do momentum  aplicase não apenas a fótons mas também (como ressaltou Landé)1M,, a partículas e fornece desse modo uma; explicação racional (ainda que apenas qualitativa) dà interferência de partículas. Landé levou a questão adiante, asseverando que regras quantitativas de interferência da Mecânica Ondulatória podem ser deduzidas de simples pressuposições adicionais.

(5 ) Dessa maneira, um bom número de fantasmas filosóficos podç ser agora exorcizado e as müitas. surpreendentes afirmações filosóficas acerca da intromissão do sujeito ou da mente no mundo do átomo podem ser ignoradas. Esse problema da intromissão expli-case em grande parte como fruto da tradicional má compreensão subjetivista do cálculo de probabilidades142.

19. Objetividadè e Física

Na seção precedente, comentçi, da Logik der Forschung  e de trabalhos posteriores que decorreram dessa obra, aspectos que nada tinham a ver com minha crítica do positivismo. Todavia, essa crítica desempenhou um papel subsidiário, mesmo nas minhas concepções da teoria quântica. Creio que, pela rejeição do positivismo de Einstein, eu me imunizara contra o antigo positivismo de Eisenberg. .

. Tal. como referi atrás "(seção 8, texto entre as notas 31 e 33), foi M ax; Elstein quem me "fez entrar em. contato com as teorias de Einstein. Ele não acentuava nem criticava o ponto de vista obser vacionai, mas ajudoume a compreender o problema; da relatividade especial (receio que da usual maneira, não histórica, em termos de problema colocado pelo, experimento de Michelson e Morley) e . discutiú comigo a forma da solução apresentada por Minkowski. Talvez tenha sido essa maneira de iniciar o estudo , da teoria da rela-tividade que me impediu de jamais levar a sério o enfoque operaciona lista da simultaneidade: podese ler, o artigo de Einstein143 de 1905, adotando uma posição realista, sem dar atenção ao “observador” ou al ternativamente, podese ler o mesmo artigo adotando lima posição positivista ou operacionista, tendo sempre em ■conta o observador e 

suas açÕes. . •

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É curioso notar que o proprio Einstein .foi, durantei;yários anos, um positivista e um operaçionista dogmático.. Mais áfastousedessa posiçaò: ele me disse, em ; 1950, que não ; lameíitavaJoutros prros tanto quanto lamentava esse. O erro, aliás, assumiu feição 

grave no seu livro popular, Relat iv i ty: The Special andtheGeneral  Theory 14V Aí, à p. 22 (que corresponde à p. 14 s. da edição.original, alema), Einstein afirma: “Peço ao leitor que não prossiga sem antes : .convencerse completamente da legitimidade desse aspecto.” O aspecto, em poucas palavras, é o de. que a “simultaneidade” precisa/ . ser de f i n ida '— e definida o per ati vament e — pois, de outra forma; “deixome enganar ( . . . ) quando imagino que tenho condições de atribuir significado ao enunciado de simultaneidade”. Em Outras palavras, ura termo precisa ser ;definido operativamente ou entãò 

não tem si gni f i cado 144a. (Eis, ém suma, o positivismo que seria desenvolvido posteriormente no Círculo de Viena, de modo bem dogmático, sob a influência do.Tracta tus de Wittgenstein.)

Acontece, porém, na teoria de Einstein, que, para qualquer sis-tema inercial. (ou “sistema estacionário”) 14 , os eventos são simul-tâneos ou não, tal qual se dá. na teoria de Newton. Acresce que vale a seguinte lei de transitividade ( T r ) :  

(T r )  Em qualquer sistema inercial, se o evento a  é simultâneo 

de b e se b é simultâneo de c3 então a é simultâneo de c.Todav i a, { T r ) não vale, de, manei ra genér i ca  , para t rês even- 

tos distantes quaisquer, a menos que o sistema em que  a e b são  simultâneos sejd o mesmo sistema em que b e  c são simul tâneos : não vale para eventos ..distantes, alguns dos quais se manifestam em sistemas diversos, isto é, em sistemas que se acham em movimento relativo. Isso é decorrência do princípio de invariância da. velocidade da luz com respeito a quaisquer ■dois sistemas (inerciais) em movi-

mento relativo, isto é, do princípio que nos permite deduzir as trans-formações de Lorentz. Nao h á. necessidade sequér de mencionar a simultaneidade, salvo para alertar os mais precipitados, de que as transformações, de ■Lorentz são incompatíveis com uína aplicação de ( T r )   a eventos que ocorram em sistemas (inerciais) diversos146. ...

Percebese que não é preciso introduzir o operacionailismo e muito, mertos insistir nele. Além disso, como Einstein não conhecia ©..expe-rimento de Morley em 1905, quando escreveu o artigo a propósito da relatividade, dispunha de poucas comprovações em favor , da: inva-

riância da velocidade da luz. 'Entretanto, não foram poucos os físicos de nom eadaque; se 

impressionaram, com o operacionalismo einsteiniano, cònsiderandoo

fOÍ

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(como o próprio Einstein considerou longo tempo) parte integranteda teoria da relatividade. Assim, o operacionalismo tornou-se fontede inspiração para o artigo de Heisenberg, escrito em 1925, e paraa sua. sugestão, amplamente acolhida, de que não tinha sentido  o

conceito de trajetória, ou rastro de um eléclron, còmo o não tinhao conceito clássico de  posição-cum-momentum .

Aí estava, pois, uma oportunidade para eu pôr à prova minhaepistemologia realista, aplicando-a numa crítica à interpretação sub-

 jetivista que Heisenberg propunha para o formalismo da MecânicaQuântica. Acerca de Bohr pouco foi dito íio Logik dèr Forschung, porque ele era menos explícito que Heisenberg e porque não meanimava a' atribuir-lhe pensamentos que ele poderia endossar. Além  

disso, fora Heisenberg quem alicerçara num programa operaciona-

Iista a nova mecânica quântica e o seu êxito é que havia convertidoa maioria dos físicos teóricos ao positivismo e ao operacionalismo.

20 . Verdade; probabilidade; corroboração

Quando Logik der Forschung  foi publicado, achei que trêsproblemas precisavam ser por mim ^investigados mais minuciosamente: a verdade, a probabilidade e ;a comparação de teorias, sobo prisma do conteúdo e da corroboração.

Embora a noção de falsidade —: ou seja, de inverdade —  e, por implicação, a nòçao de verdade -— desempenhasse relevantepapel em Logik der Forschung  3eu a utilizara de maneira ingênua,discutindo-a apenas na seção 84, intitulada “ Observações Acerca do.Uso dos Conceitos de ‘Verdade* e de ‘Corroboração’ ” (Bemerkun-  gen über éen Gebrauch der Regriffe  rf wahr” und “ bewãhrt w) .Nessa ocasião eu aindà. não conhecia os trabalhos de Tarski, oua distinção entre duas espécies de teorias metalingüísticas (úmadelas chamada “ Sintaxe” por Garnãp, ' e á outra, “ Semântica55,por Tarski, claramente distinguidas, depois,, nas discussões de MarjaKokoszynska)147; apesar disso, minhás idéias a propósito das relaçõesentre verdade e corroboração 148 disseminaram-se no Círculo e aí setornaram mais ou menos ' comuns - pelo menos entre aquelesmembros149 que, como Carnap, aceitavam a teoria tarskiana daverdade.

Quando Tarski, em 1935, me èxplicòu (no Volksgarten  deViena) a idéia de sua' definição do conceito de verdade, compreendi

quão importante ela era e percebi que Tarski, finalmente, haviareabilitado a controvertida teoria da correspondência que, no meu

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entender, seinpre foi e ainda e a ideia que o; sensor; cümum. tem,, daverdade. ~ ’ ;

Meus pensamentos subseqüentes iiesse campo foram, em rboa'parte, resultado de tentativas no sentido de tornar claras para mimmesmo as formulações de Tarski. Não que, a rigor, ele tivesse defi nido  a verdade. Decerto ele o fizera para uma linguagem formalizada muito simples, esboçando .métodos pára estender a definição áuma classe de outras linguagens formalizadas. Contudo, ele deixarápatente que existiam outros meios essencialmente equivalentes déintroduzir a noção de verdade: não por definição, mas axiomatica-mente. Assim, o problema dè saber se a verdade devia ser introduzida axiomaticamente ou por meio de definição não podia ser. fun

damental. Além disso, todos esses métodos precisos confinavam-se alinguagens fonmalizadas e não se aplicavam, como Tarski mostrara,à linguagem comum (còm seu caráter “universalista” ) . Não obstante, aanálise tarskiana ensinava, de modo claro, como usar com certa cautela a noção de verdade no discurso comum, e além disso, como usara noção em áua acepção corriqueira — de correspondência com osfatos. Decidi por fim qüe o que Tarski fizera fora mostrar que nãohá grande dificuldade em compreender  de que modo um enunciadopodia . corresponder a um fato, desde que se tenha entendido a dife

rença entre uma linguagem-objeto e uma dada metalinguagem (semântica), isto é, uma linguagem em que possamos falar acerca deenunciados e acerca de fatos. (Ver seção 32, adiante.)

A probabilidade criou-me problemas, assim como trabalho,levando-me- a estudo agradável é estimulante. O problema fundamental, examinado em Logik der Forschung, era o de  prova dè  enunciados probabilísticos da Física. Esse problema era um desafioimportante para as minhas concepções gerais acerca da Epistémo-logia e eu o resolvi com o auxilio de uma idéia que fazia partéintegral dessa epistemològiã e não, penso, de uma idéia ud hoM ^h: idéia é a: de que nenhuma prova de qualquer enunciado -teoreticòé final ou concludente, è de que a atitude empírica ou crítica requei?adesão a certas “ regras metodológicas” , que nos levam-: não- a fugir1'das críticas, mas a aceitar ás refutações (embora não; com^ídéííia^siada facilidade). As regras admitem -alguma;^flêkibiHda^e .iSlEiíí:-.conseqüênciaj acolher uma refutação é qüase ■tã<>.>faírisGàd6 .: üáintcjadotar, tentativamente, jjma hipótese: equív^è^-.aí^àèiít^^üiila

conjecturà. ■Ò segundo problema era o da, varièdjid^d^fpà^^j^^^èr^piTB^--  

taçÕes de enunciados ■■probabilísticosj ; - d o i soutros problemas, de cunho niàS/dè _ 

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tância no meu livro. Um deles era o da interpretação da MecânicaQuântica, que, no meu entender, se equipara à questão do papela atribuir aos enunciados probabilístiçòs em Física; o outro era oproblema do conteúdo das teorias.

 Todavia, para poder abordar, em ■toda a sua generalidade, oproblema idos enunciados probabilísticos, era preciso desenvolver umsistema axiomático para o cálculo da probabilidade. Isso era também necessário para Outro propósito  —  o de estabelecer minha tese,proposta em Logik der Fórschung> de que a corroboração não é  uma probabilidade , no sentido do 1  cálculo de probabilidades. Emoutras-palavras, era preciso .desenvolver o sistema axiomático paraestabelçcér que certos aspectos' intuitivos da corroboração tornavamimpossível identificá-lá com; a probabilidade, tal como esta aparece

no cálculo de. probabilidades 149ai,r (Vej^se, a propósito, o texto entreas notas 155 e 159, adiãnteV) .. . v ■

Em Logik  JerForjc/iun^.eu.sublinhara que havia muitas inter->  pretaçôes passíveis .para. a:, noção de,'.probabilidade, ressaltando quesomente uma teoria. de' freqüências (como a. proposta por .von M ises) seria, aceitável nás:; Ciêncjas , .Físicaá. ( Posteriormente, essa maneira de ver fo i; alterada, tendo, eu introduzido a interpretação emtermos de , propensÕes;,penso que von Mises " teria . concordado coma alteração, ;pois os enunciados de propensão também sao submetidos a

prova por meio , de freqüências). Mas, afora várias objeçoes demenor relevo, minha principal objeção contra todas as teorias fre-qüenciais conhecidas que operavam. com seqüências infinitas, era decunho técnico e pode ser formulada como segue.

Escolha-se qualquer seqüência finita, constituída por zeros eunidades. (oú só por zeros o.u; só por unidades), de comprimentoarbitrário. Seja n  o comprimento dessa, seqüência, podendo n  serda ordem de milhares de milhões. Gontinue-se a seqüência a partirdo termo de ordem n   1, acrescentárido-lhe uma seqüência infiriità  aleatória  (um “coletivo” ). Na seqüência assim formada, só importam as. propriedades de alguma  parte final  ( que se inicia.com o termom, sendo m  > n  -|- 1 ) pqís uma seqüência satisfaz ps requisitos impostos por von Mises se e somente sé qualquer parte final da seqüênciaatender a tais requisitos. Isso significa, porém, que qualquer seqüênrcia empírica é  simplesmente irrelevante, para julgar qualquer seqüência infinita, de que; a seqüência empírica é segmento inicial.

 Tive ocasião de discutir esse problema ( c muitos outros) com

von Mises,. Helly e Hans Hahn. Todos eles, naturalmente, concordaram comigo; Vón Mises, porém, não., se preocupou muito cóm

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a questão. Sua concepção (que é bem conhecida) era a de que asseqüências que satisfaziam seus requisitos — os “coletivos” , comoele as denominava — constituíam um conceito matemático ideal, coinó o de esfera- Qualquer “ esfera” empírica não passaria de umagrosseira aproximação da esfera ideal.

Eu estava inclinado a aceitar a idéia da relação entre umaesfera matematica ideal e unia ■esfera. . empírica como uma espécie'de modelo para a relação vigente entre uma seqüência matemáticaaleatória (um “ coletivo” ) e, uma seqüência empírica infinita. Masacentuei que, em. sentido; plausível, nao . se poderia •dizer, de umaseqüência  f in i t a que fosse uma aproximação grosseira de um coletivo, no modo dé entender de von Mises. Procurei, pois, construiralguma coisa ideal, mas menos abstrata: . uma seqüência aleatória  infinita, ideal, com a propriedade de aleatoriedade a manifestar-se  desde o início> de modo que qualquer segmento inicial finito, decomprimento n, fosse idealmente tão aleatório, quanto possível.

Eu havia esboçado a construção, dessa seqüência em Logik der  Forschung 150, mas sem perceber claramente, então, que essa construção em verdade resolvià: (a ) o problema de tomar possível a comparação entre uma seqüência infinita ideal  e uma seqüência  finita  empírica; (b)  o problema da construção de uma seqüência matemática, passível de ser usada no . lugar da definição (não-construtiva)

de aleatoriedade, devida a von Mises; e (<;) tornava supérfluo, qua  postulado, o requisito de von Mises, relativo à existência de umlimite, pois tal existência se transformava num teorema demonstrável.Em outras palavras, não compreendi, naquela época, que minhaconstrução . suplantava diversas soluções aventadas em Logik der  Forschung. ■

Minhas seqüências aleatórias idealizadas não eram “ coletivos” ,no sentido de von Mises; embora superassem quaisquer provas estatísticas de aleatoriedade, eram, de fato, construções matemáticas

definidas: a continuação delas podia ser matematicamente previstapor qualquer pessoa que conhecesse o método de construção. Entretanto, von Mises exigira que os “ coletivos” fossem impredizíveis( “princípio do sistema de jogo excluído” ). Essa exigência amplatinha a indesejável conseqüência de tornar inviável a construção de

=exemplos concretos de coletivos, tornando impossível, também, uma'domonstração construtiva da coerência (ou compatibilidade) daprópria exigência. A única maneira de contornar essa dificuldadeestava, naturalmente, num abrandamento da exigência. Surgia,

assirrt, uma interessante questão: qual o mínimo abrandamento quepermitiria a demonstração de coerência (ou de existência) ?

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q^e&tã «r4'f/inteF^S5ante, mas hão estava . nas minhas . cogita-.ÇÕes.;, ;M principal era o da construção de seqüências

 finitas, de.carátcr aleatório e comprimento arbitrário, que pudessem,ppis, -expandii^se ,;em seqüências infinitas aleatórias, ideais.

No início de 1935, discorri a respeito dessé problema, num dos“epiciclos*’ .do-;Círculo de Viena.. .Logo após, Karl Menger convidou-me a'proferir uma palestra em seu famoso mate.matisches Collo *quium. A seleta audiência, de cerca -de 30 pessoas, incluía KurtGodel, ■Alfred Tarskí e Abraham Wald. Segundo Menger, fui oinvoluntário instrumento que: levaria Wald a interessar-se pela probabilidade e pela Estatística, campos1em que ele tanto iria destacar-se -posteriormente. Mengçr descreve o incidente da seguintemaneira; no seu obituário de ^Wald151:

Naquela ocasião, ocorreu um segundo acontecimento que se revelaria :de importância fundamental para a vida e o trabalho posterior de 

. ,.Wald. O filósofo vienense Karl Popper ( . . . ) procurou tornar precisa ”:v ' à' idéia de seqüência aleatória, para contornar aasiní a* óbvias defi-

.. ciências, da definição de coletivos, .formulada por von Mises. Depois de ouvir (no Círculo Filosófico de SchHçk) uma exposição semítécnica 

i .: das: idéias de Popper, convidei-o' a apresentar. a importante questão,com todos os pormenores, no Gòlóquio de Matemática. Wald inte- 

: ; ressou-se vivamente pelo assunto e daí resultou-o seu magnífico artigo a propósito da . aiitocoerência da noçaò de coletivos. ( . . . ) Wald ba-... 

seou sua demonstração da existência para os coletivos numa dupla relativizâção dessa noção. '

; Menger prossegue, caracterizando sua descrição da definição queWald havia proposto para a noção de coletivo, e conclui com estaspalavras152:

’ " Embora a relativização de Wald torne mais restrita a idéia originalilimitada (mas impraticável), de coletivos, essa relátiviáaçao é bem mais 

.1 : -fraca do que os requisitos de irregularidades propostos por Copelandj. Popper e Reichenbach. Na verdade, ela abrange esses requisitos como : casos ■particulares.

Isso é bem verdade e fiquei muito impressionado com a brilhantesolução, de Wald para a questão do abrandamento mínimo dos requisitos de von Mises153. Todavia, como tive oportunidade de mostrar*a: Wald,. a sua solução não resolvia ó .meu problema: um “ coletivode-j Wald” , com iguais probabilidades para o zero e para a unidade,

:■p.õdia -ainda  prin cipiar  com um bloco de milhares de milhões de zeros, jáj; que a; albatoriedade era apenas uma questão de como a seqüência se’í comportava no limite. É certo que o trabalho de Wald apre-

UQ,

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-sentava um método geral de separar a classe de todas as seqüênciasinfinitas em duas subclasses, de coletivos e nãò-coletivos, ao passoqüe méu trabalho permitia apenas a Construção de algumas  se-qüencias aleatórias, de qualquer comprimento desejado -— construção, por assim dizer, de alguns modelos muito especial. Entretanto,qualquer seqüencia finita, previamente dada, de qualquer comprimento, podia ser sempre prolongada de maneira a transformar-se numcoletivo ou num não-coletivo, no sentido de Wald. (O mesmo sedava com respeito às seqüências de Copeland, Reiçhenbach, Churche outros 154.)

Eu. sentira, desde há muito, que a solução que dei á meu problema, embora perfeitamente satisfatória sob o prisma filosófico,

podia tornar-se matematicamente mais" intèressarité Jsè: genòráliiado,.útilizando-se para isso o método de Wald. Discuti o assunto, com Waíd,de;quem me tornara amigo, na; esperança de que elé se resolvesse ãatacar a questão. A época, entretanto, era difícil: nenhum de nóstêve tempo de debater' novamente o problema, pois ambos, emigramos, e para diferentes cantos do mundo.

: Há outro problema que deye ser mencionado, estreitamenteassociado à questão das probabilidades: o (da medida) do conteúdo  de um enunciado ou de uma. teoria. Eu mostrara, em Logik dèr  

. Fòrschungj  que a probabilidade de um enunciado variava inversamente com seu conteúdo, de : modo que a probabilidade podia serutilizada para medir o conteúdo. (Tal medida de conteúdo seria,na melhor das hipóteses^ comparativa, a menos que o enunciado dissesse respeito a algum jogo de azar ou, talvez,, a alguma estatística.)

Isso revelava que, entre as interpretações do cálculo de probabilidades, pelò menos duas são de importânòia capital: ( 1) umainterpretação que nos permitia falar da  probabilidade de eventos  {singuláres) , tais como o lançamento dé uma moeda ou a chegada

de um eléctron a um anteparo; e (2 ) uma interpretação que permitafalar da  probabilidade de enunciados ou proposições, particularmentede conjecturas, (de variados graus de universalidáde)155. Essa segunda interpretação é  necessária para aqueles que sustentam ser possível medir a corroboração por meio dé probabilidade; como enecessária para aqueles ç|iue3 como eu3 sustentam o contrário.

' Quanto ao meu grau de corroboração, a. idéia era a de resumir,riüiha. fórmula simples, um informe  da maneira por que a teoria

havia (ou não havia) passado pelas provas a que fora submetida.-—^inclusive uma estimativa da severidade de tais provas, de modo\álêvar em conta apenas as provas efetuadas com espírito crítico, ou

I I I

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*9  jâ»?aè(;{'tçntg:tiy.asj-,de refütaçíío... Com sáíisfazer a tais provas, a teoria“ comprova sua: têmpera” . — sua "aptidão para a sobrevivência” 156.Estalei aro,,que~ a teoria: só po.de revelar sua "aptidão” de sobreviveràquelas-, provas a que realmente sobreviveu. Tal como no caso deum organismo, "aptidão’V infelizmente,( significa apenas a efetiva

sobrevivência, c  o desempenho passado não assegura, de modo algum,o t êxito, do desempenho futuro.

'--•Eu considerava (e ainda considero) o grau de corroboração deuma» teoria simplesmente como um informe crítico da qualidade dodesempenho passado: esse grau não poderia ser utilizado para pre dizer, urn desempenho futuro. (A teoria, evidentemente, pode aju-,dar-nos a prever eventos futuros.)  O grau vinha associado, pois, aurn víhdice temporal: só se podia falar do grau-de corroboração deuma teoria: em determinado estágio de sua discussão crítica. Em

alguns casos, o grau fornecia bom indício para julgar os méritos rela tivos de dúas. ou mais teorias rivais, à luz de discussões passadas. Diante da necessidade de ação , com base. nesta ou naquela teoria,a escolha racional séria a da ação que se guiasse pela teoria (seexistisse) que melhor houvesse suportado as críticas. Não há noçãomais apropriada para caracterizar a racionalidade que a da suapresteza em aceitar críticas; isto é, críticas que debatam os méritosde teorias rivais, sqb o prisma da idéia reguladora da verdade. Conseqüentemente, o grau de corroboração de uma teoria é um guia

racional para a ação. Embora não possamos justificar uma teoria — ou seja, não possamos justificar nossa crença na verdade dela — épossível, às vezes, justificar nossa  preferencia  por uma teoria, emdesfavor de outra; isso acontece,- por exemplo, quando o grau decorroboração da teoria preferida é maior do que o grau de corroboração das demais teorias157.

.. Eu consegui mostrar, sem dificuldade, que a teoria de Emstein(pelo menos no instante em que escrevia) era preferível à deNew.ton,. pois sèu grau de corroboração era mais elevado158.

- : : Pontò decisivo, na questão do Jgrau de corroboração, eira o deque, por aumentar com a severidade das provas, ele só podia serelevado ; no caso de teorias com alto grau de testabilidade ou con teúdo . Isso significava, porém, que o grau de corroboração associa-va-se à. improbabilidade  da teoria, não à sua  probabilidade . Era im-

. possível identificar, o grau de corroboração com a probabilidade(embora' fosse possível defini-lo em termos de probabilidade — comoé;possível definir á improbabilidade). .

 Todos esses _problemas foram colocados ou discutidos em Logik  der F,arichuiígy. jsi as eu sentia que era preciso analisá-los muito mais

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meticulosamente, e a axiomatízação jdo cálculp de.prpbabilidade eraa-questão de que eu devia jcuidar-primeiramente 159 - -

2 1 . A guerra próxima: ò pirotlema judeu ‘ 

Foi em julho. de .19-27, após; ò grándeVtiroteio Qeorridoí étii; Viena^a.diante descrito, que passei a esperar O pior: os bastiões “democráticos da Europa Central ru ir ia m e uma Alemanha-'totalitária, provocaria uma nova guerra mundial. Por volta xle 1929j tomei''consciênciáde que, entre os políticos do Ocidente, apenas GhurGhilis5mã 5Ifiglaterra: — ura estranho que ninguém levava muito a sério -"-^-'compreendiaa ameaça alema. Imaginei entao que a guerra começaria dentro de 

poucos anos... Enganava-me: tudo se desenvolveu "muito mais lenta

mente do que eu julgara possível, considerando -a lógica ’davsitUaçao;Obviamente, eu era um alarmista. Mas, no essencial," haviaapreciado corretamente o estado de coisas. Compreendi1 que‘ os ‘ so-cial-democratas (o único partido político remanescente que tinhaum forte elemento democrático) eram incapazes de"' rfeistir^ãòs^patfí';:tidos totalitários da Áustria e da Alemanha. Esperei, a ' partir dé1929, a ascensão de Hitler ;1 antecipei que Hitler, por está: ou aquelaforma, faria a anexação da .Áustria; e aguardei a guerra' contra õ .Ocidente {A Guerra Contra o Ocidente é o  título de uiri .excelenle .

livro de Aurel Kolnai). Para essas expectativas concorreu consideravelmente minha maneira de ver o problema judeu.Mèus pais nasceram na fé judia, mas foram batizados na Igreja

Protestante (Luterana), antes do nascimento de seus filhos. Apósíonga reflexão, meu pai havia decidido que viver numa sociedadepredominantemente cristã impunha a obrigação de afrontá-la o menos possível — de assimilar-se. Isso, entretanto, importou em afrontaro judaísmo organizado. Importou em ser èle denunciado por covardia, como homem temeroso do anti-semitismo. Era compreensí

vel que assim fosse. O fato, entretanto, era o de que o anti-semitismòconstituía um mal a ser temido tanto por judeus quanto por não-judeus, e o de quê incumbia1a todos os de origem judia fazer: ojpos-:.sível para não provocar esse mal: muitos judeus se mesclaram,*#assimilação teve lugar. Ê fácil entender que pçssoas desprezadasem virtude da origem racial reajam, afirmando que se- orgulhamdéla. Entretanto,, o orgulho da própria raça não é apenas . estúpido.*mas errôneo, ainda que provocado. É mau todo nacionalismo: e todoracismo, e o nacionalismo judeu não. constitui exceção. •y - :.:-v

Creio que, antes da Primeira Guerra Mundial>íi:a hÂustri^^a^Alemanha tratavam bem os judeus. Tinham ; elès^íqu^se^tfrdpf^

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direitos, embora houvesse algumas barreiras impostas pela tradição,especialmente no exército. Numa sociedade perfeita, nãò há dúvidade que os judeus seriam tratados, em quaisquer circunstâncias, comoiguais. Mas, à semelhança, de todas as sociedades, aquelas es tavam

longe de ser perfeitas: embora judeus e pessoas de ascendência judiafossem considerados iguais aos outros perante a lei, não eram tratadoscomò iguais aos outros sob todos os aspectos. Creio, entretanto, queos judeus eram tão bem tratados quanto, se poderia razoavelmenteesperar. ; Certo membro de uma família judia convertida ao Catolicismo chegara inclusive a ser Arcebispo (o Arcebispo Kohn,. deOlmutz), conquanto, por causa de uma intriga em que se recorreuao anti-semitismo popular, ele tivesse tido de renunciar em 1903.A proporção de judeus ou de homens de.. ascendência judia entre os

professores universitários, os médicos e os advogados era elevada e oressentimento aberto contra isso veio a surgir tão-somente após aPrimeira Guerra Mundial. Judeus batizados podiam galgar as maisaltas posições no serviço público. ,

O jornalismo atraía muitos  judeus, e alguns deles certamentepouco fizeram para elevar os padrÕès profissionais. A espécie de jorrnalismo sensacionalista a-que se .entregavam foi,,; por longo tempo,severamente criticada — especialmente {por-outros judeus, comò KarlKraus,. ansiosos por défender. uma diretriz civilizada. O pó levan

tado por essas querelas não tornou populares os disputantes. , Haviatambém, entre os líderes do Partido Social-Democrata, judeus proeminentes e por serem, como líderes,. alvos de ataques vis, contribuíampara que a tensão crescesse.

A í estava, claramente, um problema. Muitos judeus diferiam,patentemente, da população ^autóctone” . Havia maior número de

 judeus pobres do que ricos, porém alguns dós ricos eram tipicamentenouveaux fiches.

. Anotemos, de passagem, que, enquanto na Inglaterra o anti-

-semitismo se liga à idéia de que os judeus são (ou foram, em certaépoca) “ agiotas5’ — tal como no O Mercador de Veneza, em Dickensou Trollope — nunca ouvi o >mesmo ser dito na Áustria, pelo menosanteriormente à ascensão dos nazistas. Havia uns poucos judeus queeram banqueiros, como os Rothschilds austríacos, mas nunca ouvi referência a que se houvessem envolvido \na espécie de empréstimos aparticulares de que se toma conhecimento em romances ingleses.

Na Áustria, o anti-semitismo era basicamente uma expressão dehostilidade para com os considerados estranhos ou forasteiros — sen

timento explorado não apenas pelo Partido Nacionalista Germânicoda Áustria, como também pelo Partido Católico Romano. E, ca-

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racteristicamente, essa reprovável^oposlçao ...aos estrangeiros^ ;(atitude;,ao que parece, quase universal) eraápacti liiàte^^de ascençao. judia. Durante , a Pnmèira?Ã(ÍruercájJíMTmdiM ':^refugiados procuraram Viena* <^egad©s>^^fclh^ítópéiâo;^uStífecój

então invadido pela Rússia. Esses, “ judeus^orientais?*; > eontóeramchamados, tinham vindo; diretamente de güètds vir,tüaisB^er. contraeles se erguia o ressentimento dos judeus que ;'sèr&^iamseste^em Viena, dos assimilacíonistas, dos muitos jü.deus ortG,dó^òs e mesmo 'dos sionistas, que se envergonhavam daqueles que encarávam conipSv:seus parentes pobres. '

Do ponto d e . vista legal, a situação melhorou,h,GÓ^do Império Austríaco, ao fim da Primeira Gi^erra'^?í i l^ ^ ^ tm a s j .. :como qualquer pessoa dotada de algum senso poderia.: tgr;;predito,:- a | -

situação se deteriorou socialmente: muitos judeus,,, sentindo;|:qué^ã:j^pliberdade e a igualdade total se haviam tornado reaisy;-dçdiè^am-se,de maneira compreensível, mas não sábia, à política e ._ao jornalismo.-A maioria deles tinha boas intenções, mas o ingresso de . judeus .em:.partidos de esquerda contribuiu para a derrocada desses partidos;Parecia óbvio que, diante do latente anti-semitismo popular,-<;o ser-viço que iim socialista que fosse também judeu poderia prestar aseu partido era o de não  pretender desempenhar um papél na: ;açãò. • :partidária. Estranho , é que poucos havam percebido essa diretrizevidente, .. ,

Como conseqüência, a . luta entre a direita e a esquerda, quefoi, quase desde o início, uma espécie de guerra civil fria, travou-aa direita mais e mais sob a bandeira do anti-semitismo.. Iiavia. freqüentes manifestações anti-semitas na Universidade e constantes .protestos contra o excessivo número de judeus entre os professores. Tor?nou-se impossível, a uma pessoa, de origem judia, ser professor; uni- :versitário. E os partidos direitistas rivais esforçavam-se por , superar

mn ao outro, em sua hostilidade contra os judeus. •, ; ; .Outras razões que me levavam a esperar a derrota do -Partido. :

Social-Democrata — depois de 1929, pelo menos — podem ser ieh^contradas em' algumas notas de pé de página que figuram em meu 

Open Society161. Prendiam-se, em essência, ao marxismo -—. :.mais -especialmente à política (formulada por Engels) de recurso , à^viò f ; ;lênçia, ao menos como ameaça. A ameaça de violência foi desculpaj:em Viena, em julho dé 1927, para que a polícia abatesse. a . tiros- uma

‘vintena de transeuntes e cie trabalhadores social-democratas,;;;paGÍfi^:;

eos e desarmados. Minha mulher e eu (não estávamos ainda casados); :figuramos entre as incrédulas testemunhas da cena.,,: Parfi6eUrmerl.<4àr%:Jjv.que a política dos líderes social-democratas era irresponsável- ^süi-

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cidaf.embora eles agissem com boas intenções. (Quando, ainda em jullió' de •-1927, uns poucos dias .após o massacre, encontrei FritzÀdler, t filho do renomado líder dos social-democratas de Viena, amigode .Einstein e tradutor de Duhem, verifiquei que ele era da mesmaopinião,) Mais de seis anos deveriam passar-se, entretanto, antesque o suicídio final do Partido Social-Democrata pusesse fim à democracia na Áustria.

2 2 . Emigração ; Inglaterra e Nova Zelândia

Meu -Lggik der Forschung  alcançou êxito surpreendente, quese projetou muito além de Viena. Mereceu mais resenhas, em maiornúmero de línguas, do que, vinte e cinco anos mais tarde, mereceriaThe Logic of Scientific Discovery; e resenhas mais amplas, inclusive

em inglês. Em conseqüência, recebi muitas cartas, de vários paísesda Europa, e muitos convites para proferir conferências, inclusive umconvite da Professora Süsah. Stebbing, que lecionava nò Bedford Col-lege, em Londres. Fui à Inglaterra no outono de 1935 para .fazerduas conferências no Bedford College. ; Eu havia sido convidado parafalar : de'' minhas idéias, más: estava- tao profundamente impressionado pelas reálizaçoès de Tarski; entao de-todo desconhecidas na Inglaterra, que às tòrribi comò assunto. Minha primeira exposição tevepor tema “Sintaxe e Semântica” (a semântica de Tarski) e, a segunda,

a teoria da verdade, do mesmo Tarski. Creio que foi nessa ocasião. que, pela primeira vez, despertei no Professor Joseph Henry Woodger,biólogo e filósofo da Biologia, interesse pela obra de Tarski162. Nototal, fiz, em 1935-36, duas longas visitas à Inglaterra, mediando,entre elas* uma curta permanência em Viena. Eu estava afastado,sem remuneração, de meu posto de ensino, ao passo que minha mu-,lher continuava a ensinar e a ganhaf;

Durante essas visitas, proferi não apenas essas duas conferênciasno Bedford College, mas também três outras, acerca da probabilidade, no Imperial College, por convite conseguido por Hyman Levy,.professor de. Matemática nesse colégio; e li dois trabalhos em Cam-bridge (com a presença de G. E. Moore e, na segunda ocasião, deC. H. Langford, o filósofo norte-americano, que teve esplêndidaparticipação no debate) e Ü um trabalho em Oxford, onde FreddieAyer me havia anteriormente apresentado a Isaiàh Berlin e a GilbertRyle. Li também um trabalho acerca de “A Indigência do Histo-ri cismo” <. no seminário do professor Hayek, na “ London School of Economics and Political Science” (L . S. E.). Embora Hayek tivessevindo de Viena, onde fora professor e diretor do Instituto de Pes-

l lí 

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quisas do Ciclo de Comércfo {tConjunkturforsehUng)^,•êu^ :iéíiQò^$&3‘$§pelà primeira vez na L. S. F .163 Lionel Robbins: (hoje'Lordeestava presente ao seminário e ali . também estava Ernst;: ò íh fec^ !i':Íhistoriador de Arte. Anos depois, G. L. S. Shackle,;o eGOnomistapdis'- ' ; 1se-me: que também havia comparecido.

Em Oxford, conheci Schrodinger e .com ele mantive longas ifpayíestras. Sentia-se infeliz em Oxford. Tinha vindo de BeHim,; •onde;fora presidente de um grupo de estudos de Física t eóricá; prováyel-mente sem similar em toda a história da Ciência: Einstèin, vonLaue, Planck e Nernst figuravam entre os membros habituais dessegrupo. Em Oxford, Schrodinger fora muito bem recebido. Ele nãopoderia, é claro, esperar um grupo de estudos formado por talèntos.excepcionais, mas o que realmente lhe pesava èra não encontrar,

de parte de professores e alunos, um interesse apaixonado pela 'Físicateórica.' Discutimos à interpretação estatística por mim dada às fórf .mulas de indeterminação, de Heisenberg. Schrodinger mostrou-seinteressado, mas cético àté mesmo- no que se referia à situação : dá .Mecânica Quântica. Deu-me algumas separatas de artigos, nos quàis _;expressava dúvidas a propósito da interpretação de Gopenhague; :é bem sabido que jamais acolheu — isto é, jamais aceitou a “ coiiiplementaridade” de Bohr. Schrodinger disse-me que talvez voltasse,à Áustria. Procurei disauadi-lo, porque, ao deixar a Alemanha, éle ;;

nao havia feito segredo de sua posição antinazista e isso poderia sét :usado contra ele, caso o nazismo alcançasse o poder na Áustria.Contudo, no finãl do outono de 1936, ele efetivamente retornou.Uma cátedra havia vagado em Graz e Hans Thirring, professor déFísica teórica em Viena, fez a sugestão de qúe ele próprio deixasse ' ;Viena, passando para Graz, de sorte que Schrodinger viesse a ocupara cátedra do próprio Thirring, em Viena. Todavia, Schrodingernao admitiu que isso fosse feito: viajou para Graz e ali permaneceudurante dezoito meses. Depois da invasão da Áustria por Hitler,Schrodinger e sua mulher, Annemarie, escaparam por um tris. • Eládirigiu o carro até um ponto próximo do território italiano e ali Jo  abandonaram. Apenas com bagagem de mão, cruzaram a frori- .teira. De Roma, onde chegaram quase sem vintém, conseguiram,telefonar a De Valera, Primeiro-Ministro Irlandês. (e matemático jque, por acaso se encontrava em Genebra, o qual disse-lhes que séreunissem a éle naquela cidade. Na fronteira entre Itália e Suíça,os guardas italianos suspeitaram dos Schrodinger, pois que * estes

quáse não dispunham de bagagem e só tinham dinheiro equivalente a menos de uma libra. Foram retirados do trem, que, sem -eles,; deixòúa estação da fronteira. Por fim, foi-lhes permitido émbarcar .-pãra- iâ . ' :

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Stiíça.. no;. trem seguinte. E assim Schrõdingèr sé tornou o “ SeniorProfessor-’ do "Institute of Advanced Studies” , em Dublin, institutoque, , naquela época, não existia. (E continua a nâo existir entidadesemelhante na Inglaterra.) . .

Uma das experiências que tive durante a visita de 1936 e de quémuito bem me recordo foi a . de Ayer, levar-me a uma reunião da“Aristotelian Society” , durante' a qual falou Bertrand Russell, talvezo maior, filósofo já surgido depois de]’K.ant.

Russell leu um trabalho acerca d’“Os Limites do Empirismo” 164.Admitindo que o conhecimento empírico se originasse da indução e,ao mesmo tempo, muito impressionado com as críticas dirigidas porHume contra a indução, Russell sugeriu que devêssemos adotaralgum pr in cípi o , de indução  que não se baseasse, por suá vez, na

indução. A adoção desse princípio, marcaria òs limites do empirismo.Ora, em Grundprobleme  e, mais resumidamente, em Logik . der  Forschung, eu havia atribuído a Kant precisamente esses argumentose assim me pareceu que a posição de Russell era, sob esse prisma,idêntica à que . lèvara Kant a seus a  prioris.

Após. a exposição, houve debates e. .Ayer ,encorajou-me a falar.Eu disse, de início, que absolutamente não acreditava na indução,embora acreditasse no aprendizado. a partir, da . experiência e noempirismo ps limites kantianos que Russell propunha. Essa de

claração^ que, formulei tão breve e . diretamente quanto me permitiao claudicante inglês de que era capaz, foi bem recebido pelos presentes que, aparentemente, o tomaram, como uma, pilhéria e riram.Numa segunda intervenção, sugeri que ioda a dificuldade se prendiaà errônea, suposição de gue o conhecimento científico  seja umaespécie de conhecimento  — Conhecimento no sentido comum de que,se eu sei que está chovendo, há de ser verdade que está chovendo,de sorte que conhecimento implica verdade. Entretanto, acrescentei,o que chamamos “ conhecimento5científico” é hipotético e, muitas

vezes, não verdadeiro, já para não falar em certamente verdadeiroou provavelmente verdadeiro (no sentido do cálculo de probabilidades). De novo, o auditório tomou a. minha manifestação comouma brincadeira, ou um paradoxo e houve risos e palmas. Pergunto-mése ali haveria àlgjuém que suspeitasse de que eu não apenas falavaseriamente, como também a seu devido^tempo, de que minhás concepções viriam a ser encaradas como' lugar-comum.

Foi Woodger quem sugeriu que eu respondesse a um anúncioem que se oferecia um lugar de professor de Filosofia na Universidade

da Nova Zelândia (no “ Canterbury University College” , como sechamava, na época, a atual “Canterbury University’5), Alguém — 

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talvez Hayek — apresentou-me ao P r. Walter Adams (futuro diretorda “London School of Economics” ) e à Srta;. Esther Simpson, quevinham dirigindo o . Academic Assis tance Gouticil- ^-.qual procurava

auxiliar muitos dos cientistas fugidos da ■Alemanha^e-' -começava a-dar auxilio a alguns fugidos da Áustria.

Em julho de 1936, viajei de Londres a CopenhagüèGombrich foi despedir-se de mim — para comparecer à um7 con/gress9 165 e para encontrar! Niels Bohr, encontro a que fiz referênciana seção 18. De Copenhague retornei a Viena, atr^esáandoJ^Alèvmanha de Hitler. No fim de novembro, recebi uma "carta ’ dó" í)r;A. G. Ewing, oferecendo-me hospitalidade em. nome'Má “ MoraíSciences Faculty” da “ Cambridge University” , e uma carta complè- ;

mentar, subscrita por Walter Adams, do “ Academic AssistancérGòurv-cil” ’ pouco depois, na véspera do natal de 1936, recebi um telé-grama, oferecendo-me posição de conferencista no “ Cantérbury ;;Upi- .versity College” , em Christchurch, Nova Zelândia. Esse era um..èm*:prego normal, aa passo que a hospitalidade oferecida por Gambridgedestinava-se a refugiados. Tanto minha esposa quanto eu 'teríamospreferido ir para: Cambridge, mas imaginei qúe a oferta de hospita^lidade poderia Ser estendida a uma outra pessoa. Assim, aceitei , oconvite da Nova Zelândia e pedi ao “Academic Assistance Gounçil” .

e: a Cambridge que, em vez de mim, levassem para a InglaterraFritz Waissmann, do Círculo de Viena. Eles acederam a meu pedido;

Minha esposa e eu renunciamos às posições de ensino queocupávamos e, dentro de um mês, deixávamos Viena, dirigindo-iios áLondres. Depois de cinco dias em Londres, embarcamos para a Nó váZelândia, chegando a Christchurch na primeira semana de marçode. 1937, exatamente quando se iniciava o ano letivo. .

Eu estava certo de que, dentro em pouco, deveria ajudar refu

giados austríacos, fugidos de Hitler. Entretanto, um outro anó sepassaria antes de Hitler invadir a Áustria e de começarem os>gritosde auxílio. Em Christchurch, formou-se um comitê com o objètiyò deobter permissão para que os refugiados entrassem, ria Nova Zelândia;alguns desses refugiados foram resgatados .■de campos de concentração òu de prisões graças à energia do fir.. R. M. Garnpbell, quéintegrava a “New Zeland High Commission” , em. Londres.

23. Primeiros trabalhos na Nova Zelândia

Antes de viajar para a Nova Zelândia, eu havia passado - emLondres, ao todo, nove meses, que foram uma revelação e uma inspi-

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- . . . : ,;v* ' # *ráÇao. A, honestidade e decência do povo, aliados a seu forte senti-riientò de responsabilidade política, produziram em mim fortíssimaimpressão. Entretanto, até mesmo òs professores universitários quevim a conhecer estaVam completamente mal informados acerca daAlemanha de Hitler e. limitar-se a esperar o melhor era a atitude

geral. Eu me encontrava na Inglaterra, quando a lealdade popularàs idéias da Liga das Nações destruiu o plano Hoare-Laval (quepoderia ter impedido Mussolini de júntar suas forças às de H itlçr);e me encontrava na Inglaterra quando Hitler entrou na Renânia., ,ato apoiado por um movimento dá opinião popular inglesa. Ouvitambém Neville Ghamberlain falar a favor de uma subvenção pararearmamento e procurei confortar-me com a idéia de que ele nãopassava de Ministro do Tesouro, não sendo, portanto, necessárioque soubesse contra o qüe se estava armando, nem quao urgente era .

esse rearmamento. Convençi-me de que a democracia inclusivea democracia britânica —; não era uma instituição capaz de enfrentar o totalitarismo; e era triste perceber que, aparentemente, umúnico homem — Winston Churchili —-- se dava conta do que vinhaacontecendo e não. encontrava nenhum apoio.

Na Nova Zelândia, a situação era semelhante, mas . com ostraços .acentuados; Não havia agressividade no povo; tal como osingleses,;? bs neozelandeses. eram decentes, fraternais, bem dispostos.Mas o continente europeu achava-se a uma. distância infinita. Na

quele tèmpo, a Nova Zelândia não tinha contacto com o mundo, anão . ser através da Inglaterra, a cinco. $emanas de viagem, Inexistialigação aérea e não cabia esperar que uma carta fosse respondidaem menos de três meses. Durante a Primeira Guerra Mundial,, opaís havia sofrido perdas terríveis, mas. tudo estava, esquecido. Osalemães eram apreciados e não se pensava, em guerra.

 Tive a impressão de que a Nova. Zelândia era o país mais bemgovernado no mundo e o mais fácil dé governar.

Sendo á atmosfera de trabalho maravilhosamente plácida eagradável, acomodei-me rapidamente e dispus-me a continuar tarefas interrompidas há vários meses. Fiz numerosos amigos, quê seinteressaram por minha obra e muito por me encorajarem. HughParton, físico-químico, Frederick White, físico, è Bob Allan, geólogo,foram os primeiros. E, depois, Golin Simkin, economista, Alan Reed,advogado, George Roth, físico de radiações, e Margaret Dalziel, entãoestudante de Letras Clássicâs e ínglês. Mais ao sul, em Dunedin,Otago, viviam John Findlay, filósofo, e John Eccles, neurofisiolo-gista. Deles me tornei amigo para toda: a vida.

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Além de lecionar (eu me encarregava, sozinho, do ensino deFilosofia)1*6, concentrei atenção na teoria da probabilidade, especialmente no tratamento axiomático do cálculo de probabilidades ena relaçaó entre, o calculo dé probabilidades -e a álgebra booleana;

e logo concluí um trabalho, que reduzi ao mínimo de extensão. Foieíe posteriormente publicado em M i n d  16T. Continúernésse trabalhopor varios anos: era um grande arrimo, sempre qütf éu-vâpàrihavaum resfriado. Estudei um pouco de Física e ref 1etí aterca da- TeoriaQuântica. (Li, entre outras coisas, a apaixonaiitè e :: perturbadoracarta 16s; enviada, a Nature, por Halban, Joliot é Kowaíski,: igéütiri-do. a possibilidade dé . uma explosão de Urânio, algumas ' cartas apropósito do mesmo assunto em.. The Physical Redieií^^.Xi^^axúgp  de Karl K. Darrow no Arínual Report. of the Bodrd^f:rRégè iits of  

the Smithspnian Institution.) 169  ^Por longo tempo, eu me. havia ocupado dos métodos-dás Ciên

cias Sociais; afinal de contas, tinha sido, em parte* umá £rítica aomarxismo, que me colocara, em 1919, no caminho-dè^X-ógíA:^ dèr  Forschung . Eu havia discorrido, no seminário dé Hàyek, á respeitode “A Indigência do Historicismo” , exposição em se continha(ou assim julgava eu) uma como que aplicação das idéiàs desenvolvidas em Logik der Forschung  aos métodos das Ciências Sociâis.

Discuti essas idéias com Hugh Parton e com o Dr. H. Larsen, que,na época, lecionava no Departamento de Economia. Nao obstante,eu relutava muito em publicar qualquer qoisa contrária ao marxismo:onde continuavam à existir nò continente europeu, os social-demò-crátas eram, apesar de tudo, a única força política a ainda se oporà tirania. Parecia-me que, nas circunstâncias daquele momento, nadase devia escrever contra eles. Embora eu considerasse suicida a política por eles adotada,, não era de supor que. sè pudessem reformarpor força dà publicação de um trabalho: qualquer crítica só poderia

enfraquecê-los.Foi quando, em inarço de 1938, chegaram notícias de que Hitler

tinha ocupado a Áustria. Havia agora uma necessidade urgente deauxiliar os austríacos a fugir. Julguei também que não mais podiamanter inédito o conhecimento de problemas políticos que eu adquirira a partir de 1919; resolvi dar forma defin it ivas UA Indigênçiado Historicismo” . DaÚ brotaram dois trabalhos mais ou menos com-plementares: The Poverty of Historicism  e The Open Society ::and  

Its Enemies  (que, de início pensei em denominar “False Prophéts: Plato-Hégél-Marx” ) . ; y--;:.-

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-i Soc iedade Aber ta ” è S*A Indig ên cia do Historic ism o,,'•V— ’ v/- . .'’’ ■ •.i  ' - • . •

'■! Originalmente, eu pensara apenas em elaborar e colocar eminglês aceitável a exposição que havia feito, no seminário de Hayek

( inicialmente conduzido em alemão, na cidade de Bruxelas, em casade meti amigo Alfred Braunthal) 17°, mostrando, mais de perto, comoo “histcricismo” fora a inspiração tanto do marxismo quanto dofascismo. De maneira. clara, eu. antevia o trabalho concluído diantede mim: um artigo bem longo, mas facilmente putlicável de uma.só vez; . '

Minha dificuldade maior foi a de escrever num inglês passá-vel.“ Eu escrevera, anteriormente, algujns’ trabalhos em inglês, mas,.do ponto de vista lingüístico eram muito maus. Meu estilo alemão,.

em Logik der Forschung, parecera, razoavelmente leve — para leitores alemães; mas eu descobrira que os padrões ingleses. de estiloeram completamente diferentes e muito mais elevados que os alemães. Nenhum leitor, alemão se importa, por exemplo, com polissí-labos; em inglês, temos de aprender a sentir-nos incomodados comeles. Entretanto, para alguém que se empenha ainda por evitar oserros; mais comuns, esses, altos objetivos se põem muito/ distantes,conquanto, possam continuam desejáveis,.

The P. o verty of Historicism é, segu.ndo. creio, um de meus trabalhos mais indigestos. Além disso, após haver escrito as dez seções quecompõem o primeiro capítulo, todo ò plano do livro . mostrou-sefalho: a seção 10, a respeito do essencialismo, causou tanta perplexidade a . meus amigos que me pus a revê-la; e, a partir dessarevisão e  de umas poucas observações que eu havia feito acerca dastendências, -totalitárias da República  de Platão — observações também julgadas obscuras por meus amigos, especialmente por HenryD an Broádhéad e Margaret Dalziel — brotou, õu melhor, explodiu,sem qualquer plano e contra todos os planos, uma conseqüência

verdadeiramente inesperada, TheOpen Society, Depois que estacomeçou a tomar forma, eu a retirei de The Poverty, que ficou assimreduzido mais ou menòs à extensão originalmente prevista.

Houve um fator menor que contribuiu para o surgimento deThe Open Society: irritava-me o obscurantismo de algumas questões propostas nos exames acerca de “ o um e os muitos” na Filosofiagrega, e eu queria pôr a claro as inclinações políticas. ligadas a essasidéias metafísicas.

Depois de The Open Society  desligar-se de The Poverty, terminei primeiramente os três capítulos iniciais desta última obra. O

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quarto capítulo, que até aquele

rascunho (sem qualquer exame do qué:rdepois^;:denómi^i^^lógtòlíísituacional” ) só foi completado, penso eu3 depois^de^tériliiliadQêtt^esboço do volume que, em The Open Society é dedlcadò-;a, Platão^

O fato de as duas obras haverem surgido ‘ desà-'""'máneiiryfàí|$ãconfusa deveu-se em parte, indubitavelmente, ao desénvolviitténtõ;interno de meu pensamento, mas em parte deveu-se,. creio ••••: éü ,ai)pacto Hitler-Stalin, ao início do conflito e ao estranho' içursòíi dáguerra. Gomo todos, eu teinia que, após a rendição da irançayiíiUèrvinvadisse a Inglaterra. Senti-me aliviado quando, em vez. disso, eleinvadiu, a Rússia, muito embora eu receasse o colapso dosí russos;Sem embargo, e como diz Churchill em seu livro sobre a Primeira

.Guerra Mundial, as guerras não são ganhas, são perdidas: e a^Se-gunda Grande Guerra foi perdida pelos tanques de Hitler na Rússiae pelos bombardeiros japoneses em Pearl Harbor. ; ;

The Poverty  e The Open Society  foram meu esforço de guerra;Eu entendi que a liberdade poderia colocar-se, outra vez, como problema central, especialmente sob a renovada influência do marxismo e da idéia de “planejamento” , (ou “ dirigismo” ) em largaescala; assim, esses livros pretendiam ser uma defesa da liberdadeçohtra as idéias. totaUtárias e autoritárias e uma advertência contra

o perigo das superstições historicistas. Ambos os livros e, especialmente, The Open Society  (sem dúvida,, o mais importante) podemser vistos como dobras de filosofia política.

Brotaram ambos da teoria do conhecimento exposta em Logik  der Forschung . e de minha convicção de que nossas concepções, freqüentes vezes inconscientes, acerca de teoria do conhecimento e; deseus problemas centrais ( “ Que podemos saber?” , “Até que ponto écerto nosso conhecimento?”.) são decisivas para orientar nossa atitude em relação a nós mesmos e à política171.

Em Logik der Forschung, tentei mostrar que o conhecimento éconseguido através da. tentativa e eliminação do erro, e que a principal diferença entre seu desenvolvimento pré-científico e seu desenvolvimento científico está ligada ao nível científico por nós conscientemente buscado para nossos erros: a adoção consciente do método  crítico  torna-se o instrumento principal de desenvolvimento; .Aparentemente, já por aquela época eu tinha uma visão clara - de. queo método crítico .■—- òu a abordagem crítica — consiste, em -termos

gerais, na procura de dificuldades ou contradições e. na: tentãtiya deresolvê-las, e que esse enfoque poderia ser levado ,muitov-'àlém ~da-Ciência, para a qual são características as  provas críticas: \ Escrevi

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éõm;: efeito: "Na presente obra, releguei a segundo plano o método,crítico — ou, se quiserem, ‘dialético’ -— de resolver contradições,para preocupar-me com a .tentativa de expor aspectos metodológicos práticos de minhas idéias. Em trabalho ainda inédito, procuroseguir o caminho crítico (. . . ) ” 172. (Eu fazià alusão a. Die beiden  

Grundprobleme.) Em The Open Society, acentuei que o método crítico, embora,

sempre que possível, recorra a provas e, de preferência, a provaspráticas, pode ser generalizado naquilo a que chamei atitude críticaou racional173. Sustentei que uma das melhores acepções a atribuira “ razão” e “razoabilidade” é a de abertura à crítica — disposiçãode ser criticado e ; empenho em criticar-se; e procurei mostrar íqueessa atitude crítica de razoabilidade déveriá ser ampliada tanto quantopossível174. Sugeri que a exigência de ampliar tanto quanto pos

sível a atitude crítica poderia ser chamada “ radonalismo crítico” ,-sugestão posteriormente endossada jpoí? Adrienne Koch 175 e HansAlbert176. '

Implícito nessa atitude está o reconhecimento de que teremossempre de viver: numa sociedade imperfeita. Isso hão é assim apenasporque até mesmo ás pessoas boas são imperfeitas, nem porque, obviamente, erramos com freqüência, por não sabermos o bastante. Maisimportante do que qualquer dessas duas razões '€ o fato de que sempreexistirão insolúveis conflitos de valores: há muitos problemas morais

. insolúveis, porque pode existir conflito entre princípios morais.Nãó pode. existir sociedade humana sem conflitos: umã socie

dade que tal não seria uma. sociedade’ de homens,, mas de formigas.Ainda que ela fosse çoisá realizável, essa; realização destruiria valoreshumanos da ijaaior importância •e . tais valores deveriam, portanto,impedir-nos de tentar a realização. Por outro: lado, deveríamos, decerto, conseguir, uma redução dos conflitos. Assim, já temos aquium exemplo de choque de valores ou princípios. Esse exemplo mostra, ao mesmo tempo, que choques de valores e princípios são impor

tantes e,, na verdade, essenciais nuihá sociedade aberta.Um dos principais argumentos desenvolvidos em The Open So 

ciety  dirige-se contra o relativismo moral. G fato. de valores ou princípios morais poderem entrar em choque nao os invalida. Valoresou princípios morais podem ser descobertos ou inventados. Podemser relevantes em umas e irrelevantes em outras situações. Podem seracessíveis a alguns e inacessíveis a outros. Tudo isso, entretanto, émuito diverso do relativismo, ou seja, da doutrina, segundo a qualé possível defender qualquer conjunto de valores 177.

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Nesta autobiografia intelectual, uma série de idéias filosóficasexpostas em !T/ieSociety , (algumas concernentes à ,História daFilosofia, outras à Filosofia da. História) deveriam ser mencionadas

em numero maior, •alias, do que seria possível -examinar aqui. 

Entre elas, uma exposição "razoavelmente ampla:, ;de íjDüii^a pQs;çãoantiessencialista e, penso eu, o primeiro enunciado : déÍiüm .;antiiessen-cialismo que não é de feição nóminalista nem observácionál. Relacionada com essa exposição, The Open Society  . continha algumas críticas ao Tractatus. de Wittgenstein, críticas que tem sido quase 

completamente esquecidas, pelos comentadores -desse autor. -

Em contexto similar, escrevi também acerca dos : paradoxos ló gicos  e formulei alguns novos paradoxos. Examinei õutrossim' a

relação entre élès e o  paradoxo da democracia  (exame que déu margem ao aparecimento de ampla literatura) e aos mais gerais  para doxos da soberania. : ‘ ; í >

Numerosos trabalhos ijue, a mèu ver, pouco contribuírain paraa solução do problema, surgiram a partir de equivocada crítica às

.minhas idéias sobre explicação histórica. Na seção 12 de. Logik der.discuti o que denominei “ explicação causai” 178, oü expli

cação dedutiva, discussão que fora antecipada, sem que eu me houvesse, dado contai disso, por J. S. Mill, embora talvez um tanto vaga

mente (por não distinguir ele entre uma condição inicial e uma leiuniversal)11®. Quando li pela primeira vez The. poverty of Histo-  ricism  em Bruxelas, um antigo aluno meu, o Dr. Karl Hilferding180leyantou üm ponto interessante, assim como fizeram observaçõesimportantes os filósofos Carl Hempel e Paul Oppenheim. Hilferdingassinalou uma rèlação entre algumas de minhas observações acercada explicação histórica e a seção 12 de Logik der Forschung . (Essasobservações vieram, depois,- a ' converter-se nas páginas 143-46 da

" edição em. livro. [1957 (g )] de The Poverty. O que Hilferding feznotar, com respeito à Logik der Forschung, levou a alguns pontosque figuram* agora, rias páginas 123-24 e 133 de [1957 ( g ) ] 181, pontosparcialmente ligados à relação lógica entre explicação è predição e,parcialmente, à trivialidádé; das leis universais tão invocadas em explicações históricas — lei? quase sempre despidas de interesse, simplesmente porque, no contexto, são. nãp-problemáticas.)

Nao. considerei, entretanto, essa . análisè especialmente impor

tante para a explicação histórica, t  o-.;que tive •;como importante: exigiu mais algnrís anos pára amadurecer. ' Tratava-se ;do problema; daracionalidade (ou ‘‘princípio da racionalidadè”* •ioui>/‘método ■izero” ,ou “lógica da situação” ) 182. Entretanto, durante anos^..a tese banal

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 _ 5êml5v4fcsão>-lnal -interpretada — deu margem, sob o título , de. "mo-delovrdedutivo”, ao aparecimento de larga bibliografia.

- -© ••âspecto realmente importante do problema, o método daanálise ^situacional, que acrescentei a.The Pover ty  183 em 1938 edepois esclareci mais amplamente no capítulo 14 de The Open So ciety 184, desenvolveu-se a partir do que eu havia anteriormente chamado “método zero” . O importante, no caso, éra a tentativa degeneralizar o método. da teoria econômica   ( teoria da utilidade mar ginal), de sorte a torná-lo. aplicável às outras' ciências sociais teoréti -cas. Nas formulações que posteriormente lhe dei, esse método consiste em construir üm modelo da situação, social  que inclua especialmente a situação institucional em que o agente está. atuando, de modoa explicar a racionalidade (o caráter zero) dé sua ação.. Tais modelos são, nas Ciências Sociais, as hipóteses suscetíveis de comprovação e os modelos que sejam “ singulares” , máis especialmente, correspondem às hipóteses, singulares. da . História (hipóteses. em princípio comprováveis).

Ao longo das mesmas linhas, devo talvez referir-me à teoria dasociedade abstrata, pela primeira vez incluída na edição norte-americana de The Open Society 18S.

Para mim, The Opéh Society  marca ürriâ virada, pois levou-mea escrever' a respeito de História (em termos algo especulativos), oque, até certò ponto, proporciohóu-me .desculpa para escrever acercade inétodos de pesquisa histórica186. Anteriormente, eu havia feitoe mantido inéditas algumas pesquisas no cámpo da História daFilosofia, mas só agora, pela primeira vez, publicava algiíma coisanesse campo. Penso que, para dizer pouco, provoquei. grande númerode novos problemas históricos — todo um vespeito de problemas,

O primeiro volume de The Open Society, que intitulei O :En canto de Platão, nasceu, como já referi,. de uma ampliação da seção10 de The Poverty. No primeiro esboço dessa ampliação, figuravamuns poucos parágrafos a propósito do totalitarismo de Platão, na suàconexão com a teoria historicista platônica do declínio ou degenera-ção,, assim como parágrafos acerca de Aristóteles. Esses parágrafosbaseavam-se na minha leitura da República, do Político, do Gór~ gias, de alguns livros das Leis  e nos Pensadores Gregós, de TheodorGomperz, obra muito apreciada desde os meus dias de escola secundária. As reações hostis que esses parágrafos provocaram emmeus amigos neozelandeses acabaram por levar-me a O Encanto de  Platão  e daí a. The Open Society. Voltei ao estudo das fontes, por

que desejava oferecer prova ampla de minhas concepções. ReliPlatão, intensivamente; li Diels, Grote ( cuja opinião, verifiquei, era

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em essencia igual a minha) e muitos outros-..-..cpinenteores _ fc "historiadores do período. (Referências completas/.encontram-se em'\The  Open Society .) O que li foi; em grande parte, função .do, que pudeencontrar na Nova Zelândia: durante a guerra, nao havia comoreceber livros de além-mar. Por essa ou aquela rázão,.,foi-me impossível, por exemplo, conseguir a edição Loeb da República ■-{ traduçãode Shorey) , conquanto o segundo volume, soube eu depois da guerra,tivesse sido publicado era 1935. , O fato foi lamentável, pois tratava-se da melhor tradução, como eu viria a descobrir. As traduçõesde que eu dispunha eram tão insatisfatórias que, auxiliado pelamaravilhosa edição Adam, comecei eu próprio a traduzir, apesardo meu grego deficiente, que eu procurava melhorar recorrendo auma gramática escolar trazida da Áustria. Nadá resultaria do longo

tempo dedicado a essas traduções: eu descobrira que tinha de reescrever várias vezes traduções do latim e até do alemão, se dêséjassèimprimir clareza a uma idéia interessante e vazá-la em inglês razoavelmente vigórosó. Fui acusado de tendenciosídade em minhas tirà-duções e, com efeito, elas são tendenciosas. Mas nao há traduçõesnão-tendenciosas de Platão e penso que não pode haver. A traduçãode Shorey é uma das poucas onde: não há desvios liberais, porque eleaceitou a política de Platão no mesmo sentido/ aproximadamente,em que a rejeitei.

. Enviei The Poverty  a Mind  e fox recusado; imediatamente apóscompletar The Open Society, em fevereiro de 1943 (reescrevi-o muitas vezes) enviei-o para ser publicado nos Estados Unidos dá América. O. livro fora escrito em circunstâncias penosas: as bibliotecaseram 'extremamente limitadas e eu tivera dé ajustar-me aos livrosque encontrara à mão. Minha carga de ensino era pesadíssima e- òsadministradores universitários não só deixavam de ajudar-me comotentavam ativamente criar-me dificuldades. Disseram-me qüe seriaavisado eu nada publicar enquanta estivesse na Nova Zelândia e quetodo o tempo dedicado a pesquisas era tempo roubado ao trâbàlhòdo ensino, pelo qual eu estava sendo pago187. A situação assumiufeições tais que, sem o apoio moral de meus amigos da Nova Zelândia, eu dificilmente teria sobrevivido. Nessas circunstâncias, "areação daqueles amigos dos Estados Unidos da América, aos quaiseu havia enviado o original do livro, foi um golpe terrível. Durantemeses, eles nada disseram; e, depois, em vez de submeter o trabalhoa. um editor, solicitaram a opinião de uma autoridade famosa, aosolhos de quem o livro, devido à sua irreverência para com Aristóteles' (não Platão), foi considerado não adequado para , apresentação;a um editor.

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; - Passado quase uni ano, encontrando-me eu sem saber o quefazer e terrivelmente deprimido, obtive, por acaso, o endereço inglêsde meu amigo Ernst Gombriçh, com: o qual. eu havia perdido contacto durante a guerra. Ele e Hayek, que se ofereceu generosamentepara^ ajudar-me ( eu nao havia ousado. aborrecê-lo, pois só o tinha

visto umas poucas vezes), encontraram um editor. Ambos me escreveram a respeito do livro, mostrando .. muita simpatia. O alívio foiimenso. Achei que essas duas pessoas, me haviam salvo a vida eassim continuo a pensar.

25. Outros trabalhos realizados na Nova Zelândia

Os trabalhos referidos nao fòram os únicos por mim realizadosna Nova Zelândia. Trabalhei -também nò càmpo da Lógica — em

verdade, inventei para meu uso alg0* que é atualmente denominado“ dedução natural” 188 —; e estudei é proferi muitas conferênciasacerca de. lógica da investigação científica, dedicando-me inclusiveà História da Ciência. Este último , trabalho consistiu principalmenteem fazer aplicações a descobertas. réãis de minhas idéias lógicas arespeito da descoberta. A par disso, procurei esclarecer, em meu próprio benefício, a imensa importância de teorias: errôneas, como. ateoria do mundo elaborada por Parmênides.;

Na Nova; Zelândia, proferi cursos de. conferências, sobre os

métodos não-indutivistas, na seção de Christchurch da “ Royal So--ciety. of New Zealand” e ná Escola de Medicina de Dünedin. Taiscursos haviam sido iniciados pelo Professor (depois, 'Sir)  John Eccles. N os últimos dois anos. passados eín Christchurch, fiz palestras dehora de almoço para os professores e alunos dos departamentos deCiência do “ Canterbury University College” Tudo isso era trabalhopenoso (hoje nao consigo imaginar como cheguei a realizá-lo), masextremamente agradável. Em anos posteriores e por todas as partesdo mundo, tenho encontrado antigos participantes desses cursos, que

me asseguraram ter-lhes eu aberto òs òlhos; entre eles, figuram cientistas de nomeada.

Gostei muito da Nova Zelândia, a p e s a r  . da hostilidade . para comminha obra mostrada por alguns dirigentes universitários, e dispu-nha-me a permanecer lá até o fim da; vida.. Em começos de 1945,recebi um convite da Universidade de Sidney. A esse convite seguiram-se críticas, publicadas em jornais- da Austrália, em torno do oferecimento de emprego à um estrangeiro, sendo levantadas questõesnò Parlamento. Em razão disso, telegrafei agradecendo é declinei do:

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convite. Logo depois — a Europa vivia os últimos-períodos de guerra — chegou um cabograma assinado por liayek, oferècendo-ine umaposição na Universidade de Londres, com exercicio na-; <cLondonSchool of Economics” e agradecendo 9 envio que-eu fizèra,? de .Po 

verty  a Economica, de que ele era o editor encarregado;;;, Senti; queHayek me havia salvo a vida uma segunda Vezi v í■sAr%Jàrtir■■:.'■desséinstante, fiquei impaciente por deixar a Novas Zelândia.

26. In g late rra ; na “ London S chool of. Economics .and Political Science’*

Ao deixarmos a Nova Zelândia, imperavam ainda .condições cíeguerra e nosso navio recebeu ordem de. rocíéàr o •fantástica e inesquecivelmente bela. Chegamos à Inglaterra.:em começo de janeiro de 1946 e comecei a trabalhar na “ Lòndon:: Schoolof Economics” . :

Naqueíes dias imediatamente posteriores à guerra, a L.S.É. èrá■uma instituição maravilhosa. De proporções reduzidas, permitia quetodos que lá trabalhavam se conhecessem.. O corpo, docente, eiíiboraem número limitado, era de alto nível e de alto nível eram Os estudantes. Havia muitos alunos — classes maiores que as de tempos

mais tarde — interessados, amadurecidos, cheios de compreensão,. constituindo um desafio para o professor. Entre esses alunos, estavaum . antigo oficial de carreira, da Marinha Real, que agora me su-

. cede na L.S.E.

Eu voltara da Nova Zelândia em luta com muitos problemasem aberto, alguns, questões puramente lógicas, outros, questões relativas ao método, inclusive ao método das Ciências Sociais; e, estandoeu agora numa escola de Ciências Sociais, pareceu-me que estas últimas questões deveriam ter — por algum tempo — prioridade sobre

questões de método no campo das Giênciais Naturais. Não obstante,, ias Ciências Sociais nunca exerceram sobre mim a mesma atraçãoáque às Ciências Naturais teoréticas. Em verdade, a única Ciência

"Rociai que me despertava interesse era a Economia. Entretanto, àSemelhança de muitos que me haviam precedido, atraía-me. a idéia

 y=\de cpmparar as Ciências Sociais com as Naturais do ponto de vistados métodos de que se valem, o que era até certo ponto continuar o

X: trabalho feito em The Poverty.

;JJma das idéias pof mim examinadas em The Poverty  dizia:e|peito à influência da predição sobre o evento predito. A isso eu

4^ iá 'r chamado “ efeito de Édipo” , porque o oráculo desempenhou

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relevante .papel na seqüência de acontecimentos que levaram aocumprimento de sua profecia. (Tratava-se tâmbém de uma alusão'aos psicanalistas, que se haviam mostrado estranhamente cegos paraesse fato interessante por mim apontado, embora o próprio Freudadmitisse que os próprios sonhos sonhados por pacientes eram coloridos ' artiiúde pelas teorias de seus analistas; Freud chamava-os "sonhos obsequiosos” .) Por algum tempo* julguei que a existência doefeito de Édipo fosse capaz de seryir como critério de distinção entreas Ciências Naturais e as Sociais. Contudo, na Biologia — e mesmona Biologia molecular — as expectativas desempenham um papel norealizar aquilo que é esperado. De qualquer modo, minha refutaçãoda idéia de que isso pudesse servir como marco distintivo entreCiência Natural e Ciência Social constituiu-se no germe de ineuartigo “ Indeterminism in Quantum Physics and Classical Physics” l89.

Para chegar a esse ponto, foi preciso, entretanto, que decorressealgum tempo. O primeiro artigo por mim publicado após o retomoà Europa originou-se do gentil convite que recebi para colaborarnum simpósio sobre “Por que os cálculos da Lógica e da Aritméticasão aplicáveis à realidade?” 190, que se realizou durante uma reuniãoconjunta da “Aristotelian Society” e da “ Mind Association” , emManchester, em julho dç 1946. Encontro interessante^ onde fui

recebido com a maiòr cordialidade pelos filósofos ingleses, e especial

mente por Ryle com interesse considerável. Na verdade, meu Open  Society  merecera boa acolhida na Inglaterra, acolhida que ia alémdo que eu poderia esperar; mesmo um platonista que detestou olivro, comentou a “ fertilidade das idéias” ali expostas, dizendo que“ quase todas as sentenças nos dão algo em que pensar” — o que,naturalmente, me agradou mais do que uma concordância fácil*

E, apesar disso, não havia dúvida de que meus modos de pensar, meus interesses e os problemas de que me ocupava eram inteiramente avessos aos de muitos filósofos ingleses. Não sei por. que

isso ocorria. Em alguns casos, talvez se devesse a meu interesse pelaCiência. Em outros, talvez se devesse à minha atitude crítica emrelação ao positivismo e à filosofia da linguagem, o que me lembrao encontro que tive com Wittgenstein, sobre quem eu ouvira osrelatos mais variados e absurdos.

No início do ano letivo de 1946-47, o secretário do “ Clube deCiências Morais” de Cambridge, convidóu-me a fazer uma exposição acerca de alguma “charada filosófica” . Estava claro que setratava de uma formulação devida a Wittgenstein, por trás da qual

estava a sua tese filosófica de que, em Filosofia, não existem proble-

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ruas genuínos, mas tao-somente charadas lingüis ticas: - Hljna vez queessa tese estava entre minhas aversões prediletas, decidii?fàlar' a prtKpõsito de “ Existem .problemas filosóficos?” Comecei meu .trabalho(lido na sala de R. B. Braithwaite, no “King’s College” , no dia -Í26de' outubro de 1946) exprimindo surpresa por ter sido convidado,pelo secretário para falar “ a propósito de alguma charada filosófica’ e assinalei que, negando implicitamente a existência de problemasfilosóficos, quem fizera o convite tomara posição, talvez inadvertidamente, num debate gerado por um genuíno problema filosófico.

Desnecessário dizer que, com isso, eu pretendia apenas fazeruma introdução provocadora e leve do meu tema. Mas, a essaaltura, Wittgenstein pulou da cadeira e disse, alto e, ao que me

pareceu, em tom zangado: “ O Secretário fez exatamente o que lhefoi dito que fizesse. Observou instruções minhas.” Não dei atençãoe prossegui; mas, como ficou claro, alguns dos admiradores deWittgenstein, ah presentes, . deram atenção às suas palavras. e, emconseqüência, tomaram miriha observação, que pretendia , ser umabrincadeira, como uma queixa sériá contra o Secretário. E assimparece ter entendido o pobre Secretário, como se vê da ata em queele refere o incidente, acrescentando em nota de pé de página:“ Essa foi a forma de convite usada pelo Clube.” m

„ Fui adiante, apesar de tudo, para dizer que, se eu não acreditasse na existência de problemas filosóficos genuínos, eu não seriapor certo filósofo; e que ò fato de muitas, talvez todas as pessoasacolherem irrefletidamenté soluções insustentáveis para muitos, talvez para todos os problemas filosóficos, propiciava a única justificação para ser-se filósofo. Wittgenstein ergueu-se de novo, interrompeu-me, e falou longamente acerca de charadas e da inexistênciade problemas filosóficos. Em momento que me pareceu adequado,ihterrompi-o, apresentando uma lista de problemas filosóficos, por

mim preparada, onde figuravam questões como “ Conhecemos ascoisas átravés de nossos sentidos?1’, “ Há conhecimento por indução?” .Wittgenstein rejeitou essas indicações, dizendo tratar-se de questões

-lógicas e não filosóficas. Mencionei então o problema de saber seékistem infinitos potenciais ou talvez mesmo atuais, o que ele considerou uma questão de Matemática. (Isso consta da ata.) Aludi,erfi ’ seguida, aos problemas ’ morais e ao problema da validade dasregras'morais. A essa altura, Wittgenstein, que estava sentado juntoà^areira e brandia nervosamente o atiçador de fogo, que por vezes

1 usavam como batuta de maestro, para sublinhar suas afirmações, lan-çôufmev.um desafio: “Dê-me um exemplo de regra moral.” Res*pondii “Não ameaçar conferencistas visitantes com atiçadores de

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fògo /^-Wittgenstein, com raiva, atirou longe o atiçador e precipi-tóu se :pâra fora da' sala, batendo a porta atrás de si.

O incidente me aborreceu muito., .Confesso que fui a Gambrid-ge com a esperança de obrigar Wittgenstein ã defender a idéia deque existem problemas filosóficos genuínos e com o propósito decontestá-lo quanto a este ponto. Jamais* porém, pretendi irritá-lo;e foi uma surpresa ver que ele se mostrava incapaz de compreenderuma brincadeira. Mais tarde, dei-me conta de que ele percebeu abrincadeira e foi isso que o ofendeu. Entretanto, embora desejassetratar a questão em tom leve, eu falava seriamente •— talvez maisseriamente que o próprio Wittgenstein, pois ele não acreditava queexistissem problemas filosóficos genuínos.

Depois da saída de Wittgenstein, travou-se debate agradável,em que teve destacada participação Bertrand Russell. E, mais tarde,Braithwaite fez-me um cumpriment^f (cumprimento talvez dúbio) , dizendo ter sido eu a única pessoa capaz de interromper Wittgenstein da maneira como Wittgenstein interrompia a todos.

No dia seguinte, no mesmo compartimento do trem que melevava de volta a Londres, estavam dois estudantes sentados umdefronte do outro, o rapáz a ler um livro, e a moça a ler uma revistade esquerda. De repente, a moça perguntou: “ Quem é esse KarlPopper?” E o rapaz respondeu: “Jamais ouvi falar dele.” Assim

é a fama. (Descobri mais tarde que a revista fazia um ataque a The  Open Society.)  :

A reunião do Clube de Ciências Morais tornou-se quase imediatamente o tema de rçlatos despropositados. Dentro de tempo surpreendentemente curto, recebi uma carta da Nova Zelândia perguntando se era verdade que eu e Wittgenstein havíamos trocadogolpes, ambos armados com atiçadores de fogo. Mais próximo denós. os relatos eram menos exagerados, mas não muito menos.

O incidente deveu-se, em parte, *a meu hábito de, sempre ique

aceito falar, esforçar-me por tirar de; minhas concepções conseqüências que espero sejam inaceitáveis para aquele determinado auditório. Com efeito, acredito , que, para uma palestra, só há umadesculpa: desafiar. Só nesse sentido o falar pode avantajar-se aoescrever. Foi por isso que escolhi o tópico já referido, além do quea co n t r ovér si a   com Wittgenstein tocava em questões fundamentais.

Afirmo que existem problemas filosóficos; e chego até a afirmarque solucionei alguns. Sem embargo, como tive oportunidade deescrever em outra ocasião, “aparentemente, nada é menos desejado

que uma solução simples para um velho problema filosófico”.182 A

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concepção de muitos filósofos . ;; especialmente j ao; que,, parece, doswittgensteinianos é a de que, sendo solúvel, o problema não terá sidofilosófico. Há, naturalmente,, outros modos,,de .evitar o , escândalo deum problema resolvido. Pode-sç. dizer, que se ;trata de^lus^nou .que

o problema permanece insolvido. :£,;r afmalíjdeG 'proposta deve estar errada, não é .verdade^fc(Ssto.uspronto a reconhecerqué, muito freqüentemente, esta atitude-;é-mais, ..constrytiya-. que- aexcessiva concordância*) ^' s * ■ '   ••

Uma das coisas que naquele teíüpô -eü còhsideíava^ difícil deentender era a tendência que tinham osfilósbfds' ingleáesdef namorar as epistemologias não-realistas: o fénômehismo/vo} positivismo, oidealismo de Hume, de Berkeíey ou de MacHl ( “monismo/neutró” ) ,o sensismo, o pragmatismo; esses brinquedos :de -filósofos eram/~na

época, mais apreciados que o realismo. Depois de uma guerra -cruel,que se prolongará por seis anos, essa atitude era surpreendentesleiadmito: que. me parecia um tanto “ antiquada5’ (para Usar iüina; pálàvrade feição historicista). Assim, ao ser convidado em 1946-47 pará. léf . ümtrabalho em Oxford, apresentei um com o título de “UmasRèfu^tação do Fenomenismo, do Positivismo, do Idealismo e do Subjeti-vismo” . Nq debate, a defesa das posições que eu havia atacado ;fOitão frágil que causou pouca impressão. Sem embargo, os frutos davitória (se os houve) foram colhidos pelos filósofos da linguagem

comum, pois a filosofia da linguagem passou, dentro em pouco, adar apoio ao senso comum. Em verdade, suas tentativas de aderirao senso comum e ao realismo constituem, ao meu ver, o aspectomais favorável da Filosofia da linguagem, comum. Entretanto, . osenso comum, embora muitas vezes acerte (especialmente em seurealismo), nem sempre está correto. E exatamente quando:ele falhaé que as coisas passam a tornar-se interessantes. Evidencia-se, nessas ocasiões, . que estamos terrivelmente necessitados de esclarecimento. São também essas as ocasiões em que os usos da linguagem

comum não nos podem valer. Em outras palavras, a linguagem. comum, e com ela a filosofia da linguagem comum, é conservadora. Êem questões de intelecto  (no que se opõem, talvez à Arte ou a.Política) nada é menos criador e mais chão do que o conservadorismo.

Ao que me parece, Gilbert Ryle deu a tudo isso uma formulaçãomuito adequada: “ A racionalidade do homem consiste não em nãoser, inquiridor em questões de princípio, mas em nunca deixar de serinquiridor; não em aderir a axiomas admitidos, mas em nada aceitareorao assentado.” 193

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Embora eu tenha conhecido- a aflição e a tristeza, como aconteceu com todos, não creio que tenha tido, como filósofo, sequer

uma hora infeliz, desde que retornei à Inglaterra. Trabalhei muitoe muitas vezes enfrentei dificuldades insolúveis. Mas tenho sidomuito feliz em encontrar problemas novos, enfrentá-los e conseguiralgum progresso. Isso, tenho parà mim, é a vida ideal. Parece-meinfinitamente superior à vida de mera. contemplação (para não falarda vida de divina autocontemplação) ^ne Aristóteles apontava comoa melhor. É uma vida de inquietúdes, mas, em grande proporção,auto-suficiente —  autárquica, no sentido de Platão, embora, comoé claro, vida . alguma possa ser auto-suficiente. ‘ À- minha mulher e a

mim não agradava viver em Londres; entretanto, desde que nosmudamos para Penn, em Buckinghamshire, em 1950, tenho sido,segundo creio, o mais feliz dos filósofos que conheci.

Isso não é sem importância para meu desenvolvimento intelectual, pois tem ajudado imensamente o meu trabalho. E cumprelevar em conta a realimentação: uma das grandes fontes de felicidade é conseguir, aqui e ali, um vislumbre de um aspecto novo doincrível mundo em que vivemos e do incrível papel que nele noscabe.

Antes de nos mudarmos para Buckinghamshire, meu trabalhoestava principalmente voltado para a “ dedução natural” ., Eu o tinhainiciado rça Nova Zelândia, onde um de meus alunos de Lógica,Peter Munz (hoje professor de História na Universidade de Vitória),muito me estimulou, graças à sua compreensão e à sua excelentecapacidade de dar desenvolvimento independente a um argumento 194.(Ele não se recorda do fato.) Depois de minha volta à Inglaterra,discuti . o assunto com Paul Bernays, o teorizador dos conjuntos ecerta vez falei dele a Bertrand Russell. (Tarski não estava interessa

do, o que eu compreendi miiito bem, pois ele tinha idéias mais importantes com que se ocupar; mas Evert Beth manifestou real interesse pela questão.) Trata-se de uma teoria elementar, porém estranhamente bela — muito mais bela e simétrica do que as teoriaslógicas como eu jamais conhecera.,

O interesse que inspirou essas investigações nasceu de um artigode Tarski, “On the Concept of Logical Consequence” 195 que eu oouvira ler num congresso realizado emyParis no outono.de 1935. Esseartigo e, em particular, certas dúvidas nele expressadas196, levaram-

-me a dois problemas: (1 ) até que ponto é possível formular a Lógicaem termos de verdade ou deduzibilidade, ou seja, transmissão de

27:i P riíaeiros tra balho s n a Ing laterra

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verdade e retransmissão de falsidade? ; e, (2 ). até,que pon to , é possívelcaracterizar as constantes lógicas de uma linguagem-objeto comosímbolos cujo funcionamento pode ser inteiramente descrito em ter

mos. de dedüzibilidade (transmissão de verdade) iMuitos:prqblemasbrotavam desses dois e de minhas tentativas..,de írpsolye^los,^7. V:Contudo, por. fira, apos varios anos d e . 'esfo£çò^,desi^£;.râ0 j ^engano que havia cometido, apesar de nao -jserj is iòj- éss^ iengànó,e ; apesar de. ao corrigí-lo, eu ter sido levado - a - álguns;:: resultadosinteressantes que, todavia, jamais publiquei 1S8. , a. ., ^

Em companhia de Fritz Waísmann, fui à Holanda-•em 1946,convidado a participar de um congresso da Sociedade.. Internacional,de Significs. Foi esse o começo de uma estreita ligação ^com a ;Ho-.

landa, ligação que se prolongou por vários anos. (Anteriormente,eu havia sido visitado na Inglaterra pelo físico J. Çláy5 qüe léráminha Logik der Forschung  e com quem èu compartilhava, ^muitasmaneiras de ver.) Foi nessa ocasião que pela primeira vez encontreiBrouwer, o criador da interpretação intuicionista da Matemática,e Heyting, seu mais distinto discípulo, A. D. De Groot, o psicólogo: emetodologia ta, e os irmãos Justus e Herman Meijer. Justus muitose interessou pela The Open Society  e, quase de imediato, iniciou òpreparo da primeira versão do livro para a língua holandesal98.

Em 1949, fui feito professor de Lógicã e Método Científico naÜníversidade de Londres. Talvez a título de reconhecimento, euusualmente iniciava minhas exposições acerca do método científicoexplicando porque tal assunto não existia — era mais inexistente doque alguns outros assuntos inexistentes. (Contudo, eu não me irepètia

"muito em minhas exposições; nunca utilizei mais de uma vez asmesmas notas de aula.)

■' As pessoas còm quem mais aprendi nesses primeiros tempos■vividos na Inglaterra foram Gombrich, Hayek, Mêdawar e Robbins

nenhum deles filósofo; havia também Terence Hutchinson, que^inha escrito com grande penetração a respeito dos métodos da

' fÈconomia. Mas aquilo de que mais eu sentia falta, na época, era■'poder conversar longamente com um físiCo, embora eu houvesse/reencontrado Schrpdinger em Londres e tivesse uma proveitosa conversa, com Arthur Marcfc em Alpbach, no Tirol, e outra com Pauli,

.r.enx Zurique.

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28. Primeira visita aos Estados Unidos da América.

•w>.:>Eficonlro •'c o m E in s te in V.

• Em 1949, recebi convite para proferir as Conferências William James, em Harvard. Esta foi a razão da minha primeira visita aosEstados Unidos da América e muito influiu sobre minha vida. Quando recebi a inesperada carta-convite do Professor Donald Williams,imaginei que houvesse engano, imaginei que me tivessem tomadopor Joseph Popper-Lynkeus.

Eu desenvolvia, na ocasião, três trabalhos: uma série de artigossobre dedução natural, várias axiomatizações1da probabilidade e ametodologia da Ciência Social, O único assunto que me pareceuadequado para uma série de seis ou oito conferências foi o último

e, assim, dei às exposições, o título de “ O Estudo da Natureza e daSociedade” .

Embarcamos em fevereiro de 1950. Dos . membros do Departamento de Filosofia de Harvard, eu só conhecia Quine. Agora, pas- .sava a conhecer C. I. Lewis,. Donald Williams , e Morton White.E voltei a encontrar, pela primeira vez depois de 1936, velhos ami-gos; o matemático Paul Boschan, Herbert Feigl, Phillip Frank (queme apresentou ao grande físico Percy Bridgman, de quem logo metornei amigo), Julius Kraft, Richard Von Mises, Franz Urbach,

Abraham Wàld e Victor Weisskopf. Conheci também Gottfried vonHaberler que, segundo soube depois. por Hayek, foi, aparentemente,o primeiro economista á se interessar por minha teoria do método; econheci também George Sarton e I. Bernard Cohen, historiadoresda Ciência e James Bryant . Conant, reitor de Harvard.

Gostei dos Estados Unidos da América desde logo, talvez por

que tinha algum preconceito contra,- eles. Havia ali, em 1950, umsentimento de liberdade, de indepçjadência pessoal, que não existia

na Europa e que, pareceu-me, era álnda inais forte do qúe na NovaZelândia, o país mais livre que pudé conhecer, Eram os dias iniciaisdo macartismo — do hoje parcialmente esquecido cruzado anticomunista, Senador Joseph McCarthy mas, a julgar pela atmosferageral, supus que o movimento, que se alimentava do medo, terminariapor destruir-se a si próprio. Voltando à Inglaterra, tive, com Ber-trand Russell, uma discussão acerca do assunto.

Reconheço que as coisas se desenvolveram de maneira muito

diferente. “ Isso não acontecerá aqui” é sempre errado: uma dita-?dura pode instalar-se em qualquer i lugar.

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O maior e mais duradouro impacto recebido, durante a visitafoi o causado por Einstein. Convidado a . ir . a Princeton, li, numseminário, uma artigo intitulado “ Indeterminismp na^Fisica Quântica e na Física Glassica’ , esboço de trabalho muito inais longo 2°°.

Nos debates, Einstein disse umas poucas palavras de concordânciae Bohr estendeu-se; em considerações (em verdade,^^té^jfícáírnossó os dois na sala), afirmando, com'recurso, ao i^ o s o * ^ im eft íò ;dás duas fendas, que a situação que se apresentayá„vHp. ,jcampo da"Física Quântica era completamente nova e 'com a ’ da Física classica. O fato de Einstein e HòhtViíéreni^ coiiipa-irecido a minha palestra foi, a meu ver, ò rriaior, cumprimento 'que

 já recébi. '''' ’’ ; '.‘v.

Eu conhecera Einstein antes dessa palestra,, ,atravésKr derrPàul

Oppenheim, em cuja- casa estávamos hospedados. E, . conquantòvieurelutasse muito em tomar o tempo de Einstein, ele fez-mé.. procurá-lode novo. Ao todo, encontramo-nos três vezes. O principal/;tópico : denossa conversa foi o indeterminismo. Tentei persuadi-lo,ú&^abando^nar o seu determinismo, que q levava a conceber o mundoVcoiho umuniverso compacto, parmenídico, de quatro dimensões, onde a mu-;dànça não passava de uma ilusão humana, ou quase isso. (Ele

. concordou 'com que essa havia sido sua visão e, em meio à conversa,chamei-o de “ Parmênides” .) Sustentei que se os homens e outros

orgáhisraos podem ter a experiência da mudança e da genuínasüCessão no tempo, então isso era real e não poderia ser invalidada

:0 ; : por uma teoria do sucessivo acesso a nossa consciência de porções- dé ;tèmpo que, em certo sentido, coexistem, pois esse tipo de “acesso

^ ^ ^X^orisc nc a” teria precisamente o mesmo caráter daquela sucessãode-jmudanças, qüe a teoria procura rejeitar. Invoquei também alguns

^;-U;;.; aicgUmentos biológicos óbvios:, a evolução da vida e a maneira de osíSC^i/otgânismos se comportarem, especialmente no caso dos animais su-

l^^^fâdtícres, nao podem ser verdadeiramente compreendidos com basequalquer teoria que irilerprete o tempo como se este fosse algo^^~S§ífíelhante a uma outra coordenada (anisotrópica) do espaço. Afi-^ ív n á & d e ■contas, nãò  temos experiência, de. coordenadas espaciais. E

b isso; porque elas simplesmente nao existem: devemos acautelar-nos^ ^ í jGpiçbraífa. hipòstasiá-lasj elas são construções quase inteiramente arbi-llplj: tr áFi s? .: Por.- que teríamos, então, a experiência da coordenada, de.''1^'tèitípo -— sem dúvida, a apropriada para o nosso sistema inercialt=—r.p|i^ãp^j5enas tcomo aigo real, mas também como algo absoluto, ou seja>.

^independente de tudo quanto podemos fazer,^excetò^;‘l^o^^iGafí- nosso. .estado de movimento) ?

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v A realidade do tempo e da mudança  parecia-me o cerne do realismo. (Continuo a ver as coisas desse modo, e assim elas têm sidovistas por alguns idealistas que se opõem ao realismo, como Schrõ-

dinger e Gõdel.)Quando visitei Einstein, o volume Einstein, editado por Schilpp

e integrado em The Library of Living Philosophers, acabava de serpublicado; o volume continha uma passagem, hoje famosa, de Gõdel,que utilizava, contra a realidade do 'tempo e da mudança, argumentos colhidos nas duas teorias da>u relatividade elaboradas porEinsteinZ01. Einstein aparecia no livio como alguém decididamentefavorável ao realismo. E ele discordava, sem dúvida, do idealismode Gõdel; ele sugeria, em sua réplica, que poderiam ser “ rejeitadas,

por motivos de ordem física” , as soluções godelianas das equaçõescosmo lógicas.

Procurei ainda apresentar ao Einstein-Parmênides, tão vigorosamente quanto possível, minha convicção de que se deveria tomarclara posição contra qualquer concepção idealista do tempo. Busquei também mostrar que, embora a concepção idealista fosse compatível tanto com o determinismo quanto com o indetermínismo,importava tomar .posição a favor de um universo "aberto” — uni

verso em que o futuro de maneira alguma estivesse contido no presente ou no passado, conquanto estes lhe imponham severas restrições. Argumentei que não devemos ser governados por nossas teorias,até o ponto de facilmente abandonar o senso comum. Einstein nãoqueria abandonar o realismo (e a favor deste os argumentos maisfortes são Ds que se fundam no senso comum), mas penso que estava,como eu também estava, pronto a admitir que poderíamos, um dia,ver-nos forçados a repudiá-lo, se argumentos poderosos (do tipo dosde Gõdel, digamos) se erguessem contra ele. Argumentei por issó

que, no concernente ao tempo, e também ao índeterminismo (ouseja, ao caráter incompleto da Física), a situação era exatamentesemelhante à situação relativa ao realismo. Recorrendo à maneiraque tinha Einstein de expressar-se em termos teológicos, eu disse:se Deus tivesse querido colocar todas as coisas no mundo desde ocomeço, Eie teria criado um universo sem mudança, sem organismosnem evolução, sem o homem e sem a experiência que o homem temda mudança. Aparentemente, entretanto, Ele achou que um universo vivo, com acontecimentos inesperados até para Ele próprio;

seria mais interessante que um universo morto.Procurei também deixar claro a Einstein que tal posição não.

implicaria em perturbar a atitude crítica por ele tomada diante daafirmativa, feita por Bohr, de que a Mecânica Quântica era com-

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pleta; pelo contrário, tratava-se de uma -posição para -.a quai sempre  é possível levar mais adiante os nossos projbIemas e que, - de modògeral, cabia esperar que a Ciência. seç. revelasse incompleta; . (nesteou naquele sentido).

Com efeito, sempre podemos continuaríVcórn.? ós nossos por^quês.A despeito de acreditar na verdadeditava que ela proporcionasse uma explicação1 última .'te,- pí&EÍsáSsoítentou apresentar uma explicação teológica. iHa íaçâo^ííàiüdistânciaiLeibniz não acreditava que o impulso meeâmGO|d(íaçãoíáíadistânCiá‘‘' 

-zero) fosse a última palavra a dizer e buscava^umartexpHcàiçã ièiiitermos de forças de repulsão, explicação que,; osteriç> én|;é,fívèifc>a ser dada pela teoria elétrica da matéria. Uma explicação^ é algosempre incompleto203: sempre podemos suscitar um outro <rpor ;quê..;-

E esse novo por quê talvez leve a uma nova teoria, que.^ não, :só:“ explique” , mas também corrija a- anterior204. :

Esse é o motivo por que é possível enxergar a evolução, dàFísíca em termos de um interminável processo de correção e de:maior aproximação. E ainda que venhamos a alcançar uíh.. eStág;iò•■■.•'1'em que nossas teorias não mais estejam sujeitas a correções,: pelacircunstância de serem simplesmente verdadeiras, elas continuarãoa não ser completas — e saberemos disso. Pois viria à baila o famosoteorema da incompletude, de Gõdel, e, tendo em vista o fundamento

matemático da Física, far-se-ia necessária, na melhor das hipóteses,uma seqüência infinita dessas teorias verdadeiras para dar respostaaos problemas que, em qualquer teoria dada (formalizada), seriamindecidíveis. ” • •

Essas considerações não provam que o mundo físico objetivoseja incompleto ou indeterminado: mostram apenas a essencial7incompletude de nossos esforços2043. Mostram, além disso, que é reiúòta

•a possibilidade (se é que essa possibilidade existe) dè a Ciência vir .áalcançar um estágio em que possa oferecer fundamento real à concepção de que o mundo físico é de cunho determinista. Por; que nãoaceitarmos, então, o veredito do. senso comum — pelo menos até.que estes argumentos sejam refutados?205

 Tal a substância do argumento com que procurei converter or Einstein-Parxnênides. Além disso, discutimos, de maneira mais breve,: problemas como os do operacionalismo206 e do positivismo, os positivistas e o estranho temor que experimentam diante da Metafísica,

-a,verificação em face do falseamento, a falseabilidade e a simplici-dadeiK Surpreendeu-me saber que Einstein pensava que tinha sidouniversalmente aceitas minhas sugestões concernentes à simplicidade

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(feitas &ín:fEogik der Forschung ) , de $orte que todos soubessem que•èrá&ipreférivel a teoria mais. simples,Sem razão de seu maior poderde excluir- estados de coisa possíveis; ou seja, em razão de sua melhor testabilídade 201.

Outro ponto discutido foi Bohr e a complementaridade -— topi-co inevitável depois do que Bohr dissera durante os debates da noiteanterior; e Einstein repetiu, com os mais vigorosos termos, o que elehavia assinalado no livro de Schilpp: que, a despeito dos maioresesforços, nao conseguia enténder o que Bohr pretendia dizer quandofalava em complementaridade208.

Lembro-me também de algumas observações mordazes que Eins-tein fez acerca da trivialidade (do ponto de vista de üm físico) dateoria da bomba atômica, o que me; pareceu um tanto exagerado, .

considerando que Rutherford havia julgado impossível a utilizaçãoda energia atômica, -•Talvez essas observações estivessem algo matizadas pela sua aversão à bomba e tudo quanto se relacionava a ela,porém não há dúvida' de que^ele tinha perfeita consciência do quedizia e sem dúvida estava, no essencial, certo.

É difícil transmitir a impressão ('causada pela personalidade deEinstein: Talvez se possa descrevê-la . dizendo que, ao lado dele, aspessoas se sentiam imediatamente à 1vontade. Era impossível naoaceitá-lo3 deixar de implicitamente confiar em sua retidão, bondade,

bom senso, sabedoria*. e~ simplicidade quase infantil. Diz alguma coisaem favor do murfdo ;e dos. Estados Unidos da América o fato de umhomem tão desligado do ‘ riiundo ter nao apenas sobrevivido, mas tersido apreciado e glorificado.

Durante a visita à Princeton, voltei a encontrar Kurt Gõdel ediscuti çom ele a sua contribuição para o livro sobre Einstein ealguns aspectos da possível significação de seü teorema da incom-pletude para a Física. ■. ' 

Após a primeira visíta aos Estados Unidos da América foi que ;nos mudamos para Penn, em Buckinghamshire, que era, então, um íilugarzinho tranqüilo e belo. Ali pude trabalhar meihòr do queem qualquer ocasião anterior.

29. Problemas e teorias

 Já em 1937, quando eu procurava entender a famosa “ Tríade ^dialética” [tese: antítese : síntese ) } interpretando-a como uma forma ‘ído metodo de tentativa e eliminação de erro, sugeri que toda dis- [í 

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cussao científica partisse de um problema- (i?x.) , aoqual .se oferècesseuma espécie de solução prpvisórâ,.vuig& Uoria-tentativa^ (£ 77) *. passando-se depois a criticar a soIução, com rvistas à ír/zmínfZftío do .erro  {EE) ; e, tal como no caso da dialctÍca, es>se procèsso se renpyariaa si mesmo, dando surgimento a novos

Posteriormente, condensei o. exposto '^rio;segui^ecvçsqupmaí

Pt.—» T T E E '  

esquema que freqüentemente usei em conferênciaésv^lc-íiík; iV+vwh 

Eu gostava de resumir esse esquema, dizendo queac i ênc iaço -   meça com problemas e termina com problemas:■•■■:Ehtrètàntò}-\èu’'sem -pire me sentia algo insatisfeito com esse sumário, .^isl^^qiiproblemà;^científico surge, por sua vez, num contexto teoréti(^/t%^.êi^J^^idõ---:-

de teoria- Por isso, eu costumava dizer que podemos tomar o esqjaemãa qualquer altura: começar com T T 1 é terminar comEEr  e terminar com EEZ. Todavia, acrescentava éu hàbitüàlríientè,em geral o desenvolvimento teorético tem como ponto de partida Um

 problema prático; e, apesar de toda formulação de um prdblemàprático levar inevitavelmente à teoria, o problema prático, èm simesmo, pode ser apenas “ sentido” : pode ser “pré-lingülstitib” ; nós — ou üma ameba -— talvez sintamos  frio ou experimentemos qualquer outra irritação, e isso nos induzirá talvez, ou induzirá a arriêba,

a movimentos exploratórios — quiçá, movimentos teoréticos —- paíãnos livrarmos da irritação.

A despeito disso, a interrogação: “ O que surge primeiro, o problema ou a teoria?’* não tem resposta fácil210. Na verdade, JJÜdeverificar que se trata de questão inesperadamente promissora e difícil.

Com efeito, os  problemas práticos  aparecem porque algumacoisa correu mal, em razão de algum acontecimento com qúe nãose contava. Isso quer dizer, entretanto, que o organismo,! seja;; hòmcm

pu seja ameba, ajustou-se previamente (e, talvez, inadequadamente) aomeio, desenvolvendo álguma expectativa ou alguma outra estrutura.(um órgão, digamos). Tal ajustamente é ã;iorm a pré-consciente da

' elaboração de uma teoria; e como todo problema prático aparececom referência a' algum ajustamento desse tipo, os problemas prantos, estão, em essência, penetrados de teoria.

Chegamos, assim, a um resultado que tem conseqüências de|urpreendente interesse: 1 as primeiras teorias  —  isto ê, as primeiras  

tsoluçjões exploratórias para os problemas  —  e os primeiros problemas  rfep#mt de alguma forma , ter. surgido ao mesmo tempo.

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• ' outras conseqüências:

; Estruturas orgânicas e problemas aparecem ao mesmo tempo.Ou; em outras palavras, estruturas orgânicas são estruturas que-in -

corporam-teoria , bem como estruturas que-resolvem-problemas.Mais tarde (especialmente na seção 37 desta Autobiografia), 

voltarei a ocupar-me da Biologia e da teoria evolucionista. Aqui,assinalarei apenas que há apenas algumas questões sutis em tornodas várias distinções que se estabelecém entre, de um lado, problemas formulados e problemas teoréticos e, de outro, problemasapenas “ sentidos” e problemas práticos.

Dentre essas questões, estão' as seguintes:

(1) A relação entre um problema formulado e a solução (exploratória) formulada pode ser vista, em essência, como uma rçlaçãológica.

(2) A relação entre um problema “sentido” (ou um problemaprático) e uma solução é, entretanto, uma relação fundamental daBiologia. Talvez se revista de importância para a descrição do comportamento de cada; organismo, ou para a teoria da evolução deuma espécie Ou filo. (Os problemas, em sua maior parte — e,

talvez, em sua totalidade — são mais do que “ problemas de sobre- .vivência” : são problemas concretos, suscitados por situações muitoespecíficas.)

(3 ) A relação entre problemas e soluções desempenha, evidentemente, papel importante rias histórias  dos organismos individuais,especialmente na dos organismos humanos; e desempenha um papelparticularmente importante na história das realizações intelectuais,como a História da Ciência. Toda história deve ser, sugiro eu, uma

história de situaçÕes-problema.(4) De outro lado, essa relação, ao que parece,' não desempenha nenhum  papel na história da evolução inorgânica  do universoou de suas partes inorgânicas (na história,; digamos, da evolução dasestrelas ou da “sobrevivência” dos elementos estáveis ou dos compostos estáveis, e na história da conseqüente raridade dos instáveis).

É igualmente de muita importância úm ponto algo diverso:

(5 ) Sempre que dizemos que um ■organismo tentou resolver umproblema P l5 estamos apresentando um^conjectura histórica  mais oumenos arriscada. Conquanto seja uma conjectura histórica, é proposta à luz de teorias históricas; ou biológicas. A conjectura é . atentativa de resolver um problema histórico, P  (P1) digamos, que é,muito diferente do problema P x  atribuído pela conjectura ao orgá-

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nismo em causa211. Assim, é possível que um cientista como- Kepier. tenha julgado haver resolvido um problema ao passo .que o. historiador da Ciência tentará resolver (^ 11) : “K.eplerresolveu o problema P 1 ou um outro pròbÍémá? :Qüâí uerá; á rèal

situação-problema?”  E a solução dó problèii^^^^? i:)^^ode Vsér(como penso que seja) a de Kepler resolveu7Cii^7í^rpbÍem^^êni!diverso daquele que acreditou haver retômdÒ’.:':# --^ •

No nível animal, a solução sempre é, claro/ conjeGturalta-se de uma construção de elevado grau teoréfíGÒí^ \ ! \^jattãJs.ej;: ‘ dá quando um cientista conjectura, a propósito de.um :.^ r-yvidualizado ou de uma espécie (a propósito, digámOS,;.;de^úm;ímicrobio tratado com penicilina) que o animal ou'-á es^éde-v^e^çõui^.^uma solução (a de tornar-se, digamos, resistente à penicilina) , para ::

o problema que está enfrentando. Essa maneira de colocaiiaíqüest^fe;:poderá parecer metafórica, e mesmo antropomórfica, mas ^alyêzJJaaq sejà: talvez simplesmente mostre que tal era a situação dò nièio qué,y -;se a espécie (ou população de organismos) nã<* tivesse mudado dè ; ;certo modo (alterando, por exemplo, a distribuição de süa? popula- vçao de genes), sobreviriam dificuldades para ela! .''"'.y — 

Dir-se-á que tudo isso é óbvio: a maioria de nós sabe que. ,é;difícil formular claramente um problema e que, freqüentes vezes,falha-se na tentativa. Os problemas não são fáceis de identificar,,

ou descrever, a menos, é claro, que algum problema adrede preparado,nos seja proposto, como se dá num exame; ainda assim, entretanto,,podemos achar que o examinador não formulou bem o problema eque sabemos formulá-lo melhor. ■Déssa maneira, surge, com muitíssima freqüência, o problema de formular o problema — e o problemade saber se era realmente esse o problema a ser formulado.

Assim, os problemas, inclusive os problemas práticos, são sempre teóricos. As teorias, de outro lado, só podem ser entendidascoma tentativas de solução de problemas e em relação, com as situa-;

:- ções-problema.Com o objetivo de evitar mal-entendidos, desejo acentuar que

a& relações aqui discutidas entre problemas e teorias não são relações; . entre as palavras “ problema” e “ teoria” : não me preocupei com usosJ

ou conceitos. Preocupei-me com relações entre, problemas e teorias^  especialmente as teoria^ que precedem os problemas: problemastjue surgem das teorias ou com elas nascem; e teorias que são tenta-.,tivas de solução de certos problemas. ' "í 

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ciíníí-Schxôdmger

Foi; ém 1947 ou 1948 que Schrõdinger me avisou de que estavachegando a Londres e eu o encontrei na casa de campo de um deseus' amigos. A partir daí, mantivemos contacto regular, através

de cartas e encontros pessoais em. Londres e, depois, em Dublin, emAlpbach, no Tirol e em Viena.

Em 1960, eu achava-me hospitalizado em Viena e, como eleestivesse demasiado doente para visitar-me, eu era diariamente visitado por sua mulher, Annemaria Schrõdinger. Antes' de voltàr àInglaterra, visitei-os no apartamento que ocupavam em Pasteurgasse.Foi a última vez que o vi.

Nossas relações haviam sido algo tempestuosas. Ninguém que

o conhecesse se surpreenderá com isso. Discordávamos violentamenteacerca de muitas coisas. De início, eu tinha imaginado que ele, coma admiração que dedicava a Boltzmann, não defenderia uma epis-temoiogia positivista, mas nosso conflito mais violento surgiu do fatodê eu, certo dia (por volta de 1954 ou ,1955), haver criticado a concepção de Mach, hoje usualmente denominada “ monismo neutro” — muito embora nós ambos concordássemos ém que, ao arrepio dasintenções de Mach, essa doutrina era uma forma de idealismo312.

Schrõdinger se embeberá dé idealismo em Schopénhauer. Maseu havia esperado que ele percebesse as fraquezas dessa filosofia,filosofia acerca da qual Boltzmann dissera palavras ásperas e contraa qual Churchill, por exemplo, que nunca se pretendeu um filósofo, produziu excelentes argumentos213. Mais ainda me surpreendiquando Schrõdinger expressou opiniões sensualistas e positivistas,como a de que “ todo conhecimento ( . . . ) se apóia inteiramente napercepção sensorial imediata” 214.

 Tivemos outra violenta discordância a propósito de meu artigo

“ A Direção do Tempo” 215, onde afirmei a existência de processosfísicos irreversíveis, independentemente de qualquer crescimento de'entropia estar ou não relacionado com eles. O caso típico é ode uma onda luminosa esférica em expansão ou um processo (comouma explosão) que envia partículas ao infinito (do espaço newto-niano). O oposto — uma onda congruente, esférica, em contração apartir do infinito (ou uma implosão do infinito) não pode ocorrer — ,não porque seja contrário às leis universais de propagação da luzou do movimento, mas porque seria fisicamente impossível concre

tizar as condições iniciais 21e. ^Schrõdinger havia escrito alguns artigos interessantes, procurando

preservar a teoria de Boltzmann, de acordo com a qual a direção dò

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aumento de entropia determinaria inteiramente a <direção^ dô tempo ' '(ou “ definiria” tal direção ponto que deixaremos''de-lado.). Insistia,ele em que essa teoria cairia por terra, se houvesse Uni-método, comoo que eu sugerira, por via do qual pudéssemos decidir* *acerca da,direção do tempo independentemente do aumento da entropia?17.

Até ai, pusemo-nos de acordo. Entretanto, quando lhe perguft1-tei onde estava meu erro, Schrodinger acusou-me de destruir cruelmente a mais bela teoria da Física — uma teoria de profundo eon-teúdo filosófico, uma teoria que nenhum físico ousaria ferir. © fatode um não-físico atacar a teoria era, a seu ver, uma presunção, senão um sacrilégio. Ele desenvolveu o ponto inserindo (entre parên-,teses) uma nova passagem em Mind and Matter : “ Isso tem^mo-f mentosa conseqüência para a metodologia do físico. Nunca ,dev?e.ele introduzir qualquer coisa que decida, independentemente, acerca,

da direção do tempo, sob pena de a bela construção de Boltzmann;entrar em colapso” 218. Continuo a pensar que Schrodinger estavaembalado pelo entusiasmo: se um físico ou qualquer outra pessoa-pode, independentemente, decidir acerca da direção do tempo e seisso tem a conseqüência que Schrodinger (acertadamente, penso eu)lhe atribui, então, goste-se ou não, ter-se-á de aceitar o colapso dáteoria de Boltzmann-Schrõdinger e do argumento em prol do idealismo, que se fundamenta na teoria. Schrodinger recusava-se a proceder assim, e estava errado — a menos que pudesse encontrar outra

solução. Mas ele acreditavaque

nãoexistisse

•alternativa.Outra discordância surgiu de uma tese por elé ; defendida -—■tese sem importância, mas a que ele atribula grande importância — em seu admirável livro What is Life?  Trata-se de uma obra dègênio, especialmente no que diz respeito à breve seção denominada“The Hereditary Code-Script” , que, no próprio título, encerra umadas mais significativas das teorias biológicas. O livro é realmente

. maravilhoso: escrito para o.leigo culto, veicula idéias científicas novase vatiguardeiras. ; . : v

K , E, não obstante, a obra contém, em resposta à indagação priri-Ivcipal, “ Que é a Vida?” , uma sugestão que ihè parece evidentemente

errônea. No capítulo 6, há uma seçao que se inicia com ás seguintes jpalavras: “ Qual o traço característico da vida? Quando se diz que

é viva certa porção de matéria?” A essa indagação SchrodingerViresponde no título da seção seguinte: “Alimenta-se de Entropia Ne-.;fgativa” 21®. A primeira sentença dessa seção é a seguinte: “Ê porí^vitar. a .rápida desintegração para o estado inerte de ‘equilíbrio’ que^umírrorganismo se afigura tão enigmático. ( . . . ) ” E, depois de. exa-■fminar brevemente á teoria estatística da entropia, Schrodinger - pèr^

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gunta: "Como expressaríamos, em termos da teoria estatística, a .maravilhosa faculdade de que dispõe o organismo vivo e atravésda qual- retarda a queda no equilíbrio termodinâmico (morte)?

Dissemos antes: ‘Ele se alimenta de entropia negativa’, atraindo parasi, pór assim dizer, o fluxo da entropia negativa ( . . . ) 220 E acres»centa: “Assim, o meio pelo qual um organismo se conserva estacionário, em nível razoavelmente alto de organização (*= nível razoavelmente baixo de entropia) consiste, de fato, em ele estar continuamente absorvendo a organização. de seu meio.” 221

Ora, os organismos agem reconhecidamente assim. Mas rejeiteie continuo a rejeitar a tese de Schrõdinger232, de que essa é acaracterística  da vida ou dos organismos, pois que vale também paraqualquer máquina a vapor. Com efeito, qualquer caldeira a óleoe qualquer relógio automático pode 'ser considerado como “ continuamente absorvendo a organização de seu meio” . Assim, a resposta que Schrõdinger dá à pergunta não pode estar correta: alimentar-se de entropia negativa não é “o traço característico da vida” .

Expus, aqui, alguns de meus desacordos com Schrõdinger, mastenho para com ele um imenso débito pessoál: a despeito de todasas nossas querelas, que, mais de uma vez, pareceram um rompimento

definitivo, ele sempre voltou, para. renovármos nossas discussões — discussões mais interessantes e, sem dúvida, mais emocionantes queas que mantive com: qualquer outro físico. Os tópicos que discutíamos eram tópicos em torno dos quais *eu procurava trabalhar. E ofato de ele ter proposto a indagação Ú que ê a Vida  no esplêndidolivro que referi, deu-me coragem para eu próprio colocar a questão(embora tentando evitar uma pergunta da forma que é ? ) .

No restante desta Autobiografia , pretendo reportar-me antes aidéias do que a acontecimentos, embora possa fazer observações decaráter histórico onde isso pareça importante. Estou procurando échegar a um levantamento das várias idéias e questões em que trabalhei durante estes últimos anos e em . que continuo trabalhando.Ver-se-à que algumas delas se relacionam com problemas que tivea afortunada oportunidade de discutir com Schrõdinger.

31. Objetividade e crítica

Boa parte d e . meus trabalhos recentes foi elaborada com ointuito de defender a objetividade, atacando ou contra-atacando posições subjetivistas. •

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Inicialmente, devo deixar; ;ibemi:;;.claro.i q.ue/inão.;: aGeito, ,.ov. behayio-rismo e que minha defesa da. ; objetividade^jnada ttem^a; v,er com-anegação dos "métodos dé intróspecção^-^sá.dps m^^ÍGpIogiaí: Iííãónego a existência de experiências subjetivas,

inteligências ê de mentes; ao contrário,racho-íque-itydoiyisso é .degrande importância. Todavia,, penso que nossas;jtèòriás ^al^^^sssasexperiências subjetivas, ou a propósito dessas ' /mentes,'. devem: sertão objetivas como quaisquer ou trás. Por , teoria’;';.^bjetiva;j\entenciouma teoria passível de discussão, que ’ |>6ssa:'se$./iíu •da crítica racional; preferentemente uma teoria;.pássíyerde^prova^não uma teoria que se limite a apelar para nossas ihtuiçõès;si^

Gomo exemplo de algumas leis simples, comproyáyeis^ . relativasa experiências subjetivas, posso mencionar as ilusões ó ticas3l?tais, como.,.

digamos, a de Müller-Lyer. Interessante caso de ótica me foi apontado, recentemente, pelo meu amigo Edgar Tranekjaer Rasmussén/se um pêndulo em movimento ondulatório — um pesó'^que; .oseilà ,suspenso por um fio) for examinado com um vidro escuro diantede um  dos olhos, ele parecerá na visão, binocular, movér-sé aò longode um círculo horizontal, e nao sobre um plano vertical; é séfovidro escuro for colocado diante do outro olho, o movimenío áindàparecerá circular, mas efetuado no sentido oposto.

 Tais experiências podem ser submetidas a prova utilizando-se

sujeitos independentes (que, incidentalmentê, sabem e viram  o pêndulo oscilar num plano). Também podem ser submetidas a provausando-se sujeitos que habitualmente (e comprovavelmente) só sevalem da visão monocular: estes sujeitos não afirmam ter percebidoo , movimento horizontal.

Um efeito como o descrito pode gerar várias espécies de teorias.Por exemplo, a teoria de que a visao binocular é utilizáda ;pelonosso sistema central dé descodificação para interpretar  distânciasespaciais e de que tais interpretações atuam, em alguns .casos, inde

pendentemente de “nosso conhecimento real” . Essas interpretaçõesparecem desempenhar um sutil papel biológico. Não há dúvida deque funcionam muito bem e quase inconscientemente, sob condiçõesnormais; mas o sistema central de descodificação pode enganar-se,em condições anormais.

As. observações precedentes sugerem que nòssos órgãos dos sentidos contêm vários dispositivos sutis de descodificação e interpretação — ou seja, de adaptação ou de elaboração de teorias. Taisdispositivos não são comparáveis a teorias “válidas” ( “válidas” ^poír:

.que,- digamos, se impõem necessariamente a todas as nossas .expe-

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riências) -;comparam-se, mais apropriadamente, a conjecturas, porquepodem; provocar enganos, em particular sob condições inusitadas.Gòriscqüência disso e a de qu.e inexistem dados sensoriais visuais não--interpretados, inexistem sensações, ou “ elementos” , no sentido deMach: qualquer coisa que nos é “dada” já aparece interpretada,

descodificada.Nesse sentido, pode-se construir uma teoria objetiva da percep

ção subjetiva. Será uma teoria biológica, que descreve a percepçãonormal, não como fonte subjetiva ou base epistemológica subjetivade nosso conhecimento subjetivo, mas Como conquista objetiva doorganismo, mediante a qual ele resolve certos  problemas  de adaptação. E esses problemas, pelo menos conjecturalmente, podem serespecificados.

Note-se quão distante está do behaviorismo o enfoque acima

sugerido. Quanto ao subjetivismo, embora o enfoque sugerido admitaas experiências subjetivas (e experiências subjetivas relativas ao“ saber” ou ao “ acreditar” ), é inteira&iente objetivo e passível deprova o seu objeto  de estudo, isto é, as teorias e conjecturas comas quais opera.

Aí está apenas . um exemplo do enfoque objetivista  que venhodefendendo, na Epistemologia, na Física Quântica, na MecânicaEstatística, na téoria dá probabilidade, na. Biologia, na Psicologiae na História 223.

 Talvez o ponto mais importante do enfoque objetivista estejaem reconhecer ( 1 ) problemas objetivos, ( 2 ) conquistas objetivas, ouseja, soluções de problemas, (3) conhecimento em sentido objetivo,(4) críticas que pressupõem conhecimento objetivo na forma deteorias lingüisticamente formuladas.

(1) Conquanto possamos sentir-nos perturbados diante de umproblema, e experimentar um desejo ardente de resolvê-lo, o problema em si é algo objetivo — exatamente como o é o mosquitoque nos aborrece e do qual pretendemos livrar-nos. Que se trate

de um problema objetivo, que esteja diante de nós, com um papel jadesempenhar em certos acontecimentos, isto são conjecturas (comoé conjectura a presença do mosquito).

(2 ) A solução de um problema, via de regra encontrada pormeio de tentativas e erros, é uma conquista, um êxito, no sentidoobjetivo. Que alguma coisa seja uma conquista, pode não pas: 1de conjectura, e possivelmente de conjectura discutível. A- .ar.^mentaçao terá de referir-se ao problema (proposto em forma \

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conjectura), já que a conquista. v©u o êxito,assim còmo a solução,dependem sempre do problema* ^

(3) Devemos estabelecer uma' distinção entre conquistas ou soluções em sentido objetivo, de um lado, e sentimentos - subjetivos deconquista, ou de saber, ou de crença, de outro lado. Qualquer . conquista pode ser vista como solução de uni prôblemai^poisj^coníouma teoria , em sentido, generalizado; nèssa condição,^ ela pertenceao mundo do conhecimento em sentido óbjetivo  “ que é, precisamente, o mundo dos problemas e de suas soluções provisórias, e dosargumentos críticos que lhes dizem respeitõíí^Wêõrias ^geométricase teorias físicas, por exemplo, pertencem a estè tnundo do^cónhéci-mento em sentido objetivo ( “mundo 3” ). São^ ^habitualmentè^íçòn-

jecturas, em estágios diversos de sua discussão crítica." r ^ ?r(4) Pode-se dizer que a crítica continua o trabalho . da seleçãò . :

natural, operando num nível não-genético (exossomáücò)^^ela :gresf supõe a existência de conhecimento objetivo, na ’ forma r ’ já formuladas. Assim, é somente através da linguagem r que:; à^icríticáconsciente torna-se possível. IVtinha conjectura, é de que .esta^é/;aprincipal razão da importância da linguagem; e imagino ,que-a.vlrnèguagem humana seja responsável pelas peculiaridades do Homem

(inclusive-até suas. conquistas nas artès não-lingüísticas, tal como -amúsica).

32. Indução; dedução; verdade objetiva

Cabem aqui algumas palavras acerca do mito da indução e apropósito de certos argumentos que tenho ápreseritadò contra aindução. Uma vez que, de momento, as formái mais coiíiuns; dò

mito associam a indução a uma insustentável filosofia subjètivistada dedução, devo dizer algò mais sobre a teoria objetiva da iiife-

ência dedutiva e sobre a teoria objetiva da verdade.

- Eu não pretendia, de inicio, explanar nesta autobiografia a. ícoria da verdade objetiva, formulada por Tarski; mas após abordar

::;li^èiramente o tema, na seção 20, apresentaram-se-me alguns indícios|jué: tornam claro que certos lógicos não entenderam a teoria dé

Társki da maneira como me parece que ela deve ser entendida^^Ojmõ a teoria tarskiana é indispensável para explicar a diferençafjindamental existente entre inferência dedutiva e míticá irifé^-Tjíência indutiva, vale a pena comentá-la, ainda que brevemente,||ánÍGÍarei a exposição com um problema.

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compreender o que significa dizer-seque,, uiu renunciado (ou uma ‘'sentença significativa ” , como Tarskio -denomina.)224 corresponde aos fatos? Com efeito, parece impossívelfalar; (ide correspondência entre um enunciado e ura fato, a menosqueseadiiiita alguma coisa análoga à teoria afigura tiva da linguagem (como o fez Wittgenstein, em seu. Tractatus) . Mas a teoria

..da-^âiigúrá^o' está. completa e irremediavelmente errada, de modoque não parece haver perspectivas favoráveis para explicar a correspondência entre enunciado e fato.

. Poder-se-ia considerar este o problema fundamental da chamada.‘‘ teoria de correspondência da verdade” — ou seja, a teoria queexplica a verdade em termos de correspondência com os fatos. A

dificuldade, compreensivelmente, levou os filósofos a suspeitarem quea teoria devia estar errada ou — pior do que isso — destituída desentido. O mérito filosófico de Tarski nesse domínio, creio eu, foio de provocar uma reviravolta na. situação, o que ele conseguiuobservando muito simplesmente que uma teoria que estude qualquertipo de relaçaó entre um enunciado e um fato deve estar em condições de falar acerca de (a) enunciados e -(b) fatos. Para poderfalar de enunciados, a teoria precisa usar nomes de enunciados, oudescrições de enunciados e, possivelmente, palavras como “ enuncia

do” ; isto é, a " teoria deve estar vazada numa metalinguagem, numalinguagem em que se possa falar de òutra linguagem. E para poder,falar de fatos e de fatos alegados, a teoria precisa empregar nomesou descrições de fatos e, possivelmente, palavras como “ fato” . Desdeque tenhamos uma metalinguagem desse gênero, em que seja possível falar de enunciados e  fatos, torna-se fácil fazer afirmações apropósito da correspondência entre um enunciado e um fato. Comefeito, podemos dizer:

O enunciado em língua alemã .que ■consiste das três palavras  

“ Gras”y “ ist” e “ griin” , nessa ordem, ê um enunciado que corres  ponderá aos fatos se e somente se a grama for verde .

A primeira parte é a descrição de um enunciado em alemão(essa descrição é ,dada em  português *, que aqui atua como nossametalinguagem, e consiste, em parte, da citação portuguesa de palavras alemãs) ; e a segunda parte contém uma descrição (tambémem português) de um fato (alegado), de um estado de coisas (possível) . E o enunciado completo assevera a correspondência. A

situação pode ser apresentada de maneira mais genérica: façamos

* Em ingl ês no original (N. dos T-).

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cora que “X ”  abrevie algum nome. português, ou aigumáCdéSGriÇíem . português de um enunciado da linguagem L ; e façamos* com1,que indique a tradução de X  para o-: português 4( que serv.e4dè(':;.metalinguagem de L ) ; isto posto, podemos dizer (ém ;portugüês£i2

ou seja, na metalinguagem de L ) , com toda a generaüdádé; C(-J-) O enunciado  X na linguagem  Lj correspóndè- áóslfatfià 0 

. se e somente se  x. ■

É possível assim, e mesmo trivialmente possível, falar numa metalin^/, guagem adequada  dá correspondência entre enunciado e ‘ fôto^?enigma fica resolvido: correspondência não envolve similaridade ' és^:trutural entre Um enunciado e um fato, como não envolve qualquer-coisa que se assemelhe à relação entre uma afiguração.- e a vcena '

figurada. Pois uma vèz que estejamos de posse de uma metálingua-rgem adequada, é fácil explicar, còm auxílio de ( + ) 5 o que enten- .demos por “ correspondência com os fatos” .

Explicada assim a correspondência com os fatos, podemos suUs-tituir “corresponde aos fatos” por “ é verdadeiro (em L )  •Cumpre’ notar que “ é verdadeiro”  é um predicado metalingüístico, aplicávela enunciados. Deve ser precedido por nomes  metalingüísticós. deenunciados — por exemplo, citações — e se distingue claramente,portanto, de frases como “ Ê verdade que” . Exemplificando: “É; verrda de que a neve é vermelha” não contém um predicado metalingüístico de enunciados; pep^pce à mesma linguagem a que pertence “ A neve é vermelha” , e não à metalinguagem dessa linguagem.A inesperada trivialidade do resultado de Tarski parece ser ,umdos principais motivos que lhe tornam difícil a compreensão* De.outro lado, a trivialidade podia ser razoavelmente esperada, ;poisjafinal de contas, todos sabem o que significa “ verdade” , desde, v,quenão se ponhatn a pensar (incorretamente) nela.

A aplicação mais notável da teoria da correspondência não c aenunciados específicos como “ A grama é verde” ou “A grarna ;évermelha” , mas a descrições de situações lógicas gerais. Por exemplo, desejamos dizer coisas como: se uma inferência é legítima,'então, se as premissas são todas verdadeiras, a conclusão" deve serverdadeira; isto é, a verdade das premissas (se elas são todas verdadeiras) se transmite invariavelmente à conclusão; e a falsidade daconclusão (caso ela seja falsa) retransmite-se invariavelmente a-pelo ’ menos uma, das premissas. (Batizei essas leis respectivamente^'corn

os nomes de “ lei da transmissão da verdade” e “ lei da rêtransmissão-da falsidade” ). , 3’<*<=•

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; i3?aiSf ■leis -são fundamentais para a teoria da dedução e o uso■.qu©áq.üi- se faz das expressões “ verdade” e “ são verdadeiras” (que .podem- ser substituídas pelas expressões “ correspondência com osfatos”, e “correspondem aos fatos” ) está, obviamente, longe de serredundante.

A teoria de correspondência da verdade,' què Tarski redimiu,é uma teoria que encara a verdade como algo objetivo: como propriedade das teorias, não como experiência òu crença ou algo decunho assim subjetivo. Também é absoluta , e não relativa a algumconjunto de pressupostos (ou crenças); com efeito, diante de qualquer grupo de pressupostos,, podemos sempre colocar em tela a suaverdade ,

Volto-me, agora, para a dedução. Uma inferência dedutiva pode

ser vista como válida, ou legitima, se e somente se ela invariavelmente transmitir k verdade das premissas à conclusão; ou. seja, se esomente se todas as inferências que têm a mesma forma lógica transmitirem a verdade. Isto pode ser explicado em outras palavras: umainferência dedutiva é legítima (ou válida) se e somente se não  admitir contra-exemplos . Contra-exemplo, neste caso, é uma inferência da mesma fprma, com premissas verdadeiras e. conclusão falta,tal como. em:

. Todos os homens são mortais. Sócrates é mortal.

Logo, Sócrates é um homem.

Imaginemos que “ Sócrates” seja o nome de um cão. Nessecaso, as premissas são verdadeiras er a conclusão falsa. Tem-se, pois,um contra-exemplo e a inferência é ilegítima.

A inferência dedutiva, tal como a verdade, é objetiva  è tambémabsoluta. Objetividade não quer dizer, naturalmente, que possamossempre apurar se um enunciado é ou não é verdadeiro. Tampouco

pedemos apurar sempre se uma inferência é legítima. Se concordarmos em usar o termo “verdade” somente em sentido objetivo, entãohaverá muitos enunciados cuja verdade pode ser demonstrada ; contudo, não podemos dispor de um critério geral de verdade. Se talcritério existisse, nós seriamos pelo menos potencialmente oniscientes,o que não acontece. De acordo com o trabalho de Tarski e de Godel,inexiste um critério gerai de verdade, áté mesmo para os enunciadosda Aritmética, embora estejamos naturalmente em condições de descrever conjuntos infinitos de enunciados aritméticos que são verda

deiros. Da mêsma forma, se concordarmos em usar a expressão “ inferência legítima” em sentido objetivo apenas, será possível demons-

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trar . que muitas inferências são legltimaéi? o<MF®Í8 tiáSig|Siiyariáyel-mente transmitem, a verdade); ainda --- âiixÍ5®çfiS’ :'iÍílÍâí'*é Véirior«.géra.I. ■de legitimidade — nem mesmò se nos limitarmosí aílenunciàdus aritméticos. Em conseqüência, nao temos um critériÓ; geíiái.’ipãm^deeidir'se algum enunciado aritmético decorreaxiomas da Aritmética. Apesar disso, podemos/^dé^èr èr liMa^dadè de regras de inferência (de múltiplos =gíaus^ev^mpl^idadéí)/--:das quais é possível  provar  a legitimidade; .oii-';contra-exemplos. Ê falso, portanto, dizer apóia-se em \ossa intuição. Se ainda não estabátèGeiii^^dade de uma inferência, èntão é lícito naturalmente.jUsàfc'^>M4üi§ã^-:como guia; não podemos dispensar a intuição, maSrCdnvémVque ela,, com freqüência, leva-nos ao erro. ( Isso .^ási;-;:* é/s >•sabemos, pela História da Ciência, que as teorias

mais numerosas que as boas.) Acresce que pensar intuiti^amèriie :é algo muito diverso de apélar para a intuição, como se),isstí.;:eqúj-,valesse a apelar para um argumento.

Como já disse em muitas de minhas preleções, coisas rGpmq'^a;íintuição ou a sensação de que algo é evidente por si mesmà tàiyéz  possam ser explicadas pela verdade ou legitimidade, mas hãòT reciprocamente. Nenhum enunciado. é verdadeiro e nenhuma inferêneiké legítima porque sentimos (não importa com que convicção) ; .queassim seja. Admite-se, decerto, que nosso intelecto ou nossa faculdade de raciocinar oú de julgar (ou como for que a chamemos) seacham de tal modo ajustados que somos levados, em circunstânciasnormais, a aceitar, a julgar ou a acreditar naquilo que é verdadeiro;:isto se deve, em grande parte, ao fato de que existem em nós certasdisposições inatas para o exame crítico das coisas. Contudo^ as ilursoes de ótica, para tómar um exemplo comparativamente simples,atestam que não podemos confiar demasiado na intuição, mesmoquando ela se aproxime de uma espécie de compulsão. u ií- y";

A possibilidade de explicar eventualmente os sentimentos sübje?tivos ou a intuição com base no fato de havermos deparado tom ,averdade e a legitimidade ou de termos efetuado alguns exames.críticos, nao permite inverter a situaçaò e dizer: este enunciado^é.verdadeiro ou esta inferência é legítima, porque eu acreditoV-nisso,ou porque me sinto compelido a acreditar nisso, ou porque ; isso é :evidente pór si mesmo, ou porque o oposto é inconcebível. ; Naoobstante, por centenas de anos, esse tipo de discurso : foi'í>utilizãdo;pelos filósofos subjetivistks em lugar da argumentação.■■.-..l .-,,

Ainda hoje está amplamente disseminada a idéia ’ déLógica se deve fazer apelo à intuição, pois, sem ciipilá|Í^a^^M^|;

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vppdeí'.existir argumento a favor ou contra as regras da Lógica De- jdutiya: --todos os argumentos pressupõem lógica. É certo que todosos argumentos fazem uso da Lógica e, se quiserem, “ pressupõem” aLógica, embora haja muito que; dizer contra essa forma de colocar

a questão. Apesar disso, é fato estabelecido que se pode estabelecer alegitimidade de algumas regras de inferência sem fazer uso delas 225, Em resumo, a dedução ou a legitimidade dedutiva é objetiva, assimcomo é objetiva a verdade.. A intuição ou um sentimento de crençaou de compulsão podems às vezes, dever-se ao fato de que certasinferências são legítimas ■ mas a legitimidade é objtetiva e não podeser explicada, quer em. termos psicológicos, quem em termos beha-vioristas, quer em termos pragmáticos.

Expressei essa atitude em muitas ocasiões, dizendo: “Não sou

um filósofo da crença.” De fato, as crenças são destituídas de importância para uma teoria da verdade,. ou da dedução, ou do “conhecimento” , no sentido objetivo. A chamada "crença verdadeira” écrença numa teoria verdadeira; trata-se de questão de fato — e nãode crença — saber se a teoria é ou não verdadeira. Analogamente,uma '‘crença racional” , se é lícito usar a expressão, consiste em darpreferência ao que é preferível, à luz de argumentação crítica. Assim,não. se trata, mais uma v.ez, de questão de crença, mas de argumentos . e do estado objetivo do debate crítico226.

Quanto à indução (ou lógica indutiva, ou comportamento indutivo, ou aprendizado por indução, por repetição ou por “ instrução” ),afirmo que não existe. Se estou certo, isso resolve então, naturalmente, o problema da indução227. (Há vários problemas remanescentes que também podem ser chamados problemas da indução, taiscomo o de o futuro assemelhar-se ao passado, por exemplo. Esteproblema, todavia, que julgo ser muito pouco estimulante, tambémpode ser resolvido: o futuro será, em parte, semelhante ao passadoe, em parte, não-semelhante.)

Qual é, hoje, a resposta mais em voga para Hume? Ê a deque a indução nao pode ser evidentemente “ legítima” , porque apalavra “ legitimidade” significa “ legitimamente dedutiva” ; assim, anão-legitimidade (no sentido dedutivo)  dos argumentos indutivosnão levanta problemas: existe o raciocínio dedutivo e existe o raciocínio indutivo; conquanto ambos tenham vários aspectos em comum — ambos consistem de argumentação realizada em consonânciacom regras ordinárias, bem experimentadas, razoavelmente intuitivas — são. numerosos os pontos em que divergem22S.

Em particular, o que a indução e a dedução têm em comumpoderia ser assim descrito: a legitimidade da dedução não é passível

U4

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de ser legitimamente demonstrada, pois isso eqüivaleria-1a- ‘deititínstrara Lógica mediante uso da própria Lógica," caindo^ef ~jiunT: Círculovicioso. Ainda assim, segundo se costuma díifer^ esse argumentovicioso está em condições de esclarecer nossas conceições fortale

cer nossa confiança. O mesmo vale para a indução. A - Indução " podeestar talvez além da justificação indutiva; ainda assim, o-Yacjpêmioindutivo acerca da indução é útil, se nao indispensável 22 tAcresceque, tanto na teoria da dedução quanto na teoria da. indução^; fatotescomo a. .intuição, •o.. hábito, a convenção ou o êxito, nofeçampoiadas?;prática  podem  ser invocados; e, às vezes,  precisam  ser invocados;-C

Para criticar essa concepção muito em voga, repetirei o que já_ -disse atrás, nesta mesma seção: uma inierência dedutiva é .legítima [  

se não admite contra-exemplo. Dispomos, . pois, de um mé.todo' eri^tico e objetivo de prova; para qualquer regra de dedução que,nosseja apresentada, podemos tentar elaborar um contra-exemplo.' : Seo conseguirmos, a inferência, ou a regra de inferência, será ilegítima,seja ou não considerada intuitivamente legátima por algumas pessoasou por todo mundo. (Brouwer pensou ter feito exatamente ?isso

 — ter apresentado um contra-exemplo pata as deduções indiretas —v

explicando que tais deduções eram erroneamente vistas como legíti?mas porque existiam só contra-exemplos infinitos , o que fazia, supôr

legítima a dedução indireta em casos finitos.) Uma vez que. provas:objetivas e, em muitos casos, demonstrações objetivas estão ao nossòalcance, tornam-se totalmente irrelevantes, para á nossa questão,considerações de ordem psicológica, convicções subjetivas, hábitos-e convenções. ' ( -ü

E que acontece com a indução? Quando é indutivamente “ incorreta” (para usar outro termo que nao " ilegítima ” ) uma inferência indutiva? A única resposta sugerida foi esta;, quando lèvá :á.

'freqüentes enganos práticos no comportamento indutivo. Cõnttidó,afirmo que cada uma das regras de inferência indutiva, de quantas já foram propostas por quem quer que seja, leva com freqüência atais enganos práticos quando alguém se dispõe a utilizá-la. 1

O ponto a ressaltar é o de que não existe regra de inferênciaindutiva — inferência que conduza a leis ou teorias universais —  jamais proposta que possa ser levada a sério, por um minuta sequer.Carnap, ao que parece, concorda com isso, pois escreve230:

A propósito, Popper acha "interessante” que eu apresente r na - minha conferência um exemplo de inferência dedutiva, mas nao • um ■exemplos. de inferência indutiva. Uma vez que, no meu entender, ' o raeiocínio probabilístico ( “indutivo” ) consiste essencialmente^em^atribui^íjstor.^

1Í5 

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abijiçiades ; e ,,;não. em fazer inferências, ele deveria antes pedir exem- .,V ; !pjòs : de/princípios para atribuição de probabilidades. Tal solicitação, 

que nao foi feita, mas seria razoável, eu a antecipei e atendi.

 Todavia, Garnap desenvolveu apenas um sistema em que a

probabilidade associada a todas as leis universais é igual a zero 231.Embora Hintikka (e outros autores) tenham posteriormente erigidosistemas que permitem associar probabilidade diferente de zero aenunciados universais, não há dúvida de , que tais sistemas parecemessencialmente confinados a linguagens muito pobres, em que umaCiência da natureza (mesmo que primitiva) não poderia ser formulada. Acresce que esses sistemas se restringem aos casos em queexiste apenas um número apenas  finito  de teorias, num dado instante232. (Tais limitações, contudo, não evitam a assustadora compli

cação dos sisterpas.) Seja como for, creio que as leis — das quaissempre existe, praticamente, um número infinito — devem ter “probabilidade” zero (no sentido do cálculo de probabilidades), emborao seu correspondente' grau de corroboração admita valores maioresdo que zero. Entretanto, mesmo que adotemos um sistema novo

 —• um sistema que associe a certas leis uma dada probabilidade,digamos 0,7 — que lucramos? 'Ele nos diz que uma lei tem ou nãobom apoio indutivo? Por certo que não;, tudo quanto nos diz é que,de acordo, com algum sistema novo (não importando quem o Haja

formulado e . sendo que sua margem de arbitrariedade é •considerável) , nós devemos acreditar  na lei, como um grau de crença iguala 0,7, desde que desejemos ver nossos sentimentos de crença ajustadosao sistema. Ê difícil avaliar os méritos de uma regra desse gênero 233.Ainda que ela tenha importância, seria igualmente difícil imaginarem que termos criticá-la, saber o que ela exclui e entender por queela deveria tomar o lugar das regras de Camap ou de minhas razõespara associar probabilidade zero às leis universais.

Regras sensatas para a inferência indutiva simplesmente não

existem. (Esse fato é reconhecido, ao que parece, pelo indutivistaNelson Goodman234.) A melhor espécie de regra que eu pudeformplar, com base na lèitura dos trabalhos de indutivistas, tomariamais ou menos esta forma:

“ O futuro tende a não diferir muito do passado 

Eis uma regra que todos aceitam, na prática; regra semelhantetambem precisa ser aceita em teoria, caso queiramos ser realistas(e eu acredito que todos somos realistas, digam o que disserem). A

regra, porém, é tão vaga, a ponto de tornar-se desinteressante. Apesar

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de sua vaguidade, a regra pressupõe demais*- .muito-maisyspor certo, doque nós (e, portanto, quaisquer tipos-de^egrasi^dütivas) deveríamospressupor antes  da formação dè ’ teoria^^ela^rêsstâpÕeií^iGoiB!h'«£eito,uma teoria do tempo. . ^ ,

Isso, porém, era de esperar. Uma vez :qúfe:.nãò ■■;,:ba-"òbséryaçãq independente de teorias e uma vez que i n e j t i s P Í 1; independente de teorias, claro está que não pode.^existir,-;cegífà' òürÃprin.T cípío de indução independente de teorias.: nao-liá^;^em que todas as teorias pudessem basear-se.'.-.

■ A  indução, por conseguinte, é um mito. Não h ^tiva” . E conquanto exista uma interpretação..'‘ lógica^Vdp, ; cálculo !de probabilidades, não há boas razões para supor qué.J^e^iagíÇa.;generalizada” (como  poderia  ser denominada) sejà; um

“ lógica indutiva” 235. ..■ :

Não se deve lamentar a inexistência da indução: podemos ,per-; vfeitamente dispensá-la -— admitindo que as teorias são eonjectü.rasousadas, que as criticamos e . submetemos a provas da maneira -maissevera possível e com toda a engenhosidade que possuímos. .;; V. :

Está claro que se  esta é uma boa prática — um procedimentocoroado de êxito — , então Goodman e outros poderão dizer qüef-ela

é uma regra de indução “ indutivamente legítima” . O ponto, que.desejo acentuar, porém, é o de que a prática é boa não  porque; cbem sucedida, ou merecedora de confiança, ou algo semelhante, Itiasporque tende a levar ao erro e, dessa maneira, suscita em nós aconsciência de que os erros devem ser procurados e tanto quanto :possível eliminados.

33. Programas de pesquisa metafísica

Após a publicação de The Open Society  em 1945, minha esppsaj.assinalou que esse lívro não retratava meus principais interesses ÍÜÒt.sóficos, pois eu-não me dedicava à Filosofia política. Isso/aliásp^eir-deixara claro na Introdução da obra. Ainda assim, ela nãorse -rnos-trou satisfeita com a declaração e não aprovou inteiramente ió meuretorno aos velhos assuntos preferidos, como, por exemplo . a '.teoraado conhecimento. Salientou que o livro Logik der Forschung. desaparecera havia muito do mercado e estava praticamente esquecido;-lembrou ainda que como éu tomava resultados fixados í ali vcoraq ponto dè partida para muitas discussões, tornava-se Jmpèíativa;^jtà;a,versão inglesa dele. Concordei com ela, mas eu tem-.íp^y^yáE^nj|ê.

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esquecido ó £assunto não fossem os seus constantes reclamos, ao longodéívvàfiõs^àriós. Ainda assim, quase uma década e meia se passouariteâvdè. aparecer The Logic of Scientific Discovery  (em 1959) e

mais sete anos precederam a publicação da segunda edição de Logik  der Forschung.

Nesse período, preparei numerosos trabalhos, que deveriam compor uma espécie de suplemento pára The Logic of Scientific Dis c o v e r y .   Em 1952, aproximadamente, deliberei que o volume complementar deveria chamar-se Postscript', After Twenty Years, ealimentei a esperança de vê-lo entregue ao publico em 1954.

O manuscrito foi enviado à editora em 1956, junto com o texto

(em inglês) de Logic of Scientific Discovery. Recebi as provas tipográficas dos dois livros no início de 1957. A correção dessas provastransformou-se num pesadelo. Completei só a correção dò primeirovolume, que foi publicado em 1959, e então tive de sofrer uma intervenção cirúrgica nos dois olhos. Não pude, pois, rever o Postscript ■— que até agora não foi dado a lume, com exceção de um ou doispequenos trechos236. A obra, porém, foi lida por vários colegas ediscípulos.

Nesse Postscript , reexaminei e desenvolvi alguns dos principaisproblemas e algumas das soluções discutidas no Logik der Forschung. For exemplo, sublinhei que havia recusado todas as tentativas no  sentido de justificar teorias, e havia substituído a justificação pela  crítica231.. Não é possível justificar uma teoria; mas é possível, àsvezes, 4-justificar” (em outro sentido) a. preferência  que manifestamospor uma teoria, tendo em conta o estágio do debate crítico; pois

uma teoria pode bem resistir às críticas que contra elas se dirijam,melhor que suas rivais. Talvez se possa levantar a objeção de que

um crítico deve sempre justificar sua posição teorética. Minha resposta é a seguinte: o crítico não precisa justificar sua posição, poispode criticar de modo significativo uma teoria se consegue denunciaruma inesperada contradição no seio dela ou entre a teoria em examee outras teorias interessantes, embora, naturalmente, esta últimaforma de crítica não seja via de regra decisiva 238. No passado, amaioria dos filósofos pensava que qualquer alegação de racionalidadesignificava uma  justificação  racional (das crenças da pessoa) ; minhatese, pelo menos . desde Open Society, é a de que racionalidade

eqüivale a crítica  racional (de nossas teorias e de teorias rivais).A antiga filosofia vinculava, pois, o ideal de racionalidade a umconhecimento final, último, demonstrável (ou pró ou anti-religioso, ja que. a religião era o problema de maior relevo) ; quanto a mim,

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vinculava-o à ampliação do conhecimento : cpn.je,çtural. Esteaumentode conhecimento eu o associava, por seu turno, a idéia de :uina progressiva aproximação, à verdade, ou seja, ao ' aumento dk. verossimi lhança  (ou dè veracidade)239. De o 

que o -cientista procura é elaborar teoriasda verdade; o objetivo da Ciência é ' sab^./:fcá4à:£y^ .implica o aumento do conteúdo de nossas ieõhá iy^o^auméhto!^idé

: '•iJr^vVv- - :lá*«ítf&í# * V < W - ' <*.••

nosso conhecimento do mundo.

Afora a reformulação de minha teoria do tconhéçim^dos meus objetivos, no Postscript, era o de mosti&r rTq!ãèl‘ r^ia^md?; Vde Logik der Forschung  era passível de debate ou dexrííiça.^Aèen^;^tuei que Logik der Forschung  era o livro de um reàlistaiq.^ocasião, não ousara dizer muita coisa acerca do realismòV}..^vjtóo^Ô'^

estava em que, ao escrever a obra, eu não havia cómprê^diâó;;i^e^uma. posição metafísica, embora não passível de prova, :pó^aihserv criticada e debatida racionalmente. Eu confessara miribáíipòsiçaõi:realista, mas imaginava que isso correspondesse apenas a uma’; con-:fissão de fé. Com efeito* eis o que afirmei a propósito de um dqs •meus argumentos realistas: “ exprime a fé metafísica na exiíftenôiá>.-;de regularidades em nosso mundo (uma fé que partilho e sem âqual a ação prática torna-se inconcebível)ss 24°.

Em 1958 publiquei duas palestras, parcialmente baseadas nó

Postscript , com o título de “Acerca do Status  da Ciência e da Metafísica” (e que se acham no livro Conjectures and Refutations241). Na segunda dessas palestras procurei mostrar qüe as teorias, metafísicas pódem ser submetidas ao crivo da crítica e da argumentação, já que são- tentativas feitas no sentido de resolver  problemas  — problemas talvez passíveis de receberem soluções mais ou menos apropriadas. Essa idéia foi utilizada na segunda palestra e aplicada acinèo teorias metafísicas: o determinismo, o idealismo (e o subje-tivismo), o irracionalismo, o voluntarismo (de Schopenhauer) e o

niilismo (a Filosofia do nada, de Heidegger). Apresentei entãomotivos para rejeitar essas teorias como malogradas tentativas de: solução dos problemas que elas procuravam abordar.

No último capítulo de Postscript, argumentei de modo semelhante contra o indeterminismo, o realismo e o objetivismo. Procurei mostrar que estas três teorias metafísicas são compatíveis e, afim de mostrar a compatibilidade, através de uma espécie de modelo,propus que se admitissea realidade das disposições  (como osvpoten-

- ciais ou os campos) e, em especial, das propensões. (Essa é uma

forma de argumentar em favor da interpretação das probabilidades

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■r em^ftèrmosvvde propensões. Outra maneira será mencionada na pró-ximà- .seção i) .

Um dos pontos básicos do- capítulo, porém, era uma descriçãoe apreciação do papel desempenhado pelos  programas de pesquisa  

met afísica 242. Mostrei, cora. base em breve escòrço histórico, quehouve, ao longo do tempo, mudanças em nossas idéias acerca do  que constituiria uma explicação satisfatória. Essas idéias variaramem virtude da pressão exercida pela crítica. Segue-se que as idéiaseram criticáveis, embora nao passíveis de prova. Tratava-se de idéiasmetafísicas — e, na verdade, idéias metafísicas de grande importância.

Ilustrei o fato com algumas observações históricas acerca do9vários ‘‘programas de pesquisa metafísica que influíram no desenvolvimento da; Física desde os dias de Pitágoras” ; e apresentei uma

nova concepção metafísica do mundo e, com ela, üm novo programade pesquisa, assentado na idéia da realidade das disposições e nainterpretação da probabilidade em termos de propensões. (Essa concepção, segundo creio agora, também é útil quando se cogita deteorias evolutivas.)

Mencionei esses desenvolvimentos, por dois motivos.

(1) Porque o realismo de cunho metafísico •— a concepção segundo a qual existe um mundo real a ser descoberto — resolve

alguns dos problemas que ficam em aberto com a solução que deiao problema da indução.

(2). Porque pretendo sustentar que a teoria da seleção naturalnão é uma teoria científica passível de prova, mas um programa depesquisa metafísica; e embora esse programa seja, no momento, omelhor de que dispomos, ele pode ser talvez ligeiramente aperfeiçoado.

Não há necessidade de comentar mais longamente o ponto (1) ;basta dizer o seguinte: quando pensamos que nos havíamos apro

ximado da verdade, formulando uma teoria científica, ou seja, queresistiu, melhor do que as teorias rivais, à crítica, então, como realistas, nós aceitaremos essa teoria para nortear a atividade práticasimplesmente porque não dispomos de guia melhor (ou algo quese aproxime mais da verdade). Mas não será preciso admitir que ateoria seja verdadeira: não precisamos acreditar nela (o que eqüivaleria a acreditar na sua verdade)*43.

Acerca do ponto (2), direi mais alguma coisa quando for discutira teoria da. evolução na seção 37.

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34?. Combatendo o subjetivismo em Física:.

a Mecânica Quântica e a propensão - .

Poucos grandes homens rivalizam com Érnst Mach^ auando ..sepensa no impacto de suas idéias sobre o pensamento !hdo -jsecüIõ^X^:

Ele exerceu influência sobre a Física, a ' Fisi61o.gja^~aíj^Filosofia da Ciência e a Filosofia pura. (ou especulativa^v-^íufluen-ciòu Einstein, Bohr, Ileisenberg, William Jamês/rBç£frá^ / —: para citar apenas alguns -nomes. Mách não erá 'urii f iéoiHe liíSilS 1meada, mas era dono de uma grande personalidade, érfoij^imgraúde'filósofo e historiador da Ciência. Na condição de fílólogoÍ^sÍGÓl^go?/e filósofo da Ciência, advogou inúmeras concepções originaiseimpoix:/tantes, que eu, particularmente, não hesito em endbâsan ^ÍFõiy por "Jexemplo, evolucionista, na teoria do conhecimento è nò cam^ov dá

Psicologia e dá Fisiologia, particularmente no quç réspéitá;ftao estudò ?;dos sentidos.. Foi crítico da Metafísica, mas era suficientemérité :tolerante para admitir, è até postular a necessidade de idéias .mè-;tafísicas como guias para o físico, mesmo em sua atividadeívcâqién- .mental. Eis, por exemplo, o que escreveu em seus Princípios da  

' Teoria do Calor, referindo-se a Joule 244:

Quando chegamos às questões gerais de Filosofia [que Mach,: -no parágrafo anterior, denomina “metafísicas”!; Joule praticamente se cala. Quando se manifesta, porém, seus pronunciamentos leriibrain 

muito os de Mayer. E, na verdade, não se pode duvidar de que invés- íigações experimentais de tal envergadura, todas, voltadas para um único objetivo, só podem ser lévádas a bom termo por um homem que seja inspirado por uma grande, e filosoficamente muito profunda, .concepção do mundo. X- ' )i- 

Passagens desse gênero tornam-se ainda mais notáveis quandose recorda que Mach havia publicado anteriormente um livfo, A  Análise das Sensações, onde registra que “meu enfoque elimina iodas  

. as questões metafísicas ” e que “ tudo quanto podemós conhecer à

; respeito do mundo se expressa necessariamente nas sensações” (ou; -dados sensoriais, " Sinnesempfmdungen” ) 

Lamentavelmente, nem ò enfoque biológicp. nem a tolerânciade Mach tiveram grande repercussão no pensamento do século X2Í jo que repercutiu — particularmente sobre a Física Atômica ^ foi. .a.

ípi"' sua intolerância antimetafísica, associada , à sua teoria das; sensações >O fato de a influência de Mach sobre os físicos, da noVa. geração

;;.:ter-íSe tornado tão significativa é uma dessas freqüentes .iránias sdà

História. Em verdade, ele se opunha veementemente >ao ;atomismo.

 yw-frr?

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èiflà teoria “ corpuscular’’ da matéria, que, como Berkeley245, considerava metafísica.

Ó impacto filosófico do positivismo de Mach foi difundido emgrande parte pelo jovem Einstein. Este, ' entretanto, acabou por ^

afastar-se do positivismo de Mach, em parte porque ficou chocadoáo compreender o alcance de certas conseqüências desse positivismo.

 Tais conseqüências, a nova geração de físicos brilhantes, entre osquais se contam Bohr, Paull e Heisenberg, não só descobriu comodefendeu com entusiasmo — e esses físicos tornaram-se subjetivistas.Mas a retirada de Einstein foi demiàsiado tardia: a Física tornou-seum esteio da filosofia subjetivista, cpndiçao que até hoje conserva.

Na base desses desenvolvimentos, porém, havia dois graves problemas, associados à Mecânica Quântica e à teoria do tempo, bem

como um terceiro problema, de menor gra.vidade no mèu entender,que é a teoria subjetivista da entropia..

Com o advento da Mecânica Quântica, muitos jovens físicosse convenceram de que ela (ao contrário do que se dá com a Mecânica Estatística) não era uma teoria de conjuntos, mas de partículas fundamentais isoladas. (Depois de alguma hesitação, eutambém aceitei semelhante concepção.) De outro lado, esses físicosse convenceram de: que a Mecânica Quântica, tal como se dá com a

Mecânica Estatística, era uma teoria probabilística. Gomo teoriamecânica de partículas fundamentais, possuía um aspecto objeüvo;como. teoria probabilística, pensavam èles, possuía igualmente umaspecto subjetivo. Trata-se, pois, de um tipo completamente novode teoria fundamental, combinando aspectos objetivos e subjetivos.Aí estaria o seu caráter revolucionário.

As concepções de Einstein foram um pouco diferentes. Paráele, as teorias probabilísticas, tal como a Mecânica Estatística, eramextremamente interessantes, importantes e belas. (Nos primeiros ^

tempos, ’ Einstein contribuíra decisivamente para o desenvolvimentode teorias desse gênero.) Contudo, elas não eram nem teorias objetivas, nem teorias físicas fundamentais; eram, antes, teorias subjeti- ^vistas a que tínhamos de recorrer em virtude do caráter fragmentário  !de nossos conhecimentos. Segue-se que a Mecânica Quântica,que pese a sua excelência, não é. uma teoria fundamental, mas umateoria incompleta (porque seu carátei: estatístico atesta que ela operacom conhecimento incompleto) ; segue-se ainda que a teoria objetivae completa que devemos elaborar não teria cunho probabilístico,

mas determinista.

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Note-se que as duas posições têm um elèmento^è<)piumfe: ambasadmitem que uma teoria pròbabilística ou estatísüca sutiltóayíde-íalgumaíforma, nosso conhecimento subjetivo, ou nossa fáltá de.còiÃériínehto;

Esse fato pode ser bem compreendido^ s é ^ :única interpretação objetiva da probabilidàáè\^4^§u|idap^altura (final da década de 1920) era a teoria -dastinha sido elaborada* em variadas versões, porReichenbach e, mais tarde, por mim próprio;) Orai -ps pa tida^ :da teoria da freqüência sustentam que há questõeá óbjétiyas'; Cón*- •cernentes aos fenômenos de massa e que taís questões pbssueiíi Respostas objetivas. Entretanto, são compelidos a admitir quèMa^òbje^ •tividade torna-se discutível sempre que se fala da. probabilidade

de um evento isolado, qua  elemento de um fenômeno de massa; V :cabe asseverar, portanto, que, relativamente a acontecimentos específicos, tais como a emissão de um fóton, as probabilidades áperiasavaliam a nossa ignorância. Com efeito, a probabilidade objetivalimita-se a fornecer informações acerca do que acontece em média,supondo que essa espécie de acontecimento se repita muitas vezes;a probabilidade estatística objetiva nada informa acerca do acontecimento individual.

Foi dessa maneira que o subjetivismo penetrou na MecânicaQuântica, segundo as concepções de Einstein e as de seus opositores.E foi aí que procurei combater o subjetivismo, formulando a interpretação da probabilidade em termos de propensões. A formulaçãonao foi ad hoc; ao contrário, resultou de meticulosa revisão dosargumentos subjacentes a., interpretação freqüentisía.

A idéia principal era a de que as propensões podiam ser vistas,como realidades físicas. Eram medidas de disposições. Disposiçõesfísicas mensuráveis ( “ potenciais” ) haviam sido introduzidas na Físicapor meio da teoria dos campos. Existia, pois,, um precedente paraencararem-se as disposições como algo dotado de realidade física^dé modo que a sugestão de que deveríamos ver as propensões comoalgo fisicamente real, nao era tão insólita. Ela abria margem tam?bém para o indeterminismo, evidentemente.

K A fim de colocar melhor o problema de interpretações quenas,.propensões visavam a resolver, ..reportar-me-ei a uma carta que

. Einstein enviou a Schrõdinger24s. Nessa carta, Einstein ..alude a.um . bem conhecido experimento conceptuai , que Schrõdinger/havia

- divulgado em publicação em 1935 247. Schrõdinger assinalara a? pos-,sibilidade de dispor um material radioativo de forma a, com o auxílio-dó . contador Geiger, disparar uma bomba. O dispositivo pode. ser

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' que ou a bomba explode dentro de certo&ti^^;àloiiMéfíaiípo. ou então é desativada. . Seja a probabilidade deuüiaf%explosãó ,fa: 1./2.. Sçhxpdinger sustentou que, se um gata forgost^perto rda bomba, a probabilidade. de que ele venha a ser morto

e^tambem igual a 1/2. Todo o. arranjo pode ser descrito em termos" Quântica.’" e,. nessa descrição,^ haverá uma superposi-

çãalde 'dois estados do gato — o estado vivo e o estado morto. Assim,^ídescrição em termos de Mecânica Quântica. —-■ a função i|/ — nada descreve de real, pois. o gato real estará ou vivo ou morto.

VvV;; Einstein afirma na carta a Schrõdinger que isso significa quea. Mecânica Quântica- é subjetiva e . incompleta:

:; I ' ' •Se tentarmos interpretar a função 4> como uma descrição completa [do processo físico real por ela referido] ( . . . ) significaria isso que,

. no momento em pauta, b gato não estaria nem vivo nem despedaçado, Contudo, uma ou oütra dessas condições seria comprovada peia observação.

Se rejeitarmos essa maneira de ver Ia completude da função i]/l, teremos de admitir que a função ^ não descreve um estado de coisas real, mas a totalidade de nosso con h ecim ent o . com r espeit o ao estado  de coisas. Essa a interpretação. de.Behr que, segundo parece, é hoje aceita pela maioria dos físicos2*8. ■

Acolhida minha . interpretação em termos de propensão, esse

dilema desaparece e a Mecânica Quântica, ou seja, a função i|/, passa a  descrever um estado de coisas real -— uma disposição real — cònquanto nao um estado de coisas determinista. Embora o caráteinão-determinista do estado de coisãs possa ser encarado como indíciode uma incompletude, essà incompletude não será devida a umafalha da teoria — ou da descrição — mas a um reflexo do caráterindeterminista da realidade, do próprio estado de coisas.

Schrõdinger sempre. achara que [i|j '*]  devia descrever algofisicamente real, como, digamos,. uma . densidade real. Tinha cons

ciência, além disso, da possibilidade249 de a própria realidade seiindeterminada. Segundo a interpretação em termos de propensão,essas intuições estavam corretas.

Nao aprofundarei a discussão da teoria dá probabilidade emtermos de propensão, nem examinarei o papel que lhe é possíveldesempenhar no esclarecimènto da Mecânica Quântica, porque detais-.assuntos  já me ocupei densamente em outro local 25°. Lembroque,.. a teoria não foi bem recebida, o que não me surpreendeu nemme; desanimou. Desde então, porém, muitas coisas mudaram e algunscríticos (defensores de Bohr) que de início rejeitaram minha teoria,

. dizéhdo-a incompatível como a . Mecânica- Quântica, afirmam agora

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que se trata de coisa consabida. e, em verdade,^idêntica àtconcepçãq de Bohr. . .• • / .

Considerei-me amplamente recompensado por '-ináis d ^4d;líàn<âs.'',;'de pesquisa quando recebi uma carta de B. L. van •dér ^áerdeU,

matemático e historiador da Mecânica Quântica, àidércà^dò^meii.-.!.artigo de 1967, “A Mecânica Quântica sem ‘o Observador’ , :emque ele dizia concordar inteiramente com as treze teses dèférididasnesse meu trabalho e também com a interpretação. da probabilidadeem termos de propensão^51. v v ^ v

35. Boltzmann e a direção do tempo

. O subjetivismo começou a penetrar na Física — e, em especiál.na teoria do tempo e na entropia — muito antes do advento dáMecânica Quântica. Essa penetração estava intimamente associadaà tragédia de Ludwig Boltzmann, um dos grandes físicos do séculoX IX e ao mesmo tempo um ardente defensor do realismo e dóobjetivismo. *

Boltzmann e Mach foram colegas na Universidade de Viena.Boltzmann era professor de Física nessa Universidade quando Machfoi para lá em 1895* convidado a ocupar uma cadeira.de Filosofia

da Ciência, criada especialmente para ele. Deve ter sido a primeiracátedra desse tipo em todo o mundo. Moritz Schlick viria a ocupá-Iàmais tarde, sendo Victor Kraft o seu sucessor 252. Em 1901, quandoMach deixou a Universidade, Boltzmann encarregou-se. de lecionara matéria, sem abandonar, porém, a sua cátedra de Física. Mach,seis anos mais velho que ele, continuou a viver em Viena até quasea data dá morte de Boltzmann, ocorrida em 1906. Nesse intervalode tempo, e por um período que ainda se prolongaria bastante,influência de Mach cresceu constantemente. . Mach e Boltziiiáririeram físicos, mas. este último, sem favor, era o mais brilhante

inventivo253; ambos eram também filósofos. Mach fora-chamadopara Viena por dois filósofos, e na condição de filósofo. (Depoisde Boltzmann ter sido convidado, para sutéder Stefán na cátèdraV deFísica — para a qual, na verdade, Mach esperava ser' convidadoá: idéia de oferecer a este, em substituição, uma cadeira dé iFHõsòfiápartiu de Heinrich Gomperz, que só contava na ocasião'-:viiíté'. -e vití»:anos e que atuou através de seu pai.)254 Acerca dos méritoá;;filosá1;ficos de Mach e Boltzmann, meu julgamento é francamente, ten

dencioso. Boltzmann não é muito conhecido. como filósofo; .eu^pratircamente lhe desconhecia o pensamento até há bem >^0.úpoA e;í. ^âa;

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àgôjça éÜQ -que •sei muito menos do que devia saber a propósito dele.Entretanto, concordo com o que dele conheço; muito mais do queconcordaria talvez com qualquer outra posição filosófica. É grande,pois, minha preferência por Boltzmann, em detrimento de Mach,

não apenas como físico e filósofo, mas ainda, devo admiti-lo, comopessoa. Não nego que a personalidade de Mach é extremamenteatraente; e, embora discorde por completo de sua “análise das sensações” , concordo com seu enfoque biológico. do problema do conhecimento (subjetivo).

Boltzmann e Mach tinham ambos muitos adeptos entre os físicose^estavam envolvidos numa luta feroz. Esta travava-se em torno doprograma de pesquisa da Física e da hipótese “ corpuscular” , ou seja,em torno do atomismo e da teoria cinética ou molecular dos gasese do calor. Boltzmann defendia o atomismo, assim comó a teoriacinética de Maxwell sobre gases e o calor. Mach, de sua parte,opunha-se a essas hipóteses “metafísicas” , advogando- uma “ termodinâmica fènomenológica” , da qual pretendia excluir todas as “hipóteses explicativas” . Esperava ainda estender o método “ fenome-nológico” , ou “puramente descritivo” , a toda a Física.

Em todos os pontos referidos, minhas simpatias estão voltadaspara Boltzmann. Devo admitir, porém, que ele, em que pese o seumaior domínio dá Física e (no meu entender) a sua melhor Filosofia,perdeu a batalha. A derrota deveu-se a uma questão de importânciafundamental: a sua ousada derivação pròbabilística da segunda leida Termodinâmica, a lei do aumento da entropia, a partir da teoriacinética (ó teorema-H, de Boltzmann). Ele foi derrotado, creio eu,por ter sido ousado j em demasia.

Süa derivação, sob o prisma intuitivo, é convincente: Boltzmann associa a entropia à desordem;, mostra, correta e convincentemente, que os estados de desordem de um gás num recipiente sãomais “ prováveis” (num sentido perfeitamente adequado e objetivode “provável5’ ) do que os estados de ordem. Ele concluiu daí (mas

esta conclusão veio a mostrar-se ilegítima266) que existe uma lei  mecânica geral  que assegura que sistemas fechados (gases em recipientes fechados) tendem a atingir estados cada vez mais prováveis;significa- isso que os sistemas ordenados, na medida em que envelhecem, tendem a tornar-se cada vez mais desordenados, ou seja, quea entropia de um gás tende a aumentar com o tempo.

 Tudo isso é mui to/convincente; todavia, lamentavelmente errado,na forma em que se. apresenta. Boltzmann, de início, havia considerado o teorema-H como. algo que demonstraria aumento unidire -

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cional da desordem com. o tempo. Poincaré^:lou Zermelo 2S6, já tinha demonstrado anteriormente>quê~ cadàj' sistémafechado (um gás, por exemplo) volta, após

de 'tempo, às vizinhanças de qualquer estado em^qüe|estêg)j|!f ahtfepi^(E a demonstração de Poincaré jamais foi contes^da-^lgiil^êjÈlí^lflmann.) Assim, todos os estados são (de forma apíòxiitládâ)íínamente recorrentes; e se o gás esteve alguma vez emUéstàdòí©t$i|fej:nado, retornará a esse estado depois de algum tempo.v.siEm iie nse ;!qüência, não pode existir algo assim como uma direção privilegiada-':no tempo — uma “ seta de tempo” — que se associaria ao -aumenta :de entropia. ; li

A critica de Zermelo, penso eu, foi decisiva. Revolucionou aspróprias concepções de Boltzmann, fazendo com que a Tcrmodi- .nâmica e a Mecânica Estatística se tornassem, particularmente aipós1907 (o ano em que saiu publicado o artigo dos Ehrenfests ■25?-),estritamente simétricas com respeito à direção do tempo; e até. omomento, , elas permanecem simétricas. A situação está no seguintepé: todo sistema.fechado (um gás, digamos) permanece quase todoo tempo em estados desordenados (estados de equilíbrio). Haveráflutuações, relativamente ao estado de equilíbrio, mas a freqüência

com que se manifestam decresce rapidamente com o aumento dasdimensões do sistema. Assim, quando encontramos um gás em certoestado de flutuação (ou seja, num estado de maior ordem  do que aque se manifesta no estado de equilíbrio), podemos concluir que esseestado foi  provavelmente  precedido por um estado mais próximo doequilíbrio (desordem ) e que a ele se seguirá, também  provavelmente'} outro estado, mais próximo do equilíbrio. Conseqüentemente, se pretendemos prever o futuro do sistema, cabe dizer (com elevada

probabilidade) que haverá aumento de entropia; e uma retrodiçãoprecisamente análoga pode ser feita com . respeito ao passado dosistema. É curioso notar que raramente se percebe que Zermeloprovocou uma revolução na Termodinâmica: seu nome é lembradocom restrições ou mesmo totalmente omitido

Infelizmente, Boltzmann não se deu conta, de imediato, daimportância da objeção de Zermelo; sua primeira réplica foi insatisfatória, como Zermelo ressaltou. E, com a segunda réplica, ini^

ciou-se o que vejo como a grande tragédia: Boltzmann caminhoupara o subjetivismo. Com efeito, nessa segunda réplica,

(a) Boltzmann abandoiiou sua teoria de uma direção .-temporalobjetiva e sua teoria . de que a entropia tende a aumentar nessadireção; em outras palavras, abandonou o que hávia sido um de

.seus-pontos capitais;

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^introduziu, 'ad  /íob, uma hipótese cosmológica, muito bela,,mas^descabi dá;! :

' iiátÊódtaãriii' uma teoria subjetiva acerca da direção da tem-. po, ;tèória que dáva caráter tautológico à lei do aumento da entropia.

A Jnterconexão desses três pontos da segunda réplica dè Boltz-inann pode ser mais bem explicada nos termos seguintes259:

Sfè: (a) Comecemos por admitií que o tempo não possui objetivamente uma direção, uma. seta, ou seja, que se comporta nesse. particular como uma coordenada espacial; admitamos, ainda, que o" universo”  objetivo seja totalmente simétrico em relação às duasdireções do tempo.

(b ) Admitamos, em seguida, que o universo globalmente csiderado é um sistema (como o é, digamos, um gás) que se acha -èm equilíbrio térmico (desordem máxima). Nesse universo, existirão flutuações  de éntropia (desordem), ou seja, regiões^ no espaço e notempo, em què se manifesta alguma ordem. Tais regiões de baixaentropia são muito raras — tanto mais raras qüanto mais baixo ovale da entropia; e, de acordo com nossa hipótese ’de simetria, o valesubirá ■de maneira análoga!, nos. dois sentidos do tempo, achatando-sena direção/ da entropia máxima. Suponhamos, ainda, que a vidaseja /possível; apenas nos lados de vales profundos da entropia; echamemos -“ inundos” . a essas regiões de entropia variável.

;(c) Agòra, basta apenas supor que, subjetivamente, nós (è,conòsco, os: outros animais)  percebemos  a. coordenada temporal comose ela tivesse um sentido — uma seta — apontando para locais emque a entropia aumenta. Isso. quer dizer que a coordenada tempopénetra-nos a consciência de modo sucessivo ou seqüencial, revelando-se como um aumento de entropia do “mundo” (a região èm quevivemos), • 1

Se valem (a ), (b ) e (c ), então, claramente, a entropia sempre

crescerá com o decorrer do tempo, ou seja, com o tempo de nossaconsciência. Segundo a hipótese biológica de que apenas no seio daèxpèriencia animal é que o tempo admite uma seta, e que a setaaponta só na direção do aumento da éntropia, a lei do aumento daentropia transforma-se numa lei necessária — legítima, porém, ape-riàs subjetivamente. .

>. , O  seguinte diagrama poderá facilitar a compreensão do assunto. (Ver Fig. 1.)

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Seta do tempo (apenas para este

intervalo de tempo)

Fio. 1

. S e t a ■:í i - : -i^'"iBBèh aá^àfá:eÍitÍ*Ç^ s.SW ii> í ■

■'xt - : : : "   íT te fa lS *" ^ ■’ '■••'■

*:’ *.T •’■"■••'•í/.NiveLde j:.,.,

üllíbrlov' •/; f ,'':   00Ê Ê !tíÊ ii ;í p # l l l # l l

Cur va de en tròjiiíií-" ' V: •’ •■■.**.'■ V;' V.-;/

A linha superior é o eixo do tempo; a inferior indica urriá fhi-tuação de. entropia. As setas apontam para regiões em que a vidà

pode manifestar-se e onde o tempo é experienciado como se tivèssea direção ali marcada. ' • '

Boltzmann sugeriu — e Schrodinger também — que â direçãovoltstda para o . “ futüro” poderia ser fixada por definição, .quese repreende do trecho seguinte, retirado da ségxirídá: réplica 'á,Zermelo 260: ‘ ■ ' • ' .

Podemos fazer duas escolhas na. figura,; Qu -adiiutimòsírque^o "universo está, presentemente, num estado altame.nte ixap royável j , ou, -supomos que os “aBonsV. (enquanto perdure, este; estadòu.jinj)rõYáyel); e„;,a dis-.  

tância que mèdeia. a Siriüs ^ão d im inü t pi^^se^còmparadòs“ - com a idade ê o taíríanhó dé'rtbdó o üííiVêrsò. ■v“1^ü^"?rai ferao:7:!':dèsse-';::-gênero].-' que, glòbalmentéi coüsidêradb, está^éihmortoj encontraremos aqui . e .ali , regiÕes . relatiyamente vpequenas,;. e ás dimensões de nossa galáxia (e que podem ser . chamados “íiiundos”), que se desviam significátivamentè dò equilíbrio térmico^ ão longci de períodos relativamente breves desses “aeons” de teittpò. Nesses mundos, as probabilidades de seus estados [isto é, a entropia] crescerão/ tantas vezes quantas decrescerem. No universo, como um. todo, as duas direções do tempo serão indistinguíveis, exatamente como . não ., há “para'cima” ou : “para baixo?’ no espaço. Entretanto, num detér  minado ponto da superfície terrestre, podemos chamar “para- -baixo”,!a direção .rumo ao centro da Terra; da mesma forma, um. organismo vivo que se encontre num dos mundos em determinado- períodor^dei tempo pode definir a “direção” do tempo, entendendo-o como-ruma passagem do estado menos provável para o estado mais provávelSl(o'> primeiro receberá o nome de “passado” ; o outro será o “futuro” ). 'Em virtude dessa definição (s i c )t o  organismo imaginará que -íua-‘ própria pequena região, isolada do resto do universo, sempre -se encontra, “inicialmente”, num estado improvável. Párbce-me que .esta -maneiras; de ver é a única pela qual se compreende a 'legitimidade âa”seguftda*,; lei e a morte térmica de cada mundo- individual, sem^nécessidade-ídefo apelo a uma mudança unidirecional, do , universo,,,,como umiyjtpdo, c l è  ' um estado inicial definido, para um estado final. , ^

 — . - -  _  ' ----. ..■s’ / lfX'-S:.vS ffiftgfô,-

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Creio-que a idéia, de. Boltzmann é surpreendente, em sua ousadiae belezáí^Más também creio que é insustentável, pelo menos sob oenfoque i realista. A variação unidirecional aparece, aí, como ilusória.Isso toraa; ilusória a catástrofe de Hiroshima. Torna ilusório o nosso

mundo; :poiiseqüentemeiite, passam. a ser ilusórias todas as nossas  tentativas de saber mais acerca do mundo. A posição é autodes-trutiva (como .se. dá com as muitas formas do idealismo). A hipótese idealista ad hocy  de Bpltzmann, cònflita com a sua Filosofiarealista, contraria a sua posição antiidèíalista, defendida quase apaixonadamente, assim como o seu ardente desejo de saber.

Acresce que a hipótese ad hoc  de Boltzmann também d.estrói,em considerável medida, a própria teoria, física que çle desejavasaívar. Com efeito, falha completamente a sua ousada tentativa dededuzir a lei do aumento da entropia (dSjdt ^ 0)  a partir depressupostos, mecânicos e ! estatísticos — seu teorema-H. Fàlha emrelação ao séu tempo objetivo (isto é, ao tempo sem direção), umavei que, para este, a entropia decresce tantas vezes quantas aumenta;261. E tainbém falha em relação ao seu tempo subjetivo (istoé, ao tempò dotado de uma seta direcional), tuna vez que, nestesegundo caso, é uma definição ou uma ilusão que faz crescer aentrópia^e 'não:ihá, ,(e;.fném poderia;..ser,:exigid^). uma prova cinética,dinâmica, .eslatísticà; Ou mecânica capãz de estabelecer tal fato. Assim,é •?dtótmída^aH^^ ã téoria cinética da entropia — queBoltzmann. .tentou. .defender contra os ataques de Zermelo. Foi inútilo.-sacrifício da^sua .filosofia realista em benefício do teorema-H.

.. ! Imagino qüe Boltzmann, com o passar do tempo, compreendeutudo. issó e ai está a causa de sUa depressão e do seu suicídio, quecometeu em 1906.

Embora eu admire a beleza e a ousadia intelectual da hipótese

idealista ad hoc  de Boltzmann, vê-se que ela não foi “ ousada” ,quando vista do prisma da metodologia que advogo; nada acrescentou aos nossos conhecimentos, não era de conteúdo crescente. Aocontrário, destruía qualquer conteúdo. (Está claro que a teoria doequilíbrio e das flutuações não foi afetada; ver, a propósito a nota256!)

Essa é a razão pela qual não senti, remorsos (embora sentissemuita pena de Boltzmann) ao compreender que meu exemplo deprocesso, físico não-entrópico, dotado de seta de tempo262, destruía

a-í-hipótese idealista ad hoc  de Boltzmann. Admito que destruía algu-ma coisa; de notável — um a.rgumento em favor do idealismo, queparecia pertencer à Física pura: Mas eu não me inclinava, ao con-

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trário do que acontecia com Schrõdinger,.. ao uso da MecânicaQuântica em apoio do subjetiyisã^^„;Jiqu!^:.;satis^f;o poder.. =ata-car-Ihe uma das mais antigas fortalezas na Física263. E creio queo próprio Boltzmann teria aprovado..^sas;:idéias? ,(^ b om .tal> Z| não

lhe aprovasse os resultados). ^  >vv.:r.-r’-x r 

A história das relações "!éHtrèl^BôlÊüraãnn-.>é:v ílàSmais estranhas da História da Ciência ,• é nelá sè :réveíá : :o ;póderhistórico de que se revestem^os^modisáios J :BA#i?m©dâsi!èãp^ ■:pórém>tolas e cegas, particularmente _.as f ilo só fíè^ ^ xòr-: ••a idéia de que a História^ser£ ;ftossò^u^

À luz da História ou3 quem ■'jj[ãt)e^à^orô^ - ‘ •Boltzmann foi derrotádòj. Tse^n^; >todos: ,-os .ipadr^ês iisüâis4 de Vj lga--

mento, ainda que todos lhe. recbhheçááòd?; os ,!efeito, ele . jamais chegou a elucidar o 'staiús' d&cs.eü1# P & e ^chegou a explicar o aumento de entropia.... (Em yezj disso^cHou .novo problema — ou melhor, diria eu3 um novor; pseudópiébléma: .a seta do tempo decorre do aumento de entropia?) -i;BôítiqÉià^;SA.ajB'fv.bém foi derrotado como filósofo. Na última parte dé :súa yVida, opositivismo de Mach e a “ energética” de Ostwald, ambos ,dccaráterantiatomista, tornaram-se tão influentes que Boltzmann sehtiü-sé .jde-

saçorçoado (como se percebe em suas Lições Sobre a Teoria dos  

Gases). À pressão foi tanta que ele perdeu a fé em suas idéias e riárealidade dos átomos. Ele sugeriu que a hipótese corpuscular poderia não passar de artifício, heurístico (e não uma hipótese acercada réalidade física); a essa sugestão, Mach retrucou, afirmandoque se tratava de,“ lance nao muito nobre neste debate” {eiri niâhi  ganz rítterlicher polemischer Zug ) 354.

Até o presente, o realismo e o . objetivismo de Boltzmann naoforam vingados nem por ele próprio nem pelá História. (Tanto pior

para a História.) Conquanto o ' atomismo de Boltzmann ganhassesua primeira grande vitória com á ajuda de süa idéia da flutuaçãoestatística (refiro-me ao artigo de Einstein, de 1905, a respeito .demovimento browniano), a filosofia de Mach — a filosofia do maiòíopositor do atomismo — foi, na verdade, a que se tornou credo

. aceito do jovem Einstein e, através dele, pelos fundadores da.,Meca?nica Quântica. Ninguém negou * é claro, a grandeza de Boltzmanncomo físico e, em especial,. como um dos. fundadores da MecânicaEstatística. Mas seja qual for a maneira como voltemf, a renascer

suas idéias, elas parecem estar ligadas ou com a teoria subjeiivista :da direção do tempo (Schrõdinger, Reichenbaòh,ri,(3^ünbaum),ijvrou. ..com uma interpretação subjetivista da Estatística e„ ,do t teoremar H .

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•(Bor&^&yiiés). deusa -da História —: yenerada como nosso , juiz — còntiiiüâíSa jiíòs pregar ,suas peças. •

Kèlatei o episódio, aqui, porque ele ilumina a teoria idealistadê que a direção do tempo é uma ilusão subjetiva e porque a luta

contra essa. teoria me tem ocupado bastante nos últimos anos.

36V.A teoria sübjetivista da entropia

Por teoria: subjetivista da entropia26^ entendo aqui não a teoriade Boltzmann, ria qual a direção dò tempo é subjetiva é a entropia,objetiva.. Entendo, antes, uma teoria devida a Leo Szilard 266, segundo a qual a. entropia de um sistema cresce sempre que decrescenossa informação a respeito dele — e vice-versa. De acordo com ateoria -de Szilard, todo ganho de informação ou conhecimento hádè ser interpretado como jreduçao de entropia; nos termos da segundaleij o ganho deve ser compensado por; ,um crescimento pelo menosigual de entropia 29\

Reconheço que existe algo intuitivamente satisfatório nessa teseém particular, naturalmente, para: um sub jetivista. : Indubitavel

mente/ a: •irif ormaçao ‘ :(òu. : ‘ ‘conteúdo-:•informativo’ ’ ) pode ser - medidapélaíiinprbbàbilidadej.^cómò assinalei em 1934 em Logik der Fors-  chühg 268, A ehtíopiàf de -oütra parte, pode ser igualada à probabilidade/. doJestado dó- sistema em causa. Assim,  parecem  válidas asseguintes equações:

...informação ===== negentropiaentropia ===== falta de informação = ausência de conhecimento

Essas equações, entretanto, devem sér usadas com a maior cautela: tudo .quanto se demonstrou foi que entropia e falta de informação podem ser medidas por  probabilidades  ou interpretadas comoprobabilidades. Não se demonstrou que sejam probabilidades dòsmesmos atributos do mesmo sistema.

Consideremos um dos iriais simples casóS de aumento de entropia: a expansão de um gás que impulsiona um pistão. Admitamosque haja um pistão nâ metade de um. cilindro (ver fig. 2). Admitamos que o cilindro seja conservado á uma temperatura elevadaconstante por meio de uma fonte de calor, de sorte que qualquerperda-:térmica seja imediatamente compensada. Se, na porção esquerda, Houver um gás que desloque 0 pistão para a direita e, dessaforma, -nos habilite a. obter,, trabalho (levantamento de um peso)vèremos que isso custará um aumento da entropia do gás.

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Suponhamos,de mna única molécula* M ,^^ssa^úpòsi£;^meus oponentes. S U dc-iOu,: Iksível adotá-la *??, s^á^;>poE.étní^discutida^crit‘ÍGamèrite^&^ ;;Podemos  então: dizer- qüe:■.■<?* aumentofdà^en^opià^i^è^^hid^^uinã’-"perda de informação. Com efeito^ antes da ^pahsão/vsabíámos ^úib; ,o gás (isto é, a molécula -M )  achava-se à esquj^á^|;4ô^ U j| ^ ^ '■' •’ Após a expansão, e depois de executado o trabalho quje^jhè^abiãynao sabemos se o gás está na porção esquerda ou na , porção direitado cilindro, pois que o pistão se encontra na extremidade.^direitaadpmesmo cilindro: o conteúdo iiíformativo de nosso conhecimento oéclaramente muito reduzido270.

Estou, naturalmente, disposto , a aceitar esse ponto. O qué não  estou disposto a aceitar é o. argumento mais geral de Szilard, emque ele procura estabelecer o teorema segundo o qual o conhecimentoou informação acerca da posição da molécula M  pode ser convertido em negèntropia, é vice-versa. Vejo esse pretenso teorema, siri todizê-lo, como puro absurdo subjetivísta.

O . argumento de Szilard consiste num experimento mentalidealizado; e pode ser apresentado — com algum aperf eiçoarhentojsegundo creio — da seguinte forma271:

Admitamos sàber  que, no momento £0, o gás — ou seja, a mo*lécula singular M  — encontre-se na metade esquerda do cilindro.Podemos, nesse momento, introduzir um pistão na metade do cilin

dro (por exemplo, através de uma fresta na parede do riiesinÕcilindro)272 ê aguardar até que a éxpansaò do gás, ou o mómeritode M , haja empurrado o pistão pará a direita, levantando um peso.--

A energia necessária é, obviamente, fornecida pelo banho de calo^rA-:-^negentropia necessária, e perdida, adveio de nosso conh^iróentô.i'o conhecimento se perdeu quando a negentropia se. consumiu,:isto, é;. ..no processo de expansão e durante o movimento -do^pista^^f^i^í^^.

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direita; quando o' pístãò; alcançada extrepiidade direita do cilindroestát perdido, todo nosso conhecimento acerca da parte do cilindroem que\M esteja: situada. Se. invertermos o processo,  fazendo recuar  o pistão, .haverá necessidade da mesma quantidade de energia ( eesta.se acrescentará ao banho de calor) 6 a mesma quantidade denegentropia há de provir de algum lugar; e isso porque chegamosà mesma situação de. que partimos, inclusive o conhecimento deque oi gás — ou M   — está na metade esquerda do cilindro^

Szilard sugere, dessa maneira, que a negentropia e o conhecimento*: podem converter-se, reciprocamente, um no outro. (Ele fun- .damenta isso numa análise — . espúria, a meu ver — da medidadireta, da posição de M  ; entretanto, eomo ele apenas sugere, mas

não.: afirma, que essa análise é de validade geral, nao argumentareicontra ela. Penso, além disso, que a apresentação aqui feita reforça,de algum modo, a posição de Szilard — seja como for, torna-se amais-plausível.)

v t Passo, agora, à crítica. É essencial, para o propósito de Szilard,que se opere com uma molécula singular M  e nao com ura gás demuitas moléculas 273. Se tivermos um gás de várias moléculas, oconhecimento da posição dessas moléculas absolutamente nao nos

ajuda (não  é, pois, suficiente), a menos que ocorra encontrar-se ogás em estado muito negentrópico, como por exemplo, com a maioriade suas moléculas no lado esquerdo do cilindro^ Mas então será  obviamente esse estado negentrópico ôbjêtivp  (e não o conhecimentosubjetivo que dele tenhamos) que irèmos utilizar; e se, desconhe

cendo-o, pudermos deslocar o pistão no momento exato, teremos denovo como utilizar esse estado objetivo (e o conhecimento, portanto,não ê necessário ) .

Operemos, inicialmente, da maneira sugerida por Szilard, usan

do apenas uma  molécula M. Em tal caso, assevero eu, não necessi tamos de conhecimento algum  com respeito à localização de M ; tudo quanto precisamos é fazer o pistão correr no cilindro. Se ocorrerque M  se ache à esquerda, o pistão será impulsionado para a direi táe •poderemos erguer o peso. E se M  estiver à direita, o pistão seráimpulsionado para a esquerda, e também poderemos erguer o peso:riàda. é mais fácil do que dotar o aparelhamento de uma engrenagem, de sorte que o peso seja erguido em qualquer caso , sem

que .precisemos saber qual das duas possíveis direções tomará omovimento.

-;íPe?se - uaòdo, nenhum conhecimento se faz aqui necessário para^o aumento'de entropia; e a análise de Szilard revela-se

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um equívoco: ele não ofereceu nenhum argumehto^válido ;parará.-intrusão do conhecimento no campo da Física. -.v’"'

Entretanto, parece-me necessário dizer algd mais acerca: do:experimento mental dé Szilard e do meu próprio. Com efeito ’ cólo^i ■

ca-se a pergunta:  pode esse meu particular experimento ' ser úsadp -   para refutar à segunda lei da Termodinâmica  (lei do aumento dàentropia)?

Não penso que possa, embora acredite  que a segunda lei; está,em verdade, refutada pelo movimento browniano 274. .

A razão é a seguinte: admitir que um gás seja representadòpor uma única  molécula, M , não é apenas uma idealização (õ quénãò viria ao caso), mas equivalé a supor que, objetivamente, ò gás Seencontre constantemente num estado de entropia mínima. Trata-sé

de gás que, devemos admitir, ainda que expandido, não ocupa urnapreciável 'subespaço do cilindro: essa a razão porque ele sempre seencontrará apenas de um dos lados do pistão. Podemos, por exemplo, ligar um  flap  ao pistão, . colocando-o, digamos, em posiçãohorizontal (ver Fig. 3), de sorte que o pistão volte, sem resistência,ao centro, onde o  flap  . retorna à sua posição de operação; assimprocedendo, poderemos estar certos de que todo o gás — toda a

 }

F i g . 3 i

M  — está só de um dos lados do pistão; e de que, assim sendo, eíêempurrará o pistão. Admitamos, porém, que existam duas  moléculas no gás; nesse caso, elas talvez se encontrem de lados diferentese o pistão'não poderá ser impelido por elas: Isso mostra que o uso  de uma: só molécula M  desempenha um papel essencial na respostaque dou a Szilard (tal como desempenha um papel importante moargumento de Szilard) e mostra ainda que, se  pudéssemos dispor deum gás consistente de uma só e poderosa molécula Af; sem dúvidaque ele violaria a segunda lei* Isso, porém, não surpreende" de vez quea segunda lei descreve um efeito essencialmente estatístico. '

Examinemos mâis de perto este segundo experimento^ mentais — o caso de duas moléculas. A informação de que ambasíse^en^

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,contram íBa=iinetad&-iesquerdàí,do cilindro nos habilitaria em verdadecolocando assim o pistão em posição de operar,

 j^odavia,, ::ó que impulsiona o pistão para a direita nao é o nossoGjòj^eQ en.to.i;fde que ambas as moléculas estão à esquerda. Sao,antes, os^momentos das duas moléculas — ou, se preferirem, o fato

de o gási.; encontrar-se em estado de baixá entropia.Assim, esses meus experimentos mentais não  demonstram que

sejafpossível a_existência de uma máquina de movimento perpétuocie segunda ordem275; mas dé vez que, como vimos, o uso de umaúnica , molécula é essencial ao próprio experimento mental de Szilard,os meus experimentos mentais mostram a improcedência do argumento de Szilard e, em conseqüência, á improcedência da tentativade fundamentar a interpretação subjetivista da segunda lei numexperimento mental desse tipo.

, edifício construído com base nq argumento (inaceitável, aliiéu ver) de Szilard e em argumentos similares de outros autores,continuará, creio eu, a crescer; e receio que continuaremos a ouvirdizer que a “ entropia — como a probabilidade — mede a falta deinformação’* e que as máquinas poderão ;ser acionadas pelo conhecimento, como se dá com a máquina de Szilard. Bazófia e entropia,suponho eu, continuarão a ser produzidas: enquanto houver algumsubjetivista disposto a proporcionar o equivalente da insciência, .

( 37. 0 darwinismo como programa metafísico de pesquisa

Sempre tive enorme interesse pelà teoria da evolução e a disposição de aceitá-la como ura fato. Sinto-me fascinado por Darwine pelo darwinismo — embora, até eerto pohtò, pouco me impresione amaioria dos filósofos evolucionistas, com umà grande exceção: a deSàmuel ' Butler 27e.

Minha Logik der Forschung  apresentou uma teoria do crescia

mento do saber por meio da tentativa; e da eliminação de erro,ouseja, por seleção  darwiniana e não por aprendizado  lamarckiano;esse „ ponto (que . insinuei no citado livro) fez aumentar, natural-mente, -meu interesse, pela teoria da evolução. Algumas das observações que passarei a fazer constituem uma tentativa de utilizarininha metodologia e sua semelhança com o. darwinismo para lançarluz sobre a teoria da evolução proposta por Darwin.

h ‘*1lhe Poverty of Historicism277  corresponde, ao meu primeiro e- brçv.e^tentame; de enfrentar algumas questões epistemológicas rela-

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cionadas com a teoria da evolução. Gontinuei..-a...,,trabalhar, nessesproblemas e senti-me deveras . estimulado quandp, •:;posteriormente,verifiquei que havia atingido resultados :muitò; sèifiei harites a algunsdos de Schrõdinger278. .. ^ f/pi.. -.r-

Em 1961, proferi a conferência do “ Herbert; Spéncer~ Memorial” ,ern Oxford, intitulando-a “A ■; EvoluçãcrV e- arJÁrvòré’í" do-?X3õnheci-mento” 279. Nessa conferência íu^-segundo 'tfreiô^tíiíiglípòUcò ;“àlémdas idéias de Schrõdinger ; e; .a^partirí-dessEU^époGà, í-jdèr "maior desenvolvimento áo que considerôifetiriiJ’ hgeirÉf"í apeíféi^Giàliiento idãteoria darwiniana ?80, conquanto Jtsáè - cõhsèrvasise^stritâmèííte' denfcrõdas fronteiras do darwinismo^çe em?-opOáiçãõ tap? •íamai;Gkismo 

dentro da seleção>;nataralyKíémVícõnirápqsi’çãor'aq 'apr-ehdisadò. \i  v.

Em minha ■:cortferêriciá: ; --Coinptdh’-’ : >(1966) 2801>prócü.r(ei tamb érb 

esclarecer váriãs qüestÕès / çonèxas, como/ pôr' exemplo/ a lquéstãb 

do status científico  do darwinismo. Parece-me quê darwihismo èstápara Iamarckismo exatamente como _ - '.

dedutivismo para indutivismo ' ■ v ■: ■seleção para aprendizado pela repetição,'eliminação crítica do erro para justificação. t

A insustèntabilidade lógica das idéias referidas no lado direito

dessã tabela funda uma espécie de explicação lógica do darwinismo(isto é, do lado esquerdo). Poderíamos considerá-lo como algo‘£quase-tautológico’’ ; ou desçrevê-lo como lógica aplicada — e, dequalquer modo, como lógica situacional  aplicada (o que veremosadiante)

Desse ponto de vista, a questão do status  científico do darwinismo — no sentido mais amplo, a teoria da tentativa e eliminaçãode erro — torna-se interessante. Cheguei à conclusão de que o

darwinismo não é uma teoria científica passível de prova, mas um programa de pesquisa metafísica  — um possível sistema de referênciapara teorias científicas coinprováveis281.

E mais ainda; encaro o darwinismo como umã aplicação doque denomino “ lógica situacional” . O darwinismo como lógicasituacional pode ser entendido como segue. . ;

Admitamos qüe haja um mundo, um sistema de referência -deconstância limitada, no qual existam entidades de variabilidade, ilimi .tada. Então, algumas das entidades resultantes da variação ^aquelasque “ se adaptam” às condições do sistema) podem “sobreviver’^ : aopasso que outras (as que entram em conflito com a. situação)>;podernser eliminadas.

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;v'-Acrescentemos a isso o pressuposto da existência de um sistemadé referência especial — um conjunto de condições talvez raras ealtamente individualizadas — onde possa desenvolver-se a vida ou,mais . especialmente, corpos capazes de se a u to - r epro duzir em, séndo,

não obstante, variáveis. Surge, então, uma situação em que a idéiada tentativa e da eliminação de erro, ou do darwinismo, se tornanão apenas aplicável, mas quase que logicamente necessária. Isso nãoquer dizer que o sistema de referência ou a origem da vida sejanecessária. Pode existir um sistema em que a. vida seja possível,mas em que não ocorreu a, tentativa que conduz à vida, ou em quetodas as tentativas capazes de conduzir à vida foram eliminadas.(Esta última não é mera possibilidade, mas algo que pode ocorrer aqualquer momento: há mais de um meio de destruir toda a vida

sobre a Terra.) Pretende-se com isso dizer que., ocorrendo umasituação que permita a vida, e surgindo, esta, tal situação globaltornará a idéia darwiniana uma idéia de lógica situacional.

Para evitar qualquer mal-entendido: nao é em toda situaçãopossível que a teoria darwiniana alcançaria êxito ; é antes, ' numasituação muito especial e talvez mesmo única. Entretanto, mesmonuma situação onde a. vida não exista, a seleção darwiniana pode, atécerto, ponto, aplicar-se: os núcleos atômicos que são relativamenteestáveis (na situação em causa) tenderão a ser mais abundantes do

que instáveis; e o mesmo pode valer para compostos químicos.Nao me parece que o darwinismo. âlcance explicar a origem da

vida. Penso que a vida é tão extremamente improvável que nadapode “ exjplicar” por que ela apareceu; e a explicação estatística temde operar, em última instância, com  altíssimas probabilidades. Todavia, se nossas altas probabilidades são apenas baixas probabilidades que se tornaram altas devido à imensidade do tempo, disponível(como na “ explicação” de Boltzmann; ver texto correspondente ànota 260, seção 35) não devemos esquecer que, dessa maneira, épossível explicar quase tudo 282. Ainda assim, são poucas as razõesque temos para conjecturar que uma explicação desse tipo sejaaplicável à origem da vida. Isso, entretanto, nao afeta a concepçãodo darwinismo em termos de lógicá situacional, pois admite-se que avida e seu sistema de referência constituem a nossa “situação” .

Penso que, em prol do darwinismo, podemos dizer mais do quesimplesmente considerá-lo um dentre os vários programas de pesquisa metafísica. Com efeito, sua estreita semelhança com . a lógica

situacional explica-lhe o êxito, a despeito do caráter quase tautoló-gico inerente à formulação darwiniana dela e em razão da circunstancia de que até àgora não teve de enfrentar um rival sério.

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Se é aceitável a concepção-jda .í teoria rdatwihiafía íEOHio lógicasituacional, então poderemos explicar -af-:estranha'~^presençacentreminha teoria acerca do crescimento^ do saber .e- ô darwinismo: ambasseriam exemplos de lógica situacional; ^elemento’ nóvo especial

dò enfoque científico consciente do. sabét^— Aa  :jcrítica^=conscientedas conjecturas exploratórias e da construção conscientes da^pressãoseletiva sobre essas conjecturas (através. de&críÜGasT^- ela^vdmgidás,)'

 — seria uma conseqüência do aparecimentou detsuma^inguagem ;des?critiva e argumentatíva, ou seja, de uma linguagem-'descritiva ^cujasdescrições admitem crítica. - • ->, *j,

O aparecimento de tal linguagem nos levaria à^dèfrotitaf/^ denovo, uma situação altamente improvável e possivelmente."’ 'única,talvez tão improvável quanto a própria vida. Contudo; ; dada' tàlsituação, a teoria do crescimento exossomático do saber' atrâvés„ de -umprocesso consciente de conjectura e refutação seguir-se-ia *‘quasey logijcamente: torna-se parte da situação, bem como parte. do r,darwinismo.

Quanto à própria teoria darwiniana, devo agora esclarecer- queUtilizo o termo “ darwinismo” para indicar-lhe as versões modernas*que recebem denominações diversas, tais como “ neodarwinismo” ou(dada pôr Julian Huxley) “Nova Síntese” . Ela envolve, em essência,

os seguintes pressupostos ou conjecturas, a que adiante me referirei:(1 ) A grande variedade de formas-de vida sobre a Terra ori

gina-se de um número reduzido de formas, talvez de um único organismo: há uma árvore evolutiva, uma história da evolução. ••

(2 ) Há uma teoria evolucionista que explica isso. Consiste.sobretudo nas hipóteses abaixo:

(a ) Hereditariedade: o descendente reproduz os organismost-pais, de maneira bastante fiel.

(b ) Variação: há (entre outras, talvez) “ pequenas” variações;As mais importantes dentre elas são as mutações “ acidentais” ;-:.ehereditárias.

(c) Seleção natural: há vários mecanismos através dos quais*não apenas as variações, mas todo o material hereditário é controrlado por eliminação. Entre eles, estão os mecanismos que. só permitema disseminação das “ pequenas” mutações; as “ grandes” 'mutações( “monstros possíveis” ) sãó, via de regra, letais e, por isso, elimiiiadasi

(d ) Variabilidade: embora, em certo sentido :— presença, dediferentes competidores — , sejam as variações  por .motivos sóbvioáianteriores à seleção, pode bem ocorrer que a variabilidadeí 

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eatíopbijla^varíação -— seja controlada por seleção natural^ comrespeito*por, exemplo, à freqüência e extensão das variações. Umateoria?-genética da hereditariedade e da variação pode chegar aadraitir genes especiais a controlar a variabilidade dos demais genes,Podemos assim, chegar a uína hierarquia ou, talvez, a estruturas de

,interação aindá mais complexas. (Não devemos recear as complexidades; sabemos que elás estão aí. Exemplificando; do ponto devista de um . adepto da teoria da seleção, somos compelidos a admitirque algo como o método do código genético de controle da hereditariedade é, por si mesmo, um produto inicial da seleção, e umproduto altamente sofisticado.) -

Os pressupostos (1). e (2 ) são, a meu ver, essenciais para o darwinismo (de par com alguns pressupostos acerca de uni ambientemutável, dotado de algumas regularidades)O ponto (3 ), a seguir,

é uma reflexão que faço em torno do( ponto (2 ).(3 ) Ver-se-á que existe uma estreita analogia. entre os princí

pios “ conservadores” (a ) e (d) e aquilo que denominei de pensamento dogmático; e, de modo. semelhante, uma analogia entre ospontos (b ) é (c) e aquilo que denominei .pensamento, crítico.

Quero, agora apresentar algumas das TrazÕes que me levam aver o darwinismo. em termos de metafísica e de programa de pesquisa^

É metafísico por não ser suscetível de prova. Póder-se-ia pensaro contrário. Parece que ele assevera que., se algum dia encontrarmos 

nalgum planeta vida que satisfaça às condições (a) e (b ) . então (c )surgirá e trará, com o correr do tempò, uma rica variedade de formas^distintas. O darwinismo, porém, não assevera tanto. Com efeito,admitamos . que em Marte haja uma vida que consista em exatamente três espécies de bactérias com equipamento genético semelhante ao de três espécies terrestres. Estaria refutado o darwinismo?De modo algum. Diremos que essas três espécies, dentre as muitasformas de mutação, eram as únicas suficientemente bem ajustadaspara sobreviver. E asseveraríamos o mesmo, se houvesse apenas uma

especie (ou nenhuma). Desse modo, acórre que o darwinismo realmente não  prevê  a evolução da variedade. E, portanto, nao podeexplica-lã.: Quando muito, pode prever a ev.Qlução da variedade“sob condições favoráveis” . Entretanto, dificilmente se poderá descrever, em. termos gerais, o que sejam condições favoráveis  —  só sepoderá dizer que, estando elas presentes, surgirão formas várias.

Entendo, todavia, que focalizei a teoria por seu melhor aspectoquase pelo aspecto em que ela é mais suscetível de prova. Po-

der-se-ia dizer que ela “quase prevê” uma grande variedade de

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formas de vida 203. Em outros campos,; seu. poder * pf editivof oü^ixgcativo é ainda mais desapontador. ConcentTemo-nosrna^“adaptaçãò> t À primeira vista, a seleção natural parece explÍGá-la~ei 'em certo,sentido, isso realmente ocorre ■ mas nao de maneira que ‘ sè possa

considerar científica. Dizer que uma espécie hoje viva £stá adaptadaá seü meio é, em verdade, quase tautológico. Com efeito, empregamos os termos “ adaptação” e “ seleção” de modo tal que se Ktornacabível afirmar- que, se a espécie nao se houvesse adaptado, ela teria 

sido eliminada por seleção natural. De outra parte, se uma espéciefoi eliminada,. isso devèrá ter ocorrido pelo fato de ela se adaptarmal às condições. A adaptação (ou aptidão) é definida  pelos mò1demos evòlucionistas como um valor de sobrevivência, e pocle ser;medida em termos de êxito efetivo quanto à sobrevivência; : dificil

mente havèriá possibilidade de submeter a prova uma teoiia tãofrágil quanto essa?84.

À despeito disso, entretanto, a teoria é de importância inestimável. Sem ela, não vejo- como nosso conhecimento poderia ter-se desenvolvido tanto quanto se desenvolveu depois de Darwin. Procúrándoexplicar experimentos com bactérias que se adaptam, digamos, àpenicilina; é evidente que somos grandemente auxiliados pela teoriada seleção natural. Embora esta seja metafísica, lança muita-luz

sobre pesquisas de caráter concreto e prático. Permite-nos estudar,de maneira- racional, a adaptação a um ambiente. novo (tal-xoirioum meio infestado pela penicilina) : ela sugere a existência deoummecanismo de adaptação e‘chega a permitir-nos estudar, em pormenor*o mecanismo em ação. Até agora, esta é a única teoria capaz dissotudo. tv

Essa, naturalmente, a razão pela qual o darwinismo foi quaseuniversalmente aceito. Sua teoria da adaptação fói a primeira-teoria;

não-teísta que se demonstrou convincente, e, o teísmo era pior queiaclara admissão de insucesso, pois criava a impressão, de que se haviaalcançado uma explicação* última.

Ora, na médida em que crie a mesma impressão o darwinismonão é muito/superior à concepção/ teísta da adaptação; importa,, pois,mostrar que o darwinismo não é uma teoria científica, mas mejtafí-sica. Contudo, seu valor, pára a Ciência, como programa- der pesquisametafísica, é enorme, especialmente se admitirmos que ele pode ser

criticado e aperfeiçoado. ■

. Passemos agora a examinar ura pouco mais aprofundadarnenté;&  programa de pesquisa do darwinismo, tal como foi formuladoacima, nos pontos ( 1 ) e ( 2).

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>: Em primeiro lugar, assinalemos que, embora o ponto. (2 ), istoé, a teoria da evolução elaborada por Darwin nao tenha poder explicativo suficiente para explicar  a, evolução de uma grande variedadede formas de vida existentes sobre a Terra, a teoria certamente

sugere  tal explicação e, por esse motivò, atrai a atenção para ela.E  prevê  que, se  tal evolução octírrer, será gradual.

A não-trivial  predição de  .gradualídade  é importante e decorreimediatamente de (2 ) (a ) - (2) (c.); e (a) e (b ), e pelo menos ocaráter limitado das mutações não só encontram bpm apoio experimental como são por nós conhecidos em minúcia.

A gradação é assim, do ponto de vista lógico, a predição central feita pela teoria . (Creio que é a unica predição.) Além disso,enquanto as alterações da base genética das formas vivas forem

graduais, elas serão — pelo menos “ erii princípio” — explicadaspela teoria, pois esta prediz a ocorrência de pequenas alteraçõesdevidas à mutação. Sem embargo, a "explicação em princípio” 385é algo muito diferente do tipo de explicação que exigimos em Física.Embora possamos explicar determinado eclipse prevehdo-o, não podemos predizer ou explicar, nenhuma alteração evolutiva determinada, (salvo, talvez, 'certas mudanças da população genética no âmbito ;de uma  espécie) ; tudo quanto podemos dizer é que, não setratando de mudança pequena, deverão.ter existido estágios intermediários —: importante sugestão de pesquisa: urçi programa depesquisa.

A par disso, a teoria prediz mutações acidentais  e, em conseqüência, mudanças acidentais. Se alguma “direção” é indicada pela teoria,é a de que mutações reversas serão relativamente freqüentes, Assim,devemos esperar seqüências evolutivas do tipo. “ caminhar a esmo” . .(O caminhar a esmo corresponde, por exemplo, à trajetória descritapor um homem que, a cada passo, consulta uma roleta para dar o

passo seguinte.)A está altura, coloca-se uma questão importante. Por que os

passos a esmo não parecem relevantes na árvore da evolução? Aindagação teria resposta se o darwinismo pudesse explicar o que,por vezes, recebe o nome de “ tendências ortogenéticas” , ou seja, seqüências de alterações evolutivas que se processam numa mesma“direção” (passos não a esmo). Vários pensadores, como Schrõdin-ger e Waddington e, especialmente, Sir  Alister Hardy, procuraram daruma explicação darwiniana das tendências ortogenéticas e eu próprio

busquei fazê-lo em minha conferência “ Spencer” .

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Minhas sugestões para um enriquecimento do darwinismo^ que

òrnaria capaz de explicar a ortogênese são, em resumo, as seguintes:

(À ) Distingo entre pressão externa, òú de seícçao ambiental, e

pressão interna . de seleção. A pressão. seletivá •interna provém, dopróprio organismo e, conjecturp, porém* em ajltirna' instãncia/^de suaspreferências  (ou “ finalidades” )e m b o ía 1;estás; :pòs5ainjTnaturalmente,mudar em resposta a mudanças exteriias>^ > -  j * •

(B ) Admito a existência'' dé "cüfèrènte&r;fclàsséè^e:;genés^controlam principalmente" à anatohiiã'  è q u è rdéHormnarei genes ; á; e os que còntròiamminarei genes b. .=Nao. considerarei^ aqui -' (émborã ^ apárèntemérite •existam) os genes intermediários (inclusive os dé -funções mistas).Os genes b  podem, por. sua vez, sér divididos em genes  p .\ que controlam  preferências  ou “ finalidades” ) e genes s  (que còntroíánihabilidades). ■ ?'  

Admito, ainda, que alguns organismos, sob . pressag çletiva, Jexf;.terna, desenvolveram genes e, em especial, genes b  que possibilitam:ao organismo certa variabilidade. O escopo  da variação coniporta-.imental será, de alguma forma, controlado pela estrutura genética^61Contudo, como as circunstâncias externas variam, uma determiúaçãònão muito. rígida de comportamento comandada pela estrutura b  pode alcançar tanto êxito, quanto uma determinação genética nãomulto rígida imposta pela hereditariedade, vale dizer, pelo escopoda variabilidade do gene. (Ver (2 ) (d ) acima.) Cabe, assim, falarde alterações “ puramente comportamentais” do comportamento, ou devariações de comportamento que não implicam mudanças hereditárias no âmbito do escopò ou repertório de variabilidade geneticamente determinado; e podemos contrastar essas mudanças com alte

rações comportamentais geneticamente fixadas ou determinadas.. Procede, agora, afirmar que certas mudanças ambientais podem

conduzir a novos problemas e, assim, à adoção de novas preferênciasou finalidades (por haverem desaparecido, por exemplo, certos tiposde alimento). As preferências ou finalidades novas aparecerão, inicialmente, sob a forma de ;um novo comportamento exploratório(permitido,.mas nao fixado pélos genes b ). Dessa, maneira, o animaltenta adaptar-se à situação nova3 sem alteração genética. Todavia^

essa alteração  puramente comportamental  e exploratória, caso bemsucedida, eqüivalerá à adoção ou descoberta de um nóvo nicho. ecoBlógico. Desse modo, favorecerá indivíduos cuja estrutura ,genéticáp  (isto é, suas preferências ou “ finalidades” instintivas) mais ou me-nos antecipa. ou fixa o novo padrão comportamental de preferências;

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Stcpá%ssç3:0 :ipa5sü decisivo pois, agora, serão favorecidas as alterações 

iiar- esjtrutura de habilidades, (estruturas j ) que se conformem com " as 

nòVas preferências: habilidades para Conseguir o alimento, porexemplo.

Sugiro, portanto, que só depois de se haver alterado a estrutura  s é que serão favorecidas certas alterações da estrutura  a, ou seja, as  alterações da estrutura anatômica que favorecem o aparecimento  de novas habilidades. A pressão seletiva interna será, nesses casos,‘'dirigida”, e conduzirá assim a um tipo de ortogênese.

A sugestão que faço, a propósito desse mecanismo interno deseleção pode ser apresentado esquematicainente da seguinte formai

 p s.-* a,

isto é, a estrutura de preferência e suas variações controlam a seleçãoda estrutura de habilidades e suas váriaÇÕes; e esta, por sua vez, controla a seleção da estrutura puramente anatômica. e suas variações.

Entretanto, essa seqüência pode. ser cíclica: a nova. anatomiapor seu turno,..pode favorecer mudanças de. preferência, e assim pordiante.

O que Darwin chamou “seleção sexual” seria, do ponto de

vista aquií r exposto, .um caso especial da pressão seletiva interna. pormim descrito, ou seja, de um ciclo que. parte de novas  preferências .É ; característico o fato de a pressão seletiva interna levar a umajustamento relativamente mau ao meio. Após Darwin, isso foi freqüentemente percebido e a esperança de explicar certos desajustesnotáveis (desajustes do ponto de vista de sobrevivência, como a dopavão exibindo suá cauda) foi um dos principais motivos: que levaram Darwin a apresentar sua teoria: da “ seleção sexual” . Talvez a 

preferência original estivesse bem ajustada, mas a pressão seletivainterna e a realimentaçao que, a partir da anatomia alterada podeconduzir às preferências alteradas de (a para  p)  levará a formasexageradas, tanto formas comportamen tais (ritos)} quanto anatômicas.

Gomo exemplo de seleção não-sexual, caberia citar o pica-pau.Razoavel suposição parece ser a de que a especialização começoucom uma mudança de gosto  (preferência) por novos alimentos,que levou a alterações comportamentais genéticas e a novas habili

dades., de acordo com õ esquema

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só ao fita surgindo as alterações anatômicas286. É de esperar-se queum pássaro que sofra mudanças anatômicas em. séu bico: e -língua, sem sofrer mudanças de gosto •e =habilidadeí^yenha>;aírseru,prontamenteeliminado por seleção hatural-^: m ^ -^ão>--Liice^e^: á (Análoga é :iião

menos obviamente : um pássaio veom:Vüm^, nova^habilidgtdej mas sempreferências novas a que essaf/hajriüdade ; possa servir^ > não;?, tepavantagens.) ; i V. •••

Em todos os estágios, haverá3 naturalmênte;í;itiUitá'"‘Téalimenta-çao: o estágio  p —>s  levará ía- realiiheátãçãof^ou^eja^ j-ifayoreceráulteriores alterações, inclusiveí> :alteraç0es . gebétfeàs? Wnó^m&mo sentido de. p ), assim como á agirá- ‘règreáâi^menteT|òbrè \s e'£;-/tár<comô .indicado. Essa realimêntaçãoyV. cabe:; imaginai^ ~-é à jDriilcipàl' responsável pelas formas è rituais mais exagerados2?T.

Para explicar a questão recorrendo a òutro -exêrriplò/ admitamosque, em certa situação, , ã pressão externa - de- 'sélèçãa -favoreça,-otamanho avantajado. Nesse, caso, a mesma pressão favorecerá'' também a  preferência  sexual pelo avantajado: as preferências; :podfemser, qomo no caso do alimento, resultado de pressão - externa Entretanto, uma vez que surjam novos, genes  p, todo um ciclo se instalará:são as mutações  p  que deflagram a ortogênese. : ^

Isso nos leva a um princípio geral de reforço mútuo: íèntos,de um lado, na estrutura de preferência ou finalidade, um controle  

hierárquico  primário,, que age sobre a estrutura de habilidades e,além disso, sobre a estrutura anatômica; mas temos também umâespécie de interação ou realimentação secundária. Julgo que essesistema hierárquico de mútuo reforço opera de tal modo que, namaioria dos casos, o controle da estrutura de preferência ou finalidade domina, amplamente os controles inferiores, ao longo . de todaa hierarquia 28ff. '

Exemplos poderão ilustrar ambas , essas idéias. Se distinguirmos 

as alterações genéticas (mutações) no que denomino “ estrutura de

preferência” ou “ estrutura de finalidade” das alterações genéticas na“ estrutura de habilidades” e na “ estrutura anatômica” , então, no quese refere à interação entre a estrutura de finalidade e a estruturaanatômica3 surgirão as seguintes possibilidades:

(a ) Açao das mutações da estrutura de finalidade sobre a estru1tura anatômica: quando ocorre unia alteração de gosto, como-nocaso do pica-pau, a estrutura anatômica relevante para a obtençãodo alimento pode permanecer inalterada, caso em que será de esperaf a eliminação da espécie, por seleção natural (a menòs que sejamusadas habilidades extraordinárias) ; ou a espécie podèrá 'adaptar-se

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desenvolvendo uma nòva especialização anatômica, análoga à de umórgão;como o olho: o maior interesse em ver (estrutura de finalidade) por parte de uma espécie, leva à seleção de uma mutação

favorável aó aperfeiçoamento da anatomia do olho.(b) Ação das . mutações da estrutura anatômica sobre a estrutura de finalidade: quando a anatomia relevante para a obtenção dealimento se altera, a estrutura de finalidade concernente a alimentoscorre o perigo de se ver paralisada ou ossificada por seleção natural,o que por sua vez pode conduzir a outras especializações 'anatômicas.Dá-se algo. similar ao. que se passa no caíso do olho: uma mutaçãofavorável ao aperfeiçoamento da anatomia aumentará a intensidadedo interesse por ver (isto é semelhante, ao efeito oposto).

A teoria esboçada sugere algo que sei parece a uma solução parao problema de saber como a evolução leva ao que podemos chamarde formas “ superiores” de vida. O darwinismo, tal como habitualmente apresentado, não dá semelhante explicação. Pode, quandomuito explicar algo assim como o aperfeiçoamento do grau de adaptação. As bactérias, entretanto, devem adaptar-se pelo menos tãobem quanto o homem. De qualquer modo, elas existem há maistempo e há razão para temer que sobrevivam ao homem. Todavia,o que pode ser talvez identificado com as formas superiores de vida é

uma estrutura de preferências còmportamentalmente mais rica — de escopo mais amplo; e se a estrutura de preferências deve ter (demodo geral) o papel dominante que lhe atribuo, a evolução paraformas superiores se tornará compreensível2®9. Minha teoria também pode ser apresentada nos termos, seguintes: formas superioressurgem através da hierarquia primária  p  -» a} isto é, sempre eenquanto a estrutura de preferências for a dominante. A estagnação e a reversão, inclusive a superespecialização, constituem o resultado' de uma inversão devida à realimentaçao no âmbito dessahierarquia primária.

A teoria sugere também uma possível solução (entre muitasoutras, talvez) para o problema da separação das espécies. O problema é este: só cabe esperar que as mutações, por si mesmas,levem a uma alteração dos genes de uma espécie, não a uma novaespécie. Assim, tem-.se de invocar a separação de locais para” explicaro aparecimento de novas espécies. Normalmente, pensa-se em separarão geográfica 290. Creio, porém, que separação geográfica é apenas um caso especial de separação devida, à adoção de novo compor-taníento e ,. conseqüentemente, de novo nicho ecológico; se a  prefe 

rencia  por um nicho ecológico — por certo tipo  de localização — 

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e tornar hereditária, poderá levar a uma separação -local suficientepara suspender o cruzamento,- >embora: tíste: ‘Gpntiniiè r^^eorfisiologi-camente possível. Assim, duasV-espé^es.^poâe|u: eparâr-jsé>-. 'amdà .que

habitando a mesma. região -^gráíficá^^^^-mesihi^^ü^ip^â^^re^Qtenha apenas a extensão de. uma árvore-tóah^è^ tG.Omo |Lrèéè;i pcòrferno caso de certos moluscos africanos*-: ^ãi^séleçãò^conseqüências semelhantes. • ‘;:í -ví'?*: .

A descrição dos possíveis mecanismòsíígehétiGÓs>Ç':àübjaçentés às..'.',tendências ortogenéticas, tal como foi esqüéinatiiadoV àcima; corresponde a uma típica análise situacional,-' ^fáèjãY-^sòmehté^de as estruturas desenvolvidas serem do tipô; qdé 4ptídefI:smiülar os^;:métodos de lógica situacional terão elas valor.,. d e , sobrevivência. ,

Outra sugestão concernente à teoria evolucionista •e , talye? digna:/vde menção e a que se relaciona com as idéias de 'Valor det.sobrevivência” è  também com a de teleologia. Penso qúe tais. idéias podemser apresentadas, de modo muito mais claro, em termos de solução .de problemas. . - "

 Todo organismo e toda espécie está constantemente sob a ameaça,de extinção j mas èssa ameaça assume a forma de problemas con

cretos, que ele ou ela tem de. resolver. Muitos désses problemas conreretos nao são, como tais, problemas de sobrevivência. O problema:de encontrar bom lugar para o ninho será ura problema concretopara um casal de pássaros, sem ser um problema de sobrevivência paraeles, embora possa tornar-se um problema dessa ordem para a cria; etalvez a espécie seja muito pouco atingida pelo êxito que tenhamesses pássaros no resolver, aqui e agora, o problema que os afeta..Imagino eu que a maioria dos problemas seja. suscitada nao tantopela sobrevivência, como pelas  preferências, especialmente pelas  pre 

ferências in stin tiv as e ainda que os instintos em questão (genes  p)  tenham evolvido sob pressão externa de seleção, os problemas poreles colocados nao são, via de regrá, problemas de sobrevivência.

Por motivos dessa ordem é que me; parece melhor encarar osorganismos como. solucionadores de problemas do que em termosde perseguidores de fins: como procurei mostrar em “De Nuvens eRelógios” 291, . é dessa maneira que podemos oferecer uma versãoracional — “ em princípio” , é claro — de evolução emergente . , ,

Greio que a origem da vida  e a origem dos  problemas /coincidem. Isso não é irrelevante para a questão de saber se cabe/.esperar

"que a Biologia venha a ser: redutível à Químicà e depois .^Física.Considero não . apenas possível, mas provável que um dia tenhamos

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condições de recriar coisas vivas a partir de coisas nao-vivas. Embora,por si mesmo, isso seja extremamente .<emocionante282 (assim comoq é dó ponto de vis tá rêducipnista) não,, èstabeleceria  que a Biologiapode ser “reduzida” à Física ou à Química, pois não traria umaexplicação física para o aparecimento de problemas — assim como

nossa capacidade de produzir compostos químicos através de meiosfísicos nao acarreta uma teoria física das ligações químicas e nemmesmo a existência de. tal teoria.

Pode-se portanto descrever minha posição como a que sustentauma teoria da irredutibilidade  e da emergência, que pode ser resumida nos. termos seguintes:

' ■•(1) Penso que não existe um processo biológico que não possaser visto como correlacionado, em pormenor, com um processo físicoou que nao póssa ser progressivamente analisado em termos físico--químicos, Mas não há teoria físieo-química em condições de explicaro surgimento de um problema novo e não há. processo físico-quimicoem condições de, como tal, solucionar um  problema. (Os princípiosde variação em Física, assim como o . princípio da ação mínima, ouprincípio de Fermat,serãò talvez semelhantes, mas nao constituemsolução de problemas. O método, tefeticp de Einstein tentà recorrera Deus para objetivos similares.)

(2.) Se esta conjectura é sustentável, éla conduz áo estabelecimento de certo número de distinções. Devemos distinguir

^ ■ um problema físico — um problema de físico;um problema biológico == um problema de biólogo;npl problema de organismo = um problema do tipo;

Gomo posso sobreviver? Gomo propagar-me? Comoalterar-me? Comò adaptar-me?

um problema criado pelo homem um problema do tipo:

Como posso controlar o desperdício?

A partir dessas distinções, chegamos à tese seguinte: os- proble mas dos organismos não são físicos*, não são coisas físicas, nem leis  

 físicas, nem fatos físicos . São realidades, biológicas específicas : são  reaíf} no sentido de que sua existência pode ser a causa de efeitos  

biológicos.

(3) Admitamos que certos corpos físicos tenham “resolvido” sèusproblemas de reprodução: que se podem reproduzir; quer exatamente,quer como os cristais, com Apequenas falhas, quimicamente (ou ines-m0 funcionalmente). sem importância, Ainda assim* poderiam nao

m    ......... ....   ..........

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ser “vivos” (em sentido amplo),; caso. nao. .consigam: ..adaptar-se:para consegui-lo, precisam deí; reprodução mais vgenuína í^variabilidade.

(4 ) A "essência” da questão é, sugiro(Não devemos, entretanto, falar erri '“essência ’ :;e ò;:?teímo^é' acjUiusado metaforicamente.) A vida/ tàL cómo"táteonhecéiuos^ ^òtisístéde "corpos” físicos (mais pretísàifoüte^^é cápàzés^de'solucionar problemas. As •váiias-\:èsíiéiciéí^ ’ faiê-lbpor seleção natural, ou seja, pelò k^êiíodaéà^réi)iíMu$ãõ^-máis |vãriá-ção, que, por sua vez, foi aprèndidò atràvésf^tié^füétodo :5,dêntièò. ;Essa regressão não é necessariamente^^infinitá^^.-^iu^è4dad^:ppdé :remontar a algum momento âéij eixtêrgencia:

Assim sendo, homens como B.utler. .e iBergson^^mbóra^elaborassemteorias que tenho por completamente enrônea5,.;,úés^i^a^:^éTtõ#%^ /suas intuições. A força vital (o engenho) indubitavelmente éxis.te— mas é, por seu turno, um produto da vida, da seleção é .não  algocomo a “ essência” da vida. São, sem dúvida, as pref erênciak qUeabrem, caminho. No entanto, esse caminho não é lamarckiano- inas.darwiniano.

A ênfase que minhas teorias concedem às  preferências  (que, sen

do disposições, nao estão muito longe das propensões) é, claro, umaquestão puramente “objetiva” ; não é necessário  admitir que éssaspreferências sejam conscientes. Mas elas  podem  tornar-se conscientes; inicialmente, segundo imagino, sob a forma de bem-estar ou desofrimento (prazer e dor).

A abordagem que proponho conduz portanto, quase necessariamente, a um programa de pesquisa que busca uma explicação, emtermos biológicos objetivos, da emergência de estados de consciência.

Voltando a ler essa seção ,depois de. decorridos seis anos292a,sinto-me compelido a fazer novo sumário para mostrar, de maneiramais. simples e mais clara., comò uma teoria puramente seletiva (ateoria da “seleção orgânica” , de Baldwin e Lloyd Morgan) pode serutilizada para justificar certós aspectos intuitivos da evolução (sublinhados por Lamarck, ou Butler, ou Bergson), sem que se façaqualquer concessão à doutrina lamarckiana da transmissão de caracteres adquiridos. (Para a história da seleção orgânica, ver especialmente The Living Stream  o grande livro de Sir  Alister Hardy.)

À primeira vista, o darwinismo (em contraposição ao; lamarMiimo) não parece atribuir qualquer efeito evolucionário; àsV: irióyações

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comportamentais adaptatívas (preferências, desejos, escolhas) de cadaorganismo, Essa impressão, entretanto, é apenas superficial. Todainovação comportamental a que chega o organismo individual mo-,difica a relação entre esse organismo ;é o meio: isso eqüivale à

adoção ou à criação de um novo nicho ecológico pelo organismo.Sem embargo, um novo nicho ecológico significa um novo conjuntode prçssões de seleção sobre o nicho escolhido. Assim, ò organismo,através de suas açÒes e preferências, em parte seleciona as pressões  de seleção  que irão agir sobre ele e sua descendência. Dessa maneira,o organismo pode influir ativamente np^curso a ser adotado pelaevolução. A adoção de um novo modb de agir ou de uma novaexpectativa (ou “ teoria” ) eqüivale a abrir um novo caminho evolutivo. E a diferença entre darwinismo e lamarckismo não é, como

sugeriu Samuel Butler, a diferença entre sorte e engenho: não rejeitamos o engenho, quando optamos por Darwin e pela seleção.

38. O Mundo 3, ou o Terceiro Mundo

Em Wissenschaftslehre} Bolzano falóu em ‘Verdades em si mesmas” e, de maneira mais geral, era “ enunciados em si' mesmos”,çontrapondo-os. aos processos mentais (subjetivos) pelos quais umhomem pensa ou apreende verdades; ou, de modo màis geral, apreen

de enunciados verdadeiros ou falsos.. A distinção estabelecida pòr Bolzano entre enunciados em si

mesmos e processos mentais subjetivos sempre-me pareceu da maiorimportância. Os enunciados em si mesmos podem manter relaçõeslógicas uns com os outros: um enunciado pode ser decorrência de

outro e os enunciados podem ser logicamente compatíveis ou incompatíveis. De outra parte, os processos mentais subjetivos só podemmanter entre si relações psicológicas. Eles nos inquietam ou nosconfortam, lembram-nos certas experiências ou nos sugerem certasexpectativas; induzem-nos a., agir de certo modo ou a não concretizar certa ação planejada.

São inteiramente diversas as duas espécies de relação. Os processos mentais de um homem nao podèm contradizer os de outro,nem podem contradizer seus próprios processos mentais em outraocasião. Entretanto, os conteúdos  dos seus processos, mentais — ouseja, os enunciados em si mesmos —— podem evidentemente contradizer os . conteúdos de processos ; mentais -de outro homem. De outrolado, os conteúdos ou enunciados em si mesmos, já ó fizemos notarnão podem manter entre si-relações de ordem, psicológica:  pensa- 

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mentos no sentido de conteúdos, ou enunciados; em si;. mesmos, epensamentos no sentido de processos mentais  pertencem a ^oú ífm«n-dos” inteiramente diversos. ^

Se denominarmos  primeiro  m«n^c^^r.o.yirnundò;:das!' 'coisas5,dos objetos físicos 1—- e de •ubjetivas (tais como os

de tèrceiro mundo  o mundo dc»:úenuhüa! ^r\i^ :f;»>;%ej^ménte, prefiro falar em **mvindo;..-:l ” £ \-a .ste último, Frege denominou,,^i^;ve: Sy-;:‘^ e i^ irp ^ v^V "■•

O que quer que penseiiiqs:.fda: ;coíi(^ç^^ dèssés ;tíêãs;iÃúridois •enho em, mente “questões” - taás ^omo '^js des-saber; seí^lés^fei^m^

existem ou. não, se o mundp >--3- podè^sèFí^réclijÍ&^ao mundo 2 e, talyez o mundo 2 aO Itnúúdò? .-'-. — vpar^ imé^dê^pri- .---.; :meirísskna importância, áhtes de tudo, caracterizar. >cada : :uiii ; délesao clara e marcadamente quanto possível. (Uma /crítica posterior :

dirá se nossas distinções são demasiado incisivas.) : '

De momento, cumpre tornar nítida a distinção entre o inundo2 e o mundo 3 • empenhando-nos nessa tarefa, defrontaremos è; teré- :mos. de enfrentar argumentos como os que abaixo se colocam.

Quando penso num quadro que conheço bem, pode ser neces

sário certo esforço para que eu o relembre e o coloque “ diante dosolhos da mente” . Posso distinguir entre (a ) o quadro real, (b) oprocesso de imaginá-lo, que envolve certo esforço e (c ) o resultadomais ou menos bem sucedido, ou sèja, o quadro 'imaginado. Claroestá que o quadro imaginado (c ) pertence exatamente como (b ),ao mundo 2 e nao ao mundo 3. Não obstante, posso dizer delecoisas análogas às relações lógicas entre enunciados. Posso, por.exemplo, dizer que á imagem que fáço do quadro no tempo tx  é

incompatível com a imagem que dele faço no tempo f 2 e até mesmocomum enunciado  tal como: “No quadro, só são visíveis a cabeçae os ombros, do homem pintado.5’ Além disso, pode-se dizer, que oquadro imaginado é o conteúdo dó processo de imaginar. Tudo issoé análogo ao conteúdo mental e ao processo de pensar. Quem negaria, porém, que a imagem pertence ap mundo 2, ou seja, que ela émental e faz, sem dúvida, parte do processo de. imaginar?

Esse argumento parece-me válido e muito importante: concordo

em que, no processo do pensamento, é possível distinguir algumas:partes qué talvez possamos denominar conteúdo desse processo,,.('pü/-pensamento ou objeto do mundo 3) tal como foi apreendido. precisamente por esse motivo, parece-me importante disünguki éntre ^ ^

- 191:

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..7b' |âírâpéssp;-jrientál e-õ : conteúdo de pensamento (como o denominou■^ege^èjnis^u sêntido lógico ou de nçuiido 3.. ' 

' Pessoalmente, só consigo conceber, imagens visuais vagas: encontro, em geral, grande dificuldade de colocar diante da mente

tim quadro claro, minucioso e vivido» (Dá-se coisa diferente emrelação à música.) Eu penso, antes, em termos de esquemas, dedisposições para seguir. certa “ linha” de raciocínio e, muito freqüentemente, em termos de palavras, especialmente quando me preparo para registrar por escrito algumas idéias. Percebo muitas vezesque, erroneamente, estou supondo que “ consegui” , que apreendi demodo claro um pensamento: quando tento dar-lhe forma escrita,dou-me conta de que não o alcancei ainda. Esse “o” , esse algo quetalvez eu não tenha alcançado, quê não posso estar certo de haver  

apreendido antes de tê-lo escrito òu traduzido claramente em linguagem, de modo que posso contemplá-lo criticamente de vários  ângulos —  esse. “o” é o pensamento no sentido objetivo, o objeto do;mundo 3, que estou procurando compreender.

O ponto decisivo é> ao que julgo, o de podermos colocar à nossafrente pensamentos objetivos <— isto é, teorias — de maneira talque. tenhamos como criticá-los e. discuti-los. Para tanto, impÕe-se quelhe demos úma forma (especialmente lingüística) mais ou menos

permanente^ A forma escrita será preferível à oral; e melhor aindaserá a forma impressa. É significativo que possamos distinguir entrea crítica da mera f ormulação  de um pensamento —r .um pensamentopode ser hem ou menos bem formulado----e os aspectos lógicos dopensamento em si mesmo; sua verdade ou sua verossimilhança frentea alguns de seus competidores; ou sua compatibilidade com certasoutras teorias.

Uma vez chegado a esta altura, achei que tinha de povoar meumundo 3 com habitantes outros que não os enunciados; e, a pardos enunciados ou teorias, coloquei nele problemas e argumentos,em particular argumentos críticos. Com efeito, as teorias devem sersempre discutidas sem que se percam de vista os  problemas  que élaspossam resolver.

Livrosj revistas e cartas podém ser vistos como objetos típicos"do mundo 3, especialmente quando neles se desenvolve e sé discuteuma teoria. Naturalmente, a forma física do livro não tem impor-tancia e nem mesmo a não-existêiicja física impede a existência do

mundo 3: pensemos em todos os livros “ perdidos” , na influênciaque exercem e na busca de que são alvo. Freqüentes vezes, nao

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importa muito a formulação de um argumento. O que importasão os 'conteúdos  no sentido lógico ou no sentido *do 'mundo 3,:

Claro está que todos os interessados na /Giênciá ^Haó 'de'., terinteresse pelos objetos do mundo ;3* Um físicòpjj^ócle ^jjdev^níció estar

principalmente interessado. em objetos. do;.j r i u n d o - cristais ' eraios-x, digamos. Logo, entretanto, ..elè .'^^depende de nossa interpretação dos : fatps^/òu^;séyà;-nossas teoriase, portanto, dos objetos do mundo 3. -Analogamente/^dor da Ciência e um filósofo mtetfêssãdo?:nélafVtê^dé|ser;.[erri^graiidèparte, estudiosos dos objetõsv-d0 ;.múhdò5?3 ;lí5RèGoj^eáé^séí; que;; èlèstambém podem estar interessados -na rélação^entrè téõriasr do': inundo3 e processos mentais do mundo ;2 ;';.inaíS-'-. steS U os !ós .i'n-te és :ãp;V'principalmente pela relação que tenham .GÓni:. aíMéÒrias/^stò^éj com

objetos próprios do inundo 3. ••

Qual o status  ontolcgico desses objetos dò múndo 3? Óú, parausar linguagem menos empolada, os problemas, as teorias, os argu-;;:mentos são “ reais” , como as mesas e as cadeiras? Quando, há: inaisou menos quarenta anos, Heiurich Gomperz preveniu-me de que euera, potencialmente, um realista, não apenas no sentido de acreditarna realidade de mesas e cadeiras, mas também no sentido de Platão,que acreditava na realidade das Formas ou Idéias — de conceitos e

de seus significados ou essências -— não gostei disso e continuo a naoincluir o lado esquerdo da tabela de idéias (ver seção 7, acima) entreos cidadãos do méu mundo 3- Todavia, tornei-me um realista comrespeito ao mundo 3 dos  problemas, das teorias  e dos argumentos  críticos. .

Bolzano tinha dúvidas, creio eu, acerca do status  on to lógico deseus enunciados em si mesmos, e Frege, ao que parece, era idealistaou estava muito próximo dessa posição. Também eu, como Bolzano,por longo tempo tive dúvidas e nada publiquei acerca do mundo

3, até chegar à conclusão dé que seus elementos são reais; tão reais,aproximadamente, quanto os objetos físicos, as mesas e cadeiras.

Ninguém põe isso em dúvida, no que se refere a livros e outrosmateriais escritos. Tal como as mesas e as cadeiras, eles são feitospor nós, embora não para que neles nos sentemos, mas para que ósleiamos.

Isso parece bastante fácil; mas, que dizer das teorias em simesmas? Admito que elas nao são tão “ reais” quanto mesas e ca

deiras. * Estou pronto a aceitar algo assim como um ponto, de partidamaterialista segundo o qual somente coisas físicas — mèsas-:è: cà^

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déjcasj-...pedras e laranjas — devera ser chamadas “ reais” . Esse,entretantOi é apenas o ponto dè partida; logo a seguir, somos obrigados a estender radicalmente o alcance do termo: gases e correnteselétricas podem matar-nos; não devemos chamá-los reais? O campo

de um ímã pode tornar-se visível graças a limalhas de ferro. Equem duvidará, depois que a televisão se tornou um fenômeno comum, que alguma espécie de realidade’tem de ser atribuída às ondasde Hertz (ou de Maxwell)?

Devemos dizer qúe sao “ reais” aa ..imagens Vistas na televisão?Penso que sim, pois podemos fotografá-las com. diferentes câmarase as imagens concordarão, como testemunhas diferentes294. Contudo,as únagens de televisão correspondem ao resultado de um processo

pelo qual o aparelho descodifica mensagens altamente complexas e“abstratas” , transmitidas com o auxílio de ondas; em razão disso,devemos, creio eu, chamar de “ reais” essas mensagens codificadas,“ abstratas” . Elas podem ser decifradas e o resultado dessa decifraçãoé “ real” .

 Talvez não nos encontremos agora tão afastados da teoria emsi mesma — a. mensagem abstrata codificada num livro e descodificada por nós quando lemos o livro. Contudo, talvez se faça precisoum argumento mais geral.

 Todos os exemplos dados encerram uma coisa em comum. Parece que nos dispomos a chamar real tudo quanto seja capaz deagir sobre coisas físicas , tais como cadeiras e mesas (e filmes fotográficos, acrescentemos), e sobre que possam agir coisas físicas295.Entretanto, nosso mundo de coisas físicas foi grandemente alteradopelo conteúdo de teorias como as de Maxwell e Hertz, ou seja, por

-objetos do mundo 3. Assim, esses objetos devem ser chamadosreais .

(Cabem aqui duas objeções: ( 1 ) Nosso mundo físico foi alterado, não pelas teorias em si mesmas, mas antes pela incorporaçãofísica dessas teorias a livros e outros elementos; e os livros pertencem

ao mundo 1. (2) O mundo físico foi alterado, não pelas teorias

em si mesmas, porém pela nossa compreensão delas, pelo fato de asapreendermos, ou seja, por estados mentais, por objetos do mundo 2.

Aceito ambas as objeções, mas replico a (1 ) dizendo que aalteração foi provocada, nao pelos aspectos físicos dos livros, mas

tão-somente pelo fato de que eles, de alguma forma,, “ transportaram uma mensagem, um conteúdo informativo, uma teoria em simesma. Respondendo a (2 ), que. considero uma- objeção de muito

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maior peso, admito mesmo que sonienteH&trauésydo&múhdü:  2r como  intermediário entre o mundo 1 e o mundo r3y-J que o mundo. 1 .e o  mundo  3 podem interagir. -

Esse é um ponto importante, comosé-Vvèrá quando^ eu passara me ocupar do problema corpo-espírito../ Issp .,;quér Tdi2 èr. que omundo 1 e o mundo 2 podem interagir,^bem./ como  p, mundo2 e o mundo 3, mas que o mundo 1 e o,jnun<do :13 \nãq. podem, iiirteragir diretamente, sem alguma açãointermediária'exercida/; pelõ\mundo 2. Assim, embora somente o mundo/i%pj3?saV„ã tua£;:ihje ià|tamente sobre o mundo 1, ,o mundo 3, pode agir „;sòbrè-vò ; ^ l ’1de maneira indireta, devido à influência ,„que ,',teiii sqbre :;p mundo,.

Com efeito, a “ incorporação” de uma têòria a üin livro ^ 'é,-í-

portanto, a um objeto físico — é exemplo,r: díásb; 4;:Pará>; - ser' lido#o livro requer a intervenção de uma mente 4umària/:.do ' múndof 2 ;Mas requer também , a própria teoria. Eu possó,'!pòrfexéniplò,'; incidíf em erro: minha mente pode deixar de entêndèr : còrfètamenté-r;..ãteoria. Contudo, a teoria em si mesma sempre permanece/e; algumaoutra pessoa poderá entendê-la e corrigir-me." Pode facilmente hão- serum caso de diferença de opiniões, mas de-erro. indisfarçáyel e ’féal ,uma falha no compreender a teoria. E isso poderá-acontecer até. m^smO,com o elaborador da teoria. (Aconteceu ^mais/ de;í-uma^vezí^çom^

Einstein.)296 - • \<  -y • i . ‘  Toquei aqui num aspecto abordado - em-•alguns/ de meus ,'ar.tigos

. a propósito desse assunto e de assuntos correlatos, ; como - õitda(parcial) autonomia do mundo 3 291. .. ;'/ ... •/

Com isso, pretendo dizer que, embora..~ ppssamos,;.inventar umateoria, poderá haver nela (e numa boa teqriav'sçmpr;ei haverá) ;-Conrseqüências não pretendidas e não ^antecip&das..  5Exejnpljfjcand°.:' ^os  homens podem ter inventado os números/naturais,„pu,; digamos,^ ométodo de avançar infindayelmente -;na,, série/.- cfe jiúmerps. naturais.

Contudo, a existência de números primos..^ ,ê a,t validade, ,do téorernade Euclides, segundo . o qual. nãoj épdsjte úm maior )é algo que descobrimos. Aí está .e não há como alterá-la. Trata-sede uma conseqüência/hãÔ:'prètéridida^é nãa^ásitécipadâ, decorrentedessa invenção. E. tráta-sé' dé !iama f conséqüericiá: tiéciéssáriá: não hácomo contorná-la. Coisai- comorhúmeros^ prirnos' e. quadrados perfeitos e muitas outras^sãõ}" assmlf “ produzidas” Jpelo mundo 3, semnecessitarem de auxílio adicional:'de nossa parte. Nessa medida,podemos dizer que ta l: mündò SéJ:“ áutônpmo” .

De-a lgum modo;; réiãGiònâdò riCóm o problema da autonomia,mas adredito eu, meiios^mipbrtahtè,. é ò problema da in temporal idadédo mundo 3. Se um éíiunciado de formulação clara hoje é verda-

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deirò, é vèrdàdeiro para sempre e semprç foi verdadeiro: a verdadeê irifeinporal (como também a falsidade). As relações lógicas, ■taiscomo as da contraditoriedade ou compatibilidade, também são intem-porais, e o são de um modo. mais óbvio.

Seria fácil, por esse motivo, considerar int.emporal todo o mundo3, -tal como Platão sugeriu a respeito de seu mundo de Formas ouIdéias. Bastaria admitir que jamais criamos uma teoria; que semprea descobrimos. Dessa maneira, teríamos um mundo 3 intemporal,que existe antes do aparecimento da vida e que existirá depois quea vida tiyer desaparecido; mundo de que, aqiii e ali, os homensdescobrem pequenas porções.

Essa.é uma concepção possível; mas não me agrada. Ela nao sódeixa sem solução o problema do status  ontológico do mundo 3,

como torna esse problema insolúvel, de um ponto de vista racional.Com efeito, embora ela nos permita “ descobrir” objetos do mundo3, deixa de esclarecer se, ao descobrir esses objetos, interagimos comeles ou se eles apenas agem sobre nós ; e como agem sobre nós — ■especialmente se nao pudermos agir , sobre eles. . Essa concepção,penso eu, leva a um intuicionismo platônico ou neoplatônico ecoloca-nos diante de uma série de dificuldades. Ela se baseia,, comefeito, segundo me parece, no mal-entendido de que o status  das

relagóes lógicas entre  os objetos do mundo 3 deve ser partilhadocom esses objetos.

Proponho uma concepção diferente — concepção que, verifiquei, é surpreendentemente compensadora. Eu encaro , o mundp 3  como sendo, essencialmente, um produto da mente humana. Somosnós que criamos os objetos do mundo 3. O fato de esses objetosterem suas próprias leis, inerentes ou autônomas, leis que dão lugara conseqüências nao pretendidas e antecipadas, ê  apenas umexemplo (embora interessantíssimo) dé^Üma regra mais geral, a regra

de que todas as nossas ações têm conseqüências dessa ordem.Vejo, pois, o mundo 3 como um produto da atividade humana

e um mundo cujas repercussões sobre nós sao tão grandes ou maioresque as do meio físico. Há uma espécie de realimentação em todasas atividades humanas; ao agir, sempre agimos, indiretamente, sobrenós mesmos.

Mais precisamente, direi que vejo o mundo 3, o dos problemas,dos argumentos críticos e. das teorias, como resultado, da evolução da

linguagem humana e como âlgo que, pôr sua vez, atua sobre essaevolução.

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Isso é perfeitamente compatível com. a intempprálidade da verdade e das relações lógicas; e torna;.compreensível,,a realidade domundo .3. Ele é tao real quanto outros produtos :;hümanos, tão realquanto um sistema de codificação,—r .uma^Iingüagemj.tao real (talvez,

mais real) quanto uma instituição social, a. exemplo de uma universidade ou .de um. destacamento de> polícia.

. E o mundo 3 tem uma liistória. a história *;de;: nossas:, idéias;não apenas a história da descoberta -dessas idéi as,, âiúás ;tamb érii r ahistória de como as inventamos: de ; como as elabor-áínòsj^deCoiiioreagiram sobre nós e de como reagimos diante^ desses -produtos denossa própria elaboração.'

Essa maneira dé ver o mundo 3 pèrmite-nós colocá-lo dentrodo escopo de lima teoria evolucionista, que èhcaxa ib homem :'Cómo

animal. Há produtos animais (os ninhos, por;exemplo)>íque,,pòdemser olhados como precursores do mundo 3 humano. ;

E, em última análise, tal concepção sugere uma generalizaçãonoutro sentido. Podemos considerar o mundo dos problemas^ dasteorias e dos argumentos críticos como um caso especial, como ummundo 3 em sentido estrito, ou como uma província lógica òuintelectual do mundo 3; e cabe incluir, no mundo 3 em sentido maisgeral/ todos os produtos do espírito humano, tais como as ferramentas; as instituições e as obras de arte.

39 . 0 problema corpo-mente e o Mundo 3

Penso que sempre fui um dualista cartesiano (embora eu nuncatenha pensado que devamos falar em “substâncias”.298) e, se nãoum dualista, inclinei-me certamente mais para o pluralismo do quepara o monismo. Julgo tolo ou, pelo menos arbitrário, negar aexistência de experiências. mentais, estados mentais ou estados de

•consciência; ou negar que os estados mentais estão, via de regra,estreitamente relacionados a estados corporais, especialmente a estados fisiológicos. Também parece claro que os estados mentais sãoproduto da evolução da vida e que pouco se ganha procurandoligá-los .mais à .Física que à Biologia f " .

Meti. primeiro '• encòntrd1. coin>- o probleirta.; corpo-mênte;: fez-me' íséhtii>^ór:müifàs; anò^qué-Se-íUtàtavádè^

Psicologia', qua'  ciência■; d o !^ '‘f^'dé4'áuas experiênciasji-pfâticamerite

x^atsom-reray-uma:- reação:^apresentava; algumasvant^ge^.?^^ 4^^^á^^|^i^ii^^ntas-;á'Oiit^as «-teGvçias que . negam

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o que são; incapazes de explicar. Em termos de tese filosófica, ela'era patentemente falha, embora irrefutável. Que sentimos alegriae tristeza, esperança e medo (para não falar em dor de dente), que

pensamos por meio de palavrás e por meio de esquemas, que' lemosum livro com maior ou menor atenção e interesse — tudo isso meparecia evidentemente verdadeiro^ embora facilmente negado, eextremamente importante, embora obviamente não-demonstrável.Parecia-me óbvio também o fato de sermos eus ou mentes (ou almas)encarnadas. Mas como compreender racionalmente a relação entre  nossos corpos (ou estados fisiológios) e nossas mentes (ou estados  mentais)?  Essa indagação parecia dar forma ao problema corpo--mente; e, tanto quanto me era possível perceber, não havia espe

rança de fazer algo capaz de tornar mais próxima uma solução.Em Erkenntnislehre, de Schlick, encontrei uma discussão do

problema corpo-mente, que-foi, depois das de Spínoza e Leibniz, aprimeira a fascinar-me. Ela era esplendidamente clara e rica empormenores. Foi brilhantemente examinada e mais desenvolvida porHerbert Feigl. Entretanto, embora parecesse fascinante, a teorianão me satisfazia- e durante muitos anos continuei a pensar, quenada era possível fazer com relação ao problema, salvo talvez, porvia de critica; criticando, por exemplo, as concepções dos que supunham que todo o problema se devesse a alguma “confusão lingüística” 3 °. (Não há dúvida de que, por vezes, nós próprios criamosproblemas^ por falar confusamente a respeito do mundo; mas porque nao abrigaria o mundo alguns seguedos realmente profundos,talvez impenetráveis? Mistérios  podem  é&istir^01; e acho que existem.)

Sem embargo, eu acreditava que a linguagem desempenha umpapel; que, conquanto caiba imaginar que a consciência  é pré-lin-güística, procede também dizer que o que eu chamo de  plena cons 

ciência doi eu  é especificamente humano e depende da linguagem.Essa idéia, porém, me pareceu de pouca importância até que, talcomo descrevi na seção anterior, eu desenvolvi certas concepções deBolzano (e como verifiquei depóis, também de Frege) numa teoriado que denominei o “ terceiro mundo” ou “mundo 3” . Só então meocorr,eu que o problema corpo-mente poderia alterar-se completamente se pedirmos. o auxílio da teoria d o . mundo 3 302. Com efeito,essa teoria permite que desenvolvamos, pelo menos os rudimentos deuma teoria objetiva — uma teoria biológica ■— não apenas dos estados

subjetivos de consciência, mas também dos eus.Assim, o qüe de novo pòssa eu dizer acerca do problema corpo-

-mente estará relacionado com minha maneira de conceber o mundo 3.

198.

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Parece que o problema ?corpormente^coíitinua-Ka. ser;< visto ediscutido, de. modo geral,:-em. termos i das vrárias; relações'; possíveis(identidade, paralelismo, interação) ^enti e*-estados:•de -consciência" eestados* corporais. Como eu- próprio -~so.u,>partidário-,,da interação,creio que parte do problema adimtefmm^e^am^Âqb j^se^ângulo^mascontinuo a duvidar de que a discussão Tseja-í compensadora. 'Em^eulugar, proponho que adotemos uma abojrdagfem-x.biológica e-mesmo 

evolucionista do problema. , Áív- i- * <   ’ 1

Como expliquei na seção 37, não me^fio^müitbs; no; poder-;teo-rético ou explicativo da teoria da evolução* Penso,- ~porém, que éinevitável uma abordágem evolucionista dos* problemas -biológicos' epenso, ainda, que, diante de tão desesperadora^ituação^problema,devemos agarrar-nos, agradecidos, até mesmo -a -umà palha.- Proponho assim, de início, que encaremos a mente humana, Gom - grandesimplicidade, como se ela fosse um órgão corporal^ altamente'^desenvolvido, e que nos perguntemos, como nos perguntaríamos comrespeito a um órgão sensorial, em que contribui ela parada; economiageral do organismo.

Para essa pergunta há uma resposta típica e fácil, que proponhoseja rejeitada. É a de que . a consciência nos habilita a ver: Ôü^’à?perceber coisas. Rejeito essa resposta porque, para tais fins*; temóVolhos e outros órgãos sensoriais. Creio que se deve ao enfoque5obser-vacionai' do conhecimento o fato de a consciência ser tão amplamenteidentificada com a visão ou a percepção.

Sugiro que olhemos antes o espírito humano, primeiro que tudo,como um órgão que produz objetos do humano mundo   3 (uo sén-tido mais geral) e que. com eles interage. Proponho, assim, qüéconsidéremos o espírito humano essencialmente como o produtor dalinguagem humana, para a qual nossas aptidões básicas (tal corriofoi explicado anteriormente303) são inatas; e como produtor'-üe

teorias, de argumentos críticos e de muitas outras coisas, tais Coihóerros, mitos, relatos, anedotas, ferramentas e obras dè arte.

 Talvez seja difícil introduzir uma ordem nessa confusa misturae talvez nem valha a pena; mas não é difícil conjecturar acerca-doque surgiu primeiro. Entendo que foi a linguagem e que ;a linguagem é quase o único instrumento exossomático de uso inato nohomem, ou melhor, de base genética.

Parece-me que essa conjectura encerra algum poder , explicativo,embora seja naturalmente difícil submetê-la a prova. vSugiroj que , o

aparecimento da linguagem descritiva está na raiz do Tpoder .humanoda :jimaginação, da inventividade humana e, portanto, ,do,;acareei-

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rnentò do^mundo 3. Pode-se admitir, com efeito, que a primeira (eqüastr humana) função da linguagem descritiva como instrumentofoi a de servir exclusivamente para adescrição verdadeira, para informes verdadeiros. Mas chegou o tempo em que a linguagem veio a

ser usada para mentiras, para “ inventar! histórias” . Entendo que foiesse o passo decisivo, o passo que tornou-a linguagem verdadeiramentedescritiva e realmente humana. Isso levou/ sugiro eu, à invenção dehistprias do tipo explicativo, à geração do. mito;, ao exame críticodos relatos e das descrições e, assim, à Ciência; à ficção imaginativae. sugiro eu, à arte ■— à invenção de histórias sob a forma de figuras.

Seja como for, a base fisiológica da mente humana deve serprocurada, se estou certo, no centro da fala; e talvez não seja acidental ó fato de parecer existir nos dois hemisférios do cérebro apenasum  centro de controle da fala; pode ser o mais alto na hierarquiados centros de controle304. (Tento reviver aqui, conscientemente, oproblema da sede da consciência proposto por Descartes, chegandoa retomar parte do argumento que o lévóu à conjectura, provavelmente errônea, de que tal sede se ^ficontra na glândula pineal.

 Talvez essa teoria se torne suscetível de prova em experimentos sobrea divisão do cérebro.)305

Sugiro que façamos, uma distinção entre . estados de “ consciên

cia” : em geral e os estados altamente organizados que parecem característicos da mente humana, do humano mundo 2, do eu humano.Pènso que os animais têm consciência. (Essa conjectura se tornarápassível de prova se, com o auxílio do eletroençefalógrafo, constatar

mos nos animais, à semelhança do que acontece com os homens, atípica ocorrência do sono povoado de sonhos.) Mas penso tambémque os animais são desprovidos do “ eu” . Quanto à “plena consciênciado eu” (como podemos denominá-la), minha sugestão básica é a deque, taí como o mundo 3 é um produto do mundo 2, o especifica

mente humano mundo 2, a plena consciência do eu é um produtode realimentação da elaboração de teorias.

A consciência como tal (em suas formas inferiores) parece teremergido e ter alcançado organização antes da linguagem descritiva.De qualquer modo, .. desenvolvem-se personalidades entre os a.nimaise desenvolve-se uma espécie de conhecimento ou compreensão deoutras personalidades, especialmente no caso de animais sociais. (Oscães chegam a ter compreensão intuitiva das personalidades hu

manas.) Contudo, a plena consciência do eu só pode surgir, segundoentendo, através da linguagem: só depois de se ter desenvolvidonosso conhecimento acerca de outras pessoas; só depois que nos tornamos conscientes da extensão de nosso corpo no espaço e, princi-

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palmente, no tempo.; só depois de nos. a\^i^os,:í<Mdas regulares interrupções de nossa consciência durante o; sono, edesenvolvido uma teoria  acerca da continuidadc .de nossos ^corpos

 — e, portanto, de nossos eus — no período de ,sono.

. Assim, o problema corpo-inente - divíde^SK-.em^pelò -menos doisproblemas distintos: o problema da ’ estreitíssima relação -entrei estados fisiológicos e certos estadosii;dè:tconáciênèia,^e1~o^pr;oblemai muitodiverso, do surgimento do ,eu e s.uayrelaçã.o^çom-^ .corpo. iKò iproblema-do surgimento do eu só^poderser .resolyido^ sçgundpípenso/ 1seHeyar-mos cm conta a.. linguagem: r?e.; o l ^objetos do-vmundo;p3,,‘ a par - da- ,dependência em que o eu seí poJoca' em relação a eles;. A ?consciênciado eu envolve, entref. ontrasj^coisás ? uma.'distijnção, ; por=j vaga queseja, entre corpos vivos .e não-viyos-e, conseqüentemente/vuma teoriarudimentar. a propósito . das . características .principais da* fvida^e, ule

alguma forma, envolve também uma distinção eritre corpos dotados,de consciência e corpos não dotados de consciências Envolve, - ainda,a projeção do eu no futuro: a expectativa mais ou menqs^conscienteque a. criança tem de, com o tempo, vir a transformar-se^em, adulto ;e a consciência de, por algum tempo, ter existido no vpassado,;;.v;JE.envolve, assim, problemas que levám a uma teoria d o . nascimento;e, talvez, a uma teoria da morte.

Isso tudo só se torna possível através de uma linguagem descritiva altamente desenvolvida — linguagem que tenha levado não’ 

só à produção desse mundo 3, mas que se tenha modificado porforça de ação realimentadora provinda do mundo 3.

 Todavia, ao que penso, o problema corpo-mente não se exaurenos dois mencionados subproblemas: o problema dos estados dèconsciência e o problema do eu. Conquanto, sob a  forma de dispo sição , a plena consciência do eu sèmpre esteja presente nos adultos,as disposições nem sempre são ativadas; . Aò contrário, com freqüênciavivemos um estado mental intensamente ativo, ' encontrando-nos, aomesmo tempo, completamente esquecidos de nós mesmos, emborasempre sejamos capazes de voltar a nós prontamente.

Esse estado de intensa atividade mental não-consciente é alcançado dè modo particular no trabalho intelectual ou artístico: tentando compreender umà teoria ou um problema, f ruindo uma absorvente obra de ficção qu talvez tocando piano ou jogando uma pár.tidade xadrez3053. ' : •!

.^ . Vivendo tais estados, podemos esquecer onde estamos “ ^o^q^é, sempre umà indicação de que nos esquecemos de nós

;v: que ocorre é que nossa mente está empenhada, coin a.v;naáxima,; ç ni..

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éentração; na -tentativa de apreender ou de produzir um objeto domundo 3.

Penso que este é um estâdò de espírito mais interessante e mais

característico do que a percepção de uma nódoa redonda de coralaranjadá. E parece-me importante assinalar que, embora somentea mente humana os atinja, encontramos estados de concentraçãosemelhantes em animais caçadores, por exemplo, e em animais quebuscam fugir a um perigo. E surge a conjectura de que é nessesestágios de alta concentração numa tarefa ou problema que a mentehumana ou animal serve melhor a seus propósitos biológicos. Emmomentos de menor tensão de consciência, o órgão mental pode,com efeito, estar apenas divagando, - repousando, recuperando-se ou,

numa palavra, preparando-se, carregándo-se para o período de concentração. (Não surpreende que a auto-obsérvaçao nos apanhe commuito maior freqüência perdidos em fantasieis do que, por exemplo,pensando intensamente.)

Ora, parece-me claro que as tarefas da mente exigem um órgãodessa espécie, com seus peculiares poderes de concentração numproblema, com seus poderes lingüísticos, seus poderes de antecipação,inventividade e imaginação; e ; com seus poderes exploratórios deaceitação e rejeição. Aparentemente, ò que executa tudo isso não

6 um. órgao físico: parece que algo diverso, como a consciência,fazia-se .necessário e teve de ser utilizado como  parte  do materialde construção da mente. Apenas como parte, indubitavelmente:muitas atividades mentais são inconscientes; muito é t involuntárioe muito é apenas fisiológico. Entretanto, grande parte do que éfisiológico e “ automático” (tocar piano ou dirigir um automóvel)foi  previamente  executado com a concentração de consciência característica da mente que descobre — da mente que se defronta comum problema difícil. . Assim, tudo fala em favor da indispensabi-

lidade da mente na economia dos organismos superiores e da necessidade de permitir que os problemas resolvidos e as situações “ aprendidas” refluam ao corpo, com o fim presumível de libertar, a mentepara novas tarefas. ■

Uma teoria dessa ordem é claramente interacionista: há interaçãoentre os vários órgãos corporais e também entre esses órgãos è amente. Além disso, entretanto, penso qüe a interação com o mundo3 sempre requer a mente em seus estágios relevantes — embora os

exemplos do aprender a falar, a ler e a escrever mostrem que boaparte do trabalho mecânico de codificar e descodificar pode ser executado pelo sistema fisiológico, que executa um trabalho similar nocaso dos órgãos sensoriais.

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Creio que a abordagem objetivista e-biológicâ^ esboçadas; permite-nos Ver o problema corpo-méhte. sob inova/ífuz§^Greiajainda,-que essa abordagem se combina extremamente -]aem-4éoirL±,falgumasinvestigações recentes no campo da psicologia «■ajümal3/eSpe GÍ4Ènen tecom as de Konrad Lorenz. E mostra, ao que me parece um' estreitoparentesco com algumas idéias de D. T. Campbell) açprcaj/da^episte-mologia evolucionista e com algumas idéias de SchrõjdmgeE^

40. A posição dos valores num mundo de fatos 1 ~

O título desta seção aproxima-se muito do de unr livro escritopelo grande psicólogo e grande homem Wolfgang Kõhler306, Con--sidero a formulação que ele dá ao problema, no primeiro capítulo 

de seu livro, não apenas admiravelmente bem colocada, mas : iam-bém tocante; e tocará, creio eu, não apenas aqueles que lembramos tempos em que o livro fo i escrito?07. Todavia, fiquei desapontado com a solução que o próprio Kõhler deu ao problema por eleproposto: "Qual a posição dos valores no mundo dos fatos; e como.puderam eles ter entrada nesse mundo de fatos?3’ Não me convencêa sua tese de que a psicologia da Gestalt  tem meios de contribuir,de inaneira relevante, para a solução desse problema. /

Kõhler explica muito claramente por que poucos cientistas f'ê  pouços filósofos com preparo científico dão-se ao trabalho de escrever a respeito dos valores. A razão é simples: muito do que se diza respeito dos valores é mera algaravia. Muitos de nós tememosque só conseguiríamos produfeir algaravia, ou, quando muito, algo quedela não se distinguísse facilmente. Entendo que esses temores. saobem fundados, a despeito dós esforços de Kõhler para convencer-nos 

de que devemos ser ousados e correr o risco. Pelo menos no campo dateoria ética (nãó incluo o Sermão da Montanha), com sua biblicngrafia quase infinita, não me lembro de ter lido nada bom e marcante,

exceto a Apologia de Sócrates , de Platão (onde a teoria ética tempapel secundário), algumas obras de Kant, especialmente Funda mentos da Metafísica da Moral  (que não alcançou grande êxito)e os dísticos elegíacos de Friedrich Schiller, que criticam' espirituo

samente o rigorismo de K ant308. Talvez eu pudesse acrescentar ;aessa lista os Dois Problemas Fundamentais da Ética, , :de Schópe-nhauer. Exceto a Apologia e  a graciosa reductio  de Kanty; Jeita porSchiller, nenhuma dessas obras chega a aproximar-se /doji|0j&tivoíalmejado. _ 

; Conseqüentemente, não afirmarei senão -.querecem conjuntamente com os problemas; .quévgyajlQr^jfi^o^O^è^';

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existir sem problemas; e que nem valores nem problemas podemderivar ou ser de outra maneírá obtidos a partir dos fatos,; a despeitode, freqüentes vezes, concernirem aos fatos ou com eles se relacionarem. No qué - respeita a problemas, : podemos, observando uma

pessoa (ou algum. animal ou vegetal), imaginar que ela (ou ele)estã procurando resolver determinado problema, embora talvez nãotenha consciência desse problema. Ou-pode ocorrer que um problema tenha sido descrito e descoberto, crítica ou objetivamente, emsuas relações, digamos, com algum outro problema ou com algumassoluções intentadas. Nossa conjectura histórica pertence ao mundo 3apenasv,no primeiro caso; no segundo, o problema pode ser. encaradocomo um dos elémentos: do mundo 3- Algo semelhante sé passacom os valores. Uma coisa, ou uma idéia, ou. uma teoria, ou uma

abordagem pode ser considerada objetivamente valiosa ao mostrar-sede ajuda para a solução de um problema ou como solução de umproblema, seja ou nao seu. valor conscientemente apreciado porquem luta para solucionar essè probletf|%. Contudo, se nossa con jectura, for , formulada, e-for submetida'-a discussão, pertencerá aomundo. 3. Ou.eritão um valõr (relativo a certo problema) pode sercriado ou descoberto e discutido em suas relações com outros valorese com outros problemas; também nesse caso, muito diferente, dosanteriores, o valor poderá transformar-se em elemento do mundo 3.

Assim, se estamos certos ao presumir que houve tempo em queo mundo físico era desprovido de vida,; tal mundo teria sido, julgoeu, um mundo sem problemas e, conseqüentemente, sem valores, Já sesugeriu muitas vezes que os valores só surgiram no mundo com oaparecimento da consciência. Nao penso dessè modo. Entendo queos valores surgem com o aparecimento da vida; e se há vida semconsciência - (e creio que pode haver, mesmo no caso de animais,pois aparentemente existe o sono sém sonhos), entendo que existirão

valores objetivos, mesmo sem a consciência.Há, pois, duas espécies de valor: valores criados pela vida, por

problemas inconscientes, e valores criados pelo espírito humano,com base em soluções prévias, na tentativa de resolver problemas quepodem ser mais bem ou menos bem entendidos.

Essa é a posição que atribuo aos valores num mundo defatos:uma posição no mundo 3 dos problemas e tradições historicamenteemergentes, o que é parte do mundo dos fatos — mas não dos fatosdo mundo 1e sim de fatos parcialmente produzidos pela mentehumana. O mundo dos valores transcende o mundo dos fatos semvalor — o mundo dos fatos brutos, por assim dizer.

*04 r " ~   1 ~

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O núcleo central do mundo 3*..tal. como/o vejo, é o inundodos problemas, das teorias e d ;--ci»ÜGa '',. E5se ;náélé^ não umlugarde valores; mas é dominado.,. por . umhr;ysd©r3fô; o :.#âlor; da: verdade  objetiva e seu desenvolvimento^9. JEin*;cértó sdiilído, >poüemòs :dizeíque, através desse mundo. 3 humano :e .intèlectualj^taíííValòri-se -põe

como o mais elevado de todosjUemboiia^devámosx adimtirtrquev.outrosvalores fazem parte do-., mundo >3.'.* - Diànte.vdèíicadaiyalor^proposto^surge O problema: é yerrJacíe.Hqu^isto^éfeumiivalor^ È é. vet atatíéíqubele tem seu lugar próprio na hierarquia^dós.. v;alores;í. =,.é verdaclç* que abondade é um valor, supçriqr.yâ; ;justiça: .,ou, cqm^aráyel . à justiça .(Assim, eu me confessoJ.em^;coiiip^a_^p9siçãp^à^U!EÍes^que:,temèm a,,verdade — que pensam qüe . .foi una , pecado,, ’ comer., . ^ . árvpre do. .conhecimento.) .. ... r

Generalizamos a: idéia do mundo. 3 humano, dé;/sorte. J que -essémundo 3, em sentido . lato, compreende não apenas *os .produtos -jdenosso intelecto, a par das imprevistas' -conseqüências que deles; emer-.gem, còmo também os prôdutos de nosso espirito em termos- ,demaior abrangência, incluindo,. por exemplo, os produtos" ide nossaimaginação. Até mesmo as teorias, produtos de hossõ. intelecto,/resultam da crítica aos mitos, que são produtos de nossa imaginação:elas nao seriam possíveis sem os mitos; e, por outro. lado, a críticanao seria possível sem a descoberta da diferença entre fato e ficção,ou verdade e falsidade. Tal o motivo por que mitos ou ficções nãodevem ser excluídos do mundo 3. E, dessa maneira, somos levadosa incluir nele a arte e, na verdade, todos os produtos humanos emque tenhamos injetado algumas de nossas idéias e que incorporemo resultado da crítica  (em sentido mais amplo que o de crítica meramente intelectual). Nós próprios podemos ser incluídos nele,por termos absorvido e criticado idéias de noSsos predecessores e portermos procurado formar-nos- e no mundo 3 podem também serincluídos nossos filhos e discípulos, nossas tradições e instituições,nossos modos de vida, nossos propósitos e nossas finalidades.

Um dos grandes equívocos da Filosofia contemporânea é o denão reconhecer que essas coisas — nossos filhos — , embora produtosde nossa mente e embora se apoiem em nossas experiências, subjetivas^apresentam, a par disso, um lado objetivo. Um modo de vida podeser incompatível com outro, quase no mêsmo sentido em que umâteoria possa ser logicamente incompatível com outra. Essas -incompatibilidades aí estão, objetivamente, ainda que nao demostípôrQelas*-

E^rtambém nossos propósitos e finalidades, à semelhan^aíii?ae|4nóssasíiteorias, podem conflitar e serem comparados e discutidos .criticámèftté? •

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•i ,Die sua parte, a abordagem subjetiva, especialmente a teoriasubjetiva do conhecimento, trata os objetos do mundo 3 — mesmoaqueles em sentido mais restrito, como problemas, teorias e argumentos críticos — em . termos* de meros enunciados ou expressões

do sujeito cognoscente. Essa abordagem aproxima-se muito da teoriaexpressíonista da arte. De modo geral, eficara a obra de um homeminteiramente ou principalmente como expressão de seu estado íntimo ;■e coloca, a auto-expressão como objetivo.

Procuro substituir essa maneira de ver a relação entre o homeme sua obra por uma concepção muito diferente. Admitindo que o

mundo 3 surge conosco, acentuo sua considerável autonomia e aenorme influência que tem sobre nós. ; Nossas mentes, nossos eus,

não podem existir sem o mundo 3; estão enraizados nele. À interação com o mundo 3 devemos nossa racionalidade, a prática dopensamento crítico e autocrítico, e o agir: Devemos-lhe nosso desenvolvimento mental. E devemos-lhe nossa relação com nosso trabalho,com nossa obra, e as repercussões que isso tem sòbre nós mesmos.

Sègundo a concepção expressionista, nossos talentos, nossos dons, 

talvez a maneira Como fomós criados e, pois, “ nossa personalidadeintegral’? determina o que fazemos. O resultado é bom ou mau,conforme sèjamos ou não personalidades bem dotadas òu interessantes.

Em contraposição, sugiro que tudo depende do toma-lá-dá-cáentre nós próprios e nossas tarefas, nossa obra, nossos problemas,nosso mu?>do 3; da repercussão desse vjpundo sobre nós; da reali-mentação que pode ser ampliada pela trítica do que . tivermos feito.Ê através da tentativa de encarar objetivamente a obra realizada

 — isto é, de vê-la criticamente — e de aperfeicoá-la, através dainteração entre nossas ações e seus resultados objetivos, que podemostranscender nossos talentos e transcender-nos.

O que se dá com nossos filhos dá*sé com nossas teorias e, emúltima análise, com toda obra por nós realizada1: os produtos setornam independentes >de quem os fez. De nossos filhos ou denossas teorias podemos retirar mais conhecimento do que o que lhescomufiicamos. E é assim . que podemos libertar-nos do pântano denossa ignorância; e. contribuir para o mundo 3.

Se estou cèrtoyem minha, conjectura de que só nos desenvolvemos e nos tornamos ;nós próprios em interação com o mundo 3,então o fato. de que todos nós podemos contribuir para ele, ainda

que pouco, servirá de confprto para - quantos sintam que, lutandocom as idéias, encontraram mais felicidade do que teriam jamaismerecido.

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As abreviações usadas nestas Notas refèrem^se;.ài:BÍbÍÍo^^ajj:u/ ./';//:Vjiy/' Selecionada que as 'acorií&Èútóa”/V;{ rr_:'-'j;

1. Faz-se alusão à conversa na qual Cristiano. VIII<sas opiniões de Kierkegaard a respeito de como deve/„íçon4^ifr|e4i,uin;B^ii?:. Kierkegaard disse coisas tais como: “Em primeiro lu gar^ é^âb^X^uçifrõr^rei fosse feio." (Gristiano V II I tinha muito boa aparências); fl-Mèpóisjbiele  deveria ser surdo e cego, ou pelo menos comportar-se, çomo.; se ;,o jfasse --.pois ; que isso afasta muitas dificuldades; ( . . . ) Enfim, não. .dev^ri^f al r.^demá-,. siado, mas recorrer a um pequeno discurso-padrão, que pudesse •[ ser. . usadò em todas as ocasiões, um discurso, portanto, sem conteúdo.” (Franciseoi jé.sé.. costumava dizer “Foi interessante, agradou-me . muito.” — “Es -^aryíséhr. schon, es hat ipich sehr gefreut.” ) - ' V T-s;

2. O caso- surgiu quando eu trabalhava com crianças. Um : .dos meninos pelos quais eu era responsável havia sofrido uma queda.de um,andaime! fraturando o crânio. Fui. absolvido porque tive como provar que, por meses, havia pedido às autoridades que removessem o andaime, ao qual eu,,consi/t derava perigoso. (As autoridades teptaram culpar-me, procedimento que o 

 juiz. verberou com palavras severas.)

3. Ver Otto Weininger, Gesch l ech t u nd Cha ra k te r  (Viena: Braumii.1.7lér, 1903), p. 176: “Todos os teimosos, de Bacon a Fritz Mauthner, foràiri

.críticos da linguagem.” (Weininger acrescenta que deveria pedir desculpas a Bacon por associá-lo, nesses termos, a Mâuthner.) Comparar esse pontocom T r a c t a t u s  , 4.0031.

4. Cp. n.-57 ao cap. 12 de O. S . Í1945 (c ) ] , p. 297; [195Ò- (a)J,p. 653; [1962 (c )], [1963 (1)3 e edições posteriores, p. 312.

5. Roger Martin du Gard, J JÊtè 1914 ;  versão inglesa de StuartínGil- bert, Summer , 1914  (Londres: John Lane, The Bodley Head,. 19.40). '

6. O problema alcançou recentemente um novo estágio, graças : à obra de Abraham Robinson acerca do infinitamente pequeno; ver .Abrahâm-vRo  binson, Non-s tandard .Ancdys is  (Amsterdã: North-Holland PubliáKing^lâomr pany, . 1966).

7. O termo “essencialismo” (hoje de ainplo uso) .e^pçejalméi^.4f|ugs. 

aplicações a def i n ições   (** def i n ições essenci dl i sta s ” ) foram,itMto-^quantp^iêUf  saiba, pela primeira vez empregados ná seção 10 - de.-ver,, espec., pp. 94-97; [1957 (g ) ] e edições .p0stenoi^£í p jp j^

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meu O. S., vol. I [1945 (b ) ] , pp. 24-27; e volv II [1945 (c ) ], pp. 8-20, 274-86; [1950 (a )], pp. 206-18, 621-38; [1962 (c )], [1963 (1)], e posteriores edições: vol. I, pp. 29-32; vol. II, pp, 9-21, 287-301. Há uma referência, na página  202, de De f i n i t i o n , de Richard RobiriSon (Oxford: Oxford University Press, 1950), à edição de 1945 de meu O. 5. [1945 (c ) ] , vol. II, pp. 9*20; e o que 

ele diz, por exemplo, nas, pp. 153-57 (cp. os "enunciados” na p. 158) e também nas pp.; 162-65, é, sob alguns aspectos, muito semelhante ao quedigo nas páginas de meu livro, á que ele se: refere (embora a observaçãoque ele faz na p. 71, acerca, de Einstein e da simultaneidade, não esteja deacordo com o que digo em [1945 (c)], pp. 18 e s., 108 e s.; [1950 (a )], pp. 216 e s., 406; [1962 (c)J e [1963 (1 )], vol. II, pp. 20, 220). Ver ainda Paul Edwards, org., Th e Encyc l oped i a of p hílosopk y  (Nova Iorque: Mac-millan Company e Free Press, 1967; Londres: Govol II, pp. 314-17. O “èssenci a l i smo"  é aí longamente examinado no verbete principal Def i n i ção  (na Bibliografia faz-se referência á Robinson).

7a. (Acrescentada durante as provas.) Por sugestão de Sir John 

Eccles, introduzi recentemente uma alteração na terminologia,, passando, a falar em mundo 1, mundo 2 e mundo 3, em vez de primeiro, segundo e terceiro mundòs. Quanto à minha terminologia anterior, ver [1968. (r ) ] e [1968 (s ) ] ; qüanto à sugestão de Sir John, ver seugFac i ng Rea l i t y   (Nova Iorque, Heidelberg •. e Berlim: Springer-Verlag, 1970}p A sugestão ' chegou demasiado tarde para ser incorporada ao texto original deste livro * só tendo sido possível acolhê-la em um ou dois pontos. (Acrescentado em 1975: tornei a examinar a ‘questão até .certo aponto.) Ver, ainda, n. 293, adiante.

8. At ínua l ph i t bsòph íca l Lect u r è, British Açademy, 1960 [1960 (d)3, [1961 (f)]; republicado'éni C. &  /?: [1963 (a ) ]; ver, espec., pp. 19 e s. e, também, p. 349, de meu “Épistemology Without a-Knowing Subject” [1968 

(s )] , agora cap. 3 de meu [1972 (a)j . (A tabela aqui reproduzida é uma ligeira modificação da original.)

9. Cp. a 3.a ed. de C. & R. [1969 (h )], p. 28, o ponto 9 ali inserido.(O ponto 9 das edições anteriores recebe agõra o número 10.) . - '

10. Nem mesmo Gottlob Frege o enuncia explicitamente, embora suadoutrina esteja por certo implícita em seu “Sinn und Bedeutung” ; ele chega mesmo a oferecer, ali, argumentos em apoio dela. Cp. Peter Geach e Max  Black, orgs., Trans la t i ons f r om t he Ph i l osoph i ca l Wr i t i ngs o f Got t l ob F rege  (Oxford: Blackwell, 1952), pp. 56-78.

1.1/ Cp. meu artigo “Quantum mechasics without 'theObserver ”

[1.967 (k )]; ver espec. pp. 11-15, onde esse problema é examinado, (Assinale-se, de passagem, que, ali, essa equivalência particular é questionada.)

12. Dificilmente se poderia dar uma. tradução em prosa (Parmênides, Fragmentos 14-15): *

‘ Brilhando na noite, com luz alheia, em torno da Terra, vai vagando sempre melancolicamente em busca dos raios do Sol.

13,. Gottlob Frege sugere — erroneamente, creio eu — em “Der Ge-danke”, Bei t rãg zur Phi l os. d. d eut schen Id eal i smu s, 1 (1918-19), 58-77(excelentemente vertido para o inglês por A: M. e Marcelle Quinton, sob o título “The Thought: a Logical Enquiry”, M i n d , n. s., 65 [1956], 289-311, que somente  dos aspectos emocionais da fala é “quase impossível uma tradução perfeita { v o l l k ommene )  ” (p. 63; p. 295 da versão) e que “quanto mais estritamente científica uma apresentaçãü, tanto mais fácil de traduzir”

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{ i b i d . ) . Ironicamente, Frege prossegue, dizendo com muita, correção, que nao faz diferença, para qualquer confceúdo;jde pensamento, qual dos quatro sinônimos alemães de “cavalo” (.Pfe r d ^ Rossy -Ga u l , Mãh r e:::—- são diferentes um do outro apenas no conteúdo emocional; ;Mãh r ey  em:>particular, não  pr ecisa ser , em todo contexto, umaégua) seja^sadokem-squalquer formulação. 

Não obstante, esse pensamento... deEnege, ^(ÊonGeitd BiniÉles -e destituído de caráter emocional, é, segundo parede, rimpQSSíyer;4detí;tíadüzir paráív.a,.Jíngua inglesa, porque, .no inglês, nao hávfferês jb0hsv:isittôhiinp.sv.ipàras! a«palavra /lorrâ ( “cavalo” ). O tradutor teria,. .portanto, .de^sè^tEarisfò^procurando alguma palavra j^iesa-fç09nutn4^üè::-' diâitísse<^très^mô|umò)s:4i'ader.- quados — preferivelmente com.; ^^'ciaçõ«5;.£^c[j|[v^.^u^:^c^ü^^.daramên.te.: diversas. ■=

14. Cp., por exemplo,- seção 37 de mirihá' L i d íF:  ’|jÍ934 (b )], [1966(e)3 e edições posteriores; e, aiiida^iLv Sei ”Iíil'Il:959í'”,(--ái)'’!lv'e<,fedii5Ões 'postèfíò'4- .res. O exemplo que eu tiiiha em. ,mente eraó£dò?;.desvioírgfáyitaG.ionál::=;parào vermelho. . ■. :Sí'. - ■ :

15. Para essa idéia e para a citação; , ver -seção’: 6 ’!de: mmhá^ L.d.^í[1934 (b )]j p. 13; [1966 (e)J, p. 15: “Sie sagên úm sò mèhr,Tjè'.melir siej verbieten” ; L. Sc. D. [1959 (a )] e edições posterioiièSí^p^í^l^^^ièwántoV^máMV proíbem, mais dizem.” A idéia foi acolhida por Camápj\rià'íseçaé'-S2à}: de;>sua/ I n tToduc t ion to Seman t i cs  (Gambridge, Mass.: Harvard\■■Ürii v ersii,y Press^1942); ver, espec., p. 151. Nesse livro, Carnap atribui tal idéiâ:ía WiUgeri s i tein, “devido a um engan.o de memória”, como ele próprio : diz riá !éeção -7.3: de suas Log i ca l Founda t i ons o f P robab i l i t y  (Chicago: University of -Chicago Press, 1950), p. 406, onde a atribui a mim. Ali escreve Carnap: ‘XKpòdér assertivo de uma sentença consiste em ela excluir certos casos possíveis*” Devo agora acentuar que esses “casos”, na Ciência, são teor ias (hipótesei i) :  de ma i o r ou m enor grau de un i versa l i d ade . (Mesmo aquilo que em L . S c . D .  denominei “enunciados básicos” são, como ali sublinhei, hipóteses, embora de baixo grau de universalidade.) ’ *

16. Ao subconjunto de conteúdo informativo que consiste em enunciados básicos (enunciados empíricos) denominei, em L. Sc. D. , a classe dós “falseadores potenciais” da teoria, ou seu “conteúdo empírico”.

17. Com efeito, não-a  pertence ao conteúdo informativo de a, e a  aò conteúdo informativo de não-a ,: mas a  não pertence a seu próprio contèúdó informativo (a menos que seja uma contradição).

18. A demonstração (que, na forma específica aqui apresentada, mefoi referida por David Miller) é assaz direta. Com efeito, o enunciado “ b oi i t ou am bos ” decorre de “a ou t ou ambos ” se e somente se decorrede a ;  ou seja, se e somente se a teoria í decorre de “ae n ão - b  Contudo,como a  e b  se contradizem (por hipótese), este último enunciado diz o mesmo que c. Assim, “6 ou t ou am bos ” decorre de “ a ou t ou ar nbos”  see somente se í decorre de d; e isso, por pressuposição, nãoacontece.

• 19. J. W. N. ‘Watkins, H obb es3s System of I dea s  (Londres: Hut-chinson, 1965), pp. 22 e s.; 2.a ed. 1973, pp. 8 e s.

20. (Esta nota achava-se originalmente integrada ao texto. Tudo isso pode ser facilmente enunciado, mesmo que nos venhamos a--restringir 

a apenas uma das duas idéias de conteúdo até agora ex ami n ad as, Tó rri â-se  ainda mais claro em termos de uma terceira idéia de conteúdo, .fouseja, a 

• idéia do conteúdo-prob lema  de uma teoria.

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Acòmpanhando uma sugestão de Frege, podemos introduzir a noção de um problema sim-ou-não, oii, abreviadamente;, um problema y :  dado umenunciado a  digamos, “A grama é verde” ), o problema y  correspondente ( “É a grama verde?” ) pode ser denotado por “ }/ («)”- Vê-se, de imediato,' 

que y (a ) = y (não-a ) : o problema de saber se a grama é verde eqüivale, qua  problema, ao de saber se não é verde, ainda que as duas perguntas se apresentem diferentemente formuladas e ainda que a resposta “sim”, a uma delas, corresponda à resposta “não” à outra.

Àquilo que proponho denominar de conteúdo-problema de uma teoria t  pode ser definido de uma de duas maneiras equivalentes: (1) é o conjuntode todos aqueles y { a )   para os quais a  é um elemento do conteúdo lógico de t \ (2) é o conjunto de todos aqueles y { a )   para os quais a  é um elemento do conteúdo informativo de t . Assim, o conteúdo-problema relaciona-se, de idêntica maneira, aos dois outròs conteúdos, V/'

Em nosso exemplo anterior, N  (a teoria’ de Newton) e E  (a teoria de 

Einstein ) , . y (E )  pertence ao conteúdo-problema de N  e y { N )   aò de E. Se denotarmos por K  (== K i e K 2 e K 3)  o enunciado que formula as três leis de Kepler, restritas ao problema dos dois corpos, então K t  e K t  decorrem de N, mas contradizem E, enquanto K\ e, portanto, K , contradizem tanto N  quanto É. (Ver meu artigo [1957 (i.)], [1969 (k )j, agora cap. 5 de [1972 (a )];e, ainda, [1963 (a )], p. 62, n. 28.) Entretanto, y ( K )   e y {K \ ) , y { K i ) f y ( K i )   pertencem todos ao conteúdo-problema tanto de N  quanto de E  e y ( N )   e y ( E )   pertencem. ambos ..aos conteúdos-problema de K , de K i , de K% ê de K* .

•:.. A circunstancia de y(E), : ' - o problemada verdade ou. falsidade da teoria dei.. Einstein, :pertencer ao-conteúdorproblemâ de X e de N  ilustra o fato de nãóií poder haver :aqui transitívidade. Gom efeito, a questão de saber se a teoria/.do efeitos ótico :.Doppler é verdadeira — ou seja, y ( D )   — pertence ao conteúdo-problema de E , mas não. ao de N. ou de K .

•■Conquanto não haja transitívidade, pode haver um liame: os conteúdos--problema de a e de b  podem ser vistos como ligados por y(c), se y ( c )   pertencer ao conteúdo-problema de a  e também ao de b. Obviamente, os conteúdos-problema de quaisquer. a  e b  podem ser sempre ligados por meio da escolha de algum . c  apropriado (talvez c — a ou b ) ;  assim, o mero fatQ de a  e b  estarem associados é trivial, mas o fato de estarem associados por algum problema particular y { c )   (que nos interessa, ’ por esta ou aquelarazão) talvez não seja trivial e acrescente algo à significância dè a}  de b  

ou de c. A . maior parte dos liames, naturalmente, é desconhecida em qualquer época dada.

21. „ Gottlob Frege, Grundgesetze der Arithmetik   (Iena; H. Pohle,1903) ,’ vol. II, seção 56.

22. Clifford A. Truesdell, “Foundations of Gontinuum •Mechanics5,Ji n Dela i va r e Semi nar in ih e FQund a t i ons o f Phys i cs, org. por Mario Bunge(Berlim, Heidelberg, Nova Iorque: Sver espec. p. 37.

23. Gottlob Frege, “Über Begriff und Gegenstand”, Viertelja.hrssch.rift f . wissenschaf t l iche Phi los. , 16 (1892), 192-205. Cp. p. 43 de Geach e

or5s,‘j Ph i i osoph i ca l IV r i t i ngs o f Got t l ob F rege , pp. 42-55 (ver n. 10, acima).

24. Ver n. *1 à seção 4 [1959 (a).] e edições posteriores, p. 35;[1966 (e )] e edições posteriores, p. 9; e também tneüs dois prefácios.

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25. Os problemas aqui abordados são discutidos .1(embora talvez nãõintegralmente) nos vários prefácios. a L . d . Jfv e. X. Se.. D . Talvez se revista de algum interesse o fato de eii criticar .aüi ;;.qorni_aIgum .pormenor, todo o enfoque da análise da linguagem, o... quer sequeriWseímencionou quando esse livro foi resenhado em M i n d   (ver ainda minha .0réplica...av essajresenha, em n. 243, da seção 33, adiante), embora .:essá ...jrevista 1não.í.jfosse...ò,. lugar, adequado para fazer a crítica e dar4he ..resposta; .a. crítica;,jtaitfepoucb.. .foi .mencionada em outra, publicajção. Pará outras discussões vácé£éá, deJvrproblemas relacionados com o tópico desta digressao,^ver ;as 'referências^ da jn..:‘7, ;na sfeção 6, e minhas várias discussões!" dàs; Iui>^ês/;.!:d^^fíHvà-«efir\argliíriéritatíV.a da linguagem, em C. 6? R . [1963 (a ) ] ,e:. ed ões:V;,|í6s,teriòres; e/’ ainda^[1966 ( f ) ] s [1967. (k ) l , [1968 (r.)] :e ^ E"1968. "(s)Xíi:;r:(:Á-- primeira dêstas constitui agora o cap. 6 e as duas >'últimás:>tté' ‘ (a*) Jv$‘5

Interessante exemplo de uma palaVrã-iÉhaVé:.('êphexés,,,:Tíóf  Tíimeü ’(;Í?5A' de Platão) que foi mal interp^etáda (cô ^? ? jsúèeMÍvá,\;.]^/^j^ptó:^iife‘-igílári3'-deza”, em vez d e -“sucessiva, èm ordem de tempo’5 ou, talyèz;,' “êm^ordém 

adjacente”) porque a teor ia  não foi entendida^^è qué' piodèí. set rmtêfj^rètada em dois sentidos diferentes ( “sucessivamente”;, -no _ teitipój -0U-;vadjaçéátéá^ quando aplicada a ângulos planos) sem afétar >a íeorteiísdé:^Íát:ãoj^féncontriâ^e . em meu artigo “Plato, T imaeus  54 E-55 • A ”M2 950 -\(d^^ ar á-e xe m plo s  similares, ver a terceira edição de C. & R i :  [i969%£hyj^âespeci-;.’pp*í-í'65'é 408-12. Em suma, não é possível traduzir - sèm : tér'òònstantemehtèv%ó ;;espíritò a situação-problema. C. T;:

26. Ver seção IV ao cap. 19 de minha O. "S i  [1945 (c),3^ [19 50 ( a ) le edições posteriores, em torno, da arnbigüidade. da violência; ver também, no. índice, “violência”. . ' • . " 'Ti'.’'

27. Ver, para comentários em : torno de;; todós esses - pontos, T h e P o ver ty  [194.4 (a ) e (b ) ] e [1945; ' ( a ) ] e- Í195-7 (g ) ],re.: ainda éspec. caps. 17 a 20 de O. S. [1945 (c ).], e [1966- (a ) 3- As observações acerca dos trabalhadores de Viena que aparecem■;a: seguir jrio ,texto, .repetem, no fundamental, o que registrei em O. S. in nn. -18 a 22, do cap. 18 e n. 39 do cap. 19.Ver, ainda, as referências feitas em n. 26, acima,acerca de amb igü idade da vi olênci a .

28. G. E. R. Gedye, Fa l l en Bas t i ons  (Londres: Victor Gollancz, 1939).

29. Cp. [1957 (a ) ] , republicado como cap. 1 de C. ® R. [1963 (a )]  e edições posteriores.

30. Gp. Ernst Mach, The Sc ience o f Mechan i cs , 6.a ed. inglesa, com 

uma Introdução de Karl Menger (L a Salle, Illinois: Open Court Publishing Co., 1960), cap. 2, seção 6, subseção 9.

31. A frase sublinhada surgiu pela primeira vez e sua significância foi discutida em [1949 (d ) ] , agora traduzida' para formar o Apêndice a

. [1972 ( a ) ] ; ver também [1957 (i ) e (j ) 3, [1969(k )3, agora cap.5 de [1972 (a ) 3.

32. Albert Einstein, Über d ie spez iel l e u nd d i e . al gemeine relat ivi tãts-  i h eo r i e , 3.a ed. ( Braunschweig: Vieweg, 1918 ) ;  ver espec. cap. 22^ Utilizei minha própria tradução, mas a passagem correspondente aparece na p.' <77  da tradução inglesa a que faço alusão na próxima nota;. Importa . acentuar 

que a teoria de Newton permanece çomo caso-limite da . teoria;.;;des Einstein acerca dà. gravitação. (Isso to^na-se particularmente claro quandó a -teoria de Newton é formulada de maneira “relativística geral”- ou “coyariánte”y

< 0 ,11

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tomando- a velocidade da luz como infinita [c = oo]. ' Isso foi demonstrado por Péter Havas, “Four-Dimensional Formulations òf Newtonian Mechanics and Their Relation to the Special and General Theory of Relativity”, R ev i e w s   of M o d e m Ph y si cs  , 36 [19641, p. 938-65.) '

33. Albeft Einstein, R el a t i u i t y : T h e § 0 ^ i a l a n d t h e Gen e r a l T h e or y .

A Po p u l a r Ex p o s i t i o n   (Londres: Methuen &:T Co., 1920), p. 132. (Melhorei

ligeiramente a tradução.)34. L . d . F. [19.34, (b ) ], p. 13; [1966 (e )l e edições posteriores, p.

15; e L . S c . D . ,   [1959 (a )] e edições posteriores, p. 41; ver n. 15 à seção7, acima.

í 35. Cp. Hans Aíbert, Ma r k t s o zi o l o g i e u n d E n t s c h e i d u n g s l og i k    (Neuwied e Berlim: Hermah Luchterhand Verlag, 1967) ; ver espec. pp. 1'49, 227 e" s., 309, 341 e s. A expressão imprópria que utilizei, “estratagema convenciona- lista”, foi substituída por “imunização” ( “imunização contra a crítica” ) nos escritos .de Albert.

(Acrescentado durante as provas.) David Miller chamou-me a aten

ção, agora, para a n. 1, na p. 560, de Arthur Pap, “Reduction Sentences and Dispositional Concepts”, in T h e Ph i l o so ph y o f R u d o l f Ca r n a p ,  org. por Paul Arthur Schilpp (La 5alie, Illinois, Open Court Publishing Co., 1963), pp. 559-97, que antecipa este uso de “imunização” .

36. Gp. cap. 1 de C . &  R .   [1963 (a ) ] e edições posteriores.

37. Para uma discussão muito máis ampla, ver seções 2, 3 e 5 de minhas Rep l i e s .

38. Ver C . &  R . ,   [1963 (a )] e ediçoçs posteriores, cap.- 10, espec. oApêndice, pp. 248-50; cap. U, pp. 275-77; cap. 8, pp. 193-200; e cap. 17,p. 346. O problema foi discutido pela primeira vez por mim na Seção 15 de L. d . F .   [1934 ( b )] , pp. 33 e s.; [1966 (e ) ] e edições posteriores, pp. 39-41; L . S c .  D. [1959 (a ) ] e edições posteriores, p. 69 e s. Uma discussão razoavelmente ampla de certas teorias metafísicas (em tórno do determinismo e indeterminismo metafísicos) encontra-se em meu artigo “Indeterminism in Quantum Physics and in Classical Physics” [1950 (b) ] ; ver espec. pp. 121-23.

39. Ver pp. 37 e s. de C . & R .   [1963 (a ) ] e edições posteriores.

40. Ver [1945 (c )] , pp. 101 e s.; [1962 (c ) ] e edições posteriores, *vol. II, pp. 108 es.

41. Ver Imre Lakatos, “Changes in the Problem of Inductive Logici n T h e Pr o b l e m o f I n d u c t i v e L o g i c ,   org. por I. Lakatos (Amsterdã; North-Holand Publishing Co., 1968), pp. 315-417, , espec. p. 317.

42. Não parece haver qualquer depèridência-tempp sistemática, comohá no aprendizado de sílabas sem significado^' ■

43. Cp. C. Lloyd Morgan, I n t r o d u c i i o n t o Co m p a r a t i v e Ps y ch o l o gy  

(Londres: Scott, 1894) e H. S. Jennings, T h e B eh a v i ou r o f t h e L o w e r  

O r g a n i s m s    (Nova Iorque: Colurabia University Press3 1906).

44. Minha idéia da formação de hábitos pode ser ilustrada por uminforme sobre a gansa Martina em Konrad Lorenz, On A g g r e s si o n    (Londres: Methuen & Co., 1966), pp. 57 e s. Martina .adquiriu um hábito consistente em fazer certo desvio na direção de uma janela antes de subir as escadas para o primeiro andar da casa dé Lorenz, em Altenberg. Esse hábito se

originou ( i b i d  p. 57) como típica reação de escape à luz (a janela). Embora essa primeira reação se “repetisse”, “o desvio habitual ( . . . ) tomou-se cadâ

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vez mais curto”. Assim, a repetição não criou tal hábito; e, no caso, tendeu -inclusive a fazê-lo desaparecer lentamente. (Tal vez r. isso fosse algo como. um 

aproximar-se da fase crítica.) -Note-se, de passagem, qué muitas alusões de Lorenz parecera vir em apoio de minha concepção . -de - qüê^os cientistas usam o método crítico —- o método de conjectútas téntativas - de\ jefutãção; Escreve elej por exemplo

( i b i d . ,p. 8 ) “É um bom., exerdciomatutino, para

 um . cientista pesquisador, afastar todos' os^ dias,- antéSpd&-:^C4 fi -RtÍa-! rianhã, uma hipótese de sua predileção/VGontudo^v-a- de'spêitò?:Mi^o^;.|Çiorèâz:!f:parecè. continuar sob a influência do■■:indutivisifio*'^Vel:>''pT ■eXtfj|fit'èí'£/;yf?p;:;-;62.-£ ‘Tô- davia, talvez uma série completaideiihúinèras' rfipe ti çÕès^i^i- / )\- fosáé.rièc es - sária” ; para outra passagem-'em qitfevfètiste •‘‘üM-.-tlàrò r^ro^^itòSâoáêt^SlégiGoi: .ver Konrad Lorenz^ Über r -, ^ U f Uc i ^ ^ .M n d ^ Mèfát h l U^ U^ ^ .èf Ííál úH> ^ y L x i i  -'   que: R. Piper & Co*; 196535'pí^388'^^émi-seinprè'J-:pàreG'è-éíe^dàt-sé^conta. de que, em Ciência, -repetições”- dé^ obsèiVaçõés ' nao Mão: ; cohftriíiá õès 4indu^, tivas, mas tentativas críticas= deVerificar-se. ò''-'próprÍQ''“eomppM^ènto - — : dè surpreender-se a pessoa em erioi. V ê f ainda íadiante, etèxtò.'correspondente. ' - •••7 f- V7 .:?£• •. 7 -i.;•••7 ;

45. -Segundo o O x f o r d E n g l i sh D i c t i o n a r y ,  á expressão “rule, o f trial. and error35 originou-se em ariünética (ver t r i a l ’4 ). \Nòté;se-'~!qu^Morgan nem Jennings usaram- a expressão nó sentido' dé\rtOTtaUvM/$àleátpr2 *' •' (Este último uso parece dever-se a Edward Thorndikè.') r; V. .0

46. A retirada, cega de uma esfera de uma urga não asségüra a àlêà-■toriedade, a menos que as esferas tenham sido bem misturadas na urna. IEcegueira com respeito à solução não precisa, obrigatoriamente, envolvér cegueira com respeito ao problema; pode-sè perfeitamente saber3 por exemplo^ que o problema ê ganhar num jogo retirando uma bola branca.

47. D. Katz, An ima i s a n d Men   (Londres: Longmans, 1937), p. 143.48. Jane Austen, E m m a   (Londres: John Murray, 1816), vol. III,Hnal do cap. 3 (Gap. 39- de algumas edições posteriores). Cp. p. 336 deR. W. Ghapman, org., T h e N o ve l s o f J a n e A u s t e n , 3.a ed. (Oxford University Press, 1933), vol. IV .

49. Acerca dos jogos e seu desenvolvimento, ver Jean Piaget, T h e  

M o r a l J u d g em en t o f t h e Ch i l d    (Londres: Routledge & Kegan Paul, 1932), espec. p. 18, no tocante aos dòis primeiros estágios dogmáticos e ao “terceiro estágio” crítico; ver, ainda, pp. 56-69. Também, Jean Piaget, P l a y D r e a m s ,  

a n d I m i t a t i o n i n Ch i l d h o od    (Londres: Routledge & Kegan Paul, 1962).

50. Algo que* se assemelha a esta concepção encontra-se em S </>rénKierkegaard, Repe t i t i o n  (Princeton: Princeton University Press; OxfordOxford University Press, 1942), espec. p. ex., pp. 77.e s.

51. Joseph . Qhurch, La n gu a ge an d- th e Ri scover y of Reàl i t y  (NovaIorque: Random House, 1961), p. 36. .

52. I b i d . . . .

53. Parece ser essa a explicação óbvia do trágico incidente relativoao alegado plágio de Helen Keller, ocorrido quando ela era ainda--criãriçã-e que muito a impressionou e talvez tenha contribuído para quê elaíJseléèi#;-nasse as diferentes fontes, de , mensagens que lhe chegavam todas 5fio mesmo.'

código. • .54/ W. H. Thorpe escreve numa passagem (para': afrquàl' Arné Re-f:

tersen chamou-me a atenção) de‘ seu interessante livro Lea r n i n g- .and '^1 üsi i nci 

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m AnÍ7nei ls  (Londres: Methuen & Co.,. 1956),^.p. 122 (2.® ed. rev., 1963, p. 135) >.V,*‘Èntende-se por . imitação verdadeira copiar um romance ou outro ato ou enunciado igualmente . improvável, ou um ato para o qual não haja, claramente, uma tendência instintiva.” (Grifado no original.) Não p ode h a ver i m i t ação' sem apur ad as t endênci as i nst i nt i vas pa r a a cópi a em. ger al e  mesmo pa r a a espéci e específ i ca de at o d e im i t ação. Nenhum gravador de fita pode funcionar sem a sua capacidade própria (inata, por assim dizer) de aprender por imitação (imitação de vibrações); e se não lhe fornecemos um substitutivo para a necessidade ou o impulso de usar-lhe as capacidades (talvez sob a forma de um operador humano que deseje  que a máquina faça uma gravação e  a reproduza), ela não imitará. Isso parece verdadeiro até mesmo rio caso das formas mais passivas  de aprendizado por imitação que me ocorrem. É naturalmente correto dizer' que só devemos falar de imitação caso o ato a ser imitado não seja umUi daqueles que o animal A  realizará pór simpies instinto, sem que o mesr^o ato haja sido realizado anteriormente por outro animal B , na presença de A . Haverá casos, entretanto, 

em que teremos razões de suspeitar de que A pode r ia  praticar. o ato —  talvez num estágio posterior — sem imitar B. Deveremos afastar a idéia de imitação verdadeira no caso de o ato de B  ter levado à prática do ato deA. (muito) mais cedo do que teria ocorrido em outras circunstâncias?

55. C. & R. [1963 (a ) 3 e edições posteriores, cap. I, espec. pp. 42-52- Alí faço referência, na p. 50, n. 16, a uma tese “Gewohnheit und Gesetzerleb- nis” [Acerca, do Hábito e da Crença nas Leis] que apresentei (inacabada) em 1927 e onde sustento, contra a idéia de Hume, qtie o- hábito .é simplesmente o resultado' (passivo) de associação repetitiva.

56. Isto, até. certo ponto, é semelhante à teoria, do conhecimentoexposta por Platão em Men o   80 B-86 C, mas, naturalmente, apresenta 

dessemelhanças, .57. Penso que este, melhor do que qualquer outro, é o lugar para 

registrar ò auxílio que recebi, ao longo deste trabalho, de meus amigos Ernst Gombrich e Bryan Magee. Talvez não tenha sido tão difícil para Gombrich, pois, embora ele não concorde com tudo quanto digo acerca de música, pelo menos encara com simpatia minha atitude. Mas Bryan Magee, decididamente, não a encara assim. Ele é um admirador de Wagner (a respeito de quem escreveu um livro brilhante, Aspect s of. .W a gn er  [Londres: Alan Ross,. 1968; Nova Iorque: Stein &. Day, 19693). Assim, ele e eu estamos, neste ponto, separados tanto quanto duas pessoas .possam estar. Menos importante é o fato de, a seu ver, as seções 13 e 14 conterem reconhecidas 

confusões e algumas das concepções por mim atacadas serem infantis. Naturalmente não concordo com isso; entretanto, o ponto que desejo acentuar é o de que nossa discordância não o impediu de ajudar-me enormemente, nao apenas no que diz respeito ao resto deste esboço autobiográfico, mas tam.bém com respeito às duas seções onde se referem pontos de vista acerca dos quais temos divergido seriamente por múitós anos.

58. Há longo tempo abandonei esses estudos e não posso me lembrar de pormenores. Entretanto, parece-me mais que provável que houvesse certa quantidade de canto paralelo no estágio do Organum , que continha terças e  quintas (contadas a partir do baixo). Suponho que isso dfeva ter precedido o canto Fauxbou rdon .

59. Ver D. Perkin Walker, “Kepler’s Gelestial Music”, Jou rna l o f t he  Wqrbu rg and Cou r t a u l d I n s t i t u t e }   30 (1967), 228-50. Sou grato ao Dpi

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Walker por me haver chamado a atenção para r a passagem citada no texto. Ela foi colhida em Kepler, Gesamm el t e .Wer k e f o rg . por Máx Caspar (Munique, 1940), vol. V I, p. 328. A . passagem é citãdá; eirfâ latim por Walker, “Keplers Gelestial Music”, pp. 249 e da»dáiele^üiha^vtradução inglesa.

A tradução que utilizo é minha, (Traduztii y .u t u m i r ü m a r r t p l i u s n o n . si t    __ 

“there is no marvel greater or more sublima” ,* u t , l ud eçetb [ — .that he shouíd enact”] = “that he should conjure; up^ a^jvision : o quadqmtenus de -  gustera t — “that he should almost” [ “taste;=?or touch orrií^reach”.') -De passagem, não posso concordar em que ^ ;.hâimonia;.das,:ies£ejai/i:dei PIatão,‘;-fosse monódica e consistisse “tão-sorriehte .em escalãs”,-;1(cpi2uyV5alIter “Kepler’s Celestial Music”, n. 3 e texto); Vko contrário,? PlatãcP esíorçárse pórrevitar que seja dada essa interpretação às 'suas :p:alàvrâsl - f f l k r ; ' ;  p.éx;^ Repúbl ica , ’6Í’7Jfiy- onde cada uma das oito sèféiàé cantarümaimelodiã única, tàl: que,~;do‘ conjunto das oito, “emerge a concórdia defumai: hármoniàHimca^íTtmeu; 35B-36B e 90D, devem'ser in te rp re tad os lu z ': desáâ. passagem/>Relevànte sé táinbém 

Aristóteles, D e Sensu, V II, 448 a 20! e ss^r.onde“?sao 'examinadas ■fasc ôneeE>çõès: .de “alguns autores a respeito de concórdia”/ .escritores' que r-"dizem-:V.qué1'as sons não chegam simultaneamente, mas apenas- pa rece : ,  qué ocorre'-íãssím” ,)Ver também, a respeito, do canto em oitavas, os P r o b l e m a s    .de Aristóteles, 918 b 40, 919 b 33-35 ( “mistura” ;, “consonância” ), e 9 2 1 - -(verrèspec. 921 a 27 e s.). '

60.  Aludi, a esse relato no cap. 1 dé C . & R .  t l963 (a ) '3; e èdiçõesposteriores, £im da seção VI, p. 50. :,í ■' T : í; :

61. Só anos depois dei-me conta de . que, indagando “como épossíVela Ciência?”, Kànt tinha era mente a teoria de Newton, à qual acrescentava

sua própria e interessante forma de atomismo .(que lembrava a de Boscovich); cp. C . &  R . ,   cps. 2, 7 e 8, e meu artigo “Philosophy and Physics” [1961 (h )l ;

62. Para essa distinção (e para uma distinção mais sutil, ver C. &  R :  

[1963 (a)J , cap. 1, sec. v, pp. 47 e s.

63. Albèrt Schweitzer, J . S . B a c h    (Leipzig: Breitkopf und Hartél,1908);. publicado inicialmente em francês, 1905; 7.a ed., 1929; e nòvà edição inglesa (Londres: A. & G- Black, 1923, voi. I, p. 1). Schweitzer aplica  o termo “objetivo” a Bach e “subjetivo” a Wagner. Eu concordaria em que Wagner é muito mais “subjetivo” do que Beethoven. Não obstante, talvez eu deva dizer qúe, embora admire muito o livro de. Schweitzer (especial-: merite seus excelentes comentários acerca do fraseado dos temas de Bach), não posso absolutamente concordar com uma análise do contraste entre músicos “objetivos” e “subjetivos” em termos da relação do músico para com seu “tempo” ou “época”. Parece-me quase certo que, nesse, ponto, Schweitzer está sob a influência de Hegel, cuja opinião a respeito de Bach o impressionou. (Ver i b i d . , p p .   225 e s. e n. 56, na p. 230. Na p. 225 ÍYol.I, p. 244, da edição inglesa], Schweitzer relata, com base nas memórias deTherèse Devrient, um encantador incidente envolvendo Hegel e que não lhe é muito lisonjeiro.)

64. O primeiro [1968 (s ) l foi uma exposição feita em 1967 e inicial* mente publicada em L o g i c  , M e t h o d o l o g y  ' a n d P h i l o s o p h y o f S ci e n c e  , vol; III, 

pp. 333-73; o segundo ÍÍ968 ( r ) ] foi publicado pela primeira vez em Fro- c eed i n g s o f t h e X íV t h I n t e r n a t i o n a l C on g r e ss o f Ph i l o s o p h )>, V i e n a , 2 - ,a 9   

d e s et e m b r o d e 1 9 6 8 ,  vol. I,' pp. 25-53. Esses dois artigos são agora, respec->: tivamehte, os caps. 3 e 4 de [1972 (a ) ] . O terceiro ártigò [Í967 (k)Oylcita-- do no texto, figura em Quantum  T e o r y a n d R ea l i t y .   'Vérptambémj -meus

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livros L . d . F  . e L . S c. D . ,   seções 29 e 30 [1934 (b ) ] , pp. 60-67; [1966 (e)ü e edições posteriores, pp. 69^6; [1959 (a ) ] e edições posteriores, pp. 104-11; e meu livro C . & R .   [1963 (a) ], espec. pp. 224-31; bem como meu artigo “A Realíst View of Logic, Physics and History:x. [ 1970 (1 )], rn Ph y s i c s, L o g i c   

a n d , H i s t o r y ,   agora cap. 8 de . [1972 (a )] .

65. Ver meu livro O. S . ,  vol. I [1945 (b)3, pp. 26, 96; vol. II [1945(c )] , pp. 12 e S.; Ü952 (a ) ] , pp. ,35, 108, 210-12; 11962 (c )] ,' [1963 ( í ) ]  e edições posteriores, vol. I, pp. 3,2, 109; vol. II, pp. 13 e s.

65a. (Acrescentada em 1975). O mesmo vale para as teorias exp.res- sionistas ou emotivas de moral e, de juízos morais.

66. Ver também a última seção de meu artigo “Epistemology Without a Knowing- Subject” [1968 (s ) ], pp. 369-71; [1972 (a ) ] , pp. 146-50.

67.  Citado por Schweitzer, /. S . Bach,  p. 153.68. Arthur Schopenhauer, D i e W e l t a i s W i l l e u n d Vo r s t e l l ü n g    [O  

Mundo Como Vontade e. Representação], vol. II (1844), cap. 39; a segunda citação é do vol. I (1818 [1819]), seção 52. Note-se que. a palavra 

alema “ W o r s t e l l u n g ” é. simplesmente a traduçãodo vocábulo “ I d e a ”    de. John Lockc.

69. Em alemão: “ ei n e ca n t a b le A r t i m S p i e l en z u e r l a n g en ” .

70. Platão, I o n ;    cp., espec., 533D-536D.71.  I b i d . . ,  534E.

72. Platão,  j o n j   535E; cp. 535C.

73. Ver também - mèu artigo “Self-Reference and Meaning in OrdinaryLanguage” [1954 (c)Í-# que agora constitui o ca!p. 14 de C. &  R .   [1963 (a ) ] ;  e o texto correspondente à n. 163 de meu Rep l i e s , i n    Schlesinger, org., T h e  p h i l o so p h y o f K a r l P op p e r :    La Saile, 1974! (Argumentos no sentido de

mostr.ar que anedotas a respeito de si mesmos são impossívéis encontram-se em Gilbert Ryle, T h e C o n c e p t o f M i n d    [Londres: Hutchinson, 1949], p- ex., nas pp. 193-96; Peregrin Books ed. (Harmondswórth: Penguin Rooks, 1963), pp. 184-88. Penso que a observação de Ion é (ou implica em) “uma critica de si mesma”, o que, segundo Ryle, p. 196, não seria possível.)

74. Platão, I o n , 541E-542B.

75. Ver O. S .  [1945 (b ) e ( c ) ] e edições posteriores, nn. 40 e 41 ao cap. 4, e texto correspondente.

76. Ernst Gombrich lembrou-me o “para fazer-me chorar, você mesmo deve sofrer, primeiro” (Horácio, A d Pi s on e s,  103 e s.). Naturalmente, é admissível que Horácio tenha pretendido apresentar, não uma concepção 

expressionista, mas a idéia de que somente o -âftista que, já sofreu é capaz de julgar criticamente o impacto de sua obra. Parece-me provável que Horácio não tinha consciência da; diferença entre essas duas interpretações.

77. Platão, /òn, 541E é s.

78. No que toca a grande parte deste . parágrafo e a alguma crítica aos paragrafos anteriores, .sou devedor de meu amigo Ernst Gombrich.

Veremos que as teorias platônicas secularizadas (da obra de arte como expressão e comunicação subjetivas e como descrição objetiva) correspondem às. tres funções da linguagem definidas por Karl Bühler: cp. meu [1963 (a ) 3, pp. 134 e s. e 295 e. seção 15.

79. Ver E. H. Gombrich, Ar t and I l lüs ión . (Londres: Phaidon Press; Nova Iorque: Panthéon Books, 1960; última edição, 1972), passim.

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: 80. Veremos que minha- atitude em relação àniúsica assemelha-se às teorias de Eduard Hanslick (caricaturado r•ppTv'íWâgíieí':-::cbind-VBêcktóêsi5et1'), um crítico de música de grande-influência ^m : Viêna, : Ué -escrèVeüf íuró’ liVro contra Wagner : ( Vom Musik a l isch -SckÔnèh  rtliéipízagí; Weigèíy ; ;1854]traduzido por G. Cohen, da rev- ; «éb-^>'-"tí£Üiió-...-dl^ fté: i BéÜúl i f úf r i i n 

Mu s i c   [Londres: Novello and Co.? 1891j;);. Não1 cóndòrtfoV'.porém; com a condenação que Hanslick faz de Brucknér,: o. qua], embora àdmirasse Wagner, era, a seu modo, um músico tão; admirávelPquantO^Beethovèn (que é,T;por vezes, erroneamente acusado de :i,desêtièstida:de )-.ríí Interessante ’é que "fWagner se tenha deixado impressionar,.ígrandemente;t.j3or^Sçhopenjhauer^-!-—. por O  Mu n d o Com o Von t a d e e- Repr esen t .áção^  —^e^que; Sfchopenhauer -tenha, escritó.j em Parerga , vol. II, seção 224' (originalmerité/jJubHcado.Vem' 185.1, quando Wagner começava a trabalhar na música ^deJ/O Ànél ) ]' ^Podèjse ' dizer que a Ópera tem sidò a' pèfdiçaõ^ .dá ^música f rÉlé -se;?féferia^;natoral^ente,'- a ópera recente, emborà séuá^Wgüínèritos pareçam- múitó ' gérais^^^íha^Verdacle, demasiado gerais.) ■ - -■ - -

81- Friedrich Nietzsche, De r Fa l i Wagne r   [O Gaso ' de; Wagnér] • (JLelp- zig: Í888) e Nie tzsche con t ra Wagner , ambos traduzido'srfe?.inclmdos ;em. .Th e  Comp le te Works o f F . N ie tzsche ;  org. por Oscar. Levy (Ediniburgo^e. Lònr dres: T. N. Foulis, 1911), vol. V III . ' ~

82. Arthur Schopenhauer, Pare rga , võl. II, seção 224. '

83- Karj Bühler,X>ie Ge i s t i ge En tw i ck l ung des K indes  (Iena: ;.Fischer,1918; 3.a ed., 1922); versão inglesa, T h e Mên t a l Develop m en t of th e ,. Ch i íd (Londres; Kegan Paul, Trench Trubner & Co., 1930). Para as funções, da linguagem, ver também a sua Sp rach theo r i e  (Iena: Fischer, 1934); ver espec. pp. 24-33.

..84. Talvez caiba dizer aqui uma palavra acerca da teoria higiênica da arte, elaborada por Aristóteles. A arte tem, sem dúvida, uma função biológica ou psicológica, como catarse; nao nego que a grande música possa, em algum 

. sentido, purificar nossos’ espíritos. Entretanto, estará a grandeza de uma obra de arte resumida no fato de ela purificar mais do que uma obra menor? Creio que nem mesmo Aristóteles teria dito isso.

85. Cp. C.. <S? Ü., T>p. 134 e s., 295; Of Clouds and Clock s  [1966 (f)3, agora cap. 6 de [1972 (a).], seções’ 14-17 e n, 47; “Epistemolôgy Without a Knowing Subject” [1968 ( s ) ] , espec. sec. 4, pp. 345 e s. ([1972 (a ) ] ,

. cap. 3, pp. 119-22) .

• 86. Leonard Nelson foi uma personalidade marcante, um dos membros do pequeno grupo de kantianos da Alemanha que se opôs à Primeira Guerra Mundial e que' sustentou a tradição kantiana de racionalidade.

87. Ver meu artigo “Július Kraft, 1898-1960” [1962 (QJ.

88. Ver Leonard Nelson, “Die Unmõglichkeit der Erkenritnisthéorie”,Proceed i ngs o f the I V t h In t ern a t iona l Congress o f Ph i l osoph y ; Bolonha , 5 a TI  de abr i l de 1911  (Gênova: Formiggini, 1912), vol. I, pp. 255-75; veí^;também L. Nelson, Über das Sogenna n té Erk enn tn i sp r oblem  (Gõttingen: Vãn- dènhoeck & Ruprecht, 1908). .

•89. Ver Heinrich Gomperz, Wel tanschauungs leh re  (Iena ;e.: Leipzlg;: Diederichs, 1905 e 1908), Vel. I e Vol. II, parte 1. Gompei&vâissè^e-.-qiie havia completado a segunda parte do Vol. II, mas que decidif^iião;^jv$ãd publicá-la, como abandonar os planos de publicáção de diitrosíi Volúmeá/í jíDs

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^piumês^pubjieadós^jforám .frniagixificametjte planejados e executados e não•• trabalho, cerca de 18 anos antes de eu 

:\c^nhei^U0^ (||í^ãiiiéntè .«|er. tiyera uma. experiência trágica. Num de seus : ú j i i n i o à Sinn un d S in ngebt ld e- Vers t ehen un d Erk lãr en  (Tübin- 

gen: Mohr, -19.29);; refere-se à sua anterior teoria dos sentimentos, esp. p. í206 .Ve-.-s. ÍPara seu enfoque psicológico — que ele denominava “patémpi- TÍ 5Íj S ”i $ {pa .t jkêpi pÍTÍsmus)  e què dava ênfase ao papel dos sentimentos ( Ge - .f ühíei p : no ..conhecimento — ver espec. Wel tanshauungs lehre , seções 55-59 (voL ríl, pp. 220-93). Cp. também seções 36-39 (vol; I, pp. 305-94).

90. Karl Bühler, “Tatsachen und Probleme zu einer Psychologie der Benkvorgãnge”, Arch iv f . d. gesamte Psycholog ie , 9 (1907), 297-365; 12 (1908), 1-23, 24-92, 93-123.

. 91. Otto Selz, Uber die Gesetze des geordneten Der ikver laufs  (Stut-tgart: W. Spemann, 1913), vol. I (Bonn: F. Gohen, 1922), vol, II.

92. Oswald Kiilpe, Vor lesungen über Log ik , org. por Otto Selz (Leip- zig: S. Hirzel, 1923).

93. Erro semelhante encontra-se mesmo nos P r i n c i p i a Ma t hema t i c a , , pois Russell deixou de estabelecer, às vezes, distinção entre uma inferência (implicação lógica) e um enunciado condicional (implicação material). Esse ponto cònfundiu-me durante vários anos. Entretanto, a questão básica — a de. que uma inferência era um conjunto ordenado de sentenças — já estava suficientemente clara pará mim em 1928, a ponto de eu mencioná-la a Biihler por ocasião de’ minha defesa pública da dissèrtação doutorai. Bühler, de maneira muito delicada, afirmou que não havia pensado a. respeito da questão.

94. Ver C. & R . [1963 ( a ) ] , pp. 134 e s.95. Encontro agora argumento similar em Konrad Lorenz: “ ( . . . )

ocorrem modificações ( . . . ) apenas em ( . . . ) locais onde mecanismos inatos de aprendizagem se acham filogeneticamente. programados para a execução dessa precisa função”. (Ver Konrad Lorenz, Evo l u t i o n a nd Mod i f i c a t i o n o f   Behav iour  [Londres: Methuen & Co., 1966], p. 47.) Mas Lorenz não parece retirar daí a . conclusão de que as teorias da reflexologia e do reflexo condicionado não são válidas: ver especialmente i b i d  ., p. 66. Ver também seção 10 acima, espec. n. 44. poder-se-ia enunciar a principal diferença entre psicologia da associação ou teoria . do reflexo condicionado, de um lado, e 

descoberta por tentativa e erro, de outro, dizendo que a primeira é essencialmente lamarckiana (ou “instrutiva” ) e a última darwiniana (ou “seletiva” ). Ver, por exemplo, as investigações de Melvin Cohn, “Rèflections on a Dis-  cussion with Karl Popper: The Molecular Biology of Expectatioris", Bu l l e t i n  o f the A l l - I nd ia Jns t i t u te o f Med ica i Sc iences , 1 (1967), 8-16 e trabalhos posteriores do mesmo autor. Quanto ao. darwinismo; ver seção 37.

96.' W. von Bechterev, Objek t i ve Psycholog i e oder Psychor ef l exo l og ie  ( l ,a ed. 1907-12), edição alemã (Leipzíg^ e: Berlim: Teubner, 1913); e AUgemeine Grund lagen der Ref lexo log ie des Menschen  (1.® ed., 1917), ed. alemã (Leipzig e Viena; F. Deuticke, 1926); ed. inglesa, Gene ra l Pr i nc i p i es  o f Human Re f l e x o l og i e  (Londres: Jarrolds, 1933).

.97. O título de minha dissertação (inédita) era “Zur Methodenfrage der Denkpsychologie” [1928 (a ) ].

•■■■ 98. Comparar esse parágrafo com algumas de minhas observações em ■PPos*Ç.ão - à Reichenbach, feitas em conferência realizada em 1934 ([1935

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(a )], republicada em tl966 (e )], [4969 '25í) ; ' há =uma tíadução:em L . S c . D . , [1959 (a )] e ediç5es postferic>i:ès,::ppí315 '"As teorias''cientificainunca podem ser 'justificadas' . p j.^ye-i icadas^Mas (-*.-_) uma- hipótesepode ( . . . ) abranger mais _dof.>:quêvv.u m ^ íij^ te^^ .lí(...'. .t ) ‘«SX3.. jm^lhoç que*- •podemos dizer acerca de uma.vhipótese-é\\qUé//.atéjí :..inolmentò«j :'.:''*ir) .: ÍiadseV’ tem mostrado superior a outras r -ser justificada, verificada ou mesmos demoiistrádà^^sua^ainda, o fim da seção 20 (texto contepondéiite;;;àsseção 33, mais adiante. ,; :-r. .. '' - - 

99. Rudolf Garnap, De r , . l ogi sch 'e. ; :Au f , b ,uu ; ; j d e . r l .W  

i n d e r p h i l o so p k i e  : das. 'F r em âp^ ch üch e i ^ u n ãêl d èY^ ^ x ài ^ p ^ ^ j s s j t r j s i i ^  áaity)sem/Oprimeira edição (Berlim :. Wéltkreis-Verlag^ :;íl# jl8 )j^ - dois . 'Íiyrósíreunidos num volume (HãiftSuigo- .' F “' i  T h e L o g i c a l S t r u c t u ré- o f t f c e W o r l d J e ■

dres: Routledge ; & .Kegan;- Paúl,.„. 19.6.7.) v=í

100. Victor Kraftj D i è G r u n d f o r m e n d e r i t ím e n s i H a ^ l i c h éh i ^ M ^ t h òd e T i v .^ Á   (Viena: Academia de Ciências, 1925) / . • r •£;, ' "V; '

101. Ver p. 64t do encantador e informativoensaÍ0 jvdè%HéjrbCTft ^“The Wiener Krejs in America”, in Per spec t i ves in AMer ic< i r v :& is t o i$ y f â hèvv; : Charles Warren Center for Studies in American History, •Harv«rd-''''Uriivfe£sityãti'...'' 1968). Vol, II, pp. 630-73; e também n. 106, abaixo. [Dépóis' dêfindàgkr,;. Feigl sugere que Zilsel talvez se tenha tornado membro, depois .da :emigràçãòv ': ' dele, Feigl, para, os Estados Unidos da América.] ' 'd ^ íV v

102. Herbert Feigl diz ( i b i d . ,   p. 642) que isso deve ter ocorrido éra 1929 e, sem dúvida, ele está certo.

103. Os únicos artigos por mim publicados antes de encontrar Feigl  — . e durante os quatro anos seguintes — versavam tópicos de educação. Com exceção do primeiro [1925 (a )3, (publicado na revista de educação S c h u l -   r e f o T t n )    foram todos ([1927 (a ) ] , [1931 (a ) ] , [1932 (a )3 ) escritos ,á convite do Dr. Eduard Burger, editor da revísta de educação D i e Q u e l l e .

104. Feigl refere-se ao encontro em “Wiener Kreis in America” . Descrevi rapidamente o começo de nossa discussão em C. & R .   [1963 (a ) ], pp. 262 e s.; ver n. 27, na páginá 263. Ver também “A Theorem on Tíuth Content” [1966 ( g ) ], minha contribuição ao F e s t s c h r i f t    de Feigl.

105. Durante essa primeira conversa, Feigl fez objeções a meu realismo. (Nessa época, ele era favorável ao chamado “monismo neutro” , que

eu encarava como idealismo berkeleyano;  e assim continuo a pensar.) Alegra-me pensar que Feigl se tenha tornado também um realista.-

106. Escreve Feigl, “Wiener Kreis in America”, p. 641, que tantoEdgar Zilsel como eu tentamos preservar nõssa independência, “permanecendo fora do Círculo” . O fato, porém, é que eu ter-me-ia sentido muito/: honrado se tivesse recebido convite para ingressar nele e jamais me haveria. ocorrido que a participação no seminário de Schlick pudesse ameaçar, no. mínimo que fosse, minha independência. (Assinalo, de passagem, que ãntes- de ler essa observação de Feigl, eu não me dera conta de que Zilsel :não; integrava o Círculo. Sempre imaginei o contrário, e Victor Kráft‘7 apontará; como um dos membros do Círculo, em seu livro D e r W i e n e r K r e i s    '0Viena: 

Springèr Verlag, 19501; ver p. 4 da tradução T h e Vi e n a C i r c l e    ;[NòVa-Iorque: Philosophical Libraiy, 1953]. Ver também n. 101, acima;); -v<-' ♦-

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107. Ver minhas publicações relacionadas na p. 44doartigo “Quantum Mechanics AVitHòut ‘The Òbserver'” [1967 (k ) ]. ■■

108. O manuscrito do primeiro volume ê partes do manuscrito dessaversão deL . d . F .   cortados por meu tio, ainda existem. O manuscrito dosegundo volume, com exceção de • algumas seções, parece qüe se perdeu. 

(Acrescentado em 1976. O material restante (em alemão) está sendo atualmente preparado por Troels Eggers HanSen para publicação pòr J. C. B.  Mohr ein ‘Tubinga.)

109; Ver, em especial, meu [1971 (i) 1, republicado, com pequenasalterações, como cap. 1 de [1972 (a )].; e também seçãò 13 de meu Re p l i e s .

109a. Ver seções 13 e 14 de meu Rep l i e s .

MO. Ver o artigo de John Passmore, “Logical Positivism”, in E n c y -   c l o p ed i a o f Ph i l o s op h y ,  org. por Paul Edwards^ vol. V , p. 5G (ver n. 7 acima).

111. Essa carta [1933 (a ) ] , foi, publicada pela primeira vezeE r k e n n t n i s ,  3, ns. 4-6 (1933), 426 e s. Ê novamente publicada, em veFsão 

inglesa, no meu livro L. Sc. D. [1959 (a ) ] e ediçõfes posteriores, pp. 321-14, e em alemão, na 2.a e em edições. posteriores.da L . d . F . [1966 (e )l , [1969(e )], etc., pp. 254-56.

112. J. R. Weinberg, A n E x a m i n a t i o n o f L o g i c a l Po si t i v i s m    (Londres, Kegpin Paul, Trench, Trubner & Co., 1936).

113. Para discussão muito mais longa desta lenda, vér seções 2 e 3 de meu Rep l i e s .

113a. (Acrescentada em 1975.) Suponho que esta frase foi um ecode John Laird, R e c e n t P h i l o s o p h y    (Londres: Thornton, Butterworth, 1936), que me descreve como “crítico, mas também •aliado” do Círculo de Viena 

(ver p. .187 • e também pp. 187-90).114-.: . Cp. Arne Naess, Mod e rn e f i l o sof er  (Estocolmo* Almqvist & Wik- 

sell/Gebers Fõrlag AB, 1965); tradução inglesa intitulada Foúr Mode rn  phi losóphers  (Chicago e Londres: University of Chicago Press, 1968). Naess escreve, em n. 13, pp. 13 e s., da tradução, “minha experiência foi muito similar à de Popper. ( . . . ) A polêmica [num livro inédito de Naess] ( . . . )  travada ( . . . ) entre 1937 e 1939, pr-etendia. dirígir-se contra teses e tendências fu ndàment ai s  do Círculo, mas foi entendida por Neurath como propostas de modificações que já estavam aceitas ein princípio, e deveriam tomar-se oficiais em publicações futuras. Tendo7me sido assegurado isso, abandonei, os planos de 

publicar a obra.”114a. Para avaliar o impacto de todas essas discussões, ver nn, 115 a120.

115. Cp. C . &  R .   11963 ( a ) ] , p. 253 e s.

116. Rudolf Çarnap, “JJber. Protokollsãtze”, E r k e n n t n i s  , 3 (1932),215-228; ver espec., 223-28.

117. Cp. Rudolf Garnap, Ph i l o so p h y a n d L o g i c a l S yn t a x ,   Psyche Miniatures (Londres, Kegan Paul, 1935), pp. 10-13, que correspondem a E r k e n n t n i s  , 3 (1932), 224 e ss. Garnap fala, aí, de “verificação”, ao passo que antes se havia referido (corretamente) a mim como falando de “teste”.

118. Cp. G. G. Hempel, E r k e n n t n i s s  , 5 (1935), espec. 249-54, ònde ele descreve (com referência ao artigo de Gamáp “Über Protokôllsãtze” ) meu procedimento em termos muito semelhantes aos empregados por Carnap.

',0

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119. Rudolf Carnap, £r*enntoifiy£p$l«3;il i^  à crítica de Reichenbaçh de L J d. > F . )  ífC.%^empel^ t u ng , 58 (1937), '309-14. (Houve !Hempel.) Menciono aqui. apenas ••asvr&sénHas1 .=•feitas por membros .do Círculo. ' ■■:":•

120.. Hans Réichenbkch, Erkenn tn i ss ,1 S;'} plica à resenha de L»;d . F., preparada •‘por^a in*áp^ã| :.qíi^^a^|^^\á^éü-:i  lado, respondeu, de maneira bréve). Ottoí;? citià»:Üt :5 ^A íi;feÍt2^^55‘Jíí-êí-9*35i.õ*S'-T- 353-65. •’ •.

121. Werner Heisenberg, '*Uber quantentheói-etisfe|jLe ^nematischer und mechanischer Beziehxmgen”, Zèâiè'h r i ^ f ^ r '\ JP -& ^ s0 ^ ò^ ^ í 92 $ ')’i ■ \ 879-93; Max Bom e Pascual Jordan, t(Zur Qüaiké^meciiâM^^ .--.(1925), 858-88; Max Bòm, Wemer Heisenberg ; é : Pàscu^'i|[órâ^j.df;“èufc vQuantenmechanik I I ”, ibid.'3  35 (1926), '557-615. ;Essès^t^^í^ti§ós^aj}kréf- cem traduzidos em Sources o f Quan tum. Machan ics , •org'. ‘ |kii^B:^È::,;f^hvder:V Waerden (Amsterdã: North-Holand Publishing Co., •4.96

122. Para um relatório do debate, ver Niels Bohr^>‘®^u^iôfi;fwitKr ‘Einstein on Epistemological Problems in Atomic Physics”, ' ^ i b e T ^ E i n s j i M ^ '   Phi losopher-Sc ient is t , org, por Paul Arthur Schilpp (EvanstonjV; lílmòis-Í.Li1^brary of Living Philosophers, 1949); 3.a ed. (La Salle, 111O pen4Co/artPublishing Co., 1970), pp. 201-41.. Para uma crítica dás afirmações.;!íéitas-rpor Bohr, durante esse debate, ver meu L . Sc , D . [1959 (a ) ] , novo ApêndiGé* xi, pp. 444-56, L . d . F . [1956 (e ) l e [1969 (e ) ] , pp. 399-441

123. James L. Park e Henry Margenau, “SimultaneousMe.asurability■ in Quantum Theory” , I n t er na t i ona l J our na l o f Theore t i cál Phys i csl  1 (1968),

211-83.',' '

124. . Ver [1957, (e).] e [1959 (e ) J.125. Ve r [Í934 (b ) ], pp.171 e s., [1959 (a ) ] , pp. 235 e s., [1966 (e )!,

pp. 184 e s., [1967.( k )3, pp. 34-38.- '\ -v.

126. A lbe r t E i ns t e i n : Ph i l o sopher -Sci en t i st , pp. 201-41 (ver n. 122, aciina).

127. Ver espec. [1957 (Í ) ] , [1969 (k)J, agora cap. 5 de [1972 (a)-].-; [1963 (h ) ] ; [1966 (£ )] , agora cap. 6 de [1972 (a ) ] ; [1967 (:kj] é

.[1968 (s ) ], agora cap. 3 de [1972 (a ) ] , onde é também republicado,, como. . cap. 4 [1968 ( r ) ] , em que se, pode encontrar um tratamento mais porme

norizado da matéria. /

128. Arthur March, Die-, Gr un d l agen der Qua n t enm echa n i k  (Leipzíg:: Bar th, 1931); cp. o índice de [1934 (b)],,. [1959 (a ) ] , ou [1966 (e )

129. Os resultados aqui apresentados são, em parte, de data posterior e, em parte, de data anterior. Quanto às-minhas mais recentes, concepções, ver minha contribuição ao Festschr i f t  de Landé, “Particle Annihilatiprí ^and the Argument of Einstein, Podolsky and Rosén”, - [1971 (n) ].y ■;.:/f;

130. Cp. John von Neumann, Mat hema t i s che Gru nd l a gen <de rí “ a?l-  . t enmechan ik  (Berlim: Springer Verlag, 1931), p. 170; ou •a••irádiição •t hema t i ca l Found a t i ons of ^ Qua n t um Mecha n i c s  (Princeton: ^Pnricèton^^niV; 

•versity Press, 1955), p. 323. Assim, ainda que o ai^üinentó';^é' Wâf!-' tiifiãunni fosse válido, elé não refutaria o determinismo. Mais ;-AÍnda5-;;-^-?(r^ii^^?;4 ;if!è;II, pòr ele admitidas, nas pp. .313 e s. (cp,. p; 225--' e.r 'Si):5?r .-;iê^^o|.^é#Qãí

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p,i' l67 (cp. p. 118) — são incompatíveis com as relações de comuta tividadé, talTcomo foi pela primeira vez demonstrado por G. Texnpie, "The Fundamental Paradox of. the Quantum Theory”, Na t u r e , 135 (1935), 957. (Que as regras I e II de von Neumanit fossem incompatíveis com a Mecânica 

Quântica foi claramente apontado por R. E. Peierls, "The Fundamental Paradox of the Quantum Theory”, Na t u r e , 136 [19351, 395. Ver ainda Park e Margenau, “Simultaneous Measurability in Quantum Theory” [ver n. 123, acima),) O artigo de John F. Bell é “On the Problem of Hidden Variables in Quantum Mechanics”, Rev iews of Mo d em Phys i cs, 38 (1966), 447-452. '

131. C. S. Peirce, Col lec ted Papers of^Char les Sanders Pei rce, org. por Charles Hartshorne e Paul Weiss (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1935),' vol. V I; ver item 6.47 (inicialmente publiçado em 1892), P- 37.

132. Segundo Schrõdinger, Franz Exner fez a sugestão era 1918: ver Erwin Schrõdinger, Sc ience , Theory and Man  (Nova Iorque: Dover Publi- carions, 1957), pp, 71, 133, 142 e s. (originalmente publicado sob o título Sc ience and Human Temperament  [Londres: Allen and Unwin, 1935]; ver pp. 57 e s., 107, 114); e Di e N a tu r w issenscha f ten , 17 (1929), 732.,

133. Von Neumann, Ma t k ema t i c a l Foúnda t i o n s o f Quan t u m Meck a - nics, pp. 326 e s. (ed, alemã, p. 172): “ ( ; . . ) a aparente ordem causai do mundó, de modo geral ( . . . ) [quanto aos] objetivos visíveis a olho nu) não tem, por certo, outra causa senão a 'lei dos grandes ; números’ e, écom--  pl etament e i n dep end ent e de ser em causais ou , não as leis nat ur ai s qu e gover ~. nam ós processos e l em en t a r es , (Grifo meu; von Neumann. refere-se a 

Schrõdinger.) É claro que tal situação não. tem ligação direta com a Mecânica Quântica.

134. Ver também meu [1934 (b ) ] , [1959 ( a ) ] e edições posteriores, seção 78 (e também 67-70); [1950 (b ) e (c .) ]; [1957 ( g ) ] 3 Prefácio; [1957 (é )] j [1959 (c ) ] ; [1966 ( f ) ] , espec. seçao iv ([.1972 ( a ) ] , cap. 6 );  [1967 (k )] .

135. Essa a concepção que sempre -sustentei. É referida, creio, por Richard von Mises.

136. Alfred Landé, “Determinism versus Continuity in Modern Science”, M i n d , n.s. 67 (1958), 174-81, e F rom . Dua l i sm t o Un i t y i n Quan t um  

Physics  (Cambridge: Cambridge University Press, 1960), pp. 5-8. (A esse argumento denominei “lâmina de Landé” .) Acrescentado em 1975: ver também o artigo de John Watkins, “The unity of Popper's thought”, in Th e  Ph i l osophy o f Kar l Popper , org. por Paul Arthur Schilpp, pp. 371-412.

Í37. Cp. [1957 (e ) ] , [1959 (e).] e [1967 (k )].

138. Por què as partículas não seriam partículas, pelo menos em primeira aproximação, explicáveis talvez por uma teoria de campo? (Uma teoria unificada dos campos, do tipo, digamos, de Mendel Sachs.) A única objeção que me ocorre deriva da interpretação em termos “difusos” das fórmulas de indeterminação de Heiaenberg; se as'^‘partículas” são sempre “di

fusas”, hão são partículas * reais. Entretanto,-' ’èssa "objeção não é cogente: há uma interpretação estatísticá da Mecânica Quântica.

(Depois de escrever o que está acima, redigi uma contribuição para o Festschr i f t dz Landé [1971 (n )l , a que.me referi na n. 12.9, acima. Ê, depois

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disso, li duas notáveis obras, escritas , em. defesa-^da; interpretação estatística-da Mecânica Quântica: Edward. Nelson,, Dynam i c<á..-%heoTÍ€p <wf & & fôt oft iàn*--Md*  t i on  [Princeton: Princeton University. Press, vl96;7J,.pe^&'iE.,:Ballèminêi **‘Tilé Statistical Interpretation of Quantum Mechanics”»-Revi et vs i of ty pd etu ^ Ph ysi cü,42 [1970], 358-81. Estimulante é encontrar ^aigumqapoio^.a^ós^ -ümã-. luta 

solitária de 37 anos.) r‘~r V", ’ ’ ' '139. Ver espec. [1967 (k )]. - - -, - ,

139a. Essá frase foi acrescentada em 1975. .

149. W. Duane, "The Transfer : in; Quanta of 1Radiation Momentum to Matter”, Proceed i ngs of the Na t i ona l Âca d em y^ of ' Sciences  fWashingtón) -9 (1923), 158-64. Póde-se expressar á- íegra -<nos: teíanos^seguirites^ . '

A 'p x '~ :Zn h  / jAj j:To"1 V'- ' ' ' (n^inteiro)

Ver Werner Heisenberg, Th e ‘Phys i ca l Pr i n c i p i es o f Qua n t um Th eo / y ' (Nova Iorque: Dover, 1930), p. 77. ’ ' ^ ; Tls . ‘ - 7

141. Landé, Dua l i sm . to Ün i íy in   ,Quan t um Phys i c s ^ p p .^ 9,’ 10,2 (ver n. .136, acima), e Néw Found at i ons of Qua n t u m .Meph an i cs. :(Gaixibàdge.: Cambridge University Press., 1965), pp. 5-9. , , " t ,

142. Ver espec. [1959 (a ) ] , [1966 ( e ) ]3novo. Apêndicej* xij;e,.i[1967:(k).Ív, .

143. Albert Einstein, “Zur Elektrodynamik bewegter Kõrper’*, Anna l en der Phys ik , 4-a série, 17, 891-921; inserido sob o título. ‘'Ono.the- Electro- . .dynamics of Moving Bodies”, em Albert Einstein et al . , T h e jPr i úci p t éop ^ Re l a t i v i t y , trad. por W. Pennett e G. B. Jeffrey (Nova Iorque: Dover^lÍ923:)/ 

pp.. 35-65. "

144. Einstein, Re l a t i u i t y : Spec i a l and Gene r a l Theo r y  (192Ò e édi-ções posteriores). O original alemão intitula-se Über di e speziel l e un d dié al lgemeine Rela t iv i tãt sth eor iè  (Brunswick: Vieweg & Sohn, 1916)/ (Vernn. 32 e 33 acima.)

144a. (Acrescentada em 1975.) Essa interpretação positivista e ope- racionista da definição de súnultaneidade de Einstein foi por mim rejeitada. em O. S. [1945 (.c)], p. 18 e, mais fortemente, em [1957 ( h ) ] e edições posteriores, p. 20.

145. Ver o artigo de Einstein, seção 1, em Pr i nc i p i e o f Re la t i u i t y , pp. 38-40 (ver n. 143, acima). -

146. Aplicando erroneamente o assaz intuitivo princípio da transi ti- vidade (T r) a eventos que se colocam além do sistema, pode-se facilmente 

demonstrar que qua isquer  dois eventos são simultâneos. Isso. contradiz, poréra, a presunção axiomática de que, no interior de qualquer sistema inerciál,.. há uma ordem temporal, ou seja, que, para quaisquer dois eventos, dentro de um mesmo sistema, vigora uma e apenas uma  das três relações: a  e b  são simultâneos; a  precede b ; b  precede a. Isso foi esquecido num artigo de C. "W. Rietdijk, “A Rigorous Proof of Determinism Derived from the Special Theory of Relativity”, Ph i l osoph y of Sciènce, 33 (1946), pp. 341-44.-

147. Cp. Marja Kokoszenska, “Über den Absoluten Warheitsbègriff  und einige andere semantische Begriffe”, Erkenn tn i ss , 6 .(1936), 143-65; cp. Carnap, I n t r oduc t i on t o Seman t i c s3 pp.. 240, 255 (ver n. 15, acima)-, -r

148. [1934 (b ) ] , seção 84, "Wahrheit und Bewàhrung”; cp/'Rudolf' Garnap, ‘Wahrheit und Bewàhrung”, Pr oceed i ngs o f the... I V t h / I n t e rna t i ona l -   Congréss f or Sci ent i f i c Ph i l osoph y, Par i s , 1935  (Paris: Hermann,* 1936), voL -

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::«Í^j>^p'áM8-23> ^uma adaptação aparece em versão inglesa, sob o título . “Ííu th -and Gonfirmation”, em R e a d i n g s i n p h i l ò s o p h i c a l A n a l y s i S j o r g .   por . Hèrbert Feigl e Wilfrid Sellars (Nova ;íorque; : Appleton-Century-CroftSj Inc., 1949), pp. 119-27.

149 i Muitos membros do Círculo, deinício, se recusaram a operar

com. a noção de verdade: cp. Kokoszynska, "Über den absoluten Wahrheits- begriff” (ver n. 147, acima). \ ■

149a. (Acrescentada çm 1975.) Ver espec. L. S c. D .   11959 (a ) ] e edições posteriores, pontos 4 a 6, nas pp. 396 e ss. ( ~ L . d . F . ,   [1966 (a )] ,  pontos 4 a 6, nas pp. 349 e s . ) .

150. Cp. Apêndice iv de 11934 (b ) ] e ■11959- (a ) ] . Após a guerra,uma demonstração da validade da construção foi dada por L. R. B; Elton fepor mim. (Receio que fo i; culpa minha, o artigo nunca ter sido publicado.) Na resenha que fez de L . S c . D .   ( M a t h em a t i c a l R ev i ew  , 21 [1960], resenha 6318) I. J. Good menciona um artigo dele próprio, “Normal RecurringDecimais”, J ou r n a l o f t h e L o n d o n M a t h em a t i c a l S oc i et y j    21 (1946), 167-69.Das considerações feitas nesse artigo, segue-se facilmente — como David Miller me fez notar ;—- que minha construção é legítima.

151. Karl Menger, “The Formative Years of Abraham Wald atidHis Work in Geometry”, T h e A n n a l s o f M a t h em a t i c a l S t a t i st i cs,  23 (1952), 14-20; ver espec. p. 18.

152. Kárí Menger, i b i d . ,   p. 19.153. Abraham Wald, “Die Widerspruchsfreiheit.des Kollektivsbegriffes

der Wahrscheinlichkeitsrechnung”, E t g eb n i ssé ei n es m a t h e m a t i s ch en K òl l o -   

q u i u m s j    8 (193?), 38-72.

154. Jean Ville, entretanto, que leu um trabalho no Colloquium deMenger, mais ou menos na mesma época em que Wald, ofereceu uma solução semelhante à minha “seqüência aleatória ideal” ; elé construiu uma seqüência matemática que, desde o início, era bernoulliâna, ou seja, aleatória. (Era uma seqüência algo “mais longa” do que a minha; em outras palavras, não se tomava tão rapidamente indiferente à seleção do predecessor quanto a minha.) Cp. Jean A. Ville, Ê t u d e cr i t i q u e d e l a n o t i o n d e co l l ec t íf . M o -   n o g r a p h i e s d es P r o b a b i l i t és i c a l c u l d e s p r o b a b i l i t ês e t ses a p p l i c a t i o n s ,  org. por Êmile Borel (Paris; Gauthier-Villars, 1939)..

155. Para as várias interpretações da probabilidade, ver espec. [1934(b ) ] , [1959 (a ) ] e [1966 (e )], seção 48re j'[1967 (k )], pp. 28-34.

156. Ver a Introdução, anterior à seção 79 de [1934 (b ) ] , [1959 (a ) ] ,[1966 (e ) ]. •.

157. Comparar isso com n. 243 à seção 33, abaixo, e texto; ver ainda seção 16, texto correspondente à n. 98.

158. Ver [1959 (a ) ] , p. 401, n. 7; [1966 (e ) ]3 p, 354.

159. Parte desse trabalho está incorporada aos novos apêndices de L . S c . D .   [1959 (a ) ] , [1966 ( e ) ] e edições posteriores.

160. Só li doís ou três (interessantíssimos) livros acerca da vida no gueto, especialmente Leopold Infeld, Q u e st . T h e E v o l u t i o n o f a . S £ Íen t i st   (Londres; Victor Gollancz, 1941).

161. Cp. [1945 (c) ] e edições posteriores, cap. 18, n. 22; cap. 19, nn. 35-40 e texto correspondente. Gap. 20, n. 44 e texto, correspondente.

24 T

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162. 'Ver John R. Gregg ,e F. T. G. Harris, orgs., Fo rm a n d   S t ra tegy in Sc ience . ' Stud i es Ded i ca t ed to Joseph Henry Wóodger   (Dordrecht- DReidel, 1964), p. 4. . N '

163. Muitos anos depois, Hayek . disse-me que foi Gottfried von Ha- berler (posteriormente professor em- Hârvárd) queih3 no ano de 1935, cha

mou-lhe a atenção para L . - d . ÍV...164. Gp. Bertrand . :H & t h p i n ei sm ” ,& Pr o c e ed i n g s  

of the Ar is to te l ian Socie ty , '36.::(1936)3 131-50;'; Mm^dizemrespeito especialmente às ,pp.vl46^e ss:- i- <■' - u .-■*

165. No Congresso dé Cojiieniiàge y-— oim ^ôongressoí de filosofia í-cientifica -— um senhor norte-àínéricáíib, 'muito agradável,' mostrou grande inte^resse por mim. Disáè-mè élè\ qüe era., o . representante : d&\iRbçkeféller Fòün-dation e deu-me seu cartão: “Warrén^Wéaver,/^he: íiufopean -of the Roòke-feller Foundation” (sic)~   I sso nâda :significou para5mimpeununea tinhaouvido falar de fundações e. do trabalho a que se "dedicam. (Eu era, aparentemente, mui to ingênuo.) Só anos mais tarde dei^me-GOnta-deque^sehouvesse entendido o significado daquele encontro*;talvez ^ivésse^ido^para:os E.U.A., em vez de viajar para a Nova Zelândia. ; ”

166. Minhas palavras iniciais, proferidas íio .realizei na Nova Zelândia, fòram publicadas p o s t e r i o n n e n í p "(a ) ] e formam agora o cap. 15 de C . & R . [1963 (a ) ] é ediçôés posteriores.

167. Cp. [1938 (a ) ] ; [1959 (a ) ] , [1966 (e ) ] , Apêndice•'* i i . :r

168. Gp. H. voa Halban Jr., F. Joliot e L. Kowarsky, “Liberation of  Nêutrons in the Nuclear Explosion of Uranium”, Na tu r e , 143. (1939), 470 e s.

1969. K.arl K. Darrow, “Nuclear Fission”, Ann ua l - Repor t o f the Board  

o f Regen t s o f the Smi t hson ia n Tns t i tu t i on  ("Washington, D.C.: Government Printing Office,. 1941), pp. 155-59. .170. Ver nota histórica em The Pove r t y o f H i s t o r i c i sm  [1957 (g ) ],  

p., iv;, ed. .norte-americana [1964 (a ) ] , p. v.

171- Essa relação ,é brevemente descrita em palestra feita por mim na British Academy [1960 (d )j, ‘ agora-Introdução a. C. & R. [1963 (a ) ] ;  ver seçõevll e III.

. 172. Ver L . d f  F.. [1934 ( b )l , pp. 227 e s:; [1959 ( a ) ] , p. 55, n .3 à  seção 11; [1966 (e )] , p. 27. Ver ainda [1940 ( a ) ] , p. 104 ,[1963 (a ) ] , p- 313, onde o método. de prova é apontado como essencialmente çrítico, isto é, referido em termos de método de encontro de erro.

173. Usei, com freqüência maior do que a necessária, a feia paiavrà“racionalista” (como em “atitude racionalista” ) onde “racional” seria mç- lhor e mais claro. A (má) razão disso foi, segundo creio, o fato de estar argumentando em defesa do “racionalismo”.

174. Ver O. S.,  vol. II [1945 (c)3 e edições posteriores, cap. 24 (cap. 14 da edição alemã, [1958 (i)'J).

-175. Adrienne Koch usou “Criticai Rationalism” como título de excertos de O, S., por ela selecionados para seu livro Phi losophy for a Tir r ie of  Crisis , An In t er pr et a t i on w i t k K ey Wr i t i ngs by Fíf t een Gr eat , Modér t i :  T h i n k e r s  Nova Iorque: Dutton & Co., 1959), [1959 (k.)]. .

176. Hans Albert, “Der kritisçhe Rátionalismus Karí Raimund -Pop-:/ pers”, Arch iv für Rech ts und Soz ia lph i l osoph ie , 46 (1 9 6 0 )3 9f-415. ' Hans;

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Albert, T r a k t a t üb er k r i t i sch e Ve r n u n f t    (Tübingen; Mohr, 1968 e ediçQes posteriores).

177.  Na quarta edição de O. S . ,  [1972 (c)3, [1963 (1) e (m )] e emedições posteriores, figura um * importante Âddendum  ao segundo volume: 

“Facts, Standards, and Truth: A Further Griticism òf Relativism” (pp.369-96), que, pelo que sei, tem sido ignorado por. quase todos.

178. Hoje, encaro a análise da explicação causai, dada na seção 12 de L . d . F .   (e, conseqüentemente, as observações feitas em T h e Po ve r t y    e em outros escritos) como superada por uma análise que se baseia em minha inteipretação da probabilidade em termos de propensão, [1957 (e) ], [1959(e )l, [1967 (k ) L Essa interpretação, que ‘ ‘pressupõe a áxiomatização por mim feita do cálculo de probabilidades (ver, por exemplo, [1959' (e)3 , p. 40; [1959 (a ) ], [1966 (e ) ], apêndices * iv e ,.*v j , permite-nos pôr de lado o modo formal de falar, colocando as coisas, de maneira mais realista. Entendemos que

(1) p (a , b ) — r  

significa: “a propensão de o estado de coisas (ou condições) b  produzir a  é igual a r.” (r é um número real.) Um enunciado como (1) pode ser uma conjectura; ou ser deduzível de alguma conjectura; será, por exemplo, uma con jectura acerca de leis da Natureza.

Podemos então explicar casualmente (num sentido generalizado e mais fraco de “explicar”) a   como devido à ; presença de b,   ainda . que r   não seja igüal a 1. O fato de b   ser causa clássica ou completa ou determinista de a  pode ser asseverado através de. uma conjectura como

(2)  p  ( a , b x ) —   1 para todo x 

onde x   abrange t o d o s    os possíveis estados de coisas, inclusive estados incompatíveis com b.  (Nem é preciso excluir “impossíveisJ> estados'de coisas. )■ Isso . mostra as1vantagens de uma axiomatização como a que propus, na qual o segundo argumento pode ser incongruente.

Essa maneira de colocar o assunto é,. claramente, uma generalização de minha análise de explicação causai. Permite, além disso, enunciar os " c o n  

d i c i o n a i s nôm i c o s ”    de vários tipos — do tipo (1 ), comi r menor do que a unidade; do tipo (1 ), com r  =  1; e do tipo (2 ). (Oferece, portanto, uma solução para o chamado problema dos condicionais contrafactuais.) Habilita-nos a resolver o problema.de Kneale (ver [1959 (a ) ] , [1966 ( e )3, Apêndice * x ), que consiste em distinguir entre enunciados a c i d e n t a l m e n t e   

universais e conexões naturalmente ou fisicamente n ecessár i a s , tal como foi apontado por (2 ). Note-se, entretanto, que podem existir conexões fisicamente não-necessárias que, a despeito disso, não são acidentais, como (1) com um r não muito distanciado da unidade. Ver, ainda, a réplica a Suppes, em minhas Rep l i e s .

179. Ver, •também, T h e Po v er t y  , [1957 (^ )í , p* 125. Cumpre fazer alusão a  J, S. MilI, A Sy st em o f L o g i c  , B.a ed., Livro I II, cap. XII, seção I.

180. Ver Karl Hilferding, “Le fondement empirique de la science”, Re v u e d es q u es t i o n s sc i e n t i f i q u e s,  110 (1936), 85-116. Nesse- artigo, Hilferding (um físico-quimico) explica longamente minhas -concepções, das quais 

se aparta por admitir probabilidades indutivas, no sentido de Reichenbach.181. Ver também Hilferding, “Le fondement empirique de la science-”,p. 111, com uma referência à p. 27 (ou seja, seção 12> da l A ,ed. de L . d . F., [1934 (b )L •

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182. Ver The Pove r t y , [1957 (g )J , pp. 140 e s , , e. 149 :.e s.-y mais amplamente desenvolvidas no cap.: 14 de >0. S., [1962^(ç) e :(d )] ;í [1963^ (1) e'-(m )3; [1966 (i)3; [1967. (d)J-; [1968>;l(r)'] .(agora, C1972’ cap. 4)_; [1969 ( j ) ] e em várias conferências nãorpubHcadaSj:ipmferidas íínavLòndon

‘ School of Economics e ém outros -centros. - = ; ,r/•'

183. Ver [1957 (g) 3, seções 31'j e;/21, jespec^Típp;-i49i/e'->154i e-s* •.

184- Ver vol. I I de [1962 (c ) ], '[1 963 " (1)7 e (n i)]^ pp. 93-99 é éspec.pp. 97 e s. . • ’ * y f .-“-m ^

185.. Ver [1950' s!í IÚ 9 5 2 'X a ) X - V í W ' P P ~ * ; •

186. Ver [1957 (g )3,. seções 30-32:-'[-1962 (c-)‘]"'.e;; mais '.recentemente,[1968 (r)3 e [1969 (j)3. - > - — - ~ 1

187. Foi tal situkção. que, em? 1945, levou-mè;;'à publicação' de umpanfleto, Resea r ch an d t héJUh i vér si t y; ' ' [19 4 5  (é)T/~ esb'ô£adô~ por mim emcolaboração com Robin S;.AÍIan' fe Hugh"Partonr:‘è ;assihãdóf depois vdé .aigumàs

pequenas, alteraçõe.s, por Henry Fordér "e“outros.':AT:'situàção- logo f-sé - alterouna Nova Zelândia, mas, no eniretempo, eu havia deixàdo aquele^pais^^yiájãhdòpara a Inglaterra. (Acrescentado em 1975: um relato ■acerca: desse‘/pãrífíetoé feito por: E: T. Beardsley, in A H is t o r y o f t he Un i ver s i t y o f r Can t erbu r y , 18 f 3 - 1 973 , obra editada por "W. J. Gardner et al.  (Ghristchurch, N.IZ.i U rii-versity of Canterbury, 1973).) ' ’ v; ;

188. Ver espec. [1947 (a ) 3 e [1947 (b )3 . Fui levado a realizar: essetçabalbp ém parte devido a problemas de teoria das probabilidades: as regras de “dedução natural”, estão estreitamente associadas às definições cúmuns.da Álgebra booleaná. Ver também artigos, escritos por À. Tarski em 1935 e 1936, que agora constituem os caps. XI e X II de seu livro Log ic , Semant i cs , 

Metama t hema t i c s , trad. de J, H. Woodger (Londres e Nova Iorque: Oxford University Press, 1956).

189^ [1960 (b ) e (c)3.

190. [1946 (b )3 ; cap. 9 .de [1963 ( a )3 e edições posteriores.

191. As atas da reunião nãosão inteiramente dignas de, crédito. Porexemplo, indica-se como título de meu artigo (e assim. figurou na listá impressa das reuniões), “Methods in Philosophy”, em vez de “Are there Philo- sophical Problems?”, que foi o título dado por mim. Além disso, o secretário. julgou que eu me estivesse queixando de o seu convite ser para um brevé artigo, que serviria de introdução a um debàt e  — o que, em verdade, considerei muito conveniente. O secretário nao me entendeu (enigma versus  

problema).192. Ver C. & R ., [1973. ( a ) ] , p. 55.

193. Ver p. 167 da resenha dé O. S., feita porG. Ryle, em M i n d ,56 (1947), 167-72.

194.Logo no princípio do curso, ele ;formulou ' e . demonstrou a validade da regra metalingüistica de demonst r ação i nd ir eta  (ou por absurdo):

Se a  decorre logicamente de não-o, entãó a é demonstrável.

195. Agora em Tarski, Log i c , Seman t i cs  j Met am a t h em a t i cs, pp. 409-

-20 (ver n. 188, acima).... : .196. . Ib . id. , pp. 419: e s.

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' :í>l-.197.-;:-Vèr [1947 (a )3, [1947 ( b ) ] } [1947 (c ) ] , [1948 (b) 1, [1948(c) ], [1948 (e ) ] [1948 (f) ]. O assunto fdí agora mais bem estudado por Lejewski. Ver o artigo “Popper s Theòry of Formal or Deductive Interference”, i n Th e ph i l o soph y of Ka r l Poppe r ^ o i g . por Paul Arthur Schilpp, pp. 632-70.

198- O erro rèlacionava-se com as regras de substituição ou de repo

sição de expressões: erradamente, pensei que bastasse formular essas regras em termos de in terdeduzib i l ida.de, enquanto, ná verdade, fazia-se necessária uma i den t idade  (de expressões). Para explicar esta observàçãp: postulei, por exemplo, que se num enunciado a  duas. subexpressÕes (disjuntas) x  e y  são passíveis, onde quer que ocorram, de reposição por uma expressão z, então a expressão resultante (contanto que seja um enunciado) será i n t e r de -   duzível , resultando na reposição de #, onde quer que ocorra, por y  e, ã seguir, de. y , onde quer que ocorra, por z. Eu deveria ter postulado que o primeiro resultado é i dên t i co  ao segundo. Dei-me conta de que isto seria mais forte; erroneamente, julguei que . a regra ■mais fraca bastaria. A interessante (e até agora inédita) conclusão a que fuiposteriormente levado, 

ao repaíar esse erro, foi a de que havia uma diferença-essencial entre a lógica prpposicional e a lógica dos predicados: enquanto à lógica proposicionalpode ser construída com uma teoria de conjuntos de enunciados, eujos elementos são parcialmente ordenados: pela relação de deduzibilidade, a lógica funcional requer, além disso, uma abordagem especificamente morfológica, poJrquanto deve referir-se à subexpressão de uma expressão, empregando um conceito como o de i den t idade  (com resppito a expressões). Entretanto, nada mais é necessário além das noções de identidade e dç subexpressão; não se requer uma descrição ulterior,.. especialmente ;íio que Se refere à forma, das expressões.

199. [1950 (d )].

200. [1950 (b ) e (c )] .201.. Ver Kurt Godel, “A Remark Abóut the Relationship Between 

Relativity Theory and Idealistic Philosophy”, h i A l ber t Ei nstéi n i Ph i losoph er -  -Scíjéni i si , pp. 555-62 (ver n. 122, acima). O.S argumentos dê Gpdel eram(a) filosóficos, (b ) baseados na teoria especial (ver, em particular, sua n. .5),e ( c■)  baseados em suas novas soluções cosmológicas das equações dede Einstein, ou seja, na possibilidade de existirem órbitas quadridimensio- nais fechadas, num universo godeliano (em revolução) tal como por ele descrito em “An Example of a New Type of Gosmological Solutions of  Einstein’s Field Equations of Gravitation”, Reuiew of Modern Phys ics, 21 (1949), 447-50. (Os resultados (c)- foram contestados por S. Ghandrasekhar e James P. Wiright, “The Geodesics in Godel's Universe”, Proceedings of the  Nat i ona l Aca dèmy of Sciences, 47 (1961), 341-47. Note-se, porém,, que ainda que não sejam geodésicas as órbitas. fechadas de Godeí, isso não constitui, por si só, uffla refutação de suas concepções; uma órbita gõdeliana nunca pretendeu ser inteiramente balística ou gravitacionaJ: mesmo a,, órbita de um foguete qué se dirige para a Lua só o ; é parcialmente.)

202. Gp. Schijpp, org., Al ber t Ein ste in : Ph i losopher -Scien t i s t , p. 688(ver n. 1.22, acima). Nao só concordo com Einstein, mas iria mais longe, dizendo o seguinte: Fosse a existência (em sentido físico) das órbitas de Gòdel uma con seqüênci a  da teoria de Einstein (o que não se dá), esse fato deveria ser contraposto à teoria. Não seria, por certo, um argumento conclusivo: isso não existe. E talvez tenhamos de a.ceitar as órbitas gõdelianas. Penso, porém, que, em tal caso, deveríamos buscar alguma outra alternativa.

'78   ............... •- r--~- ■ ... - —  ........-

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203.  Harald Hoffding escreveu (i n  :D e n ^ T n en n esk el i gèi 0 a n k e  A^Gop  nhague: Nordisk Verlag, 1910, p. 303;: :na:.::verSãOívMêm^;^^^^níií/t/iífcA^.G e d a n k e   [Leipzig: O. Rieslánd, 1911] 5 p. 333) : ^O^tenh^m^nfôJ.v-.qíiedeve descrever e explicar-nos o mundoj^semp^fp^^^íãüi^^dô^inuriáòrOéxíi^tentei por esse motivo, podem ’'ãemprê'-'Sul^'M^o^4^Hâaâé»y M^(|dè'~rèle'..

terá de haver-se. ( . . . ) Não temos '. ' cia; mas, em momento algum, é tamos^áiít&fizadds-í-á- cbrisidêiràr^cònipletàiívà /

. experiência. Dessa maneira,. o conhéeij^ ^èmlleugraú: iÉíaiâ áitb>nada mais nos proporciona ; ü e üiii ^ tiíjjiiídfc^^iàknj ^realidade, verificamos, ê «íií si' itoesma. ^rtê^d^^umá^ 'i aíidadé ili sMeunplaii .(Devo esta passagem -a Arne ;'Péteráêrfi) A:'mè]hÒr%idéiáímtuitiyàvüessa- incòm-pletude é a de um mapa que-mostre-a-meêâiifem^qúe^está íséndb^désenháâp:-e o mapa na medidaemque vá sendo .desenhadò. ^yer.i tarnbém; a répliea^à :-Watkins, em minhas-jRèpl ié& J) \ . *.f - J  -V- :'V> .

204. Ver meu . artigo tÍ94í8 ! .(dj 3, •agõró)v%1^63K\:^:ÍÍp^tap.--46"-éVmais extensamente, .[.1957- (i) 3 !' t -  [1969-^(t) ] ‘ :. agora[4&|.-2^? (&)' I r -   5.- :

204a. (A.cresceniâdó èin 19751 vèr àgòrá- xnéu E19V - ' ' y r: ' j-.7"í205. Há um artigo interessante, de. impacto,.-^escrito.; por..,.Williaiii 

Kneale, "Scientifiç Revolution for Ever?”, T h e  BfcfíME.*:.P h i l o s op h y o f S c i en c e , 19 (1968), 27-42, nó qual o áütÒr' pâxêce,; atê^cèrtoponto, partilhar , a posição esboçada acima , e criticá-la. (Em muitos., pontosde pormenor, ele, porém, me entende mal; por exemplo, na p. 36: “Pois, senão há verdade, nao pode haver qualquer aproximação da verdade ( . . . )Isso é certo. Mas Onde sugeri eu que não haja verdade? O conjunto de enunciados teoréticos verdadeiros . da Física talvez nao seja [finitamente] axiomatizável; à vista do teorema de-•Gõdel, quase certamente não o é. Contudo, a seqüência de nossas tentativas de produzir axioinatizações pro

gressivamente melhores pode bem. revelar-se uma seqüência revolucionária, na tqual criemos, constantemente, meios teoréticos e matemáticos novos para mais nos aproximarmos daquele inatingível fim.

206. Ver C. & R   [1963 (a ) ] , p. 114 (n. 30 ao cap. 3 e texto) e o terceiro parágrafo da seção 19 desta A u t o b i o g r a f i a .

207. Em carta a mim dirigida, no dia 15 de junho de 1935, Einstein aprovou minhas contepções concernentes a “falseabilidade, como propriedade decisiva de qualquer teoria a propósito d a . realidade”.

2Ó8. Ver A l b e r t E i n s t e i n : Ph i l o s o p h çr -S c i e n t i s t  , p. 674 (ver n. 122, acima) ; também relevante é a carta de Einstein, que aparece na p, 29 de 

Schrodinger et a L , B r i e f e ?u r W e t l e nm èc h a n i k ,  org. por K. Przibram (Viena: Springer Verlag, 1963); na versão inglesa, L et t e r s on W a v e M ec h a n i c s    (Londres: Vision, 1967), a carta aparece na pp. 31 e s.

209. Ver meu artigo . “What is Dialectic?”, agora cap. 15 de C . & R. , [1963 (a)J . Trata-se de uma forma estilisticamente. revista de [1940 ( a) J, com o acréscimo de várias notas de pé de págiiia. A , passagéiini aqülrésú-- mida é de C. & R ., p. '313, primeiro parágrafo ,novo...Tal como .se vê da 

n. 3, deste capítulo (n. 1 de [1940.. ;eur ncamva^aqueÍàf4^p|S^P.'-.'{'^-qual eu acentuava qúe.*u bn t et :ef ã.:j>rova, umà^teoriaa ela se laz, ,pu.,seja, de.>E K ) .<:t»mq:>i«súmo .âo; rp^ãüyE n|ü »d^micò.^dé^crivt6'

, - f i > - f - í   ■■'■ir  - Í - - v ■ - - ' ' f i l . ' \   1 W '

• 10;í?f Compàrém-se'-?.a-- isso;> Os- píoblemas rs-olífquéF-surge primeiro,, a., gãr.linha (H ) ; ou o- ovo (O)'*?” --.e “ o .que surge- primjBÍro^^ hipótêsè'-rr-(Ál.)#ou''-ía

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© discutidos na p. 47 de C . & R ., [1963 (a)3. Ver tam-béhii#1949 (d ) ], agora em inglês, apare,cendo como Apêndice a [1972 (a ) ] ;  

:/;é5pèc/'vpp; 345- e s . ‘

• 211. Ver por exemplo [1968 (r )3 , espec. pp. 36-39; [1972 (a )3 ,,pp.

170-78,212- Schrõdinger defende essa concepção como forma de idealismo oú 

panpsiquismo, na segunda parte de seu livro póstumo, Me i n We l t b i l d   (Viena: Zsolnay, 1961),, cap. I, pp. 105-14; versão inglesa, M y V iew o f the. Wor l d  (Cambridge: Gambridgê University Press, 1964, pp. 61-67).

213. Estou aludindo a Winston Ghurchill, M y Ea r l y L i f e   (Londres,1930). Os argumentos podem ser encontrados no cap. IX ( “Education atBangaiore”), ou  seja, nas pp. 131 e s. da edição de Keystone Lihrary (1934) ou. da edição da Maçmillan (1934). Citei extensamente a passagem na seção 5 do cap. 2 de [1972 (a) 3; vet pp. 42-43.

214., A citação não é de memória, mas'do primeiro parágrafo do cap.6 de Emin Schrõdinger, M i n d an d M a t t e r   (Cambridge: Cambridge University Press, 1958), p. 88, e de Erwin Schrõdinger, Wha t is L i f e ? & M i n d   and Ma t t e r   (Cambridge: Cambridge University Press, 1967; dois livrospublicados num volume, brochura), p. 166.. As concepções que Schrõdinger defendeu, em nossos diálogos foram muito semelhantes.

215. £1956 (b)J.216. ‘ Notemos, de passagem, que a substituição aqui de “impossível”

por "infinitamente improvável” (substituição talvez dúbia) não afetaria o ponto principal destas considerações, pois, embora a entropia se relacione com a probabilidade, nem toda referência à probabilidade envolve entropia.

21?.. Ver M i n d a n d Ma t t e r , p. 86_, ou Wha t is L i f e? & M i n d a nd   Ma t t e r , p . 164.

218 - Ver M i n d a nd M a t t e r   ou Wha t i s .L i f e? & M i n d and M a t t er ,l oc . ci t . Ele usou a expressão “metodologia >do físico” provavelmenteparaafastar-se de uma metodologia da Física proposta por um filósofo.

219. Wha t is . L i f e?, pp. 74 e s.220. I b i d . , p. 78.221. i b i d . , p. 79.222. Ver meu [1967 (b ) e (h )L .

223. Ver, p. ex., "Quantum Mechanics without ‘The Observer ”,[1967 (k ) ] ; “Of Clouds and Clods”,[1966 (f )3 , [197.2 (a )3 , cap. 6;“Is there an Epistemological Problem of Perceptioii?”, [1968 ( e) 3; “On the Theory of the Objective Mind”, [1968 ( r )3; “Epistemology Without a Knowing Subject^ [1968 (s)3 , (respect. caps. 4 e 3 de Ob j . K n . , [1972( a ) ] ) ; e “A Pluralist Approach to the Philosophy of History”, [1969 (j ) 1-

224 Tarski foí criticado muitas vezes por atribuir verdade a sen t enças :uma sentença, costuma-se dizer, é uma mera seqüência de palavras semsignificado; assim, não pode ser verdadeira. Contudo, Tarski fala de “Sentenças s ign i f i ca t ivas ” e, dessa maneira, sua critica, tal como tantas outras críticas filosoficas, não é apenas improcedente, mas simplesmente irresponsável. Ver  

Log ic , Semant i cs , Metamathemat i cs , p. 178 (definição 12) e p. .156, «. 1(ver n, 188 acima); e, para comentário, méu [1955 (d )3 (agora um adendo ao cap. 9 de meu [1972 (a )3 e [1959 (a )3, [1966. (e)3 , e edições posteriores, n. * 1 à seção 84.

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225. Isso se aplica também à validade de:s algumas.; régraç.i muito , sínir pies, regras cuja validade tem sido. n^ada^por^alguns>filósofos,.em* b»*-'  intuitiva (espec. por.G. E. Moore).; áv.inaist;5Íinplè^^die7:;:tódas}íiesàas regrás=.é: de qualquer enunciado a  podemos legitiriiàméntè deduzir o próprio « k Aqui 

se pode mostrar facilmente a impossibilidade.-de construir íüm^contra^exem-. pio. É uma questão particular a ;, pessoa- aceitar jSil^não este argumento; Quem não aceitar, estará, simplesmente-errádo.^,Ver também rneu^t 19,47 (a);].

226. JEu disse coisas como éssa'répètidas -vezes,' a partir*KlJil-'tí934'i-í(b )!l ,seções 27 e 29, e [1947 ( a ) 3 ' ^ ;yeF tl â68:" . ( ? £ ? ) , ! ' 3 . ) ^ ' P; ‘ ex.; e sugeri que aquilo que chàméi- dé^^rau de . corròboraçao "d eu n ià  hipótese h ,  à. luz de provas òu”dà^fevidêhcia\ e'J,  [pòdé /$er/'mtér£retado como ... um informe abreviado' das aátefioreV discussões"f críticas" dátWpótése h , à luz" das provas e. (Cp:'J'rin. ' 156^150 da;'1"seção 20' acima, '"e /tekto.')/' Assim/' escrevi, p. ex:, em X,. S c . D ^ X . 1959 p/'41.4:v“ .Ir. /- (?(/i;£)í'"’só 'pódeijseradequadamente/ mtctpfetàtíò"'coiriâi^grau^ de corroborkçãò" \ d ^ . k  ; ôá> racionalidade de ■riòssâ' creriçá t r n .Hy k  luzJde. testéã — se •'é'JcÒnsistir - cie ihfòr  mes do resultado de sinceras tentàtivas de refutar A. .^ ’ 'Em'butfas palavràá, só um informe de discussão sinceramente critica’- pode •serí.èorisidêradcT detet :- ' minante, ainda qüe parcial, do g rau de rac iona l i dade ' . ( de^nòssan crença ;ãemk /i). Na passagem citada (diversamente da terminologia empregada noçtekto), . usei as palavras “grau de racionalidade de nossa crença^: queXdevenàmsen ainda mais claras do' que “crença racional” ; ver também -"explico esse ponto e torno suficientemente clara minha atitude' ..objetivista  creio eu (tal como fiz ç.d nauseam  em outros locais). Não obstante, a passagem referida foi interpretada (pelo prof. Lakatos, “Ghanges in the. Problem o£ Inductive Logic”, in Pr ob lem o f ín du e t i ve Log i c , org. por Lakatos, n. 6, p. 412 e s. [ver n. 41, acima] como um sintoma do abalo de jméü objetivismo

e como indicação de que estou sujeito a lapsos subjetivistas. Greiò que é impossível evitar todos os mal-entendidos. Fico a imaginar como serão interpretadas minhas observações atuais acerca da falta de significação da crença.

227. Ver espec. meu. 119.71 ( i ) ] , agora cap. 1 de [1972 (a ) ] .

228. . Ó que denominei “concepção da moda” remonta a J. S. Mill. Para formulações modernas, ver P.- F. Strawsori, Jn t r o duc t i o n t o Log i c a l   T h e o i y   (Londres: Methuen & Go,, 1952; Nova Iorque; John "Wiley & Sons, 1952), pp. 249 e s.; Nelson Goodman, Fac t , F i c t i on and Fo recas t  (Cám- bridge, Mass.: Harvard University Press, 1955), pp. 63-66;' e Rudolf Garnap, “Inductive Logic and Inductive Intuition”, ih P ro b l em o f I n d u c t i v e   

Log i c , org. por Lakatos, pp. 258-67, paríiculaçmente p. 265 (ver n: 41 acima).

229. Essa me parece uma redação mais cuidadosa de um dos argumentos de Garnap; ver Garnap, “Inductive Logic and Inductive Intuition”, p. 265, uma passagem . com o seguinte início: “Creio que apelar para o raciocínio indutivo, em defesa do raciocínio indutivo, é não apenas legítimo, mas indispensável”.

230. I b i d . i   p. 311. .

231.. Para o “caso confírmador” de Garnap, ver meu £7. &  i? t l 96 3(a )3, pp. 282 e s. O que Carnap; s'derioinihà><“eáso: íconfirmádc(F, de^uma 

lei (ou de uma hipótese universal) veqüivMe,:( vde :ífá{ò,^" áoíí:,§:rãü' ':íde "•confir : mação (ou probabilidade) do caso seguinte dà. ld f isso tèiide pára 1/2, óü 0,99, contanto que a freqüência relativa dos casós^.'favbráyéb'i-^^iyáã&s -.'se"'

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aproxime, respectivamente, de 1/2 ou de 0,99. Como conseqüência, uma lei que! é refutada por iim em cada dóis casos seguidos (ou por um em cada cem casos) tem uma' confirmação (por casos), que se aproxima de 1/2 ou de 0,99; o que, naturalinente," é absurdo. Expliquei isso pela primeira vez em [1934 ( b ) ] , p. 191, ou sèja, [1959 (a ) ] , p.-. 257, muito antés de Carnap cogitar de casos de confirmação, numa discüssão acerca . das várias possibi

lidades, de atribuir' “probabilidade” a uma jhipótese; eu disse, então, que essa conseqüência era “devastadora” para tal idéia de probabilidade. Perturba-me a resposta dáda rpor Carnap à minha observação, em Prob lem o f  I nduc t i v e Log i c , org. por Lakatos,: pp. 309. e s. (ver n. 41 acima). Aí,* falando acerca de easo confirmador, Carnap diz que seu valor numérico “é ( . . . . ) uma importante característica da lei. No exemplo de Popper, a lei que se vê em média satisfeita por metade dos casos tem, com base em minha, definição, não a probabilidade 1/2, como Popper erroneamente acredita, mas a probabilidade zero.” Mas embora tenha o. que Carnap (e eu), chamamos “probabilidade zero”, tem também o que Carnap denomina “con-vfirmação por casos igual a 1/2” ; e esse era o pontó em discussão (embora 

eu tenha usado, em 1934, o termo "probabilidade” na crítica da fundação  que Carnap, muito depois, denominou “caso confirmador” ).

232. Sou grato a David Miller por apontar-me essa. característica de todos os sistemas de Hintikka. O primeiro antigo de Jaakkb Hintikka a respeito do assunto. fo i. "Towards of a Theòrj^of Inductive Genefalizatiqn” i n  Log ic , Mèt h od ol ógy and Phi l osoph y of Science, org. por. Yehoshua Bar- -Hilleí (Amsterdã: North-Holand Publishing Co,, 1964), vol. II, pp. 274-88. Amplas referências - podem ser .encontradas, em Risto Hilpinen, “Rules of  Acceptance and Inductive Logic”, Ac ta Ph i l osóph ica Fenn ica , 21 (1968).

233. Segundo a posição adotada por- Carnap, em aproximadamente1949-56 (pelo menos), a Lógica Indutiva é analiticamente verdadeira. Se 

assim acontece, entretanto, não sei como d suposto grau racional da crença há de sofrer transformações tão radicais como de zero (descrença extrema) a0,7 (crença média). De acordo com as últimas teorias de Carnap, “aintuição indutiva” atua como um tribunal de apelação. Apresentei razões para mostrar quão irresponsável e tendencioso . é esse tribunal. de apelação; ver meu [1968 (i)J, espec. pp. 297-303.

234. Cp. Fact , F ic t ion , and Forecas t , p: 65 (ver n. 228 acima).

235. 1Ver [1968 ( i ) ] . Para minha teoria positiva da corroboração, ver final da seção 20 acima e, ainda, o final da seção 33, espec.. n. 243 e texto correspondente.

236. Ver [1957 ( i ) ] e [1969 (k )], agora reimpresso como cap. 5 de [1972 (a ) ] e [1957 (1)].'

237. Ver [1959 (a ) ] , fim da seção 29 e p. 315 da tradução de[1935 (a )] , aí em Apêndice; * i, 2, p.p. 315-17; ou [1963 (a ) ] , Introdução; e, abaixo, n. 243 e texto. . (■

238. Pronunciei um ciclo de palestras a respeito desse problema específico — crítica sem justificação---- no Instituto de Estudos Avançados deViena, em 1964.

239-, Verespec. [1957 (i) ] e [1969 (k)l7 'agora cap. 5 de [1972 (a ) ] ;cap.10 de [1963 ( a ) ] ; e cap. 2 de [1972 (a ) ] . Ver n.165a em minhasReplies.

240.. Ver [1934 (b )3 , p. 186; [1959 ( a ) ] , /p. .252 (seção 79).

232

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241. Cp. [1958| (c ) ] , , 1195&**• ;(y ía ■ ^ í2 ^ i^ ^ a p s K ? H 8 :^ . jd e[1963 (a ) ] . .]. - . • .

242. A expressão “programa dê'-'"pesquisa'' fhetafísica”" ' for^üsada em minhas conferencias, ■aj partir, de" 1949;Tr,se flãó:í'.antès^^DiasiShãò SapáreGéli em- lçtra de forma até 1^58, embora •

capítulo de posfscr ip t  i(em provas ' t í i k > g r á £ { e á ^ ' ] ^ é á d ^ ! ^ ^ r  a', conhecer a meus colegas e o p rofesso r" Làk atos Vrfeçí) íiheeevf; qüe''o q iié s: e 1e - chama de "programas j de pesquisa científicá” fcólòéa^se na; tradi^ãb^dqvVque eu chamei “programa^ de pesquisa metáfísicà?J^(í^^^-falseável); Ver p. 183 de seu artígò •Scientifíc Research Programmes”, in •Crit ieisrr i org. por Imre Lakatos e Alan Musgrave ( Cambridge: í ; r<É^^B.||dgé '.!yriiyÉr-/-' sity. Press, 1970).

243. Note-se, . dtj passagem, que os realistas ^acreditaim;®^ verdade (e os que iaçreditam na verdadeCl063 (a ) 3, p. 116) -I—: chegam a saber que há f*tantesV-:l!eHlm^aã^^vé^^^. 

deiros quantos os falsòs. (Para o que vem a. seguir, -vercl jwhjd)^ ■seção 20 acima.) Uma vez que o propósito destediscussão entre meus críticos e mim, caberá, talvez aludir, brevei^nt^àí-^se^ú  nha de minha L . Jcj D . feita em M i n d , 59 (1960), 99--Jl0.1"íi ;G-\ jtWarnock (ver também' n. 25 .à seção 7 acima). Lemos, . ali, Vna]vp.í: 100,, a respeito de minhas j concepções quanto ao problema dà irtdüçãòl^“C)ra, Pbpper diz. enfaticamente que esse. tradicional problema . é insòluVeÍ. ^ ’ ,r Estou seguro de que jjámais disse isso e muito menos enfaticamêhtéiVfíSérapre; tive a pretensão de. realmente ter resolvido o problema no livro ':quéyfíéra: objeto da resenha. Máis adiante, na mesma página, Iemòs uI.Popper] afirnia, acerca de suas própriajs concepções, não que elas oferecem uma solução pára o problema-de Hume,| mas que elas não permitem que ele exista”. Isso :'am- flita cora'a sugestão, feita no .início de meu livro (espec. nas seções 1 e 4),’ segundo a qual aquilo que denominei problema da indução, de Hümé‘ é um do? dois’ problemas fundamentais da teoria do conhecimento. Posterior  mente, chegamos a uma versão bastante boa de minha maneira de .. formular esse problema: “como ( . . . ) podemos justificadamente dar como verdadeiros * ou mesmo como provavelmente verdadeiros, os enunciados gerais de .« (...:) ; uma teoria científica” . Minha resposta direta a essa questão foi: não Kâtfús*.  t i f i ca t i va , {Contudo, por vezes, há justificativa pará pre fe r i rmos  uma teoria, ém vez de outra teoria rival; ver o texto a que esta nota se refere. );N ãó  

obstante, a resenha prossegue, afirmando: “Nao há, su&tenta Popper»; .esperança de responder a essa pergunta, pais ela requer que resolvamos o insó- lúvel problema da indução. Diz ele, entretanto, que é desnecessário e: eríôriéo formular a pergunta.” Nenhuma das passagens por mim citadas .préténde ser cr ít i ca ;  pretende, antes, re la ta r  o que eu “disse enfaticamente” ; ‘‘tiès6jo afirmar” ; “sustento” e “afirmo” . Pouco mais adiante, na resenha," a:.critica principia com as palavras: “Ora, elimina isso o 'insolúvel' problema-.-daiinâtiT: ção?” . . .

Já que se fala do assunto, mencione-se, ainda, que o comentarista’: còn-, centra a crítica que faz a meu livro na tese seguinte, que aqui registro rtém- 

. grifo (p. .101; a palavra “confiar” significa, tal como o cohtextòí^mostrài- “confiar para o futurò” ) : “Popper evidentemente admite, o que^stá,Sàliásj4inisí plícito em suas expressões, que estamos autor izados a conf iarei- pará" 'ò^futúro]'; numa teor ia bem cor roborada . ”  Eu jamais admiti qualquer coisa lsigirnÈlHá^èí!'

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Asseveroapenas que uma teoria bem corroborada (que foi criticamente discutida e comparada com suas rivais e que, atéagora, “sobreviveu” ) é racionalmente p r ef erível  a uma teoria menos bem corroborada; e qué (a menos que se proponha uma nova teoria «rival) não há, para nós, melhor caminho, aberto senão preferi-la e agir com apoio nela, ainda que saibamos que pode  

dei xa r -nos na mão em al guns casos f ut ur os. Assim, tenho de rejeitar a crítica do resenhador, dando-a por baseada num coippleto desentendimento de meu texto, provocado pelo fato de ele ter colocado seu próprio problema da indução (o problema tradicional) no lugar do meu (que é muito diferente).  Ver agora também [1971 ( i ) l , republicado como cap. 1 de [1972 (a )],.

244. Ver Ernst Mach, Di e Pr i nz i p i en der Wãrmelehr e  (Leipzig: Barth, 1896), p. 240; na p. 239, a expressão “filosófico geral” é identificada a  “metafísico”; e Mach sugere que Mayer (a quem muito admirava) foi inspirado por instituições “metafísicas”.

245. Ver “A Note on Berkeley. as Precursor of Mach” ( [1953 (d ) ] ;  

agora. cáp. 6 de [1963 (a )].246. Ver Schrodinger et> al . , Br i efe zvr W el l enmechan ik , p. 32; utili

zei rainhas' próprias traduções, mas a carta pode ser encontrada, em; inglês, na ed. inglesa, Let ters on Wave Mechanics , pp. 35 e s. (ver n. 208 acima), A carta de Einstein é datada de 9 de agosto de 1939.

247. Gp. Erwin Schrodinger, “Die gegenwàrtige Situation ín der Quan- tenmechanik, D i e . Naturwissenschaf ten, 23 (1935), 807-12, 823-28, 844-49.

248. (Grifo meu.) Ver a carta de Einstein a que se alude na n. 246acimá e sua carta, em termos bem semelhantes, de 22 de dezembro de -1950, no mesmo livro, pp. 36 e s. (tradução pp. 39 e s.). (Note-se qúe Einstein dá 

por assente que uma teoria^ probabiíística há de ser interpretada subjetivamente se referir-se a um caso único; esse é um ponto a . respeito do qual ele e eu discordámos desde 1935. Ver [1959 (a).3, p. 459, e minha nota de pé de página.) *

249. Ver espec. ás referências às concepções, de Franz Exner, em Schrodinger, Science , T heo r y a n d Man , pp. 71, 133, 142 e s. (ver n.' 132 acima).

250.' Cp. meu artigo “Quantum Mechanics withoüt *The Obsérver’ ”, [1967 (k)3, onde se encontram referências a óutros escritos meus, concernentes ao mesmo assunto (especialmente [1957 (e)3 e E1959 (c )3 ).

251. A carta de Van der Waerden está datada de 19 de outubrode 1968. (Trata-se de uma cartà em que ele inclusive me critica por motivo de uma errônea referência a Jacob Bemoulli, na p. 29 dè [1967 (k )3 .)

• 252. De vez que esta é uma autobiografia, talvez caiba mencionar que. em 1947, ou em 1948, recebi uma carta de Victor Kraft que, escrevendo em nome da Faculdade de Filosofia da Universidade- de Viena, indagou-me se eu estaria preparado para assumir a cátedra de. Schlick. Respondi que nãodeixaria a Inglaterra. .

253. Max .Planckquestionou a competência de Mach como. físico,mesmo dentro do seu campo favorito, a teoria fenomenológica do calor. Ver  M. Planck, 1Zur Machschen Theorie der physikalischen Erkenntnis”, Physi - 

kal ische Zei tschr i f ty  11 (1919), 1186-90. (Ver, ainda, o artigo anterior de Planck, “Die Einheit des physikalischen Weltbildes”, Phys ika l i sche Zei tsckr i f t ,10 [1909J, 62-75; e a replica de Mach, “Die Leitgedanken .meiner wissens-

■ ; ' 2M  

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chaftlichen Erkenntnislehre und ihre Aufnahme durch die Zeitgenossen”, Phys ika l i sche Zei t schr i f t , 11 tliJIO], 599-606.')'. • ;<►. •......... .

254. Ver Joseph. Meyeiihôfer^^Eimsf-^-Machs^^Bifüfúhg^ráh^-diê^^iéheil Universitat, 1895”, in Symposi ur t t ‘~áus ' Ah làss âès " 50 ':rPTòdestãgèY' v o n E r m í‘  Ma c h   (Ernst Mach Institut, Frfeiburgjí^inffífiréi^au^^ô&JfE^p^J^^Sí^íiJrná^ encantadora biografia, (alema)-.. de..v.Bdltómãhrif;:>é^'àV.^Bo l t zmann   (Viena* Frani--'Deutíékè^^l^SS1) ss/T’/M t ! - ; - '

255.. Ver n. 256 e .íL. 2í>l fàbaixo;', ,::;v '' ';^ ' Yv ' : 'V - 

256. Ver E..“Zermelpi' '■■itíeciha*-nische Wãrmetheorie”,: . J Viédét nànn sàkèi fânn a l eh ;} f s5%\

(1896),' 485^94. Vinte- ;.ahosa rites^d évZ èr rá í^©^£Lo^hm idt^^^ ^igò^d e; í; manri, hayia - assinalado^que, .invertendo; 'tofl^/^^ye^õ^d-^â.és iunüi^?gá«i-y'p érS%V-: ‘ fazer còiri.. que esse'‘gás£ésç<^?fo,,Avessas, : r é s t à b é lé p è n i ^ j è s t a d o ?dê- 

' ordem do qual•.présüimveimraté;;.partíu:^ài&t^hèg^^kílèrôrdêBtt^^^ de Loschraidt. é denominada “ objeção ; dá^^^i^ibjiÜdadé^^iHlu^tD^-vav^de -‘í v. 

Zermelo é chamada “objeção da ^re<»rrèncià? '^'V> : .257. Paul e Tatiana Ehrenfest, “Über zwei t bèkahnte y’Ein\Vànde^ gegen; :. das Boltzmannsche . H-Theorem51, Phys ika l i sche Zei t sehr i f t y Ji  ' ;-(:i:907 )y; •3Ulfl 4v-

258. Ver, p. ex., Max Bom, Na t u r a l ' Pii üosoph :^ ':;6 f f :Gàüàjè-{'an d -!'Ck i npe •:. (Oxford: Oxford University Press, 1949), quê escreve, à jj. ôSj .Zerrneio  matemático alemão que se ocupou de problemas abstratos, comò os . da tebíiá. dos conjuntos e dos números transfinitos, de Cantor, aventurou~se: ao campo da Física, vertendo para o alemão a obra de Gibbs acerca dè Mecânica ;ÉÍtaj tística.” Notem-se, contudo, as datas: Zermelo criticou Boltzmann em 1896 ; publicou a versão de Gibbs, a quem elé muito admirava, em 1905; escreveu seu primeiro artigo a respeito dé teoria dos conjuntos em 1.904 e o segundo 

soraente em 1908. Assim, era um físico, antes de tornar-se um matemático “abstrato”.

259.- Gp. Erwin Schrõdinger, “Irreversíbility”, Proceedings of the Royal  I r i s h Âcademy , 53A (1950), 189-95.

260. Ver Ludwig Boltzmann, “Zu Hrn. Zermelo’s Abhándlung: 'Über die mechanische Erklãrung irreversibler Vorgánge’ ” , Wi edm an nsch e Ann aíen  ( A nna l e n der Ph y s i k ), 60 (1897), 392-98. O ponto central da passagem' é repetido em seu Vor lesungen über Gas iheor iè ( Leipzig: J. A. Barth, 1898), vol. II , pp. 257 e s.; aqui também utilizei minha própria tradução, mas a  passagem correspondente pode ser encontrada era L. Boltzmann, Lec tu res o7i. Gas Theory , tradução de Stephen G, Brush (Berkeley e Los Angeles: University of Califórnia Press, 1964), pp. 446 e s .

262. A melhor demonstração que Boltzmann ofereceu de d S / d t ^ O   baseou-se na chamada integral de colisão. Esta representa o efeito mêd iò  exercido sobre uma só molécula do sist ema de t oda s as outr as m olécu l a s' do  

'gás. Minha sugestão é que: (a ) nao são as colisões que levam ao resultado de Boltzmann, mas a m éd i a ' como tal; a coordenada de tempo desempenha üm papel, porque nao havia média antes da colisão e, assim, o aumento ;da entropia.parece  ser o resultado de colisões físicas. Minha sugestão é, além disso, que, à parte a derivação de Boltzmann, (b ) as colisões entr e as m o lécu l as do gás  não são decisivas para um aumento de entropia, embora o. 

pressuposto de desordem molecular (que se faz presente através .da. tomada da média) o seja; Admitamos, com efeito, que um gás ocupe*. em ítdado - •: momento, a metade de um recipiente; dentro em pouco, éie “encherá” todo

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o recipiente — inesmo que a rareíaçao seja tão grande que (praticamente) as úni cas col i sões se dêem con t r a as parèdes. (As paredes são essenciais: ver ponto (3 ) de [1957 ( g )L ) Sugiro, ainda, que (c) é possível interpretar a derivação de Boltzmann como’ significando què um sistema ordenado X  se torna quase certamente (ou seja, còm r. probabilidade 1) desordenado por  coli são com qual qu er sistema Y  (digamos, as paredes) que esteja em estado 

aleatoriamente escolhido ou, mais . precisamente, um estado não correspondente, em todos ds-: pormenores, âo estado de'A!-,. Nos termos desta interpretação, o teorema é, naturalmente, válido. Pois a “objeção da reversibilidade” (ver .n, 256 acima) mostraria apenas que,para sistemas como X , em seu estado desordenado, existe pelo menos Um outro  sistema ( “correspondente” )}' que, por colisão (inversa), faria o sistema X  retornar a seü ■estado1ordenado. A mera existência matemática. (mesmo em sentido construtivo) destesistema Y, que “corresponde” a X , não cria- dificuldade, pois a probabilidade de que X  venha a colidir com um sistema correspondente a ele próprio será igual a zero. -Assim,- o teorema-H, d S / d t 0   vale quase certamente para  todos os sistemas em c o l i s ão (Isso .explica por que a segunda. lei se aplica 

a todos os sistemas fechados. )  A “objeção da recorrência” (ver n. 256 acima) é válida, mas não significa que a probabilidade de uma recorrência  — de o sistema voltar a um estado'em que'anteriormente se encontrava -—  seja apreciavelmente superior a zero, para ^pi sistetna de qualquer. grau de complexidade. Continuam a existir, entretg.ilto, problemas em aberto* (Vjer minha série de notas em Na tu re , [1956 (b ) ] , Í1956 (g )l , [1957 (d)3 , [1958 ( b ) ] , . 11965 (f)J , [1967 (b ) e., (h )j e minha nota [1957 ( f ) ] , em The Br i t i sh Journa l fo r the Ph i l osophy o f Sc ience . ) 

262. Ver. [1956 (b ) j e seção 30 (a propósito de Schrodinger) acima, espec, o texto correspondente às nn. 215 \e 216.

263. Ver acima, seção 30. Fiz uma conferência a esse respeito,1paraa Oxford University Science Society, no dia 20 de outubro de 1967.Néssaocasião, apresentei também breve crítica do significativo artigo' de Schrodinger, “Irreversibility” (ver n. 259 acima); escreve ele à p. 191: “Gostaria de reformular as leis da ( . . . ) irreversibilidade ( . . . ) de maneira tal que a contradição lógica que aparentemente está presente em t oda  derivação de tais leis a partir de modelos reversíveis seja afastada de uma vez para sempre.” A reformulação de Schrodinger consiste numa engenhosa maneira (método posteriormente denominado “método de sistemas de ramificação” ) de introduzir setas de tempo boltzmannianas por meio de uma espécie de definição operativa; o resultado é o alcançado por Boltzmann. E o método, como o 

de Boltzmann é poderoso demais: não resguarda (cómo pensa SchrÔdingèr) a derivação de Boltzmann — ou seja, sua explicação 'física do teorema H ; em vez disso, proporciona uma definição (tautológíca) da qual decorre imediatamente a segunda lei. Dessa forma, torna redundante toda explicação física da segunda lei.

264. Die Pr inz ip ien der Wãrmelehr ej  p. 363 (ver -n. 244 acima).Boltzmann nao é mencionado aí pelo nome (seú nome aparecé, com moderado elogio, na. p. seguinte), mas a' descrição do “movimento” ( “ Z u g ” )   é inconfundível: elè descreve claramente a hesitação de Boltzmann. O ataque de Mach nesse capítulo ( “The - Opposition betweenMechanistic and Phe-nomenological Physics” ), se lido nas entrelinhas, é severo; e combina-se com 

um fundo de auto-elogio e -com uma fé confiante em que o juízo da Históriaestará do seu lado; cómo, de fato, estava.

T

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265. A presente. seção foi aqui acrescentada porque, segundo creio, é significativa para. .a compreensão de meu desenvolvimento intelectual e, mais especialmente, pâra a compreensão de.. jaainha xecente luta. contra o sub- 

 jetivismo na Física. ^

26.6. Ver Leo Szilard, “Über diè':Aüsdehiíutig dér:\PhãhòmenologÍschen 

Thermodynamik auf die Schwaiâtungsièí^^êiáUii^è^^^i^ÀH/t'?''7ttr-- P h y -   sik, 32 (1925), 753-88 e “Über' diê5'Eritrtípieve^Ítídérlüíí^;iri^%in£mVr;thermo- ..dynainischen System bei Émgiifífen ‘-MtéUièénteif .<ÍVéSfen4,> 53 ■(1929),840-56; este segupdo :ai1igú^'Ítít''^^diMâ^iòdin^-^fiíljcr'?.de *'Òn';>t:lfé Décreàse of Entropy in a Thei;modynainic Systêm^fb^iííie^.Intéi^ehtiòn - ót Ihtelligetit Beings”, B eha v iou ra l  ^cien ce, í9: - f( 1 ?64 );| ;K3 Ol iO^As". - concépções'; de 1. Szilard foram aprofundadas. ppr:.’ Brillouin V:Uncéríai ht y r i an d^ In for ma t i on (Nova Iorque: . Academic PressjU;1 :9 6 4 }Gréio£..entretanto, què: todas -êssas concepções foram clara-: e pròcedentementk; critifcádas ípofc?; J.% J3v. -Fast, - E n  t ropy , reimpressão revista e. aUraentada .dar ;ZiS:.-Vfed’..r (iiondresí-^fMacmilíártj 1970), Apêndice 5. Devo esta referência ;'.a/:i5CÍTíéls'5,EggferS-í Hansén;*;” vv - ■■

267 . " Norbert Wienéí, Cyber n et i c s i or " Còh l r o l '?& ^Commu n i ea t i o n '--  mrt h e A n ima l & t h e Maeh i n e "  (Gambridge, Mass.: MJ;T:^ vPrêss -1948'), ' pp.' 44 e s., tentou combinar essa- teoria à. teoria de Boltzittarih|:^às'/ilão - creio que as duas partes se tenham realmente conjugado no espaço lógicòí ^^ nem mesmo no do livro de "Wiener , onde se confüiatn a contextos: estritamente diversos. (Poderiam conjiígar-se através do postulado de què aquilo quê - se denomina dè consciência é essencialmente  aumento de conhecimento, -ou sej a, acréscimo de informação; mas não desejo encoraj ar uma especulação: idealista e muito me atemoriza a fertilidade dessa conjugação.) Entretanto, a teoria subjetiva da entropia relaciona-se estreitamente com o famoso demônio de Maxwell e com o teorema H de Boltzmann. Max Born, por exemplo, que 

acredita ■na interpretação original do teorema H, atribui-lhe um significado (parcialmente?) subjetivo,. interpretando a colisão integral e “o estabelecimento de. média” (ambos discutidos na n. 261, seção 35, acima) como "mistura de conhecimento, mecânico com a ignorância. de pormenor” ; essa mistura de conhecimento e ignorância, diz ele, “leva à irreversibilidade”. Cp. Bom, Nat u r a l ph i l osophy o f Cause and Ch an ce, p. 59 (ver n. 258 acima).

268. Ver, p. ex., seções 34-39 e 43 de L . d . F. [1934 (b“)3, [1966 (e )]e de L . Sc . D . , X 1959 (a ) ] .

2691 Ver espec. - [1959 (a )3 , novo Apêndice * xi (2 ), p- 444; [1966(e ) 3, p. 399.

270. Para a medida e sua função de aumento de conteúdo (ou deaumento de informação), ver seção 34, de [1934 (b )3 e El959 (a )].

271. Pata uma crítica geral dos experimentos mentais, ver meu novoApêndice #xi de L. Sc. D., [1959 (a) 3, espec. pp. 443 e s.

2.72. Tal como o pressuposto de que o gás consiste numa  só molécula M, o pressuposto de que, sem gasto de energia ou negentropia, podemos introduzir, no cilindro* a partir de um de seus lados, um pistão, é livremente usado . por meus opositores, nas suas demonstraçãos da convertibílidade: dè conhecimento e negentropia. Aqui, ele é inofensivo; e não chega a . ser n e-: cessário: ver n. 274 abaixo.

273:. David Bohm, Quàn lu m T h eory  (Nova Iorque, Prentice-Hall,1951), p. 608, refere-se a Szilard, mas opera com muitas^ moléculas. íEIfc^não

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se apóia, entretanto, nos argumentos de Szilard, mas, antes, na idéia geral de que o demônio dç Maxwell é incompatível com a lei de aumento da entropia.

274. , Ver meu artigo. "Irreversibility,- or Entropy sinçe 1905”, [1957( f ) ], artigo em que fiz espéciâi referência ao famoso- trabalho, de Einstein, datado. dé 1905, acerca do movimento brownianò. Naquele artigo, também critiquei, entre outros, Szilard^ embora não através do experimento mental aqui usado. Eu : desenvolvera esse experimento mental algum tempo antes de 1957 e ele fòi objeto de uma conferência, onde observei as mesmas linhas do atual texto, conferência feita a convite do professor E. L. Hill, no Depto, die Física da Universidade de Minnesota,

275. Ver P. K. Feyerabend, “On the Possibility of a Perpetuum Mobile, of the Second Kind” , ín M i n d , Ma t t e r , a n d Met h o d ;  -Essays in Honor  o f Herbe r t Fe ig l , org. por P. K. Feyerabend e G. Maxwell (Mínneapolis: University of Minnesota Press, 1966), pp. 409-12. (Devo mencionar que a idéia de . adaptar um f láp  ;ao pistão (ver fjgura 3, no texto), para’ evitar a dificuldade de ter de introduzi-lo por um dós lados, é uin aperfeiçoamento 

que Feyerabend . . acrescentou à análise original que fiz do experimento- mental de Szilard.

276. Samuel Butler. sofreu muitas injustiças dos evolucionistas, inclusive uma séria injustiça do próprio Charles Darwin que, embora muito aborrecido com isso, jamais a corrigiu. Ela foi corrigida, tanto quanto, possível, pelo filhó, de Darwin, Francis,, após a morte de Butler. A história, que é algo complexa, merece ser recontada. Ver pp. 167-21 & de Nora Barlow, org., Th e Au t obi og r aph y o f Cha r l e s Da r w i n  (Londres: Goliins, 1958), espec. p.217, onde se encontram alusões à maioria dos outros assuntos relevantes.

277. Ver [1945 (a ) ] , seção 27.; cp. [1957 (g ) ] e edições posteriores, espec. pp. 106-8.

278. • Estou aludindo às observações a; respeito da teoria evolucionista feitas por Schrõdinger em M i n d a n d Ma t er t .,Especialmente as que ele designa com as palavras "lamarckisrao disfarçado”’ - ver Mi n d ■ and Ma t t e r 3 p. 26. e p. 118 da reimpressão., combinada, referida acima, n. 214.

279. A conferência C1961 ( j ) I foi feita no . dia 31 de outubro de1961 e o manuscrito entregue no mésmo dia à Bodleian Library. Figura agora, em versão revista, acompanhada de um Adendo, tomo cap. 7 de meu[1972 (a ) ] . •>.,

280. Ver [1966 ( f )3 ; agora cap. 6 dé' [1972 ( a ) ] .

280a. Ver [1966 (f) J.

281. Ver seção 33 acima, espec. n. 242.282. Ver L . Se.. D . }  seção 6?.

283. Para o problema dos “graus de previsão”, ver F. A. Hayek,“Degrees of Explanation", inicialmente publicado em 1955 e constituindo agora o cap. 1 de seus Stud ies in Ph i losophy , Po l i t i cs and Economics  (Londres: Routledge & Kegan Paul, 1967); ver espec. n. 4, à p. 9. Quanto ao darwinismó e à produção de “uma grande variedade de estruturas»”, e quanto à sua irrefutabjlidade, ver espec. p. 32. .

284. A teoria da seleção sexual, elaborada por Darwin, é, em parte, uma tentativa de explicar exemplos falseadores de. sua teorià, coisas tais como, p. ex., a cauda do pavão ou as galhadas do veado. Vér o texto que 

antecede a n. 286, abaixo.

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285. Para o problema da “explicação em princípio” (ou - “do principio” ), em oposição à “explicação em pormenor”,; ver Hayek, Ph i losophy , Po l i t i c s a n d . Econom ics , espec. cap.; =1; sec; V I, pp. 11-1.4:.

286. David Lack assinala esse ponto em seú .fascinante livro Dar w in 3s 

F inches '  (Cambridge: Cambridge. Univer,sity .Press l947)j p. . 72: “ ( . . . )quanto aos. tentilhões estudados por Darwin/ todas as--:,prinGÍpais ; diferenças de bico, entre as espécies, podem sèr-■■■;encaradas .íddmoy. clàptáções.;-a,, diferenças de alimentação.” (Devo as notas de pé de -'-página^r;alusivas; ao cõmr portamento dos pássaros, a Ame Petersen.) _ 

r.. • " , 's287.Como Lackdesereve; tão Vividamente, pp. - 58- é, s., a_  ausênci a 

de uma longa língua nò .bico-doSi .tenültíQesísestudadosi ponvDarwàn ^ : que . se aproximam de uma espécie - de . pÍGà-pau;-; ;não: ;impede:;íi^uéí‘ :esseS'. pássaros perfurem troncos e ramos à prbcürá - de ,insetos;—- ou: rséj a,, o pássâro /se mantem fiel a seu gostó; entretanto, em .razão:, déssa ' particular - ■des vah tagem .

anatômica, ele desenvolveu a cápâcidãdê de 'conforná-lai-^“UmàV; vez:, feita uma escavarão, .ele àpánha üiii pequeiio ;ramor :ou espiíiho;; de -rcactus: dè ;uma ou duas polegadas dé corüpriinentò é, ~seguraridò-o" com ciJbico, empúrra-o para dentro da fenda, deixando cair o esjpinho, para. apanhado, inseto "qúando este surgir.” Essa surpreendente tendência ’Üe. •cbínpõirtamímtô^^ponder a uma “tradição” nao-genética que se déséftVblVcu'\'iüa ''íêspéciê"Cícôm ou sem ensino entre os seus membros;, pode tratar-sè também de;>um;:;padrão ■de comportamento com raiz genética. Isso quer dizer que úmà; f/genUihâ invenção de comportamento póde assumir o lugar de uma alteração ánktô- mica. Seja como for, o exemplo mostra de quê modo o comportairíeniados organismos pode ser “uma ponta de lança” da evolução: um tipo de 

solução de problema biológico que pode levar à. emergência de formas e espécies novas.

288. Ver meu Adendo, 1971, “A Hopeful Behavíoural. Monster”, à minha Spençer Lecture, cap. 7 de Í1972 (a ) } e Alister Hardy, T h e L i v i n g   St r eam : a Res ta t ement o f Évo lu t i on T h eory and i t s Rela t i on to th e Sp i r i t   of M a n   (Londres: Collins, ’ 1965), V I conferência.

289. Essa é uma das principais idéias veiculadas em minha Spencer Lecture, agora cap. 7 d e '[1972 (a ) ] .

290. A teoria da separação- geográfica ou o processo geográfico de. formação de espécies foi inicialmente apresentado por Moritz Wagner em, 

.D i e Da rw in i s che Th eor i e un ‘  d das Migrat ionsgesetzs der Organismen  (Leip- zig: Duncker und Humblot, 1868); versão inglesa, J. L. Laird, T h e D a r -   i vi n i a n Th eor y and t he La w o f M i g r a t i o n o f Or gan i sn t s   (Londres: Édward Stanford, 1873). . Ver também Theodosius Dobzhansky, Genet ics and the  Or ig in o f Spec ies , 3.„ ed. rev. (Nova Iorque: Columbia University Pressj 1951), pp. 179-211.

291. Ver [1966 ..(f)], pp. 20-26, espec. pp. 24 e s., ponto (11). Agora, [1972 ( a ) ] , p. 244.

292. V e r -[1970 (1)1, espec. pp. 5-10; [1972 (a ) ] , pp. 289-95.

292a. Este e os parágrafos seguintes do texto (bem como as notas cor

respondentes) foram inseridos em 1975.292b. Ver Sir Alister Hardy, The L i v i n g S t r e am  (cp. n. 288 acima). 

Em especial, ver Conferências V I . e V il . Ver, ainda, W. H. Thorpep tEhe Evolutionary Significance of .Habitat Selection”, Th e Jour na l of A.-Ani rha l  Eco logy , 14 (1945), 67-70.

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■ ' 293: Depois de ter completado esta Au tob i og ra f i a , aceitei uma sugestãode John. Eccles, para^ denominar o terceiro inundo “mundo 3” ; ver J. C. EccleSj...Fac ing Rea l i t y  (Nova Iorque, Heidelbei^ e Berlim: Springer-Verlag, ^370).,;Ver também a nota 7a, acima, . ' '

294. Este argumento pelo qual se atribui realidade a alguma coisa — de que seja possível tomar “relações cruzadas” concordantes — deve-se, 

penso eu, a Winston Churchill. Ver p. 43; do cap. 2 de meu Ob j . Kn . ,[19.72 (a )].

295. Cp. p. 1.5 de [1967 (k)3: de modo geral, considero excelente a sugestão de Landé nó sentido de denominar fisicamente real aquilo que possa ser tocado (e seja capaz de reagir ao. toque, se tocado).”

296. Tomemos, p. ex., o mal-entendido de Einstein acerca de seupróprio requisito , de covariância (inicialmente contestado por K.retschmann), que teve uma longa história antes de ser esclarecido, o que se deveu sobretudo (em minha opinião) aos esforços de.Fock e Peter Havas. Os artigos importantes são Erich Kretschmann, “Uber den physikalischen Sinn der Relati- 

vitatspostulate, A. Einstein neue und seine ursprüngíiche Relativitãtstheorie”, Anna len de r Phyúk , 4.a série, 53 (1917), 575-614; e a réplica de Einstein, “Prinzipielles zur allgemeihen Relativitâtsthteo^e”, i b id . , 55 (1918), 241-44. Ver ainda - V. A. Fock, Th e Theory , o f S^f r ce, T i m e and Grav i t a t ion  (Londres: Pergamon Press, 1959; 2.a ed. rev., Oxford, 1964) e Havas, “Four-Di- rrtensional Formulations of Newtonian; Mechanifcs , and Their Relation to Relativijy” (ver n. 32, acima). 1

297.  Ver- [1968 ( r ) ] , [1968 (s) 3 ver também “A Re^Iist View of  Logic, : Physics and History”, [1970 (1) ], [1966. (f ) 3. (Esses artigos são agora respectivamente os caps. 4, 3, .8 e 6. ..de. [1972 ( a ) ] . )

298. A alusão a “substância” surge do problema da modificação ( tlO que 

pfermanece constante na ■/alteração ?” ) e da tentativa de responder a per*- gunltas do tipo que è?  A velha brincadeira com que a avó de Bertrand Russell o importunava: “What is mind? No matterl What is matter? Nèver mind!” .— parece-me não apenas procedente como perfeitamente adequada. Melhor, indagar “What does mipd?”. [N. T.: Foram mantidas em inglês as três frases desta nota porque envolvem jogo de palavras cuja tradução desfiguraria a intenção do original.]

299. As duas últimas sentenças podem ser vistas como encerrando umargumento contra o panpsiquismo.. O argumento, naturalmente, não é conclusivo (üma vez que é irrefutável o panpsiquismo) e assim se conserva, ainda 

que fortalecido pela seguinte observação: mesmo que atribuamos estadosconscientes a (digamos) todos os átomos, o problema de explicar os estados de consciência (como sejam, a lembrança òu a antecipação) de animais superiores continua a ser tão difícil quanto; antes, sem essa atribuição.

300. Ver meüs artigos “Languàge and the Body-Mind Problem”, [1953.(a ) ] e “A Note on the . Body-Mind Problem”, [1955 (c ) ] ; agora caps. 12 e 13 de [1973 (a )]. ’

301. Wittgenstein ( “O enigma não existe” : T ra t a c t u s  6.5) exagerou o abismo entre o mundo do ;descritível ( “enunciável” ) e o mundo daquilo que e profundo e não pode ser dito. Há gradações j além disso, o mundo do enunciável nem sempre carece de profundidade. E se pensarmos ém prot- 

fundidade, há um abismo no interior daquelas coisas que podem ser ditas

24C 

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 — entre ura livro de receitasnè abismo éntre aquelas coisas c|üè:- de arte sem graça e um retrato ser muito mais profundos do que;

admirador dó poeta místico Rilke.

302. David Miller sugere lecer o equilíbrio entre os

303 . Ver seções 10 e 15 acima.

ere que eu invoquei mundos 1 è

15 acima. ■ • ' ^ A'"''' ''

304. Depois de cscrever esse trecho, tomei' cóühecimeht^^ volume dos trabalhos reunidos de Konrad Lorenz" ( ..menschl isches Verhalten. Gesammelte Abhandlungen tMuniqueíI'^Rv í ' 71Co. Verlag, 19673, vol. I I ; ver espec. pp. 361 e s.). Nesses--'artigos,vjjtíretó critica, fazendo referência a Erich von Holst, a concepção segunúo;' a ' cjuàlr' ,,a delimitação entre o mental- e o físico é também a que existe \entrelasfunções superiores e inferiores de controle: alguns processos relaüyãménte- . f >primitivos (como uma forte dor de dentes) são intensamente consçientes^apr ' '  : passo que alguns processos altamente controlados (como a refinãda;;riiiStè^ ;-;;í:;.3;j pretação de estímulos sensoriais) são inconscientes, de tal sorte que 6 Jrésúl f . 1;,. ; ;. tado deles — percepção —- parece-nos (erroneamente) apenas “ijado”. : Isso: . 'me parece- um vislumbre importante que não deve ser esquecido em nenhuma ’ .; •' "

teoria do problema corpo-espírito. (De outra parte, não posso imagiliár: que • ' o caráter absorvente de uma forte dor de dentes, causada por um nèrvo expostó, tenha qualquer valor biológico em termos de função de contrple; e aqui estamos interessados no caráter hierárquico de cont ro les. ) 

305. R. W. Sperry ( “The Great Cerebral Gommissure”, Scier i t i f ic  Ame r i c an , 210, 1964, 42-52; e “Brain Bisection and Meçhanisms of Cóhs-: ciougnéss”, in Bra i n and Consci ous Exper i ences, org. por J. C. Eccles [Berlim, Heidelberg e Nova Iorque, Springer Verlag; 1966, pp. 298-313] previne-nos de que não cabe imaginar seja absoluta a separação.: há certa parcela de ; transbordamentó para o outro lado do cérebro. Não obstante, escreve ele 

no segundo artigo» mencionado, p. 300: “A mesma espécie de separaçãomental direitò-esquerdo [relatada em relação a pacientes què manipulam... objetos] aparece em testes que envolvem a visão. Lembremos que a metade . direita do campo visual, a par da mão direita, é representada no hemisfério esquerdo e vice-versa. Estímulos visuais, tais como figuras, palavras, números e formas geométricas, projetados numa tela, diretamente à frente do sujeito, e do lado direito de um ponto de fixação central, de sorte que sejam lançados ' para os hemisférios de fala dominantes, são descritos e relatados corretamente ;sem qualquer dificuldade especial: D e . outra parte, material similar, projetado no lado esquerdo do campo visual e, conseqüentemente, nò hemisfério; secundário, perde-se para o hemisfério da fala. Estímulos projetados na'metade ‘ 

de um campo parecem nao ter qualquer influência, segundo testes -â iékho je ; realizados, sobre a percepção e interpretação de estímulos que se -.apresentem' na outra, metade do campo.” . .

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305a. (Acrescentada era 1975.) Ver ó interessantíssimo livro de A. D. X)e Gitjote, Th ought and Cho i ce in Chess (Haia; Mouton, 1965; Nova Iorque: Basic Books, 1966).

306. Woífgang Kõhler, Th e Pia ce o f Va lu e in a Wor l d o f Fac t  (Nova Iorque: Liferight, 1938). Substituí “Valor” e “Fato” por “Valores” e 

“Fatos” para indicar que acentuo, o pluralismo.307. Ver, para isso, o fim da réplica a Ernst Gombrich, em minhas 

Replies. (Acrescentado depois de completada esta autobiografia.)

308. Schiller diz algo semelhante:Amigos, que prazer servi-los! Faço-o, porém, espontaneamente.Assim, não há virtude de minha parte e isso muito me aborrece.Que fazer? Devo ensinar-me a detestá-los,e, com desgosto na aima, servi-los eotiuj ,o dever me impõe.

309. Ver o Ad d e n d um , “Facts, Standards, and Truth”, in O. S. , 4»a ed., [1972 (c )l e edições posteriores, vol. II.

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PRINCIPAIS PLi 151Jí CAÇÕES E; ABREVIAÇÕES ,

As seguintes abreviações foram :‘utiÍizad^;n^$tfíto:';p^a;^  cipais publicações dò Aútor.. ;Re£écênfcias

\ 'èm~ colçhètes ,_rèiüè.tem;:^ 

a Bibl i ogr af i a Selecióna da . %ÍQ 

L . d. F. —  Logi k der For s chun g 1934; 6.a ed. (baseada em L . Sc. D . )   1.976. Ver [1934 (b)J e [1976 (a ) ] ; ver também L . Sc< D . .

O. S. — Th e Open Soc ie ty and . I t s Enemi es ,  vol. 1, Th e Speíl of Plàt o; vol. 2j Th e H i gh T i d e óf p r op h ecy : H e gel , Ma r x , and Th e .A f t erma t h *  

1945; Í 0.a impressão 1974.

Ver [1945 (b ), (c ) ] , [1950 (a ) ] , [1974 (z8) ] . Traduções para o holandês, finês, alemão, italiano, japonês, português, espanhol, <turco; a sair: tradução francesa.

■The Poverty  = The Pove r t y o f H i s t o r i c i sm  1944/45; 1957, 8.a impressão 1974. Ver [1944 . (a ), (b ) ] , [1945 ( a ) ] , [1957 (g ) j , [1974 (* ,) ].  

Traduções para o árabe* holandês, francês, alemão, italiano, japonês, norueguês, espanhol.

L . Sc. D . = Th e Log i c o f Sc i en t i f i c D i s co ver y   1959; 8.a impressão 1975. (Incorporando uma tradução inglesa de L . d . F . [1934 (b )] . Ver

[1959 (a )3, [1975 (u )3.Traduções para o francês, alemão, italiano, japonês, português, servo- -croata, espanhol; a sair: traduções polonesa e rumena.

C. & R . = Con j ec t u r e s a n d Ref u t a t i o n s  : Th e Grow t h o f Sci en t i f i c . K n ow - 

ledge 1963; 5.a impressão 1974. Ver [1963 (a ) ] , [1974 {zi)3-

Traduções para o italiano e espanhol; a sairr traduções para o alemão è japonês.

Ob j .. K n . ~ Obj ec t i v e K n ow l ed g e : a n E vo l u t i o n a r y . A p p r o a ch   1972; 4.?impressão 1975. Ver [1972 (a )3 , [1975 ( r ) ] .

Traduções para o alemão, italiano, português, espanhol e japonês.Repl ies — “Replies to my Critics” em. Paul A. Schilpp (org.), Thie Ph i l osophy ; . 

o f Ka r l Poppe r , vols. 14/1 e 14/11 em Th e L i b r a r y o f L i v i n g Ph i l o so * \ phers  (Lá Salle, 111.: Open Court Publishing Co., 1974), pp. 961 a 1197. /

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BIBLIOGRAFIA SELECIONADA

A presente bibliografia acompanha, quanto à numeração (como, diga- mos, ao escrever-se "[1945 ( a ) ] ” ), a “Bibliografia dos Escritos de KarlPopper”, organizada por Troèls Eggers Hansen para .a obra The ph i l o sophy  o f Ka r l Poppe r , volumes 14/1 e 14/11 da coleção T he L i h r a r y o f L i v i n g   

Phi losophers organizada por Paul A. Schilpp •(La Salle, Illinois: Open Gourf  

Publishing Co-, 1974), pp. 119971,287. Alguns itens foram omitidos e novos itens foram acrescentados.

1925 (a ) “Über die Stellung des Lehrers zu Schule' und Schüler. Schu l r e -  fo r rn  (Viena), 4á pp. 204-208.“Gésellschaftliche oder individualistiche Erziehung?” .

1927 (a) “Zur Philósophie des Heimatgedankens”, D ie Que l l e  (Viena), 77,pp. 899-908.

(b ) “ 'Gewohnheitf und ‘Gesetzerlebnis’ in der Erziehung”, tese inédita apresentada (inacabada) ao Instituto Pedagógico da cidade de Viena.

1928 (a). Zur Methoden f rage der Denkpsycho log ie , inédito; dissertação submetida para um doutoramento na j ?acuidade de Filosofia da Universidade de Viena.

. 1931 (a) “Die Gedachtnispflege unter dem Gesichtspunkt der Selbsttátigkeit”, D ie Que l l e  (Viena), 81, pp. 607,7619. .

1932 (a) Pãdagogische Zeitschriftenschau”, D ie Que l l e  (Vienà), 28, pp.301 -303; 580-582;, 646-647;.,7.12-713; : 77.8-781; 846r849; 930-931.

1933 (a) “Ein Kriterimn des empirischen-Chárákters theoretischer Systeme”,uma carta ao editor, Erkenn tn i s , ;3j'pp. 426-427.

1934 (b) Log ik der Forschung , - Julius Springer Verlag, Viena (com a datà“1935” ).

1935 (a ) “ ‘Induktionslogik’ und 'Hypothesenwarhrscheinlichkeit' ”, E r kenn t nis, 5, pp. 170-172.

1938. (a) “A Set of Independent Axioms fór Probability”. M i n d . 47, pp. 275-277. . : :

1940 (a ) “W hatis Dialectic?”, M i n d , 49, pp. ,403-426.

1944 (a) “The Poverty, of Historícism, I”, Ecpnom i ca , lí, pp. 86-103.

(b ) The Poverty pf Historicism, II,. A Griticism of Historicist Me- thods”, Econom i ca , 11, pp. 119-137.

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1945 (a ) “The Poverty of Historicism, I I I ”, Econom i ca , 12, pp. 69-89.(b ) The^ Open Soc iety and I t s Enemi es , volume I, The Spe i l o f P la to , -  

George Routledge & Sons, Ltd., Londres.(c ) Th e Open , Soc ie ty and l i s Enemies^  volume II, T h e H i g h T i d e   

o f Pr oph ecy : Hegel , Ma r x , and . Th e A f tèrm a t h , George Routledge.& Sons Ltd., Londres.

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1947 (a )r “ííew Foundations for Logic.”, M i n d ;  '56pc pp> ,193-235. .-■■■■■■(b) “Logic Without Assumptioris5,fp *Pr òceed i n gso f íhê Ar ist ote l i an .So 

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195EI (b ) “Irreversible Processes in Physical Theory’1, Na t u r e , 181, pp. 402-403.(c) “Das Problem der Nichtwiderlegbarkeit von Philosophien”, Deuts 

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(g) “Über die Mõglichkeit der Erfahrungswissenschaft und der Metaphy-sik, Zwei Rundfunkvortrãge: (i) Kant und die Mõglichkeit derErfahrungswissenschaft. (i i) Über die Nichtwiderlegbarkeit philo- 

sophischer Teorien”. Ra t i o   (Frankfurt a.M.), 2, pp. 1-16.(i) Falsche Fropheten : Hege i , Ma rx und d i e Fo l gen , D i e o f f ene Ge 

sel l schaf t un d ' ih re Fein d e , Band II, Francke Verlag, Berna.

' 246 

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1963 (a ) Con j ec t u r es and Refu t a t i ons i Th e Gr ow t h o f Sci en t i f i c Kn ow l edge ,Routlédge & Kegan Paul, Londres; Basic Books Inc., Nova Iorque,

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t h e In te rna t i ona l Co l l oqu iu m in the Ph i losoph y ' o f Sc ience, 2 ; Th e  Pr oblem o f I nd uc t i ve Log i c , org. por Imre Lakatos,' North-Holland Publishing Company (Amsterdã), pp. 285*303.

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(s) The Pove r t y o f H i s to r i c i sm , 9.a impressão, Routíedge and Kegan Paul, Londres. .

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(u ) Unend ed Quest : An I n t el l ec t ua l Au t obi og raph y , '2.a impressão, Fon- tana/Gollins, Londres.

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Í N D I C E R E M I S S I V O

Compilado por J. SHeámur

Para economia de espaço, v aparecem reuiiidos os itens concernentes a assuntos correlatas. Assim, para “falseabilidade”, vejá-sè . “fálséamènto”, páíá  “materialismo” , yèja-se “matéria”, para “rüàj ^smp”, - é :âsiitó por diante. Alusão às obras de Popper é 'feita còrn tltiúõisíésíii^“Open Society”.

Nh indica, número de nota.

ação, 51, 56, 59, 90, 93, 94, 112,126, 156-157* 159-160, 190, 193- -196, 201, 206, Nn 243.

aceitação, 39-40, 107,. 153, 160, 202, Nn 225.Adam, J., 127.Adams, Si r  "Walter, 119-. ad hoc , 36-37, 48, 107, 163, 167-168, 

170.Adler, A., 43-45, 47, 49.Adler, F., 116.Adler, V., 116.Albert, H., 48, 124. Nn. 35, 176. aleatoríedade, 51-4, 57, 108-110, 182- 

-3. Nn 45-6, 150, 154. alemão, 17-18, 20, 112-4, 118-123,

127. Nn 13, 68, 86.AUan, R. S., Nn. 187.ambiente, 55-6, 94, 141, 146, 179- 

-184, 190, 196.Angell, N., 17.aprendizado, 50-60, 84-85, 118, 154, 

189, 202. Nn 42, 44, 54, 93, 95. a p r i o r i , 66-67, 118. aproximação, 44, 88-89, 109, 139,

158-160. Nn 138. 205.

argumento, 81, 84, 97, 146-7, 148-9, 153, 159, 179, 191-193, 196-7,1139, 206. Nn 25.

Aristóteles, 26, 83, 85, 126-7, 134.Nn 59, 84.

Amdt, A., 18-19, 20, 39.Arndt, E. M. von, 18. arte, 62, 67-79, 81, 117, 133, 149, 

197, 199-200, 206. Nn 76, 78, 84,301.

associação, 59, 83, 85. Nn 55, 95- átomos, 83, 104, 161-2, 166, 171, 178.

Nn 61, 299.Austen, Jane, 55. Nn 48.Áustria, 15-16, 19-21, 38, 41, 45, 113- 

-116, 119, 121. autonomia, 134, 195, 206. auto-referêncía, 73. Nn. 73. axiomas, 29, 36, 86, 108, 112-3, 121,

136-7. Nn 159, 178, 205; ver prú-v babilidade.

Ayer, Si r  Alfred, 88, 116-118.

Bach, C. P. E., 77, 79.Baeh, J; S., 16, 60-1, .67-71, 73-77, 

79. Nn 63, 67. .

251

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Bacón, F., 17, 86. Nn 3.Baidwin, J, M., 189.Ballentine, L. E., Nn 138,Bartok, B., 61.Beardsíey, E. T., Nn 187,Bechterev, ”W. von, ^5. Nn 96. Beethoven, L. van, 16, 67-71, 74-78.

Nn 63, 80.Bell, J. S., 102- Nn 130.Bellamy, E-, 19.Bèrg, A., 61.Bergson, H., 189.Berkeley, G., 83, 88, 133, 162. Nn

105, 245.Berlih, Si r  ISaiah, 116.Bernays, P., 134.

Bernoulli, J., Nn 154, 251.Bernstèin, E.j 17.Beth, E., 134.biologia, 25-28, 50-53, 56-57, 84, 111- 

-1Í2, 129-13Òr>Í37-8, 141-3, 145-6, 147, 161, 166, 168, 176-189, 197- -203. Nn 84, 284, 286-7, 290, 304. 

Bõhm-Bawerk, E., 17.Bohm, D., 98-102. Nn 273.Bohr, N., 98-101, 106, 117-119, 137-8;

161-2, 164-5. Nn 122,Boltzmann, L., Í44-5, 165-172; 178.

Nn 254, 256-8, 260-1, 263-4, 267. Bolzano, B., 190, 193, 198.Boole, G., 83-4, 121. Nn 188.Borel,. É., Nn 154.Bom, M., 99, 171-2. Nn 121, 258, 

267.Boschan, P., 136.Boscovich, R. J-, Nn 61.Brams, J., 16, 61.Bráithwaite,; R. B., 131, 132. Braunthal, A., 122.Brentano, F., 82.Bridgman, Laura, 56.Bridgman, P. W., 136.Brillouin, L., 173. Nn 266. Broadhead, H. D., 122.Broda, E., Nn 254.Broglie, L. V. de, 98, 102.Brouwcr, L. E. J., 135, 155.Bruckner, A. J., 61. Nn 80.Brush, S. G., Nn 260.Buhler, K., 80-1, 83-5. Nn 78, 83, 90,

93.Bungè, M., 99. Nn 22. 

r Burger, E., Nn 103.

Butler, S., 176, 189-190. Nn 276.Byrd, W., 60.

Cambridge, 101, 116, 119, 130-2. Nn191.

Campbell, D. T., 53, 203.Campbell, R. M:, 119,Cantor, G,, Nn 258.Carnáp,. R., 36, 87-8, 92,96-7,106,

155-6. Nn 15, 35, .99, 116-20, 147--8, 228-9, 231, 233.

Caspar, M., Nn 59. .causalidade, 125. Nn 133,178.certeza, 30, 123.Çhamberlain, N., 120.Ghandrasekhar, S., Nn 201. 

Christchuích, N. Z., 119-121, 1 2 8 .'N n 187.

Gristiano V III , 16. Nn 1.Church, A:, 111.Church, J., 57. Nn 51.Churchill, W. S., 113, 120, 123, 144.

Nn 213, 294. ciência. .26-7, 31, 39-40, 44-5, 47-50, 

59r6Ò, 62-3, 65-67, 77, 84-88* 92- -1Ò6, 116-118, 123-4, 128-130, 136- -149, 153, 157, 159-190, 192-4,

200, 203.. Nn 15, 44, 61, 98, 209, 243.

ciências sociais, 26-7, 47-8, 98, 121, 125*6, 129-130, 136. 

clareza, 30-1, 36-7, 90.Clay, J., 135, .Glemenceau, G., 13.“De Nuvens e Relógios”, 187. codificação, 58, 147, 194, 196, 202.

Np 53.

Gohen, I. B., 136.Cohn.,>',3Sl., Nn 95. coletivos,' 108-110.Collmgwood, R. G., 68. complementaridade, 101, 117, 140. complexo (efeito) de Êdipo, 129-130. comportamento, 58, 145-8, 154, 182- 

-6, 189-190, 197. Nn 286-7. compreensão, 31-4, 36-7, 87-8, 90-2, 

99-102, 104, 107, 143-4, 194, 200-1. Compton, A. H., 104, 177. comunismo, 38-42, 136.Cónant, j . B., 136. 'conceitos, 27, 34-7, 89-90, 106, 143- 

-4. 193,

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condições iniciais, 125, 144. .-.v..--:;confirmação, Nn 44, 231. Conhecimento, 40, 58-60, 66-7, ,7.3*

76, 82, 86-94, 98, 117-118, ,123-4, 131, 144, 147-8, 157-9, 162, 164,.169-170, 172-6, 178, 199-200, 205, 206. Nn 89, 203, 272; — conjectural, 86-94, 96-7, 107, 118, 142- -3, 153-4, 158-9; crescimento de 

 — , 49-50, 76, 86, 98, 123, 158-9, 176-7, 181. Nn 267; — objetivo, 93-95, 146-50, 154, 179. Nn 226. 

conjecturas, ver hipóteses.Con jec i u r es & Refu t a t i ons, 29, 49, 

58, 159. Nn 210. conjuntos, 32, 36, 83, 99-100, 152.

Nn 20, 198, 205, 258. 

consciência, 54, 123, 137, 149, 179.189, 197-202, 204. Nn 267, 299, 304-5. .

conseqüências não pretendidas, 122, 195-6, 205. 

conservadorismo, .61, 133, 180. conteúdo, 29, 32-4, 47-51, 86, 93,

106, 108, 111-2, 139, 159, 170, 190-4/Nn .15-17, 20, 270?

convenção, 155. Nn 35.Copeland, A. H., 110-111. Copenhague, 98-9, 117-9. Nn 165. 

Copémico, N., Nn 301. correspondência, 106-7, 150-2. corroboração, 48, 106, 108, 111-3,

156. Nn 226, 235, 243. cosmologia, 44, 138, 167-8. Nn.201. crença, 93-4, 113, 149, 152-6, 158, 

160. Nn 226, 233, 243. crescimento, 69, 71, 205-6; ver conhe

cimento.crianças, 14-15, 18, 47, 51-2, 55, 58, 

79-80, 205-6. Nn 2. 

criatividade, 54-5, 65-6, 68-9, 71-2, 78, 190, 204.Criticismo, 28-30, 39-41, 42-43, 44-5, 

48, 51-60, 62, 66-67, 71, 74, 76, 81, 87, 89-94,. 97, 107, 111-112,123-4, 140-1, 146-9, . 153-4, 156--160, 176-7, 178-180, 192-3, 196- -200, 204-206. Nn 35, 44, 4&, 172, 209, 224, 226, 238, 243.

Groce, B.} 68.

dados, 83, 147-8.

Dalziel, Margaret, 120, 122.

Darrow, K., 12 L. Nn i 169." a -r. Dàrwin, uG.r ' 19f ;52^^^4 60,^87/ 94, 

142, 176-18 V - l 89=90.' Ntt-95H276; 4283-4, 286-7r:i290:- *>-• Jdedução/í84; íS6>íí'88-9;-93.-4, 97,. 125*- H28r 134-5, ;'143-450 -5352-5 ^77. ã;Nn 197-6, -225- ^ -X : ^ 

deimições, J23,-'V24j' 127', ,.‘31/' 35, 37,' 105.-7', 112; T^n:,7 '263.â^í 

De GrooC A. Nn-305a'. ‘í -demarcação, ,47 5,0 -59x60, 8,6.t9,í 90-

159-160, 1 8 0 ^ , 3 . ' ^ ' -  democracia, 15^H2j51:Í3’:'115í6íí? 120, - 

125. y*?< demonstração* ^87 -8 p-"vl 0 109~110^.

153, 155. Nn 18, - ' Descartes, R.,. 17,V23-4p- 197 ^ i 200;■ 

descoberta, 51-57, 62,-67, 82-.3| !85, 98, 124, 128, 183-4,"".ii 95^7,:t-[202r204. Nn 95. - — ,

determinismo, 102, 137-9/ :159, 162;, 164. Nn 38, 130, 136,: 146, 17.8V .

Deus, deuses, 24, 66, 69*70, 572-3, 138, 181-2, 187-8. - .

De Valera, E., 117.Devrient, Therèse, Nn 63: : íDewey, J., 80.dialético, 123-4, 140-1. Nn 209> : diálise, 37. ;

Dickens, C., 1.14.Diels, H., .126.direção do tempo (A.O.T.), 144-6, 

165-172.discussão, 28, 94-5, 111-3, 149, 204-5.

• Nn 226, 248.disposição, 55-8, 152-3, 159-160, 163- 

-4, 189, 192, 201-2. ditadura, 49-50, .136.Dobzhansky, T., Nn 290. dogmatismo, 40-1, 42, 45, 47-8, 50-65

58-60, 62, 64-6, 104, 107, 179-80-, Nn 49.Duane, W., 104. Nn 140. . í:.'.tíV;Dufay, G., 60. * :;;.Duhem, P., 116.Dunstable, J,, 60. 'Vs-.lr.cVv

Eccles, Si r  John, 120, 128. Nri:;í'7,áj293, 305,

educação, escolas, ensino,l 4-15/;18]^37-8, 42-3, 45-8, 55-8, 61 2, 79-81, 85, 89-90, 116, 11;.9L120; 1-32,r 135- -6, 140. Nn 103; ver úriivèrsidádes.

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Edwards, P., Nn 7, 110.Ehrenfest, Paul & Tatiana, 167. Nn 

257..Einstein, A., 22, 29, 33, 37, 44-5,-

' .48, 50, 59, 76, 98-100, 104-5, 112,

116-7, 135-140, 161-4, 171,. 188,195. Nn .7, 20, ,32-3, 122, 126,.129, 143-5, 201-2, 207-8, 246, 248, 274, 296. '

.elétrons, 103, 106, 111.Elstein, M., 44, 104,Elton, L. R. B., Nn 150. emergência, 187-90, 196, 199, 200-1,

203-5. Nn 203, 287. emoções, 68-75. Nn 13.Empédocles, 30.

empírico, 84-5, 108-9, 117-9. Nn 16,164. -

Engels, F.,, 17, 40, 42, 115. ensino (ver educação), entropia, 144-5, 162, 165-76. Nn 216, 

261, 266-7, 272-4. enunciados, 27-34* 36-7, 47-8, 49,

57-8, 87, 93, 97-98, 100, 107-108,111, 148-9, 156, 19Ò-2. Nn 15-16, 18, 93, 224, 243. 

enunciados básicos, 93, 97-8. Nn 15- 

-16.epistemologia, 13-14, 25-7, 62, 68, 81' -2, 85.-95, 96-7, 106-7, 111, 123,133, 143-4, 148, 157-9, 161, 166, 176, 178, 202-3, 205-6. Nn 243. 

“Epistemologia sem um Sujeito Cog- noscente”, 68. Nn 8.

Erdmann, B., 24.erro, 52, 55-6, 58, 94, 123, 128, 140- 

-1, 157, 177; ver tentativa, erros, 60, 63-4, 10Q-2, 105, 122, 135,

195, 199-200. escolas, 14-15, 18, 37-9, 42, 45-8, 

61-2, 79-81, 85, 89, 115-7, 119- -121, 132, 140. Nn 103. 

escolha, 111-3, 189,-90. espaço, 21-2, 43, 57, 137, 144-5, 

167-8, 200. espírito, 104, 147, 190-5, 197-2Ó6.

Nn 298-300, 304-5. essência, 23-37, 68-9, 71, 73, 122,

124, 147, 189, 193. Nn 7, 298. Estados Unidos da América, 90, 95, 

98, 101, 126-7, 135-40. Nn 165. estatística, 99, 102-3, 110, 116-7,- 162,

170-1, 176. Nn 138.

estímulo, 51. Nn 304. estrutura, 142, Í82-7, 189. ética, 14, 40-1, 90, 124, 131, 203-6, 

306, 308. Nn 65a.■ eu, 60-1, 67-75, 77-8, 81, 89-90, 123,

152-3, .197-202, 205-6.Eucken, R., 17.Euclides, 86, 195.evolução, 36, 137-8, 141-2, 149, 160- 

-1, 176-90, 196-7, 199.- Nn 276, 278, 287-8, 290.

"A Evolução e a Arvore do Conhecimento”, 177, 183. Nn 279, 288-9. 

Ewxng, A. C., 119. êxito, 54, 77-8, 148-9, 155, 157, 178, 

180-1. Nn 98.Exner, F., 102: Nn 132, 249, expectativas, 25, 50-2, 55-6, 58-9, 85,

128, 141, 190.-1, 201. Nn 95. experiência,. 44, 57-9, 82-3, 90, 118,

131, 133, 137-9, 144-8, 161, 166, 168, 190, 197, 199, 202, 205. Nn 203, 304.

experimento, 33, 45, 86, 100, 102-4,. 163, 173-5. Nn 2?1, 274-5, explicação, 43-4, 84,' 93-4, 101, 104,

125, 138-9, 160, 166, 178-183, 185- 

-6, 188, 197, 200. Nn 178, 203, 283, 285.

expressão, 67-78, 81, 84, 206. Nn 65a, 76, 78.

fala. 5.6* 56, 200, 202. Nn 13, 305. falibilidade, 13-4, 42-&; ver conheci

mento.falseamento, 44-5, 47-52, 58-59, 86, 

89-90, 93-5, 102, 107, 111-2, 123, 139-43, 151-2, 174. Nn 16, 35, 44,201, 207, 231, 242, 284. 

falsidade, 106, 134, 151-2, 190, 196, 200, 205, Nn 20. 

fascismo, 41-2, 122..Fast, J- D., Nn 266. fatos, 25, 93, 107, 149-52, 203-6. Nn306.fé, 41, 68, 159.Feigl, H., 89-91, 92, S6-8, 136, 198.

Nn 101-5, .148, 275. felicidade, 45, 1334, 206.. 

fenomenalismo, 83, 133, 166.Fermat, P, de, 188.Feyerabend, P, K., Nn 275.

254

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Fidedignidade, 8 6 , 157. Nn 243.Filosofia, 14, 17, 19-26, 28, 31, 36, 

.46, 67, 79, 81, 85, 96-98, 104, 118, 120, 122, 125, 130-5, .149, 153.-4, 157-161, 165, 169-70, 193, 203,205. Nn 191, 218, 224, 244, 30.1.

Findlay, J. N., 120.fins, 28-9, 40, 59, 158-59* 183. 8, 203- 

-6 . Nn 205. ,■ física, 24, 29-31, 33, 43-47, 50, 61, 

83, 98t106, 116-7, 135-140, 144, 147-49, 160-176,. 182, 187-89. Nn 14, 32, 201, 218, 25.3, 258, 263-5.

Fock, V. A., Nn 296.Forder, H: G , Nn 187.Forster, F; W., 17.Francisco José,. Imperador, 15-16.' Nn 1 .Frank, P., 92, 95-96, 136.Freeman, Eugene & Ann, 11.Frege, G., 32, 35-6, 191-3, 196. Nn  

10-13, 20-1, 23.Freud, P., 38.Freud, S., 16, 21, 38, 43-5, 47, 49,

78, 130, 197.Fries, J. F., 92-.Furtwanger, P.j 46.

futuro, ver tempo.

Gard, R. M. du, 20. Nn 15.Gedye, G. E. R., 42. Nn 28.Geiger, H-, 163.

, genética, 51, 60, 667?, 180, 182-8.geometria, 24, 29, 35, 86 , 149.Gibbs, J. W., Nn 258.Godel, K., 96, 110, 138-140, 152. 

Nn 201-2, 205.Goldberger, Emma, 18.

Gombrich, Si r  Emst, 14, 74, 117. 119, 128, 135. Nn 57, 76, 78-9.307.

Gomperz, H., 26-7, 81-3, 88-90, 92,165, 193. Nn 89.

Gomperz, T., 17, 81, 126, 165.Goòd, I. J., Nn 150.Goodman, N., 156-7. Nn 228, 234.Graf, H., 2i.Graf, Rosá, 21.Grote, G., 126.

Grubl, C., 17.. Grünbaum, A., 171.“Grundproblem”, 82, 89-91, 92, 94' 

-5, 97, 118, 124. Nn 108. .

guerra, 13, 17-21, 38-9, 42, 45, 113- -15, 119-120, 123, 127, 129, 133, 159; Primeira Guerra Mundial, 13, 16, 19, 21, 37-8, 45, 113-15, 120,123. Nn 86 

■Segunda Guerra 

Mundial, 38, 80, 95, 99, 123.

Haberler, G. von, 136. Nn 163. habilidades, aptidões, 73, 183-7. Nn 

: 287v- ,hábitòy 58, 98,'. 155. Nn 44, 55.Halin, H., 47*87, 92, 108- Habbati, H. von, 121. Nn 168. Lamarck, 51, 94,: ,176-7, 189.190.

Nn' 95, 27:B. - y  

Hansen, T. E., 242. Nn d08, .266. Hanslick, E., Nn r:80.Hardy, Si r  Alister, 182, ,189. .Nn 288, 

292b. . /;Hartmann, E. von, 17.Havas, P., Nn 32, 296. ... ........Haydn, J., 16.Hayek, F. A. von, 116, 119, 121,

129, 135-6. Nn 163, 283, 285. .,Hegel, G. W . F.* 121. Nn 63.Heidegger, M., 159.

Heisenberg, W., 98-100, 103-4, 106,117, 161. Nn 121, 138, 140.Helly, E., 47, 108.Hempel, G. G., 97, 125. Nn 118-19. Herácíito,, 82.Hertz, H., 194.Heyting, A.,_ 135.Hilferding, K., 125. Nn 180-1.Hill, E. L., Nn 274.Hilpxnen, R., Nn 232.Hintikka, J., 156. Nn 232.

hipóteses, 25, 48-50, 54, 59, 64-5, 67, 86-90, 92-:4, 100, 107, 1U,126, 143, 148-9, 157, 166-8, 179, 200, 204. Nn 15, 44, 178, 210, 226. 

hipóteses auxilíares, 48-50. história, 17, 34, 39,. 46, 62-5 82,

85, 125-6, 128, 142-3, 148, 160,171-2, 193, 197, 204. 

historicismo, 37, 42, 61-2, 76,; 79,116, 121-2, 124, 126, 133. Nn 264. 

Hitler, A., 15, 113, 117-19, 121-23. 

Hoffding, H., Nn 203. . .Holsbeiri, H., Nn 301.Holst, E. von, Nn 304. .Horácio, 17. Nn 76. j

255

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Huke;fD:,f58,'83, 88. 93, 98, 118, 1:33^1,54. Nn 55, 2.43.

Hussét-i : E.y 26, &§, 88. ; ilutchinson, T,, 135.Huxley, Si r  Julian, Í79.

idealismo , 26, 83, 88-9, 133, 138, 144-5, 159, 170, 193... Nn 105, 201,

•' 212, 267.idéias, 27, 83, 193, 196-7. Nn 68;

tabela de — , 27, 30, 36, 193. ignorância, 14, 22j 33-4, 40-2, 172,

176, 206. Nn 267. igualdade, 43, 115. imaginação, 54-5, 58, 69, 71, 191, 

200, 202, 205. imprintaçao, 50-1, 57. 

imunização, 48-50. Nn 35. inccfrnpletude da ciência. 138-9. Nn 

203. rindeterminismo, 99, 102-4, 117, 130,

137-9, 159, 163-4. Nn 38, 138.indeterminismo na física quântica,

í 30, 137. Nn 38. indução, 16, 50-51, 58-60, 86-9, 90,. 

93-4, 118, 128,: Í31, 149, 154-7, 160, 177. Nn 44, 180, 228-9, 231- -2, 243.

Infeld, L., Nn 160. inferência, 86, 149-157. Nn .93, 197, 

225.infinito, 21-22, 131, 144. Nn 32. informação, 32-4, 50, 58, 172-6, 194. 

Nn 16-17, 23, 26.6-7, 270. Ver conteúdo. - 

Inglaterra, inglês, 16-17, 95, 98, 113, 114-123, 128, 129-135. Nn 13, 187, 252.

instrução, 51, 94, 154, 177. Nn 95. interação, 191-6, 199, 206. interpretação, 29-, 35, 100, 147, 193.

Nn 25, 305. . Ver probabilidade, intuição, 26, 136, 147, 153-55, 164,

190, 196. Nn 225, 229, 233, 244.. invariantes, 55, 58, 85. invenção (descoberta), 63-67, 71, 79,

124, 19Ó, 196-7/ Nn 287. irracionalismo, 40, 159. irrefutabilidade, 197. Nn 283, 299. 

irreversibilidade, 144. Nn 267, 274. “Irreversibilidade”, Nn 274.

James, W., 136, 161.Jaynes/E. T., 172.'Jennings, H. S., 52. Nn 43, 45.Joliot,’ F., 121. Nn 168.Jordan, P., Nn 121.Joule, J. P., 161.

Jung, C. G.j 49. justificação, 60, ;86-88, 96, 112, 155, 158?, 177, 189. Nn 238, 243.

Kant, I., 17, 22, 24, 62, 66, 82, 90, 92, 118, 203. Nn 61, 86.

Katz, D., 53. Nn 47.Kàutsky, K., 17.Keller,; Helert, 18, 56-8. Nn 53. Kepler, J., 49, 66, 73, 143.. Nn 20, 59. K.erschensteiner, G., 80.

Kierkegaard, S., 17. Nn 1, 50.Kneale,* W. -C., Nn 178, 205.Koch, Adrienne,. 124. Nn 175.Kõhler, W., 203. Nn, 306. 'Kokoszinska, Marja, 106. Nn 147,

149. f 'Kolbj< F. A,, 80.Kolnai, A., 113.Kowarski, L., 121. Nn 168.Kraft, J., 81-2, 89, 136. Nn, 87. Kraft, V., 89, 91, 96, 165. Nn 100, 

105, 252.Kraus,:K., 114.Kretschmann, E., Nn 296. ■Kropotkin, P. A., 17.Külpe, O., 83-4., Nn 92.

Lack, D., Nn 286-7.Lagerlõf, Selma, 17-18.Laird, J., Nn 113a.Lakatos, I., 50. Nn 41, 226, 228, 

231, 242.

Lammer, R., 80, 91.Landé, A., 99, 102-4. Nn 129, 136,

138, 141, ,295.Langford, C. H., 116.Larseri, H., 121. .Làssalè, F., 17.Lassus, O. de, -60.Laue, M : von, 117.Lêibniz, G. W . -von, 85, 139, 198. leis, 25, 39, 59, 66, 125, 147, 155-6,

189, 196. Nn 133, 178, 231. 

Lejewski, C., Nn 197.Lenine, V. I., 41. .

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Levy, H., 116.Lewis, C. I-, 136.liberdade, 38, 45, 54, 65, 114,^123, 

136.linguagem, 21, 25, 28-30, 36-7, 55-8, 

69, 81, 84, 107, 121-2, 13Ó-1., 133-4, 148-52, 157, 178-9, 192,196, 198-202. Nn 3, 13, 25; Funções da — , 56-7, 69, 71, 84, 178-9, 19.9-201. Nn 25, 78, 83.

Locke, J., 17, 83. Nn 68.Lofting, H., 13.lógica, 35-7, 55, 58, 67, 82-6, 88-9, 

95-6, 101, 106-7, 128, 131, 134-5, 141, 149-55, 157, 177-8, 190-1, 195-6, 205. Nn 93, 188, 194, 197-8,225.

Log i k der For schung , 14, 36, 49, 93- -98, 100, 102-4, 106-9, 111-2, 116,118, 121-2, 123, 125, 135, 140,157-9, 172, 176. Nn 14-15, 24, 38, 98, 108, 111, 122, 150, 161, 178, 209, 226, 231.

Log i c o f Sci en t i f i c D i scover y , 95, 116,158. Nn 14, 16, 24, 38, 98, 111, 122, 150, 178, 226, 231, 243, 248.

Lorentz, H. A., 105.Lórenz, K. Z., :50-l, 203. Nn 44,

. 95, 304.Loschinidt, J., Nn 256.L. S. .E., 116, 119, 129-33, 135. Nn 

182.Lucrécio, 30.

Mach, E., 17-8, 43, 82, 87-8, 98, 133, 144, 148, 161-2, 165-6, 171. Nn 30, 244-5, 253-4, 264.

Magee, B., 11. Nn 57.

Mahler, G., 61.mapas, 84. Nn 203.March, A., 102, 135. Nn 128.Margenau, H., 99. Nn 123, 130.Marx, K., 17-8, 39-43, 45, ,47-50,. 81-2, 115, 121, 123,

Masaryk, T. G-, .21: •matemática, 24, 31, 38, 46-7, 61, 

87, 91, 95-7, 109-111, 131, 135,139, 152-3, 165, 195. Nn 45, 150-1,154, 205, 258.

matéria,. 44-5, 98-100, 138-9,’ 161,. 163, 1«94. Nn 61, 138, 298.

Mauthner, F., 17. Nn 3.

Maxwell, J. C., 43, Í66, 194. Nn257, 273.

Mayer, J.- R., 161. Nn 244.Mayerhoferj. J ;, Nn 254.McCarthy,i J 136. mecâniciai quântica,: 68, 165. Nn 11, 

251. : • ; . ...Medawarj.^ir^èterj.t:! 35.mèditia, 31,> Í ÓÒ, Í03. Nn 270.

......

Meinbiigyj;Aai;;\88V;-0r•. - r - ? ^ ;Menger, Áh-LI-7. :;=•• / / u C ; ;y  Menger, C., 17., " ; . V:■'‘ ''::J» i  X'...:■Menger, iÒ ^N n ; 30,

151-2, 1 5 % ^ * § :metafisica, 48,49, ...86-7,: 96-7, i l 2 2,

, 138, 159-162^^íi .38, .242,' Z^.;. :• .método, 26, 44, .5ly' 53j- 58-;603r;74,85-90, 92-6, 107, :121;,, 123-24, 1^6,128-29, 135-36, I4tíb-445^:Í7d,.: ■178, 197. Nn 44, A92s> .2Í8},-.263. : 

mé tbdo cien tíf ico; ver;-: método^viv^jf- . Michelson, A. A., 104.Mill, J. S., 15, 17, 81, 98, 125i';m

179, 228.Miller, D., 11. Nn 18, 35, 150,'232,;-

302. ;

Minkowski, H., 104.Mises, R. von, 46-7, 92, 108-110, '136, 163. Nn 135, 301. : 

misticismo, Nn 301. . ^mito, 65-7, 199-200, 205. modelos, 61, 71, 101-102, 111, 126,• 159.modismo, 78-9, 171. monismo, 18-9, 22, 26, 88, 133, 144,

197. Nn 105.Moore, G. E., 116 Nn 225. 

moralidade, ver ética.Morgan, G. L., 51-2, 189. Nn 43, 45. Morley, F. W., 104. movimento browniano, 171, 175. Nh . 

.274.Mozãrt, W . A., 16, 68, 70, 73, -76,-77,

79. ' ^mudança, 137-38, 169. Nn 298. ' '  Müller-Lyer, F., 147. mundo, 26-7, 65-7, 71, 75, 82*3, 128,. 

134, 137-39, 159-160, 169-70, 98.

Nn 203. Mundo 1, 191, 193-Í95, 198-99, 201-202, 204. Nn '7-a,'302.

. Mundo 2, 67, ■191-95J:Sl98*202 'Nn-

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: Í7a,- 302. Mundo 3, 57, 67, 71, 149, 190-206. Nn 7a, 293, 302.

Munz, P., 134. Nn 1 94.Munsgrave, A. E., Nn 242. música, 16, 45-6, 56, 60-79, 85, 91, 

149, 192. Nn 57-9, 80, 84. Mussolini, B.j 120. mutação, 179-182, 185-6.

nacionalismo, 18-9, 39, 113*Naess, A. , Nn 114.Nelson, G., Nn 138.Nelson, L., 81-2. Nn 86, 88.Nemst, W. H., 117.Neumann, J. von, 102. Nn 130, 133. 

Neurath, O., 19, 87, 92, 97. Nn 114,. 120.Newton, I., 21, 29, 33, 43-4, 48-9, 

66, 76, 89, 105, 112, 139, 144. Nn 20, 32, 61. 

nicho ecológico, 55, 183, 186, 190. Nietzsche, I. W., 18, 78. Nn 81. nominalismo, 26-7, 125.Nova Zelândia, 118-120, 127-29, 132, 

134, 136. Nn 165-6, 187, 226.

objetivo, 44-5, 62, 67-75, 81, 92-5, 103-6, 146-9, 152-5, 159, 162-5, 172, 178, 189, 198, 202-3, 204-6. Nn 63, 78,' 226. 

objetivos e fins, 28-9, 39-40, 59, 158- -9, 183-8, 203-6. Nn 205. 

observação, 51-2, 55, 58-9, 86-7, 125, 157, 201-2. Nn 44, 210. 

onisciência, 13, 152. ontologia, 193-7.Open Society, 37, 41, 49, 115, 121-7,

130, 132, 135, 157-8. Nn 7, 144a,177.

operacionismo, 37, 104-6, 139. Nn  144a.

Oppenheim, P., 137. originalidade, 69-70, 78-9. ortogênese, 182-7.Ostwald W., 18, 22, 171. ousadia, 94, 157, 166, 190-1, 203. Oxford, 100, 116-7, 133. Nn 263.

palavras, .23-9, 31, 34-7, 83, 97, 143, '192.

Palestrina, G. P. da, 60. pànpsiquisino, 197. Nn 212, 299.

Pap, A., Nn 35.paradoxos, 22, 24, 73, 82, 125.Park, J. L., Nn 123, 130.Parmênides, 29-30, 128, 137-9. Nn 12* Parton, H. N., 120-21. Nn 187. passado, 22, 33-4- 43-5, 50-1, 77, 79, 

112, 137-8, 145, 154, 156-7, 162, 165-171, 195-6, 200-202. Nn 20, 25, 42, 63, 243,

Passmore, J., 95-6, 97. Nn 110.Pauli, W . Jun., 135, 162 Pavlov, I. P., 85.Peierls, R. G., Nn 130.Peirce, G. S., 102- Nn 131. pensar, 42, 47-8, 50-60, 62, 65-7, 81,

83-5, 100, 174, 180, 190-192, 197-202.

percepção, 58-9, 147-8, 199, 202. Nn 304-5.

personalidade, 68-9, 71, 200-201,, 205- -206.

Petersen, A. F., 11. Nn 54, 203, 286. Piaget, J , Nn 49.Planck' M., 104, 117. Nn 253. Platão, 17, 26-7, 82-4, 121, 126-27, 

193, 196, 203, Nn 25, 56, 59, 70-8. 

pluralismo, 97, 197. Nn 306. pobreza, 15, 18, 77.Podolsky, B-, Nn 129*Poincaré, H., 167,Polanyi, K., 26, 81. políticá;* 15-16, 18-21, 38-43, 49-50,

113-15, 120-124, 127, 133, 136, 157.

Popper, Jenny, nêe Schiff, 15, 17, 19, 45, 60, 113.

Popper, Simon.S. C., 15-21, 23, 25, 45, 90, 113.

Popper Lynkeus, J., 17, 19, 136, Põsch, A., 13-14.positivismo, 83, 87-93, 95, 97, 104- ! -106, 130, 133, 139, 144, 162, 171.

Nn 144a, 301. ■positivismo lógico, 87-93, 95, 97, 104- 

-106. N. 110, 112, 301.Po s t S c r i p t ,   158-9. Nn 242- Pove r t y o f H i s t o r i c i sm / 26, 41, 116, 

121-3, 125-9, 176. Nn 7, 178. pragmatismo, 133, 154. prática, 75, 111-12, 141-2, 143, 155- 

-7, 159, 184. precisão, 30-1, 34-8, 107.

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preferência, 85-7, 93-5, 112, 154,158-9, 183-190, 202. Nn 243. 

preparação, 100, 103,Prés, J. des,. 60. pressupostos, 54-5, 124* 154.. 

previsão, 31, 41, 44, 50, 111-2, 125,129-130, 167, 180-2. Nn 283. 

probabilidade, 46-7, 88, 92, 98-9, 1Ó2- -4, 106-113, 116, 118, 120-1, ‘147-8,156-7, 159-160, 162-7, 169, 172, 176-7, 178. Nn 98, 154-5, 178, 180,188, 216, 231, 243, 248, 261; axio- matização de — , 108, 112-3, 120, 136. Nn 159, 178; interpretação de — , 92, 100, 102-4, 107-8, 111, 157, 159-160, 162-5. Nn 155, 178. 

problema, 21-2, 25, 28-9, 31, 46-8, 50-5, 59-60, 67, 75, 82-3, 87-8, 89- -90,. 93-4, 98, 129-135, 140-3, 147- -150, .163, 176-7, 184, 186-9, 192- -3, 196-9, 201-6. Nn 20, 46, 191, 243;- situação — , 30-1, 34, 93-4, 142-4, 198. Nn 25; resolução de 

 — , 51,5, 74-5, 140-4, 147-9, 186-90. Nn 287; — Vs. enigmas, 21-22, 97- -8, 130-3. Nn 191. 

problema corpo-mente, 195j 197-203.Nn 212, 298-300, 304-5. 

problemas inatos, 50-1, 50-2, 54-59,198. Nn 54, $5. 

programas de pesquisa, 157, 160, 167, 176-182, 189. Nn 242.

programas metafísicos de pesquisa,157, 160, 166, 176-182, 189. Nn 242.

progresso, 76-9, 86-7, 134. propensão, 100, 103, 108, 159-161,

163-65, 189. Nn 178.Przibram, K., Nn 208. 

pseudociência, 39-45, 47-51, 59-60,86-7, . .

psicanálise, 43-4, 48, 49, 82, 130. psicologia, 43, 46, 47-60, 62, 65-7, 69, . 80-5, 88, 147-8, 154-5, 161, 190-92,

197, 201-205. Nn 84, 89, 95. Pitágoras, 160.

questão judaica, 113-116. Nn 160. questões: que é?, 23-37, 68-9, 71, 73, 

122, 124, 146, 189, 1&3. Nn 7, 298. Quine, W. V. O., 136.Quinton, Anthony & Marcelle, Nn 13.

racionalidade, 24, 40* 93-5, 96-7, 112, 124-26, .133, 154-5, 158-9, 182,

. 196, 206. Nn 86, 173, 175, 226, 233, 243. 

racionalismo crítico, 124, Nn 175-6. Rasmussen, E. T., 147.Ravel, M. J., 61.

realimentaçao, 69, 184, 186, 196, 201,206.

realismo, 26-30, 58; 67, 82-4, 89^90, 98-104, 106, 133-4,. 138, 156, 159- -160, 163-65, 170-171, 189, 193-195. Nn 105, 178, ‘203, 207, 243, 294-5.

redução, 187-9, 191.Reed, A. A. G., 120. . 

reflexão, 84-5. Nn 95-6. refutação, 45, 47-52, 58-9, 86, 89-90, 

93-4, 102, 107, 112, 123, 139-142, 152, 175. Nn 16, 35, 44, 201, 207,231, 242, 284. 

regras, 55^, 65, 107, 131, 154-7,196.

regularidades, 25-7, 55-9, 65, 159, 180. Reichenbach, H., 97, 110, 163, 171.

Nn 98, 119-20, 180.Reidemeister, K., 46.

Reininger, R., Nn 301.relações de espalhamento, 99, 103.relatividade, 43-5, 48, 50, 104-5, 138.

Nn 32-3, 143-6, 201-2, 296. relativismo, 124, 152. Nn 177. religião, 24, 38-9, 42-3, 63-6, 73, 76,

86, 114, 158. responsabilidade, 83, 96-7; — por 

outros,^40. revolução, 18-9, 38-40, 49-50j 88,

167. Nn 205.

Riemann, G. F. B., 22.Rietdijk, C. "W., Nn 146.Rilke, R. M., Nn 301.Robbins Lord, 117, 135.Robinson, A., Nn 6.Robinson, R., Nn 7.Rosen, N. Nn 129.Roth, G .E ., 120.Russell, Earl (Bertrand), 97, 118, 132, 

134, 136, 161. Nn 93, 164, 296. ; Rússia, 16, 18, 39, 49-50, 123. -Rutherford, E., 140. ; :

'Ryle, G., 1.16, 130, 133. Nn 73, 193.

259

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.Sàèh^üMí jíííNn .138.Sáaòn^G/jr 136.  / 

Schiff,; E., 14.-Schiff, W., 89, 93. Nn 108. .rSchiller, F., 203. Nn 308.Schilpp, P. A., 11, 100, 138, 140, 242.

Nn 35, 122, 136, 197, 201-2, 208. Schlick, M., 85, 92, 95-6, 110, 165,

198. Nn 106, 252.Schònberg, A., 61, 78.Schopenhauer, A., 17, 71, 79, 91, 144,

159, 203. ?Nn 68, 80, 82. Schrodinger, Anna Marià, 117, 144. Schrodinger, E., 98-102, 117-8, 135,

138, 144-6, 163-4, 169-171, 177, 203. Nn 132-3, 208, 212, 214, 219- - -21, 24.6-7, 249, 259, 262-3, 278. . 

Schubert, E., 16, 61, 76-7.Schweitzer, A., 68.- Nn 63, 67. seleção, 50-4, 58-60, 94, 140-2, 14&,

160, 177-181, 183-190. Nn 95, 284L  seieção natural, ver seleção.Selz, O., .91. Nn 91-2. senso comum, 107, 133, 138-9. sentidos, 43-4, 57-9, 82-3, 89-90, 118,

132, 133, 137-8, 144-48, 161, 166,168, 190, 197, 199, 202, 205. Nn 

203, 304. ,Serkin, R., 60.Shackle, ÇJ. L. S.,: 117.Shearmur, J. F. G., 11. significado, 23-5, 27-9,„ 31-7, 48r9, 

57, 87, 92, 95-6, 97, 105-6, 150, 193. Nn 7, 13, 25, 42.

Simkin, G. G. F., 120. simplicidade,, 79, 140.Simpson, Esther, 119.

. simultaneidade, 36-7, 104-6. Nn 7, 

144a, 146. sistemas, 39-40, 48-50, 88-9, 93, 96,

105, 166-7. Nn 261. situações, 25, 30-1, 34, 94, 113, 122,

124-6, 142-3, 177-9, 183, 187. sobrevivência, 87, 112, 142, 177, 181, 

1B7-9. Nn 243. socialismo, 18-20, 38-43, 81, 113,

114-6, 1,21. sociedade, 17, 38r9, 41-3, 49-50, 83, 

113-5, 122-7, 196-7, 205.

Sócrates, 13, 43, 72, 152, 203. solipcismo, 82, . 88.

soluções, 25, 28, 36-8, 53, 75, 83* 93- >4,'100, 131-3, 140-3, 148-9, 160, 187-9, 204.

Spencer, H., 177, 182. Nn 288-9. Sperry, R. W., Nn 305.Spinoza, B., 17, 23-4, 198.

Staliríj J., 123.Sta tus da ciência e da metafísica, 159.' Stebfeing, Susan, 116.Stefan, J>} 165.Stein,: E., 61.Strauss, R., 61.Stravinsky, I., 61.Strawson, P. F., Nn 228.Strindherg, A., 23.subjetivismo, 62, 66-75, 133, 146-9,

152-4, 159, 161-2, 165 167, 170-6, 

205-6.' Nn 63, 226; — e física, 104-;-6, 160-177. Nn 248, 265-7; — e: probabilidade, 104, 163-4. Nn 248. . 

subjetivo, 62,. 83-4, 92-4, 98,' 146-8,153-4, 162, 166, 173, 190-2, 198, 2G5-&. Nn 63. •'

substancia, 197. Nn 298.Suppes, P., Nn 178.Suttner, Bertha von, 17,Szilard, L., 172-6. Nn 266, 273-5.

Tarskí, A., 32, 96,. 106-7, 110, 116,134, 149-152. Nii 188, 195, 224. 

Telemann, G. P., 77.Témple, G., Nn 130. tempo, 22, 33-4, 43-5, 51, 77, 79, 

111-2, 137-8, 145, 154, 156-7, 162,- 165-172, 195-7, 201-2. Nn 20, 25,

42, 63, 243. tentativa e erro, 51-60, 65, 71, 74,

84-6, 94, 123-4, 140-3, 148, 176-8. Nn . 45-6, 95, 209: 

teorias, 25, 27-9, 31-6, 39-40, 43-4, 47-52, 53-56, 58-9, 66-7, 71, 84- -90, 92.-4, 96-98, 101, 111-2, 140-3,147.-9, 155-160, 192-201, 203-6. Nn 20, 25, 98, 205, 207, 209, 243. 

teoria quântica, 29, 98-104, 106-8,117, 121, 137-8, 148, 162-5, 171. Nn 121-3, 128-30, 133, 138, 140-1, 246-8, 250.

(teorias) rivais, 28-9, 31, 86-7, 93-4/

112, 158-160, 179, 192. Nn 243. termodinâmica, 35-6, 146, 166-176. Nn 253, 256-63, 266-7, 272-5.

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teste, testabilidade, 30-1, 42, 44-5, 47-51, 74, 86-7, 147, 155, 157, 159- -60/ 178, 180. Nn 117, 172, 209,226. '

Thirring, H., 47, 92, 100, 117. Thomdike, E., Nn 45.Thorpe, W . H., Nn 54, 292b.T im e u  , de. Platão, Nn 25. totalitarismo, 113, 119-123, 126. - tradição/62, 64-5, 205. Nn 242, 287. tradução, 29-30, 122, 127. Nn 13, 25,

59-transcendência, 69/206.Trollope, A./ 114. ■Trotsky, L., 41.Truesdell, C. A.j 36. Nn 22:

universal, 25r6, 93, 164. Nn 15, 178. universidades, 13, 16, 21, 38-9, 42,- 

45-7; 79-85, 89, 91, 114, 116-121,. 127-9.

Urbach, F., 91, 99, 136.

valxdades, 67, 147, 152-5. valores, 124, 203-6. Nn 306. variação, 55/57, 177, 179-180, 183- 

-4, 188-9.

Venn, J., 163.verdade, 25, 27.9, 43-4, 47, 60, 89, 

106-7, 112, 116, 118, 134, 139, 149- .-154, 159-160, 190, 192, 195-7, 200,205. Nn 20, 149, 205, 233, 243, 

verificação, 45, 48, 87, 91, 93-6, 139-.Nn 98/117. 

verossimilhança, 158-9. vida, 22, 137-8, 141-2, 145-6, Í68- 

'-9, 178-182, 186, 187-9, 196, 201,204-6.

Viena, 13-7, 19/38-9, 41-3, 45, 60-2,77, 79-81, 91r2, 96, 113, 115-9, 144, 196. Nn 27, 80, 238/301; Círculo de — , 87-93,. 94-7, 105, 110. Nn 101, 104, 106, 113a, 114, 119,149; Instituto Pedagógico d e ---- ,79-81, 90-91; Universidade de — , 16, 21/ 38, 45-7,. 79-85, 91, 165.

Nn 252; trabalhadores de — , 42,. 115. Nn 27. .Vigier, J. P., 99.Ville, J. A., Nn 154. violência, 20, 38-41, 42, 115. Nn 

26-7.

Xenófanes, 30,

Waddington,. C. H., 182.Waerden, B. I. van der, 165. Nn 121,

■ 251. • ’Wagner, M.,,Nn.,.290.Wágriéf,1 R ^ G iy '’77-9.':‘Nn 57, 63, o 80^U,.:-.

. Waismann,. F \9.1.,. 119, >-135. 

W ald ,Ã .5110-111, 136/Nni51, 153-4. Waíker, D / P.,^Nri> 59^’:;::^;rv'

' Walter, B., .60. •/•/•. .-.v. .. 3.Wamack, G. J., Nn 25,' ! 42.Watkins, J. W .' N., 129. NÍÍ 19, -135,

203. , ■-i ...Watson, J. B., 197.Watts, Pamela, 11.Weaver, W. Nn 165.Webern, A. von, 61, 78.Weinberg, J. R., 95. Nn 112. 

Wèininger, O., 17, 82- Nn 3. Weisskopf, V., 100, 136.Weyl, H., 44. .Weizsacker, G. F. von, 100.White, _M., 136.White, Si r  Frederick, 120.Whorf, B. L., 30. .Wiener, N., Nn 267.'Williams, D. C., 136.Wirtinger, W., 46.Wittgenstein, L., 17, 87-8, 105, 125 

. 130-32, 150. Nn. 8, 15, 101.Woodger, J-. H., 116, 118. Nn 162 188.

Wright, J. P., Nn 201.

Zermelo, E., 167, 169-170. Nn 256258, 260.

Zilsel, E., . 89, 91-2. Nn 101, 106.

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A LÓGICA DA PESQUISA CIENTIFICA 

KarlPopper 

Nest e li vr o, um dos mais impor t ant es f ilósof os da Ciência em  

nosso século t raça um quadro im pressionant e do carãter lógico  da pesqu isa científ ica, quadro que faz. <plena ju st iça à revo lução  

einst einiana na- Física e ao seu enorme impact o sob re o pensa 

ment o cient íf ico em geral . Aq u i não se apresenta a Ciência co m o . 

empenhada em f abr icar engenhocas ou em colet ar observações  

para cor relacioná-las por via de processos dedut ivo s ou indut ivos. 

Ela éapresentada, antes, como uma t entat iva de formular uma  

teoria do mundo com base em conjecturas audaciosas, discipli 

nadas po r uma crít ica penet rant e , Ã simples idéia de que o de 

senvol viment o da Ciênçia dependa de audácia in t electua l e de  

crít ica racional demonstr a-se surpreendent ement e fecunda no  

decorr er do li vr o , em que ela éusadaüpara resolver alguns dos  

prob lemas clássicos da t eoria do conheciment o e para elucidar  

alguns dos mais impor t ant es aspect os .da. Ciência. Est a edição de  

A L ÓG I C A D A P E SQU I S A C I E N T ÍF I C A apresenta o texto integral

da obra, sem cor t es desf igur ador es, razão pela qual const it ui le i-  tura obrigatória para estudantes e estudiosos de Lógica e Filo 

sof ia da Ciência.

EDITORA CULTBIX 

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AS IDÉIAS DE POPPER 

Bryan Magee 

Nascido em Viena em 1902, Karl Popper, um dos mais  

no táveis f ilósof os da Ciência em no ssa época, f o i marx ist a na  

 juven t ude, t endo-se t ornado m ais t ar de mtn ardoroso sócial-dem o-  

crata . Seu int eresse' -pela at iv iâ&ãe* pòlit ÍçU' ' éf fôèõnt fàbjzlançado  

po r igual in t eresse pela Filàsof ia. -'assit òyèómpjsè. \i$táb0%Òu' } ,;  como um dos m ais impor t antes crít icos do marxismo;. Pop per , 

ir ia t ambém d issen t ir d a m oda f ilo sóf ica dom inant e náV iénã dè 

então  — o posit ivism o lógico, ao qual dir igiu fund adas crít icas, 

embora os posit iv ist as lógicos, como t ambém os f ilósof os da  

l inguagem , achassem que Popper abor dava os mesmos probl emas  

-q ue eles, À verdade, po rémi ê que a obra de Popper se carac 

t eriza sob ret udo com o uma obr a crít ica. Par a ele, só at ravés da  crít ica pode o conhecim ent o p rogr ed ir , e éat ravés do exame  

crít ico das idéias de out ros aut or es que Pop per vai const it uin do  

seu própri o pensament o, cu ja un idade sist emát ica Bryan Magee  

soube admiravelmente destacar em  AS I D ÉI A S DE . POPPER ,  

most rando que elas, t anto no campo das ciências nat ur ais como  

no das ciências: sociai s, são par t es de um a única f ilosof ia — 

uma fi lo sof ia que se cont rapõe às demais do nosso t empo e  

cuja in f luência, ao que tudo- ind ica, só fará crescer com o correr  

dos anos .

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A M I S É R I A D O H I S T O R I C I S M O

Karl R. Popper 

Este, l iv r o ê uma. crít ica arrasador a da crença em leis da Hist ór ia , ou leis.do desenvolvimento. socia l /o u lei s de progresso, Todav ia, além de .expor ‘ -dout rinas .tanto mais inf f uént es, quant o perniciosas, e as per igosas  ideologias que sob re ' elas: se erigem, ■A M I SÉR I A D O H I S T O R I CI S MO   

t ambém contém uma exposição-sistemát ica, do que devam ser o caráter  e os métodos. das Ciências Sociais^ bem \com o :uma indicação do t ipo  de planejament o po lít ico " m inucioso ' -q u i t a i s métodos sugerem .- Os  t ópicos aqui abor dados ' incluem : á dist inção ent re predições e p rofe cias; a idéia de . t en dências;- a expUcáçao histórica;, racional idade e  “método zero” ; ó papei das inst it uições, p lan if icadas ou m o. Na opi nião de Jsaiah Ber li n , em seu l iv ro acerca dà inevi t ab ilidade histórica, 

" ninguém demonst rou isso com ' maio r o u mais devast ador a pr ecisão  

de que. o Prof . Ka r l Popper. Em seu A AÍÍSÉR1A D O H IS T OR IC IS M O  

expôs o ‘h ist óricismo’ com tant o vigo r e precisão, t ornando tão. clára  sua incompat ibil idade com qualquer t ipo de empirismo -científ ico ,. q ue 'não há mais desculpa para conf und ir um e out ro” . Â tal juízo acerca  de uma: dás obras fundament ais desse que éconsiderado um dos mais  import ant es t eóricos dá Ciência e pensador es polít icos da at ual idade, podem-se acrescentar estas: palavras de M au r ice Cranston : cfA obra  de Popper tem valo r-muit o maior que o valo r acadêmico; tem imediat a  

e manif est a per t inência às âecisÒesi polít icas que -cumpre a cada pessoa  tomar.* * ' ' ■ .

E D I T O R A C U L T R I X

EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

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Outras obras de interesse: 

A LÓGICA D A PESQUISA CIENTIFICA *